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CAPÍTULO 1

A V O Z N A ESCURIDÁO

A principio, eu nao conseguia ver absolutam ente


nada. Estava ciente apenas de que estava sozinha em urna
escuridáo táo absoluta que eu pensava que ia me sufocar.
E ntáo, com o se fosse um a corda de salvam ento chegando
de algum lugar além da profunda escuridáo da noite, um a
voz fam iliar foi ao encontro dos meus ouvidos - um a voz
c o n fortadora, de alguém que eu havia am ado e confiado
em m inha infáncia. Era a voz de Segatashya, que, em R u ­
anda, m inha térra natal na Á frica, era conhecido com o “ o
m enino que conheceu Jesú s” .
A voz suave de Segatashya dirigiu-se até m im através
do escuro abism o, com o que flutuando sobre um a brisa
calm a. Aquela voz, indecifrável num prim eiro m om ento,
lentam ente foi tom an d o form a em palavras, sussurrando
delicadam ente: “ O Paraíso está esperando p o r todos nós
quando chegar a nossa hora de p artir deste m undo, m as
apenas se nossos coragóes estiverem lim pos e p u ro s ” .
R epentinam ente, eu me dei conta de que estava dor-
m indo e no m eio de um sonho, porque Segatashya havia
sido assassinado m uitos anos antes. Ele foi um a das mais
de um m ilháo de vítim as inocentes que foram m assacra-
das durante o horrível genocidio que ocorreu em R uanda
em 1994. E aquela noite em que me deitei p ara dorm ir
era em m eados de novem bro de 2010... P o rtan to , perce-
bi que estava sonhando. M as eu tam bém percebi que, se
aquilo era um sonho, ele era diferente de todos os outros
que tive antes. O que eu estava sentindo era vivido, real e
vital com o qualquer coisa que eu já tin h a experim entado
ilurante m inhas horas de vigilia.
A voz se dirigiu a m im novam ente: “Jesús diz que de-
vemos p rep arar nossos cora^óes p ara o Fim dos Dias.
l odos nós vam os m orrer um dia - nós nao devem os vi-
ver nossas vidas com o se náo soubéssem os que o nosso
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

tem po nesta Terra chegará ao fim. O próprio m undo irá


acabar, e este dia está se aproxim ando rápidam ente. N ós
devemos nos arrepender de todos os nossos pecados antes
que seja tarde. N ó s tem os que pedir perdáo po r nossas
transgressóes e encontrar m isericordia em nossos cora^óes
para perdoar aqueles que nos ofenderam . N ós devemos
purificar nossos cora^óes com o am or de Deus e lim par
nossos espíritos vivendo um a vida repleta de am or e cari-
dade. N ós devemos prep arar nossas alm as para o Dia do
Julgam ento. O retorno de Cristo está próxim o e os por-
tóes do Céu seráo abertos para nós som ente se o Senhor
nos considerar m erecedores de entrar em seu R eino” .
As palavras foram se to rn a n d o cada vez m ais e m ais
fam iliares a mim e eu me dei conta de que nao som ente
reconhecia aquela voz com o tam bém reconhecia aquela
m ensagem específica. Eu já tinha ouvido Segatashya p ro ­
nunciar exatam ente as m esm as adm oesta^óes quando era
garota.
Em m eu sonho, eu estava flutuando sobre o chao
com o se meu cora^áo me puxasse em dire^áo á voz, a
qual me tirou da escuridáo e me levou para um círculo
de luz d ourada. Dezenas de pessoas estavam reunidas no
centro daquele agrupam ento de luz, todas ouvindo aten ­
tam ente a um adolescente que estava discursando para
elas com intensidade e urgencia. O jovem estava senta­
do em um longo banco de m adeira, com sua audiencia
am ontoando-se ao redor dele. Ele estava virado de costas
p ara mim e, po r isso, eu náo podia ver seu rosto, mas eu
estava certa de que ele era Segatashya.
A prim eira vez em que o ouvi falar eu tinha 12 anos
de idade e nada no m undo irá apagar de m inha m em oria
o rico tom de sua voz ou o conteúdo m iraculoso de suas
m ensagens. Em verdade, tenho certeza, sem a m enor dú-
vida, de que qualquer pessoa que já tenha ouvido Sega­
tashya falar sente-se da m esm a form a - um a vez que suas
palavras tenham tocado o seu cora^áo, elas faráo parte
dele para sempre.
A VOZ NA ESCURIDAO

P ara aqueles que nao estao fam iliarizados com o m eu


mais recente livro, O u r L ady o f Kibeho: M ary Speaks to
the W orld fro m the H eart o f A frica,r eu devo explicar
que Segatashya era um m em bro de um grupo de jovens
visionários que viram apari^óes da Virgem M aria - e, no
caso de Segatashya, de Jesús C risto - na distante aldeia de
Kibeho, em R uanda, durante a década de 1980.
N aquela época, havia dezenas de visionários que afir-
m avam ter visto apari^óes divinas, m as em O u r Lady o f
K ibeho eu foquei naqueles oito que foram considerados
os mais confiáveis pela Igreja C atólica, bem com o pelos
m ilhares de peregrinos que acorreram a K ibeho em busca
de in s p ir a d o espiritual.
Essencialm ente, os visionários tran sm itiram m ensa-
gens de am or, instruindo-nos sobre com o viver vidas me-
Ihores fazendo a vontade de Deus. Eles disseram que se
seguíssem os os inspiradores avisos daquelas m ensagens
o nosso m undo se to rn a ria um lugar m ais pacífico e nos-
sas alm as poderiam estar mais bem p rep arad as para o
dia em que, no fim de nossas vidas, encontrarem os Jesús
e serem os cham ados a p restar contas pelo nosso tem po
na Terra.
As m ensagens vindas do Céu entregues em Kibeho
eram , com o M aria e Jesús deixaram claro, de grande e
¡m ediato interesse para todas as pessoas no m undo intei-
ro. Elas continham avisos para R uanda, para o nosso p la­
neta e para nossas alm as individuáis - avisos sobre coisas
terríveis que podem ocorrer conosco, com o individuos e
com o espécie, se nao abragarm os o puro e am oroso esti­
lo de vida que M aria e Jesús nos oferecem . C om o Jesús
falou para Segatashya, o m undo está em péssim as condi-
góes e dias terríveis nos aguardam - m as se nós rezarm os
de cora^áo e sinceram ente fizermos bons atos, nós encon­
trarem os paz neste m undo e no próxim o, nao im porta o
q u an to as coisas fiquem desesperadoras.

' “N ossa Senhora de Kibeho: M aria fala ao m undo a partir do coragao da


África”; ainda sem p u b lic a d o no Brasil.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Eu tinha 11 anos de idade quando com e^aram a surgir


as aparigóes em K ibeho. Os m aravilhosos e m ísticos en-
contros experim entados pelos visionários e as m ensagens
m ilagrosas que eles receberam do Céu e transm itiram a
nós m oldaram m inha vida de tan tas form as que eu nao
saberia dizer. E nenhum visionàrio foi m ais influente para
a m inha jovem m ente, p ara a m inha florescente fé e m eu
crescim ento espiritual a longo prazo, do que Segatashya.
Sua historia pessoal única e sua incrível interagao com
Jesus me cativaram qu an d o era crianza e me m antiveram
alegrem ente fascinada desde entáo. Tenho certeza de que
se voce o conhecesse com o eu o conheci, vocé se sentiría
exatam ente da m esm a form a.
E m bora as aparigóes de Kibeho ainda sejam bastante
desconhecidas em m uitas partes do m undo (mas eu estou
trab alh an d o d uro p ara m udar isso), os eventos m ilagro­
sos que ocorreram lá irradiaram pelas fazendas, florestas
e selvas de R uanda, eletrizando m eu país natal com tan to
p oder e intensidade que os padres, bispos e arcebispos de
lá foram fo rja d o s a se levantar e ficar a par do que ocor-
ria. E com o poderiam nao notar? Incontáveis ruandeses
viajaram a pé por centenas de quilóm etros, m uitas vezes
sem com ida e desabrigados, apenas para ter um vislum ­
bre dos visionários de Kibeho e tom ar parte dos milagres
que aconteciam lá.
A utoridades da Igreja Católica iniciaram urna rigorosa
in v e stig a d o a respeito da origem e da natureza das apa-
rigòes, urna in v e stig a d o que iria analisar e dissecar to ­
dos os aspectos das vidas dos visionários. Urna Com issáo
de Inquérito foi estabelecida e o V aticano to m o u parte
da in v e stig a d o sobre os surpreendentes acontecim entos
sobrenaturais que ocorreram em urna das mais obscuras
regiòes da mais profunda Africa.
A in v e stig a d o , liderada p o r especialistas da Igreja - in-
cluindo teólogos de renom e, cientistas, m édicos e psiquia­
tras - , d urou um to tal de duas décadas. E, tao m arcantes
qu an to as apari^òes da Virgem M aria e de Jesús em si
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A VOZ NA ESCURÏDÂO

mesmas, as conclusòes da Com issâo de Inquérito apôs 20


anos de análise foram quase igualm ente m ilagrosas.
Em novem bro de 20 0 1 , o V aticano, em um decreto ex­
trem am ente raro , aprovou as apariçôes da Virgem M aria
presenciadas por très visionárias de K ibeho entre 1981
e 1989. Essas très visionárias - A lphonsine, A nathalie e
M arie-C laire - eram estudantes adolescentes do Colégio
de Kibeho e foram as prim eiras a ver as apariçôes na re-
giâo.2 A Igreja apoiou oficialmente o culto no “ Santuàrio
de N ossa Senhora das D ores” , to rn a n d o K ibeho o único
local de apariçôes aprovado em to d a a África. O pequeño
santuàrio da escola da aldeia está lenta m as gradualm en­
te se tran sfo rm an d o em um destino de peregrinaçâo favo­
rito dos fiéis de todas as partes do m undo.
Eu estava mais que anim ada com os veredictos da
Igreja. O fato de que as m ensagens de M aria e seu Filho
estavam chegando ao m undo, apesar de terem sido
entregues em um país táo rem oto - e em um lugar ferido
e corroído pela mais m aligna form a de assassinatos em
m assa - , provaram a m im que nao existem fronteiras para
o poder de Deus e que o seu am or irá passar p o r todos os
obstáculos.
O endosso do V aticano ao S antuàrio de N ossa Senho­
ra me inspirou ta n to que eu sentei e escrevi O ur Lady o f
K ibeho, que foi publicado em 2008. Eu queria que to d o o
m undo conhecesse os visionários de Kibeho e suas m en­
sagens de am or, esperança e paz. Eu queria com partilhar

2Alphonsine M um ureke, atualm ente religiosa da O rdem de Santa Clara;


Anathalie M ukam azim paka, vive atualm ente junto ao Santuàrio de Kibeho;
M arie-Claire M ukangango (1961-1994), assassinada durante o genocidio.
Existiam outros visionários que ganharam destaque durante este período, mas
cujas visoes nao foram aprovadas pelo Decreto Diocesano: Agnes Kamagaju,
Stephanie M ukam urenzi, Emmanuel Segatashya e Vestine Saiima. O Decreto
de 29 de junho de 2001 da diocese do G ikongoro, emitido após Consulta da
Santa Sé e da Conferencia Episcopal dos Bispos de R uanda, aprovou apenas
as apari^òes da Santissima Virgem e nao as de N osso Senhor Jesús Cristo em
Kibeho. Estas estavam principalm ente ligadas a Emmanuel Segatashya, que,
segundo o docum ento da diocese de G ikongoro, pouco antes de sua m orte,
em 1994, chegou a sofrer de doencjas m entáis (cf. http://kibeho-sanctuary.com /
index.php/en/apparitions/approval).

