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Seleção de Artigos Traduzidos

BYU

RELIGIOUS EDUCATION
Religious Studies Center
Sumário
1805–1819: Os Primeiros Anos
1805–1819: Os Primeiros Anos
O Mundo do Profeta
Os Primeiros Anos de Joseph
Nova York
O Segundo Grande Despertar
Um Instrumento nas Mãos do Senhor
Notas
A Expiação e a Ressurreição
A Expiação e a Ressurreição
Conclusão
Notas
A Nova Tradução e a Doutrina dos Santos dos Úlitmos Dias
A Nova Tradução e a Doutrina dos Santos dos Úlitmos Dias
Uma Fonte Primária de Doutrina
A Restauração de Verdades Doutrinárias
Um Testamento de Jesus Cristo
Anotações
Aprender e Ensinar com mais Efeito
Aprender e Ensinar com mais Efeito
Como Aprender com Mais Efeito
Como Responder aos Sussuros do Espírito
Ensinar Outros a Aprenderem do Espírito
Entesourar as Impressões Sagradas
Referências
"Aqueles que Veem": Um Século de Responsabilidades para
Educadores Religiosos
"Aqueles que Veem": Um Século de Responsabilidades para
Educadores Religiosos
A Lei do Ensino
“O Curso Traçado”: Um Lugar para se Começar para Encontrar o
Método do Senhor
Doutrina
O Poder da Doutrina
As Doutrinas a Serem Ensinadas
Advertências sobre Ensinar o Sensacionalismo
Convênios
Ensinando Truques, Manias e Jogos
Espírito
Visões Proféticas do SEI
Notas
As Leis Da Igreja De Cristo
“As Leis da Igreja de Cristo” (D&C 42): Uma Análise Textual e
Histórica
Análise Textual
Composição de Versões Existentes da Seção 42 Anteriores a 1835
“As Leis da Igreja de Cristo”
D&C 42:1-10
D&C 42:11-69
D&C 42:70-73
Unidades Textuais 4 e 5 (Não se Encontram em Doutrina e
Convênios)
D&C 42:78-93
D&C 42:74-77
Notas
"Bata de Leve": Controlando o Comportamento dos Alunos na Sala de
Aula
“Bata de Leve”: Controlando o Comportamento dos Alunos na Sala
de Aula
Notas
Buscai Conhecimento pela Fé
Buscai Conhecimento pela Fé
Princípios Companheiros: Pregar pelo Espírito e Aprender pela Fé
Um Princípio de Ação: Fé no Senhor Jesus Cristo
Aprender pela Fé: Agir e Não Receber a Ação
Significado para Nós como Professores
Buscar Entendimento pela Fé: Um Caso Recente
Anotações:
Cercando a Astronomia e os Egípcios
Cercando a Astronomia e os Egípcios: Um Método de Analizar o
Capítulo 3 de Abraão
Os Propósitos da Astronomia
Símbolos Egípcios
Pontos Governantes do Universo
Gráfico Nº 1. O coneito do cosmo de Faraó
Gráfico Nº 2. O conceito de Abraão do cosmo
Gráfico Nº 3. Universo centralizado em Faraó
Gráfico Nº 4. Universo governado por poderes mais altos
Gráfico Nº 5. A ordem patriarcal
Gráfico Nº 6. Governo da Igreja
A Relação de Deus com Abraão e conosco
A Inteligência aos Olhos de Deus
Notas
Como Estudar as Escrituras
Como Estudar as Escrituras
Que Princípios Corretos, e não Técnicas, Dirijam Nosso Estudo
Requer-se o Espírito de Revelação para Entender a Revelação
Não Há Senão um Evangelho
“Procurai Conhecimento, Sim, pelo Estudo e Também pela Fé”
Manter as Coisas no Contexto Correto
Equilibrar os Princípios Corretos
Usar comentários e Bom Senso
Conclusão
Como fazer Perguntas que Convidam a Revelação
Como fazer Perguntas que Convidam a Revelação
Jesus, o Mestre dos mestres
O Valor de Fazer Perguntas
Desenvolver o Talento de Fazer Excelentes Perguntas
Implementação
Conclusão
Notas
Descobertas do Projeto de Estudo Dos Escritos de Joseph Smith
Descobertas do Projeto de Estudo Dos Escritos de Joseph Smith: Os
Manuscritos Inciais
Método de Pesquisa Refernete ás Recelações
Compliação de um Texto Padrão
Comparação de Textos
Datas das Revelações
A Coincidência das as Revelações com Eventos Históricos
Revelações Não Publicadas
Conclusão
Notas
Doutrina e Convênios e Revelação Contínua
Ensaios Clássicos dos Simpósios Sperry:
Doutrina e Convênios e Revelação Contínua
Anotações
Elevando os Padrões
Elevando os Padrões: Preparando Futuros Missionários
“Quem me dera ...”
Saber que o Evangelho é Verdadeiro
Importante versus Interessante
Não Suponha que Eles Saibam
Conheça as Doutrinas do Evangelho
Ligando os Pontos
Ensine-os Como Estudar o Evangelho
Saiba Como Compartilhar o Evangelho
“Ensinar um ao Outro a Doutrina do Reino”
“Servir de Testemunhas de Deus em Todos os Momentos”
Conclusão
Notas:
Em Sua Própria Língua e em Seu Próprio Idioma
Em Sua Própria Língua e em Seu Próprio Idioma
Esta Geração Receberá minha Palavra por Teu Intermédio
Esta Geração Receberá minha Palavra por Teu Intermédio
A Palavra e a Dispensação
As Palavras Reveladas por Intermédio de Joseph Smith
Onde se Encontram as Palavras
Encontram-se outras tradução feitas pelo Pro
A Palavra e o Livro de Doutrina e Convênios
Como Saber que a Palavra é de Deus
As Palavras que Ainda Virão
A Afirmação da Palavra em Nosso Coração
Notas de Rodapé:
Gestão Eficaz do Tempo na Sala de Aula
Gestão Eficaz do Tempo na Sala de Aula
Nota
Grandes São as Palavras de Isaías
Grandes São as Palavras de Isaías
Isaías Capítulo 1
Os Vícios Mais Malignos
Males da Sociedade
A Vanglória das Nações
“Mãos Limpas; Coração Puro”
Isaías e a Restauração de Israel
Isaías e a Restauração de Israel
Por que será preciso que haja a restauração de Israel?
Quando ocorrerá a Restauração de Israel?
Quem participará da Restauração de Israel?
Como ocorrerá a Restauração de Israel?
Quais serão os resultados da Restauração de Israel?
Joseph Smith: O Profeta e Vidente - Introdução
Joseph Smith: O Profeta e Vidente - Introdução
Quem Foi Joseph Smith?
Reconstruindo a Vida do Profeta
Preservar e Gravar a História do Profeta
Projeto Documentos de Joseph Smith
Conhecer o Irmão Joseph
Notas
A Jornada do Eterno Aprendizado
A Jornada do Eterno Aprendizado
Caraterísticas dos que Aprendem ao longo da Vida
O Estudo das Escrituras e o Eterno Aprendizado
O Eterno Aprendizado—do Passado, do Presente e do Futuro
A Maternidade: A Oportunidade Ideal de Eterno Aprendizado
Procurem Saber que Deus Vive
Notas
Lições do Cordeiro de Deus
Lições do Cordeiro de Deus
A Influência do Espírito
Autoconsciência e Honestidade
Nossa Indentidade Eterna
O Propósito da Vida
Nosso Galardaõ Eterno
Notas
Noivar-se ou Empenhar-se? Eis a Questão
Noivar-se ou Empenhar-se? Eis a Questão
Notas
O Arbítrio e a Liberdade
O Arbítrio e a Liberdade
I. Doutrina
II. Applicação Prática
Notas
O Cosmo de Nosso Criador
O Cosmo de Nosso Criador
Notas
O Ensino da Expiação
O Ensino da Expiação
Uma Advertência Espiritual
Lançar o Alicerce
O Livro de Mórmon ao Resgate
E Ainda Mais
A Pura Doutrina da Expiação
A Expiação em uma Estufa Espiritual
Notas
O Livro de Mórmon: A Grande Resposta à Grande Pergunta
O Livro de Mórmon: A Grande Resposta à Grande Pergunta
O Papel de Cristo Como Pai na Expiação
O Papel de Cristo Como Pai na Expiação
Notas
O Prefácio do Senhor
O Prefácio do Senhor
Censura do Profeta
A Jornada Prototípica
Um Começo Agourento
Descida à Idolatria
Ascenção de Babilônia ao Céu
Notas de rodapé:
Os Profetas e o Sacerdócio No Velho Testamento
Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon
Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon
Declaração do Propósito de Morôni na Página de Rosto
Propósitos de Néfi em Escrever
Outros Propósitos do Livro de Mórmon, Conforme Descritos por
Néfi
Declaração do Propósito de Jacó
Cumprimento das Intenções dos Autores do Livro de Mórmon
Uma Declaração do Propósito de Doutrina e Convênios
Uma Declaração do Propósito do Livro de Éter
A Declaração de Propósito Final de Mórmon
Declarações de Propósito Finais de Morôni
Notas
Os Remanescentes Coligados, Convênios Cumpridos
Os Remanescentes Coligados, Convênios Cumpridos
O Elo de José
O Elo do Livro de Mórmon
O Elo da Casa de Israel
O Elo Do Êxodo
O Elo Das Verdades Eternas Do Evangelho
Resumo
Anotações
Qual é a Nossa Doutrina?
Qual é a Nossa Doutrina?
Doutrina: Seu Propósito, Poder e Pureza
Como Mantemos “A Doutrina Pura”? O que Devemos Fazer?
Parâmetros Doutrinários
Lealdade aos Homens Chamados como Profetas
Enfrentando Situações Difíceis
Outros Exemplos
Conclusão
Notas:
Rasgar o Véu da Descrença
Rasgar o Véu da Descrença
Testemunha Antiga de Cristo
O Irmão de Jarede
Romper O Véu
Uma Visão Notável
Revelação
Revelação
Anotações
Sempre Aprendendo, Sempre Ensinando
Sempre Aprendendo, Sempre Ensinando: Lições que aprendemos de
Joseph F. Smith
Background de Joseph Fielding (Joseph F.) Smith
Breve Histórico de Martha Ann
O Processo de Transcrição
A Pedagogia de Joseph F. Smith
Martha Ann
A Capacidade de Motivar e Comunicar com Eficácia
Tratar os Outros com Respeito
Ilhas Sanduíche
Conhecimento do Assunto
Conclusão
Notas
Sermos Aceitos pelo Senhor
Sermos Aceitos pelo Senhor
Conceito 1: O Que é Sucesso ou o Fracasso Verdadeiro?
Conceito 2: Como Obtém a Aceitação do Senhor?
Conveito 3: Onde Encontramos A Aceitação de Joseph Smith Pelo
Senhor?
Anotações
Todos as Coisas São do Senhor
"Todos as Coisas São do Senhor": A Lei de Consagração no Livro de
Doctrina e Convênios
A Lei de Consagração
Arbítrio, Mordomia e Prestação de Contas
A Consagração Hoje
Anotações
Um por Um, o Modelo de Serviço do Salvador
Um por Um, o Modelo de Serviço do Salvador
3 Néfi—O Quinto Evangelho
Ordenanças Uma Por Uma
O Ministéro Dos Discípulos Nefitas
Conclusão
Notas
Uma Testemunha Poderosa e Preciosa de Jesus Cristo
Uma Testemunha Poderosa e Preciosa de Jesus Cristo
Todas as Escrituras e Todos os Profetas Testificam de Cristo
Jeová foi Jesus Cristo
Só Se Recebe a Salvação por Meio de Jesus Cristo
O Velho Testamento presta Testemunho de Jesus Cristo
A Lei de Moisés, os Profetas e os Salmos
A Lei de Moisés
Os Profetas
Os Salmos
Conclusão
Notas
1805–1819: Os Primeiros Anos

1805–1819: Os Primeiros Anos


Richard Neitzel Holzapfel

Richard Neitzel Holzapfel was a professor of Church history and


doctrine at Brigham Young University when this was published.

Os historiadores muitas vezes dividem a história da humanidade em


períodos tais como Pré-história, Antiguidade, fins da Antiguidade,
Idade Média, Renascença e assim por diante. Tais distinções são,
evidentemente, artificiais e, de certa forma, problemáticas porque
ninguém acorda certa manhã e diz: “Ótimo! Hoje é o primeiro dia da
Renascença!” Entretanto, tais categorias ajudam os acadêmicos a
organizar e coletar dados sobre o passado em pequenas unidades de
tempo, facilitando assim interpretações bastante astutas acerca dos
fatos disponíveis. Os historiadores podem também dividir a história da
humanidade em dois mundos distintos: os períodos Pré-moderno e
Moderno. Estas designações explicam os grandes avanços
tecnológicos, políticos e econômicos que ocorrem na história mais
recente. As referências aos períodos Pré-moderno e Moderno
também nos ajudam a lidar com as mudanças psicológicas mais
significativas e fundamentais que a humanidade experimentou entre
esses períodos. Na verdade, aqueles que vivem no mundo Moderno
são fundamental e psicologicamente diferentes do que as pessoas
que viveram no mundo Pré-moderno.

O Mundo do Profeta
Joseph Smith viveu em um período de transição entre o fim do mundo
Pré-moderno e o início do mundo Moderno. Em alguns lugares e
entre algumas pessoas, como nos centros urbanos da Europa, o
mundo Pré-moderno já tinha basicamente terminado, enquanto que
pessoas em outros lugares ainda tinham uma visão Pré-moderna do
mundo. De certa forma, Joseph Smith tinha um pé no mundo Pré-
moderno e outro no mundo Moderno. O mundo Pré-moderno pode
ser identificado como tendo uma abundância de três mercadorias que
hoje estão em falta.
Primeiramente, o mundo Pré-moderno tinha uma abundância de
escuridão natural. Certamente havia fogueiras, lâmpadas a óleo e,
posteriormente, velas, mas frequentemente as pessoas que viveram
no mundo Pré-moderno experimentaram a escuridão natural em sua
quase totalidade. Hoje, a humanidade, particularmente aqueles
morando em um país industrializado do mundo ocidental, dificilmente
pode escapar à luz artificial: para a maioria das pessoas, é necessário
viajar longas distâncias para se testemunhar um céu natural, escuro,
como era visto na antiguidade. A iluminação nas ruas, as luzes de
cabeceira, televisões e até mesmo luzes noturnas nos corredores têm
mudado fundamentalmente a maneira como vemos o mundo à noite.
Nós simplesmente não observamos os céus da mesma forma que
Abraão e Sarah, Jesus, Maria, Lázaro, Joseph e Emma os viram.
Além disso, é possível que nós não apreciemos os temores da
escuridão natural que existia para aqueles que viveram no passado.
Uma pessoa podia cair em um buraco. Animais selvagens poderiam
atacar. Era um mundo escuro e amedrontador.
A segunda mercadoria era o som e o silêncio naturais. No mundo
Pré-moderno havia atividades humanas que criavam sons – serras,
cinzéis, e assim por diante – mas muitas vezes as pessoas daquela
época experimentaram o som natural de seu ambiente de uma forma
diferente do que uma pessoa moderna jamais o experimentou. Hoje
é difícil escapar do barulho do mundo moderno devido ao predomínio
do tráfego de automóveis, sons de vários canais de mídia tais como o
rádio, sons de correntes elétricas em nossas casas, o onipresente
iPod, e uma variedade de outras fontes. Mesmo em alguns dos
lugares mais quietos na América, tais como parques naturais, aviões
podem perturbar tanto humanos como animais.
A terceira mercadoria era a solidão pessoal. Vivemos em um mundo
que não vê com bons olhos as pessoas que querem ficar sozinhas.
Geralmente ficamos preocupados quando um amigo ou um membro
de nossa família procura estar sozinho, e imaginamos se devemos
chamar por ajuda ao imaginarmos o risco de suicídio. Devido a
nossos patriarcas e matriarcas, apóstolos e profetas terem
experimentado a escuridão natural, sons e silêncio naturais, assim
como a solidão pessoal, é possível que as visões dos céus tenham
sido abertas mais prontamente. Hoje, muitas vezes somos distraídos
pelas vozes, pelos sons e pelas luzes de um mundo movimentado,
barulhento e moderno.
O mundo de Joseph Smith era diferente do nosso, mas de outro
modo. Por exemplo, ele não tinha produtos modernos como xampu e
desodorante. A possibilidade de se tomar uma ducha e de trocar por
uma muda de roupas limpas todos os dias não existia para a maioria
das pessoas que viveram durante o período Pré-moderno. A maioria
das pessoas daquela época não tinha atendimento odontológico nem
ortodôntico. No início do século XIX, a expectativa de vida era menos
de vinte anos e o índice de mortalidade infantil era admiravelmente
alto. Isto não é de se surpreender em uma era antes dos antibióticos.
Hoje, poucos pais esperam ter que enterrar uma de seus filhos
quando ainda criança; no passado, poucos pais escapavam deste
terrível destino. Por volta do final do século XIX, estes números
mudaram drasticamente com os avanços tecnológicos que tornaram
possível água limpa, remédios e melhor nutrição.
O mundo de Joseph Smith estava frequentemente aberto para o olhar
público. Apesar dos momentos de solidão pessoal, a vida familiar era
mais transparente, especialmente para a família Smith. Eles moravam
em pequenas casas, cheias de gente na maior parte de suas vidas e
durante muitos anos de sua vida de casados, Joseph e Emma
moraram com outras pessoas, dividindo a casa com outros. Os
vizinhos de Joseph o viram indo ao banheiro no quintal. Hoje
corredores, quartos e portas trancadas criam uma privacidade
moderna fundamentalmente desconhecida no mundo Pré-moderno.
As pessoas na época de Joseph Smith presenciaram os ritmos
naturais da vida de uma forma que as pessoas de hoje dificilmente
experimentaram. Elas viram crianças nascendo e pessoas morrendo
em suas casas. Amigos e familiares do Profeta o viram doente,
cansado, irritado e muito zangado. Eles também o viram feliz,
brincalhão, alegre, entusiasmado, solene e em espírito de oração.
Eles o viram vestido com sua roupa de domingo, mas algumas vezes
em roupas esfarrapadas. [1]
Três importantes visitantes – Josiah Quincy, futuro prefeito de Boston;
Charles Francis Adams, o filho e o avô de dois ex-presidentes dos
Estados Unidos (John Quincy Adams e John Adams); e Dr. William G.
Goforth, representantes do partido político nacional conhecido como
Whig Party que haviam ido a Nauvoo em busca de votos para o
candidato para presidente Henry Clay – pararam em Nauvoo em
1844,[2] um pouco antes do Profeta ser morto. Depois de sua visita a
Nauvoo, Quincy contou sua história sobre a visita ao Profeta Mórmon:
Pré-eminente entre os retardatários, na porta estava um homem com
uma aparência de autoridade, vestido com roupas que indicavam seu
trabalho como carpinteiro. Ele era uma pessoa amigável, atlético, com
seus olhos azuis sobressaindo sobre sua pele clara, um nariz longo e
uma testa retraída. Ele vestia calças listradas, uma jaqueta de linho, a
qual não havia sido lavada há algum tempo, e uma barba de uns três
dias. Este era o fundador da religião a qual havia sido pregada em
todo canto da terra. Conforme Dr. Goforth nos apresentou ao profeta,
ele mencionou a descendência de meu companheiro. “Deus o
abençoe, para começar!” disse Joseph Smith, levantando suas mãos
para cima e deixando-as cair sobre os ombros do Sr. Adams. [3]
Joseph não tinha a aparência daquilo que uma pessoa poderia
esperar de um profeta. Alguns Santos dos Últimos Dias que
chegaram a Nauvoo também se surpreenderam ao ver o jovem
profeta vestido em roupas rústicas cumprimentando-os nas
docas. [4] Assim era o mundo em que Joseph Smith vivia.
Algo que é ainda surpreendente para as pessoas dos dias de hoje era
quão jovem o Profeta era quando os eventos transcedentais da
Restauração ocorrerram; ele tinha apenas quatorze anos de idade
quando ele viu o Pai e o Filho em 1820; ele tinha apenas dezessete
anos quando Morôni o visitou em 1823; ele tinha apenas vinte e um
anos de idade quando recebeu em 1827 os registros da antiguidade;
e ele tinha apenas vinte e quatro anos quando se tornou Presidente
da Igreja de Jesus Cristo em 1830. Foi provavelmente para que ele
pudesse cumprir rigorosamente as tarefas que estavam à sua frente
que o Senhor chamou um profeta jovem e energético.
Joseph viveu durante um tempo extraordinário da história dos
E.U.A. [5] O país estava se expandindo não só geográfica mas
também populacionalmente. Em 1800 havia um pouco mais do que
cinco milhões de norte-americanos. Por volta de 1810, havia mais de
sete milhões e dentro de outros vinte anos, este número dobraria.
Além disso, a fronteira norte-americana estava constantemente
mudando em direção ao oeste. Joseph morava nesta fronteira – um
ambiente rústico, duro e por vezes perigoso.
É importante observar que o mundo Pré-moderno não foi um período
estático, apesar de que certos aspectos tiveram uma continuidade
longa e substancial. [6]

Os Primeiros Anos de Joseph


As fontes concernentes aos primeiros anos do Profeta (1805-19) são
fragmentárias. A principal delas sobre os primórdios da vida de
Joseph é a história de Lucy Mack Smith. [7] Além disso, o Profeta
preparou algumas histórias curtas que forneceram algumas análises
pessoais. [8] Entretanto, as memórias de Lucy Mack permanecem
como uma das principais fontes para se reconstruir aqueles primeiros
anos. Ela começa a contar sua história logo depois da morte do
Profeta, em 1844. A história de Lucy fornece informações para
acadêmicos, levando-os a procurar registros de impostos e outros
documentos que possam expandir as alusões feitas nesta importante
recordação. Sem a extraordinária história de Lucy Mack sobre sua
família, nós não saberíamos quase nada sobre os primeiros anos de
Joseph Smith. Este capítulo é uma revisão dos primeiros anos do
Profeta com referências aos principais eventos das histórias norte-
americana e mundial, a fim de fornecer as referências históricas
necessárias.
Por meio da história de Lucy ficamos sabendo que os pais do Profeta
(Joseph e Lucy Smith) se casaram em 1796 em Tunbridge, Condado
de Orange, [no estado norte-americano de] Vermont. [9] A família
Smith se mudou para Randolph, no mesmo condado e estado, devido
ao péssimos resultados de um investimento que os levou a vender
sua fazenda em 1802 “para evitar a vergonha da dívida.” [10] Nos
anos seguintes, eles ainda se mudaram inúmeras vezes. [11] Apesar
disso, as mudanças foram todas dentro de uma pequena área
geográfica, mantendo-os assim junto a um mesmo círculo de
familiares e amigos.
A família Smith se mudou de volta para Tunbridge em 1803.[12] Uma
nova mudança ocorreu em 1804, desta vez para o Condado de
Windsor, ainda em Vermont, para as terras que pertenciam aos pais
de Lucy Mack Smith, Lydia Gates e Solomon Mack. [13] Lucy Mack
recordou: “Foi aqui que meu filho Joseph nasceu, no dia 23 de
dezembro de 1805, aquele que viria a trabalhar mais
conscientemente neste trabalho do que qualquer outro
indivíduo.” [14] Joseph Smith nasceu em uma segunda-feira, dia 23
de dezembro. Tendo recebido o mesmo nome que seu pai, era
conhecido como Joseph Smith Jr. até a morte de seu pai em 1840.
Depois disso, o Profeta era simplesmente conhecido como Joseph
Smith. Também durante 1805, Lewis e Clark chegaram ao Oceano
Pacífico.
A família Smith se mudou de volta para Tunbridge em 1807, o mesmo
ano em que Thomas Jefferson assinou a Lei de Embargo e Robert
Fulton inventou o navio a vapor. [15]
Em 1808 os Estados Unidos finalmente proibiram a importação de
escravos vindos da África e do Caribe. No domingo, dia 13 de março,
nasceu Samuel Harrison Smith. [16] Na quinta-feira, dia 22 de
dezembro, Beethoven apresentou pela primeira vez sua recém
completa Quinta Sinfonia. Em algum momento por volta do fim
daquele ano, a família se mudou para Royalton, Condado de
Windsor, em Vermont. [17]
Ephraim Smith nasceu em uma segunda-feira, dia 13 de março de
1810, em Royalton. Ele morreu alguns dias depois, no dia 24 de
março, um sábado. Ele foi o segundo filho de Lucy Mack e Joseph
Smith a morrer ainda criança. [18] Outro filho, William Smith, nasceu
numa quarta-feira, dia 13 de março de 1811. O primeiro navio a vapor
a navegar o Rio Mississipi abaixo chegou a Nova Orleans naquele
ano. [19]
A família Smith deixou Vermount pela primeira vez quando eles se
mudaram para o outro lado do Rio Connecticut, para Lebanon,
Condado de Grafton, no estado norte-americano de New Hampshire
em 1811. Esta mudança foi algo em torno de 20 milhas além de onde
moravam, iniciando um processo que lhes permitiria romper com suas
amarras e vínculos com a Nova Inglaterra. [20] Naquela época,
Joseph Smith Sênior teve seus primeiros sonhos de conteúdo
religioso. Eles continuaram pelos anos que se seguiram, revelando as
lutas e desafios espirituais que ele estava passando naquele
momento. [21]
Uma epidemia de febre tifóide se espalhou pelo Vale do Rio
Connecticut em 1812, matando pelo menos 6.400 pessoas durante
um período de cinco meses. [22] Também naquele ano, o Presidente
dos E.U.A., James Madison, declarou guerra contra a Grã-Bretanha.
Na quarta-feira, dia 23 de julho de 1813, Catherine Smith nasceu em
Lebanon. [23] A febre tifóide atingiu a família Smith. Ninguém morreu,
mas Joseph Smith Jr. experimentou graves dores mesmo depois de
ter tido a febre. Eventualmente, uma infecção atingiu sua
perna. [24] O Dr. Nathan Smith da Escola de Medicina de Dartmouth,
localizada perto da casa dos Smiths em Lebanon, operou Joseph
utilizando um processo único, e assim salvando a perna do jovem de
sete anos de idade. [25]
Este episódio fornece uma perspectiva importante sobre a dinâmica
da família Smith. Cada um dos pais de Joseph demonstraram um
aspecto diferente de força durante esta crise. Lucy Mack, por
exemplo, tinha uma opinião forte. Em vez de amputação (o
procedimento padrão naquela época), ela ordenou aos médicos que
tentassem salvar a perna do jovem rapaz. [26] Entretanto, antes dos
médicos começarem a operar, Lucy Mack saiu do quarto,
aparentemente incapaz de lidar com a situação. Joseph Smith Sênior
interveio e ficou no quarto para segurar seu filho durante o doloroso
procedimento. [27] Tanto Joseph como Lucy Mack desempenharam
papéis diferentes mas significativos nesta crise médica. Depois do
procedimento, Joseph foi ficar com seu tio, Jesse Smith, em Salem,
na costa do Atlântico em Massachusetts, na esperança de que o ar
fresco do mar o ajudasse em sua recuperação. [28] Ele melhorou
gradualmente, mas levou anos até que pudesse andar sem muletas.
Os britânicos venceram Napoleão em Waterloo e a Guerra de 1812
terminou em 1815. Em meados de abril daquele ano, Monte Tambora,
um vulcão da Indonésia moderna, entrou em erupção e soltou cerca
de 12 milhas cúbicas de gases e 25 milhas cúbicas de destroços na
atmosfera, obstruindo o sol e alterando os padrões climáticos através
de todo o globo por muito tempo depois.
Pela última vez na Nova Inglaterra, a família mudou-se novamente de
volta para o outro lado do Rio Connecticut e alugou uma fazenda em
Norwich, Condado de Windsor, Vermont. Don Carlos Smith nasceu
em Norwich em 1816. [29]
De acordo com Richard L. Bushman, durante o período de 1814 e
1816, a família Smith caiu em uma pobreza muito maior do que em
qualquer outro ponto de suas vidas. [30] Na sociedade moderna e
tecnológica em que vivemos hoje, uma pessoa pode viver uma vida
relativamente produtiva e satisfatória sem possuir qualquer terra. Mas
no mundo Pré-moderno e agrícola, a propriedade de terra era
necessária para a sobrevivência de uma família. Para a maioria das
pessoas daquela época, não havia outros recursos, como, anuidades
de paraísos fiscais, seguro social e seguro de vida. A fazenda da
família era frequentemente o único recurso econômico disponível
para sustentar os pais quando entravam em seus últimos anos de
vida. Além disso, a fazenda da família dava aos filhos um apoio no
começo de suas vidas quando se casavam, principalmente quando
seus pais lhes concediam uma parte da terra. Entretanto, sem as
terras da fazenda, o futuro da família Smith parecia desanimador.
O ano de 1816 ficou mais tarde conhecido como “o ano sem
verão.” [31] Joseph Smith Sênior e Lucy Mack Smith provavelmente
desconheciam o fato que a erupção do Monte Tambora em 1815 foi o
motivo dos problemas com a colheita na região. Lucy Mack relembra:
“No primeiro ano, as nossas colheitas fracassaram e compramos
nosso pão com o produto de nosso pomar e de nossa própria
diligência. No segundo ano, nossas colheitas fracassaram
novamente. Na primavera seguinte, o Sr. Smith disse que ele
plantaria mais uma vez nesta fazenda, e se ele não tivesse sucesso,
que iríamos para Nova York.” [32]
Os Smiths estavam na Nova Inglaterra por cinco gerações, mas
aquele último e péssimo ano forçou-os a deixar a área. [33] Lucy
Mack recorda: “Isto foi o suficiente. Meu marido decidiu que iríamos
para Nova York.” [34] As razões para isso pareciam claras: “Por mais
de uma década, o clima, o fracasso das colheiras, credores, doenças
e problemas com negócios arruinaram financeiramente os
Smiths.” [35] Estava na hora de começar de novo – um novo começo
e Nova York parecia o melhor lugar para fazê-lo.
Outros membros da família Smith já haviam se separado de suas
raízes da Nova Inglaterra ao mudarem-se para Nova York e, como
resultado, os laços familiares e de amizade já se desfaziam em
Vermont.
Teologicamente, os Santos dos Últimos Dias não iriam
necessariamente concordar que Deus fez com que o Monte Tambora
entrasse em erupção. Entretanto, Deus pode ter usado as
consequências naturais do catastrófico evento para realizar seus
propósitos divinos, neste caso, o de trazer a família Smith ao oeste de
Nova York.
Nova York
Joseph Smith Sênior saiu de Vermont no verão de 1816 para
Palmyra, Ontário (atualmente condado de Wayne), Nova York. Sua
família se juntou a ele mais tarde naquele ano. Joseph Smith Sênior
decidiu não acompanhar o resto de sua família a St. Lawrence no
norte do estado. Sua decisão de se realocar na região oeste de Nova
York foi vantajosa.
O Senhor havia preparado o oeste de Nova York com um campo fértil
para realizar seus propósitos divinos – a Restauração. Imaginem um
triângulo consistindo de três p’s. Os dois primeiros p’s eram as placas
(Livro de Mórmon) e a prensa [ou imprensa - NT] (E. B. Grandin), as
quais estavam em seus lugares em 1816. O último p era o Profeta
Joseph Smith. O Senhor trouxe a família Smith para o oeste do
estado de Nova York para completar o triângulo.
Ao mesmo tempo, estavam localizadas naquela região uma série de
revivificações evangélicas, conhecidas hoje como o Segundo Grande
Despertar. [36] Identificado pelos historiados como o “distrito em fogo”
devido à euforia religiosa que se espalhava através da região do
oeste de Nova York de 1816 a 1926, [37] tais revivificações faiscaram
no jovem Joseph Smith, uma labareda espiritual que não poderia ser
extinta, levando-o a uma última jornada que duraria o resto de sua
vida.
Um historiador norte-americano fez a seguinte observação, referente
à publicação do Livro de Mórmon e da organização da Igreja naquela
época:
Surgiu precisamente no momento certo na história norte-americana –
se tivesse ocorrido muito mais cedo ou mais tarde, a Igreja poderia
não ter vingado. O Livro de Mórmon provavelmente não seria
publicado no século XVIII, naquele mundo amplamente regido pelas
crenças das tradições orais antes da grande revolução democrática
que inspirou todo tumulto religioso do início da república. No século
XVIII, o Mormonismo poderia ter sido facilmente silenciado e
despachado pela cultura dominante da pequena nobreza iluminada,
como se fosse alguma outra eufórica superstição folclórica. Por outro
lado, se o Mormonismo tivesse surgido mais tarde, depois da
consolidação da autoridade e da propagação da ciência em meados
do século XIX, poderia ter tido problemas comprovando seus textos e
revelações. Mas durante as primeiras décadas do século XIX, era a
época ideal para se estabelecer a nova fé. A revolução democrática
estava no seu auge, todas as autoridades tradicionais estavam
desorganizadas, e visões e profecias ainda exerciam uma poderosa
atração para um grande número de pessoas. Uma geração ou mais e
teria sido necessário para Smith e seus seguidores obter a
autenticação de professores universitários com relação aos
caracteres nas placas de ouro. Mas o fracasso de Martin Harris em
obter tal verificação “professional” e “científica” em 1820 não
importou. Afinal de contas, simples fazendeiros tinham um
discernimento tão apurado destas coisas como os professores de
faculdade. [38]
Ao passo que a mudança para Nova York tenha sido providencial, por
outro lado não foi sem desafios. Lucy Mack teve que cuidar de vários
compromissos, inclusive o pagamento de várias dívidas antes que
pudesse reunir sua família a Joseph Smith Sênior a 300 milhas
distante. Além disso, Joseph Smith Jr., ainda se recuperando da
cirurgia de sua perna, foi forçado a andar uma grande parte do trajeto
devido a um condutor abusivo que foi contratado para levar a família
a Nova York. A família finalmente chegou a Palmyra. Lucy Mack
recordou: “em pouco tempo cheguei a Palmyra com uma pequena
parte de meus pertences, meus filhos e dois centavos em dinheiro,
mas perfeitamente feliz com o estado de minha família. A alegria que
senti ao entregar-me e a meus filhos aos cuidados e afeição de um
pai e marido carinhoso foi o pagamento em dobro por tudo que eu
havia sofrido. As crianças ficaram em volta de seu pai, pendurados
em seu pescoço, cobrindo sua face com lágrimas e beijos que eram
reciprocamente dados por ele com extremo gosto.” [39]
Os primeiros anos em Nova York foram desafiadores e Joseph
recordou que seu pai “estando em circunstâncias de extrema
pobreza, foi obrigado a trabalhar duro para sustentar uma grande
família com nove crianças; e porque foi necessário os esforços de
todos que fossem capazes de fornecer qualquer assistência para o
sustento da família, fomos privados do benefício de uma educação.
Basta dizer que fui simplesmente instruído na leitura e na escrita e
nas regras básicas de aritmética que constituíam todo meu
conhecimento literário.” [40] Eventualmente, por volta de 1819,
Joseph Smith Sênior, Alvin (o filho mais velho) e Hyrum (o segundo
filho mais velho), tinham ganhado dinheiro suficiente para o
pagamento de entrada para uma fazenda de cem acres perto de
Palmyra em Farmington Township (conhecida hoje como Manchester
Township.) [41]
Será neste período que surgirá um dos primeiros retratos escritos de
Joseph Smith por alguém fora de sua família. Como a Sra. Palmer
relembra, “Meu pai amava o jovem Joseph Smith e muitas vezes o
contratava para trabalhar com seus filhos. Eu tinha cerca de seis anos
de idade quando ele veio à nossa casa pela primeira vez. Lembro-me
indo ao campo em uma tarde para brincar nas fileiras da plantação de
milho enquanto meus irmãos trabalhavam. Quando a noite chegou,
eu estava cansada demais para andar para casa e chorava porque
meus irmãos se recusavam a carregar-me. Joseph me colocou em
seus ombros, com seu braço em meus pés para me equilibrar e meu
braço ao redor do seu pescoço, e assim ele me carregou até nossa
casa.” [42]
Este relato revela algo sobre a família Smith: eles trabalhavam e
ganhavam por dia e não eram fazendeiros. Esta distinção é
importante para qualquer pessoa que tente reconstruir o palco social
e econômico dos primeiros anos de Joseph Smith.

O Segundo Grande Despertar


Muitos norte-americanos encontraram Deus durante o Segundo
Grande Despertar. As séries de revivificações ajudaram a criar na
América uma nação única, industrial ocidental com uma religião
moderna. Por volta de 1800, a fé começou a ser algo cada vez mais
importante na vida de muitas pessoas. Joseph observou que seus
pais “não pouparam esforços em instruir-me na religião
cristã”. [43] Ilustrações contemporâneas e descrições das reuniões
nos acampamentos demonstram que em muitos casos os eventos
eram grandes encontros; as pessoas por muitas vezes se reuniam
por longos fins de semana para ouvir exortações de pregadores em
circuito. Naturalmente, essas revivificações religiosas eram de
natureza evangélica, tentando convencer as pessoas de seus
pecados e então convencê-los de que somente através da graça de
Jesus eles poderiam ser salvos. É importante observar que, ao invés
de ser um único evento, o Segundo Grande Despertar consistia de
uma série de revivificações espalhadas sobre um certo período de
tempo e em um espaço geográfico. A família Smith foi
inevitavelmente levada a este fervor evangélico durante uma série de
revivificações durante este período no oeste de Nova York. [44]
A procura religiosa pessoal de Joseph aparentemente surgiu em
algum momento por volta de 1818, no despertar das revivificações de
1816 e 1817. Ele recordou:
Por volta dos doze anos de idade, minha mente já estava seriamente
impressionada com todas as questões importantes referentes ao
bem-estar de minha alma imortal, as quais me levaram a procurar as
escrituras crendo, como fora ensinado, que elas continham a palavra
de Deus – assim aplicando-as a mim mesmo e [devido à] minha
íntima associação com aquelas diferentes denominações, fui levado a
me maravilhar excepcionalmente, pois eu descobrira que eles não
adornaram suas profissões por meio de uma caminhada sagrada e
uma conversação divina em concordância com aquilo que pensei
estar contido no sagrado depositório [da Bíblia –] isto foi um pesar
para a minha alma – assim da idade dos doze até os quinze anos de
idade, ponderei muitas coisas em meu coração. [45]
Uma fonte contemporânea destaca uma reunião de acampamento
ocorrida em Palmyra em junho de 1818. O Reverendo Aurora Seager
escreveu em seu diário:
No dia 18 de junho, recebi uma carta do Irmão [Billy] Hibbard, me
informando que eu havia recebido a Conferência de Nova York [da
costa Leste] e que, a meu pedido, havia sido transferido para a
Conferência de Genesee. No dia 19 [de junho de 1919 [???], [sexta-
feira], fui a uma reunião de acampamento em Palmyra [cerca de
quatorze milhas de Phelps]. A chegada do Bispo Roberts, que parecia
ser um homem de Deus, e sua aparência apostólica, despertou um
grande interesse na reunião até seu encerramento. Na segunda-feira
[na reunião de acampamento em Palmyra], o sacramento foi
administrado, cerca de vinte pessoas foram batizadas; quarenta se
uniram à Igreja [Metodista] e a reunião se encerrou. [46]
Ninguém poderia ter previsto como essas revivificações iriam afetar
Joseph Smith Jr., inclusive os próprios membros da família Smith.
Nem Joseph nem Lucy Mack tiveram quaisquer premonições sobre o
futuro religioso de seu filho. Lucy recordou que Joseph era uma
criança “extremamente quieta” e “bem disposta.” Mesmo assim, ele
era “muito menos inclinado a examinar livros do que” os outros filhos
do casal. Entretanto, Joseph lembrou-se que ele leu as escrituras,
“crendo, como fora ensinado, que elas continham a palavra de
Deus.” [47] Ele foi, todavia, “dado à meditação e ao estudo
profundo.” [48]
Felizmente, possuímos vários pequenos relatos deste período. O
mais conhecido é a história oficial de Joseph, hoje encontrada na
Pérola de Grande Valor (Joseph Smith – História). Utilizando uma
convenção narrativa tradicional do século XIX, Joseph organizou os
eventos de 1816-26 quando ele preparou sua história oficial
formal. [49] Nesta história, Joseph recorda que havia três conflitos
interdenominacionais entre os vários partidos e seitas, a maioria se
referindo às revivificações de 1816-17 e 1824-26. [50]
Pois apesar do grande amor que os conversos dessas diferentes
crenças expressavam na época de sua conversão e do grande zelo
demonstrado pelos respectivos cleros, que ativamente se levantavam
para promover esse quadro singular de sentimento religioso com o
fim de converter a todos, como se compraziam em afirmar, deixando
que as pessoas se unissem à seita que mais lhes agradasse;
contudo, quando os conversos começaram a afastar-se, uns para um
grupo e outros para outro, verificou-se que os supostos bons
sentimentos, tanto dos sacerdotes como dos conversos, eram mais
pretensos que reais; pois criou-se um ambiente de grande confusão e
animosidade—sacerdote contendendo com sacerdote e converso
com converso. (Joseph Smith – História 1:6).
Este relato revela que as pessoas daquela época pensavam
seriamente sobre a salvação, embora estivessem divididas entre os
melhores meios de se obtê-la, incluindo a interpretação de passagens
bíblicas. O estado geral de divisão refletia um pequeno grau daquilo
que estava acontecendo dentro da própria família Smith.
Milton V. Backman, por exemplo, descobriu que em sete cidades
dentro de um raio de 20 milhas da fazenda da família Smith perto de
Palmyra reportou-se “‘uma euforia religiosa pouco comum’ e/ou o
aumento do número de membros nas igrejas” entre 1819 e 1820 e
pelo menos duas outras cidades referiu-se a “prospectos de
revivificações.” [51]
O jovem Joseph Smith evitou se filiar a qualquer igreja, embora
frequentasse diversas delas e estivesse particularmente inclinado à fé
Metodista. Dois de seus conhecidos no Palmyra Register relembram
Joseph “capturando o brilho do Metodismo em uma reunião de
acampamento” e que ele se juntou a uma aula probatória da Igreja
Metodista de Palmyra. [52] Joseph mesmo declarou algum desejo de
se filiar aos Metodistas. Sua mãe e muitos de seus irmãos
eventualmente se filiaram à Igreja Presbiteriana. [53] Seu pai havia
estado envolvido na associação Universalista local em Tunbridge,
Vermont, mas em Nova York não estava ligado a nenhuma
denominação. Ele estava decididamente sem igreja, embora
religiosamente inclinado. [54] As crianças lutavam por uma identidade
religiosa. Joseph mesmo recorda que ele queria “ter uma Religião
também; queria sentir e bradar como o resto, mas não sentia
nada.” [55]
Joseph Smith acrescentou ainda que muitas vezes sua mente se
achava em “sérias reflexões e grande inquietação” (Joseph Smith –
História 1:8). Primeiramente, ele se preocupava com sua salvação
pessoal e dizia: “Minha mente se tornou excessivamente preocupada
porque me conscientizei de meus pecados. ... E senti-me lamentando
por meus próprios pecados e pelos pecados do mundo. ... Portanto,
clamei ao Senhor por perdão pois não havia ninguém a quem eu
pudesse me dirigir e obter perdão.” [56]
Naquele momento de hesitação religiosa, a família Smith construiu
em 1819, uma casa de madeira ao norte de Farmington (atualmente
na divisa de Manchester Township) em Palmyra Township. [57] A
família começou a limpar o terreno em sua fazenda de cem acres.
É importante observar que Joseph Smith não tinha atraído sobre si
muita atenção entre 1805 e 1819. Ele vivia uma vida simples na
fronteira norte-americana, um “obscuro menino” como ele mesmo
recordou (Joseph Smith – História 1:23). Entretanto, em 1820, seu
mundo e o mundo religioso em que ele vivia, mudou para sempre.

Um Instrumento nas Mãos do Senhor


Um pouco antes de sua morte, Joseph Smith disse que ele havia sido
pré-ordenado “a ser um dos instrumentos para estabelecer o Reino
de Daniel, pela palavra do Senhor, e eu pretendia lançar o alicerce
que irá revolucionar o mundo inteiro – uma vez eu ofereci minha vida
para as turbas de Missouri como um sacrifício ao meu povo – e aqui
estou – não será pela espada ou pela arma que este Reino irá em
frente – o poder da verdade é tanto que – todas as nações estarão
sob a obrigação de obedecer o Evangelho.” [58]
De 1820 até sua morte em 1844, Joseph Smith esteve engajado em
sua missão religiosa. Entretanto, apesar de todos os seus sucessos
como parte da Restauração, o Profeta Joseph Smith foi somente um
instrumento nas mãos do Senhor. O Presidente Gordon B. Hinckley
colocou o ministério do Profeta em perspectiva para os Santos dos
Últimos Dias contemporâneos quando escreveu: “Eu venero o Deus
dos céus, que é meu Pai Eterno. Eu venero o Senhor Jesus Cristo,
que é meu Salvador e Redentor. Eu não venero o Profeta Joseph
Smith, mas eu reverencio e amo este grande vidente através do qual
o milagre deste evangelho tem sido restaurado. Agora estou
envelhecendo e sei que no curso natural de eventos, antes de muitos
anos, estarei atravessando a porta de entrada para ficar em frente de
meu Criador e meu Senhor e prestar contas da minha vida. E espero
que eu tenha a oportunidade de abraçar o Profeta Joseph Smith e
agradecê-lo e dizer-lhe sobre o amor que tenho por ele.” [59]
Quando refletimos sobre o humilde início da vida do Profeta Joseph
Smith em Vermont e sua jornada ao Bosque Sagrado em Nova York,
ficamos repletos de amor e apreciação por aquele que foi “abençoado
a abrir a última dispensação,” e nos regozijamos que “Jesus ungiu
aquele Profeta e Vidente.” [60]

Notas
[1] Veja Hyrum Andrus e Helen Mae Andrus, They Knew the Prophet
[Eles Conheceram o Profeta] (Salt Lake City: Deseret Book, 1999); e
Mark L. McConkie, Remembering Joseph [Lembrando-se de Joseph]
(Salt Lake City: Deseret Book, 2003).
[2] Veja Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone
Rolling [Joseph Smith: Pedra Não Lapidada Rolando] (New York:
Alfred A. Knopf, 2005), 3.
[3] Josiah Quincy, Figures of the Past from the Leaves of Old Journals
[Figuras do Passado das Páginas de Velhos Diários] Boston: Roberts
Brothers, 1883), 380–81.
[4] Andrus e Andrus, They Knew the Prophet [Eles Conheceram o
Profeta], 191–92.
[5] Para mais informações referentes ao contexto em imediato sobre a
vida de Joseph Smith nos Estados Unidos, veja Chad M. Orton e
William W. Slaughter, Joseph Smith’s America: His Life and Times [A
América de Joseph Smith: Sua Vida e Sua Época] (Salt Lake City:
Deseret Book, 2005).
[6] Para um panorama histórico da importância dessas várias
questões no século XIX nos E.U.A., veja Daniel Walker Howe, What
Hath God Wrought: The Transformation of America, 1815–1848 [O
que Deus Criou: A Transformação da América, 1815-1848], (New
York: Oxford University Press, 2007).
[7] Lucy Mack Smith, The Revised and Enhanced History of Joseph
Smith by His Mother [A História Revisada e Melhorada de Joseph
Smith escrita por sua Mãe], ed. Scot Facer Proctor e Maurine Jensen
Proctor (Salt Lake City: Deseret Book, 1996), xxxvii; e Lavina Fielding
Anderson, ed., Lucy’s Book: A Critical Edition of Lucy Mack Smith’s
Family Memoir [O Livro de Lucy: Uma Edição Crítica das Memórias
Familiares de Lucy Mack Smith] (Salt Lake City: Signature Books,
2001), 67–68.
[8] Veja, por exemplo, a história de Joseph Smith de 1832; Personal
Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph Smith], ed.
Dean C. Jessee (Salt Lake City: Deseret Book, 2002), 9–20.
[9] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 42.
[10] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 51–53.
[11] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 45; e Richard Neitzel Holzapfel,
“The Church on the Early 19th-Century Frontier” [“A Igreja na
Fronteira no Início do Século XIX”], em Historical Atlas of Mormonism
[Atlas Histórico do Mormonismo], ed. S. Kent Brown, Donald Q.
Cannon, e Richard H. Jackson (New York: Simon e Schuster, 1994),
6–7.
[12] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 53.
[13] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62.
[14] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62.
[15] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62.
[16] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62; para um resumo da vida de
Samuel Harrison Smith veja Kyle R. Walker, ed., United by Faith: The
Joseph Sr. and Lucy Mack Smith Family [Unidos pela Fé: A Família
de Joseph Smith Sr. e Lucy Mack Smith] (American Fork, UT:
Covenant Communications, 2005), 204–307.
[17] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62.
[18] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62.
[19] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 62; para um resumo da vida de
William B. Smith, veja Walker, United by Faith [Unidos pela Fé], 247–
307.
[20] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 64.
[21] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 63–64.
[22] Bushman, Rough Stone Rolling [Pedra Não Lapidada Rolando],
20.
[23] Walker, United by Faith [Unidos pela Fé], 308–52.
[24] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 69–76.
[25] LeRoy S. Wirthlin, “Joseph Smith’s Boyhood Operation: An 1813
Surgical Success” [“A Operação de Joseph Smith quando Criança:
Um Processo Cirúrgico em 1813] BYU Studies 21, no. 2 (Primavera
1981): 131–54.
[26] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 73–74.
[27] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 75; veja também Bushman,
Rough Stone Rolling [Pedra Não Lapidada Rolando], 21–22.
[28] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 76; para um resumo da vida de
Don Carlos Smith, veja Walker, United by Faith [Unidos pela Fé],
354–97.
[29] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 76.
[30] Bushman, Rough Stone Rolling [Pedra Não Lapidada Rolando],
27–29.
[31] Veja Howe, What Hath God Wrought [O que Deus Criou], 30–31;
e John D. Post, The Last Great Subsistence Crisis in the Western
World [A Última Grande Crise de Subsistência no Mundo Ocidental],
(Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1977), 1–27.
[32] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 81.
[33] Para mais informações sobre a história da família Smith, veja
Richard Lloyd Anderson, Joseph Smith’s New England Heritage [A
Herança de Joseph Smith da Nova Inglaterra] (Salt Lake City and
Provo, UT: Deseret Book and BYU Press, 2003).
[34] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 81–82.
[35] Bushman, Rough Stone Rolling [Pedra Não Lapidada Rolando],
28.
[36] Veja Milton V. Backman, “Awakenings in the Burned-over District:
New Light on the Historical Setting of the First Vision [“Despertares no
‘Distrito em Fogo’: Um Novo Enfoque no Palco Histórico da Primeira
Visão”], BYU Studies 9, no. 3 (1969): 301–15.
[37] Veja Whitney R. Cross, The Burned-Over District: The Social and
Intellectual History of Enthusiastic Religion in Western New York,
1800–1850 [O ‘Distrito em Fogo’: A História Social e Intelectual do
Entusiasmo Religioso no Oeste de Nova York, 1800-1850], (Ithaca,
NY: Cornell University Press, 1950).
[38] Gordon S. Wood, “Evangelical America and Early Mormonism”
[“A América Evangélica e o Mormonismo do Início”], em Dean L. May
and Reid L. Neilson, The Mormon History Association Tanner
Lectures: The First Twenty Years [Os Discursos de Tanner da
Associação de História Mórmon: Os Primeiros Vinte Anos], (Urbana:
University of Illinois Press, 2006), 22.
[39] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 84–86.
[40] Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 10; com ortografia, pontuação e gramática atualizados.
[41] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 86.
[42] Andrus, They Knew the Prophet [Eles Conheceram o Profeta], 1.
[43] Personal Writings of Joseph Smith[Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 10; com ortografia, pontuação e gramática atualizados.
[44] Para um resumo da cultura religiosa durante este período, veja
Nathan Hatch, The Democratization of American Christianity [A
Democratização do Cristianismo Americano] (New Haven, CT: Yale
University Press, 1989); e Jon Butler, Awash in a Sea of Faith:
Christianizing the American People [Encharcados em um Mar de Fé:
Cristianização do Povo Americano (Cambridge: Harvard University
Press, 1990). Para análises estatísticas do crescimento da Igreja
durante este período, veja Roger Finke e Rodney Stark, The
Churching of America, 1776–2005: Winners and Losers in Our
Religious Economy [As Igrejas da América, 1776-2005: Vencedores e
Perdedores em Nossa Economia Religiosa] (New Brunswick, NJ:
Rutgers University Press, 2005); e Edwin Gaustad e Philip Barlow,
New Historical Atlas of Religion in America [Novo Atlas Histórico da
Religião na América] (New York: Oxford University Press, 2000).
[45] Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 10; com ortografia, pontuação e gramática atualizados.
[46] E. Latimer, Three Brothers: Sketches of the Lives of Rev. Aurora
Seager, Rev. Micah Seager, Rev. Schuyler Seager [Três Irmãos:
Esboços das Vidas do Rev. Aurora Seager, Rev. Micah Seager, Rev.
Schuyler Seager], D.D. (New York: Phillips & Hunt, 1880), 12.
[47] Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 10.
[48] Smith, History of Joseph Smith by His Mother [A História de
Joseph Smith escrita por sua Mãe], 111.
[49] Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 226–39.
[50] D. Michael Quinn argumentou persuasivamente sobre esta
questão em um outro trabalho, (“Joseph Smith’s Experience at a
Methodist ‘Camp-Meeting’ in 1820,” Expanded Version [Definitive] [“A
Experiência de Joseph Smith em uma ‘Reunião de Acampamento’
Metodista em 1820”, Versão Extendida - Definitiva] Dialogue
Paperless 3 [Dezembro 2006]: 1–110, disponível online
em http://www.dialoguejournal.com/ excerpts/e3.pdf).
[51] Backman, “Awakenings in the Burned-over District” [“Despertares
no ‘Distrito em Fogo’”], 312–13.
[52] Richard Lloyd Anderson, “Circumstantial Confirmation of the First
Vision Through Reminiscences” [“Confirmação Circunstancial da
Primeira Visão através de Reminiscências”] BYU Studies 9, no. 3
(Primavera 1969): 379–84.
[53] Veja Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de
Joseph Smith], 229.
[54] Asael Smith, avô de Joseph Smith, organizou a sociedade
Universalista em Tunbridge, Vermont, em 1797, com Joseph Smith
Sr. listado entre os dezesseis membros. Consta que seus filhos mais
velhos tenham frequentado as reuniões com ele. Veja LaMar C.
Berrett e outros, eds.,Sacred Places, vol. 1: New England and Eastern
Canada [Nova Inglaterra e o Canadá Oriental] (Salt Lake City:
Bookcraft, 1999), 1:121–22.
[55] Diário de Alexander Neibaur, Maio 24, 1844, em The Papers of
Joseph Smith: Volume 1, Autobiographical and Historical Writings [Os
Papéis de Joseph Smith: Volume 1, Escritos Autobiográficos e
Históricos], ed. Dean C. Jessee (Salt Lake City: Deseret Book, 1989),
461.
[56] Personal Writings of Joseph Smith [Escritos Pessoais de Joseph
Smith], 11; ortografia atualizada.
[57] Pesquisadores recentemente descobriram evidências jurídicas
mostrando que Joseph havia sido uma testemunha credível em um
caso legal (evidência que a família Smith estava morando em
Palmyra em 1819). Veja “A Chronology of the Life of Joseph Smith”
[“Uma Cronologia da Vida de Joseph Smith”], BYU Studies 46, no. 4
(2007): 7.
[58] The Words of Joseph Smith: The Contemporary Accounts of the
Nauvoo Discourses of the Prophet Joseph [As Palavras de Joseph
Smith: Os Relatos Contemporâneos do Profeta Joseph dos Discursos
de Nauvoo], ed. Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook (Provo, UT:
Religious Studies Center, Brigham Young University, 1980), 367.
[59] Gordon B. Hinckley, “As One Who Loves the Prophet” [“Como
Alguém Ama o Profeta”] em The Prophet and His Work: Essays from
General Authorities on Joseph Smith and the Restoration [O Profeta e
suas Obras: Ensaios das Autoridades Gerais sobre Joseph Smith e a
Restauração] (Salt Lake City: Deseret Book, 1996), 13.
[60] W. W. Phelps, “Praise to the Man” [“Hoje, ao Profeta Louvemos”]
Hymns [Hinos] (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-
day Saints, 1985), no. 27 [em português, no. 14].
A Expiação e a Ressurreição

A Expiação e a Ressurreição
Élder D. Todd Christofferson

O Élder D. Todd Christofferson é membro do Quórum dos


Doze Apóstolos.
Este artigo foi adaptado de um discurso dado na BYU em 26
de março de 2005.

Sinto-me honrado por poder ter esta oportunidade de compartilhar


alguns pensamentos sobre a Expiação e Ressurreição de Jesus
Cristo. Tenho lutado, como muitos de vocês, com uma mente limitada
a fim de compreender o infinito sacrifício do Salvador. Não pretendo
ser capaz de ir às profundezas do assunto, mas espero poder
oferecer uma abordagem ou duas que possam nos ser úteis e de
encorajamento, conforme refletimos novamente sobre os grandes
eventos daqueles poucos dias que fizeram toda a diferença em nossa
existência.
Em nossas mentes, tentamos nos colocar de volta no tempo,
naquele fim de semana da primeira Páscoa. Hoje é sábado,
o Sabbath judeu. Aqui estamos—os eventos de ontem e do dia
anterior tiveram um tremendo impacto sobre nós. Era quinta-feira à
noite quando a última ceia ocorreu. Depois disso, Jesus passou para
além do ribeiro e para o Jardim de Getsêmani e seu sofrimento lá foi
tamanho, que nenhum de nós pode totalmente testemunhar ou
certamente compreender. Foi talvez nas primeiras horas da manhã de
ontem que todo o restante se sucedeu. Ontem, ele foi agredido e
abusado por aqueles com autoridade, tanto judeus como romanos.
Ele foi finalmente condenado por Pilatos e açoitado. Faz menos de
vinte e quatro horas desde que testemunhamos a terrível cena de
Sua crucifixação, estando Ele pendurado na cruz e sofrendo
intensamente de novo. Foi uma hora muito, muito escura, apesar de
não ter se passado muitas horas. Apressadamente colocamos Seu
corpo na tumba antes do pôr-do-sol de ontem. Agora, aqui estamos
em seu Sabbath. É meio-dia, e estamos divagando, em descrença e
confusão. Pensáramos que seria Ele quem salvaria Israel.
Pensáramos que Ele era o Messias, mas Ele se foi; Ele está morto.
Ontem, um pouco antes de morrer, Ele disse aquelas palavras: “Está
consumado” (João 19:30). O que Ele quis dizer com isso? Quis dizer
que Ele falhara? Que Ele nunca retornaria? Que Ele se foi e está tudo
terminado? Há algo mais? Sendo incompreensível para vocês e para
mim neste cenário, neste Sabbath de dúvidas, Ele, Seu espírito,
estava ocupado em outro lugar. Nesta manhã, Ele entrou no mundo
dos espíritos. Registros futuros irão confirmar que Ele era esperado
lá.
[Estavam ali reunidos uma multidão dos justos], aguardando a
chegada do Filho de Deus ao mundo dos espíritos [ainda nesta
manhã] para declarar sua redenção das ligaduras da morte.
Seu pó adormecido seria restaurado em sua perfeita forma, cada
osso a seu osso, e os tendões e a carne sobre eles, o espírito e o
corpo reunidos para nunca mais se separarem, a fim de receberem a
plenitude da alegria Enquanto essa vasta multidão esperava e
conversava, regozijando-se pela hora de sua libertação . . . , o Filho
de Deus apareceu, anunciando a liberdade aos cativos que tinham
sido fiéis;
E ali pregou-lhes o evangelho eterno, a doutrina da ressurreição e a
redenção do gênero humano da queda e dos pecados individuais,
desde que houvesse arrependimento. (D&C 138:16–19)
Era isso o que Ele estava fazendo nessa manhã. E nas palavras do
Presidente Joseph F. Smith, “Organizou suas forças e designou
mensageiros, revestidos de poder e autoridade, e comissionou-os
para levar a luz do evangelho aos que estavam nas trevas, sim, a
todos os espíritos dos homens” (D&C 138:30). E portanto o evangelho
será pregado para aqueles que estão mortos. Agora, o que reserva o
amanhã, nós não sabemos. Mas no momento certo, uma alegria
incompreensível virá sobre nós. Amanhã pela manhã, Maria e as
outras mulheres estarão na tumba. Elas a encontrarão vazia. Anjos
irão declarar que o Salvador, não estando lá, ressuscitou. Pedro e
João entrarão na tumba e a encontrarão vazia. Mais tarde, naquela
manhã, com o sol talvez brilhando há pouco, Jesus Mesmo aparecerá
a Maria e falará com ela, a primeira mortal a ver o Senhor
ressuscitado. Ele se apresentará Ele mesmo a outras mulheres e a
Pedro individualmente. Ele estará com dois de vocês no caminho a
Emaús e então, perto do anoitecer, mostrará a Si mesmo aos Seus
apóstolos e talvez a alguns de nós, reunidos, imaginando e
ponderando sobre o maravilhoso testemunho daqueles que O viram
antes. Isto é o que nos aguarda amanhã e é glorioso contemplá-lo.
Fico pensando se apreciamos as expectativas que recaem sobre nós
pelo que Ele fez e o que Ele agora nos oferece. Naquela que talvez
seja a primeira referência a Ele e a Seu papel em nossas vidas, Deus
fez o seguinte comentário a Moisés: “Mas eis que meu Filho Amado,
que foi meu Amado e meu Escolhido desde o princípio, disse-me: Pai,
faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre” (Moisés 4:2).
Em uma simples sentença, acredito que o Salvador revelou o que era
e sempre tem sido Seu principal propósito e Sua motivação. Seu
propósito é o de fazer a vontade do Pai e Sua motivação é a de
glorificar o Pai. Acredito que isto tenha requerido uma completa
devoção, a Sua total devoção para fazer a vontade do Pai, assim
como a Sua motivação para glorificar o Pai, para que Ele fosse capaz
de suportar o que Ele teve que suportar e levar a Expiação até o fim.
Os relatos de Seu sofrimento encontrados em Mateus, Marcos e
Lucas, referindo-se a Getsêmani, enfatizam o quanto Ele suportou.
(Interessou-me o fato de que não há relato do ocorrido em Getsêmani
em João, pelo menos daquilo que conhecemos de João. Imagino se
isto foi algo que ele sentiu ser muito sagrado para se tratar ou apenas
muito sensível para ser recontado.) Pelo menos por três vezes, pelo
que nos parece, Ele implorou ao Pai para que Ele não tivesse que
beber da taça amarga. Em Mateus, encontramos o seguinte relato:
E indo um pouco mais para diante, prostrou-se com o rosto, orando e
dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia,
não seja como eu quero, mas como tu queres.
E voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a
Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo?
Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o
espírito, está pronto, mas a carne é fraca.
E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai Meu, se este cálice não pode
passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.
E, voltando, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos
estavam carregados.
E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as
mesmas palavras. (Mateus 26:39–44)
Isto realmente é tudo que temos (repetido de formas variadas em
Marcos e Lucas) do que estava na oração. Tenho certeza que havia
muito mais. Mas o que foi mais persuasivo, dizendo essencialmente:
“Pai, se for possível, passe de mim este cálice. Se há algum modo
pelo qual isto possa ser cumprido sem ter que bebê-lo, isto é o que te
imploro e que seja feito. Todavia, que não seja feito como eu quero,
mas como tu queres.”
Lucas registra que, devido à Sua agonia, “o Seu suor tornou-se em
grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lucas 22:44). O
próprio Salvador, quando Ele o descreveu para o Profeta Joseph
Smith, disse que não era suor mas, de fato, sangue que Ele sangrou
por cada poro. Lucas ainda registra que um anjo veio para confortá-lo
naquela ordenança (veja Lucas 22:43). E mais tarde, terminando
aquele sofrimento na cruz, parecia circunspeto uma vez que o Pai
retirou Seu Espírito a fim de que o Filho pudesse pisar o lagar
sozinho. “E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo:
Eloi, Eloi, lama sabactâni? Que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?” (Marcos 15:34).
Sempre, entretanto, durante esta agonia e em toda sua súplica por
alívio, estava sua submissão à vontade do Pai—“Todavia não seja
como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26:39). “Pai Meu, se
este cálice não pode passar sem eu o beber, faça-se a tua vontade”
(Mateus 16:42). À medida que Ele descreveu a Expiação e a
preocupação que Ele tinha em não diminuir ou falhar em beber
totalmente daquela taça amarga, Ele expressou uma vez mais a
principal motivação que o conduziu durante todo aquele sofrimento
incompreensível: “Todavia, glória seja para o Pai; eu bebi e terminei
meus preparativos para os filhos dos homens” (D&C 19:19; ênfase
acrescentada).
Se Jesus não tivesse se devotado ao Pai e à vontade do Pai durante
Sua vida e durante Sua existência antes desta vida, Ele poderia não
ter sido capaz de levar a Expiação até seu fim. Como Ele o expressou
em João: “Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis
quem eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas falo como o Pai
me ensinou. E aquele que me enviou está comigo, o Pai não me tem
deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (João 8:28-29).
No Livro de Mórmon, Ele declarou: “Eis que eu sou Jesus Cristo, cuja
vinda ao mundo foi testificada pelos profetas. E eis que eu sou a luz e
a vida do mundo; e bebi da taça amarga que o Pai me deu e
glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os pecados do mundo, no que
me submeti à vontade do Pai em todas as coisas desde o princípio” (3
Néfi 11:10-11).
Mais tarde, ainda no livro de 3 Néfi: “Eis que vos dei o meu evangelho
e este é o evangelho que vos dei—que vim ao mundo para fazer a
vontade de meu Pai, porque meu Pai me enviou” (3 Néfi 27:13). E as
palavras inesquecíveis de Abinádi: “Sim, desse modo será conduzido,
crucificado e morto, a carne sujeitando-se à morte, a vontade do Filho
sendo absorvida pela vontade do Pai” (Mosias 15:7).
Imagino se nós, a fim de nos mantermos em nossa rota para
continuar e perseverar até o fim, para obtermos todos os benefícios
de Sua Expiação, não devemos, semelhantemente, nos devotar à
vontade e à glória do Pai e do Filho. Não seria lógico que eu e você, a
fim de sermos capazes de receber aquilo que Ele nos oferece,
tivéssemos que agir como Ele agiu e fazer com que a nossa maior
ambição fosse fazer a vontade do Pai e que nosso maior desejo fosse
glorificá-Lo?
Li alguns versículos há pouco, provenientes da seção 138 de Doutrina
e Convênios, referentes ao advento do Salvador no mundo espiritual
antes da Ressurreição. Nesta passagem há uma descrição
interessante sobre os justos que aguardavam tal advento. Aqui temos
como eles foram descritos: “E achava-se reunido em um só lugar um
grupo incontável dos espíritos dos justos, que foram fiéis no
testemunho de Jesus enquanto viveram na mortalidade; E que
ofereceram sacrifício à semelhança do grande sacrifício do Filho de
Deus e sofreram tribulações em nome de seu Redentor. Todos esses
haviam partido da vida mortal com a firme esperança de uma gloriosa
ressurreição por meio da graça de Deus, o Pai, e seu Filho Unigênito,
Jesus Cristo” (D&C 138:12-14).
O que me interessa, particularmente nesta passagem, é a frase “E
que ofereceram sacrifício à semelhança do grande sacrifício do Filho
de Deus.” Eles não ofereceram um sacrifício equivalente, mas algo
semelhante, da mesma natureza. E por este motivo eles ficaram
firmes na esperança de uma ressurreição gloriosa ou celestial. O que
poderia ser uma oferta à semelhança da grande oferta do Filho de
Deus?
Temos a conhecida declaração dada por Adão: “E após muitos dias,
um anjo do Senhor apareceu a Adão, dizendo: Por que ofereces
sacrifícios ao Senhor? E Adão respondeu-lhe: Eu não sei, exceto que
o Senhor me mandou. E então o anjo falou, dizendo: Isso é à
semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai que é cheio de graça e
verdade. Portanto farás tudo o que fizeres em nome do Filho; e
arrepender-te-ás e invocarás a Deus em nome do Filho para todo o
sempre” (Moisés 5:6–8; ênfase acrescentada).
Sabemos que quando Ele esteve neste hemisfério, após Sua
ressurreição e ascensão, Ele pôs fim àquele tipo de sacrifício à
semelhança do Unigênito, ou seja, o sacrifício animal. Mas Ele
reenfatizou um aspecto do mandamento dado a Adão—“Arrepender-
te-ás e invocarás a Deus em nome do Filho para todo o sempre” -
quando Ele mais tarde disse: “E oferecer-me-eis como sacrifício um
coração quebrantado e um espírito contrito. E todo aquele que a mim
vier com um coração quebrantado e um espírito contrito, eu batizarei
com fogo e com o Espírito Santo, como os lamanitas que, por causa
de sua fé em mim na época de sua conversão, foram batizados com
fogo e com o Espírito Santo” (3 Néfi 9:20). Seria então, por meio de
um sacrifício semelhante ao Seu, que nós nos submeteríamos
inteiramente a Deus.
Na seção 20 de Doutrina e Convênios lemos: “Portanto o Deus Todo-
Poderoso deu seu Filho Unigênito, como está escrito nessas
escrituras que por ele foram dadas. Sofreu tentações, mas não lhes
deu atenção. Foi crucificado, morreu e ressuscitou no terceiro dia; E
subiu ao céu, para assentar-se à direita do Pai a fim de reinar em
onipotência, de acordo com a vontade do Pai; [Com que
propósito?] Para que todos os que cressem e fossem batizados em
seu santo nome e perseverassem . . . até o fim, fossem salvos” (D&C
20:21-25).
Este é o nosso sacrifício, em semelhança ao Seu, o de sermos
batizados em Seu santo nome e de perseverarmos até o fim.
Permitam-me lembrá-los de dois versos bastante conhecidos de um
hino sacramental, “Deus tal amor por nós mostrou.”
Deus tal amor por nós mostrou
Que a nós seu Filho Jesus enviou
Para o caminho nos mostrar
Que ao Reino Eterno vai levar.
E então, no quarto verso, que raramente cantamos:
Agora ele quer de mim
Perseverança até o fim
Que seja reto meu viver
Que aprenda a lhe obedecer. [1]
Este ensinamento, de submissão a Ele e à Sua vontade que nos
permitiria colher o benefício da Expiação, poderá abranger uma série
de coisas. A revelação registrada no cânone de escrituras que foi
dado a Brigham Young, inclui o seguinte verso: “Meu povo deve ser
provado em todas as coisas a fim de preparar-se para receber a
glória que tenho para ele, sim, a glória de Sião; e quem não suporta
correção não é digno do meu reino” (D&C 136:31).
Durante meus primeiros anos como Setenta, fui o companheiro de
Élder Russell M. Nelson a uma conferência de estaca. Tivemos uma
experiência maravilhosa juntos e, quando terminamos e já estávamos
dirigindo de volta para casa, eu lhe disse: “Élder Nelson, espero que,
se alguma vez o senhor vir um erro em mim ou algum engano ou
fraqueza, que possa me dizer.” Ele respondeu: “Eu o farei.” Fiquei um
pouco nervoso por sua aparente ansiedade em atender a meu
pedido, mas logo em seguida ele comentou : “Esse é o único meio
pelo qual nós demonstramos amor uns pelos outros.” E eu creio que
este é realmente um princípio verdadeiro.
O Salvador disse: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda
aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15:1-2). Que forma
de limpeza será necessária, ou que sacrifícios serão requeridos de
qualquer um de nós, isto provavelmente não saberemos de antemão.
Mas, se com o rico mancebo, nós perguntássemos: “Que me falta
ainda?” (Mateus 19:20), a resposta do Salvador seria possivelmente a
mesma: “Segue-me” (Mateus 19:21)—ou, na linguagem do Rei
Benjamin, “[Tornar-se] como uma criança, submisso, manso, humilde,
paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o
Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se
submete a seu pai” (Mosias 3:19). Aqui está uma outra forma de
declará-lo: “E então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quiser
vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e
siga-me [e este acréscimo da Tradução de Joseph Smith]. E eis que
um homem tomar sua cruz significa negar-se a toda iniqüidade e a
toda concupiscência mundana e guardar meus mandamentos”
(Mateus 16:24; Tradução de Joseph Smith, Mateus 16:26).
Devemos ser capazes de dizer, com Jó, que nossa submissão a Ele,
à Sua vontade, é tão completa que “Ainda que ele me mate, nele
esperarei” (Jó 13:15). Penso que isto é perfeitamente descrito em
forma poética no hino de Isaac Watts, “Quando examinei a magnífica
cruz”:
Quando examinei a magnífica cruz
Na qual o Príncipe da Glória morreu,
Contei meu maior ganho, mas perdi
E despejei desdém em todo meu orgulho
Não permita, Senhor, que eu me vanglorie
A não ser na morte de Cristo, meu Deus.
Todas as coisas vãs que mais me atraem
Eu as sacrifico a Seu sangue.
Veja, de Sua Cabeça, Suas mãos, Seus pés,
Tristeza e amor fluem misturados;
Nunca tanto amor e tristeza se encontraram,
Ou espinhos compuseram uma coroa tão rica.
Se o mundo todo tivesse uma natureza como a minha,
Que foi uma dávida muito pequena;
Amor tão grande, tão divino,
Ordena minha alma, minha vida, tudo meu. [2]
Realmente, isso merece a nossa total devoção.
Enquanto que é possível que nós não atinjamos o exemplo perfeito
do Salvador de sempre fazer as coisas de acordo com a vontade do
Pai e sempre vivermos nossas vidas de modo a glorificá-lo, podemos
progredir como o Salvador mesmo o fez, graça por graça, até
obtermos a plenitude. “E eu, João, testifico que contemplei sua glória,
como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade, . . . que
veio e habitou na carne e habitou entre nós. E eu, João, vi que no
princípio ele não recebeu da plenitude, mas recebeu graça por graça;
E a princípio não recebeu da plenitude, mas continuou de graça em
graça, até receber a plenitude; E assim foi chamado de Filho de
Deus, porque não recebeu da plenitude no princípio” (D&C 93:11-14).
Há alguns anos atrás na Conferência Geral, citei esta confortante
declaração do Presidente Brigham Young, o qual parecia entender o
desafio que enfrentamos ainda hoje:
Depois de tudo que tem sido dito e feito, depois dele ter guiado seu
povo por tanto tempo, vocês não veem que há uma falta de
confiança, de nossa parte, em nosso Deus? Vocês podem observar
isto em vocês mesmos? Vocês podem perguntar, “[Irmão] Brigham,
você vê isto em si mesmo?” Sim, eu posso ver que ainda me falta
confiança, até certo ponto, naquele em quem confio.—Por quê?
Porque não tenho poder para tal, como consequência daquilo que a
queda fez recair sobre mim. . . .
Alguma coisa cresce dentro de mim, algumas vezes [,] que …
traça uma linha dividindo o meu interesse e o interesse de meu
Pai nos céus; alguma coisa que faz meu interesse e o interesse
de meu Pai nos céus não ser necessariamente o mesmo.
Deveríamos sentir e entender, o tanto quanto fosse possível, o tanto
quanto a nossa natureza decaída nos permitisse, o tanto quanto
pudéssemos obter fé e conhecimento para entendermos a nós
mesmos, que o interesse daquele Deus a quem nós servimos é o
nosso interesse, e que não possuímos nenhum outro, nem no tempo
nem na eternidad. [3]
Com vocês, eu prestou meu testemunho dos frutos da grande
Expiação. Para mim, eles vêm diante de três títulos:
Perdão. O primeiro é o perdão, ou como algumas vezes dizemos,
justificação. “E acontecerá que aquele que se arrepender e for
batizado em meu nome, será satisfeito; e se perseverar até o fim, eis
que eu o terei por inocente perante meu Pai no dia em que eu me
levantar para julgar o mundo” (3 Néfi 27:16).
“Eis que vos digo que quem tenha ouvido as palavras dos profetas,
sim, de todos os santos profetas que profetizaram sobre a vinda do
Senhor, digo-vos que todos aqueles que tenham escutado suas
palavras e acreditado que o Senhor redimiria seu povo e hajam
esperado ansiosamente pelo dia da remissão de seus pecados, eu
vos digo que estes são a sua semente, . . . os herdeiros do reino de
Deus” (Mosias 15:11).
E este testemunho da seção 20: “E sabemos que a justificação pela
graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é justa e verdadeira”
(D&C 20:30).
Santificação. Um segundo fruto é a limpeza ou, como algumas vezes
dizemos, a santificação que provém de Sua graça: “E nada que seja
imundo pode entrar em seu reino; portanto nada entra em seu
descanso, a não ser aqueles que tenham lavado suas vestes em meu
sangue, por causa de sua fé e do arrependimento de todos os seus
pecados e de sua fidelidade até o fim. Ora, este é o mandamento:
Arrependei-vos todos vós, confins da Terra; vinde a mim e sede
batizados em meu nome, a fim de que sejais santificados, recebendo
o Espírito Santo, para comparecerdes sem mancha perante mim no
último dia” (3 Néfi 27:19-20).
Em Morôni, lemos: “E novamente, se pela graça de Deus fordes
perfeitos em Cristo e não negardes o seu poder, então sereis
santificados em Cristo pela graça de Deus, por meio do
derramamento do sangue de Cristo, que está no convênio do Pai para
a remissão de vossos pecados, a fim de que vos torneis santos, sem
mácula” (Morôni 10:33).
E novamente, na seção 20, um testemunho: “E sabemos também que
a santificação pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é
justa e verdadeira, para todos os que amam e servem a Deus com
todo o seu poder, mente e força” (D&C 20:31).
Ressurreição. O terceiro glorioso fruto da Expiação é a Ressurreição
por si mesma, a qual advém por meio daquele que Ele expiou pela
transgressão de Adão. “E nosso pai Adão falou ao Senhor e disse:
Por que é que os homens devem arrepender-se e ser batizados na
água? E o Senhor disse a Adão: Eis que te perdoei tua transgressão
no Jardim do Éden. Aí se começou a dizer entre o povo que o Filho
de Deus expiara o pecado original, de modo que os pecados dos pais
não podem recair sobre a cabeça dos filhos, pois estes são limpos
desde a fundação do mundo” (Moisés 6:53).
Na seção 88, aprendemos: “Ora, em verdade vos digo que por meio
da redenção que foi feita por vós realiza-se a ressurreição dos
mortos. E o espírito e o corpo são a alma do homem. E a ressurreição
dos mortos é a redenção da alma” (D&C 88:14-16).
Com relação à Ressurreição, lemos: “Aqueles que forem de um
espírito celestial receberão o mesmo corpo que era um corpo natural;
sim, recebereis vosso corpo e vossa glória será a glória pela qual
vosso corpo é vivificado. Vós, que fordes vivificados por uma porção
da glória celestial, recebereis sua plenitude” (D&C 88:28–29).
Poder para mudar. O poder da Expiação para perdoar, para santificar,
para dar nova vida, mesmo a vida eterna e imortal, sobreveio sobre
mim, alguns anos atrás, por meio de uma experiência simples, mas
poderososa. Novamente, é um de muitos testemunhos. Nesta ocasião
eu havido sido designado pela Primeira Presidência para entrevistar
uma mulher para a possível restauração de suas bênçãos do templo.
Ela havia cometido algumas transgressões bastante sérias, tinha sido
excomunicada, depois disso batizada novamente e agora havia
solicitado pelo privilégio de retornar ao templo. Isso requeria essa
entrevista e a ordenança de imposição de mãos para restaurar-lhe
aquelas bênçãos e direitos. À medida que eu me preparava para
aquela entrevista e lia o resumo do que havia acontecido em sua
vida, estava atônito. Não podia acreditar que houvesse tanta sordidez
e maldade em uma vida. Conforme lia, perguntava a mim
mesmo, Como a Primeira Presidência poderia supor que esta pessoa
se qualificaria novamente para entrar na casa do Senhor? Quando ela
veio até a sala para ser entrevistada, parecia ter um brilho sobre si,
uma luz vindo de dentro. À medida que conversávamos, me
sobreveio um sentimento de que ela era pura—talvez uma das almas
mais puras que eu jamais havia conhecido. Olhei para ela e olhei para
o papel descrevendo seu passado, e não pude acreditar que era a
mesma mulher. E, num sentido real, ela era uma pessoa diferente. A
Expiação a tinha transformado. Pude compreender, poderosamente,
a profundidade, a extensão e a capacidade da graça da expiação de
Jesus Cristo. Ele é real e Sua graça é muito real.

Conclusão
À medida que concluímos esta reflexão sobre a Expiação e a
Ressurreição, é apropriado considerarmos então o testemunho do
Profeta Joseph Smith. O martírio reveste o testemunho de um profeta
com uma validade especial. A raiz grega da palavra, martireo, da qual
a palavra mártir é derivada, significa “testemunha,” ou “prestar
testemunho.” O profeta Abinádi é descrito como tendo selado as
palavras, ou a verdade de suas palavras, com sua morte (veja Mosias
17:20). A própria morte de Jesus foi um testamento de Sua divindade
e de Sua missão. Ele é declarado em Hebreus ser o “Mediador dum
novo Testamento” (Hebreus 9:15), validado por Sua morte, “Porque
onde há testamento necessário é que intervenha a morte do testador.
Porque um testamento tem força onde houve morte” (Hebreus 9:16–
17).
Como a maioria dos ungidos do Senhor nos tempos antigos, Joseph
Smith selou sua missão e seus trabalhos com seu próprio sangue.
Sob uma chuva de balas na tarde de 27 de junho de 1844 em
Carthage, Joseph e seu irmão, Hyrum, foram mortos pela religião e
testemunho que professavam. E como os Apóstolos dos últimos dias
então anunciaram: “Os testadores agora estão mortos e seu
testamento está em vigor. . . . e seu sangue inocente sobre o
estandarte da liberdade e sobre a carta magna dos Estados Unidos é
um embaixador da religião de Jesus Cristo, que tocará o coração dos
homens honestos de todas as nações” (D&C 135:5, 7; ênfase no
original).
O Salvador não teve entre os mortais uma testemunha mais fiel, um
discípulo mais obediente, um defensor mais leal do que Joseph
Smith.
Termino com seu grande testemunho do Salvador, fazendo-o meu
próprio, e unindo-o aos seus:
E contemplamos a glória do Filho, à direita do Pai, e recebemos de
sua plenitude;
E [nós] vimos os santos anjos e os que são santificados diante de seu
trono, adorando a Deus e ao Cordeiro, a quem adoram para todo o
sempre.
E agora, depois dos muitos testemunhos que se prestaram dele, este
é o testemunho, último de todos, que nós damos dele: Que ele vive!
Porque o vimos, sim, à direita de Deus; e ouvimos a voz testificando
que ele é o Unigênito do Pai—
Que por ele e por meio dele e dele os mundos são e foram criados; e
seus habitantes são filhos e filhas gerados para Deus. (D&C 76:20–
24)
Este é o aspecto mais significativo de toda a nossa existência. É real.
Ele é real. “Não está aqui, mas ressuscitou” (Lucas 24:6). Em nome
de Jesus Cristo, amém.
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Notas
[1] “God Loved Us, So He Sent His Son” [“Deus tal amor por nós
mostrou”], Hymns [Hinos] (Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias, 1985) no. 187 [em português no. 107].
[2] “When I Survey the Wondrous Cross” [“Quando examinei a
magnífica cruz”—tradução livre], Westminster Choir College
Library (Bryn Mawr, PA: Theodore Presser, 1970).
[3] Brigham Young, Deseret News, 10 de setembro de 1856, 212.
A Nova Tradução e a Doutrina dos Santos dos
Úlitmos Dias

A Nova Tradução e a Doutrina dos Santos dos


Úlitmos Dias
De acordo com o Livro de Mórmon, no início a Bíblia continha a
plenitude do evangelho de forma doutrinária muito clara. Mas logo
após os tempos dos profetas do Velho Testamento, bem como depois
da era do Novo Testamento, houve mudanças na Bíblia até tal ponto
que já não continha a palavra revelada na sua plenitude e clareza
originais (vide 1 Néfi 13:24-29). O problema que enfrentamos hoje em
dia não consiste na falta de poder traduzir línguas antigas, e sim na
falta de manuscritos originais, ou pelo menos documentos completos
e adequados. A grande perda de verdades do evangelho que resultou
da retirada de “coisas claras e preciosas” da Bíblia (1 Néfi 13:28)
coincidiu com a apostasia universal, de forma que há séculos que no
mundo não se veem nem uma Bíblia adequada nem uma igreja que
ensine a plenitude do evangelho. Uma parte fundamental e inicial da
restauração da Igreja do Senhor à terra foi o fato do Profeta Joseph
Smith ter recebido o mandamento de fazer uma tradução revelada da
Bíblia, uma que visasse restaurar textos perdidos bem como
ensinamentos perdidos e contribuisse à base doutrinária de A Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
A Nova Tradução da Bíblia de Joseph Smith não tem recebido a
atenção que merece e não tem sido reconhecida por sua contribuição
importante com relação às escrituras e à doutrina dos Santos dos
Últimos Dias. A tradução tem sido negligenciada e até ignorada por
alguns eruditos e historiadores das escrituras SUD. Talvez haja dois
motivos por isso: (1) Devido ao fato da tradução de Joseph Smith
(TJS) se tratar de um livro já existente, a Bíblia, os historiadores da
Igreja não têm percebido sua conexão à revelação dos últimos dias,
nem às escrituras e eventos da história da Igreja. Por outro lado, (2)
já que a TJS não é uma tradução tradicional de Bíblia, como as
outras, até alguns pesquisadores SUD que se aprofundaram no
estudo da Bíblia não a consideram nem uma tradução nem um
documento sério acerca da Bíblia, de modo que a TJS, até certo
ponto, foi relegada à categoria incorreta de cidadão de segunda
classe na hierarquia dos estudos SUD. Por exemplo, uma apuração
que se fez em 1994 de todos os livros arquivados na Biblioteca
Harold B. Lee da Universidade de Brgham Young sob a categoria de
Doutrina e Convênios revelou que, embora houvesse muitas
publicações que tratam da origem, história e conteúdo do livro de
Doutrina e Convênios, poucas fazem menção da TJS, e de fato,
somente um autor apresenta uma palestra clara do papel da TJS
como fator influente no conteúdo do livro de Doutrina e Convênios e
portanto na doutrina da Igreja. Este resultado foi surpreendente
porque no próprio livro de Doutrina e Convênios se refere muitas
vezes à tradução da Bíblia e há pelo menos trinta e seis referências a
tal traducão na History of the Church [História da Igreja]. [1]
A Bíblia, apesar das deficiências, é, mesmo assim, um registro
maravilhoso dos tratos de Deus com a família humana e é o único
volume de escrituras que conserva os relatos do ministério mortal de
Jesus. Porém, o Profeta Joseph Smith, ainda na sua juventude,
descobriu que a Bíblia era tão incerta no que diz respeito a alguns
assuntos importantes de doutrina que criava confusão em vez de
oferecer respostas claras. Sua experiência lhe ensinou que “os
religiosos das diferentes seitas interpretavam as mesmas passagens
de escritura de maneiras tão diferentes, que destruíam toda a
confiança na solução do problema através de uma consulta à Bíblia”
(JS—H 1:12). Nestas condições ele foi impelido a orar, pedindo
informações, o que resultou na Primeira Visão que lhe proporcionou
informações por meio de revelação nova. Joseph Smith também
notou que o anjo Morôni citou as várias passagens bíblicas “com
variações” em comparação com a forma em que elas apareciam na
Bíblia (JS—H 1:36; vide 1:37-40). Tais experiências, mesmo quando
ele era ainda jovem, lhe ensinaram que a Bíblia do século dezenove
era uma guia insuficiente a não ser que houvesse mais revelações.

Uma Fonte Primária de Doutrina


Já se disse muito a respeito de quão importante são os documentos
originais para um estudo maior da Bíblia. As fontes originais da
Tradução de Joseph Smith não são menos importantes. Sem
examinar os manuscritos originais preparados pelo Profeta Joseph
Smith e seus escrivões, pode-se negligenciar o fato de que o
propósito real da TJS é o de servir de fonte primária de doutrina e o
de fortalcecer o papel da Bíblia como testemunha do Senhor Jesus
Cristo e de seu evangelho. Ao ler as passgens publicadas na Nova
Tradução—inclusive o Livro de Moisés e Joseph Smith—Mateus, os
quais se encontram na Pérola de Grande Valor—nota-se com
frequência como a TJS e o livro de Doutrina e Convênios são tão
semelhantes quanto à linguagem da doutrina dos dois. Baseando-se
somente nos documentos publicados, é, de modo geral, quase
impossível determinar qual dos dois (TJS e Doutrina e Convênios) se
originou primeiro. Ouve-se falar, às vezes, que Joseph Smith
“amormonizou a Bíblia,” isso é, que ele a “corrigiu” do ponto de vista
do que ele já sabia sobre o evangelho para fazê-la conformar aos
ensinamentos SUD. Um escritor eminente da Igreja, William E.
Berrett, promoveu esta ideia num manual que se usou por muitos
anos no Sistema Educacional da Igreja. Ao explicar a TJS, ele disse
que “a revisão se limitou àquelas partes da Bíblia sobre as quais já se
receberam revelações divinas.” [2] O Dr. Berrett foi um dos poucos
daqueles dias a mencionar a TJS nos seus escritos, mas infelizmente
ele não tinha acesso aos manuscritos originais.
Quando a oportunidade surgiu em 1968 para Robert J. Matthews
examinar os manuscritos originais dos manuscritos da TJS nos
arquivos da Igreja Reorganizada de Jesus Critos dos Santos dos
Últimos Dias (que passou a se chamar Comunidade de Cristo), foi
com o apoio e ímpeto do Dr. Berrett que ele pôde ir a Independência,
Estado de Missouri, e fazer a pesquisa. Naquela ocasião, o único
propósito na sua mente era o de comparar as edições publicadas pela
igreja “reorganizada” da chamada Versão Inspirada com os
manuscritos originais para determinar se as edições publicadas
estavam certas. Este foi um estudo proveitoso que levou muitas
semanas de esforço diligente. Ele ficou contente em saber que de
modo geral a edição da igreja RSUD reflete corretamente o texto dos
manuscritos, com exceção de algumas correções que ainda não
foram feitas. Examinar os originais durante muitos meses foi uma
experiência inspiradora. Este trabalho foi significativo porque antes
disso a Igreja RSUD não havia disponibilizado os manuscritos a fim
de fazer pesquisas e nenhum Santo dos Últimos Dias havia os visto
nem manuseado havia mais de um século.
A história pode ter terminado por aí quando o Irmão Matthews
completou sua comparação dos documentos com a Versão Inspirada,
porém os manuscritos contêm várias datas de composição e aindo
mostram mudanças frequentes de letra que indicam mudanças de
escrivão. Devido às datas, tornou-se possível determinar quando
certas partes da TJS foram escritas e compará-las as datas em que
foram escritos estes trechos da TJS com várias revelações
publicadas no livro de Doutrina e Convênios, algo que não se podia
acertar sem um estudo apurado dos manuscritos originais. Os
documentos revelam que em muitos casos a revelação de doutrina
ocorreu mais cedo na TJS do que em Doutrina e Convênios. Este fato
notável abre o caminho para a pesquisa cronológica da TJS e nos
permite observar que muitas vezes a TJS foi a fonte, e não
simplesmente beneficiária, da doutrina SUD. Quando se coloca esta
perspectiva no lugar, abre-se uma nova vista ao pesquisador que
pode observar o desdobramento firme e progressivo de doutrina nos
dias iniciais da história da Igreja. O Livro de Mórmon nos
proporcionou iluminação sem par com referência a muitos assuntos
do evangelho, mas dá poucos detalhes a respeito de outros temas,
tais como a existência pre-mortal, os graus de glória, casamento
celestial, Sião, a lei de consagração e a organização dos quóruns do
sacerdócio. Muitas dessas doutrinas foram reveladas ao Profeta à
medida que ele traduzia a Bíblia. Vê-se que um dos propósitos da
TJS era para servir de “professor” para Joseph Smith no sue
aprendizado, pois quando o Senhor orendou que ele começasse a
fazer a tradução do Novo Testamento, disse: “E agora, eis que vos
digo que nada mais vos será dado saber concernente a este capítulo,
até que o Novo Testamento seja traduzido; e nele todas estas coisas
serão dadas a conhecer; portanto agora vos permito trauzi-lo, para
que estejais preparados para as coisas que hão de vir” (D&C 45:60-
61).
Não será difícil entendermos a contribuição doutrinária da TJS, se
virmos as revelações de Joseph Smith em ordem cronológica. Os
primeiros exemplares do Livro de Mórmon se tornaram disponíveis
durante a semana de 26 de março de 1830. Dentro de poucos dias,
no dia 6 de abril, a Igreja foi organizada. Poucas semanas depois, em
junho de 1830, constatamos a primeira revelação concernente à TJS.
Nós a conhecemos como o livro de Moisés, capítulo 1, da Pérola de
Grande Valor. Ao compararmos a cronologia da Nova Tradução com
a de Doutrina e Convênios, notamos que alguns conceitos foram
apresentados à mente do Profeta durante a tradução da Bíblia na
qual foram, de fato, primeiramente registrados. Mais tarde alguns
destes assuntos foram elaborados e ilucidados por revelações
subsequentes que hoje aparecem nas seções de Dourtina e
Convênios. Poderíamos adquirir um entendimento mais completo,
mais rico e mais claro da forma que a doutrina se desdobrava, se
colocássemos as passagens reveladas do Novo Testamento na sua
devida ordem cronológica entre as seções correspondentes de
Doutrina e Convênios. Por exemplo, Moisés 1 da TJS ficaria logo
antes da seção 25; Moisés 2-5 apareceria um pouco antes da seção
29; Moisés 6 logo antes da seção 35 e Moisés 7 apareceria antes da
seção 37. Antes de termos acesso aos manuscritos originais da TJS,
esta comparação era impossívle de ser feita, pois desconhecíamos as
datas em que as revelações foram registradas nos manuscritos. A
análise dos originais transforma nossa perspectiva.
O principal dos credenciais que proporcionavam ao Profeta Joseph
Smith a autorização de traduzir a Bíblia era o fato dele ser chamado
pelo Senhor para fazê-lo. Sua situação parece semelhante à de Néfi a
quem o Senhor ordenou que construisse um navio. Néfi se sentia
confiante que “se Deus me tivesse ordenado que fizesse todas as
coisas, poderia fazê-las” (1 Néfi 17:50). Até 1830, quando Joseph
Smith iniciou a tradução da Bíblia, ele já era um tradutor experiente
devido a sua tradução do Livro de Mórmon. Ele disse que ele e Oliver
Cowdery receberam ajuda específica do Espírito Santo para que as
escrituras lhes fossem “abertas ao nosso entendimento e o
verdadeiro significado e intenção de suas passagens mais
misteriosas revelaram-se a nós de uma forma que jamais havíamos
conseguido antes e que sequer imaginávamos” (Joseph Smith—
História 1:74). Tal ajuda ultrapassaria até a maior habilidade
linguística de tradução.

A Restauração de Verdades Doutrinárias


Dentro da Restauração do evangelho a Tradução de Joseph Smith
ocupa um lugar junto do Livro de Mórmon, do livro de Doutrina e
Convênios e do Livro de Abraão. Foi um dos meios de que o Senhor
se ultilizou para revelar a plenitude do evangelho nos últimos dias.
Muitas das doutrinas que nos destacam e nos separam do resto do
cristianismo moderno se encontram nela, mesmo assim poucos
Santos dos Últimos Dias apreciam sua contribuição para nossa fé. O
que seguem são alguns dos assuntos sobre os quais a TJS revela
verdades novas e significantes—verdades essas que em muitos
casos não são reveladas em nenhum outro lugar e são
desconhecidas na tradição cristã. Coletivamente, representam um
alvorecer de luz doutrinal e são uma grande bênção e testemunho da
Restauração.
1. A natureza de Deus. A Tradução de Joseph Smith é mais uma
testemunha sobre a natureza corpórea de Deus: Deus tem corpo.
Mesmo que a Bíblia ensine esta mesmíssima doutrina (vide Gênesus
1:26–27; Êxodo 33:11; Deuteronômio 4:28; Atos 7:56), a tradição
crisã tem obsurado este conhecimento ao ponto de muitos cristãos
não o acreditarem hoje em dia. Mas a revelação da verdade sobre
Deus, em termos certos e claros, na TJS estabelece a doutrina sem
maiores dúvidas. Deus criou Adão “à imagem de seu próprio corpo”
(Moisés 6:90). Deus tem um rosto que se pode ver (Êxodo
33:20). [3] Enoque viu o Senhor “e ele pôs-se perante minha face e
conversou comigo, sim, como um homem fala com outro, face a face”
(Moisés 7:4; vide também João 1:18 [4] ; 1 Timóteo 6:15–16; 1 João
4:12).
2. A extenção da obra do Pai. A Tradução de Joseph Smith nos
proporciona uma visão parcial da extensão da obra criativa do Pai
Celestial, que na verdade não tem fim. Aprendemos que ele tem
criado “mundos incontáveis” (Moisés 1:33)—mundos habitados como
o nosso que estão percorrendo, ou já percorreram o ciclo da
existência. As criações de Deus são incontáveis para nós, mas são
conhecidas uma por uma por ele. Todavia, na sua sabedoria, ele só
nos revela as coisas pertencentes a nossa própria terra (Moisés 1:35–
36). Em toda a obra de Deus, em toda a sua expansão pelo tempo e
pelo espaço, há um propósito primordial. Como Deus disse a Moisés,
conforme consta na TJS: “Pois eis que esta é minha obra e minha
glória: levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem (Moisés
1:39; vide também 1:33—39). Estas verdades foram reveladas em
junho de 1830, bem no início da Restauração e antes das revelações
posteriores de Doutrina e Convênios tratarem de temas semelhantes.
3. A missão de Jesus Cristo. Por meio da Nova Tradução
aprendemos muito a respeito de Cristo que não se encontra de forma
muito clara na Bíblia. Aprendemos que Ele teve uma existência pré-
mortal em que foi escolhido para levar a efeito o plano do Pai. Já
naquele meio Ele se chamava o Unigênito do Pai. Lá Ele tinha
grandes poderes e pôde expulsar do céu Satanás por cause da sua
rebelião (Moisés 4:2–3). Também aprendemos que Ele foi Criador,
não somente deste mundo, mas de todos os mundos incontáveis do
Pai (Moisés 1:33). E ao longo do relato do Novo Testamento, a TJS
acrescenta mais luz, entendimento e significado maior ao ministério
mortal de Jesus e mais clareza a suas palavras. Também aumenta
nosso conhecimento do propósito de sua missão (e.g., Versão
Inspirada, Lucas 3:5). [5]
4. O plano de salvação. O plano de felicidade do Senhor se revela na
TJS em termos simples e claros, até nos trechos do Velho
Testamento. Lemos a respeito da necessidade de fé, arrependimento,
batismo e o recebimento do Espírito Santo. Aprendemos que Jesus
Cristo é “o único nome que se dará debaixo do céu pelo qual virá a
salvação aos filhos dos homens” (Moisés 6:52). Sabemos da natureza
da expiação de Cristo e como ela nos redime tanto da transgressão
de Adão como dos nossos próprios pecados individuais. E a tradução
nos lembra que a redenção é “para todos os homens, por meio do
sangue do Filho Unigênito” (Moisés 6:62).
5. O caráter e motivação de Satanás. Em passagens escritas por
revelação pelo Profeta que já não têm similar na Bíblia, a TJS nos dá
uma visão clara das circunstâncias que levaram Santanás a sua
condição decaída. Lemos nelas que ele se recusou a aceitar o plano
do Pai para nossa felicidade e sim avançou suas próprias propostas
egoistas: ele seria o filho de Deus, ele “redimiria toda a humanidade,
para que nenhuma alma se perdesse ,” e, conforme o plano de
Satanás, o Pai lhe daria toda a sua honra. Através da Nova Tradução,
aprendemos que seu “plano” era mentira—uma promessa de
campanha política que não seria cumprida. Ele se rebelou contra
Deus e foi “expulso e mandado” à terra, levando muitos consigo. Aí
ele estabeleceu o objetivo de “enganar e cegar os homens e levá-los
ao cativeiro, impondo sua vontade, sim todos os que não derem
ouvidos a minha voz [a voz de Deus]” (Moisés 4:1–4). Na TJS vemos
a exposição mais clara do caráter de Satanás. Depois de tentar, sem
sucesso, desviar Moisés, ele “bramou sobre a terra e mandou-o,
dizendo: eu sou o unigêntio, adora-me.” [6] Quando isso não teve
efeito, Satanás estremeceu, sacudindo a terra e “clamou com voz alta
com choro e pranto e ranger de dentes” (Moisés 1:12. 19–22). Moisés
gravou o relato destas coisas sobre Satanás e seus motivos, mas
nada disso se encontra na Bíblia. Sem a Tradução de Joseph Smith,
nosso conhecimento de Satanás e suas obras seria muito limitado.
6. A Queda de Adão. A Nova Tradução revela algumas das
informações mais importantes que possuímos sobre a Queda de
Adão e Eva. Adão disse: “Bendito seja o nome de Deus, pois por
causa da minha transgressão meus olhos estão abertos e nesta vida
terei algeria; e novamente na carne verei a Deus.” Eva acrescentou:
“Se não fosse por nossa transgressão, nunca teríamos tido
descendência, nunca teríamos conhecido o bem e o mal e a alegria
da nossa redenção e a vida eterna que Deus concede a todos os
obedientes” (Moisés 5:10–11). O tom destas palavras importantes é
diferente do que lemos hoje em dia na Bíblia e das crenças
estabelecidas ao longo dos séculos por aqueles que moldaram a
doutrina cristã do jeito em que chegou a nossos dias. Junto com o
Livro de Mórmon, a TJS nos proporciona um entendimento da Queda
que não é possível adquirir baseando-se exclusivamente na Bíblia.
7. A antiquidade do evangelho. A TJS ensina, por meio de passagens
não existentes na Bíblia, que o evangelho de Jesus Cristo foi revelado
bem no início da história humana. Adão era cristão e foi batizado
(Moisés 6:51–62, 64–66). Ele e Eva ensinaram o evangelho de Cristo
a seus filhos (Moisés 5:9–12). Seus descendentes, tais como Enoque
e Noé, acreditavam em Cristo, adoravam o Pai em nome do Filho e
pregavam fé na sua expiação, arrependimento, batismo na
semelhança de sua morte e ressurreição e a imposição das mãos
para o dom do Espírito Santo (Moisés 7:10–11; 8:23–24). Abraão
também era cristão, conhecia o plano de salvação e, como o próprio
Salvador havia falado, regozijou-se em poder ver o dia da futura vinda
de Jesus Cristo na carne (João 8:56; Versão Inspirada Gênesis
15:12). Moisés conhecia Cristo, compreendia o evangelho e sabia do
papel de Cristo de Criador e Redentor (Moisés 1:6, 32–33; 4:1–3).
Todos os profetas testificaram de Jesus (Mateus 4:18-19; Lucas
16:16-17). Que os antigos patriarcas eram cristãos é uma revelação
assombrosa, pois se trata de uma verdade totalmente ausente da
Bíblia. Porém faz sentido para aqueles que sabem que a salvação é
somente em Cristo e que Deus não faz acepção de pessoas.
8. Enoque e o estabelecimento de Sião. Em dezembro de 1830
Joseph Smith recebeu uma revelação expressiva sobre Enoque e seu
povo enquanto ele e Sidney Rigdon estavam traduzindo trechos de
Gênesis, capítulo 5. Em termos crononógicos, a revelação foi
recebida depois da seção 35 de Doutrina e Convênios e antes da
seção 37. Esta revelação, chamada na literatura SUD da época inicial
da restauração “a Profecia de Enoque,” trata do ministério de Enoque,
sua fé em Jesus Cristo, sua pregação do evangelho, sua cidade (a
cidade que se chamava Sião), a retidão de seu povo, o fato de hão
haver pobres entre eles, a retirada do povo para o céu e a declaração
que eles voltariam à terra nos últimos dias para unirem-se à Nova
Jerusalém, a qual se construiria na terra (Moisés 6-7). Estas
informações acerca de Enoque contêm muitos itens de história e
doutrina que são de interesse especial para os Santos dos Últimos
Dias porque tratam da obra do Senhor em que nós estamos
empenhados hoje em dia, ou seja, o estabelecimento da Sião dos
últimos dias.
Considerem a situação de Igreja em dezembro de 1830. O que se
sabia a respeito de Enoque, ou da Nova Jerusalém, ou da cidade de
Sião? A Bíblia não diz que Enoque tinha uma cidade, que seu povo
se chamava “Sião” ou que haviam sido transladados. Tudo que há na
Bíblia acerca de Enoque consiste em nove versículos (Gênesis 5:18-
19, 21-24; Hebreus 11:5; Judas 1:14-15). O Livro de Mórmon
tampouco ajuda neste caso, pois não há menção nenhuma referente
ao assunto de Enoque. A Igreja de 1830 dependia inteiramente de
revelação nova para saber de forma mais ampla a respeito de
Enoque e seu povo. A introdução de tudo isso se deu em novembro e
dezembro de 1830 enquanto o Profeta estava traduzindo o livro de
Gênesis. Durante os próximos meses, depois que os relatos iniciais
sobre Enoque foram revalados, é que as revelações de Doutrina e
Convênios, seções 42-43, 45-51 e 57-59 (fevereiro-agosto de 1831)
foram recebidas. A profecia de Enoque contida na Tradução de
Joseph Smith foi um prelúdio maravilhoso e fundamento essencial
para as revelações posteriores. Se quisermos obter uma perspectiva
histórica correta de como o Senhor educou Joseph Smith a respeito
de Sião, nós temos que ler primeiro as revelações que foram
recebidas enquanto ele traduzia a Bíblia, pois foi justamente nesta
ordem que ele recebeu tais conhecimentos.
9. A doutrina de translação. A TJS revela, junto com os princípios de
estabelecimento de Sião, a doutrina de translação—a remoção de
pessoas santificadas da terra. O livro de Gênesis simplesmente
menciona, sem explicação nem contexto, que Enoque “andou com
Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”
(Gênesus 5:24). A Nova Tradução mostra que isso foi o destino de
uma sociedade toda que praticou os princípios de Sião ao longo de
muitos anos: “E Enoque e todo o seu povo andavam com Deus e ele
habitou no meio de Sião; e aconteceu que Sião já não existia, porque
Deus a recebeu em seu próprio seio; e daí em diante se começou a
dizer: SIÃO FUGIU” (Moisés 7:69; vide também 7:21, 27). Em outra
geração, muito depois de Enoque, aprendemos somente atavés da
TJS que outro grande líder também estabeleceu Sião e preparou seu
povo para entrar na presença de Deus. Com fé e o poder do
sacerdócio, Melquisedeque “praticou a retidão e obteve o céu; e
procurou a cidade de Enoque, a qual Deus havia antes tomado,
separando-a da Terra” (Versão Inspirada Gênesus 14:34; vide
também V.I. Gênesis 14:26-36).
10. Melquisedeque e seu sacerdócio. A TJS nos ensina certas coisas
sobre o sacerdócio que não se pode aprender pela Bíblia nem de
qualquer outra fonte antes da Restauração. Adão tinha a autoridade
que hoje em dia chamamos o Sacerdócio de Melquisedeque (Moisés
6:67), que é “a ordem do Filho de Deus, cuja ordem era sem pai, sem
mãe, sem descendência, não tendo princípio de dias nem fim de vida.
E todos aqueles que são ordenados a esse sacerdócio são feitos
semelhantes ao Filho de Deus, permanecendo sacerdotes para
sempre” (Versão Inspirada, Hebreus 7:3). A Bíblia pouco diz a
respeito deste grande sumo-sacerdote antigo, Melquisedeque.
Refere-se brevemente a ele em Gênesis 14 e novamente em Hebreus
capítulo 7. Em Salmos revela-se que o Messias é um sacerdote
segundo a ordem de Melquisedeque (Salmos 110:4), mas há poucos
pormenores disponíveis na Bíblia de hoje sobre Melquisedeque e seu
ministério. No Livro de Mórmon, em Alma 13:14-19 há um breve
resumo do sucesso que Melquisedeque alcançou ao ensinar retidão.
Supõe-se que estas informações foram gravadas nas placas de latão.
em contraste disso, a TJS, em capítulo 14 de Gênesis, proporciona
um relato bem amplo do ministério de Melquisedeque, mais do que se
encontra em quaisquer outras fontes e descreve de forma
incomparável os poderes do Sacerdócio de Melquisedeque. Naquelas
passagens aprendemos que aqueles que têm o sacerdócio de
Melquisedeque “terão poder, pela fé, para derribar montanhas, dividir
os mares, secar as águas, desviá-las de seu curso; . . . permanecer
na presença de Deus; fazer todas as coisas segundo a vontade dele,
de acordo com suas ordens, subjugar principados e poderes; e isso
pela vontade do Filho de Deus que existia desde antes da fundação
do mundo” (Versão Inspirada Gênesis 14:30-31). A TJS também nos
dá informações sobre a história do sacerdócio que simplesmente não
existem na Bíblia. Podemos ler que quando Israel se rebelou nos
tempos de Moisés, o Senhor decretou: “Tirarei de seu meio o
sacerdócio; portanto minha santa ordem, assim como suas
ordenanças, não irão adiante deles” (Versão Inspirada, Êxodo 34:1).
Não é de se admirar que a Tradução de Joseph Smith restaura
amplas informações sobre Enoque e Melquisedeque e novamente os
coloca numa posição de preeminência nas escrituras. É significativo,
sem dúvida, que ao iniciar a dispensação da plenitude dos tempos e
da restauração de todas as coisas reouve material perdido sobre
Enoque e Melquisedeque, pois Enoque havia estabelecido Sião e
Melquisedeque foi o grande patriarca do sacerdócio maior e o Profeta
precisava destas informações justamente para re-estabelecer Sião e
restaurar o sacerdócio maior. Estes conhecimentos que existiam
entre os antigos santos mas que não foram conservados na Bíblia
nos foram revelados por meio da Nova Tradução de Joseph Smith.
11. O destino da casa de Israel. A Tradução de Joseph Smith
acrescenta entendimento único acerca da famíla de Abraão. A TJS
restaura as palavras de Paulo em que ele disse que a mediação de
Cristo como parte do novo convênio foi “escrita na lei concernente às
promessas feitas a Abraão e sua semente.” A promessa que Deus fez
com Abraão foi que Jesus seria “o Mediador da vida” (Versão
Inspirada, Gálatas 3:20). A TJS restaura a profecia, não contida na
Bíblia, em que o antigo Jacó predisse o destino dos descendentes de
seu filho José. Ao descrever sua grande obra dos últimos dias de
levar o evangelho ao restante de Israel, Jacó profetizou o seguinte:
“Pois eis que serás uma luz para o meu povo, para libertá-los da
escravidão nos dias de seu cativeiro; e para trazer-lhes salvação
quando estiverem completamente curvados sob o pecado” (V.I.
Gênesis 48:11). José, ao enxergar um futuro bem distante, previu o
ministério de um “vidente escolhido” de sua linhagem que faria “uma
obra” para seus irmãos de Israel: “E ele lhes levará ao conhecimento
dos convênios” que Deus fez com seus pais. Ele estabeleceria a
palavra do Senhor como também convenceria Israel da veracidade
daquela porção de suas palavras que já tinha. Os registros de José e
Judá seriam “unidos para confundir falsas doutrinas e apaziguar
contendas e estabelecer paz entre o fruto de teus lombos, levando-os
nos últimos dias a conhecerem seus pais e também meus convênios,
diz o Senhor” (V.I., Gênesis 50:31; vide também V.I. Gênesis 50:26-
31). O vidente escolhido para a casa de Israel nesta profecia, que é
totalmente desconhecida na Bíblia, era Joseph Smith, através do qual
este conhecimento foi restaurado à terra.
12. O propósito do sacrifício animal. ATJS nos ensina que a orígem
do sacrifício de animais se deu na primeira geração da história e que
seu propósito era o de encaminhar os fieis a Cristo. Um anjo disse a
Adão que era “à semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai que é
cheio de graça e de verdade” (Moisés 5:7). Este conhecimento
restaurado deve fazer sentido para todos os cristãos e possibilitar que
eles entendam melhor os ensinamentos de Paulo no Novo
Testamento. Mas nenhuma destas palavras se encontra na Bíblia.
13. A idade de responsabilidade. Em Doutrina e Convêncios, seção
68, versículos 25-28, revelada em novembro de 1831, a idade de
resonsabilidade fixou-se ao completar oito anos, ou seja, a idade em
que se deve efetuar o batismo. Trata-se do único versículo do livro de
Doutrina e Convênios em que este princípio é mencionado, porém o
batismo e o princípio da idade de responsabilidade se constam na
TJS em Gênesis 17:1-11. As datas no manuscrito da TJS indicam
que este capítulo de Gênesis foi gravado por volta de fevereiro ou
março de 1831 e, portanto, foi recebido de oito a nove meses antes
da revelação de Doutrina e Convênios. De fato, uma análise
cuidadosa de Doutrina e Convênios 68:25-28 mostra que a
declaração da idade de responsabilidade naquela ocasião não parece
um primeiro anúncio e sim uma re-afirmação ou lembrete. Sem estas
revelações modernas, não se compreenderia o princípio da idade de
responsabilidade, da qual não se fala nada nas versões atuais da
Sagrada Bíblia.
14. A origem da lei de Moisés. A Nova Tradução nos proporciona uma
revelação única sobre a lei de Moisés. Depois do incidente do bezerro
de ouro, o Senhor retirou sua lei sagrada (“minha ordem sagrada e as
ordenanças dela”) dos israelitas (Versão Inspirada, Êxodo 34:1), ou
seja, “o convênio sempiterno do santo sacerdócio” (Versão Inspirada,
Deuteronômio 10:2). No lugar da lei mais elevada e as bênçãos
pertencentes a ela, instituiu-se a lei menor, a lei de Moisés. Consistia
em “uma lei de um mandamento carnal, pois jurei na minha ira que
não entrariam em minha presença, em meu descanso, nos dias de
sua peregrinação” (V.I., Êxodo 34:2). Estes eventos históricos,
importantíssimos para entender o significado da lei de Moisés, não se
encontram na Bíblia.
15. A Segunda Vinda de Jesus Cristo. A tradução do capítulo 24 de
do livro de São Mateus do Novo Testamento (Joseph Smith-Mateus,
publicado na Pérola de Grande Valor), um extrato da TJS, consiste
em uma das grandes revelações concernentes aos últimos dias e à
Segunda Vinda de Jesus. Sob inspiração, o Profeta reorganizou a
estrutura de Mateus 24 e acrescentou alguns versículos novos, assim
separando as profecias sobre Jerusalém e a Igreja Antiga (JS—
Mateus 1:1-21) das que se referem aos últimos dias (JS—Mateus
1:21-55). Esta revisão inspirada, recebida na primavera de 1831,
consegue fazer sentido deste capítulo bíblico tão complexo que, de
outra maneira, não se compreenderia por completo. Também
adiciona informações significantes às outras revelações a respeito
dos últimos dias, previamente recebidas (D&C 29, setembro de 1830;
D&C 45, março de 1831).
16. Graus de glória. Ao traduzir o capítulo 5 do livro de João e
ponderar o significado do versículo 29 com referência à ressurreição
do justos e dos injustos, Joseph Smith e seu escrivão receberam uma
visão dos graus de glória. Na própria revelação lemos esta
explicação: “Pois enquanto trabalhávamos na tradução que o Senhor
nos designara, chegamos ao vigésimo nono versículo do quinto
capítulo de João, que nos foi dado como segue: Falando da
ressurreição dos mortos, com referência aos que ouvirão a voz do
Filho do Homem: e ressurgirão; os que fizerem o bem, na
ressurreição do justos, e os que fizerem o mal, na ressurreição dos
injustos. Ora, isso nos maravilhou, pois foi-nos dado pelo Espírito. E
enquanto meditávamos sobre essas coisas, o Senhor tocou os olhos
do nosso entendimento e eles se abriram; e a glória do Senhor
cercou-nos de esplendor” (D&C 76:15-19). Esta revelação que
desvenda coisas que somente foram mencionadas de forma
superficial na Bíblia (João 5:29; 1 Coríntios 15:40-41), revelação esta
que ensina a respeito de nossas possibilidades eternas, a seção 76
de Doutrina e Convênios, não foi registrada na Nova Tradução das
Escrituras do Profeta, mas foi consequência direta do trabalho de
tradução.
17. Informações históricas. A Tradução de Joseph Smith acrescenta
detalhes históricos à Bíblia que em alguns casos têm grande
significado doutrinário. Revelaram-se novas informações a respeito
dos seguintes indivíduos: Adão, Eva, Enoque e Melquizedeque
(conforme citadas anteriormente), bem como Saul (1 Samuel 16:14–
16), Davi (1 Reis 3:14; 11:14, 6, 33, 39), Solomão (1 Reis 3:1), Jesus
(Mateus 2:23 [7] ; 4:1–9), os Doze Apóstolos (Mateus 6:25–27;
Marcos 14:32 [8] ), e Judas (Marcos 14:10 [9] ).

Um Testamento de Jesus Cristo


Será a Tradução de Joseph Smith simplesmente um comentário de
Joseph Smith acerca da Bíblia, ou será ela uma restauração de
materiais perdidos? Posto que o papel da TJS é o de fonte primária
da doutrina dos Santos dos Últimos Dias, conforme revelada por
ordem do Senhor, parece haver fortes motivos para argumentar que a
TJS se trata da restauração do significado e conteúdo doutrinário do
que se perdeu da Bíblia. Quando Sidney Rigdon foi chamado para
servir de escrivão para Joseph Smith no trabalho de tradução, o
Senhor lhe disse: “Tu [escreverás] por ele; e as escrituras serão
dadas tal qual se acham em meu próprio seio, para salvação de meus
eleitos ” (D&C 35:20) Subentende-se que a Bíblia, da forma em que
se encontrava naquela época, não estava no “próprio seio” de Deus.
A Bíblia é o testemunho de Judá acerca de Deus e de Jesus Cristo.
Não bastavam o Livro de Mórmon, Doutrina e Convênios e a Pérola
de Grande Valor para restaurar as verdades doutrinais perdidas. Para
fazer jús aos profetas bíblicos tornou-se preciso restaurar a própria
Bíblia a seu poder original de testemunha de Jesus Cristo e seu
evangelho. A Bíblia tinha de ser corrigida e a Tradução de Joseph
Smith faz uma contribuição poderosa à restauração de suas
verdades.
A relação impressionante citada acima de restaurações doutrinárias,
junto com muitas outras semelhantes a elas, faz com que a Tradução
de Joseph Smith nos restaura de fato as escrituras “tal como se
acham no próprio seio [de Deus], para salvação de seus eleitos”
(D&C 35:20). Mas estas não são as únicas bênçãos que nós
recebemos através da Nova Tradução da Bíblia. Por meio das
revelações no livro de Doutrina e Convênios que a acompanharam, a
TJS se tornou ponto de partida para o recebimento de muitos
conhecimentos revelados além da restauração de verdades bíblicas.
Além disso, o esforço inspirado que produziu a Tradução de Joseph
Smith também serviu de base para a educação doutrinária do próprio
Profeta Joseph Smith. O conhecimento impressionante da Bíblia que
o Profeta mostrava e que é muito evidente em seus sermões e
escritos foi, em grande parte, fruto de seu trabalho de tradução da
TJS. [10] Os grandes esforços do Profeta em produzir a Nova
Tradução representavam um aspecto importante de seu aprendizado
com referência às doutrinas do reino de Deus. Ele aprendeu bem a
Bíblia, mas, o que é de mais importância, ele aprendeu melhor o que
era o dom da profecia, a qual guiou seu trabalho de restauração das
doutrinas do evangelho. Sem dúvida a Tradução de Joseph Smith
verdadeiramente é uma grande evidência do ministério do Profeta
que lhe foi designado pela divindade. Ainda mais, trata-se de um
testamento de Jesus Cristo—outra testemunha de que Ele vive e que
seu evangelho se oferece a todos como sendo o único meio de
salvação para a família humana.

Anotações
[1] Para muitas destas referências, vide Robert J. Matthews, “A
Plainer Translation”: Joseph Smith’s Translation of the Bible—A
History and commentary (Provo, Utah: Brigham Young University
Press, 1975), 21-54.
[2] William E. Berrett, The Restored Church, 13th ed. (Salt Lake City:
Deseret Book, 1965), 100.
[3] Referências bíblicas se referem às passagens bíblicas onde foram
feitas as alterações da TJS. A não ser que haja um observação ao
contrário, as referências são iguais, tanto para a Bíbia tradicional
como para a Versão Inspirada publicada pela Comunidade de Cristo
de Independence, Estado de Missouri. As referências precedidas por
Versão Inspirada e V.I. indicam o capítulo e versículo(s) conforme
designados na edição impressa da Versão Inspirada. A não ser que
haja uma observação do contrário, as passagens citadas seguem o
fraseamento conforme se encontra ou no Livro de Moisés da Pérola
de Grand Valor, ou na Versão Inspirada.
[4] V.I. João 1:19.
[5] Para maior esclarecimento a respeito da contribuião da TJS ao
nosso entendimento do ministério mortal de Jesus, vide Matthews, “A
Greater Portrayal of the Master,” Ensign, March 1983, 6–13.
[6] VT2, página 2, ortografia e pontuação atualizadas conforme os
padrões vigentes.
[7] V.I. Mateus 3:24–25.
[8] V.I. Marcos 14:36.
[9] V.I. Marcos 14:31.
[10] Vide a relação impressionante das escrituras citadas nos
sermões de Joseph Smith como consta no livro The Words of Joseph
Smith The Contemporary Accounts of the Nauvoo Discourses of the
Prophet Joseph, ed. Andrew F. Ehat and Lyndon W. Cook (Provo,
Utah: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1980),
421-25. See also Joseph Smith’s Commentary on the Bible, comp.
and ed. Kent P. Jackson (Salt Lake City: Deseret Book, 1994).
Aprender e Ensinar com mais Efeito
Traduzido de Richard G. Scott, "To Learn and to Teach More
Effectively" in The Religious Educator, vol. 9, num. 1, ed.
Richard Neitzel Holzapfel (Provo: Religious Studies Center,
2008), 1-11.

Aprender e Ensinar com mais Efeito


Elder Richard G. Scott

O Élder Richard G. Scott é membro do Quórum dos Doze


Apóstolos. Este discurso foi proferido durante a Campus
Education Week (Semana de Educação no Campus [da
Universidade Brigham Young]) em 21 de agosto de 2007.

Juntamente com os irmãos eu sinto a emoção e espectativa


pelos eventos inspiradores que estão por vir ao darmos início à
octogésima quinta Semana de Educação no campus da BYU.
Dou-lhes meus parabens pela decisão de participarem desta
atividade extraordinária para que possam aprender e
desenvolver-se através das experiências aqui compartilhadas.
Quanto a seu alcance e qualidade não há nada no mundo todo
como este evento. Eu, assim como os irmãos, tenho um desejo
constante e contínuo de melhorar e crescer através de todos os
meios de aprendizado que o Senhor nos proporcionou.
Ao viajar pelo mundo inteiro, é evidente para mim que o
conhecimento é poder. Alguns o usam para a sua própria
vantagem. Muitos empregam incorretamente o conhecimento,
limitando gravemente o uso do arbítrio das outras pessoas.
Porém há outros cujos talentos, conhecimento e experiência
são aplicados para edificar, encorajar, motivar e abençoar
aqueles ao seu redor. Tenho confiança que os irmãos também o
fazem. Os irmãos serão muito beneficiados pelo esforço e
tempo despendidos aqui e, em troca disso, ajudarão outros ao
aplicarem e compartilharem o que aprenderem aqui. Estarão
seguindo a admoestação do Senhor: "E como nem todos têm fé,
buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras de
sabedoria; sim, nos melhores livros buscai palavras de
sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também
pela fé" (Doutrina e Convênios 88:118).
O tema deste ano, "O Alvorecer de um Dia Mais Radiante," é
muito apropriado. Enfatiza a maravilha que é a Restauração do
evangelho nesta dispensação. Qualquer estudante da história
está consciente do fato de que a Restauração da Igreja (com sua
doutrina pura, autoridade sacerdotal e orientação divina)
desencadeou uma avalancha de descobrimentos, clarificações e
invenções que continuam a edificar a humanidade de forma
poderosa. Quão grato sou ao nosso Sagrado Pai pela
restauração da verdade que nos chegou por meio do Profeta
Joseph Smith para o benefício da humanidade. Joseph Smith é
um exemplo muito inspirador de um indivíduo que ao longo de
sua curta vida sempre procurou conhecimento e compartilhou-
o livremente com os outros, embora fazê-lo lhe custasse a
vida.
A minha intenção agora é compartilhar algumas idéias de como
aprender e ensinar com eficácia.

Como Aprender com Mais Efeito


Há inúmeros meios pelos quais poderemos aprender e
aperfeiçoar-nos. Alguns deles são o estudo formal, a
meditação, a análise, a experiência própria, a observação
cuidadosa, mentores, seguir o exemplo de pessoas
extraordinárias, servir de boa vontade e aprender através dos
nossos erros. Não seria realista procurar identificar, mesmo em
forma resumida, os infinitos meios pelos quais podemos
adquirir o conhecimento e ganhar experiência. Por este motivo
resolvi falar do que para mim é o caminho mais eficaz que nos
conduz à verdade e à fonte inestinguível de orientação e
inspiração do nosso Pai Celeste e seu Filho Amado. Este
caminho consiste na orientação e inspiração por meio do
Espírito Santo. Juntos edificaremos um alicere para
compreender a orientação espiritual e descobrir como obtê-la e
passá-la aos outros. Meu sincero desejo é proporcionar-lhes
motivação para que aumente sua capacidade de adquirir
conhecimento para o seu benefício eterno e para abençoar as
pessoas com que o compartilharão.
Também mencionarei algumas das importantes verdades que
tenho aprendido por meio de buscar a orientação do Espírito
Santo. E dado que reconheço que muitos dos irmãos foram
motivados para estarem aqui por um forte desejo de ajudar os
outros, sugerirei aos irmãos maneiras para ensinarem estas
verdades. Seria bem mais fácil ensinar-lhes se pudéssemos
conversar pessoalmente. Felizmente quase sempre os irmãos
poderão interagir com as pessoas que estiverem ensinando
mesmo quando se trata de um só membro da famólia. Sua
instrução será mais beneficial e mais duradora se os irmãos
incentivarem a participação dos alunos.
Para começar, compartilharei com os irmãos uma verdade do
evangelho que, se for comunicada com eficácia e praticada
constantemente na sua vida, compensará todo esforço que
fizeram para chegar à Semana de Educação, mesmo que não
façam mais nada aqui. Esta verdade os ajudará a obter o
benefício máximo desta hora que estaremos passando juntos,
do restante desta conferência e de outras experiências
significativas no decorrer de sua vida. Tenho observado que
muitos dos irmãos vieram preparados para fazer anotações do
que aqui escutarem. Embora isso seja de grande proveito, vou
compartilhar um padrão que lhes proporcionará até mais
acesso à verdade. Resume-se nesta declaração de princípio:
Pelo resto de minha vida procurarei aprender através daquilo
que ouço, vejo e sinto. Vou escever as coisas importantes que
eu aprender e praticá-las.
Sugiro que escrevam isto. Se eu fosse terminar o discurso agora
mesmo, já teriam recebido um dos meios mais significantes de
aprendizagem que eu poderia dar-lhes. Se este princípio que
acabo de citar não parecer importante, pensem de novo. Muitas
das lições essenciais que tenho aprendido e profundamente
apreciado aprendi através de pô-lo em prática.

Como Responder aos Sussuros do Espírito


Os irmãos poderão aprender princípios de suma importância
pelo que ouvem e vêem e, aindia mais, pelo que sentem
conforme inspirados pelo Espírito Santo. Muitas pessoas
limitam o seu aprendizado ao que ouvem ou lêem. Sejam
sábios! Desenvolam também o talento de aprender por meio
daquilo que se observa, ou vê, e, principalmente, por meio
daquilo que o Espírito Santo os inspira a sentir. Sua capacidade
de aprender assim crescerá através da prática repetitiva.
Exigem-se fé e esforço significantes para aprender pelo que se
sente mediante o Espírito. Peçam tal ajuda com fé. Levem uma
vida digna de receberem tal orientação.
Escrevam e guardem num lugar seguro as coisas importantes
que aprenderem do Espírito. Perceberão que ao registrarem
uma impressão preciosa, muitas vezes neste momento virão
ainda mais idéias que de outra forma não teriam recebido.
Saliento que o conhecimento espiritual que se recebe lhes será
disponível ao longo de sua vida. Sempre, de dia, de noite, não
importa onde ou o que estejam fazendo, procurem reconhecer
e responder à guia do Espírito. Tenham à mão um pedaço de
papel ou cartão para registrar tal orientação.
Dêem graças ao Senhor pela orientação espiritual que
receberem e obedeçam-lhe. Este hábito reforçará sua
capacidade de aprender pelo Espírito e realçará a direção vinda
do Senhor na sua vida. Aprenderão mais ao porem em prática o
conhecimento, experiência e inspiração transmitidos aos
irmãos pelo Espírito Santo.
A orientação espiritual é a direção, a ilucidação, o
conhecimento e a motivação que recebemos de Jesus Cristo
através do Espírito Santo. Trata-se de instrução personalizada e
adaptada a suas necessidades individuais por Aquele que as
compreende perfeitamente. A orientação espiritual é um dom
de valor incomparável concedido àqueles que a buscam, levam
uma vida digna e agradecem ao Senhor.
As escrituras nos ensinam como podemos tornar-nos
merecedores da orientação espiritual. O élder Bruce R.
McConkie nos deu este conselho sábio: "Por mais talentosos
que sejam os homens em assuntos administrativos; por mais
eloquentes que sejam em exprimir suas idéias; por mais
eruditos que sejam quanto às coisas do mundo, se não
pagarem o preço através do estuco e poderação das escrituras
e orarem a seu respeito, ser-lhes-ão negados os sublimes
sussuros do Espírito que poderiam ter recebido." [1]
Ao estudar e orar acerca de certas escrituras, descobri que o
seguinte modelo é muito útil na obtenção de orientação
espiritual.
Para adquirir orientação espiritual e obedecer-lhe com
sabedoria, deve-se:
Buscar com humildade a luz divina
Exercer fé, especialmente em Jesus Cristo
Procurar diligentemente guardar Seus mandamentos
Arrepender-se constantemente
Orar continuamente
Obedecer à direção espiritual
Dar graças pela orientação recebida
Que estas sugestões lhes sejam de benefício na sua busca de
direção espiritual.

Ensinar Outros a Aprenderem do Espírito


Agora, vamos ver como se pode ensinar o princípio de
aprendizado que já mencionei a outros. Se eu estivesse
ensinando, primeiro recomendaria que cada aluno escrevesse o
princípio: Pelo resto de minha vida procurarei aprender através
daquilo que ouço, vejo e sinto. Esceverei as coisas importantes
que aprender e irei praticá-las.
Então, explicaria como se usa cada um dos três meios de
comunicação: ouvir, ver e sentir. E procuraria incentivá-los a se
comprometerem a viver o princípio, pois cada aluno que fizesse
isso receberia a bênção de grande orientação espiritual para
sua vida.
Depois, eu mostraria a seguinte série de gráficos de como se
pode incrementar o aprendizado.
1. Minha intenção é mostrar-lhes como podem ajudar os outros
a qualificarem-se para serem guiados pelo Espírito e
reconhecerem que quando receberem tal orientação, deverão
escrevê-la e obedecer.
2. As pessoas que os irmãos ensinam vivem num mundo onde
estão sujeitos a desafios e tentações. Estou convencido de que
sem a ajuda do Espírito um indivíduo terá dificuldade em evitar
a transgressão no mundo de hoje. Quando alguém faz uma
escolha errada, amarra-se ao pecado.

3. Os irmãos podem motivar o estudante a viver a fim de


receber a influência do Espírito e reconhecer sua direção para
que seja abençoado ao obedecer a esta guia. Os irmãos
poderão desempenhar um papel essencial neste processo.
Ao ensinar a doutrina apropriada e explicar como o Senhor se
comunica pelo Espírito, seus alunos terão a experiência de
serem guiados pelo Espírito. Aprenderão os princípios em que
tal comunicação se baseia. Ao aplicarem estes princípios, farão
escolhas corretas na vida.
4. é muito comum o professor somente dar conselhos ao aluno
sem interação. às vezes não há explicação de porque existem
mandamentos, regras e padrões. O professor não é mais que
uma cabeça falante.
A maioria do ensino neste mundo se baseia nos sentidos-
audiçaõ, visão, tato, olfato e paladar. Na sua sala de aula
poderão ensinar pelo poder do Espírito.

5. Tal comunicação começa quando se incentiva a cada um dos


alunos a participar em vez de ser um mero ouvinte passivo.
Desta maneira poderão avaliar se o aluno entendeu o que foi
ensinado e, desta maneira, o próprio professor também
aprenderá. E o que é mais importante, a participação do aluno é
uma forma de exercer o arbítrio, assim permitindo o Espírito
Santo a comunicar uma mensagem pessoal, adaptada às
necessidades individuais. Criar um ambiente de participação
aumenta a probabilidade do Espírito ensinar lições mais
importantes do que os irmãos podem transmitir.
6. Tal participação trará para sua vida a direção do Espírito.
Quando se incentiva o aluno a levantar a mão e responder a
uma pergunta, ele, embora talvez não reconheça, indica ao
Espírito Santo que tem vontade de aprender. Tal uso de seu
arbítrio moral permitirá que o Espírito o motive e dê-lhe uma
orientação mais poderosa durante a aula. A participação faz
com que as pessoas tenham a experiência de serem guiadas
pelo Espírito. Elas aprendem a reconhecer e sentir o que é a
direção espiritual. Através da repetição do processo de sentir
impressões, apontá-las e obedecer a elas é que se aprende a
depender mais da orientação do Espírito, sim, muito mais do
que a comunicação pelos outros cinco sentidos.

7. Sua capacidade de ensinar aumenta pela direção que os


irmãos recebem do Espírito Santo. Para dizer de forma simples
e clara, a verdade, quando é apresentada num ambiente de
amor verdadeiro e confiança, qualifica uma pessoa para receber
o testemunho do Espírito Santo.
8. Se na sua relação com os alunos os irmãos não conseguirem
mais nada do que ajudá-los a seguir os sussurros do Espírito,
terão abençoado sem medida e para a eternidade a vida deles.
Para isso, os irmãos precisam buscar constantemente a direção
do Espírito para saber o que dizer e como dizê-lo.

Estou convencido de que não há nenhuma técnica nem fórmula


simples que eu possa dar-lhes, ou que os irmãos possam dar a
seus alunos, que instananeamente facilite o domínio da
abilidade de ser guiado pelo Espírito Santo. Tampouco creio
que o Senhor permita que alguém invente um modelo que
possa abrir invariável e imediatamente os canais de
comunicação espiritual. Nós crescemos ao lutarmos para
reconhecer e receber a inspiração do Espírito Santo e ao
esforçar-nos para comunicar-nos com nosso Pai Celestial nos
momentos de necessidade ou de transbordante gratidão. Cada
vez que nos esforçarmos neste sentido, daremos um passo à
frente no cumprimento com o propósito de estarmos aqui na
terra.
Nosso Pai espera que aprendamos a obter a ajuda divina por
meio da fé nele e no Seu Santo Filho. Se fôssemos receber
direção inspirada sem nenhum esforço, nós nos tornaríamos
fracos e cada vez mais dependentes. Ele sabe que o
crescimento pessoal e essencial provém da luta para aprender a
sermos guidados pelo Espírito. Esta luta esculpe nosso caráter
imortal e aperfeiçoa nossa capacidade de reconhecer Sua
vontade através dos sussurros do Espírito Santo. O que de
início parece um trabalho assustador se tornará mais suave ao
longo do tempo se nos esforçarmos constantemente para
identificar as sensações que o Espírito desperta em nós.
Também a nossa confiança na direção que recebemos por
meio do Espírito Santo será grandemente fortalecida.
As coisas fáceis nunca produzem frutos benéficos. Nem Nosso
Pai que está no céu nem Seu Santo Filho sente prazer em ver-
nos lutar para sobrepujar obstáculos, resolver dúvidas ou achar
soluções a problemas complexos e desafiadores. Porém, Eles se
regozijam quando os irmãos voluntariamente reconhecem que
estes são passos para o crescimento e que nos conduzem às
ações que moldarão em nós um bom caráter.

Entesourar as Impressões Sagradas


Os irmãos já aprenderam o valor duradouro de manter um
registro das importantes experiências espirtituais e as
impressões sagradas que o Senhor lhes comunicou? Não
mantenho um diário detalhado dos acontecimentos cotidianos
mas procuro manter um registro de alguns assuntos de muita
importância. As experiências espirituais guardo num registro
protegido por senha que mais ninguém pode acessar. Quando
me sinto autorizado pelo Espírito Santo, tiro algumas destas
verdades que aprendi e coloco-os num diário familiar ou
compartilho-os num discurso público. Isto faço em
comformidade com um princípio cuja veracidade é confirmada
pelas escrituras. Algumas revelações são para nossa orientação
e edificação, para ajudar-nos a crescer e aprimorar nosso
caráter, devoção e testemunho. Estas coisas não se destinam a
outros. Assim como a bênção patriarcal é adaptada para a
pessoa a quem é dada, certas informações devem ser
protegidas com reverência devido a sua essência sagrada
inerente. Qualquer assunto sagrado que o Senhor queira
comunicar a terceiros Ele transmitirá a eles diretamente pelo
Espírito, se esses forem dignos e estiverem sintonizados.
Para confirmar que o que tenho falado não é pura teoria, agora
mencionarei algumas verdades preciosas que aprendi ao longo
dos anos pela orientação espiritual.
As escrituras nos ensinam (e foi-me confirmado por inspiração)
que o Espírito Santo nunca nos inspirará a fazer algo que não
seja possível fazer. Pode ser que leve um esforço
extraórdinário, muito tempo, paciência, oração e obediência,
mas teremos condições de fazê-lo.
Repetidas vezes fui inspirado a aprender que para alcançar uma
meta nunca antes alcançada, deve-se fazer coisas que jamais
foram feitas.
Foi-me ensinado que podemos fazer muitas escolhas na vida
mas não podemos determinar nosso próprio destino final. As
nossas ações é que o fazem. Pode parecer que controlamos os
resultados de nossa vida, mas não os controlamos. A
dignidade, a retidão, a fé em Jesus Cristo e o plano de nosso
Pai asseguram um futuro produtivo e agradável, enquanto
mentir, enganar ou violar as leis de castidade pessoal
asseguram uma vida de miséria aqui na terra como também na
vida vindoura, a não ser que haja o devido arrependimento.
é importante não nos julgar a nós mesmos pelo que pensamos
saber do nosso potencial. Devemos confiar no Senhor e no que
Ele pode fazer, utilizando nosso coração dedicado e mente
disposta a fazer sua vontade (vide D&C 64:34).
Arprendi através do Espírito Santo e da observação dos outros
que os conceitos como a fé, a oração, o amor e a humildade
não têm grande significado e não produzem nenhum milagre a
não ser que se tornem uma parte viva do nosso ser por meio de
nossas experiências pessoais acompanhadas dos sussurros
sublimes do Espírito.
Todos nós passaremos pela adversidade; faz parte da vida.
Todos nós passaremos por ela, pois precisamos dela para
crescermos e para formarmos um caráter reto. Aprendi que o
Senhor tem uma infinita capacidade de julgar a nossa intenção.
Ele se preocupa com o que será de nós por causa das escolhas
que fizermos. Ele tem um plano individual para cada um de
nós. Esta idéia é muito consoladora para nós quando
procuramos entender as coisas difíceis como a morte
inesperada de alguém de que tanto precisamos aqui na terra.
Ela ajuda-nos quando sofremos devido a uma doença ou uma
deficiência física, ou até quando somos abalados com a notícia
de um suicídio trágico de alguém.
A experiência própria me levou a compreender uma verdade
importante. Sei que Satanás não tem poder algum de forçar as
ações de uma pessoa reta e decidida porque o Senhor protege
tal pessoa do poder do diabo. Satanás pode tentar, pode
ameaçar, pode até parecer ter tal poder, mas ele não o possui.
Aprendi que nossa mente pode magnificar uma impressão do
Espírito Santo, ou, infelizmente, destruí-la por completo se a
rejeitarmos como se fosse algo sem importância ou algo que
saísse de nossa própria imaginação. Quando a direção
espiritual chega, é bom levar em mente este comentário do
Profeta Joseph Smith: "Deus julga os homens de acordo com
sua utilização da luz que Ele lhes dá." [2]
Ao enfrentarmos a adversidade poderemos ser levados a fazer
muitas perguntas. Algumas delas têm um propósito útil, outras
não. Na verdade não adianta fazer perguntas que refletem
oposição à vontade de Deus. Estar disposto a sacrificar
profundos desejos pessoais a favor da vontade de Deus é, de
modo geral, algo muito difícil de se fazer. Porém quando assim
fazemos, colocamo-nos numa posição fortíssima de receber o
máximo de ajuda do nosso carinhoso Pai Celestial. Aceitar sua
vontade, mesmo não sabendo por quê, traz-nos grande paz de
espírito e, depois de um tempo, a compreensão virá.
é dificílimo, às vezes, discernir a reposta à nossa oração
referente a um assunto pelo qual temos profundos sentimentos
pessoais ou fortes emoções. é por isso que é importante
recebermos conselhos válidos e inspirados ao nos
encontrarmos em tais circunstâncias.
Num momento de meditação calma aprendi que há uma relação
entre a fé e o caráter. Quanto mais fé temos em Jesus Cristo,
mais se fortalece nosso caráter e um caráter fortalecido
aumenta nossa capacidade de exercer maior fé ainda.
O Espírito me ensinou que Satanás não precisa nos tentar com
o mal. Ele consegue grande parte de sua meta por nos distrair
com muitas coisas aceitáveis, assim desviando-nos para que
não façamos as coisas essenciais. Precisamos frustrar esta
distração por meio de identificar o que é de suma importância
na vida. Devemos dedicar o nosso melhor esforço a levá-lo a
efeito. Quando há tempo e recursos limitados, seguir este
padrão pode requerer que deixemos de lado algumas
atividades boas mas não essenciais.
Em certas ocasiões o Senhor nos dará orientação espiritual vital
através de inspirar terceiros a compartilharem conosco o que
eles aprenderam. Tais mentores podem enriquecer
grandemente nosso vida por meio da comunicação gentil de
seu conhecimento e experiências. Podemos encontrar
mentores, vivos e falecidos, pelo estudo e emulação de suas
vidas produtivas. Tenho certeza que o falecimento recente do
Presidente James E. Faust inspirou no coração de milhares de
pessoas inspiradas por ele uma imensa gratidão por sua
solidariedade e motivação. Ele possuia uma capacidade enorme
de elevar e edificar as pessoas. Ele sempre cumprimentava as
pessoas com sinceridade e integridade com elogios válidos e
não inventados. O resultado foi o de edificar, levantar e ajudá-
las a descobrir o caminho de vida que lhes traria maior sucesso
e felicidade. A forma dele encorajar as pessoas muitas vezes
era breve e sucinta, porém muito eficaz e duradora.
Um dos meios mais memoráveis e poderosos de comunicação
do Espírito são os sonhos. Aprendi que quando a transição do
sono total ao acordar-se parece quase imperceptível é sinal que
o Senhor nos ensinou algo muito importante através de um
sonho. Quando isto ocorre, reconheço a necessidade de
meditar a respeito daquilo de que me lembro do sonho e
procurar entendê-lo e aplicá-lo na minha vida. às vezes um
sonho é simbólico e requer que oremos para que, por meio do
Espírito Santo, o Senhor possa-nos interpretar ou esclarecer as
lições a serem compreendidas e aplicadas.
Ao longo da maior parte de minha vida de jovem e adulto,
tenho apreciado muito a misericórdia. Foi através de um sonho
vívido que também aprendi a entesourar a justiça. A justiça dá
ordem e controle ao plano de felicidade do nosso Pai Celestial.
Assegura-nos de que o que nós ganhamos pelo esforço digno
será sempre nosso, tal como o conhecimento, o amor aos entes
queridos e os benefícios eternos das ordenanças, inclusive as
do templo. A justiça guarante que nenhum poder pode-nos
tirar estas coisas preciosas. Poderíamos perdê-las devido à
desobediência, mas quem iria querer fazer isso?
A ordem do Salvador: "Pedi e recebereis; batei e ser-vos-á
aberto" (3 Néfi 27:29) é o portão que se abre para a orientação
espiritual. Foi-me ensinado que sussurros mansos nos
incentivarão a fazer decisões certas. Quando observadas
cuidadosamente, estas impressões que entram no nosso
coração serão seguidas por conselhos específicos transmitidas
a nossa mente. Estes conselhos nos levarão a entender com
mais precisão o que devemos fazer. Tal direção detalhada nos
vem quando respondemos de boa vontade à inspiração do
Espírito. às vezes tal direção espiritual pode indicar ou dar a
entender eventos que ocorrerão mais tarde na vida. Se
aceitarmos ou não tal inspiração, se obedecermos ou não, a
vontade do Senhor não mudará. O que muda é o impacto na
nossa vida. Haverá conseqüências positivas bem mais
exressivas conforme a nossa boa vontade de obedecer aos
conselhos dados por tal orientação do Espírito Santo.
Há mais uma jóia preciosa de orientação espiritual que eu
gostaria de compartilhar. Levou-me muito tempo para
reconhecê-la. A obediência forçada não produz frutos
duradouros. é por isso que tanto nosso Pai Celestial como o
Salvador estão dispostos a pedir, soprar, encorajar e esperar
com paciência para nós reconhecermos sua preciosa orientação
espiritual. Certa vez levou mais de dez anos para eu descobrir a
resposta a uma questão importante sobre a qual eu tinha orado
constante e fervorosamente. A resposta total me veio ao juntar
as partes da solução comunicadas a mim de formas diferentes
em horas diferentes, A resposta não foi dada diretamente, mas
fui guiado com amor e paciência até encontrá-la.
Encerro com o meu testemunho. Procurarei seguir os conselhos
excelentes do Presidente Spencer W. Kimball. Ele ensinou: "Um
testemunho não é exortação; um testmunho não é um sermão;
. . . não é um relato sobre viagens . . . . é só dizer o que sente
no íntimo. Isto é testemunho. No momento que os irmãos
começarem a pregar aos outros, seu testemunho terminará.
Digam-nos o que sentem, o que a mente, o coração e toda
fibra de seu ser lhes dizem." [3]
Eu sei que as coisas que lhes disse são verdadeiras, pois eu as
aprendi. Foram-me confirmadas pelos sussurros suaves do
Espírito Santo. Que algumas delas sejam de proveito para os
irmãos! Sei positivamente que Jesus Cristo vive e como um dos
apóstolos dele presto solene testemunho que Ele é um
personagem glorificado e ressurrecto de perfeito amor. Ele guia
Sua igreja na terra. Ele os ama. Durante sua presença aqui Ele
os inspirará.. Ao procurarem identificar tais sussurros, Ele
guiará sua vida. Ele é nosso Mestre, nosso Redentor, nosso
Salvador. Eu O amo. Com toda capacidade que possuo presto
testemunho que Ele vive. Em nome de Jesus Cristo, amém.

Referências
[1] Bruce R. McConkie, seminário dos representantes regionais,
2 de abril de 1982.
[2] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith [Os
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith], compilado por Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 303.
[3] Teachings of the Presidents of the Church: Spencer W.
Kimball [Os Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Spencer W.
Kimball](Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints [A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos Dias],
2006), 76-77.
"Aqueles que Veem": Um Século de
Responsabilidades para Educadores Religiosos

"Aqueles que Veem": Um Século de


Responsabilidades para Educadores Religiosos
Scott C. Esplin e Brent R. Esplin

Scott C. Esplin é Professor Adjunto de História da Igreja e Doutrina,


na Universidade de Brigham Young.

Alguns anos atrás ensinei “aquela turma”—trinta e cinco calouros,


vinte e sete deles rapazes. [1]
Tenho certeza que todo professor já teve, ou eventualmente terá,
uma turma como esta. Talvez todos precisem ter uma turma assim.
Naturalmente, aquela era a quinta aula do dia, logo depois do almoço
(parece que sempre é assim). Pelo inverno, o idealismo de um novo
ano que o simpósio do Sistema Educacional da Igreja (SEI) tinha
promovido, já estava desgastado e eu estava frustrado. Estava
principalmente incomodado com uma declaração feita pelo Presidente
J. Reuben Clark Jr. em “O Curso Traçado pela Igreja nos Assuntos
Educacionais.” Ele prometeu aos professores: “Os jovens da Igreja
tem fome pelas coisas do Espírito; são ávidos por aprender o
evangelho, e querem recebê-lo sem rodeios, em toda sua pureza.
Querem saber. . . . Estes alunos anseiam pela fé. … Eles estão
preparados para entender a verdade.” [2]
Meus alunos estavam famintos, com certeza—mas não por nada que
eu estivesse oferecendo. Obviamente, ele não havia visto minha
classe.
Naquele ano eu tinha colocado em minha parede uma citação tirada
do discurso do Presidente Boyd K. Packer para educadores
religiosos, no qual ele citou o Presidente Joseph F. Smith quando
disse: “A mão do Senhor pode não estar visível a todos. Há muitos
que não podem discernir as obras da vontade do Senhor no
progresso e desenvolvimento deste grande trabalho dos últimos dias,
mas há aqueles que veem em cada hora e em cada momento da
existência da Igreja, desde seu início até hoje, Sua suprema e
colossal mão a qual enviou Seu Filho Unigênito.” [3]
No inverno daquele ano, eu estava longe de ver a mão do Senhor
“em toda hora e em todo momento” de minha classe. Comecei a
imaginar se Ele teria despendido “qualquer hora” ou “qualquer
momento” em minha classe, e se eu poderia lidar com outras turmas
como esta pelos próximos quarenta anos.
Mas Presidente Smith testificou que “Há aqueles que veem.” Quem
são eles, e o que eles veem? Qual é a profética visão da educação
religiosa? Presidente Packer, falando sobre os empregados do SEI,
observou: “Gostaria de fazer apenas um comentário ou dois sobre as
minhas responsabilidades como uma das Autoridades Gerais. . . .
Aprendi, por experiência própria, como as Autoridades Gerais da
Igreja respeitam este grupo. Agora sei da importância deste grupo de
homens e não sei se é bem aquilo que eu esperava que fosse. É
muito mais refinado do que esperava. Sei agora, por minha própria
experiência, o quão importante este grupo é em relação ao destino da
Igreja.” [4]
Em outra ocasião, Presidente Packer novamente observou: “Na
história da Igreja, não há nenhuma ilustração melhor sobre a
preparação profética deste povo do que o início dos programas de
seminário e instituto. Estes programas foram iniciados quando eles
eram bons, mas não criticamente necessários. Foi-lhes dado um
período de tempo para florescer e crescer para ser um sustentáculo
para a Igreja. Agora eles se tornaram uma bênção para a salvação da
Israel moderna em um dos nossos momentos mais desafiadores.
Estamos cercados. Nossos jovens estão correndo um risco
desesperador. Estes são os últimos dias, pressagiados pelos profetas
nos tempos antigos.” [5]
Os profetas não usaram superficialmente frases como
“tremendamente importante,” “preparação profética,” e “bênçãos.”
Conforme eles são abençoados com discernimento espiritual sobre os
jovens e a educação, o que eles veem? O que os profetas pensam
sobre a educação religiosa? Por que eles têm uma opinião tão forte?
Estas perguntas motivaram nossas pesquisas sobre discursos feitos
pelas Autoridades Gerais com relação à educação. Desde 1938,
cerca de 150 discursos feitos por Autoridades Gerais foram
direcionados a um público do SEI. Os discursos incluem mensagens
feitas na BYU em convenções durante o verão, simpósitos
(conferências) do SEI, reuniões anuais de “Uma Noite com uma
Autoridade Geral,” e transmissões de treinamento do SEI via satélite.
Estes discursos, cobrindo um período de tempo de setenta anos,
representam aquilo que Presidente Packer chamou de “a preparação
profética” [6] do SEI, assim como a visão educacional combinada de
mais de quarenta ungidos do Senhor.

A Lei do Ensino
Os discursos deste último século revelam um padrão que está em
conformidade com as diretrizes que o Senhor tem dado com relação
ao ensino. Em 1987, o Presidente Ezra Taft Benson perguntou:
“Estamos utilizando as mensagens e o método de ensino encontrados
no Livro de Mórmon e em outras escrituras da Restauração para
ensinar este grande plano do Deus Eterno?” [7]
O que ele quis dizer com “o método de ensino encontrado [nas
escrituras]”? Há um método de ensino que o Senhor nos deu e
espera que nós usemos ao ensinar Seu evangelho? No caso positivo,
onde é encontrado? Se existe um método, as Autoridades Gerais o
ensinam e o utilizam como modelo quando eles nos treinam?
O Senhor delineou elementos de um modelo de ensino na seção a
que Joseph Smith se referiu como “a lei da Igreja.” Doutrina e
Convênios descreve uma “lei de ensino” nas seguintes palavras: “E
também os élderes, sacerdotes e mestres desta igreja ensinarão os
princípios de meu evangelho que estão na Bíblia e no Livro de
Mórmon, no qual se acha a plenitude do evangelho. AnchorE
observarão os convênios e regras da igreja e cumpri-los-ão e estes
serão seus ensinamentos, conforme forem dirigidos pelo Espírito”
(D&C 42:12–13).
A lei de ensino do Senhor inclue quatro elementos: ensinamento de
princípios e doutrinas, observância aos convênios, obediência aos
artigos ou regras da Igreja, e a orientação pelo Espírito. Os discursos
dos educadores religiosos discutem e utilizam como modelo cada um
destes quatro elementos.

“O Curso Traçado”: Um Lugar para se


Começar para Encontrar o Método do Senhor
O primeiro discurso publicado, “O Curso Traçado pela Igreja nos
Assuntos Educacionais”, mantém um lugar especial no
estabelecimento da educação religiosa. Desde que este discurso foi
dado, os profetas têm continuamente se referido a ele, mantendo-o
como um modelo. Sobre o memorável discurso do Presidente Clark,
Presidente Henry B. Eyring disse: “O lugar onde eu sempre
começaria, para ter certeza que eu conheço aqueles princípios, seria
ler o discurso do Presidente J. Reuben Clark Jr., ‘O Curso Traçado
pela Igreja nos Assuntos Educacionais’... Ele viu os nossos dias e
muito além, por meio de uma visão profética. Os princípios que ele
ensinou de como ver nosssos alunos e portanto de como ensiná-los,
sempre será aplicável em nossas salas de aula. . . . O grande desafio
em nossas salas de aula, à medida que o reino avança para todas as
nações, famílias, línguas e povos, irá apenas comprovar a profética
visão do Presidente Clark. . . . Os princípios descritos há tantos anos
atrás serão um guia seguro nos anos futuros.” [8]
Presidente Packer escreveu o seguinte a respeito do mesmo
discurso: “Presidente Clark foi um profeta, vidente e revelador. Não
há a mínima dúvida de que, durante a preparação da sua mensagem,
uma excepcional inspiração esteve presente. Há uma clareza e um
poder em suas palavras, pouco comuns até mesmo para ele. . . . Leia
e pondere suas palavras cuidadosamente. Por aplicar a definição que
o Senhor mesmo nos deu, esta instrução pode ser seguramente
referida como escritura.” [9]
Os profetas acreditam tão intensamente nos princípios esboçados em
“O Curso Traçado” que eles o citam livremente. Em seu discurso de
1980 para educadores religiosos, o Presidente Marion G. Romney
descartou um discurso previamente preparado (conforme aludido pelo
Presidente Eyring [10] ), declarando ao invés disso: “Porque esta
designação de falar com vocês, professores profissionais, sobre como
ensinar o evangelho de Jesus Cristo nestas instituições da Igreja
requer um dom que eu não possuo, devo dizer aquilo que eu penso
que deve ser dito, utilizando as palavras do Presidente J. Reuben
Clark Jr.” [11] Ele continuou então, citando palavra por palavra, o
discurso “O Curso Traçado pela Igreja nos Assuntos Educacionais.”
Presidente Eyring posteriormente falou sobre aquela noite e a viagem
no carro com Presidente Romney depois de seu discurso. Ele
perguntou: “’Presidente Romney, você não acha que os jovens e o
mundo mudaram quase que completamente desde que o Presidente
Clark deu aquele discurso em 1938?... Você acha que aquilo que o
Presidente Clark ensinou ainda descreve a forma como devemos nos
aproximar de nossos alunos hoje?’ Presidente Romney sorriu
silenciosamente, ficou quieto por um momento e então disse, ‘Ah,
penso que Presidente Clark podia ver o nosso tempo e ainda muito
além. [12]
A visão do Presidente Clark de “nosso tempo e ainda muito além”
inclui, como em Doutrina e Convênios 42:12-13, uma discussão da
doutrina, dos convênios, dos artigos (conselhos de ensino), e do
ensino guiado pelo Espírito. Interessa-nos observar que ela não inclui
qualquer menção às condições do momento, embora o discurso
tenha sido dado no início da Segunda Guerra Mundial na Europa e
fim da Grande Depressão. Suas palavras ultrapassam as barreiras do
tempo, com declarações como “nestes tempos difíceis,” “em vista dos
acontecimentos atuais,” ou “tendo isto em vista.” Como escritura, o
discurso transcende o tempo e as circunstâncias, declarando fatos
como se fossem aplicáveis a qualquer tempo e lugar na história.
Conforme declarado pelo Presidente Romney, um membro da
Primeira Presidência, Presidente Clark possuia “um dom” único
àquela situação. [13]
No resto deste artigo, iremos analisar os quatro elementos do método
de ensino do Senhor, conforme delineados em Doutrina e Convênios
42:12-13. Cada seção irá incluir as palavras do Presidente Clark
sobre o assunto, apoiadas por comentários proféticos das
Autoridades Gerais e seus conselhos aos empregados do SEI.
Finalmente, será incluído um resumo daquilo que os líderes do
sacerdócio sentem a respeito dos alunos, professores e de toda
educação religiosa no destino da Igreja.

Doutrina
Doutrina, conforme usada em Doutrina e Convênios 42:12, refere-se
aos “princípios do evangelho, os quais estão na Bíblia e no Livro de
Mórmon.” Desde a época do Presidente Clark até os dias de hoje, a
doutrina recebeu uma forte ênfase nos discursos do SEI pelas
Autoridades Gerais, com mais de sessenta discursos se referindo ao
assunto. Élder Mark E. Petersen declarou: “Nossas autoridades são
as escrituras, as quatro obras-padrão. Joseph Smith e os outros
Presidentes e líderes são da mesma forma nossas autoridades. Eles
são nossos líderes imediatos. Devemos ensinar como eles ensinam.
Devemos evitar as doutrinas que eles evitam, devemos evitar as
práticas que eles evitam.” [14]
Presidente Clark da mesma forma declarou:
Não há razão nem justificativa para os prédios e instituições de
ensino e treinamento religioso de nossa Igreja, a menos que seja para
ensinar aos jovens os princípios do evangelho, de modo a incluir dois
ensinamentos fundamentais: que Jesus é o Cristo e que Joseph foi
um profeta de Deus. O ensino de um sistema ético aos alunos não
justifica o funcionamento de nossos seminários e institutos . . . As
doutrinas como a da vida eterna, a do sacerdócio, a da restauração e
muitas outras semelhantes contêm princípios grandiosos que vão
muito além dessas regras básicas do bom viver. Estes grandes
princípios fundamentais devem também ser ensinados aos jovens; é
isso que os jovens querem aprender primeiro. [15]
Ele continuou:
Vocês se interessam por questões puramente culturais e por
questões do conhecimento puramente secular, mas volto a repetir
para salientar, o seu principal interesse, seu dever essencial e quase
que exclusivo é ensinar o evangelho do Senhor Jesus Cristo como
revelado na época atual. Para ensinar esse evangelho vocês devem
empregar como fonte e considerar autoridades no assunto as obras-
padrão da Igreja e as palavras das pessoas chamadas por Deus para
liderar Seu povo na época atual. Vocês não podem, não importa seu
escalão, introduzir em seu trabalho sua própria filosofia peculiar, não
importa de que fonte ela venha nem quão agradável ou racional lhes
pareça. . . . Vocês não devem, seja qual for seu escalão, alterar as
doutrinas da Igreja nem fazer com que fiquem diferentes do declarado
. [16]

O Poder da Doutrina
Os profetas fazem promessas sobre o poder da doutrina no ensino.
Élder Bruce R. McConkie testificou: “Vocês não mudam a vida de
ninguém ao ensinar matemática. . . . Mas vocês mudam a vida das
pessoas quando lhes ensinam as doutrinas de salvação.” [17]
Élder Jeffrey R. Holland declarou: “A Igreja tem um grande trabalho a
fazer, e queremos fazê-lo andando retamente e bem no meio do
caminho estreito e apertado. Ensine o evangelho. Ensine a doutrina.
Eles têm todo o poder e atração que você precisa para prender seus
estudantes.” [18]
As Doutrinas a Serem Ensinadas
Se temos fé que o ensino da doutrina tem poder, então o que constitui
“doutrina” em uma sala de aula do SEI? Falando sobre os líderes do
sacerdócio, Élder Petersen observou que, “Devemos evitar as
doutrinas que eles evitam.” [19]
Quais são as doutrinas que os líderes do sacerdócio ensinam? O que
eles evitam? Eles as modelaram para o SEI? Presidente Harold B.
Lee aconselhou os professores: “Vocês, como professores, não estão
sendo enviados para ensinar doutrinas novas. Vocês devem ensinar
as doutrinas antigas, não de uma forma tão simples que eles possam
apenas entendê-las, mas vocês devem ensinar as doutrina da Igreja
de uma forma tão simples que ninguém possa ter dúvidas.” [20]
Parte do “ensino simples” inclue ensinar para uma audiência
adequada. O simples fato de que uma coisa pode ser verdade não
significa que precise ser ensinada na sala de aula. Presidente Packer
advertiu: “Existe uma tentação para o escritor ou para o professor . . .
de querer dizer tudo que seja digno ou que estimule a fé ou não.
Algumas coisas que são verdade não são muito úteis. . . . O escritor
ou o professor que possui uma lealdade exagerada à teoria de que
tudo deve ser dito, está deitando o alicerce para o seu próprio
julgamento. . . . É muito importante, não só o que estamos dizendo
mas também quando o dizemos. Tenham cuidado para que vocês
contruam a fé em vez de destrui-la.” [21]
Devido a esta advertência, os líderes do sacerdócio forneceram
poderosos recursos para ajudar os professores a determinar a
adequação da doutrina. Um auxílio é o documento “Doutrina Básica,”
publicado em Charge to Religious Educators [Responsabilidades para
os Educadores Religiosos], terceira edição. O documento de duas
páginas lista e desenvolve “doutrinas básicas e objetivos gerais . . .
aprovados pelo Conselho de Educação da Igreja.” [22]
Os discursos das Autoridades Gerais são um outro recurso. Conforme
Élder Petersen declarou, “Devemos evitar as doutrinas que eles
evitam.” [23]
Os professores podem olhar para os profetas como um modelo para
ensino da doutrina, uma vez que quase metade dos discursos
abordam o assunto. A maior parte vêm de uma época de discussão
sobre a doutrina, entre as décadas de 1950 e 1960, quando
autoridades como Joseph Fielding Smith e Harold B. Lee
estabeleceram a doutrina e modelaram o seu ensino.
Um terceiro recurso, e provavelmente o maior deles para se ensinar a
doutrina verdadeira, foi providenciado pelo Senhor mesmo. Élder
McConkie nos ensinou: “As escrituras por si próprias apresentam o
evangelho da maneira que o Senhor deseja que ele nos seja
apresentado em nossos dias. . . . Devemos ensinar da maneira como
as coisas foram registradas nas obras-padrão que temos. E se você
quiser saber qual ênfase deve ser dada aos princípios do evangelho,
simplesmente ensine as obras-padrão por inteiro e, automaticamente,
neste processo, você terá dado a ênfase que o Senhor mesmo daria
para cada doutrina e para cada princípio.” [24]

Advertências sobre Ensinar o Sensacionalismo


Ao explicar a doutrina, os instrutores são advertidos a não ensinar o
sensacionalismo. O Presidente Spencer W. Kimball preveniu:
Pode haver a tendência, e talvez haja a tentação para alguns
professores de instituto e seminário, de querer pesquisar com
profundidade coisas que não são necessariamente concernentes à
vida eterna de nossos jovens. Talvez eles façam isso para conseguir
encontrar algo que seja espetacular; algo que não seja conhecido;
algo um pouco estranho; um pouco diferente; ou algo que não foi
ainda descoberto. . . . Um professor está fazendo um desserviço a
seus alunos quando ele incita a curiosidade ou encoraja discussões
sobre coisas que não são parte de suas vidas ou de suas
experiências. . . . Os professores deveriam limitar-se às fases práticas
da vida normal, e não em explicar novidades espetaculares,
estranhas e excitantes. [25]
Presidente James E. Faust observou o seguinte: “Fico imaginando se
alguns poucos estudiosos do evangelho, incluindo educadores da
Igreja, ficam entediados com o dia a dia, com o básico e com os
primeiros princípios e fundamentos do evangelho. Alguns parecem
achar o esotérico intrigante. Estes milagres e mistérios reservam
certa fascinação. Todos nós estaríamos desempenhando nossas
obrigações muito melhor se ensinássemos os princípios e convênios
que constróem fé, em vez de ensinar história e geografia.” [26]
Élder Holland resumiu este desafio com a seguinte advertência: por
favor trabalhem arduamente para permanecer em equilíbrio e firmes,
não se dando a extremismos e rumores, sensacionalismos ou modas
passageiras de vários tipos e que frequentemente varrem a face da
terra (e algumas vezes vêm junto com os membros da Igreja). A este
respeito vocês podem ser para nós, e esperamos que conosco, parte
de uma solução e nunca parte do problema.
Conheço o desafio de tentar manter a atenção na sala de aula. Todo
professor quer ter uma flauta mágica, no melhor sentido, apelando
para um estudante pelos motivos certos e fascinando-os com nossa
compreensão das verdades do evangelho. Eu e você sabemos o
quão demandante é trabalhar com esta audiência, hora após hora, dia
após dia, semana após semana. Ensinar efetivamente, ensinar
poderosamente, ensinar com entusiasmo, preparação sólida e
material de apoio atraentes, isto é um trabalho árduo—está entre os
trabalhos mais árduos que conheço e certamente entre um dos
trabalhos mais árduos que já fiz. Mas, por favor, resistam à tentação
de empurrar qualquer doutrina que vocês ensinem ou mesmo
qualquer conselho que vocês possam dar, em direção ao
sensacionalismo ou ao extremo. [27]
Devemos, portanto, ensinar as doutrinas básicas da Igreja, conforme
encontradas nas obras-padrão e nas palavras dos profetas. Estas
são, afinal, “as coisas que os jovens querem aprender primeiro,” de
acordo com Presidente Clark. Ao terminar seu discurso, ele resumiu:
“O dízimo representa muito trabalho, muito desprendimento, muito
sacrifício, muita fé para ser usado para instrução incolor da juventude
da Igreja em ética elementar. . . . Dizendo isso, falo pela Primeira
Presidência.” [28]

Convênios
Os profetas enfatizaram que há mais no ensino do que simplesmente
declarar a doutrina verdadeira. Presidente Eyring acrescentou um
segundo aspecto quando declarou que, “Se fizermos com que a
doutrina seja simples e clara, e se ensinarmos a partir de nossos
corações transformados, a mudança também virá para eles [os
alunos].” [29]
Élder Neal A. Maxwell, da mesma forma, recordou sua própria
experiência com o seminário: “Minhas próprias memórias de meus
professores do Seminário de Granite High . . . estão agora
basicamente reduzidas àquilo que eles eram em termos de caráter.
Esquecidos estão os cardápios específicos das lições, mas eu me
lembro dos cozinheiros-chefes! É provável que o mesmo aconteça
com vocês. Vocês serão lembrados, não somente pelo que ensinam,
mas ainda mais por aquilo que vocês são.” [30]
Presidente Romney enfatizou o poder do exemplo de um professor:
“Eu preferiria que ele [o professor] estivesse um pouco menos
preocupado com a questão se os portões celestiais abrem de dentro
para fora ou de fora para dentro, mas que preferisse viver de tal forma
que fosse capaz de passar pelos mesmos portões.” [31]
Em outro discurso, ele observou: “Nunca presto atenção às
interpretações que uma pessoa dá sobre o evangelho se sei que ela
não está guardando os mandamentos.” [32]
A lei do Senhor sobre o ensino transmitida na seção 42 continua: “E
[eles] observarão os convênios.” Observar os convênios, na
perspectiva de um professor, inclui compromissos, tanto em viver em
retidão como indivíduos, como em suas obrigações como
empregados da Igreja. Trata-se de ser digno do Espírito, fiel às
designações de ensino e obediente às instruções dadas pelas
escrituras, pelos nossos líderes imediatos e pelos servos do Senhor.
O que foi que o Presidente Clark estabeleceu em “O Curso Traçado”
como padrão para todos os professores? “A primeira coisa que o
professor precisar ter para ensinar esses princípios é um testemunho
pessoal de que são verdadeiros. . . . Nenhum professor que não
tenha um testemunho sólido da veracidade do evangelho . . . tem
lugar no sistema de ensino da Igreja. Caso haja algum professor
assim . . . ele deveria demitir-se imediatamente.” [33]
Presidente Clark enfatizou, não só a importância de se possuir um
testemunho, mas também a coragem moral e intelectual de declará-
lo.
O que os líderes do sacerdócio ensinaram com relação ao
cumprimento dos convênios no método de ensino do Senhor? A
maior ênfase dada a este assunto parece ter sido na década de 1970,
quando a obediência ao convênio e a dignidade pessoal passou a ser
atacada. Ao focalizarmos neste período, o que os ungidos do Senhor
disseram aos professores sobre a dignidade aos convênios?
Presidente Packer aconselhou os professores a “terem certeza que
vocês estão comprometidos, que não são neutros, que são
tendenciosos, que vocês optaram por um lado, e que vocês estão no
lado do Senhor.” [34]
Ele continuou: “Em algum lugar desta terra em nossos dias, os jovens
devem, definitivamente devem, ser capazes de se unir a alguém que
não esteja confuso e que esteja seguro em sua fé. . . . Alguém deverá
se levantar, enfrentar a tempestade, declarar a verdade, e deixar os
ventos soprarem, e ser sereno e calmo e firme ao fazê-lo. Essa é sua
responsabilidade e sua obrigação como professores.” [35]
Durante este mesmo período de tempo, Presidente Kimball declarou:
Espero que vocês sejam uma rocha tão sólida que eles possam
receber de vocês uma força que venha a ser uma verdadeira fortaleza
para seus problemas. . . . Seus alunos não merecem sofrer devido
aos seus problemas. . . . Seus alunos têm o direito de esperar anos
de sólida espiritualidade em seu ensino efetivo. . . . Em grande parte,
uma enorme parte, os jovens estão indo ao templo para se casar por
sua causa. . . . Eles vão ao templo porque vocês foram ao templo,
porque vocês têm falado sobre o templo. Vocês têm lhes dito sobre
as alegrias da vida do templo, e amplamente por causa da sua
influência, eles irão ao templo depois de terem servido suas
missões. [36]
Presidente Benson lembrou aos professores: “Sua primeira
responsabilidade como professor do evangelho é preparar-se a si
mesmo espiritualmente. Todos vocês foram entrevistados por uma
Autoridade Geral quando se candidataram a um emprego no Sistema
Educacional da Igreja. Presumo que foi perguntado à maioria de
vocês se possuíam um testemunho. . . . Sua responsabilidade é viver
aquilo que ensinam. Sejam consistentes em sua vida com a
mensagem que declaram aos seus alunos.” [37]
Quando lemos os discursos dados através dos anos, parece-nos que
os líderes do sacerdócio têm estado preocupados que mantenhamos
nossos convênios, particularmente em relação aos seguintes pontos:
1. Que tenhamos um testemunho sólido do Salvador e do Profeta
Joseph Smith e a coragem de prestar testemunho deles.
2. Que sejamos verdadeiros às questões feitas pelas
Autoridades Gerais durante nossas entrevistas de emprego e
àquelas estabelecidas em nossas cartas de nomeação.
3. Que nossas vidas estejam em harmonia com os convênios
que pessoalmente fizemos.
4. Que haja harmonia entre aquilo que ensinamos e a maneira
como vivemos.
5. Que sejamos defensores dos líderes do sacerdócio e que
“ensinemos aquilo que os profetas pregam.”
6. Que nossa lealdade à doutrina e aos líderes do sacerdócio
seja evidente.
O Senhor e os líderes do sacerdócio enfatizam a questão do
cumprimento dos convênios por parte do professor, devido a seu
poder de ensino. Élder Maxwell resumiu:
Cada um de vocês deverá ter se dado conta, há muito tempo, que
você ensina aquilo que você é. Será essa lição que sobreviverá, na
memória dos alunos, a todas as outras que você ensinará. Você,
como pessoa, pode ter um grande impacto na memória de seus
alunos. Suas técnicas de ensino serão secundárias àquilo que você é
como um indivíduo. Sua personalidade será mais lembrada como um
todo, do que uma verdade em particular em uma lição em particular.
Isto é como deve ser, pois o seu discipulado é sério, aparecerá, e
será lembrado. . . . Você não poderá ser um professor de sucesso em
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nem posso ser
eu, se as coisas não estiverem certas em nossos chamados
eternos. [38]
Artigos [ou regras] da Igreja [39]
Como professores, não é suficiente ensinar a doutrina pura e manter
seus próprios convênios, não importa o quanto estes dois princípios
possam ser parte da lei do ensino. O Senhor, em Doutrina e
Convênios 42, requer algo mais ao declarar: “E observarão os
convênios e regras da igreja e cumpri-los-ão.” O que são as “regras
da igreja”? Na época que Doutrina e Convênios foi escrita, as seções
20 e 22 de hoje eram chamadas de “Artigos e Convênios da Igreja.”
Com relação a estas revelações, Joseph Smith declarou que “Desta
maneira o Senhor continuou a nos dar instruções de tempos em
tempos, com relação às obrigações que agora nos são
delegadas.” [40]
No Dicionário Noah Webster [da língua inglesa] de 1828,
encontramos a seguinte definição sobre a palavra artigo: “Uma
simples cláusula em um contrato, sistema de regulamentos, tratado,
ou algum tipo de escrita; um item ou despesa separada em particular
em uma conta, um termo, condição, ou estipulação em um
contrato.” [41]
“Os artigos da Igreja” para nossos propósitos, são as “instruções,
responsabilidades, regulamentos, encargos, e estipulações” que
constituem ser um professor além do mero cumprimento dos
convênios. Tais artigos são instruções relacionadas ao ensino. Não é
o suficiente viver como os artigos da Igreja nos instruem e ensinar a
doutrina pura. Nós devemos, como Élder Petersen observou, “ensinar
como [os profetas] fazem.” [42]
Desta forma, o que foi que os profetas disseram especificamente
sobre o ensino? Como os professores podem melhorar o ensino?
Élder Holland observou que há alguma coisa além do cumprimento
dos convênios e que constitue o ensino valioso:
Para um grupo de professores profissionais certamente não é preciso
explicar que, depois de termos nos preparado e purificado para
receber a companhia do Espírito do Senhor, é necessário então que
desenvolvamos um genuíno domínio de nossa profissão, utilizando e
aplicando as melhores técnicas educativas e aperfeiçoando nossas
habilidades enquanto tivermos o privilégio de entrar nessa sala de
aula. Precisamos dedicar o mesmo tipo de esforço para melhorar
nossas habilidades de ensino que um homem ou mulher em qualquer
outra profissão, sejam médicos, advogados, peritos em informática ou
microbilogistas. No Sistema Educacional da Igreja é essencial, mas
não suficiente, que sejamos bons homens ou mulheres—devemos
também ser bons naquilo que fazemos. Devemos ser muito bons. A
matéria que ensinamos e as vidas de nossos alunos exigem que cada
um de nós dê o melhor de si em nosso ensino. [43]
Élder Maxwell da mesma forma observou a importância do ensino
efetivo:
Evidentemente há indivíduos que estão mantendo seus convênios
mas que lhes falta o carisma no ensino. Certamente há aqueles cujas
vidas estão em ordem mas que não são estimulantes como
professores. Entretanto, o Espírito abençoa os esforços de todos
aqueles que vivem dignamente. Ele confirma aquilo que eles dizem
ou fazem. Há uma autenticidade de testemunha, que fala por si
mesma, a qual provém daqueles que mantêm os mandamentos.
Portanto, prefiro a precisão da doutrina e a convicção espiritual
(mesmo que com uma certa dose de monotonia) do que o carisma
com esperteza infundada.
Entretanto, algumas vezes, parte daquilo que possa estar faltando em
um professor decente, é um estímulo pessoal refrescante sobre o
evangelho, o qual poderia se provar altamente contagioso. Uma vez
que podemos falar apenas sobre uma pequena parte daquilo que
sentimos, não deveríamos permitir que “a menor parte” encolha ainda
mais de tamanho. [44]
Presidente Clark estabeleceu o padrão para se melhorar as
habilidades de ensino e magnificar “a menor parte”: “Mas antes de
experimentar as mais novas ideias de qualquer linha de pensamento,
ensino, atividades, etc., os especialistas deveriam parar para pensar
que, por mais que nos achem atrasados, e por mais atrasados que de
fato sejamos em algumas coisas, em outras, estamos bem à frente
dos demais e, portanto, esses novos métodos podem ser velhos, ou
pior, ultrapassados para nós.” [45]
Ele continuou comentando sobre os métodos de ensino: “Vocês não
precisam chegar de mansinho, por trás desses jovens espiritualmente
experientes e sussurrar religião aos seus ouvidos. Podem ser diretos
e falar com eles face a face. . . . Não há necessidade alguma de uma
abordagem gradual, de ‘historinhas de ninar’, como para crianças,
não é preciso o ‘banho maria’, condescendência, ou qualquer das
outras técnicas pueris, usadas nos esforços para se atingir os que
são espiritualmente inexperientes, e só não estão espiritualmente
mortos.” [46]
Ensinar no SEI, portanto, é diferente do que qualquer outro ambiente
de ensino, público ou privado. Aqueles métodos que funcionam em
qualquer outro lugar podem “ser velhos, ou pior, ultrapassados para
nós.” O ensino é diferente porque os alunos e o assunto são
diferentes.

