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A NUDEZ DA MULHER ENTRE O REAL E O FICCIONAL – O

ENFRENTAMENTO ENTRE PERFORMANCE E PUBLICIDADE


La desnudez de la mujer entre el real y lo ficctício –
El anfrontamiento entre performance e publicidade en la calle.

MATOS, Lara T; CARREIRA, André L.A. (Orientador)

RESUMO

Apesar da nudez estar passando por grandes transformações no imaginário social,


inclusive no que diz respeito à sua aceitação em locais públicos, aparentemente sua
capacidade de chocar o olhar do outro tem se transpassado para dados agregados à
nudez, tais como local onde se realiza, a presença de corpos fora do padrão de beleza,
situações e ações que colocam o corpo nu em exposição ou risco. O corpo da mulher,
como objeto e alvo regular do mercado de cosméticos, farmacêutico e pornográfico,
vive um processo conflitivo pois habita o limiar entre real e ficcional/virtual em
relação à nudez. A nudez da mulher é construída como objeto do imaginário
(virtualmente e enquanto proposta mercadológica) na busca de atingir um alvo que
são as próprias mulheres reais que almejam ter/ser este “corpo-padrão” disseminado
pela publicidade. Existe um corpo da mulher? Enquanto mulheres, qual nossa
referência de corpo nu? Existem limites, e quais são os limites do real e ficcional em
relação ao corpo da mulher? A construção do corpo da mulher coabita um espaço
entre o imaginário construído pela publicidade e a realidade que atinge a maioria das
mulheres que não se encaixam nos padrões publicitários. Um conflito entre o ser o
corpo fora dos padrões e o querer um corpo que se encaixe neste padrões
publicitários. Este trabalho busca pensar este espaço que o corpo nu das mulheres
ocupa hoje, na tentativa de pensar a transitoriedade entre real e ficcional que um
corpo nu de mulher percorre em uma ação performática artística ou de protesto na rua.
Este artigo busca avaliar as interferências do real disparados pela utilização da nudez
na rua em performances e protestos e como esta nudez artística se relaciona como o
corpo construído pela publicidade nestes espaços. Busca pensar se a nudez é um
dispositivo automático da presença do real em performances, ou ela se confunde com
o ficcional construído virtualmente na publicidade. Neste ponto é preciso retomar
algumas discussões sobre a publicidade, e propor um enfrentamento entre as noções
de ficção e virtualidade. Para o real temos o enfrentamento cotidiano das diferenças:
gordura, deformações, envelhecimento, para o ficcional, o marketing baseado em
produções que combinam modelos selecionadas, estrutura de iluminação e
maquiagem e a finalização com o Photoshop. Temos uma realidade natural dada e
uma construção imagética, ambas lutando entre o espaço real de nossos quartos e o
virtual em nossos computadores? O olhar desempenha uma função fundamental neste
lugar, ele liga sensação e observação, e através dele moldamos o sentir o corpo e
refazemos os paradigmas do olhar. Artistas como Carina Sehn (Porto Alegre), Vi
Tchalian (Cuiabá), Berna Reale (Belém) e Fernanda Magalhães (Curitiba) trabalham
com os dois elementos, a realidade evidente dos corpos que possuem em contraste
com espaços urbanos e a virtualidade das fotografias geradas pelas performances onde
aparecem nuas. Aqui o real pode ser tanto o padrão a ser alcançado, quanto o corpo
que não se adapta e que é determinado por uma natureza biológica e também social,
visto que os medicamentos prometem vencer a luta contra imposições biológicas.
Como o trabalho de algumas mulheres com a nudez, em performances artísticas, seja
no teatro, performance e dança, jogam com estes elementos ficcionais e reais
estabelecidos e desconstroem as naturalizações do corpo da mulher hoje? A nudez
tem sido usada como elemento fundamentador do real na cena contemporânea na rua?
Não diferentemente, a nudez também é elemento que conecta o real com as palavras
de ordem dos movimentos ativistas nas ruas?

Lara T. de Matos

Doutoranda em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestre em


Teatro e Licenciada em Artes Cênicas pela mesma instituição. É atriz do grupo
(E)xperiência subterrânea, seus últimos espetáculos se debruçam em pesquisas sobre a
interpretação por estados, o risco físico na cena e relação realidade e ficção na criação
de espetáculos, tais como Women’s (Contemplado com o edital Miriam Muniz de
circulação), Guardachuva (contemplado com o Prêmio Elizabeth Anderle), Das
sobras de tudo que chamam lar e Circus Negro. É membro do ÀQIS – Núcleo de
pesquisa sobre processos de criação artística, da Universidade do Estado de Santa
Catarina. É atriz convidada do La Vaca Produtora e Arte para o espetáculo Mi
Muñequita e UZ. Em 2010 foi contemplada pelo edital de Residências Artísticas da
Fundação Nacional de Artes – Funarte – Ministério da Cultura. Dirigiu: C, C2 e O
final feliz de cada um (Edital de Apio às Culturas do Fundo Municipal de Cultura de
Florianópolis). Sua pesquisa atual se desenrola sobre a nudez na rua como dispositivo
político e estético em performances e manifestações.

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