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RESUMO
Este texto pretende analisar a concepção de História presente na produção didática do escritor
maranhense e “imortal” da Academia Brasileira de Letras - Viriato Corrêa (1884-1967) e sua
relação com o ensino de história na escola primária. Viriato foi autor de grande sucesso junto
ao público infanto-juvenil, com livros que tematizam a história nacional, durante as décadas
de 30 a 60 do século XX. Daremos destaque à História do Brasil para crianças (1934) que,
em 28 edições, circulou durante cinqüenta anos no mercado editorial e recebeu a chancela e
registro do MEC, conferindo-lhe o status de “manual didático” (Alain Choppin e Escolano
Benito).
Palavras-Chave: Ensino de História para crianças- Literatura Escolar- Identidade
Nacional.
ABSTRACT
This text intends to analyze the conception of History/History teaching present on the
children’s and juvenile books from the writer Viriato Corrêa (1884-1967), which refer to facts
and characters from National History. Special emphasis will be given on the textbook
História do Brasil para crianças, published in 1934 by Companhia Editora Nacional and
that, with 28 editions, had major repercussion on the editorial market and on the reader
formation of the Brazilian child. Viriato Corrêa’s children’s literary work has been considered
to be important to the construction of scholastic historical education in tune with the national
identity discourse.
Key-Words: History Teaching for Children – Textbooks- National Identity.
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A comunicação faz parte da tese de doutorado que apresentamos, neste ano, à Faculdade de Educação da
USP, sob a orientação da Profª Dra. Circe Bittencourt, intitulado A História contada às crianças: Viriato
Corrêa e a literatura escolar para o ensino de História (1934-1961).
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Universidade de São Paulo (USP); groof@uol.com.br
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ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
Figura 1: (Boletim de Ariel (mensário crítico-bibliográfico) Lettras, Artes, Sciencias. RJ. Dezembro de
1934. Anno IV, n. 3, p. 1).
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ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
A propaganda trazia a seguinte imagem: Papai Noel despejava vários livros infantis de
seu saco de presentes. A partir desta ilustração, percebe-se que o destaque maior é dado a três
livros: Emília no país da gramática, História do mundo para crianças, ambos de Monteiro
Lobato e História do Brasil para crianças, de Viriato Corrêa.
A propaganda terminava com os seguintes dizeres: “O melhor presente de Papai Noel
este ano”. No pé da página, constavam o nome da Editora com respectivo endereço comercial
e indicação de livrarias onde os livros poderiam ser encontrados.
História do Brasil para crianças, publicado no final de 1934, pela Companhia Editora
Nacional, juntamente com Emília no País da Gramática, era o grande lançamento do ano. Em
pouco tempo ele se tornou um best-seller entre o público infanto-juvenil.
Neste texto, pretendemos analisar a produção didática 2 de Viriato Corrêa, dando
destaque à História do Brasil para crianças que, após Cazuza- um clássico da literatura
infantil brasileira, foi também sucesso editorial.
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A partir das contribuições de Choppin e Escolano, adotamos uma concepção ampliada do que seja “livro
didático”. Assim, consideramos que “livros escolares (livros didáticos) são todas as obras cuja intenção
original é explicitamente voltada para o uso pedagógico e esta intenção é manifestada pelo autor e editor.
Nesta concepção se inserem, além dos livros didáticos mais comuns, também denominados de compêndios ou
manuais escolares, as obras conhecidas como paradidáticas, coletâneas de literatura produzidas para as
escolas e ainda atlas, dicionários especialmente editados para uso pedagógico.” (GUIA LIVRES, 2005: 7).
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ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
sucesso- Cazuza: memórias de um menino de escola (1938). O que poucos conhecem é que
ele, além de escritor, jornalista e bacharel em Direito, escreveu diversos livros de crônicas
históricas e, principalmente, livros infanto-juvenis com temática histórica, que passaram a ser
adotados em escolas e serviram também para a formação de professores que lecionavam na
escola primária.
Nascido em 1884, no povoado de Pirapemas, Estado do Maranhão, Viriato deixou sua
terra natal para fazer os cursos primário e secundário em São Luis. De uma família humilde e
órfão de pai, mas com o apoio do avô materno, Viriato mudou-se para o Recife a fim de
cursar a Faculdade de Direito (PINTO, 1966). Veio concluir o curso jurídico na capital do
Pais, onde passou a ter contato com a geração boêmia que marcou a intelectualidade brasileira
no começo do século XX- a República das Letras. De início, dedicou-se ao jornalismo, mas
foi na crônica histórica e na literatura infantil que ficou mais conhecido, tendo seus livros sido
publicados pela Companhia Editora Nacional e Civilização Brasileira
Em 1938, após quatro tentativas frustradas, foi eleito para a Academia Brasileira de
Letras (ABL), na cadeira de nº 32, criada por Carlos de Laet e cujo patrono é Araújo Porto
Alegre.