Ensinando Truques, Manias e Jogos


Élder McConkie observou a diferença existente entre o ensino no
Sistema Educacional da Igreja versus outros tipos de ensino. Depois
de ter citado a declaração do Presidente Clark sobre ‘historinhas de
ninar’, ‘banho-maria’, condescendência e técnicas pueris, Élder
McConkie declarou: “Suponho que [a declaração] tem algo que se
refere a jogos, festas, entretenimentos e truques, os quais, realmente
irmãos, são péssimos substitutos para o ensino das doutrinas de
salvação em se tratando dos alunos que vocês têm.” [47]
Élder Richard G. Scott, da mesma forma, comentou: “Não há espaço
no seu ensino para truques, manias ou chantagem por meio de
favores ou guloseimas. Tais atividades não produzem uma motivação
duradoura para o crescimento pessoal, nem tampouco resultam em
benefícios permanentes. Simplesmente se falando, verdades
apresentadas em um ambiente de verdadeiro amor e confiança, se
qualificam para receber o testemunho do Espírito Santo em
confirmação àquilo que foi ensinado.” [48]
Presidente Benson advertiu: “Vocês não foram contratados para
entreter os alunos ou dramatizar sua mensagem
inapropriadamente.” [49]
Então, como podemos encontrar o equilíbrio entre as palavras de
Élder Maxwell sobre um “estímulo pessoal refrescante” e as de
Presidente Benson de que “não foram contratados para entreter os
alunos ou dramatizar inapropriadamente,” especialmente nas frias
manhãs do meio do inverno, quando o professor pode estar mais
cansado que os alunos?
Presidente Eyring deu a chave para o ensino efetivo no SEI quando
declarou:
Nossa meta é que eles escolham, tanto voltar para nossas classes
diariamente, como perseverar em sua fé até o final de suas vidas.
Para trazê-los de volta parece que requer entretenimento e a longo
prazo parece exigir um remédio mais forte. Estas duas metas
parecem incompatíveis, ou pelo menos muito difíceis de serem
atingidas na mesma sala de aula. Mas torna-se claro para mim que
aquilo que o aluno—até mesmo o aluno bastante jovem—quer a curto
prazo é também a preparação necessária para a longa estrada que
está à sua frente, porém estreita em certos lugares ou mesmo coberta
em névoa em outros. Aquilo que todo aluno quer é a felicidade. E o
que o aluno desejará para o resto da vida e para a eternidade é a
felicidade. [50]
Como ensinamos felicidade para um jovem de quatorze anos de
idade? Há quase vinte anos atrás, Presidente Eyring nos deu uma
outra chave. Em um discurso para administradores do SEI, ele
declarou:
Há uma tremenda fé na forma como eles estão revisando o currículo.
A fé é que os jovens podem ser levados às escrituras e podem
também amá-las. . . . Minha impressão é que deve haver uma forma .
. . de fazê-los utilizar mais as escrituras e menos de outras coisas, e
algo em meu coração me diz que isto é verdade. . . . Eu tenho o
pressentimento, se você quiser apenas meu prognóstico, de que em
quatro ou cinco anos de agora você verá mais jovens Santos dos
Últimos Dias em nossas salas de aula, ponderando sobre as
escrituras, referindo-se a elas uns com os outros, ensinando um ao
outro a partir delas, amando-as, acreditando que elas realmente têm
as respostas para as perguntas de seus corações. . . . Vai ser
necessário um milagre para que os jovens façam isso. [51]
Mais recentemente, Élder Holland confirmou este enfoque nas
escrituras, declarando: “Não é de se surpreender que, conforme os
tempos se tornem mais difíceis e o caminho se torne mais pedregoso,
os líderes do sacerdócio tenham dado ênfase às escrituras em cada
nível de nosso currículo, em cada nível da Igreja e em cada nível do
SEI. Por favor, aprofundem-se a si mesmos e a seus alunos nelas.
Não se desviem em caminhos proibidos e se percam nas névoas da
escuridão. Vocês sabem o que aconteceram àquelas pessoas!
Fiquem com a barra de ferro, a qual é a palavra de Deus. Utilizem as
técnicas de ensino que lhes forem necessárias para ajudá-los com
suas lições, mas mantenham histórias de guerras, doutrinas
estranhas e experiências próximas à morte a um mínimo. Fiquem
próximos ao coração da mina que é onde o verdadeiro ouro está. [52]
O próprio Presidente Eyring recentemente resumiu esta mudança:
“Se no passado havia uma riqueza de material preparado para tentar
prender o interesse divagado dos jovens e até mesmo entretê-los,
hoje, por sua vez, encontramos nas escrituras a tarefa de prendê-
los.” [53]
Os líderes do sacerdócio nos aconselharam a como ensinar as
escrituras para poder realizar este milagre. O SEI está encarregado
de ensinar as escrituras sequencialmente, utilizando o currículo
aprovado pela Igreja. Presidente Benson ilustra sua fé nestes
recursos: “Sempre se lembrem que não há nenhum substituto
aceitável para as escrituras e para as palavras dos profetas vivos.
Estas devem ser suas fontes originais. Leiam e ponderem mais sobre
o que o Senhor nos tem dito, e menos sobre as coisas que outros
escreveram com relação às palavras do Senhor. . . . Se vocês
permanecerem fiéis às doutrinas fundamentais e aos princípios do
evangelho, aderindo às obras-padrão, às palavras dos líderes do
sacerdócio e aos cursos de estudo delineados pelo Sistema
Educacional da Igreja, procurando a orientação do Espírito, vocês não
deverão ter qualquer problema em seguir este conselho.” [54]
Presidente Eyring da mesma forma prometeu: “Nós podemos pôr em
ação o poder do currículo simplesmente por agir com a nossa fé que
é inspirada por Deus. . . . Ao seguir o conteúdo do currículo, assim
como sua sequência, os dons do ensino nos serão abertos e não
sufocados.” [55]
O que acontece se as escrituras, os profetas e o currículo estão
silentes em uma questão que os jovens fazem? Presidente Eyring
aconselhou:
Conforme fazemos perguntas para nossos alunos, com certeza
geramos outras perguntas em suas mentes. Algumas vezes eles nos
farão perguntas as quais são novas para nós ou para as quais nós
não conhecemos as respostas dadas pelos profetas. A melhor coisa
que fazemos nesses momentos é nos lembrar de nosso propósito, o
qual é permitir a nossos alunos que sejam nutridos por ouvir a
verdade a qual é confirmada pelo Espírito Santo. Quando tivermos
qualquer dúvida sobre como responder com uma verdade
fundamental e sólida do evangelho de Jesus Cristo, estaremos
ajudando muito mais a nossos alunos se dissermos simplesmente,
“Eu não sei.” . . . Podemos mostrar para os alunos nossa fé em Deus,
que responde a cada pergunta para a qual precisamos de uma
resposta, mas que também nos dá paciência para prosseguirmos sem
respostas para todas as demais perguntas. [56]
Presidente Lee deu um conselho similar quando disse: “Irmãos, a
coisa mais sábia que podem dizer é ‘Eu não sei,’ para muitas
perguntas dos jovens, quando o Senhor ainda não nos revelou nada a
respeito daquele assunto. Nunca façam presunções para elucidar
uma questão a qual o Senhor revelou muito pouco a respeito.” [57]
Como pode um professor ter a coragem de dizer “Eu não sei” para um
aluno que ele ou ela ama e sabe que está lutando com uma
preocupação em particular? Presidente Howard W. Hunter
admoestou:
Deixe-me dar-lhes uma palavra de precaução. Tenho certeza que
vocês reconhecem o perigo em potencial de ser tão influentes e tão
persuasivos que seus alunos se tornam leais a vocês ao invés do
evangelho. Este é um problema maravilhoso para se lidar, e nós
apenas esperamos que todos vocês sejam estes professores
carismáticos. Mas há um verdadeiro perigo aqui. E este é o motivo
pelo qual vocês devem convidar seus alunos a lerem as escrituras por
si mesmos, não lhes deem apenas sua interpretação e apresentação
sobre elas. É por isso que devem convidar seus alunos a sentir o
Espírito do Senhor, não lhes deem apenas sua reflexão pessoal a
este respeito. É por este motivo que, finalmente, vocês devem
convidar seus alunos a vir diretamente a Cristo, e não apenas a uma
pessoa que ensina suas doutrinas, mesmo que tal pessoa seja
qualificada. Você não estará sempre disponível para seus alunos.
Você não poderá segurá-los pela mão depois que eles tiverem
deixado a escola ou a faculdade. E você não necessita de discípulos
pessoais.
Nosso grande trabalho é plantar na mente destes estudantes
princípios que lhes possam ser úteis pela vida afora, apontando-lhes
o caminho que os levará até Ele, que os ama e que poderá guiá-los
por lugares onde nenhum de nós irá. Por favor, tenham a certeza de
que a lealdade destes alunos é às escrituras e ao Senhor e às
doutrinas da Igreja restaurada. Coloque-os no caminho que os
conduz a Deus, o Pai, e a seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, e em
direção à liderança da verdadeira Igreja. Tenha certeza que quando o
glamor e carisma da sua personalidade, palestras e ambiente da sala
de aula tiverem se dissipado, que eles não vão estar com as mãos
vazias diante do mundo. Dê-lhes as dádivas que os carregarão
quando estiverem sozinhos. Quando fizer isto, a Igreja inteira será
abençoada por gerações futuras. [58]
O conselho do Presidente Hunter é apoiado por declarações similares
do Presidente Kimball e do Presidente Monson sobre a questão de
não tomar sobre si o papel dos pais ou do bispo nas vidas dos seus
estudantes. [59]
Então o que os profetas disseram sobre o relacionamento adequado
entre professor e aluno? Eles devem fazer alguma coisa? Enquanto
que os profetas lembraram os professores do SEI sobre seu devido
lugar, os profetas falaram também consistentemente sobre
aproximarmo-nos mais de nossos alunos. Este tema é constante
neste último século.
Em 1958 Élder A. Theodore Tutlle declarou: “Vocês, irmãos, devem
estabeceler os exemplo de compaixão e amor. Estes alunos podem
ser esquecidos por todas as outras pessoas, mas eles não devem ser
esquecidos por vocês. . . . Como vocês podem dormir sem procurar
tocar a vida de cada aluno? Sei que é difícil aproximar-se de cada
aluno. Mas podemos fazer muito melhor! É isto que estou requerendo
hoje.” [60]
Presidente Kimball pediu: “Espero que se alguns dos filhos de Deus
estiverem na escuridão espiritual, que vocês se cheguem até eles
com uma lâmpada e com luz em seu caminho; que se eles estiverem
na frígida solidão espiritual com seu frio penetrando em seus ossos,
que vocês se cheguem a eles com seu casaco e seu manto também;
e que quando eles precisarem de vocês para andarem com eles,
segurando suas mãos um pouquinho, que vocês andem com eles por
milhas e milhas, erguendo-os, fortalecendo-os, encorajando-os e
inspirando-os.” [61]
“O Resgate” não foi apenas um bom tema pioneiro para o
sesquicentenário.
Os exemplos de conselho e diretrizes sobre ensino são numerosos. É
o tópico mais frequentemente mencionado em discursos feitos para o
SEI; é coberto em 60 por cento dos discursos. Élder Tuttle estava
certo quando declarou, “Penso que os profetas, afinal, são os
melhores professores na Igreja.” [62]

Espírito
Tão importante como o currículo direcionado pela Igreja possa ser na
lei do ensino, o Senhor incluiu uma quarta e última fase—o Espírito.
Élder Holland, citando Doutrina e Convênios 42:14, declarou que “‘E o
Espírito ser-vos-á dado pela oração da fé; e se não receberdes o
Espírito, [vós] não ensinareis.’ . . . Não apenas que vocês não
ensinarão ou que vocês não poderão ensinar ou que será um ensino
pobre. Não, é muito mais do que isto. É a forma imperativa do verbo.
‘[Vós] não ensinareis.’ Coloque um tu no lugar de vós e vocês terão a
linguagem do Monte Sinai. Este é um mandamento. Estes são alunos
de Deus, não seus.” [63]
Élder Maxwell observou:
Espero que vocês encontrem novas maneiras de envolver os jovens
na leitura pessoal das escrituras. Imagino que a melhor analogia que
vem à mente é de que é como um hinário. Há muitas melodias que
precisam ser cantadas e ouvidas, e as minhas favoritas e as suas
favoritas não são necessariamente aquelas que irão atrair ou ser
relevantes para os jovens. Somente por meio de algum envolvimento
pessoal com as escrituras que eles poderão achar a canção que lhes
ajudará em suas necessidades. Vocês não podem contar com o
currículo—com qualquer currículo—para atender a suas
preocupações tão habilmente e tão precisamente. Eles devem abrir o
hinário e ouvir a canção. Está lá. Ela falará com eles; ela cantará para
eles, mas algumas vezes deverá ser na privacidade de seu próprio
estudo. Não há como eu e você anteciparmos todas essas
necessidades tão precisamente. [64]
Os conselhos dados pelas Autoridades Gerais nos últimos anos que
lidam com o ensino pelo Espírito incluem tanto o aprendizado como a
preparação pelo Espírito. Em pelo menos doze discursos lidando
diretamente com este assunto, os líderes do sacerdócio enfatizaram
que todo ensino é feito pelo Espírito: “Portanto eu, o Senhor, faço-vos
esta pergunta: Para que fostes ordenados? AnchorPara pregar meu
evangelho pelo Espírito, sim, o Consolador que foi enviado para
ensinar a verdade” (D&C 50:13-14; ênfase acrescentada).
O Senhor declarou a mesma verdade na Última Ceia: “Mas aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse
vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu
vos tenho dito” (João14:26).
Este aspecto do ensino tem recebido crescente ênfase desde 1980.
No final dos anos 70 e início dos anos 80, parece ter ocorrido uma
mudança na Igreja e no SEI, dando-se grande ênfase ao fato de
sermos guiados pelo Espírito. O ensino mudou para o estudo
sequencial das escrituras, manuais e materiais de auxílio foram
reduzidos, lições nas reuniões de sacerdócio e Sociedade de Socorro
foram reescritas, e uma ênfase ainda maior foi colocada no ensino
pelos pais no lar. Em outras palavras, membros, líderes e professores
foram encorajados a aprender a seguir a influência do Espírito em
suas vidas em vez de confiar em diretrizes escritas detalhadas,
manuais e guias provindos da sede da Igreja.
Presidente Eyring ilustrou esta mudança: “Vocês verão uma
simplificação e um despojamento das coisas que não são essenciais,
assim como uma impaciência com a ineficiência. . . . Há uma
tremenda fé na maneira como eles estão revisando o currículo. A fé é
que os jovens podem ser guiados e podem amar as escrituras.” [65]
Esta mudança já ocorreu, trazendo consigo uma grande ênfase nas
escrituras e no ensino pelo Espírito e menos ênfase nos materiais em
si. A previsão do Presidente Eyring de mais jovens ponderando,
falando a respeito, ensinando, amando e acreditando nas escrituras
tem sido confirmada. [66]
O que foi que os líderes do sacerdócio compartilharam conosco sobre
ensinar com menos recursos e mais com o Espírito? Élder McConkie
declarou: “Eu não me importo com aquilo que eu falo a respeito. Tudo
que me importa é estar em sintonia com o Espírito e expressar os
pensamentos, na melhor linguagem e maneira possíveis, que são
colocados lá pelo poder do Espírito. O Senhor sabe o que uma
congregação necessita ouvir, e Ele providenciou uma maneira para
dar essa revelação para cada pregador e para cada professor.” [67]
Élder L. Tom Perry aconselhou: “Primeiro, e mais importante,
evidentemente, é ensinar como o Espírito. Ensinar com inspiração
significa ver e tirar vantagem de cada momento especial de ensino
que surge ou que possa ser propositalmente criado. Ensinar com o
Espírito permitirá os alunos saber de seu amor e especialmente do
amor e preocupação de Deus por eles. . . . Seria impossível ficar
diante de uma classe ‘pegando fogo’ com o Espírito do Senhor sem
ter as vibrações de sua alma ressonando no coração de seus
alunos.” [68]
Élder Richard G. Scott declarou:
O maior impacto de todos é o que eles sentem em sua presença na
sala de aula e em qualquer outro lugar. . . . É o compromisso
constante de uma vida a qual é propositalmente vivida de acordo com
os ensinamentos e exemplos do Salvador e de seus servos. É um
compromisso para constante motivação para ser mais e mais
espiritual, devotado, merecedor de ser o instrumento pelo qual o
Espírito do Senhor possa tocar os corações daqueles que lhes foram
confiados para levar a um maior conhecimento de Seus
ensinamentos. . . . As impressões mais marcantes, o maior ensino, e
os efeitos mais duradouros para se praticar o bem resultarão da sua
habilidade de convidar o Espírito do Senhor a tocar os corações e as
mentes daqueles que vocês ensinam. [69]
Élder Maxwell nos deu instruções detalhadas, incluindo uma lista do
que fazer e do que não fazer para ensinar com o Espírito. Ele
declarou:
Ensinar não tira a responsabilidade do professor de preparação por
meio de oração e ponderação. Ensinar pelo Espírito não é o
equivalente a ir com “piloto automático.” . . . A melhor forma de se
obter o Espírito é pedir ao Senhor para que Ele tome conta de uma
mente já informada e na qual a matéria foi estudada de antemão.
Além disso, se nós já nos preocupamos profundamente com aqueles
a serem ensinados, é muito mais fácil para o Senhor nos inspirar,
dando conselho individualizado e ênfase àqueles que ensinamos.
Portanto, nós não podemos clinicamente estar separados quando
ensinamos pelo Espírito. [70]
Presidente Eyring compartilhou os efeitos de ensinar pelo Espírito no
Simpósio do SEI de 1999:
Eu teria mais cuidado ao convidar a companhia do Espírito Santo. Os
alunos não veriam o tanto que eu veria, uma vez que muito
aconteceria a nível pessoal. Mas eles sentiriam a mudança em mim,
conforme o Espírito suavizasse minha natureza. Eles perceberiam ao
me ver um pouco mais paciente, um pouco mais interessado neles,
um pouco menos propenso a argumentar ou menosprezar, um pouco
mais propenso a sorrir. Eles perceberiam, não só que eu pareceria
mais feliz, mas que eles estavam mais felizes em nossa sala. . . . Se
eles decidirem copiar aquilo que eles viram e que me fazia feliz, eles
poderão escolher o certo porque o certo traz a felicidade e a paz da
companhia do Espírito Santo. E então o Espírito Santo irá ensiná-los
todas as coisas que eles devem fazer para fazer a vontade a Deus e
assim, levar a felicidade com eles, por muitos anos depois deles
terem deixado as nossas salas de aula. [71]

Visões Proféticas do SEI


Os profetas realmente têm uma visão daquilo que o sistema
educacional pode fazer com os jovens da Igreja. Um último tema
comum nos setenta anos da história dos discursos do SEI é o
discernimento profético acerca da juventude dos santos dos últimos
dias e de seus professores. Quase que todos os discursos, desde a
época do Presidente Clark até hoje, incluem algumas bênçãos e
conselhos para estes dois grupos. Sobre os jovens, Élder Maxwell
disse: “A geração em desenvolvimento, aqueles santos
desabrochando, sentados à sua frente—comuns como eles possam
parecer em um dia qualquer—estão sendo especialmente preparados
para um trabalho único nos últimos dias desta dispensação. Em
grande parte, vocês foram delegados com o modelar de sua
educação religiosa—um verdadeiro elogio para vocês e uma bênção
para eles.” [72]
Presidente Eyring profetizou a respeito daquelas crianças “comuns” e
de seu futuro: “Não posso prometê-los de que daqui a cinquenta
anos, uma daquelas crianças franzinas em sua classe, por sua causa,
irá a algum lugar onde possa ser difícil de se ir a mandato do Senhor .
Mas posso prometê-los isto: mais do que uma delas irá naquele futuro
amar, seja o que for que vocês amem, e será leal àquilo que vocês
forem leais. E isto poderá vir de apenas uma aula em um dia, até
mesmo de um dia no inverno. Vocês estão fazendo um bem muito
maior do que vocês imaginam.” [73]
As Autoridades Gerais têm constantemente enfatizado as bênção que
os professores do evangelho desfrutam. Presidente Hunter comentou:
“Sempre penso no quão privilegiados, quão afortunados vocês devem
se sentir, em estar em uma profissão que não só permite mas que
literalmente os compele a mergulhar nas santas escrituras
diariamente. Há muitos membros da Igreja que invejam em vocês
este raro privilégio, e em certos dias, os líderes do sacerdócio e eu os
também os invejamos.” [74]
Presidente Eyring expressou sua apreciação pelos professores:
Em minhas viagens pela Igreja, onde quer que seja que um de vocês
me é apresentado como “nosso professor de seminário da
manhãzinha” ou “nosso professor de seminário para nossos alunos
de tal escola,” percebo uma nota de gratitude e admiração que espero
que vocês também percebam e se lembrem. Espero que vocês a
sintam em alguma manhã escura, conforme vocês se levantam da
cama ou no final de um longo dia quando alguns de seus alunos
querem ficar depois da hora para perguntar sobre uma questão que é
nova e vital para eles, mas a qual você já ouviu mais de mil vezes.
Suponho que aquilo que faz com que vocês sigam em frente, ainda
mais do que gratitude e admiração, é o vislumbre que vocês têm
sobre a diferença que podem fazer quando vocês fazem, aquilo que
fazem, de forma bem feita. [75]
Élder Scot expressou seu amor: “Vocês colocaram de lado o fascínio
àquilo que tantas pessoas no mundo procuram—sucesso material—e
se concentraram na melhor parte, embora mais difícil. Sucesso eterno
por meio da aplicação da verdade eterna—oh! quanto nós os
amamos por isso. Imagino se vocês têm a mais remota idéia de quão
importantes vocês são no estabelecimento da fé, do testemunho e em
seu apoio, conforme a Igreja cresce através do mundo.” [76]
O grande ensino do evangelho verdadeiramente importa. O programa
do SEI foi e é guiado por uma visão profética. Presidente Packer, uma
testemunha e participante na história profética do SEI resumiu:
Mencionei as muitas coisas que melhoraram através dos anos. . . . Há
algumas coisas que não mudaram. Nós ainda temos o jovem rapaz e
a sua esposa, lutando para terminar a escola e então se mudando
para procurar sua sorte. Aquele homem escolhe que ele será um
professor—um professor do evangelho—que ele irá devotar sua vida
a isso. Com essa decisão feita, vem o fato de que todas as outras
coisas que ele poderia ter escolhido serão, portanto, colocadas de
lado, e as realidades da vida que escolheu devem ser então aceitas.
Ele vive com um salário modesto, economicamente no meio da classe
média. Ele luta, ele tem filhos—normalmente crianças demais para os
padrões do mundo. Ele conhece a realidade de um programa
internacional em que ele tem que se mudar daqui para lá e para todo
e qualquer lugar. . . . Bem, apesar dessa realidade e de seus desafios
e dos orçamentos modestos e dos problemas - dificuldades em tudo
—vocês estão envolvidos e ligados à maior coisa desta terra, à maior
coisa que jamais esteve presente na face desta terra.
Vocês confiam plenamente nos líderes do sacerdócio. Estou dizendo
novamente que não há evidência maior da preparação profética
destas pessoas do que o início deste programa de educação
religiosa, porque quando ele teve início, ele era bom, mas sua
necessidade não era crítica. Ele teve tempo de florescer e agora
ajuda a proteger nossos jovens de tudo que enfrentamos. . . . Sejam
pacientes com todas as realidades que enfrentam, todas as
dificuldades e desafios. Vocês, irmãos, sejam compreensíveis,
ajudem suas adoráveis esposas e companheiras, as mães de seus
filhos. Irmãs, sejam pacientes com estes irmãos. Eles escolheram a
melhor parte. Encoragem-nos e apóiem-nos. Eles são parte da maior
coisa que se manifesta nesta terra nos dias de hoje. [77]

Notas
[1] Esta história é contada por Scott C. Esplin.
[2] J. Reuben Clark Jr., “The Charted Course of the Church in
Education” [“O Curso Traçado pela Igreja nos Assuntos
Educacionais”], Charge to Religious Educators[Responsabilidades
para os Educadores Religiosos], 3a. ed. (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1994), 4.
[3] Boyd K. Packer, “The Mantle Is Far, Far Greater Than the Intellect”
[“O Chamado é Muito, Muito Maior que o Intelecto”], em Charge to
Religious Educators [Responsabilidades para os Educadores
Religiosos], 3a. ed., 64; ênfase acrescentada.
[4] Boyd K. Packer, “The Ideal Teacher” [“O Professor Ideal”], em
Charge to Religious Educators [Responsabilidades para os
Educadores Religiosos], 3a. ed., 18.
[5] Boyd K. Packer, “Teach the Scriptures” [“Ensine as Escrituras”],
em Charge to Religious Educators [Responsabilidades para os
Educadores Religiosos], 3rd ed., 88.
[6] Packer, “Teach the Scriptures,” [“Ensine as Escrituras”] 88.
[7] Ezra Taft Benson, in Conference Report [Relatórido da
Conferência], abril de 1987, 106.
[8] Henry B. Eyring, “The Lord Will Multiply the Harvest” [“O Senhor Irá
Multiplicar a Colheita”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1998), 1–2; todas as
referências citadas como “discurso para o SEI” tiveram sua
distribuição limitada a professores e líderes do SEI.
[9] Boyd K. Packer, “Seek Learning Even by Study and Also by Faith”
[“Procure Aprender tanto pelo Estudo como pela Fé”], em That All
May Be Edified [Que Todos Sejam Edificados] (Salt Lake City:
Bookcraft, 1982), 44.
[10] Henry B. Eyring, “‘And Thus We See’: Helping a Student in a
Moment of Doubt” [‘E Portanto Vemos’: Ajudando um Estudante em
um Momento de Dúvida”], em Charge to Religious Educators
[Responsabilidades para os Educadores Religiosos], 3a. ed., 107.
[11] Marion G. Romney, “The Charted Course Reaffirmed” [“O Curso
Traçado Reafirmado”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1980), 1.
[12] Eyring, “‘And Thus We See’: Helping a Student in a Moment of
Doubt” [‘E Portanto Vemos’: Ajudando um Estudante em um Momento
de Dúvida”], 107.
[13] Romney, “The Charted Course Reaffirmed” [“O Curso Traçado
Reafirmado”], 1.
[14] Mark E. Petersen, “Avoiding Sectarianism” [“Evitando
Sectarismo”] em Charge to Religious Educators [Responsabilidades
para os Educadores Religiosos], 2a. ed. (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1982), 118; ênfase acrescentada.
[15] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 6; ênfase
acrescentada.
[16] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 7; ênfase
acrescentada.
[17] Bruce R. McConkie, “The Foolishness of Teaching” [“A Tolice do
Ensino”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus
Christ of Latter-day Saints, 1981), 13.
[18] Jeffrey R. Holland, “Our Consuming Mission” [“Nossa Missão
Consumidora”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints, 1999), 6.
[19] Petersen, “Avoiding Sectarianism” [“Evitando Sectarismo”], 118.
[20] Harold B. Lee, “Loyalty” [“Lealdade”], em Charge to Religious
Educators [Responsabilidades para os Educadores Religiosos], 2a.
ed., 64.
[21] Packer, “The Mantle Is Far, Far Greater Than the Intellect” [“O
Chamado é Muito, Muito Maior que o Intelecto”], 65.
[22] “Basic Doctrine” [“Doutrina Básica], em Charge to Religious
Educators [Responsabilidades para os Educadores Religiosos], 3a.
ed., 85.
[23] Petersen, “Avoiding Sectarianism” [“Evitando Sectarismo”], 118.
[24] McConkie, “The Foolishness of Teaching” [“A tolice do Ensino”],
6.
[25] Spencer W. Kimball, “The Ordinances of the Gospel” [“As
Ordenanças do Evangelho”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1962), 24.
[26] James E. Faust, “A Legacy of the New Testament” [“Um Legado
do Novo Testamento”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1988), 2.
[27] Jeffrey R. Holland, “Our Consuming Mission” [“Nossa Missão
Consumidora”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints, 1999), 3.
[28] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 8.
[29] Henry B. Eyring, “We Must Raise Our Sights”[“Devemos Erguer
Nossa Visão”], Conferência de 2001 do SEI, 14 de agosto de 2001, 3.
[30] Neal A. Maxwell, “Glorify Christ” [“Glorifiquem a Cristo”]. Uma
noite com uma Autoridade Geral discurso para o SEI, 2 de fevereiro
de 2001, 1.
[31] Marion G. Romney, discurso sem título dado na convenção dos
coordenadores do SEI, 13 de abril de 1973, 8.
[32] Marion G. Romney, “The Value of a Well-Informed Faith” [“O
Valor de Uma Fé Bem Informada”], discurso para o SEI (Salt Lake
City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1975), 10.
[33] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 6.
[34] Boyd K. Packer, “To Those Who Teach in Troubled Times” [“Para
Aqueles que Ensinam em Tempos Difíceis”], em Charge to Religious
Educators [Responsabilidades para os Educadores Religiosos], 3a.
ed.,100–1.
[35] Packer, “To Those Who Teach” [“Para Aqueles que Ensinam”],
101–2.
[36] Spencer W. Kimball, “Men of Example” [“Homens de Exemplo”],
em Charge to Religious Educators [Responsabilidades para os
Educadores Religiosos], 3a. ed., 25–27.
[37] Ezra Taft Benson, “The Gospel Teacher and His Message” [“O
Professor do Evangelho e Sua Mensagem”], em Charge to Religious
Educators [Responsabilidades para os Educadores Religiosos], 3a.
ed., 11, 15.
[38] Neal A. Maxwell, “But a Few Days” [“Mas uns Poucos Dias”],
discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints, 1983), 2.
[39] Nota do Tradutor - A palavra original no inglês para “regras”
refere-se à palavra“artigos”, como por exemplo “Artigos de Fé”, ao
invés da expressão do português “Regras de Fé.” Portanto, para
mantermos a fidelidade ao texto original e à sua mensagem,
estaremos utilizando a palavra “artigo.”
[40] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints [História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias], ed. B. H. Roberts (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints, 1932–51), 1:64; ênfase acrescentada.
[41] Noah Webster, An American Dictionary of the English Language
[Dicionário Americano da Língua Inglesa] (New York: S. Converse,
1828), s.v. “article” [“artigo’]; ênfase acrescentada.
[42] Petersen, “Avoiding Sectarianism” [“Evitando Sectarismo”], 118.
[43] Jeffrey R. Holland, “Teaching Skills” [“Habilidades de Ensino”],
discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints, 1992), 1–2; ênfase acrescentada.
[44] Neal A. Maxwell, “Teaching by the Spirit—The Language of
Inspiration” [“Ensinando pelo Espírito—A Linguagem da Inspiração”],
em Charge to Religious Educators [Responsabilidades para os
Educadores Religiosos], 3a. ed., 61.
[45] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 7.
[46] Clark, “The Charted Course” [“O Curso Traçado”], 7.
[47] McConkie, “The Foolishness of Teaching” [“A Tolice do Ensino”],
10.
[48] Richard G. Scott, “Helping Others to Be Spiritually Led”
[“Ajudando Outros a Serem Guiados Pelo Espírito”], discurso para o
SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints,
1998), 3.
[49] Benson, “The Gospel Teacher and His Message” [“O Professor
do Evangelho e Sua Mensagem”], 14.
[50] Henry B. Eyring, “Teaching the Old Testament” [“Ensinando o
Velho Testamento’], discursos para o SEI (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1999), 1.
[51] Henry B. Eyring, “A Miracle Required” [“Um Milagre Necessário”],
discurso para os administradores do SEI (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1981), 12–13.
[52] Eyring, “We Must Raise Our Sights” [“Devemos Erguer Nossa
Visão”], 1.
[53] Eyring, “We Must Raise Our Sights” [“Devemos Erguer Nossa
Visão”], 1.
[54] Benson, “The Gospel Teacher and His Message” [“O Professor
do Evangelho e Sua Mensagem”], 13.
[55] Eyring, “The Lord Will Multiply the Harvest” [“O Senhor Irá
Multiplicar a Colheita”], 4.
[56] Eyring, “The Lord Will Multiply the Harvest” [“O Senhor Irá
Multiplicar a Colheita”], 6.
[57] Harold B. Lee, “The Mission of Church Schools” [“A Missão das
Escolas da Igreja”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1953), 5.
[58] Howard W. Hunter, “Eternal Investments” [“Investimentos
Eternos”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus
Christ of Latter-day Saints, 1989), 2.
[59] Veja Kimball, “The Ordinances of the Gospel” [“As Ordenanças
do Evangelho”],6; e Thomas S. Monson, “True Shepherds after the
Way of the Lord” [“Verdadeiros Pastores no Caminho do Senhor”] em
Charge to Religious Educators [Responsabilidades para os
Educadores Religiosos], 2a. ed., 78.
[60] A. Theodore Tuttle, “Men with a Message” [“Homens com Uma
Mensagem”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints, 1958), 83–84; ênfase acrescentada.
[61] Spencer W. Kimball, “What I Hope You Will Teach My
Grandchildren” [“O que Eu Espero que Vocês Ensinem a Meus
Netos”], discurso para o SEI (Salt Lake City: The Church of Jesus
Christ of Latter-day Saints, 1966), 11.
[62] A. Theodore Tuttle, “Teaching the Word to the Rising Generation”
[“Ensinando a Palavra para a Geração que Surge”], em Charge to
Religious Educators [Responsabilidades para os Educadores
Religiosos], 2a. ed., 130.
[63] Holland, “Therefore, What?” [“Portanto, o Quê?”], 7.
[64] Neal A. Maxwell, “The Gospel Gives Answers to Life’s Problems”
[“O Evangelho Tem as Respostas aos Problemas da Vida”], em
Charge to Religious Educators [Responsabilidade para os
Educadores Religiosos], 2ª. ed., 93.
[65] Eyring, “A Miracle Required” [“Um Milagre Necessário”], 7, 12.
[66] Eyring, “A Miracle Required” [“Um Milagre Necessário”], 13.
[67] McConkie, “The Foolishness of Teaching” [“A Tolice do Ensino”],
8.
[68] L. Tom Perry, “If Ye Receive Not the Spirit Ye Shall Not Teach”
[“Se Não Receberdes o Espírito, Não Ensinareis”] em Book of
Mormon Symposium Speeches [Discursos do Simpósio sobre o Livro
de Mórmon] (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints, 1986), 34.
[69] Richard G. Scott, “Four Fundamentals for Those Who Teach and
Inspire Youth” [“Quatro Fundamentos para Aqueles que Ensinam e
Inspiram os Jovens”], em Old Testament Symposium Speeches
[Discursos do Simpósio sobre o Velho Testamento] (Salt Lake City:
The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1987), 1–2.
[70] Maxwell, “Teaching by the Spirit—The Language of Inspiration”
[“Ensinando pelo Espírito—A Linguagem da Inspiração”], 58–59.
[71] Eyring, “Teaching the Old Testament” [“Ensinando o Velho
Testamento”], 6.
[72] Henry B. Eyring, “Love and Loyalty” [“Amor e Lealdade”],
introdução do discurso dado para o SEI por Jeffrey R. Holland, “Our
Consuming Mission” [“Nossa Missão Consumidora”] (Salt Lake City:
The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1999).
[73] Neal A. Maxwell, “Those Seedling Saints Who Sit before You”
[“Aqueles Santos Desabrochando, Sentados à Sua Frente’] in Charge
to Religious Educators [Responsabilidades para os Educadores
Religiosos], 3a. ed., 31.
[74] Hunter, “Eternal Investments” [“Investimentos Eternos”], 1; ênfase
no original.
[75] Eyring, “‘And Thus We See’: Helping a Student in a Moment of
Doubt” [“E Portanto Nós Vemos: Ajudando um Aluno em um Momento
de Dúvida”], 104.
[76] Richard G. Scott, script de um discurso em vídeo e sem título
para o SEI, 4 de fevereiro de 1994.
[77] Packer, “Teach the Scriptures” [“Ensine as Escrituras”] 91–92;
ênfase acrescendata.
As Leis Da Igreja De Cristo

“As Leis da Igreja de Cristo” (D&C 42): Uma


Análise Textual e Histórica
Grant Underwood

Grant Underwood é professor de história da Universidade


Brigham Young e redator do Projeto Escritos de Joseph Smith

No dia 2 de janeiro de 1831, "na presença da congregação


toda" da Igreja de Cristo reunida numa conferência trimestral
em Fayette, Estado de Nova York, Joseph Smith recebeu "a
palavra do Senhor." [1] A revelação ordenou que os Santos se
unissem "no Ohio" e incluiu a declaração: "Lá vos darei minha
lei" (D&C 38:32). Em cumprimento desta promessa, no dia 9 de
fevereiro de 1831, somente poucos dias depois da chegada de
Joseph e Emma a Ohio, doze élderes "foram reunidos e se
uniram em fervorosa oração e estavam de acordo quanto ao
recebimento da Lei." [2] Naquela ocasião Joseph recebeu "As
Leis da Igreja de Cristo," ou simplesmente "a Lei," conforme o
costume dos Santos. [3]
Duas semanas depois, em 22 de fevereiro, Joseph escreveu a
Martin Harris: "Recebemos as leis do Reino após chegarmos
aqui e os Discípulos desta região as receberam com
alegria." [4] No dia seguinte, 23 de fevereiro, o Profeta e sete
élderes se reuniram para determinar "como os Élderes da igreja
de Cristo iriam pôr em prática os preceitos da Lei." [5] Como
resultado disso mais parágrafos de instrução foram recebidos e
registrados, os quais se encontram atualmente em Doutrina e
Convênios 42:74-93.
As revelações destes dois dias constituem a atual seção 42, o
assunto deste estudo. O que se segue é uma análise
pormenorizado do texto e do conteúdo deste importante
documento. Ao longo deste estudo as citações das revelações
foram colhidas das fontes manuscritas mais antigas, porém, já
que havia muitas variações de versificação e de números das
revelações na história inicial da Igreja, citarei a numerção das
seções e versículos do atual livro de Doutrina e Convênios para
facilitar o acompanhamento das referências.

Análise Textual
Embora quase nenhum dos manuscritos originais das
revelações ditadas por Joseph Smith tenham sobrevivido, ainda
há em muitos casos manuscritos copiados antes da publicação
inicial em forma impressa. No presente momento existem cinco
cópias da Lei que sabemos que foram escritas antes de julho de
1832, quando os impressores em Missouri publicaram o
primeiro extrato no jornal The Evening and the Morning Star [A
Estrela do Crepúsculo e Alvorecer] (conhecido simplesmente
como "theStar" [a Estrela] pelos Santos dos Últimos Dias
pioneiros). [6] Somente um dos cinco manuscritos inclui todos
os textos dados tanto em 9 de fevereiro como em 23 de
fevereiro (vide a tabela anexa), mas cada um contém as
passagens do material de 9 de fevereiro que se considera ser o
âmago da Lei, os versículos 11-69 do livro de Doutrina e
Convênios de hoje. Dos cinco manuscritos, três contêm textos
revelados nos dois dias, indicando que os escrivões percebiam
uma relação orgânica entre a articulação inicial da Lei em 9 de
fevereiro e as instruções de como "atuar," registradas em 23 de
fevereiro. Embora os impressores de Missouri tivessem optado
por publicar separadamente o material de cada dia no Livro de
Mandamentos (que não foi o caso quando publicaram as duas
partes no ano anterior no jornal o Star), a Primeira Presidência,
encarregada de compilar o livro de Doutrina e Convênios em
1835, encarava as revelações dos dois dias como sendo
vinculadas e as publicou em uma só seção. Não se faz menção
de sua natureza composta na introdução da seção nem naquela
época nem nas ediões posteriores e a data de recebimento se
consta simplesmente como fevereiro de 1831. [7]

Composição de Versões Existentes da Seção 42


Anteriores a 1835
Além do fato pouco conhecido da seção 42 combinar materiais
recebidos em dois dias diferente, com intervalo de duas
semanas no meio, há outro aspecto igualmente obsuro. A parte
recebida em 9 de fevereiro aparentemente consiste em
respostas a cinco perguntas específicas feitas por Joseph Smith
e seus colegas. Mesmo que as perguntas não fossem incluídas
nas versões publicadas da revelação, dois manuscritos contêm-
nas e oferecem conhecimentos valiosos concernentes à
organização e conteúdo desta seção. Em sua devida ordem
estas cinco perguntas e os blocos de passagens que enquadram
são:
1. "Deverá a Igreja se reunir num só lugar ou permanecer como
está em grupos separados?" (a resposta se encontra nos
versículos 1-10);
2. "[Qual é] a Lei que regulará a Igreja nas condições atuais até
a hora de seu ajuntamento[?]" (a resposta se encontra nos
versículos 11-69); [8]
3. "Qual será a disposição das famílias dos Élderes enquanto
estes estiverem proclamando arrependimento e servirem a
Igreja de outras formas?" (a resposta se encontra nos versículos
70-73); [9]
4. "Até que ponto é a vontade do Senhor que façamos comércio
com o mundo e como devemos conduzir nossos negócios com
eles?" (a resposta foi dada em algumas linhas que foram
eliminadas quando o livro de Doutrina e Convênios foi
publicado); [10]
5. "Que preparações faremos para nossos irmãos do Leste e
quando e como?" (Também se deu uma resposta mas este
trecho foi eliminado quando Doutrina e Convênios foi
publicado). [11]
A parte posterior da Lei, escrita duas semanas depois em 23 de
fevereiro de 1831, também se enquadra em unidades discretas
de textos: versículos 74-77 e 78-93. Antes da publicação de
Doutrina e Convênios, estas duas unidades apareciam em
ordem invertida em todo manuscrito ou publicação que
continha as duas partes. Assim, os versículos 74-77 sempre
apareciam na conclusão do documento. A tabela em baixo
mostra as combinações diferentes das sete unidades de texto
que se encontram em cada um dos manuscritos ou fontes
publicadas existentes anteriores a 1835. Em todos os casos as
sete unidades contêm exatamente os mesmo material textual,
mostrando que eram vistas como unidades discretas de textos.

“As Leis da Igreja de Cristo”


VERSÕES. No início este documento composto consistia em
2.395 palavras. Os documentos ditados originais da Lei
recebidas e em 9 de fevereiro e 23 de fevereiro já não existem
e é impossível fazer uma contagem exata das palavras ou saber
com certeza absoluta as palavras exatas. Porém há muita
coerência na linguagem dos cinco manuscritos existentes.
Mesmo nos poucos casos em que há uma ou outra
discrepância, de modo geral três ou quatro manuscritos
conservam palavras idênticas. Isso nos dá confiança razoável
sobre o texto original, ou pelo menos a linguagem de uma
versão antiga da qual os manuscritos existentes foram
copiados. O consenso sobre a formação das palavras nos
manusicritos mais antigos, "consensus early wording" (CEW), e
a contagem das palavras que possibilita formarmos a base das
comparações que seguem. [12]
Quando a Lei foi publicada no livro de Doutrina e Convênios em
1835, consistia em 2.622 palavras. [13] Isso representa um
aumento líquido de aproximadamente 230 palavras em
comparação com as 2.395 no CEW. Este aumento líquido é
resultado da eliminação de 220 palavras e o acréscimo de 450
novas palavras. A maioria das revisões foi feita entre setembro
de 1834, quando a Primeira Presidência foi designada a
preparar o livro de Doutrina e Convênios, e setembro de 1835,
quando o volume saiu da prensa. Algumas redações foram
feitas antes de novembro de 1831 quando as revelações foram
avaliadas e revisadas em preparação para pulicá-las no Livro de
Mandamentos. Embora a avaliação do propósito de certas
revisões seja subjetiva, elas podem, de modo geral, ser
divididas entre aquelas que esclarecem o significado e aquelas
que mudam o significado. Na primeira categoria, por volta de
110 palavras foram eliminadas e substituídas por mais ou
menos 300, um aumento líquido de 190, ou seja um aumento
de 8 por cento na versão da Lei que se encontra em Doutrina e
Convênios. Estas revisões variam do gramatical ao conceptual,
sendo este o tipo que procura dar mais clareza ou afinar o tom
da mensagem e que produziu o maior número de novas
palavras. Cerca de 20 por cento das novas palavras são as que
incluem o gênero feminino (por exemplo, "eleou ela" ou
"homem ou mulher").
Outras revisões mudam o significado original, geralmente por
atualizar a revelação para mantê-la em dia com as novas
políticas ou com o crescimento de organização eclesiástica da
Igreja. Se o aumento total de tamanho da Lei entre o CEW e a
versão de Doutrina e Convênsio é de 9,6 por cento e se 8 por
cento clarifica os significado, resta, pelo jeito, somente 1,6 por
cento que muda de significado. Porém este argumento é
ilusório. Em contraste com aquilo que "esclarece o significado,"
onde quase todas as palavras que são eliminadas são
substituídas, as palavras acrescidas na categoria de "mudar de
sentido" contêm novas informações independentes das palavras
anteriores, não requerendo eliminação de palavras. Cerca de
150 novas palavras na versão de Doutrina e Convênios entram
na categoria de mudança de significado e nesta categoria só
foram eliminadas 15 palavras do CEW, dando um aumento
líquido de 135 palavras.
Assim, na verdade 5,6 por cento do aumento de palavras se
atribui a revisões que mudam o significado. A discrepância
entre o aumento total e os 13,6 por cento que são o total das
duas categorias se deve aos redatores que eliminaram as
unidades de textos 4 e 5 (vide tabela). Isso tudo representa 95
palavras ou 4 por cento do CEW que foi eliminado para alterar,
apropriadamente, a Lei. Na análise final, o que é marcante não
é o fato de se terem feito umas revisões, mas que mais de 85
por cento do conteúdo e frases da Lei permaneceu como
estava, mesmo muitos anos depois de seu pronunicamento
inicial, para acompanhar uma igreja em pleno e rápido
desenvolvimento. O que é de significativo também é que não há
registro de nenhuma oposição às mudanças que foram feitas.
Os Santos parecem tê-las abraçado como produto da mesma
inspiração que deu origem ao texto original. [14]
As seções que seguem discutem revisões significativas que
foram feitas para produzir o texto final da Lei, fazendo
observações das interpretações da época. Trata-se de um
trabalho de reconstrução histórica e não de prescrição
teológica. Os leitores que procuram entender as práticas
modernas dos Santos dos Últimos Dias ou a interpretações
mais recentes da Lei terão que procurar em outro lugar. Dentro
da comunidade dos Santos dos Últimos Dias a interpretação
autorizada da teologia se compreende como prerrogativa de
profetas e apóstolos. Assim, nossa abordagem é histórica e não
teológica nem pastoral.

D&C 42:1-10
Adquirimos elucidação expressiva da primeira parcela de
versículos através de voltar aos dois parágrafos únicos do
manuscrito Ryder, especificamente o segundo parágrafo, que
nos oferece uma visão rara do entendimento dos primeiros
santos através de um estudo e reiteração dos versículos:
O primeiro mandamento da lei ensina que todos os élderes,
menos Joseph [Smith], Sidney [Rigdon] e Edward [Partridge] e os
que o Bispo designar para ajudá-lo nos seu deveres, irão às
regiões do Oeste e obrarão para edificar igrejas para Cristo
onde acharem quem os receber e obedecer ao evangelho de
Cristo, segundo a Lei que recebemos. Este mandamento no
que diz respeito a estes élderes a serem enviados ao Oeste é
um mandamento especial incumbindo os presentes élderes que
voltarão quando forem dirigidos pelo Espírito Santo!
Declarações resumidas como esta, por sua natureza distilante,
proporcionam uma janela útil e interpretativa para apreciar os
textos. Assim como foi registrado inicialmente o "primeiro
mandamento" da Lei mandou os élderes "saírdes em meu nome
cada um de vós a não ser meu servo Joseph e Sidney e dou-lhes
um mandamento que vão por uma temporada breve e ser-lhes-
á dado pelo espírito quando voltarão" (versículo 4). [15] Quem
são o "lhes" a quem foi dado sair por uma temporada breve e
voltar quando o Espírito ordenasse? O antecedente imediato é
Joseph e Sidney, mas o parágrafo de resumo do manuscrito
Ryder interpreta "eles" como os élderes e isenta totalmente
Joseph e Sidney desta missão de proselitismo específica. Se o
parágrafo reflete o entendimento correto deste texto ambíguo
ou se houve uma alteração nos planos para o Profeta e Sidney
Rigdon nas duas semanas seguintes não está claro. Não há,
porém evidência histórica de que Joseph e Sidney fizeram
missão nesta ocasião, nem mesmo por uma temporada breve.
O parágrafo de Ryder contém mais duas interpretaçoes que
merecem atenção. Em 9 de fevereiro foi dito aos élderes: "Vós
ireis às regiões do oeste e no que acharem meus discípulos
edificareis minha igreja." Um Santo dos Últimos Dias moderno
pode entender a última parte da passagem como ordem de
procurar conversos em lugares isolados e organizá-los num
ramo da Igreja. Na verdade, "meus discípulos" se refere a
cristãos que Jesus conhecia como discípulos verdadeiros e que,
portanto, iriam abraçar o evangelho restaurado quando lhes
fosse apresentado. Esta forma incomum de denominar tais
indivíduos é semelhante à referência a "minha igreja" na seção
10. Nesta seção "minha igreja," como "meus discípulos," parece
indentificar os seguidores devotos de Cristo de qualquer (ou
nenhuma) organização religiosa. A revelação promete que "se
esta geração não endurecer o coração, estabelecerei minha
igreja entre eles" (D&C 10:53). Entaõ aparece um trecho fora do
comum: "Ora, não digo isto para destruir minha igreja, mas
digo isto para edificar minha igreja; Portanto todos os que
pertencem a minha igreja não precisam temer, porque herderão
o reino dos céus" (D&C 10:54-55). Na época que isto foi
pronunciado ainda não havia uma igreja restaurada na terra e
não haveria por mais um ano. Assun "minha igreja" parece
referir-se a uma irmandade espiritual conhecida somente a
Deus e consistindo em pessoas, independentes de sua
instituição, cujos comportamento e crença particulares as
qualificavam para ser membros dela e que, como "meus
discípulos," receberiam a plenitude do evangelho e herdariam o
reino do céu.
Mais tarde, quando a Lei estava sendo preparada para
publicação no Livro de Mandamentos, a frase, "meus discípulos"
foi substituída por "aqueles que vos receberem." Este
esclarecimento transfere a ênfase de um nome, que pode ter
muitas interpretações, para uma ação, a de receber, que é
inconfundível.
É de interesse que um esclarecimento semelhante apareceu
primeiramente no parágrafo do manuscrito de Ryder em que os
élderes iriam "edificar Igrejas a Cristo onde quer que achassem
alguém que os recebesse." O parágrafo de Ryder também
declara mais claramente que o original que a missão designada
para os élderes os incumbiam somente "por enquanto." John
Whitmer escreveu que "depois que a Lei acima mencionada, ou
revelação, foi recebida, os élderes saíram para proclamar
arrependimento segundo o mandamento e que muitos se
uniram à Igreja." [16] Um dos élderes, John Corrill, relatou que
ele e seu companheiro de pregação "fomos a New London,
cerca de cem milhas (150 quilômetros) de Kirtland, onde
estabelecemos uma Igreja de trinta e seis membros em
aproximadamente três semanas. . . . Outros élderes ergueram
igrejas em vários lugares e a obra cresceu muito depressa." [17]

D&C 42:11-69
Esta unidade de texto constitui a parte central da Lei. Em
verdade, alguns manuscritos e publicações designam esta parte
só como "a Lei." A introdução do capítulo do Livro de
Mandamentos que contém as primeiras duas unidades chama-
as "uma revelação dada a doze élderes reunidos em Kirtland,
Ohio; e também a lei para o governo da igreja recebida na
presença dos mesmos." [18] A pergunta que lançou esta porção
de texto se refere à Lei que regulamenta a Igreja nas suas
condições atuais," e vários manuscritos abreviam o cabeçalho
para simplesmente "A Lei" ou "As Leis." Assim, não é de se
admirar que dos textos revelados em 9 de fevereiro somente
esta unidade, versículos 11-69, se inclui em todos os cinco
manuscritos.
Além de expor o código moral de Igreja, esta undidade de texto
se dirige a vários assuntos irritantes que haviam preocupado a
congregação nova em Ohio. Primeiro, num esforço de controlar
o caos carismático que Joseph Smith encontrou ao chegar, a Lei
esclarece que ninguém pode funcionar no ministério de ensino
na Igreja sem ser devidamente ordenado por autoridade
eclesiástica reconhecida (versículo 11). Nem um chamado
pessoal nem dons espirituais eram suficientes para designar
alguém para o ministério, e mesmo assim, os ministros
devidamente ordenados somente seriam eficazes à medida que
o Espírito Santo os auxiliasse: "Vós sereis dirigidos pelo espírito
. . . e se não receberdes o espírito, não eninareis" (versículos
13-14).
Alguns meses depois que esta revelação foi recebida, o recém
convertido William E. McLellin deixou uma descrição típica do
que era tentar ensinar sem o Espírito: "Levantei-me e tentei
pregar mas não pude; não tinha nem ânimo nem memória e em
verdade eu havia perdido o espírito de Deus. Portanto estava
confuso. Sentei-me e disse ao irmão H. que pregasse porque eu
não pude." [19] A necessidade de ajuda do Espírito Santo era
essencial numa igreja leiga que rejeitava o treinamento
ministerial formal e dependia de indivíduos comuns para fazer
o trabalho de evangelização. Como observou o historiador
Richard Bushman, Joseph Smith mesmo era um "homem
simples," sem experiência de pregação, e ele confiava em
homens comuns para levar adiante a mensagem. Numa era
democrática, os Mórmons surgiram como a mais democrática
das igrejas, rivalizados somente pelos Quákeres." [20]
Depois de discutir as qualificações para o ministério, a
revelação se dirige dos élderes aos membros: "Eis que agora
falo à igreja" (versículo 18). Reafirma-se a visão ética dos Dez
Mandamentos ao incluir proibições contra o assassínio, o furto,
a mentira, o adultério e injuriar ao próximo. A revelação então
resume tal código moral: "Tu conheces minhas leis, elas foram
dadas em minhas escrituras. . . . Se me amares, servir-me-ás e
guardarás todos os meus mandamentos" (versículos 28-29).
A próxima lei trata da organização econômica da Igreja, em
parte para corrigir os esforços bem-intencionados porém
errôneos de alguns dos conversos de Ohio que haviam formado
grupos comunais chamados "famílias" para imitar os primeiros
cristãos que tinham "todas as coisas em comum" (Atos
2:44). [21]
Em vez do comunismo praticado por esses conversos,
princípios foram revelados na Lei que, conforme se entendiam,
formavam a base de como o Enoque bíblico levou seu povo a
ser "de um coração e de uma só mente" e não haver "pobres
entre eles" (Moisés 7:18). Estes princípios incluíam a
"socialização de rendas restantes, formação de
emprendimentos livres e a auto-suficiência econômica do
grupo." [22] A chave para aplicar estes princípios era "a
consagração," uma palavra que significava, na terminologia
religiosa daquela época,"colocar à parte, dedicar or ou
consignar ao serviço e adoração de Deus" a vida e as
posses. [23] A visão do Profeta de consagração coincidia com o
florescimento de experimentos utopianos na história dos
Estados Unidos. Nesta era, grupos tão diversos como os
Shakers e a Harmony Society procuravam melhorar a vida
econômica e social das pessoas por meio de associação
comunitária. [24] A consagração provia uma base teológica
para o compartilhamento necessário dos recursos para efetuar
a migração e radicação em Ohio dos Santos vindos de Nova
York e para lançar os aliceres de sua tentativa de replicar o Sião
de Enoque na fronteira ocidental dos Estados Unidos.
Por fim, devido a motivos internos e externos, a implantação
não atingiu o resultado ideal esperado. O historiador da Igreja,
John Whitmer, relatou que quando o "Bispo Edward Partridge
visitou a Igreja nos seus vários ramos, havia alguns que não
receberiam a Lei. O tempo ainda não chegou," ele opinou, "em
que a lei pode ser plenamente estabelecida pois os discípulos
moram espalhados por todos os lados e não estão organizados;
nossos membros são poucos e os discípulos não foram
instruídos, de forma que não entendem, por conseguinte não
compreendem, as coisas do reino." Entre os problemas que
Whitmer identificou eram membros "que se atraíram à Igreja
porque ouviram falar que os Santos tinham tudo em comum e
portanto achavam que poderiam fartar-se do trabalho dos
outros." [25] Conforme aconteceu a consagração total de
propriedades só foi praticada durante o período de 1831-33 e
somente por alguns Santos em certos lugares. [26]
Assim para a publicação em 1835 do livro de Doutrina e
Convênios, a declaração "consagrarás todas as suas
propriedades" foi redigida e ficou "E eis que te lembrarás dos
pobres e consagrarás de tuas propriedades, para sustento
deles" (D&C 42:30; revisões das revelações aparecerão em letra
itálica daqui em diante). [27] A Lei declarou que tal consagração
seria feita "com um convênio e promessa que não poderão ser
violados" (D&C 42:30). A necessidade de uma promessa
(documento, escritura) foi reiterada alguns meses depois
quando os Santos de Colesville (Nova York) receberam o
"privilégio de organizarem-se segundo minhas leis" (D&C
51:15). O Bispo Edward Partridge foi instruído a "organizar este
povo" (D&C 51:1), e que "quando designar a um homem sua
porção, dê-lhe um documento que lhe assegure sua porção"
(D&C 51:4). Esta tentativa inicial de viver a lei de consagração
se desfez antes que Partridge pudesse implantar as instruções
mas ele o fez no ano seguinte em Missouri. Uns tempos depois
que a Igreja fundou a gráfica em 1832, o Bispo Partridge criou e
começou a utilizar documentos impressos para certificar o
recebimento e transferência das propriedades consagradas.
Estas escrituras mostram como os vários princípios de
consagração realmente foram praticados. Documentos
referentes à mordomia, por exemplo, mostraram de maneira
uniforme que quem consagrava "se fez mordomo de suas
próprias propriedades" (D&C 42:32) e não das propriedades
consagradas por terceiros. Embora seja óbvio que esta prática
não pode ter sido universal (porque alguns Santos pobres
teriam necessitado de mais propriedade para suprir suas
necessidades) mostra que a parte fundamental do que se
"emprestava" ao mordomo era justamente a mesma
propriedade que se havia consagrado em primeiro lugar.
A escritura também conserva a intenção original da Lei de que
as propriedades consagradas "não possam ser tomadas de
vós[mais tarde se esclareceu que "vós" era a igreja]"
(versículo 32) e que "o que pecar e não se arrepender será
expulso da igreja e não receberá de volta o que houver
consagrado aos pobres e necessitados" (versículo 37). As cópias
do documento de escritura declaram que se o mordomo fosse
excomungado, perderia seu direito às propriedades imóveis e
pessoais e se comprometeria a devolver o imóvel, mesmo que
pertencesse a ele antes de consagrá-la ao Senhor, e quitar
qualquer dívida referente a ele. [28]
Não é de se admirar que estas condições tenham sido
contestadas em tribunais por membros desafetos, de modo que
a natureza das mordomias foi modificada. [29] Em maio de
1833 Joseph Smith escreveu ao Bispo Partridge, instruindo-lhe
que desse uma escritura assegurando àquele que recebe uma
herança que a herança é uma herança sempiterna, ou em outras
palavras, será sua própria propriedade, sua mordomia
particular, e se ele pecar e for expulso da Igreja, sua herança
ainda lhe pertence. . . . Mas as propriedades que ele consagrou
aos pobres para seu benefício e herança e mordomia
[significando "o resíduo" ou excesso que ficou no armazém
(vide versículo 34)], não podia reaver segundo a lei do Senhor.
Assim se pode ver a sabedoria desta lei: que o rico não pode ter
poder de deserdar os pobres para tomar de volta aquilo que
havia consagrado" [30]
Confirmou-se este novo entendimento, quando a seção 51
mais tarde foi redigida para publicação em Doutrina e
Convênios, acrescentando-se uma nova declaração (o atual
versículo 5: "E se transgredir e não for considerado digno de
pertencer à igreja, não terá poder para reclamar (reaver) a
porção que consagrou ao bispo para os pobres e necessitados
da igreja; portanto ele não conservará a dádiva, mas terá direito
somente à porção que tenha recebido por documento." Devido
ao fato das doações caridosas serem protegidas e os recursos
de compartilhamento comunal não, em algumas partes da Lei,
acrescentou-se linguagem para esclarecer que os pobres eram
os beneficiados das consagrações. Em vez de "consagrarás a
mim todas as suas propriedades que possuis," que pode ser
interpretado de forma negativa, a declaração foi redigida desta
forma: "Lembrar-te-ás dos pobres e necessitados e
consagrarás de tuas propriedades para seu sustento aquilo que
tiveres para lhes dar" (D&C 42:30). De igual modo, no trecho
"aquilo que consagrou a mim" foi revisado, ficando: "Aquilo que
ele consagrou aos pobres e necessitados de minha igreja, ou
em outra palavras a mim, porque quando o fazeis ao menor
destes, a mim o fazeis" (versículos 37-38).
Em sua carta ao Bispo Partridge, o Profeta esclareceu o
processo e os procedimentos de consagração e mordomia não
só com a intenção de proteger as doações do armazém
destinadas aos pobres como também para "assegurar a [cada
mordomo] sua porção." Depois que esta carta chegou em
Missouri, um comentário editorial apareceu no próximo
exemplar do Star, enfatizando que quando os Santos "forem
reunidos, em vez de se tornar uma família comunal, como foi
dito . . . cada homem receberá uma escritura, assegurando a
ele e a seus herdeiros sua herança como patrimônio eterno sem
restrições." [31] Em julho de 1833 houve uma briga anti-
Mórmon em Indepenência, Estado de Missouri, colocando os
Santos numa posição precária. Até o fim do ano haviam sido
expulsos de suas casas no Condado de Jackson. Sob tais
condições inquietas parece que os documentos revisados de
propriedade nunca foram preparados nem emitidos (pelos
menos nenhum destes documentos sobreviveu). Além disso é
notável que somente meia dúzia dos documentos originais
ainda existem e daqueles somente o de Joseph Knight Jr. foi
assinado. Os outros, que parecem ser rascunhos, só existem
porque o Bispo Partridge os guardou para escrever cartas
pessoais no verso. O fato de nem o bispo responsável para
administrar o programa de consagração e mordomia nem os
mordomos, a não ser Knight, não terem retido a escritura
oficial e "legal" levanta questões quanto ao sistema e o nível de
formalidade das consagrações e a extensão da prática deste
princípio. [32]
Imbutida na contemplação de consagração que se encontra na
Lei, está esta passagem curiosa: "Pois acontecerá que o que eu
disse pela boca de meus profetas será cumprido; pois
consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu evangelho
dentre os gentios aos pobres de meu povo, que são da casa de
Israel" (versículo 39). Isto alude à profecia de Isaías que Israel
um dia "comereis as riquezas do gentios e na sua glória vos
gloriareis" Isaías 61:6). O fato desta passagem ser reiterada na
Lei serviu de desculpa para alguns Santos dos Últimos Dias
terem visões grandiosas porém distorcidas sobre o
cumprimento da profecia. Um membro desafeto, Ezra Booth,
apresentou aos Santos este resumo de sua percepção das
expectativas escatológicas: Sião "será uma cidade de refúgio e
um abrigo seguro quando as tempestades de vingança
cobrirem a Terra e aqueles que rejeitarem o Livro de Mórmon
serão desvanecidos da face da terra pela vassoura da
destruição. Então as riquezas dos gentios serão consagradas
aos 'Mormonitas,' os quais terão terras e gado em abundância e
possuirão ouro e prata e todos os tesouros de seus
inimigos." [33] Em face de tais mal-entendidos, o Profeta sentiu
impressiondado a fazer um esclarecimento crucial quando
publicou esta passagem de Doutrina e Convênios: "Pois
consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu evangelho
dentre os gentios aos pobres de meu povo que são da casa de
Israel" (D&C 42:39).
Apesar disso o sonho apocalíptico de uma grande contraversão
das fortunas e das relações entre os santos e seus antagonistas
não foi fácil de se extinguir. No outono de 1838, no auge das
contendas entre os mórmons e os missourianos, certos zelotes
dos Santos dos Últimos Dias se lembraram da citação original
na Lei da profecia de Isaías e usaram-na como justificativa de
saquear os inimigos. Morris Phelps se lembra da seguinte
ordem do líder danita Sampson Avard a seus liderados: "Não
sabem, irmãos, que logo será seu privilégio levar suas
companhias respectivas afora para patrulhar nos arredores das
povoaçoes e tomar para si a pilhagem dos bens dos gentios
iníquos? Pois está escrito que as riquezas dos gentios serão
consagradas para meu povo, a casa de Israel e assim os irmãos
rechaçarão os gentios por meio de roubar e pilhar suas
propriedades; e deste jeito edificaremos o reino de
Deus." [34] Mais tarde John Whitmer, desafeto na época, acusou
os Santos de Nauvoo de fazer igual sob o mesmo pretexto na
Guerra Mórmon do Condado de Hancock, Estado de Illinois, em
meados dos anos 1840. [35]
A palestra de consagração conclui nesta parte da Lei com a
admoestação de vestir-se com simplicidade, cultivar o asseio e
evitar a ociosidade (vide D&C 42:40-42). Tais ideais eram
comuns entre as sociedades comunitárias contemporâneas. A
ociosidade especificamente teria que ser evitado a todo custo.
Desde o começo os Santos de Missouri pareciam ter encontrado
dificuldades com este preceito. Uma revelação de novembro de
1831 declara: "Eu, o Senhor, não estou satisfeito com os
habitantes de Sião, porque há ociosos entre eles" (D&C 68:31).
Alguns meses depois a admoestação foi colocada mais
diretamente ainda: "O ocioso não terá lugar na igreja" (D&C
75:29). Até os pobres, que raramente são condenados nas
escrituras, não eram isentos da admoestação: "Ai de vós,
homens pobres . . . que não trabalhais com as próprias mãos"
(D&C 56:17).
A esta altura a revelação volta aos assuntos de enfermidades e
curas. Reitera a ordem do Novo Testamento no livro de Tiago
de "chamar os élderes da igreja" quando alguém está doente
para "ungir" com óleo e oferecer "uma oração de fé" a seu favor
(Tiago 5:14-15). Os anos pioneiros da história dos Santos dos
Últimos Dias estavam repletos de exemplos de curas
milagrosas. [36] Cito aqui somente um dos exemplos mais
notáveis: Pouco tempo depois que a revelação foi recebida,
Joseph Smith foi o intrumento da cura do braço manco de Elsa
Johnson, uma cura que levou à conversão de vários colegas
dela. [37]
Por outro lado, os fiéis cuja fé não era suficiente para serem
divinamente curados deviam ser "nutridos com toda a ternura
de hervas e alimentos amenos" (D&C 42:43). Nos Estados
Unidos antes da guerra civil, a prática de medicina herbal servia
de alternativa relativamente bem-sucedida de tais práticas
medicinais 'ortodoxas' como 'o sangramento terapêutico' e
engerir calomelano. Os Santos dos Úlitmos Dias participaram da
rebelião crescente contra estas práticas médicas e preferiam a
cura por fé e a medicina botânica. [38] Diz-se que Joseph Smith
opinou que "os médico não devem curar as pessoas, que a
medicina não tinha efeito. Os gentios estudavam medicina em
vão." [39] A medicina botânica recebeu um grande embalo das
atividades de Samuel Thomson que publicou um livro muito
popular, Nova Guia para Saúde; ou, o Médico Familiar Botânico.
Comprava-se o livro por dois dólares e a franquia, ou "direito"
de praticar os métodos de Thomson dentro da família se
conseguia por vinte dólares. Até 1835 os que praticavam os
métodos de Thomson alegavam de a metade da população do
Estado de Ohio praticava a medicina botânica. Vários Santos
proeminentes, tais como Frederick G. Williams e os irmãos
Richards, Levi e Willard, eram médicos praticantes do
Thomsonismo. [40]
Em questões de saúde e curas, a vontade de Deus tinha
prioridade. Apesar da fé da pessoa, somente aqueles que "não
estiverem designados para morrer serão curados" (D&C 42:48).
A inclusão da frase bíblica "estar designado para morrer"
(Salmos 102:20; 1 Coríntios 4:9) é importante. Como outros
cristãos, os Santos dos Últimos Dias reconheciam que a
vontade de Deus supercedia em todos os aspectos da vida. Por
exemplo, ao chegar a certo ponto no declínio da saúde de
Joseph Smith Sênior devido à doença conhecida como
"consumpção," sua esposa, Lucy Mack Smith, "concluiu que
estava designado para morrer." [41]
O ministério sagrado do Santos dos Últimos Dias para os
enfermos, inclusive os cenários delineados na Lei, foi resumido
por Wilford Woodruff: "Às vezes impomos as mãos nos
enfermos e são curados no momento, outras vezes, mesmo
com toda a fé e medicina, levam tempo para sarar e outros
morrem." [42] Além disso, dava-se ênfase que para aqueles que
não tinham fé suficiente para serem curados de enfermidades
graves como a cegueira, mudez ou deficiências físicas, "E
aqueles que não têm fé para fazer estas coisas, mas acreditam
em mim, têm poder para tornarem-se meus filhos; e, se não
desobedecerem a minhas leis, tu suportarás suas
enfermidades" (D&C 42:52).
Então a Lei volta a uma breve discussão de ainda mais uns
aspectos da vida de uma comunidade consagrada: "Não
tomarás a vestimenta de teu irmão; pagarás pelo que receberes
de teu irmão" (versículo 54). Aqui a Lei condena explicitamente
o tipo de compartilhamento de propriedades encontrado na
várias organizações comunais em que alguns conversos de
Ohio haviam vivido. John Whitmer, que visitou a comunidade
Morley, relatou:
"Os discípulos tinham todas as coisas em comum e já estavam
a caminho da destruição quanto às coisas temporais porque
consideravam que o que pertencia a um irmão, pertencia a
qualquer dos irmãos, portanto tomavam e usavam até as
roupas e outras propriedades do outro sem licença, o que
trouxe confusão e desapontamentos pois não entendiam as
escrituras." [43]
A correção dada pela Lei foi repetida nas instruções dadas ao
Bispo Partridge acerca de como organizar os Santos de
Colesville de acordo com a lei de consagração: "E que aquilo
que pertencer a este povo não seja dele tirado e dado ao povo
de outra igreja portanto, se outra igreja receber dinheiro desta
igreja, que eles paguem de volta a esta igreja conforme
combinado" (D&C 51:10-11).
A seção 42 deixou claro que a mordomia devia funcionar
dentro dos parâmetros normais de uma economia de
mercado. [44] Assim, esperava-se que no decorrer normal de
"permanecer firme no local de tua mordomia" (D&C 42:53), um
excesso seria criado "e se receberes mais do que o necessário
para teu sustento, entragá-lo-ás a meu armazém " (v. 55). O
Bispo Partridge se esforçou por instituir este requisito anual.
Nos documentos impressos que ele preparou, o acordo
obrigava o mordomo a "pagar o valor anual, que consiste no
que for realizado ou acumulado mais do que é necessário para
seu sustento e conforto e os da família, ao dito Edward
Partridge, bispo da dita igreja ou a seu sucessor no ofício para
o benefício da igreja." [45] Identificar o excesso, naturalmente,
era uma decisão subjetiva e o Profeta aconselhou o Bispo
Partridge a fazer uma decisão em conjunto, ou seja entre o
mordomo e o bispo:
"Todo homem deve ser seu próprio juiz quanto à quantidade
que recebe de volta e o que permanece nas mãos do Bispo. Falo
daqueles que consagram o que for mais do que o necessário
para seu sustento e o da família. O princípio de consagração
deve ser seguido pela permissão de ambas as partes pois dar
ao Bispo o poder de ditar quanto cada homem consagrará
e obrigá-lo a cumprir com o julgamento dos bispos equivale a
dar mais poder ao bispo do que tem um rei. Por outro lado,
deixar que cada um faça sua própria decisão e obrigar o bispo
a aceitá-la criará muita confusão em Sião e escravizará o
bispo. O fato é que deve haver um equilíbrio entre o poder do
bispo e do povo e assim a harmonia e boa vontade serão
preservadas entre os irmãos." [46]
A esta altura a Lei muda de súbito da discussão de como lidar
com as propriedades restantes para o assunto da nova tradução
de Joseph Smith da Bíblia: "Pedirás e minhas escrituras serão
dadas como determinei e para tua salvação convém que
guardes silêncio a respeito delas até que as tenhas recebido"
(versículos 56-57). A redação posterior desta passagem
proporciona uma visão rara das camadas múltiplas da revisão.
A primeria revisão foi feita em novembro de 1831 como parte
das conferências realizadas para planejar a publicação do Livro
de Mandamentos. Numa reunião em 8 de novembro os élderes
resolveram que "o Irmão Joseph Smith Jr. corrigisse os erros
que descobrisse pelo santo Espírito." [47] Entre as revisões
feitas nesta ocasião havia uma sobre esta passagem referente à
Nova Tradução. A forma original desta revisão, que não tinha
pontuação, dá um sentido de que "para a tua salvação as
escrituras serão dadas" em vez de "para a tua salvação
[segurança] convém que guardes silêncio." Joseph, porém,
revisou a passagem para esclarecer que o vínculo era entre a
salvação temporária e o guardar silêncio sobre a nova tradução:
"Para tua segurança convém que guarde silêncio a respeito
delas." [48]
Aparentemente não satisfeito com esta rendição, o Profeta (ou
os que trabalhavam sob sua direção) revisou de novo a
passagem três anos depois ao preparar esta revelação para sua
publicação em Doutrina e Convênios. A versão posterior muda
de ênfase da segurança dos Santos à segurança das escriturras.
Na sua forma final a passagem completa ficou: "Minhas
escrituras serão dadas como determinei e serão preservadas em
segurança; e convém que guardes silêncio a respeito delas e
não as ensines até que as tenhas recebido em sua totalidadel"
(versículos 56-57).
Outro exemplo de revisões múltiplas aparece nas linhas depois
do fim da segunda pergunta em que procuravam conhecer "a lei
que regula a Igreja em suas condições atuais até o tempo da
coligação." Aqui se faz um resumo: "E estas leis que recebestes
são suficientes tanto para aqui como na Nova Jerusalém mas
àquele que faltar conhecimento que a peça a mim." Nas
revisões de novembro de 1831, deixou-se a porta aberta um
pouquinho para esclarecimentos futuros da Lei ou até
acréscimos a ela mas logo a porta se abriu por completo e a
possibilidade se tornou certeza quando se declarou: "Estas leis
que recebestes erecebereis daqui em diante serão suficinetes
para vós tanto aqui como na Nova Jerusalém portanto àquele
que faltar conhecimento peça-a a mim." Em 1835 o texto foi
revisado mais uma vez para esclarecer que viriam "convênios"
em vez de "leis" e que se tinha que observar as leis já recebidas
e seriam estes convênios específicos que estabeleceriam os
Santos tanto em Ohio como em Missouri: "Vós observareis as
leis que já recebestes e sereis fiéis. E daqui em diante
recebereis convênios da Igreja, os quais serão suficientes para
vos estabelecerdes tanto aqui como na Nova Jesusalém.
Portanto, aquele que tem falta de sabedoria, peça-a a mim"
(versículos 66-68; revisões em letra itálica).
Esta segunda undidade de textos, a essência da Lei, conclui
com este pedido: "Alegrai-vos e regozijai-vos, porque a vós foi
dado o reino, assim seja. Amém." A passagem foi revisada em
1835 para incluir um conhecimento amplificatório que Joseph
às vezes sentia inspirado a acrescentar ao redigir as revelações:
"Alegrai-vos e regozijai-vos, porque a vós foi dado o reino, ou,
em outras palavras, as chaves da Igreja. Assim seja. Amém"
(versículo 69; revisão em letra itálica).
D&C 42:70-73
A terceira unidade de textos da Lei responde à pergunta "qual
será a disposição de suas famílias quando os élderes estiverem
proclamando arrependimento ou estiverem de outra forma
atuando a serviço da Igreja." A reposta é que "os élderes devem
ajudar o bispo em todas as coisas e este assegurará que as
famílias sejam sustentadas das propriedades consagradas ao
Senhor como mordomia ou de outro modo conforme acharem
melhor o bispo e os élderes." Até o fim do ano o bispo recém
chamado, Newel K. Whitney, foi ordenando a "receber o
relatório dos élderes como antes foi mandado e prover as suas
necessidades; eles pagarão o que receberem, se tiverem com o
que pagar" (D&C 72:11). "E aquele que não puder pagar
apresentará uma conta ao bispo de Sião, que pagará a dívida
com aquilo que o Senhor lhe puser nas mãos. E as obras dos
fiéis que trabalham em coisas espirituais, na administração do
evangelho e das coisas do reino na igreja e no mundo,
responderão pela dívida junto ao bispo de Sião" (D&C 72:13-
14).
No mês seguinte, a idéia da Igreja dar sustento aos élderes se
ampliou de um foco monetário, com o potencial de esgotar os
recursos escaços do armazém, para um que dependeia da
generosidade dos membros em geral. De início os élderes é que
tinham que tomar a iniciativa em buscar sustento. Uma
revelação lembrava os Santos de que "é dever na igreja ajudar e
sustent[á-los], e também sustentar as famílias dos que são
chamados e precisam ser enviados pelo mundo para proclamar
o evangelho ao mundo" (D&C 75:24). Era para os élderes
necessitados arranjar o alojamento de suas famílias durante sua
ausência com membros dispostos (D&C 75:25), mas caso o
élder não pudesse fazer acomodações satisfatórias e fosse
"obrigado a prover o próprio sustento da família," era-lhe dito:
"Que a mantenha; e de modo algum perderá sua coroa; e que
trabalhe na igreja" [em casa] (D&C 75:28). Assim, dentro de um
ano após o recebimento da Lei, considerações práticas
inspiraram alterações da declaração inicial que as famílias dos
élderes seriam "sustentadas das propriedades consagradas ao
Senhor."
Não é de admirar-se de que as revisões de 1835 refletissem
essa realidade. Para efetuar a publicação de Doutrina e
Convênios, o texto foi redigido para restringir o "sustento" para
os élderes (e mais tarde, sumos sacerdotes) designados
conselheiros do bispo [neste caso, o Bispo Presidente]: "Dos
élderes ou dos sumos sacerdotes designados para ajudar o
bispo como conselheiros, em todas as coisas receberão
sustento para sua família da propriedade consagrada ao bispo
para benefício dos pobres e para outros propósitos, como
mencionado antes; ou receberão uma justa remuneração por
todos os seus serviços,seja uma mordomia ou outra coisa-
conforme o que os conselheiros e o bispo considerem melhor
ou decidam" (D&C 42:71-72).
Sem a desingação no prefácio dos élderes envolvidos no
trabalho missionário ou outras atividades de serviço na Igreja, a
restrição de sustento somente para os conselheiros do bispo
era uma interpretação razoável do enunciado original que "os
élderes devem ajudar o Bispo em todas as coisas." A revisão de
1835 também acrescentou um período incluindo
especificamente o bispo como merecedor e assistência
temporal: "E o bispo também receberá seu sustento ou uma
justa remuneração por todos os seus serviços na igreja" (D&C
42:73). [49]

Unidades Textuais 4 e 5 (Não se Encontram


em Doutrina e Convênios)
A quarta e a quinta unidades textuais são as mais breves das
sete unidades da Lei. Juntas consistem em menos de cem
palavras, ou um pouco mais de 4% do total da Lei. Embora
tivessem sido incluídas no Livro de Mandamentos, foram
tiradas da revelação quando foi publicada em Doutrina e
Convênios. A quarta pergunta indaga: "Até que ponto o Senhor
deseja que façamos negócios como o mundo e como devemos
conduzir nossos tratos com eles?"
A resposta: "Não contrairás dívidas com eles e de novo os
élderes e o bispo asconselharão juntos e seguirão a orientação
do espírito à medida que for necessário." Ainda que esta
citação breve claramente enucie a política básica de não se
endividar com "o mundo," também abre a porta, quando guiado
pelo Espírito, para fazer tudo que for "necessário" para avançar
nossa causa. [50] Com uma referência específica a esta
passagem da Lei, os conselhos foram colocados com mais
eloqüência sete meses depois: "Eis que minhas leis dizem, ou
seja, proíbem contraír dívidas com vosso inimigos; mas eis que
em tempo algum se diz que o Senhor não poderá tomar quando
quiser e pagar como lhe aprouver portanto, como sois agentes,
estais a serviço do Senhor; e tudo o que fazeis de acordo com a
vontade do Senhor é negócio do Senhor e é o negócio do
Senhor sustentar seus santos" (D&C 64:27-30). Pouco tempo
depois disso, a Lei foi esclarecida para: "Não contraireis dívidas
com o mundo a não ser que sejais mandados." Tal mandamento
veio em março como reposta a uma pergunta sobre a compra
de papel para imprimir o Livro de Mandamentos: "Que a compra
seja feita pelo Bispo, se for preciso a crédito [51] e que tudo
que se fizer seja feito em nome do Senhor." [52] Este
pronunciamento foi seguido em abril pela decisão da Firma
Unida, uma sociedade de líderes de Igreja que administravam
propriedades da Igreja, de fazer um empréstimo de quinze mil
dólares a um prazo de cinco anos ou mais com juros de seis
por cento anuais ou semi-anuais conforme puderem fazer o
acordo." [53]
Tais ações "necessárias" não aconteceram sem custo. Até o final
de 1833 o Profeta esreveu aos líderes da Igreja refugiados no
Condado de Clay, Estado de Missouri, que "será impossível dar-
lhes qualquer ajuda do ponto de vista monetária porque nossos
fundos já estão esgotados e estamos profundamente
endividados e não sabemos como poderemos nos livrar." [54]
Um mês depois, em 11 de janeiro de 1834, Joseph e outros se
uniram em oração e fizeram várias petições a Deus, uma delas
sendo "que o Senhor providencie, segundo a ordem de sua
providência, ao bispo desta Igreja meios suficientes de quitar
todas as dívidas que a Firma deve, no devido tempo, para que a
igreja não seja mal-afamada e os santos perseguidos pela maõ
dos inimigos." [55] Apesar da necissidade ocasional de contrair
dívidas, o Profeta abre seu coração neste sentido no seu diário
numa passagem rara escrita por ele mesmo: "Meu coração hoje
se enche do desejo de ser abençoado pelo Deus de Abraão com
prosperidade até que eu possa pagar todas as dívidas pois é a
alegria da minha alma ser honesto. Ó Senhor, tu sabes tão
bem!" [56]
Não ficou claro porque a quarta unidade textual foi tirada da
revelação. Certamente na sua forma redigida coincidia com
outras declarações semelhante que ocorrem em outros lugares
de Doutrina e Convênios. Talvez fosse eliminada por sua
proximidade da quinta unidade que, como veremos, era muito
específico às circunstâncias temporárias em Ohio em 1831 e
portanto de pouca relevância para a Igreja nos anos seguintes.
A quinta pergunta é: "Que preparações faremos para nossos
irmãos do Leste-quando ['onde' no manuscrito de Gilbert] e
como?" A resposta revelada foi: "Haverá tantos quanto forem
necessários para ajudar o Bispo a obter lugares ['casas' no
manuscrito de Gilbert] para que possam ficar juntos, tanto
quanto for possível, conforme dirigidos pelo santo Espírito."
Quando se fizeram revisões em novembro de 1831, a última
parte do comunicado foi esclarecida, ficando: "obter lugares
para seus irmãos de Nova York para que possam residir
próximos um do outro dentro do possível ao serem dirigidos
pelo Espírito Santo." Na primavera de 1831 esperavam que os
Santos de Nova York logo imigrassem para Ohio de acordo com
revelações prévias que os instruíram a unir-se em Ohio (vide
D&C 37 e 38). Preparar para aquele evento foi um assunto de
importância e de algumas revelações na época (vide D&C 48 e
51).
A resposta à quinta pergunta incluiu esta diretriz: "Todas as
famílias terão uma casa em que possam viver separada como
família e toda Igreja (ramo, ala) será organizada de forma que
os membros possam morar próximos uns dos outros em
conseqüência dos inimigos," acrescentando depois, "E isso por
um motivo sábio. Assim seja. Amém. " A idéia de colocar as
famílias dos ramos do imigrantes próximas umas das outras,
especialmente porque muitos membros destas famílias eram
parentes, fazia sentido por vários motivos. Devido às
experiências prévias de perseguições, destacou-se o benefício
de proteção dos inimigos. Onde estavam situadas as casas dos
imigrantes depois de chegarem não se sabe. O único caso bem
documentado é o do ramo de Colesville que foi dirigido à
fazenda de Leman Copley em Thompson, Ohio (vide D&C 51).
No entanto, morar próximos não significava viver em comunas
segundo a prática das organizações "familiares" que o Profeta
encontrou em Ohio. O texto deixa bem claro que cada família
teria sua própria moradia em que só uma família moraria.

D&C 42:78-93
Esta unidade e a que segue foram registradas duas semanas
depois das primeiras cinco unidades da Lei. Como explica o
manuscrito Ryder, estes segmentos finais, "aprovados por sete
élderes em 23 de fevereiro de 1831, segundo o mandamento
de Deus, consistiam em regras e regulamento de "como os
élderes da igreja de Cristo deviam agir em relação aos preceitos
da Lei." A primeira metade da sexta unidade descreve as
medidas a serem tomadas em casos de assassínio, adultério,
furto e mentira, cada uma das quais já tendo sido proibida pela
própria Lei. Era para entregar os assassinos "às leis do país para
serem julgados, lembrando-nos de que para eles não há
perdão" (v. 79). A justificativa para entregar o assassino às
autoridades civis baseia-se na declaração anterior da Lei que
"para aquele que mata não há perdão nem neste mundo nem
no mundo vindouro" (v. 18). Por outro lado, a Igreja trata dos
casos de adultério. A lei decreta que um adúltero que não se
arrepende ou repete o pecado será expulso" (versículos 24, 26),
e a sexta unidade apresenta os procedimentos para implantar
tal política, ordenando que o acusado seja julgado por dois ou
mais élderes com a presença também do bispo, se
possível [57]. Também requer que o ato de adultério "seja
comprovado contra ele" (a frase "ou ela" foi acrescida mais
tarde) por pelos menos duas testemunhas que são membros. Já
que naquela altura a Lei estipulava que a excomunhão requeria
um voto de apoio da Igreja, "os élderes apresentarão o caso
diante da igreja e a igeja levantará a mão contra ela para que
seja julgada conforme a lei de Deus. 81 Este processo serviria
de modelo para a disciplina em geral na Igreja: "E assim fareis
em todos os casos que vos forem apresentados" (v. 83).
Algumas linhas depois a revelação declara que se os Santos
"cometerem qualquer iniqüidade, serão entregues à lei, sim à
lei de Deus" (v. 87). Entre estas duas declarações se encontram
instruções, ordenando que aqueles que roubam, furtam ou
mentem serão "entregues à lei" (versículos 84-86). Se esta
passagem se referia à lei de Deus ou à lei do país não estava
claro até que a frase "do país" foi adicionada em 1835.
Na mesma versão de 1835 do livro de Doutrina e Convênios, a
declaração sobre "Governos e Leis em Geral" (a atual seção 134
de D&C) explicou a posição da Igreja a respeito de ofensas
civis: "Cremos que a perpetuação de um crime deve ser punida
de acordo com a natureza do delito; que o homicídio, a traição,
o roubo, o furto e a violação da paz geral, em todos os
aspectos, devem ser punidos de acordo com sua criminalidade
e sua má influência entre os homens, pelas leis do governo sob
o qual o delito tiver sido cometido; e para a paz e tranqüilidade
públicas, todos os homens devem usar sua habilidade para
entregar os transgressores das boas leis ao castigo." E ainda se
afirmou: "Cremos que todas as sociedades religiosas têm o
direito de lidar com seus membros, em caso de conduta
inadequada, de acordo com as regras e os regulamentos dessas
sociedades; desde que tal ação se limite à participação e
posição da pessoa na sociedade a que pertença; mas não
cremos ter qualquer sociedade religiosa autoridade para julgar
os homens quanto a seu direito a propriedade ou à vida; para
confiscar-lhes os bens deste mundo, ou para pô-los em perigo
de vida ou de danos físicos ou para infligir-lhes qualquer
castigo físico. Podem apenas excomungá-los de sua sociedade
e negar-lhes a participação" (D&C 134:8, 10).
A Lei então expõe o que só havia sido impícito nos "Artigos e
Convênios" da Igreja (D&C 20) referente à disciplina na Igreja.
"Qualquer membro da igreja de Cristo que transgredir ou for
surpreendido em alguma ofensa [58]será tratado como indicam
as escrituras" (D&C 20:80). Durante uns mil e oitocentos anos o
texto clássico sobre disciplina havia sido São Mateus 18:15-
17. [59] Não é de surpreender que o processo de três etapas
esboçado em Mateus seja reiterado aqui na Lei. Se um membro
é ofendido por outro, ele ou ela pode procurar o ofensor e
apresentar a queixa em particular. Se o pecador confessar, as
duas partes se reconciliarão. Se o ofensor não confessar a
ofensa, instrui-se que o ofendido leve outro (testemunha)
consigo, e se o pecador ainda não confessar, entregar-se-á o
caso aos élderes (vide D&C 42:88-89). [60] A única variação
expressiva na Lei em relação a Mateus 18:15-17 é que
esclarece que "dize-o à igreja" significa "não aos membros e
sim aos élderes (D&C 42:89). [61] O "Far West Record [Registro
de Far West]" e o "Kirtland Council Minute Book [Livro de Atas
do Conselho de Kirtland]" contêm muitos relatos de conduta
transgressiva relativamente moderada que se apresentou
perante os élderes da Igreja. A disciplina dos Santos dos
Últimos Dia daquela época era semelhante à que as outras
igrejas cristãs praticavam tanto no seu compromisso de seguir
a política de Mateus 18:15-17 para resolver dificuldades
interpessoais e pecados graves como na manutenção da pureza
e santidade do corpo de adeptos. [62] Hoje os conselhos
disciplinários só se realizam para tratar dos assuntos mais
graves.
A parte final desta unidade textual da Lei proporciona diretrizes
para a confissão pública e até a repreensão pública, aspectos
da disciplina da Igreja que raramente se praticam hoje em dia.
Mesmo que a Bíblia ensine: "Aos que pecarem, repreende-os na
presença de todos, para que também os outros tenham temor"
(1 Timóteo 5:20), a revelação da Lei limita a repreensão pública
somente àqueles que "ofenderam muitos" ou que "ofenderam
abertamente" (D&C 42:90-91).
Numa época anterior a nossa, pensava-se que a humilhação
pública facilitava o arrependimento: "Se alguém ofender
publicamente, será repreendido publicamente, para que se
envergonhe. E se não confessar, será entregue à lei de Deus" (v.
91). [63] Porém para os que pecavam em segredo, uma
admoestação confidencial parecia melhor. Tal prática possibilita
que o pecador confesse em segredo a quem quer que tenha
ofendido e a Deus para que a igreja (os irmãos) não fale com
reprovação a seu respeito" (v. 92). "E assim," como conclui esta
unidade textual, "agireis em todas as coisas" (v. 93).

D&C 42:74-77
Embora este segmento estivesse colocado em frente da unidade
anterior (unidade 6) quando se publicou na primeira versão de
Doutrina e Convênios, antes disso sempre seguia a unidade 6
nas fontes que continham estas duas últimas unidades (vide
tabela). Em dois outros casos, só ela (unidade 7) foi anexa à Lei
e num caso apareceu sozinha. Em algumas fontes esta unidade
recebeu seu próprio título-"Como agir em casos de adultério"
ou " Um Mandamento concernente a como agir em casos de
adultério." Nas fontes em que aparece uma data, consta-se 23
de fevereiro de 1831.
O título deste segmento pode confundir um pouco pois na
realidade o assunto é a relação entre o adultério e o divórcio ou
separação em vez de adultério em si. O texto expõe quatro
situações específicas e fornece instruções a respeito de como
agir nestes casos. A primeira situação trata-se do caso em que
um membro se divoricia do cônjuge devido a imoralidade
sexual: "Quaisquer pessoas entre vós que tenham repudiado o
cônjuge por causa de fornicação, ou em outras palavras, se
com toda a humildade testificarem diante de vós ser este o
caso, não as expulsareis de vosso meio" (v. 74). A linguagem
desta declarção dá a entender que o divórcio punha a risco a
sociedade do indivíduo na Igreja e o cônjuge inocente somente
permaneceria membro da Igreja mediante provas de que o
divórcio havia sido resultado de infidelidade por parte do outo
cônjuge. Apesar das atitudes sobre o divórcio terem relaxadas
na América antes da guerra civil, [64] a da revelação lembra o
rigor do Sermão da Montanha: "Qualquer que repudiar sua
mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa
adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete
adultério" (Matthew 5:32).
O segundo caso está claro. A pessoa (membro) que abandona o
cônjuge "por causa do adultério e é ela mesma a culpada e seu
cônjuge vive, essa pessoa será expulsa de vosso meio" (D&C
42:75). O tercerio caso e quarto caso se relacionam ao segundo
porque tratam do adúltero que abandona seu cônjuge fiel mas
que não é membro mas quer filiar-se à Igreja. Nestes casos os
élderes devem "ser diligentes e cuidadosos em vossas
investigações, para que não recebais tais pessoas entre vós, se
[caso 3] forem casadas; e se [caso 4] não forem casadas,
deverão arrepender-se de todos os pecados; caso contrário,
não as recebereis" (versículos 76-77).
Observa-se no terceiro caso, não como no quarto caso, que
não há condição explícita para o arrependimento e aceitação no
meio do Santos. Foi esta uma omissão sem importância porque
se subentendia que o arrependimento era sempre possível
nestes casos? Ou, foi a rejeição sem condições da validade
espiritual do recasamento de um adúltero esporádico ou
habitual do qual se fala em Mateus 19:9: "Qualquer que
repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e
casar com outra, comete adultério"? É a seriedade do caso
aumenta pelo fato de sua [seu] companheira[o] (aflita) ainda
estar viva[o]"? A escassez de outras fontes da época referentes
ao divórcio torna difícil determinar com confiança quais eram
as atitudes dos Santos neste sentido. Porém um relato breve do
diário de Hyrum Smith mostra que o recasamento após o
divórcio era suspeito a não ser que a causa do divórcio fosse
infidelidade por parte de um dos cônjuges:
"Fui à casa do Irmão Rounday onde nos reunimos com o Irmão
Morse. Indagamos a respeito do assunto da situção de sua vida,
sendo ele um homem que teve duas esposas e que vive com a
segunda enquanto a primeira ainda vive. Mas esta foi repudiada
por causa de fornicação, sendo ele inocente. Ele testificou com
toda a humildade que a que foi liberada foi a pecadora." [65]
A linguagem desta passagem do diário lembra muitas frases da
unidade textual que estamos analizando e mostra a seriedade
com que os élderes seguiam suas diretrizes.
A Lei foi, é claro, um dos documentos mais importantes dos
anos iniciais da história dos Santos dos Últimos Dias.
Sobreviveram mais cópias de manuscritos desta revelação feitas
antes de publicação do que de qualquer outra revelação. Fica
do lado dos Artigos e Convênios em termos de sua utilidade
para os líderes da Igreja da era pioneira.
A principal contribuição deste estudo foi a análise de
revis&otidle;es significativas do texto da Lei e prover uma visão
parcial de como se entendiam as passagens na época. A análise
quantativa e classificação das alteraç&otidle;es textuais
possibilitaram uma avaliação mais precisa do que outrora se
podia fazer da quantia e espécie de revis&otidle;es inspiradas
feitas sob a direção profética.
O que se destaca é que apesar do fato das revelaç&otidle;es
serem dadas "ao meus servos na sua fraqueza segundo a sua
maneira de falar" (D&C 1:24), o Profeta se esforçou muito por
compensar a fraqueza linguística e aprimorar o texto conforme
a inspiração que sentia. Ele também se esforçou para que a Lei
refletisse as práticas da época da mesma forma que a Igreja
hoje em dia faz atualizaçoes do Manual de Instruçoes usado
por líderes de todos os níveis para administrar corretamente os
assuntos da Igreja.
Por final, a composição geral da Lei agora pode ser vista com
uma nova perspectiva. Mesmo que alguns historiadores tenham
notado previamente que a Lei foi recebida em dois dias
diferentes, este estudo ilumina as diferenças da natureza das
duas partes e o propósito destes materiais revelaods naqueles
dias. Além disso, uma análise detalhada revelou que a revelação
consistia em sete unidades textuais distintas, uma das quais (a
maior, contendo 58 por cento do documento interio) contém a
Lei, propriamente dito. De um modo geral, esta avaliação
apurada oferece ilucidação a respeito do processo revelatório
que produziu os textos canônicos do livro de Doutrina e
Convênios e a influência profunda que exerceram na
comunidade inicial do Santos dos Últimos Dias.
[Nota dos tradutores: Traduzimos somente certas notas, e
partes de certas notas, de rodapéque para dar-lhes uma idéia
do que se tratam. Não nos conveio traduzir tudo já que a
maioria das referências são de documentos originais em língua
inglesa e de livros, dissertaç&otidle;es, ensaios, discursos e
outras publicaç&otidle;es somente disponíveis em inglês em
bibliotecas nos Estados Unidos. Por isso, por necessidade e
pelo fato da elaboração deste estudo ser extremamente técnica,
um estudo mais apurado do assunto só é possível a quem
tenha um conhecimento relativamente profundo da língua
inglesa. Sugerimos àqueles que quiserem se aprofundar mais
neste assunto que leiam o documento original do Professor
Underwood, uma cópia do qual se encontra em inglês no site
do Religious Studies Center da Universidade Brigham
Young: http://rsc.byu.edu]

Notas
[1] John Whitmer, "Book of John Whitmer," 6, Community of
Christ Library-Archives, Independence, Missouri.
[2] Whitmer, "Book of John Whitmer," 12.
[3] A versão inglesa deste estudo conserva a ortografia da
época das revelações, aparecendo a palavra Lei com letra
maiúscula ao longo da redação que se refere à revelação
contida na seção 42 de Doutrina e Convênios.
[4] Carta de Joseph Smith a Martin Harris, February 22, 1831,
Joseph Smith Collection, box 2, folder 3, Church History
Library, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Salt
Lake City.
[5] Esta citação de um parágrafo de transição na cópia
manuscrita feita por Symonds Ryder (vide Revelations
Collection, box 1, folder 13, Church History Library).
[6] Outra cópia manuscrita é mencionada numa carta de Oliver
Cowdery a Newel K. Whitney em 4 de fevereiro de 1835: "Bishop
Whitney, Will you have the kindness to send us by the bearer
the original copy of the Revelation given to 12 elders Feb. 1831
called 'The Law of the Church'? We are preparing the old Star for
re-printing, and have no copy from which to correct, and
kno[w] of no other beside yours. Your Ob't Serv't. Oliver
Cowdery" (Newel K. Whitney Papers, L. Tom Perry Special
Collections, Harold B. Lee Library, Brigham Young University,
Provo, Utah).
[7] A versão atual fornece datas específicas quando são
conhecidas, mas só consta a de 9 de fevereiro para a seção 42.
[8] As respostas às primeiras duas perguntas terminam em
"Assim seja. Amém," reforçando a idéia de que são unidades
distintas.
[9] Versícsulo 73 não fazia parte da resposta original mas foi
acrescido depois, quando a unidade foi revisada na redação de
Doutrina e Convênios.
[10] Seguem-se comentários sobre o manuscrito de Symonds
Ryder: 'It has been suggested that Symonds Ryder illicitly
obtained this and the other manuscript copies of the
revelations that were in his descendants' possession at the time
they were acquired by the Church (see Scott Faulring, "Symonds
Ryder," Mormon History Association Newsletter [Fall 1996], 4-5;
and Faulring, "An Examination of the 1829 'Articles of the
Church of Christ' in Relation to Section 20 of the Doctrine and
Covenants," BYU Studies 43, no. 4 [2004]: 75-76). This now
appears to be incorrect. It is true that in September 1831,
Ryder, along with Ezra Booth, renounced his membership in the
Church at a camp meeting in Shalersville, Ohio. It is also true
that Ryder loaned his copy (or a copy of his copy) of the Law to
the editor of the Western Courier in nearby Ravenna, Ohio, who
printed a portion of it in his newspaper, along with a derisive
editorial introduction. What is not substantiated by evidence,
however, is that Ryder purloined his copies of the revelations
while the Prophet was away in Missouri that summer. The best
reading of the evidence is that Ryder made his copies sometime
before mid-June 1831, when Joseph Smith left for Missouri, and
that he did so, like other early elders, with the permission of
the Prophet for his personal use. This seems likely for several
reasons. First, such a practice was common and accounts for
many of the manuscript copies of the revelations in existence
today. Second, there is no reason to believe that Ryder was
dishonest. The Prophet never accused him of such behavior,
and long after ceasing his association with the Church, Ryder
continued as a highly regarded, upstanding member of the
Hiram, Ohio, community in which he resided. Third, and most
important, he probably made his copy of the Law in May 1831
(see Painesville Telegraph, September 13, 1831) when he clearly
was in good standing in the Church (he is mentioned positively
in D&C 52:37, given in early June 1831). However he acquired
his copy, it is clear that he did not tamper with the text. Its
wording is very close to that found in other early manuscripts.
[11] Comentários sobre correções ortográficas nos manuscritos
em inglês (vide estudo em inglês).
[12] Livro de Mandamentos, 97 (capítulo 45, versículos 8-9).
This wording was later revised for publication in the Doctrine
and Covenants (vide D&C 43:8-9).
[13] Section 42 contains almost the same number of words in
the current edition of the Doctrine and Covenants. Although
there are dozens of punctuation, grammar, and spelling
variations between the two versions, there are no conceptually
significant differences. Indeed, textual analysis of the entire
Doctrine and Covenants shows that this is true of almost all the
revelations. Once they were published in 1835 in the Doctrine
and Covenants, their wording seems to have been considered
final, and no further updates or other significant revisions
appear in subsequent editions.
[14] Of similar changes in the Book of Mormon, President Boyd
K. Packer remarked years ago, "Of course there have been
changes and corrections. Anyone who has done even limited
research knows that. When properly reviewed, such corrections
become a testimony for, not against, the truth of the books"
("We Believe All That God Has Revealed," Ensign, May 1974, 94).
[15] Unless it does not agree with the CEW, the Ryder
manuscript will be quoted throughout this study.
[16] Whitmer, "Book of John Whitmer," 17.
[17] John Corrill, A Brief History of the Church of Christ of Latter
Day Saints (St. Louis: printed for the author, 1839), 17.

[18] Book of Commandments, 89 (chapter 44, heading);


emphasis added.
[19] Jan Shipps and John W. Welch, eds., The Journals of William
E. McLellin, 1831-1836 (Provo, UT: BYU Studies; Urbana:
University of Illinois Press, 1994), 41 (September 18, 1831).
[20] Richard Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (New
York: Knopf, 2005), 153.
[21] Best known is "the Family," or "Morley's Family," who lived
communally on Isaac Morley's farm in the township of Kirtland,
Ohio. Of its origin, Family member Lyman Wight wrote, "I went
to Kirtland, about twenty miles, to see Bro. I[saac] Morley and-
[Titus] Billings, after some conversation on the subject we
entered into a covenant to make our interests one as anciently.
In conformity to this covenant I moved the next February [1830]
to Kirtland, into the house with Bro. Morley. We commenced our
labors together with great peace and union. We were soon
joined by eight other families. Our labors were united both in
farming and mechanism, all of which was prosecuted with great
vigor. We truly began to feel as if the millennium was close at
hand" (The History of the Reorganized Church of Jesus Christ of
Latter Day Saints [Independence, MO: Herald House, 1977],
1:152-53). Although Isaac Morley's Family lived together on the
same property, others, like the smaller Family in Chardon, Ohio,
reportedly shared a single house: "One man has torn away all
the partitions of the lower part of a good two story house. Here
a large number live together" (The Geauga Gazette [Painesville,
Ohio], February 1, 1831).
[22] Leonard J. Arrington, Feramorz Y. Fox, and Dean L. May,
Building the City of God: Community and Cooperation Among
the Mormons (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 15. "The
laws of the church of christ" 137
[23] Noah Webster, American Dictionary of the English
Language (New York: S. Converse, 1828; reprint, San Francisco:
Foundation for American Christian Education, 1989), s.v.
"consecrate."
[24] Vide Donald E. Pitzer, ed., America's Communal Utopias
(Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1997).
[25] Whitmer, "Book of John Whitmer," 17-18. Church members
in Hiram, Ohio, appear to have been among those who
"underst[oo]d not the things of the kingdom." A recollection
years later by Symonds Ryder seems to refer to section 42 as
the source of their disaffection. A long-since-disaffiliated Ryder
recalled that several months after recording the Law, when
Joseph and others "went to Missouri to lay the foundation of the
splendid city of Zion, and also of the temple, they left their
papers behind. This gave their new converts an opportunity to
become acquainted with the internal arrangement of their
church, which revealed to them the horrid fact that a plot was
laid to take their property from them and place it under the
control of Joseph Smith the prophet. This was too much for the
Hiramites, and they left the Mormonites faster than they had
ever joined them" (Symonds Ryder to Amos S. Hayden, February
1, 1868, as cited in Hayden, Early History of the Disciples in the
Western Reserve, Ohio [Cincinnati: Chase & Hall, 1875], 221).
[26] See Arrington and others, Building the City of God, 15-40.
[27] Daqui em diante, para facilitar a comparação, revisões
textuais aparecerão em letra itálica.
[28] Levi Jackman, Deed of Stewardship, Edward Partridge
Papers, Church History Library.
[29] Vide, por exemplo, incidentes reportados no jornal
Painesville Telegraph, April 26, 1833; and Star, July 1833, 110.
[30] Carta de Joseph Smith a Edward Partridge, May 2, 1833,
Joseph Smith Collection, box 2, folder 3, Church History
Library.
[31] Star, June 1833, 100. In antebellum America, to be
identified as a "common stock" organization or to be said to
have "all things common" were characterizations of
disparagement. As the editor of the reprinted Star remarked,
"This assertion is meant, not only to falsify on the subject of
property, but to blast the reputation and moral characters of
the members of the same." Not that there was something
intrinsically wrong with a community of goods, as the editor
pointed out by citing the apostolic "church at Jerusalem" or the
actions of Book of Mormon peoples "after the appearance of
Christ," but the respective "government" under which each lived
"was differently organized from ours, and could admit of such a
course when ours cannot" (August 1831, reprint [March 1835],
48).
[32] That some had gathered to Zion without consecrating is
implicit in the strong warning issued in November 1832: "It is
conterary to the will and commandment of God that those who
receive not their inheritance by consecration agreeable to his
law . . . should have there names enrolled with the people of
God, neithe[r] is the[ir] geneology to be kept or to be had where
it may be found on any of the reccords or hystory of the church
there names shall not be found . . . writen in the book of the
Law of God saith the Lord of hosts" (Joseph Smith to William W.
Phelps, November 27, 1832, Joseph Smith Collection, box 2,
folder 1, Church History Library; compare D&C 85:3-5).
[33] "Mormonism.-No. II," Ohio Star, October 20, 1831.
[34] Morris Phelps, Reminiscence, as quoted in Joseph Smith,
History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. B.
H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret Book, 1957),
3:180. This was corroborated by several witnesses at the
Richmond Court of Inquiry in November 1838. There John
Cleminson testified that "it was frequently observed among the
troops, that the time had come when the riches of the Gentiles
should be consecrated to the Saints." And George Hinkle
averred, "It was taught, that the time had come when the riches
of the Gentiles were to be consecrated to the true Israel. This
thing of taking property was considered a fulfillment of the
above prophecy" (Document Containing the Correspondence,
Orders, &c. in Relation to the Disturbances with the Mormons
[Fayette, MO: Published by Order of the General Assembly,
1841], 115, 128).
[35] Whitmer, "Book of John Whitmer," 91.
[36] For a sampling of early Latter-day Saint healing accounts
and a discussion of the doctrinal ideas that sustained them, see
Underwood, "Supernaturalism and Healing in the Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints," in Religions of the United
States in Practice, ed. Colleen McDannell (Princeton, NJ:
Princeton University Press, 2001), 1:299-309.
[37] Milton V. Backman Jr., The Heavens Resound: A History of
the Latter-day Saints in Ohio, 1830-1838 (Salt Lake City:
Deseret Book, 1983), 82-83.
[38] Lester E. Bush Jr., Health and Medicine among the Latter-
Day Saints: Science, Sense, and Scripture (New York: Crossroad
Publishing, 1993).
[39] Kirtland Revelation Book, [138], Church History Library.
[40] Robert T. Divett, "Medicine and the Mormons: A Historical
Perspective," Dialogue: A Journal of Mormon Thought 12 (Fall
1979): 16-25; see also Alex Berman and Michael A. Flannery,
America's Botanico-Medical Movements: Vox Populi (New York:
Haworth Press, 2001); John S. Haller Jr., The People's Doctors:
Samuel Thomson and the American Botanical Movement, 1790-
1860 (Carbondale: Southern Illinois University Press, 2000).
[41] Lavina Fielding Anderson, ed., Lucy's Book: A Critical
Edition of Lucy Mack Smith's Family Memoir (Salt Lake City:
Signature Books, 2001), 713.
[42] "Willford Woodruff's Journal for 1848," February 23, 1848,
Church History Library.
[43] Whitmer, "Book of John Whitmer," 11. Levi Hancock
recorded a similar experience with another Family organization
(see Hancock, "Life of Levi Hancock," 28, Church History
Library).
[44] "Each member was free to work as he pleased within the
limitations of his stewardship. The profit system, the forces of
supply and demand, and the price system presumably would
continue to allocate resources, influence production decisions,
and distribute primary or earned income. Some of the
institutions of capitalism were thus retained and a considerable
amount of economic freedom was permitted. Above all, there
was to be no communism of goods" (Arrington and others,
Building the City of God, 17).
[45] Levi Jackman, Deed of Stewardship, Church History Library.
[46] Joseph Smith et al. to Brethren [in Zion], June 25, 1833,
Joseph Smith Collection, box 2, folder 1, Church History
Library.
[47] "The Conference Minutes and Record Book of Christ's
Church of the Latter Day Saints," 16 (November 8, 1831),
Church History Library; hereafter cited as Far West Record.
[48] Esta revisão aparece nos manuscritos de Whitmer, Coltrin e
Hyde, todos copiados no início de 1832, ou antes, como
também no extrato da Lei publicado mais tarde, no ano
seguinte, no Livro de Mandamentos.
[49] Esta passagem ecoa o que foi declarado em maio de 1831:
"Que todas as coisas tanto monetárias como de mantimentos
que ultrapassem as necessidades deste povo conservem-se nas
mãos do bispo e que ele também reserve o necessário para
suas próprias necessidades e as de sua família, já que ele
estará ocupado em tratar destes negócios" (D&C 51:13-14).
[50] That situation-specific guidance from the Spirit always
took precedence over general guidelines-"notwithstanding
those things which are written it always has been given to the
Elders of my Church . . . to conduct all [matters] as they are
directed & guided by the Holy spirit" (D&C 46:2)-appears not to
have been comprehended initially by some of the Church
leaders. Regarding this particular passage in the Law, Ezra
Booth reported that in spring of 1831, in order to help settle
the emigrating New York Saints, the Prophet felt prompted to
direct Bishop Partridge to "secure" a particular land purchase in
Thompson by contracting "a debt with the world to the amount
of several hundred dollars." When Partridge "hesitated,"
construing the Law's injunction against debt as an absolute
proscription, the Prophet insisted that Partridge "must secure
the land" by arranging the loan ("Mormonism VII," Ohio Star,
November 24, 831).
[51] The phrase "by hire" is an older English expression for "on
credit" or "through a loan." The exact financial arrangements
whereby the paper was acquired in Wheeling, Virginia, are not
known.
[52] "Revelation as to Paper," March 20, 1832, Newel K. Whitney
Collection, L. Tom Perry Special Collections.
[53] Far West Record, 26 (April 30, 1832).
[54] Joseph Smith to "Dear Brethren" [in Missouri], December 5,
1833, Joseph Smith Collection, box 2, folder 1, Church History
Library.
[55] Joseph Smith, Journal (1832-34), 45-46, Joseph Smith
Collection, box 1, folder 1, Church History Library; compare
D&C 90:22-23.
[56] Joseph Smith, Journal (1835-36), 1, Joseph Smith
Collection, box 1, folder 2, Church History Library.
[57] In the months ahead, the bishop would be "appointed to be
a Judge in Israel . . . to Judge his people by the testimony of the
Just & by the assistance of his councilors according to the laws
of the kingdom" (D&C 58:17-18).
[58] Being "overtaken in a fault" is language from Galatians 6:1.
[59] Vide John S. Bowden, Encyclopedia of Christianity (New
York: Oxford University Press, 2005), s.v. "discipline." For a
modern pastoral analysis of the passage, see Jay E. Adams,
Handbook of Church Discipline (Grand Rapids, MI: Zondervan,
1986).
[60] The identical phrase "if he confess not" introduces both
steps two and three. When this passage was first published in
the Star in October 1832, typesetters missed the entire second
step-"if he confess not thou shalt take another with thee."
Though the error was corrected the following year when the
Book of Commandments was published, it was perpetuated in
the 1835 reprint of the Star. Because the wording in the Star
reprint was almost always followed in the preparation of the
1835 Doctrine and Covenants, the line was similarly omitted
there and was not subsequently restored in any edition of the
Doctrine and Covenants.
[61] Methodists shared this interpretation. John Wesley, in his
"Sermon 49," explained: "It would not answer any valuable end,
to tell the faults of every particular member to the church. . . . It
remains that you tell it to the elder, or elders of the church, to
those who are overseers of that flock of Christ, to which you
both belong, who watch over yours and his soul" (John Wesley,
Sermons on Several Occasions [New York: Lane & Scott, 1852],
1:438).
[62] Compare Baptist practice as described in Gregory A. Wills,
Democratic Religion: Freedom, Authority, and Church Discipline
in the Baptist South, 1785-1900 (New York: Oxford University
Press, 1997), 20-25, 29-31, 37-49.
[63] A probing analysis of the widespread social functions of
honor and shame in the ontemporary South is Bertram Wyatt-
Brown, Southern Honor: Ethics and Behavior in the Old South
(New York: Oxford University Press, 1982). For a particular
focus on religious life, see Wyatt- Brown's chapter "Paradox,
Shame, and Grace in the Backcountry," in his The Shaping of
Southern Culture: Honor, Grace, and War, 1760s-1890s (Chapel
Hill: University of North Carolina Press, 2001), 106-16.
[64] Vide Norma Basch, Framing American Divorce (Berkeley:
University of California Press, 1999).
[65] Hyrum Smith, Journal (1832-33), April 4, 1833, L. Tom
Perry Special Collections.
"Bata de Leve": Controlando o
Comportamento dos Alunos na Sala de Aula

“Bata de Leve”: Controlando o


Comportamento dos Alunos na Sala de Aula
William C. Ostenson

William C. Ostenson é diretor apesentado do Sistema Educacional da


Igreja em Idaho Falls [cidade do Estado de Idaho nos EUA].

Mike Mansfield, um senador muito respeitado do Estado de Montana,


passou dezesseis anos no cargo de líder do senado do partido
majoritário. Depois de aposentar-se do senado, ocupou por mais doze
anos o cargo de embaixador no Japão. Ele disse que seu sucesso se
deve ao fato de ao lidar com as pessoas ele sempre procurava “bater
de leve.” Depois de servir em três ramos diferentes das forças
armadas durante e depois da Primeira Guerra Mundial, ele passou a
trabalhar por nove anos nas minas de cobre de Butte, Estado de
Montana, onde aprendeu o tal dito de “bater de leve.”
Esta expressão servia de advertência para aqueles mineiros que
lidavam com explosivos para quebrar a rocha maciça em volta das
jazidas de cobre. Um mineiro experiente fazia furos profundos na
pedra e colocava a dinamite no fundo de cada buraco. Se o explosivo
não coubesse de forma justa, a explosão poderia provocar um
deslizamento de terra que, com certeza, levaria à morte dos mineiros.
O processo exigia que o mineiro batesse na carga explosiva para
sentá-la. Naturalmente se ele batesse com muita força, a dinamite
poderia explodir antes da hora e é por isso que os mineiros
advertiam: “Bata de leve.” Mike Mansfield viu nesta expressão uma
metáfora para o relacionamento humano. Ao procurar aplicar este
princípio no seu trato com as pessoas, ele conquistou o respeito tanto
dos Republicanos como dos Democratas do Senado, bem como o
povo japonês. [1]
Os professores e diretores dos seminãrios podem aplicar este mesmo
princípio para solucionar os problemas disciplinares.
Como diretor de seminário, entrevistei um aluno que fora expulso da
sala de aula pelo professor por causa de sua persistente
desobediência. Não me lembro de todas as queixas que o professor
fazia a respeito deste alundo, mas naquele dia o estudante havia
levado uma lata de refrigerante para a sala de aula e se recusou a
guardá-lo na mochila. Convidei o aluno ao meu escritório e comecei a
conversar com ele para conhecê-lo melhor. Não é bem isso que os
alunos esperam ao serem encaminhados ao escritório do diretor por
motivos de disciplina; mas para ajudar este aluno eu precisava
conhecê-lo. Além disso, tal abordagem geralmente é mais calmante e
consegue-se tratar dos problemas com mais facilidade se o aluno não
está na defensiva. Depois de conhecê-lo um pouco, pedi-lhe que me
contasse sua versão da história. Descobri que este tipo de
abordagem também pode acalmar e até revelar muito sobre o aluno.
“Bater de leve” deste jeito muitas vezes nos encaminhará a uma
solução.
Quando pedi ao aluno para contar sua versão da história, ele se
queixou do fato de que os professores do colégio o permitiam levar
refrigerante para a sala de aula e por isso não via razão de não poder
levá-lo ao seminário. Expliquei que se tratava de uma regra que
existia em todos os seminários e, devido ao fato dele poder beber
refrigerante nas outras aulas, ele certamente não precisava beber
refrigerante no seminário. Desta forma mostrei meu apoio pelo
professor nesta situação e o aluno não teve como descordar. Eu
também achava que ele concordaria em colaborar mais na sala de
aula se eu prometesse falar com seu professor e pedir-lhe que fosse
mais compreensivo um pouco. Ele concordou com isso e eu, como
prometido, conversei com o professor a respeito do caso.
Nós, como professores, às vezes nos achamos no meio de um
conflito de vontades entre nós e os alunos e assim se torna difícil
vermos o fato de que nós mesmos podemos estar agravando a
contenda. Neste caso, eu poderia ter transferido o aluno para outra
turma, mas parecia-me importante o estudante e professor
resolverem o desacordo entre eles. Em primeiro lugar, o jovem
precisava parar de manifestar sua independência através da
desobediência e em segundo lugar o professor precisava aprender a
bater mais levemente e não levar a mal quando os alunos contestam
sua autoridade.
Tendo passado quatorze anos como coordenador da Área Nordeste
dos Estados Unidos, eu sabia que este jovem era justamente um dos
motivos de existir o seminário de released-time [aulas de seminário
que se realizam durante o horário de aulas de um colégio em que é
dada licença ao estudante SUD de passar uma hora por dia numa
aula do SEI]. Ao longo dos quatorze anos que passei a serviço das
alas e ramos dos Estados da Indiana e de Ohio, tive a oportunidade
de observar muitos excelentes professores de seminário dar aulas de
manhã cedo e administrar aulas de estudo em casa—todos eles
voluntários. A porcentagem de alunos matriculados nas aulas de
manhã cedo e de estudo em casa nunca chegou ao nível da do
seminário de released-time. Por serem menos estudantes em
horários mais difíceis, quase nunca observarmos um aluno não
dedicado, como o joven do exemplo. Por outro lado, há mais
estudantes menos dedicados que frequentam as aulas de released-
time e isso é uma das justificativas de empregar professores
profissionais para dar aula nesta modalidade. Quando lidar com um
aluno se tornar um desafio para nós, deveremos ter muita paciência e
não ter tanta pressa em tirá-lo da sala de aula.
Como coordenador eu dava uma lição mensal para os estudantes do
seminário de manhã cedo e de estudo em casa antes do
Supersábado. Eu gostava de dar esta aulas e dificilmente encontrava
problemas de disciplina. Mesmo assim, numa ocasião os alunos
chegaram à aula conversando muito, de forma que tive que parar logo
no início da lição e esperá-los acalmarem-se. Havia entre setenta e
oitenta alunos e todos eles, vendo meu silêncio, calaram, menos um,
uma jovem que estava no centro da capela. Logo que re-iniciei a aula
ela começou a falar alto com um rapaz sentado a seu lado. Quando vi
isso, parei e anunciei que eu esperaria até ela parar de falar antes de
continuar a dar a aula. Havendo sido apontada deste jeito, ela saiu
bruscamente da capela, empurrando os alunos que estavam no seu
caminho. Não pude pereceber como os outros se sentiam quando ela
saiu da sala, mas quando ela saiu eu senti o Espírito sair também.
Quando se realizou a reunião de professores em serviço, depois que
os estudantes saíram para as atividades, eu perguntei a respeito de
quem era o professor, ou professora, local daquela moça que havia
saído. Quando soube, pedi à professora que se esforçasse para que
a moça voltasse no mês seguinte. Também confessei aos
professores que eu não tinha dado um bom exemplo de como
enfrentar um problema disciplinar, embora os professores tenham
admitido que não puderam imaginar outra maneira de resolvê-lo.
Para a lição do mês seguinte reunimo-nos numa grande sala em vez
da capela. Os alunos da oitava série foram convidados também para
que pudessem sentir o que era o Súpersábado, pois iriam assistir no
ano seguinte. A sala estava tão lotada que alguns tiveram que sentar-
se no chão. Ao começar a lição, notei outra vez que os alunos
estavam agitados e não prestavam atenção, mas eu sabia que tinha
preparado uma excelente lição; portanto comecei por fazer uma série
de perguntas aos alunos da oitava série que estavam sentados à
minha direita no chão. Quando vi o medo no seu rosto se transformar
em interesse sincero, voltei a outro grupo e comecei a fazer-lhes
perguntas para captar sua atenção também. Continuei a fazer isto até
que todos se interessaram, menos aquela moça do mês anterior. Ela
estava sentada no centro da sala e parecia resolvida a desafiar minha
autoridade de novo. Mas a lição estava boa e ela logo se interessou
quando eu a envolvi na palestra.
Quando faltavam vinte minutos para terminar a aula, vi um dos
professores de estudo em casa e um de seus alunos entrar na sala e
sentar-se no chão. Aí vi o professor levantar-se e sair, voltando dentro
de poucos minutos com outros alunos. Eu desejava saber o que ele ia
dizer na aula de professores em serviço que seguiria logo após a
saída dos alunos para participar de suas atividades. Primeiro, ele se
desculpou pelo atraso. Era um novo professor e ele não fazia ideia de
quanto tempo iria demorar para buscar os alunos que precisavam de
carona. Quando por fim chegaram, já era tarde e ele só conseguiu
convencer um dos alunos a entrar com ele na sala. Mas ao sentar-se
ele sentiu fortemente o Espírito e resolveu sair para tentar convencer
os outros alunos a entrar na sala também para pelo menos sentirem o
Espírito que estava lá presente. Naquele sábado o assunto da lição
para os professores em serviço se tratava de como criar disciplina
através de fazer perguntas para captar a atenção dos alunos e
envolvê-los na lição ao invés de afastá-los por apontar seu mau
comportamento. Em outras palavras, como se pode “bater de leve” o
suficiente para amaciar a resistência petrificada dos alunos sem que
nossos esforços explodam na cara?
Não há o que possa substituir uma lição bem-preparada no que diz
respeito à disciplina da sala de aula, especialmente quando se trata
de problemas disciplinares que surgem a partir do tédio. Devido a
boas aulas dadas por vários professores ao longo de quatro anos,
aquele jovem que levou refrigerante para a sala de aula certamente
sentiu o Espírito algumas vezes e, apesar de sua atitude, aprendeu
algo mais do evangelho. Sei disso porque fiquei do olho nele por
quatro anos. Embora ele não tenha se formado do seminário, creio
que aquilo que o Presidente Eyring disse em 1993 se aplica àquele
rapaz: “Se os irmãos tratarem os alunos como se fossem bucadores
da verdade, estes sentirão seu amor e isso poderá despertar neles a
esperança de obterem um coração mais brando. Pode não acontecer
sempre e pode não durar, mas sentirão o Espírito muitas vezes e às
vezes os efeitos durarão. E todos eles se lembrarão de que os irmãos
acreditavam que no âmago deles havia algo de bom e melhor, a
herança de ser um filho de Deus.” [2]
Não obstante, faz parte da fé e do amor verdadeiro para eles
discipliná-los quando for preciso. Por exemplo, quando fui chamado
para ser diretor pela terceira vez, descobri que havia mais de vinte
alunos de último ano que aproveitavam o tempo de released-time
para fazer o que bem quisessem. Entrevistei cada um deles no meu
escritório a respeito de seus planos para o futuro e perguntei a todos
se pretendiam formar-se do seminário. Todos eles disseram que
queriam se formar, por isso eu lhes disse que poderiam se formar
contanto que não faltassem mais na aula. Se faltassem, eu me veria
obrigado a demiti-los, impossibilitando sua formatura. Expliquei-lhes
porque era importante honrarem seu contrato de released-time com o
colégio e quão importante era para nós proteger nossos direitos de
manter o programa de seminário em cooperação com o colégio. Frisei
que o que eu falara não tinha nada a ver com minha opinião pessoal
deles, porque eu era obrigado a seguir a mesmas regras que eles.
Por fim expliquei que eu ligaria a seus pais e diria a eles o que
acabava de dizer aos alunos.
Todos os pais me apoiaram. Até um dos pais me disse que estava na
hora de seu filho ter que prestar contas e ele mandaria o filho
completar todos os trabalhos atrasados até a semana santa e se este
não cumprisse, não sairia em viagem a Lake Powell com os amigos.
Todos os alunos, menos uma moça, deixaram de matar aula e se
formaram. Suspendi a matrícula daquela que continuou a matar aula.
Logo em seguida ela me procurou e perguntou se ainda haveria jeito
dela formar-se. Já que ela havia desobedecida abertamente e de
forma teimosa, eu lhe disse que não confiava nela o suficiente para
permiti-la voltar para a sala de aula, mas lhe fiz um plano de
recuperação alternativo e rigoroso que possibilitaria sua formatura se
fosse completado a contento. Ela aceitou, cumpriu e formou-se com
as amigas.
Creio que as regras do seminário devem ser empregadas para
motivar os estudantes a fazer aquilo que já sabem que devem fazer.
Em outras palavras, devemos “bater de leve” com estas regras em
vez de martelar com força. Aprendi que quando se age de forma
bondosa, porém firme, com os alunos, de modo geral eles aceitam as
regras e fazem o que é certo. Quando não cumprirem, terão que
aceitar as consequências por conta própria. Podemos consolar-nos
em saber que temos seguido a admoestação do Presidente Howard
W. Hunter, que nos incentivou a “dar uma resposta branda” quando,
do contrário, a tentação é de dar uma resposta áspera, “incentivar os
jovens” em vez de desincentivá-los, “procurar entendê-los” em vez de
precipitar-nos em julgá-los como sendo espiritualmente imaturos,
“analizar nossas exigências” e tratá-los com bondade e
gentileza. [3] São bons conselhos para todos nós que queremos
“bater de leve.”

Notas

[1] Don Oberdorfer, Senator Mansfield: The Extraordinary Life of a


Great American Statesman and Diplomat (Washington DC:
Smithsonian Books, 2003), 1–14.
[2] Henry B. Eyring, To Draw Closer to God: A Collection of
Discourses (Salt Lake City: Deseret Book, 1997), 146.
[3] Howard W. Hunter, “This Christmas. . . .” in LDS Church News,
December 10, 1994.
Buscai Conhecimento pela Fé

Buscai Conhecimento pela Fé


Élder David A. Bednar

O Élder David A. Bednar é membro do Quórum dos Doze


Apóstolos.

Este discurso foi proferido aos professores de religião do


Sistema Educacional da Igreja em 3 de fevereiro de 2006.
Eu gostaria de exprimir-lhes meu amor pelos irmãos e a
gratidão dos Irmãos da liderança da Igreja por sua influência de
retidão nos jovens da Igreja pelo mundo afora. Obrigado por ter
abençoado e fortalecido a nova geração. Oro que o Espírito
Santo possa nos abençoar e edificar ao compartilharmos aqui
juntos este momento especial.

Princípios Companheiros: Pregar pelo Espírito


e Aprender pela Fé
As escrituras nos admoestam repetidas vezes a pregar as
verdades do evangelho pelo poder do Espírito (vide D&C 50:14).
Creio que a maioria de nós, pais e professores na Igreja,
conhecemos este princípio e, de modo geral, procuramos
praticá-lo. Por importante que seja este princípio, trata-se de
um elemento só de um padrão espiritual maior. As escrituras
também nos ensinam com frequência que devemos buscar
conhecimento pela fé (vide D&C 88:118). Pregar pelo Espírito e
aprender pela fésão princípios companheiros que devemos nos
esforçar para compreender e aplicar simultânea e
constantemente.
Desconfio que enfatizamos e conhecemos muito mais a
respeito de ensinar pelo Espírito do que conhecemos a respeito
de aprender pela fé. Claramente os princípios e processos tanto
de ensino como de aprendizado pelo Espírito são
indispensáveis.
Porém, ao encararmos o futuro e vermos um mundo cada vez
mais confuso e turbulente ao nosso redor, acredito que será
essencial que todos nós cresçamos na capacidade de buscar
conhecimento pela fé. Em nossa vida particular, em nossa
família e na Igreja, podemos receber e certamente receberemos
as bênçãos de força espiritual, de orientação e de proteção ao
procurarmos obter e aplicar conhecimento espiritual por meio
de fé.
Néfi nos ensinou: “Quando um homem fala pelo poder do
Espírito Santo, o poder do Espírito Santo leva [a mensagem] ao
[até o] coração dos filhos dos homens” (2 Néfi 33:1). Por favor,
observem como o poder do Espírito leva a mensagem até mas
nem sempre para dentro do coração. Um professor pode
explicar, mostrar, persuadir e testificar e até fazê-lo com
grande poder espiritual e eficácia. Afinal de contas, porém, o
conteúdo da mensagem e o testemunho do Espírito Santo só
penetrarão o coração se o aluno os deixar entrar.
Irmãos, aprender pela fé abre o caminho que leva ao centro do
coração. Assim nosso enfoque será na responsabilidade
individual que cada um de nós tem de buscar conhecimento
pela fé. Também contemplaremos o significado deste princípio
para nós como professores.

Um Princípio de Ação: Fé no Senhor Jesus


Cristo
O Apóstolo Paulo definiu a fé como “o firme fundamento das
coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem”
(Hebreus 11:1). Alma declarou que a fé não se trata de
conhecimento perfeito, mas se tivermos fé, teremos “a
esperança nas coisas que se não veem e que são verdadeiras”
(Alma 32:21). Além disso, aprendemos nas Lições sobre a Fé
que a fé é “o primeiro princípio da religião revelada e o
fundamento da toda retidão” e que também é “o princípio de
ação de todos os seres inteligentes.” [1]
Estes ensinamentos de Paulo, de Alma e das Lições sobre a Fé
destacam três componentes básicos da fé: (1) a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam que são verdadeiras, (2)
a fé é a prova das coisas que não se veem e (3) a fé é um
princípio de ação em todos os seres inteligentes. Descreverei
estes três componentes de fé no Salvador que simultaneamente
encaram o futuro, contemplam o passado e dão início a ações
no presente.
A fé, como firme fundamento das coisas que se esperam, é
voltada para o futuro. Este firme fundamento se baseia no
entendimento correto do que significa confiar em Deus e
possibilita que “prossigamos com firmeza” (2 Néfi 31:20) para
situações incertas e muitas vezes desafiadoras, a serviço do
Salvador. Por exemplo, Néfi confiou justamente neste exato
tipo de firme fundamento voltado ao futuro quando regressou a
Jerusalém para obter as placas de latão—“não sabendo de
antemão o que [ele] deveria fazer. Não obstante [ele] seguiu em
frente” (1 Néfi 4:6–7).
A fé em Cristo fatalmente se vincula e nos leva à esperança em
Cristo para receber nossa redenção e exaltação. E o firme
fundamento e esperança fazem com que possamos caminhar
até a beira da luz e até dar uns passos além, na escuridão—
confiando que a luz logo aumentará e iluminará o resto do
caminho. [2] O firme fundamento e a esperança levam à ação
no presente.
A fé, como prova das coisas que não se veem, volta-se para as
coisas do passado e confirma nossa confiança em Deus e na
veracidade das coisas que não se veem. Já entramos na
escuridão com segurança e esperança e por isso recebemos
provas e confirmação porque a luz de fato aumentou e nos
proporcionou a iluminação de que precisávamos. O testemunho
que obtivemos depois da prova de nossa fé (vide Éter 12:6) é
evidência que aumenta e fortalece nosso firme fundamento.
A confiança, ação e provas se influenciam uma à outra num
processo contínuo. Esta hélice é como um espiral que se
expande e alarga cada vez mais ao espiralar para cima. Estes
três componentes de fé: confiança, ação e provas, não são
separados e distintos; em vez disso, são interrelacionados,
contínuos e ciclam ao alto. A fé alimenta este processo
contínuo que se desenolve, leva à ação e produz provas que,
por sua vez, fazem com que aumente nossa confiança. Nossa
confiança se torna mais forte, linha sobre linha, preceito sobre
preceito, um pouco aqui e um pouco ali.
Podemos encontrar um exemplo marcante da interação entre a
confiança, a ação e as provas no caso dos filhos de Israel
transportarem a arca do convênio sob a liderança de Josué (vide
Josué 3:7–17). Os irmãos devem lembrar-se de que os israelitas
chegaram à beira do rio Jordão e receberam a promessa de que
as águas se separariam, ou “parariam amontoadas” (Joshué
3:13), possibilitando que passassem em terra seca. É
interessante notar que as águas não se separaram enquanto os
filhos de Israel esperavam que algo acontecesse; em vez disso,
molharam-se as solas dos pés antes das águas se separarem. A
fé dos israelitas se manifestou no fato deles terem posto pé na
água antes que se separassem. Entraram no rio Jordão com
confiança voltada para o futuro nas coisas que se esperavam.
Ao avançarem, as águas se separaram e ao passarem ao outro
lado em terra seca, viram a prova das coisas que não se viam.
Nesta experiência a fé os impeliu à ação e produziu a evidência
das coisas que não se viam mas que eram verdadeiras.
A fé verdadeira se focaliza no Senhor Jesus Cristo e sempre nos
leva à ação. A fé é um princípio de ação que se destaca em
muitas escrituras que conhecemos:
“Porque assim como o corpo sem o espírito está morto, assim
também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26; acrescido de letra
itálica).
“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago
1:22).
“Mas eis que, se despertardes e exercitardes vossas faculdades,
pondo à prova minhas palavras, e exercerdes uma partícula
de fé. . .” (Alma 32:27).
A fé, como princípio de ação, está no centro do processo de
aprender e aplicar a verdade espiritual.

Aprender pela Fé: Agir e Não Receber a Ação


Como é que a fé, o princípio de ação em todos os seres
inteligentes, se relaciona ao aprendizado do evangelho? E o que
significa buscar entendimento pela fé?
Na grande amplidão de todas as criações de Deus, há o que age
e o que recebe a ação (vide 2 Néfi 2:13–14). Como fihos de
Nosso Pai Celestial, recebemos o dom de arbítrio, ou seja a
capacidade e poder de agir independentemente. Dotados de
livre arbítrio, somos agentes cujo papel, na maioria dos casos,
é agir e não receber a ação, principalmente no que diz respeito
à obtenção e aplicação de conhecimento espiritual.
Aprender pela fé e por experiência própria são dois
componentes cruciais do plano de felicidade de nosso Pai. O
Salvador preservou o arbítrio moral através da expiação e fez
com que fosse possível agirmos e aprendermos pela fé. A
rebelião de Lúcifer contra o plano visou destruir o arbítrio do
homem e fazer com que só recebêssemos a ação no
aprendizado aqui na terra.
Considerem, irmãos, a pergunta feita pelo Pai Celestial a Adão
no Jardim do Éden: “Onde estás?” (Gênesis 3:9). Obviamente o
Pai sabia onde estava escondido Adão, mas mesmo assim Ele
fez a pergunta. Por quê? Um Pai sábio que nos ama possibilitou
que seu filho agisse no processo de aprender e não só receber
a ação. Não se tratou de uma advertência só por parte de um
pai para um filho desobediente, como muitos de nós
estaríamos propensos a fazer, talvez. Em vez disso, o Pai
ajudou Adão a aprender a agir e exercer seu arbítrio de forma
ativa.
Lembrem-se, irmãos, de que Néfi desejava conhecer as coisas
que seu pai, Leí, havia visto na visão da árvore da vida. É
interessante notar que o Espírito do Senhor começa a lição com
Néfi por fazer a seguinte pergunta: “Que desejas tu?” (1 Néfi
11:2). É evidente que o Espírito já sabia o que Néfi desejava.
Então, por que fazer a pergunta? O Espírito Santo estava
ajudando Néfi a agir no processo do aprendizado e não só
receber a ação. (Eu gostaria que posteriormente os irmãos
estudassem os capítulos 11 a 14 em 1 Néfi e notassem como o
Espírito fazia perguntas, bem como pedia a Néfi para “olhar,” o
que são elementos ativos do processo de aprendizado.)
Por meio destes exemplos reconhecemos que, como
estudantes, os irmãos e eu devemos agir e ser cumpridores da
palavra e não simples ouvintes que só recebem a ação. Será que
os irmãos e eu somos agentes que agem e buscam o
entendimento pela fé, ou estamos por aqui só esperando que
alguém nos ensine e nos dê sem agirmos? Será que os alunos
que servimos estão agindo e buscando entender pela fé, ou
estão simplesmente esperando receber o ensino e a ação? Será
que os irmãos e eu estamos ajudando aqueles a quem
ensinamos a aprender pela fé? Os irmãos, eu e nossos alunos
devemos ativamente procurar perguntar, buscar e bater (vide 3
Néfi 14:7).
Um estudante que exerce seu arbítrio através de agir de acordo
com princípios corretos abre seu coração ao Espírito Santo e
pede-lhe ensinamentos, poder de testemunho e confimação.
Aprender pela fé requer força física, mental e espiritual e não
mero recebimento passivo. É justamente por meio de nossas
ações sinceras e consistentes inspiradas pela fé que mostramos
ao Pai Celestial e a seu Filho, Jesus Cristo, nossa disposição
para aprender e receber instruções do Espírito Santo. Assim,
buscar entendimento pela fé consiste em exercer o arbítrio
moral de agir conforme o firme fundamento das coisas que se
esperam e receber a prova das coisas que não se veem do único
professor verdadeiro, o Espírito do Senhor.
Contemplem, irmãos, como os missionários ajudam os
pesquisadores a aprender pela fé. Ajudam-os a fazer e cumprir
compromissos espirituais (tais como estudar e orar a respeito
do Livro de Mórmon), assistir às reuniões da Igreja e guardar os
mandamentos. Tudo isso requer que o pesquisador exerça fé e
aja. Um dos papeis principais do missionário é o de ajudar o
pesquisador fazer e honrar os compromissos, ou seja agir e
aprender pela fé. Ensinar, admoestar e explicar, por
importantes que sejam, nunca poderão transmitir ao
pesquisador um testemunho da veracidade do evangelho
restaurado. Somente ao exercer fé pode o pesquisador iniciar a
ação que abrirá caminho ao coração para que o Espírito Santo
possa lhe entregar um testemunho confirmador. Obviamente os
missionários devem aprender a ensinar pelo poder do Espírito.
De importância igual, porém, é a responsabilidade que os
missionários têm de ajudar o pesquisador a aprender pela fé.
O aprendizado de que eu falo extende muito além da mera
compreensão cognitiva e retenção e memorização de
informações. O tipo de aprendizado a que me refiro nos faz
deixar o homem natural de lado (vide Mo sias 3:19), mudar de
atitude (vide Mosias 5:2), e se converter ao Senhor e nunca
mais afastar-se dele (vide Alma 23:6). Aprender pela fé requer
tanto “um coração” como “ uma mente dispostos” (D&C 64:34).
Aprender pela fé é o resultado do Espírito Santo levar o poder
da palavra de Deus até e para dentro do coração. Não se pode
transmitir o aprendizado pela fé de instrutor a aluno através de
uma lição, demonstração ou exercício experimental; em vez
disso, o estudante deve exercer fé e agir a fim de obter
conhecimento por si mesmo.
O jovem Joseph Smith entendia por natureza o que significava
buscar entendimento pela fé. Uma das experiências mais bem
conhecidas da vida de Joseph Smith é a leitrua dos versículos
sobre oração e fé no livro de Tiago do Novo Testamento (vide
Tiago 1:5–6). Este texto inspirou Joseph a dirigir-se a um
bosque perto de sua casa para orar e buscar conhecimento
espiritual. Por favor, irmãos, notem as perguntas que Joseph
havia formulado em sua mente e sentido em seu coração—e
que levou consigo para o bosque. Ele com certeza havia se
preparado para “pedir com fé” (Tiago 1:6) e agir.
Em meio a esta guerra de palavras e divergência de opiniões,
muitas vezes disse a mim mesmo: Que deve ser feito? Quem
dentre todos estes grupos está certo; ou estão todos
igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como
poderei sabê-lo? . . .
Meu objetivo ao dirigir-me ao Senhor era saber qual de todas
as seitas estava certa, a fim de saber a qual me unir. Portanto,
tão logo me controlei o suficiente para poder falar, perguntei
aos Personagens que estavam na luz acima de mim qual de
todas as seitas estava certa . . . e a qual me unir (Joseph Smith
—História 1:10, 18).
Notem que as perguntas que Joseph fez focalizaram não
somente no que precisava saber, e sim no que precisava fazer.
E sua primeira pergunta se tratava de ação e de que se devia
fazer! Sua oração não era simplesmente para saber qual das
igrejas era a verdadeira. Ele perguntou a qual das igrejas
deveria se unir. Ele estava decidido a agir.
Afinal, a responsabilidade de aprender pela fé e aplicar a
verdade espiritual resta individualmente com cada um de nós.
Trata-se de uma responsabilidade cada vez mais séria no
mundo em que atualmente vivemos e ainda viveremos. O que,
como e quando aprendemos é facilitado por um professor, mas
não depende dele nem de métodos de apresentação, nem de
assunto específico, nem do formato da lição.
Na verdade, um dos grandes desafios da nossa vida é buscar
entendimento pela fé. O Profeta Joseph Smith resumiu bem o
processo de aprendizado e resultados que tenho tentado
descrever. Ao responder a um pedido por parte dos Doze
Apóstolos que ele lhes ensinasse, Joseph explicou: “A melhor
forma de obter verdade e sabedoria não é procurar nos livros, e
sim dirigir-se a Deus em oração para obter o ensino divino.” [3]
E em outra ocasião, o Profeta Joseph ilucidou que “ler as
experiências de outrem, e até as revelações que lhes foram
concedidas, jamais nos dará uma visão completa de nossa
própria condição perante Deus e da verdadeira relação com
Ele.” [4]

Significado para Nós como Professores


Nas verdades referentes ao aprendizado pela fé de que falamos
até agora há profundos sentidos implícitos para nós como
professores. Vamos examinar mais ao fundo três destas
entrelinhas.
Entrelinhas 1. O Espírito Santo é o único professor de verdade.
O Espírito Santo é o terceiro membro da Trindade e é o
professor e testemunha da todas as verdades. O Élder James E.
Talmage explicou: “O ofício do Espírito Santo em seu ministério
entre os homens se descreve nas escrituras. Ele é um professor
enviado pelo Pai, e para aqueles que merecem seu ensino Ele
revelará todas as coisas necessárias para o progresso da
alma.” [5]
Devemos sempre nos lembrar de que o Espírito Santo é o
professor que poderá entrar no coração de quem procura
aprender, quando Ele for convidado. De fato os irmãos e eu
temos a responsabilidade de pregar o evangelho pelo Espírito,
sim, o Consolador, como pré-requisito do aprendizado pela fé,
o qual só se consegue pelo Espírito Santo (vide D&C 50:14).
Neste sentido os irmãos e eu somos como os fios fininhos de
vidro usados para criar cabos de fibra ótica, pelos quais os
impulsos de luz são transmitidos à longa distância. Da mesma
forma que tais cabos precisam ser puros para transmitir a luz
eficiente e eficazmente, nós também devemos nos tornar
canais dignos através dos quais o Espírito do Senhor pode
funcionar.
Porém, meus irmãos, devemos cuidar de sempre nos lembrar
de que ao servirmos, somos canais e não a própria luz. “Porque
não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala
em vós” (Mateus 10:20). Não sou eu nem vocês que ensinam.
De fato, qualquer coisa que vocês ou eu fizermos como
instrutores que propositalmente chame atenção a nós, nas
mensagens que apresentamos, nos métodos que usamos ou na
nossa maneira de lecionar, se trata de uma forma de artimanha
sacerdotal que inibe a eficácia do ensino do Espírito Santo.
“Prega pelo Espírito da verdade ou de alguma outra forma? E se
for de alguma outra forma, não é de Deus” (D&C 50:17–18).
Entrelinhas 2. Somos mais eficazes como professores quando
incentivamos e facilitamos o aprendizado pela fé. Conhecemos
o ditado que dar a um homem um peixe lhe dá uma refeição.
Por outro lado, ensinar o homem a pescar dará alimento pela
vida inteira. Como professores do evangelho, os irmãos e eu
não distribuímos peixes, e sim, ajudamos os outros a aprender
a pescar e se tornar auto-suficientes no que diz respeito à
espiritualidade. É mais provável que consigamos alcançar este
objetivo, se motivarmos os alunos a agirem de acordo com
princípios corretos. Neste sentido devemos ajudá-los a
aprender através de fazer. “Se alguém quiser fazer a vontade
dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu
falo de mim mesmo” (João 7:17).
Observem este princípio na prática nestes conselhos dados a
Junius F. Wells por Brigham Young quando o Irmão Wells foi
chamado em 1875 para formar a Organização dos Rapazes da
Igreja:
Nas suas reuniões, o irmão deve começar pelo início da lista de
chamada e pedir a tantos membros quanto o tempo permitir
para prestarem seu testemunho e na próxima reunião, começa
por onde terminou na reunião anterior e chame mais outros
para que todos participem e se acostumem a ficar de pé para
dizer algo. Muitos acham que não tem um testemunho para
prestar, mas, ao ficar de pé, acharão que o Senhor lhes dará
palavras para dizer muitas verdades que antes desconheciam.
Muito mais pessoas obtiveram um testemunho ao levantarem-
se para tentar prestar testemunho do que os que se ajoelharam
para pedi-lo em oração. [6]
O Presidente Boyd K. Packer deu conselhos semelhantes em
nossos dias:
Ó, se eu pudesse ensinar-lhes este princípio. Acha-se um
testemunho ao prestá-lo! Ou mais cedo ou mais tarde na sua
busca de conhecimento espiritual, haverá o que os filósofos
chamam “o salto de fé.” É o momento em que se chega até o
ponto em que a luz não ilumina mais o caminho e se dá mais
um passo ou dois no escuro e logo descobre que mais adiante
o caminho volta a ser iluminada. “O espírito do homem”, como
diz a escritura, “é a lâmpada do Senhor.” (Provérbios 20:27.)
É uma coisa receber um testemunho por meio de leituras ou
por meio dos dizeres de outrem e, de fato, trata-se de um
passo necessário. Mas é outra sentir a confirmação do Espírito
em seu coração de que aquilo que se acaba de testificar é
verdade. Conseguem entender que lhe será dado na hora de
compartilhá-lo? Ao dar o que se tem, recebe-se a reposição
daquilo, com juros! [7]
Tenho observado uma caraterística em comum entre os
professores que mais influenciaram minha vida. Todos eles me
ajudaram a buscar conhecimento pela fé. Recusaram-se a dar
respostas fáceis a perguntas difíceis. De fato, não me
transmitiram a reposta, de forma alguma. Em vez disso,
mostraram-me o caminho e me ajudaram a dar os passos para
achar minhas próprias respostas. Eu nem sempre apreciava esta
técnica, mas pela experiência própria aprendi que não se
lembra por muito tempo, ou talvez nem se lembre, de uma
resposta dada por outra pessoa, mas a reposta que nós
descobrimos ou obtivemos pela fé, dura na memória por toda a
vida. Os ensinamentos mais importantes da vida são captadas e
não ensinadas.
O entendimento espiritual que os irmãos e eu recebemos pela
graça de Deus, e que o Espiríto confirma em nosso coração,
simplesmente não pode ser dado a outra pessoa. Para obter e
possuir pessoalmente tal entendimento, tem que se pagar a
matrícula, ou seja buscar com diligência e aprender pela fé. Só
desta maneira é que o conhecimento que está em nossa mente
pode transformar-se em algo que se sente no coração. Só desta
maneira pode uma pessoa merecer tais bênçãos para si mesma,
em vez de depender do conhecimento e experiências espirituais
dos outros. Só desta maneira poderemos nos preparar para o
porvir. Cabe a nós “buscar conhecimento, sim, pelo estudo e
também pela fé” (D&C 88:118).
Entrelinhas 3. Fortalece-se a fé do(a) instrutor(a) quando ele ou
ela ajuda os outros a buscar entendimento pela fé. O Espírito
Santo, que pode “ensinar [-nos] todas as coisas e [nos] fará
lembrar de tudo” (João 14:26), está até ansioso para nos ajudar
a aprender à medida que exercermos fé em Jesus Cristo. É
interessante observar que tal ajuda divina no aprendizado se
torna muito mais aparente quando ensinamos, ou em casa ou
em nosso cargo na Igreja. Paulo esclareceu aos romanos: “Tu,
pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?”
(Romanos 2:21).
Favor notarem nos seguintes versículos de Doutrina e
Convênios como quem diligentemente ensina convida graça e
instrução do céu: “E vos dou um mandamento de que vos
ensineis a doutrina do reino uns aos outros. Ensinai
diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á, para que
sejais instruídos mais perfeitamente em teoria, em princípio,
em doutrina, na lei do evangelho, em todas as coisas
pertencentes ao reino de Deus, que vos convém compreender”
(D&C 88:77–78; trecho acrescido de letra itálica).
Contemplem o fato de que as bênçãos descritas nestas
escrituras foram destinadas especificamente ao professor:
“Ensinai diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á”—
para que os irmãos, professores, sejam instruídos! Consta-se o
mesmo princípio no versículo 122 da mesma seção de Doutrina
e Convênios: “Dentre vós designai um professor e não falem
todos ao mesmo tempo; mas cada um fale a seu tempo e todos
ouçam suas palavras, para que quando todos houverem falado,
todos sejam edificados por todos, para que todos tenham
oportunidades iguais” (D&C 88:122).
Quando todos falam e ouvem de forma séria e disciplinada,
todos são edificados. Tanto o exercício individual como coletivo
de fé no Salvador convida instrução e fortalecimento pelo
Espírito do Senhor.

Buscar Entendimento pela Fé: Um Caso


Recente
Foi uma bênção para todos nós quando a Primeira Presidência
nos desafiou, em agosto, a ler O Livro de Mórmon até o final do
ano. Em lançar este desafio, o Presidente Gordon B. Hinckley
nos prometeu que observarmos fielmente este programa
simples de leitura nos traria, à nossa casa e a nós mesmos
“uma porção maior do Espírito do Senhor, uma determinação
fortalecida de obedecer aos mandamentos do Senhor e um
testemunho mais forte da realidade vivente do Filho de
Deus.” [8]
Notem como este desafio inspirado se trata de exemplo
clássico do aprendizado pela fé. Em primeiro lugar, os irmãos e
eu não fomos nem mandados nem forçados a ler. Em vez disso,
recebemos um convite de exercer nosso arbítrio como pessoas
autônimas para agir segundo princípios corretos. O Presidente
Hinckley, como professor inspirado, nos incentivou a agir e não
receber a ação. Cada um de nós, afinal, tem que decidir se
aceita o desafio ou não, e se estamos dispostos a perdurecer
até o fim da tarefa.
Segundo, ao fazer o convite, o Presidente Hinck ley nos
encorajou a buscar entendimento pela fé. Não se distribuíram
nem novos materiais de estudo ao membros da Igreja, nem
lições a mais, nem programas criados pela Igreja. Todos nós
tínhamos nosso Livro de Mórmon na mão e desfrutávamos de
um novo caminho ao coração, já alargado por nossa fé no
Salvador ao aceitarmos o desafio da Primeira Presidência.
Assim, estávamos preparados para receber instruções do único
professor verdadeiro, o Espírito Santo.
Ultimamente tenho me impressionado muito com os
testemunhos de tantos membros a respeito de sua experiências
ao lerem o Livro de Mórmon. Aprenderam-se lições espirituais
importantes e oportunas, transformaram-se muitas vidas e
receberam-se as bênçãos prometidas. O Livro de Mórmon, um
coração disposto e o Espírito Santot—é tão simples. Minha fé e
a de muitos irmãos da liderança se fortaleceram ao aceitarmos
o convite do Presidente Hinckley, da mesma forma que já
observamos em tantos dos irmãos que agiram e aprenderam
pela fé.
Como já falei, a responsabilidade de buscar entendimento pela
fé cabe a todos nós como indivíduos e esta obrigação se torna
cada vez mais importante ao passo que o mundo em que
vivemos se torna cada vez mais confuso e inquieto. Aprender
pela fé é essencial para nosso desenvolvimento espiritual
pessoal e para o crescimento da Igreja nestes últimos dias. Que
todos nós realmente tenhamos fome e sede de retidão e que
estejamos cheios do Espírito Santo (vide 3 Néfi 12:6)—para que
possamos aprender pela fé.
Presto meu testemunho de que Jesus é o Cristo, o Filho
Unigênito do Pai Eterno. Ele é nosso Salvador e Redentor.
Testifico que ao aprendermos dele, ao ouvirmos suas palavras e
ao andarmos em humildade conforme o Espírito dEle (vide D&C
19:23), seremos abençoados com forças espirituais, proteção e
paz.
Como servo do Senhor, invoco esta bênção sobre todos os
irmãos, sim, para que até seu desejo e capacidade de buscar
entendimento pela fé—e ajudar os outros a buscarem
entendimento pela fé—cresça e melhore. Esta bênção será fonte
de grandes tesouros de conhecimento espiritual em sua vida
pessoal, em sua família e para aqueles que os irmãos ensinam e
servem. No sagrado nome de Jesus Cristo, amém.

Anotações:
[1] Joseph Smith, comp., Lectures on Faith [Lições sobre a Fé]
(Salt Lake City: Deseret Book, 1985), 1.
[2] Vide Boyd K. Packer, “The Candle of the Lord,” Ensign,
janeiro de 1983, 54.
[3] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints [História da Igreja de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias], ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City:
Deseret Book, 1957), 4:425.
[4] Smith, History of the Church, 6:50.
[5] James E. Talmage, The Articles of Faith [As Regras de Fé],
12th ed. (Salt Lake City: Deseret Book, 1924), 162.
[6] Brigham Young, in Junius F. Wells, “Historic Sketch of the
YMMIA,” Improve ment Era, June 1925, 715.
[7] Boyd K. Packer, “The Candle of the Lord,” Ensign, janeiro de
1983, 54–55.
[8] Gordon B. Hinckley, “A Testimony Vibrant and True,”
Ensign, agosto de 2005, 6
Cercando a Astronomia e os Egípcios

Cercando a Astronomia e os Egípcios: Um


Método de Analizar o Capítulo 3 de Abraão
Kerry Muhlestein

Kerry Muhlestein was an associate professor of ancient scripture at


Brigham Young University when this was published.

Há muito tempo que acredito na ideia do universo se basear em


símbolos, no sentido de uma coisa se referir a outra mais profunda;
uma coisa menor testificando de uma maior, elevando nosso
pensamento do homem para Deus, da Terra para o céu, do tempo
para a eternidade. . . . Deus ensina com símbolos; é sua técnica
preferida de ensino. —Orson F. Whitney [1]
Abraão 3 se trata de uma das seções mais enigmáticas da Pérola de
Grande Valor. O professor e o estudante juntos sentem que há algo
de mais significante neste texto do que estão percebendo. Cada
estudo apurado deste material nos revela mais uma camada de novos
significados, mas mesmo assim ficamos com a impressão que só
conseguimos desvendar a menor parte do que está contido ali.
Embora eu não tenha ilusões de possuir a grande chave que possa
nos abrir esta revelação, creio que há alguns princípios aperceptivos
que esclarecerão mais um pouco esta visão noturna de Abraão.
Certamente os professores podem utilizar vários métodos para
ensinar o terceiro capítulo do livro de Abraão. A maioria dos alunos
tem curiosidade quanto aos nomes exóticos que constam nos
versículos 3 e 13 e vale a pena discutir esta questão. [2]Também são
válidas as indagações a respeito da capacidade astronômica dos
egípcios e como Abraão pode ter contribuído a seu conhecimento.
Sem dúvida, os egípcios dos tempos de Abraão concebiam um
cosmo geocêntrico, enfatizando aquele planeta, a Terra, “em torno do
qual gira o sol (šnnt ỉtn).” [3] Em alguns aspectos a visão de Abraão
parece geocêntrico. [4]Porém, na verdade Abraão adquiriu uma visão
“Colobe-cêntrica” do universo. [5] Contudo, alguns aspectos do
pensamento astronômico egípcio não são “cêntricos” de forma
alguma. Até é possível que a visão de Abraão não caiba em alguma
teoria astronômica que então se conhecia porque o Senhor talvez
tenha mostrado a Abraão um modelo desconhecido até pelos
astrônomos modernos. Porém, eu acho que tropeçamos quando
tentamos entender a visão de Abraão em termos de paradigmas
astrofísicos. [6] É bem provável que o Senhor tenha descrito a
astronomia e os céus de forma alegórica para ensinar princípios de
doutrina e não de astronomia. Embora tentar entender os princípios
de astronomia tenha valor (mesmo sabendo que tais tentativas não
conclusivas às vezes são usadas como arma contra nós [7] ) e ainda
que se possa descobrir um paradigma cósmico compreensível na
narrativa de Abraão, na sala de aula de religião os ensinamentos
alegóricos pesam bem mais.
No que se diz respeito à astronomia, Abraão não era principiante. Ele
nos diz que tem os registros dos patriarcas e que tais registros
contêm “o conhecimento do início da criação e dos planetas e das
estrelas, tal qual se revelaram aos patriarcas”; Abraão continua,
esclarecendo que as informações que ele grava são “para o benefício
de sua posteridade” (Abraão 1:31). Assim sendo, devemos nos
perguntar a nós mesmos o que o conhecimento registrado em Abraão
3 significava para o povo da época de Abraão, como também o que
Abraão queria que nós, sua posteridade dos últimos dias,
aprendêssemos por meio disso? Achar as respostas requere uma
pesquisa intensiva da época de Abraão e das ramificações da visão
para os nossos dias.
É interessante observar que, pelo jeito, Abraão recebeu duas visões
distintas, uma por meio do Urim e Tumim, conforme registrado na
primeira parte do capítulo 3, e outra em que ele fala face a face com o
Senhor a partir dos versículos 10 a 12 (não ficou bem claro a que
ponto exato Abraão pára de ouvir o Senhor pelo Urim e Tumim e
passa a falar com ele face a face). De fato, a primeira parte do
capítulo pode ou não ter sido uma visão; é possível que Abraão visse
as estrelas de olho nu ao conversar com o Senhor por meio do Urim e
Tumim a respeito daquilo que vira. [8] A segunda parte é certamente
uma visão. Em cada uma destas visões Abraão vê algo do sistema
cósmico, que o Senhor usa de forma aperceptiva para ensinar
princípios de doutrina. [9] Em ambas as visões os princípios
ensindados são semelhantes, mas a primeira visão parece tratar
destes princípios de forma geral e na segunda se entra em mais
detalhes específicos. Para ilucidar as lições que o Senhor ensinou a
Abraão—e que nos ensina através de Abraão—devemos primeiro
fazer umas perguntas.

Os Propósitos da Astronomia
Para compreendermos os símbolos que o Senhor usa nesta
revelação para Abraão, devemos nos perguntar: “Por que o Senhor
está conversando com Abraão acerca das estrelas?” O Senhor muitas
vezes ensina seus profetas a respeito dos céus, porém ele nem
sempre lhes ensina a mesma coisa nestes encontros. Por exemplo,
quando Moisés aprende que Deus tem muitas criações, é para ajudá-
lo a compreender a vastidão da grande obra de Deus e o papel
central do homem nesta obra (vide Moisés 1:32–39). Mesmo não
sabendo o que Joseph Smith aprendeu de Deus sobre os céus, é
claro que ele aprendeu algo que o ajudou a entender os graus de
glória para os quais a humanidade se destina (vide D&C 76:70–71,
96–98). Mas por que foi revelada a Abraão uma visão das estrelas e
dos planetas? Qual foi o motivo disso?
O próprio Senhor nos dá uma resposta parcial a esta pergunta:
“Abraão, mostro-te estas coisas antes de ires ao Egito para que
declares todas estas palavras” (Abraão 3:15). Quais são as palavras
que o Senhor queria que Abraão declarasse? Se é que o Senhor se
referiu às palavras utilizadas para descrever a rotação de Colobe, a
Terra, a lua e os outros corpos celestes, é possível que o Senhor
simplesmente quisesse que Abraão ensinasse astronomia aos
egípcios. O relato da viagem de Abraão ao Egito que se encontra em
Gênesis enfatiza que Abraão se enriqueceu lá (vide Gênesis 13:2).
Talvez o Senhor tenha usado dos conhecimentos astronômicos de
Abraão para apresentá-lo na corte de Faraó, onde se tornaria rico e
assim voltaria à terra da promissão com riquezas e poder. Porém a
frase “todas estas palavras” indica que era para Abraão ensinar não
somente a astronomia e sim os princípios do evangelho que o Senhor
lhe havia explicado por meio da astronomia.

Símbolos Egípcios
Se este for o caso, por que o Senhor escolheu a astronomia como
meio simbólico de transmitir sua mensagem? Para que utilizar este
conjunto de símbolos? Naturalmente, o Senhor não nos deu uma
resposta direta a esta pergunta; mesmo assim há certas conclusões
que podemos deduzir com um grau elevado de confiança.
Obviamente este não é o lugar certo para fazer um análise detalhado
da astronomia egípcia, mas vale destacar certas ideias para que
entendamos a magnitude da linguagem simbólica que Abraão iria
empregar no Egito.
É indiscutível que os egípcios davam muita importância aos
movimentos e domínios dos corpos celestes. Por exemplo, depois do
desaparecimento anual de Sírius (Sopdet), os egípcios sabiam que o
resurgimento da Estrela do Cão geralmente coincidia com a
inundação anual do Nilo. A inundação se tratava de uma espécie de
renascimento e assim o renascimento da estrela era presságio do
renascimento pelo qual o Egito passaria todos os anos. Também se
acreditava que Sírius era guia dos falecidos ao fazerem sua jornada
pelas estrelas. [10]
Os egípcios destacavam Sírius entre mais trinta e cinco estrelas
conhecidas como decanatos devido a seu papel no sistema complexo
de calendário usado pelos egípcios em que um decanato substituia
outro de dez em dez dias. Nosso conhecimento deste sistema provém
de uma série de desenhos astronômicos pintados em caixões
provindos da época logo antes da chegada ao Egito de Abraão. Estes
desenhos deixam claro que na época de Abraão, os egípcios davam
muita importância ao movimento das estrelas. [11] Isso se comprova
ainda mais por meio de um dos títulos antigos do sacerdote principal
de Heliópolis (On, na Bíblia), que era conhecido como chefe dos
observadores astrais.
Muitos planetas e estrelas desempenharam um papel especialmente
importante na cultura dos egípcios. Acreditavam que seus deuses
haviam saído da Terra para residir nos céus; [12] assim a lua se
relacionava com o deus Thoth, o sol com Rá e Orion com o deus
Osíris. Os planetas de Júpiter, Saturno e Marte eram de importância
especial para o rei e todos eles se associavam com o deus Hórus.
Ademais, o rei teria prestado atenção especial àquilo que Abraão
dizia acerca da “luz maior, que foi posta para governar o dia” (Abraão
3:6) porque o rei se vinculava integralmente a Rá, o sol, e a sua
jornada. [13]
As informações sobre as estrelas também eram importantes para o
rei. As estrelas tais como Gemini e Denebe eram tidas como
marcadores da órbita do sol pelas estrelas. Uma das imagens iniciais
mais comuns se referia à crença que o rei se destinava a se tornar
uma das estrelas circumpolares ( ỉḫmw-sk, ou seja, as estrelas “que
não eram sujeitas à destruição” porque não desapareciam). [14] Na
vida após esta o rei poderia também se tornar Sírius. [15] Além disso,
via-se Sírius como sendo sua irmã, [16] que talvez se explique pelas
referências em que Sírius também se relaciona com Isis [17] (ao
passo que o rei morto se torna Osíris). Ademais, Sírius se relacionava
com a filha do rei como também com seu pai. [18] Os egípcios
descreviam Orion tanto como o rei [19] como o irmão do rei [20] e
Vênus era sua filha [21] e guia. [22] Amenemhet III, provavelmenete
um contemporâneo de Abraão, gravou no topo de seu pirâmide que
ele era “mais elavado que as alturas de Orion.” [23]
Estas referências amplamente ilustram este ponto: o rei dos egípcios
e sua corte estavam cientes e extremamente interessados nos
movimentos do sol, a lua, os planetas e as estrelas. Em nossa era, a
de grandes cidades e iluminação elétrica, é difícil entender o quanto
que estes corpos celestes faziam parte da vida dos egípcios. A
maioria dos estudantes de hoje não veem com frequência as noites
cheias de estrelas devido à poluição luminosa. As luminárias noturnas
naturais eram muito deslumbrantes no Egíto onde a maioria das
noites estavam bem claras e passavam sem nuvens. As luminárias do
céu noturno eram grandes e dominavam o cenário da noite e
penetravam a mente e visão de toda alma egípcia. A sua presença
imediata era maior para estes habitantes antigos do que a maioria de
nós imaginaríamos. Devido a esta visão poderosa e intrusiva, queira
ou não, as estrelas falavam com força aos egípcios. Seus
movimentos e poder constituiam uma força inescapável para a mente
dos antigos.
Ao meu ver, é por isso que Abraão descobriria que a linguagem
astronômica seria uma forma significativa de se comunicar com os
egípcios. A astronomia providenciou a Abraão um fundamento de
interesse comum sobre o qual ele edificaria um relacionamento com
eles de confiança e respeito, assim como os missionários fazem hoje
em dia. Se o Senhor quisesse encontrar uma forma já conhecida e
persuasiva como meio de ensinar o evangelho a Faraó e seu povo, a
astronomia seria a escolha certa porque era um assunto em que os
egípcios se interessavam, porque estavam acostumados ao fato dos
corpos celestes transmitirem ensinamentos simbólicos e também
porque os movimentos e princípios das estrelas representavam uma
forma poderosa de transmitir a mensagem.
Afinal das contas, o Senhor ensinou a Abraão e aos egípcios pelo
simbolismo, como ele geralmente costuma fazer. Ao reconhecermos
e entendermos estes símbolos, conseguimos desvendar informações
específicas com relação a esta revelação de Abraão e ao mesmo
tempo nos tornamos cada vez mais acostumados à linguagem
simbólica do evangelho. O estudar destes símbolos ajuda nossos
estudantes a estudar outros por si mesmos e ajuda-os a desenvolver
maior capacidade e confiança ao analizarem as escrituras.
Há outra lição para aprendermos. Quando observamos o trabalho
minucioso que o Senhor fez para ajudar um de seus maiores profetas
a preparar-se para pregar o evangelho entre um povo estrangeiro,
entendemos o quão importante é esta obra para ele. Ao gravar esta
experiência para sua posteridade, Abraão nos enfatiza que o Senhor
quer tanto que nos preparemos para cumprirmos com nosso dever
dentro do convênio abraâmico, o de tornar o nome do Senhor
conhecido pelo mundo inteiro. De certa forma, vemos Abraão passar
pelo centro de treinamento missionário do Senhor, pois nota-se que
Abraão se arma com a mensagem e com o conhecimento (o
entendimento de um assunto de importância para os ouvintes em
perspectiva) para pregar o evangelho.

Pontos Governantes do Universo


Para ilucidar os princípios ensinados nesta mensagem astronômica,
criei modelos que consistem em círculos concêntricos como recursos
visuais (embora não se saiba se os egípcios usavam círculos
concêntricos naquela época). O estudo destes modelos nos força a
perguntar se devemos colocar um corpo celeste no centro ou na
órbita ultraperiférica. Pode se justificar as duas opções. Como já
notamos, a astronomia daquela época tinha uma visão geocêntrica.
Em outras palavras, a Terra para eles estava no centro do modelo e
os outros corpos descreviam órbitas periféricas. Tal modelo teria sido
bastante interessante para os egípcios. Do nosso ponto de vista
astronômico moderno, tendemos a pensar que o centro se trata do
ponto de controle ou de governança. O sol está no centro de nosso
sistema solar, governando o sistema pela atração gravitacional do sol.
O sol gira em torno de um ponto central em nossa galáxia
(provalemente um buraco negro) e até as galáxias giram em torno de
uma atração gravitacional central na nossa superaglomeração de
galáxias. [24] Na analogia que o Senhor deu aos egípcios através de
Abraão, se a Terra está no centro, não pode ser o ponto central que
governa, e sim o ponto mais distante que engloba tudo. Isto concorda
com o pensamento egípcio em muitos aspectos, embora pareça
contrariar o ponto de vista geocêntrico. Para os egípcios, cercar algo
era um símbolo poderoso de controle e governança, muitas vezes
incluindo um elemento de proteção daquilo que está cercado. O poder
sobre a criação ficava a cargo de Rá, o qual cercava a Terra. Os
mortos almejavam tal poder por meio de “passar (dbn) pelos dois
céus, girando ao redor (pẖr) das duas terras.” [25] O rei falecido é
visto como sendo até mais poderoso que os deuses, havendo sido
descrito como aquele que “cercou (šn.n=k) todos os deuses em seus
braços, suas terras e todas as suas posses. Ó Rei, tu és grandioso,
cercas (dbn) como o círculo que cerca (pẖr) os grandes
governantes.” [26]Do ponto de vista dos egípcios, é aquilo que cerca
que controla e não aquilo que está no centro. Assim, num modelo
geocêntrico, a visão recebida por Abraão coloca Deus nas órbitas
periféricas.
Por outro lado, há algumas evidências que convém colocar Colobe,
ou seja o ponto governador, no centro de nosso modelo. Michael
Rhodes observou que a etimologia de Colobe pode ter base na “raiz
semítica QLB, cujo significado fundamental é o de ‘coração, centro,
meio.’” [27] Isto é comprovado pela explicação de Joseph Smith da
figura central do hipocefálico da fac-símile número 2 como sendo
Colobe. Estas ideias sugerem de um modelo com Colobe no centro.
O ponto central de qualquer modelo se trata totalmente de uma
questão de perspectiva. A Terra descreve órbita em torno do sol, mas
da nossa perspectiva parece que o sol gira em torno da Terra. Devido
ao fato de Faraó já acreditar que o sol girava em torno da Terra e que
outros corpos importantes traçavam jornadas cíclicas em torno da
Terra e do sol, de modo que ele facilmente teria compreendido o
conceito de orbes celestes girando em torno de si em círculos
concêntricos. Assim as informações dadas a Abraão nos versículos 3
a 7 teriam feito sentido para Faraó. Por cada orbe que se conhecia
tinha outro acima dele até chegar ao corpo governador. Faraó poderia
facilmente imaginar um cosmo desta forma:

Gráfico Nº 1. O coneito do cosmo de Faraó


Por fim, não podemos saber de que forma Abraão ou os egípcios
teriam desenhado seu modelo, com o ponto governador no centro ou
com um corpo celeste que gira em torno de tudo. Decidi fazer meus
gráficos com o ponto governador no centro, pois se trata da
abordagem mais intuitiva e portanto a mais fácil de se entender. Para
nós, dizer que Deus está no centro significa que Ele representa o
ponto focal e governador, que, ao meu ver, é preferível do ponto de
vista pedagógico. Assim, para fins desta apresentação, o cosmo que
Abraão descrevia poderia parecer assim:

Gráfico Nº 2. O conceito de Abraão do cosmo


Esta imagem do cosmo nos ajuda a imaginar o que Abraão ensinava
a Faraó. As informações mais vitais se encontram nos versículos 8 e
9: “E onde esses dois fatos existirem haverá outro fato acima deles,
isto é, haverá outro planeta cujo cáculo de tempo será ainda mais
longo; e assim haverá o cálculo do tempo de um planeta acima de
outro, até que te aproximes de Colobe; e Colobe segue o cáculo do
tempo do Senhor e Colobe está perto do trono de Deus a fim de
governar todos os planetas pertencentes à mesma ordem daquele em
que te encontras.” Aqui o conceito de planetas em órbita e o cálculo
de seus tempos governadores foi empregado de forma aperceptiva
para explicar que um ser—e não planeta—era a fonte governadora.
Tal ideia daria muito em que pensar ao glorioso rei egípcio.
Ele teria compreendido claramente que havia muitos governantes na
Terra e que cada um deles possuia um nível diferente de poder. Por
exemplo, os egípcios sabiam que havia um governante em
Jerusalém, mas o consideravam subserviente ao Egito e assim ele
estaria numa órbita inferior à dos egípcios. Faraó provavelmente
sabia também dos reis da Mesopotâmia, talvez o Rei Ur-Nammu da
cidade de Ur. Este líder teria sido visto como ocupante de uma órbita
mais próxima à do rei egípcio. O reino nubiano de Cuxe havia se
tornado poderoso até aquela época, mas também era dominado pelos
egípcios.. É muito provável que o rei egípcio se considerasse o orbe
que dominava as órbitas de liderança, ou seja o grande poder central
que controlava os líderes terrenos.

