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BACHARELADO EM PSICOLOGIA
MARIANE OLIVEIRA DE ALMEIDA
Paripiranga
2022
MARIANE OLIVEIRA DE ALMEIDA
_________________________________________________
Prof.ª Ma. e orientadora Catiele Reis
Centro Universitário Ages
MARIANE OLIVEIRA DE ALMEIDA
BANCA EXAMINADORA
A princípio, muito obrigada meu Deus. A minha fé em ti me fez chegar aqui, acreditar na
sua bondade, preceitos e propósitos para a minha vida não me deixaram desistir mesmo
quando as lutas eram grandes a ponto de me fazerem duvidar de mim mesma, da minha
capacidade.
A minha mãe Juciana Reis, minha eterna guerreira, batalhadora, rainha e tantos adjetivos
mais que eu precisaria de muitas e muitas laudas para descrever cada um, sobre o quanto é
maravilhosa, obrigada por ser meu orgulho, um exemplo desde sempre, me ensinou boa parte
do que sei e do que sou hoje, sempre me incentivando, sempre comigo.
Ao meu filho Nathan Oliveira Carvalho, ah meu amor, por você eu faria tudo de novo,
cada pedacinho dessa conquista também se deve a você que esteve literalmente comigo desde
2019, e em mim também presenciou meu percurso, ser sua mãe também é o que me faz querer
sempre mais, te proporcionar o melhor como pessoa, para assim como a minha mãe foi para
mim, que eu seja exemplo e orgulho para você.
Aos meus avós, em especial Maria Ana Oliveira dos Reis, minha senhora sempre
confidente e paciente, sempre minha defensora, amiga, abrigo. E José Pinheiro dos Reis, que
hoje não está mais fisicamente aqui, mas foi minha figura paterna, sempre comigo nas
alegrias e tristezas, desde os momentos de brincadeiras aos de seriedade, minha eterna
saudade, sempre no meu coração, muito obrigada por tudo!
Ao meu irmão Paulo Miguel, que por vezes me tira do sério, mas acreditem, este garoto é
parte essencial na minha vida. É parceiro, amigo e dele vem grande parte do amor e carinho
que carrego sempre comigo.
Aos meus tios e tias, obrigada por também estarem comigo em cada passo da minha vida,
por não pouparem esforços para me ajudar quando preciso, por estarem aqui e serem um porto
seguro e confortável onde sempre vou querer estar.
Aos meus amigos, e aqui tem história viu. Rangel Fonseca, obrigada por me incentivar e
facilitar meu início nesse percurso, foi quem me disse: “Amiga eu vou te ajudar”, e com isso
eu comecei a jornada. Obrigada a Marcos Henrique que orientou a recém chegada e ofereceu
sua república, onde permaneci até meu 8º semestre, local em que conheci pessoas incríveis, e
tive momentos maravilhosos e intensos, cheios de sentimentos que sempre estarão guardados
na memória, Adriel Gama, Andressa Santos, Aloisio Cerqueira, Luzia Alves, Nívia Carvalho,
Tamires Maria e ele: Gabriel Oliveira, amigos desde o primeiro dia de aula, desde a fila de
espera no ônibus e quem diria? Amigos pra vida.
Com vocês tive aulas desde o meu primeiro período, vivi experiências que foram muito
importantes pra mim, nos aproximamos ainda mais e nos tornamos um grande e lindo grupo,
nossas vivências me arrancam sorrisos, suspiros profundos e um brilho no olhar a cada vez
que lembro, Aiadna Castro, Arminda Miranda, Hudson Alves, Jamili Santos. Muito obrigada
por tudo meus amores. O espaço de vocês no meu coração é garantido. Também à Nathacha
Nascimento e Jucimara Cabral por serem essas pessoas iluminadas, sempre presentes e
dispostas a estender a mão.
Aos meus amigos de Nova Soure e os que conheci em Paripiranga que sempre me
incentivaram e me encorajaram com mensagens a seguir com força e fé, não vou citar nomes
para não esquecer de ninguém.
Aos meus ilustres professores em especial Ariany Magalhães, Saulo Almeida, Elder,
Bruno Felipe, Catiele Reis, Calila Caldas, Beatriz Reis, Carolina Souza, Brenda Fernanda e
Denise Barbosa.
À Talita Ribeiro, suas supervisões em clínica durante meus estágios me tornaram ainda
melhor e me inspiraram sempre estar em evolução profissional.
À todos que citei aqui, meu muito obrigado por suas participações e contribuições, que
foram essenciais para que eu chegasse nessa reta final como uma pessoa melhor e uma futura
profissional de excelência.
Tudo acontece no momento certo, um semestre antes ou depois poderiam significar outras
amizades, professores, outros lugares, vivências e vínculos. Entrei quando foi possível estar
aqui e saio agora para poder fechar um ciclo e iniciar outro. Beijo nos corações de todos!
RESUMO:
“Autismo”, sempre foi uma palavra geradora desde certa curiosidade para investigação ao
desconforto de algumas pessoas, é fato que dificilmente alguém nunca ouviu falar sobre o
termo, discutido mais e mais a cada dia acerca de sua complexidade, do que significa, como
diagnosticar, como vive um autista, quais os sintomas e como proceder diante de tal.
Ainda assim, o que se discute sobre o assunto ainda é pouco, os estudos feitos não são tão
atuais, e diante da complexidade do transtorno, o diagnóstico não é simples. Isso dá brechas
para muitos achismos acerca de tal, do desenvolvimento e etc. gera medo e insegurança, é
muito importante a ajuda profissional para uma melhor compreensão.
As crianças, da mesma forma que os adultos, têm sentimentos e emoções, porém, por
serem ainda imaturos, por estarem ainda iniciando a jornada que é a vida, expressam cada um
de formas confusas, pois não entendem do que se tratam. Sentem raiva, alegria, medo, entre
outras questões, que se torna necessário às vezes, uma intervenção profissional para orientar e
psicoeducar para ajudá-los a compreender e a lidar com cada uma dessas emoções.
Uma das estratégias utilizadas no caso foi justamente para ajudar nesse sentido de que, o
paciente por não compreender como lidar com sua raiva acabava machucando a si mesmo e
aos outros, a psicoeducação e as técnicas serviram com a ideia de que a criança reconhecesse
seus sentimentos e que o foco para o alívio desta, não fosse nele próprio ou em outras pessoas
que pudessem estar por perto.
