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A Cultura Védica pela visão Vaishnava

Remontam a 1200 A.C, no Segundo milénio, época em que os arianos (populações do ramo Indo – Europeu) chegam
à Ásia Central e os nómadas colonizam a Índia do Norte, trazendo consigo a sua língua natal, o sânscrito, o sistema social
de divisão de castas (Brâmanes – sacerdotes, Kshatryas – guerreiros, Vaishyas – comerciantes, Sudras – trabalhadores
rurais e escravos e Hrijans – os intocáveis, desprovidos de casta hereditária e ostracizados pela sociedade) os seus feitos
heróicos de Batalha e a sua religião Védica que é narrada nestes textos e ainda influência na época contemporanea
milhares de Hindus.
A palavra Veda deriva do sânscrito e significa “conhecimento“ e trata-se da mais ancestral literatura sagrada do
Hinduísmo. Divide-se em quatro diferentes Vedas:
 O Rig-Veda (Sabedoria dos versos) contém 1028 versos e 10.589 (!!) hinos dedicados a 32 Deuses diferentes, o
que lhe confere um caráter notoriamente panteísta. Com uma estrutura métrica homogênea e singular, narram
essencialmente hinos cantados nos rituais de sacrifícios brahmins Hofri que dessa forma invocavam os Deuses.
 O Sama-veda (Sabedoria dos Versos) É principalmente conhecido pela métrica da sua poesia, pela sua coleção
de samans (ou cânticos) retirados do oitavo e nono capítulos do Rig-veda sendo destinados aos udgarti, os sacerdotes que
oficiavam o sacrifício do Soma (Deus que representa o liquido, a lua e a frescura, personificada através do cogumelo
alucinógeno - Amanita Muscaria cuja finalidade é provocar estados de euforia e êxtase.
 O Yajur-Veda (A Sabedoria dos Sacrifícios) Consiste na escritura de fórmulas sagradas, invocações e
encantamentos. Murmuradas pelos sacerdotes adharyu, encarregados de administrar os ritos sacrificiais. Narra ainda
invocações aos próprios instrumentos sacrificiais aos quais se atribuíam o simbolismo de aspectos do Brahman (a
divindade).
 O Atarva-veda (Sabedoria dos sacerdotes Atharvau aos quais se atribui a composição dos Vedas). É
exclusivamente um livro de encantamentos e poções mágicas para tudo, desde objetivos domésticos, profissionais,
amorosos e espirituais. O que confere um caráter singular aos Vedas é o fato de terem sido perpetuados, desde as suas
origens ancestrais através da via oral pelos brâmanes (detentores do conhecimento espiritual), (e no caso de Hare Krishna
através de uma sucessão de mestres) sem a sua essência Ter sido minimamente adulterada até aos nossos dias.
Os hindus acreditam piamente, que os Vedas foram revelados ou escutados e que não foram compostos por
humanos mas sim por Deuses, cujo poder se encontra na essência dessas palavras reveladas e, que essas palavras
deram origem à criação do Universo, apartir da sílaba sagrada Om (Pranava).
 Upanishads
São escritos Hindus esotéricos e místicos (compostos entre os anos de 200 a 400 ªC agrupados nos Aranyaka que
são as últimas partes dos Vedas, razão pela qual são denominados por Vedanta (conclusão dos Vedas).
Não obstante divergem bastante dos Vedas, visto que nos Upanishads as questões místicas e filosóficas assumem
um papel primordial, enquanto que nos Vedas as prioridades recaíam sobre os sacríficios rituais, que foram agora (nos
Upanishads) substituídos por elementos simbólicos.
São compilados numa época particularmente conturbada, em que se registra um forte crescimento demográfico na
Índia, que provoca o extraordinário aumento das cidades e o aparecimento de uma classe crescente de mercadores
(vaishyas), que contestam o monopólio arbitrário e religioso dos sacerdotes brahmins.
Surgem então novas religiões Hindus; o Budismo e o Jainismo, que contam com a adesão dos vaishyas, que optam
por seguir novos mestres espirituais tais como Sidhhartha Gautama 560 AC (vulgo Buda) e que provocaram uma enorme
transformação na vida religiosa da Índia, quando da sua divisão em múltiplos reinos Hindus (ex: Kakya, Maurya e Kusana).
Outro dos pontos divergentes, entre os Upanishads e os Vedas é o fato de os primeiros, ao invés de invocarem
Deuses Mitológicos externos ao homem (como faziam os Vedas), procurarem um Deus Interior, relegando os rituais de
sacrifício, concentrando-se na procura de uma força sagrada brahaman que vive em todas as coisas. (Tal como é aceite
pelos devotos de Hare Krishna, que o consideram um todo repleto de perfeição).
A filosofia contida nos Upanishads, via o reflexo da atman (a alma) atingida através de uma profunda e sublime
transformação íntima.
O principal objetivo inscrito nos Upanishads é o desejo de libertação (moksha) de modo a unir a atman ao Brahaman
(divinade) e alcançar a “meta” existencial. Estes princípios filosóficos servem de sustentáculo a alguns dos princípios
doutrinários da filosofia de Hare krishna.
 Mahabharata
A palavra Mahabharata deriva etimologicamente do sânscrito e significa grande épico ou grande história da dinastia
Bharata. Composto pelo chamado “Homero do Oriente” o sábio Vyasa, o Mahabharata possui mais de cem mil estrofes e é
provavelmente o mais longo poema composto em todas as eras.
A par com o Ramayana é considerado o por diversos especialistas uma das maiores obras primas do gênero épico do
sânscrito. Foi iniciado nos séculos IV ou III da era cristã, no entanto sofreu várias alterações até ao século VI D.C.
O tema central do Mahabarata, é a luta entre Pandavas e Kauravas pela posse de um reino no Norte da Índia. As
famílias rivais eram primas, descendentes dos dois filhos de Vyasa, Dhritarastra e Pandu. Embora Dhritarastra fosse o mais
velho em virtude do fato de ser cego foi Pandu quem subiu ao trono.
Pandu teve cinco filhos, Bhima, Yudhistira, os gémeos Nakula a Sahadeva e Arjuna, um guerreiro extremamente
habilidoso.