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

com todo o m undo o m eu am or pela Virgem M aria. E


quería que todo o m undo viajasse p ara R uanda e visitas­
se o inesquecível santuàrio de N ossa Senhora, p ara que
todos pudessem experim entar por si próprios, naquele
lugar santo, o poder e a pureza do am or da M ae de Jesús.
M eus desejos se to rn a ram realidade de m uitas form as.
Até agora o meu livro já foi traduzido para m ais de dez
idiom as e, se Deus quiser, um dia será lido no m undo
todo. C entenas de pessoas que o leram fizeram a tra n s­
form adora jornada para o Santuàrio de Kibeho. M uitos
deles obtiveram curas m ilagrosas - com o a de um garo-
tinho que eu conhe^o que foi curado de cáncer nos ossos
após sua avó ter recitado o R osàrio das Sete D ores na ca-
pela em que a Virgem M aria apareceu algum as vezes para
os visionários.’ Eu acom panhei pessoalm ente dezenas de
am igos em p e re g rin a d o dos Estados Unidos em d ir e d o
a R uanda e vi em prim eira m áo m uitas tra n s fo r m a r e s
de c o r a d o e alm a ocorrendo no aben^oado solo onde a
Virgem M aria e Jesús apareceram aos jovens visionários.
A pesar disso, m isturado á m inha grande alegria de ter
dado ao m undo um vislum bre de K ibeho, urna introdu-
d o aos visionários e urna am ostra das m uitas m ensagens
que foram reveladas po r eles, havia um sentim ento de que
eu nao tinha feito justi^a total a urna historia particular
de Kibeho que, por variados m otivos, era a que eu mais
queria ter contado: a historia de Segatashya.

3A O rdem dos Servos de M aria apresenta urna especial devogào às Dores


de M aria Santissima. Esta oraijào tradicional é especialmente vinculada ao
Santuàrio de Kibeho. Trata-se de urna Coroa, ou Rosàrio, de sete mistérios
p ara cada D or de M aria Santissima, cada um com sete Ave M arias. As Dores
de M aria Santissima, conform e antiqiiissimo costume, sào: 1. A dor que sentiu
o seu C orafào Virginal com a profecia de Simeào; 2. A angùstia que sentiu
ao ter que fugir com Sao José e seu M enino-Deus para o Egito; 3. A aflifào
que Eia sentiu quando perdeu por très dias o seu Tesouro: Jesus; 4. A tristeza
m ortal que Eia sofreu ao ver seu Filho carregando a Cruz por nossos pecados;
5. O m artirio do seu C ora^ào generoso, assistindo à crucifixào do Salvador;
6. A ferida que sofreu seu C o r a n o , ao ver seu Filho deposto da Cruz; 7. O
desconsolo e desam paro que Eia sofreu no sepultam ento do Redentor.

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A VOZ NA ESCURIDÀO

Em bora eu tenha m encionado e descrito cada um dos oito


principáis visionários de Kibeho (incluindo Segatashya) em
O u r Lady o f Kibeho, meu foco principal nesse livro estava
quase que totalm ente voltado para as tres visionárias reco-
nhecidas pela Igreja e para as aparigòes da Virgem M aria
vistas po r elas. Eu ten ho m uito, m uito respeito pela Igreja
Católica e o Vaticano e nao queria causar problem as ou
aborrecer os seus representantes em R uanda, nem os seus
representantes em Rom a, entrando em detalhes a respeito
das visòes e mensagens que a Igreja ainda nao aprovou ofi­
cialmente. O Vaticano é m uito cauteloso quando se trata
de reconhecer qualquer evento que é tido por alguns como
m ilagroso. Q ualquer tipo de evento rem otam ente conside­
rado sobrenatural é m etodicam ente analisado por especia­
listas da Igreja antes que um veredicto seja pronunciado a
respeito de sua validade ou falsidade.
Entre as principáis p r e o c u p a r e s e apreensóes do Va­
ticano envolvendo o tem a dos m ilagres e apari^óes, está o
altam ente justificável receio de que fenóm enos deste tipo
possam ser obra de dem onios ou do p rò p rio diabo - o
que á prim eira vista poderia parecer um m ilagre santo
seria, na verdade, um ardil satànico p ara levar pessoas
ingenuas á escuridáo, ao pecado e á dana^áo.4
N a verdade, com o as visòes de Segatashya nao ti-
nham sido im ediatam ente incluidas no reconhecim ento
oficial das apari^óes de Kibeho p o r parte da Igreja, em
um prim eiro m om ento eu fiquei receosa de que alguém no
Vaticano ou na hierarquia da Igreja ruandesa tivesse sus-
peitas com relagáo a Segatashya e suas m ensagens. M as,
louvado seja Deus, foi-me assegurado de que o com pleto
oposto era verdadeiro. De fato, todo m em bro da Igreja
que era fam iliarizado com as aparigóes de Kibeho tinha
Segatashya na mais alta estim a, tan to com o pessoa quanto
com o visionàrio. Várias das autoridades do alto escaláo
da Igreja em R uanda me garantiram pessoalm ente que to ­
das as visòes e m ensagens recebidas po r Segatashya foram

■'Veja-se a apresenta^ao sobre as r e v e la re s particulares na página 9.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

m inuciosam ente investigadas e reinvestigadas. Ao firn, nin-


guém tinha a m enor dúvida a respeito tanto da sinceridade
do garoto quanto da autenticidade dos seus encontros com
Jesus ou M aria.
Q uan d o eu expus m inhas p r e o c u p a r e s a um dos p rin ­
cipáis investigadores das apari^óes m andados pela Igreja,
ele me disse: “ Imm aculée, todo m undo na Com issáo de
Inquérito que testem unhou as visóes de Segatashya, con-
duziu testes médicos nele ou exam inou seu estado m ental
e m oral, estava absolutam ente convencido de que ele fa-
lou ta n to com Jesus q u an to com M aria e que suas m ensa-
gens vinham diretam ente do C éu” .
“M ais im portante” , ele continuou, “cada urna das
m ensagens entregues po r Segatashya e tudo o mais que
ele disse durante sua m issào de pregar a palavra de Deus
apoiava e com plem entava as doutrinas de nossa fé e nunca
contradisse qualquer coisa da Biblia. Essas sao condi^òes
críticas que devem ser cum pridas quando a Igreja inves­
tiga acontecim entos sobrenaturais e considera reconhecer
um visionàrio ou urna aparigào... E Segatashya cum priu
tais condirò es com louvor.”5
“ Se eie cum priu todos os requisitos para o bter reco-
nhecim ento oficial da Igreja, entào po r que eie nào està
entre os visionários aprovado s?” , perguntei.
“Voce deve ter paciencia, m inba jovem ” , respondeu
eie. “ Geralm ente, leva séculos para a Igreja reconhecer um
m ilagre. Os que estào no com ando da in v estigarlo sobre
K ibeho estào com e^ando a aprovar os prim eiros visioná­
rios que tiveram visòes da Virgem M aria... Isso dem orou
apenas 20 anos, o que é um pequeño m ilagre em si mes-
m o! A Igreja está ai há 2 mil anos e sim plesm ente nào se
apressa em tirar conclusóes. Tenha paciencia, Immaculée
- to d as as evidencias que eu vi me dáo a certeza de que a
Igreja vai acabar aprovando as visóes de Segatashya e as

'E ra verdade, alguns trechos contidos nos capítulos posteriores deixam


m argem á dúvida, podendo levar a in te rp re ta re s inoportunas. Tais trechos
estao acom panhados por notas de rodapé que se reportam diretam ente aos
docum entos da Igreja referentes a cada um dos casos específicos.

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A VOZ NA ESCURIDÀO

mcnsagens de Jesus... E dentro de nào m uito tem po eie


lumbém será oficialmente reconhecido com o um verda-
ilciro visionàrio pelo V aticano.”6
D ito tudo isto, eu devo salientar, porém , que até agora
as mensagens de Segatashya ainda nao foram aprovadas
pela Igreja. M as eu estou escrevendo sobre suas incrí-
veis visóes com o um a testem unha ocular, um a verdadei-
ra crente, e com um p rofundo sentim ento de obriga^áo
pessoal em com partilhar a historia de Segatashya com a
hum anidade.
Ter conversado com tan to s representantes em inentes
da Igreja me deixou m ais confortável para passar adiante
as m ensagens dele, a fim de que os leitores possam form ar
sua p rò p ria opiniào a respeito do assunto. E stou confian­
te de que um dia a Igreja irà ap ro v ar as visòes de Sega­
tashya - e to d a a sua historia e o conteúdo de suas m uitas
mensagens iráo a público em sua totalidade. Este livro é
um prim eiro passo nesta diregào, e saber que outras pes-
soas logo estaráo lendo a historia de Segatashya faz com
que m eu coragào pule de alegria.
Em m inhas viagens eu encontrei m uitas pessoas que
leram e foram tocadas p o r O u r Lady o f K ibebo e fico
tranqüila em saber que fiz a m inha parte em apresentar
ao m undo os m ilagres e m ensagens das aparigòes de Ki-
beho. M as parecia que Segatashya nao estava tào con­
tente qu an to eu... E, dois anos após a p u b lic a d o do m eu
livro, eie decidiu me visitar em sonho p a ra me m ostrar
com o eXatam ente eie estava se sentindo.
N aquele sonho que tive há tan to s meses, eu via, à
distancia, que Segatashya continuava a transm itir m en­
sagens de Jesus p a ra um nùm ero crescente de especta­
dores que se juntava ao seu redor. Sua voz baixa e suave
era robustecida p o r sua conhecida seriedade. Eie falava
apressadam ente, com o se sua m ente estivesse a p o n to de
explodir p o r ter m uito a dizer em tào pouco tem po.