O medo, a raiva, culpa, angústia entre outras, todas essas emoções são naturais do ser
humano e existem como forma de proteção do nosso corpo, que os sentimentos negativos
servem como forma de proteção e amadurecimento da pessoa, especialmente em crianças que
estão aprendendo sobre o mundo e si mesmas, que o papel do terapeuta é justamente entender
a origem dessa raiva, culpa, medo ou quaisquer emoções negativas e encaminhar a criança
para o entendimento desses sentimentos e de como lidar com eles, assim como ajudar os pais
a lidarem com as instabilidades e ajudarem ao filho, que a terapia, promove o
autoconhecimento e oferece visões diferentes para os problemas e formas de lidar com ele
(KIUCHI; FERRARI, 2019).
Algo que também foi essencial para a criação do vínculo entre o paciente e o terapeuta,
para que o processo terapêutico fluísse com êxito, foi trazer a ludicidade para o contexto. O
valor do lúdico na educação infantil tem sido um dos principais instrumentos que fomentam
um aprendizado de qualidade e diferenciado para a criança, a partir das técnicas que
promovem o desenvolvimento das habilidades fundamentais nesse processo de forma
dinâmica e eficaz. Há tempos atrás, pesquisadores e teóricos como Vygotsky e Piaget
estudaram acerca do processo de desenvolvimento infantil, definindo a importância da
presença do jogo na vida humana e demonstrando o quanto favorecem a aprendizagem, como
também no desenvolvimento e a convivência social do indivíduo. A importância de adotar o
lúdico, como prática no processo ensino-aprendizagem, possibilitando o estudo da relação da
criança com o seu cotidiano, sua rotina diária e de socialização, integrado a estudos
específicos sobre a importância dessas atividades na formação da personalidade do aprendiz
(MODESTO; SILVA; FUKUI, 2020). O que foi trazido então para a psicoeducação nos
atendimentos.
Nessa interação o vínculo terapêutico pode ser criado e fortalecido, pois sem ele, o
processo terapêutico não ocorre, tendo em vista também a importância de uma comunicação
efetiva e uma vinculação afetiva entre o psicólogo e o paciente em questão, tornando possível
o alcance dos conteúdos nem sempre verbais e organizados que ela desenvolve sobre a sua
vida social e afetiva, das emoções expressadas de formas singulares e dos conflitos com os
quais ela vive dia após dia, mas não sabe lidar. Assim, a prática profissional do psicólogo na
intervenção com o público infantil deve ter em foco, levar em conta as especificidades na
percepção e expressão de si mesmo e do mundo que circunda a criança, utilizando então os
recursos lúdicos, de forma a suscitar em um contexto de diversão, expressão, compreensão e
manejo das cognições, emoções e comportamentos, para além de um local adequado
estruturalmente e de um profissional qualificado para atender a esse público
(CAVALCANTE; AQUINO, 2019).
O estudo tem então como objetivo geral construir conhecimentos científicos a respeito do
caso trazido, a partir da realidade vista e desenvolvida em prática, e como objetivos
específicos descrever e registrar os acontecimentos, desenvolver teorias e hipóteses de acordo
com pesquisa bibliográfica para assim compreender os fenômenos existentes com base na
exploração.
MÉTODO:
PQIF (WABER;
SALVADOR;
PQIF ADAPTADO PARA FAMÍLIAS COM FILHOS COM TEA
BRANDENBURG,
2018).
Manejos de
Real Versus Ideal
Comportamentos
Desejados Re-idealização
Competências
Manejo de
Comportamentos
Indesejados
Manejo de
Características
Comportamentos
do TEA
Indesejados
Vínculo Afetivo e
Envolvimento
Vínculo Afetivo e
Envolvimento Características Re-idealização
Voltando no Tempo do TEA
Autoconhecimento e
Autoconhecimento e
Modelo
Modelo
Revisão e
Re-idealização
Encerramento
O estimulo é o que quer que seja capaz de persuadir diretamente para modificar um
comportamento e proporcionar uma resposta especifica, no condicionamento clássico há dois
tipos de estímulos, o incondicionado não atribui nenhum aprendizado só há resposta como foi
para os cachorros a comida antes da experiência a resposta incondicionado é um reflexo inato
ao estimulo, ou seja, a saliva quando viu a comida indo para a boca; já o estimulo
condicionado obtém a capacidade de fornecer uma resposta que foi o som depois da
associação e a resposta condicionada é a resposta do estimulo condicionado, ou seja, a
salivação após ter tocado o sino (PAPALIA, 2007).
Skinner, criador do behaviorismo através das experiências de Pavlov, objeta as
pesquisas referentes a mente, em seus estudos está na observação dos comportamentos seja
animal ou humano e suas ações podem ser modificada com estímulos, além de ter usado o
condicionamento clássico, Skinner se aprofundou na teoria de Thorndike o condicionamento
operante seu aspecto diz que o aprendizado está conectado com as consequências das suas
ações
A forma com que os indivíduos compreendem e organizam os fatos que ocorrem tem
grande influência nos seus sentimentos e comportamentos. Dessa forma, o principal alvo da
Terapia Cognitiva Comportamental tem sido o de reestruturação e correção de pensamentos
considerados disfuncionais e, em conjunto com o paciente, buscar o desenvolvimento de
estratégias para alterar e melhorar de transtornos de ordem emocional (KNAPP; BECK,
2008). Os pensamentos automáticos que ocorrem na mente das pessoas em forma de palavras
ou imagens, acabam por representar um nível superficial do campo cognitivo (BECK, 2013).
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma das abordagens que demonstrou ter
forma mais efetiva ao tratar de diferentes psicopatologias, como por exemplo o Transtorno
Depressivo Maior (TDM). Por destacar-se em um foco psicoeducacional, a TCC oferta aos
pacientes a prerrogativa de aprender a identificação de padrões cognitivos e do
comportamento, possibilitando alterações de forma gradativa e duradoura, fazendo com que
estes se tornem pessoas com maior autonomia e proporcionando assim uma melhor qualidade
de vida.
Para que se haja um avanço gradativo e efetivo do processo terapêutico pela TCC é
imprescindível estabelecer o repport, um sentimento de que se pode confiar no terapeuta,
estabelecido desde a primeira sessão com o paciente. A confiabilidade e a reciprocidade
assertiva entre terapeuta e paciente estão ligadas de forma direta ao que se resultada
favoravelmente no tratamento de seja qual for o transtorno (BECK, 2013). A TCC tem como
um dos objetivos iniciais o planejamento do tratamento, em vista que grande parte dos
pacientes sentem-se de forma mais confortavelmente em saber como se dará o
desenvolvimento dos atendimentos no decorrer do processo terapêutico. Necessita-se então
que o paciente tenha este entendimento de forma evidente acerca de como irá ocorrer seu
tratamento (BECK, 2013).
