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Alan Pitthan Coutoa ; Fortunato Martins Netoa ; Luiz Henrique Silva Marques Soaresa ; João Felipe de
Araújo Martosa ; Paulo Gilberto de Paula Torob
[a] Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Av. Roraima, 1000, Santa Maria - RS, 97105-900.
[b] Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Av. Senador Salgado Filho, 3000, Natal - RN, 59078-970.
1. INTRODUÇÃO
A tecnologia scramjet é basicamente um sistema de propulsão aspirado que baseado em sua própria geome-
tria, e dispensando o uso de partes moveis, comprime e desacelera o escoamento livre a fim de atingir condições
favoráveis de temperatura e pressão para realizar a combustão supersônica necessária para geração do empuxo.
Este processo é feito através da formação de ondas de choque oblíquas ou cônicas na seção de admissão. Dessa
maneira a seção de compressão constitui-se um item fundamental do veículo.
Portanto, o desenvolvimento da tecnologia scramjet constitui-se como motivação para desenvolvimento do
presente trabalho, pois representa fator chave para que o Brasil situe-se em um novo patamar tecnológico
aeroespacial. A exploração do tema é fundamental para o desenvolvimento de mão de obra qualificada que
possa envolver-se no trabalho destes projetos em contexto nacional.
2. OBJETIVOS
O objetivo do presente trabalho é desenvolver a seção de compressão a ser utilizada por um veiculo hipersô-
nico scramjet acadêmico a ser lançado com foguetes disponíveis no Brasil. Para isso, é necessário analisar
diferentes geometrias na seção de compressão de forma a obter a configuração ótima do modelo considerando
os parâmetros de missão definidos.
3. METODOLOGIA
O motor scramjet não gera empuxo estático devido a sua dependência da geração de ondas de choque para
gerar a compressão necessária do escoamento. Deste modo, o método mais simples e comumente utilizado
para o teste em voo deste sistema propulsivo é a partir de seu acoplamento a foguetes de sondagem (Toro et al.,
2018b). Desta forma, a modelagem do scramjet proposto neste trabalho foi feita considerando as condições de
voo proporcionadas utilizando dois tipos de veículos lançadores nacionais: o S-30 e o VSB-30.
Ambos possuem características operacionais distintas, especialmente no que tange ao Mach de voo e altitude
máxima - Mach 5.78 e altitude de 20 km para o S-30 e Mach 6.8 e altitude de 30 km para o VSB-30. A partir
disso, o estudo e projeto dos modelos scramjet foram feitos especificamente focando na geometria das rampas
presentes na seção de compressão, adaptados para as respectivas condições de voo dos lançadores considerados.
3.2 Conceitos
A interação do veiculo com o escoamento supersônico exterior, a uma velocidade M0 , e de acordo com a
geometria da seção de compressão, foco deste trabalho, desencadeia o surgimento de ondas de choque oblíquas
ao longo das rampas, que efetuam a desaceleração, compressão e subsequente aumento da temperatura do
escoamento. Deste modo, o projeto da seção frontal é efetuado visando atingir as condições ideias para o
escoamento supersônico que adentra na câmara de combustão, Toro et al. (2018a).
A angulação θ de cada rampa gera uma respectiva onda de choque oblíqua de inclinação β, e estes ângulos
são controlados de forma que todas as ondas atinjam um mesmo ponto localizado no bordo de ataque da
carenagem. Com isso ocorre a onda refletida, cuja inclinação é dada pela relação β−θ−M ach e pelo somatório
da inclinação de todas as rampas, Figura 3. Na região de reflexão o escoamento adquire as propriedades de
pressão, temperatura e velocidade utilizadas na combustão, entretanto o fluxo primeiramente é normalizado por
um canal estreito denominado isolador (Martos, 2017).
Autores.
Considerando o escoamento invíscido, compressível e as relações para gás perfeito (P = ρRT , onde γ =
1.4 e R = 287Jkg −1 K −1 ), determina-se as relações para onda de choque oblíqua bidimensional segundo
Anderson (1990), figura 4.
Couto, A.P., Martins Neto, F., Soares, L.H.S.M., Martos, J.F.A., Toro, P.G.P.
Modelagem de um Motor Scramjet Axissimétrico
Autores.
Onde β representa o ângulo formado pela onda de choque oblíqua e Min representa o Mach de incidência
do escoamento na respectiva rampa. O Mach do escoamento após a onda de choque, Mout , é dado por:
2
1
(Min senβ)2 + γ−1 2
2γ
(γ−1)
(Min senβ)2 −1
Mout = (2)
sen(β − θ)
Ainda, a relação β − θ − M ach permite obter β de forma isolada na equação:
2 − 1 + 2λcos[(4πδ + cos−1 χ)/3]
Min
tanβ = , (3)
γ−1 2
3 1+ 2 Min
Aplicando 7 em todas rampas de compressão, a recuperação de pressão total, P.R., é obtida pelo produto
de todos os valores de P.R.i encontrados.
