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DAS CIÊNCIAS
IN TRO D U ÇÃ O À F ILO SO FIA E À É T IC A D AS C IÊ N C IA S
Gérard Fourez
A CONSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS
I N T R O D U Ç Ã O À FILO SO FIA
E À ÉT ICA D A S CIÊN CIA S
FU N D A Ç Ã O PARA O D ESEN V O LV IM EN T O DA U N ESP
Diretor de Publicações
Jo sc C ast ilh o M ar q u es N et o
E D I T O R A U N E SP
Diretor
Jo sc C ast ilh o M ar q u es N et o
Con selh o Editorial A cadêm ico
A gu in ald o Jo sé G on çalves
A n n a M ar ia M ar tin ez C o r r êa
A n t o n io C ar lo s M assab n i
A n t o n io C e lso W agn er Z an in
A n t o n io M an oel d o s San t o s Silva
C ar lo s Erivan y Fan tin ati
Fau st o Foresti
Jo sé Rib eir o Jú n io r
Jo sé Rob er to Ferreira
Rob er to Kraen k el
Editores A ssisten tes
Jo sé Alu ysio Reis de A n d r ad e
M ar ia A p p ar ecid a F. M . Bu ssolot t i
T u lio Y. Kaw ata
GÉRARD FOUREZ
A CONSTRUÇÃO
DAS CIÊNCIAS
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
E À ÉTICA DAS CIÊNCIAS
T r ad u ção de
Luiz Pau lo Rou an et
UNESP
Fu n dação para o
Desen volvimen to
da UNESP
Cop yr igh t © 1988 by D e Bocck-W esm ael S.A .
T ít u lo or igin al em fr an cês: La construction des sciences
In t r od u ction à la p h ilo so p h ie e t à 1’ét h iqu e d es scien ces
Bibliografia.
ISBN 85-7139-083-5
950853 CDD-501
11 Prefácio
17 Cap ít u lo 1
In tr odu ção
O que é a filosofia? Códigos “restrito” e “elaborado”
O apartamento, o porão, o sótão Diversas tradições filosóficas
O porquê da filosofia em um programa de ciências Filosofia
e indiferença As questões particulares visadas neste en saio
A ciência e os códigos éticos O que é a normalidade?
37 Cap ít u lo 2
Reflexões epistem ológicas. O m étodo cien tífico:
a observação
Um método dialético Um a “tese”: a representação de Claude
Bern ard A observação científica Observar é estruturar um modelo
teórico O que é um “fato”? Ponto de partida: as proposições
empíricas ou teóricas? O que é um a definição cientifica? Sobre
os objetos semelh antes ou diferentes: o problem a da semelh an ça,
o m esm o e o outro Objetividade absoluta ou objetividade
6 GÉRARD FOUREZ
63 Cap ít u lo 3
O m étod o cien tífico: ad oção e rejeição de m od elos
Teorias, leis, m odelos Pode-se deduzir leis das observações?
A ciência é subdeterminada A evolução de n ossas teorias e ^
m odelos científicos? Modelos ligados a projetos São os n ossos ^
m odelos necessários ou contingentes? Verificações, falseamen tos
• O critério de “falseabilidade” Exemplos de proposições não
falseáveis As experiências que decidimos “cruciais”* Modificações
das lin h as de pesquisas O razoável n ão é puramente racional
A diversidade das metodologias científicas Existe
a “melh or” tecnologia? Um a racionalidade n ão absoluta
A lógica das descobertas científicas/
91 Cap ít u lo 4
O m ét od o cien tífico: a com u n idade cien tífica
Um pon to de vista agnóstico sobre a natureza última da ciência
Definir a com un idade científica A com un idade científica faz parte
do método científico As am bigüidades do conceito d e ^ '
“com un idade cientifica” Um grupo m en os un ido do que se diz
A com un idade científica pertence à classe média U m a corporação
com seus próprios interesses O s cientistas como técnicos
intelectuais
103 Cap ít u lo 5
O m ét od o cien tífico: a ciên cia com o disciplin a in telectual
As disciplin as e os paradigmas científicos As con dições culturais
do nascimen to de uma disciplin a A construção das regras
disciplin ares As rupturas epistemológicas O s conceitos
fun damen tais são con struídos e não, dados O s falsos objetos
empíricos Evoluções n ão previsíveis Um exemplo de um
paradigma e de suas con dições sociais: a medicin a científica
Ciên cia normal e revolução científica Nascim en to de uma
disciplin a: período pré-paradigmático Disciplin as estabelecidas:
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 7
155 Cap ít u lo 6
Perspectivas sócio-h istóricas sobr e a ciên cia m od er n a
O universo autárquico da Alta Idade Média O universo
dos comerciantes burgueses Um a objetividade permitin do uma
comunicação universal Um a cultura do dom ín io Eficácia e limites
do dom ín io científico Da física, paradigma das ciências eternas,
à história da ciência O casamento da ciência e da técnica
A sociologia da ciência moderna O estatuto da h istória da ciência
1 79 Cap ít u lo 7
Ciên cia e ideologia
Discursos ideológicos e eficácia crítica da ciência Crítica
da ideologia pela ciência In capacidade da ciência em esclarecer
inteiramente as questões éticas Dois graus de véus ideológicos
A ciência com o ideologia" O caráter n ão consciente e implícito
das ideologias e a ética diante das ideologias A ciência varia
de acordo com o grupo social?
8 GÉRARD FOUREZ
195 Cap ít u lo 8
Ciên cias fu n d am en t ais e ciên cias aplicadas
As n oções e seus múltiplos usos O círculo das legitimações
recíprocas Um fun dam en to epistemológico para a distin ção
Um a perspectiva histórica para as ciências puras A árvore
da ciência e as ramificações cientificas Tod o con h ecimento
científico é poder, m as em lugares diversos
207 Cap ít u lo 9
Ciên cia, poder político e ético
Ciên cia e poder Modelos tecnocrático, decisionista
e pragmático-político O abuso de saber da tccnocracia
Distin guir entre os m eios e os fins, os valores e as técnicas?
Um exemplo: estabelecer programas de en sin o A tecnologia
com o política de sociedade A vulgarização científica, efeito
de vitrine ou poder?
227 Cap ít u lo 10
Id ealism o e h istória h u m an a
O s enfoques idealista e histórico Noção, idéia, conceito Critica
do idealismo Tu do se diluiria então no relativo? Um a teoria
da con strução dos conceitos do pon to de vista h istórico
O s conceitos e os relatos A produção social dos conceitos
na h istória A grade econômica A grade femin ista A grade
ecológica As grades complementares
251 Cap ít u lo 11
Ciên cia, verdade, idealism o
Visão idealista da ciência Visão histórica da ciência A ciência
como estrutura dissipativa Ciên cias e teorias da verdade Reflexões
sobre a “coisa-em-si” Acreditar na ciência? A ciência com o
trabalh o sobre os limites
263 Cap ít u lo 12
Ética idealista e ética h istórica
Ética, moral, culpabilização Ética idealista Um pon to de vista
h istórico sobre a ética O que é um a decisão ética? Um a moral
do apelo e o debate ético Con strução de um a ética ou de um
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 9
297 Cap ít u lo 13
C o m o articular ciên cia e ética?