A terapia cognitiva tem como subsídio o preceito de que o desenvolvimento das pessoas
em si, estão ligados ao modo de se relacionar o cognitivo, as emoções e o comportamento. Ela
defende a teoria de que não considera-se o acontecimento gerador de emoção e por
consequência o comportamento, mas no modo como se faz a interpretação do ocorrido, sendo
essa uma singularidade individual (KNAPP, 2004).
Para se tratar o TEA, além das intervenções feitas com medicamentos, a Terapia
Cognitiva Comportamental é considerada padrão ouro por estabelecer um planejamento
individual, onde são utilizados como os principais instrumentos os sistemas de reforçamento,
condicionamento e levantamento cauteloso dos critérios que tenham relação aos
comportamentos desejáveis ou não do paciente (BRITO; et. al., 2021). Considera-se a
introdução da TCC como uma forma de tratamento mais integralizada, já que tal método
possibilita um avanço no âmbito das doenças mentais, tanto aquelas com aspectos cognitivos
quanto comportamentais. Sendo a primeira enfatizando e compreendendo o pensamento, as
atitudes, os sentimentos, as relações com a família e o modo de interpretação do mundo,
quando a segunda ocupa-se em trabalhar uma modificação com maior eficácia no
comportamento (CONSOLINI; LOPES; LOPES, 2019).
A TCC traz formas com que, a criança e seus responsáveis, familiares durante a terapia,
tenham como fazer o uso em seu próprio benefício. Nela utilizam-se estratégias com o
objetivo de resguardar os resultados atingidos no processo terapêutico, assim como também
de aplicá-las em obstáculos futuros que possam ocorrer (PIRES; SOUZA, 2013). Ela é uma
junção de atribuições que cooperam para tratar das doenças mentais, dessa forma, suas
metodologias e conceitos procedem principalmente de duas abordagens: a comportamental e a
cognitiva, as quais serão avaliadas a partir do movimento integrador na psicologia que
resultou nas chamadas terapias cognitivo-comportamentais (GOMES; COELHO;
MICCIONE, 2016). As técnicas com grande utilização para intervir na terapia com pacientes
diagnosticados com TEA são: Tratamento e Educação para Crianças Autistas e com
Distúrbios Correlatados da Comunicação (TEACCH); Análise Aplicada do Comportamento
(ABA); Sistema de Comunicação Através da Troca de Figuras (PECS); Integração Auditiva
(AIT); Integração Sensorial (SI) e por fim, Relation Play (PIRES; SOUZA, 2013).
O TEACCH (Tratamento e Educação para Crianças Autistas e com Distúrbios
Correlatados da Comunicação), é comumente utilizado na atualidade por ser um método com
base em organizar o ambiente físico por meio de conjuntos de trabalho e rotinas, com a
adaptação desse ambiente, para trazer uma facilidade maior de se compreender para o
paciente, bem como para que ele possa perceber o que se espera dele. Através das atividades
da criança e da organização do ambiente, essa técnica tem como objetivo trazer um modo
independente de a criança desenvolver habilidades de convivência social da criança, de forma
que ainda que se necessite de alguém para orientar acerca da aprendizagem, também seja
possível para ela, de maneira autônoma, possa estar empregando em parte relevante do seu
tempo nas atividades organizadas em painéis, quadros ou agendas. (PIRES; SOUZA, 2013)
O PECS (Sistema de Comunicação Através da Troca de Figuras), foi planejado com o
intuito de auxiliar pacientes com distúrbios no desenvolvimento, abrangendo autistas, para
que estes possam adquirir habilidades em se comunicar. A prioridade é dada para os pacientes
com diagnóstico de TEA que não atingem a comunicação ou se comunicam com pouca
eficácia. A técnica constitui-se em aplicar um seguimento de seis passos, onde existe a
utilização de um material composto por cartões e figurinhas que representam objetos e
circunstâncias que a criança pode utilizar como forma de demonstrar aquilo que quer. Isso
expande o conjunto de comportamentos da criança e auxilia como forma de instrumento para
comunicação, logo ela não possua o desempenho verbal aguardado para se haver uma
interação social. Tem o objetivo de auxiliar o paciente a compreender que, estabelecendo
comunicação, ou algum tipo de contato, que ele pode alcançar aquilo que almeja mais
rapidamente e de forma efetiva, estimulando assim, a busca para se comunicar com uma
maior regularidade (PIRES; SOUZA, 2013).
Na AIT (Integração Auditiva), é coloca-se para a criança ouvir uma música em um fone
de ouvido, com alta frequência de som emitido através de filtros, em dois intervalos por meia
hora a cada noite, durante o período de dez dias. O intuito é que a ação ajude com o costume
para ouvir barulhos de intensidade em meio a sociedade (PIRES; SOUZA, 2013).
A SI (Integração Sensorial), é um método que tem por objetivo incluir os conhecimentos
que apresentam-se ao físico da criança, por meio de brincadeiras que envolvem o equilíbrio,
sensações de tato e as movimentações, visando a organizar e compreender certas sensações.
O “Relation Play” é uma técnica que visa desenvolver o autoconhecimento da criança por
meio da conscientização acerca de seu corpo e do espaço à sua volta, com a utilização de
movimentos conscientes. (PIRES; SOUZA, 2013)
E a ABA (Análise Aplicada do Comportamento), a técnica mais reconhecida e aplicada na
atualidade, constitui-se em um tratamento de comportamento. Objetiva instruir à criança,
aptidões que ela não detém, por meio de introduzir em passos novas capacidades.
Normalmente, cada uma é instruída, de modo particular, articulando-a a uma indicação ou
orientação. No momento oportuno, pode-se ofertar algum tipo de auxílio para a criança, mas
este logo que possível deve ser retirado, de modo que a criança não se torne dependente. O
retorno propício do paciente tem como consequência o acontecimento de alguma coisa que
seja prazerosa para ele, isso quer dizer que, considera-se como uma recompensa. Dessa forma,
quando isto acontece de modo constante, o paciente tem a tendência de permanecer
reproduzindo tal retorno, até que este comportamento se torna parte do seu repertório. É
necessário fazer desta aprendizagem uma coisa que flua agradavelmente para a criança,
ensinando-a a perceber diferentes incentivos (CARAMICOLI, 2013).
