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ESCOLA DE ENSINO MÉDIO SARANDI

ENSINO MÉDIO
3ºANO

O Hotel Atlântico de João Gilberto Noll

Estudante(s): Gabriel Marchioro


Componente Curricular: Literatura
Professor(a): Jocélia B. Faccenda

Sarandi, julho de 2021


João Gilberto Noll e o Hotel Atlântico

O seguinte trabalho tem o objetivo de trazer informações sobre João


Gilberto Noll, um dos mais importantes escritores gaúchos da última metade do
século passado, dando uma biografia sobre o autor e também indicando sua
técnica literária. Ainda, trará uma análise de uma das principais obras de Noll,
O Hotel Atlântico.
1.BIOGRAFIA DE JOÃO GILBERTO NOLL
João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre no ano de 1946 e morreu na
mesma cidade em 2017, vítima de um mal súbito. Teve formação superior em
no curso de Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
onde foi companheiro de Caio Fernando Abreu, outro escritor de renome no
período contemporâneo.
Noll publicou sua primeira obra em 1980, o livro de contos O Cego e a
Dançarina, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de 1981 como autor revelação na
categoria de literatura adulta. Foi ganhador desse mesmo prêmio em cinco
outras ocasiões: 1994 (Haramada - melhor romance), 1997 (A céu aberto -
melhor romance), 2004 (Mínimos Múltiplos Comuns - contos e crônicas), 2005
(Lorde - melhor romance) e 2020 (Lorde - melhor publicação estrangeira.
Analisando a quantidade de premiações recebidas por ele é perceptível
que João Gilberto Noll foi muito aclamado pelos críticos e jornalistas, tanto que
sua obra Haramada é considerada uma das cem principais obras da literatura
brasileira. Mesmo com todo o reconhecimento dos segmentos mais técnicos e
analistas, Noll não é um autor de tanto renome para o público em geral, muito
por causa de suas técnicas literárias e de narrativa que tornam suas obras um
tanto complexas para o leitor comum. As histórias criadas pelo gaúcho também
foram adaptadas ao cinema, como Haramada em 2003 e O Hotel Atlântico em
2009.
Abaixo, sua lista de obras, contendo suas 19 publicações mais
significantes:
 O cego e a dançarina (1980)
 A fúria do corpo (1981)
 Bandoleiros (1985)
 Rastros do verão (1986)
 Hotel Atlântico (1989)
 O quieto animal da esquina (1991)
 Harmada (1993)
 A céu aberto (1996)
 Contos e Romances Reunidos (1997)
 Canoas e marolas (1999)
 Berkeley em Bellagio (2002)
 Mínimos Múltiplos Comuns (2003)
 Lorde (2004)
 A máquina do ser (2006)
 Acenos e afagos (2008)
 O nervo da noite (2009/juvenil)
 Sou eu! (2009/juvenil)
 Anjo das ondas (2010)
 Solidão continental (2012)

2. O ESTILO DE JOÃO GILBERTO NOLL


Como já foi dito, o escritor porto-alegrense foi muito aclamado pela
crítica, mas pouco reconhecido pelo público em geral, e isso se deve à sua
técnica de escrita, juntamente com a temática subjetiva e enredos
interpretativos que utilizava em seus textos.
Noll é um escritor inserido na literatura contemporânea, que é
polissêmica e contrastante com a literatura de moldes clássicos. Utiliza em
seus textos uma linguagem “cifrada, seca e fotográfica e com personagens,
que bem representam o desassossego, a fragmentação, o insólito e a solidão,
próprios do homem pós-moderno e da respectiva relação conflituosa com o seu
tempo (COSTA,2009)”.
O escritor gaúcho caracteriza-se, por fim, como um escritor de
descaminhos e experiências sem limites, que não poupa palavras para
caracterizar um sujeito fragmentado que vive em um não-lugar com relações
sociais e emocionais vazias.

