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N° 20 | Setembro de 2013 U rdimento

A intersecção entre reprodutibilidade e


espontaneidade no trabalho do ator
Lídia Olinto1
Matteo Bontto2

Resumo

Este artigo tem como objetivo reetir sobre a relação entre


reprodutibilidade e espontaneidade no trabalho do ator.
Nesse sentido, a escolha dos vários interlocutores apontados
aqui – teóricos e artísticos – foi feita em função, sobretudo, da
necessidade de, ao mesmo tempo, problematizar e ampliar o
horizonte dessa temática. Percebidos em sua processualidade,
ambos, reprodutibilidade e espontaneidade passam a ser agentes
de tensões geradoras de múltiplas reverberações.

Palavras-chave: Reprodutibilidade;
Espontaneidade; Trabalho do ator

Abstract

This article examines the connection between reproducibility


and spontaneity in the actor’s work. In this respect, the use of
theoretical and artistic references considered here emerged
from a specic necessity: that of problematizing as well as of
enhancing the horizon of the territory in question. Perceived in
their processuality, both, reproducibility and spontaneity become
agents of tensions that generate in turn multiple reverberations.

Keywords: Reproducibility; Spontaneity; Acting

1 Possui graduação em Teoria do Teatro pela UNIRIO e fez mestrado em Artes da Cena na UNICAMP sob a orientação do Prof. Dr. Matteo
Bontto e co-orientação da Profª. Drª. Tatiana Motta Lima (UNIRIO). Atualmente está no doutorado (UNICAMP) sob a orientação dos
mesmos professores.

2 É Mestre em Artes pela ECA/USP (2001), e Doutor pela Royal Holloway University of London - Inglaterra (2006). Atualmente é professor
Livre-Docente do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas.

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Não é por acaso que no idioma francês parte de cada ator/bailarino. Há também
os ensaios são chamados de ‘répétition’, uma enorme variação conforme a época,
termo cuja tradução para a língua portu- o local e principalmente o estilo em par-
guesa pode ser também ‘repetição’. Essa ticular que se queira analisar em relação
denominação se deve ao fato de que, ao a esta questão especíca. Desse modo, é
longo do processo criativo, o ator prepa- plausível armar que as técnicas de re-
ra-se para reproduzir/repetir, diante dos produção do desempenho são parte cons-
espectadores, um pré-determinado grupo tituinte (implícita ou explícita) da práxis
de falas/movimentos/qualidades de or- artística nas Artes Cênicas, todavia, com
dem psíquica. Assim, “o ator toma como muitas especicidades em cada caso, den-
referência e se apoia em uma série de tro da multiplicidade de manifestações
pontos que formam a conguração e a es- existentes nesse campo artístico e mesmo
trutura de sua atuação. (...) O ator instala fora dele.
passo a passo um trilho de segurança que Mesmo nos estilos teatrais que se carac-
guia sua trajetória, em função de pontos terizam por um grau relativamente maior
de apoio e de referência, que são, ao mes- de improvisação atoral – como nas Atela-
mo tempo, físicos e emocionais” (PAVIS, nas, na Bufonaria, na Commedia dell´Arte,
2005, p. 91). Esses pontos de apoio elenca- no Ru´hozi iraniano, no Chakkiar-Kuttu in-
dos por Pavis, em conjunto, são corriquei- diano, no Teatro Esporte de Keith Johnsto-
ramente denominados como: ‘marcação’, ne e outras vertentes – pode-se perceber a
‘partitura’, ‘repertório’, ‘estrutura’, ‘com- reprodutibilidade cênica se congurando
posição’, ‘coreograa’, ‘linha de ações físi- de um modo sutil. A tipicação (xação de
cas’ e outras expressões análogas que têm uma personagem-tipo) ou a xação de um
em comum remeterem às ideias de xação vocabulário de movimento e de expres-
e reprodução do desempenho cênico. sões verbais são aspectos recorrentes que
Seguindo esse raciocínio, pode-se di- demonstram a presença de um tipo muito
zer que a efemeridade do acontecimento singular de reprodutibilidade nos estilos
cênico impõe ao trabalho do ator/bailari- improvisacionais. Analisando a Commedia
no um tipo muito particular de reprodu- dell´Arte, um dos mais famosos modelos
tibilidade, pois, é através da mobilização de teatro de improviso, historicamente fa-
de seu corpo-mente que se dá a reprodu- lando, Dario Fo comenta que: “os cômicos
ção ou a ‘re-presenticação’ dos elemen- possuíam uma bagagem incalculável de
tos físicos e extra físicos que compõem a situações, diálogos, gags, lengalengas, la-
cena. Desse modo, trata-se de uma repro- dainhas, todas arquivadas na memória, as
dutibilidade ‘não-técnica’, essencialmen- quais utilizavam no momento certo, com
te diferente da atuação para o Cinema, grande sentido de timing, dando a impres-
como pertinentemente percebeu Walter são de estar improvisando a cada instante”
Benjamin (1985, p.165-196)3, pois na cena (FO, 1999, p. 17). Por isso, é ingênuo consi-
é o próprio artista quem reproduz seu derar o desempenho cênico dentro dos es-
desempenho em cada apresentação. tilos de improviso como uma “total impro-
No entanto, o modo como se con- visação” dos atores, em um stricto sensu,
gura essa reprodutibilidade cênica é alta- pois se trata de uma articulação harmônica
mente variável, indo desde a memoriza- entre instâncias de reprodutibilidade e es-
ção de textos e de movimentos físicos à pontaneidade atoral.
elaboração de partituras psicofísicas com- Também seria possível identicar al-
plexas e detalhadas, variando também de gum nível de reprodutibilidade até mesmo
um nível mais inconsciente e intuitivo a nas performances ligadas ao movimento
vários graus de controle consciente por da Live Art e algumas performances con-
temporâneas que problematizam de ma-
3 Aqui se alude ao conceito de “reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin (1985,
neira mais radical a ideia de representação
p.165-196).