Além disso, outra coisa importante para um bom pressuposto acerca destes pacientes é
que sua família, pais ou cuidadores se dediquem ao auxílio do tratamento. Pois as dificuldades
que transpassam a criança diagnosticada com TEA, não devem ser desvinculados a estes. Esta
é uma parte que integra a conduta, uma vez que são estas pessoas que detém da maior parte do
tempo e da rotina diária com eles. Nota-se ainda que o comportamento destas distinguem de
quando são tratadas em consultório e no ambiente do lar. Alguns comportamentos só
poderiam ser observados no ambiente doméstico. Assim, a participação dos pais para
corroborar com o processo tornou-se essencial para melhorar a continuidade terapêutica
destas crianças. (CARAMICOLI, 2013)
Para mais, de todas estas técnicas, estão disponíveis atualmente várias outras que a cada
dia procuram constantemente ter um impacto positivo quando se refere a trazer mais bem-
estar para a vida das pessoas diagnosticadas com TEA. Onde a TCC se mostra eficaz e
diversificada no que se refere às técnicas, métodos, estratégias e intervenções, deixando a
escolha para cada profissional da saúde qual a atuação e o proceder mais satisfatório (BRITO
et al., 2021).
O paciente em questão que será citado aqui foi atendido na Clínica Interdisciplinar da
Faculdade Ages (CliAges), em Paripiranga – BA, por uma acadêmica do 9º período do curso
de Psicologia com base na abordagem TCC (Terapia Cognitiva Comportamental),
considerada padrão ouro para o tratamento do transtorno que será apresentado, além das
intervenções medicamentosas (BRITO, et al. 2021)
Identificado no estudo como “paciente H” e seu pai como “senhor B” para que seus nomes
sejam preservados com base na ética profissional do psicólogo, que envolvem o sigilo e a
confidencialidade com base no artigo 9º do código de ética que traz sobre o dever que
o psicólogo tem de respeitar o sigilo profissional para proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade dos clientes/ pacientes, grupos ou organizações, as quais se
tenha acesso exercendo a profissão (CFP, 2015). Em ressalva a este local, por tratar-se de uma
Clínica escola, os responsáveis e pacientes autorizam legalmente a utilização de seus casos e
relatos para supervisões com orientadores, relatórios e estudos, mantendo o sigilo de seus
dados pessoais como nome, telefone, endereço, documentos e etc.
O paciente H tem 12 anos, com diagnóstico de TEA em grau 1, foi encaminhado para a
Clínica Interdisciplinar da Faculdade Ages (CliAges), pela sua professora da escola, para
acompanhamento e psicoterapia feita com os estagiários em formação da própria faculdade,
esta não era a sua primeira vez no local, em decorrência de seu diagnóstico e de seu
comportamento, ele já havia feito alguns atendimentos na clínica, segundo a supervisora
responsável pelo local que também fez algumas afirmações acerca do que já conhecia sobre
seu comportamento e contexto familiar.
Em vista que seus pais são separados, e a mãe, diagnosticada com esclerose múltipla, não
possui condições de ter os cuidados especiais necessários à criança, esta fica então aos
cuidados de seu pai, senhor B. Sua irmã, que até então não demonstra necessidades especiais,
fica aos cuidados da mãe.
A primeira sessão que deveria ser feita com o pai, foi feita com o próprio H, pois, o senhor
B não foi informado de que primeiramente, a estagiária necessitava ouvir dele as demandas
sobre H, já que para crianças e adolescentes, o primeiro atendimento deve ser com seus
responsáveis, e o encaminhamento feito pela professora não foi formal, assim, não havia
documento que explicasse o motivo pelo qual se tornou necessária à terapia e com qual
objetivo ela agiria.
Sendo assim, a sessão girou em torno da estagiária apresentar-se, conhecer seu paciente,
observar seu comportamento e buscar criar um vínculo terapêutico com ele para que esta e as
próximas sessões pudessem fluir agradavelmente. O atendimento de crianças com o
Transtorno do Espectro Autista ocorre a partir de se construir de uma relação fundamental
com o terapeuta. É de grande importância que a criança possa fazer-se ouvir, fazer-se ver,
para que, dessa forma possam ser realizadas as construções que deveriam ter acontecido nos
primeiros anos de vida (SIELSKI; CARDOSO, 2004).
H demonstrava inquietação, não sendo esta sua primeira vez na clínica, a supervisora que
já tinha contato com a criança, indicou à estagiária o uso de materiais de pintura, afirmando
que o mesmo gostava, H por sua vez, demonstrou interesse por tais materiais e logo que
entregue já iniciou sua arte, seus traços eram fortes e repetitivos de um lado para outro, fortes
o bastante a ponto de quebrar o giz de cera, a empolgação era grande e viu-se ali então, a
oportunidade para um diálogo sobre a pintura que estava sendo feita, sobre as cores que foram
utilizadas, quais e se haviam significados e representações para ele com relação a sentimentos
e emoções, onde o mesmo, sem dificuldade alguma manteve uma boa comunicação.
Estagiária: - Você gosta de pintar?
H: - Sim, gosto bastante.
Estagiária: - Quais cores você gosta mais?
H: - De vermelho, de preto...
Estagiária: - Sabia que as cores podem ter significados e representar alguns sentimentos? O
que essas cores representam pra você?
H: - O Vermelho pra mim é ódio, o preto raiva, verde escuro rancor.
Mas a estagiária observou que estas citadas por ele não eram as únicas cores utilizadas,
então, apontando para as outras cores estampadas nas folhas dos papeis, começou a perguntar
sobre a representação e o significado delas para ele, que respondia na mesma hora, sem
nenhuma dificuldade:
H: - O amarelo é alegria, azul escuro agonia, azul claro paz e laranja amor.
Visto que a comunicação com o paciente fluía tranquilamente, diante dos sentimentos e
emoções que já haviam sido citadas pelo mesmo, a estagiária pediu para que H ligasse estes às
pessoas do seu âmbito de convívio, ele então respondeu que o amor refletia em coisas boas,
que sentia as vezes na escola e em casa um pouco, disse também que a mãe o fazia sentir paz,
o pai, um pouco.
H afirmou morar com a mãe, relatou também gostar de ficar com ela e de brincar com sua
irmã. Então para sessão seguinte, ficou combinado do senhor B comparecer para esclarecer
alguns pontos como, o fato de H contar que mora com a mãe e não com ele, além de dizer o
que o levou a procurar a terapia para seu filho.