Dhritarastra teve nada mais nada menos do que cem filhos, dos quais Duryodhana, que se encontra
permanentemente a congeminar planos ardilosos.
Entretanto Pandu, morreu, razão pela qual o seu irmão o misericordioso Dhritarastra levou os filhos do seu falecido
irmão para o seu reino dividindo-o posteriormente por Yudshistra e Duryodhana. Este último não se conforma com a
decisão do seu oai e, no culminar de um ataque de inveja, ordena o exílio dos seus primos Pandavas no qual estes
permanecem treze anos, até terem a hipótese de conjugar esforços e reclamar o seu reino.
Segue-se uma guerra terrível e colossal que termina com a destruição de toda a raça, excepto de um sobrevivente
incumbido de prosseguir a continuação da dinastia Pandava. Esta guerra serve de cenário para a compilação do Bhagavad
Gita. Este escrito influenciou vários devotos hindús durante séculos e terminaram com a execução doa apêndices do poema
Harivansha, que discute a genealogia de Krishna.
 Shrimad Bhagavatam (Ou Shrimad Purana ou Puranas)
Narra escrituras sânscritas acerca dos primórdios do tempo o que os leva a serem considerados como uma parte
importante do espólio sagrado da literatura Hindu. A sua autoria é atribuída ao sábio rishi Vyasa (igualmente autor do
Mahabharata e de parte dos Vedas, apesar de vários investigadores terem concluído que estes foram compilados por
diversas mãos entre os séculos IV A.C. até ao século XVI d.C.
O Shrimad Bhagavatm divide-se em dezoito volumes que foram integralmente escritos em verso., os quais se
acreditava terem sido transmitidos forma sobrenatural ou divina. Assumem uma forma de diálogo o que sem dúvida se
reflete no Bhagavad Gita.
Cada Purana é dedicado a uma entre três divindades Hindus, o que lhe concede um caráter politeísta. Os seis
primeiros Puranas são dedicados a Brahaman, os outros seis a Shiva, sendo os restantes seis volumes do Shrimad
Bhagavatam dedicados a Vishnu ao qual é atribuído um maior enfoque.
O seu conteúdo abrangente distingue-os notoriamente dos restantes textos sagrados, dado que cobre toda vasta
gama de conhecimento humano desde, a astrologia, a religião, a história, a ciência humana, a psicologia, a astronomia e a
sociologia etc.
As suas cinco temáticas fundamentais são:
- A criação do Universo;
- A destruição e a recriação do Universo;
- A história da Humanidade;
- A genealogia dos Deuses;
- E a história das dinastias solares e lunares.
 Bagavad Gita (O cântico do Senhor): Trata-se de um poema sânscrito, que contém setecentos versos divididos
em dezoito capítulos em torno do diálogo entre Krishna e Arjuna. É reconhecido por muitos Hindus como o texto sagrado
mais importante e o a essência da sua fé (apesar de não se tratar de um shruta texto revelado por uma entidade divina mas
por um seu avatar). O Bahagavad Gita revela a forma de um diálogo entre Krishna e Arjuna, quando este se encontra em
pleno campo da batalha Mahabarata com os seus aliados a lutar contra dezenas de milhares de guerreiros, demónios e
gigantes liderados pelo seu pérfido primo Duryodhana.
O mais extraordinário desses guerreiros era sem dúvida alguma Arjuna cujas lendárias pripécias militares o tornavam
practicamente invencível.
O guia do seu “coche” (quadriga) era Krishna (esta rábula simboliza os cinco níveis de conhecimento humano e
representam a relação entre o corpo, a alma e a mente. Assim:
- Os cavalos representam os sentidos;
- As rédeas simbolizam a consciência;
- O condutor Krishna, personifica a inteligência;
- E o passageiro Arjuna encarna a alma.
De acordo com os ensinamentos de Krishna na generalidade a alma, não controla a inteligência, que fica
incapacitada de guiar a mente, que por sua vez não pode dominar os sentidos e permanece no nível corpóreo e irracional, o
que sucede a todos os mortais que não procuram através do bakti [serviço devocional, fé e meditação elevar a sua n Atman
(alma) a Brahaman (Deus)].
No momento crucial da batalha em que se escutavam os últimos toques de trombetas e o ar se encontrava
impregnado de medo. Arjuna fitou o exército inimigo e demonstro-se relutante em combatê-lo dado que neste se
encontravam vários membros da sua família. Vendo tal Krishna, apelou ao sentido de honra e de dever de Arjuna perante o
seu dharma (caminho da verdade) e de xátria (guerreiro) e incentivou Arjuna a lutar por uma guerra justa e inevitável,
explicando-lhe que ele era somente um objecto perante os seus desígnios e a sua vontade.
Perante a sua relutância em tirar a vida aos seus familiares Kauravas, Krishna respondeu-lhe que a morte não era o
final... , lançando as bases para a crença da transcendentalidade das almas. “O eterno do homem não se pode matar, o
eterno do homem não pode morrer. A alma do homem não nasce nem morre. As armas não podem cortar o fogo não a
pode queimar...” Após a definição de atman Krishna revela as formas de libertar a alma do mukti (cativeiro material) e dos
constantes ciclos de reencarnação, através de uma disciplina de acção (que não jazia num laxismo espiritual) , o ioga
(karma-yoga, jnana yoga e bhakti-yoga) e o controle do karma (reacção provocada por uma acção cometida no passado).
No Bahagavad Gita, Krishna professa também o ascetismo e renúncia ao desejo carnal e consequentemente material
para que o espiríto ascenda a níveis superiores (ex : sannyasa) e dado que uma” mente iluminada é sempre indiferente “ao
prazer e à dor, ao ganho e à perda”.
É tambem no Bhagavad Gita, que Krishna divide a devoção e serviço devocional (bhakti em sua honra) o que requere
várias renúncias ao mundo material e muita meditação.

