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UniAGES

Centro Universitário
Bacharelado em Psicologia

GISLA MARQUISE JESUS SANTOS


JANNYKELLE SILVA OLIVEIRA VITAL

A SAÚDE MENTAL DOS ADOTANTES DURANTE O


PROCESSO DE ADOÇÃO

Paripiranga
2021
GISLA MARQUISE JESUS SANTOS
JANNYKELLE SILVA OLIVEIRA VITAL

A SAÚDE MENTAL DOS ADOTANTES DURANTE O


PROCESSO DE ADOÇÃO

Monografia apresentada no curso de


graduação do Centro Universitário AGES
como um dos pré-requisitos para obtenção
do título de bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profa. Carolina Rodrigues


Alves de Souza.

Paripiranga
2021
Santos, Gisla Marquise Jesus, 1995; Vital, Jannykelle Silva Oliveira,
1997
A saúde mental dos adotantes durante o processo de adoção /
Gisla Marquise Jesus Santos; Jannykelle Silva Oliveira Vital. -
Paripiranga, 2021.
56 f.: il.

Orientadora: Profª. Drª. Carolina Rodrigues Alves de Souza


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) –
UniAGES, Paripiranga, 2021.

1. A saúde mental dos adotantes durante o processo de adoção -


Paripiranga-BA. 2. Educação especial. I. Título. II. UniAGES.
GISLA MARQUISE JESUS SANTOS
JANNYKELLE SILVA OLIVEIRA VITAL

A SAÚDE MENTAL DOS ADOTANTES DURANTE O PROCESSO DE


ADOÇÃO

Monografia apresentada como exigência


parcial para obtenção do título de Bacharel em
Psicologia, à Comissão Julgadora designada
pelo colegiado do curso de graduação do
Centro Universitário AGES.

Paripiranga, 08 de julho de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Carolina Rodrigues Alves de Souza


UniAGES

Profa. Calila Caldas


UniAGES
Ao nosso maior exemplo de fé, luta, amor.
Dedicamos não só este trabalho, mas também toda nossa garra, pois foi a partir dos
ensinamentos vindos de vocês que nos mantivemos firmes e fortes até aqui.
Vocês permanecerão vivos em nossas memórias para sempre:
“Painho Deinho” e “Papai Nevinho”
AGRADECIMENTOS

(Gisla Marquise Jesus Santos)

Não há como não começar externando meus agradecimentos ao meu bom


Deus. Ele que me mantém firme e nunca me desampara.
À minha família, Mainha Senhora e irmãos (Mauricio, Patricia, Daiane e
Tamires), por serem e estarem sempre presentes na minha vida, sou grata por todo
apoio e acolhimento. Eu não teria como agradecer a vocês de modo individual, pois
somos um. Obrigada por serem verdadeira família e me amarem incondicionalmente,
ensinando-me a ser forte, íntegra e nunca desistir dos meus sonhos. Cheguei aqui por
vocês e para vocês.
Aos meus seres de luz, meus sobrinhos Isis Victoria, Ana Beatriz e José Cirilo
Neto, por alimentar minha alma, renovar minhas energias e dar-me vida.
Aos meus cunhados, Antônio, Ecinho, Gicelio; em especial à minha cunhada
Amélia por auxiliar-me direta ou indiretamente de forma tão generosa e acolhedora.
À minha família Cirilo por ser força e luz quando o mundo é escuridão. De modo
particular, às minhas primas, Claudia e Debora, por me fazer sonhar e fazer-se
presente na construção dos sonhos.
Às minhas “irmanas”, Neylde e Larissa, por tudo que são e por tornarem-me
perseverante e confiante.
Às minhas meninas: Natalia, Josielma, Domaria, Thaisa, josinelma e Viviana,
pois foram seres que alegraram meu coração e minha vida.
À minha turma de graduação, por todo incentivo. Aos meus amigos, Raul,
Brenda e ao meu amor (minha irmã Isabella), por estarem comigo desde o primeiro
dia e permanecer juntos à mim até esse instante. Sem vocês eu não teria chegando
até aqui.
Aos meus professores por toda dedicação e ensinamento. Essa jornada foi bem
mais suave ao vocês fazerem parte dela
Aos meus colegas da “a casa lar” e “republica paris” por todo acolhimento e
proporcionarem uma incrível experiência no nosso pouco tempo de convivência.
Levarei comigo para sempre.
Por fim, eu não poderia deixar de agradecer à minha parceira e amiga de
gaduação, Jannykelle, umas das minhas maiores fontes de expiração. Você é incrível,
menina! Partilhar todos esses momentos e sonhos contigo foi e está sendo um
privilégio. Como sempre falamos: “que seja para sempre nós”.
Ah... Painho, esse momento é nosso, te amo minha estrela e obrigada por
nunca me deixar só. Sua “neguinha” está voando alto, como o senhor ensinou.
AGRADECIMENTOS

(Jannykelle Silva Oliveira Vital)

Gratidão primeiramente a Deus, por tua graça e misericórdia em todos os meus


passos; protegendo-me, livrando-me e dando forças para não desistir.
Ao meu papai Nevinho (in memoriam), o meu porto seguro, minha maior fonte
de amor e inspiração, meu maior exemplo.
À minha mãe Edna, por ser essa mulher guerreira e por sonhar junto comigo.
Aos meus irmãos, Jannyne e Neviton, por estarem sempre comigo mesmo
distantes. Sou grata pelo apoio e incentivo de vocês. Vocês são minha fortaleza!
À minha querida Vó Maria (Mãe), por me esperar ansiosamente todos os
sábados repleta de amor e por interceder por mim todos os dias.
À minha família, em especial, às tias: Nadja, Jara e Léia. Minhas mães, não
tenho palavras para agradecer por tanto que fizeram por mim, carregado de amor,
incentivo; e também por acreditarem sempre que sou capaz. Amo vocês
imensamente.
Ao meu esposo, Adanilton, por todas as orações e todo esforço para tornar
esse sonho em realidade.
Ao meu filho Isaac, ao qual chegou no meio dessa trajetória universitária
trazendo alegria e mais motivos para prosseguir.
Aos meus enteados, Gabi e Davi, por trazerem para mim um novo olhar para a
Psicologia e para a vida.
Às minhas amigas, Maria Beatriz, Joana Paula, Beatriz Curvelo, Isabela
Oliveira e Andrea Vital. Às meninas da República Rosa: Ryvellen Prima e Thalita
Maria. Gratidão por caminharem junto à mim durante essa trajetória, ajudando-me nos
dias difíceis e trazerem calmaria ao meu coração.
Às colegas “Psi's” as quais encontrei nessa trajetória: Gisla Marquise, Josineide
Brito, Diana Paulo e Mislaine Lopes. Vocês são luzes e muito especiais.
Aos professores do UniAGES que fizeram parte da minha história acadêmica,
minha gratidão. Em especial à Calila Caldas, por seu jeito meigo; e Bruno Felipe, por
sua alegria. Vocês são profissionais incríveis os quais ensinaram além da Psicologia.
Com muito carinho e com o coração trasbordando de felicidade, registro aqui
minha enorme gratidão a todos.
“Não sei o tempo que você vai esperar nesse
casulo,
mas sei que você vai voar!
E ficar tipo borboleta e transformar,
a cor desse planeta e brilhar.”

- Phil
RESUMO

A presente pesquisa intitulada “a saúde mental dos adotantes durante o processo de


adoção”, busca compreender como pode se apresentar a saúde mental dos adotantes
frente ao processo da adoção. Parte do pressuposto da importância da saúde mental
dos adotantes como elemento primordial para que os mesmos possam sentir-se
confiantes, determinados e satisfeitos diante do seu próprio desejo de adotar. A
problemática da pesquisa surge da observação de adotantes próximos à vivência
pessoal das pesquisadoras, os quais em sua maioria mostraram-se tensos, inseguros
e recusa em buscar um profissional para suprir a necessidade de ter um
acompanhamento psicológico durante e após o processo. Diante da pesquisa,
apontou-se dificuldades da parte do adotante em lidar com o processo. O objetivo
desse trabalho buscará confirmar ou rejeitar essa hipótese a partir de uma pesquisa
bibliográfica narrativa, com o fim de analisar como é sentido o processo de adoção e
como a literatura lê a questão da saúde mental das famílias adotantes. Os objetivos
específicos consistem em investigar o comportamento dos adotantes frente ao
processo de adoção; especificar como funciona o processo de adoção e as
dificuldades do trâmite. Nas conclusões do estudo, resultou que existem no decorrer
do processo da adoção a insegurança, os receios, estresse e ansiedade, que é sentida
por quem adota.

PALAVRAS-CHAVE: Adotantes. Família. Processo de adoção. Saúde mental.


.
ABSTRACT

This research, entitled “the mental health of adopters during the adoption process”,
seeks to understand how the mental health of adopters can be presented in front of
the adoption process. It assumes the importance of the adopters' mental health as a
key element for them to feel confident, determined and satisfied with their own desire
to adopt. The research problem arises from the observation of adopters close to the
personal experience of the researchers, who mostly showed themselves to be tense,
insecure and refuse to seek a professional to meet the need for psychological support
during and after the process. In view of the research, difficulties on the part of the
adopter in dealing with the process were pointed out. The objective of this work will
seek to confirm or reject this hypothesis from a narrative bibliographic research, in
order to analyze how the adoption process is felt and how the literature reads the issue
of mental health of adopting families. The specific objectives are to investigate the
behavior of adopters in the adoption process; specify how the adoption process works
and the difficulties of the procedure. In the conclusions of the study, it resulted that
there are insecurity, fears, stress and anxiety during the adoption process, which are
felt by those who adopt.

KEYWORDS: Adopters. Family. Adoption process. Mental health.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2 MARCO METODOLÓGICO ................................................................................... 19


2.1 Caracterização do estudo .............................................................................. 19
2.2 Uso metodológico do material bibliográfico ..................................................... 20

3 MARCO TEÓRICO ................................................................................................ 21


3.1 Adoção: funcionamento, processo e obstáculos ............................................. 21
3.1.1 Adoção e seu contexto histórico ............................................................ 21
3.1.2 Funcionamento do processo de adoção no Brasil ................................. 26
3.2 A saúde mental e o comportamento dos adotantes frente ao processo da
adoção ...................................................................................................................... 42

4 MARCO ANALÍTICO ............................................................................................. 38


4.1 Adoção e sentimento das famílias adotantes .................................................. 38
4.2 Riscos à saúde mental dos adotantes ............................................................ 41
4.3 Conflitos de adoção e intervenção do Psicólogo frente ao processo .............. 44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 49

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 52
13

1 INTRODUÇÃO

A adoção é o “estabelecimento de relações parentais entre pessoas que não


estão ligadas por vínculos biológicos diretos” (LEVINZON, 2016, p. 25) dando assim
a oportunidade as crianças que tiveram os vínculos rompidos com sua família de
origem, fazer parte de uma determinada família, em que as relações parentais se
estabelecem por laços afetivos.
De acordo com Solon (2016), a adoção se apresenta ainda como mais uma
oportunidade de garantir o crescimento da criança. Já segundo Santos et al., (2014,
p. 2) “a adoção se fundamenta na premissa de que a integração a uma nova família
possibilita à criança reconstruir sua identidade a partir do estabelecimento de novas
configurações parentais”, assegurando seu direito de viver em uma família e ser
educada por ela. O autor Levinzon (2016) explica que a ação de adotar, proporciona
à criança uma família, um lar onde receberá carinho e cuidados para crescer
sadiamente, incluída numa base social segura. Aos pais, a adoção oportuniza que
realizem o desejo de ter um filho.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) fala da adoção como sendo um
ato de colocação em uma nova família que concede à criança ou adolescente a
condição de filho, em que terá os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
não tendo nenhum vínculo com a família biológica, salvo os impedimentos
matrimoniais (BRASIL, 2002).
A adoção da qual trataremos nesse trabalho consiste em um processo judicial
em que pessoas sentem o desejo de adotar um filho. Diante disso, existe a
possibilidade de solicitar, junto ao judiciário, nos juizados da infância e da juventude
(JIJ), para que seja iniciado um processo de habilitação para adoção (RIEDE;
SARTORI, 2013).
Mas vale ressaltar que para os adotantes possam adotar a criança ou
adolescente é necessário preencher uns requisitos dispostos em leis que estão
disponíveis no Art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente


do estado civil.
14

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.


