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Pré-História

Prof.ª Daniela Gadotti Sophiati


Prof.ª Johanna Wolfram Heuer

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Prof.ª Daniela Gadotti Sophiati
Prof.ª Johanna Wolfram Heuer

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

001.309
S712p Sophiati, Daniela Gadotti
Pré-história / Daniela Gadotti Sophiati e Johanna Wolfram
Heuer. Indaial : Uniasselvi, 2013.
188 p. : il

ISBN 978-85-7830-752-3

1. Humanidades – História.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

Você vai iniciar agora o estudo da disciplina Pré-História, período


histórico que antecede a invenção da escrita e a História Antiga. Este
momento é considerado o mais extenso da história da humanidade, tendo
iniciado há 4,5 milhões de anos e terminado em 4.000 a.C.

Durante este período, ocorreram importantes mudanças e


transformações que foram determinantes para a história da humanidade. Há
5 milhões de anos, ocorreram mudanças ambientais na África, possibilitando
o surgimento de uma nova espécie: os hominídeos.

Desde o Australopithecus até o Homo sapiens sapiens, nossos


antepassados enfrentaram uma longa e difícil jornada, aprenderam a criar
objetos, lutaram pela sobrevivência com a caça e coleta, criaram formas de
sociedade, dominaram a natureza, manifestaram-se artisticamente, viveram
nas primeiras aldeias, criaram civilizações.

A partir de agora, convidamos você a conhecer um pouco mais a


história de nossos antepassados. Vamos percorrer juntos o caminho do
homem, desde o seu surgimento até as primeiras aldeias e civilizações.

Prof.ª Daniela Gadotti Sophiati


Prof.ª Johanna Wolfram Heuer

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA,
TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO..................................... 1

TÓPICO 1 – A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A PRÉ-HISTÓRIA........................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 A HISTÓRIA COMO CIÊNCIA......................................................................................................... 4
3 A ESCOLA DE ANNALES................................................................................................................... 6
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 8
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 9

TÓPICO 2 – ARQUEOLOGIA................................................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 11
2 ETAPAS DE PESQUISA....................................................................................................................... 14
2.1 LEVANTAMENTO........................................................................................................................... 17
2.2 ESCAVAÇÃO..................................................................................................................................... 18
2.3 ANÁLISE DE LABORATÓRIO....................................................................................................... 19
2.4 PUBLICAÇÃO................................................................................................................................... 20
2.5 A ARQUEOLOGIA COMO CIÊNCIA TRANSDISCIPLINAR.................................................. 20
2.5.1 Formas de datação................................................................................................................... 20
2.5.2 Áreas de atuação...................................................................................................................... 23
3 HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA...................................................................................................... 26
3.1 ARQUEOLOGIA NA IDADE MÉDIA.......................................................................................... 26
3.2 ARQUEOLOGIA NA IDADE MODERNA................................................................................... 26
3.3 ARQUEOLOGIA NA IDADE CONTEMPORÂNEA.................................................................. 27
3.3.1 Atuação dos arqueólogos no Brasil....................................................................................... 31
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 33
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 36

TÓPICO 3 – TEORIA DE DARWIN..................................................................................................... 37


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 37
2 TEORIA DE DARWIN.......................................................................................................................... 38
2.1 TEORIAS EVOLUTIVAS.................................................................................................................. 39
2.2 O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DARWINISTA.............................................................. 40
2.3 A EVOLUÇÃO HUMANA.............................................................................................................. 41
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 47

TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DO UNIVERSO.................................................................................... 49


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 49
2 FORMAÇÃO DO UNIVERSO............................................................................................................ 50
2.1 FORMAÇÃO DA TERRA................................................................................................................ 51
2.2 PERÍODOS GEOLÓGICOS............................................................................................................. 51

VII
2.2.1 Era Pré-Cambriana.................................................................................................................. 51
2.2.2 Era Paleozoica.......................................................................................................................... 52
2.2.3 Era Mesozoica.......................................................................................................................... 52
2.2.4 Era Cenozoica........................................................................................................................... 52
3 FORMAÇÃO DOS CONTINENTES................................................................................................. 54
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 55
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 57
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 58

UNIDADE 2 – PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS................................................................................. 59

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO.............................................. 61


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 61
2 EVOLUÇÃO HUMANA....................................................................................................................... 61
3 PERÍODO PALEOLÍTICO................................................................................................................... 68
4 OS HOMINÍDEOS................................................................................................................................ 74
4.1 AUSTRALOPITHECUS.................................................................................................................... 75
4.2 HOMO HABILIS................................................................................................................................ 76
4.3 HOMO ERECTUS............................................................................................................................. 77
4.4 HOMO NEANDERTHALENSIS...................................................................................................... 78
4.5 HOMO SAPIENS............................................................................................................................... 80
4.6 CARACTERÍSTICAS DOS HOMINÍDEOS................................................................................... 81
LEITURA COMPLEMENTAR I............................................................................................................. 82
LEITURA COMPLEMENTAR II............................................................................................................ 83
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 86
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 87

TÓPICO 2 – PERÍODO MESOLÍTICO................................................................................................ 89


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 89
2 PERÍODO MESOLÍTICO..................................................................................................................... 89
2.1 ARTE E CRENÇA NA PRÉ-HISTÓRIA........................................................................................ 91
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 93
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 95
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 96

TÓPICO 3 – PERÍODO NEOLÍTICO.................................................................................................... 97


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 97
2 REVOLUÇÃO NEOLÍTICA................................................................................................................. 98
2.1 O DOMÍNIO DA AGRICULTURA................................................................................................ 98
2.2 ORGANIZAÇÃO SOCIAL.............................................................................................................. 99
2.3 ALDEIAS NEOLÍTICAS.................................................................................................................. 100
2.4 AS PRIMEIRAS CIDADES.............................................................................................................. 101
2.5 A CRENÇA DURANTE O NEOLÍTICO....................................................................................... 103
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 104
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 106
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 107

TÓPICO 4 – IDADE DOS METAIS...................................................................................................... 109


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 109
2 IDADE DOS METAIS........................................................................................................................... 109
2.1 IDADE DO COBRE........................................................................................................................... 110
2.2 IDADE DO BRONZE....................................................................................................................... 110

VIII
2.3 IDADE DO FERRO........................................................................................................................... 110
2.4 SURGIMENTO DO COMÉRCIO.................................................................................................... 110
2.5 DIVISÃO DA SOCIEDADE............................................................................................................. 111
3 SURGIMENTO DO ESTADO............................................................................................................. 112
3.1 A CENTRALIZAÇÃO DO PODER................................................................................................ 113
3.2 O SURGIMENTO DA ESCRITA..................................................................................................... 113
4 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES....................................................................................................... 114
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 115
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 116

UNIDADE 3 – PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS


INDÍGENAS................................................................................................................... 117

TÓPICO 1 – PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA..................................................................................... 119


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 119
2 TEORIAS MIGRATÓRIAS.................................................................................................................. 120
2.1 TEORIA DE CLÓVIS........................................................................................................................ 120
2.2 TEORIA MALAIO-POLINÉSIA..................................................................................................... 121
2.3 TEORIA AUSTRALIANA............................................................................................................... 121
2.4 UM HOMINÍDEO ANTERIOR AO HOMO SAPIENS?.............................................................. 122
2.5 MAS O QUE SE SABE SOBRE OS PRIMEIROS SUL-AMERICANOS?................................... 123
3 EXPLORAÇÃO DE RECURSOS......................................................................................................... 123
4 DOMÍNIO DA AGRICULTURA........................................................................................................ 124
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 127
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 130
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 131

TÓPICO 2 – PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL.......................................................................................... 133


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 133
2 PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL.............................................................................................................. 134
2.1 AS POPULAÇÕES DE LAGOA SANTA....................................................................................... 135
2.1.1 Luzia.......................................................................................................................................... 137
2.2 AS PESQUISAS DE NIÈDE GUIDON........................................................................................... 138
2.3 ARTE RUPESTRE.............................................................................................................................. 139
2.4 OFICINAS LÍTICAS......................................................................................................................... 141
3 MUDANÇAS AMBIENTAIS............................................................................................................... 142
3.1 O ESTUDO DA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA E OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS................ 142
3.2 OS SAMBAQUIS............................................................................................................................... 143
3.3 OS POVOS CERAMISTAS............................................................................................................... 146
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 149
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 151
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 152

TÓPICO 3 – OS POVOS INDÍGENAS................................................................................................ 153


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 153
2 COMO SE CLASSIFICA UMA LÍNGUA INDÍGENA?................................................................. 155
3 OS DIVERSOS TRONCOS................................................................................................................. 155
3.1 TRONCO TUPI................................................................................................................................. 155
3.2 TRONCO MACRO-JÊ...................................................................................................................... 156
3.3 FAMÍLIAS NÃO INCLUÍDAS EM TRONCOS............................................................................ 156
3.4 GRUPOS QUE NÃO FALAM MAIS LÍNGUAS INDÍGENAS.................................................. 156
4 OS POVOS INDÍGENAS..................................................................................................................... 157

IX
4.1 A ALIMENTAÇÃO........................................................................................................................... 158
4.1.1 Produção de alimentos............................................................................................................ 158
4.2 AS HABITAÇÕES............................................................................................................................. 160
4.3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL.............................................................................................................. 161
4.4 CRENÇAS AMERÍNDIAS............................................................................................................... 162
5 INDÍGENAS HOJE............................................................................................................................... 163
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 166
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 169
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 170

TÓPICO 4 – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL........................................................................................ 171


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 171
2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL – CONCEITOS................................................................................ 171
3 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DA PRÉ-HISTÓRIA....... 173
4 PROPOSTAS DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.......................................... 174
4.1 PROPOSTA DE APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES...................................................................... 174
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 178
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 180
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 181
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 183

X
UNIDADE 1

NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-


HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA
DE DARWIN E FORMAÇÃO DO
UNIVERSO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• identificar as mudanças teóricas nas correntes historiográficas;

• compreender as etapas da história da arqueologia;

• identificar os procedimentos de pesquisa arqueológica;

• analisar as teorias sobre a origem do homem;

• compreender as teorias de formação do Universo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta primeira unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada
tópico, você encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de
conhecimentos na área.

TÓPICO 1 – A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A PRÉ-HISTÓRIA

TÓPICO 2 – ARQUEOLOGIA

TÓPICO 3 – TEORIA DE DARWIN

TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO DO UNIVERSO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A PRÉ-HISTÓRIA

1 INTRODUÇÃO
Segundo a divisão tradicional da História, a Pré-História é o momento
histórico que antecede a História Antiga. Tal período é comumente associado,
especialmente na TV, a dinossauros carnívoros e homens primitivos que
conviviam no mesmo período.

Você se lembra das histórias em quadrinhos do “Piteco & Horácio”, de


Maurício de Souza, onde um Tiranossauro rex, o Horácio, interage com seres
humanos, vivenciando cenas do dia a dia na Pré-História? Ou do desenho
animado “Os Flintstones”, onde famílias que viviam na Pré-História conviviam
em plena harmonia com dinossauros e possuíam o conforto e a praticidade da
vida moderna? O que nos leva a perguntar, o que havia de errado com “Os
Flintstones”? E o que você realmente sabe sobre a Pré-História?

E
IMPORTANT

Por que os humanos não conviveram com os dinossauros? Simples: os


dinossauros desapareceram do planeta muito antes de os primeiros antepassados humanos
aparecerem.

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 1, Tópico 4, aprofundaremos a questão ao estudarmos “A Formação


do Universo”.

Considerado o período mais extenso da História, formalmente o


início da Pré-História é associado ao surgimento do primeiro hominídeo, há
aproximadamente 4,5 milhões de anos, e termina com a criação da escrita, por
volta de 5.000 anos antes do presente.

3
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

No entanto, como veremos, as mudanças ocorridas na pesquisa


historiográfica dos últimos anos vêm questionando essa divisão e até mesmo
o conceito de Pré-História. O surgimento de novas fontes, problemas e objetos
trouxe reflexões sobre este importante momento da humanidade.

E
IMPORTANT

Você sabia que os primeiros registros escritos apareceram na Suméria, atual


Oriente Médio, por volta de 5.000 mil anos antes do presente? Eram pequenos tabletes de
argila gravados com cunhas, motivo pelo qual ficaram conhecidos como escrita cuneiforme.
Surgiram por necessidades administrativas, de registrar impostos, controlar cobranças etc.

ATENCAO

Nem todas as sociedades desenvolveram a escrita na mesma época.

DICAS

Para saber mais sobre a história da escrita você pode assistir aos
vídeos disponíveis nos seguintes links: vídeo 1: <http://www.youtube.com/
watch?v=GC8ClPNWv3k&feature=related> e vídeo 2: <http://www.youtube.com/
watch?v=uF9kNYH1EQg&feature=relmfu>. Neles você aprenderá mais sobre o assunto e
sobre temas como a arqueologia, que será discutida no Tópico 2 desta unidade. O material
disponível nos vídeos pode ser utilizado, ainda, como ferramenta didática no ensino de
História Antiga.

2 A HISTÓRIA COMO CIÊNCIA


Desde a Antiguidade existe uma preocupação em conhecer o passado dos
homens. Heródoto já realizava uma história narrativa, com a finalidade de “[...]
perpetuar o passado e encontrar a causa da guerra”. (BURKE, 1991, p. 37). No
entanto, a História mesclava elementos míticos e factuais.

Durante o século XIX, a História se estabeleceu como ciência em vários


países da Europa, como, por exemplo, a França. Pesquisadores como Charles

4
TÓPICO 1 | A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A PRÉ-HISTÓRIA

Langlois e Charles Segnobos afirmaram que a História não passa de mera


aplicação de documentos, pois os pensamentos e atos realizados por homens
quase nunca deixam registros confiáveis.

Para se tornar uma ciência, a História desenvolveu métodos confiáveis.


Assim, em 1875, o alemão Leopold von Ranke estabeleceu uma série de métodos
que nortearam as pesquisas nos anos seguintes:

• o objeto de pesquisa da História são os fatos;

• a realidade deve ser separada da ficção;

• os fatos precisam ser comprovados com documentos escritos;

• os documentos devem ser, de preferência, oficiais;

• o historiador deve proceder à análise interna e externa dos documentos;

• o historiador deve ser neutro na análise dos documentos.

NOTA

Fica determinado, então, pela teoria rankeana, que a História só existe onde há
um registro escrito. O período que antecede o surgimento da escrita passa a ser considerado
Pré-História. (BURKE, 1991, p. 42).

As pesquisas históricas realizadas neste período (século XIX) foram


utilizadas como instrumento de coesão nacional, já que evocavam um passado
em comum. A História também foi utilizada para formar cidadãos patriotas,
capazes de defender sua pátria.

E
IMPORTANT

O século XIX foi o momento de formação de Estados, como a Itália e a Alemanha.


Assim, a História era utilizada para criar símbolos de identificação, como as bandeiras, os
hinos e os heróis.

5
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Desta forma, os objetos de estudo da História se restringiam a temas como


a política. Os heróis nacionais, datas importantes e grandes acontecimentos eram
considerados o objeto central de estudo da História.

NOTA

Esta visão de História vem sendo deixada de lado, acusada de favorecer uma
“História Narrativa”, que apenas descreve os fatos, sem se preocupar com as suas causas.

3 A ESCOLA DE ANNALES
A partir de 1929, surgem mudanças na Historiografia, quando Lucien
Fevbre e March Bloch fundam a Revista Annales. Juntamente com outros
historiadores e sociólogos, os dois propõem uma revisão na forma de se pesquisar
história.

Assim, a chamada Nova História Cultural, ou Escola de Annales, propõe:

• novos métodos

• novos objetos

• novas fontes

• novas abordagens

Influenciada por estudos de sociólogos, antropólogos e geógrafos, essa


primeira fase da Escola de Annales propôs uma ampliação dos temas de pesquisa,
bem como uma nova abordagem. A História deixou de ser apenas uma narrativa de
fatos, privilegiando também as estruturas.

Ao longo das décadas, surgiram várias linhas de pesquisa na Escola de


Annales; no entanto, podemos elencar como principais mudanças:

• A negação da neutralidade do historiador: toda produção histórica é subjetiva.

• A ampliação dos objetos de estudo: o homem produz história em todas as


esferas de sua vida. Assim, temas como a família, os movimentos sociais, a
alimentação, a religiosidade também são considerados históricos.

• Fragmentação da História nacional: visibilidade para os regionalismos e as


especificidades.

6
TÓPICO 1 | A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A PRÉ-HISTÓRIA

• História vista de baixo: estudo de grupos que não eram considerados antes
como agentes da história.

• Uso de novas fontes: a partir de então, é possível fazer pesquisa histórica a


partir de fotografias, música, edificações, entrevistas etc.

• Reconhecimento da historicidade de povos sem escrita.

• Aproximação de ciências como a antropologia.

Assim, com a possibilidade do uso de novas fontes para a pesquisa, a


Pré-História não é mais apenas o momento que antecede a escrita. As mudanças
teóricas na historiografia, somadas às descobertas arqueológicas, trouxeram uma
nova importância para a Pré-História.

Didaticamente a divisão histórica tradicional ainda é utilizada. No


entanto, o conceito de Pré-História mudou. Agora, desde o surgimento do
primeiro hominídeo na Terra, começa a grande aventura humana, sem esquecer
todo o período que antecede o aparecimento dos seres humanos, que também faz
parte da Pré-História.

Da mesma forma, se a Pré-História acaba com o início da escrita, nem


todas as regiões terminam a Pré-História em uma mesma época. No continente
americano, seu fim é associado à chegada dos colonizadores europeus, por volta
do século XV, embora se saiba que em algumas áreas do continente americano já
existia escrita muito antes da chegada dos europeus.

NOTA

Você sabia que a escrita mais complexa do continente americano pertencia


aos maias? Esta civilização ocupou a região do atual México e América Central. Sua escrita
sofisticada era usada, quase exclusivamente, no contexto religioso. Para mais informações
acerca da civilização maia e América pré-colombiana sugerimos que consulte Gendrop
(1987).

DICAS

Para aprofundar seus conhecimentos sobre Teoria da História sugerimos a


leitura de Burke (1991) ou pesquisa no site <http.www.klepsidra.net>. A referência completa
das obras você encontra no final do Caderno de Estudos.

7
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:

• Tradicionalmente, a Pré-História é o período que antecede a História Antiga.

• No século XIX, a História se torna uma ciência com pressupostos e métodos.

• Na História rankeana, a História é comprovada com documentos escritos.

• A Pré-História passa a ser o período que antecede o surgimento da escrita.

• Segundo Ranke, o historiador deve ser neutro na análise dos documentos.

• A pesquisa histórica do século XIX privilegiava a política.

• Em 1929 é criada a Revista Annales.

• A Escola de Annales propõe mudanças teóricas para a História.

• Na nova História cultural são pesquisados temas como a infância, a morte, a


sexualidade, entre outros.

• As fontes de pesquisa se ampliam, podendo ser fotos, músicas, edificações etc.

• O período anterior à escrita também passa a ser considerado como histórico.

8
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conteúdos estudados neste tópico, responda às questões a seguir:

1 Ao se tornar uma ciência no século XIX, a História estava sujeita a uma série
de métodos e regras. Quais eram eles? De que forma isso se relaciona com o
estabelecimento da divisão tradicional da História?

2 Em 1929, um grupo de historiadores lança a Revista Annales, que propõe


uma série de mudanças na pesquisa histórica. Cite que mudanças foram
essas.

3 As mudanças teóricas na historiografia questionam o antigo conceito de Pré-


História. Justifique essa afirmação.

9
10
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ARQUEOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Para que possamos conhecer o modo de vida das sociedades pré-históricas,
várias ciências unem seus conhecimentos. Entre essas ciências encontramos
a arqueologia, que é a ciência que estuda os vestígios materiais deixados pelo
homem.

Vestígios materiais são restos de criações humanas, como utensílios,


armas, moradias, enfeites etc. que, em conjunto, são chamados pela arqueologia
de “cultura material”. Cada sociedade humana possui uma cultura material que
a identifica. Tais vestígios são fruto da criação de soluções para a superação dos
mais diferentes obstáculos impostos pelo meio em que vivem ou viveram, bem
como de seu relacionamento e da interpretação simbólica deste meio. A cultura
material de um povo reflete sua maneira de pensar e seus valores.

A pesquisa arqueológica é realizada em sítios arqueológicos, que são


assim chamados por possuírem “vestígios arqueológicos”, que são os vestígios
materiais acima mencionados. Os sítios arqueológicos podem ser divididos em
pré-históricos (sociedades sem escrita) e históricos (sociedades com escrita).

FIGURA 1 – EXEMPLO DE VESTÍGIOS LÍTICOS. INSTRUMENTOS


FABRICADOS ATRAVÉS DO LASCAMENTO DE DIFERENTES
TIPOS DE ROCHAS. NESTE CASO ESPECÍFICO TRATA-SE
DE PONTAS DE PROJÉTIL OU PONTAS DE FLECHA

FONTE: As autoras

11
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 3 voltaremos a estudar os vestígios líticos.

Além disso, a arqueologia não estuda somente a Pré-História, mas


o material de qualquer época histórica e que esteja associado à ação humana.
Existem, por exemplo, pesquisas arqueológicas de vestígios da Idade Média ou
da História Moderna. No Brasil, a divisão entre Pré-História e História é marcada
pela chegada dos colonizadores europeus e seu contato com as sociedades nativas,
por eles então denominados “indíos”.

O período que antecede a colonização vem sendo recentemente


denominado, por alguns pesquisadores, de Pré-Colonial, tendo em vista que
o termo pré-história pode sugerir “antes da história”. Tal interpretação da
terminologia vem sendo desconstruída por diversos pesquisadores nos últimos
anos, tendo em vista que todas as sociedades humanas possuem história, tendo
deixado registros escritos ou não. Mesmo que não tenham deixado registros
escritos, seu relato foi e continua sendo feito oralmente. 

Quando a pesquisa arqueológica destina-se a estudar os vestígios materiais


pertencentes ao período pós-colonial (após a chegada dos colonizadores no
território hoje chamado Brasil), esta é chamada de arqueologia histórica. Alguns
exemplos de sítios arqueológicos históricos são antigas igrejas, centros históricos de
diferentes cidades e vestígios de antigos quilombos, por exemplo.

FIGURA 2 – EXEMPLO DE SÍTIO ARQUEOLÓGICO HISTÓRICO: RUÍNAS


DAS MISSÕES JESUÍTICAS DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES,
NO RIO GRANDE DO SUL

FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/


praticapedagogica/serviam-missoes-jesuiticas-629706.shtml>.
Acesso em: 24 abr. 2013.

12
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

DICAS

Aprenda mais sobre arqueologia histórica assistindo ao vídeo “Discurso


Silencioso”, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?feature=player_
embedded&v=RQK_8pn0U3E>. Nele você poderá acompanhar pesquisas arqueológicas
realizadas no centro histórico do Rio de Janeiro e sua importância para a re-construção da
História brasileira e para a des-construção de diversos preconceitos.

ATENCAO

Você sabia que a arqueologia não estuda os dinossauros? O estudo destes


personagens da Pré-História é realizado pela Paleontologia, ciência que estuda a vida na
terra através de fósseis, principalmente de animais e vegetais.

FIGURA 3 – EXEMPLO DE PEGADAS FOSSILIZADAS ENCONTRADAS


EM ARARIPE, NO NORDESTE BRASILEIRO, E A
RECONSTITUIÇÃO DO POSSÍVEL ANIMAL QUE GEROU AS
MARCAS

FONTE: Adaptado de: Dentzien-Dias et al. (2010)

13
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

NOTA

Fósseis são restos de matéria orgânica do passado conservados pela natureza,


em rochas, geleiras, resinas, sedimentos etc. Eles podem ser associados a seres vivos, como
os fósseis de dinossauros, de homens antigos etc. ou resultado de ações que ocorreram no
passado, como pegadas deixadas no solo, ovos fossilizados etc.

DICAS

Você se interessou pela paleontologia? Visite a página da Sociedade Brasileira


de Paleontologia, <http://www.sbpbrasil.org/>, que dispõe de informações interessantes e
trabalhos acadêmicos na área.

2 ETAPAS DE PESQUISA
Quando falamos em arqueologia, imediatamente nos vêm à mente
imagens de grandes aventuras como as vividas por Indiana Jones ou Lara Croft,
personagens que imortalizaram no cinema a ideia de aventura e caça ao tesouro
na arqueologia. Você, entretanto, sabia que esta ciência não é feita apenas de
aventuras?

Esta imagem foi criada no século XIX, quando os primeiros arqueólogos,


europeus e norte-americanos, saíam em busca de pesquisa e aventuras em
outros países, em um desbravamento imperialista. Um exemplo foi o trabalho
do pioneiro Horward Carter, arqueólogo britânico que descobriu a tumba de
Tutancâmon, no Egito, em 1922.

NOTA

Tutancâmon foi um faraó egípcio que morreu ainda jovem, aos 19 anos, em
1324 a.C.

Porém a maior parte do trabalho arqueológico é realizada em laboratório,


e após longos períodos de estudos e análises os arqueólogos avaliam as atividades
realizadas e preparam as pesquisas futuras. É um trabalho muito mais paciente e
persistente do que a imagem imortalizada pelo cinema.
14
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

Em alguns casos, as escavações arqueológicas costumam durar anos, já


que os vestígios arqueológicos podem ser facilmente danificados. Existem sítios
arqueológicos na Serra da Capivara, região nordeste do Brasil que, desde 1973,
vêm sendo pesquisados.

Outro grande mito associado à arqueologia é a monumentalidade dos


achados arqueológicos. É banal pensar que os arqueólogos escavam apenas
múmias ou grandes edificações como pirâmides, e que sempre acham algo precioso
como tesouros. Afinal, você realmente sabe o que procura um arqueólogo?

Para o arqueólogo brasileiro, Paulo Funari (2003), a Arqueologia estuda,


diretamente, a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas. Logo,
esta materialidade ou vestígios deixados pelos homens podem ser tanto uma
pirâmide, um sambaqui ou um pedaço de cerâmica.

NOTA

Sambaqui é um tipo de sítio arqueológico encontrado em diversas partes do


mundo, geralmente em regiões litorâneas. Conforme veremos em maior detalhe na Unidade
3, no Brasil tais vestígios são atribuídos a grupos de caçadores-coletores que habitaram a
costa, de Norte a Sul, durante a Pré-História.

Desta maneira, a maior parte das pesquisas arqueológicas pré-históricas,


por exemplo, estudam fragmentos de cerâmicas, peças feitas em pedras, restos
de fogueiras, sobras de alimentação, vestígios de antigas habitações e de objetos
usados e fabricados no cotidiano das antigas populações. Estes vestígios,
conforme vimos anteriormente, trazem importantes informações sobre o dia a
dia das populações do passado, seus hábitos e crenças e constituem muitas vezes
as únicas informações que restaram destes grupos humanos.

As diferentes etapas da pesquisa arqueológica fornecem informações


que são trabalhadas e unidas por arqueológos e outros profissionais como uma
espécie de quebra-cabeças, procurando gerar maiores informações sobre as
sociedades que não deixaram vestígios escritos sobre seu modo de vida e sobre
como chegaram aqui, ou como desapareceram.

Ao escavar um sítio arqueológico chamado Tapera, em Florianópolis, no


estado de Santa Catarina, sul do Brasil, na década de 1960, o arqueólogo Pe. Rohr
encontrou 24.122 cacos de cerâmicas, 4.271 artefatos feitos de pedras, 3.502 objetos
feitos a partir de conchas e ossos, restos de alimentação, fogueiras, vestígios de
habitações, além de 172 esqueletos (SILVA et al., 1990).

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UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

FIGURA 4 – ESQUELETO ESCAVADO NO SÍTIO DA ARMAÇÃO DO SUL, NA


ILHA DE SANTA CATARINA – SC, PELO PE. ROHR

FONTE: Disponível em: <http://www.anchietano.unisinos.br/equipe/Rohr/


rohr.htm>. Acesso em: 24 abr. 2013.

NOTA

O padre João Alfredo Rohr, gaúcho naturalizado catarinense, é considerado


um dos arqueólogos que mais escavou no Brasil. O resultado de suas pesquisas pode ser
encontrado em inúmeras publicações e na coleção do Museu do Homem do Sambaqui Pe.
João Alfredo Rohr, SJ, localizado na Ilha de Santa Catarina.

Segundo o ponto de vista mais tradicional da arqueologia, ela é a


ciência que estuda os artefatos criados pelo homem através da escavação e
reconstituição. Porém, dentro das novas metodologias e abordagens, seu objetivo
não é a catalogação de objetos, mas o estudo dos sistemas socioculturais. “Além
dos artefatos, os chamados ecofatos e biofatos também fazem parte da reflexão
arqueológica enquanto apropriação humana da natureza”. (FUNARI, 2003, p. 10).

Assim, a arqueologia também analisa o ambiente ocupado por esses


antigos homens, considerando as matérias-primas disponíveis na região, bem
como os rios, tipos de alimentos, animais e abrigos.

DICAS

Procure na sua cidade um museu que possua coleção arqueológica e veja de


perto as pesquisas realizadas na sua região.

16
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

E
IMPORTANT

Como você verá a seguir, o trabalho do arqueólogo pode ser dividido em várias
fases. Entre as principais estão:
• levantamento;
• escavações;
• processamento em laboratório;
• publicação.

2.1 LEVANTAMENTO
O levantamento (ou prospecção) consiste na localização de áreas que sejam
potenciais sítios arqueológicos. Esta pesquisa pode ser feita através de estudo de
fotografias aéreas, caminhadas nas áreas estudadas ou com o uso de aparelhos,
como sondas, radares, entre outros. O principal objetivo desta fase das pesquisas
é encontrar os sítios arqueológicos.

Realizada através de caminhadas, a localização dos vestígios estará


condicionada à experiência do observador que, através do contato visual, deverá
identificar vestígios arqueológicos como artefatos, estruturas, áreas de aquisição
de matéria-prima, entre outros.

Também devem ser observadas mudanças na vegetação, que podem


identificar mudanças na flora, causadas pela ação humana. A concentração de
coqueiros, entre outras árvores, em áreas onde não são comuns, pode significar
que tenham sido plantados por homens. Da mesma forma, manchas no solo que
podem indicar antigas áreas de habitação.

Entretanto novas tecnologias se apresentam como um auxílio, rápido e


não destrutivo, na identificação de vestígios e sítios arqueológicos. Um exemplo
são as técnicas de georradar ou técnicas geofísicas (resistividade elétrica e
magnética) que possibilitam uma avaliação do subsolo através da emissão de
ondas eletromagnéticas, condutibilidade  elétrica etc., para identificação de
artefatos em subsolo.

A decisão de que técnica de levantamento será empregada está relacionada


aos objetivos das atividades planejadas, ao tipo de sítio estudado, ao tempo de
pesquisa e outras condicionantes práticas, como financiamento de pesquisa,
tamanho da equipe etc.

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UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

2.2 ESCAVAÇÃO
A segunda etapa dos trabalhos de arqueologia é a escavação. Esta é a mais
famosa de todas as etapas e, geralmente, a única que vem à mente quando se
pensa nas pesquisas arqueológicas. No entanto, apesar de ser uma fase muito
importante destas pesquisas, ela é apenas uma parte do conjunto de atividades
desenvolvidas pelos arqueólogos.

A primeira etapa de um trabalho de escavação consiste na análise do


ambiente a ser pesquisado. São analisadas informações como a composição do
solo e a existência de determinadas rochas, rios etc.

A etapa seguinte é a demarcação do território a ser escavado, que pode ser


dividido em quadrículas, e, delicadamente, o solo é escavado com instrumentos
leves, como pincéis, espátulas etc.

FIGURA 5 – EXEMPLO DA DIVISÃO DE UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO EM


QUADRÍCULAS PARA CONTROLE DA ESCAVAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/06/


tamanho-35-couro-bovino-5.500-anos>. Acesso em: 24 abr. 2013.

NOTA

Quadrículas são pequenas áreas definidas pelo arqueólogo como unidades


de controle. Cada quadrícula recebe um número específico e todo material identificado
na mesma quadrícula recebe uma numeração associada, de forma que, em laboratório, é
possível reconstituir onde o material foi localizado.

18
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

Todo vestígio identificado é detalhadamente registrado, com fotos,


desenhos, registros de localização etc. de maneira que em laboratório seja possível
visualizar a precisa localização dele no contexto do sítio estudado.

O contexto arqueológico é algo muito importante para a arqueologia,


é através do estudo da localização do objeto e dos vestígios que estão a ele
associados que o arqueólogo pode interpretar seus significados.

Um autor francês chamado Leroi-Gourhan (1983) comparou o contexto


arqueológico a um livro: se você ler um livro preservado é fácil perceber sua
mensagem, seguir a lógica das páginas etc. Agora imagine ler um livro todo
rasgado, onde você não consegue identificar qual a sequência das páginas, onde
se encontra cada parágrafo, o encadeamento das palavras e assim por diante. Daí
a importância de nunca recolher um artefato arqueológico de seu contexto sem o
devido estudo e registro.

DICAS

Você sabe o que fazer em caso de identificar um vestígio arqueológico? Existe


um órgão federal chamado IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
– que é responsável pela fiscalização e promoção da proteção dos bens arqueológicos
brasileiros. Caso encontre um sítio, procure o IPHAN mais próximo de sua cidade. Para
maiores informações visite o site do instituto: <www.iphan.gov.br>.

2.3 ANÁLISE DE LABORATÓRIO


Quando chega ao laboratório, o material passa por uma lavagem e
cadastramento em fichas padronizadas, contendo dados como o local onde foi
localizado, posição em relação às outras peças, cor, dimensão, entre outros.

O estudo destes vestígios envolve a comparação com outros sítios do local


ou da mesma cultura estudada. Deste processo participam outros especialistas,
conforme o sítio que está sendo estudado. Podem ser eles biólogos, especialistas em
cerâmica, linguistas variados, especialistas em fundição de metais, anatomistas,
químicos, geólogos etc.

A análise de pedras lascadas, por exemplo, considera fatores como a


existência de rochas adequadas a essa produção. Já a análise da composição do
solo indica o tipo de cerâmica produzido no local: solo ferruginoso – cerâmica
alaranjada, solo com pouco ferro – cerâmica branca ou preta.

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UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Determinadas análises químicas de vestígios, como ossos e dentes,


permitem ao arqueólogo descobrir muitas coisas a respeito dos indivíduos que
habitavam naqueles locais como sua idade, sexo, o que comiam, que doenças
possuíam e a causa de sua morte.

No laboratório são feitas ainda as restaurações dos objetos escavados,


seu adequado acondicionamento, com temperatura e umidade controladas, e a
montagem de exposições a ser realizadas nos museus.

2.4 PUBLICAÇÃO
A última fase de ação de uma pesquisa arqueológica é a publicação dos
dados observados, na qual todos os resultados das atividades de campo e análises
dos vestígios identificados são disponibilizados para o público acadêmico, através
de revistas, livros e artigos científicos. Os pesquisadores também procuram
divulgar o trabalho ao público em geral através de cartilhas, jornais, revistas e
vídeos, por exemplo.

2.5 A ARQUEOLOGIA COMO CIÊNCIA TRANSDISCIPLINAR


Outra característica do estudo arqueológico é o trabalho em conjunto.
Embora possuam um único objetivo, compreender as relações e mudanças na
sociedade, várias são as linhas de estudo e métodos utilizados para isto, vejamos
alguns exemplos:

2.5.1 Formas de datação


Para determinar a idade de um achado arqueológico são utilizadas várias
técnicas e métodos. Para efetuar estas análises o arqueólogo precisa dialogar com
profissionais de diferentes áreas como, por exemplo, a química e a geologia. A
seguir estão listados alguns metodos de datação:

a) Estratigrafia

A estratigrafia é um ramo da geologia que estuda as camadas de rochas,


determinando sua idade e origem. A estratigrafia teve início com William Smith
(1769-1839), que criou o sistema de classificação das camadas. Em 1815, ele
elaborou o primeiro mapa geológico de que se tem conhecimento (mapa geológico
da Inglaterra).

A idade dos estratos obedece à escala de tempo geológico (eras, períodos,


épocas). Ela serve tanto para a geologia quanto para a paleontologia.

20
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

Assim, conforme a profundidade em que um vestígio é encontrado,


é possível dizer, por exemplo, que ele pertencia ao Pleistoceno ou Mioceno. A
datação por estratigrafia é chamada de relativa, pois determina uma idade
aproximada do fóssil.

A arqueologia também usa a estratigrafia como forma de controle


e datação relativa, porém adaptada às suas necessidades, controlando as
sequências e camadas em que cada artefato é identificado. A forma como as peças
arqueológicas são depositadas no solo segue o princípio geral da estratigrafia,
ou seja, aquelas que estão mais próximas da superfície podem ser associadas
a ocupações humanas da área em um período mais recente. As peças que são
encontradas em níveis mais profundos do solo são consideradas mais antigas. Via
de regra, quanto mais profundo, mais antigo.

