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UNIVERSIDADE DE ARARAQUARA

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL


PARA O TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: UMA REVISÃO
DA LITERATURA

Antônia Eusimar da Silva

ARARAQUARA, OUTUBRO DE 2017


UNIVERSIDADE DE ARARAQUARA

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA CONITIVO COMPORTAMENTAL

A EFICÁCIA DAS TÉCNICAS DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL


PARA O TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: UMA REVISÃO
DA LITERATURA

Antônia Eusimar da Silva

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para a
conclusão do curso de Especialização em
Teoria Cognitivo Comportamental.

Orientador(a): Marília Cammarosano

ARARAQUARA, OUTUBRO DE 2017


DECLARAÇÃO

Eu, Antônia Eusimar da Silva , declaro ser o(a) autor(a) do texto apresentado
Trabalho de Conclusão de Curso, no programa de pós-graduação lato sensu em Teoria
Cognitivo Comportamental com o título A eficácia das técnicas da Teoria Cognitivo
Comportamental para o Tratamento do transtorno Afetivo Bipolar: Uma revisão da
literatura.

Afirmo, também, ter seguido as normas do ABNT referentes às citações textuais


que utilizei e das quais eu não sou o(a) autor(a), dessa forma, creditando a autoria a seus
verdadeiros autores.

Através dessa declaração dou ciência de minha responsabilidade sobre o texto


apresentado e assumo qualquer responsabilidade por eventuais problemas legais, no tocante
aos direitos autorais e originalidade do texto.

Araraquara, 11 de dezembro de 2017.

_____________________________________

Assinatura do autor(a)
ANTÔNIA EUSIMAR DA SILVA

A eficácia das técnicas da Teoria Cognitivo Comportamental no tratamento do


Transtorno Afetivo Bipolar: Uma revisão da literatura

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência parcial para a finalização do
Curso de Especialização em Teoria Cognitivo
Comportamental pela Universidade de
Araraquara – Uniara.

Orientador(a): Marília Cammarosano

Data da defesa/entrega: ___/___/____

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Presidente e Orientador: Nome e título

Membro Titular: Nome e título

Membro Titular: Nome e título


Universidade.

Média______ Data: ___/___/____

Centro Universitário de Araraquara


Araraquara- SP
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades ao
longo da minha vida, por ser o meu maior mestre e por me permitir alcançar os meus
objetivos.

Em especial ao meu esposo Willian Nogueira, que sempre me apoiou na caminhada


acadêmica, com paciência nos momentos difíceis, com incentivo, respeito e carinho.

Agradeço minha mãe Helena Antunes da Silva, que sempre foi exemplo de dedicação
e apoio a família.

Aos meus familiares que nos momentos de minha ausência dedicados ao estudo
entenderam e me deram apoio.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram diretamente ou indiretamente para que eu


concluísse mais esta etapa em minha vida.
Dedico esta conquista
A minha mãe, grande heroína e modelo de fé,
ao meu pai que apesar de não estar mais
conosco pois partiu tão cedo, sempre foi
exemplo de alegria e honestidade.
Aos meus familiares, em especial ao meu
esposo Willian, meu grande companheiro e as
minhas filhas Isadora e Lorena que ainda está
por vir.
“Faça o teu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores,
para fazer melhor ainda!”

(Mario Sergio Cortella)


RESUMO

O transtorno afetivo bipolar é um transtorno mental crônico, com episódios de oscilação de


humor variando entre estados de mania e depressões severas, sua principal forma de
tratamento é o farmacológico, no entanto, é alto índice de não adesão ao tratamento
medicamentoso. Este trabalho tem como objetivo geral investigar a eficácia das técnicas da
teoria cognitivo comportamental na adesão ao tratamento farmacológico no transtorno afetivo
bipolar, bem como analisar os possíveis impactos na vida destes e descrever de quais
maneiras a TCC pode contribuir para adesão medicamentosa no Transtorno Bipolar. Realizou-
se uma revisão bibliográfica observando os estudos disponíveis no google acadêmico com
data de publicação entre 2007 e 2017. Após o levantamento bibliográfico de 399 artigos,
realizou-se a seleção de 4 estudos que abordaram as técnicas da teoria cognitivo
comportamental na adesão ao tratamento farmacológico no transtorno afetivo bipolar. Os
resultados encontrados sugerem que existem poucos estudos randomizados com esta temática.
No entanto, todos os estudos apontam para a eficácia das técnicas da TCC na adesão
farmacológica em especial a psicoeducação.

Palavras Chave: transtorno bipolar, adesão, farmacoterapia, teoria cognitivo comportamental.


ABSTRACT

Bipolar affective disorder is a chronic mental disorder, with episodes of mood oscillation
varying between states of mania and severe depressions, its main form of treatment is the
pharmacological, however, it is a high rate of non adherence to drug treatment. This study
aims to investigate the efficacy of cognitive behavioral theory techniques in adherence to
pharmacological treatment in bipolar affective disorder, as well as to analyze the possible
impacts on their lives and to describe in what ways CBT may contribute to drug adherence in
Bipolar Disorder. A bibliographic review was carried out observing the available studies in
academic google between 2007 and 2017. After the bibliographical survey of 399 articles, the
selection of 4 studies that approached the techniques of the cognitive behavioral theory in the
adherence to the treatment in bipolar affective disorder. The results suggest that there are few
randomized studies with this theme. However, all studies point to the efficacy of CBT
techniques in pharmacological adherence, especially psychoeducation.

Key words: bipolar disorder, adherence, pharmacotherapy, cognitive behavioral theory.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11

2 OBJETIVOS ................................................................................................... 20
2.1 Objetivo Geral .........................................................................................
2.2 Objetivos Específicos ...............................................................................