Articulação da reflexão ética e dos resultados científicos Diante
da ética e da política, os limites dos paradigmas As contribuições
das an álises especializadas na escolha da liberdade Um exemplo:
a psicologia e a ética n as relações afetivas
307 Bibliografia
PREFÁCIO
1 Em u m a n ora n o in icio d e seu pr im eir o capit u lo, diz, a p r op ósit o d e exp r essões
t o m ad as d e em p r ést im o a algu n s d o s escr itores co n t em p o r ân eo s: “ Preferi n ão
citá-los, a fim d e n ão par ecer im pu tar- lh es in d iscr et am en t e in ten ções q u e eles talvez
n ão t en h am ” .
14 GÉRARD FOUREZ
“ob jet ivas” são sem pre particulares. É por isto qu e m e parece
im por tan te salien tar a especificidade de m eu en saio. Decidi expor
a m in h a m an eir a de ver as práticas cien tíficas, m esm o in d ican d o
ou t r as visões cad a vez qu e isto m e pareceu útil, par a qu e o leitor
p o ssa t om ar o p r óp r io partido. E pr eciso ter lucidez, porém , sobr e
o fato de qu e, q u an d o escolh i expor ou t r os p on t os de vista, foi
p or qu e isto me pareceu ad equ ad o para eviden ciar as diferen tes
escolh as possíveis. N ão qu er o p assar a ilu são d a p ossib ilid ad e de
u m a exp osição exau stiva e “objetiva” d os ou t r os p o n t os de vista.
U m a tal perspectiva parece-m e m ais in dicada p ar a pr om over a
au t on om ia d o leitor n ão-especialista d o qu e u m a pr et en são a u m a
aparen te objetividade. Prim eiram en te, p or qu e a p lu r alid ad e d os
p o n t os de vista já está garan t id a d esd e o in ício pelo fato de qu e
cada leitor ou leitora - assim com o cada cien tista - tem sem pre a
su a filosofia da ciên cia esp on t ân ea. Ela lh e foi in cu lcada p or m eio
d o b an h o cultural n o qu al ele, ou ela, está su b m er so, ou pela
for m ação cien tífica segu ida. Pode-se, além d isso, falar de u m
fen ôm en o de con dicion am en to, p ois esta filosofia esp on t ân ea
n asce em u m con texto em qu e é difícil perceber as difer en ças d as
p osições possíveis. Q u an d o d a leitura de u m en saio com o este,
pelo con trário, in dico claram en te qu e o leitor en con tra-se em
pr esen ça d o meu p on t o de vista, com o qu al ele pod e con fr on t ar
o seu , esp on t ân eo ou refletido. P essoalm en te, creio qu e o qu e
perm ite fin alm en te escapar ao totalitarism o n o d iálogo é a con s
ciên cia de qu e a perspectiva d o ou tro n ão é jam ais a m in h a.
Poder-se-ia d iscor rer lon gam en te sobr e o m od o com o a apr e
sen t ação de u m pen sam en t o poder ia ser a m ais liber ad or a. Cr eio
qu e, q u an d o se afirm a (q u an d o eu afirm o) com clareza a su a
(m in h a) p osição, os ou t r os são levados a refletir sobr e a su a. E se,
por vezes, estu dan tes ou leitores sen tem -se u m pou co ab alad os pelo
rolo com p r essor qu e é u m pen sam en t o m ais for m ad o n a dialética
d o qu e o seu, a experiên cia m ostr a qu e eles sab em criar defesas
par a si, q u an d o su speitam qu e poder iam sofr er u m a violação
in telectual! P en so qu e m ais vale p r oclam ar com clareza qu e só se
p od e ap r esen t ar o seu pon t o de vista, d o qu e p assar pelo artifício
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 15
INTRODUÇÃO
O que é a filosofia?
A d istin ção d esses d ois códigos pod e ser ilu str ada por u m a
an ed ota cu jo h erói é o filósofo da ciên cia G ast o n Bach elar d. Esse
p en sad or fran cês, n o fim de su a vida, estava sen d o en trevistado
p or u m jor n alista. D ep ois de algu n s m in u t os, Bach elar d o in ter
r om peu : “O sen h or , m an ifestam en te, vive em u m apar t am en to e
n ão em u m a casa.” E o jor n alista, su r pr eso, pergun tou-lh e o qu e
qu er ia dizer com isso. O filósofo lh e r espon d eu qu e a diferen ça
en tre u m a casa e u m apar tam en to é qu e a prim eira possu i, além
da zon a de h abitação, u m sótão e u m porão; e o qu e h á de
particular, acrescen tou, é qu e sem pre su b im os ao sótão, e descem os
ao porão.
22 GÉRARD FOUREZ
Filosofia e indiferença
O que é a normalidade?
D e acor d o com as sign ificações, a ciên cia tem coisas diferen tes
a dizer em relação ao qu e é n or m al. C on for m e o pr im eir o sen tido,
a ciên cia n ão tem n ada a dizer porqu e, p or p r essu p ost o, par a a
ciên cia, tu do o qu e acon tece deve ser explicado, ou seja, tu do é
n or m al. N o sen t id o estatístico, a ciên cia pod e ter bast an t e a dizer,
m as sob con dição de ter pr ecisad o bem - de u m a m an eir a qu e n ão
será jam ais in teiram en te cien tífica - os critérios sobr e os qu ais se
b asear á a estatística. Q u an t o à n or m alid ade com o cren ça social, a
sociologia pod e con statá-la, m as percebe-se qu e, sobr e p on t os
particu lares, ela n ão tem n ad a a ver com r esu lt ados cien tíficos.
Resumo
A im agem d o ap ar t am en t o, d o p o r ão e d o sótão.
5 O problema da normalidade:
• sen tido científico e trivial;
• sen tido estatístico;
• sen tido fornecido pelo con sen so social;
• sen tido dependente de um juízo de valor.
Palavras-chave
REFLEXÕES EPISTEMOLÓGICAS
O MÉTODO CIENTÍFICO: A OBSERVAÇÃO
Um método dialético
A observação científica
O que é um “fato”?
Ponto de partida:
as proposições empíricas ou teóricas?
1 “A cim a d o sujeito, além d o objeto im ed iato, a ciên cia m od er n a fun da-se sobro o
projeto. N o p en sam en t o cien tífico, a m ed iação d o ob jet o p elo su jeit o tom a sem p r e a
for m a d o p r ojet o.” E d en t r o d est a per spectiva, pode-se dizer q u e os “ fatos” são
in t er p r et ações q u e n ão se coloca em q u est ão, ger alm en t e p or q u e se esqu ece (in divi
d u al e coletivam en te) p o r m eio d e qu e “corte” (découpage) d o m u n d o eles foram
co n st r u íd o s. (Bach elar d , 1 9 7 1 , p .15).
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 45
O q u e é u m a d e fin iç ã o c ie n t ífic a ?
2 A esse r espeit o, cf. Ber ger &. l-iiclcm an n , 1967 c C ast o r iad is, 1 9 7 8 . C f. cam béra
H u sser l (in éd it o), cit ado p or Mcrlcait-Pon ty, 1945.
