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UNIVERCIDADE ESTÁCIO DE SÁ

KARINA MOREIRA DE SOUZA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Monografia apresentada ao Curso de Assitênte


Social do Estácio de Sá com requisito à obtenção
do título Bacharelado em Assistente Social.
Aluno: Karina
Orientador:

Cabo Frio
2017
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FOLHA DE APROVAÇÃO

Aluno: Karina

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Orientador:__________________________________

Banca Examinadora:

________________________________________________________
Profº.

______________________________________________________
Profª Drª:

_____________________________________________________
Profº
3

RESUMO

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a violência da mulher e o processo


pelo qual são transmitidos ao indivíduo os conhecimentos e atitudes necessárias
para que haja uma mudança na formação e transformação da sociedade. Nas
camadas mais mais simples, a aquisição de conhecimento não exigia
estabelecimentos especialmente destinados às tarefas educativas e uma
transformação de varoleres éticos e morais no estabeleciemnto do convivio
conjungal; a aprendizagem se realizava naturalmente, pois a formação
educacional estabelecida pelo o estado de direito, mudará o conceito da violência
e participação dos trabalhos comuns e conforme crescia, o papel do
desenvolvimentonas comunidades definia-se cada vez mais. Mas, a
especialização de tarefas dentro da sociedade levou à criação da aprendizagem
diferenciada e a cristalização de classes sociais e estabelecendo o conceito
natural de convivencia armoniosa. Podemos percebe o papel do estado no avanço
no combate a violência contra as mulheres no Brasil, na pesquisa bibliográfica.
Nesta pesquisa, pude abordas a importância do papel do Estado e a luta
contra a violência Doméstica, principalmente, reconhecer as políticas públicas que
propiciam o processo de empoderamento à estas mulheres e propõe sugestões
de políticas públicas que propiciem seu empoderamento, com vistas ao
rompimento da situação de violência, tais como: capacitação permanente dos
profissionais que trabalham com mulheres em situação de violência, voltada
à igualdade entre mulheres e homens, direitos humanos e cidadania,
principalmente nas áreas de saúde, segurança pública e judiciário;

Palavras chaves: Violência, Mulher e Leis.

Cabo Frio
4

2017

Sumário

Introdução .....................................................................................................................5
Capitulo .1 Analisar os conceitos Históricos da Lei de Combate a Violência ..............7
1-1- Compreender os avanços e desafios para a concretude da Lei Maria da penha.7
1.2 - Competência para julgar crimes de violência doméstica..................................10
1.3- Levantamentos de Dados de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica......... 14
Capitulo – 2 Violência Contra Mulher.........................................................................17
2.1 - Conceito de Violência........................................................................................17
2.2 – Violência Inter- Pessoal.....................................................................................19
2.3 – A Violência no Brasil.........................................................................................21
2.4 – Violência Contra Mulher no Brasil....................................................................25
Considerações Finais...............................................................................................29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...........................................................................31
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Cabo Frio
2017

INTRODUÇÃO

A pesquisa a ser realizada neste trabalho é classificada como pesquisa


bibliográfica, que trás um parâmetro dos pensamentos dos autores diante do tema
falado no trabalho ao qual é a violência doméstica contra a mulher. Com essa
pesquisa podemos relatar as diferenças de gênero e violência que a mulher sofre
durante um relacionamento conturbado e com isso mostramos tanto a fala do autor
quanto o pensamento da sociedade machista e patriarca lista que ainda existe.
Esta pesquisa permite que mostremos um pouco da violência contra a mulher no
Brasil contemporâneo como um perverso desafio ainda na sociedade brasileira,
mesmo ainda com o surgimento da Lei Maria da Penha.

Segundo Carlos Gil (2002, pg. 44).

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material


já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido
algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas
desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. 1

As angustiam pessoais articuladas à convergência como projeto ético


político do Serviço Social ressaltam a opção pelo objeto.
Isto posto observamos que o traço machista e patriarcal, característica histórica da
sociedade brasileira, ainda constitui um perverso desafio, vide as taxas de violência
contra a mulher nosso objeto de estudo.
Segundo o IBGE, até o primeiro semestre de 2012, foram feitos 47.555
registros de atendimento na Central de Atendimento à Mulher. Durante todo o ano de
2011, foram 74.984 registros, que foi bem inferior aos 108.491 de 2010. O IBGE
também mostra o número de registros dos tipos de agressões, o maior número é
para relatar a violência física foram 63.838 em 2010, 45.953 em 2011 e 26.939 até
1
CARLOS, Antônio Gil Projeto de Pesquisa. Ed.Atlas. S.A . 2ª ed.São Paulo, p.44, 2002.
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julho de 2012. E violência sexual como estupro exploração sexual e assédio no


trabalho aparecem em 5° lugar com 2.318 casos em 2010, 1.298 em 2011 e 915 em
2012.
Com esses dados podemos ressaltar que a violência doméstica contra a
mulher ainda está em desafios para haver um controle maior, pois hoje temos uma
lei que ampara a mulher com seus direitos de cidadã, podemos mostrar as
características que a violência doméstica trás para a mulher.
Quando falamos da palavra violência nos remetemos a vários tipos de pensamentos,
mas ao defini-la podemos chegar a uma conclusão de ações que nos mostra no
cenário da vida real. E com ela está acompanhado o uso da força, poder, abuso,
marcas, ferimentos, sofrimentos e ações que levam até a morte.
A violência ela está presente em qualquer classe social, e isso nos trás a
uma questão social grave. Ao qual essa questão ela sempre esteve presente em
nossa sociedade, trazendo conseqüências com vários tipos de agressões que muitas
das vezes não são totalmente atendidas como deveria ser.

Para Chauí (apud Azevedo, 1985, p.18),

Violência é uma realização determinada das relações de força


tanto em termos de classes sociais quanto em termos
interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como violação
e transgressão de normas, regras e leis, preferiram considerá-
la sob dois outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão
de uma diferença e de uma assimetria numa relação
hierárquica de desigualdade, com fins de dominação, de
exploração e de opressão. Isto é, a conversão dos diferentes
em desiguais e a desigualdade em relação entre superior e
inferior. Em segundo lugar, como a ação que trata um ser
humano não como sujeito, mas como uma coisa. Esta se
caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silencio de
modo que, quando a atividade ou fala de outrem são impedidas
ou anuladas, há violência. Portanto, a violência é uma relação
de forças caracterizada, num polo, pela dominação e, no outro,
pela coisificação.
7

Podemos dizer que a violência traz um poder de totalidade dentro da


relação a ponto de mostrar medo, tensão, sofrimento e até mesmo levando algumas
mulheres até a morte.
Na realidade, o trabalho de pesquisa ainda continua; considera-se ainda
haver fontes que devem ser consultadas. Mas tornou-se relevante divulgar os
primeiros apontamentos no intuito de contribuir com os estudos sobre educação no
no periodo contemporaneo do país, quando as autoridas tiveram significativo papel
na unificação do combate contra violência feminina.
Além disso, com esta divulgação pretende-se abrir a possibilidade de
contatar e/ou trocar informações com outros estudiosos da área.

