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UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE – UNIARP

CURSO DE PSICOLOGIA

MARCIELI DEON DOS SANTOS

MORTE E LUTO: A IMPORTÂNCIA DOS RITUAIS DE DESPEDIDA NO


PROCESSO

FRAIBURGO
2021
MARCIELI DEON DOS SANTOS

MORTE E LUTO: A IMPORTÂNCIA DOS RITUAIS DE DESPEDIDA NO


PROCESSO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência para
obtenção do título de Bacharel, do Curso
de Psicologia, da Universidade Alto Vale
do Rio do Peixe – UNIARP.

Orientador: Adriana Ribas

FRAIBURGO
2021
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE (a critério do Curso)

Declaro para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade Alto Vale
do Rio do Peixe – UNIARP, a coordenação do Curso de Psicologia, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Caçador, _____/____/______

Acadêmico:____________________________________________________

__________________________________________
Assinatura
MARCIELI DEON DOS SANTOS

MORTE E LUTO: A IMPORTÂNCIA DOS RITUAIS DE DESPEDIDA EM TEMPO


DE PANDEMIA

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova com nota _____ este


Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Psicologia da
Universidade Alto Vale do Rio do Peixe - UNIARP, como requisito final para obtenção
do título de:

Bacharel em Psicologia

_____________________________________
Prof. Madaline Ficagna Roveda
Coordenador do Curso de Psicologia

BANCA EXAMINADORA

Titulação Xxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxx - UNIARP


(Presidente da Banca/ Orientador)

Titulação Xxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxx - INSTITUIÇÃO


(Membro da banca)

Titulação Xxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxx - INSTITUIÇÃO


(Membro da banca)

Fraiburgo, SC, ___ de __________ de 20__.


Dedico esse trabalho a Deus por ter me mantido em pé em vários momentos,
aos meus pais pela força e apoio e a minha irmã por ter acreditado em mim e por
sua capacidade de alegrar meus dias na correria de cada semestre.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado forças nos momentos difíceis e não ter
permitido que eu desistisse diante das adversidades.
Agradeço aos meus pais, Angela e Inoel, pelo dom da vida, por terem sempre
me apoiado e me incentivado em todos os momentos, pelo amor e cuidado que
recebi e que me tornaram cada dia uma pessoa melhor.
Agradeço à minha irmã Patrícia pelo incentivo e pela paciência em me ouvir
em vários momentos em que a tristeza surgia, obrigada por sempre fazer com que
eu me sentisse bem.
Agradeço a minha colega de trabalho e amiga Dirlene por me ajudar nas
dificuldades diárias, sem medir esforços.
Agradeço as minhas amigas da faculdade, por compartilharem comigo as
alegrias e tristezas da vida acadêmica, me auxiliando em todos os momentos.
Agradeço aos professores, por todo aprendizado, paciência e disponibilidade
em ensinar com qualidade e perfeição, principalmente à Lirdia Meira que me
mostrou o verdadeiro sentido da psicologia e despertou em mim o anseio e vontade
de aprender cada vez mais.
Agradeço à minha orientadora, Adriana Ribas, por me guiar e ser inspiração
de profissionalismo.
Gratidão a todos que de alguma forma contribuíram para que eu concluísse
mais essa fase da minha vida.
“Prefiro, então, frases que não conduzam o diálogo, mas que transmitam à
pessoa, desde o começo, um compromisso de minha parte. Que ela saiba que não é
um número, que guardo seu nome, que para mim é uma pessoa única, e que me
importa - e muito - ajudá-la”.
(ROLÓN)
RESUMO

A morte é um evento inerente ao ser humano, porém, causa estranheza e


desconforto, ninguém está preparado para aceitar a perda do outro, assim, o homem
tenta de várias formas prolongar a vida e vive muitas vezes como se nunca fosse
morrer. Quando uma fatalidade acontece as pessoas se dão conta da finitude da
vida, neste momento, percebem que há um sofrimento intenso e perturbador, a dor
do luto. Sendo assim, os objetivos apresentados neste trabalho propõem
compreender o conceito de morte nos diversos contextos, explicar as fases do luto
como um processo natural nas várias fases do desenvolvimento do indivíduo e
enaltecer a importância dos rituais de despedida reconhecendo a importância da
terapia para o enlutado. A metodologia utilizada foi revisão bibliográfica com estudo
em livros, artigos científicos e revistas eletrônicas, tal pesquisa qualitativa colaborou
para verificar o modo que a morte e o pesar afetam a vida da pessoa, enfatizando
que para a elaboração do luto é fundamental a concretização do processo de forma
natural. Neste sentido, os rituais de despedida são fundamentais para amparar o
lutuoso no acolhimento da morte e na concepção saudável do pesar, os ritos são o
marco da terminalidade da vida, momento em que a família tem a concretude da
perda, tem a sua dor amparada e apoiada por amigos próximos, homenagens são
realizadas, perdões são dados e reconciliações são feitas, o ritual permite a
expressão das emoções e sentimentos e torna real aquele momento doloroso. Por
conseguinte, é relevante destacar que a intervenção psicológica corrobora com essa
resolução, quando o sobrevivente percebe que não consegue lidar com aquela dor e
que ela se intensifica cada a dia, o sofrimento se torna intenso, é perdido o interesse
pela vida e pelas tarefas que antes eram consideradas agradáveis. Portanto, a
psicoterapia permite que o indivíduo aceite a perda, ressignifique e se adapte à nova
vida na inexistência do ente estimado.

Palavras-chave: Morte. Luto. Rituais. Psicoterapia.


ABSTRACT

Death is an event inherent to human beings, however, it causes strangeness and


discomfort, no one is prepared to accept the loss of the other, thus, man tries in
various ways to prolong life and often lives as if he would never die. When a fatality
happens, people realize the finitude of life, at this moment, they realize that there is
an intense and disturbing suffering, the pain of grief. Thus, the objectives presented
in this work propose to understand the concept of death in different contexts, explain
the stages of mourning as a natural process in the various stages of the individual's
development and extol the importance of farewell rituals, recognizing the importance
of therapy for the bereaved . The methodology used was a bibliographic review with
a study in books, scientific articles and electronic journals, such qualitative research
collaborated to verify the way that death and grief affect the person's life,
emphasizing that for the elaboration of grief it is essential to implement the process in
a natural way. In this sense, farewell rituals are essential to support the mourner in
welcoming death and in the healthy conception of grief, the rites are the mark of the
end of life, a moment when the family has the concreteness of the loss, its pain is
supported and supported by close friends, tributes are paid, pardons are given and
reconciliations are made, the ritual allows the expression of emotions and feelings
and makes that painful moment real. Therefore, it is important to highlight that the
psychological intervention corroborates this resolution, when the survivor realizes
that they cannot deal with that pain and that it intensifies every day, the suffering
becomes intense, the interest in life and tasks is lost. that were once considered
pleasant. Therefore, psychotherapy allows the individual to accept the loss, resignify
and adapt to the new life in the absence of the loved one.

Keywords: Death. Grief. Rituals. Psychotherapy.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................10
1 DELIMITAÇÕES METODOLÓGICA.......................................................................12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...............................................................................13
2.1 A MORTE.............................................................................................................13
2.1.1 A Morte no Contexto Histórico e Cultural......................................................15
2.1.2 Tipos de Morte..................................................................................................17
2.1.3 A Morte em Diferentes Fases do Desenvolvimento.....................................20
2.2 O LUTO................................................................................................................23
2.2.1 Luto Normal e Luto Patológico.......................................................................26
2.2.2 Fases do Luto...................................................................................................28
2.2.3 O luto em Diversos Contextos........................................................................32
2.2.4 O Luto na Pandemia........................................................................................36
2.3 RITUAIS DE DESPEDIDA...................................................................................37
2.3.1 A Importância do Ritual de Despedida na Pandemia...................................40
2.3.2 O Tratamento Psicológico no Luto................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................49
REFERÊNCIAS...........................................................................................................51
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INTRODUÇÃO

A finitude da vida é um ciclo que se encerra e ocasiona dor e sofrimento, ao


perder um ente querido as pessoas se desesperam e questionam com revolta os
motivos daquele fato ter calhado, alguns ocorrem de forma tardia e outros
precocemente. Por conseguinte, busca-se enaltecer no presente tema a importância
dos rituais de despedida no processo. Conforme cita Fukumitsu (2018, p. 13) “a vida
humana pode acontecer pontuada por experiências de diferentes tipos de morte, que
não só anunciam o final de nossa existência como também afetam o modo como
interpretamos o fenômeno do morrer”.
O decesso é um evento que faz parte do desenvolvimento do indivíduo em
todo o seu ciclo vital, porém é um processo difícil em que há reluta para aceitá-lo, as
pessoas tendem a impedir a morte e não compreendem que é um acontecimento
inevitável (SOARES; MAUTONI, 2013). Ademais, o decurso do luto é doloroso e
exige tempo e esforço, visto que oscila em momentos negativos de recaídas e
positivos de aceitação (WORDEN, 1998 apud SOARES; MAUTONI, 2013).
Sendo assim, observa-se que o luto e a morte são experiências reprimidas, o
sujeito encontra dificuldade em manifestar o que sente, por isso a recuperação é
mais difícil e longa. Os pensamentos negativos podem gerar reações físicas e
psicológicas dolorosas, desta forma, o apoio dos familiares e o aconselhamento
profissional são fundamentais para a reconstrução do ser. A escuta é necessária no
processo, para que haja a percepção de que a vida continua (SOARES; MAUTONI,
2013).

No fluxo constante da vida, os seres humanos passam por muitas


mudanças. Chegar, partir, crescer, decrescer, conquistar, fracassar, toda
mudança envolve uma perda e um ganho. É necessário abrir do velho
ambiente para aceitar o novo. As pessoas vêm e vão; perde-se um emprego
e consegue-se outro; propriedades e bens são adquiridos e vendidos; novas
habilidades são aprendidas, enquanto outras são abandonadas;
expectativas são atingidas e esperanças são frustradas. Em todas essas
situações, as pessoas enfrentam necessidade de abrir mão de um modo de
vida e de aceitar o outro. Se identificam a mudança como um ganho, a
aceitação não será difícil, mas se é vista como uma perda ou uma “benção
ambivalente”, farão de tudo para resistir a mudança. Isto, resistência à
mudança, acredito ser a base do luto: a relutância em abrir mão de posses,
pessoas, status, expectativas (PARKES, 1998, p. 28).

Dessa forma, percebe-se que a dor do pesar ocasiona demasiado sofrimento


na vida do indivíduo, portanto, os rituais de despedida se fazem importantes na
elaboração do luto, é o momento em que o ser buscará conforto e suporte com os
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demais familiares. Ademais, restringir o ritual do adeus entre o doente e a família,


pedidos de perdão e as questões que não foram resolvidas ocasionam sofrença,
pois são fundamentais para as pessoas que permanecem. O luto mal elaborado
pode gerar consequências e prejuízos na vida da pessoa, desde a manifestação
persistente de pensamentos com o ente querido, tristeza excessiva e prolongada,
além da dificuldade de se relacionar e o estresse pós-traumático gerado após a
situação (KREUZ; GRIGOLETO NETTO, 2021). Nesse sentido, a problemática que
norteia esta pesquisa é sobre o impacto da ausência dos rituais de despedida no
processo do luto.
O objetivo principal deste trabalho é reconhecer o luto e a importância dos
rituais de despedida, para isso será necessário compreender o conceito de morte
em diversos contextos, explicar as fases do luto como um processo natural do
indivíduo nas diversas fases do seu desenvolvimento, compreender os rituais de
despedida e reconhecer a importância da terapia para o enlutado. Kreuz e Grigoleto
Netto (2021, p. 47) afirmam que “a supressão ou abreviação dos rituais foi vivida
como experiência traumática, já que os enlutados não puderam oferecer à última
homenagem as pessoas que morreram, provocando frustração, descrença e
indignação”.
O tratado estudo teve grande excrescência para o meio acadêmico, social e
científico. A nível social retrata a problemática da ausência dos rituais de despedida
e a influência para a elaboração do luto. Corrobora com a importância da
psicoterapia para intervir no processo melancólico que ocorre após a perda de um
ente querido, objetivando que o indivíduo tenha a compreensão do processo natural
e da aceitação. No contexto acadêmico e científico o estudo teve relevância, pois é
um objeto de pesquisa rigorosa que trouxe a visão de vários autores para
compreensão do tema, contribuindo de forma favorável para o entendimento e
importância de discutir o luto nas suas diversas fases.
O desenvolvimento desta pesquisa transcorreu de forma bibliográfica com
estudo em livros e artigos. Tendo como finalidade compreender o impacto que a
finitude da vida causa no indivíduo e como os rituais de despedida podem amenizar
esta dor. Diante disso, é fundamental elucidar sobre o tema morte nos seus diversos
contextos, tipos e em diferentes fases do desenvolvimento humano, para que haja o
entendimento de que é algo natural do ciclo existencial.
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13

1 DELIMITAÇÕES METODOLÓGICA

O presente trabalho tem como pressuposto abordar a relação da morte e luto


na vida das pessoas, enfatizando a importância dos rituais de despedida para
elaboração do luto, neste sentido, será utilizado a abordagem qualitativa e o método
de pesquisa bibliográfica.
A pesquisa qualitativa busca descrever, compreender e explicar o motivo dos
acontecimentos, explanando o que precisa ser feito. De acordo com Minayo (2002
apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009) este método de abordagem utiliza o universo de
significados, causas, pretensões, preceitos e atitudes diante dos processos e dos
fenômenos.

