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Silo - Tips Manual de Lingua Latina Latim Instrumental
Silo - Tips Manual de Lingua Latina Latim Instrumental
LATIM INSTRUMENTAL
SÃO GONÇALO - RJ
2 semestre de 1997
MANUAL DE LATIM INSTRUMENTAL 2
SUMÁRIO
PREFÁCIO 4
PRONÚNCIA LATINA 5
LIÇÃO I PUELLA CANTAT 6
1. Em latim não há artigo 6
2. O sujeito e o predicado 6
LIÇÃO II MAGISTRA ET DISCÍPULA 7
3. O predicativo do sujeito 7
4. Presente do indicativo do verbo ESSE "ser" ou "estar" 7
5. Flexão de caso 7
LIÇÃO III DÔMINA ET SERVAE 8
6. Os casos 8
7. O nominativo e o acusativo 8
LIÇÃO IV SCHOLA SEMPRÔNIAE 9
8. O genitivo 9
9. Primeira conjugação 9
LIÇÃO V DISCÍPULAE SÉDULAE ET PIGRAE 11
10. O dativo 11
LIÇÃO VI DUAE AMICAE 12
11. O ablativo 12
12. Segunda conjugação 12
LIÇÃO VII MAGISTRA MONET DISCÍPULAS 13
13. O vocativo 13
14. Imperativo presente 13
15. Quadro sinóptico dos casos e respectivas funções 13
LIÇÃO VIII MAGISTRA SENTÊNTIAS LEGIT PUELLIS 14
16. Terceira conjugação 14
17. Como distinguir os casos que têm a mesma desinência? 14
LIÇÃO IX VITA AGRICOLARUM 15
18. Quarta conjugação 15
19. A voz passiva dos verbos 15
20. As declinações 15
21. Primeira declinação 15
LIÇÃO X DE ARÂNEA ET MUSCA 16
22. Como se reconhece a declinação de um substantivo? 16
23. Os gêneros 16
24. As preposições 16
LIÇÃO XI DE DÔMINIS ET SERVIS 17
25. Segunda declinação: nomes terminados em -us 17
26. O gênero das palavras da segunda declinação em -us 17
27. Deus 17
28. O pretérito imperfeito do indicativo 17
LIÇÃO XII DE SCHOLA ORBÍLII PUPILLI 18
29. Segunda declinação: nomes terminados em -er e em ir 18
30. Agente da passiva 18
LIÇÃO XIII VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT 19
31. Segunda declinação: nomes terminados em -um 19
32. Declinação dos neutros 19
PREFÁCIO
Este manual pretende ser uma ferramenta didática para o uso direto nos cursos em que a Lín-
gua Latina é apresentada como língua instrumental, principalmente nos cursos de Letras. Não e-
quivale a um curso completo de latim, nem pretende esgotar qualquer dos itens de que trata, mas
apenas um manual prático de iniciação.
Quem aprender o que se pretende ensinar neste manual poderá continuar seus estudos de
Língua Latina sem grandes dificuldades, visto que "não é para ser falado que o latim deve ser estu-
dado", como afirma Napoleão Mendes de Almeida na Gramática Latina, 25ª ed., p. 9; mas é "para
aguçar seu intelecto, para tornar-se mais observador, para aperfeiçoar-se no poder de concentração
de espírito,(...) que o aluno estuda este idioma."
Como língua instrumental, o latim é utilizado nos cursos de Letras como base indispensável
para os estudos de Filologia Românica, de Lingüística Românica, de Língua Portuguesa (princi-
palmente Gramática Histórica da Língua Portuguesa, História da Língua Portuguesa, Lexicografia,
Lexicologia etc.) e de quase todas as línguas e literaturas ocidentais modernas. Não se podendo
esquecer da relação ―genealógica‖ entre português e latim, também devemos nos lembrar de que o
latim deu origem a todas as línguas neolatinas e contribuiu enormemente na formação do léxico de
quase todas as línguas ocidentais modernas (80% do léxico da língua inglesa são provenientes do
latim).
Na maior parte dos países ditos "civilizados", o latim é estudado em nível de primeiro e se-
gundo graus, como já o fora no Brasil até a primeira metade deste século. Mas, com a política de
"facilitação da aprendizagem", as disciplinas que exigem ou desenvolvem o raciocínio, como o La-
tim, o Grego, a Filosofia e a Lógica foram banidas da escola e não há perspectivas de voltarem tão
cedo.
Tanto que a base para a elaboração deste manual foi o Gradus Primus de Paulo Rónai, escri-
to para adolescentes de 5ª série do 1º grau (1ª série ginasial), ao qual acrescentamos, extraímos e
alteramos o que nos pareceu necessário para os nossos objetivos e clientela.
Acrescentamos algumas inovações, sobre as quais pretendemos convencer a todos que foram
feitas para eliminar dificuldades previsíveis dos alunos, porque não visamos a uma competência a-
tiva da língua latina.
Os professores Fernanda Mara de Almeida Azevedo (ex-monitora de Língua Latina) e Na-
taniel dos Santos Gomes (ex-bolsista de Iniciação Científica) tiveram uma participação decisiva
na sua elaboração, analisando cada conceito e cada exercício, inclusive apresentando sugestões de
toda ordem e colaborando na revisão do texto. O Prof. Milton Affonso da Silva, do Instituto de
Letras, foi responsável pela elaboração do texto Paulae in Villa que aparece nos Apêndices e pela
seleção de dois outros, além de ter acrescentado utilíssimas observações teóricas.
Aguardamos com todo carinho todas as críticas e sugestões para a melhoria deste manual,
sabendo-se que se destina a um curso de aproximadamente 120 horas.