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aristotélica4, isto é, a arte vista como imita- que: “não existe o estado de espontaneida-
ção formalizada da realidade5. Neste tipo de absoluta; à medida que existe o pensa-
de proposição artística, na qual o caráter mento prévio, já existe uma formalização e
único e efêmero da experiência cênica é en- uma representação”.
fatizado, de fato se evita propositalmente Em contraposição, nos exemplos mais
a composição e xação de um desempe- radicais de valorização do plano da repro-
nho cênico pré-elaborado a ser reprodu- dutibilidade – como no Ballet clássico, na
zido durante o acontecimento artístico. Biomecânica de Meierhold, na Pantomi-
Todavia, mesmo nestes casos se poderia ma, na mímica de Decroux, no Kabuki, no
reconhecer alguma instância de reprodu- Bunraku, no Kyogen, no Nô, no Topeng, na
tibilidade cênica no que Schechner (2003, Ópera de Pequim, no Kathakali, e outras
p. 27) denomina como “comportamento vertentes igualmente não seria difícil re-
restaurado”. Segundo esse autor,, “não há conhecer um nível implícito de improvi-
nenhuma ação humana que possa ser clas- sação/espontaneidade na atuação. Mesmo
sicada como um comportamento exerci- nos casos mencionados ou outras vertentes
do uma única vez” e, por isso, “todo com- que têm como características fundamentais
portamento consiste em recombinações de a codicação do léxico expressivo (repertó-
pedaços de comportamentos previamente rio xo) e um alto grau precisão formal, o
exercidos” (Schechner, 2003, p. 34). Nesse ator/bailarino não consegue, graças a sua
sentido, toda ação cênica, mesmo de ca- própria condição humana, realizar uma re-
ráter não-representativo, poderia ser en- petição exatamente igual de uma partitura,
carada como uma reprodução de padrões pois “sempre há um mínimo de algo ‘novo’
psicofísicos inconscientemente cristaliza- em cada espetáculo” (Chacra, 2007, p.16).
dos ao longo da trajetória pessoal e artís- Em alguma medida se está inevitavelmen-
tica daquele que a executa. Também seria te improvisando os pequenos detalhes de
possível enxergar como uma instância de uma partitura por mais rígida e detalhada
reprodutibilidade a existência quase inevi- que ela seja. Nesse sentido, cada apresen-
tável de uma proposição artística criada a tação é inevitavelmente diferente das an-
priori, quer dizer, antes que ação de fato se teriores, quer seja em nuances captáveis
materialize em uma cena. Qualquer tipo de somente pelo próprio ator/bailarino, quer
planejamento, combinação entres os artis- seja em mudanças mais evidentes e percep-
tas participantes ou grau de pré-concepção tíveis pelo público. Assim, a repetição de
do acontecimento artístico pode ser inter- uma cena que tem como base uma estru-
pretado como uma maneira de reprodu- tura xa e pré-elaborada, em certo ponto,
zir uma ideia preconcebida, ou seja, uma é sempre uma micro improvisação. Nas
composição preexistente que se reproduz palavras de Peter Brook: “(…) nos detalhes
no aqui-agora da cena. Neste sentido, tra- mais sutis nenhuma apresentação pode ser
ta-se uma dimensão de reprodutibilidade exatamente igual à outra, é esta consciência
se congurando de modo muito singular que lhe permite uma renovação constante”
e tênue; dimensão esta que nem mesmo (Brook, 2002, p. 59).
os Happenings de Allan Kaprow puderam Desse modo, é possível partir da pre-
integralmente anular, já que neles se fazia missa que não há nem espontaneidade ab-
uso de roteiros. Corroborando com esta soluta ou improvisação do ‘zero’, nem re-
perspectiva, Cohen (1989, p. 96) arma produção do desempenho concebida como
uma repetição inteiramente igual e sem
4 Segundo a Poética de Aristóteles: “É a tragédia a representação duma ação grave, de
nenhum grau de improviso. Isto é, não há
alguma extensão e completa, em linguagem exornada, cada parte com o seu atavio como anular categoricamente a reproduti-
adequado, com atores agindo, não narrando, a qual, inspirando pena e temor, opera a
catarse própria dessas emoções” (ARISTÓTELES, 2005, p. 24). bilidade ou a espontaneidade, sendo estas
5 Como exemplos deste perl artístico não-representativo, pode-se citar: os Happe- processadas, quer de modo consciente ou
nings de Allan Kaprow, a Body Art de Gina Pane e as performances de Joseph
Beuys, do Grupo Fluxus, de Marina Abramovic, e dos brasileiros Márcia X, Alex Ham-
não, quer de uma maneira mais particu-
burguer e Eleonora Fabião; dentre outros artistas do Brasil e do mundo.