Hare Krishna
 Biografia de Bhaktivedanta Prabuphada
O mestre espiritual, ou guru da Acarya da Sociedade Internacional de Consciência de Krishna, Abhay Chara Dee
Bhaktivedanta Prabhupada, nasceu em Calcutá em 1896, sendo filho de Gour Mohan Dee um comerciante de tecidos e de
Rajani. O seu nome bengali Abhay Charan, “significa aquele que nasce sem medo, porque se refugiou aos pés do Senhor
(na flor de Lótus). Nascido numa família vaisnava (devota de Vishnu) Abhay Charan teve uma atmosfera espiritual desde o
seu nascimento.
Mais tarde, Abhay Charan Dee participou activamente no movimento de não violência de Mohanda’s Ghandi. Em
1922, ano em que terminou os seus estudos na Universidade de Calcutá, o rumo da sua vida altera-se subitamente, devido
a uma entrevista com quem mais tarde viria a tornar-se o seu mestre espiritual, Sri Srimad Baktisiddhanta Sarasvati
Gosvami Maharaja, fundador da Gaudiya Matha, que multiplicou os seus centros espirituais entre 1867-1922.
Sri Marharaja, admirou a personalidade e os dotes de Shrila Prabhupada, e imcumbiu-o de propagar o Bhagavad Gita
no Ocidente. Em 1993, Swami Prabhupada, foi formalmente iniciado por Srila Sarasvati e, recebeu o nome de Abhay
Charanaravinda. Três anos mais tarde Swami Prabhupada o seu desejo de este transmita o Bhagavad Gita, pelos países
Ocidentais. Em 1947, o Instituto de Gaudía Visnava atribuiu-lhe o título de Bhaktivedanta, em virtude dos seus dotes de
erudito e da sua extrema devoção. Em 1959, torna-se sannyasa (totalmente ascético) renunciando completamente à vida
sexual e ao mundo material, até à própria familía, o seu nome anterior é então substituído pelo título tradicional de A. C.
Bhaktivedanta Swami.
Pouco depois muda-se para Vrdavana, aldeia em Krishna nasceu há cerca de cinco mil anos. Nesta aldeia, no
Templo Radha- Dmodara, traduz o canto primeiro de Shrimad Bhagavatam e outros ínumeros textos sagrados de sânscrito
para Inglês. Para além desta enorme tarefa, A. C. Swami continuou a publicação da revista inglesa “Back to Godhead“ a
qual fundou em 1994 ,distribuíndo-a ele próprio nas ruas e salões de chá de Nova Déli. Em 1965 embarcou num navio de
mercadorias com destino a Nova Iorque com os seus manuscritos, livros e quarenta rupias que eram toda a sua fortuna.
Estabelece-se nesta cidade onde vários jovens na sua maioria hippies, fascinados pelo canto do maha mantra Hare
Krishna, começaram a assistir às suas conferências acerca da recitação do Bhagavad Gita, numa tenda abandonada da
Segunda Avenida.
Tendo sempre prosseguido com a tradução dos textos védicos, Swami Prabhupada , preocupou-se sempre em
conceder uma abordagem rigorosa e fidedigna dos versos sânscritos originais, possível através da transliteração em
caractéres romanos e da tradução de cada palavra e a tradução literária, Desta forma garantiu a autenticidade das
traduções, conforme a mais profunda tradição vaisnava, mantendo a transmissão científica das escrituras, desprovida da
miníma interpretação pessoal.
No decurso dos doze anos, que se dedicou mais efusivamente à propagação do movimento Acarya da Sociedade
Internacional, Swami Prabhupada fundou practicamente em todo o mundo um centena de ashrams (templos) onde se
cultiva a vida espiritual e nos quais os díscipulos tem uma vida saudável seguindo o significado das Escrituras Védicas.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, foi considerado um dos mais importantes mestres da filosofia védica, o que certamente
não é alheio ao fato de ter publicado e traduzido para Inglês numerosas obras védicas essenciais, das quais se destacam
“O néctar da Devoção”, “O Bhagavad Gita” , “O Shrimad Bhagavatam”, “O Livro de Krishna” etc.
Swami Prabhupada, morreu a 14 de Novembro de 1977, em Vrdavana no templo de Sri Sri Krishna Balarama, tendo-
se revelado um mestre excepcional devido ao profundo conhecimento alcançado através de uma sucessão de trinta e dois
mestres espirituais, cujo primeiro foi o próprio Krishna e, em virtude da expansão espantosa do conhecimento na sociedade
Ocidental em apenas onze anos.
 A Propaganda em Hare Krishna
A propaganda Hare Krishna em Portugal que ainda se encontra em fase de expansão consiste essencialmente no
Canto dos Mantras, que per si emanam uma vibração sonora transcendental, dado que são os santos nomes do Senhor
Supremo” Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.” em
locais públicos tais com a Rua Augusta. Vários devotos iniciados (prabhu) distribuem panfletos esclarecedores acerca do
Movimento e da Filosofia da Acarya – Sociedade Internacional da Consciência de Krishna.
Vários livros editados pela (BBT-Bhaktivedanta Book Trust, implantada em Londres, Paris, Nova York, Bombaím, Los
Angeles, São Paulo e Miami) são vendidos pelos devotos aos transeuntes por uma quantia praticamente simbólica. As
receitas provenientes dessa venda revertem parcialmente para a manutenção do ashram (templo) e, para a compra de
alimentos para confeccionar prasadam (alimento sagrado) destinado aos Sem Abrigo uma outra indubitável forma de
propaganda, para além de ser uma forma perfeita de aliviar o Karma. Todas as Segundas e Quartas Feiras, os devotos
abandonam o seu ashram na Rua Dona Estefânia Nº 91 e, dirigem-se para Santa Apolônia e Mouraria, onde distribuem
prasadam. Todos os restos de comida, são ainda dados aos peixes do Rio Tejo.
Propagação do Mantra Hare Krishna para o Ocidente. Na sua primeira vinda aos Estados Unidos, em pleno tumulto
cultural da década de sessenta, Swami Prabhupada, logo cativou os corações e as mentes dos hippies de Nova Iorque e
São Francisco com o cantar do Mantra em canções Hare Krishna. No curto espaço de três anos, Prabhupada viajou para
Londres e em 1971 enquanto os ex- Beatles John Lennon e George Harrison gravaram o Mantra em canções tais como “
Give peace a chance”, “ My sweet Lord “, “ Hare Krishna Mantra “, “ Living in a material world” e “ All things must pass“.
