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FORMAÇÃO DE INSTRUTORES DE YOGA

Akal Muret Singh


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Este texto apresenta tópicos que no contexto do Curso de Formação de


Instrutores de Hatha Yoga e Meditação trata das seguintes áreas de estudo:
1.História e Filosofia do Yoga. Este assunto é tratado da pagina 2 até a pagina 25. É
uma introdução a estes tópicos.
2. Caminhos do Yoga da pag. 26 a 59.
3. Psicologia do Yoga pag. 59 a 64.

VISÃO GERAL DAS TRADIÇÕES DO YOGA NA INDIA

O modo como o pensamento indiano se apresenta para si mesmo e


inicialmente para o mundo mesmo não é esse que modernamente chamamos de
história. Não é através de uma sucessão de datas, personagens e supostos eventos. E
aí esta dito “supostos” porque o evento mesmo ao ser contado sempre já esta em uma
interpretação que é a perspectiva de quem conta. O modo indiano antigo lançava mão
de historias, poesias, hinos e se mostrava mais em uma linguagem mitológica. Por isso
existem perspectivas diferentes no modo classificar períodos históricos e apontar o que
teve de importante neles. Esse “importante” já implica critério, um valor, um interesse e
com ele uma determinada época é caracterizada por aquele que fala sobre ela.

Sobre o desenvolvimento histórico, a identificação de períodos em que determinadas


características foram predominantes e então a escolha de um nome para esse período,
enfim sobre essa tentativa de contar a história disso que genericamente chamamos de
Yoga, como um Caminho que pretende possibilitar o acesso humano ao sagrado, para
esse assunto existem também perspectivas diferentes. Descreveremos adiante com
comentários de um professor norte americano Guru Charan Singh Khalsa uma visão
dos períodos históricos apresentado pelo professor norte americano Georg Feurstein no
livro A Tradição do Yoga.

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Fases Históricas no Oriente e Filosofia Yogi

I. Época pré-histórica ( ?? - 1800 A.C.)

Nós sabemos muito pouco sobre as civilizações destes períodos iniciais. A


arqueologia tem dado umas poucas pistas. As especulações preenchem as lacunas de
nosso conhecimento. Há alguns fragmentos de escritos posteriores, referindo-se a este
período inicial. Estas referências estão presentes na forma mítica. Yogi Bhajan uma
vez comentou que o mais antigo registro em pergaminhos do Tibete, fala de civilizações
que floresceram cerca de 40.000 anos A.C. Ele disse que já nestes tempos havia
formas de yoga e meditação. A maior alteração nestes tempos veio de grandes
mudanças no padrão global de temperatura e conseqüente ceifa e adaptação ao estilo
de vida. Ele especificamente mencionou uma grande alteração da temperatura 10.000
anos atrás, que forçaram migrações. Estas migrações aproximaram culturas de
diferentes áreas e catalizaram uma nova forma cultural de prática espiritual. Ele
enfatizou que as formas de yoga mais iniciais foram sistematizadas 100.000 anos atrás.
Elas foram, depois reformuladas em 80.000, 40.000 e 10.000 e estão sendo reformulas
agora.
No período de poucas centenas de anos anteriores a 1.800 A.C., a antiga
Índia concentrava-se no vale do Rio Indo. A civilização atravessou centenas de
milhares de anos nas partes norte, noroeste e oeste da Índia contemporânea. Duas
grandes cidades foram escavadas: Harappa ,no norte e Mohenjo- Daro, ao longo do
final sudoeste do Rio Indo. O povo era sofisticado e tinha elaborado uma organização
sócio-política-religiosa. Há evidências que os rudimentos do yoga eram conhecidos e
praticados por esse povo. Eles eram agricultores e tinham desenvolvido uma população
urbana. A cidade possuía cerca de 50.000 pessoas pelas estimativas. As grandes
cidades sobreviveram com modos de vida estáveis, ou então estagnados, por milhares
de anos. Conhecemos pouco deste tempo. Os dados são esparsos. É claro que eles
tinham o conceito e a prática da meditação. Eles usavam símbolos para o poder
masculino e feminino do universo.

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Embora não nos tenham restado textos e escrituras, os motivos das meditações
em Shiva, Shakti e Vishinu permaneceram nas escrituras e técnicas de períodos
posteriores.

II. Época Védica (1800 - 1000 A.C.)

A grande invasão das cidades das civilizações do Indo pelos Arianos começa no
próximo período. A ariana era a cultura cuja língua era o Sânscrito, que procediam das
regiões das estepes da Rússia Central. Eles eram nômades e guerreiros indo-
europeus. Eles eram arrogantes, agressivos e guerreiros. Acreditavam em sua própria
superioridade. Desenvolveram uma grande tradição de auto-desenvolvimento e de
yoga. Viviam em bandos e tinham uma grande variedades de armas. Eles eram de pele
clara, louros e de olhos azuis. Marca profunda de sua cultura, eles acreditavam na auto-
disciplina e na transcendência do ego.
Eles eventualmente se espalharam pelas áreas centrais da Índia e depois se
estabeleceram na área onde hoje é o Punjab. Esta expansão não foi pacífica. Ela
aconteceu através de batalhas, cercos e grandes conflitos. Como ganharam força e
poder, brigaram também entre seus próprios clãs.
A mais longa guerra nos registros históricos é transformada em crônica em
Mahabharata. O poema consiste em mais de 100.000 estrofes. Um teatrólogo,
recentemente criou uma versão do poema, encenado em Nova York. A encenação
durou 3 dias. É um registro de batalhas entre clãs adversárias: os Pandavas e os
Kauravas. O verso original foi escrito entre 800 -1000 A.C. Ele é a fonte de
informações dos mitos, simbologia, história, filosofia, conhecimentos, credos, religião,
costumes e experiência mística. É uma fonte de muito saber sobre yoga neste período.
Através dos anos, ele se tornou o épico principal da Índia. Ele teve muitas partes
adicionadas a ele, como o Bhagavad-Gita e ao longo dos anos cresceu o seu papel de
acervo do conhecimento e inspiração cultural.
Se você é um estudante sério e quer um entendimento profundo das raízes dos
primórdios do yoga, então é preciso buscar muita leitura. As primeiras versões foram
transmitidas oralmente. As versões primordiais descrevem disciplinas e sadhanas, as
versões posteriores registram samkya e filosofias ióguicas. Umas das mais fortes
mensagens deste épico é que, além de todo o drama, luta e guerra, existe o estado

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transcendental do Ser. Este estado de libertação existe além de toda a dualidade, ou


bom e mau, certo e errado e medo e prazer. A realização pessoal e interna desta
consciência libera e ilumina o individual.
Como as duas culturas se mesclam e influenciam uma à outra, as técnicas e
experiências do desenvolvimento espiritual que ajudou a guiar a integração das culturas
estão registradas no inicial Vedas (livros do Conhecimento): o Reg-Veda, o Sama-
Veda, o Yajur-Veda e o Atharva-Veda. O Reg-Veda, em particular, proporciona a
história e cânticos religiosos que registram as aventuras e os credos da antiga
civilização dos Vedas. Estas escrituras vêm dos Arianos e está escrita em sânscrito.
Eles mostram a influências da população do Indo nas palavras e conceitos que são
incorporados nos cânticos.
Os cânticos foram compostos por grandes santos ou rishis, que obtiveram uma
visão da contemplação profunda e mescla com o Divino. Os hinos foram diretamente
falados e cantados deste estado de percepção direta. Eles não compuseram os Vedas,
neste estado de consciência, mas registraram em linguagem do reino que eles
experimentaram. Estes cânticos não são tratados intelectuais, mas a experiência
poética, emocional e espiritual direta dos santos.

III. Época Bramânica (1000 - 800 A.C.)

A classe dos sacerdotes era chamada Brâmane. Eles registraram uma grande
quantidade de literaturas sobre os ritos próprios, rituais e comportamentos. Eles
formaram uma classe de sacrifício e ritualística. O culto e a virtude eram externos. Ao
mesmo tempo em que aceitavam o desafio do desenvolvimento interno, cultivado pelo
período védico anterior, eles estabilizaram sua posição social por elaborados ritos
materiais. Os traços do passado passaram por ele, mas o pensamento literal dos
fundamentalistas estavam ocupados com trabalho.
A literatura Brahmanas e nos Aranyakas, um livro de mão para os ascéticos
habitantes da floresta, não promove o yoga ou os preceitos místicos que autorizam o
individual.

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IV. Época Upanishádica (800 - 500 A.C.)

A reação do rígido ritualismo externo finalmente veio sob a forma dos


Upanishads. Estes escritos de êxtase estão cheios de tecnologia para transcendência.
Eles são iconoclastas e inspiradores. Eles internalizaram toda a transformação dos
rituais anteriores. Abriram o campo interior do Ser como o lugar apropriado para a
gradual auto- transcendência. Eles registraram o conhecimento de muitos santos
anônimos.
Os santos deste tempo que inspiraram e contribuíram para os Upanishads eram
diversos e diferentes em sua santidade e vitalidade. O grande Rei Janaka, que foi
também o transmissor da tradição de Raja e Kundalini Yoga era uma grande figura
deste tempo. Outros eram ascéticos e alguns eram brâmanes iluminados. Grandes
estórias e tradições fluem desta época.
A palavra “Upanishad” literalmente significa sentar perto e ser meditativo.
Reflete a maneira original pela qual o conhecimento era transmitido. Era transmitido do
guru para o chela, do professor para o estudante, do mestre para o aprendiz. Ela exigia
respeito e compromisso por parte do estudante. Há 108 versos, tradicionalmente
aceitos em Muktika-Upanishads. Eles são aceitos como revelação ou transmissões
diretas. Através dos séculos, mais de 100 foram adicionados por vários autores. Estas
composições mais novas são respeitadas como uma tradição e como uma elaboração.
A sabedoria na composição original é conhecida como Vedanta “O Grande
conhecimento que é completo e que contém os ensinamentos”. Há traduções
confiáveis de todos eles e há muitos estudos sobre seus conteúdos. Um grupo é
especialmente importante o Yoga-Upanishads. Estes incluem uma grande quantidade
de instruções sobre yoga.
Todos os escritos infatizam a descoberta e o cultivo de um último espaço para o
Ser. Este Infinito pode ser conhecido através da gnose transcendental. A chave do
discernimento é que ha uma identidade ente a verdade última e a realidade do indivíduo
como uma verdade. A alma e o Ser Universal não são diferentes por natureza. Este fato

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está além da capacidade da mente para a definição e classificação. Requer realização


e iluminação. Pode ser conhecida toda vez como uma visão total e completa.

V. Época Gita (500 A.C. - 200 D.C.)

Este foi um período de transição. As místicas tecnológicas do Upanishads foram


ensinadas e praticadas largamente. Alguns novos Upanishads foram adicionados
como o Katha, Isha e Mundakas Upanishads. A elevação do número de pessoas que
praticavam estas técnicas moveram muitos praticantes a sistematizarem esta
tecnologia interior. Isto tendeu a culminar na próxima época.
O grande trabalho que guiou a cultura popular deste período e que se transforma
em importante pilar da história do yoga são: o Ramayana e o Bhagavad-Gita.
O Ramayana é um poema épico de 24000 versos que conta a longa história do
trágico amor de Lorde Rama e Sita Vishnu, um dos três aspectos do Absoluto, que tem
dez importantes encarnações. De suas quatro encarnações humanas, uma como Rama
e Krishna foram as mais poderosas. Como Rama, ela demonstrou todas as virtudes
que aprendeu para a libertação. Honradez, sem medo, sem apego, serviço, disciplina,
um amor à Verdade são todos discutidos na narrativa de Ramayana. Muitos dos
eventos narrados são freqüentemente metafóricos. Eles podem ser entendidos como
uma estória ou como uma instrução nos métodos de auto-transcendência.
O Bhagavad-Gita é parte do Mahabharata. É um diálogo entre Krishna e seu
devoto o Príncipe Arjuna. Ele acontece no meio de uma guerra num campo de batalha.
Ele diretamente ensina a aproximação com o yoga através de karma yoga. E nos
ensina que você pode ser despreendido no meio de grandes ações, como as guerras.
Podemos referir-nos ao centro silencioso e constante. O grande poder vem de uma
mente disciplinada, não de ritos externos e sacrifícios. O problema real não é a ação da
vida, mas nosso apego que nos mantém ligados à reação. Na liberação verdadeira, nós
agimos livres, despreocupados e espontâneos, sem apego ou medos como motivos.
Quando não agimos a partir de motivações mais baixas, aprendemos a agir de acordo
com o que é Cosmicamente correto - a partir do Dharma. Somente, a partir daí,

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conceitos como Amor, Dever e Honestidade tem algum significado.Os escritos não
excluem, sistematicamente, a prática do yoga e de meditações. Eles transmitem o
espírito e o ponto de vista de que as práticas devem vir acompanhadas.
Isto transformou a principal escritura para o Vaishnavites durante os anos 400 -
200 D.C.. Este grupo cultua Vishnu. A mensagem das escrituras é, no entanto,
universal. Vishnu era venerado como o Um em tudo e o UM além de tudo. Consciência
estava em 2 principais estágios: a libertação do apego e da segurança do tempo e do
espaço (Brahma nirvana) e a absorção, além da mente, dentro do Ser absoluto e do
amor.

V. Época Clássica (200 - 800 D.C.)

Neste período de tempo, as tradições estabelecidas no Mahabharata


floresceram e expandiram-se. Muitas das torrentes de pensamentos e filosofias do yoga
foram sistematizadoas. As seis maiores escolas de filosofia foram codificadas e
extensivamente ensinadas. Nos escritos dos Gurus, as seis escolas sempre se referem
às filosofias estabelecidas neste período. O mais importante trabalho deste período foi
o Yoga Sutra de Patânjali. Este é o maior trabalho sobre yoga e sua filosofia que tem
guiado os estudantes, desde que foi escrito.

VII. Época Purânica (800 - 1469 D.C.)

Os puranas foram compostos durante este período. Eles são uma vasta coleção
de mitologia, filosofia e história. O grande professor Shankara escreveu sobre a
filosofia Vedanta da não dualidade. Seus escritos impeliram muitos santos para o uso
da tecnologia psico-espiritual do yoga. Durante o mesmo tempo, a ênfase no
Tantrismo e o uso do conhecimento esotérico dos chakras, das glândulas e da aura
são expandidos. A disciplina da shadana para alcançar a elevação da consciência e
como uma ajuda para a proposta dos primeiros textos torna-se muito difundido.
Em particular, isto torna possível produzir um modo de ser espiritual e físico, sem
rejeitar as sensações e sem ser uma asceta. A ênfase encaminha par uma consciência
da filosofia de Shakti, o princípio cósmico feminino da energia. Kundalini é uma
energia shakti que manifesta o divino nos finitos corpo e mente. Esta explosão de
experiência e práticas preparam o caminho, para a grande síntese do próximo período.
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VIII. Época Bhakti (1469 - 1708 D.C.)

Nesta época os opostos se fundem. A tradição do ascetismo encontra a tradição


da união mística. O chefe de família que precisa viver o cotidiano do mundo foi elevado
ao estado de santo habitante da floresta. A síntese disto é o encontro da tradição Sant,
que tem respeito pelo guru ou professor, a tradição Nath e Tantra que usa o yoga e a
tecnologia psicofísica, e a tradição Bhakti que enfatiza a devoção como um sentido
para conhecer a verdade além dos confins da estrutura da mente.
Os maiores resultados desta confluência de influências foram os dez gurus
Sikhs e a criação da escritura: o Guru Granth Sahib. Completa e culmina a filosofia de
todos os períodos anteriores. Ele também as estende. É a única escritura que é tratada
como um guru. Não é apenas história, filosofia e tecnologia, é uma presença vibratória
ativa. Foi designada como um “Granth”, um laço que liga a Palavra, dentro de uma
forma na qual uma pessoa possa interagir com ela e ser transformada. Os Gurus
enfatizam o não-apego, o serviço e a meditação diretamente sobre o Nam. Eles
quebram o ciclo de procura de um guru pessoal e o culto da personalidade que,
freqüentemente, confundia os buscadores. Eles personificam o Guru na escritura e a
declaram um Siri Guru, um professor dos professores. Depois do décimo professor,
Guru Gobind Singh, eles declaram que não haveria mais Gurus humanos nesta
tradição.
O resultado é uma ferramenta moderna e escritos que infatizam a necessidade
de lembrar a essência da espiritualidade, ao mesmo tempo a necessidade de
personificar esta essência em uma forma distinta. Isto permite a todas as tradições e,
conceitualmente encoraja o pluralismo e o globalismo.