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larizada ou através de técnicas e métodos ‘ocidentais’, dentro do que Grotowski clas-


já formulados (Stanislavski, Meierhold, sicou como “linha articial”, em oposição
Zeami ou outra das muitas metodologias à “linha orgânica” (cf. Grotowski, 1997), na
já elaboradas). Desse modo, as múltiplas qual a codicação se conguraria de ma-
práticas cênicas existentes proporcionam neira mais subjetiva e implícita.
inúmeros modos de relacionar esses duas Todavia, num olhar mais atento às
instâncias, tanto na prática cênica concre- suas singularidades e não aos seus prin-
ta (técnicas e métodos aplicados), quanto cípios em comum, aqueles estudados pela
no próprio jeito de compreendê-las teori- Antropologia do Teatro supracitada, cada
camente. Nesse sentido, trata-se de uma um dos estilos tradicionais ‘orientais’ pode
intersecção de uida tangibilidade entre apresentar especicidades ainda não anali-
dois universos contrários que coexistem e sadas de modo aprofundado em relação à
se retroalimentam, ou seja, uma antinomia reprodutibilidade, tanto conceitualmente,
cuja contradição é apenas conceitual e não quanto singularidades pragmáticas. Além
pragmática. A falta de tal perspectiva pode disso, em comparação com as vertentes
ser vista como produtora do que se deno- ‘ocidentais’ também consideradas arti-
mina na linguagem teatral como ‘mecani- ciais (Ballet Clássico, da Pantomima e ou-
cismo’, ‘automatismo’ ou ‘falta de presença tras), seria possível encontrar diferenças
cênica’, pois, sem certo grau relativamente em relação ao modo como a intersecção
elevado de organicidade/espontaneidade, entre reprodutibilidade-espontaneidade
a ação parece ‘morta’, ‘automática’ e ‘de- é processada pelos atores/bailarinos por-
sinteressante’, e inversamente, a forma é que as culturas orientais, como apontam
também imprescindível e inevitável. Varela, Thompson e Rosch (2003, p. 44),
não conceberiam a relação corpo-mente da
maneira cindida como ocorre no contexto
Ampliando o olhar ‘ocidental’; pelo menos até o século XX,
quando muitos pressupostos e paradigmas
Em grande parte dos estilos ‘orientais’ ocidentais irão ser problematizados. Como
tradicionais de Artes Cênicas – por exem- consequência do não-dualismo cartesiano,
plo, no Kabuki, no Bunraku, no Kyogen, no observa-se, nos países asiáticos, conceitos
Nô, no Topeng, na Ópera de Pequim e no como “prana” (cf. Zarrilli, 2009), “ki-ener-
Kathakali – noções como ‘partitura’ ou ‘es- gy” (cf. Yuasa, 1993) que, estando empiri-
trutura’ (e a outros conceitos ans ao uni- camente ligados tanto às práticas meditati-
verso da reprodutibilidade) ocupam um vas como às práticas artísticas, impendem
papel pedagógico e técnico-criativo funda- uma compreensão segmentada dos aspec-
mentais, sendo a reprodutibilidade, em ter- tos ligados à reprodutibilidade e à espon-
mos bem gerais, encarada de um modo dis- taneidade. Nesse sentido, as práticas asiá-
tinto de uma grande parcela das práticas ticas revelam-se efetivamente distante das
teatrais no contexto euro-americano. Como vertentes artísticas ‘ocidentais’, nas quais
demonstraram os estudos de Antropologia essas duas dimensões, muitas vezes, foram
do Teatro produzidos por Barba, Savarese vistas como desconectadas e passíveis de
e Taviani (1989), Schechner (1997) e Groto- serem isoladamente exploradas pelo ator/
wski (1999), esses estilos têm em comum bailarino.
caracterizarem-se por uma forte codica- Já dentro do contexto euro-americano,
ção do léxico expressivo, por um alto grau tendo como base os estudos de Roubine
de precisão formal e pela construção de (2003) e Isaacsson (2004), observa-se que,
um corpo cênico extra cotidiano, estando devido ao destaque dado ao texto dramá-
eles, por isso, mais próximos às técnicas do tico frente aos demais elementos cênicos,
Ballet Clássico, da Pantomima e da Mími- somado à progressiva perda do valor ritu-
ca moderna de Decroux e outras vertentes al originário do fazer teatral na conjuntura