PRONÚNCIA LATINA
Acentuação Latina
Lembramos, preliminarmente, que na grafia latina não existem acentos gráficos. Só utiliza-
remos acentos gráficos nos textos apresentados aqui para facilitar a leitura aos alunos.
A maior parte das palavras latinas é constituída de paroxítonas, como em português. As pa-
lavras de mais de duas sílabas ainda podem ser proparoxítonas. Palavras oxítonas praticamente
não existem.
Na verdade, no período clássico da língua latina, os acentos mais importantes eram os acen-
tos de quantidade, que indicavam se a sílaba era longa ou breve, sendo que a sílaba longa equivali-
a, em duração, a duas sílabas breves. Os acentos de intensidade não tinham a importância que pas-
saram a ter posteriormente e que são os principais nas línguas românicas.
VOCABULÁRIO
2. O sujeito e o predicado.
Vamos ver o que vem a ser sujeito de uma oração. Sabemos que o predicado indica o que se
diz do sujeito: uma ação, um estado, um fenômeno da natureza, etc.
Ora, sabemos que é impossível uma ação sem causa. Se uma xícara aparece quebrada, al-
guém deverá ter praticado a ação de quebrar. Quando o verbo está na voz ativa, o sujeito é o ser
que pratica a ação. Se é um verbo de ligação, o predicado será centralizado no predicativo do sujei-
to e, por isto, o sujeito não praticará qualquer ação.
Analisemos a primeira frase. É, logo se vê, um período simples. Sujeito: puella; predicado:
cantat.
Podem ser analisadas do mesmo modo a segunda e a terceira frases.
Nas frases do segundo parágrafo encontramos os mesmos sujeitos e os mesmos predicados,
mas desta vez no plural.
Todos os substantivos desta leitura terminam em -a no singular e em -ae no plural (pronun-
ciar é).
Todos os verbos da leitura terminam em -at na 3ª pessoa do singular e em -ant na 3ª pessoa
do plural.
Logo, se conclui que o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito.
Semprônia est magistra. Lívia est discípula. Discípulae sédulae sunt. Iúlia et Sílvia quoque
discípulae sunt. Discípula bona semper sédula est. Magistra éducat, puellae laborant: Lívia can-
tat, Iúlia récitat, Sílvia saltat. Discípulae malae non laborant. Magistra severa est. Justítia severa
est. Sapiêntia divina est. Lusitana terra est. História pulchra est. Lucrétia ímperat. Anna, Drusilla
et Lucilla obtêmperant. Lucrétia dômina est. Anna, Drusilla et Lucilla servae sunt.
Collóqüium
Semprônia: — Es sédula, Lívia?
Lívia: — Sum.
Semprônia: — Estis sédulae, puellae?
Discípulae: — Sumus.
3. O predicativo do sujeito
Analisemos a primeira frase da leitura.
Semprônia: sujeito; est magistra: predicado.
Nesta oração, o predicado se compõe de duas palavras: est, verbo, e magistra, predicativo do
sujeito. Os predicados da segunda e da terceira frases são igualmente compostos. Na terceira fra-
se, o predicativo do sujeito sédulae está no plural, porque o sujeito, discípulae, também está no
plural.
Nas frases onde aparece o verbo esse, geralmente há predicativo. Isto é, todas as vezes que
ele é verbo de ligação. Este predicativo concorda com o sujeito em gênero, número e caso, quan-
do for adjetivo. Mas, se o predicativo for constituído de substantivo, ele só concordará com o sujei-
to em caso.
5. Flexão de caso
Em latim, há uma flexão que não é conhecida em português: a flexão de caso. A flexão de
gênero e a de número indicam idéias gramaticais que conhecemos. A flexão de caso indica a fun-
ção sintática da palavra na frase: o sujeito e o predicativo do sujeito são representados pelo nomi-
nativo; o vocativo pelo vocativo; objeto direto pelo caso acusativo, o adjunto adnominal restritivo
é representado pelo genitivo, o objeto indireto pelo dativo e o adjunto adverbial pelo ablativo.
Servae amant dôminam. Hódie Lucrétia convivas exspectat. Ídeo servae sédulae sunt. Anna
cenam parat, Lucilla mensam ornat, Drusilla portam servat. Poëtae linguam latinam amant. Luna
terram illustrat. Serva dominam servat. Aqua ínsulas circumdat. Dômina amat servas.
6. Os casos.
Traduzamos a primeira frase.
Servae amant dôminam: "As escravas estimam a senhora".
Traduzamos agora a última frase da leitura.
Dômina amat servas: "A senhora estima as escravas".
Verificamos que à palavra portuguesa "senhora" correspondem em latim duas formas dife-
rentes: dôminam na primeira das frases citadas, dômina na segunda. A análise das duas frases há
de explicar essa diferença.
Na frase "As escravas estimam a senhora" a palavra "senhora" é objeto direto. Na frase "A
senhora estima as escravas" a palavra "senhora" é sujeito. Ora, em latim, o mesmo nome tem for-
mas diferentes, segundo a função que desempenha na oração; estas formas chamam-se casos.
7. O nominativo e o acusativo.
O caso do sujeito é o nominativo. Por isso todas as palavras que concordarem com o sujeito
irão também para o nominativo, como é o caso do predicativo do sujeito, por exemplo, ou um a-
posto ao sujeito.
Exemplos: Maria, magistra nostra, discipularum amica est. Brasília, pátria mea, est pul-
chérrima. (Os termos negritados são, respectivamente, nos dois exemplos, aposto e predicativo
dos sujeitos, que estão sublinhados.)
Desinências: -a no singular; -ae (pronunciar é) no plural.
O caso do objeto direto é o acusativo. O mesmo que foi dito para o nominativo vale para o
acusativo, ou seja, que também vão para o mesmo caso os adjetivos e demais palavras que com ele
concordam, como é o caso do aposto e do predicativo do objeto.