3 METODOLOGIA ............................................................................................ 21

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 22

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 29

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 30
11

1 INTRODUÇÃO

Segundo Menezes e Souza (2012) o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é um transtorno


mental crônico, com episódios de oscilação de humor variando entre estados de mania e
depressões severas. Conforme DSM-V (APA, 2014) no estado de mania o indivíduo vivencia
humor exaltado, torna-se prolixo, irritável com sentimento de grandeza, apresenta diminuição
da necessidade do sono, aumento da libido com diminuição da crítica e da vergonha além de
delírio de grandeza, pensamento acelerado, impulsividade e comportamento imprudente.
Ainda conforme DSM-V (APA, 2014) nos estados depressivos o indivíduo vivencia
uma tristeza profunda, perde o prazer para realizar atividades, torna-se melancólico, apresenta
alterações do sono e apetite, cansaço extremo, sente-se sem energia, com diminuição da
libido, pensamento negativo e muitas vezes manifesta ideação suicida.

De acordo com DSM-V (APA, 2014) O Transtorno Afetivo Bipolar é subdividido em


tipo I, tipo II e Transtorno Ciclotímico, os critérios diagnósticos para este transtorno são: Para
se considerar Transtorno Bipolar tipo I é necessário a presença de, pelo menos, um episódio
maníaco. Este pode ou não ter sido antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou
Depressivos Maiores. Para o tipo II é preciso a presença de um ou mais episódios Depressivos
Maiores e um ou mais episódios hipomaníacos, sem a presença de episódio maníaco. E para o
diagnóstico do tipo Ciclotímico é necessário a presença de períodos hipomaníacos e
depressivos (em adultos dois anos e um ano em crianças) desde de que o sujeito não tenha
ficado sem os sintomas por mais de dois meses seguidos, além de não satisfazer os critérios
para mania, hipomania ou depressão maior.

Embora exista ocorrência do Transtorno Bipolar em crianças, de um modo geral a


idade de início dos sintomas após a infância se situa por volta dos 18 anos para Transtorno
Bipolar tipo I e 25 anos para o tipo II. Existe uma incidência maior do referido transtorno em
pessoas separadas ou viúvas quando comparadas com pessoas casadas ou que nunca casaram
(DSM – V, APA, 2014).

Os fatores genéticos e fisiológicos estão presentes, assim sendo, pessoas com


familiares com diagnóstico confirmado, tem 10 vezes mais chances de desenvolver o
transtorno. Outro dado importante é que quanto mais próximo for o grau de parentesco e um
número maior de pessoas na família com diagnóstico de Transtorno Bipolar maior é a
vulnerabilidade genética do indivíduo (DSM – V, APA, 2014).
12

Deste modo Berk (2011 apud VEIRA; MARQUES, 2016) apontam que fatores
precipitantes têm grande influência em pessoas com predisposição genética, ou seja, eventos
ambientais estressantes tais como mudança repentina, conflitos familiares ou dificuldades
financeiras podem dar início a uma fase tanto de mania, quanto de hipomania ou depressão.
Miklowitz (2009) corrobora com estes apontamentos, ressaltando que existe uma forte
correlação entre componentes biológicos, psicológicos e ambientais, deste modo, pessoas com
vulnerabilidades biológicas ao passarem por uma situação de estresse sofrem influência na
sua dimensão psicológica, podendo iniciar uma série de sintomas emocionais e fisiológicos
como por exemplo, irritabilidades, insônia, humor expansivo, anedonia, pensamentos
acelerados entre outros.

Conforme Miasso, Carmo e Tirapelli (2012), o TAB apresenta etiologia


biopsicossocial com forte componente biológico assim sendo sua principal forma de
tratamento é o farmacológico com uso de estabilizadores do humor, antidepressivos e
antipsicóticos dentro da necessidade de cada caso. Deste modo Oliveira, schwartz e Stahl
(2015) apontam a importância do tratamento medicamentoso tanto na fase aguda da doença
como na fase de manutenção. Sendo considerado como fase aguda o período severo de mania,
hipomania ou depressão, e a fase de manutenção como o período após a estabilização da fase
aguda, nesta fase é importante manter a estabilização e prevenir os sintomas severos. O
tratamento em muitos casos pode ser por tempo indeterminado devido à cronicidade do
transtorno.

Figura 1: Tratamento de monoterapia no Transtorno Afetivo Bipolar

Medicamentos Mania Depressão Manutenção

Litio sim sim sim

Valproato sim não sim

Aripiprazol sim não não

Asenapina sim não Não especificado

Olanzapina sim não sim

Quetiapina sim sim sim


13

Risperidona sim não sim

Ziprasidona sim não não

Olanzapina/Fluoxetina não sim Não especificado

lamotrigina não sim sim

Fonte: OLIVEIRA, SCHWARTZ e STAHL, 2015.

O lítio é um estabilizador do humor sendo eficaz tanto para atuar na fase da mania
como da depressão, bem como no tratamento de manutenção. É um excelente medicamento
para efeito rápido em pacientes em crise aguda de mania. Os efeitos colaterais são previstos
no uso do lítio assim como no uso de qualquer outro estabilizador do humor, estes efeitos
podem variar de pessoa para pessoa, sendo os mais comuns, retenção de líquido, sede,
diarreia, tremores, pode também afetar as funções renais além de ganho de peso entre outros.
Assim como o lítio, o valproato também é usado para a fase de mania e manutenção, este atua
de forma altamente efetiva na contenção de um episódio maníaco, no entanto apresenta menos
efeitos colaterais que o lítio (MIKLOWITZ, 2009).

O aripiprazol e Ziprazidona possui boa ação no tratamento da mania aguda, porém


estudos não confirmam eficácia no tratamento de manutenção. A olanzapina em associação
com fluoxetina tem bons resultados na depressão bipolar, a grande preocupação é com os
efeitos adversos da olanzapina a chamada síndrome metabólica (risco para doença cardíaca,
diabetes e acidente vascular cerebral). A quetiapina é usada também na mania, depressão e na
manutenção, seu principal efeito colateral é o ganho de peso. A risperidona também pode
gerar ganho de peso e sua eficácia é comprovada na mania. A asenapina é recomendada para
mania aguda. A lamotrigina tem ótimos resultados para depressão e manutenção (OLIVEIRA,
SCHWARTZ e STAHL, 2015).

