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CURSO DE PSICOLOGIA
Maceió
2016
Cynthia Carolina Pessoa Cavalcanti
Juliana Carvalho Nunes
Maceió
2016
Cynthia Carolina Pessoa Cavalcanti
Juliana Carvalho Nunes
Banca examinadora:
___________________________________________________
Profª. Esp. Nielky Kalliellanya Bezerra da Nóbrega
Orientadora
___________________________________________________
Profª. Dra. Andressa Pereira Lopes
Examinador interno
___________________________________________________
Prof. Ms. Dalnei Minuzzi Delevati
Examinador interno
Conceito __________
Maceió
2016
DEDICATÓRIA
Agradeço primeiramente a DEUS, Pai todo poderoso, por sempre estar presente em
todos os momentos da minha vida, me iluminando e me proporcionando fé, saúde, sabedoria,
esperança, força e coragem para encarar e superar todas as dificuldades e chegar ao fim desta
jornada.
A minha mãe Luciene e ao meu pai Luiz Gonzaga, pelo amor, incentivo, educação е
apoio incondicional durante essa jornada, pois sem eles nada disso seria possível. A minha
irmã Luciana por sua companhia diária, pela força, ajuda e incentivo que sempre me deste
para seguir em frente. Minha avó Maria, que sempre me ajudou e me incentivou durante essa
caminhada. Ao meu irmão de coração, Laércio, por sua luz que me estimula a seguir sempre
em frente. Ao meu namorado Isaac, meus tios, minha prima Tais, amigos e colegas de
faculdade que contribuíram positivamente na realização deste sonho.
A minha orientadora Nielky Nóbrega, e a minha dupla Cynthia Cavalcanti pela
disponibilidade, paciência, incentivo, orientações, críticas e sugestões importantes e
essenciais, para a construção e concretização deste trabalho.
Gostaria de agradecer a todos os professores da Unit, que fizeram parte dessa
jornada, repassando conhecimentos e experiências, contribuindo para o meu desenvolvimento
pessoal e profissional. Em especial a minha banca examinadora.
“Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo
nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta a
‘outra coisa’ porque eu mesma não posso.”
(Clarice Lispector)
RESUMO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
METODOLOGIA................................................................................................................... 14
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS
11
INTRODUÇÃO
Weichaar (2008), afirmam que os esquemas sãos construídos principalmente nas fases iniciais
da vida, podendo ser adaptativo ou desadaptativo, podem também ser formados em momentos
posteriores da vida.
Os esquemas constituídos em decorrência de eventos traumáticos durante a infância
podem estar no centro dos transtornos de personalidade. De acordo com Halperin e Carneiro
(2016, p. 41), “Os EIDs são padrões emocionais, cognitivos e emocionais relacionados à
representação de si e dos outros que se desenvolvem cedo na vida e se repete ao longo dela,
causando sofrimento e prejuízo em diversos contextos”. Os EIDs são destrutivos e, na maioria
das vezes, são causados por experiências nocivas e repetitivas durante a infância e
adolescência.
Young Klosko e Weichaar (2008, p. 28-31) apontam os 18 esquemas desadaptativos,
detalhados no capítulo 3. Apresentando em sua maioria os 18 esquemas, os pacientes com
TPB se mostravam pouco aderentes ao tratamento, dada a complexidade e a quantidade de
esquemas que apresentavam.
A complexidade de se trabalhar com TPB através da terapia de esquema apontou
para um desafio, dado que, como mencionado, estes pacientes apresentarem a maioria dos
esquemas e, além disso, a facilidade de permear de um esquema para o outro. Este desafio
motivou o presente trabalho, haja vista que visualizou-se a necessidade de se desenvolver uma
nova forma de compreender e trabalhar com estes pacientes, onde se pudesse abranger os
limites dessa permeabilidade, ou seja, trabalhando os esquemas de maneira conjunta.
Tomando essa complexidade como fundamento, Young desenvolveu os modos de esquemas.
Conceituando modos de esquemas, Young, Klosko e Weichaar (2008, p. 239) afirmaram que
“um modo é o conjunto de esquemas ou operações de esquemas – adaptativos ou
desadaptativos – que estão ativados no indivíduo em um dado momento”. Dentre os 10 modos
de esquemas postulados por Young, o paciente com TPB apresenta principalmente cinco
deles. Estes estão descritos no capítulo 3.
Pacientes com TPB são considerados desafiadores e difíceis de tratar, evidenciando,
inclusive, grande taxa de suicídio e parassuicídio1. No entanto, não há medicamento eficaz
contra o transtorno, mas existem auxílios farmacológicos, como os antidepressivos,
anticonvulsivante e antipsicoticos, que possibilitam o alívio de sintomas como a
1
Tentativas de suicídio reais e ferimentos contra si mesmo, incluindo comportamento automutilante
intencional com pouca ou sem intenção de causar morte.
13
METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvido por meio de revisão de literatura com intuito de
descrever a interação das terapias cognitivo-comportamental diante do Transtorno de
Personalidade Borderline (TPB).
De acordo com Botelho, Cunha e Macedo (2011), a revisão narrativa é usada com o
intuito de apresentar o estado da arte de um assunto específico, sob o ponto de vista teórico ou
contextual. Compõe-se, basicamente, da apreciação da literatura, da interpretação e exame
crítico pessoal do pesquisador. Desta forma, a revisão narrativa não utiliza critérios precisos e
sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura. Não se faz necessário o esgotamento
das fontes de informações na busca pelos estudos. Não aplica estratégias de busca sofisticadas
e exaustivas. A seleção dos estudos e a interpretação das informações podem estar sujeitas à
subjetividade dos autores.