Assim, os estratos, ou camadas arqueológicas, vão se depositando ao longo


dos anos, séculos, milênios. O sítio arqueológico pode, então, ser comparado a
um bolo, com sucessivas camadas, uma sobre a outra, que são escavadas uma a
uma pelos pesquisadores.

FIGURA 6 – EXEMPLO DE UMA QUADRÍCULA QUE MOSTRA CAMADAS DE


UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO

FONTE: Aragão; Luiz; Lopes (2010)

b) Carbono 14

Este método foi desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial e permite


uma datação muito mais precisa. Através dele é possível identificar vestígios de
até 40.000 anos, com uma margem de erro de 200 anos.

Com o carbono 14 somente é possível estabelecer datações em fósseis de


seres vivos. Durante toda a sua vida, os seres vivos absorvem o carbono 14. No
momento de sua morte, a quantidade de carbono 14 começa a cair e são emitidos
elétrons. Assim, é calculada a quantidade de elétrons emitidos por minuto em
cada grama do material.
21
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Através do carbono 14 é possível determinar datas de carvões, fósseis


animais e vegetais, alguns artefatos, tintas vegetais, entre outros.

FIGURA 7 – ESQUEMA DE ABSORÇÃO DO CARBONO 14

O 14C é produzido Os átomos 14C reagem


na atmosfera com o O2 e formam o
dióxido de carbono

A planta absorve o
14CO2 e incorpora
o 14C através da
fotossíntese

A maior parte do 14C


é absorvido pelos
oceanos

Os animais e
pessoas absorvem
Quando um animal morre, o 14C através do
seu organismo cessa de consumo das
receber os átomos de plantas
carbono. De maneira que a
quantidade de 14C começa
a decair

FONTE: Adaptado de: <http://www.wwnorton.com/college/anthro/our-origins2/ch/08/


answers.aspx>. Acesso em: 24 abr. 2013.

c) Termoluminescência

A termoluminescência é utilizada para realizar datação de artefatos de


cerâmica. Segundo Pallestrini (1980, p. 39-40), “[...] a argila utilizada por um
artesão recebeu, durante anos, a radioatividade do solo ao qual ele pertencia. No
momento em que o pote moldado é levado ao fogo, perde toda a radioatividade
armazenada e alcança o ponto zero”.

Ao alcançar o “ponto zero”, a cerâmica começa a absorver novamente a


radioatividade do ambiente. Para verificar a quantidade de radioatividade de
uma cerâmica, os cientistas aquecem este artefato e verificam a quantidade de
radioatividade desprendida.

Esta forma de datação também é utilizada para datar solos próximos a


fogueiras. Consegue-se determinar, assim, há quantos anos a fogueira foi acesa.

22
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

d) Outras formas de datação e cronologia

Apesar de as três formas anteriormente descritas serem as mais usuais,


outras formas de datações são utilizadas:

• dendrocronologia – que estabelece uma datação a partir da análise dos anéis de


formação do tronco de uma árvore;

• varvas – que consiste na análise das camadas de formação dos depósitos de


argilas no fundo dos lagos, identificando sequências de datação geocronológica;

• ressonância eletrônica Spin (ESR) – que é a contagem de elétrons estimulados


por um campo magnético;

• potássio-argônio – baseia-se no princípio da desintegração radioativa. É


indicada para medir rochas vulcânicas muito antigas;

• sequência tipológica – consiste na ordenação das criações em uma sequência


cronológica aproximada, o que possibilita fazer uma dedução ou comparação
a partir do conhecido, associando tipos semelhantes.

FIGURA 8 – EXEMPLO DE COMO PODE SER FEITA UMA CLASSIFICAÇÃO


TIPOLÓGICA A PARTIR DE UMA EVOLUÇÃO ASSOCIADA AO
PERÍODO DE PRODUÇÃO

FONTE: Renfrew; Banh (1993)

2.5.2 Áreas de atuação


Conforme visto, a arqueologia é uma ciência transdisciplinar, ou seja,
para atingir seus objetivos, dialoga com diversas outras ciências. A formação de
um arqueólogo também pode ser bem diversificada, podendo atuar em áreas
especializadas ou trabalhar em conjunto com profissionais de diferentes áreas.
Vejamos alguns exemplos:

• Palinologia – estuda, através dos grãos de pólen, as mudanças ambientais


e climáticas, bem como a utilização de recursos vegetais pelas populações
passadas.
23
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

NOTA

Pólen é o conjunto de pequeníssimos grãos originários das flores.

• Bioantropologia – estuda os restos de ossos humanos, identificando sexo,


idade aproximada, doenças, entre outros indícios, que possam ter deixado
marcas ou constituição específica nos ossos humanos.

FIGURA 9 – EXEMPLOS DE GRÃOS DE PÓLEN DE ESPÉCIES VEGETAIS


(AMPLIADOS APROXIMADAMENTE 1.000 VEZES)

FONTE: Barth (2003)

NOTA

Para compreender melhor a aplicabilidade da palinologia na pesquisa


arqueológica, você poderá consultar o artigo: “Uso da Palinologia em Amostras Arqueológicas
de Própolis na Reconstituição da Vegetação Histórica de uma Região”. Ele está disponível para
acesso em: <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/184335/1/bp022.pdf>. A
referência completa você encontra ao final do Caderno de Estudos.

• Zooarqueologia – estuda os restos faunísticos identificados em sítios


arqueológicos, ou seja, os vestígios de animais que tenham sido usados como
alimentação, nas atividades domésticas etc.

• Análises líticas – estuda a fabricação e marcas de uso deixadas nos artefatos


feitos em pedras.

24
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

• Paleoparasitologia – estuda os agentes patogênicos associados a populações


antigas, o que possibilita avaliar epidemias, costumes e hábitos de nossos
antepassados.

• Arqueologia subaquática – que estuda os vestígios arqueológicos que se


encontram submersos em rios, lagos, oceanos etc. É uma adaptação do método
usado em solo e pesquisa, por exemplo, os navios que naufragaram na costa
brasileira durante o período colonial.

NOTA

Você pode realizar gratuitamente o download do “Livro Amarelo”, uma cartilha


muito interessante sobre arqueologia subaquática, no seguinte endereço eletrônico: <http://
www.arqueologiasubaquatica.org.br/>. Aproveite para navegar no site do Centro de Estudos
de Arqueologia Náutica e Subaquática da UNICAMP, lá você encontrará diversas informações e
notícias sobre este fascinante ramo da arqueologia.

• Arqueologia experimental – estuda e trabalha com a construção de réplicas


e experimentações atuais que possibilitem entender e auxiliar as explicações
sobre os vestígios arqueológicos. Através das experimentações os arqueólogos
procuram reproduzir a fabricação de instrumentos de rocha e cerâmica, por
exemplo, o que lhes permite entender melhor os objetos encontrados nas
escavações e as técnicas utilizadas pelos grupos pré-históricos para fabricá-los.

Estas são apenas algumas das tantas áreas de atuação que podem ser
associadas à arqueologia. Isto se justifica, entre outros motivos, pela maneira
dinâmica com que é composta nossa realidade e assim também foi a de nossos
antepassados.

E
IMPORTANT

Vale lembrar que as pesquisas arqueológicas não têm como objetivo apenas o
artefato em si, mas procuram, a partir do estudo destes artefatos, entender os sistemas e diferentes
áreas da vida social de quem os produziu. Isto quer dizer que os arqueólogos escavam as peças
arqueológicas para, através delas, entender melhor a vida das pessoas que as fabricaram.

25
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

3 HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA
A arqueologia como ciência teve seu início por volta do século XIX,
acompanhando o surgimento de tantas outras ciências no período, embora entre
gregos e babilônicos, muito antes da era cristã, já existisse o interesse por entender
o desenvolvimento humano e colecionar peças antigas.

3.1 ARQUEOLOGIA NA IDADE MÉDIA


Existem relatos de achados fósseis desde a Idade Média, no entanto, não
se acreditava que pertencessem a sociedades mais antigas. Muitas vezes eles
eram usados como amuletos e instrumentos mágicos. “Fósseis de animais pré-
históricos foram considerados restos de animais fantásticos, como ciclopes.”
(TRIGGER, 2004, p. 48).

Neste período, vários registros de povos pré-cristãos foram destruídos


para apagar as memórias pagãs, túmulos foram saqueados e ruínas destruídas.
A explicação para a origem humana baseava-se no criacionismo – acreditava-
se que toda a humanidade teria surgido no Oriente, expandindo-se para outros
continentes.

3.2 ARQUEOLOGIA NA IDADE MODERNA


Na Idade Moderna, o contato dos europeus com as sociedades americanas
revelou a existência de culturas diferenciadas. Antoine de Jussieu (1748-1836)
comparou artefatos líticos (de pedra) pré-históricos com os produzidos por
populações das ilhas caribenhas.

Das comparações realizadas por Jussieu, surgiu a hipótese de que as


sociedades europeias pudessem ter se assemelhado aos povos americanos em
um passado remoto.

As diferenças culturais dos povos das Américas eram explicadas pela


Teoria da Degeneração. Acreditava-se que quanto mais os povos se afastaram da
Palestina, mais primitivos eles se tornavam. (TRIGGER, 2004).

Os povos teriam se tornado nômades, pois perderam o conhecimento da


vida sedentária no processo de migração.

Nos séculos seguintes desenvolveu-se o antiquarismo, saber que


precedeu a arqueologia e se baseava no armazenamento e catalogação de peças
pré-históricas. No entanto, elas ainda não tinham valor como fonte de pesquisa.
Porém, foi um espaço onde, de forma mais institucionalizada, foram guardadas
e expostas as coleções que incluíram peças arqueológicas, são os populares
gabinetes de curiosidades.

26
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

FIGURA 10 – ILUSTRAÇÃO DO SÉCULO XVII, FEITA POR OLE WORM,


REPRESENTANDO UM GABINETE DE CURIOSIDADE

FONTE: Bahn (1999)

Os gabinetes de curiosidade funcionavam como um espaço de agregação


de coleções, que reuniam objetos de diversas espécies, como peças arqueológicas,
ossadas de animais, amostras minerais e outros artefatos relacionados
especialmente à história natural.

Estes espaços foram impulsionados, em grande parte, pelas novidades


trazidas à Europa, entre os séculos XVI e XVIII, com as grandes navegações e
descobrimentos.

3.3 ARQUEOLOGIA NA IDADE CONTEMPORÂNEA


A profissionalização na arqueologia ganhou impulso com os museus,
que através da classificação e descrição das peças arqueológicas, foram criando
espaço para o desenvolvimento de uma área específica, com os arqueólogos
profissionais.

No início do século XVII, o pesquisador Christian Jürgensen Thomsen


(1788-1865) elaborou o conceito das três idades. Ele trabalhava no museu
dinamarquês e, para organizar uma exposição, separou os artefatos pela tipologia
de sua composição, dando origem às famosas três idades: da Pedra, do Ferro e
do Bronze.
Conforme Renfrew e Bahn (1993), mais tarde, a primeira idade foi
subdividida em Paleolítico ou Antiga Idade da Pedra e Neolítico ou Nova Idade
da Pedra. Embora estas divisões não fossem aplicadas a todas as regiões, foram
importantes, pois estabeleceram o princípio de que estudando os artefatos pré-
históricos poder-se-ia fazer mais que simples especulações. Para os autores
citados, isto foi uma mudança para o estudo sistemático dos artefatos descobertos.

27
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 3 estudaremos a Pré-História na América e veremos que as três


idades não se aplicam a todas as regiões do globo.

O nascimento de ciências como a estratigrafia (William Smith, 1769)


também deu impulso ao saber arqueológico. O paleontólogo Georges Cuvier
(1769-1832) dizia que grandes ossadas (como as de mamute) pertenciam a animais
já extintos.

ATENCAO

Neste período acreditava-se que o homem havia surgido há apenas 4.000 anos;
assim, estes animais teriam desaparecido no dilúvio citado na Bíblia.

Foram realizadas também escavações em locais como Pompeia e Herculano


(Itália), América do Sul, Estados Unidos e Egito.

No século XIX, a teoria de Darwin trouxe profundas mudanças para a


pesquisa pré-histórica. Em seu livro “A Origem das Espécies”, Darwin propôs
que todas as espécies vivas estão em constante evolução, buscando se adaptar ao
meio. Assim, a espécie humana também teria sofrido transformações ao longo do
tempo.

Também o Conde de Gobineau, em “O Ensaio sobre a Desigualdade


das Raças” (1855), propunha a existência de três raças humanas. Segundo ele,
a miscigenação das raças diluiria aspectos positivos de uma raça; assim, os
europeus menos miscigenados eram superiores aos povos que se miscigenaram.

O Conde de Gobineau foi nomeado ministro da França no Brasil, em


1869, e não viu com bons olhos a mistura de povos existentes no país. Em um
relato racista ele afirma: “Já não existe nenhuma família brasileira que não tenha
sangue negro e índio nas veias; o resultado são compleições raquíticas que, se
nem sempre repugnantes, são sempre desagradáveis aos olhos” (apud SOUZA,
2006, p. 24).

28
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

E
IMPORTANT

O Conde de Gobineau foi um dos teóricos do racismo científico. Ou seja, usou


a “ciência” para justificar uma falsa superioridade europeia frente às outras populações,
especialmente indígenas e negras.

Por outro lado, influenciados pelas ideias de Darwin, os arqueólogos e


etnólogos acreditavam que as sociedades se encontravam em estágios diferentes
de evolução. A sociedade europeia teria evoluído do estágio selvagem à civilização,
porém existiam sociedades que permaneciam em estágios paleolíticos, como os
aborígenes australianos.

A etnografia e a arqueologia se completavam, pois era consenso que


determinados grupos étnicos eram “retratos vivos” de sociedades pré-históricas.
O estudo dessa “infância da humanidade” permitia que os arqueólogos
observassem o passado. Assim, várias pesquisas etnográficas foram realizadas na
África para compreender o modo de vida dos povos pré-históricos.

Nesta época, grande parte das pesquisas acreditava em um evolucionismo


unilinear, ou seja, que todas as sociedades passavam pelos mesmos estágios de
evolução, logo as sociedades europeias se encontrariam em um estágio mais
avançado de evolução.

E
IMPORTANT

As ideias no evolucionismo unilinear não são verdadeiras, as sociedades não


precisam necessariamente passar pelos mesmos sistemas evolutivos, de forma linear e
progressista.

No século XIX, a arqueologia também se voltava para grandes escavações,


como as realizadas no Egito. Muitas informações se perderam, já que os métodos
eram bem menos cuidadosos. Utilizava-se pá, picareta e até explosivos.

A pesquisa era coordenada por um arqueólogo chefe, que muitas vezes


deixava a direção a padres, enfermeiros e guardas. A mão de obra também não era
qualificada: nas escavações trabalhavam camponeses, operários desempregados,
militares e internos de manicômios. O principal objetivo das pesquisas era atender
encomendas dos Estados que queriam incrementar seu potencial turístico.

29
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

No final do século XIX e começo do século XX, a arqueologia se tornou


uma das ciências mais prestigiadas. Na Alemanha foi criada a Sociedade Alemã
para a Pré-História. O arqueólogo Gustav Kossina procedeu a pesquisas para
reconstituir a origem dos germanos.

NOTA

Existe uma corrente de estudo conhecida como “Arqueologia Crítica” que


escreve sobre a arqueologia e o poder, procurando mostrar como um pesquisador, em seu
tempo e espaço, pode se comprometer com uma determinada posição política e social.
Logo, a consciência desta posição pode ser, preferencialmente, ética e comprometida com
uma realidade mais justa.

A localização de adagas de sílex demonstrava o apreço dos germanos pela


guerra, enquanto que as trombetas de bronze comprovavam sua superioridade
musical. Chegou-se mesmo a afirmar que o alfabeto não foi criado pelos fenícios,
mas pelos germanos. Um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, Hitler
também encomendou pesquisas arqueológicas. Seu objetivo era comprovar que
os germanos habitaram primeiro regiões como a Polônia. Assim, justificava-se a
anexação.

Outros povos, como os franceses, também empreenderam pesquisas para


reconstituir a origem dos gauleses. Parte dos achados feita em Paris ocorreu na
grande reforma urbana do século XIX.

Por volta dos anos 60, a arqueologia passa por mudanças, acompanhando
outras ciências. Na Inglaterra, o pesquisador Gordon Childe (1892-1957) defendia
que cada grupo humano deveria ser estudado em seu desenvolvimento específico.

Não existia mais uma linha do tempo única, na qual os indígenas estavam
no estágio Paleolítico e os europeus na História contemporânea. Agora, cada
povo tinha sua própria trajetória.

Alinhando-se a novas correntes da antropologia, Gordon Childe acreditava


que as técnicas eram criadas em uma região e iam se difundindo para as regiões
vizinhas.

A arqueologia agora não existe mais “[...] para comprovar estágios


evolutivos de sociedades do presente, mas para estudar os povos pré-históricos”.
(PALLESTRINI, 1980, p. 26).

30
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

As teorias de Childe foram superadas pela arqueologia culturalista, que


defendia a criação cultural de cada cultura sem estar associada necessariamente a
regiões vizinhas. Os métodos arqueológicos também se modificaram nas últimas
décadas, tornando-se muito mais cuidadosos e especializados.

NOTA

Você sabe o que é difusionismo? É uma corrente teórica que foi muito usada na
antropologia e que acredita que uma inovação acontece em uma região, central, e se espalha
para a periferia. O seu uso exagerado, por um grupo de pesquisadores ingleses, chamou-se
hiperdifusionismo, eles acreditavam que as principais invenções humanas tinham origem
no Egito. No Brasil as ideias difusionistas foram empregadas de maneira errada por alguns,
que usavam os fenícios como criadores de gravuras espalhadas pelo Brasil, negando assim a
capacidade dos indígenas brasileiros de fazê-las.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a), uma análise muito interessante da história da arqueologia


é feita em Trigger (2004). Além disso, Funari (2002, 2003) e Pallestrini (1980) trazem boas
informações sobre os métodos arqueológicos. A referência completa destes autores você
encontra ao término do caderno.

3.3.1 Atuação dos arqueólogos no Brasil


A pesquisa arqueológica no Brasil, atualmente, é desenvolvida de
diferentes formas e em diferentes contextos. Os arqueólogos podem desenvolver
seu trabalho, de maneira geral, de duas formas. Uma delas é trabalhar em uma
instituição de pesquisa e ensino, pública ou privada. Neste contexto o arqueólogo
realiza suas pesquisas no âmbito de projetos específicos, além de lecionar
diferentes disciplinas.

Outra atuação da arqueologia que vem sendo muito difundida no Brasil


nas últimas décadas é a chamada “arqueologia preventiva” ou “arqueologia por
contrato”. Neste contexto o arqueólogo volta suas pesquisas para o licenciamento
ambiental de obras de infraestrutura, como construção de estradas e redes de
energia, por exemplo. Todos estes empreendimentos, para ser efetuados,
precisam passar por diversas análises de impacto ambiental, o chamado EIA/
RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental).

31
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Como o patrimônio arqueológico é um bem da União, patrimônio


público, este é protegido por diversas leis, inclusive pela Constituição Federal
de 1988. Isto quer dizer que a destruição deste patrimônio acarreta crime federal,
razão pela qual a pesquisa arqueológica faz parte dos estudos de impacto acima
mencionados. Assim, antes de construir qualquer obra que possa destruir um sítio,
os empreendedores contratam arqueólogos que realizam as pesquisas necessárias
para garantir a proteção dos vestígios arqueológicos e liberar a implantação das
obras. É a arqueologia preservando o passado sem prejudicar o futuro.

DICAS

Para maiores informações sobre a arqueologia preventiva você pode consultar


o artigo: “Arqueologia de Contrato no Brasil”, publicado em revista da USP e disponível para
download gratuito na internet no seguinte endereço: <http://www.usp.br/revistausp/44/04-
solange.pdf>.

DICAS

Você se interessou pela arqueologia? A seguir você encontra uma lista de


websites e livros nos quais poderá encontrar maiores informações a respeito do assunto.
Aproveite a leitura e viaje por esta fascinante área do conhecimento.

Websites interessantes:
• Sociedade de Arqueologia Brasileira: <http://www.sabnet.com.br/>
• Arqueologia Brasileira (Itaú Cultural Virtual): <http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/>
• Arqueologia Digital: <http://arqueologiadigital.com/>
• História e-história (seção Arqueologia): <http://www.historiaehistoria.com.br/indice.
cfm?tb=arqueologia>

Artigo recomendado:
• Artigo: Como se tornar arqueólogo no Brasil, de Pedro Paulo de Abreu Funari, disponível
em: <http://www.usp.br/revistausp/44/05-pedropaulo.pdf>

Livros:
• Arqueologia, de Pedro Paulo de Abreu Funari
• O Brasil antes dos brasileiros, de André Prous
• Arqueologia brasileira, de André Prous
• Os índios antes do Brasil, de Carlos Fausto
• Pré-História do Brasil, de Pedro Paulo de Abreu Funari e Francisco Silva Noelli
• História do pensamento arqueológico, de Bruce G. Trigger

32
TÓPICO 2 | ARQUEOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

[...]

HISTÓRIA DA CULTURA MATERIAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Alexandre Guida Navarro e Déborah Gonsalves Silva

O historiador Assunção Barros (2009) destaca a similaridade de critérios


de análise historiográfica existente entre a história da cultura material, a história
política ou história da cultura, explicando que os materiais constituem o alicerce
da vida em sociedade. Assim podemos pensar que ocorre determinada interação
entre essas modalidades e a história da cultura material, à medida que esta se
utiliza das fontes materiais em estudos sobre diferentes aspectos da vida humana,
perpassando as relações cotidianas, culturais e de poder.

Pensando à maneira de Foucault, todos os objetos são construídos como


objetos de discurso e, portanto, sofrem influências políticas. Do mesmo modo
que a produção desses objetos materiais, o uso dessas fontes é carregado de
intencionalidades e muitas vezes utilizado para afirmar conceitos como o de
identidade nacional (FUNARI, 2001b; 2005; FUNARI; ZARANKIN, 2005).

Apesar das relações de poder que as envolve, a cultura material torna-se


muito importante para uma compreensão mais ampla da sociedade, visto que
estas pesquisas partem não apenas do objeto em si, mas também da análise a
partir de diferentes visões e contextos. Nesse caso, a cultura material por meio
da arqueologia dá luz a novas informações e a uma nova perspectiva no fazer
historiográfico, provocando discussões em torno de pensar um revisionismo na
História.

Por muito tempo a arqueologia foi vista como uma disciplina auxiliar da
História e da antropologia. Até 1960 o pensamento dominante considerava que
“A arqueologia tinha como propósito a simples coleção, descrição e classificação
de objetos antigos”. (FUNARI, 2003, p. 15). A partir de 1960, surge nos Estados
Unidos um movimento que apresenta uma nova arqueologia, que entende a
arqueologia como o “[...] estudo da cultura material que busca compreender as
relações sociais e as transformações na sociedade” (FUNARI, 2003, p. 15).

Partindo desse pressuposto, podemos pensar na subjetividade revelada


nos estudos arqueológicos, à medida que a reconstituição do arqueólogo depende
de sua interpretação, bem como de estudos prévios a respeito da estruturação
social, cultural, política e econômica daquele povo no período estudado, ou seja,
o contexto em que aquele artefato estava inserido.

33
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Hoje compreendemos que o papel do arqueólogo vai muito além do ato


de escavar objetos, está em perceber que os artefatos atuam como “indicadores
de relações sociais” e também como “mediadores das atividades humanas”
(FUNARI, 2003, p. 15). Deste modo, o arqueólogo passa a fazer uma leitura das
relações sociais à medida que procura compreender, a partir da cultura material,
como essas relações eram estabelecidas (HODDER, 1988).

Nesse caso, as perguntas que norteiam o processo de investigação do


arqueólogo estão além de um pedaço de cerâmica. É preciso compreender, no seu
processo de produção e utilização, quais as intencionalidades e simbologias que
o cercam. Pensar as mudanças ocorridas na História e na arqueologia ao longo do
século passado nos permite crer no domínio dessas possibilidades de intervenção
e de escrita da História cada vez maior.

De acordo com Funari (2003, p. 98):

A arqueologia cada vez mais deve voltar-se para as disciplinas que


refletem sobre o destino da cultura material que ela estuda, e o
caminho que se tem proposto é a colaboração da população em geral
de maneira que esta possa ajudar a definir os usos desse material e
mesmo sua interpretação.

São inúmeras as possibilidades de interpretar a vida humana a partir da


cultura material, tanto a História como a arqueologia devem atuar em parceria
no processo de investigação dos “rastros” deixados pelo homem no passado. O
debate em torno dessas transformações epistemológicas é pertinente, assim como
a participação da comunidade na construção do conhecimento.

Para finalizar, apesar das diferenças conceituais entre História e


arqueologia, as duas disciplinas estão em constante diálogo. Aliás, dentro de
correntes arqueológicas mais recentes, o próprio artefato pode ser considerado um
texto. Neste sentido, ele pode ser lido. Isto evidencia que, apesar da importância
da escavação na atividade arqueológica, existe uma preocupação efetiva com
relação à natureza teórica da disciplina, bem como as diferentes metodologias
que podem ser empregadas para a análise do artefato, pois o objeto não fala por
si mesmo, é o arqueólogo que o interpreta dentro de seu contexto.

FONTE: Adaptado de: HISTÓRIA e arqueologia: alguns debates. Disponível em: <http://www.
historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=arqueologia&id=55>. Acesso em: 24 abr. 2013.

34
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:

• O estudo da Pré-História é feito por um conjunto de ciências como a arqueologia e


a geologia.

• A arqueologia não estuda os dinossauros.

• A partir da arqueologia, podemos reconstituir o modo de vida das sociedades


pré-históricas e históricas.

• As etapas das atividades arqueológicas se dividem, entre outras, em


levantamento, pesquisa de campo, análise de laboratório e publicação.

• Os métodos de datação mais usuais são o carbono 14, a termoluminescência e


a estratigrafia (cronologia relativa).

• A arqueologia como ciência teve início no século XIX.

• A teoria de Darwin e a estratigrafia serviram de base para a arqueologia.

35
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conteúdos estudados neste tópico, responda às questões a seguir:

1 “A pesquisa de campo é realizada cuidadosamente, utilizando técnicas e


instrumentos com precisão para coletar materiais arqueológicos encontrados
em superfície e realizar escavações em áreas delimitadas do sítio arqueológico”.
(HERBERTS; COMERLATO, 2003, p. 36). Além da pesquisa de campo, quais
são as outras etapas da pesquisa arqueológica? Que práticas são realizadas
em cada uma delas?

2 Descreva os vários métodos de datação de vestígios.

3 Quais foram os vários momentos da história da arqueologia?

36
UNIDADE 1
TÓPICO 3

TEORIA DE DARWIN

1 INTRODUÇÃO
Algumas das principais questões da nossa história enquanto humanos
são: quem somos?, qual a nossa origem?. Se hoje parece simples iniciar o debate,
embora nem sempre seja possível chegar a um acordo, em épocas passadas não
havia espaço para discussões.

Até a segunda metade do século XVIII, na Europa, estas perguntas tinham


uma única resposta, o pensamento religioso fundamentado no livro de Gênesis.

NOTA

Nem sempre foi esta a realidade, os gregos, por exemplo, acreditavam que Gaia
era a personificação divina da Terra. Os egípcios acreditavam que a Terra surgiu do rio Nilo,
entre diversas outras explicações.

No entanto, com o desenvolvimento econômico e o crescente processo de


industrialização, os Estados, especialmente os europeus, começaram a acreditar
cada dia mais na ciência, que começou a ganhar espaço na explicação e justificação
da realidade, em um terreno que antes pertencia à Igreja.

Desta maneira no século XVIII, também chamado de “século das luzes”,


um movimento cultural chamado Iluminismo, ou Idade da Razão, foi encontrando
respostas racionais, ou seja, baseadas na ciência, para as questões inquietantes da
humanidade. A ciência deveria, então, possuir o controle científico pela busca da
verdade.

No fim do século XVIII, alguns eruditos, entre os quais se encontrava


Lamarck, começaram a discutir uma alternativa científica para a narrativa bíblica
sobre nossa origem, em uma corrente de pensamento que ficou conhecida como
transformismo. Mais tarde o transformismo ficou conhecido como evolucionismo.
Eles começaram a cogitar que nosso processo de “criação” era dinâmico, logo
poderia haver evolução ou substituições das espécies.

37
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

NOTA

Em oposição ao transformismo havia o fixismo, aqueles que acreditavam que as


espécies eram imutáveis, ou seja, toda natureza, criada por um ser supremo, era inalterável.

Nesta sequência, no século XIX, a teoria de Darwin se constitui como


explicação científica para o surgimento e a evolução de todas as espécies que
habitam a Terra.

Segundo ele, todos os organismos vivos estão em constante evolução,


para adaptar-se ao meio e garantir a sobrevivência da espécie. Ao longo deste
tópico, você verá os principais conceitos da teoria darwiniana, bem como outros
autores do período.

2 TEORIA DE DARWIN
Cada povo criou explicações diferenciadas para a criação do universo e o
surgimento do homem na Terra. Os povos indígenas, islâmicos, cristãos, celtas,
vikings, cada um, enfim, tem sua própria cosmogonia.

NOTA

Cosmogonia é o termo que abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens


do universo de acordo com a religião e a mitologia de cada povo.

Na teoria cristã, conhecida como criacionista, Deus criou a Terra e o


homem. Toda a humanidade seria descendente de Adão e Eva.

A cosmogonia iorubá conta que no início dos tempos havia dois mundos:
Orum, ambiente dos orixás ou mundo espiritual, e Aiyê, espaço dos homens ou
mundo físico. Para os índios kaingang os irmãos Kamé e Kairu criaram a natureza
e as regras de conduta para os homens.

Além das explicações religiosas, desenvolveram-se no século XIX teorias


científicas que explicavam a origem do universo, do homem e de sua evolução.

38
TÓPICO 3 | TEORIA DE DARWIN

2.1 TEORIAS EVOLUTIVAS


A teoria da evolução do homem e de todas as outras espécies começou a ser
delineada no século XIX, primeiramente por Jean Baptiste Lamarck (1744-1829).
Filho de pequenos nobres da França, Lamarck se tornou naturalista, trabalhando
no Museu de História Natural de Paris.

Após a realização de uma pesquisa com moluscos, ele propôs que as


espécies sofrem mutações ao longo do tempo. Essas transformações eram
explicadas através de duas leis:

• lei do uso e do desuso: todas as espécies perdem ou adquirem características,


conforme elas são utilizadas;

• lei das características adquiridas: as mudanças do ambiente afetam os


indivíduos. As mudanças no organismo são transmitidas através das gerações.

Lamarck defendia a geração espontânea dessas mudanças, elas


simplesmente aconteciam ao longo do tempo. A teoria de Lamarck foi contestada
em 1876 por August Weismann (1834-1914), que cortou a cauda de várias gerações
de camundongos para comprovar que eles continuavam a nascer com cauda.

A teoria de Lamarck serviu de base mais tarde para Charles Darwin.

Outro pesquisador que também chegou ao princípio da seleção natural,


independente das ideias de Darwin, foi Alfred Russel Wallace (1823-1913) que,
em 1858, comunicou os resultados de suas pesquisas a Linnean Society de Londres.

Ao avaliar a obra de Wallace, Carmo, Bizzo e Martins (2009, p. 211)


apontam várias semelhanças entre seu trabalho e o de Darwin, como a crença
na luta pela existência que ocorre na natureza, “[...] onde o indivíduo mais bem
adaptado sobrevive e deixa mais descendentes do que o menos adaptado, o que
conduz ao declínio de sua variedade ou espécie, eventualmente conduzindo-a à
extinção”. Wallace não usa a expressão “seleção natural”.

Para Carmo, Bizzo e Martins (2009, p. 43) “[...] os conceitos de luta


pela existência, seleção natural e diversidade foram observados na natureza e
admitidos por ambos naturalistas”, embora sigam percursos diferenciados e em
outros casos cheguem a conclusões diferentes.

39
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

FIGURA 11 – WALLACE FOTOGRAFADO EM 1848 E CHARLES DARWIN, EM 1854

FONTE: Carmo, Bizzo e Martins (2009)

2.2 O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DARWINISTA


Entre 1831 e 1836, Darwin realizou uma viagem de quase dois anos a
bordo do barco Beagle, na qual começou a desenvolver sua teoria. Nesta viagem,
Darwin coletou vários exemplares de pássaros conhecidos como tentilhões.

Inicialmente ele acreditava serem de espécies diferentes, mas, ao retornar


à Inglaterra, um especialista em pássaros desmentiu essa hipótese. Darwin notou
que cada um desses pássaros apresentava características diferentes, conforme a
região que habitava. Alguns pássaros possuíam bico longo, outros, curto, alguns,
penas coloridas e, outros, acinzentadas.

Observando o ambiente em que esses animais viviam, ele constatou que


as diferenças sempre estavam relacionadas a adaptações sofridas por eles. Os
pássaros de penas cinza, por exemplo, viviam em regiões pedregosas. As penas
cinza possibilitavam a defesa dos predadores.

Já com os pássaros de bico longo, esta adaptação facilitava a captura de insetos.

FIGURA 12 – EXEMPLOS DE TENTILHÕES ESTUDADOS POR DARWIN -


GRAVURAS DE JOHN GOULD

1. Geospiza magnirostris 2. Geospiza fortis


3. Geospiza parvula 4. Certhidea olivacea
FONTE: Wyhe (2002)

40
TÓPICO 3 | TEORIA DE DARWIN

Outro exemplo interessante é o de uma flor encontrada em Madagascar.


Ele observou que o receptáculo para néctar media 28 centímetros. Concluiu então
que deveria haver uma mariposa com um probóscide.

NOTA

Probóscide é a tromba ou aparelho bucal de 28 centímetros para extrair o néctar.


Os cientistas descobriram essa mariposa 40 anos depois, confirmando a teoria de Darwin.

Para Darwin, os indivíduos mais adaptados ao meio acabavam


sobrevivendo, pois chegavam à idade reprodutiva. Segundo ele, as adaptações
ocorrem por meio de dois processos:

• seleção: os indivíduos mais adaptados sobrevivem e os menos adaptados


morrem;

• especiação: modificações adaptativas ao longo de milhares de anos.

Em 1858, Darwin publica o livro “A Origem das Espécies”, que é


considerado um dos livros mais influentes da história da ciência.

Para Carmo, Bizzo e Martins (2009, p. 222) os princípios do darwinismo


são:

• Diversidade na espécie – os indivíduos de uma espécie não são todos iguais.

• Luta pela vida – os seres vivos produzem muitos descendentes, mas poucos
chegam à fase adulta para reproduzir-se; por isso o número de indivíduos de
cada espécie se mantém constante ao longo das gerações.

• Seleção natural – somente os mais aptos sobrevivem porque são mais ajustados
(adaptados) às condições ambientais, de modo que cada geração aprimora o
grau de adaptação conseguido por seus ancestrais.

2.3 A EVOLUÇÃO HUMANA


Quando a teoria da evolução foi elaborada, fósseis de homens pré-
históricos já haviam sido encontrados.

A origem dos primeiros ancestrais humanos teria ocorrido na África, por


volta de 4,5 milhões de anos, com modificações climáticas que tornaram a vegetação
mais rasteira (savanas).

41
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Com a impossibilidade de conseguir alimentos nas árvores, um grupo


de primatas teria descido das árvores e ocasionado uma separação das famílias.
Surgiu, assim, a família dos hominídeos.

NOTA

O homem pertence à família de hominídeos e difere dos outros primatas pelo


tamanho do crânio, dentes, polegares etc.

Esta família deu origem ao Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus,


Homem de Neanderthal e Homo sapiens-sapiens. A família dos macacos teve o seu
processo de evolução, resultando nos macacos atuais.

TUROS
ESTUDOS FU

Na Unidade 2 voltaremos a estudar a origem do homem e a evolução humana.

ATENCAO

Caro(a) acadêmico(a), um dos erros mais comuns é afirmar que o homem


descende dos macacos. Isso não ocorre. Os dois têm um ancestral em comum, mas são de
famílias diferentes. O homem e o macaco teriam apenas um “tataravô” em comum.

42
TÓPICO 3 | TEORIA DE DARWIN

FIGURA 13 – EXEMPLO DE UMA CARICATURA INGLESA EM QUE DARWIN


APARECE COM O CORPO DE UM MACACO

FONTE: Wyhe (2002)

E
IMPORTANT

Nem sempre o evolucionismo foi utilizado com boas intenções. Uma corrente
de pensadores seguiu ideias conhecidas como “evolucionismo social” também conhecido
como “racismo científico”, em que se justificava a superioridade de grupos a partir da evolução
de “raças inferiores” e “raças superiores”, “primitivos” e “civilizados”, entre outras comparações
qualitativas.

Com o tempo o conceito de raça é substituído pelo conceito de cultura e


é negado enquanto fundamento biológico, embora sua utilização enquanto um
conceito político-social ainda seja atual e aconselhada para discutir as questões
identitárias e de combate ao racismo.

