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Modelo PETRA de Formação Profissional

Conceitos Fundamentais do PETRA

Antecedentes

A Alemanha adota, há muitos anos, o sistema dual de formação profissional nos três
setores da Economia (Agricultura; Indústria; Comércio e Serviços). Nesse contexto, o
termo dual implica que essa formação é necessariamente realizada sob a forma de
cooperação entre empresas e escolas públicas profissionalizantes.

A principal característica deste sistema é a sua flexibilidade. Assim, por exemplo, no caso
de formação de mão de obra industrial, o aluno passa aproximadamente 1/3 do tempo na
escola, 1/3 no centro de treinamento da empresa e 1/3 diretamente no setor de produção.
Isso significa que, durante 2/3 do tempo, o aluno está em contato direto com a indústria.
Desta forma, qualquer mudança no mercado de trabalho, nos conteúdos da ocupação ou
no perfil do trabalhador provoca uma resposta imediata das agências de formação
profissional.

Em 1976, chegou-se à conclusão de que o perfil do egresso deste sistema de formação


não estava mais atendendo às exigências das empresas industriais face aos novos
desafios impostos pelo mercado de trabalho. Desejava-se, já naquela época, que o
trabalhador apresentasse, além da capacitação técnica, alguns atributos pessoais que
permitissem a sua pronta adaptação a mudanças de diversas naturezas.

Como resposta a essa novas exigências, algumas empresas começaram a aplicar


experimentalmente modelos de formação que desenvolvessem nos alunos qualidades
pessoais (atitudes ou habilidades intelectuais complexas) adequadas à nova realidade.

A Semens, a partir da análise dos resultados obtidos em aplicações experimentais por


algumas empresas (Daimler-Benz, Ford-Werke, Hoersc-Stahl, Sthalwerke, Peine-Salzgitter
e Zahnradfabrik Friedrichshafen), concebeu o modelo PETRA (Formação orientada para o
Projeto e Transferência). Assim, em fevereiro de 1985, após aprovação do Ministério de
Educação e Ciência da Alemanha, O PETRA foi implantado e validado no complexo
industrial da Siemens.

Projeto e Transferência

Na sigla PETRA, duas palavras são fundamentais: Projeto e Transferência. Assim, a


formação é orientada para o projeto e a transferência, pois a aprendizagem de qualidades
pessoais se realiza a partir de projetos concretos.

Projeto é aqui entendido como uma tarefa, com graus variados de complexidade e de
difícil solução, que apresenta, à primeira vista, um desafio para o aluno.

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Transferência, por sua vez, significa a aplicação de habilidades e qualidades pessoais já
aprendidos a situações novas e modificadas.

Qualidades Pessoais

As mudanças no mercado de trabalho e a necessidade de introdução de novas tecnologias


estão alterando o conteúdo do trabalho e o perfil de desempenho do trabalhador. A
qualificação do trabalhador em determinadas qualidades pessoais, além da qualificação
técnica, ganha importância como objetivo do processo de formação profissional.

Preocupados com este assunto, educadores, especialistas em formação profissional e


representantes dos empregados e empregadores da Alemanha fizeram um levantamento
de 48 qualidades pessoais que o trabalhador deve desempenhar e que o aprendiz de uma
ocupação deve aprender. Essas qualidades foram traduzidas e adaptadas à nossa
realidade e às exigências dos empresários brasileiros.

As principais qualidades pessoais levantadas e selecionadas para a aplicação do modelo


PETRA no Brasil foram:

Auto-Suficiência, Atenção, Capacidade de Auto-Avaliação, Capacidade de Concentração,


Capacidade de Pesquisa, Capacidade de Planejamento, Capacidade de Resolução de
Problemas, Capacidade de Transferência, Compensação de Posturas Físicas, Consciência
de Qualidade, Consciência de Segurança, Cooperação, Coordenação, Determinação,
Disciplina, Empatia, Envolvimento, Expressão Oral e Escrita, Flexibilidade, Generalização,
Imparcialidade, Iniciativa, Integração, Julgamento, Leitura e Interpretação de Desenhos e
Circuitos, Leitura e Interpretação de Textos, Liderança Emergencial, Manutenção do
Diálogo, Objetividade na Argumentação, Participação, Perseverança, Precisão, Prontidão
para Aprender, Prontidão para Ouvir, Racionalização, Receptividade, Reconhecimento das
Próprias Limitações, Utilização de Técnicas de Aprendizagem, Zelo.

Uma análise rápida das qualidades pessoais levantadas permite algumas conclusões
interessantes.

Essas qualidades pessoais não estão atreladas em particular a nenhuma disciplina ou


ocupação. É possível desenvolvê-las quando se aprende, por exemplo, ajustagem,
desenho técnico, eletricidade, eletrônica, física, matemática, manutenção, mecânica de
automóvel, tornearia mecânica.

