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O dragão asiático está a despertar para o futebol. E conta com os portugueses para se tornar
uma potência, importando treinadores lusos e exportando alguns dos seus mais promissores
jovens para treinarem em Portugal. Se... Ou melhor, quando a China ganhar um Mundial,
podemos dizer: 'Fomos nós que lhes ensinámos tudo o que sabem'
Nós lá…
Cinco séculos depois, é difícil imaginar o que teria sucedido se Jorge Álvares, o primeiro
europeu a pisar solo chinês, levasse um telemóvel em vez de um padrão de descobrimentos.
Descontando a curiosidade óbvia de tal instrumento – e a falta de rede, claro – o mais provável
é que isso lhe teria facilitado, e muito, a comunicação. Nuno Marques, a quem nunca passou
pela cabeça levar um padrão às costas, tem dificuldades em imaginar-se a andar pelas ruas de
Guangzhou sem a sua vasta galeria de imagens que utiliza a todo o instante sempre que
precisa de pedir algum prato num restaurante ou para melhor explicar um exercício na escola
de futebol onde dá aulas. “Neste momento, tenho 4 858 fotografias. E vou apagando”, faz
questão de dizer o treinador. Mas, ao contrário da Grande Muralha, a barreira linguística está
longe de ser intransponível. E é aqui que entra também essa capacidade de adaptação bem
portuguesa. Poucos meses depois de terem chegado a Guangzhou – na província de Cantão,
próximo de Hong Kong e a mais de dois mil quilómetros de Pequim – Nuno Marques e o colega
João Nunes inscreveram-se num curso de mandarim; hoje, um ano depois, já conseguem
comunicar “com palavras simples” com as duas centenas de miúdos que têm a cargo numa das
10 escolas da Winning League Figo Football Academy, espalhadas por outras tantas cidades da
China.
Com coordenação técnica de Joaquim Rolão Preto, treinador-adjunto de Lazlo Boloni quando o
Sporting foi campeão em 2001/02, a academia com o nome do antigo capitão da seleção
nacional foi inaugurada há um ano e conta atualmente com um quadro de 24 técnicos
portugueses, todos com experiência de formação, que puseram a mão na massa. A ideia
parece encaixar como uma luva no “plano de reforma do futebol”, lançado no mês passado
pelo governo chinês e que visa colocar o país como uma das grandes potências da modalidade
em poucos anos. Pela reforma passa, por exemplo, a introdução do futebol como disciplina
obrigatória nas aulas de educação física em 20 mil escolas nos próximos cinco anos, e em 50
mil até 2025.
Empatia
O trabalho de pôr os chineses a jogar bem à bola será árduo. André Venâncio, treinador e
responsável técnico pela equipa de quatro elementos que trabalha com unhas e dentes no
centro de treinos em Pequim, explica que, “ao contrário do que sucede em Portugal, onde as
crianças nascem num contexto em que o futebol é o desporto número um, na China essa
relevância é menor, além de que a escola assume um papel muito absorvente na vida deles e
lhes limita o tempo para outras atividades extracurriculares”. Ainda assim, e com tempo,
André pensa que é capaz de levar as coisas mais longe e confia no sucesso a médio prazo do
país na alta-roda do futebol mundial.
Para os técnicos portugueses, isso não preocupa. O importante é o trabalho que vão
construindo no percurso de formação dos mais de dois mil jovens entre os cinco e os 13 anos
que frequentam as dez escolas da academia. Com a ajuda das aulas de mandarim, Nuno
Marques já consegue passar a mensagem mesmo sem a presença de outros técnicos-adjuntos
chineses, que servem também de tradutores. “Os miúdos são fantásticos e sabem que não
falamos a mesma língua, mas dão um jeitinho e ajudam-nos: palavras mais simples e que nós
já vamos compreendendo.” A viver e a trabalhar na capital, André confirma a tese dessa
empatia criada entre os técnicos portugueses e os jovens chineses, com “o facto de os
portugueses serem mais afetivos, mais emotivos, o que proporciona uma proximidade e
estabelece um bom clima”. Se, daqui a uns anos, a China erguer a taça do mundo de futebol,
talvez ninguém se lembre do padrão de Jorge Álvares, mas Nuno Marques é bem capaz de ter
a fotografia no telemóvel.
a China
acordar
portugueses
insuperável
as crianças
difícil
importância
elite
fabulosos
boa relação
4. Em cada coluna há cinco palavras mas apenas quatro pertencem à classe escrita em
maiúsculas na primeira linha. Consegue descobrir a palavra intrusa em cada coluna?
a) Por que razão contará a China com os portugueses para ensinar os jovens a jogar futebol?
b) Esta reportagem tem alguns anos. Hoje em dia é possível ver alguma evolução a nível do
futebol na China?
d) Na China há algum desporto "nacional", isto é, que as pessoas prefiram de forma especial?