Por fim, a variação das demais propriedades do escoamento, como pressão, densidade e temperatura, são
calculadas pelas seguintes expressões (Anderson, 1990):
Pout 2γ h i
=1+ (Min senβ)2 − 1 (8)
Pin (γ + 1)
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tendo em vistas os diferentes parâmetros de operação dos veículos lançadores S-30 e VSB-30, foram de-
senvolvidos dois tipos de modelos de scramjet. As condições de voo esperadas para os respectivos modelos
embarcados nos lançadores podem ser vistas na Tabela 1. A definição das condições ambientais encontradas
em relação a altitude de voo e Mach constituem a primeira etapa do desenvolvimento dos modelos.
Foram feitas análises individuais para ambas as condições de operação apresentadas, comparando as propri-
edades atingidas na câmara de combustão bem como o estudo da recuperação da pressão total (P.R.) obtidas
em função do número de rampas de compressão, ver Tabelas 2 e 3.
A análise numérica foi conduzida por meio de rotinas implementadas em MATLAB
R
, cuja metodologia
baseia-se no processo iterativo de θ para cada rampa e o subsequente cálculo das demais propriedades do
escoamento ao longo da compressão. O critério de parada é estipulado pela temperatura atingida na câmara de
combustão, Tcomb , que deve ser maior que a temperatura de combustão do Hidrogênio, aproximadamente 800
K (Toro et al., 2018b). Quanto ao número de Mach na câmara de combustão, Mcomb , a limitação imposta é de
que o valor seja grande o suficiente para garantir que o escoamento permaneça supersônico após a combustão,
visto que há redução na velocidade durante o processo.
Para o modelo de Mach 5.78 foi definido Tcomb fixada, considerando uma margem de segurança, em 900K.
Já para o modelo de Mach 6.8, Tcomb foi definida em 1050 K.
Ambos os valores de Tcomb definidos para cada caso garantem a combustão supersônica, onde Mcomb ∼ 2.
Couto, A.P., Martins Neto, F., Soares, L.H.S.M., Martos, J.F.A., Toro, P.G.P.
Modelagem de um Motor Scramjet Axissimétrico
Para a escolha da melhor configuração relacionada ao número de rampas, o critério de análise foi o ganho
relativo na recuperação da pressão total conforme o há incremento de rampas.
Em suma, a recuperação de pressão total é proporcional a quantidade de inclinações empregadas na com-
pressão, entretanto o incremento no ganho é gradualmente reduzido conforme a estrutura torna-se mais com-
plexa. Desse modo, de forma a conciliar os aspectos práticos e de desempenho do motor, foi definido um limite
inferior de 5% de ganho, como critério de parada entre as configurações.
Para os resultados obtidos, foi definido a utilização de 4 rampas de compressão em ambos os modelos.
4.3 Dimensionamento
Após a escolha das configurações, é necessário efetuar simplificações para os ângulos de inclinação θ de
cada rampa, visto que por limitações construtivas nacionais não é possível obter o mesmo nível de precisão
dos valores numéricos. Desta forma, optou-se por realizar aproximações em 0.25◦ em θ, gerando um novo
conjunto de ângulos θsimp. , e à partir dos novos ângulos recalcular os ângulos de choque β. Para tanto, o novo
conjunto de variáveis β é obtido novamente pela execução numéricas em MATLAB
R
, entretanto com os valores
de θ pré estabelecidos. Na Tabela 4 são apresentados os valores de θsimp. e β finais vinculados às 4 rampas de
compressão (β) e na região de incidência das ondas de choque na carenagem para cada modelo.
A partir destes valores e utilizando relações trigonométricas, é possível realizar o dimensionamento com-
pleto dos modelos com base na seção de teste disponível em cada veículo lançador. As Figuras 5 e 6 ilustram a
geometria e as dimensões encontradas para ambos os modelos.
Autores.
Autores.
Utilizando os valores de θ e β encontrados para a modelagem da seção frontal dos motores, é feita a análise
da variação das propriedades do escoamento ao longo da compressão e no interior da câmara de combustão. Os
resultados obtidos podem ser visualizados nas Tabelas 5 e 6.
Couto, A.P., Martins Neto, F., Soares, L.H.S.M., Martos, J.F.A., Toro, P.G.P.
Modelagem de um Motor Scramjet Axissimétrico
Como pode ser visto, a simplificação dos ângulos para o dimensionamento é aceitável levando em conside-
ração que Tcomb atingida nos modelos respeita os valores preliminarmente estipulados.
Finalmente, a recuperação da pressão total obtida para os modelos dimensionados foi de P.R. = 54.80 %
para Mach 5.78 e P.R. = 49.84 % para Mach 6.8, valores similares ao que foi previamente calculado.
Com objetivo de validar os resultados numéricos obtidos, foram realizadas simulações CFD à partir do soft-
ware ANSYS Fluent
R
com base nas configurações finais dos modelos sob as condições de voo consideradas.