Por essa altura atingiu-se o expoente máximo da propaganda, já centenas de pessoas já tinham ouvido o Mantra e a
Sociedade Internacional para a Consciência Krishna, formada em NovaYork, e já se tinha sido expandido para os restantes
Continentes. Em 1965, aos setenta anos Prabhupada viajou desde Calcutá até Boston, a bordo do cargueiro Jaladuta,
tendo chegado ao Cais da Commonwealth a 14 de dezembro de 1965.
A sua missão era essencialmente, propagar o conhecimento de Krishna – Bhakti (Amor por Krishna) ao “adormecido”
povo Americano (tal como prometeu ao seu mestre espiritual Sarasvati Maharaja).
Após desembarcar nos Estados Unidos, com quarenta rupias, o equivalente a oito dólares, durante o seu primeiro
ano nos EUA permaneceu com uma familía em Butler e mais tarde com um Indiano professor de yoga, somente mais tarde
com a ajuda de alguns amigos, alugou um pequeno aposento no alto de Manhattan e iniciou a sua expansão da
Consciência Krishna.
No Verão de 1966 encontrou um pequeno espaço mais adequado à propagação do maha mantra Hare Krishna.
Nesse ano conheceu Harvey Cohen, que lhe ofereceu como residência um pequeno sotão, frequentado por artistas,
localizado no Bowery, no Baixo Manhattan. Neste sotão, um pequeno grupo de jovens boémios juntavam-se a Prabhupada
aos serões das Segundas, Quartas e Sextas Feiras para cantar o Mantra Hare Krishna e assistir às recitações do Bhagavad
Gita. Foi nesta altura que se deu em concreto, a Criação da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna.
O reduzido número de convidados de Swami Prabhupada tinha como temas de interesse, o pacifismo, a
macrobiótica, drogas, música e meditação espiritual razão pela qual são associados a movimentos contraculturais em voga
na época.
Alguns meses mais tarde, alguns seguidores de Prabhupada concederam-lhe um local mais propício para residir e
propagar os nomes do Senhor. A nova instalação na Segunda Avenida, no Lower East Side, encontrava-se lotada de
hippies, possuía um apartamento para Srihla Prabhupada no andar de cima e uma pequena loja no piso térreo, que foi
usado como templo.
Com o decorrer de três semanas a loja de Swami Prabhupada encontrava-se três noites por semana repleta de
jovens, que não encontravam no mundo material um significado mistíco para a sua existência. Gradualmente a pequena loja
obteve a aparência de um templo dado que os visitantes enchiam as paredes de quadros, tapeçarias etc ; e onde cantavam
e dançavam kirtanas (cantos congregacionais) que os transportavam para outra dimensão espiritual livre de ansiedades
materiais. Um vasto número de pessoas concluíu que o canto do mantra Hare Krishna era uma ótima forma de meditação.
Em Setembro de 1966, Prabhupada iniciou os seus primeiros devotos Nova-Iorquinos que fizeram o voto de cantar o
mantra pelo menos 1728 vezes por dia o que perfaz 16 voltas numa japa (terço). Foi exatamente nesta altura que o grupo
de Prabhupada começou a imprimir e a distribuir diversos convites e panfletos tais como o seguinte:
Pratiquem a Consciência de Krishna. Expandam a vossa consciência praticando a vibração sonora transcendental:
- Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
Em Dezembro desse mesmo ano o Movimento Hare Krisha registou o apogeu do seu reconhecimento público com a
saída do LP em que Prabhupada cantava o mantra com os dois Beatles John Lennon e George Harrison (Este membro dos
Beatles tornou-se mesmo um devoto de Krishna e contribuiu muito para a propagação da Acarya no Ocidente, chegando
mesmo a oferecer ao Movimento Hare Krishna o Bhaktivedanta Manor em 1973 e uma Quinta de sete hectares nos
arredores de Londres para serem usadas como templos) que levou milhares de pessoas ao parque de Tompkins Square
para escutar os Kirtanas de Prabhupada.
Centenas de pessoas, provenientes de diferentes estratos sociais participaram uns somente como observadores
outros de forma activa, dançando tocando instrumentos no chamado “ Festival do Amor “ aos Domingos à tarde em que
eram recitados mantras e o Bahagavad Gita e oferecido um banquete espiritual. Este festival perdura até aos nossos dias
em todas as cidades onde a Acarya se encontra implantada.
O movimento Hare Krishna rapidamente despertou o interesse dos jornais e em 9 de Outubro de 1966, o New York
Times, descrevia a forma de propaganda de Hare Krishna nas ruas: “Sentados sob uma árvore no parque de Lower East
Side e ocasionalmente dançando, ontem à tarde seguidores de um Swami Hindu repetiram por duas horas uma canção
composta por dezasseis palavras.Eram acompanhados por címbalos, tamborins, sinos e um pequeno harmônio...”.
Simultaneamente outro jornal de elevada tiragem “ The East Village Other”, testemunhava o sucesso de Prabhupada em
convencer a audiência mais dificíl e insolente, os viciados em ácido lisérgico e em erva e os boémios diletantes de que ele
sabia realmente qual o verdadeiro caminho para chegar a Deus que era mais doce do que o ácido, mais barato do que a
erva e que não embriagava os sentidos.
Em 1967 a Acarya volta a expandir-se devido à abertura do Templo Radha-Krishna no centro de Haigth Asbury em
São Francisco, que rapidamente se tornou o lar de milhares de hippies desnorteados, constituindo uma espécie de asilo
espiritual a jovens desesperados e inquisitivos muitas vezes viciados nas drogas em voga na época, como por exemplo o
LSD. O sucesso de Prabhupada em reconverter estes jovens foi tal que em breve vários médicos e polícias impotentes
perante a forma como tratar esses jovens problemáticos os enviavam ao próprio Prabhupada para estes os tratar e lhes
devolver o seu rumo.