As sessões ocorriam nas quartas feiras às 14:00, pontualmente o senhor B chegou e foi
encaminhado para o consultório. Ele informou que apesar de H não ficar aos cuidados da mãe,
ele a visita quase todas as semanas, geralmente aos finais de semana, onde passa boa parte do
dia e brinca com sua irmã, quando o pai está trabalhando o paciente fica aos cuidados da avó
paterna que mora ao lado, uma senhora que por conta da idade também não consegue dar
tanta assistência para as necessidades da criança, além de não ter muita paciência com a
mesma. O senhor B relatou que a professora indicou o atendimento na Clínica para H devido
ao seu diagnóstico de autismo e alguns comportamentos tidos em sala de aula que foram
observados por ela como a agitação e irritação que acabavam interferindo nas aulas, afetando
também os colegas por exemplo.
Sobre o comportamento de H em casa, o pai traz que sente dificuldades quanto a alguns
comandos do tipo, arrumar a cama, jogar lixo dentro da lixeira e não no meio da casa, entre
outros que por mais que se repita e ensine H não obedece. Afirma também que quando o filho
se irrita com algo, quando sente raiva, fica muito nervoso, chega ao ponto de agredir a si
mesmo e ao pai, mas que no mais a relação entre eles é boa.
Sendo o Transtorno do Espectro Autista (TEA), um conjunto de sintomas relacionados à
atividade cognitiva e de comunicação. No conjunto de sintomas característicos do TEA,
destacam-se perturbações na linguagem, dificuldade para comunicação e comportamentos
estereotipados e repetitivos (PIRES; SOUZA, 2013). Diante disso, foi trazido para o pai a
dificuldade que o paciente possivelmente tem para aprendizagem das atividades de rotina que
são desejadas e pedidas ao mesmo. Foi explicado que o processo de aprendizagem é
complexo naturalmente para crianças e adolescentes em si, que cada um tem particularmente
seu desenvolvimento individual, tratando-se de uma criança ou adolescente com TEA, esse
processo de aprendizagem demanda ainda de uma dificuldade maior, tornando necessárias
técnicas diferenciadas para trazer uma melhor aderência ao aprendizado.
Até porque, caracterizado pelas dificuldades nas interações sociais e na comunicação,
além de apresentar um repertório restrito de atividades e interesses, as manifestações do TEA
variam de acordo com a idade e a fase de desenvolvimento da criança. Os prejuízos nas
interações sociais envolvem o comportamento não verbal, especialmente aqueles relacionados
ao contato visual direto, as expressões faciais e corporais. Na comunicação, poderá afetar
tanto as habilidades verbais quanto as não verbais, podendo comprometer o desenvolvimento
da linguagem falada e quando falam, podem apresentar dificuldades para manter uma
conversação (BRASIL, 2010).
As crianças com TEA apresentam ainda prejuízos acentuados na capacidade imaginativa
e, com frequência, interessam-se por rotinas ou rituais não funcionais. Assim, poderão
apresentar movimentos corporais (todo o corpo) ou envolvendo as mãos de forma
estereotipada, além de posturas inadequadas. Podem apresentar, ainda, um interesse
persistente em determinados objetos ou em parte de deles, especialmente, aqueles com
movimentos giratórios (BRASIL, 2010).
A estagiária utilizou de um exemplo para tornar mais fácil o entendimento do pai.
Mostrando uma caneta esferográfica ela disse:
- Pai, digamos que seu filho ao fazer as atividades escolares costuma deixar as canetas sem a
tampa, se você pedir ao seu filho que não deixe essa caneta sem a tampa para que a tinta não
seque e a caneta pare de funcionar, ele pode não compreender e permanecer com o mesmo
comportamento, assim seria necessário utilizar de alguma técnica ou recurso lúdico para
facilitar esse entendimento que alteraria esse comportamento, como por exemplo, trazer
algumas canetas que já não estivessem funcionando e mostrar de fato a consequência de não
se colocar as tampas nas mesmas. A partir disso o pai afirmou ter compreendido essa
dificuldade e que com a ajuda da estagiária poderia ter sempre essa visão diferenciada para
melhorar o entendimento de seu filho.
O senhor B informou, que existe muita demanda para ele dar conta como, o filho e seus
aspectos individuais, suas particularidades que demandam de muita atenção e paciência, o
trabalho na fazenda cuidando da plantação e animais, entre outras coisas, para descontrair
então, às vezes faz uso de álcool. Afirma que quando isso acontece ele costuma perder o
controle sobre si mesmo, suas ações, sentimentos, emoções e comportamentos, que também
vê o quanto isso reflete em H, que seu comportamento influencia totalmente em como seu
filho reage, e que essas situações geram bastante conflito entre eles como brigas e discussões.
Na sessão seguinte H chegou nitidamente mais agitado do que na sessão anterior,
demonstrava estar com raiva, o que foi confirmado posteriormente por ele mesmo quando
adentrou a sessão relatando. O pai pediu para falar primeiro com a estagiária, que o
acompanhou enquanto o paciente aguardou na recepção com a supervisora não muito
conformado. O senhor B contou que ao chegar na escola para busca-lo, foi informado de que
H havia agredido fisicamente uma colega da escola e pediu para que o ajudasse diante de tal
situação.
No consultório, o paciente relatou o ocorrido na escola, afirmou que no momento
começou a sentir muita raiva do pai e contou que este havia lhe agredido fisicamente, que por
este motivo estava com pensamentos ruins que invadiram sua cabeça e ele acabou por agredir
a colega de turma, que não se controlou assim que levantou o olhar e a viu. O mesmo disse
ainda saber que sua ação não foi correta e que se arrependeu logo que cometeu, mas que ainda
sentia ódio de seu pai, imaginando coisas ruins que poderia fazer com ele se fosse um pouco
mais forte. Afirmava que queria praticar musculação para se tornar forte e conseguir lutar com
seu pai. Dizia isso enquanto caminhava pela sala de um lado para o outro, por alguns
momentos, batia na mesa e na parede do consultório enquanto falava acerca do ocorrido e do
que sentiu quando questionado, por algumas vezes ao falar com a estagiária, chegava bem
próximo a ela, olhando fixamente em seus olhos.
As crianças, da mesma forma que os adultos, têm sentimentos e emoções, porém, por
serem ainda imaturos, por estarem ainda iniciando a jornada que é a vida, expressam cada um
de formas confusas, pois não entendem do que se tratam. Sentem raiva, alegria, medo, entre
outras questões, que se torna necessário às vezes, uma intervenção profissional para orientar e
psicoeducar para ajuda-los a compreender e a lidar com cada uma dessas emoções. Esta
técnica da Terapia Cognitiva Comportamental, consiste em uma forma de intervenção
psicossocial que se caracteriza por “educar”, ou manter informado o paciente acerca de seus
dados, sobre seu diagnóstico, abrangendo a etiologia, o funcionamento, o tratamento mais
indicado e o prognóstico, entre outras informações de acordo com o que está sendo feito na
terapia e com qual objetivo, para que o paciente se torne um colaborador ativo em seu próprio
processo, ajudando-o assim a lidar com seus sentimentos, emoções, pensamentos e
promovendo o autoconhecimento e o autocuidado (SEHNEM, 2016).