Gráfico Nº 3. Universo centralizado em Faraó


O que teria sido surpreendente, porém lógico, era o racioncínio de
que se havia dois fatos, sendo um acima do outro, deveria haver
outro ainda mais elevado (vide v. 8). Assim, se Faraó estivesse acima
do rei de Cuxe, haveria alguém acima de Faraó. A afirmação de
Abraaõ teria esclarecido que este princípio se repetiria, ultrapassando
Faraó até chegar a Deus. A paradigma apresentada a Faraó
mostraria que ele não era o governante mais alto, afinal.
Rei de Jerusalém
Rei Ur-Nammu
Rei de Cuxe
Faraó
Deus acima de todos

Gráfico Nº 4. Universo governado por poderes


mais altos
O ensino de astronomia teria captado a atenão do rei. Os princípios
de governo ensinados de forma aperceptiva teriam feito sentido a ele,
permitindo que Abraão ensinasse que a humanidade deve temer a
Deu e não ao homem, mesmo um homem que se considerava semi-
divino. Mas a lição não parou por aí. Estes círculos concêntricos de
governança e ordem poderiam ser utilizados para ensinar a
organização do reino de Deus na Terra, que nos dias de Abraão
funcionava sob a ordem partriarcal. Desta forma nós, Abraão e Faraó
entendemos que seguimos as órbitas de governança desde nós
mesmos até nossos pais, avós e assim por diante até chegar à
pessoa que presta contas a Deus e assim descobrimos que Deus é o
ponto final de governança e foco.
Meu filho
Minha esposa e eu
Nossos
pais
Nossos avós
A ordem patriarcal

Gráfico Nº 5. A ordem patriarcal


A propósito, podemos também usar este modelo para entender o
governo atual da Igreja, mostrando que o simbolismo de Abraão 3 é
válido tanto para a geração de Abraão como para a nossa.
Mestres familiares
Presidente do Quórum dos Élderes
Bispo
Presidente de estaca
Conselho dos Doze,
Primeira Presidência
Governo da Igreja

Gráfico Nº 6. Governo da Igreja


Esta vista do universo com Deus no centro ensina a Abraão, aos
egípcios e a nós mais uma mensagem poderosa. Mesmo dentro do
contexto do evangelho é fácil focalizar em vários princípios sem
relacioná-los ao grande centro, Deus. Por exemplo, é fácil discutir a
modéstia, a honestidade, a Palavra de Sabedoria ou a lei do dízimo
sem conectá-las ao o miolo do evangelho: Deus, seu Filho e a
expiação. E até estes princípios edificantes podem nos destrair se
não os vemos no seu contexto global. O Presidente Boyd K. Packer
descreveu a expiação como sendo “a própria raiz da doutrina cristã.
Podemos saber muito a respeito dos ramos do evangelho, mas se só
conhecermos os ramos e se estes não fizerem contato com as raízes
(se forem separados da verdade central), não haverá nem vida nem
substância nem redenção neles.” [28] Ademais, num discuro no
serviço devocional da BYU, Thomas B. Griffith disse: “Se o professor
não entende o vínculo entre o assunto que leciona e a expiaçao de
Cristo, é porque ou não pensou muito no assunto ou não deve falar
na Igreja.” [29] Quando se entende a visão de forma correta, a ideia
de Deus no centro, conforme apresentada em Abraão 3, nos ajudará
a lembrar-nos de que todos os aspectos do evangelho são
governados desde o grande centro: Deus, seu Filho e a expiação.
As analogias baseadas no que Abraão viu dos céus aumentam
porque Deus já de imediato lhe mostra uma visão ainda mais ampla
de suas criações: “E ele disse-me: Meu filho, meu filho (e sua mão
estava estendida), eis que te mostrarei todas elas. E ele pôs a mão
sobre meus olhos e eu vi aquelas coisas que suas mãos haviam fetio;
e eram muitas. E elas multiplicaram-se ante meus olhos e não
consegui ver seu fim” (Abraão 3:12). Abraão viu cada vez mais na
visão e Deus lhe ensinou mais ainda.

A Relação de Deus com Abraão e conosco


Em Abraão 3, Deus esclareceu as bênçãos do convênio abraâmico,
mas é difícil saber até que ponto o convênio havia sido estabelecido
com Abraão a essa altura. Em Gênesis 12, logo antes de ir ao Egito,
Deus disse a Abraão que o faria uma grande nação e que abençoaria
aqueles que abençoassem Abraão e amaldiçoaria aqueles que
maldissessem Abraão (vide Gênesis 12:2–3). Estes são dois dos
aspectos mais importantes do convênio abraâmico. [30] É uma
tendência natural considerar a visão registrada em Abraão 3 um
registro mais amplo da promessa do Senhor a Abraão quando “o
levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se
as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência”
(Gênesis 15:5), só que no relato de Gênesis a promessa é dada
depois da jornada ao Egito. Talvez haja um problema na cronologia
do relato de Gênesis. Durante este mesmo evento, Abraão fez
sacrifícios, dividiu as porções pela metade e passou perante eles no
que quase certamente simboliza “lavrar um convênio,”—uma tradução
literal da expressão hebraica—com Deus. Ao aceitar seu sacrifício, o
Senhor faz convênio com Abraão de que este terá uma terra de
promissão (vide Gênesis 15:9–21), que se trata de mais um aspecto
importatne do convênio. Porém é só depois que o Senhor disse a
Abraão: “Farei convênio entre mim e ti,” que outros aspectos do
convênio lhe são confirmados, inclusive a mudança de seu nome
(Gênesis 17:2–8).
Também é difícil saber se o convênios foi estabelecido por etapas—
como é o caso conosco que entramos no convênio primeiramente
pelo batismo e depois pelo casamento celestial—ou se foi recebido
de vez e depois reconfirmado de várias formas em várias ocasiões,
ou se há problemas com o texto atual de Gênesis. [31] Portanto, não
podemos ter certeza da época exata e até que ponto Abraão havia
chegado quando recebeu a visão contida em Abraão 3, mas é
evidente que ele sabia algo a respeito dele e a parte do convênio que
se trata de sua descendência foi-lhe confirmada ao passo que via, de
maneira sobrenatural, as estrelas, [32] pois Deus lhe disse:
“Multiplicarei a ti e a tua semente depois de ti, como estas; e se
puderes contar o número das areias, assim será o número de tuas
sementes” (Abraão 3:14). É interessante observar que no meio de
uma visão destinada a intruí-lo quanto àquilo que devia ensinar aos
egípcios, relembra-se a Abraão que os céus têm vínculo com o
convênio que Deus fez com ele.
As anologias que Deus emprega nesta visão mais ampla são mais
bem-elaboradas do que aquelas que empregou no início. Naquelas
primeiras explicações Deus havia focalizado em entidades não
humanas que giram em torno do centro onde ele reside. Na segunda
visão Deus aplica os mesmos princípios ao indivíduo. Depois de
revelar a Abraão a vastidão de suas criações, Ele torna a falar dos
corpos celestes que descrevem órbitas, indicando que Colobe é a
maior das estrelas, porque é a que está mais próxima a Ele, e que a
lua, a Terra e as estelas existem entre outros planetas cujas órbitas
estão ou acima ou abaixo delas (vide Abraão 3:16–17). Segue de
imediato uma comparação aos espíritos, ou inteligências, que,
conforme esclarece Deus, sempre têm existido e sempre existirão
(vide Abraão 3:18). Todos os seres, como as estrelas, descobrirão
que há outros seres menos inteligentes e mais outros que são mais
inteligentes que eles mesmos. A exceção é Deus: “Há dois espíritos,
sendo um mais inteligente que o outro; haverá outro mais inteligente
que eles; eu sou o Senhor teu Deus, eu sou mais inteligente que
todos eles” (Abraão 3:19). Este ponto é semelhante ao que se
apresentou na primeira visaõ de Abraão, só que focaliza mais na
universalidade bem como na individualidade deste princípio.
Para demonstrar mais claramente como funciona o princípio que
havia explicado, O Senhor logo disse o seguinte: “O Senhor teu Deus
enviou seu anjo para livrar-te das mãos do sacerdote de Elquena”
(Abraão 3:20). Que curiosa é esta declaração! Parece não haver
vinculo entre esta declaração e os grandes princípios que Deus acaba
de apresentar. Contudo, ela comprova exatamente o princípio que
Deus enfatizou. A grandeza de Deus se torna clara. Ele é ciente do
indivíduo, ele o Criador da vasta extensão de corpos celestes sem
número que Abraão acaba de ver, e até daqueles que não se viram,
pois “não conseguiu ver seu fim” (Abraão 3:12). Ele é o Todo-
poderoso, pois “nada há que o Senhor se proponha a fazer que não
faça” (Abraão 3:17). E por fim, ele enfatiza que é maior que todas as
outras coisas.
Imagino que ver o Senhor face a face e contemplar sua vasta criação
(evidentemente mais que Moisés viu de início, conforme Moisés
Capítulo 1) devia ter sido algo assombroso e humilhador e suponho
que, até certo ponto, Deus queria causar tal efeito. Mas Deus não
deixou Abraão por aí. Logo depois que Deus ajudou Abraão a
reconhecer quão pequeno era em comparação com a imensidão da
divindade, Deus relembra Abraão de seu relacionamento pessoal com
ele, pois afinal foi este glorioso Deus que se preocupou tanto com
Abraão que estendeu a mão e salvou-o. O lembrete do convênio que
se encontra no versículo 14 devia ter causado um sentimento similar.
Abraão está no meio de perceber a grandeza das criações de Deus e
o Senhor o relembra que pretende fazê-lo um criador de igual
grandeza no que diz respeito a sua descendência. Aqui Abraão
encontra um Deus que o assombra pela sua majestade e logo o
relembra de quão pessoal é seu relacionamento e de quanto Deus lhe
quer bem. Isso se comprovou no que Deus havia feito por ele e que
ainda faria. Precisamos entender que tal como era para Abraão
poderá ser para nós. Estamos lidando com um Deus pessoal,
magnânimo e majestoso que nos ajudará a livrar-nos de nossas
dificuldades.
Abraão aprendeu muito a respeito de Deus e de seu relacionamento
pessoal com Ele, porém também aprendeu a respeito do
relacionamento de cada indivíduo com Deus.
Não obstante, há ainda mais. No modelo de esferas orbitais cada
uma é influenciada pelas esferas de cima e, por sua vez, afeta as de
baixo. Mesmo sendo dependentes de Deus, também somos
inseparavelmente ligados uns aos outros ao aproximarmo-nos de
Deus. Não podemos nos aproximar de Deus independentemente de
nosso relacionamento com ourtras pessoas. O próprio Senhor disse:
“Portanto, se trouxerdes a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que
teu irmão tem alguma coisa contra ti, Deixa ali diante do altar a tua
oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e
apresenta a tua oferta” (Mateus 5:23–24).

A Inteligência aos Olhos de Deus


Ao examinarem a descrição feita por Deus de nossos
relacionamentos uns com os outros e a clara declaração de que
alguns seres são mais inteligentes que outros, os estudantes muitas
vezes se sentem inquietos. As palavras e comparações estabelecem
algo parecido com a Grande Cadeia da Existência. [33] É claro que
uma hierarquia faz parte desta descrição do universo. Naturalmente
uma questão que surge na nossa sociedade igualitária é por que é
que alguns seres são mais inteligentes que outros? Esta questão nos
leva a uma discussão do próximo assunto na revelação do Senhor
para Abraão. Ao revisarmos este conceito, devemos nos
conscientizar das duas definições de inteligência que se encontram
nas escrituras: (1) a identidade não criada de cada indivíduo e (2) “luz
e verdade.” Não estou convencido de que as duas definições sejam
distintas e não vinculadas uma à outra. Devemos levar em conta que
os princípios de que estamos para discutir quanto às inteligências são
vinculados aos princípios astronômicos que acabamos de revisar. Os
dois se destinam a nos ajudar a entender nossa natureza e nosso
estado perante Deus. É Deus que passa de um princípio para outro
nesta revelação e ao estudarmos seu raciocínio chegaremos a
entender o que ele ensina a Abraão e a nós—a posteridade de
Abraão—sobre nossa inteligência e nossa dignidade perante ele.
A seção 93 do livro de Doutrina e Convênios é valiosa para nós ao
tentarmos responder a pergunta de por que certos seres são mais
inteligentes que os outros. Esta escritura nos ajuda a definir
inteligência. Ela diz: “A inteligência, ou seja, a luz da verdade, não foi
criada nem feita nem verdadeiramente pode sê-lo” (D&C 93:29), e, “A
glória de Deus é inteligência ou, em outras palavras, luz e verdade”
(D&C 93:36). Isso indica que o grau de inteligência que possuimos
depende da quantidade de luz e verdade que já recebemos.
Esta seção também ensina como se recebe luz e verdade. Descreve
o processo pelo qual o Salvador passou, dizendo: “No princípio ele
não recebeu da penitude, mas recebeu graça por graça; e a princípio
não recebeu da plentitude, mas continuou de graça em graça, até
receber a plenitude” (D&C 93:12–13). Então este exemplo deixado
por Cristo é aplicado a nós: “E homem algum recebe a plenitude a
não ser que guarde seus mandamentos. Aquele que guarda seus
mandamentos recebe verdade e luz, até ser glorificado na verdade e
conhecer todas as coisas. . . . Toda verdade é independente para agir
por si mesma na esfera em que Deus a colocou, como também toda
inteligência” (D&C 93:27–28, 30). Conhecer todas as coisas, ou obter
conhecimento, é muito importante. O Profeta Joseph Smith nos
ensinou: “O homem não se salva mais rapidamente do que recebe
conhecimento, pois se não obtiver conhecimento, será levado ao
cativeiro por um poder maligno do outro mundo porque os espíritos
malignos terão mais conhecimento e, portanto, ter’ao mais poder que
os homens aqui na Terra. Daí a necessidade de receber revelação
para nos ajudar e nos dar conhecimento das coisas de Deus.” [34]
As passagens da seção 93 nos lembram que a quantia de inteligência
que recebermos dependerá diretamente de nosso aproveitamento da
luz e verdade que já recebemos. Quando obedecermos à luz e à
verdade que possuímos, receberemos mais. Se desobedecermos ou
não a aplicarmos, perderemos o que havíamos obtido (vide 2 Néfi
28:30). Tenho observado que ao contemplarmos este princípio, se
pausarmos para calmamente perguntar ao Senhor quais são os
princípios que atualmente possuímos, mas não seguimos, o Espírito
nos responderá à pergunta.
Todas estas informações sobre a necessidade de obedecer à luz e à
verdade que recebemos se refletem nas visões de Abraão: “E assim
os provaremos para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu
Deus lhes ordenar” (Abraão 3:25). Suas visões também nos ensinam
o princípio de que se obedecermos à verdade que recebemos, ser-
nos-á dada mais até estarmos cheios de luz e verdade, mas se não
obedecermos ao que já temos, perderemos a luz e verdade que
anteriormente foram nos dadas: “E os que guardarem seu primeiro
estado receberão um acréscimo; e os que não guardarem seu
primeiro estado não terão glória no mesmo reino que aqueles que
guardarem seu primeiro estado; e os que guardarem seu segundo
estado terão um acréscimo de glória sobre sua cabeça para todo o
sempre” (Abraão 3:26).
Talvez perguntemos: Por que Deus deseja nos provar? E por que ele
dá mais àqueles que recebem e retira daqueles não lhe obedecerem?
O princípio que esclarece estas questões foi apresentado de forma
muito lúcida pelo Élder Dallin H. Oaks:
Em contrapartida às instituições do mundo que nos ensinam a
conhecer as coisas, o evangelho de Jesus Cristo nos desafia a tornar-
nos seres de grande valor.
Muitas passagens da Bíblia e das escrituras modernas falam do juízo
final em que as pessoas receberão um galardão de acordo com seus
atos ou obras ou o desejo sincero de seu coração. Mas há ainda
outras passagens que ampliam esta ideia, referindo-se ao fato que
seremos julgados de acordo com o estado que atingirmos. . . .
Baseando-nos em tais ensinamentos, concluímos que o julgamento
final não se tratará de uma simples avaliação do total de atos bons e
maus, ou seja, o que fizemos. Em vez disso, será um reconhecimento
do resultado de nossas ações e pensamentos, ou seja, o que somos.
Não basta só agir conforme os princípios corretos sem seriedade. Os
mandamentos, ordenanças e convênios do evangelho não se tratam
de uma relação de depósitos numa conta celestial. O evangelho de
Jesus Cristo é um plano que nos ensina a nos tornar aquilo que
Nosso Pai Celestial deseja que nos tornemos. [35]
Acrescentando os ensinamentos do Élder Oaks aos princípios que se
encontram na seção 93, concluímos que nos encheremos de luz e
verdade na mesma proporção que obedecemos à luz e verdade que
já temos. As nossas perspectivas no juízo final serão determinadas
em grande parte pelo tipo de pessoa que somos e se conseguirmos
tornar-nos seres cheios de luz e verdade. Naturalmente a quantia de
luz que recebemos depende tanto de nossa obediência como de
nossa capacidade de receber a graça através de nossos esforços
(vide D&C 93:12–13, 20). De certa forma receber a graça se
asemelha ao resgate de Abraão pelo Senhor quando o profeta estava
no altar. Em meio de nossos esforços de adquirir luz e verdade e
progredir, nunca devemos esquecer-nos de que Deus quer nos ajudar
e tem o poder de levar a efeito seus desejos. [36] Afinal, “não há nada
que o Senhor teu Deus se proponha a fazer que não faça” (Abraão
3:17).
Estes princípios parecem ser as doutrinas culminantes da visão de
Abraão. A analogia abraâmica dos princípios astronômicos mostra
que existe uma ordem e há certos níveis de progresso dentro desta
ordem. O princípio central que se ensina é que o objetivo daquele
progresso coincide num ponto, isto é, Deus. Podemos perguntar-nos:
O que Deus queria que Abraão aprendesse quando lhe mostrou a
visão? O que foi que ele queria que Abraão ensinasse aos egípcios?
E o que ele queria que Abraão nos ensinasse ao relatar-nos a visaõ?
Entre muitas outras coisas um dos princípios predominantes é que
Deus queria ensinar a Abraão, aos egípcios e a nós a respeito de
nosso relacionamento com ele a vários níveis. Deus é o ponto focal
de tudo; ele é o Criador e força motor de tudo no universo. Enfim,
embora Deus esteja acima de nós, podemos progedir em direção a
ele e o capítulo 3 do livro de Abraão nos ensina de forma magistral
acerca do que é e o que poderá ser nosso relacionamento com Deus.

Notas
[1] Orson F. Whitney, “Latter-day Saint Ideals and Institutions” [Ideais
e instituições dos Santos dos Últimos Dias], Improvement Era, August
1927, 851, 861.
[2] Um resumo sucinto disso se encontra em Richard D. Draper, S.
Kent Brown, e Michael D. Rhodes, The Pearl of Great Price: A Verse-
by-Verse Commentary (Salt Lake City: Deseret Book, 2005), 273.
[3] Sinuhe B 212–13, conforme Friedrich Vogelsang e Alan H.
Gardiner, Literarische Texte des Mittleren Reiches (Leipzig, Germany:
H.C. Hinrichs’sche Buchhandlung, 1908), table 7a. Este texto tem
origem na era abraâmica.
[4] Um excelente ensaio sobre este ponto de vista se encontra em
John Gee, William J. Hamblin, e Daniel C. Peterson, “‘And I Saw the
Stars,’ The Book of Abraham and Ancient Geocentric Astonomy,” in
Astronomy, Papyrus, and Covenant, ed. John Gee and Brian M.
Hauglid (Provo, UT: FARMS, 2005), 1–16.
[5] Michael D. Rhodes e J. Ward Moody, “Astronomy and the Creation
in the Book of Abraham,” em Astronomy, Papyrus, and Covenant, ed.
John Gee and Brian M. Hauglid (Provo, UT: FARMS, 2005), 17–35.
Uma dissertação excelente de como os dois sistemas funcionama em
conjunto se encontra em Richard Lyman Bushman, Joseph Smith:
Rough Stone Rolling (New York: Alfred A. Knopf, 2005), 454–55.
[6] Kerry Muhlestein, “Approaching Understandings in the Book of
Abraham,” em The FARMS Review of Books 18, no. 2 (2006): 231.
[7] Dan Vogel e Brent Lee Metcalfe, “Joseph Smith’s Scriptural
Cosmology,” em The Word of God, ed. Dan Vogel (Salt Lake City:
Signature Books, 1990), 218n78.
[8] Gee, “I Saw the Stars,” 4.
[9] Sobre a eficacia do ensino apreceptivo, vide Boyd K. Packer,
Teach Ye Diligently (Salt Lake City: Deseret Book, 1975), 20–27.
[10] Pyramid Text [Texto do Pirâmide], 442.
[11] Otto Neugebauer e Richard A. Parker, Egyptian Astronomical
Texts, Vol. 1: The Early Decans (Providence, RI: Brown University
Press, 1960); Otto Neugebauer e Richard A. Parker, Egyptian
Astronomical Texts, Vol. 2: The Ramesside Star Clocks (Providence,
RI: Brown University Press, 1964), 3–7.
[12] Pyramid Text [Texto do Pirâmide], 519.
[13] Pyramid Text [Idem], 214, 570.
[14] Pyramid Text [Idem], 503, 509, 570.
[15] Pyramid Text [Idem], 412, 504.
[16] Pyramid Text [Idem], 263, 265, 266, 473, 609.
[17] Pyramid Text [Idem], 366, 609.
[18] Pyramid Text [Idem], 302.
[19] Pyramid Text [Idem], 412, 442.
[20] Pyramid Text [Idem], 691.
[21] Pyramid Text [Idem], 473, 609.
[22] Pyramid Text [Idem], 509.
[23] Stephen Quirke, The Cult of Ra: Sun-Worship in Ancient Egypt
(New York: Thames & Hudson, 2001), 116.
[24] Michael Zeilik, Stephen A. Gregory e Elske V. P. Smith,
Introductory Astronomy and Astrophysics, 3rd ed. (New York:
Saunders College Publishing, 1992), 446–47, 451.
[25] Pyramid Text, 274; vide também Robert K. Ritner, “The
Mechanics of Ancient Egyptian Magical Practice,” Studies in Ancient
Oriental Civilizations, no. 54 (Chicago: University of Chicago, 1993),
61–62. Agradeço ao Dr. John Gee por ter me relembrado desta
referência. Vide também Coffin Text [Texto do Caixão], 16.
[26] Pyramid Text, 454.
[27] Michael D. Rhodes, “The Joseph Smith Hypocephalus . . .
Seventeen Years Later,” (Provo, UT: FARMS, 1994), 8.
[28] Boyd K. Packer, em Conference Report, May 1977 [Relatório da
conferência geral, maio de 1977], 80.
[29] Thomas B. Griffith, “The Root of Christian Doctrine,” BYU
Magazine, Fall 2006, 46.
[30] John Van Seters, Abraham in History and Tradition (New Haven,
CT: Yale University Press, 1975), 288.
[31] A oitava regra de fé (bem como a própria existência da Tradução
de Joseph Smith) esclarece que existem erros na Bíblia conforme ela
ficou hoje em dia. É por isso que Joseph Smith disse: “Creio na Bíblia
da forma que ela saiu da caneta dos escritores originais” (Discourses
of Joseph Smith, comp. Alma P. Burton [Salt Lake City: Deseret Book,
1977], 245). Naturalmente muitos dos que reuniram e redigiram os
sagrados textos tinham boa vontade (vide 2 Néfi 29:4–5).
[32] Ao passo que as imagens do versículo 12, em que o Senhor “pôs
a mão sobre meus olhos e eu vi aquelas coisas que suas mãos
haviam feito; e eram muitas. E elas multiplicaram-se ante meus olhos
e não consegui ver seu fim,” indica que isso tudo é muito mais do que
os homens podem ver com os olhos naturais; no versículo 14 Abraão
disse que era noite quando viu estas coisas, como se pudesse ver
porque era noite. Contudo a natureza da visão conforme a linguagem
do versículo 12 claramente mostra que era uma visão de vidente.
[33] Bushman, Rough Stone Rolling, 537.
[34] Joseph Smith, citado em Bushman, Rough Stone Rolling, 436.
[35] Dallin H. Oaks, no Conference Report, October 2000 [Relatório
da conferência geral de outubro de 2000], 40–41.
[36] Joseph Smith, Lectures on Faith [As palestras sobre a fé], comp.
N. B. Lundwall (Salt Lake City: Bookcraft), 33–37.
Como Estudar as Escrituras

Como Estudar as Escrituras

Joseph Fielding McConkie

Joseph Fielding McConkie é professor jubilado de escrituras


antigas da Universidade Brigham Young. Este discurso foi
proferido na Semana de Educação da BYU de agosto de 2006.

Se os céus se abrissem hoje e Deus falasse, os irmãos não


gostariam de ouvir o que Ele ele tivesse que dizer? Da mesma
forma, se um mensageiro viesse em lugar d’Ele, os irmãos
teriam menos interesse? Se a mensagem fosse escrita, os
irmãos não queriam lê-la?
Muitas pessoas fiéis sacrificaram sua própria vida para que a
palavra do Senhor, transmitida antigamente a seu povo, fosse
preservada para nós. O estudo minucioso destes registros só
pode servir de fonte de grandes bênçãos para nós, ao passo
que deixar de conhecê-los seria uma perda enorme.

Que Princípios Corretos, e não Técnicas,


Dirijam Nosso Estudo
Ao longo dos anos muitos alunos e outros vieram a meu
escritório, perguntando a respeito de como poderiam-se tornar
melhores estudantes das escrituras. Também me perguntaram
com freqüência como é que estudavam as escrituras os homens
tais como meu pai, o Élder Bruce R. McConkie, e meu avô, o
Presidente Joseph Fielding Smith, ambos conhecidos como
eruditos quanto ao estudo do evangelho. Inerente nestas
perguntas é a idéia de que há algum método ou segredo
desconhecido pela maioria das pessoas que dàqueles que o
conhecem uma grande vantagem em entender as escrituras. Eis
que revelarei o grande segredo: o fato é que não existe nenhum
segredo.
Quanto a meu pai e a meu avô, seu método consistia em não
terem um método. Os métodos não são a solução. O estudo
eficaz das escrituras não tem nada a ver com um sistema de
sublinhar. Não tem nada a ver com a escolha de um lápis azul
em vez de um lápis vermelho. Não tem nada a ver com o
estudo cronológico nem por tópicos de um determinado
assunto. Não tem nada a ver com a edição das escrituras. Não
tem nada a ver com o tamanho das letras, a não ser para nós,
os mais idosos.
Tem tudo a ver com a intensidade e constância que levamos ao
estudo. Não há atalhos, tampouco segredos.
Porém há princípios básicos que são indispensáveis à
compreensão correta das escrituras. Apresentarei sete
princípios desta natureza. Cada um deles traz consigo mais luz.
Juntos podem aumentar até sete vezes o seu entendimento das
escrituras, ou talvez até mais.

Requer-se o Espírito de Revelação para


Entender a Revelação
O primeiro princípio, e o mais fundamental, de entender as
escrituras é este: Só se pode entender a revelação dada pelo
Espírito por meio da ajuda do Espírito.
Aceitar as escrituras como sendo revelação divina requer que
acreditemos no princípio de revelação. Requer que acreditemos
que Deus pode-nos transmitir, e de fato nos transmite, seus
pensamentos e sua vontade. A maior parte das escrituras
está escrita no coração e mente das pessoas. Esta forma das
escrituras sagradas é conhecida como a Luz de Cristo. É
universal para os filhos dos homens e sempre tem o propósito
de prepar´-los para receber a luz maior. De certa maneira as
escrituras são tudo que se fala sob a influência do Espírito
Santo. O Espírito Santo é um revelador. Como o terceiro
membro da Trindade, seu objetivo é ensinar e testificar das
verdades da salvação. Assim, a voz do Espírito Santo se reserva
para revelar verdades de ordem mais elevada do que as que são
transmitidas pela Luz de Cristo.
Ao passo que o direito de receber a Luz de Cristo é universal, a
revelação do Espírito Santo requer fé em Cristo e obediência
aos princípios de retidão. Néfi ensina este princípio da seguinte
forma:
E acontece que eu, Néfi, depois de ouvir todas as palavras de
meu pai referentes às coisas que ele vira numa visão, como
também as coisas que dissera com o poder do Espírito Santo,
poder que ele recebeu pela fé no Filho de Deus—e o Filho de
Deus era o Messias que deveria vir—eu, Néfi também desejei
ver e ouvir e conhecer essas coisas pelo poder do Espírito
Santo, que é o dom concedido por Deus a todos os que o
procuram diligentemente, tanto em tempos passados como no
tempo em que se manifestará aos filhos dos homens.
Pois ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre; e o caminho
está preparado para todos os homens desde a fundação do
mundo, caso se arrependam e venham a ele.
Pois aquele que procurar diligentemente, achará; e os mistérios
de Deus ser-lhe-ão desvendados pelo poder do Espírito Santo,
tanto agora como no passado e tanto no passado como no
futuro; portanto o curso do Senhor é um círculo eterno. (1 Néfi
10:17-19)
Entre as inúmeras revelações que nos vieram do Deus do Céu
muito poucas foram escritas. Entre as escritas ainda menos
foram-nos preservadas em forma de livro. Um exemplo de tal
forma de coletânea conhecemos como a Bíblia Sagrada. A
palavra bíblia deriva-se da palavra grega biblia que significa “os
livros.” Assim, a Bíblia é uma coleção de livros tidos como
sagrados, ou santos.
É importante observar que os católicos, os protestantes e os
judeus discordam entre si quanto aos livros que devem fazer
parte desta coletânea. A biblioteca de livros sagrados dos
Santos dos Últimos Dias contém assaz mais registros de
escrituras do que se encontram na biblioteca de outras igrejas.
Apesar dos outros não concordarem uns com os outros quanto
aos livros que devem fazer parte da Biblioteca da Fé—ou seja, a
Bíblia, encaram como heresia nosso acréscimo de livros a esta
biblioteca.
Nós, por outro lado, cremos que, tal qual os antigos,
receberemos revelações próprias às nossas circunstâncias, se é
que temos a mesma fé que eles tinham. Os santos da
antigüidade eram fortalecidos ao lerem as revelações dadas aos
que os antecediam, mas não se limitavam às revelações prévias
e sim, recebiam a sua própria orientação espiritual. Nosso caso
é como o deles. Sim, este princípio é fundamental ao nosso
entendimento e interpretação de tudo que lemos no cânon das
escrituras. Se a comunicação com os céus for interrompida—
isto é, se dissermos que a biblioteca de revelação est´ fechada
—perderemos tanto a oportunidade de recebermos mais
revelações como a chave de compreendermos tudo que
já possuímos. Néfi explicou este princípio com as seguintes
palavras:
Sim, ai do que diz: Recebemos e não necessitamos mais!
E por fim, ai de todos os que tremem e estão irados por causa
da verdade de Deus! Pois eis que o que está edificado sobre a
rocha recebe-a com júbilo; e o que está edificado sobre um
fundamento de areia treme de medo de cair.
Ai do que disser: Recebemos a palavra de Deus e não
necessitamos de mais palavras de Deus, porque temos o
bastante!
Pois eis que assim diz o Senhor Deus: Darei aos filhos dos
homens linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco
aqui e um pouco ali; e abençoados os que dão ouvidos aos
meus preceitos e escutam meus conselhos, porque obterão
sabedoria; pois a quem recebe darei mais; e dos que disserem:
Temos o suficiente; destes ser´ tirado até mesmo o que
tiverem.
O Senhor nunca, nem sequer em toda a eternidade, revelou que
não haveria mais revelação. Se Ele assim fizesse, seria como
negar-nos a capacidade de compreender as revelações que já
nos deu. Seria como se escondesse a evidência de sua
existência e disfarçasse as verdades do evangelho.
A Bíblia é um livro muito diferente nas mãos de quem rejeita a
revelação do que nas mãos de quem está disposto a receber o
Espírito. As palavras são as mesmas, mas a visão é
completamente outra. Um livro que nos veio por revelação só é
revelação para quem tem o espírito de revelação.
O espírito que os irmãos levarem à leitura de um livro
predeterminará o aproveitamento que tirarão dele. O Evangelho
de São Mateus pode ser escritura para um e para outro não.
Podem até estar juntos na mesma sala lendo o mesmo livro e
pode ser escritura sagrada para um e para o outro não. A
diferença não se encontra no que foi escrito e sim no espírito
com que se lê. Se lermos escritos sagrados com um espírito de
contenda, não será escritura; não se trata da voz do Senhor
nem representa seu Espírito. É simplesmente tinta preta num
papel branco. Se o espírito com que se lê não estiver certo,
tampouco estará certa a sua interpretação.
Eu gostaria de compartilhar dois textos clássico das escrituras
que nos ensinam este princípio. O primeiro trecho é de uma
revelação dada a nós para nos ensinar a discernir a verdade do
erro, espíritos bons dos malignos e doutrina correta de
doutrina falsa. Ao iniciarmos a leitura, nota-se que o Senhor, o
Mestre, com uma pergunta nos motiva a pensar no assunto de
discernir os espíritos:
Portanto eu, o Senhor, faço-vos esta pergunta: Para quê fostes
ordenados? [Aí, ao responder a sua própria pergunta, o Senhor
diz:]
Para pregar meu evangelho pelo Espírito, sim, o Consolador
que foi enviado para ensinar a verdade.
E então recebestes espíritos que não pudestes compreender e
os recebestes como se fossem de Deus; e nisto estais
justificados?
Eis que vós mesmos respondereis a esta pergunta; não
obstante, serei misericordioso para convosco; aquele dentre
vós que for fraco, no futuro será torndado forte.
Em verdade vos digo: Aquele que é ordenado por mim e
enviado para pregar a palavra da verdade pelo Consolador, no
Espírito da verdade, prega-a pelo Espírito da verdade ou de
alguma outra forma? [Notem que esta passagem dá a entender
que o que estamos ensinando é a verdade—esta não é a
questão—a questão se trata do espírito com que se ensina.]
E se for de alguma outra forma, não é de Deus.
Então como é que não podeis compreender e saber que aquele
que recebe a palavra pelo Espírito da verdade recebe-a como é
pregada pelo Espírito da verdade? (D&C 50:13-21)
Notaram? As verdades do céu não são as verdades celestes se
procuramos justificá-las de outra maneira senão pelo espírito
de revelação. Para sermos “edificados e regozijarmo-nos
juntos” precisamos ensinar e aprender pelo espírito de
revelação.
A segunda ilustração deste princípio baseia-se nas palavras de
uma revelação que antecede a que acabamos de ler, uma
revelação dada ao Quórum dos Doze seis anos antes de seu
chamado. Referindo-se ao Livro de Mórmon, o Senhor diz:
“Estas palavras não são de homens nem de um homem, mas
são minhas; portanto vós testificareis que são minhas e não de
um homem; pois é minha voz que vo-las diz; pois vos são
dadas pelo meu Espírito; e pelo meu poder vós as podeis ler
uns para os outros; e se não fosse pelo meu poder, não as
poderíeis ler; portanto podeis testificar que ouvistes minha voz
e conheceis minhas palavras” (D&C 18:34—36)
O princípio não se limita ao Quórum dos Doze. Nenhum
princípio do evangelho se limita a um só grupo. Só existe um
evangelho e ele se aplica a todo ser honesto de maneira igual.
Quando os irmãos e eu lemos ou estudamos as escrituras sob a
orientação do Espírito do Senhor, ouvimos a voz do Senhor e
podemos testificar disso. Lermos as escrituras sem aquele
Espírito é outra coisa.
Assim, o primeiro princípio de compreensão das escrituras é
que elas devem ser compreendidas pelo mesmo espírito pelo
qual foram escritas. Sem o espírito de revelação não
há escrituras. Alguns diriam que isto é racioncínio circular, e de
fato é. Precisa-se de vida para dar vida. Não se pode ler no
escuro. Não se pode ver nem ouvir as coisas do Espírito sem o
Espírito. Assim como a luz atrai a luz, as trevas é que geram
más ações.

Não Há Senão um Evangelho


O segundo princípio focaliza na natureza eterna do evangelho.
Todos os princípios do evangelho são absolutos; de eternidade
para eternidade são sempre os mesmos. Os mesmos princípios
que estão conosco neste nosso segundo estado estavam
conosco na vida pré-mortal e não mudarão ao passarmos desta
vida ao mundo espiritual. Sua importância não diminuirá na
ressurreição. Não há princípios de salvação que não tenham
sido decretados antes da fundação da Terra. O Senhor declarou
que sua casa é uma casa de ordem e não de confusão. Em uma
revelação concedida ao Profeta Joseph Smith, o Senhor enfatiza
este princípio, fazendo três perguntas retóricas: A primeira:
“Aceitarei uma oferta que não seja feita em meu nome?” a
segunda: “Receberei de vossas mãos aquilo que não ordenei?” E
a terceira: “Designar-vos-ei algo . . . sem que seja por lei
conforme meu Pai e eu vos ordenei antes de existir o mundo?”
(D&C 132:9-11). A resposta a cada uma destas perguntas é um
não retumbante. O propósito delas é dramatizar o fato de haver
um só evangelho, um só plano de salvação, um só sistema de
autoridade e uma só organização em que se encontram
administradores legais. Se a casa de Deus é uma casa de
ordem, não será governada por leis feitas por terceiros e nela
não se honrarão as ofertas feitas para outros deuses.
Tampouco se permitirá que se aceitem ordenanças feitas sem
licença e autoridade.
Não posso-me tornar o herdeiro de um dos irmãos só por ler
seu diário e apreciar as promessas que seu pai lhe fez. De igual
modo os irmãos não podem ser herdeiros de Deus só através
de ler as promessas que Ele fez a um povo antigo. Sua salvação
e a minha requerem revelação pessoal e imediata.
De maneira semelhante, se uma pessoa pudesse obter o direito
legítimo de pregar o evangelho e agir em nome de Deus só por
ler a Bíblia, ela também poderia tornar-se presidente do país só
por ler a constituição. É lógico que isto não será possível sem a
devida autorização.

“Procurai Conhecimento, Sim, pelo Estudo e


Também pela Fé”
Tiro o terceiro princípio da ordem dada pelo Senhor à Escola
dos Profetas: “Procurai conhecimento, sim, pelo estudo e
também pela fé” (D&C 88:118). Esta declaração afirma primeiro
a importância do estudo e daí sugere a necessidade de passar
além do estudo e abraçar o princípio da fé.
Permitam-me ilustrar do que se trata. O Profeta Joseph Smith
estava estudando o livro de Tiago quando chegou a uma
passagem que o inspirou a perguntar a Deus e fazê-lo com fé
sem vacilar (vide Tiago 1:5-6). Quando ele colocou o livro na
mesa e foi à procura de um lugar sossegado para orar, sua fé
tomou o lugar do estudo e por meio desta fé ele pôde fazer o
que seus mentores bíblicos haviam feito: abrir os céus.
Minha fé que o Livro de Mórmon pertence à biblioteca de livros
sagrados me dá um monte de conhecimento que de outra
maneira eu não teria. Para mim o livro restaura o conhecimento
das coisas simples e preciosas que foram tiradas da Bíblia. Por
meio dele aprendi que os povos do Velho Testamento tinham
aquilo que nós conhecemos como o Sacerdócio de
Melquisedeque. Tinham também o batismo, o dom do Espírito
Santo e todos os outros princípios e ordenanças redentores do
evangelho. Por meio do Livro de Mórmon posso ganhar mais
conhecimento e entendimento acerca do que se ensinou no
Velho e Novo Testamento do que por meio de todos os
comentários eruditos que já foram escritos a respeito deste
assunto.
Do Livro de Abraão aprendi que os povos do Velho Testamento
possuíam o convênio abraâmico junto com a promessa da
perpetuidade da semente e da família eterna. Através da fé na
tradução de Joseph Smith do Livro de Moisés aprendi que
possuíam o conhecimento de Jesus—o Messias—Adão, Enoque,
Noé e Abraão e que o plano de salvação revelado a eles é o
mesmo plano de salvação que conhecemos hoje em dia.
Isto não se trata de uma retirada à posição anti-intelectual
ocupada por muitos do mundo cristão tradicional e sim uma
declaração ousada de que reunir a fé com o estudo é como um
casal amoroso trazer ao mundo um filho. A criancinha é um ser
vivente que proporciona aos pais o profundo amor e
compreensão que antes desconheciam. De modo igual, minha
fé em Jesus de Nazaré, o muito esperado Messias, Salvador e
Redentor da humanidade, me dá um entendimento mais
profundo do Velho Testamento do que de outra maneira seria
atingível.
Todos os seres reproduzem conforme sua espécie,
analogamente a fé gera mais fé. A fé que se tem num princípio
do evangelho incute a fé em outros princípios. Minha fé na
ressurreição, isto é, a união inseparável do corpo e espírito
(uma idéia que a ciência não consegue defender), incute fé no
relato da criação do mundo (um assunto muito debatido pelos
cientistas).
Somente através de aplicar a fé ao nosso estudo das escrituras
é que conseguiremos captar a essência do que lermos. A
religião verdadeira é uma coisa viva. Ela requer que os sinais
sigam os que crêem. Fala de milagres para que saibamos que
nós podemos realizar milagres. Descreve a voz de Deus para
sabermos reconhecê-la quando a ouvimos. Relata o ministério
de anjos a fim de que saibamos que também podemos receber
tal ajuda. Se plantarmos as mesmas sementes que aqueles de
que lemos nos escritos sagrados, colheremos a mesma colheita
que eles colheram.

Manter as Coisas no Contexto Correto


O quarto princípio que chamarei à atenção dos irmãos é a
necessidade de manter as coisas no contexto correto. O
contexto dá cor, ou pode mudar a cor, de tudo que dizemos.
Quando minha esposa me diz que devo dizer: “Eu te amo” com
mais freqüência, ela não quer dizer que devo dizê-lo a outras
mulheres. Todo texto das escrituras tem dois contextos: as
circunstâncias imediatas que provocaram a declaração e o
contexto maior composto de outros princípios e declarações
corretas. Uma citação obscura ou isolada não poderá sustentar
o peso de definir o evangelho nem estabelecer um princípio
essencial para a salvação.
Quando Cristo disse: “Na ressurreição não se casam, nem se
dão em casamento” (Mateus 22:23-30), precisamos saber se ele
falou acerca de todos os seres que já viveram ou só dos
saduceus (que O rejeitaram como Messias) os quais fizeram a
pergunta que incitou a resposta de Jesus.
Quando Ele disse: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia da
amanhã” (Mateus 6:34), Ele falou aos irmãos e a mim, ou aos
Doze que haviam sido chamados ao ministério de tempo
integral?
Quando Ele disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem” (Lucas 23:34), Ele se referiu aos soldados romanos que
Lhe haviam cravado as mãos e pés, ou a todos, ao longo da
história, que procuram crucificá-lo de novo?
Quando Cristo disse: “Ide a todo o mundo e pregai o
evangelho” (Marcos 16:15), Ele deu a ordem a todos que
sentissem o desejo, ou falou isso aos Doze que havia
designado e treinado?
Quando o Apóstolo Paulo disse: “Mas, se não podem conter-se,
casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se” (1
Coríntios 7:9), ele sugeriu que o casamento fosse para as
pessoas que de natureza são fracas e não têm caráter moral, ou
Ele estava-se referindo àqueles que estavam de missão e que
deviam esperar até completarem a missão para se casarem?
Quando João advertiu que não era para ninguém acrescentar
nem diminuir daquilo que havia escrito, ele estava proibindo
que os outros mexessem com as palavras de sua epístola, ou
estava anunciando a cessação de todos os escritos sagrados?
(vide Apocalipse 22:18-19).
O contexto imediato dá as respostas a todas estas perguntas
que acabo de fazer, mas se ainda estamos confusos,
precisamos recorrer ao contexto mais amplo de tudo que já foi
revelado a respeito daquilo que está em questão.
Como homem jovem fui capelão no militar. Sempre que nosso
grupo recebia ordens de ir ao combate, alguns soldados
descobriam que se opunham, por motivos de consciência, a
armar-se. Suas reivindicações eram sempre tratadas com
respeito e, entre outras coisas, eram mandados ao capelão para
buscar seu auxílio em defender sua causa, se é que realmente
tinham causa. Em tais casos eu perguntava se eles já tinham
feito algo que pudesse comprovar sua nova crença. Nenhum
deles conseguiu comprová-lo. A segunda pergunta que eu fazia
era se havia algum motivo religioso para sua resolução de não
portar armas. A única resposta de que me lembro que se dava
era que Deus mandou a Moisés, dizendo: “Não matarás” ( Êxodo
20:13).
Sem entrar em detalhes das palestras que tive com estes
jovens, observei que sem exeção se surpreendiam ao aprender
que a palavra traduzida na Bíblia como matar vem do vocábulo
hebraico que significa assassinar. Ficavam ainda mais
admirados em saber que a pena do assassinato nos tempos de
Moisés era a morte. Ficavam igualmente surpresos em saber
que o próprio Moisés era um grande general que repetidas
vezes liderou os exércitos de Israel à batalha contra seus
inimigos aos quais matavam em quantidades espantosas.
A idéia aqui é que há um contexto mais amplo para o sexto
mandamento—um contexto inteiramente diferente do que os
jovens com quem eu lidava haviam entendido.

Equilibrar os Princípios Corretos


O quinto princípio diz respeito ao equilíbrio que se deve haver
entre os princípios do evangelho. Os princípios corretos às
vezes entram em choque um com o outro—uma dificuldade que
tem sua origem no jardim do Éden. Deus colocou, de propósito,
Adão e Eva numa situação em que tinham que escolher entre
mandamentos contraditórios. Haviam sido ordenados a
multiplicar e encher a terra, algo que não podiam fazer sem
comer do fruto da ´rvore de conhecimento do bem e do mal, o
que lhes havia sido proibido. Esta circunstância exigia que
fizessem uma escolha e arcassem com as conseqüências. Com
sabedoria e retidão escolheram guardar o mandamento maior,
ou seja, gerar filhos, que, naturalmente, requereu que
comessem do fruto da árvore de conhecimento do bem e do
mal. Referimo-nos a este evento como a transgressão de Adão,
e não o pecado de Adão. A trangressão consiste em violar uma
lei. O pecado, por outro lado, é a desobendiência proposital. A
conseqüência desta lei transgredida, conhecida como a Queda,
criou a necessidade de Cristo e da expiação.
O que eu gostaria de salientar-lhes no contexto desta palestra
é que os princípio corretos entram em choque um com ou
outro muito mais do que imaginamos. Nós, como Adão e Eva,
muitas vezes enfrentam mandamentos contraditórios. Assim
como eles, nós também devemos decidir qual é o maior e qual
o menor e, como nossos primeiro pais, teremos que sofrer as
conseqüências de nossa escolha.
Considerem estas ilustrações: Por um lado queremos ser
honestos, por outro lado não queremos ofender ou ser
insensatos. As duas são virtudes, mas a virtude exagerada pode
tornar-se vício. Ensina-se que devemos perdoar e ser
misericordiosos, no entanto, como sabe todo bispo bom, a
misericórdia não pode negar a justiça. Se assim fosse o caso,
anular-se-iam a responsabilidade pessoal e a doutrina de
arrependimento, e, inevitavelmente o plano de salvação.
Há a letra da lei e o espírito da lei e há um tempo certo para
cada um se destacar. É preciso manter um equilíbrio entre os
princípios do evangelho. Por bela que seja, a doutrina da graça
não pode ser mandão e intimidar todos os outros princípios do
evangelho. Não podemos encantar-nos com um só princípio de
tal forma que obscureça os outros. O mundo está repleto de
exemplos de como este tipo de motim evangélico entra no
navio da fé e um princípio se apodera, escravizando, ou
jogando na água, os outros princípios.
Deve-se lembrar de que nenhum princípio pode manter-se
correto se for usado incorretamente. Qualquer princípio isolado
do corpo dos princípios se torna corrupto no seu isolamento. O
que acontece com freqüência é que um membro é convidado
para dar aula sobre tal princípio. A tendência é a de isolar
aquele princípio de princípios relacionados e só focalizar o
estudo naquele princípio isolado. Faz-se um trabalho tão bom
de ensinar a importância daquele princípio que por fim o
princípio fica tão inflacionado que não cabe mais com os
outros, despejando-os, assim criando uma moradia para um só
residente. A receita de princípios do evangelho não permite a
exclusão de um ingrediente a favor de uma dose dupla de
outro. Quando se entendem corretamente todos os princípios,
pode-se manter o equilíbrio apropriado entre eles.
A vida é cheia de opções de escolha, mesmo as melhores
escolhas têm suas conseqüências. De fato, as melhores
escolhas geralmente exigem um preço alto. Não viemos a esta
terra para ver quantas dificuldades poderíamos evitar ou por
quanto tempo poderíamos ficar descansando na sombra. Ao
invés disso estamos aqui para ver se optaremos por ficar na luz
e trabalhar com afã na causa da verdade.

Usar comentários e Bom Senso


O sexto princípio de estudo das escrituras é buscar ajuda de
fontes que possam exceder nosso conhecimento referente a um
assunto especial. Há muitos recursos para o nosso estudo
já imbutidos nas edições das escrituras da Igreja. Os
cabeçalhos dos capítulos nos proporcionam um resumo conciso
do conteúdo do capítulo e muitas vezes contêm explicações e
coment´rio. As notas de rodapé também ajudam, mas
precisamos levar em conta que não fazem parte, propriamente
dito, das escrituras. Na edição da Igreja da Bíblia em inglês, a
guia de assuntos, o dicionário bíblico e os extratos da tradução
de Joseph Smith da Bíblia, bem como os mapas, são muito
úteis. Comentários seculares podem ajudar a entender matéria
histórica e geográfica. Quando se trata de doutrina a ajuda que
estes comentários fornecem é limitada. Quanto aos
comentários de Santos dos Últimos Dias, nenhum autor tem
toda a razão em todos os assuntos, mas isso não quer dizer
que não sejam de valor para o estudo de assuntos específicos.
Diz-se muito que o melhor coment´rio sobre as escrituras são
as próprias escrituras. Certamente é o caso, mas não é uma
simples questão de utilizar um versículo para interpretar outro;
é entender que o Velho Testamento é um coment´rio
maravilhoso sobre o Novo Testamento e que o Novo
Testamento é de valor igual para desvendar o significado do
Velho Testamento. Ademais, não é suficiente o Santo dos
Últimos Dias encarar o Livro de Mórmon simplesmente como
“outro testamento de Jesus Cristo;” devemos também
reconhecer que é a chave com que abrimos o significado
verdadeiro tanto do Velho como do Novo Testamento. É a vara
de José de que falou Ezequiel que se tornaria um com a vara de
Jud´ a fim de reunir Israel dispersado (vide Ezequiel 37:19).
Por isso, José do Egito disse: “Portanto o fruto de teus lombos
escrever´; e o fruto dos lombos de Judá escreverá; e aquilo que
for escrito pelo fruto de teus lombos e também o que for
escrito pelo fruto dos lombos de Judá serão unidos,
confundindo falsas doutrinas e apaziguando contendas e
estabelecendo paz entre o fruto de teus lombos; e levando-os
nos últimos dias a conhecerem seus pais e também meus
convênios, diz o Senhor” (2 Néfi 3:12; Tradução de Joseph
Smith de Gênesis 50:31).
O significado disso é que a mensagem dos dois livros é a
mesma. Compreendida corretamente, eles ensinam os mesmos
princípios, testificam do mesmo Deus, levando-nos à mesma
destinação. O Livro de Mórmon restaura ao nosso
conhecimento muitas “coisas simples e preciosas” que foram ou
perdidas ou tiradas dos manuscritos bíblicos antes deles serem
impressos em forma de livro. Nenhum livro de escritura ameaça
outro livro de escritura. Embora defiram nos pormenores, os
evangelhos se apoiam um ao outro. Os livros padrão de Igreja
não são concorrentes e sim, companheiros.
Já ouvi muitas críticas ásperas sobre os comentários. Lembrem-
se de que uma grande parte das escrituras se consiste em
coment´rio a respeito de outras escrituras. Tudo que se escreve
ou se diz acerca do evangelho é comentário das escrituras; até
a declaração que não se deve usar comentários não deixa de
ser um comentário.
Vale a pena salientar que há poucas coisas mais importantes do
que o bom senso para entendermos as escrituras. Não
há nenhuma passagem de escritura que não possa ser
distorcida e há poucas escrituras que já não foram usadas para
fins maliciosos. Muitas causas más e políticas perversas foram
justificadas com citações das escrituras. Nos tempos de Cristo,
os que O rejeitaram utilizaram argumentos baseados nas
escrituras. Àqueles que procuravam tirar-lhe a vida, Cristo
disse:
Examinai as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas [as escrituras] que de mim testificam.
E não quereis vir a mim para terdes vida.
Eu não recebo glória dos homens;
Mas também vos conheço, que não tendes em vós o amor de
Deus.
Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier
em seu próprio nome, a esse aceitareis.
Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não
buscando a honra que vem só de Deus?
Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um
que vos acusa, Moisés, em que vós esperais.
Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de
mim escreveu ele.
Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas
palavras? (João 5:39-47)
Às vezes nota-se que há malícia no que se refere às escrituras.
Alguns costumam dizer que o figurativo é literal e o literal
figurativo. Ao fazê-lo declaram seu amor às escrituras ao passo
que viram do avesso o significado delas.
No livro de Moisés lemos que Adão foi criado do “pó” da terra
(vide Moisés 3:7). Alguns argumentam que o primeiro homem
foi feito de argila. Porém, o mesmo texto diz que os irmãos e
eu “nascemos nesta terra pela água, sangue e espírito,” que
Deus fizera “ e assim vos transformando de pó em alma
vivente” (Moisés 6:59). O mesmo autor que emprega “pó” para
descrever o nascimento de Adão também o utiliza para
descrever nosso nascimento.
Neste mesmo contexto, lemos que Eva foi criada da costela de
Adão (vide Moisés 3:21-22). O texto não explica o que se
subentende--que isto é simbólico, que é metáfora para nos
ensinar que o lugar da mulher é ao lado de seu marido. As
escrituras não nos dizem isto; devemos deduzi-lo. Neste caso
nosso conhecimento vem da “doutrina do bom senso.” A
mulher não é feita literalmente da costela do homem. Há certas
coisas que devemos aprender por nós mesmos.
Quando se estuda a álgebra, aprende-se que se pode usar o
que se sabe para descobrir o que se desconhece. Pode-se fazer
assim também no estudo do evangelho. Se, por exemplo,
sabemos que certo povo possuía o sacerdócio de
Melquizedeque, sabemos também que tinham o dom do
Espírito Santo porque é o sacerdócio de Melquizedeque que
concede este dom.
Alguns alunos já me perguntaram se há evidência de que se
praticava o casamento eterno nos tempos do Velho
Testamento. Os irmãos não acham lógico que se recebemos a
autoridade de fazer o casamento eterno de Abraão, ou de
alguém de sua dispensação, que se possuía tal autrodidade na
época deles? Da mesma forma, pode-se raciocinar que se o
batismo é uma ordenança do sacerdócio aarônico, então um
povo antigo que possuía o sacerdócio aarônico também teria
possuído a ordenança do batismo.
O fato de sabermos que Deus é eterno e que os princípios de
salvação que provêm dele são absolutos nos abre ao
entendimento o significado das escrituras. Contradiz, por
exemplo, a idéia de que havia um plano de salvação para o
povo do Velho Testamento e outro para o povo do Novo
Testamento e ainda mais outro para o povo da atualidade.
Claramente refuta a idéia de que não havia uma Igreja de Cristo
antes do era do Novo Testamento.
“Aplicai-as a Vós Mesmos” (1 Néfi 19:24)
O sétimo e último princípio de que falarei para incrementarem
seu estudo das escrituras é o de aplicar as escrituras a si
mesmos (vide 1 Néfi 19:23-24). Em várias revelações de
Doutrina e Convênios o Senhor diz: “O que vos digo, digo a
todos” (D&C 93:49). Por exemplo, Doutrina e Convênios 25
registra uma revelação para Emma Smith em que o Senhor a
chama “uma mulher eleita” (versículo 3). A ela é dada a
designação específica de compilar um hinário para o uso da
Igreja no seu início e depois ela recebe alguns conselhos. Ao
concluir a revelação, o Senhor diz: “E em verdade, em verdade
vos digo que esta é minha voz para todos” (D&C 25:16).
Portanto, todo membro da Igreja tem direito igual a esta
revelação. É tanto nossa como a de Emma.
Entendermos este princípio requer um pouco do bom senso de
que já falamos. O Senhor não quis que cada membro da Igreja
compilasse um hinário, mas em vez disso devemos aplicar as
admoestações de evitar a tentação de murmurar, de buscar o
Espírito Santo para facilitar nosso aprendizado e de deixar de
lado as coisas do mundo e buscar as coisas de um mundo
melhor, como o Senhor instruiu a Emma. Se assim fizermos,
teremos a mesma promessa que Emma tinha, a de recebermos
“uma coroa de retidão” com todas as bênçãos pertencentes.
De modo igual, o Senhor deu uma revelação a Joseph Smith
Sênior. É uma revelação a respeito de serviço que se encontra
na seção 4 de Doutrina e Convênios. Os missionários a citam
muito ao reunirem-se, mas a revelação realmente pertence a
todos nós. É nossa porquanto os princípios se aplicam a nós da
mesmíssima maneira que se aplivavam a Joseph Smith Sênior.
Assim costuramos o tecido das escrituras, adaptando-o a
nossas próprias medidas e circunstâncias, tomando para nós os
princípios eternos que se aplicam a nós e deixando para a
pessoa mencionada em certas revelações as promessas
unicamente destinadas a ela.

Conclusão
Completamos o cíclo. Vamos unir agora os sete princípios.
Iniciamos com o preceito de que as escrituras, ou seja
revelação, só são revelações quando são acompanhadas do
espírito de revelação.
Joseph Smith e Oliver Cowdrey nos ilustram este princípio de
forma notável. Depois que João Batista havia restaurado o
sacerdócio aarônico a eles e depois que se batizaram um ao
outro e o Espírito Santo havia caído sobre eles, Joseph Smith
disse: “Estando agora com nossa mente iluminada, as escrituras
começaram a abrir-se ao nosso entendimento e o significado e
intenção verdadeiros das passagens mais misteriosas se
revelaram a nós de uma maneira que antes não havíamos
atingido nem pensado” (História de Joseph Smith 1:74).
Acrescentamos o segundo princípio, a idéia de que os
princípios do evangelho são imutáveis. Toda escritura vem da
mesma fonte, tem o mesmo propósito e ensina a mesma
doutrina. O evangelho de Jesus Cristo não evoluiu e não
está evoluindo. É imutável, absoluto e eterno. A doutrina na
qual Adão e Eva achou a salvação é exatamente a mesma pela
qual cada um de seus filhos em todas as gerações se salvarão.
Esta doutrina sempre estará focalizada no mesmo Salvador, na
mesma Expiação, na obediência às mesmas leis e ordenanças e
requererá o mesmo sacerdócio.
Há somente um Salvador e um só evangelho. Quando o Cristo
já ressurrecto visitou o povo do Novo Mundo, Ele fez o que fez
no Velho Mundo. Foi ao templo, chamou e ordenou doze
homens como testemunhas especiais de seu nome e ensinou o
mesmo evangelho que ensinara àqueles de sua própria nação.
O evangelho e seus convênios e promessas permanecem
sempre os mesmos. Não havia um evangelho para os pioneiros
e outro para nós, nem um para os apóstolos e profetas e outro
para o restante da Igreja. Temos um só evangelho do mesmo
modo que só há um Salvador. Cada um de nós faz os mesmos
convênios e cada um recebe a mesma promessa de bênçãos.
Neste contexto, as promessas das revelações são nossas;
foram-nos dadas; podemos colocar nossos próprios nomes
nelas.
O terceiro princípio é o de procurar aprender tanto pelo estudo
como pela fé. Deve ser óbvio que a única forma de aprender o
princípio da fé é por meio de exercê-la. A noção de que
devemos buscar conhecimento tanto pela fé como pelo estudo
significa que a fé não requer que deixemos nossa mente à
porta quando entramos na aula da Escola Dominical ou em
qualquer outra ocasião em que procuramos aprender o
evangelho. Quer dizer, porém, que seria um evangelho fraco se
não nos proporcionasse revelação que fosse além dos limites
de nosso entendimento e do conhecimento comum. A mesma
revelação nos diz que Deus, e não a natureza, é o autor de
todas as leis. Esta revelação declara que todas as leis, luz e vida
vêm de Deus e que Ele está acima de tudo. Deus é o criador de
tudo isso e não um simples observador.
O quarto princípio observa que tudo tem seu contexto
apropriado. Todos os princípios do evangelho têm um contexto
imediato e um contexto geral, este último sendo o contexto da
plenitude do evangelho. Nenhum princípio do evangelho existe
na solidão. Isolar qualquer princípio do conjunto de princípios
que constituem o evangelho é corromper o princípio. O
evangelho não consiste somente na graça, somente no amor,
somente na fé, nem somente em qualquer princípio. Os
princípios evangélicos se sustentam um ao outro.
O quinto princípio consiste no devido equilíbrio que deve haver
entre os princípios do evangelho. A ignorância não pode nutrir
a fé e a inteligência dos homens não pode substituí-la. A Bíblia
permanece sendo um livro selado para aqueles que a estudam
unicamente com sua própria mente. O significado e propósito
da Bíblia desaparecem para aqueles que reduzem sua
mensagem a algumas frases que sempre citam para justificar
seu entendimento superficial e sua crença naquilo que não
pertence ao corpus da fé.
O sexto princípio nos incentiva a buscar sabedoria e ajuda de
todas as fontes que nos conduzem a um entendimento maior.
Nenhuma fonte pode exceder a voz de um profeta vivente, sim,
a voz unida de todos os profetas do passado nos diz que
devemos escutar o profeta atual.
Observamos no sétimo princípio que buscamos o mesmo
destino que buscavam os fiéis do passado, portanto os
ensinamentos de que escreveram são de grande valor para nós.
Para que isso nos ajude, devemos orientar o mapa que nos
deixaram conforme os princípios corretos e lê-lo pela luz do
mesmo espírito conhecido por eles.
Sempre que alguém interpreta um trecho das escrituras,
podemos medir o nível de bom senso e integridade espiritual
que ele possui. O que fazemos com as escrituras, inclusive
negligenciá-las, proporciona ao Senhor uma forma de avaliar
nossa alma. Que todos nós possamos apresentar-Lhe uma boa
avaliação é minha oração.
Como fazer Perguntas que Convidam a
Revelação

Como fazer Perguntas que Convidam a


Revelação
Alan R. Maynes

Alan R. Maynes é Diretor de Área do SEI de Price, Estado de Utah.

"Perguntar e responder às perguntas é o cerne de toda a


aprendizagem e ensino.” [1]
Quando os professores do evangelho criam um desejo na mente e
coração de seus alunos de aprender sobre o evangelho, a revelação
pode vir com mais facilidade. É verdade isto, especialmente quando
os alunos inquisitivos são levados a descobrir por si os princípios do
evangelho que têm o poder de transformar sua vida.

Jesus, o Mestre dos mestres


Como o supremo modelo do domínio do ensino, Jesus fazia grandes
perguntas que inspiravam a alma dos homens. Suas perguntas
faziam os ouvintes pensar e criavam neles o desejo de conhecer a
verdade. Os quatro evangelhos contêm mais de 125 perguntas
diferentes que Jesus usou para ensinar, elevar e inspirar. Suas
perguntas faziam com que as verdades do evangelho se
aprofundassem no coração e mente de seus ouvintes. Ao lerem os
exemplos a seguir, reflitam em quão grande, porém simples, é cada
pergunta. Observem como elas convidam o aluno a buscar revelação.
"Vós sois o sal da terra, mas se o sal for insípido, com que se há de
salgar?" (Mateus 5:13).
"Porque, se amais os que vos amam, que recompensa tereis?"
(Mateus 5:46).
"Que te parece, Simão?" (Mateus 17:25).
"Crês no Filho de Deus?" (João 9:35).
"Amas-me mais do que estes?" (João 21:15).
As perguntas de Jesus não se limitam ao seu ministério mortal, mas
englobam seus ensinamentos pré-mortais, mortais e pós-mortais.
Examinar as perguntas que ele colocou nos leva a perguntar: "Por
que o Senhor faz perguntas, se ele conhece todos os nossos
pensamentos?" A resposta é porque este método é uma das
maneiras mais eficazes de ajudar as pessoas a pensar, analisar e
acreditar. O Élder Henry B. Eyring disse: "Algumas perguntas
convidam a inspiração. São as que os grandes mestres fazem.” [2]
Este artigo analizará o valor de fazer perguntas que convidam a
revelação, apresentará algumas ideias a respeito de desenvolver o
talento de fazer tais perguntas e, por fim, sugerirá métodos para
implementá-los na sala de aula.

O Valor de Fazer Perguntas


Aumentar o desejo do aluno de aprender. As perguntas podem fazer
muito para os alunos. Em primeiro lugar, elas podem aumentar o
desejo do aluno de aprender. Quando um aluno deseja aprender, a
maioria dos problemas de comportamento irá desaparecer. Embora
muitos alunos participem com um desejo de aprender, alguns
precisam de mais desejo. Muitas vezes, eles passam fisicamente pela
aprendizagem, mas sua mente está em outro lugar. As perguntas
podem levá-los a participar no processo de aprendizagem porque
incentivam os alunos a pensar. E, como o Élder Robert D. Hales
ensinou: "Temos de exigir que os nossos alunos pensem." Quando
um aluno pondera a doutrina, coisas interessantes acontecem. Este
entusiasmo é contagioso e afeta tudo que acontece na sala de aula.
Aumentar a participação dos estudantes. "Fazer boas perguntas e
direcionar as palestras são as principais formas eficazes de incentivar
. . . a participação." À medida que aumentar o interesse e se estudar
as respostas, os alunos descobrirão que estão apreciando e gostando
mais do aprendizado. Esta participação se realiza quando o professor
focaliza no estudante. [3] Para o evangelho chegar ao fundo de seu
coração e mente, os estudantes precisam ser verdadeiramente
interessados em descobrir as verdades eternas. Perguntas
instigantes ajudam a trazer para a sala de aula um nível mais amplo
de participação.
Medir o conhecimento do aluno. Fazer perguntas permite que um
grande professor meça a compreensão do aluno. Ao passo que os
alunos respondem, o professor pode avaliar o que a classe entende e
o que não entende. "Toma-se esta medida de seus alunos, ouvindo
as respostas às suas perguntas." [4] Um professor pode ensinar muito
acima ou abaixo do nível de entendimento dos alunos, o que, em
ambos os casos, causa tédio. Medir através das respostas dos alunos
permite ao professor utilizar ao máximo o tempo da aula, abordando
em especial os conceitos que os alunos ainda não compreenderam.
Assim ele pode conduzir todos os alunos a uma compreensão dos
princípios sendo abordados. A lei das testemunhas se aplica quando
os estudantes reafirmam uns aos outros a verdade do evangelho
sendo contemplada naquele momento.
Convidar a revelação à vida dos alunos. O Élder Gene R. Cook
ensinou: "Entre as coisas que o professor faz, a mais importante é
criar um ambiente em que as pessoas podem ter uma experiência
espiritual." [5] As perguntas são essenciais para criar o ambiente
apropriado na sala de aula de ensino do evangelho, porque isso
prepara a mente e coração dos alunos. Quando há participação por
parte dos alunos, eles se abrem e, portanto, permitem que o Espírito
Santo lhes ensine pessoalmente. [6] Isso ocorre porque os alunos
exercem o arbítrio e à medida que procurarem aprender pela fé,
descobrirão e internalizarão verdades eternas.
As perguntas ajudam a criar um clima em que o Espírito pode vir e
testemunhar da verdade. O Espírito Santo, convidado desta forma,
ensina os alunos pessoal e individualmente. Não é de se admirar que
o Mestre dos mestres, Jesus Cristo, tenha utilizado perguntas tão
forma tão ampla para instruir e salvar a alma dos homens.

Desenvolver o Talento de Fazer Excelentes


Perguntas
A arte do ensino. Para alguns o talento de ensino veio como dom,
mas certas habilidades são adquiridas através do estudo e da prática.
O uso adequado de perguntas está no centro do ensino eficaz. Valem
a pena todos os esforços de um professor do evangelho no sentido
de desenvolver e aprimorar essa capacidade e aperfeiçoá-la.
Desenvolver essa habilidade exige formular as perguntas certas
durante a preparação das lições, não apenas na apresentação da
lição.
Perguntas de preparação professorial. Este processo começa com as
perguntas que um professor coloca ao preparar uma aula, perguntas
como "Qual foi a intenção do autor?" “Quais são os princípios e
doutrinas mais essenciais?” "O que eu quero que meus alunos
aprendam a respeito destas passagens das escrituras?" "Quais são
os princípios de redenção, conversão e transformação da vida que se
encontram nessa leitura?" Fazer as perguntas adequadas durante a
preparação convida a revelação por várias razões. Primeiro, os
professores serão orientados para humildemente procurarem as
respostas pelo poder do Espírito Santo. Em segundo lugar, como o
Élder Eyring ensinou: "Se você ensinar os princípios doutrinários, o
Espírito Santo virá." [7]
Há muitos anos as autoridades vêm dizendo-nos que ensinem a
doutrina da Igreja, conforme ensinam os profetas e apóstolos. [8] Eles
nos pediram que fôssemos "cautelosos e totalmente ortodoxos no que
diz respeito aos aspectos da doutrina da Igreja," [9] que
ensinássemos “verdades de significado eterno” [10] e evitássemos
“espuma frita” [11] e “minúcia e coisas insignificantes.” [12] O
Presidente Boyd K. Packer ensinou: "A verdadeira doutrina, quando
compreendida, nos muda de atitude e comportamento." [13] Se o
professor procurar coisas não essenciais e fatos e detalhes
insignificantes, o seja um “vácuo teológico,” [14] é isso que
encontrarão. No entanto, quando os professores oferecem “aos
alunos o benefício de uma visão mais ampla,” [15] procurando a
intenção do autor inspirado e os princípios que transformarão a vida
dos alunos e os converterão, o Espírito Santo os acompanhará no
estudo. Portanto, os professores do evangelho devem “manter-se no
centro da mina onde está o verdadeiro ouro.” [16] Então o poder do
Espírito prometido aos professores do evangelho pode distilar sobre
eles como dádiva do céu. Tal dotação do Espírito certamente virá
porque “o trabalho do Espírito Santo é o de testificar das verdades
que têm um significado eterno.” [17]
Ser guiado pelo Espírito ao ensinar é onde um professor pode
começar a desenvolver a capacidade de fazer grandes perguntas.
Procurar o importante, os princípios e doutrinas essenciais, levará o
professor mais perto de Deus. Durante seu ministério mortal, Jesus
focou seus ensinamentos nos princípios básicos do evangelho e as
autoridades gerais seguem esse padrão da mesma forma. Os
professores do evangelho devem fazer o mesmo. Quando o professor
concentra-se em princípios e doutrinas essenciais, mantendo em
mente os alunos, o Espírito Santo se sente convidado para participar
do processo de preparação.
Perguntas que requerem uma busca profunda. O Senhor deu ordens
para examinar as escrituras (vide D & C 1:37, João 5:39, 3 Néfi 23:1;
Josué 1:8). A motivação entra na vida de quem descobre verdades
nas escrituras quando guiado pelo Espírito. Se um professor puder
criar a mesma experiência para os alunos em sala de aula, então o
aprendizado será ampliado muitas vezes. Aquilo que os alunos
descobrem por si mesmos é muito mais útil e transformante do que
aquilo que lhes é dito por terceiros. Uma das maneiras mais fáceis de
dar aos alunos tal experiência é mandá-los procurar as respostas nas
escrituras.
Há muitas maneiras de levar os alunos à pesquisa. Convidem-nos a
procurar as palavras, frases, listas, significados, informações
adicionais, entendimento, princípios e doutrinas. Evitem solicitar
respostas de sim ou não e respostas óbvias. Descobrir o que faz os
estudantes procurar e pesquisar são técnicas que necessitam de um
estudo cuidadoso por parte do professor. Pesquisar o trivial ou
informações óbvias não envolve a mente. Naturalmente haverá
momentos em que o professor pedirá aos alunos para procurar fatos
simples, mas incentivá-los a procurar os princípios mais profundos da
verdade para sua maior compreensão e aplicação na vida é bem mais
envolvente. O convite para a pesquisa funciona melhor se for dado
em primeiro lugar, antes de ler a escritura. Os alunos vão tirar mais
proveito de sua leitura, porque eles estarão procurando algo para
tirar as dúvidas de sua mente: Onde está? O que é isso? O que
significa isso? Algumas instruções que facilitarão a busca são:
"procurar", "achar", "encontrar", "sublinhar", "marcar" e "identificar".
Quanto mais claro o convite, mais eficiente a atividade de pesquisa se
torna. Se estão buscando várias coisas, pode-se relacionar os itens
no quadro. Considerem os seguintes exemplos (exemplo 1):
"Descubram o que é incomum sobre o sistema monetário em Alma
10-12" ou "Identifiquem como Amuleque pôde discernir os
pensamentos Zeezrom em Alma 12:7." Estas informações são
interessantes, mas não transformarão a vida. Uma abordagem mais
atraente seria (exemplo 2): "Estudantes, leiam Alma 10:31 e
desubram quem foi o primeiro a acusar Amuleque. Agora leiam Alma
15:12 e descubram quem está sendo batizado. Agora vamos ver o
que Alma e Amuleque ensinaram que mudou Zeezrom por completo.
Usando os seguintes versículos: Alma 12:25, 26, 30, 32, 33,
descubram o que se ensinou a Zeezrom que mudou sua vida.”
Quando os alunos descobrirem a frase “o plano de redenção,"
aprenderão sobre o plano através dos ensinamentos de Alma e
Amuleque. Este segundo exemplo é mais atraente porque se focaliza
no que significa a transformação de vida e conversão ao evangelho.
Ao fazer a busca por este caminho, os alunos podem explorar e
descobrir os princípios de significado eterno que podem ser aplicados
em sua vida.
Perguntas analíticas. Jesus conhece os pensamentos e intenções de
nosso coração, mas dificilmente o professor consegue discernir os
pensamentos dos alunos. Quando um aluno responde a uma
pergunta, pode-se ver um pouco mais claro o que o estudante crê,
entende e sente. Os pais, professores e líderes muitas vezes dizem
que os jovens conhecem os princípios por que lhes foram ensinados.
Porém fico admirado que muitos anos depois de ensinar-lhes
descobri que meus próprios filhos não compreendiam certas coisas
tão bem quanto eu esperava. A comunicação bidirecional é uma das
melhores formas de medir o nível de compreensão dos alunos. Na
sala de aula se consegue fazê-la através de fazer perguntas simples
que permitem o aluno a se expressar. As seguintes frases podem
ajudar o professor a escrever perguntas analíticas:
Que acha de . . . ? Que significa . . . ?
Por que é que . . . ? Por que você acha . . . ?
Na sua opinião . . . ? Que provas existem . . . ?
Como acha que . . . ? Quais são alguma formas de . . . ?
Com pode ser que . . . ? Que diferenças há . . . ?
Estas perguntas são necessárias para chegar a uma conclusão.
Voltemos ao exemplo do livro de Alma 11–12. Depois que os alunos
tiverem lido os versículos designados que explicam os ensinamentos
de Alma e Amuleque sobre o plano de redenção, o professor poderá
perguntar: O que descobriram? O que acham que significa isso? Se
as respostas dos alunos forem escritas no quadro negro, o professor
poderá perguntar: Qual das verdades eternas que estão relacionadas
no quadro mais afetou Zeezrom? Por quê? Outras perguntas podem
incluir: Por que vocês acham que Alma empregou a palavra redenção
para descrever o plano? Como é que o plano de redenção transforma
quem o entende? Estas pergunas deixam o professor determinar em
que pé estão os alunos quanto a seu entendimento daquelas
escrituras. Elas ajudam os alunos a ponderar o significado do que
estão estudando. Desta maneira os estudantes terão mais condições
de internalizar as ideias que foram discutidas e pesquisadas. As
perguntas também proporcionam aos alunos a oportunidade de
compartilhar e ensinar. [18] Fazer este tipo de pergunta exige que o
professor eseja disposto a passar o tempo necessário para ajudar
todos a chegarem ao entendimento do assunto.
Perguntas aplicativas. Há perguntas aplicativas, ou convites, para
ajudar os alunos a aplicarem os princípios e doutrinas na sua própria
vida. Em muitas classes nem se precisa deste tipo de convite porque
os alunos já estão tão empenhados e o entendimento tão completo
que aplicar os princípios acontece espontaneamente. E quando este
não for o caso, basta fazer uma pergunta simples. Perguntas que
começam com as seguintes frases abrem as portas para a aplicação:
O que você aprendeu . . . ? Que diferença faz . . . ?
Quando é que sentiu . . . ? O que você acha que Deus quer
...?
Compartilhe uma experiência. . . . O que o Senhor espera . . . ?
As perguntas aplicativas dão ao alunos a oportunidade de explicar o
que aprenderam e o que sentem que Deus quer que façam. Elas
ajudam a fazer uma ponte entre os relatos das escrituras e a vida de
hoje. Este processo ajuda o estudante a achar as respostas nas
escrituras para resolver seus problemas. Também lhes permite
compartilhar os sentimentos do coração que poderão ter um grande
impacto positivo em seus colegas de aula.
Considerem novamente Alma 10-12. Perguntem aos alunos: "O que
você aprendeu hoje que iria ajudá-lo a aproximar-se do Salvador?"
Esta questão personaliza a lição. Isso faz com que os alunos pensem
e ponderem sua situação pessoal perante Deus. Outras perguntas
poderiam ser: "Quando você sentiu que o plano de redenção
provocou mudanças em sua própria vida?" “O que você acha que
Deus quer que você faça para tirar pleno proveito do plano de
redenção?” Peça aos alunos para refletir sobre a questão, ou mesmo
escrever a sua resposta antes de responder em voz alta. Alguns
podem ser convidados a compartilhar as respostas. Este processo de
fazer perguntas faz com que apliquem o princípio e desta forma as
verdades eternas são levadas ao fundo do coração e mente dos
estudantes.
A caminho do descobrimento por parte do aluno. Quando os alunos
aceitam os convites a pensar e aprender, abre-se o cofre do
conhecimento divino. Convida-se a revelação para entrar no coração
e na mente. Isso pode suceder ao professor ao preparar-se e aos
alunos e professor na hora da lição na sala de aula. Este tipo de
ensino dá prazer e satisfação ao professor. Os estudantes passam
por uma experiência edificante porque estão envolvidos e dirigidos
pelo Espírito. Parece muito simples e, na verdade, de certa forma é,
mas também pode ser difícil e desafiador. Requerem-se trabalho,
esforço e muita prática! O aspecto mais importante de utilizar
perguntas para ensinar é o fato dos estudantes aprenderem a
descobrir por si mesmos as verdades do evangelho. Para poder
lecionar desta maneira o professor necessita da orientação do
Espírito. O Espírito guia o professor a saber quais são os princípios e
versículos a serem pesquisados. O Espírito também orienta no que
diz respeito a como, quando e a quem se deve perguntar.
Assim constatamos que há quatro tipos de perguntas que se podem
empregar: (1) perguntas de preparação professorial, (2) perguntas
que exigem uma pesquisa profunda e que convidam os alunos a
buscarem informações, (3) perguntas analíticas que fazem os
estudantes pensarem e analizarem e (4) perguntas aplicativas que
convidam o aluno a assemelhar as escrituras a si. Estes quatro tipos
de perguntas têm uma sequência lógica que leva ao descobrimento.
Alguns temem que essa lógica e ordem no ensino sejam restritivas e
que haja falta de variedade. Muitos professores já me relataram que
de início este método era desconfortável. No entanto, após um pouco
de prática estes mesmos professores relataram que era libertador e
inspirador. Já não fazem a pergunta "O que vou fazer amanhã?" Em
vez disso, o professor busca a leitura designada, em oração,
selecionando o que ele ou ela sente que será mais benéfico para os
alunos. O professor prepara as perguntas que incentivam os alunos a
buscar informações, analisar as informações e fazer aplicação prática
delas. Há muitas outras coisas que um professor do evangelho pode
utilizar na sala de aula, tais como o uso de imagens, histórias,
dramatizações, palestras e assim por diante. No entanto, as
perguntas fundamentais fornecem um quadro grande para construir
uma lição interessante.
Já visitei centenas de salas de aula e os efeitos de perguntas
poderosas são incríveis. Sentar-se em uma classe onde os alunos
estão dispostos, animados e empenhados e onde eles estão
participando, descobrindo, compartilhando, ensinando e até mesmo
testemunhando é quase indescritível. Os pensamentos que entram na
mente são: "Ah, se meu filho ou filha pudesse estar nessa classe!"
“Desejo que todos os jovens possam ter essa experiência.” "Cada
seminário e classe de instituto deveria ser assim.” Desenvolver o
talento de fazer perguntas vale a pena e vale todo o esforço para
desenvolvê-lo de modo que a revelação se manifeste em nossas
salas de aula e no coração e mente de cada aluno e professor.

Implementação
Devido ao fato do ensino ser tão habitual, às vezes parece que nós
professores entramos em “piloto automático” quando estamos à frente
da classe. Os professores praticam todos os dias, várias vezes ao
dia. As habilidades, pontos fortes e os talentos que têm sido
desenvolvidos ao longo dos anos tornam-se muito evidentes. As
deficiências dos professores também são facilmente observadas.
Portanto, é preciso um grande esforço, juntamente com um plano de
ação, para mudar e melhorar. Essas mudanças devem ser
sustentadas por um período de tempo suficientemente longo para que
os velhos hábitos e práticas ineficients sejam eliminados. Muitas
vezes é incômodo quando se prova uma nova ideia. Muitos jogam
suas mãos ao ar e dizem: "Não cabe a minha personalidade" ou "Isso
não funcionou para mim." Uma apreciação e compreensão do poder
que têm os hábitos em nossa vida podem dar uma força para o
professor ao escolher melhorar e crescer e se desenvolver na
aquisição de competências pedagógicas novas.
Como melhorar. Quanto mais uma pessoa anda por um caminho,
mais firme se torna o pisar. Uma chave para mudar o nosso estilo de
ensino é preparar um plano de aula com perguntas eficazes. Se um
professor não puder escrever uma boa pergunta, no silêncio do
escritório, será pouco provável que saia uma boa pergunta quando
ele estiver em frente de uma classe. O processo de pensar e escrever
facilita a melhoria e transformação dos métodos. Três perguntas bem
escritas para cada lição podem fazer maravilhas. Na verdade, o
processo de escrever grandes perguntas pode afetar a lógica e o
pensamento do professor tão profundamente que com tempo a
qualidade as perguntas melhorará.
Como ensinar utilizando perguntas. O professor não apenas se
levanta, fazendo uma pergunta após a outra. Trata-se de uma
experiência completa de pesquisar, discutir, descobrir, compartilhar e
ensinar. É muito edificante. O professor tem de decidir coisas como:
Discutimos juntos como uma classe, em grupos, em duplas ou
sozinhos? Devo contar a história ou o background, ou deixo que os
alunos contem, ou descobrimos juntos?
Nós todos sabemos que os amigos e colegas têm um poderoso efeito
na vida dos alunos. Devido a este elevado nível de influência de
colegas, é muito eficaz os estudantes darem as respostas às
perguntas e ensinarem-se uns aos outros. Uma das melhores
maneiras de ajudar os alunos a compartilhar e ensinar-se uns aos
outros é fazer uma pergunta que eles têm que responder para a
classe, para um grupo, ou para um colega. Por exemplo, as respostas
às perguntas: "Qual é a parte do plano que, ao seu ver, mais afetou
Zeezrom?” “Por quê?" Podem ser compartilhadas e discutidas em
classe, em pequenos grupos, ou em duplas. A pergunta também pode
ser solicitada da seguinte forma: "Que parte do plano você acha que a
juventude da Igreja precisa entender hoje em dia?" Ao
compartilharem suas respostas, os alunos estão se influenciando uns
aos outros, estão se ensinando uns aos outros. O Presidente Packer
ensinou que "se pode encontrar seu testemunho ao prestá-
lo!" [19] Por causa da participação dos alunos, o Espírito pode
testemunhar ao indivíduo que aquilo que ele está dizendo é verdade.
Pode também testemunhar a seu colega, a seu grupo, ou à classe
inteira. Isso faz com que os alunos se sintam de forma mais profunda
a importância do que aprenderam e chegaram a acreditar. Eles
sabem que sabem e sentem que sabem. Portanto, eles percebem
que têm um testemunho e isso é muito bom.

Conclusão
Aumentar a participação dos alunos tem alguns desafios. A maneira
em que os comentários são recebidos pelo aluno afeta o sucesso de
cada pergunta que se faz. Um professor precisa ter alta estima para
com os alunos. Os alunos precisam sentir que seus comentários são
valorizados e apreciados. Da mesma forma, um professor não pode
aceitar todas as opiniões como verdade, mas deve orientar a classe
para as conclusões adequadas. É preciso alguma prática e muito
amor para os alunos, recebendo graciosamente as suas resposta,
mas mantendo a pureza doutrinária. Quando o Espírito estiver
presente e as perguntas forem discutidas de forma eficaz, elas
inspirarão pensamentos, ideias e perguntas elevados por parte dos
alunos. Um professor não deve ser demasiadamente rígida, mas deve
estar aberto para que o Espírito dirija o ensino e aprendizado.
Considerem o seguinte comentário do Élder Cecil O. Samuelson:
"Admira-me cada vez que eu considero a maneira maravilhosa de que
o Profeta Joseph Smith usou perguntas adequadas, não só para
aumentar o seu conhecimento, mas também para aumentar a sua fé.
. . . A questão não é se devemos fazer perguntas e sim, quais são as
perguntas que devemos fazer? A minha experiência na ciência e na
medicina me leva a crer que o progresso real é quase sempre o
resultado de fazer as perguntas certas.” [20] Minha experiência
também me levou a acreditar que se quisermos fazer progresso real
em levar o evangelho ao coração e mente dos alunos, precisamos
estar fazendo as perguntas certas, sim as que convidam a revelação.
Se estamos cumprindo o encargo de "elevar nossas metas" e ajudar
nossos estudantes a"tornarem-se verdadeiramente convertidos ao
evangelho restaurado de Jesus Cristo enquanto estiverem
conosco," [21] devemos criar um clima em que o Espírito Santo possa
vir e ensinar com grande poder e transformar nosso coração. As
grandes perguntas são vitais para levar isto a efeito. Eu sei que essa
habilidade pode ser adquirida ao longo do tempo, através de um
esforço diligente e de muita prática. Assim como uma luz maravilhosa
sobreveio o Profeta Joseph Smith ao passo que ele fazia grandes
perguntas, esta mesma luz pode iluminar o coração e mente dos
professores do evangelho e os estudantes em toda parte, se
buscarmos a ajuda do Senhor para melhorar nossa capacidade de
fazer perguntas que convidam a revelação.

Notas
[1] Henry B. Eyring, “The Lord Will Multiply the Harvest,” discurso para
os educadores religiosos, 6 de fevereiro de 1998 (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1998) 5.
[2] Eyring, “The Lord Will Multiply the Harvest,” 5.
[3] Vide Ensinai o Evangelho, 13.
[4] Hales, “Teaching by Faith,” 6.
[5] Gene R. Cook, Teaching by the Spirit (Salt Lake City: Deseret
Book, 2000), 192.
[6] Richard G. Scott, “Helping Others to Be Spiritually Led,” discurso
no Simpósio do Sistema Educacional da Igreja, 11 de agosto de 1998
(Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints,
1998), 2–3.
[7] Henry B. Eyring, transmissão via satélite de treinamento para o
SEI, 10 de agosto de 2003
[8] J. Reuben Clark Jr., “The Charted Course of the Church in
Education,” in Charge to Religious Educators, 3rd ed. (Salt Lake City:
The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1994), 7.
[9] Jeffrey R. Holland, “We Are Teachers of the Gospel,” introdução a
“An Evening with Gordon B. Hinckley,” 15 de setembro de 1978.
[10] Eyring, CES transmissão via satélite de treinamento para o SEI,
10 de agosto de 2003.
[11] Jeffrey R. Holland, Relatório da Conferência Geral, abril de 1998,
32.
[12] Bruce R. McConkie, “Finding Answers to Gospel Questions,” in
Charge to Religious Educators, 79.
[13] Boyd K. Packer, Conferência Geral de outubro de 1986, 20.
[14] Holland, Conferência Geral de abril de 1998, 32.
[15] Jeffrey R. Holland, “Therefore, What?”discurso para a Vigésima
quarta Conferência Annual dos Educadores Religiosos do Sistema
Educacional da Igreja, 8 de agosto de 2000 (Salt Lake City: The
Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2000), 2.
[16] Holland, “Therefore, What?” 2.
[17] Eyring, CES transmissão via satélite de treinamento do SEI, 10
de agosto de 2003.
[18] A Current Teaching Emphasis for the Church Educational
System, carta de 4 de abril de 2003.
[19] Boyd K. Packer, “The Candle of the Lord,” Ensign , janeiro de
1983, 51–56.
[20] Cecil O. Samuelson Jr., “The Importance of Asking Questions,”
Brigham Young University 2001-2002 Speeches (Provo, UT: Brigham
Young University Press, 2002), 149–57.
[21] Henry B. Eyring, “We Must Raise Our Sights,” discurso para a
Conferência do Sistema Educacional da Igreja de 14 de agosto de
2001 (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints,
2001), 2.
Descobertas do Projeto de Estudo Dos Escritos
de Joseph Smith

Descobertas do Projeto de Estudo Dos Escritos


de Joseph Smith: Os Manuscritos Inciais

Robert J. Woodford

O Irmão Robert J. Woodford é instrutor aposentado do Sistema


Educacional da Igreja e redator da série Escritos de Joseph
Smith

O projeto de estudo dos escritos de Joseph Smith é uma obra


de muitos volumes que disponibilizará ao público mais de
quatro mil documentos relativos a Joseph Smith, inclusive
livros, diários, correspondências, discursos, revelações,
histórias e documentos legais. Trata-se de uma obra de
proporções monumentais que se tornou possível pela
colaboração generosa da Biblioteca de História da Igreja, várias
universidades, bibliotecas, sociedades históricas e certas
organizações religiosas que possuem os documentos. A obra
quando completa fará com que pessoas interessadas possam
estudar os documentos originais sem terem que viajar aos
diferentes lugares onde os documentos estão guardados, assim
preservando os documentos do desgaste natural que ocorre
quando os pesquisadores os tateiam.
Os primeiros dois volumes da Série de Documentos do Projeto
Escritos de Joseph Smith contêm mais de cem revelações, a
maioria das quais se encontram em Doutrina e Convênios. Dois
colegas e eu redigimos estes volumes que contêm as revelações
recebidas até o fim de 1833. Outros redatores estão revisando
o material recebido depois de 1833. O acesso mais amplo a
estes documentos nos expandiu a visão concernente a escrita,
redação e edição destas revelações. Um do propósitos deste
ensaio é o de apresentar um panorama de algumas das
descobertas consideradas importantes e interessantes das
quais uma exposição mais pormenorizada só será desponível
após a publicação dos volumes. Outro propósito é mostrar-lhes
as técnicas que desenvolvemos que realçaram muito nossa
capacidade de comparar e datar documentos múltiplos
relacionados a uma só revelação. Para que todos os leitores
tenham um background em comum, apresento os seguintes
fatos bem-documentados sem referências nem análise
adicionais:
Joseph Smith raramente escrevia as revelações dadas a ele; em
vez disso ditava-as a escrivões.
No verão de 1830 Joseph Smith e John Whitmer começaram a
organizar e copiar as revelações já recebidas e daí se fizeram
cópias dos documentos originais.
Já de início os manuscritos das revelações eram copiados por
membros da Igreja e missionários, assim multiplicando o
número de cópias em forma manuscrita.
Poucos manuscritos das revelações podem ser positivamente
identificadas.
Joseph Smith alterou certas revelações para corrigir alguns
erros e conformá-las com os conhecimentos posteriormente
revelados e com as mudanças de organização devido ao
crescimento da Igreja.
Em novembro de 1831, Joseph Smith e outros élderes da Igreja
decidiram imprimir as revelações em Missouri. Esta compilação
levaria o título "Um Livro de Mandamentos para a Governança
da Igreja de Cristo," conhecido popularmente como "O Livro de
Mandamentos."
Joseph Smith revisava e corrigia as revelações, quando
necessário, a fim de prepará-las para ser publicadas.
A publicação do Livro de Mandamentos findou no dia 20 de
julho de 1833 quando antagonistas destruiram a prensa e
espalharam as folhas do livro.
Cópias incompletas do Livro de Mandamentos foram
encadernadas por alguns indivíduos para seu próprio uso.
Em 24 de setembro de 1834, o sumo conselho de Kirtland,
Estado de Ohio,
Ordenou que Joseph Smith e outros reunissem pela segunda
vez as revelações para publicá-las. Fez-se um trabalho maciço
de redação naquela ocasião.
Em 17 de agosto de 1835 o livro de Doutrina e Convênios foi
apresentado numa conferência da Igreja e aceito como sendo a
palavra de Deus para o seu povo.
A versão de Doutrina e Convênios de 1835 continha sete
"Lições sobre a Fé" e 103 revelações.
Edições posteriores (principalmente as de 1844, 1876 e 1981)
aumentaram de número de revelações.
As "Lições sobre a Fé" foram omitidas na edição de 1921.

Método de Pesquisa Refernete ás Recelações


Ao preparar as revelações para o Projeto Escritos de Joseph
Smith, o manuscrito completo mais antigo de cada revelação foi
utilizado como o texto principal com todas as outras versões
citadas nas notas apropriadas conforme as fontes. Às vezes foi
difícil determinar qual era a versão mais antiga. Nestes casos
analizamos os fatos históricos conhecidos, os escrivões e o
próprio texto para fazer uma determinação. Mesmo assim,
havia meia dúzia de revelações para as quais tivemos que fazer
a melhor suposição possível quanto À antiguidade dos
manuscritos.
No que diz respeito Às variações no texto das revelações, foi de
muita preocupação, especialmente se as diferenças se tratavam
de questões doutrinárias. As variações são uma realidade,
porém uma discussão adequada delas não cabe dentro do
alcance deste trabalho. Os volumes que logo serão publidados
tratam das variações expressivas. é importante observar aqui
que as alterações só têm valor histórico pois a edição atual de
Doutrina e Convênios é o único texto autorizado destas
revelações.

Compliação de um Texto Padrão


Mais de um estudante do Livro de Mórmon já escreveu sobre as
variações de texto que existem entre várias cópias da primeria
edição do Livro de Mómon, a de 1830. Royal Skousen nos ajuda
a responder a esta pergunta de como ocorreram estas variações
pela seguinte explicação. O tipógrafo da primeira edição do
Livro de Mómon de 1830 fazia a composição tipogáfica de uma
seção de dezesseis páginas por vez (cada seção de quatro
fólios [dezesseis páginas ao todo] se chamava "assinatura").
Então ele imprimia cinco mil cópias daquela assinatura, aí
colocava o tipo de mais uma assinatura e imprimia-a e assim
por diante. Ao imprimir as cópias de uma assinatura o
impressor examinava a primeira assinatura para ver se havia
erros tipográficos. Depois de verificar a prova tipográfica,
mandava parar a prensa para corrigir os erros tipográficos e
logo continuava a imprimir as folhas daquela assinatura. Porém,
não se descartavam as folhas já impressas, mesmo com erros, e
elas foram utilizadas na encadernação do Livro de Mórmon. Em
alguns casos o tipógrafo de 1830 interrompeu o processo mais
de uma vez (num caso, mandou parar a prensa cinco vezes) ao
continuar a encontrar erros nas folhas que saíam da prensa. Por
outro lado, no caso de algumas assinaturas, a impressão nunca
parou e aquelas assinaturas eram iguais em todas as cópias do
livro. Ao examinar cerca de cem cópias da edição de 1830,
Skousen não encontrou duas cópias encadernadas iguais
devido a todas essas alterações feitas pelo impressor. [1]
Pode-se elaborar agora um trabalho semelhante a respeito das
variações que se encontram nas muitas cópias do Livro de
Mandamentos. Já sabíamos que existiam pelo menos três
páginas de rosto diferentes nas cópias ainda existentes do
livro mas agora sabemos que também há variações de texto só
na página de rosto. Embora as variações sejam mínimas, é
importante estabelecer uma versão padrão pela qual se
comparam os outros textos. Os redatores dos Escritos de
Joseph Smith escolheram a cópia do Livro de Mandamentos
arquivada na Biblioteca de História da Igreja a qual foi doada
por Wilford Woodruff.

Comparação de Textos
Desenvolvemos um método interessante de comparar os vários
textos de uma só revelação que passamos a chamar "lineups
[tirado da expressão inglêsa usada pelos policias para
descrever uma fileira de vários suspeitos que se faz para que a
vítima indentifique o culpado]." Colocávamos primeiro no início
de uma página uma linha de texto da versão mais antiga e
debaixo dela colocávamos, por ordem cronológica, as linhas
correspondentes de todos os outros documentos, repetindo o
processo para cada linha até o fim da revelação.
O exemplo 1 é da última parte da seção 4 de Doutrina e
Convênios e contém um manuscrito e três versões publicadas:
o Livro de Mandamentos e as versões das edições de 1835 e de
1844 de Doutrina e Convênios. As principais variações
ocorreram entre o Livro de Mandamentos e a edição de 1835 de
Doutrina e Convênios. Joseph Smith liderou o grupo que redigiu
a edição de 1835 e as alterações foram feitas sob a direção
dele. Então os membros da Igreja apoiaram a edição de 1835
como a palavra do Senhor para eles.

Exemplo 1

Manuscrito 1133
layeth up his store that he perish not but bringeth salvation to
his own soul & faith
[faz sua reserva de modo que não parece mas traz salvação a
sua alma & fé]
Livro de Mandamentos
layeth up in store that he perish not, but bringeth salvation to
his soul, and faith,
[faz sua reserva de modo que não parece, mas traz salvação a
sua alma, e fé,]
D&C 1835
layeth up in store that he perish not, but bringeth salvation to
his soul, and faith,
[faz sua reserva de modo que não perece, mas traz salvação a
sua alma, e fé]
D&C 1844
layeth up in store that he perish not, but bringeth salvation to
his soul, and faith,
[faz sua reserva de modo que não parece, mas traz salvação a
sua alma, e fé]
Manuscrito 1133
hope charity & love with an eye single to the glory of God
constitutes him for the work
[esperança caridade & amor com os olhos fitos na glória de
Deus constitui-o para o trabalho]
Livro de Mandamentos
hope, charity, and love, with an eye single to the glory of God,
qualifies him for the work.
[esperança, caridade e amor, com os olhos fitos na glória de
Deus, qualificam-no para o trabalho.]
D&C 1835
hope, charity, and love, with an eye single to the glory of God,
qualifies him for the work.
[esperança, caridade e amor, com os olhos fitos na glória de
Deus, qualificam-no para o trabalho.]
D&C 1844 hope, charity, and love, with an eye single to the
glory of God, qualifies him for the work. [esperança,
caridade e amor, com os olhos fitos na glória de Deus,
qualificam-no para o trabalho.]

Manuscrito 1133
remember temperance patience
[lembrai-vos da temperança da paciência]
Livro de Mandamentos
Remember temperance, patience,
[Lembrai-vos da temperança, da paciência]
D&C 1835
Remember faith, virtue, knowledge, temperance, patience,
brotherly kindness,
[Lembrai-vos da fé, da virtude, do conhecimento, da
temperança, da paciência, da bondade fraternal,]
D&C 1844
Remember faith, virtue, knowledge, temperance, patience,
brotherly kindness,
[Lembrai-vos da fé, da virtude, do conhecimento, da
temperança, da paciência, da bondade fraternal,]

Manuscrito 1133
humility diligence & C. Ask & ye shall receive knock & it shall be
[da humildade da diligência & da C. Pedi & recebereis batei e
ser-vos-á
Livro de Mandamentos
humility, diligence, &c., ask and ye shall receive, knock and it
shall be
[da humildade, da diligência &c., pedi e recebereis, batei e ser-
vos-á]
D&C 1835
godliness, charity, humility, diligence. Ask and ye shall receive,
knock and it shall be
[da piedade, da caridade, da humildade, da diligência. Pedi e
recebereis, batei e ser-vos-á]
D&C 1844
godliness, charity, humility, diligence. Ask and ye shall receive,
knock and it shall be
[da piedade, da caridade, da humildade, da diligência. Pedi e
recebereis, batei e ser-vos-á]

Manuscrito 1133
opened unto you amen
[aberto amém]
Livro de Mandamentos
opened to you: Amen.
[aberto: Amém]
D&C 1835
opened unto you. Amen.
[aberto. Amém.]
D&C 1844
opened unto you: Amen.
[aaberto: Amém]

Exemplo 2
No seguinte exemplo bem mais complexo de uma linha da
seção 42 de Doutrina e Convênios, seis cópias de manuscritos
são comparadas com cinco edições publicadas: PT (Painesville
Telegraph [jornal], setembro de 1831), EMS (Evening and
Morning Star[outro jornal], julho de 1832), BC (Livro de
Mandamentos de julho de 1833), e as edições de 1835 e de
1844 de Doutrina e Convênios. Os documentos se apresentam
em ordem cronológica, começando pelo mais antigo. (As
abreviaturas usadas para identificar os manuscritos são para
uso interno e não serão elaboradas aqui. Nos volumes
publicados constarão todos os detalhes.)
O texto da edição atual de Doutrina e Convênios apareceu pela
primeira vez no manuscrito BkA, com data de outono de 1831.
Os manuscritos ZC e JW obviamente foram copiados uma da
outra ou tinham uma fonte em comum que pode refletir um
texto anterior e menos refinado. O manuscrito denominado BCR
serviu de fonte para as versões impressas. EMS e BC mostam
uma redação posterior que conforma com as versões
impressas. Porém é interessante notar que embora o texto BCR
fosse identificado como sendo o mais antigo, usamos RWD
como o texto principal porque inclui uns trechos que não se
encontram nos outros manuscritos.

Exemplo 2
BCR
hath [has] authority & it is known to the Church that he hath
[has] authority & has
[tenha autoridade & que a Igreja saiba que tem autoridade &
foi]
RWD
hath authority & it is known to the church that he hath authority
& have
[tenha autoridade & que a Igreja saiba que tem autoridade &
foi]
PT
hath authority, and it is known to the church that he hath
authority, and have
[tenha autoridade, e que a Igreja saiba que tem autoridade e
foi]
BkB
hath authority & it be known to the Church that he hath
authority & has
[tenha autoridade & que a Igreja saiba que tem autoridade &
foi]
BkA
has authority & it is known to the Church that he has authority
& has
[tenha autoridade & que a Igreja saiba que tem autoridade &
foi]
ZC
has authority & has
[tenha autoridade & tenha sido]
EMS
has authority, and it is known to the church that he has
authority, and has
[tenha autoridade, que a Igreja saiba que tem autoridade e foi]
BC
has authority, and it is known to the church that he has
authority, and has
[tenha autoridade, e que a igreja saiba que tem autoridade e
foi]
JW
has authority, and has
[tenha autoridade e tenha sido]
D&C 1835
has authority, and it is known to the church that he has
authority, and has
[tenha autoridade, e que a igreja saiba que tem autoridade e
foi]
D&C 1844
hath authority, and it is known to the church that he has
authority, and has
[tenha autoridade, e que a igreja saiba que tem autoridade e
foi]

Datas das Revelações


Agora podemos fixar a data das revelações com mais exatidão
do que antes era possível. A maioria das revelações de Doutrina
e Convênios levam a data certa mas há algumas cujas datas
estão erradas (nada de sério na maioria do casos), porém se
trata de algo importante e interessante. Na seguinte relação
destas revelações, a data que aparece entre parênteses é a que
se encontra na atual edição do livro de Doutrina e Convênios:

Seção 10 (verão de 1828)


Embora as duas datas dadas a esta revelação sejam de dia
primeiro de maio de 1829 e depois o verão de 1828, sentimo-
nos confiantes que se esta não for uma revelação composta de
mais de uma revelação combinadas depois, a data correta é de
abril de 1829, logo após a chegada de Oliver Cowdery em 5 de
abril. Mesmo sendo composta, a data de abril de 1829 seria a
mais provável, levando em conta os fatos históricos.

Seção 20 (abril de 1830)


Embora as partes essenciais fossem escritas num período de
um ano, mais ou menos, agora sabemos que a versão contida
na edição atual de Doutrina e Convênios foi escrita no dia 10 de
abril de 1830.
Seção 23 (abril de 1830)
Na verdade esta seção é composta de cinco revelações
impressas no Livro de Mandamentos. Naquele livro constava a
data de 6 de abril de 1830. Embora esta data específica não
aparecesse em edições subsequentes da seção 23, é importante
notar que agora sabemos que 6 de abril não pode ser a data em
que a revelação foi recebida e a que aparece no Livro de
Mandamentos está errada. Este fato invalida o argumento
proposto por alguns de que o local da organização da Igreja foi
Manchester e não Fayette, Estado de Nova York.

Seção 27 (agosto de 1830 e o restante em setembro do


mesmo ano)
Esta seção trata da fusão de pelo menos duas revelações
separadas e as datas dela variam de julho a setembro de 1830.
Podemos dizer com certeza que a primeira parte foi recebida
em princípios de agosto de 1830. Já não existe uma versão
completa, nem manuscrita nem impressa, com data anterior À
versão da edição de 1835, contudo as evidências indicam que
setembro de 1830 é a data da segunda parte.

Seção 35 (dezembro de 1830)


Agora possuímos evidência suficiente que esta revelação foi
recebida no dia 7 de dezembro de 1830.

Seção 36 (dezembro de 1830)


Sabemos agora que esta revelação foi recebida no dia 9 de
1830.

Seção 40 (janeiro de 1831)


A primeira revelação a James Covill (D&C 39) foi recebida em 5
de janeiro de 1830 e agora sabemos que foi recebida no dia
seguinte, 6 de janeiro. Também existe evidência que James
Covill era pastor metodista e não batista.

Seção 42 (9 de fevereiro de 1831)


Os estudiosos do livro de Doutrina e Convênios sempre sabiam
que a seção 42 de Doutrina e Convênios é composta de duas
revelações, uma que se recebeu em 9 de fevereiro de 1831 e a
outra em 23 de fevereiro mas o que não é de conhecimento
geral é que há uma parte desta seção que nunca foi publicada e
outra parte que foi apagada da versão que se encontrava no
Livro de Mandamentos.

Seção 48 (março de 1831)


Podemos agora fixar a data desta seção em 10 de março de
1831.

Seção 49 (março de 1831)


Embora a edição atual de Doutrina e Convênios mostre a data
de março de 1831, podemos provar que a revelação realmente
foi recebida no dia 7 de maio de 1831.
Seção 50 (maio de 1831)
A data exata desta revelação é de 9 de maio de 1831.

Seção 51 (maio de 1831)


Podemos mostrar que esta revelação foi recida em 20 de maio
de 1831.

Seção 52 (7 de junho de 1831)


Agora aceitamos a date de 6 de junho de 1831 como data desta
revelação e não dia 7 conforme a atual edição de Doutrina e
Convênios.

Seção 53 (junho de 1831)


Constatamos que a data desta seção é dia 8 de junho de 1831.

Seção 54 (junho de 1831)


Constatamos que foi recebida no dia 10 de junho de 1831.

Seção 55 (junho de 1831)


Aceita-se agora a data de 14 de junho de 1831.

Seção 56 (junho de 1831)


A data exata desta revelação é no dia 15 de junho de 1831.
Seção 63 (fins de agosto de 1831)
Há evidência que a revelação foi dada em 30 de agosto de
1831.

Seção 65 (outubro de 1831)


Verificamos que a data certa é dia 30 de outubro de 1831.

Seção 66 (25 de outubro de 1831)


Sabemos agora que a data certa é dia 29 de outubro de 1831.

Seções 1, 67-70; parte da seção 107 e seção 133


Estas revelações foram recebidas durante uma conferência
extensiva em princípios de novembro de 1831. Através de
pesquisas apuradas podemos agora provar que as revelações
foram recebidas na seguinte ordem:
--Seção 68 (novembro de 1831) = dia primeiro de novembro
--Seção 1 (primeiro de novembro de 1831) primeiro de
novembro
--Depoimento das Testemunhas do Livro de Mandamentos =
primeiro de novembro
--Seção 67 (novembro de 1831) = dia 2 de novembro
--Seção 133 (3 de novembro de 1831) = 3 de novembro
--Seção 69 (novembro de 1831) = 11 de novembro
--Seção 107:59-100 passim (25 março de 1835) = 11 de
novembro
--Seção 70 (12 de novembro de 1831) = 12 de novembro
O Depoimento das Testemunhas do Livro de Mandamentos não
foi incluído no livro, o qual não foi completado porém uma
versão modificada foi incluída na edição de 1835 de Doutrina e
Convênios como o Testemunho dos Doze Apóstolos. [2] Os
dois testemunhos foram incluídos na Introdução Explanatória
da edição de 1921 do livro de Doutrina e Convênios e nas
edições posteriores. O Depoimento das Testemunhas do Livro
de Mandamentos foi tirada a partir da edição de 1981.

Seção 74 (janeiro de 1832)


Trata-se de uma verdadeira surpresa para aqueles que
pensavam que fosse uma revelação recebida com relação ao
trabalho de correção da Bíblia por Joseph Smith. Na verdade a
revelação foi recebida em fins de 1830, e não em janeiro de
1832 como consta em todas as edições de Doutrina e
Convênios. Provavelmente surgiu devido a discussões sobre o
batismo de infantes.

Seção 78 (março de 1832)


Agora reconhecemos a data de primeiro de março de 1832.

Seção 79 (março de 1832)


Constatamos que foi recebida em 12 de março de 1832.

Seção 80 (março de 1832)


A data correta é do dia 17 de março de 1832.

Seção 81 (março de 1832)


Dia 15 de março de 1832.

Seção 84 (22 e 23 de setembro de 1832)


Doutrina e Convênios, seção 84 sempre levou esta data mas
agora sabemos que os versículos até 102 foram recebidos no
dia 22 e de 103 em diante no dia 23.

Seção 94 (6 de maio de 1833)


A data em que foi recebida agora ficou acertado: dia 2 de
agosto de 1833.

Seção 95 (primeiro de junho de 1833)


Agora aceitamos dia 3 de junho de 1833 como a data correta.

Seção 99 (agosto de 1832)


A data correta é do dia 29 de agosto de 1832.

Seção 101 (6 de dezembro de 1833)


A revelação foi escrita em 16 e 17 de dezembro de 1833.
As revelações depois da seção 101 foram recebidas após 1833
e portanto não fazem parte do trabalho que elaboramos
referente Às revelações recebidas de 1828 até o fim de 1833.

A Coincidência das as Revelações com Eventos


Históricos
O que segue é só uma amostra do entendimento que
adquirimos ao conectar a mensagem de cada revelação aos
eventos daquela época.

Seção 20.
Pergunta: Como pode uma revelação escrita durante o mesmo
mês em que a Igreja foi organizada ter informações
concernentes aos élderes presidentes, bispos viajantes, sumo
conselheiros, sumo sacerdotes, presidentes, sumo conselho e
bispos (versículos 66-67) visto que estes ofícios não foram
revelados até anos depois?
Resposta: Nas edições de 1876 até 1920 havia um asterisco
que precedia o versículo 65 referente a uma nota de rodapé
que dizia: "Os versículos 65, 66 e 67 foram acrescidos algum
tempo depois dos outros." Não há nenhum manuscrito da seção
20 que inclua estes versículos e a primeira versão de Doutrina e
Convênios em que aparecem é a de 1835.

Seção 45.
Pergunta: Qual é a relação entre a seção 45 de Doutrina e
Convênios e o capítulo 24 de Mateus que agora aparece na
Pérola de Grande Valor? Até uma leitura superficial revela que a
seção 45 se relata À profecia do Monte das Oliveiras em Mateus
24
Resposta: A seção 45 foi recebida no dia 7 de março de 1831 e
não tinha vínculo com o trabalho de tradução da Bíblia que
Joseph Smith fazia mas foi dada como defesa contra "falsos
relatos e histórias tolas" (vide a introdução de D&C 45). Naquela
época Joseph Smith estava traduzindo o texto do Velho
Testamento e não do Novo Testamento. Muitos dos conversos
À Igreja de Ohio dos anos 1830 a 1831 haviam previamente
seguido Alexander Campbell o qual rejeitava os credos das
Igrejas cristãs e procurava restaurar a antiga ordem das coisas.
Conhecidos como "Discípulos," acreditavam que a reformação
lançado por Campbell daria início ao Milênio. Segundo Amos S.
Hayden, um dos pregadores e historiadores do movimento:
"Encarava-se a restauração do antigo evangelho como o
movimento inicial que, conforme pensavam, se espalharia tão
rapidamente que as igrejas existentes seriam desorganizadas
quase de imediato para que o povo verdadeiro, um
remanescente de Cristo entre as seitas, de acordo com esta
crença, abraçasse de imediato estas opiniões de Campbell que
era "evidentes" pelas escrituras e formasse a união dos cristãos
pela qual se tinha orado tanto e que estabeleceria o
Milênio. [3] Os Discípulos que se tornaram Santos dos últimos
Dias se fortaleceram na sua esperança do Milênio porque agora
acreditavam que Deus havia intervindo e restaurado por meio
de Joseph Smith a verdadeira "ordem antiga."
Muitas das revelações iniciais recebidas por Joseph Smith,
inclusive esta, tratavam de assuntos escatológicos [referentes
ao destino humano e consumação do séculos]. A escatologia
dos Santos dos últimos Dias com sua visão da destruição
iminente dos iníquos e o triunfo milenar dos justos oferecia
uma segurança poderosa em face da oposição que
enfrentavam. Os jornais locais e daqueles dias de vez em
quando publicavam "relatos falsos, mentiras e histórias tolas" e
os membros da Igreja "tinham que lutar contra tudo que o
preconceito e a inqüidade pudessem inventar," mas Joseph
Smith relatou que esta revelação foi recebida "para a felicidade
dos santos," com enfoque temático no fim dos tempos. [4]
O que torna esta revelação significativa é o fato dela
representar outro relato da mensagem do Salvador a seus
discípulos no Monte das Oliveiras (Mateus 24) em que se
resolve a velha controvérsia entre os cristãos quanto À
cronologia destes eventos. Uma opinião era que os eventos
previstos já haviam se cumprido durante a geração do Novo
Testamento; outra interpretação colocava todos os eventos no
fim da história do mundo. Esta revelação deixa claro que alguns
acontecimentos passaram logo após a morte do Salvador e
outros aconteceriam um pouco antes do Milêmio. A clareza e
especifidade da revelaçao também serviam para confirmar o
sentimento que os conversos tinham de que realmente viviam
nos últimos dias.
Contudo, nos versículos 60 e 61 de seção 45 revela-se o
seguinte:
"E agora, eis que vos digo que nada mais vos será dado a saber
concernente a este capítulo, até que o Novo Testamento seja
traduzido; e nele todas estas coisas serão dadas a conhecer;
Portanto agora vos permito traduzi-lo, para que estejais
preparados para as coisas que hão de vir." No dia seguinte, dia
8 de março, Joseph Smith e Sidney Rigdon deram início ao
trabalho do Novo Testamento e dentro de poucos dias
chegaram ao capítulo 24 de Mateus. Obviamente sentiam
urgência de comunicar esta parte da Tradução de Joseph Smith
aos Santos logo que fosse possível de maneira que uma folha
grande foi publicada e distrubuída. Os missionários da época
levavam cópias À Inglaterra onde Franklin D. Richards publicou
a primeira edição da Pérola de Grande Valor em 1851. A folha
foi incluída e continua naquele livro até hoje.

Seções 48 e 68.
Pergunta: Como podem estas duas revelações de 1831 conter
trechos referentes À Presidência da Igreja quando a Presidência
do Sumo Sacerdócio só foi formada um ano depois em março
de 1832 e a Primeira Presidência da Igreja em março de 1833?
Resposta: Antes de 1835, a seção 48 dizia: "E então começareis
a reunir-vos com vossa família, cada homem de acordo com
sua família, de acordo com suas condições e conforme lhe for
designado pelo bispo e pelos élderes da igreja, segundo as leis
e mandamentos que recebestes e que recebereis daqui em
diante; assim seja: Amém" (versículo 6). [5]
De modo semelhante a seção 68 dizia: "Portanto será um sumo
sacerdote digno e será designado pela conferência de sumo
sacerdotes" (versículo 15). [6] Os versículos 16 a 21 também
mencionam a presidência mas somente a partir da edição de
março de 1835. Na versão anterior os versículos 22 e 23
diziam: "E também nenhum bispo ou juiz que for designado
para este ministério será julgado ou condenado por qualquer
crime, a menos que seja diante da conferência de sumos
sacerdotes; e se for considerado culpado diante da conferência
de sumos sacerdotes e por testemumho que não possa ser
refutado, ele será ou condenado ou perdoado de acordo com as
leis da igreja." [7] As alterações, tais como a colocação de
"Primeira Presidência" no lugar de "conferência de sumos
sacerdotes," refletem uma organização em pleno crescimento e
expansão em números e em muitos territórios.
Seção 64, versículo 27. O versículo 27 diz: "Eis que minhas leis
dizem, ou seja, proíbem contrair dívidas com vossos inimigos."
Pergunta: Onde é que se encontram estes conselhos nas
revelações?
Resposta: Previamente faziam parte da seção 42 mas foram
trirados. Dizia: "Até que ponto devemos fazer comércio com o
mundo e como devemos conduzir nossos negócios com eles?
Não contrairás dívidas com eles e os élderes e bispos se
reunirão em conselho e farão o que for necessário conforme
guiados pelo Espírito." [8]
Seção 77.
Pergunta: Por que a seção 77 só apresenta a interpretação dos
primeiros onze capítulos do livro de Apocalipse?
Resposta: No dia 16 de fevereiro de 1832, enquanto trabalhava
com a Tradução de Joseph Smith da Bíblia, o Profeta e Sidney
Rigdon receberam "A Visão" (vide D&C 76). Esta revelação foi
dada quando revisavam o capítulo 5 de São João devido ao fato
da mensagem do versículo vinte e nove tê-los "maravilhado."
Desde o começo do projeto haviam escrito por extenso cada
versículo. Por algum motivo desconhecido alteraram este
processo trabalhoso no próximo capítulo e daquele ponto em
diante o manuscrito da Traduão de Joseph Smith só contém
textos novos, emendados ou imbutidos. Esta mudança de
metodologia possibilitou que acelerassem a revisão da Bíblia e
nas próximas cinco semanas conseguiram completar a revisão
do Novo Testamento. No dia 20 de março completaram os
primeiros onze capítulos de Apocalipse. Também nesta data
Joseph Smith recebeu uma revelação nunca publicada em
Doutrina e Convênios. Uma parte dela diz: Completaremos a
tradução do Novo Testamento antes de irmos a Sião ou
esperaremos para completá-la depois da nossa volta? Convém,
diz o Senhor, que não haja demora em irmos e isso, diz o
Senhor, é de grande proveito e benefício para a igreja, portanto
deixa a tradução no presente momento (20 de março de 1832
em Hyrum, Estado de Ohio). [9] Joseph Smith escreveu: "'Com
referência À tradução das escrituras recebi a seguinte
explicação da revelação, Apocalipse, de São João'" (vide a
introdução da seção 77 de D&C). Já que a seção 77 tem data de
março de 1832, deve ter sido recebido alguns dias antes do dia
20 de março enquanto os dois homens labutavam para
entender e corrigir este livro muito simbólico. Inclui uma
interpretação dos primeiros onzes capítulos só porque o
restante do livro foi corrigido depois da volta do Profeta de
Missouri em junho do mesmo ano. Saliento que não existe hoje
o manuscrito das interpretações dos capítulos que seguem o
capítulo onze.

Seções 81, 90, 107.


Pergunta: Como é que se pode explicar a ordem inversa dos
eventos destas revelações?
Resposta: Na seção 81 de março de 1832, Frederick G. Williams
recebe seus deveres como conselheiro do Presidente do Sumo
Sacerdócio. Na seção 90, versículo 6, que se recebeu um ano
depois em março de 1833, ele recebe o chamado para tal
cargo. Na seção 107 com data de 28 de março de 1835, o
Senhor revela nos versículos 65-66 que deve haver um
Presidente do Sumo Sacerdócio. (Por inferência, qualquer
conselheiro do Presidente receberia o chamado depois do ofício
ser revelado.) Logo a seqüência é o contrário do que se espera:
primeiro a revelação do cargo, depois o chamado e então uma
delineação dos deveres do cargo.
O último período da introdução da seção 107 nos alerta que a
seção é realmente um composto de várias revelações, sendo
algumas partes escritas em novembro de 1831. Os versículos
65-66 fazem parte desta porção de modo que o ofício de
Presidente do Sumo Sacerdócio foir revelado em novembro de
1831. Um pouco menos de três meses depois, em 25 de janeiro
de 1832, numa conferência da Igreja em Amhurst, Estado de
Ohio, Joseph Smith
foi apoiado como Presidente do Sumo Sacerdócio (vide a
introdução da seção 75 de D&C). Menos de dois meses mais
tarde, Joseph Smith chamou dois conselheiros À Presidência,
Jesse Gause e Sidney Rigdon. [10] Durante o mesmo mês, em
15 de março de 1832, Joseph Smith recebeu a seção 81
explicando a Jesse Gause, e não Frederick G. Williams, seus
deveres de conselheiro (vide a introdução da seção 81 de D&C).
Gause apostatizou em fins de 1832 e Williams foi chamado para
substituí-lo em março de 1833 (vide D&C 90:6). Então o nome
de Gause foi removido de D&C 81 e o nome de Williams foi
inserido. (Pode-se substituir o nome de qualquer conselheiro
da Primeira Presidência porque os deveres se aplicam a todos
que serviram neste cargo ao longo dos anos.) Embora a
seqüência pareça estar errada em Doutrina e Convênios, os
eventos históricos mostram que a revelação dos ofícios e os
chamados da Presidência do Sumo Sacerdócio ocorreram na
ordem apropriada.

Revelações Não Publicadas


Algumas revelações nunca foram publicadas mas agora estarão
mais disponíveis aos membros da Igreja através do Projeto
Escritos de Joseph Smith. Incluem-se as seguintes revelações:
1. Revelação concernente a Joseph Smith Sênior, Ezra Thayre e
Frederick G. Williams. Williams, um fazendeiro e doutor de
hervas medicinais, foi convertido pelos "Missionários aos
Lamanitas" em novembro de 1830 e acompanhou-os na sua
missão ao Estado de Missouri. Os registros de propriedades de
Kirtland de 1830 mostram que Williams possuia lotes contíguos
de 75 acres [33,3 hectares] e de 67 acres [30 hectares] cada
um. Antes de partir para Missouri no outono de 1830, Williams
aparentemente havia cedido suas terras À Igreja os fins de
consagração. Embora Joseph Smith não conhecesse Williams até
julho de 1831 quando chegou a Missouri para dedicar o local
da Nova Jerusalém (vide seção 57), esta revelação aconselha o
Profeta a utilizar uma parte da fazenda de Williams para fins
específicos. Em fins de agosto de 1831, quando Joseph Smith
voltou de Missouri, precisava resolver alguns problemas
referentes Às terras que envolviam Williams, Ezra Thayre e
Joseph Smith Sênior. Uma revelação recebida em 11 de
setembro (D&C 64:21) tratava ainda mais destes problemas. Por
fim, numa conferência de élderes que se realizou em Kirtland
no dia 10 de outubro de 1831 o assunto foi resolvido. Só as
decisões e não os pormenores nos restam na ata da
conferência. A Igreja proveria uma moradia confortável para a
família Williams, Joseph Smith Sênior gerenciaria a fazenda e a
distribuição de seus produtos e a família Thayre family poderia
permanecer na fazenda até a primavera. E a conferência
repreendeu tanto o pai do Profeta como Ezra Thayre "por terem
levado este incidente por um caminho tolo." Que as soluções
era difíceis de achar evidencia-se pela decisão de que o irmão
Thayre "fosse severamente repreendido pelo resrespeito que
mostrou À conferência." A conferência autorizou o agente do
bispo Newel K. Whitney (vide D&C 63:42-45) a apresentar o
caso da família Williams "perante a igreja" e assegurar que
recebessem moradias confortáveis "segundo o mandamento do
Senhor," palavras que claramente se referem a esta
revelação. [11]
2. Os Artigos da Igreja de Cristo de Oliver Cowdery. Trata-se de
um manuscrito de três páginas escrito À mão por Oliver
Cowdery, citando extensivamente passagens do Livro de
Mórmon, principalmente do Livro de Morôni. O documento
começa assim: "Um mandamento de Deus a Oliver de sobre a
edificação da igreja e de que maneira se deve fazê-lo," e
conclui com esta palavras: "Escrito no ano do nosso Senhor e
Salvador de 1829-Uma cópia fiel dos artigos da Igreja de
Cristo." [12]
Este documento tem um vínculo inconfundível com a seção 20
de Doutrina e Convênios, Os Artigos e Convênios da Igreja de
Cristo. Todas as citações e paráfrase de trechos do Livro de
Mórmon deste documento também se encontram na seção 20.
Em princípios de junho de 1829, havendo quase competado a
tradução do Livro de Mórmon e estando ciente das declarações
recém recebidas de que a igreja de Cristo se estabeleceria outra
vez aqui na terra, Joseph Smith ditou uma revelação que
continha "instruções relativas À edificação da igreja de Cristo
segundo a plenitude do evangelho" (D&C 18). Uma parte desta
revelação foi dirigida a Oliver Cowdery. Este foi instruído a
liderar a pregação do evangelho, tendo recebido "o mesmo
chamado pelo qual [Paulo] foi chamado" (D&C 18:9), e,
antecipando a futura "edificação da igreja de Cristo," parace
que Oliver foi convidado para preparar um resumo exato da
organização política da Igreja, "baseando-se nas coisas. . .
escritas" no Livro de Mórmon.
3. Evidentemente uma revelação foi recebida referente ao
copyright do Livro de Mórmon no Canadá e daí em todo o Reino
Unido. O texto desta revelação nunca esteve disponível de
forma que aqueles que escerveram a seu respeito dela tiveram
que fazer suposições baseadas em informações incompletas.
Agora podemos derramar mais luz sobre esta revelação que
nunca antes foi publicada. Terão que esperar, porém, a
publicação dos volumes deste tomo.
4. Há uma revelação suposta datada em 17 de julho de 1831
em que os élderes da Igreja são convidados a casarem-se com
as "lamanitas." Trata-se de uma reconstrução feita trinta anos
mais tarde com muitas incoerências anacrônicas. No Projeto
Escritos de Joseph Smith só se imprime esta "revelaçõ" no
apêndice porque sua procedência não pode ser
satisfatoriamente estabelecida. Incluímos argumentos no anexo
junto com o documento expondo os motivos de rejeitarmo-lo
na forma em que está escrito.

Conclusão
Os volumes do Projeto Escritos de Joseph Smith serão
publicados ao longo de uma década, ou mais. Felizmente os
primeiros dois volumes da série Documentos, os quais contêm
a maioria das revelações, serão entre os primeiros a serem
publicados. As evidências bem documentadas e
pormenorizadas nestes volumes verificarão o panorama que
apresentei aqui bem como muito mais assuntos além do
alcance deste trabalho. Futuros estudantes e pesquisadores
terão a sua disposição os recursos mais completos que existem
sobre o recebimento, registro e edição das revelações. Embora
a apresentação dos materiais seja erudita, aqueles que
reconhecem que Joseph Smith foi um profeta de Deus também
acharão nestes volume muitas evidências para confirmar a sua
fé.

Notas
[1] Comunicação pessoal, Royal Skousen. Para mais
informações, vide History of the Text of the Book of Mormon,
volume 3 de texto crítido do Livro de Mórmon (logo será
publicado pelo Instituto Maxwell Institute da BYU).
[2] Doutrina e Conênsio, edião de 1835, 256.
[3] Amos S. Hayden, Early History of the Disciples in the
Western Reserve (Cincinnati: Chase & Hall, 1876), 183.
[4] Dean C. Jessee, ed., Papers of Joseph Smith (Salt Lake City:
Deseret Book, 1989), 1:350.
[5] Book of Commandments [Livro de Mandamentos] 51:6.
[6] Evening and Morning Star(jornal), outubro de 1832, 35.
[7] Evening and Morning Star, outubro de 1832, 35.
[8] Manuscrito de Symonds Ryder, MS 4583, box 1, folder 13,
1831, Church History Library, Salt Lake City.
[9] Manuscrito de uma página na letra de Sidney Rigdon, Newel
K. Whitney Papers, L. Tom Perry Special Collections, Harold B.
Lee Library, Brigham Young University.
[10] Kirtland Revelation Book [Livro de Revelações de Kirtland],
10-11.
[11] Para mais informações, vide Frederick G. Williams,
"Frederick Granger Williams of the First Presidency of the
Church," BYU Studies 12, no. 3 (Spring 1972): 243-60.
[12] MS 1829, Church History Library.
Doutrina e Convênios e Revelação Contínua

Ensaios Clássicos dos Simpósios Sperry:

Doutrina e Convênios e Revelação Contínua


James E. Faust

O Presidente James E. Faust foi o Segundo Conselheiro da


Primeira Presidência quando este artigo foi escrito.

Meus queridos irmãos e irmãs, sinto-me humilde ao participar


deste simpósio com tantos catedráticos proeminentes que
discursarão das várias dimensões do livro de Doutrina e
Convênios. Este sentimento aumenta em mim devido em
grande parte ao fato de eu não me sentir muito comfortável no
papel de erudito. Hoje eu gostaria de comentar em mais
detalhes sobre um tema de Doutrina e Convênios: "Anunciarás
as coisas que foram reveladas a meu servo, Joseph Smith,
Júnior" (D&C 31:4). Acrescento a isso "e seus sucessores na
obra."
O reitor da faculdade de direito que cursei constantemente
enfatizava que sua missão principal não era a de nos ensinar a
lei, pois a lei mudaria, em vez disso, sua missão primária era a
de nos ensinar a racionciar de forma correta, baseando-nos em
princípios sãos.
Comparando isto à nossa tarefa de hoje, descobrimos que o
corpus das escrituras modernas só tem mudado no sentido de
receber acréscimos porque não é nem estático nem fechado.
Meu desejo hoje é o de dar uma orientação no sentido de
manter nosso racioncínio equilibrado quanto ao processo e
importância da revelação moderna, bem como a importância do
seu conteúdo.
Num esforço de dar um background a esta orientação a
respeito de Doutrina e Convênios, acho bom começar por uma
declaração do Profeta Joseph Smith: "Disse aos irmãos que o
Livro de Mórmon era o livro mais correto de todos os livros na
terra e a pedra de abóbada de nossa religião e que um homem
poderia aproximar-se mais de Deus por guardar seus preceitos
do que os de qualquer outro livro." [1] Esta declaração não
despreza as outras escrituras. O Livro de Mórmon é a chave de
compreensão da Bíblia. Também sabemos que o próprio livro
de Doutrina e Convênios é sui generis.
Além da declaração de Joseph concernente ao Livro de Mórmon
como sendo a pedra de abóbada da nossa religiãos, não me
sinto confortável em classificar as outras obras-padrão quanto
a sua importância relativa. Cada uma é única. Cada uma é a
palavra de Deus. Cada uma é especial. Cada uma é essencial
para entendermos os princípios do evangelho. Cada uma é
essencial a nossa salvação. Posto que as revelações continuam
avir a toda hora para esta instituição divina, sugiro que demos
prioridade às declarações dos profetas modernos em
contrapartida ás recebidas há muitos e muitos séculos, as quais
foram destinadas a um povo diferente de uma época diferente.
Por exemplo, acredito que os conselhos do profeta atual devem
receber muito mais atenção do que os pronunciamentos de
Ezequiel.
Entre todas as escrituras, porém, Doutrina e Convênios é único
por muitos motivos. É único porque, ao contrário do Livro de
Apocalipse, não se trata de um livro fechado. O Senhor tem
feito declarações contemporâneas a todas as gerações, a
nossos bisavôs, a nossos avôs, a nossos pais, a nós mesmos e
a nossos filhos. Além disso, para nós que lemos ingles, não
passou por nenhuma tradução. É a primeira impressão do
Senhor em inglês. Todas as outras escrituras se tartan de
traduções de línguas arquaicas.
Num esforço de tentar entender a natureza de como a
revelação se transmite a nós, é importante compreendermos
que o direito e função de inspiração depende de chaves. Talvez
valha a pena fazer umas observações pessoais com
relação à revelação acrescentada mais recentemente, conhecida
como a Declaração-2. Alguns de nós que observamos por perto
a chegada desta revelação ainda vivemos. Talvez seja
interessante eu comentar um pouco sobre seu background. A
Declaração número 2, naturalmente, refere-se à concessão do
sacerdócio a todos os membros masculinos dignos da Igreja.
Isso é significante por muitos motivos, sendo um deles o fato
de que com a vinda desta revelação o mundo inteiro se abriu
para a divulgação da obra de Deus. As chaves, as bênçãos e as
investiduras, inclusive as dos antigos patriarcas, agora se
tornaram disponíveis a todos. A respeito disso o Presidente
Spencer W. Kimball disse:
"Como os irmãos sabem, no dia nove de junho uma política
mudou, afetando grandes números de pessoas pelo mundo
afora. Milhões e milhões de pessoas sentirão os efeitos desta
revelação que nos veio. Eu me recordo vividamente que durante
um tempo eu caminhava todos os dias ao templo e subia até o
quarto andar onde se realizam as assembléias solenes e onde
se realizam as reuniões dos Doze com a Primeira Presidência.
Depois que todos haviam saído do templo, eu me ajoelhava e
orava. Orava com muito fervor, pois eu sabia que perante nós
estava algo extremamente importante para muitos filhos de
Deus. Eu sabia que só poderíamos receber as revelações do
Senhor se fôssemos dignos e se estivéssemos prontos para
recebê-las, aceitá-las e pô-las em prática. Dias após dias eu ia
sozinho com grande solenidade e seriedade ás salas superiores
do templo e lá oferecia minha alma e oferecia meus esforços de
levar a obra adiante. Eu queria fazer o que Ele quisesse. Eu
conversava com Ele e dizia: 'Senhor, eu só quero fazer o que é
certo. Não estamos fazendo plano algun para lançá-lo de modo
espetacular. Só queremos aquilo que tu queres, e queremo-lo
na hora que tu decidires e antes disso não.'
"Horas após horas nós nos reuníamos com o Conselho dos
Doze na sala sagrada onde há um quadro do Salvador que
representa suas diferentes disposições e onde também há
quadros de todos os presidentes de Igreja. Por fim sentimos a
impressão do Senhor que nos revelou de forma muito clara que
isto era o que se devia fazer para tornar universal para todas as
pessoas dignas o evangelho." [2]
Referindo-se a esta experiência, o Élder Bruce R. McConkie
declarou: "Aconteceu num dia glorioso de junho de 1978.
Todos nós estávamos reunidos na sala superior do Templo de
Salt Lake. Oramos fervorosamente, rogando ao Senhor que
manifestasse sua mente e vontade concernentes áqueles que
têm direito de receber o santo sacerdócio. O próprio Presidente
Kimball serviu de porta-voz, oferecendo os desejos de seu
coração e de nosso coração àquele Deus cujos servos somos."
Antes disso, durante a mesma reunião, o Presidente Kimball já
havia discutido a possível concessão do sacerdócio a todas as
raças. O Élder McConkie continua: "O Presidente repetiu o
assunto em pauta, lembrou-nos das reuniões prévias e disse
que havia passado muitos dias sozinho na sala superior,
suplicando ao Senhor uma resposta a nossas orações. Ele disse
que se a resposta fosse continuar a seguir a política em vigor
de negar o sacerdócio aos descendentes de Caim, como o
Senhor havia antes ordenado, estaria preparado a defender a
decisão até a morte. Porém, ele disse, se a hora muito esperada
tivesse chegado em que a maldição do passado seria removida,
ele achava que poderíamos convencer o Senhor a manifestar-
se. Ele comunicou sua esperança que recebêssemos uma
resposta clara, sim ou não, para que houvesse uma solução
definitiva." [3]
Uma semana depois da reunião a que o élder McConkie se
referiu, todas as autoridades gerais foram convocadas á sala
superior do templo para uma reunião especial. O Presidente
Kimball anunciou a revelação, a qual foi recebida com grande
alegria por todos os irmãos. A caminho da reunião eu
caminhava como um dos outros presidentes do Primeiro
Quórum dos Setenta (naquela época eu não era membro do
Quórum dos Doze). Meu querido colega me perguntou se eu
achava que a reunião era a respeito de certo problema corrente
e eu indiquei que achava que não, sem comentar mais a
respeito do assunto. No íntimo, porém, eu esperava que se
fosse anunciar uma revelação como a que de verdade veio.
Ninguém havia indicado que tal anúncio estava para vir, mas os
meus sentimentos se baseavam na inquietação provinda do
Espírito.
As próprias palavras do Presidente Kimball é que melhor
descrevem o evento: "Tivemos a experiência gloriosa do Senhor
manifestar-se claramente que a hora havia chegado em que
todos os homens e mulheres em todo lugar podem ser co-
herdeiros e plenos participantes de todas as bênçãos do
evangelho. Quero, como testemunha especial do Salvador, que
os irmãos saibam quão perto dele e de nosso Pai Celestial me
senti ao estar numerosas vezes na sala superior do templo,
indo sozinho muitas vezes ao longo de muitos dias. O Senhor
me revelou de maneira claríssima o que se deveria fazer. Não
supomos que as pessoas do mundo possam entender tais
coisas, pois sempre se apressam para inventar suas próprias
explicações ou desprezar o processo divino de revelação." [4]
O Presidente Kimball ainda falou do processo de revelação:
"Para muitos parece difícil aceitar como revelação aquelas
numerosas mensagens . . . que vêm aos profetas na forma de
impressões incontestáveis e profundas que descem á mente e
ao coração do profeta tal qual o orvalho do céu ou como a
aurora que afasta a escuridão da noite. Muitos homens parecem
não ter ouvidos para mensagens espirituais nem as
compreendem se aparecem de traje comum. . . Fora as
manifestações espetaculares, tais pessoas não estão cientes do
fluxo constante de comunicação divina e reveladora que existe
na Igreja.
"Quando se fazem decisões importantes na reunião no
templo às quintas-feiras, após muito orar e jejuar, como a
criação de novas missões e estacas e a implantação de novos
modelos e políticas, alguns não levam a sério as notícias e
possivelmente pensam que se tratam de meras decisões
humanas. Mas para aqueles que assistem a estas reuniões e
ouvem as orações do profeta e o testemunho do homem de
Deus, sim, para aqueles que vêem a sabedoria de suas
deliberações e a sagacidade de suas deciões e
pronunciamentos, para aqueles ele é um profeta de verdade.
Ouvi-lo concluir novas iniciativas com expressões solenes tais
como 'o Senhor se compraz'; 'aquela ação está certa'; 'nosso Pai
Celestial falou,' é saber de forma absolutamente positiva." [5]
Há tanta revelação continua que vem a este povo que não se
pode apreciar por completo a sua enormidade. Porém, não se
torna nunca uma coisa comum. Eu, como quem participa do
chamado de presidentes de estaca, patriarcas e outros oficiais
da Igreja, posso afirmar pela experiência própria o que Enos
disse tão bem: "E enquanto estava assim lutando no espírito,
eis que a voz do Senhor me veio à mente" (Enos 1:10).
O processo que o Presidente Kimball explicou, bem como
outros que estavam presentes, pode ser semelhante ao de
outras revelações contidas em Doutrina e Convênios, algumas
das quais também se tratavam de impressões profundas. O
Presidente Kimball citou um parágrafo de Parley P. Pratt que
mostra como aquelas revelações eram transmitidas ao Profeta
Joseph Smith: "Cada oração se pronunciava lenta e
distintamente com uma pausa após cada frase de duração
suficiente para que fosse possível a uma pessoa normal
escrevê-la por extenso. Esta foi a maneira em que todas as
suas revelações foram ditas e escritas. Nunca houve hesitação,
redação nem revisão para não perder o fio do ditado; nunca se
fizeram emendas, nem rasuras nem correções a estas
comunicações. Elas permaneceram tal qual ele as ditou, pelo
que eu presenciei e eu presenciei o ditado de muitas
comunicações, cada uma de várias páginas." [6]
Comentando em geral a respeito da majestade e grandeza do
livro de Doutrina e Convênios, o Presidente Joseph F. Smith
disse: "Digo aos meus irmãos que o livro de Doutrina e
Convênios contém uns dos princípios mais gloriosos já
revelados ao mundo e alguns foram revelados mais plenamente
do que foram antes revelados ao longo da histórida do mundo,
assim cumprindo a promessa dos antigos profetas de que nos
últimos dias o Senhor revelaria coisas ao mundo que haviam
sido ocultas desde a sua fundação, e o Senhor as revelou
através do Profeta Joseph Smith." [7]
Quanto à importância maior destas declarações divinas, vamos
pensar de forma correta. Depois de reveladas, o Senhor espera
que algo na nossa vida se transforme para o bem e melhor.
O Presidente Heber J. Grant expressou, porém, que tais
pronunciamentos eram de pouco valor a não ser que se
tornassem parte da prática cotidiana de nossa religião. Ele
disse: "O livro de Doutrina e Convênios está cheio de coisas
esplêndidas que devemos conhecer. Porém, pode-se ler o livro
de capa a capa e decorar todo o seu conteúdo, mas não lhes
fará bem algum a não ser que se ponham em prática os
ensinamentos. Ler um livro inteiro sem praticar o que se ensina
nela não terá valor nenhum. São as coisas que lemos,
aprendemos e depois praticamos que têm valor." [8]
O Presidente Wilford Woodruff possuia um grande testemunho
de Doutrina e Convênios: "Considero que o livro de Doutrina e
Convênios, nosso testamento, contém um códice das
proclamações mais divinas e solenes já concedidas á família
humana." [9]
Há uma grande responsabilidade que recai sobre o estudante
individual das escrituras, a de viver de tal maneira a qualificar-
se para receber a maturação espiritural suficiente para
compreender os pronunciamentos de Deus e receber forças
para fazer as coisas acontecerem. A respeito deste assunto
Brigham Young disse: "é seu privilégio e dever levar uma vida
que lhes proporcione a capacidade de entender as coisas de
Deus. Há um Velho e Novo Testamento, o Livro de Mórmon e o
livro de Doutrina e Convênios, que Joseph nos deu, e juntos são
de grande valor para quem vaga na escuridão. São como um
farol no mar, ou a sinalização na estrada que aponta o caminho
que devemos seguir. Aonde conduzem? À Fonte da luz." [10]
Para concluir, eu gostaria de compartilhar um ou dois conceitos
profundos que se encontram em Doutrina e Convênios, os
quais ficaram gravados na minha mente. Uma das maiores
doutrinas já declaradas é o princípio da salvação universal.
Devido à expiação toda a humanidade se levantará da morte.
Doutrina e Convênios explica claramente a doutrina de salvação
universal:
"Para que todos os que cressem e fossem batizados em seu
santo nome e perseverassem com fé, até o fim, fossem salvos-
"Não somente os que creram após sua vinda na carne, no
meridiano dos tempos, mas todos, desde o princípio, sim,
todos os que existiram antes de sua vinda, que creram nas
palavras dos santos profetas, os quais falaram segundo foram
inspirados pelo dom do Espírito Santo, que verdadeiramente
testemunharam a respeito dele em todas as coisas, tivessem
vida eterna, 'Como também os que viriam depois e creriam nos
dons e chamados de Deus pelo Espírito Santo, que presta
testemunho do Pai e do Filho'" (D&C 20:25-27).
Este conceito é um de justiça. Uma doutrina adjunta é a da
grande obra por procuração que se realiza nos templos a favor
daqueles que já faleceram, para que haja uniformidade.
É preciso o trabalho do templo para que se possa implantar a
doutrina de salvação universal. Esta instrução dada a Thomas B.
Marsh é profundamente esclarecedora em termos da nossa
responsabilidade de receber e ensinar a palavra de Deus:
"Que teu coração tenha bom ânimo perante minha face; e
prestarás testemunho de meu nome, não só aos gentios como
também aos judeus; e enviarás minha palavra aos confins da
Terra.
"Contende, portanto, toda manhã; e dia após dia emite tua voz
de advertência; e quando vier a noite, não permitas que os
habitantes da Terra adormeçam por causa de tuas palavras . . .
"Tua voz será uma repreensão para o transgressor; e diante de
tua repreensão, que a língua do caluniador cesse sua
perversidade. . . .
"Ora, digo a ti, e o que digo a ti digo a todos os Doze: Erguei-
vos e cingi vossos lombos; tomai vossa cruz, segue-me e
apascentai minhas ovelhas" (D&C 112:4-5, 9, 14).
Uma advertência arrepiante nos veio pela seção 87, em que se
predisse a Guerra Civil entre os estados do Norte e os do Sul
dos Estados Unidos. O versículo 6 fala da matança, da fome,
das pragas, dos terremotos e da ira que estão para vir pela mão
castigadora do Deus Todo-Poderoso. Aquele versículo conclui
que as calamidades continuariam "até que a destruição
decretada ponha um fim total a todas as nações" (D&C 87:6).
Regozijo-me que em nossos dias os céus foram abertos e
abriram-se os ouvidos do nosso grande profeta para receber
mais luz e conhecimento. Estou seguro que não é muito
diferente do processo utilizado pelo Profeta Joseph ao revelar-
nos a maioria do livro de Doutrina e Convênios. Naturalmente,
os irmãos sabem de outras revelações que foram acrescidas ao
livro nos tempos recentes. Tudo isso testemunha que os céus
continuam abertos e as escrituras não estão fechadas. Sou
muito grato e presto meu testemunho da veracidade da
doutrina e da inspiração da Declarção Oficial-2, da qual, como
já indiquei antes, fui testemunha ocular e de que participei,
junto com outros irmãos. Estou seguro que a Declaração
Oficial-2 é uma declaração tão grande como as do Livro de
Mórmon e que chegou em nossos dias, de forma que agora o
evangelho pode ir adiante em muitos países do mundo.
E assim aconselho e testifico que "vós declarareis as coisas que
meu servo, Joseph Smith, Jr. recebera, e seus sucessores na
obra." Peço que o Senhor abençoe este corpo de professores
para que tenham a iluminação e o entendimento espirituais a
fim de compreenderem as grandes e sutis mensagens
espirituais que estão contidas não só no livro de Doutrina e
Convênios, mas também nas outras escrituras e aí, tendo-as
recebido e chegado a certo nível de compreensão do que o
Senhor pretendia com elas, que tenham as forças, a coragem e
a sabedoria de implementá-las em sua vida.
Peço que as bênçãos do céu se derramem sobre cada um dos
irmãos e sobre esse grande departamento de Educação
Religiosa desta universidade maravilhosa que patrocinou este
simpósio. Esse departamento é uma espécie de centro desta
grande universidade e fulco ao redor do qual se concentra a
divulgação da verdade. E o centro da verdade, naturalmente, é
o nosso Pai Celestial.
Deixo com os irmãos o testemunho de minha alma que Deus já
revelou e constantemente revela, através de seus servos na
Igreja a nível de presidentes de Sociedade de Socorro,
presidentes de Primária, bispos, presidentes de estaca e de
missão e as autoridades gerais, um fluxo contínuo de revelação
que, se estivermos atentos, teremos condições de receber e
interpretar.
Testifico pessoalmente do Senhor ter falado a minha mente em
ocasiões regulares e frequentes. Declaro este testemunho e
deixo esta bênçaõ [em nome de Jesus Cristo].
Anotações
[1] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints [A História da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos últimos Dias], readação de B. H. Roberts, 2a edição,
revisada. (Salt Lake City: Deseret Book, 1957), 4:461.
[2] Spencer W. Kimball, The Teachings of Spencer W. Kimball
[Os Ensinamentos de Spencer W. Kimball], redação de Edward L.
Kimball (Salt Lake City: Bookcraft, 1982), 450-51.
[3] Bruce R. McConkie, "The New Revelation on Priesthood," ["A
Nova Revelação sobre o Sacerdócio"] em Priesthood (Salt Lake
City: Deseret Book, 1981), 126-28.
[4] Kimball, Teachings, 452.
[5] Kimball, Teachings, 457-58.
[6] Kimball, Teachings, 456.
[7] Joseph F. Smith, Gospel Doctrine [Doutrina do Evangelho]
(Salt Lake City: Deseret Book, 1986), 45.
[8] Heber J. Grant, Gospel Standards [Padrões do Evangelho],
compilado por G. Homer Durham (Salt Lake City: Improvement
Era, 1941), 39.
[9] Wilford Woodruff, in Journal of Discourses [Jornal de
Discursos] (London: Latter-day Saints' Book Depot, 1854-86),
22:146.
[10] Brigham Young, Discourses of Brigham Young [Discursos
de Brigham Young], compilado por John A. Widtsoe (Salt Lake
City: Deseret Book, 1954), 127.
Elevando os Padrões

Elevando os Padrões: Preparando Futuros


Missionários
Brent L. Top

Brent L. Top é professor de História e Doutrina da Igreja na BYU.

No dia 11 de dezembro de 2001, a Primeira Presidência e o Quórum


dos Doze Apóstolos divulgaram uma extraordinária declaração sobre
o trabalho missionário. Naquele momento, a maioria dos membros da
Igreja não compreendeu como aquela declaração e as modificações
posteriores nos esforços missionários que resultaram da mesma,
iriam revolucionar o trabalho de proclamar o evangelho nos últimos
dias. A frase “elevando os padrões” logo se tornou comum entre os
membros da Igreja ao descrever o aumento das expectativas para os
missionários. Ao ouvir tal frase, eu, como a maioria dos membros da
Igreja, pensei principalmente em padrões mais elevados de dignidade
moral para se servir como um missionário de tempo integral.
Qualificações eram certamente uma parte significativa da declaração
sobre o trabalho missionário. Dignidade moral e física, e estabilidade
mental e emocional são certamente apenas uma parte do critério para
se elevar os padrões. Entretanto, há outros aspectos que também são
tão vitais quanto os já mencionados, mas que por vezes são
negligenciados ou então não têm recebido a devida ênfase. Quando
fui chamado para servir como presidente de missão, passei então a
ver a questão de se elevar os padrões de uma forma muito diferente
do que primeiramente pensara e de uma maneira muito mais
abrangente. Essa responsabilidade e a total imersão nas questões
missionárias – desde a necessidade constante de se ensinar, treinar
e motivar os missionários a ajudar os líderes da Igreja e os membros
a cumprir suas responsabilidades de compartilhar o evangelho –
fizeram com que eu olhasse para a preparação missionária de uma
nova forma.
Por mais de 30 anos tenho sido um educador religioso – 10 anos
como professor de Seminários e instrutor de Institutos da Igreja, e 20
anos como professor de Educação Religiosa na Universidade de
Brigham Young. Sempre considerei tudo isso, ou seja, ensinar jovens
rapazes e moças em minhas aulas, como um grande privilégio e uma
responsabilidade sagrada. Como vocês, quero que meus alunos
desenvolvam seu intelecto e fortifiquem sua espiritualidade. Quero
que seu conhecimento das escrituras e das doutrinas do evangelho
cresça, que sua devoção ao Senhor e à Sua Igreja se intensifique,
que sejam firmes em seus testemunhos, e que suas vidas, seu amor
e seu serviço sejam poderosos. Devo admitir, entretanto, que nem
sempre pensei tão profundamente e especificamente como deveria,
com relação ao impacto de meu ensino, prepando-os para se
tornarem missionários eficazes – tanto como missionários de tempo
integral como membros-missionários para o resto de suas vidas.
Com a nova perspectiva que adquiri por meio da minha experiência
na missão, agora vejo mais claramente que todos os meus alunos
são, não só missionários de tempo integral em perspectiva, mas que
atualmente já são missionários e o serão pelo resto de suas vidas. E
sabendo disso, agora vejo que em cada aula que estou ensinando—
seja sobre o Livro de Mórmon, Novo Testamento, Doutrina e
Convênios, Ensinamentos dos Profetas Vivos, História da Igreja,
Casamento e Família SUD, ou qualquer uma da variedade de cursos
que temos—deve ser direcionada para preparar aquilo que Élder M.
Russell Ballard chamou de “a melhor de todas as gerações de
missionários na história da Igreja.” [1] Depois de discutir sobre o que
é requerido dos jovens rapazes e moças de hoje para se tornarem a
melhor de todas as gerações de missionários, Élder Ballard falou
especificamente para os pais: “Consequentemente, ao ‘elevarmos o
critério’ para seus filhos [e filhas] servirem como missionários, isso
significa que também estamos ‘elevando o critério’ para vocês. Se
esperamos mais deles, significa que esperamos mais de
vocês.” [2]Acredito que este princípio se aplique, não só aos pais e
líderes da Igreja, mas também a nós, educadores religiosos. “Esta
não é a hora para se ter fraqueza espiritual,” Élder Ballard
declarou. [3] Isto se aplica a todos nós também. Este não é o
momento para educadores religiosos “insossos” (uma expressão que
meus missionários frequentemente usavam para descrever alguma
coisa que fosse tentativa, fraca, ou que faltasse audácia e poder). Os
padrões foram elevados para todos nós.

“Quem me dera ...”


Centenas de vezes, em minhas entrevistas com os missionários, ouvi
sentimentos expressos que começavam com a frase “Quem me dera
...” Talvez a expressão mais comum fosse “Quem me dera saber
antes quão difícil a missão realmente é.” Mas há também muitas
outras expressões semelhantes – “Quem me dera ter estudado mais
o Livro de Mórmon,” “Quem me dera ter prestado mais atenção ao
Seminário,” “Quem me dera ter conhecido mais as escrituras,” “Quem
me dera ter tido melhores hábitos de estudo,” “Quem me dera ter
compreendido melhor o evangelho,” “Quem me dera ter tido um
testemunho mais forte.” Ao chegar ao campo missionário, observei
que alguns missionários sofriam muito com a transição de
adolescentes para missionários de tempo integral. Enquanto isso,
outros chegavam animados, e quase que imediatamente se tornavam
confiantes, competentes e poderosos professores do evangelho. Qual
é a diferença? Por que alguns estão tão bem preparados e outros
não? Evidentemente há uma miríade de fatores – quase a mesma
quantidade que há de missionários. Ainda assim, há algumas coisas
específicas que observei e experienciei como presidente de missão
que fizeram com que repensasse sobre minha filosofia de ensino e
reorganizasse meus métodos para tal.
A maior parte das centenas de jovens rapazes e moças que serviram
em nossa missão frequentaram o Seminário. Poucos, mas ainda um
número significativo, participaram em aulas do Instituto. Menos ainda,
se matricularam em aulas de religião nos respectivos campus da
BYU. Menciono este fato para demonstrar que a principal experiência
educacional religiosa dos missionários de tempo integral na Igreja
hoje se encontra nas aulas de Seminário por todo o mundo – seja em
aulas nas escolas de Ensino Médio, Seminário diário ou em casa.
Quando compreendi isto, parei para pensar. Vi-me expressando
aquela mesma frase “Quem me dera …” e vivenciando os
sentimentos que tantas vezes havia ouvido dos missionários. Quem
me dera ter ensinado meus alunos de Seminário mais
especificamente e com mais eficácia aquelas coisas que os ajudariam
a se tornar missionários mais eficazes. Quem me dera ter visto mais
claramente que todo aluno, rapaz ou moça, em minhas aulas não era
apenas um missionário de tempo integral em perspectiva, mas que já
era realmente um missionário e que o será por toda sua vida.
Com a minha desobrigação como presidente de missão, retornei às
minhas responsabilidades de ensino na BYU. Embora os cursos que
ensinasse fossem os mesmos que ensinara antes de minha missão,
eu me tornara uma pessoa diferente. Com a nova visão que adquiri
proveniente da experiência da missão, vi muitas coisas de maneira
diferente. Por exemplo, as obras-padrão são as mesmas, mas o que
vejo nelas é diferente. Da mesma forma, os alunos sentados em
minhas aulas são parecidos com aqueles de quatro anos atrás
(exceto pelo fato de que hoje parecem mais jovens do que antes),
mas agora os vejo sob um outro prisma. Conforme os visualizo com
suas plaquetas pretas com seus nomes e camisas brancas, ou sendo
confrontados com oportunidades missionárias na forma de perguntas
ou desafios (como eles inevitavelmente serão), hoje duas perguntas
vêm à minha mente: (1) Se esses rapazes ou se essas moças
sentados diante de mim fossem chamados para servir em minha
missão, o que é que eu gostaria que eles soubessem? (2) Como o
meu ensino pode ajudá-los a “servir de testemunhas de Deus em
todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares”
com mais confiança, competência e convicção? (Mosias 18:9). Minha
mente dispara quando penso em todas as coisas que eu gostaria que
eles soubessem e nos atributos que gostaria que eles tivessem.
Ainda assim, para mim, parece que tudo se reduz a três coisas
importantes que eu gostaria que meus alunos soubessem – todos os
meus alunos, estejam eles se preparando para servir missões de
tempo integral ou simplesmente tentando ser bons membros-
missionários. Agora, mais urgente e mais intensamente do que jamais
ocorreu em minha carreira como educador religioso, quero que meus
alunos saibam: (1) da veracidade do evangelho, (2) das doutrinas do
evangelho, e (3) como compartilhar o evangelho.

Saber que o Evangelho é Verdadeiro


“Seu próprio testemunho pessoal,” o Presidente James E. Faust
aconselhou os missionários, “é a sua flecha mais forte em sua
aljava.” [4] Por este motivo, todos os nossos ensinamentos devem ter
isto como meta. “Comecem com esta meta em mente,” é um dito
bastante conhecido que é particularmente relevante, e até mesmo
vital para educadores religiosos. Uma das habilidades missionárias
que nós continuamente enfatizamos para nossos missionários era
aquilo que nós chamávamos de “ensine para levar ao compromisso.”
Isto significa que tudo que ensinamos – toda doutrina e todo princípio
– deve levar a estender um convite de compromisso aos
pesquisadores para se tornarem “cumpridores da palavra, e não
somente ouvintes” (Tiago 1:22). Cada princípio ensinado tem um
resultado ou uma ação esperada e que desejamos àqueles a quem
ensinamos, que também possam ter e experimentar em suas vidas.
Não é o suficiente os missonários simplesmente ensinarem sobre as
verdades do evangelho. Na realidade, se eles fizerem apenas isso,
significa que perderam (ou que nunca tiveram) a visão daquele
trabalho para o qual o Senhor os chamou a fazer. Missionários
eficazes desejam que aqueles a quem ensinam, saibam e vivam
aquelas verdades e experimentem as bênçãos que sempre advêm
quando eles assim o fazem. Ao ensinar sobre a Apostasia e a
Restauração, os missionários irão convidar os pesquisadores a ler o
relato de Joseph Smith sobre a Primeira Visão, ou então a introdução
do Livro de Mórmon e certas passagens selecionadas; os
missionários ainda os convidarão para ponderar sobre aquilo que
leram e a orar especificamente para adquirir um testemunho da
verdade com relação a tais eventos. Eles os ensinarão especialmente
o que significa adquirir um testemunho, como eles poderão obtê-lo, e
por que este testemunho irá mudar as suas vidas para sempre.
Deveria ser o mesmo para educadores religiosos. A diferença é que
nós não precisamos ensinar o compromisso exatamente como um
missionário faz convidando nossos alunos a agir mediante cada
conceito ensinado, por outro lado, podemos “ensinar para converter”
utilizando cada lição, cada discussão e cada tarefa. Como podemos
ensinar mais eficazmente para converter? Não tenho todas as
respostas, mas aqui estão algumas poucas coisas que aprendi como
presidente de missão e que tenho tentado aplicar em meu ensino
como educador religioso.

Importante versus Interessante


Se vocês forem como eu, em uma lição típica vocês terão muito mais
material para cobrir do que tempo na aula para fazê-lo
adequadamente. Como resultado, todos temos que tomar decisões
bastante difíceis – esperando fazê-las com bom julgamento e
inspiração – sobre como deveríamos gastar o valioso tempo de
ensino e discussão da aula. Meu desejo de ensinar para converter
hoje me leva a perguntar regularmente: “Será que isto irá fortalecer o
testemunho?” e “Isto contribui para a conversão?”
Algumas vezes meus missionários reclamavam de um membro, com
quem eles estavam ensinando um determinado pesquisador, que iria
ensinar coisas periféricas como poligamia, uma mãe celestial,
evidências arqueológicas do Livro de Mórmon, como tornar-se como
Deus, “progresso eterno,” ou qualquer outra coisa que o membro
pessoalmente achasse fascinante. Isso pode ter sido interessante
algumas vezes (e nem sempre foi uma boa descrição) mas
raramente, se é que houve alguma, foi útil. Nunca vi ninguém ser
convertido por tais discussões. Em vez de convicção, o investigador
normalmente acabou ficando em confusão.
Tão irritante quanto isso possa ter sido para mim como presidente de
missão, devo, com certo pesar, admitir que talvez eu tenha tido culpa
de ter feito a mesma coisa com meu ensino. É possível que algumas
vezes eu tenha enfocado o meu ensino dando mais atenção aos fatos
do que à fé—demonstrando o quanto eu sei—do que assegurando
que meus alunos soubessem as coisas certas—as coisas importantes
para a salvação. “Todo o conhecimento não é de igual significância,”
Élder Neal A. Maxwell declarou. “Não há democracia nos fatos! Eles
não são de igual importância. Algo pode ser factual mas sem
importância. ... Por exemplo, hoje eu visto um terno azul escuro. Isto
é verdade, mas não é importante. ... Conforme esbarramos com a
verdade, sentimos que há uma hierarquia de importância. ... Algumas
verdades são significativas para a salvação, enquanto outras não
são.” [5] Algumas vezes nas minhas aulas de Seminário ou Instituto
ou mesmo em minhas aulas de religião na BYU, coloquei mais ênfase
no interesse do aluno do que na conversão do aluno. Penso que hoje
entendo melhor aquilo que Élder William R. Bradford quis dizer
quando declarou que, “Algumas coisas são interessantes enquanto
que outras são importantes.” [6] Nenhum de nós tem tempo para
ensinar tudo que sabemos, aquilo que pessoalmente achamos
fascinante, ou que manteria os sonolentos alunos da última fila da sua
classe de seminário, atentos em suas cadeiras. Entretanto, o que
podemos fazer, é tentar mais arduamente assegurar que aquilo que é
interessante nunca se sobreponha ou confunda o que é importante ou
até mesmo imperativo.

Não Suponha que Eles Saibam


Suposições geralmente nos trazem problemas. Todos nós
provavelmente já tivemos uma experiência quando aquilo que foi
suposto estava errado. Como presidente de missão, rapidamente
compreendi que eu não poderia supor que todos os missionários que
estavam chegando eram dignos de estar lá. De vez em quando havia
algumas tristes surpresas. Era fundamental que eu cuidadosamente
entrevistasse cada missionário, não só quando eles chegavam, mas
também regularmente após a sua chegada. Da mesma forma, aprendi
que não podia supor que todos os meus missionários tivessem fortes
testemunhos do evangelho, ou na sua chegada ou no final de suas
missões. Algumas vezes fiquei surpreso ao saber que um élder ou
uma síster, que havia prestado um poderoso testemunho naquela
primeira noite na casa da missão, mais tarde estaria questionando
seu testemunho quando encontrasse questões difíceis, desafios, ou
perseguição. Aprendi que, assim como com os investigadores, você
não pode supor que os missionários saibam o que é um testemunho,
ou o que você deve fazer para obtê-lo (ou retê-lo), ou ainda como
realmente saber quando você o tem. Estes conceitos são básicos
mas muitas vezes não recebem a devida atenção por serem
considerados óbvios. Eles precisam ser ensinados, reensinados, e
reensinados porque os missionários, assim como os investigadores,
precisam ganhar e reter seus testemunhos todos os dias, conforme
eles encontram novos desafios, novas questões e novas
circunstâncias.
De modo semelhante, não devemos supor que nossos alunos –
tenham eles quatorze ou quarenta anos – tenham um testemunho do
evangelho. E certamente não devemos supor que eles todos saibam
como adquirir um testemunho ou como eles irão saber que eles o
têm. Da mesma forma, não podemos supor que ao se ter um
testemunho generalizado (um testemunho do tipo “eu amo o
evangelho”), seja a mesma coisa que um testemunho específico – um
testemunho inconfundível recebido pelo poder do Espírito Santo
sobre a verdade de uma doutrina específica como o poder purificador
e transformador da Expiação de Jesus Cristo, da Primeira Visão de
Joseph Smith, da restauração do sacerdócio, da veracidade do Livro
de Mórmon, da Igreja como “a única igreja verdadeira e viva na face
de toda a Terra” (D&C 1:30), e o fato de que hoje somos realmente
guiados por profetas e apóstolos vivos. Os pesquisadores que
obtiveram o maior progresso em direção ao batismo e novos
conversos que permaneceram ativos e progrediram em direção ao
templo, foram aqueles que oraram e receberam testemunhos
específicos. Desta forma, eles são continuamente “nutridos pela boa
palavra de Deus” e aptos a continuar como discípulos de Cristo
(Morôni 6:4; veja também João 8:31). E assim também serão os
nossos alunos—e cada um de nós. Testemunhos específicos,
repetidamente adquiridos pelo poder do Espírito Santo, mantêm o
poder de uma pessoa. O Presidente Harold B. Lee ensinou: “O
testemunho não é algo que você tem hoje e que terá para sempre.
Um testemunho é algo frágil. Possuí-lo é como segurar um raio de
luar. É algo que você deve recapturar todos os dias de sua vida.” [7]
Da mesma forma como os missionários sempre convidam
pesquisadores para vir conhecer por si mesmos a verdade
concernente a coisas específicas que eles aprenderam e estudaram,
nós não podemos deixar de fazer o mesmo com nossos alunos. Nós
não podemos simplesmente supor que eles o farão. Na Conferência
Geral de abril de 2008, o Élder Dallin H. Oaks nos deu instruções
precisas com relação aos testemunhos. Ele não só nos ensinou o que
é um testemunho e como obtê-lo, mas também nos ensinou como
compartilhá-lo com outras pessoas. Conforme ouvia suas palavras,
senti uma forte impressão que eu, como um educador religioso,
necessitava rever suas instruções todos os semestres com os meus
alunos e discutir como tais instruções se aplicam às doutrinas e
princípios que estaremos estudando em nossos cursos. Esta é uma
forma pela qual eu posso assegurar para que eu não esteja
simplemente supondo coisas que não são verdadeiramente corretas.
Isto também é um meio pelo qual ajudo os futuros missionários a
abastecer suas aljavas com suas flechas mais fortes.

Conheça as Doutrinas do Evangelho


Como professores do evangelho, estamos bem familiarizados com a
declaração do Presidente Boyd K. Packer com relação ao poder da
doutrina pura. “Doutrina pura, bem entendida, muda atitudes e
comportamento,” ele ensinou. “O estudo das doutrinas do evangelho
melhorarão o comportamento muito mais rapidamente do que um
estudo sobre comportamento em si.” [8] Tenho pessoalmente lido e
utilizado esta declaração em meus ensinamentos através dos anos.
Pensei que a conhecia e acreditava nela. Entretanto, foi como
presidente de missão que observei e experienciei, de uma forma
dramática, o poder transformador da doutrina. Conhecer, ensinar e
viver as doutrinas fundamentais do evangelho restaurado transformou
a missão, os missionários, os membros e os pesquisadores.
Passamos a experimentar em nossa missão algo parecido com aquilo
que Alma descreveu em relação a seus esforços missionários e de
reativação entre os zoramitas. “Ora, como a pregação da palavra
exercia uma grande influência sobre o povo, levando-o a praticar o
que era justo—sim, surtia um efeito mais poderoso sobre a mente do
povo do que a espada ou qualquer outra coisa que lhe houvesse
acontecido—Alma, portanto, pensou que seria aconselhável pôr à
prova a virtude da palavra de Deus” (Alma 31:5). Verdadeiramente, a
doutrina mudou comportamentos e atitudes em nossa missão. A
virtude da palavra de Deus poderosamente levou nossos missionários
a “praticar o que era justo,” resultando no fortalecimento espiritual, no
aumento da obediência, no melhoramento da ética de trabalho, e no
ensino do evangelho de forma mais persuasiva.
Uma das mudanças mais significativas que sobreveio como resultado
da declaração sobre o trabalho missionário e a subsequente
publicação de Pregar Meu Evangelho, foi a eliminação das
apresentações de lições memorizadas. A Primeira Presidência e o
Quórum dos Doze Apóstolos declararam: “Nosso propósito é ensinar
a mensagem do evangelho restaurado de uma forma que permita o
Espírito dirigir tanto os missionários como aqueles que estão sendo
ensinados.” Os missionários foram instruídos a “não apresentar algo
recitado e que tenha sido memorizado, mas falar de seu próprio
coração ... através de sua própria convicção e com suas próprias
palavras.” [9] Ensinar com suas próprias palavras, através da
convicção de seu coração, e pelo poder do Espírito – é assim que os
missionários são especificamente instruídos em Pregar Meu
Evangelho para se procurar obter “um conhecimento mais
aprofundado da doutrina.” [10] Para ajudá-los com este objetivo,
Pregar Meu Evangelho fornece instruções preciosas para os
missionários e membros-missionários nas “doutrinas essenciais,
princípios e mandamentos que vocês devem estudar, acreditar, amar,
viver e ensinar.” [11]
Conhecer a doutrina – por dentro, por fora e profundamente – é
imperativo para se tornar “a melhor de todas as gerações de
missionários.” Elevar os padrões requer um constante aumento do
conhecimento do evangelho por parte dos missionários em
perspectiva. O Senhor nos prometeu que o Espírito nos daria “na hora
precisa” aquilo que necessitamos para ensinar, mas apenas se
“entesoura[rmos] sempre em [nossa] mente as palavras de vida”
(D&C 84:85). De fato, os missionários ensinam pelo Espírito somente
depois deles terem entesourado conhecimento das doutrinas do
reino. Isto coloca uma grande responsabilidade sobre os ombros de
todos os educadores religiosos para que, da mesma forma, elevem os
padrões de nosso ensino da doutrina. Cada um de nós pode
provavelmente pensar em muitas maneiras pelas quais podemos
fazer isto. Sei que há muitas áreas nas quais eu preciso melhorar,
mas minha experiência utilizando Pregar Meu Evangelho para treinar
missionários de tempo integral e membros-missionários ajudou-me a
enfocar em dois aspectos em particular que eu posso utilizar para
auxiliar meus alunos a entesourar as doutrinas.

Ligando os Pontos
Depois de alguns poucos dias após ter chegado no campo
missionário, fui a uma série de reuniões de distrito onde observei
nossos missionários ensinando as lições um ao outro. Havia algumas
coisas que ouvi que eram encorajadouras e impressionantes, mas
havia também muitas outras coisas que me desencorajaram. Um dos
defeitos mais comuns que observei era que os élderes e as sísteres
podiam recitar os princípios básicos das lições missionárias, mas lhes
faltava profundidade no entendimento para explicarem
adequadamente tais princípios ou responder perguntas a eles
relacionadas. Era como se eles estivessem dando aos investigadores
um quebra-cabeças de mil peças, mas com poucas instruções de
como colocar as peças juntas para se formar uma bela imagem.
Compreendi que esses missionários não eram totalmente diferentes
de nossos alunos (e talvez de uma grande parte dos membros da
Igreja em geral). É comum nós colocarmos na nossa bagagem de
conhecimento doutrinário, muitos pedaços de informação – fatos,
referências de escrituras, histórias inspiradoras, citações,
ensinamentos básicos, coisas que ouvimos em aulas e em quóruns
através dos anos. O que é muito menos comum (pelo menos com os
missionários com quem servi), é a habilidade de ligar os pontos.
Vocês se lembram quando eram pequenos e faziam um desenho,
ligando os pontos numerados? Os pontos, por si mesmos, não nos
revelam muito. Entretanto, quando conectados, surge uma imagem
encantadora. As doutrinas do evangelho funcionam da mesma forma.
Os missionários prestam um desserviço aos seus pesquisadores
quando eles ensinam apenas os pontos – isolados, desconectados,
ensinamentos independentes. O entendimento real e a conversão
final vêm quando eles ligam os pontos e veem o quadro completo – a
visão panorâmica do grande plano de felicidade. Pregar Meu
Evangelho ajuda os missionários a ver estas conexões – os
relacionamentos entre os princípios e ordenanças do evangelho e
como cada um deles se encaixa no plano do evangelho como um
todo. Além disso, ao ensinarmos o que acreditamos, nos dá um
motivo para explicarmos o porquê que acreditamos nisso. Por
exemplo, podemos ensinar o que foi a Restauração, mas entender
por que foi necessária, requer uma conexão à Grande Apostasia.
Um outro exemplo ilustrativo seria ensinar os primeiros princípios e
ordenanças do evangelho. Muito pode ser ensinado sobre os o quês
da fé, arrependimento, batismo e o dom do Espírito Santo. Mas o
verdadeiro poder – o poder da conversão – destas doutrinas é
encontrado no relacionamento de um com o outro e sua conexão
absoluta à Expiação de Jesus Cristo. Vocês não poderão realmente
entender o arrependimento sem conectá-lo à fé. Curiosamente,
Amuleque demonstrou este método de ensino quando nos ensinou
sobre “fé para o arrependimento” e não simplesmente fé e
arrependimento como doutrinas separadas (Alma 34:15; veja também
v. 16-17). O modelo de ensino do evangelho de Pregar Meu
Evangelho dos missionários para investigadores (e outros) pode, da
mesma forma, aumentar nosso ensino como educadores religiosos e
ajudar nossos alunos a ligar os pontos doutrinários.
Em nossa missão, toda conferência de zona envolvia uma porção
significativa de instrução doutrinária. Utilizando as doutrinas
ensinadas nas lições missionárias (encontradas no capítulo 3 de
Pregar Meu Evangelho), minha esposa e eu procuramos ajudar os
missionários a obter um melhor conhecimento, não só de todas as
diferentes dimensões de uma doutrina específica, mas também de
como aquela doutrina se conectava e logicamente conduzia a outras
doutrinas que ensinamos. Era emocionante e gratificante ver as
reações de nossos missionários. As “luzes” em suas mentes se
acendiam – quase como se fosse pela primeira vez que eles
realmente as tivessem. Quando os missionários conectavam os
pontos, seus testemunhos eram fortalecidos, seu conhecimento do
evangelho se aprofundava, e sua capacidade de ensinar a outros com
clareza e convicção melhorava. Devido a estas experiências,
compreendi mais do que nunca que ajudar missionários em
perspectiva a ver o quadro completo do plano de salvação e ligar os
pontos das doutrinas do evangelho irá capacitá-los a chegar ao
campo preparados como missionários de tempo integral e irá
abençoar suas vidas para sempre.