6Par a Diocese de G ikongoro, o Decreto de 29 de junho de 2001 é definitivo,


nao estando em questáo iniciar outros procedim entos esperando obter uma
eventual aprovagao de outros videntes.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Por um m om ento, eu perm anecí na borda do círculo


de luz e silenciosam ente fiquei ouvindo-o falar, com m eu
cora^áo contente po r ouvir sua voz m ais um a vez. Em
seguida cam inhei p ara dentro da luz e me m ovi em sua
direm o, abrindo cam inho na m ultidào até chegar ao seu
banco e me sentar ao seu lado.
Eie ainda estava de costas para m im , m as eu sentía que
eie estava ciente da m inha p resen ta. N ós havíam os nos
encontrado m uitos anos antes e eu sabia que ele iria me
reconhecer na hora em que percebesse que eu estava lá
sentada. Eu tam bém sabia que, em bora ele estivesse m o­
ran d o no Céu há m uitos anos, ele devia estar nao só sa-
bendo, m as tam bém contente por eu ter escrito um livro
sobre Kibeho. C ontudo, p o r algum a razáo Segatashya se
m antinha virado de costas p ara mim e nào fazia m en^áo
de se virar p ara me cum prim entar. Tive um a desagradável
im pressào de que ele nào quería olhar p ara mim.
Finalm ente, nào consegui m ais ficar esperando. Co-
loquei m inha m ào em seu om bro e suavem ente fiz com
que ele se virasse. “ Segatashya!” , gritei. “ O que voce está
fazendo aqui? Voce está m orto! Por que voce voltou para
esta vida? Voce nào percebeu que nao pode conversar
com essas pessoas? Q uan d o elas perceberem que voce
está m orto, elas ficaráo aterrorizadas. Elas correrào para
longe e ficaráo m uito assustadas p a ra ouvir o que voce
está falan d o !”
M eu cora^ào gelou quando vi a expressáo em seu ro s­
to. Este g aroto que eu ta n to amei - e o qual, quan d o es­
tava vivo, parecía ter sem pre um sorriso nos lábios - nào
parecía estar nem um pouco feliz em me ver.
“Voce quer saber por que estou aq u i?” , p erguntou ele,
aborrecido. “A razáo é simples: se ninguém está disposto
a espalhar m inhas m ensagens pelo m undo, eu devo achar
um jeito de fazer isso eu m esm o.”
Engoli em seco. M eu estóm ago em brulhou quando me
dei conta de que Segatashya estava, de fato, com pleta­
m ente ciente a respeito do livro que escrevi sobre Kibeho
e que nao estava nem um pouco satisfeito com isso.
A VOZ NA ESCURIDÁO

Em seguida, sem pro n u n ciar urna única palavra, ele


olhou dentro do m eu cora^áo e me perguntou: “ Imaculée,
por que vocé esteve táo preocupada em saber se a Igreja
vai dar ou nao reconhecim ento oficial ás visóes que eu
tive en q uanto estava na Terra? Vocé sabe com o a hora já
está tarde p ara a hum anidade. Vocé sabe que o fim está
próxim o. C o n tar a m inha historia nao é m ais im portante
do que esperar que alguém na Terra dé ás m inhas pala-
vras um selo de aprovagáo? Fazer com que as pessoas
conhegam as m ensagens que Jesús deu a m im nao é a
coisa mais im portante do m undo? O que pode ser mais
crucial do que com partilhar as m ensagens que Jesús quer
com urgencia que as pessoas conhegam o q u an to antes -
mensagens que F’le quer que as pessoas conhe^am agora,
antes que se ja tard e ? ”
Segatashya, entáo, sorriu e disse: “ Sabe, algum as m en­
sagens sáo táo im portantes que elas devem ser com uni­
cadas im ediatam ente, náo im porta o que acó n tela. Al­
gum as coisas sáo táo im portantes que sim plesm ente náo
podem esperar p ara serem a p ro v ad as!”
Ele estendeu a m áo e tocou em m eu bra^o. E eu acor-
dei com um susto.7
Assim que abri m eus olhos, entendí que este náo era
um sonho com um . Era urna visita do Céu. Segatashya
saiu do Paraíso e veio até m im com urna tarefa: contar
sua historia e com partilhar suas m ensagens com o m aior
núm ero de pessoas que eu pudesse.
Sem m e preocupar em ligar o ab aju r ao lado da m inha
cam a antes, peguei a cañeta e o caderno que guardo so­
bre m inha mesa de cabeceira. N a fraca luz do amanhecer,
comecei a to m ar notas a respeito das imagens da visita de

70 livro é principalm ente urna narrativa afetiva da autora, para quem o


dram a coletivo do genocidio em Ruanda foi tangível. Por isso, ela com eta m os­
trando ao leitor um sonho, realidade subjetiva e turvada. Em caso de a p are ce s
ou revela?6es, a aprova?ao da autoridade eclesiástica com petente faz-se m uito
im portante para averiguar, em prim eiro lugar, o conteúdo doutrinal das “m en­
sagens”, que náo podem contradizer a R ev elad o pública; depois, para evitar
enganos de origem natural ou preternatural.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Segatashya que ainda estavam fervendo em m inha m en­


te... Urna visita que acabaria por to m ar conta do meu
coragáo e que lentam ente desabrochou no livro que vocé
está lendo agora. E, em bora as m ensagens sobre as quais
escrevi aqui talvez soem com o novas para m uitos de voces,
elas, na verdade, existem desde a criagáo do universo. Sao
m ensagens que estiveram pululando pelo m undo em alto
e bom tom por m ais de dois mil anos... M ensagens que
ecoaráo em nossas alm as por toda a eternidade se nós
abrirm os nossos cora^óes para elas.
De fato, as m ensagens de Segatashya podem ser en­
contradas ñas palavras de Jesús com o elas foram escri­
tas na Biblia. M as ouvi-las do pró p rio Segatashya é, em
vários sentidos, com o ouvir direto da boca de um dos
discípulos do Senhor, um daqueles aben^oados A póstolos
que andaram com C risto pela Terra Santa durante o seu
m inistério. Eu digo isso porque sei que Segatashya, com o
os discípulos de antigam ente, verdadeiram ente é alguém
que conversou com Jesús - alguém que foi escolhido por
Jesús para conversar. E, da m esm a form a com o ocorreu
com os discípulos, Segatashya tam bém nao tinha a m e­
no r idéia de quem era C risto quando Ele apareceu pela
prim eira vez em sua frente. Isso porque Segatashya era
apenas um g aroto cam ponés africano pobre e iletrado,
que, além disso, tam bém era pagáo.8
Antes de Jesús aparecer para ele no veráo de 1982, o
jovem Segatashya nunca tinha entrado em urna igreja,
tam pouco tinha qualquer nogáo real de quem Jesús Cristo
era. Em vários sentidos, a inocencia do garoto o tornou
um candidato ideal para receber as mensagens de N osso
Senhor, pois ele fez as mesmas perguntas que eu ou vocé
poderíam os ter feito caso repentinam ente nos encontrásse-
mos face a face com Jesús. Perguntas como: “Por que é táo
im portante am ar a Deus, afinal?” e “ Entre Deus, o Espirito
Santo, Jesús e M aria, quem eu deveria am ar mais? A Biblia
diz que eu devo am ar vocé, Jesús, mais do que am o meus

“A pouca in s tru y o cultural e doutrinal de Segatashya deve ser tida em


conta ao avaliar a sua vida interior.

30
A VOZ NA ESCURIDÂO

pais ou qualquer outra pessoa... Com o você pode estar fa-


lando sèrio sobre isso, visto que acabei de conhecê-lo?”
Segatashya foi até o ponto de perguntar a Jesus “por
que eu deveria am ar m eus inim igos, com o você diz para
en fazer, um a vez que D eus nâo am a seu inim igo, que é
Satanás?”
A ingenuidade e a inocência quase infantil deste ga-
io to ao fazer suas perguntas p a ra Jesus sem pre tocaram
ineu coraçâo e freqüentem ente colocavam um sorriso em
meus lábios. M as o m ais im portante é que as respostas
ilo Senhor para aquelas questôes se transform aram em
uin m apa espiritual p a ra m im , um m apa p ara o quai eu
nie volto m uitas e m uitas vezes enquanto navego por este
inundo turbulento.
Sempre que eu enfrentava algum a dificuldade ou situa-
çôes desafiadoras em m inha vida, situaçôes que pareciam
com pletam ente sem esperança - com o, p o r exem plo, quan­
do eu estava trancada em um banheiro tentando salvar m i­
nha vida de assassinos com m achados em punho, durante
o genocidio de 1994 - , eu m uitas vezes encontrei consolo
nas palavras dos visionários de Kibeho, especialmente na-
quelas proferidas po r Segatashya. As mensagens que Jésus
com partilhou conosco na Biblia, as quais foram novam en-
te com partilhadas com Segatashya, podem curar nossos
corpos e anim ar nossas almas. E elas podem nos fornecer
coragem, conforto e força para superarm os até mesmo os
nossos mais negros períodos de tristeza e desespero.
Com o eu gostaria que aqueles que estào p ro fu n d a ­
m ente atorm entados ou abatidos pela dor das dificulda-
des diárias, em vez de desistirem da vida, ab an d o n an d o
a fé em Deus, se voltando para as drogas e o àlcool ou
mesmo pensando em dar cabo da preciosa vida que Deus
deu a eles, pudessem ouvir as palavras consoladoras que
Jesús com partilhou com Segatashya qu an d o ele pròp rio
estava passando po r urna tragèdia pessoal!
C om o disse o Senhor: M esm o que você esteja sofrendo
assim agora, saiba que eu passei p o r sofrim entos m uito
31
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

piores do que esse antes de vocé... A nim e-se e nao perca


a esperanza. Agarre-se a m im , confie em m im , apoie-se
em m im e eu irei conduzi-lo por suas trevas... Agarre-se a
verdade e eu irei ajudá-lo... Clame por m im e vocé nunca
estará sozinho... Pega e eu irei ouvi-lo...
Todas as vezes que leio m ensagens com o essa m inha
vida faz mais sentido. E, ainda que eventualm ente eu me
divertisse com o vai-e-volta das conversas de Segatashya
com Jesús, tan to as perguntas qu an to as respostas nunca
falharam em me p ro p o rcio n ar um grande sentim ento de
paz, um a paz que vem de saber que Deus está sem pre á
nossa disposigáo, que Ele nos am a sem m edida, que Ele
irá nos socorrer a qualquer m om ento em que nós O cha-
m arm os, e que Ele está esperando ansiosam ente para nos
en co n trar no Céu... Desde que nossos cora^óes estejam
prontos para o encontro quan do esse dia chegar.
E esta talvez seja a m ensagem m ais im portante que Se­
gatashya com partilhou conosco: a de que Jesús urgente­
m ente deseja que nós nos preparem os p a ra a o u tra vida e
que tenham os certeza de que nossas alm as estáo prontas
para e n trar no C éu.9
Ñ as próxim as páginas, vocé vai encontrar avisos so­
bre tem pos perigosos que am ea^am a hum anidade, sobre
eventos calam itosos e terríveis que aguardam o m undo
nos dias que viráo. E um tem po conhecido com o “Fim dos
Tem pos” - ou, com o está escrito no livro da Revela^áo, o
A pocalipse.10 M as to m ar conhecim ento disto nao significa

’Para ir ao céu é preciso em preender o cam inho da s a lv a d o , e este nao é


outro senáo o cam inho mesmo da santidade: no céu só haverá santos, seja que
estes tenham lá entrado ¡m ediatamente depois da sua m orte, ou que havia tido
antes a necessidade de serem purificados no purgatorio. Ninguém entra no céu
se nao possuir aquela santidade que consiste em estar p uro e limpo de toda fal­
ta [...]” (Fr. Garrigou-Lagrange, O. P.; Las Tres Edades de la Vida Interior, p. 3,
3* edi^áo - Ediciones Desclées, Buenos Aires, 1944).

