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GRANDES ÉPICOS DA INDIA: PURANA 17

GARUDA PURANA

por Dipavali & Bibek Debroy

Introdução

Os Puranas são textos sagrados que chegaram até nós da antigüidade. Alguns são Puranas
principais, chamados mahapuranas. Outros são Puranas menores, conhecidos como
upapuranas. Existem dezoito mahapuranas, acredita-se que todos compostos por Krishna
Dvaipayana Vedavyasa ou Vyasadeva. Vedavyasa também recebe crédito por ter composto o
Mahabharata. O Mahabharata possui um lakh shlokas ou versos. Os dezoito
mahapuranas juntos tem quatro lakh shlokas. Portanto Vedavyasa recebe o crédito de ter
composto cinco lakh shlokas ao todo.

Não seria realista acreditar que uma só pessoa compôs todos os Puranas, ou mesmo que os
Puranas foram compostos num só ponto no tempo. Claramente, histórias e incidentes
continuavam a ser adicionados aos textos através dos tempos. Acredita-se que os
mahapuranas foram compostos entre 300 DC e 1000 DC. O Garuda Purana, décimo sétimo
na lista dos mahapuranas provavelmente foi um dos compostos mais tardiamente.

Incidentalmente, a palavra Vedavyasa não denota um nome, porém é mais um título, que
poderia talvez se chamar de nome genérico*. O título significa alguém que dividiu os Vedas
(textos sagrados). A tradição fala que houveram vinte e oito pessoas portando o nome de
Vedavyasa até hoje. Krishna Dvaipayana Vedavyasa era o vigésimo oitavo nesta linha. Era
filho do sábio Parashara e Satyavati. Foi batizado Krishna porque era escuro e Dvaipayana
porque nascera numa ilha (dvipa significa uma ilha). Haverá mais um Vedavyasa no futuro e
seu nome será Ashvatthama.

* Nota da tradutora: Segundo a versão védica mais fidedigna, isto não confere. Vedavyasa é
apenas uma só pessoa, de natureza divina, um avatar ou encarnação de Deus, que continua
vivo até os dias de hoje, escrevendo num local distante e sagrado nas montanhas Himalayas,
chamado Bhadrikashrama, onde apenas sábios muito puros conseguem vê-lo, pois está no
plano sutil.

Mas o que é exatamente um Purana? Os Puranas tem estórias, anedotas e rituais. Qualquer
mahapurana destina-se a satisfazer cinco características (lakshana) antes que possa ser aceito
como mahapurana. Isso significa que existem cinco assuntos que o texto terá que descrever.
Esses são a criação original (sarga), o processo periódico de destruição e recriação
(pratisarga), as diferentes eras (manvantara), as histórias das dinastias solar e lunar (surya
vamsha e chandra vamsha) e genealogias reais (vamshanucharita). O Garuda Purana de fato
trata de todos esses assuntos.

Existem três grupos nos quais os dezoito mahapuranas se dividem, seis textos para cada
grupo. A Trindade hindu consiste de três deuses: Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma é
considerado como o criador, Vishnu como o preservador, e Shiva como o destruídor. Todos
os Puranas falam sobre os três deuses. Mas a ênfase relativa ligada a um dos três varia de um
texto para outro. Puranas que enfatizam mais a criação, dão mais importância a Brahma.

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Estes são conhecidos como rajasika Puranas. Textos que falam mais de encarnaçöes de
Vishnu (avataras) são conhecidos como sattvika Puranas. E Puranas que devotam parte
considerável do texto à descrição dos rituais e costumes são considerados como dando ênfase
primária a Shiva. Estes são conhecidos como tamasika Puranas. Portanto temos seis sattvika
puranas, seis rajasika puranas e seis tamasika.

O Garuda Purana é um sattvika purana. Os outros neste grupo são o Vishnu Purana,
Narada Purana, Bhagavata Purana, Padma Purana e Varaha Purana.

O Garuda Purana tem dezenove mil shlokas. É um Purana de tamanho médio. O Skanda
Purana, por exemplo, tem oitenta e um mil shlokas. E o Markandeya Purana apenas nove
mil. Os mil shlokas do Garuda Purana se dividem em duas partes, um purva khanda (primeira
parte) e um uttara khanda (parte subsequente). O purva khanda é muito mais comprido, tem
duzentos e trinta e quatro capítulos. O uttara khanda possui apenas quarenta e cinco.

Mas chega de preâmbulos. Você não gostaria de saber o que tem a dizer o Garuda Purana?

Suta e os Outros Sábios

Suta era um sábio mui erudito. Era bem versado nos Puranas e nos shastras (textos
sagrados). Também era devotado a Vishnu.

Talvez seja melhor esclarecer certa confusão com relação a Suta. A palavra Suta não é
realmente um nome. Os sutas eram uma classe de pessoas, nascidas de mães brahmanas e pais
kshatriyas. Como provavelmente já sabem, naqueles dias, a sociedade se dividia em quatro
classes ou varnas. As duas primeiras eram os brahmanas e os kshatriyas. Era dever dos
brahmanas rezar e estudar os textos sagrados, além de auxiliar nos ritos religiosos. Era dever
dos kshatriyas portar armas e proteger o mundo.

Os sutas não eram nem brahmanas nem kshatriyas, eram mestiços. Seus deveres eram cuidar
de cavalos e atuar como quadrigários.

Vedavyasa ensinou os Puranas a um de seus discípulos chamado Romaharshana ou


Lomaharshana. Este foi assim chamado porque o pelo (roma) em seu corpo ficou arrepiado
(harshana) quando ouviu os Puranas de seu mestre. Foi Romaharshana que relatou as
histórias dos Puranas para todos mais. O Bhagavata Purana diz que Romaharshana tinha um
filho chamado Suta e que foi esse filho que relatou a história daquele Purana em particular
para os outros sábios. Por outro lado, o próprio Romaharshana pertencia à classe suta, de
modo que também poderia ser tratado por Suta. Ao lermos o Garuda Purana obtemos a
impressão que é o próprio Romaharshana que está relatando a história, e não seu filho.

Voltando ao ponto inicial, Romaharshaana veio para a floresta chamada naimisharanya.


Sentou-se ali e contemplou os mistérios do Senhor Vishnu.

Diversos outros rishis (sábios) liderados por Shounaka também vieram até a floresta.
Disseram a Romaharshana: "Sábio, tu conheces tudo. Qual é o deus de todos deuses? Quem
deve ser adorado? Em que se deve meditar? Quem destrói o mal? Como o mundo acabou
sendo criado? Que é dharma (comportamento justo, dever ou missão de vida, caracteristica
essencial) Conte-nos estas coisas e muito mais."

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"Está bem" respondeu Romaharshana. "Vou recitar-lhes o Garuda Purana. Muitos anos
atrás, este Purana foi contado para o sábio Kashyapa pelo grande pássaro Garuda ele mesmo.
Aprendi-o de meu mestre Vyasadeva. Mas primeiro permitam-me listar os vinte e dois
avataras de Vishnu.

A primeira encarnação foi um jovem menino (kumara). Nesta forma, Vishnu adotou celibato
(brahmacharya) e realizou difícil tapasya (meditação, austeridade).

A segunda encarnação foi um javali (varaha). Nesta forma, Vishnu salvou a terra do
submundo.

A terceira encarnação foi um grande sábio (devarishi). Nesta forma, Vishnu divulgou o
conhecimento de diversos textos (tantras).

A quarta encarnação foi como dois sábios chamados Nara e Narayana.

A quinta encarnação foi como o grande sábio Kapila. Kapila ensinou a seu discípulo Asuri a
maravilhosa filosofia conhecida como samkhya yoga.

A sexta encarnação foi como o sábio Dattatreya, filho de Atri e Anasuya.

A sétima encarnação deu-se no manvantara conhecido como svayambhuva. Vishnu nasceu


como o filho de Ruchi e Akuti e realizou muitos yajñas (sacrifícios).

Na oitava encarnação, Vishnu nasceu como filho de Nabhi e Meru. Seu nome era Urukrama.
Ensinou a todos a senda da vida correta.

Na nona encarnação, Vishnu se tornou o rei Prithu e restituiu os grãos alimentícios e ervas à
terra.

A décima das encarnaçöes de Vishnu foi como um peixe (matsya). Ele salvou Vaivasvata
Manu da inundação que envolveu o mundo.

Na décima primeira encarnação, Vishnu adotou a forma de uma tartaruga (kurma). Isso foi
para auxiliar os deuses (devas) e demônios (asuras) a baterem o oceano (samudra manthana).

A décima segunda encarnação foi como Dhanvantari, médico dos deuses e criador da medicina.

A décima terceira foi mohini avatara. Nesta forma, Vishnu adotou o corpo de uma linda
mulher a fim de encantar e roubar o amrita (bebida que dava vida) dos asuras.

Na décima quarta encarnação, Vishnu se tornou narasimha, um ser meio homem e meio leão,
que matou o asura malvado Hiranyakashipu.

A décima quinta encarnação foi um anão (vamana). Isto foi para enganar o asura Bali ou Vali
e reempossar os deuses no céu.

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Na décima sexta encarnação, Vishnu se tornou Parashurama, destruidor dos maus kshatriyas.
Parashurama matou todos kshatriyas do mundo vinte e uma vezes.

A décima sétima encarnação foi Vedavyasa, filho de Parashara e Satyavati. Vedavyasa dividiu
os Vedas.

A décima oitava encarnação de Vishnu foi o sábio Narada.

A décima nona encarnação foi Rama e a vigésima foi Krishna.

Na vigésima primeira, Vishnu tornou-se Buddha, originador do budismo.

A vigésima segunda encarnação ainda está por vir. Vishnu nascerá como Kalki a fim de
destruir o mal no mundo e restabelecer a justiça.

Houve diversas outras encarnaçöes de Vishnu, porém estas acima mencionadas são as
principais.

O Cenário do Purana

Romaharshana em seguida relatou como o Garuda Purana havia se originado. Uma vez ele
fôra ao eremitério conhecido como badrikashrama e ali encontrou Vedavyasa. Adorou
Vedavyasa e pediu ao sábio que lhe contasse sobre a verdadeira natureza de Vishnu.

"Está bem" disse Vedavyasa. "Vou falar o Garuda Purana. Eu, Narada, Daksha, Bhrigu e
diversos outros sábios uma vez tínhamos ido à residência de Brahma em brahmaloka prestar
nossos respeitos. Pedimos a Brahma que nos relatasse a melhor forma de conhecimento.

Garuda era o rei das aves. Ele satisfez Vishnu através de tapasya e Vishnu apareceu diante de
Garuda. "Que benção desejas?" perguntou a Garuda.

"Por favor conceda-me a benção que eu possa ser Teu carregador (vahana)" respondeu
Garuda. "Conceda-me a benção que eu sempre possa prevalescer sobre todas serpentes. E
finalmente conceda-me a benção de que possa saber tudo de modo a ser capaz de compor um
Purana".

Esta benção foi concedida e Garuda compôs o Garuda Purana. Ele então ensinou-o ao sábio
Kashyapa. E o próprio Vishnu recitou o Purana para Brahma, Shiva e os outros deuses.
Vedavyasa aprendeu o Purana de Brahma e ensinou-o a Romaharshana. E era este Purana
que Romaharshana agora estava recitando.

Criação

No princípio não havia nada. Apenas a essência divina (brahman) estava em todo lugar. O
brahman é a origem do universo. Não tem início nem fim. Antes da criação, não havia nada
exceto o brahman. O universo estava imerso na água.

Então, dentro da água, surgiu um ovo (anda) dourado. Vishnu estava dentro do ovo. Ele
havia adotado uma forma física a fim de criar. De Vishnu foi criado Brahma, aquele com

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quatro rostos. Tudo que foi criado estava dentro do ovo. Brahma é o criador, Vishnu o
preservador e Shiva o destruidor. Mas é o mesmo brahman que adota estas diferentes formas.
Brahma, Vishnu e Shiva não são entidades separadas realmente.

De início, Brahma criou quatro tipos de seres. Esses são os devas (deuses), asuras
(demônios), pitris (ancestrais) e manavas (seres humanos). Os deuses são mais fortes durante
o dia e os demônios são mais fortes de noite. Mais tarde, Brahma criou mais dois outros tipos
de seres. Estes eram os rakshasas (demônios) e yakshas (semideuses). Ele também criou os
gandharvas (cantores celestiais).

Serpentes foram criadas do cabelo de Brahma, carneiros de seu peito, cabritos de sua boca,
vacas de seu estômago, e cavalos, elefantes, asnos e camelos de seus pés. O pelo corpóreo de
Brahma se transformou nas ervas. Os brahmanas emergiram da boca de Brahma e os
kshatriyas de seus braços. A terceira das quatro classes consiste dos vaishyas. Agricultura e
comércio são deveres dos vaishyas. Os vaishyas vieram das coxas de Brahma. A última das
quatro classes consiste dos shudras. É o dever dos shudras servir as outras três classes. Os
shudras emergiram dos pés de Brahma.

Os quatro Vedas vieram das quatro bocas de Brahma.

Brahma primeiro criou filhos através de seus poderes mentais. Seus nomes eram Dharma,
Rudra, Manu, Sanaka, Sanatana, Bhrigu, Sanatkumar, Ruchi, Shuddha, Marichi, Atri, Angira,
Pulastya, Pulaha, Kratu, Vashishtha e Narada. Depois Dhaksha foi criado do polegar esquerdo
de Brahma. Daksha e sua esposa tiveram diversas filhas.

A partir de seu corpo, Brahma também criou um homem chamado Svayambhuva Manu e uma
mulher chamada Shatarupa. Manu e Shatarupa tiveram dois filhos chamados Priyavrata e
Uttanapada e três filhas chamadas Prasuti, Akuti e Devahuti.
O sábio Kashyapa nasceu de Brahma. Ele se casou com treze das filhas de Daksha. Seus
nomes eram Aditi, Diti, Danu, Kala, Anayu, Muni, Kadru, Prabha, Ira, Krodha, Vinata, Surabhi
e Khaga. Os filhos de Aditi eram os adityas ou deuses e os filhos de Diti eram os daityas ou
demônios. Dois dos filhos de Diti eram Hiranyaksha e Hiranyakashipu. Os filhos de Danu
eram os danavas ou demônios. Vinata tinha dois filhos, Aruna e Garuda, o mesmo Garuda que
compôs o Garuda Purana. Os filhos de Kadru eram as serpentes. Os filhos de Krodha eram
os pisacchas (demônios canibais). Surabhi deu a luz às vacas e búfalos. Ira foi mãe de todas
árvores e arbustos. Khaga fez nascer os rakshasas e yakshas e Muni as apsaras (dançarinas
celestiais).

Oraçöes

O Garuda Purana então tem diversas seçöes sobre técnicas de orar a Surya (o deus do sol),
Lakshmi (deusa da fortuna) e Vishnu. Descrevem-se os mantras (encantamentos) que se deve
usar. Por exemplo, se quiser orar a Vishnu, deve falar o seguinte:

Oro a Ti, Senhor Vishnu. Pegue Tua sudarshana chakra (disco de borda afiada) e proteja meu
leste. Busco Tua proteção. Pega Tua koumadaki gada (maça) e proteja meu sul. Eu Te
saúdo. Toma da Tua sounanda hala (arado) e proteja meu oeste. ó ser de olhos de lótus,
apenas Tu és meu refúgio. Pegue Tua shatana mushala (clava) e proteja meu norte.

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Eu oro a Ti, Senhor Vishnu. Toma da Tua khadga e charma (escudo) e proteja meu nordeste.
És o matador de todos demônios, conceda-me meu desejo. Pega Tua panchajanya (concha) e
anudvodha (lótus) e proteja meu noroeste. Teu corpo é divino. Pega Tua chandramasa
khadga (espada) e proteja meu sudeste. Eu Te saúdo. Toma de Tua srivatsa (colar de Vishnu)
e proteja meu sudoeste. Suba, ó Senhor, sobre Garuda e proteja-me do alto. És invencível.
Eu me curvo diante de Ti. Também proteja-me do submundo.

Todas estas oraçöes e mantras ajudam. Porém a melhor oração de todas é recitar os mil nomes
de Vishnu.

Os Mil Nomes de Vishnu

A seguir damos os mil nomes de Vishnu. Visando a conveniência, listá-los-emos em cem


grupos de dez, cada.

(1) Vasudeva, Mahavishnu, Vamana, Vasava, Vasu, Balachandranibha, Bala, Balabhadra,


Valadhipa, Valibandhanakrit.

(2) Vedhah, Varenya, Vedavit, Kavi, Vedakarta, Vedarupa, Vedya, Vedaparipluta, Vedangavetta,
Vedesha.

(3) Baladhara, Balardana, Avikara, Varesha, Varada, Varunadhipa, Viraha, Vrihat, Vira, Vandita.

(4) Parameshvara, Atma, Paramatma, Pratyagatma, Viyat, Para, Padmanabha, Padmanidhi,


Padmahasta, Gadadhara.

(5) Parama, Prabhuta, Purushottama, Ishvara, Padmajangha, Pundarika, Padmamaladhara,


Priya, Padmaksha, Padmagarbha.

(6) Parjanya, Padmasamsthita, Apara, Paramartha, Paratpara, Prabhu, Pandita, Panditapavitra,


Papmardakam, Shuddha.