§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados
civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da
família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o
adotando. (BRASIL, 1996)

A espera pela adoção, etapa mais demorada e judicialmente burocrática deve


ser compreendida como um momento de construção do papel parental (CECÍLIO;
SCORSOLINI-COMIN, 2016; MORELLI et al., 2015). Nesse processo, é importante
que os pais possam lidar com todas as dificuldades e medos que a adoção pode
abarcar, tornando-se maduros e convictos de seu desejo pelo filho adotivo (SILVA et
al., 2020).
Fonseca et al. (2020), ao tratarem do processo de adoção de
criança/adolescente no Brasil, afirmam quão moroso e burocrático é o processo, o que
já nos dá sinais da dificuldade que se experimenta do lado dos adotantes, os quais
aguardam ansiosos a sua oportunidade de se tornarem pais. Oliveira (2010), por sua
vez, critica as possíveis falhas no processo de adoção, relatando que é uma questão
árdua e delicada, pois direciona momentaneamente para abordagens de possíveis
falhas no processo de adoção que pode advir de variados fatores: um deles é a
decepção de ambas as partes (pais e filhos adotivos) que, muitas vezes, idealizando
a vida familiar e sem adequada elaboração pela equipe que acompanha o caso,
sofrem ao se deparar com uma realidade limitada e frustrante. E como esse processo
de adoção interfere na saúde mental dos adotantes?
A problemática da pesquisa nasce a partir da realidade vivenciada na cidade
em que uma das pesquisadoras reside. Em Cipó/BA, município localizado na
mesorregião do nordeste baiano, que contava com aproximadamente 17.300
habitantes no último censo, uma das pesquisadoras pôde acompanhar – ainda que
informal e superficialmente - o processo demorado da adoção, bem como os
sofrimentos emocionais aos quais os adotantes acabam ficando submetidos caso não
busquem um acompanhamento profissional psicológico. A partir da observação de
alguns adotantes conhecidos das autoras desse trabalho, que mostraram ficar
receosos e inseguros, aparentando não ter, na maioria das vezes, equilíbrio emocional
durante o processo da adoção, surgiu o interesse de estudar sobre os efeitos
emocionais causados à saúde mental dos adotantes.
15

Em comunhão com alguns autores, compreende que o processo de adoção é


permeado por dúvidas, mitos e preconceitos, os quais devem ser esclarecidos com o
objetivo de minimizar pressuposições equivocadas, os quais dificultam o processo,
como também acreditamos ser importantes promover reflexões sobre o ato de adotar.
Alguns dos aspectos que usualmente causam preocupação para os adotantes são as
dúvidas dos pais a respeito da herança biológica na determinação do comportamento,
o medo da revelação da condição de adotado e o receio quanto à adaptação nas
adoções tardias (MERÇON-VARGAS, et al., 2011; OTUKA, SCORSOLINI-COMIN, &
SANTOS, 2013).
Esses medos e bloqueios em torno da adoção se sustentam, em sua grande
maioria, em representações de família presentes no imaginário social que se
fundamentam nos laços consanguíneos, sendo que a maioria das pessoas acredita
no fato de que ser adotado já é condição suficiente para ser classificado como
problemático, diferente e fora do normal (SCHETTINI; AMAZONAS; DIAS, 2006;
SILVA, 2009). Isso prejudica diretamente na saúde mental dos adotantes, pois
acarreta uma instabilidade emocional e psíquica ao acreditar em determinadas
suposições rotuladas pela sociedade.
As suposições, ou melhor, os estigmas sociais impedem muitas pessoas
adotarem. Por isso, adotar se torna um ato de coragem, pois implica em enfrentar as
rotulações sociais. Exige que o indivíduo adotante saiba lidar com as emoções que
possam surgir durante o processo. De acordo com os autores já citados, entendemos
que os mitos que constituem a adoção no Brasil estabelecem crenças e expectativas
negativas ligadas à prática da adoção, e se apresentam como impedimentos à
realização de adoções de crianças maiores e adolescentes (PURETZ; LUIZ, 2007).
Diante desse contexto problemático, o presente trabalho buscará investigar
acerca da saúde mental dos adotantes durante o processo de adoção de crianças,
etapa mais burocrática, demorada e delicada para ambos (adotante e adotado). Aqui
discutiremos alguns problemas que estão envolvidos no processo de adoção e como
esses problemas interferem diretamente na saúde mental do adotante.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946), a saúde é um
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na
ausência de doença ou de enfermidade. Esta definição, de 1946, foi inovadora e
ambiciosa, pois expandiu a noção de saúde incluindo aspectos físicos, mentais e
16

também sociais. O termo ‘bem-estar’, ali utilizado, é um componente tanto do conceito


de saúde, quanto da saúde mental, e é entendido como uma construção de natureza
subjetiva, fortemente influenciado pela cultura (HUNTER et al., 2013, p.10-11).
Para Almeida-Filho, a OMS (Organização Mundial de Saúde) define mais
especificamente, a saúde mental como “um estado de bem-estar no qual um indivíduo
percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode
trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade” (ALMEIDA-
FILHO, 2011, p.160).
Tratando-se de saúde mental, Furegato (2010) elucida que demanda de
cuidado em saúde mental e não se restringe apenas a minimizar riscos de internação
ou controlar sintomas. Segundo o autor, o cuidado à saúde mental do indivíduo deve
ser cotidiano e envolve também questões pessoais, sociais, emocionais e até mesmo
financeiras.
De volta à discussão da saúde mental em relação ao processo de adoção,
trazemos Silva (2016) que destaca a importância do acompanhamento psicológico
nesta fase, a fim de se detectar a presença desses comportamentos emocionais e
compreender qual é a leitura da dinâmica familiar envolvida no processo. Com efeito,
precisamos desmistificar que a busca pela saúde mental não ocorre em um momento
de controlar sintomas, mas de superar determinadas dificuldades, bloqueios e
emoções que atrapalham em determinada situação.
A avaliação jurídica e psicossocial, no processo de adoção se transcreve em
aspectos rigorosos em consonância com a jurisprudência dos aspectos jurídicos e
psicológicos que são auxiliadores neste trâmite de construções de vínculos familiares.
Sendo assim, é importante destacar as práticas psicológicas no processo adotivo
(FONSECA et al., 2020).
Torna-se importante para a Psicologia estudar sobre os fatores psicossociais
envolvidos no processo de adoção, pois o psicólogo poderá contribuir
significativamente para a saúde mental dos adotantes. Atuando e intervindo de
maneira direta com as famílias envolvidas no trâmite, assim, buscando fortalecer os
indivíduos, superando os medos e inseguranças.
Esta temática é relevante pois acreditamos que o conhecimento dessa
pesquisa produzirá contribuições sobre como a Psicologia deve atuar frente aos
processos de adoção, especialmente em relação às famílias postulantes à adoção.
17

Assim, entende-se que o conhecimento dessa pesquisa poderá subsidiar


posteriores estudos acadêmico voltados aos fatores psicológicos envolvidos em um
processo de adoção, uma vez que o profissional da psicologia exerce ali um papel
fundamental, ao compreender a história de vida da pessoa, dar suporte e acompanhá-
la, a fim de auxiliar na superação de problemas e proporcionar o desenvolvimento de
suas potencialidades e crescimento pessoal.
Esse trabalho parte então da seguinte pergunta: “como é sentido o processo
de adoção pelas famílias adotantes?”, consistindo, deste modo, em seu objetivo geral
o intuito de analisar os efeitos do processo de adoção na saúde mental das famílias
de adotantes. Como objetivos específicos: especificar como se dá o processo de
adoção, salientando as dificuldades do trâmite e investigar o comportamento dos
adotantes frente ao processo de adoção.
Acredita-se, assim, que há aqui um trabalho de grande relevância social,
principalmente ao tratar do processo de adoção pela perspectiva do adotante,
buscando analisar como os adotantes experienciam o processo e de como esse
processo de adoção é visto por eles, abordagem pouco encontrada na literatura sobre
o assunto.
É imprescindível que o profissional de Psicologia fique atualizado frente aos
estudos dessa pesquisa, para que possa intervir e conduzir os variados problemas
relacionados a esses fatores psicossociais, buscando sempre intermediar e
solucionar, ocasionando uma intervenção protetiva e emancipadora, garantindo o
bem-estar do indivíduo.
Essa pesquisa utiliza-se de procedimentos e métodos bibliográficos, pois é
desenvolvida com base em material já elaborado, a qual busca a resolução de um
problema (hipótese) através de referenciais teóricos publicados, analisando e
discutindo as várias contribuições científicas. Essa pesquisa traz subsídios para o
conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob qual enfoque e/ou perspectivas
foi tratado o assunto apresentado na literatura científica.
Quanto ao nível, é de profundidade explicativa, tem como objetivo proporcionar
maior familiaridade com o problema que está sendo investigado através de
indagações do pesquisador, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir
hipóteses a partir do problema ou questionamento (GIL, 2010).
18

O trabalho se divide em marco teórico, no qual discutiremos na primeira sessão


sobre a adoção e seu contexto histórico; na segunda sessão, funcionamento do
processo de adoção no Brasil. Na terceira sessão, a saúde mental e o comportamento
dos adotantes frente ao processo da adoção.
E no marco analítico, o qual analisará a adoção e sentimento das famílias
adotantes; riscos à saúde mental os adotantes; conflitos de adoção e intervenção do
Psicólogo frente ao processo.
19

2 MARCO METODOLÓGICO

2.1 Caracterização do estudo

Essa pesquisa utiliza-se de procedimentos e técnicas bibliográficas. Segundo


Gil (2010) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros, artigos científicos, e demais trabalhos de cunho
científico. Embora saibam que em quase todos os estudos e pesquisa, seja exigido
algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a
partir de fontes bibliográficas.
Segundo esclarece Boccato (2006), a pesquisa bibliográfica busca a resolução
de um problema (hipótese) através de referenciais teóricos publicados, analisando e
discutindo as várias contribuições científicas. Essa pesquisa traz subsídios para o
conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob qual enfoque e/ou perspectivas
foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. Já para Erickson (1989), uma
pesquisa com abordagem qualitativa caracteriza-se sobretudo pelo enfoque
interpretativo.
Quanto ao nível, é de profundidade exploratória e explicativa. Porque segundo
Gil (2010) tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema que
está sendo investigado através de indagações do pesquisador, com vistas a torná-lo
mais explícito ou a constituir hipóteses a partir do problema ou questionamento. Sendo
assim, pode-se dizer que a mesma tem como objetivo principal o aprimoramento de
ideias ou a descoberta de intuições. E o planejamento é bastante flexível, de modo
que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado.
E também ressalta que:

Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que


determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o
tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque
explica a razão, o porquê das coisas. Por isso mesmo, é o tipo mais complexo
e delicado, já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente (GIL,
2010, p. 42)
20

E quanto ao objeto da pesquisa, diz respeito à saúde mental dos adotantes no


processo da adoção. Voltamo-nos aos fatores psicológicos, uma vez que o
profissional da psicologia exerce um papel fundamental em analisar a história de vida
da pessoa, esclarecer uma situação, dar suporte e acompanhá-la, a fim de auxiliar na
superação de problema e proporcionar o desenvolvimento de potencialidades e
crescimento pessoal deste.

