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CURSO DE PSICOLOGIA
FRAIBURGO
2021
MARCIELI DEON DOS SANTOS
FRAIBURGO
2021
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE (a critério do Curso)
Declaro para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade Alto Vale
do Rio do Peixe – UNIARP, a coordenação do Curso de Psicologia, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Caçador, _____/____/______
Acadêmico:____________________________________________________
__________________________________________
Assinatura
MARCIELI DEON DOS SANTOS
Bacharel em Psicologia
_____________________________________
Prof. Madaline Ficagna Roveda
Coordenador do Curso de Psicologia
BANCA EXAMINADORA
Agradeço a Deus por ter me dado forças nos momentos difíceis e não ter
permitido que eu desistisse diante das adversidades.
Agradeço aos meus pais, Angela e Inoel, pelo dom da vida, por terem sempre
me apoiado e me incentivado em todos os momentos, pelo amor e cuidado que
recebi e que me tornaram cada dia uma pessoa melhor.
Agradeço à minha irmã Patrícia pelo incentivo e pela paciência em me ouvir
em vários momentos em que a tristeza surgia, obrigada por sempre fazer com que
eu me sentisse bem.
Agradeço a minha colega de trabalho e amiga Dirlene por me ajudar nas
dificuldades diárias, sem medir esforços.
Agradeço as minhas amigas da faculdade, por compartilharem comigo as
alegrias e tristezas da vida acadêmica, me auxiliando em todos os momentos.
Agradeço aos professores, por todo aprendizado, paciência e disponibilidade
em ensinar com qualidade e perfeição, principalmente à Lirdia Meira que me
mostrou o verdadeiro sentido da psicologia e despertou em mim o anseio e vontade
de aprender cada vez mais.
Agradeço à minha orientadora, Adriana Ribas, por me guiar e ser inspiração
de profissionalismo.
Gratidão a todos que de alguma forma contribuíram para que eu concluísse
mais essa fase da minha vida.
“Prefiro, então, frases que não conduzam o diálogo, mas que transmitam à
pessoa, desde o começo, um compromisso de minha parte. Que ela saiba que não é
um número, que guardo seu nome, que para mim é uma pessoa única, e que me
importa - e muito - ajudá-la”.
(ROLÓN)
RESUMO
INTRODUÇÃO............................................................................................................10
1 DELIMITAÇÕES METODOLÓGICA.......................................................................12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................13
2.1 A MORTE.............................................................................................................13
2.1.1 A Morte no Contexto Histórico e Cultural......................................................15
2.1.2 Tipos de Morte..................................................................................................17
2.1.3 A Morte em Diferentes Fases do Desenvolvimento.....................................20
2.2 O LUTO................................................................................................................23
2.2.1 Luto Normal e Luto Patológico.......................................................................26
2.2.2 Fases do Luto...................................................................................................28
2.2.3 O luto em Diversos Contextos........................................................................32
2.2.4 O Luto na Pandemia........................................................................................36
2.3 RITUAIS DE DESPEDIDA...................................................................................37
2.3.1 A Importância do Ritual de Despedida na Pandemia...................................40
2.3.2 O Tratamento Psicológico no Luto................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................49
REFERÊNCIAS...........................................................................................................51
10
INTRODUÇÃO
1 DELIMITAÇÕES METODOLÓGICA
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A MORTE
Dessa forma, o processo da morte ensina o ser humano a ter uma vida mais
intensa e com sentimentos mais acentuados, marcada por lembranças e bons
momentos que são apreciados enquanto se vive. Assim, entende-se que a
terminalidade é vista de forma diferente por diferentes tipos de pessoas e cada uma
lidará com a situação de acordo com a sua individualidade (RIBEIRO, 2008).