Ensine-os Como Estudar o Evangelho


Quase todos os missionários com quem servimos haviam lido o Livro
de Mórmon antes de suas missões – a maioria deles havia lido mais
do que uma vez. Dificilmente eles deixavam de ler suas escrituras,
um hábito que muitas vezes havia começado no Seminário. Essas
são ótimas notícias, mas o outro lado da moeda não era tão bom
assim. Um dos piores problemas que identifiquei entre nossos
missionários era a falta de destreza no estudo do evangelho e das
escrituras. Para a maioria, o estudo do evangelho significava
meramente ler as escrituras e os livros aprovados pela Igreja. Nos
anos anteriores a suas missões, havia sido dada uma ênfase
considerável na leitura diária das escrituras e em terminar um dos
volumes de escritura, mas havia muito poucas instruções sobre
modos eficazes e profundos para se estudar as doutrinas do
evangelho. Muitos, se não a maioria de nossos missionários, estavam
familiarizados com as passagens-chave das escritura,
frequentemente tendo algumas delas memorizadas. Mesmo assim,
eles não podiam explicar adequadamente as mesmas passagens que
eles haviam se comprometido a decorar e raramente entendiam seu
contexto escriturístico.
Uma vez que a maioria de nossos missionários nunca havia feito um
estudo por tópico ou por doutrina de qualquer uma das obras-padrão,
apresentei-lhes um projeto que provou ser um extraordinário sucesso.
Não só os ajudou a aprender a como estudar as escrituras
procurando por doutrinas específicas, mas também aumentou seu
conhecimento dos princípios do evangelho (particularmente aquelas
doutrinas ensinadas nas lições missionárias) e fortaleceu seus
testemunhos pessoais e sua espiritualidade. Dei a cada um uma nova
cópia missionária do Livro de Mórmon e lápis de cor de quatro cores
diferentes. Cada cor representava uma das lições missionárias. Sua
tarefa era a de estudar cuidadosamente três capítulos de Pregar Meu
Evangelho e fazer uma lista das principais doutrinas ensinadas em
cada lição. Daquela lista de doutrinas eles então estudaram o Livro de
Mórmon diariamente em seu estudo pessoal, procurando por
princípios específicos ensinados nas lições missionárias e marcando
tais passagens com a cor adequada. Eles ficaram maravilhados com
o que encontraram e com a clareza como o Livro de Mórmon
ensinava tais princípios. Sua fonte de escrituras que poderiam ser
usadas ao ensinar as lições cresceu drasticamente. Logo eles
estavam cruzando referências, escrevendo notas nas margens e
compartilhando perspectivas e aplicações um com o outro. Foi
emocionante e gratificante para mim ver seu entusiasmo pelo estudo
das escrituras. Tal entusiasmo, assim como aquilo que eles estavam
aprendendo, se tornou evidente em seu ensino. Seu amor pelo
estudo do evangelho afetou, da mesma forma, seu amor pelo
trabalho.
Em um seminário de área para presidentes de missão, eu me vi
sentando no almoço na mesma mesa que Élder Ballard e outros
presidentes de missão muito mais experientes do que eu. Sabendo
que era um educador religioso por profissão, Élder Ballard me
perguntou como eu havia obtido meu conhecimento das escrituras e
das doutrinas do evangelho. Expliquei-lhe que praticamente tudo que
sabia havia sido adquirido ao me preparar para ensinar, assim como
planejando os esboços das minhas lições. Aquele, felizmente, era o
ponto que Élder Ballard queria salientar. Conhecimento profundo da
doutrina – o tipo de conhecimento que é requerido para ensinarmos
uns aos outros com eficácia – raramente, se é que alguma vez
acontece, é adquirido apenas com leitura. “Agora você precisa fazer
com que seus missionários façam o mesmo,” Élder Ballard declarou.
Ele estava nos ensinando que os missionários aumentam seu
conhecimento do evangelho quando eles preparam esboços de
ensino para os indivíduos que eles estão ensinando. Compreendi
então que os missionários (e na verdade todos nós), necessitamos
estudar para nos preparar, e não somente ler, para podermos ensinar
as escrituras. Afortunadamente, não precisei vir com ideias ou
programas para facilitar isso. Pregar Meu Evangelho tem as melhores
ideias sobre o assunto e é o melhor programa de estudo do
evangelho de um missionário.
Pregar Meu Evangelho contém possivelmente, as melhores
instruções sobre o estudo eficaz do evangelho jamais publicadas na
Igreja. Enquanto que direcionado primariamente para missionários, as
sugestões encontradas no capítulo 2 irão abençoar qualquer
estudante das escrituras, inclusive educadores religiosos. Conforme
elevamos os padrões de nossos esforços de ensino, podemos utilizar
os princípios ensinados, as referências de escrituras a serem
estudadas, e as atividades de aprendizado incluídas em Pregar Meu
Evangelho (particularmente as ideias de estudo e sugestões
encontradas nas páginas 22-24) com nossos próprios alunos.
Ao delinearmos habilidades eficazes de estudo em nosso ensino,
estaremos capacitando nossos alunos a aprender por observação e
por prática pessoal, e não simplesmente por ouvir-nos falar sobre
estes princípios. Todos os dias em minhas aulas, tento utilizar
sugestões de Pregar Meu Evangelho e espero que meus alunos
façam o mesmo. Algumas das práticas mais significativas e que
podemos utilizar como modelo com mais frequência para nossos
alunos em nossas salas de aula, poderiam incluir:
Pergunte a si mesmo: “O que o autor está dizendo? Qual é a
mensagem central? Como isso se aplica a mim?”
Escreva em seu diário de estudo as perguntas que você tiver e use as
escrituras, as palavras dos profetas dos últimos dias e outras fontes
de estudo para encontrar respostas.
Nas margens, escreva referências de escrituras que esclareçam a
passagem que você estiver estudando.
Procure escrever a idéia principal da passagem, com suas próprias
palavras em uma frase ou parágrafo curto.
Procure por palavras-chave e certifique-se de compreender o
significado delas. Use as notas de rodapé, o Guia para Estudo das
Escrituras ou outro dicionário para encontrar definições. Examine as
palavras ou frases ao redor para procurar indícios sobre o significado
das palavras-chave.
Procure por conectivos e relações entre palavras-chave e frases.
Circule as palavras-chave e depois trace linhas retas para ligar
palavras relacionadas.
Evite fazer marcação excessiva. O benefício se perde se você não
puder entender o que marcou por ter usado anotações, linhas e cores
demais. Sublinhe apenas algumas palavras-chave para destacar o
versículo, a seção ou o capítulo.
Use o Sempre Fiéis, Dicionário da Bíblia e o Guia para Estudo das
Escrituras conforme você estuda tópicos e doutrinas específicos.
Use as lições missionárias, as escrituras de apoio, Pregar Meu
Evangelho e as atividades de estudo pessoal que os acompanham
para guiá-lo em seu estudo. [12]
Elevar os padrões de conhecimento das doutrinas do evangelho é
vital para os missionários hoje, conforme eles ensinam pelo Espírito e
com suas próprias palavras. Quanto mais eles souberem sobre o
evangelho, mais confiança e poder eles terão como professores. E
assim acontece com nossos alunos. Quanto mais nos atentamos a
virtude da palavra de Deus pelo ensino da doutrina – ajudando-os a
ligar os pontos e a saber como estudar mais eficazmente – maior será
sua confiança em compartilhar o evangelho com os amigos, família, e
outras pessoas que eles encontrarem ao longo de suas vidas.
Aprender, amar e viver a doutrina de Cristo faz de nós melhores
missionários, mas mais importante ainda, conforme Presidente
Packer declarou, muda nossa atitude e comportamento,
aprofundando desta forma nosso discipulado. Devido a isso, não
podemos nos satisfazer simplesmente em fazer com que nossos
alunos passem as escrituras. Devemos fazer com que as escrituras e
doutrinas passem por eles – profundamente dentro de suas mentes e
corações e sempre prontas, na ponta de suas línguas. “Possuímos
essas preciosas verdades,” Élder Maxwell observou com
discernimento. “Agora elas devem vir a nos possuir!” [13]

Saiba Como Compartilhar o Evangelho


Durante uma entrevista com um missionário que estava confuso e
querendo voltar para casa, ouvi um comentário interessante, mas ao
mesmo tempo, perturbador. Este élder disse: “Eu sempre quis servir
uma missão. Eu simplesmente não sabia que teria que falar com
tantas pessoas sobre o evangelho.” Fiquei perplexo. O que ele
pensava que iria fazer como missionário? Infelizmente, este não foi o
único missionário que expressou tais sentimentos. Havia muitos
outros. Um outro disse: “Pensei que eu poderia ser um bom
missionário se não tivesse que falar com as pessoas.” Hã? Conforme
eu tentava compreender esta linha de pensamento, tornou-se claro
para mim o motivo pelo qual eles disseram tais coisas. Eles tinham o
desejo de servir como missionários. Eles haviam se preparado
guardando dinheiro, mantendo-se dignos e estudando as escrituras.
Entretanto, o que eles não haviam feito foi na verdade falar com as
pessoas (particularmente com aqueles de outras crenças) sobre o
evangelho. Eles haviam se preparado mas não tinham realmente tido
a oportunidade de praticar fazendo aquilo que os missionários fazem.
Falar e desejar fazer o trabalhio missionário é a parte fácil. Fazê-lo,
entretanto, é a parte mais difícil. Se vocês não pensam assim,
perguntem a qualquer membro-missionário sobre suas tentativas
missionárias. Parte desta condição muito comum a qual eu chamo de
“paralisia do membro-missionário,” vem do fato de não saberem como
compartilhar o evangelho com outras pessoas, além da falta de
capacidade de reconhecer as muitas oportunidades que estão ao
nosso redor para fazê-lo.
“A coisa mais importante que vocês podem fazer para se preparar
para um chamado para servir [como missionários de tempo integral] é
se tornar um missionário bem antes de ir em uma missão,” Élder
David A. Bednar nos ensinou. “Vocês não serão transformados
subitamente, nem por um passe de mágica, num missionário
preparado e obediente no dia em que passarem pela porta da frente
do Centro de Treinamento Missionário. ... Assim, um elemento-chave
para se elevar o nível de preparo inclui o esforço para tornar-se um
missionário antes de ir para a missão.” [14] Então não foi surpresa
para mim, como presidente de missão, que aqueles jovens rapazes e
moças que tinham tido experiências falando sobre o evangelho com
seus amigos não-membros ou com membros da família, tivessem
muito mais confiança no campo missionário. Muitos vieram de áreas
onde havia poucos santos dos últimos dias em suas escolas e
vizinhanças, enquanto que outros vinham de comunidades
predominantemente de santos dos últimos dias. Era visível, ao vê-los,
que ser um missionário – ter experiências compartilhando o
evangelho com outros – não era tanto uma questão de geografia, mas
de profundo amor pelo evangelho, um reconhecimento dos frutos do
evangelho em suas vidas, e um entusiasmo para compartilhar
sentimentos pessoais sobre tais experiências. Essas coisas podem e
devem existir na vida de nossos alunos, sejam eles de onde forem –
sejam de uma escola onde eles são os únicos santos dos últimos
dias, sejam de uma comunidade onde não haja outros santos dos
últimos dias. O que é que nós, como educadores religiosos, podemos
fazer para promover esses sentimentos e capacitar esses
missionários em perspectiva para ensinar sobre suas crenças e
compartilhar seus testemunhos do evangelho?

“Ensinar um ao Outro a Doutrina do Reino”


Conferências de zona, reuniões de distrito e estudo com o
companheiro no campo missionário são preenchidos com situações
em que os missionários ensinam uns aos outros e então exercitam
práticas importantes. Embora eu não esteja comparando nossos
Seminários, Institutos e aulas de religião com conferências de zona,
ainda assim vejo um paralelo. Desde que voltei de minha missão,
compreendi que posso envolver meus alunos mais no ensino um do
outro das doutrinas do reino, conforme o Senhor ordenou em D&C
88:77. Há muitos modos pelos quais podemos fazer isso. Podemos
fazê-lo ensinando uma parte significante de uma lição, ou com
pequenos grupos de discussão, ou ainda com encenações e
respostas individuais a uma simples pergunta do tipo “Como vocês
explicaria isso a alguém que não é membro de nossa Igreja?” Há a
tentação de nos tornarmos distribuidores de informações em vez de
diretores de ensino. Indubitavelmente aprendemos mais quando
temos que ensinar uns aos outros. Como resultado, nossos alunos –
missionários de tempo integral em perspectiva e futuros pais e mães
em “lar[es] que transmite[m] o evangelho” [15] – serão melhor
preparados para compartilhar seus testemunhos e discutir suas
crenças se eles não se sentarem simplesmente em nossas salas de
aula e absorverem passivamente o que está sendo ensinado, mas se,
ao invés disso, forem capazes de compartilhar ativamente com outros
aquilo que absorveram.
Com muita frequência penso que há uma boa participação em minhas
aulas quando peço para os alunos lerem algumas escrituras ou
responderem alguma pergunta trivial que não requer muito esforço.
Agora, conforme eu procuro mais conscientemente propiciá-los com
oportunidades para ensinarem uns aos outros, tento visualizar
situações da vida real que missionários e membros constantemente
encontram e que necessitam de explicações claras, concisas e
convincentes. Por exemplo, poderia dar o seguinte desafio para
meus alunos: “Fale-me a respeito do Livro de Mórmon – o que é,
como foi obtido, e como você se sente a respeito dele – em dois
minutos.” Há inúmeras formas pelas quais nós podemos fazer com
que nossos alunos ensinem uns aos outros e falem sobre verdadeiros
desafios missionários da vida real. Meus alunos normalmente têm
situações mais relevantes, incluindo questões que eles têm
perguntado ou desafios à nossa crença que eles têm encontrado.
Tais ocasiões são, frequentemente, grandes momentos de ensino e
preparação missionária. Da mesma forma, hoje, quando ensino um
bloco de escrituras, em vez de apenas chamar um aluno para ler, eu
peço para que meus alunos olhem para o contexto da passagem e
que então expliquem, com suas próprias palavras, aquilo que está
sendo ensinado. Semelhantemente, quando discutimos conceitos
doutrinários, convido-os a resumir (normalmente em um minuto ou
menos) aquilo que discutimos, de uma forma que uma pessoa que
não esteja participando desta aula possa entender a doutrina. Ser
capaz de sintetizar e resumir, tanto verbalmente como por escrito, é
vital para se adquirir um maior conhecimento doutrinário e valorizar o
compartilhamento do evangelho com outros.
Muitos anos atrás, quando servia na presidência de uma estaca,
nosso presidente deu uma designação ao conselho da estaca e aos
bispados. Nós deveríamos escrever um resumo do plano de salvação
por inteiro e que pudesse ser lido em menos de dois minutos. Em
todas as reuniões depois disso, por muitos meses nós líamos uns
para os outros os nossos resumos do plano. Era uma tarefa difícil de
fazer, mas instrutiva. Aprendi muito das observações dos outros
irmãos. Talvez vocês devessem fazer o mesmo. Este mesmo tipo de
síntese doutrinária escrita no papel poderia ser feita com uma
variedade de princípios do evangelho. Um colega certa vez disse:
“Você não sabe realmente no que acredita até que você tenha que
escrevê-lo tão claramente que ninguém possa se confundir.” Este é o
motivo pelo qual os missionários são instruídos a escrever planos de
lições ou esboços todas as vezes que ensinam. Como educadores
religiosos, nós fazemos a mesma coisa. Talvez nós devêssemos dar
a nossos estudantes uma oportunidade de fazer o mesmo. Quanto
mais oportunidades fornecermos aos nossos alunos de aprender a
como ensinar e falar sobre o evangelho de uma maneira clara e
concisa, mais preparados e confiantes eles estarão para compartilhar
o evangelho com outros.

“Servir de Testemunhas de Deus em Todos os


Momentos”
Embora eu ame fazer o trabalho missionário e preparar futuros
missionários, pessoalmente me sinto incomodado ao dar tarefas para
meus alunos de compartilhar o evangelho com seus amigos de outras
crenças. Para mim, o trabalho missionário não é um projeto. Espero
que meus alunos estejam orando para ter experiências missionárias e
que realmente as tenham. Espero que aqueles que estiverem se
preparando para suas missões de tempo integral possam ir com os
missionários em seus compromissos para ensinar, conforme
direcionados e autorizados por seus líderes locais. Como educador
religioso, não posso controlar isso. Entretanto, o que posso fazer é
manter evidente no meu ensino as imensas bênçãos que temos em
nossas vidas devido ao evangelho restaurado, ao privilégio de sermos
membros da Igreja, e às responsabilidades do convênio que
aceitamos com o batismo. Posso ensinar que em cada volume de
escritura somos relembrados de que, através de nossos esforços
como descendentes de Abraão “serão abençoadas todas as famílias
da Terra, sim, com as bênçãos do Evangelho, que são as bênçãos de
salvação, sim, de vida eterna” (Abraão 2:11). Posso ensinar e
testificar que o trabalho missionário está diretamente relacionado à
Expiação de Cristo. Quanto mais eu sinto o amor do Salvador em
minha vida, maior é o meu desejo de me levantar como uma
testemunha do Senhor e compartilhar com outras pessoas ao meu
redor, aquilo que Ele fez por mim. De fato, compartilhar o evangelho
com outros é uma manifestação de nosso amor pelo Salvador e de
nossa gratitude por Seu sacrifício em nosso favor. Presidente Howard
W. Hunter declarou: “Todas as vezes que experimentamos as
bênçãos da Expiação em nossas vidas, não podemos deixar de ter
uma preocupação com o bem-estar de outros. ... Um grande
indicador da conversão pessoal de uma pessoa é o desejo de
compartilhar o evangelho com outros”. [16] Quanto mais ajudo nossos
estudantes a entender quem eles são, o que a Expiação fez por mim,
e por que o Senhor espera que eles compartilhem o evangelho com
outros, o como fazer o trabalho missionário ser torna mais claro.
Conforme Presidente Henry B. Eyring ensinou:
Estudei cuidadosa e fervorosamente algumas pessoas que são
testemunhas admiravelmente fiéis e eficazes do Salvador e de Sua
Igreja. Suas histórias são inspiradoras. ...
Não há um padrão único no modo como essas pessoas agem. Não
há uma técnica comum. ... Cada uma delas parece ter recebido uma
resposta diferente e específica para sua vida e para as pessoas que
encontra.
No entanto, em um aspecto são todas iguais. É o seguinte: Elas têm
um modo comum de verem quem são. Conseguem fazer o que foram
inspiradas a fazer porque são quem são. Para fazer o que temos de
fazer precisamos tornarmo-nos semelhantes a elas em pelo menos
dois aspectos. Primeiro, elas sentem que são filhos amados de um
Pai Celestial amoroso. Por causa disso, oram a Ele muito
frequentemente e com facilidade. Esperam receber Sua orientação
pessoal. Obedecem com mansidão e humildade, como filhos de um
pai perfeito. Ele está próximo delas.
Segundo, são gratas seguidoras de Jesus Cristo ressurreto. Sabem
por si mesmas que a Expiação é real e necessária para todos.
Sentiram-se limpas por meio do batismo realizado por quem possuía
autoridade e por receber o Espírito Santo. ...
As pessoas que falam com facilidade e com frequência a respeito do
evangelho restaurado dão grande valor ao que ele significa para elas.
Pensam frequentemente nessa grande bênção. É a lembrança da
dádiva que receberam que faz com que anseiem para que outras
pessoas o recebam. Sentiram o amor do Salvador. [17]

Conclusão
Ser um presidente de missão foi, para mim, a coisa mais intensa,
mais trabalhosa, mais exigente, mais difícil, mais cansativa – tanto
física como emocionalmente – e mais gratificante, com exceção à
minha família, que eu jamais fiz em minha vida. Que privilégio foi
servir! Não sei se ajudei a alguém, mas sei o que a missão fez por
mim. Sou diferente devido a ela e sempre serei grato por essa
transformação. Sempre me perguntam: “Do que você mais sente falta
da sua missão?” Assim como qualquer missionário retornado, jovem
ou velho, há muitas coisas que eu sinto muito a falta. (Há também
muitas outras que não sinto falta nenhuma!) Eu sinto a falta do
constante envolvimento com os missionários de tempo integral – o
ensino, o treinamento, o encorajamento e o estímulo. Sinto a falta de
ver os milagres que ocorriam com eles e os milagres que eles
realizaram ao seu redor.
Quando voltei para minha posição de professor na BYU, devo admitir
que fiquei desapontado que não designaram para ensinar o curso de
Religião 130, “Compartilhar o Evangelho.” Mas agora compreendo
que tudo que ensino – seja qual for o curso ou conceito – é
verdadeiramente preparação missionária e compartilhamento do
evangelho. Todos os nossos alunos – e todos nós também – somos
parte desta visão profética “[d]a melhor de todas as gerações de
missionários na história da Igreja.” Para que esta visão se realize,
devemos ser a melhor de todas as gerações de educadores religiosos
– preparadores de missionários, fortalecedores de testemunhos,
fomentadores de estudiosos do evangelho, ligadores de pontos de
doutrinas e, certamente, construtores da fé. Isso é muito para se
fazer. Essa é uma responsabilidade séria e sagrada. Então, como
meus missionários frequentemente diziam, “Mãos à obra. Há um
padrão que precisa ser elevado.”

Notas:
[1] M. Russell Ballard, em Conference Report [Relatório da
Conferência], outubro de 2002, 50.
[2] Ballard, em Conference Report [Relatório da Conferência], outubro
de 2002, 52; ênfase acrescentada.
[3] Ballard, em Conference Report [Relatório da Conferência], outubro
de 2002, 57.
[4] James E. Faust, em Conference Report [Relatório da Conferência],
abril de 1996, 59.
[5] Neal A. Maxwell, “The Inexhaustible Gospel” [“O Evangelho
Inexaurível”], em 1991–92 Speeches [Discursos] (Provo, UT: Brigham
Young University), 141.
[6] William R. Bradford, em Conference Report [Relatório da
Conferência], outubro de 1987, 90.
[7] Harold B. Lee, “President Harold B. Lee Directs Church; Led by the
Spirit” [“O Presidente Harold B. Lee Dirige a Igreja; Guiados pelo
Espírito”] Church News, julho de 15, 1972, 4.
[8] Boyd K. Packer, in Conference Report [Relatório da Conferência],
outubro de 1986, 20.
[9] “Statement on Missionary Work” [“Declaração sobre o trabalho
missionário”] Carta da Primeira Presidência, 11 de dezembro de
2002.
[10] Pregar Meu Evangelho (Salt Lake City: The Church of Jesus
Christ of Latter-day Saints, 2004), 21.
[11] Pregar Meu Evangelho, 29.
[12] Estas sugestões de estudo foram adaptadas de Pregar Meu
Evangelho, 22-24.
[13] Neal A. Maxwell, em Conference Report [Relatório da
Conferência], abril de 1986, 45.
[14] David A. Bednar, em Conference Report [Relatório da
Conferência], outubro de 2005, 47–48.
[15] Veja M. Russell Ballard, em Conference Report [Relatório da
Conferência], abril de 2006, 88.
[16] Howard W. Hunter, “The Atonement and Missionary Work” [“A
Expiação e o trabalho missionário”] seminário para novos presidentes
de missão, junho de 1994, citado em Pregar Meu Evangelho, 13.
[17] Henry B. Eyring, em Conference Report [Relatório da
Conferência], abril de 2003, 30–31.
Em Sua Própria Língua e em Seu Próprio
Idioma

Em Sua Própria Língua e em Seu Próprio


Idioma
Em 1833 o Senhor disse ao Profeta Joseph Smith: “Pois acontecerá
nesse dia que todo homem ouvirá a plenitude do evangelho em sua
própria língua e em seu próprio idioma” (Doutrina e Convênios 90:11).
O espírito de revelação sugere que um discípulo estudioso saia sair
de dentro da sala de aula, e dos limites de sua língua mãe, para
compartilhar aquilo que aprendeu, sentiu e presenciou.
Na entrada da cidade universitária da Universidade Brigham Young
(BYU) em Provo, Utah, encontra-se o lema “O mundo é nosso
campus.” Tanto o lema como a revelação citada dão a entender que
os estudantes da BYU podem trazer benefícios à vida das pessoas
que moram muito distante de Provo. Num esforço de cumprir com
este propósito, lançamos uma nova publicação em português do
Centro de Estudos Religiosos da BYU destinado a nossos colegas
fieis do programa de Seminários e Institutos pelo mundo afora.
Com a missão de apoiar a busca erudita da verdade no contexto do
evangelho, o Centro de Estudos Religiosos foi fundado em 1975 pelo
Élder Jeffrey R. Holland, o então decano de Educação Religiosa da
BYU. Esta coleção de ensaios, como outros empreendimentos do
CER, faz parte da missão global da Educação Religiosa de edificar o
reino de Deus através do ensino e preservação da doutrina e história
sagradas do evangelho de Jesus Cristo.
Quando Robert L. Millet, ex-decano de Educação Religiosa da BYU,
deu início à publicação do Educador Religioso em 2000, ele desejava
proporcionar outro meio para os estudiosos e alunos da Restauração
pesquisarem a rica história da Igreja, sondarem as profundezas das
escrituras e doutrinas modernas e antigas e compartilharem várias
abordagens e métodos para entender e ensinar melhor os princípios
do evangelho de Jesus Cristo.
Ao longo dos dez anos de sua existência, o Educador Religioso tem
servido de foro em que líderes dedicados da Igreja, inclusive profetas,
apóstolos e professores experientes, podem publicar ensaios e
artigos bem-estudados e bem-pensados que destacam o ensino de
princípios importantes e temas da atualidade. Os volumes em
conjunto formam uma biblioteca notável de recursos didáticos e de
devoção que dotam e inspiram a vida de seus muitos leitores. O
décimo aniversário do Educador Religioso nos proporciona a
oportunidade ideal de reunir num livro especial alguns dos melhores
artigos e ensaios dos volumes anteriores da revista dedicados a
assuntos doutrinários e históricos bem como ao ensino do evangelho.
Os artigos contidos neste volume constiuem somente uma amostra
pequena dos numerosos artigos publicados ao longo dos últimos dez
anos. Muitos outros discursos e artigos em língua portuguesa se
encontram no nosso Web site (rsc.byu.edu), um projeto possibilitado
por doações generosas. O CER continuará a atualizar o site,
colocando outros materiais e até livros cuja edição já se esgotou há
muito tempo.
A missão especial do CER é a de compartilhar com os irmãos e irmãs
excelentes discursos e ensaios que edificarão, ensinarão e inspirarão
os professores da Igreja em todo o mundo.
Muito obrigado por terem se unido a nós ao cumprirmos a ordem do
Senhor: “Buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras
de sabedoria; sim, nos melhores livros buscai palavras de sabedoria;
procurai conhecimento, sim, pelo estudo e pela fé” (Doutrina e
Convênios 88:118).
Esta Geração Receberá minha Palavra por Teu
Intermédio

Esta Geração Receberá minha Palavra por Teu


Intermédio

Élder Bruce R. McConkie

O Élder Bruce R. McConkie (1915-1985) foi membro do


Quórum dos Doze Apóstolos.

Em 1829 o Senhor deu informações de importância insuperável


ao povo de nossos dias quando disse a Joseph Smith, seu
vidente dos últimos dias, "Esta geração receberá minha palavra
por teu intermédio." (D&C 5:10)
Meu desejo é o de mostrar que esta declaração descreve, de
verdade, as condições como são. É também meu desejo
descrever estas condições de tal maneira que preste
testemunho da grande obra do Profeta Joseph Smith de
restaurar o evangelho do nosso Salvador e Mestre, o Senhor
Jesus Cristo.
"Esta geração receberá minha palavra por teu intermédio." A
palavra é o evangelho de salvação, é o plano de salvação; a
palavra é a mente, vontade e propósitos do Senhor
concernentes a seus filhos na Terra; a palavra consiste em
todas as verdades, direitos, poderes, doutrinas e princípios de
que os homens precisam para que possam transformar suas
almas em almas dignas de entrar na presença de Deus e de
Jesus Cristo.
A geração de que falamos é da atual época. É a dispensação em
que vivemos; é o período desde o começo de nossa
dispensação até a segunda vinda do Filho do Homem e para
esta era da história do mundo a palavra do Senhor, a palavra de
salvação, a palavra de luz e verdade vem ao mundo através de
Joseph Smith e não de outro modo nem por outra pessoa.

A Palavra e a Dispensação
Um pouco de background é essencial para que entendamos do
que se trata este assunto. Todos nós sabemos que a salvação é
de Cristo. Ele é o Primogênito do Pai. Ele era semelhante a Deus
na vida pré-mortal e se tornou, sob o Pai, o Criador de todas as
coisas. Dependemos dele e dependemos do Pai por meio Dele.
Abaixo de Cristo está o grande personagem espiritual Miguel
que liderou os exércitos e as hostes do céu quando houve
guerra e rebelião nos céus e que, através da pré-ordenação,
veio à Terra como o primeiro de todos os homens e se tornou o
sumo sacerdote presidente da Terra. A próxima pessoa na
hierarquia é Gabriel, o qual veio a esta vida como Noé. Depois
disso não sabemos a prioridade, só que certos homens foram
escolhidos das hostes celestiais e pré-ordenados para serem o
cabeça das dispensação.
As dispensação são as épocas em que o plano de salvação, sim,
a palavra, a palavra eterna, se dispensa ou é concedida aos
homens na Terra. Quantas dispensação já houve, nós não
sabemos. Suponho que houve dez, talvez houvesse vinte. Pode
ser que tenha havido mais. Não estou falando do que às vezes
se chamam dispensação, ou sejam, as pregação e designação
especiais de certos profetas como João Batista, Paulo e outros.
Refiro-me àquelas grandes eras e épocas da história do mundo
quando o Senhor, por intermédio de um homem, dá sua palavra
ao mundo e torna todos os profetas, videntes,
administradores, apóstolos e exponentes daquela época
sujeitos às revelação que nos vieram por meio daquele
indivíduo. O que significa isso é que o cabeça de uma
dispensação do evangelho está entre as dez a vinte maiores
espíritos que já nasceram neste planeta.
Pouco sabemos do gabarito dos homens que nascerão durante
o Milênio. Muitos grandes espíritos virão, porém parece
razoável supor que o Senhor separou certas pessoas com
talentos e capacidade espirituais para virem à Terra em tempos
de inquietação, iniqêidade, rebelião e maldade para serem
luzes e guias para o mundo. Isto nos dá um pouco de
perspectiva do que diz respeito a vida, estado e colocação de
Joseph Smith.
Em primeiro lugar está o Senhor Jesus, depois Adão e Noé.
Após eles seguem os cabeças das dispensação, depois os
profetas, apóstolos, élderes de Israel e homens perspicazes,
bons e sábios que têm o espírito de luz e entendimento. Todo
cabeça de dispensação é o revelador de Cristo para os seus
dias; todo profeta é uma testemunha de Cristo e todos os
outros profetas e apóstolos que seguem são uma reflexção, eco
e expoente do cabeça da dispensação. Todos eles vêm para
ecoar, expor e desdobrar o que Deus revelou através do
homem designado para dar sua palavra eterna ao mundo
naquela época. Assim é o conceito de dispensação.

As Palavras Reveladas por Intermédio de


Joseph Smith
Chegamos agora à nossa dispensação. Não vamos tratar de
minúcia. As coisas pequenas e insignificantes não nos
interessam no momento. Quanto a este assunto, precisamos
entender o conceito global do que significa passar ao mundo a
palavra por meio de um profeta específico.
Joseph Smith deu três grandes verdades ao mundo.
Estas verdades predominam todas as outras; têm precedência
sobre as outras coisas; afetam mais a salvação dos homens do
que quaisquer outras e sem o conhecimento delas os homens
não poderão salvar-se. A primeira grande verdade é que Deus,
nosso Pai Celestial, é o Criador, Sustentador e Preservador de
todas as coisas e foi quem ordenou e estabeleceu o plano de
salvação. O evangelho é dele, "o evangelho de Deus, . . .
concernente a seu Filho nosso Senhor Jesus Cristo que se fez
semente de Davi segundo a carne," conforme explicou Paulo
(Romanos 1:1, 3).
Ao buscarmos a palavra tanto em Doutrina e Convênios como
em outras fontes, devemos procurar primeiro o conhecimento
de Deus assim como foi revelado por intermédio de Joseph
Smith. Conhecer Deus é a maior verdade de toda a eternidade.
Mas deve haver oposição em todas as coisas e o contrário do
conhecimento de Deus que nos veio através de Joseph Smith é
a maior heresia das religição do mundo. Aquela heresia é que
Deus é um espírito provindo do nada que enche a imensidão do
espaço e que a criação se realizou por meio de um processo
evolucionário. Na verdade, Joseph Smith revelou Deus numa
época de escuridão espiritual total, uma época em que os seres
humanos já não sabiam da natureza verdadeira nem da forma
do Ser que deviam adorar.
A segunda grande verdade é que Jesus Cristo é o Salvador e
Redentor do mundo, que a salvação se realiza através de seu
sacrifício expiador e que a expiaçao é a base sobre o qual
construímos para que pela obediência ás leis e ordenanças do
evangelho sempiterno possamos salvar-nos. Esta é a segunda
verdade eterna. Não há nada de mais importante para nós,
tendo primeiro descoberto quem é Deus nosso Pai, do que
conhecer Cristo e a salvação que nEle está. A heresia e
perversão desta verdade é o conceito sectário comum de que as
pessoas são salvas pela graça só, sem obras.
A terceira coisa mais importante em toda a eternidade é o
conhecimento de Deus o Testificador, ou seja, o Espírito Santo.
O Espírito Santo de Deus é o revelador que nos transmite a
verdade; Ele é um santificador que purifica a alma humana e é
por meio dele que os dons espirituais são dados aos fiéis para
que estes tenham em sua vida aquilo que os apóstolos,
profetas e outros grandes homens possuíam. A heresia que
existe no mundo sectário no que diz respeito a isso é que os
céus estão selados, que não há revelação, que não há milagres
e que já não existem dons espirituais. As três grandes verdade
são o resultado da palavra ter vindo por intermédio do Profeta
Joseph Smith.
Agora vou lhes deixar umas palavras tiradas das revelações a
respeito da posição profética de Joseph Smith: "Portanto eu, o
Senhor, conhecendo as calamidades que adviriam aos
habitantes da Terra, chamei meu servo Joseph Smith Júnior e
falei-lhe do céu e dei-lhe mandamentos" (D&C 1:17). Tal é a
declaração revelada do prefácio do Senhor de seu livro de
mandamentos.
Na seção 21 lemos: "Eis que um registro será escrito entre vós;
e nele serás chamado vidente, tradutor, profeta, apóstolo de
Jesus Cristo, élder da igreja pela vontade de Deus, o Pai, e pela
graça de vosso Senhor Jesus Cristo, sendo inspirado pelo
Espírito Santo a lançar o alicerce dela e edificá-la para a
santíssima fé. . . . Portanto vós, ou seja, a igreja, dareis ouvidos
a todas as palavras e mandamentos que ele vos transmitir à
medida que ele os receber, andando em toda santidade diante
de mim" (D&C 21:1-2, 4).
Então vem esta declaração que no seu sentido mais completo
se aplica mais ao cabeça de uma dispensação: "Pois suas
palavras recebereis como de minha própria boca, com paciência
e fé" (D&C 21:5). Quando Joseph Smith falava pelo poder do
Espírito Santo, era como se o próprio Senhor Jesus dissesse as
palavras. A voz do Profeta era a voz do Senhor; ele não era
perfeito; somente Cristo era totalmente livre do pecado e da
maldade. Mas o Profeta se aproximava da perfeição tanto
quanto é possível sem ser transladado. Ele era um homem de
tal estatura espiritual que refletia a imagem do Senhor Jesus
Cristo ao povo. Sua voz era a do Senhor.
"Porque assim fazendo"-isto é, por dar ouvidos às palavras de
Joseph Smith como se o próprio Jesus tivesse as falado-"as
portas do inferno não prevalecerão contra vós; sim, e o Senhor
Deus afastará de vós os poderes das trevas e fará tremerem os
céus para o vosso bem e para a glória de seu nome" (D&C
21:6). Até certo ponto temos observado o cumprimento disso
pelo crescimento progressivo, dinâmico e explosivo da Igreja
em nossos dias. "Pois assim diz o Senhor Deus: Inspirei-o a
promover a causa de Sião com grande poder voltado para o
bem; e conheço sua diligência e ouvi suas oração. Sim, vi seu
pranto por Sião e farei com que já não se lamente por ela; pois
chegados são so dias de seu regozijo pela remissão de seus
pecados e pelas manifestação de minhas bênçãos sobre suas
obras" (D&C 21:7-8).
Há mais um versículo que devemos notar em particular;
podemos tomá-lo como teste pessoal de nossa condição de
discípulo: "Pois eis que abençoarei todos os que trabalharem
em minha vinha com uma grandiosa bênção"-isso se aplica a
todos nós-"e eles acreditarão nas palavras dele [Joseph Smith],
que lhe são dadas por meu intermédio, pelo Consolador, o qual
manifesta que Jesus foi crucificado por homens pecadores,
pelos pecados do mundo, sim, para a remissão de pecados do
coração contrito" (D&C 21:9). O teste de nossa qualidade de
discípulo é medir quanto acreditamos nas palavras reveladas a
Joseph Smith e com quanto efeito proclamamos estas palavras
ao mundo.

Onde se Encontram as Palavras


Encontram-se as palavras nas visção, revelação e
pronunciamentos inspirados de Joseph Smith. Muitos deles
estão registrados no livro History of the Church [História da
Igreja]. O relato da Primeira Visão também se encontra na
Pérola de Grande Valor. A carta Wentworth é de importância
igual ao que já está na Pérola de Grande Valor; trata-se de
escritura, só que não foi apresentada à Igreja e não nos
comprometemos a aceitá-la e proclamá-la ao mundo. Há
muitas coisas de validade, verdade e excelência literária iguais
às que estão nas obras padrão.
Esta é uma declaração do Profeta proferida quando ele e seus
colegas aceitaram, de modo formal as revelação que agora
constituem o livro de Doutrina e Convênios: "Depois de
consideração deliberada referente ao livro de revelação que
agora será impresso, sendo ele o fundamento da Igreja nestes
últimos dias e de benefício ao mundo, revelando que as chaves
dos mistérios do reino do Salvador foram entregues aos
cuidados do homem e que as riquezas da eternidade estão ao
alcance dos que estão dispostos a viver de acordo com toda
palavra que sai da boca de Deus, a conferência, portanto,
concordou que as revelação lhes valem mais que as riquezas
temporais do mundo." [1] Assim é a nossa visão de Doutrina e
Convênios.
As palavras reveladas através de Joseph Smith se encontram
também nos registros que traduziu, sendo o principal o Livro
de Mórmon. Este livro é uma nova testemunha de Jesus Cristo;
é comparável à Bíblia, um registro da interação de Deus com o
povo do Velho Mundo. Falando do Livro de Mórmon, Joseph
Smith disse: "Eu disse aos irmãos," referindo-se à palestra com
o Quórum dos Doze, "que o Livro de Mórmon era o mais
correto dos livros na Terra e a chave de abóbada de nossa
religião e que por meio de guardar seus preceitos, um homem
poderia se aproximar mais de Deus do que por meio de
qualquer outro livro" [2] O Livro de Mórmon contém a parte das
palavras de Deus necessárias para provar a divindade de sua
grande obra dos últimos dias e ensinar as doutrinas
fundamentais de salvação para a humanidade em geral. é o
livro padrão fundamental da obra dos últimos dias.

Encontram-se outras tradução feitas pelo Pro


feta na Pérola de Grande Valor. Ele traduziu o Livro de Abraão e
a chamada tradução de Joseph Smith da Bíblia. Esta é uma obra
maravilhosamente inspirada e é uma das grandes evidências da
missão divina do Profeta. Por meio de revelação pura ele
acrescentou muitos conceitos e vistas novos, tal qual o material
sobre Melquizedeque do capítulo catorze de Gênesis. Ele
reescreveu alguns capítulos e reorganizou algumas passagens
de forma que dão uma nova perspectiva e significado como no
capítulo vinte e quatro de Mateus e o primeiro capítulo do
evangelho de São João.
Outra fonte dos escritos do Profeta são seus sermão e
ensinamentos. Possuímos o que está nos livros padrão mas há
algo mais, aquilo que ele falou e que foi registrado. Quando o
Senhor revelou o que devíamos ensinar, disse naquela
revelação conhecida como a lei da Igreja (D&C 42): "Os élderes,
sacerdotes e mestres desta Igreja," bem como todos os oficiais,
"ensinarão os princípios do meu evangelho que estão na Bíblia
e o Livro de Mórmon nos quais está a plenitude do meu
evangelho" (D&C 42:12). Quando esta revelação foi recebida
ainda não havia os outros livros padrão. "E observarão os
convênios e regras da igreja e cumpri-los-ão e estes serão seus
ensinamentos, conforme forem dirigidos pelo Espírito" (D&C
42:13). Por isso é nossa obrigação ensinar pelo poder do
Espírito Santo o que está nos livros padrão. "E o Espírito ser-
vos-á dado pela oração da fé; e se não receberdes o Espírito,
não ensinareis. E tudo isso fareis como vos ordenei com
respeito ao vosso ensino, até que seja dada a plenitude de
minhas escrituras" (D&C 42:14-15).
Hoje em dia temos mais mas ainda não chegamos à plenitude
que um dia será nossa. "E ao elevardes vossa voz pelo
Consolador, falareis e profetizareis como me parecer melhor;
porque eis que o Consolador conhece todas as coisas e presta
testemunho do Pai e do Filho" (D&C 42:16-17).
Agora, como eu disse, é para nós fazermos mais do que só
ensinar o que está nos livros padrão. Os servos do Senhor saem
para "pregar minhas palavras, . . . não dizendo nada mais do
que os profetas e apóstolos tenham escrito, e aquilo que lhes
for ensinado pelo Consolador, pela oração da fé" (D&C 52:9).
Joseph Smith tinha, como mais ninguém desta dispensação, a
capacidade de sintonizar-se com o Consolador e falar as coisas
que representavam a mente e voz do Senhor, inclusive coisas
que não estão nos livros padrão. A este respeito, acho que o
que ele falou de mais notável foi o sermão King Follett, que
dizem que foi o maior sermão de todo o seu ministério. Não
acredito que haja algo que ultrapasse este sermão acerca do
Segundo Consolador. Foi como se Deus falasse quando o
Profeta falou.
O que tem nos vindo através das revelaç sermção e serm
sermção de outras autoridades que viveram depois de Joseph
Smith, como por exemplo a visão da redenção dos mortos do
Presidente Joseph F. Smith ou aquilo que qualquer pessoa
inspirada na Igreja fale, são coisas que refletem, explicam e
amplificam o que originou do Profeta Joseph Smith.

A Palavra e o Livro de Doutrina e Convênios


O livro de Doutrina e Convênios apresenta a palavra de várias
formas. Há aparição de seres santos e do próprio Senhor que
veio pessoalmente, como foi registrado na seção 110. A
primeira parte da seção 27 foi citada por um anjo que visitou o
Profeta e deu-lhe instruç sermção. A palavra veio pela voz de
Deus, como na revelação da seção 137 de Doutrina e Convênios
(a visão de Alvin no reino celeste). A palavra veio por meio de
vis, como na seção 76. E a palavra veio principalmente pelo
poder do Espírito Santo, sim, a maioria das revelação veio desta
maneira.
Se o Espírito Santo desce sobre alguém, aquela pessoa fala o
que o Senhor falaria e a voz daquela pessoa se torna a voz do
Senhor. Notem este versículo das escrituras: "E naquele dia
desceu sobre Adão o Espírito Santo, que presta testemunho do
Pai e do Filho, dizendo:" (Notem quem está falando e notem a
mensagem dada pelo Espírito Santo) "Eu sou o Unigênito do Pai
desde o princípio, agora e para sempre, para que, assim como
caíste, sejas redimido e toda a humanidade, sim, tantos
quantos o desejarem" (Moisés 5:9). O Espírito Santo fala na
primeira pessoa como se fosse o Filho de Deus, dramatizando o
fato de que quando falamos pelo poder do Espírito Santo, as
palavras proferidas são as de Cristo. Conhecemos o
ensinamento de Néfi que os anjos falam pelo poder do Espírito
Santo portanto falam as palavras de Cristo (vide 2 Néfi 32:3).
Os profetas que falam pelo poder do Espírito Santo falam as
palavras de Cristo. Todo élder da Igreja, quando movido pelo
Espírito Santo, emite palavras que são escrituras tão
verdadeiras e válidas na sua importância central como
quaisquer das palavras pronunicadas por qualquer profeta.
Pode ser que estas palavras não tenham sido separadas para
um voto de apoio a fim de que resolvêssemos, de forma oficial,
comprometer-nos a segui-las. Não obstante, são escrituras e
são a voz e a palavra do Senhor, como também são os sermão
do Profeta embora não sejam canonizados. O Pai, o Filho e o
Espírito Santo são um. Não importa qual deles fale, a palavra é
a mesma. Se um homem diz o que eles teriam dito, é escritura.
Algumas das revelação de Doutrina e Convêncios vieram por
confirmação espiritual, o que quer dizer que o Profeta resolvia
o problema em sua mente, utilizando seu arbítrio, e levava o
assunto ao Senhor para receber a confirmação espiritual de que
suas conclusão estavam certas. Daí ele as escrevia em nome do
Senhor para publicação como revelação.
No livro também há umas epístolas, tais como as seção 127 e
128, há alguns escritos inspirados, como nas seção 121, 122 e
123 e há alguns ítens de instrução, como na seção 131.

Como Saber que a Palavra é de Deus


Esta declaração foi tirada do testemunho dos Doze dado na
ocasião da adoção oficial das revelações: "Nós, portanto,
sentindo-nos dispostos a prestar testemunho ao mundo, a toda
humanidade, a toda criatura sobre a face da Terra, que o
Senhor testificou a nossa alma pelo Espírito Santo que se
derramou sobre nós que estes mandamentos foram revelados
pela inspiração de Deus e são úteis para todos os homens e
realmente verdadeiros" (Introdução a Doutrina e Convênios).
Não há outra maneira no céu e na terra de saber a veracidade
de uma revelação senão pelo mesmo Espírito pelo qual foi
revelada. Estamos lidando com as coisas do Espírito, não
podemos avaliá-las num laboratório a não ser que seja um
laboratório espiritual. A escritura não se presta a interpretação
particular porque "nunca foi produzida por vontade de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo
Espírito Santo" (2 Pedro 1:21). E assim, quando os Doze
prestam testemunho, como citamos, que as revelações de
Doutrina e Convênios são verdadeiras, significa que o Espírito
Santo de Deus falou ao espírito deles individual e coletivamente
e certificou que as revelações recebidas por Joseph Smith eram
verdadeiras. Não há outra forma de saber da veracidade divina
de uma coisa espiritual senão receber uma revelação espiritual.
As Palavras que Ainda Virão
Ainda não recebemos, de forma alguma, todas as palavras do
Senhor. Penso que já recebemos a maioria das palavras do
Senhor necessárias para levar-nos à Segunda Vinda. O Senhor
concedeu tudo que as pessoas do mundo têm capacidade de
receber neste momento. Haverá outra grande dispensação, isto
é, um período de grande ilucidação, quando Ele vier. Naquele
momento Ele revelará todas as coisas, como a parte selada do
Livro de Mórmon, mas não revelará a parte selada do Livro de
Mórmon agora nem nos deixará publicá-la ao mundo porque o
conteúdo está tão longe da capacidade espiritual dos homens
que os afastaria da verdade em vez de conduzi-los a ela. Na
verdade, trata-se de um ato de misericórdia por parte do
Senhor limitar para um determinado povo a quantidade de
revelação que recebe.
Estamos agora numa dispensação gloriosa em que recebemos,
em geral, todas as revelações que podemos suportar; é
verdade, porém, que se pudéssemos nos unir em fé,
receberíamos mais. Foi justamente o caso quando em 1978 o
Presidente Kimball recebeu a revelação declarando que o
evangelho e todas as suas bênçãos, inclusive as do sacerdócio e
da Casa do Senhor, desde então estavam disponíveis para os
membros de todas as raças, tribos e línguas sem limitação, a
não ser a retidão e dignidade, em recebê-las. Aquela revelação
nova veio em grande parte porque o profeta de Deus e seus
associados uniram-se em fé, oração e desejo e buscaram uma
resposta do Senhor. Há outras revelação que poderíamos
receber e que espero que recebamos ao colocarmo-nos em
sintonia com o Espírito. Mas o grande acervo de revelação para
nossa dispensação, ou seja, o que é necessário para conduzir-
nos à vida eterna, já foi nos dado e não haverá outros grandes
acervos substanciais de revelação que possam vir antes do
milênio devido à iniqêidade do mundo. Parte desta iniqêidade
transborda e prevalece entre os Santos dos últimos Dias.
Apesar disso, haverá um dia de grande acréscimo de revelação.

A Afirmação da Palavra em Nosso Coração


Esta afirmação é o que traz a palavra a cada um de nós, como
indivíduos. Todo homem deve ser um profeta para si mesmo.
Cada chefe de família deve ser revelador para sua família.
Joseph Smith proferiu estas palavras gloriosas ao falar do
Segundo Consolador: "Deus não revelou nada a Joseph que não
vá revelar aos Doze e até aos que possuem cargos menos
elevados tão logo puderem suportá-lo." [3] Os versículos
iniciais da seção 76 anunciam este glorisoso conceito: "Pois
assim diz o Senhor: Eu o Senhor, sou misericordioso e benigno
para com aqueles que me temem e deleito-me em honrar
aqueles que me servem em retidão e em verdade até o fim"
(D&C 76:5).
Isto não se refere só aos apóstolos e profetas e sim toda a
congregação de membros fiéis: "Grande será sua recompensa e
eterna sua glória.
"E a eles revelarei todos os mistérios, sim, todos os mistérios
ocultos de meu reino desde a antigêidade; e por eras futuras
dar-lhes-ei a conhecer a boa disposição de minha vontade
concernente a todas as coisas relativas a meu reino.
"Sim, até as maravilhas da eternidade conhecerão e coisas
futuras mostrar-lhe-ei, sim, coisas de muitas geração.
"E sua sabedoria será grande e seu entendimento alcançará os
céus; e diante deles a sabedoria dos sábios perecerá e o
entendimento dos prudentes se desvanecerá .
"Porque pelo meu Espírito os iluminarei e pelo meu poder dar-
lhes-ei a conhecer os segredos de minha vontade-sim, até as
coisas que o olho não viu nem o ouvido ouviu e ainda não
entraram no coração do homem" (D&C 76:6-10).
Estas palavras servem de introdução à visão que o Profeta e
Sidney Rigdon receberam acerca dos três graus de glória.
Depois que a visão foi devidamente registrada e enquanto o
Espírito ainda pousava sobre ele, o Profeta escreveu o seguinte
resumo e uma conclusão: "Mas grandes e maravilhosas são as
obras do Senhor e os mistérios de seu reino que ele nos
mostrou, que ultrapassaram todo o entendimento em glória e
em força e em domínio" (D&C 76:114).
Tais coisas não se podem escrever. Não podem ser escritas
porque só podem ser compreendidas e sentidas
espiritualmente. Não vêm pela inteligência humana; vêm pelo
poder do Espírito. São coisas "as quais ele nos mandou que não
escrevêssemos enquanto ainda estávamos no Espírito; e não é
lícito ao homem falar delas;
"Nem é o homem capaz de torná-las conhecidas, porque são
apenas para serem vistas e compreendidas pelo poder do Santo
Espírito, que Deus confere àqueles que o amam e purificam-se
perante ele;
"A quem ele concede este privilégio de ver e saber por si
mesmos;
"Para que, por meio do poder e da manifestação do Espírito,
enquanto na carne, sejam capazes de suportar sua presença no
mundo de glória.
"E a Deus e ao Cordeiro sejam glória e honra e domínio para
todo o sempre" (D&C 76:115-119).
A afirmação da palavra através de nós é uma coisa tão gloriosa
que não há palavras para exprimi-la. Não podemos explicar o
assombro nem a maravilha de viver numa época em que Deus
enviou seu revelador para transmitir sua palavra ao mundo e
em que enviou ainda outros profetas para ecoar a mensagem,
proclamar a verdade e proporcionar aos homens tanto
conhecimento quanto puderem receber.
"Esta geração receberá minha palavra por teu intermédio" (D&C
5:10). Joseph Smith nos deu a palavra e ecoamos a mensagem e
parte da mensagem é que cada um de nós tem o poder de
sintonizar-se com o Espírito Santo e saber pessoalmente o que
o profeta recebeu. Haverá dia (no milênio, como os antigos
profetas, como Jeremias, predisseram) "quando ninguém
precisa dizer a seu próximo, Conhece o Senhor, pois todos o
conhecerão . . . do menor até o maior." [4] O Profeta Joseph
Smith disse que esta promessa tem que ver com a revelação
pessoal, com a vinda do Senhor aos indivíduos. [5] Está dentro
de nossa capacidade, se aderirmos como devemos ao padrão
de retidão que nos foi revelado, receber a reafirmação da
palavra dentro de nós, a palavra que o Senhor sussurra, sim, a
completa confirmação da palavra em nosso coração, a palavra
que o Senhor deu primeiramente a Joseph Smith. Começamos a
receber tal afirmação quando o espírito de testemunho entra no
nosso coração e o Espírito Santo nos diz que esta obra é
verdadeira.
O que estou querendo dizer é que o objetivo do progresso
espiritual não é só saber que as revelações são verdadeiras
como também ver as visão, sentir o Espírito e receber mais luz
e conhecimento de que não é lícito falar e que não está escrito
nos registros revelados. Que dispensação gloriosa em que
vivemos! Vivemos numa época quando o Senhor deseja
confirmar sua palavra no coração de todo aquele que escutar
sua voz e é nosso privilégio obter tal confirmação.
O que é de mais glorioso do sistema de religião revelado que
recebemos através do Profeta é que a palavra é verdadeira. Não
se pode pensar em nada que faça parte de nosso sistema de
religião revelada que seja tão importante como o simples fato
dela ser verdadeira. E por ser verdadeira, funciona. Por ser
verdadeira, triunfaremos. Por ser verdadeira, se fizermos aquilo
que sabemos que devemos fazer, teremos paz, alegria e
felicidade nesta vida e depois seremos herdeiros da vida eterna
no reino do Pai. Que Deus conceda que assim seja para todos
nós.

Notas de Rodapé:
[1] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints [A História da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos últimos Dias], redação de B. H. Roberts, 2a revisão.
(Salt Lake City: Deseret Book, 1957), 1:235.
[2] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith [Os
ensinamentos do Profeta Joseph Smith], compilado por Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 194).
[3] Smith, History of the Church, 3:380.
[4] Smith, History of the Church, 3:380.
[5] Vide Smith, History of the Church, 3:381.
Gestão Eficaz do Tempo na Sala de Aula

Gestão Eficaz do Tempo na Sala de Aula


Scott H. Knecht

Scott H. Knecht (knechtsh@ldsces.org) é diretor assistente de área


dos Seminários e Institutos de Religião do sul da Califórnia.

Entre todos os papeis do professor, um dos menos comentados é o


de cronometrista. Levando em conta tudo que o professor faz, parece
até bobo o professor ter que desempenhar este papel a mais. Porém,
se o professor não assumir a responsabilidade de marcar o tempo,
ninguém a assumirá. Todos os períodos de aula têm hora de começar
e hora de terminar e dentro desta estrutura o professor precisa
apresentar uma ideia, bem como incentivar e promover de várias
formas o aprendizado dos alunos e ainda reunir todos estes
elementos para que os alunos queiram transformar a vida para o
bem. Já que somos limitados pelo tempo, devemos fazê-lo nosso
amigo em vez de inimigo.
Na reunião mundial de treinamento de liderança de fevereiro de 2007,
o Élder Jeffrey R. Holland disse: “Um ambiente sem a pressão de
cumprir um horário é absolutamente essencial para que o Espírito do
Senhor esteja presente na sua aula. Por favor, não se esqueçam
disso. Muitos de nós estamos com pressa demais. Apressamo-nos de
tal maneira que ultrapassamos o Espírito do Senhor numa corrida
muito desnecessária contra o relógio.” [1] Os professores precisam
criar e manter um ambiente calmo ao guiarem os estudantes aos
objetivos do aprendizado.
Quantas destas cenas nos são bem-conhecidas?
• A aula começa e o professor começa por dizer: “Há muitos assuntos
a serem tratados hoje e não sei se teremos tempo suficiente, mas
faremos nosso melhor.”
• A aula vai muito bem até uns dez a quinze minutos antes do final
quando o professor repara no relógio, entra em pânico e diz: “Não há
jeito de abordar tudo isso,” e daí corre feito um louco até o final da
aula.
• Chegou a hora de encerrar a aula e o professor ainda está falando.
Passou da hora e os alunos estão nervosos, juntando as coisas e
começando a sair da sala um por um. O professor implora que fiquem
para discutir “só mais um ponto importante.”
Todos estes cenários são o resultado de má administração do tempo.
Quando o professor não consegue controlar o tempo, o Espírito se
sente desprezado e a aprendizagem do aluno sofre.
Um amigo meu, um excelente professor numa escola pública, disse:
“O tempo não pertence exclusivamente ao professor. Nos momentos
quando ensinamos, o tempo é algo compartilhado entre o professor e
os alunos. É um grande erro pensar que o tempo pertence somente a
nós, os professores.” Ao planejarem as lições, os professores têm
uma obrigação de se manterem dentro dos parâmetros do horário
oficial, para o seu bem e a felicidade geral dos alunos. Naturalmente
não se pode abordar, ensinar e aprender todo o material, mas parte
do dever do professor se trata da “omissão seletiva,” ou seja
selecionar, conforme a necessidade dos alunos e a inspiração que se
recebe, os assuntos de maior destaque na aula. Também se deve
levar em conta que é mais importante entender bem um princípio do
que abranger todos eles. De modo geral uma corrida contra o relógio
abrange mais material, mas se trata de uma forma inferior de
aprendizagem para o aluno. Às vezes menos é mais. Considerem
estes pontos:
• Na educação religiosa, esta não será a única vez que o aluno
estudará a obra-padrão do curso atual. Ao longo da vida todos nós
leremos os quatros livros-padrão muitas vezes. Diferentes princípios e
doutrinas se destacarão cada vez que estudarmos, seja na sala de
aula ou no estudo particular. Não é coerente pensarmos que a
obrigação de ensinarmos tudo sobre uma passagem das escrituras
recai sobre um só professor numa só aula.
• Existe entre o professor e o aluno um contrato tácito. Os professores
geralmente querem dar início à aula na hora certa e querem que
todos os alunos estejam presentes para começarem juntos. Por outro
lado os alunos esperam que o professor termine na hora. Os
estudantes têm outros deveres a cumprirem, outras aulas, emprego,
estudo, atividades sociais e assim por diante. Quando o professor não
cumpre sua parte, os estudantes ficam frustrados e um nível elevado
de frustração não melhora o ambiente da sala de aula.
• O que fará que o professor ultrapasse a hora? Muitas vezes os
professores dizem que perdem a noção do tempo, o que é
compreensível. A solução simples é lembrar-se de que para controlar
o tempo se tem que controlar o ritmo, algo que o professor precisa
aprender a fazer. Outra razão que os professores dão para justificar o
passar da hora é: A aula ia tão bem, ou, os alunos estavam tão
enpenhados, que era difícil parar. Em quase todos estes casos, tenho
observado que não eram os estudantes e sim, os professores que
estavam empenhados em contar uma história ou em compartilhar
ideias e sentimentos à classe. Quando o professor segura a classe
depois de tocar a campainha só para continuar a falar, de modo geral
a aula se torna unidirecional, uma forma ineficaz de ensino.
Abaixo estão cinco ideias para tornar o tempo seu aliado e não seu
inimigo:
1. Pensem em questões de pontualidade ao prepararem a sua aula.
Perguntem a si mesmos algumas destas perguntas: Quanto tempo
acho que essa discussão vai durar? Que perguntas a mais surgirão a
partir desta pergunta principal? Quais são alguns dos pontos que
espero que venham à mente dos alunos por meio dessa atividade?
Quanto tempo precisamos no final da aula para permitir a aplicação
eficaz? E talvez a pergunta mais importante: O que estamos
realmente tentando fazer na aula de hoje, abranger uma grande
quantidade de material, ou ajudar os alunos a realmente aprender
alguns princípios e doutrinas importantes?
2. Façam-se cientes do tempo na aula. Aprendam a olhar
regularmente para o relógio na parede ou a seu relógio de pulso.
Façam algumas marcas visíveis em seu plano de aula dos tempos
aproximados que você espera estar em determinados pontos. Fiquem
cientes de onde vocês estão e onde vocês gostariam de estar.
3. Direcionem a discussão na sala de aula. Alguns alunos gostam de
divagar e dominar o tempo. Aprendam a ajudá-los de forma mansa a
resumir as coisas e serem mais concisos. Não tenham medo de dizer
coisas tais como: "Vamos permitir apenas mais um comentário sobre
esta questão, em seguida, seguiremos em frente." Cada classe
parece ter alguns alunos que querem discutir mais o assunto e outros
que já não prestam atenção. Cabe ao professor manter a maioria dos
alunos envolvidos e interessados para que possam investigar e
aprender mais ao fundo. Isso pode exigir que vocês sigam para a
frente. Prosseguir às vezes se torna difícil quando os estudantes
querem continuar a falar sobre determinado assunto. De modo geral,
procuramos sempre mais participação por parte dos alunos e
solicitamos mais comentários. Quando os alunos começam a
participar, sentimos bem e nos parece contra-intuitivo pararem de
fazer comentários sobre o assunto só para fins de seguir em frente.
Mas se o Espírito estiver na sala de aula e os alunos estiverem
envolvidos, podem ter certeza que ao dar proseguimento e reiniciar o
processo de aprendizagem eles permanecerão envolvidos e
começarão a ver as relações e conexões entre sua própria vida e
uma grande variedade de passagens, princípios e doutrinas das
escrituras.
4. Não façam comentários negativos sobre o tempo. Os estudantes
raramente, ou nunca, sabem o quanto os professores acham que
precisam realizar em um determinado período de tempo. Tornamos o
tempo nosso inimigo quando somos escravos do relógio e logo
dizemos isto à classe: "Olhem o relógio; nunca há tempo suficiente!"
Estejam suficientemente cientes de onde vocês estão para que os
estudantes tenham tempo suficiente para digerir o que estão
aprendendo. Desta maneira vocês terão tempo suficiente para lançar-
lhes desafios de fazerem mudanças positivas na vida, e tudo isso em
tempo hábil. Anunciar a sua frustração com a falta de tempo só serve
para passar essa frustração aos alunos. Eles não precisam saber e
tais comentários não ajudam ninguém.
5. Sejam sempre sensíveis aos sussurros do Espírito. Nossos
melhores esforços no planejamento e programação das aulas
precisam ser revistos quando, ao decorrer da lição, chegamos a um
verdadeiro ponto de testemunho e poder. O Espírito nos dirá quando
chegar este momento e nós deveremos aprender a responder da
forma correta. Mas também haverá outros momentos em que o
Espírito vai nos inspirar a prosseguir justamente para chegar a um
desses pontos de testemunho e poder. O professor tem que possuir a
coragem de levar a classe a este ponto, mesmo que tenha que
passar menos tempo (ou até omitir) abordando outros assuntos.
A situação ideal consiste em sermos capazes de criar na aula um
ambiente seguro no qual os estudantes podem perguntar, responder,
criar, testemunhar e arrepender-se, tudo dentro do tempo designado
para a classe. Algumas aulas são de cinqüenta minutos, outras de
noventa minutos e ainda outras de duas horas ou mais. O professor
que aprende a fazer o que o Espírito ordenar dentro do prazo
estipulado não só cria o ambiente "tranquilo" de que o Élder Holland
falou, mas também honra o tempo e a agência dos alunos, assim
edificando-os. Quanto mais eles se sentem edificados, mais fácil se
torna ajudá-los a aprender.

Nota
[1] Jeffrey R. Holland, “Teaching and Learning in the Church,” Ensign,
June 2007, 91.
Grandes São as Palavras de Isaías

Grandes São as Palavras de Isaías

Hugh W. Nibley
Cheguei ao ponto de não ter mais nada que dizer. Quanto a
mim, as escrituras dizem tudo. “E agora eis que vos digo que
deveis examinar estas coisas. Sim, ordeno-vos que examineis
estas coisas diligentemente, porque grandes são as palavras de
Isaías. Porque ele certamente falou sobre todas as coisas
relativas a meu povo, que é da casa de Israel; portanto é
preciso que ele fale também aos gentios. E todas as coisas que
ele disse foram e serão cumpridas de acordo com as palavras
que ele disse” (3 Néfi 23:1-3). Apenas esta citação nos poupa a
inconveniência de fazer apologia por Isaías. O livro de Isaías é
um tratado para os nossos dias; a nossa própria aversão a ele é
testemunho de seu grande valor. É necessário nos lembrar de
sua importância, porém, pois a mensagem de Isaías não é
popular, e ele nos diz por que. Os iníquos não gostam de ouvir
a acusação de suas culpas. Toda sociedade, por corrupta que
seja, tem algumas coisas de bom—senão não conseguiria
sobreviver de um ano para outro. Convenhamos, não é mas
agradável falar do bem do que do mal? O povo de Zaraenla,
conforme disse Samuel, o lamanita, queria que os profetas
falassem do que havia de bom em Zaraenla, e não do que havia
de errado. Aqui há um grande perigo: o que há de certo numa
sociedade mal pode prejudicá-la, mas somente uma falha séria
pode destruí-la. Não se vai ao médico para saber o que
está funcionando bem, e sim a causa da doença e as ameaças à
saúde.
Porém, Isaías diz que o povo de Israel quer ouvir coisas bonitas:
“Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas
aprazíveis” (Isaías 30:10). Desde então o processo de
interpretar Isaías tem sido o de fazê-lo aprazível. Considerem
alguns exemplos conspícuos disso dos doutores e eruditos:
A noçaõ de que Isaías só moraliza em vez de ensinar a
doutrina. Porém, ele começa por chamar Israel os filhos de
Deus (Isaías 1:2); ele insiste nisso ao longo do livro—Deus é
seu Pai. É a primeira Regra de Fé. Mas os israelitas não querem
enxergar (Isaías 1:3); não querem saber de doutrina (Isaías 1:4).
Não enxergam nada que não queiram ver, diz Isaías. São
funcionalmente cegos. Já de propósito cortaram as linhas de
comumicação, mas se queixam de não receber nenhuma
mensagem. O livro de Isaías está repleto de coisas óbvias,
especialmente para os Santos dos Últimos Dias, que os outros
não vêem. Os rabinos fazem escárnio da sugestão que Isaías
realmente se refere a Cristo. Mas nós vamos muito além disso.
Vemos nele o Livro de Mórmon e o chamado específico de
Joseph Smith. E quem dirá que não temos razão?
A idéia de que o Deus de Isaías é o Deus de ira, selvagem e
vingativo, do Velho Testamento, o Deus tribal. Se é verdade,
não precisamos levá-lo a sério. Estamos dispensados. Mas na
realidade o Deus de Isaías é a própria bondade. “Vinde então, e
argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve” (Isaías
1:18). Nisto não há nada de autoritário; Ele está sempre
disposto a palestrar e esclarecer. Suas declarações mais
ameaçadoras são logo seguidas de mostras de que Ele
está sempre disposto e preparado, esperando, incentivando e
implorando com paciência. É Israel que não quer ouvir; eles é
que cortam o diálogo e saem, virando as costas diante dele,
pedindo-Lhe que se cale.
A noção de Isaías se dirige somente a grupos especiais. Na
verdade ele fala a pessoas boas e más—mas são as mesmas! Ai
de Israel! Boas novas a Israel! É o mesmo Israel. E não fala
somente a Israel, mas a toda a humanidade; ele se dirige às
nações e a seus líderes, mas não fala somente à sua geração
mas a todas. Néfi aplicou as palavras de Isaías a seu próprio
povo no deserto “para nosso proveito e instrução” (1 Néfi
19:23). Seissentos anos depois, Jesus Cristo adverteu aos
nefitas que fizessem igual, e o anjo Morôni entregou a
mesmíssima mensagem à nossa geração. Isaías só tem uma
audiência porque que só tem uma mensagem. Ele se dirige a
quaisquer mortais na face da terra que precisem do
arrependimento. Isto nos leva ao próximo ponto.
A idéia de que há mais de um Isaías e que todos eles nos dizem
coisas diferentes. Já que há somente uma mensagem e uma
audiência, este argumento se torna trivial. A mensagem é a de
alegria: “Arrependei-vos, e tudo será bem—melhor do que se
pode imaginar!” A mensagem somente é cruel para aqueles que
não pretendem arrepender-se. Isaías não faz distinção entre os
bons e os maus, somente entre aqueles que se arrependem e
aqueles que não. Ele não pergunta onde estamos—ele já sabe—
só pergunta em que direção vamos. Naturalmente apenas
aqueles que precisam arrepender-se podem-se arrepender,
mas isso se aplica a todos, de igual modo. Será que uma
pessoa precisa mais do arrependimento do que outra? Esdras e
Baruque protestaram a Deus que, embora Israel tivesse pecado,
os gentios agiram pior ainda. Por que, perguntaram eles, os
gentios levaram uma pena mais suave? Mas Deus não aceitou o
argumento deles. Sempre se pode achar alguém mais pecador
que nós para sentirmo-nos mais virtuosos: aqueles terroristas,
os perversos, os comunistas. São estes que precisam-se
arrepender! Sim, com certeza precisam, e será um trabalho de
tempo integral, exatamente como o é para todos nós.
Os doutores de religião, tanto judeus como cristãos, gostam de
elaborar a noção de que para Isaías o pecado supremo e
imperdoável era a adoração de ídolos. Pois bem, o profeta diz
que a idolatria é tola e contrária à razão, mas nunca diz que é o
pecado imperdoável. A grande ilusão destes eruditos é que
como pensadores modernos, iluminados e racionais fizeram
uma descoberta maravilhosa: que bonecos de metal e madeira,
bem como imagens de escultura realmente não podem ver,
ouvir, etc. Labutam com afinco para salientar este ponto. No
entanto os antigos eram tão cientes deste fato que nós. Era
justamente por causa dos ídolos não poderem agir que os
adoravam. Há uma história célebre do Paisano Eloqüente do
Reino Médio do Egito que conta que o mordomo malicioso de
uma grande propriedade, ao ver um camponês passar
carregando mercadorias para o mercado, clamou: “Quisera que
eu tivesse algum ídolo que me permitisse roubar as
mercadorias daquele homem.” Uma imagem muda não se
oporia a qualquer ação por parte dele. Eis a beleza dos ídolos:
São tão impessoais e amorais como o dinheiro no banco, que,
aliás, é o que equivale a um ídolo eficaz, tanto nos dias de hoje
como nos tempos antigos.
Isto se junta à idéia de que a maior virtude moral e intelectual
era reconhecer que há um único Deus. Mais uma vez se trata de
uma noção comum entre os antigos. Isaías não denuncia o
politeísmo como o pior dos pecados. Na verdade, há vários
pesquisadores que já mostraram que o politeísmo em si não é
condenado em lugar algum na Bíblia. Certamente Isaías
dá grande ênfase à unicidade. Não há meio termo. Há somente
um caminho para o homem seguir, um Deus para Israel, e uma
raça humana para servir. Para diluir este ensinamento
desconfortável, os doutores o transformaram em exercício
escolar.
A idéia de que Isaías denuncia sobretudo as práticas pagãs.
Mas eram os ritos e ordenanças que Deus havia dado a Moisés
e que o povo praticava religiosamente que Isaías descreve como
sendo exercício de futilidade desesperada.

Isaías Capítulo 1
A forma mais rápida de adquirir uma visão geral do imenso
livro de Isaías é simplesmente ler o primeiro capítulo. Os
eruditos acreditam há muito tempo que este capítulo não faz
parte do livro original, mas que é um resumo feito por um
discípulo. Mesmo que seja assim, é muito valioso, ademais, é
notável que este, o capítulo mais famoso de Isaías, não é citado
no Livro de Mórmon. Vamos examiná-lo versículo por versículo.
1:2. O povo de Israel são os filhos de Deus—Ele é seu Pai. Esta
é a doutrina de que se esqueceram, mas não terão condições
de recebê-la de novo até passarem por uma regeneração moral,
a qual é a carga da pregação de Isaías.
1:3. Rejeitaram aquela doutrina. Recusam-se a ouvi-la.
1:4. Já que não conseguem suportar a doutrina no seu estado
de iniqüidade, fogem dela. Isto é imperdoável; Deus não encara
isso com tolerância. Ele sabe que são bem capazes de entender
e viver o evangelho, de forma que Ele se tornou mais do que
descontente; Ele se irou.
1:5. Porém não é ele quem tem-lhes dificultado as coisas. Eles
mesmos se decidiram a seguir seu próprio caminho, fazendo
abertamente rebelião contra Ele. E o sistema deles
simplesmente não funciona. Não conseguem arcar
mentalmente com a situação, nem têm espírito suficiente para
vencer. O homem sem Deus é um pobre coitado.
1:6. Tudo está nojento, nojento, nojento. Todas as tentativas de
se indireitarem fracassam. Nada funciona.
1:7. Isto resulta em depressão nacional e disastre internacional.
1:8. O povo escolhido de Deus está cercado, confiando no seu
exército fracassado, presos dentro do muros de sua própria
cidade.
1:9. A única razão pela qual sobreviveram até aí é porque ainda
havia entre eles alguns justos, um remanescente de pessoas
honestas.
1:10. É hora de considerar a alternativa que aqui Isaías lhes
oferece.
1:11. Vós, com piedade fingida, não podereis contentar a Deus
pela vã observância de ritos religiosos, ou seja, reuniões e
sessões no templo.
1:12. Não é para vós decidirdes o que fazer para agradar a
Deus—resta para Ele decidir, e Ele não vos exigiu toda esta
mostra falsa de piedade.
1:13. Suas observâncias mais dedicadas, até as que seguem as
ordens antigas de Deus, na verdade são iniqüidade quando
feitas de espírito contrário ao amor a Deus.
1:14. Deus não está impressionado, e sim, revoltado por causa
disso.
1:15. Mesmo quando orais, Deus não vos ouvirá. Por que não?
Resposta: Porque há sangue nas vossas mãos erguidas.
1:16. O sangue e os pecados desta geração estão sobre vós no
templo. Que sangue e pecados? Vossa iniqüidade.
1:17. Que iniqüidade? O que deveremos fazer? Resposta: Tratar
as pessoas com justiça, aliviar aqueles que estão oprimidos
pela dívida em vez de exigir-lhes pagamento, fazer justiça ao
órfão e ajudar as viúvas; em outras palavras, mostrar respeito
àqueles que não têm dinheiro.
1:18. Deus não é nem impulsivo nem arbitrário. É grandemente
imparcial. Será o caminho dele o único caminho? Permitem-O a
dizer-lhes o por quê, e vejam se concordam: “Vinde, então, e
argüi-me, diz o Senhor.” Aí segue uma declaração
surpreendente: “Ainda que os vossos pecados sejam como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve.” É óbvio que
Deus não se compraz nas admoestações; Ele não exulta da
punição reservada para os iníquos assim como os homens às
vezes exultam (Tomás de Aquino, por exemplo). Ele ama a
todos e oferece-lhes promessas maravilhosas. Há uma saída, e
é por isso que Isaías prega--não por ser repreendedor
puritano.
1:19. Os judeus já ouviram o suficiente? Basta ouvir e seguir os
conselhos, e tudo estará bem.
1:20. Mas não podereis proceder como dantes. Se continuardes
do mesmo jeito, sereis arrasados pela guerra. “Pois a boca do
Senhor o disse.” A “destruição decretada” de Doutrina e
Convênios 87:6 é outra citação de Isaías.
1:21. Vós podeis vencer, porque de outrora já o fizestes. Mas
daí perdestes tudo—cedendo a assassínios e concupicência
desenfreados.
1:22. E para quê? Pertences e prazeres, prata que agora não
tem valor e vinho estragado.
1:23. Os líderes é que dão o pior exemplo. Lidam com ladrões;
todo o mundo recebe suborno: “Cada um deles ama as peitas, e
anda atrás das recompensas.,” enquanto os pobres não
recebem justiça e a causa da viúva não chega perante eles.
1:24. Deus não quer saber de tais patifes. Vai eliminá-los, pois
se tornaram inimigos Dele.
1:25. Tudo isso exige uma limpeza geral. Todas as escórias
serão purgadas.
1:26. Restaurar-se-á a antiga ordem para “restituir os teus
juízes como foram dantes.” Ainda será possível, e Deus o
fará acontecer. Ainda haverá “a cidade de retidão, a cidade fiel.”
1:27. Sião, com muitos conversos de fora, será redimida, ainda
que algumas das mesmas pessoas iníquas continuem a viver lá.
1:28. O restante terá que sair, não porque Deus resolveu
expulsá-lo, e sim porque eles próprios caminharão do lugar
seguro para a destruição, e com olhos abertos rejeitarão o
Senhor e serão consumidos.
1:29-31. Estes versículos são as únicas referências ao
paganismo—seitas populares que se secarão e se queimarão.
Elas não serão destruídas, porém, por seguir os ritos do
paganismo, como os doutores, ministros e comentaristas
gostam de dizer-nos, mas porque elas se ultilizam disso para
encobrir suas práticas imorais, cruéis e gananciosas.

Os Vícios Mais Malignos


Para o restante deste ensaio tratarei das qualidades humanas
que, conforme a descrição de Isaías, agradam ao Senhor e as
qualidades que Ele odeia. Tanto essas como as outras são
surpreendentes. Quanto às caraterísticas de comportamento
que Isaías denuncia como os vícios mais malignos, são sem
exceção os vícios de pessoas bem-sucedidas. A iniqüidade e
tolice de Israel não consistem em preguiça, nem em não se
vestir bem, usar cabelo comprido, ser não-conformista,
promover idéias e programas liberais, radicais e não realistas,
nem na irreverência às tradições, desdém para os ídolos
estabelecidos, e assim por diante. O povo mais iníquo do Livro
de Mórmon são os Zoramitas, um povo próspero, patriótico,
empreendedor, trabalhador, corajoso, independente e
orgulhoso que muito bem-vestidos observavam rigorosamente
as práticas religiosas todas as semanas. Dando graças a Deus
por tudo que lhes havia dado, prestavam testemunho de Sua
bondade. Sustentavam-se em todos os seus atos por uma
auto-imagem lindíssima. Pois bem, o que há de errado com
tudo isso? Há um fato que estraga tudo, e é a mesmíssima
coisa que deixa Israel de mal com o Senhor, de acordo com
Isaías. Os judeus observavam estritamente as regras que
Moisés lhes deu—“E eis . . . que clamam a Ti,” mas na verdade
estão pensando em outra coisa. “Eis, ó meu Deus, seus
suntuosos ornamentos . . . todas as coisas preciosas . . . seu
coração está preso a estas coisas e, no entanto, clamam a ti,
dizendo: Agradecemos-Te, ó Deus, por sermos um povo
escolhido por ti, enquanto outros perecerão” (Alma 31:27-28).
Deus resome a causa de Sua ira contra Israel nestas palavras:
“Pela iniqüidade de sua avareza me indignei, e o feri; escondi-
me, e indignei-me.” E com que efeito? Isso não efetou o
rebelde, pois “seguiu o caminho do seu coração” (Isaías 57:17).
Como os Zoramitas, o Israel cobiçoso estava contente consigo
mesmo, assim como nestes últimos dias. Israel moderno (nós)
recebeu “uma maldição severa e dolorosa” por causa de “cobiça
e palavras falsas;” isto é, ganância e hipocrisia (Doutrina e
Convênios 104:4). Sem dúvida a maior acusação que Isaías faz
contra os iníquos é a de “opressão,” ashaq em hebraico. Esta
palavra significa estrangular, pegar o pescoço e apertar; levar a
vantagem m´xima de quem está no seu poder, ou seja, tirar o
lucro máximo. Tudo isso se centraliza em “Babilônia, . . . a
cidade dourada,”—“o opressor” (Isaías 14:4), que nos
proporciona uma vista instantânea da estrutura socio-
econômica do mundo de Isaías. É uma sociedade competitiva e
predadora, “E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e
eles são pastores que nada compreendem (Não sabem o que
passa porque só se preocupam consigo mesmo.); todos eles se
tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada
um por sua parte” (Isaías 56:11).
A acusação aplica aos nossos dias quando “todo homem anda
em seu próprio caminho e segundo a imagem de seu próprio
deus, cuja imagem é a semelhança do mundo e cuja substância
é a de um ídolo que envelhce e perecer´ em Babilônia, sim,
Babilônia a grande, que cair´” (Doutrina e Convênios 1:16).
Babilônia havia florecido muito antes da época de Isaías, e iria
florecer muito depois. Nos tempos dele, ela estava em
ascenção, mas a palavra se emprega ao longo das escrituras
como protótipo, ou modelo, de um mundo que se sustenta pela
economia. Não há onde sua filosofia melhor se defina do que
nas palavras de Corior: “Cada homem prosperava segundo sua
aptidão e cada homem conquistava segundo sua força; e nada
que o homem fizesse seria crime” (Alma 30:17).
Em Isaías, as pessoas bem-sucedidas vivem um carnaval. É
como se dissessem: “Vinde, . . . trarei vinho, e beberemos
bebida forte” (Isaías 56:12). Haverá drinques e festa na minha
casa. E amanhã ainda mais, até melhor, e muito mais
abundante. A economia parece forte; está tudo bem.
Isaías tem muito que dizer sobre o elite da alta sociedade em
palavras que igualmente nos inquietam hoje em dia:
28:1. “Ai da coroa de soberba dos bêbados de Efraim, cujo
glorioso ornamento é como a flor que cai, que está sobre a
cabeça do fértil vale dos vencidos de vinho.”
28:2. “Eis que o Senhor tem um forte e poderoso (vento) que . .
. com a mão derrubará por terra.”
28:3. “A coroa de superba dos bêbados de Efraim será pisada
aos pés.”
28:7. Mas também estes erram por causa do vinho . . . e
tropeçam no juízo.”
Ele descreve as pessoas mundanas: “Ai dos que se levantam
pela manhã, e seguem a bebedice; e continuam até à noite, até
que o vinho os esquente!” (Isaías 5:11). Espupefazem-se pelo
ritmo da música que também se tornou parte da nossa vivência:
“E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nos seus
banquetes; e não olham para a obra do Senhor, nem
consideram as obras de suas mãos” (Isaías 5:12). E,
naturalmente, existe o servilismo à última moda: “Porquanto as
filhas de Sião se exaltam, e andam com o pescoço erquido,
lançando olhares impudentes; e quando andam, caminham
afetadamente, fazendo um tilintar com os seus pés” (Isaías
3:16)—do jeito dos modelos de passarela. Uma lista de palavras
de butique que só os entendidos de moda feminina conhecem
diz-nos que “o Senhor tirar´ os ornamentos dos pés . . . as
toucas, e adornos em forma de lua, os pendentes, e os
braceletes, as estolas, os gorros, e os ornamentos das pernas, e
os cintos, e as caixinhas de perfume, e os brincos, os anéis, e
as jóias do nariz” (Isaías 3:18-21), e naturalmente roupas, “os
vestidos de festa, e os mantos, e os xales, e as bolsas” (Isaías
3:22). O propósito de seus acessórios de beleza será derrotado
quando cairem os cabelos e houver mau cheiro em vez de
perfume (Isaías 3:24).
Naturalmente há o lado mais sombrio e repreensível do
comportamento sexual: “Ouvi a palavra do Senhor, vós
poderosos de Sodoma, . . . ó povo de Gomorra . . . como se fez
prostituta a cidade fiel!” (Isaías 1:10, 21). Da mesma maneira
que Néfi “aplicou todas as escrituras a nós, para o nosso
proveito e instrução” (1 Néfi 19:23), já de cara Isaías não
somente compara Jerusalém às cidades já desaparecidas
há muito tempo de Sodoma e Gomorra, mas também declara
que na verdade é Sodoma e Gomorra—mostrando-nos que
tampouco podemos evitar esta acusação por sermos de outra
época e cultura. Afinal, será que o cenário de hoje é tão
diferente do de outrora?
O guarda-roupa caro reflete um mundo em que as pessoas
lutam para impressionar e impor-se nos outros. Todos buscam
uma carreira, todos querem tornar-se VIP: “O poderoso, e o
homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião,
o capitão . . . e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio
entre os artífices, e o eloqüente orador” (Isaías 3:2-3). Que tal
eles? “E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças
governarão sobre eles” (Isaías 3:4). Tchau-tchau autoridade—e
por quê? Porque cada um só se importa consigo mesmo neste
jogo de procurar domínio sobre os outros: “E o povo
será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu
próximo (concorrência!); o menino se atreverá contra o ancião
(o que mais se pode esperar?), e o vil contra o nobre” (Isaías
3:5). Perder-se-á por completo o controle. Um homem
agarrará seu irmão, dizendo: “Tu tens roupa, sê nosso
governador, e toma sob a tua mão esta ruína!” mas este
recusará a grande honra, dizendo: “Não procurem fazer-me seu
governador—estou sem um tostão furado!” (veja Isaías 3:6-7).
Já que todos estarão sem dinheiro, Isaías continua: “Porque
Jerusalém está arruinada” (Isaías 3:8)—porque com teimosia
acham que conseguem ser bem-sucedidos sem Deus: “Ai dos
filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas não de
mim; e que se cobrem com uma cobertura mas não do meu
espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado” por
justificar-se a cada passo (Isaías 30:1). Os rebeldes, os
mentirosos não ouvirão a lei do Senhor. Rejeitaram a lei de
Deus; rejeitam a lei do sacrifício. Ah sim, eles fazem sacrifício,
mas não do jeito que o Senhor ordenou: “Requeri isto de vossas
mãos?” (veja Isaías 1:12). Violaram a lei da castidade, pois Israel
é uma prostituta. Violaram a lei da consagração, porque são
idólatras—cobiçar as coisas para si é a forma de consagração
deles. Rejeitaram a lei de Deus porque não fariam as coisas
conforme o convênio, e sim segundo a própria vontade deles
(veja Isaías 30).
Quem serve de exemplo para os mundanos é aquele espírito
mais ambicioso de todos. “Como caíste desde o céu, ó estrela
da manã (Lúcifer), filho da alva! Como foste cortado por terra,
tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu . . .
exaltarei o meu trono . . . e no monte da congregação me
assentarei” (Isaías 14:12-13). Ele procura governar o mundo, o
que de fato faz, com efeitos desastrosos; o resultado: opressão
e ruína: “Eis que o Senhor esvazia a terra, e a desola, e
transforma a sua superfície, e dispersa os seus moradores. E o
que sucede ao povo, assim suceder´ ao sacerdote; ao servo,
como ao senhor; à serva como a sua senhora; ao comprador
como ao vendedor; ao que empresta como ao que toma
emprestado; ao que d´ usura como ao que paga usura. De todo
se esvaziar´ a terra, e de todo ser´ saqueada, porque o Senhor
pronunicou esta palavra” (Isaías 24:1-3).
Isaías sabe descrever um mundo que está em crise total.
Há uma literatura antiga e rica de lamentação, tanto dos
egípcios como de Babilônia, que aparece ao longo de milhares
de anos, junto a documentos comerciais, cartas e textos
religiosos, que confirmam que tais condições realmente
prevaleciam no mundo de tempos em tempos exatamente da
forma que Isaías as conta, sempre com a mesma histéria social,
econômica e financeira. Observem a forte ênfase à economia e
finanças na passagem já citada. “Sempre vos lembrais de vossas
riquezas,” diz Samuel o Lamanita, e por isso mesmo as
perdereis (veja Helamã 13:22, 31). De acordo com ele, são
amaldiçoadas e se tornarão “escorregadias,” e Isaías profere
uma declaração semelhante: “De todo se esvaziará a terra, e de
todo será saqueada . . . A terra pranteia e se murcha . . . porque
eles (o povo) têm transgregido as leis, mudado os estatutos, e
quebrado a aliança eterna” para agradarem-se a si mesmos
(Isaías 24:3-5). “Por isso a maldição tem consumido a terra”
(Isaías 24:6); poucos homens restam, tudo está assolado; não
há colheita, não chove; portanto muitos são conduzidos ao
cativeiro porque não têm conhecimento, e os justos entre eles
são famintos; a multidão sofre de sede. “Porque este povo não
é povo de entendimento, assim aquele que o fez não se
compadecerá dele, e aquele que o formou não lhe
mostrará nenhum favor” (Isaías 27:11).
Males da Sociedade
É claro que os homens são responsáveis perante Deus por
mostrar bom senso. A auto-decepção custa caro; o Senhor
“desfaz os sinais dos inventores de mentiras, e enlouquece os
adivinhos; . . . faz tornar atrás os sábios, e converte em loucura
o conhecimento deles” (Isaías 44:25). Eles têm odeado Sua
palavra e confiam em opressão e perversidade e persistem
nelas. São muito cabeça-dura. Persistem até o fim como a
brecha de um “alto muro.” Eles permanecerão no seu caminho
com grande afinco. Nada os move. Como uma represa alta
quando rompe, rompe de vez. (Eis o princípio do “vigésimo-
nono dia.”) Primeiro o muro forma uma barriga, e aí cai tudo,
“cuja quebra virá subitamente” (Isaías 30:12-13).
Tudo isso acontece porque está tudo fora dos eixos. Ninguém
confia em ninguém nesta sociedade competitiva. “Ninguém
há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em
juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras;
concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade” (Isaías 59:4). “Obra
de violência há nas suas mãos. Derramam o sangue inocente.
Seus pensamentos são os pensamentos da iniqüidade” (veja
Isaías 59:6-7). Tudo isso parece programação de televisão. Tal
caminho só leva à desconfiança: “Não conhecem o caminho da
paz, . . . fizeram para si veredas tortuosas” (Isaías 59:8); “o falar
de opressão e rebelião, o conceber e proferir do coração
palavras de falsidade. . . . Sim, a verdade desfalece, e quem se
desvia do mal arrisca-se a ser despojado” (Isaías 59:13, 15). Só
lhes será proveitoso quebrar as regras enquanto houver
pessoas simples e fáceis de enganar que cumprem com elas. E
se não participarem deste jogo, se tornarão vítimas. Isaías não
aplaude tal realismo: “Ai de ti, despojador, que não foste
despojado, e que procedes perfidamente contra os que não
procederam perfidamente contra ti!” (Isaías 33:1). O Senhor nos
adianta ainda mais na nossa dispensação, dizendo-nos que não
temos direito de trapacear mesmo àqueles que são espertinhos
e procuram-nos enganar: “Ai daquele que mente para enganar,
porque supõe que outro minta para enganar, pois esse não
está isento da justiça de Deus” (Doutrina e Convênios 10:28).
Naturalmente Isaías nos leva aos tribunais de justiça: “Ai dos
que ao mal chamam bem, e ao bem mal” (Isaías 5:20)—sendo
isto a arte da retórica, a arte, conforme Platão, “de fazer o bem
parecer mal e o mal parecer bem pelo emprego de palavras,”
que no mundo antigo se desenvolveu nos tribunais. “Ai dos que
são sábios aos seus próprios olhos, e prudentes diante de si
mesmos! . . . dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos
justos negam a justiça!” (Isaías 3: 21, 23). Isso nos lembra de
como os ladrões de Gadiânton, quando de posse do governo e
os tribunais, quando “obtiveram total controle do governo,”
logo “desprezaram os pobres e mansos e os humildes
seguidores de Deus” (Helamã 6:39), “ocupando as cadeiras dos
juízes” (Helammã 7:4), “deixando os culpados e iníquos
impunes, por causa de seu dinheiro” (Helamã 7:5). Eles
“justificam ao ímpio por suborno,” diz Isaías (5:23), e ele os
adverte no próprio linguajar jurídico que Deus acusará os
élderes de Israel e “contra os seus príncipes; é que fostes vós
que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas
casas!” (Isaías 3:14). O que está em sua casa realmente
pertence a estes. “Que tendes vós, que esmagais o meu povo e
moeis as faces dos pobres?” (Isaías 3:15. “Ai dos que decretam
leis injustas (por sua autoridade intocável), e dos escrivães que
prescrevem opressão” (Isaías 10:1)—servindo seus próprios
interesses pelas leis que fazem, “para desviarem os pobres do
seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu
povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Isaías
10:2).
Tudo está armado; todo o mundo recebe suborno; a cidade
meretriz está cheia de assassinos; os príncipes são rebeldes,
companheiros de ladrões; “cada um deles ama as peitas, e anda
atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega
perante eles a causa da viúva” (Isaías 1:23). Mesmo quando
claramente tem razão, o pobre não consegue ganhar a causa,
porque “o avarento . . . maquina invenções malignas com
palavras falsas, mesmo quando o pobre chega a falar
retamente” (Isaías 32:7). “ Porque o vil . . . pratica a iniqüidade
para usar hipocrisia e . . . proferir mentiras . . . para deixar
vazia a alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter
falta de bebida” (Isaías 32:6). O comércio de imóveis é um setor
muito explorado por tais pessoas, e os registros antigos, desde
os pregadores gregos iniciais, Hesoides e Solon, até os últimos
satiristas romanos, inclusive Petrônio, estão repletos de
trapaças e golpes pelos quais adquiriram vastas propriedades.
“Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até
que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no
meio da terra!” (Isaías 5:8).]
Isaías tem muito que dizer sobre o comércio, “Peso de Tiro,” a
cidade diadema, “cujos mercadores são príncipes e cujos
negociantes são os mais nobres da terra.” O Senhor pretende
“denegrir a soberba de toda a glória, e envilecer os mais nobres
da terra” (Isaías 23:1, 8-9). São pessoas inquietas esses
empresários: “Paz, paz, para o que está longe, e para o que
está perto . . . mas os ímpios são como o mar bravo, porque
não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e
lodo” (lembrem-se das águas sujas mencionadas por Leí) (Isaías
57:19-20). “Mas os ímpios não têm paz, diz o Senhor” (Isaías
48:22; 57:21). Babilônia é, ao mesmo tempo, agitada e
ocupada, egoista e despreocupada; “Ninguém me pode ver,” diz
ela, “eu sou, e fora de mim, não há outra” (Isaías 47:10). Ela
tem à sua disposição todo o know-how técnico e comercial.
Todos os peritos trabalham para ela—encantadores, astrólogos,
analistas inteligentes, contadores hábis—mas serão queimados
como restolho. No capítulo 13 de Isaías, vemos o peso de
Babilônia, a ampla atividade, os ruídos, o corre-corre, a
arrogância, a grande fome para lucros neste centro mundial
que é outra Sodoma, um abismo de degeneração moral.
A Vanglória das Nações
Por um grande milagre poupou-se a vida do rei Ezequias de
Judá e este recebeu mais quinze anos de vida. Numa grande
expressão de alegria e gratidão, ele expressou sua gratidão e o
alívio infinito de saber que Deus podia dar tudo que se pede a
Ele, até a própria vida; de que vale toda a segurança das
riquezas do mundo em comparação com isso? Aí aconteceu
uma coisa significante. Chegaram os embaixadores de
Babilônia, e Ezequias não pôde resistir à tentação de mostrar-
lhes toda a tesouraria que representava seu poder e riquezas.
“Então o profeta Isaías veio ao rei Ezequias, e lhe disse: Que foi
que aqueles homens disseram, e de onde vieram a ti? E disse
Ezequias . . . vieram a mim de Babilônia. E disse ele: Que foi
que viram em tua casa? E disse Ezequias: Viram tudo quanto há
em minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros que eu
deixasse de lhes mostrar. Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a
palavra do Senhor dos Exércitos: Eis que virão dias em que tudo
que houver em tua casa, e o que entesouraram teus pais até ao
dia de hoje, será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma”
(Isaías 39:3-6). O homem não resistiu a exibir seus posses, e
sua vaidade somente serviu para despertar a ganância.
Gostaram do que viram e voltaram para buscá-lo. Ele havia
caído na armadilha.
Isaías entende muito bem do cenário internacional em que o
erro fatal é pensar que o destino está nas mãos dos grandes
homens da terra, mas a verdade é que não há grandes homens,
somente cidadãos comuns que têm ilusões desatrosas de
grandeza. Arrogante é uma das palavras prediletas de Isaías.
“E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua
iniqüidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei
a soberba dos tiranos” (Isaías 13:11).
“Farei que o homem seja mais precioso do que o ouro puro, e
mais raro do que o ouro fino de Ofir” (Isaías 13:12).
“Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez
será humilhada; e só o Senhor será exaltado naquele dia” (Isaías
2:11).
“Mas eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, cortará os
ramos com violência, e os de alta estatura serão cortados, e os
altivos serão abatidos” (Isaías 10:33).
“A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se
murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra. Na
verdade a terra está contaminada por causa dos seus
moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os
estatutos, e quebrado a aliança eterna. Por isso a maldição tem
consumido a terra; e os que habitam nela são desolados; por
isso são queimados os moradores da terra, e poucos homens
restam” (Isaías 24:4-6).
O que torna grande uma nação? Poder e riquezas é a resposta
que se dá hoje em dia; o objetivo é ser primeiro em força
militar e poder econômico. Também se pensava assim nos
tempos de Isaías: Ai daqueles que dependem de cavalos e
carruagens porque são poderosos, mas que “não atentam para
o Santo de Israel; . . . os egípcios são homens e não Deus; e os
seus cavalos carne, e não espírito” (Isaías 31:1-3). Não se
garante segurança alguma através de alianças, nenhuma
espada, tantos dos fortes como dos fracos, terá poder de
vencer a Assíria; o Senhor tem seus próprios planos para a
Assíria, e ninguém poderia ter imaginado o que seriam. Em que
consiste a segurança? Ao construir a fortaleza de Jerusalém,
cavaram suas próprias covas. A única defesa verdadeira é o
chamado do sacerdócio no templo. Quem entra no jogo de
poderes políticos, receberá o galardão de sempre.
Os assírios garantiram a segurança. Era a nação de maior poder
militar. “Fazei aliança conosco,” disseram a Jerusalém (e Isaías
preservou as cartas), “e estareis seguros. Sois tolos. Como é
que Deus vos salvará, se não tiverdes exército? Precisais de
nós. Deus está do lado de quem tem as grandes batalhões.”
Isto é o que se chama Realpolitik, o que sempre tem destruído
seus seguidores em tempos modernos. Quando Isaías diz ao
povo que confie em Deus e não no Egito, dizem que ele não é
realista! Aí vêm os assírios, os super-realistas, com o seu poder
invencível—e foram todos mortos ao dormir no acampamento.
E as grandes nações? “Eis que as nações são consideradas por
ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das balanças”
(Isaías 40:15). Todas as nações perante ele não são nada, são
consideradas como menos de nada e vaidade porque fazem de
conta que são grandes (veja Isaías 10:33). “Porque Tofete já
há muito tempo está preparada;” e espera-os agora—
(“preparei-lhes uma prisão,” disse o Senhor a Enoque [Moisés
7:38]). “Sim, está preparada para o rei”—para a Assíria. “Ele a
fez profunda e larga: a sua pira é de fogo, e tem muita lenha; o
assopro do Senhor como torrente de enxofre a acender´” (Isaías
30:33). Não se impressionem com “o poderoso, e o homem de
guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião” (Isaías 3:2).
Somente existe um ser em que se pode confiar. A Assíria
desapareceu de um dia para outro, e nunca mais se ouviu falar
dela, ao passo que permanecem conosco até hoje umas nações
menores, contemporâneas da Assíria, que não tinham
condições de apostar na supremacia militar.

“Mãos Limpas; Coração Puro”


Tão surpreendentes como as caraterísticas que Isaías detesta,
são aquelas às quais ele dá valor—não à motivação, iniciativa,
indústria, empreendimentos, trabalho duro, e piedade—
nenhuma das virtudes zoramitas, embora estas sejam virtudes
de verdade quando não são corrompidas por motivos egoístas
ou uma obsessão mórbida com a rotina. Permitem-me a
observar de passagem que o trabalho, afinal, não é um corre-
corre ocupadíssimo e rotineiro, embora esta seja a essência da
vida moderna de comércio e estudo, mas consiste na energia
suprema e curiosidade disciplinada de abrir novos caminhos.
No livro de Isaías as qualidades que Deus exige aos homens
são as de que a sociedade trata com ares de superioridade e
desdém. Isaías promete as maiores bênçãos e glória aos
mansos, humildes, pobres, oprimidos, afligidos e necessitados.
Como!? Ser pobre e oprimido é sucesso? Será que ele nos
admoesta a unir-nos aos fracassados? Que valor poderá haver
em tais condições negativas e submissivas? De fato, há virtude
nisso, mas a presença de Satan´s no mundo é um fator
decisivo. Temos a promessa que não haverá pobres em Sião. É
justamente porque Satanás lá não estará presente com suas
artimanhas. Mas ele é o príncipe do mundo atual, livremente
permitido, por um tempo, a provar e tentar os homens. Aqui ele
manda.
E como é que o diabo nos tenta? Na mitologia universal da raça
humana, o diabo é o senhor do submundo que controla os
tesouros da terra no seu reino maligno; é Plutão, o deus da
riqueza, que, por seu controle dos recursos do mundo, dita os
negócios dos homens. A última peça de Aristófanes, o Plutão, é
um comentário grande e amargo a respeito do tipo de pessoas
que se tornam bem-sucedidos neste mundo. Com certeza um
dos temas mais prevalecentes da literatura desde a história
egípcia dos dois irmãos, Lazarone e Dives, até as vicissitudes
da família Joad de Grapes of Wrath (de Steinbeck). Se
acreditamos Isaías, o próprio Filho do Homem era “desprezado
e rejeitado” (Isaías 53:3), do qual conclui-se que ser altamente
bem-sucedido nesta vida não comprova a virtude definitiva.
Porque a pergunta de ouro de Satanás, “Tens por acaso algum
dinheiro?” faz um efeito paralizador e misterioso que consegue
alistar todos, menos os espíritos mais nobres, na grande
conspiração. Diz Isaías: “Por isso o direito se tornou atrás, e a
justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando
pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar. Sim, a verdade
desfalece, e quem se desvia no mal arrisca-se a ser despojado”
(Isaías 59:14-15). Em outras palavras, quem se recusar a
aceitar estas coisas, levará uma surra. Continua Isaías: “O
Senhor o viu, e pareceu-lhe mal aos seus olhos que não
houvesse justiça” (Isaías 59:15). Todos se aproveitam uns dos
outros, e isto não agrada a Deus de jeito nenhum. “Eis que o
mundo agora jaz em pecado, ninguém faz o bem, não
ninguém, . . . e a minha ira está acesa contra os habitantes da
terra para visitar sobre eles conforme a sua impiedade.” São as
primeiras palavras do Senhor nesta dispensação, proferidas a
Joseph Smith no bosque sagrado. A expressão “o mundo jaz em
pecado” exige um esclarecimento à moda de Isaías, e também
achamos a explicação da mesma expressão em Doutrina e
Convênios 49:20: “Mas não foi determinado que possuísse um
homem mais do que o outro; portanto o mundo se acha em
pecado.” Mamom (riquezas) é um deus ciumento; não se pode
servir a ele e a qualquer outro mestre. Para escapar-se da
atração poderosa dos bens do mundo e da ameaça mortal
àqueles que não os possuem requer uma alma mansa e
humilde—e corajosa!
O que é que Isaías diz que Deus exige àqueles que querem ser
justificados (salvos)? Em primeiro lugar devem ser limpos de
toda a contaminação: “Lavai-vos, purificai-vos,” diz ele no
primeiro capítulo (Isaías 1:16). Não façais vossas orações de
mãos cobertas de sangue. O indivíduo de mãos limpas e
coração puro, diz o salmista, é aquele que “não entrega a sua
alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Salmos 24:4). Isaías
concorda: é aquele que “rejeita o ganho da opressão, que
sacode das suas mãos todo o presente; que tapa os seus
ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e
fecha os seus olhos para não ver o mal” (Isaías 33:15). O povo
havia jejuado conforme ordenado por Deus e perplexo
perguntou a Isaías por que Deus não o havia escutado. Ao
responder-lhe, o profeta disse: “Porventura não é este o jejum
que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças
as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e
despedaces todo o jugo? Porventura não é também que
repartas o teu pão com o faminto, . . . e recolhas em casa os
pobres abandonados; e quando vires o nu, o cubras . . . ?”
(Isaías 58:6-7). Isto também serve de lembrete que nosso jejum
requer uma oferta para os pobres. Deus não se impressiona
com os templos magníficos que a humanidade Lhe constroi—
em todo caso, tudo pertence a Ele, “mas para esse olharei, para
o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra”
(Isaías 66:2). Se o povo continua a justificar-se—“também estes
escolhem os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita
nas suas abominações” (Isaías 66:3)—Deus não lhes tirará o
arbítrio; dará a eles corda suficiente para enforcarem-se:
“Também escolherei as suas calamidades, . . . porquanto clamei
e ninguém respondeu; . . . e escolheram aquilo em que eu não
tinha prazer” (Isaías 66:4).
Depois de descrever os caminhos de Israel, o peso de Damasco,
o peso do Egito, o peso de Babilônia e a Assíria—ou seja, o
mundo como é mas não devia ser—Isaías representa em
palavras resplandecentes a terra como devia ser—como foi
destinada, conforme o propósito para o qual foi criada. “. . .
Deus . . . não a criou vazia, mas a formou para que fosse
habitada” (Isaías 45:18). A terra estará sob o seu domínio, ele é
o Senhor e não há outro. A ele todo joelho dobrará e toda
língua confessar´. “E naquele dia . . . o fruto da terra
será excelente” (Isaías 4:2). Tudo que resta são Sião e
Jerusalém. “. . . o Senhor terá lavado a imundícia das filhas de
Sião, e limpado o sangue de Jerusalém” (Isaías 4:4).
Sendo que Babilônia já não é, um grande suspiro de alívio se
ouve; por fim o mundo se acalma e descansa. A cidade
dourada, a opressora, não é mais (veja Isaías 14:4). A terra toda
descansa. “Boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os
contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos” (Isaías 61:1). “Nunca mais se
ouvirá de violência na tua terra, desolação nem destruição nos
teus termos” (Isaías 60:18). Pelo contrário, “julgar´ com justiça
aos pobres, e repreenderá com eqüidade aos mansos da terra”
(Isaías 11:4). “Pois onde está o furor do que te atribulava?”
(Isaías 51:13). “Ó vós . . . que não tendes dinheiro, vinde,
comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que
gastais o dinheiro naquilo que não é pão? . . . Vinde a mim,
ouvi, e a vossa alma viver´” (Isaías 55:1-3). Que assombroso!
Naquele dia o homem valerá mais que ouro—uma viravolta dos
princípios do mundo. Ao mesmo tempo voltarão as florestas e
as árvores se regozijarão: “Ninguém sobe contra nós para nos
cortar” (Isaías 14:8). Freqüentemente Isaías compara a
iniqüidade crescente do mundo com a exploração brutal e
desperdício da natureza, que está chegando a seu auge na
atual geração. Todos nós conhecemos suas passagens mais
poéticas: “E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o
cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal
cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiar´. A vaca
e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão
comer´ palha como o boi” (Isaías 11:6-7). Nos meus dias de
escola se considerava esta ilustração como se de um Isaías não
realista que imaginava um monte de bobagem zoológica.
Afinal, o que ele retratou não era a natureza de “dente
sangrento e garras” do nosso mundo neo-darwiniano. Desde
então muito se tem aprendido sobre a natureza verdadeira de
certos animais selvagens. “Não se fará mal nem dano algum em
todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do
conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías
11:9). “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo
exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, .
. . porque águas arrebentarão no deserto e rebeiros no ermo. E
a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em
mananciais de águas” (Isaías 35:1-2, 6-7); “Para que todos
vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a
mão do Senhor fez isto, e o Santo de Israel o criou” (Isaías
41:20).
E este mundo feliz é para todos, da mesma forma que a
mensagem de cautela e da promessa de perdão de Isaías é para
todos. Os filhos do estrangeiro que aderirem ao convênio “eu
os levarei ao monte sagrado.” Eles irão ao templo, o qual
será chamado “casa de oração para todos os povos” (Isaías
56:7). O Senhor Deus, que congrega os párias de Israel e todos
os animais do campo, diz que não haverá mais cães de guarda
para tormentá-los; será uma época felicíssima para o homem e
o animal (veja Isaías 56:8-10). “Grandes são as palavras de
Isaías” (3 Néfi 23:1). Foi-nos mandado examiná-las, estudá-las,
ponderá-las, levá-las a sério, e compreender que as
calamidades e bênçãos contidas nestas palavras foram
destinadas para a nossa geração. Oro que as palavras deste
grande profeta possam nos preparar tanto para estas
calamidades como para as bênçãos.
Isaías e a Restauração de Israel

Isaías e a Restauração de Israel


Terry B. Ball

Terry B. Ball é professor de escrituras antigas na Universidade


Brigham Young.

Durante seu ministério de três dias entre os descendentes de Leí, o


Salvador ressurrecto ensinou muitos princípios, práticas e verdades
maravilhosos (vide 3 Néfi 11-26). Ao ensinar-lhes no segundo dia, ele
explicou como nosso Pai Celestial cumpriria sua promessa de
recolher, restaurar e redimir seu povo com o qual havia feito
convênios. Ao ensinar, citou amplamente as profecias de Isaías,
declarando: "Em verdade, em verdade vos digo que quando elas [as
palavras de Isaías] forem cumpridas, cumprir-se-á então o convênio
que o Pai fez com seu povo, ó casa de Israel. E então os
remanescentes que estiverem dispersos pela face da Terra serão
reunidos do leste e do oeste, do sul e do norte; e terão conhecimento
do Senhor seu Deus que os redimiu" (3 Néfi 20:12-13).
Ao completar as citações do livro de Isaías, Cristo ainda mandou o
povo “buscar diligentemente” os escritos desse profeta, assegurando-
lhes que todas as coisas de que Isaías falou "já foram e serão
segundo as palavras que ele disse" (3 Néfi 23:1, 3). Que aval
maravilhoso a favor de Isaías! Conforme Robert J. Matthews disse: "É
bom poder citar as palavras do Salvador; é melhor ainda ser citado
pelo Salvador."
Assim Cristo ensinou aos descendentes de Leí que aqueles que
estudarem e ponderarem cuidadosamente as palavras de Isaías
entenderão bem melhor os planos de Deus de cumprir com seu
convênio de restaurar seu povo. Através do estudo diligente, os da
atualidade que estudarem Isaías, receberão as mesmas bênçãos,
pois Isaías respondeu a muitas perguntas importantes referentes à
restauração de Israel, inclusive as seguintes: Por que será necessária
que haja uma restauração? Quando ocorrerá tal restauração? Quem
participará da restauração? De que maneira acontecerá a
restauração? E quais serão os resultados da restauração?

Por que será preciso que haja a restauração de


Israel?
Ao completar seu ministério mortal entre os filhos de Israel, Moisés os
relembrou do convênio de retidão vinculado à terra da promissão na
qual estavam para entrar. Receberiam grandes bênçãos se eles
"ouvissem a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos
os seus mandamentos" (Deuteronômio 28:1; vide também vv. 1-14).
Do contrário, o profeta advertiu que o povo seria grandemente
amaldiçoado se não "ouvisse a voz" do Senhor e que por fim Deus os
"espalharia desde uma extremidade da terra até à outra" se fossem
iníquos (Deuteronômio 28:15, 64; vide também vv. 15-65).
A época de Isaías era uma de a iniquidade e apostasia excessivas e
ele durante sua vida viu a advertência de Moisés se tornar realidade.
Já de início, Isaías lamentou as transgressões de seus
contemporâneos. Ele os descreveu como sendo mais ignorantes que
os animais de carga pois o boi e o jumento pelo menos conheciam
seu mestre e como podiam ser alimentados por ele, "mas Israel não
tem conhecimento, o meu povo não entende" (Isaías 1:3). Ele se
admirou da indiferença que acompanhava a iniquidade do povo, pois
embora eles estivessem doentes tanto de cabeça como de coração
(cobertos de "feridas e inchaços e chagas podres"), mesmo assim
não se importaram em curar suas feridas infeccionadas espirituais. "
[As feridas não foram] espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com
óleo" (v. 6). Isaías condenou o povo em particular por ser orgulhoso,
ganancioso e deshonesto; por rejeitar os profetas e confiar nos
homens mais do que em Deus; por praticar idolatria e adultério; por
não ter caridade e por oprimir-se um ao outro; por jejuar de forma
errada e não observar o dia do sábado e por alegrar-se na violência—
todas as transgressões que nos infestam nos últimos dias tambéml.
Ele comparou o povo do convênio, que então se encontrava em
estado de apostasia, a uma prostituta que flerta e se veste do modo
da profissão dela (vide Isaías 3:16-26).
Isaías sabia que o Senhor cumpriria sua palavra e castigaria e
espalharia o povo apóstata. Ele advertiu que sua terra seria assolada,
queimada de fogo e devorada por estrangeiros (vide Isaías 1:8). Ele
profetizou da deportação dos mais influentes daquela sociedade, os
homens de renome, os juízes, os profetas, os artesões, os soldados,
os conselheiros e os sábios. Ele descreveu a anarquia que sucederia
quando as crianças se tornassem seus governantes e o povo se
depredasse enquanto os pobres e ignorantes que ficavam buscassem
desesperadamente uma liderança (vide Isaías 3:1-8). O exército
conquistador que os "arrebataria" e os levaria embora invadiria rápida
e poderosamente, conforme predisse Isaías, não permitindo que
ninguém escapasse (vide Isaías 5:29).
Ao responder à indagação de Isaías quanto à duração de sua
pregação a este povo rebelde, o Senhor declarou que Isaías iria
pregar: "Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem
habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo
assolada, e o Senhor afaste dela os homens, e no meio da terra seja
grande o desamparo" (Isaías 6:11-12). O Senhor então assegurou a
Isaías que um décimo do povo ficaria (vide v. 13). Mais tarde ele
comparou o remanescente a "duas ou três azeitonas" que restam
depois da colheita (Isaías 17:6) pois a maioria seria "arrojada
violentemente" (Isaías 22:17). Muitas vezes Isaías se refere ao
disperso povo do convênio com a metáfora "ilhas" (vide Isaías 24:15;
41:5; 42:4; 49:1; 51:5; 60:9).
Sem uma restauração, sem a coligação do povo do convênio e sem
sua volta à terra de sua fé, Israel seria eternamente perdido e o
convênio de Deus com eles falharia. Mas Deus não falhará. Através
de Isaías, ele afirmou:
Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu
nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus
de toda a terra.
Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de
espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu
Deus.
Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te
recolherei.
Com um pouco de ira escondi minha face de ti por um momento; mas
com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu
Redentor.
Porque isto será para mim como as águas de Noé; pois jurei que as
águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não
me irarei mais contra ti, nem te repreenderei.
Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a
minha benignidade não se apartará de ti, e a aliança da minha paz
não mudará, diz o Senhor que se compadece de ti. (Isaiah 54:5-10)

Quando ocorrerá a Restauração de Israel?


Mesmo que o povo fosse disperso e espalhado devido a sua
inquidade e apostasia, Isaías sabia que por fim o Senhor o restauraria
para que fosse recolhido e voltasse tanto à fé como a sua terra.
Podemos adquirir uma ideia do horário desta restauração pela própria
descrição de Isaías das condições do mundo na hora do início da
coligação.
Naturalmente, para ser recolhido e restaurado, o povo primeiro teria
que ser espalhado e perdido. Isaías indica que este, justamente, seria
o caso, já que na restauração as pessoas seriam recolhidas pelo
mundo afora. "Não temas: pois estou contigo," assegurou o Senhor
por meio de Isaías. "trarei a tua descendência desde o oriente, e te
ajuntarei desde o ocidente. Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas;
trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da
terra." (Isaías 43:5-6; vide também Isaías 49:12). Muitos daqueles que
serão coligados não serão reconhecidos como parte da família do
convênio, nem saberão disso até que sejam restaurados à verdadeira
fé.
Isaías fala do desespero que sentirão aqueles da família do convênio
que pensarem que Deus os abandonou ao reconhecerem que muitos
membros de sua família lhes são perdidos. Porém, quando virem que
estes filhos espalhados e perdidos serão recolhidos e restaurados,
dirão no coração: "Quem me gerou estes? Pois eu estava desfilhada
e solitária; entrara em cativeiro, e me retirara; quem, pois, me criou
estes? Eis que eu fui deixada sozinha; e estes onde estavam?"
(Isaías 49:21).
Assim sabemos que a restauração ocorrerá num dia em que o povo
terá sido espalhado e muitos não reconhecem que fazem parte da
família do convênio. Nos dias de Isaías, Israel e Judá ainda
mantinham sua identidade, mas Isaías sabia que em algum dia no
futuro a identidade seria perdida para muitos da casa de Israel. A
perda de identidade de Israel provavelmente se trata de um processo
prolongado em vez de algo que acontece de uma vez só, mas o
processo de perda de identidade irá completar-se bem antes da
restauração.
Isaías também indica que Deus dará início a uma "obra maravilhosa
em um assombro" (Isaías 29:14) de restauração justamente na época
em que os homens estiverem espiritualmente adormecidos e sem
orientação profética. Falando daquele dia, Isaías exclamou: "Tardai e
maravilhai-vos, folgai, e clamai; bêbados estão, mas não de vinho,
andam titubeando, mas não de bebida forte. Porque o Senhor
derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os
vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes"
(Isaías 29:9-10). Assim, a resposta de Isaías quanto à época em que
ocorreria a restauração foi que começaria quando Israel estivesse
espalhado e muitos tivessem perdido sua identidade, sim, uma época
quando muitos cambaleariam e teriam sono concernente as coisas
espirituais por falta de orientação de um profeta. Estes fatos
descrevem perfeitamente as condições prevalecentes na época em
que o Senhor apareceu pela primeira vez ao Profeta Joseph Smith.

Quem participará da Restauração de Israel?


É evidente que o Israel espalhado será reunido e restaurado; Isaías
inclui um papel importante para um grupo que ele chama “gentios.”
Ele entendia que muitos do gentios dos últimos dias ou buscariam ou
seriam atraídos para a luz do evangelho restaurado. O profeta
exortou: "Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do
Senhor vai nascendo sobre ti; Porque eis que as trevas cobriram a
terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a
sua glória se verá sobre ti. E os gentios caminharão à tua luz, e os
reis ao resplendor que te nasceu" (Isaías 60:1-3; vide também 42:5-7;
55:5; 65:1).
Isaías deixou bem claro que aqueles gentios que aceitarem o
evangelho e fizerem sua parte na restauração, terão acesso a todos
os convênios e bênçãos, inclusive os do templo. Para aqueles
“estrangeiros,” uma forma de se referir aos gentios, que estão
dispostos a aceitar o evangelho, o Senhor promete dar "na minha
casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o
de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca
se apagará" e "os alegrarei na minha casa de oração," pois, "os seus
holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a
minha casa será chamada casa de oração para todos os povos"
(Isaías 56:3-7; vide também Isaías 2:2). O Livro de Mórmon explica
que os gentios fieis por fim serão contados entre os membros da casa
de Israel (vide 1 Néfi 14:1-3; 2 Néfi 10:18; 30:2; 3 Néfi 16:13; 21:1- 7,
22-25; 28:27, 32; 30:1-2). De fato, entre os gentios estão os filhos
perdidos que, conforme a profecia de Isaías, chegarão a ser
reconhecidos como sendo parte da família do convênio (vide Isaías
49:18-23). Ele são "os filhos da solidão" (Isaías 54:1) que, quando
reunidos à família do convênio, serão tão numerosos que pedirão
mais espaço, clamando: "Muito estreito é para mim este lugar; aprata-
te de mim, para que possa habitar nele" (Isaías 49:20). Estas petições
farão que o Senhor diga a seu povo: "Amplia o lugar de sua tenda, e
estendam-se as cortinas de suas habitações; não o impeças; alonga
as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas. Porque transbordrarás
para a direita e para a esquerda" (Isaías 54:2-3).
Os Santos dos Últimos Dias podem identificar-se com os filhos fieis
que farão parte da casa de Israel, embora sejam indentificados nas
excrituras com gentios (D&C 109:60; vide também D&C 86:8-10;
103:16-18). Ainda que os Santos sejam considerados gentios na
perspectiva de Isaías e do Livro de Mórmon e de sua definição de
“judeu” e “gentio,” muitos são, de fato, parte do Israel espalhado que
perdeu a identidade. O Élder Bruce R. McConkie explicou: "Joseph
Smith, da tribo de Efraim, a tribo principal de Israel, foi justamente o
“gentio” pelo qual o Livro de Mórmon foi produzido e os membros da
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que possuem o
evangelho e que são descendentes de sangue de Israel são os
“gentios” que levarão salvação aos lamanitas e aos judeus."

Como ocorrerá a Restauração de Israel?


A apostasia e a dispersão se tratam de processos, da mesma forma,
também será um processo a restauração. Isaías profetizou que a
parte espiritual da restauração, ou seja, a volta ou coligação à
verdadeira fé, será o início do processo. Para um de seus filhos ele
deu o nome de Sear-Jasube, significando "o remanescente voltará,"
para servir de modelo e de lembrete de sua profecia (Isaías 7:3; vide
também 8:18). A palavra "jasube" (parte do nome da criança) trata-se
do tempo do futuro do verbo hebraico šub, que quer dizer "voltar para
trás," "retornar," "converter-se," "voltar ao estado original" ou
"restaurar." Em certas traduções do Velho Testamento, esta palavra
às vezes se traduz com a palavra "arrepender-se" (vide 1 Reis 8:47;
Ezequiel 14:6). Embora o uso deste vocábulo, que faz parte do nome
do filho de Isaías, possa referir-se a um retorno físico, Isaías deixou
bem claro que seu motivo principal em conceder este nome a seu
filho era para relembrar o povo de sua profecia do retorno espiritual.
Ecoando o nome de seu filho, o profeta declarou: "Os restantes se
converterão (voltarão) [shearjashub], ao Deus forte, sim, os restantes
de Jacó" (Isaías 10:21). Ao restaurarem-se os "juízes" e
"conselheiros,” "Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela
com justiça" (Isaías 1:26-27; vide também Isaías 51:11). Cada uma
destas "azeitonas" "atentará para o seu Criador, e os seus olhos
olharão para o Santo de Israel" (Isaías 17:6-7). "Estes alçarão a sua
voz, e cantarão com alegria; e por causa da glória do Senhor
exultarão desde o mar" (Isaías 24:14). Ao coligarem-se "um por um,"
escutarão "uma grande trombeta" que os chamará de volta à fé, e
eles "adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém" (Isaías
27:12-13; vide também Isaías 2:1-5).
Os profetas do Livro de Mórmon compartilhavam a visão de Isaías
quanto à restauração de Israel a partir de uma restauração da fé
verdadeira. Jacó falou o seguinte a respeito da dispersão de Israel: "O
Senhor terá misericórdia deles, para que quando tiverem
conhecimento do seu Redentor, sejam novamente coligados nas
terras de sua herança" (2 Néfi 6:11; vide também 2 Néfi 10:7-9; 25:16-
17; 30:7-8).
Isaías entendia que a coligação de Israel disperso "um por um"
incluiria um papel para os gentios justos, entre os quais o evangelho
seria inicialmente restaurado. O profeta declarou:
E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por
estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar se seu
repouso será glorioso.
E há de ser naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para
adquirir outra vez o remanescente de seu povo, que for deixado, da
Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e
de Hamate, e das ilhas do mar.
E levantará um estandarte entre as nações [gentios], e ajuntará os
desterrados de Israel, e os disperos de Judá congregará desde os
quatro confins da terra. (Isaías 11:10-12)
Em Doutrina e Convênios, o Senhor nos ajuda a compreender que o
"estandarte" (uma palavra que significa "flâmula" ou "bandeira") que
se levantará que os gentios, ou nações, buscarão é o evangelho
restaurado de Jesus Cristo. Em uma revelação a Joseph Smith, Ele
declarou: "E assim também mandei ao mundo meu eterno convênio,
para ser uma luz para o mundo, para ser modelo para meu povo e
para que os gentios o procurem; e para ser um mensageiro diante de
minha face e preparar o caminho diante de mim" (D&C 45:9). O
próprio Senhor indentificou “a raiz de Jessé” mencionada em Isaías
11:10 como "um descendente de Jessé, bem como de José, a quem
por direito pertencem o sacerdócio e as chaves do reino, posto por
estandarte e para a coligação de meu povo nos últimos dias" (D&C
113:6). O Santo dos Últimos Dias entende, de modo geral, que esta
profeica se refere ao próprio Joseph Smith.
Isaías sabia na época dele que a obra do Senhor de "reaver o
remanescente de seu povo" começaria pela Restauração do
evangelho de Jesus Cristo por meio do profeta dos últimos dias,
Joseph Smith. Além disso, ele sabia que ao serem atraídos ao
estandarte, ou à luz do evangelho restaurado, os gentios ajudariam a
coligar o povo de Israel. O profeta prometeu que os gentios "trarão os
teus filhos [os de Israel] nos braços, e as tuas filhas serão levadas
sobre os ombros" (Isaías 49:22-23; vide também Isaías 66:19-20).
O profeta Néfi do Livro de Mórmon prestou um testemunho
semelhante:
Nos últimos dias, quando nossos descendentes tiverem degenerado,
caindo na incredulidade, sim, pelo espaço de muitos anos e por
muitas gerações depois que o Messias se manifestar em pessoa aos
filhos dos homens, então a plenitude do evangelho do Messias
chegará aos gentios; e dos gentios, aos remanescentes de nossos
descendentes—
E naquele dia virão os nossos descendentes a saber que são da casa
de Israel e que são o povo do convênio do Senhor; e saberão, daí,
quem eram seus antepassados e terão também conhecimento do
Redentor e do evangelho que foi por ele ministrado a seus pais.
Portanto virão a conhecer seu Redentor e os pontos essenciais de
sua doutrina, para que saibam como chegar a ele e ser salvos. (1 Néfi
15:13-14)
De fato, Isaías entendia, bem como os profetas Néfi, Mórmon e
Morôni, que o próprio Livro de Mórmon desempenharia um papel
importante nos esforços dos gentios retos de restaurar o povo do
convênio à verdadeira fé. Ele sabia que este "livro selado" seria
revelado para "falra desde o pó" num dia de apostasia e confusão
(Isaías 29:4, 9-16). Ele viu que o livro seria ouvido pelos surdos e
visto pelos cegos, assim mudando os valores dos homens para que
as florestas do Líbano (um símbolo de orgulho e apostasia) se
tornassem um campo fértil e valioso (o símbolo de um povo produtivo
de convênio (vide Isaías 29:17-19). Ele testificou que o livro exporia
aqueles malvados que "procuram esconder profundamente" suas
obras do Senhor, como também o livro ensinaria a doutrina
verdadeira para aqueles que "erraram de espírito" (Isaías 29:4-24;
vide também 2 Néfi 27; 3 Néfi 26:6-8; Mórmon 5:12-15; Éter 3:27-28).
Além da coligação espiritual e a restauração de Israel à fé verdadeira
e aos convênios de seus pais, Isaías nos ensinou que os gentios
também ajudarão, fisicamente, a restaurar os filhos de Israel a suas
terra de promissão. "Os filhos dos estrangeiros" (ou seja, os gentios)
edificarão os muros de Israel e serão seus pastores, lavradores e
vinhateiros (Isaías 60:10; 61:5). Estas imagens sugerem que o
trabalho do gentios fará com que este povo seja produtivo outra vez
(vide Isaías 5:1-6).
Enquanto estes gentios obrarem espiritual e fisicamente para
restaurar o povo do convênio, ser-lhes-ão como “aios e amas:” "Assim
diz o Senhor Deus: Eis que levantarei a minha mão para os gentios, e
ante os povos arvorarei a minha bandeira; então trarão os teus filhos
nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros. E os reis
serão teus aios, e as rainhas as tuas amas; diante de ti se inclinarão
com o rosto em terra, e lamberão o pó de teus pés; e saberás que eu
sou o Senhor, que os que confiam em mim não serão confundidos"
(Isaías 49:22-23; vide também Isaías 60:16).
O profeta Néfi do Livro de Mórmon esclareceu o significado das
imagens descritas por Isaías nesta passagem:
E depois de nossos descendentes haverem sido dispersos, o Senhor
Deus fará uma obra maravilhosa entre os gentios, que será de grande
valor para nossos descendentes; é como se fossem, portanto,
alimentados pelos gentios e carregados em seus braços e sobres
seus ombros.
E será também de valor para os gentios; e não somente para os
gentios, mas para toda a casa de Israel, porque dará a conhecer os
convênios do Pai dos céus com Abraão, quando disse: Em tua
semente serão benditas todas as famílias da Terra.
E agora, meus irmãos, quero que saibais que todas as famílias da
Terra não poderão ser abençoadas, a menos que ele desnude o
braço aos olhos das nações.
O Senhor Deus, portanto, desnudará o braço aos olhos de todas as
nações ao fazer chegar seus convênios e seu evangelho aos que são
da casa de Israel.
Ele, portanto, tornará a tirá-los do cativeiro e serão reunidos na terra
de sua herança; e serão tirados da obscuridade e das trevas e
saberão que o Senhor é seu Salvador e seu Redentor, o Poderoso de
Israel. (1 Néfi 22:8-12)
Juntos os "estrangeiros," ou gentios, e a casa de Israel servirão o
Senhor nas terras de promissão. "Porque o Senhor se compadecerá
de Jacó e, ainda assim, elegerá Israel e pô-los-á na sua própria terra;
e ajuntar-se-ão com eles os estranhos e apegar-se-ão à casa de
Jacó. E o povo tomá-los-á e levá-los-á ao seu lugar; sim, desde os
confins da Terra; e voltarão para suas terras de promissão. E a casa
de Israel possuí-las-á e a terra do Senhor será para servos e servas;
e cativarão aqueles que os cativaram e dominarão os seus
opressores" (2 Néfi 24:1-2; vide também Isaías 14:1-2).
Sabermos que os gentios dos últimos dias desempenharão um papel
tão significativo na restauração nos ajuda a entender a observação do
Salvador quando ele ratificou os escritos de Isaías. "Porque ele
[Isaías] certamente falou sobre todas as coisas relativas a meu povo,
que é dá casa de Israel; portanto é preciso que ele fale também aos
gentios" (3 Néfi 23:2).

Quais serão os resultados da Restauração de


Israel?
A restauração física e espiritual do povo do convênio nos últimos dias
não somente cumprirá a promessa e convênio que Deus fez com
Abraão como também preparará a terra para a vinda do Messias no
milênio. Isaías se utiliza de linguagem comovente em umas das
passagens mais belas entre todas as escrituras para descrever a paz
e felicidade que prevalecerão durante o reino milenário e de que os
redimidos e restaurados desfrutarão. Sua mensagem nos oferece
esperança e uma perspectiva mais ampla para aqueles que estiverem
empenhados na obra da restauração durante a atual época de tanta
inquietação e aflição. Eu fiz uma compilação dos ensinamentos de
Isaías referente ao assunto da restauração de Israel que se segue em
baixo em um parágrafo contínuo.
E virá o Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da
transgressão, diz o Senhor [Isaías 59:20]; E ele julgará entre as
nações, e repreenderá a muitos povos [2:4]; Do aumento deste
principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu
reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora
e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto [9:7]; E estes
converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em
foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem
aprenderão mais a guerrear [2:4]; Nunca mais se ouvirá de violência
na tua terra, desolação nem destruição no teus termos; mas aos teus
muros chamarás Salvação, e às tuas portas Louvor. Nunca mais te
servirá o sol para luz do dia nem com o seu resplendor a lua te
iluminará; mas o Senhor será tua luz perpétua, e o teu Deus a tua
glória [60:18-19]; E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o
cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado
andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa
pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha
como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a
desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará
mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se
encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar
[11:6, 9]; E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com
júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria
alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido [35:10]; Naquele dia o
renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra
excelente e formoso para os que escaperam de Israel. E será que
aquele que for deixado em Sião, e ficar em Jerusalém, será chamado
santo; todo aquele que estiver inscrito entre os viventes em
Jerusalém [4:2-3]; Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e
verão a terra que está longe [33:17]; Aniquilará a morte para sempre,
e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e
tirará o opróbrio do seu povo de toda a terra [25:8]; Então os olhos
dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão [35:5];
Como pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço. [40:11]
O profeta Isaías promete que naqueles dias o Senhor nos dará "glória
em vez de cinzas" e "o óleo do gozo em vez de tristeza" (Isaías 61:3).
E naquele dia quando nós O virmos, confessaremos: "Eis que este é
o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o
Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação gozaremos e nos
alegraremos" (Isaías 25:9). Nossa nostalgia de fazer parte dos que
assim testificam deve nos incentivar a seguir a admoestação do
Salvador de estudar diligentemente os escritos do grande profeta
Isaías. Por meio disto saberemos com mais confiança o por quê, o
quando, o quem, o como e o quê da restauração de Israel.
Joseph Smith: O Profeta e Vidente -
Introdução

Joseph Smith: O Profeta e Vidente -


Introdução
Em 1851, o autor britânico Charles Mackay publicou um breve ensaio,
declarando que esta foi a primeira história pública da “nova religião”
fundada na América por Joseph Smith, “uma das pessoas mais
notáveis que já apareceu em tempos modernos no palco deste
mundo.” [1] Embora Mackay não fosse o primeiro a escrever a história
dos Santos dos Últimos Dias, ele tinha razão em afirmar que Joseph
Smith era uma pessoa notável. A partir dos princípios da
Restauração, muitas pessoas vêm recolhendo os ensinamentos do
Profeta e tentando contar sua história. Contudo, a tarefa de
reconstruir a vida de Joseph Smith é repleta de dificuldades, como é o
caso de contar a história de qualquer pessoa que viveu no passado.
Em primeiro lugar, é difícil identificar tudo que Joseph Smith disse e
fez. A maioria daquilo que uma pessoa diz ou faz não tem relevância
no que diz respeito a quem ela é e, se tudo fosse gravado, tantas
informações formariam um registro enfadonho. Todavia, é essencial
colher dados suficientes para pintar um retrato razoável da pessoa
em questão. Segundo, há lacunas expresssivas em certas épocas
importantes da vida de Joseph Smith para as quais existem poucos
documentos originais de que se pode criar um retrato
completo. [2] Por exemplo, são raros os documentos contemporâneos
da época de 1805–30, de forma que algumas perguntas importantes
referentes a esta época continuam sem resposta. E por fim, como é
que os historiadores e estudiosos podem avaliar se a vida de alguém
era aquilo que ele mesmo disse que era? Como podemos interpretar
seus motivos ou entendê-lo da forma que ele entendia a si mesmo?
Existe ampla documentação referente a certos anos da vida do
Profeta, mas mesmo assim resta a pergunta: “Como interpretar a
evidência?”

Quem Foi Joseph Smith?


Joseph Smith sentia profundamente o desafio de produzir um relato
confiável de sua vida e obras. Na conferência de abril de 1844 em
Nauvoo, ele disse: “Vocês nunca conheceram meu coração. Homem
algum conhece minha história—não posso contá-la. Jamais me
empenharei em escrevê-la. Se eu não tivesse passado pelo que
passei, eu mesmo não a teria conhecido. . . . Quando eu for chamado
ao juízo e pesado na balança, vocês saberão quem eu sou.” [3] O
Élder Heber C. Kimball, um dos colegas mais achegados do Profeta
em Nauvoo, se lembrou de uma declaração semelhante: “Queira
Deus, irmãos, que eu pudesse dizer-lhes quem sou! Queira Deus que
eu pudesse dizer-lhes o que eu sei! Mas vocês o chamariam de
blasfêmia e há homens neste palco que quereriam me tirar a
vida.” [4] Mary Elizabeth Lightner, uma das esposas de Joseph Smith,
também recordou que o Profeta havia mencionado isso em outra
ocasião: “As pessoas mal sabem quem sou quando falam comigo e
nunca me conhecerão até que me vejam pesado na balança do Reino
de Deus. Daí saberão quem sou e ver-me-ão como sou. Não ouso
dizer-lhes agora e elas permanecerão sem me conhecerem.” [5]
O significado destas declarações de Joseph Smith é sujeito a debate,
porque é impossível entrevistar o Profeta e muito menos seus
associados, aqueles que pudessem ter recebido mais informações
sobre este assunto. É por isso que não podemos ter certeza do que
ele quis dizer. Não obstante, há duas possíveis interpretações
plausíveis e talvez as duas sejam corretas. Primeiro, o Profeta pode
ter se referido a seu estado ou a suas atividades no mundo pré-
mortal. A recordação de Heber C. Kimball possivelmente apoia tal
ideia. Através do Profeta se revelou uma quantidade de informações
acerca da vida pré-terrena, inclusive a identidade pré-mortal de vários
profetas, tais como Adão, que é Miguel, e Noé, que foi indentificado
como Gabriel. [6] Portanto, não seria surpreendente descobrir que
Joseph Smith havia aprendido algo a respeito de seu próprio papel e
estado pré-mortais. Uma de suas próprias declarações parece aludir
a isso: “Todos os homens que têm o cargo de ministrar aos
habitatnes do mundo foram ordenados àquele chamado no Grande
Conselho do Céu antes do mundo existir. Suponho que fui ordenado
a este mesmo ofício naquele grande conselho.” [7] Segundo, a
declaração de Joseph Smith também parece referir-se a seu
ministério mortal. Sua declaração na conferência de abril de 1844
destaca este ponto. Ele disse: “Se eu não tivesse passado pelo que
passei, eu mesmo não teria acreditado.” Ele deve ter se surpreendido
muitas vezes à medida que sua missão lhe era desvendada ao longo
do tempo, “linha sobre linha,” em vez de recebê-la de uma vez só. Por
exemplo, o jovem Joseph Smith não sabia em 182
0 que sua vida findaria em junho de 1844 numa quinta-feira à tarde
quente e abafada no cárcere de Carthage. Depois de sua Primeira
Visão de 1820, o Profeta logo aprendeu que houve uma reação
bastante negativa à sua afirmação de ter presenciado uma visão.
Porém a oposição naquela época era local e sem o abuso físico que
seguiu depois. Ele foi prevenido do custo pesado do discipulado
quando Morôni o advertiu em 1823 que seu nome “seria considerado
bom e mau entre todas as nações, parentescos e línguas” (História de
Joseph Smith 1:33). Sua pequena influência cresceria de forma
espantosa, chegando a atingir todo o planeta, mas mesmo assim ele
ainda não havia nehuma noção nem dos ataques em que ele seria
coberto de piche e penas, nem da destruição de seu patrimônio, nem
das ameaças de violência física, nem dos assaltos contra ele, sua
família e seus seguidores que estavam prestes a aparecer.
Aparentemente, a única coisa que ele aprendeu naquela ocasião foi
justamente que “seu nome seria considerado bom e mau entre todas
as pessoas” (História de Joseph Smith 1:33). Como deve ter ficado
perplexo este “obscuro menino,” coonfomre ele se referiu a si mesmo,
(História de Joseph Smith 1:23), ao pensar que um dia ele seria
conhecido no mundo inteiro!
Quase seis anos depois, em 1829, a visão de Joseph Smith expandiu
no que diz respeito ao futuro quando o Senhor o mandou que
permanecesse fiel, acrescentando: “Se fiseres isto, eis que te
concedo vida eterna, mesmo que seja morto [assassinado]” (Doutrina
e Convênios 5:22). A palavra chave desta revelação é “se,” não
“quando.” No entatno, a possibilidade de martírio surgiu pela primeira
vez e sem dúvida captou sua atenção, principalmente devido ao
recente aumento de ameaças, tanto verbais como físicas. Logo após
o estabelecimento da Igreja em 1830, o Profeta experimentou muitas
vezes a prisão indevida, ameaças de morte, violência e a perda de
bens por causa do evangelho, mas, apesar de tudo isso, sempre
conseguiu voltar a salvo para sua famíla e amigos (por exemplo, veja
Doutrina e Convênios 121:9). [8] Em 1842 as coisas mudaram. Ao
orar numa das primeiras reuniões da Sociedade de Socorro,
aparentemente ele soube pela primeira vez que sua missão
terminaria com o seu martírio. [9] De 1842 até sua morte em junho de
1844, ele repetiu a profecia mais de cem vezes. [10]
A vida que Joseph Smith possivelmente esperava, ou até sonhava,
quando era jovem em New Hampshire, Vermont e Nova York
certamente não foi a vida que levou. Ele reconhecia o fato de que
nem sempre sabia para onde a vida o levaria. Satanás opôs sua obra
mesmo antes de Joseph saber o que seria: “Parece que o adversário
sabia, nos primeiros anos de minha vida, que eu estava destinado a
ser um perturbador e um importunador de seu reino; senão, por que
os poderes das trevas se uniriam contra mim? Por que a oposição e a
perseguição que se levantaram contra mim, quase em minha
infância?” Ele refletiu no seu humilde estado: “Logo descobri,
entretanto, que minha narração da história havia provocado muito
preconceito contra mim entre os religiosos, tornando-se motivo de
grande perseguição, a qual continuou a aumentar; e embora eu fosse
um menino obscuro, de apenas quatorze para quinze anos de idade,
e minha situação na vida fizesse de mim um menino sem importância
no mundo, homens influentes preocupavam-se o bastante para incitar
a opinião pública contra mim e provocar uma perseguição implacável.
E isto se tornou ponto comum entre todas as seitas—todas se uniram
para perseguir-me” (História de Joseph Smith 1:20, 22; ênfase
acrescida). Nesta lembrança reveladora, o Profeta reconheceu que
ficou total e plenamente surpreso com a atenção que recebera, dado
que se encontrava em condições humildes e sua própria expectativa
quanto ao seu futuro era a de ser “um menino sem importância no
mundo.”
Joseph Smith continuou a aprender mais sobre sua missão profética
ao traduzir o Livro de Mórmon. Só se pode imaginar o que ele sentiu
ao descobrir as passagens que continham as profecias de José, o
filho amado de Jacó: “E seu nome será igual ao meu e será chamado
pelo nome de seu pai. E ele será semelhante a mim; porque aquilo
que o Senhor fizer através de sua mão, pelo poder do Senhor, levará
meu povo à salvação” (2 Néfi 3:15).
Entre as revelações e as visitações celestiais, Joseph Smith ficava a
sós e possivelmente se sentia muito solitário. Não havia outro ser
humano que pudesse compreendê-lo. O Élder Dallin H. Oaks
observou com perspicácia: “Em matéria espiritual, Joseph Smith não
tinha modelo [mortal] de quem ele pudesse aprender o papel de
profeta e líder.” [11] Embora seu pai tivesse sonhos reveladores e sua
mãe fosse uma cristã devota, mesmo assim ele não tinha um mentor
mortal adequado. As declarações do Profeta de abril de 1844,
proferidas no fim de sua vida, sugerem que por vezes ele se sentia
isolado, sozinho. Até os familiares, tal como seu irmão William, e
cetos amigos íntimos nem sempre o compreendiam. Alguns se seus
colegas mais confiáveis, como Oliver Cowdery, Martin Harris, David
Whitmer e William Law, abandonaram-no.
As pessoas que viviam neste momento de transição histórica, quando
o mundo pré-moderno se substituia por um mundo total e
irrevogavelmente influenciado pelo movimento iluminista,
encontraram dificuldades em entender Joseph Smith devido a suas
expectativas modernas. Não havia lugar nesta idade moderna e
científica para profetas, revelações, visões e novas escrituras, nem
nada que lhes permitisse colocar a vida dele num contexto que
pudessem entender. James Hannay, ao escrever em 1851 um artigo
para a revista Household Words [Palavras Caseiras] de Charles
Dickens, criticou a mensagem Mórmon, dizendo que era “absurdo ter
visões na idade da ferrovia.” [12]
Por seu padrão “moderno,” muitas pessoas dos países ocidentais
acreditavam que Joseph Smith era estranho e que não cabia na
sociedade. Não há dúvida que ele era uma pessoa fora do comum.
Contudo, era mais que um homem incomum de nome comum. Há
poucas pessoas cuja vida e obras foram tão previstas e tão
antecipadas como as deste grande e tão esperado vidente. Os
antigos profetas viram a vida e ministério de Joseph Smith “desde a
fundação do mundo” como parte da “restituição de todas as coisas”
(Atos 3:21). A partir do dias de Adão, os profetas, tais como Enoque,
José, Moisés, Isaías, Ezequiel, Daniel, Malaquias e o Apóstolo Pedro,
aguardavam esse ministério e o futuro estabelecimento do reino de
Deus por meio de seus esforços. O Presidente Brigham Young
observou: “Foi decretado nos conselhos da eternidade, muito antes
de lançarem-se os alicérces da terra que ele seria o homem, nesta
última dispensação do mundo, que levaria a palavra de Deus ao povo
e receberia a plenitude das chaves e poder do sacerdócio do Filho de
Deus. O Senhor o vigilava, bem como seu pai e o pai de seu pai. . . .
Ele foi preordenado na eternidade para presidir esta última
dispensação.” [13]
Pode ser que haja outros indícios sobre aquilo que se sabia nos
tempos antigos acerca de Joseph Smith. Somente nos dias mais
recentes é que os eruditos têm começado a desvendar a história
complicada das expectativas messiânicas que existiam no antigo
Israel. Embora hoje os judeus ortodoxos ainda acreditem na vinda de
um Messias, seus antepassados, em diferentes épocas, aguardavam
a vinda de servos ungidos especiais do Senhor: (1) o Messias ben
Judas (às vezes chamado o Messias ben Davi), (2) o Messias ben
Levi (às vezes identificado como o Messias ben Aarão, ou Messias o
Sacerdote) e (3) o Messias ben José (também identificado como o
Messias ben Efraim). É bem possível que Joseph Smith seja aquele
terceiro servo ungido do Senhor destas tradições. As fontes antigas
são confusas e até contraditórias, mas mesmo assim há
ensinamentos interessantes integrados no conteúdo destas fontes
sobre o Messias ben José: Ele apareceria antes da vinda do Messias
final ou seja, o Messias (Jesus Cristo), ele restauraria o sacerdócio e
a obra do templo, ele sofreria uma morte violenta às mãos de seus
inimigos e seria ressuscitado pelo Messias que viria no fim dos
tempos. [14]
Não foram só os profetas do Velho Testamento e os apóstolos do
Novo Testamento que profetizaram a respeito de seu ministério.
Asael Smith, o avô paterno de Joseph Smith, profetizou antes do
nascimento de Joseph: “Ficou gravado na minha alma que um dos
meus descendentes promulgaria uma obra para revolucionar o mundo
da fé religiosa.” [15] Mais tarde, Asael afirmou que seu neto [Joseph]
era “o próprio Profeta que, havia muito tempo, ele sabia que viria à
sua família.” [16]

Reconstruindo a Vida do Profeta


Algumas tentativas de contar a história da vida de Joseph Smith do
passado dependeram de maneira maciça de reminiscências escritas
muitos anos depois da morte do Profeta. O Presidente Joseph F.
Smith reconheceu a limitação de tais reminiscências: “Nós tememos
que muitas coisas contadas como dizeres do Profeta Joseph Smith e
de outros dos primeiros líderes da Igreja, por não serem
cuidadosamente registradas nem relatadas com apuro, tenham
perdido algo de seu valor histórico. Além disso, os acréscimos
indevidos aos fatos originais fazem com que seja difícil determinar até
que ponto podemos aceitar como confiáveis algumas das tradições
que circulam do que foi dito e feito no passado. Que todos aqueles
que se sentirem inspirados a fazer um relato dos fatos, ao
conhecerem-nos, assim façam, porém rogamos que tomem o maior
cuidado em verificar a exatidão da declaração e em citar a fonte das
declarações que registrarem. [17]
Devido às preocupações expressas pelo Presidente Smith, os
historiadores de hoje evitam, em grande parte, os relatos
reminiscentes e secundários daquilo que o Profeta supostamente
disse ou fez e, ao invés disso, focalizam nas fontes originais oriundas
da época.
Alguns autores, com muita boa vontdade, fizeram versões
expurgadas da vida do Profeta, acreditando que tais relatos fariam jus
a Joseph Smith. Como é o caso de muitos que escrevem um diário ou
autobiografia, estes autores focalizam exclusivamente no notável e no
sensacional e eliminam os desafios, as decepções, as aspirações não
correspondidas e o que ele chamou de “debilidades humanas.” Tais
autores se esquecem de que as próprias escrituras nos dão retratos
francos do povo do Senhor, inclusive de seus servos, os apóstolos e
profetas. A grandeza de Pedro e Paulo se torna ainda mais
inspiradora porque as escrituras também revelam suas fraquezas ao
enfrentarem as lutas e provações de que todos partilham. Por outro
lado, minimizar a majestade do ministério do Profeta nos daria um
retrato incompleto e, de fato, as biografias que excluem as conexões
divinas já fracassaram. Se enfatizarmos somente os aspectos
humanos de sua vida, criaremos uma caricatura exagerada da
mesma forma da versão expurgada. Nenhuma das duas proporciona
o tipo de história de que se necessita para traçar um retrato
equilibrado. Faltam ao Joseph Smith de um retrato idealizado as
características humanas que o tornaram muito querido aos fieis que o
chamavam simplesmente de “Irmão José.” Esquece-se muitas vezes
de que o próprio Profeta nunca alegou que era mais que um discípulo
mortal de Jesus Cristo que procurava levar a efeito sua própria
salvação mediante o temor e tremor perante Deus. Devemos nos
lembrar de que ele disse que um profeta é profeta “somente quando
age como tal.” [18] Foi isso que ele realmente quis dizer e aqueles
que o conheciam não o menosprezavam por isso.
De fato, as revelações dadas pelo Senhor não escondiam as lutas
muito humanas de Joseph Smith. Às vezes, no livro de Doutrina e
Convênios, o Senhor o incita a se arrepender (veja, por exemplo,
Doutrina e Convênios 3:1–9). Todavia, nesta mesma revelação o
Senhor afirma que é misericordioso e disposto a perdoar a quem se
arrepende (veja Doutrina e Covênios 3:10–20), algo que dá
esperança e alento a todos os seus discípulos.
Preservar e Gravar a História do Profeta
Joseph Smith reconheceu que seria importante que a Igreja tivesse
uma história tanto de sua vida como também das comunicações que
recebera de Deus. Durante sua vida, três coleções de revelações
foram compiladas, cada nova coleção sendo maior do que a prévia à
medida que se recebia novas revelações. [19] Para preservar sua
história, em 1838 ele começou a escrever um relato de sua vida. Ele
e seus secretários compilaram o relato a partir dos recursos e fontes
disponíveis, inclusive sua memória, seus diários e os registros de
terceiros. A história inicia apresentando a autobiografia que o Profeta
ditou aos escrivões e logo passa ao formato de um diário contínuo,
baseando-se nos diários do Profeta que serviam de quadro para a
obra mais ampla. Ele mantinha diários esporáticos durante a década
de 1830 e, portanto, as informações não são tão completas como as
de 1840 em diante quando seus escrivões mantinham um registro das
atividades dele. Onde havia lacunas nos diários do Profeta,
acrescentavam-se passagens dos diários dos outros membros da
Igreja para dar as informações que faltavam para que nenhum dos
atos e nenhuma das palavras significantes do Profeta fossem
excluídos. Os secretários também acrescentaram cartas, transcrições
de sermões e outros documentos na sua devida sequência para fazer
o registro o mais completo possível.
A publicação da história do Profeta começou em 1842, quando alguns
capítulos apareceram periodicamente no jornal da Igreja de Nauvoo,
o Times and Seasons [Tempos e Estações]. [20] Até o tempo de sua
morte, a história havia sido compilada até 1838, mas somente
publicadas as partes referentes aos anos antes de 1832. Todavia, o
trabalho continuou, tanto em Nauvoo como em Utah, onde mais
capítulos foram publicados no jornal Deseret News até sua conclusão
em 1858. [21] Décadas depois, o Élder B. H. Roberts compilou e
redigiu a história num conjunto de seis volumes que se chama History
of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints[História da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias], de Joseph Smith. [22]
Continua disponível ainda hoje e permanece sendo um registro
histórico importante. Muitos livros importantes vêm sendo publicados,
baseando-se no material da História da Igreja. Por exemplo, in 1938 o
Élder Joseph Fielding Smith do Quórum dos Doze Apóstolos publicou
Teachings of the Prophet Joseph Smith [Os Ensinamentos do Profeta
Joseph Smith], uma coleção dos escritos e sermões do Profeta
extraídas, em grande parte, da História da Igreja. [23]
Esta história permaneceu por muitas décadas como a coleção padrão
dos ensinamentos de Joseph Smith. Em 2008–9, as lições das
reuniões da Sociedade de Socorro e do sacerdócio focalizaram nos
Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith. [24] Esta
coleção importante de trechos dos sermões e escritos do Profeta
também inclui materiais menos conhecidos e previamente não
publicados. Em fins do século vinte, os pesquisadores intensificaram
seus esforços de localizar e compilar as palavras e experiências do
Profeta por meio das fontes originais mais antigas que se pode
encontrar. [25] As publicações indispensáveis daquela época incluem
The Words of Joseph Smith [As Palavras de Joseph Smith] (1980),
The Personal Writings of Joseph Smith [Os Escritos Pessoais de
Joseph Smith] (1984, edição revisada 2002), [26] e The Papers of
Joseph Smith [Os Documentos de Joseph Smith] (1989,
1992). [27] Empregando as fontes documentárias disponíveis, os
eruditos continuam a estudar e escrever sobre a vida do Profeta. O
projeto biográfico recente mais ambicioso e abrangente é Joseph
Smith: Rough Stone Rolling [Joseph Smith: Pedra Bruta Polindo-se]
(2005). [28]
Nas últimas décadas empreenderam-se grandes projetos de pesquisa
dos manuscritos originais das escrituras. Um destes trabalhos é o
Projeto de Análise Textual do Livro de Mórmon, sob a direção do
professor Royal Skousen da Universidade Brigham
Young. [29] Aquele projeto identificou todas as partes conhecidas dos
manuscritos originais e manuscritos tipográficos do Livro de Mórmon
e forneceu uma transcrição fac-similada dos dois manuscritos. Em
2004, os pesquisadores Scott H. Faulring, Kent P. Jackson e Robert
J. Matthews prepararam e editaram uma transcrição fac-similada dos
manuscritos originais da Tradução de Joseph Smith da Bíblia. [30]
Estes projetos documentários monumentais nos permitem, como
nunca antes, aprender de perto das experiências revelatórias de
Joseph Smith e providenciam uma infra-estrutura para projetos,
futuros e atuais, destinados a avançar nosso entendimento de sua
missão.
E agora podemos contar com o Projeto Documentos de Joseph Smith
junto com os outros projetos acadêmicos que citamos. Trata-se do
esforço mais apurado até o presente momento de reunir e editar
todos os conhecidos documentos originais criados ou comissionados
pelo Profeta. Este empreendimento extremamente importante, que
levará mais alguns anos para completar, abrangerá todos os diários,
cartas, revelações, relatos contemporâneos de seus discursos e
amostras de outros documentos públicos de sua autoria. Através
deste projeto, os historiadores já constataram fatos importantes da
vida e ministério do Profeta e continuarão a fazê-lo. É um dos projetos
mais fascinantes até o presente momento e promete prover muitas
fontes importantes para futuros estudos inovadores, bem pensados e
cuidadosamente interpretados acerca da vida e ministério de Joseph
Smith.

Projeto Documentos de Joseph Smith


Talvez nunca chegemos a conhecer Joseph da mesma maneira que o
conheciam aqueles que conviviam pessoalmente com ele durante sua
vida, porém, estamos conhecendo os escritos pessoais dele de uma
forma que muitas pessoas contemporâneas, até seus amigos, não
puderam conhecer durante a vida dele. [31] Além de conseguir ter
uma visão mais ampla do tempo em que o Profeta viveu, os
pesquisadores de hoje estão acessando numerosos documentos que
já não estavam disponíveis aos historiadores da prévia geração que
iluminam a vida e experiências de Joseph. Em 2008 e 2009, foram
publicados os primeiros dois volumes de The Joseph Smith Papers
[Os Documentos de Joseph Smith]. [32] Além disso, os historiadores
agora têm fontes contemporâneas complementares como os diários
de Wilford Woodruff que proporcionam uma riqueza de materiais
sobre o Profeta. [33] Todos estes documentos nos dão uma visão
íntima do Profeta pelos olhos daqueles que o conheciam
pessoalmente.
O Projeto Documentos de Joseph Smith não pretende produzir
histórias narrativas, de modo que poucas pessoas abrirão um dos
volume à primeira página e lerão o livro de capa a capa, como uma
biografia. Em vez disso, os documentos requererão um estudo
minucioso, um por um, como quem está numa biblioteca com um
documento original à sua frente. Porém, o Projeto Documentos de
Joseph Smith proverá anotações de importantes historiadores para
entendermos o documento muito melhor do que seria o caso de quem
está sozinho na Biblioteca de História da Igreja em Salt Lake City. O
benefício principal do projeto ‘Documentos’ para a maioria dos Santos
dos Últimos Dias, e outros que querem entender o Profeta,
provavelmente lhes virá como resultado do trabalho futuro de
pesquisadores que utilizarão Os Documentos de Joseph Smith como
recurso para escrever histórias interpretativas. Ronald K. Esplin, o
redator-chefe do projeto, explicou que os volumes contêm a matéria
prima da história—em outras palavras, “o minério” da história. E,
como em uma mina de ouro, estes volumes conterão o metal precioso
ainda não processado; ficarã a cargo dos eruditos extraírem o ouro
para criar belas joias. [34]
A Igreja decidiu que o Projeto Documentos de Joseph Smith seria
dirigido aos pesquisadores acadêmicos. Obviamente se o projeto não
fosse elaborado por pesquisadores conforme os padrões acadêmicos,
os livros não seriam levados a sério no mundo acadêmico. Preparar
um registro fiel que os eruditos não membros da Igreja levem a sério
é o propósito principal deste projeto multi-milionário que tem levado
um tremendo esforço por parte dos historiadores. Esplin acrescenta:
“Embora a ênfase acadêmica seja o foco do projeto, há um propósito
secundário, isto é, assegurar que os Santos dos Últimos Dias tenham
acesso a estes documentos e que lhes sejam úteis.” Os dois círculos,
o dos eruditos e o dos membros SUD, coincidem, mas não
completamente. Esplin observou:
Esta história de como e por que chegamos a focalizar mais no mundo
dos estudiosos é cenário para o ponto que eu quero salientar.
Quando tiverem a oportunidade, espero que vocês destaquem a ideia
de que nosso trabalho não foi designado tanto para defender Joseph
Smith como para entendê-lo. Naturalmente, todos nós somos Santos
dos Últimos Dias e o trabalho que fazemos centraliza-se nos Santos
dos Últimos Dias e em Joseph Smith. Somos quem somos. Mas
nosso tom, linguagem, abordagem e intenção são os de quem
procura entender e não defender. É a fé e experiência de todos os
estudiosos envolvidos no projeto que se conseguirmos entendê-lo,
tudo estará bem, já que ele é quem disse que era e sua vida e
obras aguentarão qualquer investiação sincera. Não há necessidade
de distorcer o registro histórico e sim de entendê-lo por motivos
dignos e para realmente conhecer Joseph. Ao fazermos bem nosso
trabalho, todos nós teremos no futuro as ferramentas para aquilo que
não temos agora e nunca tivemos antes: os materiais que permitirão
que conheçamos outra vez o Irmão Joseph. [35]

Conhecer o Irmão Joseph


Durante o outono de 2008, convidamos vários estudiosos, inclusive
alguns dos redatores do Projeto Documentos de Joseph Smith para
participar de uma série de palestras na Universidade Brigham Young
que se chamava “O Ministério Profético de Joseph Smith.” Os
discursos foram gravados e lançados em CD. Os capítulos deste livro
correspondem àqueles discursos. Estes pesquisadores notáveis
encararam Joseph Smith com uma nova visão, minando velhas
evidências e novas descobertas para pintar um retrato de quem era o
Profeta, o que ele fez e por que a vida dele nos importa. Como
resultado dos esforços destes e outros estudiosos, de certa forma
sabemos mais do Profeta do que aqueles que viveram durante sua
vida, devido à visão íntima que agora temos por meio de seus diários
e cartas pessoais. Naturalmente, sua família, amigos e colegas o
conheciam como nós não podemos.
O Joseph Smith que surge deste estudo é extraordinário, complexo,
entusiasta e verdadeiramente simpático. As pesquisas recentes não o
diminuiram de maneira alguma. Pelo contrário, é mais nobre do que
nunca. Sem dúvida ele foi o profeta da restauração, o grande vidente
que estabeleceu o reino do Senhor nestes últimos dias. Ele foi um
discípulo de Jesus Cristo como aqueles do Novo Testamento que
deixaram suas redes, barcos, cargos e lidas comuns para seguir a
Jesus. Um de seus colegas íntimos, Wilford Woodruff, usando uma
metáfora do próprio Joseph Smith, notou o processo que o refiniu:
“Ele nunca disse que era uma pedra polida e lisa, mas que era uma
pedra bruta cortada da montanha que tem rolado ilesa entre as
pedras e árvores. E no fim será tão lisa e polida quanto qualquer
outra pedra.” [36]
Nós que atualmente estamos fazendo pesquisas a respeito de Joseph
Smith não acreditamos que nossos esforços representem a
interpretação definitiva de sua vida. Certamente os historiadores do
futuro proverão novos conhecimentos e farão correções ao
descobrirem novas informações que, por sua vez, possibilitarão que
reexaminem as fontes originais agora disponíveis. Porém, não
podemos esperar até que saibamos tudo acerca de Joseph Smith e o
mundo em que viveu. Aguardamos ansiosos o Milênio, pois somente
então conheceremos a plenitude (1 Corintianos 13:9–12) de todas as
coisas que desejamos conhecer agora. Neste meio tempo, o trabalho
atual dos historiadores está expandindo nosso conhecimento de
Joseph Smith de maneiras antes desconhecidas. Felizmente, este
trabalho continuará para o bem de todos nós.

Notas
[1] Charles Mackay, The Mormons: Or Latter-day Saints [Os
Mórmons: Ou Santos dos Últimos Dias] (London: Office of the
National Illustrated Library, 1851), vi.
[2] Há lacunas nas fontes utilizadas ao escrever a história de Joseph
Smith bem como existem lacunas significantes nas fontes usadas na
reconstrução da vida do Salvador (veja F. E. D. Schleiermacher, “The
Public Life of Christ to the Time of His Arrest [A Vida Pública de Cristo
até a Hora de sua Prisão],” em The Historical Jesus: Critical Concepts
in Religious Studies [O Jesus Histórico: Conceitos Essenciais de
Estudos Religiosos], redação de Craig A. Evans [London: Routledge,
2004], 4:34).
[3] The Words of Joseph Smith: The Contemporary Accounts of the
Nauvoo Discourses of the Prophet Joseph [As Palavras de Joseph
Smith: Relatos Contemporâneos do Discursos do Profeta Joseph
Smith em Nauvoo], redação de Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook,
eds. (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos, 1980), 355; ortografia
e pontuação padronizadas.
[4] Orson F. Whitney, The Life of Heber C. Kimball [A Vida de Heber
C. Kimball] (Salt Lake City: Deseret Book, 2001), 322–23.
[5] Mary Elizabeth Lightner, discurso na Universidade Brigham Young,
14 de abril de 1905, datilografado, L. Tom Perry Special Collections,
Harold B. Lee Library, Universidade Brigham Young, Provo, Utah.
[6] Para a identidade de Adão, veja Doutrina e Covênios 27:11;
107:54; Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 8. Para a
identidade de Noé, veja Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph
Smith], 8.
[7] Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 367; ortografia
e pontuação padronizadas. Embora este ensinamento muitas vezes
se aplique a cada homem e mulher, o contexto original se refere ao
chamado dos cabeças de cada dispensação; veja o relato de Samuel
A. Richards do discurso de 12 de maio de 1844: “No conselho geral e
grande conselho do céu, todos a quem se concedeu uma
dispensação foram designados e ordenados para tal chamado
naquela ocasião” (Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph
Smith], 371).
[8] Veja Ronald K. Esplin, “Joseph Smith’s Mission and Timetable:
‘God Will Protect Me until My Work Is Done [A Missão e Cronograma
de Joseph Smith: Deus me Protegerá até que meu Trabalho seja
Completo],’” em The Prophet Joseph: Essays on the Life and Mission
of Joseph Smith [O Profeta Joseph: Ensaios sobre a Vida e Missão de
Joseph Smith], redação de Larry C. Porter e Susan Easton Black
(Salt Lake City: Deseret Book, 1988), 280–319.
[9] Words of Joseph Smith [Palavras de Joseph Smith], 116.
[10] Veja Richard Lloyd Anderson, “Joseph Smith’s Prophecies of
Martyrdom [As Profecias de Joseph Smith sobre o Martírio],” em The
Eighth Annual Sidney B. Sperry Symposium: A Sesquicentennial Look
at Church History (Brigham Young University, Provo, UT, January 26,
1980), 1–14.
[11] Dallin H. Oaks, “Joseph Smith in a Personal World [Joseph Smith
num Mundo Pessoal[,” em The Worlds of Joseph Smith: A
Bicentennial Conference at the Library of Congress (Provo, UT:
Brigham Young University Press, 2006), 159.
[12] James Hanney, em Household Words: A Weekly Journal
[Palavras Caseiras: uma Revista Semanal] 3 (1851): 385.
[13] Deseret News, 26 de outubro de 1859, 266.
[14] Richard Neitzel Holzapfel, “The ‘Hidden’ Messiah [O Messias
Oculto],” em A Witness of Jesus Christ: The 1989 Sperry Symposium
on the Old Testament (Salt Lake City: Deseret Book, 1990), 81.
[15] Citado em Joseph Fielding Smith, Church History and Modern
Revelation [História da Igreja e Revelação Moderna] (Salt Lake City:
The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1953), 1:4; veja
também Richard Lloyd Anderson, Joseph Smith’s New England
Heritage [Joseph Smith: Sua Herança da Nova Inglaterra] (Salt Lake
City: Deseret Book, 1971), 112.
[16] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latterday
Saints [História da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias] redação de B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret
Book, 1957), 2:443.
[17] Joseph F. Smith, “Shall We Record Testimony? [Devemos Gravar
o Testemunho?]” Improvement Era, March 1898, 372.
[18] Smith, History of the Church [História da Igreja], 5:265.
[19] 1833 Book of Commandments [O Livro de Mandamentos], 1835 e
1844 Doctrine and Covenants [Doutrina e Convênios].
[20] Veja “History of Joseph Smith [História de Joseph Smith],” Times
and Seasons, 15 de março de 1842, 726–28.
[21] Veja Jessee, “The Writing of Joseph Smith’s History [A
Composição da História de Joseph Smith],” BYU Studies 11, no. 4
(Verão de 1971): 439–73.
[22] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints [História da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias], redação de B. H. Roberts (Salt Lake City: Deseret News, 1902–
12). Um sétimo volume contando os eventos depois da morte de
Joseph Smith foi publicado em 1932.
[23] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith
[Ensinamentos do Profeta Joseph Smith], comp. Joseph Fielding
Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1938).
[24] Teachings of Presidents of the Church: Joseph Smith [Os
Ensinamentos do Presidenetes da Igreja: Joseph Smith] (Salt Lake
City: Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2007).
[25] Veja Paul H. Peterson, “Understanding Joseph: A Review of
Published Documentary Sources [Entendeno Joseph: um Panorama
de Fontes Documentárias Publicadas],” em Joseph Smith: The
Prophet, the Man [Joseph Smith, o Profeta e Homem], readação de
Susan Easton Black e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Religious
Studies Center, Brigham Young University, 1993), 101–16.
[26] The Personal Writings of Joseph Smith [Os Escritos Pessoais de
Joseph Smith], redação de Dean C. Jessee, edição revisada. (Salt
Lake City: Deseret Book, 2002).
[27] The Papers of Joseph Smith [Os Documentos de Joseph Smith],
vol. 1: Autobiographical and Historical Writings [Escritos
Autobiográficos e Históricos], readção de Dean C. Jessee (Salt Lake
City: Deseret Book, 1989); vol. 2: Journal, 1832–42 [Diário, 1832-
1842], redação de Dean C. Jessee (Salt Lake City: Deseret Book,
1992).
[28] Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling
[Joseph Smith, Pedra Bruta a Rolar] (New York: Knopf, 2005).
[29] Royal Skousen, ed., The Original Manuscript of the Book of
Mormon: Typographical Facsimile of the Extant Text [O Manuscrito
Original do Livro de Mórmon: Fac-símile Tipográfico do Texto
Existente] (Provo, UT: Foundation for Ancient Research and Mormon
Studies, Brigham Young University, 2001); The Printer’s Manuscript of
the Book of Mormon: Typographical Facsimile of the Entire Text in
Two Parts [O Manuscrito da Tipografia do Livro de Mórmon: Fac-
símile Tipográfico em Duas Partes] (Provo, UT: Foundation for
Ancient Research and Mormon Studies, introduction xxv Brigham
Young University, 2001); M. Gerald Bradford e Alison V. P. Coutts,
redatores, Uncovering the Original Text of the Book of Mormon:
History and Findings of the Critical Text Project [Descobrindo o Texto
Original do Livro de Mórmon: História dos Resultados do Projeto de
Análise Crítica do Texto] (Provo, UT: Foundation for Ancient
Research and Mormon Studies, Brigham Young University, 2002).
[30] Scott H. Faulring, Kent P. Jackson, e Robert J. Matthews,
redatores, Joseph Smith’s New Translation of the Bible: Original
Manuscripts [A Nova Tradução de Joseph Smith da Bíblia:
Manuscritos Originais] (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham
Young University, 2004); Kent P. Jackson, The Book of Moses and
the Joseph Smith Translation Manuscripts [O Livro de Moisés e os
Manuscritos da Tradução de Joseph Smith] (Provo, UT: Religious
Studies Center, Brigham Young University, 2005).
[31] Veja Bushman, Rough Stone Rolling, 8–39, uma biografia de
Joseph Smith desta época.
[32] Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman
são os principais redatores de The Joseph Smith Papers [Os
Documentos de Joseph Smith]. Os primeiros dois volumes são:
Journals, Volume 1: 1832–1839 [Diários, Volume I: 1832-1839],
redatores Dean C. Jessee, Mark Ashurst-McGee e Richard L. Jensen
(Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2008); e Revelations and
Translations, Volume 1: Manuscript Revelation Books [Revelações e
Traduções, Volume I: Manuscritos dos Livros de Revelações],
redação de Robin Scott Jensen, Stephen C. Harper e Robert J.
Woodford (Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2009).
[33] Veja Wilford Woodruff’s Journal, 1833–1898, Typescript [O Diário
de Wilfrod Woodruff, 1833-1898], redação de Scott G. Kenney, 9 vols.
(Midvale, UT: Signature Books, 1983).
[34] Ronald K. Esplin, e-mail para o autor, 27 de agosto de 2008.
[35] Idem.
[36] Wilford Woodruff’s Journal [Diário de Wilford Woodruff], 2:297.
Parece que a citação é de um sermão de Heber C. Kimball. Richard
Bushman, porém, atribui a citação a Brigham Young (veja Rough
Stone Rolling, vii). Joseph Smith se caracterizou como uma “pedra
bruta rolando para baixo de uma colina” (“Diário de Joseph Smith ,”
21 de maio de 1843; citado em Words of Joseph Smith [As Palavras
de Joseph Smith], 205; veja também a citação de 11 de junho de
1843 no mesmo diário (Words of Joseph Smith, 209).
A Jornada do Eterno Aprendizado

A Jornada do Eterno Aprendizado


Élder Robert D. Hales

O Élder Robert D. Hales é membro do Quórum dos Doze Apóstolos.


Este discurso foi proferdio em 19 de agosto de 2008, durante a
Education Week da BYU.

Hoje nesta reunião de devoção sinto-me honrado em discursar


àqueles que se dedicaram ao aprendizado por toda a vida.
Nossa busca de conhecimento e nossa jornada de progresso eterno
se iniciaram muito antes de nossa existência terrena. Recebemos o
pleno conhecimento de que durante o Conselho nos Céus todos nós
utilizamos o arbítrio, optando por vir à Terra e por participar da vida
terrena. Ao escolhermos a opção de vir à Terra, escolhemos a
oportunidade de progredir, crescer e adquirir mais conhecimento. É
justamente no processo de vir à Terra e tomar sobre nós um corpo
físico, para adquirirmos conhecimento e experiência de vida, que se
acha uma das partes essenciais do nosso progresso eterno, a do
aprendizado contínuo.
O tema de eterno aprendizado é importante porque para nós, os
Santos dos Últimos Dias, a busca, durante a vida toda, de
conhecimento se trata de uma atividade não só temporal como
também espiritual. Compreendemos que adquirir conhecimento é
indispensável em alcançarmos a salvação eterna. Brigham Young
disse: “Se nossa vida fosse prolongada até mais mil anos, mesmo
assim haveria o que viver e aprender.”[1]
É verdade o velho ditado: “Não se pode levar os bens para o outro
mundo,” no que diz respeito à maioria das posses temporais e
mundanas. Porém, há tesouros intelectuais de conhecimento e de
valores espirituais que nos prometem um benefício eterno. Lemos no
livro de Doutrina e Convênios: “Qualquer princípio de inteligência que
alcançarmos nesta vida, surgirá conosco na ressurreição. E se nesta
vida uma pessoa, por sua diligência e obediência, adquirir mais
conhecimento e inteligência do que outra, ela terá tanto mais
vantagem no mundo futuro” (D&C 130:18–19).
Então, embora esta vida mortal seja um momentinho só em
comparação com a eternidade, o aprendizado ao longo de nossa vida
é uma parte fundamental da nossa educação eterna. Aqui na terra,
como certa vez observou Brigham Young: “Nós estamos em uma
grande escola.”[2]
Quando encaramos nosso aprendizado aqui na terra como parte de
nossa educação eterna, estabelecemos metas mais elevadas de
aprendizagem. Enquanto éramos crianças, talvez aprendêssemos
porque nossos pais nos persuadiam ou nos lisonjeavam. Eles
queriam que adquiríssemos uma educação formal ou com diploma de
faculdade ou com perícia técnica, sabendo que ao fim dos estudos
seríamos abençoados por sermos auto-suficientes, produtivos e
capazes de sobreviver no mundo real. Alguns estudaram com
diligência, sendo motivados pela competição de receber notas altas
ou de receber outras honras.
Esta forma de motivação pode ter desempenhado um papel
importante em diferentes épocas de nossa vida, mas se notas altas e
honras dos homens forem nosso único incentivo, deixaremos de
aprender depois que os pais e professores forem embora e depois de
formados. Aqueles que aprendem ao longo da vida toda, são
motivados por incentivos mais eternos. Um grande passo à frente em
nosso amadurecimento e na aquisição de conhecimento e
experiência se dá quando estudamos pelo prazer de sermos
edificados em vez do prazer de sermos entretidos. O objetivo dos
sábios que aprendem pela vida inteira não é o de impressionar os
outros, e sim, o de melhorar-se e de ajudar os outros. Seu objetivo é
aprender e modificar seu comportamento por meio de seguir os
conselhos e exemplos bons que lhes foram compartilhados pelos
grandes professores a seu redor.
Às vezes nosso aprendizado se torna limitado quando o encaramos
como o estudo, uma por uma, de várias matérias ou talvez a
formatura numa área de especialização. Mas ao estudarmos as
escrituras, notamos que elas nos proporcionam um currículo para a
vida toda: “Tanto as coisas do céu como da Terra e de debaixo da
Terra; coisas que foram, coisas que são, coisas que logo hão de
suceder; coisas que estão em casa, coisas que estão no estrangeiro;
as guerras e as complexidades das nações e os julgamentos que
estão sobre a terra; e também um conhecimento de países e reinos”
(D&C 88:79).
O primeiro versículo do Livro de Mórmon consta: “Eu, Néfi, tendo
nascido de bons pais, recebi, portanto, alguma instrução em todo o
conhecimento de meu pai” (1 Néfi 1:1). Do mesmo modo que o
campo de estudo de Néfi consistia em tudo que seu pai conhecia, os
que estão à busca de maiores conhecimentos e aprendem pela vida
inteira desconhecem divísas entre os ramos de estudo.
O estudioso que está sempre aprendendo tem um anseio insaciável
de adquirir conhecimento de um âmplo leque de assuntos e
disciplinas. Assim o prêmio dos que aprendem pela vida inteira é
simplesmente a alegria de aprender e adquirir conhecimento de uma
extensão grande de matérias que lhes interessam.
Alguns podem pensar: Será que é possível aprender a querer estudar
ao longo da vida, ou será este desejo um mero dom genético. Da
mesma forma que alguns nascem capazes de correr mais rápido,
alguns podem ter, por natureza, um desejo maior de estudar. Mesmo
assim, sabemos que um bom treinador pode ajudar um atleta que
queira pagar o preço a melhorar de desempenho; e desta maneira
nosso Pai Celeste está ansioso para abençoar aqueles que estiverem
dispostos a pagar o preço com a determinação de estudar e aprender
durante a vida toda.
Muitas vezes é preciso que haja um grande professor para nos
motivar e inspirar. Como é que podemos aumentar nosso desejo e o
desejo de outros de obter mais conhecimento ao longo de uma vida
cheia de experiências de estudo e aprendizado?