Desde a primeira sessão com H, percebeu-se a necessidade de fazer então uma
psicoeducação sobre sentimentos e emoções, sobre as formas de agir diante de cada um deles,
do que se tratam e o que ocorre quando se sente. Lidar com sentimentos e emoções nem
sempre é fácil, dentro das complexidades e ainda mais quando se é uma criança, ainda mais
quando se é autista.
Dessa forma, com estratégias lúdicas, em vista da infantilidade, foram feitas plaquinhas
com os desenhos dos personagens do filme “Divertidamente”, alegria, tristeza, raiva, medo e
nojinho, conversando com o paciente sobre cada um deles, questionando momentos em que o
mesmo viveu essas emoções, como se sentiu, como agiu e quais pessoas estavam com ele,
orientando sobre ser natural sentir tais coisas, desde que se tenha cuidado com as ações feitas
a partir disso, que é preciso saber lidar, e que a própria estagiária estaria ali para ajudar.
Sugeriu-se também que o paciente procurasse ou pedisse ao pai para assistir ao filme, visto
que o mesmo afirmou ainda não conhecer.
Divertida Mente (2015) apresenta como se dão das emoções na vida de uma menina de 11
anos, esta vive feliz com seus pais e amigos, até que para a sua surpresa necessita enfrentar
uma mudança para uma nova cidade, enfrentando assim dificuldades para se adaptar. Dentro
de seu cérebro, as emoções alegria, tristeza, medo, raiva e nojo, que a orientam desde que
nasceu, permanecem diante dessa nova novidade. Após uma confusão na sala de controle, a
alegria e a tristeza, são retiradas do local, o que deixou as outras totalmente desordenadas,
afetando sua vida radicalmente. A menina fica então sem muitas expressões ou sentimentos
bons, mudando assim suas memórias e personalidade. O filme além de mostrar a respeito de
sentimentos, também exibe sobre as memórias, que definem a personalidade, linguagem de
pensamento, indução de raciocínio, Déjà Vu, processo de esquecimento e imaginativo,
pensamento crítico, subconsciente, inconsciente e produção de sonhos, trazendo assim a
importância de se haver um espaço para cada emoção existente nos indivíduos ser vivenciada,
sendo fundamental para manter a saúde mental (AMARAL; et al., 2020).
A clínica voltada para a atuação infantil é revestida por intervenções consideradas lúdicas,
motivacionais e divertidas, estas formas de interação possibilitam que a criança fale sobre
temas desconfortáveis de forma imaginativa e criativa (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). O
brinquedo e o brincar na psicoterapia também se tornam um estímulo para a criança, que será
ainda mais motivada se estiverem em contato com a diversão (KNELL, 1993 apud
FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). A psicoterapia lúdica de crianças com diagnóstico do
Transtorno do Espectro Autista infantil ou com fenômenos autísticos costuma ser voltada,
inicialmente, para a construção de um vínculo entre a criança e o psicoterapeuta (ALVAREZ,
2003). As brincadeiras, podem até parecer comuns e habituais mas elas geram incentivo para
o desenvolvimento e aprendizagem em inúmeras áreas. Elas estimulam a evolução da relação
da criança socialmente, também colabora com o desenvolvimento da cognição e da
afetividade, colaborando no conhecimento do que está ao seu redor de forma autêntica
(MAFRA; KEMPLA, s.d).
Diante dos relatos tanto de H, quanto de seu pai sobre os episódios com a raiva, pensou-se
em uma estratégia para desfocar essa raiva e as ações advindas dela de si mesmo e das
pessoas ao redor, para que assim, ele não machucasse a ele mesmo e nem as outras pessoas
próximas. Entrou em ação a “bolinha da raiva”, que consiste em uma bolinha de borracha um
pouco menor que a palma da mão, bastante utilizada para fins fisioterápicos. Esta foi entregue
para H, com a orientação de que sempre que ele se sentisse com raiva, ou ódio de algo ou de
alguém, que ele se concentraria nessa bolinha, e que poderia apertá-la à vontade para passar a
angústia e a aflição na mesma, que assim ele poderia evitar bater em alguém ou de apertar seu
próprio corpo, não se machucaria e também não o faria com os outros. Também foi orientado
que ele poderia levar a bolinha para onde quer que ele fosse, não só em casa, mas também
para a escola, para a casa da avó, para a casa de sua mãe entre outros locais onde ele fosse
estar. O pai foi informado sobre a técnica utilizada, seu objetivo, e ficou de informar também
a professora de H para que a mesma não pensasse que ao utilizar a bolinha em sala ele estaria
brincando e compreendesse a situação.
A estratégia da “bolinha da raiva” foi trazida para ajudar nesse sentido de que o paciente
por não compreender como lidar com sua raiva acabava machucando a si mesmo e aos outros,
com a técnica, a ideia é que o foco da sua raiva torne-se e seja aliviado de certa forma pela
utilização da bolinha, para que esta não se volte para ele e às pessoas próximas.
O medo, a raiva, culpa, angústia entre outras, todas essas emoções são naturais do ser
humano e existem como forma de proteção do nosso corpo, que os sentimentos negativos
servem como forma de proteção e amadurecimento da pessoa, especialmente em crianças que
estão aprendendo sobre o mundo e sobre si mesmas, que o papel do terapeuta é buscar
compreender, entender a origem da raiva, culpa, medo ou qualquer que seja a emoção
negativa e ajudar a criança a entender esses sentimentos e lidar com eles, assim como ajudar
os pais a lidarem com as instabilidades e ajudarem ao filho, que a terapia, promove o
autoconhecimento e oferece visões diferentes para os problemas e formas de lidar com ele
(KIUCHI; FERRARI, 2019).
De acordo com os relatos de cada um, tanto de H quanto do senhor B, viu-se a
necessidade também de conversar com o pai objetivando orientá-lo sobre como lidar com seu
filho, com relação à sua aprendizagem e comportamentos. Pessoas em si aprendem de acordo
com seu próprio ritmo de desenvolvimento, alguns com menos dificuldade, outros com uma
dificuldade maior. O mesmo se dá no caso de H, sendo ele autista, e que diante disso,
estratégias poderiam ser formuladas para ajudar na sua aprendizagem e desenvolvimento,
atuando em conjunto, terapia e vivências fora da clínica, objetivando a melhora de suas
atividades.
