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TEORIA DO CAOS E FRACTAIS

David Rego Barnabé


Ricardo Borges da Costa

RESUMO
A natureza não é linear, por que a tratamos de tal maneira? Este trabalho apresenta de
forma mais concreta e simples a teoria do caos. Trata-se de uma teoria recente e
inovadora que modifica radicalmente a maneira de pensar a natureza e tratar seus
fenômenos. Esta nova ciência mostra o sentido da grande sensibilidade às condições
iniciais em qualquer sistema dinâmico e está particularmente interessada em
compreender os fenômenos turbulentos de tais sistemas, para tanto este artigo aborda a
seguinte estrutura: Primeiro daremos uma breve introdução ao tema, logo em seguida
será abordado um breve caráter histórico destacando as principais contribuições para
esta teoria, continuando com uma análise sobre “o efeito borboleta”, uma questão
bastante conhecido nesta área, prosseguindo com o atrator estranho e apresentando
assim o princípio da universalidade, até chegarmos então na linguagem do caos, os
fractais.

Palavras-chave: Caos. Atrator Estranho. Universalidade. Fractal.

INTRODUÇÃO

Os físicos acham que tudo o que temos de fazer é dizer: estas


são as condições, o que acontece em seguida?

RICHARD P. FEYMAN

“O caos dá lugar à ordem, que por sua vez dá lugar a novas formas de caos”
(STEWART, 1989, p.7). Não para o paradigma mecanicista que ignora a verdadeira
forma dos fenômenos naturais. Eis a questão. O que a ciência estudou, e ainda estuda,
predominantemente são regularidades na natureza, só que por muito tempo acreditou-se
que essas regularidades poderiam ser descritas por leis simples e determinísticas, através
das quais seria possível prever qualquer acontecimento ou fenômeno com exatidão
apenas conhecendo suas condições iniciais.


Graduando do V Período do curso de Licenciatura em Física do IFMA – Campus Imperatriz.

Graduando do V Período do curso de Licenciatura em Física do IFMA – Campus Imperatriz.
2

A maneira como a ciência clássica aborda tais fenômenos é formalizada por


equações diferenciais lineares. Isso significa uma linearização da natureza, quando na
verdade o que predomina são fenômenos não-lineares. Contudo, os resultados desse tipo
de abordagem são tão satisfatórios em algumas situações particulares, que se chegou a
ignorar a não-linearidade.

Nenhum cientista teria coragem de publicar um artigo sobre determinado


experimento cuja sua conclusão afirmasse: “[...] obtive resultados totalmente aleatórios
em meus experimentos” (STEWART, 1989, p.138). Grande parte da comunidade
científica procura estudar o que é linear, o que é “fácil”, esquecendo ou fugindo da
realidade da natureza. Então como devem ser tratados os problemas mais gerais que não
se enquadram nesse tipo de abordagem clássica?

A esse tipo de fenômeno antes deixado à margem dos esforços científicos, é


necessária uma abordagem inteiramente nova, com métodos e ferramentas mais
adequados e que destrua a noção distorcida que se tem a respeito das irregularidades.
Essa abordagem é sugerida pela recente e complexa Teoria do Caos.

PRIMEIRAS CONTRIBUIÇÕES PARA A TEORIA DO CAOS

Um tolo não vê a mesma árvore que um sábio.

WILLIAM BLAKE, PROVERBS OF HELL

Um dos caminhos mais importantes para a evolução do pensamento sobre a


Teoria do Caos é trilhado pelo Henri Poincaré1 (1854-1912) e outros cientistas como os
franceses Jacques Hadamard2 (1865-1963) e Pierre Duhem3 (1861- 1916), e o russo
Aleksandr Lyapunov4 (1857-1918). É importante ressaltar que o pensamento que deu
origem à teoria do caos teve várias outras contribuições.