Ex.: Márcia et Lúcia latinam línguam amant. Cláudia scholam felicem facit. Nerus Ro-
mam, civitatem divinam, gubernat. (Os termos negritados são, respectivamente, adjunto adno-
minal, predicativo e aposto dos objetos diretos, que estão sublinhados.)
Desinências: -am no singular; -as no plural.
O acusativo pode ser regido de preposição, formando locuções adverbiais.
Schola Semprôniae clara est. Discípulae Semprôniae amant magistram. Puellae sédulae dili-
genter frequentant scholam. Magistra saepe fábulas narrat. Fábulae poëtarum delectant discípulas.
Collóqüium
8. O genitivo.
Adjunto adnominal restritivo é o complemento que restringe um nome. Suponhamos a ex-
pressão "casa de Pedro". A casa poderia ser de Paulo, de João, de Antônio etc., mas dizendo "casa
de Pedro" nós restringimos a palavra casa. Portanto, de Pedro, ao mesmo tempo que completa o
sentido da palavra casa, está restringindo e especificando esta palavra.
Outros exemplos:
A vaca do Paraíso comeu o gramado.
O Palácio de Cristal é lindo.
Adriana toma sorvete de chocolate.
O adjunto adnominal restritivo vem normalmente acompanhado da preposição "de", em por-
tuguês. Nem sempre a preposição "de" indica adjunto adnominal restritivo, mas o adjunto adno-
minal restritivo pode vir sempre antecedido da preposição "de", formando uma locução adjetiva.
Naturalmente, podemos substituir algumas dessas locuções pelos adjetivos equivalentes.
No texto acima, surge um "caso" novo, como a análise da frase há de mostrar.
Schola: sujeito; Semprôniae: adjunto restritivo (traduz-se por locução adjetiva); clara est:
predicado.
Tradução da frase: "A escola de Semprônia é famosa".
Assim, na última frase, poëtarum "dos poetas" desempenha também a função de adjunto ad-
nominal restritivo (que se traduz por locução adjetiva).
O genitivo é o caso do adjunto adnominal restritivo, assim como complemento de certos
verbos que indicam operação do espírito (mémini ―lembrar-se‖, oblivíscor “esquecer‖), sentimen-
to (miséreor ―apiedar-se‖), os impessoais (míseret ―ter pena‖, paenitet ―não ter bastante, arre-
pender-se‖, pudet ―envergonhar-se‖, piget ―estar pesaroso‖), os que significam ―encher‖, ―faltar‖,
―ter falta de‖ (implere, égere, indigere) etc.
Desinências: -ae (pronunciar é) no singular; -arum no plural.
9. Primeira conjugação.
Nos dicionários de língua portuguesa, o verbo aparece no infinitivo. Em latim, aparece
na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, seguido da 2ª pessoa do mesmo tempo, do
infinitivo presente, da 1ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo e do supino, que são os
tempos primitivos do verbo.
PRESENTE DO INDICATIVO
Modelo: am-a-re "amar"
am-o "eu amo" am-a-mus "nós amamos"
am-a-s "tu amas" am-a-tis "vós amais"
am-a-t "ele" ou "ela ama" am-a-nt "eles" ou "elas amam"
Magistra sentêntias poëtarum dictat puellis. Póstea discípulae sédulae sentêntias réci-
tant magistrae. Discípulae pigrae sentêntias ignorant. Magistra sédulas laudat, pigras casti-
gat. Semprônia pupam dat Sílviae, qüia diligenter laborat. Discípulae Semprôniam cômiter
salutant.
10. O dativo.
O verbo transitivo exige complemento. O transitivo indireto exige o objeto indireto, que
é normalmente precedido de preposição, em português, principalmente "a" ou "para".
Exemplos: Eu te obedeço. Márcia lhe pediu um caderno. Francisco obedeceu ao dire-
tor. Lúcia deu um presente ao namorado. A aluna ofereceu um lápis ao mestre.
Na primeira frase desta leitura há outro "caso", que ainda não conhecemos. Analisemos
a frase: Magistra sentêntias poëtarum dictat puellis
Magistra: sujeito; sentêntias: objeto direto; poëtarum: adjunto restritivo; sentêntias
poëtarum dictat puellis: predicado; puellis: objeto indireto.
Tradução: "A professora dita as sentenças dos poetas às (para as) meninas".
Na frase seguinte há também objeto indireto, mas desta vez no singular: magistrae, "à (pa-
ra a) professora".
O objeto indireto é representado pelo dativo.
Desinências: -ae (pronunciar é) no singular; -is no plural.
Vejamos outros exemplos: Regina nautis pecúniam dat ―A rainha dá dinheiro aos marinhei-
ros‖. Reginis laetítiam damus ―Damos alegria às rainhas‖. Regína laetítiam, ancillis pecú-
niam do ―Dou dinheiro às servas e alegria à rainha‖. Áqua ínsulis vitam dat ―A água dá vi-
da às ilhas‖. Servorum fíliis et filiabus Deus prudêntiam et patiêntiam dat ―Deus dá paciên-
cia e prudência aos filhos e às filhas dos escravos‖.
O dativo de interesse é um complemento do predicativo, que pode corresponder ora a
complemento nominal, ora a adjunto adnominal, já que não dispomos desta nomenclatura em
nossas gramáticas normativas. Ele indica algo em interesse ou em prejuízo do ser a que se re-
fere.
Exemplos: Ele é favorável a mim. Isto não é bom para o povo.
Sílvia est amica Iúliae. Amicae semper una laborant, cantant, rident, pila ludunt. Iúlia
valde amat amicam: Sílvia vehementer gaudet amicítia Iúliae. Hódie amicae aras dearum ro-
sis ornant.
