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Caderno de

novidades
legislativas

março 2021
SUMÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.124/2021 – Medidas excepcionais destinadas à vacinação
contra covid-19
1.1. Ficha normativa................................................................................................................5
1.2. Comentário.......................................................................................................................5
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................8

2. Lei nº 14.125/2021 –‒ Responsabilidade civil relativa a eventos adversos


pós-vacinação contra a covid-19
2.1. Ficha normativa..............................................................................................................10
2.2. Comentário......................................................................................................................11
2.3. Questão inédita comentada.....................................................................................14

3. Lei nº 14.129/2021 ‒– Princípios, regras e instrumentos para o Governo


Digital
3.1. Ficha normativa ..............................................................................................................15
3.2. Comentário .....................................................................................................................17
3.3. Questão inédita comentada.....................................................................................22

DIREITO CIVIL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒– Facilitação para abertura de
empresas
1.1. Ficha normativa...............................................................................................................24
1.2. Comentário.......................................................................................................................24

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SUMÁRIO

DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


1. Lei nº 14.126/2021 ‒– Visão monocular como deficiência sensorial
1.1. Ficha normativa...............................................................................................................25
1.2. Comentário.......................................................................................................................25
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................28

DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Medida Provisória (MP) nº 1.036/2021 –‒ Crise decorrente da pandemia
da covid-19 nos setores de turismo e de cultura
1.1. Ficha normativa................................................................................................................30
1.2. Comentário.......................................................................................................................30
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................33

DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.128/2021 ‒– Compensação financeira a ser paga pela União aos
profissionais e trabalhadores de saúde
1.1. Ficha normativa...............................................................................................................35
1.2. Comentário.......................................................................................................................35

DIREITO EMPRESARIAL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒– Facilitação para abertura de
empresas
1.1. Ficha normativa................................................................................................................36
1.2. Comentário.......................................................................................................................37
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................40

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SUMÁRIO

DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.132/2021 –‒ Crime de perseguição
1.1. Ficha normativa................................................................................................................43
1.2. Comentário.......................................................................................................................43
1.3. Questão inédita comentada......................................................................................45

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.126/2021 ‒ – Visão monocular como deficiência sensorial
1.1. Ficha normativa................................................................................................................47
1.2. Comentário.......................................................................................................................47

2. Lei nº 14.128/2021 ‒– Compensação financeira a ser paga pela União aos


profissionais e trabalhadores de saúde
2.1. Ficha normativa..............................................................................................................47
2.2. Comentário......................................................................................................................48
2.3. Questão inédita comentada.....................................................................................55

Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.124/2021 – Medidas excepcionais destinadas à vacinação
contra covid-19
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.124/2021
Ementa: Dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos
e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e
comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados
à vacinação contra a covid-19, e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19.
Data de publicação: 10.03.2021
Início de vigência: 10.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14124.htm>
Destaques:
• A lei autoriza dispensa de licitação para que a Administração Pública direta e indireta
celebre contratos de aquisição de vacinas e insumos para vacinação contra a covid-19,
mesmo que antes do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou
autorização temporária de uso emergencial.

• Autoriza dispensa de licitação para que a Administração Pública direta e indireta celebre
contratos de bens e serviços necessários para implementação da vacinação contra a
covid-19.

• Autoriza compra, distribuição e aplicação de vacinas contra a covid-19 por estados, Distrito
Federal e municípios, caso a União tenha atuação intempestiva.

• Autoriza, de forma excepcional e temporária, a importação e distribuição de vacinas,


medicamentos e outros insumos para combate à covid-19 sem registro na Anvisa, desde
que haja aprovação ou registro por outras autoridades sanitárias, entre outros requisitos.

1.2. Comentário

No dia 10.03.2021 foi publicada e entrou em vigor a Lei nº 14.124/2021, com o objetivo de auxiliar
o enfrentamento à pandemia.

Conforme ementa da lei, o novel texto legislativo trata “sobre as medidas excepcionais relativas
à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia

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da informação e comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à
vacinação contra a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19”.

Tendo em vista a covid-19 como medida excepcional, a lei autoriza a dispensa de licitação para
aquisição de vacinas, insumos para vacinação e para contratação de bens e serviços necessários
para implementação da vacinação.

Art. 2º Fica a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar


contratos ou outros instrumentos congêneres, com dispensa de licitação,
para:

I ‒ ‒ a aquisição de vacinas e de insumos destinados à vacinação contra a


covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária
de uso emergencial; e

II ‒ ‒ a contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação


e comunicação, de comunicação social e publicitária, de treinamentos e de
outros bens e serviços necessários à implementação da vacinação contra a
covid-19.

Em relação à formalização da contratação direta, o art. 2º, § 1º, da lei dispõe que a dispensa de
licitação “não afasta a necessidade de processo administrativo que contenha os elementos técnicos
referentes à escolha da opção de contratação e à justificativa do preço ajustado” (grifos nossos).

Todas as aquisições ou contratações feitas com base na nova lei deverão ser publicizadas, no
prazo máximo de 5 dias úteis, “contado da data da realização do ato em sítio oficial da internet” (art.
2º, § 2º), devendo haver a divulgação de todas as informações elencadas nesse dispositivo:

Art. 2º (...)

I ‒ o nome do contratado e o número de sua inscrição na Secretaria Especial


da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia ou identificador
congênere no caso de empresa estrangeira que não funcione no País;

II ‒ o prazo contratual, o valor e o respectivo processo de aquisição ou de


contratação;

III ‒ o ato que autoriza a contratação direta ou o extrato decorrente do


contrato;

IV ‒ a discriminação do bem adquirido ou do serviço contratado e o local de


entrega ou de prestação do serviço;

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V ‒ o valor global do contrato, as parcelas do objeto, os montantes pagos e
o saldo disponível ou bloqueado, caso exista;

VI ‒ as informações sobre eventuais aditivos contratuais;

VII ‒ a quantidade entregue ou prestada em cada ente federativo durante a


execução do contrato, nas contratações de bens e serviços; e

VIII ‒ as atas de registros de preços das quais a contratação se origine, se


houver.

A fim de justificar a situação de dispensa, o legislador presumiu, no art. 3º, a presunção da


comprovação da “ocorrência de situação de emergência em saúde pública de importância nacional
decorrente do coronavírus responsável pela covid-19 (SARS-CoV-2)”; “necessidade de pronto
atendimento à situação de emergência em saúde pública de importância nacional decorrente do
coronavírus responsável pela covid-19 (SARS-CoV-2)”.

Além da dispensa, também prevê a lei a contratação direta por inexigibilidade no caso de
fornecedor exclusivo do bem ou serviço “inclusive no caso da existência de sanção de impedimento
ou de suspensão para celebração de contrato com o poder público” (§ 3º), sendo, nesse caso,
obrigatória a prestação de garantia até o limite de 10%.

Estabelece a lei, ainda, diversas outras disposições referentes à licitação e ao regramento dos
contratos administrativos e, em relação ao primeiro caso, por exemplo, o art. 8º prevê, no caso de
pregão, a redução dos prazos pela metade.

Por sua vez, quanto aos contratos administrativos decorrentes das aquisições e contratações
descritas na lei, merece destaque o art. 9º, prevendo que “a administração pública direta e indireta
poderá estabelecer cláusula com previsão de que os contratados ficam obrigados a aceitar, nas
mesmas condições contratuais iniciais, acréscimos ou supressões ao objeto contratado limitados a
até 50% (cinquenta por cento) do valor inicial atualizado do contrato.”

Além das disposições referentes à contratação direta, à licitação e aos contratos administrativos,
importante mencionar que a nova lei prevê, no art. 13, § 3º, a autorização para a compra, a distribuição e
a aplicação de vacinas contra a covid-19 por estados, Distrito Federal e municípios, caso a União “não
realize as aquisições e a distribuição tempestiva de doses suficientes para a vacinação dos grupos
previstos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19” (grifos nossos).

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Nesse caso, as vacinas devem estar:

i. registradas (na Anvisa); ou

ii. autorizadas para uso emergencial (pela Anvisa); ou

iii. autorizadas excepcionalmente para importação.

A última hipótese mencionada, autorização excepcional para importação, foi prevista no art. 16
da Lei nº 14.124/2021, e significa que vacinas e medicamentos contra a covid-19 não registrados na
Anvisa podem ser autorizados para importação pela agência caso preencham os seguintes requisitos:

i. possuam estudos clínicos de fase três concluídos ou resultados provisórios de um ou mais


estudos clínicos;

ii. sejam considerados essenciais para o combate da doença;

iii. sejam registrados ou autorizados para uso emergencial por autoridades sanitárias estrangeiras
listadas na lei;

iv. sejam autorizados à distribuição no respectivo país da autoridade sanitária que registrou ou
autorizou o uso emergencial.

Para materiais, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária e não
registrados na Anvisa, dispensa-se apenas o requisito listado no item “i”, uma vez que ele é aplicável
às vacinas e medicamentos contra a covid-19.

Como exemplo de autoridades sanitárias estrangeiras previstas na lei (item iii), cita-se a Food
and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos da América, e a European Medicines Agency
(EMA), da União Europeia.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.124/2021, assinale a alternativa incorreta:

A) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros


instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para aquisição de vacinas contra a covid-19.

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B) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros
instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para contratação de bens e serviços de logística
necessários à implementação da vacinação contra a covid-19.

C) Os estados, os municípios e o Distrito Federal ficam autorizados a adquirir, distribuir e aplicar


as vacinas contra a covid-19, caso a União não realize as aquisições e a distribuição tempestiva de
doses suficientes para a vacinação de toda a população.

D) Autoriza de forma excepcional e temporária a importação e distribuição de vacinas e


medicamentos contra a covid-19 sem registro na Anvisa, desde que registrados ou autorizados
para uso emergencial por autoridades sanitárias estrangeiras e autorizados à distribuição em seus
respectivos países, entre outros requisitos.

E) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros


instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para compra de insumos destinados à
vacinação contra a covid-19.

Alternativa correta: letra C. Nos termos do art. 13, § 3º, da Lei nº 14.124/2021,“a aplicação das
vacinas contra a covid-19 deverá observar o previsto no Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a covid-19, ou naquele que vier a substituí-lo. § 3º Os Estados, os Municípios e
o Distrito Federal ficam autorizados a adquirir, a distribuir e a aplicar as vacinas contra a covid-19
registradas, autorizadas para uso emergencial ou autorizadas excepcionalmente para importação,
nos termos do art. 16 desta Lei, caso a União não realize as aquisições e a distribuição tempestiva de
doses suficientes para a vacinação dos grupos previstos no Plano Nacional de Operacionalização
da Vacinação contra a Covid-19.” (Grifos nossos).