Henri Poincaré, considerado um dos maiores estudiosos de todos os tempos,


contribuiu de forma contundente para o pensamento caótico. Bem antes dos estudos
modernos de caos, ele já havia abstraído a essência desta teoria.

1
Jules Henri Poincaré, nascido em Nancy, foi um matemático, físico e filósofo da ciência francês.
2
Jacques Salomon Hadamard, nascido em Versalhes, foi um matemático francês.
3
Pierre Maurice Marie Duhem, nascido em Paris, foi um físico francês.
4
Aleksandr Mikhailovich Lyapunov, nascido em Iaroslavl, foi um matemático e físico russo.
3

Estimulado por um desafio proposto pelo rei Oscar II (1829-1907) da Suécia


em 1887, Poincaré deu seus primeiros passos para a construção de uma nova forma de
análise matemática: A topologia. O desafio era o seguinte: O sistema solar é estável?
Para tanto, Poincaré utilizou um modelo simplificado do sistema solar, o problema dos
três corpos conhecido como modelo reduzido de Hill. A partir desse estudo, Poincaré
percebeu algumas implicações importantes para a teoria do Caos. A mais importante
constatação é a da enorme dependência do sistema a condições iniciais, o que leva a
uma dúvida perfeitamente clara sobre a predição de um fenômeno. Nas palavras de
Poincaré:

Uma causa muito pequena, que nos passa despercebida, determina um efeito
considerável que não podemos deixar de ver, e então dizemos que o efeito é
devido ao acaso. Se conhecêssemos exatamente as leis da natureza e a
situação do universo no momento inicial, poderíamos prever exatamente a
situação desse mesmo universo em um momento seguinte. Contudo mesmo
que as leis naturais já não tivessem segredos para nós, ainda assim
poderíamos conhecer a situação aproximadamente. Se isso nos permitisse
prever a situação seguinte, com a mesma aproximação, seria tudo que
precisaríamos, e diríamos que o fenômeno tinha sido previsto, que é
governado por leis. Mas nem sempre é assim, pode acontecer que pequenas
diferenças nas condições iniciais produzam diferenças muito grandes nos
fenômenos finais. A previsão torna-se impossível. (POINCARÉ, 1908 apud
FERRARI, 2008, p.41)

A partir do estudo sobre o modelo reduzido de Hill, Poincaré constatou que


em condições reais, é impossível afirmar que a trajetória de um corpo celeste é
perfeitamente periódica, já que existem outros corpos agindo sobre o sistema. Na busca
do entendimento desse problema, o grande matemático desenvolveu uma novíssima e
revolucionária maneira de análise matemática de um sistema, a Topologia com a criação
do “mapa de Poincaré”.

No tocante à sensibilidade a condições iniciais, Jacques Hadamard


demonstrou como era complexo o movimento de uma partícula livre sobre uma
trajetória de curva negativa constante, o bilhar de Hadamard. Demonstrou de forma
matemática essa sensibilidade, pois mostrou que para condições iniciais diferentes, as
trajetórias divergiam consideravelmente. A respeito deste sistema, Pierre Duhem
afirmou no ano de 1906 em uma das suas obras que a dedução matemática para a
trajetória de uma partícula sobre o bilhar de Hadamard é para sempre inutilizável, pois
qualquer que fosse, por mínima que parecesse, uma mudança nas condições iniciais da
partícula, seria suficiente para provocar uma enorme divergência da trajetória final.
4

Tal divergência pôde ser visualizada através de uma ferramenta poderosa


conhecida como expoente de Lyapunov, desenvolvida por Aleksandr Mikhailovich
Lyapunov e a escola russa de Gorki, que mede a taxa de divergência ou convergência
entre duas trajetórias vizinhas em um espaço de fase, diferenciando um sistema de
solução estável de outro de solução instável. (FERRARI, 2008).