(7) Prakasharupa, Pavitra, Parirakshaka, Pipasavarjita, Padya, Purusha, Prakriti, Pradhana,


Prithivipadama, Priyaprada.

(8) Sarvesha, Sarvaga, Sarva, Sarvavid, Sarvada, Para, Sarvajagaddhama, Sarvadarshi,


Sarvabhrit, Sarvanugrahakrit.

(9) Deva, Sarvabhutahridisthita, Sarvapa, Sarvapujya, Sarvadevanamaskrita, Sarvajaganmula,


Sakala, Nishkala, Anala, Sarvagopta.

(10) Sarvanishtha, Sarvakaranakarana, Sarvadhyeya, Sarvamitra, Sarvadevasvarupadhrik,


Sarvadhyaksha, Suradhyaksha, Surasuranamaskrita, Dushtaghataka, Asurantka.

(11) Satyapala, Sannabha, Siddhesha, Siddhavandita, Siddhasadhya, Siddhasiddha, Hridishvara,


Jagaccharanya, Shreya, Kshema.

(12) Shubhakrit, Shobhana, Soumya, Satya, Satyastha, Satyaparakrama, Satyasankalpa,


Satyavit, Satyada, Dharma.

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(13) Dharmi, Karmi, Sarvakarmavivarjita, Karmakarta, Karma, Kriya, Karya, Shripati, Nripati,
Shriman.

(14) Sarvapativarjita, Devapati, Vrishnipati, Hiranyagarbhapati, Tripurantapati, Pashupati,


Vasupati, Indrapati, Varunapati, Vanaspatipati.

(15) Anilapati, Analapati, Yamapati, Kuberapati, Nakshatrapati, Oshadhipati, Virkshapati,


Nagapati, Arkapati, Dakshapati.

(16) Sukritipati, Nripapati, Gandharvapati, Asupati, Uttama, Parvatapati, Nadipati, Devapati,


Shreshtha, Kapilapati.

(17) Latapati, Virudhpati, Munipati, Suryapati, Chandrapati, Shukrapati, Grahapati,


Rakshasapati, Kinnarapati, Dvijapati.

(18) Saritpati, Samudrapati, Sarovarapati, Bhutapati, Vetalapati, Kushmandapati, Pakshipati,


Pashupati, Mahatma, Mangala.

(19) Meya, Mandara, Mandareshvara, Meru, Mata, Pramana, Madhava, Manovarjita,


Maladhara, Mahadeva.

(20) Mahadevapujita, Mahashanta, Mahabhaga, Madhusudana, Mahavirya, Mahaprana,


Markandeyapravandita, Mayada, Mayatma, Mayabaddha.

(21) Mayavivarjita, Munistuta, Muni, Maitra, Mahanasa, Mahahanu, Mahavahu, Mahadanta,


Maranavivarjita, Mahavaktra.

(22) Mahakaya, Mahodara, Mahapaka, Mahagriva, Mahamani, Mahamanah, Mahamati,


Mahakiriti, Maharupa, Mahasura.

(23) Madhu, Mahadeva, Maheshvara, Makhejya, Makharupi, Mananiya, Makheshvara,


Mahavata, Mahabhaga, Mahesha.

(24) Atitamanusha, Manava, Manu, Manavapriyamkara, Mriga, Mrigapujya, Mrigapati,


Buddhapati, Brihaspatipati, Shanaishcharapati.

(25) Rahupati, Ketupati, Lakshmana, Lakshana, Lamboushtha, Lalita, Alamkarayukta,


Chandanacharchita, Rasojjvaladvaktra, Pushpopashobhita.

(26) Rama, Ramapati, Sabharya, Parameshvara, Ratnada, Ratnaharta, Rupi, Rupavivarjita,


Maharupa, Ugrarupa.

(27) Soumyarupa, Nilameghanibha, Shuddha, Kalameghanibha, Dhumravarna, Pitavarna,


Nanarupa, Avarnaka, Virupa, Rupada.

(28) Shuklavarna, Sarvavarna, Suvarna, Svarnamekhala, Suvarnapradata, Suvarnamsha,


Suvarnapriya, Suvarnadhya, Suparni, Mahaparna.

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(29) Suparmakarana, Vainateya, Aditya, Adi, Adikara, Shiva, Mahatkarana, Puranakarana,
Buddhikarana, Manahkarana.

(30) Chittakarana, Ahamkarakarana, Bhutakarana, Vibhavasukarana, Akashakarana,


Prithivikarana, Andakarana, Prakritikarana, Dehakarana, Chakshuhkarana.

(31) Shrotrakarana, Tvakakarana, Jihvakarana, Ghranakarana, Hastadvayakarana,


Padadvayakarana, Vakyakarana, Payukarana, Indrakarana, Kuberakarana.

(32) Yamakarana, Ishanakarana, Yakshakarana, Rakshasakarana, Bhushanakarana,


Dharmakarana, Jantukarana, Vasukarana, Paramakarana, Manukarana.

(33) Pakshikarana, Munikarana, Shreshthakarana, Yogikakarana, Siddhaganakarana,


Yakshaganakarana, Kinnaraganakarana, Gandharvaganakarana, Nadakarana, Nadikarana.

(34) Samudrakarana, Virkshaganakarana, Virudhakarana, Lokakarana, Patalakarana,


Devakarana, Sarpaganakarana, Mangalakarana, Pashuganakarana, Sarvakarana.

(35) Dehatma, Indriyatma, Atma, Buddhi, Manatma, Ahankaratma, Chetatma, Jagradatma,


Svapnatma, Paratma.

(36) Pradhanatma, Paramatma, Akashatma, Jalatma, Prithvyatma, Rasatma, Gandhatma,


Rupatma, Paratma, Shabdatma.

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(37) Vagatma, Sparshatma, Purushatma, Shrotratma, Rudratma, Tvagatma, Jivahtma,
Ghranatma, Hastatma, Padatma.

(38) Upasthatma, Payvatma, Indratma, Brahmatma, Dhakshatma, Satyatma, Ishatma,


Roudratma, Mokshavid, Yati.

(39) Yatnavan, Yatna, Charmi, Khadgi, Asurantaka, Haripravartanashila, Yatihitarata, Yatirupi,


Yogi, Yogidhyeya.

(40) Hari, Sthiti, Samvit, Medha, Kala, Ushma, Varsha, Mati, Samvatsara, Mokshakara.

(41) Mohapradhvamsaka, Dushtamohakarta, Vadavamukha, Samvartaka, Kalakarta, Goutama,


Bhrigu, Angira, Atri, Vashishtha.

(42) Pulaha, Pulastya, Kutsa, Yajnavalkya, Devala, Vyasa, Parashara, Sharmada, Gangeya,
Hrishikesha.

(43) Vrihacchrava, Keshava, Kleshahanta, Sukarna, Karnavarjita, Narayana, Mahabhaga,


Pranapati, Apanapati, Vyanapati.

(44) Udanapati, Samanapati, Shabdapati, Sparshapati, Rupapati, Kshapati, Adya, Khadgapani,


Halayudha, Chakrapani.

(45) Kundali, Shrivatsanka, Prakriti, Koustubhagriva, Pitambaradhara, Sumukha, Durmukha,


Mukhavivarjita, Ananta, Anantarupa.

(46) Sunakha, Surasundara, Sukalapa, Vibhu, Jishnu, Bharijishnu, Ishudhi,


Hiranyakashipuhanta, Hiranyaksavimardaka, Putananihanta.

(47) Bhaskarantavinashana, Keshidalana, Mushtikavimardaka, Kamsadanavabhetta,


Chanurapramardaka, Arishtanihanta, Akdrurapriya, Krurarupa, Akrurapriyavandita, Bhagaha.

(48) Bhagavan, Bhanu, Bhagavata, Uddhava, Udhavesha, Uddhavachintita, Chakradhrika,


Chanchala, Ahankara, Mati.

(49) Chalachalavivarjita, Chitta, Gagana, Prithivi, Jala, Vayu, Chakshuh, Shrotra, Jihva,
Ghrana.

(50) Vak, Pani, Pada, Jaghana, Payu, Upastha, Shankara, Kharva, Kshantida, Kshantikrit.

(51) Nara, Bhakatapriya, Bharta, Bhaktiman, Kirtida, Bhaktivardhana, Bhaktastuta,


Bhaktapara, Kritivardhana, Kirti.

(52) Kirti, Dipti, Kshama, Kanti, Bhakti, Daya, Dana, Data, Karta, Devadevapriya.

(53) Shuchi, Shuchiman, Sukhada, Moksha, Kama, Artha, Sahasrapat, Sahasrashirsha, Vaidya,
Mokshadvara.

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(54) Prajadvara, Sahasranta, Sahasrakara, Shukra, Sukiriti, Sugriva, Koustubha, Shukra,
Sukiriti, Sugriva, Koustubha, Pradyumna, Aniriddha, Hayagriva.

(55) Shukara, Matsya, Parashurama, Prahlada, Vali, Sharanya, Nitya, Buddha, Mukta,
Sharirabhrit.

(56) Kharadushanahanta, Ravanapramardana, Sitapati, Vardhishnu, Bharata, Kumbhanihanta,


Indrajinnihanta, Kumbhakarnapramardana, Narantakantaka, Shambarari.

(57) Devantakavinashana, Dushtasuranihanta, Narakanihanta, Trishirshavinashana,


Yamalarjunabhette, Tapohitkara Vaditra, Vadya, Varaprada, Sara.

(58) Sarapriya, Soura, Kalahanta, Nikrintana, Agasti, Devala, Narada, Naradapriya, Prana,
Apana.

(59) Vyana, Rajah, Sattva, Tamah, Sharat, Udana, Samana, Bheshaja, Bhishaka, Kutastha.

(60) Svaccharupa, Sarvadehavivarjita, Chakshufrindriyahina, Vagindriyavivarjita,


Hastendriyavihina, Payuvihina, Padadvayavivarjita, Upasthavihina, Mahtapovivarita,
Prabodhavihina.

(61) Budhivivarjita, Chetovihina, Pranavivarjita, Apanavihina, Vyanavivarjita, Udanavihina,


Samanavivarjita, Akashavihina, Vayuparivarjita, Agnivihina.

(62) Udakavivarjita, Prithivivihina, Shabdavivarjita, Sparshavihina, Sarvarupavivarjita,


Ragavigata, Shokarahita, Vachovarjita, Aghaparivarjita, Rajovivarjita.

(63) Shadavikararahita, Kamavarjita, Krodhaparivarjita, Lobhavigata, Dambhavivarjita,


Suksha, Susuksha, Sthulatsthulatara, Visharada, Baladyaksha.

(64) Sarvakshobhaka, Sarvadhyaksha, Arbhakra, Prakritikshobhaka, Mahatkshobhaka,


Bhutakshobhaka, Buddhiskhobhaka, Indriyakshobhaka, Vishayakshobhaka, Brahmakshobhaka.

(65) Sarvakarvivarjita, Nirakara, Nirnimitta, Nirantaka, Nirashraya, Pushkaradvipa,


Jagadishvara, Murari, Mukunda, Shouri.

(66) Rudrakshobhaka, Chakshuradyagamya, Kurma, Shrotragamya, Tvagagamya, Jihvagrahya,


Ghranendriyagamya, Vagagrahya, Hastadvayagamya, Padagamya.

(67) Manohagrahya, Buddhyagrahya, Hari, Chetograhya, Ahambuddhigrahya, Shankapani,


Avyaya, Gadapani, Krishna, Sharngapani.

(68) Jnanamurti, Parantapa, Tapasvi, Jnanagamya, Jnani, Jnanavid, Jneya, Jneyahina, Jnapti,
Bhava.

(69) Bhavya, Chaitanyarupadhrik, Bhavakara, Bhavana, Bhavanasharma, Govinda, Gopati,


Gopa, Gopala, Gopati.

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(70) Sarvagopisukhaprada, Gomati, Godhara, Upendra, Nrsimha, Shouri, Janardana, Araneya,
Vrihadbhanu, Trikala.

(71) Vrihaddipta, Damodara, Kalajna, Kalavarjita, Trisandhya, Dvapara, Treta, Prajadvara,


Trivikrama, Vikrama.

(72) Dandahasta, Ekadandi, Tridandadhrik, Sama, Bheda, Upaya, Samarupi, Samaga,


Samaveda, Atharva.

(73) Sukrita, Sukharupadhrik, Atharvevedavid, Atharvacharya, Rigrupi, Rigveda,


Rigvedapratishthita, Yajurvetta, Yajurveda, Ekapat.

(74) Vahupat, Supat, Sahasrapat, Chatushpat, Dvipat, Smriti, Nyaya, Yama, Yami, Sannyasi.

(75) Chaturashrama, Bhramachari, Grihastha, Bhikshuka, Vanaprastha, Brahmana, Kshatriya,


Vaishya, Shudra, Varna.

(76) Shilada, Shialsampanna, Buhshilaparivarjita, Moksha, Adhyatmasamvishta, Stuti, Stota,


Pujaka, Pujya, Vakakarana.

(77) Vachya, Vachaka, Vetta, Vyakarana, Vakya, Vakyavit, Vakyagamya, Tirthavasa, Tirtha,
Tirthi.

(78) Tirthavit, Tirthadibhuta, Samkhya, Nirukta, Adhidaivata, Pranava, Pranavesha,


Pranavapravandita, Pranavalakshya, Gayatri.

(79) Gadadhara, Shalagramanivasi, Shalagrama, Jalashayi, Yogashayi, Sheshashayi,


Kusheshava, Karya, Mahibharta, Karana.

(80) Prithividhara, Prajapati, Shashvata, Kamya, Kamayita, Virat, Pusha, Samrat, Svarga,
Rathastha.

(81) Sarathi, Rathi, Dhani, Danaprada, Dhanya, Arjunapriya, Arjuna, Bhima, Parakrama,
Durvishaha.

(82) Sarvashastravisharada, Saravata, Mahabhisma, Parijatahara, Amritapradata, Kshiroda,


Kshira, Indratmaaaja, Indratmajagopta, Govardhanadhara.

(83) Kamsanashana, Rastipa, Hastinashana, Prasanna, Shipivishta, Sarvalokartinashana,


Mudra, Mudrakara, Sarvamudravivarjita, Dehi.

(84) Dehasthita, Dehaniyamaka, Shrota, Shortaniyanta, Shrotavya, Shravana, Tvakastitha,


Sparshayita, Sprishya, Sparshana.

(85) Chakshuhstha, Rupadrashta, Drishya, Chakshurniyanta, Jihvastha, Rasajna, Niyamaka,


Ghranastha, Ghrata, Ghranendriyaniyamaka.

(86) Vakastha, Vakta, Vaktavya, Vachana, Pranistha, Shilpakrit, Shilpa, Hastadvayaniyamaka,


Padavya, Ganta.

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(87) Gantavya, Gamana, Padadvayaniyanta, Padyabhak, Visargakrit, Visarganiyanta,
Upasthastha, Sukha, Upasthanyiyanta, Anandakara.

(88) Shatrughna, Kartaviya, Dattatreya, Alarkahita, Kartaviryanikrintana, Kalanemi,


Mahanemi, Megha, Meghapati, Annaprada.

(89) Annarupi, Annada, Annapravartaka, Dhumakrit, Dhumarupa, Devakiputra, Uttama,


Devakinandana, Nanda, Rohinipriya.

(90) Vasudevapriya, Vasudevasuta, Dundubhi, Hasarupa, Hamsarupa, Pushpahasa, Attahasa,


Attahasapriya, Kshara, Sarvadhyaksha.

(91) Akshara, Achyuta, Satyesha, Satyapriya, Vara, Rukminipati, Rukminivallabha,


Punyashloka, Vishruta, Vrishakapi.

(92) Guhya, Mangala, Budha, Rahu, Ketu, Graha, Grahaya, Gajendramukhamelaka,


Grahavinihanta, Gramani.

(93) Rakshaka, Kinnara, Siddha, Chandhah, Svacchanda, Vishvarupa, Vishalaksha,


Daityasudana, Anantarupa, Bhutastha.

(94) Devadavavasamsthita, Sushuptistha, Sushupti, Sthana, Sthananta, Jagaistha, Jagarta,


Jagarita, Svapnastha, Svapnavit.

(95) Svapna, Sthanastha, Sustha Jagratasvapna, Sushuptivihina, Chaturthaka, Vijnana,


Chaitrarupa, Jiva, Jivayita.

(96) Bhuvanadhipati, Bhuvananiyamaka, Patalavasi, Patala, Sarvajvaravinashana,


Paramanandarupi, Sulabha, Dharmapravartaka, Durlabha, Pranayamapara.

(97) Pratyahara, Dharaka, Pratyaharakara, Prabha, Kanti, Archih, Agrahya, Goura, Sarva,
Schuchi.

(98) Abhishtuta, Vashatkara, Vashat, Voushat, Svadha, Svaha, Rati, Pakta, Nandayita, Bhokta.

(99) Boddha, Bhavayita, Jnanatma, Uhatma, Bhuma, Sarveshvareshvara, Nadi, Nandi,


Nandisha, Bharata.

(100) Tarunashana, Chidrupa, Sripati, Chakravartiraja, Sarvadevesha, Pushkara,


Pushkaradhyaksha, Janaka, Janya, Nirakara.

Alguns desses nomes se repetem mais que uma vez. Porém o número total de nomes
certamente fica próximo de mil. Aqueles que recitam estes mil nomes de Vishnu obtém seu
desejo do coração. Brahmanas conseguem ir viver com Vishnu. Kshatriyas ganham batalhas.
Vaishyas se tornam abastados. E shudras nunca ficam infelizes.