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 49
3 H u sser l, Die Krisis europaisch en W issen sch aften un d die tran szen den tale Phànom enolo-
gie, III (in éd ito), cit ado p or M . Merleau-Pon ty, ín : Phénom enologie de la perception,
P refácio, p.VII, G allim ar d , 1945.
52 GÉRARD FOUREZ
O sentimento de realidade
6 A p r o p ó sit o , ver a d escr ição d o lab or at ór io de q u e fãlam Latou r &. W oolgar , 1979.
V e r t am b ém Latour , 1984-
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 55
E o “real”?
7 Em fr an cês, ceci esc réellem ent cela; optou -se p or tr adu zir ceci p o r isso, sign ifican d o
algo q u e se vê, p ar a o qu al se p o d e ap on t ar , e cela p o r isto, p r ecisan d o m elh or o qu e
se fala (N. T.).
56 GÉRARD FOUREZ
8 T r ad u ção bast an t e “livre” de Fou rez; u m a ver são m ais pr ecisa pod er ia ser: “ N ão
t r ab alh o com h ip ót eses” (N. T.).
58 GÉRARD FOUREZ
Resumo
Palavras-chave
O MÉTODO CIENTÍFICO:
ADOÇÃO E REJEIÇÃO DE MODELOS
1 C f., p o r exem p lo, o p r ogr am a d o cu r so d e ciên cias d o e n sin o cat ólico belga. Essa
r ep r esen t ação é u m a sim p lificação d a d e C lau d e Ber n ar d , 1934.
64 GÉRARD FOUREZ
A ciência é subdeterminada
Verificações, falseamentos
O critério de “falseabilidade*
elab or ad os, b ast a ver a experiên cia “cru cial” qu e fazem os com
freqü ên cia par a sab er se d et er m in ado pr od u t o é sal ou açúcar:
coloca-se u m pou co sobr e o ded o, e se o gost o n ão é o d o sal ou
d o açú car, ab an d on a-se a h ipótese cor r espon d en t e. Ist o só é
possível p or q u e se t rabalh ou den t ro de u m âm b it o teórico preciso,
q u e su p õ e qu e, se o p r od u t o qu e tem essa form a bran ca n ão tem
u m gost o d o qu al t en h o a m em ória, direi qu e n ão é sal (ou açúcar).
M as, par a qu e esse tipo de r aciocín io fu n cion e, é pr eciso ter
“d ecid id o” isso de an tem ão. E preciso, por exem plo, ter “d ecid id o”
qu e é im possível qu e u m pr od u t o qu e n ão m e dê u m sab or d o
qu al eu m e recordo p o ssa ser sal (assin alem os aqu i a diferen ça
en tre as experiên cias “posit ivas” e “n egativas” , isto é, aqu elas qu e
farão com qu e se “aceite” ou “rejeite” u m m odelo. Existe com efeito
u m a diferen ça en tre a experiên cia qu e m e con du zir á à h ipótese
segu n d o a qu al esse p r od u t o b r an co é açú car e aqu ela qu e m e fará
rejeitar a h ipótese segu n d o a qu al esse p r od u t o b r an co é sal).
E som en t e se se decidiu aceitar u m q u ad r o teórico pr eciso qu e
u m a experiên cia p od e d ar u m a r esp ost a em u m sen t id o ou em
ou t r o. O q u ad r o teórico deter m in ar á t am b ém os elem en t os qu e
reterão com o “pertin en tes” ou “n ão-pertin en tes”. Por exem plo, é
u m a leitura teórica qu e fará com qu e o m édico qu e está test an d o
o d iagn óst ico “gr ip e” con sid ere com o n ão-pertin en te a observação
de u m san gr am en t o proven ien te de u m corte feito p or u m a faca.
E t am b ém u m esqu em a teórico qu e fará com qu e ele con sidere
com o n ão-pertin en te par a esse d iagn óst ico a úlcera estom acal d a
qu al o pacien te sofria h á m uito. Porém , u m dia p od e ser qu e u m
n ovo esq u em a teórico - u m n ovo d iagn óst ico - ven h a a r eu n ir os
sin t om as “gr ip ais” e os d a “úlcera n o est ôm ago”...
Resumo
Verificação, falseamento:
Conciusões:
Implicações do fato de que a observação e as teorias científicas são
con struídas por “sujeitos” social e politicamente situados, perseguindo
seus “projetos”.
Palavras-chave
O MÉTODO CIENTÍFICO:
A COMUNIDADE CIENTÍFICA
A comunidade científica
faz parte do método científico
As ambigüidades do conceito
de “comunidade científica”
A comunidade científica
pertence à classe média
cien tífica, a classe m édia alta), a su a com u n id ad e ten derá a iden ti
ficar-se com o s in teresses d esses gr u pos. Essas “alian ças” in flu en
ciarão o s seu s p esqu isad or es, torn an do-os p or vezes m ais aten tos
a certas qu est ões d o q u e a ou t r as, ou d an d o a u m a d iscip lin a u m a
fision om ia qu e lh e é peculiar. E d esse m od o qu e, se u m gr u po de
m atem áticos estu da pr ob lem as de tráfego em u m aglom erad o
u r b an o, é p ou co provável qu e ele deixe de levar em con ta os
in teresses d a popu lação qu e h abita as cidades-dorm itório em tor n o
d a m etr ópole. M as n ão será im possível qu e ele esqu eça os in teres
ses d as p opu lações m ais p ob r es qu e h abitam n o cen tro. E d ep ois
ver em os com o a m edicin a cien tífica se estru tu rará em t or n o de u m
par ad igm a em b oa parte det er m in ad o pela prática social de u m a
m edicin a in dividu alizada, curativa, visan d o àqu eles qu e p od em
pagar p o r seu s serviços (Lam b ou r n e, 1970, 1972).
A com u n id ad e cien tífica b u sca t am bém en con tr ar aliados qu e,
even tu alm en te, su bsidiarão as su as pesqu isas; é port an to u m gr u po
social q u e tem “algo a ven d er ”, e qu e pr ocu r a “com p r ad or es”. E
d esse m o d o qu e ela se voltou cada vez m ais par a o com plexo
m ilitar-in du strial (e par a o Est ad o, qu e ten de cada vez m ais a
afirm ar o seu pod er por m eio d o con trole qu e ele tem d as d esp esas
m ilitares. M en ah em , 1976; W aysan d , 1974; D evo ogh t em N aisse,
1987; Valen d u c, 1986; Ken ly, 1986).
N o ú lt im o século, a ciên cia qu ase sem pre pr ogr ediu q u an d o
os m ilitares (ou gr u pos param ilitares e estatais com o a NASA) a
su b sid iar am de m an eir a m aciça. H oje, a m aioria d as p esqu isas
cien tíficas n o m u n d o são direta ou in diretam en te m ilitares, m as
os m ilitares, tan to de u m lado com o d o ou tro d a Cor t in a de Ferro,
a fim d e con ser var u m a in flu ên cia sobr e a com u n id ad e cien tífica,
su b sid iam as p esq u isas dit as “fu n d am en t ais”.
