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ENSINO MÉDIO
3ºANO
3. O HOTEL ATLÂNTICO
O livro do escritor porto-alegrense traz em si um caráter intrigante e que
desafia o leitor a uma leitura mais profunda, algo típico da literatura
contemporânea. Sua temática abre espaço para a discussão de temas sociais
e urbanos, como as incertezas do sujeito perante seu tempo, a solidão e o
isolamento (temáticas que podem, inclusive ser relacionadas com o contexto
pandêmico).
Em O Hotel Atlântico, o protagonista é um homem anônimo que narra a
própria história, não deixando que o leitor explore seu inconsciente, isto é,
saiba o que se passa em sua cabeça. Num momento inicial, o leitor não recebe
pistas o suficiente para sequer teorizar sobre o personagem principal, seu
passado e sua identidade. O protagonista se apresenta na história com
características de um andarilho numa massa qualquer de pessoas. Essa faceta
desse personagem é uma clara relação com as metrópoles da modernidade,
que dão uma sobrecarga de informações audiovisuais sem explicitar algo
importante.
O espaço primário da narrativa é um hotel de baixa qualidade em
Copacabana. Nesse hotel a polícia encontra um cadáver, vítima de um
assassinato, e é possível perceber a indiferença que o narrador sente ao
presenciar um acontecimento que normalmente seria chocante.
Com o prosseguimento da história, o narrador se depara com outros dois
cadáveres, uma americana chamada Susan, que viaja ao lado do protagonista
num ônibus em Florianópolis e que, por problemas familiares, supostamente se
suicidou, e uma anciã cujo nome era Diva, que tudo leva a crer ter morrido de
velhice ao dar uma benção ao narrador. Do mesmo modo que no primeiro
caso, o protagonista age com a mesma indiferença, dando às mortes um
significado trivial e corriqueiro. Esse fato revela uma “liberdade” do homem
anônimo no que diz respeito às relações sociais, pois não sofre com elas ao
não experimentá-las.
O narrador-protagonista incorpora, de certa forma, novos personagens
de acordo com os locais que passa, algo que revela seu caráter de ser um
sujeito de desconformidades, que se utiliza de “máscaras” para ironizar a
realidade na qual está inserido. Essa constatação se relaciona diretamente
com um fato posteriormente indicado na trama de que o homem é um ator
fracassado. O progresso da viagem anuncia o declínio da vida do anônimo, um
fim motivado pelo protagonista desprezar seu passado e não ter esperanças de
se projetar no futuro.
Em determinado momento da trama ele chega em Arraiol, uma pequena
cidade no Sul do país, e sofre um acidente que o faz ter de amputar uma de
suas pernas. Nesse momento ele tem relações com diversos personagens: o
cirurgião Dr. Carlos é um candidato a prefeito que o ajuda com muita
disposição por acreditar que o homem seria um ator de sucesso, mas se frustra
com ele, abandonando-o a sua própria sorte no hospital depois de descobrir a
verdade. Diana é a filha do cirurgião que nutre um amor por ele, mas que perde
seus sentimentos depois de testemunhar as condições em que o homem se
encontra depois da amputação. Por fim, conhece um enfermeiro chamado
Sebastião, a única pessoa que realmente age como um amigo para o
personagem principal durante a trama.
As condições do narrador depois da amputação mudam drasticamente,
pois ele passa a ter uma enorme dependência dos outros, algo que era
praticamente impossível de ser imaginado no começo da história. O
personagem reconhece que não pode empreender novos roteiros nem irromper
novas distância, e se revela seu fracasso enquanto sujeito.
Ele, com a ajuda do enfermeiro, foge do hospital sob o pretexto de visitar
a avó em Porto Alegre, mas a senhora havia morrido dois dias antes de sua
chegada lá. Os amigos se hospedam no Hotel Atlântico, e decidem ir à praia
para conhecer o mar e realizar o desejo de Sebastião. O protagonista começa
a perder os sentidos e morre de frente para o mar, sem que saiba tanto de seu
passado ou de seu subconsciente, mas seu momento final serve como uma
“redenção” para um personagem coberto de tantas incertezas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS