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A UNIÃO João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 3 de novembro de 2013

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Memória do terror
Há 22 anos, o assaltante Focinho de Porco foi fuzilado pela polícia
Hilton Gouvêa
hiltongouvea@bol.com.br

V
O que disse A União
FotoS: Evandro Pereira/Arquivo
inte e dois anos após ser metra-
lhado durante troca de tiros com
a Polícia Federal, numa granja do
Grotão, em 5 de março de 1991,
nada mais resta do bandido Fo-
cinho de Porco, que durante dois
anos aterrorizou as populações de João Pes-
soa, Conde, Alhandra e Caaporã, sendo res-
ponsabilizada por cerca de 20 assassinatos.
Sepultado no Cemitério São José, em
Cruz das Armas, na tarde de 7 de março de
1991, juntamente com seu último compa-
nheiro vivo, o assaltante Zé de Olinda, Foci-
nho de Porco foi assistido por um número
razoável de curiosos. Hoje, sua sepultura não
existe mais. E seus familiares foram disper-
sos e se encontram em local ignorado. Seu
único filho homem, Danilo Ferreira da Silva,
foi assassinado em 3 de janeiro de 2009, no
conjunto Taipa, na Zona Sul de João Pessoa,
por envolvimento com drogas. E não atingiu
o seu objetivo: ser mais famoso que o pai.
O menino dócil que ajudava o pai José,
nos serviços de alvenaria e pintura domés-
tica, também não deu sorte aos banqueiros
de bicho de João Pessoa: no dia em que mor-
reu o milhar 1872, de porco, quebrou várias
bancas, já que foi grande o número de apos-
tadores que fizeram uma fezinha nesses
quatro algarismos. Em 3 de março de 1991,
A União anunciava: “Delegado diz que Foci-
nho de Porco está cercado”. A informação era
do delegado da Polícia Civil, Marcos Vascon-
celos, que chegou perto de pegar o bandido.
Este acabou fugindo da polícia e se escon-
dendo numa ilha do Rio Gramame.
E por que a PF entrou no caso? Um mês
antes de ser morto, Focinho de Porco e seu
bando assaltaram um condomínio nos Ban-
cários e mataram, por engano, o agente fede-
ral Roseberto dos Santos Correia. Também
feriram no olho a esposa do policial Alcida
Correia. João Cassemiro, que pertencia a
quadrilha, ao ser preso revelou os segredos
dos companheiros e disse que Focinho de
Porco, sempre frio e autoritário, amarelou e
ficou gago quando revistou o corpo de Rose-
berto e viu a credencial de agente da PF. Te-
meroso, o bandido disse: “Nossos dias estão
contados”.
Horas depois foi preso João Cassemi-
ro, o homem do bando que informava a
Focinho de Porco os movimentos da Po-
lícia. Depois de prestar depoimento, ele
apareceu morto, por enforcamento, no xa-
drez da PF. José Arnóbio Silva de Souza, o
Zé Neguinho, preso juntamente com João
Cassemiro, acabou morto a tiros, quando
saiu com a polícia para mostrar o escon-
derijo dos companheiros. O delegado fede-
ral Gustavo Gominho disse que Neguinho,
mesmo tendo policiais às suas costas e
bandidos pela frente, resolveu correr al-
gemado, sendo atingido pelos companhei-
ros, que trocavam tiros com os agentes
federais.
Na tarde do dia 5 de março de 1991,
um furgão do Supermercado Primo entrou
discretamente na granja de José Aurélio de
Morais da Silva, no Grotão. Quinze homens
travestidos de agricultores saltaram do veí- Foto: Divulgação
culo portando sacos de estopa nas mãos, delegado Luís Carlos, imediatamente reti-
onde estavam ocultos revólveres, pistolas rado do local, para o Hospital Santa Isabel.
e metralhadoras. Eram agentes federais da Focinho de Porco e Zé de Olinda, atingidos
Paraíba, disfarçados. O objetivo: pegar Fo- por diversas balas, rolaram numa vale-
cinho de Porco, vivo ou morto. ta. Foi o fim de uma quadrilha que matou
Os policiais tomaram posição dentro do duas dezenas de pessoas, e que, mais tar-
mato e são avisados, pelo caseiro, que Foci- de, seria acusada de praticar a chacina do
nho de Porco o visitaria naquele dia. Com a Abiaí, onde quatro caçadores foram assas-
emboscada armada, e todos em silêncio, o sinados e roubados, no dia 2 de novembro
capim plantado em volta do estábulo come- de 1990.
çou a se mexer de forma suspeita. Era 18h10. Eu morava no Ernani Sátyro, na déca-
O agente Matews e o delegado Luís Carlos, da de 80, quando vi Focinho de Porco pela
situados numa tocaia avançada, apontaram primeira vez. Na época ele não tinha este
suas armas para o capim: um rifle calibre 44 grosseiro apelido e era um menino de, no
e uma metralhadora de 9 milímetros. Outros máximo, 17 anos. Contratei seu pai José,
agentes davam cobertura, numa parte re- para um serviço de pintura. Manuel acom-
cuada da cocheira. panhou-o. Era aplicado no serviço, dócil e
Matewus e Luís Carlos lançaram a tra- demonstrava respeito aos mais velhos. Cer-
dicional advertência, mandando os bandi- ta vez presenciei-o orar após o almoço e pe-
dos soltar as armas levantar as mãos. Os diu a bênção aos presentes. Sua adesão ao
bandidos responderam com tiros. Focinho crime não foi explicada até hoje. As versões
de Porco, mesmo atingido por balas de me- são muitas, inclusive a de uma moça que o
tralhadora, revólveres e pistolas, desferiu rejeitou por ser feio. Este segredo ele levou
um tiro de espingarda 12 e feriu, no olho, o O delegado Marcos Vasconcelos fez cerco a Focinho de Porco. No alto, a cobertura de A União para o túmulo.. .

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