43
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

DICAS

Para aprofundar a questão leia: MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem


conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Disponível em: <http://www.
geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/afrobrasileiros-e-suas-lutas/2264-kabengele-
munanga-uma-abordagem-conceitual-das-no%C3%A7%C3%B5es-de-ra%C3%A7a,-racismo,-
identidade-e-etnia>. Acesso em: 5 abr. 2012.

Sobre a teoria de Darwin, existem alguns pontos importantes que você


deve lembrar:

• evolução não quer dizer melhora, apenas adaptação. O homem atual


dificilmente sobreviveria nas condições em que viviam os Australopithecus;

• todos os organismos vivos evoluem;

• a evolução é permanente.

Quando Darwin escreveu “A Origem das Espécies” (1858), foi muito


criticado pelos criacionistas. Parte das críticas se deveu a uma interpretação
equivocada de suas ideias.

Caricaturas traziam o cientista retratado com corpo de macaco. No entanto,


ele nunca afirmou que o homem descendia do macaco, mas, sim, que tinham um
antepassado em comum.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a), ao abordar a teoria de Darwin em sala de aula, lembre-


se de apresentá-la como a explicação científica e não a explicação necessariamente mais
correta. Respeite a crença dos alunos e aproveite a ocasião para realizar debates.

44
TÓPICO 3 | TEORIA DE DARWIN

LEITURA COMPLEMENTAR

O HUMANISMO DE DARWIN

Para muitas pessoas, especialmente as mais religiosas, as ideias de Charles


Darwin, o naturalista inglês que no século XIX propôs a teoria da evolução por
seleção natural, são um ultraje: afirmar que nós, homens e mulheres, sofisticados
e conscientes, nada mais somos do que “macacos” evoluídos é inaceitável.
Especialmente ao contrastarmos essa visão vil da humanidade com a da Bíblia,
que nos coloca tão perto de Deus, criados por Ele à sua imagem e semelhança. De
semideuses a macacos é um pulo enorme.

Como não poderia deixar de ser, as ideias de Darwin criaram uma


imensa controvérsia. Ele mesmo preferiu evitar a exposição de disputas públicas,
deixando que outros o defendessem, como é o caso de T. H. Huxley, o biólogo que
se tornou o “buldogue” de Darwin. [...]

[...]

Para ele, a incrível variação da vida é consequência essencialmente de dois


fatores: intervalos de tempo geológicos, muito além do que contemplamos nos
70 ou 80 anos que vivemos, e mudanças que podem ser passadas de geração em
geração. Darwin não sabia ainda como quantificar essas mudanças através das
mutações genéticas, mas sua teoria antevê o mecanismo básico das transformações
entre animais responsável pela diversidade da vida.

[...]

É essa a função de qualquer teoria científica, seja ela em física, química


ou biologia: descrever o maior número de fenômenos ou observações do mundo
natural a partir do menor número de princípios, sem qualquer intervenção de
entidades sobrenaturais. Todas as respostas para os mistérios da natureza, da
origem das espécies à formação do Sol e dos planetas, podem ser encontradas na
própria natureza. O estilo de Darwin é o da insistência, a famosa frase latina “guta
cavat lapidem” (água mole em pedra dura), exaustivamente anestesiando qualquer
possibilidade de resistência por parte do leitor.

[...]

Em seus escritos, Darwin mostra que o homem não é mais apenas a


medida de todas as coisas; todas as coisas podem ser medidas por ele. [...]
FONTE: Adaptado de: GLEISER, Marcelo. Micro macro. Mais reflexões sobre o homem, o tempo
e o espaço. São Paulo: Publifolha, 2007. v. 2. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/
ciencia/ult306u500158.shtml>. Acesso em: 10 abr. 2012.

45
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:

• Jean Baptiste Lamarck criou os primeiros fundamentos da teoria evolucionista.

• Para Lamarck, as mudanças ocorriam determinadas por duas leis: lei do


desuso, lei das características adquiridas.

• Wallace, em 1858, também apresenta ideias sobre a evolução.

• Para Darwin, a evolução ocorre através da especiação e da seleção.

• O evolucionismo apresentou uma explicação científica para evolução,


contrastando com as explicações religiosas, antes predominantes.

• Na seleção natural, os indivíduos mais aptos conseguem sobreviver e deixar


descendentes.

• Na especiação, os organismos modificam suas características ao longo de


milhares de anos para adaptar-se ao meio.

46
AUTOATIVIDADE

Para fixar o conteúdo estudado neste tópico, responda às questões a seguir:

1 Antes de Charles Darwin, Jean Baptiste Lamarck delineou os princípios de


uma teoria evolutiva. Quais eram as ideias defendidas por Lamarck?

2 Segundo Darwin, a evolução das espécies ocorre através da especiação e da


seleção. Explique esses dois mecanismos.

3 Por que é incorreto dizer que o homem descende do macaco?

47
48
UNIDADE 1
TÓPICO 4

A FORMAÇÃO DO UNIVERSO

1 INTRODUÇÃO
Assim como as perguntas fundamentais sobre nossa origem enquanto
humanos, a origem do universo também foi um questionamento central de
vários povos, e, embora as respostas científicas só recentemente tenham sido
fundamentadas, desde a Antiguidade houve interesse por compreender o
universo e os eventos astronômicos.

É sabido que os gregos, maias, incas, chineses e egípcios já possuíam um


conhecimento astronômico, bem como explicações sobre a origem do universo
(cosmogonia).

NOTA

Cosmogonia é a explicação sobre a origem do universo e cosmologia versa


sobre a estrutura do universo.

Steiner (2006) aponta que várias foram as explicações sobre a cosmologia


do universo:

• cosmologia da terra plana: a partir da experiência do cotidiano acreditava-se que o


mundo em que vivemos era plano;

• modelos geocêntricos: os gregos propuseram a ideia de um universo esférico: a


Terra estava parada no centro do universo, circundada por objetos celestes que
descreviam órbitas geométricas e previsíveis e também pelas estrelas fixas;

• teoria heliocêntrica: ideia de que o Sol está no centro do universo e de que a Terra
gira em torno dele.

Atualmente, para a origem do universo, a Teoria do Big Bang é a mais


aceita. Segundo ela, toda a matéria que existe teria se originado por volta de 15
bilhões de anos atrás, com uma grande explosão. Ao longo de bilhões de anos,

49
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

essa matéria foi se condensando e resfriando, dando origem às galáxias. Neste


tópico você verá como ocorreu esse processo e também como se dividem os
períodos geológicos.

2 FORMAÇÃO DO UNIVERSO
De acordo com a Teoria do Big Bang, uma grande quantidade de matéria
se concentrava em um único ponto, muito quente e denso. Por volta de 15 bilhões
de anos, a agitação molecular no interior do ponto causou uma grande explosão,
provocando uma expansão para todos os sentidos.

NOTA

O astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953) comprovou essa teoria


mostrando que o universo está em expansão contínua. Outro argumento prova da teoria é
a radiação cósmica de fundo, descoberta por Arno Penzias e Robert Wilson. Disponível em:
<http://atlas.zevallos.com.br>. Acesso em: 11 out. 2006.

Os momentos posteriores ao Big Bang podem ser divididos da seguinte


forma:

• 0 (zero) segundos – início da formação do universo;

• 10 - 43 segundos – surgimento do espaço, tempo e energia e partículas;

• 3 minutos – combinação das partículas entre si, dando origem ao hélio e


hidrogênio;

• 4,5 bilhões de anos – formação do sistema solar.

Nos momentos seguintes à explosão, existiam partículas de prótons


e nêutrons que se combinaram, dando origem ao hélio e ao hidrogênio. O
resfriamento do universo a uma temperatura de 3.300ºC possibilitou a união
dos elétrons com núcleos de hidrogênio e hélio, surgindo os primeiros átomos.
Observação importante:

• a união de elementos químicos mais leves originou as estrelas;

• a união de elementos químicos mais pesados originou os planetas.

50
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DO UNIVERSO

2.1 FORMAÇÃO DA TERRA


De acordo com a teoria da condensação, após o surgimento das estrelas, a
união de elementos mais pesados deu origem aos planetas.

No primeiro momento após a formação, a temperatura da Terra era tão alta


que a superfície era composta de um mar de rochas e metais derretidos; ainda não
havia água no planeta.

Ao longo de centenas de milhões de anos, o resfriamento causou a


solidificação da estrutura externa, formando a crosta. Essa superfície era pontilhada
de vulcões que expeliam gases, formando a atmosfera.

Num momento posterior, o vapor expelido pelos vulcões condensou-se,


originando as chuvas. Das chuvas surgiram os mares e oceanos, berço das primeiras
formas de vida terrestres – estruturas unicelulares e algas verdes.

2.2 PERÍODOS GEOLÓGICOS


A longa evolução do nosso planeta é dividida em eras, que são unidades
de tempo contadas em bilhões ou milhões de anos, subdivididas em períodos,
subperíodos e épocas. Estas divisões foram estabelecidas pela geologia e pela
estratigrafia, que vamos ver mais adiante. O tempo geológico é dividido da
seguinte forma:

• era Pré-Cambriana – 4 bilhões de anos;

• era Paleozoica – 300 milhões de anos;

• era Mesozoica – 130 milhões de anos;

• era Cenozoica – a partir de 69 milhões de anos.

2.2.1 Era Pré-Cambriana


Também chamada de Proterozoica ou primitiva, iniciou por volta de
4 bilhões de anos e terminou aproximadamente há 500 milhões de anos. Foi o
período de formação das rochas e do surgimento das algas verdes.

51
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

2.2.2 Era Paleozoica


A era Paleozoica inicia em 500 milhões de anos e termina em 193 milhões
de anos. Esta era divide-se nos seguintes períodos:

a) Cambriano – surgimento de seres marinhos com conchas e peixes com


carapaças;

b) Ordoviciano – surgimento dos corais, ouriços e peixes com barbatanas;

c) Siluriano – mais grupos de peixes e primeiras plantas terrestres;

d) Devoniano – “idade dos peixes”, enorme variedade de peixes, insetos e anfíbios;

e) Carbonífero – samambaias e anfíbios gigantes, carvão;

f) Permiano – aparecimento dos répteis.

2.2.3 Era Mesozoica


A era Mesozoica teve início há 193 milhões de anos e terminou por volta
de 60 milhões de anos. Divide-se em:

a) Triássico - domínio dos répteis na Terra. Surgimento dos grandes répteis como
o dinossauro, adaptação de alguns répteis à vida marinha.

b) Jurássico - reinado dos dinossauros na Terra, surgimento das aves.

c) Cretáceo - surgimento das flores, extinção dos dinossauros no fim do período.

2.2.4 Era Cenozoica


A última era geológica inicia por volta de 60 milhões de anos e se estende
até os dias atuais. Suas épocas são:

a) Paleoceno – desenvolvimento dos pequenos mamíferos;

b) Eoceno – aparecem mamíferos maiores e grandes pássaros;

c) Oligoceno – surgimento dos mamíferos atuais, extinção de grandes pássaros;

d) Mioceno – mudanças climáticas, diminuição das florestas e aparecimento


das savanas, cavalos, rinocerontes e elefantes. Surgimento dos primeiros
hominídeos (Australopithecus);

52
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DO UNIVERSO

e) Plioceno – peixes com osso dominam o mar, animais terrestres do período se


assemelham aos atuais;

f) Pleistoceno – “Idade do Gelo”, surgimento de hominídeos como o Homem de


Neanderthal;

g) Holoceno ou atual – temperaturas estáveis e desenvolvimento das civilizações


humanas.

E
IMPORTANT

Você viu que os dinossauros surgem e desaparecem na era Mesozoica,


enquanto os primeiros hominídeos só apareceram na época miocênica, da era Cenozoica,
com milhares de anos de diferença entre si. Logo realidades como as apresentadas nos
Flintstones ou no almanaque de Piteco & Horácio, entre tantos outros, nunca poderiam ter
acontecido.

FIGURA 14 – ERAS GEOLÓGICAS


ERA PERÍODO * LIMITES TEMPORALES
ÉPOCA APROXIMADOS FORMAS DE VIDA ORIGINADAS
Reciente u holoceno 10.00
CUATERNARIO Pleistoceno 2.500.000 Seres humanos
CENOZOICO
Plioceno 12.000.000
Mioceno 26.000.000 Mamíferos
TERCIARIO Oligoceno 38.000.000 ruminantes
Eoceno 54.000.000 y carnivoros
Paleoceno 65.000.000

MESOZOICO Cretácico 136.000.000 Primatas – Plantas con flor


Jurásico 195.000.000 Aves
Triásico 225.000.000 Dinosaurios – Mamíferos
Pérmico 280.000.000
320.000.000 Reptiles -
CARBONÍFERO
PALEOZOICO 345.000.000 Bosques de helechos
Devónico 395.000.000 Anfibios – Insectos
Silúrico 430.000.000 Plantas terrestres vasculares
Ordovícico 500.000.000 Peces – Cordados
Cámbrico 570.000.000 Crustáceos – Trilobites

PRECÁMBRICO 700.000.000 Algas


1.500.000.000 Células eucarióticas
3.500.000.000 Células procarióticas
4.650.000.000 +
Formación de la Tierra

FONTE: Disponível em: <http://humanidadeemegafauna.blogspot.com.br/2010/05/10.html>.


Acesso em: 24 abr. 2013.

Para determinar a idade geológica da Terra, os pesquisadores analisam


vários elementos, como, por exemplo, a idade das rochas. De acordo com a
origem, as rochas estão divididas em magmáticas, sedimentares e metamórficas.

53
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

As pesquisas geológicas auxiliam a arqueologia na reconstrução do


passado humano, determinando informações como o clima e a vegetação dos
períodos.

3 FORMAÇÃO DOS CONTINENTES


Considerando a formação das costas africana e brasileira, o meteorologista
Alfred Lothar Wegener (1880-1930) escreveu em 1912 o livro “Teoria da Deriva
Continental”. Este livro propôs que, num tempo muito remoto, todos os
continentes estavam unidos, formando a Pangeia.

E
IMPORTANT

A partir de 200 milhões de anos, essa grande massa continental se rompeu e


começou a se deslocar, formando dois continentes: Gondwana (Antártida, África, Austrália,
América do Sul, Madagascar, Nova Guiné, Nova Zelândia, Índia e Seychelles) e Laurásia
(América do Norte e Eurásia).

Quando escreveu o livro, Wegener não tinha ideia de como teria ocorrido
a deriva. Ele acreditava que forças gravitacionais teriam afastado e deslocado
os continentes. Posteriormente, outros indícios da Pangeia foram descobertos:
nos locais onde os continentes se encaixam, existe uma similaridade de clima,
vegetação, fósseis e alguns animais.

Por volta de 1950, as pesquisas da vida submarina comprovaram a


existência das placas tectônicas e de seu movimento. As placas deslizam sobre
o magma, provocando uma série de alterações no relevo, como, por exemplo, o
afastamento dos continentes, terremotos e cadeias montanhosas.

O processo da deriva continental continua a ocorrer lentamente nos dias


de hoje. A América do Sul se afasta da África 3 (três) centímetros a cada ano (veja
mais sobre o assunto em: <www.cprm.gov.br/Aparados/hist_pag1.htm>. Acesso
em: 1 abr. 2012).

54
TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DO UNIVERSO

LEITURA COMPLEMENTAR

FIM DOS DINOSSAUROS AINDA É UM MISTÉRIO PARA OS CIENTISTAS

Não são poucas as teses que tentam explicar a mais intrigante questão
da Pré-História. Afinal, de que forma milhões de seres com dimensões colossais,
como dinossauros e outros grandes répteis, deixaram subitamente de existir?

Boa parte dos cientistas atribui a causa da grande extinção à queda de um


asteroide de 10 a 15 km de diâmetro na região de Yucatán, México, há 65 milhões
de anos. Luís Alvarez, geofísico norte-americano, foi o primeiro a apresentar essa
tese, em 1980.

O choque, de acordo com Alvarez, levantou poeira, vapor de água e ácido


sulfúrico o bastante para impedir que a luz do Sol penetrasse na Terra durante anos,
além de provocar vulcanismos, tsunamis e incêndios. As evidências de que esse
grande asteroide teria caído na mesma época em que houve um desaparecimento
em massa de seres vivos reforçam a hipótese.

Por outro lado, a sobrevivência em massa de tartarugas, aves e crocodilos


menores destacaria uma seleção natural, como já demonstrado pelo cientista
inglês Charles Darwin, em que mudanças no meio ambiente acarretam a morte
daqueles que não conseguem se adaptar.

Isso sustenta outras teses. “É inegável que um asteroide atingiu a Terra


no final do período Cretáceo, mas ele foi um cisco”, afirma Luis Eduardo Anelli,
professor doutor do Instituto de Geociências da USP. Segundo ele, as mudanças
geradas pelo asteroide são mais importantes que o choque em si.

Os dinossauros já dominavam o planeta por mais de 160 milhões de anos,


tendo atingido hábitos e portes desproporcionais ao seu habitat. Aliando a isso
mudanças climáticas e no ecossistema, o próximo passo, com ou sem asteroide,
seria a supressão da espécie.

Um outro grupo de especialistas prefere dizer que os répteis pré-históricos


se autoaniquilaram. Com o aumento de seu porte e a diminuição de espaço
entre eles, fatalmente viria a escassez de alimentos. Aos poucos, os herbívoros
morreriam, o que consequentemente levaria à extinção dos carnívoros.

Mudanças na vida vegetal também costumam ser apontadas como


responsáveis pela morte de herbívoros, o que ocasionaria novamente uma quebra
na cadeia alimentar.

Há ainda explicações não tão aceitas. Como a de que os mamíferos teriam


contribuído para o entrave na reprodução dos répteis, já que se alimentavam de
ovos reptilianos. Ou ainda de que uma devastadora onda de doenças e epidemias
teria dizimado dinossauros, pterossauros e plesiossauros do planeta.
55
UNIDADE 1 | NOVA HISTÓRIA CULTURAL E PRÉ-HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA, TEORIA DE DARWIN E FORMAÇÃO DO UNIVERSO

Apesar de cada teoria parecer complementar outra, até hoje não há


unanimidade sobre o desaparecimento dos dinossauros. Sua causa permanece
um mistério tão grande quanto eles próprios.

FONTE: MUNIZ, Diógenes de. O fim dos dinossauros ainda é um mistério para os cientistas.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14199.shtml>. Acesso em: 3
abr. 2012.

56
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você viu que:

 A teoria mais aceita para a origem do universo é a do Big Bang.

 Segundo esta teoria, o universo está em constante expansão.

 A “grande explosão” ocorreu há 15 bilhões de anos.

 Por volta de 4,6 bilhões de anos, o sistema solar começou a se formar.

 No início a temperatura da Terra era altíssima.

 Com o resfriamento, formou-se a crosta terreste.

 O gás dos vulcões originou os mares.

 As primeiras formas de vida foram algas verdes.

 As eras geológicas dividem-se em Pré-Cambriana, Paleozoica, Mesozoica e


Cenozoica.

 Na era Pré-Cambriana surgiram as primeiras formas de vida.

 Os peixes, insetos, anfíbios e répteis surgiram na era Paleozoica.

 Na era Mesozoica apareceram os dinossauros, flores e aves.

 Na era Cenozoica surgiram os hominídeos e outros mamíferos.

57
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conteúdos aprendidos neste tópico, responda às questões a seguir:

1 Complete o quadro a seguir com as principais características das eras


geológicas:

Pré-Cambriana Paleozoica Mesozoica Cenozoica

2 “De acordo com a teoria, tudo começou numa grande explosão (o Big Bang).
Toda a matéria do universo concentrava-se num só bloco, que explodiu – e
desde então continua se expandindo”. (SUPERINTERESSANTE, 2004).
Estabeleça a sequência do Big Bang até o surgimento das primeiras formas
de vida na Terra.

58
UNIDADE 2

PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• identificar os diferentes períodos da Pré-História;

• compreender as principais mudanças e transformações ocorridas nestes


períodos;

• compreender o processo de evolução dos antepassados humanos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada tópico, você
encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de conhecimentos na
área.

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

TÓPICO 2 – PERÍODO MESOLÍTICO

TÓPICO 3 – PERÍODO NEOLÍTICO

TÓPICO 4 – IDADE DOS METAIS

59
60
UNIDADE 2
TÓPICO 1

EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

1 INTRODUÇÃO
O período Paleolítico inicia com a origem do ser humano (há 4,5 milhões de
anos) e termina por volta 10.000 a.C., com a invenção da agricultura. Considerado
o mais longo da História da humanidade, foi o momento de desenvolvimento da
maior parte das espécies de hominídeos conhecidos.

Durante este período surgiram as primeiras espécies de hominídeos,


que sobreviviam da caça de animais e da coleta de alimentos, organizando-se
em sociedades seminômades. Ao longo da evolução humana no Paleolítico, os
hominídeos aprenderam a fabricar instrumentos (habilidade que os distinguiu
dos outros animais), dominaram o fogo, migraram da África, criaram sociedades
e se tornaram sedentários, no início do período Neolítico.

Apesar de existirem mais de 42 espécies de hominídeos, nesta unidade vamos


estudar apenas alguns dos mais importantes, partindo do Ramapithecus, passando
pelo Australopithecus, o Homo habilis, o Homo erectus, o Homem de Neanderthal até o
Homo sapiens. Além disso, também vamos conhecer as descobertas mais recentes da
arqueologia e da paleoantropologia, como o Sahelantropus, que lançam novas luzes
ao estudo do passado humano.

2 EVOLUÇÃO HUMANA
O que nos torna humanos? O que nos confere a habilidade de refletir sobre
o passado e ponderar o futuro? Quem nós somos enquanto espécie e de onde nós
viemos são informações que fazem parte de uma história fantástica, que possui
cerca de 4 milhões de anos.

A história humana inicia-se na África, onde surgiram nossos primeiros


ancestrais. Durante milhares de anos eles continuaram a evoluir e se dispersar por
todo o mundo. Durante este processo, algumas espécies sobreviveram, enquanto
outras foram extintas. Atualmente, somente uma espécie humana sobrevive, uma
espécie que floresceu porque desenvolveu algo chamado “cultura”. Veremos a
seguir a sua história.

O Tópico 1 desta unidade fala de nossa história natural. A história do


homem é a história natural de cada um de nós e, por este motivo, deveria interessar
a todos. Para que possamos compreender para onde vamos é fundamental saber

61
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

de onde viemos. O homem é um dos muitos primatas vivos, portanto é importante


que se compreendam algumas características da ordem à qual pertencemos e a
razão deste pertencimento.

Compreender o processo de evolução dos primatas é muito importante


para conhecer a nossa história natural. Nós, seres humanos, somos muito recentes
se levarmos em consideração o longo processo evolutivo do qual resultamos. Para
compreender este longo processo de mudanças genéticas que fizeram com que
nos tornássemos quem somos hoje e que continuam a nos transformar, é preciso
realizar um exercício de recuar no tempo, o que nem sempre é tão simples. Por
exemplo, pensando em sua família, de quantas gerações anteriores à sua você é
capaz de se lembrar? A maioria das pessoas, se alguma vez tentou, conseguiu
chegar até, no máximo, seus tetravós (quatro gerações).

É importante lembrar, ainda, que a ideia de que na evolução há,


necessariamente, “progresso” é equivocada. O processo evolutivo não resulta em
espécies “melhores”, mas geneticamente diferentes. Outro ponto a ser esclarecido
é que não descendemos dos macacos. Para pensar melhor nisto, devemos pensar
em uma pergunta simples: se “descendemos dos macacos”, como é que eles
existem ainda hoje em dia? O que deve ficar claro e, como veremos a seguir, é
que, em nossa árvore evolutiva, partilhamos com estes primatas alguns ancestrais
comuns.

Segundo Cunha (2010), um bom exemplo para pensarmos a evolução


humana é comparar nossa cadeia evolutiva a uma árvore muito ramificada (figura
a seguir), na qual “[...] cada um dos diversos ramos é ocupado por nós, um dos
250 primatas vivos” (CUNHA, 2010, p. 8). Nós, seres humanos, como veremos
adiante, somos um entre muitos símios, mas estamos ainda longe de conhecer
todos os integrantes desta árvore, sobretudo aqueles já extintos.

Os primatas são uma ordem da qual fazem parte cerca de 250 espécies de
mamíferos. Possuem algumas características comuns como, por exemplo:

• membros alongados com presença de pés e mãos com 5 dedos e unhas;

• polegar opositor;

• olhos voltados para a frente – visão em profundidade;

• presença de dentes molares com dentição da infância substituída na fase


adulta;

• alimentação composta por frutos, sementes e, por vezes, carne.


FONTE: LABORATÓRIO NACIONAL DE ENERGIA E GEOLOGIA. A evolução do homem: dos primatas
ao Homo sapiens. Adaptado de: <http://www.lneg.pt/download/1520>. Acesso em: 15 out. 2012.

62
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

Como veremos a seguir, os primatas atuais incluem gorilas, chimpanzés,


lêmures e o homem moderno (Homo sapiens).

Os primatas podem ser divididos em prossímios e antropoides, segundo


o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (2012), veja na figura a seguir. Os
primeiros são animais pequenos e são considerados primatas primitivos, entre
outras razões, por apresentarem caudas extensas que não possuem capacidade
preênsil (capacidade de agarrar).

FIGURA 15 – DIAGRAMA SIMPLIFICADO DA EVOLUÇÃO HUMANA


Antropóides

Macacos do Macacos do Hominóideos


Novo Mundo Velho Mundo
Pongídeos Hominídeos

0
Orangotango
Gibão Gorila Chimpanzé Homem
10
Prossímios atuais
20

30

40

50

60
Prossímios primitivos

FONTE: Disponível em: <http://www.10emtudo.com.br/aula/vestibular/evolucao_


humana/>. Acesso em: 24 abr. 2013.

Existem, aproximadamente, 60 espécies de prossímios e estas se encontram


na África e no sudeste asiático. Como exemplo podem-se citar os lêmures e os
társios (figura seguinte). Os prossímios encontram-se atualmente em extinção.

63
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

FIGURA 16 – LÊMURE

FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/56550985/


Evolucao-do-homem>. Acesso em: 24 out. 2012.

Os antropoides são também denominados primatas modernos, possuem


grande estatura, hábitos diurnos, diferentemente dos prossímios, animais de
hábitos noturnos. São divididos em “macacos do Velho Mundo”, “macacos do
Novo Mundo” e “hominídeos”.

Os chamados macacos do Velho Mundo encontram-se atualmente na


Ásia, África e Indonésia. Entre suas principais características estão o fato de
caminhar em quatro patas e de possuir caudas que não utilizam para agarrar.
Como exemplo podem-se citar os babuínos.

FIGURA 17 – BABUÍNOS

FONTE: Disponível em: <www.monkeyland.co.za>. Acesso em: 24 out.


2012.

Os chamados macacos do Novo Mundo são encontrados nas Américas.


Uma de suas principais características, e que também os diferencia dos citados
anteriormente, é que sua cauda possui capacidade preênsil (capacidade de
agarrar) que é utilizada como uma “mão extra”, facilitando sua locomoção e
demais atividades cotidianas. Como exemplo de macacos do Novo Mundo
podem-se citar o mico-leão-dourado e o macaco-prego.

64
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

FIGURA 18 – MICO-LEÃO-DOURADO

FONTE: Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br>. Acesso em: 24


out. 2012.

Por fim, chegamos aos hominídeos que, por sua vez, dividem-se entre nós,
seres humanos, e os símios. Note que apresentaremos aqui diversas características
que diferenciam os hominídeos dos demais primatas, indicando características
evolutivas que, em conjunto e ao longo de milhares de anos, resultaram em quem
somos atualmente.

A começar pelos símios, estes se diferenciam dos demais primatas


principalmente pelo fato de não possuírem cauda ou de ela ser bastante pequena.
São, ainda, animais de grande porte e com alto desenvolvimento cognitivo.
Entre as espécies que representam os símios estão o gorila, o orangotango e o
chimpanzé.

FIGURA 19 – ORANGOTANGO

FONTE: Disponível em: <www.orangutan.org>. Acesso em: 24


out. 2012.

65
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

NOTA

Você sabia? A palavra orangotango deriva da língua malaia e significa “homem


da floresta”, sendo uma junção do termo “orang”, que significa homem e “hutan”, que significa
floresta, conforme Locke et al. (2011). Note que é uma definição bastante adequada tendo
por base as discussões apresentadas neste tópico.

Já no ano de 1871, o naturalista Charles Darwin, ainda que trabalhando


sem os benefícios dos registros fósseis ou da moderna pesquisa genética, propôs
que os humanos e os símios africanos possivelmente possuíam um ancestral
comum. Atualmente, graças à grande variedade de estudos de anatomia e biologia
molecular, sabemos que nosso “parente vivo” mais próximo é o chimpanzé
africano. Embora seja, muitas vezes, difícil acreditar, nossas espécies dividem
cerca de 98% dos mesmos genes, também o DNA dos orangotangos coincide com
o dos seres humanos em 97%. No entanto, esta estreita relação não significa, como
já dissemos antes, que evoluímos dos chimpanzés ou orangotangos, ou que estes
se transformarão em humanos, mas significa que, milhões de anos atrás, tivemos
um ancestral comum, segundo o IHO (INSTITUTE OF HUMAN ORIGINS, 2012).

DICAS

Para aprofundar seus conhecimentos acerca do assunto, visite a página da revista


Scientific American Brasil e leia o artigo “Cientistas registram sinais de cultura em orangotangos”,
no endereço: <//www2.uol.com.br/sciam/noticias/cientistas_registram_capacidade_cultural_
de_orangotangos.html>.

Conforme dito anteriormente, nós, seres humanos, fazemos parte da


categoria dos hominídeos. Assim como as outras espécies que estudamos
anteriormente, também nós somos resultado de um longo processo evolutivo.
Diversas características de nossos ancestrais foram mantidas durante este
processo, enquanto diversas outras foram adicionadas. Como outros primatas,
possuímos a habilidade de utilizar nossas mãos associadas à nossa visão para o
melhor desempenho de nossas tarefas. Um grande diferencial dos seres humanos
foi desenvolver a capacidade de criar ferramentas que nos ajudam a modificar
a natureza, ferramentas estas cada vez mais complexas e que nos auxiliaram, e
ainda auxiliam, em nossa adaptação ao meio em que vivemos.

Entre as principais caraterísticas, peculiares dos seres humanos, e que nos


definem enquanto espécie e nos diferenciam dos demais primatas, podemos citar:

66
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

• desenvolvimento gradativo do cérebro e superior capacidade craniana;

• utilização de linguagem verbal;

• locomoção bípede no solo e postura ereta;

• dentes em tamanho pequeno.

Adiante estudaremos, em detalhe, os principais hominídeos, suas principais


características e os processos evolutivos que desencadearam o surgimento dos
seres humanos modernos.

O quadro da figura a seguir apresenta uma interpretação da classificação


da ordem dos primatas. O quadro contribui para ilustrar o que foi dito até o
momento e para auxiliar você a compreender como os seres humanos se
enquadram nesta ordem.

FIGURA 20 – TAXONOMIA DOS PRIMATAS

FONTE: As autoras

NOTA

“Taxonomia é a ciência que classifica os seres vivos. Também chamada de


“taxionomia” ou “taxeonomia”, ela estabelece critérios para classificar todos os animais e plantas
sobre a Terra em grupos de acordo com as características fisiológicas, evolutivas, anatômicas e
ecológicas de cada animal ou grupo animal”.
FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/biologia/taxonomia/>. Acesso em: 24 abr.
2013.

67
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Conforme mencionado anteriormente, em se tratando de evolução


humana, o fato de que há cerca de 6 a 8 milhões de anos dividimos um ancestral
comum com outros primatas é muito importante. Esta herança comum foi
dividida por muitos milhões de anos e é o que define muitos de nossos aspectos
anatômicos, genéticos e de comportamento. A grande similaridade (seja ela
anatômica ou genética) entre seres humanos e outros primatas, principalmente
os grandes primatas africanos como o chimpanzé, por exemplo, há muito tem
provado que estes são uns dos nossos parentes vivos mais próximos.

ATENCAO

CRIACIONISMO X EVOLUCIONISMO

Existe um grande debate entre as pessoas que defendem as duas formas de compreensão do
surgimento da humanidade e da criação do mundo. Desde a primeira publicação do livro “A
Origem das Espécies”, por Charles Darwin, duas teorias distintas sobre a origem da vida se opõem.
Uma delas é o criacionismo, que defende a existência de um Deus criador, tendo por base os
escritos bíblicos. A outra é o evolucionismo, que surgiu a partir do século XIX, quando cientistas
iniciaram a propor novas teorias sobre a origem da vida, contrapondo a teoria criacionista.
Entre os cientistas que defendem o evolucionismo, a teoria da grande explosão do Big Bang,
que acontecera há cerca de 10 a 15 bilhões de anos, seria o início de tudo o que hoje existe.
Sabendo disto, resta a pergunta que vem sendo debatida nos últimos séculos: somos criação
divina ou resultado de um longo processo evolutivo? É importante compreender que ambas
as teorias são aceitas como verdade, possuindo cada qual seus argumentos. É fundamental
procurar compreender estes argumentos e os fatos nos quais estão baseados, antes de julgar
uma ou outra teoria como “certa” ou “errada”. E, acima de tudo, é fundamental lembrar que
todos somos livres para acreditar no que julgamos adequado e devemos ser respeitados por
isto, bem como devemos respeitar opiniões divergentes. Para compreender melhor o assunto
leia o artigo: “Criacionismo x Evolucionismo: Análise de Discurso Sobre a Origem da Vida nas
Revistas Veja, Superinteressante e Galileu”, escrito por Stanley Botti Fernandes, da Universidade
Federal do Pará e disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/norte2008/
resumos/R13-0184-1.pdf>.

3 PERÍODO PALEOLÍTICO
Apesar de ter iniciado no século XIX, o estudo da evolução humana apresenta,
ainda, diversas dificuldades, principalmente por causa da pequena quantidade de
fósseis até hoje encontrados. Os fósseis são uma das peças chaves para a compreensão
das mudanças que sofreram os hominídeos e de como estas mudanças ao longo de
milhares de anos (processo evolutivo) resultaram no surgimento dos seres humanos
modernos.
Nas últimas décadas, novos fósseis foram descobertos e sua pesquisa foi
combinada com novas tecnologias como a análise do DNA (material genético) dos
ossos, o que garantiu grandes avanços na compreensão da evolução humana. Com
base nas diversas pesquisas realizadas até o momento, acredita-se que a África foi

68
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

o “berço da humanidade”, ou seja, onde os primeiros hominídeos surgiram e o


processo evolutivo iniciou-se. Acredita-se, também, que a evolução dos hominídeos
foi bastante influenciada pelas mudanças climáticas. A partir de 5 milhões de anos
ocorreram importantes modificações climáticas na África, dando origem às savanas.

NOTA

Savana é uma área geralmente plana, cuja vegetação predominante são gramíneas,
árvores esparsas e arbustos isolados.

Este processo iniciou-se ainda antes, há cerca de 8 milhões de anos, em


um período chamado Mioceno, quando a maior parte do continente africano
encontrava-se coberto por densas florestas. Uma grande diversidade de primatas
vivia nestas florestas, comendo, dormindo e se locomovendo entre as árvores,
longe do chão. Suas características anatômicas, como dedos dos pés capazes de
agarrar e membros articulados, permitiam-lhes viver muito bem neste ambiente
com grandes árvores.

No entanto, há cerca de 5 milhões de anos, mudanças climáticas


transformaram o mundo em um lugar muito mais seco e frio, e as densas florestas
africanas transformaram-se em ambientes mais abertos, as savanas das quais
falamos anteriormente. Como resultado destas mudanças, algumas espécies
foram extintas, enquanto outras começaram a se adaptar ao novo ambiente. Uma
das espécies que sobreviveu é o ancestral comum entre nós e os demais primatas.
Com a vegetação mais rasteira, alguns grupos de primatas passaram a se apoiar
nas patas traseiras para coletar alimentos.

Esta adaptação de alguns grupos gerou a divisão dos primatas em duas


famílias (as quais conhecemos no item anterior): a dos macacos antropoides, que
continuavam a andar sobre quatro patas (gorilas, chimpanzés, orangotangos) e a
família dos hominídeos, que se tornaram bípedes e desenvolveram características
diferenciadas.

O surgimento dessa nova família ocorreu na África Oriental, mais


precisamente na região do Quênia, onde foi encontrado o fóssil de Australopithecus,
em 1974. O primeiro traço que distingue o hominídeo de um primata antropoide é
o bipedalismo, ou seja, a capacidade de andar sobre duas patas. Essa liberação das
mãos possibilitou o desenvolvimento de atividades criativas, bem como de defesa.
(Para maiores informações sobre o assunto, confira a Leitura Complementar).

69
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

NOTA

Entre os principais vestígios utilizados pelos pesquisadores para reconstruir o


processo de evolução humana estão os fósseis:
“Fósseis (do latim fossilis) são os restos materiais de antigos organismos ou as manifestações
da sua atividade, que ficaram mais ou menos bem conservados nas rochas ou em outros
fósseis”. Restos materiais podem ser vestígios de partes de um organismo como ossos,
dentes ou chifres e a “manifestação de atividades” pode ser verificada através de pegadas ou
impressões de outras partes do corpo, como dentadas, por exemplo.
FONTE: OS FÓSSEIS e a paleontologia. Disponível em: <http://fossil.uc.pt/index.htm>. Acesso
em: 1 nov. 2012.