A t en d ên cia da ciên cia m od er n a de se aliar aos m ilitares,
porém , n ão deve p assar sem u m a an álise m ais apu r ad a. A “milita-
rização” d a ciên cia n ão é a m esm a em t od os os lu gares e em todas
as ép ocas. A ssim , n os EUA, sob a ad m in ist r ação Car t er, u m a
r esp on sab ilid ad e m aior d as p esqu isas cien tíficas recaiu sobr e os
civis; já a ad m in ist r ação Reagan devolveu u m a b oa parcela d essas
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 99
r esp on sab ilid ad e aos m ilitares. O s projetos d a “gu erra n as estr elas”
parecem sign ificar u m a n ova m ilitarização d a p esqu isa espacial, da
p esq u isa em in form ática etc. Eles ten dem a su b or d in ar u m a
r etom ad a cien tífico-técn ica a objetivos m ilitares. U m a parte d a
com u n id ad e cien tífica sen te u m certo m al-estar dian te d essa situa- ,
ção, m as, com o é freqü en te n a classe m édia, m u ito in dividu alista, '
n ão reage de m an eir a eficaz (Tocqu eville, 1840).
Resumo
Suas ambigüidades:
• sua falsa imagem de “com un idades”;
• sua hierarquização interna e sua divisão de trabalho;
• os interesses divergentes em seu interior;
• a sua dependência econômica do poder;
• a sua tendência à burocratização;
• a sua filosofia geralmente pouco crítica em relação à sociedade, e sua
tendência a só lidar com grandes idéias abstratas.
Palavras-chave
O MÉTODO CIENTÍFICO:
A CIÊNCIA COMO DISCIPLINA INTELECTUAL
As condições culturais
do nascimento de uma disciplina
m ú ltiplas aplicações, ela foi em segu ida redefin ida com o a qu ím ica
d as cad eias car bôn icas.
As rupturas epistemológicas
O m un do
O m eio-am bien te
A vizin h an ça
A fam ilia
Essa escolh a d a m edicin a cien tífica foi d eter m in ada pela prática
m édica. O fato de qu e ela ten h a in icialm en te se dir igido a pacien tes
capazes de se cu idar e de pagar, o m édico n ão deixa de estar ligado
à valorização qu e exam in am os an teriorm en te. Se os cu id ad os com
a saú d e se dir igissem pr im eiro às m assas, a ciên cia d a saú d e teria
d ad o m u it o m ais im portân cia à h igien e d o qu e de fato foi dad a.
Sem dú vida, tam bém , o aspecto preven tivo teria prevalecido sobr e
o curativo.
O desenvolvimento das
abordagens paradigmáticas
3 O u o p or t u gu ês (N. T.)-
130 GÉRARD FOUREZ
As traduções: necessidade de
toda abordagem técnica
A interdisciplinaridade:
a busca de uma superciência?
A interdisciplinaridade como
prática particular
A produção científica
Resumo
Trabalho disciplinar:
A in terdisciplin aridade:
Palavras-chave
A CIÊNCIA E OS QUADRINHOS
SEM LEGENDA
As observações
As leis e as teorias
As "verificações” e a resistência
em abandonar uma teoria
2 V er a aven tu ra “ P er d id os n o m ar ”,
150 GÉRARD FOUREZ
Mudança de paradigmas
PERSPECTIVAS SÓCIO-HISTÓRICAS
SOBRE A CIÊNCIA MODERNA
O universo autárquico
da Alta Idade Média
técn ico e n ão, p op u lar . Falo d essa classe social su r gid a n a Id ad e M éd ia, co n segu in d o
ob t er r econ h ecim en t o, e d ep ois su b st it u in d o a ar istocr acia co m o classe dirigen t e
(d o m in an t e , h egem ôn ica) n o O cid en te.
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 159
Para t om ar con sciên cia d a im por tân cia d essa cultura cien tífica
p ar t ilh ad a, b ast a t en tar ler u m a ob r a “cien tífica” d o sécu lo XV I:
logo se estará p er su ad id o de qu e é n ecessár ia u m a cu ltu ra com u m
p ar a q u e a u n iver salid ad e d o d iscu r so cien tífico seja oper acion al.
E aliás, b ast a ap r en d er u m a ciên cia (ou seja, aculturar-se, fam ilia
rizar-se com e ssa ab or d agem d o m u n d o) p ar a p o d er com p r een d er
os pr át icos d essa d iscip lin a em t od as as par tes d o m u n d o. M as,
se se con vive o t em p o su ficien te com os n ativos de det er m in ada
cultura, acaba-se com p r een d en d o tam bém a su a visão de m u n d o.
Um a cultura do domínio
socied ad e m ercan til. A m or al, tam bém , su rgirá com o u m con trole
d as paixões, u m d o m ín io de si (Fourez, 1984).
O q u e perm itirá aos con qu ist ad or es d om in ar o plan et a será,
aliás, a arte d a previsão, d o cálcu lo, d o d om ín io. Pouco a pou co,
essa capacid ad e d o s ocid en t ais em ver o m u n d o de m an eir a in d e
pen d en t e d o s sen t im en t os h u m an os, m as u n icam en t e em razão de
seu s pr ojetos de d om ín io, revelar-se-á de extraordin ária eficácia. O s
n avegadores serão capazes de t r an spor tar os seu s con h ecim en t os
d e u m lu gar a ou tro. O seu saber, por qu e d esp ojad o d o qu e é
in dividu al e local, vai aparecer com o cada vez m ais un iversal.
A partir d o m om en t o em qu e se retirou de u m a m açã o qu e
faz a su a p ar t icu lar id ad e, o qu e lh e d á u m go st o esp ecial p o r q u e
foi ofer ecid a p o r algu ém ou p or q u e cresceu em u m a m acieir a
p ar t icu lar , t orn a-se p o ssíve l falar d o conceito un iv ersal d a m açã.
Tor n a- se p ossível ven dê-la, produzi-la, n est e m u n d o cad a vez
m ais u n id im e n sio n al d o com er cian t e (M ar cu se, 1968). P ar a o
u n iv er so d a b u r gu esia, q u e é t am b ém o d a ciên cia, o s o b je t o s
p er d em cad a vez m ais o qu e con st it u i a su a p ar t icu lar id ad e p ar a
se t orn arem ob jet os de cálculo e dom ín io. A m oral, e a m oral
sexu al em particular, n ão surgirá m ais com o o respeito a u m a or
d em m ais ou m en os sagr ada, m as sim plesm en t e com o u m cálculo,
de m ais em m ais utilitário, a fim de d om in ar o m u n d o e organ izá-lo
d a m elh or for m a (Fou cau lt, 1976). E, paralelam en te, o in divídu o
torn a-se o cen tro d o m u n d o ob ser vad o e de seu d estin o ético.
2 O exem p lo m ais t ípico d essa reescritura, c bem est u d ad o p elos h istor iad or es (H olt on ,
1986, p.9-12), é o d e M illik an , em seu fam o so ar t igo “p r ovan d o a exist ên cia” d os
elét r on s. M e sm o q u e a m an eir a pela q u al ele “ picar et eou ” o s se u s r elat ór ios d e
exper iên cia par eça p o u co com pat ível com a ética cien tifica n or m alm en t e ad m it id a,
trata-se ap en as d e u m caso ext r em o ext r ap o lan d o as pr áticas cor r en tes (cf. Latou r ,
1984).