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greco-romano, somente a partir do século sados por Bontto (2002) e também outros,
XVIII a dimensão psíquica/interior do tra- por exemplo, Vakhtângov, Antoine, Zola,
balho cênico passou a ser um tema concre- Craig, Appia, Copeau, Brook, Schechner e
to de reexão teórico-prática. Através de os brasileiros Antunes Filho, Klauss Viana,
um amplo embate teórico que tinha como Eugênio Kusnet, Luís Otávio Burnier, Gra-
foco a dicotomia entre as noções de ‘Sentir’ ziela Rodrigues, etc., ampliaram considera-
e ‘Representar’, pensadores da Teoria Tea- velmente o número de técnicas e métodos
tral – dentre os quais gura o lósofo fran- de atuação concretamente sistematizados e
cês D. Diderot, autor do famoso “Paradoxo o conhecimento empírico produzido sobre
sobre o comediante” (2000) – começaram a ofício do ator/bailarino dentro de um pris-
debater mais claramente sobre a necessida- ma essencialmente psicofísico.
de (ou não) para o ator de atingir no mo- Dentre esses artistas-pesquisadores,
mento da cena ‘algo além’ da utilização de muitos frisaram a importância da precisão
gestos ‘apropriados’ e da declamação dos (e outros termos ligados à reprodutibili-
versos ‘adequada’; postulações essas liga- dade) ou da organicidade (ou outros ter-
das à noção de decoro, fortemente presente mos ligados à espontaneidade), utilizando,
nos palcos europeus até então. cada um, uma terminologia especíca para
Contudo, foi na virada do século XIX nomear essas instâncias, muitas vezes vis-
para o XX que se expandiu o pensamento tas como conitantes e não passíveis de se-
teórico e o desenvolvimento de metodolo- rem justapostas. Entretanto, poucos foram
gias criativas e pedagógicas voltadas para os que enxergaram e analisaram a relação
o trabalho do ator, antes somente aborda- de complementaridade entre reproduti-
do em alguns poucos manuais para atores bilidade/espontaneidade. Poucos foram
escritos por atores, como “A arte de re- os que trataram do tema demonstrando,
presentar” (1728) de Riccoboni, “O come- através da prática artística e teórica, como
diante” (1747) de Sainte-Albine, e “Lições a precisão cênica trabalhada em um nível
dramáticas” (1861) de João Caetano, por não formal pode estar fortemente imbrica-
exemplo. “De modo geral – arma Pavis –, da à organicidade cênica, antes como seu
a partir de 1880, aproximadamente, quan- catalisador do que como seu antônimo, seu
do a problemática da direção começa a ser contraponto. Nesse sentido, “a maioria dos
globalmente considerada, multiplicam-se grandes mestres do teatro oriental e oci-
reexões teóricas, tratados relativos à téc- dental insiste sobre a importância da pre-
nica do ator, e, um pouco mais tarde, teses cisão e da organicidade de uma ação, no
acadêmicas que fundam um estudo diacrô- entanto, poucos são os escritos sobre esses
nico da prática do teatro” (Roubine, 2002, elementos [...]” (Burnier, 2009, p. 52).
p. 8). Stanislavski, reconhecido como pri-
Também, seguindo a reexão pano- meiro pedagogo6 a sistematizar uma psico-
râmica feita por Bontto (2002), na qual o técnica de atuação baseada no uso da ima-
autor toma como o condutor a noção de ginação, pode ser considerado, também, o
“ação psicofísica” de Stanislavski e seus primeiro a apontar a correlação entre re-
ulteriores desdobramentos, é possível per- produtibilidade e espontaneidade ao dis-
ceber como, no nal do século XIX e ao cernir dois planos de um papel, “o plano
longo do século XX, o trabalho do ator/ interior e o plano exterior” (Stanislavski,
bailarino passou a ser investigado e repen- 2000, p. 223); também através da elabora-
sado por importantes artistas-pesquisado- ção do “Método das ações físicas”, no qual
res: começando por Stanilavski, passando se partiu da premissa de que as ações po-
por Meierhold, Laban, Artaud, Brecht, dem servir como “iscas” para sentimentos
Chekchov, Grotowski e Barba. e estados psíquicos que, se abordados per
Através de sua prática cênica e/ou de
suas formulações teóricas, os artistas anali- 6 Por exemplo, Grotowski e Pico-Vallin falaram sobre o pioneirismo de Stanislaski (cf.
Grotowski, 1987, p. 92; Picon-Vallin, 2008, p. 62).

