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Danald Worster
NOIQ: Elite texto foi traduzido por José Augusto Drummond do original "Doing mvi,onmental history", exl'lido de
Donald WOfSler, cd., Tltunds O/lhe. Earlh -paspectivc 0tI moJan em';ronme.nllu hwory (Cambridge, Cambridge
Uru\lersily Press, 1988), p. 289·307.
mOS de ir ainda mais fundo} até encontrar A história ambiental é, em resumo} par
moS a própria lerra} entendida como um te de um esforço revisionista pam tomar a
•
agente e uma presença na história. Ai des disciplipa da história muito mais inclusiva
cobriremos forças ainda mais fundamentais nas suas na rrntivas do que ela tem tmdicio
atuando sobre o tempo. E pam apreciar nalmente sido. Acima de tudo, a história
essas forças, devemos de vez em qua ndo ambiental rejeita a premissa convencional
deixar os parlamentos, as salas de pa no e as de que a experiência humana se desenvol
fábricas, abrir todas as ponas e vagar pelos veu sem restrições natumis, de que os hu
. '
campos e florestas, ao ar livre. Chegou a manos são uma espécie distinta e "super
hom de compmrmos um par de sapatos natural", de que as conseqüências ecológi
resistentes pam caminhadas, e não podere cas dos seus feitos passados podem ser
mos evitar sujá-Iós com a lama dos cami ignomdas. A velha história não poderia
nhos. negar que vivemos neste planeta há muito
Por enquanto, essa ampliação da pers tempo, mas, pãr desconsiderar quase sem
pectiva da história de modo a incluir um pre esse falo} portou-se como se nâo tivés
conjunto mais profundo e diversir.cado de semos sido e nâo fôssemos realmente parte
assuntos não desar.ou a primazia do Esta· do planeta. Os historiadores ambientais,
·do nacional como território legítimo do por outro lado, percebemm que não pode
historiador. A história social, a história mos mais nos dar ao luxo de sennos tâo
Iflocentes.
•
aprofundar o nosso entendimento de como dos sobre a vida rural na França e Febvre
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os seres humanos foram, através dos tem nos seus textos de geografia sociaJ. Fer
pos. afetados pelo seu ambiente natural e. nand Braudel prolégé de Febvre. também
.
inversamente, como eles afetaram esse faria do ambiente uma parte preeminente
ambiente e com que resultados. dos seus estudos históricos. especialmente
Um dos mais produtivos centros da no na sua gmnde obra sobre o Mediterrâneo.
va história tem sido os EUA. fato que sem Pam Braudel, o ambiente eram as fonnas
dúvida se explica pela força da lidemnça da terra - montanhas, plarucies, mares -,
norte-americana em questões ambientais. um elemento quase fora do tempo agindo
A primeim tentativa de defi,úr esse novo na 1I10ldagem da vida humana nos proces
campo foi o ensaio de Roderick Nash. sos de longa duração (longue durée). Ele
intitulado "The state of environmenta I his sustentou que havia mais na história do que
t
tory" [A situação da lústória ambiental). a sucessão de fatos das vidas individuais;
Nash recomendava que encarnssemos toda n� escala mais ampla, havia a história viSL1
a paisagem ao nosso redor como um tipo do ângulo superior da natureza. uma histó
. de documento histórico sobre o qual os ria "na qual toda mudança é lenta. uma
norte-americanos vêm escrevendo a res história de repetição constante, de ciclos
S
peito de si mesmos e dos seus ideais. Ma is sempre recorrentes". .
recentemente, um esforço abrangente de Tal como os historiadores da fronteira
Richard White de tmçar o desenvolvimen JloJ1e�americanos. os integrantes do grupo
to da história ambiental reconhece o valor dos AI/notes na França tiveram o seu inte
do trabalho pioneiro de Nash e de Samuel resse pelo ambiente revigorado pelos mo
P. Hays. historiador do movimento conser vimentos populares da década de 1960 e
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vacionista, mas também sugere que eles dos primeiros anos da década seguinte.
tiveram antecessores na escola historiográ Em 1974 saiu uma edição especial dos
fica norte-americana dedicada ao estudo Anna/es dedicada a "Histoire et environne
da fronteira e do oeste (dentre esses estu ment". No curto prefácio. Emmanuel Le
diosos atentos ao ambiente estariam Fre Roy Ladurie, ele próprio um dos ma is no
derick Jackson Tumer. Walter PrescolI táveis pmticantes da história ambiental.
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Webb e James Malin). Essas raízes mais assim descrevia o programa desse campo
antigas foram sendo cada vez mais relem de estudo:
bradas à medida que os historiadores am
bientais ultrapassaram a politica conserva A história ambiental reúne os temas
ciOlústa de Hays e a história intelectual de
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guntas que ela procura responder, cada um paro efeito de clareza, distinguir esses três
deles exigindo contribuições de outras dis ,úveis de estudo ambiental, eles d e fato
ciplinas e aplicando métodos especiais de constituem uma investigação única e dinâ
análise. O primeiro trata do entendimento mica, na qual natureza, organização social
da natureza propriamente dita, lal como se c econômica, pensamento e desejo são tra
organizou e funcionou no passado; incluí wdos como um todo. E esse todo muda
mos aí tanto os aspectos orgânicos quanto conronne mudam a natureza e as pessoas,
inorgânicos da natureza, inclusive o orga numa dialética que atravessa todo o passa
nismo humano, que tcm sido um elo nas do e chega até o presente.