De acordo com Freud (1917 apud RIBEIRO, 2008, p. 74) “ninguém crê em
sua própria morte. Inconscientemente, estamos convencidos de nossa própria
imortalidade”. Por este fato que a morte causa perturbação, recusa e angústia, já
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A morte começa quando não levamos em conta que a morte existe. Quando
nem sequer nos indignamos ao ver os mortos - mortos, não porque a morte
existe, mas porque não lutamos pela vida. A criança miserável que morreu
de fome, o operário que perdeu as mãos, a prostituta que perdeu o amor, o
ser humano que perdeu a humanidade e também o seu ser. O suicida que
não sabe que já morreu antes de matar-se, porque não suportou a vida, a
morte em vida; muitas vezes porque não pode tolerar a morte do outro, e vai
em busca dele, num mundo imaginário, que delírio, engana como se fosse
vida (KOVÁCS, 1992, p. 14).
Para Kübler-Ross (1975 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013) a vida vazia e sem
propósito de alguns indivíduos é relacionado com a negação da morte, ao adiar os
compromissos como se houvesse tempo eterno para fazer. Ademais, ao
compreender que o ser é temporal a pessoa passa a valorizar os momentos e
aproveita o dia para crescer e aprender já que acorda sabendo que poderá ser o
último.
Sendo assim, perante o pavor incontrolável do desconhecido que é o morrer,
o homem busca cada vez mais formas de adiar a morte, já que ela coloca limites na
razão, na percepção e na própria perspectiva de vida. Como um ser racional de sua
terminalidade muitas vezes age como se fosse imortal e em outros momentos fica
acuado que parece não viver (KOVÁCS, 1992).
Ceccon (2017) discorre que a morte é um enigma e o ser humano deixa para
viver depois, esquecendo que a terminalidade faz parte do curso da vida, mesmo
sendo um evento universal, não é encarado com naturalidade, pois geralmente são
acompanhados de traumas e dores.
Nesse sentido, pensar sobre a morte é fundamental, pois permite que o
indivíduo reconheça e aceite a terminalidade, tornando-a menos dolorosa e
aprendendo a lidar com as perdas que sofrerá no decorrer da existência. Além do
mais, é um evento inevitável que faz parte do desenvolvimento humano (OLIVEIRA;
ROCHA, 2016).
Culturalmente o indivíduo está preparado para enfrentar diversas situações,
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as quais está cometido, como casamento, maternidade, escola, entre outros, porém,
não há nada que o prepare para as possíveis perdas que enfrentará no decorrer do
seu desenvolvimento, inclusive à morte, que é algo irremediável (PINCUS, 1989
apud FREITAS, 2018).
Meira e Fensterseifer (2020) corroboram sobre o assunto, ao relatarem que
escutar quando alguém fala sobre a morte é desafiador, afinal, por mais que seja um
tema coibido e rejeitado, os seres humanos têm necessidade de verbalizar. Essa
aproximação leva ao pensamento sobre o sentido da vida, sobre o tempo e
propósito de cada um, assim, percebe-se o quanto o ser é efêmero.
Dessa forma, compreende-se que o morrer não é uma condição inata do ser
humano, mas sim, uma experiência que se aprende e que faz com que o sujeito
tenha consciência da sua finitude. Do mesmo modo, esse pensamento sobre a
temporalidade é assustador, influenciando as atitudes e comportamentos do sujeito
(KOVÁCS, 1992).
Por todos os aspectos observados se faz necessário compreender a morte no
processo histórico e cultural, já que cada indivíduo vê a terminalidade da vida e lida
com ela de acordo com a sua cultura, vivencias e subjetividade. A finitude é um
processo natural do desenvolvimento humano, porém, cada civilização a
compreende de formas diferentes e no tempo que está sendo vivido (COMBINATO;
QUEIROZ, 2006).
cultura ocidental, a cor escura tinha o intuito de representar o medo, portanto, o uso
do véu era visto como uma forma de se proteger do próprio finamento. Do mesmo
modo que a inexistência de cor estaria relacionada com a nostalgia e o luto
(KOVÁCS, 1992).
Vivenciar as situações de morte é uma experiência difícil, pois o viver está
condicionado ao imediatismo, à produção, ao criar, planejar e existir, tornando a vida
cotidiana como se fosse um evento eterno. O indivíduo que deixa de tornar a
existência criativa, acaba sendo entristecido e sem forças, o que pode ocasionar a
morte em vida, assim, viver perde o sentido (FUKUMITSU, 2018).