Caraterísticas dos que Aprendem ao longo da


Vida
É importante contemplar os atributos que se deve adquirir para se
tornar um estudioso empenhado no eterno aprendizado. Umas das
caraterísticas necessárias para se tornar uma pessoa que aprende
sempre são: coragem, fiel desejo, humildade, paciência, curiosidade e
uma disposição de comunicar e compartilhar a outros os
conhecimentos que adquirirmos. Vamos dar uma pausa para refletir
mais a fundo como cada uma dessas caraterísticas contribui à meta
de aprender pelo resto da vida. Além disso, devemos estudar como
poderemos inspirar os outors, especialmente nossos filhos, a querer
estudar até o fim da vida.
Coragem. “Tende boa coragem, e ele fortalecerá o vosso coração,
vós todos que esperais no Senhor” (Salmos 31:24).
Os estudantes pertétuos têm a coragem de sobrepujar o medo de
ultrapassar os limites dos estudos com que já estão acostumados,
partindo para áreas desconhecidas e não habituais. As escrituras
dizem: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de
fortaleza, e de amor, e de mente sã” (2 Timóteo 1:7).
Nós nos contentamos demais com o conforto do que já sabemos,
nosso forte educacional, e evitamos o trabalho de nos fortalecermos
nas áreas de fraqueza. Assim, nossos fortes podem se tornar nossas
maiores fraquezas. Podemos permanecer na segurança do passado,
sem ousar passar para o futuro por causa do medo da ignorância ou
da falta de conhecimento sobre um assunto que possa nos interessar,
mas que receamos estudar ou pesquisar. Temos que ter coragem
para dar um passo de fé na assustadora terra do desconhecido, não
sabendo quão profunda pode ser a caverna educacional em que
estamos para entrar.
O temor só pode ser afastado conforme a quantidade de luz
intelectual com que estamos dispostos a iluminar a escuridão do
abismo educacional que forma uma lacuna no nosso entendimento.
Temos que achar forças para irmos adiante—avante, irmãos! Lemos
no livro de Doutrina e Convênios: “Esforçastes-vos para crer que
receberíeis a bênção que vos fora oferecida; mas eis que em verdade
vos digo que havia temores em vosso coração e, em verdade, esta é
a razão por que não a recebestes” (D&C 67:3). Apesar de nosso
temor, a coragem de adquirir novos conhecimentos é essencial à
busca de conhecimento por parte de quem estuda pela vida inteira.
Desejo fiel. “Buscai diligentement e ensinai-vos uns aos outros
palavras de sabedoria; nos melhores livros buscai sabedoria; procurai
conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé” (D&C 88:118).
Logo entra o desejo fiel. O aprendizado vitalício é motivado pelo
desejo desinteressado e insaciável dentro de si de adquirir, pela mera
satisfação de alcançar e compartilhar (sem reconhecimento ou
recompensa pessoais) mais iluminação, um âmplo conhecimento
relativo a muitas disciplinas. Muitas vezes o desejo de aprender mais
é motivado pela necessidade que se percebe de ajudar os outros. Por
exemplo, uma mãe preocupada com a falta de uma diagnose médica
referente a um problema de saúde física ou mental de um familiar
pode pesquisar livros e revistas do ramo para ajudar a achar uma
solução.
Uma pessoa que busca entendimento pela vida inteira pode ter um
desejo de se melhorar para poder desfrutar de uma vida mais feliz e
mais benevolente. Os que aprendem pela vida inteira têm um desejo
de adquirir conhecimentos que os ajudarão a ser melhores
ajudadores(as), melhores mães, melhores pais, melhores cidadãos e
melhores servos no reino do Senhor “para que [eles] possam
aprender e glorificar o nome de [seu] Deus” (2 Néfi 6:4).
Humildade. “Que o que for ignoranate adquira sabedoria, humilhando-
se e invocando o Senhor seu Deus a fim de que seus olhos sejam
abertos para que ele veja seus ouvidos, abertos para que ele ouça”
(D&C 136:32).
A próxima caraterística é a de humildade. Os que dedicam a vida ao
estudo reconhecem que recebemos o dom de conhecimento de Deus.
“Sim, aquele que verdadeiramente se humilhar e arrepender-se de
seus pecados . . . , esse será abençoado” (Alma 32:15).
Devido ao fato dos estudantes assíduos reconhecerem que a
inteligência é um dom de Deus, eles não gostam de mostrar-se nem
se tornam orgulhosos em relação a seu quociente de inteligência e de
seus feitos pessoais. Cada nova descoberta de conhecimento é
medida, uma por uma, das alturas do jeito e na hora que Deus
decidir, “linha sobre linha, preceito sobre preceito” (2 Néfi 28:30).
Quando somos verdadeiramente humildes, lembramo-nos de que o
conhecimento e a sabedoria nos são dados pelo Senhor e que
devemos usar aquele conhecimento e sabedoria para elevar e
fortalecer os outros: “A cada homem é dado um dom pelo Espírito de
Deus. A alguns é dado um, a outros é dado outro, para que desse
modo todos sejam beneficiados” (D&C 46:11–12). Adquirimos
conhecimento para melhor servir.
Paciência. “Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude e à ciência, e
à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a
piedade” (2 Pedro 1:5–6).
Na sua busca de entendimento, os estudantes que perduram até o
fim alcançam um nível superior de paciência. Eles compreendem que
sua busca diligente de aprendizagem leva uma quantia grande de
energia e muito tempo para achar o conhecimento puro.
Que bela sensação! Os irmãos já procuraram algo—buscaram,
contemplaram e oraram—até que finalmente a resposta apareceu em
frente de si? Às vezes o que aprendemos hoje pode não parecer
importante até meses, ou até anos, depois. Além de aprender,
ponderamos sobre o conhecimento para que no lugar certo, na hora
certa, possamos aplicá-lo da melhor forma possível.
Curiosidade. “Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e
buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a
impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura” (Eclesiastes
7:25).
O próximo atributo é a curiosidade. Minha irmã sempre me dizia: A
curiosidade é que matou o gato, mas a satisfação de aprender o
ressuscitou.”
Os que estudam a vida interia já de natureza são curiosos. Quando
crianças, nossa curiosidade é instintiva, mas a instrução formal é
mais restritiva e sistemática. O estudante sério desenvolve técnicas
próprias de aprendizagem que ultrapassam o que se aprende na
escola. Um aspecto chave é que ele nunca perde a curiosidade
inerente que Deus lhe deu. São detetives, os que estudam a vida
toda, à imagem de Sherlock Holmes, que resolvem os casos por
juntar os fatos que colheram. O método deles é perguntar “por que” e
depois achar a resposta. A emoção de investigar e pesquisar um
novo conceito, ou de descobrir uma solução antes desconhecida, é
algo que nos proporciona momentos de alegira e satisfação.
Os que se dedicam ao eterno aprendizado aprendem “linha sobre
linha” e “preceito sobre preceito,” mas também há momentos
pessoais em que dizem “ah!” pela alegria de ver, de vez, o contexto
total de um princípio. O que aprende deste jeito não desiste. Tomás
Edison era um que aprendia ao longo de sua vida. Dizem que ele
declarou: “Eu não fracassei—simplesmente descobri dez mil soluções
que não funcionam.”
Comunicação. “Portanto aquele que prega e aquele que recebe se
compreendem um ao outro e ambos são edificados e juntos se
regozijam” (D&C 50:22).
São professores, no âmago, os estudantes do eterno aprendizado
que se regozijam em comunicar entendimento e conhecimeto aos
outros. Ao compartilharem seus conhecimentos, encontram alegria à
medida que aqueles a quem ensinam se edificam e se fortalecem.
Eles se comunicam com Deus através de oração para receber
orientação e ilucidação. Comunicam-se com Deus para dar-lhe
graças e exprimir gratidão pelos conhecimentos que receberam.
Comunicam-se com outros estudiosos, escutando com intensidade
num intercâmbio de aprendizado que é de benefício mútuo.
Os grandes professores não só comunicam de forma excelente como
também escutam com sinceridade. Ao comunicarmos, podemos
aprender algo de cada indivíduo com que nos encontramos.
Os grandes professores produzem estudantes dedicados ao eterno
aprendizado. Os grandes professores não dão todas as respostas aos
alunos. Guiam os alunos à fonte de conhecimento e inspiram neles o
desejo de tomar água da mesma. Os grandes professores motivam
os alunos a buscar conhecimento.
Certo professor estava numa reunião em que o Presidente [Boyd K.]
Packer havia entrado na fase de perguntas e respostas. Aquele
perguntou ao Presidente Packer a respeito de seu ensino referente à
expiação de Cristo. O que foi que o Élder Packer ensinava? O
professor queria ouvir o testemunho do Presidente Packer e uma
dissertação completa a respeito da expiação. Foi isso que se
esperava do grande mestre. Não obstante, sua resposta proporcionou
a todos uma lição acerca do eterno aprendizado. O Presidente Packer
lhe respondeu: “Leia o Livro de Mórmon algumas vezes, procurando
os ensinamentos sobre a expiação. Daí, escreva um resumo de uma
página do que se aprendeu. Então, meu querido irmão, terá a
resposta.”

O Estudo das Escrituras e o Eterno


Aprendizado
O estudo das escrituras se trata de uma experiência sem fim de
aprendizagem. Não há uma área de estudo em que haja uma
necessidade mais óbvia do que o estudo das escrituras. Não importa
que tenhamos lido as escrituras muitas vezes, pois, ao continuar a
estudá-las, pelo poder e inspiração do Espírito Santo sempre
aprenderemos novas verdades e receberemos conselhos e
entendimento valiosos para enfrentar os desafios da vida. O
Presidente Ezra Taft Benson ensinou: “A refeição de ontem não é
suficiente para nos sustentar hoje. Tampouco é suficiente uma leitura
infrequente do [Livro de Mórmon], ‘o livro mais correto na terra,’
conforme disse Joseph Smith.”[3]
Os propósitos principais de estudar as escrituras são: adquirirmos um
entendimento do evangelho e fortalecermo-nos espiritualmente. Um
dos motivos pelos quais precisamos banquetear-nos com as palavras
de Cristo é que o entendimento do evangelho e a ilucidação espiritual,
como todo aprendizado, nos vem preceito por preceito.
O estudo das escrituras é uma forma sui generis de aprendizagem.
Requer que sejamos alfabetizados. O Rei Mosias ensinou seus filhos
“em todo o indioma de seus pais, para que assim se tornassem
homens de entendimento; e para que soubessem das profecias que
haviam sido feitas pela boca de seus pais e que lhes foram entregues
pela mão do Senhor” (Mosias 1:2).
Mosias não só ensinou seus filhos a lerem, para que fossem bem-
sucedidos no mundo, como também os ensinou a ler para que se
imergissem nas escrituras e se tornassem sábios quanto às coisas do
espírito.
As placas de latão foram preservadas e levadas à terra da promissão
a fim de que a família de Leí e seus descendentes não se
esquecessem de quem eram, “um povo escolhido,” e se lembrassem
de como deviam viver como filhos de Deus. É justamente por estes
propósitos que as escrituras foram preservadas para nós neste
momento em nossos dias.
Todavia, adquirir conhecimento por meio do estudo das escrituras
requer certos atributos e ações que não são requeridos na maioria do
cursos de estudo, a saber: um desejo sincero, fé inabalável, oração e
a vontade e obediência de seguir os sussurros do Espírito. Quase
todos os seres humanos na terra, independente de sua capacidade
intelectual, podem sentir a alegria e recompensa do eterno
aprendizado do evangelho.
O estudo das escrituras não requer anos de instrução formal para
adquirir um entendimento básico dos princípios essenciais do
evangelho. Este fato foi ilustrado por Pedro e João no livro de Atos.
Os líderes judaicos se surpreenderam. Achavam que um
conhecimento do evangelho requeria um curso de treinamento formal
e inclusivo. As escrituras nos dizem:: “Então eles, vendo a ousadia de
Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e
indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado
com Jesus” (Atos 4:13).
Pedro e João, iletrados e ignorantes aos olhos do mundo, adquiriam
um grande conhecimento do evangelho através de ouvir e obedecer
às palavras do nosso Salvador. Isto tudo pode ser realidade para
cada um de nós e para cada membro de nossa família. No estudo do
evangelho, um mestrado em teologia é muito menos valioso do que o
grau de conhecimento que podemos obter diretamente do próprio
Mestre.
Um componente crucial à aquisição de conhecimento do Salvador é
praticar os princípios que Ele nos ensinou. A fim de obtermos a maior
ilucidicação que as escrituras nos oferecem, devemos focalizar nosso
estudo nos princípios e doutrinas, em vez de nos lugares e nos
nomes. Não são, simplesmente, fatos num livro que buscamos, e sim,
entendimento que possa transformar nosso comportamento e fazer
uma grande diferença em nossa vida. Devemos encarar as escrituras
como aquilo que elas são: um manual de intruções para nos
tornarmos como o Salvador é.
O estudo contínuo das escrituras se trata de uma busca sem fim de
conhecimento e entendimento espirituais, como também do
crescimento pessoal que ocorre quando aplicamos tal conhecimento
em nossa vida. Posto que somos Santos dos Últimos Dias,
compreendemos que é importante para nosso crescimento na vida
terrena adquirir conhecimento espiritual, passar por experiências
espirituais e desenvolver nossos dons e capacidades. Além disso,
devemos desenvolver uma disposição espiritual em relação a Deus,
nosso Pai, e seu Filho, Jesus Cristo, e cultivar as qualidades de fé e
obediência que convidam o Espírito Santo para entrar em nossa vida.
Também crescemos, em termos espirituais, quando servimos nosso
próximo e cuidamos dele e do mundo ao nosso redor. Todos estes
elementos do eterno aprendizado possuem consequências eternas e
seu galardão é a essência de nossa meta nesta vida de obtermos
qualidades espirituais e realizarmos atos benevolentes. O resultado
mais importante de nosso estudo assíduo não se refletirá em notas
nem diplomas nem honras dos homens, mas em quem nós seremos.
Nossa meta é desenvolver valores morais eternos, tais como
conhecimento, esperança, fé, caridade e amor. Esta é a busca de
conhecimento mais importante para nós.
Estudarmos as escrituras nos ajuda a desenvolver e progredir
individualmente. As escrituras são adaptadas, de forma sem igual,
para o eterno aprendizado.
À medida que nossa capacidade intelectual, emocional e espiritual for
crescendo, qualificamo-nos para receber nova ilucidação das
escrituras. Quantas vezes os irmãos já pausaram e ponderam um
trecho das escrituras que antes já haviam lido muitas vezes e, de
repente, num momento revelador, uma nova consciência, um novo
entendimento lhes veio à mente e ao coração, proporcionando novo
conhecimento, conhecimento este que responde a uma pergunta,
resolve um problema ou ajuda a enfrentar um dos desafios da vida.
Isso, irmãos, é o meigo mistério do eterno aprendizado—um instante
terno de um momento bem-aventurado na vida quando se presencia
um grande passo para a frente em fé e entendimento.
É por este motivo que fazemos oração antes e depois do estudo das
escrituras. A oração antes de estudar as escrituras é para nos
preparar espiritualmente para termos momentos reveladores e
elevação espiritual. A oração depois é para dar graças por aquilo que
nos foi dado.
Jamais possuiremos conhecimento tão valioso como o conhecimento
das verdades do evangelho restaurado de Jesus Cristo. Este
conhecimento se encontra nas palavras de Deus tal qual se acham
nas escrituras, nas mensagens dos profetas vivos e no templo. Na
verdade, a investidura é o currículo eterno, pois nela se ensina de
onde viemos e por que estamos aqui; além disso, recebemos a
promessa de alcançar a vida eterna no reino celestial, se
obedecermos aos mandamentos e aos convênios que tomamos sobre
nós.

O Eterno Aprendizado—do Passado, do


Presente e do Futuro
Junto com todas as caraterísticas de que já falamos, os estudantes
que dedicam a vida ao aprendizado veem a conexão entre o que
aprendemos no passado, o que estamos aprendendo agora e o que
aprenderemos no futuro. Os estudantes assíduos aprendem de forma
cumulativa. Eles juntam tudo que aprenderam para servir e nunca
permanecerão no passado porque estão ansiosos para descobrir o
que está no futuro. Sempre estarão dispostos a aprender novos
conceitos, sendo dotados de mentes que diariamente procuram novos
conhecimentos.
Os que se dedicam ao aprendizado pela vida inteira aprendem a fazer
melhor que o melhor! Às vezes o nosso melhor não é suficiente. O
desafio de fazer mais que o nosso melhor pode parecer ilógico, mas o
progresso pessoal é isso aí! A realidade é que o nosso melhor de
hoje não nos dará sucesso no mundo de amanhã.
Por exemplo, nos jogos olímpicos de 2004, o nadador americano
Michael Phelps, de quem temos ouvido muito falar ultimamente,
venceu a medalha de bronze no 200 metros livre (masculino) no
tempo de um minuto e quarenta e cinco segundos. Há quatro anos
atrás isso representava seu melhor. Mas ele sabia que para vencer a
medalha de ouro neste evento em 2008 teria que fazer melhor do que
seu melhor, de forma que começou a treinar para alcançar a nova
meta. Milhões de pessoas tiveram a oportunidade de assistir à saga
olímpica que desdobrou quando Phelps fez melhor que seu melhor
prévio, estabelecendo um recorde de um minuto e quarenta e dois
segundos ao ganhar a medalha de ouro. Em Beijing ele bateu seu
próprio recorde por um segundo e ultrapassou por dez segundos o
recorde de Mark Spitz de 1972. Imaginem quão rápido que é! De fato,
o recorde dele é de um minuto a menos do que o tempo (dois minutos
e quarenta e dois segundos) do nadador que ganhou a medalha de
ouro neste evento nas Olimpíadas de 1904. Vejam só, hoje em dia
leva um minuto para fazer duas voltas da piscina! Os nadadores de
hoje chegam ao final duas voltas à frente do campeão de 1904. É
notável que das medalhas de ouro de 2008 que Phelps ganhou, sete
representam novos recordes mundiais, não só os recordes dele, mas
recordes mundiais. A outra medalha, a oitava, representa um recorde
olímpico. Os irmãos podem imaginar isso, fazer melhor que seu
melhor? Que exemplo para nós!
A realidade é que se não aprimorarmos a cada dia nossos esforços e
realizações, nosso melhor permanecerá no passado e não atenderá
as exingências de amanhã. O princípio de fazer melhor do que o
nosso melhor se aplica tanto às demandas temporais como espirituais
em nossa vida ao passo que preparamos, fazemos convênios e
preenchemos os requisitos da salvação eterna.
O poder e extensão do nosso aprendizado não se limita pela
capacidade de nossa mente, e sim pelas limitações artificiais que
impomos em nós mesmos e em nossa capacidade de aprender.
Devemos aumentar a capacidade de nossa mente. Pensem só nas
limitações do aprendizado antes que o computador se tornasse uma
ferramenta universal para pesquisas, aprendizagem e comunicação
pela Internet. É difícil nossos netinhos entenderem como éramos
instruídos sem o computador (ou como vivíamos sem telefone celular
e sem pizza como parte da cesta básica, a lista não tem fim).
Eu gostaria de compartilhar com os irmãos uma extraorinária
experiência pessoal ao longo de mais de trinta anos que se vincula ao
surgimento de tecnologia de informática e seus benefícios na área da
pesquisa genealógica. Na década de 1970 presenciei uma
apresentação do Élder Theodore H. Burton referente à ideia de utilizar
o computador para fazer pesquisas genealógicas e armazenar os
registors familiares. Ele ensinou e até proclamou de modo ousado
que a tecnologia de computação foi dada ao homem para acelerar o
trabalho do templo, genealogia e história familiar.
Naturalmente, ao fazer sua declaração inicial o Élder Burton
encontrou dúvidas e reservas por parte de alguns: “Os computadores
sempre serão grandes e caros demais para o uso pessoal.” “Nunca
haverá membros da Igreja suficientes que tenham acesso a
computadores.” “Tão poucos membros são capazes de operar um
computador.” “São complicados demais os detalhes, explicações e
estudos requisitos para compatibilizar os registros do templo com a
pesquisa pessoal.” Todos estes recatos pareciam razoáveis na
época, mas não levavam em conta o futuro do computador.
Hoje estamos embarcando numa nova era de tecnologia para a
pesquisa da história familiar. Em breve haverá o lançamento de um
novo sistema (já disponível na metade dos distritos templares do
mundo) que possibilitará o preparo e submissão pela Internet, desde
nossa casa, de nomes de ancestrais para receberem as ordenanças
do templo. Este novo sistema ajudará os irmãos a ver facilmente
quais são os ancestrais que precisam das ordenanças, por
procuração, do templo e possibilitará a impressão de uma página com
código de barra que se leva ao templo onde é escaneada e daí se
imprime o cartão para uso nas sessões do templo. Depois que se
fizer a ordenança, o registro completo da ordenança se tornará
disponível num site seguro dentro de vinte e quatro horas.
Agora, por que acabo de contar esta história aos irmãos, os que
estudam pela vida inteira? Tenho uma mensagem simples. Nunca
permaneçam no passado, nem tentem proteger aquilo com que já
estão acostumados contra as mudanças inevitáveis de que
precisamos para que haja avanços apropriados no futuro. Quando
Jesus disse: “Está consumado” (João 19:30) ao morrer na cruz,
tratava-se do fim de uma missão, a da expiação. Então ele iniciou
outra missão, a de ver aqueles no mundo dos espíritos para fortalecê-
los e dar-lhes esperança (vide D&C 138). Lemos em 3 Néfi de outra
missão ainda, quando Ele visitou, como ser ressuscitado, os fieis no
templo do Novo Mundo, bem-aventruando-os pela fidelidade. Em
nossa vida, como no exemplo do Salvador, o fim de uma missão
serve de introdução para iniciar novas obras. O fim de uma época dá
início a uma nova. Os que praticam o eterno aprendizado não
permanecem no passado.
O que se aprendeu no passado forma um fundamento valioso de
experiência em que podemos edificar novas experiênias, mas não é
um lugar confortável para morarmos pela vida inteira.
Às vezes chegamos a um marco no caminho e achamos que é o
destino; nestes casos sentimos exultação imediata e logo ficamos
quase deprimidos, por exemplo, quando se completa uma missão de
tempo integral ou quando a lua de mel termina. Há um momento de
realidade chocante e marcante quando se pergunta a si mesmo: “E
agora? O que é que faço agora?” Em tais circunstâncias, lembrem-se
de que o fim de uma experiência serve de alvorada de um novo dia.
Ao chegarem ao topo de uma montanha que acabam de escalar,
desfrutem o momento de satisfação do presente para contemplar a
vista maravilhosa e o progresso que se fez. Mas logo virem-se para
avistar as novas montanhas que enxergarem à distância e formulem
um novo plano para no futuro alcançar metas ainda mais elevadas.
Quando fizerem isso, veremos que a realização de um objetivo no
passado ou mais cedo ou mais tarde abrirá caminho para uma meta
mais elevada a ser atingida no futuro. Ao contemplarmos o sacrifício e
trabalho árduo requisistos para alcançar as metas do passado, vamos
reunir as forças, confiança e determinação necessárias para
conquistar novos desafios e subir para um plano mais elevado.
Permitam-me pausar e falar do fundo do coração sobre uma
experiência única de aprendizado. O verdadeiro significado do eterno
aprendizado se realiza no círculo do passado, presente e futuro e
assim progredimos ao passo que o tempo voa a uma velocidade
rápida e inevitável. O tempo não para para ninguém. De fato, uma
das poucas posses que todos nós compartilhamos é o tempo. O que
fazemos com nosso tempo determinará o grau de eterno aprendizado
e valores espirituais que levaremos para a eternidade depois desta
provação mortal.
Eu também gostaria de passar uns minutos falando de uma
experiência sem par de eterno aprendizado para as mulheres, a
da maternidade.

A Maternidade: A Oportunidade Ideal de


Eterno Aprendizado
A maternidade representa uma oportunidade ideal para o eterno
aprendizado. Os conhecimentos de uma mãe aumentam à medida
que ela educa seus filhos durante os anos de formação. Tanto ela
como os filhos aprendem e amadurecem juntos e de modo muito
acelerado, o crescimento sendo exponencial e não linear. Imaginem
só o processo de aprendizado de uma mãe ao longo da vida de seus
filhos. Cada criança acrescenta uma nova dimensão de aprendizado,
porque as necessidades variam muito de uma a outra criança e são
extensas.
Por exemplo, no processo de criar os filhos uma mãe estuda tais
matérias como: nutrição, saúde, fisiologia, psicologia, enfermagem e
pesquisa médica; ela também serve de tutora em diversas áreas de
estudo como a matemática, ciências, geografia, literatura e línguas.
Ela desenvolve os dons de música, atletismo, dança e oratória. Os
exemplos continuam sem fim. Pensem só no aprendizado espiritual
que uma mãe requer para ensinar os filhos a respeito dos princípios
do evangelho e para preparar as lições de noite familiar e das
organizações auxiliares da Igreja como a Primária, a Sociedade de
Socorro, a Organização das Moças e a Escola Dominical.
O ponto que quero esclarecer, minhas queridas irmãs (e os irmãos,
também; tomara que estejam prestando bem atenção), é que a
oportunidade de uma mãe de participar de uma vida cheia de
aprendizado é de natureza universal. Minhas queridas irmãs, nunca
desprezem seu papel de mulher ou de mãe.
É de se admirar que o mundo tenha declarado que o estado da
mulher é uma forma de escravidão que não a permite desenvolver
seus dons e talentos. Nada, absolutamente nada, pode ser mais
enganador. Não deixem que o mundo defina, diminua ou limite o
conhecimento e os valores que aprendeu como dona de casa, o
eterno aprendizado e os benefícios que proporcionaram a seus filhos
e a seu marido.
O estudo pela vida inteira é essencial à vitalidade da mente, corpo e
alma do ser humano. O eterno aprendizado revigora a mente e é uma
grande defesa contra o envelhecimento, depressão e perda de
confiança. Quando paramos de buscar novos conhecimentos, nosso
progresso cessa e a paralisação mental começa.
O progresso e melhoramento são essenciais no eterno aprendizado.
Os irmãos não vão se surpreender em saber que só existe uma meta
definitiva, a de levar uma vida fidedigna e de perdurecer até o fim,
dignos da salvação e glória eternas. Todas as outras metas e
realizações são auxiliares para nos ajudar a permanecer fieis até o
fim. Na verdade, é o plano de vida para o nosso benefício eterno tal
qual se consta nas escrituras.
O processo de aprendizado que Salomão ensinou na Bíblia Sagrada,
no livro de Provérbios, nos ajuda a entender a natureza do eterno
aprendizado. “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o
homem que adquire conhecimento” (Provérbios 3:13).
Para esclarecer mais, começamos pela inteligência básica, nosso QI,
que é uma dádiva que Deus proporciona à humanidade. “A glória de
Deus é inteligência, ou, em outras palavras, luz e verdade” (D&C
93:36).
Acrescentamos à inteligência básica o conhecimento que nos vem
pelo estudo e pela experiência.
A inteligência básica mais o conhecimento igual à sabedoria. “A
sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo
que possues na aquisição de entendimento” (Provérbios 4:7).
O mundo para ao nível de aprendizado da sabedoria, mas as
escrituras ensinam: “O Senhor, com sabedoira, fundou a terra;
com entendimento preparou os céus” (Provérbios 3:19; acrescido de
letra itálica).
A sabedoria mais os dons do Espírito Santo nos dão entendimento ao
coração. Quando possuímos entendimento e nosso coração
abrandece, “não deseja[remos] mais praticar o mal” (Alma 19:33).
Estaremos com “os olhos fitos na glória de Deus” (D&C 82:19) e
desejaremos voltar com honra à presença do Nosso Pai Celestial e
seu Filho, Jesus Cristo.
Eis um trabalho de casa vitalício para os irmãos! Ponderem e
busquem adquirir as caraterísticas de quem segue o caminho do
eterno aprendizado: coragem, fiel desejo, curiosidade, humildade,
paciência e a vontade de comunicar. São atributos morais desejáveis.
Ponderem e perguntem a si: “Qual é o significado e valor de cada um
destes atributos para mim?” “Como é que estas caraterísticas se
aplicam a mim?” “Como farei todos estes atributos parte da minha
vida?” Então, por uns minutos, ponderem estas caraterísticas e
perguntem a si mesmos o que se pode fazer para realçá-las em seu
caráter e em sua vida. Mesmo que só escolham uma delas para
procurar melhorar-se, fará uma grande diferença. No futuro a
recompensa disso será grande para os irmãos e para aqueles ao seu
redor.
Espero que possam ver o valor de revisar suas metas mais
importantes, tendo em vista a perspectiva do eterno aprendizado e do
cíclo de vida do passado, do presente e do porvir. Que sua vida seja
uma de estudo, crescendo em termos de conhecimento, inteligência e
sabedoria enquanto buscarem valores espirituais e as caraterísticas
que os abençoarão com o galardão da vida eterna.

Procurem Saber que Deus Vive


Presto-lhes meu testemunho de que Deus vive e que todos nós
podemos aprender a saber, não só acreditar, que Deus vive.
Busquem este conhecimento e ser-lhes-á concedido. Procurem saber
e ajudar o seu próximo a saber, através de seu testemunho, que
Joseph Smith foi um profeta de Deus e que nesta última dispensação
da plenitude dos tempos, foi-nos restaurado tudo que já se restaurou
à humanidade. Aprendam tudo que puderem no templos e nas
escrituras. Aprendam a conduzir sua vida de forma que possam voltar
à presença do Pai e de seu Filho. Oro que nosso desejo e meta
sejam os de nos tornarmos estudantes pela vida inteira para
podermos alcançar a meta principal, em nome de Jesus Cristo,
Amém.

Notas
[1] Brigham Young, em Journal of Discourses (London: Latter-day
Saints’ Book Depot, 1854–86), 9:292.
[2] Brigham Young, em Journal of Discourses, 12:124.
[3] Ezra Taft Benson, “A New Witness for Christ [Uma Nova
Testemunha de Cristo],” Ensign, novembro de 1984, 6–7; citando
Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints, ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City: Deseret News,
1957), 4:461.
Lições do Cordeiro de Deus

Lições do Cordeiro de Deus


Élder F. Enzio Busche

O Élder Busche é Setenta emérito. Este discurso foi proferido na


Conferência de Páscoa da BYU em 7 de abril de 2007.

Sinto-me honrado e humilde ao ser convidado para discursar


na Conferência de Páscoa da Universidade Brigham Young deste
ano. Também me sinto muito admirado perante os discursos
inspiradores e educativos que ouvimos hoje de manhã e meu
coração continua repleto das palavras que saíram da boca dos
nossos amados líderes na conferência geral da semana
passada.
Para o mundo cristão inteiro comemorar a páscoa significa
celebrar a vitória de Jesus, sim, seu triunfo louvado sobre a
morte, suas boas novas e a redenção da humanidade. Devido
ao meu serviço no primeiro quórum dos Setenta, tenho
testemunhado muitos fantásticos no desenvolvimento e no
crescimento da Igreja. E minha alegria aumenta porque o
Senhor está disposto a nos revelar como podemos ampliar
nosso conhecimento do que significa a expressão “eis aqui o
Cordeiro de Deus” (João 1:36).
Nos últimos anos tenho desfrutado de mais tempo para
entender melhor a importância de meditar e ponderar não só a
respeito da vida como também as muitas revelações que nos
vieram através da restauração do evangelho. Agora
compreendo que para entendermos melhor a voz mansa e
delicada pela qual o Senhor nos fala, temos que reconhecer que
o processo de comunicação com os Espírito leva tempo. O
resultado desta comunicação é um aumento de alegria na alma,
a felicidade que nos vem pela influência do Espírito do Senhor.
À medida que nossa ilucidação pessoal cresce, o véu que nos
separa de Deus se torna cada vez mais transparente e sentimos
ainda mais Sua luz e Seu amor que nos tiram o temor.
Desde o momento que me converti à Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias uma pergunta ficou na mente e nunca
saiu: Por que levei dois anos para abraçar of evangelho de Jesus
Cristo? Também fico pensando por que será que é tão difícil ao
povo de minha pátria e aos povos de muitos outros países do
mundo abrirem o coração à bela mensagem que Jesus tem para
todos os filhos do Pai Celestial.
Tenho aprendido que o Mestre está sempre tentando-nos
motivar a abrir os olhos para vê-lo à nossa frente tentano
comunicar-se conosco. Conforme lemos em Apocalipse 3:20:
“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e
abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele
comigo.”
Um princípio parece estar clara: Jesus tem um profundo
respeito pelo nosso arbítrio. Ele não nos força a abrir os olhos,
e sim bate à porta e espera com paciência. É nossa
responsabilidade compreender que nossa vida se baseia em
nossas próprias decisões e que temos uma escolha
fundamental: ou viver atemorizados ou viver sob a influência do
amor divino. Como dizem as escrituras, estas duas escolhas
são opostas contrárias e incompatíveis. Não podemos ter medo
e amor ao mesmo tempo. Conforme lemos no Livro de Mórmon
e no Novo Testamento: “O perfeito amor lança fora todo o
medo” (Morôni 8:16), e “O que teme não é perfeito em amor” (1
João 4:18).
Jesus, o Grande Mestre, sempre bate à porta e quando formos
sábios e afiarmos nossos sentimentos e abrirmos os olhos,
aprenderemos que Ele sempre quer comunicar-se conosco e
que sempre quer-nos dar sugestões para nos ajudar a fazer
melhores escolhas. Ao seguirmos suas sugestões, nos
encheremos de alegria, energia e até mais confiança.

A Influência do Espírito
Logo após eu me tornar membro, eu pertencia a um ramo
pequenininho da Igreja. Depois de pouco tempo fui chamado
para ser presidente do ramo. Do meu ponto de vista atual,
posso ver que naquela época eu era um pouco ingênuo, sem
muito entendimento e talvez até um pouco orgulhoso. Eu
pensava que, devido às minhas experiências no mundo de
negócios e a meu nível de educação, seria fácil transformar
aquele raminho fraco.
Passei muitas e muitas horas—às vezes todo o tempo livre de
que me dispunha fora do trabalho—para reativar muitos que
não estavam ativos e para criar um ambiente para muitas
conversões. Durante semanas após semanas eu ficava
decepcionado quando nas reuniões sacramentais os poucos
membros ativos eram os únicos a assistirem e muitas pessoas
que haviam-se comprometido não compareciam.
Certo domingo eu de novo estava profundamente desapontado.
Ao preparar-me para dar início à reunião, algo aconteceu que
se tornou um momento decisivo na minha vida. Os missionários
haviam levado um casal jovem com seu filhinho de cinco anos à
reunião. Estavam sentados no primeiro banco bem em frente de
mim. De repente o menino, que tinha a inocência que só as
criancinhas têm, falou em voz suficientemente alta para todos
na sala ouvirem: “Mãe, o que aquele cara dura está fazendo aí?”
Ele apontou para mim. Fiquei completamente chocado.
Apesar de todos os esforços e todo o meu trabalho duro e
dedicado, para aquele menino eu era apenas um homem de
cara cruel. Aprendi que eu precisava avaliar o que fazia de
outro ponto de vista e que eu nunca seria bem-sucedido se
fizesse as coisas do jeito que eu queria, mesmo utilizando
meus talentos e implanatando um plano estratégico. Eu,
obviamente, tinha-me esquecido de que o mais importante—
querer converter uma alma—não tem nada a ver com
programas, organizações e trabalho esforçado. Nada podemos
fazer sem a influência do Espírito que faz irradiar alegria, luz e
amor no nosso semblante.
Daí em diante eu me esforcei em mudar de atitude. Eu não me
ofendia mais com aqueles que não cumpriam os
compromissos. Minha esposa e nossos filhos chegaram a
entender que a única coisa de importância para nós era encher-
nos do Espírito Santo e sobrepujar o egoismo. Ao fazermos
isso, tornamo-nos livres para nos regozijar com cada pessoa
que comparecia.
Logo após esta experiência, várias pessoas que nunca haviam
assistido, começaram de repente a aparecer nas reuniões.
Houve um período de revitalização e crescimento acelerado e
depois de pouco tempo tínhamos a freqüência necessária para
contemplar a construção de nossa própria capela.
Aquele rapazinho se tornou para mim um lembrete constante
na vida, relembrando-me de que o que mais nos importa é
viver sob a influênia do Espírito Santo, sempre dominando
nossos baixos instintos, ou seja o ego, cedendo ao eu mais
elevado, ou divino para assim unir-nos à fonte divina.

Autoconsciência e Honestidade
É sempre surpreendente para mim que neste mundo escuro,
sinistro e imprevisível, onde se escondem perigos em cada
canto, tão poucas pessoas procuram ou almejam uma
compreensão melhor da vida. Com todo o sofrimento, dor,
agonia, crueldade e temor na vida humana, muitos dos nossos
concidadãos têm perdido o conhecimento da realidade de que
Jesus Cristo ressuscitou e vive e que Ele está pronto a revelar-
se a todos que escutarem, mostrando-lhes o cominho para
uma vida compensadora e feliz.
Ao refletir a respeito da minha própria conversão, confesso que
apesar dos missionários se importarem conosco de forma
simples e direta e amarem sinceramente a mim e minha família,
levou muito tempo para eu vencer o cepticismo e chegar a
andar pelo caminho assustador e solitário que poucos seguem,
mas que leva à autoconsciência e honestidade. Sem sermos
honestos não é possível a verdade penetrar nossa alma.
Para dar-lhes uma idéia do que estou falando, eu gostaria de
compartilhar com os irmãos uma carta que escrevi para o
boletim dos missionários quatro anos depois do meu batismo:
Quão despreparado estava eu para esta mensagem, levando em
conta as exigências fundamentais da mesma. Eu podia-me ver
afastado demais, com atitudes superficiais e maus hábitos. Eu
era culpado de ser preguiçoso demais para ler um livro até o
final. Parecia haver um abismo entre meu desempenho pessoal
e a visão da mensagem complexa dos missionários sobre o
qual não se podia passar. Comecei a ter pena destes moços.
Até adverti-os que para mim não havia esperança, que seria
para eles uma perda de tempo, não somente no meu caso mas
também no caso de todos os demais que eu conhecia. A idéia
de que eu teria garra suficiente para chegar a um nível aceitável
era tão sem esperança que eu nem comecei, nem tentei.
Era para mim uma grande bênção ter missionários que tinham
paciência comigo. Eram muito eficazes porque não ensinavam
com um ar de superioridade, mas ensinavam, respeitando-me e
minhas opiniões. Faziam-me convites para aprender a crescer.
Os missionários se dispunham da capacidade natural de fazer o
Espírito Santo ensinar-me porque só enxergavam o que havia
de bom em mim e não prestavam atenção às minhas fraquezas
e falhas. O missionário que por fim me batizou não se mostrava
chocado por meu orgulho e arrogância, nem as críticas
constantes que eu fazia. Quando eu finalmente lhe disse que
nunca me batizaria na Igreja, ele deu um pulo de alegria, bateu
palmas e gritou: “Que maravilhoso!”
Fiquei tão surpreso pela sua reação que lhe perguntei o que
havia de maravilhoso no fato de eu nunca me tornar membro
da Igreja. Ele se riu e disse com entusiasmo: “É justamente isso
que todos dizem antes de serem batizados.”
Não pude fazer nada senaõ perguntar-lhe: “Como é que tem
tanta certeza?” Ele me olhou com um grande sorriso e disse
com muita convicção: “Porque o senhor é um homem honesto.”
O pensamento me tocou. “Eu, um homem honesto?” Naquele
momento o Espírito Santo se tornou meu professor e um
poderoso relâmpago espiritual penetrou minha alma,
iluminando toda célula do meu corpo. Em face de meu orgulho
e arrogância eu comecei a desejar de toda a minha alma ser
digno da observação do missionário quanto à minha
honestidade. Somente através de alcançar a honestidade
verdadeira eu seria capaz de receber a coragem e confiança
que, julgava eu, me faltavam. Assim o missionário nos deu o
impulso que nos levou, minha esposa e eu, à nossa própria
conversão.
Esta experiência me proporcionou o desejo de saber mais a
respeito da fonte da mensagem. Fui guiado a mais materiais
sobre o Profeta Joseph Smith. Assombrei-me ao ler algumas de
suas declarações que me revelaram a grandeza e a veracidade
de sua visão. Sinto-me obrigado a compartilhar algumas das
palavras que me impressionaram. Cito as palavras de Joseph
Smith: “Deus não tem revelado nada a Joseph que Ele não esteja
disposto a revelar aos Doze e até ao Santo mais humilde que
pode saber destas coisas tão rápido que possa suportá-
las.” [1] Ele acrescentou: “A única forma de obter verdades e
sabedoria não é por meio de livros e sim por meio de chegar
perante Deus em oração e obter o ensino divino.” [2]
Estas declarações do Profeta Joseph Smith são únicas e cheias
de esperança e luz.

Nossa Indentidade Eterna


Ao examinar as condições em que a humanidade se encontra
hoje ou mesmo na época que eu investigava a Igreja, reconheço
que há três perguntas essenciais para a alma de todo ser
humano. Estas perguntas são tão básicas que um ser humano
não pode funcionar completamente sem ter respostas
convincentes a elas.
A primeira pergunta é: “Quem sou eu?” Responder a esta
pergunta penetra-nos de modo impressionante até encontrar
uma verdade oculta que jaz em nós há muito tempo. Sempre
sabíamos a resposta, mas nunca ousamos pensar naquele
sentido. Por quê? Porque a tradição religiosa ocidental tem–nos
ensinado que somos pecadores nas mãos de um Deus irado—
decaídos, maculados e incompetentes. Qual é a resposta a esta
pergunta, quem sou eu? A resposta é simples para os Santos
dos Últimos Dias porque esta mensagem foi-nos ensinado
desde a infância: Somos todos filhos de um Deus que nos ama.
Para mim esta foi uma das mensagens chaves de Jesus, entre
todos os seus ensinamentos diretos e indiretos. Quando
finalmente entendemos esta mensagem, temos vontade de
proclamar: “Eis aqui o Cordeiro de Deus!”
Quando se compreende o significado completo desta realidade,
é como se as mãos do céu estivessem estendidas para nos tirar
da lama e das trevas do mundo e aí começamos a enxergar a
luz. De repente não duvidamos mais de nós mesmos. As
criações de Deus são perfeitas e mesmo quando somos jovens
e imaduros, todos nós temos o potencial inato de nos
tornarmos semelhantes a Deus. É maravilhoso sabermos que
somos filhos e não meros empregados. O significado mais
profundo dessa realidade continuará a crescer dentro de nós e
conduzir-nos-á segurança de pertencer não só ao Criador mas
também a todos os outros filhos de Deus.
Conheceremos as capacidades e talentos latentes e sentiremos
o desejo de nos aproximar mais da nossa origem divina. Deus
quer assegurar que, ao procurarmos, possamos encontrar o
caminho, portanto Deus nos dá revelações, ou idéias, a respeito
de onde procurar. No Livro de Doutrina e Convênios, seção 50,
versículos 23 e 24, aprendemos o que esperar de Deus: “E
aquilo que não edifica não é de Deus e é trevas. Aquilo que é
de Deus é luz; e aquele que recebe luz e persevera em Deus
recebe mais luz; e essa luz se torna mais e mais brilhante, até o
dia perfeito.”
De acordo com o Novo Testamento, Jesus lembra aos que o
ouvem do que está escrito em suas escrituras: “Não está escrito
na vossa lei: . . . Sois deuses?” (João 10:34).

O Propósito da Vida
Quando estamos iluminados pelo reconhecimento do fato de
que somos filhos de um Deus que nos ama—uma das mais
importantes verdades restauradas pelo profeta Joseph Smith—
estamos preparados para descobrir a resposta à segunda mais
importante pergunta que todo ser humano parece ter: Qual é o
propósito da vida?
Se compreendermos quem é que realmente somos, já não
desejaremos participar da parte baixa da existência humana.
De acordo com os profetas: “O homem natural (o ego ou a
carne) é inimigo de Deus” (Mosias 3:19). Com este
entendimento compreendemos porque nascemos neste planeta,
um planeta que tem polos, ou opostos. Somente em
ciurcunstâncias de opostos é que somos capazes de exercer o
arbítrio. Esta é a única maneira de podermos realmente
aprender.
A vida e os ensinamentos do Cordeiro de Deus nos mostram a
resposta à segunda pergunta, ou seja, qual é o propósito da
vida? O propósito, conforme ensinou Jesus, se encontra no
primeiro e no segundo mandamento: “Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todo o
teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o
segundo, semelhante a este, amarás o teu próximo como a ti
mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e todos
os profetas” (Mateus 22:37-40).
Jesus obviamente está-nos ensinando que guardar estes
mandamentos não é facultativo. É a chave de uma vida bem-
sucedida, independente de onde moramos e das condições em
que nos encontramos. Estas palavras nos foram ensinadas
muitas vezes na vida e na história do cristianismo mas eu
acredito que somente quando nos focalizamos totalmente em
guardar estes dois mandamentos é que possuímos a chave de
sobrepujar o temor. O temor tem sido e continuará sendo a
maldição de nossa vida até a hora em que deixarmos nossa
alma se encher de amor divino.
Jesus o Cristo, o Cordeiro de Deus, quer assegurar que
entendamos claramente o que Ele quer dizer quando nos
manda amar. Obviamente não é o amor que os publicanos
tinham. Permitam-me citar uns versículos do livro de Mateus,
capítulo 5, a partir do versículo 38:
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer
te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe
também a capa;
E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele
duas.
Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que
lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu
inimigo.
Eu, porém vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que
vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso
Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a
chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não
fazem também os publicanos o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis mais?
Não fazem os publicanos também assim?
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está
nos céus. (Mateus 5:38-48)
Tenho a convicção que Jesus quer que encaremos o amor com
mais que olhos românticos, não só amando aqueles que nos
amam. Temos que nos lembrar de que vivemos no planeta onde
reinam os opostos. Fomos mandados a este planeta para
aprender. O aprendizado e o entendimento andam de mãos
dadas ao passarmos por oposição. Haverá um grande avanço
quando aprendermos a abraçar estes mandamentos de Jesus de
amarmos como Ele amou. O perdão é uma forma de amor e o
perdoarmos nos ajuda a compreender a expiação do Cordeiro
de Deus. Poderemos dizer com até mais reverência: “Eis o
Cordeiro de Deus.”
Quando lhe abrimos nossa porta, o Salvador talvez nos
sussurre: “Até você completamente deixar de lado todos os
pensamentos negativos e prejudiciais para com seu próximo,
não poderá se encher de fé, virtude, conhecimento, sobriedade,
paciência, santidade, bondade, irmandade e caridade. Quando
estas qualidades estiverem no lugar, você não terá mais desejos
de ser negativo ou crítico e não exprimirá pensamentos não
caridosos a seu semelhante.”
Se não levarmos a sério o convite do Senhor Jesus Cristo de
aprender a amar como Ele amou, será dificílimo, talvez para
todos nós, nos encher deste amor. No entanto, quando
confiarmos em Jesus e virmos nele o mensageiro de Deus que
nos trouxe as chaves dos mistérios da divindade, poderemos
receber a visão de como trazer paz à Terra, boa vontade para
com os homens, como proclamaram os anjos quando do
nascimento do Cordeiro de Deus. Não me surpreenderia se a fé
e confiança em Cristo fossem os mesmos princípios requeridos
para subjugar a natureza e assim acalmar o coração de muitos.
O Cordeiro de Deus está inseparávelmente vinculado ao amor,
como aprendeu Néfi: “E disse-me o anjo: Eis o Cordeiro de
Deus, sim, o Filho do Pai Eterno! Sabes tu o significado da
árvore que teu pai viu? E respondi-lhe, dizendo: Sim, é o amor
de Deus, que se derrama no coração dos filhos dos homens; é,
portanto, a mais desejável de todas as coisas” (1 Néfi 11:21-
22).
Quando amamos da mesma forma que o Salvador nos amou,
tornamo-nos recebedores do fruto da árvore divina, o qual é
sobretudo o mais desejável das coisas. É a partir daí que
poderemos responder à segunda pergunta e entender o
propósito de nossa vida.
Nos anos em que servi ao Senhor, tive a oportunidade de me
reunir coletiva e individualmente com muitos membros. Eu
sempre ficava perplexo ao descobrir quantas pessoas tinham
medo de Deus em vez de amá-lo. A única explicação que
encontrei foi que estes não conheciam a Deus. Quando
conhecemos Deus, somos iluminados com amor e luz, e nossa
alma arde com o desejo de levantar a voz e dar louvores a seu
nome.
Num discurso recente sobre este assunto aos membros da
minha própria ala, de repente ouvi-me dizer, sob a influência
do Espírito: “Sabem de onde vem o medo e como ele pode
cravar-se no íntimo de pessoas que levaram vidas cheias de
bondade e integridade?” Mencionei que na nossa existência
pré-mortal quando vivíamos com Deus, fomos criados num
lugar de perfeição; éramos puros, cheios de alegria, retidão e o
desejo de obter tudo que era de bom. Na nossa experiência
mortal, porém, estamos vinculados à matéria deste mundo;
tornamo-nos homens naturais que, conforme os profetas, são
os inimigos de Deus.
Entrarmos em contato com a matéria terrena—a carne humana
com o espírito divino—é como derramar tinta em água pura. De
súbito, a água clara se torna escura e feia. Nós sentimos o
escuridão na subconsciência e sentimo-nos culpados. Estes
sentimentos de indignidade surgem da intuição de que nada
imundo poderá entrar na presença de Deus. Este é justamente
um dos motivos do Salvador vir à Terra—purificar-nos através
de seu sacrifício expiatório. Quando entendemos isso, nossa
gratidão a Ele cresce e enchemo-nos de amor a ele e ao nosso
próximo.
Quando eu era um membro novo na Alemanha, fui designado
mestre familiar de uma mulher recém batizada. Eu sabia que
ela havia sido batizada sem o marido que, conforme me
informaram, era alcoólatra. Aquela irmã me advertiu que não
fosse a sua casa enquanto ele estava, pois ele ficaria muito
violento. Ao visitá-la assiduamente, ela se queixava mais e
mais do marido. Com toda a nossa compaixão por ela,
queríamos que ela crescesse e que não fosse mais vítima mas
que controlasse seu próprio destino.
Certo dia perguntamos-lhe se ela podia pensar em algo
positivo acerca do marido. De início ela se irritou conosco. Ela
tentou convencer-nos de que não havia nada de positivo e seu
respeito e que era malvado. Ela nos disse que só ficava com ele
por causa da dependência financeira. Continuamos a pedir-lhe
repetidas vezes que pensasse mais a fundo. Por fim ela sorriu e
nos citou uma coisa positiva. Perguntamos-lhe se havia algo
mais e ela conseguiu relacionar dez atributos positivos.
Perguntei-lhe qual foi a última vez que dissera a seu marido
que o amava. Ela me perguntou como se podia amar alguém tal
qual seu marido! Eu disse que não havia perguntado se ela o
amava, simplesmente qual foi a última vez que tinha-lhe dito
que o amava. Ela disse que fazia quinze anos. Senti-me
inspirado a fazer outra pergunta: “Irmã, a senhora poderia-nos
fazer um favor? A próxima vez que a irmã estiver com ele e ele
estiver sóbrio, poderá contar-lhe uma das coisas positivas que
encontra nele?” Outra vez ela queria rebelar mas por fim
concordou em fazer uma tentativa.
No próximo domingo cheguei cedo à Igreja e vi-a subir a
escada muito sorridente e irradiando felicidade. Ela estava de
vestido novo e parecia dez anos mais jovem. Quando me viu,
ela disse:
Irmão Busche, há algo que preciso dizer-lhe. Na sexta-feira
passada ele estava em casa e até sóbrio. Entrei a cozinha e lá
estava ele fazendo um sanduíche. Ao contemplá-lo vi seu rosto
extremamente triste. Vi como ele tinha dificuldades com suas
mãos trêmulas e senti compaixão para com ele. Senti-me
inspirada a elogiá-lo com uma das coisas daquela lista de dez
itens. Ele reagiu como se fosse chicoteado. Voltou seu
semblante temeroso para mim e viu a sinceridade nos meus
olhos.
Daí aconteceu o milagre. Ele começou a chorar como uma
crinacinha. Disse que não merecia o elogio. Ele se acusou de
todo que eu antes havia alegado. Disse que ele não era bom,
que era terrível e não digno de ser meu marido. Ele caiu de
joelhos perante mim e chorou. Afinal, perguntou-me se eu
poderia perdoá-lo e se eu estava disposta a ajudá-lo a não
beber mais para que ele pudesse voltar a ser o homem com
quem eu tinha-me casado.
Ela disse que se abraçaram, os dois de lágrimas e cheios de
alegria. Passaram juntos a mais linda noite havia anos. No dia
anterior ele havia-lhe comprado um novo vestido e outras
coisas de que precisava. Sobretudo, levou-a à Igreja e disse que
iria buscá-la no fim das reuniões, assim poupando-lhe duas
horas, no mínimo, de viagem.
Não podem imaginar quanta alegria que senti ao ver o reino
crescer. Isso não ocorreu por causa dos programas e deveres
de organizações e sim porque um coração foi tranformado de
severidade ao amor, sob a influência do Espírito. Aconteceu a
uma mulher que veio a compreender o que significava ser uma
filha de Deus e conhecer o núcleo divino de seu ser. Ela
continuou a prodgredir com a resolução de criar seu destino
sob a influência do Espírito e a orientação do Senhor.

Nosso Galardaõ Eterno


Nada é impossível àqueles que crêem em Jesus Cristo, pois
Cristo veio para nos tirar o véu de esquecimento da nossa alma
e levar ao nosso ententimento o conhecimento de quem somos
e do que é o propósito da vida. Quando soubermos estes dois
fatos, verdadeiramente contemplaremos o Cordeio de Deus e
acharemos a resposta à terceira pergunta: O que nos
acontecerá depois desta vida?
Quando soubermos que somos filhos de um Pai Celestial que
nos ama, e quando aprendermos a viver sob a influência da luz
e do amor de Deus, não precisaremos duvidar do que será de
nós depois da vida mortal. Abrir-se-á o véu e saberemos que
tudo estará bem. De fato, o Apóstolo Paulo revelou: “As coisas
que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao
coração do homem, são as que Deus preparou para os que o
amam” (1 Coríntios 2:9).
Sinto-me humilde e assombrado em falar-lhes deste assunto
sagrado, nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Sei que Ele vive.
Sou uma testemunha vivente do fato dele estar vivo em todas
as células e em todas as fibras do meu ser. Sinto a alegria e
vivacidade deste conhecimento.

Notas

[1] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith


(Ensinamentos do Profeta Joseph Smith) compilado por Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 149.
[2] The Words of Joseph Smith (As Palavras de Joseph Smith),
redação de Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook (Provo, UT:
Religious Studies Center, Brigham Young University, 1980), 77.
Noivar-se ou Empenhar-se? Eis a Questão

Noivar-se ou Empenhar-se? Eis a Questão


Kathy Kipp Clayton

Kathy Kipp Clayton (kathykippclayton@yahoo.com) é membro da


junta de consultores do Religious Studies Center [Centro de Estudos
Religiosos da BYU].
[Nota do tradutor: Neste artigo se emprega um trocadilho da língua
inglesa: A palavra engage que pode significar ou noivar-se ou
empenhar-se num trabalho (dedicar-se com afinco a uma tarefa). A
Universidade Brigham Young, além de proporcionar uma excelente
educação, propociona uma rica vida social através das muitas
atividades extracurriculares e a interação na Igreja e por isso tem a
fama de ser uma espécie de “santo casamenteiro” devido ao fato de
muitos jovens encontrarem seu futuro cônjuge na universidade.]

Não fui criada num lar em que havia o evangelho, mas devido a
minha professora da Organização das Moças recebi um testemunho
pessoal da realidade do amor que o Salvador tem para mim. Minha
professora não morava dentro dos limites de minha ala e eu nunca
assisti a uma de sua aulas formais, mas mesmo assim foi minha
professora. Esta professora discursava em seguida nas alas da
região e ela sempre me convidava para ser um de seus recursos
visuais. Depois que ela acabava de dar instruções importantes para a
congregação, convidava-me para cantar “Eu Sei que Vive Meu
Senhor” para ilustrar os princípios que acabava de ensinar. Eu me
sentia honrada com tal convite e sempre procurava cantar de todo o
coração para agradar a meu mentor, mas algo bem mais importante
aconteceu durante este processo. Ao cantar a letra, eu cheguei a
saber, mas saber mesmo, que o que eu cantava era verdade. Eu
sabia que ele realmente vivia e me amava até o final. Eu sabia que
ele realmente era meu amigo celestial “bondoso e sábio.” [1] Eu sabia
que ao esforçar-me para cantar a contento, conforme o talento jovem
que eu tinha, o poder do céu havia gravado no meu âmago a
realidade das coisas de que eu cantava.
Naquele ano na orientação para os novos estudantes da BYU, um
apresentador muito animado começou por dizer aos calouros que
havia muitos mitos na BYU. Ela nos garantiu que alguns deles eram
verdídicos, inclusive o fato de muitos estudantes se engage [Nesta
altura todos pensavam que ela queria dizer noivarem-se]. “De fato,”
ela prosseguia, “Já me ‘noivei’ muitas vezes. Minha meta é a de
‘noivar-me’ pelo menos cinco vezes ao semestre.” Os calouros
estavam de olhos esbugalhados e rindo. Ela continuou: “Sugiro que
vocês liguem aos pais logo no fim do semestre, ou até no fim desta
aula, para dizer-lhes que vocês estão engaged [noivos ou
empenhados?].” Esta palestra não se tratava de casamento e sim de
dedicação ao aprendizado. Meu papel de recurso visual não era
fundamental para o sucesso das apresentações da minha professora,
porém empenhar-me em aprender era fundamental para que o
coração me fosse transformado.
O objetivo do envolvimento do estudante pode ser ilustrado por uma
lição sobre uma maçã. Um professor que quer que seus alunos
aprendam sobre a maçã pode simplesmente ficar diante deles e
oferecer uma apresentação bem-pesquisada e cuidadosamente
preparada para documentar as características de uma maçã.
Provavelmente, os alunos sairão da aula com mais informações do
que antes tinham. Ele também pode mostrar uma imagem de uma
maçã. Os alunos certamente aprenderão ainda mais por terem se
envolvido visualmente com o assunto. O professor pode aumentar
mais a conexão sensorial por levar uma maçã real para a aula para
os alunos verem, sentirem, cheirarem e apalparem. Mas a melhor
abordagem de todas para o professor que espera fazer uma
impressão duradoura em seus alunos poderá levar para a classe
vários tipos diferentes de maçãs e deixar os alunos provarem as
maçãs. Esses estudantes totalmente envolvidos sairão da sala de
aula sabendo do assunto pessoalmente porque tinham sido
convidados a conhecer o assunto pessolamente.
As pesquisas psicológicas mostram que as pessoas tendem a
aprender a pensar depois de fazer, ao invés de pensar para poder
fazer. Ou seja, se sorrirmos, seremos mais felizes; se assobiarmos
uma música alegre, teremos menos medo e se contarmos as
bênçãos, sentiremos mais gratidão. Ou, conforme ensinou o Profeta
Joseph Smith: “A fé é um princípio de ação.” [2]Receberemos um
testemunho da verdade e cresceremos na fé à medida que vivermos
o evangelho. Aprender e aperfeiçoar-se ocorrem de forma melhor
quando fazemos as coisas, porque “se alguém quiser fazer a vontade
dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo
de mim mesmo” (João 7:17). Eu cantava “Eu Sei que Vive Meu
Senhor” e ao cantar aquelas palavras, sua veracidade se tornou meu
testemunho pessoal. A mensagem se tornou minha própria
mensagem a partir do momento em que eu fiz algo com ela. O ato de
eu fazer concedeu ao Espírito a oportunidade de selá-la no coração e
ajudou-me a saber e recordar.
Um professor atencioso que incentivou o empenho do aluno
compreendia a diferença entre o impacto passivo e ativo na sala de
aula. Ela planejou suas aulas para serem mais ateliês de trabalhos
práticos do que simples apresentações do professor. Para seus
alunos de onze anos de idade conhecerem o sacerdócio, ao invés de
dar lições aos jovens inquietos sobre os direitos e a importância da
ordenação que estavam prestes a receber, ela acompanhou-os a uma
pia batismal vazia e convidou-os para entrar lá dentro e ler as
escrituras que contêm o convênio batismal. Juntos, eles refletiram nos
detalhes de seu próprio batismo. De lá, este grupo empenhado foi à
mesa do sacramento, onde leram e discutiram as escrituras
relevantes ao sacramento, incluindo a oração sacramental. Eles
caminharam até o escritório do bispo, onde cada um obteve um
formulário de doação e começou a preenchê-lo. Eles discutiram
juntos a importância dessas doações e como elas são usadas para
ajudar os necessitados. Concluíram a atividade na presença de dois
missionários que compartilharam histórias de experiências espirituais
provenientes de seu serviço missionário. Aos alunos de onze anos de
idade foi permitido fazerem perguntas, bem como examinar a agenda
dos Élderes, o manual de Pregar Meu Evangelho e os crachás. Ao
final da aula participativa, aqueles jovens entenderam mais
profundamente e pessoalmente o sacerdócio porque tinham estado
em locais e visto práticas relativos ao sacerdócio de uma forma activa
e multisensorial.
Jogos interativos também podem ser meios eficazes e gratificantes de
envolver o aluno no aprendizado. Os escoteiros-mirins tem um ditado:
“Não compliquem as coisas e divirtam-se.” Não deixa de ser uma
diretriz valiosa. The Big Book of Team Building Games [O Grande
Livro de Jogos para Unificar o Time] de John Newstrom e Edward
Scannell sugere que jogos bem-pensados na sala de aula podem ser
úteis em esclarecer e fazer memoráveis certos ensinamentos,
aumentar a moral, incentivar a confiança mútua entre os membros da
classe ao compartilharem entendimento e desenvolverem soluções
em comum, promover flexibilidade e reforçar um comportamneto
apropriado no que diz respeito a cooperar, prestar atenção e pensar
de forma criativa. Os jogos também são econômicos, participativos e
de pouco risco. Certo professor descobriu num dos primeiros dias de
aula de seminário de manhã cedo que o jogo “Conhecê-los,” uma
forma de bingo, ajudou a integrar e estabelecer um vínculo entre
estudantes de cinco colégios diferentes. Devido a esta aproximação,
dois alunos, uma moça e um rapaz surdo de colégios diferentes que
estavam habilitados em mergulho, se tornaram amigos. Através do
jogo souberam que tinham algo em comum em vez de encararem-se
como sendo diferentes.
Num acampamento da Organização das Moças de certa estaca, as
moças de cinco alas diferentes se uniram numa colaboração
brincalhona em que tinham que trabalhar juntas para desatarem a nó
humana em que se achavam emaranhadas. Elas conversaram e
fizeram estratégias e então baixaram, subiram e se entorteceram num
esforço pouco perigoso de formar um círculo simples. Ao fazê-lo
aprenderam lições importantes sobre a cooperação, comunicação,
tentativa e erro, e perseverança. Também aprenderam a apreciar os
vários talentos e conhecimentos de moças que ainda não conheciam.
Aquele jogo simples, sem custo nenhum, proporcionou uma maneira
interativa, divertida e rápida de promover amizadade entre as moças
sem terem que passar por uma palestra enfadonha e severa sobre o
assunto.
Embora os jogos tenham uma utilidade ampla e atraente, é
importante lembrarmo-nos de vários perigos potenciais: Estejam bem
preparados com todos os acessórios necessários, controlem o tempo
cuidadosamente, escolham os jogos que possam avançar e fortalecer
a aprendizagem sem se tornarem um objetivo em si mesmos e evitem
imagens exageradas que possam ser perturbadoras e desviar os
alunos de temas sagrados. Por exemplo, de vez em quando, os
líderes convidam os jovens para preparar esquetes extemporâneos,
usando temas do evangelho. Quando os jovens respondem com
apresentações bobas sobre assuntos sagrados, como a moralidade
ou a oração, as sátiras podem rapidamente tornar-se irreverentes.
A aprendizagem envolvente serve bem para atingir os alunos de
atenção curta. Uma nova professora muito capaz, porém muito
frustrada, da Escola Dominical saiu no primeiro domingo de sua
classe nova de adolescentes animados pronta para fazer uma
entrevista com o bispo para pedir sua demissão. Apesar da ampla
preparação da professora, aqueles jovens agitados tinham perdido a
atenção em poucos minutos depois do início da apresentação da
professora. Ansiosa para se redimir, aquela professora fiel voltou na
próxima semana com uma nova estratégia. Ela preparou sua lição em
três segmentos de dez minutos cada intitulados “introdução,
exposição e aplicação.” A seção de “introdução” consistia em uma
atividade para chamar a atenção dos alunos, sendo uma atividade
que poderia ser até tão simples como um desenho, um objeto, uma
pergunta instigadora ou uma provinha. Na seção de “exposição” os
alunos passavam da fase inicial de captar sua atenção para os
conceitos que ela pretendia ensinar. Essa seção pode incluir a leitura
de escrituras cuidadosamente selecionadas, uma narração ou uma
apresentação bem compreensível de um ponto doutrinário. A seção
final, “aplicação,” incluia a resposta à velha pergunta tão importante
para os adolescentes: “E daí?” Durante esse segmento, a professora
ajudava os alunos a aplicar o princípio a sua própria vida. Às vezes
ela começava esse processo importante através da partilha de uma
história de sua vida pessoal. De vez em quando ela jogava um pufe e
perguntava ao aluno que o apanhou: “E daí?” Ela sempre fazia
perguntas cuidadosamente preparadas, não ameaçadoras e abertas
para estimular o pensamento e a aplicação pessoal. No decorrer de
uma aula de trinta minutos, a professora geralmente fazia o ciclo de
“introduçao, exposição e aplicação” até três vezes.
Numa comunidade de alunos empenhados incluem-se festas de
celebração um do outro, celebração do assunto, e celebração da
própria aprendizagem. Infelizmente muitas vezes nós separamos o
trabalho do lazer como se fossem mutuamente excludentes, quando
na realidade o trabalho envolvente se trata de uma das formas de
aprendizado mais satisfatórias e divertidas. Em seu livro Happier
[Mais Feliz], Tal Ben-Shahar sugere que um professor habilidoso
pode “criar ambientes em casa e na escola que conduzem à alegria,
ao significado e às experiências benéficas do presente e do
futuro.” [3] Especialmente quando se entra no estudo sério do
evangelho, a essência do qual se chama, apropriadamente, “o plano
de felicidade,” os alunos devem encontrar felicidade, satisfação e até
diversão.
Um saudoso professor brilhante e divertido de seminário de manhã
cedo organizou nas aulas um programa de prêmios anuais
“Vovozinha” que se realizava toda primavera e que se assemelhava
aos prêmios “Grammy (palavra inglesa parecida com granny
[vovozinha]).” Durante vários meses antes da festa, ela servia a sua
família panquecas e waffles diariamente, sufocando os com o tal
xarope Mrs. Butterworth’s [uma marca norteamericana de xarope que
vem em vazilhas em forma de uma vovozinha], guardando as
garrafas plásticas vazias para pintá-las com tinta dourada e usá-las
como prêmios na festa do seminário. Os estudantes nomeavam
personagens da obra-padrão que vinham estudando ao longo do ano
e então apresentavam para a classe suas razões por que o
personagem bíblico merecia ser premiado com o “Vovozinha” para
“melhor atriz/ator”, ou “melhor coadjuvante”, ou porque tal história
bíblica merecia o prémio de “melhor roteiro” ou “melhor história.” A
classe votava para identificar os vencedores, após o qual o aluno que
fez a nomeação aceitava o frasco de xarope de ouro. A celebração
anual servia de revisão, envolvia os alunos inquietos e promovia uma
comunidade de aprendizagem envolvente.
A aprendizagem activa também atende às necessidades de alunos
com diferentes estilos de aprendizagem. Como alguém que aprende
do lado esquerdo do cérebro e que é um clássico pensador linear, eu
gosto de palestras e encontro prazer em planilhas. A escolaridade
tradicional com sua rigidez é perfeita para mim. Mesas em linhas
puras e pastas com divisões para cada máteria me agradam. Cada
vez mais, no entanto, nossas salas de aula estão repletas de alunos
que aprendem de forma diferente. Esforços para envolver os alunos
com estratégias criativas e diversificadas são essenciais para os
alunos não-lineares e para refrescar o resto.
Um judeu convertido à Igreja encantou seus alunos, proporcionando-
lhes uma autêntica festa de Páscoa para familiarizá-los com os
símbolos desse evento. Os alunos tiveram uma experiência
multisensorial com ervas amargas que lhes permitiram compreender
e literalmente sentir o gosto da amargura.
Outro professor recorreu para o estilo de aprendizagem de sua
classe, criando rimas simples e frases musicais de cada um dos
versículos bíblicos a serem decorados. Os alunos sempre saberão
onde encontrar a história de José, fugindo da tentação. Quem poderia
esquecer “Gênesis 39 lembrar, a mente suja da mulher de Potifar”?
Os estudantes que aprendem através de atividade física se alegraram
na aula de seminário quando o professor os convidou para chegar ao
quadro em grupos de seis até que todos tiveram sua vez. Depois de
ter lido uma passagem bíblica, pediu-se-lhes que escrevessem uma
única palavra ou frase em resposta a uma pergunta como: “Que
qualidade você admira em tal personagem?” ou “Qual é o tema mais
importante desta passagem?” ou “ O que você mais admira no seu
pai / mãe / bispo?” Quando todo o quadro ficou preenchido, a classe
leu e discutiu os resultados de seus esforços em conjunto.
Um inesquecível professor da Escola Dominical se estendeu para
além dos limites normais de uma apresentação formal, fazendo
atividades criativas e imprevisíveis de “introdução.” Por exemplo, para
familiarizar a classe com os elementos do sonho de Daniel, ele trouxe
para a sala da Sociedade de Socorro um modelo grande de plástico
do gigante dos pneus Michelin com todas as partes daquele corpo
inchado marcadas com pincel para representar os vários reinos que
seriam destruídos pela pedra cortada da montanha sem mãos. Em
outro domingo, a classe começou quando um homem tocando música
ruidosa começou a marchar pelo corredor tocando muito alto uma
música estridente no seu instrumento irritante. O professor envolveu o
músico em uma entrevista em que soube que este estava para pagar
o dízimo e queria ter certeza de receber o crédito e devidos elogios
por sua boa ação. Depois da atividade de “intrudução envolvente,” o
professor voltou para a classe e entrou na parte de “exposição,” uma
palestra baseada no livro de Mateus a respeito de não dar esmolas
“para serem vistos pelos homens.”
Csikszentmihalyi, em seu livro Finding Flow: The Psychology of
Engagement with Everyday Life [Achar Fluxo: a psicologia de
envolvimento com a vida cotidiana], escreveu: “Nem os pais nem as
escolas são muito eficazes em ensinar os jovens a encontrar prazer
nas coisas certas. Os adultos, eles próprios muitas vezes iludidos
pela paixão por modelos fátuos, conspiram no engano. Eles fazem as
tarefas sérias parecerem chatas e difíceis, e o frívolo emocionante e
fácil. As escolas geralmente não ensinam quão emocionante,
fascinante e bonita a ciência ou a matemática podem ser; eles
ensinam só a rotina da literatura ou da história e não a aventura.” [4]
Quão fascinante e bonito é o evangelho em comparação com a
ciência e a matemática! Com um empenho criativo os alunos podem
saborear os frutos de um aprendizado ativo, e às vezes até uma fruta
mesmo. A fé é um princípio de ação. À medida que os professores
facilitarem um envolvimento autêntico e ativo para os alunos, estes
descobrirão que a aprendizagem é tão gostosa como uma maçã
madura, tão saudosa como uma canção preferida e tão pessoal como
uma visita à pia batismal. Através de seu comportamento chegarão a
entender e daí terão a felicidade de empenharem-se muitas vezes
mais.

Notas
[1] “I Know That My Redeemer Lives [Eu Sei que Vive Meu Senhor],”
Hymns (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day
Saints, 1985), no. 136.
[2] Joseph Smith, Lectures on Faith: Delivered to the School of the
Prophets in Kirtland, Ohio, 1834–35 (Salt Lake City: Deseret Book,
1985), 1:9.
[3] Tal Ben-Shahar, Happier (New York: McGraw-Hill, 2007), 86.
[4] Mihaly Csikszentmihalyi, quoted in Ben-Shahar, Happier, 94.
O Arbítrio e a Liberdade
Traduzido de Dallin H. Oaks, "Agency and Freedom" in A Book
of Mormon Treasury: Gospel Insights from General Authorities
and Religious Educators (Provo and Salt Lake City: Religious
Studies Center and Deseret Book, 2003), 32-46.

O Arbítrio e a Liberdade

Élder Dallin H. Oaks

O Élder Oaks É Membro do Quórum dos Doze Apóstolos

O segundo livro de Néfi, o foco desta conferência, dá-nos


algumas das percepções doutrinárias mais importantes acerca
do significado do arbítrio no plano do evangelho. Decidi,
portanto, falar a respeito do arbítrio e a liberdade.
Nas escrituras os termos são arbítrio e livre. Quando nos
referimos ao arbítrio, às vezes combinamos as duas palavras e
dizemos livre arbítrio. Por vezes usamos esta locução para
denominar tanto a liberdade como o arbítrio. Até nas escrituras
às vezes livre pode significar arbítrio e outras vezes: liberdade.
Dada esta confusão, preciso definir os vocábulos que
empregarei. Quando digo arbítrio, refiro-me ao exercício da
vontade, o poder de escolher. Quando digo liberdade, quero
dizer o poder e privilégio de fazer nossas próprias escolhas.
Isto inclui tudo desde os pensamentos, como ódio, até as
ações, como correr.
Na primeira parte desta mensagem palestrarei acerca da
doutrina da Igreja. Na segunda parte descreverei a aplicação de
tal doutrina.

I. Doutrina
A irmã Oaks é quem melhor me critica. Ele me diz que quando
falo de doutrina meus discursos são muito tediosos, melhores
para ler do que ouvir. Talvez ajude se eu fizer um esboço dos
noves conceitos, baseados nas escrituras, de que falarei:
1. Antes do mundo existir, existíamos na presença de Deus.
2. O arbítrio é um dom de Deus.
3. Tínhamos arbítrio na existência pré-mortal.
4. Lá Satanás apresentou um plano que nos teria negado o
arbítrio.
5. Quando Deus rejeitou o plano de Satanás, Satanás e aqueles
que o seguiam rebelaram e foram expulsos do céu.
6. Seguindo o plano de Deus, Adão e Eva fizeram a escolha que
causou a Queda, assim sujeitando a humanidade à mortalidade
e ao pecado deste mundo.
7. Estamos aqui para sermos provados e isso não pode
acontecer sem oposição em todas as coisas.
8. Para proporcionar tal oposição, permite-se a Satanás que
nos tente persuadir a exercer nosso arbítrio para escolher o
mal.
9. Se escolhermos o mal e não nos arrependermos, por fim
poderemos tornar-nos cativos de Satanás.
Para apreciar o significado do conhecimento complementar do
evangelho que foi restaurado nesta dispensação, notem
quantas verdades essenciais do evangelho são ou reveladas ou
ilucidadas no Livro de Mórmon, especialmente em 2 Néfi, e em
Doutrina e Convênios e na Pérola de Grande Valor.
1. Antes da criação do mundo, existíamos na presença de Deus
(vide D&C 93:29). Abraão viu que Deus estava no meio destes
espíritos e escolheu alguns deles para serem seus governantes
(vide Abraão 3:23). Não sabemos muito da existência pré-
mortal. As escrituras se referem às vezes a “inteligências” pré-
existentes e às vezes a “espíritos” pré-existentes (vide Moisés
6:36; Abraão 3:18-23; 5:7; D&C 93:29-33). Para os fins deste
discurso não será necessário distinguir entre os dois. O
importante é saber que na existência pré-mortal tínhamos uma
identidade distinta e vivíamos na presença de Deus.
2. O arbítrio, o poder de escolha, é um dom de Deus. Como
consta em 2 Néfi 2:16, “O Senhor Deus concedeu, portanto, que
o homem agisse por si mesmo.” E ainda, “Animai-vos, portanto,
e lembrai-vos de que sois livres para agir por vós mesmos-para
escolher o caminho da morte eterna ou o caminho da vida
eterna” (2 Néfi 10:23). E na revelação moderna o Senhor disse:
“Eis que lhe permiti que fosse seu próprio árbitro” (D&C 29:35).
O Profeta Joseph Smith descreveu o arbitrio como sendo “a livre
independência da mente que os céus graciosamente
concederam à família humana como um de seus dons mais
especiais.” [1] A palavra “livre” também é utilizada para
descrever o arbítrio num hino que os Santos dos últimos Dias
têm cantado desde a publicação do primeiro hinário em 1835:
A alma é livre para agir
E seu destino decidir;
Suprema lei deixou-nos Deus:
Não forçará os filhos seus.
Apenas faz-nos escolher
O bem ou mal neste viver;
Conselhos dá-nos com amor,
Cuidado, graças e favor. [2]
3. Tínhamos o arbítrio na existência pré-mortal. É evidente pelo
fato de que mais de um plano foi apresentado no Conselho nos
Céus e que um terço da hoste celestial optou por seguir
Satanás e rebelar contra o Pai. [3]
4. O plano de Satanás, apresentado na existência pré-mortal,
ter-nos-ia tirado o arbítrio. Durante o chamado Conselho nos
Céus, o Pai nos explicou as condições do próximo passo no
progresso de seus filhos espirituais. Precisavam receber um
corpo mortal e era necessário que Deus “os provasse para ver
se iriam fazer todas as coisas que o Senhor Deus lhes
ordenasse” (Abraão 3:25).
Satanás chegou perante Deus com esta proposta: “Eis-me aqui,
envia-me; serei teu filho e redimirei a humanidade toda, de
modo que nenhuma alma se perca; e sem dúvida eu o farei;
portanto dá-me tua honra” (Moisés 4:1). Mas o Filho Amado,
nosso Salvador, que foi “escolhido desde o princípio” (Moisés
4:2), disse ao Pai: “Eis-me aqui, envia-me” (Abraão 3:27) e “Pai,
faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre” (Moisés
4:2).
No livro de Moisés, Deus descreve o esforço de Satanás:
“Portanto, por ter Satanás se rebelado contra mim e procurado
destruir o arbítrio do homem, o qual eu, o Senhor Deus, lhe
dera; e também por querer que eu lhe desse meu próprio
poder, fiz com que ele fosse expulso pelo poder do meu
Unigênito;
“E ele tornou-se Satanás, sim, o próprio diabo, o pai de todas
as mentiras, para enganar e cegar os homens e levá-los cativos
segundo sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos a
minha voz” (Moisés 4:3-4).
O método de Satanás de assegurar que “nenhuma alma se
perca” (Moisés 4:1) “destruiria o arbítrio do homem” (Moisés
4:3). Conforme seu plano, Satanás seria nosso mestre e nos
teria levado “cativos de sua vontade” (Moisés 4:4). Sem o poder
de escolher, teríamos sido meros robôs ou bonecos de engonço
nas suas mãos.
5. Quando Deus rejeitou o plano de Satanás, Satanás e seus
seguidores rebelaram e foram expulsos dos céus. A contenda
que as escrituras chamam “guerra no céu” (Apocalipse 12:7) se
trata das tentativas de Satanás de usurpar o poder de Deus e
destruir o arbítrio dos filhos de Deus. Um terço da hoste do céu
exerceu seu arbítrio em seguir a Satanás. A Bíblia descreve isso
em referências ocultas ao esforço de Satanás de exaltar-se e à
guerra em que o dragão e seus adeptos foram expulsos dos
céus (vide Isaías 14:12-15; Apocalipse 12:7-9; Abraão 3:28). O
evento está mais bem explicado na revelação moderna.
“E aconteceu que Adão, sendo tentado pelo diabo-pois eis que
o diabo existiu antes de Adão, pois rebelou-se contra mim,
dizendo: Dá-me a tua honra, a qual é o meu poder; e também
uma terça parte das hostes do céu ele afastou de mim por
causa do arbítrio que possuíam;
“E eles foram lançados abaixo e assim surgiram o diabo e seus
anjos” (D&C 29:36-37; vide também D&C 76:25-26).
No seu grande poema “Imanuel-um Idílio de Natal,” o élder
Orson F. Whitney descreve este evento no conselho dos Deuses
quando “O destino dos mundos não nascidos pendurava
trêmulo na balança.” Um se levantou:
Eis um ser de graça e poder,
Obediente a seu Senhor.
O sol não pôde exceder
Sua luz e seu esplendor,
Seus cabelos da cor da neve
Como a de geada alpina.
Este falou, ora solene,
Houve calma repentina:
“Pai”-a voz do filho sussurra,
Mas clara e bem proferida
Como água de fonte pura
Refrigerando-lhes a vida-
“Ó Pai! Já que um tem que morrer,
Sim, para teus filhos resgatar
Quando na Terra forem viver
Aqueles que tu fores criar
E o arcanjo Miguel cair
Para que existamos, por fim,
Tu mandarás um Salvador.
Eis-me aqui, envia a mim!”
Não te peço nenhum galardão,
Senão aquilo que me ordenas:
Cabe a mim a expiação,
A ti as glórias sempiternas!”
Cessou, se sentou. Subiu outro,
Assim de um aspecto infernal,
De cabeça ereta como
Montanha acima do temporal.
Tão formoso e tão brilhante,
De olhos a dardejar fogo,
De sorriso mui arrogante
E ira contida. Eis o jogo:
“Deixa-me ir,” gritou ousado,
Mal escondendo o desdém,
“Teu povo será resgatado,
Não se perderá um só, ninguém.
Negar-lhes-ei, pois, o arbítrio
De decidirem seu destino.
De prêmio exijo direito
De lá sentar-me em teu trono!”
Parou Lúcifer. Todos quietos,
Só silêncio e preocupação,
Todos os olhos ora fitos
No genitor da perdição.
Sim, tudo silencioso.
E aí, como se fora trovão,
Veio a voz do Todo-Poderoso:
“MANDAREI O PRIMEIRO, ENTÃO!”
Feito! Mas ali na multidão
Já se levantavam tumultos
Feitos os ventos de um furacão
Ou ondas do mar em comoção.
Fez-se guerra, o céu estremeceu.
Os anais constam além do véu
Que a Cristo o Pai elegeu,
E o rebelde caiu do céu. [4]
6. Conforme o plano de Deus, Adão e Eva fizeram a escolha que
causou a Queda, sujeitando a humanidade à mortalidade e aos
pecados do mundo. “Mas da árvore do conhecimento do bem e
do mal não comerás [o Senhor disse a Adão e Eva], não
obstante, podes escolher segundo sua vontade, porque te é
dado; mas lembra-te de que eu o proíbo, porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás” ( Moisés 3:17). Adão e Eva
puderam levar a efeito a Queda por livre escolha porque tinham
alternativas e tinham o arbítrio, cuja essência é descrita nestas
palavras: “Podes escolher segundo sua vontade, porque te é
dado.”
Desta forma vemos que foi um passo necessário aquilo que se
chama “a Queda” e “a transgressão de Adão” que resultou do
exercício do dom de arbítrio por nossos primeiros pais. Em 2
Néfi, Leí explicou: “Mas eis que todas as coisas foram feitas
segundo a sabedoria daquele que tudo conhece. Adão caiu para
que os homens existissem; e os homens existem para que
tenham alegria” (2 Néfi 2:24-25).
Junto com a Queda vieram a mortalidade e a oportunidade de
sermos testados. O Senhor proclamou que aos filhos de Adão
foi dado “distinguir o bem do mal, de modo que são seus
próprios árbitros” (Moisés 6:56). Alma ensinou que com a
Queda os homens se tornaram “como deuses, discernindo o
bem do mal, colocando-se em condições de agir segundo sua
vontade e prazer, para fazer o mal ou para fazer o bem” (Alma
12:31; vide também 42:7).
De forma semelhante o profeta Samuel ensinou: “Pois eis que
sois livres; tendes permissão para agir por vós mesmos; porque
eis que Deus vos deu o conhecimento e vos fez livres” (Helamã
14:30). Observem que neste ensinamento o vocábulo livre se
refere ao arbítrio.
7. Estamos aqui para sermos provados e isto não pode ocorrer
sem que haja oposição em todas as coisas. Quanto a este
assunto, 2 Néfi aumenta nosso entendimento. O pai Leí ensinou
a seu filho Jacó que “é necessário que haja uma oposição em
todas as coisas. Se assim não fosse, meu primogênito no
deserto, não haveria retidão nem iniqüidade nem santidade
nem miséria nem bem nem mal. Portanto é preciso que todas
as coisas sejam compostas em uma” (2 Néfi 2:11).
Em outras palavras, se não tivéssemos oposição, não
poderíamos exercer nosso arbítiro através de fazer escolhas.
“Portanto,” explicou o pai Leí, “o Senhor Deus concedeu que o
homem agisse por si mesmo; e o homem não poderia agir por
si mesmo a menos que fosse atraído por um ou por outro” (2
Néfi 2:16).
Sem uma oposição em todas as coisas, não poderíamos
alcançar a retidão. Todas as coisas seriam “compostas em
uma,” ou seja, uma mistura sem distinção entre a iniqüidade e
a santidade. Naquele estado de inocência, os filhos de Deus
não “sentiriam alegria por não conhecerem a miséira; não
fariam o bem por não conhecerem o pecado” (2 Néfi 2:23).
Como lemos nas escrituras modernas: “E é necessário que o
diabo tente os filhos dos homens, ou eles não poderiam ser
seus próprios árbitros; porque, se nunca tivessem o amargo,
não poderiam conhecer o doce” (D&C 29:39).
8. Para proporcionar tal oposição, permite-se a Satanás que
tente persuadir-nos a usar nosso arbítrio para escolher o mal.
Em 2 Néfi 2:26, Leí declara que o Messias virá “na plenitude dos
tempos para que possa redimir os filhos dos homens da
Queda.” Então ele nos dá esta explicação importante:
“E porque são redimidos da queda tornaram-se livres para
sempre, distinguindo o bem do mal; para agirem por si
mesmos e não para receberem a ação, salvo se for pelo castigo
da lei no grande e último dia, segundo os mandamentos dados
por Deus.
“Portanto os homens são livres segundo a carne; e todas as
coisas de que necessitam lhes são dadas. E são livres para
escolher a liberdade e a vida eterna por meio do grande
Mediador de todos os homens, ou para escolherem o cativeiro e
a morte, de acordo com o cativeiro e o poder do diabo; pois ele
procura tornar todos os homens tão miseráveis como ele
próprio” (2 Néfi 2: 26-27).
“Livres. . . para agirem por si mesmos” e “livres para
escolherem” se referem ao arbítrio. “Livres segundo a carne” se
refere à liberadade, como demonstrarei depois.
9. Se escolhermos o mal e não nos arrependermos, poderemos
tornar-nos, por fim, cativos de Satanás. A afirmação de Leí de
que somos livres para “agir[mos] por [nós] mesmos e não para
receber[mos] a ação” tem uma exceção: “Salvo se for pelo
castigo da lei no grande e último dia” se é que escolhemos
“cativeiro e morte, de acordo com o cativeiro e o poder do
diabo” (2 Néfi 2:26-27). Aí ele implora ao filhos que não
escolham “a morte eterna, conforme a vontade da carne e o mal
que nela há, que dá ao espírito do diabo poder para escravizar,
para levar-vos ao inferno, a fim de reinar sobre vós em seu
próprio reino” (2 Néfi 2:29).
De modo semelhante Amuleque ensinou: “Pois eis que, se
deixastes o dia do arrependimento para o dia da vossa morte,
eis que vos tendes submetido ao espírito do diabo e ele vos
sela como seus; portanto o Espírito do Senhor se apartou de
vós e não tem lugar em vós; e o diabo tem sobre vós todo o
poder e este é o estado final dos iníquos” (Alma 34:35).
Resumindo, então, o arbítrio, o poder de escolher, é um dom
de Deus conferido a Seus filhos e já exercido por eles na vida
pré-mortal. É uma precondição essencial ao progresso
adicional que buscamos na mortalidade. Porém, não se pode
exercer o arbítrio a não ser que haja uma oposição em todas as
coisas. Esta oposição é provida por Satanás, o qual havia
procurado destruir nosso arbítrio. Seu esforço continua. Ele
procura-nos persuadir a fazer o mal e a fazer escolhas que lhe
proporcionará o domínio que buscara na existência pré-mortal,
o de possuir poder sobre nós, para levar-nos cativos conforme
seu bel-prazer.

II. Applicação Prática


Agora discutirei algumas aplicações práticas destes princípios
provindos das escrituras.
Primeiro, devido ao fato do arbítrio ser um dom concedido por
Deus como precondição do propósito da provação mortal,
nenhuma pessoa nem organização poderá tirar-nos o arbítrio
na mortalidade.
Segundo, o que poderá ser-nos tirado ou reduzido pelas
condições da mortalidade é nossa liberdade, ou seja, o poder
de agir segundo nossas escolhas. O arbítrio é absoluto, no
entanto, devido às circunstâncias da mortalidade, a liberdade é
sempre condicional.
A liberdade pode ser limitada ou negada 1) por leis físicas,
inclusive as limitações físicas com que nascemos, 2) por nossas
próprias ações e 3) pelas ações dos outros, inclusive governos.
Leí ensinou a seu filho Jacó que “os homens são livres [têm
liberdade] segundo a carne” (2 Néfi 2:27). Por exemplo, na
carne somos sujeitos à lei da gravidade. Se eu resolver segurar
uma viga do teto do Centro Marriott da Universidade Brigham
Young e lá ficar pendurado mas depois largar, não terei
liberdade de escolher uma queda suave. Tampouco posso
correr por uma parede de tijolos.
A perda de certas liberdades limita nosso poder de agir
segundo nossas escolhas, mas não nos nega o arbítrio que
Deus nos deu. Uma mulher que passou a maioria da vida
restrita a uma cadeira de rodas exprimiu este pensamento num
poema. Annie Johnson Flint escreveu:
Não posso caminhar, todavia posso voar,
Nenhum teto pode das estrelas me privar.
Não há prédios que possam me encarcerar,
Nem com fechaduras e grades me barrar.
Nenhum quarto estreito pode meus pensamentos limitar,
Nem cadeados e correntes a mente segurar;
E por estas paredes que me cercam no lar,
Uma fuga minha alma pode sempre dar. . .
E quando o dia tão prolongado findar,
O Livro mais precioso nas mãos vou segurar,
E no silêncio do anoitecer ouço ecoar
As palavras do meu Pai para me inspirar.
Neste momento, embora presa, livre sou,
E para o além voa meu pensamento,
Acima da noite terrestre sobe o coração
Levado pelas asas aquilinas da fé e da oração. [5]
Outras limitações à liberdade são impostas por nós mesmos,
como a imobilidade que se dá quando apertamos o cinto de
segurança ou o compromisso que assumimos ao firmar um
contrato. Nestes casos limitamos uma liberdade para alcançar
uma outra maior e mais importante.
Muitas vezes a perda de liberdade é-nos imposta por terceiros.
A ciência de governar consiste em contemplar procedimentos e
restrições e decidir até que ponto os representantes oficiais de
um grupo de cidadãos pode impor restrições à liberdade de
outro grupo. As decisões referentes a quanto poder tem o
governo de limitar a liberdade de indivíduos ficam entre as
mais difíceis que enfrentamos na sociedade organizada. Quanto
podem as leis de propriedade limitar o direito de uma pessoa
de usar sua propriedade? Quantos impostos pode o governo
arrecadar e para que fins podem aplicar aquele dinheiro? Até
que ponto pode um cidadão prejudicar-se a si mesmo por
auto-mutilação ou abuso de drogas? São todas perguntas
acerca da liberdade.
Temos que aceitar algumas limitações a nossa liberdade
impostas pelo governo para que nós que moramos numa
comunidade possamos ter vida e liberdade e buscar a
felicidade. Uma condição em que houvesse liberdade individual
desinibida permitiria que os fortes oprimissem os fracos.
Permitiria que os desejos extremos de um indivíduo limitassem
a liberdade de muitos.
A interferência com a nossa liberdade não nos priva do arbítrio.
Quando Faraó colocou José na prisão, restringiu a liberdade de
José mas não lhe tirou o arbítrio. Quando Jesus expulsou os
cambistas do templo, interferiu com a liberdade deles
participarem de certa atividade em certo lugar a certa hora, mas
não lhes tirou o arbítrio.
O Senhor nos disse numa revelação moderna que Ele
estabeleceu a constituição dos Estados Unidos “para que todo
homem aja, em doutrina e princípio relativos ao futuro, de
acordo com o arbítrio moral que lhe dei” (D&C 101:78). Em
outras palavras, Deus estabeleceu a constituição para nos dar a
liberdade política essencial e necessária para que agíssemos
segundo nossas escolhas pessoais no que se refere ao governo
civil. Esta revelação mostra a distinção entre o arbítrio (o poder
de escolher), que Deus nos deu, e a liberdade, ou seja, o direito
de agir segundo nossas escolhas, o qual é protegido pela
constituição e leis da pátria.
A liberdade, obviamente, é de grande importância mas, como
estes exemplos mostram, a liberdade é sempre restrita na
mortalidade. Por conseguinte, quando opomos a perda de uma
liberdade, não devemos argumentar que se vai perder o
arbítrio, porque é impossível perdê-lo, conforme nossa
doutrina. Em vez disso, devemos focalizar-nos na legalidade ou
sabedoria da restrição proposta à nossa liberdade.
Terceiro, nossa doutrina nos assegura que Satanás, que
procurou tirar-nos o arbítrio na pré-existência, não pode tirar-
nos o arbítrio nesta vida. O Profeta Joseph Smith ensinou que o
diabo não pode forçar os homens a fazerem o mal. Ele só “terá
poder sobre nós à medida que nós lhe permitirmos.” [6] O élder
James E. Faust esclareceu esta idéia quando disse: “Ceramente
ele [Satanás] pode-nos tentar e enganar mas não mantém
nenhuma autoridade sobre nós a não ser que o
permitamos.” [7]
Quarto, como estes ensinamentos sugerem, Satanás ainda está
procurando tirar-nos o arbítrio por meio de persuadir-nos a
render-lhe voluntariamente nossa própria vontade.
Este assunto tem um fascínio mórbido para a humanidade. A
antiga lenda alemã de Fausto trata de um homem que vendeu a
alma para o diabo em troca de conhecimento e poder. Também
é o tema de “O Diabo e Daniel Webster,” um conto de Stephen
Vincent Benet. Uma variedade de práticas modernas tendem
para a rendição da alma e levam conseqüências perigosas.
Como o élder Faust nos advertiu: “Deve-se evitar como se fosse
praga o mal da adoração ao diabo, da feitiçaria, da bruxaria, de
encantos mágicos, do vodu e de magia negra e todas as outras
formas de demonismo.” [8]
Quinto, devemos também evitar qualquer prática em que uma
pessoa procura render até uma partezinha de sua vontade a
outra pessoa ou em que outra pessoa procura subjugar nossa
vontade. Sejam o meios químicos, psicológicos, eletrônicos ou
outros ainda não inventados, tais tentativas de nos tirar o
arbítrio são contra o plano celestial e só servem para avançar o
plano do adversário. O arbítrio, o poder de escolher e dirigir
nossos pensamentos e ações, é uma dádiva de Deus e devemos
resistir a qualquer tentativa de comprometê-lo.
Sexto, devemos evitar qualquer prática que vicie. Tudo que
vicia compromete nossa vontade. Sujeitar nossa vontade aos
impulsos irresitíveis impostos por qualquer tipo de vício serve
os propósitos de Satanás e subverte os do Pai Celestial. Isso se
aplica a drogas viciogênicas (tais como narcóticos, álcool,
nicotina e cafeína), práticas viciogênicas tal como o jogo e
outros comportamentos que viciam. Podemos evitar o vício
através de guardar os mandamentos de Deus.
Sétimo, devemos estar cientes de que algumas pessoas são
mais propensas a certos vícios do que outras. Talvez tal
tendência seja inata como a infermidade sem nome a que o
apóstolo Paulo se refere como “um espinho na carne, a saber,
um mensageiro de Satanás para me esbofetear, e fim de não
me exaltar [sem medida]” (2 Coríntios 12:7). Certas pessoas
têm paladar para nicotina e se viciam facilmente ao fumo.
Outras não podem tomar um drinque de vez em quando sem
serem impelidos ao alcoolismo. Outras pessoas experimentam
o jogo e se tornam jogadores compulsivos.
Estas pessoas, como diz o velho ditado, “nasceram assim,”
talvez. Mas o que significa isso? Será que significa que as
pessoas que têm tendências fortes e propensidades não têm
escolha nem arbítrio nestes casos? Nossa doutrina nos ensina o
contrário. Independente das tendências e disposição de uma
pessoa, sua vontade não se restringe. Seu arbítrio não tem
precondições. é sua liberdade que é prejudicada. Certas
pessoas são mais livres destas tendências porque quando com
imprudência experimentam as tentações, parecem imunes ao
vício. Porém, independente da medida de liberadade que cada
um tem, somos responsáveis pela maneira em que exercemos o
arbítrio.
Como ensinou Leí, na vida mortal somos apenas livres “de
acordo com a carne” (2 Néfi 2:27). A maioria de nós nasceu
com “espinhos na carne,” sendo alguns mais visíveis que
outros, alguns mais sérios que outros. Todos nós parecemos
estar propensos a uma infermidade ou outra, mas sejam quais
forem nossas fraquezas, temos o arbítrio e o poder de controlar
nossos pensamentos e ações. Tem que ser assim. Deus já falou
que aos olhos dele somos responsáveis pelo que fazemos e
pensamos, portanto nossos pensamentos e ações devem ser
controláveis pelo arbítrio. Depois de alcançada a idade de
responsabilidade, a afirmação “eu nasci assim” não justifica
nossas ações e pensamentos quando estes deixam de
conformar-se com os mandamentos de Deus. Temos que viver
de tal maneira que uma fraqueza mortal não nos impeça de
alcançar a meta eterna.
Deus prometeu que iria consagrar nossa aflições para o nosso
benefício (vide 2 Néfi 2:2). Os nossos esforços de sobrepujar as
fraquezas herdadas nos darão uma força espiritual que nos
servirá por toda a eternidade. Assim, quando Paulo orou três
vezes para que seu “espinho na carne” fosse-lhe tirado, o
Senhor replicou: “A minha graça te basta, porque o meu poder
se aperfeiçoa na fraqueza.” Obediente, Paulo concluiu: “De boa
vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas; para que em
mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas
fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco
então sou forte” (2 Coríntios 12:9-10).
Não importa quais sejam nossas fraquezas ou tendências, elas
não podem nos prejudicar na eternidade a não ser que, ao
exercer nosso arbítrio, façamos ou pensemos em coisas
proibidas pelos mandamentos de Deus. Por exemplo, uma
propensidade ao alcoolismo afeta a liberdade da vítima de
beber sem viciar-se, não obstante seu arbítrio a permite a
abster-se e assim evitar a debilitação física do álcool e a
danificação espiritual de estar viciado.
Oitavo, acautelem-se do argumento de que um ser não tem
poder de escolher e portanto não é responsável por suas ações
devido ao fato de ser impelido por fortes paixões a fazer certos
atos. Esta tese é contrária aos princípios fundamentais do
evangelho de Jesus Cristo.
Satanás quer que acreditemos que não somos responsáveis
nesta vida. É o mesmíssimo resultado que ele queria obter pela
sua contestação na vida pré-mortal. Quem insiste que não é
responsável pelo exercício de seu arbítrio porque “nasceu
assim” não faz caso da vitória da Guerra no Céu. Nós somos
responsáveis, e se argumentarmos de outra maneira, nossas
ações se tornam parte da campanha de propaganda do
adversário.
A responsabilidade individual é uma lei da vida. Aplica-se tanto
às leis dos homens como às de Deus. A sociedade exige aos
cidadãos a responsabilidade de controlar seus impulsos para
que possamos viver em sociedade civilizada. Deus exige aos
seus filhos a responsabilidade de controlar-se para que possam
guardar seus mandamentos e realizar seu destino eterno. A lei
não desculpa ao homem estourado que se entrega ao impluso
de balear aquele que o tormenta, nem ao homem ganancioso
que se entrega à tentação de furtar, nem ao pedófilo que se
entrega ao desejo de satisfazer suas depravações com crianças.
Suponho que é inevitável que aqueles que se entregaram ao
pecado tentem justificar-se pelo argumento do “impulso
irresistível.” Mas no tribunal do céu este argumento será
transparente ao Grande Juiz que vê nossas ações e “conhece
todos os pensamentos e intenções do coração” (Alma 18:32).
Há muito que não sabemos a respeito de quanta liberdade
temos, visto que há muitos espinhos da carne que nos afligem
na mortalidade. Mas isto nós sabemos: todos nós temos nosso
arbítrio e Deus nos responsabiliza pela forma em que o
utilizamos nos pensamentos e ações. É fundamental.
Nas revelações modernas Deus nos mandou que não nos
emaranhássemos no pecado (vide D&C 88:86). Ele disse: “E saí
do meio dos iníquos. Salvai-vos. Sede limpos, vós que portais
os vasos do Senhor” (D&C 38:42). O princípio de
responsabilidade individual e estes mandamentos de sairmos
do meio dos iníquos e de sermos limpos se aplicam a um
monte de circunstâncias. A nível de arbítrio e liberdade,
admoesto os irmãos a aplicarem estes mandamentos da
seguinte forma: Se algum dos irmãos tiver uma fraqueza ou
uma propensidade para certas transgressões, especialmente as
que possam ser viciogênicas, usem de seu arbítrio e liberdade
para desviarem-se das circunstâncias que conduzem a tais
transgressões.
Que Deus nos abençoe para que vivamos de tal modo que
possamos evitar a emaranhar-nos no pecado e não
comprometer nosso dom único e precioso do arbítrio. Que
possamos aceitar a responsabilidade pelos nossos pensmentos
e ações. Que possamos usar nosso arbítrio para fazer escolhas
retas e agir de acordo sempre que houver liberdade de assim
agir.
Para concluir, volto às palavras de Néfi em 2 Néfi 33, o último
capítulo:
“Mas eu, Néfi, escrevi o que escrevi e considero-o de grande
valor, especialmente para o meu povo. . .
“E falam asperamente contra o pecado, segundo a clareza da
verdade. . .
“E se acreditardes em Cristo, acreditareis nestas palavras,
porque são as palavras de Cristo e ele deu-as a mim; e elas
ensinam a todos os homens que devem fazer o bem. .
“E oro ao Pai, em nome de Cristo, para que muitos de nós,
senão todos, sejamos salvos no seu reino no grande e último
dia” (2 Néfi 33:3, 5, 10, 12).

Notas
[1] Joseph Smith, Ensinamentos do Profeta Joseph Smith,
compilado por Joseph Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret
Book, 1976), 49.
[2] “A Alma é Livre,” Hinos (Impresso no Brasil: A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos últimos Dias, 1990) 149.
[3] Vide Joseph Fielding Smith, Doctrines of Salvation (As
Doutrinas de Salvação) (Salt Lake City: Bookcraft, 1954) 1:64,
70.
[4] Orson F. Whitney, “Immanuel-A Christmas Idyll,” (“Imanuel-
um Idílio de Natal”) em The Poetical Writings of Orson F.
Whitney (Os Escritos Poéticos de Orson F. Whitney) (Salt Lake
City: Juvenile Instructor Office, 1889), 136-139.
[5] Annie Johnson Flint, “My Wants” (“Os Meus Desejos”) cópia
não publicada dada ao autor.
[6] Smith, Teachings (Ensinamentos), 181; vide também 187,
189.
[7] James E. Faust, “The Great Imitator” (“O Grande Imitador”),
Ensign, November 1987, 35.
[8] Faust, “The Great Imitator” (“O Grande Imitador”), 33.
O Cosmo de Nosso Criador

O Cosmo de Nosso Criador


A educação religiosa de nossos jovens e jovens adultos nos
seminários e institutos de religião e nas escolas, faculdades e
universidades da Igreja se trata de um dos programas mais eficientes
e de maior rendimento da Igreja!
Mesmo que seja seu dever servir à nova geração, tenho certeza de
que este seu dever já lhes chegou a ser um prazer. Por isso
agradeço-lhes de todo o coração! E agradeço ao irmão Randy
McMurdie, que tanto ajudou na elaboração dos slides especiais.
Transmito meu apreço especial ao Professor Eric G. Hintz da
Universidade Brigham Young, um astrônomo observador, por suas
sugestões tão substanciais e úteis referentes a meu discurso. Através
dele tive o prazer de descobrir que o número de estudantes Santos
dos Últimos Dias que fazem pós- graduação em astronomia e
astrofísica está crescendo cada vez mais. Para eles e para nós estas
palavras de Anselmo se constituem de bons conselhos: “Crede para
que entendais,” em vez de “entender para crer.” [1] Eu, e somente eu,
sou responsável por aquilo que agora direi. O tema é: “O cosmo de
nosso Criador.”
Rogo pela ajuda imprescindível do Espírito ao falar-lhes como
Apóstolo e não astrofísico. Como testemunha especial lhes falarei do
que testifica o universo: “As escrituras estão diante de ti, sim, e todas
as coisas mostram que existe um Deus; sim, até mesmo a Terra e
tudo que existe sobre sua face, sim, e seu movimento, sim, e também
todos os planetas que movem em sua ordem regular testemunham
que existe um Criador Supremo ” (Alma 30:44; itálicos
acrescentados).
Que aquilo que se segue (não as minhas palavras, e sim as palavras
assombrosas das escrituras, juntamente com algumas imagens
deslumbrantes possa nos proporcionar ainda mais assombro e
reverência pelas maravilhas que o Pai e o Filho fizeram para nos
abençoar.
Sob a ordem do Pai, Cristo foi, e continua sendo, o Senhor do
universo: “aquele que olhou por sobre a vasta extensão da
eternidade” (D&C 38:1; itálicos acrescentados).
Carl Sagan, o falecido cientista que nos ensinava tão bem a respeito
da ciência e do universo, com perspicácia observou que “em alguns
aspectos a ciência tem ultrapassado a religião no que se refere ao
assombro e reverência. Como pode ser que quase nenhuma religião
já estudou a ciência e concluiu: ‘É melhor que pensávamos! O
universo é muito maior que os profetas disseram, mais glorioso, mais
sútil e mais elegante. Deus deve ser ainda maior do que
imaginávamos’? Em vez disso, dizem: ‘Não, não, não! Meu deus é um
deus pequeno e quero que permaneça deste jeito.’ Uma religião, seja
velha ou nova, que enfatize o esplendor do universo conforme
revelado pela ciência moderna poderá invocar reservas de reverência
e de admiração mal usadas pelas religiões tradicionais. Mais cedo ou
mais tarde tal religião surgirá.” [2]
Não devem faltar aos Santos dos Últimos Dias nem a reverência nem
a admiração, levando em conta o fato de que contemplamos o
universo no contexto das verdades divinas que nos foram reveladas.
Sim, o cosmo “conforme revelado pela ciência moderna” é “elegante,”
como escreveu Sagan. Mas o universo também está cheio de
propósitos divinos, de forma que nossa admiração deve aumentar,
proporcionando sentimentos até mais elevados de reverência pelo
“esplendor do universo”!
Naturalmente, a Igreja não segue a astrofísica de 2002, nem apoia
qualquer teoria científica específica quanto à criação do universo.
Ao elaborarem seus estudos importantes, os astrofísicos utilizam o
método científico e não estão à procura de respostas espirituais.
Alguns cientistas compartilham nossa crença nas explicações
religiosas em relação a estas vastas criações, mas outros encaram
nossa crença como sendo sem fundamento. Desprovidos de uma
crença num significado cósmico, alguns cientistas, como explica certo
escritor, veem os humanos como “seres arrancados e lançados,
chorosos, num universo alheio.” [3]
De forma poderosa, as escrituras restauradas nos ensinam o
contrário!
Mas será que as palavras amplas das escrituras, com que fomos
abençoados, nos emocionam o suficiente? Será que estamos nos
tornando o tipo de pessoa que reflete a respeito de tais doutrinas
elevadas devido ao aumento de nossa santificação espritural? Irmãos
e irmãs, Deus está revelando os segredos do universo, e nós, será
que estamos prestando atenção?
Como parte de nosso discipulado diário, instrui-se a nós que devemos
“levantar as mãos cansadas” (Hebreus 12:12). Por que não procurar
também “levantar” a mente passiva e provincial que está cansada e
não se dá conta da grandeza deslumbrante de tudo isso?
Posto que Deus tem feito de tudo para preparar um lugar para nós
neste imenso universo, não devemos cultivar e mostrar uma fé maior?
Ao passarmos pelas perplexidades e dificuldades da vida, será que
teremos fé que o Criador tomou medidas suficientes para levar a
efeito seus propósitos? [4]
Muitos anos atrás, o Presidente J. Reuben Clark Jr. fez este
comentário consolador: “Nosso Senhor não é principiante, nem
amador; Ele já passou por este caminho por muitas e muitas
vezes.” [5]
Irmãos e irmãs, não é verdade que Deus já definiu seu caminho como
sendo “um círculo eterno”? (D&C 35:1; vide também, 1 Néfi 10:19;
Alma 7:20; D&C 3:2).
Um apreço maior pela grandeza do universo nos ajudará a viver com
mais retidão dentro de nosso próprio minúsculo universo. De igual
modo, uma compreensão maior do governo de Deus sobre vastas
galáxias pode nos levar a governarmos melhor a nós mesmos.
Passaremos agora a uma mistura de escrituras, imagens e
comentários científicos.
Contemplem esta primeira foto de nossa bela Terra tirada com a lua
em primeiro plano:
Reflitam quanto tempo levou até que o homem pudesse (pôde)
chegar à lua, ainda que ela se localize, figurativamente, em nosso
próprio quintal!
Os recursos tão necessários para sustentar a vida humana se
encontram em abundância neste planeta, e, a não ser que sejam
desperdiçados, sabemos que “há bastante e de sobra” (D&C 104:17).
Porém, por maior que seja a Terra, como todos nós que viajamos de
avião podemos testemunhar, Stephen W. Hawking nos ofereceu uma
perspectiva moderada: “[Nossa] Terra é um planeta de tamanho
médio que descreve órbita por volta de uma estrela média na periferia
de uma galáxia espiral comum, que por sua vez é uma galáxia dentre
mais ou menos um milhão vezes um milhão de galáxias que fazem
parte do universo que conseguimos observar.” [6]
Um cientista que não acredita no desenho divino, mesmo assim
escreveu que “ao observarmos o universo e identificarmos muitos
acidentes . . . que se uniram para o nosso benefício, quase que me
parece como se o universo soubesse de alguma forma que
estávamos para chegar.” [7]
As condições nesta terra são aparentemente mais favoráveis do que
nos outros planetas de nosso sistema solar.
Por exemplo, se nosso planeta estivesse mais próximo do sol,
estaríamos fritos, literal e figurativamente; se estivesse mais distante,
ficaríamos congelados.
Agora, notem a seta que indica o local aproximado do nosso sistema
solar dentro da grande extensão incrível da nossa própria galáxia, a
Via Láctea.
Neste slide nota-se que embora nosso sistema solar tenha uma
extensão de milhões e milhões de quilômetros, nesta perspectiva é
tão minúsculo que nem pode ser visto! Que vastidão incompreensível!
Numa noite de céu claro, vocês e eu podemos ver partes da Via
Láctea, mas como seria se só pudéssemos ver essas estrelas
brilhantes de mil em mil anos? Ralph Waldo Emerson escreveu que
daí “os homens acreditariam e adorariam e preservariam ao longo de
muitas gerações a lembrança da cidade de Deus que lhes fora
revelada!” [8]
Não é de se admirar que as escrituras nos expliquem quão amplo e
variado é este testemunho de Deus para nós: “E eis que . . . todas as
coisas são criadas e feitas para prestar testemunho de [Deus], . .
coisas que estão acima nos céus e coisas que estão na Terra . . . :
todas as coisas prestam testemunho de [Deus] ” (Moisés 6:63; itálicos
acrescentados).
Agora, contemplem o que constitui um segmento só, dentro de nossa
imensa Via Láctea:
Que coisa impressionante, não é? Especialmente quando levamos
em conta que a distância é tão enorme entre cada ponto de luz!
Embora não conheçamos o processo criativo de Deus, temos registro
de fatos espirituais que reafirmam o grande início que se deu há tanto
tempo atrás.
“E estava entre eles um que era semelhante a Deus; e ele disse aos
que se achavam com ele: ‘Desceremos, pois há espaço lá, e
tomaremos destes materiais e faremos uma terra onde estes possam
habitar; . . . E eles desceram no princípio; e eles . . . organizaram e
formaram os céus e a Terra” (Abraão 3:24; 4:1; itálicos
acrescentados).
É impressionante que, de acordo com alguns cientistas, “Nossa
galáxia, a Via Láctea, se localiza num dos espaços relativamente
vazios entre os Paredões.” [9]
Certamente há espaço lá.
Ao continuarem a sondar além de nossa galáxia com o telescópio
espacial Hubble, cientistas capazes têm descoberto maravilhas
deslumbrantes como a Nébula Keyhole (buraco de fechadura) que
possui suas próprias estrelas.
O telescópio Hubble tem nos revelado até muito mais e certamente
tudo isso se trata de algo assombroso!
A próxima imagem é de uma região onde se formam as estrelas a
partir de material não organizado.
“E como a terra com seu céu passará, assim outra surgirá” (Moisés
1:38).
Agora, veremos uma foto do que resta quando uma estrela morre.
“Pois eis que há muitos mundos que pela palavra de meu poder
passaram” (Moisés 1:35).
Nas palavras do hino “Grandioso és tu,” ao cantarmos do universo e
da expiação, queremos “estar de joelhos entre os santos, na mais
humilde e vera adoração.” [10]
Seja qual for o processo inicial que Deus empregou, sabemos que
havia supervisão divina: “E os Deuses vigiaram aquelas coisas que
eles haviam ordenado, até elas obedecerem” (Abraão 4:18; itálicos
acrescentados).
É de grande significado saber que nós aqui na Terra não estamos a
sós no universo. Em Doutrina e Convênios, que, por sinal, será o foco
de nossos estudos deste ano, lemos que “por ele [Cristo] e por meio
dele os mundos são e foram criados; e seus habitantes são filhos e
filhas gerados para Deus” (D&C 76:24; itálicos acrescentados; vide
também Moisés 1:35).
Não sabemos onde estão nem quantos outros planetas existem,
embora pareçamos estar sozinhos em nosso próprio sistema solar.
Quanto ao papel contínuo do Senhor em meio a Suas vastas
criações, muito pouco se tem revelado. Porém, há algumas noções a
respeito dos reinos e de seus habitantes.
“Portanto a esta parábola compararei todos estes reinos e seus
habitantes—cada reino em sua hora e em seu tempo e em sua
estação, de acordo com o decreto de Deus” (D&C 88:61).
O Senhor até nos convida para “ponderar em [nosso] coração” aquela
parábola específica (versículo 62). Tal ponderação não significa uma
especulação superficial e sim uma antecipação humilde e paciente de
futuras revelações. Além disso, Deus só deu uma revelação parcial—
não total—a Moisés, sendo “um relato apenas sobre esta Terra”
(Moisés 1:4, 35), mesmo assim Moisés aprendeu coisas que “nunca
havia imaginado” (versículo 10).
Não obstante, nós não adoramos um Deus de um planeta só!
Agora, abram os olhos e fitem esta imagem do que se chama “espaço
profundo”:
Quase todo o pontinho de luz deste slide (cortesia do telescópio
Hubble) representa uma galáxia! Pensem em nossa própria Via
Láctea. Disseram-me que aqui cada galáxia possui cerca de 100
bilhões de estrelas. Só esta fatiazinha do universo tem mundos
incontáveis.
Crentes no desenho divino incluiam o eloquente Alexander Pope. Foi
assim que ele reagiu às maravilhas deste universo:
Um labirinto poderoso! porém não desprovido de um plano. . . .
Embora se conheça Deus através dos mundos inumeráveis,
Cabe a nós decobri-lo em nossa própria esfera. . . .
[Mesmo havendo] outros planetas que giram em volta de outros
sóis. [11]
Para a nossa felicidade, irmãos e irmãs, a vastidão das criações do
Senhor se iguala à natureza pessoal de seus propósitos!
“Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que
formou a terra e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a
formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro”
(Isaías 45:18; vide também Efésios 3:9; Hebreus 1:2).
“E mundos incontáveis criei; e também os criei para meu próprio
intento; e criei-os por meio do Filho, o qual é meu Unigênito.
“. . . Pois eis que há muitos mundos que pela palavra de meu poder
passaram. E há muitos que agora permanecem e são inumeráveis
para o homem; mas todas as coisas são enumeráveis para mim, pois
são minhas e eu conheço-as” (Moisés 1:33, 35).
Pode-se perguntar: Qual é o propósito de Deus para os habitantes? A
melhor e mais simples expressão disso se encontra naquele versículo
que todos nós conhecemos: “Pois eis que esta é minha obra e minha
glória: Levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem” (Moisés
1:39).
Portanto, na grande expansão do espaço, há uma pessoalidade
deslumbrante, pois Deus conhece e ama a cada um de nós! (vide 1
Néfi 11:17). Não somos seres sem importância num universo
inexplicável! Embora a indagação do salmista fosse: “Que é o homem
mortal para que te lembres dele?” (Salmos 8:4), a humanidade está
no próprio centro da obra de Deus. Somos as ovelhas de sua mão e o
povo de seus campos (vide Salmos 79:13; 95:7; 100:3). Sua obra
inclui nossa imortalização, levada a efeito pela gloriosa expiação de
Cristo! Pensem bem, irmãos e irmãs, mesmo com sua vida longa, as
estrelas não são imortais, mas vocês e eu somos.
As revelações nos dão poucas informações acerca de como o Senhor
criou tudo, ao passo que os cientistas se concentram no como, o que
e quando da criação do universo. Contudo alguns deles reconhecem
que há dúvidas quanto ao por quê. Hawking disse: “Embora a ciência
possa resolver o problema de como o universo iniciou, ela não pode
responder à pergunta: Por que o universo se importa em existir? Não
sei a resposta a esta pergunta.” [12]
Albert Einstein, ao falar de seus desejos, disse: “Eu quero saber como
Deus criou este mundo. Não me interessam nem este nem aquele
outro fenômeno, nem o espectro de tal elemento ou de tal outro
elemento. Quero saber os pensamentos Dêle; o que resta são apenas
detalhes. ” [13]
O Dr. Allen Sandage, um que acredita na criação divina, era
assistente de Edwin Hubble. Sandage escreveu o seguinte: “A ciência
. . . se importa com o quê, quando e como. Dentro do método
científico, por mais poderoso que seja, a ciência não explica, nem
pode explicar, o por quê.” [14]
Felizmente, através das revelações recebemos respostas vitais e
essenciais aos por quês, que são, aliás, a coisa de maior importância
para nós! Havendo visto coisas espectaculares, Enoque regozijou-se,
mas com quê? Regozijou-se com a afirmação pessoal que recebera
acerca de Deus: “Contudo estás aí” (Moisés 7:30). Enoque até viu
Deus chorar devido ao sofrimento desnecessário da humanidade, o
que nos revela muito sobre o caráter divino (vide versículos 28–29).
Mas este é um assunto para outro discurso.
Notem bem, mesmo tendo recebido revelações notáveis a respeito do
cosmo e dos propósitos de Deus, as pessoas podem afastar-se da
verdade. Em 3 Néfi lemos sobre um povo que se afastou: “E
aconteceu que. . . começaram a esquecer os sinais e as maravilhas
de que haviam ouvido falar; e admiravam-se cada vez menos com
qualquer sinal ou maravilha dos céus, de modo que começaram a
ficar duros de coração e cegos de entendimento e começaram a
duvidar de tudo quanto haviam ouvido e visto” (3 Néfi 2:1).
Portanto, ao ponderarmos sobre a grandeza criativa de Deus,
também nos foi admoestado que considerássemos a beleza dos lírios
do campo. Lembrem-se de que “todas as coisas prestam testemunho
Dêle”! (vide Alma 30:44).
Nesta foto vemos os lírios e logo, em close, o desenho divino. O
mesmo desenho divino que se aplica ao universo se vê em miniatura
nos lírios do campo (vide Mateus 6:28–29; 3 Néfi 13:28–29; D&C
84:82).
No milagre deste planeta estão contidas muitas sutilezas
maravilhosas. Wendell Berry escreveu o seguinte:
“Quem já contemplou os lírios do campo ou os pássaros do céu e
ponderou a improbabilidade de sua existência neste mundo quente
localizado no frio vazio sideral mal duvidará da transformação de
água em vinho, que, afinal das contas, foi um milagre muito pequeno.
Esquecemos do milagre maior que ainda continua hoje, ou seja, o
milagre pelo qual a água, junto com o solo e raios solares, se
transforma em uvas.” [15]
Ao reverenciarmos aquilo que o Senhor criou, devemos reverenciar a
Ele e a Seu caráter o suficiente para que nos esforcemos muito em
nos tornar cada vez mais como Ele é, de acordo com sua ordem (vide
Mateus 5:48; 3 Néfi 12:48; 27:27). Não é de se admirar, portanto, que
o poder da divindade, que se revela nos lírios, de modo semelhante
se revele nas ordenanças de seu evangelho (vide D&C 84:20). De
forma temática, estas ordenanças se relacionam à nossa purificação,
a nossos convênios, à nossa obediência e à nossa preparação, sendo
todos necessário, na prática comportamental, a fim de estarmos
capacitados a trilhar jornada de volta ao lar celestial.
Estas expressões pessoais de amor e poder divinos nos importam
muito mais do que a pesquisa para determinar o número de galáxias
existentes, ou a comparação do número de planetas ao das estrelas.
Afinal, nós leigos não poderíamos compreendê-las. Atingir a
santificação espiritual nos importa muito mais do que as
quantificações cósmicas.
Assim, ao ampliarmos nossa visão tanto do universo como dos
propósitos abrangentes de Deus, nós também podemos com
reverência exclamar: “Quão grande é o plano de nosso Deus!” (2 Néfi
9:13).
Portanto, ao considerarmos (sondarmos), ponderarmos e
aprendermos, certamente devemos nos maravilhar e devemos nos
sentir humildes intelectualmente. O Rei Benjamim nos aconselhou
com estas palavras simples porém profundas:
“Acreditai em Deus; acreditai que ele existe e que criou todas as
coisas, tanto no céu como na Terra; acreditai que ele tem toda a
sabedoria e todo o poder, tanto no céu como na Terra; acreditai que o
homem não compreende todas as coisas que o Senhor pode
compreender ” (Mosias 4:9; itálicos acrescentados).
Por sinal, irmãos e irmãs, em nossos tempos há aqueles (uns) que
acreditam que se eles não compreenderem algo, Deus tampouco o
compreenderá. Ironicamente alguns, na verdade, preferem um “deus
pequeno.” Convém que todos nós—cientistas e não cientistas—
aumentemos a humildade pessoal em vez de diminuir a divindade!
Por mais fenomenal que seja o que a ciência tem aprendido a
respeito do universo testificador, mesmo assim é só um pedacinho do
tudo. Falando acerca desta foto de um “campo profundo” tirada pelo
telescópio Hubble em 1995, dizia-se que “este segmento, a imagem
mais profunda dos céus já tirada, cobria . . . ‘uma partícula do céu da
largura relativa de uma moeda de dez centavos vista a uma distância
de 20 metros.’” [16]
A alma estremece, irmãos e irmãs!
O que quer que fosse o segmento que Moisés viu, não é de se
admirar que ele foi oprimido e caiu por terra, dizendo que “o homem
não é nada” (Moisés 1:9–10).
Embora estejamos assombrados, miseridoriosamente, as revelações
nos asseguram que Deus nos ama: “Agora, meus irmãos, vemos que
Deus se lembra de todos os povos, estejam na terra em que
estiverem; sim, ele conta seu povo e suas entranhas de misericórdia
cobrem a Terra. Ora esta é a minha alegria e minha grande gratidão;
sim, darei graças a meu Deus para sempre” (Alma 26:37).
Então, irmãos e irmãs, o Senhor se lembra de cada uma de suas
vastas criações. Olhem mais uma vez os “pontinhos de luz” em só
uma fatiazinha de uma galáxia de tamanho normal, a Via Láctea:
Ele conhece todas as criações. Vejam só, o Senhor conhece todas
elas da mesma forma que conhece e ama todos nós, bem como
aqueles que se veem nesta foto ou em qualquer outra multidão—
na verdade, todos os seres humanos! (vide 1 Néfi 11:17).
A determinação divina é tão consoladora, como indicam estas
palavras de Abraão: “E nada há que o Senhor teu Deus se proponha
a fazer que não faça” (Abraão 3:17). Sua capacidade é tão notável
que ele nos lembra com cortesia, porém incisivamente, duas vezes
em dois versículos seguidos do Livro de Mórmon que Ele realmente é
“capaz” de fazer sua própria obra (vide 2 Néfi 27:20–21). E como!
Ademais, a ordem se reflete nas criações de Deus!
“E vi as estrelas e elas eram muito grandes; e vi que uma delas
estava mais perto do trono de Deus; e havia muitas grandes que
estavam perto dele; . . .
“E assim haverá o cálculo do tempo de um planeta acima do outro,
até que te aproximes de Colobe; e Colobe segue o cálculo do tempo
do Senhor e Colobe está perto do trono de Deus a fim de governar
todos os planetas pertencentes à mesma ordem daquele em que te
encontras” (Abraão 3:2, 9; itálicos acrescentados).
Relata-se que um cientista falou o seguinte a respeito da
configuração cósmica: “Pode ser que estejamos morando no meio de
estruturas enormes, ou células, em forma de favo de mel.” [17] Alguns
cientistas dizem que certas galáxias, não planejadas ao acaso,
“parecem estar organizadas numa rede de cordas, ou filamentos, em
volta de grandes regiões do espaço relativamente vazios e
conhecidos como vácuos.” [18] Outros astrônomos dizem que já
descobriram “um paredão enorme de galáxias, . . . a maior estrutura
já vista no universo.” [19] É elogiável que tais cientistas capazes
continuem a caminhar para a frente.
Porém, para nós é claro que a Terra nunca foi o centro do universo,
como outrora muitos ingenuamente acreditavam! E não faz muitas
décadas que muitos, de igual modo, acreditavam que nossa Via
Láctea era a única galáxia no universo.
E quanto mais aprendemos mais importantes se tornam as perguntas
e respostas essenciais do por quê do universo. Todavia só se obtêm
as respostas a estas perguntas através da revelação dada por Deus o
Criador, e ainda há (tem) mais a ser revelado :
“Todos os tronos e domínios, principados e poderes serão revelados
e concedidos a todos os que tiverem perseverado valentemente por
causa do evangelho de Cristo.
“E também, se existem limites determinados para os céus ou para os
mares, ou para a terra seca, ou para o sol, lua ou estrelas—
“Todos os tempos de suas revoluções, todos os dias, meses e anos
designados; e todos os dias de seus dias, meses e anos; e todas as
suas glórias, leis e tempos determinados serão revelados nos dias da
dispensação da plenitude dos tempos” (D&C 121:29–31).
Portanto, irmãos e irmãs, ao encararmos o universo, não vemos nem
caos nem inquietação cósmica inexplicáveis. Em vez disso, os fieis
veem Deus “movendo-se em sua majestade e poder” (D&C 88:47). É
como assistir a um balé cósmico, divinamente coreografado—
espectacular, dominante e assegurador!
Mesmo assim, apesar de nos sentirmos dominados pela maravilha e
assombro, as preocupações mundanas podem nos vencer (vide D&C
39:9). A rotina enfadonha e a repetição cotidiana podem fazer-nos
olhar com indiferença para o chão em, vez de fitar com reverência
para cima e para o além. Podemos alienar-nos do Criador, que pode
parecer uma estrela distante: “Pois como conhece um homem o
mestre a quem não serviu e que lhe é estranho e que está longe dos
pensamentos e desígnios de seu coração?” (Mosias 5:13).
Sabemos que o Criador do universo também é o Autor do plano de
felicidade. Podemos confiar Nele. Ele sabe perfeitamente o que é que
traz a felicidade a seus filhos (vide Mosias 2:41; Alma 41:10).
Neste meio tempo em que alguns passam pelas situações da vida
cotidiana, sentindo-se desprezados e não amados, podem estar
certos de que, apesar de tudo isso, Deus os ama! Suas criações
assim testificam.
Portanto, podemos reconhecer Sua mão em nossa vida pessoal da
mesma forma que reconhecemos Sua mão no deslumbrante universo
(vide D&C 59:21). Se reconhecermos Sua mão agora, um dia todos
nós que estamos no berço de suas criações poderemos saber o que
significa “ser envolvidos pelos braços de Jesus” (Mórmon 5:11).
O regozijo reverente que agora procuro inspirar nos irmãos por este
comentário já existia há muito tempo no passado. Ao passo que o
plano do Criador era apresentado na vida premortal, alguns até
“jubilavam” (Jó 38:7). E por que não? Pois “o homem existe para que
tenha alegria” (2 Néfi 2:25). Que vocês sejam abençoados para que
possam contagiar seus alunos com sua reverência e assombro pelas
criações do Senhor e por Seu plano para nós.
Ao concluir, eu testifico que a obra maravilhosa de Deus é maior que
o universo que conhecemos. Também testifico que os planos de Deus
para seus filhos predatam a criação deste nosso lindo planeta! No
santo nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas
[1] Saint Anselm [Santo Anselmo]: Basic Writings [Escritos básicos],
tradução de Sidney Norton Deane, 2nd ed. (La Salle, IL: Open Court
Publishing, 1962), 7.
[2] Carl Sagan, Pale Blue Dot: A Vision of the Human Future in Space
[Um pontinho de azul claro: Uma visão do futuro humano no espaço[
(New York: Ballantine Books, 1994), 50.
[3] Morris L. West, The Tower of Babel [A Torre de Babel] (New York:
William Morrow and Company, 1968), 183.
[4] Joseph Smith, Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, compilado
por Joseph Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 220.
[5] J. Reuben Clark Jr., Behold the Lamb of God [Eis o Cordeiro de
Deus] (Salt Lake City: Deseret Book, 1962), 17.
[6] Stephen W. Hawking, A Brief History of Time: From the Big Bang
to Black Holes [Uma breve história das idades: do Big Bang até os
buracos negros] (New York: Bantam Books, 1988), 126.
[7] Freeman J. Dyson, “Energy in the Universo,” Scientific American
224, no. 3 (September 1971): 59.
[8] Ralph Waldo Emerson, “Nature,” in The Complete Works of Ralph
Waldo Emerson, centenary edition, 12 vols. (Boston: Houghton, Mifflin
and Company, 1903), 1:7.
[9] Stephen Strauss, “Universo May Have Regular Pattern of
Galaxies, New Findings Suggest,” [“Novas descobertas indicam que o
universo talvez tenha um padrão sistemático de galáxias”] Deseret
News, March 4, 1990, 2S.
[10] Stuart K. Hine, “Grandioso És Tu,” Hinos (Asunción, Paraguay: A
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 1991), no. 43.
[11] Alexander Pope, “Essay on Man,” [“Ensaio sobre o Homem”] in
The Poems of Alexander Pope, ed. John Butt (New Haven, CT: Yale
University Press, 1963), 504–505.
[12] Stephen Hawking, Black Holes and Baby Universos and Other
Essays [Buracos negros, mini-universos e outros ensaios] (New York:
Bantam Books, 1993), 99.
[13] Albert Einstein, in Ronald W. Clark, Einstein: The Life and Times
[A vida e os tempos de Einstein] (New York: World Publishing
Company, 1971), 19.
[14] Allen Sandage, “A Scientist Reflects on Religious Belief,” [“Um
cientista reflete na crença religiosa”] Truth Journal, Internet edition,
vol. 1 (1985), leaderu.com/truth/1truth15.html.
[15] Wendell Berry, “Christianity and the Survival of Creation,” [“O
cristianismo e a sobrevivência da criação”] in Sex, Economy,
Freedom, and Community: Eight Essays (New York and San
Francisco: Pantheon Books, 1993), 103.
[16] Michael Benson, “A Space in Time,” [“Um espaço no tempo”]
Atlantic Monthly 290, no. 1 (July–August 2002): 105.
[17] David Koo, in Strauss, “Universo May Have Regular Pattern,”
[“Universo talvez tenha um desenho sistemático”] 2S.
[18] Chaisson and Steve McMillan, Astronomy Today [A astronomia
hoje em dia] (Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1993), 559.
[19] Corey S. Powell, “Up against the Wall,” [“Contra o paredão”]
Scientific American 262, no. 2 (February 1990): 19.
O Ensino da Expiação

O Ensino da Expiação
Tad R. Callister

Como é que nós, professores do evangelho restaurado, podemos


ensinar com efeito a sublime e profunda doutrina da Expiação? Como
foi que os profetas a ensinaram? O que podemos aprender por meio
deles? [1]
Embora os profetas, ao longo dos séculos, tenham demonstrado
talentos variados e capacidades sui generis de ensino, observamos
certos princípios fundamentais que se repetem com frequência no seu
ministério de ensino. Segue-se uma revisão de alguns dos recursos e
técnicas utilizados pelos profetas ao explicarem a doutrina da
expiação e seus aspectos infinitos.

Uma Advertência Espiritual


O Rei Benjamim reuniu seu povo, mas não foi para passar um dia de
diversão. Ele logo informou aqueles que levaram um dedal, falando
figurativamente, em que guardar suas palavras que precisavam de
vasilhas muito maiores: “Meus queridos irmãos, todos que haveis
reunido, vós que podeis ouvir as palavras que hoje vos direi; pois não
ordenei que viésseis aqui para ouvir levianamente as palavras que
direi, mas para que me escuteis e abrais os ouvidos para ouvir, o
coração para entender e vossa mente para que os mistérios de Deus
vos sejam revelados” (Mosias 2:9). Esta introdução serviu de
advertência de que os ouvidos precisavam ser espiritualmente
sintonizados e o coração aquebrantado para receber a mensagem de
importância superna que logo seguiria. Daí ele pregou um dos
sermões mais marcantes já proferidos sobre a Expiação. Muitos anos
depois, o Élder Bruce R. McConkie iniciou seu sermão inesquecível a
respeito do sacrifício expiatário com estas palavras profundas: “Tenho
a impressão, e o Espírito concorda, que a mais importante doutrina
que posso declarar e o testemunho mais poderoso que posso prestar
são os que se referem ao sacrifício expiatório do Senhor Jesus
Cristo.” [2]
Como o Rei Benjamim, o Élder McConkie primeiramente preparou o
espírito das pessoas antes de dar sua mensagem inspiradora, de
forma que os ouvidos se abriram, a mente se focalizou e o coração se
abrandou para receber o volume grande de água viva que estava
para ser distribuída a elas. O impacto destas mensagens transformou
a vida de muitas pessoas. Aqueles que ouviram as palavras do Rei
Benjamim clamaram a uma só voz: “Sim, acreditamos em todas as
palavras que nos disseste;... de modo que não temos mais disposição
para praticar o mal, mas, sim, de fazer o bem continuamente” (Mosias
5:2).
Estes dois profetas a que me referi começaram o sermão por chamar
nossa atenção espiritual. Foi uma advertência, uma chamada, para
nos alertar que a mensagem que seguiria merecia mais do que a
atenção leviana dos ouvintes, mensagem esta que requeria atenção
intensa e toda a nossa capacidade espiritual. Por quê? Porque estes
profetas sabiam que a bela, porém difícil, doutrina da Expiação só se
compreende por aqueles que estão preparados espiritualmente. Sua
mensagem serve de lembrete comovente do estado de espírito
reverente que devemos buscar antes de começar a ensinar aquela
doutrina que Robert L. Millet chama “a doutrina das doutrinas.” [3]

Lançar o Alicerce
Não se pode dominar o estudo de cálculo sem primeiro dominar
álgebra. O processo do aprendizado requer certa ordem. Isaías nos
ensinou: “A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se
daria a entender doutrina? Ao desmamado do leite, e ao arrancado
dos seios?” Daí ele deu uma fórmula simples porém profunda para
dominar as doutrinas da Igreja: “mandamento sobre mandamento,
regra sobre regra” (Isaías 28:9–10). O Presidente Ezra Taft Benson
nos ensinou: “Ninguém sabe de forma adequada e apropriada por
que era preciso que houvesse um Cristo sem primeiro enteder e
aceitar a doutrina da Queda e seus efeitos em toda a
humanidade.” [4]
Os estudantes aprendem rapidamente a impossibilidade de
compreender a expiação sem primeiro compreenderem a Queda. Leí
proferiu um belo discurso sobre a expiaçao (vide 2 Néfi 2). Ao dar o
discurso ele primeiramente explicou as condições que existiam no
Jardin do Éden.
Então, depois desta introdução, Benjamim fez um resumo susinto de
por que o Salvador veio: “E o Messias vem na plenitude dos tempos
para redimir da queda os filhos dos homens” (2 Néfi 2:26). Assim
aprendemos que a expiação se tornou necessária para corrigir certas
condições causadas pela Queda (por exemplo, a morte física e
espiritual). Alma, ao aconselhar seu filho desobediente, Coriânton,
discerniu: “E agora, meu filho, eu percebo que existe algo mais que te
preocupa e que não podes compreender, relativo à justiça de Deus na
punição do pecador.” Então ele disse: “Agora, meu filho, eis que te
explicarei isto.” (Alma 42:1–2). Nos seguintes onze versículos, Alma
lança o alicerce de sua resposta por meio de detalhar as condições
existentes no Jardim do Éden e as consequências da Queda. Só
depois disso é que ele começou a explicar a relação entre a justiça, a
misericórdia e a expiação.
Devido à necessidade de entender a Queda antes de compreender
plenamente os propósitos da expiação, acho útil o seguinte diagrama
para ajudar os alunos a entenderem como a expiação corrige, ou
redime, as conseguências negativas da Queda:
O Livro de Mórmon ao Resgate
A doutrina da Queda e da Expiação é o âmago do cristianismo, porém
persistem muitas ideias erradas quanto a seu significado porque a
Bíblia, por inspirada que seja, sofreu a supressão, nos manuscritos
originais, de “muitas coisas claras e preciosas” (1 Néfi 13:28). Por
isso, “um grande número tropeça, sim, de tal maneira que Satanás
tem grande poder sobre eles” (1 Néfi 13:29). O Élder McConkie certa
vez fez este desafio: “Escolhe as cem doutrinas mais báscias do
evangelho e em baixo de cada doutrina faça duas colunas paralelas,
uma com o cabeçalho Bíblia e a outra com o cabeçalho Livro de
Mórmon. Daí, escrva nestas colunas o que cada livro ensina a
respeito de cada doutrina. O resultado mostrará, sem dúvida, que em
noventa e cinco por cento dos casos, os ensinamentos do Livro de
Mórmon serão mais claros, mais simples, mais detalhados e melhores
do que os da Bíblia. Se alguém tiver dúvidas a respeito disso, que
faça este teste, um teste pessoal.” [5]
Este desafio se aplica mais à expiação do que a qualquer outra
doutrina. Sem o Livro de Mórmon, muitos equívocos surgiram no
mundo cristão a respeito desta doutrina tão chave. Por exemplo:
Primeiro equívoco: Há muitos que ensinam que Adão e Eva teriam
gerado filhos no Jardim do Éden, se fosse permitido que eles
ficassem no jardim. Depois da transgressão deles no jardim, o Senhor
disse que “com dor darás à luz filhos” (Gênesis 3:16). Segundo a
interpretação de alguns, se não houvesse uma transgressão, Adão e
Eva, sem dores, teriam dado à luz fihos no Jardim do Éden. Mas o
Livro de Mórmon revela a verdade: “E não teriam tido filhos” (2 Néfi
2:23; vide também Moisés 5:11).
Segundo equívoco: Alguns ensinam que Adão e Eva viviam num
estado de alegria, de felicidade sem igual, no jardim. Outra vez o
Livro de Mórmon ensina a verdade: “Portanto teriam permanecido
num estado de inocência, não sentindo alegria por não conhecerem a
miséria; não fazendo o bem por não conhecerem o pecado” (2 Néfi
2:23). Devido a estes primeiros dois equívocos, grande parte do
mundo cristão acredita que a Queda se trata de um passo trágico
para trás. Concluem inocentemente, porém erroneamente, que se
Adão não tivesse caído, todos nós teríamos nascido no Jardim do
Éden e, daí em diante, vivido num estado de alegria eterna. Tal
racioncínio, porém, negaria a necessidade da Expiação, um evento já
pré-ordenado na vida pré-mortal (vide Éter 3:14). João também
testificou disso quando falou do Salvador como sendo “o Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).
Terceiro equívoco: Há quem ensina que por causa da Queda todas as
criancinhas são maculadas pelo pecado original. Mórmon repreendeu
fortemente aqueles que acreditavam deste jeito: “Sei que é um sério
escárnio perante Deus batizar criancinhas.” Ele citou o Salvador ao
explicar o motivo por que não é necessário batizá-las: “Os sãos não
precisam de médico, mas sim os que estão doentes; portanto as
criancinhas são sãs, por serem incapazes de pecar; portanto a
maldição de Adão é delas removida por minha causa de modo que
sobre elas não tem poder” (Morôni 8:8, 9).
Quarto equívoco: Certas pessoas acreditam que a graça só pode nos
salvar, independente de nossas obras. Néfi coloca a doutrina de fé e
obras no contexto certo: “Pois trabalhamos diligentemente para
escrever, a fim de persuadir nossos filhos e também nossos irmãos a
acreditarem em Cristo e a reconciliarem-se com Deus; pois sabemos
que é pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos
fazer” (2 Néfi 25:23). Nós não ganhamos nossa salvação só por
nossos esforços, mas Néfi ensinou que devemos contribuir os nossos
melhores esforços para que Deus possa nos conceder a graça. C. S.
Lewis acertou este ponto quando, ao discutir o antigo debate entre fé
e obras, disse: “Não me parece que convem perguntar qual das
lâminas de uma tesoura é a mais necessária.” [6]
Quinto equívoco: Outro conceito falso é que a ressurreição física do
Salvador é um mero símbolo mas que nós ressuscitaremos sem as
“limitações” de um corpo físico. Alma, porém, não deixou dúvidas
quanto à natureza corporal da ressurreição: “A alma será restituída ao
corpo e o corpo, à alma . . . sim, nem um fio de cabelo da cabeça
será perdido” (Alma 40:23).
Sexto equívoco: Muitas pessoas ensinam que a Expiação não tem o
poder de nos transformar em deuses; de fato, segundo elas, tal ideia
se trata de blasfêmia. O próprio Salvador, porém, nos deu um desafio
divino: “Portanto, que tipo de homens devereis ser? Em verdade nos
digo que devereis ser como eu sou” (3 Néfi 27:27). O capítulo final do
Livro de Mórmon reforça esta doutrina tão elevada: “Sim, vinde a
Cristo, sede aperfeiçoados nele . . . pela graça de Deus, por meio do
derramamento do sangue de Cristo” (Morôni 10:32–33).
Embora Néfi soubesse que muitas coisas claras e preciosas seriam
tiradas da Bíblia, ele, de igual modo, sabia que o Livro de Mórmon,
entre outros escritos sagrados, viria ao salvamento: “Estes últimos
registros que viste entre os gentios confirmarão a verdade dos
primeiros, que são dos doze apóstolos de Cordeiro, e divulgarão as
coisas claras e preciosas que deles foram suprimidas” (1 Néfi 13:40).
O Presidente Ezra Taft Benson falou da necessidade absoluta do
Livro de Mórmon para poder compreender a divindade e a Expiação
do Salvador: “Grande parte do mundo cristão de hoje rejeita a
divindade do Salvador. Duvidam de seu nascimento milagroso, de
sua vida perfeita a da realidade de sua gloriosa ressurreição. O Livro
de Mórmon ensina de forma clara e exata a verdade acerca de todos
estes assuntos. Também contém a explicação mais completa da
doutrina da Expiação. Em verdade este livro inspirado é a pedra
fundamental para podermos prestar testemunho ao mundo de que
Jesus é o Cristo.” [7]
O Livro de Mórmon é como uma mina de ouro para descobrir as
verdades magníficas sobre a Expiação. Seguem-se uma amostra dos
muitos capítulos cheios do ouro da verdade para aqueles que
estiverem dispostos a minar:
2 Néfi 2 (Leí) Alma 40 e 42 (Alma)
2 Néfi 9 (Jacó) Helamã 14 (Samuel)
Mosias 2–5 (Rei Benjamim) 3 Néfi 11 (o Salvador)
Alma 34 (Amuleque) Morôni 10 (Morôni)
Ao banquetearmos com as palavras do Livro de Mórmon,
conseguiremos ver, de modo espiritual, o glorioso retrato do sacrifício
expiatório do Salvador.
O Poder de uma Boa Pergunta:
Como é que a Expiação do Salvador será infinito?
O Salvador sofreu pelos pecados da humanidade tanto no Jardim de
Getsêmani como na cruz?
Pôde Ele, um homem perfeito, entender o que é ter fraquezas e ser
rejeitado?
Havia um plano alternativo, caso Ele resolvesse não ir adiante?
Pode alguém sofrer por seus próprios pecados e ainda ser redimido?
O poder de uma boa pergunta é de valor incalculável. De certa forma
é como um despertador mental que nos acorda do sono espiritual.
Pode servir de catálise para dar partida a nosso motor cerebral. Ela
faz as rodas da mente andarem e nos dá certa inquietação, um
anseio que nos faz concentrar no assunto até vir aquele alívio que
vem em forma de uma resposta que satisfaz a mente e acalma o
coração. Antes de vir a resposta é como se estivéssemos vendo um
quadro pendurado de través na parede sem podermos indireitá-lo, ou,
um quebra-cabeça que não se pode completar por falta de uma só
peça—há um urgência irrestitível de indireitar o quadro ou colocar a
peça final no lugar. Até descobrirmos a solução, a mente fica em
marcha acelerada, levando em conta todas as opções, ponderando,
paneirando e escolhendo até que se descubra a solução. Há uma
grande diferença entre ouvir a resposta e descobrir a solução. É como
receber um quadro de presente em vez de pintá-lo, receber um livro
em vez de escrevê-lo, ou escutar o Concerto número 3 para piano de
Rachmaninoff em vez de tocá-lo. Descobrirmos a solução nos traz
imensa satisfação, nos dá posse, grava um registro permanente no
nosso banco de dados e deixa de ser uma coisa transitória.
Há muitos tipos de perguntas. Há perguntas circunstanciais ou de
informações de background. Tais perguntas, porém, geralmente se
tratam de um meio de chegar a uma finalidade. Por exemplo: Onde
nasceu o Salvador? Por quanto tempo ficou no Jardim de Getsêmani?
Estas perguntas ajudam a definir o cenário, mas em si, não nos
emocionam nem motivam. Não obstante, um cenário factual muitas
vezes se trata de pré-requisito necessário para descobrir e entender
as verdades mais profundas.
Há perguntas que nos incentivam a fazer um auto-análise. A pergunta
de Deus para Adão: “Onde estás?” (Gênesis 3:9), foi mais do que
uma pergunta sobre a localização física de Adão. Foi um inquérito
sobre os estado espiritual de Adão. O clímax do sermão de Alma ao
povo de Zaraenla consiste em onze perguntas introspectivas
consecutivas, tais como, “Haveis nascido espiritualmente de Deus?
Haveis recebido sua imagem em vosso semblante? Haveis
experimentado esta poderosa mudança em vosso coração?” (Alma
5:14). Um professor atencioso poderá fazer perguntas semelhantes
que requeiram um auto-análise da fé e da dignidade dos alunos: Você
acredita que pode ser totalmente absolvido de seus pecados por
causa do sacrifício infinito do Salvador? Você tem fé de que sua
Expiação lhe proporciona a cura de suas fraquezas, pecados,
infermidades e faltas? Você tem um coração quebrantado e espírito
contrito?
Há outras perguntas que podem nos elevar de nível de compromisso
para com o Senhor. Três vezes o Salvador perguntou a Pedro: “Tu
me amas?” (João 21:15–17). Sem dúvida, Pedro respondeu com
cada vez mais emoção, um compromisso ainda mais profundo ao
Santificado. Os professores podem fazer perguntas semelhantes:
Você ama o Salvador de tal modo que perdoa os outros como Ele nos
perdoa? Apreciamos seu sacrifício ao ponto de nos comprometer a
consagrar tudo que possuímos para adiantar a causa dele?”
As perguntas tambêm podem servir de respostas eficazes. Coriânton
queria saber por que a vinda de Cristo “seria conhecida tão
antecipadamente.” A resposta que seu pai, Alma, lhe deu consistia
em uma série de perguntas: “Eis que te pergunto: Não é uma alma
tão preciosa para Deus agora, como o será na ocasião de sua vinda?
Não é tão necessário que o plano de redenção seja dado a conhecer
a este povo, quanto a seus filhos?” (Alma 39:17–18). Se um
estudante perguntasse: “A Expiação é retroativa? Pode o povo do
Velho Testamento receber seus benefícios antes que o preço fosse
pago?,” resistindo a tentação de dar uma resposta instantânea, um
professor sábio poderia responder com outra pergunta: “Há algo na
nossa sociedade atual que nos permite desfrutar os benefícios antes
de pagar o preço?” A palestra que segue pode incluir o exemplo do
cartão de crédito, enfatizando o fato do conceito crediário do Salvador
ser de “ouro puro,” pois na existência pré-mortal Ele sempre cumpriu
sua palavra. De igual modo, sob as leis de justiça, os benefícios da
Expiação poderiam advir àqueles que viviam antes que o preço fosse
pago, pois não havia dúvida que Ele pagasse “a conta” tanto no
jardim e como na cruz (vide Alma 39 cabeçalho e Mosias 3:13).
Uma boa pergunta pode muitas vezes ser a base de uma aula ou
sermão inteiros. Assim foi o caso de Amuleque, o qual discerniu “que
a grande pergunta que tendes em mente é se a palavra está no Filho
de Deus ou se não haverá um Cristo” (Alma 34:5). Ao responder,
Amuleque deu seu discurso maravilhoso sobre a natureza infinita da
Expiação.

E Ainda Mais
Como é que um mero mortal pode entender o amor e sacrifício
infinitos do Salvador? Naturalmente um mortal não pode entendê-los
por completo. Mas os profetas fizeram muito para nos ajudar a
compreender por meio de comparar a Expiação a duas formas de
amor que conhecemos e por explicar que a Expiação é tudo isso e
ainda mais, muito mais.
Um dos exemplos se refere à história de Abraão e Isaque. Ao falar do
sacriífico de Isaque que Abraão ia fazer, o profeta Jacó observa que
este evento simbolizava o sacrifício do Filho Unigênito por Deus (Jacó
4:5). Seria difícil, senão impossível, um pai contemplar uma provação
maior do que sacrificar seu filho amado, aquele pelo qual as bênção
da eternidade fluiriam. Que pai não teria empatia por Abraão quando
amarrou seu filho e desenbainhou a faca para derramar o sangue
deste filho da promessa? A dor deve ter sido amargamente aguda, as
emoções agitantes, enquanto ele levantava a mão para dar a facada
fatal. Mas naquele instante o anjo de misericórdia o livrou da ordem:
“Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porque
agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único
filho” (Gênesis 22:12). Então Abraão encontrou um cordeiro no mato
para ser “a ovelha expiatória” no lugar de seu filho; mas para o Nosso
Pail Celestial não haveria cordeiro no mato nem anjo de misericórdia
para parar a seu filho a mão da morte. O sacrifício que Nosso Pai fez
seria tudo que Abraão teria feito, e ainda mais.
Isaías sabia que não havia amor como o de uma mãe para seu filho
que cria. Entaõ ele perguntou: “Porventura pode uma mulher
esquecer-se tanto de seu filho que cria?” Por rara que esta
possibilidade seja, ele a usou como régua espiritual para mostrar que
o amor infinito de Deus ultrapassa o de uma mãe, sim, por muito.
“Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me
esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei”
(Isaías 49:15–16). Para que não houvesse dúvidas, as marcas dos
cravos da cruz serviriam de lembrete tangível de que seu amor
ultrapassou até o de uma mãe para seu filhinho.
Estes exemplos nos fazem contemplar a profundidade de nossas
emoções. São janelas que nos dão vistas do infinito. Embora não
possamos compreender plenamente a Expiação, estes exemplos
servem de vistas momentêneas do amor sem limites que possuem o
Pai e o Filho.

A Pura Doutrina da Expiação


Talvez o discuro mais eloquente revelado nas escrituras a respeito da
a Expiação seja o do Rei Benjamim (vide Mosias 2–5). Em suas
próprias palavras, ele disse: “Falei-vos claramente para que
pudésseis compreender” (2:40). Ele procedeu de forma clara e exata,
linha por linha, versículo por versículo, com lógica sucinta e
testemunho inequívoco e incontestável. Este sermão penetra a alma
e explica as maravilhosas verdades de forma não diluída ao transmitir
a pura doutrina. Não há necessidade de citar fontes ou evidências
históricas. Nada disso é necessário porque os Santos, já
espiritualmente maduros, estavam prontos e ansiosos para receber a
doutrina da Expiação na sua plenitude. E assim se fez.
O que se segue é uma narrativa da doutrina da Expiação da forma
mais resumida e exata que consigo fazer. Talvez quando estivermos
preparados espiritualmente e os alunos estiverem preparados
também, nós possamos, como o Rei Benjamim, administrar a dose
completa e falar com muita franqueza para que “aquele que prega e
aquele que recebe se compreendam um ao outro e ambos sejam
edificados e juntos se regozijem” (D&C 50:22).
A doutrina da Expiação é a mais superna, iluminadora, intensa
doutrina que se conhece neste mundo e universo. É justamente esta
doutrina que dá vida, fôlego e substância a todos os princípios e
ordenanças do evangelho. É a represa espiritual que alimenta os
riachos de fé, proporcionando o poder de ablução das águas do
batismo e passando o bálsamo que cura as feridas da alma. É o
enfoque do sacramento, do templo e das ordenanças do evangelho. É
o alicerce de pedra sobre o qual se edifica toda a esperança desta
vida e da eternidade.
Por sua própria definição, a Expiação é a missão preordenada do
Salvador. É o amor que Jesus Cristo mostrou, o poder que
manifestou e o sofrimento que padeceu em três lugares principais, a
saber: o Jardim de Getsêmani, a cruz do Calvário e a sepultura de
Arimateia. É o ato universal de suprema submissão em que o
Salvador cedeu por completo sua própria vontade à de seu Pai.
A Expiação se tornou necessária devido à Queda de Adão. Leí
esclareceu: “E o Messias vem na plenitude dos tempos para redimir
da queda os filhos dos homens” (2 Néfi 2:26). A transgressão de
Adão se chamou a Queda porque Adão e Eva caíram da presença de
Deus e também caíram da imortalidade para a mortalidade. Assim um
dos propósitos da Expiação é o de redimir os homens das
consequências negativas da Queda. O Salvador fez isso, em parte,
por meio de morrer na cruz e, depois, levar a efeito para todos a
Ressurreição. Paulo assim testificou: “Assim como todos morrem em
Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Coríntios
15:22). Além disso, o Salvador sofreu pelos pecados de todos e até
sangrou por todos os poros, o que fez com que houvesse condições
de arrependimento. Pelas suas pisaduras somos sarados. Isaías
ensinou que este processo de sarar é completo: “Vinde então, e
argui-me, diz o Senhor: ainda que vossos pecados sejam como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías
1:18).
Mas a Expiação tem um propósito a mais: não só redimir-nos
(reconciliar-nos da Queda) e sim aperfeiçoar-nos. A Expiação foi
instituída para fazer mais do que nos pôr outra vez no ponto de
partida, mais do que nos abluir, mais do que fazer-nos inocentes. Foi
projetada para nos proporcionar uma dotação (investidura) celestial
que nos possibilitará alcançar a perfeição divina. Como chegamos lá?
Devido à Expiação somos abluídos nas águas do batismo. Devido a
esta purificação somos aptos a receber o dom do Espírito Santo; e
com este dom temos direito aos dons do Espírito (isto é,
conhecimento, paciência, amor, etc.), sendo cada um deles uma
caraterística da Divindade. Assim, ao adquirirmos os dons do Espírito,
que se tornou possível por meio do poder purificador da Expiação,
adquirimos as caraterísticas de Deus.
Devido a sua natureza abrangente e eterna, certos profetas do Livro
de Mórmon se referiram à Expiação como a “expiação infinita” (2 Néfi
9:7; 2 Néfi 25:16; Alma 34:10, 12).
A Expiação é infinita em questão de divindade porque foi realizado
pelo Santíssimo, o Unigênito de Deus que possui, sem limites, todas
as caraterísticas divinas (vide D&C 109:77).
É infinito em poder porque o Salvador era o único que possuía os três
poderes necessários para nos salvar e exaltar, ou sejam, o poder de
nos resuscitar dentre os mortos, o poder de nos redimir os pecados e
o poder de nos dotar de atributos divinos (vide João 11:25; Alma
12:15; Morôni 10:32–33).
É infinito em tempo, tanto no futuro como no passado (vide Alma 34).
O Rei Benjamim declarou: “Todo aquele que acreditar na vinda de
Cristo receberá a remissão de seus pecados e regozijar-se-á com
grande alegria, como se ele já tivesse vindo a eles” (Mosias 3:13).
É infinito em extensão posto que proporcionou a ressurreição de
todas as coisas viventes e, além disso, a possibilidade de redenção e
perfeição para todas as pessoas do mundo do qual o Salvador foi
criador (vide D&C 76:23–24, 40–43).
É infinito em profundidade—cobre tudo. O Salvador “desceu abaixo
de todas as coisas” (D&C 88:6), o que significa que Ele desceu
abaixo de nossos pecados para que até “os mais vis pecadores”
(Mosias 28:4) e “os mais perdidos da humanidade” (Alma 24:11)
pudessem ser redimidos por sua misericórdia. Ademais, seu sacrificio
desceu abaixo de toda as condições humanas, até às coisas que não
se relacionam ao pecado. Portanto ele compreende a solidão de uma
viúva, entende a dor agonizante que os pais sentem quando um filho
desvia do caminho e Ele tem dó daqueles que passam pelo
sofrimento do câncer e de todas as outras doenças debilitantes dos
seres humanos. Por incrível que pareça, ele, um homem perfeito,
compreende todas as fraquezas e injúrias do ser mortal. Não há
nenhuma condição temporal, por feia ou cruel que seja, que tenha
escapado de sua compreensão. Ninguém poderá dizer nos juízo final:
“Tu não compreendeste minha situação única.” Pois ele entende. Ele
“compreende todas as coisas” (Alma 26:35) porque “desceu abaixo
de todas as coisas” (D&C 88:6). Ele não só tem uma reserva de
poderes redentores como também uma reserva infinita de poderes
curativos. Ele não somente nos reme os pecados mais grosseiros
como também tem o poder de curar a menor dor ou a fraqueza mais
insignificante. Ele é o grande Mestre Curador, o Mestre Conselheiro,
o Mestre Consolador. Não há dor que ele não possar aliviar, nem
rejeição que ele não possa apaziguar, nem solidão que não possa
consolar, nem fraqueza que não possa fortalecer. Quaisquer que
sejam as aflições que o mundo nos lançar em rosto, ele poderá
remediar com seu poder superior de cura todas elas. Sua Expiação é
infinita porque circunsreve e englobaliza todas as condições finitas
que os mortais conhecem.
Sua Expiação é infinita em sofrimento. O Salvador falou do cálice
amargo e terrível cujo “sofrimento fez com que Deus, o mais
grandioso de todos, tremesse de dor e sangrasse por todos os poros;
e sofresse, tanto no corpo como no espírito—e desejasse não ter de
beber a amarga taça e recuar—(D&C 19:18). O sofrimento começou
em Getsêmani (embora ele tivesse sofrido de outras formas ao longo
da vida) onde suou sangue por todos os poros, e concluiu no
Calvário, onde ele clamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me
desamparaste?” (Mateus 27:46). Ele padeceu todo o sofrimento
sozinho, sim, toda a condição humana. Seus divinos poderes não
serviam de escudo contra seu sofrimento, pelo contrário, quando a
dor que padecia teria matado um mero ser mortal, o Salvador reuniu
suas divinas forças não para se imunizar, e sim para postergar a
morte até sofrer todas as dores já padecidas por todas as pessoas de
todos os mundos. Só depois de fazer isso é que ele pôde sacrificar a
própria vida de sua livre e espontânea vontade.
Por fim, sua Expiação é infinita em amor—tanto o do Filho como o do
Pai. A mente humana não pode compreender tal amor. Isto faze parte
da santidade e beleza do evento. É algo que se tem que sentir e não
só compreender pelo racioncínio humano. O dia virá em que
entenderemos a divina declaração: “Porque Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Assim,
Todo joelho se dobrará e toda boca confessar que Jesus é o Cristo.
O Salvador é a única esperança nossa de salvação e exaltação. Não
há nenhum “substituto,” caminho alternativo nem plano secundário. O
Rei Benjamim afirmou: “Nenhum outro nome se dará, nenhum outro
caminho ou meio pelo qual a salvação seja concedida aos filhos dos
homens, a não ser em nome e pelo nome de Cristo, o Senhor
Onipotente” (Mosias 3:17).
Ao fazer o sacrifício supremo, o Salvador satisfez todas as exigências
de justiça e exerceu a misericórida completa. Ele pagou o terrível
preço, o preço infinitivo, para nos redimir e nos aperfeiçoar. Ele é, de
verdade, nosso Salvador, nosso Redentor e nosso Exemplo.

A Expiação em uma Estufa Espiritual


A doutrina da Expiação é como uma boa semente plantada na terra.
Se, porém, a semente não for nutrida e instruída num ambiente de
espiritualidade, gratidão e testemunho, nunca florecerá aos olhos do
jardineiro. Às vezes a forma de falar algo é tão importante como o
conteúdo da mensagem.
Quando o Salvador completou o Sermão da Montanha, “a multidão se
admirou da sua doutrina,” e as escrituras nos dizem por quê:
“Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os
escribas” (Mateus 7:28–29). Néfi nos deu a mesma receita para o
ensino eficaz: “Quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo,
o poder do Espírito Santo leva as suas palavras ao coração dos filhos
dos homens” (2 Néfi 33:1).
Alguns professores podem desempenhar o papel de guardas, outros
ficam controlando o relógio até completar a aula, alguns entretêm os
alunos, outros passam fatos e informações, alguns conseguem
motivar e alguns são professores inesquecíveis que invocam o
Espírito, são aqueles que não somente têm o poder de nos motivar a
fazer boas obras por um tempinho, mas que fazem uma mudança
permanente em nosso coração. A doutrina da expiação florece neste
último ambiente que citei. Não se substitui o Espírito—nenhuma
técnida de didática tem tanto poder, pois só pelo Espírito é que a
doutrina da Expiação tornar a viver em nós.
Expressões de gratidão e amor incrementam a nutrição da semente,
combatem argumentos, nos fazem refletir e criam um ambiente de
humildade e aceitação da verdade. Quem poderá escutar as palavras
emocionantes de gratidão proferidas pelo Élder McConkie no seu
sermão final e não sentir uma relação íntima com o Salvador e
gratidão eterna por seu excelente sacrifício: “Eu sou uma de suas
testemunhas e num dia futuro apalparei as marcas dos cravos nas
suas mãos e nos seus pés e molharei seus pés com minhas
lágrimas.” [8]
Vez após vez a doutrina da Expiação se acompanha do poder de
testemunho. Amuleque proclamou ousadamente: “E agora eis que eu
próprio vos testifico que estas coisas são verdadeiras. Eis que vos
digo que sei que Cristo virá entre os filhos dos homens para tomar
sobre si as transgressões de seu povo e que ele expiará os pecados
do mundo; porque o Senhor Deus o disse” (Alma 34:8). Naõ obstante,
não há ocasião em que o testemunho tenha sido prestado com mais
poder do que o próprio testemunho do Salvador: “Bebi da taça
amarga que o pai me deu e glorifiquei o Pai, tomando sobre mim os
pecados do mundo, no que me submeti à vontade do Pai em todas as
coisas desde o princípio” (3 Néfi 11:11). Tal testemunho faz nosso
espírito tremer, nos enche de ardor e grava a palavra de Deus em
nosso coração.
Em tais ambientes os profetas têm lançado desafios para transformar
nossa vida. Foi Jacó que desafiou de forma poderosa:: “Por que não
falar, pois, na expiação de Cristo e conseguir um perfeito
conhecimento dele, assim como um conhecimento da ressurreição e
do mundo futuro?” (Jacó 4:12). Ao dar seu último sermão, o Rei
Benjamim desafiou os ouvintes: “Se acreditais em todas estas coisas,
procurai fazê-las” (Mosias 4:10). A reação de seus alunos espirituais
foi milagrosa. Regozijaram-se “com tão grande alegria” e prometeram:
“Estamos dispostos a fazer um convênio com nosso Deus, de cumprir
a sua vontade e obedecer a seus mandamentos em todas as coisas
que ele nos ordenar, para o resto de nossos dias” (Mosias 5:4–5).
Que mais pode um professor esperar?
Espírito, gratidão, testemunho e desafio—estes são o nutrientes na
estufa espiritual que fazem com que a doutrina da Expiação cresça e
floreça em nosso coração de forma bela e radiante. Ensinar esta
doutrina requer o que é de melhor e de mais elevado dentro de nós,
nossa criatividade, um espírito brando e nossa maior capacidade
intelectual, pois, na verdade jamais ensinaremos uma doutrina tão
profunda e comovente.

Notas
[1] Este ensaio se trata de um resumo e reflexão do livro The Infinite
Atonement (A Expiação Infinita) (Salt Lake City: Deseret Book, 2000),
deste autor.
[2] Bruce R. McConkie, “The Purifying Power of Gethsemane,”
Ensign, May 1985, 9.
[3] Robert L. Millet, “Foreword,” in Tad R. Callister, The Infinite
Atonement (Salt Lake City: Deseret Book, 2000), ix.
[4] Ezra Taft Benson, A Witness and a Warning (Salt Lake City:
Deseret Book, 1988), 33.
[5] Bruce R. McConkie, A New Witness for the Articles of Faith (Salt
Lake City: Deseret Book, 1985), 467.
[6] C. S. Lewis, Mere Christianity (New York: Collier Books, 1996),
129.
[7] Ezra Taft Benson, A Witness and a Warning (Salt Lake City:
Deseret Book, 1988), 18.
[8] McConkie, “The Purifying Power of Gethsemane,” 1
O Livro de Mórmon: A Grande Resposta à
Grande Pergunta
Traduzido de Neal A. Maxwell, "The Book of Mormon: A Great
Answer to 'The Great Question'" in A Book of Mormon Treasury:
Gospel Insights from General Authorities and Religious
Educators (Provo and Salt Lake City: Religious Studies Center
and Deseret Book, 2003), 1-18.