11. O ablativo
Nas expressões pila ludunt "brincam com a bola", gaudet amicítia Iúliae " alegra-se
com a amizade de Júlia", rosis ornant "ornam com rosas", as palavras pila, amicítia e rosis
desempenham o papel de adjunto (ou complemento) circunstancial.
A noção de adjunto (ou complemento) circunstancial em latim é um pouco mais ampla
do que a noção que temos de adjunto adverbial, como é o caso do complemento circunstanci-
al de causa eficiente, que corresponde ao nosso agente da passiva.
Adjunto circunstancial ou adjunto adverbial é um termo acessório; por isto, não é exi-
gido para completar o sentido de outro termo. Complemento é um termo integrante, de natu-
reza semelhante à dos complementos verbais e do complemento nominal.
Exemplos: Viajei com meus pais. (adjunto adverbial de companhia). Estou na sala.
(complemento circunstancial de lugar)
Algumas vezes, o ablativo é regido de preposição, formando uma locução adverbial (ou
circunstancial).
Vejamos alguns exemplos: Agrícola in casa est ―O agricultor está na choupana‖. Pu-
ellae cum fámulis âmbulant ―As moças passeiam com as empregadas‖. Sum in Itália ―Es-
tou na Itália‖. Magistra alumnam negligêntia non laudat ―A professora não louva a aluna
por causa de sua negligência‖. Columba a discípula vulnerata est ―A pomba foi ferida pela
discípula‖.
O adjunto circunstancial é representado pelo ablativo, que é o resultado da fusão de três
antigos casos latinos: o instrumental, o locativo e o ablativo propriamente dito.
Desinências do ablativo: -a no singular (a longo!); -is no plural.
Em português o adjunto adverbial é expresso normalmente por meio de preposição mais
nome (locução adverbial), por advérbio ou por orações adverbiais.
Lívia, tace! Puellae, plantas aqua rigate! Sílvia, es bona et sédula! Discípulae, scho-
lam diligenter freqüentate, este sédulae, parete magistris! Date mihi tabellas! Recitate fábu-
lam! Poëtas amate, históriam pátriae cogitate!
13. O vocativo.
Analisemos a primeira frase dita pela professora: Lívia, tace! ―Lívia, cala-te!‖. Predi-
cado: tace. Sujeito oculto: tu. Que é, então, a palavra Lívia? É um chamamento ou interpela-
ção. Nas quatro frases seguintes também há chamamentos ou interpelações: Puellae, Iúlia,
Sílvia, discípulae.
O caso que indica chamamento, apelo ou interpelação é o vocativo.
Cuidado para não confundir sujeito com vocativo!
O vocativo vem normalmente separado por vírgulas, podendo aparecer no início, no
meio ou no fim da frase. Além disso, é bom ter atenção para as frases em que o verbo está
no imperativo, pois é muito freqüente a ocorrência de vocativos nelas.
Exemplos: Puellae, aqua rigate! Rigate, puellae, aqua! Rigate aqua, puellae!
Desinências: -a no singular; -ae (pronunciar é) no plural.
Não se esqueçam de refazer seus estudos sobre o imperativo em português, pois isto é
fundamental para que se possa entender e/ou traduzir corretamente o texto latino.
O imperativo presente latino tem desinência zero no singular e desinência -te no plural.
É óbvio que só se pode dar ordem ou pedir alguma coisa ao ser com quem se fala.
Agrícolae semper sub divo vivunt. Parum dórmiunt, mature surgunt. Terram arant,
plantas aqua rigant. Avículas áudiunt, umbra silvarum gaudent. Diligêntia agricolarum pá-
triam nutrit. Poëtae laudant vitam agricolarum.
20. As declinações.
Encontramos até agora os casos seguintes: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo,
dativo, ablativo. O conjunto dos casos chama-se declinação. Declinar um nome significa di-
zer este nome em todos os seus casos no singular e no plural, ou, em outras palavras, enunciar
as diversas formas que o nome reveste conforme as funções que desempenha na frase.
Em latim, declinam-se os substantivos, os adjetivos e os pronomes. A declinação de
todas estas palavras não é, porém, idêntica. Existem cinco maneiras diferentes de declinar os
substantivos, isto é, cinco declinações.
Descobre-se a parte fixa de um nome a partir do genitivo singular, do qual se extrai a
desinência. Exemplos: ros-ae, magistr-ae, etc.
23. Os gêneros.
Em latim, como em português, há gêneros gramaticais. Marcaremos no vocabulário o
gênero de cada substantivo por meio de abreviaturas. Por exemplo: arânea,-ae f.; poëta,-ae
m.
Os substantivos da primeira declinação são femininos, com exceção daqueles que de-
signam homens, como poëta, agrícola, nauta, ou nomes de alguns rios como Garumna,-ae m.
Estes naturalmente são de gênero masculino.
24. As preposições.
Muitas vezes, o adjunto adverbial não se exprime por meio do simples ablativo, mas
por meio de nomes precedidos de preposições.
a) Certas preposições regem o acusativo (ad, ante, apud, cis, erga, extra, inter, per,
post, propter, supra, trans etc.). Ex.: Ad Genavam pervênio ―Chego às proximidades de
Genebra‖. Ante oppidum considerate ―Tomai posição diante da cidadela‖. Inter Séquanos
et Hevécios sumus ―Estamos entre os séquanos e os helvécios‖.
b) Outras regem o ablativo (a ou ab, cum, de, e ou ex, pro, sine etc.). Exemplos:
Paulus a magistratu Aeduorum accusaretur ―Paulo seria acusado por um magistrado dos é-
duos‖. A decumana porta sedebam ―Eu estava sentado do lado da porta decumana‖. Regi-
nae cum ancillis âmbulant. ―As rainhas passeiam com as criadas‖. Milites sine regibus
pugnabant. ‖Os soldados lutavam sem os reis‖.
