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2006+ +Comentário+Sobre+o+Debate+Ian+Parker+e+Shingu
2006+ +Comentário+Sobre+o+Debate+Ian+Parker+e+Shingu
controvérsia com o grupo de Viena e com Jung acerca do simbolismo universal. Nos
anos 1930-50 foi exatamente esta discussão acerca da universalidade do inconsciente,
das formas da pulsão e da experiência edípica que marcou o debate da psicanálise com a
antropologia e a controvérsia acerca da cientificidade da psicanálise. Na esteira deste
debate se pode entender tanto a absorção do tema da universalidade à noção de estrutura
e de linguagem em Lacan, quanto à absorção das categorias universais do pensamento,
em chave kantiana ou neokantiana, como vemos em Bion. Também a absorção
psicanalítica do universal de corte biológico ou humanista, que se verifica em tantas
outras linhagens psicanalíticas, está exposta à mesma questão.
No fundo a questão chave que encontramos nos dois textos comprime-se na
noção de tradução. No famoso texto de Lévy-Strauss, sobre A Estrutura dos Mitos, que
serviu de modelo para todas as variantes do estruturalismo, e de anti-modelo para vários
dos deslocamentos pós-estruturalistas, encontramos uma afirmação metodológica
crucial: para estudar uma formação de linguagem, no caso a narrativa mítica de Édipo,
jamais podemos confinar nossa própria análise no mesmo nível de linguagem em que tal
formação se expressa. Assim, analisar a narrativa mítica por intermédio de uma outra
narrativa não corresponde a uma verdadeira análise, mas a uma extensão do mito que se
queria examinar. Ou seja, a análise estrutural é imanente à suposição de que existem
níveis crescentemente formais e qualitativamente distintos de linguagem. Cada nível
funciona como uma espécie de meta-linguagem do nível que procura compreender e a
formação de linguagem analisada é abordada como uma língua objeto. Aqui surge um
primeiro problema: seriam os conceitos, no sentido tradicional do termo, de fato
elementos qualitativamente diferentes dos termos narrativos ou eles funcionariam, de
fato, como uma meta-linguagem ? Ao que tudo indica, o interesse de Lacan por Frege,
que se explicita longitudinalmente a partir do Seminário sobre os Problemas Crucias da
Psicanálise (1965-1965) é uma tentativa de resolver este problema. Segundo Frege todo
conceito deve ser analisado segundo sua intensão e sua extensão. A intensão exprime a
forma número que pertence ao objeto, a extensão designa o campo de emprego válido
do objeto a que se refere o conceito. Esse movimento teórico foi importante para fazer
Lacan superar o problema da tradução como metalinguagem, pois, a rigor não haveria
transposição completa e superação de um nível de linguagem por outro, apenas
variações lógicas, e não lingüísticas, de apresentação dos problemas. Compreende-se
porque só depois deste momento Lacan passa a insistir na fórmula: “não há
metalinguagem”. Ou seja, o que é descartado não é exatamente a existência de conceitos
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DUNKER, C. I. L. - Comments on the Presentation given by Ian Parker and Kazushige Shingu.
The Letter Lacanian. v.31, p.114 - 119, 2006.
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Allouch, J. – Letra a Letra, Companhia de Freud, Rio de Janeiro, 2000.
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DUNKER, C. I. L. - Comments on the Presentation given by Ian Parker and Kazushige Shingu.
The Letter Lacanian. v.31, p.114 - 119, 2006.
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DUNKER, C. I. L. - Comments on the Presentation given by Ian Parker and Kazushige Shingu.
The Letter Lacanian. v.31, p.114 - 119, 2006.
problema dos fundamentos de uma antropologia psicanalítica que nãos e queria mera
expressão de um novo humanismo.