O tratamento medicamentoso no transtorno afetivo bipolar é absolutamente necessário,


no entanto, Menezes e Souza (2012) apontam que é alto o índice de não adesão a
farmacoterapia, muitas vezes em decorrência de preconceitos com medicamentos, ou por se
sentir melhor a pessoa acaba entendendo que não precisa mais da medicação, outras por
esquecimento, alguns por não aceitar o diagnóstico e há ainda os que mesmo aceitando o
diagnóstico acreditam que não precisam da medicação. Os efeitos colaterais dos
medicamentos, a diminuição de prazer dos períodos de exaltação do humor ou uma fraca
14

aliança terapêutica também podem contribuir para a não adesão medicamentosa


(MIKLOWITZ, 2009).

Miklowitz (2009) traz outro ponto importante sobre adesão farmacológica ao se referir
sobre a forma em que os pacientes encaram o diagnóstico. Alguns tem uma identificação
excessiva com o adoecimento e acreditam que tudo o que acontece é em função de ser
portador do transtorno bipolar deixando de considerar fatores como personalidade ou reações
naturais frente aos problemas cotidianos ou atitudes e hábitos adquiridos ao longo da vida.

Outros podem negar totalmente o diagnóstico, é o caso de nenhuma identificação, em


que o paciente acredita que as pessoas (médicos e familiares) estão totalmente equivocadas
quanto ao seu comportamento que é apenas seu jeito particular de reagir frente aos
acontecimentos.

Há ainda os que se identificam um pouco com o diagnóstico, estes aceitam, porém não
mudam em nada seu estilo de vida e não seguem as orientações da equipe médica.

Assim sendo, a não aceitação do tratamento medicamentoso pode resultar em recaídas


e consequentemente em internações. As oscilações do humor causam prejuízos funcionais,
laborais, afetivos e pessoais evidentes na vida do paciente e de seus familiares, ocasionando
diminuição da produtividade no trabalho e como consequência por vezes a perda do emprego,
bem como conflitos com familiares e pessoas próximas pois o indivíduo apresenta
comportamentos inadequados e de difícil convívio (MIKLOWITZ, 2009).

Pessoas com Transtorno Bipolar apresentam índices de envolvimento significativo


com assassinato, suicídio e acidentes. Por envolverem mais em atividades de riscos, se
colocam em situações diversas com alto potencial destrutivo. Estes indivíduos são impulsivos
e perdem o controle e a capacidade de avaliar suas reais competências, em especial quando na
fase maníaca se envolvem em atividades financeiras como compras exageradas e
desnecessárias sem ter recurso financeiro para arcar com os gastos. Desse modo pode em
muitos casos envolver familiares, cônjuges e até amigos, trazendo desgastes para todos os
envolvidos. HIRSCHFELDT; VORNIK, (2004 apud CELHO, 2012).

Os familiares e ou cuidadores de pessoas com transtorno Afetivo Bipolar sofrem uma


carga expressiva de estresse, o que pode muitas vezes levá-los a algum quadro de
adoecimento, tendo em vista que o convívio direto com estes pacientes não é nada fácil, torna-
se igualmente necessário uma abordagem psicoeducativa também para com estes familiares
15

com o intuito de gerar conhecimentos a respeito do transtorno bem como desmistificar


conceitos errôneos (SOUZA e SOUZA, 2011).

Os prejuízos funcionais na vida dessas pessoas são expressivos, muitos deles em


função de alterações das funções cognitivas, conforme Kapcinski, Quevedo e Cols (2016) não
existe um consenso, especialmente por falta de estudos sobre deterioração cognitiva no
Transtorno Bipolar, que confirme se os déficits cognitivos existentes em pacientes bipolares
são uma condição pré-existente ou se é uma consequência da própria doença.

Ainda conforme Kapcinski, Quevedo e Cols (2016) algumas funções cognitivas ficam
alteradas nestes pacientes a saber a atenção, esta afeta diretamente as funções executivas,
dificulta o aprendizado e interfere nas funções psicomotoras. No que se refere a memória,
pacientes deprimidos apresentam dificuldade em tarefas de reconhecimentos enquanto que
pacientes hipomaníacos demonstram dificuldades em acessar a memória de longo prazo Malhi
et al (2007 apud KAPCINSKI, QUEVEDO e COLS, 2016 ). Ainda que em graus diferentes,
as funções executivas e funcionamento motor também ficam comprometidas conforme a fase
vivenciada maníaca, hipomaníaca ou depressiva.

Além das consequências citadas anteriormente, o suicídio pode estar presente no


decorrer da vida destas pessoas, em especial nas fases da depressão e ciclotimia (OLIVEIRA,
SCHWARTZ e STAHL, 2015). Ainda em relação à possibilidade de suicídio Etain et al (2008,
apud COELHO, 2012) assinalam que 25% dos indivíduos com Transtorno bipolar tentam
suicídio e 11% destas pessoas de fato conseguem acabar com a própria vida. O que pode ser
mais preocupante ainda é que existe um aumento deste número para 15% em pacientes que
não estão em tratamento.

Estes pacientes experimentam ao longo da vida pensamentos suicidas, seja para se


livrarem do alto grau de sofrimento ou por que não veem mais sentido para a vida e realmente
preferem morrer. O tratamento farmacológico diminui o risco de tentativa e de suicídio em
pessoas com TAB, estes fármacos atuam diretamente na regulação da serotonina
(neurotransmissor responsável pela regulação do humor) e com isto, tem forte potencial de
controle do impulso suicida (MIKLOWITZ, 2009).