cadeias alimentares da natureza, atuando Em tennos gerais, este é o programa da
ora como útero, ora como estômago, 01(1 nova história ambiental. Ele abrange uma
como devorado f, ora como devoTm.lo, ora grande variedade de assuntos, familiares e
como hospedeiro de microorganismos,ora estranhos, ao invés de engendrar alguma
como uma espécie de pamsita. O segundo nova e esotérica esp.ecia lidade, Esperamos
nível da história ambiental introduz o do que dessa síntese possam surgir novas per
mínio sócio-econômico na medida em que gunL1s e respostas.
este interage com o ambiente. Aqui nos
preocupamos com femlmcntas e trabalho,
com as relações sociais que brotam desse
trnbalho, com os diversos modos que os
povos criaram de produzir bens a partir de Ambientes naturais do passado
recursos naturais. Uma comunidade orga
nizada para pescar no mar pode ter institu i O historiador ambiental, além de fazer
çóes, papéis de gênero ou ritmos sazonais <llgumas pergunws novas,precisa aprender
muito distintos dos de um povo que se a falar algumas línguas novas. Sem dúvi
dedica a criar ovelhas em pastagens n:IS da, a mais estranha dessas línguas é a dos
altas montanhas. O poder de tomar deci cielltistas naturais. Cheia de números,leis,
sões, inclusive as que afeL1m o ambiente, tenninologias e experiências, essa língua é
raramente se distribui de fonna igualitária tão estmnha pard o historiador quanto o
•
por uma sociedade, de modo que descobrir chinês foi para Marco Polo. No entanto,
as configurações do poder faz parte desse mesmo que se possua apenas fragmentos
nível de análise. Por fim, fonnando um do seu vocabulário, quantos tesouros estão
terceiro IÚvel de análise para o historiador, aí par..! serem entendidos e levados pam
vem aquele tipo de imemção mflis intilngí casa! Conceitos de geologia, que razem
vel e exclusivamente humano, pummelltc nossas noções de história recuar até o
mental ou intelectual, no qual percepções, Plcistoceno, ° Siluriano,o Pré-Cambriano.
valores éticos, leis, mitos e outras estrutu Grá ricos dê! climatologia, nos quais as tem
ras de signifiC"dção se tomam parte do düí peraturas e as chuvas oscilam par.! cinla e
logo de um indivíduo ou de um grupo com para baixo atmvés dos séculos, indiferen
a natureza. As pessoas estão coltstante tes à estabilidade de reis e impérios. A
mente ocupadas em construir mapas do química dos solos, com os seus ciclos de
mundo ao seu redor, em definir o que é um carbono e nitrogênio e os seus índices de
detenrunado recurso, em detenninar que pH mudando com a presença d e sais e
tipos de comportamento podem ser am ácidos, traçando os limites da agricultura.
bienta Imente destrutivos e devem ser proi Qualquer desses dados pode ser uma fer
bidos - de modo lllélÍS gemI. em 'escolher rtllncnta nova e poderosa para o estudo do
os fins das suas vidas, Embom possamos, desenvolvimento das civilizações. No seu
l'AR/\. FAZER I nSTóR1A AMB1F.NTAI_ 203
e entre estes e os seus ambientes rísicos, pastados ou roçados, em seu lugar nascia
quem mais pode ajudar o historiador am um;1 gnllna ch;lJnada IJluegrass. E essa
bientaI. Isto se explica em parte porque, gmma era tudo o que poderia desejar um
desde Charles Oarwin, a ecologia se preo fazendeiro em busca de terras e de pasto
cupa tanto com intemçõcs p<lsS<ldas quanto pam os seus 'lIlimais. Os fazendeiros nor
presentes; ela tem sido parte rUllllamcntal te-americanos invadiram o Kentucky aos
do estudo da evolução. Igualmente impor milhares, e em breve a luta pela região
tante é o fato de que a ecologia se preocupa tenninou. "O que teria acomecido", per
visceralmente com a origem, a dispers.io e guntava Leopold, "se a sucessão vegetal
a organza
i ção natural nessa terra escura e úmida, sob o
plantas fonnam, de longe, a maior parte da impacto dess.1s forças, tivesse nos dado
g
biomassa existente 110 pia nctil. Em lothl iI a I!:,rtlm olpim,lIrbuSIO ou erva sem valor?',
sua história a humanidade tem dependido Teria o Kentucky se tomado uma proprie
crucialmente das pl3lllilS, parti ;i1imcntn, dade norte-americana, da maneira e na
remédio, material de cunstruçno, habitat de época em que se tomou'!
