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O MISTÉRIO DO NÚMERO 40 EM MAGIA PRÁTICA

Os praticantes sérios de Magia ou Teurgia conhecem os 40 dias preparatórios que


antecedem uma Grande Operação, seja ela individual ou coletiva. Durante esses quarenta dias
o Mago deve meditar, orar, jejuar, não consumir bebida alcoólica e praticar o regime
vegetariano, a fim de desintoxicar o corpo físico e os corpos sutis. Esse preparo denota um
ciclo bastante comum em diversas práticas religiosas e místicas de várias civilizações. Em
Magia, tal prática nada tem a ver com o moralismo civil e religioso e sim com a preparação
mental mística do Adepto, intimamente relacionada com a VONTADE. Como dizia Eliphas Lévi:

“Para obter bons resultados em Magia é preciso estar em duas condições mentais acima do
ser humano comum: ou exaltado pela loucura ou abstraído pela Sabedoria.”

Na Índia, Alguns mestres ou gurus aconselham o discípulo a entoar o mantra 108 vezes
durante um período de 40 dias para alcançar resultados concretos. É fácil notar a ligação
íntima que este ciclo possui com os Quatro Elementos (água, fogo, terra e ar) ou os Quatro
Princípios Sagrados da Natureza, responsáveis pela materialização de resultados concretos em
Magia Prática.

Esta relação pode ser ainda mais estendida quando associamos o mesmo ciclo aos
Quatro Mundos da Criação na Cabala Judaica: o Mundo da Ação (ASSIAH), o Mundo da
Formação (YETZIRAH), o Mundo da Criação (BRIAH) e o Mundo da Emanação (ATZILUTH); que
correspondem aos ciclos ou movimentos de Energia na Criação do Universo.

O conhecimento da língua hebraica nos revela uma série de símbolos que são hoje e
foram por muito tempo tomados ao pé da letra (a letra morta), porém, deveriam ser
interpretados à Luz do conhecimento. Nas Escrituras Sagradas, o que está escrito não é
exatamente o que significa, mas uma forma codificada de conhecimento que, por meio de
permutação das letras hebraicas e usando as chaves cabalísticas corretas, chegamos ao
significado real do sentido. Cada letra hebraica possui um valor numérico e corresponde a um
grau de energia ou força de manifestação. Como o assunto é bastante longo e complexo, neste
texto abordaremos apenas os aspectos externos da simbologia do número 40. O objetivo é
lançar mais luzes na mente dos estudantes e buscadores sinceros. O importante é saber agora
que o número 40 aparece várias vezes não por acaso, mas sim como um símbolo a ser
interpretado e desvelado aos olhos do candidato à Iniciação.
Na simbologia que demos pelo texto dos Quatro Elementos e sua importância na
Magia Prática, podemos relacionar ainda o ciclo de quarenta dias aos quatro mundos
humanos: físico, emocional, mental e espiritual. Aos quatro temperamentos: sanguíneo,
fleumático, colérico e melancólico. O ciclo de 40 dias pode ainda ser associado à Arvore da
Vida com suas 10 (dez) ESFERAS ou SEPHIRAS (rodas de energia ativa ou chackras cósmicos),
que correspondem a um ciclo completo da Criação. Cada Árvore da Vida é o início de uma
nova Árvore num processo eterno de vir a ser, assim 4 Mundos x 10 esferas = 40. O que se
relaciona ao Ciclo ou período de 40.