A ciência que estuda os fósseis é a paleontologia. Existe um ramo desta ciência destinado
especificamente a estudar os fósseis de hominídeos, ela é chamada paleoantropologia
(paleontologia + antropologia). A paleoantropologia estuda a evolução das espécies que
antecederam o homem moderno e nossa própria espécie, o Homo sapiens, através da
análise das características físicas, modos de vida e interação social.
FONTE: MONTEIRO, Euder. Paleoantropologia para iniciantes: um curso ilustrado sobre a
evolução biológica humana. Disponível em: <http://paleoantro.dominiotemporario.com/
doc/Manual_2.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2012.

Entre os hominídeos, o Homo habilis foi o primeiro a adaptar elementos


encontrados na natureza para aprimorar a caça e a sua defesa. É sabido que o
homem é um dos animais mais “desprotegidos” da natureza. Ele não possui
garras ou presas como grandes felinos, não possui pelos espessos nem voa, mas
essas limitações foram compensadas com o uso da criatividade, possibilitando
que o homem se adaptasse melhor ao meio e aumentasse sua expectativa de vida.

O chamado período Paleolítico estendeu-se desde o surgimento do gênero


Homo até aproximadamente 10.000 anos atrás. Este período da Pré-História é
também chamado de “Idade da Pedra”, porque o homem utilizava a pedra para
fabricar suas ferramentas. O clima no mundo era muito diferente do que é hoje,
muito mais frio e com presença de grandes animais. O homem do Paleolítico,
conforme veremos a seguir, teve que desenvolver meios para se adaptar e
sobreviver neste mundo, uma delas foi a fabricação das ferramentas em rocha, os
“instrumentos líticos”.

a) Intrumentos líticos

No período Paleolítico, o Homo habilis desenvolveu a técnica da pedra


lascada, produzindo instrumentos líticos (de pedra). “Primeiramente, era feita a
escolha de uma rocha a ser trabalhada, pois nem todas as rochas se prestam ao
lascamento [...] os arenitos desintegram-se facilmente e alguns basaltos produzem
acidentes de lascamento indesejáveis”. (PALESTRINI, 1980, p. 29). Após a escolha
do bloco, os hominídeos precisavam de um percutor, uma rocha mais resistente,
para retirar as lascas.

70
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

Os instrumentos eram utilizados para cavar, abater animais, retirar


plantas. Além das pedras, outros materiais como couro, ossos e madeira também
eram empregados. A fricção entre duas pedras possibilitava a obtenção do fogo
há mais de 500 mil anos. Os principais materiais utilizados na fabricação de
instrumentos eram:

• sílex: rocha composta de sílica;

• obsidiana: vidro de cor escura, resultante do resfriamento de material vulcânico;

• basalto: rocha de origem vulcânica;

• quartzo: tipo comum de mineral abundante nas rochas.

Procurando explicar o surgimento das técnicas de fabricação de


ferramentas de rochas, Klein (2002, p. 54) afirma que esta se iniciou quando nossos
antepassados hominídeos descobriram que, se batessem uma rocha contra a outra
de maneira correta, esta ação produziria lascas finas que seriam capazes de, por
exemplo, penetrar o couro de um animal que fora caçado, cortar os tendões que
ligam os músculos aos ossos, para o melhor preparo da carne para consumo, algo
que, hoje em dia, fazemos com intrumentos de metal como facas.

A utilização de ferramentas de pedra tornou-se uma vantagem evolutiva


sobre os indivíduos que não faziam uso delas. Por este motivo, os grupos capazes
de produzir estas ferramentas cresceram rapidamente em número. Lembre-se
aqui do que foi discutido anteriormente a respeito da capacidade do homem,
diferentemente dos demais animais, de dominar o meio em que vive e se adaptar
a ele. A utilização de ferramentas de rocha permitiu a estes grupos obter recursos
para suprir três de suas necessidades básicas e as mais importantes para sua
sobrevivência: conseguir alimento, construir abrigos e fabricar vestuário.

A figura a seguir demonstra o processo de fabricação de uma ferramenta


de rocha. Note que existe uma técnica envolvida, uma técnica que foi desenvolvida
através de um processo cognitivo, ou seja, foi necessário pensar no produto final
que se desejava obter para desenvolver a forma correta de fabricá-lo. Pode-se
afirmar que o lascamento de rochas para a fabricação de ferramentas é o primeiro
exemplo de tecnologia desenvolvida pelo homem.

Ao contrário do que se pensou durante muito tempo, para obter


instrumentos de pedra, não basta “bater” uma rocha na outra, existem formas
corretas de realizar o lascamento, pontos específicos onde bater com o “percutor”
(rocha em azul na imagem, utilizada para bater e quebrar o núcleo, obtendo
as lascas) no “núcleo” (rocha em marrom na imagem, de onde são extraídas as
lascas e o qual é transformado na ferramenta). Após finalizado o processo, tanto
o antigo núcleo, agora transformado em ferramenta, quanto as lascas que dele
saíram, são utilizados para diferentes funções.

71
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

FIGURA 21 – DEMONSTRAÇÃO DO PROCESSO DE LASCAMENTO E


FABRICAÇÃO DE INSTRUMENTOS LÍTICOS (FERRAMENTAS
DE ROCHA)

FONTE: Disponível em: <http://austinfreeskool.org/2012/07/02/intro-


to-flintknapping-2/>. Acesso em: 24 jun. 2013.

b) Organização social

Os grupos do Paleolítico estavam sempre se mudando, o que os


caracteriza como “nômades”. Por causa deste estilo de vida nômade, construíam
acampamentos temporários e não casas permanentes. Conforme a região onde
estavam, nossos antepassados construíam habitações feitas de palha, couro,
abrigavam-se sob a copa de árvores ou entradas de cavernas. A Figura 23
demonstra a reconstituição de um acampamento Paleolítico. Note que, neste
exemplo, ossos e pelos de animais foram utilizados para a construção das cabanas.

NOTA

É comum utilizar a denominação “homens das cavernas” para os hominídeos. No


entanto, apenas algumas espécies habitavam esses locais, e, ainda assim, apenas nas entradas.
Em regiões quentes, os hominídeos dormiam ao ar livre ou sob árvores.

Ainda no Paleolítico, os hominídeos já apresentavam características de


comportamento grupal, já que a caça exigia cooperação entre os indivíduos. Toda
a comida obtida através dessa cooperação era dividida entre o grupo, mas, apesar
disso, era comum muitos indivíduos morrerem de fome. Como as condições
de vida eram extremamente difíceis, a média de vida era de 26 anos. Assim, a

72
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

população de hominídeos era ainda muito pequena. Viajavam em pequenos


grupos, caçavam e coletavam seus alimentos, por isto são também chamados de
grupos “caçadores-coletores”.

FIGURA 22 – RECONSTITUIÇÃO DE
FIGURA 23 – RECONSTITUIÇÃO DE
ATIVIDADE DE CAÇA COM DETALHE DOS
ORGANIZAÇÃO DE ACAMPAMENTO
INTRUMENTOS EM MADEIRA E PEDRA

FONTE: Disponível em: <http://


FONTE: Disponível em: <http://bareft.com/ www.donsmaps.com/images2/
tag/paleolithic/>. Acesso em: 24 jun. 2013. dolnivestonicepainting.jpg>. Acesso em: 24
jun. 2013.

Quando os recursos se esgotavam, os grupos se deslocavam para outros


lugares em busca de mais alimentos. Por volta de 35 mil anos a.C., os Homo
sapiens utilizavam arco e flecha e sepultavam os seus mortos. No final do período
Paleolítico, ocorreu a Era Glacial, fenômeno que teve a duração de 100 mil anos,
com intervalos de 10 mil anos. Graças à grande capacidade de adaptação, com
a criação de roupas com peles de animais e o domínio do fogo, os hominídeos
puderam sobreviver e dar início a uma nova etapa do seu desenvolvimento.

Especialistas acreditam que não existia mais de 1 milhão de indivíduos


durante o Paleolítico. Parece um grande número, mas se pensarmos que
atualmente somamos, no mundo, aproximadamente sete bilhões de pessoas,
isto é 7.000 vezes mais gente que durante o Paleolítico, o que nos faz pensar na
velocidade com a qual estamos nos multiplicando.

Evidências arqueológicas indicam, como já vimos, o surgimento do


homem na África e, mais tarde, sua migração para os outros continentes. Durante
a quarta glaciação, o homem migrou para a Ásia e a América. As temperaturas
médias caíram para 10ºC, o nível dos oceanos baixou e grandes geleiras formaram
pontes entre os continentes. Segundo a teoria de Clóvis, que vamos ver mais
adiante, o homem teria atravessado o Estreito de Bering (entre a Sibéria e o
Alasca) e povoado a América há 11.500 anos.

73
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

4 OS HOMINÍDEOS
Até os anos 60 do século XX, acreditava-se que apenas um hominídeo
havia existido por vez, devido à falta de espaço ecológico. Assim, segundo essa
teoria, o Australopithecus teria dado origem ao Homo habilis, deixando de existir
quando este surgiu.

Mas nos anos 70, novas pesquisas mostraram que, há 1,8 milhão de anos,
vários hominídeos coexistiram. O Australopithecus afarensis, por exemplo, foi
contemporâneo de uma espécie conhecida como Kenyantropus. O Homo habilis,
por sua vez, conviveu com o Homo ergaster e o Homo rudolfensis. Estima-se que
tenham existido pelo menos 20 espécies diferentes de hominídeos.

Muitos, porém, não fazem parte da linha de sucessão. O homem de


Neanderthal, por exemplo, é uma ramificação da linha de evolução, não tendo
dado origem ao Homo sapiens.

A figura a seguir mostra a linha de evolução dos hominídeos.

FIGURA 24 – ORGANOGRAMA DA EVOLUÇÃO HUMANA

Homo 120 mil


sapiens anos
Homo 300 mil
neanderthalensis anos

Homo 800 mil


heidelbergensis anos
Homo 1,2 milhões
erectus de anos
Homo 1,8 milhões
ergaster de anos

Australopithecus Australopithecus 2,0 milhões


robustus boisei de anos
Homo 2,4 milhões
habilis de anos
Homo Australopithecus Australopithecus 2,5 milhões
nudelfensis africanus aethiopicus de anos

Australopithecus 3,7 milhões


afarensis de anos

Australopithecus 4,2 milhões


anamensis de anos

FONTE: As autoras

74
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

No entanto, didaticamente, costuma-se estudar somente os hominídeos


que apresentam vestígios arqueológicos mais conclusivos, que permitiram
estudos mais conclusivos.

Desta linha evolutiva, são estudados os seguintes hominídeos:

• Australopithecus

• Homo habilis

• Homo erectus

• Homo sapiens neanderthalensis

• Homo sapiens

4.1 AUSTRALOPITHECUS
Os Australopithecus (a palavra significa “macaco do sul”) viveram há 3,2
milhões de anos, na África Oriental. A prova mais antiga de sua existência é o fóssil
de Lucy, encontrado em 1974. Os Australopithecus representam o mais conhecido
dos gêneros pré-humanos. Este gênero engloba, atualmente, pelo menos cinco
espécies diferentes, das quais a mais conhecida é Lucy (Australopithecus afarensis).

NOTA

Uma curiosidade: o nome dado ao fóssil encontrado é uma homenagem à música


Lucy in the Sky with Diamonds, dos Beatles, que era famosa na época da expedição.

A descoberta do fóssil de Lucy abriu uma nova janela no estudo das


origens do homem. Até sua descoberta haviam sido encontrados apenas alguns
poucos hominídeos com datação mais antiga que 3 milhões de anos, e nenhum
deles tão completo. Os pesquisadores conseguiram recuperar cerca de 40% do
esqueleto de Lucy, o que foi um feito notável e inédito. Apesar de seu crânio não
ter sido encontrado no estado de conservação ideal, foi a primeira vez em que
foram encontrados diversos ossos de um mesmo indivíduo tão antigo. Há um fato
muito importante a respeito da descoberta deste fóssil. Através dele, foi possível
responder a uma pergunta fundamental acerca de duas de nossas principais
características evolutivas – os cientistas se perguntavam, o que aconteceu primeiro?
o crescimento do cérebro ou o bipedismo?. Lucy era mais moderna do pescoço
para baixo e mais “primitiva” do pescoço para cima. Ao mesmo tempo em que
apresentava características de bipedismo, sua capacidade craniana era similar

75
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

à dos humanoides não humanos. Ou seja, através desta descoberta foi possível
verificar que “[...] primeiro começamos a andar sobre duas pernas (bipedismo) e
depois é que aconteceu a evolução cerebral.” (CUNHA, 2010, p. 51).

Com esta e outras descobertas é possível afirmar que os hominídeos


Australopithecus tinham características semelhantes aos macacos: seu
cérebro era pequeno, os adultos mediam cerca de 1,20m de altura e pesavam
aproximadamente 30 quilos. Viviam em bandos, mas provavelmente não tinham
linguagem articulada. Sua alimentação baseava-se em frutos, raízes e vegetais.
Possivelmente desenvolveram formas de compartilhar o alimento. Fisicamente,
não se diferenciavam muito dos macacos, porém o fato de andar sobre duas patas
possibilitou uma série de mudanças.

Como tinham a capacidade de usar simultaneamente os membros


inferiores e superiores, podiam mover-se rapidamente, levar alimentos para
seus companheiros e defender-se melhor dos predadores. Os pesquisadores não
sabem exatamente como ocorreu o desaparecimento do Australopithecus. Porém,
centenas de milhares de anos antes de desaparecer, deu origem a outro gênero de
hominídeo: o Homo.

FIGURA 25 – RECONSTITUIÇÃO DAS FEIÇÕES DO AUSTRALOPITHECUS


AFARENSIS

FONTE: Disponível em: <http://humanorigins.si.edu/>. Acesso em:


24 abr. 2013.

4.2 HOMO HABILIS


Seu nome significa homem habilidoso. Este hominídeo é considerado
o primeiro do gênero homo, pois foi o primeiro a produzir instrumentos. Esta
habilidade vai diferenciar o homem dos outros animais, pois, enquanto estes
podem produzir por imitação, o homem tem a capacidade de criar infinitas
possibilidades de um mesmo artefato. Os primeiros Homo só poderiam ser
africanos, já que todos os fósseis descobertos antes foram também encontrados
na África.

76
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

O Homo habilis surgiu por volta de 2,4 milhões de anos e desapareceu por
volta de 1,5 milhão de anos. O primeiro fóssil de Homo habilis foi encontrado na
região do Quênia, em 1963. Ao mesmo tempo em que esta espécie é diferente dos
Australopithecus em diversos aspectos da morfologia do crânio (tamanho e forma),
estas duas espécies dividem características similares no restante do esqueleto,
o que sugere que o Homo habilis é mais parecido com seus ancestrais do que se
imaginava.

O Homo habilis vivia em grupo e utilizava os instrumentos rudimentares


produzidos de pedra para se defender e caçar pequenos animais. Porém sua
alimentação não era totalmente baseada na caça. Na maior parte das vezes, ele se
alimentava de animais já mortos por outros, disputando o alimento com hienas e
abutres. Pode-se dizer, assim, que o Homo habilis não era carnívoro, mas carniceiro.

FIGURA 26 – RECONSTITUIÇÃO DAS FIGURA 27 – RECONSTITUIÇÃO DA


FEIÇÕES DO HOMO HABILIS FABRICAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE
ROCHA POR ESTES HOMINÍDEOS

FONTE: Disponível em: <http:// FONTE: Disponível em: <http://


humanorigins.si.edu/>. Acesso em: humanorigins.si.edu/>. Acesso em: 24
24 abr. 2013. abr. 2013.

DICAS

Assista ao DVD “Homens das Cavernas”, da BBC.

4.3 HOMO ERECTUS


Homo erectus em latim significa homem em pé. Ele recebeu essa
denominação porque foi o primeiro hominídeo a andar com a postura parecida
com a do homem atual. Sua coluna vertebral e a cabeça eram perfeitamente
alinhadas, ao contrário dos seus antecessores.

77
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Este hominídeo viveu há cerca de 1,3 milhão de anos, nas regiões da


África e da Ásia. O primeiro fóssil encontrado foi na região de Java, em 1890.
O Homo erectus realizou importantes conquistas para o processo de evolução
humana. Vivia em grupos, e as tarefas eram divididas de acordo com o sexo e
a idade. Fabricavam instrumentos mais elaborados, como facas e machados, e
provavelmente já tinham formas de linguagem articulada.

No entanto, a maior conquista do Homo erectus foi o domínio do fogo.


Acredita-se que os hominídeos anteriores tenham tido contato com o fogo,
porém o Homo erectus aprendeu a dominá-lo e transportá-lo. O domínio do fogo
possibilitou a migração para fora da África, já que possibilitou a defesa contra
animais e o trânsito por regiões mais frias.

O domínio do fogo possibilitou também uma diversificação na


alimentação, com um maior consumo de proteínas. Isso foi determinante para o
desenvolvimento do cérebro e da capacidade de raciocínio. Com o aumento das
capacidades cerebrais, o Homo erectus criou abrigos e vestuário para se adaptar a
regiões diferentes da África.

FIGURA 28 – RECONSTITUIÇÃO DAS FEIÇÕES DO HOMO


ERECTUS

FONTE: Disponível em: <http://humanorigins.si.edu/>. Acesso


em: 24 abr. 2013.

4.4 HOMO NEANDERTHALENSIS


Vestígios fósseis foram encontrados em diversos locais na Europa e Ásia.
Estes fósseis foram encontrados, em sua maioria, em ambientes de cavernas. O
homem de Neanderthal foi provável descendente do Homo erectus e viveu entre
230 mil e 30 mil anos atrás, na região de Neander (Alemanha). Este hominídeo
tinha a aparência física bastante semelhante à nossa, com adaptações para o
ambiente em que vivia. Apresenta muitas características peculiares, no crânio e
outras partes do esqueleto, que são relacionadas à sua adaptação, principalmente
às atividades de caça em grandes espaços e em ambientes frios. Como viveu
durante um período glacial, o homem de Neanderthal tinha cerca de 1,60 m e o
nariz longo para melhor absorver o ar gélido.

78
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

O homem de Neanderthal desenvolveu sofisticadas tecnologias de


fabricação de ferramentas de rocha, especificamente preparadas para caçar
grandes mamíferos. Esta espécie é muito importante para a evolução humana
porque ela foi contemporânea ao Homo sapiens e, portanto, torna-se crucial para
compreender a origem de nossa própria espécie.

Os pesquisadores possuem opiniões divergentes acerca de alguns aspectos


relacionados ao homem de Neanderthal, principalmente no que diz respeito à
prática de atividades chamadas “simbólicas” como rituais de sepultamento de
mortos e produção de arte. Alguns pesquisadores afirmam que os indivíduos
desta espécie fabricavam instrumentos de madeira e ossos, decorando-os com
figuras entalhadas e que o homem de Neanderthal foi o primeiro hominídeo
a fazer oferendas, como flores, aos seus mortos, denotando um princípio de
espiritualidade. No entanto, as evidências de artefatos que denotam características
simbólicas, como estátuas e pinturas nas cavernas, por exemplo, são praticamente
ausentes nos sítios relacionados ao homem de Neanderthal. Por outro lado,
as evidências de comportamento simbólico são bastante comuns em sítios
relacionados ao Homo sapiens. Contudo, conforme afirmado acima, apesar do
ceticismo da maioria dos especialistas da área, alguns pesquisadores defendem
a ideia de que o homem de Neanderthal desenvolvia, sim, atividades de cunho
simbólico e utilizava, por exemplo, ocre para realizar pinturas corporais.

Cabe ressaltar que não existem suficientes evidências de que o homem


de Neanderthal enterrava seus mortos. Este fato levou muitos pesquisadores a
assumir que os neandertais possuíam capacidades limitadas para desenvolver
este tipo de atividade, o que estaria relacionado com a limitada capacidade
cognitiva da espécie.

Não se chegou ainda a um consenso sobre a relação entre a evolução dos


neandertais e outros hominídeos. A grande controvérsia está relacionada ao Homo
sapiens. O consenso geral é de que o homem de Neanderthal foi uma espécie
diferente e separada do Homo sapiens e que, embora algum contato possa ter
acontecido entre estas duas espécies, o homem de Neanderthal não fez nenhuma
contribuição genética para o Homo sapiens. O assunto é, no entanto, alvo de grande
discussão entre os especialistas. Sobre o desaparecimento dos neandertais, não se
conhece, ainda, o motivo que levou a espécie à extinção.

79
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

FIGURA 29 – RECONSTITUIÇÃO DAS FEIÇÕES DO HOMEM DE


NEANDERTHAL

FONTE: Disponível em: <http://humanorigins.si.edu/>. Acesso


em: 24 abr. 2013.

4.5 HOMO SAPIENS


O último capítulo da evolução humana inicia-se com o surgimento do
Homo sapiens, o homem moderno do qual somos descendentes diretos. Este
hominídeo surgiu aproximadamente há 100 mil anos, tendo convivido com o
homem de Neanderthal. Atualmente, este é o único hominídeo existente na Terra.
Este hominídeo possuía todas as qualidades dos demais hominídeos, mas sua
maior conquista foi a capacidade de se expressar através da arte e, posteriormente,
o desenvolvimento da escrita, do sedentarismo e das sociedades complexas.

Uma das características mais intrigantes do Homo sapiens está relacionada


a seu comportamento. Tais características podem ser identificadas nos artefatos
arqueológicos encontrados nos sítios habitados pelo Homo sapiens e representam
estratégias de comportamento que não são identificadas em hominídeos de outras
espécies. Um exemplo a ser citado é que o Homo sapiens é o primeiro hominídeo
a realizar caças em larga escala. Diferentemente das anteriores, esta espécie
desenvolveu estratégias que lhe permitiram caçar grandes, médios e pequenos
mamíferos e, ainda, peixes e moluscos. Os artefatos de rocha, de diversos tipos e
com funções específicas, produzidos pelo Homo sapiens, refletem sua capacidade
de caçar diferentes espécies de animais. Isto demonstra sua capacidade única de
refletir a respeito de suas necessidades e adaptar os materiais que a natureza
oferecia de modo a alcançar seus objetivos.

Os Homo sapiens, segundo aponta o registro arqueológico, percorriam


distâncias muito mais longas que as outras espécies para conseguir os materiais
adequados para a produção das ferramentas de que necesitavam. É importante
ressaltar, ainda, que, em alguns sítios na Ásia, fósseis de Homo sapiens encontram-
se associados a ferramentas tipicamente produzidas pelo homem de Neanderthal.

80
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

Os achados arqueológicos também permitem afirmar que o Homo sapiens


foi a primeira espécie a exibir claramente o comportamento simbólico. São
associadas a esta espécie a produção de arte em cavernas, confecção de estátuas e
colares de contas, por exemplo. Enquanto, como vimos, alguns autores afirmam
que estes elementos estão também presentes nos sítios associados ao homem de
Neanderthal, eles são encontrados em maior número e com maior frequência nos
sítios habitados pelo Homo sapiens. Estes achados sugerem que o Homo sapiens
possuía grande capacidade de abstração e pensamento simbólico, diferente das
outras espécies. Também é importante ressaltar que, com base em análises da
anatomia de partes superiores da coluna vertebral, os pesquisadores afirmam
que o Homo sapiens foi a primeira espécie capaz de falar.

DICAS

A revista Scientific American Brasil traz sempre reportagens sobre as últimas


descobertas arqueológicas. Visite seu endereço eletrônico: <http://www2.uol.com.br/sciam/>.

4.6 CARACTERÍSTICAS DOS HOMINÍDEOS


Os hominídeos e os primatas antropoides possuem algumas características
similares e outras bastante diferenciadas. Ao longo da evolução dos hominídeos,
as diferenças entre essas duas famílias foram se tornando cada vez maiores.

Como características dos hominídeos podemos citar:

• polegares opositores mais desenvolvidos;

• bipedalismo;

• ossos zigomáticos (maçãs do rosto) menos desenvolvidos;

• caixa craniana desenvolvida;

• maior volume cerebral;

• coluna ereta;

• perda de pelos;

• laringe localizada na região mais alta da garganta.

81
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

A ilustração a seguir apresenta as diferenças morfológicas entre os


hominídeos.

FIGURA 30 – DIFERENÇAS MORFOLÓGICAS

FONTE: Disponível em: <http://www.ahistoria.com.br/da-evolucao-humana/>.


Acesso em: 24 abr. 2013.

LEITURA COMPLEMENTAR I

ANCESTRAIS HUMANOS PODEM TER SE TORNADO BÍPEDES PARA


CARREGAR MAIS COMIDA

Anderson Estevan

O momento em que os nossos ancestrais deixaram de ser quadrúpedes


para se tornar bípedes sempre foi um mistério sem resposta na ciência evolutiva,
mas um novo estudo publicado nesta semana pela revista Current Biology pode
acabar com este enigma. Examinando o comportamento de chimpanzés modernos,
a equipe de cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da
Universidade de Kyoto, no Japão, acredita que os nossos antepassados ​​podem ter
começado a andar sobre duas patas em uma tentativa de monopolizar recursos e
para levar comida, em maior quantidade e de forma mais eficiente.

Comportamento semelhante a este pode ser visto nos chimpanzés, que


se utilizam desta estratégia (mover-se em duas pernas em vez de andar com as
quatro no chão) para que possam monopolizar alimento e garantir alimento em
ambientes hostis ou de pouca quantidade de comida. Os cientistas formularam
este estudo observando nossos “primos”. Monitorados em dois experimentos, os
primatas mostraram-se dispostos a abandonar a postura normal para andar sobre
duas patas quando havia uma grande quantidade de comida ou competição com
outros espécimes que ameaçassem seu alimento.

82
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

A razão para a mudança, segundo os cientistas, é justamente a de


transportar mais recursos, pois os chimpanzés conseguem se mover com maior
eficiência caminhando sobre os dois pés. Por conta disso, alguns pesquisadores
acreditam que a bidedalidade pode ser uma estratégia bem-sucedida para a
evolução nossos ancestrais, levando-os para um caminho à parte na árvore
evolutiva dos primatas.

FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL ONLINE. Adaptado de: <http://viajeaqui.abril.com.br/


materias/noticias-ancestrais-bipedes-evolucao>. Acesso em: 24 abr. 2013.

LEITURA COMPLEMENTAR II

O ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS

A vida e o fim dos neandertais

Stephen S. Hall

Reconstrução de mulher neandertal baseada na anatomia


de fósseis e na recuperação de dados genéticos

Em março de 1994, um grupo que explorava um sistema de cavernas


no norte da Espanha voltou suas lanternas para uma pequena galeria lateral e
notou duas mandíbulas humanas se projetando do solo arenoso. Esse conjunto de
grutas, El Sidrón, fica no centro de uma remota floresta de altitude na província
de Astúrias, logo ao sul da baía de Biscaia. Temerosos de que aqueles maxilares
pudessem ser da época da guerra civil, quando guerrilheiros republicanos usaram
El Sidrón para se refugiar das tropas de Franco, os exploradores avisaram a
Guarda Civil. Na galeria, as autoridades toparam com resquícios de uma tragédia
bem maior e – como se veria –, muitíssimo mais antiga que o conflito que dividiu
os espanhóis em meados do século 20.

83
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Em poucos dias, foram exumados cerca de 140 ossos, os quais foram


enviados, por ordem de um juiz local, ao Instituto Nacional de Medicina Legal, em
Madri. Quase seis anos depois, quando afinal os peritos concluíram seu trabalho,
a Espanha viu-se diante de seu mais antigo enigma policial. Estava confirmado
que os ossos achados em El Sidrón não eram de combatentes republicanos, e sim
de um bando de neandertais, que talvez tenham morrido de forma violenta, 43
mil anos antes. O local em que estavam os ossos põe esse grupo em uma das mais
importantes interseções geográficas da Pré-História, e a data o situa no âmago de
um dos mais persistentes mistérios de toda a evolução humana.

Os neandertais, os nossos parentes pré-históricos mais próximos,


dominaram a Eurásia por cerca de 200 mil anos. Durante esse tempo, eles meteram
seu nariz protuberante em todos os cantos da Europa, e mais além – ao sul, na
orla do Mediterrâneo, do estreito de Gibraltar até a Grécia e o Iraque; ao norte,
até a Rússia; a oeste, até a Inglaterra; e, a leste, quase até a Mongólia. Mesmo
no auge de sua ocupação da Europa ocidental, o número total de neanderdais
jamais passou de 15 mil. Ainda assim conseguiram sobreviver, mesmo quando
o resfriamento do clima transformou parte de seu território em uma paisagem
parecida com a do atual norte da Escandinávia – uma tundra gélida e estéril, cujo
horizonte sombrio é rompido por poucas árvores macilentas e uma quantia de
liquens suficiente apenas para manter vivas as renas.

Na época da tragédia de El Sidrón, todavia, os neandertais estavam


lutando para sobreviver. Condenados à Península Ibérica, a bolsões na Europa
central e ao litoral do Mediterrâneo, estavam oprimidos por condições climáticas
cada vez piores. Também perdiam terreno pelo avanço dos seres humanos
anatomicamente modernos, que eram originários da África e migraram primeiro
para o Oriente Médio e depois para toda a Eurásia. Por volta de 15 mil anos
depois, os neandertais haviam desaparecido para sempre, deixando apenas
ossadas e dúvidas. Formavam eles uma linhagem de sobreviventes inteligentes
e perseverantes, parecida com a nossa, ou não passavam de um beco sem saída
em termos cognitivos? O que houve entre 45 mil e 30 mil anos atrás, quando os
neandertais partilharam algumas regiões do território eurasiático com os homens
modernos? Por que um tipo de ser humano sobreviveu e o outro se extinguiu?

Em uma manhã nevoenta de setembro de 2007, eu estou na gruta El


Sidrón com Antonio Rosas, do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri,
coordenador dessa investigação paleoantropológica. Após dez minutos na
caverna, cheguei à Galería del Osario. Desde 2000, cerca de 1,5 mil fragmentos
de ossos foram retirados dali, constituindo os restos mortais de pelo menos nove
neandertais. Rosas recolhe o fragmento de um crânio recém-exumado e outro
pedaço de um osso comprido do braço, ambos com as bordas recortadas de
maneira irregular.

“Essas fraturas – clack! – foram feitas por seres humanos”, diz Rosas,
imitando o ruído do impacto de um instrumento de pedra. “Isso significa que
estavam em busca do cérebro, no interior do crânio, e do tutano, presente nos

84
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HUMANA E PERÍODO PALEOLÍTICO

ossos longos.” Além das fraturas, marcas de cortes nos ossos indicam que os
indivíduos foram objeto de canibalismo. Logo após a morte dos nove, o solo sob
eles cedeu de repente, impedindo que hienas e outros animais dispersassem as
ossadas.

Uma maçaroca de ossos, sedimentos e pedras despencou 20 metros


em uma câmara de calcário oca. Ali, protegidas por areia e argila, preservadas
pela temperatura constante da caverna e incrustadas no osso mineralizado,
sobreviveram preciosas moléculas do código genético dos neandertais,
aguardando a época no futuro em que poderiam ser examinadas, de modo a
revelar pistas de como viviam essas pessoas.

O primeiro indício de que o nosso tipo de ser humano não foi o primeiro a
habitar a Europa surgiu há um século e meio, em um local 13 quilômetros a leste
da cidade alemã de Düsseldorf. Em agosto de 1856, operários que trabalhavam
em uma mina de calcário no vale do rio Neander escavaram um crânio com
testa proeminente e ossos grossos nas pernas. Desde o início, os neandertais
carregaram a pecha de um persistente estereótipo cultural, sendo vistos como
abrutalhados moradores das cavernas. O tamanho e a forma dos fósseis sugerem
que eram baixos e robustos (os homens tinham em média 1,60 metro de altura e
pesavam cerca de 84 quilos), com músculos que protegeriam pulmões de grande
capacidade. O paleoantropólogo Steven E. Churchill calculou que, para manter
essa massa corporal em um clima frio, um neandertal adulto do sexo masculino
teria de ingerir 5 mil calorias por dia. Contudo, por trás da fronte projetada, o
crânio achatado de um neandertal abrigava um cérebro com volume algo superior
ao da nossa própria média atual. E ainda que suas ferramentas e armas fossem
mais primitivas que as dos seres humanos modernos que os suplantaram na
Europa, elas não eram menos elaboradas que os implementos produzidos pelos
seres humanos da época na África e no Oriente Médio.

FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/


o-ultimo-dos-neandertais>. Acesso em: 24 abr. 2013.

85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você estudou que:

• O período Paleolítico é o mais extenso da Pré-História, durando de 4,5 milhões


de anos até 10.000 a.C.

• Durante o Paleolítico as sociedades eram nômades, caçadoras e coletoras.

• Ao longo deste período, os grupos humanos aprenderam a fabricar


instrumentos, dominaram o fogo, desenvolveram a linguagem e constituíram
sociedades.

• A sequência evolutiva dos principais hominídeos é: Australopithecus, Homo


habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e Homo sapiens sapiens.

86
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conhecimentos adquiridos neste tópico, responda às questões a


seguir:

1 “Muitas pessoas falam com desprezo do Paleolítico e de seus grosseiros


apetrechos de sílex. Na realidade, esses homens eram mestres artesãos que
aproveitavam a pedra quase ao máximo, sabendo escolher o material de
acordo com o uso ao qual o utensílio se destinava”. (BORDES, 1950, p. 25).

Considerando o fragmento do texto e as informações estudadas na unidade,


responda qual foi a importância do período Paleolítico para o desenvolvimento
do homem.

2 O cientista Charles Darwin criou no século XIX a teoria da evolução das


espécies. Quais são as ideias defendidas por essa teoria? Como a evolução
humana é explicada por Darwin?

3 Assinale as afirmações que trazem as informações corretas a respeito dos


hominídeos:

a) ( ) O Homo sapiens sapiens evoluiu diretamente do Homo sapiens neanderthalensis.


b) ( ) A descoberta do fogo, ocorrida há cerca de 500 mil anos, foi anterior ao
aparecimento do Homo sapiens sapiens.
c) ( ) O Homo sapiens sapiens conviveu durante milhares de anos com o Homem
de Neandertal.
d) ( ) A evolução constitui-se em uma adaptação ao meio ambiente.
e) ( ) O primeiro hominídeo a migrar da África foi o Australopithecus.

87
88
UNIDADE 2 TÓPICO 2
PERÍODO MESOLÍTICO

1 INTRODUÇÃO
O período Mesolítico é considerado o período de transição entre o
Paleolítico e o Neolítico. Neste momento começaram a ocorrer mudanças e
transformações significativas que possibilitaram a fixação dos grupos hominídeos
ao solo. Como características do Mesolítico podemos destacar:

• o fim da última era glacial;

• extinção de animais de grande porte;

• surgimento de espécies menores de animais;

• intensificação da coleta;

• modificação alimentar dos hominídeos;

• início da fixação dos hominídeos à terra;

• povoamento da América.

2 PERÍODO MESOLÍTICO
O período Mesolítico corresponde aos últimos 100 mil anos do período
Paleolítico e é considerado como período intermediário entre a economia caçadora
e coletora do Paleolítico e a economia produtora do Neolítico.

Com o fim da última Era Glacial, os grandes animais como mamutes


desapareceram, e os grupos passaram a sobreviver da caça de animais de pequeno
porte, como o cabrito montês, o alce, o boi e o porco. Além disso, houve um maior
desenvolvimento da pesca e da coleta intensiva.

Com o fim dos grandes rebanhos, a carne tornou-se mais escassa e a


caça tornou-se mais difícil, já que os animais eram mais velozes. Assim, para se
adaptar às novas condições, os hominídeos aperfeiçoaram os artefatos, passando
da produção de lanças de pedra lascada a instrumentos mais elaborados, como o
arco e flecha, anzóis, agulhas e artefatos de cerâmica.

89
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Para conseguir a caça, os caçadores passaram a observar o comportamento


dos animais conforme as estações. Neste período ocorreram também as glaciações,
que possibilitaram o deslocamento de populações para outros continentes, dando
início ao povoamento da América. Além disso, podemos citar como grande
conquista das populações humanas as primeiras manifestações artísticas e
religiosas, a exemplo das pinturas rupestres e esculturas.

FIGURA 31 – POSSÍVEL ROTA DE MIGRAÇÃO DOS HOMINÍDEOS

FONTE: Disponível em: <www.cienciahoje.uol.com.br/view/2298>. Acesso em:


12 nov. 2006.

O Estreito de Bering é um estreito (corredor de terra) localizado entre


a Rússia e o Alasca (ver figura anterior). Foi denominado desta maneira em
homenagem ao explorador russo Vitus Bering. A área, hoje coberta por água, é
entendida por alguns pesquisadores como a passagem que permitiu a chegada
dos primeiros seres humanos à América. Segundo estes pesquisadores, a entrada
do homem, onde atualmente é nosso continente, teria se dado em momentos em
que o mar estava muito mais baixo que atualmente, unindo os dois continentes
(Ásia e América). Contudo, conforme veremos na Unidade 3, esta é apenas uma
das teorias existentes.