2.2 Uso metodológico do material bibliográfico

Para realizar o levantamento bibliográfico foram utilizados livros e artigos


científicos encontrados na base de dados. Foram utilizados os seguintes descritores:
“adoção”, “saúde mental”, “processo de adoção” e “fatores psicossociais da adoção”.
Limitando os idiomas ao inglês e ao português, aos estudos realizados com seres
humanos, aos textos na íntegra e aos temas compatíveis para com a pesquisa desse
trabalho, com limitadores temporais no período de publicação de 2006 até 2021 de
artigos científicos, pois utilizando esses limitadores, estaremos pesquisando materiais
bibliográficos contemporâneos que contribuem significativamente com a pesquisa, os
quais serão consultados nas bases de dados: Medline (artigos), LILACS (artigos),
SciElo (artigos) e Google Acadêmico.
Foram excluídas as publicações que não fossem encontradas em livros ou em
formato de artigo científico, bem como aqueles que não estivessem disponíveis na
íntegra para acesso online nas bases de dados. Houve a exclusão daqueles que não
atendiam ao objetivo. Foram incluidas as obras científicas completas diponíveis para
acesso online e que atendessem aos objetivos descritos da pesquisa.
21

3 MARCO TEÓRICO

3.1 Adoção: funcionamento, processo e obstáculos

3.1.1 Adoção e seu contexto histórico

A adoção existe desde os tempos de Moisés (que de acordo com os textos


bíblicos), como enfatiza Maux e Dutra (2010), em que Desde a Antiguidade,
praticamente todos os povos — hindus, egípcios, persas, hebreus, gregos, romanos
— praticaram o instituto da adoção, acolhendo crianças como filhos naturais no seio
das famílias. A Bíblia relata a adoção de Moisés pela filha do faraó, no Egito. O Código
de Hamurabi (1728–1686 a.C.), na Babilônia, disciplinava minuciosamente a adoção
em oito artigos, inclusive prevendo punições terríveis para aqueles que desafiassem
a autoridade dos pais adotivos (cortar a língua e arrancar os olhos).
Porém, no nosso trabalho trataremos aqui da adoção com um sentido mais
amplo que possibilita entender que não significa tomar para si como filho alguém que
não é do próprio sangue. A adoção hoje, não consiste em dar filhos para aqueles que
por motivos de infertilidades não os podem conceber, ou por “ter pena” de uma
criança, ou ainda, alívio para a solidão. O objetivo da adoção é cumprir plenamente
às reais necessidades da criança, proporcionando- lhe uma família, onde ela se sinta
acolhida, protegida, segura e amada (DINIZ, 2010). Observando esse contexto
histórico da bíblia, evidenciamos que no Egito, Moisés foi adotado pela filha do Faraó,
que lhe deu seu nome, mas, depois de adulto recusou- se ser chamado filho da filha
do Faraó (JORGE, 2020).

O Código Hamurabi 2.283 - 2.241 AC contém regulamentação minuciosa a


respeito da adoção, que foi praticada, amplamente, na Mesopotamia, em
Atenas e no Egito. Entre os judeus, Jacob adotou Efraim e Manasses, filho
do seu filho José. No Genesis, capítulo 48, versículo 5, sentencia o Patriarca
Jacob "os teus filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu para
aqui viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manassés serão meus, como
Rubens e Simeão. Mas a tua descendência que gerarás depois deles. será
22

tua; segundo o nome de um de seus irmãos serão chamados na sua herança”


(JORGE, 2020, p.02).

De acordo com Weber (2010) o procedimento de adoção estava relacionado


aos desejos religiosos, no qual ter filhos visava garantir a continuidade do culto
familiar, objetivando, dessa forma, atender unicamente aos interesses do adotante.
Com o passar do tempo, a adoção sofreu alterações, em que tanto adotantes como
adotados seriam beneficiados.
Mencionemos ainda o contexto cristão, em que no Novo Testamento ocorria a
adoção. Aqui destaco um personagem célebre da bíblia sagrada, José, mais
conhecido pela igreja católica como pai adotivo de Jesus, em que foi designado por
Deus para casar com Maria, a qual estava grávida, e assim ser o pai adotivo do filho
que ela concebera. Vejamos uma passagem do texto bíblico para justificar o
argumento extraído da bíblia sagrada.

José é um pobre carpinteiro noivo da jovem Maria. Certo dia é chamado pelo
Rei Herodes para trabalhar em uma distante terra. Quando retorna recebe a
notícia de que sua futura esposa está grávida do Espírito Santo. Ele, não
querendo difamá-la, resolve deixa-la secretamente. Mas numa noite, em
sonho, lhe aparece um anjo do Senhor. Ele lhe diz para desposar Maria que
dará à luz ao filho de Deus. (SILVA, 2021)

Ao estudar detalhadamente a história da adoção, busca-se perceber uma cruel


realidade que era vivenciada que durou muitos anos na história da civilização
ocidental. Nos séculos XVII e XVIII, os asilos para crianças órfãs começaram a se
tornar comuns na Europa em razão do crescimento exponencial da população nas
cidades. Com a explosão demográfica dos centros urbanos, cresceram também a
miséria, a fome e a violência.
Tratando-se do contexto histórico de adoção no Brasil, para Silva (2021), esse
crescimento de pessoas enfrentando dificuldades financeiras, aumentou o número de
crianças abandonadas ou entregues aos orfanatos por seus pais biológicos, que não
tinham condições de criá-las. A violência e o alastramento de doenças devido às
péssimas condições sanitárias também elevaram o número de crianças que perdiam
seus pais. No segundo e terceiro séculos de colonização as crianças concebidas fora
do casamento e ou filhas de moças brancas e solteiras, de família de classe média
alta, eram abandonadas em calçadas, florestas, terrenos baldios e praias, esse tipo
23

de abandono chamado de abandono selvagem teve um número considerável de


ocorrências. Para controlar o abandono selvagem a igreja católica instaurou a Roda
dos Expostos. Nessa Roda de Expostos:

As crianças eram depositadas na Roda dos Expostos e eram acolhidas pelas


Santas Casas de Misericórdia, garantindo o sigilo sobre as mães biológicas
das crianças, normalmente as brancas solteiras de classe média. Neste
período os preceitos e as regras que orientavam a organização familiar, eram
os do cristianismo. A procriação fora do casamento era recriminada e ficavam
sujeita a sanções, tanto religiosas como sociais. Se na época colonial as
crianças eram abandonadas porque eram geradas fora dos preceitos da
moral cristã, hoje, ao abandono somaram-se novos motivos - a inexistência
de programas sociais que orientem sobre planejamento familiar, a falta de
instrução sobre o uso de métodos anticonceptivos, ou ainda a falta de auxílio
de qualquer espécie, seja moral, afetivo ou econômico, às famílias (SILVA,
2021).

Perante o Código Civil Brasileiro, de 1916, a adoção se tornou legal com a


introdução da Lei de 22 de setembro de 1828, no qual somente poderiam adotar os
maiores de cinquenta anos de idade, desde que não tivessem prole legítima. O
adotante deveria ter dezoito anos de diferença do adotando no mínimo. O legislador
entendia que com essa idade, o adotante já era maturo o suficiente para assumir essa
responsabilidade, uma vez que se houvesse arrependimento geraria inúmeros
transtornos em ambas as partes (WEBER, 2010).
É importante frisar que o vínculo adotivo não era por sua vez, definitivo. O
vínculo poderia ser desfeito caso o adotado optasse como também o adotante. Com
o decorrer do tempo, houve um relativo avanço com a lei 4.655/65, que diminuiu os
obstáculos para aqueles que queriam adotar, no qual além das pessoas casadas, as
viúvas e os desquitados também poderiam adotar, sendo que há pouco mais de 40
anos somente casais poderiam ter filhos adotivos (BRASIL, 1965).
A lei n. 4.655/65 concedia ao adotado uma real equiparação aos filhos legítimos
do adotante, garantindo assim, uma maior proteção àquele que fora abandonado e
sucessivamente acolhido em outra família que não era a sua biológica, dessa forma
surgiu a chamada legitimação adotiva, e a partir dela o vínculo entre adotante a
adotado passou a ser tão próximas como se fosse biológico.

Com a Lei n° 4.655, de 02.06.1965, um novo importante passo foi dado na


evolução do instituto, tornando o filho adotivo praticamente igual, em direitos
e garantias, ao filho sanguíneo. Criou-se a legitimação adotiva – forma esta
24

que atribuía ao adotado os mesmos direitos e deveres reconhecidos ao filho


legítimo. Todavia, em razão do excesso de formalismo para a legitimação,
não teve grande difusão prática. (RIZZARDO, 2014, Capítulo XX).

Com essa lei mencionada anteriormente, os filhos adotivos passam a ter os


mesmos direitos que os filhos biológicos, salvo no caso de sucessão, e seriam
interrompidos os vínculos com a família de origem, se tornando a adoção irrevogável.
De acordo com Silva (2021), a definição da origem da palavra adoção vem do
adoptare que significa escolher, perfilhar, dar o seu nome a, optar, juntar, desejar. Do
ponto de vista jurídico, a adoção é um procedimento legal que consiste em transferir
todos os direitos e deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo
para crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente
quando forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família
original seja mantida.
Se recorrermos a outras fontes sobre definição da adoção, complementará o
conceito, acarretando novas ideias. No entanto, para o Direito Romano, encontramos
o seguinte conceito: “adoptio est actussolemnis quo in loco filivelnepotisadsciciturqui
natura talis non est”, ou seja: a adoção é o ato solene pelo qual se admite em lugar
de filho quem pela natureza não é (RODRIGUES, 1995. p. 22.).
Santos et al., (2013, p. 2) aditam que “a adoção se fundamenta na premissa de
que a integração a uma nova família possibilita à criança reconstruir sua identidade a
partir do estabelecimento de novas configurações parentais”, assegurando seu direito
de viver em uma família e ser educada por ela. O ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) fala da adoção como sendo um ato de colocação em uma nova família
que concede à criança ou adolescente a condição de filho, em que terá os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios, não tendo nenhum vínculo com a família
biológica, salvo os impedimentos matrimoniais (BRASIL, 2002).
Porém com o passar dos anos, novos conceitos vão sendo reconstruídos, ou
melhor, redefinidos, pois há vários olhares acerca da adoção que exige do olhar mais
cultural e humano. Diniz (2010) apresenta uma definição mais abrangente o que de
fato seria a adoção:

Podemos definir a adoção como inserção num ambiente familiar, de forma


definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as
normas legais em vigor, de uma criança cujos pais morreram ou são
25

desconhecidos, ou, não sendo em o caso, não podem ou não querem assumir
o desempenho das suas funções parentais, ou são pela autoridade
competente, considerados indignos para tal. (DINIZ, 2010, I, p.67)

A adoção hoje, não consiste em dar filhos para aqueles que por motivos de
infertilidades não os podem conceber, ou por “ter pena” de uma criança, ou
ainda, alívio para a solidão. O objetivo da adoção é cumprir plenamente às
reais necessidades da criança, proporcionando-lhe uma família, onde ela se
sinta acolhida, protegida, segura e amada. (DINIZ, 2010, I, p.67)

Vemos que na citação acima, o autor define a adoção com inserção em uma
família, assim pertencendo à família de maneira definitiva e com reconhecimento
jurídico de filiação à determinada família. Essa adoção provém de crianças que foram
abandonadas pelos pais, órfãs ou aqueles em que os pais não podem ou não querem
assumir a responsabilidade de educar e contribuir com o desenvolvimento da criança.
É importante ressaltar, o que Diniz (2010) falou em sua citação, que a adoção, por
sua vez, não significa dar o filho para alguém criar pelo simples fato da família
adotante possuir infertilidades, por não conceber um filho ou sentir “pena” da criança
que talvez não tenha condições de vida melhor.
Para o ECA, na Subseção IV. Art. 39., a adoção de criança e de adolescente
reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.