animais de caça e escudo contra o restante Pouco depois de Leopold propor essa
da natureza. As plantas têm sido, quase fusão de história e ecologia, o historiador
invariavelmente. aliadas dos humanos na lames Malin, do Kansas, publicou uma
luta para sobreviver e prosperar. Assim, série de ensaios que apontavam para o que
quando homens e plantas se ellconlr.lln, ele chamou de "uma revisão ecológica da
nascem mais temas de hislóri:! Hmbiental história dos EUA". Ele se interessava
do que em qualquer outrtl circunstância. especialmente em estudar os grandes cam
Sem o conhecimento ecológico da vegeta pos (grasslands) de sua terra naL11 e o
ção, a história 3mbienttll perde os seus problema de adaptação que eles trouxeram
alicerces, a sua coerência. o seu primeiro para os americanos, tal como já haviam
passo. tnJzido a nlos pa ra os indígenas. A partir do
Alguns pesquisadores se imprcssiona I1nal do século XIX, os colonos brancos,
rum tanto com esse rato que dizem praticar egressos de uma região mais úmida e co
não a história ambiental, mas a "história berta de norestas, tentaram criar uma agri
ecológica" ou a "ecologia histórica". Com cultura estável nas planuras secas e sem
isso eles querem insistir numa aliança mais árvores, mas só obtiveram resultados mis
estreita com a ciência. Há alguns anos o tos. Malin se impressionou com o fato de
cientista natural e conservacionista Aldo que eles afinal conseguirdln transfonnar a
Leopold projetou essa aliança quando fa terra em prósperas fazendas de trigo, mas
lou de "uma interpretaçno ecológica da nno sem antes serem forçados a desapren
história". Seu próprio exem[110 do que der muiuls das suas antigas técnicas agri
seria isso dizia respeito à competição entre colas. IIl",atisreito com a história tradicio
os índios, os comerciantes rrnnccses c ill- nal, que não dava qualquer importãncia a
204 EStuDOS HlSTORlros - 1991J11
questões mmo essa, Malin se desmbriu tégia que promete mais para os historiado
lendo os textos de ecologistas, em busca res que desejam um entendimento conjun
das perguntas certas. Ele os leu mm certa to dos humanos e da natureza.
liberdade, mais mmo uma fonte de inspi Quando organismos de muitas espécies
ração do que como um conjunto de mode se reúnem, eles formam mmuJÚdades de
los rígidos. "O ponto de vista ecológim", composição geralmente bastante diversifi
acreditava ele, é valioso para o estudo da
" cada, ou, como se diz boje mais comumen
hist6ria, não sob a ilusão de que assim a te, ecossistemas. Um ecossistema é a mais
história poderá se converter numa ciência, ampla generalização feita na ciência, com
mas apenas como uma maneira de ver o plccndendo tanto os elementos orgânicos
objeto e os processos da história".9 como inorgâJÚcos da natureza reunidos
Essas alianças foram propostas há cerca num único local, todos em relação ativa e
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de 30 ou 40 anos. Desde então, à medida recíproca. Alguns ecossistemas são rela-
que a ecologia se transformou numa ciên tivamente pequenos e facilmente demarcá·
cia mais rigorosamente matemática, com veis, tal como um lago na Nova Inglaterra,
modelos dos processos naturais muito enquanto outros são enormes e mal defini
mais elaborados, as alianças informais dos, do tamanho da floresta amazônica ou
propostas seja por Leopold, seja por MaIin da plaJÚcie do Serengeti, ou mesmo da terra
deixaram de parecer adequadas. Os histo toda. Todos esses ecossistemas são geral
riadores ambientais têm tido que aprender mente descritos, numa linguagem extraída
a ler num JÚvel mais avançado, embora em grande parte da mecânica e da ciberné
ainda se vejam diante do problema de Ma tica, como auto-{!quilibrados, como uma
Iin de decidir o quão científica sua história máquina que funciona automaticamente,
precisa ser e que conceitos da ciência po conferindo-se para verificar se a tempera
dem ou devem ser adotados. tura nâo sobe demais, acelerando-se quan
A ecologia contemporânea oferece vá do perde velocidade e começa a bater pino.
rios ângulos para entender os organismos Fatores externos podem perturbar esse
em seus ambientes, e todos esses ângulos equilíbrio, tirando a máquina temporaria
têm seus limites e suas aplicaçoes na his mente do seu ritmo regular, mas sempre (ou
tória. Pode-se, por exemplo, examinar o quase sempre) ela volta a algum tipo de
organismo individual e a sua reação às funcionamento estável. O número de espé
mndições externas. Em outras palavras, cies que forma um ecossistema flutua em
pode-se estudar a adaptaçao em termos de tomo de um JÚvel determinável; o fluxo de
uma fISiologia individual. Pode-se tam energia através da máquina se mantém
bém acompanhar as flutuações <lo tama constante. Ao ecologista interessa ver ca
nho de uma população vegetal ou animal ma tais sistemas continuam a funcionar em
numa área, as Sllas taxas de reprodução, o meio a perturbações contínuas, e como e
seu sucesso ou fracasso em termos evolu por que eles entram em mlapso.
tivos, suas ramificações econômicas. Em Mas nesse ponto exato há uma dificul
bora esses dois tipos de pesquisa possa m dade sobre a qual a ciência da emlogia nâo
ter considerável significado prático para a conseguiu chegar a um consenso claro.