Nesse sentido, independente da cultura a finitude se caracteriza pelo
interregno das funções vitais do indivíduo e pela consciência que o homem tem da
sua mortalidade. O fim do ciclo vital acompanha o ser humano durante toda a sua
trajetória, é concreta e inevitável (KOVÁCS, 1992). Segundo Morin (1970 apud
KOVÁCS, 1992, p. 29) “a sociedade funciona apesar da morte, contra ela, mas só
existe, enquanto organizada pela morte, com a morte e na morte”.
Por conseguinte, falar sobre morte traz a compreensão do contexto cultural e
de como ela era abordada em cada civilização, porém, é necessário o entendimento
sobre a forma como cada indivíduo encerra esse ciclo, ou seja, pode ocorrer de
forma esperada, súbita, por suicídio e/ou por violência, todas causam sofrimento e
dor para a família e amigos, independente da forma que ocorreu a finitude da vida. A
finitude da vida mostra que o ser humano é feito de instantes, que a morte é uma
permanente companheira que ajuda o sujeito a compreender e aproveitar a vida,
sem apegar-se, pois, é uma condição frágil e breve (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
A morte faz parte da vida dos seres, essa estranheza que gera medo e
ansiedade atinge a todos, independentemente da cultura, da crença e do nível
social. Ao pensar no outro o temor surge pelo sentimento de abandono, da ausência
e falta que o indivíduo fará para o familiar e pessoas próximas. No refletir sobre a
própria finitude, surge a inquietação do quando e de como será o fim, o pavor que a
ideia do morrer causa, desperta inúmeras incógnitas, o medo do sofrimento, do
julgamento divino e do que acontecerá após o óbito (KOVÁCS, 1992).
Em sua obra Ariès (1977 apud KREUZ; GRIGOLETO NETTO, 2021)
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não saber quando ocorrerá a partida final do ente querido. Diante da situação
surge também a dificuldade financeira, a comunicação começa a entrar em lapso
e se torna desgastante, pois acaba restringindo os medos e anseios, assim, a
aflição acaba sendo calada (SOARES; MAUTONI, 2013).
Morte súbita: ocorre de forma inesperada, são os indivíduos que morrem por
acidentes, homicídios, ataques cardíacos, AVC, suicídio, entre outras. Os
familiares ficam revoltados com o acontecimento e o luto demora mais tempo
para ser elaborado, pois é um óbito que não permite despedida ou pedido de
perdão, ele ocorre de forma inesperada (SOARES; MAUTONI, 2013).
Morte por suicídio: causa na família um questionamento intenso, a culpa por não
ter sido evitado a tragédia e o sofrimento psíquico prolongado em busca de
respostas. O suicida deixa marcas no ambiente e na memória das pessoas com
que estabeleceu vínculo afetivo, é uma perda dramática e de difícil
enfrentamento (SOARES; MAUTONI, 2013). Segundo Worden (1998, p. 114
apud SOARES; MAUTONI, 2013, n.p) “[...] o suicídio desencadeia o luto mais
difícil de ser enfrentado e resolvido de maneira eficaz, em qualquer família”.
Morte por violência: Conforme os autores supracitados relatam, quando o
indivíduo morre por violência, a família fica perturbada e com ela o desejo de
vingança e de saber as motivações crescem (SOARES; MAUTONI, 2013).
Morte de filho: considerada devastadora na vida conjugal e dos pais. Deixa
traumas que permanecem ao longo da vida de quem ficou, com ele se vão os
sonhos, planos e esperança de um futuro. Os abortos também envolvem a perda
do ser, por mais que em alguns tipos não seja permitido ver o corpo, se faz
necessário a cerimônia de despedida para que os cuidadores possam
compreender que é o momento de partida e assim consigam elaborar o luto,
expressando os sentimentos e recebendo o apoio necessário (SOARES;
MAUTONI, 2013).
O sofrimento pela perda de alguém que se tinha um vínculo estará sempre
presente, é doloroso e por vezes, insuportável. Diante da morte e da ausência que o
ente fará é que as pessoas percebem o quão importante ele era, por isso gera
indignação e revolta com o que estão vivenciando (SOARES; MAUTONI, 2013).