“ “ Senhor do cosmos e da historia, C abera da sua Igreja, Cristo glorificado


permanece misteriosamente sobre a térra, onde o seu Reino já está presente
com o germe e inicio na Igreja. Ele um dia voltará em gloria, mas nao sabemos
quando. Por isso, vivemos vigilantes, rezando: ‘Vem, Senhor’ (Ap 22,20)”
(Com pendio do cic, n. 133).

32
A VOZ NA ESCURIDÀO

que terem os que viver com m edo e desespero ou desenco­


rajados frente ao futuro. Jesus disse a Segatashya que nós
nao devemos tem er o firn do m undo, mas, sim, estarm os
preocupados sobre a form a com o vivemos nossas vidas
diárias, pois elas podem acabar a qualquer m om ento.
C om o o jovem visionàrio nos provou através do exem-
plo, os tem pos em que vivem os sao tem pos de enorm e opor-
tunidade espiritual p ara cada um de nós. Por interm èdio
das m ensagens com partilhadas por ele, nós descobrim os
com o viver nossas vidas em p r e p a r a d o para o dia em que
irem os nos encontrar com nosso Criador. E, se aprovei-
tarm os bem a gloriosa o p o rtunidade que nos está sendo
apresentada, nós irem os desfrutar da eternidade no Pa­
raíso. M as nao podem os deixar a o p o rtunidade escapar.
C om o Segatashya me disse no sonho, “ algum as coisas sao
táo im portantes que sim plesm ente náo podem esperar!”
A historia de Segatashya é urna historia de júbilo, e
as m ensagens que ele com partilha conosco curam e re-
dim em . Eu sei que elas tran sfo rm aram o m eu coragào e
adicionaran! grande dose de beleza á form a com o eu vejo
esta vida e a vida que virá. Eu espero, com a ajuda e o
am or de Deus, que as m ensagens que se encontram ñas
páginas a seguir fa^am o m esm o por voce.
Deixe-m e com egar contando-lhe quem eu sou e falar
um pouco a respeito das prim eiras aparigóes da Virgem
M aria e seu Filho em Kibeho. E depois será com g ran ­
de h o n ra e prazer que irei apresentá-los a Segatashya, o
m enino que conheceu Jesús. Estou certa de que voces se
to rn a ráo am igos p o r to d a a vida.

33
CAPÍTULO 2
D E SCO BRIN D O SEGATASHYA

A prim eira vez que ouvi falar em Segatashya foi quando


eu era urna jovem m enina crescendo na pequenina aldeia
rural de M atab a, na m inha terra natal, R uanda.
A m aior parte das pessoas fora da África nunca tinham
ouvido falar em R uanda - ou, se tinham , elas conheciam
nosso país com o o lugar onde ocorreu, em m eados dos
anos 90, um a das m ais selvagens ondas de assassinato do
m undo.
O genocidio ruandès foi um banho de sangue e de bru-
talidade sem precedentes que arrasou m inha terra natal
na prim avera de 1994. M ais de um m ilháo de hom ens
inocentes, m ulheres e crianzas (incluindo a m aior parte
de m inha fam ilia e m uitos dos m eus amigos) foram b ru ­
talm ente assassinados em m enos de 100 dias. Eu escrevi
exaustivam ente sobre as causas, o h o rro r e os resultados
do genocidio - incluindo a edificante historia de com o
Deus m ilagrosam ente poupou a m inha vida e salvou m i­
nha alm a através do am or e da m isericordia naqueles m o­
m entos negros - em m eus dois prim eiros livros, L e ft to
Tell: D iscovering G od A m id st the R w andan H o lo ca u st11
e L ed By Faith: Rising fro m the Ashes o f the R w andan
G enocide,u
Nestes dois livros eu relatei as m ais queridas lem bran-
gas de m inha infancia aben^oada. Eu cresci em um lar
m uito feliz, dentro do qual fui criada p o r pais am orosos,
Leonard e Rose, e am ada enorm em ente p o r tres carinho-
sos irm àos, Aim able (o m ais velho), D am ascene (mais ve­
lilo que eu, com diferencia de alguns anos) e V ianney (o
bebe queridinho da familia).

"Versâo brasileira: Ilibagiza, Immaculée. Sobreviví para contar - O poder


da fé m e salvou de um massacre, Rio de Janeiro, 2011, E ditora Fontanar.

n Guiada pela Fé: Renascendo das cinzas do genocidio m andes, idem.


O MENINO QUE CONHECEU JESUS

M eus pais eram católicos devotos e cristáos de co-


ragáo aberto que viveram segundo a Regra de O u ro de
fazer aos outros som ente aquilo que voce gostaria que
fizessem com voce. Am bos eram professores e líderes da
com unidade, e eram bem conhecidos e respeitados por
to d a a regiáo, grabas aos seus bons conselhos, generosi-
dade e bons atos. N ós vivíam os defronte a um lago em
urna área rural que, com o na m aior parte de R uanda, era
exuberante, agradável e de tira r o fólego de táo bonita.
N ossa aldeia ficava a m uitas horas da cidade grande e
nossos vizinhos eram simples e atenciosos, cuidavam uns
dos outros e eram sem pre gentis e amigáveis.
Eu sempre me senti segura, protegida e cuidada, seja
quando estava sozinha em casa, seja quan d o estava cami-
nhando ao longo de quase 13 quilóm etros pelas estradas
da floresta em diregáo á escola. Q uan d o era crianza, eu
pensava que meu lar e m inha terra natal eram os lugares
m ais pacíficos e am áveis de todo o m undo. Eu náo fa-
zia a m enor idéia de que as efervescentes tensóes étnicas
que estavam ferm entando em m eu país iriam explodir
nos horríveis acontecim entos de 1994, nos quais vizinhos
se virariam contra vizinhos e a m aioria tribal da nagáo
(os H utus), estim ulados por um governo m au e corru p to ,
m ataria quase to d a a m inoria tribal (os Tútsis, aos quais
pertencia m inha fam ilia) usando facóes e porretes.
De fato, eu me sentia táo segura e feliz quan d o era
crianza que urna das m inhas m aiores p r e o c u p a r e s era
me certificar de que tinha feito ora^óes diárias o bastante
e com parecido á missa com regularidade o suficiente para
g aran tir que eu estaría apta a me to rn a r freirá quando
crescesse. Por algum a razáo, quando era crianza (e, para
falar a verdade, até hoje!) eu era obcecada com tudo que
era relacionado a Deus. A vida de Jesus, os Santos, a San­
tissim a Virgem M aria e to d a e qualquer coisa que tivesse
a ver com o Céu era urna p re o c u p a d o constante para
m im . M eu pequenino q u arto era dom inado p o r m eu p rò ­
prio santuàrio im provisado, o qual consistía em urna pe­
queña táb u a lotada com estátuas da Virgem M aria, velas
36
DESCOBRINDO SAGATASHYA

votivas e livros de figuras dos A póstolos e Santos. M eu


passatem po predileto era rezar com m inha m elhor am i­
ga, Janet, ou ouvir historias religiosas - especialm ente à
noite, quando a m inha li^ào de casa jà estava feita, meus
afazeres estavam finalizados e as lou^as do jan tar jà es-
tavam lavadas e guardadas. Era qu an d o m inha fam ilia se
juntava na sala de estar para o que eu cham ava de “ hora
das h isto rias” .
A c o n ta d o de historias é urna grande parte de nos-
sa cultura e urna das atividades m ais im portantes da m i­
nha juventude. C om o na m aior parte de R uanda, que é
urna na^ào em sua m aioria rural e extrem am ente pobre,
M atab a era totalm ente prim itiva qu an d o as facilidades
m odernas chegaram . N ós estávam os conectados ao resto
do país po r urna solitària estrada de terra e um em ara-
nhado de trilhas de gado. N ós nào tínham os água cor­
rente e a energia elétrica era praticam ente desconhecida.
Por conta disso, obviam ente nào havia nenhum cinem a
ou shopping nos quais as crianzas pudessem passear e
se divertir - m eus irm àos e eu nào tínham os sequer visto
urna televisào, a nào ser em fotos de revistas. C onsequen-
tem ente, havia pouquíssim as form as de nos entreterm os
após o por do sol. Era tào escuro fora de casa qu an d o o
sol se pu n h a que raram ente nos aventurávam os a sair ao
ar livre à noite.
Em verdade, só havia realm ente duas fontes de diver-
sào p ara a fam ilia depois que papai fechava a casa após
o crepúsculo. A prim eira form a de entretenim ento era o
artiquissim o costum e do Igitaram o. lgitaram o é o antigo
ritual ruandès de se juntar, em fam ilia ou trib o , após o
jantar p ara falar sobre os acontecim entos do dia, contar
noticias sobre parentes que m oram longe ou sim plesm en-
te co n tar boas e velhas historias a respeito de qualquer
assunto, dos m itos locáis ao que está na Biblia.
D ada a m inha propensào para historias relacionadas
a Deus, sem pre que nos juntávam os na sala de estar para
mais urna sessào de Igitaram o m eu tem a favorito de discus-
sáo estava inevitavelm ente ligado ao Céu ou, pelo m enos,
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