sociedade humana, há uma terceira estra- Qual o grau de estabilidade desses ecossis-
temas narurais e qual o grau de sua susce Até recentemente a maior autoridade na
tibilidade a perturbações? Será correto ciência dos ecossistemas foi Eugene
descrevê-los como equilibrados e estáveis Odum, através das várias ediçõcs do seu
antes da chegada dos humanos? Se for cOlthecido livro FUlldomellial of ecology
correto, então qual é o ponto a partir do ! Fundamentos da ecologial.tO Odum é um
qual se pode considerar uma mudança no imbatível partidário dos sistemas, alguém
seu equilíbrio como excessiva, danosa ou que vê todo o reino da natureza hierarqui
destruidora? É bem fácil definir o dano camente organizado em sistemas e subsis
sofrido por u m organismo individual: um temas, todos eles compostos por partes que
problema de saúdeou, em última instância, funcionam harmoniosa e homeostatica
a morte. Da mesma fonna. não é muito mente, cada um deles com um ritmo que
difícil identificar o dano sofrido por uma mais se parece com o daquela natureza-re
população quando ela decai visivelmente. lógio do século XVIII, que não falhava
Mas os danos sofridos por um ecossistema num único tique ou taq uc. Essa versão
são um assunto mais controvertido. Nin anterior da natureza revelaria a mão do seu
guém negaria que a morte de todas as criador divillo; a versão de Odum, em con
áIVOres, aves e insetos significaria a morte traste, é a do trabalho espontâneo da natu
de um ecossistema de floresta tropical reza. Mas cada vez mais os ecologistas
úmida, ou que a drenagem de um lago estão se afastando desse quadro de ordem
poria fim ao seu ecossistema. Mas muitas de Odum. Liderados por paleoecologistas,
mudanças são menos catastróficas, e não especialmente paleobotânicos, que cole
existe um método simples de medir o grau tam amostras das turfeirase tentam recons
de prejuízo em cada caso. truir, através da análise dos pólens, os an
A dificuldade de definir os danos sofri tigos ambientes naturais, eles vâo chegan
dos por um ecossistema se aplica a mudan do à conclllsão de que a visão de Odum é
ças cansadas tanto pelos homens quanto um tanto estática. Levando as suas inves
por forças não-huma""s. Uma tribo da tigaçõcs até a Era Glacial e épocas ainda
América do Sul, por exemplo, pode abrir mais antigas, eles têm descoberto muita
uma pequena clareint na mala com os seus desordem e disrupção na natureza. Abs
facões, plantar algumas colheitas e depois traídos do tempo, dizem esses criticos, os
deixar que a floresta reconquiste a clareira. ecossistemas podem ter uma confortadora
Essa agricultura, chamada itinerante ou de aparência de estabilidade; mas no mundo
coivara, tem sido geralmente considernda real, histórico, eles são mais alterados do
não�prejudicial ao ecossistema como um que inalteráveis, mais mutames do que
lodo; com o tempo, o equilJbrio é reswbe estáveis.
lecido. Mas em algum momento, à medida Essa diferença de opiniâo científica se
que se intensifica esse tipo de Hgricultum, refere em parte a provas e em parte a pontos
a capacidade regenerativa da Iloresla é afe de vista, tal como uma discllssão sobre se
tada pennanenlemel1te, e o ecossistema é um copo está meio cheio ou meio vazio. Se
prejudicado. Que momento é esse? Os o observador recuar o bastante e se colocar
ecologistas nâo têm certC7..l1 e não podem no espaço exterior (como tentou fazer, com
dar respostas exatas. Por isso o historiador muita imaginação, o cientista inglês James
ecológico acaba preferindo dizer que os
•
Lovelock), o planeta ainda parecerá um
homens provocam "mudanças" no am- lugar notavelmente estável, com organis
bienre -pois "mudanças" é um termo neu mos que há mais de um bilhão de anos
tro e incontroverso - e não "danos", um mantêm condições altamente adequadas à
conceito muito mais problemático. vida: todõs os gases atmosféricos estão
•
206 ESnJDOS HlSTÓIUCOS -1991/11
•
feita rom rouro de fOCAs lhe< pennitiu se mo se tivessem o seu próprio tipo de "sis
aventurar mais longe 00 mar perseguindo temas culturais" que se interligam com os
�uas presas. Os esquimós de hoje, invadi ecossistemas apenas em casos muito raros
dos como estão pelos instnunentos de cul e isolados? Ou, para tornar a questão ainda
turas materialmente mais avançadas, têm mais complicada, será que os humanos
ainda mais oportunidades ao seu dispor, se criam com a sua tecoologia uma série de
quiserem, podem importar trigo e laranjas, erossiste1D3S novos, artificiais-um arrozal
que vilão da Califomia num avião de carga . na Indonésia ou uma floresta cuidadosa
E podem esquecer romo eram as suas op mente administrada na Alemanha - que
ções anteriores, abrir mão do seu caráter requerem supervisão humana permanente?
úniro, da sua independência de espírito, da É claro que não existe um conjunto único
sua intimidade com o mundo do gelo. ou coll'õistente de respostas para tais per
Glande parte da bistória ambiental se dedi guntas. Mas os antropólogos, que estão
ca justamente a examinar essas mudanças, entre os observadores mais abrangentes e
voluntárias ou forçadas, nos modos de sub teoricamente conscientes do comporta
sistência e as suas implicações para as pes mento humaoo, podem nos oferecer visões
soas e para a terra. instigantes.
