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À GLORIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO

O TEMPO PARA ESTUDOS EM LOJA MAÇÕNICA

A PROBLEMÁTICA

A Maçonaria é, antes de tudo, uma escola de altos estudos, com base num sistema de
moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos. O seu objetivo se compõe de dois
caminhos de realização: primeiro, a aquisição de conhecimentos da Filosofia Perene - os
Símbolos Sagrados (1), a Tradição Primordial-, e segundo, passar esse aprendizado para
adiante, para os novos iniciados. Ir pra frente, em inglês, move on. Do Mestre para o
Aprendiz. Assim, a Ordem atua, e atuará, indefinidamente até que a Humanidade se
redima da sua caída e a Maçonaria se espalhe por toda ela em um ato definitivo de fusão
e transformação. A Humanidade estará emancipada da ignorância, dos preconceitos e do
fanatismo, e a Maçonaria não será mais necessária. Deixará de ser, porque todos serão.

Todavia, e pelo andar da carruagem da decadência do mundo moderno, tudo indica que
a Maçonaria será necessária, ainda, por muito e muito mais tempo.

As demais atividades que envolvem a Ordem são complementares, importantes, porém


não essenciais. Filantropia, festas, ajuda mútua, participação nas transformações sociais
em prol de uma sociedade mais livre, igualitária e solidária, são ações próprias, até
obrigatórias, de todo maçom comprometido com a Ordem, os seus irmãos e a
comunidade na qual atua. Tudo isso, com a necessária obrigação de colocar – tal
atividade- sob o esquadro e o compasso do plano que Deus tem para a Humanidade.
Nesse sentido, a Maçonaria é a única instituição, não religiosa, que coloca todos os seus
trabalhos “À Glória do Grande Arquiteto do Universo”. (2)

A maioria das Grandes Lojas e Grandes Orientes, no mundo, definem a Maçonaria


como sendo uma instituição filosófica, ritualística, filantrópica, progressista e iniciática.
Todavia, a característica que a faz exclusiva e única, é que nela se ingressa mediante a
cerimônia de iniciação. O termo iniciação vem da palavra latina initium, que significa
início, começo, ou o começo da preparação. Tem uma conotação de ação: ingressar em,
iniciar dentro de. É o conhecimento interno – esotérico- em contraposição ao
conhecimento externo, ou exotérico. Este conhecimento se adquire mediante duas
maneiras: a vivência prática - nas oficinas maçônicas-, e o estudo - mediante a livre
investigação da verdade utilizando unicamente a razão para a realização das pesquisas.

Todo maçom, por tanto, tem como principal objetivo freqüentar a sua loja maçônica e
estudar maçonaria. Essa experiência, e os demais conhecimentos adquiridos, devem ser
passados para os neófitos. E assim por diante. Até o fim dos dias, como dissemos acima.
Chegamos, agora, ao assunto que mais preocupa atualmente a muitos maçons: por um
lado, a maçonaria é pouco estudada nas oficinas e, por outro, a freqüência declina.
Todavia, um paradoxo se torna presente em esta problemática: a cada dia, mais profanos
continuam a ingressar na Maçonaria. Porém, depois de iniciados, um importante
percentual de membros não acha o que nela vieram procurar e desistem de freqüentar as
reuniões. Se o termo equivalente em sânscrito para iniciação é abhisheka, que significa
“espargir”, “verter”, e se para se verter é preciso que haja um vaso onde possa cair o
líquido vertido – o recipiendário-, então a pergunta correta é: será que o líquido que os
mestres maçons –em nome da Maçonaria- oferecem para completar o vaso, é o certo e o
suficiente?

Esta problemática pode se apresentar também em outras instituições. Se você for


sacerdote de um templo religioso, deverá oferecer –principalmente- estudos da palavra
de Deus e a salvação da alma. Se você for reitor de uma Faculdade, oferecerá –
principalmente- qualificados cursos acadêmicos. Em ambos os casos, atividades tais
como beneficência, festas, esportes, passeios, etc. são importantes, porém não
essenciais: o que se procura –em essência – é estudar, seja a Palavra de Deus, seja
Medicina. O desvio do objetivo principal tem como resultado final a desvirtuação da
instituição. Será que atualmente a Maçonaria oferece - essencialmente – estudos sobre a
Maçonaria? Senão, o que fazer?

CASO PRÁTICO

Durante uma reunião em Loja (3), cronometramos todas as atividades realizadas.

