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Bóris é um homem de meia idade que está em terapia há anos, possui uma mãe

possessiva que invade o seu espaço, inclusive, prejudicando seus relacionamentos amorosos,
e seu pai faleceu há 21 anos. Está financeiramente estável e tem grande desejo de ser pai,
porém sabota suas relações por sempre assumir o papel de “quem abandona” na relação, com
isso, teve várias namoradas. Atualmente está em um relacionamento, mas novamente fica
dividido entre atender as necessidades da mãe ou da namorada, em que acaba se ausentando
para com a namorada.
Há insights interessantes nas sessões, que esclarecem algumas associações de Bóris,
como por exemplo, a sua resistência em construir a própria imagem de pai, por compreendê-
la como uma substituição da imagem do pai, que em consequência se desfará. É pertinente
para esse cliente, questionar sobre como ele gostaria de ser enquanto pai, se seria semelhante
a como foi o próprio pai, o que faria diferente, proporcionando reflexões acerca disso. A
partir do conteúdo que surgir, talvez seja possível superar a resistência sobre a imagem de ser
pai, pois existe a possibilidade de Bóris enxergar em si mesmo aspectos do pai, e deixar de
dicotomizar essas duas imagens (de si mesmo e do pai). Se faz necessário também abordar
suas ações como “quem abandona”, pois isso implica a vida de um possível filho, por repetir
situações que ocorreram com ele, sendo importante direcionar o cliente no sentido de
compreender o abalo que pode gerar na vida possível família que será constituída.
É possível identificar contradições na fala de Boris, principalmente por ele afirmar
desejar ter filhos, mas não se empenha nos relacionamentos que possui, o que implica o seu
trauma de ser abandonado, então ele abandona antes. Uma hipótese é devido ele ser um
homem que já se estabilizou economicamente, e sentir pressão social para constituir família,
como é almejado socialmente, com o modelo da família nuclear, mas pode ser algo que
pessoalmente ele não queira.
Em relação ao terapeuta observa-se que há grande envolvimento, por meio da
contratransferência é possível compreender aspectos do cliente, esse envolvimento se torna
impossível de não ocorrer, nesse caso, principalmente devido ao longo período de terapia.
Mas é válido uma supervisão ao terapeuta para uma melhor avaliação deste caso, mesmo que
benéfico em alguns aspectos a proximidade, confiança estabelecida e conhecer grande parte
da vida do cliente, pode haver (hipótese) certo comodismo de ambas as partes, tornando o
processo terapêutico estacionado. Outro profissional pode escolher outro(s) pontos de partida
que possam trazer diferentes insights que geraram avanços na superação das principais
resistências já citadas.

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