Outro fator imprescindível é a participação dos pais no processo com o paciente, com
crianças mais velhas e adolescentes, esse trabalho é considerado desejável, sendo um fator de
fortalecimento e sucesso do tratamento, que o participarem, os cuidadores podem
desempenhar diferentes papéis no tratamento das crianças e adolescentes, sendo um deles o de
facilitadores, nesse caso, a intervenção é predominantemente focada no paciente e os adultos
são envolvidos apenas para tomarem consciência das intervenções, afirma ainda que pais ou
outros responsáveis podem, ainda, ter o papel de pacientes na TCC, quando o foco do
tratamento é direto no funcionamento cognitivo e comportamental deles, para ajudá-los a
reavaliarem suas crenças sobre os filhos e a mudar seus próprios padrões comportamentais.
Como é necessário que ocorra no caso com o pai de H (LINS; NEUFELD, 2021).
Também em conversa com o senhor B, a estagiária perguntou sobre ter existido algum
episódio de agressão física ao paciente, o mesmo negou que tivesse chegado a tal ponto.
Afirmou estresse e brigas com o filho, mas que não havia o agredido fisicamente, que
geralmente isso acontece quando ele faz uso de álcool antes de voltar para casa depois de seu
trabalho diário.
A experiência de violência vivenciada dentro do âmbito familiar tem grande impacto na
vida da criança, não só no que diz respeito às suas relações de afeto, como molde de
relacionamento amoroso, mas também em diversos outros contextos, tornando a violência
como uma estratégia de resolução de conflitos nas mais diversas situações. Nos últimos anos,
estudos evidenciaram a importância de olhar para o sujeito a partir do que recebeu das
gerações anteriores e compreender a repercussão das questões atreladas à
transgeracionalidade (REIS; PRATA, 2018).
Falando em um contexto amplo como este da violência intrafamiliar, mostra como a
experiência costuma ter uma série de repercussões, pois nessas situações, não é só o indivíduo
agredido que sofre, mas todos os membros da família que convivem direta ou indiretamente
com a violência. As consequências sofridas pela convivência em contextos familiares
violentos podem ser diversas e podem apresentar-se de diferentes formas, incluindo
psicopatologias, dificuldades em relacionamentos sociais, transtornos de comportamento,
cometimento de atos infracionais e envolvimento em relacionamentos íntimos violentos na
vida adulta (REIS; PRATA, 2018).
De forma empática, a estagiária afirmou compreender o fato de que o ele (senhor B) tem
muitas responsabilidades para dar conta, onde o mesmo afirma ser julgado por muitos e
ajudado por poucos, mas que ao utilizar o álcool como válvula de escape e perder o controle,
ele afeta diretamente no filho e em seu comportamento diante não só dele, mas de outras
pessoas também. Diante da grande quantidade de demanda própria acerca de si mesmo
trazidos para a sessão que deveria tratar de H, também foi recomendado ao senhor B procurar
um apoio psicológico, objetivando ser esta a sua nova válvula de escape, por meio da fala e da
terapia para autoconhecimento, visando seu bem estar e do seu filho, apoio este, oferecido
também pela mesma clínica. Foi observada aqui diante de seu comportamento e falas que este
apoio psicológico não seria procurado pelo mesmo. Ao fim da sessão ele realmente não
buscou atendimento.
Uma sessão apenas para tratar com H sobre sentimentos e emoções não garante uma
aprendizagem efetiva acerca do assunto, então se torna necessário que o tema seja abordado
novamente em outras sessões de formas diferentes, posteriormente na sessão seguinte com o
paciente, utilizou-se um jogo da memória ainda com os personagens do filme
“Divertidamente”, alegria, nojinho, tristeza, medo e raiva, dessa vez pedindo que para cada
emoção encontrada ele contasse uma história. O mesmo demonstrou-se animado com a
atividade. Para alegria, trouxe histórias de brincadeiras na casa da mãe com ela e com a irmã,
em que o próprio desenhou a casa antiga e a nova delas, onde ele afirmou que na casa anterior
ele podia fazer mais visitas e a casa em que as mesmas moram atualmente, ele tem mais
dificuldade de ir por conta da distância. Pediu à estagiária emprestar seu celular, e com este
em mãos fez uso do aplicativo Google Maps para mostrar a antiga e a nova casa onde a mãe e
sua irmã residem.
Retornando para o jogo encontrando a tristeza, o paciente trouxe como relato os dias que
não pode visitar sua mãe, que sente sua falta, posteriormente achou as cartas de nojinho,
falando então de algumas comidas que não gosta, para o medo foram trazidos alguns
momentos em que está só, mas que de vez em quando também se sente bem assim, e
finalizando, para as cartinhas que continham o desenho da raiva, contou sobre alguns dias
com seu pai, vezes em que tem pensamentos muito ruins e agressivos, e que pratica
masturbação devido a isso, afirmando ser esta uma fraqueza sua. Diante deste último relato na
sessão de H, a estagiária orientou sobre a masturbação ser algo natural e fisicamente saudável,
desde que praticada sem muita frequência e apenas em locais onde ele está só.
Além de ser um período cronológico, a fase adolescente pode ser entendida como uma
etapa onde se notam diversas modificações tanto biológica quanto psicologicamente e
socialmente falando, e também destacam-se alterações nas relacionações do adolescente
quanto a seus propósitos e intenções para a vida futuramente (OLIVEIRA; MACHADO,
2018). Assim, a segunda década de vida estabelece-se como um tempo crítico de
desenvolvimento psicossocial, pois estes indivíduos estão em busca de uma identidade para si
mesmos, conhecendo os artifícios para suas relações pessoais e entendendo como manejar
comportamentos problemáticos para, enfim, assumir uma personalidade estável (MEEUS,
2016). A imaturidade que se percebe primordialmente por seus familiares, torna mais grave e
dificulta a compreensão e o entendimento acerca de questões sobre sexualidade, causando
dificuldade em aceitação de que o autista tem direitos com relação aos seus desejos e
manifestações sexuais.
Adolescentes com TEA possuem necessidades sexuais, visto que a puberdade desses
indivíduos segue estágios normais de desenvolvimento. Entretanto, eles podem não possuir
um correto entendimento do seu corpo e um inadequado desenvolvimento emocional,
resultando em comportamento sexual impróprio (BEDDOWS; BROOKS, 2015).