Apesar desses primeiros indícios sobre a Teoria do caos, esta veio a se


estabelecer como ciência apenas na segunda metade do século XX. A esse atraso,
segundo David Ruelle1 (1935), são atribuídos dois fatores: O desenvolvimento da
Mecânica Quântica, que figurou como centro das atenções, e a inexistência de métodos
matemáticos adequados para a exploração de tais idéias.

O EFEITO BORBOLETA

Por falta de um prego, perdeu-se a ferradura;


Por falta de uma ferradura, perdeu-se o cavalo;
Por falta do cavalo, perdeu-se o cavaleiro;
Por falta do cavaleiro, perdeu-se a batalha;
Por falta da batalha, perdeu-se o reino!
AUTOR DESCOHECIDO

Já na década de 1960, o meteorologista Edward Lorenz2 (1917-2008) foi


responsável por uma guinada surpreendente na Teoria do Caos. A partir de seus estudos
meteorológicos com o seu computador, Lorenz descobriu que a atmosfera não tinha um
comportamento previsível.

Até então, o que predominava era uma modelagem matemática puramente


clássica dos fenômenos meteorológicos, ou seja, equações que seriam capazes de
possibilitar a previsão atmosférica em qualquer instante de tempo. No entanto, não era
isso que se observava. A atmosfera, apesar de estar sendo descrita por essas equações,
apresentava configurações bem diferentes de qualquer previsão. Esse fato levava ao
seguinte questionamento: Seria possível prever as condições do tempo através de um
rígido modelo matemático? Como se observou, as condições do tempo apresentam
irregularidades, no entanto seguiam um padrão. “Uma desordem ordenada” [3].

1
Pierre David Ruelle, nascido em Ghent, Bélgica é um franco-belga físico matemático, desde 2000 ele é
professor emérito e professor visitante do Rutgers University.
2
Edward Norton Lorenz, nascido em West Haven, foi um meteorologista e matemático estadunidense.
5

Estudando uma modelagem matemática de apenas três equações para observar


as condições do tempo, baseada nas equações para a convecção térmica teorizadas por
B. Saltzman1 (1931-2000):

dx/dt = -10x + 10y

dy/dt = 28x – y – xz

dz/dt = 8/3z + xy

Onde as três variáveis significam a temperatura do ar, a velocidade do vento


e uma terceira característica da dinâmica ligada à maneira como a temperatura varia
com a altitude [2]. Lorenz verificou em seu computador que para uma mudança mínima
em uma das variáveis, o resultado era uma solução bastante diferente.

Figura 1 - Partindo praticamente do mesmo ponto, Lorenz viu seu


computador de previsão do tempo produzir padrões que se
distanciavam cada vez mais, até que toda semelhança desaparecesse.

Em seu experimento computacional, Lorenz observou que em uma região


limitada do espaço existe uma porção do espaço de fase que atrai as trajetórias positivas
do ponto que se iniciam em pontos próximos a ele. Significa que apesar da divergência
entre os resultados, existe uma solução atratora. A representação gráfica desse
experimento em um espaço de fase é a seguinte:

1
Barry Saltzman, nascido em New York City, foi professor de geologia e geofísica.
6

Figura 2 - Atrator de Lorenz: As trajetórias giram


de maneira aparentemente aleatória em torno dos
dois lobos.

Está claramente exposto nesse experimento um comportamento sensível a


condições iniciais. O que foi previsto por Poincaré, acaba de ser experimentalmente
constatado por Lorenz. No entanto, essa sensibilidade não implica dizer que os
resultados são completamente aleatórios, pois obedecem a uma ordem, como mostra o
Atrator de Lorenz que, no entanto, não faz do sistema algo previsível. Lorenz então
metaforiza: “Predictabilit: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil set off a
Tornado in Texas? (Previsibilidade: A batida das asas de uma borboleta no Brasil
provoca um tornado no Texas?)” (FERRARI, 2008, p.46)

De fato, os resultados obtidos induzem a um questionamento a respeito da


previsibilidade de um fenômeno, não apenas no campo da meteorologia, mas em
inúmeros outros sistemas dinâmicos. Lorenz dá um dos passos mais importantes para o
surgimento da Teoria do Caos afirmando que “[...] qualquer sistema físico que se
comportasse de maneira não-periódica seria imprevisível”. (STEWART, 1989)

O ATRATOR ESTRANHO

Têm limites estranhos e é preciso aprender a observá-los.