IX. Época Moderna (1708 - 2011 D.C.)

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A queda do Império Mongol, trazida através da resistência sikh, enumera as


mudanças que abriram a civilização para a influência Ocidental. O governo britânico
estabelecido sobre a Índia na última parte do século XXVIII. Isto diminuiu o ardor
devocional da época Bhakti. Acrescentou materialismo e secularismo. Trouxe com ela
a industrialização e, mais tarde, a alta tecnologia.
No início de 1900 houve uma onda de missionários do Oriente que levaram muitos
conceitos para o Ocidente. O romance entre Oriente e Ocidente começou com
seriedade. A época moderna é a história da descoberta e comunicação entre os dois
hemisférios de nosso mundo. As grandes tradições foram estabelecidas. Agora, elas
têm sido descobertas, imprimidas, praticadas e disseminadas.
Nos Estados Unidos e Europa, a meditação e as práticas dos Sikhs, Hindus,
Muçulmanos e outros, são comuns. As recentes guerras do Vietnã, Camboja, África,
Tailândia e queda das velhas hierarquias da Europa Oriental têm levado uma grande
migração de pessoas, além das velhas barreiras culturais. Com a elevação do Japão
como um grande poder econômico, e as pessoas fugindo da China e de Hong Kong, as
culturas orientais vêm face à face com o Ocidente: Budismo, Shintoísmo e Taoismo
tem tocado o coração dos ocidentais e vem sendo assimilados. A época moderna é
uma época de expansão e descoberta. Nós estamos perto do fim desta época, e nos
preparamos para entrar na próxima época. Estes anos serão cheios de mudanças, caos
e novas possibilidades. O papel dos indivíduos e das instituições necessitará encontrar
um novo equilíbrio. Muitas instituições preservarão a si próprias através da ignorância e
do medo. As barreiras para o conhecimento estarão atadas à tecnologia e às pessoas
da moderna era da informação

X. Época Aquariana (2011 - ? D.C.)

Os termos chaves da Era de Aquário são globalização, universalidade e


dignidade do ser humano. Nenhuma religião sobreviverá nada menos que num contexto
global. As histórias e tradições tribais de muitas culturas do mundo estarão face à face.
A necessidade é o compromisso para estabelecer a autêntica experiência
transformativa em cada indivíduo. A consciência em seus vários níveis será o conceito
central nesta época.

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Nós levaremos a civilização para as estrelas e habitaremos muitos planetas e


plataformas espaciais. A Terra será uma jóia pequena e preciosa que nos dá uma
herança comum. Tradições que se baseiam no medo e na ignorância cairão por terra.
Haverá lutas na transformação. Haverá uma polarização e algum caos como as
velhas instituições brigando no final da batalha. Então não haverá nem Ocidente e nem
Oriente. Haverá desenvolvimento e desenvolvimento consciente. Nós julgaremos a
filosofia e a espiritualidade como um degrau de consciência e a corporificação de cada
indivíduo atado pelo menos pelo grupo a que se associa. Eu me referi as datas desta
época por “?”, pois o fim é uma disputa de diferentes fontes. Pela astrologia, esta
medida histórica seria mais ou menos 20.000 anos. Yogi Bhajan tem dito que, se todos
forem bem na transição, o reino da filosofia global, do pluralismo e ética da Khalsa (os
puros) se estenderá por 11.000 anos. Esta medida de tempo é única. Mas esta é a
primeira vez que o globo inteiro é unido. Pode ser um período de estabilidade e a
expansão, pode ocorrer na profundeza de nosso coração e no alcance do espaço. O
espaço interior e exterior se complementarão um ao outro e encaminharão a uma vasta
espiritualidade e uma filosofia baseada na experiência, compromisso e universalidade.
Cada um de vocês que estudou estas técnicas antigas e colocou-as em prática
em sua vida é um pioneiro da nova era. Você está no cume de esperança e
desenvolvimento que levará a um novo nível de consciência e civilização. As mudanças
acontecerão muito rapidamente e cada um de vocês que se esforçam para estudar e
ensinar Yoga fazem nascer a Era de Aquário.

NOÇÕES GERAIS DO PENSAMENTO INDIANO

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Hipótese das Raças Raízes:


1. Raça Adâmica – só possuíam corpos astrais, devido às condições da Terra
naquele momento.
2. Raça hiperbórea – habitavam corpos etéricos.
3. Raça Lemuriana – Habitava o continente da Lemúria. Se desenvolveu no
decorrer das suas 07 sub raças até chegar aos tipos completamente “humanos”.
A diferença entre um animal e um humano reside na relação do corpo etérico
com o corpo físico. No animal o corpo etérico estende se muito para o exterior,
especialmente a cabeça, sendo, portanto, inspirado desde o exterior por um
espírito coletivo animal; enquanto que no ser humano o corpo etérico e o físico
integraram-se de modo que o homem só pode ser inspirado desde dentro, e o
espírito individualizado pode habitar dentro. Isso ocorreu a partir da raça
lemuriana.
4. Raça Atlante – Habitavam o continente da Atlântida. Sua função era desenvolver
o corpo astral e integra-lo com os demais. Criaram uma grande civilização, mas
abusaram dos seus conhecimentos e poderes astrais e psíquicos e criaram um
desequilíbrio tal nas condições planetárias que culminou na submersão do
continente.Supõe-se que a história de Noé e a Arca descreve acontecimentos
relacionados ao que aconteceu com a Atlântida. Os atlantes fundaram a a cultura
egípcia, peruana, druídica. Tártaros, mongóis e chineses são da última sub raça
atlante. Essa raça raíz teve a tarefa de desenvolver o corpo astral e integrar com
os dois corpos anteriores. Traços tipicamente atlantes são excessiva domínio
das emoções, excitáveis, supersticiosos e ainda não determinados pela mente.
5. Raça Ariana – Tarefa principal desenvolvimento do corpo mental. Ao realizarem
totalmente isto serão dominados por um tempo por esse corpo. Toda raça raiz
vive uma idade do ouro. Esta será para os arianos a era de aquário.
6. Sexta Raça – domínio do corpo Alma.

I) DADOS HISTÓRICOS:

O povo da quinta sub-raça atlante, os semitas, segundo dados da “tradição


esotérica”, foram a semente da quinta raça raiz, a ariana. Esse povo teria saído a salvo
da Atlântida e dirigiu-se para a Ásia Central, passando pela Europa. Essa emigração

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ocorreu em ondas sucessivas e levou milhares de anos. Alguns ficaram pelo caminho e
foram os ancestrais dos druidas. Estabeleceram-se às margens do lago Gobi (hoje o
deserto). Segundos essas informações, por volta do ano 9.000 a.C., desceram para o
local onde hoje é a Índia. Foi assim, nas margens do lago Gobi, que nasceu a quinta
raça raiz, a ariana, da qual os “indianos arianos” são a primeira sub-raça.
Esse povo que, de certa forma, invadiu essa região da atual Índia, trazia
consigo uma bagagem enorme de conhecimentos, todo um conteúdo cultural, cheio de
religiosidade e filosofia, apesar de ser um povo considerado “guerreiro”. Segundo
muitos autores, quando os arianos chegaram à Índia, já traziam consigo, compilados
por Vyasa Deva, os 04 vedas, Rig, Yajur, Sama e Atharva Veda. Ao chegarem,
encontraram alguns povos amarelos descendentes dos atlantes e lemurianos de pele
escura, os dravidianos.
Há indícios de que Shiva era cultuado pelos pré-arianos, e com a chegada
dos arianos for absorvido e colocado como a terceira pessoa da Trimurti. Os arianos,
temendo a miscigenação, que colocava em risco a conservação de sua raça e tradição
teriam tomado essa atitude, além de fortalecer o regime de castas, colocando os
nativos lemurianos como os parias, os sudras; depois os mercadores e agricultores de
pele trigueira e amarelada, os vaisias; depois vinham os kshatryas, guerreiros e
administradores, de sangue levemente misturado, e finalmente os brahmanes de puro
sangue ariano, os sacerdotes e educadores.
Um fato interessante é que o termo “hindu” não existe em sânscrito, portanto
esse povo não se autodenominou hindu, mas foi chamado assim pelos muçulmanos. A
origem desse termo vem da palavra sânscrita “sindhu”, que referia-se ao rio. Os
muçulmanos, devido a dificuldade de pronúncia de sindhu, acabaram por criar a
expressão Indu, que por extensão passou a designar aquela sociedade que principiou
as margens do rio Sindhu ou Indus. Daí a origem do termo Hinduísmo, para designar
toda uma cultura que ali floresceu.

II) ESCRITURAS HINDUS:

Pode-se dividir em 2 partes ou 2 momentos. Segundo a procedência, a fonte de onde


emanou:
1. SHRUTI – “aquilo que é ouvido”, intuitivo, inspiração Divina.

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a) Vedas são quatro: Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda.
Os Vedas se compõe de:
A) Hinos ou mantras;
B) Aranyakas (dedicado àqueles que se retiravam para as florestas);
C) Brahmanas (referem-se aos cultos e rituais).
D) Upanishads (abordam as questões místico/filosóficas).

Existem ainda upanishads que surgiram após o período védico, ou seja, os


upanishads continuaram sendo compilados mesmo depois de escritos os 04 Vedas.
Upanishad significa: “conversa aos pés de um mestre”.

2. SMRITI – “memória”, parte intelectual, interpretativa, surgida depois dos Vedas.


Fazem parte da tradição Smriti:

a) Smriti códigos de lei relativos ao “direito” civil e religioso, proporcionam um quadro


muito completo da sociedade Hindu, das classes e castas, englobando regras religiosas
e familiares. Importância principalmente histórica. Entre eles estão os Dharma
Shastras (ensino sobre a lei) de Manu, Yajnavalkya e Parashara.

b) Itihasas épicos. Reúne 2 textos, de caráter religioso e histórico onde se fala de


Rama e da grande batalha entre os irmãos Pandavas, orientados por Krishna e os
seus primos. São os textos Mahabharata (do qual o sexto livro é o Bhagavad Gita) e
Ramayana (o caminho de Rama).

c) Puranas são instrumentos de educação popular, consistem de crônicas, lendas,


genealogias de reis, contendo assim, material histórico e também imaginativo. A
finalidade era imprimir na mente popular, por meio de exemplos concretos, os
ensinamentos védicos, especialmente o poder e a bondade divinos. Existe um numero
aproximado de 18 puranas.

d) Agamas também populares, essas escrituras lidam com o culto de um aspecto


particular de Deus e “disciplinas” para o adepto. São 3 principais:
- Vaishnavismo: adoradores de Vishnu; o conservador

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- Shaivismo: adoradores de Shiva; o transformador, destruidor


- Shaktismo: “adoram” o princípio feminino, Shakti Tantra

e) Darshanas-escolas filosóficas. São elas: Nyaya, Vaisheshika, Sankhya,


Yogasutra, Mimansa, Vedanta.

III) CONCEITOS FUNDAMENTAIS:


Veremos a seguir alguns conceitos ou idéias fundamentais, básicas do Hinduismo.
Quais sejam Brahman, Prakriti, Atman, Ahamkara, maya, Samsara, Karma e
Moksha; existem, evidentemente outras concepções importantes nas diversas escolas
filosóficas hinduístas, essas que citaremos a seguir são apenas as básicas para que se
tenha uma visão panorâmica da filosofia hinduísta.

a) Parabrahman – o imanifesto; o uno; aquilo que é; quando toda a manifestação


universal se dissolve, no Pralaya, voltando novamente a Ele, Ele é. O absoluto,
inconcebível, imutável.

b) Brahman – quando em Parabrahman surge a intenção de criar, de manifestar-se,


então já não é mais Parabrahman, mas passa a se chamar Brahman. A partir de
Brahman surge Fohat (a energia) e Koilon (o espaço) e da fecundação de Fohat e
Koilon surge a manifestação. Brahman porém, não se confunde com a
manifestação universal, permanece incontaminado, transcendente. No entanto, ele
penetra em Prakriti, a manifestação, e está presente em tudo, e em cada ente vivo,
aparecendo assim seu aspecto imanente. Portanto, Brahman é imanente (está em
tudo), e ao mesmo tempo transcendente (está fora de tudo). Brahman é o grande
espírito cujo corpo é o Universo.

c) Prakriti – Pra (movimento), Kriti (“aquilo que faz”). Portanto, Prakriti é aquilo que
está em movimento. É a matéria universal manifestada.

Diz-se que o material de que é feito o Universo, em qualquer dos seus níveis de
condensação, resulta da combinação de 3 “qualidades” da energia cósmica, que

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são: Sattwa (ritmo), Rajas (movimento) e Tamas (inércia). Nada existe no Universo
que não se constitua desses 3 atributos, preponderando conforme o caso, uma
sobre as outras. Essas “qualidades” da Prakriti são chamados “gunas”. Prakriti é,
portanto, a manifestação universal; a matéria que forma esse universo manifestado,
desde o nível mais condensado, físico, ate o mais sutil dos planos da matéria
universal.

Os 07 planos da matéria universal e as dimensões da energia no ser humano


são:

7. Maha para nirvãnico - 7. Corpo Nirvânico


6. Para nirvãnico - 6. Corpo Búdhico
5. Nirvãnico - 5. Corpo Manas Arupa
4. Búdhico - 4. Corpo Manas Rupa
3. Mental - 3. Corpo Astral - Kama
2. Astral - 2. Corpo Etérico
1. Físico - 1. Corpo Físico

d) Atman – é o “si”, o eu atemporal. Quando de Brahman surge Fohat e Koilon, e daí


Prakriti, a presença de Brahman não se ausenta, mas penetra no mundo
manifestado e habita cada ente vivo recebendo o nome de Atman. O Eu real e
divino. Portanto, Atman é o próprio Brahman, o que equivale a dizer que o ente vivo
desperto para sua verdadeira natureza, Atman, é Um com o Divino, Brahman.

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e) Ahamkara – é o eu temporal; resultante das experiências e conhecimentos ou


impressões colhidas ao longo do tempo; é um eu residual, decorrência do passado,
que dá a noção de divisão sujeito-objeto. O mundo passa a ser visto em função do
que foi e do que se gostaria ou tema que venha a ser. A percepção dos fatos passa
então a ser distorcida pelos conteúdos passados, ocasionando uma relação
inadequada com os fatos, gerando então conflitos e desarmonia.

f) Maya – existem mais de uma conotação para esse termo, dependendo da Escola
filosófica. Poderíamos ver aqui Maya num sentido objetivo e num sentido subjetivo,
psicológico.
Em primeiro lugar “Maya” não significa dizer que o mundo é ilusão, que não
não existe. Tanta a dimensão subjetiva como o mundo objetivo, factual, existem; porém,
não são absolutos, têm uma existência relativa em relação ao mundo do Absoluto. Um
exemplo: dentro de uma peça teatral tudo é real, a trama, a situação, os personagens;
são reais dentro do contexto da peça. Porém, se compararmos essa realidade com a
dimensão de realidade do autor da peça, encontraremos um outro nível de realidade.
Maya para os hindus é o poder misterioso pelo qual Brahman (enquanto Ele próprio
permanece imutável), dá seguimento, andamento ao mundo fenomenal. Maya não é
ilusão portanto, para aquele que vê o Absoluto no fundo de cada aparecimento.
Maya também pode ser simplesmente avidya, ignorância. No aspecto subjetivo
observamos a separação pensador-pensamentos e daí o surgimento de um núcleo, um
eu, a parte do qual o mundo será visto e avaliado. A avaliação no entanto é
condicionada. Assim, a realidade, o fato, será visto sob o prisma do passado. Projeta-se
uma imagem oriunda do passado sobre aquele fato, de tal modo que o que se vê é na
verdade a imagem que foi projetada e não o fato em si. Vive-se então num mundo de
imagens projetadas sobre os fatos e as relações acontecem muito mais com as
próprias imagens do que com os fatos. Vive-se assim num mundo de ilusão (e aqui
Maya tem o sentido mesmo de ilusão) criado pela mente, pelos arquivos do passado. O
silencio desse conteúdo mental arquivado exige a auto compreensão direta e a
meditação que ocasionam a dissolução do eu temporal. O silencio na mente propicia a
percepção direta sem a interferência do ontem, e os fatos são percebidos como eles
são.