No entanto, a monoterapia no Transtorno Afetivo Bipolar não consegue abarcar toda a


complexidade deste transtorno, assim sendo, é fundamental lançar mão do tratamento
combinado com intervenções psicoterápicas. A intervenção psicoterapêutica tem como
16

objetivo trabalhar questões tais como a adesão medicamentosa, compreensão e aceitação do


diagnóstico, regularizar o ciclo do sono-vigília, melhorar os relacionamentos no âmbito social
e ocupacional (família, trabalho, amigos) possibilitando funcionamento mais efetivo em
atividades sociais e laborativas. Além de instalar esperança e melhorar o autoconhecimento
do seu estado de humor proporcionando ao indivíduo identificar os sinais prodrômicos e
assim prevenir recaídas (OLIVEIRA, SCHWARTZ e STAHL, 2015).

Partindo desta explanação, esta pesquisa levanta o seguinte problema: qual a eficácia
das técnicas da teoria cognitivo comportamental (TCC) na adesão ao tratamento
farmacológico no Transtorno Afetivo Bipolar?

"A TCC é uma modalidade de psicoterapia estruturada de curta duração com foco no
presente, voltada para solução de problemas e a modificação de pensamentos e
comportamentos disfuncionais" BECK (2013, p. 22). Este tratamento é pautado em uma
conceituação cognitiva do paciente onde o terapeuta irá compreender seu funcionamento, suas
dificuldades, esquemas e crenças disfuncionais (BECK , 2013).

Conforme a teoria cognitiva os significados atribuídos aos acontecimentos é que


determinam a maneira de se comportar dos indivíduos e assim constroem hipóteses sobre si,
sobre o mundo e sobre o futuro (MIKLOWITZ, 2009).

Conforme a TCC existe pensamentos que são chamados de pensamentos automáticos


(PA), estes têm como características ser involuntário e rápido, não são inconscientes, porém a
maioria das pessoas não se dá conta quando eles surgem, são geralmente considerados como
verdades incontestáveis. Estes PAs são na maioria das vezes disfuncionais e não expressam
uma visão realista dos acontecimentos. Para que os pacientes tenham uma melhora no seu
estado de humor é preciso que aprendam a avaliar seus pensamentos de forma mais realista e
adaptativa. Assim sendo, o objetivo da terapia é ajudar o paciente a identificar e avaliar estes
pensamentos disfuncionais modificando-os por pensamentos mais adaptativos. (BECK e
KNAPP, 2008).

Conforme Beck (2013), os PAs têm origem nas crenças centrais ou também chamadas
de esquemas, estas crenças podem ser disfuncionais ou não, e estão em um nível mais
profundo, são globais e rígidas. São ideias que foram incorporadas na nossa mente no começo
da infância por meio das nossas interações com o mundo e com as pessoas, e assim definem o
modo como o indivíduo percebe a si mesmo, o mundo e seu futuro. A crença intermediaria
17

também é influenciada pela crença central, é composta por regras, atitudes e suposições, e
estas são estratégias comportamentais criadas para enfrentar ou compensar suas crenças
centrais.

Ainda conforme Beck (2013) a TCC apresenta em um de seus princípios a


característica de ser educativa possuindo o objetivo de ensinar o paciente sobre o seu
transtorno, sobre a TCC e sobre o modelo cognitivo, ajudando o paciente a ter um papel mais
ativo no seu processo de tratamento. A psicoterapia na abordagem da Teoria Cognitivo
Comportamental no Transtorno Afetivo Bipolar tem suas especificidades e seu principal
elemento é o fator educacional, iniciando por fornecer ao paciente informações sobre o que
acontece em cada fase do transtorno, suas implicações nas mudanças de pensamentos e
comportamentos. Aqui o foco é gerar no indivíduo autonomia suficiente para que este consiga
lidar com o Transtorno Bipolar no seu meio familiar, profissional e social, lembrando que as
pessoas de um modo geral não sabem como reagir diante de um familiar ou colega de trabalho
com diagnóstico de bipolaridade, assim alguns querem superproteger enquanto outros se
afastam, as reações são diversas (MIKLOWITZ, 2009).

Ainda conforme Miklowitz (2009) a aliança terapêutica deve ser pensada não somente
com o paciente, mas também com os familiares, ensinando-os sobre o funcionamento e os
sintomas do transtorno. No ambiente de trabalho é possível realizar algumas modificações que
podem ajudar na melhora funcional do paciente por exemplo, evitando trabalhos que
estimulem demasiadamente o paciente e trocando horários de entrada que podem afetar os
ritmos circadianos da pessoa.

Dentre as técnicas da TCC mais utilizadas na psicoterapia para o TAB encontra-se:


Ativação comportamental; Mapeamento da vida; Gráfico do humor; Afetivograma;
Reestruturação cognitiva; Treino de habilidades sociais; Resolução de problemas e
Psicoeducação (NETO, 2004).

A ativação comportamental é aplicada na fase da depressão, sua principal função é


modificar o humor disfórico por meio do aumento do contato com o ambiente físico e social
do indivíduo. Pessoas depressivas geralmente evitam atividades que antes lhes davam prazer e
se aproximam de comportamentos pouco reforçadores positivamente piorando ainda mais a
depressão (BECK, 2013).
18

O mapeamento da vida é uma técnica que visa demonstrar ao paciente os altos e


baixos da sua vida em relação ao processo de adoecimento (em uma folha de papel deve
traçar uma linha e identificar os momentos de oscilação do humor – mania e depressão- e os
acontecimentos presentes nestes momentos. Pode ser avaliado aspectos como: o período e as
implicações das fases, bem como interferência do tratamento (NETO, 2004). Já a construção
do gráfico do humor é diária, e permite ao paciente acompanhar o decurso das suas variações
de humor diariamente (em uma folha de papel deve traçar uma linha e anotar quando perceber
mudanças no humor, no pensamento e comportamento), esta atividade viabiliza a
identificação de sinais sintomatológicos e por conseguinte oportuniza ao paciente tomar
medidas preventivas para evitar novas crises e internação ou até mesmo uma ação suicida
(NETO, 2004).