Pode-se ainda associar este ciclo à 10ª (décima) carta do Tarô, a Roda da Fortuna, que
indica a passagem do final de um ciclo de 9 para outro, movendo a Roda do Destino ou a Roda
Cármica, representada por esta carta. Assim teremos novamente quatro ciclos de 10 que
perfazem 40. Quatro é o número da matéria, do cubo, dos Quatro Elementos, do trabalho, da
concretização das coisas materiais, é o número do TETRAGRAMATON DIVINO, o IOD-HE-VAU-
HE, o nome de Deus de quatro letras e impronunciável que encerra tudo o que foi, é e será.
Vejamos algumas notificações em que o ciclo de 40 aparece nas Escrituras Sagradas,
normalmente relacionado a um período de tempo:
 Durante o Dilúvio, choveu 40 dias e 40 noites (Gênesis: 7.4, 12 e 17).
 O povo de Israel passou 40 dias no deserto.
 Moisés passou 40 dias no monte, falando com Deus e em jejum (Êxodo: 24.18).
 Quem era culpado de promover contenda recebia 40 chibatadas (Deuteronômio:
25.3).
 Elias e Jesus passaram 40 dias em jejum (Romanos: 19.8; Matheus: 4.2).
 A vida de Moisés teve três períodos de 40 anos (At 7.23, 30 e 36).
 O gigante Golias aterrorizou Israel durante 40 dias (1 Salmos 17.16).
 Os Filisteus oprimiram o povo de Israel durante 40 anos (Juízes: 13.1).
 Ezequiel passou 40 dias dormindo só de um lado, o direito (Ezequiel: 4.6)
representando o período de juízos contra o povo de Israel.
 Nínive teve um período de 40 dias para se arrepender com a pregação de Jonas (Jonas:
3.4).
 Jesus, depois de ressuscitado, apresentou-se aos discípulos durante 40 dias (Atos: 1.3).
 A Quaresma é um período de 40 dias que antecede a Páscoa, período da Ressurreição
de Cristo.
 40 também é o número das gerações de Abraão a Jesus Cristo.
 Jesus foi apresentado ao Templo em Jerusalém 40 dias após seu nascimento.
 A idade ideal para começar a praticar a Magia é a partir dos 40 anos; não muito antes
nem muito além dos 50.
 Elias caminhou durante 40 dias e 40 noites antes de alcançar o monte Horeb. Ele
jejuou durante 40 dias antes de dar início ao seu ministério e permaneceu 40 dias no
monte Carmel (1 K: 49,18).

Ao apresentarmos a simbologia na Bíblia, queremos mostrar os aspectos ocultos e


místicos que existem entre as linhas dos relatos e não os relatos em si. Os relatos foram
redigidos de modo a ocultar os segredos da Cabala prática. É preciso conhecer o hebraico e
suas transposições a fim de decifrar o significado. Por essa razão, o símbolo nunca deve ser
tomado ao pé da letra, mas sim compreendido à Luz do Conhecimento. Senão teremos uma
fábrica de loucos e alucinados como vemos por aí afora, propagando todos os tipos de
impropérios e sandices em nome de Deus e da verdade.

Os textos simbólicos indicam de forma velada o ciclo de 40 dias, ou 40 anos, ou 40


séculos, ou 40 horas. É o tempo de duração terrena para que as coisas se manifestem. É um
período de teste, de preparação. Muitos consideram como um período de provação, porque se
apegam as formas trágicas dos relatos, se apegam à palavra morta e não o que está por detrás
dela, porque desconhecem a língua hebraica e o símbolo só pode ser entendido a partir dos
textos originais e não pelas traduções. Para o sábio o ciclo de 40 representa um período de
preparação. Vejamos um pouco dessa simbologia pelo hebraico.

A Bíblia em sua língua original conserva significados em vários níveis, aqui daremos
apenas quatro para reforçar nosso estudo sobre o ciclo de 40:
1. O nível das estórias contadas usadas nas traduções e interpretações ao pé da letra.
2. O nível de aplicação. Com base no conhecimento da língua muitos usos práticos em Magia
aparecem em rituais.
3. O nível simbólico o verdadeiro propósito para o qual os textos foram escritos.
4. O nível oculto. Somente com as chaves cabalísticas corretas se pode juntar, permutar,
transpor e entender o texto simbólico.