c) O agente da passiva é regido pela preposição a ou ab; por isto, fica sempre no abla-
tivo, mesmo quando esta preposição for omitida. Ex.: Reginae a poëtis celebrantur “As ra-
inhas são celebradas pelos poetas‖. Agrícolae ab amicis laudantur ―Os agricultores são elo-
giados pelos amigos‖.
d) A preposição in pode reger acusativo ou ablativo: rege o acusativo quando emprega-
da com verbos de movimentos; o in, neste caso, se traduz por a, para, contra (ex.: Eo in Ro-
mam. ―Vou para Roma‖; incédere in nautas. ―Avançar contra os marinheiros‖. Mas rege o
ablativo quando empregada com verbos que indicam permanência ou movimento circunscri-
to; o in, neste caso, se traduz por em. Ex.: Sum in silva ―Estou na floresta‖. Âmbulo in ter-
ra mea ―Passeio em (= na área circunscrita de) minha terra‖. Bis in die stúdeo ―Estudo duas
vezes por dia‖.
Nenhuma preposição rege nominativo, vocativo, genitivo ou dativo.
Romani opulenti multos servos habebant. Rufus quoque dôminus multorum servorum
erat. Servi Rufi amabant dôminum, qüia bonus erat: servis sédulis pecúniam dabat, ne malos
qüidem verberabat, sicut multi. Servi dominorum severorum vitam mísere trahebant, saepe
vapulabant et esuriebant. Raro servi dôminis, dômini servis contenti erant.
27. Deus
A palavra Deus, -i tem vocativo igual ao nominativo e possui diversas variantes no
plural.1
|CASO| SINGULAR| PLURAL |
|Nom. | Deu-s | De-i (Di, Di-i) |
|Voc. | Deu-s | De-i (Di, Di-i) |
|Ac. | De-um | De-os |
|Gen. | De-i | De-orum (De-um) |
|Dat. | De-o | De-is (Dis, Di-is) |
|Abl. | De-o | De-is (Dis, Di-is) |
1
Não se preocupe em memorizar todas essas variantes do plural. Elas são apresentadas aqui como um registro
para consultas, visto que é uma palavra muito freqüente. O que deve ficar bem gravado é sua forma de vocativo
singular, diferente da maioria das palavras da 2ª declinação terminadas em -us no nominativo singular.
2
É importante lembrar que tema é o conjunto formado pela soma de radical + vogal temática. Entretanto, nas
gramáticas latinas, é muito freqüente o uso indiscriminado e preferencial de tema por radical.
Scholam Orbílii Pupilli multi discípuli freqüentabant. Sextus, Aulus et Lúcius discípuli
Orbílii erant. Orbílius quotídie docebat púeros. Magister vir severus erat. Saepe púeris dice-
bat:
— Non scholae, sed vitae díscimus, púeri.
Magister discípulos malos non diligebat et freqüenter eos castigabat. Ídeo púeri pigri
magistrum "Orbílium Plagosum" vocabant.
Qüintus Horátius Flaccus scholam Orbílii freqüentat. Puer parvus praecepta magistri
observat, semper diligenter discit. Qüintus collegis exemplo est1. Magister bono discípulo li-
brum dono dat2. Flaccus olim magnus poëta erit.
Orbílius saepe pulchra provérbia dictat discípulis. Púeri provérbia describunt, qüia
"verba volant, scripta manent". Ecce primum provérbium: "Avarum irritat, non sátiat pecú-
nia".
1
exemplo est: "serve de exemplo".
2
dono dat: "dá de presente".
Púeri cum magistro hortum Rufi vísitant. Quam pulcher est hortus! Ubiqüe rosae ru-
brae rédolent, narcissi flavi rident, lília alba óculos delectant. Púeri laeti saltant, cantant, pila
ludunt, currunt, státuam dei hortorum coronis ornant.
— Si séduli éritis1, púeri, — ait Orbílius — cras Forum visitábimus. Ibi templa pulc-
hra magnorum deorum vidébitis. Cúriam, ubi patres considunt, étiam ostendam vobis. In
foro causídicos audietis.
Nunc sentêntiam hodiernam vobis dictabo:
"Hódie mihi, cras tibi."
Aule, cras recitabis sentêntiam; tu autem, Sexte, explicabis.
1
éritis: traduzir pelo futuro do subjuntivo.
Lúcius, fílius Rufi et Lucrétiae, aegrotat. Morbus fílii matrem valde movet. Pater médi-
cum vocat. Médicus aegro remédium ádhibet et dicit:
— Macte, Luci! Si remédium sumes, cras valebis.
Pater quoque confirmat fílium.
— Nihil est, mi fili! — ait Rufus. — "Dolor ânimi grávior est quam córporis dolor."
Verba patris valde confirmant Lúcium.
Vetus pópulus Romae semper "panem et circenses" poscebat. Aediles pópulo saepe lu-
dos faciebant. Pópulum crudelem atroces pugnae gladiatorum in circo vehementer delecta-
bant.
Acres viri, cum in arenam descendebant, Caesarem sic salutabant:
"Ave, Caesar, morituri te salutant." Spectatores de morte victorum póllice verso decerne-
bant.
Prima erat in terris aetas áurea. Tum hômines rectum sine légibus colebant, bella, exér-
citus, enses, córnua ignorabant, sine mílitum usu vivebant. Poena metusqüe1 áberant.2 Ver
aeternum erat.
1
A conjunção -qüe está sempre grudada à última palavra da série coordenada. Por exemplo: poena metusqüe
quer dizer ―o castigo e o medo‖.