O mapeamento da vida e o gráfico do humor são importantes ferramentas tanto para o


paciente quanto para o médico, por permitir a ambos uma visão ampla do funcionamento do
paciente enquanto portador do Transtorno Afetivo Bipolar. Ao médico é útil na tomada de
decisão da prescrição medicamentosa, tento em vista que o gráfico apresenta o funcionamento
do paciente no decorrer de todo o mês e proporciona ao paciente um melhor conhecimento do
seu humor e entendimento sobre as influências que o seu ambiente opera na modificação do
humor, além de contribuir para adesão medicamentosa (NETO, 2004).

A reestruturação cognitiva tem o objetivo de identificar pensamentos automáticos


distorcidos, crenças intermediarias (regras, atitudes e pressupostos) e crenças centrais
(conceitos enraizados sobre si, sobre os outros e sobre o mundo) e por meio do uso de
técnicas tais como: questionamento socrático, experimentos comportamentais e continuum
cognitivo entre outras, modificar estes pensamentos e crenças disfuncionais promovendo uma
Interpretação das situações de forma mais realística e mais adaptativa(BECK, 2013).

O treino de habilidades sociais é importante ferramenta para ajudar o indivíduo nas


relações sociais tais como: confronto de opiniões; reclamar direitos, sem, contudo, ferir o
direito do outro; recusar pedidos; fazer leitura correta do ambiente social. Todos estes
comportamentos se estão disfuncionais acarretam em grandes prejuízos na vida psicossocial
do paciente (BECK, 2013).

A técnica de resolução de problemas tem como foco trabalhar os problemas da vida


real. O paciente deverá selecionar os problemas a serem resolvidos e posteriormente pensar
19

em alternativas para a solução destes usando como modelo problemas resolvidos no passado
ou imaginando como aconselharia alguém com o mesmo problema. Para aqueles com muita
dificuldade para solução de problemas por falta de habilidade, usa-se a instrução direta que
consiste em ajudar o paciente a expor minunciosamente um problema, imaginar as soluções
possíveis e avaliar as vantagens e desvantagens de cada solução (BECK, 2013).

A psicoeducação favorece ao portador do TAB e a seus familiares, conhecimento


sobre o seu adoecimento levando em conta o processo, e o funcionamento da doença,
possibilitando igualmente o reconhecimento dos diversos sintomas no início de cada fase.
Deste modo, a identificação dos pródromos de mania ou depressão possibilita a intervenção
antes que se instale uma crise aguda (OLIVEIRA, SCHWARTZ e STAHL, 2015).

A psicoeducação tanto na modalidade individual como em grupo proporciona menor


número de recaídas, redução nos casos de internação e melhora na adesão medicamentosa. A
psicoeducação em grupo ainda possibilita a troca de experiência entre os participantes o que
pode levar a sentimento de pertencimento diminuindo então a sensação de isolamento
(GOMES, 2010).

A psicoeducação também favorece o reconhecimento das implicações de ser portador


de um transtorno mental crônico e, com isto, o paciente poderá se conscientizar sobre a
necessidade do tratamento medicamentoso compreendendo os prejuízos gerados na vida
social, ocupacional e familiar quando não há adesão ao tratamento (MENEZES E SOUZA,
2011).

Conforme citado anteriormente, há uma alta taxa de não adesão dos portadores do
TAB ao tratamento medicamentoso tornando recaídas e hospitalização muito frequente na
vida destes pacientes. Assim sendo, a adesão ao tratamento medicamentoso torna-se
primordial para obtenção de uma melhora na qualidade de vida de todos os envolvidos
(SOUZA et al, 2013). Diante do exposto, esta pesquisa pretende investigar a eficácia das
técnicas da teoria cognitivo comportamental (TCC) na adesão ao tratamento farmacológico no
transtorno afetivo bipolar e assim contribuir com a produção do conhecimento.
20

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho teve como objetivo geral investigar a eficácia das técnicas da teoria cognitivo
comportamental na adesão ao tratamento farmacológico no transtorno afetivo bipolar, se trata
de uma revisão da literatura existente a respeito.

2.2 Objetivos Específicos

Com os objetivos específicos, intentou-se analisar os possíveis impactos na vida dos pacientes
portadores do transtorno afetivo bipolar, com dificuldades na adesão medicamentosa, após
intervenção psicoterapêutica usando as técnicas da abordagem da teoria cognitivo
comportamental. Também objetivou-se descrever de quais maneiras a teoria cognitivo
comportamental pode contribuir na adesão medicamentosa no transtorno afetivo bipolar.
Deste modo, procurou-se dados que estabelecessem uma correlação entre a intervenção
psicoterapêutica usando as técnicas da teoria cognitivo comportamental e a melhora da adesão
medicamentosa dos indivíduos com Transtorno Afetivo Bipolar.
21

3 METODOLOGIA

Foi realizada revisão bibliográfica observando os estudos disponíveis no google


acadêmico com data de publicação entre 2007 e 2017. Na base de dados a classificação foi
por relevância e foram desmarcadas as opções incluir patentes e incluir citações.
Os critérios para seleção do material foram artigos científicos em língua portuguesa
que discutiam a adesão ao tratamento medicamentoso no transtorno afetivo bipolar em grupo
ou individual com foco no referencial teórico da teoria cognitivo comportamental
independente da categoria profissional. Os critérios de exclusão foram os artigos que
antecediam ao ano de 2007, e estudos que abordassem o tema de adesão ao tratamento
medicamentoso para transtorno afetivo bipolar por outra orientação teórica que não a TCC.
As palavras chave adotadas inicialmente foram: Transtorno Afetivo Bipolar, adesão,
medicamentosa, teoria cognitivo comportamental. Pela dificuldade de encontrar trabalhos
usando estes descritores houve a necessidade de modificação de algumas palavras. Ficando da
seguinte maneira: Transtorno Bipolar, adesão, farmacoterapia, teoria cognitivo
comportamental.
Foi utilizada a abordagem qualitativa para análise deste estudo com o intuito de
investigar a eficácia das técnicas da teoria cognitivo comportamental na adesão ao tratamento
farmacológico no transtorno afetivo bipolar.
22