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de


referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e
eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao
pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém
pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,
procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher
informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual
se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

Nesse sentido, percebe-se que a pesquisa bibliográfica se fundamenta em


fontes bibliográficas, obtidas a partir de obras escritas adquiridas em meios físicos e
virtuais. Utilizando da coleta de informações, conceitos e dados em livros e artigos
científicos (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
Para a realização deste trabalho foi explorado o conteúdo em artigos
científicos, livros revistas eletrônicas. Desta forma, a revisão bibliográfica atingiu o
objetivo que foi verificar o modo que a morte e o luto afetam a vida do indivíduo,
destacando que para a elaboração do luto é necessário que haja a concretização do
processo de forma normal.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A MORTE

A morte é um fenômeno da vida que causa grande pavor, devido à dificuldade


que as pessoas têm em aceitar a finitude e aprender a lidar com as sensações que a
norteiam. Quando o indivíduo pensa na expectativa de que um dia morrerá,
emoções e reflexões tomam conta do seu ser, sentimentos de várias intensidades
podem surgir, alguns confusos, dolorosos, serenos, raivosos e até mesmo racionais,
depende da subjetividade de cada pessoa e das suas vivências (RIBEIRO, 2008).
O finamento é marcado pela inquietação, mistério e medo do desconhecido,
por mais que o ser humano esteja designado a condição de ser finito, sempre
haverá tentativas para a imortalidade. As representações que o homem tem sobre a
vida e o morrer sofrem alterações no decorrer da sua existência e das experiências
resultantes dela (CAPUTO, 2008).
De acordo com Chagas (2018) a morte ainda é censurada, pois traz a
percepção de destruição do ser e de tudo que ele construiu, portanto, a aceitação da
terminalidade da vida constitui-se uma grande desavio para o sujeito. O medo
relacionado a finitude surge como uma ameaça constante e causa insegurança para
o indivíduo.

O entendimento e a aceitação da ideia da morte constituem hoje um


dos maiores desafios do ser humano. Na verdade, talvez sempre o tenha
sido, porém o temor diante do seu próprio fim, tenha feito com que o homem
a mantenha cada vez mais distante de si, como um desconhecido e eterno
inimigo, ou, por outro lado, tente veementemente combatê-la, como sendo
esta o seu mais devastador inimigo, apesar desta se achar nele próprio
desde o momento da sua concepção, pois independentemente de qualquer
teoria filosófica, teológica ou científica, começamos a morrer no momento
em que nascemos. É o que nos ensina o próprio processo biológico dos
seres vivos: nascer, viver e morrer (CHAGAS, 2018, p. 46).

Dessa forma, o processo da morte ensina o ser humano a ter uma vida mais
intensa e com sentimentos mais acentuados, marcada por lembranças e bons
momentos que são apreciados enquanto se vive. Assim, entende-se que a
terminalidade é vista de forma diferente por diferentes tipos de pessoas e cada uma
lidará com a situação de acordo com a sua individualidade (RIBEIRO, 2008).
De acordo com Freud (1917 apud RIBEIRO, 2008, p. 74) “ninguém crê em
sua própria morte. Inconscientemente, estamos convencidos de nossa própria
imortalidade”. Por este fato que a morte causa perturbação, recusa e angústia, já
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que faz o homem pensar na finitude da sua vida (RIBEIRO, 2008).


Pires (2020, p. 26) relata que “ a vida e a morte constituem os limites da
existência. Entre o primeiro grito da criança ao nascer, e o último suspiro do velho ao
morrer, temos a consciência do ser e do seu destino”. A terminalidade da vida é um
fenômeno natural e chega quando se menos espera, é um evento inevitável e
devastador.

A morte começa quando não levamos em conta que a morte existe. Quando
nem sequer nos indignamos ao ver os mortos - mortos, não porque a morte
existe, mas porque não lutamos pela vida. A criança miserável que morreu
de fome, o operário que perdeu as mãos, a prostituta que perdeu o amor, o
ser humano que perdeu a humanidade e também o seu ser. O suicida que
não sabe que já morreu antes de matar-se, porque não suportou a vida, a
morte em vida; muitas vezes porque não pode tolerar a morte do outro, e vai
em busca dele, num mundo imaginário, que delírio, engana como se fosse
vida (KOVÁCS, 1992, p. 14).

Para Kübler-Ross (1975 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013) a vida vazia e sem
propósito de alguns indivíduos é relacionado com a negação da morte, ao adiar os
compromissos como se houvesse tempo eterno para fazer. Ademais, ao
compreender que o ser é temporal a pessoa passa a valorizar os momentos e
aproveita o dia para crescer e aprender já que acorda sabendo que poderá ser o
último.
Sendo assim, perante o pavor incontrolável do desconhecido que é o morrer,
o homem busca cada vez mais formas de adiar a morte, já que ela coloca limites na
razão, na percepção e na própria perspectiva de vida. Como um ser racional de sua
terminalidade muitas vezes age como se fosse imortal e em outros momentos fica
acuado que parece não viver (KOVÁCS, 1992).
Ceccon (2017) discorre que a morte é um enigma e o ser humano deixa para
viver depois, esquecendo que a terminalidade faz parte do curso da vida, mesmo
sendo um evento universal, não é encarado com naturalidade, pois geralmente são
acompanhados de traumas e dores.
Nesse sentido, pensar sobre a morte é fundamental, pois permite que o
indivíduo reconheça e aceite a terminalidade, tornando-a menos dolorosa e
aprendendo a lidar com as perdas que sofrerá no decorrer da existência. Além do
mais, é um evento inevitável que faz parte do desenvolvimento humano (OLIVEIRA;
ROCHA, 2016).
Culturalmente o indivíduo está preparado para enfrentar diversas situações,
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as quais está cometido, como casamento, maternidade, escola, entre outros, porém,
não há nada que o prepare para as possíveis perdas que enfrentará no decorrer do
seu desenvolvimento, inclusive à morte, que é algo irremediável (PINCUS, 1989
apud FREITAS, 2018).
Meira e Fensterseifer (2020) corroboram sobre o assunto, ao relatarem que
escutar quando alguém fala sobre a morte é desafiador, afinal, por mais que seja um
tema coibido e rejeitado, os seres humanos têm necessidade de verbalizar. Essa
aproximação leva ao pensamento sobre o sentido da vida, sobre o tempo e
propósito de cada um, assim, percebe-se o quanto o ser é efêmero.
Dessa forma, compreende-se que o morrer não é uma condição inata do ser
humano, mas sim, uma experiência que se aprende e que faz com que o sujeito
tenha consciência da sua finitude. Do mesmo modo, esse pensamento sobre a
temporalidade é assustador, influenciando as atitudes e comportamentos do sujeito
(KOVÁCS, 1992).
Por todos os aspectos observados se faz necessário compreender a morte no
processo histórico e cultural, já que cada indivíduo vê a terminalidade da vida e lida
com ela de acordo com a sua cultura, vivencias e subjetividade. A finitude é um
processo natural do desenvolvimento humano, porém, cada civilização a
compreende de formas diferentes e no tempo que está sendo vivido (COMBINATO;
QUEIROZ, 2006).

2.1.1 A Morte no Contexto Histórico e Cultural

A terminalidade é uma experiência universal e inerente ao ser humano, está


relacionada há uma série de aspectos, sociais, religiosos, culturais, históricos e
psicológicos, esses fatores afetam o modo como os indivíduos veem a morte e o
morrer. Algumas sociedades de acordo com seus costumes quando se fala da
finitude da vida pregam a aceitação para algo que é inevitável e que o homem é
responsável pelo seu próprio destino (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Ademais, para algumas culturas a morte está relacionada aos cuidados que
se deve ter com o ente querido, ao ambiente que o exímio costuma ocorrer, à vigília
noturna e aos dias que se procedem em que há o compartilhamento de lembranças
e sentimentos acerca do falecido. Na Grécia antiga, Índia e Nepal a cremação era
vista como sinal de honra, porém, não é aceita pela lei ortodoxa judaica, devido a
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crença da ressurreição e da vida eterna (AUSUBEL, 1964 apud PAPALIA;


FELDMAN, 2013).
Nos costumes japoneses há o incentivo para que os vivos mantenham
contato com os mortos, os familiares dedicam um altar ao ente querido para que
conversem e lhes ofereçam alimentos. Já os nativos americanos tendem a esquecer
o falecido de forma rápida, pois temem os espíritos. Na civilização muçulmana do
Egito o hábito é demonstrar o sofrimento por meio de expressão de pesar. Os
mulçumanos de Bali suprimem a tristeza, riem e demonstram contentamento
(STROEBE et al., 1992 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013). Cada povo demonstra
seu sentimento de perda e dor de forma diferente e subjetiva, mas de modo que
consigam lidar com a morte e o luto.
Até o século XVIII para ter uma boa morte era necessário estar cercado de
pessoas queridas, com cerimônia aberta para todos, seguido de sepultamento. A
partir de XIV a terminalidade passou a ser mais solene, apenas com a família,
poucas pessoas, ocorrida muitas vezes no hospital, passando a parear o silêncio,
separando a morte da vida, já que na antiguidade o cemitério e igrejas era um local
compartilhado também pelos vivos (SILVA, 2019).
Com a revolução científica o corpo passou a ser objeto de estudo, a medicina
trouxe a ideia de controlar a morte. Mais tarde, o momento de despedida passou a
ser cercado de gritos, desmaios e dor aparente. Mas foi no século XVI que cor preta
começou a ser usada como uma forma de distinguir os enlutados e separar a morte
da vida (SILVA, 2019).
No ocidente houve uma forma de desmistificar a finitude, na crença religiosa
de vida eterna. Atualmente, a morte é organizada de maneira objetiva, envolve
técnica, costumes e valores, dessa forma, cada indivíduo vive esse processo à sua
maneira, enquanto em alguns povos é vista com serenidade, em outros pode gerar
inconformação e para alguns pode significar o início de outra vida (MATTEDI;
PEREIRA, 2007).
Dessa forma, na cultura ocidental falar de morte ainda é um tema delicado,
por tanto, os cultos tornaram-se marcados pela aparência, pelo individualismo e
pelos rituais a beleza. A finitude mexe com a sensibilidade e fragilidade do ser
humano pelo sentido de perceber que a vida é temporal (OLIVEIRA; ROCHA, 2016).
A praxe que envolve a terminalidade varia de acordo com a cultura, com
sofrimento do indivíduo e a proporção do significado que ele dá para perda. Na
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cultura ocidental, a cor escura tinha o intuito de representar o medo, portanto, o uso
do véu era visto como uma forma de se proteger do próprio finamento. Do mesmo
modo que a inexistência de cor estaria relacionada com a nostalgia e o luto
(KOVÁCS, 1992).
Vivenciar as situações de morte é uma experiência difícil, pois o viver está
condicionado ao imediatismo, à produção, ao criar, planejar e existir, tornando a vida
cotidiana como se fosse um evento eterno. O indivíduo que deixa de tornar a
existência criativa, acaba sendo entristecido e sem forças, o que pode ocasionar a
morte em vida, assim, viver perde o sentido (FUKUMITSU, 2018).
Nesse sentido, independente da cultura a finitude se caracteriza pelo
interregno das funções vitais do indivíduo e pela consciência que o homem tem da
sua mortalidade. O fim do ciclo vital acompanha o ser humano durante toda a sua
trajetória, é concreta e inevitável (KOVÁCS, 1992). Segundo Morin (1970 apud
KOVÁCS, 1992, p. 29) “a sociedade funciona apesar da morte, contra ela, mas só
existe, enquanto organizada pela morte, com a morte e na morte”.
Por conseguinte, falar sobre morte traz a compreensão do contexto cultural e
de como ela era abordada em cada civilização, porém, é necessário o entendimento
sobre a forma como cada indivíduo encerra esse ciclo, ou seja, pode ocorrer de
forma esperada, súbita, por suicídio e/ou por violência, todas causam sofrimento e
dor para a família e amigos, independente da forma que ocorreu a finitude da vida. A
finitude da vida mostra que o ser humano é feito de instantes, que a morte é uma
permanente companheira que ajuda o sujeito a compreender e aproveitar a vida,
sem apegar-se, pois, é uma condição frágil e breve (D’ASSUMPÇÃO, 2018).