168 GÉRARD FOUREZ
O s d esen volvim en tos con tem por ân eos da sociologia d a ciên cia
cam in h ar am lad o a lad o com u m a reflexão sob r e a h istór ia desta.
Até h á pou co tem po, a m aioria con siderava qu e a h istória d a ciên cia
reprod u zia a len ta p r ogr essão d a r acion alidade cien tífica (Sart on ,
1927-1948). C o m bast an t e pr u dên cia, aliás, ela d istin gu ia a h ist ó
ria d o sab er cien tífico d os elem en tos extrín secos qu e p od iam levar
à com p r een são d os elem en t os con tin gen tes d as d escob er tas cien
tíficas, m as n u n ca o n úcleo d u r o d a racion alid ade cien tífica..
C o m freqü ên cia, a h ist ór ia da ciên cia d esem p en h a u m papel
ideológico: n arr ar as gr an d es realizações d o s cien tistas, a fim de
176 GÉRARD FOUREZ
qu e a ciên cia seja apr eciada por seu “ju st o ” valor em n ossa
sociedade. Essa bu sca d as raízes h istóricas d a com u n id ad e cien tífica
tem u m a sign ificação im portan te, n a m ed ida em qu e todo ser
h u m an o deseja experim en tar a solidez e a p r ofu n d id ad e de su as
raízes. A h istória da ciên cia, vista d esse m od o, assem elh a-se a essas
h ist ór ias d as n ações d estin ad as a p r om over o espír it o patriótico ou
cívico. Isto n ão deixa de apr esen t ar in teresse, sem dú vida, m as,
caso n ão se acrescen te u m a perspectiva crítica, sem elh an te en foqu e
arrisca-se a ser m istificador.
Existem várias m an eir as de escrever a h ist ór ia d a ciên cia.
A ssim , o livro de Er n st M ach , A m ecân ica (1925), se preten dia
m en os u m h in o par a a gran deza da ciên cia d o qu e u m retorn o à
m an eir a pela qu al os con ceitos d a física for am con st r u íd os. Essa
p esqu isa h istórica pode, p or exem plo, m ostr ar com qu e dogm atis-
m o certos p on t os d a física p od iam ser en sin ad o s a partir do
m om en t o em qu e se aceitavam sem espír ito crítico p on t os de vista
discu tíveis. M ach m ostr ou , d esse m od o, com o se h avia “esqu eci
d o ” t od as as h ipót eses qu e serviam de b ase à física n ew ton ian a.
Jo gan d o com as palavras, poder-se-ia dizer que, ao m ostr ar o caráter
relativo d os con ceitos de esp aço e de t em po (relativos n o sen tido
epistem ológico d o term o), M ach pr epar ou a teoria da relatividade
(segu n d o o sen t id o d a palavra em física).
A h istór ia da ciên cia pod e estar, assim , a serviço da p esqu isa
cien tífica, ao m o st r ar a relatividade d os con ceitos u tilizados, p on d o
em relevo a su a h istór ia e r ecor d an d o q u an d o e de qu e m od o as
trajetórias d as con st ru ções con ceituais n a ciên cia ch egaram a
p on t os de bifu rcação. Ela pode, d essa form a, eviden ciar as lin h as
de p esq u isas qu e deixaram de ser explor ad as e qu e poder iam ,
portan to, se revelar fecu n das. D essa m an eira, pode-se edu car a
im agin ação d os p esqu isad or es.
N e ssa m esm a lin h a de pen sam en t o, a p esqu isa n o cam p o da
h ist ór ia d a ciên cia se dedicou u ltim am en te a est u d ar a h ist ór ia d a
ciên cia d os “ven cid os” (W allis, 1979). E d esse m od o qu e a h istória
d a ciên cia tem se ded icad o às con trovérsias cien tíficas relativas a
Galileu , Pasteur, à Escola de Ed im b u r go etc. C ad a vez m ais
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 177
Resumo
A sociologia d a ciência:
CIÊNCIA E IDEOLOGIA
de n o sso s discu r sos. Som en te depois d essa an álise tom a-se possível
d ecid ir se qu er em os, ou n ão, p r op agar as ideologias veicu ladas p or
n o sso s d iscu r sos.
Essas con sid erações sobr e o caráter con scien te ou in con scien te
d as ideologias n os levam a defin ir o con ceito de propagan da.
Falar em os de p r op agan d a q u an d o d iscu r sos id eológicos forem
veicu lad os p or gr u p os qu e, n o en tan to, estiverem con scien tes
d aq u ilo q u e é ocu ltado p o r esses d iscu r sos, qu e são d esejad os com
vista a pr ojetos políticos ou econ ôm icos. N a m aior parte d o tem po,
con tu d o, o s d iscu r sos ideológicos n ão con st it u em p r op agan d a,
p ois aqu eles qu e os d ifu n d em são relativam en te p ou co con scien tes
d aq u ilo qu e é m ascar ado; ou , qu an d o qu er em con ven cer os ou tr os,
qu er em ter a h on est id ad e de n ão m an ipu lá-los escon d en d o siste
m aticam en te os seu s critérios.
N ot am o s, en fim , qu e seria u m objetivo im possível e d espr ovi
d o de sen t id o n ão qu er er veicular ideologia algu m a, pelo m en os
de pr im eir o grau. U m a vez qu e p ossu ím os u m a r epr esen t ação d o
m u n d o - e n ós sem pre t em os u m a ela é in flu en ciada p or n o sso s
critérios e p or n o sso m eio social. Ela n ão é n eu tra. Seria tão vão
n ão qu er er d ifu n dir ideologias com o n ão qu er er p o ssu ir bactérias
em n o sso cor po. En tretan to, em t odo caso, p od e fazer sen t id o n ão
qu er er d ifu n d ir qu alq u er u m a. Existem id eologias qu e, d ad as
n o ssas posições éticas ou sociopolíticas, qu er em os recusar, e ou tras
q u e est am os p r on t os a assu m ir .
A existên cia d as ideologias coloca u m a qu est ão qu e n ão
ap r ofu n d ar em os aqu i, m as q u e é pr eciso levan tar. Até qu e pon t o
con sid er am os eticam en te aceitável qu e p essoas ou gr u pos veiculem
id eologias sem se d ar con ta d isso? E aliás a qu est ão qu e, n o in ício
d este livro, foi apr esen t ad a com o legitim an do u m a ab or d agem
crítica d os p r ocessos cien tíficos. Jam ais evitarem os d e ser p or vezes
en gan ad o s pelas id eologias p or n ó s veicu ladas. A qu est ão ética
rem ete sem dú vida aos m eios qu e u tilizam os par a ter clareza a
r espeito. O s an tigos m or alist as falavam da “ign orân cia cr assa”
(Arregh i, 1961, p.7) q u an d o u m in divídu o (ou u m gTupo) p er m a
n ecia in con scien te de certas qu est ões, q u an d o ele deveria ter
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 191
Resumo
• Lim ite e in ter esse d o s d iscu r so s cien tíficos d ian t e d o s d iscu r so s globa-
lizan tes.