À medida que os bistoriadores enfren A reflexão antropológica sobre essas
tam essas questões elementares referentes questões começou ainda no século X1X,
a ferramentas e sobrevivência, logo peice mas foi especialmente nas últimas três ou
bem que aqui também outras disciplinas quatro décadas que surgiu uma esrola ec0-
andaram trabalhando, e há muito tempo. lógica (sem um currículo definido, e com
Entre elas está a disciplina dos antropólo rótulos coollitivos tais como ecologia cul
gos, cujos trabalhos os bistoriadores am tural, crologia humana, antropologia ec0-
bientais têm lido com grande interesse. Eles lógica e materialismo cultural). O melhor
romeçararn a procurar nos antropólogos guia para esse tipo de literatura é provavel
chaves para pontos cruciais do qucbra-ca mente The ecological transition, de 1000
beças crológico: qual a melhor maneira de Bennell, emhora haja outras revisões úteis
compreender a relação das culturas mate escritas por Ernflio Mora0, Roy EUeo, Ro
11
riais humanas com a natureza? A tecnolo bert Netting e outros. Bennell define a
gia deve ser entendida como parte integran escola crológica como o estudo de "como
te do mundo natural, algo equivalente ao e por que os humanos usam a Natureza,
pêlo do UISO polar, aos dentes aliados do como eles incorporam a Natureza dentro da
tigre, à agilidade instantânea da gazela, ro Sociedade, e o que eles fazem consigo mes
mo todos os mecanismos adaptativos exis mos, com a Natureza e a Sociedade nesse
tentes nos ecossistemas? Ou seli mais exa processo". A1gull'õ desses antropólogos
to encarar as culturas como algo que separa têm afirmado que a cultura é um fenOmeoo
os humanos da natureza e, mesmo, os colo integralmente autOnomo e supero<Jrgânico,
ca fora dela? Os cientistas naturais nos surgindo à margem da naturen e inteligível
dizem que num ecossistema tudo tem um
•
apenas nos seus próprios termos - ou pelo
papel e, portanto, tudo influencia o funcio- menos, como díria o próprio Bennetl, a
namento do todo; inversamente, todas as cultura moderna está tentando ser assim.
roisas são afetadas por estarem num ecos Outros, em contraste, sustentam que toda
sistema. Devem as culturas e as sociedades cultura, em algum grau importante, expres
que as criam ser vistas também nessa pers sa a natureza, e não deve ser rigidamente
pectiva dupla, influenciando e sofrendo in isolada em sua esfera própria e autocontida.
fluências? Ou será melhor descrevê-Ias co- As duas posições são esclareced oras para o
208 ESruoos HlSTóRICOS- I99lJ8
ris certamente argumentasse que uma era remos de uma espécie de f"são das duas
de escassez pode ser também uma era de tconas.
•
aponta os connitos internos das sociedades ta. Precisamos incluir também como mo
como O principal agente histórico, ficando dos, submodos, ou variações, a história dos
vaqueiros conduzindo gado através das
a natureza como um p<lllO de fundo passivo.
pastagens de Montana, dos pescadores de
T.1 Ivcz, 110 cnL1nto, a distância entre Hílrris
pele escura annando as suas redes na costa
e Marx não seja impossível de superar.
de Malabar, dos lapões puxados por suas
Pode-se coloc<lr um pouco mais de marxis
renas, dos operários de Tóquio comprando
mo em Harris a rgumentando que, entre os
bolinhos de arroz com algas marinhas num
fatores que levam ao esgotamento de recur
supennercado. Nesses e em muitos outros
sos e aos dcsequihbrios ambientais, está a
exemplos, o historiador ambiental deseja
competição, tanto entre classes quanto en
saber que papel a natureza teve na molda
tre estados. Os capita listas constr6cm uma
gem dos métodos produtivos e, inversa
ordem social e tecoológica que os enrique
mente, que impactos esses métodos tive
ce e os leva ao poder. Montam fábricas para
ram na natureza.
a produção em mas",. Levam a terra à beira
Este é o diálogo imemorial entre eco
do colapso com a sua tecnologia, a sua
logia e economia. Embora derivando das
administração da classe trabalhadora e o
mesmas raízes etimológicas, as duas pala
seu apetite. A subsistência é redefinida
vras vieram a denotar duas esferas distintas,
como a necessidade sem fim, o consumo e por um bom motivo: nem todos os modos
sem limites, a internlinável competição por econômicos são ecologicamente sustentá
srams. O sistema com o tempo se autodes veis. Alguns duram séculos, até milênios,
trói e é substituído por um novo. Da mesma enquanto outros aparecem rapidamente e
forma, poderíamos melhorar o marxismo somem, como fracassos adaptativos. E, em
acrescentando os fatores ecológicos apon última instância, ao longo do tempo, ne
tados por Harris pam ajudar a explicar o nhum modo se adaptou perfeitamente ao
surgimento das classes e seus connitos. seu ambiente. Caso contrário, teria havido
Isoladamente, nenhuma das duas teorias dá pouca ma rgem pa ra a história.
conta adequadamente do passado. Juntas,
elas poderiam funcionar mais cfica1Jllenle,
uma suprindo as deficiências da outra. Na
medida em que o curso da história foi mol Percepção, ideologia, valor
dado por forças materiais, e dificilmente
alguém negaria que es",s (orças (oram re Os humanos são animais que carregam
almente importantes, sem dúvida precisa- idéias, assim como ferramentas, c uma das
210 ESl1JIX)S HISTÓRICOS - 1991/8
provavelmente terão que se esfoiçar para ciosas que sejam algumas dessas afinna
perceber o que queremos dizer. Podemos ções, com toda a certeza é verdade que as
supor também que a natureza se refere a nossas idéias têm sido interessantes de
algo radicalmente distinto de nós, que ela contemplar, e nenhuma delas mais interes
está em algum lugar "lá fora", parada, só ""nte do que as nossas reflexões sobre
lida, concreta, sem ambigüidades. Num outros animais. plantas, solos e toda a bios
certo sentido, isso é verdade. A naNre;za é fera que nos deu origem. Assim, por boas
uma ordem e um processo que nós não razões, a história ambiental deve incluir no
criamos, e ela oontiouará a existir na nossa scu programa o esNdo de aspectos de es
ausência. Só o solipsista mais crasso dis tética e ética, mito e folclore, literatura e
cordaria disso. Ainda assim, a natureza é paisagismo, ciência e religião - deve ir a
também uma criação _das nossas mentes, e toda parte onde a mente humana esteve M
por mais que nos esforcemos para ver o que voltas com o significado da natureza.
