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FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS VERNÁCULAS
RIO DE JANEIRO
2020
Welton Pereira e Silva
Rio de Janeiro
2020
Welton Pereira e Silva
This paper aims to describe, analyze and understand the use of pathemic arguments
in threat letters. It is assumed that different strategies are employed with the intention
of making the interpretative subject experience diverse emotions,which depends on
the argumentative project of the communicative situation.The study was made based
on the theoretical and methodological postulates of the Semiolinguistic Theory of
Discourse, as proposed by Patrick Charaudeau. In addition to this, we looked for
support and contributions in the fields of Pragmatics, Philosophy of the Language,
Argumentative Semantics, as well as in some researches from the areas of Textual
Linguistics, Discourse Analysis, and Forensic Linguistics. After concluding the
corpus’ analysis, which consists of twenty-five letters written by individuals who
presented themselves as criminals, and twenty-five from individuals who didn’t
present themselves as criminals, it was possible to suggest a logic-pragmatic
configuration to the speech act of a threat. Besides, we aimed at proving the general
hypothesis that guides this investigation, to wit: the verbal threat in Portuguese may
be of an overt or implied nature, and might be constituted of different pathemic
strategies. This work intends to collaborate with argumentative studies that defend
the possibility of the argumentation as being also effected by pathemization. In
addition, we aim to also contribute to the field of Forensic Linguistics, especially in
cases related to the determination of meaning involving eventual lawsuits in which a
threat is considered a criminal evidence.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 17
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..................................................................... 22
2.1 A TEORIA SEMIOLINGUÍSTICA DO DISCURSO......................................... 22
2.1.1 A identidade em uma problemática semiolinguística.......................... 30
2.1.2 O contrato de comunicação................................................................... 40
2.1.3 Os Modos de Organização do Discurso............................................... 43
2.2 DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS ACERCA DAS EMOÇÕES...... 47
2.2.1 Algumas visões filosóficas.................................................................... 47
2.2.2 Algumas visões neurobiológicas........................................................... 50
2.2.3 Algumas visões linguístico-discursivas............................................... 54
2.3 A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA.......................................... 66
2.3.1 Os operadores argumentativos.............................................................. 67
2.3.2 Pressupostos e subentendidos............................................................. 72
2.4 A LINGUÍSTICA FORENSE........................................................................... 78
2.4.1 O linguista como perito.......................................................................... 79
2.4.2 Determinação de significados em Linguística Forense....................... 81
2.5 A CARTA DE AMEAÇA: OBJETO DE ANÁLISE.......................................... 88
2.5.1 O ato de fala de ameaça como um crime de linguagem: breve
revisão de literatura........................................................................................... 89
2.5.2 Proposta de configuração lógica para o ato de fala de ameaça.......... 100
2.5.3 A carta de ameaça como um subgênero atrelado ao domínio
interpessoal........................................................................................................ 107
2.5.4 Configuração e descrição do subgênero carta de ameaça................... 113
2.5.5 Os discursos criminalizáveis: uma possível conceituação.................. 116
3 METODOLOGIA............................................................................................ 126
4 ANÁLISE: ARGUMENTAÇÃO E PATEMIZAÇÃO EM CARTAS DE
AMEAÇA.............................................................................................................. 134
4.1. ESTRATÉGIAS DE PATEMIZAÇÃO EM CARTAS DE AMEAÇA:
ANÁLISE QUALITATIVA...................................................................................... 134
4.1.1 Abordagem macro e microestrutural das cartas dos sujeitos que
não se posicionam como criminosos.............................................................. 136
4.1.2 Abordagem macro e microestrutural das cartas dos sujeitos que se
posicionam como criminosos........................................................................... 176
4.2 ESTRATÉGIAS DE PATEMIZAÇÃO EM CARTAS DE AMEAÇA: ANÁLISE
QUANTITATIVA................................................................................................... 206
4.2.1 Contabilização: tipos de ameaça............................................................. 207
4.2.2 Contabilização: comportamento enunciativo e estratégias de
patemização........................................................................................................ 209
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 220
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 227
ANEXOS.............................................................................................................. 237
17
1 INTRODUÇÃO
doze cartas de ameaça de morte; dez cartas de ameaça contra a segurança pública;
e três cartas com sanção indefinida, no grupo dos vinte e cinco textos atribuídos aos
sujeitos que se posicionam como criminosos.
Posteriormente, no Capítulo 4, apresentaremos os resultados qualitativos e
quantitativos obtidos a partir da observação, descrição e análise do corpus. Assim,
analisaremos a argumentação patemizante nas cartas de ameaça, levando em conta
questões macroestruturais – modos de organização do discurso, projeto
argumentativo do texto – e questões microestruturais – escolhas lexicais, operadores
argumentativos, estratégias de patemização –, procurando desvelar possíveis
interdiscursividades e imaginários sociodiscursivos. A análise qualitativa será
efetuada a partir da seleção de dez textos do corpus, sendo cinco relativos ao
conjunto de textos dos sujeitos que não se posicionam como criminosos, e cinco
relativos ao conjunto de textos dos sujeitos que se posicionam como criminosos. A
análise quantitativa, por sua vez, procura apresentar os dados relativos a todo o
corpus, dados que mostraremos em formato de tabelas e gráficos, de modo que a
explicação fique mais facilmente compreensível. Com isso, traremos novamente
nossas hipóteses e discorreremos acerca de sua comprovação ou refutação.
Nas Considerações Finais, apresentaremos a avaliação dos principais
resultados obtidos no capítulo referente às análises, bem como buscaremos refletir
sobre o percurso desta pesquisa, salientando alguns desdobramentos possíveis e
futuros que podem dar continuidade a este trabalho.
Esperamos que esta pesquisa endosse os estudos argumentativos que se
filiam à Análise do Discurso, contribuindo para a comprovação de que a
argumentação também se dá a partir da patemização. Acreditamos ainda que os
dados e explicações aqui apresentados contribuem no que concerne à determinação
de significados na Linguística Forense, principalmente quando houver alguma
dúvida acerca da natureza ameaçadora de um determinado texto ou enunciado.
Esta pesquisa poderá contribuir, de igual modo, para a divulgação e consolidação da
Linguística Forense enquanto área de estudos nas faculdades de Letras brasileiras,
pois relativamente poucos trabalhos foram efetuados nessa área, em nosso País.
Neste primeiro capítulo, introduzimos os principais parâmetros norteadores de
nossa investigação. No próximo capítulo, traremos a apresentação e discussão do
referencial teórico que fundamenta e orienta nosso trabalho.
22
2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Vale saber que, nas teorias enunciativas, o valor semântico dos termos e
enunciados que constituem o texto e o discurso não é apresentado completamente a
priori, não preexiste à prática discursiva. Os sentidos são, pelo contrário, construídos
e co-construídos pelos sujeitos envolvidos na situação de comunicação. A
construção dessa rede complexa de sentidos compartilhados se faz, levando-se em
conta as finalidades da interação, os temas tratados, as identidades evocadas, bem
como os conhecimentos compartilhados pelos sujeitos envolvidos na troca
discursiva. É por essa razão que podemos falar que fomos bem sucedidos, ou não,
em nosso projeto de fala.
Na Teoria Semiolinguística do Discurso, essa diferença baseia-se no que
Charaudeau (2008) chama de sentidos de língua e sentidos de discurso. Os
primeiros seriam os significados propriamente ditos de determinadas palavras,
aquele buscado em dicionários e tratados pela Semântica Formal. Os sentidos de
discurso, por sua vez, dizem respeito aos valores atribuídos a determinados usos
lexicais a depender do contexto comunicativo. Entram em cena, portanto, os
24
1
A palavra “propósito” parece ter sido utilizada devido a um equívoco de tradução, já que o termo, em
francês, é propos, ou proposto, que seria mais bem traduzido como o tema, o assunto. Tal utilização
acaba por gerar um problema de compreensão em português, visto que o “propósito” e as
“finalidades” da situação de comunicação poderiam ser entendidos como sinônimos, sendo que, no
interior da TSD, trata-se de noções diferentes. Essa informação foi obtida em conversa informal com
a Professora Doutora Angela Maria da Silva Corrêa, tradutora de várias obras de Patrick Charaudeau.
Agradecemos à professora Angela por sua colaboração.
25
(1) [...] estamos dando uma opção de escolha; vcs tem filhos,
cuidado.
Processo de transformação
Processo de transação
proposta por Benveniste (1989). Para esse linguista, que foi um dos precursores da
chamada Virada Pragmática, desde que o indivíduo “[...] se declara locutor e assume
a língua, ele implica o outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que
ele atribua a esse outro. Toda enunciação é, explícita ou implicitamente, uma
alocução, ela postula um alocutário” (BENVENISTE, 1989, p. 84).
No processo de enunciação, entram em jogo um EU, um AQUI e um AGORA
(ego, hic et nunc). Com isso, determinadas marcas formais da língua apenas
adquirem seu sentido completo a depender do contexto. É o caso dos chamados
dêiticos, itens lexicais como advérbios de tempo, de lugar, e pronomes como “eu” e
“tu”, que se revestem de significações diversas a depender de quem enuncia e para
quem enuncia. Os dêiticos são outro exemplo da diferença entre os sentidos de
língua e sentidos de discurso, já tratados no item anterior.
Assim, quanto à existência constante de um sujeito enunciador que dirige seu
discurso a um sujeito destinatário, Charaudeau adverte que:
A partir do princípio de alteridade (do latim, alter: outro), que, como vimos,
preconiza a existência de diferentes sujeitos que produzem seus próprios discursos
no interior de uma situação de comunicação, podemos falar em identidade.
Charaudeau (2009) explica que o sujeito se constroi a partir de sua identidade
discursiva, que é baseada em uma identidade social. Enquanto a identidade social
está atrelada ao sujeito comunicante, ser empírico, a identidade discursiva é
construída no discurso e a vislumbramos a partir dos enunciados proferidos pelo
sujeito enunciador. Quando falamos em identidades construídas no e pelo discurso,
falamos a respeito do ethos, a imagem criada a partir do que é dito e da forma como
se diz. Essa imagem identitária está intimamente ligada à legitimidade do sujeito que
enuncia e à credibilidade que poderá ser atribuída, ou não, ao seu enunciado.
Para um melhor entendimento, observemos a imagem a seguir:
32
De fato, o ethos, enquanto imagem que se liga àquele que fala, não é uma
propriedade exclusiva dele; ele é antes de tudo a imagem de que se
transveste o interlocutor a partir daquilo que diz. O ethos relaciona-se ao
cruzamento de olhares: olhar do outro sobre aquele que fala, olhar daquele
que fala sobre a maneira como ele pensa que o outro o vê. Ora, para
construir a imagem do sujeito que fala, esse outro se apoia ao mesmo
tempo nos dados preexistentes ao discurso – o que ele sabe a priori do
locutor – e nos dados trazidos pelo próprio ato de linguagem
(CHARAUDEAU, 2015 [2005], p. 115).
também irá ser defendida a noção de que o ethos é a imagem construída no e pelo
discurso do sujeito enunciador, por vezes, não coincidindo com a realidade.
Maingueneau (2008) sistematiza essas possibilidades, distinguindo e
definindo terminologias como a de ethos efetivo, a imagem efetivamente produzida
pelo sujeito comunicante. O ethos efetivo consiste na interação – representada pelas
flechas duplas no esquema abaixo – entre o ethos pré-discursivo (como os outros o
veem antes do discurso), e o ethos discursivo (a imagem construída no momento da
enunciação). Esta última categoria ainda é subdivida em outras duas, vale saber, o
ethos dito, que corresponde a uma verbalização avaliativa acerca da imagem que o
enunciador quer fazer de si mesmo, e o ethos mostrado, a forma como ele se mostra
no discurso.
Para uma melhor compreensão, observemos a figura abaixo:
(3) Qui esposa é você. Eu inexisto neste mundo. Você não mim ver mais.
(7) eu até gosto de bicho, mas vou matar esses filhos da puta
envenenados.
O termo face pode ser definido como o valor social positivo que uma pessoa
realmente reivindica através da linha de ação que os outros assumem que
ela adotou durante um determinado contato. A face é uma imagem de mim
mesmo delineada de acordo com certos atributos sociais aprovados e
compartilháveis, pois, por exemplo, pode-se dar uma boa imagem da sua
profissão ou da sua confissão, dando uma boa imagem de si mesmo2.
Preservar a face, portanto, diz respeito à tentativa dos sujeitos de fazer com
que sua imagem, sua face, seja compatível com os valores sociais aceitos em uma
dada comunidade. Portanto, podemos relacionar a preservação da face à
construção e manutenção de determinados ethé de virtude, já que esses também
são ancorados em certos valores sociais. Entretanto, ao realizar a ameaça, o sujeito
desconstroi esse ethos de virtude e, no processo, perde sua face, nas palavras de
Goffman (1974).
Assim, defendemos que, enquanto o primeiro tipo de construção – ethos de
virtude – é baseado justamente no que é tido como características virtuosas em
nossa comunidade sociodiscursiva, esse segundo tipo – ethos de desvirtude –
baseia-se sobre diferentes pontos de vista axiológicos com valor negativo acerca de
determinada parcela da realidade. Em alguns casos, podemos encontrar mesmo
paradoxos relacionados aos valores éticos, como o exemplo do “cidadão de bem”
2
“On peut définir le terme de face comme étant la valeur sociale positive qu'une personne revendique
effectivement à travers la ligne d'action que les autres supposent qu'elle a adoptée au cours d'un
contact particulier. La face est une image du moi délinée selon certains attributs sociaux approuvés, et
néanmoins partageable, puisque, par exemple, on peut donner une bonne image de sa profession ou
de sa confession en donnant une bonne image de soi” (GOFFMAN, 1974, p. 09).
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que efetua uma ameaça de morte contra migrantes baianos ou os “servos de deus”
que ameaçam toda a comunidade LGBTI+ da cidade de Betim (MG). Essas duas
cartas serão analisadas de forma pormenorizada no capítulo 4.
No que se refere aos índices linguísticos que auxiliam a construção desse
ethos de desvirtude, destacamos aqueles que fazem referência ao sujeito
enunciador enquanto um encarcerado, um presidiário, como em “estou preso” ou “os
presos como um todo”, conforme pode ser visto no quadro 01, logo abaixo. Não
queremos, de forma alguma, dizer que todas as pessoas em situação de restrição de
liberdade são criminosas, afinal, muitos se afirmam inocentes. Em nosso corpus, no
entanto, o que emergiu foram enunciados de sujeitos que fizeram uso de sua
condição de encarcerado, valendo-se dos imaginários sociodiscursivos acerca da
prisão e do crime, para garantir sua legitimidade.
Como pode ser notado, é o sujeito enquanto ser de fala, dotado de
identidades diversas que são postas como máscaras na mise en scène discursiva,
que levamos em conta na separação do nosso corpus de estudo em dois grupos
distintos: de um lado, agrupamos vinte e cinco cartas escritas por sujeitos que se
identificam discursivamente como criminosos; e, de outro, vinte e cinco cartas
escritas por sujeitos que se apresentam como detentores de identidades diversas,
mas que não fossem atreladas ao campo semântico do crime, tais como “vizinho”,
“marido traído”, “trabalhador honesto” etc.
No quadro abaixo, elencamos os índices linguísticos encontrados que
auxiliam na construção e manutenção de determinados ethé que emergiram das
cartas que compõem o nosso corpus:
Podemos observar que, das cartas escritas pelos sujeitos que não se
posicionam como criminosos em seu discurso, emergem identidades discursivas
diversas, remetendo a diferentes ethé. Temos, por exemplo, adjetivos e locuções
adjetivas que auxiliam na construção do ethos de virtude, como “justiceiro”,
“trabalhadores honestos”, “servos de Deus” e “gente que trabalha”. Além desse
ethos de virtude, observamos também itens lexicais e sintagmáticos que auxiliam a
construção e manutenção do ethos de potência (amigos de policiais; membro da
inteligência da PM); ethos de competência (1º aluno do colégio militar); e do ethos
de vítima (marido traído; marido prejudicado).
Ao que parece, esses sujeitos buscam tais identidades para se distanciar da
identidade de criminoso. Assim, ao se afirmarem na condição de maridos, vizinhos,
trabalhadores ou cristãos, procuram se legitimar como tais e afirmar que, se
ameaçam, não é por serem criminosos, mas por estarem cansados, revoltados, por
39
Querer agir sobre o outro não pode limitar-se a uma simples intenção. É
preciso ter a segurança de que o outro obedecerá, se submeterá, fará o que
lhe dizem para fazer. Para dominar o outro, então, são necessários meios
para fazê-lo. O conjunto dos meios e sua força representam uma potência.
A potência é medida pela capacidade de poder fazer, que pode ser mais ou
menos forte [...]. Essa capacidade de poder fazer depende dos recursos
disponíveis àquele que quer agir; por exemplo, a possibilidade de fazer uso
de uma sanção (CHARAUDEAU, 2016a, p. 17).
3
Chamamos “palavras de calão” àqueles vocábulos tidos como de “mau gosto” em nossa sociedade
sociodiscursiva, palavras que denotam um uso linguístico violento e capaz de ofender, gerando mal-
estar, como os palavrões e impropérios. Fonte: Dicionário Aurélio online. Disponível em
<https://www.dicio.com.br/calao/>. Acesso em 05 jan. 2019.
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Assim, caso o orador ache vantajoso levar seu ouvinte a sentir medo,
segundo Aristóteles, ele deve adverti-lo de que algo de mal poderá lhe acometer.
Justamente pelo fato de as emoções levarem à alteração do juízo, os
argumentos embasados em sentimentos foram tidos como falácias argumentativas
desde o período clássico, passando por toda a Idade Média e desembocando no
racionalismo de René Descartes, na Renascença. Esse raciocínio foi ainda mais
incentivado a partir do Positivismo que, sob influência cartesiana, preconizava o
método científico e a lógica como reveladores da verdade científica.