2.1.2 Tipos de Morte

A morte faz parte da vida dos seres, essa estranheza que gera medo e
ansiedade atinge a todos, independentemente da cultura, da crença e do nível
social. Ao pensar no outro o temor surge pelo sentimento de abandono, da ausência
e falta que o indivíduo fará para o familiar e pessoas próximas. No refletir sobre a
própria finitude, surge a inquietação do quando e de como será o fim, o pavor que a
ideia do morrer causa, desperta inúmeras incógnitas, o medo do sofrimento, do
julgamento divino e do que acontecerá após o óbito (KOVÁCS, 1992).
Em sua obra Ariès (1977 apud KREUZ; GRIGOLETO NETTO, 2021)
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representa a morte da seguinte forma: domada, considerada trágica, em que o


homem sabia que iria morrer, porém, marcada por homenagens em que o falecido é
rodeado por familiares e pessoas próximas, o velório era considerado uma forma de
efetivar a finitude da vida. A morte invertida é vista como um momento solitário e
desconhecido, resultado de tratamentos sem êxito, que a medicina nada pode fazer.
Já a escancarada remete à violência, suicídios, homicídios, seja na rua ou em casa,
atingindo as classes menos favorecidas (KOVÁCS, 2003 apud KREUZ;
GRIGOLETO NETTO, 2021).
Kovács (1992) discorre que a morte domada ocorrida na época medieval, era
aceita pelas pessoas que recebiam um tipo de sinal de que aconteceria. Na
cerimônia dedicada ao falecido o primeiro ato era a lamentação, manifestação da
tristeza pelo acontecimento, o segundo momento era a remissão dos amigos
próximos que cercavam o leito do falecido e o terceiro o perdão sacramental.
Nesse contexto, no leito de morte, momento em que a pessoas estava
prestes a partir era realizado a preparação de despedida em que reunia os
familiares, pessoas próximas, vizinhos e crianças, o moribundo tinha consciência da
sua finitude e tudo ocorria com naturalidade (PAULA; SOUZA, 2020).
No exício de si mesmo a autora supracitada relata que surge no homem a
preocupação com o pós-morte e o temor pelo julgamento do espirito, assim, o
indivíduo buscou absolvição através de missas, oração, testamento, entre outros. Ao
relacionar a finitude do outro, o medo está relacionado à preocupação das almas
virem perturbar os vivos, portanto, eram utilizados rituais como abrir as janelas e
portas logo após o falecimento para que o espírito saísse.
Na morte invertida a expectativa estava toda em cima da medicina, no sentido
de prolongar a vida e adiar o término, com o tempo foi percebido que ocorria um
fracasso do tratamento, os óbitos ocorriam nos hospitais, longe das famílias, então o
ente querido é preparado, embalsamado e deixado de uma forma que a morte não
lhe pertença (KOVÁCS, 1992).
Soares e Mautoni (2013) definem em sua obra os principais tipos de morte,
morte esperada; morte súbita; morte por suicídio, violência e morte de filho.
 Morte esperada: é aquela ocasionada por doença, as pessoas são informadas e
geralmente entram no processo do luto antes do fato acontecer. Nessa fase,
surge o sentimento de incapacidade e de tristeza de não poder reverter a
situação. A família vive um estresse e sofrimento constante devido à incerteza de
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não saber quando ocorrerá a partida final do ente querido. Diante da situação
surge também a dificuldade financeira, a comunicação começa a entrar em lapso
e se torna desgastante, pois acaba restringindo os medos e anseios, assim, a
aflição acaba sendo calada (SOARES; MAUTONI, 2013).
 Morte súbita: ocorre de forma inesperada, são os indivíduos que morrem por
acidentes, homicídios, ataques cardíacos, AVC, suicídio, entre outras. Os
familiares ficam revoltados com o acontecimento e o luto demora mais tempo
para ser elaborado, pois é um óbito que não permite despedida ou pedido de
perdão, ele ocorre de forma inesperada (SOARES; MAUTONI, 2013).
 Morte por suicídio: causa na família um questionamento intenso, a culpa por não
ter sido evitado a tragédia e o sofrimento psíquico prolongado em busca de
respostas. O suicida deixa marcas no ambiente e na memória das pessoas com
que estabeleceu vínculo afetivo, é uma perda dramática e de difícil
enfrentamento (SOARES; MAUTONI, 2013). Segundo Worden (1998, p. 114
apud SOARES; MAUTONI, 2013, n.p) “[...] o suicídio desencadeia o luto mais
difícil de ser enfrentado e resolvido de maneira eficaz, em qualquer família”.
 Morte por violência: Conforme os autores supracitados relatam, quando o
indivíduo morre por violência, a família fica perturbada e com ela o desejo de
vingança e de saber as motivações crescem (SOARES; MAUTONI, 2013).
 Morte de filho: considerada devastadora na vida conjugal e dos pais. Deixa
traumas que permanecem ao longo da vida de quem ficou, com ele se vão os
sonhos, planos e esperança de um futuro. Os abortos também envolvem a perda
do ser, por mais que em alguns tipos não seja permitido ver o corpo, se faz
necessário a cerimônia de despedida para que os cuidadores possam
compreender que é o momento de partida e assim consigam elaborar o luto,
expressando os sentimentos e recebendo o apoio necessário (SOARES;
MAUTONI, 2013).
O sofrimento pela perda de alguém que se tinha um vínculo estará sempre
presente, é doloroso e por vezes, insuportável. Diante da morte e da ausência que o
ente fará é que as pessoas percebem o quão importante ele era, por isso gera
indignação e revolta com o que estão vivenciando (SOARES; MAUTONI, 2013).
Segundo Freitas (2018) a dor de perder alguém próximo é torturante, sua
intensidade varia de acordo com a individualidade de cada pessoa e da significância
21

que o outro tinha na vida do sobrevivente. Devido à gravidade pode ser considerado
uma condição de ameaça para a saúde psíquica.
Posto isto, percebe-se a importância de compreender a morte nas diversas
fases do desenvolvimento do indivíduo, visto que, cada pessoa reage de uma forma
diferente de acordo com o estágio que está vivendo. Ademais, este aspecto é
necessário para entender que terminalidade é um momento delicado, por mais que
seja a única certeza da vida, mas precisa ser compreendida para que seja menos
difícil lidar com ela. Aprender a lidar com a morte, permite que a pessoa consiga
manejar também as perdas do cotidiano, tornando capaz de superá-las de maneira
mais adequada, compreendendo as lições e vivendo com plenitude a vida
(D’ASSUMPÇÃO, 2018).

2.1.3 A Morte em Diferentes Fases do Desenvolvimento

A maneira como cada pessoa vê a morte depende da sua fase de


desenvolvimento e das suas experiências. A cada período da vida o indivíduo passa
por diversos momentos de angústia, solidão, desnorteamento e confusão, sendo
assim, a terminalidade é constituída pelas vivências pessoais, culturais e sociais
pertencentes ao sujeito (SALUM et al., 2017).
Assim sendo, a morte é um assunto evitado pela maioria das pessoas, mas é
um fato inevitável, que muitos não estão preparados, é algo tão natural quanto
existir, e é a única certeza que o ser humano tem (VOMERO, 2002 apud FREITAS,
2018).

É inegável que a certeza da morte humana e, a impotência frente à


irreversibilidade deste fato, provoca uma série de mecanismos psicológicos
que, de maneira e níveis diferentes se manifestam na personalidade e
modus vivendi das pessoas de um modo geral, o que acaba influindo, de
forma consciente ou inconscientemente, a vida de cada um. Portanto,
parece muito mais fácil saber e entender o que as pessoas sentem em
relação à morte do que, propriamente, defini-la ou tentar representá-la
simbolicamente (CHAGAS, 2018, p. 68).

Para Fukumitsu (2018) cada sujeito tem uma compreensão sobre a finitude
de sua existência e a forma de se relacionar com a morte. A primeira diz respeito a
uma dor difícil que o ser humano não consegue manejar de forma adequada, é o
sofrimento vivido por muito tempo. A segunda reflete a situação em que o sujeito
teme que a morte chegue antes dele realizar seus objetivos e sonhos. O terceiro
aspecto está relacionado ao nascimento de uma criança, ao explorar o mundo é
22

inserida como um ser social para integrar a coletividade e também compartilhar as


angústias, anseios e medos. O quarto fator refere-se à inserção do indivíduo em
algo que considera importante e fundamental para a sociedade, a partir disso, se
considera apto para posicionar-se defronte da morte, pois teria cumprido seu papel
diante do mundo. Na quinta e última posição, o homem aceita que morrer faz parte
da existência e compreende que é o momento natural da vida.
Após o nascimento a criança vivencia as primeiras ausências e as considera
como morte, perda e separação da mãe. Porém, com o passar do desenvolvimento
ela percebe que o papel do cuidador é acolhedor, dessa forma, sua representação
de morte deixa de ser de ausência e passa a ser como figura genitora que acolhe.
Ao passo que o infantil amadurece afetivo e emocional, experiencia os términos que
acontecem na sua vida e busca a compreensão dos fatos (KOVÁCS, 1992).
De acordo com Amorim (2011 apud SILVEIRA et al., 2020) com base na teoria
de Piaget, a morte é um tema que exige o desenvolvimento cognitivo para a sua
compreensão. No caso da criança este entendimento depende da fase que inserida.
 Estágio pré-operacional (2 a 7 anos): nessa fase a criança não tem noção que a
finitude é algo irreversível, e não tem consciência das consequências, para ela a
morte é apenas o fechar dos olhos (AMORIM, 2011 apud SILVEIRA et al., 2020).
 Estágio concreto (7 a 11 anos): percebe que a morte é universal e inevitável,
relacionando à velhice, nessa fase, já entende que o morto não verbaliza e não
come (AMORIM, 2011 apud SILVEIRA et al., 2020).
 Estágio concreto (a partir de 11 anos): momento em que há um entendimento
maior sobre os aspectos da finitude, a pessoa já percebe que a terminalidade
faz parte da vida (AMORIM, 2011 apud SILVEIRA et al., 2020).
No período infantil é importante falar sobre o assunto para que o pueril tenha
compreensão até mesmo da morte de um bicho de estimação, porém, há uma
evitação por parte dos cuidadores, no sentido de proteção ou pela própria
dificuldade de aceitar que o ser humano é findável (WOLF, 2004 apud PAPALIA;
FELDMAN, 2013).
O adolescente compreende que a morte é algo definitivo, porém, a juventude
já é um período de muitas incertezas, pois há o luto pela perda do corpo infantil, luto
pela perda de identidade de criança e pelos pais da infância (ABERASTURY;
KNOBEL, 1981). Pensar sobre a finitude da vida não é algo que ocupa a cabeça do
indivíduo nesta fase, muitos passam por perigos desnecessários para se sentirem
23

aceitos em algum grupo ou simplesmente por pensarem que estão aproveitando a


vida (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Ferrari (1996 apud SILVEIRA et al., 2020) relata que os jovens desenvolvem
defesas para lidar com as emoções, já que passam por momentos de angústias e
precisam elaborar os anseios e traumas gerados no período de crescimento. A morte
é um processo delicado, portanto, a perda de pessoas próximas que acontecem na
adolescência, permite que os púberes percebam que são mortais e que são frágeis
diante da vida (GORDON, 1986; SCHACTER, 1992 apud SILVEIRA et al., 2020).
A vida adulta é estágio de concretização, as pessoas geralmente têm suas
profissões, casam, têm filhos, querem desfrutar da vida que planejaram. Ademais, é
nesta fase que o organismo inicia os primeiros sinais do envelhecimento e de que a
vida é efêmera (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Na adultez a morte tem um grande significado, o sofrimento será de acordo
com a importância que o ente querido tem para a pessoa, quanto mais próximo o
vínculo afetivo, maior o sofrimento em relação à perda e mais custoso será para a
resolução do luto, pois surge o sentimento de culpa e autocritica em relação ao
acontecimento (CONSONNI; PETEAN, 2013).
A envelhecência é a última etapa do desenvolvimento do indivíduo, momento
que aparecem emoções conflituosas e ambivalentes acerca da vida. O fim e visto de
formas diferentes para cada um, alguns desistem dos objetivos não alcançados,
outros se esforçam para conseguirem (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
O idoso tem perdas que vão além da vida e atinge os âmbitos social,
financeiro, fisiológico e representativo. Sua produtividade diminui e com isso seu
papel na sociedade acaba deixando de existir aos poucos. É no período da terceira
idade que se apegam as crenças e a religião, como forma de amenizar a dor pela
perda das pessoas mais próximas, como cônjuges, filhos e irmãos (BARBOSA;
MELCHIORI; NEME, 2011).
De acordo com Borges e Cols (2006 apud BARBOSA; MELCHIORI; NEME,
2011, p. 177) “o medo de morrer é uma experiência que apenas o próprio indivíduo
pode saber como é. Se vista como algo que proporciona crescimento e aprendizado,
a ideia de morte não causará tanto sofrimento”.
Nesse sentido, percebe-se que cada etapa do desenvolvimento do ser
humano é marcada por características peculiares, e que a percepção da morte é
constituída por uma série de fatores sociais, culturais e históricos. O luto é
24

experimentado de forma individual, a pessoa sofre com a perda e manifesta com a


dor e sofrimento (SILVEIRA et al., 2020).
Por conseguinte, falar da morte remete ao luto, as fases e o comportamento
do enlutado diante da perda do ente querido. A vivência de perder alguém é uma
experiência dolorosa para o indivíduo, principalmente se há vínculo afetivo. A
elaboração do luto e o manejo depende da subjetividade de cada um, alguns
compreendem que é um evento natural da vida e elaboram de forma mais rápida,
outros apresentam culpa, tristeza profunda, raiva e desinteresse pelo viver,
principalmente se for uma morte inesperada (FRANCO, 2021).