GRAU APRENDIZ - LOJA MAÇÔNICA (GL) – REAA

ATIVIDADE TEMPO HORAS OBSERVAÇÕES


(minutos)

Abertura 12 20:00 Começou no horário


Balaústre 10+8 20:12 Participantes: 22 Irmãos.
Vários 2 20:30
Bolsa Propostas 8 20:32
Leitura de candidatos 7 20:40
Quarto de Hora 5 20:47 Leitura, sem comentários.
Considerações do V.: M.: 8 20:52
Instrução 3 de Aprendiz 9 21:00 Sem comentários dos IIr.:
Comentários do V.: M.: 4 21:04
Hospitaleiro 7 21:13
Palavra Franca 9 21:20
Orador 3 21:29
Palavras do V.: M.: 13 21:32
Encerramento 8 21:45
Retirada em Paz 7 21:53
Fim 120 22:00 Duas horas exatas.
Deste caso, podemos inferir que tivemos, em duas horas de reunião, cinco minutos
correspondentes ao Quarto de Hora de Estudos Maçônicos e nove minutos
correspondentes à Instrução 3 de Aprendiz. Isto é: 11,66% de estudos maçônicos, do
tempo total. Menos do que a leitura do Balaustre, entre outras medições. É só olhar o
gráfico e fazer contas.

PROPOSTA OPERATIVA

A problemática da falta de estudo nas oficinas foi sempre uma preocupação das diversas
instituições maçônicas no Brasil. As Grandes Lojas, na tentativa de paliar esta
deficiência, introduziram uma modificação inédita nos rituais das lojas jurisdicionadas:
o chamado Quarto de Hora Maçônico. Conforme ele deve destinar-se quinze minutos
para leitura de peças de arquitetura que versem sobre ritualística e outros assuntos
maçônicos; não há debate nem comentários. Esta inovação, a pesar de ser passível de
criticas por não oferecer a possibilidade de uma ampla discussão acadêmica e fraternal,
todavia é um avanço: melhor quinze minutos do que nada. Ainda assim, nem sempre se
cumpre esta medida, sob alegação de falta de tempo.

Já, na prática, muitas oficinas preferem colocar a Peça de Arquitetura na Ordem do Dia
para ser decifrada sem limitações formais de tempo nem conteúdo. A sadia deliberação
entre os irmãos sobre temas de maçonaria, com a palavra indo e voltando livremente, se
soluciona, simplesmente, com a Suspensão dos Trabalhos para Recreação, onde a
recreação é o Estudo Maçônico. Muitas vezes participamos em Lojas onde o debate
maçônico durou quarenta minutos ou mais, sem alterar o horário de finalização da
reunião.

No caso apresentado, poderíamos economizar tempo apenas com estas simples medidas:
ler uma síntese das comunicações de outras oficinas e não a prancha completa
(economia de 9 minutos); a bolsa de propostas não faz o giro, apenas se apresenta para
quem tem alguma comunicação a fazer (6 minutos); palavras do V.: M.: ficam reduzidas
à metade (15 minutos); a Retirada se faz o mais rapidamente possível (5 minutos). Desta
maneira, teríamos uma economia de 35 minutos, aos quais somados os 5 minutos do
Quarto de Hora totalizariam enormes 40 minutos, que poderíamos empregar em
debates estritamente sobre assuntos maçônicos. É só querer fazer.

Finalmente observamos, em nossas inúmeras visitas a diversas oficinas no Brasil, que


algumas Lojas adotam o procedimento de entregar o Diploma de Mestre Maçom depois
de o Irmão completar as Instruções de Mestre e apresentar os trabalhos correspondentes.
Excelente procedimento para continuar a estudar. Seguramente existem outros; é só
pesquisar e aguçar a criatividade maçônica dos irmãos.

O profano que ingressa na Ordem, talvez não saiba ainda o que é a Maçonaria. Mas sabe
o que ela não é. Não é, aquilo que ele já tem lá fora. Beneficência, bingos, jantares,
esportes, burocracia, ajuda mútua, etc. Tudo isso já existe no mundo profano. A única
coisa que não existe fora da Maçonaria, é precisamente, Maçonaria. É o que o neófito
procura. É o que todos nós, também procuramos. E quem procura, com certeza, acha.

EUGENIO TSCHELAKOW

M.: M.: LOJA LIBERDADE #1- GLEB

Notas.

(1) René Guénon, Os Símbolos da Ciência Sagrada, Ed Pensamento, São Paulo.

(2) Na Maçonaria, uma maneira neutral de chamar o Ser Supremo, além de qualquer credo religioso. O
conceito de Deus como Grande Arquiteto do Universo tem sido empregado muitas vezes no catolicismo,
mediante ilustrações que podem ser encontradas em diversas bíblias desde a Idade Média. Santo Tomé de
Aquino sustenta que existe um Grande Arquiteto do Universo, a Primeira Causa, e que este é Deus.
Também, desde a Reforma, Calvino em “Institutas da Religião Cristã”, (1536-9), chama repetidamente
Deus de "O Arquiteto do Universo", e em seu comentário sobre o Salmo 19 refere-se a Deus como o
"Supremo Arquiteto": “Davi demonstra como é que os céus nos proclamam a glória de Deus, isto é, pelo
público testemunho que não foram postos em harmonia pelo acaso, senão que foram maravilhosamente
criados pelo supremo Arquiteto”. Já na Bíblia, Novo Testamento, Hebreus 11.10, podemos ler: “porque
aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é arquiteto e edificador.”

(3) Caso inspirado em visita a uma Loja Maçônica, em 2010.

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