Capitulo I – Violência Contra Mulher


1.1- Analisar os antecedentes históricos da Lei de combate à violência
A violência contra a mulher é uma indagação de construção histórica —
portanto, que traz em seu objetivo uma relação com as categorias de gênero, classe
e raça/etnia e suas relações de poder. Pode ser considerada como toda e qualquer
conduta de gênero, que ou até podendo causar morte, sofrimento e violência física,
sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada.
Segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) agredir, matar, estuprar
uma mulher ou uma menina são fatos que têm acontecido ao logo da história em
praticamente todos os países ditos civilizados e dotados dos mais diferentes regimes
econômicos e políticos. A ONU realizou o primeiro Dia Internacional da Mulher
depois da mobilização contra o tipo de violência no ano de 1975, a ONU com sua
comissão de Direitos Humanos apenas há dez anos na reunião de Viena de 1993
inclui um capítulo de denuncia e propõe medidas para coibir a violência de gênero.
No Brasil, o pretexto do adultério, o assassinato de mulheres era legitimo
antes da República. Koener mostra que relação sexual da mulher fora do casamento
constituída adultério – o que o livro v das Ordenações Filipinas permita que o marido
matasse a ambos. O Código Criminal de 1930 atenuava o homicídio praticado pelo
marido quando houvesse adultério. Observe-se que, se o marido mantivesse relação
constante com outra mulher, esta situação constituía concubinato e não e não
adultério. Posteriormente, o Código Civil 1916 alterou esta disposição considerando
o adultério de ambos os cônjuges razão de desquite.
8

A Organização das Nações Unidas (ONU) 1949 e 1962 relata que baseados
em provisões da Carta das Nações Unidas — ela afirma que expressamente os
direitos são iguais entre homens e mulheres e na Declaração Universal dos Direitos
Humanos declara que entre o homem e mulher, existe a liberdade e direitos
humanos e devem ser aplicados igualmente para ambos.
Em 1979, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotaram a Convenção de
exclusão de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), mas
conhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa Convenção visou a
relatar os direitos da mulher na busca de igualdade de gênero, para repreender
qualquer tipo de descriminação.
Através do Movimento Feminista com relatos de histórias, reivindicações e
conquistas por direitos das mulheres, que se deram acontecimentos á situações
femininas.
O caminho entre os direitos das mulheres e as lutas para a igualdade das
minorias em geral estiveram sempre entrelaçados. Na época do Brasil
Colônia (1500-1822), pouco foi conquistado. Vivia-se uma cultura enraizada de
repressão às minorias, desigualdade e de patriarcado. As mulheres eram
propriedade de seus pais, maridos, irmãos ou quaisquer que fossem os chefes da
família. Nesse período, a luta das mulheres era focada em algumas carências
extremamente significativas à época: direito à vida política, educação, direito ao
divórcio e livre acesso ao mercado de trabalho.
Durante o Império (1822-1889), passou a ser reconhecido o direito à
educação da mulher, área em que seria consagrada Nísia Floresta (Dionísia
Gonçalves Pin, 1819-1885), fundadora da primeira escola para meninas no Brasil e
grande ativista pela emancipação feminina. Até então não havia uma proibição de
fato à interação das mulheres na vida política, visto que não eram nem mesmo
reconhecidas como possuidoras de direitos pelos constituintes, fato que levou a
várias tentativas de alistamento eleitoral sem sucesso.
Algumas mudanças começam a ocorrer no mercado de trabalho durante as
greves realizadas em 1907 (greve das costureiras) e 1917, com a influência de
imigrantes europeus (italianos e espanhóis), e de inspirações anarco-sindicalistas,
que buscavam melhores condições de trabalho em fábricas, em sua maioria têxtil,
onde predominava a força de trabalho feminina. Entre as exigências das
paralisações, estava à regularização do trabalho feminino, a jornada de oito horas e
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a abolição de trabalho noturno para mulheres. No mesmo ano (1917), foi aprovada a
resolução para salário igualitário pela Conferência do Conselho Feminino da
Organização Internacional do Trabalho e a aceitação de mulheres no serviço público.
Ainda no início do século XX, são retomadas as discussões acerca da
participação de mulheres na política do Brasil. É fundada então, em 1922, a
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, onde os principais objetivos eram a
batalha pelo voto e livre acesso das mulheres ao campo de trabalho. Em 1928, é
autorizado o primeiro voto feminino (Celina Guimarães Viana, Mossoró-RN), mesmo
ano em que é eleita a primeira prefeita no país (Alzira Soriano de Souza, em Lajes-
RN). Ambos os atos foram anulados, porém abriram um grande precedente para a
discussão sobre o direito à cidadania das mulheres.
Alguns anos depois, em 24 de Fevereiro de 1932, no governo de Getúlio
Vargas, é garantido o sufrágio feminino, sendo inserido no corpo do texto do Código
Eleitoral Provisório (Decreto 21076) o direito ao voto e à candidatura das mulheres,
conquista que só seria plena na Constituição de 1946. Um ano após o Decreto de
32, é eleita Carlota Pereira de Queiróz, primeira deputada federal brasileira,
integrante da assembléia constituinte dos anos seguintes.
Durante o período que antecede o Estado Novo, as militantes do feminismo
divulgavam suas idéias por meio de reuniões, jornais, explicativos, e da arte de
maneira geral. Todas as formas de divulgação da repressão sofrida e os direitos que
não eram levados em consideração, eram válidas. Desta forma, muitas vezes
aproveitam greves e periódicos sindicalistas e anarquistas para manifestarem sua
luta, conquistas e carências.
Entre os dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil, o movimento perde muita
força. Destacando conquistas como a criação da Fundação das Mulheres do Brasil,
aprovação da lei do divórcio, e a criação do Movimento Feminino Pela Anistia no ano
de 1975, considerado como o Ano Internacional da Mulher, realizando debates sobre
a condição da mulher. Nos anos 80 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher, que passaria a Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, e passou a
ter status ministerial como Secretaria de Política para as Mulheres.
A partir da década de 60, o movimento incorporou questões que necessitam
melhoramento até os dias de hoje, entre elas o acesso a métodos contraceptivos,
saúde preventivo, igualdade entre homens e mulheres, proteção à mulher contra a
10

