O escritor Paulo Coelho Neto reuniu num pequeno volume sob o título
“Teatrinho” várias peças em 1 ato de Coelho Neto, escritas especialmente
para crianças. Algumas delas quase não passam de simples diálogos, sem enredo, encerrando no entanto, um pensamento moral, uma lição qualquer expressa de maneira graciosa e delicada. Escrevendo-as, Coelho Neto veio atender à necessidade de favorecer as crianças, numa época em que praticamente não havia teatro infantil entre nós. Quando em reuniões e festas familiares se promovia alguma representação teatral entre crianças eram sempre trabalhos improvisados, sem verdadeiro mérito literário. Somente hoje uma Lúcia Benedetti, uma Maria Clara Machado, uma Stella Leonardos vieram a escrever peças de valor literário para a infância. Coelho Neto, que percorreu todas as províncias das letras não podia ficar alheio a esse gênero.
E com a plasticidade do seu espírito, soube colocar-se perfeitamente no nível
dos pequenos, traduzindo-lhes os sentimentos e as reações, fazendo-os viver cenas e episódios peculiares à idade A primeira peça encerra um sentido de propaganda nacionalista, um protesto contra o predomínio absorvente da literatura francesa entre nós. Sendo muito oportuna há trinta anos e quarenta anos atrás, já não será talvez hoje, quando já não pesa sobre nós, como outrora essa influência. Os outros trabalhos, no entanto, continuam a oferecer o mesmo interesse, vindo enriquecer indiscutivelmente a nossa literatura teatral infantil, hoje em franco desenvolvimento. (SBAT, 1961, no 320, p. 7).
Tendo suas origens no contexto de formação e afirmação da sociedade
burguesa na Europa, no Brasil, somente em torno da Proclamação da República, em 1889, com o crescimento das cidades e a formação das massas urbanas, é que produtos culturais vão encontrar públicos consumidores diversos e, logicamente, tem lugar o material escolar e os livros para criança. Essa literatura, no entanto, tal como sua matriz europeia, traz como marca o compromisso com a pedagogia e com o processo de dominação das jovens gerações, transmitindo normas e objetivando a formação moral dessas categorias sociais. Nesse sentido, são obras marcadas pela defesa dos valores da família, do trabalho, da pátria e da religião, exortando aos estudos, à obediência, à disciplina, à caridade e à honestidade (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007)4. Como exemplos dessa literatura podem ser citados Olavo Bilac e Coelho Neto, com Contos pátrios, em 1904; Júlia Lopes de Almeida, com Histórias da nossa terra, em 1907; Olavo Bilac e Manuel Bonfim, com Através do Brasil, em 1910; Tales de Andrade, com Saudade, em 1919
. Nas obras que se seguem às primeiras publicações é que se registram as
primeiras imagens do Brasil na literatura infantil, principalmente na representação da paisagem brasileira. Nessas obras, a exaltação da natureza, em sua riqueza, beleza e opulência, remetem às manifestações da literatura no período colonial e ao Romantismo, que elegeu a paisagem natural do país como um dos símbolos de nacionalidade. Contos pátrios, de Olavo Bilac e Coelho Neto, publicado em 1904; Contos de nossa terra, de Júlia Lopes de Almeida, em 1907; Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manuel Bonfim, em 1910; e ainda, Saudades, de Tales de Andrade, em 1919, são obras representativas desse período.
ua vida divide-se, assim, em três fases distintas: na primeira, aquela em que
procura se firmar como escritor; a segunda, quando integra o movimento pela Academia, participa da política e obtém reconhecimento e consagração e, finalmente, a terceira, na qual experimenta os ataques modernistas e o consequente esquecimento.[2]