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CNPJ n. 00.676.262/0001-70, com sede em Setor Comercial Sul, Quadra 02, Bloco C, n.
256, Ed. Toufic, 1º andar, Brasília/DF, neste ato representado por sua Presidenta 1
Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Câmara dos Deputados, Gabinete
232 - Anexo 4, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seus advogados
Governador de Santa Catarina, que proibiu o uso de linguagem neutra de gênero nas
INCONSTITUCIONALIDADE
1. De acordo com o artigo 102, I, alínea “a”, da Constituição Federal, podem ser
Estado de Santa Catarina, o Sr. Carlos Moisés, que proibiu o uso de linguagem neutra
Estado de Santa Catarina editou o decreto com base no art. 71, incisos I e III, da
Constituição Estadual, que lhe conferem poderes para editar e publicar leis e atos
podem propor ação direta de inconstitucionalidade, autorizados pelo artigo 103, VIII,
desta corte (ADI n. 1.407-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 24.11.2020).
legitimidade para proposição do presente feito, conforme do art. 103, inciso VIII da
Constituição Federal.
DECRETA:
11. Esta medida, como se vê, proíbe a linguagem neutra no Estado de Santa
IMPUGNADO
FEDERAL
e individuais”, dentre eles a igualdade. Ainda mais especificamente, foi previsto como
preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”,
15. No art. 5º, caput, do texto constitucional, estabeleceu-se que “todos são iguais
16. As referidas garantias são, inclusive, reflexo dos parâmetros estabelecidos pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos que, já em seu art. 1º, dispôs que “todos
os seres humanos nascem livre e iguais em dignidade e em direitos”. No que diz respeito à
Artigo 7º
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.
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empregado por esta c. Corte – trazem conceito de identidade de gênero, que aqui
1 http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf
18. Os referidos Princípios ainda fixam que “os seres humanos de todas as orientações
humanos”. Isto é, orientação sexual e/ou identidade de gênero não podem ser aspectos
Humanos”, que aponta os cinco principais tópicos para efetivação da proteção legal 7
22. Dentro deste universo, há quem se identifique como mulher, como homem ou
gênero que lhe foi afirmado no momento do nascimento. Como consequência lógica,
os não-binários não se sentem representados pela língua portuguesa, tendo em vista
masculino e o feminino.
masculinos para denotar seres humanos cujo gênero não é conhecido ou não é
masculino e feminino2”.
24. Neste sentido, a língua portuguesa não previu a mudança de paradigma que
8
está ocorrendo no mundo e no país há alguns anos, que surgiu, principalmente, a
existe o anseio pela adoção da linguagem neutra, para que pessoas que não se sentem
2
MADER, Guilherme Ribeiro Golaço. Masculino Genérico e Sexismo Gramatical. Dissertação submetida ao
Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina, 2015, p. 18
3
https://diversitybbox.com/pt/manifesto-ile-para-uma-comunicacao-radicalmente-inclusiva/
E quem está nesse grupo, do nem uma coisa nem outra, continua
sendo gente, continua tendo direito de ser como é
[...]4
de ‘Ele/ela’ por ‘Ilu’, ‘Dele/Dela’ por ‘Dilu’, ‘Meu/Minha’ por ‘Mi/Minhe’, ‘Seu/Sua’
26. E essa luta é, de fato, essencial, tendo em vista que a linguagem funciona como
27. Isso porque o objetivo é claro: tornar a língua portuguesa inclusiva para
neutra de gênero, viola preceitos fundamentais por impedir que alunos da rede
entendem.
4
https://diversitybbox.com/pt/manifesto-ile-para-uma-comunicacao-radicalmente-inclusiva/
28. A linguagem não serve apenas para comunicar, sendo também ferramenta de
representação e identificação. Por isso que não há como pretender que a língua
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se sintam representados, pois é também através da fala que todos nos identificamos.
30. Não se está a defender que não se deve preservar a língua portuguesa,
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BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo, Edições Loyola, p. 67.
31. Como exposto no livro de Marcos Bagno aqui já citado, não é a linguagem que
6
BAGNO, Marco. Op. Cit., p. 64-65.
35. O princípio da dignidade humana é base dos direitos fundamentais, e deve ser
Barroso:
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Como ressaltado pelo i. Ministro Gilmar Mendes em sua recente decisão proferida na
concretiza a igualdade”.
37. Neste sentido, pode-se citar como decisões históricas e símbolos de avanço
para a comunidade LGBTQIA+ aquelas proferidas na ADPF n. 4.275, pela qual esta
Eg. Corte Superior definiu que transexuais e transgêneros podem mudar de registro
contrário. É por isso que a proibição do decreto combatido não só viola preceitos
40. Tendo em vista o quanto demonstrado, a linguagem não pode ser alheia à
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
gênero neutro nos órgãos e escolas públicas, também fere o direito à educação nos
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42. Os arts. 6º e 205 da Constituição consagram o direito à educação como direitos
de todos os brasileiros e como dever do Estado. Em complemento, nos arts. 205 a 214
constam os princípios que devem reger e nortear o Estado para que esse direito seja
43. Segundo o art. 205, da Constituição Federal, a educação deve ser promovida
“visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”. Em complemento, o art. 206 preceitua que o ensino deve
ter como princípios, dentre outros, a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
retrocesso neste caminho de evolução dos direitos sociais, pois a proibição presente
46. No julgamento da ADPF n. 600, que trata da educação sobre gênero nas escolas
nas escolas que as crianças e adolescentes que fogem do padrão começam a ser
combatido, por também instigar e reforçar o preconceito nas escolas públicas, viola
V – DA MEDIDA CAUTELAR
50. Conforme estabelecido no art. 10, § 3º, da Lei n. 9.868/99, o Pleno desta Eg.
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Corte pode conceder liminar inaudita altera parte em caso de excepcional urgência.
do direito alegado (periculum in mora e fumus boni iuris), que, presentes, determinam
52. O fumus boni iuris significa a plausibilidade do direito alegado pela parte, isto
é, a existência de uma pretensão que é provável, sendo possível o julgador aferir esse
determinado grau de probabilidade pela prova sumária carreada aos autos pelo autor
do pedido cautelar.
53. O periculum in mora estará presente sempre que se verificar risco a que a
na medida em que possa causar dano à efetividade do processo principal. Esse dano
à efetividade do processo está ligado a outro dano, de natureza concreta, que pode
54. Presentes esses dois requisitos, isto é, sendo provável o direito alegado e
estando o mesmo sob ameaça, porque não é possível sua preservação até que o Poder
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55. O fumus boni iuris está suficientemente evidenciado nas razoes acima expostas,
humana.
57. Não fosse só isso, imprescindível destacar que já há projetos de lei em outros
Paulo, que requer providências no Estado de São Paulo nos mesmos moldes do
8 https://www.al.sp.gov.br/spl/2021/06/Propositura/1000375335_1000444824_Propositura.pdf
58. Presentes esses dois requisitos, isto é, sendo provável o direito alegado e
estando o mesmo sob ameaça, porque não é possível sua preservação até que o Poder
VI – DOS PEDIDOS
59. Assim, por todo o exposto, o Partido dos Trabalhadores, firme nas razões
integralidade.
60. Por fim, requer que todas as intimações ocorram no nome de EUGÊNIO
E DUARDA S ILVA
OAB/DF 48.704