Adolescentes com TEA correm vários riscos em seu desenvolvimento psicossexual e podem
ter acesso limitado a informações confiáveis sobre puberdade e sexualidade, enfatizando a
necessidade de orientação especificarem seu desenvolvimento psicossexual (VISSER; et al.,
2017). Esses comportamentos inadequados, como masturbação em público, tirar a roupa e
tocar outras pessoas de maneira sexual indesejada são deveras problemáticos dada a natureza
dos tabus comportamentais e o potencial para consequências negativas significativas, como
acesso restrito à comunidade, lesões e ramificações legais (DAVIS; et al., 2016). Além disso,
na presença de depressão, o adolescente com TEA pode ser menos capaz de controlar seus
impulsos sexuais e o tratamento de seus sintomas pode ajudar a diminuir a masturbação
excessiva. A melhoria nas habilidades de auto-organização devido ao antidepressivo pode
levar ao alívio deste sintoma (ÇELIKKOLE BILGIC, 2018).
Com início na infância, a construção das primeiras noções do autista sobre sua
sexualidade é formada pela família e ampliada pelas matrizes de sentidos: escola, mídia,
ciência, religião e política (NASCIMENTO; BRUNS, 2020). Assim, devido às dificuldades
das famílias com relação à sexualidade dos filhos com TEA, um programa abrangente de
educação sexual poderia acolher suas demandas específicas e orientar os membros
familiares, discutindo possibilidades de ações educativas em casa (OTTONI; MAIA,
2019), visto que a educação sexual recebida na família, na escola e nas matrizes
cartografam tabus, mitos, estigmas, valores e normas de como expressar o desejo sexual
(NASCIMENTO; BRUNS, 2020).
Na penúltima sessão com H, o mesmo se mostrou muito alegre e feliz, contou que não
queria mais estudar à tarde e que falou isso para seu pai, este por sua vez falou sobre as
dificuldades de alguém na zona rural vir para a escola pela manhã. Que seria necessária uma
rotina bem diferente da atual vivida por eles, que precisariam dormir cedo e acordar cedo
também para não se atrasar, ter tempo suficiente para se arrumar e alimentar para aí então
poder sair contando também com o tempo de distância de casa no povoado para a escola na
cidade. Dito isto, H aceitou o desafio afirmando que conseguiria sim manter o combinado,
então quando previsto para iniciar a nova rotina, H foi dormir às 07:00 da noite anterior e no
dia seguinte às 05:30 da manhã estava acordando, seu pai confirmou que realmente aconteceu
posteriormente quando voltou para buscar seu filho na sessão, contou que que H demonstrou
entusiasmo e determinação ao aderir a nova rotina para atingir seu objetivo e que enquanto o
mesmo se mantivesse assim, esta nova rotina continuaria.
Pensando nisso, para auxiliar o senhor B nas questões domiciliares de rotina para H como,
arrumar sua própria cama, jogar respectivamente o lixo produzido no recipiente correto como
trazido pelo pai na primeira sessão com o mesmo, entre outras coisas, foi planejado um
quadro de incentivos com as seguintes tarefas a serem executadas por H:
Escovar os dentes;
Arrumar a cama;
Tomar banho;
Fazer as lições da escola;
Ajudar o papai;
Ser obediente;
Se alimentar corretamente;
Sorrir e brincar.
Tudo isso para cada dia da semana, pontuando os requisitos que foram atendidos.
Completando o quadro com bom desempenho em todas as tarefas o senhor B o recompensaria
com algo que fosse de gosto e interesse de H. Como sugestões:
Uma comida que gostasse;
Um passeio que quisesse;
Um objeto ou brinquedo que desejasse.
Tudo isso dentro das condições possíveis ao senhor B.
Este quadro de incentivos planejado para ser utilizado com H, traz de forma mais lúdica,
descontraída e estimulante, regras e responsabilidades a serem cumpridas por ele. Podendo
colocar nele todas as atividades que envolvem a rotina da criança que quando recompensada,
adere de forma mais efetiva ao que se deve cumprir, tornando mais fácil o aprendizado acerca
das funções sugeridas.
Na sessão seguinte à entrega da “bolinha da raiva”, o pai já relatou que o comportamento
de H havia melhorado bastante diante de situações desconfortáveis relatadas entre eles
durante as semanas de atendimento, afirmou também que o paciente estava fazendo uso da
técnica em casa e na casa de sua avó, e que também estava levando para a escola e para a casa
de sua mãe. Não confirmou se iria procurar ou iniciar o processo terapêutico para ele mesmo
como sugerido pela estagiária, mas que passou a se controlar em relação às bebidas alcóolicas
por compreender que tal atitude e as ações posteriores ao uso das mesmas afetavam
diretamente no comportamento e nas ações de seu filho.
H demonstrou ter dias e dias, dias de agitação, dias de estar mais calmo, de estar feliz e de
estar com raiva ou triste e com qualquer ser humano acontece dessa forma. A ideia aqui é que
para cada dia desses, ele saiba como lidar com as situações e com suas emoções. Tudo bem
sentir raiva, é natural. Se machucar não, agredir alguém não.
O processo de aprendizagem e desenvolvimento é relativo de pessoa para pessoa, alguns
levam mais tempo, outros menos, ainda mais em casos de TEA. É necessário um trabalho
conjunto e de dedicação entre a terapeuta (em formação), H e seus cuidadores, para que o
processo terapêutico tenha progresso e que se possa colher os frutos dele.
A criança com TEA não mostra desenvolvimento inferior às demais crianças que não
possuem alguma deficiência ou algum tipo de transtorno do desenvolvimento, porém este
desenvolvimento se dá de forma diferenciada. A partir desta perspectiva pode-se entender que
o desenvolvimento da criança diagnosticada com TEA irá suceder-se através da convivência
no meio social e das experiências de vivências próprias. E para que isto ocorra é essencial que
aconteçam mediações através de atividades significativas que possam estimular o
desenvolvimento das capacidades e habilidades da criança de forma geral (PIECZKOWSKI;
MACIEL; RECH, 2019).
Sugeriu-se ao senhor B que no semestre seguinte, após as férias dos estudantes, com o
retorno dos atendimentos em clínica (CliAges), se possa dar segmento aos trabalhos já
iniciados, tendo como resposta a confirmação por parte dele ao afirmar que tudo o que for
melhor para H, ele fará.
Já que ainda havia muito que ser desenvolvido e trabalhado neste caso, o paciente não
teve alta, sendo aguardado no semestre seguinte.
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