§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer


apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou
adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do
art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009).

A adoção para Levinzon (2016, p. 25) partindo da visão da Psicologia, como


sendo o “estabelecimento de relações parentais entre pessoas que não estão ligadas
por vínculos biológicos diretos”, assim dando a oportunidade a essas crianças fazerem
parte de uma determinada família, em que as relações parentais consistem por laços
afetivos. De acordo com Solon (2016), a adoção se baseia como mais uma
oportunidade de garantir o crescimento da criança que não tem atenção necessária
de sua família biológica.
Araujo e Faro (2017) explicam que os motivos que levam as pessoas a
procurarem pela adoção são inúmeros, tais como dificuldade de engravidar, desejo
de ser pai/mãe, o sentimento altruísta de dar uma família para uma criança, ter uma
26

companhia, entre outros. No entanto, pesquisas mostram que a infertilidade é um dos


principais motivos para que os indivíduos se candidatem à adoção.
Para os estudiosos da área da adoção, estar apto para ser pai e mãe adotivos
significa mais do que apenas desejar adotar uma criança. Os candidatos à adoção
devem ter a motivação genuína de querer um filho e querer ser pai e mãe (SILVA,
2015). Ter disponibilidade emocional, afetividade, capacidade de elaboração e
superação de situações traumáticas, flexibilidade, boas relações com a família de
origem e suporte social adequado (SILVA, 2015).
.

3.1.2 Funcionamento do processo de adoção no Brasil

A Adoção é uma das modalidades de colocação de criança/adolescente em


família substituta, regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
A adoção possui características psicológicas específicas, como por exemplo, a
motivação e o desejo em adotar, expectativas e anseios. Souza (2008) considera que
a motivação para adoção é algo que desperta o interesse, vontade, ou melhor, o
desejo de uma pessoa tornar-se pai ou mãe e que varia de uma pessoa para outra.
Com efeito, há diversos motivos que levam pessoas a desejarem a adoção, por
isso à motivação é particular para cada um. Para Franco & Melão (2007), deve-se
estar atento quanto às pretensões equívocas para adoção:

Embora em muitas situações a pretensão de adotar esteja fundamentada


numa pretensão ilegítima, ou seja, baseada em outros interesses que não a
criança em si, como a esterilidade masculina, morte de um filho, resolução de
conflitos conjugais, caridade, falta de companhia e outros, é importante que
o interesse da criança em si seja o fator determinante na disposição para a
adoção. (FRANCO & MELÃO, 2007; pg. 44)

Souza (2008) em seu livro, exorta que adotar não é fazer um favor a uma
criança, nem esperar que ela seja uma companhia para a pessoa solitária. Para a
mesma autora, a adoção é entendida como um processo que requer a inserção da
criança no novo grupo familiar. Em outras palavras, a adoção demanda que os
27

membros do núcleo familiar também se envolvam, acolham e incluam esta criança em


seu novo ambiente.
O autor Levinzon (2016) explica que a ação de adotar, proporciona à criança
uma família, um lar onde receberá carinho e cuidados para crescer sadiamente,
incluída numa base social segura. Aos pais, a adoção oportuniza que realizem o
desejo de ter um filho.
Segundo Dionisio (2021) as normas de adoção no Brasil são muito exigentes e
detalhadas e, por este motivo, este é um dos processos mais burocráticas do mundo.
Diferentemente de alguns países, o processo de adoção brasileiro não se dá através
de agências terceirizadas, mas sim através dos próprios órgãos públicos do país. Para
a autora, além do Brasil ser um país miscigenado, ainda há o preconceito por parte
das famílias, muitas delas se interessam em adotar somente bebês da cor branca e
estes não são a maioria, o que faz com que muitas crianças nunca sejam adotadas
(DIONISIO, 2021).
O processo de adoção inicia-se a partir do desejo de adotar um filho, em que
existe a possibilidade de solicitar, junto ao judiciário, nos juizados da infância e da
juventude (JIJ), um processo de habilitação para adoção. Com a criação do processo,
ele é encaminhado diretamente à equipe técnica para avaliação psicossocial que dará
subsídios à decisão judicial. Por meio desta, a equipe tem um papel importante para
verificar as condições dos possíveis adotantes a fim de tentar evitar que haja um
retorno da criança ou adolescente à instituição de acolhimento após a adoção (RIEDE;
SARTORI, 2013). Para isso, psicólogos e assistentes sociais se utilizam dos
instrumentos que julgarem cabíveis para avaliação, cuja duração vai depender das
particularidades de cada caso (SILVA et al., 2020).
O lado das crianças à espera da adoção é composto por crianças ou
adolescentes, com até dezoito anos completos, cujos pais biológicos sejam
desconhecidos ou já tenham falecido, que concordem com a adoção de seu filho ou
que foram destituídas do poder familiar, o antigo Pátrio Poder, portanto, não possuem
mais o direito sobre elas (DIONISIO, 2021). É importante frisar que o adotando, ao ser
mais de 12 anos, ele tem o direito de consentir ou não a adoção para ela ser realizada.
Porém, independentemente da idade, sempre que possível, deve-se considerar a
opinião da criança ou adolescente. É importante que se possa investir na formação
28

de um vínculo afetivo entre a criança ou o adolescente e os candidatos a pais adotivos


antes de concluído o processo de adoção. Isso está definido no ECA, em seu Art. 45:

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante


legal do adotando.

§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente


cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.

§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também


necessário o seu consentimento.

Dionisio (2021), respaldado no ECA, explica que quando o órfão é adotado,


esta adoção é irrevogável, o vínculo jurídico dos pais biológicos para com a criança
ou adolescente é transferido para os pais adotivos, mas, caso não cumpram com seu
dever e responsabilidade de pais, também podem ser depostos do poder familiar,
fazendo com que a criança ou adolescente adotado volte a ser órfã e volte ao abrigo.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais.

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas


judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na
legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos
deveres e obrigações a que alude o art. 22.
Ao haver alguém interessado em ter um filho, esse poderá ser um casal ou
uma pessoa solteira; ou até mesmo casais já possui filhos biológicos e
pretende ter mais um filho pelo viés da adoção. Segundo a decisão recente
do Supremo Tribunal Justiça, casais homossexuais também podem adotar
crianças de qualquer idade (DIONISIO, 2021).

Mas vale ressaltar que para os adotantes possam adotar a criança ou


adolescente é necessário preencher uns requisitos dispostos em leis que estão
disponíveis no Art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente (2002):

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente


do estado civil.

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados


civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da
família.
29

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o


adotando.

§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex companheiros podem


adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de
visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância
do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos
de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que
justifiquem a excepcionalidade da concessão.

§ 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício


ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no
art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.

§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca


manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de
prolatada a sentença.

Dionisio (2021) em seu artigo elucida que além do que consta no artigo
supracitado do ECA, os interessados em adotar precisam ser e se mostrar aptos a
exercerem as responsabilidades pertinentes a criação de uma criança ou adolescente
e oferecer um ambiente familiar, acolhedor, sem a presença de pessoas dependentes
de álcool e drogas, para que seja favorável o nascimento de um novo vínculo. Esses
direitos que são assegurados a toda criança e adolescente consta no Art. 19 do ECA
em que diz:

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes.

Silva et al. (2020), em sua pesquisa sobre os critérios de adoção, ao analisar o


ECA, eles descrevem que o mesmo, embora determine a necessidade de avaliação e
preparação dos adotantes, não descreve de forma específica os critérios que devem
ser estudados nesse processo. Diz apenas que a adoção não deve ser deferida à
“pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida
[de proteção] ou não ofereça ambiente familiar adequado” (ECA, 1990, Art. 29), mas
sem esclarecer o que seria tal incompatibilidade ou ambiente familiar adequado.
Hindle e Shulman (2008), explica a adoção como uma constelação de forças
emocionais distintas e complexas, como a família de origem, a criança e a família
adotiva, as leis e o sistema legal, uma rede profissional, o conjunto de valores e
crenças sociais e culturais.
30

Para Silva (2015), além dessa realidade, a adoção se caracteriza pelo encontro
de dois sofrimentos. De um lado, estaria a perda dos laços primários de uma criança,
privada da convivência com sua família de origem, fazendo com que na base de toda
adoção encontre-se uma história de rompimento precoce de vínculos afetivos. E de
outro lado, na maioria das vezes, a impossibilidade do adotante de gerar filhos
biológicos (SCHETTINI; AMAZONAS; DIAS, 2006). Mesmo que a motivação dos
adotantes não seja a impossibilidade de gerar filhos biológicos, eles ainda deparam
com a decisão, e o luto, de não o fazer (SILVA, 2015).
Segundo a pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (2013),
revelou que a idade é o principal motivo de desencontro entre as preferências do
pretendente que busca adotar e as características das crianças e dos adolescentes
que aguardam por uma adoção no Brasil. De acordo com o CNJ (Conselho Nacional
de Justiça), destaca-se que nove em cada dez pretendentes desejam adotar uma
criança de zero a cinco anos, enquanto essa faixa etária corresponde a apenas nove
em cada 100 das crianças aptas à adoção. Essa pesquisa realizada identificou que
há mais crianças com idade acima dos cinco anos que continuam institucionalizadas,
sem perspectiva de serem colocadas em famílias substitutas por apresentarem
características pouco desejáveis: serem negras, apresentarem deficiências, terem
problemas de saúde ou formarem grupo de irmãos. Desse modo, o processo de
escolha das características do filho adotivo está marcado por uma dinâmica social na
qual estão envolvidos estereótipos que geram expectativas por parte dos adotantes;
afetando – assim a probabilidade das adoções (MERÇON-VARGAS; ROSA;
DELL’ÁGLIO, 2011).
Referente ao processo de transição para a parentalidade é uma etapa tão
complexa e uma das fases mais marcantes do ciclo vital, se poderia pensar no
processo de habilitação para adoção como um espaço de reflexão sobre a
parentalidade, muito mais do que uma avaliação concreta de quem está apto ou não
para ser pai e mãe e uma seleção de quem serão os melhores pais (SILVA, 2015).
Sabemos que o indivíduo não nasce nem pai nem mãe, nem mesmo se torna somente
com o nascimento de um bebê geneticamente relacionado a ele. É a relação com a
criança que faz de uma mulher mãe e de um homem pai, e confere sentido às palavras
maternidade e paternidade (BERTHOUD, 1998).
31