O Método Cartesiano, que influencia a filosofia e a ciência ocidental desde a
Renascença, apregoava a separação entre alma e corpo – espírito e matéria –,
aquela sendo dotada de razão, a mente, e este sendo o lugar dos sentimentos e do
que Descartes chamou de “apetites”. Conforme explana esse filósofo:
Eu descrevera, depois disso, a alma racional, e mostrara que ela não pode
ser de modo algum tirada do poder da matéria, como as outras coisas de
que falara, mas que deve expressamente ter sido, e como não basta que
esteja alojada no corpo humano, assim como um piloto em seu navio,
exceto talvez para mover seus membros, mas que é preciso que esteja
junta e unida estreitamente com ele para ter, além disso, sentimentos e
apetites semelhantes aos nossos, e assim compor um verdadeiro homem
(DESCARTES, 1973, p. 61-62).
Para o autor, que evoca a etimologia do termo “emoção” (do latim, emovere),
existiriam as emoções primárias (inatas, pré-organizadas) e as emoções
secundárias (que provêm de representações dispositivas adquiridas, não inatas, mas
sob influência destas últimas). Assim, Damásio (2012 [1994]) fundamenta toda sua
teoria, denominada de “hipótese do marcador-somático”, sobre a explicação de que
todo o raciocínio humano é perpassado pelas emoções, já que estas, como fruto de
diversas reações biológicas e neuroquímicas, definiriam nossas ações, reações e
decisões.
Como um exemplo para essa argumentação, o neurocientista explica que a
decisão por comer algo, após a sensação de fome, advém da baixa de glicose no
sangue, baixa detectada pelos neurônios do hipotálamo que justamente levam o
corpo a sentir fome. Além desse exemplo que não necessariamente evoca, na maior
parte das vezes, um raciocínio ou tomada de decisão muito complexa, o autor ainda
elenca algumas outras decisões que são auxiliadas pelas emoções experienciadas
pelo sujeito, como com quem se casar, se deve ou não entrar em um avião com uma
tempestade se aproximando e, até mesmo, em quem votar nas próximas eleições. A
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função do marcador-somático seria nos fornecer indícios que nos alertam para os
possíveis danos provocados por uma decisão ruim, o que nos possibilita fazer novas
escolhas.
Todos esses raciocínios passariam pelo crivo das emoções. É devido a essa
hipótese, levantada na década de 1990, que Damásio afirma que Descartes errou ao
fazer a cisão entre a razão e a emoção, pensamento filosófico que provocou o cisma
entre essas duas instâncias e, segundo o autor, culminou em um grande atraso nos
estudos científicos acerca das emoções.
Outro pesquisador vinculado às ciências biológicas que se debruça sobre os
estudos da emoção é Maturana. Para ele:
Faz-se oportuno mencionar que tais premissas aceitas a priori, evocadas pelo
autor, relacionam-se à doxa aristotélica que, por fim, se relaciona à noção de topoi
argumentativo da Semântica Argumentativa, linha teórica que utilizamos, também,
nesta pesquisa. Segundo Maturana (2002), essas premissas são aceitas a partir das
emoções, dos julgamentos de valor que, enquanto cidadãos pertencentes a
52
básicas, como a sensação de fome, sede, à fúria e ao prazer sexual; o tálamo diz
respeito à sensibilidade e comportamento emocional; o hipocampo incide sobre o
comportamento, memória e sobre as tomadas de decisão.
Dentre as descrições efetivadas pelos autores acerca das áreas cerebrais
relacionadas a cada emoção, interessa-nos, em particular, aquelas relacionadas ao
medo, especificamente, a amígdala e o hipotálamo. De acordo com esses
neurocientistas, “a amígdala é responsável pela detecção, geração e manutenção
das emoções relacionadas ao medo, bem como pelo reconhecimento de expressões
faciais de medo e coordenação de respostas apropriadas à ameaça e ao perigo”
(ESPERIDIÃO-ANTONIO et al., 2008, p. 60). Desse modo, as ameaças, como
argumentos patemizantes que procuram despertar emoções relacionadas ao medo,
no sujeito interpretante, procuram agir diretamente sobre essa área cerebral.
Apesar dos vários avanços descritos acima, de acordo com Esperidião-
Antonio et al., ainda não há um consenso na comunidade científica acerca das áreas
que fazem parte do sistema límbico, sendo algumas consideradas por alguns
pesquisadores, enquanto outros as descartam, como o septo, o cerebelo e o
hipocampo. Devido a essas divergências, Esperidião-Antonio et al. preferem se
referir a um sistema das emoções, uma rede complexa de estruturas cerebrais que
se relacionam às emoções, com cada área apresentando um papel importante.
Esperidião-Antonio et al. (2008) teorizam, ainda, acerca de uma diferenciação
entre “emoção” e “sentimento”. Se nos embasarmos também na filosofia, seria
pertinente incluirmos as “paixões” e diferenciá-las. A exemplo de Lima (2006),
entretanto, seguiremos a proposta de Charaudeau (2010) e utilizaremos todas essas
noções englobadas pelo termo “patemização” que, no âmbito da Semiolinguística do
Discurso, diz respeito às emoções possivelmente sentidas pelo interlocutor a partir
dos enunciados proferidos pelo locutor. Essa noção será mais bem discutida na
próxima seção.
levado a aderir em maior ou menor grau aos argumentos apresentados pelo orador,
cumprindo, assim, o objetivo maior da prática argumentativa, conforme explicam
Perelman e Tyteca (2005 [1996]). Devido a isso, no presente tópico, apresentamos
algumas noções acerca do tratamento das emoções no âmbito da Análise do
Discurso, especificamente, no da Semiolinguística.
Nosso percurso acerca das emoções começa e retorna à filosofia aristotélica
e às suas noções de logos, pathos e ethos. Fazendo uma aproximação à Teoria
Semiolinguística do Discurso, principal aporte teórico desta pesquisa, podemos dizer
que as provas retóricas propostas por Aristóteles relacionam-se intimamente às
estratégias discursivas de credibilidade, captação e legitimidade. Afinal, o logos diz
respeito ao conteúdo proposicional do enunciado e à forma como ele é constituído; o
pathos, foco deste trabalho, relaciona-se à capacidade que determinados discursos
apresentam de despertar emoções no interlocutor; e o ethos, por sua vez, é a
imagem do sujeito comunicante construída a partir do discurso, podendo ser
corroborada por questões extralinguísticas, como o porte físico, as roupas, a origem
geográfica e social etc.
As estratégias de captação são aquelas utilizadas para captar o auditório e
levá-lo a aderir às teses defendidas pelo orador, pelo sujeito que argumenta, já que
esse é o principal objetivo da argumentação (PERELMAN, TYTECA, 2005 [1996]).
Neste trabalho, baseados em Gouvêa (2017), procuramos elencar uma série de
estratégias patêmicas que dizem respeito à captação. Assim, estamos tratando de
enunciados que apresentam a capacidade, a possibilidade de despertar
determinadas emoções no sujeito interpretante, o interlocutor como ser social,
empírico.
Ao analisarmos esses discursos, no entanto, tratamos as emoções como uma
possibilidade, uma visada, e não como uma realidade experienciada pelo sujeito
interpretante:
alguns séculos de obscurantismo, a Retórica, que havia sido excluída dos currículos
acadêmicos por não ser considerada suficientemente científica, volta a ser
trabalhada no período Pós Segunda Guerra, sendo trazida novamente à tona pelo
Tratado da Argumentação: a Nova Retórica, de Perelman e Tyteca.
Essa abordagem propõe que o objetivo principal da argumentação é o de
fazer com que o auditório adira às teses propostas pelo sujeito argumentante. Para
que o orador, o sujeito que argumenta, consiga essa proeza, ele faz uso de uma
série de técnicas argumentativas que são listadas de modo exaustivo por Perelman
e Tyteca. De acordo com esses autores, que teorizam sobre o fenômeno
argumentativo sob o ponto de vista da Filosofia do Direito e acabam por restabelecer
o estudo da Retórica como disciplina voltada para a argumentação, o objetivo
principal da prática de argumentar consiste em:
questão das emoções no processo argumentativo não foi tratada pela Nova
Retórica, nem pelo modelo de Toulmin, sumariamente lógico, nem mesmo pela
Teoria da Argumentação na Língua, de Ducrot e Anscombre. De acordo com Plantin:
proximidade fica ainda mais evidente. Parret (1997, p. 110) argumenta que “[a]
paixão que é expressa ou comunicada já é sempre uma paixão razoável porque
entrou numa gramática restritiva, que domestica o pathos caótico e não-estruturado”.
Isto é, a partir do momento em que é enunciada, organizada em torno das regras de
um idioma, passando, portanto, pelo processo de semiotização do mundo, a emoção
submete-se ao crivo da racionalidade.
A título de exemplo, vamos observar um argumentum ad baculum (FIORIN,
2016), ou seja, um argumento através do qual o sujeito argumentante procura
persuadir, utilizando, para isso, a força bruta:
(11) Se o Uber entrar em Floripa tu vai pra vala seu plaiboi filho da puta.
(14) Esta carta tem por finalidade focalizar alguns aspectos deste triste
episódio envolvendo você e a sua igreja (Texto II – não criminosos).
Nesse exemplo (14), observamos que o adjetivo “triste”, contendo alto valor
axiológico, foi empregado para caracterizar o “episódio” que levou o sujeito
comunicante a escrever a carta de ameaça de morte. Como se trata de uma
caracterização subjetiva, essa escolha lexical consiste em um exemplo do princípio
de avaliação.
Enunciados que podem produzir efeitos patemizantes é uma estratégia cujo
patema consiste em um enunciado sintaticamente complexo e não apenas um item
lexical ou expressão isolada. Em nosso corpus, dada a sua natureza ameaçadora,
os enunciados são propensos a despertar determinada emoção no destinatário, visto
estarem inseridos em uma situação de comunicação que propicia a patemização.
Isto é, o dispositivo comunicativo favorece o surgimento de determinadas emoções.
Portanto, mesmo não comportando palavras explicitamente patemizantes, certos
enunciados, a depender das inferências advindas da situação de comunicação,
como bem explica Charaudeau (2010), podem levar o sujeito interpretante a
experienciar alguma emoção.
62
Exemplo:
O enunciado (15) acima foi produzido em uma carta escrita por um grupo
terrorista e deixado com um empresário sequestrado. Ao que tudo indicava, eles
haviam mandado uma bomba através do sequestrado e já esperavam que o GATE,
o Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e
especialista em operações antibombas, fosse alertado a comparecer ao local. No
contexto de uso, portanto, esse enunciado poderia levar o sujeito interpretante a
experienciar um sentimento de medo, ou mesmo um sentimento de indignação
diante da audácia dos terroristas.
O Princípio da classificação, enumeração ou quantidade é uma estratégia
argumentativa bastante recorrente em diversos tipos de discurso, conforme atesta o
discurso midiático, por exemplo (cf. GOUVÊA, 2017). A depender do tema, portanto,
é possível que o uso de numerais ordinais, cardinais, porcentagens ou outros tipos
de quantificadores gere determinadas emoções no interlocutor.
Exemplo:
(16) a primeira medida que iremos tomar, é o sequestro dos seus filhos
(Texto II – não criminosos).
(18) quero ver vocês cagarem de medo (Texto XXI – não criminosos).
No excerto (19) acima, o ditado popular “quem avisa, amigo é”, que consiste
em um topos compartilhado pelos membros da comunidade sociodiscursiva
brasileira, foi utilizado, visando a deixar claro que o conteúdo da carta seria um
64
4
Para as finalidades desta investigação, valemo-nos da primeira e da segunda fase da Teoria da
Argumentação na Língua, sem adentrarmos na terceira fase, conhecida como a Teoria dos Blocos
Semânticos.
67
subentendidos.
(23) Em sua casa nada vai acontecer [logo ficar em casa não é
perigoso], mas quando saírem na rua prestem atenção [logo não ficar em
casa é perigoso].
Não traremos exemplos para cada um dos operadores acima listados para
que a leitura não fique demasiadamente exaustiva. Entretanto, quando
empreendermos a abordagem qualitativa de algumas cartas de ameaça, no capítulo
4, desenvolveremos de forma mais aprofundada as análises concernentes a
diferentes operadores argumentativos presentes nos textos.
Assim, pelo fato de abordarmos nosso corpus a partir de uma visão macro e
microestrutural, além de analisarmos a situação de comunicação propriamente dita
que se instaura a partir de uma carta de ameaça, com seus sujeitos, temáticas e
finalidades particulares, também nos debruçaremos sobre a tessitura argumentativa,
principalmente, observando a forma como alguns operadores argumentativos e
outras marcas linguísticas são utilizados pelo sujeito comunicante. De acordo com
Gouvêa (2006):
5
“En efecto, y tal como Marion Carel lo percibió con claridad en su tesis de 1992, si postulamos la
existencia de un principio independiente de la lengua del tipo algo está cerca, por lo tanto ese algo es
de fácil acceso, estamos siendo desleales con la premisa saussureana según la cual la lengua no
debe ser descripta más que por medio de ella misma. Para evitar entonces esta infidelidad,
afirmamos actualmente que el sentido de cerca es el acceso es fácil. Análogamente, el sentido de
lejos es el acceso es difícil. La teoría de los bloques semánticos abandona la teoría de los topoi y
aspira a precisar esta nueva concepción del sentido Nesta terceira fase, o sentido de um enunciado é
consituído pela língua enquanto sistema, e não dependente de coisas, feitos, crenças ou ideias”
(CAREL; DUCROT, 2005, p.13).
72
6
“Suppose that A and B are talking about a mutual friend, C, who is now working in a bank. A asks B
how C is getting on in his job, and B replies, Oh quite well, I think; he likes his colleagues, and he
hasn’t been to prison yet. At this point, A might well inquire what B was implying, what he was
suggesting, or even what he meant by saying that C had not yet been to prison” (GRICE, 1991 [1968],
p. 306).
74
(25) Eu prometo pela minha vida, nunca mais vai trair homem nenhum
a metáfora:
Este excerto (27) foi retirado de uma carta na qual o sujeito enunciador
ameaça o sujeito destinatário, afirmando que, caso este saia à rua, “coisas vão
acontecer”. Ocorre, entretanto, a transgressão da máxima da quantidade, já que o
sujeito enunciador não fornece maiores informações sobre os verdadeiros sentidos
do substantivo “coisas”. Pelo contexto da carta, podemos perceber que o termo
genérico “coisa” deixa implícita uma sanção negativa que acometerá a vítima da
ameaça, já que o sujeito enunciador faz uma assertiva, não modalizando seu
77
enunciado.
7
O texto referenciado, originalmente publicado em inglês sob o título Forensic Linguistics, foi
gentilmente nos cedido, em sua versão em português, pelo professor Rui Sousa-Silva.
79
Coulthard (2016) revela que o termo linguística forense foi utilizado pela
primeira vez em 1968 por Jan Startvik, em uma publicação intitulada The Evans
statements: a case for forensic linguistics. No artigo, considerado o trabalho seminal
em Linguística Forense, o autor comparou quatro declarações ditadas por Timothy
Evans, acusado de assassinar sua esposa e filha, e notou que os estilos das
declarações divergiam muito entre si, o que colocava em xeque a autoria dos textos
que foram, possivelmente forjados pelos policiais que tomaram o testemunho do
suspeito. Assim, anos após a execução de Timothy, por enforcamento, um juiz
acabou por inocentá-lo.
A partir dessa publicação, o crescimento da linguística forense se deu
lentamente, sobretudo nos países de língua inglesa. Dentre as várias áreas
abordadas por essa disciplina, encontra-se a linguagem jurídica, que se ocupa dos
textos legais; a interação em contexto forense, que se preocupa, dentre outras, com
questões relativas à tradução, interpretação e comunicação em âmbito forense; e a
linguagem como evidência, que reúne pesquisas relacionadas à utilização do
material linguístico como evidência de um crime, de modo a ajudar a condenar ou,
mais importante, a inocentar um suspeito (COULTHARD; JOHNSON, 2007).
Conforme cada pesquisa, o linguista lançará mão de teorias e metodologias
que lhe servirão para solucionar o respectivo problema, conforme veremos a seguir.
No que diz respeito ao trabalho pericial do linguista, este profissional pode ser
contratado para apresentar um parecer ad hoc em casos nos quais surgem
evidências linguísticas8. Dentre esses casos, a literatura da área apresenta o
assédio sexual, o trote telefônico, a ameaça verbal, a extorsão, os crimes contra a
honra (calúnia, injúria e difamação) etc. Isto é, apresenta os chamados crimes de
linguagem (SHUY, 2005), sobre os quais falaremos mais detalhadamente na
8
O autor desta tese já auxiliou no preparo de três laudos técnicos periciais: dois envolvendo a
atribuição de autoria e um dizendo respeito a uma determinação de significados.
80
próxima seção.
Na medida em que cada tipo de material analisado demandará diferentes
abordagens teóricas e metodológicas, Shuy (2006) afirma que o linguista forense
deve ser, preferencialmente, alguém dotado do título de doutor, pois a “maleta de
ferramentas” desse profissional perpassa pela fonética e prosódia, quando está
lidando, por exemplo, com crimes que demandem a identificação do locutor; pela
morfologia, semiótica, dentre outros campos, quando o que está em jogo é uma
peleja judicial por uma marca registrada; pela semântica, pragmática e análise do
discurso, quando se tem a necessidade de averiguar se um determinado ato
discursivo foi ou não produzido – por exemplo, uma calúnia –, ou ainda pela
variação linguística e pela estilística, quando se pretende relacionar ou não a autoria
de algum texto a alguém. De acordo com Sousa-Silva e Coulthard (2016), há ainda a
possibilidade de aplicação dos conhecimentos linguísticos na detecção de plágio, o
que demanda uma abordagem lexicométrica, procurando-se analisar as recorrências
e combinações lexicais.