SIR ARTHUR CONAN DOYLE, HIS LAST BOW

Lorenz utilizou em seu artigo uma poderosíssima ferramenta de análise


matemática. Seu sistema turbulento foi representado em um espaço de fase, ou seja, ele
transformou seu sistema de equações em uma imagem. Esse passo foi de grande
importância para o estudo de sistemas dinâmicos turbulentos, pois em um espaço de
fase, é possível obter as informações sobre este através de um ponto na figura gerada.
7

Stephen Smale1 (1930), também na década de 60 chegou a introduzir uma


forma geométrica de interpretar um fenômeno caótico. É o que se conhece por
Ferradura de Smale, que consiste em um contínuo processo de esticar e dobrar. Imagine
um quadrado com dois pontos fixos próximos um do outro, estica-se o quadrado até
formar um retângulo e dobra-se de forma que este se reduza ao espaço plano delimitado
pelo primeiro quadrado. A partir de então, o processo é repetido. Veja a ilustração:

Figura 3 - Processo de Estique e dobre da Ferradura de Smale. [4]

Verifica-se que após várias iterações, os dois pontos assumem trajetórias


bem distintas que pode levá-los a pontos bem separados.

Portanto, a ferradura de Smale é uma forma geométrica de se descrever um


sistema dinâmico determinístico, em que se mostra a presença da
imprevisibilidade da dinâmica em longo prazo (isto é, para tempos muitos
longos). (SMALE, 1999, p.39)

O experimento de Lorenz e construção geométrica de Smale eram


evidências de que as órbitas traçadas em um espaço de fase estavam sendo atraídas por
uma forma bem estabelecida. Foi o que em 1971 os cientistas David Ruelle e Floris
Takens2 (1940-2010) deram o nome de “Atrator Estranho” em um artigo sobre a
natureza da turbulência.

Um Atrator Estranho tem como características fundamentais uma


sensibilidade a condições iniciais e certa resistência em sua forma. Significa que em um
sistema dinâmico caótico, qualquer que seja a mudança nas condições iniciais deste, a
trajetória das órbitas desenhadas no espaço de fase sofre alterações em sua amplitude,
porém tende a ter comportamento padrão, o que determina a forma do atrator. Essa
segunda característica do atrator estranho é o que se chama de “robustez ou resistência
em relação a pequenas perturbações no sistema” (PALIS, 1989, p.169). Além disso, o

1
Stephen Smale, nascido em Flint, é um matemático estadunidense.
2
Floris Takens, nascido em Zaandam, foi um matemático holandês conhecido por contribuições à teoria
de sistemas dinâmicos caóticos.
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Atrator estranho está delimitado em certa região do espaço de fase que é chamada de
Bacia do atrator. Tais características podem ser observadas, por exemplos, no Atrator de
Lorenz, como ilustra a Figura 2.

Foram lançadas então as bases matemáticas dos sistemas turbulentos. Os


fenômenos até então deixados à margem do estudo científico passa a ter um forte aliado
nesse novo modelo de análise geométrica: A representação dos sistemas em um espaço
de fase.

A UNIVERSALIDADE DE FEIGENBAUM

Existe uma ordem natural universal? Mitchell Feigenbaum1 (1944) trilhou


um caminho considerado sombrio pelos físicos: A transição entre a ordem e o caos. O
que acontece nas transições de fase onde um sistema passa de um comportamento
estável para instável? Até meados do século XX, físicos e matemáticos costumavam
tratar a não-linearidade com o método matemático da perturbação, uma expansão de
termos não-lineares para se obter uma aproximação do comportamento deste na
equação. Porém, na década de 60, Kenneth Wilson2 (1936) propôs em seu estudo sobre
transições de fase, o que se chama de teoria de grupo de renormalização. O estudo sobre
a transição de fase recebe um novo tratamento, onde se observou a relação entre escalas
nesse processo, deixando de lado o processo de perturbação, considerado exaustivo.