90
TÓPICO 2 | PERÍODO MESOLÍTICO

2.1 ARTE E CRENÇA NA PRÉ-HISTÓRIA


As manifestações artísticas do homem mais antigas já encontradas são
as pinturas rupestres produzidas na caverna de Lascaux, com data de 11.000 a
15.000 anos. Acredita-se que os artistas utilizavam técnicas variadas, como o uso
de plumas de aves molhadas em tintas naturais, bem como musgos, peles de
animais ou as próprias mãos.

A produção da arte estava relacionada ao pensamento religioso existente


na Pré-História. Como mantinham um contato permanente com a natureza, era
necessário fazer ritos e oferendas aos espíritos que habitavam os elementos da
natureza para obter alimento e fertilidade. Esta forma inicial de crença é chamada
de animismo. O pensamento animista influenciou a produção dos desenhos
rupestres encontrados nas cavernas da Europa, Ásia e América. Segundo o
historiador Childe (1966, p. 46):

Nos recessos profundos das cavernas de calcário, com a impenetrável


escuridão quebrada apenas pela frágil chama da gordura queimando
numa lâmpada de pedra [...], os artistas-mágicos pintavam ou
gravavam rinocerontes, mamutes, bisões e renas que lhes serviam
de alimento. Com a mesma segurança que ele reproduzia um bisão
na parede da caverna, acreditava que um bisão real apareceria para
que seus companheiros o matassem e comessem. As figuras pintadas
são sempre individualizadas, verdadeiros retratos. Refletem uma
observação minuciosa e consciente dos modelos reais.

Assim, os artistas que criaram as pinturas nas cavernas acreditavam que


o seu desenho iria garantir o sucesso da caça, atraindo o animal para perto dos
caçadores, e os animais representados são sempre animais caçados, como os
bisões em cavernas da Europa e preguiças nas pinturas encontradas no Brasil.

Outra forma de manifestação artística ligada a esta forma de pensamento


são as estatuetas femininas, conhecidas como Vênus pré-históricas. De pequenas
dimensões (3,5 a 20 cm), elas foram encontradas na Europa e na Ásia e eram
esculpidas em pedra ou marfim. A maioria das figuras não tinha rosto e
apresentava formas arredondadas como quadris e seios grandes. Estas estatuetas
tinham a função mágica de trazer uma boa colheita e a fertilidade humana e dos
animais. As imagens mais antigas já encontradas são a Vênus de Willendorf (20
mil anos a.C.) e a Vênus de Dolni (24 mil anos a.C.).

91
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

NOTA

Para aprofundar seus conhecimentos sobre este conteúdo, sugerimos a leitura de


Childe (1966), considerado um clássico entre os livros sobre Pré-História.

FIGURA 32 – PINTURA RUPESTRE NA CAVERNA DE LASCAUX, FRANÇA

FONTE: Disponível em: <www.lascaux.culture.fr>. Acesso em: 24 abr. 2013.

NOTA

A caverna de Lascaux não se encontra mais disponível para visitação por motivos de
conservação. No entanto, o governo francês elaborou uma forma muito interessante de tornar este
patrimônio acessível ao público de qualquer parte do mundo. Trata-se de uma reconstituição de
diversas salas da caverna e suas pinturas, em 3D. O passeio virtual pode ser feito pelo site <www.
lascaux.culture.fr>. Ele não está disponível em português, mas a visita é de fácil acesso. Acesse o
endereço e aproveite para fazer uma viagem pela Pré-História através das impressionantes pinturas
encontradas nas paredes da caverna.

92
TÓPICO 2 | PERÍODO MESOLÍTICO

FIGURA 33 – EXEMPLO DE VÊNUS PRÉ-HISTÓRICA: VÊNUS DE


WILLENDORF, ATUALMENTE EXPOSTA NO MUSEU DE
HISTÓRIA NATURAL DE VIENA

FONTE: As autoras

LEITURA COMPLEMENTAR

LASCAUX: A CURIOSIDADE A DESCOBRIU E A CIÊNCIA A SALVOU

Muitas descobertas arqueológicas acontecem por acaso e por pessoas


comuns. O que você faria se encontrasse um tesouro arqueológico? Veja o que
aconteceu a um grupo de meninos franceses.

No dia 12 de setembro de 1940, quatro meninos de Montignac, uma


localidade do sudoeste da França, brincavam entre os pinheiros e castanheiras de
uma colina, quando viram um pequeno buraco no chão. Curiosos, eles aumentaram
o buraco o suficiente para que pudessem entrar rastejando. Chegaram a um
corredor estreito de pedras e continuaram seguindo mais ao fundo. Ao erguerem
sua lamparina a óleo, levaram um susto: as paredes e o teto estavam recobertos
de pinturas de touros, cavalos, veados e outros animais.

Eles comunicaram a descoberta a seu professor. Este telefonou para o


abade Henri Breuil, um especialista em pinturas rupestres, que foi ver as pinturas
na caverna. Breuil não teve dúvidas: eram autênticas e deveriam ter alguns
milhares de anos. O governo francês da região foi avisado e, três meses depois,
declarou o local monumento histórico.

Os arqueólogos concluíram que as pinturas da caverna de Lascaux tinham


entre 11 e 15 mil anos de idade. Eram magníficas pela quantidade e variedade de
animais pintados, pela policromia, pelos movimentos dos animais retratados em
plena ação e pelo uso da perspectiva. Os artistas de Lascaux souberam até utilizar
as formas da parede para dar mais realismo às imagens. Assim, por exemplo,
uma saliência na rocha era aproveitada para dar relevo à barriga do animal; uma

93
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

falha na pedra dava vida às narinas ou aos olhos. As cores empregadas – preto,
vermelho, amarelo, alaranjado – eram obtidas de pigmentos naturais de terra e
rocha, moídos até se transformarem em um pó fino que se dissolvia na água.

Em julho de 1948, a caverna foi aberta à visitação pública. A entrada


foi ampliada e recebeu uma escada de pedra e uma porta de bronze. O interior
recebeu uma iluminação especial. Um ar condicionado mantinha a temperatura
constante de 14ºC e a umidade do ar de 98% – clima semelhante à época em que
as pinturas foram feitas. O aparelho parecia tão eficaz na purificação da atmosfera
que se autorizou a visita de 14 mil pessoas por dia. Doze anos depois, uma triste
constatação: manchas verdes começaram a aparecer nas paredes e no teto. Eram
colônias de algas, musgos e fungos – um perigo para as pinturas.

Formou-se uma comissão de cientistas de todas as disciplinas: químicos,


biólogos, arqueólogos, físicos, geólogos. Uma medida radical foi necessária: o
fechamento da caverna ao público em abril de 1963. Foram mais de dez anos
de pesquisa, na qual mais de 25 laboratórios participaram nos trabalhos de
recuperação de Lascaux. A caverna foi inteiramente pulverizada por antibióticos.

Foi necessário também controlar o gás carbônico exalado pela respiração


humana e eliminar qualquer microrganismo presente no corpo e nas vestimentas
dos visitantes. Daí a decisão de mantê-la, até hoje, fechada. Ela pode receber até
5 visitas por dia, desde que sejam cientistas. Devido à importância do achado, o
governo francês autorizou a construção de uma réplica de Lascaux para que um
público maior pudesse conhecê-la. Uma empresa especializada na construção de
cenários teatrais construiu uma caverna artificial com precisão milimétrica.

Somente uma galeria foi reproduzida: a Sala dos Touros. Foi um trabalho
difícil. Como colocar na superfície desigual das paredes amplificações fotográficas
das imagens? Os laboratórios fotográficos encontraram a solução: tornar
gelatinosa a película fotográfica sem que ela se deformasse quando esticada e
sem alterar a densidade das cores originais. E mais, foram feitos negativos em
cores e com as dimensões originais das pinturas (há algumas com quatro metros
de comprimento!).

O trabalho ficou perfeito. Para dar a sensação ao visitante de que ele está
entrando em uma caverna verdadeira, o ar condicionado mantém a temperatura
baixa, a iluminação é fraca e há um efeito sonoro de água gotejante, característico
das grutas.

FONTE: RODRIGUES, Joelza Éster. História em documento. São Paulo: FTD, 2001. p. 310.

94
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:

• O período Mesolítico foi o período de transição entre o Paleolítico e o Neolítico.

• Durante o Mesolítico ocorreu o fim da última glaciação.

• Com o fim da última glaciação, animais de grande porte entraram em extinção.

• Os hominídeos passaram a se alimentar de animais de pequeno porte e


intensificaram a coleta.

• Alguns grupos de hominídeos iniciaram o processo de sedentarização.

• Segundo a teoria de Clóvis, o povoamento da América se deu na última


glaciação, com a travessia do Estreito de Bering.

• Surgiram as primeiras formas de manifestação artística como as das cavernas


de Lascaux e Altamira.

• A arte pré-histórica estava ligada ao pensamento religioso dos hominídeos.

95
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conhecimentos adquiridos neste tópico, responda às questões a


seguir:

1 “Ignoramos como a arte começou, tanto como desconhecemos como


teve início a linguagem. Se aceitamos que a arte significa o exercício de
atividades, tais como a edificação de templos e casas, a realização de pinturas
e esculturas, nenhum povo existe no mundo sem arte”. (GOMBRICH, 1950,
p. 39).

Qual era o papel desempenhado pela arte durante o período pré-histórico?


Qual a relação entre as crenças do Paleolítico e as manifestações artísticas?

2 Quais são as teorias que explicam o povoamento das Américas? Em que


período ocorreu esse deslocamento populacional?

3 Por que é possível afirmar que o período Mesolítico foi um período de


transição entre o Paleolítico e o Neolítico? Quais foram as principais
mudanças ocorridas neste período?

96
UNIDADE 2 TÓPICO 3

PERÍODO NEOLÍTICO

1 INTRODUÇÃO
O período Neolítico teve início por volta de 12 mil anos, trazendo
modificações na relação do homem com a natureza. O nome dado a este período
(nova Idade da Pedra) faz referência à nova técnica utilizada para produzir
artefatos. Se no Paleolítico eles eram produzidos de pedra lascada, agora passam
a ser feitos, também, de pedra polida.

O termo “neolítico” é utilizado pelos arqueólogos e antropólogos para


designar uma série de mudanças culturais e tecnológicas, que o diferencia dos
períodos anteriores. As mudanças percebidas pelos pesquisadores foram a
elaboração de novas e mais especializadas ferramentas de rocha, desenvolvimento
de novos artefatos produzidos com a utilização de novos materiais como,
por exemplo, o barro para a produção da cerâmica e o surgimento de vilas
permanentes, dependentes da domesticação de animais e plantas. Neste período
a vida dos homens mudou muito, eles passaram de caçadores e coletores nômades
a grupos sedentários que dominavam a agricultura e criavam os animais, assim a
necessidade da caça diminuiu muito.

O período Mesolítico aconteceu em diferentes partes do mundo e


caracterizou-se por um processo gradual de transição da cultura de coleta de
alimentos para a cultura de produção de alimentos. É muito importante pensar
nestas mudanças enquanto um processo e ter em mente que os hábitos não
mudaram repentinamente, mas foram resultado da união de diversos fatores,
sendo um dos principais as mudanças climáticas. Os primeiros vestígios de
neolitização foram encontrados na Ásia e datam de aproximadamente 8.000 anos
a.C. Na América, como veremos na próxima unidade, a domesticação de plantas
e animais aconteceu independentemente do chamado “Velho Mundo”. Por volta
de aproximadamente 1.500 a.C., grupos que cultivavam milho, feijão e outras
plantas estiveram presentes nos territórios atualmente ocupados pelo México e
pela América do Sul, mais tarde dando origem às civilizações inca e asteca e se
espalhando para outras partes da América até o momento do contato com os
europeus.

Como principais características deste período, podemos citar:

• o domínio da natureza pelo homem;

• o cultivo de alimentos;

97
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

• a domesticação de animais;

• a sedentarização;

• o aumento populacional;

• a divisão do trabalho por sexo e idade;

• o surgimento das primeiras aldeias.

2 REVOLUÇÃO NEOLÍTICA
Alguns historiadores consideram que, de todos os períodos da História da
humanidade, nenhum foi tão significativo quanto o período Neolítico. Para estes
pesquisadores, se considerássemos todas as revoluções, guerras, mudanças de
sistema político ocorridas em nossa História, nenhuma teria causado mudanças
tão profundas.

E por que este período foi tão importante? Se durante o Paleolítico grupos
humanos se extinguiram por falta de alimento, o Neolítico proporcionou, pela
primeira vez, a sobra de alimentos e, consequentemente, o aumento da população.
Em nenhum momento da História a população cresceu de forma tão intensa. “A
produção de um excedente agrícola, somado à atividade criadora, serviu para
atender as necessidades da comunidade em períodos mais duros”. (PINSKY, 2001,
p. 32). O domínio do cultivo de alimentos e a domesticação de animais trouxe
estabilidade para as populações, permitiu a fixação ao solo e criou novas formas
de sociedade. Com a sobra de alimentos, a divisão do trabalho passou a ser feita
de acordo com o sexo e a idade. Surgiram também os líderes das comunidades,
que administravam os problemas coletivos.

2.1 O DOMÍNIO DA AGRICULTURA


Entre os períodos de 12.000 e 10.000 anos, a agricultura teve início na
região do Crescente Fértil, faixa de terra que inicia no vale do rio Nilo até a
Mesopotâmia. Esta região corresponde hoje aos territórios do Iraque e da Síria.
Posteriormente, a agricultura se difundiu para a Ásia e para a Europa. Pesquisas
arqueológicas sugerem que as mulheres podem ter descoberto acidentalmente
a agricultura. Como as mulheres permaneciam nos acampamentos enquanto os
homens saíam à caça, podem ter observado a germinação espontânea das plantas.
Já que os alimentos eram jogados em volta dos acampamentos, essa observação
pode ter proporcionado a descoberta da agricultura.

A descoberta da agricultura foi algo fundamental para mudanças no


modo de vida das populações, bem como no ambiente em que viviam. A prática
da agricultura cria um ecossistema artificial, no qual espécies de animais e plantas
são selecionadas para cultivo e criação. Neste caso, tanto os animais como as
98
TÓPICO 3 | PERÍODO NEOLÍTICO

plantas começam a ser modificados pelo homem, e passam a se distanciar de seus


parentes selvagens, levando a modificações em suas morfologias. Por isto espécies
domesticadas podem ser facilmente diferenciadas daquelas que permaneceram
no estágio selvagem.

2.2 ORGANIZAÇÃO SOCIAL


A organização social do período Neolítico não obedecia a um sistema
hierárquico. Como já foi dito, existia um líder escolhido entre o grupo por sua
capacidade de argumentação, coordenação de caça ou proteção. Esses líderes não
controlavam a sociedade nem eram considerados superiores. Acredita-se que a
sociedade tinha poder para substituí-los.

Durante o Neolítico, a população cresceu de forma considerável, e os grupos


de agricultores eram sempre mais numerosos do que os de caçadores. A terra era
considerada um bem coletivo da sociedade, não pertencia a nenhum indivíduo. A
divisão do trabalho era feita por sexo e idade. No início do Neolítico, os homens
dedicavam-se à caça de animais de pequeno porte, geralmente acompanhados
por cães recém-domesticados. Já as mulheres dedicavam-se ao cultivo e preparo
de alimentos, ao cuidado dos filhos e, às vezes, à criação de gado. É importante
observar que a necessidade da caça demonstra que as comunidades ainda não se
sustentavam apenas com o cultivo de alimentos.

O novo modo de vida baseado na agricultura e na domesticação de animais


diminuiu os deslocamentos. Esses agricultores construíram habitações sólidas
e ocupavam mais tempo um lugar. Porém, quando se esgotavam as reservas
do solo, os agricultores precisavam procurar novos locais. Estabeleciam-se nos
arredores e iam alternando áreas já ocupadas. Após algum tempo, retornavam ao
local de origem.

Assim, pode-se dizer que os grupos se tornaram seminômades durante


os primeiros milênios do Neolítico. A agricultura não substituiu totalmente
a dependência da caça, mas trouxe modificações profundas para os grupos
humanos.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a), é importante lembrar que nem todos os grupos humanos


passaram necessariamente de caçadores-coletores a agricultores. Vários grupos da Amazônia, por
exemplo, alimentavam-se de peixes, enquanto os massai, na África, caçavam bois.

99
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

2.3 ALDEIAS NEOLÍTICAS


As primeiras aldeias tiveram início quando as comunidades agricultoras
fixaram-se em um território, construindo as primeiras habitações. Estas aldeias
eram inicialmente formadas por 25 a 35 habitações, sendo construídas das mais
diversas formas. Algumas delas eram feitas sobre palafitas, escavadas no chão ou
feitas de pedras, madeira e barro. A construção de moradias tinha como objetivo
a permanência em áreas próximas aos rebanhos e plantações.

Achados arqueológicos mostram que as aldeias eram formadas por tribos


integradas por vários clãs. Os clãs, por sua vez, eram integrados por várias
famílias com um antepassado em comum. Assim, quase todos os que viviam na
aldeia possuíam alguma forma de parentesco.

No período das aldeias, as decisões eram todas tomadas pelo patriarca,


escolhido pelos membros da comunidade entre os chefes de família. Um exemplo
desses líderes são os patriarcas hebreus, como Abraão e Moisés, citados na Bíblia.
A principal atividade das aldeias era o cultivo coletivo das terras. Tudo o que era
produzido era dividido igualmente entre os membros. Assim, pode-se dizer que
neste período não havia ainda a desigualdade social.

Além da agricultura, o Neolítico trouxe outras importantes inovações. A


necessidade de guardar e preparar os alimentos, por exemplo, impulsionou a
criação de recipientes que suportassem o calor do fogo, como os de cerâmica.
Além disso, foram criados os fornos, foices, enxadas e pilões para moer o trigo. A
tecelagem também foi outra importante criação do Neolítico. Se no Paleolítico as
roupas eram feitas de pele de animais, no Neolítico o homem descobriu a técnica
da fiação, utilizando fibras animais e vegetais. Surgiram assim as primeiras
roupas feitas de linho e algodão.

As modificações provocadas por este novo modo de vida são reconhecidas


através dos vestígios arqueológicos. Durante as pesquisas são encontrados,
conforme mencionado acima, diversos dos novos intrumentos criados pelas
sociedades neolíticas para se adaptarem às suas novas necessidades. A figura a
seguir demonstra alguns dos instrumentos, como o machado e a foice neolítica,
além do almofariz (espécie de pilão), intrumento muito importante e típico do
período, utilizado para a moagem de grãos e fabricação da farinha.

100
TÓPICO 3 | PERÍODO NEOLÍTICO

FIGURA 34 – INSTRUMENTOS TÍPICOS DO PERÍODO NEOLÍTICO

FONTE: Disponível em: <http://www.bible-archaeology.info/agriculture.htm>. Acesso


em: 24 abr. 2013.

Neste sentido, entre os principais progressos técnicos desenvolvidos


durante o Neolítico estão:

• a cerâmica: recipientes utilizados para armazenar e carregar alimentos e


líquidos e, em algumas sociedades, para sepultar os mortos;

• a tecelagem: as fibras como o linho e o algodão, bem como a lã das ovelhas, por
exemplo, passaram a ser utilizadas para fabricação de roupas;

• a cestaria: com a utilização de vime, palha e até couro, as sociedades neolíticas


fabricavam diversos tipos de cestos para armazenamento e transporte de
alimentos e utensílios;

• a moagem: processamento dos grãos colhidos para a obtenção da farinha.

2.4 AS PRIMEIRAS CIDADES


Acredita-se que as primeiras cidades tenham surgido na região da
Mesopotâmia por volta de 7 mil anos. As duas cidades consideradas mais antigas
pelos pesquisadores são Çatalhöyük, com cerca de 7 mil anos, e Jericó, com 6.500
anos.

A cidade de Jericó é citada na Bíblia e localizava-se nas proximidades do


rio Jordão e do Mar Morto. Construída por um povo conhecido como asmoneus,

101
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

ela foi ampliada e fortificada por Herodes. As muralhas de Jericó, provavelmente,


foram construídas para a defesa do ataque de outros povos.

Segundo estudos arqueológicos, nas ruínas da cidade foram encontrados


restos de alimentos, cerâmica e provas de que já existia culto aos mortos com
rituais fúnebres. Outra cidade do mesmo período foi Çatalhöyük. Em 1958, os
arqueólogos descobriram um povoado em uma coluna da Turquia central, datado
de 7 mil anos e com uma população de 8 mil habitantes, distribuídos em 2 mil
casas, de tamanho variado entre 1 e 48 metros quadrados.

As escavações mostram um grau avançado de arquitetura, em que as casas


eram construídas de tijolo cru. A entrada era feita através do teto, com acesso
por uma escada de madeira. Nas casas havia um cômodo principal, usado para
comer, preparar alimentos e dormir, e outros secundários utilizados como locais
de armazenamento. Observou-se que as casas eram limpas, já que não foram
encontrados restos espalhados de alimentos. Também existia uma área na casa
que era utilizada como banheiro e lixo.

Já existiam ritos fúnebres, nos quais os mortos eram enterrados dentro das
casas, embaixo de plataformas utilizadas como camas. As pesquisas arqueológicas
nesta cidade mostraram a possibilidade da existência de sociedades matriarcais,
em que a liderança e a descendência eram transmitidas através da linhagem
feminina. Um dos indícios desta hipótese são as estatuetas femininas encontradas
no local. Achados relativizam informações contidas em outros documentos
históricos. Através da pesquisa na Bíblia, acreditava-se que todas as sociedades
antigas fossem patriarcais.

FIGURA 35 – ILUSTRAÇÃO DA CIDADE DE ÇATALHÖYÜK

FONTE: Disponível em: <http://www.cidadesturismo.com/2012/02/as-cidades-


mais-antigas-do-mundo.html>. Acesso em: 9 abr. 2013.

102
TÓPICO 3 | PERÍODO NEOLÍTICO

2.5 A CRENÇA DURANTE O NEOLÍTICO


Mais do que no período Paleolítico, os agricultores dependiam de uma
observação da natureza para obter seu alimento. Foi necessário que aprendessem
a observar as estações para acompanhar o crescimento das plantas e as fases da
Lua.

O homem do Neolítico está profundamente ligado à terra. As sociedades


agricultoras dependem da terra para o cultivo, sepultam os seus mortos e
constroem nela suas habitações. Durante este período, os elementos da natureza
eram considerados verdadeiras divindades. Para reverenciar os elementos da
natureza, os grupos produziam monumentos em grandes proporções, como o
monumento megalítico de Stonehenge, na Inglaterra. Esses enormes blocos de
pedra marcavam os locais onde o sol se erguia e se punha, e provavelmente eram
locais de rituais religiosos.

Acredita-se que os monumentos megalíticos tenham também relação


com a observação dos astros, podendo ser uma primeira forma de calendário
astronômico. Outros monumentos de pedra famosos são os dólmens e menires,
possíveis altares ou templos para mortos. Estes monumentos são encontrados em
quase toda a Europa.

FIGURA 36 – STONEHENGE, UM DOS MAIS FAMOSOS EXEMPLOS


DE MONUMENTOS MEGALÍTICOS, LOCALIZADO NA
INGLATERRA

FONTE: Disponível em: <http://www.english-heritage.org.uk/daysout/


properties/stonehenge/>. Acesso em: 24 abr. 2013.

Os cultos aos mortos também se tornaram mais elaborados. Durante o


Neolítico os mortos eram enterrados com seus pertences, indicando uma possível
crença na vida após a morte. Vários povos agricultores construíram também
tumbas coletivas com paredes de pedras. As estatuetas femininas também

103
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

continuaram a ser produzidas no período Neolítico, porém apresentando algumas


diferenças. Estatuetas de terracota encontradas no Egito mostram figuras mais
esguias, já com a representação do rosto.

LEITURA COMPLEMENTAR

[...]

O desenvolvimento das comunidades neolíticas e o surgimento das


primeiras sociedades organizadas em torno de um Estado foram marcados
por uma série de inovações técnicas em seu modo de vida e de produção. A
revolução agrícola, a utilização do fogo, o nascimento do patriarcado, todavia,
não são frutos de um processo imediato. São resultado de pequenas evoluções
diárias, verificadas no aperfeiçoamento dos instrumentos do trabalho e dos seus
objetivos, alcançado por essas sociedades.

Não se deve pensar que a passagem da atividade coletora para a agrícola


tenha se dado de uma maneira brusca ou por um toque de mágica. Deu-se, antes,
através de um longo processo que inclui cuidadosa percepção dos fenômenos
naturais, elaboração de teoria de causa e efeito e doses de acidentalidade. Um
grão caído na terra começa a germinar e é observado em seu crescimento por
algumas mulheres que estão coletando na área: aí temos provavelmente a base da
transformação.

Que essa transformação tenha sido lenta, não se duvida. Afinal, entre saber
que os vegetais crescem se plantados e conseguir organizar uma plantação racional
e rentável, existe uma longa distância, que passa pela necessidade de alteração de
padrões de comportamento já arraigados. A convivência com a coleta deve ter sido
o fenômeno mais comum durante muito tempo.

O fato é que a economia simples de produção de alimentos provocará


grandes transformações no grupo. Pela primeira vez haverá um excedente a ser
armazenado. Isso não decorre da vontade manifesta dos membros ou de algum
sentimento de usura, mas da própria realidade ditada pela natureza: os grãos
produzidos ficam maduros de uma só vez numa certa época e não ao longo do
ano. Entretanto, deverão ser consumidos lentamente em refeições ao longo do
ano todo. Além disso, parte dos grãos deverá servir de semente para a próxima
semeadura.

O grupo precisa mudar sua atitude em relação ao alimento: começa a


planejar e a poupar, começa também a construir silos e galpões adequados para
o armazenamento dos grãos. Independência econômica não pode ser confundida
com isolamento. Contatos entre tribos neolíticas deviam ser frequentes e até
amistosos. Encontros de pastores com agricultores ocorreram muito, sem contudo
transformarem-se em integração política. Trocas de produtos excedentes não
alteraram a estrutura dos grupos.
104
TÓPICO 3 | PERÍODO NEOLÍTICO

Por isso mesmo, dificilmente poder-se-ia falar em uma cultura neolítica


comum a todos os povos do período. Cada grupo, a partir do número de seus
membros, condições climáticas, fauna e flora, além de outros fatores, estabeleceu
sua especificidade cultural, concretamente construída. Sua diversidade era tão
grande quanto a variedade de territórios ocupados. Assim, em vez de cultura
neolítica, seria mais correto referir-se às culturas neolíticas, no plural.

FONTE: PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2001. p. 72.

105
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:

• O período Neolítico iniciou entre 12.000 e 10.000 anos, com o surgimento da


agricultura.

• O nome Neolítico vem de nova idade da pedra – período em que os instrumentos


eram produzidos com a técnica da pedra polida.

• A agricultura e a domesticação de animais possibilitaram a sedentarização dos


homens.

• Durante o Neolítico ocorreu um aumento considerável da população humana.

• Nas aldeias neolíticas as terras eram coletivas.

• O trabalho era dividido de acordo com o sexo e a idade.

• As primeiras cidades surgiram por volta de 7 mil anos.

• Os monumentos megalíticos reverenciavam os elementos da natureza.

106
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conhecimentos adquiridos neste tópico, responda às questões a


seguir:

1 “[...] em vez de cultura neolítica, seria mais correto referir-se às culturas


neolíticas, no plural.” Considerando os conhecimentos aprendidos nesta
unidade, justifique a afirmação de Jaime Pinsky.

2 O que foi a “Revolução Neolítica”?

107
108
UNIDADE 2
TÓPICO 4

IDADE DOS METAIS

1 INTRODUÇÃO
A Idade dos Metais é considerado o último período da Pré-História, tendo
iniciado há 6 mil anos a.C. e terminado por volta de 4.000 a.C. A Idade dos Metais
está dividida em três fases: Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro.
Como principais características deste período, podemos citar:

• o surgimento da metalurgia;

• a criação de invenções como a roda e o arado;

• a invenção da escrita;

• a formação de sociedades mais complexas;

• o surgimento do Estado;

• a diversificação das funções no trabalho;

• surgimento da propriedade privada e da hierarquia;

• surgimento do comércio;

• surgimento das primeiras civilizações.

2 IDADE DOS METAIS


No período final da Pré-História, as comunidades do Oriente
Próximo passaram a fazer uso dos metais no desenvolvimento de artefatos. O
desenvolvimento da metalurgia trouxe uma superioridade técnica e bélica para
os povos que dominavam este conhecimento. Os povos que criaram instrumentos
de metal podiam se defender mais adequadamente do ataque de animais e até
de povos inimigos. Um instrumento de pedra que fosse danificado não poderia
ser restaurado, ao passo que o de metal poderia ser novamente fundido. Além
da elaboração de armas, a maleabilidade do metal possibilitou a confecção de
utensílios como panelas, agulhas, pregos e arados, pinças, conchas etc.

109
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Na Idade dos Metais, o uso de novas técnicas aumentou a produção


agrícola, causando um excedente de alimentos. Graças a isso foi possível a
diversificação das funções no trabalho e o surgimento do comércio. A união das
comunidades em torno de obras hidráulicas ocasionou o surgimento do Estado.

As etapas do desenvolvimento da metalurgia foram as seguintes:

2.1 IDADE DO COBRE


Ao escavarem o solo em busca de pedra para construir artefatos, alguns
grupos encontraram o cobre. Este minério era facilmente encontrado no solo das
regiões do Crescente Fértil. As comunidades moldavam o cobre com auxílio de
martelos de pedras, ou através do aquecimento do material.

Os instrumentos mais antigos já encontrados foram na cidade de Ur,


com data de 6.000 a.C., porém o uso do cobre não eliminou totalmente o uso de
instrumentos de pedra. Outras regiões com indícios de instrumentos de cobre
foram a Índia e o Egito antigo.

2.2 IDADE DO BRONZE


Este metal é produzido através de uma liga de estanho e bronze. No entanto,
como a quantidade de estanho não era tão abundante em todas as regiões, locais
como o Egito permaneceram utilizando o cobre. O bronze era utilizado na fabricação
de artefatos de guerra, como lanças e espadas. Este material também era empregado
na criação de materiais do cotidiano, como, por exemplo, espelhos.

2.3 IDADE DO FERRO


Acredita-se que o primeiro contato dos grupos humanos com o ferro
tenha sido através de meteoritos, o que levou os grupos a relacionarem o metal a
divindades. Consideravam, assim, que ele havia sido enviado pelos deuses.

Para extrair o ferro do seu minério, era necessário aquecê-lo e separar


as impurezas com esponja de ferro e bigorna, trabalho que exigia muita
especialização. Dentre outros lugares, foram encontrados artigos de ferro no
Egito, na Grécia e em Roma.

2.4 SURGIMENTO DO COMÉRCIO


Neste período final da Pré-História, as sociedades se encontravam em
um momento diferenciado do Paleolítico e do Neolítico. A combinação da caça
com a agricultura gerou uma sobra de alimentos, possibilitando um melhor
planejamento econômico.
110
TÓPICO 4 | IDADE DOS METAIS

Com a invenção do arado e o uso da roda aliada à tração animal, foi possível
ampliar as áreas cultivadas, dependendo de um número menor de pessoas. Como
as lavouras não estavam livres de alterações do clima, normalmente plantava-
se mais do que o necessário, armazenando os cereais em silos e celeiros. Essas
grandes construções protegiam o alimento do sol e da chuva. Assim, em períodos
em que a produção era escassa, utilizava-se o estoque.

Outro fator que aumentou a produção agrícola foi a invenção dos canais
de irrigação. Como as antigas sociedades desenvolveram-se ao longo de rios como
o Tigre, Eufrates, Nilo, Amarelo e Ganges, a água era aproveitada em momentos
de pouca chuva. O aumento da produção provocou uma sobra que passou a ser
trocada entre os grupos. Inicialmente, não havia moeda, apenas o escambo. Mais
tarde, o gado foi utilizado como moeda de troca (pecúnia). Com a necessidade de
uma maior facilidade de transporte, os metais preciosos passaram a ser utilizados
como moeda.

2.5 DIVISÃO DA SOCIEDADE


Com o crescimento da população e das técnicas agrícolas, não era mais
necessário que toda a população participasse das atividades agrícolas. Ao mesmo
tempo, tornava-se necessária uma produção maior de artefatos.

Desta forma, surgiram aos poucos funções diferenciadas de acordo com as


habilidades pessoais. A sociedade deixou de ser igualitária, passando a obedecer
a uma rígida divisão social. Em locais como o Egito, o pertencimento à classe
social era hereditário. O crescimento da população e a diversificação das funções
de trabalho fragmentaram a sociedade. A terra e os instrumentos deixaram de ser
coletivos. Surge, neste momento, a propriedade privada. O líder máximo dessas
comunidades era o administrador principal do templo, o rei.

Este, não mais escolhido dentre os mais velhos da comunidade, mas


dentre os sacerdotes ou guerreiros. No topo da sociedade estavam os sacerdotes
(herdeiros dos feiticeiros do Neolítico). Estes eram considerados intérpretes dos
deuses e realizavam a distribuição das sementes e das águas. Eram funcionários
dos templos e muitas vezes se apropriavam das terras e de parte da produção
agrícola.

Os nobres eram figuras ligadas ao rei, sendo muitas vezes funcionários


públicos, como ministros. Abaixo vinham os militares, classe surgida da
necessidade de proteção de bens como casas, animais, celeiros, artefatos e
plantações. Os artesãos eram uma classe intermediária e estavam divididos em
ceramistas, metalúrgicos, tecelões e carpinteiros. Na classe intermediária estavam
também os comerciantes que realizavam a troca de produtos.

111
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Logo após, estavam os agricultores ou felás. Como não eram donos da terra,
plantavam e entregavam parte da produção ao rei e aos sacerdotes. Os escravos
estavam na base da pirâmide social e eram muitas vezes prisioneiros de guerra,
ou escravos de dívidas. Isso ocorria quando os camponeses não conseguiam
pagar os impostos. Pesquisas arqueológicas observaram a diferenciação social
através da existência de tipos diferenciados de moradia e túmulos, bem como da
alimentação.

3 SURGIMENTO DO ESTADO
As cidades surgidas na região do Crescente Fértil se tornaram cada vez
mais complexas. A população aumentou, tornando-se necessária a produção de
uma quantidade muito maior de alimentos. A configuração da região do Crescente
Fértil – uma região desértica banhada por dois rios, impôs a necessidade da
construção de grandes obras. Em regiões como a Mesopotâmia e o Egito, banhadas
pelos rios Nilo, Tigre e Eufrates, as cheias periódicas eram fundamentais para a
fertilização do solo. Ao retornarem ao nível normal, as águas deixavam a terra
coberta de húmus.

NOTA

Húmus é o material que resulta da decomposição de matéria viva como animais e


plantas, melhorando a produtividade do solo.

Para um maior aproveitamento dessas águas, foi necessário empreender


um grande trabalho coletivo, reunindo várias comunidades para a construção
de represas e canais de irrigação, drenagem de pântanos. Outras necessidades,
como a construção de estradas, abertura de estradas, proteção da comunidade
contra ataques inimigos e construção de muralhas, determinaram o nascimento
de uma nova configuração social.

Aos poucos, as antigas aldeias foram perdendo sua autonomia e se


organizando em torno de um centro administrativo. Para coordenar o trabalho
coletivo dessas comunidades, surgiu uma estrutura de poder centralizado, em
que as decisões eram impostas por meio da força. Neste período, surge, então,
o Estado, que é “[...] um conjunto organizado de instituições políticas, jurídicas,
policiais, administrativas, econômicas, sob um governo autônomo e ocupando
um território independente”. (JUPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 90). O núcleo
central dessas novas cidades eram os templos, locais que abrigavam os cultos
religiosos e decisões administrativas e armazenamento de alimentos. Nos
templos, geralmente existiam os silos, onde a produção agrícola era estocada
para a posterior distribuição.

112
TÓPICO 4 | IDADE DOS METAIS

3.1 A CENTRALIZAÇÃO DO PODER


Para organizar as diversas comunidades em torno de um objetivo comum
e gerir os recursos materiais, o poder deixou de se concentrar na mão dos antigos
patriarcas. A autoridade dos chefes mais velhos dos clãs não era suficiente para
administrar a nova configuração da sociedade. O poder se concentra na figura do
Rei.

Nos primeiros séculos da Mesopotâmia, os governantes eram reis-


sacerdotes, misto de chefes administrativos com representantes divinos. Ele era
considerado um representante dos deuses na Terra e era responsável pelo sucesso
das colheitas e defesa. Além da Mesopotâmia, outras sociedades, como o Egito,
também eram teocráticas. Eram responsabilidade do rei atividades como o início
e o fim das guerras, nomeação dos funcionários públicos, construção de templos
religiosos, o comércio, administração das colheitas. Para realizar todas estas
tarefas, o rei era auxiliado por uma equipe de funcionários como os sacerdotes,
escribas e governadores. Os escribas eram responsáveis pela contabilidade do
reino e eram considerados os olhos e os ouvidos do rei. Em reinos extensos, como
o Egito, os sacerdotes e escribas administravam as diversas localidades.