• C o n fr o n t ação d o s d iscu r so s globalizan t es e d o s d iscu r so s cien t íficos
d ian t e d as q u est ões éticas.
• D iscu r so s id eológicos d e p r im eir o gr au : vestígios d a con st r u ção h ist ó
rica d o s p ar ad igm as u tilizados.
• D iscu r so s id eológicos d e segu n d o grau : im p or t an t e efeito d e oculta-
m en to.
• A ciên cia é sem pr e id eológica em p r im eir o gr au ; torn a-se com fr eqü ên
cia d e segu n d o grau .
• D o is t ipos d e efeitos id eológicos: efeitos id eológicos in con scien t es,
efeitos id eológicos assu m id o s.
• A p r o p agan d a co m o efeito id eológico d u p lam en t e m an ip u lat ór io.
• U n ia ética d ian te d as id eologias.
• C iê n cias d ifer en tes d e acor d o com o s gr u p o s sociais?
• N ecessid ad e d e levar em con t a as coer ções.
CIÊNCIAS FUNDAMENTAIS
E CIÊNCIAS APLICADAS
(aliás, n a Bélgica, o con ceito de ciên cias aplicad as foi in trodu zido
p ar a d esign ar o s est u d os d o en gen h eiro, qu e an tes se design ava
i m ais h abitu alm en te pelo term o “politécn ico”). Falar em os en fim de
| tecnologia q u an d o se tratar de aplicações con cretas e op er acion ais
em u m d ad o con texto social. Dir-se-á tecn ologia d o com p u t ad or
ou tecn ologia d as ferrovias; falar-se-á ain d a de p esqu isas de p o n
ta q u an d o se tratar de p esqu isas d est in ad as a pr od u zir n ovas
tecn ologias.
D e acor d o com as n ecessidades, criam -se e d esapar ecem con
ceitos in term ediários, tais com o os de “ciên cias fu n d am en t ais
or ien t ad as” (para certas aplicações) ou “ciên cias com ercializáveis”.
Existem in ú m er os m od os de se caracterizar as ciên cias com o
objet os sociais; elas se r esu m em em geral a legitim ar u m a certa
prática. A ssim , algu n s m atem áticos in sist ir ão sobr e o fato de qu e
eles prod u zem con h ecim en t os fu n dam en t ais, ligados às ciên cias
p u r as, e qu e é im por tan te qu e se m an ten h am sem elh an t es p esqu i
sas. O u t r os in sist ir ão sobr e o fato de qu e o s seu s con h ecim en t os
pod em ser aplicad os con cretam en te, n a p esqu isa oper acion al, por
exem plo. Em certos casos, o jogo das legitim ações su rge de m an eira
divertida. A lgu m as práticas biológicas, p or exem plo, são d en om i
n ad as “tecn ologias b iológicas” q u an d o se aplicam a plan t as, e
“ciên cias ap licad as” q u an d o se aplicam aos h u m an os (é p or isso
qu e n ão distin gu irei en tre “ciên cias ap licad as” e “t ecn ologias”).
A s m an eir as de caracterizar as práticas cien tíficas pod em variar
de u m p on t o de vista a ou tro. E assim qu e, n os ú lt im os an os, a
ad m in ist r ação Reagan utilizou u m n ovo con ceito de “ciên cias
fu n d am en t ais” , fu n d ad o sobr e critérios econ ôm icos: serão con si
d er ad as com o p esqu isas fu n d am en t ais as p esqu isas de tal m od o
d ist an ciad as d as aplicações con cretas com ercializáveis qu e n ão se
en con t r ar á n en h u m in du strial par a fin an ciá-las (Barfield, 1982).
Aliás, a ad m in ist r ação Reagan ch am ar á de p esqu isas aplicad as
aqu elas qu e p od em in teressar às in dú strias, p o r con sid erar em qu e
a curto ou a m éd io prazo p od er ão tirar d elas algu m ben efício. A
idéia su bjacen te a essa classificação é qu e o Est ado deve su b sid iar
as p esq u isas n ão ren táveis, m as n ão deve in tervir se as em pr esas
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 197
Resumo
A s n o ções “ciên cia p u r a", “ciên cia ap licad a”, “t ecn ologia” são u tilizad as
p ar a d e sign ar d iver sos ob jet ivos sociais n as práticas cien tíficas.
1 “ P od er fazer”: n o origin al, “pou voir f a ir e " . Eqü ivale ao in glês “ k n o w hoiv” (N. T.).
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 205
O con ceit o foi cr iad o n o in icio d o sécu lo XIX par a falar d e p e sq u isas em
u m d o m ín io gr an d em en t e especializad o.
En fim , t o d as as ciên cias são ap licad as: exper iên cias con cr etas. O s lu gar es
d e ap licação difer em : o lab or at ór io, p ar a as ciên cias fu n d am en t ais, o
m u n d o exterior, p ar a as t ecn ologias ou p ar a as ciên cias ap licad as. D aí a
d ist in ção e o s vín cu los en tr e o s p od er es exp er im en t ais, o s p od er es
tecn ológicos e o s p od er es h ier ár qu icos.
Ciência e poder
Modelos tecnocrático,
decisionista e pragmático-político
Um exemplo:
estabelecer programas de ensino
A vulgarização científica,
efeito de vitrine ou poder?
C aso se con sid ere a articu lação en tre a política e a ciên cia
segu n d o o m od elo pragm ático, o debate (os d iálogos e n egociações
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 221
Resumo
Palavras-chave
M od elo t ecn ocr át ico/ m od elo d e cisio n ist a/ m od elo p r agm át ico- p olít ico/
política cien tífica (2 se n t id o s)/ vu lgar ização cie n t ífica/ efeito d e v it r in e /
S T S / t ecn ocr acia in t e r d iscip lin ar / tecn ologias co m o or gan ização so c ia l/
t om ad or d e d e c isõ e s/ e sp e c ialist a/ t é c n ico / esp ecialid ad e.
C A P Í T U LO 10
1 N est e con text o, o ter m o ser á u tilizado d e m an eir a técn ica; n ão cor r esp on d e à acepção
u su al d o co t id ian o, em q u e se fala d e u m id ealist a q u an d o se co n sid er a algu ém q u e
é par t icu lar m en te gen er oso.
228 GÉRARD FOUREZ
Para defin ir a d istin ção (eviden tem en te con ven cion al) en tre os
term os de “n oção”, “id éia” e “con ceit o”, darei pr im eir am en te três
exem p los d o fu n cion am en t o d esses term os. A ssim , dir-se-á qu e se
tem u m a certa noção d o qu e são o t rabalh o de can alização, a fam ília
e a física. A lgu n s d ir ão t am b ém qu e, para ver se r ealm en te se am a,
é pr eciso com p ar ar o seu com p or tam en t o com a idéia d o am or. E,
en fim , em todas as ciên cias, tan to n a psicologia com o n a física,
utilizam -se conceitos em sen t id os precisos e d efin id os (com o os de
inconsciente e de elétron).