3. O HOTEL ATLÂNTICO
O livro do escritor porto-alegrense traz em si um caráter intrigante e que
desafia o leitor a uma leitura mais profunda, algo típico da literatura
contemporânea. Sua temática abre espaço para a discussão de temas sociais
e urbanos, como as incertezas do sujeito perante seu tempo, a solidão e o
isolamento (temáticas que podem, inclusive ser relacionadas com o contexto
pandêmico).
Em O Hotel Atlântico, o protagonista é um homem anônimo que narra a
própria história, não deixando que o leitor explore seu inconsciente, isto é,
saiba o que se passa em sua cabeça. Num momento inicial, o leitor não recebe
pistas o suficiente para sequer teorizar sobre o personagem principal, seu
passado e sua identidade. O protagonista se apresenta na história com
características de um andarilho numa massa qualquer de pessoas. Essa faceta
desse personagem é uma clara relação com as metrópoles da modernidade,
que dão uma sobrecarga de informações audiovisuais sem explicitar algo
importante.
O espaço primário da narrativa é um hotel de baixa qualidade em
Copacabana. Nesse hotel a polícia encontra um cadáver, vítima de um
assassinato, e é possível perceber a indiferença que o narrador sente ao
presenciar um acontecimento que normalmente seria chocante.
Com o prosseguimento da história, o narrador se depara com outros dois
cadáveres, uma americana chamada Susan, que viaja ao lado do protagonista
num ônibus em Florianópolis e que, por problemas familiares, supostamente se
suicidou, e uma anciã cujo nome era Diva, que tudo leva a crer ter morrido de
velhice ao dar uma benção ao narrador. Do mesmo modo que no primeiro
caso, o protagonista age com a mesma indiferença, dando às mortes um
significado trivial e corriqueiro. Esse fato revela uma “liberdade” do homem
anônimo no que diz respeito às relações sociais, pois não sofre com elas ao
não experimentá-las.
O narrador-protagonista incorpora, de certa forma, novos personagens
de acordo com os locais que passa, algo que revela seu caráter de ser um
sujeito de desconformidades, que se utiliza de “máscaras” para ironizar a
realidade na qual está inserido. Essa constatação se relaciona diretamente
com um fato posteriormente indicado na trama de que o homem é um ator
fracassado. O progresso da viagem anuncia o declínio da vida do anônimo, um
fim motivado pelo protagonista desprezar seu passado e não ter esperanças de
se projetar no futuro.
Em determinado momento da trama ele chega em Arraiol, uma pequena
cidade no Sul do país, e sofre um acidente que o faz ter de amputar uma de
suas pernas. Nesse momento ele tem relações com diversos personagens: o
cirurgião Dr. Carlos é um candidato a prefeito que o ajuda com muita
disposição por acreditar que o homem seria um ator de sucesso, mas se frustra
com ele, abandonando-o a sua própria sorte no hospital depois de descobrir a
verdade. Diana é a filha do cirurgião que nutre um amor por ele, mas que perde
seus sentimentos depois de testemunhar as condições em que o homem se
encontra depois da amputação. Por fim, conhece um enfermeiro chamado
Sebastião, a única pessoa que realmente age como um amigo para o
personagem principal durante a trama.
As condições do narrador depois da amputação mudam drasticamente,
pois ele passa a ter uma enorme dependência dos outros, algo que era
praticamente impossível de ser imaginado no começo da história. O
personagem reconhece que não pode empreender novos roteiros nem irromper
novas distância, e se revela seu fracasso enquanto sujeito.
Ele, com a ajuda do enfermeiro, foge do hospital sob o pretexto de visitar
a avó em Porto Alegre, mas a senhora havia morrido dois dias antes de sua
chegada lá. Os amigos se hospedam no Hotel Atlântico, e decidem ir à praia
para conhecer o mar e realizar o desejo de Sebastião. O protagonista começa
a perder os sentidos e morre de frente para o mar, sem que saiba tanto de seu
passado ou de seu subconsciente, mas seu momento final serve como uma
“redenção” para um personagem coberto de tantas incertezas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Maria Margarete. Fragmentos do viver itinerante em Hotel Atlântico de


João Gilberto Noll. São Cristóvão, agosto de 2009. Disponível em:
https://docplayer.com.br/2144518-Hotel-atlantico-de-joao-gilberto-noll.html
Acesso em: 17/07/2021
SIQUEIRA, Emanuela. Livro: O Hotel Atlântico de João Gilberto Noll. 2011.
Disponível em: https://www.interrogacao.com.br/2011/03/livro-hotel-atlantico/
Acesso em: 17/07/2021
LEITE, Virna Vieira. O abismo da Angústia em O Hotel Atlântico, de João
Gilberto Noll. Revista Ufsm, Santa Maria, v. 15, n. 8, p. 1-3, ago. 2008.
Disponível em:
http://w3.ufsm.br/literaturaeautoritarismo/revista/num15/art_08.php. Acesso em:
17 jul. 2021.

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