2.2 O LUTO

O luto é uma fase dolorosa em que o indivíduo passa por uma dor emocional
intensa, principalmente, se a perda é significativa. É um processo lento, difícil e que
apresenta muita lamentação, a intensidade do lamento pela vida perdida será
influenciada pela idade de quem ficou e de quem já partiu, pela importância atribuída
ao falecido e pela história dessa pessoa, enfim, só cessará a partir da elaboração da
morte (VIORST, 2005).
A maneira como o ser humano vive e expressa a experiência do luto é
moldado pelas vivencias em sociedade, portanto, a cultura influencia as formas de
apego e como a pessoa lidará com a perda e o pesar (DOKA; MARTIN, 2002 apud
FUKUMITSU, 2018). O indivíduo nunca está preparado para a perda e para o
desconhecido, por isso gera tensão e desconforto pensar em conviver com a falta de
alguém que se era apegado (RIBEIRO, 2008).
Dessa forma, o pesar é a reação da pessoa diante de uma perda, seja ela
simbólica ou real, a perda ocorre inúmeras vezes no decorrer do desenvolvimento
do indivíduo, não necessariamente ligada à morte, mas precisa ser elaborada, pois
gera angústia, solidão e medo. A perda pode ser o fim de um relacionamento,
término de um curso ou de um emprego. A forma como o indivíduo elaborará seu
luto é subjetivo, pois está atrelado as vivencias, dinâmica familiar, cultura e forma de
ver o mundo (KOLINSKI et al., 2007).
De acordo com Soares e Mautoni (2013) a pessoa enlutada passa por
diversos tipos de reações:
25

 Reações físicas: o indivíduo apresenta tensão muscular, alteração no apetite e


no sono, hipertensão arterial, respiração ofegante, perda do tônus muscular e
baixa imunidade;
 Reações emocionais: o sujeito apresenta tristeza intensa, negação, desespero,
culpa, confusão, negação, choque, rancor, entre outros;
 Reações comportamentais: choro, apatia, solidão, agitação, dificuldade em se
concentrar e se orientar, preocupação e intensa procura pelo ente querido;
 Reações sociais: a pessoa se afasta dos amigos e familiares, tem dificuldade em
interagir socialmente e sente perda do interesse pelo outro;
 Reações espirituais: afastamento da religião ou busca constante para encontrar
respostas e tentar compreender a perda (SOARES; MAUTONI, 2013).
D’Assumpção (2018) corrobora com as reações emocionais que o luto
desencadeia no indivíduo, identificando algumas que fazem parte do processo para
o enlutado.
 Raiva: se manifesta através de xingamentos, palavrões, podendo partir para
agressões físicas, como pontapés e socos. Essa é uma expressão normal, se
reprimida chegará um momento que acabará explodindo em um momento
inconveniente e com pessoas erradas (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Culpa: esse sentimento surge quando a pessoa pensa que poderia ter evitado a
fatalidade ou que não acreditam terem feito tudo que pudessem para o ente
amado (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Depressão: o sujeito enlutado apresenta uma tristeza profunda ou melancolia, se
esse quadro não for cuidado pode evoluir para a depressão. Nas duas situações
os sintomas são parecidos: abatimento, falta de apetite, desmotivação para as
atividades antes prazerosas, crises de choro e falta de razão para continuar
vivendo. A depressão é um estado que precisa de tratamento medicamentoso,
na melancolia o indivíduo precisa de compreensão e assistência
(D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Desesperança: ocorre quando o sobrevivente toma consciência que o ente
querido se foi, nesta fase, a vontade de ver, tocar e conversar com o falecido
aparece com grande intensidade. A desesperança pode oscilar em vários
momentos, podendo aparecer em surtos e desaparecendo (D’ASSUMPÇÃO,
2018).
26

 Reposição: nesse estágio o sujeito tenta substituir a pessoa que partiu


colocando outra no lugar, alguns tomam decisões radicais, como mudar de casa,
empregou ou cidade (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
O luto é um período necessário para que o indivíduo compreenda a morte e
consiga lidar com o sofrimento, por isso, deve ser intenso, para que também seja
compreendido o sentido da vida na tentativa de adaptar-se a nova fase (CECCON,
2017). Ademais, por ser um momento de sofrimento e angústia, a pessoa precisa se
sentir acolhida e apoiada, para que consiga ressignificar a dor e a perda (OLIVEIRA;
LOPES, 2008 apud CECCON, 2017).
Nesse sentido, no processo de elaboração do pesar o indivíduo passa grande
parte do tempo sendo consumido por pensamentos acerca do ente querido, por
lembranças dolorosas da perda com o intuito de procurar um sentido para aquilo ter
acontecido. Essa prática visa restaurar aquilo que foi perdido e justificar os motivos
da perda, porém, sem causar mais preocupação para não virar uma obsessão
(PARKES, 1998).
De acordo com Tada e Kovács (2007 apud CECCON, 2017) um pesar que
não foi bem elaborado traz consequências para a pessoa e para a família, pois não
é dado sequência ao processo e o indivíduo fica preso na aflição, essa frustração
pode gerar comportamentos de criminalidade, revolta, suicídio, entre outros.
Portanto, é necessário externalizar a dor e permitir que o sujeito expresse seus
sentimentos, de forma a contribuir para uma melhor organização do mesmo.
O processo do luto envolve tarefas essências para que ocorra a concretude
da perda e para que haja a restruturação do pensamento acerca do indivíduo que
partiu, da experiência de dor e adaptação no novo mundo sem o ente querido
(STROEBE, 1992 apud WORDEN, 2013). Diante disso, o autor supracitado discorre
das principais tarefas.
 Aceitar a realidade da perda: reconhecer que a pessoa morreu e que não voltará,
caso contrário, ficarão em prolongado sofrimento. É importante compreender que
esse processo é lento e difícil, pois envolve a aceitação intelectual e emocional
do que aconteceu. Ademais, alguns artifícios são usados como forma de impedir
a aceitação da morte, como a negação de que aquilo realmente aconteceu, não
entender que a finitude é irreversível e encontrar na religião a esperança de
reencontrar o ente querido, embora seja uma tarefa difícil, mas participar dos
27

rituais de despedida auxilia no entendimento e aceitação (STROEBE, 1992 apud


WORDEN, 2013).
 Processar a dor do luto: aceitar o finito da vida é necessário, quando isso não
ocorre o corpo manifesta a dor emocional. A intensidade do sofrimento é
subjetiva de cada indivíduo, nesta fase, a pessoa pode negar o sentimento e a
tristeza que o acompanham, alguns optam por lembrar só dos momentos
agradáveis com o ente querido, evitando a realidade da perda. É importante
também elaborar a ansiedade, o sentimento de culpa, raiva e outros que
acompanham o sujeito enlutado (STROEBE, 1992 apud WORDEN, 2013).
 Ajustar-se a um mundo sem o sujeito falecido: nesta tarefa, o indivíduo precisa se
adequar aos fatores externos, que envolvem a convivência com o ente querido e
o ajuste do novo ambiente sem a pessoa, essa fase ocorre por volta de três a
quatros meses após a morte; os internos, relacionados a maneira como a perda
afeta em si a autoestima e autoeficácia; e os fatores espirituais, ou seja, as
crenças e valores que o sujeito tem do mundo, nesse momento o ser pode até
pensar que perdeu o sentido da vida. O fracasso na terceira etapa implica na não
adaptação à perda, pois a pessoa luta contra a capacidade de enfrentamento,
afastando-se da realidade (STROEBE, 1992 apud WORDEN, 2013).
 Encontrar uma ligação durável com o ente em meio ao início de uma nova vida:
estabelecer um local que o indivíduo se sinta à vontade e conectado com o
falecido, mas sem deixar de seguir o rumo da vida, com o intuito de lembrar do
ente querido, mas seguindo em frente, apenas realocando um lugar ideal para a
morte na vida emocional. Essa fase é difícil para muitas pessoas por se
manterem presas ao vínculo do passado (STROEBE, 1992 apud WORDEN,
2013). Para Worden (2013, p. 30) “elas podem ficar paralisadas nesse ponto do
processo de luto e mais adiante descobrirem que suas vidas, de certa forma,
estancaram no momento que a perda ocorreu”.
Dessa forma, percebe-se que defrontar com a perda é um processo difícil, já
que não é possível prever a reação do indivíduo e a intensidade do seu sofrimento. A
forma como o sujeito compreende que a vida é temporal influencia diretamente no
modo como lida com a morte e no processo aceitação (SOARES; CASTRO, 2017).
Por conseguinte, é fundamental falar sobre o processo e a diferença do luto
normal e patológico para que o indivíduo tenha compreensão de quando o decurso
não está sendo saudável. Portanto, a partir do momento que o luto termina e de
28

forma natural, pode-se dizer que ele foi bem elaborado. Todavia, se é acompanhado
de tristeza profunda, estado depressivo dificuldade para manejar outras perdas e um
contínuo incômodo pode-se dizer que é um luto mal elaborado (KOLINSKI et al.,
2007).

2.2.1 Luto Normal e Luto Patológico

A intensidade do luto depende do vínculo e do significado que o ente querido


tem para o indivíduo. É um processo inevitável e doloroso que alguns conseguem
enfrentar de forma natural e outros precisam de auxílio, pois podem acabar
estagnados em alguma fase, desenvolvendo sintomas patológicos e sentimento de
vazio devido à perda (PERES, 2003 apud SOARES; CASTRO, 2017).
O sofrimento causado para o enlutado é muito significativo, é considerado
uma das experiências mais dolorosas. O luto tem a finalidade de prover a
elaboração e resolução de uma perda, de forma que a pessoa consiga viver com a
ausência do ente amado e ressignificar a sua vida (SILVA; CARNEIRO;
ZANDONADI, 2017).
Alguns autores discorrem que o processo do luto pode ocorrer de forma
normal ou complicada. De acordo com Franco (2002 apud SILVA; CARNEIRO;
ZANDONADI, 2017) a patologia está presente quando a dor da perda é prolongada,
acompanhada por uma melancolia duradoura, tristeza profunda, redução da
interação social, além de surgir outros problemas de saúde físicos e psíquicos. A
intensidade dependerá de cada indivíduo e a duração poderá ser de meses, anos ou
nunca acabar.
Nesse sentido, a reação de cada sujeito diante do luto dependerá do apego e
do vínculo afetivo que tem com falecido. Quando há uma relação de dependência,
pode desencadear um luto crônico. Se a relação é ambivalente, pode dar origem à
um luto conflituoso (SILVA, 2017).
Dessa forma, observa-se que no luto normal o indivíduo passa do sofrimento
intenso para o sofrimento leve. No pesar ausente, o sujeito não experimenta a dor
intensa da perda nem de imediato, nem tardiamente. No luto crônico o sofrimento é
vivido por um longo período de tempo, é mais doloroso e a aceitação mais difícil
(WORTMAN; SILVER, 1989 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Na melancolia há presença de um profundo desanimo com o que ocorre no
29

mundo externo, o indivíduo perde a capacidade de amar, há diminuição do interesse


em todas as atividades, há presença de uma autocrítica e sensação de incapacidade
e baixa autoestima frente à perda do ente amado (PEREIRA; PIRES, 2018).
Para Freud (1914 apud SOARES; CASTRO, 2017) no luto profundo há uma
perda de interesse e afastamento de toda atividade que esteja relacionada com a
pessoa perdida, assim, a insistência em se manter preso ao outro impede que o
indivíduo não elabore o luto de forma normal, evitando outros propósitos e
experiências.
No luto normal há o desenvolvimento de reações físicas e emocionais, porém,
não apresenta caráter patológico, há presença de profundo desânimo, tristeza e
perda de interesse nas atividades que antes eram prazerosas (PEREIRA; PIRES,
2018). Ademais, a evolução dentro da normalidade há o sofrimento, porém, a
pessoa compreende e aceita a perda do ente querido, adaptando-se e aprendendo a
viver sem a presença daquela pessoa (BARBOSA, 2010; FRANCO, 2010;
RUSCHEL, 2006 apud FUKUMITSU, 2018).
Pereira e Pires (2018) sugerem que quando o enlutado não faz o processo de
elaboração da perda, ocorre a “reação de aniversário”, ou seja, os acontecimentos e
datas comemorativas associadas ao ente querido podem desencadear no indivíduo
emoções e sensações de ansiedade, tristeza, conflitos nas relações, ideias de
suicídio, entre outras. Após a data, tudo deve voltar a ficar bem, do contrário pode se
transformar em um surto psicótico ou desencadear doenças que podem levar à
morte.
Para D’Assumpção (2018) na sociedade há a cultura de que as pessoas
devem reprimir o choro, os sentimentos e o sofrimento diante da morte, porém, é
necessário o entendimento que quanto maior o significado da perda, maior também
será a revolta, a raiva, o desânimo e a tristeza, e que isso é normal.
Parkes (1998 apud SOARES; MAUTONI, 2013) afirma que é difícil saber o
tempo exato do processo do luto, pois ele varia de acordo com cada indivíduo. Há
casos que pode persistir por seis meses a dois anos, em outros, se for levar em
consideração a convivência de uma pessoa com outra por mais de 40 anos, a
literatura sugere uma duração de três a cinco anos.
Na experiência do luto é fundamental que o enlutado perceba que apesar da
perda e de se sentir incompleto deve aproveitar os momentos de felicidade e
ressignificar a sua vida. Nesse sentido, ressalta-se importância de compreender
30

como ocorrem as fases do luto e em quais situações ela precisa de assistência para
não se tornar patológico (D’ASSUMPÇÃO, 2018).