Utilizarei port an to o t erm o de noção em u m a acepção bast an t e
pr óxim a d o sen tido com u m , com o qu alqu er u m diz: “T e n h o n oção
de m atem ática”. En ten de-se por isto qu e o su jeito p ossu i u m certo
con h ecim en to, qu e ele sab e d o qu e “se” fala, m esm o qu e o seu
sab er n ão u lt r apasse a com pr een são com u m .
I Se algu ém diz qu e com pr een de a n oção d e “fam ília”, ou de
“sap at ar ia” , en ten de-se por isto, em geral, qu e ele p o ssu i u m a
r epr esen t ação m ais ou m en os vaga d a coisa, sem qu er er ir m ais
lon ge. N est a obr a, falarei de n oção q u an d o n ão qu iser precisar se
aq u ilo de qu e falo é in terpretado p or m eio de “id éias” ou de
“con ceit os”. A ssim , pode-se dizer qu e t od os p ossu em u m a n oção
d o qu e é u m a m u lh er ou um h om em . Isto n ão im plica ain d a
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 229
Crítica do idealismo
se efetuaria em exper iên cias sem pre relativas a u m con texto h ist ó
rico (ain da qu e algu n s cristãos professem u m cristian ism o idealista,
con sid er an d o qu e a “essên cia d o cr ist ian ism o” pod e ser p en sad a
fora de toda relatividade h istórica).
A escolh a en tre u m a abor dagem h istórica e u m a idealista n ão
é u m a sim ples escolh a asbtrata, sem con seqü ên cias con cretas. Se
se acredita, p or exem plo, qu e existe u m a idéia etern a de fam ília,
procura-se d efen der essa idéia con tra tu do e con tra t od os. E
freqüen te, aliás, qu e “id ealistas” defen d am r epresen tações h istor i
cam en te con tin gen tes acr editan do defen der idéias etern as.
Pode-se pergun tar, além d isso, se o idealism o n ão vai de
en con t r o a u m a ten d ên cia n ossa a “en gar r afar o real”, assegu r an
do-n os de qu e ele n ão sairá d o lugar! M u itas p essoas têm dificul
d ad e em in vestir em algo relativo. E d esse m od o q u e algu n s
parecem ter n ecessid ad e de acreditar qu e a p essoa qu e eles am am
era, d esd e sem pre, a ú n ica qu e eles p od iam am ar , e qu e ela lh es
era d estin ad a. A su p r essão d o caráter relativo de n ossas exper iên
cias garan tir-n os-ia, ao qu e parece, u m a espécie de segu ran ça.
A lgu m as p essoas n ecessitam saber se o qu e elas fazem está de
acor d o com u m a m or al etern a, e su por t am com dificu ldade o
p r óp r io p r ocesso h istórico, em qu e n em tu do está segu ro de
an tem ão. Pode-se per gu n t ar se, para algu n s, a n ecessid ad e de dizer
q u e a ciên cia p ossu i u m m ét od o u n iversalm en te válido e ab solu ta
m en te correto n ão cor r esp on d e a essa m esm a ten dên cia a en con
trar o ab solu t o em qu alq u er lugar. A lgu n s d ir ão: “ se se com eça a
dizer q u e a ciên cia é relativa, on d e ir em os parar, n o r elativism o”?
E a eles qu e Prigogin e & Sten gers (1979) cen su r avam n ão p od er
distin gu ir en tre a relatividade d a ciên cia e u m relativism o d esen
can tado.
De u m p on t o de vista psican alítico, p od em os n os per gu n t ar se
o d esejo de u m u n iversal ab solu to em n ossas n oções n ão se u n e
ao d esejo de su p r essão de toda ten são e, fin alm en te, a u m d esejo
de m orte. Aliás, d e u m p on t o de vista r eligioso, p od em os n os
per gu n tar se o d esejo de p od er tocar em u m ab solu t o n ão in cor
p or ad o em u m con texto n ão se ap r oxim a d aqu ilo qu e foi h ist or i
236 GÉRARD FOUREZ
Os conceitos e os relatos
A grade econômica
d o, sem aceitar esse tipo de r edu cion ism o, pode-se en con t r ar n esse
esq u em a “econ ôm ico - político - ideológico” u m a ch ave in teres
san te par a com p r een d er o n ascim en to h istórico d a ideologia e da
ética. Sob r et u d o se se acrescen ta ao “econ ôm ico” a d im en são
tecn ológica. A s t ecn ologias d a con tracepção, p or exem plo, m od ifi
car am as relações d e p od er en tre as m u lh er es e os h om en s;
segu iram -se a elas m odificações n os d iscu r sos éticos. Pode-se
an alisar d o m esm o m od o o su r gim en t o d a ética d o t r abalh o n a
socied ad e b u rgu esa, a d o s direitos d o h om em etc.
A grad e econ ôm ica é particularm en te apta - e sabe-se qu e era
u m d o s pr ojetos de M ar x ao aprim orá-la - a an alisar a evolu ção d a
socied ad e, n a m ed id a em qu e esta se tor n a in teligível q u an d o se
leva em con ta o s con flitos sociais, em particu lar aqu eles ligad os à
explor ação econ ôm ica. E d esse m od o qu e u m a d as m an eir as de
an alisar a evolução d a tecn ologia in telectual con stituída pela ciên cia
con sist e em relacion á-la a esses con flitos e em particu lar à “lu ta de
classes” em su a exp r essão m ais com pleta. Essa perspectiva lan ça
u m a luz sob r e o d esen volvim en t o d as ciên cias e d as técn icas: é sob
a p r essão d as n ecessid ad es econ ôm icas qu e elas evoluíram .
E difícil n ão sen tir a força d essa grade an alítica. Daí a con sid e
r ar q u e tu d o é “d et er m in ad o” pelas m od ificações “m at er iais” h á
u m gr an d e p asso, qu e só os m ar xistas de tipo “d ogm át ico”
u lt r apassam . Porém , os idealistas qu e pr et en d essem qu e a ética n ão
é in flu en ciada por sem elh an tes evoluções h istóricas ser iam u m
p ou co in gên u os.
O s lim ites d o m ar xism o estreito provêm , sem dú vida, de u m
con ceito de d et er m in ism o h er d ad o d as ciên cias d o sécu lo XIX. D o
m esm o m od o q u e Laplace qu er ia qu e t u do fosse d et er m in ad o pela
sit u ação d as partícu las, assim algu n s m ar xist as gost ar iam qu e t u do
fosse d et er m in ad o pelo est ad o da econ om ia. H oje talvez, m en os
ligad os a repr esen t ações det er m in ist as (p en sem os n as estr u tu r as
d issip at ivas n o cam p o d as ciên cias n atu rais), est ejam os m ais apt os
a p en sar p r essões de con d icion am en t o n ão-determ in istas, deixan
d o lu gar a in terações sistêm icas m ais com plexas e a u m a m u ltipli
cid ad e de trajetórias h ist ór icas p ossíveis.
246 GÉRARD FOUREZ
A grade feminista
A grade ecológica
As grades complementares
Resumo
Palavras-chave
Acreditar na ciência?