à r e p e tid o de historias populares da Biblia. Porém , meus


irm áos - pelo m enos Aim able e D am ascene, que eram
m ais velhos que eu e nao tinham urna cabera táo religio­
sa q u an to a m inha - apelavam a m eu pai p ara que nao
me desse ouvidos qu an d o eu im plorava para ouvir (pela
m ilionèsim a vez) sobre com o o pequeño Davi derrubou
o grande G olias pelas costas usando apenas um estilin-
gue e algum as pedras. Freqüentem ente, m eu pai ficava
do lado dos garotos e ab ruptam ente m udava o assunto
da discussào para acontecim entos recentes, com o os me-
lhores m om entos de urna partid a de futebol na qual meus
irm áos haviam jogado ou sobre com o estava progredindo
um dos seus m uitos projetos de caridade.
N ossa segunda opqáo de entretenim ento n o tu rn o era
ouvir o nosso m altratad o ràdio de batería. Se acontecía
de escolherm os essa op^ào em urna noite em particular,
n ào havia a m enor dúvida sobre qual program a eu insis­
tiría para que todos ouvissem . Eu bradava e incom odava
to d o m undo até que o dial estivesse sintonizado no p ro ­
gram a da R àdio R uanda que trazia as m ensagens m ila­
grosas de um grupo de jovens visionários de K ibeho, que
era urna aldeia ainda m enor e m ais distante que a nossa,
localizada a mais ou m enos 160 quilóm etros ao sul de
onde m orávam os.
C om o eu já disse antes, e po r m ais incrível que isso
p a re ja , no co m eto da década de 1980 a Virgem M aria e
Jesús decidiram aparecer, em intervalos regulares, a um
g rupo de adolescentes do interior e os presentearam com
m ensagens do Céu que deviam ser com partilhadas com o
m undo inteiro. As prim eiras m ensagens foram todas da
Virgem M aria, e elas bro taram do seu am or pelas crianzas
da Terra. O conteúdo de tais m ensagens era freqüentem en­
te educativo, apresentando in s tr u y e s e dando o r ie n ta d o
p ara hom ens e m ulheres sobre com o viver vidas m elhores
e m ais pacíficas, que iriam afastá-los do pecado e levá-los
para a luz de Deus e para a vida eterna no Paraíso. As
in s tr u y e s dela para a hum anidade incluíam exorta^óes
para que todo m undo rezasse o R osàrio diariam ente, a

38
DESCOBRINDO SAGATASHYA

firn de repelir o m al; e p ara que as pessoas de todos os lu ­


gares abrissem seus cora^óes uns aos outros, abragassem
a fé no Senhor, desenvolvessem um profu n d o relaciona-
m ento com Deus através da oragào e de urna vida pura,
se arrependessem dos pecados do passado e evitassem
tenta^óes futuras.
Algum as das m ensagens de M aria tam bém continham
assustadoras profecías sobre os dias negros que o m un­
do iría enfrentar nos próxim os anos. Eia deu aos jovens
visionários terríveis vislum bres de um futuro no qual os
cora^óes das pessoas estariam dom inados pelo òdio em
vez do amor, e onde o planeta seria dilacerado po r guer­
ras religiosas e desastres naturais.
A B em -A venturada M ae predisse especificam ente -
12 anos antes que isso devastasse o m eu país - o geno­
cidio de 1994, com o qual, disse eia, um “ rio de san g u e”
b an h aria to d a R u an d a a nao ser que m eus co m p atrio tas
parassem de n u trir òdio uns pelos o u tro s e enchessem
seus coragóes com o am or red e n to r de seu Filho, Jesús.
C om esse am or, disse eia, o desastre im inente e a m a ta n ­
za poderiam ser evitados. A través dos seus visionários, a
Santissim a M ae ex o rto u a to d o s os ruandeses p ro cu ra-
rem sua aju d a p a ra receber o a m o r e o p erd áo de C ris­
to ... E disse que o m elhor jeito de o b ter isso era rezando
o R osàrio to d o s os dias. M a ria disse que o R osàrio era
urna das m ais poderosas ferram en tas do m u n d o p a ra
nos defenderm os da ten ta^ ào e do m al. Eia im plorou
a to d as as pessoas p a ra que rezassem o R osàrio pelo
m enos urna vez p o r dia, nao im p o rta n d o a qual religiào
pertencessem , e p rom eteu grandes recom pensas espiritu-
ais aos que assim fizessem .13

13“Pode haver tam bém quem tema que o Rosàrio possa revelar-se pouco
ecumènico pelo seu caráter m arcadam ente m ariano. N a verdade, situa-se no
mais claro horizonte de um culto à M ae de Deus tal como o Concilio delineou:
um culto orientado ao centro cristológico da fé crista, de form a que, “ honrando
a M ae, m elhor se conhe^a, ame e glorifique o Filho”. Se adequadam ente
com preendido, o Rosàrio é certam ente uma ajuda, nao um obstáculo, para o
ecumenismo!” (Bem-aventurado Joáo Paulo U, Rosarium Virginis Marite, n. 4).

39
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Infelizm ente, poucos ruandeses ouviram o conselho


de N ossa Senhora, e nosso país degenerou em loucura,
desordem e assassinatos, exatam ente da form a com o eia
predisse. Se nós sim plesm ente tivéssem os ouvido os avi­
sos da Virgem M aria qu an d o eia apareceu em K ibeho, o
genocidio nunca teria acontecido!
Q uan d o era jovem , eu estava lam entavelm ente alheia
as históricas tensòes tribais e odios que envenenaram os
cora^óes de tan to s ruandeses - um veneno que perm itiu
a Satanás se ap o d erar de suas alm as e levá-los a com eter
atos selvagens de to rtu ra , estupro e assassinato. Q uando
crianza, eu escutava os visionários e tudo que ouvia era
eles transm itindo a paz, o am or e o perdáo de Deus. As
m ensagens da Virgem M aria que ouvi sendo transm itidas
pelo ràdio á noite, du ran te nossos encontros fam iliares
para o Igitaram o, encheram -m e de alegria e nunca, ja-
m ais me assustaram .
Eu tinha 11 anos de idade quando M aria apareceu
pela prim eira vez em Kibeho e rapidam ente fiquei fam i­
liarizada com os nom es e as historias das tres prim eiras
visionárias: A lphonsine, A nathalie e M arie-C laire. Isso
foi m uitos meses antes de eu ouvir qualquer m engáo so­
bre a liga^áo de Segatashya com as apari^òes. Q uan d o eu
finalm ente ouvi seu nom e (e sua voz), o im pacto em m eu
pequeño coragáo foi táo profundo que eu nunca m ais se­
ria a m esm a.
C om o disse anteriorm ente, eu já escrevi m uito sobre
a historia de Kibeho e das apari^óes as tres prim eiras vi­
sionárias em O u r Lady o f K ibeho. M as, p a ra aqueles de
voces que nao conhecem a historia, perm itam -m e reca­
p itu lar brevem ente o que eu escrevi para que voces pos-
sam ter urna idéia m elhor a respeito do que aconteceu em
R uanda e em Kibeho nos meses anteriores á entrada de
Segatashya em cena.
A Virgem M aria apareceu pela prim eira vez em Ki­
beho no dia 28 de novem bro de 1981. A prim eira visio­
nària que foi visitada pela Santissim a M áe foi A lphonsine

40
DESCOBRINDO SAGATASHYA

M um ereke, urna estudante de 16 anos h ab itante de urna


aldeia que, com o disse, era tào pequeña e fora de m ào
que pouquissim os ruandeses sabiam onde ficava.
A lphonsine era nova no Colégio de Kibeho. Eia cres-
ceu em urna isolada regiào de R uanda cham ada Kibungo,
conhecida pela aguda pobreza e a dissem inada pràtica da
bruxaria. Seu pai a b a n d o n o u a fam ilia antes de A lphon­
sine nascer e eia foi criada por sua m àe, que era m uito
b atalhadora e católica devota. E m bora nào fosse p a rti­
cularm ente religiosa, A lphonsine am ava a Virgem M aria
e rezava p ara eia sem pre que se sentia am ed ro n tad a ou
desanim ada.
A pesar de ter crescido no m eio da m ais abjeta p o ­
breza, A lphonsine m anteve sem pre um estado de espiri­
to alegre e receptivo. Q u an d o eia ganhou urna bolsa de
estudos para um colégio católico só para m eninas com
m ais de 120 estudantes, sua natureza gregària e anim ada
a ajudou a fazer am igos rapidam ente. M esm o assim , eia
m uitas vezes sentia saudades de casa e estava com dificul-
dades para m anter suas notas altas. C om o sem pre fazia
em tem pos de dificuldades, eia rezou p ara a Santissim a
Virgem pedindo ajuda.
N o dia 28 de novem bro, um dia com um corno qual-
quer o u tro em todos os aspectos, A lphonsine caiu no
chào na hora do a lin o lo e entrou em um p ro fu n d o tra n ­
se, dentro do qual a única coisa que eia conseguía ver era
urna nuvem branca e brilhante que se form ava na sua
trente de form a lenta e bruxuleante. M om entos depois,
no m eio daquela nuvem , a estudante, perplexa, contem -
plou a m ais bela senhora que eia jà tinha visto.
C om o A lphonsine m ais tarde recordaria, a senhora p a­
recía estar flutuando no ar, e em seguida com egou a desli­
zar em dire^ào a eia, b anhada em intensa lum inosidade e
m iraculosam ente pairando sobre o chào. Aquela m ulher
m agnífica vestia um vestido branco sem costura, e seu
cábelo estava coberto por um véu do m ais puro branco.
Sua pele era perfeita e brilhante com o m arfim poi ido,

41
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

em bora A lphonsine nao conseguisse dizer exatam ente se


era urna pele branca ou negra. A senhora parecía estar
em plena com unháo com o Céu en q u an to os delicados
dedos de suas m áos esguias pressionavam -se juntos em
um gesto de oragáo. O ndas de am or em anavam déla e
envolviam a pequeña estudante, cujo coragáo estava re-
bentando de alegría e felicidade enquanto aquela linda
criatura flutuava próxim a a ela.
C om urna voz bela dem ais para ser descrita com preci-
sáo, a m ulher revelou a A lphonsine que era a Virgem M a ­
ría, que no Céu ela tinha ouvido as suas ora^óes e tinha
viajado do R eino de Deus até Kibeho para consolá-la.
Ela disse para a garota dirigir-se a ela com o a “M ae do
V erbo” .
Antes de ascender de volta aos céus em diregáo ao
Paraíso, a Virgem pediu p ara A lphonsine transm itir urna
m ensagem : “Eu quero que seus am igos e colegas tenham
a m esm a fé que vocé. Eles nao tém fé suficiente” .
Esta foi a prim eira m ensagem que a Santíssim a M ae
entregou em Kibeho.
Q u an d o A lphonsine recobrou a consciencia, ela esta­
va esparram ada no chao do refeitório e olhando para os
rostos perplexos e preocupados de seus colegas de turm a.
Q u an d o ela contou a eles o que aconteceu, foi ridicula-
rizada, déla zom baram e acusaram -na de ser m entirosa
e tola. Alguns até disseram que, po r A lphonsine ser de
K ibungo, ela estava praticando bruxaria ou possuída por
espíritos som bríos.
M as a Virgem M aria continuou a visitar A lphonsine,
que caía em um transe táo p rofundo sem pre que estava
na p resen ta da M ae de Jesús que ela ficava com pleta­
m ente alheia ao que existia ao seu redor. Um sacerdote
local ficou táo irritad o com as a f ir m a r e s de A lphonsine
a respeito dessas visitas que chegou a recrutar o u tra es­
tu d an te do Colégio de Kibeho, M arie-C laire, p ara que
esta atorm entasse A lphonsine na esperanza de que ela se
retratasse sob a pressáo intensa dos colegas.