No Domingo de 1967 ocorreu um dos maiores eventos que muito contribuiu para popularizar o Movimento Hare
Krishna: O grande concerto com vários conjuntos do chamado New Wave: Moby Grape, Janis Joplin, The Greatful Dead,
Jefferson Airplane etc contando ainda com a participação do guru do ácido Timothy Leary, actuaram no salão de danças
Mantra Rock, no Estádio de Avalon.
Neste concerto Prabhupada, recebeu um assento de honra e, foi apresentado por um dos líderes da Beat Generation
(conjuntamente com Jack Kerouac, William Bourrough’s). Allen Ginsberg que explicou os benefícios do mantra, para os
jovens que sentiam perturbações devido ao fato de tomarem LSD. Ginsberg (o autor de Howl) assistia regularmente às
sessões musicais noturnas no templo e no Parque de Tompkins Square, procurando uma base teológica que lhe
concedesse algo mais substancial e afirmou tê-lo encontrado ao cantar Hare Krishna e, Shrila Prabhupada, cuja serenidade
e humildade exercia nele um fascínio pessoal.
Dois anos mais tarde em 1969, deu-se um novo concerto na Ilha de Wight, no qual participaram Bob Dylan, Joe
Cocker, Jimmy Hendrix e os Mody Blues e, no qual os devotos de Prabhupada, entre os quais se destacou a cantora
Yamuna que tocaram e cantaram o maha mantra Hare Krishna, no intervalo antecedente à atuação de Bob Dylan.
Meses mais tarde os devotos de S. Francisco, Nova Iorque e Monterreal começaram a sair às ruas com os seus
tambores de barro (mrdangas) e sinos (à semelhança do que sucede em S.Paulo no inicío do ano) para diariamente cantar
o maha mantra Hare Krishna. Com o passar de alguns tempos, abriram-se templos em todo o Ocidente e as pessoas de
todo o mundo ouviam o cantar de Krishna. Atualmente a Acarya (S.I.C:K) não se encontra num período de expansão e
reconhecimento público semelhante ao dos anos sessenta, no entanto O Festival dos Crentes, realizado na Índia e as
procissões até ao Templo de Jaganaf e de Thri Mai Poura congregam ainda milhares de devotos muitos deles provenientes
do Ocidente, onde o incansável Swami Prabhupada, propagou com êxito a doutrina do Senhor Supremo Krishna.
 Princípios teológicos e prácticas religiosas da Acarya –Sociedade Internacional da Consciência de Krishna
Krishna (ou Syamsundara, Govinda, Bhagavan, Ramayana, Chaitanya Maphrabu, Vasudeva...) é como já foi dito o
oitavo avatar de Visxenu enviado à terra para salvar o Mundo. Surgiu (não nasceu, não é material há cinco mil anos em
Vrdavana, sendo “filho” de Vasudeva e Devaki, que faleceu precocemente tendo sido criado pela sua bondosa madrasta
Yasoda. Foi o único sobrevivente dos filhos de Vasudeva e Devaki à ira desmesurada do se tio Kamsa, que segundo uma
profecia iria ser morto por um dos filhos da sua irmã e como tal resolveu tentar alterar o curso do seu destino matando-os à
nascença. Krishna é considerado pelos devotos da Acarya (que em Português se pode traduzir para aquele que ensina a
Consciência de Krishna) o Supremo Atrativo , o Ser mais sapiente do Universo, aquele que conhece todas as coisas e sabe
como determinar a sua essência, o mais belo, o mais poderoso e o mais famoso o que faz com que todas as qualidades
existentes no Mundo, tais como a bondade, o prazer, a inteligência, a serenidade, a força e o amor (Krishna encarna
conjuntamente com Srimati Radharani a sua gopi predileta, a concepção perfeita do amor e do erotismo) sejam uma
emanação dele próprio, visto que ele é a fonte de tudo.
Os devotos da ISKON ,chamam-lhe o Supremo Atractivo pois acreditam que toda a Humanidade se sente
(in)conscientemente atraída por ele, até um homem ambicioso e sem escrúpulos que tem como único objetivo ser poderoso
se sente atrído por Krishna levando-o a tentar igualar-se a ele. Em suma todos aqueles que querem ser ricos, felizes,
famosos, belos, bons, sentem-se atraídos por Krishna visto que estas qualidades partem de si.
Krishna – A Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus e, receptáculo e fonte de todo o prazer (como lhe
chamava Kunti, mãe de Arjuna) é ainda visto pelos seus devotos como o maior cientista de todos os tempos, porque tem
um conhecimento perfeito, infinitamente superior ao de qualquer humano (sempre incompleto) o que o impossibilita de
ensinar a verdade dado que os seus sentidos são imperfeitos. A ignorância, só pode ser atenuada pelos ensinamentos de
um mestre espiritual (aquele que recebeu o conhecimento divino diretamente dos Vedas) que tem como função ensinar
somente sobre Krishna, que é Uno e como tal cobre todo o tipo de conhecimento científico e universal.
De acordo com as escrituras do Bhagavad Gita (a bíblia do Movimento Hare Krishna), a água, a terra, o fogo são
energias de Krishna. O Homem ao longo da sua existência depara-se com oito elementos materiais: terra, água, fogo, ar,
éter , mente, inteligência e falso ego, que vão evoluindo progressivamente até que o homem toma consciência da ahankara
(falso ego) e se apercebe de que não é o corpo, a matéria mas sim a alma. Todas elas são feitas apartir de Krishna mas
não são Krishnas segundo a crença da filosofia mayaveda (impessoalista) Krishna está em tudo, porém não pode ser
adorado através de qualquer coisa proveniente de uma energia ilusória (maya) é necessário conhecê-lo e saber de que
forma se desenrola o processo da sua manifestação. O poder de Krishna é ilimitado pois como Prabhupada afirmou: “Ele é
a totalidade completa e, ainda que dele emanem muitas unidades completas permanece pleno”.
 Yoga (Controle dos Sentidos)
É o elo de ligação entra a Alma e a Super Alma, entre Krishna o yogésvara (senhor da yoga) e os mortais. Segundo
Krishna afirmou no, existem três tipos de disciplina de acção fundamentais, para obter a Bhagavad Gita perfeição espiritual.
