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Texto base: FONTANA, Roseli ; CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho Pedagógico. São Paulo:
Editora Atual, 2008.
Deane Monteiro Vieira Costa
Doutora em Educação pela UFES
A Escola tem uma longa história. Em cada período histórico ela assume novas
características quanto a funções, funcionamento, ideias e concepções que embasam suas
práticas. As transformações dessas características sempre se relacionaram a mudanças da
sociedade: mudanças econômicas, políticas, sociais e ideológicas.
O que acontece na escola é, assim, determinado por uma diversidade de fatores o
que faz com que a educação escolar seja objeto do interesse de pesquisas de várias
ciências: a psicologia, a economia, a sociologia, a história, entre outras.
Cada uma delas, de acordo, com suas especificidades, produz análises de aspectos
determinados da educação escolar, sem que nenhuma consiga (ou mesmo pretenda)
isoladamente dar conta da complexidade da prática pedagógica.
A psicologia é apenas uma entre as ciências que concorrem para a reflexão sobre
a educação escolar. Sendo uma das ciências que estudam o homem, a psicologia tem se
ocupado de uma grande variedade de temas: a afetividade, o desenvolvimento da criança,
a velhice, a aprendizagem, as relações sociais e institucionais, a deficiência mental, as
relações de trabalho, a saúde mental, entre outros.
Muitas das pesquisas e teorias psicológicas que têm servido à prática pedagógica
não foram elaboradas com esse objetivo. Assim, as questões e interesses dos psicólogos
são às vezes mais abrangentes e às vezes mais restritos do que aqueles colocados pelos
agentes do processo educacional. Esse dois âmbitos, o psicológico e o pedagógico,
raramente coincidem, portanto não podem ser confundidos.
Considerando que o papel social da escola é essencialmente definido pelo processo
de transmissão/assimilação do conhecimento, entendemos que as contribuições
fundamentais da psicologia à prática pedagógica são aquelas que podem lançar luz sobre
alguns aspectos do “ensinar e aprender”.
1. A ABORDAGEM INATISTA-MATURACIONISTA
Todos nós já ouvimos ou dissemos coisas como: “Eles ainda não tem maturidade para
aprender a ler”; “Meu filho tem uma aptidão incrível para a matemática”; “A Marina é
tão inteligente! Puxou ao pai!”.
Maturidade, aptidão, inteligência são temas tradicionalmente abordados pela
psicologia numa perspectiva que atribui um papel central a fatores biológicos no
desenvolvimento da criança. Essa perspectiva, que estamos denominando inatista-
maturacionista, parte do princípio de que fatores hereditários ou de maturação são mais
importantes para o desenvolvimento da criança e para a determinação de suas capacidades
do que os fatores relacionados à aprendizagem e à experiência.
Na psicologia, Teóricos dessa perspectiva supõem que, do mesmo modo que a cor
dos olhos, aptidões individuais e inteligência são características herdadas dos pais e,
portanto, já estão determinadas biologicamente quando a criança nasce. Ou então que, à
maneira do crescimento das partes do corpo, o desenvolvimento do comportamento e das
habilidades da criança é governado por um processo de maturação biológica,
independentemente da aprendizagem e da experiência.
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Foi nessa linha de preocupação com as diferenças individuais que se
desenvolveram os primeiros estudos psicológicos com o objetivo de avaliar a inteligência.
Um dos pioneiros desses estudos, o pesquisador francês Alfred Binet (1857-1911),
interessou-se especialmente pela mensuração da inteligência através de testes.
Binet concebia a inteligência como uma aptidão geral que não depende das
informações ou das experiências adquiridas no decorrer vida do indivíduo. Segundo ele,
as principais características da inteligência seriam as capacidades de atenção, de
julgamento e de adaptação, de comportamento a objetivos. Essas capacidades, segundo
Binet, não podem ser apreendidas, mas, ao contrário, são biologicamente determinadas.
Assim, a inteligência é vista como um atributo do indivíduo fixado pela hereditariedade
e, como tal, variável de uma pessoa para outra.