Há também falhas no processo de adoção, em que Oliveira (2010) critica


relatando que é uma questão árdua e delicada, pois direciona momentaneamente
para abordagens de possíveis falhas no processo de adoção que pode advir de
variados fatores; um deles é a decepção de ambas as partes (pais e filhos adotivos)
que, muitas vezes, idealizando a vida familiar e sem adequada elaboração pela equipe
que acompanha o caso, sofrem ao se deparar com uma realidade limitada e frustrante.
Outro fator se configura através de uma série de procedimentos que devem ser
rigorosamente seguidos pela família adotante, até que alcance a sua concretização.
Porém, a doutrina é divergente quanto a este entendimento, ao dispor que por
se tratar de uma relação consensual e voluntária, é dispensável o cumprimento de
todos os requisitos estabelecidos pela legislação pertinente, visando garantir a
celeridade processual. Estes procedimentos burocráticos envolvidos no processo de
adoção fazem com que o tempo de espera para pretendentes em adotar, e os
menores em condições de serem adotados seja diferente em cada caso, podendo
durar meses ou até mesmo uma média aproximadamente de quatro anos, no máximo
(PEREIRA; MORAES, 2017).
Nos estudos da psicologia, diversas pesquisas apontam que esta demora
ocasionada pelo rigorismo processual, a qual pode acarretar diversas reações e
transtornos psicológicos, muitas vezes irreversíveis, tanto para a criança, bem como,
aos pais que esperam nas filas de adoção. O rigor processual pode também
representar um “divisor de águas”, visto que este tempo de espera pode motivar
diversas mudanças na decisão daqueles que pretendem adotar (PEREIRA; MORAES,
2017).
Silva (2016) destaca a importância do acompanhamento psicológico nesta fase,
a fim de se detectar a presença desses comportamentos e qual é a leitura da dinâmica
familiar envolvida nesse processo. A avaliação jurídica e psicossocial, no processo de
adoção se transcreve em aspectos rigorosos em consonância com a jurisprudência
dos aspectos jurídicos e psicológicos que são auxiliadores neste trâmite de
construções de vínculos familiares, sendo assim, é importante destacar as práticas
psicológicas no processo adotivo (FONSECA et al, 2020).
De acordo com as autoras, Brandalise Tibola e Kemmelmeier (2013) o
Psicólogo possui como função interpretar a comunicação e a interação familiar em
32

processos que envolvem modificação de guarda, perda ou suspensão de pátrio poder,


casos de adoção, emancipação, tutela e outros. Isso será discutido à frete.
;

3.2 A Saúde mental e o comportamento dos adotantes frente ao processo da


adoção

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “a saúde mental é


um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades,
pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de
contribuir para sua comunidade” (OMS, p.10, 1946). E de acordo com essa definição,
de 1946, foi inovadora e ambiciosa, pois, em vez de oferecer um conceito inapropriado
de saúde, expandiu a noção incluindo aspectos físicos, mentais e sociais.
Tratando-se de saúde mental, Furegato (2010) elucida que demanda de
cuidado em saúde mental não se restringe apenas a minimizar riscos de internação
ou controlar sintomas. Atualmente, segundo este autor, a saúde mental do indivíduo
envolve também questões pessoais, sociais, emocionais e financeiras, relacionadas
à convivência com o adoecimento mental. Tal cuidado é cotidiano e envolve uma
demanda de atenção nem sempre prontamente assistida devido a inúmeras
dificuldades vivenciadas tanto pelos pacientes e seus familiares, quanto pelos
profissionais e a sociedade em geral, tais como: escassez de recursos, inadequação
da assistência profissional, estigmatização, violação de direitos dos doentes,
dificuldade de acesso a programas profissionalizantes, etc.
Almeida Filho (2011, p.160) define saúde mental como “um estado de bem-
estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os
estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua
comunidade”. O termo ‘bem-estar’, utilizado em uma definição da OMS, é um
componente tanto do conceito de saúde, quanto de saúde mental, e é entendido como
uma construção de natureza subjetiva, fortemente influenciado pela cultura (HUNTER
et al., 2013).
Aqui discutimos saúde mental, pois o adotante precisa estar preparado para
lidar com a ansiedade, medos, inquietações e tensões durante o processo de adoção,
33

o qual não é fácil. Uma vez que, ao tratarmos do tema adoção é permeado por
dúvidas, mitos e preconceitos, que devem ser esclarecidos com o objetivo de
minimizar pressuposições equivocadas, que dificultam o processo, como também
promover reflexões sobre a realidade do ato de adotar. Alguns dos aspectos que
usualmente causam preocupação para os adotantes são as dúvidas dos pais a
respeito da herança biológica na determinação do comportamento, o medo da
revelação da condição de adotado e o receio quanto à adaptação nas adoções tardias
(MERÇON-VARGAS, et al., 2011; OTUKA, SCORSOLINI-COMIN; SANTOS, 2013;
SANTOS, 2010).
De acordo com Merçon-vargas et al. (2021) a família do adotante ou casal
adotante exerce um papel crucial no momento em que está ocorrendo o processo de
transição da adoção, pois quando há a presença dos avós, tios, primos, e amigos
próximos juntamente com o casal ou com o adotante, dão apoio emocional durante
todo o processo. A família e o círculo social mais próximo autoriza os pais a
inscreverem a criança na história e na genealogia familiar e ajudam a lidar com o
sentimento de culpa que pode existir por não terem transmitido os genes familiares
para a nova geração, ajudando ainda a superar a culpa pela infertilidade se ela existir.
Para Martins, Fischer e Fontes (2021) há pesquisas que demonstram que a
condição de ser filho por adoção, influencia as práticas educativas porque há a crença
em muitos pais que a adoção seja um fator de risco. Após intervenções, observou-se
o reconhecimento do papel das interações familiares para o desenvolvimento e
manutenção dos comportamentos dos filhos e o desmitificar a adoção como causa ou
explicação dos comportamentos dos filhos.
Segundo Levy (2013), para casais homoafetivos que buscam adotar uma
criança, o maior desafio é a aceitação social da orientação sexual do casal que pode
somar-se ao preconceito relacionado à adoção que ainda pode existir. Uma das
maiores preocupações destes casais pode ser a escolha da escola, optando por
aquelas que lidem melhor com a questão.
Vargas (1998), explica que a adoção é uma prática bastante utilizada em nossa
sociedade por várias gerações e, apesar disso, continua envolta por silêncio,
alimentando medos e fantasmas. A adoção é um assunto que não está isolado do
contexto sociocultural, mas, ao contrário, foi por ele iluminado e condicionado por
diversos fatores. A adoção enquanto prática social é atravessada por crenças, valores
34

e padrões de comportamentos historicamente construídos e vigentes, o que coloca


em evidência que muitos equívocos e preconceitos estão relacionados a este assunto
(SANTOS, 2015).
Segundo Pinto e Picon (2009) esta orientação está pautada em três aspectos
básicos, que são: os aspectos psicossociais que enfatizam a relevância da
consideração das características e necessidades dos atores do processo (a criança,
seus pais biológicos e adotivos); os aspectos jurídicos que salientam as vantagens da
adoção plena, no que se refere aos requisitos, efeitos e procedimentos legais que a
envolvem; e os aspectos institucionais e de procedimentos que propõem como
necessária a assessoria institucional e profissional multidisciplinar, como forma de
garantir aos autores do processo que os procedimentos utilizados cumpram com todas
as exigências técnicas e éticas que a situação demanda. O que se procura,
atualmente, com a adoção é proporcionar para as crianças vulneráveis o direito de
poder pertencer a uma família e, além disso, se desenvolver num ambiente afetivo e
acolhedor (MALHEIROS, 1998).
D’Andrea (2002), destaca que uma das primeiras dificuldades com as quais os
casais adotantes se deparam é a reconstrução do espaço mental para o filho que virá,
no momento em que se prefigura uma imagem dele. Isso é um exercício bastante
difícil para esses casais, pois nada sabem desse filho, nem a respeito de suas
características físicas, nem de sua história. “Dar novamente vida às fantasias, ao
desejo e às aspirações, permite ao casal reconstruir aquele espaço de intimidade,
encontro e projeto de vida que o obstáculo da esterilidade havia congelado”
(D’ANDREA, 2002, p. 238).
Os responsáveis pela relação filial da criança adotada são os pais, e neste
sentido, as atitudes e a compreensão destes em relação ao seu funcionamento
psicológico são de extrema importância. Se os pais adotivos conseguirem assimilar,
integrar e elaborar o processo adotivo em si, sentindo-se como verdadeiros pais,
conseguirão estabelecer uma relação parental em um ambiente acolhedor para seus
filhos (SCHETTINI; COLS, 2006).
Para Chattini, Amazonas e Dias (2006) os pais, adotivos ou não, são os que
mais contribuem para a formação da identidade da criança no seu processo de
desenvolvimento. Uma vez que serão eles que vão construir, junto com ela, uma
infinidade de sentidos das experiências que viverão ao decorrer da vida. Esses
35

sentidos são todos possíveis dentro do contexto sociocultural que os circunda e serão
usados na constituição de suas subjetividades. As autoras (ibidem, 2006) enfatizam
ao dizer que os adotantes vivem a fase da espera com uma tensão carregada de
expectativas, preocupações e esperanças. A maneira como esses sentimentos serão
vividos e enfrentados será relevante para a construção de atitudes flexíveis e
acolhedoras, ou defensivas e de evitação, em relação à escolha efetuada.
A adoção, para Chattini, Amazonas e Dias (2006), quando desejada por cada
um dos elementos de um casal, põe no mesmo plano mãe e pai, pelo fato de que os
dois esperam o filho da mesma forma, estando, assim, em igualdade de condições. O
pai, por sua vez, se sente mais participativo no processo, pois também pode gestar
emocionalmente o seu filho.

Essa gestação emocional também ocorre na gravidez biológica, mas nesta,


o fato de o filho ser gerado no corpo da mãe coloca a mulher numa situação
privilegiada em relação ao homem no que diz respeito ao filho. É de essencial
importância que os candidatos a pais tenham a oportunidade de receber
suporte psicológico ao longo de todo o tempo de espera do filho. “Grávidos
emocionalmente”, necessitam ser tratados como tais, recebendo assessoria
profissional que os oriente num processo claro e gradativo de enfrentamento
dos medos e angústias vivenciados durante este período. O
acompanhamento psicológico também contribuirá para que os futuros pais
consigam distinguir as suas reais motivações conscientes e inconscientes
para a adoção, discernindo-as daquelas que poderiam ser consideradas
inconsistentes e insuficientes, e constituir-se, no futuro, numa situação de
risco (SCHETTINI, 2006).