A teoria de renormalização proporcionava uma maneira de desmontar a


complexidade, uma camada de cada vez [...]. Exigia uma boa dose de
engenhosidade para a escolha de cálculos adequados para captar a auto-
semelhança. (GLEICK, 1989, p.161)

Feigenbaum utilizou esse raciocínio no estudo da transição da estabilidade


para a turbulência. Descobriu algo bem interessante, essa passagem de estado seguia
uma regra de escala. Constatou que há uma duplicação de período nesses sistemas, uma
bifurcação e também uma constante que representa a razão entre duas bifurcações
consecutivas, a constante de Feigenbaum com valor aproximado de 4,6692.... Essas
características podem ser observadas no diagrama de bifurcação de Feigenbaum:

1
Mitchell Feigenbaum Jay, nascido em Filadélfia, Pensilvânia é um físico matemático, um dos pioneiros
em estudos de teoria do caos e descobridor da constante de Feigenbaum.
2
Kenneth Geddes Wilson nascido em Waltham, é um físico estadunidense.
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Figura 4 - A Figueira: Cascata de duplicação de períodos.

O interessante é que Feigenbaum conseguiu provar a aplicabilidade desse


padrão a funções matemáticas de naturezas diferentes. É um padrão universal. Um bom
exemplo é a construção do diagrama de bifurcação de Feigenbaum para o sistema de
equações de Lorenz, onde o mesmo padrão é observado.

Figura 5 - Diagrama de bifurcação para o atrator de Lorenz.

Significa que existe um padrão universal capaz de demonstrar a transição


para o caos de forma quantitativa e qualitativa. A grande idéia da universalidade de
Feigenbaum era de que resolvendo problemas fáceis, os físicos teriam noção de como
resolver os problemas mais complexos, pelo fato de se comportarem, a partir de certo
ponto, de maneira idêntica. (GLEICK, 1989)
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A MATEMÁTICA DO CAOS: FRACTAIS

As nuvens não são esferas, as montanhas não são cones, as


linhas costeiras não são círculos e a casca de uma arvore não
é suave, nem os relâmpagos se propagam em linha reta.

BENOIT MANDELBROT

Como compreender a natureza de características tão caóticas? As formas são


complexas e misteriosas, apesar de levarem o homem à conclusão da existência de
padrões. A geometria das formas regulares, tão aceita durante séculos pelos cientistas,
seria capaz de expor tal complexidade?

A natureza parece fugir das formas perfeitamente regulares. A geometria


euclidiana desde o fim do século XIX perde bastante espaço no estudo da natureza
devido a essa evidência. Assim como toda teoria física consolidada, o Caos também
precisa de uma linguagem que lhe faça entender, que lhe quantifique e que seja
consistente. Essa roupagem matemática existe e tem seu nome derivado do latim
fractus, que significa fração, quebrado, são os fractais. Esse termo foi proposto por
Benoit Mandelbrot em 1975.

A geometria Fractal trilhou um caminho bem distinto da Teoria do Caos


durante muito tempo. Surge justamente no momento de grande indagação sobre a
eficiência da geometria euclidiana, no fim do século XIX. A primeira grande
contribuição reconhecida do que se tornaria a geometria fractal é dada por Cantor1
(1845-1918) com a produção de uma estrutura matemática que continha, em cada uma
das suas partes, a representação do todo. Também já continha intrínseco o conceito de
dimensão fractal, já que um objeto unidimensional está sendo reduzido a partes tão
pequenas que em certo limite tenderia a um objeto adimensional, ou seja, representa o
intervalo, uma dimensão fracionária. Essa estrutura é conhecida como conjunto de
Cantor.