1. O QUE É PERSONALIDADE
A palavra “personalidade” tem origem latim, persona que se refere à máscara teatral
usada pelos atores romanos nos dramas para projetar um papel ou uma falsa aparência através
da máscara. Esta é uma visão superficial da personalidade, pois personalidade vai além do
papel que as pessoas desempenham (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015).
Existem várias definições possíveis para o termo personalidade e isto está vinculado
ao que cada teoria enfatiza, ou seja, qual o aspecto que o teórico considera que são os mais
relevantes para compreender a personalidade dos indivíduos. Assim sendo, não há uma
definição única, já que cada teoria evidencia um conceito de personalidade de acordo com a
ênfase adotada em seus próprios pressupostos fundamentais.
Diferentes linhas teóricas apresentam diversas definições sobre o tema, apresentando
argumentos que vão desde a biologia da espécie a fatores inconscientes. Pervin e John (2004)
propõem uma definição centralizadora. Para eles, a personalidade representa as características
da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos, pensamentos e comportamentos.
De particular interesse, é a maneira como esses pensamentos, sentimentos e comportamentos
relacionam - se entre si para formar o indivíduo único e peculiar.
Provavelmente, o primeiro teórico da psicologia a enfatizar os aspectos dos
desenvolvimentos da personalidade foi o psicanalista Freud (1856-1939). Ele considerava que
a personalidade já́ estava formada ao final do quinto ano de vida, desenvolvendo-se em
resposta aos processos de crescimento fisiológico, frustrações, conflitos e (FEIST; FEIST;
ROBERTS, 2015).
Antes de Freud, não existia interesse pelas teorias da personalidade. As doenças
mentais eram consideradas como possessão alienígena ou demoníaca de indivíduos que, em
outros aspectos, eram considerados racionais e lógicos. Uma das maiores contribuições de
Freud foi evidenciar que os eventos mentais são conduzidos por regras e estrutura de causa e
efeito. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose como forma de acesso
aos conteúdos mentais no tratamento de pacientes com histeria. Em seus estudos, ele observou
os pensamentos e comportamentos irracionais e inconscientes de seus pacientes percebendo
que esses se ajustavam em certos padrões. Além disso, o autor reconheceu que a maioria dos
16
[...] um constructo composto que representa a soma total das ações, dos processos de
pensamento, das reações emocionais, e das necessidades motivacionais da pessoa,
através dos quais ela, como organismo biológico geneticamente programado,
interage com seu ambiente, influenciando-o e sendo influenciada por ele [...]
(BECK; ALFORD, 2000, p. 34).
2
Falsa adaptação do ego as suas ações e sintomas apresentados, não sendo percebidos pelo sujeito. Esse termo
faz com que haja uma sintonia entre o ego e o sintoma, ou seja, não ocorre a percepção do sujeito que as suas
palavras, e principalmente os seus atos estão afetando o seu relacionamento com o mundo exterior, porque para
ele não parece haver nenhum problema.
3
Esquemas resultam pensamentos e comportamentos disfuncionais
4
Conjunto de crenças e sentimentos que o individuo possui sobre si ou sobre meio envolvente. Têm origem na
infância, construídos através de uma educação desadequada. Seu funcionamento é na maioria das vezes
inconsciente e constitui uma base central para o funcionamento intrapsíquico e comportamental.
21
situações ao longo do tempo. A avaliação pode ser complicada, pois os traços e características
que definem um transtorno pode não ser considerados como algo anormal para o indivíduo. O
diagnostico diferencial é de suma importância, pois o transtorno de personalidade só pode ser
diagnosticado a partir dos 18 anos de idade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,
2014).
22
Dois tipos podem ser distintos: o tipo impulsivo caracterizado principalmente por
uma instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos; e o tipo “borderline”,
caracterizado, além disto, por perturbações da auto-imagem, do estabelecimento de
projetos e das preferências pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por
relações interpessoais intensas e instáveis e por uma tendência a adotar um
comportamento autodestrutivo, compreendendo tentativas de suicídio e gestos
suicidas [...] (CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS, 2003, p. 53).
Beck, Freeman, Davis e Cols (2005), caracterizam o TPB como uma notável
instabilidade em muitos, senão em todos, aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo
relacionamentos, auto-imagem, afeto e comportamento.
Linehan (2010), reorganizou os critérios diagnósticos para TPB, com base nos
descritos no DSM-IV e na DIB-R (Diagnostic Interview for Borderline – Revised).
Identificou-se que os indivíduos borderlines, em primeiro lugar, sofrem de desregulação
emocional, onde as respostas emocionais são muito reativas e o indivíduo geralmente vai ter
dificuldades com episódios de depressão, ansiedade e irritabilidade, além de problemas com a
expressão da raiva; em segundo lugar, apresentam desregulação interpessoal, os
relacionamentos que estes indivíduos se envolvem podem ser caóticos, intensos e marcados
por dificuldades. Apesar dos relacionamentos serem problemáticos, estes indivíduos
consideram extremamente difícil abrir mão deles; em terceiro lugar, a desregulação
comportamental, onde o indivíduo borderline apresenta comportamentos impulsivos extremos
e problemáticos e comportamentos suicidas e parassuicidas, são comuns nesta população
tentativas de se ferir, mutilar ou matar; em quarto lugar, uma desregulação cognitiva, com
formas breves e não psicóticas de desregulação do pensamento, incluindo despersonalização,
dissociação e delírios, muitas vezes, causados por situações estressantes, que geralmente
passa quando o estresse diminui; e em quinto lugar, a disfunção do self5, onde indivíduo com
TPB vai apresentar uma autoimagem e self instável, relatando frequentemente um vazio
crônico, baixa autoestima.