É válido ressaltar que neste período de espera dos adotantes, normalmente


vivido com muita angústia e expectativa, é importante para o casal o preparo para
receber este filho. Esta abordagem visa ajudar o casal a lidar melhor com suas
ansiedades e incertezas, proporcionando um espaço para reflexão e aprendizagem
(PINTO; PICON, 2009). Entre os pais adotivos é bastante comum sentirem-se
“grávidos” durante o período de espera da criança, inclusive com os sintomas físicos
próprios da gestação (VARGAS, 2000).
De acordo com Maldonado (1999), quando as pessoas escolhem o caminho da
adoção, ao invés da gravidez biológica, passam a viver uma “gravidez emocional” que,
em alguns aspectos, guarda semelhança com a gravidez biológica ao existir
expectativas. Nesta fase, Pinto e Picon (2009, p.10) explica que surgem em ambos os
casos perguntas: “Como será esse filho?”; “Será saudável ou terá problemas?”; “Vai
36

mudar muito a nossa vida?”; “Será que estamos preparados para criar esse filho?”;
“Será que conseguiremos ser bons pais?”. Estas dúvidas existem tanto nos pais
biológicos quanto nos pais adotivos e precisam de um espaço para serem expostas e
trabalhadas.
Um aspecto importante a ser trabalhado é o fato de muitos casais recorrerem
à adoção por não terem inviabilidade de ter filhos pela via biológica e por terem
esperança de que a adoção viabilizará uma gestação. Caso esta expectativa não se
confirme, poderá gerar frustração e, em alguns casos, consequências negativas para
a relação entre os pais e a criança adotada (COSTA; CAMPOS, 2003).
Costa e Campos (2003) ressalta que outro problema que podem apresentar
determinado desconforto aos pais é a adoção tardia, ou seja, aquela que é realizada
quando a criança tem dois anos ou mais, existe um preconceito ainda maior por parte
da sociedade e dos futuros pais. Os autores explicam que os adotantes justificam a
sua preferência por bebês em função do receio de enfrentarem dificuldades para
educar uma criança maior. Nas adoções tardias é preciso preparar os pais para os
possíveis comportamentos desadaptativos dos filhos, que surgem em função das
situações de vida que a criança experenciou.
Brazelton (1988) salienta que apego ao filho advindo dos pais adotivos não
acontece imediatamente, ele vai se estabelecendo através do convívio diário com a
criança, ou seja, embora o vínculo com o bebê, para alguns autores, seja instintivo,
ele não é instantâneo e automático.
Maldonado (1999) em sua obra, coloca que a adoção está inserida em um
contexto onde o amor, a disponibilidade e o acolhimento são mais importantes que os
laços sanguíneos. Quando uma família tem o desejo de adotar uma criança, esta já
existe no imaginário do casal e de alguma forma eles já a acolheram. Deste modo,
podemos dizer que a adoção é uma história de busca, encontros e de convites à
construção de vínculos afetivos, onde todos os envolvidos participam (PINTO; PICON,
2009).
Uma dúvida muito decorrente na vida dos pais adotivos é se eles devem ou não
contar para a criança sobre a adoção. Os pais adotantes se questionam se devem
contar a verdade para o filho, por medo de magoá-lo ao saber de sua verdadeira
história (PINTO; PICON, 2009). Isso acarreta uma série de sensações e preparo
37

psicológico para pensar de qual maneira é ideal informar a criança, se de fato é


necessário e em qual momento da fase da criança deve ocorrer essa conversa.
De acordo com Pinto e Picon (2009) as famílias adotantes, que temem contar
a verdade para a criança são frequentemente movidas pelo medo e pela insegurança
de não serem “adotadas” pela criança: é o temor de que a “voz do sangue” fale mais
alto, fazendo com que a criança queira buscar os seus “verdadeiros pais”, rejeitando
e desvalorizando os pais adotivos. Os pais adotivos temem também que a criança
fique triste, revoltada ou traumatizada por se sentir abandonada ou desprezada pela
família biológica. Os sentimentos de pena e medo agem como obstáculos à revelação
da verdade (MALDONADO, 1999; COSTA & CAMPOS 2003).

Podemos afirmar que a orientação mais apropriada para os pais é a revelação


da verdade aos filhos adotivos, pois não podemos criar uma criança envolta
por um segredo, principalmente quando este se relaciona com a sua própria
história de vida. Normalmente, os pais têm receio de “dizer a verdade”, porque
imaginam que o ato de comunicar a adoção em que ser feito numa ocasião
especial ou num momento solene de reunião familiar, por meio de uma
conversa especial. Quando imaginam esta cena, ficam temerosos e
assustados com a possibilidade de nada dar certo, e isso favorece a atitude
de adiar indefinidamente a chegada do momento da revelação (PINTO;
PICON, 2009, p. 13-14).

O que precisa estar presente nos pais adotivos é que a adoção faz parte da
história de vida da criança e da família, e que esta comunicação não se esgota em
apenas um dia ou uma conversa, devendo este assunto ser revisto em diferentes
momentos ao longo da infância e adolescência, isso ajuda no desenvolvimento da
criança, bem como a superar os receios dos adotantes caso não seja revelado a
criança e acabem descobrindo por terceiros (PINTO; PICON, 2009).
38

4 MARCO ANALÍTICO

4.1 Adoção e sentimento das famílias adotantes

Evidencia-se que a adoção além de ser uma opção de alguém em querer


adotar, torna-se ao mesmo tempo desafiadora, uma vez que durante o processo há
vários momentos de inquietude, anseios, dúvidas ou até mesmo medo. Isso porque
o/a adotante não sabe qual criança será adotada, sua origem e problemas futuros que
podem ocorrer durante o seu desenvolvimento.
Esses problemas durante o seu desenvolvimento advêm se a criança aceitará
a adoção facilmente ou se poderá sofrer com algum trauma advindo da sua infância.
Se os pais não tiverem apoio para lidar com a adoção, poderá sofrer sérios problemas
advindos no futuro. Estudos dedicados à adoção no contexto de investigação clínica
comprovam essa discussão. Vários teóricos corroboram com as múltiplas sensações
advindos da adoção (LEVINZON, 2006; OTUKA, 2009; ROSA, 2008; SANTOS;
RASPANTINI; SILVA; ESCRIVÃO, 2003; SCORSOLINI-COMIN; SANTOS, 2008) os
quais em suas discussões teóricas apontam a prevalência de uma constelação de
elementos específicos na vivência das famílias adotivas: preconceitos, fantasias e
medos permeiam o universo da adoção, tais como fantasias inconscientes de
apropriação (“roubo”) da criança de outrem.
De acordo com Otuka et al. (2012), uma das possibilidades mais instigantes
que se abrem é a de que as investigações avaliem tais elementos a partir dos
diferentes modos como a adoção pode se dar: pelas vias legais, pelas vias informais
(adoção pronta), entre parentes, entre desconhecidos, com ou sem a participação de
intermediários, entre outras possibilidades discutidas na nova lei da adoção.
De acordo com Winnicott (1953/1997) a adoção pode ser compreendida em
duas amplas categorias. Na primeira categoria descrita pelo autor, encontram-se os
problemas que estão relacionados de modo simples à situação da adoção, que não
geram necessariamente ansiedade, visto que, se a adoção transcorre bem,
caracteriza uma história comum, com contratempos e perturbações que fazem parte
39

de qualquer itinerário humano. A segunda categoria, entretanto, refere-se às


complicações resultantes do manejo inadequado do bebê antes da adoção, o que
envolve não apenas questões clínicas como também sociais e legais, incluindo a
segurança jurídica na passagem da criança de uma família a outra.
Segundo Otuka et al. (2012), nesse momento, a mãe adotiva estaria lidando
com uma criança que sofreu privações (que acontece no início da vida, na fase de
dependência absoluta, quando o bebê não tem noção do ambiente) ou deprivações
(ocorre a partir da fase da dependência relativa) e também com a família de origem
da criança, muitas vezes privada de condições mínimas de sobrevivência e acesso
aos direitos de cidadania.
A família de origem estaria privada tanto de informações e procedimentos para
efetivar a validade de seu consentimento para a adoção, como também de um olhar
suficientemente generoso por parte dos psicólogos que acompanham o processo de
adoção.
Há mães que colocam o filho ou a filha a disposição para que outra família
possa adotar, isso porque não possui condições financeiras ou mentais para assumir
o desenvolvimento da criança. Essas mães em sua maioria não estão preocupadas
como ocorrerá o processo, se futuramente irão se arrepender ou não procuram
informações de como lidar com esse trâmite (OTUKA, 2012). Diante dessa realidade
exposta, torna-se preocupante para a família adotante, uma vez que não sabe os
problemas que podem surgir após sua adoção entre a criança adotada e a família que
cedeu a adoção.
Com esses anseios e condições desfavoráveis da família que cede a adoções,
a mãe e/ou pai adotivo poderia tornar-se, além de mãe/pai, “terapeuta de uma criança
carente” (WINNICOTT, 1954/1997, p.?), exagerando em seus cuidados para
constituir-se como pai//mãe suficientemente bom ou ruim?. Pois exigirá sabedoria
para lidar com a carência que a criança adveio no seio familiar de origem em que
certamente carecia de atenção, afeto e cuidados básicos. A família que adota tem a
missão de suprir essa necessidade da criança. Isso torna-se um peso na consciência
da família adotante, pois sentem-se inseguros se realmente irão abastar essa carência
da criança.
Winnicott (1955/1997) destaca a importância da estabilidade e da continuidade
do novo lar para o desenvolvimento saudável da criança. A adoção, assim,
40

caracterizar-se-ia como uma vivência positiva, sendo frequentemente associada a


uma prática que tende a ser bem-sucedida, na medida em que a nova família possa
se firmar enquanto suficientemente boa para a criança ou o adolescente adotado. O
desafio, portanto, da adoção passa pela necessidade de que a nova família seja capaz
de oferecer um ambiente seguro e estável no qual a criança possa crescer, identificar-
se, tomar contato com a sua história e, enfim, criar a sua própria experiência.
É importante que mesmo diante dessas inseguranças, o casal ou a pessoa
adotante alimente fantasias positivas diante do desejo em querer adotar, pois isso é
crucial para que sentimentos negativos possam dar insegurança a quem adota. É
preciso encarar o processo com coragem. É desafiador, mas não impossível. Levinzon
(2004) afirma esse pensamento aqui discutido, enfatizando que o desejo de ajudar
uma criança, por si só, não se constitui como bom prognóstico para a adoção, uma
vez que o desejo dos pais de exercer a parentalidade deve estar claro para os
mesmos. É preciso que o filho adotivo ocupe um espaço no imaginário e nas fantasias
dos pais e da família.
É necessário existir a segurança durante o processo de adoção, assim fazendo-
se com que a família adotante possas ser suficientemente boa. Para Winnicott
(1951/1993), em sua teoria, explica que a mãe suficientemente boa é aquela que
consegue identificar-se estreitamente com seu filho, adaptando-se ativamente às suas
necessidades. Essa adaptação, entretanto, deve diminuir gradativamente ao longo do
processo de desenvolvimento, com o fortalecimento da capacidade da criança em
tolerar frustrações e assimilar os fracassos da mãe-ambiente.
Existem vários preconceitos que estão em volta das questões frente à adoção.
Um desses preconceitos existentes é a crença do “sangue” da criança, em que muitos
dizem que há possibilidade de interferir na personalidade que a criança possa se
caracterizar de maneira contrária com a pessoalidade de criação, assim advindo de
uma personalidade hereditária através do fator biológico. Levinzon (2004) cita que
perante essa crença humana, a criança adotiva já traria em seu sangue todas as
mazelas, comportamentos e caráter de seus pais biológicos.
Diante da suposta crença, diversas concepções surgem e são estabelecidas
no sentido de desqualificar a adoção e fazer com que muitos pais adotantes fiquem
ainda mais inseguros e/ou receosos com futuro da criança. Segundo Levinzon (2004),
é comum encontrar referências à associação entre desenvolvimento psicopatológico
41