violência doméstica, equiparação salarial, apoio em casos de assédio, entre tantos


outros temas pertinentes à condição da mulher.
Com base no movimento feminista estamos vendo que a luta para combater a
violência domestica ainda é muito grande, pois o machismo ainda existe mesmo em
meio ao mundo atualizado e evolutivo que vivemos. No próximo texto abordaremos
os desafios e avanços que a Lei Maria da Penha nos trouxe para orientar as
mulheres vítimas de Violência Doméstica.

1.2 - Compreender os avanços e desafios para a concretude da Lei Maria da penha.

Assim, com a falta de conhecimento histórico da violência familiar contra a


mulher, era necessário um tratamento diferenciado para orientar as mulheres com
problemas de violência. Com a chegada da Lei 11.340 em 2006, criou-se mais do
que uma lei, um verdadeiro sistema voltado para atendimento às mulheres que estão
envolvidas em situações de violência doméstica.

Novos mecanismos de proteção buscam colocar a mulher a


salvo da agressão, havendo ate a possibilidade de ser
decretada a prisão preventiva do agressor Agora, de acordo
com a nova lei, a vitima será ouvida, agora sempre estará
acompanhada de defensor e recebera proteção não só da
autoridade policial, mas da própria justiça que, de forma
imediata, devera adotar medidas protetivas de urgência. (DIAS,
2007, p. 8).

Essa lei resulta de um projeto iniciado em 2002, que contou com a


participação de 15 ONGs que trabalham com violência doméstica. O Grupo de
Trabalho interministerial sob a coordenação da Secretaria Especial de Políticas para
as mulheres elaborou o projeto que, no final do ano de 2004, foi enviado ao
Congresso Nacional. Depois da realização de audiências públicas por todo o país, e
de algumas alterações feitas pelo Senado Federal, a Lei foi finalmente, em 7 de
agosto de 2006, sancionada pelo Presidente da República e passou a vigorar em 22
de setembro do mesmo ano.
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Trata-se sem dúvida de uma verdadeira mudança de quebra de paradigma no


enfrentamento à violência doméstica, que 10 anos depois, conquistou muitos
avanços e ainda encontra muitos desafios para ser alcançados, pois infelizmente
ainda existem mulheres presas em seu silêncio.
Esta é uma lei de caráter misto, que traz aspectos processuais e previsões
para a promoção de políticas públicas, prevendo em seu texto diversas medidas
protetivas e também a responsabilidade do Estado em ajudar na reconstrução da
vida das mulheres, de forma que entre nas áreas de cadastramento de programas
para a inclusão social, do governo federal, estadual e municipal; atendimento
especializado na saúde, com objetivo de preservar a integridade física e
principalmente psicológica da vítima; além de assegurar a manutenção do vínculo
trabalhista, caso seja necessário o afastamento do local de trabalho.
A lei nos respalda essa realidade em papel, mas infelizmente quando olhamos
para a pratica muitas das vezes ela não é realizada como deveria ser pois muitas
mulheres ainda não conseguem realizar esse procedimento de proteção que foi
criado por conta da falta de coragem que ainda não existe.
No que se refere aos meios de recuperação dos agressores, a Lei Maria da
Penha mudou a realidade processual dos crimes de violência doméstica e familiar
contra a mulher. Ao proibir a aplicação da Lei no 9.099/95, impossibilitou a punição
dos réus com penas pecuniárias (multa e cesta básica) e a aplicação dos institutos
despenalizadores nela previstos, como a suspensão condicional do processo e a
transação penal.

Ainda assim, o rol trazido pela Lei não é exaustivo, pois o art 7°
utiliza a expressão “entre outras”. Portanto, não se trata de
numerus clausus, podendo haver o reconhecimento de ações
outras que configurem violência doméstica e familiar contra a
mulher. As ações fora do elenco legal podem gerar a adoção
de medidas protetivas no âmbito civil, mas não em sede de
Direito Penal, pela falta de tipicidade. (DIAS, 2007, p. 46).

Com as palavras de Maria Berenice Dias afirma que não precisa de ações
para comprovar violência Doméstica e delitos, mesmo com ou sem crimes o correto
é denunciar e a autoridade entrar com o processo e encaminhar o agressor a
12

delegacia para mostrar que a Lei Maria da Penha ela tem respaldo de proteção a
mulher.
Com isso percebemos uma das mais importantes inovações da Lei Maria da
Penha onde reside seu verdadeiro alcance. Citamos:

[...] o conceito de violência doméstica adotado pela Lei


ultrapassa a limitada noção dos crimes de lesão corporal de
natureza leve ou ameaça prevista no Código Penal. Inscrevem-
se outras categorias que ampliam o conceito de crime e essas
passam a ser questionadas como ‘não jurídicas’. Igualmente, a
ruptura dogmática entre as esferas civil e penal, com a criação
de um juizado híbrido, sofre resistências, tanto de natureza
teórica quanto prática. No primeiro caso, pelo questionamento
dessa ruptura através do argumento da inconstitucionalidade e,
no segundo, pelas negativas de solucionar questões de
natureza civil/familiar e penal em um mesmo juizado.
(CAMPOS, 2011, p. 6-7).

A Lei também deixa claro que indiretamente, diz respeito ao conceito de família
e às uniões homoafetivas. No seu artigo 2º, dispõe que “Toda mulher,
independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual (...) goza, dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana” e o parágrafo segundo do artigo 5º reitera
que todas as situações que configuram violência doméstica e familiar independem
de orientação sexual.