Desde a publicação do DSM IV, os transtornos de personalidade estão divididos em
três agrupamentos, com base em similaridades descritivas. O TPB pertence ao grupo B, junto
aos transtornos de personalidade antissocial, histriônica e narcisista. Indivíduos pertencentes a
5
Self – Eu. O “eu” é constituído por aspectos consciente e inconsciente de uma pessoa, sua personalidade,
cognições, pensamentos e sentimentos. Todas essas características ou aspectos se combinam na identidade
central da pessoa.
25
este grupo são emocionalmente exagerados, dramáticos, causando a impressão de não serem
verdadeiros (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 646).
O TPB é caracterizado no DSM-5 (2014) por um padrão difuso de instabilidade das
relações interpessoais, da autoimagem e de afetos e de impulsividade acentuada que surge no
começo da vida adulta e está presente em vários contextos. Indivíduos com essa desordem
costumam apresentar comportamentos agressivos e impulsivos, além de atitudes
autodestrutivas, incluindo tentativas de suicídio, “[...] cerca de 10% morrem por suicídio [...]”
(BECK; FREEMAN; DAVIS; COLS, 2005, p. 167).
Frequentemente, estas tentativas de suicídio constituem-se em uma maneira de
chamar a atenção para o sofrimento emocional que vivenciam; não chegando a se constituir
risco real para que cheguem a óbito. Porém, toda tentativa de suicídio requer atenção
cautelosa e cuidados intensivos. No caso desses pacientes, essa atenção deve ser ampliada
devido ao risco potencial de automutilações, também denominados como comportamentos
parasuicidas e, evidentemente, à possibilidade de ocorrer efetivamente o suicídio (LINEHAN,
2010). Os prejuízos relacionados a este transtorno e o risco de suicídio são maiores nos
adultos jovens do que em outras faixas etárias, costumando desaparecer com o avançar da
idade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 665).
O DSM-5 aponta nove critérios diagnósticos para o TPB, sendo suficiente que o
indivíduo apresente no mínimo cinco deles para a sua identificação (Tabela 2).
Critérios Diagnósticos
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginário.
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela
alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (ex., disforia episódica,
irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas
raramente de mais de alguns dias).
7. Sentimentos crônicos de vazio.
Indivíduos com TPB realizam grandes esforços no sentido de evitar o abando real ou
imaginado (critério 1). Esses indivíduos vivenciam medos intensos de abandono e
experimentam raiva inadequada mesmo diante de uma separação de curto prazo realística ou
quando ocorrem mudanças inevitáveis de planos. Tais medos de abandono têm relação com
intolerância de ficar só e necessidade de ter outras pessoas ao seu redor. “[...] quando ocorre
uma separação iminente, evoca nesses indivíduos acentuado medo de abandono, no intuito de
diminuir esses medos e prevenir a separação, são reveladas acusações enfurecidas de maus-
tratos e crueldade e comportamentos autodestrutivos, gerando nos demais uma resposta
culposa, temerosa ou protetora [...]” (SKODOL; GUNDERSON, 2012, p. 875). Os esforços
desesperados para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas como automutilação ou
comportamentos suicidas.
Apresentam padrões de relacionamento instáveis e intensos (critério 2). Eles
idealizam cuidadores ou companheiros potenciais em um primeiro ou segundo encontro,
mudam rapidamente de idealização a desvalorização, com sentimento que o outro não se
importa ou não está presente o suficiente (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,
2014).
Pode ocorrer distúrbio da identidade caracterizado pelo sentimento de self acentuado
e persistentemente instável (critério 3), há alterações súbitas e dramáticas da autoimagem,
mudança repentina em opiniões, identidade sexual, valores e tipo de amigos (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Segundo o DSM - 5 (2014), estes indivíduos mostram impulsividade em pelo menos
duas áreas potencialmente prejudiciais para si próprio (critério 4), como, por exemplo: gastos
financeiros, sexo desprotegido, abuso de substâncias, direção imprudente, comer
compulsivamente.
27
esquemas desadaptativos, que trazem sofrimento para ele mesmo e para as pessoas que estão
ao seu redor.
Diversos esquemas surgem na fase pré-verbal da criança, quando apenas memórias,
emoções e sensações corporais são arquivadas. Mais tarde, quando a criança começa a falar, é
que surgem as cognições e o desenvolvimento do pensamento (YOUNG et al, 2008 apud
WAINER, 2016 ).
Os esquemas são mantidos pelos processos de distorção cognitiva6, descritos por
Beck, e pelo comportamento de evitar o contato com os esquemas, pois o seu
desencadeamento é muito ansiogênico. Observa-se que indivíduos adotam comportamentos
contrários ao que se esperaria a partir de seus esquemas. Um exemplo desta observação é
visto nos indivíduos com necessidade de atenção e que procuram afastar-se das pessoas, pois
acreditam que ninguém conseguirá atender as suas necessidades (VENTURA; RODRIGUES;
FIGUEIRA, 2011, p. 552).
