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8O nome oficial que os próprios indianos referem ao seu país é bem diferente,
Bharata ou Bárata, como dignos filhos do personagem mítico do épico
Maaabárata, o rei Bárata, o “abençoado”.
21
controle centralizado e as primeiras manifestações civilizacionais
do passado indiano. Havia necessidade, diante do mostra o
avançado planejamento dos sítios, de um comando centralizado e
de um mínimo de especialização social demandada para o
planejamento e execução de construções que teriam servido ao
bem público – como as reservas de água para tempos de seca – ou
a um rico e poderoso membro sobre o restante da sociedade. Mas
isso são ainda conjecturas, pois tudo ainda permanece um mistério.
22
datas vão desde o sétimo milênio a.C., na transição da vida
nômade para a sedentária. Em Amri, no Sind, também ao oeste
indiano, a datação situa-se em torno de 3600 a.C., e neste parece
indicar que o desenvolvimento de sua cerâmica, por exemplo, se
deu em termos autóctones, sem, portanto, ser influenciado por
contatos com outros povos. Algo extraordinário, pois há
evidências de cerâmicas e outros produtos originados dessa região
encontrada mais ainda ao oeste, na Mesopotâmia, no sul do Iraque,
e ao norte, nas estepes da Ásia Central.
9MCINTOSH, Jane. The Ancient Indus Valley: New Perspectives. Santa Barbara,
Califórnia: ABC-CLIO, 2008, pp. 396-400.
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10
armas de bronze e a cavalo, povos chamados de arianos ,
sustentando os seus argumentos nos achados de ferramentas e
utensílios que foram subitamente abandonados nos sítios
escavados. Outro fator considerado foram os fatores de mudanças
ambientais. Com o clima alterado, grandes inundações do vale do
Indo alteraram de maneira definitiva o curso dos rios, gerando
erosão do solo e seca do clima na região.
Os arianos
24
na Europa 12. O grande estudioso britânico, Sir William Jones, no
13
seu clássico estudo sobre a escrita sânscrita trazida com esses
povos, buscou estabelecer a origem dessa cultura com as línguas
europeias. Atestando para uma suposta dominação inerente dos
povos indo-europeus sobre outros povos asiáticos, uma forma de
legitimar a dominação britânica sobre a Índia em fins do século 18.
12 BRYANT, Edwin F. The Quest for the Origins of Vedic Culture: The Indo-Aryan
Migration Debate. Oxford & Nova Iorque: Oxford University Press, 2001, pp. 43-
45.
13 JONES, William & LORD TEIGNMOUTH. The Works of Sir William Jones -
With the Life of the Author by Lord Teignmouth, Vol. 3. “The Third Anniversary
Discourse, on the Hindus, delivered 2d of February, 1786”. Cambridge:
Cambridge Univ. Press, 2013, pp. 24-46.
25
Agni e de Indra, respectivamente). E que depois se inseriu uma
relação de dominação e diferenciação social, em castas sociais
hierarquizadas (varnas) com os setores dominantes arianos,
sacerdotes (brâmanes) e guerreiros (xátrias), a prevalecer sobre
outros (shudras) da sociedade 14. Na convivência dos tempos, os
arianos foram ordenando a hierarquia social conforme sua posição
de dominação.
Os Vedas
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que foi despertado logo no início da civilização a um sentido do
mistério inesgotável que está implícito na vida.16 (tradução nossa)
como o mais sagrado dos rios indianos pelos hindus, como a deusa Ganga.
BHATTACHARJI, Sukumari. Legends of Devi. Hyderabad: Orient Longman,
1995, p. 54.
27
de assuntos filosóficos e sagrados, além de ordenamentos sociais e
familiares. Os livros posteriores do épico Rig têm como assuntos a
política e a guerra, ao abordar os confrontos entre os arianos e
povos do vale do rio Ganges. Nesses, há relatos de povos não-
arianos de pele escura, chamados de dasas ou dasyus que serão
gradativamente incorporados, expulsos ou dominados. Nas
inúmeras campanhas de guerra descritas, há hinos védicos do Rig
que glorificam uma das mais destacadas divindades arianas, o deus
do fogo, raio e destruidor de fortes (purandara), Indra:
28
(Rig Veda, livro 2, Hino XX) 19 (tradução nossa)
19 GRIFFITH, Ralph Thomas Hotchkin. The Hymns of the Rig Veda. Benares,
Lazarus: 1896–7.
20 Ibidem.
29
concomitantemente, um incremento nas reflexões e preocupações
filosóficas a respeito da vida, sociedade e universo.
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Quando os deuses prepararam o sacrifício de Purusha 21
Seu óleo era a primavera, o dom era o outono, verão era a madeira
Quando dividiram Purusha, quantas porções eles fizeram?
Do que eles chamam de sua boca, seus braços? Do que eles chamam
suas coxas
e os pés ?
O Brâmane era sua boca, de ambos os braços foi o Raj feito
[Xatriá]
Suas coxas se tornaram o Vaixá, de seus pés o Shudra foi
produzido.