O preceito tem enorme repercussão, Como é assegurada


proteção legal a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, isso
quer dizer que as uniões de pessoas do mesmo sexo são
entidades familiares. Violência doméstica, como diz o próprio
nome, é violência que acontece no seio de uma família. Assim,
a Lei Maria da Penha ampliou o conceito de família alcançando
as uniões homo afetiva. Pela primeira vez foi consagrada, no
âmbito infraconstitucional, a idéia de que a família não é
constituída por imposição da lei, mas sim por vontade dos seus
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próprios membros. Ao ser afirmado que está sob o abrigo da


Lei a mulher, sem distinguir sua orientação sexual, encontra-se
assegurada proteção tanto às lésbicas como às travestis, as
transexuais e os transgêneros do sexo feminino que mantêm
relação íntima de afeto em ambiente familiar ou de convívio.
Em todos esses relacionamentos as situações de violência
contra o gênero feminino justificam especial proteção (DIAS,
2007, p. 35).

Podemos vê que a lei deixa bem claro que não existe nenhum tipo de
preconceito para proteção, pois ela mostra que as classes, raças, etnia e orientação
sexual têm seus direitos fundamentais independentes.
Com a Lei Maria da Penha podemos resaltar algumas mudanças depois que a lei
foi criada com essas mudanças temos o livre acesso para denunciar os agressores
que ainda existe e muitas mulheres não conseguem se livrar de uma vida de
violência e de maus tratos.
Neste momento da contemporaneidade, a violência contra a mulher é uma
realidade bastante presente na vida das mulheres, se constituindo numa expressão
da questão social, a qual demanda intervenção do Estado via políticas sociais
públicas. Trata-se, pois, das desigualdades de gênero, raça e classe, portanto, um
dos objetos sobre os quais incide o trabalho dos (as) assistentes sociais, se
constituindo em “matéria prima” de sua intervenção.
Observando o contexto apresenta segundo o pensamento constituído pelo
autor verificamos, a apropriação das categorias relações sociais de gênero,
patriarcado e raça pelos(as) profissionais de Serviço Social se faz necessária para
uma apreensão crítica das relações sociais e suas múltiplas determinações para
além das classes, pois a realidade sobre a qual os(as) assistentes sociais se
debruçam é complexa e multifacetada, sendo necessário, portanto, desvendar seus
vários determinantes.
1.4 - Competência para julgar crimes de violência doméstica
Antes: crimes eram julgados por juizados especiais criminais, conforme a lei
9.099/95, onde são julgados crimes de menor potencial ofensivo.
Depois: com a nova lei, essa competência foi deslocada para os novos juizados
especializados de violência doméstica e familiar contra a mulher. Esses juizados
14

também são mais abrangentes em sua atuação, cuidando também de questões


cíveis (divórcio, pensão, guarda dos filhos, etc). Antes da Maria da Penha, essas
questões deveriam ser tratadas em separado na Vara da Família.
Detenção do suspeito de agressão
Antes: não havia previsão de decretação de prisão preventiva ou flagrante do
agressor.
Depois: com a alteração do parágrafo 9o do artigo 129 do Código Penal, passa a
existir essa possibilidade, de acordo com os riscos que a mulher corre.
Agravante de pena
Antes: violência doméstica não era agravante de pena.
Depois: o Código Penal passa a prever esse tipo de violência como agravante.
Desistência da denúncia
Antes: a mulher podia desistir da denúncia ainda na delegacia.
Depois: a mulher só pode desistir da denúncia perante o juiz.
Penas
Antes: agressores podiam ser punidos com penas como multas e doação de
cestas básicas.
Depois: essas penas passaram a ser proibidas no caso de violência doméstica.
Medidas de urgência
Antes: como não havia instrumentos para afastar imediatamente a vítima do
convívio do agressor, muitos mulheres que denunciavam seus companheiros por
agressões ficavam à mercê de novas ameaças e agressões de seus maridos, que
não raro dissuadiam as vítimas de continuar o processo.
Depois: o juiz pode obrigar o suspeito de agressão a se afastar da casa da
vítima, além de ser proibido de manter contato com a vítima e seus familiares, se
julgar que isso seja necessário.
Medidas de assistência
Antes: muitas mulheres vítimas de violência doméstica são dependentes de seus
companheiros. Não havia previsão de assistência de mulheres nessa situação.
Depois: o juiz pode determinar a inclusão de mulheres dependentes de seus
agressores em programas de assistência governamentais, tais como a Bolsa
Família, além de obrigar o agressor à prestação de alimentos da vítima.
Outras determinações da Lei 11.340
15

Além das mudanças citadas acima, podem ser citadas outras medidas
importantes:
1) a mulher vítima de violência doméstica tem direito a serviços de contracepção
de emergência, além de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s);
2) a vítima deve ser informada do andamento do processo e do ingresso e saída
da prisão do agressor;
3) o agressor pode ser obrigado a comparecer a programas de recuperação e
reeducação.
Portanto a Lei 11.340 ela veio com o mecanismo e sistema muito grande para
nos ajudar e proteger as mulheres vitima de violência doméstica, com a intenção de
muita melhoria.
1.3- Levantamentos de Dados de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica

Segundo a revista veja podemos vê que o Brasil é o quinto país com o número de
mulheres vítimas de violência Doméstica, dados do ano de 2015.
16

Segundo o Site Compromisso e Atitude nos relata os dados de denúncias que


ligaram para o 180 no ano de 2016 com os tipos de violências denunciadas.
17

Pesquisa em São Paulo mostra o número de mulheres que sofrem


violência doméstica no ano de 2013.
Com alguns gráficos podemos vê os diferentes tipos de dados
relacionados a violência doméstica e com o decorrer dos anos e com a chegada da
lei Maria da Penha nos mostra que muitas mulheres decidiram a denunciar os
agressores e não continuar em uma vida de maus tratos.

Capitulo 2 - A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

2.1 Conceito de violência.

Para começarmos este capítulo precisamos entender o que leva o ser


humano a cometer violência contra as mulheres no mundo principalmente no Brasil,
pois a violência não tem noção de fronteiras geográficas, raça, idade ou renda,
atingindo assim, crianças, jovens, mulheres e idosos. A cada ano é responsável pela
morte de milhares de pessoas em todo o mundo.
Para cada pessoa que morre devido à violência, muita outra são feridas ou
sofrem devido a vários problemas físicos, sexuais, reprodutivos e mentais. Com este
18

tema podemos verificar no ponto de partida a controvérsia, a complexidade da


locução violência. Essa polêmica tem dado causa a muitas teorias sociológicas,
antropológicas, psicológicas e jurídicas, por isso, a imensa dificuldade de um
tratamento científico do tema2.(Cavalcante, 2008, p.45).
A expressão violência é composto pelos prefixos vis, que significa força em
latim. Lembra idéias de vigor, potência e impulso.