Young, Klosko e Weichaar (2008) formularam a hipótese de que alguns esquemas,
sobretudo os que se desenvolvem como resultado de experiências de infância danosas, podem
estar no centro de transtornos de personalidade, dos problemas caracterológicos mais leves e
de muitos transtornos do Eixo I7. Em decorrência desta ideia, foi proposto por eles um
subconjunto de esquemas, chamado de esquemas desadaptativos remotos (EDRs) ou
esquemas iniciais desadaptativos (EIDs). Neste trabalho, será utilizado o termo esquemas
iniciais desadaptativos (EID) ou somente esquema, como faz Young em seus textos.
Para Young, Klosko e Weichaar (2008), os EIDs são temas ou padrões psicológicos
amplos, difusos e fundamentais, formados por memórias, emoções e sensações corporais,
relacionados à percepção de si mesmo e dos outros. São denominados desadaptativos remotos
por terem início precoce na vida da criança, por se repetirem ao longo do tempo e por se
configurarem como padrões autoderrotistas de perceber e interpretar as experiências de vida.
Além disso, vão se tornando rígidos e inflexíveis (lutam por sua sobrevivência) de forma que
toda tentativa de mudar o esquema será vista como ameaçadora.
6
Distorções cognitivas são erros sistemáticos na percepção e no processamento de informações. As distorções
decorrem de regras e pressupostos, que são padrões estáveis adquiridos ao longo da vida do indivíduo.
7
O Eixo I fazia parte do modelo categórico (sistema multiaxial) introduzido desde a terceira edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, atualmente no DSM 5, este modelo foi substituído pelo
modelo dimensional, extinguindo os eixos categóricos.
32
Wainer (2016) acrescenta que os EIDs são conjuntos de crenças nucleares referentes
a temas centrais do desenvolvimento emocional. Eles estabelecem padrões comportamentais,
cognitivos e emocionais para lidar com tais temas quando estiverem em pauta na vida do
indivíduo. Influenciam usualmente toda a vida do sujeito, trazendo sofrimento e/ou prejuízo
em diversos contextos.
Melo (2014) contribui colocando que os EIDs são desenvolvidos desde o início da
infância, a partir de uma combinação de fatores, tais como o temperamento inato da criança e
as práticas educacionais nocivas, principalmente dos pais e cuidadores, que falham em
atender às necessidades emocionais essenciais, como necessidade de vínculos seguros com
outros indivíduos; autonomia, competência e sentido de identidade; liberdade de expressão,
emoções e necessidades válidas; espontaneidade e lazer; limites realistas e autocontrole. Esses
EIDs desenvolvidos mais cedo e através de experiências inadequadas na família nuclear, sãos
os que tendem a se ativar com mais força causando assim mais prejuízos na vida do indivíduo
(YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR 2008).
Ao formular em sua teoria sobre as necessidades emocionais de um indivíduo,
Young sofreu forte influencia advinda da Teoria do Apego, esta foi vista como uma
importante abordagem na construção da terapia do esquema, especialmente no
desenvolvimento de esquema de abandono8. Para Young, Klosko e Weichaar (2008), a teoria
do apego foi desenvolvida por John Bowlby e Ainsworth e formulada a partir dos modelos da
etologia, dos sistemas e da psicanálise.
Segundo Wainer (2016), Bowlby, entendeu que bebês precisam estabelecer um
relacionamento com seu cuidador para que, assim, possam se desenvolver. Essa vontade de
proximidade apresentada pela criança é chamada de apego e, inicialmente, exprime as
necessidades de segurança e proteção do recém-nascido. “Essas duas irão constituir os pilares
da saúde mental do infante, pois a forma como os pais desenvolvem esse vínculo inicial está
diretamente associada aos padrões de apego que a criança irá desenvolver” (RAMIRES;
SCHNEIDER, 2010 apud HALPERIN; CARNEIRO, 2016, p. 39).
Desta forma, tanto Bowlby quanto Young consideram que a relação com a família na
primeira infância tem um fator essencial para o desenvolvimento da personalidade.
8
Young apresentou 18 esquemas, dentre eles está o esquema de abandono/ instabilidade, os quais serão
abordados logo adiante.
33
9
A Terapia do Esquema (TE) foi formulada por Jeffrey E. Young e colegas para ampliar e integrar os conceitos
cognitivo-comportamentais tradicionais, com a finalidade inicial de tratar indivíduos com transtorno de
personalidade, depressão e ansiedade recorrentes. Atualmente vem se mostrando eficaz no tratamento de
diversos problemas difíceis e/ou refratários – abuso de substâncias, transtornos alimentares, conflitos de casais e
agressores criminosos. A TE vem também sendo amplamente testada e confirmada em alguns países para o
tratamento de pacientes borderlines.
10
Em 1978, Mary Ainsworth, estudou e comprovou empiricamente a teoria de Bowlby, através de uma
experiência chamada “A situação estranha” e através dos resultados de tal estudo identificou categorias dos
padrões de apego sendo elas: do tipo seguro; inseguro ansioso/ ambivalente; e inseguro evitativo. Mas tarde
dando continuidade aos estudos de Ainsworth, Main e Solomon (1986) acrescentou um quarto tipo de apego: o
apego desorganizado (Wainer, 2016).
34
Acredita-se que essas necessidades são universais: todas as pessoas as têm, mesmo
que algumas apresentem necessidades mais fortes do que outras. Um indivíduo
psicologicamente saudável é aquele que consegue satisfazer de forma adaptativa as
necessidades emocionais fundamentais.