Viriato Corrêa faleceu em 1967, ano em que a Escola de Samba Acadêmicos do
Salgueiro, prestou-lhe uma homenagem ao tomar como enredo o seu último livro publicado
Historia da Liberdade no Brasil, de 1962. Nele, Viriato destaca o caráter libertário do povo
brasileiro, ao mostrar fatos históricos já consagrados pela historiografia, como a Revolta de
Beckman, a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana, a Confederação do Equador, entre
outros.
Viriato Corrêa e a História contada às crianças
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ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
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Viriato dedica este livro a Monteiro Lobato: “A MONTEIRO LOBATO, mestre de todos nós que escrevemos
para crianças” (CORRÊA,1962:7) .
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A Comissão Nacional do Livro Didático foi criada pelo Decreto-Lei n° 1.006, de 30/12/1938, considerada a
primeira legislação federal de controle da produção e circulação do livro didático no País, no âmbito da
política educacional centralizadora do Estado Novo (1937-1945).
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Para tornar a História mais interessante e palatável para os alunos, Viriato cria uma
narrativa, em que se destaca a figura do ancestral (o vovô), que conta histórias às crianças em
sua chácara na Gávea, Rio de Janeiro:
Uma vez, pela manhã, ele (vovô) nos disse que tinha uma história bonita e muito
comprida para nos contar. Não era, porém, historia de bichos nem de princesas e
príncipes encantados.
- Que história é? perguntamos .
É a História do Brasil, afirmou. (CORRÊA, 1957: 17)
As “lições de história do vovô” estão presentes em quase todos seus livros infantis,
tais como Meu Torrão (1935), A Bandeira das Esmeraldas (1943), As belas histórias da
História do Brasil (1948) e Curiosidades da história brasileira (para crianças) (1952).
O vovô é uma espécie de “testemunha ocular da História”, ao narrar às crianças fatos
importantes de nosso passado, que ele mesmo presenciou, como o dia da assinatura da Lei
Áurea pela Princesa Isabel:
- Vovó assistiu a ela?- interroguei.
Assisti. Não posso descrever o que foi a solenidade. Há coisas que ninguém
descreve. A praça e as ruas vizinhas do palácio estavam assim de gente. Na sala
ninguém podia mover-se. Ao terminar a assinatura, Isabel chegou à porta do
palácio. Ao me lembrar disto sinto ainda os cabelos arrepiados. A praça inteira, a
uma só voz, aclamou o nome da princesa que acabava de tornar os brasileiros
iguais. (CORRÊA, 1957: 226-227)
Viriato Corrêa considera que a História é fonte de infinitas lições para as novas
gerações, que deveriam se espelhar no exemplo de brasileiros patriotas que, em vida, se
dedicaram à causa nacional. Dessa forma, Viriato se pauta também por uma visão ufanista do
Brasil, tão em voga na literatura escolar dos primeiros anos da República:
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Paulo de Albuquerque Maranhão foi um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova no
Brasil, em 1932 e fazia parte do grupo dirigido por Anísio Teixeira na gestão da instrução pública do Distrito
Federal.
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Rodolfo Garcia era historiador , membro do IHGB, da ABL e, à época, era Diretor da Biblioteca Nacional.
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Além de uma história anedótica, pitoresca e vistosa, Viriato Corrêa queria uma história
que se constituísse em importante elemento de construção de nossa identidade nacional,
pautada não mais na exaltação da natureza exuberante e grandiosa, mas no trabalho dos
homens que fizeram nossa História.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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en América Latina. Madrid: Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2001.
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2008, Col. História da Educação.
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Dezembro de 1934. Anno IV, n. 3;
CATÁLOGO GERAL. São Paulo: Companhia Editora Nacional, nº 12 de setembro de 1935.
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CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e
Pesquisa, v. 30, nº 3, set./dez. 2004.
CORRÊA, Viriato. Contos da Historia do Brasil (para uso das escolas). Rio de Janeiro: A. J. de
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Brazil). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A, 1934.
_______________. História do Brasil para crianças. 21ª. ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1957.
_______________. Meu Torrão (contos da História Pátria). 7ª ed., São Paulo: Cia. Editora Nacional,
1962.
FERNANDES, J. Ricardo Oriá. O Livro didático e a pedagogia do cidadão: o papel do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro na ensino de história. In: SAECULUM- Revista de História (13);
João pessoa, jul/dez. 2005, p. 121-131.
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Universidade de São Paulo, 2005.
HALLEWELL, Laurence. O Livro no Brasil: sua história. São Paulo: T.A. Queiroz: Ed. da
Universidade de São Paulo, 1985.
PINTO, G. Hércules. Viriato Corrêa (a modo de biografia). Rio de Janeiro: Editora Alba Ltda., 1966.
ROMERO, Silvio. A História do Brasil ensinada pela biografia de seus heróis. Livro para as classes
primárias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1890.