O primeiro seria o Karma yoga, ou seja devemos controlar as nossas ações presentes para que os seus efeitos nefastos
não venham a abater-se sobre as nossas cabeças no futuro. O segundo, Jnana yoga, trata-se acima de tudo, uma disciplina
do conhecimento, através da qual se procura uma libertação assente no ascetismo, renúncia e abstenção e um abandono
contemplativo do mundo propocionado por um inigualável êxtase. O terceiro, o mais praticado pelos devotos Hare Krishna é
o Bhakti yoga, que consiste em adorar humildemente a Deus, que por seu turno "concede" uma elevação espiritual ao
devoto que lhe permite transcender as ligações terrenas.
O bhakti traduz-se numa ardente devoção, patente no amor dualista incondicional de um devoto pelo seu Deus. A sua
prática atingiu o expoente máximo entre 500 e 1500 d.c no Sul da Índia, tendo-se tornado um culto abrangente a todas as
castas, sexos e idades, excluindo o brahamin como o demiurgo exclusivo. Antigas práticas de yoga, como por exemplo o
hatha-yoga, dhana yoga estão em permanente declínio pois as suas regras extáticas e rígidas não se adaptam
minimamente ao modo de vida das sociedades materialistas contemporâneas, onde a grande maioria da população descura
o conhecimento espiritual e a forma de elevar a alma (o único elemento imutável do homem) ao longo das diferentes
reencarnações. O sistema de yoga é utilizado para a procura de dos princípios espirituais existentes neste mundo material,
sendo o único processo de atingir o êxtase é pensar constantemente em Krishna e meditando sobre si no coração, através
de um amor profundo que permita trazê-lo sempre na alma e no espírito no e amá-lo através das cinco formas directas de
devoção, como mestre, como Sublime Supremo, como amigo, amante e filho. O movimento Hare Krishna revela uma
devoção singular, pois ama Krishna como um filho, pois preferem servi-lo desinteressadamente do que pedir-lhe
constantemente benesses pessoais, e encontrar na sua infinita misericórdia um refúgio da consciência para as suas más
ações.
Somente um sanath (uma pessoa santa pode pensar em Krishna, dentro do seu coração e tem a capacidade de
entrar em samadhi (transe) o estado de perfeição da yoga.
 Mantras
Perante a prática impossibilidade de " seguir " actualmente o bhakti yoga, os Mantras Védicos, especialmente o Maha
Mantra , Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare são a
única forma de atingir a auto-realização perfeita nesta era de discórdia e (re) destruição são uma constante. Na presente
época só podemos atingir a fase de renovação brahabhuta (entendedor do espírito e de Deus) aproximando-nos de Deus
Krishna atravessando diferentes fases progressivas de conhecimento da nossa vida, fase corpórea, a fase mental, a fase
intelectual e a fase espiritual, a única que nos permite vislumbrar a alma e o semblante do Deus Supremo, através do
cântico dos Mantras. O maha mantra Hare Krishna é considerado a fórmula mais sublime para o aperfeiçoamento da
consciência transcendental de Krishna que todos os seres vivos tem no entanto devido ao contacto permanente com a
matéria ao longo de séculos, esta consciência não se encontra desperta (objetivo primordial do Movimento Hare Krishna);
mergulhando no contacto com a maya (a energia ilusória, um mero simulacro do real). Esta ilusão a maya (existente desde
a criação do homem) é visível através do controlo arbitrário que o homem tente exercer sobre a natureza, enredando-se e
tornando-se inconscientemente escravo dela.
De acordo com a filosofia Hare Krishna, o maha mantra é uma vibração transcendental susceptível de eliminar todos
os receios dos corações humanos, elevando-os até à plataforma espiritual, o que faz com que os devotos não tenham de
compreender o significado exacto do mantra por via de especulação mental ou intelectual. Cantando o mantra o espírito
superior apresenta oito êxtases transcendentais: mutismo, transpiração, arrepio dos pêlos do corpo, tremor, deslocação da
voz, moleza corporal, choro em êxtase e transe. No entanto a nível geral a reacção mais comum é a vontade irresistível de
dançar Kirtanas e cantar o mantra.
A palavra Hare, significa energia do Senhor, sendo Krishna e Rama as formas de o devoto se dirigir ao próprio
Senhor que são igualmente designadas por prazer supremo ao, qual invoca para proteger e elevar a sua alma.
 As três formas da Natureza
Conforme deixou explícito Prabhupada, existem três modalidades da Natureza: A primeira a Paixão, identifica-se com
o corpo material e com a satisfação dos sentidos. A Segunda é a Ignorância é visível no reino animal onde a existência de
Deus é desconhecida (ex.uma criança que se ri não sabendo que vai ser morta no minuto seguinte quando pisar uma mina
anti-pessoal em Angola). A terceira modalidade da natureza é a Bondade, indissociável ao conhecimento de Deus e à
inteligência, só pode ser bom quem sabe o que é realmente o que é Ser e o que é Bom , tal como só pode ensinar quem
realmente tem sabedoria e conhecimento espiritual de Deus.
Analogamente existem três classes de caridade: A Bondosa, que significa dar saber caridade a quem realmente a
merece ou seja se uma bébé tem fome não lhe vamos dar dinheiro mas sim alimentos. Se um toxicodependente tem fome,
não lhe vamos dar dinheiro mas sim alimentos caso contrário já saberíamos que essa caridade o iria prejudicar, e isso seria
a Segunda classe de caridade – a Ignorância. Finalmente a - Paixão verifica-se quando uma pessoa dá caridade esperando
algo em troca (quer seja dinheiro, afecto, reconhecimento) a curto, médio ou longo prazo.
 Karma
À semelhança de outras religiões Hindús, a Acarya (S.I.C.K) acredita profundamente na Lei do Karma, que sustenta
que todas as nossas acções provocam reacções às quais não podemos escapar, o que leva os seus devotos a Ter de
controlar ao máximo os seus pensamentos e as suas acções, para que no presente ou no futuro não venham a sofrer e a
ser infelizes. A principal causa do Karma é o desejo, cuja inerente ansiedade leva a alma a reencarnar ciclicamente numa
infindável cadeia de reencarnação sem atingir a perfeição.