42
DESCOBRINDO SAGATASHYA

N a escola, M arie-C laire tinha r e p u t a l o de ser e x tro ­


vertida e franca a ponto de ser grosseira. Eia rezava para
a V irgem M aria (a quem am ava), m as nào era grande fre-
qiientadora da igreja ou de grupos de ora^ào. Talvez por
causa de sua pro fu n d a afeigào pela M ae de Jesus, M arie-
Claire estava com prom etida e determ inada a expor o
que considerava a “ofensiva falsidade” de A lphonsine, e
preparou-se com grande intensidade p ara envergonhar e
hum ilhar, em público, sua colega de turm a.
M arie-C laire cham ou outras estudantes para unirem -se
a eia em sua cam panha destinada a denunciar a “ falsa”
visionària. Eia e sua gangue de colegas céticas planeja-
ram rodear A lphonsine sem pre que eia entrasse em um
de seus transes estáticos. Depois, agrediriam fisicamente
a visionària durante as apari^òes, pux an d o seus cábelos,
e n to rtan d o seus dedos para trás, beliscando sua pele o
m ais forte que conseguissem , g ritando o m ais alto que
pudessem e arrem essando rosários em d irem o a eia, de­
safiando A lphonsine a benzè-los. M as A lphonsine jam ais
piscou um olho ou fez qualquer m ovim ento com o corpo,
nào im porta o que fizessem ou falassem para eia.
Depois, em 12 de janeiro de 1982, a Virgem M aria
apareceu p ara urna segunda estudante do Colégio de Ki-
beho: A nathalie M ukam azim paka, de 17 anos. Ao co n trà­
rio de Alphonsine, esta jovem era considerada um m odelo
de estudante e urna das mais devotas e piedosas garotas
da escola. A nathalie vinha de um lar grande e firm em en­
te católico. Eia acordava e rezava toda m anhà o Rosàrio
antes da aula e depois rezava novam ente todas as noites
antes de dormir. Eia lia a Biblia nos intervalos das aulas
e fazia parte de vários grupos de jovens católicos. Eia era
m odesta, bem com portada e altam ente respeitada tan to
pelos funcionários da escola quanto pelos estudantes. M as
nada disso im pediu M arie-C laire de atacar A nathalie tam -
bém. M arie-C laire redobrou seus esforgos em desacreditar
as “ alegadas” visitas da Virgem na escola, ridicularizando
publicam ente am bas as jovens visionárias sem pre que elas
comegavam a ver apari^òes da Santissim a Virgem.

43
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Os ataques de M arie-C laire ás duas visionárias para-


ram abruptam ente no dia 1 de margo de 1982, quando
a Virgem apareceu tam bém para eia. A principio, M arie-
Claire resistiu à visáo, certa de que estava sendo enganada
de algum a form a pelas duas garotas que eia estava per-
seguindo - e, se nào fosse isso, entào eia estava ficando
louca ou possuida por dem onios.
C ontudo, a tranqiiilizadora voz da Virgem logo acal-
m ou e confortou M arie-C laire, que repentinam ente per-
cebeu que a Santissim a M àe havia abengoado de fato a
sua escola com sua divina presenta. M arie-C laire ficou
enorm em ente envergonhada por ter ato rm en tad o Al­
phonsine e A nathalie e fez votos de se to rn a r a m ais hu­
m ilde e determ inada serva de M aria, exatam ente com o as
outras duas alunas tinham sido antes dela.
Para o espanto dos funcionários da escola e dos alu-
nos, todas as très garotas que M aria escolheu p a ra se tor-
narem visionárias logo estavam recebendo aparigóes da
Bem -A venturada M áe na capela da escola. Todas as vezes
que urna délas caía em transe, ficava com pletam ente in­
consciente do am biente externo. O rosto de cada garota
se ¡lum inava com alegría sem pre que elas se encontravam
na presenta de N ossa Senhora. Elas falavam m uito am o ­
rosam ente quan d o respondiam a perguntas da Virgem ou
q u an d o repetiam m ensagens que M aria estava lhes entre­
gando para que fossem com partilhadas com os outros.
N enhum a o u tra pessoa que estivesse naquela sala d u ra n ­
te as apari^òes poderia ver a Santissim a M áe ou ouvir o
que eia estava dizendo p ara as visionárias. M as aqueles
que tiveram a sorte de testem unhar urna apari^ào sem ­
pre ouviam atentam ente todas as palavras pronunciadas
por um a das alunas en q u an to eia estava no m eio de um
transe, dando-se conta de que sim plesm ente estavam bis-
bilhotando um dos lados da conversa que urna visionària
estava tendo com o Céu naquela hora.
C om entários sobre as apari^óes rapidam ente se es-
palharam para além dos confins do Colégio de Kibeho.
D ezenas de m oradores com e^aram a viajar pela estrada
DESCOBRINDO SAGATASHYA

de térra - m ais urna trilha de cabras to d a cheia de bu­


racos do que urna estrada, na verdade - que levava do
interior em dire^ao á escola. Todos estavam esperanzosos
de ter um vislum bre das c o m u n ic a r e s m ilagrosas que
estavam ocorrendo dentro dos seus m uros. Logo cente­
nas de curiosos estavam se m ovim entado em to rn o da
escola ten tan d o ouvir algum a coisa sobre as apari^oes.
Eles se penduravam sobre a cerca de m etal e quebravam
as janelas da capela, en q uanto subiam uns nos om bros
dos outros e se acotovelavam para dar urna espiada ñas
m eninas que tinham fam a de ter urna linha direta com a
Virgem M aria. Por fim, visto que as centenas de curiosos
se tran sfo rm aram em m ilhares de peregrinos, a escola e
a Igreja Católica local construíram um palco de m adeira
para que as visionarias pudessem receber suas apari^óes
em público, na frente de todos.
N oticias a respeito das visionárias e do conteúdo de
suas m ensagens se espalharam com o fogo, viajando por
todas as dire^óes de R uanda dentro de algum as sem a­
nas. R epórteres em Kigali foram despachados da R ádio
R uanda e viajaram até Kibeho para fazer gravagóes das
visionárias no m om ento em que elas estavam em com u-
nháo com a Santíssim a M ae - e, com o eu já m encionei,
trechos dessas gravagóes se to rn a ram atra^óes regulares
na p r o g ra m a d o da rádio nacional.
Isso foi quando m eus irm áos e eu com etam os a dis­
cutir sobre o que deveríam os ouvir no rádio durante o
Igitarat.io. Eu insistia em ouvir todas as palavras dos vi-
sionários que foram transm itidas pelas ondas sonoras,
mas m eus dois irm áos m ais velhos estavam a principio
duvidosos e desdenhosos a respeito das apari^óes. Aima-
ble e D am ascene foram sem pre am orosos e carinhosos
com igo, m as eles tam bém me provocavam incansavel-
m ente po r causa da m inha paixáo crescente pelo que eu
continuam ente dizia ser “o m ilagre a b so lu to ” que estava
acontecendo em Kibeho.
“ Elas náo passam de urnas alunas ridiculas que estáo
ten tando cham ar aten^áo porque náo há nenhum garoto
45
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

por perto”, zombava Aimable, enquanto im portunava nos-


so pai para que este sintonizasse o rádio em urna partida de
futebol.
Em R uanda, na época em que eu estava crescendo (e,
gragas a Deus, os tem pos estáo realm ente m udando!), as
m ulheres, em bora fossem reverenciadas e altam ente res­
p e ta d a s com o m áes, nao eram m uito respeitadas com o
seres hum anos independentes, inteligentes e sérios. Era
urna sociedade bastante chauvinista, na qual direitos b á­
sicos, tais com o de propriedade ou educa^áo superior,
eram dom inados pelos hom ens. Por sorte, m eu pai e mi-
nha m áe tinham pontos de vista progressistas e me pres-
sionaram para ir táo longe q u an to eu pudesse na escola, o
que, ao final, me levaría á universidade. M as o m achism o
era um com portam ento bem aceito e era algo que meus
irm áos tinham grandes dificuldades para abandonar. Eles
nunca perdiam urna o p o rtunidade de fazer piadas sobre
urna garo ta ou m ulher que fizesse qualquer coisa que um
hom em náo podia fazer - o que, naqueles tem pos, incluía
até ter visóes da Virgem M aria!
“Essas garotas em Kibeho estáo bébadas ou praticando
v o d u ” , meu irm áo Dam ascene me provocava, com um risi-
nho. “Vocé sabe o que é que acontece com essas garotas de
escolas só para m eninas, náo sabe? Elas estáo preocupadas
porque náo conseguiráo um m arido após se form arem . Por
isso, elas querem aprender urna magia que as ajudem a
conseguir um hom em antes que seja tarde dem ais!”
M eu pai sem pre m andava meus irm áos baixarem o
tom e me deixava ouvir os relatos de K ibeho, m uito em ­
bora ele fosse um hom em instruido e cauteloso que a
principio estava hesitante em acreditar que as visionárias
estivessem vendo aparigóes reais. M as ele tinha um p ro ­
fundo am or e respeito pela Virgem M aria, e se qualquer
pessoa dem onstrasse am or e afeigáo por N ossa Senhora,
com o eu certam ente dem onstrava, papai apoiaria e enco­
rajaría plenam ente a sua devo^áo.
“ O tem po dirá se essas apari^óes sao reais ou n á o ”, p a ­
pai dizia aos meninos. “M as se essas garotas estáo ajudando

46
DESCOBRINDO SAGATASHYA

a aum entar a fé das pessoas na Santissim a Virgem, nós


vam os deixar sua irm à ouvir o que elas tèm a dizer... E
vocès dois vào ouvir junto com eia. Os seus resultados de
partidas de futebol podem esperar.”
M eus irm àos resm ungavam e viravam os olhos. Além
disso, alegaram tam bém que logo o pequeño santuàrio
em meu q u a rto estaria carregado com m ais estátuas ain­
da da Virgem M aria. M as as suas queixas tiveram firn
em um ensolarado dia de verào em 1982, quando nós
ouvim os sobre um novo visionàrio que tinha chegado a
K ibeho... Um m enino cham ado Segatashya, que estava
recebendo visitas do pròp rio Jesus C risto.
Para meus irm àos, o fato de um g aroto ter se tornado
um visionàrio repentinam ente to rn o u todas as m ilagrosas
apari^òes que haviam ocorrido antes em Kibeho m uito
m ais aceitáveis e criveis. Parecia tam bém que, p o r Sega­
tashya ter sido o prim eiro visionàrio a presenciar apari-
gòes de Jesus Cristo, meus irm àos, que se gabavam de ser
difíceis de im pressionar, foram conquistados. A judou tam ­
bém o fato de Segatashya e D am ascene terem a mesma
idade. “ Bem, se é um m enino que está falando com Jesus...
Entào eu acho que pode haver algum a coisa reai nesse
papo todo de visionários” , concordou Aim able, após o u ­
vir Segatashya no ràdio.
Q u an to a m im , eu jà tinha ouvido a voz de Segatashya
alguns dias antes em urna fita que o Padre A pollinaire
R w agem a, nosso páro co local, havia to cad o para as
crianzas que tinham ido à missa sem anal infantil.
O Padre Rw agem a estava entre os prim eiros que acre-
ditaram , e era um dos mais ardorosos devotos das es-
tudantes visionárias. Ele foi tam bém a prim eira pessoa
em M a ta b a a fazer urna longa p e r e g r in a lo em d ir e d o
a Kibeho p ara ver os visionários com os próprios olhos.
Ele fez grava^óes dos visionários durante as apari^óes e
deixou as fitas disponíveis p ara qualquer pessoa da aldeia
que quisesse ouvi-las.
Eu teria ouvido centenas de horas de gravagóes ao lon­
go dos anos seguintes, m as urna g r a v a d o de Segatashya
47
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