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro momento foram encontrados 399 trabalhos entre artigos e dissertações,


destes foram selecionados por meio da leitura dos títulos 24 trabalhos que abordaram o tema
do Transtorno Afetivo bipolar, psicoterapia e farmacologia. Após este levantamento foi feita a
leitura dos resumos e novamente foram selecionadas 4 publicações, pois somente estas
abordaram a intervenção da teoria cognitivo comportamental e adesão medicamentosa no
Transtorno Afetivo Bipolar. Dos 4 trabalhos selecionados 3 se tratavam de revisão da
literatura e 1 trabalho era uma dissertação (estudo randomizado e controlado) realizado em
domicílio de pacientes portadores do transtorno afetivo bipolar. Dentre os 3 artigos, 2
relataram intervenção psicológica em grupo, e outro relatou estudos de intervenção individual.
Estes estudos foram analisados qualitativamente com o intuito de investigar a eficácia
das técnicas da teoria cognitivo comportamental na adesão ao tratamento farmacológico no
transtorno afetivo bipolar.
Todos os estudos elencados neste levantamento bibliográfico abordaram o tema
proposto, no entanto se estenderam para além da adesão medicamentosa (reestruturação
cognitiva, modificação de pensamentos, sentimentos e comportamentos, técnicas de
habilidades sociais, resolução de problemas). A fim de identificação, cada artigo apresentado
foi enumerado conforme ordem de apresentação na tabela abaixo, assim quando se referir ao
primeiro artigo da tabela, este será identificado como artigo 1 e assim por diante.

Figura 2: Artigos encontrados e selecionados a partir da revisão da literatura


ANO E PRINCIPAIS
TÍTULO OBJETIVO
AUTOR(ES) RESULTADOS

A eficácia da Avaliar a eficácia da Houve confirmação do


psicoeducação psicoeducação aumento significativo na
domiciliar em domiciliar em adesão medicamentosa após
2013 pacientes com pacientes com intervenção com o uso de
transtorno afetivo transtorno afetivo abordagem
Batista bipolar em tratamento bipolar em tratamento psicoeducacional de 60%
Art. 1 na rede coletiva de farmacológico para 93.3% de adesão ao
saúde mental de padrão, realizada em tratamento farmacológico.
Ribeirão Preto. suas residências.
Trata-se de estudo
randomizado com 30
23

pacientes com TAB.

Intervenção O objetivo deste Foram selecionados 8


psicológica em grupo artigo consistiu em artigos. Todos os estudos
2016
para pacientes com realizar uma revisão incluíram a psicoeducação
Costa, Santos e diagnóstico de da literatura acerca de como instrumento de
Soares transtorno bipolar: intervenções em intervenção e seus autores
uma revisão da grupo realizadas no ressaltam a psicoeducação
literatura Brasil voltadas às como forte ferramenta para
pessoas com esse a adesão medicamentosa.
Art. 2
diagnóstico.

Realizou-se uma
busca

2010 Intervenções Este trabalho visa Foram encontradas técnicas


cognitivo- apresentar os últimos com adaptações específicas
Matta et al comportamentais no achados referentes às da TCC para o transtorno,
transtorno de humor aplicações e à eficácia associadas à psicoeducacão.
bipolar da TCC no tratamento
Art. 3 do THB.

Psicoterapia em grupo Avaliar a efetividade De cinco trabalhos


2007 de pacientes com da terapia de grupo no encontrados, três utilizaram
transtorno afetivo tratamento do modelos de psicoeducação,
Gomes e Lafer transtorno afetivo
bipolar encontrando aumento na
bipolar.
Art. 4 adesão ao tratamento
farmacológico.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados coletados.

Os resultados apresentados no artigo 1 ressaltam que as características dos grupos em


estudos eram homogêneas quanto a variáveis demográficas e marcadores de gravidade da
doença, todos os participantes estavam em acompanhamento psiquiátrico e fazendo uso de,
pelo menos, um estabilizador do humor. Este estudo seguiu com as seguintes avaliações:
avaliação da depressão, da mania, adequação social, qualidade de vida e adesão aos
medicamentos.
Para os resultados das escalas de medida no que tange, a recaída sintomática, o grupo
controle apresentou um pequeno aumento nos escores da escala, enquanto que o grupo
experimental apresentou uma queda significativa no escores ao final dos estudos. Nos
sintomas depressivos houve queda significativa, já nos sintomas de mania as médias iniciaram
24