2
O verbo abesse conjuga-se como esse, do qual é derivado.
Magister: — Heri de aetate áurea légimus. Nunc rem novam docebo. Quotídie díscitis
áliqüid; ut ille Apelles dicebat: "Nulla dies sine línea." Descríbite ergo sentêntiam poëtae Pu-
blílii Syri: "Magister usus ômnium est rerum óptimus." Aule, lege et éxplica sentêntiam.
Aulus, qüi cum Sexto ludebat, tacet.
Magister: — Cave, Aule! Si ludes in schola, te castigabo. Óptime dicit sápiens: "Cae-
ci sunt óculi, si ânimus álteras res agit."
Deo súpplica. Parentes ama. Pro pátria pugna. Cum bonis âmbula, ut ipse bonus sis.
Saluta libenter, ut te quoqüe libenter salutent. Rem tuam custodi. Disce, ut scias. Áleam fu-
ge, ut vir probus mâneas. Cógita semper provérbium:
"Edo, ut vivam, non vivo, ut edam."
PLURAL
1ª pessoa nost-er nostr-a nostr-um "nosso, nossa"
2ª pessoa vest-er vestr-a vestr-um "vosso, vossa"
3ª pessoa su-us su-a su-um "seu, sua"
Scélera gêneris humani irritabant Iovem. Frustra petebant hômines ut ignósceret; terris
dilúvium misit. Flúmina per apertos campos ruebant, domos destruebant. Undae tam altae e-
rant ut mare et terra nullum discrimen haberent1.
1
O imperfeito do subjuntivo não se traduz sempre pela mesma forma em português. Assim, nesta leitura, haberent deve ser traduzido pelo
imperfeito do indicativo. Por outro lado, na frase Sine amicítia vita tristis esset, na XXV leitura, esset é traduzido pelo futuro do pretérito.
I II III-A III-B IV
amav-i vid-i leg-i fec-i audiv-i
amav-i-sti vid-i-sti leg-i-sti fe-i-sti audiv-i-sti
amav-i-t vid-i-t leg-i-t fec-i-t audiv-i-t
amáv-i-mus víd-i-mus lég-i-mus féc-i-mus audív-i-mus
amav-i-stis vid-i-stis leg-i-stis fec-i-stis audiv-i-stis
amav-eru-nt vid-eru-nt leg-eru-nt fec-eru-nt audiv-eru-nt
amav-e-re vid-e-re leg-e-re fec-e-re audiv-e-re
"eu amei", etc. "eu vi", etc. "eu li", etc. "eu fiz", etc. "eu ouvi", etc.
Como vemos, em todos estes verbos o tema do perfeito difere do tema do presente:
mesmo em víd-e-re e lég-e-re, onde a vogal temática se alonga: vid-i, leg-i.
Nos verbos da primeira conjugação, o tema do perfeito acaba geralmente em av-; nas
três outras, há temas de terminações muito diferentes. O conhecimento deste tema é muito
importante porque dele se formam, além do pretérito perfeito do indicativo, o mais-que-
perfeito e o futuro perfeito do indicativo, o perfeito e o mais-que-perfeito do subjuntivo e o
infinitivo perfeito, tempos que aprenderemos em seguida. Eis porque os dicionários, ao regis-
trarem um verbo, dão a 1ª e a 2ª pessoa do presente do indicativo, o infinitivo presente e a 1ª
pessoa do pretérito perfeito, assim: leg-o, leg-i-s, lég-e-re, leg-i, lect-um ou áud-io, áud-i-s,
aud-i-re, audiv-i, audit-um, etc.
O pretérito perfeito de esse é o seguinte: fu-i, fu-i-sti, fu-i-t, fú-i-mus, fu-i-stis, fu-e-runt
ou fu-e-re "eu fui", etc.
1
O neutro dos adjetivos é usado freqüentemente como substantivo: bonum "o bem", malum "o mal", etc. Estes adjetivos
substantivados estão muitas vezes no plural, quando em português se emprega o singular. Assim, ômnia deve ser traduzido
por "tudo".
Deucálion et Pyrrha, qüi oráculum non intelléxerant, diu in ânimo volvebant. Tandem
maritus dixit Pyrrhae:
— Nunc intellexi oráculum. Magna parens terra est. Ossa parentis ergo lápides sunt.
Tum maritus et uxor lápides post terga iactaverunt. Saxa statim humanam formam duxerunt.
I II III-A III-B V
amáv-era-m víd-era-m lég-era-m féc-era-m audív-era-m
amáv-era-s víd-era-s lég-era-s féc-era-s audív-era-s
amáv-era-t víd-era-t lég-era-t féc-era-t audív-era-t
amav-era-mus vid-era-mus leg-era-mus fec-era-mus audiv-era-mus
amav-era-tis vid-era-tis leg-era-tis fec-era-tis audiv-era-tis
amáv-era-nt víd-era-nt lég-era-nt féc-era-nt audív-era-nt
"eu amara" ou "eu vira" ou "eu lera" ou "eu fizera" ou "eu ouvira" ou
"tinha amado" "tinha visto" "tinha lido" "tinha feito" "tinha ouvido"
— Parate vobis amicos — dicebat Orbílius discípulis. — Sine amicítia vita tristis esset1.
Si amicos bene elegéritis2, sócios malorum habébitis. Diserte enim Publílius Syrus scripsit:
"Secundae amicos res parant, tristes probant."3
Discípuli Orbílii verba Publílii cogitabant. At vos sentêntiam poëtae Ovídii Nasonis
semper cogitate:
Donec eris felix, multos numerabis amicos;
Têmpora si fúerint núbila, solus eris4.