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si, não poderiam ser diretamente controla- Entre os artistas-pesquisadores que


dos. Na terminologia stanislavskiana, esse abordaram essa questão de modo enfáti-
seria o ponto de mudança, através do qual, co, recorrente e aprofundado, sem dúvida
movimentos e falas cênicos deixariam de destaca-se Jerzy Grotowski, para quem a re-
ser “meramente físicos” e passariam a ser lação entre precisão e espontaneidade, por
denominados como ações-físicas ou ações ele intitulada “Conjuctio oppositorum” (Gro-
psicofísicas (cf. Toporkov, 1999, p. 173-174). towski, 2007, p. 74), era um relacionamen-
A complementaridade entre precisão/ to paradoxal de fundamental importância
forma e espontaneidade/organicidade, te- entre dois polos integrantes do trabalho do
mática aqui enfocada, também pode ser re- ator, e ao qual estavam intimamente relacio-
lacionada aos conceitos de “Atletismo Afeti- nados conceitos operativos cruciais nas pes-
vo” de Antonin Artaud (1999), de “articial quisas grotowskianas, tais como o “Impul-
naturalidade” de Gordon Craig (1987) e so” (Grotowski, 2007, p. 14) e o “Contato”
“Gesto Psicológico” de Michael Chekhov (Grotowski, 1987, p. 187). Como frequente-
(2010). Artaud (1999, p. 151), ao propor que mente advertia em seus textos e entrevistas,
“o ator é como um atleta do coração”, esta- a forma precisa (estruturada, partiturada)
belece uma analogia direta entre o controle pode e deve servir para canalizar “o uxo
do desempenho muscular de um atleta (do- espontâneo” do ator em cena, liberando-
mínio da dimensão física) e o controle da o e potencializando-o; “(...) porque se essa
afetividade (domínio da dimensão psíqui- precisão não existe, nada pode ser feito, ou
ca) de um ator, criando, assim, uma imagem então irá transformar-se em uma espécie de
metafórica para o conceito de precisão cêni- plasma” (Grotowski, 2007, p. 173) ou “um
ca que articula as dimensões física e psíqui- processo pessoal que não seja sustentado ou
ca do trabalho cênico. Já Gordon Craig, ao expresso por uma articulação formal ou por
atribuir como uma característica fundamen- uma estruturação disciplinada do papel não
tal do desempenho do ator a sua “articial é uma liberação e cairá na falta de forma”
naturalidade” (cf. Craig apud Burnier, 2009), (Grotowski, 2007, p. 106).
articula duas ideias diametralmente opos- Segundo Kumiega (1985), Grotowski
tas, articial e natural, colocando-as como considerava-se o primeiro dos diretores
componentes articuláveis e indissociáveis ocidentais a apontar como, no trabalho do
no trabalho cênico. ator, esses elementos se fortalecem mu-
Chekhov (2010), discípulo de Stanisla- tuamente, sendo sua contradição apenas
vski, arma, alinhado ao pensamento de conceitual e não pragmática. Nas suas pa-
seu mestre, que os sentimentos não podem lavras: “Era um princípio que Grotowski
ser controlados se abordados em si, mas acreditava que nenhum diretor ocidental
sim podem ser acionados através de certos tinha previamente compreendido. Ele ar-
gestos, os intitulados “Gestos Psicológicos” mava que nem Stanislavski ‘que deixava os
ou “GPs” (cf. Chechov, 2010, p. 84). Por impulsos naturais dominarem’ nem Brecht
meio dos GPs demonstrados por Chekhov ‘que dava demasiada ênfase para a cons-
(2010, p. 76), o ator seria capaz de penetrar trução do papel’ entenderam” (Kumiega,
e estimular sua própria psicologia. O con- 1985, p. 134)7.
ceito de “Gestos Psicológicos”, assim como Além disso, a relação entre precisão e
o de “Atletismo Afetivo” de Artaud (1999) organicidade (anteriormente descrita como
e “articial naturalidade” de Craig (cf. Bur- binômio reprodutibilidade-espontaneida-
nier, 2009), justapõe noções pertencentes a de) parece não ser uma questão temporá-
universos opostos: a noção de “gesto”, que ria, emergida em apenas um processo de
conota aquilo que está num âmbito apenas criação ou fase especíca da trajetória de
corporal ou externo, adicionada ao adjeti-
vo “psicológico”, que se refere à dimensão 7 Tradução para: “It was a principle that Grotowski felt no Western director had previous-
ly fully grasped. He claimed that neither Stanislavski ‘who let the natural impulses domi-
interior oposta à dimensão do gesto. nate’ nor Brecht ‘who gave too much emphasis to the construction of a role’ understood
it” (Kumiega, 1985, p.134).