Mordidas de Cobra
Existe um mantra chamado praneshvara que cura mordidas de cobra.

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Se uma pessoa for mordida por uma cobra, as consequências irão depender de onde teve lugar
o incidente. Por exemplo, é impossível para uma pessoa mordida num rio, sobreviver. Se uma
cobra morde a pessoa num crematório, num termiteiro, numa montanha, num poço ou num
oco de árvore, e se descobre que a marca da mordida tem três linhas nela, a pessoa certamente
irá morrer. Mordidas nas axilas, na cintura, na garganta, testa, ouvidos, estômago, boca,
braços e costas são impossíveis de curar. E se um soldado ou mendigo for visto na hora da
mordida de cobra, isso é sinal de morte certa.

Em todos outros casos, o praneshvara mantra ajuda a curar mordidas de cobra. Deve-se
desenhar uma flor de lótus com oito pétalas e as palavras do encantamento terão de ser
inscritas em cada uma das pétalas. Então isto é colocado sobre o corpo da pessoa mordida e
ela é banhada. Auxilia dar de beber ghrita (manteiga clarificada). De fato, se o encantamento
for cantado e simultaneamente se lançar um torrão de açúcar para dentro de uma casa, todas
cobras deixam aquela casa.

Seguem-se detalhes de diversos outros mantras.

Shalagrama

Sabe o que é uma shalagrama? É uma representação de Vishnu, feita de pedra. Uma história
no Brahmavaivarta Purana diz que Vishnu foi amaldiçoado a Se tornar uma pedra às margens
do rio Gandaki. O Garuda Purana agora descreve diferentes tipos de imagens shalagramas.
Todas essas imagens são sagradas. E se a pessoa toca qualquer uma destas imagens, os
pecados cometidos em muitas vidas anteriores são perdoados.

Uma shalagrama que possui as marcas da shankha (concha), chakra, gada (maça), e padma
(lótus) se chama keshava. As marcas tem que vir precisamente nesta ordem sobre a imagem.
Se a ordem for chakra, shankha, padma e gada, a imagem se chama madhava. Narayana vem
com a ordem padma, gada, chakra e shankha. Com a ordem gada, padma, shankha e chakra
temos govinda. Uma imagem vishnu terá a ordem padma, shankha, chakra e gada. Shankha,
padma, gada e chakra é de madhusudana, e gada, chakra, shankha e padma é trivikrama.

Também pode haver muitas outras permutaçöes. A ordem chakra, gada, padma e shankha
constitui a imagem de vamana. E chakra, padma, shankha e gada é a imagem de shridhara.
Hrshikesha tem padma, gada, shankha e chakra. Podemos reconhecer uma imagem de
padmanabha pela ordem de padma, chakra, gada e shankha. Shankha, chakra, gada e
padma é damodara, enquanto chakra, shankha, gada e padma é vasudeva.

Sankarshana tem a ordem shankha, padma, chakra e gada. Shankha, gada, padma e chakra
é pradyumna. Aniruddha tem a ordem de gada, shankha, padma e chakra. Uma imagem de
purushottama é conhecida pela ordem padma, shankha, gada e chakra. Gada, shankha,
chakra e padma é adhoksaja, enquanto que padma, gada, shankha, e chakra, é nrsimha.
Uma imagem de achyuta tem a ordem padma, chakra, shankha e gada. A ordem shankha,
chakra, padma e gada é da imagem de janardana. Upendra possui a ordem gada, chakra,
padma e shankha. Chakra, padma, gada e shankha significam hari. E finalmente, srikrishna
tem a ordem gada, padma, chakra e shankha.

Construindo Casas

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Antes que uma casa seja construída, deve haver uma cerimônia para colocar a pedra
fundamental. Trinta e dois deses tem de ser adorados na ocasião. Seus nomes são Ishanaa,
Parjanya, Jayanta, Indra, Surya, Satya, Bhrigu, Akasha, Vayu, Pusha, Vitatha, Grahanakshatra,
Yama, Gandharva, Bhrigu, Raja, Mriga, os Pitris, Douvarika, Sugriva, Pushpadanta,
Ganadhipa, Asura, Shesha, Pada, Roga, Ahimukhya, Bhallata, Soma, Sarpa, Aditi e Diti. Estes
deuses devem ser adorados fora das premissas da casa. Dentro das premissas da casa se adora
os quatro deuses Apah, Savitra, Jaya e Rudra.

Deve-se construir um templo na frente da casa. Portöes e portas e locais para se realizar
sacrifícios devem voltar-se para o leste. O norte é reservado para uma despensa. A lagoa pode
ficar a oeste e a casa de hóspedes será ao sul.

Calcule a área da casa multiplicando o comprimento pela largura. Multiplique a área por oito e
divida por sessenta e quatro. Ou simplesmente, divida a área por oito. O restante determina o
tipo de vida que o proprietário da casa irá viver. Também se pode dividir a área da casa por
cinco. O restante agora determina como o proprietário da casa irá morrer.

A altura de uma porta deve ser exatamente o dobro de sua largura. De preferência, uma casa
deve ter oito portas.

Templos

Templos devem ser construídos de modo que tenham um pináculo, três pináculos ou cinco
pináculos.

Essencialmente existem cinco tipos de templos. Seus nomes são Vairaja, Pushpaka, Kailasa,
Malaka e Tripishtapa. As diferenças estão em suas formas. Vairaja é quadrado. Pushpaka é
retangular. Kailasa é circular, Malaka oval, e Tripishtaka octagonal. É claro que pode haver
muitas variaçöes dentro desses cinco tipos básicos.

Próximo ao portão do templo deve haver um local onde se possa encenar peças teatrais. Os
sacerdotes devem morar à certa distância do templo. Deve se assegurar que o templo sempre
seja cercado por frutas, flores, água e trepadeiras.

Varnashrama Dharma
Varnashrama dharma se caracteriza pelos deveres das quatro classes e os quatro estágios da
vida.

Os deveres do brahmana são realizar sacrifícios religiosos, fazer doaçöes, estudar e ensinar.
Kshatriyas e vaishyas devem sempre realizar sacrifícios, fazer doaçöes e estudar. Mas o dever
primordial do kshatriya é governar, enquanto que os vaishyas deve praticar agricultura.
Shudras ganham a vida como artesãos. Seu dever é servir as outras três classes.

O primeiro estágio de vida (brahmacharya), é de estudante. Mendiga-se pelo sustento,


servindo ao mestre. Em seguida vem o estágio de chefe-de-família (ghrhasthya). Um chefe-
de-família deve realizar sacrifícios, adorar deuses, fazer doaçöes e servir os hóspedes. No
estágio de morar na floresta (vanaprastha), se vai para a floresta e se vive de frutas e raízes.

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Tal pessoa estuda os Vedas e realiza tapasya. A fase final é o eremita (sannyasa). Um eremita
busca alcançar yoga, a união do atman (alma humana) com o brahman (essência divina).

Um brahmana que realiza seus deveres bem vai para um local sagrado chamado prajapatya.
Um khshatriya vai para indraloka, um vaishya para vayuloka e um shudra para
gandharvaloka.

Deve-se levantar na hora do alvorecer. Após pensar em Vishnu, é hora de tomar banho. É
melhor tomar banho de manhã. Um pecador que faz isso liberta-se de todos pecados. No
entanto, existem seis tipos de banhos e seus nomes são brahma, agneya, vayavya, divya,
varuna, e yougika. Num banho brahma, se canta mantras enquanto se asperge água sobre o
corpo. Esfregar o corpo com cinzas é tomar um banho agneya. Fazer o mesmo com
excremento de vaca é tomar um banho vayavya. Tomar banho de sol é o banho divya. Num
banho varuna se toma banho com água. E meditando em Vishnu, tomamos o banho yougika,
sem fazer mais nada.

Os dentes sempre devem ser escovados voltando-nos para o leste.

Fazendo Doaçöes

Fazer doaçöes é a melhor forma de dharma. Uma pessoa que faz doaçöes é abençoada nesta e
em outras vidas. Fazer doaçöes se chama dana.

Existem quatro tipos de dana: nitya, naimittika, kamya e vimala. Nitya dana tem lugar
quando se faz doaçöes a brahmanas sem esperar qualquer coisa em troca. Quando se faz
doaçöes como penitência ou para cuidar de maus presságios, isso se chama naimittika dana.
Kamya dana tem lugar quando se faz doaçöes para conseguir filhos, vitória ou opulência.
Vimala dana consiste de doaçöes simplesmente para agradar a Deus.

Uma pessoa que dá cana-de-açúcar, gado ou terras aos brahmanas não nasce novamente. O
melhor artigo para doar é terra.

Um pecador que impede outros de fazer doaçöes nasce como uma ave em sua próxima vida.

Prayascchita

Prayascchita é fazer expiação por pecados. O pior pecado de todos é matar um brahmana.
Um pecador que faz isso deve fazer uma cabana de grama seca e folhas e aí viver durante doze
anos. Ou ele poderá jejuar até a morte ou cometer suicídio pulando de um precipício. Imolar-
se ou afogar-se também são formas aceitáveis de penitência. As vezes tipos menos severos de
punição são permitidos, tal como dar alimento a brahmanas eruditos. Os três rios sagrados
Ganga, Yamuna e Sarasvati tem um local de confluência e esse é um tirtha (local de
peregrinação). Se jejuarmos três dias e noites e tomarmos banho nesse tirtha, o pecado de
matar um brahmana também é perdoado.

Um brahmana que rouba ouro apanha do rei com uma maça. Depois vai viver numa cabana
de grama durante doze anos.

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Um beberrão tem de realizar a penitência de beber vinho quente, em seguida engolindo leite,
manteiga clarificada ou a urina de uma vaca.

Uma pessoa que por acaso morre num tirtha obtém perdão de todos seus pecados. Uma
mulher que se imole até a morte na pira funerária de seu marido expia todos pecados que o
marido possa ter cometido. Uma esposa que serve seu marido fielmente nunca comete
quaisquer pecados em primeiro lugar.

Geografia

A terra se divide em sete regiöes (dvipas) cujos nomes são Jambudvipa, Plakshadvipa,
Shalmaladvipa, Kushadvipa, Krounchadvipa, Shakadvipa e Pushkaradvipa. As sete regiöes
são cercadas por sete mares. Os nomes dos mares são Lavana, Ikshu, Sura, Sarpi, Dadhi,
Dugdha e Jala.

Jambudvipa se divide em nove partes (varshas). Seus nomes são Nabhi, Kimpurusha,
Harivarsha, Ilavrita, Ramya, Hiranvana, Kuru, Bhadrashva e Ketumala. Nabhivarsha
eventualmente veio a ser chamada de Bharatavarsha.

Ilavritavarsha fica bem no centro de Jambudvipa. E no meio de Ilavritavarsha está o Monte


Sumeru, como o caule de uma flor de lótus. As cadeias montanhosas do Himalaya, Hemakuta
e Nishada ficam ao sul do Monte Sumeru e as cadeias montanhosas de Nila, Shveta e
Shringavana ficam ao norte do Monte Sumeru. Bhadrashvavarsha fica ao leste de Sumeru,
Hiranvanavarsha ao sudeste, Kimpurushavarsha e Bharatavarsha ao sul, Harivarsha ao
Sudoeste, Ketumalavarsha a oeste. Ramyakavarsha ao noroeste e Kuruvarsha ao norte.

Bharatavarsha em si, divide-se em nove partes. Oito dessas partes se chamam Indradvipa,
Kasherumana, Tamravarna, Gabhastimana, Nagadvipa, Kataha, Simhala e Varuna. A nona
parte se chama Sagaradvipa e é cercada pelo oceano. Ao leste de Bharatavarsha vivem os
kiratas, a oeste os yavanas, ao sul os andhras, e ao norte os turushkas.

As sete principais cadeias montanhosas de Bharatavarsha são Mahendra, Malaya, Sahya,


Shuktimana, Riksha, Vindhya e Paribhadra.

Os reinos no centro de Bharatavarsha chamam-se Panchala, Kuru, Matsya, Youdheya,


Patacchara, Kunti e Shurasena. Padma, Suta, Magadha, Chedi, Kashaya, Videha e Koshala são
reinos que ficam ao leste. No sudeste temos os reinos de Kalinga, Banga, Pundra, Anga,
Vidarbha, e Mulaka. Os reinos de Pulinda, Ashmaka, Jimuta, Nayarashtra, Karnata, Kamboja,
Ghata, Daksinapatha, Ambashtha, Dravida, Lata, Strimukha, Shaka e Anarta ficam ao
sudoeste. A oeste temos os reinos de Sindhu, Yavana, Mathura e Nishada. Os reinos de
Mandavya, Tushara, Mulika, Musha, Khasha, Mahakesha e Mahanada são a noroeste. E os
reinos de Lambaka, Stana, Naga, Madra, Gandhara e Vahlika ficam ao norte. A noroeste
temos Trigarta, Nila, Kolabha, Abhishaha e Kashmira.

Existem sete submundos (patala) sob a terra. Seus nomes são Atala, Vitala, Nitala, Mahatala,
Sutala, Patala e Gabhastimata. Os daityas e bhujangas (serpentes) vivem ali.

Astronomia e Astrologia

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A quadriga do sol (surya) é puxada por sete cavalos. Seus nomes são Gayatri, Vrihati,
Ushnika, Jagati, Trishtupa, Anushtapa e Pamkti. A quadriga da lua (chandra) é puxada por dez
cavalos e estes são completamente brancos.

Existem vinte e sete nakshatras (estrelas) no céu. Seus nomes são Asvini, Bharani, Krittika,
Rohini, Mrigashira, Ardra, Punarvasu, Pushya, Ashlesha, Magha, Purvaphalguni,
Uttaraphalguni, Hasta, Chitra, Svati, Vishakha, Anuradha, Jyeshtha, Mula, Purvashada,
Uttarashada, Shravana, Dhanishtha, Shatabhisha, Purvabhadrapada, Uttarabhadrapada e
Revati.

É auspicioso iniciar uma viagem quando Ashvini, Anuradha, Revati Mrigashira, Mula,
Punarvasu, Pushya, Hasta ou Jyeshtha estiverem no céu. Roupas novas devem ser vestidas
quando Hasta, Chitra, Svati, Vishakha, Anuradha, Uttaraphalguni, Uttarashada,
Uttarabhadrapada, Ashvini, Rohini, Pushya, Dhanishtha ou Punarvasu estiverem no céu. Poços
e lagoas devem ser escavados quando Krittika, Bharani, Ashlesha, Magha, Mula, Vishakha,
Purvaphalguni, Purvashada ou Purvabhadrapada estiverem no céu. Estes nakshatras também
são auspiciosos para ceifar colheitas ou construir templos. Semear sementes deve ocorrer
quando Revati, Ashvini, Chitra, Svati, Hasta, Punarvasu, Anuradha, Mrigashira ou Jyeshtha
estiverem no céu. Estas estrelas também são auspiciosas para se construir barcos. Coroaçöes
devem ser marcadas para quando Rohini, Ardra, Pushya, Dhanishtha, Uttaraphalguni,
Uttarashada, Uttarabhadrapada, Shatabhisha ou Shravana estiverem no céu. Um tithi é um dia
lunar. São inauspiciosos os seguintes dias lunares: quarto (chaturthi), sexto (shashthi), oitavo
(ashtami), nono (navami), décimo-segundo (dvadashi), décimo-quarto (chaturdashi) e o dia
da lua nova (amavasya) e da lua cheia (purnima). Nada de importante deve ser começado em
tais dias. Nunca viaje nos seguintes dias: shashthi nos meses de Vaishakha e Shravana,
ashtami nos meses de Ashvina e Ashada; chaturthi nos meses de Jyaishtha e Phalguna,
dvadashi nos meses de Magha e Kartika, dashmi (décimo dia lunar) no mês de Agrahayana e
Bhadra, e chaturdashi nos meses de Pousha e Chaitra.

Há doze signos no zodíaco (rashi). Seus nomes são: Mesha (Aries), Vrisha (Touro), Mithuna
(Gêmeos), Karkata (Câncer), Simha (Leão), Kanya (Virgem), Tula (Libra), Virshchika
(Escorpião), Dhanu (Sagitário), Makara (Capricórnio), Kumbha (Aquário) e Mina (Peixes).

O signo sob o qual a pessoa nasce se chama janma rashi. Considere a posição da lua em
relação ao janma rashi. Se a lua estiver no próprio janma rashi, a pessoa estará sempre
satisfeita. O janma rashi também é conhecido como a primeira casa. O rashi seguinte é a
segunda casa e assim por diante até termos a décima segunda casa. Se a lua estiver na segunda
casa, a pessoa será pobre. Uma lua na terceira casa significa honra demonstrada pelo rei, na
quarta casa brigas, na quinta casa casamento, na sexta casa opulência, na sétima casa honra, na
oitava casa perigo de vida. Na nona casa riquezas, na décima casa sucesso, na décima primeira
vitória, e na décima segunda morte certa.