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g) Samsara- chama-se samsara o ciclo de nascimentos e mortes, a necessidade de


reencarnar decorrente do karma. Havendo a liberação do passado e não se
engendrando nada para o futuro escoa-se o karma e ocorre moksha (a libertação do
ciclo de nascimentos e mortes).

h) Karma – significa “ação”. Karma pode ser entendido como os efeitos do


passado no presente, ou a construção do futuro a partir das ações do presente.
Karma não implica determinismo, ao contrario, o homem é livre para mudar seu
destino agora, libertando-se das tendências oriundas do passado e vivendo sem
nada projetar para o futuro. Há 3 tipos de Karma:
 Prarabdha – parte acumulada que já deu fruto na vida presente e não pode
mais ser evitado. Ex: a cor da pele, a raça, a condição humana, parentes,
etc...é o karma operativo.
 Samcita – “karma acumulado” de todas as existências anteriores, e que dão
o caráter, tendências, etc...pode ser modificado pela compreensão profunda.
 Agami – o que está sendo criado agora nesta existência pelo que se pensa,
se sente e se age. Pode ser mudado agora. A ação sem motivo, que não
nasce de um centro, eu, que busca algo na ação; a ação desapegada,
portanto, não deixa vestígios, é uma ação libertadora não vinculada ao
passado nem ao futuro e assim não produz karma.

i) Dharma – vem da raiz “DHR”, significando “maneira de ser”. “Dharma é aquilo que
mantém unido o universo”. Essa e outras afirmações são encontradas nos textos,
sobre o Dharma. O que se pode perceber, é que essa palavra, pelos vários
momentos em que é utilizada, está intimamente ligada à ação. Uma ação
adequada, integral, mantenedora da harmonia cósmica. Dharma não é uma
obrigação moral, é uma ação espontânea nascida das profundezas da
compreensão completa de cada momento. O Dharma real não é fixo, porque a vida
é flexível, fluente, a acão que se harmoniza com seu movimento é também fluente e
nova a cada momento. Adharma é a ação desarmônica. Dharma quando visto
como uma norma de ação torna-se uma tentativa de ajustamento a um padrão pré-
concebido e deixa de ser natural e espontânea.

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j) Moksha – é a libertação do processo temporal oriundo da noção de Eu (Ahamkara)


que condiciona a vida do ente humano e o mantém preso ao passado e a projetar
momentos futuros. Moksha ocorre quando desaparece a divisão sujeito-objeto e
ocorre então uma comunhão completa com a vida em todos os níveis. A dissolução
do eu temporal, mental, abre espaço para outra dimensão de ser além do tempo.
Moksha é a libertação da roda de nascimentos e mortes, o Samsara. É a
dissolução do Ahamkara e o despertar para o mundo de Atman, essencialmente
divino e que é Um com Brahman.

k) Yoga / Guru – os 05 caminhos fundamentais do Yoga são: Jnana Yoga; Bhakti


Yoga; Karma Yoga; Raja Yoga e Tantra Yoga.
l) Jiwan Mukta – aquele que realizou moksha e vive livre neste mundo

A ATUALIDADE DO YOGA

O significado que um conjunto de idéias e proposições assume ao surgir em um


determinado contexto, depende de algumas características fundamentais que vamos
examinar rapidamente a seguir.
Quando aquilo que é dito pretende responder questões que as idéias vigentes já
responderam suficientemente, esse dizer não apresenta nenhuma relevância, e por isso
mesmo não desperta interesse em ninguém. Torna-se chato, pois diz o que todos já
sabem ou pensam saber.
Um discurso pode também propor reflexões e respostas para questões que a
cultura vigente ainda não formulou como problema. Respondem o que ainda não foi
perguntado. A questão é irrelevante no contexto dos pressupostos vigentes, ou o
problema existe e ainda não foi percebido. Em qualquer das duas hipóteses o que se
diz não interessa a ninguém naquele momento.
Outra possibilidade para uma proposição de idéias ou práticas é responder
questões relevantes para uma determinada cultura naquele momento, mas na
formulação dessas idéias não enunciar claramente o problema que com elas se
resolve. Então mesmo tendo a capacidade de responder suficientemente questões
fundamentais, essas reflexões e práticas podem não ser reconhecidas como tal. Por
falta de clarificação do problema e sua relação com o que está sendo dito.
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Quando, porém, um sistema de idéias resolve plenamente aquilo que aparece


como um desafio não respondido pela cultura vigente, e ao faze-lo expõe o problema
em todas as suas nuances, dizendo inclusive como a nova proposição o dissolve, torna-
se então um dizer que efetivamente atende aos interesses e necessidades da
comunidade naquele momento, e será reconhecido em sua importância.
Muitas vezes esse dizer implica um certo nível de confrontação, pois em geral
não cabe nos pressupostos em vigor. Pode, ao contrário, significar ruptura e o início de
uma nova perspectiva de mundo.
Diante deste quadro, o que nos interessa perguntar agora é, em que condições o
discurso do Yoga torna-se capaz de atender questões essenciais que a mentalidade
vigente em nossa sociedade já não dá conta de responder? Por discurso do Yoga aqui
se quer dizer as idéias e argumentos que fundamentam a sua prática. Aquilo que é
apresentado como justificativa para propor e explicitar o que o Yoga é.
Perguntamos então: o Yoga é capaz de aparecer no mundo de um modo
absolutamente pertinente, formulando claramente o que ele próprio é, e as
possibilidades que se abrem a partir disso? E mostrando a partir da compreensão clara
das circunstâncias históricas; dos vários aspectos que caracterizam a condição humana
atual, mostrando que pode desvelar uma nova perspectiva, um novo estado de ser,
onde respostas adequadas ao agora podem surgir de forma espontânea, a partir de
uma inteligência criativa movida pela na intuição pura ?
È possível identificar que um dos traços essenciais, típicos da sociedade
contemporânea é o esquecimento de si mesmo enquanto ser. Ser que aparece na
existência em todas as suas faces: profissional, familiar, social, religiosa...mas, que
antes de tudo é si mesmo.
O esquecimento do ser que se é, é o terreno onde florescem muitos desequilíbrios
característicos da nossa cultura. A ausência de um sentido de identidade bem
estruturado psicologicamente dentro do mundo das relações; e a também ausência de
conexão com um nível de identidade incondicionado, atemporal, deixa o ente humano
em uma luta para afirmar a si mesmo no plano social e profissional. O que se constrói
então é uma terrível dependência da opinião dos outros.
O modelo de identidade que se forma no contexto descrito é determinado pela
mentalidade social dominante. Surge um ente humano medíocre, que justifica a sua
falta de coragem e ousadia para ser ele mesmo, dizendo que a sociedade o obriga a

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ser como ele é; que não seguir o modelo aprovado pela mesmisse coletiva o tornaria
um estranho no mundo....e assim por diante.
A escolha de uma profissão, o estilo de vida, os valores, são todos determinados
de fora para dentro. Mesmo a subjetividade é constituída de condicionamentos e
padrões culturais.A tendência é se formar um humano completamente de segunda
mão; que vendeu sua alma. Nunca atendeu ao que seu próprio ser lhe tenha dito,
porque sempre esteve surdo para si mesmo. O resultado disso é desastroso. Uma
comunidade de entes atormentados, em busca de pequenas alegrias, mendigando da
existência mesmo que seus cofres estejam cheios.
Ausência de valores humanos fundamentais, capazes de gerar respeito a todos
os seres do planeta; violência, corrupção, drogas, estresse, depressão e outras
disfunções de saúde; desequilíbrio social, desastres ecológicos, enfim, problemas que
sempre existiram em alguma escala, nessas condições doentias se agravam e ganham
proporções quase alarmantes. E a mentalidade geradora dessa situação, que como já
foi dito existe há muito, não é capaz de responder adequadamente a isso. Nunca foi. E
o é muito menos agora. É preciso um salto quântico de consciência. Uma revolução da
percepção. Um novo modo de ver o mundo. E isso implica um outro modo de ser. Não
há respostas satisfatórias no discurso vigente. E esta ausência de respostas
satisfatórias causa uma grande inquietação.
É preciso perguntar então de que modo o Yoga se insere nesse contexto
histórico? O Yoga faz algum sentido hoje? Ou é puro modismo. Ou se transformou em
mais um das dezenas de sistemas para alinhamento corporal. E existencialmente
”continuaremos os mesmos bestas de sempre”!
O ente humano, em geral se acha identificado com os papéis, profissional,
familiar, social e religioso. A noção de si mesmo se estrutura nos conteúdos temporais
oriundos desses papéis. Quando, por alguma razão, acontece um olhar que percebe
fora desses papéis, se revela o vazio existencial seguido muitas vezes de crise. Esse
olhar não vislumbra, em um primeiro momento, o ser que ele essencialmente é. Vê
apenas a falta de sentido dos papéis que ocupa nas relações, e se depara com a
ausência de sentido do seu próprio mundo.
Essa situação cria um assombro que inquieta, e muitas vezes assusta. Esse
susto quando afeta patológicamente pode gerar enfermidades como ansiedade,
depressão, pânico, diversos tipos de neurose e suas compensações. Pode também

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estimular uma atividade desenfreada, e muitas vezes até desesperada de busca de


sentido para a vida e levar à outras formas de desequilíbrio.
Uma disfunção muito comum se expressa no esforço para manter, pela rigidez e
o conservadorismo, um sentido artificial e até moralista dos valores e costumes que
nutriam os papéis nas relações até então. E mesmo não fazendo mais sentido, são
cultuados, por não se saber o que pensar e o que fazer. O receio de mudanças reforça
o apego ao velho.
Outro modo de expressão desse mesmo desequilíbrio aparece nas atitudes
contestadoras que buscam quebrar regras e convenções, cultuar originalismos e
transgressões, mas que no fundo ainda fazem parte da mesma velha estrutura. Ainda é
a vigência do esquecimento do ser.
O Yoga convoca à um olhar para fora dos papéis sociais e familiares, com os
quais ainda permanece a identificação, mesmo que, como já foi dito, já não façam mais
sentido; e convida à iluminação do horizonte onde se vislumbra o ser que se é.
O sentido do Yoga como o vislumbre do ser para além dos papéis, só é possível,
no entanto, quando esse olhar já se deu para o vazio desses mesmos papéis. É preciso
já ter olhado para fora dos pressupostos vigentes, para saber que eles são
insuficientes. Daí surge a crise e com ela o convite para a redescoberta de si mesmo. É
preciso então a disposição adequada para o ver que apreende o ser em si mesmo e em
todas as coisas, e que pode acessar uma nova dimensão de consciência e uma nova
maneira de viver.
O Yoga, para quem viu a insuficiência daquilo que constitui a identidade vigente,
é o percurso do desvelamento do ser que se é. É o caminho de plenificação de si
mesmo.
Para quem se mantém cultuando aquilo que vigora mesmo sem fazer sentido,
por conformismo ou medo de admitir que o mundo em que vive está em chamas, para
esses o Yoga é apenas exercício, e serve para mante-los mais confortáveis na
“mesmisse’ e na mediocridade da mentalidade dominante.
Podemos perguntar então se é possível ao Yoga abrir os olhos de quem o
pratica, tornando possível ver além do discurso vigente. Ou se é apenas mais uma
opção reacionária para anestesiar os efeitos da decadência.
E uma possível resposta é: Pode abrir os olhos, sim! Ou o “olho divino” capaz de
ver o que é. Mas nem sempre isso acontece!

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Esse “abrir os olhos”, por sua vez, quando de fato acontece pode ser de dois
modos: um é quando pelo próprio discurso instaurador de um novo sentido, o Yoga
confronta as idéias vigentes e responde as questões para as quais a mentalidade
dominante não fornece respostas satisfatórias. E a outra maneira é quando pelas
alterações de percepção que as práticas yogis provocam ocorre uma mudança de
perspectiva que descortina novos horizontes, e com isso novos questionamentos e
descobertas.
As práticas do Yoga trabalham a partir e sobre a estrutura energética, corporal e
psíquica estabelecida em cada ente humano. Essa estrutura humana carrega em si, o
traço do discurso vigente, em forma de valores, crenças, padrões de reação emocional
e mental, condição do fluxo energético nos meridianos e chakras, padrões respiratórios,
hábitos posturais e condição da estrutura de tensões musculares e emocionais
crônicas, que sustentam e são sustentadas pelo falso ego, o eu temporal
O Yoga promove uma intervenção deliberada e precisa sobre essas estruturas, e
provoca com isso significativas mudanças que repercutem na visão de mundo e de si
mesmo que até então vigorava. Com isso se torna possível um olhar para além do já
pensado, e se pode vislumbrar a falência do conhecido na tarefa de dizer o que as
coisas são.
Esta ação do Yoga, desestabilizando a estrutura da mentalidade vigente,
manifesta sua face Shivaista de destruição do mundo já feito, liberando a possibilidade
de recriação de sentido. Essa recriação de sentido ocorre pelo acesso à unidade, a
origem instauradora do real, e manifesta a função Brahmanica de criação do mundo.
Assim o Yoga aparece em duas forças essenciais: destruição e criação! Morte e
renascimento!
Uma vez instaurada a criação, age a força de preservação, Vishnu! Brahma,
Vishnu e Shiva precisam atuar em sincronia perfeita para que a vigência do mundo seja
sempre com sentido. A constante criação, preservação e destruição ocorrendo no seu
momento apropriado resultam em uma articulação sempre viva do real.
É necessário estar alerta para uma tendência humana de auto asseguramento
que pode se tornar desmedida e confundir preservação com conservadorismo e
cristalização. Pois com isso se perde o contato com a necessária desconstrução e
recriação de sentido desde a origem, e surge o esquecimento do princípio instaurador
que fundamenta a realidade.

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O Yoga pode, portanto, abrir ao olhar humano o espaço onde o ser habita e é.
Nessa apreensão do ser, o ente humano acessa a dimensão originária de si mesmo, e
se torna a própria totalidade da vida. Vive a partir do que é. É autônomo e livre.
Realizou, e sempre de novo se põe a caminho da plenificação de si mesmo.
O Yoga se torna reacionário quando, em sua transmissão, usa-se o discurso
estereotipado, “já sabido”, e que não dá conta de responder as questões que o
movimento da vida nos apresenta. Ou ainda, quando a prática dos exercícios obedece
a critérios equivocados, não concorrendo para a desestabilização dos
condicionamentos e padrões que sustentam a mentalidade vigente e o falso ego.
A justificação das práticas yogis com argumentos que se baseiam unicamente
nas comprovações científicas dos seus efeitos, não faz o percurso de principio, de
apropriação de sentido, e por isso leva pessoas a práticas terapeuticamente eficazes,
mas carentes de fundamento. Não atingem o essencial na crise humana hoje, que é a
ausência de significado e de conexão com o Si mesmo.
As práticas de Yoga nesse caso mascaram os sintomas negativos de uma
mentalidade vazia e em crise. O que se encontra então nas práticas não é a luz que
dissolveria a crise e desvelaria o ser e o sentido de si mesmo, mas um subterfúgio a
mais para diminuir o desconforto. Isso apenas fornece resistência para que se continue,
por mais tempo ainda, na estrutura doentia sem sentir tanto os efeitos nocivos dessa
condição.
O Yoga é o que fazemos dele. Em si mesmo absolutamente é transcendental.
Inacessível a tudo o que se possa pensar ou fazer. Ao ser pensado, e dito desde esse
pensar, já não é o Yoga mesmo.
Ele aparece na articulação decorrente da sua apreensão. O Yoga aparece na
linguagem, desde uma apreensão que ocorre naturalmente pela aproximação e acesso
de quem o articula e diz. Como ocorre esse acesso e apreensão vai determinar a forma
que o Yoga tomará e a sua legitimidade ou não.
Se a apreensão ocorre no vazio luminoso da ausência de tempo e de ego, ele
aparece vivo, sendo ele mesmo. Isto só acontece no silêncio que nenhum pensamento
pode produzir. Só ocorre na escuta atenta que caracteriza a Meditação. Por isso Shri
Patanjali diz ”Yoga é a parada das ondas mentais”. E pode-se acrescentar, é a
ausência do si mesmo baseado no tempo.

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Quando a apreensão ocorre a partir do que outros já disseram que ele é, e a


partir de um eu já completamente comprometido com seus próprios conteúdos
condicionados, o que surge é um Yoga de segunda mão. Um pseudo Yoga;
mumificado. Um fóssil desnaturado que vai desde a megalomania materialista dos
falsos mestres até os piedosos sectários que se fazem passar por religiosos.
O Yoga vivo só aparece quando o acesso ocorre desde a ausência do eu.
Quando a fonte originária do Yoga, ela mesma, surge no espaço luminoso e infinito que
se abre com a dissolução da identidade temporal. Então é possível compreender que
quando existe alguém praticando não existe Yoga!
Se a formulação dada ao Yoga causa estranheza e nos coloca diante do fato de
que então não sabemos o que é Yoga, é quando esse dizer cumpriu plenamente a sua
função. Pois assim não pensamos já saber. E é nessa disposição que podemos
perguntar “O que é isto, Yoga? E nos colocarmos então à escuta, silenciosamente,
esvaziando-nos de nós mesmos, para deixar o Yoga ser o que ele é onde antes havia o
“nós”. Ele surge precisamente na quietude desse escutar e ocupa o espaço da
identidade do ser.
Quando se pensa que sabe já se deixou de saber. O Yoga é vivo e sua fonte é
infinitamente criativa. É sempre novo e atual ao ser disponibilizado por quem o
apreende desde a origem. E é sempre outro, ainda que seja sempre ele mesmo! Esta é
a eterna atualidade do Yoga.
O estado de Yoga, ele mesmo, não está a disposição de todos de qualquer
maneira. È necessário um alinhamento adequado de intenção, de foco, de
disponibilidade.
Na disposição adequada o Yoga se mostra plenamente, pois já está sempre aí.
Mas é preciso completa abertura e vulnerabilidade para que ele possa afetar,
transformar, provocar a morte e o renascimento do sentido de si mesmo e do mundo.
A Tradição Yogi pode assim realizar aquilo que é o seu propósito fundamental: O
desvelamento do Si mesmo. O acesso humano ao sagrado!
O humano é Divino! Aham Brahmasmi! Shivo Ham! Sat Nam!