Demais alternativas:

Alternativa A. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: I ‒‒ a aquisição de vacinas e de insumos destinados à
vacinação contra a covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária de
uso emergencial; e”.

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Alternativa B. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: II ‒ a contratação de bens e serviços de logística, de
tecnologia da informação e comunicação, de comunicação social e publicitária, de treinamentos e
de outros bens e serviços necessários à implementação da vacinação contra a covid-19.”

Alternativa D. Alternativa em consonância com o art. 16, caput, da Lei nº 14.124/2021: “A


Anvisa, conforme estabelecido em ato regulamentar próprio, oferecerá parecer sobre a autorização
excepcional e temporária para a importação e a distribuição e a autorização para uso emergencial
de quaisquer vacinas e medicamentos contra a covid-19, com estudos clínicos de fase 3 concluídos
ou com os resultados provisórios de um ou mais estudos clínicos, além de materiais, equipamentos
e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária, que não possuam o registro sanitário
definitivo na Anvisa e considerados essenciais para auxiliar no combate à covid-19, desde que
registrados ou autorizados para uso emergencial por, no mínimo, uma das seguintes autoridades
sanitárias estrangeiras e autorizados à distribuição em seus respectivos países: (...)”.

Alternativa E. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: I ‒ a aquisição de vacinas e de insumos destinados à
vacinação contra a covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária de
uso emergencial; e”.

2. Lei nº 14.125/2021 ‒‒ Responsabilidade civil relativa a eventos


adversos pós-vacinação contra a covid-19

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.125/2021
Ementa: Dispõe sobre a responsabilidade civil relativa a eventos adversos pós-vacinação
contra a covid-19 e sobre a aquisição e distribuição de vacinas por pessoas jurídicas
de direito privado.

Data de publicação: 10.03.2021


Início de vigência: 10.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14125.htm>

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Destaques:
• A lei autoriza a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios a adquirirem vacinas
contra a covid-19, caso em que assumirão a responsabilidade civil por eventos adversos
pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o respectivo registro ou autorização
temporária de uso emergencial.

• Prevê que os entes poderão constituir garantias ou contratar seguro privado para a
cobertura dos riscos relativos aos eventos adversos pós-vacinação.

• Autoriza a aquisição de vacinas contra a covid-19 por pessoas jurídicas de direito privado,
desde que sejam integralmente doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de
serem utilizadas no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), até o término
da imunização dos grupos prioritários. Após, poderão distribuir e administrar as vacinas
adquiridas livremente, desde que pelo menos 50% das doses sejam, obrigatoriamente,
doadas ao SUS, e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

2.2. Comentário

Em 10.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.125, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo dispõe sobre a “responsabilidade civil
relativa a eventos adversos pós-vacinação contra a Covid-19 e sobre a aquisição e distribuição de
vacinas por pessoas jurídicas de direito privado”.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da covid-19,


podendo ser destacada a autorização, prevista em seu art. 1º, para que a União, os estados, o Distrito
Federal e os municípios adquiram vacinas e assumam os riscos referentes à responsabilidade
civil, nos termos do instrumento de aquisição ou fornecimento de vacinas celebrado, em relação
a eventos adversos pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o respectivo registro ou
autorização temporária de uso emergencial.

Tendo em vista que podem ocorrer efeitos adversos pelo uso das vacinas destinadas ao
combate da covid-19, houve exigência por parte das empresas farmacêuticas de que o ente público
comprador se responsabilize por qualquer indenização referente a efeitos colaterais indesejados
ocasionados pelas vacinas.

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Essa pretensão foi acolhida, e a Lei nº 14.125/2021 trouxe previsão legal nesse sentido em
seu art. 1º:

Art. 1º Enquanto perdurar a Emergência em Saúde Pública de Importância


Nacional (Espin), declarada em decorrência da infecção humana pelo novo
coronavírus (SARS-CoV-2), ficam a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios autorizados a adquirir vacinas e a assumir os riscos
referentes à responsabilidade civil, nos termos do instrumento de aquisição
ou fornecimento de vacinas celebrado, em relação a eventos adversos pós-
vacinação, desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
tenha concedido o respectivo registro ou autorização temporária de uso
emergencial. (Grifos nossos.)

Importante ressaltar que, para a Copa do Mundo de 2014, havia previsão semelhante na Lei nº
12.663/2012 (art. 23), dispositivo que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.976. Mas, diferente desse dispositivo,
que tratava apenas da responsabilidade da União, o previsto na Lei nº 14.125/2021 trata também sobre
a responsabilidade dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, o que pode gerar discussões.

Quanto à responsabilização do ente adquirente pelos eventos adversos pós- vacinação, merece
atenção o disposto nos parágrafos do art. 1º.

Estabelece o § 1º do art. 1º que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios poderão
constituir garantias ou contratar seguro privado, nacional ou internacional, em uma ou mais
apólices, para a cobertura dos riscos de que trata o caput deste artigo.

Além disso, deve-se ressaltar que a assunção dos riscos relativos à responsabilidade civil pelos
efeitos adversos restringe-se às aquisições feitas pelo respectivo ente público (§ 2º do art. 1º). Como
exemplo, a União não assume responsabilidade por doses compradas por particulares.

Por sua vez, o § 3º impõe medidas de transparência aos entes que adquirirem as vacinas,
especificamente quanto:

§ 3º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão medidas efetivas


para dar transparência:

I ‒ ‒ à utilização dos recursos públicos aplicados na aquisição das vacinas e


dos demais insumos necessários ao combate à Covid-19;

II ‒ ‒ ao processo de distribuição das vacinas e dos insumos.

12 Caderno de novidades legislativas


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Ainda nesse ponto, destaca-se a previsão contida no art. 3º da Lei nº 14.125/2021, pela qual o
Poder Executivo federal poderá instituir procedimento administrativo próprio para a avaliação de
demandas relacionadas a eventos adversos pós-vacinação.

Outro ponto de destaque no diploma normativo em análise é a autorização para que pessoas
jurídicas de direito privado adquiram vacinas contra a covid-19 que tenham autorização temporária
para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para importação e distribuição ou
registro sanitário concedidos pela Anvisa.

No entanto, na forma do art. 2º, caput, da Lei nº 14.125/2021, as vacinas adquiridas por essas
pessoas de direito privado deverão, em um primeiro momento, ser integralmente doadas ao SUS,
a fim de serem utilizadas no âmbito do PNI.

De acordo com o art. 2º, caput, da lei, que é seu outro ponto de destaque, as pessoas jurídicas
de direito privado ficam autorizadas a comprar vacinas contra a covid-19, desde que as vacinas
“tenham autorização temporária para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para
importação e distribuição ou registro sanitário concedidos pela Anvisa.”

Apesar dessa previsão, a distribuição e administração das vacinas pelas pessoas jurídicas de
direito privado que as adquirirem é limitada pela lei, conforme o seguinte quadro:

Antes do término da imunização dos As vacinas devem ser integralmente


grupos prioritários previstos no Plano Nacional doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.

Após o término da imunização dos Pelo menos 50% (cinquenta por cento)
grupos prioritários previstos no Plano Nacional das doses devem ser, obrigatoriamente,
de Operacionalização da Vacinação contra a doadas ao SUS, e as demais devem ser
Covid-19. utilizadas de forma gratuita.

Somente após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano Nacional
de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as referidas pessoas jurídicas de direito
privado poderão, atendidos os requisitos legais e sanitários, adquirir, distribuir e administrar vacinas
livremente, desde que (§ 1º do art. 2º):

a) pelo menos 50% das doses sejam, obrigatoriamente, doadas ao SUS; e

b) as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

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Respeitados esses requisitos, as vacinas “poderão ser aplicadas em qualquer estabelecimento
ou serviço de saúde que possua sala para aplicação de injetáveis autorizada pelo serviço de vigilância
sanitária local, observadas as exigências regulatórias vigentes, a fim de garantir as condições
adequadas para a segurança do paciente e do profissional de saúde” (art. 2º, § 2º, da Lei nº 14.125/2021).

Por último, destaca-se que as pessoas jurídicas de direito privado deverão fornecer ao Ministério
da Saúde, na forma de regulamento, de modo tempestivo e detalhado, todas as informações relativas
à aquisição, incluindo os contratos de compra e doação, e à aplicação das vacinas contra a covid-19,
na forma do § 3º do art. 2º da lei.

2.3. Questão inédita comentada

Acerca da compra de vacinas para o combate à covid-19, de acordo com o que dispõe a Lei nº
14.125/2021, assinale a alternativa correta:

A) Apenas a União Federal pode comprar vacinas de fabricantes no exterior, a fim de uniformizar o
PNI.

B) Os estados, o Distrito Federal e os municípios podem comprar vacinas, ainda que não registradas
ou autorizadas temporariamente para uso emergencial pela Anvisa, desde que destinem a totalidade
das doses à União, para centralização do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19.

C) Eventuais efeitos adversos advindos da vacinação contra a Covid-19 são de inteira responsabilidade
do vacinado ou seu responsável.

D) As pessoas jurídicas de direito privado, desde que integrantes da Administração Pública, podem
adquirir vacinas, caso em que deverão doar integralmente ao SUS, para utilização no PNI.

E) Após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano Nacional de


Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas jurídicas de direito privado poderão
distribuir e administrar vacinas livremente, desde que pelo menos 50% das doses sejam doadas ao
SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

Alternativa correta: letra E. É o que prevê o art. 2º, caput e § 1º, da Lei nº 14.125/2021: “Pessoas
jurídicas de direito privado poderão adquirir diretamente vacinas contra a Covid-19 que tenham
autorização temporária para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para importação

14 Caderno de novidades legislativas


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e distribuição ou registro sanitário concedidos pela Anvisa, desde que sejam integralmente doadas
ao Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de serem utilizadas no âmbito do Programa Nacional de
Imunizações (PNI). § 1º Após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano
Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas jurídicas de direito
privado poderão, atendidos os requisitos legais e sanitários, adquirir, distribuir e administrar vacinas,
desde que pelo menos 50% (cinquenta por cento) das doses sejam, obrigatoriamente, doadas ao
SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. O art. 1º da Lei nº 14.125/2021 autoriza expressamente, além da União,


os estados, o Distrito Federal e os municípios a adquirir vacinas e a assumir os riscos referentes
à responsabilidade civil, nos termos do instrumento de aquisição ou fornecimento de vacinas
celebrado, em relação a eventos adversos pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o
respectivo registro ou autorização temporária de uso emergencial.