I II III-A III-B IV
amáv-er-o víd-er-o lég-er-o féc-er-o audív-er-o
amáv-eri-s víd-eri-s lég-eri-s féc-eri-s audív-eri-s
amáv-eri-t víd-eri-t lég-eri-t féc-eri-t audív-eri-t
amav-éri-mus vid-éri-mus leg-éri-mus fec-éri-mus audiv-éri-mus
amav-éri-tis vid-éri-tis leg-éri-tis fec-éri-tis audiv-éri-tis
amáv-eri-nt víd-eri-nt lég-eri-nt féc-eri-nt audív-eri-nt
"eu terei "eu terei "eu terei "eu terei "eu terei
amado", etc. visto", etc. lido", etc. feito", etc. ouvido", etc.
1
esset — Ver a observação da nota 1 da lição XXII.
2
elegéritis — Ver nota 4 abaixo.
3
"Secundae amicos res parant, tristes probant." = Secundae res parant, tristes res probant amicos. (As situações favoráveis
fazem os amigos, as tristes provam-nos).
4
Não havendo em latim futuro do subjuntivo, o papel desse tempo é também desempenhado pelo futuro perfeito do indicati-
vo. Portanto donec eris felix traduz-se por "enquanto fores feliz", e si amicos bene elegéritis por "se tiverdes escolhido bem
os amigos".
Orbílius ad discípulos: — Cupitisne1 bene vívere? Haec praecepta Pupílii Syri ne ne-
glexéritis, púeri.
Primum: "Secreto amicos ádmone, lauda palam."
Secundum: "Pacem cum homínibus, bellum cum vítiis habe."
Tértium: "Néminem nec accusáveris, nec laudáveris cito."2
I II III-A III-B IV
amáv-eri-m víd-eri-m lég-eri-m féc-eri-m audív-eri-m
amáv-eri-s víd-eri-s lég-eri-s féc-eri-s audív-eri-s
amáv-eri-t víd-eri-t lég-eri-t féc-eri-t audív-eri-t
amav-éri-mus vid-éri-mus leg-éri-mus fec-éri-mus audiv-éri-mus
amav-éri-tis vid-érit-is leg-éri-tis fec-éri-tis audiv-éri-tis
amáv-eri-nt víd-eri-nt lég-eri-nt féc-eri-nt audív-eri-nt
"eu tenha "eu tenha "eu tenha "eu tenha "eu tenha
amado", etc. visto", etc. lido", etc feito", etc. ouvido", etc
1
Aqui temos um verbo cupitis seguido de uma partícula interrogativa ne. Esta partícula é usada encliticamente e indica que
não se sabe se a resposta será positiva ou negativa.
2
O pretérito perfeito do subjuntivo, é usado freqüentemente em ordens proibitivas, depois dos advérbios ne e nec, em substi-
tuição ao imperativo. Nec accusáveris, nec laudáveris traduz-se por nem acuses, nem louves.
Rex Minos Daedalum cum fílio Ícaro in ínsula Creta inclúserat. Si Daedalus artem mi-
ram non invenisset, semper in servitute mansisset1. At ártifex pennas in órdine pósuit alarum
modo et cera ligavit.
I II III-A III-B IV
amav-isse-m vid-isse-m leg-isse-m fec-isse-m audiv-isse-m
amav-isse-s vid-isse-s leg-isse-s fec-isse-s audiv-isse-s
amav-isse-t vid-isse-t leg-isse-t fec-isse-t audiv-isse-t
amav-isse-mus vid-isse-mus leg-isse-mus fec-isse-mus audiv-isse-mus
amav-isse-tis vid-isse-tis leg-isse-tis fec-isse-tis audiv-isse-tis
amav-isse-nt vid-isse-nt leg-isse-nt fec-isse-nt audiv-isse-nt
"eu tivesse "eu tivesse "eu tivesse "eu tivesse "eu tivesse
amado", etc. visto", etc. lido", etc. feito", etc. ouvido", etc.
1
Este tempo substitui, muitas vezes, o futuro do pretérito composto, que falta em latim. Semper in servitute mansisset tra-
duz-se por "teria ficado sempre na escravidão". Mas a sua tradução mais corrente em português é feita em forma composta
do pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo, porque não temos esse tempo em forma simples.
Talvez fosse esse o momento para fazermos uma revisão dos tempos compostas dos verbos de nossa língua, visto que
nem sempre se estudam essas formas no segundo grau.
Orbílius ad discípulos: — Novas sentêntias Publílii nunc vobis dictabo, acutas omnes et
pulchras.
"Iniuriarum remédium est oblívio.
Vita et fama hôminis âmbulant pari passu.
Dies quod donat tímeas: cito raptum venit.
Deliberando saepe perit occásio."
53. Supino.
Supino é uma forma especial do infinitivo para indicar finalidade.
Ex.: Amatum ―para amar‖; deletum ―para destruir‖; auditum ―para ouvir‖; res fácilis
dictu ―coisa fácil de ser dita‖; res jucunda auditu ―coisa agradável de ser ouvida‖.
Depois dos verbos que exprimem movimento, o supino funciona como o nosso infiniti-
vo. Assim, em vez de venit rápere "vem roubar", diz-se venit raptum. Note-se que o supino
só equivale ao infinitivo em locuções com um verbo que indica movimento.
A desinência -um ou -u do supino acrescenta-se a um radical especial, chamado radi-
cal de supino com o qual se formam o supino, o infinitivo futuro e o particípio futuro.
A forma em -um é empregada quando o supino depende de verbos que indicam movi-
mento. Ex.: Vênio postulatum auxílium ―venho para pedir auxílio‖.