Young, Klosko e Weichaar (2008) observaram quatro tipos de experiências no início
da vida que estimulam a obtenção de esquemas, são elas:
2. Abadono/ Instabilidade Expectativas de ser abandonado por pessoas Mágoa, ansiedade e raiva
importantes. Os outros são imprevisíveis e não
disponíveis
3. Desconfiança/ Abuso Expectativas de ser humilhado, prejudicado ou Estado de alarme, ansiedade, raiva
abusado
4. Isolamento Social/ Alienação Crença de estar de fora do grupo Ansiedade
11
“Os PEs são os mecanismos típicos que o organismo utiliza ao longo do tempo para perpetuar os EIDs”
(WAINER, 2016). Os PEs ocorrem de forma espontânea e são vistos pelo indivíduo como naturais e corretos. O
nível de consciência sobre esses processos altera muito, sendo alguns deles identificados racionalmente com
mais facilidade do que outros.
41
atendidas na infância. São mais facilmente visualizados em pacientes com TPB, pois eles
próprios se assemelham muito a crianças (YOUNG, KLOSKO e WEICHAAR, 2008).
De acordo com Young, Klosko e Weichaar (2008), a segunda categoria de modos é
chamada de “enfrentamento desadaptativos”, refere-se às tentativas da criança de se adequar à
vida com necessidades emocionais não-satisfeitas em um ambiente prejudicial. Na infância do
paciente, esses modos foram adaptativos, mas costumam ser desadaptativos no mundo mais
amplo dos adultos.
Modos “pais disfuncionais” são a categoria de terceiro modo e refletem
comportamento internalizado dos pais em relação ao paciente como uma criança. Quando os
pacientes se encontra nos modos pais disfuncionais, eles se transformam em seus próprios
pais e tratam a si mesmos como os seus pais os trataram quando eram crianças (YOUNG,
KLOSKO e WEICHAAR, 2008).
Segundo Young, Klosko e Weichaar (2008), a quarta categoria de modo,
denominada “adulto saudável”, foi definida por Young e colaboradores como sendo a parte
saudável e adulta do self que cumpre uma função “executiva”12 com relação a outros modos.
O adulto saudável ajuda a atender as necessidades emocionais básicas da criança. A finalidade
global do trabalho com esta categoria de modo é construir e fortalecer o adulto saudável do
paciente para então assim trabalhar de forma mais eficaz com os outros modos. Raramente os
pacientes com TPB apresentam o modo adulto saudável, de forma que o terapeuta deve
aumentar ou auxiliar na criação de um modo tão pouco desenvolvido.
Ventura, Rodrigues e Fiqueira (2011) apontam cinco principais modos identificados
que caracterizam a personalidade borderline: criança abandonada; criança zangada e
impulsiva; pais punitivos; protetor desligado e adulto saudável. “A forma mais fácil de
distinguir os modos é pelo tom de suas expressões” (YOUNG et al, 2008 apud VENTURA;
RODRIGUES; FIGUEIRA, 2011, p. 562).
De acordo com Klosko e Young (2009), o modo criança abandonada é a criança
interior em sofrimento. Para Young, Klosko e Weichaar (2008), os pacientes parecem ser
frágeis e infantis neste modo. Parecem infelizes, frenéticos, assustados, não-amados e
perdidos. Sentem-se sozinhos e desamparados e estão constantemente em busca de uma figura
12
As funções executivas são processos multidimensionais de controle cognitivo que se caracterizam por serem
espontâneos e demandar um elevado esforço. Eles incluem a capacidade de avaliar, organizar e alcançar metas,
como também a habilidade de adequar o comportamento com flexibilidade ao ser confrontado com novos
problemas e situações. (RUEDA; ALONSO, 2013).
44
paterna que tomará cuidado deles. Esforçam-se muito para que os cuidadores não os
abandonem, muitas vezes as suas percepções de abandono ultrapassam o limiar de realidade.
No modo criança zangada e impulsiva, segundo Young, Klosko e Weichaar (2008),
estes pacientes expressam a sua raiva de forma inapropriada. Eles podem parecer
profundamente furiosos, exigentes, controladores, abusivos ou descuidados; também podem
manifestar tendências suicidas. Quando a intenção é satisfazer às próprias necessidades,
podem agir de forma impulsiva, podendo ser inclusive manipuladores e inescrupulosos.
Para Young, Klosko e Weichaar (2008), no modo pais punitivos representa
normalmente a raiva ou o ódio internalizados do pai, da mãe ou de ambos. Quando os
pacientes estão nesse modo, assumem o papel de seus próprios pais punitivos e rejeitador,
ficando bravos consigo mesmos por apresentarem necessidades normais que seus pais não
deixassem que expressassem. Eles castigam a si mesmos – por exemplo, cortando-se ou
passando fome – e falam de si mesmos em tom cruel e rigoroso, falando que são “maus”,
“sujos”, “malvados”.
No modo protetor desligado, o paciente desliga-se de todas as emoções, desprende-se
dos outros e comporta-se de modo submisso com a finalidade de não ser castigado. Os
pacientes quando estão neste modo, parecem normais, sendo “bons pacientes”, agindo de
forma adequada e fazendo tudo o que deveriam fazer, não representam e nem perdem o
controzle. Os terapeutas acabam que de forma equivocada reforçando este modo. O problema
é que, quando os pacientes estão nesse modo, baseiam sua identidade em obter a aprovação de
seus terapeutas. No entanto, não estão realmente conectados com ele. Pode acontecer de o
terapeuta passar todo o tratamento com um paciente TPB sem perceber que ele está no modo
protetor distanciado. Desta forma, ele não evolui de forma significante. Os pacientes mudam
para o modo de protetor distanciado quando a finalidade é desligar-se de seus sentimentos,
quando eles são provocados nas sessões (YOUNG; KLOSKO; WEICHAAR, 2008; LEAHY,
2011).