Na maioria das vezes, lições e conhecimentos extraordinários podem ser obtidos a


partir dos textos originais pelo simples estudo e conhecimento do uso das letras hebraicas na
formação de textos e das palavras. Por isso, neste Soberano Colégio temos uma parte dos
estudos dedicados às línguas antigas como o hebraico, o aramaico, o copta (Egito), o latim e o
grego. Assim é possível identificar erros existentes em muitas publicações modernas que
ocorrem ou por descuido ou por falta de conhecimento das línguas antigas e alfabetos
sagrados.

A ÁGUA
Sabemos que a água é o elemento de purificação por excelência. O fogo o elemento de
transmutação. No hebraico antigo, a letra MEM simboliza a água. De fato, o nome deste
elemento em hebraico é MAYIM. A concepção de MEM com o elemento ÁGUA é bastante
importante nos conceitos com os quais a presente letra esta interconectada. Dissemos acima
que cada letra hebraica representa um nível de manifestação da energia criada. A letra MEM
representa as ÁGUAS da Criação. Tem uma íntima ligação com a letra M da maioria dos
alfabetos e também com a palavra MÃE.

O NÚMERO 40
Cada letra hebraica possui um valor numérico. O valor numérico de MEM é 40. O que
nos leva a vários significados:
1. O número 40 aparece diversas vezes tanto no Novo quanto no Velho Testamento sempre
ligado aos conceitos de limpeza e purificação. Tais exemplos são o Dilúvio de Noé, a tentação
de Jesus no deserto, o jejum de Elias de 40 dias. Muitos desses conceitos que aparecerão estão
intimamente relacionados com a ÁGUA. O Dilúvio de Noé representa um gigantesca limpeza
pela água; a tentação de Jesus no deserto, que aconteceu durante 40 dias, ocorreu logo após
seu batismo nas águas do Rio Jordão.

2. O Mikvah, ritual hebreu de imersão deve conter pelo menos 40 sa’ahs (mais ou menos 200
galões de água) para ser um Mikvah. A palavra Mikvah é formada pela letra MEM, que
significa água. Aqui também aparecem os conceitos do número 40 e o da água ligados
intimamente à limpeza ou purificação; ambos ligados à letra MEM.

3. Para essa letra hebraica temos duas representações: uma forma aberta usada sempre no
começo e no meio de palavras. E uma outra fechada utilizada sempre no final de palavras ou
de sentenças. Os textos judaicos se referem a essa duas formas como sendo um útero (forma
aberta) e um túmulo (forma fechada). A primeira abre o espaço para a vida, para a criação; a
segunda a encerra. O que nós dá a ideia de morte e renascimento, renovação, limpeza. O
renascer para uma nova vida: objetivo principal do ciclo de quarenta dias. Assim a letra MEM
aparece como mediadora entre a vida e a morte, inclusive no sentido simbólico da preparação
e da abstinência no ciclo de 40 dias.

Resolvi escrever esse artigo por dois motivos:


1. Para eliminar a preocupação de muitos que querem ingressar na Magia e acham que devem
ser santos, castos e abstêmios. O ciclo de preparação ou jejum de 40 dias deve ser aplicado
somente antes das Grandes Operações, nas quais os rituais são mais elaborados e longos com
a manifestação de Consciências Invisíveis. Nas pequenas operações, meditações e exercícios,
tal prática é dispensável; a moderação é sempre bem vinda. Além disso, os rituais das Grandes
Operações são realizados na presença de mais de um Magista para confirmar visões e
experiências comuns. Daí a necessidade de uma grande cautela e preparação. Sem esta
preparação o adepto não pode e não deve participar de rituais coletivos. Tenha em mente que
os Rituais de Magia não são show e nem espetáculo.

2. Para que compreendam o símbolo que se oculta por trás dos textos hebraicos, de modo a
evitar a interpretação dos textos sagrados ao pé da letra e incorrer no erro de tantos cegos
guiando outros cegos como os que já existem por aí. Salvo se seu objetivo é abrir uma igreja
para arrancar dinheiro dos trouxas.

Todo seu na Santa Ciência!


Charles Lucien de Lièvre
Soberano Colégio dos Magos

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