As seguintes conjunçöes são de bom agouro: Shukra (Vênus) e Chandra na quarta casa;
Chandra, Budha (Mercúrio), Shukra e Brihaspati (Júpiter) na segunda casa; Mangala (Marte),
Shani (Saturno) e Surya na terceira casa; Budha na quarta casa; Shukra, Brihaspati, Chandra e
Ketu (que não tem um correspondente verdadeiro para o inglês e às vezes é identificado com
Plutão) na quinta casa; Shani, Surya e Mangala na sexta casa; Brihaspati e Chandra na sétima
casa; Budha e Shukra na oitava casa; Brihaspati na nona casa; Surya, Shani e Chandra na

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décima casa; e Budha e Shukra na décima segunda casa. Todos planetas são bons na décima
primeira casa.

Uma noiva de Leão deve se casar com um Capricórnio; uma ariana com um noivo de Virgem,
uma libriana com um pisciano, uma aquariana com um noivo de Câncer, uma sagitariana com
um de Touro, uma geminiana com um de Escorpião. Tais casamentos trazem felicidade.

Fisionomia

É importante conseguir perceber a natureza de homens e mulheres por suas características


físicas. Esta é a ciência da fisionomia.

Um homem que será rei terá pés macios que não suam. O dedos do pés serão regulares e não
se vêem veias em suas pernas. Um homem que será rei também se conhece por suas coxas
arredondadas e muito pouco pelo corpóreo. Cada poro em seu corpo terá apenas um pelo
nele.

Um homem que será pobre se percebe por unhas rudes ou ásperas nos dedos do pé. Em seu
rosto se vêem veias. Os dedos do pé são secos e terá pé chato. Terá três cabelos em cada um
de seus poros.

Uma pessoa com dois cabelos por poro se tornará um homem erudito.

Uma pessoa com coxas finas sempre sofre de má saúde.

Podemos observar linhas na testa das pessoas. O número de tais linhas determina quanto
tempo viverá. Uma pessoa com três linhas vive por sessenta anos, uma com duas linhas por
quarenta anos e uma com apenas uma linha, vinte anos. Se uma só linha se estende
atravessando a testa, a pessoa morrerá em idade muito jovem. Mas se três linhas se estendem
atravessando a testa, a pessoa viverá por cem anos.

Uma mulher com a face redonda traz prosperidade para seu lar. Uma de olhos redondos se
tornará viúva e sofrerá a vida inteira. Olhos grandes e lábios vermelhos significam que a
mulher será sempre feliz. Se houver muitas linhas na palma de uma mulher, ela sempre sofrerá.
Mas se houver muito poucas linhas na palma da mulher, ela será sempre pobre. Se vir o sinal
de uma chakra na palma de uma mulher, ela se tornará ou esposa ou mãe de um rei. Uma
mulher de olhos brilhantes tem boa fortuna; uma de dentes brilhantes recebe boa comida e uma
com pele luminosa tem excelentes camas para dormir.

Um homem de nariz comprido é afortunado. Um homem de nariz curvo é um ladrão e um


cujo nariz seja torto para a direita é cruel. Um homem que espirra uma só vez sempre que o
faz, é forte. Um homem sempre contente se reconhece pelo fato de que tem muitos espirros
numa só vez. Uma pessoa que fala num tom nasal vive até idade avançada. Olhos como os de
um gato indicam um pecador. Homens vesgos são cruéis. Um homem com sobrancelhas
simétricas é rico e feliz. Se um homem chora mas não se consegue ver as lágrimas, é certo que
ele será desafortunado.

Olhe a linha de vida da palma de uma mulher. Se a linha for grossa, ela terá muitos filhos.
Mas se a linha de vida for fina, terá muitas filhas. Aquelas cuja linha de vida se reparte um

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muitas partes não vivem por muito tempo. Mas aquelas cuja linha de vida é comprida e sem
quebras, vivem até a velhice madura.

Esta ciência da fisionomia é conhecida como samudrika shastra.

Jóias

Muito tempo atrás, havia um demônio chamado Balasura. Ele derrotou Indra e os outros
deuses. Balasura era invencível. Não sabendo o que fazer, os deuses organizaram um yajna.
Depois foram até Balasura e pediram-lhe seu corpo, para que este pudesse ser sacrificado no
yajna. O demônio era generoso e não iria recusar um pedido. Entregou seu corpo aos deuses.

Os deuses subiram numa vimana (veículo espacial) e estavam viajando pelo céu com o corpo
de Balasura. Porém a vimana se movimentava tão rápida que o corpo de Balasura caiu.
Quebrou-se em muitas partes que se espalharam pela terra. Onde quer que tivesse caído uma
parte do corpo, fosse no oceano, num rio, montanha ou jardim, aquele lugar se tornava jazida
de jóias e pedras preciosas.

Há muitos tipos de jóias. Algumas mais importantes são o vajra (diamante), mukta (pérola),
mani, padmaraga (rubi), marakata (esmeralda), indranila (safira), vaidurya, pushparaga
(topázio), karketana, pulaka, rudhira, sphatika (cristal) e pravala (coral).

Vajra ou hiraka se formou dos ossos de Balasura. Diamantes podem ser de muitas cores:
acobreados, leitosos, azuis, dourados, amarelos e escuros. Diamantes vermelhos e amarelos
devem ser usados apenas por um rei, não por mais ninguém. Um diamante multicolorido e
redondo não deve ser usado indiscriminadamente. Pode causar grande sofrimento, e as
devidas precauçöes tem de ser tomadas antes que tal diamante seja usado como adorno.
Mesmo Indra toma cuidados antes de portar tal diamante. Um diamante hexagonal é
extremamente raro e traz boa fortuna. Um diamante é valioso porque pode cortar e marcar
qualquer outro objeto. Porém um diamante não pode ser cortado ou marcado exceto por
outro diamante.

Muktas (pérolas) podem ser obtidas em oito locais diferentes: de elefantes, nuvens, javalis,
conchas, peixes, serpentes, ostras e bambus. Porém ostras são a fonte mais comum. Pérolas
obtidas de bambus, elefantes, peixes, conchas e javalis nem todas são brilhantes. Os dentes de
Balasura caíram no oceano. Ali os dentes entraram nos corpos das ostras e se tornaram as
sementes para pérolas. Uma pérola que pesa meio tola (medida de peso) vale 1305 moedas.
Há diversos outros graus para pérolas, os valores sendo 800, 783, 325, 200, 110, 100, 97, 40,
30, 14, 11 e 9 moedas respectivamente. Se precisar polir uma pérola, coloque-a dentro do
estômago de um peixe. Cubra o peixe com barro e asse-o. A pérola depois deve ser retirada e
lavada com leite, vinho e água. Tornar-se-á luminosa e brilhante. O que acontece se
suspeitamos que uma pérola não é genuína? Devemos mantê-la em água salgada por uma
noite e depois secá-la. Se a cor não esmaece, é uma pérola genuína.

O sangue de Balasura caiu num rio. De fato, primeiramente não tinha caído num rio não, mas
fora retido pelo sol. Porém Ravana, rei de Lanka, uma vez decidiu atacar o sol. E durante o
processo, o sol deixou cair o sangue de Balasura num rio que veio a se chamar Ravanaganga.
Este sangue se transformou em rubis (padmaraga). Rubis são vermelhos. Alguns poderão vir
retintos com um pouco de preto ou azul. Um rubi de boa qualidade nunca deve ser usado com

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um de má qualidade. O portador de um rubi de boa qualidade é protegido de todos
infortúnios.

O rei de todas serpentes é Vasuki. Vasuki aceitou a bílis (pitta) que saiu do corpo de Balasura.
A serpente estava atravessando o céu quando repentinamente foi atacada por Garuda. Garuda
também queria possuir a bílis. Enquanto ambos lutavam, a bílis caiu no vale de uma montanha.
Esta bílis deu lugar aos marakatas (esmeraldas). Esmeraldas em geral são de cor verde. As
ervas que crescem em minas de esmeraldas são a cura para toda sorte de venenos. Uma
verdadeira esmeralda nunca perde a cor.

Os olhos de Balasura caíram nas margens do oceano. E esses olhos se tornaram jóias
indranila (safiras). Safiras são tintas de azul. Uma safira nunca deve ser lançada num fogo.
Uma pessoa que pratica este ato sofre grande infortúnio. Um tipo especial de safira se chama
mahanila. É de cor azul escura e se for mantida imersa no leite, este leite se torna de cor azul.

Balasura urrou antes de morrer. O urro ecôou numa cadeia montanhosa chamada Vidura. E
desse urro surgiu uma gema chamada vaidurya, assim chamada porque pode ser achada na
montanha Vidura. Vaiduryas são de cor verde ou azul.

A pele de Balasura caiu nos Himalayas. Esta pele deu origem ao pushparaga (topázio). Um
pushparaga é de cor amarelo claro. Mas se um topázio também for tinto de vermelho, é
chamado de kourandaka. E se o topázio for levemente tinto de azul, é chamado de somanaka.
Uma mulher que não tem filho terá um se portar um topázio.

Outro tipo de jóia se chama karketana. Originou-se a partir da unhas de Balasura. Estas
unhas caíram num canteiro de lótus e ali criaram esta gema. Karketana pode ser de várias
cores: vermelho, leitoso, amarelo, acobreado e azul. Esta jóia se torna mais brilhante se for
enrolada numa folha de ouro e queimada num fogo. Karketana é uma boa jóia para se usar
caso se queira continuar saudável ou prolongar a vida.

Diversos outros tipos de jóias foram criados de outras partes da anatomia de Balasura.

Tirthas

Um tirtha é um local de peregrinação e que lugar pode ser melhor para peregrinação que o
sagrado rio Ganga? Todos locais ao longo do Ganga são sagrados. Porém os mais sagrados
de todos são Haridvara, Prayaga e Gangasara. Um pecador que se banha em Prayaga tem seus
pecados perdoados.

Varanasi também é um grande tirtha, já que Vishnu e Shiva estão sempre presentes ali.
Kurukshetra é um local maravilhoso para fazer doaçöes. Outros tirthas famosos são Prabhasa,
Dvaraka, Sarasvati e Kedara. Continua a haver argumentos sobre que local de peregrinação é
grande e qual não. Isto é um tanto sem sentido. Um tirtha é um local onde se medita sobre o
brahman. Não necessariamente é preciso ir a um lugar geográfico conhecido como um tirtha,
para fazer isso. Pode ser feito na própria casa da pessoa, que então se torna como um tirtha.

Mas entre os locais geográficos conhecidos como tirthas, Gaya é famosa e é justo que seja.

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Há muitos anos atrás, costumava haver um demônio chamado Gayasura. Este asura começou
a realizar tapasya tão difícil que os deuses se sentiram oprimidos. Eles foram até Vishnu e
queriam saber o que poderiam fazer a respeito de Gayasura. Vishnu prometeu aos deuses que
cuidaria do problema.

Gayasura tinha ido coletar umas flores de lótus para suas oraçöes. Após seus esforços ele se
sentiu cansado e deitou para dormir. Então chegou Vishnu e matou Gayasura com uma maça.
Isto aconteceu na terra chamada Kikata. E essa parte de Kikata onde o corpo de Gayasura
caiu veio a ser chamada de Gaya. É um local sagrado onde é auspicioso realizar cerimônias
de shraddha (funerárias).

Para os seres humanos foram estabelecidos quatro métodos de salvação. O primeiro é


conhecimento do brahman, o segundo é uma cerimônia de shraddha em Gaya, o terceiro é
morte num estábulo de vacas e o quarto é morar nas planícies de Kurukshetra.

Há uma história sobre um mercador chamado Vishala. Este mercador tinha ido a Gaua e havia
realizado uma cerimônia para seus antepassados finados. Em sua próxima vida, o mercador
nasceu como um príncipe, também chamado Vishala. Certo dia, Vishala viu um ser branco, um
ser vermelho e um ser negro no céu.

"Quem são vocês?" perguntou aos seres.

O ser branco respondeu: "Sou teu pai. Devido a teres realizado a cerimônia para mim em
Gaya, agora vivo no céu. O ser vermelho é meu pai, teu avô. Ele tinha cometido o pecado de
matar um brahmana. Porém devido a tua cerimônia ele também vive no céu. O ser negro é
meu avô, teu bisavô. Ele havia cometido o pecado de matar um sábio. Mas graças a tua
cerimônia também vive no céu. Nos libertaste a todos através de tua ação."

Manvantaras

Cada manvantara é uma era e cada uma dessas eras é governada por um Manu.

O primeiro Manu foi Svayambhuva.


O segundo Manu foi Svarochisha.
O terceiro Manu foi Outtama.
O quarto Manu foi Tamasa.
O quinto Manu foi Raivata.
O sexto Manu foi Chakshusha.
O sétimo Manu foi Vaivasvata. Esse é o manvantara atual. Os sete Manus restantes virão no
futuro.
O oitavo Manu será Savarni.
O nono Manu será Dakshavarni.
O décimo Manu será Brahmasavarni.
O décimo primeiro Manu será Dharmasavarni.
O décimo segundo Manu será Rudrasavarni.
O décimo terceiro Manu será Rouchya.
O décimo quarto Manu será Indrasavarni.

Isto nos trará ao final do kalpa (ciclo) e o mundo será destruído.

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Ruchi

Havia um sábio chamado Ruchi. Este não se interessava pelas atividades mundanas e passava
seu tempo perambulando pela terra. Nunca se casou, nem teve casa e apenas meditava e
viajava.

Seus antepassados vieram vê-lo. "Ruchi" disseram, "porque não estás te casando? É teu dever
casar e ter filhos. A não ser que tenha um filho, nós continuaremos no inferno. Nem tampouco
conseguirás chegar ao céu somente através de meditação."

"Não tenho nenhum desejo de me casar", respondeu Ruchi. "Isso apenas enreda e traz
infelicidade. O atman fica maculado devido a laços de apego."

"É verdade que o atman precisa ser purificado", redarguiram os antepassados. "Mas tu não
estás tratando disso da forma certa. Desapego dos interesses materiais não significa que não se
deva casar ou virar chefe-de-família. Isso seria evitar o assunto. Vai e casa-te e tenha filhos
para que nem tu e nem nós tenhamos que ir para o inferno."

Ruchi concordou em fazer o que seus antepassados haviam pedido. Mas havia um problema.
Quem concordaria em se casar com um velho pobre como ele? Pensou que poderia orar a
Brahma para que surgisse uma solução. Passou cem anos fazendo tal tapasya e ao final desses
cem anos, Brahma surgiu diante dele. Ao ouvir o pedido de Ruchi, Brahma pediu-lhe que
orasse a seus antepassados. Eles encontrariam uma solução para o problema dele. Satisfeitos
com as oraçöes de Ruchi, os antepassados produziram uma apsara chamada Pramlocha.

Pramlocha falou para Ruchi: "Tenho uma filha chamada Manini. Por favor casa-te com ela."

Ruchi casou com Manini e tiveram muitos filhos.

Casamentos e Mestiços

A noiva e o noivo não devem ter laços de sangue entre si, até a nona geração por parte de pai e
até a sétima do lado da mãe. Brahmanas, kshatriyas e vaishyas nunca devem se casar com
shudras.

Um noivo brahmana pode se casar com uma noiva brahmana, kshatriya ou vaishya. Um
noivo kshatriya pode casar com uma noiva kshatriya ou vaishya. Um noivo vaishya só deve
se casar com uma noiva vaishya e um noivo shudra só deve casar com uma noiva shudra.

Existem muitos tipos de casamentos. Num casamento brahma, o noivo é convidado e lhe dão
uma noiva adornada de jóias. Um filho de tal união salva do inferno vinte e uma geraçöes de
seus antepassados de ambos lados, paterno e materno.

Um casamento daivya tem lugar quando uma filha é dada ao sacerdote de um yajna.

A forma seguinte de casamento é arya. Nesse, aceitam-se duas vacas do noivo como preço da
noiva e esta então é entregue junto com essas vacas. Um filho que nasce de um casamento

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daivya salva do inferno quatorze geraçöes de ambos lados, paterno e materno. Isso
comparado a meras seis geraçöes num casamento arya.

Apenas seis geraçöes são salvas por um filho nascido de um casamento prajapatya, também.
Em tal casamento, uma noiva e entregue a um noivo com as palavras: "Que ambos juntos
realizem o dharma."

Um casamento asura tem lugar quando se aceita um prêmio pela noiva.

Quando a noiva e noivo se apaixonam mutuamente e se casam, isto se chama de casamento


gandharva.

Na forma rakshasa de casamento, uma noiva é raptada pelo noivo e se casam. Mas a noiva
tem que querer.

Se a noiva não quiser e for abduzida e casar com o noivo por meio de ardis, isso é a forma
paisacha de casamento.

Casamentos brahma, daivya, arya e prajapatya são recomendados para brahmanas.


Casamentos gandharva e rakshasa são recomendados para kshatriyas, casamentos asura para
vaishyas e casamentos paisacha para shudras. Na hora do casamento, uma noiva brahmana
apenas segurará a mão do noivo. Porém uma noiva kshatriya além disso segurará uma flecha
em sua mão. E uma noiva vaishya segurará um chicote em sua mão.

Quando uma mulher é jovem, é seu pai que cuida dela, e quando se faz mulher é o marido, e
quando é uma velha senhora, é o filho que toma conta dela.

Apesar das injunçöes contrárias, noivos brahmanas se casaram com mulheres kshatriyas,
vaishyas e shudras. Isso levou ao nascimento de mestiços. O filho de um pai brahmana e
uma mãe kshatriya se chama de murddhabhishikta, o filho de um brahmana e uma mãe
vaishya é um ambashtha, o filho de um pai brahmana e uma mãe shudra é um nishada.
O filho de um pai kshatriya e uma mãe vaishya se chama mahishya, o filho de um pai
kshatriya e uma mãe shudra é um ugra.