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VISÃO GERAL DOS CAMINHOS TRADICIONAIS DO YOGA

I. O QUE É YOGA

Yoga é um estado de ser além da mente que surge quando a mente se aquieta e
desaparece a idéia de si mesmo baseada no tempo. É o acesso ao Ser Uno, de onde
emergem as múltiplas coisas existentes. Yoga é ser o Um!

As práticas e ensinamentos do Yoga, independente da Via à qual pertençam,


têm o mesmo propósito essencial: criar condições físicas, energéticas e psíquicas que
facilitem o surgimento do estado de Yoga.

As práticas do Yoga são formas de intervenção sobre as estruturas e funções


que constituem o ente humano. Existem modelos diferentes para o entendimento da
constituição humana, mas alguns elementos básicos são consenso em quase todos os
mapeamentos e são suficientes para explicar as Vias Tradicionais do Yoga.

Algumas dessas estruturas e funções básicas são: mental-intelectual, afetiva,


fisiológica e bioenergética ou prânica. Esta última é constituída basicamente pelos
canais (nadís) por onde flui a energia vital (Prana) em suas diversas manifestações, e
pelos chakras, que são centros de captação, armazenamento e distribuição de Prana
para nutrir as funções de todos os demais corpos ( nome que essas estruturas recebem
na terminologia do Yoga).
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As Vias do Yoga são um conjunto de práticas e ensinamentos que envolvem de


forma mais ativa e direta uma ou mais dessas estruturas e funções, no trabalho de
criação das condições para o estado além da mente e do ego.

È claro que a prática envolvendo um corpo repercute sobre os demais, pois o


ente humano é um todo integrado. Mas o trabalho pode ocorrer a partir de um ou mais
desses corpos, e isso determina a característica dos exercícios e ensinamentos, que
constituem uma determinada Via de Yoga.

Como Yoga é um estado que surge quando a mente se aquieta, e Meditação é


exatamente este aquietamento, sem Meditação não existe Yoga. O Dhyan Yoga (Yoga
da Meditação) é por isso, o ponto de convergência de todas as Escolas e Mestres,
embora as técnicas utilizadas possam ser diferentes.

Cada Via de Yoga abriga diferentes escolas, de acordo com a formulação


desenvolvida por um determinado Mestre. Isso ocorre para que os ensinamentos e a
prática do Yoga sejam sempre de acordo com o lugar, as pessoas e o momento, e não
caiam na imitação e no convencionalismo.

A origem real das Vias do Yoga é o próprio movimento do ente humano em


direção a descoberta de si mesmo. Quando esse movimento espontâneo acontece a
partir do aspecto cognitivo, no sentido de apreender a verdade intrínseca da existência
e de si mesmo o ensinamento do Yoga é o Jnana Marga (caminho da sabedoria).

Quando esse mesmo movimento ocorre pela mobilização da energia afetiva,


amorosa surge o Bhakti Yoga ou algum aspecto do Tantra Yoga no qual se torna
possível a experiência do amor incondicional.

Se o indivíduo aborda a vida muito mais pelo seu aspecto prático, impulsionado
naturalmente à realização, ao trabalho, então vemos um movimento pelo caminho da
ação, e nesse caminho importa muito questionar as motivações, de onde nasce a ação,
o que a impulsiona? De onde ela vêm? O mergulho profundo nessas questões
juntamente com a Meditação constitui o Caminho da ação completa, livre do passado e
do futuro. O Karma Yoga!

O Raja Yoga se torna naturalmente o caminho quando há um anseio de


mergulhar em seu próprio espaço interior em direção ao silêncio completo da mente.

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Envolve uma intervenção sobre os próprios processos mentais visando facilitar um


completo aquietamennto interior.

Nos Yogas Tântricos o trabalho envolve todos os corpos e funções humanas,


incluindo elementos de todas as outras Vias. É um Yoga integral e em quase todas as
formulações não precisa que o praticante se retire da visa social e familiar normal.

O Yoga, sendo uma dimensão além da mente, libera o espaço transcendental


inatingível pelas palavras e pelo pensamento articulado. O risco de se utilizar nomes
nesse caso é o de aprisionar em conceitos aquilo que os pensamentos não podem
captar. Por isso ao se utilizar as palavras “Absoluto; Divino, Consciência Atemporal e
outros, é bom lembrar que essas palavras ao tentarem mostrar, na verdade escondem
o que é dito. É preciso então apreender atentamente, em completo silêncio Aquilo que
elas escondem ao serem usadas.

II. JNANA YOGA OU GYAN YOGA

Quando o movimento espontâneo do ser, no sentido acessar a Verdade da


existência e de si mesmo, acontece a partir da função intelectual, possivelmente este
indivíduo fará conexão com uma Escola ou Mestre de Jnana Yoga. Então, receberá
ensinamentos e práticas no sentido de acessar o estado de Yoga pelo exercício cada
vez mais profundo da sua capacidade cognitiva e pela Meditação.

O Jnana Yoga é um Estado de Sabedoria plena, onde a Verdade é percebida


como o fundamento de todas as coisas, momento a momento. Não é adesão à
conceitos. Não é simplesmente erudição. É a percepção direta do real que é em tudo,
sem que haja divisão entre o conhecedor, o conhecimento e o conhecido.

O Absoluto é o Eu Supremo de todas os entes. É um só. A diferença ocorre


apenas no plano temporal onde a identidade humana é estruturada nas memórias. A
realização do Yoga é a dissolução da identidade temporal e a presença do Absoluto
como a Identidade Una que sustenta a diversidade dos entes vivos.

Classicamente, o trabalho de Jnana Yoga inclui 07 aspectos fundamentais:

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1- Viveka – Discernimento constante entre o real e o ilusório, tendo como


um dos parâmetros essenciais a premissa de que se existe a Verdade
Absoluta ela é Imutável e Eterna, portanto, tudo o que é transitório e
contingente não sendo Absoluto deve ser considerado ilusório e tratado
como tal. Pode se admitir nesses fenômenos uma realidade relativa e
passageira, mas o olhar do sábio percebe o Um Imutável em tudo e m
si mesmo.
2- Vairagya – Desapego. Resulta da conexão com a fonte interna de
satisfação, tornando desnecessário utilizar a relação com o mundo para
dar um sentido para si mesmo, para preencher-se psicologicamente.
Com o desapego a mente fica tranqüila e facilita a Meditação.
3- Shat Sampat – São as 06 qualidades que caracterizam uma mente
harmoniosa, serena, desapegada, que manifesta contentamento, força
guerreira e fé na capacidade intrínseca do humano em descobrir que é
Divino. As seis virtudes são: sama, dama, uparam, titiksa, sradha e
samadhama.
4- Mumuksutva – O estado de Liberdade além dos condicionamentos e
padrões automáticos do ego.
5- Sravana – É o escutar silencioso capaz de apreender o sentido que se
mostra e se esconde nas palavras.
6- Manana – A reflexão que cria clareza mental e acessa o real
significado dos ensinamentos e das experiências da vida.

7- Nididhyasana – Meditação. É o mergulho definitivo no Oceano da


Unidade, dissolvendo o eu temporal(ahankar) e manifestando a Identidade Espiritual,
Divina ( Atmam).

A realização plena do Jnana Yoga se expressa nas seguintes expressões,


conhecidas como Mahavakhyas.

- Aham Brahmasmi – Eu sou Brahmam. Ou seja, Deus é o que sou.

- Prajnanan Brahmam – A Inteligência, a sabedoria em Mim é o Divino.

- Tat Tvan Asi – Tu és Isto. Todos são o Um em tudo.

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- So Ham – Eu sou Ele. A cada respiração mesmo sem consciência dizemos: “Eu
sou o Absoluto”.

Os obstáculos ao Jnana Yoga são:

1. Apegos e aversões.
2. dispersão mental.
3. sono.
4. satisfação por um estado passageiro de realização.

Todos serão dissolvidos por um sadhana bem orientado e praticado com interesse
e regularidade. A presença de alguém que realizou o Yoga plenamente é importante
para mostrar ao praticante o estágio em que ele se encontra e lhe indicar quando está
preso nos condicionamentos, ou na própria auto congratulação proveniente do bem
estar gerado pelo progresso já realizado.

III. BHAKTI YOGA

O Bhakti Yoga surge quando ocorre a mobilização da energia afetiva em direção a


uma dimensão transcendente. O Absoluto é sentido como o Ser Supremo e surge uma
relação amorosa com o Divino, independente de como ele seja concebido. Seja na forma de
um Mestre Iluminado, uma imagem que personifica o Divino, uma Idéia, um símbolo ou
simplesmente o Indeterminado sem forma.

O que caracteriza o Bhakti Yoga é o anseio por “participar” do Ser Divino. Fazer
parte Dele. E finalmente Ser Ele, quando então dissolve-se a dualidade entre o amante ao
Amado. O adorador e o Adorado: “Eu e o Pai somos Um”!

Por se tratar de Amor, devoção, o Bhakti Yoga não depende para ser realmente
vivenciado, de uma decisão intelectual ou da vontade. É de certa forma a graça Divina que
acende no coração do devoto a chama do Amor.

A entrega amorosa ao Divino exige total confiança e abandono do eu. Nenhum


interesse à motiva. Nem mesmo a Iluminação. Quando se pretende algo em troca não é
devoção. É comércio!

O verdadeiro bhakta (praticante de Bhakti Yoga) age sempre para fazer aquilo que o
Divino faria para si mesmo. Isto é servir ao Divino. Agir como uma parte integrante Dele,
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para Ele. A devoção dissipa o ego e desvela o Divino como o Único Eu. Então a Unidade
aparece. A mesma realização do Jnana ocorre através do Bhakti Yoga por processos
diferentes. Quando o coração se abre completamente, a mente se aquieta. Quando a mente
se aquieta, o coração se abre. A Sabedoria e o Amor são aspectos de uma mesma
Consciência. O coração aqui se refere ao estado de afetividade incondicionada, muito além
de emoções e sentimentos provocados pelas impressões sensoriais.

A prática do Bhakti Yoga, no dizer de Swami Sivananda, pode ser Apara Bhakti ou Para
Bhakti.

1. APARA BHAKTI.

No Apara Bhakti, também chamado por alguns como Gauni Bhakti, a devoção se
expressa em rituais de adoração onde além de outros procedimentos, se oferece flores,
aromas, alimentos à uma personificação do Divino. Há dualidade entre o adorador e o
adorado. E tudo o que se possa fazer para expressar a devoção aumenta a chama do Amor
e a proximidade com o Amado.

No Srimad-Bhagavatan e no Vishnu Purana são ordenadas estas nove práticas de


Bhakti, que são:

1. Sravana - escutar histórias envolvendo a forma que para você representa o


Divino.
2.Kirtana -cantar Suas glórias com bhajans que são a própria Presença Divina em
forma de som, e que por isso mesmo atua limpando a mente e o coração do praticante,
tornando-o mais consciente da Presença Divina nele mesmo, e aumentando o fogo da
devoção.
3. Smarana - lembrança da presença Divina como o Eu em todos e em si mesmo.
Entoar os Nomes de Deus fazendo japa com ou sem mala (colar utilizado para contar
as repetições do mantra) é uma prática central no Bhakti Yoga, pois o Nome de Deus
é o Divino em forma de som ( Shabda Brahmam). Esse acesso ao Absoluto através da
vibração do mantra dissipa progressivamente o ego e cria espaço para o Divino
aparecer como a Identidade última do ente humano.
4.Padasevana - servi-lO a Seus pés. Agir por amor ao Divino.

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5.Archana - adorar a Deus. Oferecer concreta ou mentalmente tudo ao Divino.


6.Vandana - prostrar-se para o Senhor. Situar-se em total receptividade, esvaziando-se
da auto importância do ego. Acolhendo o Divino.
7. Dasya – Manter-se no Bhava ( atitude interna)de quem age para Deus.
8.Sakhya - cultivar o Bhava de amigo.
9.Atmanivedana - completa rendição ao Ser. Entrega amorosa onde desaparece o
ego e a Consciência Divina passa a vigorar como o Eu.

Um devoto pode praticar qualquer um destes métodos do Bhakti Yoga. Aquele


que ele sente fluir com mais sentido e naturalidad

2. PARA BHAKTI
No Para Bhakti a dimensão Divina é percebida em tudo e em todas as coisas, e
não apenas naquela forma que era objeto de devoção. O Divino está em tudo e além de
tudo. Nada, nem ninguém consegue ocultar o Divino dos olhos e coração do verdadeiro
bhakta. Nem uma formiga, um inseto, um amigo ou um inimigo. Todos são Ele. E Ele é
o Eu no próprio devoto. Então desaparece a dualidade e o Amor Divino, Prem é o
estado de Amor Divino, de completa Unidade. Este é o Yoga do Amor que transcende a
própria devoção.
Pode parecer que o Bhakti Yoga se confunde com religião. No entanto não é
assim. Na religião, e a própria palavra diz isso, há um sentido de dualidade. Existem
dois que precisam se religar. No Yoga, não existem dois. É a dissolução do eu
temporal, o ego, que cria as condições para o Ser atemporal vigorar como a Identidade
real do humano. A dualidade é uma ilusão que se dissipa na realização do Yoga.

IV. KARMA YOGA.

Karma significa ação. Karma Yoga é a ação que surge do estado atemporal de
consciência. É uma ação total, que não deixa vestígios em “quem” a pratica, pois não
há nenhum eu que a pratique. È uma ação Imotivada, pois não parte de um centro que
com ela receberia algum resultado desejado.

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Existe reação e ação. A reação se estrutura no passado. Nos condicionamentos.


Acontece mecanicamente pela força residual das memórias e do seu núcleo, o ego. A
reação é sempre incompleta, pois trás para o agora, que é sempre novo, uma resposta
do passado. Por ser incompleta precisa se completar com o que dela resulta. Por isso
prende ainda mais quem a pratica nas redes do tempo. Quem espera receber algo pelo
que faz é escravo do futuro.
Karma Yoga não é reação. É ação. Ação é sempre livre do passado e por isso
livre também do futuro. É completa em si mesma, pois nasce da percepção direta do
que agora é. Não precisa se completar com o resultado e por isso é totalmente
desapegada dos seus frutos. É espontânea e nada tem a ver com assistencialismo, ou
voluntarismo social.
A ação que caracteriza o Karma Yoga só é possível em um estado além da
mente e do ego. Por isso mesmo a Meditação, que inclui o auto conhecimento, é
absolutamente essencial para o Karma Yoga.
A prática inclui a auto observação constante e o auto investigação, para que
sejam percebidos os reais motivos, e as tendências subconscientes que impulsionam
as reações. É interessante como exercício, agir observando a tendência egocêntrica de
buscar recompensa, e perceber de forma direta e sem julgamento esse padrão, para
então compreender a sua estrutura e possibilitar uma completa dissolução.
A prática regular de Meditação é um sadhana indispensável no Karma Yoga, pois
pode abrir a dimensão atemporal de onde a ação imotivada pode surgir
espontaneamente.
Outra vezes se aconselha uma atitude bhakti para realizar o Karma Yoga.
Nesses casos se pretende o despreendimento dos frutos da ação pela intenção de se
estar servindo ao Divino (seva), em tudo o que se faz. Nesses casos, é importante
verificar se na própria idéia de estar servindo à Deus não há uma busca de recompensa
que mesmo sutil, ainda poderia estar mantendo o ego como centro motivador da ação
na expectativa dos resultados. Poderia haver, por exemplo, a pretensão de ser
reconhecido pelos outros como alguém desapegado e devoto. Ou o interesse em
receber benefícios “espirituais”, como um bom” lugar no paraíso” ou na “próxima vida”.
Os Mestres são unânimes em afirmar que é preciso muita atenção e
discernimento para dissolver as manipulações da mente e do ego, que muitas vezes se
disfarçam e utilizam a “ máscara da espiritualidade” para não serem reconhecidos.

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V. RAJA YOGA.