baixas e não houve diferença significativa entre os grupos controle e experimental, quanto a
qualidade de vida não houve diferença significativa para ambos os grupos, também não houve
diferença significativa na adequação social para ambos os grupos já para a avaliação da
adesão medicamentosa houve confirmação do aumento significativo de 60% para 93.3% de
adesão ao tratamento farmacológico.
Este estudo não fez correlação entre aumento da adesão medicamentosa e melhora na
qualidade de vida do portador de transtorno bipolar, no entanto pode-se verificar a eficácia da
psicoeducação na adesão medicamentosa tendo em vista o aumento significativo de 60%
antes da intervenção para 93% após a intervenção.
O artigo 2 se tratou de uma revisão bibliográfica, seu objetivo consistiu em realizar
uma revisão da literatura acerca de intervenções em grupo realizadas no Brasil voltadas às
pessoas com o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar. De 501 trabalhos relacionados, 8
atenderam aos requisitos propostos para o estudo em questão.
Segundo Costa, Santos e Soares (2016) as pesquisas nesta área no Brasil são recentes,
ressaltam que todos os trabalhos analisados tinham a psicoeducação como ferramenta de
intervenção, apenas quatro estudos informaram a abordagem psicológica utilizada sendo que
três estudos se tratou da abordagem da teoria cognitivo comportamental. Estas não se
limitaram somente a adesão ao tratamento, mas também trabalharam questões tais como,
conhecimento do transtorno, identificação dos sinais sintomáticos, relações sociais
(estressores), hábitos saudáveis e uso de substâncias ilícitas.
Os autores da pesquisa 2 observaram que a adesão medicamentosa é um dos objetivos
de um grupo para portadores do Transtorno Afetivo Bipolar, para tanto Vinogradov e Yalom
(1992 apud COSTA, SANTOS e SOARES, 2016) salientaram que a adesão ao grupo, a
participação dos familiares e a relação entre os próprios membros do grupo é que vai
favorecer o cumprimento deste objetivo. Igualmente Santos et al. (2013 apud, COSTA,
SSNTOS e SOARES, 2016) acrescenta a interferência da postura do terapeuta no grupo como
variável importante neste processo.
Dos 8 trabalhos analisados na pesquisa 2, apenas dois relataram intervenção com o
intuito de promover adesão farmacológica, destes um relatou melhora na adesão
medicamentosa após intervenção com psicoeducação.
O artigo 3 é uma revisão bibliográfica de artigos e consulta de livros publicados entre
1999 e 2009, seu objetivo é de apresentar as últimas produções científicas no que concerne a
eficácia da teoria cognitivo comportamental para o tratamento de pessoas portadoras do
Transtorno Afetivo Bipolar.
25

Matta et al (2010) ressalta a importância de primeiro trabalhar a adesão


medicamentosa no TAB, para posteriormente lançar mão de um programa de TCC para
modificação de distorções cognitivas, resolução de problemas e identificação de pródromos,
ou seja, antes de engajar em um tratamento para melhora global da vida do paciente é
necessário trabalhar adesão medicamentosa. Isto se justifica pela dificuldade em acessar estes
pacientes quando em fase de mania ou depressão pela característica particular do próprio
transtorno Colom & Lam, 2005; Juruena, 2004; Sudak, 2008 (apud MATTA et al 2010).
As técnicas da terapia cognitivo comportamental, para psicoterapia com pacientes
portadores do TAB encontradas nos estudos de Matta et al (2010) foram: Lista de vantagem e
desvantagem de uma ação; Exercício de resolução de problemas; Questionamento socrático;
Desafio da lógica disfuncional; Gráfico do humor, afetivograma; Linha da vida; Registro de
pensamentos automáticos; Verificação sensória e psicoeducação.
Os achados no referido estudo indicam que o tratamento com a TCC para pacientes
com TAB tem bons resultados, apontando redução significativa de recaídas e hospitalização e
melhora na adesão à medicação. Embora tenham abordado a adesão medicamentosa, nenhum
estudo teve este tema como foco principal.
Artigo7 se trata de uma revisão bibliográfica, seu objetivo foi de verificar a eficácia
da intervenção em grupo para indivíduos com Transtorno Afetivo Bipolar. De 5 estudos
selecionados dentro dos critérios dos autores, 3 estudos utilizaram modelo de psicoeducação .
Destes 3, um estudo relatou melhora dos pacientes devido ao conhecimento adquirido sobre o
transtorno, e melhora na adesão medicamentosa. Outro, demonstrou redução de internações
hospitalares e redução no número de recaídas, além da melhora na adesão farmacológica.
Mesmo, Gomes e Lafer (2007) tendo pontuado para se ter cuidado com os resultados
de um outro estudo, devido ao número reduzido tanto dos participantes quanto do tempo de
seguimento, estes verificaram a eficácia na adesão medicamentosa dos pacientes após
intervenção de programa psicoeducativo.
Figura 3: Principais características dos resultados encontrados nos estudos selecionados
Intervenção com foco
Quantidade de Resultados para
na
Tipo estudos adesão
Adesão medicamentosa
medicamentosa

Artigo (1) 1 estudo com 30 Não Houve confirmação do


pacientes aumento significativo
26

Dissertação de 60% para 93.3% de


adesão ao tratamento
farmacológico.

Artigo (2) 8 estudos Não 2 estudos indicaram


intervenção para
Revisão de literatura 4 a 12 pacientes adesão medicamentosa
por grupo e um com resultado
confirmado.

Artigo (3) Não especificados Não Indicação de melhora


na adesão
Revisão de literatura medicamentosa após
intervenção com TCC.

Artigo (4) 5 estudos Não Os 3 grupos que


citaram intervenção
Revisão de literatura Mínimo de 20 para adesão
pacientes por medicamentosa
grupo obtiveram bons
resultados

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados coletados.

Tendo em vista que os achados nas pesquisas selecionadas abrangeram assuntos para
além do tema de interesse para este levantamento, deu-se prioridade apenas aos aspectos
referentes a adesão farmacológica após intervenção com alguma técnica da Teoria Cognitivo
Comportamental, portanto deixou-se de apresentar alguns dados que não contemplaram esta
temática.
Em 5 pesquisas estudas, foi observado a presença de 14 estudos randomizados o que
demonstra uma quantidade extremamente pequena de estudos para um Transtorno que atinge
1% da população conforme Lima et al (2005 apud MATTA et al 2010). Deste modo foi
possível perceber a escassez de pesquisas com estudos Controlados e Randomizados que
abordam o tema da adesão medicamentosa e suas implicações no cotidiano de quem é
portador do Transtorno Bipolar.
Contudo, todos os estudos apresentaram eficácia quanto a adesão medicamentosa após
intervenção com psicoeducação. No artigo 1 o autor apresenta em seus resultados importantes
dados indicando que houve a adesão farmacológica após intervenção de um programa de
27