2.2.2 Fases do Luto

Quando uma pessoa morre, uma gama de comportamentos se manifesta. O


enlutado precisa compreender seu aspecto físico, cognitivo e emocional para passar
pelo processo do luto, caso o indivíduo não acredite que a perda é real não poderá
lidar com as emoções decorrentes dela. É necessário ajustar-se ao novo ambiente
sem o ente querido tornando a vivência menos dolorosa (PEREIRA; PIRES, 2018).
De acordo com D’Assumpção (2018) o luto muitas vezes ocorre mesmo antes
da morte, em casos de pessoas diagnosticadas com doença terminal e que o caso é
delicado e difícil de reverter. O autor supracitado afirma que o desenrolar deste
processo acontece por fases que o indivíduo vai experimentando conforme passa o
tempo.
 Dia que ocorre a morte: há uma mistura de sentimentos, de culpa, irritabilidade,
tristeza, entre outros, e a busca de fazer tudo sozinho em relação aos
preparativos. Ademais, nesse momento busca-se funerárias, se resolve questões
legais, desejos da família e do falecido. Desapegar do corpo, mas sem deixar de
amá-lo, respeitá-lo, dentro das suas condições. O ideal é manifestar as emoções
para que elas não fiquem reprimidas e possam gerar doenças (D’ASSUMPÇÃO,
2018).
 Primeira semana: há a exaustão e pensamentos de como viver sem o ente
amado, haverá crises de choro, dores pelo corpo, alimentação irregular. É
importante neste momento, que o enlutado possa compartilhar a sua dor, a fala é
fundamental para elaboração do luto (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Três primeiros meses: esse período é difícil para muitos sobreviventes, há
poucas pessoas presentes, aqueles que deram apoio na primeira semana
acabam se afastando, pois, a vida continua. A perda se torna algo efetiva e
extremamente dolorosa, pode haver sintomas físicos de fraqueza, desânimo,
mal-estar, perda ou aumento da líbio, como uma forma de externalizar o
sofrimento. Se a morte ocorreu de forma violenta, pode gerar medo ou até fobia,
ou seja, um medo patológico e capaz de mobilizar o indivíduo toda vez que
31

trouxer à tona as lembranças, neste caso, é importante buscar ajuda profissional


(D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 A partir do 4º até o 11º mês: o indivíduo começa a aceitar e elaborar seus
mecanismos diante da perda. Conforme os dias passam a dor se torna mais
amena, porém é um momento de fragilidade, quando tudo parece estar bem,
saudade por apertar e com ela uma dor intensa que faz o enlutado chorar. É
importante enfatizar que se isso ocorrer é um processo normal e que pode
ocorrer recaídas, isso faz parte do processo do luto (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Aniversário de falecimento: as emoções de tristeza surgem dias antes, e se
transformam em pensamentos, conversas e lembranças do ente querido. Esse é
o momento que a família deve permanecer unida, dando apoio e compreendendo
que o sobrevivente tem suas limitações e que uma perda significativa causa
muito sofrimento (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
 Segundo ano: é um período de libertação, os indivíduos percebem que a vida
precisa continuar, esse é o período que o sobrevivente começa se desfazer das
roupas e objetos do falecido, muitos mudam de casa, de rotina, assumindo uma
vida nova (D’ASSUMPÇÃO, 2018).
Ademais, no processo do luto ocorre uma oscilação natural, entre a aceitação
e o sentimento de perda, são esses momentos que permitem que o enlutado possa
vivenciar as experiências diárias e também entrar em contato com a dor da perda de
forma normal (FRANCO, 2021).
Bowlby (1981 apud FRANCO, 2021) relata que esse processo é individual e
pode flutuar conforme é desencadeado, de tal modo que o sujeito enlutado pode
oscilar entre elas. No entorpecimento o sobrevivente passará por torpor, choque,
com duração de horas até uma semana, sendo interrompido por explosões abruptas
de sofrimento e raiva; no anseio ocorre a espera e procura pelo ente querido,
permanecendo por meses e até anos esse comportamento; desarranjo e desespero;
e Reestruturação da vida.
No entorpecimento o indivíduo nega o que aconteceu e vive em torpor e
descrença. Essa atitude pode ser cessada por crises de raiva ou desespero.
Sintomas como sensação de vazio no estomago, ânsia, rigidez, entre outros, podem
surgir nessa fase. No anseio o enlutado confunde o ente querido com outras
pessoas, sente bastante raiva, agitação física e emoções abruptas. Há uma busca
incessante pelo falecido, a pessoa ouve passos, barulhos e vozes que remetem o
32

objeto perdido. O desarranjo e desespero aparecem no momento que a realidade é


assimilada, neste momento, o sujeito sente apatia e depressão, compreende que o
falecido não vai mais voltar. É uma fase delicada, pois o sobrevivente se afasta das
pessoas e das atividades que sentia prazer em fazer, apresentando dificuldade para
se concentrar, dores no corpo e outros sintomas físicos. A reorganização ou
reestruturação é a última fase. O sofrimento já aliviou, o sobrevivente retoma as
suas atividades diárias, permite novas relações e aumenta a interação social. Este
estágio é o início do processo de recuperação, os sentimentos tornam-se mais
agradáveis e fica mais tranquilo aceitar as mudanças, porém, é preciso compreender
que pode haver a recorrência dos sintomas em algum momento, pois o decurso de
reorganização ainda está em progresso (SOARES; MAURONI, 2013).
Dessa forma, Franco (2021) cita que a experiência da perda é algo individual
e possuí vários significados para o sujeito que o vivencia, a definição da forma como
ocorrerá o luto dependerá de vários fatores.
 Situação conhecida: o indivíduo reflete e encontra capacidade para enfrentar a
vida (FRANCO, 2021).
 Situação conhecida e significativa: é a fase delicada, pois, sugere um significado
para quem a vive, construído através da convivência e que apresentam um lugar
de importância, como pais, amigos, irmãos e filhos (FRANCO, 2021).
 Cessação de uma situação conhecida e significativa: acontece repentinamente.
Ocorre quando o significado do acontecimento não é mais desejado, esperado
ou suportado pelo indivíduo (FRANCO, 2021).
 Significados para o indivíduo sobre a situação e/ou sobre si: possibilidade de
ressignificar a situação. O processo do luto é dinâmico e deixa vestígios nas
pessoas que o vivenciam (FRANCO, 2021).
 Experiência da perda: conjunto de significados, subjetividade, cultura e história
de vida de quem a vive (FRANCO, 2021).
Para a psiquiatra Kübler-Ross (1981) há um padrão de elaboração do luto,
que o sobrevivente precisa passar para aceitar a realidade da perda. A autora relata
em sua obra os 5 estágios do pesar:
 Negação e isolamento: essa fase funciona como um para-choque após o
indivíduo receber uma notícia inesperada ou chocante, permitindo que o sujeito
33

se recupere com o passar do tempo. A negação é uma defesa temporária que


posteriormente se transforma em uma aceitação parcial (KÜBLER-ROSS, 1981).
 Raiva: esse estágio é caracterizado por revolta, ressentimento e inveja. A raiva é
projetada para o ambiente e as pessoas não sabem como lidar com a situação,
esse sentimento é até compreensível se analisado que a pessoa tem sua vida,
projetos e sonhos interrompidos (KÜBLER-ROSS, 1981).
 Barganha: fase em que o indivíduo tem a intenção de adiar a morte. A pessoa faz
promessas e se impõe metas que se melhorar cumprirá todas (KÜBLER-ROSS,
1981).
 Depressão: nesse estágio, no primeiro tipo de depressão, a revolta e raiva dão
lugar ao sentimento de perda, perda da imagem, financeira, entre outras perdas
que o paciente precisa suportar. A segunda depressão, há uma perda importante,
a pessoa precisa animar o paciente que está debilitado, encorajando-o e sendo
positivo, para facilitar o estado de aceitação (KÜBLER-ROSS, 1981).
 Aceitação: esse estágio é o momento que o indivíduo não sente mais raiva,
depressão ou inconformação quanto ao seu destino, mas aceita, como uma fuga
dos sentimentos, com a sensação de que a luta tivesse acabado e a finitude da
vida se aproximasse (KÜBLER-ROSS, 1981).
D’assumpção (2018) corrobora que negação alivia o impacto do
acontecimento, já a raiva faz com que a pessoa fique mais frágil, ao mesmo tempo
que gera irritabilidade e inconformação. Ambos, são uma forma de sobrevivência,
cada uma é manifestada de acordo com a individualidade do indivíduo
O luto termina quando o indivíduo consegue falar sobre a perda e sobre o
ente querido sem manifestar emoções exageradas e alteradas, sem dor e nem
angústia. O falecido é lembrado com saudade e o supérstite sente volição de
reconstruir sua vida, faz planos e reconhece o crescimento emocional que a perda
ocasionou (SOARES; MAUTONI, 2013).
A elaboração do luto é um período delicado, pois as pessoas estão
fragilizadas e buscam entender o que aconteceu. No processo todos os
pensamentos do indivíduo são para o ente querido, surgem dolorosas lembranças
da experiência da perda e por fim, o sujeito tenta encontrar um motivo para justificar
a morte, como uma forma de tentar encaixar nas crenças ou modificá-la. Dessa
forma, se faz necessário compreender como ocorre esse estágio em diversos
34

contextos e fases do desenvolvimento (PARKES, 1998).

2.2.3 O luto em Diversos Contextos

O luto é uma experiência incapacitante, o sujeito perde em vários momentos o


discernimento da realidade. Ademais, o modo como o ser reagirá depende dos
padrões sociais e culturais, da personalidade e das habilidades cognitivas (BEE,
1997 apud FREITAS, 2018).
Franco (2021) cita em sua obra algumas formas de luto presentes na
sociedade:
 Luto antecipatório: acontece a partir do momento que o indivíduo recebe um
diagnóstico médico que ocasionará mudanças significativas no cotidiano, nos
projetos e na vida. Nesse estágio ocorre uma ambivalência de sentimentos, a
busca pela cura e a percepção de que este fato não será possível (STROEBE;
SCHUT, 1999 apud FRANCO, 2021).
 Luto antecipatório em cuidados paliativos: é entendido como o cuidado voltado à
qualidade de vida do sujeito no momento de fragilidade que é a finitude da vida.
Tem a finalidade de construir um significado para a patologia e para as
transformações que ocorrerão a partir da morte (FRANCO, 2021).
 Luto não reconhecido: esse tipo de luto é caracterizado por não ser expresso e
vivenciado livremente, por crítica da sociedade ou do próprio sobrevivente, como
o caso de um animal de estimação (FRANCO, 2021).
 Luto do profissional da saúde: apresenta uma linha tênue com o luto não
reconhecido e um evidente risco de uma resolução frustrada da perda,
justamente por serem a linha de frente na saúde, enfrentando traumas e a
responsabilidade pelo outro (FRANCO, 2021).
 Luto na família: o luto é uma experiência individual que ocorre no ambiente
familiar, pois a perda afeta todas as pessoas do grupo, seu funcionamento e sua
dinâmica. O desafio está vinculado à capacidade de tolerar a dor e sofrimento de
cada um e de todos, neste momento, até os planos futuros precisam ser revistos
(FRANCO, 2021). A vivacidade da dor é definida pela integração emocional
familiar e pela importância que o ente querido tinha na família, seu papel e lugar
dentro do ambiente que estava habituado (FREITAS, 2018).
35

 Luto pela perda do cônjuge: o estresse desencadeado nesse luto afeta a saúde
física e mental do viúvo. O sistema imunológico fica comprometido e surgem
doenças que podem levar à morte (STROEBE; SCHUT; STROEBE, 2007 apud
PAPALIA; FELDMAN, 2013). A perda da companhia desenvolve no indivíduo uma
fragilidade tão grande, devido a dependência com o mesmo, que em muitos
casos ocorre a morte do sobrevivente logo após o falecimento do cônjuge (RAY,
2004 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013).
 Luto pela perda de um dos pais na vida adulta: a morte de um dos pais traz
amadurecimento para o indivíduo, pois força o sujeito a tomar decisões e resolver
problemas que antes não eram enfrentados, assumindo a responsabilidade de
manter a família unida. Essa situação gera em alguns casos à conciliação e
aproximação entre os sobreviventes (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
 Luto pela perda de um filho: os pais não estão preparados para a perda de um
filho, pois não seguiria a ordem natural da vida. Há pensamentos de falha e de
não ter feito o suficiente, é necessário o apoio de ambos no casal, para que seja
superado esse sofrimento que terá um curso difícil e doloroso (PAPALIA;
FELDMAN, 2013).

O processo do luto pela perda de um filho envolve,


psicologicamente, não apenas lidar com a perda de uma criança específica,
mas com a perda de partes de si mesmo. Física, psicológica e socialmente,
o relacionamento que existe entre as mães e seus filhos pode ser
considerado o mais intenso que a vida oferece. Assim, a vulnerabilidade à
morte de um filho é vivida de forma intensa e prolongada. A morte de um
filho é não somente inesperada, é trágica, e sua natureza inoportuna é uma
ameaça básica à identidade da mulher, da família e do grupo social.
(PEREIRA, 2002, p. 107 apud FREITAS, 2018, p. 12).