ela é objetivamente em si mesma, por si Para o historiador, o objetivo principal
mesma e para si mesma, em grande medida deve serdescobrircomo uma cultura inteira
caímos presos nas grades da nossa própria - e não apenas indivíduos excepcionais
consciência e nas nossas redes de signifi dentro dela - percebeu e avaliou a natureza.
cados. Mesmo a sociedade materialmente mais
Os historiadores ambienlais têm feilo primiliva pode ter tido visões bastante so
alguns dos seus melhores trabalhos nesse fisticadas e complexas. A complexidade
nível de análise culNral, esNdando as per pode se originar, é claro, tanto de ambigüi
cepções e os valores com que as pessoas dades e contradições não resolvidas quanto
refletem sobre o mundo não-huniano. Ou de reflexões profundas. Os povos de países
seja, eles têm investigado o pensamento industrializados parecem especialmente
sobre a natureza. Eles se impressionaram marcados por essas contradiÇÕes: são capa
tanto com o poder duradouro e universal = de destruir a terra em ampla escala e
das idéias que por vezes atribuíram a culpa numa velocidade estonteante, através do
de abusos ambientais contemporiíneos a desenvolvimento imobiliário, da minera
atitudes que datam de muito tempo atrás: ção e do desmatamento, para logo em se
ao livro do Gênesis e ao antigo etl/Os he guida dar meia-volta e aprovar le� que
braico de afinnar o domínio sobre a terra; protegem um punhado de peiXes num ria
i detenninação greco-romana de controlar cho ignoto. lsso em parte é apenas confu
O ambiente através da razão; ou ao impulso são, mas em parte pode ser bem razoável.
ainda mais arcaico dos patriarcas de con Dadas as qua�dades multivariadas da naN
trolar a natureza (o principio "feminino") reza, dado o fato de que o ambiente traz
PARA I·AZER IIISTÓRIA AMBlEN"1 AL 21 1
tantos perigos reais quamo benefícios paro Por vezes se diz que a ciência moderna
as pessoas, toda essa contradição é inevitá nos capacitou a supero r essas condições
vel. Ela tem carocterizado em toda parte as materiais e.a alcançar, pela primeirn vez na
reações humanas. Não obstante, alguns história, um entendimento im pessoa l,
pesquisadores caírom na annadilha de falar transcuUural, neutro, sobre o funciona
da "visão budista da natu reZ:1", ou da "visão mento da natureza . Acredita-se que o mé
cristã", ou da "visão dos índios amcrica todo cient ífico de coletar e verificar fatos
nos", como sc as pessoóls nCSSHS cullul1ls gere a verdade pum e imparcial. Essa
fossem todas simplórias, descomplicadas, confiança é ingênua. Poucos estudiosos da
unânimes e totalmente I iVrL--S de ambivalên história da ciência a aceitariam hoje sem
cia. Devemos presu mir que toda cultum críticas. Eles alcrtaria m que a ciência nUIl
contém um leque de percepções c valores CH estcvc acima das ci rcunst.;ncias mate
variados, e que jamais houve uma cullurn riais. Emboro ela possa de fato ser uma
que realmente quisesse viver em ha nnonia maneiro supcnorde chegar à verdade, cer
.
total com o seu ambiente. tamente superior na capacidade de cria ..
Mas não se deve deixar que as idéias poder sobre a natureza, ainda assim a ciên
nutuem num reino etéreo, acima da pocirn cia foi moldada pelo teeno-ambiente e pe
e do suor do mundo material. Elas devem la� relações sociais da sua época. De acor
ser estudadfls IlflS SUtiS relaçfK's com os do com o historiadorThomas Kuhn, a ciên
modos de subsistência discutidos na seção cia não é apenas o acúmulo de fatos, ela
amerior. Evitando reduzir todos os pensa implica colocar esses fatos dentro de al
mentos e valores a uma base m;lIeri,I I, como gum tipo de "paradigma" ou modelo de
se a imaginação humana nada mais fosse fUl1ciolUllncnto da ll.1tureza. Os parndig
do que uma rocionalização das necessida mas velhos deixam de ser atmentes e são
des do estÔmago, o rustoriaiIor deve enten substituídos por parodigmas novos. Em
der que a culturo mental não brota por si boro o próprio Kuhn não derive essas mu
mesma. Uma maneira de entcndcr esse danças de parodigma das condições mate
relacionamento é afinnarque as idéias são riais, outros historiadores têm insistido que
socialmente construídas e, portanto, refle há uma conexão. Eles dizem que os cien
tem a organiz.'lção dils sodedadcs, os seus tistas mio trabalham completamente isola
teello-ambientes c as suas hierarquias de dos das suas sociedades, e sim rcnctcm,
poder. As idéias vflriam de pessoa ;1 pessoa nos seus modelos de natureza, as suas so
dentro de uma sociedade de amrtlo com o ciedades, os seus modos de produção, as
gênero, a classe, :I mça C a região. Homens suas rclnçÕcs humanas, as nccessidades e
e mulheres, qUlISC sempre srpamdos em O� valores de sua cultu m. Precisamente por
esferas mais ou menos distintas, chc:garnm isso, e pelo fato de a ciência modema ler
a modos distintos - por vezcs radicalmente tido impactos tão importantes no mundo
distintos - de encarar a natureza. O mesmo naturol, a história da ciência tem o seu lugar
ocorreu com escrovos e senhores, donos de lia lIo.va história ambiental.