me m arcou p ara sem pre desde a prim eira vez que a ouvi.
Em O u r Lady o f K ibeho, contei com o um arrepio subiu
por m inha espinha quan d o ouvi a voz suave do garoto
sair pelos alto-falantes estourados do velho to cad o r de
fitas do Padre Rw agem a. A gravagáo era de urna conversa
que Segatashya teve com Jesus em m eio a urna aparigào
de urna sem ana antes. O Padre Rw agem a nos disse que
ele fez a g ra v a rlo em um dia e n so b ra d o , sob um brilhan-
te céu azul sem nenhum a nuvem ... Em seguida, ele nos
convidou a ouvir mais de perto.
As m ais ou m enos 200 crianzas com quem eu tinha me
sentado no chao da capela de um único còm odo do Padre
Rw agem a estavam táo fascinadas com o que ouviam no
to cad o r de fitas q u an to eu. Prim eiram ente nós ouvim os o
canto de urna enorm e m ultidao - m ilhares de vozes su­
plicantes - que tinha se reunido em Kibeho p ara ouvir
os visionários se com unicando com o Céu. A m ultidao
gritava para Segatashya, dirigindo-se a ele pelo nom e e
pedindo p ara que pedisse um m ilagre... Um m ilagre que
lhes dessem fé no que estavam testem unhando e que os
ajudassem a crer verdadeiram ente ñas aparigóes.
Eu nao sabia disto naquele m om ento, mas o que eu
estava ouvindo era a única aparigáo na qual Jesús tinha
perm itido ao g aroto poder ver e interagir com as pessoas
que tinham vindo p ara vé-lo. D urante todas as dem ais
aparigòes, Segatashya ficava consciente apenas da presen­
t a do Senhor.
Por cim a do ruido e da balbúrdia da m ultidao, levan-
tou-se a m acia voz de tenor do jovem visionàrio enquan-
to ele se dirigía a Jesús de form a reverente: “ Sim, Senhor,
eu disse a eles m uitas vezes”, p ronunciou a voz. “N ao,
Senhor, eles nao ouvem ... Eles sem pre me dizem que que-
rem um m ilagre. Eles nao querem acreditar que voce está
falando com igo, Jesús - nao sem antes verem um m ilagre
ou um sinal.”
Eu lem bro com o m eu coragào se dilatou qu an d o ouvi
Segatashya falar naquele dia e de com o fiquei tocada pela
sinceridade e pela tern u ra que reverberavam em sua voz
48
DESCOBRINDO SAGATASHYA

sussurrante en q uanto ele pacietem ente se dirigía á estri­


dente m ultidáo.
Súbitam ente, o estrondo de um trováo explodiu pelos
alto-falantes do tocador de fita e as crianzas no cóm odo
pularam de susto juntas. N ós podíam os ouvir gritos as-
sustados se espalhando por entre a gritaría da m ultidáo;
em seguida, pudem os ouvir alguns gritos de “viva!” para
o m ilagre que tinha acabado de acontecer. Logo a seguir,
Segatashya calm am ente exortou a todos para que náo se
preocupassem com o trováo que tinha surgido no céu azul.
“Jesús diz que voces náo devem ter m edo. Ele n u n ­
ca faria nada p a ra prejudicar os seus filhos” , insistiu o
garoto. “N inguém aqui foi ferido, as m ulheres grávidas
náo precisam se preocupar com seus bebés e aqueles que
tém coragóes fracos ficaráo bem... Sim, Senhor, vou dizer
a eles com o vocé está me dizendo... Jesús está dizendo
que deu-lhes esse trováo para que desta form a voces ou-
vissem as m ensagens dele e parassem de pedir milagres
que náo tém sentido... Porque as suas vidas sáo m ilagres.
Um verdadeiro m ilagre é um bebé no útero, o am or de
urna m áe é um m ilagre, um coragáo m isericordioso é um
m ilagre. Suas vidas estáo repletas de m ilagres, m as voces
estáo m uito distraídos com coisas m ateriais para vé-los.”
“Jesús pede para voces abrirem seus ouvidos e ouvirem
suas m ensagens, e abrirem seus coragóes para receberem
o seu amor. M uitas pessoas se perderam no cam inho e en­
veredaran! pela estrada fácil que leva p ara longe de Deus.
Jesús diz para voces rezarem para a sua M áe e a Santíssi-
m a Virgem M aria irá levá-los ao Deus Todo-Poderoso. O
Senhor veio até voces com m ensagens de am or e felicidade
eterna... E voces ainda pedem m ilagres. Parem de olhar
para o céu em busca de milagres. A bram o seu cora^áo a
Deus, pois verdadeiros milagres ocorrem no coragáo.”
Esta foi a prim eira m ensagem divina que eu ouvi Sega­
tashya transm itir, e, com o eu disse, ela m udou m inha vida.
A quela m ensagem ab riu m eu cora^áo p ara a esséncia de
todas as m ensagens que seriam entregues em Kibeho. A
ingenua honestidade da voz do g aro to instantáneam ente
49
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

fez com que ele se tornasse o meu favorito entre todos os


visionários.
M enos de urna sem ana depois que o Padre R w agem a
tocou a fita de Segatashya p ara nós, m eu lar e to d a a
aldeia estavam agitados com as noticias da chegada de
Segatashya a Kibeho.
Desde que as tres prim eiras estudantes com egaram a
ter visòes da Virgem M aria, po r volta de oito meses antes,
eu notei que urna profunda m udanza havia ocorrido em
m uitos dos m eus am igos, vizinhos e até m esm o estranhos
que estavam de passagem pela aldeia. As pessoas anda-
vam pela estrada com a cabera um pouco m ais erguida e
com m ais energia e d e te r m in a lo . M ulheres que eram es-
m agadas pelo peso de enorm es cestos de com ida, roupas
ou lenhas que elas carregavam em cim a de suas caberas
(dentro da tradicional m oda ruandesa) nào se incom o-
davam em p arar no m eio da estrada p ara saber noticias
sobre K ibeho, especialm ente sobre Segatashya.
Lem bro-m e de ouvir m uitas conversas desse tipo da
janela do meu q uarto enquanto estava deitada lendo ou
ajoelhada e rezando em frente ao meu santuàrio particular.
“Eu ouvi dizer que este tal Segatashya nunca, jam ais
tinha sequer ouvido falar em Jesús antes que o Senhor
o transform asse em um v isionàrio” , disse um de nossos
vizinhos.
“ Foi o que ouvi falar tam bém , que ele era um m eni­
no pagáo. M as dizem que ele é um g aroto m uito, m uito
doce... E bonito! M as eu me pergunto por que será que
Jesús escolheu ele, um pagáo, sendo que existem tantos
garotos católicos em R u an d a?”
“ O Senhor age por cam inhos misteriosos. N inguém co-
nhece a m ente de Deus. M as o que eu sei é que a m áe de Se­
gatashya deve estar m uito orgulhosa dele... Será que eia se
to rn o u crista agora que Jesús está visitando o filho déla?”
Eu pude ver que náo estava sozinha no favoritism o
que eu sentía p o r Segatashya. Desde o inicio das aparigóes
vistas p o r ele, o g aroto conquistou um grande e devotado

50
DESCOBRINDO SAGATASHYA

núm ero de seguidores. Ele se to rn o u urna estrela entre os


visionários.
N a o m uito tem po depois, o Padre R w agem a estava or­
ganizando procissoes em d ir e d o á cidade a fim de h o n rar
as visitas que Jesús estava fazendo a Segatashya. O devo-
tado sacerdote encorajou todos de sua c o n g re g a d o , e de
todas as c o n g re g a r e s que existiam na área, para que se
juntassem a ele en q u an to celebrava as aparigóes de Jesús.
Eu nunca me esquecerei daqueles inspiradores desfi­
les pela fé que se estendiam ao longo da estrada de térra
que levava p ara fora de nossa aldeia. C entenas de nossos
vizinhos apareceram para as procissoes e form aram urna
longa linha dupla atrás do padre en q uanto esperavam o
inicio das festividades.
O Padre Rw agem a esperava até que a assembléia se
acalmasse e, quando ele sentia que a m ultidáo tinha chega-
do a um nivel satisfatório de silencio e reveréncia, ele dava
inicio aos procedim entos. Ele iniciava erguendo sobre sua
cabera urna grande cruz de m adeira e depois, com urna
voz estrondosa, repetía urna das m uitas mensagens de Je­
sús que foram entregues po r Segatashya, mensagens que
ele tinha se com prom etido em memorizar. Por exemplo:
“Deus nunca negará sua m isericordia se voces passa-
rem por urna verdadeira conversáo em seus coragoes. Je­
sús está me falando para dizer-lhes que a vida na Terra
dura apenas um m om ento, mas que a vida no Céu é eter­
na. Entáo, voces devem rezar. Lem brem-se de que aqueles
que se dirigem de form a vá a Deus e clam am ‘O h, Pai,
me aben^oe!’ sem falar do fundo do c o r a d o ou sem se
arrepender de suas transgressóes nao iráo para o Céu. Sáo
aqueles que verdadeiram ente am am a Deus e fazem a sua
vontade praticando bons atos que seráo bem -vindos no
Paraíso - náo os hipócritas e os im postores. Lem brem-se
de rezar com sinceridade... O único cam inho p ara ir para
o Céu é através de ora^óes que venham do c o r a d o .”
Em seguida, a passos largos e confiantes, o Padre R w a­
gema p artía em d ir e d o aos confins da aldeia para ir ainda