O que é Raja Yoga


O Raja Yoga é um momento especial em qualquer Via autêntica de Yoga. É o
momento em que o foco principal é o mergulho definitivo no espaço meditativo, além da
mente.
Um dos textos mais importantes na descrição
desse momento do processo de Yogi é o Yoga Sutra
de Shri Patanjali. Por isso normalmente quando se
fala de Raja Yoga vem à mente este texto clássico.
O foco central do Raja Yoga é o silenciar
completo da mente. O trabalho atua diretamente
sobre o movimento dos processos da consciência
visando diminuir progressivamente a dispersão,
focalizar a atividade mental em um único ponto e
então parar o processo mental. Com isso surge
desaparece o ahankar (eu temporal) e vigora
Purusha (a Consciência incondicionada).

Há cinco estágios de refinamento da mente da mente:


1- Kshipa - É um estado mental de ignorância em relação à busca espiritual.
Tem muita energia em movimento, por isso é agitada, irrita-se com facilidade, se
move em várias direções, não tem paciência nem clareza necessárias para a
contemplação ou percepção de aspectos sutis da vida.. Não tem poder de
concentração a não ser que seja em algo que lhe interesse muito e certamente
será por ambição, inveja ou paixão.
2 - Mudha – É uma mente também na ignorância, porém embotada,
preguiçosa, confusa, propensa ao vício e a estagnação. Pode se fixar
excessivamente em aspectos ligados a vida neste mundo como família, saúde
física...etc.

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3- Vikshipta -. É um estado mental com grande movimento, rápido, volátil. Busca


estímulos e informação com certa avidez, mas não analisa. Tem dificuldade de
se deter em algo ou mesmo em compromissos. Pode ter momentos de calma e
então consegue escutar com atenção ensinamentos sobre aspectos sutis da
vida, contemplar por algum tempo e compreender até certo ponto. Mas é uma
mente agitada e em seguida se dispersa, perde o foco da atenção e torna –se
difícil então vivenciar as dimensões mais profundas do Ser.
4. Ekagra – É um estado mental de calma, tranqüilidade e clareza na percepção
sobre a origem das coisas. A mente é ordenada. Um pensamento termina e só
então começa outro. Sem atropelos. Tem capacidade de manter-se focada em
só ponto e assim permanecer. Mergulha em Meditação e em Samprajnata
Samadhi.
5-Nirudha – Parada das ondas mentais. Ausência de atividade no plano
temporal da consciência possibilitando a abertura para o Atemporal; Atmam,
Purusha. Calma absoluta e Luz Interior. Percepção que apreende o real no
silêncio. Além dos nomes e formas. Neste estado o ego se dissolve e a
Identidade humana mais profunda aparece. Este é o estado de Yoga.

O Yoga descrito por Shri Patañjali é geralmente chamado de Ashtanga-Yoga,


ou o Yoga de oito partes. Praticando regularmente, com orientação adequada, o
propósito do Yoga é realizado.

1.Yama - Yama é a maestria sobre si mesmo na relação com os outros. Auto


restrição.

a- Ahimsa (não violência) – Respeito sincero por todas as manifestações de vida. Não
violar. O tabalho envolve se dar conta das manifestações de violência, sem julgamento,
sem comparar com o que deveria ser de acordo com qualquer tipo de preceito moral,
inclusive este Yama mesmo. A observação adequada das raízes e processo da
violência pode evidenciar o que de inadequado nessa reação e possibilitar então a
dissolução das acusas da violência. Então ela pode desaparecer e a não violência
surge naturalmente, sem ser cultuada. Cultuar a não violência é uma forma sutil de
manter as raízes da violência.

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b- Satya – Veracidade. Agir, pensar e falar plenamente de acordo com o que considera
verdadeiro. Verdade não é um conceito ou idéia. Nem a descrição detalhada dos fatos.
È um estado de ser onde tudo é percebido tal como é em si mesmo. Falar a verdade é
dizer aquilo que ao ser escutado, aproxima ou desperta em quem escuta, o estado
onde tudo é visto tal como é. Dizer o que não sabe é mentir. Ser verdadeiro com que é
agora é a base ´para o crescimento em direção ao estado de ser a própria verdade.

c- Asteya - Não roubar objetos, nem idéias. Usar idéias sem ter realizado em si mesmo
o percurso de entendimento é roubar. È viver no mundo dos outros.

d-Brahmacharya - Agir como o Divino. Estado onde a relação com os objetos dos
sentidos não visa o preenchimento psicológico. Aplicado ao aspecto sexual é não fazer
da relação uma forma de preencher o vazio existencial. Pode significar o não
desperdício da energia sexual. Em contexto monástico é o celibato.

e- Aparigraha – Não possessividade. Ausência de pensamentos ou sentimentos de


posse em relação à objetos, pessoas, idéias e ideais. Não significa evitar a utilização de
recursos necessários para a realização do seu destino humano, mas sim a não
utilização de objetos, pessoas, idéias para dar sentido a si mesmo.

2. Niyama – Disciplina na relação consigo mesmo.Observâncias

a- Saucha – Pureza. Inclui limpeza física interna e externa. Limpeza emocional e


mental com pranayama, cartarse, japa e kirtan; auto observação viveka e Meditação.
b- Santosha – Contentamento que não se cria e nem se desfaz pela alteração das
circunstâncias.É sem causa externa. Provém da conexão com a alma(Purusha).
c- Tapas – É o aquecimento que dissipa as impurezas das nadís, chakras e mente.
Diz também austeridade que é o abandono do eu na ação; esforço
d- Svadhyaya - Estudo de si mesmo e das escrituras que trazem o ensinamento dos
Mestres.
e- Ishvarapranidhana – Entrega amorosa ao Divino. A entrega ausenta o ego e seu
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controle condicionado sobre a consciência, abrindo assim espaço para a Presença


Divina manifestar-se no Coração do discípulo.
3. Asana - Postura firme e confortável que facilita o mergulho na Meditação.
4. Pranayama - Regulação da força vital, Prana, pela respiração visando parar a
mente.
5. Pratyahara -abstração dos sentidos e da mente. Estado em que as impressões
sensoriais não modificam a condição mental ou espiritual.

6. Dharana – Concentrar a mente em algum objeto unificando a energia mental e


facilitando a Meditação. A Concentração pode ser em uma área do corpo, um símbolo
( yantra ou mandala), chakras, mantra, chama de uma vela e muitos outros.

7. Dhyana – Meditação . No pensar comum a mente se move loucamente sem parar de


objeto em objeto. Na Contemplação e reflexão o pensamento é dirigido á um tema em
particular. O Objeto permanece o mesmo, apenas o pensamento se move. O poeta com
a lua. Um cientista com o seu problema. Na concentração a mente se focaliza em um
único ponto, sem se mover. Portanto, processo mental fixo, parado, e objeto permanece
o mesmo. Na Meditação não há mente e objeto separados. Se fundem em um só. Não
há divisão entre pensador e pensamentos. Tudo é UM!

Existe uma diversidade de técnicas de Meditação e cada praticante deve ser


orientado individualmente para aprofundar a sua prática segundo suas necessidades
pessoais.
8. Samadhi – É a intensificação natural do estado de Meditação. É a supra consciência:
Além do eu, além da mente e do tempo! É a dissolução da identidade baseada nas
memórias no oceano da consciência absoluta que é pura luz, poder, sabedoria e amor.
Samadhi é a realização plena do que o Yoga propõe e é!

Existem níveis diferentes de samadhi que não vamos comentar aqui. Alguns
apenas suspendem o ego temporariamente, mas este retorna uma vez passada a
experiência. Este é Sabija, com semente. Com o sadhana apropriado, porém, ocorre a
dissolução de todas as tendências condicionadas do subconsciente, as identificações
com as memórias, e o samadhi acontece definitivamente.Então não há mais ninguém
para retornar. Este é o Nirbija, sem semente. O que surge então é Purusha, o Ser

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primordial, Imortal e pleno de Sabedoria, capaz de viver no mundo em completa


harmonia e paz.

Os oito angas do Raja Yoga acontecem com e no ente humano e por isso têm
uma relação dinâmica entre si, pois interagem sobre um mesmo centro modificando-o.
Cada anga, quando atua sobre esse centro, o ente humano, encontra-o modificado
pelo impacto de um outro anga que o antecedeu, e modifica-o para a ação dos outros a
seguir. É um processo onde todos interagem harmoniosamente para o acesso à
totalidade do Ser.

Raja Yoga é um momento da pratica yogi onde ocorre um mergulho definitivo


totalmente focado no silêncio da mente, na dissolução do eu temporal e, portanto na
vivência de um estado de ser atemporal. Podemos dizer que não é possível yoga sem
Raja Yoga. Ou seja todo Yoga digno desse nome contém como possibilidade esse
momento do processo e portanto precisa ter técnicas para trabalhar adequadamente
esse momento.
Meditação é o “pano de fundo” de todas as práticas de harmonização e
intensificação energética próprios do Yoga. É o contexto meditativo onde as vivências
acontecem, que dá um sentido maior a todas as elas. A qualidade de poderem ser
chamadas de Yoga.
Sendo Yoga um estado de ser, a Meditação é o mergulho e vivência nesse
Estado. Portanto, o Estado de Meditação é Yoga. E o Estado de Yoga é Meditação!
Meditação é a compreensão direta da vida, sem que haja alguém que
compreendeu e algo que foi compreendido. É um estado de compreensão sem divisão
sujeito-objeto.
Meditação é a dissolução do eu temporal. Sem esforço. Sem compulsão, mas
mediante a compreensão direta de si mesmo.
Não é a Meditação resultado de nenhum esforço da vontade. De nenhuma ação
deliberada sobre si mesmo.Tampouco provêm da concentração sobre um objeto
escolhido, seja uma imagem ou uma idéia. A concentração exclui, escolhe, e, portanto,
gera esforço e conflito para que não haja distração. É um movimento do eu que ocorre
na mente em busca de um resultado, e, portanto, é um processo mental preso ao
futuro.

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A Meditação exige a atenção plena. E esta não é fruto de nenhuma deliberação


anterior, mas nasce espontaneamente, como um movimento de compreensão sem a
interferência do eu. Sem busca de resultado.
O silêncio da mente é o campo propício ao florescimento da Meditação. A mente
silenciosa é como um lago transparente sem nenhum movimento na superfície, e que
possibilita assim o completo vislumbre da sua profundidade. Através de uma mente
silenciosa resplandesce aquilo que está além dela própria. Aquilo que é atemporal,
Incondicionado, genuinamente espiritual.
A mente não pode ser silenciada. O verdadeiro silenciar é sem esforço. Surge
instantaneamente na ausência de divisão pensador-pensamentos. O pensador é
resultante dos pensamentos. Ambos são o movimento do passado no presente. A
compreensão de que não há dualidade. De que o pensador é os pensamentos,
desperta naturalmente um estado de silêncio Interior.
Quando o pensamento compreende a sua própria insuficiência como instrumento
de compreensão, de apreensão daquilo que está além dele, então ele se cala.
Naturalmente. E é nessa quietude que surge outra dimensão de ser, além do mental. A
partir desse estado atemporal acontece a compreensão direta, a visão intuitiva pura que
apreende a realidade tal como ela aparece, e não como as lentes coloridas da mente
condicionada projetaria.
O estado de Meditação é uma dimensão de consciência de onde surge uma
ação integral, adequada a cada momento. É uma ação imotivada que não deixa rastros,
e que é imprevisível e totalmente espontânea.
“Meditação não é uma ação específica, mas uma qualidade na ação”, diz Osho.
Não é, portanto, algo que se pratica para viver melhor, mas é o próprio movimento da
vida e sua recepção e compreensão. É o próprio viver descoberto a cada momento e
vivenciado em toda a sua profundidade; é a vida plenificando-se instante à instante à
cada novo aparecimento.
Meditação é a ausência do meditador! É a essência do Yoga! Implica completa
liberdade. Ausência total de conceitos e idéias preconcebidas acerca inclusive do que
seja a própria Meditação.

VI. YOGA TANTRICO


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O Yoga Tantrico inclui diversos sistemas de Yoga que se fundamentam em uma


visão Tantrica da vida e do ser humano.
Já caminhamos no interior da pergunta o que é Yoga e pudemos vislumbrar e
sentir aspectos fundamentais do seu significado. Mas esta
é uma questão que nunca se esgota e é sempre possível e
mesmo necessário de novo retornarmos à ela. À cada
viagem descobriremos e seremos descobertos por novas
dimensões de sentido, que só se abrem para viajantes
insistentes e perseverantes dispostos a explorar
infinitamente essa fonte inesgotável de significado que nos remete ao infinito ser que
somos.
Nesse caso agora incluímos a expressão tântrico e vamos olhar mais de perto o
que é isto, Yoga Tântrico ?
“Yoga é a parada das ondas mentais”. Assim disse Sri Patánjali, o famoso sábio
compilador do Yoga Sutra. Este conceito de Yoga, apresentado no texto clássico de
Patanjali, é um consenso entre as diversas Escolas e Mestres de Yoga. Ele
essencialmente diz que Yoga é um estado de consciência que surge quando a mente
se aquieta.
Quando nos deparamos com o Yoga, naturalmente a primeira questão que surge
é: o que é isto, Yoga ?! E tudo o que se faz a partir dessa pergunta é mergulhar na
descoberta da resposta. E ao se descobrir o que é o Yoga descobrimos também que ao
se responder esta primeira pergunta já realizamos o percurso todo do que o Yoga é e
propõe desde o início. Já caminhamos toda a extensão do seu significado.
Isto quer dizer que Yoga é um voltar-se para a descoberta do que o próprio Yoga
é. Todas as práticas e ensinamentos de qualquer Via quê sejam visam em última
instância a vivência da “parada das ondas mentais”, a partir da qual a percepção se
amplia e é possível a descoberta de si mesmo em seu mais profundo núcleo de
Identidade, a dimensão atemporal de consciência.
Yoga é, portanto, o espaço interior onde emerge a Identidade mais profunda do
Ser. O que o Ser humano é se revela no que é o Yoga. O ser é no Yoga. Ou o Yoga é o
espaço onde o Ser é.

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Podemos dizer então que Yoga é o que em verdade somos em nosso mais
profundo núcleo de Ser. Nós somos o Yoga ! O Yoga e nós somos Um. Esse é o
significado da palavra Yoga: União! A consciência da Unidade.
Mas a palavra Yoga é usada não apenas para se referir ao estado de
consciência, como também para se referir às Práticas e Ensinamentos capazes de
facilitar a parada das ondas mentais e instituir o Estado de Ser que é Yoga.
No que diz respeito à expressão tantrico é a qualidade daquilo que é próprio do
Tantra. Tan significa estender, expandir, tra é instrumentalidade e também aquilo que
libera. Portanto Tantra é um instrumento que ao atuar, libera. E essa liberação é no
sentido de uma expansão que se mostra Infinita porque se refere às possibilidades
máximas da consciência humana. Tantra é um instrumento de expansão e liberação da
consciência para a sua própria Infinitude. E nesse sentido se confunde com o sentido
do que é Yoga: a dimensão infinita da consciência que se manifesta quando a mente se
aquieta.
Mas no Tantra a palavra expansão e estender, se referem não apenas a uma
possibilidade inerente à consciência, mas a uma característica da constituição do
próprio universo em suas múltiplas dimensões e estados de matéria. O modo de ver e
sentir a vida que é próprio do Tantra concebe esse universo manifestado como um
grande palco onde tudo se liga com tudo. Tudo se interconecta e influencia
mutuamente. E essa teia cósmica se estende infinitamente formando tudo o que existe
como energia, matéria e consciência.
Essa concepção se aplica também ao Ser humano, o micro universo. Nessa
perspectiva o Ser humano é um Todo interconectado: corpo, energia, emoção, mente,
intelecto, consciência espiritual e Divina. Tudo essencialmente é Um só. Um Todo
integrado. Sendo assim o Tantra ao propor o despertar do potencial humano de Ser
rumo às dimensões espiritual e Divina, incluirá um trabalho com todas as dimensões da
energia. Desde a dimensão física até a mental e intelectual, criando condições para a
conexão com o espiritual e Divino.
As práticas e Ensinamentos visando o desenvolvimento da consciência e que
mobilizam as energias humanas em todos os níveis e funções, constituem um Yoga
Tântrico. É importante a expressão aqui “um” Yoga tântrico e não “o” Yoga Tântrico.
Isso está dizendo que não existe um sistema único. Cada Mestre ou escola poderá

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formular um modo de atuar relacionado com o lugar, as pessoas e o momento para que
assim o impacto dos ensinamentos possa de fato gerar as transformações pretendidas.
O Tantra percebe o ente humano como um complexo energético no qual tanto as
funções físicas como psicológicas são nutridas e movidas pela energia da vida, o prana.
A intensificação e a harmonização resultantes de uma intervenção adequada sobre a
energia prânica e suas manifestações, é um poderoso instrumento facilitador à criação
do contexto propício ao despertar do estado de Yoga.
O trabalho sobre o campo energético inclui o reequilíbrio e ativação adequada
dos chakras, limpeza das nadís (canais por onde circula o prana), harmonia no fluxo
dos prana vayus, dos tatwas, e dos doshas, e a abertura do sushuma, canal ao longo
da coluna por onde prana e apana fluem unidos, e por onde flui também o poder da
Alma, shakti Kundalini.
Este termo, Yoga Tântrico, pode ser usado para se referir aos caminhos do
Yoga que se fundamentam em uma visão de mundo própria do Tantra. Vamos ver de
modo geral o que é isto.