O filho de um pai vaishya e uma mãe shudra é um karana.

O descendente de uma mãe brahmana se chama suta se o pai for kshatriya, vaideha se o pai
for vaishya e chandala se o pai for shudra. Os descendentes de uma mãe kshatriya se
chamam magadha se o pai for um shudra. O descendente de uma mãe vaishya e um pai
shudra se chama ayogava.

Renascimento

Após ter pago alguns de seus pecados em naraka (inferno), um pecador renasce novamente
para pagar o que ainda não tiver sido resgatado.

O matador de um brahmana primeiro nasce como um cachorro, depois progressivamente


como camelo, burro, sapo e coruja. Quem rouba ouro nasce como verme ou como inseto. O
matador de um brahmana também poderá ter tuberculose, enquanto quem rouba ouro poderá

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ter dentes malfeitos. Uma pessoa que rouba alimento morre de fome na próxima vida. Um
mentiroso se torna mudo em sua próxima vida. Quem rouba óleo renasce como barata e quem
rouba vegetais verdes vem como pavão.

Caso se roube substâncias fragrantes, se nasce como toupeira e roubar alimentos faz renascer
como rato.

Quem rouba frutas nasce como macaco, roubar animais faz vir como bode, roubar leite faz
renascer como corvo, roubar carne leva a ser abutre, e por roubar sal, se terá apenas roupas
rasgadas para usar na próxima vida. Cada um recebe de acordo com o que merece.

O Rei

O rei deve conquistar os inimigos e governar bem o reino de acordo com os ditames do
dharma.

Quem faz guirlandas colhe flores de uma árvore, porém nunca desenraiza a mesma ou a
destrói. Da mesma maneira, um rei irá cobrar impostos de seus súditos, mas o grau de taxação
não deve ser tão alto que depaupere seus súditos. O rei deve adorar Vishnu e servir a causa do
gado e dos brahmanas. Não deve desperdiçar seus bens com atividades que são perda de
tempo.

O rei deve tratar seus súditos como seus próprios filhos. Deve escolher sacerdotes, ministros e
servos que sejam sábios, bons e fiéis. Senão o reino certamente acabará em ruínas. O rei não
deve ficar perturbado se houver perigo. Deve encarar a adversidade com fortaleza e placidez.
O perigo passará. A lua desaparece durante um eclipse, mas não reaparece novamente?

Um rei nunca deve mentir. E nunca deve tratar seus servos insolentemente. Servos não ficam
felizes se forem xingados o tempo todo. Existem seis características que um rei deve ter. São
a iniciativa, bravura, paciência, inteligência, força e valor.

Deve-se tomar cuidado extremo para assegurar que os indivíduos certos sejam empregados
como ministros, guardas, sacerdotes e médicos.

Vratas

Um vrata é um rito religioso especial, realizado num mês específico, quando um nakshatra
específico estiver no céu ou num determinado tithi.

Por exemplo, no pratipada (primeiro dia da quinzena lunar) pode-se jejuar e orar ao deus do
fogo e ao deus da opulência. Isto garantirá prosperidade. No segundo dia da quinzena lunar
(dvitya) se ora a Yama, Lakshmi e Vishnu por prosperidade. O terceiro dia da quinzena lunar
(tritya) é para Shiva e Parvati e o quinto dia da quinzena lunar (panchami) de Vishnu. No
sexto dia da quinzena lunar (shashthi) se ora a Kartikeya e Surya, e no sétimo dia da quinzena
lunar (saptami) a Surya. O décimo dia da quinzena lunar (dashami) é marcado para Yama e
Chandra e o décimo primeiro dia da quinzena lunar (ekadashi) é reservado para orar aos
sábios. O décimo segundo dia da quinzena lunar (dvadashi) é de Vishnu, e o décimo terceiro
(trayodashi) para o deus do amor, sendo o décimo quarto (chatrudhashi) de Shiva.

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Shuklapaksha é a quinzena na qual a lua cresce; krishnapaksha é a quinzena na qual a lua
mingua. Portanto há dois desses tithi a cada mês, um no shuklapaksha e outro no
krishnapaksha.

O deus do amor é Ananga e determinado vrata se chama ananga trayodashi. Conforme


implica o nome, isto consiste em orar ao deus do amor no trayodashi tithi. Mas as oraçöes só
são feitas no shuklapaksha e o vrata continua por um ano inteiro. Isso traz esposa, filhos, boa
saúde e fortuna.

Outro vrata que gera boa fortuna se chama akhanda dvadashi. No mês de Agrahayana,
durante todo shuklapaksha, se vive apenas de cinco produtos (pancha gavya) que são obtidos
das vacas, e que são o leite, leitelho, manteiga clarificada, urina de vaca e excremento de vaca.
Depois se jejua no dvadashi tithi e se adora Vishnu. Durante os três meses subsequentes, faz-
se doaçöes aos brahmanas. Isto completa o vrata.

Outro vrata bem conhecido se chama bhismapanchaka. Inicia-se no mês de Kartika, no


ekadashi tithi do shuklapaksha. Primeiro se adora os antepassados, depois a imagem de
Vishnu é banhada e adorada. As oraçöes continuam desde ekadashi até purnima. No primeiro
dia, se coloca oferendas de flores aos pés da imagem; no segundo dia, sobre as coxas; no
terceiro dia, sobre o umbigo; no quarto dia, sobre os ombros; no quinto e último dia, sobre a
cabeça. Durante os cinco dias, o devoto tem que dormir no chão. Come excremento de vaca
no primeiro dia. No segundo dia bebe urina de vaca, no terceiro bebe leite, no quarto dia
leitelho, e pancha gavya no quinto dia. Se um devoto completar este vrata com sucesso,
todos seus desejos serão satisfeitos.

Talvez o mais famoso dos vratas é o shivaratri vrata. A ocasião é o chaturdasi no


krishnapaksha que vem entre os meses de Magha e Phalguna. O devoto jejua durante o dia e
fica acordado de noite.

Existe uma história sobre shivaratri. Costumava haver um rei dos nishadas chamado
Sundarasena. Sundarasena levou seu cachorro e foi para a floresta caçar. Mas não teve
sucesso, pois não encontrava animais. Tanto o dono, quanto seu cão estavam famintos e
sedentos. Não tinham alimento, e tampouco qualquer água para beber. Entraram num
arvoredo dentro da floresta e ali ficaram. Existe uma árvore chamada bilva que é sagrada a
Shiva. No arvoredo por acaso havia uma árvore bilva e tinha um shiva linga (imagem de
Shiva), bem debaixo da árvore. Sundarasena é claro que não sabia disso. Porém quando
entrou no arvoredo, a árvore bilva foi sacudida e algumas folhas caíram sobre o shiva linga.
Uma flecha caiu da mão de Sundarasena. E quando este se abaixou para pegá-la, sua mão
roçou contra o linga. Lembrem que Sundarasena havia jejuado por não ter nem alimento nem
água.

Sundarasena retornou para casa e no devido tempo morreu. Os mensageiros de Yama


chegaram para levar Sundarasena ao naraka. Mas os companheiros de Shiva também
chegaram e não permitiram que Sundarasena fosse levado ao naraka. O nishada havia orado a
Shiva no dia de shivaratri, mesmo se o fizera involuntariamente. Sundarasena e seu cachorro
foram levados até Shiva e ali viveram felizes para sempre. Tais são as virtudes do shivaratri
vrata.

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Outro vrata é no ekadashi tithi. Isso envolve simples jejuar. Reis como Mandhata observaram
ekadashi e seguiram conquistando o mundo.

Dentre diversos outros vratas que o Garuda Purana enumera, poderíamos mencionar o
bhudhashtami vrata. Este é observado no ashtami (bhudhavara). Há uma história relativa a
esse vrata.

Havia um brahmana chamado Vira que vivia na cidade de Pataliputra. Sua esposa era
Rambha, seu filho Koushika e sua filha Vijaya. Vira tinha um touro chamado Dhanapala.
Koushika tinha levado o touro para tomar banho no Ganga, quando chegaram uns vaqueiros e
roubaram o bicho. Koushika procurou em todos lugares por Dhanapala, mas não conseguia
encontrá-lo. Em sua busca, foi auxiliado por Vijaya. Irmão e irmã procuraram em todos
lugares, em vão. A busca tornou-os sedentos e foram beber água num lago. Ali encontraram
umas mulheres que estavam observando ritos religiosos em conecção com um vrata.

"Estamos com fome" disseram Koushika e Vijaya. "Por favor dêem-nos um pouco de alimento
para comer."

"Esperem um pouquinho só" responderam as mulheres. "Estamos observando bhudashtami


vrata. Porque não realizam também os ritos?"

Koushika e Vijaya observaram o vrata. Depois que haviam comido, começaram a voltar para
casa. De repente encontraram com os vaqueiros que disseram estar arrependidos por terem
roubado o touro. Dhanapala foi recuperado.

Mais tarde, Vijaya se casou com Yama. Koushika se tornou rei de Ayodhya. Vijaya descobriu
via seu marido Yama, que seus pais estavam sofrendo em naraka. Ela realizou budhashtami
vrata novamente e seus pais foram direto para o céu. Toda boa fortuna que Vira e sua família
gozaram foi devido a esse vrata.

Dinastias

Em seguida descrevem-se as dinastias solar e lunar. A dinastia solar deve sua origem a Surya,
filho de Aditi. O filho de Surya foi Manu e este teve Iksvaku. Foi nesta linhagem que nasceu
Rama do épico Ramayana. Não há histórias sobre os reis da dinastia solar no Garuda Purana,
meramente uma longa lista de nomes. Portanto vamos pular a lista inteiramente. Caso se
deseje saber sobre a dinastia solar, é melhor ler um dos outros Puranas.

O filho de Brahma foi Atri e este teve Chandra. A dinastia lunar deve sua origem ao filho de
Chandra, Budha. Nesta linhagem nasceram os Kauravas e os Yadavas. Mas novamente não há
histórias sobre os reis da dinastia lunar no Garuda Purana. Portanto também pulamos a longa
lista dos nomes.

O Garuda Purana então resume brevemente as histórias do Ramayana, Harivamsha e


Mahabharata.

Medicina

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Seguem-se muitos capítulos sobre ayurveda (medicina). Dhanvantari foi o originador do
ayurveda e o ensinou ao sábio Sushruta. São esses ensinamentos que o Garuda Purana
reproduz.

Existem cinco passos para qualquer tratamento médico. O primeiro se chama nidana. Isso
significa diagnóstico da doença antes dos sintomas terem se manifestado. Isso já engata em
purvarupa. Esse é o estágio onde os sintomas precoces da doença começam a aparecer. Em
seguida vem rupa, um estágio no qual todos sintomas aparecem. O quarto estágio é
upashaya. Este envolve o tratamento da doença por meio da medicina, dieta e outras
atividades. O estágio final do tratamento é samprapti. Este é o estágio da recuperação.

Existem muitos diferentes tipos de febre (jvara). A febre pode ser acompanhada por soluços,
vômitos, erupçöes na pele, perda de apetite, preguiça e sonolência. Outros sintomas são dores
de cabeça, dores no corpo, desmaios, insônia, delírio, suores e sede. Isso realmente é a parte
nidana da febre e dependendo dos sintomas, diferentes tipos de febre com suas causas são
discutidos. Segue-se uma seção sobre o nidana da pleurisia, tuberculose, problemas cardíacos,
cirrose, problemas de estômago, hemorróidas, lepra, vermes, reumatismo e outras moléstias.

Quais são os remédios a serem usados? Isso naturalmente depende da doença, suas causas e
da estação. Mais importante, depende se a doença é devido a um problema com kafa (flegma),
pitta (bílis) ou vayu (ar), ou uma combinação dos três.

Segue-se um manual de médicos, com remédios para diferentes doenças. Dentre os


ingredientes usados para fabricar remédios estão priyangu (semente de mostarda negra),
godhuma (trigo), pippali (pimenta), madhu (mel), bilva (uma fruta indiana), eranda (óleo de
rícino), sarshapa (mostarda), padma patra (folhas de lótus), kaksharah (lentilha conhecida
popularmente como khesari), palanka (espinafre), dadimba (romã), keshara (açafrão),
matulunga (um tipo de limão), haritaki (MYROBALAN???), panasa (jaca), draksa (uva),
kharjuna (tâmara), ardraka (gengibre), maricha (pimenta negra), himgu (assafétida),
saindhava (sal em pedra), ghrita (manteiga clarificada), tila (melado), takra (leitelho),
yashtimadhu (alcaçuz), trifala (uma mistura de três MYROBALANS???), ashvagandha (a
planta physalis flexuosa), nila (indigo), yavakshara (nitrato de potássio), sharkara (açúcar),
haridra (turmerique), lashuna (alho), rasanjana (um colírio), musta (fenogrego), shirisha
(mimosa), ila (cardamomo), chandana (sândalo), devadaru (um tipo de pinheiro), hastidanta
(marfim), laksha (LAC????), palasha (a árvore bulea frondosa), tambyla (folha de betel) e
lavana (sal).

Existe uma erva chamada punarnava. Quando pushya nakshatra está no céu, esta erva deve
ser esmagada e bebida com água. Isso assegura que cobras evitem a casa. Outra maneira de
cuidar da cobras é fazer uma imagem de Garuda com o dente de um urso. Se for usada, as
cobras nunca chegam perto do portador. A raiz da árvore shalmali também pode ser esmagada
e bebida com água se for preciso repelir cobras. Mas isso deve ser feito quando pushya
nakshatra estiver no céu. A raiz da lajjaluka (a planta sensitiva mimosa pudica) pode ser
colhida quando pushya nakshatra estiver no céu. Então se esmaga a raiz para extrair o suco e
tal sumo deve ser passado nas mãos. Isto assegura que se possa pegar cobras sem medo
nenhum. Se apesar disso, uma cobra morder a pessoa, o suco da trepadeira mahakala tratará
do veneno.

Talismãs

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Um kavacha ou talismã também tem grande utilidade em prevenir doenças. Um dos mais
poderosos talismãs é o vishnu kavacha. Este deve ser usado com a seguinte oração.

Estou orando ao grande Senhor Janardana e usando esse talismã para ser protegido contra
todas formas de doenças. Que Vishnu proteja minha frente; Krishna minhas costas; Hari minha
cabeça e Janardana meu coração. Que Hrishikesha proteja minha mente; Keshava minha
língua; Vasudeva meus olhos e Sankarshana meus ouvidos. Que Pradyumna proteja meu nariz;
Aniruddha minha pele; Vanamali minhas faces e Shrivatsa minhas partes inferiores. Possa a
chakra de Vishnu proteger minha esquerda e que a gada de Vishnu proteja minha direita. Que
Garuda me ajude em todos meus empreendimentos.

Varaha me protegerá dentro d'água, vamana no perigo, narasimha na floresta e keshava em


todo lugar. O Senhor Hiranyagarbha me dará ouro e o Senhor Kapila me dará metais. Vishnu
me protegerá de todos meus inimigos. Ele afastará meus pecados. Governará minha mente e
me concederá sabedoria e conhecimento.

Meditei em Vishnu e estou colocando este talismã. Agora posso viajar sem medo pela terra, os
elementos não podem me vencer. Os deuses estão comigo. Estou protegido contra rakshasas,
pisachas, estradas difíceis, florestas e afogamento. Estou protegido contra roubo, relâmpago,
mordida de cobra e doenças.

Os mantras que entram no talismã tem de ser preservados com grande segredo.

Cavalos e Elefantes

A arte de cuidar de cavalos é conhecida como ashvayurveda e a arte de cuidar de elefantes é


conhecida como gajayurveda.

Existem quatro tipos de cavalos - uttama, madhyama, kanishtha e adhama. Um cavalo


uttama tem quatro mãos de altura e sete e meio de comprimento. Um cavalo madhyama mede
três e meia mãos de altura e seis de comprimento. Um cavalo kanishtha tem três mãos de
altura e menos que seis de comprimento (porém mais que cinco). Um cavalo adhama mede
duas mãos na altura e cinco de comprimento. Cavalos adhama devem ser evitados.

Um cavalo que irá viver bastante tempo é conhecido por suas orelhas. Se amarrarmos
mostarda, manteiga clarificada, gergelim, assafétida e um pedaço de madeira num pequeno
paninho em volta do pescoço do cavalo, asseguramos seu bem-estar geral. Oleo de rícino,
turmerique, alho e sal em pedra, esmagados e misturados numa pasta, são um remédio eficiente
para feridas no corpo do cavalo. Se o bicho estiver muito magro, pode-se adicionar suco de
carne à sua dieta. Leite também pode ser adicionado, especialmente quando o cavalo está se
recuperando da doença.

Quaisquer remédios usados para cavalos também podem ser usados em elefantes. Mas a
dosagem para elefantes é quatro vezes a dose dos cavalos. Se um elefante fica doente,
alimentar brahmanas e doar jóias e vacas assegura o rápido restabelecimento. Também ajuda
colocar uma guirlanda em volta da presa do elefante e jogar sementes de mostarda nas quais se
tenha cantado encantamentos (mantras).