Alternativa B. Errada. Só podem ser adquiridas vacinas desde que a Anvisa tenha concedido o
respectivo registro ou autorização temporária de uso emergencial, na forma do art. 1º, caput, da Lei
nº 14.125/2021.

Alternativa C. Errada. Os riscos dos efeitos adversos são de responsabilidade do ente


adquirente da vacina, na forma do art. 1º, caput, da Lei nº 14.125/2021.

Alternativa D. Errada. O art. 2º, caput, que autoriza a compra de vacinas por pessoas jurídicas
de direito privado, não restringe a autorização às pessoas integrantes da Administração Pública.

3. Lei nº 14.129/2021 ‒‒ Princípios, regras e instrumentos para o Governo


Digital

3.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.129/2021
Ementa: Dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital e para o
aumento da eficiência pública, e altera a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, a Lei
nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), a Lei nº 12.682,
de 9 de julho de 2012, e a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017.

15 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Data de publicação: 30.03.2021

Início de vigência: Esta Lei entra em vigor após decorridos:


I ‒‒ 90 (noventa) dias de sua publicação oficial, para a União;

II ‒‒ 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial, para os Estados e o Distrito Federal;

III ‒‒ 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial, para os Municípios.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


lei/L14129.htm>

Destaques:
•  A Lei nº 14.129/2021, publicada em 30 de março de 2021, dispõe sobre princípios, regras
e instrumentos para o aumento da eficiência da administração pública, especialmente
por meio da desburocratização, da inovação, da transformação digital e da participação
do cidadão.

• Sua aplicação se dará aos órgãos da administração pública direta federal, às entidades da
administração pública indireta federal e às administrações diretas e indiretas dos demais
entes federados.

• A lei terá como princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência pública a


desburocratização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação da relação do
poder público com a sociedade, a disponibilização em plataforma única do acesso às
informações e aos serviços públicos, a possibilidade aos cidadãos, às pessoas jurídicas, a
transparência na execução dos serviços públicos e o monitoramento da qualidade desses
serviços, dentre outros.

• Quanto aos serviços prestados pelo Governo Digital, ocorrerão por meio de tecnologias
de amplo acesso pela população, inclusive pela de baixa renda ou residente em áreas
rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento presencial.

• No que se refere ao acesso da prestação digital dos serviços públicos, será disponibilizado
por meio do autosserviço. Tendo a participação da administração da consolidação da
Estratégia Nacional de Governo Digital.

• Será considerada a garantia dos direitos dos usuários quanto à prestação digital de
serviços públicos, inclusive os que constarem da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD).

• A lei determinou que é de competência de cada ente federado dispor sobre informações
dos serviços prestados, das Cartas de Serviços ao Usuário e da Base Nacional de Serviços
Públicos, em formato aberto e interoperável.

16 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
3.2. Comentário

Em 30.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.129, com vigência determinada pelo art. 55.

Art. 55. Esta Lei entra em vigor após decorridos:

I ‒ ‒ 90 (noventa) dias de sua publicação oficial, para a União;

II ‒ ‒ 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial, para os Estados e o


Distrito Federal;

III ‒ ‒ 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial, para os Municípios.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo dispõe sobre “princípios, regras e
instrumentos para o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública e altera a Lei nº 7.116, de
29 de agosto de 1983, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), a Lei
nº 12.682, de 9 de julho de 2012, e a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017”.

Trata-se de inovação legal em consonância com a tendência de desburocratização da


Administração Pública, a fim de que esta possua um caráter gerencial e focado nos resultados, o que já
vem sendo implementado desde a Reforma Administrativa promovida pela Emenda Constitucional
(EC) nº 19/1998.

Inicialmente, cumpre mencionar que a lei se aplica, a princípio, apenas aos órgãos da
Administração Pública direta federal e às entidades da Administração Pública indireta federal,
incluídas as empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, que
prestem serviço público, autarquias e fundações públicas (art. 2º, I e II). Há previsão, todavia, de
aplicação da lei também às Administrações diretas e indiretas dos demais entes federados, desde
que adotem os comandos desta lei por meio de atos normativos próprios.

De acordo com disposto na referida lei, no § 1º do art. 2º, esta não será aplicada a empresas
públicas e sociedades de economia mista, incluindo suas subsidiárias e controladas, que não prestem
serviço público.

No art. 3º da lei é listada uma série de princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência
pública. O rol é bastante extenso, mas, em síntese, a lei preconiza a desburocratização, a
modernização, o fortalecimento e a simplificação da relação do poder público com a sociedade,
mediante serviços digitais, acessíveis, inclusive, por dispositivos móveis (inciso I); a transparência na
execução dos serviços públicos, com o uso de linguagem clara e compreensível a qualquer cidadão
(inciso VII), e o monitoramento da qualidade desses serviços (inciso IV), inclusive com o incentivo à
participação social no controle e na fiscalização da Administração Pública (inciso V).

17 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 3º São princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência pública:

I ‒‒ a desburocratização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação


da relação do poder público com a sociedade, mediante serviços digitais,
acessíveis inclusive por dispositivos móveis;

II ‒‒ a disponibilização em plataforma única do acesso às informações e aos


serviços públicos, observadas as restrições legalmente previstas e sem
prejuízo, quando indispensável, da prestação de caráter presencial;

III ‒‒ a possibilidade aos cidadãos, às pessoas jurídicas e aos outros entes


públicos de demandar e de acessar serviços públicos por meio digital, sem
necessidade de solicitação presencial;

IV ‒‒ a transparência na execução dos serviços públicos e o monitoramento


da qualidade desses serviços;

V ‒‒ o incentivo à participação social no controle e na fiscalização da


administração pública;

VI ‒‒ o dever do gestor público de prestar contas diretamente à população


sobre a gestão dos recursos públicos;

VII ‒‒ o uso de linguagem clara e compreensível a qualquer cidadão;

VIII ‒‒ o uso da tecnologia para otimizar processos de trabalho da


administração pública;

IX ‒‒ a atuação integrada entre os órgãos e as entidades envolvidos na


prestação e no controle dos serviços públicos, com o compartilhamento
de dados pessoais em ambiente seguro quando for indispensável para
a prestação do serviço, nos termos da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de
2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), e, quando couber, com
a transferência de sigilo, nos termos do art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), e da Lei Complementar nº
105, de 10 de janeiro de 2001;

X ‒‒ a simplificação dos procedimentos de solicitação, oferta e


acompanhamento dos serviços públicos, com foco na universalização do
acesso e no autosserviço;

XI ‒‒ a eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou


social seja superior ao risco envolvido;

XII ‒‒ a imposição imediata e de uma única vez ao interessado das exigências


necessárias à prestação dos serviços públicos, justificada exigência posterior
apenas em caso de dúvida superveniente;

18 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
XIII ‒‒ a vedação de exigência de prova de fato já comprovado pela
apresentação de documento ou de informação válida;

XIV ‒
‒ a interoperabilidade de sistemas e a promoção de dados abertos;

XV ‒‒ a presunção de boa-fé do usuário dos serviços públicos;

XVI ‒‒ a permanência da possibilidade de atendimento presencial, de acordo


com as características, a relevância e o público-alvo do serviço;

XVII ‒‒ a proteção de dados pessoais, nos termos da Lei nº 13.709, de 14 de


agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

XVIII ‒‒ o cumprimento de compromissos e de padrões de qualidade


divulgados na Carta de Serviços ao Usuário;

XIX ‒‒ a acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade


reduzida, nos termos da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência);

XX ‒ ‒ o estímulo a ações educativas para qualificação dos servidores públicos


para o uso das tecnologias digitais e para a inclusão digital da população;

XXI ‒‒ o apoio técnico aos entes federados para implantação e adoção de


estratégias que visem à transformação digital da administração pública;

XXII ‒‒ o estímulo ao uso das assinaturas eletrônicas nas interações e nas


comunicações entre órgãos públicos e entre estes e os cidadãos;

XXIII ‒‒ a implantação do governo como plataforma e a promoção do uso


de dados, preferencialmente anonimizados, por pessoas físicas e jurídicas
de diferentes setores da sociedade, resguardado o disposto nos arts. 7º e 11
da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais), com vistas, especialmente, à formulação de políticas públicas, de
pesquisas científicas, de geração de negócios e de controle social;

XXIV ‒‒ o tratamento adequado a idosos, nos termos da Lei nº 10.741, de 1º de


outubro de 2003 (Estatuto do Idoso);

XXV ‒‒ a adoção preferencial, no uso da internet e de suas aplicações, de


tecnologias, de padrões e de formatos abertos e livres, conforme disposto
no inciso V do caput do art. 24 e no art. 25 da Lei nº 12.965, de 23 de abril de
2014 (Marco Civil da Internet); e

XXVI ‒‒ a promoção do desenvolvimento tecnológico e da inovação no


setor público.

19 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Em seguida, a lei traz uma série de orientações e procedimentos para a digitalização da
Administração Pública e a prestação digital de serviços públicos, o que é denominado amplamente
como “Governo Digital”.

O art. 5º dispõe que “a Administração Pública utilizará soluções digitais para a gestão de suas
políticas finalísticas e administrativas e para o trâmite de processos administrativos eletrônicos”.
Assim, tem-se que a utilização de soluções digitais e processos administrativos eletrônicos deverá
ser adotada preferencialmente, sempre que possível.

O parágrafo único do mesmo artigo contém importante previsão acerca dos documentos
eletrônicos produzidos na prestação dos serviços digitais, dispondo que “entes públicos que emitem
atestados, certidões, diplomas ou outros documentos comprobatórios com validade legal poderão
fazê-lo em meio digital, assinados eletronicamente, na forma do art. 7º desta lei e da Lei nº 14.063,
de 23 de setembro de 2020” (grifo nosso). Nesse ponto, o art. 11 da Lei nº 14.129/2021 determina
que os documentos nato-digitais assinados eletronicamente na forma do art. 7º são considerados
originais para todos os efeitos legais.

Ainda acerca da implementação do Governo Digital, especificamente no que se refere ao seu


acesso pelos cidadãos, prevê o art. 14 da lei que “a prestação digital dos serviços públicos deverá
ocorrer por meio de tecnologias de amplo acesso pela população, inclusive pela de baixa renda ou
residente em áreas rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento presencial”
(grifos nossos). Nesse sentido, ainda, o art. 50 da lei determina que o acesso e a conexão para o uso
de serviços públicos poderão ser garantidos total ou parcialmente pelo Governo, com o objetivo de
promover o acesso universal à prestação digital dos serviços públicos e a redução de custos aos
usuários, nos termos da lei.