As qualidades pessoais correspondem, em sua maior parte, aos atributos desejáveis do


egresso do SENAI, levantados junto a empresas e citados no texto Influência das Novas
Tecnologias na Formação Profissional (p. 4.07 à p. 4.25).

Qualidade pessoal é entendida , nesse contexto, como atitude ou habilidade intelectual


complexa. Cooperação, Empatia, Envolvimento e Perseverança são exemplos de atitudes
ao passo que Capacidade de Planejamento, Capacidade de Resolução de Problemas,
Capacidade de Transferência e Racionalização são exemplos de habilidades intelectuais
complexas.

Uma parte das qualidades pessoais levantadas refere-se ao aluno enquanto responsável
pela execução de trabalhos individuais como, por exemplo, Atenção, Auto-Suficiência,

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Determinação e perseverança. A outra parte refere-se ao aluno enquanto participante de
um trabalho em grupo como, por exemplo, Cooperação, Empatia, Integração e
Receptividade.

É absolutamente necessário definir todas as palavras e expressões que representam


qualidades pessoais, uma vez que elas devem Ter o mesmo significado para alunos,
instrutores e demais pessoas envolvidas no processo de formação profissional.

O número de qualidades pessoais é elevado. As 39 qualidades devem ser agrupadas em


um número menor de classes para facilitar o planejamento de ações mais eficazes da
capacitação de alunos.

Qualificações-Chave

Qualificação-Chave é um conjunto de qualidades pessoais que o aluno deve aprender para


poder enfrentar futuras alterações tanto no conteúdo do seu trabalho quanto no seu perfil
de desempenho. Essas qualificações são essenciais (chave) para a pronta adaptação do
trabalhador a mudanças.

As qualidades pessoais foram agrupadas em cinco conjuntos, ou seja, em cinco


qualificações-chave:

1- Organização e Execução do Trabalho


2- Comunicação Interpessoal
3- Autodesenvolvimento
4- Autonomia e responsabilidade
5- Resistência à Pressão

É apresentado no final deste texto um quadro contendo as qualificações-chave e


respectivas qualidades pessoais.

Definição das Qualidades Pessoais

Foram elaboradas definições para as palavras e expressões que representam as


qualidades pessoais.

1- Organização e Execução do Trabalho

Esta qualificação-chave tem como campos de aplicação o planejamento, a execução e a


avaliação do trabalho.

Auto- Suficiência: Execução e avaliação de um trabalho pelo aluno a partir


de critérios e procedimentos por ele próprio
estabelecidos.

Capacidade de Auto-Avaliação: Avaliação realizada e justificada pelo próprio aluno em


relação ao trabalho por ele desenvolvido, de acordo com
objetivos e critérios por ele mesmo estabelecidos.

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Capacidade de Planejamento: Tomada de decisões sobre a realização de um trabalho
pelo próprio aluno; execução e avaliação de acordo com
os procedimentos planejados.

Coordenação: Organização metódica das atividades planejadas, dentro


do tempo previsto, para conseguir desenvolver o
trabalho sem dificuldades.

Determinação: Desenvolvimento, com firmeza e sem vacilação, de ações


planejadas que levem ao alcance dos objetivos
pretendidos.

Precisão: Execução de um trabalho de acordo com as


especificações técnicas definidas no projeto.

Racionalização: Planejamento e execução de tarefas, de forma objetiva e


econômica, tendo em vista um processo mais eficiente
de trabalho.

Zelo: Execução cuidadosa de um trabalho, com dedicação e


responsabilidade.

2- Comunicação Interpessoal

Esta qualificação-chave tem como campos de aplicação o relacionamento entre pessoas e


o comportamento grupal.

Cooperação: Disposição de trabalhar eficazmente com outras pessoas


em um grupo; prontidão de oferecer espontaneamente
ajuda aos outros, sem tirar proveito da situação.

Empatia: Tendência de “colocar-se no lugar dos outros”, ou seja,


saber lidar compreensivamente com opiniões e posições
alheias.

Imparcialidade: Adoção de um comportamento aberto, honesto e justo


em relação a outras pessoas.

Integração: Adaptação de uma pessoa a um grupo e vice-versa.

Liderança Emergencial: Tendência de “tomar as rédeas” do trabalho quando o


assunto tratado pertencer à sua área de competência.

Manutenção do Diálogo: Esforço do participante de um grupo no sentido de trocar


idéias e opiniões sobre um assunto até que se alcance
consenso.

Objetividade na Argumentação: Apresentação e defesa objetiva de opiniões pessoais,


durante o desenvolvimento de trabalhos em grupo, sem
envolvimento emocional.

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Participação: Disposição de oferecer contribuições ao grupo; prontidão
para ouvir as opiniões alheias.