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Cerimônias Funerárias

O Garuda Purana frequentemente é recitado em cerimônias funerárias (shraddha). O motivo


é que contém todos mantras que devem ser cantados em tais cerimônias. Se os ritos forem
realizados segundo estes encantamentos (mantras), os antepassados são libertados de todos
pecados. Na ocasião da cerimônia, pindas (oblaçöes) são oferecidas aos antepassados mortos.
E o rito tem que ser repetido exatamente um ano após a data da morte.

Yugas

Existem quatro yugas (eras). Estas são satyayuga, tretayuga, dvaparayuga e kaliyuga.

Na satyayuga, dharma reina supremo. Há misericórdia pelas entidades vivas, doaçöes e


meditação. Brahmanas são reverenciados e dizem que o dharma tem quatro pernas na
satyayuga. Estas quatro pernas são a veracidade, doaçöes, meditação e misericórdia. As
pessoas vivem durante quatro mil anos nesta era.

A era seguinte é tretayuga. Os brahmanas são destituídos de sua supremacia pelos kshatriyas
e são eles que florescem e prosperam. Os vaishyas e os shudras continuam a reverenciar os
brahmanas. Porém o dharma tem apenas três pernas, já que não há mais tapasya.
Veracidade, doaçöes e misericórdia continuam a existir. As pessoas são devotadas a Vishnu e
realizam yajnas. Nesta era, os homens vivem durante mil anos.

Em seguida vem dvaparayuga. Agora o dharma tem apenas duas pernas. Os homens vivem
durante apenas quatrocentos anos. Mas os brahmanas e kshatriyas continuam vicejando.
Para trazer as mentes dos homens de volta à senda do dharma, um Vedavyasa nasce a cada
dvaparayuga. Este divide os Vedas e ensina aos homens as dezoito formas de conhecimento
(ashtadasha vidya). Estas são os Puranas, o dharma, shastras (textos sagrados), os quatro
Vedas, nyaya (uma doutrina), mimamsa (filosofia), ayurveda (medicina), arthashastra
(economia política), gandharva shastra (canto), dhanurveda (arte de lutar) e shadanga (seis
escolas de filosofia).

A última das quatro eras é kaliyuga, onde só resta apenas uma perna ao dharma. As pessoas
se tornam cruéis e más. Inveja, insatisfação, orgulho e violência encontram-se em todo lugar.
As pessoas ficam viciadas em mentir, matar e dormir. Não mais se reverenciam os Vedas e
ladröes tomam as cidades. Os próprios reis se tornam ladröes. Os brahmanas param de
observar vratas e se tornam piores que shudras. Opulência se adquire através de meios
antiéticos. Esposas não obedecem seus maridos. Ninguém adora Vishnu. Só existe uma
virtude na kaliyuga. Como o mal está em todo lugar, mesmo um pouquinho só de devoção à
causa do dharma rende dividendos apreciáveis. Tudo que se tem a fazer para obter imenso
punya é cantar o nome de Krishna.

Verdadeiro Conhecimento

Infelicidade provém do senso de "eu" e "meu". Enquanto esses sentimentos estiverem lá, o
verdadeiro conhecimento é impossível. Eliminá-los significa eliminar nosso ego. Se
pensarmos na ignorância como uma árvore, a semente e o tronco dessa árvore são formadas
pelo ego. Casas e terras são os galhos da árvore, esposa e filhos são galhos menores e
opulência material são as folhas da árvore. Papa e punya são as flores da árvore, e felicidade e

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infelicidade seus frutos. As pessoas se cansam da vida tumultuada e buscam conforto em baixo
da sombra da árvore. Mas isso é conforto e felicidade transitória. Verdadeira felicidade e
verdadeiro conforto advém quando reconhecemos que a própria árvore é uma ilusão.

Aqueles que são sábios cortam a árvore com o machado do conhecimento. São estas pessoas
que podem unir-se ao brahman e são pessoas assim que se tornam realmente livres. Enquanto
formos ignorantes, confundiremos o ser físico (jiva) com a alma (atman). O que realmente é
conhecimento? O lugar onde vivemos é uma casa. Aquilo que proporciona nutrição é
alimento. E aquilo que remove ignorância é conhecimento. Tudo o mais é inútil.

Uma pessoa que busca verdadeiro conhecimento medita conforme a seguir.

"Eu não sou o corpo físico. Sou o brahman luminoso. Para mim não há nascimento ou morte.
Sou o brahman luminoso. Não tenho conecção com a terra e o que há nela. Sou o brahman
luminoso, sou independente do ar, do céu e dos cinco elementos. Sou o brahman luminoso.
Não tenho moradia, mas estou em todos lugares. Sou o brahman luminoso. Não posso ser
cheirado. Sou o brahman luminoso. Não posso ser tocado. Sou o brahman luminoso. Não
tenho sentidos. Sou o brahman luminoso. Não tenho alento de vida. Sou o brahman
luminoso. Estou além da ignorância. Sou o brahman luminoso. Sou sempre puro, sempre feliz
e onisciente."

Aqueles que conseguem realizar este conhecimento são libertos dos laços mundanos. Apenas
os ignorantes continuam a renascer repetidamente sobre a terra.

Yoga é a união do atman com o brahman. Antes que essa união possa ser alcançada, a
inteligência, a mente e os sentidos tem que ser controlados e concentrados na meditação sobre
o brahman. Existem cinco técnicas do yoga. Estas são conhecidas como pranayama, japa,
pratyahara, dhyana, dharana e samadhi. Pranayama é o controle sobre a respiração,
enquanto japa é o repetido cantar de um mantra ou o nome de Vishnu. Pratyahara é o
controle dos sentidos. Dhyana é a meditação num objeto. O objeto de meditação pode ser o
brahman ou mesmo uma imagem de Vishnu. Quando o dhyana é contínuo e focalizado, se
torna dharana. Samadhi é o estágio final. Isto ocorre quando o objeto de meditação é visto
em todo lugar. Há um senso de completa união entre o atman e o brahman.

Há uma tremenda sensação de liberdade quando se obtém esse conhecimento. Sentimo-nos


como se antes estiveramos dormindo. Percebe-se que o atman não tem nada que ver com a
felicidade e infelicidade de uma vida mundana. Um fogo sem fumaça arde mais luminoso.
Uma vez que a fumaça das ilusöes é retirada, o atman brilha mais. Esse tipos de conhecimento
é bem superior a qualquer punya que se possa adquirir através de mil yajnas.

Aqui termina o purva khanda do Garuda Purana.

Suta e os Outros Sábios

Os sábios ficaram ligeiramente confusos. Disseram: "Romaharshana, remova nossa confusão.


Temos a impressão que uma vez que a pessoa morre, o atman reobtém um novo corpo físico e
nasce novamente. E isso acontece imediatamente. Também temos a impressão de que uma
vez que a pessoa morre, primeiro ela é levada a Yama e passa a sofrer por todos seus pecados.
É somente depois disso que o atman nasce novamente.

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Qual dos dois acima é o correto?"

Romaharshana replicou: "Permitam que eu relate a conversa que se deu entre Garuda e
Vishnu. Isso removerá suas dúvidas."

Perguntas de Garuda

Certa vez Garuda foi fazer uma volta ao mundo. Subiu ao céu, desceu à terra e ao submundo.
Mas sua mente não foi apaziguada, e ele estava muito deprimido. Era porque tudo que viu em
todos lugares foi infelicidade. Portanto retornou a vaikunthaloka, o local onde habita Vishnu.

Vaikunthaloka é um local muito agradável. Os companheiros de Vishnu são muito belos de se


ver e usam lindas roupas. Andam em vimanas. A deusa Lakshmi também estava lá com suas
companheiras. Vishnu estava ali sentado em Seu trono. Sua face estava calma, sorridente e
tinha quatro braços.

Garuda curvou-se diante de Vishnu.

"Como estás, Garuda?" perguntou Vishnu. "Que lugares visitaste?"

"Viajei por todos lados exceto à morada de Yama" respondeu Garuda. "Mas tenho muitas
perguntas para as quais quero ter respostas. Porque os seres nascem na terra? E porque
morrem? Que acontece com os sentidos quando as pessoas morrem? Para onde vão os
homens quando morrem? Porque se realiza uma cerimônia de shraddha? Quando o corpo
físico morre, o que acontece com o papa ou punya que a pessoa adquiriu? O que é a morte
exatamente? Por favor conta-me as respostas para estas perguntas."

Resposta de Vishnu

Vishnu respondeu algumas destas perguntas.

É importante ter um filho para que a linhagem possa continuar. Uma pessoa que não tem filho
vai para o inferno de punnama. É por isso que um filho é chamado de putra. Ele salva (trana)
seu pai e seus outros antepassados do punnama naraka, o inferno chamado put.

Quando uma pessoa morre, os mensageiros de Yama (yamaduta) vem para levá-la a Yama. Os
mensageiros de Yama são terríveis na aparência e portam paus e clavas em suas mãos. O
atman deixa o corpo físico morto e adota uma forma bem pequena, do comprimento de um
dedo. Nesta forma, a pessoa morta é levada à morada de Yama. As açöes realizadas durante a
vida da pessoa (karma) determinam o que irá acontecer com o morto dali em diante. Primeiro
é enviado para o inferno a fim de servir sua sentença pelos pecados cometidos. Depois, nasce
novamente. E como irá renascer vai depender do karma da vida anterior.

Para tomar conta dos diferentes tipos de pecadores, existem diferentes narakas.

O naraka mais importante é rourava, reservado para aqueles que mentem ou prestam falso
testemunho. O inferno é bem extenso e está cheio de grandes poços. Estes poços estão cheios
de carvão em brasa. O pecador é solto numa ponta do inferno e é forçado a andar até o outro

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lado. Naturalmente, fica continuamente caindo nos poços e se queima seriamente. Quando
chega à outra ponta do inferno, é liberado de rourava. Então vai para outros infernos se
houver pecados a redimir.

Outro inferno se chama maharourava. É coberto de areias escaldantes. Os fogos que ali
queimam são tão ardentes que machucam os olhos dos pecadores. As mãos e pés do pecador
são atadas e ele é projetado no inferno. Ali ele queima. Para compor sua miséria, o inferno é
populado por ferozes corvos, abutres, lobos, mosquitos e escorpiöes. Estes mordem-no,
picam-no e comem sua carne enquanto ele queima. Após diversos anos passados no
maharourava, os pecadores são liberados.

Diferente de rourava e maharourava, o inferno chamado atishita é extremamente frio. Ali não
existe luz e tudo está em total escuridão. O único calor que os pecadores conseguem gerar é
agarrando-se aos corpos uns dos outros. Geadas fazem a pele doer agudamente. E não há
alimento para comer. Para satisfazer sua fome, os pecadores acabam comendo a carne, sangue
e ossos uns dos outros.

O inferno chamado nikrintana é bem diferente. Ali os pecadores são amarrados em estacas e
seus corpos são fatiados com afiadas chakras. Este fatiar principia nos pés e depois vai
subindo pelo corpo até a cabeça e então novamente começa pelos pés. A parte trágica disto é
que os pecadores não morrem no processo. Pois assim que parte do corpo deles é fatiado e a
chakra se movimenta para cima, as partes fatiadas se juntam novamente. Assim um pecador
não morre, mas continua a aguentar a miséria. E assim continua por mais mil anos antes que
haja alguma liberação.

Um inferno chamado apratishtha é um local onde pecadores são turbilhonados girando,


girando até que comecem a vomitar sangue e seus intestinos saiam de suas bocas.

Asipatravana naraka é uma vasta extensão. A beira do inferno é extremamente quente e existe
um arvoredo no centro. O centro também é mais fresco. Os pecadores são soltos na beira e
sofrem tanto pelo calor que correm para o centro. Asi significa espada e patra é a lâmina de
uma espada. Vana é uma floresta. O inferno se chama assim porque as árvores do bosque tem
folhas tão afiadas quanto lâminas de espadas. Quando pecadores correm até o arvoredo, a
carne deles é retalhada pelas folhas das árvores. E o bosque está cheio de cães ferozes que
imediatamente comem a carne rasgada.

Em seguida temos o inferno chamado taptakumbha. Este tem potes (kumbha) quentes (tapta).
Os potes estão cheios de óleo escaldante. Os pecadores ali são pendurados de cabeça para
baixo dentro destes potes e assados. E enquanto são cozidos no óleo, abutres arrancam
quaisquer pedaços de seus corpos que continuem expostos.

Existem muitos infernos. Porém os principais são estes que acabamos de descrever - rourava,
maharourava, atisthita, nikrintana, apratishtha, asipatravana e taptakumbha.

Todos infernos localizam-se sob a terra. Os infernos são tão terríveis que um só dia ali parece
como cem anos na terra. A prisão em qualquer naraka é durante um período fixo. Quando
todos estes períodos em diferentes infernos terminam, é tempo do pecador voltar a nascer. E
como irá nascer é determinado pelo karma de sua vida pretérita. Quanto maiores os pecados

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que cometeu em sua vida anterior, mais inferior a forma na qual nascerá. E assim o ciclo do
nascimento, resgate e renascimento continua.

Recompensas por punya são obtidas no céu. Porém estas recompensas não são para sempre.
Uma vez que o termo tenha chegado ao fim, a pessoa tem que renascer.

Da Morte à Cremação

Quando uma pessoa morre, seus filhos primeiro banham o corpo e depois o vestem com uma
só peça de tecido. O menino é esfregado com pasta de sândalo. Os filhos realizam um rito
chamado ekoddishta. Isto dá direito a cremar o corpo morto. O rito pode ser realizado no
local da morte, na porta de casa, no quintal, no local onde o corpo do morto descansa, no
crematório ou na própria pira funerária.

Os filhos levarão junto gergelim, grama sacrificial (kusha), manteiga clarificada e madeira, para
o crematório. E a caminho do crematório, serão cantados hinos a Yama.

No crematório (shmashana) outro rito religioso é observado. Faz-se uma pira funerária. A
roupa que a pessoa morta está vestindo é rasgada em dois. O corpo é drapeado com metade e
o restante é deixado no shmashana para o fantasma (preta). Oblaçöes (pinda) são oferecidas
ao morto e manteiga clarificada é aspergida no cadáver. O corpo morto então é colocado na
pira funerária com a cabeça voltada para o sul.

O fogo é aceso com as palavras: "Grande Senhor Agni, leve esta pessoa para o céu."

Quando o corpo estiver meio queimado, canta-se mantras e joga-se gergelim e manteiga
clarificada na pira funerária. Essa é a hora de começar a chorar o morto. O fantasma se sente
bem ao ouvir esses sons de lamentação.

Depois que todo corpo foi queimado, os filhos oferecem oblaçöes ao morto e circumambulam
a pira funerária. Depois vão tomar banho. E enquanto tomam banho, devem continuar a dizer
boas coisas sobre o morto. Então se pega água nas palmas da mão em concha e se lha oferece
ao morto. Isto se chama tarpana (gratificação) e se faz uma, três ou dez vezes. As roupas
molhadas são trocadas quando termina o tarpana.

Não se deve ficar triste pela pessoa morta depois do tarpana e após ter sido queimado o
corpo. Tal lamentação meramente faz o fantasma (preta) ficar apegado a sua vida passada, e
não serve para nada. Se necessário, pode-se chamar sábios para discursar sobre a
transitoriedade do corpo físico e a inevitabilidade da morte. Isto dá conforto. Ao retornar
para casa do crematório, objetos sagrados devem ser tocados antes de mais nada.

Uma criança com menos de dois anos de idade não é cremada. O corpo morto é enterrado.

Uma esposa pode imolar-se na pira funerária de seu marido. Isto traz grande punya. Ela passa
tantos anos no céu quanto for o número de pelos em seu corpo. Ela até mesmo resgata seu
marido do inferno, não importa quantos pecados seu marido possa ter cometido. O marido
junta-se à esposa no céu. Este tipo de imolação sempre é recomendado exceto quando a
mulher por acaso estiver grávida. Assim fala o Garuda Purana.

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Existem alguns casos onde cerimônias de cremação não são realizadas, nem tampouco se
oferece aos mortos pinda ou tarpana. Tais pessoas tem que sofrer no inferno. Existem casos
de mortes devido a animais selvagens, fogo, cólera, veneno, mordida de cobra, relâmpago ou
suicídio inequívoco. Cerimônias funerárias em tais casos fazem mais mal do que bem. Um rito
religioso especial tem que ser organizado para tais mortes, chamado narayanavali. É somente
se isto for feito que a pessoa morta não terá de ir para o inferno. No caso de mordida de cobra
que leve à morte, a imagem dourada de uma cobra deve ser dada a um brahmana junto com
uma vaca. Depois o cadáver é coberto com folhas de palasha e outros objetos sagrados, após
o que será queimado. Este rito se chama sarpavali.

Um Ano Depois do Obito

Vishnu continuou recitando sobre ritos funerários.

Depois que o cadáver for cremado, há um período de dez dias de luto e impureza para os
filhos. Chama-se ashoucha. Durante esse período, os filhos tem de banhar-se três vezes ao
dia e não podem comer qualquer carne. Tem que dormir no chão. Fica proibido qualquer
estudo ou doação de donativos. Não é permitido pentear os cabelos. O alimento deverá ser
comido em vasilhas de barro ou colocado sobre folhas. Nenhuma outra vasilha deve ser usada.
Num desses dez dias, devem também jejuar durante o dia.