1
George Ferdinand Ludwig Philipp Cantor, nascido em São Petersburgo foi um matemático russo de
origem alemã.
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Figura 6 - Conjunto de cantor

Em 1904, Helge von Koch1 (1870-1924) divulgou estruturas simples de


padrão matemático oculto: A curva de Koch o Floco de neve de Koch. (BUBLITZ,
2007) Essas curvas e também o conjunto de Cantor, assim como outras estruturas de
padrão complexo, eram consideradas aberrações matemáticas. A curva de Koch e o
floco de neve de Koch, assim como conjunto de Cantor, pareciam ser representações
visuais do conceito de infinito, pois se repetiam indefinidamente à medida que se
ampliava as figuras.

Figura 7 - Curvas de Koch: Acima estão três etapas da curva.


Na parte inferior está o floco de neves de Koch.

Um detalhe bastante intrigante no floco de neve de Koch é o fato de seu


perímetro tender a infinito quando o número de iterações for muito grande. É mais fácil
pensar nessa estrutura de maneira clássica, onde esse perímetro tenderia a um limite,
porém o que se constata é que apesar da área delimitada ser finita, as fronteiras podem
ser infinitamente aumentadas. (GLEICK, 1989)

1
Niels Fabian Helge von Koch, nascido em Estocolmo foi um matemático sueco.
12

Até aqui já fica claro algumas características essenciais dos fractais. Uma
delas é a invariância com a mudança de escalas, ou seja, não importa se a figura está
ampliada ou reduzida, a imagem terá sempre o mesmo aspecto. Outra é que representam
uma forma de enxergar o infinito ao longo de iterações dinâmicas.

Além desses curiosos casos, dois outros são de extrema importância


ilustrativa para a compreensão, nesse novo raciocínio geométrico, do que é uma
dimensão fractal. São eles: a curva de Peano1 (1858-1932) e a curva de Hilbert2 (1862-
1943). São curvas formadas por retas, que contém uma dimensão segundo a geometria
euclidiana, que de acordo com o aumento de iterações tende a preencher uma área,
bidimensional.

Figura 8 - Processo de construção da curva de Peano.

A dimensão existente entre a reta e a superfície, que é o limite para infinitas


iterações, representa a dimensão fractal, uma dimensão fracionária. Apesar desses
estudos, maiores avanços foram impedidos pela falta de tecnologia adequada para o
tratamento de tais modelos.

A década de 60, esses padrões são estudados de uma forma mais detalhada
por Mandelbrot. Este cientista compreende a importância dessas estruturas e forma uma
idéia de universo baseada em formas que também seguiriam, na essência, certos padrões
em comum. Explicou por exemplo o problema do ruído em linhas telefônicas utilizando
o modelo de Cantor, afirmando que os ruídos obedeciam a certo padrão análogo.
Mandelbrot observou a natureza não como formas perfeitas, mas como algo caótico que
seguia um roteiro a ser descoberto.

1
Giuseppe Peano, matemático italiano.
2
David Hilbert, matemático alemão.
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Dizia: “As nuvens não são esferas, as montanhas não são cones, o
relâmpago não percorre uma linha reta.” (GLEICK, 1989, p.90 ). Propôs uma geometria
irregular, assim como a própria natureza, para descrever os fenômenos que expressasse
a forma do Universo. Observou as formas dos litorais e viu que tinham um
comprimento infinito à medida que se ampliava se aumenta a escala de medida.
Percebeu que as nuvens tinham aparência difícil de ser explicada pela geometria
clássica.

De fato, a auto-semelhança dos fractais é claramente observada na natureza.


Uma árvore de galhos secos mostra em cada parte, uma representação estatisticamente
próxima do todo. As folhas de uma samambaia, se ampliadas, revelam partes
semelhantes ao todo. Outros vários exemplos podem ser constatados. São chamados de
fractais naturais. Mandelbrot além de alargar o entendimento sobre os fractais foi
pioneiro na construção dessas estruturas a partir do uso de computadores. ( FUZZO,
2009)

Figura 9 - Fractal matemático criado por Benoit Mandelbrot.

