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Disciplina: Estudos de letramento

Aluna: Diana Rodrigues Sarcinelli dos Santos


Data: 06/09/2016

Fichamento crítico do texto “Derrida: entre a língua e o idioma. O primeiro pensador da


tradução”, de Paulo Ottoni

Optei por estruturar este fichamento crítico partindo de três pontos que considerei importantes
no texto, uns mais que outros, de modo que suas disposições constituem subseções para
pequenas reflexões, são eles: Desconstruiu, traduziu, ou traduziu, desconstruiu?; Língua e
idioma e Operação de tradução.

Logo no primeiro parágrafo do texto de Ottoni (2005), parece-me que Derrida aplica o próprio
conceito de descentramento1 na estruturalidade da estrutura “desconstrução”, porque, de
acordo com Ottoni (2005, p. 283), Derrida está sempre “(re)definindo desconstrução enquanto
acontecimento” uma vez que acredita que a palavra “desconstrução” “não suporta uma só
definição ou descrição”. Isto é, não há uma verdade absoluta para definir o signo (DERRIDA,
1971). Desse modo, acredito que a noção de desconstrução(ões) está ligada, de certa forma, à
noção de descentramento (preciso esclarecer que meu apontamento foi feito com base em um
primeiro contato com as ideias derridianas, ou seja, com pouca leitura e experiência, agora,
quase nula, nessa área).

Ainda segundo Ottoni (2005), há várias “maneiras de falar sobre desconstrução” uma delas, o
que norteia todo o texto, diz respeito à relação tradução-desconstrução, ou seja, a tradução
está atrelada à desconstrução. Embora isso fique claro ao longo do texto, ao deparar-me com
o trecho seguinte, surgiu a pergunta que estreia o primeiro ponto a ser refletido.

(...) E lembra, ainda, que essa palavra em francês, na “sua” língua, também não tem um
sentido claro e unívoco, reforçando, assim, a relação desconstrução-tradução. (p. 284, grifo
meu)

 Desconstruiu, traduziu, ou traduziu, desconstruiu?

Ainda presa às análises linguísticas, os termos tradução-desconstrução e desconstrução-


tradução chamaram-me a atenção. Talvez eu esteja interpretando mal e não caiba aqui esta
reflexão, entretanto, acordo com Montaigne quando diz que “existe maior dificuldade em

1 DERRIDA, Jacques. A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas In: A Escritura e a
Diferença. São Paulo: Perspectiva, 1971, p. 229-249.
interpretar as interpretações do que em interpretar as coisas”, e assim sigo. Num primeiro
momento do texto, Ottoni fala em tradução-desconstrução, e em outro fala em desconstrução-
tradução, seria uma via de mão dupla? (Isso não ficou claro para mim talvez por faltarem-me
leituras aprofundadas no assunto, mesmo assim, acredito que não, com base no próprio curso
que o texto toma) Qual termo seria mais adequado, então?

Em relação à palavra desconstrução-tradução, penso que significa que desconstruir é traduzir,


logo, implica que toda desconstrução é uma tradução. A tradução é consequência da
desconstrução. Aqui, pela natureza da construção da palavra, parece-me que há uma
generalização que vai de encontro às ideias do texto e não consegui ver o porquê de seu uso
nele, sobretudo, apenas uma vez.

Em se tratando de tradução-desconstrução, imagino que traduzir e desconstruir implica que


quando há tradução, consequentemente haverá desconstrução. A desconstrução é
consequência da tradução. Esse modo de pensar está intimamente relacionado ao conteúdo
do texto. Logo penso que o termo mais adequado seria esse.

 Língua e idioma

(...) “desconstruções, no plural, “desde o início” esteve ligada às figuras de singularidade, em


particular às do idioma, um dos momentos mais importantes do pensamento recente da
desconstrução. Derrida, ao fazer distinção entre língua e idioma, e o fato de chamar a atenção
para os enigmas do idioma e suas armadilhas, reforça ainda mais a relação tradução-
desconstrução (...)”. (p. 284 -285)

(...) É entre a língua e o idioma que acontecem os “enigmas da tradução”. São as armadilhas
do idioma que possibilitam a tradução”(...) (p. 289)

Considerando as citações acima e o fato de que “os enigmas do idioma estão presentes em
todas as traduções” (OTTONI, 2005), penso que as desconstruções acontecem principalmente
quando não há um termo correspondente na língua para a qual uma obra, por exemplo, seria
traduzida, uma palavra própria do idioma da obra original. Essas incompatibilidades de sentido
entre idiomas diferentes que permitirá que a tradução-desconstrução aconteça, entretanto por
via de substituição contextual e análise sígnica. Para tanto, será preciso que o tradutor
substitua um termo que mais se aproxima do outro, “tentando suportar o incomensurável da
língua e do idioma do outro”, porque não há fronteira entre a língua e o idioma, eles se
contaminam (OTTONI, 2005, p. 285). Esse processo de tradução-desconstrução acaba
levando ao tradutor a desempenhar o que Derrida (apud OTTONI, 2005, p. 286) chama de
“operação de tradução”.
 Operação de tradução

(...) Para refletir como essa “operação de tradução”, ao fazer a distinção entre língua e idioma e
seus enigmas, mostra a contaminação entre a língua e o idioma, analisarei, em seguida, dois
fragmentos, em português (...). Derrida, ao “falar” nossa língua, nosso idioma, nos dá
condições de refletir como a relação tradução-desconstrução acontece num outro “contexto”.
Seu texto, em português como em francês (...) “fala” mais de uma língua, uma vez que estou
partindo da hipótese segundo a qual uma língua fala mais de um idioma” (p. 287).

(...) Podemos dizer que sua escritura está constantemente numa “operação de tradução” que
se dá entre a língua e o idioma, ao mesmo tempo, que os distingue, os contamina (p.290).

A análise dos fragmentos feitos por OTTONI (2005, p.289) mostrou e verificou “a proliferação e
os efeitos do idioma sobre a língua” e ressaltou “como os enigmas do idioma estão presentes
em todas as traduções (...). As comparações feitas por OTTONI, entre os textos em português
traduzidos por diferentes tradutores, evidenciaram que há contaminação entre a língua e o
idioma “promovida pela escritura derridiana”.

Acredito que caiba aqui um exemplo que diz respeito à sinonímia. Não há sinônimos perfeitos,
por mais semelhantes que sejam as palavras, elas carregam sentidos diferentes, como no
clássico exemplo entre bonito e lindo, o valor semântico deste é maior que daquele. De um
idioma para outro, acredito que este também pode ser pensado como uma forma de
desconstrução de sentido, já que não há, segundo Derrida (apud OTTONI, 2005, p. 291) “A ou
uma só desconstrução”.

Referência:

OTTONI, Paulo. Derrida: entre a língua e o idioma. O primeiro pensador da tradução. in:
NASCIMENTO, E. (org.) Jacques Derrida: Pensar a desconstrução. São Paulo: Estação
Liberdade, 2005, p. 283- 291.

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