Inicialmente foi feito a modelagem CAD dos volumes de controle que englobam a metade superior dos
modelos dimensionados e uma porção de área externa ao bocal de admissão do scramjet, onde o escoamento não
é perturbado pelo motor. Após, são definidas as regiões ao longo de cada fronteira do volume de controle, sendo
elas: farfield, compreendendo as regiões de escoamento livre; rampas; cowl, parede interna da carenagem;
extradorso, superfície externa da carenagem; isolator, fronteira de entrada para a região a câmara de combustão
adicionalmente é definido um eixo de simetria no limite inferior do volume de controle de modo a estender
a análise para a outra porção da estrutura. A Figura 7 ilustra a geometria geral do volume de controle e suas
regiões.
II Congresso Aeroespacial Brasileiro - CAB
16-19 de Setembro de 2019, Santa Maria, RS, Brazil
Abaixo, são apresentados os resultados obtidos após as simulações para a distribuição de velocidade em
função do número de Mach ao longo de cada volume de controle. A Figura 8 mostra o resultado da simulação
CFD para o modelo projetado para Mach 5.78 e 20 km de altitude e a Figura 9 para Mach 6.8 e 30 km de
altitude.
Couto, A.P., Martins Neto, F., Soares, L.H.S.M., Martos, J.F.A., Toro, P.G.P.
Modelagem de um Motor Scramjet Axissimétrico
Autores.
Autores.
Observando os gradientes em 8 e 9 é notável o perfil de formação das ondas de choque nas rampas de
compressão dos modelos e subsequente redução do Mach do escoamento ao longo da seção de admissão para
valores próximos aos calculados nas Tabelas 5 e 6. Além disso, é possível observar a incidência das ondas de
choque na entrada da carenagem bem como a reflexão ao final da última rampa de compressão. Outro ponto
a ressaltar é a inexistência de ondas de choque dentro da câmara de combustão, fato esse que ocorre devido a
consideração do caso ideal, ou seja, a desconsideração dos efeitos de parede.
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16-19 de Setembro de 2019, Santa Maria, RS, Brazil
5. CONCLUSÃO
Com o andamento deste trabalho foram desenvolvidas rotinas numéricas de fácil implementação em MA-
TLAB
R
capazes de calcular os parâmetros geométricos e de operação para a seção de compressão em motores
scramjet para a análise bidimensional de ondas de choque. Posteriormente os modelos foram verificados por
meio de simulações CFD e os resultados observados foram de acordo tanto com as expectativas levantadas
pelo embasamento teórico abordado quanto com os resultados numéricos finais obtidos. Isso corrobora para a
verificação das rotinas implementadas, juntamente com as configurações finais de cada modelo.
As configurações finais determinadas para cada modelo demonstram a forte dependência das geometrias em
função das condições de voo consideradas inicialmente. Este aspecto dificulta a elaboração de motores scramjet
capazes de manter o desempenho e performance para condições operacionais distintas.
A formulação analítica utilizada para a implementação das rotinas de cálculo para ondas de choque oblíquas
é válida somente para a análise bidimensional do fenômeno. Deste modo, a modelagem axissimétrica também
foi desenvolvida de forma bidimensional. Esta formulação, portanto, é uma aproximação para o estudo de
ondas de choque cônicas que ocorreriam em um modelo real de voo. De fato, a adição de uma terceira dimensão
de propagação das ondas torna o problema consideravelmente mais complexo, onde por exemplo, o Método
das Características é um dos procedimentos adotados para a resolução das equações diferenciais parciais que
descrevem o sistema.
Futuramente espera-se dar prosseguimento a este trabalho incluindo a terceira dimensão, entretanto para isto,
o método das características devera ser implementado juntamente com os métodos desenvolvidos até aqui.
6. REFERÊNCIAS
AMES Research Staff, A., 1953. “Equations, tables and charts for compressible flow”. NACA Report 1135.
Anderson, J.D., 1990. Modern compressible flow: with historical perspective, Vol. 12. McGraw-Hill New
York.
Heiser, W.H. e Pratt, D.T., 1994. Hypersonic airbreathing propulsion. AIAA.
Martos, J., 2017. Aerothermodynamic Design, Manufacture and Testing of a 3-D Prototyped Scramjet. Tese de
Pós-Doutorado, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil.
Ran, H. e Mavris, D., 2005. “Preliminary design of a 2d supersonic inlet to maximize total pressure recovery”.
AIAA 5th Conference, p. 11.
Toro, P.G.P., Fernandes, A.L.N., Marinho, G.S., Borba, G.L., Martos, J.F.A. e Rêgo, I.S., 2018a. “A new
approach to optimize the scramjet inlet design applying the total pressure recovery”. 17th Brazilian Congress
of Thermal Sciences and Engineering, p. 9.
Toro, P.G.P., Pereira, M.V.S., Carneiro, R., Araújo, J.W.S., Marinho, G.S., Borba, G.L., Martos, J.F.A. e Rêgo,
I.S., 2018b. “Projeto da seção de compressão do scramjet acadêmico da ufrn para voo atmosférico acoplado
ao foguete de treinamento”. X Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, p. 10.