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Universidade Federal de Uberlândia

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RELÁTORIO DE ANÁLISE FÍLMICA

Disciplina: História Moderna II

Discente: Isabella Laísa Santos Franco

Docente: Marco Sávio

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título: Danton (original); Danton – o processo da revolução (título brasileiro)

Ano de produção: 1982

Direção: Andrzej Wajda

Duração: 2 horas e 15 minutos

Gênero: drama; história

País: França; Polônia

A história do filme se passa em 1794, onze anos após o início da Revolução


Francesa (1789), revolução esta que é marca importante na história e em suas
produções, representando uma mudança ideológica e político no pensamento moderno
para o contemporâneo. A Revolução Francesa representa também mudanças
significativas nos modos de organização social, política, econômica e cultural na
sociedade francesa, e tem influencias no mundo todo, de forma global. E isso se explica
pelo fato de que a efervescência política e ideológica da revolução, inspiradas pelas
ideias iluministas do racionalismo, iam contra o regime politico do Antigo Regime
caracterizado pelo poder dos Estados Absolutos, concentrados nas mãos dos monarcas
que privilegiavam uma pequena parcela da sociedade a alta nobreza.
Feita essas considerações acerca do momento histórico em que se passa o filme
“Danton”, devemos ressaltar também o período de sua produção. Lançado no ano de
1982, podemos traçar dois fatos históricos importantes para as razões de sua produção:
primeiro a proximidade das comemorações do centenário da Revolução Francesa 1789
– 1989, e o investimento do governo francês na década de 80 em revalorizar esse
acontecimento de sua história; e segundo, o avanço das forças do stalinismo na Europa e
a polarização politica da Guerra Fria. E é nesse contexto que o diretor do filme, o
polonês Andrzej Wajda, com ajuda financeira do governo francês produz “Danton”.

Os filmes de Andrzej Wajda fazem bastante sucesso por se tratarem de


produções que fazem grande oposição a regimes totalitários, e este filme de Danton não
é diferente. A trama é focada na construção da imagem de dois personagens
fundamentais na Revolução Francesa, a de Robespierre e de Danton, ambos faziam
parte da esquerda revolucionaria, e apesar de terem sido aliados em momentos antes aos
acontecimentos da revolução, tinham suas divergências ideológicas – e o filme irá
trabalhar este ponto chave de disputa ideológica entres os dois. Robespierre é
considerado uma força mais radical da esquerda, portanto, mais autoritária e próximo as
forças de governo. Já Danton tem uma característica moderado, com maior apoio
popular e também próximo a alguns membros que estavam no poder, porém não tão
próximo igual Robespierre.

E importante ressaltar que durante este período da revolução em que se passa o


filme, foi conhecida como o período da Convenção, na qual o medo dos revolucionários
jacobinos das forças realistas retornarem ao poder, leva a criação do Comitê de
Salvação Pública e do Tribunal Revolucionário fundado por Danton, que vai governar o
país e cujo objetivo era perseguir e condenar os traidores da pátria e das propostas da
revolução. E esse momento ficou conhecido como a fase do “Terror”, pois aqueles que
eram condenados inimigos eram executados na guilhotina em praça pública, formando
um verdadeiro espetáculo de horror – o que desperta um forte sentimento de
insegurança e medo nos indivíduos.

Outro ponto crucial na análise é o fato de que junto ao crescimento do “Terror”,


a instabilidade econômica foi um ponto decisivo da insatisfação popular no período da
Convenção, a escassez de alimentos e o aumento dos preços se fazem sentir nas
populações mais pobres. E vemos isso nas primeiras cenas do filme, a atmosfera do
“Terror” na França, com um cenário escuro, foca em algumas carroças com mercadorias
chegando à cidade e sendo fiscalizados de modo bastante severo, alguns são presos e
recebem multas. Enquanto, em outro momento mostra que pessoas estão na fila para
comprar pães, e reclamam como os preços estão caros e os pães estão cada vez mais de
baixa qualidade, quando o tem. E também a censura dos jornais que iam contra os
princípios da revolução, mostrando um clima ditatorial.

A criação de uma nova constituição pelos revolucionários jacobinos que estão no


poder é retratada no filme, na cena em que a empregada de Robespierre está dando
banho em seu irmão mais novo. Na qual ela o faz decorar as passagens da nova
constituição, pois acredita que aqueles que desejam ser um bom patriota e a favor da
revolução deve a saber de cor, e quando o garoto erra alguma coisa, logo estende sua
mão para levar palmatórias, reforçando assim a visão da repressão.

Nesta fase do “terror” da revolução, o Tribunal Revolucionário liderado por


Robespierre, executou na guilhotina muitos daqueles que estiveram na revolução, sob as
acusações de contrarrevolucionários e contra os princípios básicos da revolução que
eram liberdade, igualdade e fraternidade. Danton chega para tentar acabar com esse
“terror” e implantar a democracia de fato no país, sem utilizar da força e da violência
para tal.

Um aspecto relevante no filme mostra que Robespierre muitas vezes agia acima
das leis e de forma ditatorial, principalmente, por ser bastante pressionado por seus
assessores na chamada Convenção, mas mostra que tem sobre eles grande poder
também. Danton, por outro lado é representado por não querer este tipo de poder,
buscando apenas defender os princípios básicos da revolução, e defender o direito do
povo. E a contraposição de Danton a Robespierre, e a sua decisão de não se juntar a
Robespierre em sua busca de continuar os preceitos da revolução perseguindo e
matando os que eram contra, levam Danton junto a outros companheiros que também
eram contrários a fase do “Terror”, a serem julgados e condenados no Tribunal
Revolucionário, o qual o próprio ajudará a criar.

Em vários momentos do filme podemos notar a crítica ao processo


revolucionário que Wajda faz, onde ele deixa explicito que os personagens traem os
ideais básicos da revolução, principalmente Robespierre, que são as ideias de liberdade,
igualdade e fraternidade. As liberdades não são garantidas, e isso fica claro nos
momentos de censura aos jornais e a perseguição daqueles que iam contra o Comitê e a
perpetuação da revolução; a igualdade não é garantida, uma vez que a realidade das
populações pobres nas ruas passa fome e tem dificuldades de comprar o pão, mostra que
os revolucionários vivem em casas grandes com mordomias e abundância de comidas; e
a fraternidade também é corrompida no momento em que Danton e seus companheiros
são julgados e condenados de forma arbitrário no Tribunal Revolucionário.

O filme, portanto, mostra como o poder pode desvirtuar os ideias que tanto lutou
para serem conquistados no processo da revolução, levando os homens a tomarem
atitudes tirânicas e ditatoriais quando convém, ou quando são contrariados em suas
pretensões de atingir patamares maiores de ascensão, usando um discurso de salvação
da pátria e da defesa da perpetuação da revolução.

Esta obra foi aclamada pela crítica por fazer uma representação bastante
fidedigna da época e de seus principais personagens, mas também tem seus momentos
de invenção. Mas, em seu todo mostra este embate político ideológico em torno dos
momentos pós-revolução e dentro da própria revolução. O seu fim é de forma bastante
dramática mostrando a prisão e execução de Danton, por não aceitar as formas impostas
por Robespierre e por pressionar o seu governo. No momento de execução, Danton
alerta Robespierre que o próximo a ser guilhotinado será ele próprio, o que de fato irá
acontecer alguns momentos após, possibilitando que a alta burguesia retorne ao poder.
Porém está parte depois da execução de Danton não é retratada no filme.

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