Resumo
Palavras-chave
1 Est e cap it u lo ten ta, em algu m as p ágin as, ap r esen t ar u m a v isão d a ética. Para u m a
ap r esen t ação m ais d et alh ad a, ver o m eu Ch oix éth iques et conditionnem ent social
1Escolh as éticas e condicionam en to social, Fou rez, 1979b ].
264 GÉRARD FOUREZ
Ética idealista
4 N est e sen rid o, o s p r in cíp ios éricos par ecem relativos. A lgu n s utilizam co n m d o
m áxim as absoiucas tais co m o : “N ão tor t u r ar ás" ou co isas d o ripo. E ssas m áxim as,
m esm o q u e se ap r esen t em co m o ab solu t as d o p o n t o d e vista lin gü íst ico, p ossu e m
u m sen t id o n a p er spect iva h istór ica aq u i ap r esen t ad a. C o m efeito, r ep r esen tam u m
lim ite im p ost o pela pr ática, u m a lin h a d em ar cat ór ia em u m a situ ação pr ecisa. U m a
tal m áxim a n ão se d est in a a r esolver as sit u ações con cr etas pr át icas, m as a estr u t u r ar
d ifer en ças (cf. Ben asayag, 1986; Fou rez, 1979b ).
270 GÉRARD FOUREZ
5 Pela exp r essão “m al n a h ist ór ia”, d esign o essa situ ação h u m an a, ligad a à ação d o s
ser es h u m an o s, e d a q u al é difícil e talvez im p ossível d et er m in ar a or igem pr ecisa,
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 273
p licad os n essas situ ações e cen ários? Q u ais são aqu eles qu e qu er e
m os privilegiar e p o r qu ê? Q u ais são as situ ações qu e n ão d eseja
m os de m od o algu m e p o r qu ê? Q u ais são as m an eir as de agir qu e
con sid er am os sim pát icas e p or quê? O debate em t or n o d essas
qu est ões p od e esclarecer a situ ação, a u m p on t o em qu e aqu eles
qu e refletem d esse m od o p od em com eçar a decidir e dizer: “ Eis o
qu e eu qu er o fazer, d e m an eir a irreversível, com a m in h a vid a.”
Justiça e amor
Ideologias da justiça
Resumo
sempre sobre um con sen so ético, mas exprimem em geral com prom issos
provenientes de relações de força. E no dom ín io da política que se
negociam os com prom issos.
Ju stiça e am or e sua dialética. O amor que n ão começa pela justiça é
oprimente. Noção de paternalismo.
Ideologias da ju stiça:
• Primado da liberdade ou da igualdade? Liberalismo ou social-demo-
cracia?;
• justiça procedural: favorece o forte;
• justiça distributiva: quer eliminar as desigualdades e opõe-se por vezes
à justiça procedural;
• justiça substancial: supõe uma “ordem do m un do” on de seria bom
viver;
• moral individual e moral estmtural.
Palavras-chave
Debate ético/ debate político/ ética idealista/ vozes proféticas/ prin cípios
éticos/ mal h istórico/ com prom isso/ decisão ética/ apelos ét icos/ ética
da con vicção/ ética da respon sabilidade/ moral da in ten ção/ paradigma
ético/ moral cristã idealista/ moral cristã h istórica/ ju stiça/ comporta
mento ju st o/ alteridade ética/objetividade da ação/ máximas absolu tas/
moral in dividual/ moral estrutural/ direito n atural/ jusn aturalism o/
juristas positivistas/ leis civis/ concepção política do direito/ bem
com u m /ideologia n eoliberal/ ideologia social-democrata/ justiça proce
d u r al/ justiça distributiva/justiça substan cial/ paternalismo.
I
C A P Í T U LO 13
direitos qu e recon h ecem os com o n osso s sem elh an tes?”. O u , ain da,
n o caso d a cor r ida ar m am en tista, “Q u er em os este m u n d o on d e é
criada u m a sociedade de tal tipo, com esse tipo de cor r ida ar m a
m en tista e t od as as su as con seqü ên cias?”. T am b é m em relação à
con st ru ção de cen trais n ucleares, “Q u er em os in vestir n esse tipo de
tecn ologia com t od as as su as im plicações?”. A an álise cien tífica
pod e con tr ib u ir par a esclarecer as im plicações d as escolh as, m as
n ão pod e jam ais r esp on d er à qu est ão: “ E isto o qu e eu (n ós) qu er o
(qu er em os)?”.
Essas an álises (científicas ou de situação) são essen ciais para
“esclarecer” as escolh as. Sem elas, lan çam o-n os n o pu ro descon h e
cido. Para exam in ar de m odo lúcido a ética da con tracepção é
n ecessário possu ir an álises psicológicas, sociológicas e biológicas (e
outras m ais, sem dúvida, segu in do ou tros paradigm as ou grades
an alíticas) qu e perm itam con h ecer a escolh a qu e se irá fazer. Con t u
do, n en h u m a d essas an álises fornece u m a resposta à qu estão ética.
Além d as an álises, diversos apelos éticos in tervém t am bém n a
ab or d agem d as d ecisões éticas. E o caso d o debate ético con cern en
te à parceria h om em -m ulh er, em qu e existem “ap elos” qu e sugerem
qu e seria “b o m ” (chouette) ter tal ou tal tipo de relação (em n ossa
cultura, p or exem plo, existem ap elos con vid an d o a su p er ar as
relações h om em -m u lh er tais com o defin idas pela sociedade patriar
cal, a fim de pr om over u m a parceria m ais igualitária). A in d a aqu i,
esses “ap e lo s” ap r esen t am p ossib ilid ad es às escolh as livres d os
seres h u m an os. Aq u eles qu e vêem a ética de m an eira h istórica
recon h ecerão a diversidade d esses apelos, ao p asso qu e aqu eles qu e
d efen d em u m a ética idealista ten der ão a dizer qu e as “b o as”
escolh as foram d et er m in ad as de an tem ão pelos “d eu se s”, in st ân
cias exteriores à liber d ade h u m an a (cf. Tou r ain e, 1975). A s deci
sões éticas e políticas são ad ot ad as com o con seqü ên cia de u m
debate (im plícito ou explícito), em qu e in tervirão an álises e apelos
éticos. Tais d ecisões são relativas à h istória, às an álises pelo viés
d o s par ad igm as e d as gr ades de leitura e aos apelos éticos pelo
viés d os in d ivíd u os ou gr u pos qu e os expr essaram . A p elam ao
debate ético e aos valores, m as, en fim , são t om ad as de m an eir a
302 GÉRARD FOUREZ
2 M u it o s tem d ificu ld ad e em urilizar essa d istin ção en t r e ju ízo d escrit ivo e n or m at ivo,
ain d a m ais p o r q u e certos con ceit os são u tilizados lin gü ist icam en t e co m o d escrit ivos,
q u a n d o são n a ver d ad e ju ízos d e valor . A ssim , a p r o p o sição “ isto é u m a ch an t agem ”
p ar ece d escritiva, m as se com p or ta co m o u m a d ecisão relativa a valor es. A lgu m as
p e sso as ab o r d am as sit u ações com categorias m or ais d e b em e m al, d e pr eferên cia a
cat egor ias d escrit ivas.
A CO NSTRUÇÃO DAS CIÊNCIAS 303
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