Todo dia, deve-se oferecer pinda à pessoa falecida. O mesmo artigo deverá ser oferecido a
cada dia. Também se deve oferecer água. Depois que a décima pinda for oferecida no décimo
dia, é hora dos filhos se purificarem. Devem sair do vilarejo para cortarem os cabelos, fazer a
barba e cortar as unhas. Depois disso, um brahmana se purifica tocando água, um kshatriya
tocando qualquer animal utilizado como carregador, um vaishya por tocar num arreio, e um
shudra por tocar uma vara. As cabeças de quem observou ashoucha e ofereceu pinda devem
ser raspadas.

Porém apenas aqueles mais jovens que o falecido é que raspam a cabeça. Isso parece
ligeiramente confuso. Estivemos falando de filhos observando ashoucha e oferecendo pinda.
Ekes tem que ser mais novos do que o falecido. A resposta é que outras pessoas sem ser filhos
também podem observar ashoucha e oferecer pinda. Tais pessoas são conhecidas como
sapindas do falecido. Quem são esses sapindas? Isso será explicado posteriormente.

Porque afinal se oferece a pinda? As oferendas de pinda de cada dia são divididas em quatro
partes. A primeira parte é apropriada pelos mensageiros de Yama. A segunda parte é usada
pelo preta para sobreviver. As duas partes restantes são usadas pelo preta para reconstruir um
corpo por meio do qual ele pode viajar à morada de Yama. A porção do primeiro dia
constituirá a cabeça. A porção do segundo dia constituirá as orelhas, olhos e nariz. E assim
por diante até que no décimo dia, o corpo está completo.

No décimo primeiro dia, é feita uma cerimônia shraddha. Essa é a primeira (adya) cerimônia
funerária, portanto é conhecida como adya shraddha. Um touro (vrisha) deve ser doado
nesse dia, caso em que a cerimônia se chama vrishotsarga. Quaisquer objetos queridos do
falecido devem ser doados no décimo primeiro dia. Convida-se e alimenta-se brahmanas pois
isto satisfaz o preta.

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Por um período de um ano, todo mês, no dia da morte, uma cerimônia shraddha continua a ser
feita. Depois uma cerimônia shraddha final, conhecida como varshika shraddha, é realizada.
Todas essas cerimônias são acompanhadas pela oferenda de pindas. Durante o período de um
ano, uma luz também é acesa fora da casa, para o preta.

Porque esse período de um ano é importante? O adya shraddha tem lugar no décimo primeiro
dia. Depois no décimo terceiro dia, os mensageiros de Yama chegam para levar o preta. Este
agora tem um corpo, graças às pindas oferecidas nos primeiros dez dias. Os mensageiros de
Yama agarram esse corpo e começam a arrastá-lo para a morada de Yama. Porém o caminho é
longo e leva trezentos e quarenta e oito dias para a jornada se completar. A jornada inicia no
décimo terceiro dia após o óbito. Portanto, quase um ano após a morte o preta finalmente
chega na morada de Yama. Durante esta longa jornada, o preta não recebe água ou alimento.
Vive de quaisquer oferendas que lhe forem feitas sob forma de pindas. Também se arrepende
de quaisquer pecados que possa ter cometido nesta terra, porque a hora de prestar contas se
aproxima.

Existem dezesseis cidades que é preciso atravessar a caminho da morada de Yama. Seus
nomes são Yamya, Souri, Nagendra, Gandharva, Shailagrama, Krouncha, Krura, Vichitra,
Vahvapada, Duhkada, Nanakranda, Sutapta, Roudra, Payovarshana, Shitadhya, Vahubhiti.
Entre as cidades chamadas Vichitra e Vahvapada, o rio Vaitarani tem que ser atravessado. Este
rio é terrível, suas correntes são feitas de sangue. Existem barcos para atravessar o rio, mas só
aqueles que doaram vacas na terra recebem permissão de atravessar por meio dessas
embarcaçöes. Os outros são arrastados pela corrente e sua carne rasgada em tiras por ferozes
aves.

Quando o preta finalmente chega à morada de Yama, é levado diante de Yama. Yama segura
uma danda (vara) numa mão e um pasha (laço) na outra. Sua tez é azul. Yama tem dois
rostos. Um é agradável e aparece aos bondosos, e outro é atemorizante e surge para os
pecadores. Yama decide, com base no karma passado, aonde o preta deverá ser levado.

Após ter se passado um ano, o preta chega à morada de Yama. Ele não é mais um preta mas
se torna um antepassado. O varshika shraddha realizado é um reconhecimento deste fato.

Vrishotsarga

Garuda disse: "Senhor Vishnu, por favor diga-me mais sobre vrishotsarga. Quem foi o
primeiro a realizar esta cerimônia?"

Vishnu contou-lhe a história de Viravahana.

Havia um rei chamado Viravahana que governava a cidade de Viradha. Viravahana era um
bom rei que governava conforme as normas da justiça. Uma vez o rei chegou ao eremitério de
Vashishtha e pensou que enquanto estivesse ali, poderia aprender algumas palavras de
sabedoria do sábio.

Viravahana disse para Vashishtha: "Ouvi tanto sobre os duros procedimentos de Yama que
estou apavorado. Por favor diga-me como poderei evitar de ir para o inferno."

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"Existem muitos caminhos para o dharma" respondeu Vashishtha. "Os sábios descreveram
estes caminhos. Porém doar um touro é o melhor deles. Uma pessoa morta que não
providenciar doação de um touro no seu décimo primeiro dia de falecimento, certamente irá
para o inferno. Porque não doas um touro? Escolha um touro que tenha cinco anos de idade e
doe-o com uma ou duas ou quatro vacas. Sabe o que aconteceu com Dharmavatsa?"

Viravahana não sabia, assim Vashishtha contou-lhe a história de Dharmavatsa.

Há muitos anos atrás havia um brahmana chamado Dharmavatsa que vivia na cidade de
Videha. Era devotado a Vishnu. O brahmana certa vez foi até uma colina para pegar um
pouco de grama sacrificial. Enquanto procurava a grama na floresta, quatro belos homens
vieram e pegaram o brahmana. Elevaram-no ao céu e começaram a carregá-lo para longe.
Eventualmente chegaram numa cidade com muitos portöes e palácios. A cidade era claramente
bem opulenta.

O brahmana não tinha muita certeza se isso era um sonho. Ou se tudo isso era uma ilusão.
Nessa altura, o brahmana foi trazido diante de um rei, que estava sentado num trono de ouro.
O rei ficou de pé ao ver o brahmana e começou a adorá-lo com toda sorte de oferendas.

"Hoje fui abençoado" disse o rei. "Eu te vi. Agora por favor levem-no de volta de onde o
trouxeram" instruiu os quatro belos homens.

Dharmavatsa ficou surpreso. "Só um minutinho" interrompeu. "Por favor daria para explicar
o que está acontecendo? Que lugar é esse e porque fui trazido até aqui? E porque estou
sendo levado de volta?"

"Gosto de ver aqueles dignos de serem adorados" respondeu o rei. "Tu segues o caminho do
dharma e és devotado a Vishnu. Foste trazido até aqui para que eu pudesse ver-te. Por favor
perdoa minha impertinência. Quanto ao resto da história, não posso contar-te. Meu ministro
te contará."

O nome do ministro era Vipashchit e instruído pelo rei, começou a relatar a história.

Numa vida anterior, o rei costumava viver na cidade de Viradha. Seu nome era Vishvambhara
e era um vaishya. Adorava os brahmanas, orava aos deuses, cuidava dos parentes e do gado,
fazia doaçöes e servia bem suas visitas. Junto com sua esposa, realizava muito bem os deveres
de um chefe-de-familia. Vishvambhara certa vez foi fazer uma peregrinação com seus amigos e
no caminho de volta, encontrou com o sábio Lomasha. Curvou-se diante de Lomasha.

"Vishvambhara" perguntou Lomasha, "de onde estás vindo? Estou muito contente por te ver.
És um bom homem."
"Pensei que meus dias na terra estavam contados" respondeu Vishvambhara. "Agora estou
velho. É hora de fazer algo para adquirir punya. Portanto minha esposa e eu fomos fazer uma
peregrinação com nossos amigos. Fomos a muitos tirthas e fizemos muitos donativos."

"É mesmo?" disse Lomasha. "Quais tirthas visitaram?"

Vishvambhara recitou uma longa lista de nomes. Depois disse: "Mas minha mente ainda
continua apegada às posses materiais. Por favor diga-me, ó sábio, que devo fazer?"

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Lomasha contou-lhe a história do sábio Narada.

Numa das vidas pretéritas de Narada, este nascera como filho de uma serva de brahmana.
Através do brahmana, Narada absorveu conhecimento sobre os shastras. Uma vez muitos
sábios vieram visitar o brahmana, e deles, Narada apreendeu muitas palavras mais de
sabedoria. Apreendeu a verdadeira natureza do atman e as virtudes de ser devotado a Vishnu.
Este era o verdadeiro conhecimento que mencionamos antes. Lomasha contou para
Vishvambhara a natureza desse verdadeiro conhecimento.

Isso apaziguou a mente de Vishvambhara. Porém Lomasha disse: "Adquiriste muito punya.
Contudo, penso que tudo isso é incompleto sem vrishotsarga. Doar um touro é tão bom
quanto realizar um sacrifício ashvamedha. Vá ao tirtha chamado Pushkara e ali doe um
touro."

Vishvambhara fez conforme indicado. Isto lhe trouxe tanto punya que em sua próxima vida
nasceu como um rei chamado Virapanchanana. O ministro disse que esse era o rei que
mandara trazer Dharmavatsa diante de si. Como gostava de se associar com homens bons, o
rei Virapanchanana fazia com que tais homens fossem trazidos diante dele para que pudesse
adorá-los. E quanto à bela e opulenta cidade, tudo isso era devido ao punya adquirido do
vrishotsarga. O ministro concluiu sua história. O brahmana foi levado de volta.

Tendo relatado a história de Dharmavatsa, o sábio Vashishtha pediu a Viravahana que


organizasse um sacrifício vrihotsarga. E assim fez Viravahana. E quando morreu, Yama o
enviou diretamente para o céu. Tais são as maravilhosas propriedades de vrihotsarga.

Santaptaka e os Fantasmas

Havia um brahmana chamado Santaptaka que havia perdido todo interesse no mundo material.
Vivia na floresta e realizava tapasya. Santaptaka decidiu que gostaria de fazer uma visita a
locais de peregrinação. Porém perdeu-se e acabou no meio de uma densa floresta. Era tão
densa que até mesmo aves não podiam voar dentro dela. Animais selvagens como leöes,
tigres, ursos e lobos vagavam por ela. Também era populada por rakshasas e pishachas.
Depois que Santaptaka havia viajado um pouco nessa densa floresta, chegou numa árvore
banyan. Um cadáver pendia da árvore e cinco fantasmas (pretas) estavam comendo o cadáver.
Os fantasmas eram semelhantes a esqueletos, porém seus olhos eram imensos. Não tinham
narizes. Com seus dentes e unhas, os fantasmas despedaçavam a carne e ossos do corpo
morto.

Assim que os fantasmas viram Santaptaka, vieram e pegaram-no. Dois agarraram suas pernas,
mais dois suas mãos, e o quinto pegou-o pela cabeça. Puxavam o brahmana e cada qual dizia:
"Eu vi ele primeiro. Vou comê-lo primeiro."

Os fantasmas ergueram-se no céu com o brahmana e começaram a discutir entre si, quanta
carne havia no corpo do brahmana. Santaptaka estava amedrontado e não sabia que fazer.
Portanto começou a orar para Vishnu. Vishnu naturalmente vem quando um devoto chama.
Mas em vez de interferir pessoalmente de maneira direta, chamou Manibhadra, o rei dos
yakshas. Pediu que Manibhadra adotasse a forma de um preta e lutasse com os outros
fantasmas pelo corpo do brahmana.

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Manibhadra atendeu o pedido. Instruído por Vishnu, adotou a forma de um fantasma
aterrorizante. Com suas pernas lutava com dois dos outros fantasmas, com suas mãos brigava
com mais outros dois, e com a cabeça golpeava o quinto. Seguiu-se uma luta terrível entre
Manibhadra e os outros fantasmas. No decorrer da luta, Manibhadra pegou o cadáver que
pendia da árvore banyan e desapareceu. Quando os fantasmas viram que seu alimento estava
sendo levado embora, tentaram perseguir o rei dos yakshas. Mas sem resultado.

Os fantasmas então retornaram para comer o brahmana. Mas graças a Vishnu, lembraram da
história de suas vidas passadas. Caíram aos pés do brahmana e disseram: "Tornamo-nos
pretas devido a nosso karma anterior. Nossos nomes são Paryushita, Suchimukha, Shighraga,
Rodhaka e Lekhaka."

Santaptaka ficou surpreso diante disso. Mas disse: "Como lembraram da história de suas
vidas passadas, por favor contem-me como viraram fantasmas."

A história de Paryushita é que certa vez este fora convidado por um brahmana para uma
cerimônia de shraddha. Mas o brahmana se atrasara. Após esperar muito tempo pelo
brahmana, Paryushita ficou com fome e comeu o alimento. Quando o brahmana chegou,
Paryushita lhe deu o que restava do alimento. Porém como Paryushita já havia comido um
pouco, o alimento estava contaminado (paryushita). Por isso ele fora amaldiçoado a tornar-se
um preta.

A história de Suchimukha era que uma mulher brahmana tinha ido a um tirtha chamado
Bhadravata. Junto com ela estava seu filho de cinco anos de idade. Suchimukha costumava
ser um kshatriya. Mas era um kshatriya mau. Lançou-se em cima da mulher brahmana e seu
filho e roubou todos seus pertences. Quando o menino de cinco anos tentou beber um pouco
d'água dum pote, Suchimukha pegou o pote e bebeu ele próprio toda água. O menino morreu
devido ao medo e à sede. Desvairada, a mulher brahmana se jogou num poço e cometeu
suicídio. Suchimukha se tornou um fantasma devido a este pecado. Sua boca (mukha) se
tornou pequena como uma agulha (suhi) de modo que tinha grande dificuldade para comer ou
beber.

A história de Shigraga era que costumava ser vaishya. Junto com um amigo foi para um país
distante comerciar. O amigo teve enormes lucros. Mas Shigraga perdeu todo seu capital. No
caminho para casa, chegaram a um rio. Enquanto seu amigo dormia com a cabeça no colo de
Shigraga, este lançou-o no rio e o matou. Depois apropriou-se de toda riqueza do amigo.
Retornou à casa e relatou para a esposa do amigo que este morrera assassinado por bandidos.
A boa mulher ficou tão arrasada que se imolou numa pira funerária. Quando Shigraga morreu,
tornou-se um fantasma devido a esse pecado. Shigra significa rápido e como havia
rapidamente fugido após matar seu amigo, ficou conhecido como Shigraga.

A história de Rodhaka era que costumava ser um shudra. O rei gostava de Rodhaka e lhe deu
cem vilarejos para governar. Rodhaka tinha um irmão. Mas seu amor pela riqueza era tanto,
que privou seu mano de toda propriedade. O irmão vivia na penúria. Os pais de Rodhaka
costumavam ajudar seu irmão em segredo e Rodhaka não gostava disso nem um pouco. Não
só os recriminava, mas também aprisionou e acorrentou-os. Os pais tomaram veneno na prisão
e morreram. O irmão mais novo mendigava para sobreviver. Mas eventualmente também

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morreu. Este pecado transformou Rodhaka num fantasma. Rodha significa obstáculo ou
prisão e como havia aprisionado seus pais, o fantasma veio a ser conhecido como Rodhaka.

A história de Lekhaka era que costumava ser um brahmana que vivia na cidade de Avanti. Era
empregado pelo rei como sacerdote. No templo havia imagens de deuses e deusas, cobertas de
jóias e ornamentos de ouro. Lekhaka não pode controlar sua cobiça e com uma ferramenta de
ferro, retirou todas jóias e ornamentos das imagens. Estas ficaram desfiguradas e o rei
resolveu que mataria o ladrão, mesmo se este fosse um brahmana. Esta resolução assustou
tanto Lekhaka que em segredo ele penetrou no palácio à noite e matou o rei com uma espada.
Depois fugiu com todas jóias e ornamentos, mas foi morto por um tigre na floresta. Como
resultado do pecado que Lekhaka cometera, tornou-se um preta. Lekhana significa escrever
ou marcar e como havia marcado as imagens, veio a ser chamado Lekhaka.

Depois do relato das histórias, Vishnu apareceu diante de Santaptaka e dos cinco fantasmas.
Os fantasmas foram perdoados. Seis vimanas desceram e levaram Santaptaka e os outros
cinco para vishnuloka.

Uma pessoa que lê esta história maravilhosa nunca se torna um fantasma.


Sapindas

Garuda perguntou: "Senhor Vishnu, contaste que os sapindas de uma pessoa morta tem
direito a realizar ritos funerários. Mas não contaste quem são esses sapindas. Quem são?"

Vishnu respondeu conforme a seguir.

Sapindas de uma pessoa morta são seus filhos, netos, bisnetos, irmãos, sobrinhos (filhos de
irmãos), e filhos destas pessoas. São eles que tem direito a realizar ritos funerários. Se
nenhum desses estiver disponivel, as esposas estão autorizadas a realizar a tarefa. E se
tampouco estiverem disponíveis as esposas, o rei terá de assumir o dever de realizar o rito
funerário.