O Livro de Mórmon: A Grande Resposta à


Grande Pergunta
Élder Neal A. Maxwell
O Livro de Mórmon proporciona grandes e retumbantes
respostas àquilo que Amuleque denominou “a grande
pergunta,” isto é: “Existe realmente um Cristo redentor?” (Alma
34:5-6). O Livro de Mórmon declara com clareza e com provas:
“Sim! Sim! Sim!” Ademais, o livro declara, mediante seu tema
muito repetido, que “todas as coisas que foram dadas por Deus
ao homem desde o começo do mundo são símbolos de [Cristo]”
(2 Néfi 11:4). Levando em conta tudo que Deus poderia ter-nos
dito, que impressionantes são as suas respostas! Ele, diante do
qual todas as coisas, tanto do passado como do presente como
do futuro, continuamente estão presentes (Vide D&C 130:7),
decidiu falar-nos do “evangelho” (3 Néfi 27:13-14; D&C 33:12;
D&C 39:6; 76:40-41)-as “boas novas” transcendentes, sim, as
repostas resplandecentes à “grande pergunta.”
É também de se admirar que Deus, que criou “mundos sem fim”
(Moisés 1:33, 37-38; vide Isaías 45:18), decidiu-nos afirmar
que neste pequeno “grão de areia” em que estamos “ele nada
faz que não beneficie o mundo; porque ama [este] mundo” (2
Néfi 26:24); “pois eis que esta é minha obra e minha glória:
Levar a efeito a imortalidade e a vida eterna do homem” (Moisés
1:39).
Não é de nos surpreender que esta mensagem gloriosa do
evangelho seja mais perfeito do que qualquer dos mensageiros,
a não ser o próprio Jesus. Tampouco nos surpreende que a
mensagem do evangelho seja mais vasta do que a compreensão
de qualquer de seus pregadores ou ouvintes, exceto o próprio
Jesus.
O significado total do Livro de Mórmon não se manifestou de
imediato ao Profeta Joseph Smith que traduziu, em média, o
equivalente a oito ou mais páginas impressas do Livro de
Mórmon por dia. Baseando-se nesta taxa de tradução,
conforme o Professor Jack Welch, teria levado, por exemplo,
somente um dia e meio para traduzir os primeiros cinco
capítulos de Mosias, um sermão notável sobre o qual muitos
livros serão escritos.
O Livro de Mórmon nos veio em princípios da atual dispensação
num local onde havia muito estudo da Bíblia, muita fé nos seus
preceitos e um renascimento religioso. Por isso, nós os
membros da Igreja temos tardado em apreciar sua relevância às
condições corrosivas dos dias atuais, a última parte da
dispensação. Questões e dúvidas da historicidade de Jesus
levantadas por alguns eruditos e até alguns clérigos têm
aumentado rapidamente. Isso, porém, não era o caso na
América de 1830. Dada a demografia de hoje, a maior parte do
“ministério” do Livro de Mórmon está passando justamente
nesta época agora de grande incerteza e contenda a respeito da
“grande pergunta”-a mesmíssima pergunta a que o Livro de
Mórmon foi cridado para responder!
Outra coisa impressionante é como o Livro de Mórmon prediz o
surgimento nos últimos dias de “outros livros” de escritura (1
Néfi 13:39). O Livro de Mórmon é um deles, “provando ao
mundo que as santas escrituras são verdadeiras e que Deus
inspira os homens e chama-os para sua santa obra, nesta
época e nesta geração, assim como em gerações passadas”
(D&C 20:11).
Quanto às omissões da preciosa Bíblia Sagrada, em um só
capítulo de 1 Néfi, capítulo 13, aparecem (na tradução
portuguesa) três frases: tiraram, foram tiradas e foram
suprimidas. Ao todo, há oito indicações num capítulo só que
houve omissões devido a deficiências na transmissão do texto.
Ademais, como indica Néfi, eram coisas “preciosas” que se
perderam. Notem que a tradução de Joseph Smith de Lucas
11:52 mostra que Jesus criticava aqueles que “haviam
suprimido a chave do conhecimento, a plenitude das escrituras”
(Tradução de Joseph Smith, Lucas 11:52
[Vide www.historiasud.com, Joseph Smith e as Escrituras]).
Embora não saibamos exatamente o que foi “tirado” ou
“suprimido” (Vide 1 Néfi 13:40), é lógico que haveria uma
representação maciça de tais verdades simples e preciosas na
Restauração. Portanto, os “outros livros” proporcionam
justamente aquilo que Deus anseia que seja disponível aos
filhos dos homens para que conheçamos a verdade das coisas,
como disse Jacó, “das coisas como realmente são” (Jacó 4:13).
A convergência destes “outros livros” de escrituras com a
preciosa Bíblia faz parte da marcha da Restauração. Esta
marcha teria sido impossível sem indivíduos dedicados e
heróicos, inclusive os profetas judeus e o antigo povo judaico
que, nas palavras do Livro de Mórmon, passaram por
“sofrimento, labores e aflições” para nos preservar a Bíblia.
Lamentavelmente, como foi previsto, os judeus, como povo,
não receberam agradecimentos por sua colaboração, em vez
disso, foram “amaldiçoados, odiados e escarnecidos” (Vide 2
Néfi 29:4-5; 3 Néfi 29:4-8). Uma expressão mais recente da
marcha da Restauração se reflete simbolicamente nas covas de
alguns membros da Igreja da década de 1830 que foram
enterrados em Ohio e Indiana. Recém se descobriu um caminho
de lápides que traziam réplicas em pedra tanto da Bíblia como
do Livro de Mórmon. Estes membros se sentiam abençoados
em dobro e queriam que o mundo o soubesse.
As escrituras hoje existentes nos informam de mais de vinte
outros livros que se revelariam [1] (Vide 1 Néfi 19:10-16). De
fato, um dia “todas as coisas que já ocorreram e ocorrerão
serão reveladas aos filhos dos homens” (2 Néfi 27:11). Portanto
a nona regra de fé é uma declaração impressionante! Na minha
opinião pessoal, porém, não receberemos mais escrituras até
que aprendamos a apreciar plenamente as que já temos.
Os “outros livros,” principalmente o Livro de Mórmon, cumprem
a “cláusula de estabelecimento” de Néfi: “Estes últimos registros
estabecerão a verdade dos primeiros que são dos doze
apóstolos do Cordeiro” (1 Néfi 13:40). O que o vidente dos
últimos dias, Joseph Smith, revelou de fato ajudará muitas
pessoas a aceitar a palavra de Deus na Bíblia (2 Néfi 3:11), por
convencê-las que “os registros dos profetas e dos doze
apóstolos do Cordeiro são verdadeiros” (1 Néfi 13:39). Há uma
aventura para a frente!
Neste meio tempo, enquanto se intensifica a crítica do Livro de
Mórmon, o livro continua a testificar e mostrar de forma cada
vez mais diversificada sua coerência interna, sua riqueza de
preceitos e seu vínculo com a antigüidade.
A plenitude da Restauração prosseguiu conforme prevista por
Amós: “fome na terra, não fome de pão nem sede de água, mas
de ouvir a palavra do Senhor” (Amós 8:11). O fim daquela fome
se marcou pelo lançamento do Livro de Mórmon e dos “outros
livros.”
Tais livros têm sido o meio do Senhor de preservar a memória
espiritual dos séculos passados. Sem a memória moral logo
segue a tragédia: “Ora . . . havia muitos da nova geração . . .
que não acreditavam no que fora dito sobre a ressurreição do
mortos nem acreditavam no que se referia à vinda de Cristo”
(Mosias 26:1-2).
Em outra ocasião: “E na ocasião em que Mosias os encontrou . .
. nenhum registro tinham trazido consigo; e negavam a
existência de seu Criador” (Ômni 1:17).
A crença na Divindade e na Ressurreição são geralmente os
primeiros princípios a serem abandonados. É irônico que
embora aceitemos com gratidão a Bíblia como palavra de Deus,
o próprio processo de sua emergência (várias traduções e a
supressão de coisas preciosas) tem causado um
enfraquecimento desnecessário na fé cristã por parte de
algumas pessoas. Devido ao fato das fontes bíblicas não serem
originais e sim derivações antiquadas e traduções, devemos
apreciar ainda mais os “outros livros” que chegaram a nós
diretamente de registros antigos e de revelação moderna.
Por exemplo, Paulo escreveu sua primeira epístola aos coríntios
em cerca de 56 A.D. Não possuímos, obviamente, o
pergaminho original. Aliás o documento mais antigo da
primeira epístola aos coríntios foi descoberto na década de
1930 e fora emitido em 200 A.D. Em comparação, o sermão do
rei Benjamim foi proferido pelo profeta em mais ou menos 124
A.C. Na última parte do século IV A.D. o sermão foi escolhido
por outro profeta-Mórmon-para fazer parte do Livro de
Mórmon. O sermão de Benjamim foi traduzido para inglês em
1829 A.D. por Joseph Smith, outro profeta. Há, portanto, uma
cadeia não interrompida do profeta-autor ao profeta-redator
ao profeta-tradutor numa colaboração notável.
Mesmo assim alguns descartam o Livro de Mórmon porque não
podem ver as placas das quais foi traduzido. Ademais, dizem
que não sabemos o suficiente sobre o processo de tradução.
Mas a promessa de Morôni ao leitor sério, de que logo tratarei,
consiste em ler e orar a respeito do conteúdo do livro, não a
respeito do processo de sua produção. Estamos, portanto,
“olhando para além do marco” (Jacó 4:14), quando, por falar de
modo figurativo, nos interessam mais as dimensões físicas da
cruz do que aquilo que Jesus conseguiu quando cravado nela.
Ou, quando não damos ouvidos às palavras de Alma sobre a fé
porque estamos fascinados demais pelo chapeu que refletia luz
supostamente usado por Joseph Smith durante parte da
tradução do Livro de Mórmon. [2]
Acima de tudo, ao ler e ponderar o Livro de Mormon, tenho-me
admirado especialmente de como, para o leitor sério, o livro
providencia uma resposta à chamada necessidade arquitetônica
do homem moderno, ou seja, nossa necessidade profunda de
perceber algum desenho, propósito, padrão ou plano referente
à existência humana.
Em não menos de quinze ocasiões o Livro de Mórmon emprega
a palavra plano com referência ao plano de salvação ou seus
componentes. O próprio uso da palavra plano em si é muito
marcante. Ao restaurar esta específica verdade “clara e
preciosa”-isto é, que Deus não somente vive mas também tem
um plano para a humanidade-o Livro de Mórmon é
extremamente relevante para nossos dias. Não aparecem frases
sobre o planejamento de Deus desde “a fundação do mundo”
no Velho Testamento, mas ocorrem dez vezes no Novo
Testamento e três vezes mais freqüente do que isso nos outros
livros. [3] Fundação naturalmente sugere uma criação
supervisionada por um Deus que ama e planeja.
O Livro de Mórmon dá pesada ênfase ao fato do evangelho ter
estado com a humanidade de Adão em diante. Na sexta página
do livro, lemos acerca do testemunho de todos os profetas
“desde a fundação do mundo” (1 Néfi 3:20); cinco páginas
depois, uma citação fala das palavras dos “santos profetas
desde o começo” (1 Néfi 5:13). O seguinte versículo representa
muitos: “Pois eis que não lhes profetizou Moisés acerca da
vinda do Messias e que Deus redimiria seu povo? Sim, e mesmo
todos os profetas que profetizaram desde o princípio do
mundo-não falaram eles mais ou menos sobre estas coisas?”
(Mosias 13:33; vide também 2 Néfi 25:19).
Parece provável que haja mais descobertas no futuro de
registros antigos referentes ao Velho e Novo Testamentos,
assimencolhendo o tempo entre a origem daquelas escrituras e
os documentos mais velhos já disponíveis. Porém, este
encolhimentonão levará automaticamente à ampliação da fé-
pelo menos para algumas pessoas. Futuras descobertas de
documentos antigos que podem “lançar maior luz sobre [seu]
evangelho” (D&C 10:45) podem focalizar-se em partes do
evangelho de Jesus que existiam antes do ministério mortal de
Jesus. Infelizmente, alguns poderão usar tais descobertas
indevidamente para diminuir a divindade do Redentor,
argumentando que não foi Jesus quem originou estas coisas,
como se havia pensado previamente. Todavia o evangelho
restaurado, inclusive o Livro de Mórmon, nos proporciona uma
leitura clara da história espiritual da humanidade, mostrando
“as ternas misericórdias” (Vide 1 Néfi 1:20; éter 6:12) desde o
tempo de Adão. Não há, portanto, motivo de ficarmos
preocupados com a descoberta de uma parte do evangelho de
Cristo antes do ministério mortal de Cristo. O evangelho foi
pregado e conhecido desde o início (Vide Moisés 5:58-59).
A detalhada correlação interna do Livro de Mórmon-de fato, de
toda escritura verdadeira-é maravilhosa aos nossos olhos.
Séculos antes do nascimento de Cristo, o rei Benjamim
profetizou: “E chamar-se-á Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Pai
da terra e do céu, o Criador de todas as coisas desde o
princípio” (Mosias 3:8).
Séculos depois, o próprio Jesus ressuscitado se apresentaria
aos nefitas com palavras bem semelhantes: “Eis que sou Jesus
Cristo, o Filho de Deus. Criei o céu e a terra e todas as coisas
que neles estão. Estive com o Pai desde o princípio” (3 Néfi
9:15).
Mas voltemos ao plano de Deus que nos desdobra: Alma,
depois de falar da queda do homem, declarou que “era
conveniente que os homens soubessem das coisas que [Deus]
decretara para eles. Portanto [Deus] enviou anjos para
conversarem com eles . . . e revelarem-lhes o plano de
redenção que havia sido preparado desde a fundação do
mundo” (Alma 12:28-30). é claro que este é o mesmíssimo
processo que se seguiu na América do Norte durante a primeira
metade do século dezenove através das visitações angélicas a
Joseph Smith.
No centro desta resposta arquitetônica, com sua ênfase relativa
às dispensações, está o âmago constante e cristão do Livro de
Mórmon. Jacó escreveu: “Sabíamos de Cristo muitas centenas
de anos antes de sua vinda . . . bem como todos os santos
profetas que existiam antes de nós. Eis que eles criam em
Cristo e adoravam o Pai em seu nome ... guardando a lei de
Moisés que a ele guia nossa alma” (Jacó 4:4-5). Jacó enfatizou:
“Nenhum profeta escreveu . . . sem ter falado deste Cristo” (Jacó
7:11).
Deus nos testifica de tantas maneiras: “Sim, e todas as coisas
mostram que existe um Deus; sim, até mesmo a Terra e tudo
que existe sobre a sua face, sim, e seu movimento, sim, e todos
os planetas que se movem em sua ordem regular testemunham
que existe um Criador Supremo” (Alma 30:44; vide também
Moisés 6:63).
Um cientista crente da Grã Bretanha observou que nosso
planeta se encontra num lugar especial: “Um pouco mais
próximo ao sol e os mares da Terra logo ferveriam; um
pouquinho mais distante e o mundo seria um deserto
congelado.” Este cientista também notou: “Se as dimensões de
nossa órbita mão estivessem certas, ... de seis em seis meses
alternaríamos entre um congelamento tal qual se encontra em
Marte e um calorão de fritar como em Vênus. Felizmente para
nós, a órbita de nosso planeta é quase que um círculo.” [4]
“21% de oxigênio na atmosfera é outra cifra primordial. Os
animais teriam dificuldade em respirar, se o conteúdo de
oxigênio no ar caisse um tanto abaixo deste valor. Mas um
nível de oxigênio um pouco acima disso seria desastroso, dado
que um grau de oxigênio a mais provocaria mais incêndios. As
florestas e a relva das planícies incendiariam sempre que caisse
um relâmpago durante a época de seca, e viver na Terra se
tornaria extremamente perigoso.” [5]
Quando, portanto, sabemos as respostas afirmativas à “grande
pergunta,” podemos, como falou Amuleque, “viver rendendo
graças diariamente” (Alma 34:38) e dando graças pelas muitas
condições especiais que tornam possível a vida cotidiana na
Terra.
Os propósitos abrangedores de Deus são declarados até o fim
do Livro de Mórmon. Morôni nos exorta a um método exato de
estudo e verificação que, se for seguido, nos revelará entre
outras coisas quão misericorioso o Senhor tem sido para a
humanidade “desde a criação de Adão” (Morôni 10:3). A
profecia também pode ser tão convencedora como a lembrança
do passado quando se trata de mostrar a extensão do amor de
Deus: “Revelando-lhes coisas que logo aconteceriam, para que
soubessem e lembrassem, na hora de sua vinda, que elas lhes
haviam sido anunciadas de antemão, para que acreditassem”
(Helamã 16:5; também vide Mómon 8:34-35).
Todas as idades precisam desta mensagem arquitetônica, mas
nenhuma delas precisa mais desesperadamente do que a nossa
que tanto se preocupa com o cepticismo e o hedonismo: “Pois
como conhece um homem o mestre a quem não serviu e que
lhe é estranho e que está longe dos pensamentos e desígnios
de seu coração?” (Mosias 5:13).
Se, porém, nós nos focalizarmos demais nas guerras do Livro
de Mórmon, ou se nos preocuparmos demais com o processo
da produção do livro, tais verdades transcendentes como a que
acabo de citar poderão passar despercebidas.
Até a página de rosto [6] declara que o Livro de Mórmon tem
como propósito avisar as gerações futuras de “quão grandes as
coisas que o Senhor fez para seus pais.” A falta de tais
memórias espirituais certa vez levou ao declínio de Israel
antigo: “E outra geração após ela se levantou, que não conhecia
ao Senhor, nem tampouco a obra que ele fizera a Israel” (Juízes
2:10).
Por que era tão difícil um povo inteiro-ou Lamã e Lemuel-
guardar a fé? Porque desconheciam e eram descrentes dos
“procedimentos daquele Deus que os criara” (1 Néfi 2:12; 2 Néfi
1:10). Fizeram-se muitos esforços: “Eu, Néfi, ensinei estas
coisas a meus irmãos . . . li para eles muitas coisas que
estavam gravadas na placas de latão para que soubessem o que
o Senhor havia feito em outras terras entre os povos antigos” (1
Néfi 19:22).
Portanto, a ênfase profética do Livro de Mórmon é relevante
para nós!
Até as críticas do livro acabarão por ter sua utilidade nos planos
futuros de Deus. Concordo que as grandes respostas contidas
no livro não serão aceitas por aqueles que não crêem. Tais
pessoas não acreditariam nas palavras de Deus-vindas de Paulo
ou de Joseph Smith-mesmo que tivessem um pergaminho
paulino original ou acesso direto às placas de ouro. O Senhor
certa vez apaziquou Joseph Smith ao dizer que tais pessoas
“não crerão em minhas palavras . . . ainda que vissem todas
estas coisas” (D&C 5:7).
Assim, alguns censuram o Livro de Mórmon. Porém para
aqueles que têm ouvidos para ouvir, ele representa algo
informativo e atraente que “clama desde o pó” (2 Néfi 3:20). é a
voz enviada a nós de um povo caído para nos levantar. Descrito
como um “sussurro desde o pó” (2 Néfi 26:16) daqueles “que
adormeceram” (2 Néfi 27:9), este som desde o pó é o clamor
coral de muitas vozes angustiadas que têm uma mensagem
simples e única. Sua luta espiritual abrange alguns séculos mas
exprime uma mensagem para todas as idades-o evangelho de
Jesus Cristo! Os povos do Livro de Mórmon não ocupavam o
centro do palco da história secular. Em vez disso, o teatro deles
era relativamente pequeno, porém apresentavam a maior
mensagem da história.
O Livro de Mórmon não agrada àqueles que almejam outros
tipos de história e sim, agrada aos que verdadeiramente
buscam as respostas à “grande pergunta” (Alma 34:5). Ao
contrário da conclusão triste à qual muitos chegaram, o Livro
de Mórmon declara repetidas vezes que o universo não consiste
no chamado “espaço geométrico sem Deus.” [7]
Leva-se em conta também que normalmente “os instruídos não
as lerão, porque [eles] as rejeitaram” (2 Néfi 27:20). Este
versículo não se refere somente ao Professor Anthon, pois
emprega-se o pronome plural eles. Esta referência sugere a
mentalidade da maioria dos “instruídos” (eruditos) do mundo
que, na maioria, não levam o Livro de Mórmon a sério. Mesmo
quando estes o lêem eles realmente não o lêem porque o seu
ponto de vista exclui milagres, inclusive a milagre da tradução
do livro pelo “dom e poder de Deus.” Esse método falhado os
desvia do estudo da substância do livro. Às vezes certas
pessoas têm tanto medo de se desviarem de suas idéias fixas
que não consguem sair mesmo de um rumo desastroso. [8]
O homem, portanto, depende da revelação libertadora: “Eis que
grandes e maravilhosas são as obras do Senhor. Quão
insondáveis são as profundezas de seus mistérios! E é
impossível ao homem descobrir todos os seus caminhos. E
nehum homem conhece seus caminhos, a não ser que lhe
sejam revelados; portanto, irmãos, não desprezeis as
revelações de Deus” (Jacó 4:8).
E agora vamos à promessa de Morôni, a qual é uma promessa
baseada em certas condições, promessa esta que tem várias
partes. O leitor deve (1) ler e ponderar, (2) lembrar-se da
misericórdia de Deus para a humanidade desde Adão até o
presente e (3) orar em nome de Cristo, perguntando a Deus
com real intenção se o livro é verdadeiro, (4) tendo fé em
Cristo. Aí (5) Deus manifestará a veracidade do livro. O método
contrário, ler superficialmente com dúvidas, se opõe ao método
de Morôni e leva a conclusões levianas. O processo de
verificação de Morôni não é seguido por muitos leitores e a
crítica. Isso os leva a mal entendidos e confusão entre boatos,
com sua línguas mil, e o dom das línguas!
Portanto, não sejam desiludidos, pensando que os “outros
livros” serão bem-vindos por aqueles cujo senso de auto-
suficiência já foi previsto: “Não pode haver mais” tais livros
porque “já não precisamos” de tais livros (2 Néfi 29:3, 6).
Outra impressão forte que me veio através de reler o Livro de
Mórmon é como os povos, embora cristãos, obedeciam a lei de
Moisés, até a vinda de Cristo, com mais rigor que nós da Igreja
imaginamos. “E não obstante acreditarmos em Cristo,
guardamos a lei de Moisés e esperamos firmemente em Cristo
até que a lei seja cumprida” (2 Néfi 25:24). [9]
Os povos daquela época deviam “esperar pelo Messias e crer na
sua vinda como se ele já tivesse vindo” (Jarom 1:11). Na
verdade Moisés profetizou a respeito do Messias, mas nem
todas as suas palavras estão no venerado Velho Testamento.
Lembram-se da caminhada do Jesus ressuscitado com dois
discípulos a caminho de Emaús? Esta caminhada era
provavelmente de doze quilômetros e teria dado tempo amplo
para Jesus citar não somente três ou quatro, mas muitas
profecias de Moisés e outros a respeito do ministério mortal de
Cristo (Lucas 24:27).
As escrituras que testemunham da divindade de Jesus são
imprescindíveis em todas as épocas. Senão, como profetiza o
Livro de Mórmon, ele será considerado um mero homem
(Mosias 3:9) ou uma pessoa “sem valor” (1 Néfi 19:9). Nas
últimas décadas a “disolução interna do cristianismo,” resultado
das idéias alguns teólogos, não somente diminui a importância
de Cristo mas também diminui a importância da ressurreição,
passando a considerá-la “uma expressão simbólica da
renovação do discípulo.” [10]Mais uma vez nós vemos a
importância primordial dos “outros livros” de escrituras que
reforçam a realidade da ressurreição, especialmente os
ensinamentos adicionais e relato da visita e instrução do Jesus
ressuscitado que se encontram no Livro de Mórmon. Ocorreu a
ressurreição de muitos outros conforme o relato claro de Jesus
(3 Néfi 23:6-13).
Assim o Livro de Mórmon responde à “grande pergunta” de
forma sonora, ampla e grandiosa. é claro que em nossos dias, a
época pós-cristão, muitos já não fazem “a grande pergunta” a
respeito do cristianismo, “não por ser mentira ou absurdo, mas
por ser irrelevante,” [11] justamente como alguns pensavam
nos dias de Benjamim e Mosias (Vide Mosias 28:1-2; Ômni
1:17).
Se a resposta à “grande pergunta” fosse “não,” logo haveria uma
inundação distorcida do que o Professor Hugh Nibley chama “as
perguntas terríveis.”
Até o scenário histórico, político e geográfico da revelação do
Livro de Mórmon é todo especial. O Presidente Brigham Young
ousadamente declarou: “Poderia este livro ser revelado e
publicado ao mundo sob qualquer outro governo que não fosse
o dos Estados Unidos? Não. Deus governou e controlou a
colonização deste continente. Ele conduziu nossos pais da
Europa para esta terra . . . e inspirou e garantiu liberdade no
nosso governo, embora a garantia nem sempre seja
observada.” [12]
Em meio deste drama que desdobra continuamente, alguns
membros da Igreja abandonam a causa e são como aquele que
abandona um oásis e sai à procura de água no deserto. Alguns
destes sem dúvida se tornarão críticos e serão bem-recebidos
no “edifício grande e espaçoso.” Daí em diante, porém, quanto
a suas acomodações teológicas estão num hotel espaçoso mas
de baixa categoria. Bem-vestidos, como diz o Livro de Mórmon,
de forma “extremamente fina” (1 Néfi 8: 27), mas não têm
aonde ir a não ser-um dia, como se espera-para casa.
As grandes respostas à “grande pergunta” sempre se focalizam,
portanto, na realidade do “grande e último sacrifício.” “E eis que
este é o significado total da lei, cada ponto indicando aquele
grande e último sacrifício; e aquele grande e último sacrifício
será o Filho de Deus, sim, infinito e eterno” (Alma 34:14). Estas
grandes respostas reafirmam que havemos de vencer a
melancolia mortal, não importando quantas vezes ou quão
dolorosamente ela se manifeste.
Ademais, o que recebemos no Livro de Mórmon não é uma
mera coleção de aforismos nem os ditos de um grupo de
homens que oferecem suas opiniões filosóficas. Em vez disso,
recebemos o testemunho coletivo dos profetas, especialmente
aqueles que eram testemumhas oculares de Jesus, como Leí,
Néfi, Jacó, Alma, o irmão de Jarede, Mórmon e Morôni. O relato
bíblico dos quinhentos irmãos e irmãs que viram o Jesus
ressuscitado (1 Coríntios 15:6) une-se à congregação de duas
mil e quinhentas testemunhas da terra de Abundância (3 Néfi
17:25). Todas elas se uniram à hoste crescente de testemunhas
sobre as quais escreveu o Apóstolo Paulo (Hebreus 12:1).
O Livro de Mórmon poderia ter sido outro tipo de livro, é claro.
Poderia ter tratado principalmente dos cíclos da história de
governos, isto é, “Os príncipes entram e os príncipes saem,
uma hora de pompa, uma hora de ostentação.” Tal versão não
iria contrabalançar tantos livros de desespero e a literatura de
lamentações que já temos, até em demasia, cada um deles
reminiscente, de uma maneira ou outra, deste verso de
desespero do poeta Shelley:
... Duas vastas pernas de pedra sem torso
Erguem-se no deserto. Próxima delas, na areia,
Meio enterrada, uma cabeça quebrada jaz ...
“Meu nome é Ozimandias, rei dos reis:
Contemplai minhas obras, vós, homens de valor, e desesperai!”
Nada permanece senão os restos. Ao redor da decadência
Daqueles destroços colossais, sem limites, no deserto
As areias solitárias e planas extendem ao horizonte. [13]
Devido ao fato da redação do Livro de Mórmon, com seu
evangelho de esperança, ter ocorrido sob a direção divina, seu
enfoque é principalmente espiritual. Mas há uns que criticam o
Livro de Mórmon por não ser aquilo que nunca se destinava a
ser. È como critcar a lista telefônica por não ter enredo!
Alguns dos versículos do Livro de Mórmon são de suma
importância quanto a nossa salvação, outros não. O livro de
éter contém um versículo sobre a genealogia: “E Jarede tinha
quatro filhos” (e aí relatam-se os nomes) (éter 6:14). Porém,
éter também contém outro versículo de enorme significado
salvador:
“E se os homens vierem a mim, mostrar-lhes-ei sua fraqueza. E
dou a fraqueza aos homens a fim de que sejam humildes; e
minha graça basta a todos os que se humilham perante mim;
porque caso se humilhem perante mim e tenham fé em mim,
então farei com que as coisas fracas se tornem fortes para eles”
(éter 12:27).
Lemos sobre uma batalha em que “dormiram sobre suas
espadas . . . estavam embriagados de ira, da mesma forma que
um homem se embriaga com vinho . . . E quando chegou a
noite restavam trinta e dois do povo de Siz e vinte e sete do
povo de Coriântumr” (éter 15:20-26). Tais versículos são de
menos significado para nos tornarmos discípulos do que a
seguinte passagem. Em todas as escrituras estas palavras
constituem a mais completa explicação do requisito de Jesus
que nós nos tornemos como um pequenino (Vide Mateus 18:3):
“ . . . e se torne como uma criança, submisso, manso, humilde,
paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto
o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se
submete a seu pai” (Mosias 3:19).
Um dos motivos de nós “examinarmos as escrituras” é
descobrir as várzeas luxuosas de significado e estes campos
verdejantes nos nutrirão na hora de necessidade individual. O
Livro de Mórmon está repleto de tais passagens. Logo após as
palavras sobre as condições econômicas na cidade já
desaparecida de Helã, encontramos uma verdade sóbria e
duradoura: “Não obstante, o Senhor julga conveniente castigar
seu povo; sim, ele prova sua paciência e sua fé” (Mosias 23:20-
21; vide também D&C 98:12; Abraão 3:25).
De igual modo, o Livro de Mórmon nos dá pensamentos
profundos que talvez não possamos compreender por
completo. De forma surpreendente, Alma inclui nossas dores,
doenças e enfermidades, bem como os pecados, entre as coisas
que Jesus iria “tomar sobre si” (Alma 7:11-12). Suas
experiências “de acordo com a carne” serviam de aperfeiçoar a
miseicórdia de Cristo. Ao exclamar “Oh! Quão grande é o plano
de nosso Deus” (2 Néfi 9:13) Néfi também declarou que Jesus
sofreria “as dores de todos os . . . homens, mulheres e crianças
que pertencem à família Adão” (2 Néfi 9:21). Nossa alma
tremula em face destas inferências. Correm as lágrimas ao ler
tais passagens e aprofunda-se a adoração do nosso Redentor.
Dada esta riqueza de preceitos, não é de se admirar que os
profetas nos admoestem a ler o Livro de Mórmon. Ao encerrar
seus escritos àqueles que não respeitam (1) as palavras dos
judeus (a Bíblia), (2) as palavras de Néfi (no Livro de Mórmon) e
(3) as palavras de Jesus (do futuro Novo Testamento), Néfi
simplesmente diz: “Eis que vos dou um eterno adeus” (2 Néfi
33:14).
Mórmon igualmente enfatiza a interação entre a Bíblia e o Livro
de Mórmon (Vide Mórmon 7:8-9). O apoio mútuo e a correlação
entre as escrituras foram comentados por Jesus: “Porque, se
vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim
escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como
crereis nas minhas palavras?” (João 5:46-47).
No entanto, daqueles que dizem: “Temos o suficiente, destes
será tirado até mesmo o que tiverem” (2 Néfi 28:30).
Obviamente, isto não se refere à perda física da Bíblia, que
pode ainda estar na prateleira, e sim, refere-se à triste perda de
convicção a seu respeito por parte de algumas pessoas.
Quando “examinamos as escrituras” a luminosidade de vários
versículos de diversos livros focaliza-se como um laser. Esta
iluminação arca e então converge, mesmo que se trata de
autores, povos, lugares e tempos diferentes: “Portanto digo as
mesmas palavras, tanto a uma nação como a outra. E quando
duas nações caminharem juntas, os testemunhas das duas
nações também caminharão juntos” (2 Néfi 29:8).
Porém crer não é um simples caso de avaliar as evidências da
antigüidade, embora abracemos tais evidências. Tampouco se
depende de acumular tais evidências, por bem-vindas que
sejam. Em vez disso é uma questão de acreditar nas palavras de
Jesus. A fé real, como a humildade verdadeira, se desenvolve
“por causa da palavra de Deus”-e não por causa das
circunstâncias que a rodeiam (Alma 32:13-14)!
Quão apropriado que as coisas são assim! O teste se focaliza na
mensagem e não nos mensageiros; em princípios e não em
processos; na doutrina e não no enredo. Enfatiza-se a crença
em si “por causa da palavra.” Jesus falou a Tomás no hemisfério
oriental: “Bem-aventurados são aqueles que não viram mas
creram” (João 20:29). Ele proclamou aos nefitas: “Mais bem-
aventurados são os que acreditarem em vossas palavras,
porque testificareis que me vistes e sabeis que eu sou” (3 Néfi
12:2).
A verdadeira fé, portanto, se torna real através da assombrosa
invervenção divina. O Senhor, conforme nos diz o Livro de
Mórmon, é um pastor de voz mansa e agradável (Vide Helamã
5:30-31; 3 Néfi 11:3)-não um pastor gritante e repreensivo.
Outros, se quiserem, podem exigir uma impressão vocal da voz
do Senhor, mas mesmo se isto fosse possível, eles não iriam
gostar de suas doutrinas (Vide João 6:66). As coisas do espírito
devem ser buscadas pela fé, pois não se vêem pelos olhos do
cepticismo.
Sem a fé real, as pessoas, ou mais cedo ou mais tarde, acham
uma pedra de tropeço (Romanos 9:32). Afinal, é muito difícil
mostrar aos orgulhosos coisas que “nunca teriam imaginado,”
principalmente as coisas de que não querem saber. Quando
Jesus falava de si como o pão da vida, uma doutrina poderosa
cheia de conotações extraordinárias, alguns censuraram-no.
Jesus lhes perguntou: “Isto escandaliza-vos?” (João 6:61). “E
bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar”
(Lucas 7:23).
Como se isto não fosse suficiente, o esplêndido Livro de
Mórmon nos avisa que uma terceira testemunha de escrituras
sagradas ainda está para vir das dez tribos perdidas (Vide 2
Néfi 29-12-14). Sua vinda pode ser até mais dramática que a
da segunda testemunha. Os que duvidam e desprezam a
segunda testemunha tampouco aceitarão a terceira. Mas os fiéis
possuirão uma tríade triunfante de verdade (Vide 2 Néfi 29:12-
13). Se não fosse pelo Livro de Mórmon, nem saberíamos do
terceiro conjunto de registros.!
Não sabemos quando ou como isso ocorrerá, mas estamos
certos em assumir que o terceiro livro terá o mesmo enfoque
fundamental do Livro de Mórmon: “Para que o restante da
posteridade deles . . . venha a conhecer-me a mim, seu
Redentor” (3 Néfi 16:4). Se houver uma página de rosto no
terceiro registro, seu propósito não será muito diferente
daquele do Livro de Mórmon, só que falará de outros povos que
de igual forma receberam a visita pessoal do Jesus ressuscitado
(Vide 3 Néfi 15:20-24; 16:1-4).
Assim, na dispensação da plenitude dos tempos haverá tanto
um “elo de ligação” (D&C 128:18), juntando as chaves de todas
as dispensaões como um “elo de ligação” que reúne todos os
livros de escrituras dados pelo Senhor ao longo da história
humana. Daí, como foi profetizado, “minha palavra também
será reunida em uma” (2 Néfi 29:14). Então haverá um aprisco,
um pastor e uma testemunha maravilhosa de Cristo!
Levando em conta tudo que relatei acima, é comovente que
Joseph Smith, no cárcere, durante a última noite de sua vida
moral, 26 de junho de 1944, prestou aos guardas “um
testemunho poderoso da autenticidade divina do Livro de
Mórmon, a restauração do evangelho e do ministério de
anjos” [14] (Vide Alma 12:28-30). Aparentemente os guardas
não deram ouvidos, como a maioria do mundo de hoje em dia.
Seja a mensagem ouvida ou não, porém, o Livro de Mórmon
terá mais um encontro para a frente: “Portanto estas coisas
passarão de geração a geração, enquanto durar a Terra; e isto
de acordo com a vontade e prazer de Deus; e as nações que as
tiverem em seu poder serão julgadas por elas, segundo as
palavras que estão escritas” (2 Néfi 25:22).
Por mim, sou grato que o livro estará conosco “enquanto durar
a Terra.” Quero e preciso de mais tempo. Para mim, torres,
pátios e alas esperam minha chegada. Minha visita ainda não se
completou. Ainda há algumas salas em que não entrei e há
lareiras acesas esperando para acalentar-me. Até as salas que
já vi têm mobília e detalhes que ainda não apreciei. Há painéis
imbutidos de conhecimentos incríveis, de design e decoração
desde o éden. Também nos esperam mesas de banquete
suntosamente postas pelos nossos antecessores. Infelizmente,
nós, como membros da Igreja, às vezes agimos como turistas
apressados, mal passando pelo hall de entrada da mansão.
Que nós cheguemos a sentir, como um povo inteiro, o desejo
de entar para além do hall de entrada. Que possamos chegar lá
dentro onde se ouvem claramente as verdades sussuradas
daqueles que “adormeceram,” cujos sussurros despertarão em
nós, como nunca antes, a vida de discípulo.
Referências:

[1] Guerras do Senhor, Jasher, mais escritos de Samuel, os Atos


de Solomão, o livro de Natã, Semaías, Aíjah, Ido, Jeú, os dizeres
dos Videntes, pelo menos duas epístolas de Paulo, os livros de
Enoque, Ezias, o Livro de Lembranças de Adão, e Gade o
Vidente. Trata-se de mais de vinte livros perdidos. Também há
certas profecias de Jacó (Israel), e muitas profecias de José no
Egito, uma parte das quais se encontra em 2 Néfi 3:1-25; 4:1-3
(Tradução de Joseph Smith, Gênesis 50:24-37; Alma 46:24-26).
[2] Ademais, poucas pessoas estão dispostas a seguir os
conselhos de Morôni a respeito do conteúdo do livro: “Não me
condeneis, em virtude de minha imperfeição; nem a meu pai,
por causa de sua imperfeição, nem àqueles que escreveram
antes dele; mas dai graças a Deus por ele vos ter manifestado
nossas imperfeições, para que aprendais a ser mais sábios do
que nós fomos” (Mómon 9:31).
[3] Vinte e duas vezes no Livro de Mórmon, dez vezes em
Doutrina e Convênios e três vezes na Pérola de Grande Valor.
[4] Alan Hayward, God Is (Deus é) (Nashville: Thomas Nelson,
1980) 62-63.
[5] Hayward, God Is (Deus é), 68.
[6] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith (Os
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith), compilado por Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 7.
[7] Michael Harrington, The Politics at God’s Funeral: the
Spiritual Crisis of Western Civilization (A Política no Funeral de
Deus: a Crise Espiritual da Civilização Ocidental) (New York:
Holt, Rinehart and Winston, 1983), 114.
[8] C. S. Lewis, The Last Battle (A última Batalha) (New York:
Collier, 1970), 148.
[9] Harrington, Politics, 153.
[10] Harrington, Politics, 164.
[11] Penelope Fitzgerald, The Knox Brothers (Os Irmãos Knox)
(New York: Coward, McCann & Geoghegen, 1977), 106-7.
[12] Brigham Young, no Journal of Discourses (Revista de
Discursos) (London: Latter-day Saints’ Book Depot (Depósito de
Livros dos Santos dos últimos Dias), 1854-86) 8:67.
[13] Percy Bysshe Shelley, “Ozymandias,” (“Ozimandias”) Norton
Anthology of English Literature (Antologia Norton de Literatura
Inglesa) (New York: W.W. Norton & Company, 1986), 2:691.
[14] Smith, Teachings, 383.
O Papel de Cristo Como Pai na Expiação

O Papel de Cristo Como Pai na Expiação


Paul Y. Hoskisson

Paul Y. Hoskisson é professor de Escrituras Antigas na BYU.

Enquanto discutia com um ex-aluno o trecho de Mosias 15:1-8, uma


das partes mais intrigantes do discurso de Abinádi diante do Rei Noé
e de sua corte de sacerdotes, me ocorreu que Abinádi não estava
dando um discurso sobre a Deidade, mas sim sobre a Expiação.
Especificamente, como parte de sua defesa diante da corte do Rei
Noé e ao mesmo tempo como parte de sua responsabilidade de
transmitir uma mensagem profética para o povo de Noé, Abinádi
estava explicando a função que Cristo iria desempenhar e o motivo
pelo qual Ele poderia executar a Expiação. Durante seu discurso,
Abinádi explicou por que Cristo seria chamado de “Pai” [1] e de “Filho”
e qual seria o relacionamento entre Seu papel paterno, Seu papel
como Filho Unigênito, e a Expiação.
A explicação de Abinádi sobre a Expiação foi motivada quando um de
seus interrogadores, por volta do início de seu julgamento, colocou a
seguinte questão: “O que significam as palavras que foram escritas”
por Isaías quando ele disse, entre outras coisas, “Quão belos são
sobre os montes os pés do que anuncia boas novas?” (12:20-
21). [2] Para responder à questão, Abinádi relembrou Noé e seus
sacerdotes que todos os profetas declararam que “o próprio Deus
desceria entre os filhos dos homens e andaria com grande poder
sobre a face da terra” (13:34). Então, depois de citar Isaías 53, que
explica através do tema do Servo Sofredor o que irá acontecer a
Deus durante sua jornada na terra, Abinádi prestou seu testemunho
pessoal de que “O próprio Deus descerá entre os filhos dos homens e
redimirá seu povo” (15:1).
O que acontece a seguir, nos versos 2-8, é uma exposição suscinta e
sublime de por que Cristo, o Deus que “descerá entre os filhos dos
homens,” foi capaz de expiar pelas “iniquidades e transgressões
deles, havendo-os redimido e satisfeito as exigências da justiça”
(15:9). Porque Abinádi utilizou expressões que podem facilmente ser
mal interpretadas, será útil preencher a seguinte tabela, baseada nos
versículos de 15:2-8.

Este Deus, o Jeová do Velho Testamento, será chamado de Pai e de


Filho (15:2). Ele será chamado de Filho “porque ele habita na carne”
(15:2) e porque Ele “sujeit[ou] a carne à vontade do Pai” (15:2).
Quando Abinádi menciona o Pai e o Filho no versículo 2, ele é hábil
em deixar claro que está falando sobre diferentes membros da
Deidade, declarando imediatamente a seguir o personagem a quem
está se referindo, ou seja, o Messias, é “o Pai e o Filho” (15:2). Assim,
a primeira linha da tabela pode ser preenchida da seguinte forma:

Abinádi explica que o Salvador é chamado de “O Pai, porque foi


concebido pelo poder de Deus” (15:3), ou seja, o título “Pai” foi dado a
Cristo por Ele ter sido o Unigênito de Deus o Pai. [3] Ele é chamado
de “o Filho, por causa da carne” (15:3), especificamente, o título
“Filho” lhe foi dado porque Ele foi concebido por Maria. E assim o
Messias, ou o Salvador, se tornou “o Pai e o Filho” (15:3). Lucas
expressou o mesmo conceito em seu Evangelho, de uma forma
apenas um pouco diferente: “E, respondendo o anjo, disse-lhe:
Descerá sobre ti [Maria] o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra: pelo que também o Santo, que de ti há de
nascer, será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35). [4]
Abinádi desejava que não houvesse mais confusão e que, quando ele
utilizasse os títulos “Pai” e “Filho,” ele estaria falando, quase que
exclusivamente, a respeito de um único membro da Deidade. E
apenas para ter certeza que não haveria confusão, Abinádi
novamente declarou que a pessoa a quem ele se referia e que traz
consigo os títulos de “Pai” e “Filho” era “um Deus, sim, o próprio Pai
Eterno do céu e da Terra” (15:4). Assim, a tabela pode ser expandida
da seguinte maneira:

O Messias foi chamado de Filho de Deus porque ele “habita na


carne” (15:2). Este aspecto da natureza de Cristo permitiu-lhe ser
parte da mortalidade da mesma forma que nós somos uma parte
dela, sofrendo “tentações,” embora Ele não cedesse “a tentações”
(15:5). Ele até mesmo “desceu abaixo de todas as coisas” (D&C
88:6). [5] A fim de que Cristo cumprisse a Expiação, Ele teve que
“sujeit[ar] a carne à vontade do Pai,” ou seja, Ele teve que sobrepujar
a natureza mortal que Ele herdou de Maria por submeter tal natureza
mortal à vontade de Sua natureza divina, a qual Ele herdou de Deus,
o Pai. Utilizando dois versos precisos, Abinádi colocou paralelamente
a “carne” com o “Filho” e o “espírito” [6] com o “Pai,” isto é, “O Pai,
porque foi concebido pelo poder de Deus; e o Filho, por causa da
carne” (16:2). Isto nos permite preencher o quadro da seguinte forma:

Embora Abinádi não ilustre explicitamente a seguinte conclusão com


relação ao duplo poder de Cristo, tal conclusão, no entanto, pode ser
extraída de seu pequeno tratado. Por Cristo ter sido o Filho Unigênito
de Deus e por ter sido concebido por Maria, Ele também herdou o
poder que Ele necessitaria para desempenhar a Expiação. Através
de sua mãe, Maria, Ele herdou todo poder da mortalidade, inclusive a
possibilidade de morte. Através de Seu Pai, Eloim, Ele herdou muitos
traços de divindade, inclusive a possibilidade de não morrer. O
primeiro destes poderes, Ele compartilha com toda a humanidade
(veja especialmente Alma 7:10-13); [7] o segundo poder, somente Ele
a possui. Portanto, Sua capacidade de morrer e sua capacidade de
não estar sujeito à morte faz com que Ele seja único entre todos
aqueles nascidos na Terra. [8] Na verdade, Ele é a única pessoa
nascida nesta vida que poderia escolher se iria morrer ou não. Como
Cristo mesmo expressou, “Ninguém ma tira [minha vida] de mim, mas
eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar
a tomá-la (João 10:18). [9] Desta forma, o quadro pode ser
completado do seguinte modo: [10]

Este Deus, que é chamado de Pai e Filho “descerá entre os filhos dos
homens” (15:1) e habitará na terra. Ele sofrerá “tentações,” mas não
cederá “a tentações” (15:5). Ele permitirá a si mesmo, como a
passagem do Servo Sofredor profetizou, “ser escarnecido e açoitado
e expulso e rejeitado por seu povo. E depois de tudo isso, após haver
realizado grandes milagres entre os filhos dos homens, será
conduzido, sim segundo disse Isaías: Como a ovelha permanece
muda perante seus tosquiadores, também ele não abriu a boca. Sim,
desse modo será conduzido, crucificado e morto” (15:5-7).
Neste ato final de auto-sacrifício, ao permitir a si mesmo ser
“conduzido, crucificado e morto,” quando, a qualquer momento, Ele
poderia ter escapado de tal situação, Ele realizou a derradeira
submissão. Ele sujeitou a “carne” (a qual Ele herdou de Maria) “até à
morte.” Ao fazer “a vontade do Filho” (o desejo mortal de viver) foi
“absorvid[o] pela vontade do Pai” (no desejo do espírito divino do
Salvador, o qual Ele herdou de Seu Pai) (15:7). Portanto, Ele
completou os requisitos físicos da Expiação, como o ato final da
Expiação terrena, Cristo, que não necessitava morrer, livre e
voluntariamente ofereceu Sua vida na cruz [11] para que nós
pudéssemos, depois de nossa inevitável morte física, ser
ressuscitados para a vida eterna com Ele. “A morte de Cristo,” como
Amuleque concisamente colocou, “desatará as ligaduras dessa morte
física, para que todos se levantem dessa morte física” (Alma 11:42).
Em resumo, a bela e ímpar explicação dada por Abinádi sobre a
Expiação pode ser esquematizada da seguinte forma:
1. Deus Mesmo descerá e viverá na Terra. Ele será tentado mas
não cederá às tentações e, no processo, Ele será escarnecido,
oprimido, expulso e eventualmente crucificado.
2. Cristo herdou de Sua mãe, Maria, a mesma natureza mortal
que todos os filhos de Adão possuem, inclusive a capacidade
de morrer.
3. Cristo herdou de Seu Pai, Eloim, a natureza divina que
nenhum outro filho de Adão possui, inclusive a capacidade de
não morrer.
4. Na cruz, Cristo livremente escolheu submeter a Sua pessoa
mortal pela imortal, ou seja, por sua livre vontade, Ele sujeitou
a si mesmo à morte e cumpriu a Expiação. Assim como Adão
tornou a morte possível a todos os filhos do Pai Celestial por
se submeter livremente às condições que causaram a vida
mortal, assim Cristo, ao se submeter livremente à morte física,
proporcionou as condições que tornaram a vida eterna
possível a todos os filhos de Deus.
Certamente, muitos dos profetas conheciam a doutrina que Abinádi
ensinou. [12] Mas em nenhuma outra escritura encontramos esses
elementos juntos da forma que Abinádi o fez. Não se deve ter
qualquer dúvida que Abinádi conhecia o Salvador, que ele sabia
sobre o Salvador e que ele compreendia Seu papel singular e Sua
natureza, muitos anos antes que Cristo descesse para nascer entre
os filhos de Adão.
Não posso encerrar o assunto de Abinádi sem antes fazer mais uma
observação. Parece-me que Abinádi deve ter sido alertado sobre
alguns dos paralelos parciais, mas ao mesmo tempo imponentes,
entre ele mesmo e o Salvador, como existe com quase todos os
profetas de Deus. Como Cristo, Abinádi experienciou muito da
mesma rejeição e perseguição expressas na imagem do Servo
Sofredor de Isaías 53 (veja também Mosias 14). Por exemplo, em
nenhum lugar do discurso de Abinádi ele menciona o fato de que
Cristo teve sucesso convertendo qualquer pessoa durante os anos
em que esteve na Terra. Na verdade, várias das declarações de
Isaías citadas em Mosias 14 poderiam ser interpretadas no sentido
que Cristo teria tido pouco ou nenhum sucesso na conversão das
pessoas durante Seu ministério mortal. Por exemplo, “Ele é
desprezado e rejeitado pelos homens; ... e foi como se
escondêssemos dele nosso rosto; foi desprezado e não fizemos caso
dele” (v. 3); “no entanto, reputamo-lo por aflito, ferido por Deus” (v. 4);
e “Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se
desviou por seu próprio caminho” (v. 6). Abinádi deve ter conjecturado
se ele também seria morto sem atingir qualquer sucesso, por mais
modesto que fosse. Na verdade, pelo que lhe constasse em seu
conhecimento finito, ele poderia ter facilmente pensado que ele não
tivera nenhum sucesso em converter uma única pessoa se quer.
Como o Salvador, Abinádi foi executado por pessoas indignas de
julgá-lo. E ainda assim parece que ele estava ciente que ele seria
executado quando ele voltou pela segunda vez para pregar a Noé e a
seu povo. Durante seu julgamento, Abinádi disse: “Digo-vos que não
me retratarei das palavras que disse concernentes a este povo, pois
são verdadeiras; e para que saibais que são verdadeiras, consenti em
cair em vossas mãos. Sim, e padecerei até mesmo a morte, porém
não me retratarei de minhas palavras; e elas servirão de testemunho
contra vós. E se me matardes, derramareis sangue inocente (17:9-
10). Parece-nos que Abinádi, à semelhança do Seu Salvador,
também escolheu livremente expor a si mesmo à morte física, desta
forma selando “a verdade de suas palavras” (17:20). Abinádi foi,
como quase todos os profetas foram, um exemplo e um indício do
caminho que o Salvador viria a trilhar.
Este poderoso testemunho de Abinádi, dado como se fosse para um
povo apóstata e diabólico, contém informações sobre o Salvador,
expressas de uma forma não encontrada em nenhuma outra
passagem de escritura. Na verdade, quão formosos foram sobre os
montes os pés de Abinádi.

Notas
[1] Tradicionalmente, conforme Élder Bruce R. McConkie declarou, há
três razões pelas quais Cristo, o Filho, também toma sobre si o título
de Pai: (1) Ele é o “Criador . . . do céu e da terra,” (2) “Ele é o Pai de
todos aqueles que nasceram de novo,” e (3) Ele é o Pai devido à sua
“divina investidura” (Mormon Doctrine [Doutrina Mórmon], 2ª. ed. [Salt
Lake City: Bookcraft 1966], 130). Veja também a importante e
detalhada declaração da Primeira Presidência e Quórum dos Doze
Apóstolos de 30 de junho de 1916, encontrada em James R. Clark,
ed. Messages of the First Presidency [Mensagens da Primeira
Presidência] (Salt Lake City: Bookcraft, 1971), 5:25–34. Algumas
vezes ouvi uma quarta razão (similar à segunda razão dada por Élder
McConkie), que Cristo é o Pai porque Ele é o Pai da Expiação, assim
como George Washington é o Pai dos Estados Unidos da América. A
razão pela qual Abinádi usa o título de Pai para Cristo nesta
passagem é diferente destas quatro, dando-nos assim uma quinta
razão. Este trabalho esclarecerá esta quinta razão.
[2] Esta e todas as outras citações escriturísticas que virão a seguir,
referem-se a Mosias no Livro de Mórmon, a menos que indicadas de
forma diferente.
[3] Para outras referências com relação a Cristo como o Filho
Unigênito de Deus, veja Jacó 4:5 e 11; João 1:14 e 18.
[4] Veja também D&C 93:4, quando Cristo declarou que Ele é “O Pai,
porque me deu de sua plenitude, e o Filho, porque estive no mundo
e fiz da carne meu tabernáculo e habitei entre os filhos dos homens.”
[5] Veja também Joseph Smith, comp. Lectures on Faith [Discursos
sobre Fé] (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), 59. Cristo “é chamado
de Filho devido à carne, e humilhou-se em sofrimento, abaixo daquilo
que o homem pode sofrer; ou, em outras palavras, padeceu grandes
sofrimentos e foi exposto às mais poderosas contradições que
qualquer homem já tenha sofrido.” Veja também 3 Néfi 1:14 e Éter
4:12, quando Cristo fala a respeito de Si mesmo e de Seu papel como
Pai e Filho.
[6] “Espírito” aqui não se refere ao espírito da pessoa que éramos na
vida pré-mortal. Refere-se à característica ou a um aspecto da
natureza divina de Cristo, àquela que Ele herdou como Filho
Unigênito. Uma outra forma de fazer esta declaração seria “natureza
espiritual” versus “natureza mortal.” Esta distinção se torna óbvia pelo
“espiritualmente” versus “fisicamente” encontrados em Moisés 3:5.
Compare Bruce R. McConkie, Mormon Doctrine [Doutrina Mórmon,
756–61, e Joseph F. Smith, Gospel Doctrine [Doutrina do Evangelho],
14a. ed. (Salt Lake City: Deseret Book, 1971), 432.
[7] Este é o motivo pelo qual Amuleque diria “Porque é necessário
que haja um grande e último sacrifício; sim, não um sacrifício de
homem nem de animal nem de qualquer tipo de ave; pois não não
será um sacrifício humano; deverá porém, ser m sacrifício infinito e
eterno” (Alma 34:10). Cristo, se Ele fosse mortal como todos os
outros mortais, não poderia realizar um sacrifício e expiar por toda a
humanidade. Foi devido à Sua natureza imortal que Seu sacrifício foi
infinito e eterno.
[8] Veja também Russell M. Nelson, em Conference Report [Relatório
da Conferência], outubro de 1993, 46; “O Salvador era a única pessoa
que poderia cumprir [a Expiação]. De Sua mãe, Ele herdou o poder
para morrer. De Seu Pai, Ele obteve poder sobre a morte.” Da
mesma forma, Élder Nelson fala de uma criação paradisíaca de Deus,
uma criação mortal ocasionada pela Queda e uma criação imortal
ocasionada pela Expiação.
[9] Um colega de Educação Religiosa da Universidade de Brigham
Young me relembrou desta passagem. Veja também as palavras de
Cristo na cruz, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E,
havendo dito isto, expirou” (Lucas 23:46).
[10] Para obter uma listagem semelhante, veja Jeffrey R. Holland,
Christ and the New Covenant [Cristo e o Novo Convênio] (Salt Lake
City: Deseret Book, 1997), 192.
[11] A Expiação, para ser efetivada por um sacrifício válido, deve ser
dada livremente (como todos os sacrifícios devem ser dados
livremente para serem válidos). Se a vida do Salvador pudesse ser
tirada Dele à força, então Sua morte seria involuntária e não um
sacrifício. Portanto, Ele disse, “Por isto o Pai me ama, porque dou a
minha vida para tornar a tomá-la” (João 10:17). Presidente John
Taylor comentou: “O Pai deu [a Cristo] poder para ter vida em si
mesmo: ‘Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu
também ao Filho ter a vida em si mesmo’ (João 5:26). Além disso, Ele
tinha o poder, quando toda a humanidade perdeu o seu, de restituir a
vida a eles novamente; e assim Ele é a ressurreição e a vida, um
poder que nenhum outro homem possui” (“The Mediation and
Atonement of Christ” [“A Mediação e a Expiação de Cristo”], The
Gospel Kingdom [O Reino do Evangelho], ed. G. Homer Durham [Salt
Lake City: Bookcraft, 1964], 114–15). Não era suficiente que Ele
tivesse a habilidade de simplesmente escapar da prisão e da morte.
Não era suficiente que Ele permitisse a si mesmo ser colocado nas
mãos de seus excutores. Ele também teve que escolher, Ele teve que
desejar a morte física. Por este motivo, a crucificação, embora
sintamos repúdio pelos aspectos vis desta forma de execução, foi
provavelmente o único tipo de execução que deu ao Salvador a
escolha de morrer ou não. Ao observador casual, teria parecido que
Cristo fora executado por crucificação. Entretanto, para aqueles como
Abinádi, que compreendiam a natureza do sacrifício de Cristo, Sua
morte na cruz foi um ato de Sua própria vontade e não de seus
executores. Este reconhecimento é insinuado em Marcos 15:39 pelo
centurião romano vendo a crucificação, quando declarou:
“Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus.” Talvez
houvesse outras formas de execução que preenchessem os
requisitos citados, mas no momento as desconheço.
[12] Veja o discurso do Rei Benjamim das palavras de um anjo de
Deus sobre a Expiação em Mosias 3. Os versículos 8 e 9
especialmente revelam um conhecimento da doutrina que Abinádi
ensinou. Veja também a visão de Néfi em 1 Néfi 11, o discurso de
Alma em Alma 7, o entendimento de Amuleque em Alma 34:9-10, e a
explicação de Alma sobre a Expiação dada a seu filho em Alma 42,
especialmente no versículo 15. Deve ser também observado que
Abinádi pode não ter tido acesso a nenhum destes discursos, à
exceção de 1 Néfi 11. Mas ele pode ter tido a mesma fonte de
inspiração para esta doutrina que estava disponível para Alma e
Amuleque.
O Prefácio do Senhor

O Prefácio do Senhor
Élder Jeffrey R. Holland
"O nascimento de todas as coisas é frágil e delicado," disse
Michel de Montaigne, "e portanto devemos fitar nossos olhos
em inícios." [1] Neste capítulo eu gostaria de chamar atenção ao
início do livro de Doutrina e Convênios, especificamente à
seção 1, revelada pelo Senhor como "o prefácio do livro de . . .
mandamentos" (D&C 1:6).
Ao examinarmos a seção 1, é tão óbvio como é importante
notar que esta não foi a primeira das revelações do Profeta
Joseph, nem a vigésima, nem a qüinquagésima. Como os
irmãos sabem, foi recebida no dia 1º de novembro de 1831 em
Hiram, Estado de Ohio, depois que ele recebera mais de
sessenta revelações que hoje constituem as primeiras seções de
Doutrina e Convênios. Quanto à seqüência das revelações ela
foi recebida depois da atual seção 66 e antes da seção 67.
O que havia nesta instrução divina que a destacou, justificando
sua retirada do meio da compilação das revelações e
colocando-a no início, ou prefácio, das revelações modernas?
Talvez as respostas sejam óbvias e basta dizer aqui que é sem
dúvida uma introdução notável de um livro notável e
concordamos com entusiasmo com a avaliação do Élder John A.
Widtsoe: "Um bom prefácio deve preparar o leitor para o
conteudo do livro. Deve ajudá-lo a compreender o livro. Deve
mostrar de forma resumida todo o conteudo do livro. A seção 1
de Doutrina e Convênios é um dos grandes prefácios que
possui a humanidade" [2]
Não se sabe exatamente quando o Profeta começou a registrar
as principais revelações que recebeu mas sua história pessoal
indica que até princípios de 1829 ele já as escrevia com
regularidade e que em 6 de abril de 1830, ao organizar a Igreja,
recebeu uma revelação que mandou a Igreja manter um registro
de suas atividades. Dado que aqueles conselhos são
importantes com relação ao que sucedeu na Conferência de
Hiram, permitam-me citar:
"Eis que um registro será escrito entre vós; e nele serás [Joseph
Smith] chamado vidente, tradutor, profeta, apoóstolo de Jesus
Cristo, élder da igreja pela vontade de Deus, o Pai, e pela graça
de vosso Senhor Jesus Cristo,
"Portanto vós, ou seja, a igreja, dareis ouvidos a todas as
palavras e mandamentos que ele vos transmitir à medida que
ele os receber, andando em toda santidade diante de mim;
"Pois suas palavras recebereis como de minha própria boca,
como toda paciência e fé.
"Porque, assim fazendo, as portas do inferno não prevalecerão
contra vós; sim, e o Senhor Deus afastará de vós os poderes
das trevas e fará tremerem os céus para o vosso bem e para a
glória de seu nome" (D&C 21:1, 4-6).
Repetiram-se estas palavras e orientação quase vinte meses
mais tarde quando havia um ambiente de mais contenda e
menos disposição de aceitar por completo o papel profético de
Joseph. Logo nos referiremos a este fato.

Censura do Profeta
Durante 1830 e 1831 o Profeta continuou a receber revelações,
pondo as mais importantes no papel. Lá pelo outono de 1831
ele achava que estas revelações, mais aquelas que
anteriormente havia registrado, eram de importância suficiente
de justificar a publicação delas como livro. Com este propósito,
Joseph convidou os membros do sacerdócio a reunir-se em
Hiram durante os primeiros dois dias de novembro de 1831.
Então ele propôs àquele grupo que estas sessenta ou mais
revelações fossem aceitas como escrituras canonizadas e
publicadas sob o título de Livro de Mandamentos. Por isso o
grupo fez um estudo dos escritos compilados e, embora nossas
informações não sejam completas, a ata indica que houve
critíca por parte de certos membros presentes contra a
linguagem das revelações.
Durante esta discussaõ se recebeu a seção 1 como o prefácio
revelado para a proposta compilação e nesta revelação se
aconselha paciência quanto à linguagem: "Eis que eu sou Deus
e disse-o; estes mandamentos são meus e foram dados a meus
servos na sua fraqueza, conforme a sua maneira de falar, para
que alcançassem entendimento" (D&C 1:24).
Porém William E. McLellin ainda não estava convencido e por
fim desafiou o Profeta em pleno público, alegando que Joseph
tivesse inventado em sua própria mente algumas das partes das
revelações. Devido a este desafio, recebeu-se a seção 67:
"E agora eu, o Senhor, vos dou um testemunho da veracidade
desses mandamentos que estão diante de vós.
"Vossos olhos têm estado sobre meu servo, Joseph Smith
Júnior, e sua linguagem e suas imperfeições vós conheceis e em
vosso coração tendes procurado conhecimento para exprimir-
vos em melhor linguagem do que ele; isso também sabeis.
"Ora, no Livro de Mandamentos procurai o menor deles e
escolhei o mais sábio dentre vós;
"E, se houver entre vós alguém que produza um semelhante,
então sereis justificados em dizer que não sabeis se são
verdadeiros;
"Mas se não conseguirdes produzir um semelhante, estareis
sob condenção se não testificardes serem eles verdadeiros.
"Pois sabeis que nenhuma injustiça há neles e o que é justo
vem do alto, do Pai das luzes" (D&C 67:4-9).
Agora peço-lhes que se lembrem dos mandamentos e das
advertências da seção 21, dada quase vinte meses antes disso:
a luz foi prometida àqueles que apoiavam Joseph e as
revelações e a escuridão prometida para aqueles que os
negavam.
Naturalmente McLellin se achava capaz de aceitar o desafio. Só
um professor teria achado que estava tão bem preparado (uma
advertência solene para nós que somos do Sistema Educacional
da Igreja). A sós ele tentou escrever o que soava como
revelação para ele. Mas se provou que, como disse o Profeta
Joseph, ele tinha "mais instrução do que bom senso." [3] Depois
de uma noite longa ele apareceu no dia 2 de novembro perante
os participantes da conferência e, com lágirmas nos olhos,
pediu perdão ao Profeta, aos irmãos e ao Senhor. Ele havia
fracassado de forma arrasadora, quase que não podendo
escrever palavra alguma. Tal fracasso total por parte de uma
pessoa tão respeitada teve um efeito profundo na conferência.
Cada portador do sacerdócio por sua vez se levantou e prestou
testemunho da comunicação de Deus com o Profeta Joseph e as
revelações que foram concedidas. Após estes testemunhos a
conferência autorizou a publicação do Livro de Mandamentos e
designou que Oliver Cowdery fosse a Independence, Estado de
Missouri, para supervisionar a publicação.
Assim o testemunho decisivo da seção 1 referente ao papel
profético e o processo de revelação não consiste somente no
conteúdo da seção, que vamos examinar, como também no
contexto histórico em que ela foi recebida. Neste sentido, o que
é o prefácio é tão importante à Restauração como o que ele diz.
De um modo muito real, a fé e o compromisso dos santos
pioneiros para como estas revelações estavam em jogo no
próprio momento que eram compiladas. Eles simplesmente
tinham que saber-ou tinham que vir a saber-que, questões de
gramática, emprego de palavras e retórica à parte, estas
revelações não foram a invenção de uma imaginação fértil e
vívida. O futuro da igreja nova estava em perigo. Ou, para ser
mais preciso, a salvação de almas individuais estava em perigo.
Para eles e para nós, a ordem do Senhor é simples e sem
ambiguidade: "Examinai estes mandamentos, porque são
veradeiros e fiéis; e as profecias e as promessas neles contidas
serão todas cumpridas. O que eu, o Senhor, disse está dito e
não me desculpo; e ainda que passem os céus e a Terra, minha
palavra não passará, mas será toda cumprida, seja pela minha
própria voz ou pela voz de meus servos, é o mesmo" (D&C
1:37-38).
Isto pode parecer uma coisa de pouca importância aos Santos
dos Últimos Dias de quarta e quinta geração mas desconfio que
não foi algo de pouca importância nem para o Profeta Joseph
nem para os fiéis e nem para os cépticos que tinham que
labutar para fazer as pazes com sua própria consciência e com
o Senhor. Em verdade sentimos a dolorosa emoção na frase
escrita pelo Profeta Joseph naquele dia: "Era uma
responsabilidade terrível escrever em nome do Senhor." [4] De
fato era e agora William E. McLellin e os outros também
compreendiam isso. Talvez nisso vejamos mais uma vez a
sabedoria do Senhor em chamar um moço quase iletrado para
ser o instrumento pelo qual Ele falaria. Posto que fracassou o
letrado irmão McLellin, parecia obviamente claro que nem o
Profeta Joseph nem qualquer outro homem era capaz, por si
mesmo [sem Deus], de revelar profecias que se cumprissem ou
de escrever revelações que tivessem o espírito familiar da
divindade. O élder Orson F. Whitney certa vez notou que um
homem arrogante e vão que ridicularizava os provérbios de
Salomão havia comentado: "Qualquer pessoa pode fazer alguns
provérbios." A réplica era simples: "Procure fazer alguns."
Em termos de sua mensagem inerente e do confronto breve,
porém dramático, do qual surgiu, a seção 1 estabelece para o
livro todo e nós o papel profético, o processo divino, a
realidade da revelação do Onipotente e a impossibilidade de
pretensão, engano e falsificação. Logo nestes casos se
descobrem os impostores, homens que só são homens e não
homens de Deus.

A Jornada Prototípica
Agora vejamos a própria revelação. Desde o tempo em que
Homero mandou Ulisses para a guerra e tentou trazê-lo de
volta, a alusão a uma jornada ou a uma busca ou a uma
odisséia tem sido um dos grandes temas da literatura mundial.
Sem fazer uma pesquisa geral da literatura, pode-se notar que
este tema aparece muito mais nos grandes escritos religiosos
do mundo.
Um dos grandes poemas religiosos é a Divina Comédia de
Dante. Quem entre os irmãos conhece o poema, e todos nós
devemos conhecê-lo, sabe que não se trata só de uma jornada
mas também, de certo modo, se trata de uma autobiografia da
alma.
O declínio e ascenção da Divina Comédia, que é
propositalmente bíblica, representam a Queda e a Expiação, a
morte e a ressurreição e destacam a doutrina bem conhecida da
jornada de Cristo. Nesta obra, Dante, acompanhado de Virgílio,
começa a descida ao inferno na tarde da sexta-feira santa.
Descem, degrau por degrau, até os círculos mais profundos do
inferno. Daí os dois reaparecem de manhã na Páscoa prontos
para subir ao céu. Dante luta para subir a montanha
precipitosa. Nas saliências do monte estão outras almas
penitentes, preparando-se para a disciplina de uma vida
celeste. Ao aproximarem-se do cume, Estácio, que acaba de
fazer penitência, se re&uacutene com eles e os três sobem até
lá em cima onde encontram o paraíso. Dois séculos e meio mais
tarde, John Bunyan usaria aspectos desta mesma viagem para
escrever a alegoria cristã mais influente que já se escreveu em
língua inglesa, Pilgrim's Progress [ O Peregrino]. Refiro-me a
estes escritos não canonizados e não proféticos para que eu
possa focalizar numa experiência semelhante, mas bem mais
literal, que aparece na seção 1, experiência esta que foi
recebida por meio de revelação divina para um profeta vivo de
Deus. Estas passgens iniciais são em si um símbolo para o resto
do livro de Doutrina e Convênios, uma divina comédia. Isto não
quer dizer que a seção é cômica. A comédia, no sentido
literário, desce para depois subir, levando à felicidade, paz e
satisfação. A tragédia, por outro lado, depois de ascender
desce, levando à dor, à maldição e, muitas vezes, à morte.

Um Começo Agourento
A seção 1, obviamente, é mais parecida com Deuteronômio do
que Dante mas mesmo assim a jornada do povo de Deus está
aí, ou em poezia, ou na areia de Sinai ou na selva do Estado de
Ohio. Israel, antigo e moderno, está sempre em movimento.
Notem o tom agourento destas passagens que nos dão uma
vista literal do inferno contra o qual devemos advertir. A seção
já de começo é ominosa e logo se torna mais severa.
"Escutai, ó povo da minha igreja, diz a voz daquele que habita
no alto e cujos olhos estão sobre todos os homens; sim, em
verdade vos digo: Escutai, ó povos distantes e vós que estais
nas ilhas do mar, escutai juntamente.
"Pois em verdade a voz do Senhor dirige-se a todos os homens
e ninguém há de escapar; e não haverá olho que não veja nem
ouvido que não ouça nem coração que não seja penetrado.
"E os rebeldes serão afligidos com muita tristeza, porque suas
iniqüidades serão proclamadas em cima dos telhados e seus
feitos secretos serão revelados.
"E a voz de advertência irá a todos os povos pela boca de meus
discípulos, que escolhi nestes últimos dias.
"E eles irão e ninguém os deterá, porque eu, o Senhor, os
mandei ir.
"Eis que esta é a minha autoridade e a autoridade de meus
servos e o meu prefácio ao livro de meus mandamentos, os
quais lhes dei para que os publicassem para vós, ó habitantes
da Terra.
"Portanto temei e tremei, ó povos, porque o que eu, o Senhor,
neles decretei, neles será cumprido.
"E em verdade vos digo que àqueles que saírem para levar estas
novas aos habitantes da Terra será dado poder para selar, tanto
na Terra como nos céus, os incrédulos e rebeldes;
"Sim, em verdade, selá-los para o dia em que a ira de Deus se
derramar sem medida sobre os iníquos-
"Para o dia em que o Senhor vier recompensar cada homem de
acordo com suas obras e medir cada homem com a mesma
medida com que ele houver medido seu próximo.
"Portanto a voz do Senhor chega aos confins da Terra, para que
ouçam os que quiserem ouvir:
"Preparai-vos, preparai-vos para o que está para vir, porque o
Senhor está perto;
"E a ira do Senhor está acesa e sua espada está lavada nos céus
e sobre os habitantes da Terra caírá.
"E o braço do Senhor será revelado; e chegará o dia em que
aqueles que não ouvirem a voz do Senhor nem a voz de seus
servos nem atenderem às palavras dos profetas e apóstolos
serão afastados do meio do povo" (D&C 1:1-14).
é óbvio nestes catorze versículos que nos vemos em grandes
apuros. é como se descêssemos a um momento tenebroso em
que o braço do Senhor se revela, sua ira está acesa, sua espada
está lavada nos céus para logo cair sobre os habitantes da
Terra. Cairá pelo menos (Note bem, William E. McLellin.) sobre
aqueles que "não ouvirem a voz do Senhor nem a dos seus
servos e que não atenderem às palavras dos profetas e dos
apóstolos." Aqueles serão "afastados do meio do [meu] povo"
(D&C 1:14). Obviamente a espada dos céus não somente estava
sobre o mundo como também sobre aqueles que haviam se
reunido na conferência de Hiram. Não se esqueçam da
saudação inicial da seção 1, "ó povo da minha igreja."

Descida à Idolatria
Voltemos à descida infernal. é justmante aqui que vemos a
derradeira transgressão dos nossos dias, o pecado de nossa
dispensação, sim, o pecado fundamental de todas as
dispensações. Nos versículos 15 e 16 chegamos à essência,
ao último círculo aonde as pessoas, inclusive as da Igreja,
podem descer se não forem fiéis em todos os sentidos às
revelações de Deus. O Senhor diz: "Pois desviaram-se de
minhas ordenanças e quebraram meu convênio eterno. Não
buscam o Senhor para estabelecer sua justiça, mas todo
homem anda em seu próprio caminho e segundo a imagem de
seu próprio deus, cuja imagem é à semelhança do mundo e
cuja substância é a de um ídolo que envelhece e perecerá em
Babilônia, sim, Babilônia, a grande, que cairá" (D&C 1:15-16).
Babilônia é, nas escrituras, o símbolo figurativo da vida
decadente, ou seja, tudo neste mundo que não seja justo. E é
justamente para Babilônia que tínhamos descido no versículo
16. No meio do pecado e dos pecadores encontramos o maior
pecado de todos: infidelidade e desobediência na sua forma
mais fatal-a idolatria.
Dos dez grandes mandamentos dados no Monte Sinai, o
primeiro, o principal, o que permanece é:"Não terás outros
deuses diante de mim"; e, caso não entendêssemos, "Não farás
para ti imagens de escultura" (êxodo 20:3,4). Entre as dez leis
escritas nas duas tábuas de pedra, Jeová usa dois décimos, um
quinto, 20% daquele espaço precioso para estabelecer dois
mandamentos que, se não forem compreendidos e guardados,
tornarão todos os outros inúteis, tanto nesta vida como na
eternidade. Por importantes que sejam os mandamentos de
honrarmos nossos pais, de santificarmos o dia do sábado, de
sermos honestos e de nos mantermos castos e preservar a vida
dos outros, nenhum deles terá o poder redentor e santificador
que deve ter, se não entendermos primeiro que Deus é nosso
Pai e que nós somos seus filhos e que não devemos ter outra
lealdade que possa nos afastar dele.
No entatno essa foi o estado da deslealdade do mundo ao
entrar no século dezenove. Ademais ficou claro que o mundo é
até mais desleal hoje em dia. Como povos do mundo, temos
desviado das ordenanças e quebrado os convênios e não
estamos buscando o Senhor para estabelecer sua justiça. Na
verdade estamos andando em nosso próprio caminho segundo
nossos próprios deuses cuja imagem é à semelhança do mundo
e cuja substância é a de um ídolo. As chamas e o dedo de Sinai
apontam e acusam nossos dias. Os irmãos devem se lembrar
deste comentário do Presidente Spencer W. Kimball:
"As autoridades clamam constantemente contra aquilo que o
Senhor não tolera: contra a poluição da mente, do corpo e do
meio ambiente; contra a indecência, o furto, a mentira, o
orgulho e a blasfêmia; contra a fornicação, o adultério, o
homossexualismo e todos os outros abusos do poder sagrado
da procriação; contra o assassínio e tudo que é semelhante;
contra toda sorte de dessacralização.
"Espanta-me que tal clamor seja necessário entre um povo tão
abençoado. E para mim é quase que incrível que tais pecados
se acham até entre os Santos, pois somos um povo que possui
muitos dons do Espírito, que tem o conhecimento que dá
perspectiva à eternidade e que conhece o caminho para a vida
eterna.
"Infelizmente, porém, descobrimos que conhecer o caminho
não signifa andar nele e há muitos que ainda não conseguem
permanecer fiéis. Estes se submeteram, de uma forma ou outra,
às tentações de Satanás e de seus servos e uniram-se àqueles
'do mundo' que levam vidas que se aprofundam cada vez mais
na idolatria.
"Uso a palavra idolatria de propósito. Ao estudar as escrituras
antigas, convenço-me mais e mais de que há muito sentido no
fato do mandamento: 'Não terás outros deuses diante de mim'
ser o primeiro dos Dez Mandamentos.
"Poucos homens consciente e deliberadamente decidem rejeitar
Deus e sua bênção. Em vez disso, como aprendemos através
das escrituras, o homem carnal tende a transferir sua confiança
em Deus para as coisas do mundo porque exercer a fé sempre
se torna mais difícil do que confiar nas coisas materiais,
próximas de nós. Portanto, em todas as épocas quando os
homens cedem ao poder de Satanás e perdem a fé, colocam em
seu lugar a esperança "no braço da carne" e nos "deuses de
prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que
não vêem, não ouvem, nem sabem" (Daniel 5:23.)-ou seja, nos
ídolos. Tenho notado que a idolatria se trata de um tema
dominante no Velho Testamento. Aquilo que o homem ama e
em que confia mais se torna seu deus e se este deus não for o
Deus vivo e verdadeiro de Israel, aquele homem está praticando
a idolatria. . . .
"Apesar de nosso prazer em definir-nos como sendo modernos
e apesar de nossa tendência de pensar que possuímos uma
sofisticação que nenhum outro povo do passado possuía-
apesar destas coisas, somos de modo geral um povo idólatra-
uma condição muito repugnante ao Senhor." [5] Os homens
são, como disse certa vez Oliver Wendell Holmes, idólatras de
coração, e se não nos conscientizarmos disso e não nos
defendermos contra a tendência para este pecado tão maligno,
como adverte este grande prefácio de Doutrina e Convênios,
não tiraremos proveito de nenhum dos conselhos que seguem
nas outras seções e até nos outros livros padrão. Simplesmente
não haverá ordenanças nem revelações nem ensinamentos
suficientes para salvar nossa alma, se não guardarmos o
primeiro e grande mandamento: "Amarás, pois, ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as
tuas forças" (Deuteronômio 6:5). Este fato incontestável parece
ser o fundamento da mensagem do prefácio do Senhor.
Aqueles versículos (D&C 1:15-16), o confronto essencial com
nossos pecados num mundo em perigo das chamas do inferno
e com medo da espada lavada nos céus formam o ponto de
viragem da revelação. Formam o ponto de viragem da vida de
quem faz a jornada. Se quisermos responder, se quisermos
transformar nossa vida e o futuro do mundo e o significado
desta dispensação, o versículo 17 será como água na língua do
atormentado. "Portanto eu, o Senhor, conhecendo as
calamidades que adviriam aos habitantes da Terra, chamei meu
servo Joseph Smith Júnior e falei-lhe do céu e dei-lhe
mandamentos" (D&C 1:17).

Ascenção de Babilônia ao Céu


Há uma hora de decisão para a dispensação toda. Foi Joseph o
que se dizia ser? São estas revelações o que se alega que são?
É este o caminho do Mestre? Este versículo marca o momento
desta "história" em que, se quisermos, poderemos iniciar a
subida, saindo dos círculos do inferno, das cadeias de
Babilônia. Nosso Pai, o Deus dos céus e da Terra, conhecendo
as calamidades em que o mundo se amaranhava, mais uma vez
falou a um profeta e deu-lhe mandamentos. Aqui e somente
aqui-nas revelaçoes concernentes aos princípios e ordenanças
do evangelho de Jesus Cristo-há segurança. Esta é a mensagem
dos Santos dos Ùltimos Dias para um mundo pecador e
idólatra.
Outra vez se nota que tal voz profética pode ser humana e
imediata, morando na casa do lado ou na fazenda mais
próxima. Pode ser que ele use linguagem imperfeita mas é
porque "as coisas fracas do mundo virão e abaterão as
poderosas e fortes" (D&C 1:19). E assim é que o Profeta Joseph
e seus sucessores procederam "que todo homem, porém fale
em nome de Deus . . . ; para que a fé também aumente na
Terra; para que o meu eterno convênio seja estabelecido; para
que a plenitude do meu evangelho seja proclamada pelos
fracos e pelos simples aos confins de Terra e perante reis e
governantes" (D&C 1:20-23). Com este tipo de passo acelerado
podemos enxergar a ascenção pela montanha rumo à "terra
prometida," e este, em verdade, é o objetivo e promessa do
evangelho de Jesus Cristo. A seção 1 nos assegura que estas
revelçaões corrigirão aqueles que estiverem no erro. Elas
instruirão aqueles que com honestidade procurarem a
sabedoria. Elas repreenderão ao pecador para que siga o
caminho redentor do arrependimento. E ao longo do caminho
aqueles que se humilharem se fortalecerão e receberão
conhecimento do Altíssiomo de tempos em tempos. Assim com
este aumento de progresso, ascendendo da longa noite de
apostasia e erro em que o mundo jazia, manifestou-se o poder
de lançar os alicerces da Igreja e tirá-la da obscuridade e das
trevas.
Em tudo isso o Senhor não pode encarar o pecado com o
mínimo grau de tolerância mas como o Profeta Joseph disse:
"Para os homens que pecam e se perdem haverá oportunidade
de arrependerem-se." [6] As promessas são para todos: "Eu, o
Senhor, estou disposto a tornar conhecidas estas coisas a toda
carne; porque não faço acepção de pessoas e desejo que todos
os homens saibam que o dia rapidamente se aproxima . . .
quando . . . o Senhor terá poder sobre seus santos e reinará em
seu meio e descerá para julgar Iduméia, ou seja, o mundo"
(D&C 1:34-36). E aí, completando o círculo de onde partimos:
"Examinai estes mandamentos, porque são verdadeiros e fiéis;
e as profecias e as promessas neles contidas serão todas
cumpridas. O que eu, o Senhor, disse está dito e não me
desculpo; e ainda que passem os céus e a Terra, minha palavra
não passará, mas será toda cumprida, seja pela minha própria
voz ou pela voz dos meus servos, é os mesmo. Pois eis que o
Senhor é Deus e o Espírito testifica; e o testemunho é
verdadeiro e a verdade permanece para todo o sempre. Amém."
(D&C 1:37-39).
Indepentente das outras coisas que possa ser, o livro de
Doutrina e Convênios certamente é um documento revelador de
mandamentos abundantes e de pronunciamentos proféticos.
Estas comunicações foram reveladas pelo Urim e Tumim, por
visão aberta, pela voz mansa e delicada, por uma voz audível,
pela tradução de escrituras, por anjos, por orações
dedicatórias, por cartas, por instrução, por declarações de
crença e de história, por ordenanças sacerdotais, por respostas
a perguntas sobre as escrituras, por profecias, por atas de
reuniões e assim por diante, para destacar em alto relevo o
princípio essencial, absoluto, inevitável e apoiador da revelação
do evangelho de Jesus
Cristo na dispensação mais plena. E para que são dadas as
revelações? Para destruir as imagens de escultrua de nossos
dias, para reestabelecer Deus como Pai de seus filhos, para
restaurar os convênios que ligam o céu com a Terra os quais o
príncipe das trevas em baixo da Terra gostaria que nós
distorcêssemos. Na linguagem do próprio Doutrina e
Convênios, recebem-se as revelações para "compreenderdes e
saberdes o que adorais, para que venhais ao Pai em meu nome
e, no devido tempo, recebais de sua plenitude" (D&C 93:19),
para compreendermos e sabermos o que adoramos para que
venhamos ao Pai e recebamos de sua plenitude. Para este fim
são dedicadas a dispensação, suas doutrinas e esta compilação
de revelaçoes. Este é o propósito que o prefácio, a seção 1,
declara. Certamente é um dos grandes prefácios que a
humanidade possui. Esta é a minha oração: que tenhamos uma
jornada bem-sucedida e feliz pelo restante das revelações
deste livro, que possamos individual e coletivamente dar de
costas a Babilônia e subir a montanha do Altíssimo para que
nos regozijemos na sua presença através de praticar a justiça.

Notas de rodapé:
[1] Montaigne, "Of Managing the Will [Controlar a vontade],"
Essays [Ensaios], tradução de Charles Cotton, redação de
William Carew Hazlitt (1877).
[2] John A. Widtsoe, The Message of the Doctrine and
Covenants [A mensagem do Doutrina e Convênios], redação de
G. Homer Durham (Salt Lake City: Bookcraft, 1969), 11-12.
[3] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints [A história da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Úlitmos Dias], redação de B. H. Roberts, 2nd ed.,
rev. (London: Latter-day Saints' Book Depot, 1957), 1:226.
[4] Smith, History of the Church, 1:226.
[5] Spencer W. Kimball, "The False Gods We Worship [Os falsos
deuses que adoramos]," Ensign, junho de 1976, 4, 6.
[6] Smith, History of the Church, 5:24.
Os Profetas e o Sacerdócio No Velho
Testamento
Millet, Robert L., "Prophets and Priesthood in the Old Testament
(Os Profetas e o Sacerdócio no Velho Testamento)" em Sperry
Symposium Classics: The Old Testament, redação de Paul
Y. Hoskisson (Provo e Salt Lake City: Religious Studies Center,
Brigham Young University, e Deseret Book 2005), 48-68.
Os Profetas e o Sacerdócio No Velho Testamento
Robert L. Millet

Robert L. Millet é professor


de escrituras antigas e outrora director
de Educação Religiosa da Universidade Brigham Young.

A voz da profecia é uma voz de autoridade, autoridade divina. Aqueles que


O Profeta Joseph Smith escreveu o seguinte em
1842: “Cremos na mesma organização que existia na Igreja Primitiva, isto
etc. ” (Regras de Fé 1:6). Na época certa, quando Deus
o Pai Eterno na sua sabedoria infinita decidiu re-
estabelecer seu reino aqui na terra, Ele começou a restaurar os sacerdócio
Cristo no meridiano dos tempos. A “obra maravilhosa e
um assombro” previstos por Isaías (Isaías 29:14)
se trata da restauração de A Igreja de Jesus
Cristo que existira desde muitos séculos antes
do ministério mortal de Jesus (vide D&C
107:4). Aquela restauração consistiria nas verdades,
nos poderes, nos sacerdócios,
nos convênios e nas ordenaças do Velho Testamento,
de tal forma que “uma total, completa e perfeita união e fusão de dispensa
tempo atual.
E não era somente isso, mas também as coisas que nunca se revelaram de
conservavam ocultas aos sábios e prudentes, serão reveladas a crianças e
dos tempos” (D&C 128:18).
O Sacerdócio de Melquizedeque, o
“Santo Sacerdócio segundo a ordem do Filho de Deus” (D&C
107:3), é, como seu Autor, ou seja, infinito e eterno (vide Alma
13:7–9).
“O Sacerdócio é um princípio sempiterno,” explicou Joseph
Smith,
“e existia com Deus de eternidade em eternidade e sem início de dias nem
anos.” [1] É sobre este santo sacerdócio que falaremos—
mais especificamente,
o Sacerdócio de Melquizedeque, através do qual esta autoridade divina tin
Infelizmente o Velho Testamento é quase mudo no que se refere ao sacerd
Joseph
Smith, conforme expostso em seus sermões, revelações e traduções. Adem
Adão e o Sacerdócio
No momento que a igreja de Deus se organiza na terra
com oficiais legais, o reino de Deus está aqui. O Profeta Joseph
Smith explicou: “O reino de
Deus foi estabelecida na terra desde os dias de Adão até o presente tempo
e estava aqui sempre que havia um homem justo na terra
a quem Deus revelava sua palavra e
a autoridade de agir em seu nome.
E quando há um sacerdote de Deus—
um ministro que possui o poder e autoridade de
Deus para administrar as ordenanças do evangelho e oficiar no sacerdócio
Deus—ali está o reino de Deus.” [2]
Desde os dias de Adão até a época de Moisés, os homens e mulheres viver
a ordem patriarcal do Sacerdócio de Melquizedeque. Isto é, viviam em fam
regime incluia o novo
e sempiterno convênio de casamento. [3] “Adão possuía o sacerdócio,” obs
M. Nelson, “e Eva atuava numa parceria matriarcal com
o sacerdócio patriarcal.” [4] O Presidente Ezra Taft
Benson explicou que “Adão e seus descendentes entraram para a ordem sa
de Deus. Hoje em dia, diríamos que foram à Casa
do Senhor e receberam suas bênçãos. Refere-
se às vezes a esta ordem do sacerdócio mencionada nas antigas escrituras
em que o homem e a mulher fazem convênio com Deus—
justamente como o fizeram Adão e Eva—
para serem selados por toda a eternidade, terem uma posteridade e fazere
Deus por toda a vida mortal.” [5]
Embora não tenhamos certeza quanto à organização exata da Igreja duran
cristã, os líderes sacerdotais entre os antigos procuravam sempre fazer a v
Deus
em todos os assuntos. Tais vultos como Adão, Sete, Enos, Cainã, Maalalel,
e eclesiásticos (sacerdotais). Outros homens dignos possuíam o sacerdócio
o direito de presidir. [6] “Adão, nosso pai,
o primeiro homem, é o sumo sacerdote presidente sobre a
Terra por todas as eras,” O Élder McConkie observou:
A governança que o Senhor lhe deu era patriarcal, e . . .
a parte reta da humanidade era abençoada e governada por uma teocracia
Tal sistema teocrático, baseado na ordem e sistema que prevalecia no céu
era o governo de Deus.
O próprio Deus, embora habitasse no céu, era
o Legislador, Juiz e Rei. Ele lhes dava instruções em todas as coisas, tanto
Santo Sacerdócio e eram guiados pelo poder do Espírito Santo. [7]
Adão foi o primeiro cristão na terra. Ele foi batizado, confirmado, nascido
Deus (vide Moisés 6:64–68).
“O sacerdócio foi dado primeiramente a Adão; ele obteve a Primeira Presid
geração.” [8] No livro de Moisés, na tradução inspirada de
Joseph Smith dos capítulos iniciais de Gênesis,
o Profeta registrou a revelação do evangelho a Adão. Nele lemos a respeito
nascimento espiritual de Adão.
“E ele ouviu uma voz do céu, dizendo: Foste batizado com fogo e
com o Espírito Santo. Este é o testemunho do Pai e do Filho, de
agora em diante e para sempre.”
Agora prestem atenção à linguagem da escritura:
“E tu és segundo a ordem daquele que é sem princípio de dias ou fim de a
em mim, um filho de Deus; e assim possam todos tornar-
se meus filhos. Amém” (Moisés 6:66–68).
Adão nasceu de novo e se tornou, através da adoção,
um filho de Cristo. O Presidente Joseph Fielding Smith escreveu:
“O plano de salvação foi revelado a Adão depois de expulso do Jardim do E
a ele foi conferida a plenitude do
sacerdócio.” [9] Em verdade, como comentou o Élder John
Taylor, “Adão foi o pai natural
de sua posteridade, ou seja a sua família,
a qual ele presidia como patriarca, profeta, sacerdote e
rei.” [10]
O relato dos ofertas de Caim e Abel, como consta no capítulo 4
de Gênesis,
se vivifica e recebe um contexto doutrinário mais amplo através da traduçã
e sua posteridade que “oferecessem as primícias de seus rebanhos como o
. . à semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai” (Moisés 5:5–
7). Caim, um que “amava Satanás mais que Deus”
(Moisés 5:18), rejeitou os ensinamentos de seus pais e fez
um convênio com o pai das mentiras. Motivado por Satanás e
em rebeldia ao mandamento de oferecer um sacrifício de sangue,
Abel “obedeceu à voz do Senhor” e “levou das primícias de seu rebanho.”
O Senhor “atentou para Abel,
e para sua oferta; mas para Caim e para sua oferta ele não atentou.” Caim
Abel, e deu início às combinações secretas na terra
(vide Moisés 5:18–51).
O Profeta Joseph explicou que pela fé na expiação de Cristo e
o plano de redenção:
Abel ofereceu a Deus
um sacrifício que foi aceito, que consistia nas primícias do seu rebanho. C
o que não foi aceito porque ele não pôde fazê-
lo com fé; ele não podia ter fé, ou seja, ao contrário do plano do céu, não
e sem o derramamento de sangue, não havia remissão [vide Hebreus 9:22
e posto que o sacrifício foi instituído como protótipo pelo qual o homem a
Em consequência disso, Caim não pôde ter fé. E
o que não se baseia em fé é pecado.
O Profeta também disse que independente das várias opiniões dos erudito
Abel e
o conhecimento que ele tinha acerca do assunto da expiação, é evidente a
Deus do que a Bíblia fala. . . .
Como é que Abel pôde oferecer um sacrifício e,
com fé no Filho de
Deus, esperar a remissão de seus pecados e não entender o evangelho?”
Agora, notem o que o Profeta pergunta: “E se
Abel foi instruído sobre a vinda do Filho de
Deus, não teria ele também aprendido as ordenanças? Todos nós concorda
e se este fosse
o caso, não teria tido sempre o evangelho suas oredenanças,
e não teriam sido estas ordenanças sempre as mesmas?” [12]
Quase sete anos mais tarde,
o Irmão Joseph declarou que Deus havia “estabelecido as ordenanças para
as ou diretamente do céu ao homem ou por meio de mensageiros angélico
Deus de forma aceitável? E
se é que ofereciam sacrifícios, deviam ter possuído autorização para fazê-
lo por meio de ordenação.”
Então o Profeta cita o Apóstolo Paulo: “Pela fé Abel ofereceu a
Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que
e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11:4).
“Como ele ainda fala?” perguntou Joseph. “Porque ele magnificou o sacerdó
e portanto se tornou um anjo de Deus
e, tendo recebido seu corpo dentre os mortos, ainda possui as chaves de s
Paulo para ministrar palavras de consolo e para conceder-
lhe conhecimento dos mistérios da divindade.”
E logo o Profeta falou sobre Caim e
Abel numa espécie de resumo a respeito deste assunto:
“O poder, a glória e
as bênçãos do Sacerdócio permanecem com aqueles que permanecem na r
a fazer sacrifício, mas sua oferta não se fez
em retidão, portanto ele foi amaldiçoado. Significa, então, que as ordenan
de outro modo seu sacerdócio se tornará maldição em vez de
bênção.” [13]
Não sabemos muito das chaves da dispensação de
Abel, mencionada acima,
a não ser o fato de uma revelação moderna indicar que uma linha do sacer
e
de Enoque até Abel, que foi assassinado pela conspiração de seu irmão e q
Deus, pelas mãos de seu pai Adão, que foi o primeiro homem” (D&C
84:15–16; letra itálica acrescida pelo autor). Com o homicídio
de Abel e a defecção de Caim para a perdição, Deus proveu
outro filho para Adão e Eva, por meio do qual as bênçãos do
sacercõcio evangélico, ou ordem patriarcal, perdurariam. Sete
foi “ordenado por Adão aos sessenta e nove anos e foi
abençoado por ele antes de sua morte (a morte de Adão), e Sete
recebeu a promessa de Deus através de seu pai que sua
descendência seria a escolhida do Senhor e se preservaria até o
fim da Terra; porque ele (Sete) foi um homem perfeito e sua
semelhança era a semelhança expressa de seu pai, tanto que
parecia ser como o pai em todas as coisas, dele podendo
distinguir-se apenas pela idade” (D&C 107:42–43; compare
Moisés 6:10–11).
Enoque e Sua Cidade
Enoque, filho de Jarede, foi o sétimo depois de Adão. Jarede “ensinou a En
Deus”
(Moisés 6:21). “Enoque tinha vinte e cinco anos quando foi ordenado pelas
e tinha sessenta e cinco quando Adão o abençoou” (D&C
107:48). Ele foi chamado por Deus como profeta e vidente para
declarar o arrependimento a uma geração iníqua. Devido ao
fato de Enoque ser obediente e submisso, Jeová transformou
um jovem vacilante e acanhado em um pregador poderoso de
retidão. O Senhor pôs seu Espírito sobre Enoque, justificou
todas as suas palavras e caminhou com ele (vide Moisés 6:26–
34). “E tão grande era a fé que possuía Enoque, que ele
conduziu o povo de Deus; e seus inimigos saíram para batalhar
contra ele e ele proferiu a palavra do Senhor e a terra tremeu e
as montanhas fugiram, sim, de acordo com sua ordem; e os
rios de água desviaram-se de seu curso e o rugido dos leões
fez-se ouvir no deserto; e todas as nações tremeram
grandemente, taõ poderosa era a palavra de Enoque e tão
poderosa era o poder da linguagem que Deus lhe dera” (Moisés
7:13). Isto é, Enoque foi fiel ao convênio do Sacerdócio de
Melquizedeque, o que permitiu que Deus lhe fizesse uma
promessa, promessa esta que concedeu a Enoque poderes
semelhantes aos de Deus (vide Tradução de Joseph Smith,
Gênesis 14:27–31; compare Helamã 10:4–10; D&C 84:33–
44). [14]
Devido a sua retidão e ao poder de seu testemunho, Enoque estabeleceu u
um povo que era “unos de coração e vontade e viviam em retidão;
e não havia pobres entre eles” (Moisés 7:18; compare D&C
97:21). Sião representa o máximo em termos de interrelacionamento hum
a comunidade ideal, ou, como ensinou o Presidente Spencer W.
Kimball,
“a mais elevada ordem de sociedade sacerdotal.” [15] Enoque e seu povo f
inclusive a aplicação do amor puro de
Cristo nas suas relações sociais e a consagração total
de si. Por fim foram transladados, ou arrebatados ao céu, sem experiment
O povo de Enoque andava com Deus
e Ele habitou no meio de Sião;
e aconteceu que Sião já não existia, porque Deus
a recebeu em seu prõprio seio;
e daí em diante se começou a dizer: Sião fugiu” (Moisés 7:69).
“E os homens que tinham essa fé, entrando nessa ordem de
Deus, foram transladados e levados para o céu” (Tradução de
Joseph Smith, Gênesis 14:32). “E
[Enoque] viu o Senhor e andou com ele e estava perante sua face continuam
e andou com
Deus trezentos e sessenta e cinco anos, tendo quatrocentos e trinta anos q
107:49). A sociedade de Enoque se tornou o padrão,
o protótipo, para todos os homens e mulheres fieis que já viveram e que v
O Apóstolo Paulo, portanto, pôde escrever que Abraão, entre muitos, foi u
dos que “esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e cons
(Hebreus 11:10).
O Profeta Joseph
Smith explicou que a translação (transladação) é um poder que pertence a
Taylor acrescentou que “os habitantes transladados da cidade de Enoque e
a direção de Jesus, o qual é criador de muitos mundos,
e que ele, possuindo as chaves do governo de outros planetas, pode, na ad
Noé e o Sacerdócio
Noé, o décimo depois de Adão, foi ordenado ao dez anos (vide
D&C 107:52). “Deus fez preparações de antemão,” O Élder John
Taylor explicou,
“e disse a Metusalém que quando o povo fosse destruído,
um remanescente de sua descendência iria ocupar a terra
e ficaria um primeiro lugar nela.
E Metusalém estava tão entusiasmado que oredenou Noé ao sacerdócio qu
Deus em seus dias.” [18]
Noé fez muito mais do que a previsão do
tempo; foi o administrador legal capacitado por Deus para chamar ao arre
“E
o Senhor ordenou Noé segundo sua prõpria ordem e mandou que ele foss
a Enoque.
E aconteceu que Noé clamou ao filhos dos homens para que se arrependes
a chamada ao arrependimento não se tratava de uma simples advertência
Cristo e fossem salvos. Noé disse : “Acreditai e arrependei-
vos de vossos pecados e batizai-vos em nome de Jesus Cristo,
o Filho de Deus, assim como nossos pais;
e recebereis o Espírito Santo
a fim de que todas as coisas se manifestem a võs” (Moisés 8:19–
20, 24; acrescido de leta itálica). Ao falar da ordem patriarchal
do Sacerdócio de Melquizedeque nos tempos de Noé,
O Presidente John
Taylor declarou que “todo homem dirigia seus próprios afazeres familiares
E os homens proeminentes entre eles exerciam as funções de reis e sacerd
Deus.” [19]
O Profeta Joseph
Smith explicou a função de Noé (o arcanjo Gabriel) na hierarquia do sacerd
o pai de todos os viventes e a ele foi dado
o domínio sobre todos eles.” [20] O Profeta também notou que “as chaves
de Jeová, o qual falou com ele [Noé] de forma amigável e
familiar para que continuassem com ele as chaves, os convênios, os poder
a glória com que Deus havia abençoado Adão no início.” [21]
Melqizedeque e Abrão
Abraão, conhecido a nós como “o pai do fieis,” procurou “as bênçãos dos p
o direito de administrar as mesmas (vide Abraão 1:1–
3). Ele “não era só um príncipe na terra como também o era
nos céus e por seu direito veio à terra na sua época para levar a efeito aqu
E ele descobriu através de pesquisa genealógica que possuía o direito de r
lo , orou ao Senhor e exigiu uma ordenação.” [22] Seu pai, Terá,
era idólatra, de forma que as bênçãos não podiam advir-
lhe de pai para filho.
E assim ele procurou os conselhos, orientação e autoridade de Melquizede
o grande sumo sacerdote da época.
O profeta Alma, na sua palestra sobre os antigos que entraram no descans
“E
agora, meus irmãos, quisera que vos humilhásseis perante Deus
e apresentásseis frutos dignos do arrependimento, para que também venh
vos como o povo nos dias de Melquizedeque,
o qual também foi um
sumo sacerdote desta mesma ordem [a santa ordem de Deus]
de que falei; que também tomou sobre si, para sempre, o
sumo sacerdócio” (Alma 13:13–14). Deus fez
o mesmo juramento com Melquizedeque que fez
com Enoque ao conceder-
lhe os mesmos poderes, poderes estes que eram semelhantes aos de
Deus. Melquizedeque obteve paz em Salém e “seu povo praticou a retidão
antes havia tomado, separando-a da terra (vide Tradução de
Joseph Smith [TJS], Gênesis 14:25–36).
Os Santos de Deus que viviam naquela época, “a igreja [de Jesus
Cristo]
dos antigos dias,” chamava o santo sacerdócio pelo nome de Melquizedeq
D&C 107:2–4). A revelação moderna nos informa que “Esaías . .
. viveu nos dias de Abraão e foi abençoado por ele—
Esse Abraão recebeu o sacerdócio de Melquizedeque, que o recebeu atravé
84:13–
14). Além disso, parece que Abraão recebeu direitos e privilégios a mais d
O pai dos fieis buscou o poder de administrar vidas sem fim, a
plenitude dos poderes do sacerdócio. De acordo com
o Élder Franklin D. Richards, o Profeta Joseph
Smith expicara que o poder de Melquizedeque “não era só o poder de
um profeta, nem de um apóstolo, nem de um patriarca, e sim o
de um rei e sacerdote de
Deus, para abrir as janelas dos céus e derramar a paz e a lei
de vida eterna ao homem.
E nenhum homem pode chegar a ser co-herdeiro com Jesus
Cristo sem receber a administração das ordenanças por alguém que tenha
James Burgess gravou um sermão de Joseph
Smith, uma espécie de comentário doutrinário sobre o capítulo 7
de Hebreus, em que ele falou de três ordens do sacerdócio:
o aarônico, o patriarcal (o
novo convênio sempiterno de casamento,
o qual Abraão possuía), e a plenitude
do sacerdócio (a realização das bênçãos prometidas no eterno convênio de
o Profeta disse:
Aqui Paulo aborda três sacerdócios diferentes, o seja,
o sacerdócio de Aarão, de Abraão e de Melquizedeque.
O sacerdócio que Abraão possuía era
de maior autoridade do que a do Sacerdócio Levítico (de Aarão)
e o de Melquizedeque tinha mais poder do que o de Abraão. . .
. Eu lhes pergunto: Havia um poder de selamento inerente no Sacerdócio L
Deus? Não. Mas o sacerdócio de Abraão era
de poder ou sacerdócio mais exaltado, de
forma que ele pôde conversar e andar com Deus.
E ainda, considerem quão grande que era esse homem [Melquizedeque], te
um décimo [dízimo] de todos os seus bens
a ele e depois recebido uma bênço pelas mãos de Melquizedeque, sim a
lei derradeira ou plenitude
do ócio que o tornou rei e sacerdote segundo a ordem de Melquizedeque,
Em resumo,
o Profeta Joseph explicou: “Abraão disse a Melquizedeque: eu acredito tud
a vinda do Filho do Homem, portanto Melquizedeque ordenou Abraão e
se despediu dele. Abraão se regozijou, dizendo:
Agora possuo o
sacerdócio.” [25] As chaves do sacerdócio passaram por Isaque, José, Efrai
e assim por diante ao longo dos séculos até os dias de Moisés. Até que po
De Moisès a Cristo
Aprendemos por meio da revelação moderna que Moisés foi ordenado ao s
Eli, Jeremias, Gade e Esaías.
A revelação fala entaõ da autoridade divina ter vindo através de Abraão, M
Abel e Adão (vide D&C 84:6–16). O fato do sacerdócio ser dado
a Jetro através de Midiã sugere—outra vez, como foi o caso do
sacerdócio passar por Abel, bem como Sete, (vide D&C 84:6–
16; 107:40)—que havia mais de uma linha de autoridade. Pode
ser que o sacerdócio fosse transmitido por várias linhas, mas as
chaves, ou seja o direito de presidência, permaneciam com os
patriarcas ordenados, os quais as transmitiam a outros.
Ao falar acerca dos filhos de Israel,
o Profeta declarou: “Seu governo era o
de uma teocracia; faziam-se as leis por inspiração de
Deus que escolhia os homens certos para administrá-
las; Ele era seu Deus
e eles eram seu povo. Moisés recebeu a palavra do Senhor de
Deus mesmo; ele era a voz de
Deus para Aarão e Aarão ensinava ao povo tanto em assuntos civis como e
Israel a
um nível de maturação espiritual em que pudessem desfrutar as mais elev

o privilégio de entrar no descanso do Senhor, ou seja, na presença divina.
O desejo de Jeová era que os israelitas se tornassem “um reino de sacerdo
em sua ira, pois sua ira estavam acesa contra eles, jurou que enquanto est
plenitude
de sua glória. Portanto tirou a Moisés do meio deles, como também o
Santo Sacerdócio; e o sacerdócio menor continuou [com eles]”
(D&C 84:19, 24–26; compare D&C 107:18–19). Isso significa
que a vontade de Israel de entrar para a presença do Senhor
(vide êxodo 20:19) mostrou sua falta de preparo, como uma
nação, de ver Deus e de ser portador do santo sacerdócio e
recebedor de seus privilégios incomparáveis. Por exemplo,
como indicou Abinádi, muitos dos filhos de Israel não
compreendiam o significado da lei de Moisés como um meio de
chegar a um final maior. Ele perguntou: “Ora, entendiam eles a
lei? Digo-vos que não; nem todos entendiam a lei; e isso por
causa da dureza de seu coração; portanto não compreendiam
que ninguém poderia ser salvo, a não ser pela redenção de
Deus” (Mosias 13:32).
Então disse o Senhor a Moisés: Lavra outras duas tábuas de pedra como as
de acordo com
o que se escreveu nas tábuas que tu quebraste; mas não será de acordo co
as primeiras, porque tirarei de seu meio o sacerdócio; portanto minha san
Mas darei a eles a lei, como nas primeiras, mas será segundo a
lei de
um mandamento carnal; porque na minha ira jurei que não entrariam em m
em meu descanso, nos dias de sua peregrinação. (Tradução de
Joseph Smith, êxodo 34:1–2; vide também a Tradução de
Joseph Smith, Deuteronômio 10:1–2)
Quando Moisés foi transladado,
as chaves do Sacerdócio de Melquizedeque foram retiradas de entre a cong
a ordem patriarcal do sacerdócio cessou. É verdade que ainda havia homen
Israel que possuíam o Sacerdócio de Melquizedeque. Mas o Sacerdócio de
o sacerdócio de administrações entre o povo em geral era
o Sacerdócio Aarônico.
A ordenação de certos homens ao Sacerdócio de Melquizedeque e
a concessão de suas chaves acontecia por meio de concessão especial
do Senhor. [27]
Portanto o Presidente Joseph Fielding
Smith esclareceu o assunto da seguinte maneira:
Em Israel, o povo comum,
as pessoas em geral, não exerciam as funções do sacerdócio na sua plenit
em grande parte, aos do Sacerdócio Aarônico.
A retirada do sacerdócio maior foi uma retirada do povo em geral, mas o S
Daniel, Ezequiel, Elias, o Profeta,
e outros entre os profetas possuíam o Sacerdócio de Melquizedeque,
de maneira que profetizavam e instruíam o povo conforme eram dirigidos
As obras feitas por eles eram válidas devido ao sacerdócio [maior]
o qual não se manifestava de modo geral entre o povo de
Israel durante todos aqueles anos.
O Presidente Smith acrescenta este detalhe importante: “Podemos supor,
com muita razão, que nunca havia uma época em que não houvesse pelo m
Israel que possuía o sacerdócio maior (tendo-
o recebido por autorização especial)
e que tinha autorização de oficiar as
ordenanças.” [28] Ou, como ele escreveu em outra ocasião:
O Senhor, por necessidade, tem mantido na terra
servos autorizados que possuíam o sacerdócio desde os dias de Adão até
de fato, não houve nunca um momento desde o início em que não houvess
Santo Sacerdócio. Até nos dias de apostasia, . .
. nosso Pai do céu estava em controle e mantinha na terra seus servos, dev
a devastação e corrupção dos poderes malignos. Estes
servos não tinham autorização nem de organizar a Igreja nem de administ
mal até o ponto que o Senhor julgava necessário. [29]
Perguntaram a Joseph
Smith: “Foi retirado o Sacerdócio de Melquizedeque quando Moisés morreu
O Profeta declarou [e este princípio guia nosso entendimento de quem pos
Cristo] que “todo sacerdócio é de Melquizedeque, mas há porções ou grau
com que Moisés pudesse falara face a face com
Deus, mas a parte que possibilitava o ministério de anjos permaneceu.” Es
um esclarecimento importante: “Todos os profetas possuíam o Sacerdócio
a ordenação ou mandou um mensageiro divino para fazê-
la. Numa renuião de Primeira Presidência e o Quõrum dos Doze
no dia 22 de abril de 1849, o élder John
Taylor perguntou ao Presidente Brigham Young, “se Elias,
o Profeta, Davi, Salomão e os Profetas tinham o Sacerdócio Maior, como é
Moisés.” Depois de muita discussão,
o Presidente Young “disse que não sabia, mas que desejava saber.”
O Élder Taylor, que não havia estado presente com
o Profeta Joseph quando este lhe deu a resposta em
1841, por estar de missão na Inglaterra, “pensava que talvez o Senhor mes
tempos em tempos a quem ele julgasse digno, mas sem dar-
lhes licença de passá-lo adiante a outros.” [31]
Então podemos concluir que todos os profetas do Velho Testamento possu
Para mim é inconcebível que tivessem executado sua obra profética indepe
lhes poder é um Deus de ordem e não de confusão (vide D&C
132:8)
e seria natural supor que sua obra era coordenada e dirigida por alguém q
o direito de presidir, sim, o poder administrador (vide D&C
107:8).
Estes princípios, infelizmente, não se encontram no registro atual do Velho
Somente através da revelação moderna é que descobrimos que as ordenan
do Senhor estavam com os homens desde o princípio.
O livro de Abraão fala das “grandes palavras chaves do
Santo Sacerdócio, conforme foram reveladas a Adão no Jardim do éden e t
a Noé a Melquizedeque, a Abraão e
a todos a quem se revelou o Sacerdócio” (Facsímile No.
2, Explicação, Figura 3).
A revelação moderna nos diz ainda mais, que as sagradas ordenanças, tais
se faziam nos antigos templos, os quais, conforme disse o Senhor, “meu p
124:39) e que “Natã, meu servo,
e outros profetas” possuíam as chaves do poder de selamento com relação
a união sempre duradoura de famílias (D&C
132:39). Certamente quando Deus decidia disponibilizar as ordenanças do
inclusive as bênçãos da investidura e
do selamento eterno, ele podia conferi-
las ou no deserto ou nos cumes das montanhas, em todo lugar,
em todos os tempos.
As passagens das escrituras que acabamos de citar também parecem suge
O élder Bruce
R. McConkie, porém, esclareceu o seguinte ponto: “Não deixem o fato da a
los. . .
. Onde quer que o Sacerdócio de Melquizedeque esteja, há também a
plenitude do evangelho e lembrem-
se de que todos os profetas possuíam o Sacerdócio de
Melquizedeque.” Ele continua:
“O Sacerdócio de Melquizedeque sempre tem dirigido o caminho do Sacerd
cargo na hierarquia da época.” [32] Em resumo,
“em todas as épocas do mundo, sempre que o Senhor deu uma dispensaçã
(D&C 128:9).
A colônia leíta,
um ramo de antigo Israel que Deus levou às Américas, também levou os sa
do evangelho sempiterno,
um evangelho que é administrado pelo sacerdócio maior. Não havia levitas
a direção do Sacerdócio de Melquizedeque. [33] O Presidente John
Taylor explicou que Morôni possuía o sacerdócio maior, sim “Morôni,
um dos profetas de Deus neste continente [o americano].
A Néfi, outro servo de
Deus neste continente, foram revelados o evangelho, suas chaves e
poderes.” [34]
Elias, O Profeta, e as Chaves do Sacerdócio
Uma declaração de Joseph
Smith parece, à primeira vista, pelo menos um pouco, contradizer o que ex
O Profeta Joseph afirmou: “Elias,
o Profeta, foi o último profeta que possuía as chaves do sacerdócio e é aqu
retidão.” [35] Elias, o Profeta, viveu por volta de 850 A.C.
Se esta declaração fosse interpretada ao pé da letra, nenhum profeta depo
Elias, pelo menos no Velho Testamento e
no Livro de Mõrmon, teria possuído as chaves do santo sacerdócio. Seriam
Joel, Oseias,
Jonas, Amõs, Isaías, Miqueias, Naum, Jeremias, Sofonias, Obadias,
Daniel, Habacuque e Ezequiel, bem como Leí e
o ramo americano de
Israel. Será que devemos entender por isso que nenhum destes homens po
A citação em questão é de
um discurso sobre o sacerdócio proferido em uma conferência da Igreja qu
1840.
O Profeta Joseph começou por definir o sacerdócio e então observou que o
a ele pertencem a mais alta autoridade sacerdotal e
as chaves do Reino de Deus
em todas as épocas do mundo até a última posteridade na terra
e é o meio pelo qual se revelam todo conhecimento e doutrina,
o plano de salvação e todos os assuntos importantes vindos do
céu.” Ele continuou a discursar e disse que “todos os outros sacerdócios sã
e são mantidos, controlados e dirigidos por tal sacerdócio. É o
canal pelo qual o Todo Poderoso começou a revelar sua glória no início da
e através do qual Ele continua a revelar-
se aos filhos dos homens no presente momento e pelo qual Ele revelará se
tempos.” [36]
Daí o Profeta Joseph palestrou a respeito do papel de
Miguel, ou seja Adão, como a pessoa designada para supervisionar as reve
Deus para o seu povo, enfatizando, como Joseph
fez tantas vezes, que as ordenanças do evangelho são as mesmas, são imu
Abel, Caim, Enoque, Lameque e Noé.
O Profeta providenciou informações muito importantes a respeito de Enoq
a doutrina de transladação. “Ora,
a doutrina de translação,” conforme ele ensinou, “É um poder que pertence
Aí Joseph
Smith começou a discutir em grandes pormenores a restauração de ofertas
. . em qualquer época anterior, serão obtidos de
novo, levando a efeito a restauração mencionada pela boca de todos os sa
. . .
A oferta de sacrifícios animais sempre tem sido vinculada aos deveres do S
Cristo. Temos frequentemente mencionado que os servos do
Deus Altíssimo ofereciam sacrifícios nos
tempos antigos, até bem antes da lei
de Moisés, tais ordenanças recomeçarão quando o Sacerdócio for restaura
“Elias,
o Profeta, foi o último profeta que possuía as chaves do sacerdócio e é aqu
Salvador possuía a autoridade e o poder de
conceder esta bênção, mas os filhos de Levi não eram dignos.
‘E enviarei Elias, o Profeta,
antes que venha o grande e terrível dia do Senhor,’ etc.,
etc. Por que enviar Elias,
o Profeta? Porque ele possui as chaves da autoridade de administrar todas
Sacerdócio.” [39] Outra vez ele acrescentou que “estes sacrifícios, bem com
Levi forem purificados. Tudo isso sempre existiu e sempre existirá quando
Lembrem-
se de que esse sermão foi proferido no mês de outubro de
1840, mais de quatro anos depois que Elias,
o Profeta, havia vindo ao Templo de Kirtland (vide D&C
110). Mas Joseph Smith disse que Elias, o Profeta “restaurará,
antes da ltima dispensação”— significando, naturalmente,
antes que se complete a ltima dispensação
—“a autoridade e entregará as chaves do Sacerdócio, para que todas as ord
retidão.” Pode ser que o Profeta tenha se referido a
um evento do passado como se ainda estivesse para acontecer. Por outro l
o contexto do sermão pode sugerir que uma parte do papel de
Elias, o Profeta, aquele que restauraria “a plenitude
do sacerdócio” seja a
de restaurar as chaves relativas a todas as ordenanças, inclusive
as
do sacrifício de animais, algo que foi profetizado por Malaquias (4:5–
6), citado por Jesus aos nefitas (3 Néfi 25:5–
6), escrito com umas variações por Morôni (D&C 2)
e descrito na revelação moderna (D&C 84:31–32). Pode-
se pensar: será que Elias,
o Profeta entregará aquelas chaves específicas durante o Conselho de Adã
Ondi-Amã, a grande reunião de líderes do sacerdócio
— aqueles que possuíram as chaves de autoridade em todos os tempos
—logo antes da vinda do Senhor em glória? [41]
Sou grato a meu amigo e colega Robert J.
Matthews por ter compartilhado comigo os seguintes princípios, cada um
dos quais aumenta nosso entendimento do assunto de chaves do sacerdóc
1. É evidente que uma pessoa que possui as chaves pode “dar” as chaves a
las.
2.
Há uma diferença entre possuir as chaves para poder exercer certas funçõ
o Profeta, deram chaves a Pedro, Tiago e João no Monte
de Transfiguração, [42] mesmo assim, foram Moisés e Elias,
o Profeta, que deram as chaves a Joseph Smith e
Oliver Cowdery em 1836. Sem vida,
Pedro possuía chaves suficientes das “chaves de Elias,
o Profeta” para governar a Igreja durante a dispensação do meridiano dos
tempos, porém o Senhor não mandou Pedro transferir as chaves das orden
Joseph e Oliver.
3. Declara-
se mais de uma vez no Livro de Mõrmon que os Doze
do hemisfério ocidental seriam sujeitos aos Doze
de Jerusalém (vide 1 Néfi 12:9; Mõrmon 3:18–
19). Tudo isso sugere, outra vez, que um povo pode possuir chaves do sac
de passar as mesmas a dispensações futuras.
4. Na verdade, todas as chaves e poderes do sacerdócio ainda não nos fora
Em resumo, as chaves do reino de
Deus têm estado sempre na terra quando o sacerdócio maior também esta
de
Deus. Aquelas chaves foram possuídas pelos ungidos do Senhor depois da
Elias,
o Profeta. Este Elias não foi o ltimo homem a possuir as chaves na era
do Vellho Testamento, visto que muitos as possuíam depois do ministério
dos
tempos para assegurar que “todas as ordenanças do evangelho fossem ob
retidão.” [44]
Conclusão
Amon explicou ao Rei Lími que “um vidente é tanto revelador como profeta
a não ser que ele possua o poder de
Deus, que nenhum homem pode possuir; não obstante o homem pode rec
Deus.
Um vidente, porém, pode saber tanto de coisas passadas como de coisas f
e por meio deles todas as coisas serão reveladas, ou seja, coisas secretas s
. . . Assim,
Deus providenciou um meio para que o homem, pela fé, pudesse realizar g
18).
Nõs, os Santos
dos ltimos Dias, amamos o Velho Testamento. Valorizamos as lições e
a linguagem de suas sagradas páginas. Sabemos, contudo, que ele não ch
forma original
e pura. Muitas verdades claras e preciosas e muitos convênios do Senhor f
1 Néfi 13:20–
32). Não está mais na Bíblia o conhecimento de que a plenitude
do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
já havia existido entre os povos antigos. Hoje também nos falta o conceito
Cristo. Mas louvado seja Deus que um vidente foi suscitado, sim, vidente e
um “vidente escolhido” (2 Néfii 3:6–7), sim, o prõprio Joseph
Smith, que iniciou a obra de restaurar à Bíblia muitas verdades claras e pre
“E agora, Moisés, meu filho, falar-te-
ei a respeito desta Terra na qual estás;
e escreverás as coisas que te direi. E
no dia em que os filhos dos homens menosprezarem minhas palavras e tir
e elas estarão outra vez ao alcance dos filhos dos homens—
entre todos os que crerem” (Moisés 1:40–41).
Um estudo do Velho Testamento pela luz do evangelho restaurado liga os
dos ltimos Dias aos Santos dos dias antigos.
Tal estudo se torna muito mais do que uma simples lição de histõria, pois
“Ora, esse mesmo Sacerdócio, que existia no princípio, existirá também no
O que era verdade para os antigos é verdade para nõs hoje em dia. Aquilo
a devoção contínuas aos nossos convênios.
A mesma autoridade por meio da qual os antigos foram batizados, confirm
Smith por mensageiros celestes. é minha oração sincera que todos nõs po
nos pelo tesouro de entendimento doutrinário que nos foi dado através da
Notas
[1] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph
Smith[Ensinamentos do Profeta Joseph
Smith], compilado por Joseph Fielding Smith (Salt Lake
City: Deseret Book, 1976), 157.
[2] Smith, Teachings [Ensinamentos], 271.
[3] Vide D&C 131:1–4; Bruce R. McConkie, Discursos da
Conferência Geral de outubro de 1977, 50.
[4] Russell M. Nelson, The Power within
Us[O poder dentro de nõs] (Salt Lake City: Deseret Book, 1988),
109.
[5] Ezra Taft Benson, “What I Hope You Will Teach Your Children
about the Temple
(O que espero que os irmãos ensinem a seus filhos a respeito do Templo)
,” Ensign, agosto de 1985, 9.
[6] Vide Joseph Fielding Smith, The Way to Perfection
[O caminho da perfeição] (Salt Lake City: Deseret Book, 1970),
73.
[7] Bruce R. McConkie, A New Witness for the Articles of Faith
[Uma nova testemunha das Regras de Fé] (Salt Lake
City: Deseret Book, 1985), 35.
[8] Smith, Teachings (Ensinamentos), 157.
[9] Joseph Fielding Smith, Doctrines of Salvation
(As doutrinas de salvação), 3 vols., comp. Bruce
R. McConkie (Salt Lake City: Bookcraft, 1954–56), 3:81.
[10] John Taylor, “Patriarchal,” Times and Seasons, 1°
de junho de 1845, 921.
[11] Vide John Taylor, in Journal of Discourses, 26 vols.
(Liverpool: Latter-day Saints’ Book Depot, 1854–86), 22:301;
Charles W. Penrose, in Journal of Discourses, 25:47–48, 339.
[12] Smith, Teachings (Ensinamentos), 58–59.
[13] Smith, Teachings (Ensinamentos), 168–69.
[14] Joseph Fielding
Smith, Discursos da Conferência Geral de abril de 1970, 59;
Boyd K. Packer, The Things of the Soul [As coisas da alma] (Salt
Lake City: Bookcraft, 1996), 153.
[15] Spencer W. Kimball, Conferência Geral de outrubro de
1977, 125.
[16] Smith, Teachings (Ensinamentos), 170–71.
[17] John Taylor, The Gospel Kingdom
[Reino de Evangelho], compilado por G. Homer Durham (Salt
Lake City: Bookcraft, 1964), 103; vide também Smith,
Teachings (Ensinamentos), 170–71.
[18] Taylor, Gospel Kingdom, 103–4.
[19] Taylor, Gospel Kingdom, 139.
[20] Smith, Teachings, 157.
[21] Smith, Teachings, 171.
[22] Taylor, Gospel Kingdom, 104.
[23] Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook, redatores, Words of
Joseph Smith (Provo: BYU Religious Studies Center, 1980), 245.
[24] Ehat e Cook, Words of Joseph Smith, 245–46.
[25] Smith, Teachings, 322–23.
[26] Smith, Teachings, 252.
[27] Vide Bruce R. McConkie, The Mortal Messiah, 4 vols. (Salt
Lake City: Deseret Book, 1979–81), 1:60.
[28] Smith, Doctrines of Salvation (As doutrinas de salvação),
3:85.
[29] Joseph Fielding Smith, Answers to Gospel Questions,
5 vols. (Salt Lake City: Deseret Book, 1957–66), 2:45.
[30] Smith, Teachings, 180–81.
[31] Ehat e Cook, Words of Joseph Smith, 82–83.
[32] Bruce R. McConkie, “The Bible: A Sealed Book,” in Church
Educational System Religious Educators’ Symposium(Salt Lake
City:The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1985), 6.
[33] Vide Smith, Doctrines of Salvation, 3:87; Bruce
R. McConkie, The Promised Messiah (Salt Lake
City: Deseret Book, 1978), 412, 421,427.
[34] Taylor, Gospel Kingdom, 140.
[35] Smith, Teachings, 172.
[36] Smith, Teachings, 166–67.
[37] Smith, Teachings, 59–60, 264, 308.
[38] Smith, Teachings, 168–71.
[39] Smith, Teachings, 171–73.
[40] Smith, Teachings, 337.
[41] Smith, Teachings, 157; Joseph Fielding Smith, The Progress
of Man (Salt Lake City: Deseret Book, 1964), 479–82; Bruce
R. McConkie, The Millennial Messiah (Salt Lake
City: Deseret Book, 1982), 578–88.
[42] Smith, Teachings, 158.
[43] Spencer W. Kimball, Conferência Geral de abril de 1977,
69–72; vide também John Taylor, Journal of Discourses,23:32.
[44] Smith, Teachings, 172.
Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon

Os Propósitos Precisos do Livro de Mórmon


Élder Jay E. Jensen

Élder Jay E. Jensen é membro do Primeiro Quórum dos Setenta.

Quando era um jovem aluno do ensino médio, desenvolvi um amor


pela leitura de bons livros. Tenho certeza que muito de minha
motivação veio de minha mãe. Bons livros sempre estavam
disponíveis em nossa casa. Nós também tínhamos a biblioteca
pública local. O sábado era dia de compras, e minha mãe dirigia a
curta distância de Mapleton a Springville, em Utah, para fazer as
compras de supermercado da semana. A biblioteca da cidade ficava a
uma quadra do mercado e muitas vezes passei meu tempo lendo na
biblioteca em vez de segui-la pelos corredores do supermercado –
uma tarefa bastante monótona.
De alguma forma, durante todos estes anos de leitura, falhei em
aprender a importância da leitura dos prefácios ou introdução dos
livros, e tenho certeza que foi minha culpa, e não de meus
professores. Mais tarde, na faculdade, aprendi que ler o prefácio é
uma das coisas mais importantes a fazer, pois nele conhecemos os
propósitos declarados dos autores ou intenções e informações
importantes dos antecendentes referentes ao texto.

Declaração do Propósito de Morôni na Página


de Rosto
Ler e entender as introduções das quatro obras-padrão e seus
propósitos declarados, não é exceção; esta prática é particularmente
verdade para o Livro de Mórmon. Um fato sem par neste volume de
escritura é que a mesma contém duas introduções importantes: (1) a
página de rosto, escrita por Morôni e, (2) a introdução, escrita sob a
direção da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze. As três
outras seções introdutórias do Livro de Mórmon – O Testemunho das
Três e Oito Testemunhas, o Testemunho do Profeta Joseph Smith, e
Uma Breve Explicação sobre o Livro de Mórmon – são também
importantes devido à valiosa informação histórica e contextual que
elas proporcionam, mas não porque elas são declarações de
intenção.
Morôni declarou os propósitos precisos do Livro de Mórmon na
página de rosto - Destina-se a mostrar aos remanescentes da casa
de Israel:
1. “as grandes coisas que o Senhor fez por seus antepassados;
e
2. para que possam conhecer os convênios do Senhor e saibam
que não foram rejeitados para sempre—E também
3. “para convencer os judeus e os gentios de que Jesus é o
Cristo, o Deus Eterno, que se manifesta a todas as nações.”
A esta lista podemos acrescentar as últimas palavras de Morôni na
página de rosto, “Para que sejais declarados sem mancha no tribunal
de Cristo,” uma parte vital do propósito do Livro de Mórmon.
Um exercício adequado de estudo de escritura pode ser feito ao se
pegar três pedaços separados de papel e escrever uma das
declarações no topo de cada um deles, e então começar um
cuidadoso estudo do Livro de Mórmon, escrevendo as referências das
escrituras que apóiam cada propósito. Meus próprios esforços
mostraram-me que a maior lista de referências está sob o terceiro
propósito, confirmando a verdade que o Livro de Mórmon é o livro
mais centralizado em Cristo jamais escrito e, verdadeiramente, o
“Outro Testamento de Jesus Cristo.”
Nas duas primeiras declarações, “as grandes coisas que o Senhor fez
por seus antepassados,” e “para que possam conhecer os convênios
do Senhor,” Morôni claramente estabeleceu que as pessoas no Livro
de Mórmon são israelitas e herdeiros das promessas feitas a seus
pais. Especificamente, o termo antepassados citado na primeira
declaração pode se referir a linhas ancestrais específicas e a todos os
grandes profetas e patriarcas no Velho Testamento, mas muitas
vezes os antepassados são os três grandes patriarcas, Abraão,
Isaque e Jacó, com quem o Senhor fez convênios. Portanto, a
primeira declaração nos conduz à segunda: “para que possam
conhecer os convênios do Senhor.” [1]
Néfi é o principal escritor e autor das placas menores ao lado de
Mórmon e Morôni que são os principais compiladores e escritores das
placas maiores. Estes três escritores foram claros em seus propósitos
de escrever, todos os quais geralmente se entrelaçam à página de
rosto do Livro de Mórmon; mas, como veremos logo abaixo, foi
provavelmente Néfi quem começou a escrever sobre os temas
básicos que ajudaram todos os outros escritores e compiladores a
manter seu foco, resultando na página de rosto que conhecemos
hoje.

Propósitos de Néfi em Escrever


A placas menores são tão importantes e, especificamente, os escritos
de Néfi, que o Senhor declarou: “Eis que há muitas coisas gravadas
nas placas de Néfi que lançam maior luz sobre meu evangelho” (D&C
10:45 – ênfase acrescentada). Esta grande compreensão aparece no
início de 1 Néfi. De fato, quanto mais leio, estudo, pondero e oro a
respeito do Livro de Mórmon, mais estou convencido que Leí e Néfi
estabeleceram os maiores temas doutrinários para todos os outros
escritores. Se este é o caso, então as placas menores de Néfi (1 e 2
Néfi, Jacó, Enos, Jarom e Ômni) são um prefácio para todas as 531
páginas (edição em inglês). Talvez seja mesmo seguro dizer que
aqueles temas foram estabelecidos pelo sonho e visão de Leí (veja 2
Néfi 8; 19), e a subsequente visão de Néfi sobre o mesmo assunto
(veja 1 Néfi 11-14). Também é importante incluir o comentário de Néfi
sobre a visão ou sonho de Leí, conforme encontrado no capítulo 15.
Em resumo, 1 Néfi capítulos 8 a 15 (inclusive) são os prefácios mais
completos de todo o Livro de Mórmon, e tudo mais que se segue
neste magnífico livro provém e está em harmonia com estes oito
capítulos. [2]
Nestes primeiros capítulos, Leí e Néfi focalizaram em convênios, no
Messias, na coligação de Israel, nos gentios e na Restauração, mas é
o comentário de Néfi sobre eles que estabelece a centralidade dos
temas que Morôni traçou na página de rosto. Para mim, 1 Néfi 15 é
um dos capítulos mais importantes do Livro de Mórmon inteiro. O
cenário deste trecho é que Lamã e Lemuel não haviam compreendido
as palavras de Leí “concernentes aos ramos naturais da oliveira e
também aos gentios” (1 Néfi 15:7). Néfi contestou ensinando-os
sobre Israel e sua dispersão e subsequente coligação nos últimos
dias, começando com o aparecimento do Livro de Mórmon, o qual ele
diz conter a plenitude do evangelho e que “chegar[ia] aos gentios; e
dos gentios, aos remanescentes de nossos descendentes” (1 Néfi
15:13). O resultado do Livro de Mórmon seria que os remanescentes
de sua semente e toda a casa de Israel saberiam:
1. “que são da casa de Israel, e
2. “que são o povo do convênio do Senhor; e
3. “saberão, daí, quem eram seus antepassados, e
4. “terão também conhecimento do Redentor e do evangelho que
foi por ele ministrado a seus pais. Portanto,
5. “virão a conhecer seu Redentor e os pontos essenciais de sua
doutrina, para que saibam como chegar a ele e ser salvos” (1
Néfi 15:14).
Aqueles que atingirem tal conhecimento regozijarão e virão ao
verdadeiro rebanho de Deus e serão enxertados na verdadeira videira
(veja 1 Néfi 15:15-16). Ser enxertado, significa nas escrituras “[vir] a
conhecer o verdadeiro Messias, seu Senhor e seu Redentor” (1 Néfi
10:14). Conforme as pessoas chegam a esse conhecimento e são
enxertadas, vemos o grande cumprimento das promessas feitas a
Abraão, “indicando o convênio que haveria de ser cumprido nos
últimos dias, convênio esse que o Senhor fez com nosso pai Abraão,
dizendo: Em tua semente serão benditas todas as famílias da Terra”
(1 Néfi 15:18).
As famílias referidas nesta escritura serão convertidas através do
poder do Espírito à medida que eles leem, ponderam e oram a
respeito do Livro de Mórmon e eles serão levados ao santo templo,
onde famílias são seladas umas às outras em cumprimento às
promessas feitas a Abraão.
Todos os outros autores e profetas do Livro de Mórmon receberam
revelação do Espírito Santo, de mensageiros celestiais e do Salvador
Ele mesmo, construindo e expandindo sobre as simples e profundas
verdades que Leí e Néfi receberam por revelação. Esta revelação
demonstra que Jesus Cristo “é o mesmo ontem, hoje e para sempre;
e o caminho está preparado para todos os homens desde a fundação
do mundo, caso se arrependam e venham a ele” (1 Néfi 10:18).
Néfi conclui sua porção das placas ensinando-nos sobre aquilo que
ele esperava que seus escritos fizessem – e, para ênfase, eu os
identifiquei e delineei aqui com esta declaração introdutória de Néfi:
“E as palavras que escrevi em fraqueza tornar-se-ão fortes para eles;
porque
1. “os persuadem a fazer o bem;
2. “fazem com que saibam a respeito de seus pais;
3. “e falam de Jesus, persuadindo-os a acreditar nele e a
perseverar até o fim, que é vida eterna. Anchor
4. “E falam asperamente contra o pecado” (2 Néfi 33:4-5).

Outros Propósitos do Livro de Mórmon,


Conforme Descritos por Néfi
Além dos propósitos declarados e discutidos até aqui, Néfi
compartilhou pensamentos e sentimentos pungentes sobre o que ele
havia escrito e naquilo que ele esperava que seus escritos
resultassem. Por exemplo, Néfi incluiu os escritos de Isaías com a
esperança que nós estabelecêssemos uma conexão entre eles, e que
eles pudessem nos “persuadi[r] [nós nestes últimos dias] a lembrar-
[nos] do Senhor seu Redentor. ...e acreditar [Nele]” (1 Néfi 19:18,
23). Além disso, falando sobre as placas de latão, Néfi testificou que
ao estabelecermos uma conexão entre elas e nós mesmos,
saberemos que “[são] verdadeiras ...; e elas testificam que o homem
deve ser obediente aos mandamentos de Deus” (1 Néfi 22:30).
O entendimento de Néfi sobre estas coisas, os escritos nas placas
menores, é claramente declarado com sua interpretação sobre o
sonho de seu pai, e podemos ler nas entrelinhas e discernir seus
sentimentos mais profundos: “E eu disse-lhes que [a barra de ferro]
era a palavra de Deus; e todos os que dessem ouvidos à palavra de
Deus e a ela se apegassem, jamais pereceriam; nem as tentações
nem os ardentes dardos do adversário poderiam dominá-los até a
cegueira, para levá-los à destruição” (1 Néfi 15:24).
No chamado Salmo de Néfi, vislumbramos seus sentimentos sobre as
placas: “E nestas escrevo as coisas de minha alma. ... Porque minha
alma se deleita nas escrituras e meu coração nelas medita e escreve-
as para instrução e proveito de meus filhos. AnchorEis que minha
alma se deleita nas coisas do Senhor; e meu coração medita
continuamente nas coisas que vi e ouvi” (2 Néfi 4:15-16).
Depois de Néfi ter incluído os escritos de Isaías e seus comentários e
profecias sobre os mesmos, ele disse estar satisfeito exceto por
“algumas poucas palavras que devo dizer sobre a doutrina de Cristo”
(2 Néfi 31:2). Depois desta declaração, ele escreveu sobre aquilo que
o Senhor havia lhe mostrado, talvez como parte da visão descrita em
1 Néfi 11-14, sobre o Salvador, Seu batismo, e por que devemos
segui-Lo e nos manter no caminho que Ele nos indicou (veja 2 Néfi
31; compare com 1 Néfi 8, o sonho de Leí). Néfi, então, deu primeiro
aquilo que chamo de uma proposição se-então concernente às
palavras de Cristo: “Se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com
a palavra de Cristo, e perseverardes até o fim, eis [então] que assim
diz o Pai: Tereis vida eterna” (2 Néfi 31:20; ênfase acrescentada).
Este firme convite foi seguido por este mandamento: “Banqueteai-vos
com as palavras de Cristo; pois eis que as palavras de Cristo vos
dirão todas as coisas que deveis fazer” (2 Néfi 32:3).
Finalmente, ele chega ao fim de sua porção das placas menores
declarando que “Anchorestaremos face a face” e seremos julgados de
acordo com aquilo que nós fizermos com as palavras que ele
escreveu, pois elas irão ou nos condenar, ou nos abençoar com a
vida eterna (veja 2 Néfi 33:11-15).

Declaração do Propósito de Jacó


Jacó aderiu ao objetivo estabelecido por Néfi e ao importante foco
nos temas que o Senhor havia dado para seus pais, de que Israel
pudesse conhecer os convênios do Senhor e para convencer o judeu
e o gentio que Jesus é o Cristo. Isto pode ser encontrado em 2 Néfi,
capítulos de 6 a 10, especialmente capítulos 9 e 10, e Jacó capítulos
de 1 a 6. Na seguinte declaração de propósito bastante significativa,
Jacó expressou sua esperança naquilo que ele havia escrito: “E
trabalhamos diligentemente para gravar estas palavras em placas, na
esperança de que nossos amados irmãos e nossos filhos as recebam
com o coração agradecido e as examinem, para que aprendam com
alegria, e não com tristeza nem com desdém, o que se refere a seus
antepassados. AnchorPorque para este fim escrevemos estas coisas:
para que tenham conhecimento de que sabíamos de Cristo e
tínhamos esperança em sua glória muitos séculos antes de sua vinda;
e não somente nós tínhamos esperança em sua glória, mas também
todos os santos profetas que viveram antes de nós” (Jacó 4:3-4).
Esta declaração de intenção específica é então ilustrada pela
magnífica alegoria em Jacó, capítulo 5, e o resumo da mesma no
capítulo 6, especificamente que Deus irá se lembrar da casa de Israel
e Seu convênio com eles, exortando-os a se “arrepend[er] e ... [se]
apeg[ar] a Deus de todo o coração” e não “[rejeitar] todas as palavras
que foram ditas sobre Cristo” (Jacó 6:5, 8), as quais ele e Néfi haviam
sido tão cuidadosos em escrever e preservar.
Cumprimento das Intenções dos Autores do
Livro de Mórmon
Na sinopse de Mórmon sobre os ensinamentos e experiências de
Alma, o seguinte resumo daquilo que as placas haviam realizado até
então, ilustra o cumprimento de suas intenções. Se mudarmos o
tempo verbal do passado para o presente ou futuro, estas verdades
também podem ser consideradas como uma declaração de propósito.
“E eis que foi pela sabedoria de Deus que estas coisas foram
preservadas; pois eis que elas [as placas]
1. “ampliaram a memória deste povo, sim, e
2. “convenceram a muitos do erro de seus caminhos,
3. “levando-os a conhecer o seu Deus para a salvação de suas
almas. Anchor
4. “Sim, eu te digo que, se não fosse pelas coisas que estes
registros contêm, que estão nestas placas, Amon e seus
irmãos não poderiam ter convencido tantos milhares de
lamanitas dos erros das tradições de seus pais; sim, estes
registros e suas palavras fizeram com que eles se
arrependessem; isto é, por eles foram levados a conhecer o
Senhor seu Deus e a regozijarem-se em Jesus Cristo, seu
Redentor” (Alma 37:8-9).
Este trabalho de significância superna oferece um testemunho
convincente de que Jesus é o Cristo, o Deus Eterno, que manifesta a
Si mesmo para todos aqueles que se arrependem e vêm até Ele,
especialmente a posteridade de Leí, que Deus ama – o povo do Seu
convênio, os filhos de Israel.

Uma Declaração do Propósito de Doutrina e


Convênios
A seguinte declaração aparece em uma revelação ao Profeta Joseph
Smith em 1828. Observem o paralelo que ela estabelece com a
página de rosto e as visões de Leí e Néfi. Novamente, enfatizo as
palavras introdutórias fim e para que, as quais estabelecem a
intenção:
E para este fim específico as placas que contêm esses registros
foram preservadas
1. “para que se cumprissem as promessas do Senhor a seu
povo; AnchorE
2. “para que os lamanitas tivessem conhecimento de seus
antepassados e
3. “[para que]conhecessem as promessas do Senhor e
4. “[para que] cressem no evangelho e confiassem nos méritos
de Jesus Cristo e fossem glorificados pela fé em seu nome; e
5. “para que, pelo seu arrependimento, fossem salvos” (D&C
3:19-20; ênfase acrescentada).

Uma Declaração do Propósito do Livro de Éter


Quando Morôni incluiu sua sinopse das placas de Éter, ele inseriu
esta curta declaração de propósito:
“Portanto eu, Morôni, tenho ordem de escrever estas coisas
1. “para que o mal seja reprimido e
2. “para que chegue o tempo em que Satanás já não tenha poder
sobre o coração dos filhos dos homens, mas
3. “[para] que eles sejam persuadidos a fazer o bem
continuamente,
4. “para que cheguem à fonte de toda retidão e sejam salvos”
(Éter 8:26; ênfase acrescentada).
Observem como o quarto propósito acima estabelece um paralelo
com as palavras de Leí e Néfi no sonho da árvore da vida, segundo
ilustrado na metáfora de se vir à fonte de toda retidão e de ser salvo
(veja1 Néfi 8:15-16, 30; 11:25).
Comparação das Declarações dos Propósitos de Mórmon e Morôni
Os filhos aprendem de seus pais, tanto por palavras como por obras.
Morôni certamente aprendeu muito de seu pai, Mórmon, como
veremos ao compararmos as três declarações de propósito, duas de
Mórmon e a página de rosto escrita por Morôni.
Observem a ênfase no trono do julgamento em Mórmon 3 e na página
de rosto e, conforme declarado anteriormente, a função do Livro de
Mórmon é para preparar-nos para o julgamento.
A Declaração de Propósito Final de Mórmon
Conforme observado nos paralelos acima (Mórmon 3:17-22; Mórmon
5:12, 14-15; e a página de rosto), Mórmon claramente compreendeu
os propósitos tencionados do Livro de Mórmon. E se olharmos para a
cronologia dos escritos de Mórmon, parece-nos que no capítulo 7 de
Mórmon está sua mensagem final. (Morôni concluiu as placas e
inseriu duas epístolas de seu pai em Morôni 8 e 9, as quais foram
provavelmente escritas anteriormente em seu ministério, fazendo com
que o capítulo 7 de Mórmon fosse a sua última mensagem nas
placas.) A esperança final e conselho de Mórmon são para que os
remanescentes de seu povo no Livro de Mórmon, conheçam o
seguinte:
1. As coisas de seus pais (v.1);
2. Que eles são da casa de Israel (v. 2);
3. O que eles devem saber para serem salvos (v. 3-4);
4. Que eles devem conhecer seus pais (v.5);
5. Que eles devem crer em Jesus Cristo e em Sua missão,
Expiação e Ressurreição e que haverá um julgamento final (v.
5-6);
6. Que aqueles que crerem no Livro de Mórmon crerão na Bíblia
e vice versa (v. 9);
7. Que eles são a semente de Jacó (Israel) e que se eles crerem
em Jesus Cristo, se arrependerem, forem batizados e
receberem o Espírito Santo, tudo sairá bem com eles no dia
do julgamento (v.10).

Declarações de Propósito Finais de Morôni


Morôni recebeu os registros de seu pai, Mórmon, e então acrescentou
suas palavras (veja Mórmon 8-9, Morôni 1-10, e partes de Éter).
Morôni disse que “meu pai fez este registro e nele escreveu o seu
objetivo” (Mórmon 8:5, veja 3:20-22, 5:14-15; e 7). Morôni resumiu as
intenções de seu pai dizendo que ele esperava que o registro
ajudasse seus autores a “livr[ar] nossas vestes do sangue de nossos
irmãos” (Mórmon 9:35), e que estes irmãos seriam restaurados ao
conhecimento de Jesus Cristo e que Deus, o Pai, iria “se lembr[ar] do
convênio que fez com a casa de Israel” (Mórmon 9:37).
Continuo a me maravilhar com os paralelos precisos encontrados em
todas estas declarações de propósito, todas elas tão lindamente
resumidas na página de rosto de Livro de Mórmon.
Além da página de rosto, o capítulo conclusivo do Livro de Mórmon,
Morôni 10, contém oito verdades relacionadas a todas estas
declarações de propósito. Cada verdade começa com uma exortação.
1. “Eis que desejo exortar-vos, [...] a vos lembrardes de quão
misericordioso tem sido o Senhor [...] e a meditardes sobre
isto em vosso coração” (v. 3).
2. “Eu vos exorto a perguntardes a Deus, o Pai Eterno, em nome
de Cristo, se estas coisas não são verdadeiras” (v. 4).
3. “Eu vos exorto a não negardes o poder de Deus” (v. 7).
4. “E novamente vos exorto, meus irmãos, a não negardes os
dons de Deus” (v. 8).
5. “E eu desejaria exortar-vos [...] a vos lembrardes de que toda
boa dádiva vem de Cristo” (v. 18).
6. “E desejaria exortar-vos, [...] a vos lembrardes de que ele é o
mesmo ontem, hoje e para sempre” (v. 19).
7. “E exorto-vos a que recordeis estas coisas” (v. 27).
8. “E novamente desejo exortar-vos a virdes a Cristo” (v. 30).
As duas últimas exortações focalizam “[n]estas coisas” e em Jesus
Cristo. “Estas coisas” referem-se aos registros escritos e, as
exortações de Morôni, estabelecem um paralelo com as de Néfi:
haverá um julgamento final e veremos a Néfi e a Morôni para
assegurar-nos uma responsabilidade em relação àquilo que fizemos
com os registros (veja 2 Néfi 33:10-15). Finalmente, Morôni nos
convida a virmos a Cristo e sermos aperfeiçoados Nele (veja Morôni
10:30, 32). Assim terminam as placas maiores, com este convite
inspirador centralizado em Cristo.
Mas e o fim das placas menores? Não é nenhuma surpresa que as
placas menores, aqueles escritos magníficos que Néfi começou e que
Amaléqui concluiu, estabelecem um paralelo com as exortações de
Morôni: “Entregar-lhe-ei portanto estas placas, exortando todos os
homens a virem a Deus, o Santo de Israel, e a acreditarem em
profecias e em revelações e no ministério de anjos; e no dom de
línguas e no dom de interpretação de línguas e em todas as coisas
que são boas; pois nada há, que seja bom, que não venha do Senhor;
e o que é mau vem do diabo. AnchorE agora, meus queridos irmãos,
quisera que viésseis a Cristo, que é o Santo de Israel, e participásseis
de sua salvação e do poder de sua redenção. Sim, vinde a ele e
ofertai-lhe toda a vossa alma, como dádiva; e continuai em jejum e
oração, perseverando até o fim; e assim como vive o Senhor, sereis
salvos” (Ômni 1:25-26; ênfase acrescentada).
O Profeta Joseph Smith traduziu as placas menores e maiores
pelo dom e poder de Deus e declarou ao mundo que “o Livro de
Mórmon era o mais correto de todos os livros da Terra e a pedra
fundamental de nossa religião; e que um homem poderá se aproximar
mais de Deus observando os seus preceitos do que pelos de
qualquer outro livro.” [3]
Esta corajosa declaração adquire um significado ainda maior quando
é colocada em harmonia com os propósitos declarados do Livro de
Mórmon.

Notas
[1] Um resumo desses convênios que Deus fez com Abraão é que
Jesus Cristo nasceria da linhagem de Abraão, que a posteridade de
Abraão seria mais numerosa que as estrelas ou a areia do mar, que
sua posteridade abençoaria todas as nações e, finalmente, que lhes
foi prometida uma terra de herança (veja Gênesis 17; 22; Abraão 2:6–
11; Bible Dictionary [Dicionário da Bíblia], “Abraham” and “Abraham,
Covenant of” [“Abraão” e “Abraão, Convênio de”], 601–2).
[2] Veja também o excelente artigo de Andrew C. Skinner, “The
Foundational Doctrine of 1 Nephi 11–14” [“A Doutrina Fundacional de
1 Néfi 11–14”], Religious Educator [Educador Religioso] 2, no. 2
(2001): 139–55.
[3] History of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints [História
d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), ed. B. H.
Roberts, 2a. ed. rev. (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints, 1957), 4:461.
Os Remanescentes Coligados, Convênios
Cumpridos

Os Remanescentes Coligados, Convênios


Cumpridos

Élder Russell M. Nelson

O Élder Nelson é membro do Quórum dos Doze Apóstolos

O título de minha mensagem é “Os Remanescentes Coligados,


Convênios Cumpridos.” Vem do Livro de Mórmon. Nele o
Senhor fala de cumpir “o convênio que o Pai fez com seu povo,”
a casa de Israel. “Então,” ele continua, “os remanescentes que
estiverem dispersos pela face da Terra serão reunidos do leste
e do oeste, do sul e do norte; e terão conhecimento do Senhor
seu Deus que os redimiu” (3 Néfi 20:12-13).
A coligação daqueles remanescentes e o cumprimento daquele
convênio divino estaõ ocorrendo em nossos dias. Mas esta
grande visão ficou obscura aos olhos de muitos que se
focalizam nas ofertas nos supermercados e o ranking de seus
times prediletos de futebol. Examinemos nosso papel no plano
de Deus para seus filhos e para A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias. Fazemos parte de um destino só
conhecido por relativamente poucas pessoas na Terra. [1]
Durante o ano de 1997, a história da Igreja atraiu a atenção do
mundo. Os pioneiros haviam chegado ao Vale do Grande Lago
Salgado havia 150 anos. Réplicas das carroças puxadas à mão
foram exibidas da Sibéria à Suazilândia, da Escandinávia e da
América do Sul até as ilhas do Pacífico Sul. Através de teatro e
palco, a mídia eletrônica e a impressa, divulgaram-se as
histórias dos conversos iniciais da Igreja.
De modo geral, os que fizeram as reportagens reportaram bem
o que os pioneiros fizeram. Mas bem poucos conseguiram
captar o por quê destas façanhas. Menos ainda compreenderam
a história no contexto das vozes dos profetas do Velho
Testamento que se reúnem à obra dos últimos dias que se
realiza atualmente.
Nosso vínculo com o Novo Testamento não é surpresa para
quem entende a profundidade do compromisso que os
membros desta Igreja, que leva o santo nome de Jesus Cristo,
têm para com Ele. Seus pioneiros corajosos abriram as portas
do período da Restauração de todas as coisas, a prometida
dispensação da plenitude dos tempos, como profetizaram
Pedro e Paulo (vide Atos 3:21; Efésios 1:10). Aqueles registros
apostólicos, entre outras escrituras do Novo Testamento, são
uma parte íntegra do legado da Igreja restaurada. Seu nome
descreve os membros como Santos dos Últimos Dias para
diferenciá-los dos membros da Igreja no meridiano dos
tempos. Os membros daquela época também se chamavam
santos, como é o caso hoje. Paulo endereçou sua epístola “aos
santos que estão em Éfeso e fiéis em Jesus Cristo” (Efésios
1:1). [2] Aos recém conversos daquela era e daquele local,
Paulo disse: “Assim que já não sois estrangeiros, nem
forasteiros, mas concicadãos dos santos, e da família de Deus”
(Efésios 2:19; vide também 3:17-19).
Naquela espístola Paulo emprega a palavra santo pelo menos
uma vez por capítulo! O vocábulo santo não denota nem
beatificação nem perfeição nesta vida. Simplesmente descreve
cada membro da Igreja como quem crê em Jesus Cristo.
Significa que os membros sentem o compromisso de amar a
Deus e a seu próximo. Eles estão dispostos a sacrificarem-se, a
servirem e a edificarem a Igreja conforme dirigidos por líderes
inspirados.
Mas o vínculo entre a Igreja e o Velho Testamento não é tão
aparente. Este simpósio, que focaliza nas vozes dos profetas do
Velho Testamento, é uma ocasião oportuna de falar dos elos
significantes e fortes entre Israel moderno e antigo. Eu gostaria
de limitar minha palestra a cinco elos que são de suma
importância.
Ao falar deste tema, os irmãos sem dúvida pensarão em outras
ramificações. Também reconhecerão que há muito mais que se
pode dizer a respeito de cada assunto de que palestrarei. Isso é
bom. Mais tarde podem estudar mais a fundo as implicações
sem as limitações de tempo e talento que me pressionam
agora.

O Elo de José
O primeiro elo chamarei o elo de José. Este vínculo se aplica
tanto a José que fora vendido aos egípcios como ao profeta
Joseph (José) Smith. Há poucos vultos do Velho Testamento que
são mais importantes aos Santos dos Últimos Dias do que José
do Egito. Muitos comentaristas, estudantes da Bíblia, o
descrevem como um tipo ou prenúncio do Salvador. Ademais
conhecemo-lo como arquétipo específico para o Profeta Joseph
Smith e arquétipo genérico para todos os membros da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Aliás, muitos
membros da Igreja são descendentes de José através de seus
filhos Efraim e Manassés.
A importância de José no livro de Gênesis se mostra pelo fato
dele ter proeminência em 16 dos 50 capítulos do livro (vide
Gênesis 30; 33; 35; 37; 39-50). A duração de sua vida do berço
até a cova [3] representa somente 4% dos dois mil e setecentos
anos cobertos pelo livro de Gênesis. Não obstante, relata-se
sua vida em quase um terço dos capítulos. [4]
Na versão King James da Bíblia inglesa, Gênesis 50 termina pelo
versículo 26, que registra a morte de José. A tradução de
Joseph Smith (TJS) do capítulo 50 não só acrescenta
informações importantes aos versículos 24-26 como também
providencia doze versículos a mais que enriquecem nosso
conhecimento do elo de José (vide a Tradução de Joseph Smith,
Gênesis 50:27-38). O que se acrescentou inclue as seguintes
informações que parafraseei:
1. Um ramo justo seria suscitado posteriormente dos lombos
de José (vide TJS, Gênesis 50:24).
2. Israel seria disperso. Um ramo seria cortado e levado para
uma terra longínqua (vide TJS, Gênesis 50:25).
3. Um vidente escolhido, descendente de José, seria levantado
para fazer uma obra para o fruto de seus lombos (vide TJS,
Gênesis 50:26-29).
4. As escrituras do fruto dos lombos de José se uniriam às
escrituras do fruto dos lombos de Judá para trazer-nos o
conhecimento de nossos pais e dos convênios sempiternos.
Este conhecimento viria nos últimos dias (vide TJS, Gênesis
50:30-32).
5. O vidente prometido seria chamado José (Joseph) segundo o
nome de seu pai e ele seria como José, filho de Jacó, trazendo
salvação aos filhos do Senhor (vide TJS, Gênesis 50:33).
Estes acréscimos são bons exemplos das verdades “claras e
preciosas” que foram restaurdadas através do Profeta Joseph
Smith (vide 1 Néfi 13:40).
Ele e o José antigo tinham muito em comum, como as
escrituras mostram que logo citarei. No Livro de Mórmon
lemos: “ Uma parte que restou da túnica de José fora
preservada e não se havia estragado. . . Assim como este
remanescente das vestes de meu filho foi preservado, também
um remanescente da semente de meu filho será preservado
pela mão de Deus” (Alma 46:24).
Nós somos remanescentes daquela semente preciosa. Joseph
Smtih fora escolhido pelo Senhor para tomar sobre si a obra da
tribo de José, filho de Jacó. Há muitos séculos José profetizou a
respeito de Joseph Smith e descreveu o vínculo entre os dois.
Novamente cito o Livro de Mórmon: “Sim, José verdadeiramente
disse: Assim me diz o Senhor: Um vidente escohlhido levantarei
eu do fruto de teus lombos. E gozará de grande estima entre o
fruto de teus lombos. A ele ordenarei que faça um trabalho
para seus irmãos, o fruto de teus lombos, que lhes será de
grande benefício, levando-os a conhecer os convênios que fiz
com teus pais. E dar-lhe-ei o mandamento de não fazer
qualquer outro trabalho, exceto o que eu lhe ordenar. E fá-lo-
ei grande a meus olhos, porque fará o meu trabalho (2 Néfi
3:14-15).
O elo de José se aplica não somente a Joseph Smith Jr. mas
também a seu pai. Cito as palavras de José que foi vendido no
Egito: “Eis que o Senhor abençoará este vidente (Joseph Smith).
. . porque esta promessa que obtive do Senhor para o fruto de
meus lombos será cumprida. Eis que estou certo do
cumprimento desta promessa. E seu nome será igual ao meu e
será chamado pelo nome de seu pai. E ele será semelhante a
mim; porque aquilo que o Senhor fizer através de sua mão,
pelo poder do Senhor, levará meu povo à salvação” (2 Néfi
3:14-15).
José e Joseph Smith tinham mais em comum do que sua
linhagem. Aos dezessete anos, José, filho de Jacó, foi informado
a respeito de seu grande destino (vide Gênesis 37:2). Na
mesma idade Joseph Smith foi informado de seu destino
referente ao Livro de Mórmon: Tinha dezessete anos quando da
primeira visita do anjo Morôni que informou o jovem profeta de
que “Deus tinha um trabalho para ele fazer.” Ele traduziria um
livro escrito em placas douradas que continham a plenitude do
evangelho eterno. Seu “nome seria considerado bom e mau
entre todas as nações, povos e línguas” (Joseph Smith—História
1:33; vide também 1:34-41).
Os dois Josés foram perseguidos. José no Egito foi acusado por
testemunho falso de um crime que não cometeu e foi
encarcerado (vide Gênesis 39:11-20). Joseph Smith também foi
encarcerado devido a acusações inventadas e falsas. [5]
A túnica de muitas cores de José foi-lhe tirada pelos irmãos em
uma tentativa cruel de convenecer seu pai que José fora morto
(vide Gênesis 37:2-33). A vida de Joseph Smith foi-lhe tirada
principalmente por traição de falsos irmãos.
Antigamente “tendo toda a terra do Egito fome, clamou o povo
a Faraó por pão; e Faraó disse a todos os egípcios: Ide a José; o
que ele vos disser, fazei” (Gênesis 41:55). Nos últimos dias,
aqueles que têm fome da nutrição que somente o evangelho
pode-lhes proporcionar serão alimentados—por Joseph. O
Senhor declarou que “esta geração terá minha palavra por meio
de [Joseph Smith]” (D&C 5:10). Hoje nós banqueteamos com as
palavras de Cristo graças a Joseph Smith (2 Néfi 32:3).
O elo de José se resome nestas linhas do livro de Éter:
Porque como José levou seu pai para a terra do Egito, de modo
que ele lá morreu, da mesma forma o Senhor tirou da terra de
Jerusalém um remanescente da semente de José para usar de
misericórdia com a descendência de José, a fim de que não
perecesse, assim como fora misericorioso para como o pai de
José, a fim de que ele não perecesse.
Portanto os remanescentes da casa de José serão estabelecidos
nesta terra [as Américas]; e será a terra de sua herança; e
edificarão uma cidade sagrada para o Senhor, semelhante à
antiga Jerusalém. . .
. . . e bem-aventurados os que nela habitam, porque são
aqueles cujas vestes são branqueadas por meio do sangue do
Cordeiro; e são aqueles que são contados com os
remanescentes da semente de José, que eram da casa de Israel.
. . . e são os que foram dispersos e coligados das quatro partes
da terra e dos países do norte e participarão do cumprimento
do convênio feito por Deus com seu pai Abraão. (Éter 13:7-8,
10-11)

O Elo do Livro de Mórmon


O segundo elo chamarei elo do Livro de Mórmon. Em setembro
de 1997 tive o privilégio extraordinário de ver uma parte do
manuscrtio original do Livro de Mórmon e quase todo o
manuscrito empregado pela gráfica que imprimiu o
livro. [6] Que experiência incrível!
As vozes dos profetas do Velho Testamento profetizaram deste
grande livro. Os irmãos conhecem a profecia de Isaías: “Então
serás abatida, falarás de debaixo da terra, e a tua fala desde o
pó sairá fraca, e será a tua voz debaixo da terra, como a de um
que tem espírito familiar, e a tua fala assobiará desde o pó”
(Isaías 29:4).
Pode-se haver palavras mais descritivas que estas sobre o Livro
de Mórmon que veio “de debaixo da terra” para “assobiar
[sussurrar] desde o pó” para o povo de hoje?
Outras passagens do Velho Testamento predisseram o Livro de
Mórmon. Uma delas me veio à mente no janeiro passado
quando assisti a uma reunião de oração na hora do café da
manhã na Casa Branca em Washington, D. C., da qual o
Presidente Bill Clinton era anfitrião. Durante uma recepção
informal antes da reunião enquanto eu conversava com um
rabino judaico erudito e distinto, outro rabino nos interrompeu
e perguntou a seu colega de Nova York se ele podia lembrar-se
da referência nas escrituras sobre o pedaço de madeira de Judá
e o pecaço de madeira de José que iriam unir-se um dia. Meu
amigo pausou por um momento, apalpou o queixo ao pensar e
respondeu: “Acho que vai achá-la no livro de Ezequiel.”
Não pude conter-me. “Pode procurar no capítulo trinta e sete
de Ezequiel,” acrescentei. “Lá achará a escritura que procura.”
Meu amigo rabino se surpreendeu. “Como é que sabia disso?”
“Esta doutrina,” disse eu, “é muito importante em nossa
teologia.”
Com certeza é!. Os irmãos sabem disso e eu também sei. Eu
gostaria de ler os versículos:
“Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira, e
escreve nele: Por Judá e os filhos de Israel, seus companheiros.
E toma outro pedaço de madeira, e escreve nele: Por José, vara
de Efraim, e por toda a casa de Israel, seus companheiros. E
ajunta um ao outro, para que se unam, e se tornem uma só
vara na tua mão” (Ezequiel 37:16-17).
Os santos de Israel moderno em 160 nações pelo mundo têm a
bênção de segurar a Bíblia e o Livro de Mórmon como um só
livro na sua mão. Não se deve nunca subestimar o valor deste
privilégio.
O anjo Morôni possuía as chaves de autoridade para o Livro de
Mórmon—a vara de Efraim (vide D&C 27:5). O Livro de Mórmon
é a grande escritura que converte, esclarece e amplifica.
Certamente é “Outra Testemunha de Jesus Cristo” (Livro de
Mórmon, página de rosto).
Os filhos de Deus sempre têm sido admoestados a
“examinarem as escrituras” (João 5:39; Alma 14:1; 33:2; 3 Néfi
10:14). Além disso, a nós, de Israel moderno, foi ordenado que
estudássemos uma voz e um profeta específico do Velho
Testamento. Qual deles? Isaías! (vide 3 Néfi 20:11; 23:1).
Destaca-se a importância deste mandamento pelo fato de 433
versículos dos escritos de Isaías aparecerem no Livro de
Mórmon. Estudá-los não é repetitivo. O Professor Sidney B.
Sperry divulgou que 234 destes versículos diferem dos do Livro
de Isaías da Bíblia. [7] Ademais, o livro de Doutrina e Convênios
contém mais de setenta citações ou paráfrases de
Isaías. [8] Estudem as palavras de Isaías! Receberam o recado?
Outros profetas do Velho Testamento foram citados aos
profetas modernos. Os ensinamentos de Malaquias foram
repetidos. [9] Elias, o profeta, [10] Moisés, [11] e outros
ensinaram o povo tanto de Israel antigo como de Israel
moderno (vide D&C 27:5-13).
Isaías descreveu o espírito do Livro de Mórmon como sendo
“familiar.” Ele parece familiar às pessoas que conhecem o Velho
Testamento, especialmente àqueles que conhecem a língua
hebraica. O Livro de Mórmon est´ repleto de hebraísmos—
tradições, simbolismo, expressões idiom´ticas e formas liter
´rias. É familiar porque mais de 80 por cento do conteúdo foi
escrito durante a época do Velho Testamento. [12]

O Elo da Casa de Israel


Designarei o terceiro elo como o elo da casa de Israel. Inclui as
doutrinas do convênio abraâmico e da dispersão e coligação de
Israel.
Há mais ou menos quatro mil anos atrás, Abraão recebeu a
promessa do Senhor que bênçãos seriam oferecidas para toda a
sua posteridade terrena (vide D&C 132:29-50; Abraão 2:6-11).
Incluem-se as seguintes promessas: que o Filho de Deus viria
pela linhagem de Abraão, que certas terras seriam herdadas
pela sua posteridade, que as nações e povos da terra seriam
abençoados por meio de sua semente e mais. O conhecimento
e a reafirmação deste convênio são evidentes nas escrituras do
Velho Testamento (vide Gênesis 26:1-4; 24; 28; 35:9; 48).
Embora certos aspectos do convênio já fossem cumpridos,
muitos ainda não o foram. O Livro de Mórmon ensina que nós,
Israel moderno, fazemos parte do povo do convênio do Senhor
(vide 1 Néfi 14:14; 15:14; 2 Néfi 30:2; Mosias 24:13; 3 Néfi
29:3; Mórmon 8:15). E, o que é de mais notável, o livro ensina
que o convênio abraâmico só se cumprirá nos últimos dias (vide
1 Néfi 15:12-18). O Senhor conferiu este convênio abraâmico
ao Profeta Joseph Smith para a sua própria bênção e para a sua
posteridade (vide D&C 124:56-59). Sabiam que o nome de
Abraão ocorre mais nos versículos da revelação moderna do
que em todos os versículos do Velho Testamento? [13] Abraão,
o grande patriarca do Velho Testamento, tem um vínculo
inextricável com todos que entram para a Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias. [14]
As doutrinas que se relacionam à dispersão e à coligação da
casa de Israel estão entre as licões iniciais ensinadas no Livro
de Mórmon. Cito do primeiro livro de Néfi: “Depois que a casa
de Israel houvesse sido dispersa, ela seria novamente reunida. .
. os ramos naturais da oliveira, ou melhor, os remanescentes da
casa de Israel, seriam enxertados, ou seja, viriam a conhecer o
verdadeiro Messias, seu Senhor e seu Redentor” (1 Néfi 10:14).
O Velho Testamento está repleto de profecias com relação à
dispersão de Israel. Permitam-me citar uma do primeiro livro
dos Reis: “Também o Senhor ferirá a Israel como se agita a cana
das águas; e arrancará a Israel desta boa terra que tinha dado a
seus pais, e o espalhará para além do rio; porquanto fizeram os
seu ídolos, provocando o Senhor à ira” (1 Reis 14:15).
Nesta citação, a palavra “espalhar” foi traduzida do verbo
hebraico zarah que significa “espalhar, jogar fora, separar a
palha do grão ou pôr em desbandada.” A riqueza da língua
hebraica proporciona outros verbos para descrever ações
semelhantes. Por exemplo do primeiro livro dos Reis também
lemos: “Vi a todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas
que não têm pastor” (1 Reis 22:17).
Neste caso “disperso” vem por tradução do verbo hebraico
puwts, que também significa “espalhar” ou “ser disperso.”
Isaías empregou mais um verbo ainda na sua profecia: “E
levantará um estandarte entre as nações, a ajuntará os
desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde
os quatro confins da terra” (Isaías 11:12).
Neste caso “disperso” foi traduzida do verbo hebraico naphats
que significa “fragmentar-se, quebrar, bater ou despedaçar-se
com violência.”
Também há referências à dispersão registradas no Novo
Testamento. Por examplo, o livro de Tiago começa com estas
palavras: “Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às
doze tribos que andam dispersas, saúde” (Tiago 1:1).
Nesta referência, “disperso” foi traduzido do substantivo
feminino grego diaspora, que significa “disperso” ou
“espalhado.” Os irmãos podem querer procurar a palavra
diáspora no dicionário Aurélio e ler mais a respeito disso na
Guia para Estudo das Escrituras no artigo sobre Israel (a
dispersão de Israel) onde há um resumo conciso da dispersão
da casa de Israel.
Os santos de Israel moderno sabem que Pedro, Tiago e João
foram enviados pelo Senhor com “as chaves de [Seu] reino e a
dispensação do evangelho para os últimos tempos, e para a
plenitude dos tempos” em que “reunirei em uma todas as
coisas, tanto as que estão no céu como as que estão na Terra”
(D&C 27:13). [15]
As viagens e os sofrimentos dos nossos pioneiros eram de
conseqüências eternas. Sua missão não se limitava somente à
imigração internacional e à migração transcontinental de
carroções e de carroças puxadas à mão. Eles lançaram os
alicerces de uma obra infinita que “encheria o
mundo”. [16]Faziam parte íntegra da profecia de Jeremias:
“Ouvi a palavra do Senhor, ó nações, e anunciai-a nas ilhas
longínquas, e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregar´
e o guardar´, como o pastor ao seu rebanho” (Jeremias
31:10). [17]
Receberam o recado? Já de começo os missionários foram
enviados às “ilhas longíquas” para dar início à obra do Senhor,
de forma que a Igreja foi estabelecida nas ilhas da Grã Bretanha
e nas ilhas da Polinésia Francesa anos antes da chegada dos
pioneiros ao vale do Grande Lago Salgado. Já foi meu privilégio
participar dos sesquicentenários da chegada dos missionários à
Inglaterra (1987), à Polinésia Francesa (1994) e agora (1997) o
sesquicentenário da chegada dos pioneiros em Utah.
Outro aspecto da coligação de Israel tem que ver com o nosso
primeiro elo com relação a José. A palavra José (Joseph) deriva-
se do substantivo pessoal masculino hebraico Yowceph cujo
significado literal é “Jeová acrescentou.” José também tem
relação com o radical yasaph, que significa “adicionar” e com
asaph, que significa tanto “levar embora” como “coligar” (vide
Gênesis 30:24).
Os verbos hebraicos yacaph e acaph [18] se empregam no texto
hebraico do Velho Testamento 186 e 180 vezes,
respectivamente. Os dois vocábulos geralmente foram
traduzidos para ajuntar (2 Samuel 6:1), congregar (Joel 3:2),
reunir ecoligação. “E tornou Davi a ajuntar todos os escolhidos
de Israel, em número de trinta mil” (2 Samuel 6:1). Neste caso
“ajuntar” veio do verbo hebraico yacaph.
Outra escritura de Gênesis merece um comentário especial.
Trata-se do relato do nascimento do primeiro filho de Jacó e
Rebeca: “E chamou-lhe José, dizendo: O Senhor me acrescente
outro filho” (Gênesis 30:24). [19]Neste versículo tanto a palavra
“José” como “acrescentar” são derivadas do radical hebraico
yacaph.
A linhagem de José (através de Efraim e Manassés) é que foi
designada para liderar a coligação de Israel. [20] Os pioneiros
sabiam por meio da bênção patriarcal e das doutrinas do Velho
Testamento, doutrinas estas que foram eslarecidas pelas
escrituras e revelações da Restauração, que eles mesmos é que
dariam início à muito esperada coligação de Israel.

O Elo Do Êxodo
O quarto elo que liga Israel antigo a Israel moderno chamarei o
elo do Êxodo. Num serão domingueiro do Sistema Educacional
da Igreja que foi transmitido por satélite em setembro de 1997,
falei sobre o assunto de “o êxodo repetido.” Aí falei das
ligações entre Israel antigo e o moderno, que também são
relevantes para uma exposição mais profunda do assunto “os
remanescentes coligados e os convênios cumpridos.” São muito
fascinantes os paralelos entre o êxodo do Egito dos israelitas
guiados por Moisés e o êxodo dos Estados Unidos dos
pioneiros sob a liderança de Brigham Young.
Os dois povos foram perseguidos pelo seu governo. Os
israelitas antigos eram servos de faraó (Deuteronômio 6:21). Os
Santos dos Últimos Dias eram perseguidos pelo seu próprio
governo. [21]
Moisés havia sido preparado na corte do Egito e ganhou muita
experiência tanto na área militar como em outras
responsabilidades (vide Hebreus 11:24-27). De igual modo
Brigham Young foi preparado para o seu papel de líder. Na
marcha do Acampamento de Sião ele observou a liderança de
Joseph Smith sob condições dificílimas. [22] Brigham Young
ajudou na evacuação dos Santos de Kirtland e dirigiu a
mudança dos Santos perseguidos de Missouri a Nauvoo. [23]
Deus preservou Israel antigo das pragas que havia mandado
sobre o Egito (vide Êxodo 15:26). Deus preservou os Santos da
praga da Guerra Civil dos Estados Unidos que causou mais
mortes americanas do que qualquer outra guerra.
Os dois grupos tiveram que deixar suas casas e patrimônio. Os
dois tiveram que depender unicamente do Senhor e ser
sustentados por Ele durante suas caminhadas. Os dois
atravessaram desertos, montanhas e vales de terras selvagens.
Os israelitas antigos saíram do Egito pelas águas do Mar
Vermelho como se fosse por terra seca (Hebreus 11:29). Alguns
pioneiros deixaram os Estados Unidos, atravessando as águas
largas do Rio Mississippi que havia congelado, tornando-se
uma estrada de gelo. [24] Os dois grupos padeceram provações
de sua fé onde os fracos foram separados e os fortes dotados
de poder para permanecer fiéis até o fim (vide Éter 12:6; D&C
101:4-5; 105:19).
Os filhos de Israel possuíam um tabernáculo port´til em que se
faziam convênios e ordenanças para fortalecê-los para a
jornada. [25] No início o tabernáculo servia de templo portátil
antes dos israelitas perderem a lei maior (vide D&C 84:23-26;
124:38; TJS, Êxodo 34:1-2). De forma semelhante muitos
Santos dos Últimos Dias receberam a investidura no Templo de
Nauvoo antes de sua jornada ao oeste.
A caminhada do Egito ao Monte Sinai levou mais ou menos três
meses (vide Êxodo 12:2, 3, 6, 18: 13:4; 19:1). A jornada de
Winter Quarters ao vale do Grande Lago Salgado também
levaria aproximadamente três meses. [26]
A terra prometida dos dois grupos também tinha similaridade.
A de Israel antigo tinha um mar de água salgada no seu
interior, alimentado pelo Rio Jordão. No interior da terra dos
pioneiros também tinha um mar de água salgada, alimentado
por outro Rio Jordão. O lugar de destino dos dois grupos era
descrito pelo Senhor como uma terra “repleta de leite e
mel”. [27] Os pioneiros transformaram o deserto em um campo
frutífero (vide Isaías 32:15-16) e fizeram o deserto florescer
como a rosa (vide Isaías 35:1), exatamente como profetizou
Isaías.
Tanto para os israelitas como para os Santos as leis civis e
eclesiásticas se uniam sob um cabeça. Moisés tinha esta
responsabilidade pelos israelitas. [28] Brigham Young, o Moisés
moderno [29] (vide D&C 103:16), liderou o movimento ao oeste
com a bênção do Senhor (vide D&C 136:1-42). Moisés e
Brigham Young seguiram modelos paralelos de governo (vide
Êxodo 18:17-21; D&C 136:1-4). E cada um padeceu a rebelião
de seus colegas mais achegados. [30] Não obstante, o mesmo
padrão unificado de governo novamente prevalecerá quando o
Senhor for “Rei sobre toda a terra” (Salmos 47:2; Zacarias 14:9)
e Ele há de reinar tanto em Sião como em Jerusalém (vide Isaías
2:1-4).
Os israelitas comemoraram seu êxodo do Egito. Os Santos dos
Últimos Dias celebraram seu êxodo com o estabelecimento da
sede da Igreja restaurada no cume das montanhas. As duas
celebrações comemoram uma libertação milagrosa efetuada por
Deus (vide Jeremias 16:15; 23:7). [31] O elo de êxodo nos
lembra uma escritura do Velho Testamento que exprime
gratidão: “E Moisés disse ao povo: Lembrai-vos deste mesmo
dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão; pois com
mão forte o Senhor vos tirou daqui” (Êxodo 13:3).

O Elo Das Verdades Eternas Do Evangelho


O quinto elo entre Israel antigo e Israel moderno denominarei o
elo das verdades eternas do evangelho. Estas verdades fazem
parte na ordem do Sacerdócio eterno de Melquisedeque,
embora seu nome só apareça duas vezes no Velho Testamento
(vide Gênesis 14:18; Salmos110:4). O Sacerdócio de
Melquisedeque foi retirado de Israel antigo logo depois do
êxodo do Egito (vide TJS, Êxodo 34:1-2; D&C 84:23-25).
Posteriormente Israel antigo funcionava sob o Sacerdócio
Levítico [Aarônico] e a lei de mandamentos carnais (vide D&C
84:27).
As verdades e os princípios eternos do evangelho eram e são
importantes para Israel antigo e para Israel moderno. O dia do
sábado, por exemplo, foi honrado por motivos diferentes ao
longo das gerações. Dos tempos de Adão a Moisés, observava-
se o sábado como dia de descanso do trabalho da criação (vide
Êxodo 20:8-11; 31:13; Mosias 13:16-19). Dos tempos de
Moisés até a ressurreição do Senhor, o sábado comemorava a
libertação dos israelitas da servidão no Egito (vide
Deuteronômio 5:12-15; Isaías 58:13; Ezequiel 20:20-22;
44:24). Nos últimos dias os Santos guardam o dia do sábado
em lembrança sagrada da expiação de Jesus Cristo. [32]
A restauração do sacerdócio revivificou o princípio do dízimo,
vinculando os ensinamentos do Velho Testamento, de Gênesis e
Malaquias (vide Gênesis 14:20; Malaquias 3:8-12). Os santos de
Israel moderno sabem calcular seu próprio dízimo baseando-se
nesta instrução simples: “Os que assim tiverem pago o dízimo
pagarão a décima parte de toda a sua renda anual; e isto
será uma lei permanente para eles para meu santo sacerdócio,
diz o Senhor” (D&C 119:4).
Em contraste, comparem esta instrução clara e simples com as
instruções da declaração do imposto de renda. Acham um
pouco mais complicado? Confesso que eu acho.
Voltando nossa atenção novamente às verdades eternas do
evangelho, nenhumas delas são mais importantes que aquelas
que se vinculam à adoração no templo. Constituem outro elo
entre Israel antigo e Israel moderno. “O Senhor sempre ordenou
a seu povo que construisse templos, edifícios sagrados nos
quais os membros dignos da Igreja realizam cerimônias e
ordenanças sagradas do evangelho para si próprios e em favor
dos mortos” [e lá se constatam outras manifestações
pertencentes à exaltação e à vida eterna] (Guia para Estudo das
Escrituras, página 205, “Templo, a Casa do Senhor”).
O templo mais conhecido de Israel antigo era o de Salomão.
Sua pia batismal (vide 2 Crônicas 4:15) e oração de dedicação
(vide 2 Crônicas 6:12-42) nos proporcionam o padrão
empregado nos templos de hoje (vide D&C 109:1-80). As
escrituras do Velho Testamento se referem a vestes especiais
(vide Êxodo 28:4; 29:5; Levítico 8:7-9; 1 Samuel 18:3-4) e
ordenanças (vide Êxodo 19:10, 14; 2 Samuel 12:20; Ezequiel
19:9) que pertencem ao templo (vide D&C 124:37-40). Que
gratos somos que o Senhor restaurou as bênçãos mais elevadas
do sacerdócio a seus filhos e filhas fiéis! Ele disse: “Pois digno-
me revelar a minha igreja coisas que têm sido mantidas ocultas
desde antes da fundação do mundo, coisas pertencentes à
dispensação da plenitude do tempos” (D&C 124:41).
Uma verdade revelada que conhecemos como a Palavra de
Sabedoria veio ao Profeta Joseph Smith em 1833. Todo Santo
dos Últimos Dias a conhece como sendo um dos sinais mais
visíveis da nossa fé. O último versículo daquela revelação forja
outro elo com Israel antigo: “E eu, o Senhor, faço-lhes uma
promessa de que o anjo destruidor passará por eles, como os
filhos de Israel, e não os matará. Amém” (D&C 89:21).
Esta referência à páscoa mostra que o Senhor queria que os
Santos obedientes de Israel moderno recebessem a proteção
física e espiritual que proporcionara a seus seguidores fiéis nos
tempos antigos.

Resumo
Israel antigo e moderno andam de braços dados. Muitas
profecias do Velho Testamento estão-se cumprindo em nossos
dias. Isaías profetizou: “E acontecerá nos últimos dias que se
firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se
elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as
nações” (Isaías 2:2; vide também 2 Néfi 12:2; TJS, Isaías 2:2).
Durante o ano que passou visitantes de mais de cem nações
foram visitar a sede mundial da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias. [33]
Tanto Israel antigo como Israel moderno acreditam na
mensagem para todos dos tempos do Velho Testamento:
“Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel,
que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que
o amam e guardam os seus mandamentos” (Deuteronômio
7:9). [34]
Todos os membros fiéis da Igreja receberão seu galardão justo:
“Portanto todas as coisas são suas, seja a vida ou a morte, as
coisas presentes ou as coisas futuras, todas são deles e eles
são de Cristo e Cristo é de Deus” (D&C 76:59).
Eu gostaria de prestar meu testemunho como um que se uniu a
vocês, meus queridos irmãos e irmãs. Amamos nosso Pai
Celestial. Amamos o Senhor Jesus Cristo. Somos seu povo.
Tomamos sobre nós seu sagrado nome. Somos seus
remanescentes, agora sendo coligados e colhidos em seus
celeiros eternos (vide Alma 26:5). Estamos cumprindo “o
convênio que o Pai fez com seu povo” 3 Néfi 20:12). Estamos
sendo conduzidos ao conhecimento do nosso Senhor que nos
redimiu (vide 3 Néfi 20:12-13). Somos os “filhos do convênio”
(3 Néfi 20:26; vide também Atos 3:25; 3 Néfi 20:25) destinados
a ser como Israel antigo, ou seja, “um reino sacerdotal e o povo
santo” (Êxodo 19:6; vide também D&C 76:56-57). Sabemos que
Joseph Smith é o grande profeta da Restauração e que o
Presidente Gordon B. Hinckley é o profeta atual do Senhor.
Meu testemunho, meu amor e minha bênção deixo com os
irmãos em nome de Jesus Cristo, amém.