fábricas e trabalhadores, povos aglÍcolas e Fi nalmellte, o historiador ambiental tem
industriais. Eles podem viver juntos ou que enfrentar o fonnidável dcsa fio de exa
muito próxilnos uns dos out ros, Inas, ainda minar as idéias como agentes ecológicos.
assim, encar.un e flvr
l liam fi WltUIl''i':t de \\lltamas à questilo das escolhas que as
fonna d i ferente. O historiador deve es�" pessoas fazcm nos seus ambientes especí
alerta para ess.1 S di ferenças e deve resisti r :l ficos. Que lógica, que paixões. que desejos
genernli7.A'lçÔCS fáceis sobre a "mentalida inconscicntes, que compreensão empírica
de" de um povo ou de um lugar. illfluellciam essas escolhas? E como slio
212 ESTUDOS HiSTóRICOS - 1991.18
essas escolhas expressas em rituais, técni ra satisfazer os espíritos, segue-se uma ma
cas e legislação? As opções às vezes são tança ritualística. Centenas de animais são
feitas nos conedores de palácios governa mortos e consumidos em honra dos ante
mentais. Por vezes são feitas no âmbito passados. Paga a dívida, os Thembaga es
misterioso da zeilgeisr que perpassa eras e tão agora prontos para guenear de novo,
continentes inteiros. Mas algumas decisões confiantes que o poder divino está outra
também são tomadas, mesmo nos dias •
vez do seu lado. Assim segue a sua vida,
atuais, de tantas instituições poderosas e ano após ano, década após década, num
centralizadas, pelos habitantes de casas e ciclo ritualístico de criação e matança de
fazendas isoladas, por lenhadores e tripula porcos, danças, festas e guemiS. A expli
ções de pescadores. Ainda não estudamos cação local desse ciclo é integralmente
bem ou com freqüência suociente a imple religiosa, mas o observador externo perce
mentação das idéias nesses miclOcosmos. be que algo mais está acontecendo: há um .
De novo são os antropólogos que têm elaborado mecanismo ecológico em ope
muito a oferecer aos historiadores em bus ração, mantendo o número de porcos sob
ca de perspectivas e métodos. Um dos controle e propiciando ao povo uma vida
mais intrigantes trabalhos de campo que em equilíbrio com o seu ambiente.
eles já produziram focaliza diretamente Presumindo que o estudo seja válido,
essa questão do funcionamento das idéias nesse vale coberto de noI:CStas Rappaport
em pequenas comurudades. Ele vem de encontrou um exemplo de como uma cul
um vale entre as montanhas da Nova Gui tura pode assumir os seus contornos en
né, onde os Thembaga subsistem na base frentando os problemas da sobrevivência
de taro, inhame e porcos. Publicado por num ecossistema peculiar. Aharmorua en
Roy Rappaport sob o título Pigs for file tre os reinos da natureza e da cultura pare
anceslOrs [Porcos para os ancestrais), é ce, nesse caso, ser quase perfeita. Mas o
um exemplo brilhante de como se pode historiador quer saber se as populações
estudaras humanos e as suas culturas men humanas têm sempre tanto sucesso nas
t4
tais operando num único ecossistema. suas adaptações quanto os Tsembaga.
Os Thembaga aparecem no texto de Mais que isso, serão os povos que o histo
Rappaport como uma população engajada riador mais provavelmente estudará - p0-
em relações materiais com outros compo vos organizados em sociedades avançadas
nentes do seu ambiente. No entanto, dife e complexas, e que se relacionam com a
rentemente de seus congêneres animais e natureza através de rituais modernos, reli
vegetais, os Thembaga criam, a partir do giões modernas e outras estruturas moder
mundo que os cerca, símbolos, valores, nas de significado e valor - tão bem-suce
finalidades e significados, especialmente didos? Rappaport se arrisca a sugerir que
significados religiosos. E essa cultura de a "sabedoria ecológica" inconscientemen
sempenha uma t\j,nção importante, embora te encarnada no ritual cíclico da Nova Gui
por vezes de forma obscura e indireta: ela né não é de forma alguma comum. Ela é
estimula os Thembaga a restringir o uso da mais provavelmente encontrada em povos
tem e a evitar a sua degradação. Por lon em que a urudade doméstica é a priocipal
gos períodos, de até 20 anos, esse povo se urudade produtiva, em que as pessoas pro
ocupa em criar porcos, que são acumula duzem para consumo imediato e não para
dos como pagamento aos espíritos dos an vender e ter IUCI05, e onde "indícios de
cestrais pela ajuda dada nas batalhas com degradação ambiental serão provavelmen
os irumigos vizinhos. Finalme.ite, quando te percebidos com rapidez por aqueles que
eles julgam que têm porcos suficientes pa- podem fazer alguma coisa a respeito de-
PARA FAZER J-flSTÓRIA AMBIENTAL 213
'6
las" . As modemas socied'ldes industriais, Darby e Lucien Febvre No último sécu
por outro lado, são para ele culluralmente lo pesquisadores das duas disciplinas entra
mal equipadas para a adaptação. Nelas ram muitas vezes nos tenit6rios uns dos
uma racionalidade econômica e tecnológi outros e descobriram muitas semelhanças