Assim sendo, na prática da Linguística Forense, o pesquisador ou perito faz
uso de várias áreas da Linguística, visando a solucionar problemas referentes ao
contexto jurídico. De acordo com Coulthard e Johnson (2007, p. 14):
9
“When, as linguists, we analyze a text, we draw on many diverse interpretative tools, methods and
theories. In approaching a text in a forensic context the analyst needs to consider how it is similar
and what distinguishes it from other texts in other contexts and which theories and methods are most
appropriate to analyze it” (COULTHARD; JOHNSON, 2007, p. 14).
81
10
“Together, patents, copyrights, and trademarks are called intellectual property” (BUTTERS, 2013, p.
01).
83
[...] mais amiúde, a disputa [de significado] não decorre do que o emissor
profissional original de uma mensagem tencionaria que um item
significasse, mas sim a interpretação razoável que o leitor, o homem comum
do dia a dia, poderia atribuir à expressão. Por exemplo, no presente há
vários casos chegando aos tribunais sobre o sentido e a clareza das
advertências nos maços de cigarro [...] e sobre a explicitação e honestidade
dos conselhos de cautela às mulheres acerca dos implantes de mama.
análise do discurso são os mais requisitados nesse caso, pois noções como
ambiguidade, polissemia, subentendidos e sentidos de discurso devem ser levados
em consideração.
No que diz respeito não apenas à prática pericial, mas também ao uso da
linguagem em contextos jurídicos, área também abarcada pela LF, a Análise do
Discurso pode ser considerada a tradição de estudos mais utilizada na Linguística
Forense, principalmente, a Análise Crítica do Discurso – ACD –, de tradição inglesa.
Tanto no Brasil quanto em Portugal, grande parte dos analistas do discurso que se
debruçam sobre a análise e reflexão acerca de discursos oriundos de práticas
jurídicas, ou a elas relacionados, vincula-se a essa vertente da AD.
Assim, até o presente momento, esta investigação parece ser a única que
relaciona a Teoria Semiolinguística do Discurso à Linguística Forense. Pudemos
constatar esse fato a partir da revisão de literatura que fundamenta esta pesquisa,
através da qual empreendemos uma busca por teses e dissertações no banco de
teses da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior),
bem como no portal Scielo e na ferramenta Google Acadêmico. Ao procurarmos
pelas palavras-chave “linguística forense” e “semiolinguística”, não obtivemos
nenhum resultado direto, mas a busca pela palavra-chave “linguística forense” nos
permitiu localizar as últimas pesquisas concernentes a essa área, no Brasil.
Desta feita, de modo a demonstrarmos os diversos níveis linguísticos e
aportes teórico-metodológicos que podem ser utilizados em uma pesquisa em
Linguística Forense, apresentamos o quadro a seguir, no qual constam as teses e
dissertações defendidas nos últimos anos que reclamam para si o status de
pesquisa aplicada à esfera forense11.
Não tivemos a intenção de realizar uma pesquisa sobre o estado da arte da
linguística forense no Brasil. Nosso objetivo foi o de mapear as áreas utilizadas
nessas pesquisas, visando a demonstrar que, no que concerne à interseção entre a
Análise do Discurso e a Linguística Forense, a Teoria Semiolinguística do Discurso
foi utilizada, aparentemente, apenas na presente investigação e em nossa
dissertação de mestrado (cf. SILVA, 2016):
11
Trabalhos encontrados no banco de teses e dissertações da Capes. Disponível em
<http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/>. Acesso em 20 out. 2018. Além disso, foram
também efetuadas buscas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Disponível em <
http://bdtd.ibict.br/vufind/>. Acesso em 28 abr. 2019.
85
12
Para mais informações, consultar o site <http://www.linguisticaforense.ufsc.br/tiki-index.php>.
13
Para mais informações, consultar o site <https://linguisticaforenseuerj.wordpress.com/linguistica-
forense-2/>.
88
14
“[…] although a purely computational analysis can be extremely valuable in forensic contexts,
ultimately such an analysis can only be acceptable as an evidential or even an investigative tool when
interpreted by a linguist” (SOUSA-SILVA, 2018, p. 120).
89
grave”17. Apesar de o texto legal abranger outros meios semióticos, como o gesto e
a imagem, ao contrário do Código Penal, neste trabalho, estamos analisando
apenas ameaças verbais efetuadas a partir da modalidade escrita do português
brasileiro, visto estarmos trabalhando com cartas. Por isso, formulamos a hipótese
básica que orienta nossa investigação, salientando a natureza verbal e defendendo
que a ameaça verbal em língua portuguesa ocorreria como conteúdo explícito
ou implícito e se consolidaria a partir de diferentes estratégias de patemização.
Em âmbito internacional, de acordo com Fitzgerald (2005), o FBI – Federal
Bureau of Investigation – considera o ato de ameaçar como uma “[...] declaração
verbal, transmitida de modo escrito ou eletrônico, indicando ou sugerindo que
ocorrerá algum evento que irá atingir de forma negativa o destinatário, alguém ou
algo associado a ele/ela, ou outros [alvos] específicos ou não especificados” 18
(FITZGERALD, 2005, p. 02 apud GALES, 2015. Tradução nossa).
Em âmbito jurídico, para que uma ação seja tipificada como uma ameaça, é
necessário que o mal seja injusto, ou seja, não amparado legalmente. Ameaçar
processar alguém, portanto, não seria tipificado como ameaça. O mal que a vítima
supostamente sofrerá também deve ser grave e verossímil, bem como o sujeito que
ameaça deve deter os meios para cumprir o que ameaçou.
Já nos estudos em Análise do Discurso, segundo Emediato (2007), cuja
definição de ameaça se coaduna à de Salgueiro (2010), a ameaça é um ato
discursivo parecido com a promessa, mas, enquanto nesta o interlocutor receberia
algo que julgue positivo, na ameaça, a sanção é sempre negativa. Desse modo, a
condição de número três – o enunciador deve saber que o ato não é preferível,
desejado pelo destinatário – para a realização adequada do ato de fala de ameaça,
descrita por Kadhim e Abbas (2015), é ressaltada pelo Direito Penal brasileiro, pelo
FBI e por Emediato (2007).
Outro ato de fala comparado à ameaça é o aviso. Por vezes, diante de uma
ameaça implícita, o destinatário poderia perguntar ao enunciador se ele o está
ameaçando, pergunta que pode levar à seguinte resposta: não é uma ameaça, é
apenas um aviso. De acordo com Walton (2014), importante pesquisador
17
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. Acesso em 29 maio
2018.
18
“[…] verbalized, written, or electronically transmitted statement that states or suggests that some
event will occur that will negatively affect the recipient, someone or something associated with
him/her, or specified or non-specified others” (FITZGERALD, 2005, p. 02 apud GALES, 2015).
93
(30) Um aviso te dou é melhor voce sumir se não quizer perder a língua
ou terminar numa vala morta dona Maria (Texto 11 - criminosos)
19
O texto completo pode ser encontrado em nosso corpus sob o título Texto 11: Carta de ameaça a
conselheira tutelar.
94
nossos).
Além do aviso, outro ato de fala que tende a ser aproximado da ameaça é a
promesa. De acordo com o pragmaticista Salgueiro (2010), esses atos de fala se
aproximam, compartilhando, por vezes, a mesma configuração formal. Mesmo que
as formas das sentenças de promessa e ameaça sejam parecidas em determinadas
ocasiões, entretanto, há uma substancial diferença quanto ao sentido discursivo e
pragmático desses dois atos de fala, visto que a promessa traz consigo uma sanção
positiva para o interlocutor, ou, ao menos, uma sanção que o locutor julgue positiva,
enquanto a ameaça traz sempre uma sanção negativa, ou considerada negativa e
despreferida pelo locutor. Conforme atesta Salgueiro:
20
“That promises constitutively generate for the speaker an obligation to keep his or her promise,
without which obligation no promise has been made, while threats appear to generate no such
obligation, at least with the person threatened. If a threat is not carried out, the person threatened will
not complain that the threatener has not kept his word” (SALGUEIRO, 2010, p. 221).
95
mas poucos que se interessam por questões de variação de registro, a forma como
o uso da língua muda a depender do contexto de comunicação. Ao comparar textos
de ameaça – que ele chama de textos maliciosos, em tradução livre – com outros
textos, o pesquisador notou a predominância de verbos modais em ameaças,
mostrando que textos que apresentam esse ato de fala se comportam de modo mais
persuasivo do que aqueles que não o apresentam.
Essa atestação de Nini (2017) comprova o caráter argumentativo da ameaça,
resultado também alcançado previamente por Gales (2010). Esta, após comparar
470 textos de ameaça a 556 textos que não continham esse ato de fala, levando em
consideração, por exemplo, o verbo modal inglês will, chegou à conclusão de que a
forma “if you don’t X I will Y” corresponderia a um padrão sintático prototípico da
ameaça. A referida configuração sintática corresponde, em português, ao que
chamamos, apoiados em Charaudeau (2008), de dedução condicional.
Em trabalho recente (GOUVÊA; SILVA, 2018), notamos que, em ameaças de
morte do tipo se X então Y, a oração condicionante corresponde justamente ao uso
da estratégia expressões modalizadoras, devido ao uso do operador argumentativo
“se”, e a oração condicionada corresponderia ao uso da estratégia palavras,
expressões e enunciados que designam calamidade, em ameaças explícitas, ou da
estratégia de patemização emprego de implícitos, em ameaças implícitas. Ao
contrário da língua inglesa, não observamos, em nosso corpus, o uso da negativa de
forma prototípica. O que chama a atenção é a modalização, em inglês com o verbo
will e, em português, através dos operadores argumentativos se... então. Essas
questões serão mais bem analisadas no capítulo 4.
Apesar de haver uma configuração sintática aparentemente prototípica, Nini
(2017) lembra que a maior parte dos estudos sobre a ameaça chega à conclusão de
que um ato de fala de ameaça só pode ser plenamente entendido dessa forma se
levarmos em conta questões de natureza pragmática e contextual. O pesquisador,
entretanto, tenta contribuir com o trabalho de peritos e juízes que se deparam com a
dúvida acerca de um texto apresentar ou não caráter ameaçador:
Apesar de, como Fraser (1998) admite, poder ser impossível determinar a
partir unicamente da linguagem se um enunciado é ameaçador, a pesquisa
apresentada neste artigo sugere que é de fato possível entender com algum
grau de certeza se um determinado texto é um texto forense malicioso de
ameaça baseado em uma avaliação de como a modalidade e os sentidos
96
Assim, não são apenas os padrões linguísticos que delimitarão uma ação
verbal como ameaça. Concordamos com essa afirmação, visto nos situarmos nas
correntes enunciativas, a partir das quais entendemos que todo uso linguístico só se
realiza a partir de uma situação de comunicação em particular. Para que a interação
seja eficaz, portanto, devem ser levados em conta as identidades dos protoganistas,
o contrato de comunicação, o tema e as finalidades, de modo que os sentidos sejam
plenamente compreendidos.
O trabalho de Gales (2015), por sua vez, procurou mostrar que algumas
diferenças linguísticas entre ameaças efetivamente concretizadas e ameaças não
concretizadas não são consistentes. A partir de uma abordagem vinculada à
linguística sistêmico-funcional, a autora notou que a tomada de posição através da
modalização, tida pela literatura como uma característica mais marcada nos textos
cujas ameaças foram concretizadas, é influenciada por questões ideológicas e
sociais acerca do ato de ameaçar. Assim, de acordo com a autora, não parece haver
mais engajamento nas ameaças efetivamente concretizadas.
Gales (2015) afirma ainda que a tradição de estudos sociológicos e
psicológicos em âmbito jurídico de várias agências governamentais, inclusive do
FBI, ao tentar delinear alguma possível diferença entre ameaças concretizadas e as
não concretizadas, chegou à conclusão de que, quanto mais especificidade e
detalhamento, mais perigosa é a ameaça. Em contraste, quando mais vagos forem
os termos utilizados, menor o nível de periculosidade dos textos. Conforme assevera
a autora, entretanto, apenas as marcas linguísticas não dizem muito acerca das
verdadeiras intenções do locutor.
Como a linguística forense trabalha, também, com crimes e contribui para a
possibilidade de absolver ou culpar um indivíduo, é extremamente necessário que o
pesquisador trabalhe com cautela e ética, conhecendo bem os limites que a
linguística, como ciência, apresenta. Em nosso corpus, estamos lidando com
ameaças cuja concretização é desconhecida. Procuramos encontrar o desfecho de
alguns casos, no entanto, não obtivemos sucesso. Assim, a variável
21
“Even though, as Fraser (1998) admits, it might be impossible to determine from the language alone
whether an utterance is threatening, the research presented in this paper suggests that it is indeed
possible to understand with some degree of certainty whether a particular text is a malicious forensic
threatening text based on an assessment of how modality and persuasive means are used” (NINI,
2017, p. 29-30).
97
ameaça detém o poder necessário para cumprir suas ameaças. Entra em jogo,
assim, a problemática do ethos, relacionada à credibilidade e à legitimidade do
sujeito que argumenta, no caso, trata-se do ethos de potência (CHARAUDEAU,
2015 [2005]). É necessário que o sujeito não apenas apresente a intenção de agir
sobre o outro, mas convença o interlocutor de sua capacidade de realizar uma
sanção negativa que poderá acometer-lhe caso não faça o que foi solicitado22.
Faz-se oportuno, ainda, chamar a atenção para os vários sentidos da palavra
“ameaça”. O que consideramos como o ato de fala de “ameaça” é a ação dirigida por
uma instância de produção, seja individual, seja coletiva (por exemplo, uma facção
criminosa), a uma instância de recepção que também pode ser individual ou coletiva
(um vizinho, a ex-esposa, o governo...). Entretanto, podemos encontrar, por vezes, o
termo “ameaça” como verbo (exemplos i e ii) ou substantivo (exemplo iii), dizendo
respeito a uma crise ou a algum risco iminente, assim como nos exemplos abaixo,
que configuram manchetes jornalísticas:
Como podemos observar, por vezes, o termo “ameaça”, seja como o verbo
concordante com a terceira pessoa do singular do Indicativo, seja como substantivo,
surge com um sentido que não diz respeito, necessariamente, ao tipo penal, ao
crime propriamente dito. Isso se deve ao fato de esse termo ser entendido, ao
menos no âmbito jornalístico, como um aviso, uma intimidação, um risco iminente.
Para ser configurado como crime tipificado, a ameaça deve partir de alguém que
detém o poder necessário para cumpri-la e, principalmente, ser um mal injusto ou
22
Em caso recente, no Brasil, um ministro considerou uma ameaça por magia negra como
efetivamente um crime, a despeito do que ensina a tradição jurídica, cuja doutrina assevera que
rogos e maldições não devem ser tipificados, dada sua natureza sobrenatural e, portanto,
impraticável. O Superior Tribunal de Justiça, entretanto, compreendeu que a vítima da ameaça
acreditou efetivamente que seria prejudicada pela magia negra, negando recurso à acusada.
Disponível em: <https://www.portaldoholanda.com.br/crime/ameacar-com-macumba-e-crime-decide-
stj>. Acesso em 23 mar. 2019.
99
23
“In my earlier book, Language Crimes (1993), I described the sort of crime that is accomplished
through language alone. Physical crimes involve assault, robbery, murder, or other forms of human
injury. But there are other types of criminal activity that are accomplished only through talk. I call these
language crimes. This category includes the physically nonviolent crimes of bribery, solicitation to
murder, sex solicitation, business fraud, selling or purchasing stolen property, perjury, threatening, and
other offenses. The language used may be written or spoken. When it is written, the evidence resides
in documents of various types. When it is spoken, the evidence is usually in the form of audio or
videotape recordings” (SHUY, 2005, p. 06).
100
Nesta pesquisa, visto estarmos lidando com um tema ainda pouco investigado
em estudos linguísticos, procuramos apresentar a descrição pormenorizada do ato
de fala de ameaça em língua portuguesa. Portanto, objetivando detectar as
recorrências formais de uma ameaça, a partir do nosso corpus, notamos que
algumas marcas linguístico-discursivas estão presentes nesse ato de fala, sugerindo
certo padrão lógico na configuração das ameaças.
Nesse ato de fala, a força ilocucionária da ameaça está sempre presente,
mostrando a intencionalidade dessa ação verbal. Searle (1979), ao apresentar a
configuração formal para um ato ilocucionário, sugere a fórmula F(p), onde F
representa a força ilocucionária do ato de fala e p diz respeito ao conteúdo
proposicional.
Assim, apoiados nos postulados da Teoria dos Atos de Fala, entendemos que
a ameaça se constitui tipicamente da seguinte forma:
Fa(Sn)
Th (S d a)
(31) eu vou meter uma bala na sua cara (Texto VIII – Não Criminosos)
F(p) ⇒ Fa(Sn)
Pedido = F(p)
1. Ameaça direta explícita: não deixa dúvidas acerca da sanção negativa que
poderá ser imposta ao interlocutor. Ex: Seu sobrinho está na lista e nós
vamos matá-lo (Texto 01. Não criminosos).
2. Ameaça direta implícita: o enunciador não deixa clara a sanção negativa
que poderá ser imposta ao interlocutor, recorrendo a estratégias linguistico-
discursivas para deixar sua mensagem subentendida. Ex.: Leozinho como
você gosta de pó poderá virar pó (Texto 16. Criminosos).