Mas, se as pessoas são diferentes uma das outras nas suas aptidões, traços de
personalidade ou de inteligência, existem também muitas semelhanças entre elas. A
maioria dos bebês, por exemplo, torna-se capaz de se sentar antes que possa se arrastar,
engatinhar e depois andar. Essas sequências parecem se repetir sempre em relação à
maioria das crianças, o que sugere a existência de certo padrão de desenvolvimento
humano. Esse fato tem chamado a atenção de muitos pesquisadores desde as primeiras
décadas do século passado. Um dos primeiros psicólogos a se interessarem por essa
questão foi Arnold Gesell (1880-1961), os Estados Unidos. Ele se preocupou com a
evolução da criança, do nascimento aos 16 anos e estudou as formas que seu
comportamento vai tomando no decorrer dessa evolução.
Pode-se dizer que Gesell foi o primeiro teórico da maturação, uma vez que
defendia a prioridade dos fatores de maturação sobre os fatores de aprendizagem, ou de
experiência, na evolução do comportamento da criança. Para ele, o que explica a
existência de um padrão de desenvolvimento comum à maioria das crianças é o processo
de maturação biológica inerente às transformações por que passa o comportamento da
criança.
Tanto Binet quando Gesell, acreditando que a inteligência e o desenvolvimento
psíquico da criança são biologicamente determinados, preocuparam-se em descrever
comportamentos e habilidades típicos de cada faixa etária. No entanto, Binet, por sua vez,
preocupava-se com aqueles comportamentos que, numa determinada idade, pudessem ser
tornados como indicadores do nível de inteligência da criança. A evolução ou o
desenvolvimento dos comportamentos considerados típicos não o interessaram de modo
especial, mas sim a capacidade da criança de realiza-los na idade tida como adequada.
Mas, apesar das diferenças, podemos dizer que Binet e Gesell estabeleceram
padrões de comportamento com a finalidade de avaliar a inteligência ou o
desenvolvimento da criança. O pressuposto de que os fatores biológicos (hereditariedade
e maturação) são os mais decisivos na determinação da inteligência e do desenvolvimento
leva a supor que tais padrões de comportamento são independentes de fatore externos ou
do contexto social em que as crianças vivem.
Se o ritmo e a sequência do desenvolvimento são biologicamente determinados,
qual a sua relação com os processos de aprendizagem? Antes de responder a essa
pergunta, é importante lembrar que os pesquisadores da abordagem inatista-
maturacionista não tinham como objetivo o estudo da aprendizagem. No entanto, ao
destacar o papel de fatores internos na determinação da inteligência e do
desenvolvimento, essa abordagem considera que aquilo que a criança aprende no decorrer
da vida não interfere no processo de desenvolvimento.
A ideia de que a criança é portadora dos atributos universais (biológicos) do
gênero humano produz ou justifica a crença de que caberia à educação fazer aflorar esses
atributos naturais, desenvolvendo as potencialidades do educando de modo harmonioso.
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Tal concepção teve o mérito de chamar a atenção para as especificidades da criança, para
as características, habilidades e capacidades dos educandos, colocando em destaque
noções como prontidão, maturidade, aptidão.
É fato bem conhecido que testes de prontidão (para a leitura, por exemplo) e testes de
inteligência têm sido amplamente utilizados para a avaliação de crianças em idade
escolar, penalizando muito delas. Os resultados de tais testes têm, historicamente,
impedido que inúmeras crianças tenham acesso ao conhecimento e à própria
escolarização, ao fornecerem indicadores de sua “imaturidade” ou de seus “déficits” de
inteligência.
2. A ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA
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COMPORTAMENTOS E APRENDIZAGEM
Para o comportamentalismo, a aprendizagem é um tema centra. Ao enfatizar a
influência dos fatores externos e ambientais, essa concepção teórica afirma que o
mais importante na determinação do comportamento do indivíduo são as suas
experiências, aquilo que ele aprende durante a vida. Aliás, podemos dizer que o
comportamentalismo confunde-se com uma teoria da aprendizagem, uma vez que
sua preocupação básica é explicar como os comportamentos são aprendidos.
Burrhus Frederic SKINNER (1904-1980), outro importante comportamentalista,
cujo trabalho deu continuidade a algumas das formulações de Watson, distingue dois
tipos de aprendizagem: por condicionamento clássico e por condicionamento operante.
A aprendizagem por condicionamento clássico envolve um tipo de
comportamento determinado, que é sempre provocado por um estímulo também
determinado. Ela envolve uma reação do organismo ao meio e não uma ação do
organismo sobre o meio. Digamos que alguém dê um sopro em seus olhos. Você
automaticamente irá piscar. Piscar é uma reação, uma resposta aprendida. No entanto, se
toda vez que alguém sopra em seus olhos soa uma campainha, pode chegar um momento
em que você piscará ao ouvir tal campainha, mesmo na ausência do sopro. Dizemos,
então, que você aprendeu a piscar quando ouve determinado som.
Nesse caso, o som é chamado pelos comportamentalistas de estímulo
condicionado, porque, por si mesmo, ele não provoca a reação de piscar, mas apenas
quando é associado a outro tipo de estímulo (o sopro) que automaticamente desencadeia
tal reação.
Já a aprendizagem por condicionamento operante se dá de forma bastante
diferente, apoiando-se não em reações provocadas por estímulos, mas em
comportamentos emitidos pelo próprio organismo que são seguidos por algum tipo de
consequência. Se o comportamento é seguido por uma consequência agradável, ele tende
a se repetir. Ao contrário, se a consequência for desagradável, o comportamento tem
menos probabilidade de se repetir. Essas consequências, chamadas pelos
comportamentalistas de reforçadores, “modelam” o comportamento dos indivíduos,
sendo responsáveis pela criação dos hábitos.
Segundo a concepção de Skinner, a grande maioria dos comportamentos das
pessoas é aprendida por condicionamento operante. A birra de uma criança, por exemplo,
é um comportamento aprendido. Se a criança chora e esperneia e a mãe (ou outro adulto)
lhe dá algo que ele deseja (como um doce, um brinquedo, um refrigerante), o
comportamento da criança é reforçado e tende a se repetir em outras ocasiões.
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A ideia de que os comportamentos humanos são aprendidos em decorrência de
contingências ambientais e a noção de modelagem do comportamento têm influenciado
as práticas educativas. De acordo com SKINNER, ensinar é planejar/organizar essas
contingências de modo a tornar mais eficiente a aprendizagem de determinados conteúdos
e habilidades. A utilização de reforçadores e a organização da aprendizagem por pequenos
passos são princípios decorrentes dessa abordagem.
Uma das marcas deixadas pelo comportamentalismo na educação escolar foi a
valorização do planejamento do ensino, tendo chamado a atenção para a necessidade de
se definirem com clareza e operacionalmente os objetivos que se pretende atingir, para a
organização das sequências de atividades e para a definição dos reforçadores a serem
utilizados (elogios, notas, pontos positivos, prêmios, etc.).
3. A ABORDAGEM PIAGETIANA
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progressivo entre o mecanismo assimilador e a acomodação complementar”. Ao
mesmo tempo em que, por meio do processo de assimilação/acomodação, o indivíduo
adapta-se ao meio (elaborando seu conhecimento sobre ele), o seu próprio
funcionamento cognitivo vai se estruturando, se organizando. Uma das primeiras
formas de organização cognitiva é o esquema.
A organização do real por meio da ação marca o início do desenvolvimento
cognitivo da criança. De acordo, com PIAGET, os esquemas de ação ampliam-se,
coordenam-se entre si, diferenciam-se e acabam por se interiorizar, transformando-
se em esquemas mentais e dando origem ao pensamento. Esse desenvolvimento
contínuo dos esquemas se dá no sentido de uma adaptação cada vez mais complexa
e diferenciada à realidade.
O processo de desenvolvimento depende, na perspectiva piagetiana, de fatores
internos ligados à maturação, da experiência adquirida pela criança em seu contato com
o ambiente e, principalmente, de um processo de auto-regulação que ele denomina de
equilibração.
O PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR
O desenvolvimento cognitivo se inicia a partir dos reflexos que gradualmente se
transformam em esquemas de ação. Do nascimento até os 2 anos de idade,
aproximadamente, a criança passa do nível neonatal, marcado pelo funcionamento de
reflexos inatos (sucção e preensão), para outro em que ele já é capaz de uma organização
perceptiva e motora dos fenômenos do meio.
Nesse percurso o eu e o mundo tornam-se progressivamente distintos. O indivíduo
e os objetos diferenciam-se e organizam-se no plano das ações exteriores, e a permanência
dos objetos vai sendo construída. O brinquedo, que ao ser retirado da criança deixava de
existir para ela, passa a ser procurado. A criança começa a perceber que os objetos, as
pessoas, continuam existindo mesmo quando estão fora do seu campo de visão.
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outras coisas. O desenvolvimento da representação cria as condições para a aquisição da
linguagem, pois a capacidade de construir símbolos possibilita a aquisição dos
significados sociais (das palavras) existentes no contexto em que ela vive.
Ao repartir o refrigerante com o irmão, a criança só considera a partilha justa se o
líquido ficar em altura igual nos dois copos, mesmo que um deles seja visivelmente mais
estreito. Ela considera apenas uma dimensão do problema ( a altura do líquido no copo),
a mais evidente em termos perceptivos. Não é ainda capaz de raciocinar levando em conta
as relações entre as várias dimensões envolvidas (a largura e o formato do copo), e o tipo
de percepção que tem dos objetos determina o tipo de raciocínio que faz sobre eles.
O PERÍODO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS (dos 7 anos aos 11 anos)
É apenas no final do período pré-operatório, após equilibrações sucessivas, que o
pensamento da criança assume a forma de operações intelectuais. As operações são ações
mentais voltadas para a constatação e a explicação. A classificação e a seriação, por
exemplo, são ações mentais. Essas ações são sempre reversíveis, ou seja, têm a
propriedade de voltar ao ponto de partida. A reversibilidade do pensamento possibilita à
criança construir noções de conservação de massa, volume, etc... O pensamento reversível
pode ser definido como a capacidade de levar em consideração uma série de operações
que, revertidas, conduzem ao estado inicial.
É o que ocorre, por exemplo, com a noção de conservação de líquidos: uma
criança, num nível operatório, é capaz de compreender que a quantidade de refrigerante
contida em um copo permanece a mesma quando despejada em outro mais alto e mais
estreito, embora o nível de líquido se torne mais elevado. A criança torna-se capaz de
compreender o ponto de vista de outra pessoa e de conceitualizar algumas relações.
Portanto, é nessa fase que são estabelecidas as bases para o pensamento lógico, próprio
do período final do desenvolvimento cognitivo.
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As formulações de Piaget têm tido grande influência sobre a prática pedagógica,
inclusive no Brasil. Ao destacarem o papel ativo da criança no processo de elaboração do
conhecimento, têm sido, responsáveis por ideias, como: o papel fundamental da escola é
dar a criança oportunidades de agir sobre os objetos do conhecimento; o professor não
deve ser aquele que transmite conhecimentos à criança, mas sim, um agente facilitador e
desafiador de seus processos de elaboração; a criança é quem constrói o seu próprio
conhecimento.
4. A ABORDAGEM HISTÓRICO-CRÍTICA
O USO DE INSTRUMENTOS
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ou tornar presente o que está ausente constitui um signo: a palavra, o desenho, os símbolos
(como a bandeira ou o emblema de um time de futebol), etc.
Enquanto o instrumento está orientado externamente, ou seja, para a modificação do
ambiente, o signo é internamente orientado, modificando o funcionamento psicológico
do homem.
De acordo com a concepção histórica-cultural, é importante considerar que a
utilização dos instrumentos e dos signos não se limita à experiência pessoal de um
indivíduo.
O PAPEL DO OUTRO E A INTERNALIZAÇÃO
A apropriação dos instrumentos e dos signos pelo indivíduo ocorre sempre na
interação com o outro. “O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa
através de outra pessoa” escreceu Vygotsky. “Essa estrutura humana complexa é o
produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre
história individual e história social”.