Anotações
[1] Dez milhões de membros da Igreja representam 0,0017 por
cento da população mundial de 5,8 bilhões.
[2] O vocábulo santos aparece em sessenta e dois versículos do
Novo Testamento.
[3] José faleceu aos 110 anos (vide Gênesis 50:26).
[4] Dezesseis capítulos de cinqüenta capítulos totais igual a
32%.
[5] Vide J. Reuben Clark, Jr., On the Way to Immortality and
Eternal Life [A caminho da Imortalidade e Vida Eterna] (Salt Lake
City: Deseret Book, 1949); Ezra Taft Benson, relatório da
conferência geral de abril 1954, 58.
[6] Aproximadamente 25% do manuscrito original se encontra
nos arquivos históricos da Igreja. O manuscrito da gráfica é da
Comunidade de Cristo (outrora Igreja SUD Reorganizada) e
estava emprestado por um tempo à Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias. Conforme os relatos este está inteiro a
não ser duas linhas da página de rosto.
[7] Vide Sydney B. Sperry, “The Isaiah Problem in the Book of
Mormon” [O problema de Isaías no Livro de
Mórmon],Improvement Era, outubro de 1939, 594.
[8] Monte S. Nyman, na Encycopedia of Mormonism
[Enciclopédia do Mormonismo], redação de Daniel H. Ludlow
(Nova York, Macmillan, 19920, 2:702. Outra referência em
Joseph Smith—História 1:40.
[9] Vide 3 Néfi 24:1; D&C 110:14; 128:17; 133:64; 138:46;
Joseph Smith—História 1:36.
[10] Vide 3 Néfi 25:5; D&C 2:1; 27:9; 35:4; 110:13, 14; 128:17;
133:55; 138:46, 47; Joseph Smith—História 1:38.
[11] Moisés aparece em 1.300 versículos nas escrituras, 515
dos quais (40%) se encontram em revelações modernas.
[12] Comunicação pessoal do Élder Jeffrey R. Holland, junho de
1997.
[13] O nome de Abraão aparece em 506 versículos nas
escrituras, 289 das quais se encontram em revelações
modernas.
[14] O convênio também é recebido através da adoção (vide
Mateus 3:9; Lucas 3:8; G´latas 3:27-29; 4:5.
[15] Comparem a profecia de Paulo da Restauração em Efésios
1:10.
[16] Joseph Smith, citado por Wilford Woodruff, The Discourses
of Wilford Woodruff [Os discursos de Wilford Woodruff],
redação de G. Homer Durham (Salt Lake City: Bookcraft, 1946)
39.
[17] Congregar vem do verbo hebraico qabats que significa
“congregar” ou “reunir-se.”
[18] Ortografia conforme James Strong, The Exhaustive
Concordance of the Bible [Concordância Completa da Bíblia],
(1890; republicado, Nova York: Abingdon, 1965), “Dicion´rio de
Hebreu e Caldeu,” 50, 15.
[19] José foi “acrescentado” à família de Raquel porque sua
serva, Bila, já havia dado à luz Dã e Naftáli (vide Gênesis 30:5-
8). Vide também Deuteronômio 33:16-17, que se refere à
descendência de José que seria empurrado “até os confins da
terra: estes pois são os dez milhares de Efraim, estes são os
milhares de Manassés.” TJS, Gênesis 50:34 também afirma que
a semente de José seria preservada para sempre.
[20] Vide Erastus Snow, em Journal of Discourses [Jornal dos
Discursos] (Londres: Depósito de Livros dos Santos dos Últimos
Dias, 1854-86), 23:183-84.
[21] Os pioneiros foram expulsos do Estado de Missouri
mediante a ameaça de uma ordem assinada pelo governador do
estado, dizendo que “Os Mórmons devem ser tratados como
inimigos e devem ser ou exterminados ou expulsos do estado”
(Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of Latter-
day Saints, redação de B. H. Roberts, 2 edição revisada [Salt
Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,
1951-52] 3:175). Em 1887, o Congresso dos Estados Unidos da
América tomou o passo sem precedentes de eliminar a
existência legal da Igreja por revocar seu contrato social e
assim autorizou que todo o patrimônio passasse aos agentes
do governo, inclusive seus prédios de adoração mais sagrados,
os templos de Logan, Salt Lake City, Manti e Saint George (vide
The Late Corporation of the Church of Jesus Christ of Latter-
day Saints x os Estados Unidos [A ex-Sociedade d’A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias contra os Estados
Unidos] 136, U.S. 1 [1890]). Mesmo assim, os Santos sabiam
que eram da semente de Abraão e herdeiros das promessas e
da proteção do Senhor (vide D&C 103:17:20).
[22] Vide Smith, History of the Church [História da Igreja], 2:6-
12.185; Leonard J. Arrington, Brigham Young: American
Moses(Nova York, Knopf, 1985), 58.
[23] Vide Smith, History of the Church [História da Igreja],
2:529; 3:252, 261; Preston Nibley, The Presidents of the Church
[Os Presidentes da Igreja] (Salt Lake City: Deseret Book, 1974),
41.
[24] Vide Orson Pratt, Journal of Discourses [Jornal de
Discursos], 21:275-77.
[25] As ordenanças e convênios de Israel antigo se constam em
1 Coríntios 10:1-3; para Israel moderno, vide D&C 84:26-27.
[26] Cento e onze dias.
[27] Para o povo de Israel antigo, vide Êxodo 3:8, 17; 13:5;
33:3; Levítico 20:24; Números 13:27; 14:8; 16:13, 14;
Deuteronômio 6:3; 11:9; 26:9, 15; 27:3; 31:20; Josué 5:6;
Jeremias 11:5; 32:22; Ezequiel 20:6, 15; TJS Êxodo 33:1. Para
os pioneiros, vide D&C 38:18-19.
[28] Vide Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith
[Os ensinamentos do Profeta Joseph Smith], redação de Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1938), 252.
[29] O Presidente Spencer W. Kimball escreveu a respeito do
papel de Brigham Young naquele êxodo: “Desde Adão para cá,
houve muitos êxodos e muitas terras prometidas: Abraão,
Jarede, Moisés, Leí e outros lideraram v´rious grupos. Como é
fácil aceitar que aqueles dos tempos antigos eram guiados por
Deus, mas que os dos tempos recentes eram guiados por
cículos e decisões humanas. Vamos considerar por uns
instantes a grande migração dos refugiados Mórmons de
Illinois ao Vale de Salt Lake. Poucos movimentos, e talvez
nenhum, podem igualá-la. Ouvimos frequentemente que
Brigham Young guiou o povo ao fazer novos caminhos no
deserto, passar por cima de montanhas raramente escaladas,
atravessar rios sem pontes e passar por terras habitadas por
índios selvagens. Embora Brigham Young fosse um instrumento
na mão de Deus, não foi ele e sim o Senhor do céu que guiou
Israel moderno pela planície até a terra prometida” (Faith
Precedes the Miracle [A Fé Precede o Milagre] [Salt Lake City:
Deseret Book, 1972], 28).
[30] Vide Números 12:1-11 (Aarão e Miriã); para exemplos dos
últimos dias, vide Smith, History of the Church [História da
Igreja], 1:104-5 (Oliver Cowdery); e 1:226 (William McLellin).
[31] Havia outros milagres semelhantes para cada um dos
grupos, como o Senhor prover alimento por meio do “milagre
dos codornizes.” (Para Israel antigo, vide Êxodo 16:13; Salmos
105:40; para os pioneiros, vide Stanley B. Kimball, “Nauvoo
West: The Mormons of the Iowa shore [De Nauvoo para o Oeste:
os Mórmons à beira do Rio Iowa],” BYU Studies 18 [Inverno
1978]: 142). A proteção foi dada a Israel antiga pelo Senhor que
“ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar
pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar”
(Êxodo 13:21; vide também versículo 22; Números 14:14;
Deuteronômio 1:33; Neemias 9:19). Proteção semelhante foi
observada pelos pioneiros (vide Smith, History of the -
Church[História de Igreja], 3:34; Thomas S. Monson no relatório
da conferência de abril de 1967, 56).
[32] Vide D&C 20:40, 75-79; 59:9; vide também Mateus 26:26-
28; Marcos 14:22-24; Lucas 22:19-20; Atos 20:7; 1 Coríntios
16:2; Apocalipse 1:10.
[33] Dados fornecidos pela Missão da Praça do Templo.
[34] Vide também Deuteronômio 11:1, 27; 19:9; 30:16; Josué
22:5; 1 João 5:2-3; Mosias 2:4. Outras escrituras do Velho
Testamento se referem ao galardão para os que obedecem aos
mandamentos de Deus ao longo de “mil gerações” (vide 1
Crônicas 16:15; Salmos 105:8).
Qual é a Nossa Doutrina?

Qual é a Nossa Doutrina?


Robert L. Millet

Robert L. Millet é antigo decano do Colégio de Educação Religiosa da


BYU.

Fomos encarregados de ensinar “a doutrina do reino uns aos outros.


Ensinai diligentemente” o Senhor implorou, “e minha graça
acompanhar-vos-á, para que sejais instruídos mais perfeitamente em
teoria, em princípio, em doutrina, na lei do evangelho, em todas as
coisas pertinentes ao reino de Deus, que vos convém compreender”
(D&C 88:77–78). Mas o que exatamente devemos ensinar? O que é
doutrina?
Antes mesmo de começar esta discussão, permitam-me afirmar que
compreendo perfeitamente que a autoridade para declarar, interpretar
e esclarecer a doutrina está depositada nas mãos dos apóstolos e
profetas vivos. Portanto, este artigo tratará apenas da doutrina e em
momento algum tentará ir além da minha própria área de
competência.

Doutrina: Seu Propósito, Poder e Pureza


A doutrina é “o corpo básico do ensinamento e compreensão cristãos”
(2 Timóteo 3:16). A doutrina cristã é composta de ensinamentos que
devem ser repassados por meio de instrução e proclamação. . . . A
doutrina religiosa lida com as questões mais cruciais e amplas.” [1]
Além disso, “a doutrina do evangelho é um sinônimo das verdades
sobre a salvação. Ela compreende as crenças, ensinamentos e
verdades teóricas encontradas nas escrituras; ela inclue os princípios,
as diretrizes e as filosofias reveladas da pura religião; dogmas
proféticos, provérbios e pontos de vista são aceitos em seus
rebanhos; os Artigos de Fé são parte e uma porção dela, assim como
todas as mensagens inspiradas dos servos do Senhor.” [2]
A doutrina central e salvadora é de que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, o Salvador e Redentor da humanidade; que Ele viveu, ensinou,
curou, sofreu e morreu por nossos pecados; que ele se levantou dos
mortos no terceiro dia com um corpo ressurrecto, glorioso, imortal
(veja 1 Coríntios 15:1–3; D&C 76:40–42). Foi o Profeta Joseph Smith
quem falou sobre essas verdades centrais como os “princípios
fundamentais” de nossa religião para os quais, todas as outras
doutrinas são apenas apêndices. [3] O Presidente Boyd K. Packer
observou: “A verdade, a gloriosa verdade, proclama que há . . . um
Mediador. . . . Através Dele o perdão pode ser totalmente oferecido a
cada um de nós, sem ofender à eterna lei da justiça. Esta verdade é a
raiz da doutrina cristã. Você pode conhecer muito sobre o evangelho
a partir das ramificações deste ponto, mas se conhecer apenas os
ramos, e estes ramos não tocarem naquela raiz, se os ramos forem
cortados daquela raiz da verdade,então tais ramos não terão nem
vida, nem substância nem redenção neles.” [4]
Tal conselho realmente nos conduz em direção àquilo para o qual é o
mais importante nos sermões e na sala de aula, àquilo que deve ser
dada a maior ênfase por nossa parte. Há poder na doutrina, poder na
palavra (veja Alma 31:5), poder para curar a alma ferida (veja Jacó
2:8), poder para transformar o comportamento humano. “A doutrina
verdadeira, entenda-se, muda atitudes e comportamento,” Presidente
Packer nos ensinou. “O estudo das doutrinas do evangelho
melhorarão o comportamento muito mais rapidamente do que um
estudo sobre comportamento em si. Este é o porquê de enfatizarmos
tão arduamente o estudo das doutrinas do evangelho.” [5] Élder Neal
A. Maxwell também ressaltou que “doutrinas acreditadas e praticadas
mudam e melhoraram uma pessoa, enquanto que asseguram nosso
acesso vital ao Espírito. Ambos resultados são cruciais.” [6]
Aqueles de nós que somos professores associados À Igreja de Jesus
Cristo temos a obrigação de aprender as doutrinas, ensiná-las
adequadamente, e nos unir para falar e agir em harmonia com elas.
Somente desta forma poderemos perpetuar a verdade em mundo
repleto de erro, evitar decepção, focalizar naquilo que realmente é
importante, e encontrar alegria e felicidade neste processo. “Já falei
anteriormente,” Presidente Gordon B. Hinckley declarou, “sobre a
importância de se manter a doutrina da Igreja pura, e assegurar que
esteja sendo ensinada em nossas reuniões. Preocupo-me a este
respeito. Pequenas aberrações no ensino da doutrina podem levar a
grandes e diabólicas mentiras.” [7]

Como Mantemos “A Doutrina Pura”? O que


Devemos Fazer?
Podemos ensinar diretamente das escrituras, das obras-padrão. As
escrituras contêm a mente e o desejo e a voz e a palavra do Senhor
(veja D&C 68:3–4), desde os primórdios dos tempos, para os homens
e mulheres, e contêm a doutrina e sua aplicabilidade que são tanto
temporais como atemporais. “E toda escritura dada por inspiração do
Senhor, é proveitável à doutrina, à reprovação, à correção, à
instrução em retidão: que o homem [ou a mulher] de Deus possa ser
perfeito, totalmente provido de todas as boas obras” (Tradução de
Joseph Smith, 2 Timóteo 3:16–17).
Podemos apresentar a doutrina da mesma forma como os profetas
nos nossos dias a apresentam (veja D&C 52:9, 36)—tanto no
conteúdo como na ênfase. Mórmon escreveu: “E aconteceu que
Alma, tendo autoridade de Deus, ordenou sacerdotes; Anchor. . . E
mandou que não ensinassem senão as coisas que ele ensinara”
(Mosias 18:18–19; ênfase adicionada)
Nós podemos dar atenção especial aos comentários das escrituras
oferecidos pelos apóstolos e profetas vivos, encontrados nos
discursos das conferências gerais, cruzando referências dos mesmos
com as nossas escrituras, e ensinando tais comentários em conjunto
com as escrituras. Por exemplo, podemos estudar que
Élder Jeffrey R. Holland ensinou a respeito da parábola do filho
pródigo na conferência geral de abril de 2002;
Élder Rober D. Hales ensinou a respeito do convênio do batismo em
outubro de 2000;
Élder Joseph B. Wirthlin ensinou a respeito dos princípios do jejum
conforme encontramos em Isaías 58, em abril de 2001;
Élder Dallin H. Oaks ensinou a respeito da conversão e sobre “tornar-
se,” assim como seu ponderado comentário sobre a parábola dos
trabalhadores na vinha, em outubro de 2000;
Élder M. Russell Ballard ensinou a respeito de “Quem é meu
próximo?” e sobre aquilo que podemos chamar de doutrina de
inclusão, em outubro de 2001.
Podemos ensinar o evangelho com franqueza e simplicidade,
focalizando nos fundamentos, e enfatizando aquilo que realmente
importa. Não falamos tudo aquilo que sabemos, nem ensinamos, nem
tampouco aquilo que faz parte da doutrina “periférica”. O Profeta
Joseph Smith explicou que “não é sábio relatar toda a verdade. Até
mesmo Jesus, o Filho de Deus, teve que desistir de o fazer, e teve
que retrair Seus sentimentos muitas vezes para a sua própria
segurança, e também a de seus seguidores, e teve que dissimular os
propósitos de retidão que haviam em seu coração com relação às
muitas coisas pertencentes ao reino de Seu Pai.” [8]
Podemos reconhecer que há coisas que simplesmente nós não
sabemos. O Presidente Joseph F. Smith declarou: “Não é vergonha
para nossa inteligência ou para nossa integridade dizer francamente,
diante de centenas de perguntas especulativas, ‘Eu não sei.’ Uma
coisa é certa, e ela é que Deus revelou o suficiente para o nosso
entendimento, para nossa exaltação e para nossa felicidade. Deixe
que os Santos, então, utilizem aquilo que eles têm; que sejam simples
e impassíveis em sua religião, tanto em pensamento como em
palavra, e assim eles não perderão tão facilmente seu rumo nem
estarão sujeitos às vãs filosofias do mundo.” [9]
Parâmetros Doutrinários
Nos últimos anos, tenho tentado olhar além da superfície das coisas,
e discernir a natureza das muitas objeções que são encontradas no
mundo religioso de hoje, contra os Santos dos Últimos Dias. Com
certeza, o crescimento da Igreja surge como uma ameaça real para
muitos—mais especificamente, para os grupos cristãos que
ressentem a forma como nós “roubamos suas ovelhas.” Não fazemos
parte da linha de tempo da história do cristianismo e portanto não
somos nem Católicos, nem Protestantes. Acreditamos em escrituras
além da Bíblia e em contínua revelação por meio de apóstolos e
profetas. Não aceitamos os conceitos referentes a Deus, Cristo, e à
Trindade que foram gerados após os concílios das igrejas do Novo
Testamento. Todas essas coisas constituem a razão por que muitos
Protestantes e Católicos nos rotulam como não-cristãos. Temos
tentado, com algum sucesso, penso eu, nos referir a nós mesmos
como “Cristãos, mas diferentes.” Mas há ainda mais uma razão pela
qual somos vistos com suspeita, uma que destaca e enfatiza uma
grande quantidade da propaganda antimórmon—mais propriamente
dito, aquilo que eles identificam como sendo algumas de nossas
“doutrinas pouco comuns,” muitas das quais foram apresentadas por
alguns poucos líderes da Igreja do passado.
Deixe-me ilustrar este ponto com uma experiência que tive, há
poucos meses atrás. Um dia, um ministro Batista estava em meu
escritório. Estávamos conversando sobre uma série de coisas,
inclusive doutrina. Ele me disse: “Bob, vocês acreditam em coisas tão
estranhas!” “Como o quê?” eu perguntei. “Ah, por exemplo,” ele disse,
“vocês acreditam na reparação de um crime por sangue. E isso afeta
a insistência do estado de Utah em executar a pena de morte por um
esquadrão de fuzilamento.” Eu respondi, “Não, nós não acreditamos
nisso.” “Sim, vocês acreditam,” ele argumentou de volta. “Eu sei de
diversas declarações de Brigham Young, Heber C. Kimball e
Jedediah Grant que ensinam tais coisas.” “Estou ciente sobre tais
declarações,” respondi. Eu me vi então dizendo algo que nunca tivera
dito em voz alta antes: “Sim, essas coisas foram ensinadas, mas elas
não representam a doutrina da Igreja. Acreditamos na expiação pelo
sangue de Jesus Cristo, e só isso.” Meu amigo não perdeu tempo: “O
que você quer dizer com elas não representam a doutrina da sua
Igreja? Elas foram ditas por altos líderes da Igreja.”
Expliquei que tais declarações foram feitas, em sua maior parte,
durante a época da Reforma Mórmon e que elas foram exemplos de
uma espécie de “retórica de renovação” nas quais os líderes da Igreja
estavam tentando “elevar o padrão” em termos de obediência e fé. Eu
o assegurei que a Igreja, por seus padrões canônicos, não tem nem o
direito nem o poder de tirar a vida de uma pessoa por causa de
desobediência ou mesmo apostasia (veja D&C 134:10). Li então uma
passagem do Livro de Mórmon para ele, na qual os profetas nefitas
tinham apelado a “muitos dissabores . . . [que] continuamente . . .
faziam lembrar [às pessoas] da morte e da duração da eternidade e
dos julgamentos e poder de Deus, . . . e grande franqueza no falar” a
fim de de evitar “que se precipitassem rapidamente na destruição”
(Ênos 1:23).
Isto pareceu em parte satisfazê-lo, mas então ele disse: “Bob, muitos
de meus colegas cristãos perceberam como é difícil entender em que
os Mórmons acreditam. Eles dizem que é como pregar prego na
areia! Em que vocês acreditam? Como vocês decidem qual é a sua
doutrina e qual não é?” Percebi que estávamos no meio de uma
conversa extremamente importante, uma que estava me empurrando
para os meus limites, requerendo que eu ponderasse profundamente
sobre coisas que tenho pensado há algum tempo. As suas perguntas
eram válidas e de forma alguma maliciosas. Elas não tinham a
intenção de ser uma armadilha ou de me envegonhar, ou mesmo à
Igreja. Ele simplesmente estava procurando informação. Eu disse,
“Você me fez excelentes perguntas. Deixe-me ver o que posso fazer
para respondê-las.” Sugeri-lhe então que ele considerasse as
seguintes três idéias:
Os ensinamentos da Igreja hoje têm seu foco, abrangência e direção
um tanto estreitados; somos instruídos a ensinar e enfatizar a
doutrina central e de salvação; nada que seja ensinamento tangencial
ou periférico.
Muitas vezes, as coisas que são extraídas das palavras dos líderes
da Igreja do passado, como a questão da reparação de um crime por
sangue mencionada acima, são mal citadas, mal representadas, ou
fora de contexto. Além disso, nem tudo que foi falado ou escrito pelos
líderes do sacerdócio da Igreja do passado é parte do que ensinamos
hoje. A nossa é constituição viva, uma árvore da vida viva, uma Igreja
dinâmica (veja D&C 1:30). Somos comandados a ouvir às palavras de
profetas vivos (veja D&C 90:3–5).
Ao tentar determinar se algo é parte da doutrina da Igreja, devemos
nos perguntar: Isto é algo que encontramos nas obras-padrão?
Dentro das declarações oficiais ou proclamações? Foi discutido na
conferência geral ou em outras reuniões oficiais pelos líderes do
sacerdócio da Igreja hoje? Isso é encontrado nos guias gerais ou no
currículo aprovado pela Igreja hoje? Se satisfizer pelo menos um
destes critérios, podemos então nos sentir seguros e confortáveis em
ensiná-lo.
Uma porcentagem significante de antimormonismo focaliza nas
declarações feitas por líderes da Igreja do passado e que lidam com
questões periféricas ou não centrais. Ninguém nos critica por
acreditarmos em Deus, na divindade de Jesus Cristo ou em sua
expiação, na ressurreição literal do corpo do Salvador e na eventual
ressurreição da humanidade, no batismo por imersão, no dom do
Espírito Santo, no sacramento da última ceia do Senhor, e assim por
diante. Mas somos desafiados regularmente por declarações na
nossa literatura em questões tais como:
A vida de Deus antes Dele ser Deus
Como Jesus foi concebido
O destino específico dos filhos da perdição
Ensinamentos sobre Adão como sendo um Deus
Detalhes concernentes a como se tornar como Deus na outra vida
Que o casamento plural é essencial para a salvação de uma pessoa
Por que o sacerdócio foi proibido aos negros antes de 1978.

Lealdade aos Homens Chamados como


Profetas
Enquanto nós amamos as escrituras e agradecemos a Deus
regularmente por elas, acreditamos que ninguém pode ter convicção
suficiente ou mesmo reverência pelas Sagradas Escrituras sem
acreditar que toda palavras entre Gênesis 1:1 e Apocalipse 22:21 é
palavra por palavra ditada pelo Senhor ou que a Bíblia se lê hoje da
mesma forma como foi sempre lida. Na verdade, o Livro de Mórmon e
outras escrituras atestam que as verdades simples e preciosas e
muitos convênios do Senhor foram tirados ou mantidos fora da Bíblia
antes mesmo dela ser compilada (veja 1 Néfi 13:20–29; Moisés 1:40–
41; Artigos de Fé 1:8). [10] Mas ainda estimamos este volume
sagrado, reconhecemos e ensinamos as doutrinas da salvação que
ele contém, e procuramos moldar nossas vidas de acordo como seus
ensinamentos eternos.
Da mesma forma, apoiamos de todo nosso coração os profetas e
apóstolos, sem crer que eles sejam perfeitos ou que tudo que eles
dizem ou fazem é exatamente aquilo que Deus deseja que seja dito e
feito. Em resumo, não acreditamos na infalibilidade apostólica ou
profética. Moisés cometeu erros, mas nós o amamos e o apoiamos e
a despeito disso, aceitamos seus escritos. Paulo cometeu erros, mas
admiramos sua coragem e dedicação e entesouramos suas epístolas.
Tiago nos indicou que Elias “era homem sujeito às mesmas paixões
que nós” (Tiago 5:17), e que o Profeta Joseph Smith ensinou que “um
profeta [é] um profeta apenas quando ele [está] agindo como
tal.” [11] Em outra ocasião, o Profeta declarou: ”Eu lhes disse que eu
não era nada mais do que um homem, e que eles não deveriam
esperar que eu fosse perfeito; se eles esperassem perfeição de
minha parte, eu deveria esperar o mesmo por parte deles; mas se
eles tolerassem as minhas debilidades e as debilidades dos irmãos,
eu poderia da mesma forma tolerar as debilidades deles.” [12] “Eu
posso me solidarizar com o Presidente da Igreja,” disse Lorenzo
Snow, “se ele não souber de tudo que eu sei. . . . Eu via as . . .
imperfeições em [Joseph Smith] . . . . Agradeci a Deus por Ele ter
colocado sobre um homem que tinha aquelas imperfeições, o poder e
autoridade que Ele lhe conferiu . . . porque sei que eu mesmo tinha
fraquezas, e pensei que haveria então uma chance para mim.” [13]
Como temos sido sempre relembrados, aqueles a quem Deus chama,
Deus qualifica. Ou seja, Deus chama Seus profetas. Ele capacita e
fortalece o indivíduo, providencia uma perspectiva eterna, solta sua
língua, e o habilita a tornar a verdade divina conhecida. Mas ser
chamado como um Apóstolo ou mesmo como Presidente da Igreja
não remove o homem da mortalidade ou o faz perfeito. Presidente
David O. McKay explicou que “quando Deus faz o profeta ele não
desfaz o homem.” [14] “Esta manhã fui apresentado a um homem que
mora na costa leste,” Joseph Smith declarou. “Depois de ouvir meu
nome, ele comentou que eu não era nada além de um homem,
indicando pela sua expressão, de que ele tinha suposto que uma
pessoa a quem Deus deveria ver como apto a revelar Sua vontade,
deveria ser algo mais do que um homem. Ele pareceu ter esquecido o
dito de São Tiago, que [Elias] era um homem sujeito a paixões como
nós, ainda que ele tivesse tanto poder com Deus, que ele, em
resposta a suas orações, fechou os céus para que não houvesse
chuva pelo espaço de três anos e seis meses.” [15]
“Apesar de toda sua inspiração e grandiosidade,” Élder Bruce R.
McConkie declarou, “profetas ainda são homens mortais com
imperfeições comuns à toda humanidade em geral. Eles têm suas
opiniões e preconceitos e eles são deixados para trabalhar com seus
problemas em muitas ocasiões, sem qualquer
inspiração.” [16] Portanto as opiniões e pontos de vista, mesmo de
um profeta, podem conter erros, a menos que tais opiniões e pontos
de vista sejam inspirados pelo Espírito.” [17]
“Houve ocasiões,” Presidente Harold B. Lee salientou, “quando
mesmo o Presidente da Igreja não foi tocado pelo Espírito. Suponho
que possam dizer que, há uma história clássica de Brigham Young na
época quando o exército de Jonhston estava em deslocamento. Os
santos estavam todos exaltados e o Presidente Brigham Young tinha
seus próprios sentimentos estimulados para lutar. Ele se levantou na
sessão da manhã da conferência geral e pregou um sermão vibrante
desafiando o exército que se aproximava, declarando uma intenção
de se colocar contra eles e mandá-los de volta em retirada. À tarde,
ele se levantou e disse que Brigham Young esteve falando pela
manhã mas que naquele momento o Senhor iria falar. Ele então fez
um discurso no qual o ritmo foi exatamente o oposto do sermão da
manhã. Se aquilo realmente aconteceu ou não, serve para ilustrar um
princípio: que o Senhor pode agir sobre Seu povo mas eles, por sua
vez, podem falar em algumas ocasiões suas próprias opiniões.” [18]
Em 1865, a Primeira Presidência aconselhou os Santos dos Últimos
Dias o seguinte:
Não desejamos que doutrinas incorretas e debilitadas sejam deixadas
para a posteridade sobre a sanção de grandes nomes a serem
recebidos e estimados pelas futuras gerações como autênticos e
confiáveis, criando trabalho e dificuldades para nossos sucessores
executar e lutar, os quais não deveríamos transmitir-lhes. Os
interesses da posteridade estão, até certo ponto, em nossas mãos.
Erros na história e na doutrina, se forem deixados sem serem
corrigidos por nós que estamos familiarizados com os eventos, e que
estamos em posição de julgar a verdade ou falsidade das doutrinas,
irão às nossas crianças como se os tivéssemos sancionado e
endossado. . . . Sabemos qual santidade está sempre anexada aos
escritos dos homens que já partiram desta vida, especialmente os
escritos dos Apóstolos, quando nenhum de seus contemporâneos
existem, e nós, portanto, sentimos a necessidade de estarmos
atentos a estes pontos. [19]
Presidente Gordon B. Hinckley declarou: “Trabalhei com sete
Presidentes desta Igreja. Reconheci que todos eram humanos. Mas
nunca me preocupei a este respeito. Eles podem ter tido algumas
fraquezas. Mas isto nunca me inquietou. Sei que o Deus dos céus
usou homens mortais através da história para realizar Seus
propósitos divinos.” [20]
Em outra ocasião, Presidente Hinckley declarou aos Santos que
“conforme continuamos em nossa busca pela verdade . . . devemos
procurar pela força e bondade em vez de fraquezas e defeitos
naqueles que realizam tão grandes obras em seu devido tempo.
Reconhecemos que nossos antepassados foram humanos. Eles,
indubitavelmente, cometeram erros. . . . Há apenas um homem
perfeito que caminhou por esta terra. O Senhor usou de pessoas
imperfeitas no processo de construir sua sociedade perfeita. Se
algum deles ocasionalmente tropeçou, ou se suas índoles podem ter
ligeiramente falhado de um modo ou de outro, então o prodígio é
ainda maior que eles tenham realizado tanto.” [21]
Profetas são homens chamados por Deus para servirem como porta-
vozes do convênio para Seus filhos na terra e, portanto, nunca
devemos desprezar aquilo que eles falam. Os primeiros irmãos desta
dispensação foram os profetas vivos para seus contemporâneos e,
muito daquilo que acreditamos e praticamos hoje, reside sobre o
alicerce doutrinal que eles estabeleceram. Mas o trabalho da
Restauração acarreta uma revelação gradual da verdade divina, de
modo a ser linha sobre linha. Alguns anos atrás, meu colega Joseph
McConkie comentou o seguinte para um grupo de educadores
religiosos:
Nós temos o estudo de nossos primeiros irmãos como base; temos a
vantagem de ter mais conhecimento da história; nós avançamos em
nosso caminho em direção ao topo da montanha que é nosso destino
e agora estamos em uma posição que podemos ver algumas coisas
com mais clareza do que nossos ancestrais . . . Moramos em casas
melhores do que nossos antepassados pioneiros, mas isto não quer
dizer que sejamos melhores ou que nossas recompensas sejam
maiores. Da mesma forma, nosso entendimento dos princípios do
evangelho deve ser melhor armazenado, e deveríamos estar
constantemente procurando fazê-lo. Não existe mérito em ler com
lampiões de querosene quando temos luzes melhores. [22]
Portanto, é importante observar que ao final o Senhor irá nos
responsabilizar pelos ensinamentos, direções e ênfase dados pelos
oráculos vivos em nossos dias, tanto em termos de seus comentários
sobre o cânone das escrituras como também sobre as escrituras
vivas que são transmitidas por eles pelo poder do Espírito Santo (veja
D&C 68:3–4).

Enfrentando Situações Difíceis


Minha experiência sugere que o antimormonismo irá provavelmente
continuar a crescer em volume, pelo menos até que o Salvador volte
e feche as máquinas de impressão. Porque acreditamos na Apostasia
e na necessidade de restauração da plenitude do evangelho, jamais
seremos totalmente aceitos por aqueles que dizem ter toda a verdade
que precisam na Bíblia. Mas gostaria de observar duas coisas sobre o
antimormonismo: primeiro, o material antimórmon defitinivamente
afeta muito mais do que simplesmente aqueles que não são Santos
dos Últimos Dias. Tal material desencoraja e amedronta em alguns
casos investigadores curiosos ou interessados, mas também perturba
muito mais membros da Igreja do que eu antes imaginava. Devo
receber dez telefonemas, cartas, ou emails por semana de membros
em toda a Igreja fazendo perguntas difíceis que foram questionadas
por seus vizinhos ou por algum tipo de literatura que leram. Há pouco
tempo atrás um jovem (casado e com família) me telefonou à tarde,
desculpando-se pela interrupção, e continuou então me dizendo que
ele estava prestes a deixar a Igreja por causa de suas dúvidas. Ele
apresentou diversas questões e respondi a cada uma delas e prestei
meu testemunho. Depois de cerca de meia hora de conversa, ele me
agradeceu profundamente e demonstrou que ele sentia que estaria
bem dali para a frente. Tal experiência não é fora do comum. Penso
que o que estou dizendo é que materiais antagônicos estão aqui para
ficar e estão afetando prejudicialmente tanto Santos dos Últimos Dias
como as atitudes daqueles de outras crenças.
Segundo, muitas vezes aqueles que criticam a Igreja simplesmente
usam nossas próprias “coisas” contra nós. Eles não precisam criar
novos materiais; eles simplesmente procuram e colocam um novo
invólucro em algumas das coisas que os líderes da Igreja disseram no
passado e que podem não ser consideradas parte da doutrina da
Igreja hoje. Os Santos dos Últimos Dias estão dispostos a apoiar e
defender seus líderes. Consequentemente, hesitamos especialmente
em sugerir que algo ensinado pelo Presidente Brigham Young ou
pelos Élderes Orson Pratt ou Orson Hyde poderia não estar em
harmonia com a verdade que Deus nos tornou conhecida “linha sobre
linha, preceito sobre preceito” (Isaías 28:10; 2 Néfi 28:30).
Há algum tempo atrás, eu e um outro colega estivemos no sul da
Califórnia falando para um grupo de cerca de 500 pessoas, tanto
Santos dos Últimos Dias como Protestantes. Durante a parte do
programa aberta para perguntas e respostas, alguns perguntaram o
inevitável: “Vocês são realmente cristãos? Vocês, como muitos
afirmam, adoram a um Jesus diferente?” Expliquei que adoramos o
Cristo do Novo Testamento, que acreditamos de todo nosso coração
em Seu nascimento virginal, em Sua filiação divina, em Seus
milagres, em Seus ensinamentos transformacionais, em Seu sacrifício
expiatório e, depois de morto, na ressurreição de Seu corpo.
Acrescentei ainda que também acreditamos nos ensinamentos de
Cristo e sobre Cristo encontrados no Livro de Mórmon e nas
revelações modernas. Depois da reunião, uma mulher, Santo dos
Últimos Dias, veio até mim e me disse: “Você não disse a verdade
sobre aquilo que acreditamos.”
Assustado, perguntei: “O que você quer dizer com isso?”
Ela respondeu, “Você disse que nós acreditamos no nascimento
virginal de Cristo, e você sabe muito bem que não acreditamos nisso.”
“Sim, nós acreditamos,” revidei.
Então ela me disse com um grande tom de emoção, “Quero acreditar
em você, mas por muitos anos as pessoas têm me dito que Deus, o
Pai, teve relações sexuais com Maria e em consequência disto, Jesus
foi concebido.”
Olhei firmemente em seus olhos e disse, “Estou ciente de tais
ensinamentos, mas isto não é doutrina da Igreja; isto não é aquilo que
ensinamos na Igreja hoje. Você alguma vez ouviu os líderes do
sacerdócio ensinando isto nas conferências? Está nas obras-padrão,
nos materiais do currículo ou nos guias da Igreja? É parte de alguma
declaração ou proclamação oficial?” Observei o que parecia ser 200
quilos de peso deixar seus ombros, conforme as lágrimas saiam de
seus olhos e ela simplesmente disse, “Obrigada, Irmão Millet.”
Há pouco tempo atrás, o Pastor Greg Johnson e eu nos reunimos
com uma igreja cristã evangélica na área de Salt Lake. O ministro de
lá nos pediu que viéssemos e fizéssemos uma apresentação (“Um
Diálogo entre um Evangélico e um Santo dos Últimos Dias”) que eu e
Greg fizemos muitas vezes antes em diferentes partes do país. O
propósito de nossa apresentação é o de modelar o tipo de
relacionamento que as pessoas, com pontos de vista religiosos
diferentes, podem ter. Este tipo de apresentação provou, a meu ver,
ser um dos exercícios mais eficazes dos quais já estive envolvido, no
sentido de se construir uma ponte entre grupos de diferentes crenças.
Nesta noite em particular, a primeira pergunta feita por alguém na
audiência foi sobre DNA e o Livro de Mórmon. Fiz um breve
comentário e indiquei que uma resposta mais detalhada (e
informativa) estaria em breve sendo publicada em um artigo de
revista, escrito por um biólogo da BYU. Havia muitas mãos
levantadas neste momento. Apontei então para uma mulher sentada
na parte da frente da igreja. A sua pergunta foi,”Como vocês lidam
com a doutrina Adão-Deus?
Respondi, “Obrigado por esta pergunta. Ela me dá a oportunidade de
explicar um princípio logo no início deste debate que será o alicerce
para outras coisas serem ditas.” Dediquei alguns minutos para
comentar as questões, “Qual é a nossa doutrina? O que nós
ensinamos hoje?” Apontei para o fato de que se algum ensinamento
ou idéia não está nas nossas obras-padrão, nem entre declarações
ou proclamações oficiais, não é ensinado pelos nossos apóstolos e
profetas vivos na conferência geral ou em outras reuniões oficias, ou
não está nos guias gerais ou no material curricular da Igreja, então tal
ensinamento provavelmente não é parte da doutrina ou ensinamentos
da Igreja.
Surpreendi-me quando meu amigo pastor disse então ao grupo, “Está
ouvindo, Bob? Você está ouvindo o que ele está dizendo? Isto é
importante! Está na hora de nós pararmos de criticar os Santos dos
Últimos Dias em questões que eles nem mesmo ensinam hoje.” Nesta
altura da reunião, duas coisas aconteceram: primeiro, o número de
mãos levantadas diminuiu e, segundo, o tom da reunião mudou
drasticamente. As questões não eram mais armadilhas ou desafios,
mas ao invés disso representavam esforços para esclarecer. Por
exemplo, a última pergunta foi feita por um homem de meia idade:
“Eu, por minha vez, gostaria de agradecer-lhe, do fundo do meu
coração, por tudo que fez aqui esta noite. Isto emociona a minha
alma. Eu acho que é isto que Jesus faria. Moro em Utah há vários
anos e tenho meus amigos SUD. Nós nos damos bem juntos; não
brigamos nem discutimos questões religiosas. Mas nós realmente não
conversamos uns com os outros sobre as coisas que são importantes
para nós—ou seja, a nossa fé. Eu não planejo me tornar um Santo
dos Últimos Dias e tenho certeza que meus amigos mórmons não
planejam se tornar evangélicos, mas gostaria de encontrar meios
mais eficazes para conversarmos de coração aberto. Você poderia
dar algumas sugestões de como podemos nos aprofundar em nossas
discussões e tornar mais agradáveis nossos relacionamentos com
nossos vizinhos SUD?”
Neste momento, percebi que havíamos atingido alguns membros da
audiência. Richard Mouw, um de meus amigos evangélicos, sugeriu a
necessidade de termos “civilidade convicta,” o desafio de sermos
verdadeiros à nossa própria fé e não ceder um centímetro em nossa
doutrina ou em nosso modo de vida e, ao mesmo tempo, nos
empenharmos para melhor entender e respeitar nossos vizinhos que
não são da mesma crença. [23] Essas experiências destacaram para
mim o desafio que enfrentamos. Eu não hesito em dizer a um
indivíduo ou a um grupo “Eu não sei” quando me perguntam por que
os homens são ordenados no sacerdócio mas não as mulheres, ou
por que foram negadas aos negros as bênçãos do sacerdócio por
quase um século e meio, e muitos outros assuntos que nunca foram
revelados nem esclarecidos por aqueles que possuem as chaves
devidas. A dificuldade advém quando alguém no passado falou sobre
esses assuntos, apresentou algumas idéias que não estão em
harmonia com aquilo que nós sabemos e ensinamos hoje, e quando
aqueles ensinamentos estão ainda disponíveis, sejam impressos ou
entre as conversas do dia a dia dos membros, e nunca foram
corrigidos ou esclarecidos. As questões fundamentais são simples,
“Qual é a nossa doutrina? Quais são os ensinamentos da Igreja
hoje?” Se nós pudéssemos, de alguma forma, ajudar os Santos (e a
grande comunidade religiosa do mundo) a saber as respostas a tais
questões, isto iria, sem dúvida alguma, aumentar nossos esforços
missionários, a retenção de conversos, o processo de ativação, e a
imagem e força geral da Igreja. Se apresentado adequadamente, não
precisará enfraquecer a fé ou criar dúvidas. Poderá ajudar muito os
Santos a focalizar mais e mais nas verdades centrais e salvadoras do
evangelho.

Outros Exemplos
Discutimos anteriormente que uma das formas para mantermos
nossa doutrina pura é apresentar a mensagem do evangelho da
maneira que profetas e apóstolos a apresentam hoje.
Semelhantemente, nossas explicações sobre certas “doutrinas duras”
ou doutrinas profundas não deverão ir além daquilo que os profetas
acreditam e ensinam hoje. Tomemos dois exemplos. O primeiro é um
assunto extremamente sensível, que atualmente afeta e continuará a
afetar a quantidade e qualidade dos batismos de conversos na Igreja.
Falo da questão dos negros e do sacerdócio. Eu cresci na Igreja,
assim como muitos dos leitores, e estava bem consciente das
restrições do sacerdócio. Há muito tempo, até onde posso me
lembrar, a explicação do porquê da plenitude das bênçãos do
sacerdócio (incluindo o templo), ter sido negada a nossos irmãos e
irmãs negros foi alguma coisa em torno da idéia de que eles foram
menos valorosos na vida pré-mortal e consequentemente vieram à
terra sob uma maldição, uma explicação que tem sido perpetuada
como doutrina pela maior parte da história de nossa Igreja. Eu tinha
colocado na memória o Artigo de nossa fé que declara que homens e
mulheres serão punidos por seus próprios pecados e não pela
transgressão de Adão (veja Artigos de Fé 1:2) e mais tarde lemos que
“os pecados dos pais não podem recair sobre a cabeça dos filhos”
(Moisés 6:54), mas tinha assumido que de alguma forma esses
princípios não se aplicavam aos negros.
Em junho de 1978 tudo mudou— não só a questão de quem poderia
ou não ser ordenado no sacerdócio, mas também a natureza da
explicação do porquê a restrição havia sido feita desde o princípio.
Em uma entrevista em 1988, foi perguntado ao Élder Dallin H. Oaks:
“Esta questão [da restrição do sacerdócio] parece ter recebido tanta
atenção quanto qualquer outra doutrina que a Igreja tenha abraçado,
bem como qualquer outra controvérsia em que a Igreja tenha sido
envolvida. Os membros da Igreja parecem ter menos condições para
poder compreender este assunto. Poderia comentar em por que este
é o caso e o que podemos aprender disso tudo?” Como resposta,
Élder Oaks declarou que
Se você ler as escrituras com esta questão em mente, “Por que o
Senhor ordenou isto ou por que ele ordenou aquilo,” você descobrirá
que em menos de um mandamento a cada cem, não há qualquer
razão para ter sido dado. Não é típico do Senhor dar razões.
Podemos racionalizar as revelações. Podemos racionalizar os
mandamentos. Quando fizermos isto, estaremos por conta própria.
Algumas pessoas racionalizam nesta questão sobre a qual estamos
discutindo aqui, e acontece que eles acabam estando extremamente
errados. Há uma lição nisso. A lição que tirei disto [é que] decidi há
muito tempo atrás que eu tinha fé no mandamento e eu não tinha fé
nas razões que me foram sugeridas a respeito dele.
Em seguida veio a próxima pergunta: “O senhor está se referindo às
razões dadas até mesmo pelas autoridades gerais?” Élder Oaks
respondeu: “Com certeza. Estou me referindo a razões dadas pelas
autoridades gerais e razões formuladas sobre tais razões por outros.
O conjunto das razões me parece um risco desnecessário de se
tomar. . . . Não cometamos o erro feito no passado, nesta e em outras
áreas, tentando das razões à revelação. As razões acabam em
grande parte sendo feitas por homens. As revelações são as que
apoiamos como a vontade do Senhor e aí é onde a segurança
reside.” [24]
Em outras palavras, nós realmente não sabemos por que a restrição
no sacerdócio existiu. “Eu não sei” é a resposta correta quando
somos questionados “Por quê?” O sacerdócio foi restrito “por razões
pelas quais acreditamos que são conhecidas por Deus, mas as quais
Ele não tornou totalmente conhecidas aos homens.” [25] Dei-me
conta que isto é o que Élder McConkie quis dizer em seu discurso em
agosto de 1978 para o Sistema Educacional da Igreja quando nos
aconselhou:
esqueçam tudo que eu disse, ou que Presidente Brigham Young, ou
Presidente George Q. Cannon, ou quem quer que seja disse no
passado e que seja contrário à revelação atual. Nós falamos com
uma compreensão limitada e sem a luz e o discernimento que hoje
nos são conhecidos.
Nós obtemos a nossa verdade e a nossa luz linha sobre linha,
preceito sobre preceito. Agora nós temos adicionado um novo dilúvio
de inteligência e luz a este assunto em particular, e isto retira toda a
escuridão e todos os pontos de vista e todos os pensamentos do
passado. Eles não importam mais. . . . É um novo dia e um novo
arranjo e o Senhor agora nos deu a revelação que ilumina o mundo
sobre este assunto. Esqueçamos quaisquer estilhaços de luz ou
partículas de escuridão do passado. [26]
Parece-me, entretanto, que nós, como Santos dos Últimos Dias,
temos dois problemas a resolver para tornar o evangelho restaurado
disponível extensivamente às pessoas negras. Primeiro, precisamos
ter nossos corações e mentes purificados de todo orgulho e
preconceito. Segundo, precisamos ignorar todas as explicações
anteriores sobre a restrição e demonstrar que, enquanto nós
simplesmente não sabemos o porquê que a restrição existiu no
passado, a plenitude das bênçãos do evangelho restaurado estão
agora disponíveis a todos que se prepararem para recebê-las. Élder
Russell Ballard observou que “nós não conhecemos todas as razões
por que o Senhor faz o que Ele faz. Devemos nos contentar que um
dia teremos o pleno conhecimento das coisas.” [27]
Agora ao segundo exemplo. Quando abro a discussão para perguntas
diante de um grupo de pessoas que não são da nossa fé, sempre me
perguntam sobre nossa doutrina a respeito de Deus e da Deidade,
particularmente com respeito aos ensinamentos Joseph Smith e
Lorenzo Snow. Geralmente não tenho muita dificuldade em explicar
nossa visão de como, através da expiação, o homem pode vir a
tornar-se como Deus, sendo mais ou menos à semelhança de Cristo.
A este respeito, o cristianismo ortodoxo, um segmento enorme do
mundo cristão, ainda retém a idéia da deificação do homem. A própria
Bíblia ensina que homens e mulheres poderão se tornar “participantes
da natureza divina” (2 Pedro 1:4), “co-herdeiros de Cristo” (Romanos
8:17), e ganhar “a mente de Cristo” (1 Coríntios 2:16), e nos tornar
perfeitos, como nosso Pai que está nos céus é perfeito (veja Mateus
5:48). O apóstolo João declarou, “Amados, agora somos filhos de
Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser: Mas
sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele;
porque assim como é o veremos.” (1 João 3:2). Talvez mais
importante ainda seja o fato que esta doutrina é poderosamente
ensinada em revelação moderna (veja D&C 76:58; 132:19–20).
A questão mais difícil para outros cristãos lidar é a doutrina que foi
estabelecida no sermão de King Follett [28] e nos versos de Lorenzo
Snow [29]—que Deus foi um dia homem. As escrituras dos Últimos
Dias declaram inequivocamente que Deus é um homem, um Homem
de Santidade (veja Moisés 6:57) que possui um corpo de carne e
ossos (veja D&C 130:22). Esses conceitos são claramente parte da
restauração doutrinária. Ensinamos que o homem não é de uma
ordem inferior ou de uma espécie diferente do que Deus. Isto,
evidentemente, faz com que muitos de nossos amigos cristãos se
sintam extremamente nervosos (se não zangados), pois lhes parece
que estamos rebaixando Deus no esquema das coisas e assim
tentando construir uma ponte sobre o precipício que existe entre
Deus/criaturas.
Suponho que tudo que podemos dizer em resposta é que aquilo que
nós sabemos é resultado de revelação moderna e, da nossa
perspectiva, a distância entre Deus e o homem é ainda imensa,
quase infinita. Nosso Pai Celestial é realmente onipotente, onisciente
e, pelo poder de Seu Santo Espírito, onipresente. Ele é um ser
glorificado, exaltado, ressurrecto, “o único supremo ser governante e
independente no qual toda plenitude e perfeição habitam; . . .residem
nele toda boa dávida e todo bom princípio; . . . ele é o Pai das luzes;
nele o princípio de fé habita independentemente, e ele é o objeto no
qual a fé de todos os seres racionais e responsáveis centralizam sua
vida e salvação.” [30] A revelação moderna atesta que o Todo
Poderoso se senta ao trono “com glória, honra, poder, majestade,
força, domínio, verdade, justiça, juízo, misericórdia e plenitude infinita”
(D&C 109:77).
E o que nós sabemos além do fato de que Deus é um homem
exaltado? O que nós sabemos sobre a sua existência mortal? O que
nós sabemos do tempo antes dele ter se tornado Deus? Nada. Nós
realmente não sabemos mais do que aquilo que foi declarado pelo
Profeta Joseph Smith, e isto é bem pouco. Esclarecimentos
concernentes à vida de Deus antes da Deidade não são encontrados
nas obras-padrão, em declarações oficiais ou proclamações, nos
guias atuais, ou em materiais curriculares, nem tampouco exposições
doutrinárias sobre o assunto são feitas durante as conferências gerais
de hoje. Este tópico não é aquilo que chamamos de doutrina central
ou salvadora, uma que deve ser acreditada (ou entendida) para se ter
uma recomendação para o templo ou mesmo para encontrar-se digno
perante a Igreja.
Este último exemplo salienta um ponto importante: um ensinamento
pode ser verdade e ainda assim não ser parte daquilo que é ensinado
e enfatizado na Igreja hoje. Se é verdade ou não, de fato, ele é
irrelevante se realmente os irmãos não o ensinam hoje ou se não é
ensinado diretamente nas obras-padrão ou encontrado no material
curricular aprovado. Observemos uma outra questão: Jesus foi
casado? As escrituras não nos fornecem uma resposta. “Nós não
sabemos nada sobre Jesus Cristo ser casado,” Presidente Charles W.
Penrose declarou. “A Igreja não tem declarações autoritárias sobre
est e assunto.” [31] Então, se Ele foi ou não casado, isto não é parte
da doutrina da Igreja. Seria proveitoso para nós aplicarmos a seguinte
lição do Presidente Harold B. Lee: “Com relação às doutrinas e
significado das escrituras, deixe-me lhe dar um conselho seguro.
Geralmente, não está bem em usar uma única passagem de escritura
[ou, eu acrescentaria, um único sermão] como prova de um ponto da
doutrina, a menos que ela seja confirmada por revelação moderna ou
pelo Livro de Mórmon. . . . É sempre perigoso escolher uma
passagem de escritura para provar um ponto, a menos que seja
[então] confirmada.” [32]

Conclusão
Existe uma sabedoria muito real na qual nós, como Santos dos
Últimos Dias, somos mimados. Foi-nos dado tanto, temos tido tanto
conhecimento despejado dos céus com relação à natureza de Deus,
de Cristo, do homem, do plano de salvação, e do propósito geral da
vida aqui e à glória que teremos depois desta vida, que somos
propensos a esperar ter todas as respostas para todas as questões
da vida. Élder Neal A. Maxwell comentou que as alegrias do
discipulado excedem ao seu peso. Por este motivo, enquanto
estivermos caminhando pelo nosso Sinai, somos nutridos nos oásis
da abundância da Restauração. Nestes oásis, algumas de nossas
primeiras impressões poderão se provar ser mais infantis do que
definitivas . . . Em nossa apreciação, não é de se admirar que
algumas pessoas se enganem com uma árvore em particular
assumindo ser todo o oásis, ou uma piscina particularmente
refrescante e a considerem a totalidade das águas vivas e
transbordantes da Restauração. Portanto, em nossas primeiras
exclamações pode ter havido um tanto de exagero não intencional.
Temos visto e participado de muito; por esta razão, não “podemos
[falar] da mínima parte do que [sentimos]” (Alma 26:16). [33]
Temos muito, com certeza, mas há realmente “muitas coisas
grandiosas e importantes relativas ao Reino de Deus” ainda por vir
(Artigos de Fé 1:9). O Senhor declarou a Joseph Smith em Nauvoo:
“Pois digno-me a revelar a minha igreja coisas que têm sido mantidas
ocultas desde antes da fundação do mundo, coisas pertinentes à
dispensação da plenitude dos tempos” (D&C 124:41; compare com
121:26; 128:18). Como Élder Oaks observou, foi-nos dado muitos dos
mandamentos, mas nem todas as razões do porquê, muitas das
diretrizes, mas nem todas as explicações. Regularmente declaro em
minhas aulas que é importante para nós sabermos aquilo que nós
não sabemos como se fosse para nós sabermos o que sabemos.
Muitas coisas são ensinadas ou discutidas ou mesmo argumentadas
sobre o que cabe no campo de não revelado e portanto, não
resolvido. Tais questões, particularmente se elas não se encaixam
dentro da área da verdade revelada que ensinamos hoje, não
edificam nem inspiram a ninguém. Muitas e muitas vezes elas levam
à confusão e ao semear de discórdia.
Isto, de maneira alguma, significa que não devemos procurar estudar
e crescer e expandir nosso entendimento do evangelho. Pedro
explicou que necessita haver uma razão para a esperança que há
dentro de nós (veja 1 Pedro 3:15). Nosso conhecimento deveria ser
tão apaziguador à nossa mente como calmante ao nosso coração.
Élder Maxwell ensinou que alguns “membros da Igreja sabem apenas
o suficiente sobre as doutrinas para conversar superficialmente sobre
elas, mas seu conhecimento restrito sobre as doutrinas mais
profundas é inadequado para o discipulado mais profundo (veja 1
Coríntios 2:10). Assim sendo, desinformados sobre a doutrina
profunda, eles não conseguem fazer transformações profundas em
suas vidas.” [34]
O Presidente Hugh B. Brown uma vez observou: “Estou
impressionado com o testemunho de um homem que se põe de pé e
diz que sabe que o evangelho é verdadeiro. O que eu gostaria de
perguntar-lhe é ‘Mas, senhor, você conhece o evangelho?’ . . . Um
mero testemunho pode ser adquirido com um conhecimento
mecânico, automático da Igreja e de seus ensinamentos . . . Mas para
reter um testemunho, para estar a serviço na construção do reino do
Senhor, isto requer um estudo sério do evangelho e conhecer o que
ele é.” [35]
Em outra ocasião, Presidente Brown ensinou que nos é requerido
somente “defender aquelas doutrinas da Igreja contidas nas quatro
obras-padrão . . . Qualquer outra coisa dita além disso por qualquer
pessoa representa a sua opinião pessoal e não escritura . . . O único
modo que conheço pelo qual os ensinamentos de qualquer pessoa ou
grupo podem se tornar ligados à igreja é se os ensinamentos foram
revisados por todos os líderes do sacerdócio, submetidos aos sumos
conselhos da igreja,e então aprovados pelos membros da igreja como
um todo.” [36]
Novamente, a questão é do foco, da ênfase—em que gastamos
nosso tempo quando ensinamos o evangelho tanto para Santos dos
Últimos Dias como para outras pessoas que não são da nossa fé.
Há uma razão válida do porquê é difícil “atar” a doutrina dos Santos
dos Últimos Dias, uma que provém da própria natureza da
Restauração. O fato que Deus continua a nos falar através de Seus
servos ungidos; o fato que Ele, através destes servos, continua a
revelar, elucidar, e esclarecer aquilo que já nos foi dado; e o fato de
que o nosso cânone de escrituras é aberto, flexível, e em expansão—
todas estas coisas lutam contra aquilo que muitos no mundo cristão
chamariam de uma teologia sistemática.
É a declaração da doutrina firme e sólida, a doutrina encontrada na
escritura e ensinada regularmente pelos líderes da Igreja, que
constrói a fé e fortalece o testemunho e compromisso com o Senhor e
Seu reino. Élder Maxwell explicou que “obras são importantes assim
como as doturinas, mas as doutrinas podem nos levar a praticar
obras, e o Espírito pode nos ajudar a compreender as doutrinas assim
como nos induzir a fazer as obras.” [37]
Ele também observou que “quando pernas cansadas falham e se
desviam, e as tentações ao longo do caminho nos seduzem, as
doutrinas fundamentais irão evocar de dentro de nós uma nova
determinação. Verdades extraordinárias podem nos levar a
realizações extraordinárias.” [38]
O ensinamento e aplicação da doutrina firme é um grande salvavidas
para nós nestes últimos dias, escudos contra os dardos flamejantes
do adversário. Compreender a verdadeira doutrina e ser fiel a essa
doutrina pode nos manter afastados da ignorância, do erro e do
pecado. O Apóstolo Paulo aconselhou a Timóteo: “Propondo estas
coisas aos irmãos [e irmãs] serás bom ministro de Jesus Cristo,
criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. . . .
Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá” (1 Timóteo 4:6, 13).

Notas:
[1] Holman Bible Dictionary [Dicionário da Bíblia], ed. Trent C. Butler
(Nashville: Holman Bible Publishers, 1991), 374.
[2] Bruce R. McConkie, Mormon Doctrine [Doutrina Mórmon], 2a. ed.
(Salt Lake City: Bookcraft, 1966), 204.
[3] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith
[Ensinamentos do Profeta Joseph Smith], comp. por Joseph Fielding
Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 121.
[4] Boyd K. Packer, in Conference Report [Relatório da Conferência],
abril 1977, 80; ênfase adicionada; cidado a partir daqui como CR.
[5] Boyd K. Packer, in CR, Outubro 1986, 20.
[6] Neal A. Maxwell, One More Strain of Praise (Salt Lake City:
Bookcraft, 1990), x.
[7] Gordon B. Hinckley, Teachings of Gordon B. Hinckley
[Ensinamentos de Gordon B. Hinckley] (Salt Lake City: Deseret Book,
1997), 620.
[8] Smith, Teachings [Ensinamentos], 392.
[9] Joseph F. Smith, Gospel Doctrine [Doutrinas do Evangelho] (Salt
Lake City: Deseret Book, 1971), 9.
[10] Compare com Smith, Teachings [Ensinamentos], 9–10, 61, 327.
[11] Smith Teachings [Ensinamentos], 278.
[12] Smith Teachings [Ensinamentos], 268.
[13] Citado por Neal A. Maxwell, em CR, outubro 1984, 10.
[14] David O. McKay, in CR, abril 1907, 11–12; veja também outubro
1912, 121; abril 1962, 7.
[15] Smith Teachings [Ensinamentos], 89.
[16] McConkie Mormon Doctrine [Doutrina Mórmon], 608.
[17] Bruce R. McConkie, “As Autoridades Gerais são Humanos?”
discurso proferido no Fórum do Instituto de Religião na Universidade
de Utah, 28 de outubro, 1966.
[18] Harold B. Lee, The Teachings of Harold B. Lee [Ensinamentos de
Harold B. Lee], ed. Clyde Williams (Salt Lake City: Bookcraft, 1996),
542.
[19] Brigham Young, Heber C. Kimball, Daniel H. Wells, in Messages
of the First Presidency, comp. por James R. Clark (Salt Lake City:
Bookcraft, 1965–75).
[20] Gordon B. Hinckley, em CR, abril 1992, 77.
[21] Gordon B. Hinckley, “The Continuous Pursuit of Truth,” Ensign,
abril 1986, 5.
[22] Joseph Fielding McConkie, “The Gathering of Israel and the
Return of Christ,” Sexto Simpósio Annual de Educadores Religiosos
do Sistema Educacional da Igreja, agosto 1982, Brigham Young
University, datilografado 3,5.
[23] Veja Richard Mouw, Uncommon Decency (Downers Grove,
Illinois: Inter Varsity Press, 1992).
[24] Dallin H. Oaks, Provo Daily Herald, 5 de junho 1988, 21.
[25] David O. McKay, Hugh B. Brown, N. Eldon Tanner, Mensagem da
Primeira Presidência, janeiro 1970.
[26] Bruce R. McConkie, “The New Revelation on Priesthood,” in
Priesthood (Salt Lake City: Deseret Book, 1981), 132.
[27] M. Russell Ballard, comentários no memorial de Elijah Abel,
relatado no Church News, 5 de outubro, 2002, 12.
[28] Smith, Teachings [Ensinamentos], 345–46.
[29] Lorenzo Snow, Teachings of Lorenzo Snow [Ensinamentos de
Lorenzo Snow], ed. Clyde J. Williams (Salt Lake City: Bookcraft,
1996), 1.
[30] Lectures on Faith (Salt Lake City, Deseret Book, 1985), 2.2.
[31] Charles W. Penrose, “Editor’s Table,” Improvement Era, setembro
1912, 1042.
[32] Lee, Teachings[Ensinamentos], 157.
[33] Neal A. Maxwell, in CR, abril 1996, 94-95.
[34] Neal A. Maxwell, Men and Women of Christ (Salt Lake City:
Bookcraft, 1991), 2.
[35] Hugh B. Brown para Robert J. Matthews, 28 de janeiro de 1969,
citado em Matthews, “Using the Scriptures,” 1981 Brigham Young
University Firesides and Devotional Speeches (Provo, Utah: Brigham
Young University Press, 1981), 124.
[36] Hugh B. Brown, An Abundant Life: The Memoirs of Hugh B.
Brown, ed. Edwin B. Firmage (Salt Lake City: Signature Books, 1988),
124.
[37] Neal A. Maxwell, That My Family Should Partake (Salt Lake City:
Deseret Book, 1974), 87.
[38] Neal A. Maxwell, All These Things Shall Give Thee Experience
(Salt Lake City: Deseret Book, 1979), 4.
Rasgar o Véu da Descrença
Traduzido de Jeffrey R. Holland, "Rending the Veil of Unbelief"
in A Book of Mormon Treasury: Gospel Insights from General
Authorities and Religious Educators (Provo and Salt Lake City:
Religious Studies Center and Deseret Book, 2003), 47-66.

Rasgar o Véu da Descrença


Élder Jeffrey R. Holland

O Élder Jeffrey R. Holland é membro do Quórum dos Doze


Apóstolos

Se pedisse-se a alguns leitores do Livro de Mórmon não muito


sérios que nomeassem a figura principal do livro, as repostas
sem dúvida variariam muito. Pois não é provável que qualquer
registro que relate uma história de mais de mil anos, incluindo
tantas pessoas, tenha um personagem que ao longo de tanto
tempo se destaque como figura principal de tal história. Não
obstante esta limitação, alguns podem talvez relacionar
qualquer dos personagens preferidos ou mais memoráveis, tais
como Mórmon, que condensou o livro e cujo nome aparece na
capa, ou Néfi, o profeta jovem e muito reconhecido do início do
livro, ou Alma a que se dedicou tantas páginas do livro, ou
Morôni, o capitão corajoso que levantou o estandarte da
liberdade, ou seu xará que concluiu o livro e entregou-o mil e
quatrocentos anos depois ao jovem Joseph Smith. Estes, sem
dúvida, estariam entre as pessoas mais mencionadas.
Todas estas repostas são interessantes mas também são
decididamente erradas. A figura principal e mais influente do
Livro de Mórmon, do começo ao fim, é o Senhor Jesus Cristo, de
quem o livro é verdadeiramente “outra testemunha.” Desde a
primeira página, a página de rosto, até a última declaração do
texto, este testamento revela, mostra, examina e destaca a
missão divina de Jesus Cristo conforme constam os relatos
sagrados de duas dispensações do Novo Mundo, relatos estes
escritos para o nosso bem na terceira dispensação do Novo
Mundo, a última e maior de todas as dispensações, a
dispensação da plenitude dos tempos. Este registro sagrado,
escrito por profetas e conservado por anjos, foi escrito com um
propósito crucial, fundamental, eterno e essencial: “para
convencer o judeu e o gentio de que Jesus é o Cristo, o Deus
Eterno, manisfestando-se a todas as nações” (página de rosto
do Livro de Mómon).
Numa visão notável registrada no início do Livro de Mórmon, o
profeta jovem, Néfi, prevê a preparção e distribuição mais tarde
da Bíblia Sagrada, “um registro dos judeus que contém os
convênios do Senhor que Ele fez com a casa de Israel” (1 Néfi
13:23). Mas, de modo alarmante, ele também prevê o abuso e
decimação doutrinária do livro ao passar por muitas épocas e
muitas mãos.
Profetizou-se na sua visão que o registro bíblico seria clara e
sem mancha no meridiano dos tempos, que no começo
“continha a plenitude do evangelho do Senhor” e que
provinham tanto o Velho como o Novo Testamento “na sua
pureza do judeu ao gentio” (1 Néfi 13:24-25). Mas ao longo
dos tempos, tanto por erro inocente como por malícia
proposital, muitos convênios e doutrinas, especialmente os que
enfatizavam os elementos referentes aos convênios “do
Evangelho do Cordeiro,” foram perdidos, e às vezes
simplesmente expungidos, de propósito, “do livro do Cordeiro
de Deus” (1 Néfi 13:26, 28). Infelizmente, estas partes perdidas
eram “claras e preciosas” (1 Néfi 13:28), claras, supomos, na
sua simplicidade, poder e facilidade de ser entendidas e com
certeza preciosas devido ao seu valor profundo, a seu
significado evangélico e a sua importância eterna. Seja qual for
o motivo da perda destas verdades do relato bíblico, aquela
perda resultou na “perversão dos caminhos retos do Senhor. . .
cegando os olhos e endurecendo o coração dos filhos dos
homens” (1 Néfi 13:27). Em uma subestima lamentável, ele
declara que “um grande número tropeça” (1 Néfi 13:29).
Mulheres e homens honestos têm menos informações sobre as
verdades do evangelho e estão menos seguros na salvação de
Cristo do que merecem por causa da perda de verdades
importantes do cânon bíblico que possuímos na atualidade
(vide 1 Néfi 13:21-29).
Mas no Seu amor e conhecimento prévio, o grande Jeová, o
Cristo pré-mortal, prometeu a Néfi e a todos aqueles que
receberam o registro de Néfi que “depois que os gentios
tropeçarem muito por causa das partes claras e preciosas do
evangelho do Cordeiro, as quais foram retidas por aquela igreja
abominável que é a mãe das meretrizes, diz o Cordeiro-serei
misericordioso para com os gentios, naquele dia, tanto que lhes
trarei pelo meu próprio poder muito do meu evangelho, que
será claro e precioso, diz o Cordeiro.
“Pois eis que, diz o Cordeiro: Eu me manifestarei a tua semente,
de modo que ela escreverá muitas coisas que lhe ensinarei, as
quais seráo claras e preciosas. . . .
E nelas será escrito o meu evangelho, diz o Cordeiro, e minha
rocha e minha salvação” (1 Néfi 13:34-36).
Este registro prometido, agora conhecido pelo mundo como o
Livro de Mórmon, junto a “outros livros” que agora existem
devido ao poder revelatório do Cordeiro, “divulgarão as coisas
claras e preciosas que foram suprimidas [da Bíblia], e mostrarão
a todas as tribos, línguas e povos que o Cordeiro de Deus é o
Filho do Pai Eterno e o Salvador do mundo, e que todos os
homens devem vir a ele, pois do contrário não poderão ser
salvos.
“E deverão vir de acordo com as palavras proferidas pela boca
do Cordeiro; e as palavras do Cordeiro tornar-se-ão conhecidas
nos registros de tua semente, assim como nos registros dos
doze apóstolos dos Cordeiro; portanto ambos serão reunidos
num só; porque há um Deus e um Pastor sobre toda a Terra” (1
Néfi 13: 39-41).
Certamente as mais claras e preciosas de todas as verdades
perdidas da Bíblia, principalmente do Velho Testamento, são as
declarações extensivas, inequívocas e claras referentes à vinda
de Cristo e aos elementos essenciais e eternos dos convênios
de seu evangelho que têm sido ensinados em todas as
dispensações a partir de Adão. Portanto o mais alto e mais
sagrado propósito do Livro de Mómon é restaurar à semente de
Abraão a mensagem crucial que declara a divindade de Cristo,
convencendo a todos que lerem suas páginas “com coração
sincero e com real intenção” de que Jesus é o Cristo (Morôni
10:4).
O fato de oitenta por cento deste registro ter passado antes do
nascimento de Cristo, o fato do registro tratar-se de um povo
que de outra maneira seria desconhecido, o fato do livro revelar
observações inspiradoras e doutrinas profundas acerca de Jesus
que não se encontram em outro lugar no cânon bíblico (nem
em todo o mundo cristão) e o fato do Livro de Mórmon afirmar
a veracidade e divindade da Bíblia, desde que seja correta a sua
tradução, são somente alguns dos motivos pelos quais o livro
deve ser considerado o texto religioso mais importante e
notável produzido desde a compilação dos evangelhos do Novo
Testamento, há quase dois milênios. De fato, levando em conta
a perda das coisas claras e preciosas do Novo Testamento, bem
como o Velho Testamento, pode-se dizer que ao restaurar as
verdades bíblicas antigas e ao restaurar dezenas de verdades
novas sobre o Filho Unigênito do Deus Vivente de todos nós, o
Livro de Mórmon e a Bíblia juntos formam a escritura religiosa
mais notável e mais importante já concedida ao mundo em
qualquer época.
O Livro de Mórmon tem muitos propósitos e contém muitos
princípios verdadeiros e motivadores mas um dos propósitos
transcende aos outros em grau e espécie. Este propósito é o de
“convencer o judeu e o gentio de que Jesus é o Cristo” (página
de rosto do Livro de Mórmon).
Uma contribuição muito especial que faz o Livro de Mómon é a
do conhecimento do Cristo pré-mortal. O fato de Cristo ser
Jeová, o Deus de Leí, Néfi e o irmão de Jarede antes de nascer
na terra e o Redentor de Mórmon e Morôni depois de nascer é
uma das mensagens de destaque deste registro.
Nos tempos modernos muitos estudantes da religião têm
encontrado grandes dificuldades em correlacionar a teologia
das divindades do Velho Testamento às que se apresentam no
Novo Testamento. O Livro de Mórmon serve de ponte entre os
dois, não somente em termos de história real, começando
seissentos anos antes de Cristo e terminando quatrocentos
anos depois de Cristo, como também na continuação da
doutrina e na imagem coerente da deidade que ensina ao longo
deste período. Falamos da união das duas varas, a de Judá e a
de José, conforme profetizou Ezequiel, como uma das grandes
dádivas do Livro de Mórmon nos últimos dias (Ezequiel 37:15-
28); porém, creio que é de igual importância notar, ao unir as
duas varas, o papel do Livro de Mórmon em unir o Velho
Testamento e o Novo Testamento de maneira não reconhecida
nem admitida como possibilidade pelas outras tradições
religiosas.

Testemunha Antiga de Cristo


Néfi, Jacó e Isaías (todos os quais viviam e profetizavam antes
de Cristo) aparecem no início do livro para servir de três antigas
testemunhas do Livro de Mórmon, ou para ser mais específico,
três testemunhas especiais de Cristo no Livro de Mórmon, o
que elas são. Porém há muito mais testemunhas no Livro de
Mórmon, quase todas tendo atuado antes do nascimento e
ministério de Cristo na terra.
Amuleque diz a seus concidadãos de Amonia (cerca de 74 A.C.):
“Meus irmãos, penso ser impossível que ignoreis as coisas que
foram ditas concernentes à vinda de Cristo, que ensinamos ser
o Filho de Deus; sim, sei que estas coisas vos foram
amplamente ensinadas antes de vosso afastamento de nós”
(Alma 34:2).
A vinda de Cristo e os detalhes de sua missão e mensagem são
amplamente ensinadas ao longo do Livro de Mórmon. Não é de
se admirar que o livro, na forma que existe hoje, comece com
uma visão de “Um que descia do meio dos céus e [Leí] viu que
seu resplendor era acima do sol ao meio-dia” (1 Néfi 1:9).
Nesta visão do Cristo pré-mortal, acompanhado de mais doze,
apresentou-se um livro, dando ordem a Leí que o lesse. O livro
falou de ”muitas coisas grandes e maravilhosas,” inclusive uma
declaração clara da “vinda do Messias e da redenção do mundo”
(1 Néfi 1:14, 19).
Destas primeiras páginas em diante o Livro de Mórmon fala
continuamente de Cristo antes de seu nascimento na terra,
durante sua jornada entre os judeus e os nefitas e do seu
reinado pós-mortal na eternidade. Embora seus
contemporâneos de Jerusalém tivessem rejeitado a mensagem
dada por Leí, aquele grande profeta, não obstante, continuou a
profetizar do “Messias, ou em outras palavras, o Salvador do
mundo” (1 Néfi 10:4). Leí possuia um conhecimento específico
da vinda de Cristo para o mundo dos mortais inclusive uma
visão detalhada de que o Messias seria morto e “ressuscitaria
dentre os mortos e manifestar-se-ia aos gentios pelo Espírito
Santo” (1 Néfi 10:11).
Se foi uma visão ou algo mais real como o aparecimento
pessoal de Cristo, nós não sabemos, mas Leí obviamente
presenciou manifestações muito especiais com relação ao Filho
de Deus. Pouco tempo antes de sua morte ele testificou aos
filhos: “Mas eis que o Senhor redimiu a minha alma do inferno;
eu contemplei a sua glória e estarei eternamente envolvido
pelos braços de seu amor” (2 Néfi 1:15).
Já nos escritos iniciais de Néfi descobrimos o nome que o
Messias levaria e Néfi logo reconheceu que outros profetas
antigos também sabiam o nome, pois ele escreve: “Pois de
acordo com as palavras dos profetas, o Messias virá seiscentos
anos depois da época em que meu pai deixou Jerusalém; e de
acordo com as palavras dos profetas e também com a palavra
do anjo de Deus, seu nome será Jesus Cristo, o Filho de Deus “
(2 Néfi 25:19).
Jacó, o irmão de Néfi, dá continuação a este conhecimento
dando um testemunho poderoso do panorama de revelação e
do conhecimento quase que universal de Cristo que os profetas
antigos nos deram. Ele escreve:
“Porque para este fim escrevemos estas coisas: para que
tenham conhecimento de que sabíamos de Cristo e tínhamos
esperança em sua glória muitos séculos antes de sua vinda; e
não somente nós tínhamos esperança na sua glória, mas
também todos os santos profetas que viveram antes de nós.
“Eis que eles acrediravam em Cristo e adoravam o Pai em seu
nome; e também nós adoramos o Pai em seu nome. Com este
propósito guardamos a lei de Moisés, que a ele guia nossa
alma; e isso nos é atribuído como retidão, assim como a Abraão
no deserto, a obediência às ordens de Deus de oferecer seu
filho Isaque, o que é `a semelhança de Deus e seu Filho
Unigênito.
“Portanto estudamos os profetas e temos muitas revelações e o
espírito de profecia; e com todos estes testemunhos obtemos
uma esperança e nossa fé torna-se imbalável, de sorte que
podemos verdadeiramente ordenar em nome de Jesus e as
próprias árvores ou as montanhas ou as ondas do mar nos
obedecem” (Jacó 4:4-6).
Naquele espírito corajoso e persuasivo ele roga aos seus
irmãos: “Eis que rejeitareis estas palavras? Rejeitareis as
palavras dos profetas? E rejeitareis todas as palavras que foram
ditas sobre Cristo, depois de tantos haverem falado sobre ele? E
negareis a boa palavra de Cristo e o poder de Deus e o dom do
Espírito Santo? E sufocareis o Santo Espírito e desedenhareis o
grande plano de redenção que foi preparado para vós?” (Jacó
6:8).
Mas logo veio alguém fazendo exatamente estas coisas: Serém,
o primeiro dos anticristos do Livro de Mórmon. Serém declarou
que “não haveria um Cristo” e de todas as formas procurou
“derrubar a doutrina de Cristo” (Jacó 7:2). Sabendo que Jacó
“tinha fé no Cristo que haveria de vir,” Serém com vileza se
esforçou grandemente para enfrentá-lo e desafiá-lo quanto à
prática do que Serém chamava de “pregar aquilo que se chama
evangelho, ou a doutrina de Cristo” (Jacó 7:3, 6). Seus
argumentos se baseavam no racioncínio fraco e previsível de
todos os anticristos, ou seja, que “nenhum homem sabe de tais
coisas, porque não pode falar de coisas futuras” (Jacó 7:7).
Jacó perguntou a Serém: “Crês nas escrituras? E ele disse: Sim.
“E eu disse: Então não as entendes, porque elas
verdadeiramente tesificam de Cristo. Eis que te digo que
nenhum dos profetas escreveu nem profetizou sem ter falado
sobre este Cristo” (Jacó 7:10-11).

O Irmão de Jarede
O nome de um dos maiores profetas do Livro de Mórmon (de
fato pode se argumentar fortemente que era o maior dos
profetas do Livro de Mórmon) não aparece neste registro que
documenta a vida extraordinária de Cristo. Aquele profeta só se
indentifica ao leitor moderno como “o irmão de Jarede.” Mesmo
assim, quase que na anonímia, a revelação que se desdobrou
aos olhos deste homem era tão extraordinária que sua vida e
legado para nós se tornaram sinônimo de fé corajosa e perfeita.
Na disperção que lhes foi requerida na época da Torre de Babel,
o povo de Jarede chegou ao “grande mar que divide as terras”
(Éter 2:13), onde acamparam para esperar mais revelação
referente à travessia do oceano assombrador. Durante quatro
anos esperavam a instrução divina mas, pelo jeito, esperavam
relaxadamente, sem suplicar, sem se esforçar. Aí apresentou-
se-lhes este evento notável:
“E aconteceu, no fim de quatro anos, que o Senhor tornou a
aparecer ao irmão de Jarede; e estava numa nuvem e falou com
ele. E pelo espaço de três horas falou o Senhor com o irmão de
Jarede e repreendeu-o por não se ter lembrado de invocar o
nome do Senhor” (Éter 2:14).
É difícil imaginar como seria uma repreensão do Senhor de três
horas de duração mas o irmão de Jarede a aturou. Com
arrependimento imediato e oração imediata, este profeta mais
uma vez procurou orientação para a jornada que lhes fora
designada e para si mesmos. Deus aceitou seu arrependimento
e carinhosamente concedeu mais direções para esta missão tão
importante.
Para tal travessia oceânica, estas famílias e seus rebanhos
careciam de embarcações bem navegáveis semelhantes aos
barcos que haviam construído anteriormente para atravessar as
águas, embarcações leves e pequenos na forma de vaso, de
desenho idêntico de cima e de baixo para que pudessem boiar
até quando levadas por ondas assombradoras, ou pior ainda,
quando emborcadas. Estes barcos “bem ajustados” [no sentido
de não deixar água infiltrar] (Éter 2:17) eram, obviamente,
embarcações de design sui gêneris e capacidade não limitada
feitas sob a direção d’Aquele quem reina sobre os mares e os
ventos que os impelem para que os barcos pudessem navegar
com a “leveza semelhante à de uma ave sobre a água” (Éter
2:16).
Estes navios eram de design milagroso e de construção
meticulosa. Mas tinham uma limitação principal que parecia
não ter solução. Em tais embaracações tão navegáveis e
estanques, não havia iluminação para os navegadores que
viajavam nelas. Outra vez o irmão de Jarede “clamou ao Senhor,
dizendo: Ó Senhor, eis que fiz conforme me ordenaste; e
preparei os navios para meu povo e eis que neles não há luz. Ó
Senhor, consentirás que cruzemos estas grandes águas na
escuridão?” (Éter 2:22).
Daí veio uma reposta extraordinária e inesperada do Criador do
céu e da terra e de tudo que neles há, sim, Aquele que
ousadamente declarou a Abraão: “Existe algo difícil demais para
o Senhor?” (Gênesis 18:14). “E o Senhor disse ao irmão de
Jarede: Que desejais que eu faça a fim de que tenhais luz em
vossos barcos?” (Éter 2:23).
Então, como se tal indagação cativante da diedade onipotente
não fosse suficiente, o Senhor começa a expor justamente o
mesmo problema que o irmão de Jarede já conhece tão bem.
“E o Senhor disse ao irmão de Jarede: Que desejais que eu faça,
a fim de que tenhais luz em vossos barcos? Porque eis que não
podeis ter janelas, porque seriam despedaçadas; nem levareis
fogo convosco, porque não ireis pela luz do fogo.
“Pois eis que sereis como uma baleia no meio do mar; porque
as altas ondas se quebrarão sobre vós. Não obstante, tirar-vos-
ei novamente das profundezas do mar; porque os ventos
saíram de minha boca e também eu enviei as chuvas e as
inuncações.
“E eis que vos preparo contra essas coisas; porque não podeis
cruzar este grande mar sem que eu vos prepare contra as
ondas do mar e os ventos que saíram e os dilúvios que hão de
vir. Portanto, que desejais que eu prepare para vós, a fim de
que tenhais luz quando estiverdes submersos nas profundezas
do mar?” (Éter 2:23-25).
É óbvio que o irmão de Jarede estava sendo testado. O Senhor
já fez a sua parte de forma milagrosa, profunda e engenhosa. Já
foram providos navios únicos, fortemente navegáveis para
cruzar o oceano. A engenharia brilhante já se fez. A parte mais
dura deste projeto já se terminou. Agora Ele queria saber o que
o irmão de Jarede faria a respeito dos acessórios.
Depois do que foi, sem dúvida, um exame profundo de
consciência e muito pensar, o irmão de Jarde ficou perante o
Senhor, talvez envergonhado mas não com as mãos vazias.
Num tom claramente apologético, ele disse:
“Ó Senhor, tu disseste que seremos envolvidos pelas águas.
Agora ouve, ó Senhor, e não te ires contra teu servo por causa
de sua fraqueza diante de ti; pois sabemos que és santo e
habitas nos céus e que somos indignos diante de ti; por causa
da queda, nossa natureza tornou-se má continuamente; não
obstante, ó Senhore, deste-nos o mandamento de invocar-te,
para que de ti recebamos de acordo com nossos desejos.
“Eis que, ó Senhor, tu nos castigaste devido a nossa iniqü idade
e expulsaste-nos; e durante todos este anos temos estado no
deserto; não obstante, tens sido misericordioso para conosco.
Ó Senhor, tem piedade de mim e afasta deste teu povo tua ira e
não permitas que eles cruzem este furioso abismo na
escuridão; mas olha estas coisas que fundi da rocha” (Éter 3:2-
3).
Coisas! O irmão de Jarede mal sabe o que chamá-las. Pedras
não parece um nome muito inspirador. E estando ao lado do
trabalho magnífico do Senhor, estes barcos oceânicos únicos e
maravilhosos de design impecável, o irmão de Jarede oferece
sua contribuição: pedras. Ao ver os navios lustrosos que o
Senhor providenciou, para ele é um momento de humildade
real.
Ele continua: “E sei, ó Senhor, que tu tens todo o poder e que
podes fazer tudo quanto queiras para o benefício do homem;
portanto, com teu dedo toca estas pedras, ó Senhor, e prepara-
as para que brilhem na escuridão; e elas nos iluminarão nos
barcos que preparamos, para que tenhamos luz enquanto
cruzarmos o mar.
“Eis que, ó Senhor, tu podes fazer isto. Sabemos que és capaz
de mostrar grande poder, o qual parece pequeno ao
entendimento do homem” (Éter 3:4-5).
Apesar da autocrítica, a fé do irmão de Jarede é aparente. De
fato, pode-se dizer transparente neste caso, levando em conta
o propósito destas pedras. Certamente Deus, bem como o
leitor, sente algo marcante na inocência simples e o fervor da fé
deste homem. “Eis que, ó Senhor, tu podes fazer isto.” Pode ser
que não haja uma frase simples de fé tão poderosa proferida
por qualquer homem nas escrituras. É como se ele estivesse
encorajando Deus, fortalecendo-o, assegurando-lhe. Ele não
disse: “Eis que, ó Senhor, acho que podes fazer isto,” nem “Eis
que, ó Senhor, já fizeste coisas maiores que esta.” Por duvidoso
que estivess para consigo si mesmo, ele não tinha nenhuma
dúvida a respeito do poder de Deus. Não há nada aqui senão
uma declaração afirmativa, corajosa e clara sem nenhum
elemento nem traço de vacilação. Ele encorajou a quem não
precisava de encorajamento mas que certamente se compungiu
com isto. “Eis que, ó Senhor, tu podes fazer isto.”

Romper O Véu
O que aconteceu depois disso se destaca como um dos maiores
momentos já registrados na história do mundo, certamente um
dos eventos de fé mais importantes dos já registrados. Este
acontecimento fixou o irmão de Jarede entre os maiores dos
profetas de Deus. O Senhor extende a mão para tocar com seu
dedo as pedras, uma por uma, em virtude da fé dominante do
irmão de Jarede e: “O véu foi tirado dos olhos do irmão de
Jarede e ele viu o dedo do Senhor; e era como o dedo de um
homem, à semelhança de carne e sangue; e o irmão de Jarede
caiu perante o Senhor, porque ficou tomado de medo” (Éter
3:6).
Ao ver o irmão de Jarede cair por terra, o Senhor o mandou
levantar-se e perguntou: “Por que caíste?” (Éter 3: 7).
O profeta replicou: “Vi o dedo do Senhor e temi que me ferisse;
porque não sabia que o Senhor tinha carne e sangue” (Éter 3:8)
Logo se deu esta declaração maravilhosa do Senhor: “Em
virtude de tua fé, viste que tomarei sobre mim carne e sangue;
e nunca ninguém se chegou a mim com uma fé tão grande
como tu; porque se assim não fora, não poderias ter visto o
meu dedo. Viste mais que isso?” (Éter 3:9).
O irmão de Jarede responde: “Não, Senhor, mostra-te a mim”
(Éter 3:10). O Senhor tirou por completo o véu dos olhos do
irmão de Jarede e se mostrou a este homem imbalavelmente
fiel.
Seguiu esta revelação notável do Jeová pré-mortal: “Eis que sou
aquele que foi preparado desde a fundação do mundo para
redimir meu povo. Eis que eu sou Jesus Cristo. Eu sou o Pai e o
Filho. Em mim toda a humanidade terá vida e tê-la-á
eternamente, sim, aqueles que crerem em meu nome; e eles
tornar-se-ão meus filhos e minhas filhas.
“E nunca me mostrei ao homem que criei, porque nunca o
homem creu em mim como tu creste. Vês que foste criado
conforme minha própria imagem? Sim, todos os homens foram
criados, no princípio, a minha própria imagem.
“Eis que este corpo que vês é o corpo do meu espírito; e assim
como te apareço em espírito aparecerei a meu povo na carne”
(Éter 3:14-16).
Antes de examinar as verdades da doutrina que se ensinou
neste encontro divino, será útil notar aqui dois assuntos
aparentemente problemáticos, problemas estes que parecem
ter soluções aceitáveis e razoaveis.
A primeira questão se trata da onisciência de Deus e surge das
duas perguntas que o Senhor faz ao irmão de Jarede ao
desdobrar a visão: “Por que caíste?” e “Viste mais que isso?” É
premissa básica da teologia dos Santos dos Últimos Dias que
“Deus conhece todas as coisas e não há nada que não conheça”
(2 Néfi 9:20). As escrituras, tanto as antigas como as modernas,
estão repletas da afirmação de sua onisciência. Não obstante,
Deus tem feito perguntas com freqü ência aos homens,
geralmente para testar sua fé, medir sua honestidade e permitir
um crescimento maior no seu conhecimento. Por exemplo, ele
perguntou a Adão no Jardim do Éden: “Onde estás tu?” e depois
perguntou a Eva: “O que é isso que fizeste?” (Gênesis 3:9, 13)
embora, como pai onisciente já soubesse a resposta destas
duas perguntas, pois pôde ver onde estava Adão e presenciou o
que Eva fizera. É óbvio que as perguntas são para o bem dos
seus filhos, dando a Adão e a Eva a responsabilidade de
responder honestamente. Mais tarde ao testar a fé de Abraão,
Deus indagou repetidas vezes a respeito do paradeiro de
Abraão ao qual o patriarca fiel respondeu: “Eis-me aqui”
(Gênesis 22:11). O propósito deste evento das escrituras não
era o de fornecer informações a Deus, que já sabia tudo, mas
foi para deixar Abraão reafirmar sua fé firme e sua intenção
inequívoca ao enfrentar o mais difícil dos testes paternos. Este
tipo de pergunta retórica é empregada com freqü ência por
Deus, principalmente ao avaliar a fé, a honestidade e o arbítrio
do homem, dando aos seus “estudantes” a liberdade e a
oportunidade de se expressarem tão abertamente como
quiserem, mesmo que Deus já saiba a resposta a suas próprias
perguntas e às de todas as outras.
A segunda questão que exige um comentário preliminar
baseia-se na exclamação do Senhor: “Nunca ninguém se
chegou a mim com uma fé tão grande como tu; porque se
assim não fora, não poderias ter visto o meu dedo” (Éter 3:9). E
depois: “E nunca me mostrei ao homem que criei, porque nunca
o homem creu em mim como tu creste” (Éter 3:15). A
possibilidade de fazer confusão provém do fato de muitos (na
verdade, supõe-se que todos) do principais profetas que viviam
antes do irmão de Jarede também viram Deus. Como é que se
explica a declaração do Senhor? Podemos descartar as
conversas face a face de Adão com Deus no Jardim do Éden
pois sucedeu no paraíso antes da queda. Ademais, as visões
divinas de outros profetas, tais como as de Moisés e Isaías na
Bíblia e as de Néfi e Jacó no Livro de Mórmon ocorreram depois
desta experiência única do irmão de Jarede. Mas antes do
tempo da Torre de Babel [a época de Jarede], o Senhor apareceu
a Adão e ao restante de sua posteridade reta no Vale de Adão-
ondi-Amã três anos antes da morte de Adão (vide D&C 107:53-
55). E também nos resta o Livro de Enoque que disse
claramente: “Eu vi o Senhor; e ele pôs-se diante de minha face
e falou comigo, sim, como um homem fala com outro face a
face” (Moisés 7:4). Supomos que havia outros profetas que
viveram no período entre a expulsão de Adão e Eva do Jardim
do Éden e a construção da Torre de Babel que também viram
Deus de maneira semelhante, inclusive Noé “que achou graça
aos olhos do Senhor” e que “caminhou com o Senhor” (Gênesis
6:8-9), a mesma frase que se usa para descrever a relação
entre Enoque e o Senhor (vide Gênesis 5:24).
Esta questão tem sido muito debatida pelos escritores Santos
dos Últimos Dias e exsitem várias explicações possíveis e
qualquer delas, ou talvez todas, ilumina uma parte da verdade
desta passagem. Não obstante, sem mais revelação ou
ilucidadção, qualquer conjetura a esse respeito é justamente
conjetura, sim, suposição, e como tal será inadequada e
incompleta.
Uma possível explicação é que este comentário foi feito
simplesmente no contexto de uma dispensação específica e
assim só se aplica aos jareditas e aos profetas jareditas, pois
Jeová nunca antes se revelou a um de seus videntes e
reveladores. Obviamente esta teoria tem limitações severas ao
levar em conta as frases “nunca antes” e “nunca um homem” e
além disso se tem que reconhecer que Jarede e seu irmão são
os pais daquela dispensação, os primeiros daquela época a
quem Deus poderia ter-se revelado.
Outra sugestão é que a referência à palavra homem é a chave
desta passagem, sugerindo que o Senhor nunca se revelou ao
homem natural, mundano, não crente e não santificado. Isso
implica que somente aqueles que deixam o homem natural,
somente aqueles que se mantêm sem mácula do mundo, ou
seja, somente os santificados como Adão, Enoque e agora o
irmão de Jarede têm direito a este privilégio.
Alguns acreditam que o Senhor nesta passagem quer dizer que
nunca antes se revelou de grau tão elevado. Esta teoria sugere
que os aparecimentos divinos aos profetas anteriores não
tiveram a mesma “plenitude” e que nunca antes o véu havia-se
tirado, dando uma revelação tão completa da natureza e
essência de Cristo.
Outra possibilidade ainda é que esta foi a primeira vez que
Jeová apareceu e indentificou-se como Jesus Cristo, o Filho de
Deus. Assim a interpretação da passagem ficaria “nunca me
revelei [como Jesus Cristo] ao homem que criei” (Éter 3:15). Esta
possibilidade se reforça por uma interpretação do comentário
editorial de Morôni: “Tendo este conhecimento perfeito de
Deus, não podia ser impedido de ver além do véu; por isso viu
Jesus; e este ministrou em favor dele” (Éter 3:20).
Mais uma interpretação desta passagem é que a fé do irmão de
Jarede era de tal grandeza que conseguiu ver não somente o
dedo e corpo espirituais do Jesus pré-mortal (que se supõe que
outros profetas também viram) mas também algum aspecto
mais revelador do corpo de Cristo de carne, sangue e ossos. O
significado exato do que o irmão de Jarede pode ter obtido
acerca da natureza de carne e sangue do futuro corpo de Cristo
não está muito claro mas Jeová lhe disse: “Em virtude de tua fé,
viste que tomarei sobre mim carne e sangue” (Éter 3:9). Morôni
disse que Cristo se revelou naquela ocasião “à semelhança do
mesmo corpo com que se mostrou aos nefitas” (Éter 3:17).
Alguns estudiosos acham que isto significa “o mesmo corpo”
literal que os nefitas iriam ver, um corpo de carne e sangue.
Uma colocação mais segura é que se viu pelo menos a
semelhança espiritual exata do seu futuro corpo. Jeová disse:
“Eis que este corpo que ora vês é o corpo do meu espírito; e o
homem foi por mim criado segundo o corpo do meu espírito; e
assim como te apareço em espírito, aparecerei a meu povo na
carne” (Éter 3:16), e Morôni disse: “Jesus se mostrou a este
homem no espírito” (Éter 3:17).
Uma explicação final, que em termos da fé do irmão de Jarede
(que é o que mais interessa nesta discussão) é a mais
persuasiva para mim, é que Cristo estava dizendo: “Nunca me
revelei ao homem desta maneira, sem minha volição, impelido
somente pela fé de quem ora.” De regra geral os profetas são
convidados para entrarem na presença do Senhor por Ele
mesmo, com a sua licença. O irmão de Jarede, por outro lado, é
único, naquela época e hoje, no sentido de ter-se impelido
através do véu não como convidado mas talvez, tecnicamente,
como alguém sem convite, porém bem-vindo. Disse Jeová:
“Nunca ninguém se chegou a mim com uma fé tão grande como
tu; porque se assim não fora, não poderias ter visto o meu
dedo. . . Nunca o homem creu em mim como tu creste” (Éter
3:9, 15). Obviamente o Senhor vinculou esta fé sem
precedentes a esta visão sem precedentes. Se a visão não é
única, então a fé e a forma de que se obteve a visão saõ o que é
de tão notável. O que torna esta fé tão notável é sua capacidade
de levar este profeta sem convite aonde outros só foram como
convidados.
Na verdade isto parece ser o que Morôni entendeu por estas
circunstâncias pois escreve mais tarde: “E devido ao
conhecimento desse homem [que é resultado de sua fé], ele
não podia ser impedido de ver além do véu. . . [não podia ser
mantido por fora do véu].
“Portanto, tendo este perfeito conhecimento de Deus, não podia
ser impedido de ver além do véu; portanto viu Jesus” (Éter)
3:19-20).
Este exemplo lembra perguntas provocanates e hipotéticas
sobre o poder de Deus. Filósofos principiantes às vezes
perguntam: “Pode Deus criar uma pedra tão pesada que ele
mesmo não pode levantá-la?” ou “Pode Deus esconder algo tão
bem que não pode achá-lo depois?” Com muito mais emoção e
importância, podemos perguntar se Deus poderia ter impedido
o irmão de Jarede de ver além do véu. À primeira vista se tende
a dizer: “Certamente Deus poderia bloquear tal experiência, se
quisesse.” Mas pense de novo. Ou, para ser mais exato, leia de
novo: “Este homem . . . não podia ser [mantido por fora do
véu;] . . . não podia ser [mantido por fora do véu]” (Éter 3:19-
20).
Pode ser que este seja um caso absolutamente sem
precedentes de um profeta cuja vontade, fé e pureza se
aproximaram tanto do céu que aquele homem passou além de
só entender Deus e se tornou como Ele, com o mesmo poder de
vontade e fé, pelo menos naquele momento. Que declaração
doutrinária notável sobre o poder de fé de um homem mortal. E
ele não foi um homem inatingível e etéreo de categoria seletiva.
Trata-se de um homem que certa vez havia-se esquecido de
clamar ao Senhor, cujas melhores idéias focalizavam em
pedras, e cujo nome não aparece no livro que tornou imortal
seu feito notável de fé. Dado que tal homem tinha tanta fé, não
é de se admirar que o Senhor tenha-lhe mostrado muito,
inclusive visões relativas à missão do todos os profetas do Livro
de Mórmon e aos acontecimentos da dispensação dos últimos
dias em que o livro seria revelado.
Depois que o profeta entrou além do véu para ver o Salvador do
mundo, não houve limites no que o mundo eterno pudesse-lhe
revelar. De fato, o Senhor lhe mostrou “todos os habitantes da
Terra que já tinham existido e também todos os que viriam a
existir; e não os ocultou de sua vista, mesmo até os confins da
Terra” (Éter 3:5). O poder de retenção de tal experiência foi,
novamente, a fé do irmão de Jarede, pois “o Senhor nada lhe
poderia ocultar, porque ele sabia que o Senhor podia mostrar-
lhe todas as coisas” (Éter 3:26).

Uma Visão Notável


Esta visão de “todos os habitantes da Terra que já tinham
existido e que viriam a existir. . . até os confins da Terra” (Éter
3:25) foi semelhante à visão dada a Moisés e outros profetas
(vide Moisés 1:27-29). No caso do irmão de Jarede, porém, foi
descrita em grandes detalhes e depois selada. Morôni, que teve
acesso ao registro desta visão, escreveu nas suas placas
“precisamente as coisas que o irmão de Jarede viu” (Éter 4:4).
Então ele também as selou e escondeu-as na terra antes de sua
morte e da destruição final da civiliazação nefita. A respeito
desta visão concedida ao irmão de Jarede, Morôni escreveu que
“Nunca foram reveladas coisas maiores do que as que foram
reveladas ao irmão de Jarede” (Éter 4:4).
Aquelas placas seladas constituem a parte selada do Livro de
Mórmon que Joseph Smith não traduziu. Ademais, ficarão
seladas literal e figurativamente até “o dia em que eles
exercerem fé em mim, diz o Senhor, como fez o irmão de
Jarede, para que se tornem santificados em mim, então lhes
revelarei as coisas que o irmão de Jarede viu, esclarecendo-lhes
todas as minhas revelações, disse Jesus Cristo, o Filho de Deus,
o Pai dos céus e da Terra e de tudo que neles há” (Éter 4:7).
A plena medida desta visão sem precedentes e sem igual
(“nunca se revelaram coisas maiores”) ainda está para ser
revelada aos filhos dos homens. Mas considere o que foi
revelado através da experiência do homem que a recebeu,
considere que aconteceu aproximadamente dois mil anos antes
do nascimento de Cristo e considere o que não está contido
atualmente no cânon do Velho Testamento daquela era a
respeito de Jeová e suas caraterísticas verdadeiras. Os vinte e
cinco pontos que seguem são todos provenientes do capítulos
3 e 4 de Éter:
1. Jeová, o Deus da era pré-cristã, foi o próprio Jesus Cristo
pré-mortal já identificado por este nome (vide Éter 3:14).
2. Cristo é tanto o Pai como o Filho no seu relacionamento
divino com os filhos dos homens na Terra (vide Éter 3:14).
3. Cristo foi “preparado desde a fundação do mundo para
redimir seu povo” (Éter 3:14), um fato que já se havia revelado a
Enoque e que mais tarde seria revelado a João o Revelador (vide
Moisés 7:47; Apocalipse 13:8).
4. Cristo tinha um corpo espiritual que se parecia, na sua forma
pré-mortal, com o seu corpo físico “segundo a carne e sangue,”
com dedos, voz, rosto e todas as outras caraterísticas físicas
(Éter 3:6).
5. Cristo ajudou na criação do homem, formando a família
humana “segundo o corpo do meu espítito” (Éter 3:16).
6. Possuído de um corpo de espírito e da divindade de seu
chamado, o Cristo pré-mortal falou audivelmente empregando
palavras e linguagem compreendidas pelos homens mortais
(vide Éter 3:16).
7. Cristo é um Deus, agindo junto a seu Pai e em nome d’Ele,
que também é um Deus (vide Éter 3:14; 4:7).
8. Cristo revela certas verdades a algumas pessoas que devem
ser retidas das outras até o devido tempo, o devido tempo do
Senhor (Éter 3:24).
9. Cristo utiliza um panorama de ferramentas e técnicas para
facilitar a revelação, inclusive o poder interpretativo de “duas
pedras:” o Urim e Tumim (vide Éter 3:23-24; D&C 17:1);
10. Consta-se de forma clara o papel expiador e redentor de
Cristo antes de realizar-se na sua vida terrena. Ademais, de
forma bem-aventurada para o irmão de Jarede, a expiação se
tornou efetiva naquela hora em sua vida bem antes do
nascimento de Cristo. “Eis que sou aquele que foi preparado
desde a fundação do mundo para redimir meu povo,” diz
Cristo. “Em mim toda a humanidade terá vida e tê-la-á
eternamente, sim, aqueles que crerem em meu nome; e eles
tornar-se-ão meus filhos e minhas filhas” (Éter 3:14).
Daí se pronunciou a redenção do irmão de Jarede como se a
expiação já se tivesse realizado. “Por saberes estas coisas, ficas
redimida da queda,” Cristo lhe prometeu, “portanto és
conduzido de volta a minha presença; portanto, mostro-me a
ti” (Éter 3:13).
Esta declaração enfatiza a natureza eterna da expiação cujos
efeitos se extendem tanto a todos aqueles que viveram antes
do nascimento do Salvador como `aqueles que viveram depois.
Todos aqueles que nos tempos do Velho Testamento se
batizaram em nome de Cristo receberam o mesmo direito à
vida eterna que recebeu o irmão de Jarede, mesmo que Cristo
ainda não tivesse nascido. Em questões referentes à expiação
como em todas as outras promessas eternas, “o tempo só é
medido pelos homens” (Alma 40:8).
11. Cristo tinha conhecimento do passado de “todos os
habitantes da Terra que já tinham existido” e conhecimento
futuro de “tudo que viria a existir” e mostrou tudo isso ao irmão
de Jarede (Éter 3:25).
Morôni, ao gravar a experiência do irmão de Jarede, acrescenta
estas idéias e revelações provindas do mesmo encontro:
12. Santos futuros terão que ser santificados em Cristo para
receberem todas as suas revelações (vide Éter 3:25).
13. Para aqueles que rejeitarem a visão do irmão de Jarede, não
serão mostradas por Cristo nenhumas coisas maiores (Éter 4:8).
14. Pela ordem de Cristo “os céus são abertos e fechados,” “a
Terra tremerá,” e “os seus habitantes serão consumidos, sim,
como que por fogo” (Éter 4:9)
15. Aqueles que crerem na visão do irmão de Jarede receberão
manifestações do espírito de Cristo. Devido a tais experiências
espirituais, sua crença se tornará conhecimento e eles “saberão
que estas coisas são verdadeiras” (Éter 4:11)
16. “E tudo quanto persuade os homens a fazerem o bem” vem
de Cristo. O bem não vem senão por meio de Cristo (Éter 4:12).
17. Aqueles que não crerem nas palavras de Cristo, não crerão
n’Ele em pessoa (vide Éter 4:12).
18. Aqueles que não crerem em Cristo não crerão em Deus o
Pai que o enviou (vide Éter 4:12).
19. Cristo é a luz, a vida e a verdade do mundo (vide Éter 4:12).
20. Cristo revelará “maiores coisas” (Éter 4:13), “coisas grandes
e maravilhosas” (Éter 4:15) e conhecimento oculto “desde a
fundação do mundo” (Éter 4:14) para aqueles que romperem o
véu da descrença e se aproximarem d’Ele.
21. Os que crerem devem invocar o Pai em nome de Cristo
“com coração quebrantado e espírito contrito,” para “saberem
que o Pai se lembrou do convênio que fez” com a casa de Israel
(Éter 4:15).
22. As revelações de Cristo a João o Revelador serão
“desdobradas aos olhos dos povos” nos últimos dias na hora
que estiverem prestes a se cumprirem (Éter 4:16).
23. Cristo manda os confins da Terra virem a Ele, crerem no
seu evangelho e se batizarem em seu nome (vide Éter 4:18).
24. Sinais seguirão aqueles que crerem no nome de Cristo (Éter
4:18).
25. Aqueles que forem fiéis ao nome de Cristo nos últimos dias
serãos “levantado[s] para habitar[em] no reino preparado para
ele[s] desde a fundação do mundo” (Éter 4:19).
Em verdade um pedido como aquele que se fez ao irmão de
Jarede é dado a todos aqueles a quem foi enviado este registro
pelo Pai, tanto o gentio como o isrealita. Ao pedir que o leitor
dos últimos dias rompa os limites da fé superficial, Cristo
clama:
“Vinde a mim ó vós, gentios, e mostrar-vos-ei as coisas
maiores, o conhecimento que está oculto por causa da
incredulidade!
“Vinde a mim ó vós, casa de Israel, e ser-vos-á revelado que
coisas grandiosas o Pai vos reservou desde a fundação do
mundo e que não chegaram a vós por incredulidade.
“Eis que quando rasgardes esse véu de incredulidade que vos
leva a permanecer em vosso terrível estado de iniqü idade e
dureza de coração e cegueira de mente, então as grandes e
maravilhosas coisas que vos foram ocultas desde a fundação do
mundo-sim, quando invocardes o Pai em meu nome, com
coração quebrantado e espírito contrito, então sabereis que o
Pai se lembrou do convênio que fez com vossos pais, ó casa de
Israel!” (Éter 4:13-15).
Compreender as revelações, e a Revelação, de Deus contidas no
Livro de Mórmon depende da vontade dos homens e mulheres
de “romperem o véu da descrença” (Éter 4:15). Parece que a
experiência do irmão de Jarede, que se humilhoou devido a sua
falta de ter orado e devido a seu desalento referente às
desesseis pedras, foi incluída justamente para mostrar quão
humano e normal ele era-muito parecido com os homens e
muheres que conhecemos e, em alguns aspectos, como nós
mesmos. Mas sua crença em Deus era sem precedentes. Não
tinha nem dúvida nem limite: “E sei, ó Senhor, que tu tens todo
o poder e que podes fazer tudo quanto queiras para o benefício
do homem; portanto, com teu dedo toca estas pedras, ó
Senhor” (Éter 3:4).
E devido àquela ordem dada ao Senhor, pois parece ser
imperativo, o irmão de Jarede e o leitor do Livro de Mórmon
nunca mais seriam os mesmos. Pessoas comuns com desafios
comuns podem rasgar o véu da incredulidade e entrar nos
reinos da eternidade. E Cristo, que foi preparado desde a
fundação do mundo para redimir seu povo, estará do outro
lado do véu para conduzir a si aquele que crer.
Revelação

Revelação
Élder Dallin H. Oaks

O Élder Dallin H. Oaks é membro do Quórum dos Doze


Apóstolos. Este discurso se fez na assembléia devocional da
Universidade Brigham Young University em 29 de setembro de
1981.
Dallin H. Oaks, “Revelation [Revelação],” Craig K. Manscill,
redator, Sperry Symposium Classics: The Doctrine and
Covenants [Clássicos dos Simpósios Sperry: Doutrina e
Convênios] (Provo, UT: Centro de Estudos Religiosos,
Universidade Brigham Young , 2004), 10–22.

Clássicos dos Simpósios Sperry: Doutrina e Convênios


Redação de Craig K. Manscill

[páginas 10–22]

Revelação
Élder Dallin H. Oaks
O Élder Dallin H. Oaks é membro do Quórum dos Doze
Apóstolos. Este discurso se fez na assembléia devocional da
Universidade Brigham Young University em 29 de setembro de
1981.
A revelação é a comunicação de Deus aos homens. Pode ocorrer
de muitas maneiras diferentes. Alguns profetas, como Moisés e
Joseph Smith, falaram com Deus face a face. Certas pessoas se
comunicaram com anjos. Outras revelações têm vindo, como
descreveu o Élder James E. Talmage, “por meio dos sonhos ao
dormir, ou em visões da mente de quem estava acordado.”1
Nas suas formas mais conhecidas, a revelação, ou inspiração,
vêm por meio de palavras ou pensamentos comunicados à
mente (vide D&C 8:2–3; Enos 1:10), por ilucidação repentina
(vide D&C 6:14–15), através de sentimentos positivos ou
negativos sobre uma ação proposta, e até através de
desempenhos inspiradores como das belas artes. O Presidente
Boyd K. Packer disse: “A inspiração nos vem mais por
sentimento do que por audição.”2
Supondo que os irmãos já conhecem as várias formas de
revelação ou inspiração, resolvi discutir o assunto em termos
de uma diferente classificação, o propósito da comunicação
divina. Pude identificar oito propósitos diferentes provindos da
comunicação de Deus: (1) para testificar, (2) para profetizar, (3)
para consolar, (4) para elevar, (5) para informar, (6) para
restringir, (7) para confirmar e (8) para impelir. Desecreverei
cada um nesta mesma ordem, dando exemplos.
Meu objetivo em sugerir esta classificação e em dar estes
exemplos é o de persuadir cada um dos irmãos a refletir acerca
de suas próprias experiências e a concluir que já recebeu
revelações e que pode receber mais inspiração porque a
comunicação de Deus aos homens e às mulheres é uma
realidade. O Presidente Lorenzo Snow declarou que é um
“grande privilégio todos os Santos dos Últimos Dias. . .
recebermos manifestações do espírito todos os dias de nosso
vida.”3
O Presidente Harold B. Lee ensinou que “todo ser tem o
privilégio de exercer estes dons e prerrogativas ao conduzir
suas atividades, ao criar seus filhos do jeito que se deve, ao
dirigir sua empresa ou ao fazer qualquer outra atividade. É seu
direito receber o espírito de revelação e de inspiração para
fazer o que é certo e para ser sábio, prudente, justo e bom e
tudo que fizer.”4
Ao revisar os seguintes oito propósitos da revelação, espero
que os irmãos reconheçam quanta revelação e inspiração já
receberam e resolvam a cultivar este dom espiritual a fim de
ultilizarem-no com mais freqüência no futuro.
1. O Espírito Santo testifica, ou revela, que Jesus é o Cristo e
que o evangelho é verdadeiro.
Quando o Apóstolo Pedro afirmou que Jesus Cristo era o Filho
do Deus vivo, o Salvador o chamou bem-aventurado, “pois to
não revelou a carne e o sangue, mas Meu Pai, que está nos
céus” (Mateus 16:17). Esta revelação preciosa pode fazer parte
da experiência pessoal de todo aquele que procura a verdade.
Depois de recebida esta revelação se torna uma estrela polar
para guiá-lo em todas as atividades da vida.
2. A profecia é outro motivo ou função da revelação.
Ao falar sob a influência do Espírito Santo, e dentro dos limites
de sua responsabilidade, uma pessoa pode ser inspirada a
predizer o que passará no futuro.
Quem ocupa o cargo de profeta, vidente e revelador profetiza
para a Igreja, como foi o caso quando Joseph Smith profetizou
a respeito da Guerra Civil (vide D&C 87) e predisse que os
Santos seriam um povo poderoso nas Montanhas Rochosas. A
profecia faz parte do chamado de um patriarca. Cada um de
nós também tem, de tempos em tempos, o privilégio de
receber a revelação profética, iluminando os eventos que nos
sucederão no futuro, tal como um chamado na Igreja que
vamos receber. Para citar outro exemplo, depois do nascimento
do nosso quinto filho, minha esposa e eu passamos um tempo
sem ter mais filhos. Depois de mais de dez anos, aflitos,
concluímos que nossa família não ia mais aumentar. Mas um
dia quando minha esposa estava no templo, o Espírito
sussurrou que ela ia ter outro filho. Aquela revelação profética
se cumpriu mais ou menos um anos e meio depois quando
nasceu nosso sexto filho pelo qual havíamos esperado treze
anos.
3. O terceiro propósito da revelação é o de dar consolo.
Tal revelaão veio ao Profeta Joseph Smith no cárcere de Liberty.
Após muitos meses em condições deploráveis, sozinho e
agonizado ele clamou, rogando ao Senhor que se lembrasse
dele e dos santos perseguidos. Chegou a resposta consoladora:
“Meu Filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas
aflições não durarão mais que um momento; e então, se as
suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre
todos os teus inimigos” (D&C 121:7–8).
Naquela mesma revelação o Senhor declarou que não importava
quantas injustiças e tragédias sucedessem ao profeta, “Sabe,
meu filho, que todas essas coisas te servirão de experiência e
seráo para o teu bem” (D&C 122:7).
Cada um de nós sabe de outros exemplos de revelação
consoladora. Alguns já foram consolados por visões de entes
queridos falecidos ou por sentir sua presença por perto. A viúva
de um bom amigo meu me disse que sentia a presença de seu
marido desaparecido, dando-lhe a certeza de seu amor e
anseio por ela. Outros receberam conforto em adaptar-se à
perda de emprego, a perda de um negócio comercial ou até de
seu casamento. Uma revelação de consolo pode também ser
vinculada a uma bênção sacerdotal, ou pelas palavras da
bênçao ou simplesmente pelo sentimento comunicado durante
a bênção.
Outra espécie de consolo é a segurança que se recebe quando
o Senhor perdoa um pecado. Depois de orar fervorosamente
por um dia e uma noite inteiros, um profeta do Livro de
Mórmon registrou que ouviu uma voz que disse: “Perdoados
são os teus pecados e serás abençoado.
"Portanto," Enos escreveu, "minha culpa foi apagada" (vide Enos
1:5-6; vide também D&C 61:2). Esta certeza que vem quando a
pessoa completa os passos do arrependimento dásegurança de
que o preço se pagou, que Deus ouviu o pecador penetente, e
que seus pecados foram perdoados. Alma descreveu aquele
momento como a hora em que "já não foi atormentado pela
lembrança de seus pecados. "E oh, que alegria e que luz
maravilhosa contemplei! Sim, minha alma encheu-se de tanta
alegria. . . . nada pode haver tão belo e doce como o foi a
minha alegria" (Alma 36:19-21).
4. Semelhante ao sentimento de consolo é o quarto propósito
ou função de revelação, o de elevação espiritual.
Às vezes, na vida, cada um de nós precisa ser elevado da
depressão, de sentimentos de incerteza ou de inadequação, ou
simplesmente de estar parado num nível de mediocridade
espiritual. Acredito que a elevação spiritual proveniente da
leitura das escrituras ou de usufruir música saudável, arte ou
literatura é um propósito distinto da revelação, já que elevam
nosso espírito e nos ajudam a resistir o mal e procurar o bem.
5. O quinto propósito da revelação é o de informar.
Pode-se consistir em uma pessoa receber, por inspiração, as
palavras certas para ocasiões específicas, como na bênção
pronunciada por um patriarca ou em sermões ou outras
ocasiões quando se fala sob a influência do Espírito Santo. O
Senhor mandou que Joseph Smith e Sidney Rigdon levantassem
a voz e falassem os pensamentos colocados em seu coração,
"pois naquela mesma hora, sim, naquele mesmo momento, ser-
vos-á dado o que dizer" (D&C 100:5-6; vide também D&C
84:85; D&C 124:97).
Em certas ocasiões sagradas, informações foram transmitidas
em conversação face a face com personagens celestiais, como
nas visões que se encontram nas escrituras antigas e
modernas. Em outras circunstâncias, informações importantes
são comunicadas pelos sussurros calmos do Espírito. Uma
criança perde uma coisa de grande valor sentimental, pede
ajuda através de oração e recebe inspiração para achá-la; um
adulto encontra um problema no serviço, em casa ou na
pesquisa genealógica, ora a respeito e é guiado às informações
necessárias para resolvê-lo; um líder da Igreja ora para saber
quem é que o Senhor quer que ele chame para tal cargo e o
Espírito sussurra o nome. Em todos estes exemplos-conhecidos
por todos nós-o Espírito Santo atua no seu ofício de professor
e revelador, transmitindo informações e verdades para a
edificação e orientação dos que as recebem.
A revelação divina serve para cumprir todos estes cinco
propósitos: testemunho, profecia, consolo, elevação espiritual e
informações. Falei brevemente a respeito deles, dando
exemplos, principalmente das escrituras. Falarei agora em
maiores detalhes dos três propósitos de revelação que restam,
dando exemplos de minha própria experiência.
6. O sexto tipo ou propósito de revelação é o de nos
restringir de fazer certas coisas.
Assim, no meio de um grande sermão em que se explica o
poder do Espírito Santo, de repente Néfi declara: "E agora eu . .
. não posso dizer mais; o Espírito encerra a minha fala" (2
Nephi 32:7). A revelação que refreia é umas das formas mais
comuns de revelação. Muitas vezes vem de surpresa quando
não tínhamos pedido revelação ou orientação acerca de certo
assunto. Mas, se estamos guardando os mandamentos de Deus
e vivendo em harmonia com o Espírito, a força refreadora nos
desviará das coisas que não devíamos fazer.
Uma das minhas primeiras experiências de ser restringido pelo
Espírito me aconteceu logo após o meu chamado de
conselheiro numa presidência de estaca em Chicago. Numa das
primeiras reuniões de presidência da estaca nosso presidente
de estaca apresentou uma proposta de construir a nova sede da
estaca em certo local. De imediato pensei em quatro ou cinco
motivos para não construir naquele lugar. Quando ele pediu
meus conselhos, opus a proposta, explicando o porquê. O
president da estaca sabiamente surgeriu que cada um de nós
orássemos a respeito do assunto por uma semana e o
discutíssemos na próxima reunião. Quase sem prestar atenção
orei sobre o assunto e de imediato recebi uma impressão
fortíssima de que eu estava errado, que estava impedindo a
vontade do Senhor e que não devia mais opor a proposta. é
escusado dizer que fui restringido e logo aprovei a proposta de
construção da sede. A propósito, a sabedoria de construir a
sede da estaca naquele lugar logo se tornou evidente, até para
mim. Meus argumentos ao contrário foram míopes e logo fiquei
grato que fui refreado de depender deles.
Alguns anos atrás peguei a caneta da escrivaninha no meu
escritório na Universidade Brigham Young (BYU) para assinar
um documento que tinha sido preparado para eu firmar, algo
que eu fazia pelo menos uma dúzia de vezes ao dia. Aquele
documento iria obrigar a universidade a seguir uma série de
compromissos em que havíamos concordado. Todo o trabalho
complementar dos meus assessores tinha sido completadod e
tudo parecia estar em ordem.Porém quando fui firmá-lo, enchi-
me de pensamentos negativos e mau agouro de tal modo que o
deixei de lado e pedi que o assunto fosse revisado. Assim
fizemos e dentro de poucos dias revelaram-se mais fatos que
mostraram que o acordo proposto teria causado sérios
problemas para a universidade no futuro.
Outra vez o Espírito veio ajudar-me quando eu redigia um livro
de casos legais. Um livro de casos consiste em centenas de
decisões jurídicas, mais as anotações e textos escritos pelo
redator. Meu assessor e eu havíamos completado quase todo o
livro, inclusive pesquisas necessárias para verificar que as
decisões ainda estavam em vigor. Pouco tempo antes de
mandar o livro à editora, quando eu folheava o manuscrito, um
dos veredictos judiciários me chamou atenção. Ao contemplá-
lo tive uma sensação de inquietação profunda. Pedi ao assessor
para verificar a decisão e ver se tudo estava em ordem. Ele
respondeu que sim, mas em outra revisão do manuscrito
inteiro, outra vez fui parar de novo naquele mesmo caso e senti
grande inquietação. Desta vez eu mesmo fui à biblioteca de
direito e lá descobri entre umas publicações recém chegadas
que o caso havia sido anulado por apelo. Se aquele caso tivesse
sido publicado no livro de casos, eu teria passado vergonha
entre os colegas profissionais. Fui salvo pelo poder refreador da
revelação.
7. Uma forma comum de buscar revelação é a de propor uma
solução e então orar para receber inspiração para confirmá-
la.
O Senhor explicou este tipo de revelação confirmante quando
Oliver Cowdery fracassou na sua tentative de traduzir o Livro de
Mórmon. "Eis que não compreendeste; supuseste que eu
concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me.
"Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua
mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver
certo, farei arder dentro de ti o peito; portanto sentirás que
está certo" (D&C 9:7-8).
De modo semelhante o profeta Alma compara a palavra de
Deus a uma semente e diz às pessoas que estudam o
evangelho que se cederem lugar para plantar a semente no
coração, ela dilatar-lhes-á a alma e iluminará seu
entendimento e se tornará deliciosa para eles (vide Alma 32).
Aquela sensação é a revelação confirmante do Espírito Santo da
veracidade da palavra.
Ao discursar na BYU uns anos atrás sobre o assunto de "Arbítrio
ou Inspiração," O Éder Bruce R. McConkie enfatizou nossa
responsabilidade de fazer tudo dentro de nosso poder antes de
buscar a revelação. Ele citou um exemplo muito pessoal.
Quando ele começou a escolher sua esposa eterna, não
perguntou ao Senhor com quem deveria casar-se. "Saí e achei a
moça que queria," disse ele. "Ela me agradou; . . . me parecia . .
. como se assim devesse ser. . . . [Então] só orei ao Senhor e
pedi orientação e direção referentes à decisão que fiz." [5]
O Élder McConkie resumiu seus conselhos quanto ao equilíbrio
entre arbítrio e inspiração da seguinte maneira: "Espera-se que
usemos os dons, talentos, capacidades e o senso de juízo e
arbítrio com que fomos dotados. . . . Subentende-se que antes
de pedir com fé, é-nos exigido fazer tudo que pudermos por-
nós mesmos para alcançar a meta que buscamos. . . . Devemos
fazer tudo que pudermos e então buscar uma resposta do
Senhor um selo confirmador de que chegamos à conclusão
certa." [6]
Como representante regional tive o privilégio de trabalhar com
quatro membros diferentes do Quórum dos Doze e com outras
autoridades gerais ao procurarmos revelação no chamado de
presidentes de estaca. Todos eles procediam da mesma
maneira. Entrevistavam certas pessoas residentes da estaca-
conselheiros da presidência da estaca, membros do sumo
conselho, bispos e outros que adquiriram experiência especial
na área de administração da Igreja-fazendo-lhes perguntas e
ouvindo seus conselhos. à medida que se faziam as entrevistas,
os servos do Senhor oravam e consideravam cada pessoa
entrevistada e mencionada. Finalmente, chegavam a uma
conclusão preliminar quanto ao novo presidente de estaca. Por
fim levavam a proposta ao Senhor em oração. Se a decisão era
confirmada, se fazia o chamado. Se não, ou se era restringida, a
proposta era posta de lado e se continuava o processo até
chegar a uma nova proposta e até receber a confirmação da
revelação.
Às vezes as revelações confirmantes e restritivas ocorrem
juntas. Por exemplo, durante a gestão na BYU fui convidado
para dar um discurso perante uma associação nacional de
advogados. Já que iria levar muitos dias para prepará-lo, este
era o tipo de convite que eu geralmente negava. Mas ao
escrever a carta de recusa, senti-me restringido. Pausei e
reconsiderei o convite nestas condições e senti a segurança
confirmante do Espírito e então sabia o que devia fazer.
O discurso resultante, "Uma Universidade Privada Encara o
Regulamento Governamental," abriu as portas para um monte
de oportunidades importantes. Fui convidado para repetir o
mesmo discurso perante outros grupos nacionais
proeminentes. Até foi publicado em Vital Speeches [Discursos
Vitais], uma revista professional, e em outros periódicos e livros
e se tornou uma declaração de vanguarda no que se diz
respeito ao interesse de universidades privadas de se livrarem
de regulamento do governo. Também incentivou muitos grupos
religiosos a consultarem com a BYU a respeito da relação
apropriada entre o governo e as faculdades vinculadas a
igrejas. Estas consultas resultaram na formação de uma
organização nacional de faculdades e universidades religiosas
que se tornou uma aliança significativa para opor a
regulamentação ilegal e indevida do governo. Não tenho
nenhuma dúvida, ao refletir neste evento, que aquele convite
que quase recusei foi um daqueles eventos quando uma coisa
que parece insignificante faz uma grande diferença para o bem.
Em ocasiões deste tipo convem receber a orientação do Senhor
e nestas horas a revelação nos virá para ajudar-nos, se
ouvirmos e obedecermos.
8. O oitavo propósito ou tipo de revelação consiste no
Espírito impelir a pessoa a agir.
Este não se trata de um caso em que se propõe certa ação e o
Espírito ou confirma ou restringe. é um caso em que vem a
revelação sem ser pedida e esta revelação nos impele a fazer
algo não contemplado. Este tipo de revelação, naturalmente, é
menos comum que os outros tipos, mas sua raridade a faz mais
expressiva.
Um exemplo disso está registrado no primeiro livro de Néfi.
Antes que Néfi obtivesse os registros preciosos da tesouraria
em Jerusalém, o Espírito do Senhor o mandou matar Labão
quando este jazia bébado na rua. Este ato estava tão longe do
coração de Néfi que ele recuou e lutou com o Espírito, mas foi
ordenado de novo a matar Labão e acabou seguindo a revelação
(vide 1 Néfi 4).
Quem estuda a história da Igreja se lembrará do relato de
Wilford Woodruff de uma inspiração que lhe veio de noite,
dizendo-lhe que afastasse a carruagem e as mulas de uma
grande árvore. Ele o fez e junto com a família e os animais foi
salvo quando trinta minutes mais tarde a árvore caiu por terra
devido a um tornado que passou por perto. [7]
Quando mocinha, minha avó, Chastity Olsen Harris teve uma
experiência semelhante. Ela estava de babá, cuidando de umas
crianças que brincavam no leito de um rio seco perto de sua
casa em Castle Dale, Estado de Utah. De repente ela ouviu uma
voz que a chamou pelo nome e ordenou-a a retirarem as
crianças do leito do rio e subirem para a beira. Estava um dia de
sol e não havia nenum sinal de chuva. Ela não via razão alguma
de obedecer à voz e continuou a brincar. A voz falou-lhe outra
vez com urgência.. Desta vez ela obedeceu à advertência. De
súbito reuniu as crianças e correu à beira do rio temporário.
Justamente no momento que chegaram à beira, uma onda
enorme de água oriunda de uma chuvarada nas montanhas
distantes, desceu o canyon e passou com força por onde as
crianças haviam brincado. Se não fosse esta revelação
impelente, ela e as crianças teriam sido perdidas.
Durante nove anos o Professor Marvin Hill e eu colaboramos no
livro Carthage Conspiracy [Conspiração de Carthage], referente
ao tribunal e assassinato de Joseph Smith em 1845. Tínhamos
várias fontes da ata do tribunal, alguns dos manuscritos
levavam o nome do escrivão e outros não. A ata mais completa
não tinha firma, mas devido ao fato de tê-la achado no
escritório do Historiador da Igreja, tínhamos certeza que eram
da autoria de George Watt, o escrivão oficial da Igreja que foi
mandado a Carthage para gravar os trâmites do processo. Por
isso em sete rascunhos do livro atribuimos a autoria a ele e
analizamos todas as demais fontes baseando-nos naquela
suposição.
Finalmente o livro ficou pronto e dentro de poucas semanas
mandaríamos o manuscrito final à editora. Ao sentar no meu
gabinete na BYU num sábado à tarde, senti-me impelido a
examinar o monte de livros e panfletos ainda não lidos
acumulados na mesa atrás da minha escrivaninha. No fundo de
uma pilha de cinqüenta a sessenta publicações encontrei um
catálogo impresso relacionando o conteúdo do Museu de
Wilford C. Wood, o qual o Professor LaMar Berrett, o autor,
tinha-me enviado fazia um ano e meio. Ao folhear rapidamente
as páginas do catálogo de manuscritos históricos da Igreja, vi
uma página que descrevia o manuscrito da ata do tribunal que
havíamos atruibuido a George Watt. Porém o catálogo contou
que Wilford Wood comprara a ata original no Estado de Illinois e
dera à Igreja a versão dactilografada que obtivemos do
historiador da Igreja.
Visitamos, de imediato, o Museu Wilford Wood em Woods
Cross, Utah, e obtivemos mais informações que confirmaram
que aquela ata que pensávamos ser uma fonte oficial da Igreja,
na verdade fora preparada por um dos advogados que
defendeu o Profeta. Com este conhecimento voltamos ao
escritório do Historiador da Igreja e pudemos localizer pela
primeira vez a ata oficial e muito autêntica do tribunal feita por
George Watt. Este descobrimento fez com que não fizéssemos
um erro grave na indentificação de uma das fontes
documentárias principais e por isso pudemos melhorar de
modo expressivo o conteúdo do livro. A impressão que recebi
naquele dia no meu escritório e um exemplo precioso da forma
de o Senhor nos ajuda nas atividades justas até da nossa
profissão quando somos dignos de receber as impressões de
seu Espírito.
Tive outra experiência especial com a revelação impelente
poucos meses depois de assumir a presidência da BYU. Como
presidente novinho e inexperiente tive que analizar muitos
problemas e fazer muitas decisões. Eu dependia muito do
Senhor. Num dia em outubro fui de carro ao canyon de Provo
para ponderar certo problema. Embora sozinho e sem
interrupções não conseguia pensar no problema. Outro assunto
pendente que eu não estava ainda a fim de considerar queria
entrar na mente à força, o de modificar o calendário letivo da
BYU para completar o semestre de outono antes do Natal.
Depois de dez a quinze minutes de não poder tirar este
pensamento da mente, reconheci o que estava passando. O
assunto do calendário não me parecia urgente e, portanto, eu
não buscava orientação a seu respeito, porém o Espírito queria
comunicar a respeito deste assunto. De imediato, focalizei a
atenção nesta questão e comecei a escrever os pensamentos
num papel. Dentro de poucos minutos escrevi os detalhes de
um calendário letivo de três semestres e suas vantagens
poderosas.
Apressando-me para voltar ao campus, discuti a proposta com
os colegas e estes ficaram entusiasmados. Poucos dias depois a
Junta Diretora aprovou a proposta do novo calendário e
publicamos as datas bem na hora para fazê-las efetivas a partir
do semestre de outono de 1972. Depois daquela época li estas
palavras do Profeta Joseph Smith e reconheci que tive a
experiência que ele descreveu: "Pode-se tirar grande proveito
em reconhecer a primeira impressão do espírito da revelação;
por exemplo, quando se sente a inteligência pura dentro de si,
ela pode, de repente, revelar idéias . . . e assim, através de
aprender acerca do Espírito de Deus e compreendê-lo, pode-se
crescer até adquirir o princípio de revelação." [8]
Acabo de descrever oito propósitos, ou tipos, diferentes de
revelação: (1) testificar, (2) profetizar, (3) consolar, (4) elevar,
(5) informar, (6) restringir, (7) confirmar e (8) impelir. Cada um
deles se refere à revelação que se recebe. Antes de concluir,
apresentarei umas idéias a respeito de revelações que não se
recebem.
Primeiramente, devemos entender aquilo que se chama o
princípio da "responsabilidade quanto à revelação." A casa do
Nosso Pai Celestial é uma casa de ordem onde seus servos são
ordenados a "agir no ofício para o qual for designado" (D&C
107:99). Este princípio se aplica à revelação. Somente o
Presidente da Igreja recebe revelação para guiar a Igreja toda.
Somente o presidente de estaca recebe revelação para a
orientação especial de uma estaca. Quem recebe a revelação
para a ala é o bispo daquela ala. Para a família é a liderança do
sacerdócio da família. O líder recebe revelação para a sua área
de responsabilidade. O indivíduo pode receber revelação para
guiar sua própria vida.
Mas quando alguém alega ter recebido uma revelação para
outra pessoa fora de sua área de responsabilidade-tal qual um
membro da Igreja que alega ter recebido revelação para guiar a
Igreja inteira, ou uma pessoa que alega ter recebido revelação
para alguém sobre o qual não tem autoridade, conforme a
ordem da Igreja-podem ter certeza que tais revelações não são
do Senhor. "São sinais falsificados." [9] Satanás é o grande
enganador e é a fonte de algumas destas revelações não
verdadeiras. Outras são imaginadas.
Se a revelação ocorre fora dos limites de sua responsabilidade
específica , os irmãos sabem que não é do Senhor e não são
obrigados a segui-la. Sei de casos em que um homem fala para
uma mulher que ela deve-se casar com ele porque ele tinha
recebido uma revelação que ela seria sua companheira eterna.
Se esta for revelação verdadeira, será confirmada diretamente à
mulher, se ela procurar saber. Neste meio tempo ela não tem
nenuma obrigação de obedecer. Ela deve procurar sua própria
orientação e fazer sua própria decisão. O homem pode receber
revelação para guiar suas próprias ações mas não pode,
propriamente dito, receber revelação para controlar as ações
dela. Ela está fora de sua jurisdição.
E que tal aquelas vezes que procuramos revelação e não a
recebemos? Nem sempre recebemos inspiração ou revelação
quando a pedimos. Às vezes a resposta demora e às vezes o
Senhor nos deixa seguir nosso próprio juízo. Não podemos
forçar o espírito. Tem que ser assim. O propósito desta vida, o
de obter experiência e desenvolver nossa fé, seria frustrado se
Nosso Pai Celestial dirigisse todos os nossos atos, até os atos
mais importantes. Devemos fazer decisões e arcar com as
conseqüências a fim de desenvolvermos a auto-suficiência e a
fé.
Até nas decisões que achamos muito importantes, às vezes não
recebemos uma resposta a nossas orações. Isso não quer dizer
que nossas orações não fossem ouvidas. Só significa que
oramos a respeito de uma decisão que, por um motivo ou
outro, devemos fazer sem a orientação de revelação. Talvez
tenhamos pedido orientação em escolher entre alternativas que
sejam igualmente aceitáveis ou igualmente inaceitáveis.
Acredito que não há uma resposta certa ou errada para todas as
perguntas. Para muitas perguntas só tem duas respostas
erradas ou duas respostas certas. Deste jeito uma pessoa que
busca orientação sobre qual dos dois caminhos ela deve seguir
para vingar-se de alguém que a ofendeu provavelmente não vai
receber uma revelação. Tampouco uma pessoa que procura
orientação sobre uma escolha que nunca terá que fazer devido
à intervenção de algum evento no futuro, tal como uma nova
alternativa obviatmente mais viável. Certa vez minha esposa e
eu oramos fervorosamente para receber inspiração sobre um
assunto que nos parecia muito importante. A resposta não veio.
Tivemos que proceder segundo nosso próprio juízo. Não
pudemos imaginar por que o Senhor não tinha-nos socorrido
nem com uma confirmção nem uma impressaõ refreadora. Mas
dentro de pouco tempo soubemos que não era mais preciso
fazer a decisão a respeito daquele assunto, pois havia surgido
algo que tornou a decisão desnecessária. O Senhor não nos
guiou em fazer uma escolha que já não importava.
Não é provável que venha uma resposta a quem busca
orientação em escolher entre duas alternativas igualmente
aceitáveis ao Senhor, pois às vezes podemos servir de forma
produtiva em qualquer das duas áreas de atuação. As duas
respostas estão certas. De igual modo, o Espírito do Senhor
provavelmente nãos nos dará revelações acerca de assuntos
triviais. Certa vez numa reunião de testemunhos ouvi uma
mulher louvar a espiritualidade de seu marido, dizendo que ele
apresentava todas as perguntas ao Senhor. Ela contou como ele
a acompanhava ao fazer compras e nem escolheria entre duas
marcas de legumes enlatados sem orar a respeito de sua
escolha. Isto me parece inapropriado. Acredito que o Senhor
espera que usemos a inteligência e a experiência que Ele nos
deu para fazer este tipo de decisão. Quando um membro pediu
conselhos ao Profeta Joseph Smith a respeito de certo assunto,
o Profeta declaraou: "é uma coisa pesada indagar aos pés de
Deus ou entrar na sua presença: e sentimo-nos receosos em
nos aproximar dEle a respeito de assuntos de pouca
importância." [10]
Naturalmente nem sempre podemos julgar o que é trivial e o
que não é. Se o problema parece de pouca importância,
devemos proceder à base de nosso próprio juízo. Se a escolha
for importante, devido a motivos que desconhecemos, como o
foi meu convite para fazer um discurso, a que já me referi, ou a
escolha entre duas latas de legumes. Se uma das latas contiver
veneno, o Senhor intervirá e dar-nos-á inspiração. Se uma
escolha for fazer uma diferença muito importante em nossa
vida-óbvia ou não-e se estivermos em sintonia com o Espírito e
estivermos procurando orientação, podemos ter certeza que
receberemos a inspiração necessária para alcançar nossa meta.
O Senhor não nos deixará desamparados quando a escolha for
importante para nosso bem-estar eterno.

Anotações
[1] James E. Talmage, Articles of Faith[Regras de Fé], 12a
edição. (Salt Lake City: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
últimos Dias, 1924), 229.
[2] Boyd K. Packer, "Prayers and Answers [Orações e
Respostas]," Ensign, novembro de 1979, 19-20.
[3] Lorenzo Snow, em Conference Report [Relatório de
Conferência Geral], abril de 1899, 52.
[4] Harold B. Lee, Stand Ye in Holy Places [Ficai em Lugares
Santos] (Salt Lake City: Deseret Book, 1974), 141-42.
[5] Bruce R. McConkie, "Agency or Inspiration-Which? [Arbítrio
ou Inspiração-Qual deles?]" em Speeches of the Year: BYU
Devotional Addresses 1972-1973 (Provo, Utah: Brigham Young
University Press, 1973), 107, 111.
[6] Vide McConkie, "Agency and Inspiration-Which?" 108, 110,
113.
[7] Vide Matthias F. Cowley, Wilford Woodruff, History of His
Life and Labors [Wilford Woodruff, a História de sua Vida e
Obra](Salt Lake City: Bookcraft, 1964), 31-32.
[8] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith [Os
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith], compilação de Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 151.
[9] Packer, "Prayers and Answers [Orações e Respostas],"
Ensign, November 1979, 19-20.
[10] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints [A História da Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos últimos Dias], redação de B. H. Roberts, 2a edição,
revisada (Salt Lake City: Deseret Book, 1957), 1:339.
Sempre Aprendendo, Sempre Ensinando

Sempre Aprendendo, Sempre Ensinando:


Lições que aprendemos de Joseph F. Smith
David M. Whitchurch

David M. Whitchurch é professor de escrituras antigas da


Universidade Brigham Young.

Quando a mãe de Carole Call King faleceu em 1986, seguido de seu


pai em 1993, [1] ela não fazia ideia da herança escrita que havia
passado para ela. Sendo que ela se envolvia muito na área de
história familiar, ela recebeu os registros genealógicos da família, mas
só três anos depois é que ela soube do significado de tudo que
herdara. De alguma maneira ou outra, o conteúdo de uma das caixas
foi negligenciado. Muito depois, ao examiná-lo, ela descobriu
centenas de cartas escritas para sua bis-avó, Martha Ann Smith
Harris, filha de Hyrum e Mary Fielding Smith. Entre as cartas havia
quase cem escritas para Martha Ann por seu irmão, Joseph F. Smith,
inclusive uma carta escrita em 1854 a partir das Ilhas Sanduíche do
Sul que até continha uma mecha de seu cabelo.
Este colentânea recém descoberta de cartas nos proporciona uma
vista nova e pessoal da vida de um dos líderes iniciais de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e de sua irmã durante uma
época especial da história da Igreja. Após a morte de sua mãe, Mary
Fielding Smith, o elo entre seus filhos solidificou e se manteve, até
certo ponto, por meio de sua correspondência. Sete décadas de
comunicação através de papel e caneta mostram tamanha devoção
entre os filhos de Mary, que expressaram seus sentimentos mais
íntimos, as alegrias, as tristezas, decisões e os acontecimentos de
suas famílias. Sua correspondência nos abre uma visão da riqueza de
entendimento e da natureza carinhosa e pessoal de Joseph F. Smith
e do amor que tinha pela irmã.
A data das cartas começa a partir de 1854, quando Joseph F. Smith
era missionário jovem (de quinze anos) no Havaí, e termina em 1916,
apenas dois anos antes de seu falecimento. Outras cartas de Joseph
F. e Martha Ann foram colecionadas e passadas para a coleção de
Carole King. Até agora, 164 cartas de Joseph F. Smith e 48 de
Martha Ann Smith Harris foram colecionadas e transcritas. A seguinte
tabela é um resumo do local de origem e do número de cartas
enviadas.
Este artigo se trata de um análise de algumas técnicas didáticas de
Joseph F. Smith que se observam nas suas cartas para Martha Ann.
A visão que se tem do impacto das cartas e as categorias e métodos
de ensino é ao mesmo tempo ampla e limitada, limitada porque há
cartas perdidas (especialmente as cartas de Martha Ann Smith
Harris), deixando lacunas, e porque é difícil medir e interpretar
mudanças de comportamento através da correspondência escrita.
Não obstante, o entendimento que adquirimos referente à
personalidade de Joseph F. Smith e ao seu talento como professor
ainda nos proporcionam grande conhecimento quanto a sua
capacidade de ensinar. Apresentaremos primeiro um pouco do
background de Joseph F. Smith e sua irmã Martha Ann, seguido de
um estudo geral a respeito de sua pedagogia. Por fim, alguns
exemplos das próprias cartas serão apresentadas para mostrar o
conhecimento, os senetimentos e os métodos de ensino de Joseph F.
Smith.Uma coleção de cartas tal como esta oferece oportunidades
múltiplas para pesquisadores e historiadores interessados em
compreender melhor a personalidade de Joseph F. Smith dentro do
meio cultural e sociológico da Igreja de Jesus Cristo daquela época. A
coleção inteira de cartas, junto com seu contexto histórico, logo estará
disponível num livro que será lançado de autoria minha e de Richard
Neitzel Holzapfel.
Background de Joseph Fielding (Joseph F.)
Smith
Durante a primavera e verão de 1836, Parley P. Pratt viajou pelos
arredores de Toronto, Província de Ontário, no Canadá para pregar
os evangelho de Jesus Cristo conforme revelado pelo Profeta Joseph
Smith Jr. [2] O Élder Pratt teve sucesso em organizar uma reunião na
casa de um fazendeiro onde muitos vizinhos se reuniram para ouvir
sua mensagem. Entre os participantes estavam um senhor chamado
Joseph Fielding e “suas duas irmãs amigáveis e inteligentes,” Mary e
Mercy. [3]
A pregação do Élder Pratt sobre a Restauração teve êxito, resultando
em vários batismos, inclusive o dos Fieldings. Logo após sua
conversão à Igreja, Mary Fielding se mudou para Kirtland, Estado de
Ohio, onde ela conheceu e logo se casou com o viúvo Hyrum Smith.
A primeira esposa de Hyrum, Jerusha Barden, recém havia falecido,
deixando-o sozinho para cuidar de seus cinco filhos. [4]
A vida de Mary Fielding Smith estava cheia de dificuldades e
provações. No outono de 1838, a perseguição contra a Igreja e seus
membros forçou Hyrum e sua família a se mudar de Kirtland, Ohio,
para Far West, Estado de Missouri. No dia primeiro de novembro,
dois dias depois do massacre de Haun’s Mill, Hyrum, Joseph Smith
Jr. e outros foram presos e encarcerados. Sua prisão durou quase
seis meses em que Mary Fielding deu à luz seu primeiro filho e cuidou
sozinha dos cinco filhos de Hyrum. Joseph F. nasceu em 13 de
novembro de 1838. [5]
Mary passou a maior parte dos próximos quatro meses enfraquecida
e de cama. Em janeiro de 1839, ela viajou até Liberty, Estado de
Missouri [o local da cadeia], na parte traseira de uma carroça para
que ela e seu filho Joseph F. pudessem visitar Hyrum.
A perseguição contínua obrigou Mary a se mudar à cidade de Quincy,
Estado de Illinois, no meio do inverno. Depois da liberação
inesperada de Hyrum do cárcere de Liberty, todos eles deixaram
Quincy e se mudaram para Commerce (Nauvoo), Estado de Illinois
onde desfrutaram de mais cinco anos de respiro parcial. Foi nesta
época de calma relativa que Mary deu à luz sua filha Martha Ann que
nasceu em 14 de maio de 1841, em Nauvoo, Condado de Hancock,
Estado de Illinois.
Na primavera e no verão de 1844 as perseguições contra a Igreja se
intensificaram outra vez. No dia 27 de junho Hyrum e Joseph Smith
Jr. foram martirizados enquanto presos na cadeia de Carthage,
Estado de Illinois. Ao longo dos próximos dois anos, uma série de
eventos levou a outro êxodo por parte dos Santos. Na época de
outono de 1846 Mary e sua família partiram de Nauvoo e se mudaram
a Winter Quarters [Acampamento de Inverno] (vila de Florence),
Estado de Nebraska, onde permaneceram até a primavera de 1848.
Devido às circunstâncias da famílla, pois estavam destituídos a tal
ponto que Joseph F., aos nove anos, teve que dirigir um dos
carroções da família para o oeste na migração dos Santos para o
Vale do Grande Lago Salgado [Great Salt Lake Valley]. [6] Quatro
anos depois de sua chegada, Mary Fielding Smith faleceu devido a
uma doença causada por esgotamento físico e falta de alimentação
adequada.
Um ano e meio depois que Mary Fielding Smith morrera, a vida de
Joseph F. tomou um rumo dramático. Durante a conferência geral de
abril de 1854 o Presidente Brigham Young, ao falar desde o púlpito,
leu a relação dos membros que seriam chamados para fazer missão
a serviço da Igreja. Sem aviso prévio, nem uma noção disso, Joseph
F. ouviu seu nome, sendo chamado para fazer missão nas “Ilhas do
Pacífico.” [7]
Em 13 de abril de 1854, o jornal Deseret News relatou o nome dos
missionários destinados para a Inglaterra, os Estados Unidos, as Ilhas
do Pacífico, a Irlanda e a América Britânica do Norte [Canadá]. O
jornal Deseret News fez a seguinte reprotagem: “As seguintes
pessoas foram designadas e apoiadas por voto unânime para fazer
missão . . . nas Ilhas do Pacífico: Orson Whitney, John Young (filho
de Lorenzo), Washington B. Rodgers, Simpson M. Molen, George
Spiers [sic], Joseph Smith (filho de Hyrum), Silas S. Smith (filho de
Silas), Silas Smith (filho de Asahel), Sextus Johnson, John T.
Caine.” [8]
As dificuldades e desafios da missão de Joseph F. serviram de
campo de treinamento ideal para o serviço que prestaria à Igreja ao
longo de sua vida. Como havíamos mencionado antes, esta jornada
no Pacífico marcou o início do intercâmbio de cartas entre Joseph e
sua irmã. Depois de quase quatro anos nas Ilhas Sanduíche (Havaí)
ele voltou a casa em 1858 e alistou-se na Legião de Nauvoo, um
grupo militar que participava dos esforços da Igreja de frustar a vinda
do exército de Johnston para o Vale do Grande Lago Salgado. [9]
Depois da negociação pacífica entre Brigham Young e o governo dos
Estados Unidos de um tratado de paz, Joseph F. Smith passou a
prestar atenção a outros assuntos, inclusive o casamento. No dia 5 de
abril de 1859, ele se casou com Levina Smith, uma filha de Samuel H.
Smith. Outras esposas seguiram, inclusive Julina Lambson (1866),
Sarah Ellen Richards (1868), Edna Lambson (1871), Alice Ann
Kimball (1883) e Mary Taylor Schwartz (1884). Destes casamentos
nasceram quarenta e oito filhos. [10]
Depois de fazer mais duas missões, uma para as Ilhas Britânicas e
outra de volta às Ilhas Sanduíche, Joseph F. foi chamado por
Brigham Young, aos vinte e sete anos, ao apostolado e foi apoiado
como Segundo Conselheiro da Primeira Presidência. [11] Um pouco
mais de um ano depois, Joseph F. foi designado membro do Quórum
dos Doze Apóstolos. Seu cargo de conselheiro na Primeira
Presidência continuou durante a administração dos Presidentes John
Taylor e Lorenzo Snow. A ratificação de leis anti-polígamas e a
proeminência de Joseph F. Smith fizeram que ele entrasse em exílio
clandestino de agosto de 1884 até a proclamação de anistia pelo
presidente norte-americano Benjamin Harrison em outono de
1891. [12]
Em 17 de outubro de 1901, Joseph F. Smith foi apoiado como
Presidente d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
onde serviu até sua morte aos oitenta anos no dia 19 de novembro de
1918 em Salt Lake City. [13]

Breve Histórico de Martha Ann


Martha Ann Smith nasceu em 14 de maio de 1841, em Nauvoo,
Estado de Illinois. Embora tenhamos menos informações históricas a
respeito dela do que de se seu irmão mais famosos, é certo que ela
padeceu as mesmas tribulações sofridas pelos outros membros da
família, tais como a estada no Acampamento de Inverno e a travessia
da grande planície americana. Depois da morte de sua mãe, Martha
Ann e Joseph F. passaram a morar com uma amiga achegada da
família, Hannah Grinnells, onde ficaram até o falecimento dela um
ano depois. Daí Martha Ann se mudou para a casa de sua tia, Mercy
Fielding Thompson. [14]Logo em seguida Joseph F. recebeu seu
chamado missionário para servir nas Ilhas Sanduíche. Pelo que está
escrito nas cartas de Joseph F. e Martha Ann, parece que Martha Ann
também morou com João, um filho de Hyrum Smith e Jerusha
Barden, antes de se casar.
Heber C. Kimball fez o casamento de Martha Ann, que na época tinha
quinze anos, e William Jasper Harris em 21 de abril de 1857. Dois
dias depois, William saiu para fazer missão na Inglaterra. Martha Ann
se hospedou com sua sogra, Emily Harris Smoot, uma das esposas
do Bispo Abraham O. Smoot. [15] William voltou cedo da missão em
1858 quando todos os missionários foram retirados do campo
missionário devido à preocupação com a possível invasão do exército
de Johnston.
Durante o início do verão de 1859, sucedeu à família Harris uma
tragédia. William foi atingido por um relâmpago ao arar a terra de sua
fazenda em Salt Lake City. Além de suster graves queimaduras, ele
ficou entrelaçado nas rédeas dos cavalos que puxavam o arado e foi
arrastado, inconsciente, pela parelha em pleno estouro. Martha Ann
cuidou dele o máximo possível até sarar, mas William nunca voltou ao
normal e permaneceu muito débil pelo resto da vida.
Oito anos depois do acidente, Martha Ann e William se mudaram a
Provo com seus cinco filhos. Enquanto estavam em Provo tiveram
mais seis filhos. A família Harris passou por muitas dificuldades
financeiras ao longo de sua vida. William teve vários
empregos.Trabalhou de guarda-costas de Brigham Young, fazia
carretos, foi policial e trabalhou de mineiro. [16] Martha Ann muitas
vezes suplementava a renda familiar consturando luvas de couro e
roupas para o templo. [17] William Jasper Harris morreu em 4 de abril
de 1909, sendo atropelado por uma parelha de cavalos. Sua esposa,
Martha Ann, faleceu aos oitenta anos em 19 de outubro de 1923.

O Processo de Transcrição
Manter a facilidade de leitura e uma exatidão apurada eram os
objetivos principais na transcrição da coletânea de cartas de Joseph
F. Smith e Martha Ann Smith. Sempre que possível, a transcrição em
inglês de cada carta mantém a ortografia, pontuação, emenadas,
palavras sublinhadas e rasuras do documento original. Os
transcritores fizeram o mínimo de redação possível, embora haja
umas poucas modificações de pontuação para esclarecer o sentido
de alguns trechos. Para reduzir a distração para o leitor, muitas letras
maiúsculas foram passadas a letras menúsculas. Por exemplo,
Martha Ann Smith Harris escreveu as letras maiúsculas D, F, J, L, M e
S de forma incoerente e encontram-se variações no uso das letras A,
J, L, M e S por parte de Joseph F.. Para fins de facilitar a leitura, os
redatores, a sua discrição, padronizaram o uso destas letras na
versão inglesa.
Usam-se colchetes em branco [ ] para representar um furo, rasgo ou
lacuna na carta. Palavras que iniciam numa linha e terminam noutra
são transcritas como uma palavra só. Usamos parênteses oblíquos <
> para destacar as inserções dos próprios autores originais.
Independente de como aparece na cartas, todos os parágrafos são
indicados de forma padronizada. Usa-se este símbolo [—] para
indicar letras dentro de uma palavra que não se pode decifrar; [o]
para uma letra ilegível na palavra; e “\” indica uma palavra ou série de
palavras ilegíveis.
A Pedagogia de Joseph F. Smith
Depois do falecimento de Mary Fielding Smith, as condições forçaram
Joseph F. a servi às vezes de irmão e às vezes de pai para Martha
Ann. Não é de se admirar que Martha Ann tenha aceito tanto o papel
de filha como o de irmã. Ela escutava os conselhos de Joseph F. de
boa vontade e fazia seu melhor para seguir aquilo que ele
recomendava. Por exemplo, neste extrato de uma carta escrita por
Joseph F. aos dezessete anos a Martha Ann, que tinha quatorze anos
na época, do dia 18 de fevereiro de 1856, ele relata:
Agora permite-me dar-te uns conselhos a respeito de como \ se deve
agir. Bem, o primeiro é: Não procures exaltar-te acima de tuas
colegas, nem procures ser gente fina quando não sabes nada do que
é cultura, mas prossegue firme, mansa e sê humilde e de coração
branda; e ora sempre para que o espírito de Deus resida contigo, pois
digo-te, Martha Ann que o espírito de Deus te ensinará as regras
perfeitas da modéstia porque ele não usa de hipocracia, nem de
desígnios supérfluos, nem nada disso. A disposição de orar,
humildade, perseverança em retidão, diligência e paciência
combinarão para nos aperfeiçoar e nada mais nos capacitará para
alcançar a glória e bênçãos preparadas para os fieis no reino de
Deus.
Apesar de não possuirmos a carta correspondente à de cima, em
muitas ocasiões Martha Ann respondeu de maneira positiva aos
conselhos dele. Numa carta escrita na primavera (provavelmente em
abril) de 1856—logo depois da carta acima, ela escreveu:
Recebi tua carta e fiquei feliz em ler uma carta tão gentil e carinhosa.
Fez-me bem ter lido, como sempre me faz bem ler uma carta tua, pois
sempre aprendo algo de novo que me beneficia. . . . Eu sei o que
queres e me esforçarei ao máximo, conforme meu entendimento. Não
me sinto orgulhosa ao receber teus conselhos e quero que [2] me
aconselhes no que devo fazer porque és mais velho do que eu e tens
passado por mais provações do que eu. Considero de onde vêm teus
bons conselhos e sei que vêm de um irmão que me quer bem e de
quem, mais do que de qualquer outra pessoa do mundo, eu prefiro
receber conselhos.
Ao longo da corresponência de Joseph F. com sua irmã, torna-se
cada vez mais evidente que Martha Ann o considerava um confidente,
conselheiro e mentor. Cada uma destas palavras se refere ao ensino.
Um professor é quem “mostra o caminho, dirige, conduz e guia.” [18]
Podemos adquirir mais entendimento quanto ao papel do professor
ao examinar o vocábulo grego pedagogue, de onde se deriva a
palavra pedagogia. Nos componentes da palavra pedagogue, há pais
que significa “criança” e agoge que significa “guiar para fora.” Ao
combinar estes componentes, o resultado sugere que de início a
pedagogia se tratava da educação de crianças. Um erudito resumiu o
conceito da pedagogia como “um processo definido de
desenvolvimento social e intelectual.” [19]
Quando aplicamos tais definições a Joseph F. Smith, vemos que ele é
um exemplo do professor ideal. Mesmo que ele tivesse recebido uma
educação formal muito limitada e só fosse somente dois anos e meio
mais velho que Martha Ann, a morte de seus pais, a missão e sua
capacidade de comunicar o colocaram no papel de mestre de Martha
Ann. A didática e os princípios de ensino que observamos nas suas
cartas para ela revelam os mesmos princípios abraçados pelos
professores modernos. Os padrões de ensino eficaz não mudam com
o tempo.
Há numerosos estudos que examinam a qualidade do ensino. Em
diferentes épocas as pesquisas foram dirigidas a grupos específicos,
tais como administradores de escolas, professores e estudantes, para
determinar as caraterísticas do professor ideal. Os educadores James
Banner e Harold Cannon relataram: “As caraterísticas que tornam
eficaz o ensino não são nem misteriosas nem exclusivas, sendo
possuídas só por um grupo limitado de professores extraordinários.
São inerentes em todos nós. Não é preciso estudá-las e sim, tornar-
nos cientes delas e aplicá-las. . . . Aquilo que o professor faz é ligado
a quem ele é.” [20]
Pode se dizer isso a respeito de todas as pessoas boas,
independente de seu nível de instrução e da profissão que exerce.
Uma análise bem apurada dos apóstolos e profetas de nossa
dispensação, de Joseph Smith Jr. a Gordon B. Hinckley, revelou que
estes indivíduos tinham a capacidade, como já se falou, de “dirigir,
conduzir e guiar”—em outras palavras, ensinar. Examinamos alguns
estudos que indentificam as qualidades de um bom professor. [21] As
listas compiladas por meio destas pesquisas são, de modo geral,
extensas demais para o objetivo deste trabalho. [22] Nestas
pesquisas também se incluíram itens que não se aplicam ao nosso
estudo, tais como o cálculo justo de notas, ambiente da sala de aula,
participação da classe e adminstração; portanto, eliminamos tais
medidas no que se refere a Joseph F. Smith e Martha Ann Smith
Harris. Criamos uma lista curta das caraterísticas mais importantes,
conforme a maioria dos estudos examinados.
Identificamos as seguintes cinco caraterísticas para aplicar à
correspondência no presente estudo: (1) interesse e amor sinceros
pelas pessoas a que se ensina; (2) a capacidade de motivar; (3) a
capacidade de comunicar eficazmente; (4) respeito no tratamento dos
outros; e (5) conhecimento do assunto.
Importar-se com a Pessoa a que se Ensina e Amá-la com Sinceridade
Helen Keller descreve o seguinte evento em sua autobiografia:
O dia mais importante da minha vida de que me lembro é o dia em
que minha professora, Anne Mansfield Sullivan, me veio. Maravilho-
me ao contemplar o contraste imensurável entre as duas vidas que tal
dia conectou. Sucedeu no dia três de março de 1887, três meses
antes de eu completar sete anos. . . .
Senti os passos aproximarem-se de mim. Estendi a mão, como
supunha, a minha mãe. Alguém a pegou e fui acolhida nos braços
daquela que viera revelar-me todas as coisas e, mais do que qualquer
outra coisa, me amar. [23]
Num discurso na conferência geral de 1999, o Élder Dallin H. Oaks
confirmou a necessidade de importar-se com o aluno. Ele disse: “Um
autor de proeminência nacional escreveu um livro sobre seu melhor
professor. A parte primordial do impacto poderoso e positivo que este
catedrático teve na vida do aluno foi a convicção por parte do aluno
de que o professor realmente se importava com ele e queria que este
aluno aprendesse e fizesse aquilo que o ajudasse a encontrar
felicidade.” [24] Martha Ann encontrou em seu irmão tal professor. Na
seguinte carta que Joseph F. Smith escreveu a sua irmã em 22 de
junho de 1864, ele expressou de forma carinhosa suas saudades de
Hyrum, o filho de dez meses de idade de Martha, e transmitiu o
grande amor que tinha para ela e sua família. A carta foi escrita nas
Ilhas Sanduíche. Joseph F. recém havia voltado ao Havaí para ajudar
o Élder Lorenzo Snow e outros líderes da Igreja a lidarem com um
apóstata, Walter Gibson.
Minha querida irmã Martha Ann:— . . .
Sinceramente espero que o Hyrumzinho esteja melhor. Mal consigo
aturar a ideia dele ter mudado de alguma forma do retrato dele que
está em minha mente. Sempre o vejo reto, gordinho, audacioso, cheio
de ânimo e, de comportamento e tom firmes, dando ordens
importantes que se tem que levar ao sério e que não podem ser
menosprezadas com impunidade por até o mais majestoso de seu
pequeno, porém crescente império! Do jeito que ele fica na fotografia
de minha memória, ele é monarca de tudo que enxerga, não conhece
medo, não há igual. Ele manda e se obedece, ou senão, ai de nós!
Bem, ele é meu ideal de perfeição infantil masculina! de nobreza e
magnanimidade em escala de nenê!!
Como tu bem sabes, amo nenezinhos; interessam-me a partir de dois
meses de idade. Fico pensando, será que Willie e Joseph se
esquecerão de mim, creio que não. Dá um beijinho neles por mim e
dize-lhes que penso neles e oro por eles muito em seguida para que
possam crescer dignos da grande misericórdia daquele cuja imagem
eles refletem com tanta nobreza. Tu tens muita razão em te orgulhar
de teus filhos. Se não forem homens bons, não será culpa tua. O solo
é teu, cuida que não lhe falte cultivo.
Em outra carta escrita em dezembro de 1869, de Salt Lake City,
Joseph F. expressou encorajamento e seu desejo de rever Martha
Ann. Nesta carta ele menciona sua segunda esposa, Sarah, como
quem estava casado havia mais ou menos um ano. Só citamos o
últimos parágrafo:

Martha Ann
Minha querida irmã:— . . .
Sarah está preparando o café da manhã. Falo antecipadamente sobre
amanhã de manhã. Sarah prepara as coisas na véspera e de manhã
consegue fazer o café em quarenta e cinco minutos. Quisera que
pudesses nos visitar para eu saber que vais bem. Estou muito
preocupado contigo e não sei evitar este sentimento, ou, em outras
palavras, mudar o destino. Às vezes me sinto condenado quando
observo as condições comfortáveis de minha família, sabendo que
minha irmã não desfruta de muita coisa. Eu queria que fosse
diferente, mas quem pode transformar a situação? Tem bom ânimo,
minha irmã, algo me sussurra que não será sempre assim contigo e
talvez nem comigo. Sempre há uma esperança brilhante e uma
promessa segura de nosso galardão. Que Deus te abençoe a ti e à
família. Mandar-te-ei umas canetas e papel logo que puder.
Embora só citassemos dois exemplos do amor que Joseph F. tinha
para Martha Ann e sua família, a coleção de cartas oferece ampla
evidência de seu compromisso duradouro para com ela, tanta de
palavras como de ações. As palavras do Rei Benjamim refletem o
exemplo de Joseph F. Smith como pai substituto para Martha Ann,
pois ele obedeceu ao conselho de que os pais devem cuidar de seus
filhos e “ensiná-los a se amarem uns aos outros e se servirem uns
aos outros” (Mosias 4:14–15). Além das expressões de elogio,
encorajamento e amor, a coletânea idica que Joseph F. também dava
ajuda monetária a sua irmã com frequência. Sua boa vontade em
compartilhar com ela era ainda mais notável, levando em conta os
desafios econômicos que ele enfrentava em sustentar sua própria
família grande.
A Capacidade de Motivar e Comunicar com
Eficácia
É difícil avaliar a delineação entre a motivação e a comunicação,
dado que a comunicação eficaz faz parte integral da pedagogia. As
cartas de Joseph F. Smith e sua capacidade de comunicar são de
grande valor em si. Devem-se seu sucesso e sua capacidade de
motivar as pessoas a seu talento de comunicar-se efetivamente [e
pelo fato dele possuir o Espírito Santo].
A motivação se manifesta de muitas formas. Seja dinheiro, prestígio
ou a necessidade de se sentir parte de um grupo, o que motiva nos
leva a uma mudança de comportamento. Tal mudança pode ser
levada a efeito por fatores simples como satisfazer a sede num dia de
verão de muito calor. Quanto vale um copo de água? Isso muitas
vezes depende de quanta sede o freguês em perspectiva tem. O que
nos motiva de forma poderosa a mudar-nos é o amor. As escrituras
declaram com simplicidade: “Se me amardes, guardai meus
mandamentos” (João 14:15). Certo autor disse: “Trabalhamos duro
para caminhar a segunda milha para aqueles que amamos.” [25] As
pesquisas indicam que os alunos que gostam de seus professores
são mais capazes de trabalhar com mais afã e ter um performance
muito melhor do que o dos alunos que não gostam do professor.
Ao respondar à pergunta: “Em que consiste a boa didática?” Robert
Leamnson, autor de Thinking about Teaching and Learning
[Contemplar o Ensino e o Aprendizado], declarou: “Para mim os
elementos principais são exposição e inspiração.” [26] Nas suas
cartas Joseph F. Smith, por inspiração, expunha as áreas em que
Martha Ann precisava melhorar. Não há dúvida quanto ao amor e
compromisso que Martha Ann tinha para seu irmão mais velho. É
impossível medir quanta influência seus conselhos tiveram na vida
dela, mas devido a seu amor para ele, podemos concluir que ela
prestava cuidadosa atenção a seu irmão mais velho e correspondia
da melhor maneira possível. Por exemplo, quando Joseph F. só tinha
dezesseis anos, escreveu a seguinte carta da Ilha de Maui em 28 de
janeiro de 1855 para sua irmã que tinha treze anos na época,
incentivando-a a levar uma vida digna das bênçãos de Deus. Ele lhe
escreveu:
Minha cara e carinhosa irmã Martha.
Tendo acabado de escrever uma carta para Jerusha, pensei em
procurar escrever uma para ti, achando que algumas linhas seriam
proveitosas para ti. Estou bem e de boa saúde. Cresci muito desde a
última vez que me viste e não tenho motivo de duvidar que tu também
tenhas crescido desde que te vi. Se este for o caso tu já deves ser
mulher e suponho que chegaste ao ponto de ser mais alta que suas
irmãs. Agora quero dar-te uns conselhos, se me permitires, que são
os seguintes. Sê humilde e ora sempre; sê bondosa às pessoas e
terás o Espírito do Senhor contigo em todas as horas. O Senhor te
abençoará e te guiará nos passos de sua mãe e serás abençoada em
todas as coisas como ela o foi. Nunca te faltarão as necessidades da
vida se cresceres nos passos de sua mãe que passou adiante. Sê
bondosa a suas irmãs, segue o que elas dizem e não te eleves acima
delas, pois são suas irmãs mais velhas e é para elas te darem
conselhos, como também o é no caso de seus irmãos mais velhos.
Sê bondosa a eles e faze o que pedem e não fiques zangada. Estuda
teus livros e para em casa o máximo possível e não penses que és
menosprezada por não teres os privilégios que muitos têm. Sê sóbria
e ora sempre e crescerás nos passos de sua mãe. Prefiro crescer nos
caminhos de sua mãe a ter todas as riquezas do mundo e ser
descontrolado, mal-educado e não orar, pois se seguires o exemplo
de tua mãe, nunca te faltarão os confortos da vida. Vou fazer-te uma
pergunta. Tu te lembras de alguma vez em que não fomos
sustendados pela mão de nossa mãe? Respondo que nunca se
conheceu tal momento. Pergunta aos que sabem. Eu poderia te dar
muitos conselhos, Martinha, que seriam proveitosos ao longo de sua
vida aqui na terra. Lembra-te do que eu já disse e verás que as coisas
hão de melhorar nos dias que vêm. Devo encerrar por aqui, orando
que o Senhor te abençoe e prospere a todo dia. Por favor escreve-me
tanto quanto puderes e dize-me como vais.
Uma coisa mais. Nunca te desanimes, mas sê se bom ânimo e
alegre; continua a orar e mantém uma atitude sensível e o Senhor te
abençoará.
Esta carta mostra o tremendo amor e estima que Joseph F. sentia
pela irmã, bem como seu reconhecimento dos sacrifícios que ela
havia feito a favor da família. A menção de sua mãe deve ter
comovido a jovem Martha Ann ao enfrentar muitos desafios referentes
a seus irmãos mais velhos, os filhos de Hyrum e Jerusha, e a
incerteza que naturalmente teria acompanhado a perda de seus pais
e a ausência de seu irmão.
Outro meio de motivação provém de compartilhar experiências
pessoais. As histórias tendem a gerar emoções de ternura e carinho
que, por sua vez, nos incentivam a fazer modificações vitais para o
nosso bem. Os propagandistas usam de histórias para criar um
sentimento de aceitação ou de necessidade. Já há muitos anos a
Igreja vem transmitindo vídeo clipes na rádio e televisão que
capturam momentos especiais de família que nos fazem refletir na
importância da família. Os clipes geralmente terminam com a frase:
“A família—está na hora!”
Muitas vezes nas escrituras há histórias que ensinam e motivam. Em
certa ocasião, ao viajar pela Samaria, Jesus parou no local do poço
de Sicar e conversou com uma mulher que havia vindo retirar água
(vide João 4). Durante a conversa com ela, ele disse: “Se tu
conheceras o dom de Deus, e quem é o que diz: Dá-me de beber, tu
lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4:10). Sua conversa levou
ao testemunho pessoal de sua divindade. Muitos dos exemplos que
Jesus ensinava provinham de certas circunstâncias ou de eventos da
vida real, por exemplo, a maldição da figueira (vide Mateus 21:19–
22), a colheita de espigas pelos seus discípulos no sábado (vide
Marcos 2:23–28) e a cura da mulher que tinha uma enfermidade
havia dezoito anos (vide Lucas 13:11–17).
Joseph F. Smith também utilizou eventos de sua época e
experiências pessoais para ensinar a intervenção de Deus em nossa
vida. Tais exemplos provavelmente ajudaram a incentivar Martha Ann
a levar uma vida digna de tais bênçãos. Incluímos dois exemplos
disso em baixo. O primeiro é de uma carta escrita em 17 de abril de
1857, em Lahaina, Ilhas Sanduíche. Aos dezoito anos Joseph F.
comunicou com eloquência a sua irmã de quinze anos de idade duas
experiências pessoais:
Minha querida irmã Martha Ann:—
Não é com sentimentos comuns que me sento hoje de manhã para
responder a sua carta de 17 de dezembro de 1856 que
graciosamente chegou a mim no dia 28 do mês passado. Não tive a
oportunidade de corresponder até agora, devido às viagens para
conferências, etc., que se realizaram nos dias 7, 8 e 9 deste mês.
Passamos uns dias muito agradáveis. Estou bem and forte no
presente momento, apesar de algumas dores que sinto hoje de
manhã devido à falta de sono e ao trabalho intensivo dos últimos três
dias e noites.
Estávamos em oito ao saírmos da Ilha de Lanai na quarta-feira, mas
por causa de fortes ventos contrários fomos obrigados a voltar ao
porto onde dormimos ao ar livre sem nada a não ser uma esteira
fininha que servia de cama e mais uma para cobertor. Nossas
maletas de tecido nos servíam de travesseiro. Ao nascer a lua à uma
hora da noite, voltamos a bordo da pequena embarcação e saímos
rumo a esta ilha. Martha, tu ficarias assustada se pudesses nos ver
jogados pelas ondas do poderoso Oceano Pacífico, quando a cada
momento parecia que a onda ia nos inundar por sua força
assombrosa; sim, se pudesses nos ver num barquinho aberto feito de
tábuas de pinho em alto mar com um trecho de 25 quilômetros para a
frente e menos de um centímetro de espessura entre nós e o
tremendo sepulcro amedrontador onde jazem os corpos de milhares
de pobres seres malfadados que não tiveram a sorte que tivemos.
Quando se está a um centímetro das portas da própria morte, quem é
que pode salvar-nos? Martha, o braço em que confiávamos é aquele
que já resgatou, está sempre disposto a resgatar e sempre resgatará
aqueles que confiarem nele e tiverem fé nele. Portanto, sejamos fieis.
Bem, chegamos aqui às 10 horas da manhã do dia seguinte, depois
da nossa partida. Hoje de manhã alguns dos irmãos partiram para
Wailuku, deixando três de nós aqui neste local. Fui designado para
presidir a conferência de Molokai, que fica a 25 quilômetros daqui em
outra ilha. Como podes ver, terei que atravessar mais um trecho
oceânico antes de chegar a meu campo de trabalho. Quando
chegamos aqui, descobrimos que foi roubado um dinheiro no valor de
US$33,50 proveniente da venda do Livro de Mórmon aos Santos
nativos. Quem o fez não se sabe e não temos como descobrir quem
foi. Estamos realmente angustiados pelo roubo e pelo fato de que a
pessoa que nos tirou este dinheiro, sabendo de nossas condições,
para nós é pior que um assassino! Mas é óbvio que o diabo exerce o
máximo de seu poder para impedir o trabalho que fazemos para a
prosperidade e melhoramento deste povo. Só o próprio Senhor sabe
o que mais acontecerá para impedir esta santa obra. Quem pode
aguentar o que temos que padecer senão os Élderes Mórmons? Não
creio que haja um homem que viva fora do reino de Deus que possa
começar a padecer provações quase insuportáveis e as privações
que enfrentamos por todos os lados e pelas quais temos que passar
todos os dias de nossa vida nestas terras vis. Mesmo assim, tudo isso
é para o nosso bem. Quero regozijar-me, Martha, o dia todo. Sinto-me
alegre e esperançoso, marchando para a frente apesar das
dificuldades que necessito enfrentar, porque sei o que estou fazendo
e por quem estou obrando. Não é como se eu buscasse lucro, ou as
coisas vãs do mundo secular. Quem o faz não consegue se escapar
do desespero se este for sua ideia de progresso [p. 3].—
O entendimento que se adquire através de compartilhar as
experiências e tribulações pessoais pode fortalecer a capacidade de
uma pessoa arcar com as dificuldades da vida. Considerem a
inspiração e o entendimento que a história de Jó, do Velho
Testamento, transmite a seus leitores. Sem uma forma de medir o
impacto das cartas de Joseph F. Smith para Martha Ann, é possível
que nunca reconheçamos o quanto realmente a influenciaram,
contudo as histórias e lições que se encontram nestas cartas não
podem ser desprezadas. O bom ensino requer um investimento de si,
algo do coração. O poder e eficácia das cartas de Joseph F. se
devem, em grande parte, às suas circunstâncias extraordinárias. A
maioria dos professores ao compartilharem tais experiências pessoais
espera incentivar os alunos a se esforçarem para alcançar algo de
mais elevado. Espera-se que as perspectivas adquiridas por Martha
Ann por meio das cartas de seu irmão tenham motivado de forma
semelhante.
Outra carta de Joseph F. nos dá uma visão de como o tempo e a
lembrança do recente falecimento (havia dois meses) de sua filha
primogênita evocam memórias de eventos de sua infância. Joseph F.
tinha trinta e um anos na ocasião e sentia saudades de Mercy
Josephine, filha dele e de Julina Lambson Smith. Mercy Josephine
tinha menos de 10 meses quando morreu:
Nesta capital, dia 6 de agosto de 1870
Martha Ann
Minha querida irmã:— . . .
O tempo está opressivo e a atmosfera abafado e cinzento como se
estivesse impregnado de fumaça, justamente como estava em outros
dias inesquecíveis como no dia 27 de junho de 1944 e nos dias 21 e
22 de setembro de 1852, os dias da morte de nosso pai e da morte e
enterro de nossa mãe. Eu me lembro distintamente deles. Hoje faz
dois meses que nossa querida nenê se reuniu com seu avô e com
sua avó no mundo espiritual, deixando uma lacuna no afeto de meu
coração e um espaço fragmentado que nem o tempo nem a terra
pode satisfazer. Choro a perda mortal do tesouro mais brilhante, mais
puro e mais caro que Deus já me deu, aquela filha que eu mais
apreciava e estimava dentro do grande círculo do maior dom de
Deus, a vida eterna, [p. 2] que é sem par, sendo “tudo em tudo.”
Contudo, como se fosse consolar um pouco meu luto, a cada dia
crescem a doçura, beleza, inteligência e amor que tenho para meu
“broto de roseira” tão precioso, alegre e feliz que florece ainda no
âmago. Ó! no meio da minha tristeza posso dizer: “Agradeço a Deus
meus três meigos e perfeitos presentinhos, um na terra e dois no céu.
E quanto ao foco de meu amor, minha querida “Jode” [apelido de
Josephine], as minhas lágrimas não cessam nunca, porém só
reclamo de minha própria fraqueza e ignorância.
Martha Ann deve ter se comovido ao ler a carta de seu irmão.
Presumivelmente ela escreveu uma carta a Joseph F. falando de sua
preocupação com seus próprios filhos, mas infelizemente a carta não
se encontra em nossa coletânea. Mesmo que não saibamos
exatamente o que Martha Ann lhe escreveu, a resposta está na carta
que ele escreveu em 18 de agosto de 1870:
O Senhor diz que provará seu povo. Tudo que for escória [p. 2] ou
mais cedo ou mais tarde será consumido, pois somente o “ouro”
permanecerá. Espero, pelo bem dos antepassados, pelo nosso bem e
pelo bem dos filhos, que provemos que somos de metal puro. Devo
dizer que o Mormonismo, ou seja, o evangelho em todos os seus
aspectos, está se tornando cada vez mais brilhante dentro de mim e
tornar-se-á ainda mais lustroso à medida que for polido e é certo que
o diabo e seus diabinhos estão decididos a polir-[me]. Há consolo no
fato dos injustos não poderem fazer nada contra e sim a favor da
causa da verdade. A família está bem [fora] alguns casos de diarrea,
mas nada sério. A Julina está muito cautelosa, pois “filha queimada
teme o fogo.” Temos medo de até uma doença leve nesta infante. Ó!
que Deus a poupe por minha causa.
Joseph F. Smith ganhou forças e resolução devido a seu
conhecimento dos princípios do evangelho. Sua fé reflete seu
profundo entendimento. É difícil medir a motivação, especialmente
quando é observada por meio de correspondência pessola escrita há
tanto tempo. Mesmo assim, a paixão e pedidos sinceros de Joseph
F., conforme transmitidos nesta carta, revelam sua compaixão e seu
entendimento de por quê ocorrem o infortúnio e sofrimento. É
possível que nunca saibamos exatamente como as cartas motivaram
e ajudaram Martha Ann a enfrentar as provações de viver na era
pioneira, podemos observar de forma bem clara sua capacidade de
consolar e providenciar novas perspectivas para lidar com os desafios
da vida.
Tratar os Outros com Respeito
Outro componente do ensino eficiente é a capacidade de respeitar
aqueles a quem se ensina. Um professor precisa reconhecer que
muitas vezes se aprende tanto dos alunos quanto se ensina a eles,
isto é, o ensino é uma rua de duas mãos. Um professor eficaz mostra
respeito para os alunos ao escutar e interagir com eles. Parker
Palmer, num ensaio chamado “The Heart of a Teacher: Identity and
Integrity in Teaching” [“O coração do professor: Indentidade e
integridade no ensino”], declarou:
O ensino, como toda atividade verdadeiramente humana, para o bem
ou para o mal, surge do âmago. Ao ensinar, eu projeto a condição da
minha alma nos alunos, na matéria e em nosso convívio. As
confusões que presencio na sala de aula muitas vezes não são mais
nem menos do que a inquietação da minha vida interior. Quando se
enxerga desta perspectiva, o ensino na verdade é um espelho da
alma. Se eu estiver disposto a olhar no espelho e não fugir daquilo
que vejo, terei a oportunidade de adquirir auto-conhecimento.
Conhecer-se a si mesmo é tão importante para o bom ensino como
conhecer os alunos e a matéria. [27]
O Salvador mostrou este princípio ao viajar pela região de Tiro e
Sidom (vide Marcos 7:24–30). Enquanto ele estava lá, uma mulher
não israelita lhe rogou que curasse a filha dela que tinha um espírito
imundo. Jesus lhe respondeu, dizendo: “Deixa primeiro saciar os
filhos; porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos
cachorrinhos” (7:27). Em outras palavras, ele lhe disse que sua
missão não era para os gentios e que não curaria sua filha. Não
satisfeita, a mulher lembrou o Salvador de que até os bichos de
estimação da casa recebem pão da mesa do dono. Depois de ouvi-la,
Jesus curou sua filha. Para que o ensino seja sincero, os alunos
precisam saber que o professor, como o Salvador, escuta e responde
conforme aquilo que ouve. Joseph F. Smith mostrou na seguinte carta
sua disposição de escutar Martha Ann:
Ilhas Sanduíche
14 de junho de 1857. . .
Querida irmã, uma oração curta de tua carta me atingiu como as
poderosas ondas de uma tempestade de oceano! O que foi?— “Sinto
que sou uma pessoa fraca e doentia e não sei por que Deus não te
abençoa, que és muito mais digno que eu, da forma que me
abençoou?”—Martha, não me tentes. Aquela linguagem, embora
simples, fala mais alto que os raios do céu que tu me amas e que
desejas levar uma vida de humildade e oração. Oh! humildade! Quão
belas são as suas influências que profunda sua serenidade e alegria!
Este assunto me domina e me derrete!—Martha, o que tu disseste me
admoestou. Aceito a correção com gratidão embora fosse indireta,
pois quando a li algo me pareceu sussurrar à mente: “Joseph,
compreendes o que lês”? “Que entenda quem lê.” Estes pensamentos
de admoestação me vieram à mente: “Acorda-te e aceita mais
plenamente teu dever!” Agora posso refletir e ver que eu poderia ter
indireitado mais meu caminho e ter sido mais diligente ao
desempenhar o meu dever, mas estes pensamentos logo se afastam
mediante o provérbio voraz: “o tempo que passou nunca mais voltará,
o momento se perde, está perdido para sempre!” Portanto, por que
chorar pelas coisas que não podemos alterar, ou, nas palavras da
querida prima [p. 2] Josephine, por que “lamentar os prazeres já
desbotados e as alegrias que o tempo nunca mais restaurará?” Não
tem jeito, estou totalmente determinado a enfrentar as coisas que
vierem com a marcha imutável do tempo. Desejo dizer: Adeus tempo
fugaz, tempo trabalhador que não espera o preguiçoso. O homem
não pode mandar parar o andamento do tempo, mas pode fazer seu
dever em acelerar a chegada da hora em que toda a criação chegará
ao destino para o qual foi criada.
A leve admoestação de Martha Ann se tornou uma oportunidade
para Joseph F. examinar sua alma e fazer correções em sua própria
vida. O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define respeitar da
seguinte forma: “tratar com reverência ou acatamento; venerar,
honrar.” [28] Um professor efetivo mostra respeito pelos alunos por
meio de escutar e efetuar certas modificações tanto no ensino como
na vida particular. Se professor não tem respeito pelos alunos pode
ser assim por um dos seguintes motivos:
Primeiro, o professor pode erroneamente acreditar que escutar os
comentários dos alunos o fará vulnerável a mais críticas ou que
enfraquecerá o controle da classe.
Segundo, o professor pode estar com medo de revelar suas
fraquezas pessoais aos alunos, pois isso pode provar que os
professores fazem erros também e não têm todas as respostas a
todas as perguntas. Na realidade, porém, as desvantagens de tal
mentalidade excedem os benefícios. Os alunos que veem a
humanidade do professor são mais capazes de reciprocar ao atender
às exigências e expectativas do professor. Parker Palmer nos dá mais
entendimento sobre os professores que abrem o coração para os
alunos:
Quando o bom professor tece o pano que o une aos alunos e
matérias, o coração se torna o tear onde se amarram os fios, se
mantém a tensão, a lançadeira voa e o tecido se faz. Não é de se
admirar, então, que o ensino gere emoções, abra o coração e até
quebre o coração, de fato, quanto mais se ama ensinar mais dolorosa
se torna, às vezes.
Tornamo-nos professores por motivos do coração, animados pela
paixão por certa matéria e pelo desejo de ajudar as pessoas a
aprenderem. . . . A coragem de ensinar é a coragem de manter aberto
seu coração justamente naqueles momentos quando se pede mais ao
coração do que ele pode aguentar e desta forma o professor, os
alunos e a matéria são tecidos, formando o pano exigido pelo
aprender e viver. [29]
Num intercâmbio de cartas sobre o casamento vemos outra carta que
mostra o respeito que Joseph F. tinha pela irmã. No dia 3 de maio de
1857, Martha Ann escreveu uma carta a seu irmão, avisando-o que
ela havia se casado. Faltavam duas semanas para ela completar
dezesseis anos e ela mostrou-se preocupada em como Joseph F.
reagiria:
Querido irmão, há uma notícia que eu quero participar, mas minha
mão treme ao escrevê-la porque escrevo de consciência culpada
perante meu irmão, pois temo que ele sinta que eu o tenha
desprezado. Perdoa-me meu querido irmão. Receio que esta notícia
possa diminuir seu afeto, mas não posso escondê-la mais, preciso
dizer-te que sou casada—com William Harris. Acho que vais te sentir
chocado ao ouvi-la; eu quase fico chocada também ao pensar nisso,
mas é verdade. Agora devo dizer-te o por quê de tudo isso e assim
espero que não me culpes muito. Ele tem passado muito tempo
comigo. John lhe deu licença de entrar no namoro e eu não me
opunha. Comecei a gostar muito dele e ele de mim. Para dizer a
verdade tenho gostado dele já por algum tempo, dois anos no
mínimo, e não consegui focalizar nos estudos, como podes ver
(referindo-se a sua ortografia imperfeita). Meu coração estava jovem
e terna e meu afeto se tornou óbvio. John percebeu, mas eu não falei
nada para ninguém, nem para ti, meu amigo mais íntimo e querido.
Tentei esconder tudo isso, mas apesar disso John soube, pois ele
pôde ver que eu não aprendia muito e ele precisava saber por quê e
acabei contando para ele. John falou com o Irmão Kimball a respeito
disso e este disse que achava que devíamos nos casar antes de
William fazer missão e John concordou que seria melhor assim e que
meu espírito se acalmaria para eu poder voltar aos estudos e
aprender alguma coisa, senão eu não poderia estudar. William foi
receber suas bênçãos [do templo], porém eu ainda não sabia com
certeza se devia me casar antes dele partir. O Irmão Kimball o
mandou buscar-me, dizendo-lhe que seria melhor completar tudo
naquele dia, de forma que ele veio e fui com ele e fomos selados
perante o altar. Ele logo partiu para a Inglaterra para fazer missão,
puxando uma carrocinha de mão pela grande planície. Casamo-nos
numa terça-feira e ele saiu na quinta, de modo que podes ver que não
passei muito tempo com ele e me contento com isso, pois se ele não
fosse embora, eu nem teria dinheiro suficiente para mandar esta carta
e tu ficarias sem saber do meu casamento até voltar da missão. Há
muito tempo que tenho saudades de ti e anseio por sua volta. Ao
voltares, quero que encontres a mesma pessoa que eu era quando
saíste, mas as coisas nem sempre são como o coração humano
deseja. Não obstante sou a mesma pessoa, só que agora sou
casada, mas estarei livre [do papel de dona de casa] por mais três
anos. Meu querido irmão, eu te rogo que me trates como sempre me
tratava, pois, senão meu coração quase que será partido. Dá-me
conselhos e me esforçarei em segui-los. Não sou perfeita, mas ainda
(e sempre) te agradecerei os conselhos e eu não me ofenderei. Se eu
me ofendesse, acho que seria muito tola e precisaria de
admoestação, pois sou muito grata ao pai por ter me dado um irmão
que se importa com o meu bem-estar, porque sei que tu te importas
mais com meu bem-estar do que qualquer outra pessoa nesta terra.
Ó Joseph, queira Deus que eu pudesse expressar os sentimentos tais
como são. Sou grata por tua bondade para comigo. Nunca poderei
esquecer-me de ti, nem por uma hora. Nunca te esqueci desde sua
partida para bem longe de casa. Tenho pensado em ti em todos os
lugares em que eu estivesse, não importando onde.
No dia 14 de junho de 1857, Joseph F. escreveu uma carta a Martha
Ann antes de receber a carta citada em cima. É interessante que
Joseph F., sem saber que Martha Ann havia se casado com William
Harris, escreveu justamente sobre o assunto do casamento. O breve
extrato que se segue nos transmite o espírito da carta:
. . . Estou selado a alguém? Não, não estou. Alguém se casou comigo
para a vida por um voto sagrado? Não, não há ninguém. E por quê?
—Vou te revelar o segredo. Não tenho a vida garantida, a não ser
mediante minha própria bondade e meu próprio mérito. Aí sim, Deus
assegurará minha vida para que eu possa desfrutar de muitas
bênçãos, portanto se Deus me poupar a vida para uni-la à vida de
uma mulher em que haja a intensa luz do fulgor celeste que ilumina e
arde na hora do negror da adversidade e a qual esteja disposta a
compartilhar o humilde destino de um que ama um coração honesto e
humilde, daí direi: Para Deus a glória, porque qual é a hora que é
minha? Que momento pertence somente a mim? Em que hora Deus
dirá: Joseph, exijo tua alma na minha presença—? Posso dizer que
não? Não posso. Então agradeço ao Senhor que nenhuma alma
ainda foi selada a mim. Não, pois sou livre como o ar e assim todas
estão livres de mim. Não quero me amarrar a ninguém [isto ainda em
época de missão] até poder sustentá-la e cuidar dela. Até lá,
escutem, lindas senhoritas, estão livres de mim. Onde não houver
nenhuma promessa não se quebrará o coração. Agora o propósito de
eu dizer tudo isso é que não quero que tu faças nenhum juramento
com ninguém se puderes evitá-lo. . . .
Como será que Joseph F. reagiu ao ouvir a notícia de Martha Ann,
dado que ele não queria que ainda se casasse? A carta que ele lhe
escreveu mostra sua capacidade de respeitar a decisão de Martha
Ann. A seguinte carta foi escrita em 25 de julho de 1857:
Querida irmã Martha Ann:—Recebi tua carta comprida do dia 3 de
maio, faz mais ou menos uma semana, e fiquei muito contente em
ouvir notícias tuas. Fiquei surpreso ao receber a notícia de teu
casamento, mas já que não pude estar aí para participar da festa, só
posso te desejar muita alegria e uma vida feliz. Tu acabas de dar o
passo mais importante de sua vida, ou existência, sob os laços do
evangelho. Por um lado, todos os prazeres sociais, a felicidade de
sua existência atual e as bênçãos de um lar alegre e feliz, bem como
uma posteridade obediente que ama Deus dependem do passo que
acabas de dar, mas, por outro lado, quem não der o passo de forma
certa herderá as misérias e as tristes cenas de descontentamento,
discórida e amarga infelicidade. Fico trêmulo até o íntimo ao pensar
neste assunto tão fascinante, ao olhar ao meu redor e refletir nas
terríveis circunstâncias que ocorrem todos os dias entre os grandes e
letrados, os pequenos e iletrados bem como os ricos e os pobres.
Reflito nas esposas aflitas, nos maridos destraídos, na inveja em
todas as sua formas horríveis, no rancor venenoso da desconfiança
com sua faca da vingança desenbainhada para verter o sangue de
mulheres, maridos e filhos! Recuo com horror desta cena. Parece-me
extremamente curioso como as pessoas entram a todo vapor num
negócio que tanto afetará sua prosperidade e felicidade futuras e, por
outro lado, pode trazer-lhes pesados sofrimentos e um rio de
problemas dos quais é possível que nunca consigam se livrar, —
porém—com todas estas considerçãoes em frente de nós, não é para
nós [da Igreja] como é para o resto do mundo. Nós temos a luz do
evangelho, a influência do Espírito Santo, os ensinamentos dos
profetas e servos de Deus para nos conduzir a todas as verdades e
ensinar-nos nosso dever. Se tu seguistes os conselhos [do servo de
Deus], está tudo bem e serás vitoriosa. Tu agora certamente deixarás
as meninices. Espero que te lembres de teu estado de privilégio e
deixes que suas ações e comportatmento em todas as coisas se
tornem um acervo de respeito, estima e amizadade para ti no coração
de todas as pessoas boas e honestas. Agora queres que eu te diga
como se alcança este resultado desejável?—Só pela oração—com fé
e esperança em Jesus Cristo e seu evangelho. Quem possui seu
lugar no verdadeiro reino de Deus, nunca precisará ter medo.
Ao invés de criticar ou condenar Martha Ann por ter se casado,
Joseph F. mostra sua maturidade por meio de desejar-lhe alegria e
felicidade seguido de conselhos amáveis e gentis. Seu respeito pela
irmã se tornará ainda mais notável se levarmos em conta que ele só
tinha dezoito anos na época que escreveu esta carta. Um professor
eficaz reconhece em que fase da vida estão os alunos e, em vez de
julgá-los com dureza pelas decisões que fizeram, transforma as
circunstâncias da vida em oportunidades de ensinar princípios
corretos. O entendimento da doutrina por parte de Joseph F. Smith,
como vemos na parte final da carta, mostra quanto conhecimento do
evangelho ele havia adquirido, mesmo sendo muito jovem. Ao longo
de sua vida ele usou este conhecimento para beneficiar os outros.