3. Ameaça condicional explícita: a ameaça é realizada a partir de uma
condição que deverá ser observada pelo interlocutor. Caso a condição não
seja observada, uma sanção negativa poderá ser imposta. Essa sanção é
explícita e não permite dúvidas quanto à sua interpretação. Ex.: Se
continuarem latindo na frente da casa, vou meter comida envenenada (Texto
16. Não criminosos).
4. Ameaça condicional implícita: a ameaça é realizada a partir de uma
condição que deverá ser observada pelo interlocutor. Caso a condição não
seja observada, uma sanção negativa poderá ser imposta. Essa sanção,
entretanto, é implícita, subentendida, e seu sentido deve ser recuperado por
106
Fa(Sn)
As ameaças implícitas, por sua vez, podem ser expressas pela proposição
lógica:
Fa(Snimp)
F(p) ⇒ Fa(Sn)
F(p) ⇒ Fa(Snimp)
Para sua configuração e análise, em primeiro lugar, o analista deve perceber quais
são as expectativas – enjeu – da troca linguageira, quais visadas discursivas são
predominantes na situação de comunicação para que os sujeitos envolvidos
alcancem seus objetivos comunicacionais.
Charaudeau (2004) diz, assim, que uma metodologia de configuração e
análise de um dado gênero deve levar em conta o nível situacional, no qual se
encontram as finalidades do ato discursivo; o nível das restrições discursivas, que
dizem respeito à forma como o discurso é construído; e o nível da configuração
textual, no qual se encontram os padrões enunciativos e recorrências lexicais e
formais. Além disso, o analista deve levar em conta as informações trazidas pela
situação de comunicação, como as identidades que emergem da troca comunicativa,
os temas tratados e até mesmo as circunstâncias materiais.
A carta de ameaça seria, portanto, um texto classificado como gênero carta,
que abarca outras designações a depender da finalidade comunicativa, das
identidades que emergem da troca comunicativa, do tema ou assunto, etc.
Falaríamos, então, de um subgênero, a exemplo da carta de amor, da carta
administrativa, da carta pessoal, dentre outras possibilidades. Discorrendo sobre as
características que fazem com que diferentes textos sejam agrupados sob o rótulo
de carta, Andrade afirma que:
Como pode ser notado, na lista das diferentes classificações dos gêneros
epistolares, a carta de ameaça não costuma ser elencada. Esse fato refere-se à
escassez de pesquisas referentes aos discursos criminalizáveis, já que a Academia
parece ter um interesse maior em gêneros políticos, midiáticos e acadêmicos. De
acordo com o ponto de vista de Andrade (2010), entretanto, podemos incluir a carta
de ameaça no rol de tipos de carta, visto que ela compartilha com os outros
subgêneros determinadas características inerentes ao grande grupo das cartas.
Em uma abordagem de caráter histórico, percebe-se que o gênero carta,
111
muito popular em períodos pretéritos, tem hoje sua circulação social muito reduzida.
Poucas vezes, um indivíduo envia uma carta a alguém, a não ser em situações
protocolares, como em ambiente empresarial, ou quando opta por formalizar uma
ocasião, enviando, por exemplo, um convite de casamento. Apesar dessa alteração
natural, já que os gêneros, sendo atrelados a determinadas práticas sociais,
emergem quando novas práticas surgem e desaparecem quando essas práticas
desaparecem (MARCUSCHI, 2017 [2008]), o gênero carta, em suas diversas
modalidades, ainda permanece sendo utilizado.
Nessa mesma linha de pensamento, conforme assevera Leite (2008, p. 24),
“em termos de atualidade, o gênero carta ainda sobrevive ao advento do telefone,
mas edifica-se ‘via-satélite’, através do correio eletrônico (e-mail)”. Para a linguista,
que se ocupou de uma abordagem diacrônica do gênero carta (correspondência,
epístola ou missiva), apesar de a carta estar sendo gradativamente substituída pelo
e-mail, o correio eletrônico acaba por se apresentar também como uma espécie de
carta, “já que ‘recupera’, em algum sentido, as ‘fórmulas’ fixas das correspondências
internas das empresas, dos informes administrativos e até das cartas pessoais”
(LEITE, 2008, p. 51).
O crime de ameaça, conforme mencionamos anteriormente, também pode ser
efetivado através de diferentes gêneros, como e-mails e redes sociais. Em Silva
(2017b), por exemplo, procedemos à análise de ameaças veiculadas por meio do
Facebook, percebendo que diversos imaginários sociodiscursivos, como a alta
criminalidade e a violência urbana, subjazem às ameaças. Entretanto, por vezes,
alguns indivíduos preferem enviar suas mensagens ameaçadoras por meio de
cartas. Em nosso corpus, encontramos cartas de ameaça que foram enviadas pelos
Correios, de modo tradicional, deixadas nas residências das vítimas, espalhadas
pelas ruas ou mesmo postas para serem encontradas em locais de outros crimes,
como incêndio a ônibus ou agressão a algum indivíduo. As formas de entrega variam
a depender do sujeito que ameaça, que procurará, na maior parte das vezes,
garantir seu anonimato.
Quanto ao domínio discursivo, os gêneros epistolares em geral, por sua
natureza, são classificados como pertencentes ao que Marcuschi (2017 [2008])
chama de domínio interpessoal. De acordo com o autor:
Dia 24 do 10 de 2012
(ilegível) quem fala aqui é a (ilegível). Voce acha que eu tenho cara de
palhaça pois voce vai ver se eu estou brincando todo dia voce fala que vai
pagar e continua enrolando pois voce vai enrolar no inferno eu vou
arrumar uma arma e vou meter uma bala na sua cara nunca mais voce
brinca comigo voce pensa que me engana sua vagabunda voce não paga
o prato que come voce me enganou que pagava tudo certo e eu confiei
numa praga (ilegível) voce está com o pé na cova eu vou te matar pelas
costas voce vai para o inferno voce e sua família inteira vai pagar por vc
tá ok.
(33) Voce acha que eu tenho cara de palhaça pois voce vai ver se eu
estou brincando (Texto VIII – não criminosos).
palavras de calão.
Embasados, portanto, em todos os aspectos relativos à análise de gêneros de
acordo com Charaudeau (2004), e amparados por outros pesquisadores, como
Bathia (2009), Rodrigues (2005) e Marcuschi (2017), podemos afirmar que a carta
de ameaça apresenta alguns fatores que a diferenciam de outros tipos de carta e a
definem como um subgênero do gênero carta. Dentre esses fatores, destacamos a
finalidade discursiva, que deve ser a de ameaçar; o tema, que deve girar em torno
da ameaça propriamente dita; e o fato de esse subgênero ser ancorado em uma
prática social homóloga, no caso, o crime de ameaça.
Assim, se tais textos geram algum dano ao destinatário, este tem o direito de
se defender ou buscar ser ressarcido legalmente do dano ofensivo.
Tratando acerca de atos de fala que geram efeitos perlocucionários não
preferidos, sendo socialmente mal vistos, Salgueiro teoriza acerca do que ele chama
de atos de fala hostis, que ocorrem preferencialmente em situações de conflito:
Salgueiro se debruça sobre diferentes atos de fala que tendem a ser vistos
como descorteses, entretanto, ao fazer menção a atos que servem para praticar um
crime, os atos hostis acabam por recobrir algumas ações que apresentam sanção
jurídica. Enquadram-se nessa classificação a calúnia, a injúria e a difamação –
conhecidos como crimes contra a honra –, bem como outras ações passíveis de
criminalização, como o assédio moral, o assédio sexual, a tentativa de extorsão, a
tentativa de estelionato, crimes de ódio, apologias a práticas criminosas, e a
ameaça, ou seja, os chamados crimes de linguagem. Tais ações podem ser
concretizadas em diferentes gêneros discursivos, mas apresentam, todas, a
possibilidade de serem tidas como crime, passando a fazer parte da categoria que
classificamos como discursos criminalizáveis.
Como pode ser notado, a exemplo do trabalho de Barros (2011) acerca dos
24
“Precisamente por su hostilidad, por poner en riesgo la armonía de las relaciones sociales,
típicamente los actos de habla hostiles están socialmente (o moralmente) mal vistos, y son
considerados con reprobación. Es más, algunos de esos actos verbales son ilegales, ya que
realizarlos (o perpetrarlos) con éxito es cometer delitos (o faltas) com palabras” (SALGUEIRO, 2008,
p. 05).
118
3 METODOLOGIA
como cartas de ameaça. Assim, optamos por selecionar aqueles textos que melhor
se adequavam ao nosso projeto investigativo, excluindo do processo alguns textos
que, embora tenham sido chamados de carta de ameaça pela mídia, não se
mostravam interessantes à nossa pesquisa.
Ao final da seleção, nosso corpus se constituiu de 50 cartas de ameaça
divulgadas por diversas mídias online. Apesar de serem obtidas a partir da instância
midiática, por estarmos lidando diretamente com a digi t aliza çã o do texto
o ri gin al , temos acesso ao material produzido em um contexto criminalizável, o
que garante a fidelidade do corpus aos objetivos desta investigação. Além disso, não
levamos em conta os textos produzidos pelos jornalistas ou as transcrições das
cartas, quando existiam.
Selecionamos o material que compõe o corpus a partir das fotografias ou
outros meios de digitalização das cartas originais, como a representada na imagem
abaixo, que faz parte do grupo de textos escritos por sujeitos que se posicionam
como criminosos. As matérias jornalísticas, no entanto, foram levadas em conta para
que pudéssemos nos situar melhor acerca dos contextos socio-históricos nos quais
circularam as cartas de ameaça:
25
Site da Tribuna do Ceará. Disponível em <tribunadoceara.uol.com.br >. Acesso em 20 mar. 2018.
129
segurança pública (10 cartas); e ameaça com sanção indefinida (03 cartas); e II –
textos dos sujeitos que não se posicionam como criminosos: ameaça de morte (19
cartas); ameaça de agressão (02 cartas); e ameaça com sanção indefinida (04
cartas).
Após a transcrição desses textos visando à optimização da análise – visto
que, como ilustramos anteriormente, alguns são fotografias das cartas originais,
manuscritas, e, portanto, de difícil decodificação do conteúdo escrito –, fizemos as
análises a partir do referencial teórico e dos postulados metodológicos da Teoria
Semiolinguística do Discurso. As análises discursivas sob a luz dessa teoria devem
se debruçar sobre os Modos de Organização do Discurso que compõem os textos
do corpus, bem como sobre as estratégias discursivas utilizadas pelos participantes
da situação de comunicação. De igual modo, baseamo-nos também na Teoria da
Argumentação na Língua, especificamente no que concerne aos postulados sobre
os operadores argumentativos, pressupostos e subentendidos. Quando necessários,
outros pesquisadores foram trazidos, de modo a apresentarmos as análises
qualitativas e quantitativas da forma mais pormenorizada possível.
Amparadas nessas bases teóricas, as análises foram efetuadas levando-se
em conta questões de natureza macro e microestruturais. De acordo com Gouvêa
(2002, p. 123), a abordagem microestrutural é “o estudo de cada enunciado
isoladamente”, enquanto a soma desses recursos constitui-se no todo argumentativo
do texto, sua macroestrutura. No que concerne à abordagem micro, levamos em
conta as estratégias de patemização cujo enfoque abarca a seleção lexical,
modalizadores, índices de avaliação e operadores argumentativos. No que concerne
à abordagem macro, debruçamo-nos sobre os modos de organização do discurso,
principalmente sobre o projeto argumentativo dos textos, desvelando questões de
natureza extratextuais, como implícitos, topoi e imaginários sociodiscursivos.
Para a categorização e análise das estratégias de patemização utilizadas nas
cartas de ameaça que compõem o nosso corpus, utilizamos a nomenclatura
proposta por Gouvêa (2017), que se baseou em alguns estudiosos do fenômeno
argumentativo, como Charaudeau (2010) e Plantin (2010). Para essa pesquisadora,
podemos encontrar uma gama de estratégias utilizadas por sujeitos que buscam
captar seus destinatários, conforme verificamos no capítulo 2.
Quanto ao tratamento quantitativo do corpus, para facilitar a apresentação
dos dados, foram elaborados gráficos e tabelas que procuram comparar os números
131
Classificação e
Coleta e tratamento Embasamento contagem das
do corpus teórico estratégias de
patemização
4.1.1 Abordagem macro e microestrutural das cartas dos sujeitos que não se
posicionam como criminosos
Dia 24 do 10 de 2012
(ilegível) quem fala aqui é a (ilegível). Voce acha que eu tenho cara de
palhaça pois voce vai ver se eu estou brincando todo dia voce fala que vai
pagar e continua enrolando pois voce vai enrolar no inferno eu vou
arrumar uma arma e vou meter uma bala na sua cara nunca mais voce
brinca comigo voce pensa que me engana sua vagabunda voce não paga
o prato que come voce me enganou que pagava tudo certo e eu confiei
numa praga (ilegível) voce está com o pé na cova eu vou te matar pelas
costas voce vai para o inferno voce e sua família inteira vai pagar por vc
tá ok.
27
A carta pode ser encontrada nos anexos deste trabalho sob o título Texto VIII – Ameaça por dívida
137
outros Modos de Organização tenham sido utilizados, como o Modo Descritivo, que
auxilia no projeto argumentativo do texto. De acordo com Charaudeau (2008), o
Modo Descritivo do Discurso serve, dentre outras finalidades, para nomear, localizar
e situar os seres no mundo. Assim, o Modo Descritivo foi utilizado, por exemplo, na
datação da carta, que situa os parceiros da troca comunicativa em um determinado
espaço temporal, como vemos logo no início do texto:
(38) todo dia voce fala que vai pagar e continua enrolando pois voce vai
enrolar no inferno
(39) eu vou arrumar uma arma e vou meter uma bala na sua cara
Focalizando apenas o palavrão tal qual ele é corrente entre nós, podemos
apontar alguns campos semânticos nos quais ele se nutre com destaque.
Referindo-se ao homem, ser humano do sexo masculino, ganham acento os
palavrões que enfocam a sexualidade passiva (bicha, veado) e o ser vítima
de infidelidade (corno, chifrudo), enquanto a mulher é estigmatizada mais
pela prostituição (puta, galinha, fêmea), sendo de destacar o aspecto
cultural de que se fêmea é negativo para mulher, macho e machão não são
para o homem.
Ola Dona Mônica pelo visto nós não temos como se intender como
marido e mulher. Sua vida é sua vida. A minha a parte. Não faz parte da
28
O texto pode ser encontrado em nossos anexos sob o título Texto XII – Ameaça de morte
passional.
144
sua. Isso vai dá errado. Não tenha dúvida. Você só pença em si mesma
eu sou para você um pânaca. hoje eu estava pençando. Falta 06 mêses
para sua formatura. Você já mim excluio. As coisas qui lhi aconteçe você
não mim fala nada. Sei atraves dos outros. Qui esposa é você. Eu inexisto
neste mundo. Você não mim ver mais. As pessoas, sim. A cada dia qui se
passa você mim decepciona mais. Você e burra além do limite. A cada dia
você tira uma pá de terra da sua cova. Você vai receber amargamente
tudo qui vem fazendo comigo. Se nossa filhinha precisa de por um limite
sobre a teimosia dela, ela com 03 anos, e imagine você. Já passou. A
muito tempo. Só que tudo tem seu dia e este dia já chegou. Eu sou
passado para tráiz o tempo todo por você. Mais em breve você terar uma
grande surpresa. Á sua altura ok. Quem planta dores colhe flores. Quem
planta espinho??? Isso é á vida neste plâneta. Tente si corrigir antes qui
seja tarde de mais isso é apenas um aviso de (ilegível).
Nos excertos (45), (46) e (47), podemos perceber que o sujeito enunciador
elenca uma série de argumentos que deixam clara sua insatisfação com a atual
situação do casal. Devido a esses fatos apresentados, o enunciador chega à tese,
uma proposta sobre o mundo (CHARAUDEAU, 2008), vale lembrar, a de que “isso”
– a situação narrada representada pelo encapsulador – “vai dá errado”, o que
prenuncia um possível mal vindouro. Encapsulador, de acordo com Santos et al
(2016), diz respeito a uma partícula que resume (encapsula) uma porção de texto
precedente ou subsequente, estratégia de retomada anafórica que pode ocorrer
através do uso de pronomes demonstrativos, como o “isso” utilizado no enunciado
(44) para encapsular a porção de texto que diz respeito aos argumentos pró-tese.
Assim, a orientação argumentativa do texto leva-nos a esse último enunciado,
a condição que deverá ser seguida:
(48) Tente si corrigir antes qui seja tarde de mais isso é apenas um aviso
(49) Sua vida é sua vida. A minha a parte. Não faz parte da sua.
(50) As coisas qui lhi aconteçe você não mim fala nada. Sei atraves dos
outros.
(51) Você não mim ver mais. As pessoas, sim.
Vamos admitir que “a piedade” consiste numa certa pena causada pela
aparição de um mal destruidor e aflitivo, afectando quem não merece ser
afectado, podendo também fazer-nos sofrer a nós próprios, ou a algum dos
nossos, principalmente quando esse mal nos ameaça de perto
(ARISTÓTELES, 2005, p. 284).
147
29
Este texto se encontra nos anexos sob o título Texto XIII – Ameaça xenofóbica.
150
Nossa Brusque será de novo uma cidade boa para viver, CUSTE O QUE
CUSTAR.
(57) Nossa Brusque deixou de ser uma cidade boa para viver, [pois] nos
últimos 5 anos foi invadida por imigrantes de outros estados
A tese de que “nossa Brusque deixou de ser uma cidade boa para viver”
demonstra o ponto de vista do sujeito enunciador acerca da situação experienciada
pela comunidade de sua cidade. Nota-se, através do verbo “deixar” – marcador de
pressuposição que indica um valor de mudança de estado –, o pressuposto de que
antes a cidade era boa para se viver, fato alterado por uma perturbação, no caso, a
vinda de migrantes. Durante o percurso argumentativo do texto, o enunciador
procura elencar uma série de argumentos para comprovar essa tese.
Assim, observamos que a carta é construída predominantemente a partir dos
recursos do Modo de Organização Argumentativo do Discurso, sendo apresentadas
passagens narrativas e descritivas que favorecem a argumentação. No que diz
respeito ao Modo de Organização Enunciativo do Discurso, nota-se a predominância
da modalidade elocutiva, já que o sujeito enunciador se marca continuadamente,
seja como um indivíduo isolado ([Ø] moro em Águas Claras), seja como membro da
comunidade residente em Brusque ([Ø] sabemos que todos tem o direito de ir em
busca de uma vida melhor).