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Grotowski, mas sim um “problema-chave” ou “sem vida”.


que perpassa os distintos momentos de Eugenio Barba, parceiro de Grotowski
pesquisa, de forma mutável e complexa. na fase teatral (1962-1964) e importante in-
Neste sentido, arma Flaszen (2007, p. 19), terlocutor ao longo de toda sua trajetória
“[Grotowski] Procurava a estreita passa- de pesquisa, divide as instâncias de espon-
gem entre a Precisão, que é a condição do taneidade e reprodutibilidade, classican-
prossionalismo, e a Vida”. do-as como “dimensão interior e dimensão
Também Ryszard Cieslak e Thomas Ri- física ou mecânica” (Barba, 1989, p. 21), e
chards, atores-companheiros de Grotowski também através da distinção entre con-
em períodos diferentes de sua trajetória, ceitos de “corpo-em-vida” e “mente-em-
trataram do assunto de maneira pontual e vida”, e de “Bios” e “Logos”, trabalhados
através da elaboração de duas imagens me- amplamente no livro “A arte secreta do
tafóricas que em muito auxiliam na com- ator: dicionário de antropologia teatral”
preensão empírica da enantiodromia8 entre (cf. Barba, 1989). Embora conceba esses as-
precisão (forma) e organicidade (vida) na pectos como distintos, Barba assinala sua
atuação. Cieslak, numa entrevista dada em articulação dentro do trabalho do ator: “a
1973, armou que a partitura funciona para experiência da unidade entre dimensão in-
o ator como um vidro que protege a chama terior e dimensão física ou mecânica não
de uma vela, não permitindo que as cor- constitui um ponto de partida: constitui
rentes de ar a apague. “A partitura é como o ponto de chegada do trabalho do ator”
o vidro dentro do qual uma vela está quei- (Barba, 1989, p. 21).
mando. O vidro é sólido; está lá, você pode Nos textos de Peter Brook, é possível
depender dele. Ele contém e guia a chama, notar a exploração teórico-prática de con-
mas não é a chama” (Cieslak apud Schech- ceitos diretamente relacionados à noção de
ner e Wolford, 1997, p. 203)9. Já Richards espontaneidade/organicidade, como, por
(1995, p. 236-237), analisando sua experi- exemplo, “momento presente” ou “cente-
ência com Grotowski no Drama Objetivo, lhas de vida” (cf. Brook, 2002). “A raiz do
equiparou a precisão cênica às margens de problema consiste em saber se a cada mo-
um rio que permitem que o uxo de água mento, no ato de escrever ou atuar, existe
corra numa determinada direção, sem dei- uma faísca, uma pequena centelha que se
xar a água se dissipar em diversas direções, acende e dá intensidade a esse momen-
como ocorreria sem a estrutura criada pe- to comprimido, destilado. […] A essência
las margens, devido à própria natureza do teatro reside num mistério chamado
osmótica da água, penetrante e penetrável. momento presente” (Brook, 2002, p.10). A
No caso do trabalho do ator, “a água” seria utilização desses conceitos evidencia uma
equivalente ao que Richards (1995) nomeia valorização particular do diretor inglês do
como “uxo de vida”, mas que também potencial de tudo aquilo que acontece no
poderia ser denominado como “organi- aqui e agora em que a ação se passa dian-
cidade”, “espontaneidade”, além de ou- te do espectador e sob sua inuência dire-
tras denominações já acima mencionadas, ta. No entanto, também ressalta a impor-
que verbalizam aquilo que deve ocorrer tância de se articular “centelha vida” com
durante o acontecimento cênico para que uma forma: “a questão central é relativa à
atuação não se automatize, ou, como dito forma, a forma precisa, a forma adequada.
na linguagem teatral, para que não pareça Não podemos passar sem ela, a vida não
“morta”, “mecânica”, “automática”, “fria” pode prescindir dela” (Brook, 2002, p. 75).
Laban (1978), em sua minuciosa análi-
8 Termo cunhado por Heráclito, lósofo grego pré-socrático, para quem o devir da natu- se do movimento humano em seu famoso
reza seria composto por elementos contrários que não se anulam mutuamente. “Tudo
se faz por contraste, da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia” (Marcondes, livro, “O domínio do movimento”, parte
1999, p. 15).
do princípio que os movimentos corporais
9 Tradução para: “The score is like a glass inside which a candle is burning. The glass is
solid; it is there, you can depend on it. It contains and guides the ame. But it is not the
possuem qualidades determinadas pela
ame”. (Cieslak apud Schechner e Wolford, 1997, p. 203).