e adoção. Não é raro deparar-se com a crença de que a adoção predispõe ao


desenvolvimento de problemas psicológicos e comportamentais.
Segundo Paiva (2004), os problemas geralmente descritos na criança adotiva
não podem ser relacionados diretamente e a priori, ao fato de ter sido adotada, nem
às vivências traumatizantes anteriores à adoção. Porém, a forma e o momento como
se dá a constituição dessa filiação, quem e como são os pais adotivos, a natureza dos
vínculos estabelecidos entre pais e filhos e o modo como as vivências da criança são
articuladas à sua história de vida são fatores que devem ser considerados quando se
busca compreender as vicissitudes da adoção.
Diante dos estudos de literatura bibliográfica, os estudos apontam que são
comuns as fantasias de “roubo” por parte dos pais adotivos que, ao “retirarem o filho”
de sua mãe biológica, sentem como se a tivessem privado da maternidade (GOMES;
IYAMA, 2001; LEVINZON, 2004). A adoção, nesse contexto, é tratada como um ato
delitivo, o que acaba por gerar intensos sentimento de culpa e, em consequência,
medo de represálias. A fantasia de traição tornaria explícito o medo de ser punida com
a perda da criança (VARGAS, 1998).
Otuka et al. (2012) explica que essas fantasias descritas fica evidente o
desconforto que os adotantes experimentam por ter se apropriado do filho de outra
mulher, em que relata sentir a adoção como uma traição à mãe biológica, temendo,
ainda, que a mesma possa retornar a qualquer momento e tomar-lhe o filho “roubado”.
Poderia ocorrer, ainda, de o filho desejar o rompimento dos laços afetivos. Esse receio
é reforçado, em que na maioria dos casos, a mãe biológica reside nas proximidades
da casa da família, comumente no mesmo Estado. A traição, nesse sentido, seria
reeditada: o filho trairia os pais adotivos, os quais sentem que traíram a mãe biológica
.

4.2 Riscos à saúde mental os adotantes

A saúde mental possui um papel importante para com o funcionamento do


nosso corpo, bem como o nosso bem-estar. Ao afirmar isso, voltamos a frisar que,
quando a nossa mente não está saudável, o nosso corpo também não está. E
tratando-se da saúde mental do adotante, o mesmo precisa assegurar a formação de
42

um vínculo capaz de sustentar cada um no seu lugar próprio na trama psíquica, sem
medo nem ameaça de desatamento dos laços (QUEIROZ, 2010), ou seja, que, no
processamento psíquico, ocorram investimentos de afeto e a criação dos lugares e
posições subjetivas de cada um dos membros (PASSOS, 2012).
Quando Passos e Queiroz (2012) afirmam que o adotante precisa identificar o
seu lugar, significa dizer que o mesmo precisa ter consciência do papel que está
assumindo na relação parental, ou seja, não dar vazão às imaginações como a de que
está rompendo laços afetivos para com a família de origem da criança adotada.
Muitas interrogações vêm sendo suscitadas pelas novas configurações
familiares, pela conjuntura dos laços na família e os desdobramentos desse grupo no
cenário da sociedade contemporânea, cujas características apontam para a
fragilidade, descontinuidade e fragmentação das relações (PASSOS, 2012).
Mesmo sabendo que o ECA possibilita a adoção de crianças quando os pais
biológicos abdicam de seu poder familiar, muitos que estão na expectativa da adoção
ficam receosos com o que pode vir a acontecer no decorrer do processo ou após a
adoção.
A adoção de crianças e adolescentes é um tema polêmico que possibilita a
construção de narrativas variadas a seu respeito. A depender do lugar de onde se fala
e para quem se fala, as perspectivas são propagadas e acabam por ganhar
proporções e certo caráter de verdade última. Dentre essas colocações, duas
perspectivas, a princípio, podem ser elencadas: aquelas que tomam a adoção como
um processo saudável que possibilita o desenvolvimento integral da criança e/ou
adolescente, e aquelas que defendem que a criança e/ou adolescente adotivo,
necessariamente apresenta sérios riscos de problemas emocionais ao longo da vida.
Araujo e Faro (2014) consideram que os aspectos envolvidos em torno da
adoção são complexos e multideterminados as razões que justificam as escolhas do
perfil da criança/adolescente pelos pretendentes, julga-se necessária a investigação
acerca dos motivos, dificuldades e expectativas que influenciam o adotante a se
cadastrar para adoção. Diante disso, a prática da adoção de crianças requer tanto da
família adotante quanto da criança pretendida uma profunda capacidade de
adaptação.
Gondim et al. (2008), afirmam que o trabalho de preparo com os pretendentes
à adoção possibilita que eles repensem as suas exigências quanto às características
43

(físicas e psicológicas) da criança desejada, de modo a facilitar o processo e ampliar


as possibilidades de adotantes e adotáveis. O acompanhamento psicológico também
pode atuar visando conscientizar os pais acerca da importância de conhecer as
dificuldades, expectativas e motivações dos pretendentes à adoção.
Segundo Silva e Silva (2012), estas questões devem ser consideradas antes
de um casal se candidatar a adotar uma criança, assim como os fatores de risco
envolvidos, os mitos e preconceitos existentes no imaginário da sociedade que podem
contribuir para a devolução1 (SILVA & SILVA, 2012).
Desse modo, a escuta dos candidatos à adoção acaba sendo elemento
essencial para notar como eles (os pais adotantes) articulam suas percepções em
volta da adoção, para que não ocorram problemas futuros. Ao tratarmos de problemas
futuros, estamos falando dos problemas futuros à saúde mental do adotante que pode
ocorrer, caso não seja assistido pela família ou psicólogos.
Como já indicamos, chamamos de saúde mental o estado de saúde que deve
envolver o homem no seu todo biopsicossocial, o contexto social em que está inserido
assim como a fase de desenvolvimento em que se encontra. Neste sentido, podemos
considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da interação do
indivíduo com os seus vários ecossistemas: o seu meio interno e externo; as suas
características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares (FONSECA,
1985).
De acordo com Martins (2014) ao referirmos aos fatores psicossociais de risco
para a saúde mental pretendemos salientar que as variáveis psicológicas se
relacionam com o ambiente social. Alguns estudos demonstram que os
comportamentos e as respostas do indivíduo ao ambiente parecem relacionar-se com
o risco da doença, como exemplo a depressão e ansiedade, mas estão inseridos num
contexto social.
É válido salientar que o termo psicossocial tem sido utilizado para referir uma
grande variedade de fatores psicológicos e sociais que se relacionam com a saúde e

1 Devolução – Em termos legais, a adoção, depois de concluída, é irreversível. Para evitar que haja
arrependimento por parte dos pais adotivos e da criança, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA)prevê um período de adaptação para que seja estabelecido o contato entre as partes e avaliada
as compatibilidades. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/devolucao-de-criancas-adotadas-
e-mais-comum-do-que-se-imagina/>.
44

a doença mental (BINIK, 1985). Considera o autor que não existe termo mais
apropriado para descrever as características da pessoa, nomeadamente traços de
personalidade, mecanismos de defesa, estados emocionais e cognitivos, e os fatores
sócioambientais como, por exemplo, as situações indutoras de estresse (MARTINS,
2014).
De acordo com as pesquisas realizadas bibliograficamente, um dos principais
riscos à saúde que o adotante pode sofrer advém do comportamento e da emoção:
estresse, a vulnerabilidade ao estresse, a não satisfação, a fadiga crônica, a
ansiedade e o neuroticismo (MARTINS, 2014).
Perante os riscos em que o adotante está exposto, surge a necessidade do/a
Psicólogo/a intervir em situações de adoção, desde o início do trâmite judicial até
determinado momento que a família sentir o seu bem-estar estável. Pois o Psicólogo
atuando e intervindo diretamente com a família adotante, a mesma sentirá confiante,
minimizará a ansiedade e evitar problemas que agravem negativamente a saúde
mental.

4.3 Conflitos de adoção e intervenção do Psicólogo frente ao processo

Segundo Pereira (1991, p. 211) adotar é “um ato jurídico pelo qual uma pessoa
recebe outra como filha, independente de existir entre elas qualquer relação de
parentesco consanguíneo ou afim”. Reche et al. (2017) explicam que adotar é um ato
legal e definitivo, uma vez que envolve tornar filho um ser que foi concebido por outros
pais. E os autores complementam a ideia dizendo que antes de tomar a decisão de
adotar, vale considerar que o casal deve realizar sessões com um psicólogo para
avaliar o real motivo, desejo e se estão preparados para serem pais, pois infelizmente
há casos em que o casal adota com a ilusão de que tudo será um conto de fadas, e
com a realidade cotidiana de educar um ser humano, igual àquela de que se fosse
filho biológico, arrepende-se e não raras vezes, devolve ao abrigo, a
criança/adolescente devido à falta de preparo e orientação psicológica.
Sabemos que a adoção não deixa de ser um ato que parte de interesse público,
pois o mesmo tem como objetivo acolher um ser humano, oferecendo-lhe uma
45

moradia, amor e assistência que o indivíduo precisa ter. Com efeito, o processo de
adoção envolve determinadas etapas e alguns requisitos, por parte do adotante
quanto adotado. Vejamos o que Granato (2010, p.55) explica em seu trabalho sobre
os requisitos jurídicos prescritos pela Lei Nacional Brasileira:

• Qualquer pessoa com, no mínimo, 18 anos pode adotar, porém é


necessário que o adotante seja 16 anos mais velho que o adotando.
• Podem ser adotadas toda criança e adolescente até os 18 anos, que
tenha ficado sem família;
• A adoção independe do estado civil. Solteiros podem encaminhar
sozinhos os processos, mas casados, ou casais que vivam em união estável,
devem fazê-lo juntos;
• Manifestar o desejo de adotar e ir até uma vara da Infância e da
Juventude com os seguintes documentos: qualificação completa; dados
familiares; cópias autenticadas de certidão de nascimento; certidão de
casamento ou declaração relativa ao período de união estável; cópias da
cédula de identidade e inscrição no cadastro de pessoas físicas; comprovante
de renda e domicílio; atestados de sanidade física e mental; certidão de
antecedentes criminais e certidão negativa de distribuição cível.
• O possível adotante será chamado para uma ou mais entrevistas
preliminares com um assistente social e um psicólogo. É o chamado estudo
psicossociopedagógico. Será desqualificado do processo quem não oferecer
ambiente familiar adequado, revelar incompatibilidade com a natureza da
adoção (ou motivação ilegítima) e não oferecer as reais vantagens para o
adotando (GRANATO, 2010, p.55).