No início do texto, é levantada a tese de que “Nossa Brusque deixou de ser
uma cidade boa para viver” e, em seguida, são apresentados diversos argumentos
que buscam comprovar a tese defendida na carta, através dos quais o enunciador
elenca uma série de atitudes consideradas inapropriadas ao bom convívio social. Ao
final, todos os argumentos, dentre os quais diversas ameaças, culminam na
conclusão de que “Nossa Brusque será de novo uma cidade boa para viver, custe o
152
Quando dizem que colocar o dito implica rejeitar o não-dito, isso não
significa que quem diz uma coisa não diz outra, simplesmente porque não
se podem dizer duas coisas ao mesmo tempo (o que é discutível, no
entanto). Trata-se de uma rejeição de natureza completamente diversa, que
pode ser exemplificada assim: se digo que os sem-terra ocuparam uma
fazenda, rejeito que eles a tenham invadido. Ou seja, um certo discurso e,
consequentemente, um certo sujeito rejeita invadir (dizendo ocupar). Outro
rejeita ocupar (dizendo invadir). Não se trata de uma seleção paradigmática,
em termos de língua, mas de assumir uma posição discursiva (POSSENTI,
2004, p. 377. Grifos no original).
Assim, notamos que, ao introduzir um argumento virtual que diz que “todos
têm direito de ir em busca de uma vida melhor”, concordando com ele, os
enunciadores antecipam uma possível contra-argumentação. Em seguida, inserem o
argumento mais forte a partir do operador argumentativo “mas”, com sentido de
restrição. Nessa parte da carta, foi utilizada a estratégia de patemização expressões
modalizadoras. De acordo com Koch (2015 [1993]), o operador argumentativo “mas”
é usado prototipicamente para introduzir o argumento mais forte de uma escala
argumentativa:
↓
baianos armados com faca
↓
alienígenas
↓
pragas
Em uma escala argumentativa que vai do termo mais neutro ao termo mais
marcado subjetivamente, o objeto de discurso foi sendo recategorizado a cada nova
referenciação, aderindo-se a ele novas qualificações que explicitam cada vez mais
sua periculosidade. Com isso, a partir dessas recategorizações, podemos notar que
o sujeito enunciador orienta seu projeto argumentativo para a conclusão de que, a
exemplo de um organismo alienígena ou de uma praga, ambos não pertencentes ao
local no qual se encontram, os imigrantes devem ser também combatidos.
Quanto às ameaças, apesar de efetuar ameaças de morte de forma explícita,
o sujeito enunciador classifica seu texto como um aviso:
30
O texto se encontra nos anexos sob o título Texto XV – Ameaça com motivação homofóbica.
160
(61) A cada um desses que andam pelas ruas declarando seu “amor”
bestial traremos o fogo santo da purificação
da violência sua condição como ser humano. Na carta em apreço, por exemplo, ao
negar a humanidade aos homossexuais, chamando seu amor de bestial, o sujeito
enunciador procura preservar sua face, já que ataca alguém que escapa do plano
divino e da ordem natural, sendo rechaçado pela sociedade.
É por essa razão que, embora pareça paradoxal, nessa carta, os sujeitos
enunciadores não se posicionam como criminosos, apesar de terem agredido
alguém e ameaçarem agredir outras pessoas pelo fato de declararem publicamente
seu amor homossexual. No texto, os sujeitos enunciadores se apresentam como
servos de Jesus Cristo que detêm o papel sagrado de apresentar as vítimas perante
o Senhor. Tais expressões utilizadas, a saber, “fogo santo da purificação”, “senhor
Jesus Cristo” e “amém” são exemplos da estratégia chamada por Gouvêa (2017) de
palavras ou expressões que desencadeiam emoção, visto estarem relacionadas ao
campo semântico da religião e da espiritualidade.
Por um lado, essas estratégias de patemização podem levar alguns sujeitos
interpretantes a se identificar com os enunciadores, possivelmente experienciando
emoções relativas à satisfação, ao alívio, por entenderem que os indivíduos
homossexuais serão agredidos, ou mesmo exterminados. Por outro lado, entretanto,
se o interpretante for uma possível vítima ou alguém que, mesmo não sendo
homossexual, compreenda a importância dos Direitos Humanos e seja partidário da
defesa da dignidade e da vida humana, ele poderá experienciar emoções relativas
ao medo, à revolta, à indignação e até mesmo ao ódio.
Dando prosseguimento à análise, notamos que, logo no início do texto, os
sujeitos enunciadores fazem uso da estratégia de patemização princípio de
proximidade ou distanciamento, afirmando que farão uma “limpeza” na cidade de
Betim, que se localiza na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais:
31
Bíblia Ave Maria online. Disponível em: <http://www.claret.org.br/biblia>. Acesso em 27 abr. 2019.
164
que acredite na condição pecaminosa da relação homossexual, mas que não admite
ameaças e agressões, sendo levado a experienciar um sentimento de indignação,
por exemplo.
No que concerne à ameaça propriamente dita, esta se encontra nos seguintes
enunciados:
do objeto de discurso “cada um desses que andam pelas ruas declarando seu ‘amor’
bestial”, apresentado logo no início da carta. De igual modo, o advérbio de inclusão
“também”, que funciona como um operador argumentativo, refere-se anaforicamente
à agressão sofrida pelo jovem com quem foi deixada a carta. Assim, o sujeito
enunciador deixa claro que houve apenas um incidente, o primeiro, mas outros mais
poderão ocorrer, já que o numeral “primeiro” pressupõe minimamente um segundo
caso.
Atesta-se, portanto, a ameaça que, embora implícita, pode ser recuperada
tanto a partir do contexto linguístico, tomando por base a pressuposição inferida pela
marca linguística “primeiro”, quanto pelo contexto extralinguístico, a agressão sofrida
pelo rapaz com quem foi deixada a carta.
Esses pressupostos e subentendidos podem levar o sujeito interpretante da
carta a experienciar emoções relativas ao medo, à insegurança e ao desespero,
caso seja uma das possíveis vítimas ou não concorde com as ameaças e agressões.
Em outros sujeitos interpretantes, entretanto, tais enunciados podem gerar um
sentimento de alívio ou satisfação.
Por fim, o término da carta com a palavra “amém” traz novamente à tona uma
relação intertextual com as orações cristãs, principalmente pelo fato de esse termo
de origem hebraica designar, no Cristianismo, algo como “assim seja”, reiterando
que as ameaças devem ser efetivadas, já que são aprovadas. Diante de tais
enunciados, como já mencionamos alhures neste texto, as emoções podem ser
diversas a depender do universo de crença do sujeito interpretante da carta,
levando-se em conta o fato de ele ser um dos sujeitos destinatários ou não.
Apresentaremos, a seguir, a última carta analisada nesse primeiro grupo –
sujeitos que não se posicionam como criminosos –, que apresenta, também, uma
motivação homofóbica, conforme fica evidente logo no primeiro enunciado:
A carta acima32 foi deixada na casa de um casal lésbico, no ano de 2013. Por
não ser explicitada a sanção negativa que poderia acometer as vítimas da ameaça,
classificamos esse texto como uma carta de ameaça com sanção indefinida.
Construído predominantemente com recurso ao Modo de Organização
Argumentativo do Discurso, em uma abordagem macroestrural, observamos, logo no
início do texto, a explicitação da tese, vale saber: “nossa comunidade não admite mais
estas atitudes imorais em nosso bairro”. A partir do momento em que o sujeito
enunciador apresenta essa tese, falando em nome de toda a comunidade, ele passa a
elencar uma série de argumentos que busca comprovar a tese, com a qual ele concorda.
Durante o percurso argumentativo do texto, o enunciador constroi sua imagem como
alguém virtuoso, que luta contra aqueles que agem de modo imoral em sua comunidade:
o casal lésbico.
Assim, chama a atenção o suposto movimento que se autodenomina MHJ –
Movimento Homofobia Já. Ao contrário de muitos sujeitos comunicantes que
produzem discursos com teor homofóbico, mas negam essa fobia, os sujeitos
enunciadores dessa carta se apresentam como homofóbicos. Essa nomeação, uma
das funções do Modo de Organização Descritivo do Discurso, serve como um
32
O texto pode ser encontrado nos anexos sob o título Texto X – Carta de ameaça lesbofóbica.
167
(68) [...] sempre foi um bairro de família respeitado com seus idosos e
crianças
(69) [...] hoje está habitado ou empesteado por gays, lésbicas, sapatões,
33
Disponível em <https://www.dicio.com.br/pocilga/>. Acesso em 07 jan. 2019.
169
(70) Em sua casa nada vai acontecer, mas quando saírem na rua
prestem atenção.
vocábulo “coisas”.
Atesta-se, assim, que a ameaça não é realizada contra o patrimônio do casal,
já que em sua casa nada iria acontecer, mas atenta contra a integridade física das
destinatárias da carta. Dessa forma, dentre os sentidos possíveis de serem inferidos
a partir desses enunciados, podemos elencar: (1) Em sua casa nada irá acontecer,
logo, vocês estarão seguras; (2) [...] mas quando saírem na rua, prestem atenção,
pois vocês não estarão protegidas; (3) portanto, coisas ruins vão acontecer com
vocês.
Os índices linguísticos que apresentam sentidos de discurso passíveis de
serem tidos como ameaças são, respectivamente, a solicitação para que as
destinatárias da carta “prestem atenção” quando saírem à rua, e o termo genérico
“coisas”, que acontecerão ao casal. Podemos notar que o sujeito enunciador é
assertivo ao afirmar que “coisas vão acontecer”, não modalizando seu enunciado,
por exemplo, a partir de um verbo modal como o “poder”, que denota um sentido de
incerteza.
A partir dos sentidos implícitos, portanto, o sujeito interpretante poderia ser
levado a experimentar um sentimento relacionado ao medo, à insegurança, à
impotência, quando for condizente com o sujeito destinatário da carta, no caso, o
casal lésbico. Caso essas ameaças surtam o efeito perlocucionário desejado, o de
amedrontar as destinatárias da carta, é provável que elas venham a acreditar na
tese defendida pelo sujeito enunciador durante todo o percurso argumentativo do
texto, vale lembrar, “nossa comunidade não admite mais estas atitudes imorais em
nosso bairro”.
Conforme podemos perceber, os conhecimentos extralinguísticos e, portanto,
discursivos e pragmáticos precisam ser levados em conta para que um enunciado de
ameaça seja efetivamente compreendido como tal. Esse fato nos leva, juntamente a
Nini (2017), a questionar pesquisas que buscam analisar ameaças unicamente a
partir de uma abordagem linguística, conforme vimos no capítulo 2.
É importante ressaltar que os sujeitos enunciadores dessa carta, durante todo
o percurso argumentativo do texto, procuram construir para si diferentes ethé
discursivos. Em um determinado enunciado, encontramos o ethos dito de “pessoas
de bem”, grupo no qual se inclui o sujeito enunciador, consistindo no que
Charaudeau (2015 [2005]) chama de ethos de virtude. Além desse ethos,
encontramos também o ethos de competência, já que o enunciador afirma que, para
174
34
A carta pode ser encontrada em nossos anexos, no grupo de cartas escritas por sujeitos que se
posicionam como criminosos, sob o título TEXTO 6 – Ameaça ao promotor do caso Denarc.
177
(74) [...] voce vai levar tanto tiro de AR15 que a pericia não vai nem
conseguir contar as perfuraçoes.
(75) [...] vamos mandar metralhar o carro que leva as crianças para a
escola
mídia online. Dessa forma, diversos sujeitos interpretantes entraram em contato com
o texto em apreço, o que permite concluir que diferentes emoções foram
experienciadas por diferentes sujeitos. Dentre essas emoções, podemos destacar,
possivelmente a indignação diante da atitude audaciosa do sujeito enunciador, que
ameaça autoridades jurídicas. Por outro lado, visto que as emoções são
dependentes dos sistemas de crenças compartilhados pelo sujeito interpretante,
bem como seus valores e posicionamentos ideológicos, somos levados a reconhecer
que alguns sujeitos possivelmente experienciaram emoções relacionadas à
satisfação, por reconhecerem as ameaças como legítimas.
Chama a atenção, nesses usos da estratégia relacionada ao emprego de
palavras, expressões e enunciados que designam calamidade, a descrição
minuciosa dos possíveis assassinatos. Com enunciados detalhados, o sujeito
enunciador atesta que a mãe do destinatário seria esquartejada, tendo as partes de
seu corpo espalhadas por toda a cidade de Campinas. Ao fazer menção à localidade
geográfica, estamos diante do uso da estratégia de patemização princípio de
proximidade e distanciamento, já que a proximidade com o endereço da vítima e de
sua família pode intensificar o efeito perlocucionário de patemização.
Além disso, o sujeito enunciador ainda argumenta que tanto o destinatário
quanto o carro que leva as crianças para a escola seriam alvos de ataques por
armas de fogo, um fuzil AR15 e uma metralhadora, respectivamente. Tais
argumentos revelam um sujeito enunciador que apresenta um saber-fazer bélico,
projetando um ethos de competência de alguém que conhece armamentos de fogo e
sabe utilizá-los, revelando, ainda, que o enunciador detém conhecimentos acerca da
rotina dos filhos de um dos ameaçados. Novamente, emoções relacionadas ao
medo, ao terror e ao desespero podem ser experienciadas.
Ao final da carta, deparamo-nos com outra ameaça direta explícita:
legitimidade tomando por base aquilo que chamamos, nesta pesquisa, de ethos de
desvirtude. Em nosso entendimento, ao contrário do ethos de virtude descrito por
Charaudeau (2015 [2005]), o ethos de desvirtude é baseado no que é considerado
como desvirtuoso em dada comunidade sociocultural, a exemplo de alguém que
pode e sabe cometer um assassinato, tendo, inclusive, contato com facções
criminosas.
Por fim, à medida que o enunciador procura garantir sua legitimidade e
credibilidade a seus argumentos, ele objetiva levar o sujeito interpretante a
experienciar emoções relativas ao terror, ao medo e ao desespero. Ao fazer uso da
estratégia discursiva da captação, portanto, o enunciador elenca diferentes
estratégias de patemização, com predomínio do emprego de palavras, expressões e
enunciados que designam calamidade.
Caso os promotores, sujeitos destinatários da carta, fossem levados a
experienciar tais emoções, possivelmente estariam dispostos a ceder às chantagens
do sujeito enunciador, pois, como afirmou Aristóteles ainda em ~300 a.C., “os juízos
que emitimos variam conforme sentimos tristeza ou alegria, amor ou ódio”
(ARISTÓTELES, 2005, p. 97).
Apresentada a análise concernente ao primeiro texto do segundo grupo do
corpus, passemos, agora, à análise da segunda carta de ameaça de morte escrita
por sujeitos que se posicionam como criminosos em seu discurso:
CPPL 1 É CARRAPICHO
35
A carta pode ser encontrada nos anexos sob o número 12, no grupo de textos escritos por sujeitos
que se posicionam como criminosos
183
criminoso.
Ademais, além do Modo de Organização Argumentativo, predominante,
notamos que, durante o percurso argumentativo da carta em apreço, são dadas
diversas instruções ao sujeito destinatário. A partir da modalidade alocutiva do Modo
de Organização Enunciativo do Discurso, portanto do recurso à enunciação da
expressão patêmica, o sujeito enunciador interpela seu interlocutor, através do uso
dos termos “atenção” e “cuidado”, realizados com um sentido imperativo:
Como pode ser notado pelos enunciados (77) e (78), a carta se baseia em
uma série de reivindicações efetuadas por parte do sujeito enunciador,
reivindicações feitas em nome da comunidade encarcerada no CPPL1 – Centro de
Privação Provisória de Liberdade 1 –, localizado no Estado do Ceará. Assim, durante
o percurso argumentativo do texto, o sujeito faz pedidos e reivindicações, exigindo
melhorias no ambiente prisional. Se esses pedidos não fossem atendidos, conforme
o sujeito enunciador afirma, ele e outros encarcerados poderiam assassinar alguns
agentes, funcionários do presídio. Trata-se, portanto, de uma carta de ameaça de
morte.
Passemos à análise microestrutural de cada argumento que busca comprovar
a tese. No texto, os sujeitos enunciadores afirmam que a população encarcerada no
Centro de Privação Provisória de Liberdade 1 é violentada e desrespeitada,
defendendo a tese de que “vocês devem respeitar os presos e suas visitas”. Assim:
disso, por meio do item lexical “presos”, os sujeitos constróem para si o ethos de
desvirtude, que legitima suas reinvidicações e ameaças, consistindo em uma marca
identitária.
No contexto da carta, portanto, visto estarmos diante de um dispositivo
comunicativo cuja temática já torna o texto passível de despertar emoções, os
enunciados apresentados poderiam levar o sujeito interpretante a experienciar
emoções diversas, a depender de seu universo de crença. Desse modo, um sujeito
interpretante que acredite que os indivíduos encarcerados estão cumprindo suas
penas de forma justa, poderia ser levado a experienciar um sentimento de
indignação ao ler tais enunciados. Por outro lado, alguém que luta pelos direitos
iguais e acredita que apenas a penitenciária não garante a reabilitação e
ressocialização do cidadão privado de liberdade poderia experienciar emoções
relacionadas à piedade.
Chama a atenção o fato de o item lexical “presos” ter sido reiterado, o que
configura um processo de identificação do sujeito enunciador enquanto um indivíduo
encarcerado. Essa nomeação acaba por despertar um efeito perlocucionário de
captação no sujeito interpretante da carta, já que, ao menos em nossa comunidade
sociodiscursiva, os sujeitos encarcerados são frequentemente classificados, a priori,
como criminosos e, por isso, foram afastados do convívio social. Devido a esses
sentidos veiculados pelo vocábulo “presos”, muitos deles favorecidos por
estereótipos e preconceitos, diferentes emoções são desencadeadas no sujeito
interpretante. Novamente, tais emoções são dependentes de seu sistema de crença.