Esta elite administrativa, ligada à figura do rei, apropriava-se de grandes


extensões de terra e de parte das colheitas, gerando a desigualdade social. No
entanto, achados arqueológicos mostram que existiam alguns proprietários
particulares de pequenas propriedades. “Os textos da época testemunham a
existência de uma grande quantidade de campos pertencentes aos templos e ao
palácio”. (BOUZON, 1998).

3.2 O SURGIMENTO DA ESCRITA


Acredita-se que a escrita tenha surgido entre 4.000 a.C. e 2.000 a.C., em
diversos pontos do planeta. Muitos historiadores acreditam que a escrita não tenha
sido invenção de um só povo, porém a primeira região onde foram encontrados
indícios de escrita foi a Mesopotâmia, mais precisamente na região da Suméria.

O surgimento da escrita está relacionado ao crescimento das sociedades,


à administração do Estado e ao comércio. Nos templos da Mesopotâmia, os
sacerdotes administravam rebanhos, colheitas, terras e escravos. A realização de
operações como venda de animais, pagamento de construtores e comerciantes
não podia mais ser feita apenas utilizando a memória. As primeiras formas de
escrita foram criadas pelos sacerdotes, consistindo em um sistema chamado
de pictográfico. Este modo de escrita é formado por desenhos figurativos que
representavam determinadas coisas. Para representar um boi, barco ou jarro,
eram desenhadas formas que remetiam a eles, como, por exemplo, uma cabeça
de boi.

113
UNIDADE 2 | PERÍODOS PRÉ-HISTÓRICOS

Na segunda etapa do desenvolvimento da escrita os símbolos começaram


a representar ideias, não apenas a reprodução dos objetos. Um sinal que
representava panela, mais um sinal representando alimento, significava cozinhar.
Ou ainda, o sinal de jarro, somado ao sinal de sementes, significava jarro cheio.
Esta forma de escrita é chamada de ideográfica.

Após este período os símbolos gráficos passaram a estar relacionados aos


sons emitidos pela fala humana, permitindo assim a expressão de ideias cada
vez mais abstratas. Por volta do século III a.C., os sumérios passaram a utilizar a
escrita não apenas para a contabilidade, mas para a produção literária, religiosa
e para o registro de leis. Inicialmente, a escrita desenvolvida pelos sumérios era
composta por mais de 2 mil signos, sendo reduzidos a 300, posteriormente.

O último estágio da escrita foi o alfabético, desenvolvido pelos fenícios.


Para facilitar as transações comerciais, os fenícios criaram um alfabeto com
22 letras, representando vários sons da fala. O alfabeto fenício era composto
unicamente por consoantes. Posteriormente, os gregos modificaram esse objeto,
acrescentando as vogais. Do alfabeto grego se originou o alfabeto latino, que
utilizamos até hoje. A escrita suméria era chamada de cuneiforme, pois era
cunhada com palitos em blocos de argila. Foram encontrados mais de 25 mil
blocos com escritos sumérios. Boa parte destes fragmentos já foi decifrada por
pesquisadores.

FIGURA 37 – EXEMPLO DE BLOCO COM ESCRITA CUNEIFORME

FONTE: Disponível em: <http://www.ancient.eu.com/image/576/>.


Acesso em: 24 abr. 2013.

4 AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES
As primeiras civilizações surgiram na região cercada por desertos do
Crescente Fértil. Vários povos diferentes que habitavam a região da Mesopotâmia
desenvolveram sociedades teocráticas complexas, reunidas em torno das obras
hidráulicas. Logo após o surgimento da Mesopotâmia, surgiram as sociedades
fenícia, egípcia e hebraica. Sociedades estas que vão ser estudadas na Disciplina
de História Antiga.

114
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você viu que:

• Neste período vários grupos dominaram a metalurgia.

• A metalurgia conferiu superioridade técnica aos grupos.

• As comunidades se uniram em torno das obras hidráulicas.

• O trabalho passou a ser dividido por funções.

• Surgiram as classes sociais e a sociedade privada.

• O comércio teve início.

• O Estado surgiu para coordenar a nova configuração social.

• A escrita foi criada para controlar a contabilidade e facilitar o comércio.

• As primeiras civilizações foram os hebreus, Fenícia e Mesopotâmia.

115
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conhecimentos adquiridos neste tópico, responda às questões a


seguir:

1 Relacione as principais mudanças técnicas e políticas ocorridas durante a


Idade dos Metais.

2 Durante a Idade dos Metais, a propriedade da terra deixou de ser coletiva.


Quais eram os setores da sociedade que detinham a posse da terra? Como
se organizava a hierarquia social neste período?

3 No período Neolítico, a divisão do trabalho era feita a partir do sexo e da


idade, cabendo aos homens a caça e às mulheres a confecção de cerâmica e
o cultivo de alimentos. Na Idade dos Metais, esta divisão foi alterada. Por
que isso ocorreu? Que nova divisão passou a existir?

116
UNIDADE 3

PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-


HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS
INDÍGENAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender o processo de povoamento da América;

• identificar as várias etnias que povoaram a América;

• diferenciar os povos sambaquianos e ceramistas;

• conhecer a cultura dos ameríndios;

• compreender a pré-história brasileira..

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles você encon-
trará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

TÓPICO 2 – PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

TÓPICO 3 – OS POVOS INDÍGENAS

TÓPICO 4 – EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

117
118
UNIDADE 3
TÓPICO 1

PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

1 INTRODUÇÃO
Os hominídeos tiveram origem há 4,5 milhões de anos, na África. Durante
o período Paleolítico, os continentes da Ásia e da África foram ocupados através
de sucessivas levas migratórias. O último continente a ser povoado pelo homem
foi a América. Portanto, como vimos, a humanidade não nasceu no continente
americano, mas aqui chegou, provavelmente, ao final do Pleistoceno.

NOTA

Pleistoceno é o período geológico que se estende entre 2.000.000 e 10.000


anos atrás. Este período antecede o período geológico atual, o Holoceno.

A problemática da origem das populações indígenas que primeiro


ocuparam o continente americano é uma questão que vem sendo há muito
debatida. Desde que chegaram aqui os primeiros colonizadores, nos séculos XV e
XVI, estes já se deram conta da grande semelhança entre os índios americanos e as
populações asiáticas. Já nesta época alguns estudiosos chegaram a propor, quanto
tiveram acesso aos primeiros mapas da terra recém-descoberta, que os primeiros
habitantes destas terras teriam chegado pelo Norte, levando em consideração a
proximidade entre o nordeste da Ásia (Sibéria) e o noroeste da América do Norte
(Alasca) (NEVES; PILÓ, 2008).

No entanto, o verdadeiro debate científico sobre o tema ainda levou cerca


de três séculos para iniciar de verdade. Para o início deste debate as pesquisas do
naturalista Peter Lund, realizadas em Lagoa Santa, Minas Gerais, ainda no século
XIX, foram de grande importância. Lund propôs uma antiguidade muito maior
do que se acreditava, na época, para a ocupação do continente americano. Suas
ideias somente foram aceitas no início do século XX, quando foram descobertas,
nos Estados Unidos, pontas de lanças feitas de pedras associadas a mamutes e
outros animais pré-históricos que viveram em períodos muito recuados no tempo.

119
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

NOTA

Peter Peter Wilhelm Lund foi um naturalista dinamarquês que viveu no século
XIX. Desenvolveu estudos na área da Paleontologia, Arqueologia e História Natural. Os
primeiros dados a respeito da ocupação humana no território que hoje denominamos Brasil
provêm de suas pesquisas, sobretudo na região de Lagoa Santa, Minas Gerais.

Com relação a estas evidências, que deixaram claro que o homem pré-
histórico na América conviveu com a megafauna extinta, destaca-se a importância
da pesquisa arqueológica para o estudo das primeiras ocupações do continente
americano. A arqueologia é a única ciência que pode oferecer pistas da antiguidade
desta ocupação.

2 TEORIAS MIGRATÓRIAS
Atualmente, existem três teorias que explicam o povoamento da América.
São elas:

• a teoria de Clóvis (asiática);

• a teoria malaio-polinésia;

• a teoria australiana.

2.1 TEORIA DE CLÓVIS


Segundo a teoria de Clóvis, o Homo sapiens chegou à América atravessando
o Estreito de Bering.

NOTA

Bering é o canal de água que separa a Sibéria e o Alasca durante a quarta


glaciação. Veja a representação do Estreito de Bering na Figura 31.

120
TÓPICO 1 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

No período da glaciação, as águas do Estreito congelaram, formando uma


ponte de 1.600 quilômetros. Segundo estudos, as populações teriam se deslocado a
uma média de 1 quilômetro por ano, levando cerca de 20.000 anos para completar
a travessia. Essa travessia teria se completado por volta de 11.500 anos.

Vestígios do homem de Clóvis foram encontrados em 1932, nos Estados


Unidos. Essa cultura, que deu nome à teoria, foi considerada por muito tempo
como a mais antiga da América. No entanto, pesquisas realizadas a partir dos
anos 70 questionam os pressupostos estabelecidos pela teoria de Clóvis. Foram
encontrados, por toda a América, vestígios de ocupação humana com data
superior a 11.500 anos. Além disso, estudos de linguística e genética também
propõem uma ocupação mais antiga.

2.2 TEORIA MALAIO-POLINÉSIA


A descoberta de novos achados arqueológicos levou à formulação de
novas teorias sobre a migração. Segundo a teoria malaio-polinésia, as populações
vieram da Malásia em várias levas, atravessando o Oceano Pacífico com barcos.
A travessia teria ocorrido em momentos em que o nível do mar estava mais baixo
e, por isso, existiriam mais ilhas.

2.3 TEORIA AUSTRALIANA


De acordo com a teoria australiana, os hominídeos migraram da África
para a Ásia, sofrendo um processo de mongolização.

NOTA

Mongolização: Características físicas do grupo étnico das regiões da China,


Rússia e Mongólia. Os índios americanos também apresentam traços mongóis.

No entanto, um pequeno grupo teria migrado para a Oceania e a América,


antes que o processo de mongolização ocorresse. Isso teria ocorrido por volta de
35 mil anos. Segundo esta vertente, os homens também teriam utilizado pequenos
barcos, fazendo paradas em ilhas. A chegada das populações à América teria
ocorrido por volta de 35.000 anos.

Dessa forma, seria possível explicar a existência de hominídeos com traços


negroides no Brasil, como, por exemplo, o Homem de Lagoa Santa. Segundo o
pesquisador Walter Neves, os primeiros brasileiros e os australianos teriam se
originado de um mesmo povo que habitou o sudeste asiático e o Sul da China e
migrou para a Oceania e América.
121
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

NOTA

Esse assunto será abordado novamente no Tópico 2.

FIGURA 38 – MAPA DEMONSTRANDO AS PROVÁVEIS ROTAS DE ENTRADA DO HOMEM NA


AMÉRICA

FONTE: Disponível em: <http://historiamurilobenevides.blogspot.com.br/2011/08/o-povoamento-


da-america-e-suas-teorias.html>. Acesso em: 2 fev. 2013.

2.4 UM HOMINÍDEO ANTERIOR AO HOMO SAPIENS?


A pesquisadora M. Beltrão realiza estudos acerca das ocupações antigas do
continente americano desde a década de 70. Em uma de suas últimas pesquisas, na
Toca da Esperança, na Bahia, identificou fósseis de animais da megafauna, como
preguiças gigantes, datados de cerca de 200.000 anos, associados a ferramentas
de pedra lascada, feitas pelo homem. A autora usou como base este achado para
afirmar que hominídeos teriam vivido ali nesta época.

Apesar de possuir fortes argumentos para sua afirmação, a pesquisadora


recebeu críticas contrárias de quase toda a comunidade acadêmica. Os
pesquisadores não levam muito a sério a possibilidade de um homem anterior ao
Homo sapiens nas Américas.

122
TÓPICO 1 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

2.5 MAS O QUE SE SABE SOBRE OS PRIMEIROS SUL-


AMERICANOS?
Segundo Prous (2006), as primeiras populações que chegaram ao
continente deveriam ser compostas por um pequeno número de pessoas, por isto
os vestígios arqueológicos que deixaram são poucos e, também, existem poucas
pesquisas que estudam períodos mais antigos, como o Pleistoceno. São poucos os
sítios arqueológicos e as informações a respeito desta época. O que se sabe é que
estas pessoas, quando aqui chegaram, encontraram um ambiente muito diferente
do que vemos hoje.

Um dos problemas para a pesquisa é que, aproximadamente 20.000 e


12.000 anos atrás, o mar estava em um nível diferente do atual, mais recuado, por
isto vários sítios que podem ter sido ocupados pelos seres humanos neste período
mais antigo estão hoje debaixo da água. Este fato influencia muito nas conclusões
às quais chegam os pesquisadores sobre os primeiros grupos que habitaram o
continente. Se somente os sítios mais recentes estão disponíveis para pesquisa,
isto significa que não existiram sítios mais antigos? Provavelmente não, mas o
problema é que não se tem acesso a estas informações.

3 EXPLORAÇÃO DE RECURSOS
De acordo com a exploração dos recursos alimentares, podemos dividir as
primeiras sociedades ameríndias da seguinte forma:

a) Sociedades árticas: ocuparam as regiões mais frias e caracterizavam-se pela


caça e pesca de animais como focas, leões marinhos, caribu e urso polar.

b) Sociedades exploradoras de recursos aquáticos: ocuparam as regiões dos


EUA, Canadá, Peru e Brasil. Caracterizavam-se pela coleta de moluscos e pesca
em áreas fluviais e marítimas. Deram origem aos sambaquis, que vamos ver
mais adiante.

c) Sociedades de caça especializada: existiram em regiões do Canadá e Estados


Unidos. Especializaram-se na caça de grandes animais, como o tigre dente-
de-sabre e preguiças gigantes. Com as mudanças climáticas, estes animais
entraram em extinção e esse tipo de sociedade modificou-se.

d) Caça e coleta generalizada: baseava-se na coleta e caça de recursos variados.


Permitia a exploração durante todas as estações e estabelecia a divisão do
trabalho por sexo. Desenvolveu-se por toda a América.

123
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

4 DOMÍNIO DA AGRICULTURA
O domínio da agricultura ou revolução neolítica ocorreu na América entre
5.000 e 4.000 a.C. na Mesoamérica – México e América Central.

NOTA

Caro(a) Acadêmico(a), note que a revolução neolítica ocorreu em períodos


diferentes em cada continente. Na Mesopotâmia (Iraque), ela ocorreu por volta de 10.000 a.C.

Na região da Mesoamérica, desenvolveu-se o cultivo do milho, algodão,


pimenta, amendoim, abóbora e feijão. Com a agricultura, surgiu a criação da
cerâmica por volta de 6.000 a.C. Nesta cultura, o milho era a principal fonte de
alimentação, aparecendo inclusive na mitologia. Relatos míticos indígenas dizem
que o homem se originou de um pé de milho.

Na área andina, o domínio da agricultura ocorreu de forma mais lenta,


devido ao isolamento cultural. Em compensação, esta área apresentou um
maior desenvolvimento da domesticação de animais. A lhama era inteiramente
aproveitada: seu excremento mantinha as fogueiras acesas. Este animal fornecia
carne, lã e leite. Na área onde hoje se encontra o Brasil, predominou o cultivo da
mandioca.

O domínio da agricultura na América determinou o surgimento de


centros urbanos que deram origem a grandes civilizações, como os maias, incas
e astecas. Estas civilizações desenvolveram-se na América, sendo comparadas a
grandes cidades da Europa. A chegada de espanhóis, no século XVI, interrompeu
a História dessas grandes civilizações.

É muito comum as pessoas ficarem confusas com relação a estas três


civilizações, que possuem características distintas e habitaram diferentes partes
do atual continente americano. O quadro a seguir ajudará você a entender as
principais características e particularidades das civilizações inca, maia e asteca.
Na figura seguinte você poderá visualizar, no mapa, a localização geográfica das
áreas nas quais se desenvolveram as civilizações.

124
TÓPICO 1 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

QUADRO 1 – QUADRO COMPARATIVO: INCAS, MAIAS E ASTECAS


Povos Incas Maias Astecas
Cordilheiras dos Sul do México e
Localização Andes: partes da partes da Guatemala, Atual México
Bolívia, Chile, Peru e El Salvador, Belize e
outros países Honduras
Politeístas Politeístas Politeístas (acreditavam
Religião (acreditavam em (acreditavam em em vários deuses).
vários deuses). vários deuses). Recebeu a influência
Deuses na natureza. Deuses na natureza. de vários povos
Sacrifícios de animais Usavam urnas para conquistados.
aos deuses. enterrar os mortos.
Agricultura (técnicas Agricultura (técnicas Agricultura (técnicas de
Economia de irrigação) de irrigação) irrigação)
Artesanato e Artesanato. Comércio exterior.
mineração.
Teocracia. Divindade Teocracia. Divindade Teocracia. Divindade do
Política do imperador. do imperador. imperador.
Imperador Inca: filho
do sol
Não possuíam escrita. Milho: produto Domesticavam
Curiosidades Usavam o Kipu básico. o cachorro e o
(cordões com nós Desenvolveram a peru.  Cultivavam Cacau
coloridos para fazer escrita hieroglífica. (chocolate)
cálculos). Criaram um símbolo Utilizavam chinampas:
para o zero hortaliças cultivadas em
ilhas artificiais.
FONTE: Disponível em: <http://prof-ferdinando.blogspot.com.br/2012/07/maias-astecas-e-incas-
quadro-comparativo.html>. Acesso em: 5 fev. 2013.

FIGURA 39 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ÁREAS OCUPADAS


POR INCAS, MAIAS E ASTECAS

FONTE: Disponível em: <http://2dcscrs.blogspot.com.br/p/deuses.


html>. Acesso em: 5 fev. 2013.

125
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

É comum, ainda, que se afirme que estas civilizações foram superiores,


por conta de seu modo de vida, das grandes construções e invenções que
desenvolveram, por exemplo, se comparadas a outros povos que ocuparam o
continente americano, inclusive grupos indígenas brasileiros. Este é um grande
equívoco que não deve ser realizado, pois tais civilizações tiveram, apenas,
um processo histórico diferenciado e desenvolveram características culturais
distintas.

E
IMPORTANT

Como estudo complementar, indicamos a leitura de Fausto (2000). A referência


completa do autor se encontra no final do Caderno de Estudos.

ATENCAO

A leitura complementar a seguir ajudará você a entender a inserção dos sítios


arqueológicos brasileiros na discussão do povoamento da América, apresentado no Tópico 1,
e também serve de introdução para o Tópico 2, no qual discutiremos a Pré-História do Brasil
especificamente.

126
TÓPICO 1 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

LEITURA COMPLEMENTAR

O PRIMEIRO BRASILEIRO

A arqueóloga Niède Guidon faz um balanço das descobertas no Piauí que


podem mudar as teorias do surgimento do homem na América

Há 30 anos, a arqueóloga Niède Guidon tenta provar que o homem


chegou à América muito antes do que se imaginava. Formada na Universidade
de Sorbonne, na França, essa paulista de Jaú se mudou em 1992 para a cidade de
São Raimundo Nonato para estudar a vida dos primeiros habitantes do Brasil no
hoje famoso Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. A área tem cerca
de 600 sítios arqueológicos com paredões repletos de pinturas rupestres e outros
vestígios, como ferramentas de pedra lascada, esqueletos e urnas funerárias.

Nos últimos dois anos, a datação de pinturas rupestres no parque com


cerca de 35 mil anos e de dentes humanos de 15 mil anos atrás promete sacudir o
estudo da chegada no homem à América. A teoria mais aceita sobre o povoamento
do continente diz que o homem veio pelo estreito de Behring, entre a Rússia e o
Alasca, por volta de 13 mil anos atrás. Apesar de a equipe da arqueóloga já ter
encontrado, há mais de uma década, restos de uma fogueira de 48 mil anos, a
descoberta foi encarada com ceticismo por outros pesquisadores, que diziam que
a fogueira poderia ter surgido de uma combustão espontânea. “A ideia de que o
homem veio para a América há 13 mil anos é da década de 50”, diz Niède. “De lá
para cá, as novas descobertas têm mostrado que ele já estava aqui há muito mais
tempo.”

Como as descobertas no Parque Nacional da Serra da Capivara estão abalando


as teorias vigentes sobre o povoamento da América?

Um dos achados importantes foi a descoberta de uma pintura que estava


coberta por uma camada de calcita. Essa calcita foi retirada pelo professor Shigueo
Watanabe (do Instituto de Física da USP, em São Paulo), que a datou em 35 mil
anos. Portanto, as figuras têm, no mínimo, essa idade. Encontramos também
dentes humanos datados em 15 mil anos.

Esses achados vão contra a teoria mais aceita, de que o homem chegou à América
há cerca de 13 mil anos...

O que as pessoas chamam de teoria vigente sobre a presença do homem


na América é uma tese dos anos 50. De lá para cá, surgiram novas descobertas
aqui, no México, no Chile e em outros lugares do continente. As pesquisas
desenvolvidas na serra da Capivara estão dentro de um novo contexto. Os dentes
que achamos são os restos humanos mais antigos já encontrados na América. Sei
da importância desse achado. Mas vejo com naturalidade, porque está dentro de
um processo e é resultado de um trabalho de muitos anos, que ainda deve render
muitas outras descobertas importantes.
127
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

Como o homem teria chegado à América? As descobertas no parque ajudam a


desvendar esse segredo?

Estamos fazendo análise do DNA dos esqueletos encontrados na


região. Esse trabalho está em processo na Universidade de Michigan, nos EUA.
Comparando-se esse DNA com o encontrado em restos humanos de outras
partes do continente, poderemos estabelecer uma teoria. Minha hipótese é a de
que houve várias entradas, por diversos caminhos, inclusive por mar. E em várias
épocas diferentes. O homem saiu da África e se espalhou pelo mundo. É um
absurdo achar que o continente foi povoado somente pelo estreito de Behring.
Outro indício forte de que houve vários caminhos e levas migratórias é a grande
variedade linguística encontrada entre os povos indígenas da América.

Como o trabalho em arqueologia no Brasil é visto por pesquisadores de outros


países, já que temos pouca tradição na área?

Não concordo com isso. Temos, sim, uma tradição. Até mesmo porque
instituições de todo o mundo nos procuram para firmar acordos de pesquisa.
Em 2003 devemos receber pesquisadores ingleses, franceses e de outras
nacionalidades, em convênio com universidades brasileiras, como a Federal de
Pernambuco.
Por que então esses achados, apesar de importantes, não tiveram repercussão?

A publicação do resultado obtido pelo professor Shigueo Watanabe


sobre as pinturas de 35 mil anos foi feita no ano passado, na revista Journal of
Archaeological Science, e começa a repercutir – tenho recebido várias consultas
sobre o assunto. A datação dos dentes foi publicada em português. Infelizmente,
nossos colegas norte-americanos não leem as publicações em português nem em
francês. E a maioria dos nossos trabalhos é publicada nessas línguas. No final do
ano conseguimos publicar em inglês a monografia sobre os achados no Boqueirão
da Pedra Furada, o que nos deu muito trabalho, com alto custo financeiro. Em
2002, tivemos quatro artigos publicados em revistas internacionais de língua
inglesa. E agora houve uma proposta para que façamos uma síntese dos 30 anos
de pesquisa no Parque Nacional, que deve ser publicada numa revista norte-
americana, provavelmente a American Antiguity.

As novas descobertas foram datadas pelos métodos tradicionais ou houve


algum avanço nessa área?

O professor Shigueo Watanabe datou a calcita com uma metodologia nova


chamada Electronic Spin Resonance, um método físico que eu não conheço muito
profundamente. O resultado dos dentes foi obtido pelo método do carbono 14,
mas com uma máquina especial chamada AMS (Accelerator Mass Spectrometry,
ou espectrometria de massa por acelerador), que permite a datação mesmo de
pequenas quantidades de carvão.

128
TÓPICO 1 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA

Quais são as pesquisas mais promissoras feitas hoje na área do parque?

No final de novembro, foi descoberto um sítio promissor que me deixou


empolgada. Fica em um local elevado, junto ao que foi um dia uma cachoeira.
As rochas do local eram ótimas para serem lascadas. Provavelmente, os homens
usavam o local para fabricar os instrumentos e os levavam depois consigo. Acho
que poderemos estabelecer semelhanças entre as técnicas usadas ali com as
que eram aplicadas em alguns pontos da Europa há 30 mil anos, assim como já
podemos comparar pinturas rupestres do parque com outras muito antigas, de
outras partes do mundo. Estamos escavando também uma área chamada Serrote,
onde achamos sete esqueletos, um número extremamente importante no Brasil,
já que é pequeno o número de esqueletos encontrados por aqui. Na Serra Branca
(região remota do parque, fechada à visitação), terminamos uma escavação que
encontrou uma rocha a 10,3 metros de profundidade, que também deve nos dar
preciosas informações sobre as mudanças do clima e do relevo da região.

[Entrevista concedida por Niède Guidon: arqueóloga, responsável pela Fundação


do Homem Americano (FUNDHAM) na Serra da Capivara, Piauí]

FONTE: GUIDON, Niède. O primeiro brasileiro. Superinteressante, São Paulo, jan. 2003. Disponível
em: <http://super.abril.com.br/ciencia/primeiro-brasileiro-443602.shtml>. Acesso em: 24 abr. 2013.

129
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você viu que:

• A América foi o último continente ocupado pelos hominídeos.

• Os hominídeos surgiram na África e durante o Paleolítico migraram para Ásia


e Europa.

• Durante o Mesolítico teve início a migração para a América.

• Não existe consenso entre os cientistas sobre a chegada do homem à América.

• As teorias que explicam a migração são: a teoria de Clóvis, a malaio-polinésia e a


australiana.

• Segundo a teoria de Clóvis, o homem chegou à América atravessando o Estreito


de Bering durante a última glaciação.

• De acordo com a teoria malaio-polinésia, as populações vieram da Malásia em


várias levas, atravessando o Oceano Pacífico com barcos.

• Para a teoria australiana, ocorreram diversas levas migratórias. Na primeira


delas, populações migraram da Ásia antes que sofressem o processo de
mongolização. Mais tarde, grupos com características mongóis também teriam
migrado.

• Considerando a exploração de recursos alimentares, as primeiras sociedades


americanas podem ser divididas em: sociedades árticas, sociedades de caça
especializada, sociedades exploradoras de recursos aquáticos, sociedades de
caça e coleta generalizada.

• O domínio da agricultura ocorreu primeiramente na Mesoamérica (México e


América Central).

• O desenvolvimento de sociedades como a dos maias e astecas esteve ligado à


agricultura.

• Nas regiões andinas, o isolamento cultural fez com que a agricultura se


desenvolvesse de forma mais lenta.

130
AUTOATIVIDADE

Para fixar os conhecimentos deste tópico, responda às questões a seguir:

1 Utilizando a lista de palavras que seguem, explique como ocorreu a


migração para a AMÉRICA, ALASCA, SIBÉRIA e ESTREITO DE BERING.

2 O arqueólogo Walter Neves, da USP, analisou detalhes anatômicos de


centenas de ossos de indígenas no Brasil, no Chile e na Colômbia; Neves
sugere que os primeiros habitantes do Brasil vieram através da corrente
australiana de migração. Quais são as ideias defendidas por esta corrente?

3 Sobre as primeiras populações que habitaram a América, é correto afirmar:

a) ( ) A revolução neolítica ocorreu simultaneamente em todos os continentes.


b) ( ) O domínio da agricultura se deu primeiramente na Mesoamérica.
c) ( ) A caça especializada ocorreu no Peru e Bolívia.
d) ( ) A domesticação de animais foi mais intensa na Mesoamérica.

131
132
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Os fósseis humanos mais antigos já encontrados no Brasil têm data de
11.500 anos. No entanto, pesquisas como as de Niède Guidon propõem uma
datação mais antiga para a ocupação do território, baseadas na descoberta de
restos de fogueiras que teriam sido produzidas por populações pré-históricas.

Os colonizadores eurupeus, ao chegarem ao Brasil e ao continente americano


como um todo, a partir do século XV, encontraram territórios ocupados, há milhares
de anos, por uma população que se dividia em diferentes grupos, organizados
de diferentes maneiras, seja em pequenos grupos de caçadores-coletores, aldeias
agrícolas autônomas ou politicamente articuladas ou, ainda, estados sustentados
por utilização de plantio extensivo. Para Melatti (2007), estes grupos:

Estavam instalados e adaptados aos ambientes mais variados, como


florestas e savanas tropicais, regiões semiáridas, florestas e campos
temperados, planícies e montanhas. Suas línguas eram numerosas.
Orientavam sua existência conforme as mais diferentes maneiras
de conceber o homem e o universo. Todo este extenso mosaico
cultural não tivera sempre a mesma feição. Era resultado de um
longo desenvolvimento histórico, que se iniciara com a entrada dos
primeiros povoadores da América. Os arqueólogos se encarregam da
reconstrução deste passado pré-colonial das sociedades indígenas.
(MELATTI, 2007, p. 17).

Acredita-se que a maioria das populações que ocuparam o chamado


“Novo Mundo”, como foi chamado o continente americano pelos colonizadores,
antes da chegada dos europeus não possuía escrita e, portanto, não deixaram
registro escrito de sua história. Por este motivo, principalmente durante o século
XIX, estes povos foram considerados “povos sem história” e situados no período
então chamado “pré-história”. Os pesquisadores trabalharam, e ainda trabalham,
na desconstrução desta terminologia, pois “[...] o termo ‘pré-história’ não pode
significar ‘antes da história’, visto que todas as sociedades humanas possuem
história. Desta maneira o termo é utilizado para designar a história não escrita”.
(FOSSARI, 1991, p. 15).

No Brasil, o período chamado pré-história diz respeito à história dos povos


que habitaram nosso território antes da chegada dos colonizadores, portanto toda
a história dos povos que aqui moravam antes de 1500. Alguns pesquisadores, por
acreditarem que o termo é um tanto pejorativo, como vimos, optam por utilizar,
ao invés de “pré-história”, a denominação período “pré-colonial”.

133
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

Perceba a grande importância deste período da História! Ele representa


um período de presença de grupos humanos no território que hoje chamamos
Brasil muito maior do que aquele situado após o “descobrimento”. É muito
comum que algumas pessoas passem a estudar a História do Brasil a partir da
chegada dos colonizadores, porém isto é um grande equívoco, imagine quantas
informações importantes do nosso passado e dos diversos grupos humanos que
aqui viveram, durante milhares de anos, seriam perdidas. É importante lembrar
que o entendimento de nosso passado pré-colonial, tanto quanto nossa história
pós-colonização, é fundamental para a compreensão do que somos atualmente.

2 PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL
Durante o século XIX, vários naturalistas e viajantes estiveram na
América do Sul empreendendo pesquisas botânicas e paleoantropológicas.
Entre eles, podemos destacar Spix, Von Martius, Humboldt e Charles Darwin.
Novas pesquisas arqueológicas revelaram outros importantes vestígios, existindo
atualmente, no Brasil, mais de 2.400 sítios arqueológicos.

Ao estudar os povos que habitaram o Brasil antes da chegada dos


colonizadores é muito importante lembrar que os limites de nosso país, tais quais
conhecemos hoje, são uma criação política bastante recente. Os limites territoriais
que definem os territórios de cidades e Estados hoje não são os mesmos limites
das populações da pré-história, que se deslocavam no território, chegando a
ultrapassar os limites atuais entre países, por exemplo. É por este motivo que
hoje existem índios guaranis tanto no Brasil quanto no Paraguai, por exemplo.
Estes grupos fazem parte de uma mesma grande família e, na sua concepção, não
fazem parte de um ou outro país, mas fazem parte desta família, que existe há
muitos séculos.

São comuns casos de intolerância, sobretudo quando se trata de


demarcação de terras indígenas, como já aconteceu no estado de Santa Catarina:
membros da família guarani, residentes no Paraguai, pleiteavam, com os índios
guaranis residentes em terras brasileiras, a titulação de suas terras. Eles foram
acusados de “estrangeiros” que queriam conseguir terras no Brasil. No entanto,
se nos dedicarmos a estudar um pouco melhor nosso passado, veremos que tal
acusação é infundada e preconceituosa.

NOTA

Para saber mais sobre o assunto visite o site: <http://observatoriodaimprensa.


com.br/news/view/dossie_sobre_uma_materia_infundadanbsp_1nbsp>, nele está disponível
o “Dossiê Made in Paraguai”, documento composto pela manifestação de diversos
antropólogos contra a matéria de mesmo nome, publicada na Revista Veja e que difundia
uma visão equivocada a respeito da demarcação de terras aos índios guaranis.

134
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

Além das pesquisas arqueológicas, as informações dos cronistas viajantes


dos séculos XVI e XVII, estudiosos europeus que vieram reconhecer e levantar
informações a respeito das terras recém-descobertas, como Jean Léry, Hans Staden
e André Thevet, por exemplo, são também muito importantes para a compreensão
dos povos indígenas da pré-história. Seus escritos e gravuras, principais formas
de registro das informações, devem ser, obviamente, interpretados de maneira
cautelosa, visto que foram influenciados pelo modo de pensar da época que,
muitas vezes, depreciava os povos nativos. De qualquer maneira, tais documentos
são valiosa fonte de informação para os pesquisadores. A figura a seguir apresenta
gravura de Theodor de Bry que ilustra uma possível cena de canibalismo. Tal
prática, realizada por alguns índios tupis, era vista com horror pelos europeus, que
tinham sobre ela uma opinião equivocada.

Esta era interpretada como um ato de maldade e selvageria quando, na


verdade, para os indígenas, era uma prática carregada de simbolismo e crenças.
Alguns estudiosos afirmam que estes grupos praticavam o canibalismo em
situações muito específicas e só eram “devorados” os inimigos julgados como
possuidores de muita coragem. Acreditava-se que, consumindo sua carne,
adquiriam-se suas qualidades de bom e corajoso guerreiro.

FIGURA 40 – GRAVURA QUE ILUSTRA POSSÍVEL CENA DE CANIBALISMO,


DO GRAVURISTA THEODOR DE BRY

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/


almanaque/prato-principal>. Acesso em: 5 fev. 2013.

2.1 AS POPULAÇÕES DE LAGOA SANTA


Os vestígios associados às populações de Lagoa Santa vão de 12.000 a
8.000 anos atrás e foram identificados em diversas partes do território brasileiro,
o que leva os pesquisadores a acreditar que, neste período, o Brasil já estaria
densamente ocupado, o que colabora com as teorias das ocupações mais antigas,
como vimos anteriormente. Quase todos os sítios associados a estas populações
encontram-se em grutas, o que não quer dizer que elas só moravam nestes locais,

135
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

mas antes que, neste ambiente os vestígios estão mais abrigados e, portanto, se
conservam melhor, por isto são os que mais frequentemente são identificados.

Na segunda metade do século XIX, o pesquisador dinamarquês Peter Lund


descobriu 30 fósseis humanos na gruta Sumidoro, em Lagoa Santa, Minas Gerais.
Acredita-se que o homem de Lagoa Santa tivesse baixa estatura e características
diferenciadas dos povos que habitam hoje a América do Sul.

Segundo o arqueólogo Walter Neves, o homem de Lagoa Santa possuía


traços negroides, ou seja, apresenta características cranianas que o aproximam
de populações nativas australianas e africanas, atuais ou passadas, enquanto que
os índios das populações atuais têm traços mongoloides, mais parecidos com os
grupos asiáticos. Esta diferenciação é até hoje um enigma para os pesquisadores.
Existem várias teorias que explicam essa mudança no fenótipo; a primeira propõe
uma mutação adaptativa dos grupos que habitaram a região de Minas Gerais. A
outra diz que a migração para a América ocorreu em diversas etapas, sendo os
grupos que migraram diferentes entre si.

Estas populações moravam ao ar livre, mas utilizavam as entradas de


cavernas para fazer rituais ou guardar materiais. O homem de Lagoa Santa
produzia instrumentos como machados e lanças feitos de pedra lascada. Muitos
arqueólogos acreditam que estes instrumentos também serviam para a realização
de rituais.

Através do estudo das fezes fossilizadas encontradas no local, é possível


determinar a alimentação destes grupos. Acredita-se que eles se alimentavam de
frutos, raízes e ocasionalmente de carne, quando conseguiam caçar. Estes grupos
foram contemporâneos de animais pré-históricos como a preguiça gigante (que
podia medir até 3 metros de altura, apoiada nas patas traseiras), o tigre dente-de-
sabre e o gliptodonte – um tatu com 1 metro de altura. Neste período existiam
também cavalos com estatura menor que a atual, mais ou menos do tamanho de
um cachorro pastor-alemão. Um fóssil destes cavalos está exposto no Centro de
Arqueologia de Lagoa Santa – MG.