A grande adequação dessa geometria à teoria do caos deve-se ao fato dos


atratores estranhos, como o de Lorenz e os mapas de bifurcação de Feigenbaum,
apresentam a característica de auto-semelhança e de dimensão fractal, ou seja, são
fractais. Tal como a natureza, essa geometria apresenta padrões caóticos. Fractais bem
complexos são formados de equações bem simples.

Está lançada a base matemática para o caos, uma ciência bastante complexa
que até então não tinha um rigoroso tratamento matemático. Os fractais estão para a
teoria do caos assim como a geometria euclidiana está para a física clássica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todo esse estudo a respeito da Teoria do caos, fica clara sua
importância para o estudo da natureza de forma mais palpável, um estudo mais realista
que modela o pensamento físico sobre o Universo. Pensar em sistemas perfeitos pode
ser bastante útil, mas é fato que as não-linearidades têm importância imprescindível no
desenvolvimento da ciência.

Para essa abordagem, a Teoria do Caos se apropria de uma tecnologia


avançada que, aliás, possibilitou seu desenvolvimento. É a tecnologia computacional. A
partir dela foi possível verificar padrões que só aparecem depois de inúmeras iterações
de um sistema dinâmico. Outra técnica bastante eficiente e que foi enormemente
difundida pelo estudo do caos foi a utilização de espaços de fase para representar
graficamente sistemas altamente complexos.

O determinismo clássico vem sendo substituído por outra maneira mais


sistêmica de visualizar o Cosmos. Assim como a Mecânica Quântica, o Caos vem
contribuir para a substituição definitiva desse paradigma. As fragilidades da Física
determinística são dissecadas e expostas à comunidade científica. Isso devido à
comprovação de padrões caóticos em equações antes consideradas bem comportadas. O
Caos se mostra uma ciência que estuda o Universo tal como ele é.
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REFERÊNCIAS

STEWART, Ian. Será que Deus Joga Dados? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
1989.

FERRARI, Paulo Celso. Temas contemporâneos na formação docente a distância:


uma Introdução à Teoria do Caos. 2008. Tese (Doutorado educação científica e
tecnológica)-Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2008. Disponível
em < http://www.ppgect.ufsc.br/teses2008/paulo_celso/tese.pdf> Acesso em
01/07/2010.

GLEICK, James. Caos: a criação de uma nova ciência. Rio de Janeiro: Editora Campus,
1989.

SMALE, Steve. Uma ferradura nas praias do Rio de Janeiro. Ciência Hoje, v. 26, n.
156, dez. 1999. Disponível em < www.lavi.coppe.ufrj.br/savi/Ensino/.../Smale%20-
%20Ciencia%20Hoje.pdf> Acesso em 01/07/2010.

PALIS, J. Sistemas caóticos ou turbulentos, atratores e bifurcações homoclínicas.


IMPA, Rio de Janeiro, 1989. Disponível em < http://www.rmu.sbm.org.br/Conteudo/
n09_n10/n09_n10_Artigos09.pdf> Acesso em 01/07/2010.

FUZZO, R. et.al. Fractais: Algumas características e propriedades. Núcleo de


pesquisa multidisciplinar/Encontro de produção científica e tecnológica, Campo
Mourão, 2009. Disponível em < http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/
ciencias_exatas/10_FUZZO_REZENDE_SANTOS.pdf> Acesso em 01/07/2010.

BUBLITZ, Aline; NUNES, Jéssica. A magia dos fractais. XXIII Feira Regional de
Matemática, Pomerode/SC, 2007. Disponível em <https://www.furb.br/especiais/
download/657335-699561/modelo_relatorio_trabalhos.pdf> Acesso em 01/07/2010.

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