psicoeducação, porém não houve impactos positivos nem negativos na recuperação funcional
nem tão pouco na recuperação sintomática dos pacientes, no entanto não houve recaídas tendo
em vista que estes permaneceram eutímicos.
É sabido que o uso da medicação é imprescindível no tratamento do Transtorno
Afetivo Bipolar, embora não seja a única forma de tratamento é sem dúvida a principal. Pois
este transtorno tem forte componente biológico que alteram os níveis bioquímico cerebral do
indivíduo (BATISTA, 2013). Portanto ainda que não houve alteração positiva na
funcionalidade dos pacientes é positivo notar que este tipo de intervenção foi útil quanto a
adesão ao tratamento.
No estudo 2, a partir de um levantamento bibliográfico foram selecionadas 8
pesquisas, estas conforme Costa, Santos e Soares (2016) tratam de assuntos diversificados,
mas que todas têm o interesse de demonstrar a intervenção da psicoeducação sobre algum
aspecto do Transtorno Bipolar. Apenas 2 estudos tiveram pesquisas que versam sobre a adesão
ao uso do medicamento, sendo que um relata que houve adesão ao tratamento farmacológico.
Os autores acentuam que os achados da sua pesquisa não são suficientes para fazer uma
análise mais contundente, sugerindo que houve algumas lacunas e variáveis que podem tem
interferido nos resultados. Neste estudo foi observado que tanto a pequena quantidade de
pesquisas quanto a falta de um padrão metodológico nas que foram realizadas podem ter
interferido nos dados desta produção científica.
No entanto, mesmo com todas estas questões apresentadas acima, foi possível
observar a eficácia da intervenção da psicoeducação no quesito qualidade de vida. Muito
embora, não tenham feito nenhuma correlação entre adesão farmacológica e a melhora na
qualidade de vida é importante ressaltar que Matta et al ( 2010 ) refere que uso regular da
medicação conforme prescrição médica torna o transtorno estável, e isto pode deixá-lo com
níveis cognitivos menos comprometidos ou mais acessível tanto para os deprimidos quanto
para os que estão na mania ou hipomania neste último caso, diferenciando apenas na
intensidade dos sintomas o que pode possibilitar a intervenção psicológica para se trabalhar
questões como resolução de problemas, manejo do estresse entre outras que estão interferindo
no bem-estar de um modo geral dos pacientes.
Foi possível observar que houve melhora após intervenção com psicoeducação nos
seguintes domínios (estresse, crenças irracionais, número de recaídas, conhecimento sobre o
transtorno e depressão).
No artigo 3 não foi possível avaliar a quantidade de grupos pesquisados por não terem
quantificado os achados dos seus estudos, mas relatam algumas pesquisas de estudos
28

Randomizados Controlados que trazem resultados positivos para a adesão medicamentosa e


melhora na qualidade de vida. Outro estudo demonstrou bons resultados na prevenção de
recaídas associada ao uso do medicamento.
Matta et al (2010) observa a importância do planejamento das intervenções
psicológicas para indivíduos com Transtorno Bipolar serem adaptadas em função da
complexidade e diversidade em que se apresenta este Transtorno, tendo em vista que este se
manifesta de maneiras diferentes, é importante adaptar as técnicas bem como os manejos de
intervenção dependendo das características do público-alvo. Assim Colom e Lam (2005 apud
MATTA et al, 2010) defendem a ideia de que pacientes deprimidos apresentam
especificidades cognitivas que podem influenciar na abordagem da TCC diferentes dos
pacientes que estão na fase da mania ou hipomania.
No artigo 4 foram apresentados em seus resultados intervenções combinadas
(elementos da terapia humanista com elementos da terapia comportamental) e intervenções
psicoeducativas. Para fins de análise dos resultados foram considerados somente os grupos
com intervenções psicoeducativas.
É consenso entre os autores pesquisados que o Transtorno Bipolar tem etiologia
biopsicossocial, portanto é fundamental que seu tratamento também seja voltado para além do
medicamento, neste sentido, é de suma importância que pesquisas com esta temática seja
produzida, no entanto Gomes e Lafer (2007) enfatizam que são poucos os estudos
psicológicos randomizados controlados para indivíduos com Transtorno Bipolar, contudo
salientam que nos últimos anos estes números vêm aumentando.
Os grupos que utilizaram intervenção com psicoeducação obtiveram resultados
positivos para adesão medicamentosa e redução no número de recaídas e hospitalizações. Os
autores observaram aumento no conhecimento do Transtorno mesmo em programas simples
de psicoeducação, no entanto alguns não avaliaram a adesão medicamentosa.
29

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa alcançou os objetivos propostos na medida em que foi observado a


eficácia das técnicas da teoria cognitivo comportamental na adesão medicamentosa no
transtorno afetivo bipolar, em especial a psicoeducação que foi citada por diversos autores
como uma técnica eficaz não somente na adesão medicamentosa como também no aumento
do conhecimento do transtorno, na melhor aceitação do diagnóstico e no reconhecimento dos
sinais prodrômicos resultando em redução de recaídas. Podendo ser trabalhada tanto com os
pacientes como com os seus familiares.
Como observado nesta pesquisa, são poucos os trabalhos produzidos com enfoque na
temática da adesão medicamentosa e os impactos na vida dos portadores do Transtorno
Afetivo Bipolar, Também não houve pesquisas que descreveram de forma didática as técnicas
da teoria cognitivo comportamental para a adesão medicamentosa para posterior replicação.
Por ser um transtorno crônico de difícil manejo, com etiologia biopsicossocial e baixa
adesão medicamentosa, se faz necessário mais estudos randomizados controlados que
abarquem a temática das intervenções psicoterapêuticas para o uso correto do medicamento e
melhora na qualidade de vida geral destas pessoas. Em especial por parte dos profissionais de
psicologia que ainda mantém uma postura de atendimento voltada para o modelo biomédico
fazendo atendimentos individuais em consultórios em detrimento de atendimentos grupais e
com foco psicoeducativo que leve em conta o ser humano como ser biopsicossocial.
30

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