Segundo Freitas (2018) a dor de perder alguém próximo é torturante, sua
intensidade varia de acordo com a individualidade de cada pessoa e da significância
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que o outro tinha na vida do sobrevivente. Devido à gravidade pode ser considerado
uma condição de ameaça para a saúde psíquica.
Posto isto, percebe-se a importância de compreender a morte nas diversas
fases do desenvolvimento do indivíduo, visto que, cada pessoa reage de uma forma
diferente de acordo com o estágio que está vivendo. Ademais, este aspecto é
necessário para entender que terminalidade é um momento delicado, por mais que
seja a única certeza da vida, mas precisa ser compreendida para que seja menos
difícil lidar com ela. Aprender a lidar com a morte, permite que a pessoa consiga
manejar também as perdas do cotidiano, tornando capaz de superá-las de maneira
mais adequada, compreendendo as lições e vivendo com plenitude a vida
(D’ASSUMPÇÃO, 2018).
Para Fukumitsu (2018) cada sujeito tem uma compreensão sobre a finitude
de sua existência e a forma de se relacionar com a morte. A primeira diz respeito a
uma dor difícil que o ser humano não consegue manejar de forma adequada, é o
sofrimento vivido por muito tempo. A segunda reflete a situação em que o sujeito
teme que a morte chegue antes dele realizar seus objetivos e sonhos. O terceiro
aspecto está relacionado ao nascimento de uma criança, ao explorar o mundo é
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2.2 O LUTO
O luto é uma fase dolorosa em que o indivíduo passa por uma dor emocional
intensa, principalmente, se a perda é significativa. É um processo lento, difícil e que
apresenta muita lamentação, a intensidade do lamento pela vida perdida será
influenciada pela idade de quem ficou e de quem já partiu, pela importância atribuída
ao falecido e pela história dessa pessoa, enfim, só cessará a partir da elaboração da
morte (VIORST, 2005).
A maneira como o ser humano vive e expressa a experiência do luto é
moldado pelas vivencias em sociedade, portanto, a cultura influencia as formas de
apego e como a pessoa lidará com a perda e o pesar (DOKA; MARTIN, 2002 apud
FUKUMITSU, 2018). O indivíduo nunca está preparado para a perda e para o
desconhecido, por isso gera tensão e desconforto pensar em conviver com a falta de
alguém que se era apegado (RIBEIRO, 2008).
Dessa forma, o pesar é a reação da pessoa diante de uma perda, seja ela
simbólica ou real, a perda ocorre inúmeras vezes no decorrer do desenvolvimento
do indivíduo, não necessariamente ligada à morte, mas precisa ser elaborada, pois
gera angústia, solidão e medo. A perda pode ser o fim de um relacionamento,
término de um curso ou de um emprego. A forma como o indivíduo elaborará seu
luto é subjetivo, pois está atrelado as vivencias, dinâmica familiar, cultura e forma de
ver o mundo (KOLINSKI et al., 2007).
De acordo com Soares e Mautoni (2013) a pessoa enlutada passa por
diversos tipos de reações:
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forma natural, pode-se dizer que ele foi bem elaborado. Todavia, se é acompanhado
de tristeza profunda, estado depressivo dificuldade para manejar outras perdas e um
contínuo incômodo pode-se dizer que é um luto mal elaborado (KOLINSKI et al.,
2007).