Não há dúvidas de que o texto aprovado


constitui um avanço para a sociedade brasileira,
representando um marco indelével na história da
proteção legal conferida às mulheres. Entretanto, não
deixa de conter alguns aspectos que podem gerar
dúvidas na aplicação, e até mesmo, opções que revelam
uma formulação legal afastada da melhor técnica e das
mais recentes orientações criminológicas e de política
criminal, daí a necessidade de analisá-la na melhor
perspectiva para as vítimas, bem como discutir a melhor
maneira de implementar todos os seus preceitos. 3
(PERES, Andreia, p.26. 1996)

A etimologia da palavra violência, porém, mais do que uma simples força, a


violência pode ser compreendida como o próprio abuso da força. Violência vem do
latim violência, que significa caráter violento ou bravio. O verbo violare, significa
tratar com violência, profanar, transgredir.
De acordo com dicionário “Aurélio, significado da palavra homem:”
Mamífero, primata, bípede, com capacidade de fala, e constitui o gênero humano,
Individuo masculino do gênero humano, força, coragem, ou vigor. ” 4 IDEM
A Ação de brutalidade, abuso, constrangimento, desrespeito, discriminação,
impedimento, imposição, invasão, ofensa, proibição, sevícia, agressão física,
psíquica, moral ou patrimonial contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e
sociais definidas pela ofensa e intimidação pelo medo e terror.
“Segundo o dicionário Aurélio violência seria ato violento, qualidade de
violento ou até mesmo ato de violentar. Do ponto de vista pragmático pode-se
afirmar que a violência consiste em ações de indivíduos, grupos, classes, nações

2
CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. Violência Doméstica contra a mulher no Brasil. Ed. Podivm . 2ª ed. Salvador, Bahia,
p.45, 2008.
3
PERES, Andréia. A violência dentro de casa. Cláudia, p. 26, jul.1996.

4
HOLANDA, Aurélio Buarque de. Míni Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 11ª ed. Curitiba: posigraf, 2015.
19

que ocasionam a morte de outros seres humanos ou que afetam sua integridade
moral, física, mental ou espiritual”.
Em assim sendo, é mais interessante falar de violências, pois se trata de
uma realidade plural, diferenciada, cujas especificidades necessitam ser conhecidas.
Vale ressaltar que a violência ocorre em vários contextos e áreas, como por
exemplo, tanto no âmbito público quanto no âmbito privado. Segundo a OMS -
Organização Mundial de Saúde -, a violência pode ser classificada em três
modalidades.

2.2 - Violência inter-pessoal

É uma agressão que pode ser física ou psicológica, ocorrer tanto no espaço
público como no privado. São vítimas crianças, jovens, adultos e idosos. Neste tipo
de violência destaca-se a violência entre os jovens e a violência doméstica; violência
contra si mesmo - é aquela em que a própria pessoa se violenta, causando a si
mesmo lesões.
A violência coletiva em suas diversas formas recebe uma grande atenção
pública, pois, há conflitos violentos entre nações e grupos, terrorismo de Estado ou
de grupos, estupro como arma de guerra, guerras de gangues, em que ocorre em
toda a parte do mundo.
A violência urbana é aquela cometida nas cidades, seja em razão da prática
de crimes eventuais, seja pelo crime organizado. É um problema que aflige vários
países mundo afora.
Segundo pesquisadores eles acreditam que a violência é própria da
essência humana (do estado de natureza). Enquanto fenômeno estritamente
humano, a violência não pode ser percebida fora de um determinado quadro
histórico - cultural.
Assim como as normas de conduta variam do ponto de vista cultural e
histórico a depender do grupo que está sendo analisado, atos considerados violentos
por determinadas culturas não são assim percebidos por outras, como por exemplo,
as ablações do clitóris das crianças ocorrem diariamente em alguns países de
religião islâmica.
Nesses países são consideradas práticas normais pela maioria da
população mulçumana, além de não serem criminalizadas, diferentemente da
20

população ocidental, em que tem - se atos de violência e graves violações aos


direitos humanos.
Durante muito tempo, os castigos físicos infligidos a crianças e negros foram
considerados normais. Assim, também ocorria a violência contra a mulher 5, que era
considerada, até recentemente, como corriqueira e natural nas relações familiares
em virtude do poder que o homem detinha sobre a mulher em face de o pátrio poder
e do casamento.

É qualquer ato de violência que tem por base o


gênero e que resulta ou pode resultar em dano ou
sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica,
incluindo ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da
liberdade, quer se produzam na vida pública ou privada.
(Liane, 2005, p. 45)

Analisando esta afirmativa verificamos que a conseqüência imediata disto, é


que a violência é percebida de forma heterogênea e multifacetada, a partir da própria
estrutura simbólica vigente na sociedade. Pode-se verificar também que a percepção
contemporânea da violência foi ampliada não apenas do ponto de vista de sua
intensidade, mas igualmente na perspectiva de sua própria extensão conceitual.
Com o estudo da humanidade, dizemos que as noções de violento e
violência estão relacionadas à maldade humana, ou ao uso da força contra o fraco, o
pobre ou o destituído. Nesse âmbito, o pobre, o fraco e o destituído surgem quase
como que inocentes (como por exemplo, a criança que é espancada ou a mulher que
é violentada), sendo uma questão de categorização moral do que de pertinente
classificação econômica ou política.
Segundo alguns autores pode-se afirmar que a violência, assim como a dor,
a doença, a inveja, tem uma distribuição desigual na sociedade. Tem uma
distribuição apenas associativa com certas categorias sociais. Elas sorriem para os
pobres, muito mais do que para os ricos.6 (Cavalcante, 2008; Andréia, p 26, 1996.)
A violência seria resultante de um desequilíbrio entre fortes e fracos. Isso
envia um traço essencial do discurso de senso comum sobre a violência. A violência
em suas mais variadas formas de manifestação afeta a saúde por que representa

5
LIANE, Sonia, Rovinski, Reichert. Dano psíquico em mulheres vítimas de violência. ed. Lúmen Júris. Pg, 45, 2005.

6
Idem, p01
21

um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida,


produzem enfermidade, danos psicológicos e pode provocar a morte.

2.3.- A violência No Brasil.