A previsão de que ocorra a promoção dos dados abertos (art. 3º, XIV) não é irrestrita e, por
isso, o art. 25 menciona que as Plataformas de Governo Digital devem dispor de ferramentas de
transparência e de controle do tratamento de dados pessoais, que sejam claras e facilmente
acessíveis, e que permitam ao cidadão o exercício dos direitos previstos na LGPD (Lei nº 13.709/2018).

O art. 29, caput, a seu turno, determina que, observado o disposto na LGPD, os dados
disponibilizados pelos prestadores de serviços públicos, bem como qualquer informação de
transparência ativa, são de livre utilização pela sociedade, estabelecendo o § 1º desse dispositivo que,
na promoção da transparência ativa de dados, o poder público deverá observar os seguintes requisitos:

20 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
I ‒‒ observância da publicidade das bases de dados não pessoais como
preceito geral e do sigilo como exceção;

II ‒ ‒ garantia de acesso irrestrito aos dados, os quais devem ser legíveis por
máquina e estar disponíveis em formato aberto, respeitadas as Leis nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), e 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

III ‒ ‒ descrição das bases de dados com informação suficiente sobre estrutura
e semântica dos dados, inclusive quanto à sua qualidade e à sua integridade;

IV ‒ ‒ permissão irrestrita de uso de bases de dados publicadas em formato


aberto;

V ‒ ‒ completude de bases de dados, as quais devem ser disponibilizadas


em sua forma primária, com o maior grau de granularidade possível, ou
referenciar bases primárias, quando disponibilizadas de forma agregada;

VI ‒‒ atualização periódica, mantido o histórico, de forma a garantir a


perenidade de dados, a padronização de estruturas de informação e o valor
dos dados à sociedade e a atender às necessidades de seus usuários;

VII ‒ ‒ (VETADO);

VIII ‒ ‒ respeito à privacidade dos dados pessoais e dos dados sensíveis, sem
prejuízo dos demais requisitos elencados, conforme a Lei nº 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

IX ‒ ‒ intercâmbio de dados entre órgãos e entidades dos diferentes Poderes


e esferas da Federação, respeitado o disposto no art. 26 da Lei nº 13.709, de
14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais); e

X ‒‒ fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias destinadas à


construção de ambiente de gestão pública participativa e democrática e à
melhor oferta de serviços públicos.

Por fim, um último tópico relevante do novo diploma legal é referente aos instrumentos de
governança, gestão de riscos, controle e auditoria previstos na lei. De acordo com o parágrafo único
do art. 47, os mecanismos, as instâncias e as práticas de governança incluirão, no mínimo:

I ‒ ‒ formas de acompanhamento de resultados;

II ‒ ‒ soluções para a melhoria do desempenho das organizações;

III ‒ ‒ instrumentos de promoção do processo decisório fundamentado em


evidências.

21 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Além disso, o art. 48 determina que os órgãos e as entidades submetidos à lei em comento
deverão estabelecer, manter, monitorar e aprimorar sistema de gestão de riscos e de controle
interno com vistas à identificação, à avaliação, ao tratamento, ao monitoramento e à análise crítica
de riscos da prestação digital de serviços públicos que possam impactar a consecução dos objetivos
da organização no cumprimento de sua missão institucional e na proteção dos usuários, observados
os princípios constantes dos seus incisos.

3.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.129/2021, que dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital
e para o aumento da eficiência pública, não se aplica:

A) aos órgãos da Administração Pública direta federal, abrangendo os Poderes Executivo, Judiciário
e Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União (TCU), e o Ministério Público da União (MPU).

B) às entidades da Administração Pública autárquica e fundacional federal.

C) às empresas públicas e sociedades de economia mista federais, suas subsidiárias e controladas,


que prestem apenas atividades econômicas stricto sensu.

D) às empresas públicas e sociedades de economia mista federais, suas subsidiárias e controladas,


que prestem serviço público.

E) às Administrações diretas e indiretas dos Estados, Distrito Federal e Municípios que adotem os
comandos da Lei nº 14.129/2021 por meio de atos normativos próprios.

Alternativa correta: letra C. Na forma do art. 2º, § 1º, da Lei nº 14.129/2021, esta lei não se aplica
a empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, que não
prestem serviço público.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. A Lei nº 14.129/2021, nos termos do art. 2º, I, aplica-se a todos os órgãos
da administração direta federal, incluindo-se, portanto, os órgãos do Poder Executivo, Legislativo e
Judiciário e, também, os órgãos com autonomia constitucional como o Tribunal de Contas da União
(TCU) e o Ministério Público da União (MPU).

22 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa B. Errada. Conforme estabelece o art. 2º, II, da Lei nº 14.129/2021, ela se aplica às
autarquias federais e às fundações públicas federais.

Alternativa D. Errada. Em relação às empresas públicas, sociedades de economia mista e suas


subsidiárias, a nova lei a elas se aplica quando prestarem serviço público (art. 2º, II).

Alternativa E. Errada. Não serão aplicadas as disposições da nova lei na hipótese das empresas
públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias não atuarem na prestação de serviço
público, nos termos do inciso III do art. 2º.

23 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒‒ Facilitação para abertura de
empresas

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.040/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de
Recuperação de Ativos, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a
profissão de tradutor e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição
intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ‒ ‒Código Civil (CC).
Data de publicação: 30.03.2021
Início de vigência: ‒ 360 dias, contados da data de sua publicação, quanto à parte do art.
5º que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404, de 1976:
• ‒no primeiro dia útil do primeiro mês após a data de sua publicação, quanto aos arts. 8º a 12,
e incisos III ao XV, XVII, XXII e XXVI do caput do art. 33;

• ‒90 dias, contados da data de sua publicação, quanto ao art. 7º;

• na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1040.htm>

1.2. Comentário
Em relação ao direito civil, a MP nº 1.040/2021 traz como inovação a inclusão do art. 206-A ao
CC, dispondo sobre o prazo da prescrição intercorrente.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito empresarial.

24 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

1. Lei nº 14.126/2021 ‒ ‒ Visão monocular como deficiência sensorial

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.126/2021
Ementa: Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, dispondo
a respeito da avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de
reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

Data de publicação: 23.03.2021


Início de vigência: 23.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14126.htm>
Destaques:
• Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos
legais.

• Dispõe que o instrumento para avaliação de deficiência a ser criado pelo Poder Executivo
se aplicará a estes casos.

1.2. Comentário

Em 23.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.126, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, passa a ser classificada como deficiência visual, do tipo sensorial,
a visão monocular.

Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica a visão monocular classificada como deficiência sensorial, do tipo


visual, para todos os efeitos legais. (Vide.)

Parágrafo único. O previsto no § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho


de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), aplica-se à visão monocular,
conforme o disposto no caput deste artigo.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de março de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

Este texto não substitui o publicado no DOU de 23.3.2021.

25 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Trata-se de uma salutar inovação, na mesma linha de intelecção da Súmula nº 377 do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), que já classificava a visão monocular como deficiência para o fim de a
pessoa concorrer, em concursos públicos, às vagas reservadas às pessoas deficientes.

Enunciado nº 377 da Súmula do STJ: O portador de visão monocular


tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos
deficientes.

A lei ainda menciona expressamente que à visão monocular aplica-se o previsto no § 2º do art.
2º da Lei nº 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que, em apertada síntese, dispõe que
o Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Da leitura do art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, denota-se que se trata de avaliação
biopsicossocial, que deverá ser realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, devendo ser
considerados os seguintes aspectos, conforme incisos do § 1º:

I ‒ ‒ os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

II ‒ ‒ os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III ‒
‒ a limitação no desempenho de atividades; e

IV ‒
‒ a restrição de participação.

No mesmo dia foi editado o Decreto nº 10.654/2021, que dispõe sobre a avaliação biopsicossocial
da visão monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência, explicitando
que a avaliação se dará na forma não apenas do § 2º, mas também do § 1º do art. 2º do Estatuto da
Pessoa com Deficiência.

DECRETO Nº 10.654, DE 22 DE MARÇO DE 2021

Dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de


reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o


art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei
nº 14.126, de 22 de março de 2021,

DECRETA:

Art. 1º Este Decreto dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão


monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com
deficiência.

Art. 2º A visão monocular, classificada como deficiência sensorial, do tipo


visual, pelo art. 1º da Lei nº 14.126, de 22 de março de 2021, será avaliada na

26 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

forma prevista nos § 1º e § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015,


para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de março de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO

Paulo Guedes

João Inácio Ribeiro Roma Neto

Damares Regina Alves

Este texto não substitui o publicado no DOU de 23.3.2021.

Em relação à verificação biopsicossocial da deficiência visual, ela irá implicar diretamente


a qualificação da pessoa em relação à aposentadoria especial da pessoa com deficiência (Lei
Complementar ‒‒ LC nº 142/2013), ou mesmo em relação à qualidade de dependente à pensão por
morte, caso seja constatado tratar-se de deficiência grave, bem como no preenchimento do requisito
deficiência para o fim de concessão de benefício assistencial previsto na Lei nº 8.742/1993:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família. (...)

§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,


considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Cabe ressaltar, ainda, que há previsão de flexibilização da renda per capita para fins de
concessão de benefício assistencial em se tratando de pessoa com deficiência, a depender do grau
de deficiência, enquadrando-se, doravante, a visão monocular como apta ao exame, nos termos do
art. 20-A da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).

Art. 20-A. Em razão do estado de calamidade pública reconhecido pelo


Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19),
o critério de aferição da renda familiar mensal per capita previsto no inciso
I do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-mínimo.
(Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

27 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

§ 1º A ampliação de que trata o caput ocorrerá na forma de escalas graduais,


definidas em regulamento, de acordo com os seguintes fatores, combinados
entre si ou isoladamente: (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

I ‒ ‒ o grau da deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

II ‒‒ a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas


da vida diária; (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

III ‒ ‒ as circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioeconômicos


e familiares que podem reduzir a funcionalidade e a plena participação
social da pessoa com deficiência candidata ou do idoso; (Incluído pela Lei
nº 13.982, de 2020.)