Klosko e Young (2009), coloca que em pacientes com TPB, o quinto modo, adulto
saudável, é excessivamente fraco e insuficientemente desenvolvido, principalmente no início
do tratamento terapêutico. Isto é visto como um grande problema, pois os pacientes não
encontram um modo paterno tranquilizador que cuide deles e os acalme. A incapacidade de
aceitar a separação é diretamente influenciada por isto. “O terapeuta é o modelo de um adulto
45
saudável para um paciente, até que ele finalmente internalize as atitudes, as emoções, as
reações e os comportamentos do terapeuta como seus próprios” (KLOSKO; YOUNG, 2011,
p. 250).
Como foi exposto neste capítulo, o paciente TPB apresenta uma complexa estrutura e
funcionalidade de sua personalidade. Conhecer os seus modos de esquemas, bem como os
seus EIDs associados é extremamente importante para um tratamento psicoterápico mais
eficaz. Wilson (2016) coloca que um grande ganho para o paciente é o entendimento dos
objetivos terapêuticos a serem vencidos em relação a cada um dos modos de funcionamento
apresentados por eles, tanto nas sessões como fora delas.
46
13
São ideias erronias que o individuo desenvolvem desde a infância sobre si, os outros e o mundo. Tornando-se
entendimentos que tão fundamentais e profundos para o individuo que os mesmos os consideram como verdades
absolutas.
48
14
São os pensamentos que vem automaticamente à mente, de maneira rápida e que muitas vezes não são
percebidos por quem os tem. Quando tais pensamentos são disfuncionais, eles atuam em cima das emoções e do
comportamento do indivíduo, podendo vir em forma de pensamentos ou também em forma de imagens.
49
É importante enfatizar que, todos nós temos crenças, pressupostos e PA tanto positivos quanto
negativos, e o trabalho se refere aos disfuncionais (KNAPP; BECK, 2008).
15
Referem-se a padrões, atitudes, normas e regras impostas pelo individuo em situações vividas no dia a dia e
estão sempre associadas a uma condição, que sendo seguida á risca, transcorre tudo bem. O não cumprimento
dessas crenças pode ocasionar na ativação das crenças disfuncionais.
16
Formas de cognição mais internalizadas, consideradas verdades absolutas, percebidas de maneira rígida e
generalizada pelo individuo, pois estão relacionadas às construções adquiridas na infância sobre si, o outro e o
mundo. Tais construções são fortalecidas ao longo dos anos, no qual servem de modelo para a interpretação de
eventos ocorridos.
50
Uma vez que os pacientes com TPB inicialmente tem pouco conhecimento das
próprias emoções, pensamentos e comportamentos, uma parte importante do
tratamento é dedicada a ajuda-lo a compreendê-las. Perceber com clareza quais
esquemas (ou modos) subjacentes está agindo e vão ajudar o individuo a reduzir a
confusão e a obter certo controle sobre seu comportamento [...] (BECK;
FREEMAN; DAVIS, 2005 pag. 183).
17
Consistem nos mecanismos que os pacientes desenvolvem desde cedo em suas vidas para se adaptar a
esquemas, e resultam em perpetuação dos mesmos. Foram identificados três estilos de enfrentamentos
desadaptativos: resignação, evitação e hipercompensação. As respostas de enfrentamentos são os
comportamentos específicos por meio dos quais se expressam esses estilos de enfrentamento amplos. Há
respostas de enfrentamento comuns para cada esquema.
18
Aspectos do pensamento, impulsos, atitudes, comportamentos e sentimentos que contrariam e perturbam o
individuo.
54
Cada modo possui uma emoção próprio característica. O modo criança abandonada
tem a emoção de uma criança perdida: triste, assustada, vulnerável e indefesa. O
modo criança zangada e impulsiva apresenta a emoção de uma criança furiosa e
impossível de controlar, gritando e atacando o cuidador que frustra suas
necessidades fundamentais, agindo impulsivamente para que suas necessidades
sejam atendidas. O tom do pai/mãe punitivo é duro critico e implacável. O protetor
desligado tem afetos pouco intensos, pouco emotivos e mecânicos. Por fim, o modo
adulto saudável apresenta a emoção de pais fortes e amorosos. O terapeuta
geralmente consegue diferenciar os modos, escutando o tom de voz do paciente e
observando a maneira como fala. O terapeuta do esquema torna- se especialista na
identificação do modo do paciente e desenvolve estratégias voltadas especificamente
ao trabalho com o modo em questão. (YOUN et al, 2008. p. 266).
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1. Criança abandonada
2. Criança zangada/impulsiva
Relação terapêutica: Nesse modo, ter raiva do terapeuta é comum, para muitos
terapeutas, constitui o aspecto mais frustrante do tratamento. Onde o mesmo sente-se
esgotado, tentando atender às necessidades do paciente. Dessa forma, quando o
paciente se volta contra o terapeuta e diz “Você não se importa comigo, eu odeio
você̂”, é natural que o terapeuta sinta raiva. Desse modo, o passo aqui é definir limites
se a raiva do paciente for abusiva, seguindo quatro passos: liberar a raiva, empatizar,
realizar testagem da realidade e ensaiar.
Trabalho vivencial: os pacientes liberam completamente a raiva em relação a
indivíduos representativos que os maltrataram em sua infância, adolescência ou vida
adulta. O terapeuta os estimula a liberar a raiva da forma que preferirem, mesmo
imaginando atacar pessoas que os magoaram. (A exceção, é claro, é o paciente
violenta: os terapeutas não devem estimular pacientes que tenham um histórico de
comportamento violento a imaginar fantasias violentas).