Tendo em vista que a historias dos país ou qualquer outra sociedade


colonizada, foram praticadas diversas modalidades de violência no Brasil. Fato é
que, as várias culturas e sociedades não definiram e não definem a violência da
mesma maneira, mas ao contrário, dão-lhe conteúdos diferentes, segundos os
tempos e os lugares.7(Faria, 1997, p.33)
Certos aspectos da violência são percebidos da mesma maneira, porém,
nas várias culturas e sociedades, formando o fundo comum contra o qual os valores
éticos são erguidos. O estudo da violência e dos mecanismos desenvolvidos por
uma dada sociedade para combatê-la, constitui um campo aberto e fecundo para a
investigação histórica e sociológica do Brasil.
Pode-se considerar como ponto de partida a observação de que a violência
não é um fenômeno recente na sociedade brasileira 8, estando presente em seu
processo histórico, desde a colonização, desde a antiguidade clássica (greco-
romana) até nossos dias atuais. Podemos perceber que, em seu centro, encontra-se
o problema da violência e dos meios para evitá-la, diminuí-la e controlá-la.
A questão da violência ganhou um lugar tão importante na sociedade, que
chegou a constituir uma palavra – chave, presente nos diferentes discursos na
formação social brasileira. Podem-se citar como exemplo, as populações indígenas,
vítimas iniciais desse processo, que foram escravizadas ou exterminadas pelas
guerras empreendidas pelo conquistador português.
O segundo alvo da violência colonizadora foi a população negra. Sabe-se
que, entre os séculos XV e meados do século XIX, aproximadamente 30 milhões de
negros foram violentamente retirados de seu continente de origem, traficados,
mortos e transformados em escravos.
Vale lembrar também, que houve a transição do trabalho escravo para o
trabalho livre, na virada do século XIX para o XX, com a conseqüente contribuição

7
FARIA, M; NOBRE, M. Gênero e Desigualdade. São Paulo: SIOF, p. 9-33, 1997.

8
Ibidem, p.01
22

do mercado de trabalho capitalista que transformou a sociedade brasileira e fez com


que aparecessem as idéias de trabalho e a disciplina, com acentuada força e poder.
No século XX a história mundial foi marcada pela violência praticada por duas
grandes guerras que vitimaram milhões de pessoas.
Segundo Mirian Sagim no início do século XXI, tinha-se a expectativa de
que a sociedade estaria tão evoluída a ponto de conviver em paz e harmonia, porém,
a mídia mostra totalmente o inverso, continuando a denunciar o aumento sem
precedentes de várias formas de violência, seja pela prática de crimes, como
assassinatos, seqüestros, roubos, estupros, ocorridos nos mais variados lugares
brasileiros- é a chamada violência urbana. 9
Este tipo de violência é a mais visível modalidade que existe. A violência
menos visível continua escondida e pouco reconhecida. Por exemplo, a diferença
salarial entre homens e mulheres, entre pessoas brancas e negras, a prática da
violência doméstica que está escondida no que se chama de senso comum.
Em algum momento de nossas vidas, foi dito como são e o que valem as
coisas e os seres humanos, como devem ser avaliados e tratados e nós aceitamos
estas informações sem contestação. Quando o senso comum se cristaliza como
modo de pensar e de sentir de uma sociedade, forma o chamado sistema de
preconceitos.
Esse sistema de preconceitos ou representações permeia todas as
relações sociais, podendo afetar de forma profunda e negativa estabelecendo
diferenças entre as pessoas, negando direitos fundamentais e gerando conflitos.
Percebe-se com isto, que futuramente poderá acarretar efeitos devastadores
como, por exemplo, perda do respeito pela pessoa humana, restrição à liberdade,
introdução da desigualdade, etc. Diferentes preconceitos, na forma de
representação, permeiam a sociedade. Estão ligados á classe social, gênero, etnia,
faixa etária dentre outros.
Com isto, pode-se chegar à seguinte conclusão: O preconceito de cor e
gênero faz com que as pessoas negras e as mulheres sejam consideradas
inferiores, o que se reflete na deficiência de educação e, portanto, em menor acesso
a empregos e salários bem remunerados.

9
SAGIM, Mirian Botelho. A mulher como vítima de violência doméstica. Disponível em <
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/refased/article/viewFile/8049/5671> Acesso em 01 jun. 2008.
23

O preconceito e a discriminação estão bem claros nas indicações sócios -


econômicos que indicam que as mulheres, principalmente as negras são
discriminadas no mercado de trabalho quando não conseguem empregos ou
ocupam cargos secundários, apesar de serem bem qualificadas e instruídas ou
ainda quando percebem salários inferiores quando ocupam os mesmos cargos que
os homens e mulheres brancas.
Com isto, observamos que no Brasil há diversas formas de violência, como
por exemplo, a violência urbana que é a violência praticada pela discriminação
contra as minorias que são os negros, os índios, os idosos, as mulheres, crianças,
etc;10 A violência social em decorrência dos altos índices de desigualdades sociais e
pobreza, a violência doméstica, entre outras.
Não há um dado concreto ou uma única explicação sobre o crescimento da
violência no Brasil. Pode-se dizer que, certamente se encontra associado à lógica da
pobreza e da desigualdade socioeconômica. É fato que pobreza e desigualdade não
justificam, isoladamente, o acréscimo da violência.
Um exemplo disto é a sociedade hindu, que é pobre e profundamente
hierarquizada, mas não produz as mesmas manifestações de violência existentes no
Brasil. Os níveis salariais no Sudoeste da Ásia também são extremamente baixos,
mas a criminalidade nessa região tampouco é comparável aos índices brasileiros, no
entanto, não há como negar a relevância da desigualdade sócio-econômica na
explicação do crescimento da violência.
Para chegar perto da compreensão do aumento da violência criminal no
Brasil, exige-se a análise dos vários aspectos da denominada exclusão social, ou
seja, os excluídos, estes que não são simplesmente rejeitados físicos, geográfica ou
materialmente. Não somente do mercado e de suas trocas, mas de todas as
riquezas morais e espirituais.
Percebemos que seus valores não são reconhecidos, ou seja, há também
uma exclusão social cultural. Um forte exemplo é a pobreza que compreende um
aspecto da exclusão; a exclusão social que inclui os idosos, deficientes físicos, os
doentes crônicos dentre outras.
Analisando a violência contra a mulher e a violência doméstica, há uma
explicação ampla para sua grande ocorrência no Brasil. A situação não se apresenta

10
Ibidem, p.01
24

diferente dos demais países. Não está junta apenas a pobreza, desigualdade social
ou cultural.
Estas são modificações marcadas profundamente pelo preconceito,
discriminação e abuso de poder do agressor para com a vítima, que geralmente são
as mulheres, as crianças e os idosos, ou seja, pessoas que em razão das suas
peculiaridades uma pessoa idosa não consegue agir como uma pessoa jovem,
assim como uma criança não conhece meios para se defender.
A situação de vulnerabilidade na relação social e isto são
independentemente do país em que estejam morando. Estes são alguns elementos
nucleares desta forma de violência. Em virtude do quantum despótico existente na
maior parte dos relacionamentos afetivos, desta situação de força e poder que,
geralmente, detém o agressor em relação á vítima, esta é manipulada, subjugada,
violada e agredida psicológica, moralmente ou fisicamente.