ca substitui a racionalidade ecológica dos de temperamento. Os geógrafos, tal como
Thembaga. O caso registrado por R.1ppa os historiadores, tenderam a ser mais des
port é, portanto, pouco aplicável a Outms critivos do que analíticos. Elegendo os lu
situações. Ele também não expliG' purque gares, ao invés das épocas, Olmo o seu
ocorreu uma mudança de racionalidade, ponto focal, eles mapearam a distribuição
por que as culturas se a raSla nJlll da hanno das coisas. lal como os historiadores narrn
lúa cCOssislêmicR, por que ti religião 1110- rnm seqüências de eventos. Os geógra fos
dema nâo conscb'Uc limilHr os nossos im se deliciaram com uma boa paisagem, tanlo
pactos ambientais. Eln gemi, a antropolo quanto os historiadores com uma boa estó
gia se despede com uma mesura quando ria .. Ambos exibiram um apego pelo parti
surgem essas questões, retirando-se parn culare resist iram às generalizaçães fáceis
os seus remotos vales verdes e deixando o qual idade que talvez seja a SIL1 virtude e
historiador sozinho para enfrentar as dis força comuns. Mas eles também se pare
sonâncias triturndoms e barulhentas da cem nas suas fraquezas, acima de tudo na
modernidade. sua tendência recorrente a perder de vista a
Como roi indicado acima, ti hislÓna relação fundamental homem-natureza: os
ambiental, na medida cm que telHa rcdcri historiadores. quando mediram o tempo
nir a investigação do pils
sado humano, flpcnas em lenllOS de elciçÕes c dinastias,
vem retirando subsídios de vririas QulmS os geógra fos quando tentarnm reduzir a
disciplinas, das ciências nalur.lis Cllé a illl temo e as suas complexidades à idéia abs
tropologia e a teologia. Ela resistiu a todas traia de uespaço". Natureza, terra, clima,
as tentativas de colocar cerc'ls disciplilw ccossiSlclll:JS - 1 0 aS clltidades rele
essas 5.:
res rigorosas em tomo do seu trabalho, o vantes. Quando e onde os geógrafos se
que a forçaria a fabric.1r todos os seus ocuparam dess,1s forças, eles ofereceram
próprios métodos de análise, ou a exigir muito pam a nova história, em tennos de
que essas disciplinas que tendem a se so inrOnmJÇ<1o. Mais importante, foram prin
brepor se conservassem denlro das suas cipalmente os gcógrafos que nos ajudaram
discretas esferas. O,da disciplina pode, é a perceber que a nossa situação não é mais
claro, ter a sua Imd ição, SlJ;! ma neim part i a de sennos moldados pelo ambiellle. Ao
cular de abordar questões. Mas se esta é conlni no, hoje em dia nós é que cada vez
uma era de interdependência global, cert.1· mais estamos assumindo a moldagem, e
mente é também o momento parn alguma com com:;eqüências muitas vezes desaslro
cooperação interdisciplinar. Os pesquisa sas. Hoje a responsabilidade comum das
dores precisam disso, a história ambiental duas disciplinas é descobrir por que os po
precisa disso, e a terra também. vos modernos têm desejado tanto escapar
U\Ila disciplina que até agora não foi das restriÇÕes da natureza e quais têm sido
mencionada explicitamente é a geografia. os efeitos ecológicos desse desejo.
Os historiadores ambientais vêm se apoian Defirúda de maneira tão ampla, com
do em muitos geógra fos pa ra cbegar às suas tantas linbas possíveis de investigação, po
conclusões. Michael Willia ms e Donald de parecer que falta uma coerência à bistó
Meirúg, entre os pesguisadores em ativida ria ambiental, que ela inclui virtualmente
's
de, são dois deles. Do passado recente tudo o que aconteceu e vai acontecer. Ela
podemos mencionar earl Sauer, H. C. pode parecer tão ampla, tão complexa, tão
214 ESruoos HISTÓRlCXlS - 199118
exigente a ponto mesmo de ser impossível The Slate of American history (Olicago, Qua
levá-la à prntica, a não ser quando se tra drangle Press, 1970), p. 249-260.
balhe com tempos e lugares muito limita 2. Richard Wbite, ..Amerian environmental
dos - talvez uma ilha pequena, esca� history: lbe developmcnt af a new historical
field", Paeifie HiSlorical Review, 54 (1985), p.
mente habitada, bem isolada do resto do
297-335. Samuel P. Hays, COflSUWllion and lhe
- .
Nota do tradutor. O original não inclui rere-. 9. James C. Malin, obras citadas.
rências específicas, remetendo o leitor à biblio 10. Eugene P. Odum, Fundamen/al of eco
grafia geral do volume no qual está inserido, às Iogy (3d ed., Philadelphia, Saunders, 1971).
páginas 309-323. Recuperei nessa bibliografia 11. 10hn W. Benoett, TM ecologcal
i transi·
as referêndas que aparecem no texto e as colo tion: cultural anlhropology and huma� adapta
quei nas notas que se seguem. Al8uns autores lion (ElmsCord, New Yorlc, Pergamon, 1976);
mencionados no texto não oonstam da reCerida Emnio F. Mora0. Human adaptability: Dn in/ro
bibliografia. duC1io. lo ecological an/hropology (Nortb Sei
1. A reC�ncia exata é Rodericlc Nasb, "En tuate, Massachusetts, DUJl:bury Pres.s, 1979);
vironmental bistory-, em Herbert J. Bass. ed. Roy F. Ellen, Environment, subs;stenc.e and
PAltA PAZER JDSTóRlA'AMBIENl'AL 215