Trabalho cognitivo: Como dito anteriormente, a educação em relação às emoções
humanas normais constitui uma importante parte do tratamento de pacientes com TPB.
Sendo assim, nesse modo é importante ensinar ao paciente o valor da raiva. “Os
pacientes com TPB tendem a pensar que toda a raiva é ruim”. Com isso, o terapeuta
reassegura que nem toda a raiva é ruim, e que sentir raiva e expressá-lá
adequadamente é normal e saudável, porem precisam aprender a expressar sua raiva
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3. Pai/Mãe punitivo
para tentar, depois realiza como tarefa de casa, e assim o paciente será́ recompensado
por seus esforços com uma resposta positiva.
4. Protetor desligado
Relação terapêutica: O terapeuta auxilia o paciente a conter emoções carregadas,
acalmando-o para que o protetor desligado se sinta seguro ao lhe permitir que
experimente seus sentimentos. O terapeuta permite que o paciente expresse todos os
seus sentimentos dentro dos limites adequados, incluindo raiva com relação ao
terapeuta, sem puni-lo. O terapeuta começa atribuindo nome ao modo, ajudando o
paciente a reconhecer e identificar os sinais que o ativam. Logo após, o terapeuta
analisa o desenvolvimento do modo na infância do paciente e evidencia seu valor
adaptativo, ajudando-o a observar eventos que antecedem a ativação do modo fora da
terapia e as consequências do desligamento.
Trabalho vivencial: É realizado através de exercício de imagens mentais da criança
vulnerável, que muitas vezes eles conseguem acessar imediatamente os sentimentos
por trás de seu personagem sem sentimento.
Trabalho cognitivo: O terapeuta evidencia as vantagens de vivenciar emoções e de se
conectar com outras pessoas. Pois, viver no modo protetor desligado é viver como
alguém emocionalmente morto. E assim, a satisfação emocional verdadeira só está
disponível aos que se dispõe a querer sentir.
Trabalho comportamental: O protetor desligado é de extrema resistência em se abrir
emocionalmente para com as pessoas, sendo assim, no trabalho comportamental, o
paciente tenta se abrir de forma gradual e em etapas, apesar da resistência, onde o
paciente pratica as imagens mentais ou dramatizações nas sessões com o terapeuta e,
depois, realiza tarefas de casa. Por exemplo, um paciente pode ter o objetivo de
compartilhar mais seus sentimentos sobre um assunto com um de seus amigos íntimos.
Ele pratica a expressão de seus sentimentos com esse amigo em dramatizações com o
terapeuta e depois o faz de verdade com o amigo na semana seguinte, como tarefa de
casa.
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5. Adulto saudável
E por fim chega ao ultimo modo, que é o principal objetivo do tratamento, onde o
terapeuta modela o adulto saudável ao paciente, aleḿ que ele internalize suas atitudes,
emoções, reações e comportamentos como seu próprio modo adulto saudável. E assim
fortalecer o modo adulto saudável do paciente para oferecer carinho e proteger a
criança abandonada, a fim de ensinar à criança zangada e impulsiva forma mais
adequado de expressar raiva e fazer com que suas necessidades sejam satisfeitas,
assim sujeito age e pensa de forma positiva para consigo, buscando relações e
atividades saudáveis.···.
Ao se trabalhar os modos, terapia focada em esquemas se torna mais longa do que a
TCC, pois se dedica muito mais tempo para identificar e superar a levitação cognitiva,
afetiva e comportamental dos modos, com o objetivo de oferecer uma teoria que seja
simplificada e compreensível para os pacientes sobre seus esquemas e modos, e
principalmente o tratamento e adequação dos mesmos. Os elementos essenciais para o
sucesso da terapia de esquemas para pacientes borderlines são os limites oferecidos
pelos terapeutas, assim como o trabalho com os modos e o progresso terapêutico de
acordo com os estágios (YOUNG ET al. 2008).
A terapia do esquema (TE) é uma abordagem em que o terapeuta necessita de preparo
emocional ao paciente durante o processo de psicoterapia, não apenas porque expõe as
fragilidades mais íntimas do indivíduo, mas porque a própria relação terapêutica torna-
se o agente da mudança. Como vista a importância do empirismo colaborativo na
abordagem de Beck, um dos pontos principais da TE é a relação terapêutica, pois essa
abordagem foi desenvolvida inicialmente para promover intervenções em pacientes
difíceis e resistentes, assim seu método central é a relação terapêutica, visto que é no
campo dos relacionamentos que os maiores prejuízos na vida desses indivíduos são
observados. Os modos desadaptativos dos pacientes serão ativados ao longo da relação
terapêutica, e estes irão reproduzir inúmeras vezes as interações disfuncionais que
estabeleceram por meio de seus esquemas iniciais desadaptativos, sendo essa a
oportunidade para repará-los (WAINER, 2016).
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19
Termo oriundo da filosofia que pode ter mais de um significado, dependendo do autor ou filosofo que a
emprega. Tal conceito pode ser um método de persuasão, visão de mundo e ou um conjunto de pressupostos
acerca da natureza da realidade. (MELO, 2014)
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Praticada em diferentes terapias comportamentais e cognitivas, como forma específica de atenção plena –
concentração no momento atual, intencional, e sem julgamento.
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entre outras estratégias; envolvendo terapia individual e de grupo. As sessões individuais são
utilizadas para ensinar novas competências ao paciente, e as sessões de grupo fornecem-lhe a
oportunidade de colocar essas competências em prática (LINEHAN, 2010).