2.4 - Violência contra a mulher no Brasil.

Segundo o estudo já observado anteriormente, a violência contra a mulher


não é nenhuma novidade diante da atual sociedade. Desde os tempos mais remotos
a violência já se fazia presente, não só no Brasil como também nos demais países. A
igreja evidentemente teve uma grande influência na idéia de submissão da mulher
ao homem.
Na Bíblia Sagrada, em seu primeiro livro chamado “Gênesis”, a mulher é
construída a partir de uma costela do homem, vindo depois da existência deste, para
fazer-lhe companhia11. No mesmo livro bíblico, o primeiro pecado do mundo é
provocado pelo desejo feminino e pela desobediência de Eva ao oferecer do fruto
proibido a Adão.
Entanto a escritura Sagrada (bíblia) impõe uma condição secundária à
mulher, e ainda, atribui-lhe a culpa pela quebra do encanto do paraíso. Fato é, que é
uma interpretação literal, e que teologicamente, não está correspondendo à
verdadeira mensagem cristã. Porém, difundiu-se, a partir desta simples
11
Bíblia Sagrada. Tradução em Português por João Ferreira de Almeida. 5ª ed. São Paulo
2009.
25

interpretação, a condição de submissão feminina, ante a ascendência do homem em


todas as relações.
No mundo pré-socrático, as mulheres eram tratadas como propriedade dos
homens, perdendo assim, a autonomia, a liberdade e até mesmo a disposição sobre
seu próprio corpo. Há registros na história de venda e troca de mulheres, como se
fossem mercadorias.
Eram escravizadas e levadas à prostituição pelos seus senhores e
maridos. O século XX foi definitivo para o reconhecimento de um amplo leque de
direitos humanos, responsável por profundas modificações na conduta dos diversos
segmentos sociais em diferentes regiões do nosso planeta.
Um dos principais resultados é a positivação dos direitos humanos das
mulheres junto à estrutura legislativa da ONU e da OEA , por meio de edição de
inúmeras declarações e pactos, a partir de 1948, em que foi publicada a Declaração
Universal de Direitos Humanos.
A partir daí, desde a Declaração Universal de 1948, o sistema patriarcal
ocidental passou gradativamente, nas legislações posteriores, a reconhecer a
diversidade biológica, social e cultural dos seres humanos, criando declarações e
pactos específicos para as mulheres.
Até a década de 1980, no Brasil e em outros países do mundo, o estudo
sobre a violência contra a mulher tinha como paradigma predominante o fato de
tratar-se de um problema privado, em que as ações do Estado se limitavam à sua
capacidade de intervenção.
É qualquer ato de violência que tem por base o gênero e que resulta ou
pode resultar em dano ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica,
incluindo ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da liberdade, quer se
produzam na vida pública ou privada.
Este conceito abrange as mais variadas agressões de forma física, sexual e
psicológica, com os mais variados agentes perpetradores, incluindo os de
relacionamento íntimo e familiar, pessoas da comunidade em geral, e aqueles
exercidos e tolerados pelo Estado.
Porém, apesar dos avanços na consolidação dos direitos da mulher no
mundo, no início do século XXI ainda não se pode dizer que as mulheres
conquistaram uma posição de igualdade perante os homens.
26

O sexo masculino continua desfrutando de maior acesso à


educação e a empregos bem remunerados. Além disso, a violência física e
psicológica contra a mulher continua a fazer parte do cotidiano da nossa vida
moderna.
Populações que historicamente tiveram seus direitos negados passam a
dispor de proteção legal capaz de assegurar-lhes amplos direitos fundamentais.
Mulheres, crianças e idosos assumem, cada vez mais, a condição de cidadãos e
sujeitos de direitos.
A dignidade humana e o princípio da igualdade são as molas mestras da
ordem jurídica, política e social do Brasil e, paulatinamente, começam a delinear os
contornos de uma nova nação, permeando espaços públicos e privados, muito deles
considerados inatingíveis na égide das velhas ordens constitucionais.
Não se pode deixar de ressaltar que são inegáveis os avanços cognitivos e
as conquistas obtidas pelo segmento feminino ao longo das últimas décadas do
século passado, com a ampliação de sua participação na esfera pública, expressa
pelo ingresso efetivo nos campos de trabalho, cultura e educação.
Percebemos que ainda nos dias atuais, são muitas as barreiras para impedir
a plena inclusão social da mulher. Fato é, que isto está relacionado a posições de
poder, liderança e negociação, assim como de ocupação de espaços do mundo
público, sobretudo, onde se tem de tomar decisões técnicas, científicas,
empresariais ou políticas.
No desabrochar do século XXI, infelizmente, assistimos a uma avalanche de
atos de violência que afeta a vida de milhares de mulheres em seus vários estágios
de desenvolvimento, acarretando prejuízos, por vezes, irreversíveis à saúde física e
mental.
O conceito de violência contra a mulher importante é que se faça a
distinção desta, com violência doméstica e familiar, pois aparentemente possuem o
mesmo significado. A violência contra a mulher é um conceito mais amplo, podendo
ser considerado crime ou não.
É a chamada violência de gênero, pois abrange as várias formas de
violência como a violência sexual, moral, espiritual, familiar, doméstica, entre outras.
Diferentemente da violência doméstica e familiar, sendo esta, uma das modalidades
da violência contra a mulher.
27

