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Simposio Nº 34 :"Arqueología y mercado"

Coordinadores: José López Mazz y Octavio Nadal

Ponencia

Arqueología e Sociedade (II)

Paulo Zanettini, Dr. - Zanettini Arqueologia (São Paulo/Brasil).

Resumo

No Brasil, ao longo das duas últimas décadas, a consolidação da legislação ambiental


impulsionou sobremaneira o crescimento da Arqueologia relacionada ao mercado.
Hoje, o arqueobusiness se coloca como modalidade francamente hegemônica no que
diz respeito ao número de pesquisas e experimentos, bem como à geração de
informação sobre grandes porções do território brasileiro nunca antes palmilhadas.

Nesse sentido, sob a ótica da cadeia produtiva (Castro 2002), as possibilidades e


oportunidades que se colocam para a Arqueologia brasileira e a sociedade são
realmente amplas. Porém, multiplicam-se os desafios e problemas que merecem ser
questionados e aprofundados.

Entre outros aspectos, é preciso aprimorar a comunicação entre os diversos


profissionais envolvidos no estabelecimento de instrumentos de valoração e validação
do conhecimento a ser compartilhado com a sociedade. Faz-se necessário, também,
um processo contínuo de avaliação da cadeia per se, a fim de se promover o
desenvolvimento científico como um todo, em oposição à mercantilização irrefreável
da arqueologia de contrato.

Daí decorre a necessidade do estabelecimento de um planejamento estratégico que


certamente extrapola os limites da reflexão estanque, demandando uma maior
interação entre os elos que compõem a cadeia.

O sinal vermelho está aceso e a Arqueologia avança no Brasil: o risco de colisão –


com perdas irreparáveis para a sociedade – é claro.

Embora cientes de nossas limitações e de nossa falta de competência, enquanto


arqueólogos, para abordar em profundidade algumas destas questões, optamos por
nos arriscar, propondo aos colegas e suas diversas experiências a construção de um
marco lógico que contribua para a formulação de uma equação de futuro (foresight),
sobretudo por estarmos lidando com recursos finitos, de grande significação, úteis na
construção de uma sociedade democrática e plural.

Nossa intervenção aborda algumas realizações nesse campo, dentro da perspectiva


da responsabilidade social do arqueólogo no meio empresarial, a fim de estimular a
reflexão a respeito, ressaltando que até o presente encontros dedicados ao tema
ocorreram há algum tempo, em 1988, 1997 e 2000. No ultimo encontro ressalta a nota
introdutória, a Sociedade de Arqueologia Brasileira assistia com grande apreensão ao
crescimento da modalidade em detrimento da pesquisa básica. Por outro lado,
observava-se à época, uma verdadeira cisão entre pesquisadores e órgãos
responsáveis pela fiscalização (ver SAB 2002).
PARTILHANDO ALGUMAS INFORMAÇÕES

As informações disponibilizadas têm origem em levantamentos promovidos pela


Zanettini Arqueologia para a criação de um sistema gerencial informatizado a respeito
do patrimônio arqueológico brasileiro. Do mesmo modo são oferecidos dados oriundos
de Termo de Cooperação Técnica firmado pela empresa e a 9ª Superintendência
Regional do IPHAN (Ministério da Cultura), visando a contribuir na formulação de
mecanismos de gestão e uso público dos recursos arqueológicos no Estado de São
Paulo.

Número de licenças para pesquisa arqueológica concedidas pelo IPHAN no território nacional
(desempenho ano a ano) .
Período: janeiro de 2005 e abril de 2007 Fonte: Diário Oficial da União

Os projetos de arqueologia se encontram no caminho crítico de grandes obras de


infra-estrutura. O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal
prevê a implantação de 1.500 empreendimentos de porte diverso (obras de infra-
estrutura consideradas de grande relevância econômica e social), a serem executados
nos próximos 4 anos.
A média anual de 395 portarias de pesquisa expedidas pelo IPHAN (incluindo
renovações) deverá ser sensivelmente ampliada em 2007.
Espacialização dos projetos de pesquisa em curso no território nacional, com base nas portarias
emitidas entre janeiro de 2005 e abril de 2007.

Portarias por Estado - 2005 a 2007


220
193
200
180
160
140
120 104
100 81 79
80
60
60 51 49
44
40 28 26 22
16 15 15 14
20 9 8 5 4 4 4 3 3 2 2 1
0
DF
CE
BA

RN

AC
MG

GO

RO
AL

AM
RS

ES

AP

PE

SE
SC

PA

PR

MA
PB
RJ

TO
MT

PI
SP

MS

A Arqueologia desenvolvida em moldes empresariais acompanha, obviamente, o


avanço do capital. Como resultado, temos uma distribuição bastante desigual da
investigação pelo território nacional. Do mesmo modo, o acesso à informação e aos
recursos arqueológicos também varia de região para região do País. O Estado de São
Paulo, por exemplo, concentra cerca de 23% das licenças de pesquisa emitidas no
período em exame. Este desempenho, por sua vez, encontra respaldo no rebatimento
da legislação federal em âmbito estadual. São Paulo também concentra o maior
número de empresas de arqueologia de contrato.
ELEMENTOS A RESPEITO DA CADEIA PRODUTIVA DA ARQUEOLOGIA

‰ No campo da fiscalização e gestão do Patrimônio Arqueológico, o IPHAN conta


com cerca de quarenta profissionais diretamente envolvidos, dentre os quais
dez arqueólogos aproximadamente, em suas vinte e uma Superintendências
Regionais.