como ocorrem as fases do luto e em quais situações ela precisa de assistência para
não se tornar patológico (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
Luto pela perda do cônjuge: o estresse desencadeado nesse luto afeta a saúde
física e mental do viúvo. O sistema imunológico fica comprometido e surgem
doenças que podem levar à morte (STROEBE; SCHUT; STROEBE, 2007 apud
PAPALIA; FELDMAN, 2013). A perda da companhia desenvolve no indivíduo uma
fragilidade tão grande, devido a dependência com o mesmo, que em muitos
casos ocorre a morte do sobrevivente logo após o falecimento do cônjuge (RAY,
2004 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Luto pela perda de um dos pais na vida adulta: a morte de um dos pais traz
amadurecimento para o indivíduo, pois força o sujeito a tomar decisões e resolver
problemas que antes não eram enfrentados, assumindo a responsabilidade de
manter a família unida. Essa situação gera em alguns casos à conciliação e
aproximação entre os sobreviventes (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Luto pela perda de um filho: os pais não estão preparados para a perda de um
filho, pois não seguiria a ordem natural da vida. Há pensamentos de falha e de
não ter feito o suficiente, é necessário o apoio de ambos no casal, para que seja
superado esse sofrimento que terá um curso difícil e doloroso (PAPALIA;
FELDMAN, 2013).
elaboração desse tipo de luto é complexa e delicada por não haver a aceitação
(ROCHA; LIMA, 2019).
Os fatores que influenciam a vivência do luto familiar estão relacionados a
fase de desenvolvimento do ciclo de vida da família, ou seja, está associado as
necessidades e objetivos em comum que se modificam com tempo; os valores e
sistemas de crenças, originados da herança sociocultural familiar e que afetam o
comportamento em relação à morte e ao luto; papel do ente querido e as
expectativas diante da perda; por fim, a natureza da morte, se foi violenta,
inesperada e quais complicações elas ocasionam, alguns casos pode evoluir para o
luto patológico (JEFFREYS, 2011 apud FRANCO, 2021).
Para processo do luto no contexto infantil é necessário o suporte e
compreensão dos pais, afinal, a criança utiliza para se comunicar as palavras,
desenhos e brinquedos. O adulto precisa acolher o pueril, respondendo os
questionamentos, reconhecendo seus sentimentos e ressignificando a situação para
aprender a lidar com ela (WALSH; GOLDRICK, 1998; FRANCO, 2010 apud
KOVÁCS, 2021).
De acordo com a faixa etária da criança ela pode expressar a dor do pesar de
diversas formas, menores de 3 anos podem manifestar regressão, tristeza, medo,
falta de apetite, perturbação do sono, retraimento, irritabilidade, perda da fala, atraso
no desenvolvimento e choro frequente. De 3 a 5 anos, os sintomas são enurese,
constipação, incontinência, acesso de raiva, choro e comportamento descontrolado.
Crianças em idade escolar há perda da concentração, mau comportamento,
mentiras, roubos, nervosismo, resistência, apatia, fadiga e sintomas físicos, como
dor de barriga e cabeça (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Os adolescentes têm compreensão da finitude da vida, porém, poderá haver
angústia e dúvidas em relação ao luto, geralmente a primeira experiência do jovem
está na perda de algum amigo, seja de forma natural ou trágica (KOVÁCS, 2021).
Na adolescência também há manifestação de sintomas que comprometem a rotina
do indivíduo, como depressão, problemas somáticos, abandono das atividades
escolares, procrastinação, tentativas de suicídio e comportamentos inadequados
(PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Sendo assim, o luto mal elaborado na adolescência pode ocasionar traumas
que podem não ser resolvidos ao longo da existência do indivíduo. Essas
perturbações podem se manifestar através de atitudes desajustadas, desequilíbrios
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família e ser suporte para os mais fragilizados. O ritual é uma forma de prosseguir e
ressignificar a vida sem a presença do falecido (LISBÔA; CREPALDI, 2003).
para ser superado, pois impede em vários momentos o indivíduo de agir e seguir a
vida. Portanto, os rituais organizam o desenvolvimento da despedida e contribuem
na capacidade de refletir sobre as perdas e encontrar diante disso forças para
superar e processar a experiência vivida.