Receptividade: Prontidão de aceitar posicionamentos expressos por


outras pessoas, de maneira aberta, atenta e interessada.

3- Autodesenvolvimento

Esta qualificação-chave tem como campos de aplicação a utilização de técnicas de


aprendizagem e a prática da transferência e resolução de problemas pelo próprio aluno.

Capacidade de Pesquisa: Habilidade de localizar e selecionar informações


necessárias ao desenvolvimento do seu trabalho.

Capacidade de Resolução de Problemas: Combinação de conhecimentos, habilidades e


técnicas de trabalho já aprendidos a situações
novas ou modificadas que lhe são atribuídas.

Expressão Oral e Escrita: Descrição oral e ou escrita de fatos e pensamentos de


forma clara, compreensível e adequada.

Generalização: Estabelecimento de conclusões gerais a partir de


informações parciais.

Leitura e Interpretação de Desenhos e Circuitos: Habilidade de visualizar o produto


final de um projeto e seu
funcionamento a partir de sua
representação gráfico-técnica.

Leitura e Interpretação de Textos: Compreensão das idéias veiculadas em uma


comunicação escrita.

Prontidão para Aprender: Disposição de aperfeiçoar seus conhecimentos,


habilidades e atitudes para atender a carências
identificadas em si mesmo.

Utilização de Técnicas de Aprendizagem: Aplicação por conta própria, de técnicas de


ensino e de aprendizagem, já apresentadas
pelo instrutor, para desenvolver um projeto
individualmente ou em grupo.

4- Autonomia e Responsabilidade

Esta qualificação-chave tem como campos de aplicação a independência e o compromisso


do aluno, respectivamente, enquanto pessoa e participante de um grupo.

Consciência de Qualidade: Vontade de melhorar cada vez mais o produto final do


seu trabalho, controlando tanto as próprias ações como
a dos outros.

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Consciência de Segurança: Manutenção de postura preventiva, por iniciativa própria,
durante o desenvolvimento do seu trabalho.

Disciplina: Disposição para cumprir obrigações, regras e papéis


estabelecidos tanto pela própria pessoa, quanto pelo
grupo, empresa ou Sociedade.

Envolvimento: Disposição de “vestir a camisa”; prontidão de


responsabilizar-se, individualmente ou em grupo, pelos
resultados obtidos no trabalho.

Iniciativa: Disposição para assumir e desenvolver um trabalho de


forma espontânea e rápida.

Julgamento: Apresentação de opinião favorável ou desfavorável sobre


idéias apresentadas por outras pessoas, acompanhada
de justificativa de seu ponto de vista.

Reconhecimento das Próprias Limitações: Avaliação de seu próprio desempenho,


mesmo quando desfavorável.

4- Resistência à Pressão

Esta qualificação-chave tem como campo de aplicação os esforços físicos e mentais


despendidos pela pessoa quando diante de condições desfavoráveis.

Atenção: Vontade de dirigir os seus sentidos para situações de


aprendizagem ou de trabalho, durante um certo período.

Capacidade de Concentração: Dedicação intelectual a um trabalho de maneira tão


intensa que as condições ambientais não interfiram nos
pensamentos e ações.

Compensação de Posturas Físicas: Execução de movimentos compensatórios, por


iniciativa própria, durante o desenvolvimento do
trabalho.

Flexibilidade: Adaptação, consciente e rápida, de ações e atitudes


planejadas diante de situações que se modificam.

Perseverança: Manutenção, num mesmo nível, da capacidade de


trabalho durante um longo período, mesmo diante de
situações monótonas e repetitivas.

Prontidão para Ouvir: Disposição para assumir conscientemente o papel de


ouvinte quando alguém estiver falando.

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Qualificações-Chave e Respectivas Qualidades Pessoais

Organização e
Comunicação Autonomia e Resistência à
Execução do Autodesenvolvimento
Interpessoal Responsabilidade Pressão
Trabalho

Auto-Suficiência Cooperação Capacidade de Pesquisa Consciência de Qualidade Atenção

Capacidade de Auto- Capacidade de Resolução Capacidade de


Empatia Consciência de Segurança
Avaliação de Problemas Concentração

Capacidade de Capacidade de Compensação de Posturas


Imparcialidade Disciplina
Planejamento Transferência Físicas

Coordenação Integração Expressão Oral e Escrita Envolvimento Flexibilidade

Determinação Liderança Emergencial Generalização Iniciativa Perseverança

Leitura e Interpretação de
Precisão Manutenção do Diálogo Julgamento Prontidão para Ouvir
Desenhos e Circuitos

Objetividade na Leitura e Interpretação de Reconhecimento das


Racionalização
Argumentação Textos Próprias limitações

Zelo Participação Prontidão para Aprender

Utilização de Técnicas de
Receptividade
Aprendizagem

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