No tratamento de tentativas de suicídio e automutilação, em geral, prepara-se um
protocolo, embora o objetivo seja prevenir a hospitalização, sendo útil em situação de crise.
Pode-se fazer um contrato que estabeleça claramente o papel do paciente e do terapeuta
quando houver ameaças e tentativas de suicídio. É feita uma análise para esclarecer as
respostas cognitivas e emocionais que levam as tentativas de suicídio, discutindo-se soluções
alternativas e reforçando-se respostas não suicidas (GABBARD; BECK; HOLMES, 2007).
Assim como a TE, a TCD utiliza técnicas em comum da TCC, como o Cartão de
enfrentamento, que são úteis para ajudar a lembrar, e para lutar com os esquemas patogênicos
em um dos lados são descritos o raciocínio patogênico e o esquema ativado, de modo que o
paciente possa compreender as emoções que causam esse esquema, no outro lado é oferecida
uma visão sadia, juntamente com uma maneira funcional de lidar com os problemas. O role-
play também é uma técnica da TCC, onde terapeuta e cliente se comportam imitando o
comportamento de alguma pessoa relevante no ambiente natural do sujeito ou fazendo uma
representação do comportamento do próprio sujeito em alguma situação social (Tavares,
2005). São úteis para ensinar aos pacientes habilidades interpessoais, como assertividade e
expressão de sentimentos apropriados em relação a alguém (BECK et al, 2005).
Os pacientes com TPB devem aprender a tolerar a experiência de emoções negativas
fortes, sem atuar com comportamentos que sirvam para evitar ou escapar da experiência.
Técnicas de exposição da terapia comportamental podem ser úteis, assim como exercícios de
escrever, uma carta para um abusador do passado (sem enviá-la), expressando todos os
sentimentos (BECK et al, 2005).
A TCD é uma abordagem de intervenção estruturada, onde o processo terapêutico
configura-se em duas linhas gerais de objetivos centrais construídos com o paciente: os
comportamentos que necessitam ser reduzidos e os comportamentos que necessitam ser
aumentados. O estabelecimento adequado das metas de tratamento é essencial para que o
trabalho tenha sucesso e assim obter bons resultados, como também o compromisso do
paciente é essencial. A TCD prioriza os problemas que devem ser trabalhados inicialmente de
acordo com a ameaça que oferecem a vida do paciente, onde o foco é listado por ordem de
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aplicação da atenção plena, o terapeuta usa estratégias a fim de diminuir os efeitos negativos
do estresse e promover a necessidade de mudança (LINEHAN, 2010).
Proposta por Marsha M. Linehan, a TCD tem um componente de psicoterapia individual e
outro de terapia em grupo. Seu fundamento teórico vem basicamente do Behaviorismo com
elementos do Cognitivismo. A terapia individual da TCD tende a ser bastante direta e confrontatória,
e busca abordar em uma sessão semanal os conteúdos que venham a se apresentar. A prioridade é
dada à atenção a comportamentos suicidas e autodestrutivos, e depois a comportamentos que
interfiram com a própria terapia. A seguir vêm assuntos ligados à qualidade de vida e à sua melhora;
as sessões de grupo fornecem-lhe a oportunidade de colocar essas competências em prática
(LINEHAN, 2010).
Diante disso, é visto que o tratamento para pacientes borderlines adquiriu sucesso
através da terapia do esquema e a terapia comportamental dialética, onde tais formas de
psicoterapias derivam da terapia cognitivo comportamental de Beck, enfatizando e
compartilhando de técnicas e estratégias em comum com a TCC, como algumas técnicas
cognitivas e comportamentais; e principalmente a relação terapêutica que cada abordagem
prioriza como fundamental no tratamento. Dessa forma é possível visualizar a interação entre
as terapias cognitivas, onde cada uma se fez a partir do modelo de Beck, sendo desenvolvida e
estruturada a partir das necessidades que não eram supridas pela TCC no tratamento do TPB.
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CONCLUSÃO
Assim, foi possível perceber que o avanço promissor no tratamento TPB se deu a
partir do desenvolvimento da TE e TCD. Os seus objetivos não se diferem totalmente,
podemos dizer que, a TE prioriza a investigação das origens infantis, identificar a trajetória
dos esquemas desde a infância até o presente, com ênfase particular nos relacionamentos
interpessoais do paciente; a TCD tem como objetivo promover a eficácia interpessoal,
regulação emocional, tolerância a estresses e autocontrole.
Com isso, visualizamos que a evolução das terapias cognitivas é importante dentro
do universo do TPB, pois além de promover um tratamento efetivo, possibilita ao paciente
uma compreensão positiva acerca do seu funcionamento. Dessa maneira, o estudo possibilitou
entender e visualizar que, mesmo sendo considerado um transtorno complexo e difícil, o
tratamento, apesar de longo, é eficaz.
Este trabalho poderá subsidiar pesquisas futuras acerca do tema TPB, principalmente
no que se refere à difícil relação interpessoal destes indivíduos com os seus familiares,
companheiros (as) e amigos. Assim, cabe uma investigação mais aprofundada em torno destas
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relações, dado que cada sujeito que se relaciona com o indivíduo com TPB pode estar
necessitando de suporte.
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REFERÊNCIAS
BASSITT, D.P, LOUZÃ NETO. Transtornos de personalidade. In. LOUZÃ, M. R.; ELKIS,
H. Psiquiatria básica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 346-360.