IV ‒ ‒ o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata


o § 3º do art. 20 exclusivamente com gastos com tratamentos de saúde,
médicos, fraldas, alimentos especiais e medicamentos do idoso ou da
pessoa com deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), ou com serviços não prestados pelo Serviço Único
de Assistência Social (Suas), desde que comprovadamente necessários à
preservação da saúde e da vida. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

§ 2º O grau da deficiência e o nível de perda de autonomia, representado


pela dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas
da vida diária, de que tratam, respectivamente, os incisos I e II do § 1º deste
artigo, serão aferidos, para a pessoa com deficiência, por meio de índices
e instrumentos de avaliação funcional a serem desenvolvidos e adaptados
para a realidade brasileira, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da
Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

1.3. Questão inédita comentada

A visão monocular, nos termos da legislação em vigor:

A) Não é considerada deficiência para nenhum fim.

B) É considerada deficiência apenas para o fim de concorrer às vagas reservadas.

C) É considerada deficiência sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos legais.

D) É considerada deficiência física, do tipo visual, para todos os efeitos legais.

E) É considerada deficiência sensorial, do tipo visual para o fim de benefício assistencial, mas não
em relação às vagas reservadas em concursos públicos.

28 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Alternativa correta: letra C (responde a todas as alternativas). A visão monocular, nos termos
do art. 1º da Lei nº 14126/2021, é classificada como deficiência sensorial, do tipo visual, para todos
os efeitos legais.

29 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Medida Provisória (MP) nº 1.036/2021 ‒ ‒ Crise decorrente da
pandemia da covid-19 nos setores de turismo e de cultura

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.036/2021
Ementa: A MP nº 1.036, publicada em 18 de março de 2021, altera a Lei nº 14.046, de 24 de
agosto de 2020, para dispor sobre medidas emergenciais para atenuar os efeitos
da crise decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de turismo e de cultura.
Data de publicação: 18.03.2021
Início de vigência: 18.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1036.htm>
Destaques:
• A MP nº 1.036, publicada em 18 de março de 2021, alterou a Lei nº 14.046, de 24 de
agosto de 2020, para dispor sobre medidas emergenciais que atenuem os efeitos da crise
decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de turismo e de cultura.

• Havendo ocorrência de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de


eventos, incluídos shows e espetáculos, o prestador de serviços ou a sociedade empresária
não será obrigado a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que seja
assegurada a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados, ou, ainda, seja
disponibilizado o crédito para uso ou abatimento na compra de outros serviços, reservas e
eventos disponíveis nas respectivas empresas.

• A medida provisória dispõe que as operações que se fizerem necessárias, referentes a


remarcação ou disponibilidade de créditos, ocorrerão sem custo adicional, taxa ou multa
ao consumidor, com datas predeterminadas.

1.2. Comentário

A medida provisória alterou a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais que atenuem os efeitos da crise decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de
turismo e de cultura.

Nos casos em que houver necessidade de adiamento ou cancelamento de serviços, em


decorrência da pandemia, o prestador de serviços, ou a sociedade empresária, não será obrigado
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, mas deverá assegurá-lo por meio das garantias
estabelecidas no art. 2º da referida medida.

30 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Art. 2º A Lei nº 14.046, de 2020, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 2º  Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, até 31 de dezembro
de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o prestador de serviços
ou a sociedade empresária não será obrigado a reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, desde que assegure:  

I ‒ ‒ a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou

II ‒ ‒ a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de


outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Em se tratando do art. 2º, a Lei nº 14.046/2020 fixou que estas operações se darão sem custo
adicional com data prevista, como disposto no § 1º do referido artigo:

Art. 2º (...)

§ 1º As operações de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo


adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

E não havendo manifestação do consumidor dentro do prazo definido, o fornecedor fica


desobrigado de qualquer forma de ressarcimento, salvo nos casos de falecimento, internação ou
força maior, sendo estes prazos reestabelecidos (§§ 2º e 3º do art. 2º da lei):

§ 2º Se o consumidor não fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo


no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias, por motivo de falecimento,
de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito da
parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato
impeditivo da solicitação.

§ 3º  O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento


se o consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não
estiver enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

Quanto a crédito a ser utilizado pelo consumidor, este terá o prazo de até 31.12.2022 para utilizá-
lo. Sendo que os valores e as condições dos serviços originalmente contratados também terão data
fixada de até 31.12.2022, para remarcar os serviços adiados, e ainda deverá restituir o consumidor no
caso de impossibilidade de remarcação dos serviços, conforme disposto no art. 2º, §§ 4º, 5º e 6º.

31 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput poderá ser utilizado pelo
consumidor até 31 de dezembro de 2022. 

§ 5º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, serão respeitados:

I ‒ ‒ os valores e as condições dos serviços originalmente contratados; e

II ‒ ‒ a data-limite de 31 de dezembro de 2022, para ocorrer a remarcação dos


serviços, das reservas e dos eventos adiados.

§ 6º  O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá restituir o


valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente na
hipótese de ficar impossibilitado de oferecer a remarcação dos serviços ou
a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II do caput.

A lei estende aos artistas, palestrantes ou outros profissionais, contratados até 31.12.2021, a
obrigação de não reembolsar imediatamente estes profissionais, desde que o evento seja remarcado
e respeitada a data-limite para a sua realização. Na hipótese dos cancelamentos decorrentes das
medidas de isolamento social adotadas para o combate à pandemia da covid-19, as multas por
cancelamentos dos contratos serão anuladas, desde que tenham sido emitidas até 31.12.2021, de
acordo com o texto do art. 4º, caput e § 2º:

Art. 4º  Os artistas, os palestrantes ou outros profissionais detentores do


conteúdo, contratados até 31 de dezembro de 2021, que forem impactados
por adiamentos ou por cancelamentos de eventos em decorrência da
pandemia da covid-19, incluídos shows, rodeios, espetáculos musicais e de
artes cênicas, e os profissionais contratados para a realização desses eventos
não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores dos serviços
ou cachês, desde que o evento seja remarcado, respeitada a data-limite de
31 de dezembro de 2022 para a sua realização. (...)

§ 2º  Serão anuladas as multas por cancelamentos dos contratos de que


trata este artigo, que tenham sido emitidas até 31 de dezembro de 2021,
na hipótese de os cancelamentos decorrerem das medidas de isolamento
social adotadas para o combate à pandemia da covid-19.

32 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1.3. Questão inédita comentada

No que se refere às medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da


pandemia da covid-19 nos setores de turismo e de cultura, assinale a alternativa correta:

A) Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de eventos, incluídos


shows e espetáculos, até 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não será obrigado a reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, em nenhuma hipótese.

B) As operações de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de eventos ocorrerão


sem custo adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de janeiro de
2020, e estender-se-ão pelo prazo de 180 dias, contados da comunicação do adiamento ou do
cancelamento dos serviços, ou 30 dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

C) O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento se o consumidor não fizer


a solicitação dentro do prazo estipulado, ainda que a solicitação seja por motivo de falecimento, de
internação ou de força maior.

D) Na hipótese de remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados serão respeitados os
valores e as condições dos serviços originalmente contratados e a data-limite de 31 de dezembro de
2021, para ocorrer a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados.

E) O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá restituir o valor recebido ao consumidor


até 31 de dezembro de 2022, somente na hipótese de ficar impossibilitado de oferecer a remarcação
dos serviços ou a disponibilização de crédito.

Alternativa correta: letra E. Está de acordo com a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº
1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 6º: “O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá
restituir o valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente na hipótese de ficar
impossibilitado de oferecer a remarcação dos serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos
incisos I e II do caput”. 

33 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. A alternativa trata sobre a não obrigação de reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, em nenhuma hipótese, mas não é isso que diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela
MP nº 1.036/2021, em seu art. 2º: “Art. 2º Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços,
de reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, até 31 de dezembro de 2021, em decorrência
da pandemia da covid-19, o prestador de serviços ou a sociedade empresária não será obrigado a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegure: I ‒‒ a remarcação dos serviços,
das reservas e dos eventos adiados; ou II ‒‒ a disponibilização de crédito para uso ou abatimento
na compra de outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas” (grifos
nossos).

Alternativa B. Errada. A alternativa trata sobre a extensão do prazo por 180 dias, mas não é o que
diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 1º: “As operações
de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo adicional, taxa ou multa ao consumidor, em
qualquer data a partir de 1º de janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte)
dias, contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços, ou 30 (trinta) dias
antes da realização do evento, o que ocorrer antes” (grifos nossos).

Alternativa C. Errada. A alternativa trata o não reembolso no caso de solicitação fora do prazo
ainda que por motivo de falecimento, de internação ou de força maior, mas não é o que diz a Lei nº
14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 2º: “Se o consumidor não
fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias,
por motivo de falecimento, de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito
da parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato impeditivo da
solicitação” (grifos nossos).

Alternativa D. Errada. A alternativa trata sobre a data-limite ser 31.12.2021, mas não é o que
diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 5º: “Na hipótese
prevista no inciso I do caput deste artigo, serão respeitados: I ‒ ‒ os valores e as condições dos
serviços originalmente contratados; e II ‒ ‒ a data-limite de 31 de dezembro de 2022, para ocorrer a
remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados” (grifos nossos).

34 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.128/2021 ‒‒ Compensação financeira a ser paga pela União
aos profissionais e trabalhadores de saúde
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.128/2021
Ementa: Dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-
CoV-2), por terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela
covid-19, ou realizado visitas domiciliares em determinado período de tempo, no
caso de agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-
se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.
Data de publicação: 26.03.2021
Início de vigência: 26.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14128.htm>

1.2. Comentário

Em relação ao direito do trabalho, a Lei nº 14.128/2021 traz como inovação a alteração da Lei nº
605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salário nos dias de
feriados civis e religiosos.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito previdenciário.

35 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒‒ Facilitação para abertura de
empresas

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.040/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação
de Ativos, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de
tradutor e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente
na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ‒ ‒ Código Civil (CC).
Data de publicação: 30.03.2021
Início de vigência: ‒ 360 dias, contados da data de sua publicação, quanto à parte do art. 5º,
que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404, de 1976;
• ‒ no primeiro dia útil do primeiro mês após a data de sua publicação, quanto aos arts. 8º a 12,
e incisos III ao XV, XVII, XXII e XXVI do caput do art. 33;

• ‒ 90 dias, contados da data de sua publicação, quanto ao art. 7º; e

• ‒ na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1040.htm>

Destaques:
• A MP tem como objetivo a “facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação de
Ativos (Sira), as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de tradutor
e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente na Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (CC).

• Estabelece as diretrizes e os procedimentos para a simplificação e integração do processo


de registro e legalização de empresários e de pessoas jurídicas, e cria a Rede Nacional para
a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (REDESIM).