Se uma pessoa sabe que não tem sapindas, poderá realizar sua própria cerimônia de shraddha
de antemão, isto é, antes de sua morte.

Babhruvahana

Havia um rei chamado Babhruvahana que governava no reino de Banga. Era um rei justo que
cuidava bem de seus súditos. Não havia pecadores em seu reino. Tampouco havia ladröes ou
moléstias.

Uma vez Babhruvahana foi para a floresta caçar. A floresta estava cheia de leöes e cervos e o
rei matou muitos cervos. Uma corça foi atingida por sua flecha e o rei a seguiu. No
processo, o rei se separou de seus soldados e companheiros. Sentiu muita sede e encontrou
uma lagoa onde poderia beber água. Mas Babhruvahana estava tão cansado que pensou em
descansar algum tempo. Amarrou seu cavalo numa árvore banyan e adormeceu sob a mesma.

Assim que o rei adormecera, um fantasma surgiu em cena, seguido por centenas de outros
fantasmas. Seus corpos eram como esqueletos e procuravam alimento para comer. Fizeram

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tal balbúrdia que o rei acordou. Viu os fantasmas e pegou seu arco e flecha e atirou neles.
Mas o primeiro preta nem se assustou e apenas ficou ali de pé.

Nisso, Babhruvahana perguntou ao preta: "Quem és? Porque te tornaste um fantasma?"

O preta retrucou: "Fui abençoado por encontrar contigo. Não mais continuarei fantasma.
Quem não teve cerimônia de shraddha após a morte se torna fantasma, bem como quem morre
de morte não natural. Esse é o motivo porque estou aqui. Porque não realizas uma cerimônia
funerária para os fantasmas? Isso nos libertará. Tens todo direito pois és o rei. Foi decretado
que o rei realizará ritos funerários para aqueles que não tem pais ou filhos."
Babhruvahana disse para o fantasma: "Primeiro conta-me tua história."

O fantasma disse que costumava ser um vaishya chamado Sudeva que vivia na cidade de
Vaidesha. Sempre adorava os deuses. Fazia doaçöes aos brahmanas. Nunca tinha recusado
visitas. Mas tudo isso não valia nada porque Sudeva não tinha filhos ou parentes que
pudessem realizar uma cerimônia shraddha para ele. Logo, Sudeva se tornou um fantasma.

Babhruvahana retornou para sua capital e realizou ritos funerários para todos fantasmas. Estes
foram direto para o céu. Sudeva deu a Babhruvahana uma valiosa gema como prova de sua
gratidão.

A História de Rama e Sita

Garuda perguntou: "Não compreendo como os antepassados aceitam as pindas oferecidas.


Como eles vem? Eles não tem corpos. Por favor explica isso."

Vishnu respondeu: "Em cada cerimônia de shraddha se convidam brahmanas. Os


antepassados entram nos corpos do brahmanas e assim compartilham as pindas. Permita-me
contar a história de Rama e Sita.

Rama e Sita tiveram que ir para a floresta por quatorze anos para assegurar que a promessa de
Dasharatha a Kaikeyi fosse cumprida. Dasharatha era o pai de Rama e Kaikeyi sua madrasta.
Kaikeyi queria ter certeza de que seu filho Bharata, em vez de Rama, se tornasse rei depois de
Dasharatha.

Na floresta, Rama soube da morte de Dasharatha e teria de ser feita uma cerimônia funerária.
Sita cozinhou o alimento e diversos sábios foram convidados para a cerimônia. Porém quando
o alimento ia ser servido, Sita não se encontrava em lugar algum. Rama esperou por Sita.
Mas esta não veio. Finalmente, Rama serviu os convidados pessoalmente. Quando os
convidados foram embora, Sita apareceu.

"Onde estavas?" perguntou Rama.

"Estava escondida" replicou Sita. "Fiquei com vergonha de aparecer diante dos convivas."

"Mas vergonha de quê?" indagou Rama. "O quê havia para envergonhar-se?"

"Vi teu pai, avô e bisavô sentarem-se com os outros convidados" respondeu Sita. "Como
poderia aparecer diante deles vestida com as peles que estava usando? Também fiquei

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envergonhada por estarmos oferecendo a esses grandes reis alimento tão pobre. Me escondi
por vergonha e esperei até que fossem embora."

É assim que os antepassados compartilham do alimento numa cerimônia de shraddha junto


com os convidados reunidos. Garuda ficou satisfeito ao ouvir tudo isso.

Hierarquia de Seres

Há uma hierarquia de seres. Todos seres vivos se dividem em quatro grupos. O primeiro
grupo consiste daqueles que nascem de ovos, o segundo dos que nascem do suor, o terceiro
das ervas e plantas, e o último dos mamíferos. Estes quatro grupos são conhecidos
respectivamente como andaja, svedaja, udbhijja e jarayuja.

Todo atman tem que nascer em cada uma dessas formas por vinte e um lakh de vezes, sujeito é
claro, às consideraçöes de papa e punya realizado em outras vidas. Isto é, um atman tem que
passar oitenta e quatro mil vidas na terra.

Dentre os mamíferos, os homens são superiores a todos outros e é muito difícil para um atman
nascer como ser humano. É só quando o atman adquiriu muito punya que nasce como
humano. Entidades vivas são os melhores de todos elementos, e entidades vivas inteligentes
são as melhores dentre todos seres vivos, sendo os seres humanos melhores dentre todos seres
inteligentes, e os brahmanas os melhores dentre todos humanos; brahmanas eruditos são os
melhores dentre os brahmanas, e brahmanas abençoados com conhecimento do brahman são
os melhores de todos brahmanas.

Doaçöes e Infernos

Garuda disse: "Ouvi que toda sorte de doaçöes devem ser feitas na época da cerimônia de
shraddha. Quais são os objetos destas doaçöes? Não explicaste nada sobre isso, exceto
quanto à doação do touro no caso de vrihotsarga."

"Vou contar-te algo sobre isso agora" retrucou Vishnu. "O primeiro objeto que deve ser doado
é uma sombrinha (chhatra). A caminho da morada de Yama, o preta tem que passar por
pedaços onde não há nenhuma sombra e o sol brlha mui intensamente. Se for doada uma
sombrinha, poderá ser carregada por cima da cabeça do preta enquanto é levado para a
morada de Yama. O preta sofre menos. O segundo objeto que deve ser doado é um par de
sandálias (paduka). Existe uma possibilidade de que o preta possa acabar no asipatravana
naraka. Lembra que ali existem areias muito quentes e os pecadores correm sobre as mesmas
até um bosque fresco no centro do inferno. Se doarmos sandálias, o preta não tem que andar
por cima dessas areias escaldantes mas passa a cavalgar um cavalo. O terceiro objeto que deve
ser doado é um assento (asana). Se doarmos um assento, o preta recebe suficiente alimento
enquanto é levado a Yama. O quarto objeto que deve ser doado é um pote d'água
(kamandalu). Se doarmos um pote d'água o preta não sofre falta de água para beber na
jornada. O quinto objeto que deve ser doado é roupa (vastra). Se for doada roupa, os
mensageiros de Yama não torturam o preta durante a jornada. O sexto objeto que deve ser
doado é um anel (mudrika). Se doarmos um anel, os mensageiros de Yama permitem que o
preta viaje em seu próprio ritmo. Não o apressam nem cutucam para que viaje mais rápido.
Os benefícios do que quer que seja doado acabam sendo repassados ao próprio preta. As
vezes chegam diretamente ao preta."

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"Não entendo como isso é possível" disse Garuda . "Como é que chegam até o preta?"

"Varuna aceita estas oferendas" respondeu Vishnu. "Depois então as entrega ao deus
Bhaskara. E Bhaskara leva esses objetos ao preta."

"Mencionaste diversos infernos" disse Garuda. "Porém mencionaste os nomes de apenas sete
principais. Qual o nome dos outros?"

Vishnu relatou os nomes dos outros infernos: tamisra, lohashanku, shalmali, kudnala,
kalasutra, putimrittika, sanghata, lohatoda, savisha, sampratapana, mahanaraka, kakola,
sajivana, mahapatha, avichi, andhatamisra, kumbhipaka e patana.

Juntos com os sete infernos mencionados antes, isso dá um total de vinte e cinco infernos. Na
verdade supostamente existem vinte e um infernos. Provavelmente quatro desses infernos
possuem dois nomes cada. Ou talvez o número dado em outras partes do Garuda Purana, ou
seja que haveriam oitenta e quatro lakh de infernos, é o número correto.

Fantasmas

Garuda indagou: "Mas às vezes fantasmas vem e perturbam as pessoas. Como conseguem
fazer isso? Como escapam do inferno?"

"Da mesma maneira que prisioneiros escapam da prisão" respondeu Vishnu. "Eles vem e
perturbam seus amigos e parentes."

Eles voltam para suas antigas casas e causam toda sorte de moléstias, tais como febre. Ficam
inegavelmente alegres quando pessoas ficam com dor de cabeça ou cólera. Quantos mais
amavam os entes queridos quando estavam vivos, mais dano lhes causam como fantasmas. É
na kaliyuga que temos todos esses fantasmas. Não havia tais fantasmas na satyayuga ou
tretayuga. Esses fantasmas causam discórdia entre amigos e matam animais e crianças."

"Como se sabe que fantasmas estão presentes?" perguntou Garuda.

"Os sinais são bastante óbvios" disse Vishnu. "Animais morrem e amigos brigam. Acontecem
repentinas catástrofes. Crianças se voltam contra seus pais, brahmanas são criticados e as
colheitas vão mal. Irrompem incêndios sem motivo algum. Marido e mulher brigam o tempo
todo. Tudo isso são sinais."

"Que se deve fazer quando há fantasmas presentes?" indagou Garuda.

"Já respondi diretamente esta pergunta" retrucou Vishnu. "Realize uma cerimônia funerária
para o fantasma. Porém também é bom consultar alguém versado nestes assuntos, um
adivinho ou astrólogo (daivajna).

Um fantasma é um pecador. E uma pessoa que sabe que esses fantasmas estão por aí e não faz
nada a respeito, também se torna pecadora por contaminação. Em sua próxima vida tal pessoa
nasce pobre, doente, sem meio de vida e sem ter filhos. Ou poderá até mesmo nascer como
animal. Se nada for feito a respeito dos fantasmas, estes mesmos percebem após algum tempo

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que não existe esperança de serem salvos assombrando as pessoas. A única esperança de
salvação para eles reside em retornar ao inferno e expiar seu tempo de penitência. Assim eles
retornam ao inferno e deixam de assombrar.

A pior forma de fantasma é um pishacha. São muito daninhos. Aparecem diante de seus
amigos e parentes em toda sorte de formas diferentes, como touros, cavalos e elefantes.
Fazem ter pesadelos. Assustam pessoas. As vezes pishachas aparecem e pedem comida.
Outras vezes, roubam comida e água. Se encontrar uma vaca ou touro que fala na língua
humana, saberá que é um pishacha. Amigos e parentes descobrem que estão sendo carregados
(pelo céu) a toda sorte de locais diferentes pelo pishacha.

Caso saibamos que um pishacha está presente, a primeira coisa a fazer é tomar banho num
tirtha. Em seguida devemos aguar uma árvore bilva. E finalmente deve-se realizar uma
cerimônia de shraddha, na qual brahmanas eruditos recebem grãos.

Vida

Garuda disse: "Senhor Vishnu, os Vedas dizem que seres humanos vivem por cem anos. E no
entanto observo que muito poucas pessoas de fato vivem por cem anos. Porque é assim?"

"Bem observado" respondeu Vishnu. "Os Vedas de fato dizem que os seres humanos vivem
por cem anos. Mas isso na realidade é o tempo de vida a que tem direito. O quanto de fato
vivem, na verdade depende dos pecados que cometem. Todos pecados levam a uma redução
na expectativa de vida. Pecados existem para tentar qualquer um que nasça como ser humano.
Durante os primeiros cinco anos de vida, há muito poucos pecados para tentar uma criança.
Mas dali em diante as tentaçöes começam e as pessoas sucumbem a essas tentaçöes. Este é o
motivo porque muito poucas pessoas vivem até os cem anos. Porque apenas cem anos? Se as
pessoas forem completamente virtuosas, poderão até se tornar imortais.

Um ser humano se chama de nenê até os dezesseis meses de idade. Dos dezesseis até vinte e
sete meses de idade, se chama de criança (bala ou balaka). Dos vinte e sete meses até cinco
anos de idade se chama de menino (kumara). Dos cinco até nove anos de idade se chama de
adolescente (pauganda). Dos nove aos dezesseis anos de idade se chama jovem (kishora).
Dali em diante, se torna um moço (yuvaka)."

O Corpo Humano

Vishnu em seguida descreveu o corpo humano para Garuda.

O corpo humano é formado pela pele (charma), sangue (rakta), carne (mamsa), gordura
(meda), medula (majja), ossos (asthi), e vida (jivana).

Os cinco elementos são a terra (kshiti), água (apa), energia (teja), ar (vayu), e o céu
(akasha)*. Cada um desses elementos entra na constituição do corpo humano. A terra forma
a pele, os ossos, as veias (nadi), o cabelo (roma), e a carne. A água forma partes como a saliva
(lala), medula e sangue. Energia faz surgir a fome (kshudha), sono (nidra), sede (trishna),
lassidão (alasya), e brilho (kanti). O ar produz a ira (raga), rancor (dvesha), modéstia (lajja),
temor (bhaya), e ignorância (moha). O céu faz surgir buracos (chhidra), gravidade
(gambhirya), audição (shravana) e mente (sattva).

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* nota da tradutora: akasha na realidade se traduz como o elemento éter, ou espaço.

Existem diversos sentidos ou faculdades (indriya). Os sentidos da inteligência (buddhindriya)


são os ouvidos, a pele, os olhos, a língua, e o nariz. Os sentidos da ação (karmendriya) são
objetos como as mãos, os pés, e a fala.

Existem dez veias ** no corpo. Seus nomes são ida, pingala, sushumna, gandhari,
hastijihva, pusha, yasha, alambusha, kuhu e shankini.

Existem dez tipos de ares vitais no corpo. Seus nomes são prana, apana, samana, udana,
vyana, naga, kurma, krikara, devadatta e dhananjaya.

O pelo corpóreo humano vem em número de três e meio crores e existem três lakh de cabelos
na cabeça. Os dentes são trinta e dois e as unhas vinte. Pala é uma unidade de medida.
Existem mil palas de carne no corpo humano, cem palas de sangue, dez palas de gordura, dez
palas de pele, e doze palas de medula. Assim dizem os estudiosos.

** nota da tradutora: na realidade estas veias não são veias no sentido fisiológico costumeiro;
melhor seria usar a palavra sânscrita original, nadis, ou condutos de energia sutil, mais ou
menos equivalentes aos meridianos da acupunctura. Quanto ao número de dez nadis aqui
mencionado, é incorreto. Os nadis são 72.000 ao todo, porém dez nadis são os principais em
termos do processo de elevação da kundalini até o topo da cabeça.

Existe uma correspondência total entre o corpo humano e o universo. A porção abaixo da
cintura corresponde ao submundo e a parte acima da cintura às regiöes superiores. O arco
transversal dos pés corresponde à região do submundo chamada tala, as canelas ao vitala, as
panturrilhas ao sutala, os joelhos ao talatala, as coxas ao rasatala e a cintura ao patala. O
umbigo corresponde a bhuloka (a terra), o estômago a bhuvarloka, o coração a svarloka, a
garganta a maharloka, a face a janaloka, a testa a tapoloka, e o topo da cabeça a satyaloka.
Todos quatorze mundos portanto se encontram no corpo humano.

*** Nota da tradutora: esta correspondência refere-se a chakras ou vórtices de


energia/consciência superiores e inferiores.

Epílogo

Garuda obteve as respostas a todas suas perguntas. Tocou nos pés de Vishnu e expressou seus
agradecimentos.

Então foi ter com o sábio Kashyapa e recitou o Garuda Purana. O conhecimento desse texto
sagrado então veio sendo repassado via a linhagem dos sábios, desde Bhrigu a Vashishtha, e
deste para Vamadeva, depois para Parashara, Vyasadeva, e finalmente Romaharshana.

Romaharshana contou-o para os sábios reunidos em naimisharanya. "Agora recitei para todos
vós tudo que aprendi. A pessoa que lê este Purana, ou ouve seu recitar, tem garantia de
felicidade neste mundo e no próximo. Este texto sagrado concede verdadeiro conhecimento
aos homens. Este é um Purana que deve sempre ser reverenciado. Finalmente, vamos
agradecer a Vyasadeva por ter passado esse conhecimento para nós."

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Embora Vyasadeva não estivesse ali fisicamente, os sábios registraram seus agradecimentos a
ele. Também agradeceram Romaharshana por seu esforço. Repetiam continuamente:
"Romaharshana, és de fato abençoado."

Nessa altura, o yajna que estava sendo organizado tinha terminado. Romaharshana deixou o
eremitério. E os sábios seguiram cada qual seu caminho separado.

Grande punya é adquirido por ler ou ouvir o Garuda Purana. Mas uma palavra de
advertência. Ao final do recital, o recitador deve receber algumas doaçöes. Senão, não se
adquire nenhum punya. O texto do Purana deve ser adorado. O recitador deve então ser
adorado com roupas, vacas, alimento, ouro e terras.

É claro que isso é desnecessário se lermos o Purana nós mesmos. Então, não gostaria de fazê-
lo?

* * *

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