Quando se posiciona na identidade de um indivíduo privado de liberdade, um
presidiário, o sujeito enunciador parece procurar garantir a legitimidade necessária
para si e a devida credibilidade para seus argumentos e ameaças. Trata-se,
portanto, de uma construção, além do ethos de desvirtude, do ethos de potência, de
um poder-fazer que é assegurado pelos imaginários sociodiscursivos acerca da
periculosidade inerente a alguns indivíduos privados de liberdade. Afinal, alguns
sujeitos interpretantes podem ser persuadidos a acreditar nas ameaças
evidenciadas na carta, experienciando emoções relativas ao medo e ao desespero,
por meio do seguinte raciocínio: esses indivíduos que ameaçam estão presos, logo,
devem ser criminosos que podem cumprir suas ameaças.
A despeito desse ethos de delinquente perigoso, na carta, o sujeito procura
também construir para si um ethos de virtude, de alguém que luta para que a justiça
185
seja assegurada aos sujeitos encarcerados que também são seres humanos e
merecem o mínimo de condições.
A seguir, é elencada uma série de argumentos que procuram captar o
destinatário da carta, demonstrando que os indivíduos encarcerados vivem em
condições insalubres e desumanas:
(81) Cuidado com as comidas nas vistorias, pois varias vezes são
derramadas no lixo
36
O texto pode ser encontrado nos anexos sob o título Texto 23: Carta do Sindicato do Crime do RN.
188
informações, que devem ser inferidas pelo interpretante. Assim, o sujeito enunciador
faz uso de um enunciado patêmico que depende de determinados imaginários
sociodiscursivos e conhecimentos prévios para que seus sentidos sejam
devidamente apreendidos, afinal, os chamados “salves”, conhecidos como as
solicitações efetuadas por determinadas facções criminosas, podem ser entendidos
como pedidos que serão levados a cabo por outros integrantes do grupo criminoso.
Desse modo, dentre esses pedidos, poderiam estar, inclusive, assassinatos ou
outras solicitações, o que configura o enunciado (86) como uma ameaça direta
implícita.
De acordo com o antropólogo social Mallart (2011, p. 314), o Salve Geral,
particularmente vinculado ao PCC, corresponde a uma “categoria ‘nativa’ que aponta
para a existência de conexões entre áreas urbanas, instituições prisionais e
unidades de internação para adolescentes”, sendo formas de comunicação entre os
membros de uma determinada facção criminosa. No texto em apreço, portanto, se o
sujeito interpretante compartilhar desse conhecimento prévio, poderá perceber que
os sujeitos que ameaçam apresentam contato com pessoas exteriores ao presídio,
que poderiam cumprir as solicitações e ameaças efetuadas.
A ameaça, nesse ínterim, pode ser compreendida como um alerta para um
possível agir por parte da facção. O grupo criminoso é, então, descrito como uma
facção organizada, dotada de integrantes que trabalham em equipe, estratégia
discursiva a partir da qual procuram garantir credibilidade a suas ameaças. Esse
ethos de competência (CHARAUDEAU, 2015 [2005]) é reforçado pelo uso de alguns
termos e expressões formulaicas tipicamente associados ao discurso administrativo
e empresarial, em um processo interdiscursivo, como a própria designação da
facção como “sindicato”, e outras escolhas lexicais, por exemplo: “comunicado”,
“atenciosamente”, “em meio a este comunicado” e “conselho final do SDCRN”. Tais
seleções lexicais permitem inferir que há, entre esses indivíduos, uma estrutura que
se aproxima de uma empresa ou organização.
Notamos, também, a tentativa de utilização de um registro formal do
português brasileiro, apesar de muitos desvios em relação à norma culta, em
diversos níveis gramaticais. A utilização de um registro formal advém da
competência comunicativa dos indivíduos, visto que se trata de um comunicado que
tende a se aproximar do discurso empresarial. Embora a seleção lexical seja oriunda
de um registro mais formal da língua portuguesa do Brasil, observamos a grafia de
193
verdadeiro terror é planejado pela facção criminosa que assina a carta. Através de
descrições das ações futuras dos membros da facção, é possível vislumbrar um
quadro de guerra que poderá ser instaurado caso as condições impostas pelos
sujeitos que ameaçam não sejam atendidas. Parte dessas condições é expressa, no
enunciado (89), através da estratégia expressões modalizadoras, já que o operador
argumentativo “até”, apontando para um limite, denota que as ações contra a
segurança pública continuarão enquanto os governantes não ouvirem e atenderem
as condições impostas pela facção.
Em trabalho anterior, ao nos debruçarmos sobre um comunicado divulgado
pelo Primeiro Comando da Capital em uma emissora de televisão, percebemos que
diversas estratégias de patemização foram elencadas pelo sujeito enunciador.
Dentre elas, o princípio de avaliação, através do qual os sujeitos avaliam o sistema
penal brasileiro como falido e desrespeitoso, pois:
Conforme pode ser visto por meio da citação acima, embora os textos sejam
de gêneros discursivos diferentes, produzidos por facções criminosas distintas,
ambos procuram legitimar a luta pelos direitos dos presidiários. Essa construção
identitária por parte das instâncias de produção instaura uma posição antagônica em
relação ao governo, mas não em relação à sociedade civil, o que parece ser também
uma constante nos discursos divulgados por essas facções.
Passaremos, em seguida, à análise da segunda carta de ameaça contra a
segurança pública, também escrita por um sujeito que se posiciona como criminoso,
pois se afilia a uma facção37:
37
A carta pode ser encontrada nos anexos sob o título Texto 24: Carta dos Guardiões do Estado.
196
GUARDIÕES DO ESTADO
AVISO PARA GOVERNO CORRUPTOS SE MEXER COM AS
UNIDADES PRISIONAIS IGUAL ESTÃO FAZENDO IREMOS PARAR O
ESTADO DO CEARÁ E EXPRODIR A SECRETARIA DE SEGURANÇA E
AQUELE AVISO NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CARRO BOMBAS
VAMOS FAZER VALER DESSA VEZ. GOVERNO CORRUPTOS PAREM
AGORA OU CEARÁ IRA VIVER UM MÊS DE TERROR ATENTADOS E
EXPLOSÕES NOS PRÉDIOS PUBLICOS TODOS INOCENTES
MORTOS SERÃO GOVERNO RESPOSABILIZADOS POIS IREMOS
ATACAR OS ORGÃOES PÚBLICOS E PARA O ESTADO AQUELES
FUNCIONARIOS PUBLICOS DO GOVERNO QUE NÃO SAIAM DE
SUAS CASAS POIS PODERAM SOFRER NESSA GUERRA CONTRA O
GOVERNO ACASO NOSSA ORDEM NÃO SEJA ACATADO
GDE745
O texto acima foi assinado pela facção criminosa atuante no Estado do Ceará
conhecida como Guardiões do Estado. Na carta, datada de abril de 2017, os sujeitos
enunciadores assumem autorias de ataques contra a segurança pública.
Novamente, deparamo-nos com condições exigidas pela facção criminosa que, caso
não sejam atendidas, levarão à execução das atitudes ameaçadas. Não se
evidencia uma tese explicitada verbalmente, entretanto, a partir de uma análise
macroestrutural, é possível perceber que os sujeitos defendem a tese de que “o
governo corrupto não deve interferir nas unidades prisionais”.
Durante o percurso argumentativo do texto, os sujeitos elencam uma série de
ameaças, chamadas por eles de aviso e reinvidicações. Tais ameaças são utilizadas
como argumentos que buscam comprovar a tese. Desta feita, “o governo corrupto
não deve interferir nas unidades prisionais”, pois o Estado do Ceará pode parar
devido aos ataques da facção.
Assim, valendo-nos de uma abordagem analítica macroestrutural, notamos
que o texto se organiza predominantemente tomando por base o Modo de
197
se os sujeitos que ameaçam podem fazer tanto mal à sociedade, é melhor que o
governo não interfira nas unidades prisionais.
A seguir, as ameaças, que ocupam grande parte da extensão do texto,
continuam:
(92) [...] aqueles funcionarios publicos do governo que não saiam de suas
casas pois poderam sofrer nessa guerra contra o governo
38
Disponível em <https://www.brasildefato.com.br/2017/04/21/faccao-queima-onibus-ataca-bancos-e-
delegacias-em-fortaleza/>. Acesso em 08 jan. 2018.
201
39
O texto pode ser encontrado nos anexos sob o título Texto 4: Carta de ameaça com lista de
reinvidicações de presidiários.
202
nas cinquenta cartas de ameaça que compõem o nosso corpus. Para isso,
apresentaremos alguns gráficos demonstrativos que confirmam completamente ou
parcialmente algumas das hipóteses aventadas neste trabalho, já que nenhuma
delas foi refutada.
Gráfico 01: Tipos de ameaça – sujeitos que não se posicionam como criminosos
Condicional
Criminosos
implícita
13%
Direta
explícita
31%
Condicional
explícita Direta
38% implícita
18%
implícitas nas cartas escritas por sujeitos que não se posicionam como criminosos,
correspondendo a 53% do universo total da amostra. Conforme observamos, esses
sujeitos constroem para si ethé discursivos diversos, mas não se posicionam como
delinquentes, procurando preservar sua face. Dessa forma, podemos asseverar que
a nossa hipótese de número 01, vale lembrar, “a ameaça verbal ocorreria de modo
explícito ou implícito a depender do tipo de ameaça” foi comprovada.
Esses resultados também ajudam a comprovar nossa hipótese de número 04,
vale lembrar, a estratégia de patemização emprego de implícitos seria mais
recorrente nas cartas dos sujeitos que não se posicionam como criminosos.
Notamos, levando em conta tanto as ameaças efetivadas através de uma
construção condicional, quanto aquelas não efetivadas de modo condicional, 62% de
uso (47 oc.) de ameaças implícitas nas cartas dos sujeitos que não se posicionam
como criminosos, contra 31% de uso (14 oc.) de ameaças implícitas nas cartas dos
sujeitos que se posicionam como criminosos.
Devido a isso, após percebermos a contribuição desses dados para
confirmarmos as hipóteses de número 01 e 04, podemos afirmar que a primeira
parte da nossa hipótese básica foi constatada, a saber: a ameaça verbal em língua
portuguesa ocorreria como conteúdo explícito ou implícito. A segunda parte da
hipótese básica diz respeito ao fato de a força perlocucionária da ameaça ser
pretendida de se alcançar através de diferentes estratégias de patemização.
Procuraremos comprovar essa segunda parte da hipótese básica a seguir.
Não criminosos
Delocutivo Elocutivo
24% 30%
Alocutivo
46%
Gráfico 03: Comportamento enunciativo do grupo de sujeitos que não se posiciona como criminosos
Por sua vez, o conjunto de textos relativos aos sujeitos que se posicionam
como criminosos, contrariando a hipótese, apresentou o comportamento alocutivo
em número menor de vezes, correspondendo a 35% do total (128 oc. em um
universo de 369 registros):
Criminosos
Delocutivo
25% Elocutivo
40%
Alocutivo
35%
Gráfico 04: Comportamento enunciativo do grupo de sujeitos que se posiciona como criminosos
Princípio de avaliação
9% 7%
Enunciados que podem produzir efeitos
10% 14%
patemizantes
6% Princípio da classificação, enumeração
1%
ou quantidade
1% 16%
7% Princípio de proximidade ou
distanciamento
5%
Palavras que descrevem de modo
24% transparente emoções
Topoi
Emprego de Implícitos
Palavras de Calão
Gráfico 05: Emprego de estratégias de patemização no grupo de sujeitos que não se posiciona como
criminosos
213
Emprego de Implícitos
Palavras de Calão
Gráfico 06: Emprego de estratégias de patemização no grupo de sujeitos que se posiciona como
criminosos
A partir dos dados expostos nos gráficos, podemos perceber que a estratégia
de patemização enunciados que podem produzir efeitos patemizantes foi a mais
recorrente nos dois grupos de cartas. Notamos a proporção de 24% (155 oc.) no
grupo de textos escritos por sujeitos que não se identificam como criminosos, contra
28% (135 oc.) no grupo de textos escritos por sujeitos que se identificam como
criminosos.
Apesar desse alto índice de ocorrência, acreditamos que tal valor foi obtido
pelo fato de o dispositivo comunicativo – carta de ameaça –, bem como as temáticas
evocadas – morte, agressão, assassinato – proporcionarem a ocorrência de
enunciados patemizantes. Portanto, nesses textos, todo e qualquer enunciado é
potencialmente capaz de levar o sujeito interpretante a experienciar algum tipo de
emoção. Assim, não levantamos uma hipótese acerca dessa estratégia de
patemização e, por isso, vamos nos debruçar mais detidamente sobre as estratégias
expressões modalizadoras, emprego de implícitos, palavras, expressões e
enunciados que designam calamidade, emprego de palavras de calão e princípio de
avaliação.
Conforme podemos observar a partir dos gráficos apresentados, a estratégia
de patemização expressões modalizadoras foi ligeiramente mais produtiva nos
214
textos dos sujeitos que se posicionam como criminosos em comparação aos textos
dos sujeitos que não se posicionam como criminosos, a uma proporção de 17% (80
oc.) para 14% (88 oc.), respectivamente. Levamos em consideração a porcentagem,
que diz respeito ao total da amostra, e não os números de ocorrência.
Além disso, realizamos também a contagem dos operadores argumentativos
utilizados nos dois grupos de textos. É importante frisar que, em determinadas
ocasiões, em um mesmo enunciado pode ter aparecido dois ou mais operadores
argumentativos. A despeito disso, no entanto, o uso da estratégia de patemização foi
contabilizado apenas uma vez e, por esse motivo, a soma dos operadores
argumentativos não corresponde ao total dos usos da estratégia expressões
modalizadoras. Além do mais, embora tenham ocorrido poucas vezes, orações
modalizadoras e verbos modais também foram contabilizados como usos da
estratégia de patemização expressões modalizadoras, conforme evidenciamos no
capítulo 2.
A partir da contagem dos operadores argumentativos utilizados, observou-se
que o uso do operador argumentativo se foi bastante recorrente, sendo mais
produtivo nas cartas dos sujeitos que se posicionam como criminosos: 32% (26 oc.
em um universo de 82 oc.) em comparação às cartas dos sujeitos que não se
posicionam como criminosos, que apresentou a ocorrência de 24% (23 oc. em um
universo de 97 oc.). Os resultados comparativos encontram-se na tabela a seguir,
evidenciando que o uso desse operador argumentativo é uma constante tanto nas
cartas escritas por sujeitos que não se posicionam como criminosos quanto nas
cartas escritas por sujeitos que se posicionam como criminosos:
Muito menos 01
Desde já 01
Além de 01
Porém 01
Inclusive 01
Tanto... como 01
Por isso 01
Ou 03
Total 97 82
Tabela 02: Ocorrência de operadores argumentativos
Fonte: Dados da pesquisa
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fa(Sn)
F(p) ⇒ Fa(Sn)
221
em que:
ocorrências da partícula se nas cartas dos sujeitos que não se posicionam como
criminosos, 15 ocorrem em ameaças condicionais, representando 65%. Por sua vez,
das 26 ocorrências do operador argumentativo se nas cartas escritas por sujeitos
que se posicionam como criminosos, 24 ocorrem em ameaças condicionais, o que
representa 92% das ocorrências. A hipótese de número 03 está, portanto,
comprovada.
A hipótese de número 04, por sua vez, aventou que a estratégia de
patemização relacionada ao emprego de implícitos seria mais recorrente nas cartas
dos sujeitos que não se posicionam como criminosos. Após as contagens e análises,
chegamos aos seguintes resultados: ocorreram 10% (66 oc.) de uso dessa
estratégia nas cartas dos sujeitos que não se posicionam como criminosos, e 3% (14
oc.) nas cartas dos sujeitos que se posicionam como criminosos. Observamos que
essa diferença se deu por uma problemática identitária, pois os sujeitos que não se
posicionam como criminosos procuram preservar sua face, construindo para si ethé
diversificados que não correspondem à imagem de um criminoso ou delinquente.
Por isso, suas ameaças são mais veladas, realizadas principalmente através de
implícitos. Temos, portanto, a comprovação da hipótese de número 04.
Por fim, na quinta e última hipótese aventada, postulamos que a estratégia
de patemização palavras, expressões e enunciados que designam calamidade teria
um mais alto índice de ocorrência nas cartas dos sujeitos que se posicionam como
criminosos. Novamente, comprovamos essa hipótese, já que encontramos a
ocorrência de 10% (46 oc.) de utilização dessa estratégia no grupo de cartas escritas
por sujeitos que se posicionam como criminosos e, em contrapartida, a ocorrência
de 6% (38 oc.) no grupo de cartas escritas por sujeitos que não se posicionam como
criminosos.
De acordo com as análises efetuadas no capítulo 4, acreditamos que essa
ligeira diferença se deve, novamente, à questão identitária. Nas cartas escritas por
sujeitos que se posicionam como criminosos, pelo fato de eles não apresentarem a
legitimidade necessária para exigir que suas condições sejam atendidas, os
enunciadores constroem para si ethé de potência, lançando mão, nesse processo,
da estratégia de patemização relacionada ao emprego de palavras que designam
calamidade. Ao que parece, esses sujeitos pretendem não deixar dúvidas quanto ao
que pode ocorrer caso suas exigências não sejam atendidas e, para isso, lançam
mão de um discurso violento e agressivo.
224
mencionasse a carta de ameaça no vasto conjunto dos textos que são rotulados
como carta.