• Altera diversos dispositivos da Lei nº 8.934/1994, que dispõe sobre o Registro Público de
Empresas Mercantis e atividades afins, e dá outras providências.

• Disciplina quanto à proteção de acionistas minoritários, modificando a Lei nº 6.404/1976.

• Dispõe sobre a facilitação do comércio exterior, e altera a Lei nº 12.546/2011.

36 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
• Autoriza o Poder Executivo Federal a instituir, sob a governança da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, o Sira.

• Confere nova regulamentação à profissão de tradutor e intérprete público, revogando


o Decreto nº 13.609/1943.

• Estabelece prazo para o Poder Público autorizar a execução de obras de extensão de redes
de distribuição de energia elétrica.

• Altera a Lei nº 10.406/2002 (CC), para prever no art. 206-A que a prescrição intercorrente
observará o mesmo prazo de prescrição da pretensão.

1.2. Comentário

Em 30.03.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a MP nº 1.040/2021, com o objetivo


de favorecer o ambiente de negócios e melhorar a posição do Brasil no ranking Doing Business, do
Banco Mundial. As alterações legislativas visam promover a “abertura de empresas, a proteção de
acionistas minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação de
Ativos ‒ Sira, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de tradutor e intérprete
público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 ‒ Código Civil”, nos termos do que dispõe o seu art. 1º.

O seu art. 2º disciplinou as alterações da Lei nº 11.598/2007, que estabelece as diretrizes


e os procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização de
empresários e de pessoas jurídicas, e cria a REDESIM. Por sua vez, o art. 3º da MP modificou
diversos dispositivos da Lei nº 8.934/1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e atividades afins, e dá outras providências, tendo como destaque a inclusão do inciso
X ao art. 4º da mencionada lei, em que estabelece as atribuições do Departamento Nacional de
Registro Empresarial e Integração (Drei), com a seguinte competência, in verbis:

Art. 4º (...)

X ‒ instruir, examinar e encaminhar os pedidos de autorização para


nacionalização ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento
no País por sociedade estrangeira, ressalvada a competência de outros
órgãos federais; (...)

37 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Ainda, a MP disciplinou em seu art. 5º as alterações quanto à proteção de acionistas
minoritários, modificando a Lei nº 6.404/1976, que dispõe sobre as sociedades por ações, realizando
as seguintes alterações:

Art. 122. Compete privativamente à assembleia geral: (...)

VIII ‒ deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da


companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e
julgar-lhes as contas;

IX ‒ autorizar os administradores a confessar falência e a pedir recuperação


judicial; e

X ‒ deliberar, quando se tratar de companhias abertas, sobre:

a) a alienação ou a contribuição para outra empresa de ativos, caso o valor


da operação corresponda a mais de 50% (cinquenta por cento) do valor dos
ativos totais da companhia constantes do último balanço aprovado; e

b) a celebração de transações com partes relacionadas que atendam


aos critérios de relevância a serem definidos pela Comissão de Valores
Mobiliários.

Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido


de recuperação judicial poderá ser formulado pelos administradores, com
a concordância do acionista controlador, se houver, hipótese em que a
assembleia geral será convocada imediatamente para deliberar sobre a
matéria.

Vale mencionar que as sociedades anônimas de capital aberto terão novos prazos a serem
observados quanto à Convocação da Assembleia Geral, nos seguintes termos:

Art. 124. (...)

§ 1º (...)

II ‒ na companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação


será de 30 (trinta) dias e o da segunda convocação será de 8 (oito) dias. (...)

§ 5º (...)

I ‒ declarar quais documentos e informações relevantes para a deliberação


da assembleia geral não foram tempestivamente disponibilizados aos
acionistas e determinar o adiamento da assembleia por até 30 (trinta)
dias, contado da data de disponibilização dos referidos documentos e
informações aos acionistas; e (...)

38 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Por sua vez, o art. 5º da MP incluiu ao art. 138 da mencionada lei os §§ 3º e 4º, com a seguinte
redação:

Art. 138. (...)

§ 3º  É vedada, nas companhias abertas, a acumulação do cargo de


presidente do conselho de administração e do cargo de diretor-presidente
ou de principal executivo da companhia.

§ 4º A Comissão de Valores Mobiliários poderá excepcionar a vedação de


que trata o § 3º para as companhias com menor faturamento, nos termos de
sua regulamentação.

No entanto, prevendo prazo de vacância específico de 360 dias, contado da data de sua
publicação, quanto à parte do art. 5º que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404/1976, conforme o art.
34, I, da MP.

Ainda, a MP incluiu os §§ 1º e 2º ao art. 140 da mencionada lei, que assim dispõem sobre a
matéria:

Art. 140. (...)

§ 1º O estatuto poderá prever a participação no conselho de representantes


dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada
pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representam.

§ 2º Na composição do conselho de administração das companhias abertas,


é obrigatória a participação de conselheiros independentes, nos termos e
nos prazos definidos pela Comissão de Valores Mobiliários.

Por sua vez, o Capítulo IV da MP trata da facilitação do comércio exterior, alterando a Lei nº
12.546/2011 e cuidando especificamente das licenças, autorizações ou exigências administrativas
para importações ou exportações, bem como do comércio exterior de serviços, intangíveis e outras
operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, das pessoas jurídicas ou dos
entes despersonalizados.

Cabe ressaltar que o art. 13 da MP autoriza o Poder Executivo federal a instituir, sob a governança
da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Sira, “constituído por conjunto de instrumentos,
mecanismos e iniciativas destinados a facilitar a identificação e a localização de bens e devedores”,
ainda promovendo “a constrição e a alienação de ativos”.

39 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
A MP, em seu Capítulo VII, confere nova regulamentação à profissão de tradutor e intérprete
público, revogando o Decreto nº 13.609/1943. Destaca-se que “o tradutor e intérprete público poderá
optar por se organizar na forma de sociedade unipessoal”, nos termos do que dispõe o seu art. 28.

Visando fomentar o acesso à eletricidade, o texto estabelece prazo para o Poder Público
autorizar a execução de obras de extensão de redes de distribuição de energia elétrica, conforme
disciplina o art. 31, in verbis:

Art. 31.  Na execução de obras de extensão de redes aéreas de distribuição


de responsabilidade da concessionária ou permissionária de serviço
público de distribuição de energia elétrica, a licença ou autorização para
realização de obras em vias públicas, quando for exigida e não houver prazo
estabelecido pelo Poder Público local, será emitida pelo órgão público
competente no prazo de cinco dias úteis, contado da data de apresentação
do requerimento.

A seu turno, o art. 32 da nova legislação traz alteração pontual na Lei nº 10.406/2002 (CC), que
incluiu o art. 206-A, in verbis: “Art. 206-A. A prescrição intercorrente observará o mesmo prazo de
prescrição da pretensão”.

Em relação a essa alteração, conforme a exposição de motivos da medida provisória, o objetivo


da alteração legislativa é fortalecer a segurança jurídica e, para tanto, realiza-se a “alteração pontual
no Código Civil para cristalizar o instituto da prescrição intercorrente já consagrado pelo Supremo
Tribunal Federal na Súmula nº 150”.

Por fim, é importante observar que a MP nº 1.040/2021 ainda será analisada pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado.

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com a MP nº 1.040/2021, que alterou Lei nº 6.404/1976, analise as assertivas e


marque a opção incorreta:

A) Compete privativamente à assembleia geral deliberar sobre transformação, fusão, incorporação


e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as
contas.

B) Compete privativamente à assembleia geral autorizar os administradores a confessar falência e


a pedir recuperação judicial.

40 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
C) Compete privativamente à assembleia geral deliberar, quando se tratar de companhias
fechadas, sobre a alienação ou a contribuição para outra empresa de ativos, caso o valor da operação
corresponda a mais de 60% do valor dos ativos totais da companhia constantes do último balanço
aprovado.

D) Na companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação da Assembleia Geral


será de 30 (trinta) dias e o da segunda convocação será de 8 (oito) dias.

E) A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, mediante decisão fundamentada
de seu Colegiado, a pedido de qualquer acionista, e ouvida a companhia declarar quais documentos
e informações relevantes para a deliberação da assembleia geral não foram tempestivamente
disponibilizados aos acionistas e determinar o adiamento da assembleia por até 30 (trinta) dias, contado
da data de disponibilização dos referidos documentos e informações aos acionistas.

Alternativa correta: letra C. O enunciado da alternativa “c” está incorreto, pois contraria a
literalidade do que dispõem a alínea “a” e inciso X do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, incluídos pela MP
nº 1.040/2021, nos seguintes termos: “Compete privativamente à assembleia geral: (...) X ‒ deliberar,
quando se tratar de companhias abertas, sobre: a) a alienação ou a contribuição para outra empresa
de ativos, caso o valor da operação corresponda a mais de 50% (cinquenta por cento) do valor dos
ativos totais da companhia constantes do último balanço aprovado”.

Demais alternativas:

Alternativa A. O enunciado da alternativa “A” está correto, tendo em vista o que dispõe o
inciso VIII do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos seguintes termos:
“Compete privativamente à assembleia geral: (...) VIII ‒ deliberar sobre transformação, fusão,
incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e
julgar-lhes as contas; (...)

Alternativa B. O enunciado da alternativa “B” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso IX do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos
seguintes termos: “IX ‒ autorizar os administradores a confessar falência e a pedir recuperação judicial”.

41 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Alternativa D. O enunciado da alternativa “D” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso II do § 1º do art. 124 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021,
nos seguintes termos: “§ 1º A primeira convocação da assembleia-geral deverá ser feita: (...) II ‒‒ na
companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação será de 30 (trinta) dias e o da
segunda convocação será de 8 (oito) dias”.

Alternativa E. O enunciado da alternativa “E” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso I do § 5º do art. 124 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos
seguintes termos: “§ 5º A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, mediante
decisão fundamentada de seu Colegiado, a pedido de qualquer acionista, e ouvida a companhia:
I ‒ ‒ declarar quais documentos e informações relevantes para a deliberação da assembleia geral não
foram tempestivamente disponibilizados aos acionistas e determinar o adiamento da assembleia por
até 30 (trinta) dias, contado da data de disponibilização dos referidos documentos e informações
aos acionistas”.

42 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.132/2021 ‒ ‒ Crime de perseguição

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.132/2021
Ementa: Acrescenta o art. 147-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal ‒ CP), para prever o crime de perseguição, e revoga o art. 65 do Decreto-Lei
nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais).