O Karma, só pode ser ultrapassado através da renúncia aos apelos de Maya, e da abnegação e desinteresse das
nossas acções, conforme Krishna ensina no Bhagavad Gita. "A acção pautada pela disciplina (sem desejo) é o caminho da
verdade dharma que conduz ao Brahaman (divino) que anula os efeitos do Karma e permite à atman (alma) ficar livre de
desejos egoístas.
 Ascetismo e Renúncia
Partindo do princípio que todas as entidades vivas procuram a paz (desde Brahama, a criatura viva do Universo)
Prabhupada dividiu a humanidade em três classes:
1º Bhukti, aqueles que vivem somente em prol da satisfação material e corpórea.
2º Salvacionistas, aqueles que se encontram frustrados e saturados do mundo material, procurando algo mais
substâncial, de forma a libertarem-se da boçalidade da matéria.
3º Yogis (ascéticos renunciadores tapasya, uma restrita minoria) que procuram avidamente a perfeição mística
servindo abnegadamente a Krishna sem qualquer tipo de exigências o que os liberta da ansiedade do mundo material e
lhes concede sabedoria. Para atingirem a pureza, estes devotos (ou yogis) tem de: 1º Tornar-se conscientes de Krishna e,
reconhecer que são uma parte integral de um Todo – Krishna ao qual urge unirem-se afirmando "Eu sou de Krishna,
Krishna é meu"; 2º Devem servi-lo sem esperar nada em troca, caso contrário isso não seria devoção, mas sim comércio,
razão pela qual Krishna deve ser amado como um filho ao qual nada se pede e tudo se dá; 3ºOs devotos puros tem de
abdicar de todas as coisas supérfluas (tais como ir ao cinema, automóveis etc) admitindo que tudo é de Krishna e
concentrando-se na purificação da sua existência, de forma a que na próxima encarnação da alma possa ocupar um corpo
mais elevado e consequentemente a felicidade.
4ºOcupar-se integralmente no cumprimento de actividades espirituais, dado que o devoto perfeito é aquele que
dedica as suas vinte e quatro horas no pensamento e no coração a Krishna, o que lhe possibilita a obtenção de um corpo
espiritual.
5º Seguir uma rigorosa alimentação octo-lacto-vegetariana. Os Hare Krishna não ingerem qualquer tipo de carne,
peixe e ovos, devido aos processos violentos através dos quais estes alimentos são obtidos e por considerarem que
ninguém tem o direito de tirar a vida a um ser humano, ou a um ser em vias de sê-lo (caso do ovo), e absterem-se
completamente de drogas.
6º Aqueles que quiserem seguir única e exclusivamente Krishna devem manter-se em companhia com os devotos
puros e sadhus (santos) nos ashrams e aceitando as ordens do seu guru que organiza todo o dia em torno do serviço e
prazer de Krishna.
7º Adotar um princípio de "douta" modéstia à semelhança de Swami Prabhupada que afirmava ser o devoto inferior a
todos os outros, estando permanentemente empenhado em satisfazer com maior intensidade e eficácia Krishna.
8º Finalmente os devotos da Acarya, devem evitar ao máximo a prática de relações sexuais, o principal apego ao
mundo material, reconhecido pela cultura védica, sendo restringido somente à procriação.
O vínculo entre o homem e a mulher é o princípio básico da vida material (notório nas peças de teatro, nos filmes e na
publicidade, produtos por excelência das sociedades capitalistas) responsável pelas constantes reencarnações e
imperfeição espiritual.
Na Índia o sistema de varnasrama-dharma (instituição védica que divide a população em quatro ordens sociais;
Bramanes-intelectuais na sociedade atual, Kshatryas – administradores, vaishyas – comerciantes e agricultores e Sudras-
Trabalhadores) e, em quatro ordens espirituais (Bramacari – estudante celibatário, Ghrasta- devoto casado, Vanaprastha-
vive separado da mulher e , Sannyasa- que renuncia completamente à vida sexual) tem-se revelado o mais eficaz, dado
que os seus princípios regulativos são o mais extáticos possíveis para permitirem o regresso da alma a Deus.
No Shrimad-Bhagavatam, encontra-se escrito, que a relação entre um homem e uma mulher os vai limitar a possuir
um lugar (grha),terras (ksetra) suta (filhos) reconhecimento social (apta) e dinheiro (vitta). Estes cinco elementos, ksetra,
ghra, suta, apta e vittah vão envolvê-los na ilusão de que "Eu sou este corpo e tudo o que está relacionado com este corpo
é meu; esta mulher ou homem, estes filhos, esta terra , estes pais, este dinheiro etc e adquire o chamado falso ego, que
não lhe permite reconhecer que tudo é de Deus.
 Ritos
Uma tarde com Krishna – Domingo, 17 de Janeiro de 1999
Naquele final de tarde de Inverno, na Rua D. Estefânia já se ouviam o som dos mantras entoados com genuína
devoção. À entrada do discreto ashram fomos recebidas " famliarmente" pelo dedicado devoto Dhira Krishna. Subitamente
já estávamos no Interior do ashram, com os devotos a cantar o maha mantra Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna,
Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Krishna Krishna, Hare Hare.
Algumas mataji (devotas iniciadas) vestidas com o tradicional shari e com tylakas amarelas (cor da bondade) da
ordem Vaisnava de Vishnu tocam Karatalas (campainhas de mão) e sorriem-nos com um afectuoso olhar de curiosidade,
enquanto entoam practicamente em êxtase outros mantras védicos.
O Purushottama (Servo do Senhor Supremo- Krishna) Fabiano já se encontrava a tocar um harmónio e a entoar
mantras, segue-o uma jovem mataji, enquanto este passa a acompanhá-la ao som de um mrdanga (tambor). Os cânticos
são interrompidos com a entrada de Pralladesh um simpático bhakta (devoto mais antigo) que recitou o Bhagavad Gita
(capítulo VII) e focou a extrema necessidade de abandono do materialismo ("que atualmente corrompe o espírito da nossa
sociedade") contemporânea de atingir o jnana (conhecimento espiritual), o dharma (caminho da verdade) e impossibilita a
atman (alma) de se unir ao Brahaman Deus.