Conhecimento do Assunto
O compromisso de Joseph F. Smith ao aprendizado, ao longo de sua
vida, e seu talento prático de poder compartilhar seu conhecimento
resoam pelas cartas escritas para Martha Ann. Salomão declarou: “A
sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo
que possues na aquisição de entendimento” (Provérbios 4:7). A
segunda parte desta parelha poética sugere que a sabedoria requer
conhecimento. O dicionário confirma esta afirmação, pois a definição
enlclui “conhecimento prático” e “entendimento.” [30]
Poucos iriam descordar que para ensinar, requer-se pelo menos uma
quantia limitada de conhecimento, mas a maioria reconhece que o
ensino eficaz—o ensino que transforma as pessoas—exige a
sabedoria. O Presidente Boyd K. Packer disse: “Há muito tempo que
acredito que o estudo das doutrinas do evangelho transformará o
comportamento das pessoas mais rápido do que falar de
comportamento para que o comportamento melhore.” [31]
Desde o momento que Joseph F. Smith entrou na missão, ele
demonstrou um entendimento precoce da restauração e das suas
verdades; com este conhecimento, ele procurou ajudar os outros
através de efetuar a transformação de sua vida. Embora sua vida
estivesse cheia de dores e dificuldades, ele devia ter se regozijado
em testificar de Jesus Cristo e das verdades do evangelho
restaurado. Com apenas dezesseis anos ele escreveu a seguinte
carta a Martha Ann em 9 de junho de 1855 da Ilha de Maui das Ilhas
Sanduíche:
Minha querida e estimada irmã, Martha Ann. . . .
. . . sê Mómon de todo o coração e serás abençoada. Descobri que
não há nada que possa nos provar tanto como dizer ao mundo que
somos Mórmons. Eu me sinto muito bem. Sou gordo e forte, tenho a
impressão que posso cortar toda a alfafa que tem aí nos vales, mas
não sei como ficaria se eu o tentasse.
Estou pregando, Marty [um dos apelidos dela], e sou bom pregador.
Tu devias ouvir-me, ou minha voz. Tu poderias, naturalmente, se
estivesses aqui nas ilhas. Tivemos uma ótima reunião hoje de manhã
e me designaram para falar, de forma que fiz uma tentativa.
Ao passo que o entusiasmo de Joseph F. e sua capacidade de
ensinar aumentavam, ele também encontrou consolo pessoal em seu
conhecimento e convicção do plano de salvação. Numa carta de 26
de agosto de 1883, ele escreveu de Salt Lake City logo após a morte
de seu filho, Albert Jesse Smith: [32]
Minha querida irmã Martha Ann,
Mais uma vez, sim, agora pela sexta vez, pela vontade inexorável de
uma providência impenetrável, fomos obrigados a perder um dos
mais caros e mais preciosos tesouros.
Desta vez aquele monstro sem piedade, a morte, escolheu para seu
alvo nosso belo, inteligente e querido Albert Jesse. Seu falecimento
ocorreu ontem às 11.35 da manhã, depois de mais ou menos 13 dias
de doença. Estive para fora durante a maior parte deste tempo,
viajando às colônias do norte com o Presidente Taylor. Cheguei a
casa na quinta de manhã, tendo sido chamado de volta e
honravelmente desobrigado pelo presidente. Tive o pesar, e bênção,
de ficar cuidando e atendendo meu querido filhinho por 52 horas,
orando do coração e vertendo muitas lágrimas, mas os céus estavam
como latão e nosso pranto e lágrimas caíram por terra e foram
enterrados hoje na cova com a bela forma sem vida de nosso belo
tesouro! Contudo, nem tudo foi enterrado, pois nosso choro ainda
sobe ao céu: Por que as coisas são assim? Ó Deus, por que teve que
ser? E ainda nossas lágrimas vertem pela terra, não enterrando
nosso remorso e sentimentos, mas dando-nos um pouco de alívio.
Se é que receberemos um galardão no futuro ou próximo ou distante
pelas mágoas de sermos separados, então não quero um galardão
rico no porvir! Não ajuntei já tesouros suficientes nos céus? Sarah
Ella, Mercy Josephine, Heber John, Alfred Jason, Rhoda Ann, e agora
Albert Jesse, todos eles de carinhosos braços abertos, chamando
“Papai,” do outro lado do véu. Que reunião feliz me espera! E confio
que naquela multidão redimida que não haverá quem me encontre
com mais calor humano do que nosso pai, nossa mãe, Hyrum, Mary
(que desconhecíamos), Sarah, [33] e Lavina, [34] e os hostes de
parentes falecidos que, sendo “mortos porém vivos,” já provaram as
águas vivas de Cristo e morreram na fé dele. A maior parte das entes
queridas está além do véu e os laços que nos levam para lá estão se
tornando mais fortes que aqueles que nos prendem aqui. Mas eu vejo
meu rebanho que depende de mim para o sustento de cada dia,
mesmo não havendo, mas confiando na providência divina e
dependendo da minha vida mortal para ajuda e proteção, faço esta
oração sincera: Ó! Deixa-me permanecer aqui mais um pouco para
combater os males e os altos e baixos da vida pelo amor deles. Se
não fosse isso, agora, quando minha alma se enche de dor pungente,
eu preferiria ir a ficar. Ao mesmo tempo sinto que não sou bom o
suficiente nem para ir nem para ficar. Nem sempre é fácil reconhecer
a mão de Deus em todas as coisas. Mesmo assim, eu o farei e meu
coração dirá: “Mesmo que Ele me mate, confiarei nele,” [35] pois “o
Senhor dá e o Senhor retira, abençoado seja o nome do
Senhor.” [36] Prefiro ter passado pelas cenas dois últimos dias, por
dolorosas que sejam para meu coração e para a alma, a nunca ter
conhecido meu precioso filho. Nosso objetivo não pode ser mais
elevado nem nobre do que aspirar a ser digno de uma união eterna
como estas almas amáveis, confiantes, inocentes e puros com que
Deus me abençoou mesmo por períodos de tempo tão curtos, mas
tão felizes. Que Deus me ajude a ser digno delas. Joseph
Naturalmente qualquer pai ou mãe sente a perda e a dor que
acompanham a morte de um filho. No caso desta tragédia de Joseph
F. Smith, seu conhecimento do evangelho lhe proporcionou
esperança e a resolução de levar uma vida digna para que ele
pudesse ser reunido com seus familiares na vida vindoura. Há poucos
aspectos do evangelho que são mais importaantes do que isso. Não
sabemos como Martha Ann reagiu a esta expressão de mágoa e dor
por parte de seu irmão, mas podemos supor que ela também sentiu a
mesma tristeza e determinação esperançosa de viver de forma digna
de uma reunião eterna.

Conclusão
O talento pedagógico de Joseph F. Smith nos dá um exemplo ideal do
que pode e deve ser um professor. Conforme já se explicou em cima,
os padrões de ensino eficaz não mudam com o tempo. Tratamos de
um número limitado de técnicas e caraterísticas do bom ensino e as
cartas de Joseph F. Smith confirmam sua capacidade de ensinar,
como vemos pelos seus esforços de orientar, guiar e instuir Martha
Ann no seu progresso espiritual, social e intelectual. Suas cartas
claramente mostram a profundidade de seu conhecimento do
evangelho, tanto como sua capacidade de amar, respeitar, motivar e
comunicar com eficácia ao longo de sua correspondência com sua
irmã, Martha Ann.
A melhor explicação do ensino bem-sucedido de Joseph F. Smith
talvez seja o simples fato dele ser uma pessoa bem-sucedida que
amava a Deus e fazia tudo ao seu alcance para abençoar as pessoas
ao seu redor. Não se espera nada menos de quem é discípulo de
Jesus Cristo. Esta admoestação a respeito do ensino dada pelo Élder
Jeffrey R. Holland nos lembra de nosso dever de sermos professores
eficientes:
Agora, justamente na hora do profeta nos pedir mais fé através de
ouvir a palavra de Deus, devemos revigorar e reentronizar o ensino
excelente na Igreja, em casa, do púlpito, nas reuniões administrativas
e certamente na sala de aula. O ensino inspirado nunca deverá se
tornar uma arte perdida na Igreja e temos que assegurar que nossa
busca do bom ensino não seja uma tradição perdida. . . .
Quando enfrentarmos crises na vida, o que certamente acontecerá,
as filosofias dos homens misturadas com algumas escrituras e
poemas não nos servirão. Estamos realmente educando os jovens e
membros novos de uma maneira que possa sustê-los na hora de
aparecer o estresse da vida? Ou estamos dando-lhes uma espécie de
doce espiritual, ou seja, um alimento espiritual que contém as
chamadas “calorias vazias”? O Presidente John Taylor certa vez
chamou tal ensino de “espuma frita,” o tipo da comida que se pode
comer o dia todo e no fim não ficar satisfeito. . . .
Não importa se ensinamos nossos filhos em casa ou uma
congregação na Igreja, jamais devemos fazer com que nossa fé seja
difícil de se detectar. Lembrem-se de que devemos ser professores
“vindos de Deus.” . . . Dêem discursos baseados nas escrituras.
Ensinem a doutrina revelada. Prestem testumunhos sinceros. [37]

Notas
[1] Sua mãe, Verna Passey Call, faleceu em 8 de outubro de 1986 e
seu pai, Anson Bowen Call Jr., faleceu no dia primeiro de junho de
1993.
[2] Parley P. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt [Autobiografia de
Parley P. Pratt] (Salt Lake City: Deseret Book, 1985), 110.
[3] Pratt, Autobiography, 128.
[4] Francis M. Gibbons, Joseph F. Smith: Patriarch and Preacher,
Prophet of God (Salt Lake City: Deseret Book, 1984), 1–2.
[5] Daniel H. Ludlow, ed., Encyclopedia of Mormonism (New York:
Macmillan, 1992), 3:1350.
[6] Ludlow, Encyclopedia of Mormonism, 3:1350.
[7] Gibbons, Joseph F. Smith, 27.
[8] Deseret News, April 13, 1854.
[9] Gibbons, Joseph F. Smith, 45–46.
[10] Ludlow, Encyclopedia of Mormonism, 3:1352.
[11] Gibbons, Joseph F. Smith, 87.
[12] Gibbons, Joseph F. Smith, 130–32, 181–82.
[13] Ludlow, Encyclopedia of Mormonism, 3:1352.
[14] Sarah Harris Passey, History of Martha Ann Smith Harris,
manuscrito não publicado, 4; Sarah Harris Passey é filha de Martha
Ann.
[15] Carole Call King, History of William Jasper Harris, 1836–1909,
manuscrito não publicao, 2; Carole Call King é bis-neta.
[16] King, History of William Jasper Harris, 5–6.
[17] Passey, History of Martha Ann Smith Harris, 5–6.
[18] Dicionario Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª edição, “ensinar”
(Editora Positivo: 2004).
[19] Yun Lee Too, The Pedagogical Contract (Ann Arbor, MI:
University of Michigan Press, 2000), 123.
[20] James M. Banner Jr. e Harold C. Cannon, “The Personal
Qualities of Teaching,” Change 29, no. 6 (novembro/dezembro de
1997): 43.
[21] Por exemplo, vide Teresa Pica, Gregory A. Barnes, e Alexis
Gerard Finger, Teaching Matters: Skills and Strategies for
International Teaching Assistants (New York: HarperCollins, 1990),
166–67; Banner e Cannon, “The Personal Qualities of Teaching,” 40;
Gary Gordon, “Teacher Talent and Urban Schools,” Phi Delta Kappan
81, no. 4 (December 1999): 4; Peter G. Beidler, “What Makes a Good
Teacher,” in Inspiring Teaching, ed. John K. Roth (Boston: Anker,
1997).
[22] Banner e Cannon, “The Personal Qualities of Teaching,” 43.
[23] Helen Keller, The Story of My Life [A história de minha vida]
(Norwalk, Connecticut: Easton Press, 1988), 21–22.
[24] Dallin H. Oaks, “Gospel Teaching,” Ensign, November 1999, 78.
[25] Robert Leamnson, Thinking about Teaching and Learning
(Stirling, Virginia: Stylus, 1999), 8.
[26] Leamnson, Thinking about Teaching and Learning, 54.
[27] Parker J. Palmer, “The Heart of a Teacher: Identity and Integrity
in Teaching,” Change 29, no. 6 (November/December 1997): 15.
[28] Dicionario Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª edição, “respeito”
(Editora Positivo: 2004).
[29] Palmer, “The Heart of a Teacher: Identity and Integrity in
Teaching,” 18.
[30] Dicionario Aurélio da Língua Portuguesa, 3ª edição, “sabedoria”
(Editora Positivo: 2004).
[31] Boyd K. Packer, Relatório da Conferência Geral da abril de 1997,
8.
[32] Albert Jesse Smith nasceu em 16 de setembro de 1881 e faleceu,
conforme a carta, em 25 de agosto de 1883.
[33] Sexto filho de Hyrum Smith e Jerusha Barden; nascido em 2 de
outubro de 1837; falecido em 6 de novembro de 1876.
[34] Filho mais velho de Hyrum Smith e Jersuha Barden; nasceu em
16 de setembro de 1827; faleceu em 8 de outubro de 1876.
[35] Jó 13:15.
[36] Jó 1:21.
[37] Jeffrey R. Holland, Relatório da Conferência Geral de abril de
1998, 31–34.
Sermos Aceitos pelo Senhor

Sermos Aceitos pelo Senhor


Élder C. Max Caldwell

O Élder C. Max Caldwell integrou o Segundo Quórum dos


Setenta da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
de 1992 a 1997.

A motivação desta apresentação baseia-se na minha


observação de colegas que ou lutam para encontrar a paz na
sua vida ou estão frustrados por acharem-se fracassados. Ao
esforçar-nos para obter paz e evitar o fracasso, ás vezes
deixamos de reconhecer a verdadeira perspectiva entre os dois.
Em outras palavras, nossa falta de entendimento e de aplicar
certos princípios pode ser a fonte de dissatisfação para nós
mesmos. Por outro lado, aqueles que se sentem acomodados
com as circunstâncias atuais geralmente acham que alcançaram
o sucesso como resultado de seus esforços desinteressados.
Lembro-me de ter ouvido certa vez, no saguão de um aeroport,
a metade de um diálogo telefônico. O que falava na minha
presença declarou triunfalmente: "Hoje por fim realizei êxito."
Já que não ouvi nada mais, fiquei pensando em que será que
consistia tal sucesso? Será que era um vendedor hábil que
acabou de fechar um contrato? Ou talvez fosse um paciente
persistente de um tratamento médico que ao completar um
processo de reabilitação se livrou das limitações impostas por
uma cirurgia. Possivelmente era um diplomata determinado e
persuasivo que participava de árduas negociações. Ou, pode ter
sido um professor preocupado que tentava ensinar aos alunos
uma habilidade ou conceito que antes desconheciam. Eu não
sei qual destas suposições está certa, se é que qualquer delas
está certa. Mas eu sabia que ele estava regozijando-se com a
sensação do sucesso. Eu desejava naquele momento, como
posteriormente tenho desejado muitas vezes, que todas as
pessoas pudessem frequentemente desfrutar de tais
sentimentos de alegria. Porém isso nos faz pensar em uma
questão importante: será que a definição do sucesso baseia-se
em agradar a si e aos outros?
A sensação do fracasso é, talvez, uma experiência pela qual
passamos tanto quanto o sucesso. Achar-se fracassado não se
trata de uma emoção alegre. Quase todos nós já participamos
de um concurso em que alguém é escolhido ou designado o
vencedor. Será que neste memento os outros se sentiam
derrotados? Ao participarem de atividades que são avaliadas,
devem aqueles que recebem notas inferiores considerar-se
menos bem-sucedidos e portanto mais ou menos fracassados?
Quando elogiamos as pessoas baseando-nos em desempenhos
mensuráveis por estatísticas, será que também criamos a
percepção de que os que não foram elogiados não fizeram
bem? Será que os que procuram motivar, por bem-
intencionados que sejam, acabam frustrando os que não
conseguem alcançar as metas estabeledidas, porém inatingíveis
pela maioria das pessoas?
Quando as pessoas se desesperam ou se tornam deprimidas,
será que muitas vezes é porque não alcançaram uma meta ou
condição auto-determinada, ou porque não conseguiram fazê-
lo dentro de um prazo fixado por elas mesmas? Um amigo
muito demprimido me disse que havia passado duas semanas
miseráveis ponderando seus fracassos e fraquezas. Ele estava
preocupado que ao decorrer dos anos pode ser que não tenha
utilizado bem seu tempo, nem correspondido ás necessidades
da família ou tratado as pessoas como devia. Suponho que a
maioria de nós já teve pensamentos semelhantes. O élder Neal
A. Maxwell observou: "Alguns de nós, que não nos atreveríamos
a admoestar nosso próximo pelas suas fraquezas, fazemos
auto-crítica a nós mesmos sem piedade. Alguns de nós nos
encontramos perante um juiz impiedoso-nós mesmos, um juiz
que se recusa a admitir evidências otimistas e não se importa
com o processo estabelecido da justiça." [1]
Sinto-me impelido a fazer uma segunda pergunta importante:
deve a sensação de fracasso basear-se em não poder nos
agradar a nós mesmos nem aos outros? ás vezes se fazem
críticas á Igreja por incentivar os membros a estabalecerem
metas que parecem inatingíveis, tais como ser uma mãe
perfeita, um missionário que bate todos os recordes, um bispo
superhomem e procurarmos ser perfeitos. é comum os bispos
ouvirem os membros da Igreja dizer: "Bem, não sou perfeito,"
ou "ninguém é perfeito." Emprega-se esta filosofia ás vezes
para justificar a mediocridade ou até o pecado. Ela pode
aprofundar nosso desânimo devido á falta de atingir metas
auto-determindas ou até o objetivo ordenado pelo Senhor de
chegar á perfeição. A crítica diz que o nosso povo será sempre
um grupo de fracassados frustrados que nunca realizam o
sucesso e assim nunca se sentirão realizados. Certamente não
nos desculpamos por qualquer meta celestial estabelecida para
nós por um ser celestial. Mas, como disse o élder Maxwell: "Não
é fácil obedecer `a sinalização celestial quando se está num
engarrafamento teleste." [2]
Hoje vamos discutir os três seguintes conceitos do livro de
Doutrina e Convênios. Primeiro, o que é o sucesso ou fracasso
verdadeiro? Este será o ponto de mais ênfase. Segundo, como
obteremos a aceitação do Senhor? Terceiro, onde vemos esta
aceitação na vida de Joseph Smith?

Conceito 1: O Que é Sucesso ou o Fracasso


Verdadeiro?
Para obter entendimento a respeito deste assunto precisamos
fazer uma discussão de uma doutrina que, quando se
compreende e se aplica, fará um impacto positivo na vida de
todo Santo dos Últimos Dias. Aprendemos a distintguir o que é
sucesso ou fracasso real através das sagradas verdades
contidas em Doutrina e Convênios, o livro de revelações do
Senhor desta dispensação.
Em vez de sentir satisfação com feitos temporais e temporários
que nos agradam e agradam aos outros, não será mais sábio
nos esforçar para chegar a um nível mais significativo de
contentamento interno e eterno?
As declarações das escrituras justificam a conclusão que o
sucesso ou o fracasso verdadeiro equivale á aceitação ou á
condenação do Senhor. é notável que um dos hinos patrióticos
mais queridos contém um pedido a Deus que nos refine: "Até
que todo sucesso seja nobreza e todo progresso divino." [3] O
que pode ser mais nobre do que aquilo que merece a aprovação
divina e graça de Deus?
Permitem-me destacar algumas seções de Doutrina e
Convênios onde se encontra esta idéia. é um dos temas
predominantes das escrituras dos Últimos dias que nos
proporciona um padrão expressivo pelo qual podemos
determinar o que é o sucesso e o fracasso.
Seção 23. Nesta seção há uma exposição dos níveis da nossa
relação com o Salvador que nos levam ou á aceitação ou á
condenação. No próprio mês em que a Igreja foi organizada em
1830, o Senhor se dirigiu a cinco homens e lhes deu instruções
específicas para a sua vida pessoal bem como seus deveres
referentes á obra do reino. Entre os cinco, quatro foram
informados que não estavam "sob condenação" mas o quinto
não recebeu tal confirmação. Todos estes irmãos menos Joseph
Knight Sr. se batizaram e estabeleceram um convênio com o
Salvador. Estes quatros com sucesso haviam agradado ao
Senhor e certamente se esperava que continuassem aceitos
perante Ele. Aparentemente haviam feito tudo que o Senhor
lhes exigira até aquele momento. O quinto homem, Joseph
Knight, não se batizara embora soubesse que devia. Ele já tinha
mostrado que cria na obra de Joseph Smith referente ao Livro
de Mórmon e tinha solicitado uma revelação para instruí-lo
quanto a sua participação no trabalho da Restauração. O Senhor
respondera e o exortara a "procurar trazer á luz e estabelecer a
causa de Sião" (D&C 12:6). Obviamente ele teria que batizar-se
a fim de cumprir esta ordem. Certa vez, quando ele assistia a
um serviço batismal de outras pessoas, não seguiu a impressão
distinta de que ele também devia batizar-se. Em vez disso,
esperou até junho de 1830 para fazê-lo. Por isso o Senhor o
condenou e declarou que era seu "dever unir-se á igreja
verdadeira, . . . para que [ele recebesse] a recompensa do
trabalhador" (D&C 23:7).
Quando o Senhor revela uma verdade a alguém, Ele espera
obediência, senão a pessoa se vê condenada perante o Senhor.
Quando conhecemos princípios eternos tais como o dízimo, o
jejum ou reverência pelo dia do sábado e não os cumprimos,
certamente sentiremos mágoa. O Senhor declarou: "Porque a
quem muito é dado, muito é exigido; e o que pecar contra a luz
maior receberá a condenação maior" (D&C 82:3).
Seções 39 e 40. O Pastor James Covill havia sido ministro
batista por quarenta anos antes de ouvir a mensagem da
Restauração através do Profeta Joseph Smith. Ele logo fez
convênio de fazer o que o Senhor exigisse. Antes disso, durante
seu ministério, o Pastor Covill teria convidado seus ouvintes
para aceitarem Jesus Cristo como seu Salvador pessoal como
condição de ter esperança de se salvarem, conforme o costume
dos ministros protestantes. Porém, ele não podia informá-los
como atingir a esperada herança celeste. Ele não lhes teria
oferecido um batismo autorizado junto com os devidos
convênios.
Aumentando o conhecimento e background limitados de Covill,
o Senhor lhe revelou que receber Cristo significa receber seu
evangelho, o qual inclui o arrependimento e o batismo. O
Senhor então o desafiou a batizar-se e fazer convênios eternos
para receber o Espírito do Senhor (vide versículos 5-6, 10).
é interessante observar que o Senhor não utilizou a tradicional
linguagem protestante. Não mencionou nenhum processo de
"aceitar Cristo." Em vez disso, as palavras reveladas trataram de
"receber" o Salvador. Conforme a doutrina tradicional, os
mortais têm o desafio de determinar se aceitam Cristo ou não.
Neste caso, pressupõe-se que o homem deve julgar se Cristo é
aceitável aos homens. Porém, não se julga Cristo pois Ele é o
juiz. é o homem que é julgado para saber se é aceitável a
Cristo. Para tal ele precisa receber o dom da expiação e pôr sua
vida em conformidade com os princípios revelados do
evangelho.
Uma pesquisa das escrituras revela que os vocábulos aceitar,
aceito, aceitação e aceitável são sempre empregados no sentido
do homem e suas obras serem julgados pelo Senhor. Tais
termos não são usados no sentido do homem aceitar Deus.
Nossa conclusão deve ser que nós é que devemos receber a
aceitação do Senhor aos recebermos e praticarmos suas
doutrinas e ordenanças com toda a dignidade.
Interessa-nos o emprego significativo do radical latino cep/ceit.
A- ceit- ação é de Cristo. Re- cep- ção é nossa escolha e ser
re- cept- ivo, nossa oportunidade. Per- cep- ção é um dom
espiritual ao passo que de- cep- ção é de LÚcifer. Cada
vocábulo tem um significado distinto. Não devemos confudi-
los.
Infelizmente, James Covill rejeitou a palavra do Senhor e deixou
de cumprir seu convênio. Não recebeu o evangelho do Senhor
que equivale a não receber o próprio Senhor. Embora Covill não
tivesse feito formalmente o convênio por meio do batismo, o
Senhor declarou que a promessa verbal de Covill de obedecer
valia como convênio. O Salvador disse: "Portanto quebrou meu
convênio e cabe a mim fazer com ele o que me parecer melhor"
(D&C 40:3). Quem não cumpre os convênios é fracassado e não
aceitável a Deus.
Seção 41. Na primeira revelação registrada depois que Joseph
Smith se mudou a Ohio, o Senhor pronunciou sua definição do
que significa ser discípulo: "Aquele que recebe a minha lei e a
pratica é meu discípulo; e aquele que diz que a recebe e não a
pratica, esse não é meu discípulo e será expulso de vosso
meio" (v. 5). Para ser um verdadeiro discípulo de Cristo e desta
forma ser aceito por Ele requer mais que um compromisso
verbal. O discípulo há de ser recebedor e praticante da lei do
Senhor. Aqueles que recebem a recompensa de ser discípulo
necessitam cumprir com estas duas expectativas. Nesta mesma
revelação há um exemplo de tal pessoa. O Senhor chamou
Edward Partridge para ser o primeiro bispo da Igreja e
descreveu-o como um homem de coração puro e sem dolo
(vide v. 11). Ele era um discípulo do Senhor e aceitável a Ele. Do
contrário, se alguém alega que recebeu a lei do Senhor mas não
está disposto a cumprir com as responsabilidades sagradas do
convênio, na verdade não representa o Autor da lei. é pura
hipocrisia, uma condião muito condenada pelo Senhor. Tal
hipócrita tem coração impuro, é doloso e não é aceitável ao
Senhor.
Seção 38. No meridiano dos tempos o Salvador orou para que
seus discípulos fossem unidos (vide João 17:20-21). Dezoito
séculos mais tarde, o Senhor mandou que os membros da
Igreja fossem unidos. Ele disse: "Sede um; e se não sois um,
não sois meus" (D&C 38:27). Observamos que a falta de atingir
a união com os Senhor é evidência de nossa indignidade e
motivo de sermos inaceitáveis a Ele. O Salvador proclamou aos
nefitas: "Aquele que tem o espírito da discórdia não é meu" (3
Néfi 11:29). Aqueles que estão em sintonia com o Senhor e com
os seus ensinamentos têm união com Ele. Também são aqueles
que vivem harmoniosamente um com o outro. São aqueles que
obtiveram a aprovação e aceitação do Mestre.
Seção 46. Nesta revelação o Senhor identificou muitos dons do
Espírito Santo e aconselhou os membros da Igreja a buscarem
os melhores dons, conforme as suas necessidades específicas.
Ele explicou a importância destes dons e proclamou que "são
dados para o benefício dos que me amam e guardam meus
mandamentos e áquele que procura fazê-lo" (D&C 46:9).
Aprendemos que aqueles que se qualificam para receber tais
dons espirituais são os que guardam todos os mandamentos. á
primeira vista se pode concluir que ninguém se qualifica.
Porém, se ninguém pode recebê-los, por que é que as
escrituras falam de tal possibilidade? Ao pensar mais no
assunto aprendemos que não devemos tirar por conlusão algo
que o Senhor não tenha falado. Ele não disse que quem recebe
os dons são aqueles que guardam todos os mandamentos o
tempo todo. Ninguém o faz. Mas há muitos que guardam todos
os mandmentos quase que o tempo todo. Uma segunda
categoria de pessoas aceitáveis consiste naqueles que real e
sinceramente procuram guardar todos os mandamentos.
Embora nem sempre alcancem suas metas espirituais, se
esforçam para alcançar tal objetivo. Mesmo que ás vezes
fracassem, levantam-se, arrependem-se, se for necessário, e
continuam a esforçar-se em viver uma vida aceitável e reta.
Deste jeito há muitos Santos dos Últimos Dias que se
qualificam para obter os dons do Espírito oferecidos aos
membros fiéis da Igreja, que têm direito ás promessas feitas
pelo Senhor áqueles que cumprem com os convênios, e que são
aceitáveis ao Senhor. São santos dignos porém imperfeitos. São
aqueles que, quando o bispo lhes pergunta se são dignos de
entrar no templo e de participar das outra atividades da Igreja,
podem resssoar que sim. São aqueles que tomam o sacramento
com paz de espírito, que participam confortavelmente das
ordenanças do templo, que fazem e recebem as ordenanças do
sacerdócio com confiança e que procuram e esperam os dons
do Espírito com a certeza que as promessas do Senhor serão
cumpridas. São aqueles que são aceitos pelo Senhor e que
usufruem a paz que se conquista por viver de acordo com os
princípios do evangelho.

Conceito 2: Como Obtém a Aceitação do


Senhor?
Seção 52. Esta revelação contém um padrão salutar para todas
as coisas (versículo 14) em que o Senhor descreve aquele cujos
atributos e ações lhe são aceitáveis. Qualquer pessoa cujo
comportamento e natureza conformem com o padrão revelado
pelo Senhor pode estar segura que está cumprindo com as
expectativas do Salvador no presente momento. O Mestre
declarou: "Portanto aquele que ora, cujo espírito é contrito,
esse é aceito por mim, se obedecer a minhas ordenanças.
"Aquele que faal, cujo espírito é contrito, cuja linguagem é
mansa e edifica, esse é de Deus, se obedecer a minhas
ordenaças.
"E também aquele que estremece sob o meu poder será
fortalecido e produzirá frutos de louvor e sabedoria, de acordo
com as revelações e verdades que vos dei" (versículos 15-17).
O Senhor identifica pelo menos cinco qualidades ou atributos
definitivos que são inerentes numa pessoa aceita por Ele:
Aquele que ora. Esta é a pessoa que depende do Senhor e não
de seu próprio entendimento, racioncínio, poder e juízo.
Obviamente tal pessoa tem fé em Deus, um dos principais
requisitos para ser aceito por Ele. O Élder John A. Widtsoe do
Quórum dos Doze Apóstolos disse: "Um homem é tão grande
quanto suas orações pessoais. O indivíduo não é maior que
suas orações pessoais. Se ele for um homem que ora, atinge
uma estatura elevada. Senão ele encolhe e a estatura
diminui." [4]
Aquele cujo espírito é contrito. Esta é uma pessoa de
humildade que lamentou os pecados e conhece o poder
redentor de Cristo. Ela é mansa e responde de maneira
posistiva a ensinamentos corretos. Ela já escutou e aceitou o
convite do Salvador de "vir a mim." Um espírito de
arrependimento penetra sua alma e um coração contrito
resultou em atitudes e comportamento aceitáveis. O Presidente
Ezra Taft Benson observou: "O milagre do perdão é real e o
arrependimento verdadeiro é aceito pelo Senhor." [5]
Aquele que obedece ás ordenanças do Senhor. Certamente não
se pode obececer ás ordenanças a não ser que tenha as
recebido. Um ser não é aceitável perante o Senhor até que se
aproxime do Salvador através das ordenanças e convênios do
sacerdócio. Um filho ou uma filha de Deus que opta por ficar
fora do reino de Deus e um membro da Igreja que resolve não
receber todas as ordenanças ainda é amado pelo Senhor mas
não é aceito por Ele. Cumprir a vontade do Senhor consiste em
fazer e cumprir os convênios que se recebem dele.
Aquele cuja linguagem é mansa e edifica. De modo geral, a fala
reflete nossos pensamentos e nossa natureza. A linguagem
pode mostrar uma natureza pomposa ou revelar uma mente
imunda e alma impura. Quem profana e é de fala vulgar e
obsena nega o poder edificante do Espírito Santo e não é nem
desejável nem aceito. Certa vez eu tive que dizer a um colega
que se não deixasse de falar palavrão, eu não poderia mais ser
seu amigo. Ele parou de falar deste jeito, pelo menos na minha
presença, e fiquei grato. Criticar e fofocar também podem
ofender e negar o Espírito. O Presidente Gordon B. Hinckley nos
aconselhou da seguinte forma: "Criticar é precursor do divórcio,
cultivador de rebelião e catalisador do fracasso. Peço-lhes que
virem de costas ao negativismo que permeia nossa sociedade,
procurem ver o que é de bom entre nossos colegas e falem
mais das virtudes das pessoas do que dos defeitos para que o
otimismo possa tomar o lugar do pessimismo e a fé possa
sobrepujar o medo. Quando eu era jovem tendia criticar os
outros. Meu pai dizia: "O cínico não contribui nem cria e quem
duvida não prospera." [6]
Do contrário a expressão verbal pode refletir a pureza de
coração de mente e pode transmitir entendimento de valor
eterno. Quem é que não foi elevado ás alturas espirituais ao
ouvir os testemunhos e declarações divinas da verdade
revelada?
Aquele cujos ensinamentos e obras refletem a verdade revelada
pelo Senhor. O Senhor é a fonte de todas as verdades. Os meios
pelos quais acessamos a verdade incluem os profetas vivos, os
livros padrão e a inspiração do Espírito Santo (vide versículos 9,
36). O Senhor não encara o ensino da mentira, seja de
propósito ou acidental causa a deturpação de sua mente e
vontade. Tais ensinamentos podem desviar as almas do
caminho que leva a Deus. O Presidente Joseph F. Smith advertiu
a Igreja: "Entre os Santos dos Últimos Dias a pregação de
doutrinas falsas disfarçadas como verdades do evangelho
provêm de duas classes de pessoas . . . : A primeira-os
desesperadamente ignorantes cuja falta de inteligência se deve
a sua preguiça e cujos esforços fraquinhos de se melhorar por
meio da leitura e do estudo não adiantam pois são possuídos
de uma doença maligna que se pode tornar uma maleza
incurável- a preguiça. A segunda- Os orgulhosos e arrogantes
que lêem pela luz da lâmpada de sua própria vaidade, que
interpretam as regras por sua própria artimanha, que pensam
que estão acima da lei e que se colocam como juízes de suas
próprias ações. Estes são mais perigosos que os do primeiro
grupo. Cuidado com os preguiçosos e arrogantes; em todo caso
sua infecção é contagiosa. Evitem-nos como se tivessem
hasteado a bandeira amarela de advertência para que os limpos
e sãos sejam protegidos." [7]
Cada um de nós pode fazer introspeccção para determinar se
nos conformamos ao padrão de aceitação que o Senhor
estabeleceu. Qualquer variação por nossa parte deve resultar na
alteração de nosso modo de pensar, sentir e agir. Ademais,
cada um de nós pode avaliar o que vemos e ouvimos dos
outros e saber se devemos aceitar seu jeito de ser. A tolerância
e a aceitação não são iguais. Embora tenhamos o dever de amar
e sermos tolerantes dos que desviam do padrão de Senhor, não
devemos abraçar nem aceitar esses desvios e deturpações do
que é aceitável ao Senhor.
Seção 75. Nesta revelação aprendemos que para sermos aceitos
pelo Senhor devemos fazer o que Lhe agrade e fazer sua
vontade e não a nossa. Enquanto viajava com alguns élderes a
uma conferência da Igreja, o Profeta Joseph Smith observou:
"Os élderes pareciam ansiosos que eu indagasse do Senhor
para que eles soubessem sua vontade e aprendessem o que
poderiam fazer de maior agrado a Ele." [8] A revelação que
seguiu esta indagação identifica como os missionários podem
agradar ao Senhor: "Eis que vos digo ser minha vontade irdes
sem demora e não serdes ociosos, mas trabalhardes com toda
a força-Levantando vossas vozes como que com o som de uma
trombeta, proclamando a verdade conforme as revelações e
mandamentos que vos dei. E assim, se fordes fiéis, sereis
carregados com muitos molhos e coroados com honra e glória
e imortalidade e vida eterna." (versículos 3-5)
Uma revisão das expectativas e dos conselhos desta e outras
revelações proporciona ao missionário um plano de trabalho
eficaz. Ele tem como avaliar seu serviço no ministério e saber
quando o Senhor se contenta. Ele não deve comparar-se com
outros missionários, nem comparar seu trabalho com o dos
outros missionários de sua missaõ nem de outras missões. Se
ele subjugou sua vontade para que fosse harmoniosa com a
vontade do Senhor, ele sabe que apresentou uma oferta
aceitável e receberá a confiança calma que acompanha o
cumprimento de uma missão bem-sucedida.
Enquanto eu era presidente de uma missão, um missionário, ao
despedir-se, me disse: "Eu voltarei a casa sem remorso. Segui
todas as regras da missão, trabalhei duro e fiz o máximo para
fazer tudo que sabia que o Senhor esperasse de mim. Alegro-
me em dizer que servi uma missão bem-sucedida."
Seção 97. Como background do princípio do evangelho contido
nesta seção, é bom lembrarmo-nos de um momento decisivo
na história do povo do Senhor. Aconteceu logo após a
destruição cataclísmica neste continente vinculada com a
crucificação do Senhor. O Senhor falou dos céus e anunciou
uma alteração na lei do sacrifício. O povo do Senhor havia
fielmente obedecido á lei do sacrifício por derramamento de
sangue dos animais desde os dias de Adão, fazia quatro mil
anos. No seu anÚncio, o Senhor aboliu a prática do sacrifício de
animais. Embora a lei não fosse extinguida, a forma de cumpri-
la mudou. O Senhor mandou-os "oferecer como sacrifício um
coração quebrantado e um espírito contrito" (3 Néfi 9:20).
Nesta dispensação, em 1831, o Senhor reafirmou aquele
mandamento (vide D&C 59:8) e dois anos depois acrescentou
uma palavra significativa ao mandamento: "Em verdade vos
digo: Todos os que, dentre eles, souberem que seu coração é
honesto e está quebrantado e seu espírito contrito; e que
estiverem dispostos a observar seus convênios por meio do
sacrifício-sim, todo sacrifício que eu, o Senhor, ordenar-esses
serão aceitos por mim" (D&C 97:8). Seja qual for o sacrifício
que o Senhor nos pedir, Ele enfatizou que devemos fazê-lo de
boa vontade. Um sacríficio não feito de boa vontade não
cumpre a expectativa do Senhor e o indivíduo deve sentir-se
fracassado no seu esforço de agradar ao Senhor. O profeta
Mórmon explicou este processo quando disse: "Pois eis que
Deus disse que se um homem é mau, não pode praticar o bem;
porque se ele oferece uma dádiva ou ora a Deus, a não ser que
o faça com verdadeiro intento, nada lhe aproveitará. Porque eis
que não lhe é umputada por justiça. Pois eis que se um homem,
sendo mau, oferece uma dádiva, ele o faz de má vontade;
portanto será considerado como se tivesse retido a dádiva;
consequentemente é considerado mau perante Deus." (Morôni
7:6-8)
Por outro lado, uma pessoa que cumpre com o pedido do
Senhor de boa vontade é aceita por Ele. Há mais uma dimensão
neste assunto. Pode não ser requerido a uma pessoa fazer um
sacrifício específico mas se ela está disposta a fazê-lo de todo
o coração, é aceito pelo Senhor. A condição de boa vontade é o
que importa neste caso decisivo. Todos sabemos que seremos
julgados segundo nossas obras mas ás vezes as obras são o
Único ponto de enfoque. E se a pessoa não tiver condições
físicas de fazer certos atos? E o que será daqueles que nunca
terão oportunidade de contrubuir da mesma forma que os
outros? Todos nós já observamos que certas pessoas têm
talentos e capacidade que as permitem fazer as coias com mais
facilidade ou rapidez, ou até melhor que os outros. Será que
aquele que tem menos capacidade e que faz as coisas de forma
menos produtiva terá uma recompensa menor pelos seu
esforço? A este respeito o Senhor afirmou um princípio eterno
numa declaração revelada a Joseph Smith durante a visão do
reino celeste registrado na seção 137 versículo 9 de Doutrina e
Convênios: "Pois eu, o Senhor, julgarei todos os homens
segundo suas obras, segundo o desejo de seu coração." Em
verdade nossa aceitação perante o Senhor depende tanto de
nossas ações como de nossa atitude.
Lembro-me claramente do que um casal de missionárions me
falou ao regressar de um país europeu após uma missão de
dezoito meses. Perguntei-lhes como foram de missão. O irmão
disse: "Pelo jeito gastamos nosso tempo e dinheiro. Não
batizamos ninguém." Senti-me inquieto ao ouvir tal comentário
e pedi-lhes que contassem mais a respeito de sua missão.
Replicaram que haviam trabalhado arduamente para achar
pessoas para ensinar mas ninguém quis ouvir sua mensagem.
Não me surpreendi com este relato pois conhecia a missão
onde serviram e sabia que era um lugar difícil para os
missionários ensinarem e batizarem. Perguntei se tinham
outras responsabilidades ou experiências. Informaram-me que
participaram do esforço para reativar o pessoal de um pequeno
ramo. Indaguei a respeito desse trabalho. Exprimiram seu
grande amor pelos membros com que trabalharam e
descreveram resultados positivos de aumento de fé e força
espiritual na vida de mais de vinte pessoas.
Permitam-me desviar e fazer umas perguntas para
contemplarmos. Será que estes missionários não trabalharam
com diligência? Estavam eles dispostos a servir e sacrificar seu
tempo e bens para ajudar a obra do Senhor? Tiveram um desejo
no coração de fazer a vontade do Senhor? Não pensamos nós
que seu serviço missionário é aceitável perante o Senhor? Não
será que ser aceitável ao Senhor é uma medida maior de seu
sucesso do que a noção de que não batizar constitui um
fracasso no seu trabalho missionário? Depois de fazer-lhes
perguntas semelhantes, senti um espírito de paz ao
contemplarem o critério que o Senhor utiliza para julgar e
aceitar.
O Senhor reforça esta idéia na seção 124. O Senhor ordenara
que os Santos de Missouri construíssem um templo. Embora
começassem as obras, infelizmente foram impedidos de
completar a construção devido ás ações dirigidas a eles pelas
turbas de Missouri. Depois de serem expulsos de Missouri e
radicarem-se em Nauvoo, receberam consolo mesmo não tendo
cumprido a ordem. O Senhor revela a sua posição perante Ele
no versículo 49: "Em verdade, em verdade vos digo que quando
dou um mandamento a qualquer dos filhos dos homens de
fazer um trabalho ao meu nome e esses filhos dos homens
usam toda a sua força e tudo que têm para realizer este
trabalho e não deixam de ser diligentes; e são atacados por
seus inimigos e são impedidos de realizer este trabalho, eis que
me convém já não requerer das mãos desses filhos dos homens
o trabalho, masaceitar suas ofertas" (D&C 124:49).
O Presidente Joseph F. Smith enfatizou a necessidade de
continuar a esforçar-nos quando ensinou: "Não se deve haver
nada de desistir uma vez que lançamos mão do arado. . . Não
se pode desanimar-se. Pode ser que fracassemos várias vezes; .
. . podemos não alcançar o objetivo que almejamos . . . . Se
falharmos, tudo bem. Vamos adiante; tentemos outra vez;
tentemos em outro lugar. Nunca desistamos. Não digamos que
não se pode fazer. Fracasso é uma palavra que deve ser
desconhecida e expungida da nossa linguagem e de nossos
pensamentos. . . . Receberemos a recompensa por todo o bem
que fazemos. Receberemos o galardão por todo o bem que
desejamos fazer e nos esforçamos por fazer mesmo não
levando-o a efeito, pois seremos julgados segundo nossas
obras e nossa intenção e propósito; . . . Nós que nos
esforçamos não falharemos se não desitirmos." [9]
Dou muito valor á memória de um dos meus élderes
missionários. Ele tinha muita dificuldade em aprender espanhol
e não tinha recebido avaliações positivas de seu progresso no
Centro de Treinamento Missionário. Mesmo que ele fosse muito
diligente, os outros do distrito progrediram bem mais nos seus
estudos. Depois que ele chegou á missão encontrou muita
dificuldade em comunicar-se com os falantes nativos de
espanhol; ele labutava com severas limitaçõe ao tentar falar
com eles. Não obstante não desistiu; recusou-se a desanimar-
se. Possuía um espírito maravilhoso e ao apresentar o Livro de
Mórmon ás pessoas e prestar seu testemunho elas sabiam que
ele sabia que o livro era verdadeiro. Muitos aceitaram seu
convite de ler o livro e mais tarde permitiram que ele e seu
companheiro fossem a sua casa para ensinar-lhes. Ele
continuava a encontrar dificuldades em conversar e ensinar mas
orava e estudava com diligência. Um nÚmero grande de seus
investigadores entraram para a Igreja. Eu sabia que o Senhor
aceitara seus esforços por causa de sua disposição de fazer
tudo que o Senhor esperava.
Com tempo sua capacidade linguística aumentou. Por fim ele
foi chamado para ser líder da zona espanhola e quando eu
discursava no ramo espanhol ele servia de intérprete. Sua
missão lhe proporcionou a oportunidade de receber a aceitção
do Senhor e a confirmação de seu estado perante Deus.
Embora o Senhor espere que façamos o nosso melhor para
alcançar um nível de desempenho perfeito, é consolador saber
que para nós aqui na atualidade o Senhor estabeleceu um nível
inferior de aceitação. Nossos esforços podem se chamar de
"persistência a caminho do desempenho perfeito." Aprendemos
das revelações do Senhor o que Ele espera em relação a nossas
responsabilides ao esforçar-nos para alcançar certas metas.
Espera-se que procuremos atingir as caraterísticas de
integridade estabelecidas por Ele e façamos um esforço sincero
de seguir seu exemplo de conduta em todas as situações. Se
nosso coração estiver de acordo e estivermos dispostos a fazer
sua vontade, podemos ser e seremos servos aceitáveis perante
o Altíssimo.
Ser aceito pelo Senhor é o resultado de viver segundo os
primeiros princípios e ordenanças descritos na quarta regra de
fé, isto é, fé em Jesus Cristo, arrependimento, batismo e o dom
do Espírito Santo. Há mais um princípio que devemos
mencionar. Depois de embarcar na jornada pelo caminho
estreito como filhos aceitáveis de Deus, precisamos continuar a
esforçar-nos em permanecer fiéis até o fim (vide 2 Néfi 31:15-
21).
O Senhor empregou quarenta e seis vezes em Doutrina e
Convênios uma palavra que significa "perdurar" mas que tem
uma conotação um pouco diferente. A palavra é "continuar."
Gosto de ouvir o Senhor usar aquela palavra porque refere-se á
aceitação atual de um indivíduo e também torna válido o rumo
que ele está seguindo para a vida eterna. Como exemplo desta
idéia, podemos ler a declaração do Senhor a John C. Bennett:
"Vi a obra que ele fez, a qual aceito se ele continuar; e coroá-
lo-ei com bênçãos e grande glória" (D&C 124:17. Infelizmente,
John Bennett não continuou mas em vez disso afastou-se do
Senhor e de sua Igreja e perdeu as gloriosas bênçãos
prometidas. Agora um exemplo positivo, refiro-me á segurança
que o Senhor deu a Lyman Sherman quanto a seu estado
aceitável perante o Senhor e as promessas maravilhosas de
futuras bênçãos secontinuasse fiel (vide D&C 108:2-5). Ele
assim fez até a morte.

Conveito 3: Onde Encontramos A Aceitação de


Joseph Smith Pelo Senhor?
Vamos examinar mais um exemplo do assunto de aceitação do
Senhor em Doutrina e Convênios. Observamos um exemplo da
vida e ministério do Profeta Joseph Smith em que ele buscou e
obteve a aceitação do Salvador. Escolhi umas passagens
significativas desta experiência em que se notam semelhanças
para nossa vida e destino.
Todos sabemos que Joseph era muito jovem quando o Senhor
lhe encumbiu da responsabilidade assombrosa de lançar os
alicerces do reino de Deus na terra e edificá-lo. Mas ele não
recebeu a carga toda de vez. Ele amadureceu passo por passo
através das designações e experiências. Por exemplo, devido á
perda das 116 páginas do manuscrito do Livro de Mórmon,
Joseph foi repreendido e recebeu o lembrete que ele tinha o
dom de tradução e que não devia buscar nem aspirar a
quaisquer outros dons até completar a tradução das placas
(vide D&C 5:4). Era para ele focalizar todos os esforços naquela
Única tarefa. Ao fazê-lo ele aprendeu a receber revelação e se
tornou mas ciente da mente e vontade do Senhor enquanto
aprendia princípios de verdade e de doutrina.
Um ano depois, completou-se a tradução, Joseph foi apoiado
como o Profeta do Senhor e os membros da Igreja receberam
mandamento de "dar ouvidos a todas as suas palavras e aos
mandamentos que lhes daria. . . . Pois recebereis sua palavra
como se fosse de minha própria boca" (D&C 21:4-5). Que peso
de responsabilidade a ser carregado por um moço de vinte e
quatro anos que não tinha experiência de liderança! Mas ele se
sustentava pela certeza que fora aceito pelo Senhor, quem
manifestou uma confiança enorme nele. Ele também sabia que
não ia trabalhar sozinho; o Senhor pretendia guiá-lo no seu
chamado. Porém, embora o Senhor tivesse aceitado Joseph
naquele momento, é claro que o jovem profeta então servia em
caráter provisório, ou condicional. Ainda precisava provar-se
digno de aceitação contínua. Durante os primeiros anos de
serviço algumas revelações que recebeu lembravam-no da
necessidade de ser diligente e fiel a seu sagrado chamado.
Vamos ler algumas das passagens.
Em junho de 1829, quase um ano antes da organização da
Igreja, o Senhor fez o seguinte pronunciamento condicional: "E
agora não te maravilhes de que eu o tenha chamado por um
propósito meu, proósito esse que me é conhecido; portanto, se
ele for diligente na observância de meus mandamentos, será
abençoado com vida eterna; e seu nome é Joseph" (D&C 18:8).
Pouco mais de um ano depois, em setembro de 1830, depois
que Hiram Page afirmara que recebia revelaçoes, o Senhor
lembrou aos Santos que Joseph ainda era seu profeta e o Único
autorizado a receber revelações para a Igreja toda: "Mas eis que
em verdade, em verdade eu te digo: Ninguém será designado
para receber mandamentos e revelações nesta igreja, a não ser
meu servo Joseph Smith JÚnior porque ele as recebe como
Moisés" (D&C 28:2).
Passaram-se mais três meses enquanto Joseph traduzia a
Bíblia. Sidney Rigdon visitou Joseph e foi chamado pelo Senhor
para ajudar Joseph, fazendo o serviço de escrivão. Avisou-se a
Sidney qual era o elevado chamado de Joseph, embora fosse
um chamado condicional. O Senhor disse: "E dei-lhe [a Joseph]
as chaves do ministério das coisas que foram seladas, sim, das
que existiram desde a fundação do mundo e das que virão, a
partir de agora até a ocasião de minha vinda, se ele permanecer
em mim; e, se não, porei outro em seu lugar" (D&C 35:18).
Passaram-se somente mais dois meses quando uma mulher
conhecida pelo nome de Hubble chegou ao meio dos Santos
dos Últimos Dias, alegando que recebia revelações e leis do
Senhor para toda a Igreja e professando ser profetisa. Pode ser
que se possa referir-se a tais problemas como as "Encrencas da
Hubble!" Devido ao fato de alguns dos Santos terem sido
enganados por ela, pensando que isso se tratava de um caso
válido, ou seja, que ela representava o Senhorr, o Profeta
Joseph Smith resolveu indagar ao Senhor. Ao procurar a
orientação do Senhor, recebeu uma revelçaõ que incluía a
seguinte declaração divina para os membros da Igreja em que o
Senhor disse: "Pois eis que em verdade, em verdade eu vos digo
que recebestes um mandamento como lei para a minha igreja
[a seção 42 do livro de Doutrina e Convênios], por meio
daquele que já designei para receber mandamentos e
revelações de minha mão [o Profeta Joseph Smith]. E isto vós
sabereis com certeza-que não há qualquer outro debaixo do
céu designado para receber mandamentos e revelações para
vós, até que ele seja levado, se ele permanecer em mim" (D&C
43:2-3).
Mais uma vez, durante o outono do ano de 1831, o Senhor
ainda fez outra declaração de caráter condicional a respeito do
cargo profético que o Profeta Joseph então ocupava. Ele disse o
seguinte: "E eis que as chaves dos mistérios do reino não serão
tiradas de meu servo Joseph Smith JÚnior através dos meios
que eu designei, enquanto ele viver, contanto que obedeça ás
minhas ordenanças" (D&C 64:5).
Nos dias iníciais da história de sua Igreja, era muito preciso que
o Senhor desse com freqüência ênfase ao fato de que Joseph
Smith era o Único ser mortal que havia sido autorizado a falar
em nome do Senhor e assim receber revelações para a sua
Igreja. Mas é de interesse nosso notar que durante um período
de vinte e sete meses, ou seja de junho de 1829 a setembro de
1831, podemos averiguar que o Senhor deu advertências a
Joseph pelo menos cinco vezes no sentido de informá-lo que o
estado de seu chamado dependia dele guardar os
mandamentos e obedecer a todas as ordenanças. Não obstante,
o próximo registro dos dizeres provindos do Senhor quanto ao
chamado de Joseph no seu reino contêm uma declaração muito
notável. Na seção 90, que foi dada no dia 8 de março de 1833,
o Senhor disse a Joseph: "Em verdade te digo: As chaves deste
reino jamais te serão tomadas enquanto estiveres no mundo;
tampouco no mundo vindouro" (D&C 90:3).
Depois das muitas ocasiões em que o Senhor havia dado ênfase
referente ao estado condicional de Joseph, Ele na Última
passagem citada declara que o chamado e papel sagrados de
Joseph ora seriam eternos e sem condições. Podemos nos
perguntar a nós mesmos o que houve? Por que houve esta
mudança? Quando lemos certas passagens da seção 132, nós
descobrimos a resposta. O Senhor declarou a Joseph: "Pois eis
que sou o Senhor teu Deus e estarei contigo até o fim do
mundo e por toda a eternidade; pois em verdade selo sobre ti
tua exaltação e preparo-te um trono no reino de meu Pai, com
Abraão, teu pai" (D&C 132:49).
Alguns podem querer saber como a declaração do Senhor na
seção 132 pode ter algo a ver com a declaração já citada
anteriormente da seção 90. A resposta simples é que a seção
132 foi recebida por Joseph Smith no mínimo um ano antes que
recebesse a seção 90, talvez já no ano de 1831, embora não
fosse escrito oficialmente até meados de 1843. Portanto
quando o Senhor firmou a vocação e eleição do Profeta Joseph
numa data indeterminada durante o Último trimestre de 1831,
tal ato antecipou a revelação dada em 1833 na seção 90 em
que o Senhor sem restrições afirmou o chamado profético de
Joseph Smith tanto neste mundo como no mundo que vem.
Vamos parar para dar uma breve explicação da expressão
"vocação [chamado] e eleição:"
Ser chamado (ou receber a vocação) é ser um membro da Igreja
e reino de Deus na Terra; . . . é possuir uma promessa
condicional de vida eterna. . . . A vocação em si trata-se de
devoção á causa do evangelho; não se reserva unicamente aos
apóstolos e profetas nem para os grandes e poderosos de
Israel; é para todos os membros do reino que se qualificam.
Fazer firme a vocação e eleição consiste em selar sobre si a vida
eterna; significa que se recebe uma guarantia incondicional de
exaltação no reino mais elevado do mundo celestial; é, para
todos os efeitos, o adiantamento do dia do julgamento." [10]
Durante a primeira fase da vida e ministério mortal de Joseph
Smith, o Senhor o lembrou repetidas vezes de que precisava
guardar os convênios e assim provar-se digno de elevar-se
acima de seu estado condicional no reino de Deus. Depois de
provar-se, Joseph passou de um estado de ciência de sua
aceitção condicional pelo Senhor para um nível em que recebeu
o conhecimento seguro de seu estado de aceitação
permanente, sim, o selamento sobre si de sua exaltação.
Eu já comentei antes que quando fôssemos examinar as
experiências de Joseph Smith com relação a sua aceitação pelo
Senhor, iríamos notar que há muitas semelhanças na nossa
própria busca da aceitação do Senhor. Deixem-me mencionar
algumas delas. Como Joseph, nós também fazemos convênios e
promessas que com muita sinceridade procuraremos cumprir,
sabendo da promessa de vida eterna que o Senhor proporciona
áqueles que são fiéis. Nós também precisamos de advertências
para não caírmos nas armadilhas e tentações da mortalidade
mas procurarmos com muita diligência evitar qualquer
afastamento do plano que o Senhor estabeleceu para a nossa
felicidade..
Já observamos que Joseph foi repreendido pelo Senhor quando
necessário e que depois de arrepender-se com toda a
sinceridade ele foi restaurado a sua relação favorável com a
divindade. Nós tampouco faremos tudo que é certo o tempo
todo. Mas quando tropeçarmos ou desagradarmos ao Senhor,
nós, como ele, poderemos nos arrepender e esforçãr-nos por
melhora-nos. Se assim fizermos, poderemos esperar a mesma
ajuda carinhosa das alturas. Sabendo que não alcançaremos
todos os níveis de perfeição nesta vida, o Presidente Lorenzo
Snow nos deu conhecimento e conselhos consoladores: "Se
pudéssemos ler um relato detalhado da vida de Abraão, ou a
vida de outros grandes e santos homens, acharíamos, sem
dúvida, que seus esforços também nem sempre foram coroados
com sucesso. Por isso, não devemos desanimar-nos se formos
vencidos num momento de fraqueza, pelo contrário, vamos
logo arrepender-nos do erro ou pecado praticado por nós e,
dentro do possível, consertá-lo e buscar novas forças de Deus
para continuar e aperfeiçoar-nos. Não podemos permitir que
nos desanimemos ao descobrirmos nossas fraquezas.
Dificilmente encontramos um caso em todos os exemplos
gloriosos que os profetas, antigos e modernos, nos deixaram
em que eles permitiram que o diabo os desanimasse. Mas, por
outro lado, os profetas sempre procuravam sobrepujar,
conquistar o prêmio e preparar-se para a plenitude da glória
celestial." [11]
Ao examinarmos o destino final de Joseph Smith e
considerarmos que se fizeram firmes a sua vocação e eleição,
muitos vão pensar que não temos condições de seguir o seu
exemplo. Mas a diferença principal entre nós e Joseph é que o
selamento de sua exaltação se realizaou durante a sua vida
mortal. Certamente alguns de nós podemos também receber
um selamento igual ao do Profeta ao passo que muitos podem
não receber nesta vida. Porém a hora em que se recebe esta
bênção, pois para uns é mais cedo para outros mais tarde, não
importa muito no plano eterno. Aqueles que recebem a
aceitação do Senhor nesta vida e partem daqui tendo
permanecido fiéis até o fim no seu relacionamento com o
Senhor também serão recipientes do selamento para a vida
eterna. Escutem os ensinamentos confirmadores de um
apóstolo, o Élder Bruce R. McConkie, proferidos a respeito
deste assunto: "Todos os Santos fiéis, todos aqueles que
permaneceram fiéis até o fim, saem desta vida com uma
garantia absoluta de vida eterna. Não há nenhum equívoco,
nenhuma dÚvida nem incerteza em nossa mente. Aqueles que
foram verdadeiros e fiéis nesta vida não se afastarão do
caminho na vida vindoura. Se cumprirem seus convênios aqui
agora e partirem desta vida firmes e leais no testemunho do
nosso bem-aventurado Senhor, surgirão com uma herança de
vida eterna.
Nós não queremos dizer que aqueles que morrem, mantendo-
se na justiça do Senhor, e que são verdadeiros e fiéis nesta
vida, precisem ser perfeitos em todas as coisas quando
passarem para a próxima esfera de existência. Só há um
homem perfeito-o Senhor Jesus cujo Pai é Deus. . . . Mas o que
queremos dizer é que quando os santos de Deus traçarem um
rumo de retidão, quando adquerirem testemunhos inabaláveis
da veracidade e da divindade da obra do Senhor, quando
guardarem os mandamentos, quando vencerem o mundo,
quando colocarem em primeiro lugar as coisas do reino de
Deus, quem fizer tudo isso ao partir desta vida, mesmo que
ainda não tenha se tornado perfeito, receberá, não obstante, a
vida eterna no reino de nosso Pai e por fim se tornará perfeito
como perfeitos são Deus o Pai e seu Filho Jesus Cristo." [12]
Portanto nós realmente podemos seguir o mesmo caminho que
seguiu o Profeta Joseph Smith. Já aprendemos que o verdadeiro
sucesso na vida terrena consiste em obter a aceitação de Deus,
ou seja, sermos aceitos por Ele. Todos aqueles que alcançarem
tal estado poderão ter certeza disso pela presença pacífica e
consoladora do Espírito Santo. O Senhor disse a Joseph Smith
que ele saberia quando estava no lugar onde o Senhor queria
que ele estivesse pela "paz e pelo poder do meu Espírito que
afluirão a ti" (D&C 111:8).
Nenhum membro desta Igreja iria duvidar do sucesso que o
Profeta Joseph Smith atinguiu em sua vida terrestre. E o que foi
que ele fêz? Ele achou a aceitação de seu Salvador [13] , embora
por um tempo esta aceitção se tratasse de uma aceitação
condicional. Ele teve que provar-se como todos nós. Mas ele
padeceu e permaneceu fiel e obteve a promessa incondicional
do Senhor referente á vida eterna. Por isso não é de se admirar
que o próprio Profeta Joseph Smith tenha exclamado a todos
nós: "Ó! Eu rogo sinceramente a vós que vades adiante, que
vades adiante e façais firme vossa votação [chamado] e
eleição." [14]
Ao contemplarmos como nós podemos cumprir a ordem do
Profeta, digo simplesmente aos irmãos santos, os meus
conservos: "Recebem todos os convênios do sacerdócio que
lhes são disponíveis no templo e guardem-nos." Para
simplificar ainda mais, digo: "Obedeçam ao convênio batismal e
permaneçam fiéis até o fim, a promessa é a da vida eterna"
(vide Mosias 18:8-10). A vida eterna, ou a exaltação, é o grau
mais elevado de aceitação do Senhor. Ele não proporciona uma
dádiva maior que esta (vide D&C 14:7); este dom é conferido a
todos aqueles que são aceitos por ele e que continuam a
manter este estado de aceitação. Não há sucesso que seja de
mais importância. Que todos nós possamos nos esforçar
constantemente para atingi-lo é o que desejo e oro.

Anotações
[1] Neal A. Maxwell, in Conference Report, October 1976, 14.
[2] Neal A. Maxwell, in Conference Report, October 1976, 14.
[3] "America the Beautiful," Hymns (Salt Lake City: The Church
of Jesus Christ of Latter- day Saints, 1985), no. 338.
[4] John A. Widtsoe, The Message of the Doctrine and
Covenants (Salt Lake City: Bookcraft, 1969), 38.
[5] Ezra Taft Benson, The Teachings of Ezra Taft Benson (Salt
Lake City: Bookcraft, 1988), 70.
[6] Gordon B. Hinckley, Stand a Little Taller (Salt Lake City: Eagle
Gate, 2001), 161.
[7] Joseph F. Smith, Gospel Doctrine (Salt Lake City: Deseret
Book, 1963), 373.
[8] Joseph Smith, History of the Church of Jesus Christ of
Latter-day Saints, ed. B. H. Roberts, 2nd ed. rev. (Salt Lake City:
Deseret Book, 1980), 1:243.
[9] Smith, Gospel Doctrine, 132-33.
[10] Bruce R. McConkie, Doctrinal New Testament Commentary
(Salt Lake City: Bookcraft, 1973), 3:326, 330-31.
[11] Lorenzo Snow, "Blessings of the Gospel Only Obtained by
Compliance to the Law," Ensign, October 1971, 19, 21.
[12] Bruce R. McConkie, in Conference Report, October 1976,
158-59.
[13] Smith, History of the Church, 1:316.
[14] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith,
comp. Joseph Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book,
1967), 366.
Todos as Coisas São do Senhor

"Todos as Coisas São do Senhor": A Lei de


Consagração no Livro de Doctrina e Convênios
Steven C. Harper

Steven C. Harper é professor de História da Igreja e Doutrina da


Universidade Brigham Young e um dos redatores dos
documentos de Joseph Smith.

A lei de consagração contida em Doutrina e Convênios não se


trata da lei que muitos Santos dos Últimos Dias pensam que é.
Com o passar dos anos entre a época em que as revelações
foram recebidas e o dia de hoje surgiu entre os membros da
Igreja um fenômeno que os historiadores chamam de "memória
folclórica." Conforme a versão folcórica do passado, os
primeiros Santos não puderam viver a lei de consagração e por
isso o Senhor rescindiu a lei superior e no seu lugar concedeu a
lei inferior, a do dízimo. Não obstante, conforme o folclore,
algum dia tornaremos a viver outra vez a lei superior. [1] Não
importa quantos acreditem neste folclore, a versão que acabo
de citar não é, de jeito algum, a lei de consagração contida em
Doutrina e Convênios. O élder Neal A. Maxwell ensinou que
"muitos evitam a consagração porque parece abstrata e
assustadora demais. Os conscientes entre nós, porém, sentem
a inquietação divina." [2] Os que guardam os convênios
conscientemente precisam conhecer a lei de consagração
contida no livro de Doutrina e Convênios. Este ensaio tem por
objetivo fazer uma exposição resumida e não exaustiva desta
lei. O objetivo desta redação e o de ajudar os Santos
conscientes a entender e viver a lei de consagração da maneira
que ela se integra nas práticas atuais da Igreja.
A primeira premissa deste trabalho é, como ensinou o
Presidente Gordon B. Hinckley, que "a lei de sacrifício e a lei de
consagração não foram abolidas e continuam em
vigor." [3] Nenhuma revelação em Doutrina e Convênios
rescinde, suspende ou revoga a lei de consagração. O livro de
Doutrina e Convênos nunca se refere a uma lei superior ou a
uma lei inferior, somente à lei. De fato, as revelações não falam
das leis de Deus como se fossem as leis propostas por
legisladores, isto é: sujeitas a voto, veto e emendas. Em vez
disso as revelações dizem que as leis de Deus são eternas. Em
outras palavras, a lei foi revelada a Joseph Smith em fevereiro
de 1831 mas aquela lei em si sempre era, é e será. A
consagração é a lei do reino celeste e a seção 78 nos ensina
que ninguém receberá uma herança que não tenha guardado a
lei de consagração (vide D&C 78:7).

A Lei de Consagração
A própria lei é declarada de forma clara em cada uma das obras
padrão e mais explicitamente em Doutrina e Convênios. Ela foi,
como escreveu Hugh Nibley, "explicada não somente uma mas
várias vezes, de modo que não há desculpa por não
compreendê-la." [4] Esta lei foi revelada nesta dispensação
numa conferência de uma dÚzia de élderes reunidos em
Kirtland, Estado de Ohio, em 9 de fevereiro de 1831. O Senhor
havia prometido revelar a lei contanto que os Santos de Nova
York emigrassem para Ohio (vide D&C 38:32). Alguns dias
depois que Joseph e Emma chegaram a Kirtland, o Senhor
cumpriu sua palavra. Ele disse:
"E eis que te lembrarás dos pobres e consagrarás de tuas
propriedades, para sustento deles, aquilo que tiveres para lhes
dar, com um convênio e uma promessa que não poderão ser
violados.
E se deres de teus bens aos pobres, a mim o farás; e eles serão
entregues ao bispo de minha igreja e seus conselheiros, dois
dos élderes ou sumos sacerdotes que ele indicar ou tiver
indicado e designado para esse propósito.
Ele recebido esses testemunhos concernentes à consagração
das propriedades de minha igreja, de modo que elas não
possam ser tomadas da igreja, conforme os meus
mandamentos, todo homem será responsável perante mim, um
mordomo de seus próprios bens ou do que tiver recebido por
consagrção, aquilo que for suficiente para si e sua família.
E também, se houver propriedades nas mãos da igreja ou de
qualquer de seus membros após esta primeira consagração,
mais do que o necessário para o seu sustento, o que for um
resíduo a ser consagrado ao bispo será conservado para que,
de tempos em tempos, seja dado ao que não têm, a fim de que
todo homem necessitado possa ser amplamente suprido e
receba de acordo com suas necessidades.
Portanto o restante será guardado em meu armazém para dar
aos pobres e necessitados, segundo designação do sumo
conselho da igreja e do bispo e seu conselho;
E para comprar terras para o benefício da igreja e para construir
casas de adorção e edificar a Nova Jerusalém que será depois
revelada-
Para que o meu povo do convênio esteja reunido como um no
dia em que eu vier ao meu templo. Isto farei para a salvação de
meu povo. (D&C 42:30-36)
A lei de consagração que se encontra em Doutrina e Convênios
é simples e sublime. Resumida num só versículo conciso, ela
consiste nisso: "E se receberes mais do que o necessário para
teu sustento, entregá-lo-ás a meu armazém, para que todas as
coisas sejam feitas de acordo com o que eu disse" (D&C 42:55).
Porém a consagração é mais do que o mero ato de dar. Trata-
se da santificação que Ele nos dá por nossa boa vontade e
motivos corretos, o que se descreve na seção 82 deste jeito:
"todo homem procurando os interesses de seu próximo e
fazendo todas as coisas com os olhos fitos unicamente na
glória de Deus" (versículo 19). Consagrar não é só dar, é
santificar, ou fazer sagrado ou santo. Os posses, o tempo e os
dons espirituais podem tornar-se sagrados através de ofertá-
los porém essa filantropia não é consagração, nem o é fazer
uma oferta simbólica quando se tem abundância. Aprendemos
este princípio através de um relato do Evangelho de São Lucas
em que o Salvador diferencia entre os homens ricos que
lançavam riquezas na tesouraria e a viÚva que sacrificou tudo
(vide Lucas 21:1-4).
Consagrar é guardar os dois grandes mandamentos cujas
palavras chaves são amor e todo. "Amarás ao Senhor teu Deus
detodo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas
forças, e de todo o teu entendimento, e a teu próximo como a
ti mesmo" (Luke 10:27). Este mandamento de consagrar tudo se
repete em Doutrina e Convênios: "Amarás o Senhor teu Deus de
todo o teu coração, de todo o teu poder, mente e força; e em
nome de Jesus Cristo servi-lo-ás" (D&C 59:5). A manifestação
visível de todo o amor de uma pessoa foi indentificada por um
erudito desta forma: "dar tudo que puder" em vez de uma
doação obrigatória de um valor requerido. [5] As quantias de
dinheiro e de tempo podem ser iguais nestes dois cenários mas
para aquele que der tudo a oferta será consagrada.
Quem retém uma parte não se consagrou ainda (vide Atos 5:1-
11). Nossa cultura voltada para a riqueza nos habitua a pensar
na consagração em termos de dinheiro. E de fato o Senhor nos
pede ofertas de dinheiro para edificar o reino mas também para
medir os desejos de nosso coração: "Pois onde estiver o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração" (Mateus 6:21).
Aconsagração não consiste só em dinheiro e sim em oferecer
tudo que temos em troca de tudo que o Pai tem, ou seja, "as
riquezas da eternidade" (D&C 38:39), e não as insignificantes
"coisas deste mundo" (D&C 121:35), tampouco, aquilo que em
outra parte de Doutrina e Convênios o Senhor chama "todas as
suas coisas detestáveis" (D&C 98:20, vide também 67:2; 68:31;
78:18). "Que taxa de câmbio extraordinária!" declarou o élder
Neal A. Maxwell. [6] Só os bitolados recusariam esta troca (vide
Lucas 12:16-21).

Arbítrio, Mordomia e Prestação de Contas


A lei de consagração tal qual se encontra em Doutrina e
Convênios pode se comparar a um tamborete de três pés onde
os pés representam o arbítrio, a mordomia e a
responsabilidade. O arbítrio é o poder de agir por nós mesmos
com relação à lei, independente do que os outros pensam,
dizem ou fazem. Conhecendo a lei, podemos guardá-la ou
rejeitá-la, procrastinar ou obedecer, não dar atenção ou
observar, sacrificar tudo ou reter uma parte. Ninguém nunca
será obrigado a cumprir com a lei de consagração. Notem como
isso funcionava em inícios da década de 1830: "E eis que te
lembrarás dos pobres e consagrarás de tuas propriedades, para
sustento deles, aquilo que tiveres para lhes dar, com um
convênio e uma promessa que não poderão ser violados. E se
deres de teus bens aos pobres, a mim o farás; e eles serão
entregues ao bispo de minha igreja e seus conselheiros, dois
dos élderes ou sumos sacerdotes que ele indicar ou tiver
indicado e designado para esse propósito" (D&C 42:30-31).
Alguns do Santos pioneiros consagraram suas propriedades aos
pobres mediante um convênio e uma escritura, conforme os
detalhes explicados na revelação recebida em maio de 1831
por Joseph Smith (vide D&C 51). O Bispo Edward Partridge,
como diz a revelação, iria "designar a este povo suas porções,
igualmente a cada homem, de acordo com sua família e de
acordo com suas condições e suas carências e necessidades.
E que meu servo Edward Partridge, quando designar a um
homem sua porção, dê-lhe um documento que lhe assegure
sua porção, para que a conserve, sim, este direito e esta
herança na igreja, até que transgrida e não seja considerado
digno de pertencer a ela, pela voz da igreja, de acordo com as
leis e convênios da igreja.
E se transgredir e não for considerado digno de pertencer à
igreja, não terá poder para reclamar a porção que consagrou ao
bispo para os pobres e necessitados da igreja; portanto ele não
conservará a dádiva, mas terá direito somente à porção que
tenha recebido por documento.
E assim todas as coisas serão asseguradas, de acordo com as
leis do país" (D&C 51:3-6).
Joseph escreveu ao Bispo Partridge, dando "sua visão
concernente à consagração, às propriedades [e] conceder
heranças," destacando o princípio fundamental de arbítrio:
"A lei do Senhor o obriga a receber por escritura toda
propriedade consagrada. Considera-se a propriedade
consagrada o resíduo retirado para o armazém do Senhor o
qual foi dado para este fim: a compra de heranças para os
pobres e isto, conforme as leis de nosso país, todo homem tem
direito de fazer, sim, doar, dar e consagrar tudo que estiver
diposto a dar. E é seu dever assegurar que tudo que for dado
seja dado conforme a lei, porquanto é dado em benefício dos
santos pobres. [7] O Profeta continuou a ensinar ao Bispo
Partridge a lei de consagração, lembrando-o de sempre
respeitar o arbítrio dos indivíduos: "Com relação às heranças tu
és obrigado pela lei do Senhor a dar uma escritura para garantir
àquele que recebe a herança que sua herança seja uma herança
sempiterna, ou seja sua própria propriedade, sua mordomia
particular." [8]
Os documentos que o Bispo Partridge usou na década de 1830
para receber consagrações e dar heranças mostram os
princípios de arbítrio, mordomia e responsabilidade. Menos de
uma dÚzia destas escrituras ainda existe. Um dos documentos
ainda existentes pertencia a Levi Jackman, um marceneiro que
morava no Condado de Portage no Estado de Ohio. Em 1831
Levi Jackman conheceu Joseph Smith, leu o Livro de Mórmon e
se converteu. Ele e outros conversos se reuniram em Sião no
Condado de Jackson, Estado de Missouri onde ele passou seus
bens ao Bispo Partridge, em nome da Igreja, "de sua livre e
espontânea vontade." Não era muita coisa-"alguns móveis que
valem trinta e sete dólares, também duas camas com lençóis e
cobertores e penas no valor de quarenta e quatro dólares com
cinqüenta centavos, também três machados e outras
ferramentas que valem onze dólares e vinte e cinco centavos"-
mas era tudo que ele possuía. Em troca disso o Irmão Jackman
recebeu um lote na terra da atual Kansas City e "alguns móveis
que valem trinta e sete dólares, também duas camas com
lençóis e cobertores e penas no valor de quarenta e quatro
dólares com cinqüenta centavos, também três machados e
outras ferramentas que valem onze dólares e vinte e cinco
centavos." [9] O Irmão Jackman ofereceu tudo que tinha ao
Senhor. O Senhor lhe devolveu sua oferta pequena e
acrescentou uma linda fazenda. Para Levi Jackman obedecer à
lei de consagração não se tratava de voto de pobreza e sim um
investimento tanto espiritual como material- fez a troca de boa
vontade, baseando-se no primeiro grande mandamento, o de
amar a Deus com tudo que tinha e de receber em troca todo o
amor de Deus.
Embora a propriedade que Jackman recebeu do bispo fosse
exatamente o que havia consagrado, a transação representava
mais do que uma transferência técnica. Por consagrar seus
posses ao Senhor, o Irmão Jackman se colocou no cargo de
mordomo em vez de dono. Notem como o Senhor destaca o
princípio de mordomia nesta passagem da lei:
"E acontecerá que, uma vez entregues [as propriedades] ao
bispo de minha igreja e depois de haver ele recebido esses
testemunhos concernentes à consagração das propriedades de
minha igreja, de modo que elas não possam ser tomadas da
igreja, conforme os meus mandamentos, todo homem será
responsável perante mim, um mordomo de seus próprios bens
ou do que tiver recebido por consagrção, aquilo que for
suficiente para si e sua família.
E também, se houver propriedades nas mãos da igreja ou de
qualquer de seus membros após esta primeira consagração,
mais do que o necessário para o seu sustento, o que for um
resíduo a ser consagrado ao bispo será conservado para que,
de tempos em tempos, seja dado ao que não têm, a fim de que
todo homem necessitado possa ser amplamente suprido e
receba de acordo com suas necessidades. (D&C 42:32-33)
Um dono não presta contas para ninguém. Um mordomo é um
agente livre com poder de agir com independência porém
presta contas em relação a suas ações para o Dono real. Por
este motivo se refere a esta lei como a lei de consagração e
mordomia. Ela nos manda assim: "Permanecerás firme no local
de tua mordomia" (D&C 42:53), e outras revelações esclarecem:
"E um relatório dessa mordomia deles exigirei no dia do juízo"
(D&C 70:4), "e aquele que for um mordomo prudente e fiel
herdará todas as coisas" (D&C 78:22).
Em julho de 1831, o Senhor tornou William Phelps um agente
livre. Ele tinha poder de agir independentement e na seção 55
de Doutrina e Convênios o Senhor lhe deu mandamentos para
cumprir. Era para ele ajudar Oliver Cowdery como mordomo da
gráfica e das publicações da Igreja e ele desempenhou esta
função com uma prensa e papel que a Igreja comprou com
recursos consagrados (vide D&C 55:4). Com o poder de agir e
talentos e propriedades a sua disposição junto com um
mandamento do Senhor, Phelps era responsável perante o
Senhor pelas coisas que o Senhor lhe dera: o arbítrio, o talento,
uma prensa, tinta e papel. Em março de 1834, Joseph esreveu a
William Phelps para corrigi-lo pois este achava que era dono
daquilo tudo: "Irmão William- Tu dizes 'minha prensa, meus
tipos, etc.' Onde, perguntam os irmãos, os compraste e como é
que passaram a ser 'teus?' [Escrevo-te] sem dureza mas com
cautela pois sabes que se trata de nós e não eu, e todas as
coisas são do Senhor e foi Ele que abriu o coração dos
membros de sua Igreja para fornecer essa coisas, senão nós
não teríamos o privilégio de usá-las." [10]
Moisés teve que mandar o mesmo lembrete aos israelitas
errantes que pareciam esquecer tão facilmente como nós:
"Lembrarás o Senhor teu Deus: porque é ele que te dá o poder
de ganhar riquezas" (Deuteronômio 8:18). Quão fácil é nos
lembrarmos daquilo que conquistamos ou que alguém nos
deve. Quão fácil é esquecer e não dar valor àquilo que
recebemos. O Professor Hugh Nibley se esforçou muito para
desmascarar a noção que não existe o almoço grátis. Recebe-
se, figurativamente, pela graça de Deus, o almoço grátis no
sentido que mais nos importa. Assim é a salvação, como disse
o patriarca Leí (vide 2 Nephi 2:4). Assim como o Rei Benjamim
profundamente ensinou, nós não somos donos de nada em
termos de acordos terrestres que evaporam "quando os homens
falecem" (D&C 132:7; vide também Mosias 2:21-25). Quando
enxergamos as coisas como realmente são e serão entendemos
que nós somos mordomos da abundância que vem do Senhor.
A lei de consagração e mordomia transforma os mordomos em
agentes livres por designar-lhes sua "própria propriedade" sem
dar a sensação falsa de que são donos (D&C 42:32). As
doutrinas fundamentais nisso tudo são arbítrio e prestação de
contas. é doutrina falsa achar que nós somos os donos e
portanto não temos que prestar contas. [11] é difícil, talvez até
anti-cultural, atuar como se fôssemos simplesmente mordomos
responsáveis porque nossa cultura, que nos ensina a amontoar
bens, profundamente nos acostumou à idéia de "meu e minha."
O Presidente Brigham Young nos ensinou que "nenhuma
revelação que já foi dada é tão fácil de compreender como a lei
de consagração. . . . Mesmo assim, quando o Senhor falou a
Joseph, instruindo-o a aconselhar o povo a consagrar suas
posses e passar o título à Igreja por meio de um convênio que
não pode ser violado, será que o povo aceitou? Não. Mas aí
começaram a descobrir que estavam errados e só apoiavam o
conceito de tudo pertencer ao Senhor da boca para fora." O
Presidente Young continuou: "O que os irmãos têm para
consagrar que realmente é seu? Nada." [12]
O Senhor insiste nesta ligação entre arbítrio, mordomia e
responsabilidade. Visto que Ele nos capacitou a atuar
independentemente com os haveres dEle, teremos que prestar
contas. Ele repete este ponto claramente ao longo do livro de
Doutrina e Convênios, inclusive na seção 104: "Isto é minha
sabedoria; portanto dou-vos o mandamento de que vos
organizeis e designeis a todo homem sua mordomia; para que
todo homem me preste contas da mordomia que lhe for
designada. Porque é conveniente que eu, o Senhor, faça cada
homem responsável como mordomo de bênçãos terrenas que
fiz e preparei para minhas criaturas" (versículos 11-13). Para
enfatizar o princípio de quem é dono da Terra e seu conteÚdo,
o Senhor continua com bastante ênfase: "Eu, o Senhor, estendi
os céus e formei a Terra, obra de minhas mãos; e todas as
coisas que neles há são minhas. Pois a Terra está repleta e há
bastante e de sobra; sim, preparei todas as coisas e permiti que
os filhos dos homens fossem seus próprios árbitros." E qual
será nossa responsabilidade? "Portanto, se algum homem tomar
da abundância que fiz e não repartir sua porção com os pobres
e os necessitados, de acordo com a lei de meu evangelho, ele,
com os iníquos, erguerá seus olhos no inferno, estando em
tormento" (D&C 104:14-15, 17-18).
Esta passagem poderosa baseia-se na história de Lázaro e o
homem rico que se encontra no Novo Testamento em Lucas,
capítulo 16. Os manuscritos mais antigos da seção 104 de
Doutrina e Convênios estão ainda mais vinculados àquela
passagem no Evangelho de Lucas. O Livro de Revelações de
Kirtland, por exemplo, diz que se alguém não compartilha
segundo a lei de Deus, "ele levantará os olhos com Dives [no
inferno] estando atormentado." [13] Dives é uma palavra do
latim que significa o ricoe, baseado em traduções da Bíblia do
latim, foi adaptada e usada como o nome do rico na história
contada por Cristo do rico e Lázaro em Lucas 16:19-31. No
relato de Lucas, o rico "vivia todos os dias regalada e
esplendidamente" (versículo 19) ao passo que "certo mendigo,
chamado Lázaro" (versículo 20) em vão aguardava as migalhas
que caíam da mesa do rico. Quando os dois homens faleceram,
os anjos levaram Lázaro ao seio de Abraão enquanto o rico foi
ao inferno. "E no inferno, ergueu os olhos, estando em
tormentos" (versículo 23), ironicamente rogando a Lázaro que
aliviasse seu sofrimento.
Doutrina e Convênios 104:18 evoca aquela história e aplica-a
aos Santos dos Últimos Dias. Quando a Igreja publicou esta
revelação em 1835 como a seção 98 de Doutrina e Convênios,
o nome Dives foi mudado e ficou "o iníquo," talvez porque o
nome não se encontra no Novo Testamento mas vem de
folclore subsequente, ou talvez porque o significado de Dives
não fosse muito conhecido entre os Santos dos Últimos Dias.
Mesmo assim, a presença de Dives nos manuscritos mais
velhos torna o significado essencial desta passagem
inconfundível, isto é, os mordomos das coisas abundantes do
Senhor que não compartilharem aquilo que possuem com os
pobres, como o rico na história de Cristo, lamentarão não
terem usado o arbítrio de maneira correta. é um dos pontos
que o Senhor salienta na seção 104. Ele enfatiza: "E também
vos dou um mandamento concernente às mordomias que vos
designei. Eis que todas estas propriedades são minhas; do
contrário vossa fé é vã e sois considerados hipócritas; e os
convênios que fizestes comigo estão quebrados" (D&C 104:54-
55). O Senhor declara que é dono "da Terra e todas as coisas
nela," inclusive "todas estas propriedades" e nos compele a
escolher: Ou Ele é o criador onipotente e dono da Terra e tudo
que nela há ou Ele é algo inferior e portanto incapaz de
recompensar nossa fé.
Se O reconhecemos como Senhor de tudo mas ainda deixamos
de consagrar segundo sua ordem, somos hipócritas.
Reconhecer Deus é admitir que Ele tem todo direito de
redistribuir sua própria riqueza de acordo com a Sua própria
vontade divina. Assim as revelações defendem tais noções
radicais como esta, uma das metas declaradas da lei:
"Consagrarei das riquezas daqueles que abraçam meu
envangelho entre os gentios aos pobres de meu povo, que são
da casa de Israel" (D&C 42:39), e este decreto do Senhor: "Mas é
necessário que seja feito a meu modo; e eis que este é o modo
que eu, o Senhor, decretei para suprir meus santos, para que os
pobres sejam aumentados naquilo que os ricos são diminuídos"
(D&C 104:16; vide também 58:8-12). Na verdade, as revelações
não dão direito aos mordomos de reter ou usar as coisas do
Senhor para quaisquer fins a não ser os que são ordenados por
Ele. Segundo o que o Senhor disse a Joseph em maio de 1831,
"Mas não foi determinado que possuísse um homem mais do
que o outro; portanto o mundo se acha em pecado (D&C
49:20).

A Consagração Hoje
Quando os santos foram expulsos das terras do Condado de
Jackson que o Bispo Partridge havia comprado legalmente e
passado por escritura aos Santos, Joseph Smith orou ao Senhor
em julho de 1838 e pediu: "O! Senhor, mostra aos teus servos.
Quanto das propriedades de teu povo tu requeres de
dízimo?" [14] Os santos modernos podem estar perplexos que
ele tivesse que fazer tal pergunta. Não sabiam eles que o
dízimo era de 10 por cento? A resposta é não, por dois
motivos. Primeiro, embora o radical hebraico da palavra dízimo
em Malaquias 3:8, 10 refira-se a um décimo, os Santos não
associavam esta palavra com um décimo nesta dispensação até
que o Senhor respondeu à oração de Joseph, dando a seção
119. Segundo, esta revelação emprega a palavra dízimo uma
vez e dizimado duas vezes. Nestes três casos a palavra refere-
se ao primeiro mandamento desta revelação: "Em verdade
assim diz o Senhor: Exijo que todos os seus bens excedentes
sejam entregues nas mãos do bispo da minha igreja em Sião"
(D&C 119:1). Este é o começo do dízimo, que ao contrário do
que muitos dizem, não se trata de uma lei inferior nem
temporária, segundo a seção 119, e sim, "uma lei em vigor para
sempre para eles" (D&C 119:4), e esta lei foi dada pelos
mesmos motivos que foi dada a lei de consagração na seção
42, e outras seções.
Apesar de algumas das táticas de implantação da lei serem
diferentes hoje em dia, não há nenhuma diferença grande entre
o que o Senhor espera do santos hoje e o que Ele ordenou pela
primeira vez em seção 42, nem na emenda subsequente na
seção 119. Em outras palavras, a seção 119 não foi dada em
lugar da lei de consagração; é uma reiteração da lei de
consagração e estabelece as condições em que podemos viver a
lei hoje em dia.
Brigham Young estava presente quando o Senhor revelou a
seção 119. Ele foi designado para visitar os Santos e "descobrir
que propriedades sobravam a fim de adiantar a construção do
templo a que se deu início em Far West." Antes de embarcar ele
perguntou a Joseph, "'Quem será juiz do que é propriedade
residual?' Ele disse: 'Que eles mesmos sejam o juiz de
si.'" [15] Consequentemente alguns Santos dos Últimos Dias
ofereceram seu restante de propriedades.
Alguns ofereceram parte delas. Alguns não deram nada.
Ninguém foi forçado; e assim permanece hoje. O indivíduo
decide obedecer ou não de sua livre vontade.
Às vezes dizemos que devemos estar preparados para viver a
lei de consagração para o dia em que os líderes nos pedirem.
Às vezes usamos a palavra requerer, passando a
responsabilidade à Igreja ou aos líderes. Meus alunos me
perguntam em seguida: Por que os líderes não requerem que
vivamos a lei da consagração hoje em dia? Fico pensando: O
que será que querem dizer por requerer. Pensam que os
diáconos serão mandados de casa em casa para fiscalizar nossa
despensa ou levantar uma auditoria da nossa conta bancária?
Se pensamos que é assim, não compreendemos nem a lei de
consagração nem como Deus atua. E claramente não
entendemos a lei de consagração assim como se encontra em
Doutrina e Convênios. Em outras palavras, já nos foi ordenado
guardar a lei de consagração. E muitos já fizeram o convênio.
Sim, é nos requerido, de certa forma, se esperamos receber as
bênçãos prometidas, inclusive a glória celestial. O Senhor pode
não mandar agora os diáconos confiscar nosso excesso mas,
como declara Doutrina e Convênios 104: 13-18, os que
quebram o convênios acabarão mais tarde sofrendo os
tormentos do inferno.
Então, quem guardar os convênios de maneira cuidadosa
procurará saber o que mais o Senhor possa lhe requerer. Como
nós, no século vinte e um, podemos cumprir com a lei de
consagração? Que querem dizer os vocábulos ambíguos da lei,
tais comoresíduo, suficiente, mais do que é necessário, desejos
e abundantemente suprido? Esta cuidadosamente proferida lei
claramente ensinsa princípios e não dogmas. Ela revela a
vontade do Senhor sem coerção e compulsão. Possibilita que
quaisquer membros possam "ocupar-se zelosamente numa boa
causa e fazer muitas coisas de sua livre e espontânea vontade e
realizer muita retidão. Pois neles está o poder e nisso saõ seus
próprios árbitros. E se os homens fizerem o bem, de modo
algum perderão sua recompensa. Mas o que nada faz até que
seja mandado e recebe um mandamento com o coração
duvidoso e guarda-o com indolência, é condadado" (D&C
58:27-29). Palavras como estas são suficientes para colocar a
mordomia e responsabilidade no contexto certo. Compelem-
nos a utilizar nosso arbítrio e agir por nós mesmos. Nós é que
decidimos o que significam em termos de tempo e dinheiro
porque somos os mordomos investidos de poder e
responsáveis perante o Senhor pelo uso ou abuso daquilo que
pertence justamente a Ele. Joseph entendia e ensinava este
princípio. Ele aconselhou o Bispo Partridge, que às vezes era
intrometido, a não "entrar em grandes detalhes ao fazer os
inventários ." Como o Profeta colocou: "Um homem se
compromete, pela lei da Igreja, a consagrar os bens, sem ser
obrigado, ao bispo antes de que possa ser herdeiro legal do
reino de Sião. A não ser que faça isso não pode ser reconhecido
perante o Senhor no livro da Igreja. . . . Cada qual deve ser seu
próprio juiz quanto àquilo que deve receber e deve deixar nas
mãos do Bispo." [16]
Depois que os Santos foram expulsos de Condado de Jackson
em 1833, o Bispo Partridge parou de receber ofertas e dar
mordomias por escrituração. A revelação de Fishing River que
deu cabo ao acampamento de Sião no verão de 1834, a atual
seção 105, contém um versículo que faz alguns estudiosos
crerem que o cumprimento da lei de consagração tenha sido
adiado: "E que os mandamentos que dei com respeito a Sião e
sua lei sejam executados e cumpridos após sua redenção"
(versículo 34). Este versículo não fala em revogar a lei. Diz que
os mandamentos específicos de comprar terras e construir um
templo em Jackson e talvez até a escrituração de mordomias
específicas serão executados depois que o Condado de Jackson
for devolvido aos Santos. Como é que isto pode acontecer sem
antes obedecer à lei? Hugh Nibley escreveu, com um pouco de
frustração, que "o propósito categórico da lei de consagração é
o de edificar Sião. . . . Não esperamos Sião chegar para começar
a observá-la; ao contrário disso, significa que é o meio de nos
aproximar mais de Sião" [17] Lorenzo Snow ensinou que o
Santos não são "justificados em esperar o privilégio de voltar
para edificar a estaca central de Sião até que todos
demonstremos obediência à lei de consagração." Ele tinha
certeza que aos Santos não seria permitido entrar na terra de
onde foram expulsos até que o coração estivesse preparado
para honrar esta lei e fôssemos santificados por praticar esta
verdade." [18]
Munidos de conhecimento correto da lei, somos agentes livres-
mordomos responsáveis pelas posses do Senhor, inclusive nós
mesmos. Temos que agir agora ou em obedecer à lei de
consagração ou em desobedecer. Não fazer nada equivale a
desobedecer. Mas o bispo nem pede nem dá título da minha
herança.
Como posso obedecer? O élder Orson Pratt sabiamente
observou que não há nada "escrito nas revelações que nos
requeira utilizar um método específico." [19] Então, o que
espera o Senhor? C. S. Lewis acreditava que "a Única regra
segura é dar mais do que temos condições de dar. Em outras
palavras, se nossas despesas com conforto, coisas luxuosas e
diversão, etc. são iguais às das pessoas que têm uma renda
semelhante a nossa, provavelmente não estamos doando o
suficiente. Se o que damos de caridade não nos apertar ou nos
impedir de fazer algo, eu direi que é muito pouco. Deve haver
algumas coisas de que gostamos de fazer mas que não
podemos porque nossa caridade nos deixa sem condições de
fazê-las." [20] Além do convite aberto do Senhor de fazer
muitas coisas boas de nossa livre e espontânea vontade, os
líderes do sacerdócio nos dão oportunidades específicas de
doar nosso tempo, talentos e posses para aliviar a pobreza e
edificar o reino. Alguém sugeriu esta diretriz (em conformidade
com D&C 42:54; 104:18; e a seção 119) para exercer nosso
arbítrio: "Além de pagar um dízimo honesto, devemos ser
generosos em ajudar os pobres." [21] O Presidente Marion G.
Romney perguntou: "O que nos proíbe de dar uma oferta de
jejum equivalente aos resíduos que davam em 1830? Nada
senão nossas próprias limitações." [22] O Presidente Spencer W.
Kimball mandou: "Dêem, em vez do valor que poupamos ao
jejuar por duas refeições, muito mais- dez vezes mais se
tiverem condições de fazê-lo." [23]
Pais vivem a lei quando "deixam as coisas deste mundo" a favor
de criar os filhos de Deus (D&C 25:10). Os casais guardam a lei
quando deixam o lazer para ir a lugares distantes ou até
próximos para "realizar muita retidão" (D&C 58:27). Os
profissionais vivem a lei quando oferecem sua perícia aos
necessitados sem se preocuparem com os honorários ou
elogios. Podemos viver a lei por nos tornarmos "propriedade
comum de toda a igreja," e "procurar os interesses de seu
próximo e fazer todas as coisas com os olhos fitos na glória de
Deus" (D&C 82:18-19). Geralmente o Único documento de que
precisamos é o papelzinho muito conhecido do dízimo e
ofertas que estão disponíveis em todas as capelas onde os
Santos dos Últimos Dias se reÚnem. A Única limitação, como
disse o Presidente Romney, é aquela que nos impomos em nós
mesmos.
Wilford Woodruff, um dos soldados valentes do Acampamento
de Sião, não acreditava que a revelação que deu fim ao
acampamento (vide D&C 105) fosse nem rescindida nem
adiada. Em fins de 1834, seis meses depois que a revelação foi
dada (seção 105), Wilford escreveu uma carta ao Bispo Partridge
com estas palavras: "Saibam todos que eu, Wilford Woodruff,
livremente faço convênio com meu Deus que livremente me
consagro e dedico junto com todas as minhas propriedades e
pertences ao Senhor a fim de ajudar a edificar seu reino, sim
Sião, na Terra para que eu guarde sua lei e coloque todas as
coisas perante o bispo de sua Igreja para ser um herdeiro legal
do Reino de Deus, o Reino Celestial," então ele forneceu uma
relação de seus bens. [24]
Wilford entendia perfeitamente as doutrinas da lei de
consagração. Tinha arbítrio. Duas vezes ele disse que agiu de
livre e espontânea vontade, sem coerção nem qualquer outro
convite senão a revelação original. Ele era mordomo de
"propriedades e pertences," e prestava contas ao Senhor e ao
servo do Senhor, o bispo. Wilford Woodruff tomou seu arbítrio e
se empenhou com afã na Única causa que, afinal das contas,
importa. Nem a desobediência dos irmãos e irmãs, nem a
crueldade das turbas nem a cultura opressiva e materialista que
se preocupava com a aquisição de bens o desviou do caminho
de consagração. Ninguém pôde convencê-lo de que o Senhor
havia revogado a lei.
Joseph reconhecia o fato de que ao serem expulos de Missouri
em 1839, os Santos destituídos não tinham condições de
edificar a Nova Jerusalém naquela época tampouco de viver a lei
como um povo. Mas ele não disse que o Senhor havia revogado
a lei, só que os Santos tinham bem pouco e que não havia
resíduo. Porém Joseph mal havia saído do cárcere de Liberty
quando deu início às obras da cidade de Nauvoo, coroando-a
com um templo sagrado cujas ordenanças poderosas culminam
com o convênio de consagração ao reino de Deus. Tendo sido
dotado de convênio pelas mãos de Joseph no templo de
Nauvoo, Wilford deixou aberta a porta de sua casa e saiu para o
oeste para construir mais templos. Sua casa e propriedades
haviam cumprido seu destino como meios temporários para
chegar a um destino sagrado. Levi Jackman se uniu a ele e os
outros que foram guiados pelo Presidente Young, inspirados
por estas palavras da seção 136 de Doutrina e Convênios, uma
revelação que reafirma todos os princípios da lei de
consagração: "E este será nosso convênio: Caminharemos de
acordo com todas as ordenanças do Senhor" (versículo 4).
"Ao ponderar e procurar a consagração," disse o élder Neal A.
Maxwell, "naturalmente trememos dentro de nós mesmos ao
contemplar o que pode ser-nos requerido. Mesmo assim, o
Senhor já disse de maneira muito consoladora que 'Minha graça
vos basta' (D&C 17:8). Será que realmente acreditamos nEle? Ele
também prometeu fazer fortes as coisas fracas (éter 12:27).
Estamos realmente dispostos a nos submeter a este processo?
Pois se desejamos a plenitude, não podemos reter uma
parte!" [25]

Anotações
[1] Leonard J. Arrington, Feramorz Y. Fox, e Dean L. May,
Building the City of God: Community and Cooperation among
the Mormons (Urbana: University of Illinois Press, 1992), 426.
[2] Neal A. Maxwell, Conferência Geral de abril de 2002, 41.
[3] Gordon B. Hinckley, Teachings of Gordon B. Hinckley (Salt
Lake City: Deseret Book, 1997), 639.
[4] Hugh W. Nibley, Approaching Zion, redação de Don E.
Norton (Salt Lake City: Deseret Book, 1989), 167.
[5] Clark V. Johnson, "The Law of Consecration: The Covenant
That Requires All and Gives Everything," em Doctrines for
Exaltation: The 1989 Sperry Symposium on the Doctrine and
Covenants (Salt Lake City: Deseret Book, 1989), 112.
[6] Maxwell, Conferência Geral de abril de 2002, 43.
[7] Carta de Joseph Smith a Edward Partridge, 2 de maio de
1833, Church History Library, Salt Lake City.
[8] Carta de Joseph Smith a Edward Partridge, 25 de junho de
1833, Joseph Smith Letter Book 1829-35, 44-50, Church
History Library.
[9] Levi Jackman, Deed of Consecration, Church History Library,
replicado em Arrington, Fox, e May, Building the City of God,
28-29. Conforme o mandamento original, o Bispo Partridge
alugou aos Santos as propriedades que comprara. Devido à
controvérisa legal, os conselhos de Joseph e a revisão profética
da seção 51, alterou-se a forma técnica de modo que o Bispo
Partridge foi instruído a passar a escritura das propriedades aos
Santos sem custos. Conforme esta prática da lei, os Santos e
não o Bispo Partridge passaram a ser "donos" de suas
mordomias no sentido legal. Porém as revelações subsequetnes
(principalmente a seção 104) continuavam a enfatizer que o
verdadeiro dono de tudo é Deus e que nós ainda somos seus
mordomos.
[10] Pós-escrito na carta de Joseph Smith a Edward Partridge e
outros de 30 de março de 1834, em Joseph Smith, Personal
Writings of Joseph Smith, ed. Dean C. Jessee, rev. ed. (Salt Lake
City: Deseret Book, 2002), 338-39.
[11] Orson Pratt, em Journal of Discourses (Liverpool: Latter-
day Saints' Book Depot, 1881), 21:148.
[12] Brigham Young, em Journal of Discourses (Liverpool:
Latter-day Saints' Book Depot, 1855), 2:305, 307.
[13] Kirtland Revelation Book [Livro de Revelações de Kirtland],
102, Church History Library, por vir em Steven C. Harper, Robin
Scott Jensen, e Robert J. Woodford, redatores, The Joseph Smith
Papers: Revelations and Translations Series, vol. 1 (Salt Lake
City: Church Historian's Press).
[14] Joseph Smith, diário, 8 de julho de 1838, em Dean C.
Jessee, redator, The Papers of Joseph Smith (Salt Lake City:
Deseret Book, 1992), 2:257.
[15] Brigham Young, em Journal of Discourses, 2:306.
[16] Joseph Smith Jr., Sidney Rigdon, e Frederick Williams a
William Phelps e outros, 25 de junho de 1833, Joseph Smith
Letter Book 1829-35, 44-50, Church History Library.
[17] Nibley, Approaching Zion, 390.
[18] Lorenzo Snow, em Journal of Discourses (Liverpool: Latter-
Day Saints' Book Depot, 1874), 16:276.
[19] Orson Pratt, em Journal of Discourses, 21:148.
[20] C. S. Lewis, Mere Christianity (San Francisco: HarperCollins,
2001), 86.
[21] Joe J. Christensen, Conferência Geral de abril de 1999, 11.
[22] Marion G. Romney, Conferência Geral de abril de 1966,
100.
[23] Spencer W. Kimball, Conferência Geral de abril de 1974,
184.
[24] Wilford Woodruff, diário, 31 de dezembro de 1834, Church
History Library.
[25] Maxwell, Conferência Geral de abril de 2002, 44.
Um por Um, o Modelo de Serviço do Salvador

Um por Um, o Modelo de Serviço do Salvador


Richard Neitzel Holzapfel
O Novo Testamento apresenta a obra terrestre de Jesus Cristo
como uma missão não somente para grandes grupos mas
também para indivíduos. As narrativas dos Evangelhos indicam
que em muitos casos havia contato físico direto entre Jesus e as
pessoas enquanto ele ministrava entre o povo. Por examplo,
quando ele curou a sogra de Pedro de uma febre, Jesus “tocou-
lhe a mão” (Mateus 8:14-15; vide também Marcos 1:30-31;
Lucas 4:38-39). De novo, Jesus “estendendo a mão, tocou” um
leproso para purificá-lo (Mateus 8:1-3). Igualmente tocou os
olhos de dois cegos ao curá-los (vide Mateus 9:27-31). Ele
curou a surdez e um defeito na fala quando colocou os dedos
nas orelhas do homem (Marcos 7:32-37). Ele “impôs as mãos
num cego” (Marcos 8:22-26). Ele curou um menino
endemoninhado quando “tomando-o pela mão, o ergueu”
(Marcos 9:14-29; vide também Mateus 17:14-21; Lucas 9:37-
43). O Salvador curou a filha de Jairo quando “tomou-a pela
mão” e levantou-a da morte (Mateus 9:23-26; vide também
Marcos 5:35-42; Lucas 8:49-55). Os Evangelhos do Novo
Testamento registram muito mais milagres em que
possivelmente houve contato físico. [1]
As vezes as pessoas estendiam a mão para tocar o Salvador,
como no caso da mulher que tinha fluxo de sangue que “tocou
na orla do seu vestido” (vide Lucas 8:43-36). Em alguns casos,
porém, se fez muito mais do que o simples ato de tocar. No
caso já citado da mulher, Jesus disse que “de mim saiu virtude”
(Lucas 8:46). Com referência a este fato, Joseph Smith explicou
que “a virtude a que se refere aqui é o espírito da vida” e que às
vezes nos sentimos enfraquecidos ao dar bênçãos. [2] Tanto o
comentário de Jesus como o do Profeta Joseph Smith indicam
que há uma transferência de poder em tais administrações.
De acordo com Marcos e Lucas, Jesus muitas vezes não curava
através de simplesmente tocar a pessoa, e sim pela imposição
formal das mãos (vide Marcos 5:23; 6:5; 7:32; 8:22-25 e Lucas
4:40; 13:13). Ele admoestou os discípulos a fazerem igual
(Marcos 16:18). As curas também se efetuavam pela imposição
das mãos na Igreja após a ressurreição (vide Atos 9:12, 17;
28:8). Jesus também abençoou as criancinhas mediante a
imposição das mãos (vide Marcos 10:13-16). A expressão
imposição da mãos tem um significado e propósito distintos na
Bíblia. A autoridade, ou poder, não passava literalmente ao
indivíduo pelos braços e mãos, mas a imposição das mãos era
uma representação simbólica do que era o foco do rito
religioso. A imposição das mãos do Velho Testamento
geralmente se referia aos sacrifícios e à sucessão aos ofícios do
sacerdócio e governo. No Novo Testamento vincula-se a
expressão a curas, batismos, o dom do Espírito Santo e a
designação a certos cargos administrativos na Igreja. Todos os
exemplos citados no Novo Testamento têm as seguintes
caraterísticas unificadoras: o contexto é sempre sagrado, como
se pode inferir pela menção frequente de oração, e em cada
caso de emprego da imposição das mãos se consegue realizar
algo concreto, embora o ato seja simbólico.

3 Néfi—O Quinto Evangelho


O livro de Terceiro Néfi, ao qual os Santos dos Últimos Dias
chamam o “quinto evangelho,” descreve em termos
semelhantes aos dos quatro evangelhos do Novo Testamento o
ministério de Cristo aos nefitas depois de sua ressurreição. O
livro dá ênfase às experiências individuais do povo nefita com o
Messias, notando seu contato físico, bem como a imposição das
mãos por parte dele num ato simbólico de transmissão de
poder e autoridade. Além disso, várias formas da palavra
ministrar são empregadas com relação a estas experiências. Na
sua introdução à narração do aparecimento, Mórmon declara:
“Eis que vos mostrarei que os do povo de Néfi que foram
poupados . . . receberam muitos favores e muitas bênçãos
foram derramadas sobre sua cabeça, de tal forma que, pouco
depois de sua ascenção ao céu, Cristo verdadeiramente se
manifestou a eles—mostrando-lhes seu corpo e ministrando
entre eles; e um relato de seu ministério será feito mais
adiante” (3 Néfi 10:18-19).
O relato do Livro de Mórmon do ministério de Jesus entre os
nefitas aumenta nosso entendimento do princípio de serviço
através de mostrar como os verdadeiros discípulos devem
ministrar aos outros. Este relato é mais claro e exato que o do
Novo Testamento no que se refere a muitos aspectos do
evangelho. Focaliza-se não somente nas palavras (doutrina) de
Jesus e sim nas suas ações (a doutrina aplicada). Pelo poder de
Cristo, Mórmon viu o futuro—nossos dias (vide Mórmon 3:16-
22). Portanto, é lógico concluir que o Senhor cuidadosamente
escolheu materiais para nos prover lições aplicáveis a nossa
atual situação. Depois que Jesus se revelou aos nefitas, ensinou
por meio de suas palavras e exemplos a relação entre
presenciar, tocar (imposição das mãos na maioria dos casos) e
ministrar. O Livro de Mórmon emprega o voc´bulo ministrar e
seus derivados para referir-se tanto ao atendimento pessoal
que se d´ como à imposição das mãos para a transferência
simbólica de poder.
Quando Cristo apareceu aos habitantes antigos das Américas,
convidou-os para “meter as mãos no meu lado e também
apalpar as marcas dos cravos em minhas mãos e em meus pés,
a fim de que saibais que eu sou o Deus de Israel e o Deus de
toda a Terra e fui morto pelos pecados do mundo” (3 Néfi
11:14). Toda a multidão de pessoas reunidas no templo da
terra de Abundância “se adiantou e meteu as mãos no seu lado
e apalpou as marcas dos cravos em suas mãos e seus pés” (3
Néfi 11:15), e quando trouxeram os doentes, enfermos e
criancinhas, havia mais ou menos 2.500 pessoas (vide 3 Néfi
17:25). Para salientar a experiência, Mórmon declara: “E isto
fizeram, adiantando-se um por um, até que todos viram com
os próprios olhos, apalparam com as mãos” (3 Néfi 11:15). O
efeito cumulativo da experiência pessoal fez com que todos
adorassem Jesus e clamassem: “Hosana! Bendito seja o nome
do Deus Altíssimo!” (3 Néfi 11:17).

Ordenanças Uma Por Uma


Então o Salvador ressuscitado ensinou que as ordenanças
sagradas eram para ser administradas individualmente. Ele
detalhou os procedimentos para fazer a ordenança do batismo:
“Em verdade vos digo que desta forma batizareis todos os que
se arrependerem de seus pecados pelas vossas palavras e
desejarem ser batizados em meu nome—Eis que descereis
à água em meu nome os batizareis.
“E eis que estas são as palavras que devereis dizer, chamando-
os pelo nome:
“Tendo autoridade que me foi concedida por Jesus Cristo, eu te
batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Amém.
“E então os imergireis na água e depois saireis novamente
da água” (3 Néfi 11:23-26).
É notável que cada pessoa seria chamada pelo nome específico
e daí imersa na água por uma única pessoa que faz a
ordenança.
Néfi batizou os discípulos da maneira prescrita—um por um. O
relato consta:
“E aconteceu que Néfi entrou na água e foi batizado. E ele saiu
da água e começou a batizar. E batizou todos aqueles que Jesus
escolhera (3 Néfi:11-12). O Livro de Mórmon confirma que se
ministrou ainda mais aos que se batizaram: “E aconteceu que
depois de todos terem sido batizados e saído da água, o
Espírito Santo desceu sobre eles e ficaram cheios do Espírito
Santo e fogo. E eis que eles foram envoltos, como que por fogo;
e o fogo desceu dos céus e a multidão testemunhou-o e
testificou-o; e desceram anjos dos céus e ministraram entre
eles. E aconteceu que enquanto os anjos ministravam entre os
discípulos, eis que Jesus se pôs no meio deles e instruiu-os e
ministrou entre eles” (3 Néfi 19:13-15).
Assim como no padrão estabelecido no Novo Testamento (vide
Marcos 1:31; 15:41; Luke 8:3), o ministério que se faz no Livro
de Mórmon parece ser algo espontâneo. À medida que os
discípulos batizavam os outros, cada um que cria recebia o
dom do Espírito Santo e ainda mais administrações.
Cristo também abençoou os enfermos entre os nefitas da
mesma forma que havia feito durante seu ministério terrestre
na Terra Santa: “Pois percebo que estais desejosos de que eu
vos mostre o que fiz por vossos irmãos em Jerusalém; pois vejo
que vossa fé é suficiente para que eu vos cure” (3 Néfi 17:8). O
registro sagrado continua: “E aconteceu que depois de ele haver
assim falado, toda a multidão, de comum acordo, adiantou-se
com seus doentes e seus aflitos e seus coxos; e com seus
cegos e com seus mudos e com todos aqueles que estavam
aflitos de qualquer forma; e ele curou a cada um, à medida que
foram conduzidos a sua presença” (3 Néfi 17:9). Parece lógico
presumir que o Salvador tinha o poder de curar todos os que
estavam presentes entre os nefitas sem que estes fossem
levados a sua presença. Até antes da ressurreição o Salvador
curou grupos de pessoas sem tocá-las e até pôde curar uns
que nem estavam próximos dele (vide Marcos 7:24-30; Lucas
7:1-9). Porém, entre os nefitas o Senhor optou por trazer os
doentes junto dele e, como sugere o registro, ele os tocou
pessoalmente, um por um.
Logo a seguir este grande evento de curas, Jesus mandou o
povo “levar, pois, suas criancinhas e colocá-las no chão, ao
redor dele; e Jesus ficou no meio; e a multidão cedeu espaço
até que todas as crianças fossem levadas a ele.” Daí “pegou as
criancinhas, uma a uma, e abençoou-as e orou por elas ao Pai.
“E depois de haver feito isso, chorou de novo;
“E dirigindo-se à multidão, disse-lhes: Olhai para vossas
criancinhas.
“E ao olharem, lançaram o olhar ao céu e viram os céus abertos
e anjos descendo dos céus, como se estivessem no meio de
fogo; e eles desceram e cercaram aqueles pequeninos e eles
foram rodeados por fogo; e os anjos ministraram entre eles” (3
Néfi 17:12, 21-24).
O livro de 3 Néfi continua a registrar as palavras e feitos de
Cristo ao ensinar aos discípulos a respeito do sacramento. “E
isto fareis em lembrança de meu corpo, o qual vos mostrei. E
ser´ um testemunho ao Pai de que vos lembrais sempre de
mim. E se lembrardes sempre de mim, tereis meu Espírito
convosco” (3 Néfi 18:7). E deu instruções semelhantes a
respeito da taça do vinho (vide 3 Néfi 18:11). Um dia mais tarde
Jesus providenciou pão e vinho de maneira milagrosa e de novo
administrou o sacramento para o povo (vide 3 Néfi 20:1-9).
Tanto a administração do pão como a do vinho consistem em d
´-los a cada indivíduo.
Depois que Jesus instituiu o sacremento entre os nefitas, deu
poder aos discípulos de conferir o Espírito Santo: “E aconteceu
que depois de haver proferido estas palavras, Jesus tocou com
a mão os discípulos que escolhera, um a um, até ter tocado
todos; e falava-lhes enquanto os tocava” (3 Néfi 18:36). Embora
a multidão não tivesse ouvido o que Jesus disse, os discípulos
“testificaram que ele lhes deu poder para conferirem o Espírito
Santo” (3 Néfi 18:37).
Ainda que seja provável que Jesus tivesse ordenado os
apóstolos do Novo Testamento mediante a imposição das
mãos, a versão atual do Novo Testamento não se refere a este
ato. Tampouco há evidência de que Matias foi designado para
tomar o lugar de Judas entre os Doze através da imposição das
mãos. Mais uma vez o quinto evangelho destaca as ações de
Jesus e esclarece os procedimentos do Novo Testamento de
como chamar e ordenar os Doze para ministrarem. Morôni
acrescenta ao nosso conhecimento de seu chamado:
“As palavras que Cristo disse a seus discípulos, os doze por ele
escolhidos, quando lhes impôs as mãos—
“E chamou-os pelo nome, dizendo: Invocareis o Pai em meu
nome, em fervorosa oração; e depois que tiverdes feito isso,
tereis poder para conferir o Espírito Santo àqueles sobre quem
impuserdes as mãos; e em meu nome conferi-lo-eis, pois
assim fazem os meus apóstolos.
“Ora, Cristo disse-lhes estas palavras quando apareceu pela
primeira vez; e a multidão não as ouviu, mas ouviram-nas os
discípulos; e a todos sobre quem impuseram as mãos, desceu o
Espírito Santo” (Morôni 2:1-3).

O Ministéro Dos Discípulos Nefitas


Na época do Novo Testamento, Jesus escolheu seus próprios
discípulos (vide João 6:70; 15:16, 19). De maneira igual, no
Livro de Mórmon é o próprio Cristo que os chama ao ministério
(vide 3 Néfi 11:18-22; 12:21; 18:36). Jesus deu ênfase a este
ponto quando, ao contempá-los, disse: “Eis que vós sois
aqueles que escolhi para ministrar a este povo” (3 Néfi 13:25).
Depois de chamá-los, o Senhor tocou a cada um ao iniciarem
um ministério semelhante ao que Jesus acabou de fazer entre
eles:
“E aconteceu que depois de haver proferido estas palavras,
Jesus tocou com a mão os discípulos que escolhera, um a um,
até ter tocado todos; e falava-lhes enquanto os tocava. . .
“E aconteceu que depois de Jesus haver tocado a todos,
apareceu uma nuvem e cobriu a multidão” (3 Néfi 18:36,38).
Assim há um fio conceptual que tece os temas de chamar, tocar
e impor as mãos (vide 3 Néfi 17:24; 19:14).
O ministério dos discípulos não se limitava aos retos, e sim aos
“indignos,” como o Salvador havia ordenado. Embora
mandamentos rígidos fossem dados àqueles que ministravam
as sagradas ordenanças quanto à necessidade de santidade
para receber tais bênçãos, o Senhor declarou a respeito do
indigno: “Não obstante, não o expulsareis de vosso meio, mas
ensiná-lo-eis e rogareis por ele ao Pai em meu nome.” Quando
o indivíduo se apresentava de coração aquebrantado e de
espírito contrito, o discípulo verdadeiro devia administrar-lhe
da minha carne e do meu sangue” (3 Néfi 18:30). Mesmo que a
pessoa continuasse sem se arrepender, Cristo mandou: “não o
expulsareis de vossas sinagogas nem de vossos lugares de
adoração, pois junto a esse deveis continuar a ministrar;
porque não sabeis se ele irá voltar e arrepender-se e vir a mim
com toda a sinceridade de coração” (3 Néfi 18:32). Utilizando o
modelo de ministério aos enfermos de corpo, o Senhor aplicou
o mesmo principiou aos enfermos de espírito; os discípulos
deviam levá-los a Jesus, que prometeu: “Eu irei curá-los” (3 Néfi
18:32).
Logo após Jesus “partiu do meio deles e subiu aos céus” (3 Néfi
18:39). Quando as pessoas voltaram a casa, “imediatamente se
espalhou entre o povo, ainda antes do anoitecer, a notícia de
que a multidão vira Jesus e de que ele ministrara entre eles; e
de que também apareceria à multidão no dia seguinte” (3 Néfi
19:2). No dia segunite, a multidão ficou “tão grande que [os
discípulos] fizeram com que fosse separada em doze grupos” (3
Néfi 19:5). Mórmon resumiu o evento:
“Portanto quisera que entendêsseis que o Senhor
verdadeiramente ensinou o povo pelo espaço de três dias; e,
após isso, manifestou-se a eles repetidas vezes e partiu muitas
vezes o pão e abençoou-o e deu-o a eles.
“E aconteceu que ele ensinou a ministrou às criancinhas da
multidão, sobre as quais foi falado. . .
“E aconteceu que depois de haver ascendido ao céu—a segunda
vez que se havia mostrado a eles e voltado ao Pai, depois de
haver curado todos os seus doentes e seus coxos e aberto os
olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos; e feito toda sorte de
curas no meio deles e levantado um homem dentre os mortos e
ter demonstrado seu poder a eles e ascendido ao Pai—
“Eis que, na manhã seguinte, aconteceu que a multidão se
reuniu. . .
“E aconteceu que os discípulos que Jesus escolhera começaram,
daí em diante, a batizar e a ensinar todos os que a eles se
chegavam; e todos os que foram batizados em nome de Jesus
ficaram cheios do Espírito Santo. . .
“E ensinaram e ministraram entre si; e tinham todas as coisas
em comum entre eles e todos procediam justamente uns com
os outros.
“E aconteceu que faziam todas as coisas como Jesus lhes
ordenara.
“E os que eram batizados em nome de Jesus, eram chamados a
igreja de Cristo” (3 Néfi 26:13-17, 19-21).
Numa visita posterior aos discípulos nefitas, o Salvador lhe
falou “um a um” e perguntou a cada um: “O que desejais de
mim depois que eu for ao Pai?” (3 Néfi 28:1). Nove
responderam: “Desejamos que depois de havermos vivido até a
idade do homem, que o ministério para o qual nos chamaste
tenha um fim, para que possamos ir logo para junto de ti em
teu reino” (3 Néfi 28:2). Os três qu restavam desejaram ficar na
terra e manter-se no ministério até a segunda vinda de Jesus.
Então ele “tocou cada um deles com o dedo, excetuando-se os
três que deveriam permanecer, e partiu” (3 Néfi 28:12). Os três
foram “arrebatados ao céu” de forma milagrosa e ao voltar à
terra “novamente ministraram na face da Terra” (3 Néfi 28:13,
16).
Estes discípulos especiais, conforme diz Mórmon, “sairam pela
face da terra e ministraram entre o povo todo” (3 Néfi 28:18).
Quase quatrocentos anos mais tarde, Mórmon testificou que
que sabia que ainda estavam na terra: “Mas eis que eu os vi e
recebi seu ministério” (3 Néfi 28:26). Ele observou que sua
missão seria entre os judeus e gentios onde “eles ministrarão
entre todas as tribos dispersas de Israel e entre todas as
nações, tribos, línguas e povos” (3 Néfi 28:29).
Era para os discípulos de Jesus repetir as experiências que
haviam compartilhado com Cristo: “Em verdade, em verdade
vos digo que este é o meu evangelho; e sabeis o que deveis
fazer em minha igreja; pois as obras que me vistes fazer, isso
fareis” (3 Néfi 27:21).
Mórmon introduz a narrativa inteira da visita divina (vide a nota
que precede 3 Néfi 11) com as seguintes palavras: “Jesus Cristo
mostrou-se ao povo de Néfi enquanto a multidão se achava
reunida na terra de Abundância e ministrou entre eles.” De
acordo com a introdução de Mórmon, Jesus fez dois atos:
primeiro, mostrou-se ao povo e, segundo, ministrou entre eles.
Obviamente ministrar era uma parte essencial da visita de
Cristo entre os nefitas.

Conclusão
Durante seu ministério no Novo Testamento Jesus muitas vezes
discursou a multidões e fez milagres entres eles. Em várias
ocasiões ele falou diretamente a indivíduos e em muitos casos
tocou-os e curou-os. Ademais, ele muitas vezes impôs as mãos
nas pessoas, simbolizando que a ação é dirigida ao indivíduo. O
relato de 3 Néfi ressalta e enfatiza, pelos atos e palavras do
Salvador, o modelo de serviço deixado por Cristo no Novo
Testamento.
De acordo com o padrão do Livro de Mórmon, o ministério
frequentemente se realiza “um a um” quando os discípulos
interagem com o Salvador e uns com os outros. Muitas vezes
um “toque” pessoal é uma forma simbólica de transmitir o amor
e poder de Deus ao indivíduo. Em muitos casos, porém, o
emprego de “tocar” é uma forma de indicar que se impuseram
as mãos. De fato, no contexto dos exemplos citados entre os
nefitas, parece que as ordenanças foram feitas pela imposição
das mãos (vide 3 Néfi 18:36). Sermos escolhidos para ministrar
também é um chamado para servir os filhos inocentes e puros
dos Santos fiéis, da mesma maneira que Jesus e os anjos lhes
ministraram quando ele apareceu entre os nefitas.
Como discípulos de Jesus Cristo, devemos reconhecer que Jesus
eliminou as restrições legalistas do código mosaico e toucou
aqueles que haviam sido considerados intocáveis sob a lei (vide
3 Néfi 17:7, também Levítico 13:3; 3 Néfi 15:2-9). Ele mandou
que os discípulos nefitas fizessem igual e incentivou-os a
convidarem todos para unirem-se a eles para adorarem e
ministrarem uns aos outros. De igual modo, para o discípulo
moderno, o chamado é mais do que simplesmente se inscrever
numa aula de religião. É um chamado para desempenhar o
trabalho do Senhor e de seus anjos de forma espontânea, para
ministrar como seu servos entre os mortais. Especificamente, é
um chamado para servir os que estejam enfermos física,
mental, emocional, econômica e espiritualmente, sim, os
“intocáveis” da sociedade moderna. Estes indivíduos não devem
ser expulsos do nosso meio, mas os verdadeiros discípulos
devem ministrar a eles e tocá-los como Jesus nos ensinou.
Através das ordenanças do evengelho, que se fazem uma por
uma, conforme ordenado pelo Salvador ressuscitado aos
discípulos que escolhera, “manifesta-se o poder da divindade”
(D&C 84:20).

Notas
[1] Vide Mateus 8:28-32; 9:2-8; 20:30-34; Marcos 1:21; 5:1-
20; 10:46-52; Lucas 4:31-37; 6:6-11; 7:11-17; 8:26-36;
11:14; 13:11-13; 14:1-4; 18:35-43; 22:50-51; João 5:1-9, and
9:1-17
[2] Joseph Smith, Teachings of the Prophet Joseph Smith (Os
Ensinamentos do Profeta Joseph Smith), compilado por Joseph
Fielding Smith (Salt Lake City: Deseret Book, 1976), 281.
Uma Testemunha Poderosa e Preciosa de
Jesus Cristo

Uma Testemunha Poderosa e Preciosa de


Jesus Cristo
Elder John M. Madsen

O Élder Madsen exerce a função de Setenta nA Igreja de Jesus


Cristo dos Santos dos Últimos Dias

O Velho Testamento é uma testemunha poderosa e preciosa de


Jesus Cristo, embora o sagrado nome e título Jesus Cristo não
se encontre nas suas p´ginas hoje em dia. “Muitas coisas claras
e preciosas” de fato foram “tiradas do livro” (1 Néfi 13:28), mas
a mensagem fundamental e central do Velho Testamento, e na
verdade em todas as escrituras, é que a salvação só se
consegue através de seu santo nome.

Todas as Escrituras e Todos os Profetas


Testificam de Cristo
Jacó, o irmão de Néfi e um profeta da mesma época do Velho
Testamento, testificou: “Sabíamos de Cristo e tínhamos
esperança em sua glória muitos séculos antes de sua vinda; e
não somente nós tínhamos esperança em sua glória, mas
também todos os santos profetas que viveram antes de nós. Eis
que eles acreditavam em Cristo e adoravam o Pai em seu nome;
e também nós adoramos o Pai em seu nome” (Jacó 4:4-5; vide
também 2 Néfi 11:2-4).
O Presidente Joseph Fielding Smith ensinou que “ toda
revelação desde a queda tem vindo por meio de Jesus Cristo, o
qual é o Jeová do Velho Testamento. Em todas as escrituras
onde se menciona Deus e onde Ele aparece, foi Jeov´ quem
conversou com Abraão, com Noé, Enoque, Moisés e todos os
profetas. Ele é o Deus de Israel, o Santo de Israel, quem libertou
aquela nação da servidão do Egito e deu e cumpriu a lei de
Moisés. O Pai nunca tratou direta e pessoalmente com o
homem desde a queda e Ele nunca apareceu senão para
apresentar o Filho e testificar dele.” [1]
O Presidente Spencer W. Kimball declarou que “os profetas do
Velho Testamento desde Adão até Malaquias testificam da
divindade do Senhor Jesus Cristo e nosso Pai Celestial. Jesus
Cristo foi o Deus do Velho Testamento e foi Ele que conversou
com Abraão e Moisés. Foi Ele que inspirou Isaías e Jeremias; foi
Ele que predisse, por meio daqueles homens escolhidos, os
acontecimentos do futuro até o último dia e a última hora.” [2]
Não sei de nenhum resumo tão poderoso e maravilhoso da
identidade e papel do Senhor Jesus Cristo do que a declaração
publicada ao mundo no dia 1° de janeiro de 2000, pela Primeira
Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos denominada “O
Cristo Vivo,” da qual cito umas frases chaves:
[Jesus Cristo] foi o Grande Jeová do Velho Testamento, o
Messias do Novo Testamento. Sob a direção de seu Pai, Ele
criou o mundo. . .
Ele deu a sua vida para efetuar a expiação dos pecados da
humanidade. . .
Ele foi o Primogênito do Pai, o Filho Unigênito na carne, o
Redentor do mundo.
Ele ressuscitou do túmulo para se tornar “as primícias dos que
dormem” (1 Coríntios 15:20). . .
Ele um dia voltará à Terra. . . governará como Rei dos Reis e
reinará como Senhor dos Senhores e todo joelho se dobrará e
toda língua adorará perante Ele. Cada um de nós ficará diante
dele para ser julgado. . .
Seus Apóstolos devidamente ordenados [prestam testemunho]
que Jesus é o Cristo Vivente, o Filho imortal de Deus. Ele é o
grande Rei Emanuel que hoje está à destra de Seu Pai. Ele é a
luz, a vida e a esperança do mundo. [3]

Jeová foi Jesus Cristo


Jesus Cristo foi o Grande Jeová do Velho Testamento. Onde é
que encontramos esta verdade nas escrituras? Começamos pelo
Pai Adão, que aprendeu sobre a salvação por meio de Jesus
Cristo e recebeu o mandamento: “Portanto ensina a teus filhos
que todos os homens, em todos os lugares, devem arrepender-
se, ou de maneira alguma herdarão o reino de Deus, porque
nenhuma coisa impura pode ali habitar ou habitar em sua
presença; pois, no idioma de Adão, Homem de Santidade é seu
nome e o nome de seu Unigênito é Filho do Homem, sim, Jesus
Cristo, um justo Juiz, que virá no meridiano do tempos” (Moisés
6:57; vide também versículo 52).
Mostrou-se a crucificação do Senhor Jesus Cristo a Enoque: “E o
Senhor disse a Enoque: Olha; e ele olhou e viu o Filho do
Homem levantado na cruz, segundo o costume dos homens; E
ele ouviu uma alta voz; e os céus foram cobertos; e todas as
criações de Deus choraram; e a Terra gemeu; e as rochas
partiram-se; e os santos levantaram-se e foram coroados à
direita do Filho do Homem, com coroas de glória” (Moisés
7:55-56).
Quando os sacerdotes de Elquena estavam para oferecer
Abraão como sacrifício humano a seus “ídolos mudos” (vide
Abraão 1:7-15), ele levantou a voz e clamou a Deus. E o Senhor
Jesus Cristo declarou a Abraão: “Abraão, Abraão, eis que meu
nome é Jeová e te ouvi e desci para livrar-te” (Abraão 1:16; vide
também 2:7-8).
Dali para sempre Abraão podia testificar que seu Salvador e
Redentor e Libertador era o Grande Jeová. Abraão entendia que
Jeová viria à Terra e ministraria entre os homens como o
Salvador e Redentor, conforme a seguinte escritura:
“E aconteceu que Abraão olhou e viu os dias do Filho do
Homem e alegrou-se; e sua alma encontrou descanso e creu ele
no Senhor; e o Senhor imputou-lhe isso por justiça” (Tradução
de Joseph Smith [TJS] Gênesis 15:12, Guia para Estudo das
Escrituras; vide também Gênesis 22:14; Helamã 8:13-23).
O Senhor declarou a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus
de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. . . EU SOU O
QUE SOU: assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a
vós. . . Assim dirás aos filhos de Israel: o Senhor Deus de
vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de
Jacó, me enviou a vós” (Êxodo 3:6, 14-15).
Então, segundo a versão de João Ferreira de Almeida da Bíblia,
o Senhor declarou a Moisés: “Falou mais Deus a Moisés, e disse:
Eu sou o Senhor. E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó como
o Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o Senhor [Jeová,
na tradução inglesa], não lhes fui perfeitamente conhecido.
Na tradução de Joseph Smith deste mesmo versículo há umas
diferenças: “E apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó. Eu sou o
Senhor Deus Todo-Poderoso; o Senhor Jeová. E não meu nome
conhecido por eles?” (TJS, Êxodo 6:3 [Não consta na Guia de
Estudo das Escrituras]).
Também na tradução de Joseph Smith, lemos: “Porque não
adorarás qualquer outro deus; pois o Senhor, cujo nome é
Jeová, é um Deus zeloso” (TJS, Êxodo 34:14, Guia para Estudo
das Escrituras).
Em Salmos constatamos: “Confundam-se e assombrem-se
perpetuamente [falando dos inimigos de Deus]; envergonhem-
se e pereçam, Para que saibam que tu, a quem só pertence o
nome de Senhor [Jeová (em outras traduções)], és o Altíssimo
sobre toda a terra” (Salmos 83:17-18; vide também 3 Néfi
11:14).
No Novo Testamento João grava as palavras do Salvador que
confirmam sua identidade, o Grande Jeová, ou EU SOU: “Abraão,
vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.
Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos e
viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos
digo que antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8:56-58).
Seu testemunho ofendeu os judeus de tal maneira que pegaram
em pedras para matá-lo (vide João 8:59).
Nestes últimos dias o Senhor Jesus Cristo também confirmou
sua indentidade como o Grande Jeová, ou EU SOU, que falou a
Abraão e a Moisés. Em setembro de 1830 o Senhor declarou ao
Profeta Joseph Smith: “Dai ouvidos à voz de Jesus Cristo, vosso
Redentor, o Grande EU SOU, cujo braço de misericórdia expiou
vossos pecados” (D&C 29:1).
Em revelações posteriores, através do Profeta Joseph Smith, o
Senhor outra vez declarou: “Escuta e dá ouvidos à voz daquele
que é de toda a eternidade a toda a eternidade, o Grande EU
SOU, sim, Jesus Cristo—A luz e a vida do mundo; uma luz que
resplandece nas trevas e as trevas não a compreendem; O
mesmo que vim aos meus no meridiano dos tempos e os meus
não me receberam” (D&C 39:1-3; vide também 38:1).
Então quando o Senhor apareceu em glória e majestade ao
Profeta Joseph Smith e a Oliver Cowdery no Templo de Kirtland,
Joseph testificou: “Vimos o Senhor de pé no parapeito do
púlpito, diante de nós; sob seus pés havia um calçamento de
ouro puro, da cor de âmbar. Seus olhos eram como uma
labareda de fogo; os cabelos de sua cabeça eram brancos como
a pura neve; seu semblante resplandecia mais do que o brilho
do sol; e sua voz era como o ruído de muitas águas, sim, a voz
de Jeová, que dizia: Eu sou o primeiro e o último; sou o que
vive, sou o que foi morto; eu sou vosso advogado junto ao Pai”
(D&C 110:2-4; vide também Apocalipse 1:13-18).
O Senhor Jesus Cristo de fato foi o Grande Jeová do Velho
Testamento e o Messias do Novo Testamento. Ele é o “Cristo
vivente, o Filho imortal” do Deus Vivo, o Salvador e Redentor do
mundo. [4]

Só Se Recebe a Salvação por Meio de Jesus


Cristo
Vamos contemplar as escrituras que revelam a mensagem
fundamental e central do Velho Testamento: que se obtém a
salvação somente em nome e pelo nome de Jesus Cristo.
O livro de Moisés, que faz parte da tradução de Joseph Smith de
Gênesis, reveal que todos os profetas desde Adão até Noé
entendiam o plano de salvação, ou seja o evangelho (vide
Moisés 5:58-59). Compreendiam que a salvação só se realiza
em nome e pelo nome de Cristo (Mosias 3:17). Por exemplo, o
Senhor disse a Adão: “Se te voltares para mim e deres ouvidos a
minha voz e creres e te arrependeres de todas as tuas
transgressões e fores batizado, sim, na água, em nome de meu
Filho Unigênito, que é cheio de graça e verdade, que é Jesus
Cristo, o único nome que será dado debaixo do céu mediante o
qual virá a salvação aos filhos dos homens, receberás o dom do
Espírito Santo, pedindo todas as coisas em seu nome; e tudo o
que pedires te será dado” (Moisés 6:52; vide também 6:57-62;
7:45-47; 8:19-24). [5]
O Livro de Mórmon, a maioria do qual é um registro da mesma
época do Velho Testamento, confirma que os profetas daquela
era conheciam o plano de redenção e sabiam que a salvação é
somente em nome e pelo nome de Jesus Cristo. Néfi, filho de
Leí, disse: “Pois de acordo com as palavras dos profetas, o
Messias virá seiscentos anos depois da época em que meu pai
deixou Jerusalém; e de acordo com as palavras dos profetas e
também com a palavra do anjo de Deus, seu nome ser´ Jesus
Cristo, o Filho de Deus. E agora, meus irmãos, falei com
clareza, de modo que não podeis errar. E como vive o Senhor
Deus que tirou Israel do terra do Egito. . . não há outro nome
dado debaixo do céu mediante o qual o homem possa ser
salvo, a não ser o deste Jesus Cristo do qual falei” (2 Néfi:25-
19-20; vide também 10:3; 31:2-21).
O Rei Benjamim testificou:
“. . . Porque a nenhum deles será concedida a salvação, a não
ser pelo arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo.
“E o Senhor Deus enviou seus santos profetas a todos os filhos
dos homens para declararem estas coisas a toda tribo, nação e
língua, para que, assim, todo aquele que acreditar na vinda de
Cristo receba a remissão de seus pecados e regozije-se com
grande alegria, como se ele já tivesse vindo a eles.
“E digo-vos ainda mais, que nenhum outro nome se dará,
nenhum outro caminho ou meio pelo qual a salvação seja
concedida aos filhos dos homens, a não ser em nome e pelo
nome de Cristo, o Senhor Onipotente” (Mosias 3:12-13, 17;
vide também 5:7-8; 13:32-35; 1 Néfi 6:4; Alma 38:9; Helamã
5:9-11).
Antes de abrir o Velho Testamento novamente, devemos notar
que os profetas antigos se referiam a Jesus Cristo por vários
nomes e títulos, inclusive, Deus, Jeová, Messias, Salvador,
Redentor, Libertador, o Deus de Israel, o Santo de Israel e
muitos outros. Devemos também observar que a palavra
hebraica que corresponde ao nome Jeová foi, de modo geral,
traduzida para “Senhor” ou “o Senhor” nas versões do Velho
Testamento. [6] Aparece milhares de vezes no Velho
Testamento.
Algumas passagens representativas do Velho Testamento
indicam que a salvação só se obtém em nome e pelo nome do
Senhor Jesus Cristo, que, como mostramos, é o Grande Jeová.
Na maioria das passagens que seguem, seria apropridado
substituir Senhor, o Senhor pelo sagrado nome e título Jesus
Cristo.
Em Salmos lemos:
“O Senhor [Jesus Cristo] é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e
o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem
confio; o meu escudo, a força de minha salvação, e o meu alto
refúgio” (Salmo 18:2; vide também 27:1).
“Vinde, cantemos ao Senhor [Jesus Cristo]; jubilemos à rocha da
nossa salvação” (Salmo 95:1).
“Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor
[Jesus Cristo]” (Salmo 116:13).
“Tenho desejado a tua salvação, ó Senhor [Jesus Cristo]; a tua
lei é todo o meu prazer” (Salmo 119:174).
“Porque o Senhor [Jesus Cristo] se agrada do seu povo; ornará
os mansos coma salvação” (Salmo 149:4).
Do profeta Isaías lemos:
“Eis que Deus é a minha salvação; nele confiarei, e não temerei,
porque o Senhor [Jeová] Deus é a minha força e o meu cântico,
e se tornou a minha salvação” (Isaías 12:2-3).
“Porque o Senhor [Jesus Cristo] é o nosso Juiz; o Senhor [Jesus
Cristo] é o nosso legislador; o Senhor [Jesus Cristo] é o nosso
rei, ele nos salvará” (Isaías 33:22).
“Eu, eu sou o Senhor [Jesus Cristo], e fora de mim não há
Salvador” (Isaías 43:11; vide também versículos 3, 15).
“Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor [Jesus Cristo]
dos Exércitos é o seu nome; o Santo de Israel é o teu Redentor;
que é chamado o Deus de toda a terra” (Isaías 54:5; vide
também 41:14; 44:24; 48:17; 60:16; comparem 3 Néfi 11:14).
Outros profetas do Velho Testamento prestaram testemunhos
semelhantes (como em Jó 19:25; Jeremias 50:34; Oséias 13:4;
Jonas 2:9; Miquéias 7:7; Habacuque 3:8; Zacarias 9:9), pois
sabiam, como sabiam todos os profetas desde o começo, a
quem recorrer para a salvação.
Lemos no Novo Testamento estas palavras poderosas de
testemunho proferidas pelo Apóstolo Pedro que acabava de
curar um homem em nome de Cristo: “Seja conhecido de vós
todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo,
o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus
ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este
está diante de vós. Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os
edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em
nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual
devamos ser salvos” (Atos 4:10-12; vide também 10:43; Salmos
118:22; Mateus 16:13-16).
João o Amado, o discípulo do Salvador, resumiu o propósito de
seus próprios escritos e de todas as escrituras quando
testificou: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que
Jesus é o Cristo o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome” (João 20:31; vide também 2 Néfi 11:2-4;
Jacó 7:10-11; Alma 33:14; Moisés 6:63).
Em Doutrina e Convênios, seção 18, o Senhor declara: “Tomai
sobre vós o nome de Cristo e falai a verdade com seriedade. E
todos os que se arrependerem e forem batizados em meu
nome, que é Jesus Cristo, e perserverarem até o fim, serão
salvos. Eis que Jesus Cristo é o nome dado pelo Pai; e não é
dado qualquer outro nome pelo qual o homem possa ser salvo”
(D&C 18:21-23).
E na seção 20 de Doutrina e Convênios lemos:
Para que todos os que cressem e fossem batizados em seu
santo nome e perseverassem com fé, até o fim, fossem salvos—
Não somente os que creram após sua vinda na carne, no
meridiano dos tempos, mas todos, desde o princípio, sim,
todos os que existiram antes de sua vinda, que creram nas
palavras dos santos profetas, os quais falaram segundo foram
inspirados pelo dom do Espírito Santo, que verdadeiramente
testemunharam a respeito dele em todas as coisas, tivessem
vida eterna.
Como também os que viriam depois e creriam nos dons e
chamados de Deus pelo Espírito Santo, que presta testemunho
do Pai e do Filho;
E sabemos que todos os homens precisam arrepender-se e crer
no nome de Jesus Cristo e adorar ao Pai em seu nome e
perseverar com fé em seu nome até o fim; do contrário não
podem ser salvos no reino de Deus” (D&C 20: 25-27. 29; vide
também 76:1; 109:4).
Através destas passagens (bem como as muitas outras que
poderíamos ter citado) vemos que a mensagem fundamental e
central do Velho Testamento, e de fato de todas as escrituras, é
que a salvação só vem em nome e pelo nome de Jesus Cristo.

O Velho Testamento presta Testemunho de


Jesus Cristo
Vamos contemplar como o Velho Testamento presta
testemunho adicional de Jesus Cristo. Talvez possa ajudar o
seguinte relato do Senhor ressurrecto que conversou com dois
discípulos ao caminharem a caminho de Emaús (Lucas 24:13-
27): “E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer
tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que
o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E,
começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes
o que dele se achava em todas as escrituras” (Lucas 24:25-27).
Que o Velho Testamento presta testemunho acerca do Senhor
Jesus Cristo e de sua grande missão redentora fica mais clara
ainda pelo relato do que ocorreu quando o Senhor ressurrecto
apareceu a seus discípulos mais tarde naquela mesma tardinha.
Lucas escreve: “E [Jesus] disse-lhes: São estas as palavras que
vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se
cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e
nos profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento
para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim
está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao
tercerio dia ressuscitasse dentre os mortos” (Lucas 24:44-46;
vide também versículos 33-43).
Estas palavras proferidas por Pedro no dia de pentecostes
indicam que ele compreendia que o Velho Testamento presta
um testemunho poderoso e claro de Jesus Cristo: “Mas Deus
assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus
profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer” (Atos
3:18).
O Apóstolo Paulo também confirma que o Velho Testamento
presta um testemunho claro e certo de Jesus Cristo. Ele
escreveu aos santos corintianos, dizendo: “Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi
sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (1 Coríntios 15:3-3).

A Lei de Moisés, os Profetas e os Salmos


Só podemos imaginar como seria estar entre seus discípulos
quando o Senhor ressurrecto apareceu e “abriu. . . seu
entendimento para que pudessem compreender as escrituras”
(Lucas 24:45). O Senhor lembrou a seus discípulos que todas as
coisas tinham que ser cumpridas “na lei de Moisés e nos
profetas e nos salmos” (Lucas 24:44). Vamos considerar o que
está escrito a respeito de Jesus Cristo na lei de Moisés, nos
profetas e nos salmos.

A Lei de Moisés
Quais foram o espírito e a intenção da lei de Moisés conforme
ficou registrada no Velho Testamento? Néfi, filho de Leí explica:
E não obstante acreditarmos em Cristo, guardamos a lei de
Moisés e esperamos firmemente em Cristo, até que a lei seja
cumprida.
Pois com esta finalidade a lei foi dada; portanto a lei tornou-se
morta para nós e somos vivificados em Cristo por cause de
nossa fé; contudo, guardamos a lei por causa dos
mandamentos.
E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos
Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo com
nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte
procurar a remissão de seus pecados.
Portanto falamos sobre a lei, para que nossos filhos saibam que
a lei é morta; e sabendo que ela é morta, esperem por aquela
vida que está em Cristo e saibam para que fim foi dada a lei. E
para que, depois de ser cumprida a lei em Cristo, não
endureçam o coração contra ele quando a lei tiver de ser
abolida.
E agora, meu povo, eis que sois um povo de dura cerviz; por
isso falei-vos claramente, para que não vos equivoqueis. E as
palavras que falei servirão de testemunho contra vós; porque
são suficientes para ensinar a qualquer homem o caminho reto
é acreditar em Cristo e não o negar, porque, negando-o, negais
também os profetas e a lei” (2 Néfi 25:26-28).
O Rei Benjamim testificou: “Contudo o Senhor Deus viu que seu
povo era obstinado e deu-lhe uma lei, sim, a lei de Moisés. E
mostrou a eles muitos sinais e maravilhas e símbolos e figuras
concernentes a sua vinda; e também os santos profetas lhes
falaram sobre sua vinda; e, apesar disso, endureceram o
coração e não compreenderam que a lei de Moisés de nada
serviria se não fosse pela expiação de seu sangue” (Mosiah
3:14-15; vide também 2 Néfi 11:4; Jacó 4:5).
Abinádi declarou:
E agora vos digo que foi necessário dar uma lei aos filhos de
Israel, sim, uma lei muito severa; porque eram um povo
obstinado, rápido para cometer iniqüidade e vagaroso para
lembrar-se do Senhor seu Deus.
Portanto uma lei lhes foi dada, sim, uma lei de ritos e de
ordenanças, uma lei que deveriam observar rigorosamente, dia
a dia, para conservarem viva a lembrança de Deus e de seu
dever para com ele.
Mas eis que vos digo que todas essas coisas eram símbolos de
coisas futuras.
Ora, entendiam eles a lei? Digo-vos que não; nem todos
entendiam a lei; e isso por causa da dureza de seu coração;
porque não compreendiam que ninguém poderia ser salvo, a
não ser pela redenção de Deus (Mosias 3:29-32).
Em Alma 25 lemos:
Sim, e guardaram a lei de Moisés; pois era necessário que ainda
guardassem a lei de Moisés, porque não estava toda cumprida.
Mas, não obstante a lei de Moisés, aguardavam ansiosamente a
vinda de Cristo, considerando a lei mosaica um símbolo de sua
vinda e acreditando que deviam praticar aquelas cerimônias
exteriores até o tempo em que lhes fosse revelado. Ora, eles
não acreditavam que a salvação lhes viesse por meio da lei de
Moisés; a lei de Moisés, porém, serviu para fortalecer-lhes a fé
em Cristo; e assim, por meio da fé, mantinham a esperança da
salvação eterna, confiando no espírito de profecia que falava
dessas coisas futuras (Alma 25:15-16; vide também 34:10-14).
Aprendemos mais a respeito da lei de Moisés do Senhor
ressurrecto que declarou aos nefitas: “E eis que vos digo que a
lei dada a Moisés foi cumprida. Eis que eu sou aquele que deu a
lei e eu sou aquele que fez convênio com meu povo, Israel;
portanto a lei se cumpre em mim, porque eu vim para cumprir
a lei; conseqüentemente, ela tem um fim” (3 Néfi 15:4-5).

Os Profetas
Como já vimos, todos os profetas—inclusive profetas do Velho
Testamento—testificam de Jesus Cristo. Suas palavras são
semelhantes a certas passagens de Isaías. Contemplemos
algumas delas. Por exemplo: “Portanto o Senhor mesmo vos
dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e chamará o seu nome Emanuel” (Isaías 7:14). Mateus
testifica que o nascimento de Jesus à virgem Maria representa o
cumprimento da profecia de Isaías com relação a Emanuel: “E
dará à luz um filho e chamarás os seu nome JESUS; porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para
que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo
profeta, que diz: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e chamá-lo-ão pelo nome Emanuel, que traduzido é:
Deus conosco” (Mateus 1:21-23; vide também D&C 128:22-
23).
Agora vamos às palavaras imortais de Isaías que são
conhecidas a milhões de pessoas através da música de o
Messias de Handel: “Porque um menino nos nasceu, um filho se
nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se
chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai
da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6).
Quem é este “menino?” “É filho de quem?” (Mateus 22:42).
Quem é o Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz” de
quem Isaías falou? As escrituras revelam claramente quem ele
é.
É Jesus Cristo, nascido neste mundo como o “Filho Unigênito”
(Jacó 4:5, 11) [7] de Deus o Pai Eterno e filho de Maria “segundo
a carne” (1 Néfi 11:21, 18). [8]
É Jesus Cristo, o muito esperado “Messias,” o “Salvador” e
“Redentor do Mundo” (1 Néfi 10:4-5), [9] de quem “todos os
profetas testificaram” (3 Néfi 11:10). [10]
É Jesus Cristo o “Cordeiro de Deus” que foi “julgado pelo
mundo;. . . levantado na cruz” (1 Néfi 11:32-33) [11] e
“crucificado” (1 Néfi 19:10) [12]para “expiar pelos pecados do
mundo” (Alma 34:8). [13]
Ele é Jesus Cristo, que, antes de “descer do céu” para viver
“entre os filhos dos homens” (Mosias 3:5) [14], era o Grande
Jeov´ que deu “a lei” para Moisés no monte (3 Néfi 15:5).
É Jesus Cristo, “o Pai do céu e da terra, o Criador de todas as
coisas desde o começo” (Mosias 3:8) [15] cuja “expiação
infinita” (2 Néfi 9:7) [16] traz “a ressurreição dos mortos”
(Helamã 14:15). [17]
Ele é Jesus Cristo, o”Juiz Eterno tanto dos vivos como dos
mortos” (Morôni 10:34). [18]
É Jesus Cristo, o “Senhor Onipotente que reina, que foi e que é
de toda a eternidade a toda a eternidade” (Mosias 3:5). [19]
Outra profecia gloriosa é Isaías 53. Ela cumpre o propósito e
expírito de profecia segundo explicou o Apóstolo João quand
este declarou: “O testemunho de Jesus é o espírito de profecia”
(Apocalipse 19:10). Isaías, de forma eloqüente, descreve a vida,
o ministério mortal e a expiação infinita feita pelo Senhor Jesus
Cristo e presta testemunho deles. Profetiza que Cristo
será “desprezado e rejeitado” pelos homens (Isaías 53:3), que
Ele tomará sobre si “nossas enfermidades e dores” (versículo 4)
e nos sarará pelas suas pisaduras” (versículo 5). Isaías também
previu que apesar de ser “oprimido e afligido, não abriu a sua
boca e. . . foi levado como um cordeiro ao matadouro”
(versículo 7). Tanto os profetas dos últimos dias como os do
Novo Testamento testificam que a profecia de Isaías se refere à
missão e à morte de Cristo. [20]
Talvez a evidência mais convencente que confirma que Isaías
53 é uma profecia sobre o Senhor Jesus Cristo seja o
testemunho de Abinádi, que, como o próprio Livro de Mórmon,
sussurra desde o pó para todo o mundo (vide 2 Néfi 26:12-17;
33:4-13; Mórmon 8:14-24; Morôni 10:27).
Abinádi, encarando a morte de mártir pelo Rei Noé e seu
sacerdotes, citou todo o capítulo de Isaías 53 (vide Mosias 14) e
explicou seu significado (vide Mosias 15), assim confirmando
seu testemunho de que o Messias que haveria de vir e expiar os
pecados da humanidade era o próprio Senhor de que Isaías
prestou um testemunho tão profético e poderoso!
É de notar que Abinádi, em face da morte, testificou de Cristo,
o qual viria para romper os laços da morte como se ele
já tivesse vindo. Abinádi declarou:
E agora, falando-se de coisas futuras como se elas
já houvessem acontecido, se Cristo não tivesse vindo ao
mundo, não poderia ter havido redenção.
E se Cristo não houvesse ressuscitado dos mortos nem rompido
as ligaduras da morte, para que a sepultura não tivesse vitória
nem aguilhão tivesse a morte, não poderia ter havido
ressurreição.
Há, porém, uma ressurreição; portanto a sepultura não tem
vitória e o aguilhão da morte é desfeito em Cristo.
Ele é a luz e a vida do mundo; sim, uma luz sem fim, que nunca
poderá ser obscurecida; sim, e também uma vida que é infinita,
de modo que não pode mais haver morte. (Mosias 16:6-9; vide
também versículos 10-15).
Convir-nos-ia examinarmos nosso próprio testemunho do
Senhor Jesus Cristo, dado o testemunho de Abinádi.
Por fim, em Isaías 61 lemos: “O Espírito do Senhor Deus
está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas
novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de
coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de
prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia
da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” (Isaías
61:1-2).
Jesus não deixa dúvida alguma sobre o significado destas
palavras proféticas. Havendo começado seu ministério terreno,
Ele voltou a Nazaré e “entrou num dia de sábado, segundo seu
costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.” Então leu Isaías
61:1 & 2. Daí, tendo fechado o livro, sentou-se e disse: “Hoje
se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (vide Lucas 4:16-
21).

Os Salmos
Agora vamos contemplar uma seleção de passagens dos
Salmos. É interessante notar que o Salvador e os outros
escritores do Novo Testamento citaram com mais freqüência do
livros de Salmos do que de qualquer outro livro do Velho
Testamento.
Começamos pelo salmo que contém algumas das mesmas
palavras ditas pelo Salvador na cruz quando lá cravado em
agonia indescritível disse: “Deus meu, Deus meu por que me
desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das
palavras do meu bramido?” (Salmo 22:1; vide também Mateus
27:46).
Considerem agora estas palavras proféticas que tão
explicitamente descrevem seus sentimentos, a humiliação, o
sofrimento e a agonia padecidos pelo Salvador durante a
crucificação:
“Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os lábios e
meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o livre;
livre-o, pois nele tem prazer” (Salmo 22:7-8; vide também
Mateus 27:39-43).
“Como água me derramei, e todos os meus ossos se
desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no
meio das minhas entranhas. A minha força se secou como um
caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da
morte. Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores
me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés. Poderia contar
todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam. Repartem
entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre minha roupa”
(Salmo 22:14-18; vide também Mateus 27:35; Marcos 15:24-
25; João 19:37).
“Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo;
esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve
nenhum; e por consoladores, mas não so achei. Deram-me fel
por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre”
(Salmo 69:20-21; vide também João 19:28-30).
No salmo seguinte, vemos uma referência clara à traição de
Jesus por Judas: “Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu
tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o
seu calcanhar” (Salmo 41:9; vide também 55:12-13; Mateus
26:20-23; João 13:18-19).
Uns versículos dos salmos também nos dão referências às
cenas do ministério, ensinamentos e ressurreição de Jesus
Cristo:
“Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te
guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas
suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra”
(Salmo 91:11-12; vide também Mateus 4:5-6; 26:53; Lucas
4:10-11).
“Então clamam ao Senhor na sua angústia; e ele os livra das
suas dificuldades. Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as suas
ondas. (Salmo 107: 28-29; vide também 89:8-9; Mateus 8:24-
27).
“A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da
esquina” (Salmo 118:22; vide também Mateus 21:42; Atos
4:10-12).
“E chovera sobre eles o maná para comerem, e lhes dera o trigo
do céu” (Salmo 78:24; vide também versísculos 25-27; João
6:31-35).
“Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha
glória; também a minha carne repousará segura. Pois não
deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu
Santo veja corrupção” (Salmo 16:9-10; vide também Atos 2:22-
32).
“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão
direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus
pés” (Salmo 110:1; vide também Mateus 22:41-45).

Conclusão
Destas passagens citadas, e de muitas que se poderia citar,
podemos ver que o Velho Testamento é uma testemunha
poderosa e preciosa de Jesus Cristo. Os profetas antigos e
modernos prestam testemunho solene de que a salvação só se
torna possível em e pelo seu santo nome.

Notas
[1] Doutrines of Salvation [Doutrinas de Salvação], compilado
por Bruce R. McConkie, 3 volumes (1954-56), 1:27.
[2] Relatório da Conferência Geral, abril de 1977, 113.
[3] Ensign, abril de 2000, 2-3.
[4] Ensign, abril de 2000, 3.
[5] Nota-se que em Moisés 6:52 e 59 (também em D&C 29:1,
41-46), o Senhor Jesus Cristo fala como se fosse Deus o Pai.
Pela lei de investidura divina, o Filho representa o Pai em todos
os assuntos aqui na Terra, de forma que Ele pode falar como se
fosse Deus o Pai. Para melhor entender este princípio, veja “The
Father and the Son: a Doctrinal Exposition by the First
Presidency and the Twelve” [O Pai e o Filho: um Ensaio Doutrin
´rio da Primeira Presidência e dos Doze] em James R. Clark,
compilador,Messages of the First Presidency of the Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints [Mensagens da Primeira
Presidência d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias], 6 volumes (1965-75), 5:26-34; republicado em James E.
Talmage, As Regras de Fé, (1924), 465-73.
[6] Vide James E. Talmage, Jesus the Christ [Jesus o Cristo], 3rd
edição (1916), 36-37.
[7] Vide também João 1:14, 18; 1 João 4:9; 2 Néfi 25:12; D&C
49:5; 76:13; 93:11; Moisés 5:57.
[8] Vide também G´latas 4:4; 2 Néfi 32:6; Mosias 3:8.
[9] Vide também João 1:41; 4:42, Apocalipse 5:9; 1 Néfi 1:19;
10:6-17; 2 Néfi 2:6-10; D&C 13; 18:47; 43: 34; 93:7-9.
[10] Vide também Mosias 3:13; Helamã 8:13:23.
[11] Vide também João 1:29; Moisés 7:47.
[12] Vide também Mateus 28:5; Atos 2:36; 1 Néfi 1:19, 13-15;
2 Néfi 6:9; Mosias 3:9; 15:7-9; D&C 20:23; 45:52.
[13] Vide também 1 Pedro 3:18; Mosias 3:11-18; Alma 22:14;
33:22-23; D&C 35:2; 46:13; 53:2.
[14] Vide também João 1:14; 6:38; Hebreus 2:9; Mosias 3:6-8;
D&C 88:6.
[15] Vide também João 1:3; Hebreus 1:2; 2 Néfi 9:6; Alma
11:39.
[16] Vide também 2 Néfi 2:6-10; Alma 34:8-16.
[17] Vide também Filipenses 3:21; 1 João 3:2; 2 Néfi 9:9-13.
[18] Vide também João 5:22; Atos 10:34-42; Romanos 2:16;
Moisés 6:57.
[19] Vide Mateus 28:18; Efésios 1:22; Mosias 3:6-8.
[20] Vide Doctrines of Salvation, 1:23-25; Jesus the Christ 47,
655; Mateus 18:7; 1 Pedro 2:24-25.

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