Data de publicação: 1º.04.2021

Início de vigência: 1º.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


lei/L14132.htm>
Destaques:
• A lei acrescenta o art. 147-A ao CP, para prever o crime de perseguição, nos seguintes
termos: “Perseguição. Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade”.

• Revoga o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções


Penais), que assim previa: “Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por
acinte ou por motivo reprovável: (...)”.

1.2. Comentário

Em 1º.04.2021 foi publicada a Lei nº 14.132, de 31.03.2021, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo acrescenta: “o art. 147-A ao Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (CP), para prever o crime de perseguição”, além disso “revoga o art.
65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais)”.

De acordo com sua ementa, passa a ser prevista como crime a ação de perseguição.

Perseguição

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,


ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando
sua esfera de liberdade ou privacidade.

43 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Pena ‒ reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

I ‒ ‒ contra criança, adolescente ou idoso;

II ‒ ‒ contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do


§ 2º-A do art. 121 deste Código;

III ‒ ‒ mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de


arma.

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes


à violência.

§ 3º Somente se procede mediante representação.

Art. 3º Revoga-se o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941


(Lei das Contravenções Penais).

Trata-se de uma novatio legis in pejus, um tipo penal novo, englobando ainda condutas que
antes se enquadravam como contravenção penal, não podendo retroagir neste particular.

O crime de stalking (perseguição) é uma resposta a casos cada vez mais crescentes de stalkers
(perseguidores), especialmente por meio das redes sociais.

O crime consiste no ato do agente que persegue alguém, de forma reiterada, exigindo-se,
assim, a habitualidade em seu agir. Além disso, a perseguição pode ocorrer por qualquer meio
(presencialmente, por exemplo, comparecendo todos os dias no trabalho da vítima; virtualmente, nas
diversas redes sociais, e-mail etc.; ou por qualquer outra forma, como envio de cartas, no intuito de:
(1) ameaçar a integridade física ou psicológica da vítima; (2) restringir a capacidade de locomoção da
vítima; ou (3) invadir ou perturbar, de qualquer forma, a esfera de liberdade ou privacidade da vítima.

Cuida-se de infração de menor potencial ofensivo, uma vez que a pena para o crime é de 6 meses
a 2 anos e multa, passível, portanto, do procedimento nos Juizados Especiais Criminais e de aplicação
de institutos descarcerizadores, como a transação penal e a suspensão condicional do processo.

44 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
O novo tipo penal estabelece causas de aumento de pena (aumentada de metade) se o crime
é cometido: contra criança, adolescente ou idoso, mediante concurso de duas ou mais pessoas ou
com o emprego de arma ou contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do
§ 2º-A do art. 121 do Código Penal (CP). Segundo o citado parágrafo, considera-se que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I ‒ ‒ violência doméstica e familiar;

II ‒ ‒ menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

As penas previstas para o crime são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência,
e somente se procede mediante representação, ou seja, deve haver manifestação inequívoca da
vítima ou de seu representante legal a respeito da intenção de se instaurar a persecução penal, não
havendo forma específica de apresentação dessa representação, podendo ser, inclusive, de forma
verbal ao delegado de polícia ou membro do Ministério Público, por exemplo.

1.3. Questão inédita comentada

Segundo o art. 147-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 07.12.1940 (CP, acrescentado pela Lei nº
14.132, de 31.03.2021), o crime de perseguição:

A) Não exige habitualidade.

B) Tem pena mínima de detenção de dois anos.

C) Tem pena aumentada em 1/4 se o crime é cometido contra criança, adolescente ou idoso.

D) Tem pena aumentada pela metade se o crime é cometido contra mulher por razões da condição
de sexo feminino.

E) Não tem previsão de aumento de pena se é cometido com o emprego de arma.

Alternativa correta: letra D. Nos termos do art. 147-A, § 1º, II, do CP, o crime de perseguição
tem a pena aumentada de metade se o crime for cometido contra mulher por razões da condição de
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 do CP.

45 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. O crime consiste no ato criminoso do agente que persegue alguém, de
forma reiterada, exigindo-se, assim, a habitualidade em seu agir.

Alternativa B. Errada. Cuida-se de infração de menor potencial ofensivo, uma vez que a pena
para o crime é de 6 meses a 2 anos, e multa.

Alternativa C. Errada. A pena é aumentada de metade se o crime é cometido contra criança,


adolescente ou idoso, nos termos do § 1º, I, art. 147-A do CP.

Alternativa E. Errada. O inciso III, do § 1º, do art. 147-A do CP prevê o caso de aumento de pena
no caso de emprego de arma.

46 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.126/2021 ‒ ‒ Visão monocular como deficiência sensorial

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.126/2021
Ementa: Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, dispondo
a respeito da avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de
reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.
Data de publicação: 23.03.2021
Início de vigência: 23.03.2021
Link do texto normativo:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14126.htm>

1.2. Comentário

Em relação ao direito previdenciário, a Lei nº 14.126/2021 traz como inovação a classificação da


visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, o que repercutirá por conta, especialmente,
do benefício de prestação continuada.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito da pessoa com deficiência.

2. Lei nº 14.128/2021 ‒‒ Compensação financeira a ser paga pela União


aos profissionais e trabalhadores de saúde

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.128/2021
Ementa: Dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-
CoV-2), por terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela
covid-19, ou realizado visitas domiciliares em determinado período de tempo, no
caso de agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-
se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.

47 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Data de publicação: 26.03.2021

Início de vigência: 26.03.2021


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14128.htm>
Destaques:
• Cria compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e trabalhadores de
saúde que, durante o período de emergência de saúde pública de importância nacional
decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por terem trabalhado no
atendimento direto a pacientes acometidos pela covid-19, ou realizado visitas domiciliares
em determinado período de tempo, no caso de agentes comunitários de saúde ou de
combate a endemias, tornarem-se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou
ao seu cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários,
em caso de óbito.

• Altera a Lei nº 605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento
de salário nos dias de feriados civis e religiosos.

2.2. Comentário

Em 26.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.128, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, será devida uma compensação financeira a ser paga pela União
aos profissionais e trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por
terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19, ou realizado visitas
domiciliares em determinado período de tempo, no caso de agentes comunitários de saúde ou de
combate a endemias, tornarem-se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu
cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.

Interessante mencionar que o projeto desta lei foi vetado pelo presidente da República sob o
seguinte argumento:

Apesar do mérito da propositura e a boa intenção do legislador em determinar


o pagamento de indenização pela União para familiares de profissionais de
saúde que atuam diretamente no combate à pandemia e venham a falecer,
bem como para aqueles que ficaram incapacitados permanentemente para
o trabalho, a proposta, ao impor o apoio financeiro na forma do projeto,
contém os seguintes óbices jurídicos.
48 Caderno de novidades legislativas
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A proposta viola o art. 8º da recente Lei Complementar nº 173, de 2020, por
se estar prevendo benefício indenizatório para agentes públicos e criando
despesa continuada em período de calamidade no qual tais medidas estão
vedadas.

O segundo óbice está na falta de apresentação de estimativa do impacto


orçamentário e financeiro, em violação às regras do art. 113 do ADCT.

Ademais da violação ao art. 113 do ADCT, tendo em vista que o período


do benefício supera o prazo de 31.12.2020 (Art. 1º do Decreto Legislativo
nº 6 de 2020), revela-se incompatível com os arts. 15, 16 e 17 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, cuja violação pode acarretar responsabilidade
para o Presidente da República.

O terceiro problema é a inconstitucionalidade formal, por se criar benefício


destinado a outros agentes públicos federais e a agentes públicos de outros
entes federados por norma de iniciativa de parlamentar federal, a teor do
art. 1º e art. 61, § 1º, da Constituição.

Por fim, ao dispor que durante o período de emergência decorrente da Covid-


19, a imposição de isolamento dispensará o empregado da comprovação
de doença por 7 (sete) dias, veicula matéria análoga ao do PL nº 702/2020,
o qual foi objeto de veto presidencial, por gerar insegurança jurídica ao
apresentar disposição dotada de imprecisão técnica, e em descompasso
com o conceito veiculado na Portaria nº 356, de 2020, do Ministério da
Saúde, e na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que tratam situação
análoga como isolamento.

O Congresso Nacional derrubou o veto presidencial em sessão realizada no dia 17.03.2021.


Então, no dia 26.03.2021 o projeto foi promulgado e publicado.

Por sua vez, a legislação define quem é o trabalhador ou profissional de saúde para fins
do recebimento da compensação financeira. É o previsto no art. 1º, parágrafo único, I, da Lei
nº 14.128/2021:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela
União aos profissionais e trabalhadores de saúde que, durante o período
de emergência de saúde pública de importância nacional decorrente da
disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por terem trabalhado
no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19, ou realizado
visitas domiciliares em determinado período de tempo, no caso de
agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-se
permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em
caso de óbito.

49 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

I ‒ ‒ profissional ou trabalhador de saúde:

a) aqueles cujas profissões, de nível superior, são reconhecidas pelo Conselho


Nacional de Saúde, além de fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes
sociais e profissionais que trabalham com testagem nos laboratórios de
análises clínicas;

b) aqueles cujas profissões, de nível técnico ou auxiliar, são vinculadas às


áreas de saúde, incluindo os profissionais que trabalham com testagem nos
laboratórios de análises clínicas;

c) os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias;

d) aqueles que, mesmo não exercendo atividades-fim nas áreas de saúde,


auxiliam ou prestam serviço de apoio presencialmente nos estabelecimentos
de saúde para a consecução daquelas atividades, no desempenho de
atribuições em serviços administrativos, de copa, de lavanderia, de limpeza,
de segurança e de condução de ambulâncias, entre outros, além dos
trabalhadores dos necrotérios e dos coveiros; e

e) aqueles cujas profissões, de nível superior, médio e fundamental, são


reconhecidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social, que atuam no
Sistema Único de Assistência Social; (...)

Trata-se de uma previsão justa e merecida, para minimizar a incapacidade ou perda de um


profissional que está na linha de frente no combate à pandemia.

A lei delimita o momento que gera a percepção da compensação financeira, desta forma, a
atuação desses profissionais deve ter ocorrido no Espin-Covid-19. O Espin-Covid-19 é o estado de
emergência de saúde pública de importância nacional em decorrência da infecção humana pelo
novo coronavírus (SARS-CoV-2). Este estado foi criado juridicamente com a Portaria nº 188/2020,
do Ministério da Saúde. Importante destacar que o estado de emergência, com fulcro no art. 1º,
caput, §§ 2º e 3º, da Lei nº 13.979/2020, só se encerrará com a publicação de novo ato do Ministro
de Estado da Saúde.