Após a descrição das várias classificações contidas em tratados


internacionais e pela doutrina brasileira e estrangeira no que diz respeito aos tipos
de violência contra as mulheres.
A Violência física consiste em atos de cometimento físico sobre o corpo da
mulher, podendo ser através de tapas, chutes, socos, queimaduras, mordeduras,
punhaladas, estrangulamentos, mutilação genital, tortura, assassinato, ou seja,
qualquer conduta que ofenda a integridade física ou saúde corporal da mulher.
A violência psicológica é a ação ou omissão destinada a degradar ou
controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio
de intimidação, manipulação, ameaçam direta ou indireta, dentre outras, ou seja, é a
violência entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da auto – estima12.
A violência sexual se identifica com qualquer atividade sexual não
consentida, incluindo também o assédio sexual, ou seja, é qualquer conduta que
constranja a mulher a manter conjunção carnal não desejada, mediante intimidação,
coação, etc.
A violência moral consiste no assédio moral, geralmente onde o patrão ou
chefe agride física ou psicologicamente 13 seu funcionário com palavras, gestos ou
ações, sendo considerada qualquer conduta que configure injúria, calúnia ou
difamação.
A violência patrimonial que é aquela praticada contra o patrimônio da
mulher, sendo muito comum nos casos de violência doméstica e familiar (dano) , ou
seja, é a conduta que configura retenção, subtração, destruição dos bens da vítima.
A violência institucional é a praticada em instituições prestadoras de
serviços públicos, como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, no sistema
prisional.
A violência de gênero é aquela praticada em razão de preconceito e
discriminação; e por fim a violência doméstica e familiar que é a ação ou omissão
que ocorre no espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas.
É aquela praticada por membros de uma mesma família. Vale lembrar que
a família fica entendida com indivíduos que são ou se consideram parentes, unidos
12
Idem, p.02

13
Ibidem, p.02
28

por laços naturais ou por afinidade. Como podemos perceber, violência pode estar
relacionada à pessoa humana de várias formas ou também ao seu patrimônio.
Esta variedade de utilizações do termo violência torna o conceito complexo
e suscita diversos debates que conduzem geralmente à concepções opostas:
positividade e negatividade. A violência pode ser positiva quando é empregada em
sentido favorável à alguma causa, por exemplo, como forma de resistência à
opressão.
Mas a maioria dos autores, das instituições e das sociedades percebe a
violência como negativa, demandando, assim o combate e a sua prevenção. A
concepção de que a violência é sempre negativa e para especificar que - dentre
tantas formas de violência – trabalharemos com a violência contra a mulher:
aquela que fere, ofende, subjuga, maltrata, humilha e viola seus direitos, que
é empregada não como forma de resistência, mas como meio de controlar e
submeter às mulheres. É importante destacar que a subordinação da mulher esteve
presente em quase todas as etapas da história da humanidade, corroborando
assim uma cultura que determinou papéis sociais às mulheres e aos homens, e
legitimando a inferioridade da mulher e a violência contra a mulher, por conseguinte,
estando subjugada não podia trazer à tona seus sofrimentos porque não encontrava
adesão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência doméstica contra a mulher constitui um grave problema que


carece ser reconhecido e enfrentado, tanto pela sociedade como pelos órgãos
governamentais, através da criação de políticas públicas que contemplem sua
prevenção e combate, assim como o fortalecimento da rede de apoio à vítima. É
imperioso que este fenômeno não seja compreendido em nível individual e privado,
mas sim como uma questão de direitos humanos, pois, além de afrontar a dignidade
da pessoa humana, impede o desenvolvimento pleno da cidadania da mulher.
Questionar a forma como a sociedade é estruturada e organizada, através
de relações desiguais de poder entre homens e mulheres, significa desarticular os
pilares de sustentação da violência contra a mulher. A construção de papéis
diferenciados é baseada em normas sociais e valores morais arraigados no tempo,
que atribuem à mulher uma posição de inferioridade perante o homem, que utiliza-se
da violência como recurso maior para fazer valer sua supremacia.
29

Salienta-se que o mito da mulher ser a única prejudicada pela cultura


machista deve ser revisto à luz da Psicologia. Caso contrário,esta visão poderá
conduzir a interpretações unilaterais e simplistas, atribuindo à mulher a condição de
única vítima da cultura. É imprescindível considerar o fato de que o homem também
sofre as conseqüências da rigidez destes papéis, na medida em que é privado de
viver mais plenamente suas potencialidades. Daí a necessidade de buscar novas
relações sociais, não mais regidas pelo poder e dominação, e sim pela reciprocidade
entre os sexos, ratificando a igualdade da condição humana de ambos.
As mulheres que decidem romper um relacionamento violento também estão
rompendo com uma série de sonhos e expectativas em relação ao casamento e à
família. Há perdas e ganhos frente a esta decisão, que não devem ser ignorados
pelos profissionais de saúde. Reconhecê-las, implica poder trabalhá-las e, assim,
fortalecer a mulher no redirecionamento e estabelecimento de novos projetos de
vida.
Constatou-se, a partir dos dados coletados nas entrevistas realizadas, que as
razões de algumas mulheres permanecerem em uma relação conjugal violenta estão
intrinsecamente ligadas a questões referentes, principalmente, à dependência
financeira, à esperança de que o companheiro modificasse seu comportamento, ao
medo provocado por ameaças de morte, ou, ainda, em função dos filhos, frutos do
relacionamento.
Cabe ressaltar que o fator dependência financeira, em grande parte dos
casos, foi alegado para justificar a permanência nesse tipo de relacionamento. Por
diversas vezes, esteve intimamente relacionada à presença de filhos, associada à
impossibilidade de criá-los sem o auxílio do companheiro.
A violência doméstica gera repercussões significativas à saúde física e
psíquica da mulher, variando em sua expressão e intensidade, transcendendo aos
danos imediatos gerados pela violência física, como as lesões e fraturas. Não
obstante, ficou evidenciado nas falas das depoentes que algumas seqüelas podem
repercutir na vida das vítimas, não imediatamente após a violência sofrida, podendo
se protrair indeterminadamente no tempo, a exemplo de dores de cabeça
constantes, aumento da pressão arterial e dificuldades para dormir.
O impacto desta realidade afeta desde a percepção da mulher sobre si
mesma, refletida nos sentimentos de insegurança e impotência, até suas relações
com o meio social, fragilizadas em decorrência da situação de isolamento, expressas
30

pela falta de apoio de pessoas às quais possa recorrer. Estados de tristeza,


ansiedade e medo foram os mais destacados como conseqüências psicológicas
deste tipo de violência. Apenas uma depoente afirmou não ter apresentado nenhuma
conseqüência advinda da violência experiência. Uma grande parcela das
entrevistadas, entretanto, alegou que tal situação acarretou-lhes danos, tanto à
saúde física quanto psíquica.

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