Após Ter terminado a recitação dos textos sagrados do Bhavad Gita, (onde se encontra grande parte da mitologia
sobre Krishna), Pralladesh demonstra-se receptivo a responder a todas as perguntas colocadas por devotos e curiosos que
se dirigiram ao ashram. Não se tratou de um inquérito mas sim de um diálogo, onde devotos expuseram dúvidas, estados
de espírito, experiências passadas noutras religiões etc.
Erguemo-nos e entoámos mais mantras aceitando o simpático convite das mataji dançámos Kirtanas (danças
tradicionais hindus). Sempre ao som de mantras chega a hora do Yagni (sacrifício), Dhira Krishna entra no ashram e
estende-nos uma espécie de candelabro, para nós estendermos as mãos em cima dele; posteriormente lança gotas de
água na cabeça dos devotos que posteriormente lançaram as mãos na cabeça- trata-se de um ritual de purificação.
Neste sacrifício são oferecidos a Krishna (após ter pedido permissão ao seu aratik, mestre espiritual) uma lamparina
de ghi, incenso, flores (que já enfeitavam o altar). Ajoelhámo-nos por duas vezes frente ao altar de Krishna (o ídolo como é
obvio) onde se encontram igualmente velas a arder e uma figura representando Prabhupada. Este ritual precede outro, a
oferta a Krishna da prasadam (alimento sagrado octo, lacto vegetariano feito com devoção e pureza) que é
simultaneamente uma misericórdia do Deus Supremo.
Entram então no templo algumas mataji com tabuleiros que colocam no chão do ashram. As luzes apagam-se e
oferece-se mais uma vez o alimento a Krishna, posteriormente é-nos colocado à nossa frente um prato de prasadam,
acompanhado de um chá e de uma sobremesa. Confratenizá-mos com vários devotos aos quais dirigi um séquito de
perguntas e já noite dentro saímos daquele ashram sagrado , fonte emanatória de boas vibrações.

Conclusão
Ao efectuar este trabalho, parece que subitamente, se nos “abriram as portas da Índia” à semelhança do que
sucedeu à quinhentos anos atrás, como foi tão extenuantemente propalado com a abertura da Expo 98. Não foram as rotas
das especiarias que nos fascinaram, mas sim o ancestral e vastíssimo espólio religioso e tradicional deste país, tão singular
que permanece algo enigmático perante os nossos olhos ocidentais, que se quedam no exíguo conhecimento emilégico que
os cerca e persistem em votar ao ostracismo tudo aquilo que se assemelha diferente; considerando ainda cinco séculos
mais tarde como algo que é necessário ”tolerar”.
Este trabalho constituiu uma espécie de leit motiv, para o aprofundamento de questões que à muito tempo se
deparavam ao nosso espírito e, as quais adiávamos irremediavelmente para um futuro longínquo. Acima de tudo, fez-nos
sair deste niilismo, dado que considerávamos a religião como uma espécie de ópio dos fracos na qual somente se
refugiavam para ver resolvidas todas as agruras da vida, e não para dela obter uma profunda lucubração existencial.
Sentir um inexplicável brilho nos olhos, inextinguível sorriso dos lábios e a permanente serenidade dos Devotos,
fez-nos sentir que existe algo mais profundo, algo mais substancial do que meros simulacros e convenções sociais.
Apercebemo-nos que a essência (atman a alma), é qual persistíamos não acreditar é infinitamente superior à
matéria que procuramos avidamente conquistar. Tornamo-nos mais ecumênicas, e neste momento aceitamos “todas as
crenças, as religiões que através da fé legítima elevar a alma ao seu Deus, concedendo-lhe a sus devoção e não limitando-
se a pedir-lhe algo. Descobrimos um mundo à parte, em pleno centro de Lisboa, um mundo onde o dualismo convencional
se esbate completamente. Um mundo onde não existem discriminações entre ricos e pobres, feios e bonitos, conhecidos e
desconhecidos, cultos e oeu no, crentes e descrentes, onde todos são iguais, e onde o único objetivo é a procura da paz
espiritual e da elevação da Alma ao Brahman.
Agradecimentos
- Ao Purushottama Fabiano – o “guardião do templo“ pela sua entrevista.
- Ao Bramacari Dhira Krishna pela sua paciência e disponibilidade em responder às nossas perguntas.
- Ao Professor Doutor Delfim Santos (sem qualquer tipo de bajulações balofas e oportunismo) que nos fez
indiretamente adiar a nossa visita ao Templo e para além de contribuir para o nosso conhecimento espiritual.
- Aos devotos do ashram de D. Estefânia em geral (pela sua prasadam) e pela sua incomparável hospitalidade.

Bibliografia
Prabhupada, A C Bhaktivedanta Swami, “ A fórmula da Paz “, (destacando conversas exclusivas com George
Harrison e John Lennon, The Bhaktivedanta Book Trust. Cohen, Bob, Perguntas Perfectas, Respuestas Perfectas, The
Bhaktivedanta Book Trust Internacional Espãna ,S L, 1990.
Prabhupada, A C Bhaktivedanta Swami; “Meditação e Superconsciência “ , The Bhaktivedanta Book Trust; 1990.
Waterstone, Richard , “O Espiríto da Índia - “ Colecção Grandes Tradições Espirituais “, Cordeiro, Manuel ,Tradução,
Círculo de Leitores, Maio de 1996.
Imagens retiradas de :
- Calendário Vaisnava 1999 editado por :
- Bhaktivedanta Book Trust Internacional.
Trabalho acerca Acaria - Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (vulgarmente apelidada por Hare
Krishna)

Trabalho realizado por :


 Ana Paula Alpande Nº 970303
 Cláudia Ribeiro Nº 970154

Universidade Independente

O Web de História da Comunicação foi actualizado em 02 Março 1999


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