O Tantra é por muitos considerado como a mais antiga expressão da cultura


espiritual da Índia, anterior mesmo à tradição védica. Nessa
perpectiva se costuma dizer que o povos habitante da região às
margens do rio Indus, a mais de 5.000 anos atrás, tinham em Shiva
a personificação do Divino, e adoravam seu aspecto feminino como
a Mãe Divina. Era uma sociedade matriarcal e conheciam o Yoga.
Daí a afirmação de muitos Mestres como Paramahansa Swami
Satyananda, por exemplo, de que o Yoga surgiu do Tantra.

A literatura sânscrita contém seis tipos de texto que tratam de


aspectos místico filosóficos: Sruti, Smriti, Itihasa, Purana,
Agama, e Darshana do qual faz parte o Yoga Sutra de Patanjali. E contem quatro
seculares que são: Subhashita, Kavya, Nataka e, Alankara.

Em relação ao Tantra nos interessa especialmente os Ágamas. Eles se dividem


em três seções: a Vaishnava, a Shaiva e a Shakta.

Os Vaishnavas Agamas glorificam a Deus como Vishnu.

Os Saivas Agamas glorificam a Deus como Shiva, e têm na filosofia Shaiva


Siddhanta a sua principal referência.
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Os Sakta Agamas ou Tantras glorificam Deus como a Mãe do mundo sob vários
nomes. Falam à respeito de Shakti, o poder Divino em ação e prescrevem várias
práticas devocionais à Divina Mãe.

Existem setenta e sete Agamas. Os textos são usualmente em forma de


diálogos entre Shiva e Parvati. Em alguns destes, Shiva responde questões colocados
por Parvati, e em outras, Parvati responde os questionamentos de Shiva.

Entre os Tantra Shastras se destacam Mahanirvana, Kularnava Tantra e


Vigyana Bhairava Tantra. E ainda o Yoga Kundalini Upanishads, de Krishna
Yajurveda, Jabala Darsana, Trisikha Brahmana, e o Varada Upanishad que trazem
o conhecimento de Kundalini Shakti, e os métodos para despertá-la e mantê-la no
Sahasrara Chakra, no alto da cabeça.

O Tantra, em alguns dos seus aspectos, é uma doutrina secreta. É um Gupta


Vidya. Não se pode aprender através de livros. È necessário um Mestre autorizado
para adequar o ensino às necessidades do discípulo.

O Yoga Tântrico coloca ênfase especial no desenvolvimento dos chakras, do


muladhara ao sahashara. O Sadhana inteiro tem como objetivo despertar Kundalini e
fazer com que ela se una com o Senhor Sadashiva, no sahasrara chakra. O Método
adotado para alcançar este fim no Sadhana Tântrico inclui um trabalho sobre as
funções humanas nos planos: físico, bioenergético (prânico), emocional e mental. Inclui
uma série de práticas devocionais e cerimônias. O objetivo é sempre a dissolução do
eu temporal e o acesso dimensão espiritual além da mente e do ego.

O Tantra é uma perspectiva através da qual o mundo é percebido como a


urdidura de um tear onde os fios se estendem infinitamente envolvendo todos os planos
e níveis de manifestação da energia no universo. Nesta visão tudo se encontra
interconectado, interagindo e influenciando-se mutuamente, em constante movimento,
expansão e transformação.
A palavra Tantra pode ser entendida também assim: Tan significa estender,
expandir, tra é instrumentalidade e também aquilo que libera. Portanto Tantra é um
instrumento que ao atuar, libera. E essa liberação é no sentido de uma expansão que
se mostra Infinita e que se refere às possibilidades da Consciência humana. Tantra é
um instrumento de expansão e liberação da consciência para a sua própria Infinitude.

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E nesse sentido se confunde com o sentido do que é Yoga: A dimensão Infinita


da consciência que se manifesta quando a mente se aquieta.

Na visão tãntrica o Ser humano é um Todo interconectado: corpo, energia,


emoção, mente, intelecto, consciência espiritual e divina. Tudo essencialmente é Um
só. Um Todo integrado. Sendo assim o Tantra ao propor o despertar do potencial
humano rumo às dimensões espiritual e divina, incluirá um trabalho com todas
dimensões da energia. Incluindo então simultaneamente a dimensão física, emocional
mental e intelectual. Com isso pretende criar condições para a conexão com o espiritual
e divino.
Um sistema de práticas e ensinamentos, visando o desenvolvimento da
consciência, e que mobilizam as energias humanas em todos os níveis e funções,
constituem um Yoga Tântrico.
O trabalho sobre o campo bioenergético inclui entre outras coisas, a limpeza das
nadís (canais por onde circula o prana), o desbloqueio e ativação adequada dos
chakras, e a abertura do sushuma, o principal canal energético, situado ao longo da
coluna. É por essa nadi que flui prana e apana unidos, fluindo também então, a partir
dessa integração, a energia e poder da consciência divina dentro de cada ser, a Shakti
Kundalini! Então o divino, Shiva, comanda onde antes havia o ego!

ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA ENERGÉTICO

PRANA, KUNDALINI, NADIS E CHAKRAS

a.Prana e prana vayus

Prana é a força vital que anima todas as formas de vida. Prana é a própria
presença da vida manifestando-se em tudo e em todas as coisas. O Prana ao ser
absorvido pelo ente humano ocupa diferentes funções e recebe nomes diferentes.
Prana, apana, udana, samana, vyana. Desses prana e apana são especialmente
importantes, pois é com a união dos dois que se criam as condições para o fluir de
Kundalini. Apana circula no baixo ventre e tem a polaridade lunar. Prana circula no
tórax e tem polaridade masculina.

b. Kundalini

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Para que se saiba o que é Kundalini realmente desde dentro do que ela é, é
necessário dissolver-se como identidade temporal(ahankar) e tornar-se a
experiência da própria Infinitude. Essa vivência revela e é revelada pela
manifestação plena do que é Kundalini. Ela é o poder, a energia da consciência
espiritual e divina( Shiva). É a presença da Devi, aspecto dinâmico de Shiva em
cada ser.

No Shaktismo advaita fica claro o estatuto preciso da Kundalini no contexto


global da existência, tanto no sentido cosmológico quanto individual.

Essa visão concebe que em um momento anterior á qualquer forma de


manifestação da matéria ou energia, nada havia à não ser o Absoluto Imanifesto,
Param Shiva.

Quando de repente surge em Shiva a intenção de manifestar-se Ele o faz


acionando o poder de ação que lhe é inerente: Shakti! Ela é o poder criativo a partir
do qual toda a manifestação da vida acontece, originando o universo em toda a sua
diversidade. Shakti é o aspecto feminino de Shiva, muitas vezes representado,
simbolicamente, como uma deusa: um Ser feminino Divino. Essa manifestação
feminina divina coordena o processo de manifestação da matéria, desde o plano
mais sutil onde surgem os átomos primordiais, cujo grau de sutileza é inconcebível
para a mente humana, até os níveis mais densos da energia que são os estados
sólido, líquido e gasoso do plano físico.

Ao manifestar o estado sólido, Shakti de certa forma encerra o seu trabalho de


manifestar a matéria, e então se aloja nesse plano mais denso. Na estrutura humana
o plano mais denso corresponde ao elemento terra, o muladhara chakra. Shakti se
aloja então em um local próximo ao muladhara, e ao se mover o faz em direção à
este chakra de onde passa a fluir ao longo do canal sushuma.

Os Yoguis ao perceberem Shakti com a visão sutil constataram que esse poder
tem a forma espiralada. É uma energia enrolada sobre si mesma, três voltas e meia,
e por isso a chamaram de Kundalini: a enrolada!

Shakti Kundalini é, portanto, o poder divino que manifestou todo esse universo
e que se aloja no ser humano, constituindo a energia divina da consciência em cada

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um. Situa-se em uma cavidade triangular chamada trikona, no chakra muladhara,


situado entre o ânus e o órgão genital.

c.Nadis.

O Sushumna, canal central ao longo da coluna, se estende desde a parte média


do Kandha até a cabeça. Kandha, chamado também de nabhi é a raiz das nadis e se
localiza dois dedos acima do ânus e dois por abaixo dos órgãos genitais. Tem a forma
oval e a largura de quatro dedos. Do Kandha surgem 72.000 nadis. Entre esses, nadi
sushumna, Ida e Pingala são as mais importantes no trabalho do Yoga

As nadis ida e pingala, se acham situadas no lado esquerdo e direito,


respectivamente da coluna vertebral. Esses dois canais partem do kandha e ascendem
alternativamente da esquerda à direita, circundando os chakras até que formem num
triplo nó (Triveni) com o sushumna, no espaço compreendido entre as sobrancelhas, e
prosseguem então até as fossas nasais.

A nadi que procede do lado direito do escroto (ou ovário), segue seu curso até a
narina esquerda, e vice e versa. Ida é a chandra(lua) nadi, é frio e de polaridade
feminina. Pingala é surya(sol) nadi, é quente e tem a polaridade masculina.

d.Chakras

São centros que recebem, armazenam e distribuem energia vital para as diversas
funções humanas. Existem 07 chakras fundamentais pois
distribuem energia para aspectos essenciais da vida. Vamos
a seguir apenas citar cada um deles e fazer um breve
comentário. Mais adiante neste texto aprofundaremos este
assunto.

1- Muladhara - É um chakra de quatro pétalas, onde se


aloja a Kundalini enrolada em três voltas e meia.Terra é o
elemento deste chakra. Também reside aqui o shakti
Dakini. A devata que preside este lótus é Brahma. Esta é a
região do elemento terra e seu bija mantra é Lam. Fortalece
o sentido de solidez, estabilidade e segurança.

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2 - Swadhisthana - Situado na raiz dos órgãos genitais. Este chakra possui seis
pétalas, seu elemento é a água e seu bija é vam, o qual é o bija de Karuna; habitado
por Rakini. O elemento é a água e sua deidade reitora é Vishnu. Nutre o sentido de
fluidez e flexibilidade. Regula a função sexual e a experiência de não-separatividade e
comunhão.

3- Manipura - Situado no umbigo; tem dez pétalas e é a morada do elemento fogo.


Seu bija é Ram. A Shakti Lakini habita neste Chakra, e a deidade reitora é Rudra. É o
chakra do poder, auto confiança, maestria sobre a agressividade e clareza nas
emoções e na mente.

4- Anahata - é o chakra do coração. Manifesta doze pétalas. É região de vayu (ar).


Seu bija é Yam. A Shakti Kakini habita este chakra, e a deidade reitora é Isha.
Permite vivência do Amor Incondicional e da mente meditativa.

5- Vishudha - é o chakra da garganta. Tem dezesseis pétalas. É a região do éter, e


seu bija é Ham. A Shakti Shakini habita neste chakra e a sua deidade reitora é
Sadashiva. É o chakra da comunicação e poder de criar pela palavra.

6- Ajña – Chakra relacionado à clareza de idéias, intuição pura e meditação. Situa-se


no Trikute (entre as sobrancelhas). Possui duas pétalas. A Shakti Hakini mora neste
chakra, e a sua deidade reitora é Shambu. Om é o seu bija mantra.

7- Sahasrara - É o lótus de mil pétalas, e está situado no alto da cabeça. É


considerado a morada de Shiva, a consciência suprema, verdadeira identidade de todo
ente humano. Neste centro se produz a união de Kundalini com Shiva. Desta união
surge o Samadhi, estado de ser onde se vivencia o que é Yoga.

SISTEMAS DE YOGA TANTRICO

a) HATHA YOGA

É das mais antigas Vias do Yoga. Nasceu no Tantra pré-védico e manteve-se


secreta por muito tempo ressurgindo em torno dos séculos X e XI, com Goraksha
Nath, um Mestre Tântrico que fundou a ordem dos Yogis Kanphata. Essa Tradição
afirma a importância do Trabalho sobre o corpo físico e a dinâmica do Prana para

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ativar e canalizar todas as energias humanas e facilitar a realização da finalidade


essencial do Yoga: O samadhi. A Iluminação!

O Hatha Yoga Pradipika - escrito pelo sábio Swatmarama, por volta do século
XV, o Gherandha Samhita (diálogos do sábio Gheranda com seu discípulo Chanda
Kapali) e o Shiva Samhita, são textos fundamentais a serem usadas pelos Mestres na
transmissão do Hatha Yoga. No entanto os Mestres tem a missão de atualizar e
modificar o ensino para adequar às pessoas, ao lugar e ao momento, e assim manter
viva a Tradição do Yoga com o seu poder transformador, tendo em vista sempre a
Meditação e o Samadhi.

O termo Há se refere à polaridade do Prana masculina, solar, ativa, e Tha é a


polaridade feminina, lunar, receptiva. O nome Hatha Yoga fala da união dessas
polaridades que aparecem no interior do sistema energético humano como prana
(solar) e apana (lunar). O prana circula no tórax e o apana no baixo ventre. Essas
polaridades ao se unirem em torno do kandha (próximo ao umbigo) fluem juntas pelo
sushuma, a nadí principal ao longo da coluna, e acionam Shakti Kundalini, o poder
divino da consciência. Esse é o grande objetivo energético do Hatha Yoga que se alia à
prática da concentração e meditação para despertar o estado de Yoga.

OS ANGAS DO HATHA YOGA

O Hatha Yoga se caracteriza pela prática de Asanas, Pranayama, Bandhas,


MudráS, Drishtis e Kriyas. Cria condições facilitadoras às vivências mais profundas de
Dharana, Dhyana e Samadhi. É assim como parte integrante do Tantra onde se
originou. E é assim também por estar integrada ao Raja Yoga, e conter naturalmente
aspectos do Jnana, e do Bhakti Yoga. Ou ainda quando surge acoplado à outra
Escola de Meditação como o Zen, por exemplo, fato este que acontece com o Oki
DôYoga criado no Japão pelo Mestre Masahiro Oki. O que definitivamente não pode
acontecer, sob pena de descaracterizar-se como Yoga, é o Hatha ser ensinado sem
conter ensinamentos e técnicas de Prathyahara, Dharana e Dhyana.

a-Asanas – São posturas psicofísicas que atuam intensamente desde a área


muscular, tendões, plexos nervosos e glândulas endócrinas, até órgãos internos, nadís

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e chakras. Proporciona um forte estímulo ao equilíbrio funcional dos diversos órgãos e


sistemas orgânicos, a limpeza dos nadís e o equilíbrio dos chakras.

b-Pranayamas – São práticas que se utilizam da respiração para uma maior e


mais consciente absorção, armazenamento e direcionamento do prana. Com o
pranayama é possível limpar os canais energéticos(nadis), fortalecer os chakras,
oxigenar todas as células do corpo e coordenar o ritmo mental tranqüilizando a mente e
as emoções.

c-Kriyas – São práticas de limpeza e purificação do organismo interna e


externamente. Inclui técnicas de purificação das vias respiratórias e dos pulmões, do
estômago e intestinos. Desobstruem também as nadís facilitando o fluxo do prana por
todo o corpo.

d - Bandhas – O termo bandha significa “fecho, atadura, compressão”. Os


bandhas objetivam auxiliar no despertar e no direcionamento dos prana vayus
especialmente na união de prana e apana que acionam o poder Kundalini. A prática
dos pranayamas utilizando bandhas, asseguram o controle consciente dos pranas,
evitam perdas desnecessárias de energia e ajustam a intensidade do fluxo do prana
para determinadas regiões.

e- Mudras – São gestos realizados com a mão ou com o corpo todo trazendo
profundos efeitos energéticos e psíquicos. Agrupam e mobilizam energias vitais e
psíquicas podendo assim ampliar a percepção e direcionar o fluxo interno do prana
para diversos fins.

f- Drishtis - São pontos de concentração dos olhos com efeitos específicos


sobre o fluxo pranico; o funcionamento das glândulas e chakras e a possível integração
do funcionamento dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro. Facilita a alteração de
percepção para abrir um estado de consciência meditativo.

b) TANTRA YOGA

Este é um assunto imenso e de grande complexidade por existirem formulações


diversas de Tantra Yoga.