Nossa contribuição, ainda, conforme especifica o título do presente trabalho,
atinge outro campo dos estudos linguísticos: a Linguística Forense. No âmbito
brasileiro, essa disciplina, que se propõe a aplicar diferentes teorias e metodologias
dos estudos da linguagem à resolução de problemas judiciais e a um maior
entendimento do funcionamento da linguagem em âmbito jurídico, ainda carece de
investigações. Conforme visto no capítulo 2, ainda há poucos trabalhos produzidos
em território nacional que se filiam explicitamente à Linguística Forense.
Com isso, ao apresentarmos uma proposição lógica para o ato de fala de
ameaça, procuramos contribuir para que seja possível distinguir formalmente e
discursivamente a ameaça de outros atos de fala, como a promessa e o aviso. Em
consonância com Walton (2014), dissemos que, se um sujeito enunciador afirma que
uma sanção negativa acometerá o sujeito destinatário, podendo vir expressa ou não
uma condição que deverá ser seguida pelo destinatário, o ato de fala é considerado
uma ameaça. Conforme salienta o artigo 147 do Código Penal, se essa sanção
negativa for um mal injusto ou grave, a ação linguística poderá ser tipificada como o
crime de ameaça.
Vale lembrar que, por estarmos lidando com um crime praticado
exclusivamente através da ação verbal, nos debruçamos sobre um crime de
linguagem, conforme postula Shuy (2005). Assim sendo, de forma inédita, propomos
a nomenclatura discurso criminalizável para fazer referência às produções
discursivas que, dada a natureza de sua cenografia, podem ser tipificadas como
crimes, o que faz com que os sujeitos enunciadores desses discursos possam sofrer
sanções penais.
À guisa de conclusão, é válido lembrar que há outros crimes de linguagem
ainda não descritos e estudados de forma profunda nos estudos discursivos
brasileiros, como o assédio sexual, o assédio moral, o trote telefônico e os vários
golpes efetivados a partir de redes sociais. Esperamos que esta investigação possa
abrir as portas para pesquisas futuras que se debrucem sobre a natureza linguístico-
discursiva de produções verbais passíveis de serem tipificadas como crimes, o que
chamamos aqui de discursos criminalizáveis.
Para trabalhos futuros, podemos sugerir que a pesquisa aqui desenvolvida
articule novas investigações, como por exemplo:
226
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(org.). Handbook on Forensic Linguistics. Oxford U Press, 2011.
Transcrição:
ASSINA: (rubrica)____
UM JUSTICEIRO
Transcrição:
Prezado Sr.
José Aparecido de Souza
OBS: - A associação Paulista, e também a União através de seus pastores que tem
a responsabilidade e o dever de resolver de maneira definitiva todo e qualquer
problema que venha surgir na organização principalmente casos dessa natureza,
239
Transcrição:
Transcrição:
SRA;
“PRIMEIRA DAMA, OU VIUVA.
Transcrição:
Fale pro seu advogadozinho “chinfrim”, dedo duro, irresponsavel e frouxo... Que ele
TÁ FODIDO!!!.
Esse “pançudo” mal caráter e desonesto, vai se arrepender de ter vindo da periferia
da Baixada Fluminense armar esquemas fraudulentos, aplicar golpes, e tripudiar na
nossa terra.
Ele ainda não sabe onde se meteu e com quem esta lidando.
Sabemos de todos os seus “pôdres” e porque vocês fedem !.
Esse “safado mentiroso” vai pagar caro pelo que deve, e pela boca suja que tem,
envolvendo pessoas sérias que não tem nada a ver com as sua sujeiras e as suas
falcatruas.
E você, “abra do olho”!!!
Foi cair na lábia desse “malandro de gravata” travestido de advogado, e vai acabar
de “fudendo” junto com ele pra deixar de ser “Otária”,
SUA OTÁRIA!!!
E não adianta querer sumir, porque até no inferno nós vamos atrás de vocês!
(é melhor que não acreditem).
Transcrição:
Não adianta contar vitória antes do tempo. Muita água ainda pode rolar... Segue
alguns nomes que podem descer na enchente do rio:
Professores.
De Porto Velho: Tárique, Paulo Morais, Ninno Amorim, Lou-Ann, Marcelo Sabino,
Carlos Tenório, Paulo de Tarso, Petrus, Rogério, Rosinete, Socorro, Rubiane,
Estevão, Raitany, Geane, Mário, Paulo Borges, Erasmo...
De Rolim de Moura: Fabrício, Adriane, Graça, Rodolfo, marilsa...
De Ji-Paraná: João Gilberto...
De Ariuquemes: Verônica...
Alunos: Talyta, Vinicius, Daniel, Rafael, Fernanda Ortigosa, Gustavo, Maiara, Iagê,
Felipe, joyce, Débora, Cleiciane, Bárbara...
Transcrição:
limites.”, portanto iremos lutar de todas as formas pela vida de nossos pacientes.
Não desistiremos até nossa missão se realizar.
Transcrição:
Dia 24 do 10 de 2012
(ilegível) quem fala aqui é a (ilegível). Voce acha que eu tenho cara de palahça pois
voce vai ver se eu estou brincanco todo dia voce fala que vai pagar e continua
enrolando pois voce vai enrolar no inferno eu vou arrumar uma arma e vou meter
uma bala na sua cara nunca mais voce brinca comigo voce pensa que me engana
sua vagabunda voce não paga o prato que come voce me enganou que pagava tudo
certo e eu confiei numa praga (ilegível) voce está com o pé na cova eu vou te matar
pela costas voce vais para o inferno voce e sua família inteira vai pagar por vc tá ok.
Transcrições:
Texto I
Aviso:
Você é um ser irracional trata seus cães como dejetos logo você irá ser punido.
Tenta passar, o dia inteiro preso naquele cubículo comesse sol escaldante de cuiabá
para ver se consegue filho de uma puta.
Preso 24 hs, sem um lazer só cuidando daquele estacionamento fudido.
244
você seu maldito ainda vai pagar muito caro por isso.
Texto II
Cubículo fétido e quente a água pega sol o dia inteiro como os ca~es vão
hidratar-se.
Você é um desgraçado que merece uma lição bem dada.
Vai cuidar direito daqueles animais escremento de porco só pensa em ganhar
dinheiro né veado fudido.
Fica lá quero ver se é home maldiçoado.
Você vai se ferrar aguarde.
Seu cretino.
Texto III
O AVA a associação da voz animal já abriu um processo contra você nojento
logo irá ser notificado.
Vai se ferrar desgraçado e eu vou adorar vai aprender a ser mais humano e
cuidar melhor dos animais.
Sua mãe não lhe deu bons modos cretino você está esnobando os avisos né
você não perde por esperar.
Texto IV
Aqueles cães podem ficar lá só no período da noite o dia inteiro não. Não.
Será que você não vê como eles sofrem maldiçoado, ignorante, pedante,
verme, arrogante, asqueroso, bicha, travesti desgraçado e puto.
Aguarde!!!
Transcrição:
245
MHJ – Movimento Homofobia Já: Primeiro aviso: nossa comunidade não admite mais
estas atitudes imorais em nosso bairro. O Mollon, que sempre foi um bairro de família
respeitado com seus idosos e crianças, hoje está habitado ou empesteado por gays,
lésbicas, sapatões, seja lá que merda for. Já conseguimos ficar livres de duas casas
assim, temos nossos métodos. Vocês estão sendo vigiadas 24 horas pela vizinhança.
Conhecemos todos que frequentam esta pocilga. Os vizinhos não aguentam mais som
alto com músicas de baixo calão, brigas e gritarias até altas horas. Se isso não bastasse,
temos fotos e filmes de lésbicas se beijando em frente da casa. Como já disse, temos
crianças e pessoas de família que não são obrigadas a conviver com isso. Se esta é a
vida que escolheram viver, vão ter que sofrer as consequências da repugnação das
pessoas de bem. Queremos vocês fora daqui. Vão ser felizes no inferno.
Em sua casa nada vai acontecer, mas quando saírem na rua prestem atenção. A polícia
e o Conselho Tutelar vão adorar saber que existe uma criança que vive no meio da orgia
e drogas. Como eu disse, temos fotos de tudo isso, não somos amadores. Sempre tem
um primeiro aviso, depois ação. Gays e negros são lixo. Coisas vão acontecer.
Transcrição:
Senhores Moradores
amigo é, tomem atitude, caso contrário a guapecada vai aparecer com as quatro
pernas pra cima com a boca cheia de formigas.
Pela sua atenção e providências
Agradecemos.
Transcrição:
Ola Dona Mônica pelo visto nós não temos como se intender como marido e
mulher. Sua vida é sua vida. A minha a parte. Não faz parte da sua. Isso vai dá
errado. Não tenha dúvida. Você só pença em si mesma eu sou para você um
pânaca. hoje eu estava pençando. Falta 06 mêses para sua formatura. Você já mim
excluio. As coisas qui lhi aconteçe você não mim fala nada. Sei atraves dos outros.
Qui esposa é você. Eu inexisto neste mundo. Você não mim ver mais. As pessoas,
sim. A cada dia qui se passa você mim decepciona mais. Você e burra além do
limite. A cada dia você tira uma pá de terra da sua cova. Você vai receber
amargamente tudo qui vem fazendo comigo. Se nossa filhinha precisa de por um
limite sobre a teimosia dela, ela com 03 anos, e imagine você. Já passou. A muito
tempo. Só que tudo tem seu dia e este dia já chegou. Eu sou passado para tráiz o
tempo todo por você. Mais em breve você terar uma grande surpresa. Á sua altura
ok. Quem planta dores colhe flores. Quem planta espinho??? Isso é á vida neste
plâneta. Tente si corrigir antes qui seja tarde de mais isso é apenas um aviso de
(ilegível).
Transcrição:
(página 01)
AVISO PARA OS BAIANOS
Nossa Brusque deixou de ser uma cidade boa para viver, nos últimos 5 anos
foi invadida por imigrantes de outros estados, principalmente da Bahia das cidades
de Itabuna, Ilhéus Buerarema etc.
Sabemos que todos tem o direito de ir em busca de uma vida melhor, mas
sabemos também que quem chega numa nova cidade, deve respeitar os costumes e
estilo de vida do povo local. Os mais sensatos respeitam e são bem sucedidos em
tudo, podem estudar, fazer curso técnico no SENAI e conseguem empregos bons,
agindo assim, conquistam amizades, afinal, TODOS PRECISAM DE AMIGOS.
Infelizmente junto com os bons vem também os ruins (não civilizados,
ignorantes mesmo), que são a maioria e estão incomodando a vida dos moradores
locais fazendo um INFERNO como: Ouvir música em alto volume, tanto nos carros
como em casa mesmo e em qualquer hora, falam muito alto e os vizinhos são
obrigados a suportarem isso, se alguém reclama eles ficam bravos, se alguém
chama a polícia, ao verem a viatura da PM baixam o som e se comportam como
gente civilizada, mas quando a PM vai embora, voltam a fazer bagunça.
Brusque é uma cidade de povo ordeiro, trabalhador e honesto e NÃO
MEREMOS ISSO. Em muitos casos que foram registrados BO (boletim de
ocorrência) não deu em nada, então vamos fazer justiça com nossas mãos,
ESTAMOS CANSADOS E REVOLTADOS.
Desde o mês de março deste ano formamos um grupo com 28 pessoas,
somos cidadãos trabalhadores, honestos e honrados, estamos bem preparados,
resolvemos dar um BASTA nessa situação nosso grupo é discreto e bem
estruturado. Estamos publicando este AVISO para depois não reclamarem do pior
que vai acontecer, estamos dando uma chance de mudarem de comportamento.
(página 02)
248
Moro em Águas Claras há 26 anos, tenho filhos que moram em outros bairros,
e também estão sofrendo. Não vamos nos mudar por causa desses desordeiros.
Fizemos um levantamento nos bairros: Águas claras, Azambuja, Sta.
Terezinha. Nova Brasilia, 1º de maio, Bateias e Steffen, constatamos que é absurdo,
inaceitável o que acontece nos bairros, além do barulho, até trafegam contramão
com carros e motos em alta velocidade e alguns com a descarga aberta (sem o
silencioso), na Bateia por exemplo teve várias discussões por PERTUBAÇÃO DO
SOSSEGO ALHEIO entre vizinho local e baiano e os baianos se juntaram para
agredir o que estava certo. No Azambuja uma senhora de 62 anos tem que tomar
remédio para dormir e calmante durante o dia.
No Steffen teve também discussão por PERTUBAÇÃO DO SOSSEGO ALHEIO e os
baianos armados com faca quiseram ter razão, e disseram o seguinte: “Essa rua é
nossa é nóis que manda aqui e pronto, os incomodados que vão embora, pagamos
aluguel e podemos fazer o que quiser a qualquer hora”.
Durante esses 8 meses de levantamento, já temos as placas dos carros que são 34,
e motos são 22, temos também a foto desses desordeiros.
Fiquei feliz ao comentar com 2 policiais sobre essa carta (antes de ser
publicada) para saber a opinião deles e os 2 disseram assim: “Finalmente
acordaram, é bom mesmo que alguém faça alguma coisa para acabar com esses
alienígenas” porque 90% dos casos envolvem baianos. “Não diga à ninguém nosso
nome” – eu disse tudo bem.
BAIANOS, vocês conseguiram deixar o povo revoltado, TOMEM CUIDADO e tratem
de mudar de comportamento URGENTE. VAMOS ELIMINAR VOCÊS, ISSO
MESMO, VAMOS MATAR OS RUINS e acabar com essas pragas.
Nosso grupo, composto por 28 cidadãos, onde 11 estão ansiosos para começar a
matança, nem queríamos publicar esse aviso, porém, a maioria decidiu avisar antes.
Nossa Brusque será de novo uma cidade boa para viver, CUSTE O QUE CUSTAR.
Transcrição:
Estamos havisando que a avenida já foi licitada, agóra vocês Podem engulir as
lonas pretas que vocês entenderan simulando o tapete preto.
Na verdade eu tenho pena destes bobalhão, porque vocês vão ter que mascarar o
freio oito anos
Se não focem tão burro, iriam colaborar com a administração para o bem do
municipio, mas como são filhos do diabo ,não podiam fazer diferente.
Só uma pergunta- este tal c ezar minuto , não é o mesmo que foi preso e codenado ,
por tentar estorquir a Prefeitura de NOVA LARANJEIRAS?
S e for ele havisen ele que lógo lógo ele vai ver a VACA.
Parece que ele estuda a noite NÉ? chega em casa tarde da noite.?
Umdia vão te encontrar com boca cheia de formiga , e com uns buraquinhos nº 38
lenbra do Tiago de Amorim Novaes?w ele está lá Inferno acertando as contas com
DIABO., taesperando voce, O mesmo que fes ele I que vai voce aqui.
Transcrição:
Transcrição:
Transcrição:
NÃO CONTE PRA NINGUÉM DESSA CRTA SENÃO VAI SE PIOR PORÁ VC
MANTENHA QUIETA DAÍ NINGUÉM SE MACHUVCA
FALE PRA TODOS QUE NÃO VAI SERNADA NA POLITICA E ESQUEÇA NOSSA
CISDADE
COM CERTEZA VAI SE MELHOR PRA VC
Transcrição:
Você vai morrer, eu sei que você mora só, sei onde trabalha, você já viveu muito. Tu
vais pagar, acha que é inteligente e esperto.
Acha que esqueci a humilhação que me fez, logo eu te encontro. Tenho muitas
balas para você. Não esqueci o que você me fez.
Agora faça algo de útil e para de tira fotos, e uma besteira de investigação que você
sabe qual. Pare Pare Pare Pare Pare Pare
Transcrição:
Sua vagabunda você pensa que tô brincando com você. Paula você vai se fuder
você vai pagar tudo que você fez comigo, principalmente traição você pode ir na
polícia onde você quiser, mas eu prometo pela minha vida que vô pegar ou (de
mas)... Eu vim aqui em manaus pegar grana e pegar outra coisa você sabe o que é!
Ei você vai morrer eu prometo eu so quero 5 metro de distancia pra mim fuder você
(ou os seus) vagabunda eu vo te pegar pensa que to brincando ne depois do dia 15
eu to voltando, cara eu vou te fuder Paula você nunca mais vai trair homem nem um
na vida tudo que você mim fez você vai pagar com a vida lugar de vagabunda é no
inferno pra onde vo mandar você sua puta...
Abre olho Paula eu vo te pegar eu prometo
VOCÊ VAI
MORRER SUA
VAGABUNDA, DEPOIS DO DIA 15.
EU FALEI ESSE ERA SEU ULTIMO NATAL
Transcrição:
“Sua puta você vai morrer pode ter certeza Paula eu não vo desisir de pegar você,
eu prometo pela minha vida você nunca mais vai trair homem nem um eu to
chegando em porto velho vagabunda eu só quero 5 metro de distância pra mim te
fuder... Paula eu não to brincando com você não eu vo te pegar to indo de balsa vo
253
alugar um quarto qdo eu chegar ai, (ilegível) um mês. (tudo que você mim fez você
vai pagar com a vida) eu prometo eu tenho xerox do seu RG, CPF, vo usar seu
nome primeiro ai em porto velho, vagabunda eu prometo acabou pra você, eu tenho
ódio, raiva, desprezo por você... você mim prejudica muito, então você vai morrer,
vai morrer eu prometo eu to falando sério, eu não to brincando, entenda como você
quiser eu vo te pegar eu não tenho nada a perde... vai pesando que eu to brincando,
vai...
Vagabunda você vai pro saco... eu prometo
Renato Rainha,
Vc e o manoelsinho estão mandando descontar indevidamente dos PMs e
BMs a indenização de transporte de 20 anos ou mais.
Vou lhe dar um aviso: Sou da inteligência da PM e já te como certos militares
já prontos pra mata vc e o manoelsinho.
Se até desembro vcs não resolverem a situação vocês irão pro inferno.
Quero ver vc e ele com uma 12 nas suas caras e quero ver vocês cagarem de
medo.
Não e ameaça. E uma realidade. Vocês vão morrer.