 Luto de aborto espontâneo: a perda de um bebê ainda em desenvolvimento


ocasiona muito sofrimento para a gestante, principalmente pela idealização do
filho. Ademais, o aborto gera conflitos na relação do casal, pela falta de
compreensão dos próprios sentimentos e pelo descaso da própria sociedade em
não sensibilizar pela perda (ROSA, 2020).
 Luto por suicídio: é considerado uma morte repentina e violenta, portanto, causa
muito sofrimento e desgaste emocional para elaborar esse luto, pois além de
haver tristeza, dor, inconformação, vem acompanhado de culpa, vergonha e
questionamentos sobre quais motivações levaram a pessoa a cometer tal ato. A
36

elaboração desse tipo de luto é complexa e delicada por não haver a aceitação
(ROCHA; LIMA, 2019).
Os fatores que influenciam a vivência do luto familiar estão relacionados a
fase de desenvolvimento do ciclo de vida da família, ou seja, está associado as
necessidades e objetivos em comum que se modificam com tempo; os valores e
sistemas de crenças, originados da herança sociocultural familiar e que afetam o
comportamento em relação à morte e ao luto; papel do ente querido e as
expectativas diante da perda; por fim, a natureza da morte, se foi violenta,
inesperada e quais complicações elas ocasionam, alguns casos pode evoluir para o
luto patológico (JEFFREYS, 2011 apud FRANCO, 2021).
Para processo do luto no contexto infantil é necessário o suporte e
compreensão dos pais, afinal, a criança utiliza para se comunicar as palavras,
desenhos e brinquedos. O adulto precisa acolher o pueril, respondendo os
questionamentos, reconhecendo seus sentimentos e ressignificando a situação para
aprender a lidar com ela (WALSH; GOLDRICK, 1998; FRANCO, 2010 apud
KOVÁCS, 2021).
De acordo com a faixa etária da criança ela pode expressar a dor do pesar de
diversas formas, menores de 3 anos podem manifestar regressão, tristeza, medo,
falta de apetite, perturbação do sono, retraimento, irritabilidade, perda da fala, atraso
no desenvolvimento e choro frequente. De 3 a 5 anos, os sintomas são enurese,
constipação, incontinência, acesso de raiva, choro e comportamento descontrolado.
Crianças em idade escolar há perda da concentração, mau comportamento,
mentiras, roubos, nervosismo, resistência, apatia, fadiga e sintomas físicos, como
dor de barriga e cabeça (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Os adolescentes têm compreensão da finitude da vida, porém, poderá haver
angústia e dúvidas em relação ao luto, geralmente a primeira experiência do jovem
está na perda de algum amigo, seja de forma natural ou trágica (KOVÁCS, 2021).
Na adolescência também há manifestação de sintomas que comprometem a rotina
do indivíduo, como depressão, problemas somáticos, abandono das atividades
escolares, procrastinação, tentativas de suicídio e comportamentos inadequados
(PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Sendo assim, o luto mal elaborado na adolescência pode ocasionar traumas
que podem não ser resolvidos ao longo da existência do indivíduo. Essas
perturbações podem se manifestar através de atitudes desajustadas, desequilíbrios
37

emocionais, introversão e vícios (OLINO, 1997 apud FREITAS, 2018).


No adulto, o luto ocorre de forma mais conflituosa e inquietante, pois a todo
momento o indivíduo esquiva-se desse processo, procurando respostas e um
sentido para viver. Esse estágio é marcado pela busca de autonomia, independência
e responsabilidades que surgem a partir do momento da perda (KOVÁCS, 1992
apud MEIRELES; LIMA, 2016).
A envelhecência é marcada por perdas significativas, seja no próprio corpo
através do processo natural do envelhecimento e adoecimento, ou de pessoas
próximas e que constituem um vínculo (KREUZ; FRANCO, 2017). O idoso percebe
suas possibilidades reduzidas e os pensamentos sobre a probabilidade de morte
aumentam, apesar da negação, existe a consciência de que este é um fato
irreversível e inerente ao ser humano (BULSING; JUNG, 2016).
Nesse sentido, observa-se que o luto está presente desde o nascimento e em
diversas fases do desenvolvimento, a partir das pequenas perdas que acometem
à vida do indivíduo. O processo do luto permite a compreensão de novas
possibilidades e significados que são atribuídos à existência e a forma de aprender a
conviver sem a presença do ente querido (SILVA, 2017).

2.2.4 O Luto na Pandemia

A morte de uma pessoa próxima e que se tinha um vínculo deixa um vazio


difícil de preencher. A dor gerada causa marcas por um tempo interminável,
principalmente quando causada pela pandemia, já que muitos familiares e amigos
não conseguiram dar o adeus ao ente amado (SUNDE; SUNDE, 2020).
De acordo com Parkes (1998 apud KOVÁCS, 2021) a COVID-19 afetou todo
o mundo, alterou a normalidade e a vida das pessoas de forma significativa,
compromissos foram cancelados e projetos foram adiados, causando ansiedade,
depressão e irritabilidade. O vírus provocou nos seres humanos um contato mais
próximo da morte, transformando todos em grupo de risco.
O isolamento e as medidas restritivas para reduzir o aumento de casos
dificultaram a conexão entre membros e familiares, reprimindo a elaboração do luto,
situações ficaram inacabadas e pedidos de perdão que nunca foram dados afetaram
diretamente as famílias (KOVÁCS, 2021).
A COVID-19 trouxe a sensação da proximidade com a morte de uma forma
38

repentina, precoce e inesperada, fatos que tornam a elaboração do luto mais


complicado, devido à grande incidência de gerar transtornos psicológicos em virtude
do trauma que essa vivência ocasionou (COGO et al., 2020).

[..] se o luto agudo persistir por períodos superiores a um ano e estiver


associado a um comprometimento substancial do funcionamento, pode ser
necessário um diagnóstico de luto complicado, com encaminhamento a
serviços especializados de saúde mental. Pacientes que têm dificuldade em
se adaptar à perda podem sofrer luto prolongado, acompanhados de
pensamentos perturbadores, comportamentos disfuncionais e dificuldade
em regular suas emoções (SUNDE; SUNDE, 2020, p. 708).

De acordo com o Cogo (et al., 2020), a incidência do risco de um luto


complicado é maior por causa do isolamento, da falta de contato e da despedida do
ente querido. O luto patológico ocorre quando o processo de elaboração é mais
intenso e prolongado, por não ter conseguido se despedir do falecido, há uma
ausência de realidade e de concretude.
Aceitar a morte no tempo de pandemia é um pouco complicado, alguns
indivíduos são mais resistentes e fortes em relação à dor, outros, não aceitam a
situação e vivem em um sofrimento prolongado. A dor sempre existirá, para alguns
mais intensa e para outros mais amena. Assim, percebe-se a importância de realizar
os rituais de despedida para auxiliar na elaboração do luto (SUNDE; SUNDE, 2020).

2.3 RITUAIS DE DESPEDIDA

A relevância em compreender os rituais de despedida se deve à importância


de averiguar as complicações que a falta desta prática ocasiona na vida dos
indivíduos e na sociedade, visto que, a morte é um tema perturbador e pode gerar
complicações na saúde mental se não bem elaborada (SOUZA; SOUZA, 2019).
Desta forma, este trabalho busca enfatizar o conceito e a influência dos rituais de
despedida na elaboração do luto. As práticas de adeus são eventos cotidianos e
fundamentais para encerrar o decurso de vida do ser humano e possibilitar a
compreensão de que apenas as lembranças permanecerão (MACHADO;
CAVALETTI; GROISMAN, 2020).
A morte é um momento complexo e inaceitável na vida do indivíduo, inúmeros
sentimentos surgem, como, culpa, mágoa, ressentimento e saudade. As pessoas se
reúnem para a despedida relembrando o passado e a sua relação com o ente
querido (COSTA, 2018).
39

Segundo Fukumitsu (2019) o sofrimento aproxima o ser humano, portanto, a


presença de familiares, amigos e parentes durante os rituais fúnebres são de grande
importância. O laço afetivo presente durante e após a cerimônia afirma que o
sobrevivente não está sozinho e que está sendo acolhido no momento de dor.
Sousa (2016) afirma que os impasses na resolução do luto se devem a
impossibilidade de expressar os sentimentos e pensamentos gerados pela perda,
essa negação pode dificultar a aceitação da morte, seja pela exclusão dos rituais de
despedida ou pela falta de apoio na vivência do pesar, gerando raiva durante o
processo. A expressão das emoções e conflitos são necessárias para que haja o
crescimento e maturação emocional, ensinando o indivíduo a lidar com o pesar e
com as dificuldades que surgirem pela frente.
Para Cardoso et al. (2020) os ritos fúnebres acontecem em diversas culturas,
são constituídos por atitudes de valorização do ente amado e por símbolos que
representam a ocasião e o falecido. Ademais, o momento proporciona ao
sobrevivente compartilhar as emoções com os presentes.
O ritual concebe um conjunto de ações e símbolos que manifestam vários
significados, alguns difíceis de serem expressados em palavras, porém é um forte
transformador capaz de transmitir significância no decorrer das gerações,
possibilitando uma nova visão de mundo (KROM, 2000 apud SOUZA; SOUZA,
2019). Assim, as cerimônias surgem como um marco no encerramento da fase da
vida, revelando e concretizando a situação cruel que é a terminalidade (SOUZA;
SOUZA, 2019).
O rito inicia a partir do momento do encerramento da vida do ser humano,
desde o manuseamento até o seu arranjo. A estrutura física é higienizada, colocado
as vestimentas e disposto no caixão composto de flores e outros adornos, conforme
a cultura e as crenças da família (ALVES, 2016).
O ritual fúnebre é fundamental para encerrar o ciclo de vida da pessoa. É
necessário para que o sobrevivente possa compreender e vivenciar de forma
saudável o adeus e desenvolver mecanismos para suportar a ausência do ente
amado (HORTEGAS; SANTOS, 2020).
Para Alves (2016) os rituais têm a finalidade de determinar socialmente a
partida do sujeito, diante da família e de pessoas íntimas, o corpo velado é a
representação de que o ente querido foi. O trabalho de despedida requer do
enlutado equilíbrio emocional, já que a perda afeta as relações e o meio social, além
40

de ser uma cerimônia desgastante dolorida.

A ausência de rituais de despedida do corpo dificulta a concretização


psíquica da perda. Aliado a isso, mortes bruscas e inesperadas
impossibilitam o preparo do enlutado para lidar com a perda, uma vez que a
temporalidade da morte física não acompanha a da morte social e psíquica,
o que pode gerar dificuldades na elaboração do processo de luto. Quando
intensas, tais barreiras podem favorecer o denominado luto complicado,
caracterizado por uma desorganização prolongada que dificulta ou impede a
reorganização psíquica e a retomada de atividades anteriores à perda. Além
disso, é possível encontrar manifestações sintomáticas exacerbadas, tais
como expressão de sentimentos intensos, somatizações, isolamento social,
episódios depressivos, baixa autoestima, impulsos autodestrutivos,
pensamentos frequentes dirigidos à pessoa falecida, incapacidade de
aceitar a perda, autoculpabilização e dificuldade de imaginar um futuro
significativo sem a pessoa que se foi (CARDOSO et al., 2020, p. 02).

Machado, Cavaletti e Groisman (2020) afirmam que os funerais, cultos


religiosos e outras cerimonias, são os momentos adequados para compartilhar a dor
e o sofrimento com os familiares, amigos e pessoas próximas que estão presentes e
mostram sensibilidade pela angústia do outro.
Para Cogo et al. (2020) o luto é a resposta que o indivíduo tem frente à uma
perda, há um rompimento do vínculo com o outro. Dessa forma, os significados dos
rituais funerários variam de acordo com a sociedade e a cultura, para algumas há
cerimônias, homenagens, enterro e/ou cremação, porém, são formas de dizer o
último adeus e ter a percepção de que a perda é real.
Há pessoas que se despedem do ente amado através da mensagem oral,
pedindo perdão, agradecendo pelos bons momentos e amparando os demais com o
intuito de tranquilizarem no momento de dor. As atitudes do indivíduo neste
momento são importantes, pois são utilizadas como um reforçador da fala e para os
familiares que não conseguem se comunicar verbalmente. As práticas religiosas
também possuem um papel considerável, as leituras bíblicas, orações e extrema-
unção são fundamentais para aceitação da morte, as crenças espirituais atuam
como um consolo e um alívio para o sofrimento (LISBÔA; CREPALDI, 2003).

Nos diversos contextos que o ser humano se insere, as perdas e os lutos


precisam e merecem ter seu espaço. É necessário, senão imprescindível,
chorar ao deixar de possuir; participar de ritos de passagem, os quais
clarificam para todos que ali houve uma cisão, um momento de mudança;
relatar incontáveis vezes, pessoalmente, os fatos ocorridos; crer na
possibilidade de modificarmos e sermos modificados pelas circunstâncias,
elaborando os lutos (KOLINSKI et al., 2007, p. 49).

Para os enlutados o rito funerário é o momento para manifestar afeto pela


angústia do outro, reduzir a sensação de culpa e insuficiência, estar presente com a
41

família e ser suporte para os mais fragilizados. O ritual é uma forma de prosseguir e
ressignificar a vida sem a presença do falecido (LISBÔA; CREPALDI, 2003).

A possibilidade de realizar um rito de passagem que permita a transição da


relação com a pessoa viva para a relação com a pessoa morta é importante
na elaboração do luto dos familiares, independente da fase do ciclo de vida
em que estejam (SCHMIDT; GABARRA; GONÇALVES, 2011, p. 429).