Basicamente podemos dizer que existem dois tipos de Tantra Yoga. Um deles
utiliza em suas práticas a mobilização direta da energia sexual visando, obviamente, o
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samadhi. E o outro, mesmo trabalhando com todas as energias, inclusive a sexual, não
mobiliza diretamente essa energia.

No entanto, mesmo em cada um desses dois tipos básicos de Tantra Yoga


existem escolas diferentes.

No Tantra Yoga que mobiliza diretamente a energia sexual existe o caminho


tradicional chamado de Vamacharya (esquerda) que utiliza uma cerimônia especial
cujo ponto culminante é o maithuna (união sexual ). Existem também, outras formas de
Tantra que não utilizam a cerimônia do pancha tattva ( 05 elementos) como é próprio
do Vamacharya, mas nas quais a interação sexual acontece visando mobilizar a
energia e direcionar para o sahashara chakra.

No Tantra Yoga que não mobiliza diretamente a energia sexual existem também
escolas diferentes. O caminho conhecido como Dakshinacharya (direita), por exemplo,
utiliza a cerimônia do pancha tattva, mas não inclui o maithuna, e os ingredientes
servidos no ritual não são os mesmos utilizados no Vamacharya.

O Tantra Yoga Branco é outra escola que não mobiliza diretamente a energia
sexual. Utiliza poderosas técnicas de Meditação, praticadas em duplas, que visam
movimentar a energia Kundalini e promover uma completa limpeza do subconsciente
negativo, abrindo espaço para a consciência espiritual. È praticado apenas com a
orientação direta de um Mahan Tântrico, Mestre responsável em cada época pela
transmissão desse tipo de Tantra Yoga. Ou com a presença de alguém especialmente
indicado por ele.

TÉCNICAS TRADICIONAIS DO TANTRA VAMA CHARYA E DAKSHINA CHARYA

Além de incluir as práticas próprias do Hatha Yoga: asanas, pranayamas,


kriyas, bandhas e mudras, o Tantra Yoga utiliza Mantras, Yantras, Mandalas e uma
série de técnicas ritualísticas especiais.Exemplos:

a) Bhuta Suddhi - é uma cerimônia que significa a purificação dos cinco elementos dos
quais o corpo é composto. O praticante dissolve o corpo na perspectiva egóica e cria
um novo corpo que é sentido como divino. Ele inocula dentro do seu corpo a vida de
Devi. O Maha Nirvana Tantra assim descreve este rito: “O elemento terra se dissolve
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na água. A água no fogo. O fogo é dissolvido no ar. O ar no éter. O éter se dissolve no


eu (ahankar). O ahankar dissolve-se em Mahat (a grande inteligência além da mente).
Mahat se dissolve na prakriti em sua forma Primordial. E prakriti dissolve-se no
Absoluto Brahmam”.

b) Nyasa – Constitui um ritual tântrico dos mais poderosos. Ele acontece pelo toque
com as pontas dos dedos da mão de direita em diversas partes do corpo,
acompanhados por um Mantra.

c) Kavacha – Acontece a evocação de Brahman, o Uno, por diferentes nomes em


ordem, para proteger diferentes partes do corpo. Por exemplo, Parabrahman é
lembrado como estando no Sahasrara Padma, na cabeça. O protetor do mundo,
Vishnu, é evocado para proteger a garganta, de forma que o aspirante possa expressar
os mantras do seu Ishta Devata (forma especial de personificação do divino).

d) Mudra – São ritos em forma de gestos, especialmente com as mãos. O Mudra dá


satisfação para os Devatas. Há 108 Mudras. Na saudação (Avahana), o Devata é feito
um gesto apropriado. Na forma de oferecer (Arghva), faz-se Matsya Mudra. A mão
direita é colocada por detrás da mão esquerda e os dois polegares são colocados como
barbatanas em cada lado das mãos. Similarmente, há mudras de várias ações, feitos
durante a adoração.

e) Yantra - Ocupa o lugar da imagem. Ele é um objeto de adoração. O Yantra é um


diagrama, desenhado em uma folha de metal ou papel. Um Yantra é apropriado
somente para um Devata específico. Vários Yantras são peculiares para cada Devata.
Eles são de vários desenhos, de acordo com o objeto de adoração. O Yantra é o corpo
do Devata. Todos os Yantras possuem em comum uma bainha que é chamada de
Bhupura. Eles possuem uma figura quadrangular com quatro entradas, os quais
confinam e separam o Yantra do mundo externo.

O Sadhaka (aquele que pratica o sadhana), primeiro medita sobre o Devata ou


deidade ( personificação do divino), estimulando então, o Devata em si mesmo. Então
ele comunica-se com a divina presença, assim estimulada pelo Yantra. Quando o
Devata foi evocado dentro do Yantra, pelo Mantra apropriado, o ar vital (Prana) do
Devata é inoculado nele pela cerimônia de Pranaprtishtha. O Devata é através disto
instalado no Yantra. Os materiais utilizados ou os atos feitos no Puja são chamados de

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Upachara. Eles são em número de dezesseis, e muitos deles coincidem com aqueles
procedimentos devocionais executados no Bhakti Yoga.

f. O Pancha Tattva
O Pancha Tattva é essencial para o culto à Shakti. O Pancha Tattva é
composto de:

- Vinho, (Madya), carne (Mamsa), peixe (Matsya), cereal tostado (Mudra) e a união
sexual (Maithuna). Como todos eles começam com a letra “M”, eles são comumente
chamados de Pancha-ma-kara, ou os cinco “M”. O Pancha Tattva significam bebida,
comida e propagação. O Pancha Tattva, os cinco elementos de adoração destroem os
grandes pecados, Maha-pataka-nasanam.

O Pancha Tattva nem sempre possui o significado literal. O significado difere


muito de acordo com as referências aos Sadhanas Tamásicos (Pasu), Rajásico
(Vira), ou Sátvico (Divya), respectivamente.

Madya - Elemento fogo. Pode ser vinho, ou pode ser água de coco, ou ainda
significar embriaguez divina, ou consciência de Shiva, o Absoluto. O vinho é um
símbolo para significar o Supremo e a eterna bem-aventurança da sabedoria do Yoga,
ou o conhecimento do Atman (Atma-jñana).

Maithuna - Elemento éter, o mais sutil de todos os tattvas. Pode ser a união de
Shiva e Shakti no centro superior do cérebro, conhecido como Sahasrara, ou lótus de
mil pétalas.

Mamsa (carne) - carne é o ar. Pode ser o ato pelo qual o aspirante consagra ao
Senhor todas as suas ações.

Matsya (peixe)- elemento água. É o conhecimento sáttvico pelo qual o


Sadhaka compreende de certa maneira sente o gozo e a dor de todos os seres.

Mudra – Elemento terra. Pode ser o ato de abandonar todas as associações


com o mal às quais conduzem à identificação com as memórias e os conteúdos do
passado, fortalecendo assim o eu temporal.

No Tantra Dakshina os ingredientes são diferentes:

-O leite, o ghee, o mel são todos substitutos para o vinho.

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-O sal, o gengibre, o feijão branco e o alho, são substitutos da carne.

- Berinjelas, o rábano vermelho, o sésamo vermelho substituem o peixe.

- O centeio, o arroz, o trigo em grão e o milho são Mudra.

- A oferenda de flores com as mãos em um Mudra característico é Maithuna.

No Pancha Tattva o praticante imagina-se e se sente com um corpo divino. Isto


ébBhuta-suddhi. Se realizam os nyasas. A adoração mental da Devi é executada.
Visualiza-se a Devi, personificação da Shakti, sentada em um lótus vermelho, com
vestimentas de igual cor. Seu corpo escuro assemelha-se a uma nuvem de chuva. Sua
testa brilha com a luz da lua crescente. Entoa-se Japa com o Mantra indicado.
O Tântrico pode ter relações sexuais com a sua esposa, a sua Shakti. Ela é
uma deusa, Griha Lakshmi ou Grahadevata, unida a seu marido pelo Samskara
sacramental do matrimônio. É a sua companheira na vida (Ardhangani). A união de
marido e mulher é um verdadeiro rito escritural sagrado.

Técnicas de Meditação em duplas.

O ponto central do mergulho na dimensão da Unidade com o outro é a Consciência


Meditativa. A vivência interna, a dissolução do "eu” é a chave. E não a energia e sua
intensidade. A intensificação energética,seja ela acionada por rituais, pranayamas, ou
técnicas que mobilizam a energia sexual diretamente, essa intensificação energética é
usada como um recurso de facilitação da vivência no nível da consciência, e não como
um fim em si mesmo.
A mobilização do processo energético cumpre a função de criar uma alta frequência
que ajude a suspender a presença do 'eu '. No entanto, para que isso aconteça, a
atitude meditativa é essencial. Mesmo quando se instala a atitude meditativa, há uma
forte tendência de identificação do eu com o próprio processo energético, o que dificulta
a permanência do estado Meditativo, e inviabiliza assim a Consciência da Unidade.

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No Tantra, portanto, o processo energético é mobilizado em função do despertar


da consciência. Como a intensificação energética provoca sensações e modificações
na consciência, o eu poderá simplesmente se nutrir disso como uma nova fonte de
estímulos agradáveis, e se identificar, esquecendo-se do propósito real que é o
mergulho e a dissolução de si mesmo. "A barba tomou o lugar do cabelo ".Ou seja,
inverteu-se a ordem dos valores dentro do propósito.
A energia sexual, por ser muito intensa, ao ser mobilizada diretamente pode muitas
vezes ocasionar essa inversão de foco. Para evitar que isso aconteça, ela precisa
ocupar o espaço e a importância que lhe cabe dentro do processo.Extrapolar a medida
da sua ênfase pode levar ao esquecimento do propósito do Tantra que é a vivência
consciente da Unidade Espiritual.
Portanto o componente energético precisa estar presente, e é bom que esteja, mas
sempre na medida e intensidade exata, para que não se disperse a atenção da vivência
meditativa, e assim se perca a perspectiva do propósito essencial das práticas tântricas.

c) NADA, MANTRA E LAYA YOGA

O som é a primeira manifestação do Absoluto. A metafísica hindu diz que sobre o


Absoluto é impossível pensar. O que se pode saber é que do Absoluto surge um som
primordial do qual surgem todas as demais manifestações de energia e matéria. Este
som é Om.

Uma afirmação Yogui diz: ”o Nada (som) atrai a mente e ela mergulha no Laya
(dissolução) através do doce Nada. A mente pode ser disciplinada para propiciar a
libertação pela prática do Nada Yoga. O Yoga do Som”.

No Nada Yoga a mente se fixa no som entoado ou capta os sons Anahat, o som
não tocado. Ao dissolver-se no som ocorre o Laya, a dissolução da mente e do ego, e
com isso o samadhi. Por isso Nada é também Laya Yoga.

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O som anahat ao ser escutado abre a percepção direta do real, do Uno que se
esconde e se mostra em todas as coisas e seres.
A prática do Nada Yoga para escutar o anahat é sentar-se em sidhasana.
Tampar os ouvidos com os polegares(Shanmukhi Mudrá) e concentrar-se no som que
está além das palavras. Ou então, entoar Japa com o mantra So Ham ou outro mantra,
sincronizando sempre com a respiração e a correta nota musical. A prática regular de
asanas e pranayamas promove a completa limpeza das nadís e dessa maneira
também o anahat pode ser escutado.

Sabe-se no Yoga que o movimento do prana e da mente são interdependentes.


O ritmo de um influencia o ritmo do outro. Assim muitas vezes se utiliza o pranayama
para regular o ritmo mental. No entanto mesmo quando a mente se aquieta por esse
processo, não ocorre a dissolução total do ego e da consciência condicionada. Os
vasanas (tendências condicionadas) não cessam e assim o ego e os condicionamentos
retornam.

O Nada Yoga propõe o Mano Laya como um processo mais eficiente para a
dissolução do eu temporal, embora possa incluir também o pranayama. Baseia-se no
uso do poder do Som para atrair e absorver a mente no Shabda Brahmam, o Som
divino.

O uso do Nada é Mantra. Man significa pensar e tra instrumento ou ainda


liberação. Então mantra é um instrumento usado para a mente pensar, ou seja, se
ocupar, se envolver completamente, e com isso libertar-se do seu próprio
funcionamento condicionado, aquietando-se e se fundindo com o divino corporificado
no som.

O som no mantra é a expressão de um nível de realidade. Portanto, mergulhar


no Mantra é acessar através das vibrações sonoras a realidade que o som corporifica.
Como o som do Mantra é Shabda Brahmam, então é a própria freqüência divina de
vibrações que envolvem a mente, e pelo seu poder inerente, dissolvem os vasanas e
realizam o mano Laya (dissolução da mente) definitivo.

Nada é a harmonia através da qual o Infinito pode ser experienciado.

A ciência do Nada tal como é ensinada pela Tradição de Guru Nanak, trabalha
através do movimento da língua tocando o palato e com isso criando efeitos bio

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elétricos no cérebro, influenciando a química cerebral e ampliando a percepção e o


estado de consciência. Yogui Bhajan descreve desta maneira o Nada Yoga: “Ao
entoar um mantra que captura o padrão do Infinito, o sistema nervoso começa a
sincronizar-se e o fluxo de pensamentos move-se com o ser superior em você. Então o
ego relaxa e o mantra é vibrado em cada célula, e em todas as coisas no universo.
Você flui e o silêncio se instala. Então se pode sentir, ouvir e agir guiado pela Alma”.
Isto é Yoga do Som!

RELAÇÃO ENTRE TANTRA YOGA, HATHA YOGA E KUNDALINÍ YOGA.

O Tantra é, como vimos até aqui, uma perspectiva através da qual o mundo é
percebido como a urdidura de um tear onde os fios se estendem infinitamente
envolvendo todos os planos e níveis de manifestação da energia no universo. Nesta
visão tudo se encontra em constante movimento, expansão e transformação. O Tantra
constitui uma cosmo-visão, e ao mesmo tempo uma visão do que é o ser humano.
Uma das características da concepção tântrica é atribuir ao Ser humano a
possibilidade de desenvolvimento da consciência. Isto inclui a manifestação de
potencialidades de percepção mais profundas do que o comum. E a partir daí, uma
maior clareza sobre a questão da Identidade, sua origem e destinação.
O Tantra entende que esse possível desenvolvimento se realiza com o auxílio de
determinados procedimentos capazes de intervir sobre o sistema físico, energético e
psíquico do indivíduo, potencializando sua percepção e capacidade de compreender a
si mesmo.
Os procedimentos constituem um sistema prático de Técnicas e Ensinamentos
conhecidos como Yoga. E nesse caso, como já dissemos anteriormente, por se
encontrar no contexto filosófico tântrico, chama-se genericamente Yoga Tãntrico.
Uma das características desse contexto Tântrico é a noção de que todas as
formas de manifestação da energia da vida que se apresentam no ser humano, podem
e devem ser movimentadas e trabalhadas, de modo a facilitar o desenvolvimento da
consciência. Isto inclui o corpo físico tanto quanto o emocional e o mental-intelectual.
Afirmar isto hoje pode parecer um lugar comum, pois a chamada visão holística
demonstra a importância de uma perspectiva integrada do ser humano e da vida. No
entanto, durante muitos séculos e até mesmo ainda hoje, há quem considere que o
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despertar da consciência espiritual envolve necessariamente um afastamento do corpo


e muitas das suas manifestações naturais.
No Yoga, a importância do trabalho corporal e bioenergético foi revalorizada na
Índia, com o ressurgimento do Tantra através do Hatha Yoga.
O texto Hatha Yoga Pradípiká especialmente, afirma e expõe as Práticas
corporais, bioenergéticas e psíquicas do Yoga, totalmente inseridas em uma
perspectiva Tântrica.
Um dos aspectos básicos do trabalho corporal-energético do Yoga visando,
obviamente, o desenvolvimento interior, é a união das polaridades masculino-feminino,
Sol-Lua, positivo-negativo. Isto se expressa na união das duas polaridades vitais do
Prana circulante no sistema energético humano: o Prana e o Apana. Para atingir esse
fim algumas práticas são utilizadas, entre elas o Pranayama, os Bandhas, Mantras,
Asanas, os Mudrás e outras.
O Hatha Yoga é Tântrico porque inclui ensinamentos e práticas que trabalham o
processo energético humano. Isto inclui o trabalho sobre os pranas, os chakras, as
nadís e os corpos sutis, além, naturalmente, do corpo físico. Todo trabalho energético
que mobilize os pranas, especialmente que pretenda unir as polaridades prana e apana
, como é o caso do Hatha Yoga, mobiliza por isso mesmo o poder Kundalini, e é, nessa
medida um estilo de Kundaliní Yoga.
Kundaliní Yoga (assunto com o qual nos ocuparemos com mais profundidade a
seguir) é, genericamente, todo trabalho de Yoga que mobilizando a energia prânica,
cria condições para o fluir da energia Kundalini, pretendendo com isso a expansão e a
mutação da consciência. Na linguagem yogi, a vivência do samadhi. Dessa forma
existem vários métodos de Práticas, com ênfases diferentes de Ensinamento, que
tendo o propósito de desenvolver um estado mais profundo de consciência, utilizando
para isso além de Meditação e Auto conhecimento, um Trabalho energético, por isso
mesmo podem ser consideradas escolas de Kundaliní Yoga.
Existe assim mais de um estilo de Kundaliní Yoga. Todos são Tântricos, porque se
caracterizam pela ação sobre a dinâmica energética da consciência visando acessar a
Identidade Divina do Ser humano. No entanto essas diversas escolas de Kundaliní
Yoga têm ênfases de Ensinamento e práticas bem diferentes entre si e nem sempre
adotam como nome a expressão Kundalini Yoga. Podem se chamar Tantra Yoga,
Hatha Yoga ou simplesmente Yoga Tântrico.