(Rig Veda, Livro 10, hino 90) 22 (tradução nossa)
21 Purusha, no Rig Veda , é descrito como um ser que se torna uma vítima
sacrificial dos deuses, e cujo sacrifício criou todas as formas de vida, incluindo
os seres humanos.
22 Ibidem.
31
anual de um rei, o rajasuya, que deveria ser guiada e conduzida
segundo rituais sacrificiais e preceitos guardados por sacerdotes.
23ERALY, Abraham. The First Spring: The Golden Age of India. Nova Delhi:
Penguin Books India, 2011, p. 258.
32
vendedores de perfume (gandhi), nomes que depois foram
incorporados como nomes de famílias e clãs. E cada categoria era
dinâmica, pois dependia do prestígio e poder de cada jati numa
determinada sociedade, o grupo poderia ascender ou decair dentro
da ordem social. O aparecimento tardio desse conceito aos Vedas
parece indicar uma incorporação posterior de uma antiga prática
social em vigor em outras partes da Índia além do compasso dos
varnas 24.
O Maabárata e os Upanixades
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O maior épico da literatura indiana, o Maabárata nos conta a
respeito das guerras e intrigas no Kurukshetra – região ocidental do
vales do Ganges e Yamuna – de duas entidades políticas arianas
tardias relacionadas, e o drama dos regentes de ambos os lados. Há
controvérsias de sua autoria, mas atribui-se tradicionalmente a
compilação dos seus cantos ao lendário sábio Vyasa (literalmente,
“compilador”) e ao deus Ganesha 26 27, e sua datação remete acerca
de 800 a. C. até suas versões finais por volta de 400 a. C.
24 THAPAR, Romila. Early India: From the Origins to A.D. 1300. Berkeley & Los
Angeles: University of California Press, 2004, pp. 63-64.
25 Épico composto por mais de dois milhões de versos, dez vezes mais
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Seu tema trata das intrigas e disputas pelo trono dos kurus, na
capital Hastinapura, disputado pelos regentes dos kauravas e
pandavas. Ambos os lados discordavam sobre o casamento da
princesa kuru Draupati. As disputas políticas pelo poder
culminaram na Guerra de Kurukshetra, em que os pandavas saíram
vitoriosos. Muita além das batalhas, o foco maior é em torno da
tragédia humana em busca de poder, riqueza, glória acompanhada
de mortes, perdas e miséria. As lealdades de família e política se
entrelaçam e resultam, com frequência, em conflitos dramáticos
revelados no épico.
Education of the Dharma King. Chicago: University of Chicago Press, 2001, pp. 32-
91.
28 “Descida” em sânscrito, que consiste numa manifestação encorpada em
forma humana usado por divindades, como Vixnu, para melhor guiar e
aconselhar a humanidade.
34
todo o esplendor divino e do universo, uma forma de teofania
(vishvarupa):
35
(Bhagavad Gita, Capítulo 11, versos 4 a 11) 30 (tradução nossa).
32.
36
Upanixades, ao final dos textos védicos (por isso conhecido como
vedanta, “fim dos Vedas”) entre 750 a.C. e 500 a. C. A ênfase dada
no período final dos Vedas e dos Upanixades, portanto, se voltam
mais para o caminho místico do indivíduo, para a sua alma (atma) e
sua relação com a alma do universo (brahman), acreditando numa
relação entre esses dois universos em termos de conciliação e
unidade, através de transmigrações e renascimentos 32.
MÜLLER, Friedrich Max & DEUSSEN, Paul. The Golden Book of Upanishads.
32
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As terras do leste indiano forneceram também as condições para a
formação de estados unificados sob comando militar e sacerdotal,
em categorias chamadas de janapadas. Algumas dessas unidades
após anexações e ampliações resultaram em mahajanapadas, ou
grandes reinos. Entre esses constaram alguns com maior projeção:
os reinos de Mágada (Magdha ou Magadha), Kosala, Vatsa e Avanti
a disputarem entre si a supremacia. Em essência, foi essa a história
política da Índia do século 6 a.C., com a gradual predominância do
33
reino de Mágada . A maior expansão deste reino se deu na
dinastia dos Haryankas (c. 600 a 413 a. C.), especificamente sob o
reinado de Bimbisara (r. 542 – 492 a.C.). Com este, o reino ganhou
contornos imperiais, abarcando as regiões indianas de Bihar e
Bengala a leste, além mais de Uttar Pradesh e Odisha ao longo da
costa sul.
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se em grande parte a limites naturais, como rios, desertos e
montanhas. Esse sistema político de alianças, conceituado como
34
rajamandala (“círculo de estados”) por Cautília (Kautilya) 35, foi
praticado em tempos posteriores entre regentes hindus e o sistema
imperial indo-britânico a partir do século 18.
O Budismo e o Jainismo
34 SINGH, M. P. & ROY, Himanshu (Orgs.). Indian Political Thought: Themes and
Thinkers. Nova Delhi: Pearson, 2011, p. 11.
35 Filósofo e pensador indiano (350 a.C. a 275 a. C.) que escreveu extensamente
com possíveis origens do sânscrito clássico. O páli foi o meio usado no período
mais antigo da literatura budista, como nas compilações do Tripitaka e dos
cânones do budismo teravada.
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