Vocês não verão o Natal deste ano (lateral direita)
(Iningeligível) de filhos da puta (lateral esquerda)
Transcrição:
Transcrição:
R. B.
Não sei se o seu nome está certo, aliás nem me interessa saber, pois eu (xxx)quero
que você se foda.
Cara, você precisa sair de cima do muro. Antigamente, você vivia reclamando da
DITADURA, dos MILITARES, de tudo que não lhe convinha. Não sei como você
escapou de uma “bala” bem no meio dos cornos. Agora, com esta maldita
democracia que você conseguiu, você vive reclamando de tudo. Aliás, não é sua
competência expor opinião no Jornal da Band, sua função de merda (merda) é ler o
xxxxxxx que está escrito na tela e transmitir para nós, seus patrões.
Outra coisa: quando você acaba de falar besteira, você vira para/ o lado, para a
jovem que trabalha com você e diz: Fulana de tal, como se estivesse ordenando que
255
ela continuasse. Ora cara, vá tomar bem no meio do cu (cu não tem acento,
oxítonos terminados em “u” não são acentuados, só hiato). Isto eu aprendi no meu
querido Colégio Militar, do qual, fui 1º aluno,
Lembre-se: Leia as notícias e fique quietinho. Xxxx Não reclame, afinal, a
democracia que você queria, está aí. Agora, enfie ela bem no meio do cu. Aliás,
estamos pensando seriamente em mandar a (xxxxxxxxxx) (sem crase) São Paulo,
uns quatro fuzileiros e trazer você ao Rio para nadar um pouco no Rio Paquerer, no
qual muitos vagabundos que nem você, nadaram nos anos 60/70.
Cuidado, você está na marca do penalty.
Transcrição:
Transcrição:
256
Transcrição:
Calunga você precisa cala a sua boca porque vocês são três vereadores contra
nove mais dois são os maiores se você continua insistir com essas palhaçadas de
denuncia você não será diplomado e sim eliminado você lembra do toninho do pt e o
celso daniel? você sabe onde ele esta a turma do bem esta de olho em você juizes e
promotores tem como sobreviver em outras cidades você não otário peço para não
fazer passata para insentivar mais o porocesso contra a força da maquina joga o
jogo certo e continue numa boa você sabe que o oficial não que encontrar nossos
patrões e você insisti deixa a justiça desse municipio que resolva o problema e saia
fora dessa e pq eu quero o meu salário como todos vocês estou preso mais tenho
família que precisa de comida ai fora
respeita a força maior ass +++++++++++
Transcrição:
(parte 1)
Comunicado
Vinhemos por meio deste comunicado conscientisar os senhores diretores da
unidade e secretarios e governadores do estado do Rio Grande no Norte, que
estamos fasendo uma petição de uma forma democratica e pacifica, aonde
258
(parte 2)
Vinhemos revindicar da melhor forma possivel
Vinhemos umildemente por meio desta carta a uma revindicação de uma
forma pacifica aonde não queremos fazer paralisação e nem rebeliões nas cadeias
do estado do Rio Grande do Norte e no Nordeste do Brasil.
Vinhemos revindicar da melhor forma possiel da melhoria da unidade
carceraria e caso esta petição não for atendida na forma que estamos revindicano,
iremos fazer acontecer da forma que nois sabe fazer, paralisando o nordeste e
fasendo rebeliões em todas as cadeias e assim vocês verão que nois somos a
maioria em todo brasil e não a minoria que o secretario do estado do Rio Grande do
norte falou e então se os senhores responsaveis do estado não vinher a estar
259
atendendo nossa revindicação na forma umilde que nois estamos pedino, iremos
fazer os senhores responsaaveis pelo o estado acreditar em tudo que esta escrito
nessa carta. Pedimos uma total atenção pelos senhores responsaveis do estado.
OBS. No estado de Santa Catarina tem uma unidade carceraria na qual tem a
mesma estrutura da unidade do Rogerio Coutinho Madruga aonde obtem todos eses
beneficios que estamos pedindo na carta.
OBS. E aqui no estado do Rio Grande do Norte na unidade de Nova Cruz
aonde já vem obteno estes beneficios na qual estamos pedino.
Ass. Primeiro Comando da Capital
Transcrição:
ATENÇÃO!!!
Foi decretada pela união dos partidos CV, ADA e TCP todos os partidos que tenha
respeito e lealdade, força, humildade e amor no coração e muita dignidade a favor
de todas as comunidades, por favor se unam a nós.
Foi decretado pela união dos partidos, que quando tiver repressão da polícia em
qualquer favela fazendo coverdia, derramando o sangue, todas as comunidades
pegarão seus fizis e atiraram em prédios, em carros importados e no que tem de
mais rico e próximo a sua favela, saqueando empresas, lojas e mercados!
Foi decretado pela união dos partidos que cada morador inocente pobre que a
polícia matar, morrerá duas pessoas ricas.
Foi decretado pela união dos partidos, que cada integrante de partido que a polícia
matar morrerá dois policiais e seus familiares, pela união das comunidades que se
cansou de covardia dos policiais e do sistema, porque são eles que trazem as
drogas e as armas, o empresário financia e a polícia facilita e ficam os políticos
roubando bilhões, matando muita gente só com uma caneta, depois quer mandar
quem trás as drogas e as armas para o partido vir aqui na comunidade e matar
inocente. O pobre não dá lucro para a boca de fumo, quem compra todas as drogas
260
Transcrição:
Transcrição:
Convite e convocação
14.11.2012
Viemos respeitosamente atraves desta humilde carta convocar o sr. Promotor de
justiça da comarca de Labrea, para se faser presente nesta delegacia de policia
onde convive nas formas da lei uma grande quantidade de pessoas presas pagando
por crimes cometidos pelos mesmo, mais que não perderiam seus direitos dado por
leis. Por este motivo decidimos convidar Vossa Excelencia para comparecer nesta
casa penal para nós tratarmos de um assunto que já se arasta por muito tempo e
niguem fais nada pois não esta avendo entereci por parte da promotoria pois não
temos visita nem banho de sol vivemos 24 horas trancados como animais.
(...) (faltam alguns trechos descritos apenas na reportagem)
Local do poder judiciario
Todos os conteúdos escritos ao Sr. juiz tem validade ao Sr. Promotor.
Contamos com suas presentças com urgencia pois tem muita roupa suja pra ser
lavada junto a justiça.
Sem mais.
Ass. Os presos como um todos desta casa penal.
E o prazo é até o final da outra semana
Nós não estamos de brincadeira não.
Se não tivermos uma resposta a cadeia vai pro chão.
Transcrição:
Transcrição:
(página 01)
E ai Balbino quem fala é o irmão Daniel, olhe só Balgino to precisando que você
solucione uma questão pra mim se encontra na cela 06 uma pessoa de nome “Valter
Ricardo” ele virou evangelico, o que acontece é que ele ta envolvendo pessoas
inocente no “BO” dele, ele tá dizendo que um primo meu ta junto com ele na morte
de um político da região de São Julião – PI o que é mentira e além do mais ele
andou falando que vai continuar acusando meu primo desse homicídio, quero que
você fale com ele ai pra tirar o nome do meu primo dessa branca pois meu primo é
um cara homem e não merece isso, tá ligado? A audiência será segunda-feira
(página 02)
Próxima e se ele voltar a acusar ele pode sofrer por isso. Você Balbino tá ligado que
a atitude desse cara é errada e mostre a ele diga pra ele qual a real e mande a
resposta urgente pra mim saber qual vai ser a dele.
263
Qual é a tese dele na audiência pois já tou sabendo que ele vai continuar
acusando e vai volta pra cá. Então veja ai se ele vai mudar a história ou vai acusar
Fico na fé e mande a resposta logo.
Ass: Magão Latro.
Pau – B –
Transcrição:
Transcrição:
Transcrição:
Salve Geral
Comunicado a todas as Autoridades do Poder Judiciário do Estado do Tocantins.
Vocês pensam que estamos só com apoio e conhecimento. Para quem pensa não
estamos não.
O comando (ilegível) existe e somos o Poder.
O que vier acontecer será de toda e total responsabilidade de vocês.
E essa são as reivindicações se a oprimição continua dentro do sistema
independente de qual presídio a chapa vai esquentar e sera dentro e fora do
presídio. O discaso com nossas visitas de nosso familiares e super lotação nos
presídios. E os desrespeito com nossa luta não sera mais tolerado e a cobrança
será severa.
Esse é só o começo se não quiser ver estado em chamas, de a atenção e devido
respeito com nossa Organização Não somos um grupo nem uma gangue de canto
de rua Somos facção Somos Comando Vermelho e somos o BRASIL todo. Hoje foi
um ônibus Amanha pode ser um quartel, uma delegacia, ou uma das suas viaturas.
E pense bem antes de qualquer decisão pois somos o crime e estamos
preparado para o problema.
Ass.
CV
265
Transcrição:
Um aviso te
dou é melhor voce
sumir se não quizer
perder a língua
ou terminar numa
vala morta
dona maria
(embaixo, há o desenho de uma cruz com os dizeres na vertical “você vai” e na
horizontal “morrer”)
CPPL 1 É CARRAPICHO
Transcrição:
Atenção siga as orientações e tudo correrá bem.
Não haverá feridos se você seguir atentamente os itens
Relacionados abaixo:
Não deixe o carro morrer.
Não desligue o rádio.
Não desligue o ar condicionado.
Não use setas e não ligue o pisque alerta
Celular
Não ligue para ninguém!
Só atenda para receber instruções “desconhecido” ou “Viva Democracia”
Entre por detrás da Igreja do Carmo, no centro de Santo Andre, passe pelo
cartório e estacione na Oliveira Lima.
Não tente sair do carro em nenhum momento. Temos controle via rádio com o
artefato explosivo.
“Só saia do carro quando receber ligação de “desconhecido” ou “Viva Democracia”
autorizando tua saída, com ao código DEMOCRACIA SEMPRE!
Essa ligação será feita logo após as exigências serem atendidas pela imprensa.
Fique calmo, respire e espire devagar.
267
Transcrição:
LEO 1º AVISO
GUERRA
Com você não tem mais jeitinho
Você arruinou o grupo na cidade e agora
O jeito é mudar o cardápio
Só alegria até agora para aliados do Zé
‘Regra do jogo’
É melhor falar menos, pois você já sabe quem fala demais amanhece como. Como
diz Zé, ta comendo muito mel. Cuidado.
É assim em todo lugar
A gente mata.
268
Transcrição:
LEO 2º AVISO
APAGAREMOS VOCÊS E SEM MEDO.
CHICÚ 1º AVISO
UM INTELECTUAL, IMPERADORZINHO
QUERENDO O QUÊ? TENS FILHO NÉ_
vocês conhecem o sistema bem.
TODOS CALEM A BOCA, SE NÃO UM VAI SER COM A PICARETA,
OUTRO NA LIXEIRA E UM COMO GOSTA DE PNEU SERA
CREMADO COM ELES.
WANDER 1º AVISO
Conhecemos os seus passos.
Não tire o que é meu.
Transcrição:
LEO 2º AVISO
APAGAREMOS VOCÊS E SEM MEDO.
Leozinho como você gosta de pó poderá virar pó. Vc acha que enganha
Vc é o maior picareta.
CHICÚ 1º AVISO
Conhecemos os seus passos.
TODOS CALEM A BOCA, SE NÃO UM VAI SER COM A PICARETA,
OUTRO NA LIXEIRA E UM COMO GOSTA DE PNEU SERA
CREMADO COM ELES.
WANDER 1º AVISO
SEUS PASSOS ESTÃO MONITORADOS.
SABEMOS ONDE TE ENCONTRARNOS.
FINAIS DE SEMANA. POLITICOZINHOS!
FIQUE ATENTO
Vocês conhecem o sistema bem.
Não tirem o que é meu.
Transcrição:
Viemos aqui por meio dessa carta informar que nos do xxxxx estamos exigindo a
transferência de um irmão nosso: xxx que esta cercado pelos vermes do xxx, e esse
recado vai pro juiz, do legado, promotor, pra xxx que desacreditar do xxx da capital,
somos o crime organizado, e se as nossas exigências não forem obdesidas, senador
Pompeu vai pegar fogo órgão publico var o nosso alvo.
Ass: xxxx
270
Transcrição:
ATENÇÃO
COMUNICADO EM GERAL
NOS QUE SOMOS CRIAS E ORIUNDOS DE NOSSA CIDADE
VINHEMOS ATRAVÉS DESTE COMUNICADO INFORMAR PARA AQUELES QUE
VEM DESRESPEITANDO TODAS AS COMUNIDADES E A TODOS OS CIDADÃOS
DAS QUEBRADAS DA CIDADE DE HORIZONTE.
QUE NOS NÃO PERMITIMOS MAIS ESSE TIPO DE ATITUDES QUE ESTÃO
AGINDO EM NOSSAS QUEBRADAS. AS QUAIS SÃO ROUBOS DE PEQUENOS
PORTE. DO TIPO CELULARES, BICICLETAS, COMERCIOS E ETC...
ENTÃO QUEREMOS DEIXAR BEM CLARO PARA OS QUE JÁ VEM AGINDO
DESSA FORMA HA MUITO TEMPO QUE SI VINHER A DESRESPEITAR OS
NOSSOS BAIRROS. MANGUEIRAL, MUTIRÃO, SEM TERRA, PLANALTO,
PARQUE DIADEMA, CARANDIRUM 1.2.3.4 , ÁREA VERDE E AS ADJACÊNCIA
POR PERTOS DESSES BAIRROS E DE TODAS AS COMUNIDADES. NOS
VAMOS COBRAR A ALTURA ONDE O PODERÁ PAGAR ATÉ COM SUA
PRÓPRIA VIDA.
ENTÃO MEUS FILHOS AMADOS QUE DEUS TOQUE NO CORAÇÃO DE CADA
UM DE VOCÊS QUE VEM AGINDO DESSA FORMA QUE NÃO PASSA POR CIMA
DA NOSSA PALAVRA E NEM TRAGA PROBLEMAS PARA SUAS QUEBRADAS
PARA QUE NÃO VENHAM PERDER SUAS VIDAS. E AQUELES QUE QUISEREM
O NOSSO RESPEITO E APOIO AGINDO PELO CERTO PODE CONTAR COM
NÓS. AGRADEÇO A ATENÇÃO E A COMPREENSÃO DE TODOS.
ASS. O CRIME DO ESTADO DO CEARÁ E DA CIDADE DE HORIZONTE. G.D.E.
271
Transcrição:
F.I.P.I
D.P.O.E
Atenção
Salve geral seu governador de merda se você não parar com a opressão dentro do
sistema penitenciario (CPPL1, CPPL2, CPPL3, CPPL4, CPPL5, CPPL6, Carrapicho,
Pacatuba, IPPO2, Auri moura costa mas Principalmente na CPPL1, Onde se
encontra vários irmãos e cmpanheiros nossos sendo espancados, oprimidos e
mortos pela POLICIA (F-I-P-I e D-P-O-E) Se não retirarem esses policiais de dentro
das Cadeias Vamos Transformar o Estado do Ceará no Caos e Não vai ter mais
PAZ. (Nós gostamos de PAZ mais não fugimos da GUERRA!!!
Transcrição:
Viemos por através de este comunicado trocar um papo para toda comunidade, pois
enfrentamos varias lutas para a comunidade estar da forma que esta!!!
272
Viemos deixar todos cientes que em cima de qualquer situação que vier ocorrer
dentro da comunidade para não chamar a policia estar chamando-nos que esta de
linha de frente da quebrada, que estaremos dando o apoio necessário...
Viemos então trocar um papo para evitar problemas futuros!! Não iremos admitir:
Desrespeito com moradores, usar droga na porta dos moradores, trazer veiculo
roubado para dentro da comunidade, durante o horário que as crianças forem para a
escola evitar ficar fumando maconha nas praças, não vamos admitir que ninguém
fique brigando no meio da rua, queremos respeito de um com o outro que aquele
que vier a passar por cima da nossa disciplina estaremos trocando um papo e
pedindo cobrança a altura.
Transcrição:
Se o Uber entrar em Floripa tu vai pra vala seu plaiboi filho da puta
deixa os irmãos taxistas em paz seu jaguara verme
Transcrição:
Assinado:
PRIMEIRO COMANDO CApital – 1533
Transcrição:
(primeira página)
SINDICATO DO CRIME DO RN
COMUNICADO
Transcrição:
GUARDIÕES DO ESTADO
AVISO PARA GOVERNO CORRUPTOS SE MEXER COM NAS UNIDADES
PRISIONAIS IGUAL ESTÃO FAZENDO IREMOS PARAR O ESTADO DO CEARÁ E
EXPRODIR A SECRETARIA DE SEGURANÇA E AQUELE AVISO NA
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CARRO BOMBAS VAMOS FAZER VALER
DESSA VEZ. GOVERNO CORRUPTOS PAREM AGORA OU CEARÁ IRA VIVER
UM MÊS DE TERROR ATENTADOS E EXPLOSÕES NOS PRÉDIOS PUBLICOS
TODOS INOCENTES MORTOS SERÃO GOVERNO RESPOSABILIZADOS POIS
IREMOS ATACAR OS ORGÃOES PÚBLICOS E PARA O ESTADO AQUELES
FUNCIONARIOS PUBLICOS DO GOVERNO QUE NÃO SAIAM DE SUAS CASAS
POIS PODERAM SOFRER NESSA GUERRA CONTRA O GOVERNO ACASO
NOSSA ORDEM NÃO SEJA ACATADO
QUEREMOS TRANSFERÊNCIA DE MEDIATO DA CPPL2 OU TIRA OU NÃO VAI
PARA OS ATAQUES!
GDE745
Transcrição:
ATENÇAO
AQUE E A G.D.E PORRA VOCES VEM COM OPRESSAO ENTAO NÓS VAI
TREMER O ESTADO SE VOCES NAO NOS ATENDER.