Dessa forma, é perceptível a relevância dos ritos fúnebres para que os
enlutados consigam elaborar o processo do pesar. Cada indivíduo vivencia de
maneira subjetiva a sua dor, compreendê-la facilita para que o processo ocorra,
portanto, é importante identificar quando os sintomas do luto causam preocupação e
estão sendo difíceis de ser processados e elaborados, a tristeza intensa que não
passa, medos e pensamentos frequentes que causam desconforto e prejuízo no
cotidiano, diante disso, se observa a importância da ajuda de um profissional que
possa auxiliar o sobrevivente e permita que ele encontre um motivo para continuar
vivendo mesmo diante da perda (MAIA et al., 2021).
identificar quais fases ainda precisam ser passadas e quais os impedimentos que
dificultaram a conclusão do processo. No luto retardado significa que o indivíduo
viveu a reação emocional da perda, porém, não foi suficiente pela falta de apoio,
aceitação, pela importância da perda ou pelo número de mortes, assim, a
psicoterapia busca explorar o passado e identificar quais infortúnios impossibilitaram
a elaboração. Já no luto exagerado, considerado um transtorno psicológico, neste
caso, a dor é vivenciada pelo sobrevivente de forma tão intensa e disfuncional que
exige tratamento psiquiátrico e intervenção psicológica para lidar com os conflitos
gerados pela separação. Por fim no pesar mascarado, o sujeito não tem consciência
que os sintomas físicos são resultados de um luto não resolvido (WORNEN, 2013).
Silva (2009 apud LEAL, 2020) enfatiza que no atendimento ao enlutado é
importante que ele tenha conhecimento sobre as fases do luto para ter uma maior
compreensão dos sentimentos e emoções que envolvem esse processo. A autora
esclarece que a psicoterapia deve proporcionar a vivência da morte, promovendo
esclarecimento sobre as alterações psíquicas e comportamentais do sujeito,
explicação sobre as fases do pesar e uso de técnicas que promovam alívio em cada
momento, reconhecimento dos pensamentos e sentimentos negativos, esclarecer as
queixas somáticas e emocionais, como tristeza, torpor, angústia e sentimento de
vazio, e proporcionar uma melhor readaptação do sobrevivente à vida diária.
Inicialmente é identificado os sinais e sintomas do indivíduo, é feito o
reconhecimento da concretude da perda e compartilhado a experiência de vivenciar
o morrer de alguém querido; no segundo período busca-se a resolução dos
problemas, reorganização das tarefas e papéis no ambiente familiar; e na terceira
fase é o retorno das atividades habituais, ressignificando e prosseguindo com a vida.
De acordo com Wornen (2013) o psicoterapeuta deve dar assistência ao
melancólico para que ele enfrente os pensamentos que se esquiva e possa
ressignificar a morte. O profissional deve oferecer ao sobrevivente a permissão para
que ele viva o luto e assim se estabeleça a aliança terapêutica, através do respeito e
empatia pela dor do outro.
No acompanhamento psicológico é exigido uma atenção cuidadosa, no intuito
de ouvir, orientar, oferecer a presença, prestar atenção no que o indivíduo apresenta
e estabelecer um vínculo de confiança para que proporcione tomar decisões com
segurança. A finalidade é que o profissional e paciente possam construir juntos o
significado da vivência da perda e assim buscar uma resolução (FRANCO, 2021).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
afetando a sua vida e deixando de fazer as atividades que antes eram prazerosas.
Assim, como forma de amenizar esta dor, sugere-se que na ausência dos
rituais de corpo presente, seja realizado despedida simbólica por meio de encontros
com os familiares, orações, ligações, formas de efetivar realmente a perda e se
sentir amparado diante do sofrimento e da dor.
Sendo assim, a pesquisa foi relevante porque possibilitou compreender o
morrer, seu processo e finalização. Mostrando que é fundamental se despedir do
ente amado para que haja a concretude do óbito. Nesse sentido, a pesquisa
bibliográfica teve o intuito de abordar o tema morte como um evento doloroso, sendo
necessário a passagem do luto para sua concretização, para alguns ocorre de forma
normal e para outros é prolongado, portanto, os rituais tornam real a perda,
efetivando o adeus e permitindo que o familiar consiga ter compreensão, mesmo
diante do sofrimento, que a vida tem a sua terminalidade, saber lidar com a saudade
é fundamental para ressignificar o viver.
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rituais de despedida na cultura fúnebre do Crato/ CE. 2016. Dissertação (Pós-
graduação em Antropologia) - Universidade Federal da Paraíba, Paraíba, 2016.
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