Neste local foram encontrados, também, vários registros de pinturas


rupestres. Essas pinturas, em número de 200, representavam cenas de
caça, grupos de famílias ou figuras geométricas. Em 1982, novas pesquisas
arqueológicas, lideradas por Maria da Conceição Beltrão, localizaram vestígios
do homem de Lagoa Santa no município de Central, na Bahia. Neste local “[...]
foram encontradas representações de astros celestes, animais já extintos como
o taxodonte e animais do litoral, como um cachalote”. (BELTRÃO, 1988, p.
20). Os fósseis encontrados na região de Lagoa Santa com data de 8.000 anos
têm características mongoloides, semelhantes aos índios, porém ainda não
existe explicação para o desaparecimento do homem de Lagoa Santa. Existe a
possibilidade do conflito com povos mongoloides de uma nova onda migratória
ou a integração entre esses dois povos.

136
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

2.1.1 Luzia
O representante mais famoso do homem de Lagoa Santa é um fóssil de
uma mulher, que recebeu o nome de Luzia.

NOTA

Luzia: o nome é uma referência à Lucy – o Australopithecus mais antigo já


encontrado.

O fóssil de Luzia foi descoberto em 1975 por uma equipe franco-brasileira


coordenada pela arqueóloga francesa Anette Laming e o arqueólogo André Prous.
Com este fóssil, foram encontrados 70 outros esqueletos, dos quais muitos estão
hoje no Museu de Copenhague.

No período da descoberta não foi possível determinar a idade de Luzia,


porém, com a datação de carbono, descobriu-se que o fóssil tinha 11.500 anos.
Sabe-se ainda que, ao morrer, a mulher tinha entre 20 e 25 anos. A estatura de
Luzia era de 1,50 m. A reconstituição do rosto de Luzia foi feita pela equipe do
antropólogo, físico e arqueólogo Walter Neves, que fez avaliações do crânio
através de tomografias computadorizadas. Através desta reconstituição, podem-
se observar traços negroides – como dos demais homens de Lagoa Santa. Esta
constatação trouxe mais elementos para a contestação da teoria clássica da
migração e povoamento da América.

FIGURA 41 – RECONSTITUIÇÃO DAS FEIÇÕES DE LUZIA

FONTE: Disponível em: <http://www.ib.usp.br>. Acesso em:


2 fev. 2013.

137
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

De acordo com os estudos de morfologia humana realizados por Neves,


existiu na América uma população não mongoloide. Segundo Neves,

[...] todos os indígenas americanos apresentam semelhanças


morfológicas com as populações norte-asiáticas mongoloides. Ou seja,
os indígenas das Américas parecem-se com os povos mongoloides,
como os atuais chineses ou japoneses. Essa semelhança [...] levou
a pensar que a entrada do homem americano teria se dado pelo
estreito de Bering há poucos milhares de anos, pois o surgimento
das características mongoloides teria ocorrido há 20 mil anos. Neste
contexto, o crânio de Luzia trouxe novidades sobre a ocupação
humana. (NEVES apud FUNARI, 2002, p. 34).

Assim, a descoberta de Luzia e dos outros fósseis do homem de Lagoa


Santa trouxe importantes questionamentos para a pré-história do Brasil e do
mundo.

Não há muito que se possa afirmar sobre a vida social destas populações.
Alguns pesquisadores afirmam que viviam em grupos pequenos, de alta
mobilidade, ou seja, se deslocavam com frequência no território e que não
possuíam hierarquia, sendo a única diferença de status dentro do grupo
caracterizada pelo sexo e pela idade. No entanto este é um modelo interpretativo
bastante influenciado por ideias antigas e que vem sendo questionado.

2.2 AS PESQUISAS DE NIÈDE GUIDON


Em 1973, a arqueóloga Niède Guidon coordenou pesquisas arqueológicas
na cidade de São Raimundo Nonato, Piauí. Nesta região, rica em pinturas rupestres,
foram encontrados vestígios de ocupação humana, com datas superiores a 12.000
anos. Na Serra da Capivara, Piauí, Guidon e Parenti, pesquisador de sua equipe,
encontraram vestígios de carvão de fogões pré-históricos com datas muito mais
antigas às anteriormente apresentadas em outros sítios. No entanto, ainda não
foi provado que os carvões tenham sido produzidos por homens; existe, ainda, a
possibilidade de incêndios. A teoria de Guidon tem provocado bastante polêmica
entre a comunidade científica. Veja a seguir um trecho de seu argumento sobre
rotas de migração alternativas:

O pressuposto de que o homem teria vindo para a América


unicamente a pé pelo estreito de Bering [...] reduz o homem americano
a um descendente de animal não mais capaz do que os camelos
e mastodontes que migraram para a América. Seria mais fácil criar
uma tecnologia para se adaptar ao frio do que para navegar? Além do
mais, durante a época das glaciações, as ilhas que existem no Pacífico
eram mais numerosas, facilitando a navegação. (GUIDON, 1998 apud
FUNARI, 2002, p. 41).

Estes achados, somados às descobertas do homem de Lagoa Santa,


colocam em xeque as certezas sobre a migração populacional na América.

138
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

No entanto, muitas são as objeções apresentadas por diversos


pesquisadores de todo o mundo, inclusive brasileiros, aos resultados obtidos
pelas equipes que pesquisam na Serra da Capivara. O sítio do Boqueirão da Pedra
Furada, localizado na serra, é um dos fortes candidatos ao sítio pré-histórico mais
antigo da América. As datações obtidas chegam a 50.000 anos. Porém, entre os
argumentos utilizados pelos pesquisadores que combatem estes resultados, estão
os de que os materiais líticos identificados não foram produzidos pelo homem,
mas são resultado de ação da natureza e que os já mencionados carvões são
também resultado de queima natural. Segundo Prous (1997):

As numerosas “fogueiras” são também questionáveis. N. Guidon


afirma que na caatinga não ocorrem fogos espontâneos; no entanto,
vimos que a equipe que trabalha em S. Raimundo Nonato considera
que o clima do Pleistoceno final era bem mais úmido que o atual:
poderia, portanto, ter sustentado um cerrado – além de matas galerias
– condizente com a paleofauna encontrada na região. A “fogueira”
que Parenti considera mais convincente, datada de 42.400 anos, não
contém carvões (a datação foi feita a partir de carvões encontrados
fora do arranjo de pedras); os pequenos seixos queimados estão fora
do círculo de pedras que teria delimitado o fogo; Parenti sugere que
os pré-históricos teriam retirado os blocos para limpar a fogueira; é
possível, mas não se pode descartar outra explicação: não se tratar de
uma fogueira feita pelo homem. (PROUS, 1997, p. 16).

NOTA

Paleofauna quer dizer fauna antiga, já extinta.

Segundo Funari e Noelli (2002), um dos principais problemas das pesquisas


coordenadas por Guidon, é apresentar a vinda do homem para a América como
uma aventura impressionante, “[...] sempre em busca do sol nascente, de ilha
em ilha, inspirado pelo messianismo, ou seja, pela crença em individualidades
providenciais ou carismáticas, para o surgimento de uma era de plena felicidade
espiritual e social” (FUNARI; NOELLI, 2002, p. 40). Esta visão é considerada
demasiado “romântica” pelos pesquisadores.

2.3 ARTE RUPESTRE


As pinturas rupestres no Brasil estão localizadas em 780 sítios
arqueológicos, espalhados por todas as regiões do Brasil. As pinturas rupestres
são responsáveis pelo registro social das populações do período. Nas pinturas
rupestres são encontradas cenas de animais do período, caça, sexo, brincadeiras,
entre outras. Algumas pinturas contribuem para se descobrir quão antigo é
um sítio arqueológico. Quando estão associadas a outros vestígios, como de

139
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

uma habitação, por exemplo, podem-se usar as pinturas para determinar a


antiguidade destes vestígios, de duas maneiras. A primeira é chamada “datação
por estilo”, ou seja, os pesquisadores identificam elementos nas pinturas que
remontam a determinado período. Um bom exemplo são as representações de
animais da megafauna, sabe-se que, se estes animais foram pintados, as pinturas
pertencem ao período Pleistoceno, quando estes animais ainda existiam, antes
de sua extinção. O outro tipo de datação é chamado “datação direta”, quando
amostras dos pigmentos utilizados nas pinturas são levados para laboratório
para determinar sua antiguidade.

Os sítios de arte rupestre existem em quase todo o Brasil e são muito


importantes para o estudo do modo de vida das populações pré-históricas.
Além das pinturas são encontradas, também, as gravuras, cujos desenhos foram
realizados através da abrasão de uma rocha contra a outra.

FIGURA 42 – GRAVURAS RUPESTRES PRESENTES NA ILHA DO CORAL-SC

(1) (2)
FONTE: Disponível em: <kelerlucas.com.br>. Acesso em: 5 fev. 2013.

A figura anterior e a próxima apresentam exemplo da arte rupestre


encontrada no Brasil. Na Figura 42 você encontra exemplo de sítio de gravura,
encontrado no litoral sul do Brasil. Na imagem (1) uma foto do painel de rocha
gravado e na figura (2) uma reconstituição realizada por pesquisadores. Os
símbolos representados são cuidadosamente analisados, pois podem conter
informações valiosas, é como se o homem pré-histórico tivesse deixado gravadas
na rocha informações acerca de sua vida e suas crenças, como se tivesse contando
uma história. No caso das gravuras apresentadas acima, compostas sobretudo
por motivos geométricos, a interpretação da mensagem torna-se um tanto mais
díficil para os pesquisadores.

No caso da figura a seguir, que apresenta pintura encontrada no Parque


Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, temos exemplo de motivo chamado pelos
pesquisadores de “naturalista”, ou seja, ao olhar para a pintura, o pesquisador
tem condições de identificar o que foi representado, sejam animais, plantas ou
pessoas, por exemplo.

140
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

FIGURA 43 – PINTURA RUPESTRE ENCONTRADA NA TOCA DO SALITRE, SERRA


DA CAPIVARA-PI

FONTE: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ARTE RUPESTRE (ABAR). Disponível


em: <http://www.globalrockart2009.ab-arterupestre.org.br/
arterupestre.asp>. Acesso em: 5 fev. 2013.

A arte rupestre é um importante elemento da pré-história brasileira e é


objeto de curiosidade há muito tempo, mas só recentemente os sítios vêm sendo
catalogados, registrados e seu estudo sistemático é realizado pelos arqueólogos.
O número de locais onde este tipo de manifestação ocorre, no Brasil e no mundo,
é impressionante.

É a primeira forma de manifestação artística feita pelo homem e parece


demonstrar a necessidade que aqueles indivíduos possuíam de registrar
elementos que faziam parte de seu cotidiano. Em grande parte a arte rupestre não
se encontra nos locais de moradias ou aldeias, mas sim em locais mais afastados
e bem específicos, geralmente com entorno bastante marcado pela beleza natural.
No litoral é muito comum que a arte rupestre esteja voltada para o mar. Isso
leva os pesquisadores a crer que este tipo de manisfestação tivesse um sentido
especial para os grupos que a realizaram.

2.4 OFICINAS LÍTICAS


Segundo Amaral (1995), as oficinas líticas são conjuntos de concavidades
alisadas que aparecem na superfície de blocos de pedra e afloramentos rochosos
de praias e beiras de rios, resultantes do alisamento de artefatos líticos. As oficinas
líticas são encontradas em diversas partes do Brasil, desde o norte até o sul, e as
marcas que aparecem nas rochas possuem diferentes formatos.

Há pouco tempo era consenso entre os pesquisadores que estas marcas


eram resultado da fabricação de ferramentas de pedra polida. Atualmente, não
se descarta esta hipótese, porém, tendo em vista a perfeição e o grande número
das superfícies polidas, alguns estudiosos acreditam que possa se tratar de algo
que vai além da mera funcionalidade e que pode ter, inclusive, alguma explicação
simbólica ou ritual.

141
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

FIGURA 44 – EXEMPLO DE OFICINA LÍTICA ENCONTRADA NA ILHA DE SANTA


CATARINA (FLORIANÓPOLIS)

FONTE: As autoras

3 MUDANÇAS AMBIENTAIS
Os grandes animais que conviveram com os primeiros habitantes do
Brasil não sobreviveram ao novo clima que se tornou cada vez mais quente. Nos
períodos em que viveu o homem de Lagoa Santa, a vegetação era diferente, assim
como a fauna.

O clima era mais frio e no lugar das grandes matas havia o cerrado. Com a
mudança de clima, a vegetação tornou-se mais densa e animais como a preguiça
gigante entraram em extinção. Esta mudança no habitat também modificou os
hábitos das populações, que começaram a praticar a caça intensiva de pequenos
animais, bem como a pesca em áreas fluviais e no mar. Alguns grupos iniciaram
a agricultura, ainda que incipiente.

3.1 O ESTUDO DA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA E OS SÍTIOS


ARQUEOLÓGICOS
O estudo da história tem por base, sobretudo, os documentos escritos. Os
historiadores estudam as sociedades com base na análise dos escritos deixados
por seus integrantes. Mas, quando o objeto de estudo são as sociedades indígenas
brasileiras que já não existem mais, os pesquisadores não dispõem de textos
porque, como já vimos, estas sociedades não possuíam escrita.

Por este motivo, como já foi explicado na Unidade 1, a principal ciência para
estudar estes povos é a arqueologia, que usa como seus “documentos” a cultura
material, ou seja, os objetos por eles deixados, quase sempre involuntariamente

142
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

e através dos quais se faz a reconstrução de sua história. Os locais nos quais são
identificados estes objetos são os sítios arqueológicos, que podem ser de diferentes
tipos, dependendo das populações que os habitaram.

A seguir veremos exemplos de sítios arqueológicos que fornecem


informações a respeito de diferentes grupos humanos que ocuparam o território
brasileiro durante a pré-história.

3.2 OS SAMBAQUIS
As mudanças ambientais e a escassez de recursos ocasionaram uma
migração de muitos grupos populacionais para áreas do litoral. Nestes locais
existiam maiores possibilidades de recursos, como moluscos e outros frutos do
mar.

NOTA

Em locais como Santa Catarina, os sambaquieiros moravam em áreas de


intercessão, isto é, em áreas entre a praia e a floresta, aproveitando os recursos dos dois
ambientes.

Os povos do litoral eram povos sedentários que habitavam sobre montes


constituídos por conchas, restos de utensílios, alimentos e fósseis humanos.
Esses montes são chamados de sambaquis e os povos que lá moravam, de
sambaquieiros ou sambaquianos.

A ocupação sucessiva de populações em um mesmo local resultava muitas


vezes em sambaquis de grandes proporções. O maior sambaqui do mundo tem
30 metros de altura e se encontra em Jaguaruna-SC (figuras a seguir). Em alguns
sambaquis moravam cerca de 180 pessoas.

143
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

FIGURA 45 – VISTA AÉREA DO SAMBAQUI GAROPABA DO SUL, LOCALIZADO EM


JAGUARUNA (SC) E CONSIDERADO O MAIOR DO MUNDO

FONTE: As autoras

FIGURA 46 – DETALHE DO SAMBAQUI GAROPABA DO SUL

FONTE: Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/litoral/lit12.shtml>.


Acesso em: 2 fev. 2013.

Estes povos viveram entre 5.000 e 2.000 mil anos atrás, na região da costa
paraense até o Rio Grande do Sul. Segundo a arqueóloga Madu Gaspar, eles
produziam artefatos como agulhas, anzóis, canoas, machados etc. Entre os elementos
mais interessantes encontrados nos sambaquis estão os sepultamentos, em geral
dispostos de forma cerimonial e em locais específicos para esta prática, separados
das áreas de moradia. Os sepultamentos são geralmente acompanhados de artefatos
em osso, em concha, material lítico polido, oferendas alimentares e fogueiras.

144
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

Os rituais de sepultamento contavam com a preparação cuidadosa do


morto, em muitos deles são encontrados colares de conchas e alguns se encontram
envoltos em pigmento vermelho. Objetos muito característicos dos sambaquis
e que geralmente são encontrados juntamente com os sepultamentos são os
zoólitos.

Zoólitos são esculturas de pedra representando animais marinhos como


peixes e mamíferos aquáticos e, em menor proporção, peixes e animais terrestres,
como ratos, por exemplo. Muitas destas peças apresentam uma cavidade aberta
na parte ventral ou lateral da representação. Alguns dos animais representados
são passíveis de identificação zoológica, podendo-se, inclusive, determinar a
espécie.

FIGURA 47 – EXEMPLO DE ZOÓLITOS ENCONTRADOS EM SAMBAQUIS

FONTE: As autoras

Os sambaquieiros relacionavam-se com povos de outros sambaquis,


comunicando-se através de sinais de fumaça. Também trocavam informações
sobre técnicas de produção. A alimentação dos sambaquieiros era baseada em
moluscos, o que pode ser observado pelo desgaste dos dentes provocado pelas
conchas. A relativa incidência de cáries (10%) denota a presença de carboidratos
como tubérculos na alimentação. Para Gaspar (2000),

No sambaqui ocorre a associação espacial de três importantes


domínios da vida cotidiana: o espaço da moradia, o local dos mortos
e o de acumulação de restos faunísticos relacionados com a dieta de
seus construtores. [...] Ressalto que o espaço em questão é um lugar
bastante peculiar, construído principalmente com conchas de moluscos
e apresentando condições especiais no que se refere à textura, relevo
e odores. Muita coisa já foi dita sobre esse espaço construído: que o
cheiro de ostra e de marisco em decomposição era insuportável; que
os mosquitos infernizavam a vida das pessoas; e que o acúmulo de
matéria orgânica criaria condições favoráveis para a proliferação de
doenças. Segundo esta ótica, os sambaquieiros teriam deliberadamente
criado um local desagradável. Porém, antes de tudo, é preciso deixar

145
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

claro que a percepção é formada culturalmente e, portanto, é relativa;


o cheiro de frutos do mar poderia não ser desagradável para quem
vivia da pesca. (p. 33).

Tal lógica de ocupação do espaço é bastante peculiar destes grupos, à


medida que três elementos, que para muitas outras culturas estão necessariamente
em espaços diferentes, estão aqui estreitamente relacionados.

Alguns indícios verificados em pesquisas realizadas em sambaquis


indicam que seus construtores possuíam estreita ligação com o mar. A primeira
delas é a presença, nestes sítios, de restos faunísticos de grandes peixes, como
o tubarão, por exemplo, espécime característico de águas profundas. Também
os ossos humanos encontrados fornecem informações sobre este modo de vida,
a robustez característica dos vestígios ósseos pode estar associada à utilização
de determinados tipos de embarcações para pequenas navegações e à prática de
mergulhos.

NOTA

Você pode encontrar pesquisas recentes sobre os sambaquis no livro Sambaqui:


a Arqueologia do Litoral Brasileiro, Madu Gaspar, Jorge Zahar, 2000.

Também é possível encontrar sítios do tipo sambaqui no interior,


associados a rios, estes são chamados de “sambaquis fluviais”. Um bom exemplo
são os sambaquis fluviais localizados no vale do rio Ribeira, em São Paulo. Estes
sambaquis são menores, mas possuem características muito similares àqueles
encontrados no litoral. Os pesquisadores acreditam que a presença destes sítios
neste ambiente seja um dos indicativos de que povos que moravam no interior
estabeleceram contato com povos do litoral, ou que estes últimos, em algum
momento, tenham migrado e passado a viver em ambiente diferente.

Não se conhece a razão do desaparecimento dos sambaquieiros, imagina-


se que eles tenham sido eliminados pelos povos ceramistas ou tenham sido
integrados a essa cultura.

3.3 OS POVOS CERAMISTAS


São chamados de ceramistas os povos que desenvolveram a agricultura, já
que o surgimento da cerâmica esteve intimamente ligado ao cultivo de alimentos.
Os primeiros indícios de agricultura foram encontrados na região de Goiás, com
data entre 9.000 e 11.000 anos.

146
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

Os povos agricultores, ou ceramistas, viveram no mesmo período que


os sambaquieiros, porém em regiões do interior. Por volta de 2.000 anos, os
sambaquieiros desapareceram e os ceramistas dominaram os territórios.

Os povos indígenas atuais são povos ceramistas descendentes dessas antigas


populações pré-históricas. Além da divisão linguística, a produção de cerâmica
também é utilizada pelos antropólogos para estudar os diversos grupos indígenas.
Os grupos que desenvolvem tipos semelhantes de cerâmica também apresentam
semelhanças culturais. Assim, as culturas ceramistas do Brasil são divididas em
várias famílias. Entre elas, podemos destacar:

• tradições amazônicas;

• tradição marajoara;

• tradição itararé;

• tradição una.

FIGURA 48 – EXEMPLO DE FRAGMENTO DE CERÂMICA TUPI-GUARANI


DECORADA COM PINTURA

FONTE: As autoras

Um exemplo clássico de povo ceramista é o tupi-guarani. Sua cerâmica foi


vastamente estudada pelos pesquisadores, sendo que parte das pesquisas chegou
a estabelecer comparações etnográficas com integrantes de grupos pertencentes à
família, ainda vivos, o que enriqueceu muito o estudo.

Isto permite afirmar que a fabricação e a utilização da cerâmica eram


feitas pelas mulheres. Um dos principais elementos da cerâmica guarani é o
cambuchi, grande vasilha, que poderia medir até 1 m de diâmetro e era utilizada
para armazenar água e cauim, bebida típica do grupo, feita pelas mulheres com
mandioca ou milho mastigados. Tais vasilhas eram, em alguns casos, reutilizadas
para realizar sepultamentos.

147
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

A análise minuciosa do material cerâmico, em laboratório, pode revelar


importantes informações acerca das populações que a produziram, a principal
delas diz respeito à alimentação e produção de alimentos. Através da análise
química de materiais encontrados no interior dos vasilhames é possível descobrir
que tipo de alimentos comiam e cultivavam. Muitas ideias preconcebidas acerca
de determinados grupos foram esclarecidas através de análises deste tipo. Por
exemplo, em sítios arqueológicos do interior do sul do Brasil, foram analisados
restos de cerâmica que comprovaram que os grupos que a produziam cultivavam
diferentes tipos de alimentos, como batata, mandioca e milho, por exemplo.
Anteriormente acreditava-se que estes grupos cultivavam somente um tipo de
vegetal e, por esta razão, tinham que se deslocar no território em busca de outras
fontes de alimento no período anterior à colheita. A descoberta de que cultivavam
diferentes espécies mudou esta conclusão, visto que poderiam sobreviver no
mesmo local, colhendo seus alimentos em diferentes épocas do ano.

E
IMPORTANT

Para complementar seus estudos sobre o conteúdo, sugerimos a leitura de


Prous (1997; 2006).

148
TÓPICO 2 | PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

DESTRUIÇÃO VERSUS PROTEÇÃO

Dos diferentes sítios arqueológicos presentes no litoral norte catarinense,


os sambaquis são os que mais foram destruídos. Isto porque existia, até poucas
décadas atrás, o interesse econômico em explorá-los. Os sambaquis, por terem em
sua composição grande quantidade de cascas e moluscos, foram utilizados para
a fabricação de cal e pavimentação de estradas. Infelizmente, em muitas ocasiões,
os próprios órgãos públicos eram os maiores destruidores. Padre Rohr, em visita
aos sambaquis de São Francisco do Sul, constata que:

[…] em julho de 1960, os tratores e caminhões da Prefeitura Municipal


desmontavam ainda diariamente uma média de oitenta metros cúbicos
de conchas, que eram aproveitadas como macadame de estradas.
Todas as estradas dos arredores e do interior da Ilha, numa extensão
de dezenas e dezenas de quilômetros, acham-se atapetadas de conchas
de sambaqui. (Pe. Rohr, Florianópolis, 24/06/1961).

As fábricas de cal, também conhecidas como caieiras, destruíram


intensamente os sambaquis, sendo que muitos hoje possuem apenas uma décima
parte do seu tamanho original. Com aplicação da legislação de 1961, as fábricas
começaram a ser fechadas e as prefeituras notificadas.

Hoje, qualquer atividade que venha ocupar ou edificar uma área com
sítios arqueológicos tem que ser precedida de pesquisa arqueológica, para avaliar
a viabilidade do projeto, sem danos ao patrimônio arqueológico.

Se o patrimônio arqueológico pertence a toda a sociedade humana,


preservá-lo é obrigação moral de todos. As sociedades atuais e futuras têm o
direito de conhecer o patrimônio arqueológico preservado e valorizado.

Importância da preservação dos sítios arqueológicos

“Cada sítio arqueológico é uma página da Pré-História, destruir um sítio


arqueológico é como arrancar para sempre a página de um livro que não vai mais
ser escrito.” (Pe. Rohr).

Por que devemos preservar os sítios arqueológicos? Destruí-los tem o


mesmo efeito de apagar nossa memória, uma parte de nossa história de vida;
como se fôssemos acometidos de uma amnésia parcial e, com isso, perdêssemos
uma parte das experiências que formaram nossa identidade individual. Se a
amnésia nos priva de nossa identidade individual, a perda do patrimônio nos
priva de nossa identidade cultural. Esses testemunhos constituem a herança que
nossos ancestrais nos deixaram, os remanescentes materiais de suas realizações
e seus sonhos.

FONTE: KOLLER, Rosalie Cristina. Patrimônio arqueológico: para conhecer e conservar Joinville.
Joinville: MASJ, 2003.
149
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

150
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você viu que:

• O fóssil humano mais antigo do Brasil tem 1.680 anos e foi chamado de Luzia.

• O Homem de Lagoa Santa viveu entre 11.000 e 8.500 anos, em Minas Gerais.

• O Homem de Lagoa Santa tinha características negroides, diferente dos índios.

• As diferenças físicas do Homem de Lagoa Santa põem em dúvida a teoria


damigração única.

• Foram encontrados no Brasil vestígios de carvão com data de 32.000 anos.

• Os povos sambaquieiros viveram no litoral entre 5.000 e 2.000 anos atrás.

• Os povos ceramistas eram agricultores e viveram a partir de 9.000 anos.

• Os indígenas podem ser agrupados em famílias conforme a cerâmica que


produzem.

151
AUTOATIVIDADE

1 “O arqueólogo Walter Neves chegou a conclusões surpreendentes, após


analisar o crânio de uma mulher pré-histórica, batizada de Luzia. Trata-
se do mais antigo humano identificado com segurança nas Américas. Tem
entre 11.000 e 1.500 anos” (Superinteressante, abril/2004. p. 60). Por que a
descoberta do fóssil de Luzia questiona a teoria clássica da migração?

2 Desde os anos 70, a arqueóloga Niède Guidon propõe a revisão de hipóteses


sobre o povoamento da América. Quais são as ideias defendidas por
Guidon? Que vestígios podem comprová-las? Quais críticas são feitas pelos
seus opositores?

152
UNIDADE 3
TÓPICO 3

OS POVOS INDÍGENAS

1 INTRODUÇÃO
Há cerca de 4 mil anos, alguns grupos indígenas do Brasil tornaram-se
agricultores e desenvolveram a arte da cerâmica. O crescimento da população
indígena e o deslocamento pelo território originaram uma diversificação étnica
entre os indígenas.

As pesquisas, sobretudo na arqueologia, sempre associaram o


aparecimento da cerâmica com a sedentarização dos grupos, isto é, a partir do
momento que passaram a produzir os artefatos cerâmicos, tais povos passaram
a habitar sempre o mesmo local, não realizando mais grandes deslocamentos
no território. A teoria tem como justificativa o fato de que carregar os artefatos
produzidos seria uma tarefa difícil, e eles poderiam se quebrar e se perder. Como
a produção da cerâmica é um ofício que demanda tempo e, provavelmente, um
grande número de pessoas, era um investimento alto de um grupo, que não
poderia ser desperdiçado. No entanto, esta visão vem sendo repensada cada vez
mais, e já se aceita que grupos nômades poderiam, também, produzir cerâmica.

Os pesquisadores costumam dividir as famílias indígenas de acordo


com o tronco linguístico a que elas pertencem. Existem no Brasil dois troncos
linguísticos principais e outros menores.

Segundo a divisão estabelecida, temos os seguintes grupos:

• troncos: macro-jê e macro-tupi;

• grandes famílias: caribe, aruaque e arauá;

• famílias menores: tucano, macu, ianomâmi, guaiacuru, nambiquara, pano, mura


e catuquina;

• grupos isolados: acainá, aricapu, aruaquê, irantche, jabiti, canê, cioá e trumaí.

A questão da língua é fundamental para a compreensão dos grupos


indígenas, sobretudo no Brasil, onde existem diversos grupos distintos e diversas
línguas diferentes, grande parte já extintas. “Estima-se que cerca de 1.300 línguas
indígenas diferentes eram faladas no Brasil há 500 anos. Hoje são 180, número
que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, uma vez que eles não estão
em contato com a sociedade brasileira e suas línguas ainda não puderam ser
estudadas e conhecidas.” (FUNAI, 2013).
153
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

É comum algumas pessoas acreditarem que todos os índios no Brasil


falam a lígua tupi. Uma das razões disto são os livros de História, muitas
vezes baseados nas narrativas dos colonizadores, que, quando aqui chegaram,
encontraram índios falantes desta língua em quase todo o litoral brasileiro. O
tupi foi a primeira língua nativa que os missionários europeus aprenderam e
utilizaram na catequese de diversos grupos indígenas, tanto que grupos falantes
de outras línguas a aprenderam.

O quadro a seguir apresenta a classificação de algumas línguas indígenas


de povos que habitam o Brasil, incluindo o tronco linguístico, a família e as diversas
línguas associadas a eles.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DE ALGUMAS LÍNGUAS INDÍGENAS

FONTE: Fausto (2000)

154
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

2 COMO SE CLASSIFICA UMA LÍNGUA INDÍGENA?


É importante perceber que a classificação das línguas indígenas é uma
construção realizada por estudiosos com cujas classificações, muitas vezes, os
próprios povos falantes de tais línguas não se identificam. Muitos grupos não
possuem sequer uma denominação formal para a língua que falam ou não se
identificam, enquanto grupo, com estas divisões.

Segundo Melatti (2007), há diversas maneiras de realizar a classificação


das línguas indígenas, mas os linguistas consideram mais adequada a chamada
classificação pelo tipo genético. A classificação genética, neste caso, não possui
relação com a genética (ramo da biologia), mas consiste em reunir em uma classe
as línguas que tenham origem comum em uma língua anterior, ou seja, todas as
línguas que são derivadas de uma mesma língua, mais abrangente. O processo
dá-se da seguinte maneira:

Esta língua anterior é reconstituída pelos linguistas de maneira que


de seus vocábulos possam se fazer derivar, por meio de leis fonéticas,
os vocábulos das línguas atuais que constituem a referida classe.
Da mesma maneira que os filólogos, com a ajuda de leis fonéticas,
deduzem do latim vulgar as línguas neolatinas (português, francês,
italiano, espanhol etc.), assim também os linguistas tentam fazer com
as línguas indígenas do Brasil, mostrando como se derivam de línguas
já desaparecidas, que eles tentam reconstruir. (MELATTI, 2007, p. 59-
60).

A classificação e compreensão das línguas é muito importante tanto para


sua preservação quanto para o estudo dos grupos que as falam. É de grande
importância para arqueólogos, antropólogos e etnólogos, tendo em vista que,
se as línguas de uma mesma família derivam de uma língua comum, isto pode
significar que os diversos grupos que as falam podem ser originários de um
grupo único, mais antigo. É claro que esta interpretação não vale para todos os
casos, porque algumas línguas foram impostas por um povo a outro, em casos
de dominação, porém é consenso, entre os pesquisadores, que, se povos distintos
falam línguas da mesma família, é bastante provável que tenham uma conexão
histórica no passado.

3 OS DIVERSOS TRONCOS

3.1 TRONCO TUPI


O tronco tupi, como vimos, inclui diversas famílias, sendo a família tupi-
guarani a que abrange o maior número de línguas e que possui maior dispersão no
território. A mais conhecida é a própria língua tupi, a qual mencionamos acima e
que era falada pelos habitantes do litoral quando chegaram aqui os portugueses e
foi a primeira língua com a qual estes colonizadores tiveram contato. Línguas da
família tupi-guarani são também faladas, atualmente no Amazonas, Rondônia,

155
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

Maranhão e Mato Grosso do Sul, somente para citar alguns estados. A presença
de falantes destas línguas em diversas partes do país tem diversas razões, sendo
uma delas o constante deslocamento destes povos ao longo da História.

3.2 TRONCO MACRO-JÊ


A dispersão do tronco macro-jê no território praticamente coincide com
a região do planalto brasileiro. É constituído por diversas famílias, sendo que a
família jê está presente em maior número de áreas que as demais. As línguas jê
são faladas atualmente em estados como Tocantins, Maranhão e Pará, somente
para citar alguns exemplos.

No sul do país os grupos jê falam duas línguas, a kaingang e a xokleng.


A primeira está presente no planalto, desde São Paulo até o Rio Grande do Sul,
enquanto a segunda é falada somente no estado de Santa Catarina.

3.3 FAMÍLIAS NÃO INCLUÍDAS EM TRONCOS


Algumas famílias linguísticas não fazem parte de nenhum dos troncos,
como é o caso das famílias arawak, karib, ianomâmi e tucano, por exemplo. Cada
uma delas é composta por diversas línguas faladas em diferentes regiões do país.

3.4 GRUPOS QUE NÃO FALAM MAIS LÍNGUAS INDÍGENAS


Existem diversos grupos indígenas que não falam mais sua língua, como
é o exemplo dos tapuios de Goiás, dos pataxós, na Bahia e dos potiguaras, na
Paraíba, entre diversos outros. Nestes casos a substituição da língua nem sempre
foi feita pelo português, mas também há casos de substituição por outra língua
indígena ou outras línguas, não indígenas, como é o caso dos galibis-maruornos,
do estado do Amazonas, que são falantes de uma língua derivada do francês.

156
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

FIGURA 49 – DISPERSÃO TERRITORIAL DAS LÍNGUAS INDÍGENAS FALADAS NO BRASIL


ATUALMENTE (DADOS DE 2009)

FONTE: Disponível em: <http://www.socioambiental.org/>. Acesso em: 24 jun. 2013.

4 OS POVOS INDÍGENAS
Dentre o grupo jê, os grupos principais são os jê, pataxó, botocudo, cariri,
guató, bororó, camacã e macaxali. Estes grupos se originaram no Rio de Janeiro
e na Bahia e migraram para regiões como Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais,
Santa Catarina e Paraná. Já o grupo tupi formou-se na região dos rios Xingu e
Tapajós e migrou para regiões como o Paraná, Paraguai e as regiões litorâneas
que se estendem do Rio Grande do Sul até o Ceará. As principais famílias deste
grupo são os juruna, mandacaru, ariquém, tupari, ramarama e monde. Devido
aos deslocamentos, a família tupi sofreu uma nova divisão, dando origem aos
guaranis. Nestes dois grupos, existem ainda subgrupos.

157
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

A maior parte das informações que existe sobre as primeiras sociedades


tupis foi relatada por viajantes e missionários europeus dos séculos XVI e XVII.
Segundo Funari e Noelli (2002), os estudos mais recentes sobre estes grupos
sugerem que a agricultura na América do Sul tenha surgido na Amazônia e tenha
sido um fator determinante de diferenciação étnica. Os grupos que desenvolveram
a agricultura estabeleceram novas formas de estruturas sociais, enquanto os
caçadores-coletores não participaram desse processo.

Quando a agricultura assumiu a forma hoje conhecida, entre 6 a 5 mil anos


[...] as populações que dela se beneficiaram cresceram muito e tornaram-
se cada vez mais sedentárias. Acreditamos que a principal mudança social
e política decorreu da nova necessidade de dominar e manejar territórios
definidos. [...] Os coletores mudavam sazonalmente de territórios, tendo
uma ordem social que se fragmentava e se reconstituía de acordo com os
meses do ano. (FUNARI; NOELLI, 2002, p. 72).

O desenvolvimento da agricultura, bem como a superioridade técnica,


trouxe um domínio dos grupos tupis e guaranis sobre os outros grupos que não
haviam desenvolvido a agricultura. Dessa forma, os grupos rivais foram expulsos
dos seus territórios. Muitas vezes os conflitos aconteciam dentro das subdivisões
do grupo tupi, como entre os caetés, tupinambás e potiguares. Acredita-se que,
por volta de 1500, a população indígena do Brasil chegou ao número de 5 milhões.

4.1 A ALIMENTAÇÃO
O estudo da alimentação durante a pré-história é difícil, tendo em vista
que as informações sobre este período, como já vimos, são adquiridas, sobretudo,
pela arqueologia através do estudo dos vestígios materiais. Os alimentos, em
geral, são altamente perecíveis e, portanto, para saber o que comiam os grupos
pré-históricos, os pesquisadores têm que usar vestígios indiretos para sua análise.
Conforme Prous (1997):

O estudo da alimentação pré-histórica se faz com base no estudo prévio


da alimentação selvagem disponível em cada área e cada período
cronológico, na identificação e quantificação dos vestígios encontrados
nos sítios, no reconhecimento de utensílios adaptados à preparação
dos alimentos de origem vegetal. Tenta-se, então, estabelecer os
hábitos alimentares e correlacioná-los com as necessidades biológicas.
(PROUS, 1997, p. 39).