De acordo com Alves (2016) o velório é uma forma de despedida, ocorre em


ambientes familiares ou em outros locais apropriados. É o momento em que as
pessoas se reúnem ao redor do ente amado, fazem orações, choram, manifestam as
dores e o sofrimento. “Os rituais de despedida são compreendidos em velório, missa
de corpo presente, cortejo fúnebre e sepultamento” (ALVES, 2016, p. 49).
Bromberg (2000 apud SOUZA; SOUZA, 2019) ressalta que os rituais fúnebres
podem ser utilizados como recurso terapêutico, pois é o momento que o indivíduo
admite a perda e entra no luto, simboliza as transformações da vida e o que os
familiares incorporaram do ente querido. Dessa forma, as demonstrações de adeus
existem para dar concretude à morte.
A função do ritual de despedida é de ser um organizador importante na
elaboração normal do luto. Impedir o indivíduo de viver este momento desencadeia
sentimentos de raiva, desespero, pavor e desgosto, aumentando o risco do luto
patológico, assim sendo, a pessoa terá dificuldades de encontrar formas de
enfrentar a vida após a perda (COGO et al., 2020).
Para Souza e Souza (2019) os ritos existem, pois desenvolvem um papel
importante na aceitação pelo enlutado apresentando como funções:

Marcar a perda de um dos membros da família; afirmar a vida como foi


vivida pelo que morreu; facilitar a expressão do luto conforme os valores da
cultura; falar sobre a morte e sobre a vida que continua expressando
significados; apontar uma direção que faça sentido diante da perda e da
continuação da vida dos que ficaram (IMBER-BLACK, 1998 apud SOUZA;
SOUZA, 2019, p. 5).

Portanto, a função da cerimônia fúnebre é elaborar a despedida e o


desligamento com a pessoa, reorganizando a vida na ausência do ente amado. Para
Freud esse momento marca um desprazer doloroso em que o sobrevivente percebe
a realidade da perda e assim começa a exprimir lembranças capazes de reduzir a
dor e o sofrimento, dando continuidade à rotina e ressignificando os momentos para
serem prazerosos (COSTA, 2018).
De acordo com Worner (2013) o ritual é muito significante no encorajamento e
42

na resolução do luto saudável, pelos seguintes aspectos: é o momento que de fato


torna real a perda, visualizar o corpo dá caráter definitivo para aquela morte, a
cerimônia de despedida possibilita que os enlutados possam expressar e verbalizar
seus sentimentos acerca do ente querido, esse momento é muito importante, pois
permite que os familiares falem sobre a morte e sobre o ente amado. Ademais,
percebe-se que quando o velório ocorre muito cedo, a família e amigos ainda estão
atordoados com a notícia e o evento não tem o efeito psicológico positivo que
deveria ter.
Nesse sentido, a representação dos rituais permite que haja uma
comunicação social maior sobre os significados da morte e o morrer, dando
concretude a perda. Os ritos simbolizam o transpasse do ente amado, favorecem a
interação social e cotidiana desfeita pela mudança que o decesso ocasiona, além,
de permitir através do apoio de familiares e pessoas próximas que o sentimento de
culpa seja minimizado. Ademais, a passagem fúnebre favorece a maturação
psicológica, no sentido de permitir que o enlutado se depare com a perda concreta,
iniciando o processo de elaboração do luto e permitindo viver o seu pesar (SOUZA;
SOUZA, 2019).

2.3.1 A Importância do Ritual de Despedida na Pandemia

A pandemia ocasionou mudanças radicais na vivência das pessoas, como


incertezas e perdas significativas, fomentou a questão da temporalidade e de que a
vida é um instante. Os rituais de despedida foram proibidos, perdas múltiplas
sobrecarregaram o enlutado e dificultaram a elaboração do luto (CREPALDI et al.,
2020).
A situação delicada fez com que vários países tomassem consciência de que
algo deveria ser feito para reduzir a contaminação e as mortes coletivas. Na Ásia, foi
proibido qualquer rito de despedida para os falecidos, com o intuito de diminuir a
contaminação. Nos países europeus, os funerais foram restritos para poucas
pessoas participarem do velório, do mortório ou cremação. No Brasil, alguns
protocolos foram seguidos, os velórios eram destinados apenas a pessoas mais
próximas, os caixões lacrados, não houve procedimentos de limpeza do corpo, o
velório com duração máxima de 1 hora, após isso, o corpo deveria ser cremado
(COGO et al., 2020).
43

Os rituais de velório e enterro espaço utilizado para compartilhar a dor e o


sofrimento pela perda do ente querido se tornaram vazios e sem significado. Os
familiares e amigos que não tiveram a oportunidade de ver o corpo do falecido pela
última vez e realizar as cerimônias de adeus, foram preenchidos com o sentimento
de não ter feito o que o ente amado merecia. Ademais, os caixões lacrados e a falta
de localização nas covas foram elementos que contribuíram para o aumento do
sofrimento (CREPALDI et al., 2020).
De acordo com Cardoso et al. (2020) uma série de fatores colaboram para
que o indivíduo tenha dificuldade de elaborar o luto neste período, tais como, morte
inesperada e em total isolamento hospitalar, experiência do óbito com dor e
sofrimento, redução do tempo para dar significado a perda, tensão familiar,
afastamento social, diminuição ou cancelamento dos rituais de despedida. Dessa
forma, o ritual fúnebre é o momento de despedida, de perdão e de homenagear
àquele ser pela passagem de sua vida, esse período é fundamental para
reconciliações e para concretizar que a morte aconteceu, e assim, dar um último
adeus.

A partir do momento em que os familiares e parentes se veem tolhidos da


possibilidade de realizarem os rituais de despedida, por conta das restrições
impostas pela pandemia, todo o enlutamento pode se tornar mais doloroso e
até mesmo incompleto. Isso pode desencadear sofrimentos psicológicos
que tendem a se arrastar indefinidamente, fornecendo matéria-prima para o
desenvolvimento do luto complicado (CARDOSO et al., 2020, p. 7).

Dessa forma, as situações vivenciadas na pandemia podem desencadear no


indivíduo o luto patológico, os sintomas vivenciados são: tristeza intensa,
pensamentos persistentes sobre o falecido, afastamento do mundo externo,
sofrimento mental prolongado, evoluindo para o estresse pós-traumático. Muitas
pessoas que passaram por essa experiência não tiveram a sua dor acolhida e
permaneceram sem os devidos cuidados (KOVÁCS, 2021).
Respeitar os indivíduos que estão em andamento da elaboração da perda
exige muita sensibilidade e delicadeza, afinal, cada pessoa interpreta e desenvolve o
processo do luto de acordo com sua individualidade. Portanto, é necessário que os
demais sujeitos compreendam que é importante se permitir vivenciar o pesar dentro
do tempo de cada um (LUKACHAKI et al., 2020).
De acordo com Maia et al. (2021) os rituais fúnebres são cerimônias que
fazem parte da sociedade. É uma forma de tornar real a perda, através do velório,
44

enterro, cremação, ritos religiosos e do sepultamento, essa visualização do fato é a


confirmação de que no corpo não há mais vida. Esse processo é fundamental para a
aceitação e o enlutamento. Ademais, é o momento que facilita a expressão das
emoções e da dor, da fala sobre a morte e a perda, ao mesmo tempo que possibilita
o enlutado a defrontação da vida que segue (IMBER BLACK, 1998 apud MAIA et al.,
2021).
Machado, Cavaletti e Groisman (2020) afirmam que a ausência ou a restrição
dos ritos de despedida na pandemia corroboram para aumentar o sofrimento e
tornam a vivência mais turbulenta. Portanto, sugerem que familiares e amigos
busquem formas alternativas para concretizar esta despedida, como orar pelo ente
querido, escrever cartas para a pessoa que partiu, realizar encontros online com
amigos e pessoas próximas para homenageá-la, relembrar conversas, ver fotos,
sentir saudades, se permitir chorar e falar, tentar reorganizar a rotina, fazer
atividades novas, todas as ações são normais e vão amenizar o desgosto e a
intensidade do padecimento com o tempo.
Maia et al. (2021) corrobora com a ideia de que deve haver o cuidado para
manter os rituais, pois, são eles que possibilitam às famílias a elaboração do luto de
forma saudável. Assim, mesmo na ausência do corpo é fundamental haver essa
passagem em forma de oração, acendimento de velas, compartilhar dizeres e
memórias que registrem a perda, para que haja a percepção que o acontecimento é
real e concreto.
Fukumitsu (2019) esclarece que é importante manter algumas práticas após o
falecimento para que o pesar possa ter uma resolução saudável, encorajar a
realização de rituais fúnebres simbólicos que possam dar concretude à perda;
conceder apoio emocional por meio de telefonemas ou vídeos; se perceber que o
sofrimento está mito intenso e disfuncional, procurar ajuda psicológica. As atitudes
rápidas diante da identificação do trauma prolongado são fundamentais para que as
ameaças sejam amenizadas.
De acordo com Cardoso et al. (2020) as cerimônias de despedida são
necessárias para a elaboração e ressignificação da morte do ente amado por parte
dos sobreviventes. As fases que o enlutado passa diante do luto são importantes
para que ele possa amadurecer psiquicamente e ter maior compreensão da finitude,
reduzindo os sentimentos de culpa, remorso e dor.
Para Hortegas e Santos (2020) o sofrimento gerado pela perda requer tempo
45

para ser superado, pois impede em vários momentos o indivíduo de agir e seguir a
vida. Portanto, os rituais organizam o desenvolvimento da despedida e contribuem
na capacidade de refletir sobre as perdas e encontrar diante disso forças para
superar e processar a experiência vivida.
Dessa forma, é perceptível a relevância dos ritos fúnebres para que os
enlutados consigam elaborar o processo do pesar. Cada indivíduo vivencia de
maneira subjetiva a sua dor, compreendê-la facilita para que o processo ocorra,
portanto, é importante identificar quando os sintomas do luto causam preocupação e
estão sendo difíceis de ser processados e elaborados, a tristeza intensa que não
passa, medos e pensamentos frequentes que causam desconforto e prejuízo no
cotidiano, diante disso, se observa a importância da ajuda de um profissional que
possa auxiliar o sobrevivente e permita que ele encontre um motivo para continuar
vivendo mesmo diante da perda (MAIA et al., 2021).

2.3.2 O Tratamento Psicológico no Luto

O luto pode causar grande angústia e dor no indivíduo, porém é a resposta à


perda do ente amado, é a expressão dos sentimentos e o que permite a pessoa
prosseguir com a vida na ausência do falecido (ZWIELEWSKI; SANT'ANA, 2016).
Grande parte dos enlutados conseguem lidar com a reações geradas pelo pesar,
porém, alguns não conseguem compreender o motivo da partida e entram em uma
profunda tristeza e desesperança (WORDEN, 2013).
Para Martins (2015 apud LEAL, 2020) quando acontece uma perda o
indivíduo modifica sua forma de ver o mundo e as demais pessoas, a falta que o
ente querido faz desestabiliza o sobrevivente sobre o modo de pensar e reagir
diante das situações cotidianas. Assim, as atividades que antes eram prazerosas
para o enlutado deixam de ser e com isso há perda do interesse no mundo externo.
Dessa forma, cada ser humano reage à perda de maneira individual conforme
foi aprendido culturalmente, pelas vivências, pelos padrões sociais e pela forma que
encara a morte. No processo normal do luto ocorre a angústia, porém com o tempo
a dor vai amenizando e a vida segue normalmente. Na patologia a tristeza é
constante e prolongada, portanto, há necessidade de dar apoio ao sobrevivente para
que ocorra o enfrentamento do sofrimento, neste sentido, a psicologia atua
promovendo saúde emocional, com a finalidade de resgatar o prazer e a
46

ressignificação da vida de quem permaneceu (ACIOLE; BERGAMO, 2019).


Portanto, Franco (2021) esclarece que para haver o acolhimento da perda é
necessário compreender a diversidade de afeição, a situação vivenciada e a
conexão sistêmica que vai além, do vínculo entre causas e consequências. O
psicólogo para ter sucesso nesta prática precisa ter ética, conhecimento teórico e
autoconhecimento. A ética voltada no sentido de não causar mal, de ser justo,
imparcial e garantir autonomia do indivíduo. O conhecimento é obtido através da
formação. O autoconhecimento para saber discernir a dor do outro e não gerar
ansiedade pela experiência das próprias perdas.
Para Worden (2013) o aconselhamento psicológico é muito importante, pois
ajuda o sujeito a adaptar-se à vida sem o ente amado. Possibilita que o sobrevivente
reforce a concretude da perda, aprenda a manejar o sofrimento emocional e os
aspectos comportamentais, auxilia o indivíduo a ajustar-se na nova vida e a
encontrar uma forma de ter o vínculo com o morto sem causar sofrimento. A busca
por esse recurso inicia uma semana após o sepultamento e deve atender todos os
envolvidos no luto, assim, a orientação assume o papel de promover a saúde
mental, antes que o sofrimento seja prolongado.
Trindade e Teixeira (2000 apud SIQUEIRA; AZEVEDO, 2020) corroboram com
a ideia do autor supracitado, afirmando que o aconselhamento é fundamental na
resolução do processo do luto. É um método focado no presente e possui curta
duração, visa a prevenção da patologia e proporciona autoconhecimento e
autoajuda, além de promover bem-estar e autonomia para que o indivíduo consiga
enfrentar as adversidades.
As intervenções terapêuticas permitem que o indivíduo tenha compreensão
da perda e possa ressignificar a sua vida, focando na resolução das incertezas e no
desenvolvimento de novas aptidões que permitam a interação no mundo externo e
assim, evitar os pensamentos negativos e disfuncionais que surgem com a morte
(BASSO; WAINER, 2011).
Dessa forma, independente da técnica o profissional deve ter conhecimento e
clareza sobre o comportamento humano. Utilizar métodos como linguagem
evocativa para trazer à tona sentimentos da realidade vivida; trabalhar com fotos
para evocar as memórias; o enlutado poderá escrever uma carta ao ente querido
manifestando suas emoções e sentimentos; fazer desenhos que reflitam sobre essa
perda; dramatizar situações temidas objetivando construir habilidades de
47