Em primeiro momento, analisaremos os aspectos legais da concessão da compensação


financeira ao profissional acometido pela incapacidade permanente. Aqui, o legislador se referiu a
dois grupos: i) ao profissional ou trabalhador de saúde que ficar incapacitado permanentemente
para o trabalho em decorrência da covid-19 (art. 2º, I, da Lei nº 14.128/2021); e ao ii) agente comunitário
de saúde e de combate a endemias que ficar incapacitado permanentemente para o trabalho em

50 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
decorrência da covid-19, por ter realizado visitas domiciliares em razão de suas atribuições durante o
Espin-Covid-19 (art. 2º, II, da Lei nº 14.128/2021).

Nesses casos, a incapacidade permanente provocada pela covid-19 deve ser comprovada.
O legislador gerou a presunção de que a covid-19 foi causa incapacitante quando houver o nexo
temporal entre a data de início da doença e a ocorrência da incapacidade permanente para o
trabalho ou óbito, se houver: “I ‒‒ diagnóstico de Covid-19 comprovado mediante laudos de exames
laboratoriais; ou II ‒‒ laudo médico que ateste quadro clínico compatível com a Covid-19” (art. 2º, § 1º,
da Lei nº 14.128/2021).

Ou seja, em relação ao nexo de causalidade, há previsão expressa no sentido de se presumir


a covid como causa, ainda que não exclusiva, se presente o nexo temporal com o diagnóstico da
doença ou laudo atestando o quadro clínico com ela compatível.

Ademais, a presença de comorbidades não afasta o direito ao recebimento da compensação


financeira. Ainda, o profissional incapacitado estará sujeito à avaliação de perícia médica realizada
por servidores integrantes da carreira de Perito Médico Federal (art. 2º, § 3º).

Em segundo momento, imperioso mencionar que o evento morte do profissional de saúde


decorrente da infecção pelo vírus gera o direito à compensação financeira aos dependentes (art. 2º,
III). Nesta esteira, em caso de morte deste profissional ou trabalhador de saúde a lei faz referência ao
rol dos dependentes previstos no art. 16 da Lei nº 8.213/1991. Vamos rememorar!

• Cônjuge.
• Companheiro (hétero ou homoafetivo).
• Filho menor de 21 anos, desde que não tenha sido emancipado.
1ª Classe • Filho inválido (não importa a idade).
• Filho com deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave (não importa
a idade).
Dependência econômica presumida e afasta os demais dependentes.

• Pais.
2ª Classe
Dependência econômica deve ser comprovada.

51 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
• Irmão menor de 21 anos, que não tenha sido emancipado.
• Irmão inválido (não importa a idade).
3ª Classe • Irmão com deficiência intelectual ou mental, ou deficiência grave (não
importa a idade).
Dependência econômica deve ser comprovada.

O marco temporal para o pagamento da compensação financeira em caso de incapacidade


permanente e óbito depende da prévia análise e deferimento do benefício na forma do regulamento
(art. 4º da Lei nº 14.128/2021). Esse regulamento ainda não foi publicado, portanto, é importante
acompanhar.

Art. 4º A compensação financeira de que trata esta Lei será concedida após
a análise e o deferimento de requerimento com esse objetivo dirigido ao
órgão competente, na forma de regulamento.

A lei prevê que será devida a compensação inclusive nas hipóteses de óbito ou incapacidade
permanente para o trabalho anterior à data de publicação da Lei nº 14.128/2021, desde que a
infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) tenha ocorrido durante o Espin-Covid-19 (art. 2º, §
4º). E, ainda, a compensação financeira será devida inclusive nas hipóteses de óbito ou incapacidade
permanente para o trabalho superveniente à declaração do fim do Espin-Covid-19, desde que a
infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) tenha ocorrido durante o Espin-Covid-19 (art. 2º, § 4º,
da Lei nº 14.128/2021).

A compensação financeira está prevista no art. 3º da Lei nº 14.128/2021. Vamos sistematizar!

I ‒ ‒ 1 (uma) única prestação em valor fixo de II ‒ 1 (uma) única prestação de valor


R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). variável paga a cada um dos dependentes
do profissional ou trabalhador de saúde
Pago ao profissional ou trabalhador de
falecido.
saúde incapacitado permanentemente.
A prestação de valor variável será devida a:
Em caso de morte, o valor será pago
ao seu cônjuge ou companheiro, aos • dependente menor de 21 anos;
seus dependentes e aos seus herdeiros
• dependente menor de 24 anos (se
necessários.
cursando curso superior);

• dependente com deficiência


(independentemente da idade).

52 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Cálculo: Aplica-se o rateio entre os Cálculo: o valor será calculado mediante a
beneficiários, em partes iguais (art. 3º, § 2º, multiplicação da quantia de R$ 10.000,00
da Lei nº 14.128/21). (dez mil reais) pelo número de anos inteiros
e incompletos que faltarem, para cada um
deles, na data do óbito do profissional ou
trabalhador de saúde, para atingir a idade de
21 anos completos, ou 24 anos se cursando
curso superior.

Atenção! O cálculo para o dependente com


deficiência (art. 3º, § 1º, da Lei nº 14.128/2021)
é diferente. O valor da prestação variável
decorre da multiplicação da quantia de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) pelo número
mínimo de 5 (cinco) anos. O legislador
buscou dar tratamento mais favorável
ao dependente deficiente ao receber, no
mínimo, as parcelas referentes a 5 (cinco)
anos.

Outro aspecto relevante desta legislação é agregar ao valor da compensação financeira, em


caso de óbito do profissional ou trabalhador de saúde, o valor relativo às despesas de funeral (art. 3º,
§ 4º, da Lei nº 14.128/2021).

O legislador permitiu que a União realize o parcelamento da compensação financeira. É o


disposto no art. 3º, § 3º, da Lei nº 14.128/2021:

Art. 3º A compensação financeira de que trata esta Lei será composta de: (...)

§ 3º A integralidade da compensação financeira, considerada a soma das


parcelas devidas, quando for o caso, será dividida, para o fim de pagamento,
em 3 (três) parcelas mensais e sucessivas de igual valor. (Grifos nossos).

Cabe ressaltar, ainda, que o recebimento da indenização não prejudica o direito a benefícios
previdenciários, a exemplo dos benefícios por incapacidade temporária e definitiva, além de eventual
pensão por morte.

Art. 5º A compensação financeira de que trata esta Lei possui natureza


indenizatória e não poderá constituir base de cálculo para a incidência de
imposto de renda ou de contribuição previdenciária.

Parágrafo único. O recebimento da compensação financeira de que trata


esta Lei não prejudica o direito ao recebimento de benefícios previdenciários
ou assistenciais previstos em lei.
53 Caderno de novidades legislativas
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Além de criar uma compensação financeira, a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que trabalham no atendimento direto a pacientes acometidos pela covid-19,
a Lei nº 14.128/2021 alterou a Lei nº 605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado,
acrescentando os §§ 4º e 5º ao art. 6º.

O art. 6º estabelece que não é devida remuneração do repouso semanal remunerado


quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver trabalhado durante toda a semana anterior,
cumprindo integralmente o seu horário de trabalho, salvo motivos justificados, trazidos no § 1º da Lei
nº 605/1949:

Art. 6º (...)

§ 1º São motivos justificados:

a) os previstos no artigo 473 e seu parágrafo único da Consolidação das Leis


do Trabalho;

b) a ausência do empregado devidamente justificada, a critério da


administração do estabelecimento;

c) a paralisação do serviço nos dias em que, por conveniência do empregador,


não tenha havido trabalho;

d) a ausência do empregado, até três dias consecutivos, em virtude do seu


casamento;

e) a falta ao serviço com fundamento na lei sobre acidente do trabalho;

f) a doença do empregado, devidamente comprovada.

No entanto, a nova norma estabeleceu que, “durante o período de emergência em saúde pública
decorrente da Covid-19, a imposição de isolamento dispensará o empregado da comprovação de
doença por 7 (sete) dias”, conforme art. 7º da Lei nº 14.128/2021, que acrescentou o § 4º ao art. 6º da
Lei nº 605/1949.

Além disso, em caso de imposição de isolamento em razão da covid-19, “o trabalhador poderá


apresentar como justificativa válida, no oitavo dia de afastamento, documento de unidade de saúde
do Sistema Único de Saúde (SUS) ou documento eletrônico regulamentado pelo Ministério da
Saúde”, conforme o art. 7º da Lei nº 14.128/2021, que acrescentou o § 5º ao art. 6º da Lei nº 605/1949.

54 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
2.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.128/2021 dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais
e trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública de importância
nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Em relação ao disposto
nessa lei, julgue os itens a seguir e assinale a alternativa correta:

I – Não se considera profissional ou trabalhador de saúde, para os fins previstos na lei, o assistente
social.

II – A compensação prevista na lei tem valor entre R$ 30.000,00 a R$ 50.000,00, a depender


da gravidade da incapacidade.

III – O recebimento da compensação financeira de que trata esta Lei não prejudica o direito ao
recebimento de benefícios previdenciários ou assistenciais previstos em lei.

Está correto o que se afirma em:

A) I

B) II

C) III

D) I e II

E) II e III

Alternativa correta: letra C. Apenas o item III está correto.

Item I: Errado. Nos termos do art. 1º, parágrafo único, I, considera-se profissional ou trabalhador
de saúde: “a) aqueles cujas profissões, de nível superior, são reconhecidas pelo Conselho Nacional
de Saúde, além de fisioterapeutas, nutricionistas, n e profissionais que trabalham com testagem
nos laboratórios de análises clínicas; b) aqueles cujas profissões, de nível técnico ou auxiliar, são
vinculadas às áreas de saúde, incluindo os profissionais que trabalham com testagem nos laboratórios
de análises clínicas; c) os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias”.

55 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Item II: Errado. Conforme o art. 3º, I, a compensação financeira prevista na lei será composta de
uma “única prestação em valor fixo de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), devido ao profissional ou
trabalhador de saúde incapacitado permanentemente para o trabalho ou, em caso de óbito deste,
ao seu cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, sujeita,
nesta hipótese, a rateio entre os beneficiários”.

Item III: Correto. A compensação financeira possui natureza indenizatória e não poderá
constituir base de cálculo para a incidência de imposto de renda ou de contribuição previdenciária,
consoante o art. 5º da nova lei.

56 Caderno de novidades legislativas

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