A forma em -u tem significado passivo, indicando também finalidade, sendo empregado
com certos adjetivos como fácilis, iucunda, mirábilis, nefas etc. Ex.: Res fácilis dictu ―coisa
fácil para ser dita (fácil de dizer)‖; res iucunda auditu ―coisa agradável de ouvir (ou de ser
ouvida)‖; res fácilis factu ―coisa fácil de fazer (de ser feita)‖; res mirábilis visu ―coisa admi-
rável de ver (de ser vista)‖; nefas dictu ―coisa ilícita de dizer (de ser dita)‖.
O acusativo do gerúndio, regido de ad, geralmente substitui o supino em -u.
Nos vocabulários, indicamos também o supino ao lado das outras formas principais dos
verbos. Por exemplo: ráp-i-o, rap-i-s, ráp-ere, rápu-i, rapt-um, como faz a maior parte dos
dicionários de latim. A essas formas, que nos auxiliam a construir qualquer outra forma do
verbo, dá-se o nome de tempos primitivos.
O verbo esse e seus compostos não têm supino.
54. O gerúndio.
Em latim, o infinitivo só pode desempenhar as funções de sujeito, objeto direto, predi-
cativo do sujeito e predicativo do objeto.
a) sujeito: Discere est bonum ―Aprender é bom‖; Alumnos injuste castigare pernicio-
sum est ―Castigar injustamente os alunos é prejudicial‖; Fácile est opprimere innocentem
―Oprimir um inocente é fácil‖.
b) objeto direto: Credo Deum esse ―Creio que Deus existe‖.
c) predicativo: Vívere pugnare est. ―Viver é lutar‖.
Nas outras funções é substituído pelo gerúndio, um substantivo verbal, cujas desinên-
cias (-ndum, -ndi e -ndo) se acrescentam ao tema do presente.
Assim : ac. (ad) am-a-nd-um "para amar" dat. am-a-nd-o "a amar"
gen. am-a-nd-i "de amar" abl. am-a-nd-o "por amar" ou "amando"
Os paradigmas das outras conjugações têm o gerúndio seguinte: (ad) vid-e-nd-um, etc.;
(ad) leg-e-nd-um, etc.; (ad) capi-e-nd-um, etc.; (ad) audi-e-nd-um, etc.
Exemplos: ars bene vivendi, "a arte de bem viver"; deliberando saepe perit occásio,
"deliberando [enquanto se delibera] desaparece muitas vezes a ocasião", etc.
O verbo esse e seus compostos não têm gerúndio.
Daedalus alas sibi et fílio accommodavit. Tum fílium verbis severis mônuit, ne alte vo-
laret.
– Mi Ícare, ait, cautus esto! Vicíniam solis vitato!
At Ícarus, volandi cúpidus, mônita patris non exaudivit. Sed deinde paenítuit púerum
mônita neglexisse et patri non paruisse.
I II
sing. 2ª pessoa am-a-to "ama" vid-e-to "vê"
sing. 3ª pessoa am-a-to "ame" vid-e-to "veja"
pl. 2ª pessoa am-a-to-te "amai" vid-e-to-te "vede"
pl. 3ª pessoa am-a-nto "amem" vid-e-nto "vejam"
III-A III-B IV
sing. 2ª pessoa lég-i-to "lê" fác-i-to "faz" aud-i-to "ouve"
sing. 3ª pessoa lég-i-to "leia" fác-i-to "faça" aud-i-to "ouça"
pl. 2ª pessoa leg-i-to-te "lede" fac-i-to-te "fazei" aud-i-to-te "ouvi"
pl. 3ª pessoa leg-unto "leiam" fac-i-unto "façam" aud-i-unto "ouçam"
Omnes, qüi cursum hôminum volântium videbant, obstupuerunt. Sed puer, audaci vo-
latu gaudens, tam alte egit iter, ut rádii solis ceram mollirent.1 Ícarus in mare cécidit. Patrem
paenítuit artem volandi invenisse.
Sic périit puer audax; at scimus memóriam Ícari nunquam perituram esse.
I II III-A III-B IV
am-a-ns vid-e-ns leg-e-ns fac-i-e-ns aud-i-e-ns
am-a-ns vid-e-ns leg-e-ns fac-i-e-ns aud-i-e-ns
am-a-nt-em vid-e-nt-em leg-e-nt-em fac-i-e-nt-em aud-i-e-nt-em
am-a-nt-is vid-e-nt-is leg-e-nt-is fac-i-e-nt-is aud-i-e-nt-is
am-a-nt-i vid-e-nt-i leg-e-nt-i fac-i-e-nt-i aud-i-e-nt-i
am-a-nt-e(i) vid-e-nt-e(i) leg-e-nt-e(i) fac-i-e-nt-e(i) aud-i-e-nt-e(i)
"que ama(m)", "que vê(em)", "que lê(em)", "que faz(em)", "que ouve(m)",
"amando" "vendo" "lendo" "fazendo" "ouvindo"
O particípio presente se traduz ora por meio de oração subordinada adjetiva: cursus
hôminum volântium "a viagem dos homens que voam", ora por meio de adjetivo verbal: cur-
sus hôminum volântium "a viagem dos homens voadores", ora por meio de gerúndio: puer
audaci volatu gaudens "o menino, alegrando-se com o vôo audacioso". O particípio presente
concordará sempre com o substantivo a que se refere, já que é um adjetivo.
O verbo esse e seus compostos não têm particípio presente.
1
mollirent. Traduzir pelo indicativo. Vide nota 1 da lição XXII.
III-B IV
facturus,-a,-um auditurus,-a,-um
"disposto a fazer" "disposto a ouvir"
"que deverá fazer‖ "que deverá ouvir"
III-B IV ESSE
m.sing. fact-ur-um esse audit-ur-um esse fut-ur-um esse
f.sing. fact-ur-am esse audit-ur-am esse fut-ur-am esse
n.sing. fact-ur-um esse audit-ur-um esse fut-ur-um esse