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condição mental daquele que os executa. universo da espontaneidade.


“O movimento, portanto, revela eviden- Contudo, é Ferracini (2012), integrante
temente muitas coisas. É resultado, ou da do Lume, quem, além de enfatizar a impor-
busca de um objeto de valor, ou de uma tância de não se enxergar essas dimensões
condição mental. Suas formas e ritmos de modo dicotômico, aponta não se tratar
mostram a atitude da pessoa que se move de relação dada, estável e imutável, mas
numa determinada situação.” (Laban, sim de uma relação que se modica de
1978, p. 20). Desse modo, o autor abordou caso para caso, de processo para processo.
a articulação entre forma/precisão e orga- Assim, arma que: “No corpo, ‘ponto’ por
nicidade, diferenciando o que ele dene excelência de conuências, não existe pola-
como “movimento pelo movimento” e o ridade, mas uma multiplicidade dimensio-
“movimento humano [corporal ou vocal] nal (formal, vital, técnica, relacional, etc.).
com todas as suas implicações mentais, Nesse sentido nem mesmo posso denir
emocionais e físicas” (Laban, 1978, p. 29). essa conuência como apenas UM ponto,
Tendo essa perspectiva de união cor- no sentido de um local determinado, mas
po-mente, Laban (1978) formulou a Teoria sim por várias dimensões que ultrapassam,
do Movimento Expressivo que se compu- ou passam ‘entre’ a relação de dualidades
nha de um conjunto articulado de estudos, estabelecidas como forma/expressão”
Corêutica (estudo do movimento no espa- (Ferracini, 2012, p. 79-80).
ço) e Eukinética (estudo das dinâmicas e Entretanto, embora todos os artistas
das qualidades do movimento), os quais, acima citados tenham abordado o tema,
funcionando como ferramentas metodoló- ampliando sua compreensão, poucos deles
gicas concretas, possibilitam ao ator/baila- zeram uma análise comparativa prático-
rino uma maior consciência psicocorporal conceitual que indicasse, tendo como base
durante a criação cênica e sua reprodução estudos de caso, as diferentes combinações
diante do público. Também estruturou possíveis entre instâncias de reprodutibili-
uma forma de registrar os desempenhos dade e de espontaneidade no trabalho do
cênicos dos artistas da cena através de uma ator, como fez, por exemplo, Grotowski no
graa do movimento codicada chamada nal de sua vida, em aulas dadas no Collè-
Cinesiograa, igualmente conhecida como ge de France (cf. Grotowski, 1999). E em “Da
Labanotation. Cia Teatral à Arte como Veículo”, Groto-
No Brasil, Burnier arma que as “‘di- wski (2007) ao fazer uma reexão panorâ-
mensões interior e física ou mecânica’ (re- mica de sua própria trajetória de pesquisa,
ferência a terminologia usada por Barba) num breve comentário, também aproxima o
não podem ter uma existência isolada, tipo de precisão cênica empregado na pri-
pois formam uma unidade” (Burnier, 2009, meira fase de trabalho (Fase Teatral) com a
p. 19), reforçando a perspectiva de com- última etapa (Arte como Veículo), embora
plementaridade entre essas dimensões. alertasse não se tratar exatamente de um re-
Porém, o autor não apenas reforça a arti- torno, mas sim do emprego de um nível de
culação, mas também adiciona uma nova detalhamento e rigor estrutural semelhante
faceta à questão, ressaltando que “embora aos dos espetáculos da década de sessenta
possam compor duas faces de uma mesma sob uma ótica de investigação inteiramente
moeda, elas possuem naturezas diferentes nova (cf. Grotowski, 2007, p. 231-232).
e podem ser trabalhadas separadamente Também Motta-Lima (2005; 2008) ana-
e de distintas maneiras” (Burnier, 2009, lisa como a concepção teórico-prática do
p. 19). Nesse sentido, ele reforça a ligação binômio estrutura-espontaneidade foi mo-
direta dessas dimensões do trabalho com dicada ao longo das etapas de pesquisa
uma multiplicidade de técnicas e métodos de Grotowski, tratando-se, portanto, de ar-
cujo enfoque estaria, ora mais voltado para ticulações singulares e distintas que se con-
o universo da reprodutibilidade, ora para o guravam em cada período de trabalho.

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Segundo a autora, seria possível enxergar cia que a intersecção reprodutibilidade-es-


a investigação prática sobre esse binômio pontaneidade não pode ser compreendi-
sendo balizada por alguns “marcos” den- da de maneira generalizada, nem mesmo
tro das pesquisas grotowskianas, nos quais dentro do percurso de um mesmo artista,
a concepção teórica e prática das noções de como Grotowski, pois, o quê se pode consi-
estrutura e de espontaneidade teriam so- derar como reprodutibilidade ou como es-
frido alterações mais contundentes. Esses pontaneidade pode variar bastante de es-
“marcos” estariam localizados dentro da petáculo para espetáculo, de processo para
fase teatral, mas também fora dela. processo. Assim, partindo da premissa
O primeiro marco teria se processado de que essas instâncias possuem distintas
na montagem do espetáculo Shakundala, maneiras de se interarticular nas experiên-
que é colocado como o momento no qual a cias cênicas, se pode armar que, embora
mise-en-scène das produções dirigidas por muitos artistas já tenham apontado a exis-
Grotowski se volta mais concentradamen- tência dessa relação paradoxal no trabalho
te para a exploração dos recursos corporais do ator/bailarino/performer, são muito
e vocais do ator, mas ainda sob uma ótica poucos os estudos que analisam as espe-
positiva em relação a conceitos como “arti- cicidades de cada proposta cênica em re-
cialidade”, “articial” e “signos”. O perío- lação a essa questão especíca, a esse rela-
do de 1962, no qual se produziu Akropolis, cionamento de uida tangibilidade. Além
é destacado como a época em que se come- das especicidades que podem apresentar
çou a relacionar conscientemente as noções cada modelo ou estilo em particular, cada
de “partitura”, “estrutura” e “forma” com ator, por sua vez, também pode estabele-
as de “espontaneidade”, “autopenetração”, cer para si um tensionamento próprio des-
“empenho interior” ou “técnica interior”. tes polos. Consequentemente, são muitas
Porém, nesse segundo marco (a partir de as noções de ligadas a esses dois univer-
1962), essas noções ainda eram vistas como sos operacionais da atuação cênica, assim
pertencentes a instâncias distintas do tra- como são também muitos os métodos/téc-
balho do ator e que deveriam ser propo- nicas empiricamente a eles relacionados.
sitalmente articuladas por ele. Também as “A distância entre estes dois polos, o im-
noções de articialidade, “artifício” e “sig- provisado e o formal, é que determina as
nos”, que posteriormente serão abolidas do diferenças entre si, através de graus, onde
léxico grotowskiano, ainda eram vistas po- a manifestação torna-se mais ou menos for-
sitivamente. Já o período de 1965 em dian- malizada ou mais ou menos improvisada”
te, até o término da fase teatral, é posto pela (Chacra, 2007, p. 12).
autora como momento em que se reviu de Pensar a intersecção reprodutibili-
maneira incisiva a dicotomia entre estrutu- dade-espontaneidade, portanto, permite
ra-espontaneidade, entre interior-exterior, abordar uma discussão crucial para ofício
delineando-se o que foi denido como a cênico: como lidar com a repetição, ou como
“descoberta da organicidade” (Motta-Li- evitar que ela automatize o desempenho e
ma, 2008, p. 240), marcada pela inserção prejudique o ‘re-acionamento’ das qualida-
de certos princípios, como “impulso” e des de ordem psíquica, alcançadas nos en-
“contato”, que nortearão a trajetória gro- saios? Debater essa problemática de modo
towskiana como conceitos-chave. Por m, não supercial e generalizante implica em
o último marco delineado pela análise de destrinchar como se dá, em cada caso, a re-
Motta-Lima (2008), estaria no trabalho de lação reprodutibilidade-espontaneidade,
Grotowski com Richards e Biagini dentro pois essa análise propicia perceber e deli-
do Workcenter, no qual a relação entre for- near as especicidades apresentadas pelas
ma e uxo de vida teria ganhado uma nova múltiplas práticas cênicas existentes em re-
concepção e dinâmica na prática artística. lação a esse paradoxo fundamental do tra-
A análise de Motta-Lima (2008) eviden- balho do ator/bailarino/performer.

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