4.1.1 Produção de alimentos


Para utilizar o solo na agricultura, os tupis abriam clareiras na mata –
geralmente em forma de círculo, e realizavam queimadas com galhos secos. Essa
prática, conhecida como coivara, era geralmente realizada nos meses em que
ocorriam chuvas.

Após o preparo do solo, as mudas de plantas eram enterradas e o solo


utilizado de 3 a 4 anos. As espécies mais cultivadas eram a batata, milho, mandioca,
amendoim, feijão, batata-doce, tomate, caju, mamão, cará, abóbora, entre outras.
158
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

Além disso, os índios manejavam plantas medicinais como o jaborandi e o quinino


e plantas manufatureiras como o algodão e a piaçaba.

A prática da coivara esgotava rapidamente os recursos do solo, obrigando


as populações a se deslocarem novamente. Desta forma, esses grupos não se
tornaram totalmente sedentários. As roças plantadas pertenciam às famílias
nucleares (pai, mãe e filhos) ou poligâmicas (várias mulheres e filhos). O produto
da colheita era distribuído igualmente entre os membros do grupo, sendo apenas
os utensílios usados (enxadas, facões, arco e flecha) de posse particular.

Porém, em alguns grupos como os munducuru, o resultado da colheita


era considerado propriedade do dono da roça ou de quem matou o animal. Ainda
assim, a distribuição é coletiva. O cultivo das plantas ampliava a possibilidade
dos indígenas de obterem comida, já que as plantações atraíam várias espécies de
animais, como as antas, capivaras e aves. As aves tinham como função não apenas
a alimentação mas também a ornamentação.

Outra forma de obtenção de recursos alimentares era a pesca. Os índios


desenvolveram várias técnicas, adequadas ao local da prática. Eram usados o
arco e a flecha e venenos como o cipó-timbó, que asfixiava os peixes. Em locais
de afunilamento dos rios, onde a correnteza das águas era menor, utilizavam
cestos cilíndricos cobertos por folhagem ou redes. Os alimentos eram muitas
vezes armazenados pelas populações, utilizando técnicas como a defumação
(moqueamento), fabricação de farinha, de bolos e de massas. Também existiam
os silos subterrâneos e aquáticos para a conservação.

Os pesquisadores, em consenso, afirmam que os grupos indígenas


brasileiros não domesticaram animais para fins de alimentação, mas somente
para que se transformassem em animais de estimação e, no caso dos pássaros, os
criavam para que pudessem utilizar suas plumagens.

A domesticação da natureza foi feita somente no caso dos vegetais, eram


consumidas principalmente as raízes e os tubérculos, como a mandioca e a batata-doce.

É importante ressaltar que existem diferenças culturais entre os grupos


indígenas. Nem todos os grupos pescam, assim como nem todos os grupos
praticam a agricultura. Os índios que vivem em locais de rios de águas negras,
por exemplo, não praticam a agricultura nas matas de igapó, pois prejudica o
desenvolvimento dos peixes, sua maior fonte de alimento.

NOTA

Você pode encontrar boas informações no site do Museu do Índio – FUNAI


– <www.museudoindio.org.br>. O site também é adequado para ser utilizado por alunos de
Ensino Fundamental e Médio.

159
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

4.2 AS HABITAÇÕES
Um dos critérios fundamentais para a escolha de um local de moradia
é sua proximidade com fontes de água. Dependendo da população, existem
diversas outras exigências, como a presença de rio navegável, terras férteis ou
presença de mata. Assim sendo, as habitações indígenas variavam conforme o
grupo. Os índios do grupo tupi, por exemplo, construíam a aldeia em pontos
próximos a rios e matas e em locais que facilitavam a defesa contra ataque de
grupos inimigos. Normalmente essas aldeias eram constituídas de habitações
coletivas com tamanho entre 40 e 160 m de comprimento por 10 a 16 m de largura.
Nas maiores aldeias a população chegava a alcançar 3 mil pessoas. As moradias
tinham a forma de círculo ou de ferradura, dispostas ao redor de uma praça
central.

Alguns grupos, como os que habitavam o sul do Brasil, construíam


abrigos subterrâneos, cavando buracos no chão. Estas habitações são conhecidas
como estruturas subterrâneas ou, popularmente, “buracos de bugre”. Esta última
denominação, no entanto, possui forte carga de preconceito. As casas subterrâneas
são entendidas, atualmente, pelos pesquisadores como áreas domésticas
que foram ocupadas em diferentes momentos. Consistem em depressões,
geralmente circulares, conforme se observa na figura a seguir, que podem ser
identificadas isoladas ou em grupo. Quando identificadas em grupo, geralmente
são identificadas, também, galerias que ligam umas às outras. Os pesquisadores
acreditam que se tratava de grandes aldeias (SCUNDERLICK; KNEIP, 2010).

Além destes vestígios são também encontrados, em algumas situações,


associados às estruturas, pequenos montículos, taipas e grutas com a presença de
ossos humanos, possivelmente locais onde eram realizados os rituais funerários
dos grupos que habitavam as estruturas. Algumas das estruturas, principalmente
aquelas nas quais não são identificados vestígios que remontam ao contexto de
habitação, como buracos de estacas, por exemplo, são interpretadas como silos de
armazenamento de alimentos.

A parte (1) ilustra a identificação, por pesquisadores, de uma estrutura


em campo, antes de ser escavada. Note que, em comparação com a pessoa que se
posiciona à frente dela, a estrutura possui grandes dimensões, podendo ter sido
tranquilamente utilizada como área de moradia.

As partes (2) e (3) são o resultado da reconstituição do sítio arqueológico,


feita em laboratório, com base nos dados obtidos nas pesquisas em campo. Os
vestígios dos buracos de estaca permitiram aos pesquisadores supor que se
tratava de estrutura de moradia e as diferentes estruturas, ligadas por galerias
(3), permitiram avaliar tratar-se o local de uma possível aldeia composta por
diferentes moradias.

160
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

As condições do ambiente em que viviam os grupos condicionavam, como


condicionam até hoje, a forma como construíam suas habitações. Porém, segundo
Prous (1997), mesmo grupos adaptados a ambientes diferentes podem construir
suas moradias no mesmo local. As matérias-primas mais utilizadas na construção
das habitações na Pré-História eram a madeira, a terra, pedras e folhas para a
cobertura. No Brasil a utilização da pedra na construção das casas, no período pré-
histórico, não foi muito comum, na verdade nunca foram encontrados exemplos
da utização deste material na construção de paredes, embora este esteja bastante
disponível em todo o território. Atribui-se esta característica a opções orientadas
pelas características culturais dos grupos.

FIGURA 50 – (1) ESTRUTURA SUBTERRÂNEA IDENTIFICADA EM CAMPO; (2)


RECONSTITUIÇÃO DIGITAL DA PARTE INTERNA; (3) RECONSTITUIÇÃO
DIGITAL DA PARTE EXTERNA

FONTE: As autoras

4.3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL


As famílias ameríndias apresentavam-se de duas formas, nucleares ou
poligâmicas. As famílias ligadas entre si a partir de um ancestral em comum
formavam um clã. Esse ancestral comum era um objeto, um animal ou ainda uma
planta.

A organização política da tribo era patriarcal, e o líder era escolhido entre


os homens mais velhos da tribo. O líder deveria ter qualidades como coragem,
generosidade e ponderação, já que coordenava atividades como guerras,
construções, obtenção de alimentos.

161
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

O líder da tribo (morubixaba) era auxiliado por um conselho formado por


homens idosos, o caso de decisões como a execução de prisioneiros, o abandono
do território, alianças políticas etc. O casamento era realizado entre os membros da
tribo e a divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. Aos homens
cabiam tarefas como a caça e a pesca, defesa, construção de ocas e preparação do
solo para a agricultura.

Já as mulheres eram responsáveis pela roça, coleta e pesca. Segundo a


idade, as meninas escolhiam os frutos e produziam bebidas, as adultas cuidavam
da roça e produziam farinha, e as mais idosas faziam cestos e cerâmicas. As
meninas wayana, do norte do Pará, recebem cestos aos 4 anos que são utilizados
pelas mulheres para serviços domésticos.

As crianças aprendem as atividades acompanhando os pais em suas


tarefas, sendo a educação considerada responsabilidade tanto do pai, quanto
da mãe. Durante a puberdade, os aprendizes aprimoram suas técnicas e são
considerados aptos para casar.

4.4 CRENÇAS AMERÍNDIAS


Os índios tinham uma profunda ligação com a natureza, desenvolvendo
uma mitologia ligada aos elementos presentes em seu cotidiano. Para várias
tribos, por exemplo, o som provocado pelos trovões era chamado de Tupã. Monan
representava o criador da Terra, e Maíra, a deusa da transformação.

Muitas sociedades indígenas acreditam que existem no cosmos várias


camadas onde há os deuses, flora, fauna, fenômenos atmosféricos, antepassados
humanos, espíritos bons e ruins.

O paraíso para os indígenas era chamado de Guajupiá, local aonde se iria


após a morte para encontrar o espírito de seus antepassados. Os ritos fúnebres
indígenas protegiam as aldeias do retorno dos espíritos e auxiliavam os mortos a
encontrarem o paraíso. As fogueiras eram acesas abaixo das redes para espantar
os espíritos malignos que causavam incêndios, inundações, falta de alimentos e
derrota em guerras.

Figuras importantes no sistema de crença dos ameríndios eram os pajés e


xamãs, feiticeiros que faziam a ponte entre o mundo espiritual e o mundo terreno.
Além disso, eram responsáveis pela proteção dos guerreiros, cura de enfermidades
e purificação de alimentos. Os curandeiros eram grandes conhecedores de plantas
medicinais.

162
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

5 INDÍGENAS HOJE
Perguntas recorrentes quando se trata dos povos indígenas no Brasil são:
quantos são os índios atualmente?, quantos índios havia aqui à época do contato
com os colonizadores?. Diversos pesquisadores e o próprio governo federal,
por intermédio do censo, tentaram responder a estas questões e chegaram a
números que às vezes se aproximam e outras divergem entre si. No caso dos
censos realizados pelo governo, o principal problema é que se inclui somente
uma parcela da população indígena, tendo em vista a impossibilidade de os
recenseadores visitarem os grupos isolados e que, mesmo no caso daqueles que
vivem nas cidades, muitos não se identificam como índios.

Para a população indígena presente no Brasil no momento da colonização,


um dos números mais confiáveis é apresentado por Willian Denevan (1976
apud MELATTI, 2007) que, após sua pesquisa, concluiu que os colonizadores
encontraram, distribuídos por todo o território hoje denominado Brasil, cerca de
4.277.547 de indígenas. Para a população atual, o dado mais recente é o do Censo
do IBGE de 2010. Segundo consta na metodologia do trabalho, o órgão utilizou
como base para as avaliações o pertencimento étnico, incluindo a identificação da
língua falada e localização geográfica dos grupos. Foram coletados dados com as
populações residentes em terras indígenas demarcadas e as que habitavam fora
destas. De acordo com os resultados alcançados:

Ao todo, foram registrados 896,9 mil indígenas, 36,2% em área urbana


e 63,8% na área rural. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados
no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de
comparações com os censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil
pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra
cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas se consideravam
“indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes, cultura
e antepassados. (IBGE, 2013).

NOTA

Sobre a metodologia de trabalho do IBGE para o levantamento da população


indígena, acesse: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.
php?id_noticia=2194&id_pagina=1>.

Como vimos, podemos encontrar, atualmente, cerca de 900.00 índios,


sendo 70% dos 206 povos concentrados na Amazônia (a figura a seguir apresenta
a distribuição atual dos povos indígenas no Brasil). A população indígena,
somando aproximadamente 4 milhões (MELATTI, 2007) no período da chegada
dos portugueses, viu-se reduzida tanto pelo extermínio físico quanto pela
aculturação, ocorrida nas estratégias de assimilação e integração.

163
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

FIGURA 51 – DISTRIBUIÇÃO ATUAL DOS POVOS INDÍGENAS NO TERRITÓRIO


BRASILEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www.funai.gov.br/>. Acesso em: 24 jun.


2013.

A colonização europeia ocasionou enorme impacto sobre as populações


nativas de todo o continente americano, sendo uma das principais consequências
a altíssima redução no número de indivíduos. Milhares de indígenas morreram
após o contato com os colonizadores, sobretudo em consequência de doenças que
trouxeram e às quais as populações nativas não eram imunes. Doenças que hoje
nos parecem banais, como gripe e tuberculose, por exemplo, mataram até grupos
inteiros, pois eles não possuíam anticorpos para combatê-las.

Tendo em vista todas as modificações ocasionadas nas populações


indígenas, sejam elas de cunho demográfico ou social, alguns pesquisadores
chegaram a sugerir que as formas de organização social, a forma como as
populações indígenas atuais interagem com o meio ambiente e a forma como
realizam o manejo dos recursos naturais seriam distintas das formas como
procediam os grupos durante a pré-história. No entanto, não há consenso sobre a
afirmação, pois as pesquisas arqueológicas, antropológicas e históricas ainda não
geraram dados suficientes a respeito do período do contato com os europeus e
das mudanças de hábitos que estes possam ter ocasionado.

No entanto, é consenso que o atual estado em que se encontram os grupos


indígenas, suas línguas e sua cultura são consequência direta do contato com os
colonizadores a partir de 1500.

164
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

A partir de 1970, lideranças indígenas passaram a se articular com auxílio


do CIMI (Conselho Indígena Missionário) para tentar levantar soluções para
problemas como a posse da terra e assistência educacional. Em 1988, formou-
se a UNI (União das Nações Indígenas), que participou da elaboração dos
direitos indigenistas na Constituição. Atualmente, existe o CAPOIB (Conselho de
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil), auxiliado pelo CIMI
e pelas ONGs. Quanto à questão territorial, a Constituição de 1988 garantiu aos
indígenas o reconhecimento da posse de suas terras. Observe o que dizem alguns
parágrafos da Constituição (art. 231):

§ São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles


habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso
Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada
participação nos resultados da lavra, na forma da lei. (BRASIL, 1988).

No entanto, as populações indígenas enfrentam vários conflitos por posse


de terras, envolvendo inimigos como grileiros, latifundiários e elites regionais. A
demarcação das terras indígenas é muito importante para a sobrevivência destes
grupos, tanto física quanto cultural. Suas tradições estão fortemente atreladas
à terra, por esta razão, garantir que os grupos indígenas tenham acesso a ela é
fundamental para sua subsistência e também para que possam utilizar e preservar
sua cultura.

"Para os povos indígenas, a terra é muito mais do que simples meio de


subsistência. Ela representa o suporte da vida social e está diretamente ligada
ao sistema de crenças e conhecimento. Não é apenas um recurso natural – e tão
importante quanto este – é um recurso sociocultural" (RAMOS, 1995, p. 24).

É muito comum que algumas pessoas tenham opiniões equivocadas acerca


das comunidades indígenas e seu modo de vida, não raro descrevendo-os como
“preguiçosos” ou “acomodados”. É importante ressaltar que os grupos indígenas
possuem uma forma diferente de viver daquela das sociedades ocidentais, de se
relacionar com o meio ambiente e seu modo de vida é influenciado por isto.

Diversos grupos que ainda conseguem manter suas tradições vivem em


harmonia com o ambiente, gerindo os recursos que este lhes oferece e, por vezes,
produzindo o que mais seja necessário para sua sobrevivência. Não necessitam
acumular bens ou construir grandes casas, mas retiram da natureza tudo o que
é necessário para viver. Isto torna seu dia a dia aparentemente mais tranquilo,
porém não menos trabalhoso.

165
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

Algo importante a se pensar hoje é a constante busca por um modo de


vida mais sustentável e por uma relação mais harmônica com a natureza. Neste
sentido, temos muito a aprender com os grupos indígenas e devemos, cada vez
mais, desconstruir a ideia de que eles são “atrasados”. Nossa ideia de progresso
acarreta, muitas vezes, graves consequências para nossa própria qualidade de
vida.

LEITURA COMPLEMENTAR

O QUE É “SER ÍNDIO”?

Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que


aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela primeira impressão
que eles tiveram de haverem chegado às Índias.

Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um


continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim,
ignorando propositalmente as diferenças linguístico-culturais. Era mais fácil tornar
os nativos todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um
só: o domínio político, econômico e religioso.

Se no Período Colonial era assim, ao longo dos tempos, definir quem era
índio ou não constituiu sempre uma questão legal. Desde a independência em
relação às metrópoles europeias, vários países americanos estabeleceram diferentes
legislações em relação aos índios e foram criadas instituições oficiais para cuidar
dos assuntos a eles relacionados.

Nas últimas décadas, o critério da autoidentificação étnica vem sendo o


mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena. Na década de 50,
o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos
participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para
assim definir, no texto "Culturas e línguas indígenas do Brasil", o indígena como:
"[...] aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas
de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de
costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição
pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo
reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que
se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena
pela população brasileira com quem está em contato".

Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado indígena ou não


se estas pessoas se considerarem indígenas, ou se assim forem consideradas
pela população que as cerca. Mesmo sendo o critério mais utilizado, ele tem sido
colocado em discussão, já que muitas vezes são interesses de ordem política que
levam à adoção de tal definição, da mesma forma que acontecia há 500 anos.

166
TÓPICO 3 | OS POVOS INDÍGENAS

Identidade e diversidade

As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma


preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles
que convivem diretamente com os índios: as populações rurais.

Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais


com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais
como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar
as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de
sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os
de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa
desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios
e a invasão de seus territórios.

Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende


a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os
índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente
disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros
habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São
também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de
desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas
tenha se constatado o crescimento da população indígena.

Só recentemente os diferentes segmentos da sociedade brasileira estão


se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no
mesmo país, participam da elaboração de leis, elegem candidatos e compartilham
problemas semelhantes, como as consequências da poluição ambiental e das
diretrizes e ações do governo nas áreas da política, economia, saúde, educação e
administração pública em geral. Hoje, há um movimento de busca de informações
atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são
eles.

Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo


de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e
se desenvolve. Entendendo cultura como o conjunto de respostas que uma
determinada sociedade humana dá às experiências por ela vividas e aos desafios
que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são
dinâmicas e estão em contínuo processo de transformação.

No que diz respeito à identidade étnica, as mudanças ocorridas em várias


sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais às
dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem
modernas tecnologias (como câmeras de vídeo, máquinas fotográficas e aparelhos
de fax), não fazem com que percam sua identidade étnica e deixem de ser indígenas.

167
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das
diferenças existentes entre as sociedades indígenas e as não indígenas, quanto sob
o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem
no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais
diferentes e à necessidade de convívio entre elas, especialmente num país
pluriétnico, como é o caso do Brasil.

É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica específica de cada


uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas
formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos
recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada
uma delas e a busca do convívio pacífico, por meio de um intercâmbio cultural,
com as diferentes etnias.

FONTE: FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Adaptado de: <http://www.funai.gov.br/>. Acesso em:


5 fev. 2013.

168
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu que:

• Entre 6 e 5 mil anos alguns povos ameríndios dominaram a técnica da


agricultura.

• Os dois principais troncos linguísticos brasileiros são o tupi-guarani e o jê.

• Os grupos jê e tupi se subdividem em grupos menores, como os bororo e


juruna.

• A agricultura provocou mudanças na organização social dos grupos.

• A liderança política era exercida pelos patriarcas e conselhos de anciãos .

• O trabalho era dividido por sexo e idade.

• A mitologia indígena compreende elementos da natureza como rios e trovões.

169
AUTOATIVIDADE

Elabore um texto sobre o modo de vida das populações indígenas do Brasil.

170
UNIDADE 3
TÓPICO 4

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico você entrará em contato com os conceitos da educação
patrimonial, uma das principais metodologias utilizadas no ensino da pré-história
e que consiste em utilizar as informações deste período, dos sítios arqueológicos
e do patrimônio cultural em geral para, além de promover o estudo deste período
histórico, conscientizar crianças e adultos a respeito da importância da proteção
do patrimônio.

2 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL – CONCEITOS


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) define a
chamada educação patrimonial como:

[...] os processos educativos formais e não formais que têm como foco
o patrimônio cultural apropriado socialmente como recurso para a
compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas
manifestações, com o objetivo de colaborar para o seu reconhecimento,
valorização e preservação. (BRASIL, 2012, p. 5).

As metodologias de educação patrimonial são um recurso bastante


interessante para ser utilizado em sala de aula, tanto no ensino de pré-história
quanto de outros períodos históricos. No caso da pré-história, a importância de tal
conteúdo reside na oportunidade de colocar os alunos em contato com um tema
costumeiramente elitizado como é o caso da arqueologia. O conhecimento dos
sítios arqueológicos e dos diversos grupos de diferentes culturas que habitaram
o território antes da chegada dos europeus tende a despertar nos alunos o
entendimento da necessidade de respeitar e preservar este patrimônio. Trabalhar
tal conteúdo permite, ainda, proporcionar uma atitude mais crítica por parte dos
alunos quando eles estudarem conteúdos como Brasil colonial.

Um dos principais sintomas da constante modernização das cidades é a


desvalorização e o desconhecimento do patrimônio cultural. Por este motivo se faz
necessário associar ao ensino de História as metodologias da educação patrimonial,
buscando a valorização e preservação destes bens, que são públicos. A educação
patrimonial utiliza os bens culturais como fonte primária, estabelecendo o diálogo
entre os indivíduos e estes bens e reforçando o chamado “pertencimento”, o que

171
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

contribui na preservação do patrimônio por parte dos indivíduos envolvidos no


processo, uma vez que só se preserva o que se conhece. Segundo Horta, Grunberg
e Monteiro (1999, p. 6):

O conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades


do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação
sustentável desses bens culturais, assim como no fortalecimento dos
sentimentos de identidade e cidadania. A Educação Patrimonial é um
instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo
fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do
universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está
inserido. Este processo leva ao reforço da autoestima dos indivíduos
e comunidades e à valorização da cultura brasileira compreendida
como múltipla e plural.

A metodologia da educação patrimonial pode ser utilizada tanto nas escolas


quanto em ambientes informais, com comunidades diversas. Diversos elementos
como fotografias, documentos, sítios arqueológicos e datas comemorativas, por
exemplo, são considerados patrimônio cultural.

O objetivo de abordar o assunto aqui, conforme dito anteriormente,


é frisar a importância da educação patrimonial na sala de aula, onde diversas
questões podem ser abordadas, como, por exemplo: o que é patrimônio cultural?,
como pode ser abordado em sala de aula?, quais os objetivos?. Para que possamos
responder a estas questões, é necessário inicialmente discutir o conceito de
patrimônio e entendê-lo de forma ampla. Segundo Teixeira (2008, p. 24),

Com relação à escola, podemos destacar que ao longo dos tempos


sua estrutura vem sendo depredada, desvalorizada dia após dia
pelos seus próprios beneficiários. Acreditamos que, para a efetivação
da educação patrimonial no contexto escolar, obrigatoriamente
precisamos partir da realidade dos estudantes, isto é, possibilitar a
sua atuação na significação dos bens culturais e a participação nas
soluções dos problemas.

O conceito de patrimônio é bastante amplo. A palavra é de origem latina


e deriva de pater (pai). Para a discussão que realizamos aqui, entenderemos
patrimônio como manifestações culturais, passadas de geração a geração. A
proteção do patrimônio cultural tem estreita relação com a educação, pois as ações
educativas aproximam as pessoas desta temática e da importância que possui a
preservação para a nossa identidade cultural e nossa história.

Mas quando falamos em patrimônio, logo lembramos grandes


monumentos e casas antigas, certo? Esta visão, que faz parte do senso comum
sobre o tema, vem há muito sendo modificada pelos profissionais que trabalham
na área. A ideia de patrimônio cultural é hoje bem mais ampla e pode incluir
manifestações culturais como festas religiosas, por exemplo, e modos de fazer
tradicionais, inclusive a culinária!

172
TÓPICO 4 | EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

A Constituição Federal de 1988, no artigo 216, entende como patrimônio


cultural brasileiro (apud FONSECA, 2003, p. 59-60) os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:

I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Assim, podemos citar como exemplos de patrimônio cultural brasileiro


os sítios arqueológicos, sobre os quais tanto discutimos ao longo deste caderno
e que são fundamentais para a compreensão de nosso período pré-histórico, os
conjuntos históricos das cidades, como é o caso do Pelourinho, o famoso bairro
histórico localizado em Salvador, na Bahia, até comidas típicas e manisfestações
culturais diversas de diferentes regiões do Brasil.

NOTA

Você sabia? A capoeira foi instituída pelo Ministério da Cultura como patrimônio
cultural brasileiro através do instrumento de tombamento. O tombamento é um ato
administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação
da lei, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental para a população, impedindo
que venham a ser destruídos ou descaracterizados.

3 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO


ENSINO DA PRÉ-HISTÓRIA
A educação patrimonial no ensino da pré-história permite que os alunos
entrem em contato com sua própria história cultural, procurando não dissociar
este período do processo de formação histórica do país. Ao trabalhar em sala
de aula as questões referentes ao patrimônio, constrói-se o conhecimento acerca
destes bens e da importância de sua valorização e preservação. Segundo Horta,
Grunberg e Monteiro (1999, p. 3),

173
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

A educação patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado


sobre o processo cultural e, a partir de suas manifestações, despertar no
aluno o interesse em resolver questões significativas para sua própria
vida social e coletiva. O patrimônio histórico e o meio ambiente em
que está inserido oferecem oportunidades de provocar nos alunos
sentimentos de supresa e curiosidade, levando-os a querer conhecer
mais sobre eles. Neste sentido podemos falar na “necessidade do
passado”, para compreendermos melhor o “presente” e projetarmos
o “futuro”.
O estudo dos remanescentes do passado motiva-nos a compreender
e avaliar o modo de vida e os problemas enfrentados pelos que
nos antecederam, as soluções que encontraram para enfrentar
esses problemas e desafios, e a compará-las com as soluções que
encontramos, para os mesmos problemas (moradia, saneamento,
abastecimento de água etc.).

4 PROPOSTAS DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL


A seguir serão apresentadas propostas de algumas atividades de educação
patrimonial que podem ser utilizadas em sala de aula para o ensino da pré-
história. Como possuem caráter bastante prático, tais atividades costumam ser
um ótimo método para estimular os alunos a aprender os conteúdos da disciplina.

DICAS

O IPHAN disponibiliza, em seu site, vasto material de apoio para professores


e pesquisadores. A seguir disponibilizamos o link de uma destas publicações, o
“Caderno Temático – Educação Patrimonial, Reflexões e Práticas”, desenvolvido
em parceria com a Casa do Patrimônio de João Pessoa/PB. O material pode ser
acessado em: <http://issuu.com/daniellalira/docs/caderno_tem_tico_02_-_baixa_
resolu__o?mode=window&viewMode=doublePage>.
Visite também o site do IPHAN para ter acesso a outras publicações sobre o tema: <www.
iphan.gov.br>. O material irá auxiliar na aplicação das atividades propostas a seguir.

4.1 PROPOSTA DE APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES


Aulas 1 e 2

Atividades a serem realizadas

Nas duas primeiras aulas sugere-se a realização de algumas atividades:


conversa com os alunos sobre como serão organizadas as próximas aulas e sobre
como serão avaliados. É necessária a realização da primeira conversa sobre os
temas a serem trabalhados nas próximas aulas, para que se possa ter ideia de
como está cada aluno em relação a estes conteúdos. Tal análise servirá de base
para o encaminhamento das aulas, bem como para efeito comparativo quando da

174
TÓPICO 4 | EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

avaliação final.

Será iniciada na primeira aula a exposição oral dos conteúdos planejados.


Os conteúdos propostos para as duas aulas são:

- utilização dos termos “pré-histórico” e “pré-colonial”;

- ocupação pré-colonial da região de interesse (de acordo com o contexto dos alunos)
– diferentes grupos; cultura, especificidades, tipos de moradia, alimentação,
organização social.

Procedimento de ensino

Os procedimentos utilizados serão a exposição oral dos conteúdos


e a exposição de imagens. Os recursos audiovisuais em geral são auxílios
fundamentais quando se trabalha este tipo de conteúdo, visto que é de difícil
abstração pelos alunos.

Objetivos

Os objetivos são:

- traçar panorama de ocupação da região antes da chegada dos colonizadores


europeus;

- enfatizar as especificidades de cada grupo, procurando desconstruir a ideia


generalizada que se tem de “índios”.

Aula 3

Atividades a serem realizadas

A terceira aula consistirá, ainda, na exposição de conteúdos orais. É nesta


aula que se aplicarão os métodos da chamada educação patrimonial. A partir
do momento que os alunos já possuem uma visão da ocupação pré-colonial do
território, passa-se a discutir como este panorama ocupacional foi traçado, como
foram feitas tais descobertas, e é neste contexto que se insere a arqueologia. Os
conteúdos propostos para esta aula são:

- conceitos de arqueologia e seus métodos (o trabalho do arqueólogo);

- tipos de sítios arqueológicos e sua localização (relacionando-os aos grupos


anteriormente trabalhados);

- conceito de patrimônio cultural (diferenciação entre material e imaterial, público


e privado);

175
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

- proteção dos sítios arqueológicos no Brasil.

Procedimento de ensino

Exposição oral, exposição de imagens e de um vídeo sobre pesquisa


arqueológica.

Objetivos

Os objetivos são:

- construir a aula juntamente com os alunos de forma que se introduza o conceito


de patrimônio cultural;

- diferenciar os conceitos de patrimônio particular e patrimônio público, mais


especificamente o cultural arqueológico;

- introduzir os conceitos de educação patrimonial e arqueologia;

- desconstruir preconceitos formados acerca da prática da arqueologia bem como


da ocupação do território do estado por populações indígenas;

- despertar sentimentos que motivem a preservação dos sítios arqueológicos.

Aula 4

Atividades a serem realizadas

A partir desta aula serão iniciadas as atividades avaliativas. A primeira


atividade proposta será chamada de “Arqueólogos por um dia”. A turma será
dividida em grupos e cada grupo irá receber um artefato arqueológico (o “kit
arqueológico” pode ser solicitado ao IPHAN de diferentes estados, pelos
profissionais da educação, para utilização em sala de aula) e uma ficha de
avaliação, a partir da qual estes irão analisar os objetos recebidos e criar hipóteses
a respeito deles, tal qual se faz em um laboratório de arqueologia.

Objetivo

O objetivo da atividade é a interação em grupo bem como o conhecimento


das tecnologias produzidas por populações pretéritas, que contribui na
desconstrução dos conceitos de “atraso” ou “incapacidade” destas. Fazer com
que os alunos tenham mais contato com a prática da pesquisa arqueológica é
também um dos objetivos pretendidos com esta atividade.

176
TÓPICO 4 | EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Aula 5

Atividades a serem realizadas

Nesta aula será aplicada a segunda atividade avaliativa, que consistirá


em produção de um texto por parte dos alunos. A segunda atividade proposta
será chamada de “Meu diário arqueológico”. Individualmente, os alunos deverão
produzir um texto no qual irão se imaginar como crianças pertencentes a algum
dos grupos humanos trabalhados, exemplo: povo do sambaqui, índios guaranis
etc. O texto será produzido em forma de diário, no qual os alunos deverão contar
como seria seu dia a dia fazendo parte de algum destes grupos.

Objetivo

O objetivo da atividade é a produção textual, a utilização da criatividade,


bem como “aferir” como os alunos se apropriaram do que lhes foi passado na
parte teórica.

Aula 6

Atividades a serem realizadas

Na sexta e última aula será aplicada a última atividade avaliativa, que


consistirá na produção de um texto final, com a participação dos alunos em
conjunto com a professora. Será proposta a construção de um texto sobre a
ocupação pré-colonial da região, que será depois distribuído para os demais
alunos das turmas de Ensino Fundamental. A base para a construção deste texto
serão os textos produzidos anteriormente de forma individual pelos alunos,
que serão revisados em conjunto com o(a) professor(a). Durante esta revisão, os
próprios alunos poderão opinar sobre o que está “certo” e o que está “errado”, e,
a partir destes conceitos, será montado o texto final.

Objetivos

Os objetivos são:

- estimular o debate e a troca de informações entre os alunos;

- ampliar a noção do “certo” e do “errado” por meio da discussão, para que,


ao invés de receberem apenas conceitos, os alunos possam indagar o processo
avaliativo, sendo parte dele;

- proporcionar a construção do conhecimento através da interação com o outro;

- fazer com que os alunos percebam a importância do trabalho que estão fazendo,
à medida que servirá de base para que seus colegas de outras turmas aprendam
com ele.

177
UNIDADE 3 | PRÉ-HISTÓRIA DA AMÉRICA, PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL, OS POVOS INDÍGENAS

E
IMPORTANT

Após o término das atividades, os alunos recebem um texto base sobre os


conteúdos trabalhados, para que leiam e estabeleçam comparações com o texto produzido
por eles mesmos.
Propõe-se, ainda, a realização de uma saída de campo para visitação de um sítio arqueológico
ou um museu com exposição relacionada aos conteúdos trabalhados.
Sugere-se que as atividades sejam realizadas com alunos que estejam estudando o tema
pré-história.

LEITURA COMPLEMENTAR

SOBRE CULTURA E PATRIMÔNIO CULTURAL

O que é bem cultural?

Em seu sentido amplo, compreende todo testemunho do homem e seu


meio, apreciado em si mesmo, sem estabelecer limitações derivadas de sua
propriedade, uso, antiguidade ou valor econômico. Os bens culturais podem ser
divididos em três categorias: bens naturais, bens materiais e bens imateriais. 

O que é patrimônio cultural?

Patrimônio cultural é a soma dos bens culturais de um povo, que são


portadores de valores que podem ser legados a gerações futuras. É o que lhe
confere identidade e orientação, pressupostos básicos para que se reconheça
como comunidade, inspirando valores ligados à pátria, à ética e à solidariedade
e estimulando o exercício da cidadania, através de um profundo senso de lugar e
de continuidade histórica.

Quais são os principais elementos que compõem o patrimônio cultural?

O patrimônio cultural se apresenta sob diversas formas. Os bens imateriais


compreendem toda a produção cultural de um povo, desde sua expressão musical,
até sua memória oral, passando por elementos caracterizadores de sua civilização.
Os bens materiais se dividem em dois grupos básicos: bens móveis –  são a
produção pictórica, escultórica, material ritual, mobiliário e objetos utilitários – e
bens imóveis – não se restringem ao edifício isoladamente, mas compreendem,
também, seu entorno, garantindo sua visibilidade e fruição. No acervo de bens
imóveis, que constituem o patrimônio de um povo e de um lugar, incluem-se os
núcleos históricos e os conjuntos urbanos e paisagísticos, importantes referências
para as noções étnicas e cívicas da comunidade.

178
TÓPICO 4 | EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

No que consiste o valor cultural de um bem?

Reside em sua capacidade de estimular a memória das pessoas


historicamente vinculadas à comunidade, contribuindo para garantir sua
identidade cultural e melhorar sua qualidade de vida.

Por que preservar o patrimônio cultural?

A principal razão é a melhoria da qualidade de vida da comunidade, que


implica seu bem-estar material e espiritual e a garantia do exercício da memória e
da cidadania. A preservação garante a continuidade das manifestações culturais.

Como preservar o patrimônio cultural?

A comunidade é a verdadeira responsável e guardiã de seus valores


culturais. Não se pode pensar em proteção de bens culturais, senão no interesse
da própria comunidade, à qual compete decidir sobre sua destinação no
exercício pleno de sua autonomia e cidadania. Para preservar o patrimônio
cultural é necessário, inicialmente, conhecê-lo através de inventários e pesquisas
realizadas pelos órgãos de preservação, em conjunto com as comunidades. O
passo seguinte é a utilização dos meios de comunicação e do ensino formal e
informal para a educação e informação das comunidades, para desenvolver o
sentimento de valorização dos bens culturais e a reflexão sobre as dificuldades
de sua preservação. A atuação do poder público  deve ser exercida em caráter
excepcional, quando faltarem recursos técnicos ou materiais ou organizações
coletivas capazes de assumir as ações de preservação necessárias. São diversas
as formas de proteção do patrimônio cultural, desde o inventário e cadastro até o
tombamento, passando pelo estabelecimento de normas urbanísticas adequadas,
consolidadas nos planos diretores e leis municipais de uso do solo e, até, por uma
política tributária incentivadora da preservação da memória.

FONTE: INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS -


IEPHA. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/sobre-cultura-e-patrimonio-cultural>. Acesso
em: 14 fev. 2013.

179
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você viu que:

• A metodologia da educação patrimonial pode ser importante ferramenta no


ensino da pré-história e na preservação do patrimônio cultural.

• O patrimônio cultural brasileiro é representado por bens culturais materiais,


como os sítios arqueológicos, e imateriais, como a capoeria, por exemplo.

• Abordar o tema preservação do patrimônio cultural em sala de aula contribui


para a conscientização da importância desta preservação e o que ela significa
para a construção de nossa história.

180
AUTOATIVIDADE

Cite exemplos do patrimônio cultural brasileiro, material e imaterial.

181
182
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