O processo de adoção é considerado um dos mais importantes na área da Vara


da Infância e da Juventude, visto que objetiva a colocação de crianças ou
adolescentes em lar substituto, de forma fixa e irrevogável. Apresenta-se deste modo,
como sendo um procedimento que exige “um certo conhecimento da lei, compreensão
do desenvolvimento emocional do ser humano a partir do início da vida e também
experiência no estudo social do caso” (MOTTA, 2000, p. 136).
As pessoas inscritas para adoção comumente participam de um grupo de
pessoas que esperam pela adoção, nos quais os principais temas relativos à adoção
e acolhimento são discutidos e vivenciados: a motivação para adoção; o perfil
idealizado da criança; as principais dúvidas, medos, mitos e preconceitos sociais;
como lidar e contar sobre a história de origem da criança (temores, dificuldades,
alternativas); os segredos (origem e consequências); trâmites legais e processuais
(prazos, procedimentos, informações); cuidados específicos para recém-nascidos e
adoções tardias (manejo); a infertilidade e a conjugalidade (possíveis dificuldades)
(MOTTA, 2000).
46

Diante deste último tópico, nota-se a importância do psicólogo frente ao


processo, assim investigando a saúde mental do adotante se realmente a família está
apta para acolher a criança adotada, profissional esse garante dar continuidade ao
processo de adoção ou não. Segundo Rechel et al. (2017), aprovado o pedido de
adoção, o adotante poderá se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção, e ao inserir
os dados, deve especificar o perfil da criança que deseja adotar, por exemplo, idade
mínima, cor da pele, se aceita grupo de irmãos ou crianças com necessidades
especiais.

• Aqueles adotantes que foram aprovados nas entrevistas e que não


apresentaram problemas de documentação passam então, por um curso de
preparação psicossocial e jurídica, no qual aprenderão sobre as
necessidades emocionais de uma criança adotiva e sobre as
responsabilidades que estão assumindo ao se tornarem pais;
• O tempo de espera para acolhimento varia conforme o perfil da criança
ou adolescente que o interessado informar. De acordo com o perfil atual de
adotantes do Cadastro Nacional, é maior o tempo de espera quanto menor
for a idade da criança desejada.
• Quando o(s) adotante(s) encontrarem a criança com o perfil escolhido,
é determinado um estágio de convivência, com visitas frequentes ao
adotando. (RECHEL et al., 2017)

Granata (2010) explica que este estágio é de grande relevância, pois é através
dele que se avalia a adaptação do adotando com a família e vice-versa, assim como
a compatibilidade da família com a adoção. Este período varia de acordo com as
regras da vara, a vontade do juiz e a dos pais. Pode levar meses, mas dificilmente
leva mais que um ano. Caso o adotante já tenha a tutela ou a guarda legal da criança
por tempo suficiente, o estágio pode ser dispensado. Terminado esse estágio, o juiz
determina a adoção, que só pode ser rompida por uma decisão judicial de destituição
do poder familiar. A relação entre pais e adotados é a mesma que eles teriam com os
filhos biológicos (RECHEL et al.,2017).
Além do psicólogo estar em contato direto com o adotante, durante e após o
processo de adoção, o papel que este desempenha, enquanto profissional, é crucial,
pois o mesmo corrobora com a saúde mental dos envolvidos, ao realizar sessões o
interessado em adotar, sanado as dúvidas que podem surgir durante o processo, criar
um ambiente de diálogo e escuta diante dos anseios, medos e expectativas que a
família ou indivíduo pretende adotar.
47

Durante a adoção, segundo Reche et al. (2017) o psicólogo se faz presente em


uma das etapas fundamentais do processo, a chamada entrevista preliminar, na qual
é realizado um estudo psicossocial. O profissional da área da Psicologia, juntamente
com um assistente social avaliam se o ambiente familiar é adequado para a chegada
de uma criança, se a adoção releva benefícios reais para o adotando, bem como se
os interessados estão preparados e mostram compatibilidade com a adoção.
Evidencia-se que diante do contexto de atuação aqui exposto, a figura do
profissional é importante, uma vez que ele determinará a adoção, se a mesma será
realizada ou não. É válido ressaltar que a presença do psicólogo durante o tempo em
que a criança adotada está convivendo com a família adotiva, pois o auxílio do
profissional pode ser imprescindível para favorecer aos adultos a promoção de um
ambiente acolhedor e adequado no decorrer da adaptação ao desconhecido.
Reche et al. (2017) complementa esta ideia, enfatizando que posteriormente
ao processo concluído, recomenda-se continuar com sessões com o mesmo
psicólogo que esteve envolvido no processo, ou outro que consiga acesso às
informações do processo de adoção.
Segundo Alvarenga e Bittencourt (2013), o papel do psicólogo, após a
conclusão do processo adoção, dá-se a partir da realização de atendimentos e
orientações, objetivando facilitar a adaptação entre a criança e a nova família. Além
disso, o psicólogo atua como um mediador, através da tentativa de ajudar no
investimento afetivo de forma saudável e estabilidade emocional, bem como na
construção de vínculos de confiança entre o adotado e os então pais.
A avaliação jurídica e psicossocial, no processo de adoção se transcreve em
aspectos rigorosos em consonância com a jurisprudência dos aspectos jurídicos e
psicológicos que são auxiliadores neste trâmite de construções de vínculos familiares.
Sendo assim, é importante destacar as práticas psicológicas no processo adotivo
(FONSECA et al., 2020).
O psicólogo poderá contribuir significativamente para a saúde mental dos
adotantes. Atuando e intervindo de maneira direta com as famílias envolvidas no
trâmite, assim, buscando fortalecer os indivíduos, superando os medos e
inseguranças. Ele deve atuar frente aos processos de adoção, especialmente em
relação às famílias postulantes à adoção.
48

É imprescindível que o profissional de Psicologia fique atualizado frente ao


processo de adoção, para que possa intervir e conduzir os variados problemas
relacionados a esses fatores psicossociais, buscando sempre intermediar e
solucionar, ocasionando uma intervenção protetiva e emancipadora, garantindo o
bem-estar do indivíduo.
.
49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A problemática geral de pesquisa e estudo em volta da saúde mental dos


adotantes, como é sentida pelos mesmos, suscita dos sofrimentos emocionais aos
quais os adotantes acabam ficando submetidos caso não busquem um
acompanhamento profissional psicológico. É válido ressaltar que o funcionamento do
processo de adoção também ocasiona sofrimento emocional. O processo, como
discutido no decorrer da pesquisa, é permeado por dúvidas, mitos e preconceitos por
grande parte das pessoas, os quais devem ser esclarecidos e acompanhados por
profissionais que possam auxiliar os pais adotarem, com o objetivo de minimizar
pressuposições equivocadas, os quais prejudicam o processo.
Ao tratar-se de como é sentida a adoção pelos adotantes, o trabalho possibilitou
compreender que existem no decorrer do processo da adoção a insegurança, os
receios, estresse e ansiedade que é sentida por quem adota, assim respondendo um
dos objetivos do trabalho, o qual consiste em investigar o comportamento dos
adotantes frente ao processo de adoção. Processo este que requer muita maturidade,
responsabilidade e acompanhamento familiar junto ao Psicólogo. Ao estudar esse
objetivo, não foi nada fácil, uma vez que não havia muitos trabalhos direcionados a
temática de como é sentida a adoção pela família adotante.
O próximo objetivo que conseguimos desenvolver partindo de referenciais
teóricos, foi especificar como funciona o processo de adoção e as dificuldades do
trâmite, uma vez que esse processo comumente é burocrático e demorado, uma vez
que, é necessário existir toda análise judicial e psicossocial entre o adotante e o
adotado, para não ocorrer problemas futuros. Processo este que é direcionado
partindo dos requisitos dispostos em leis que estão disponíveis no Art. 42 do Estatuto
da Criança e do Adolescente.
O propósito em investigar tal temática emerge dos objetivos escolhidos que
podem contribuir significativamente com as pesquisas futuras, uma vez que, há
poucas pesquisas desenvolvidas com a temática de como é sentida esse processo de
adoção pelos adotantes, assim mostrando-se o quanto é relevante investigar a saúde
50

mental dos mesmos e como o acompanhamento profissional da Psicologia pode


exercer um papel crucial durante o processo inicial e final.
Considera-se a adoção um processo desafiador. Isso porque o/a adotante não
sabe qual criança será adotada, sua origem e quais problemas futuros podem ocorrer
durante o seu desenvolvimento, por ser uma experiência nova, inédita. Com isso
acarreta vários sentimentos psicológicos e emocionais aos adotantes, os quais foram
apresentadas no decorrer do trabalho.
Ao decorrer da pesquisa evidenciou-se que famílias que colocam o filho ou a
filha a disposição para que outra família possa adotar, advém por não possuir
condições financeiras, sociais, psicológicas e dentre outros fatores, para assumir o
desenvolvimento da criança. Essas famílias (que cede a adoção) em sua maioria não
estão preocupadas como ocorrerá o processo, se futuramente irão se arrepender ou
não, e nem procuram informações de como lidar com esse trâmite. O receio do retorno
da família de origem se torna uma fonte de preocupação para a família adotante, uma
vez que não sabe os problemas que podem surgir após sua adoção entre a criança
adotada e a família que cedeu a adoção.
Outra questão que deixa a família adotante preocupada e insegura é se irão
suprir a carência da criança adotada ao advir do seio familiar de origem, em que
possivelmente carecia de atenção, afeto e cuidados básicos.
Entendemos, ao longo das leituras sistematizadas nesse trabalho, que é
importante mesmo diante dessas inseguranças, o casal ou a pessoa adotante seja
estimulada a pensamentos e anseios positivos em querer adotar, pois isso é crucial
para sentir-se confiante no processo. É necessário existir a segurança durante o
processo de adoção, assim fazendo-se com que a família adotante possa ser
suficientemente boa.
Do mesmo modo, encontramos como questão o preconceito relativo à
consanguinidade e compreendemos que é de suma relevância descartar os
comentários preconceituosos direcionados a quem pretende adotar, pois a crença do
“sangue” da criança, em que muitos dizem que pode interferir na personalidade que a
criança, costuma fazer um grande desserviço nos processos de adoção e na
construção da segurança do vínculo com os pais adotivos.
Com efeito, o psicólogo poderá contribuir de maneira satisfatória com o
processo da adoção, uma vez que esse processo pode acarretar problemas que
51

afetam a saúde mental e/ou o bem-estar das crianças e adolescentes, bem como da
família adotante, nosso recorte, ao causar sensações de medo, ansiedade, estresse,
etc. Esse profissional, em equipe multiprofissional ou psicossocial, terá a função de
escutar e mediar os candidatos à adoção, assim percebendo como os mesmos (os
postulantes à adoção) articulam suas percepções em volta da adoção. O Psicólogo
precisa intervir em situações de adoção, desde o início do trâmite judicial até
determinado momento que a família sentir o seu bem-estar estável, procurando
minimizar a ansiedade e evitar problemas que agravem negativamente a saúde
mental durante ou após a adoção.
É válido ressaltar que a presença do psicólogo durante o tempo em que a
criança adotada está convivendo com a família adotiva, pode ser imprescindível para
favorecer aos adultos a promoção de um ambiente acolhedor e adequado para a
criança no decorrer da adaptação ao desconhecido. E cabe ao adotante valorizar a
presença do psicólogo nesse processo, pois assim minimizará a ansiedade, o medo
e ou até mesmo estresses que possam surgir com o passar do tempo.
.
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