Desde o nascimento, a criança tem com o mundo uma relação mediada pelo outo e
pela linguagem. O adulto ensina a criança a utilizar os objetos – ele agita o chocalho
diante dela, ajuda-a a pegá-lo, ensina a chutar a bola. O adulto aponta, nomeia, destaca,
indica os objetos do mundo para a criança, ao mesmo tempo, que atribui significações
aos seus comportamentos. Quem já viu um adulto lidando com um bebê, sabe que o adulto
fala o tempo todo, dando nomes para os objetos, dirigindo a atenção da criança e
interpretando tudo o que ela faz.
A partir de suas relações com o outro, a criança reconstrói internamente as formas
culturais de ação e pensamento, assim, como as significações e os usos da palavra que
foram com ela compartilhados. A esse processo interno de reconstrução de uma operação
externa, Vygotsky dá o nome de internalização.
Desse modo, a abordagem histórico-cultural considera que toda função psicológica se
desenvolve em dois planos: primeiro, no da relação entre indivíduos e, depois, no próprio
indivíduo. O processo de desenvolvimento vai do social para o individual, ou seja, as
nossas maneiras de pensar e agir são resultado da apropriação de formas culturais de ação
e de pensamento.
DESENVOLVIMENTO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO: A INFLUÊNCIA DA
ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL NA ESCOLA
Segundo Vygotsky, o conhecimento do mundo passa pelo outro, sendo a educação “o
traço distintivo fundamental da história do pequeno ser humano. A educação pode ser
definida como sendo o desenvolvimento artificial da criança. Ela é o controle artificial
dos processos de desenvolvimento natural. A educação faz mais do que exercer influência
sobre um certo número de processos evolutivos: ela reestrutura de modo fundamental
todas as funções do comportamento”.
Os processos de aprendizado transformam-se em processos de desenvolvimento,
modificando os mecanismos biológicos da espécie. Sendo um processo constituído
culturalmente, o desenvolvimento psicológico depende das condições sociais em que é
produzido, dos modos como as relações sociais cotidianas são organizadas e vividas e do
acesso às práticas culturais.
Em razão de privilegiar o aprendizado e suas condições sociais de produção no
processo de desenvolvimento, Vygotsky colocou em discussão os indicadores de
desenvolvimento utilizados pela psicologia da época. Segundo sua análise, o aprendizado
(atividade interpessoal) precede e impulsiona o desenvolvimento, criando zonas de
desenvolvimento proximal, ou seja, processos de elaboração compartilhada.
Observar a atividade compartilhada da criança possibilita olhar para o seu futuro, pois
“o que é desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã –
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ou seja, aquilo que a criança é capaz de fazer com assistência hoje ela será capaz de fazer
sozinha amanhã”.
O PAPEL DA ESCOLARIZAÇÃO
O modo como Vygotsky concebia e analisava o desenvolvimento humano levou-o a
discutir explicitamente o papel da escolarização. Diferentemente, de outros psicólogos,
Vygotsky considerou as especificidades das relações de conhecimento produzidas na
escola, distinguindo-as das relações de conhecimentos cotidianas.
Em nossas sociedades, a escola é uma instituição encarregada de possibilitar o contato
sistemático e intenso das crianças com o sistema de leitura e de escrita, com os sistemas
de contagem e de mensuração, com os conhecimentos acumulados e organizados pelas
diversas disciplinas científicas, com os modos como esse tipo de conhecimento é
elaborado e com alguns dos variados instrumentos de que essas ciências se utilizam
(mapas, dicionários, réguas, etc). Nessas situações compartilhadas com a professora, a
criança aprende significados, modos de agir e de pensar, e começa a elaborá-los. Ela
também re-significa e reestrutura significados, modos de agir e de pensar, e começa a se
dar conta das atividades mentais que realiza e do conhecimento que está elaborando.
Nesse sentido, destaca Vygotsky, a educação escolarizada e o professor têm um papel
singular no desenvolvimento dos indivíduos. A escola, possibilitando o contato
sistemático e intenso dos indivíduos com os sistemas organizados de conhecimento e
fornecendo a eles instrumentos para elaborá-los, mediatiza seu processo de
desenvolvimento.
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