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O Hatha Yoga sob essa perspectiva é um tipo de Kundaliní Yoga. O Kundaliní


Yoga ensinado pôr Yogi Bhajan é também. O Tantra Vamacharya ou Dakshinacharya
também o são. E assim existem outros.
Uma dificuldade para identificar algumas escolas como sendo Kundaliní Yoga é o
fato de que como já dissemos, muitas vezes elas não usarem o nome Kundaliní
Yoga.Podem usar um nome que descreva o processo energético envolvido no
Trabalho. É o caso do Hatha Yoga, que significa a união do Há (sol) com Tha (lua).
Ou adotam um nome mais geral, como Tantra pôr exemplo.
No entanto Tantra é um termo geral que esconde em si abordagens com grandes
diferenças de método entre si. É um termo que se refere mais à uma visão de mundo,
do que à uma técnica Yogi específica.Como existem muitas variações de nomes e
métodos o melhor critério para se saber do que trata cada escola, é aproximar-se
adequadamente, e aprender diretamente em cada Escola os Ensinamentos e Técnicas
transmitidos: Que conceitos utilizam com maior ênfase, que técnicas propõe, e
principalmente, se têm um Mestre Vivo ensinando agora. O que significa que haverá
adequação do ensino e da prática de acordo com o lugar, as pessoas e o momento e
por isso uma maior possibilidade de propiciar aquilo que o Yoga propõe. Sem isso
teremos apenas imitação e condicionamento.

d) KUNDALINI YOGA
É necessário dizer antes de mais nada que a expressão Kundalini Yoga é um
termo genérico, podendo ser aplicado á todo sistema de Yoga que utilize técnicas para
mobilizar o prana e os ares vitais( vayus) visando unir prana e apana.Ou ainda toda
escola que, através de diversas estratégias vise em última instância despertar Shakti
Kundalini, para juntamente com a Concentração e a Meditação facilitar a
transcendência da mente e do ego. Esta é a maneira de trabalhar do Hatha Yoga e do
Tantra Yoga. Podemos dizer então que estas Vias são um tipo de Kundalini Yoga.

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No entanto, há uma Tradição ancestral do Kundalini Yoga que foi preservada


desde há mais de 7.000 anos, pela transmissão oral, e que se apresenta com este
nome. Um Mestre desta Tradição veio para o
ocidente no final dos anos 60 com a missão de
ensinar publicamente usando uma metodologia
que qualquer pessoa pudesse praticar. Este
Mestre é Yogui Bhajan e é responsável
atualmente pelo ensino público do Kundalini
Yoga.

Esta Escola contém elementos do Bhakti


Yoga, Jnana, Nada Yoga, Raja e Karma Yoga.
O suporte espiritual dessa Tradição na
formulação dada por Siri Singh Sahib Yogi
Bhajan é recebido pela linhagem de Guru
Nanak. Ouve uma sucessão de 10 Gurus
humanos e o décimo primeiro é o registro dos
sons sagrados expressos em poemas por
Mestres da Tradição Sufi, muçulmanos e bhaktas hindus. Estes poemas místicos
constituem o Siri Guru Granth Sahib, o livro sagrado dis sikhs. Guru Nanak
possibilitou um caminho espiritual livre do formalismo religiosos da sua época, Indicou
um caminho que mostrava que a mística Islâmica e a hindu eram em essência a
mesma verdade, que habita e é, a Identidade espiritual de todo ser humano.

O Kundalini Yoga inclui Posturas e Movimentos, Pranayamas, Bandhas,


Mudras, Mantras, Prathyahara, Dharana, Dhyan, Danças Meditativas, Sat Nam
Rasayam ( transmissão de energia pelas mãos), Kriyas de Vênus ( meditação em
duplas). Estimula a convivência comunitária, a vida familiar e considera que o Yoga
pode e deve ser vivido em toda a sua plenitude sem que para isso seja necessário
retirar-se do mundo.

As práticas são organizadas em Kriyas (série de exercícios) que atuam sobre


toda a estrutura orgânica e psíquica. O propósito é limpar e fortalecer os sistemas
nervoso, glandular, energético (nadís e chakras), e desenvolver os 10 corpos que
constituem as áreas da consciência. Assim, com a prática regular do sadhana

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composto de Kriyas e Meditações, o fluir de Kundalini ocorre de forma serena e o


único sintoma que se sente é a expansão da consciência. Acordar o ente humano para
a sua própria plenitude, é o propósito do Kundalini Yoga, por isso Yogui Bhajan o
chama de “Yoga da Consciência”.

PLENA ATENÇÃO E A CIÊNCIA DA AUTO-OBSERVAÇÃO


segundo G.Gurdieff

Sem a plena atenção não é possível a auto observação desidentificada. Sem a


autoobservação livre de identificações não é possivel a auto compreensão e sem ela
não há a espontânea transformação...não há amplição de percepção e uma nova
maneira de ver si mesmo e a vida. Meditação é um estado de consciência além dos
condiconamentos e modo habitual de se perceber.
A base da auto-observação é saber das 5 funções; dos 4 estados da consciência.
O trabalho consigo mesmo por uma série de razões, começa com a auto-observação,
que trata de fazer constatações, e não análises ou mudanças.

As dificuldades principais para a auto observação são:


- dificuldade de manter a atenção, a observação de si por mais de alguns instantes; ou
seja, esquecemos de nós mesmo o tempo todo.
- o fastio, a perda do interesse inicial, do entusiasmo. Precisamos ser para nós mesmo
o tempo todo uma questão a ser estudada, compreendida. Uma vez mantido o
entusiasmo pela percepção da sua importância, resta ainda o esquecimento de si
mesmo.
É preciso então um trabalho preliminar, para facilitar a auto observação.

Há 3 fatores a serem considerados na observação, 3 forças:


- o observador
- aquilo que é observado
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- a atenção que os une, liga

A atenção é absolutamente essencial. E é o que mais falta.

Tipos de atenção:
- a de sentido único = que só leva em conta aquilo que é observado. Não permite uma
visão integrada do conjunto do que somos. Traz uma visão elementar. Restrita. Não é
útil na auto-observação. Ora inclui o observador, ora apenas o objeto.
- a de múltipla direção ou sentido = enquanto acontece leva em conta tudo o que
somos, gerando uma atitude diferente da habitual. É rara. Pode desenvolvê-la por
exercícios especiais. Ela inclui os outros 2 fatores: observador e observado.

A observação de si será mais válida, completa e integrada quanto mais


plenamente estiver presente aquele que observa; ou seja, quanto mais capaz for de
levar em conta um número maior de elementos e possa mantê-los aí, presentes. Essa
atenção possibilita uma observação real de si, incluindo os 3 fatores e eliminando o
esquecimento de si. Mas ela exige um trabalho, um estudo de si.
Normalmente agimos esquecidos de nós. Somos robôs; não sentimos “eu ajo”, “eu rio”,
etc. não temos essa “ciência” da nossa própria presença na ação. Isso não é
verbalização, é sentir a si mesmo. Então, nada do que fazemos se integra ao conjunto
do que somos; portanto, é necessário “lembrar-se de si”.
O 3º fator, aquilo que é observado, é o apoio da nossa observação. Não pode ser
tão efêmero como é o nosso processo interior associativo. Precisamos de algo mais
estável e as estruturas funcionais o são. Elas são as funções, os personagens. Mas
eles funcionam na “sombra”. Podemos perceber a mecanicidade que os caracteriza. A
princípio é trabalhar aí. “Quebrar” o automatismo. Esse trabalho, devido à sua
inutilidade imediata é fastidioso. Só pode ser feito por quem compreendeu o que ele
pode possibilitar.
Para começar, devemos escolher hábitos simples e de funções já bem reconhecidas.

INICIANDO O TRABALHO DE AUTO OBSERVAÇÃO

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O nível motor é o mais fácil. Pode-se começar contrariando os hábitos da nossa


atividade: andar, escrever, gestos à mesa, gestos profissionais, comprimento dos
passos, cadência do andar, modo de segurar a caneta. Cada ato motor desses se
compõe de uma série de hábitos pequenos e o contrariar, mudar, serve de apoio para a
auto-observação.
O estudo do plano intelectual: percebe-se que temos no início, certo poder de
dirigir os pensamentos. Mas de repente ele escapa. Raramente ele dirige. Geralmente
as idéias se sucedem automaticamente em função de estímulos internos e externos.
Temos hábitos de pensamento.
Pode-se começar aí também provocando, contrariando os hábitos do pensamento. Se
dar conta de que a sua forma de pensar não é a única. Questionar a sua forma. Tentar
partilhar de outras, aprofundá-las, compreendê-las. Ver em que ponto elas não são as
suas próprias. Descobrir assim muitas coisas sobre si e o seu modo de pensar.
Outra vertente é observar a nossa distração. Ela evidencia insuficiências no plano
intelectual. Começamos a ler, ouvir, etc, e de repente nos distraímos. Observando
atentamente, veremos que a distração é causada pela imaginação e o devaneio, ambas
são preguiça do centro intelectual.

A imaginação existe em cada um dos centros.


Vem após um período de trabalho útil quando o esforço se afrouxa, a atenção se
desvia, perde-se de vista o objetivo, e o funcionamento prossegue no interior do centro
sem relação com o trabalho feito, com a realidade, trazendo impressões de vida inúteis,
sem finalidade, imaginárias, apenas apara a “satisfação funcional pura”. Um ou vários
centros podem entrar nessa.

O devaneio inicia no Emocional ou no Motor, mas o Intelectual põe-se a serviço deles


de bom grado, por preguiça para fugir de um trabalho definido. O emocional e o motor
se deleitam nas impressões já vividas ou imaginadas, reproduzindo sensações de vida.
São o contrário de um funcionamento útil, construtivo. São a caricatura degenerada de
uma faculdade criadora e um obstáculo à observação de si.

Falar desnecessário. Há um hábito na função intelectual, que usa outros centros


também. O de falar por falar. A linguagem falada é um material intelectual registrado no

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centro motor. Uma ferramenta que o centro motor põe a serviço dos outros para que se
expressem, mas isso torna-se um hábito. Falamos por falar e não para se expressar. E
não nos damos conta. O que se levanta em nós para utilizar a linguagem. O que em
nós quer falar?

EMOTIVIDADE
É a mais difícil. Ao olharmos para ela vemos que não a controlamos. Não as
mudamos. Estão sempre presentes e quando ultrapassam a medida habitual às vemos
e chamamos de sentimento. Mas não são. São reações afetivas automáticas, emoções.
Assim, a cada circunstância algo nos agrada ou desagrada, atrai ou repele.
Não sabemos como elas se criam, não as vemos. Elas vêm automaticamente. Se por
lampejo um homem vê, pode ficar surpreso desagradavelmente. Não sente vontade
espontânea de continuar vendo. Damos um valor muito grande a essas reações
mecânicas. Pode ser perigoso vê-las se as hipervalorizamos. É preciso despertar antes
um “sentir” de outra ordem.
Há no entanto um trabalho possível, sem riscos, com os hábitos emocionais: é a
não-expressão das emoções desagradáveis.
Quando se observa o homem, vê que não observa nada com imparcialidade.
Sempre algo o agrada, ou desagrada ou lhe é indiferente.
Pode não mostrar a aprovação, ou a indiferença, mas é muito difícil não manifestar a
desaprovação. Isso se torna um hábito. É confundido com sinceridade. Se expressa
como oposição, violência, depressão: cólera, inveja, crítica, desconfiança,
aborrecimento, medo, pena de si, etc...essas impressões negativas pessoais ocupam o
lugar da simples constatação de fatos. Expõe a tendência do homem a fazer recair
sobre os demais ao seus agravos pessoais, afim de não se sentir só e tentar se livrar
deles.
Isso indica a própria fraqueza, a marca da incapacidade de compreender a si
mesmo como é. Esbanja e perde energia e alimenta a própria negatividade. Isso pode
ser trabalhado sem prejuízo nenhum para o equilíbrio interno. Apenas poupa energia.
Não faz falta. É a eliminação de algo inútil. Mais energia sobra para trabalho útil.
Quem assim trabalha descobre o processo emocional em que vive.
A “luta” com os hábitos mecânicos em cada um dos centros serve de base, de apoio á
observação inicial de si mesmo. Mais o trabalho com os 2 aspectos do ser servirá de

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base ao surgimento de uma “presença”. Mais tarde ainda a “luta” do sim e do não (das
2 naturezas do homem).
No trabalho de auto observação surge a questão: Quem Observa? O que é
observado? A partir daí eu me pergunto o que eu mesmo sou realmente, o que é
“sincero” e o que não é. Esse questionamento sincero, incessante, à luz de uma
consciência de si que se amplia é a base de possíveis mudanças. Pequenas
mudanças, forçadas não servem. As mudanças são espontâneas. A real transformação
é ir além dos processos comuns, desenvolver um novo ser em si mesmo.
Não basta mais apenas ver-se agora. Com um certo nível de autoconhecimento,
o trabalho não é apenas lembrar-se de si, mas criar a real presença de si. A observação
de si por si mesmo, não mais a distante observação.
Percebe-se aí que a persona é a real barreira para sermos nós mesmos. As
funções estão a serviço da personalidade e não do ser interior. O homem vê que a
transformação é necessária. O ser interior precisa assumir o comando das funções e
colocar os personagens a seu serviço. Essa é a primeira etapa da revolução possível.

OS CÍRCULOS CONCÊNTRICOS DA HUMANIDADE:

O Círculo interior é o Esotérico – O mais alto nível possível ao homem. Homens


indivisíveis. Controle total dos estados de consciência. Vontade Livre. Não podem agir
contrário às suas compreensões ou compreender o que suas ações não expressem.
Não há discórdias entre eles. Coordenação total nas ações entre eles.
Círculo Mesotérico - Intermediário. Possuem todas as qualidades do círculo esotérico,
mas seu saber é de caráter mais teórico. Sabem muitas coisas que ainda não
encontram expressão em suas ações. É no entanto um saber cósmico, igual ao dos
esotéricos. Não há discórdias.
Círculo Exotérico - Tem muito saber em comum como o dos círculos já citados, mas
seu saber cósmico é mais filosófico. Suas compreensões podem não se expressar por
atos. Mas não há diferença de compreensão entre eles.
Círculo Exterior – Humanidade mecânica. Não há compreensão em comum. Cada um
entende à sua maneira. É o círculo da “confusão das línguas”, cada um fala a sua
língua e ninguém compreende ninguém.

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Se se derem conta disso e quiserem compreender e serem compreendidas já se


movem para os círculos mais internos.

Há 4 caminhos para se entrar no Círculo Exotérico.


O do corpo (faquir), emocional (monge), mental (Jnani Yogue) e o quarto caminho.
Esse nunca é permanente. Não tem forma nem instituição. Aparece e desaparece. Tem
um sentido definido. Existe para empreender algo e desaparece. Daquela forma e
daquele lugar e reaparece em outro lugar, noutra forma. O trabalho das escolas do 4º
Caminho podem tomar formas e sentidos variados. Quando desaparece aqueles que
aprenderam e têm a possibilidade de continuar o trabalho independente continuam.
Aqueles que não foram tão fundo podem imitar aspectos exteriores e criar Pseudo-
Escolas, imitativas (servem á função de informar ás pessoas sobre o que é Exo,Meso e
Eso).

Cada centro deve fazer o seu trabalho.


- O Centro Motor precisa relaxar quando não está atuando.
Relaxamento muscular constante o 1º não é necessário esforço.
- O Centro Emocional – preocupação, inquietação, expressão de emoções
desagradáveis etc...
- Centro Mental – excessivo fluxo de pensamentos.

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