‰ No período analisado computam-se 203 arqueólogos / pesquisadores


(detentores de portarias). Observa-se o incremento acelerado de novos
profissionais no mercado. Qual o perfil desejado?

‰ Estima-se o envolvimento de mais de 1.200 profissionais em projetos de


contrato, entre colaboradores (arqueólogos, técnicos em arqueologia,
historiadores, geógrafos, antropólogos, museólogos, arquitetos, pedagogos
etc.) e prestadores de serviços.

‰ 159 entidades científicas, instituições púbicas e privadas, com perfis


amplamente diferenciados, abrigam acervos. Isso pode gerar problemas
relacionados à conservação do material e restringir o acesso do público a ele.

‰ 250 empreendedores integram a cadeia na amostra analisada.

A “cadeia produtiva” da
arqueologia na atualidade: elos
desconectados
A necessidade de gerar
instrumentos que incentivem e
promovam a conexão, bem
como a disseminação da
informação entre os elos da
cadeia produtiva constitui um
dos gargalos observados.

“A cadeia produtiva é composta


agrupamentos sociais com
funções distintas e
geograficamente dispersos.
Para desempenhaqr suas
funções necessitam de
informação teórica, tecnológica,
gerencial e de mercados de
fatores e de produtos gerados
interna e externamente à cadeia
produtiva. A forma como a
informação é produzida, flui e é
apropriada pelos diversos
componentes da cadeia
produtiva é um fator
preponderante no seu
desempenho. Este
conhecimento é essencial para
desenvolver estratégias de
gestão deinformação na cadeia”
(adaptado de CASTRO 2005).
EXEMPLO: O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NO ESTADO DE SÃO PAULO

‰ Total de sítios cadastrados no CNSA (protegidos pela Constituição federal):


1925 (data base: março de 2007).

‰ Os levantamentos setoriais por região administrativa apontam diferenças


significativas entre o patrimônio cadastrado e aquele referenciado na literatura.

- Há uma variação de 30 a 50% no número total de sítios nas regiões analisadas.

- Apenas 10% dos sítios cadastrados no Estado apresentam requisitos mínimos


para sua gestão. Isso demonstra de forma definitiva a despreocupação da
Academia em relação aos recursos arqueológicos e a sua proteção.

- São Paulo apresenta grandes vazios de conhecimento.

‰ Cerca de 10% do Estado é conhecido. Assim, se tomarmos por base uma


linearidade, contamos com um potencial mínimo de 19.250 sítios para o
Estado. Seguindo a mesma referência (São Paulo corresponde a 8% do
território nacional), podemos estimar com base nos dados levantados um
potencial de 240.625 sítios arqueológicos no território nacional.
CASOS PARA DISCUSSÃO

Políticas Públicas

- Identificando oportunidades e contribuindo na geração de Termo de Referência para


pesquisa em frentes de expansão agrícola: o boom da energia limpa – setor sucro-
alcooleiro em São Paulo – “O vazio científico no Noroeste do Estado”.

- Manejo cultural em unidades de conservação: o caso do Parque Estadual da Serra


do Mar (Instituto Florestal, Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Governo do Estado
de São Paulo)

- Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico Brasileiro.

Disseminação da informação

- Programa de Educação Patrimonial CLN (Rodovia Ba-099), Litoral Norte da Bahia


(CLN, Zanettini/Via Gutemberg, IPHAN, Secretarias de Educação,do Estado e
municipios envolvidos, ONGs e lideranças comunitárias) “A produção participativa de
produção do conhecimento em torno do patrimônio cultural”.

- Projeto Fronteira Ocidental, Mato Grosso, Zanettini/Secretaria de Estado da Cultura


“Estimulando a redescberta de uma região”.

Tópicos

- Quadro de desempenho
- Produtos e consumidores intermediários e finais
- Qualidade: requisitos – produto, serviços e processos
- Aprimoramento das informações
- Geração de políticas públicas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALDARELLI, S. Atas do Simpósio Sobre Política Nacional do Meio Ambiente e


Patrimônio Cultural. Repercussões dos Dez Anos da Resolução CONAMA
nº001/86 sobre a Pesquisa e Gestão dos Recursos Culturais no Brasil.
Universidade Católica de Goiás, Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia,
Goiânia, 1997.
CASTRO, A. M. G. Estratégia de P&D para melhoramento genético em uma época de
turbulência. In: Simpósio de Gestão e Tecnologia, 22., Salvador, nov. 2002.
Anais... São Paulo: FEA/USP, 2002.
JOHNSON, B. B. et al. Projetos para a mudança estratégica em instituições de P&D.
In: Simpósio Nacional de Gestão da Inovação Tecnológica, 17., São Paulo,
1992. Anais... São Paulo: FEA\USP, 1992.
MENESES, U. T. de B. Arqueologia de Salvamento no Brasil: uma Avaliação
Crítica. Texto apresentado no Simpósio S.O.S Preservação, Pontifícia
Universidade Católica, Rio de Janeiro , 1988.
SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA Anais do Simpósio: A Arqueologia
no meio empresarial, Universidade Católica de Goiás, IGPA, Goiânia, 2002.

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