ressignificação; identificar os pensamentos negativos; construir um livro de


memórias do falecido; visualizar a pessoa que partiu e dizer o que sente vontade
para ele. O uso dessas técnicas é encorajar o indivíduo à expressão dos seus
sentimentos (WORDEN, 2013).
De acordo com Teixeira e Trindade (2000) aconselhar é um método que ajuda
o ser humano a compreender-se e compreender a situação que está vivenciando,
auxiliando o indivíduo a tomar decisões com assertividade e permitindo que ele
obtenha mais saúde mental e possa lidar com as frustrações que surgem no
decorrer da existência. Ademais, facilita a mudança de comportamento do enlutado,
acolhe as preocupações e o sofrimento, identifica as dificuldades relacionais e de
comunicação e promove bem-estar psicológico.
Outra intervenção utilizada diz respeito aos grupos educativos e preventivos,
essas ações proporcionam a cogitação acerca da morte, a perda e o luto, permitindo
que o sujeito tenha consciência que a terminalidade faz parte do desenvolvimento do
ser humano. O compartilhamento da dor no momento da perda é muito benéfico,
pois auxilia amenizando o sofrimento (OLIVEIRA, 2014). .
O autor supracitado também afirma que as ações psicoeducativas de forma
individual reduzem os níveis de ansiedade, pois, esclarecem sobre as fases do luto
e as alterações comportamentais e psíquicas, trabalhando a concretude da perda e
permitindo que o enlutado relate a experiência com o luto e com a despedida do
ente querido.
Thomaz (2010 apud MEDEIROS; COSTA; OLIVEIRA, 2019) corrobora
enfatizando que a psicoterapia tem papel fundamental na elaboração do luto e
compreensão da morte pelo enlutado. O tratamento permite que o sobrevivente
identifique e resolva os conflitos ocasionados pela falta do ente amado, se
readaptando à situação, afinal, o momento exige a vivência de pensamentos e
emoções que antes não eram experienciados, desta forma, o acompanhamento
psicológico permite que o indivíduo viva o luto, manifeste e expresse seu sofrimento
e dor, encorajando-o a sentir prazer pela vida e pelas atividades que desenvolvia
anteriormente.
A terapia do luto possibilita que o indivíduo identifique e resolva os conflitos
relacionados com a perda e que impedem de concluir cada fase nas situações em
que o sofrimento é crônico, exagerado e prolongado. No luto crônico em que o
indivíduo se depara por meses ou anos naquela mesma aflição, a técnica busca
48

identificar quais fases ainda precisam ser passadas e quais os impedimentos que
dificultaram a conclusão do processo. No luto retardado significa que o indivíduo
viveu a reação emocional da perda, porém, não foi suficiente pela falta de apoio,
aceitação, pela importância da perda ou pelo número de mortes, assim, a
psicoterapia busca explorar o passado e identificar quais infortúnios impossibilitaram
a elaboração. Já no luto exagerado, considerado um transtorno psicológico, neste
caso, a dor é vivenciada pelo sobrevivente de forma tão intensa e disfuncional que
exige tratamento psiquiátrico e intervenção psicológica para lidar com os conflitos
gerados pela separação. Por fim no pesar mascarado, o sujeito não tem consciência
que os sintomas físicos são resultados de um luto não resolvido (WORNEN, 2013).
Silva (2009 apud LEAL, 2020) enfatiza que no atendimento ao enlutado é
importante que ele tenha conhecimento sobre as fases do luto para ter uma maior
compreensão dos sentimentos e emoções que envolvem esse processo. A autora
esclarece que a psicoterapia deve proporcionar a vivência da morte, promovendo
esclarecimento sobre as alterações psíquicas e comportamentais do sujeito,
explicação sobre as fases do pesar e uso de técnicas que promovam alívio em cada
momento, reconhecimento dos pensamentos e sentimentos negativos, esclarecer as
queixas somáticas e emocionais, como tristeza, torpor, angústia e sentimento de
vazio, e proporcionar uma melhor readaptação do sobrevivente à vida diária.
Inicialmente é identificado os sinais e sintomas do indivíduo, é feito o
reconhecimento da concretude da perda e compartilhado a experiência de vivenciar
o morrer de alguém querido; no segundo período busca-se a resolução dos
problemas, reorganização das tarefas e papéis no ambiente familiar; e na terceira
fase é o retorno das atividades habituais, ressignificando e prosseguindo com a vida.
De acordo com Wornen (2013) o psicoterapeuta deve dar assistência ao
melancólico para que ele enfrente os pensamentos que se esquiva e possa
ressignificar a morte. O profissional deve oferecer ao sobrevivente a permissão para
que ele viva o luto e assim se estabeleça a aliança terapêutica, através do respeito e
empatia pela dor do outro.
No acompanhamento psicológico é exigido uma atenção cuidadosa, no intuito
de ouvir, orientar, oferecer a presença, prestar atenção no que o indivíduo apresenta
e estabelecer um vínculo de confiança para que proporcione tomar decisões com
segurança. A finalidade é que o profissional e paciente possam construir juntos o
significado da vivência da perda e assim buscar uma resolução (FRANCO, 2021).
49

Outra técnica utilizada para o atendimento desta demanda é a terapia em


grupo. Há autores que relatam que a atividade grupal ajuda o enlutado a expressar
as emoções, pela troca de experiências e apoio de outras pessoas que também
passaram pela mesma vivência (SOUZA; MOURA; CORRÊA, 2009 apud LEAL et
al., 2019). Porém, isso depende da singularidade de cada indivíduo, alguns sujeitos
podem sentir desconforto e raiva diante da dor do próximo, pelo fato de acreditarem
que o sofrimento deles é mais intenso que o do outro (REBELO, 2005 apud LEAL et
al., 2019).
Na terapia familiar os objetivos estão relacionados em reconhecer que as
patologias, perdas e as mudanças ocasionadas por elas, geram no sujeito emoções
naturais do processo do luto; evidenciar os padrões da dinâmica familiar,
principalmente os positivos e as vulnerabilidades; fortalecer as relações e identidade
familiar, evidenciando a aceitação da realidade, aceitação e capacidade de perdoar;
por fim, prestar apoio à família para haja reconciliação e adaptação às mudanças
ocasionadas após a morte (KISSANE; HOOGE, 2011 apud FRANCO, 2021).
Para Vidigal (2006 apud MEDEIROS; COSTA; OLIVEIRA, 2019) o luto é um
processo que precisa ser vivenciado para que não haja comprometimento emocional
e comportamental. Desta forma, a psicoterapia é indicada para a resolução dos
problemas psíquicos, emocionais e comportamentais do enlutado.
Franco (2021) relata que a psicoterapia é relevante, afinal, após a perda a
vida da pessoa não volta a mesma condição, ela precisa se adaptar ao novo
cenário, diante da situação imposta. A visão de mundo se transforma, o que antes
era importante, agora deixa de ser, portanto, o sentido está na capacidade de
enfrentamento deste luto, de voltar a vida que tinha, portanto, o tratamento
psicológico visa encorajar o indivíduo a ressignificar sua vivência.
Na psicoterapia é importante destacar algumas regras que permitem que o
processo ocorra de forma correta e proporcione resultados. É necessário excluir
qualquer doença física, porém, é preciso observar quais os sintomas são
característicos do luto e que estão presentes no enlutado; explorar os
relacionamentos passados do indivíduo e qual a relação com a perda e se estão
afetando ou dificultando a elaboração do luto; verbalizar sobre o ente querido,
construir uma base de memórias positivas para ser utilizada quando o sujeito tiver
pensamentos negativos; identificar qual fase do luto a pessoa está passando
(WORNEN, 2013).
50

O autor supracitado destaca que o profissional precisa identificar em qual


tarefa do luto o paciente está com dificuldades para superar. Se o sobrevivente
estiver na primeira tarefa, significa que não está acreditando que realmente a morte
tenha ocorrido. Na segunda tarefa o paciente aceita a realidade, porém, não há
emoção sobre a perda. Caso a dificuldade esteja na terceira tarefa a terapia vai
auxiliar na resolução dos conflitos, superação das incompetências e encorajamento
para voltar a viver. Na última tarefa o psicoterapeuta vai proporcionar que o paciente
encontre uma conexão duradoura com o ente amado, a última fase possibilita que a
pessoa retorne a vida e se permita conhecer novos relacionamentos.
O psicoterapeuta contribui para que o enlutado supere os possíveis
sentimentos de culpa, remorso, permitindo que ele ressignifique as vivências e
resolva conflitos internos e familiares que ficaram pendentes de resposta (SCHMIDT;
GABARRA; GONÇALVES, 2011). Ademais, o foco da intervenção é na perda, no
sentido de auxiliar o indivíduo na resolução do luto, a lidar com a situação em que a
morte ocorreu e expressar as emoções, enfim, o psicólogo deve ajudar o
sobrevivente a aceitar a concretude da perda, estimular a falar sobre a morte e
sobre as angústias (FLACH et al., 2012 apud SILVA; CARNEIRO; ZANDONADI,
2017).
Nesse sentido, percebe-se que o luto é uma passagem natural na vida do ser
humano, porém, é importante identificar quando os sintomas estão se tornando
patológicos. A intervenção psicológica é fundamental nesse processo, pois permite
amenizar a dor e que o enlutado tenha consciência emocional e comportamental
para compreender a separação e aprender a viver diante da ausência do ente
querido (SILVA; CARNEIRO; ZANDONADI, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A morte é um assunto evitado por muitas pessoas, mesmo sendo um


acontecimento inelutável, ela remete à dor e o sofrimento gerado pela perda de
alguém próximo e querido, inevitavelmente, todos passam por essa experiência, já
que o indivíduo está condicionado à finitude da vida. Assim, nesse processo, o ser
humano se depara com uma tristeza intensa e torturante, dessa forma, inicia o
enfrentamento do luto.
51

O intuito do luto é a construção da aceitação da morte, por isso, o processo é


dividido por fases que são marcadas por comportamentos, pensamentos e emoções
características. Cada um compreende e passa por essas fases de forma singular,
para alguns a resolução ocorre de forma mais rápida e para outros a tristeza é
interminável. Portanto, ao se falar desta questão, percebe-se que os rituais de
despedida desempenham o papel de auxiliar nesse desenvolvimento e dar
concretude à perda.
Dessa forma, compreender o sentido da morte no contexto histórico e cultural
permitiu verificar que em toda a civilização a finitude é encarada de acordo com a
cultura, padrões e subjetividade de cada indivíduo. Todo ser demonstra e encara a
percepção do morrer à sua maneira e da forma que aprendeu a conviver com essa
experiência.
Assim, para que haja a aceitação da perda, a pessoa se depara com os
estágios do luto. Cada fase tem a sua peculiaridade e se manifesta de forma que
facilite a resolução do pesar para o sujeito, que ele possa confortavelmente aceitar a
morte do ente querido e que por mais doloroso que seja, tenha o discernimento que
é possível prosseguir a vida.
Nesse sentido, falar sobre luto remete compreender o papel dos rituais de
despedida na elaboração. Portanto, eles têm a finalidade de tornar real à perda, de
permitir um último adeus e a visualização do corpo já sem vida. É o momento que o
sujeito percebe que a partir daquele momento terá que viver na ausência de quem
um dia foi presença.
A presente pesquisa referenciada corroborou na percepção de que os rituais
fúnebres são fundamentais para a concretude da perda. O enlutado precisa passar
por esse processo para ter entendimento sobre a morte e ter a certeza de que o ente
amado já não vive mais, é o momento de verbalizar as dores e emoções, de
relembrar os momentos e de enaltecer o falecido. As cerimônias permitem que a
família tenha sua dor amparada e consiga se despedir, o enfrentamento do decesso
auxilia no processo de resolução do luto, portanto, é um rito imprescindível para a
elaboração. Assim, observa-se que nos casos que não houve a despedida, a
compreensão e aceitação da morte ocorreu de forma mais longa e complicada, os
indivíduos se sentiram desassistidos e preocupantes quanto à perda, pelo fato de
não visualizarem o corpo e não darem o último adeus. Portanto, verifica-se que a
psicoterapia tem a função de auxiliar o indivíduo, identificando qual fase está
52

afetando a sua vida e deixando de fazer as atividades que antes eram prazerosas.
Assim, como forma de amenizar esta dor, sugere-se que na ausência dos
rituais de corpo presente, seja realizado despedida simbólica por meio de encontros
com os familiares, orações, ligações, formas de efetivar realmente a perda e se
sentir amparado diante do sofrimento e da dor.
Sendo assim, a pesquisa foi relevante porque possibilitou compreender o
morrer, seu processo e finalização. Mostrando que é fundamental se despedir do
ente amado para que haja a concretude do óbito. Nesse sentido, a pesquisa
bibliográfica teve o intuito de abordar o tema morte como um evento doloroso, sendo
necessário a passagem do luto para sua concretização, para alguns ocorre de forma
normal e para outros é prolongado, portanto, os rituais tornam real a perda,
efetivando o adeus e permitindo que o familiar consiga ter compreensão, mesmo
diante do sofrimento, que a vida tem a sua terminalidade, saber lidar com a saudade
é fundamental para ressignificar o viver.

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