51
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

m ais longe, com a cruz erguida ao alto e seus lábios cons­


tantem ente se m ovendo enquanto entoava as m ensagens
de Segatashya quilóm etro após quilóm etro:
“ O am or de C risto por seus filhos é grande e excelente.
Deus nao abandona nenhum dos seus filhos. Ele está sem-
pre esperando que vocé diga sim a Ele e deixe-O entrar
em seu coragáo. N o Dia do Julgam ento, Deus irá m ostrar
a todos as suas vidas inteiras e as pessoas entenderáo que
sáo autoras do seu próprio destino. Deus irá m ostrar a
elas todos os atos que praticaram durante a vida, e depois
a pessoa irá para o lugar que merece. N ao pense que Deus
náo vé os seus pecados; o Senhor ve toda a^áo e conhece
todo pensam ento. Arrependa-se; náo resta m uito tem po.
Se vocé precisa de ajuda para abrir o seu cora^áo a Jesús,
reze para que a sua M áe venha em seu socorro. Jesús quer
que vocé ame e respeite a M áe Dele com o se fosse sua
própria máe. Ela intercede por todos os seus filhos e irá
conceder a vocé m uitas grabas e dons espirituais”, dizia o
Padre Rw agem a, repetindo a mais recente m ensagem reve­
lada por Segatashya no palco dos visionários em Kibeho.
Parecía a mim que poderíam os ter an dado quase o dia
to d o atrás do Padre Rw agem a, apesar do calor do sol de
veráo que se abatía sobre nós. M uitas vezes fom os en­
volvidos por urna grossa cobertura de pó verm elho que
levantava da estrada de cháo po r causa de todos aqueles
pés m achucados e cansados que m archavam juntos. M as,
apesar disso, continuávam os a rezar e can tar até que fi-
cássem os sedentos e nossas vozes ficassem roucas... Todo
m undo na procissáo estava contente po r estar lá.
Após viajarm os por quase 20 quilóm etros, o grupo pa-
rava po r alguns m inutos para descansar e beber água. D e­
pois, o Padre R w agem a cantava conosco urna can^áo que
Jesús ensinou a Segatashya, urna cangáo que todos nós
conhecíam os pelo simples e a p ro p riad o nom e de “ Can-
^áo de Segatashya” :
Deus, voce me encontrou na estrada,
e me deu urna mensagem
para com partilhar com o mundo.
DESCOBRINDO SAGATASHYA

Eu a levei para os seus filhos,


mas os seus filhos nâo a ouviram.
O que devo fazer, meu querido Deus?
Por favor, me dê força e sabedoria
para conduzir m inha missâo,
e ajude-me a levar sua mensagem
para o seu povo.

C entenas de vozes entoavam aquele simples refrâo


conform e nos voltávam os e com eçàvam os a nossa longa
cam inhada de volta a M ataba, com o Padre Rw agem a
recitando m ensagens do Céu po r todo o cam inho.
A paixâo que os m oradores da aldeia sentiam po r to ­
dos os visionários de K ibeho, e po r Segatashya em p a rti­
cular, continuou a crescer. A fé de to d o m undo estava pe­
gando fogo. N osso adm irável sacerdote nos contava que,
durante suas visitas a K ibeho, eie via Segatashya, que nâo
tinha absolutam ente nenhum a escolaridade, conversando
com padres e teólogos a respeito do significado e das vá-
rias interpretaçôes da Biblia.
“ Este m enino nunca teve um único dia de ensino em
sua v id a” , explicava Padre R w agem a, atónito. “ Com o
poderia ele discutir as Escrituras ou argum entar sobre o
significado de passagens da Biblia com teólogos estuda-
dos a nao ser que o pròprio Senhor estivesse pessoalm ente
instruindo-o nesses assuntos? H á um verdadeiro m ilagre
e n andam ento aqui... Algo assim nunca tinha sido visto
antes na A frica!”
T áo grande era o zelo do Padre R w agem a por Kibeho
e Segatashya que ele com eçou a conduzir grupos de pe­
regrinos pela longa e àrdua jornada até Kibeho para que
eles p róprios pudessem testem unhar as apariçôes.
Por nao haver estradas ap ro p riad as de M a ta b a até Ki­
beho, e pelo fato de que a m aior parte das pessoas de nos­
sa aldeia nâo possuía sapatos, que dirá veículos, a pere-
grinaçâo p ara lá tinha que ser feita a pé. Era urna jornada
que durava m uitos dias, e m uitas vezes era preciso fazer
perigosas travessias de rios, an d ar po r entre m ontanhas e
53
O MENINO QUE. CONHECEU JESUS

se em brenhar através da m ata fechada. Q uan d o eu tinha


12 anos, tu d o isso soava incrivelm ente divertido p ara a
m inha im a g in a d o .
Q uan d o m eu pai anunciou que estava se ju n tan d o ao
Padre Rw agem a e a urna dúzia ou mais de nossos vizi-
nhos em urna p e re g rin a d o p ara Kibeho, eu comecei urna
constante cam panha de im p o r tu n a d o e súplicas na es­
peranza de que pudesse convencé-lo a me levar com ele.
M eu pai recusava po r com pleto os meus continuos
pedidos, dizendo (com absoluta razáo) que eu era m uito
jovem e que a jorn ad a era m uito perigosa. Ele prom eteu
que me levaria quan d o eu ficasse m ais velha, m as, na rea-
lidade, levaria m uitos anos até que eu finalm ente fizesse
urna viagem p ara Kibeho por m inha p rópria conta. E isso
só foi acontecer po r volta dos meus 20 anos, quando Se-
gatashya há m uito já tinha deixado de receber apari^oes
públicas em Kibeho.
M as isso nao queria dizer que eu estava im pedida de
conhecer Segatashya, assim com o nenhum m em bro de
m inha fam ilia estava. N a verdade, eu vim a conhecé-lo
extrem am ente bem através das d e s c rib e s que m eu pai
fazia de suas viagens a K ibeho, e po r ouvir horas e horas
das grava^óes que o Padre R w agem a fez do g aroto en-
q u an to ele estava no m eio de urna aparigáo.
Talvez m ais do que po r qualquer o u tro m otivo, o que
fez Segatashya se destacar p ara m im era a com panhia na
qual ele estava - a com panhia das outras extraordiná-
rias visionárias de Kibeho, que foram escolhidas pelo Céu
para espalhar m ensagens que todos nós precisam os ouvir.
E um grupo de garotas que todos nós devem os conhecer
e amar.

54
CAPÍTULO 3
OS V ISION ARIO S d e k ib e h o

As vezes, quan d o estou ao ar livre, em um am bien­


te tran q ü ilo , com o gram ado fresco sob meus pés, urna
suave brisa soprando em meus cábelos e o calor do sol
tocan d o m inha face, eu consigo fechar m eus olhos e ser
tra n sp o rta d a ¿m ediatam ente de volta ao tem po em que eu
passava longas tardes no quintal de nossa fam ilia, espe­
ran d o m eu pai reto rn ar de um a de suas p e r e g r in a je s a
Kibeho. A e x c ita d o e a ansiedade que tom avam conta do
m eu cora^áo pré-adolescente naquela época fazem meu
pulso acelerar ainda hoje.
A casa que meu pai construiu estava localizada na bei-
ra de um a íngrem e colina com vista p ara o Lago Kivu, um
dos lugares m ais espetacularm ente belos de to d a a África.
A vista de tira r o fólego que tínham os do lago em nosso
quintal fascinava e encantava m inha ativa i m a g i n a d o . O
Lago Kivu corre ao longo de to d a a borda oriental de R u­
anda, e suas am pias e brilhantes águas funcionam com o
um a fronteira natu ral que separa R uanda do seu vizinho
m ais próxim o, o Z aire (agora conhecido com o República
D em ocrática do Congo).
O Z aire era m uito m aior que R uanda - e, para os
m eus jcvens olhos, vendo através daquele lindo espelho
de água do p o n to de vista privilegiado de nosso quintal,
no topo do m orro, as densas florestas e escuras selvas ver­
des do país se estendiam infinitam ente. E, se era num dia
particularm ente claro, eu podia ver até m esm o o to p o das
m ontanhas atravessando as nuvens bem ao longe. A que­
les picos cobertos de névoa subiam táo alto que eu pen-
sava que eles estavam a meio cam inho do Céu. Eu imagi-
nava que aqueles cum es elevados e isolados poderiam ser
um local ideal para a Virgem M aria e Jesús repousarem
enquanto viajavam entre o Reino de D eus e a aldeia de
Kibeho para visitar os visionários.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

De vez em quando eu passava urna tarde inteira no


quintal olhando p ara aquelas m ontanhas enquanto espe-
rava papai reto rn ar de mais urna p e re g rin a d o a Kibeho.
Poderia ficar sentada imóvel por horas, descansando em
urna alm ofada de pelúcia feita de reiva selvagem, inalando
o inebriante arom a que vinha do enorm e jardim de flores
de m inha máe. Todo o tem po me perguntando se M aria e
Jesús estavam realm ente lá em cima - e, se realm ente esta­
vam , eles estavam olhando para mim? E, se olhavam , eles
ficariam felizes em saber que eu os am ava tanto?
Eu sem pre esperava conseguir surpreender papai q u a n ­
do ele voltava de sua jo rnada, correndo até ele e pulando
em seus bracos antes que ele alcan^asse a p o rta da frente.
M as, na m aior parte das vezes, era papai que, cam inhan-
do pelo quintal, me surpreendia enquanto eu olhava as
m ontanhas distantes, sonhando com Jesus e M aria em
plena luz do dia. Ele lim paria sua garganta ou co m etaria
a assobiar urna c a n d o Pa ra me fazer saber que estava em
casa e que estava esperando po r um abraco.
Eu jogava meus bracos em volta dele p a ra dar-lhe as
boas-vindas e ele cam inhava com igo até a beira da colina
e contem plava a vista que nós dois tan to am ávam os. Pa­
pai, entào, sem pre dizia quan d o ficávamos a sós em nosso
quintal e olhávam os juntos o Lago Kivu: “Im m aculée, eu
n ào sei com o alguém poderia olhar p ara tan ta beleza e
nao se com over com o encanto da obra de Deus. Voce sa­
bia que dizem que Deus passa o seu dia inspecionando a
C r ia d o e à noite Ele retorna p ara R uanda para descansar
porque este é o lugar mais bonito que Ele criou? Lembre-se
disso, Im m aculée. Deus dorm e em R u a n d a ” .
Eu apertava meus bracos ao redor dele o mais firme que
podia e beijava-o na bochecha. M au pai era a única pessoa
que eu conhecia que am ava a Deus tanto quanto eu; por
isso, eu o am ava mais do que seria capaz de descrever.
Depois de urna boa e longa olhada no lago, papai dizia
que estava com fome e cam inhava de volta p ara dentro de
casa. Antes que ele tivesse a chance de entrar, porém , eu

56
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

im plorava para que ele comegasse a dar detalhes sobre sua


viagem e as incríveis coisas que ele tinha visto e ouvido
em Kibeho. M as papai era m etódico em tudo que fazia e
nao diria urna palavra sobre suas p e re g r in a je s até que
a fam ilia tivesse term inado a refeigáo e depois se reunido
na sala para o Igitaramo. Somente entáo ele com etaria a
revelar-nos os acontecim entos verdadeiram ente m ilagro­
sos que ele tinha presenciado em Kibeho.
A prim eira coisa que eu sem pre perguntava p a ra pa­
pai era se ele tinha visto Segatashya. Inevitavelm ente, sua
resposta á m inha pergunta era insatisfatória, p ara dizer o
m ínim o. “Ah, sim, eu vi Segatashya” , ele dizia. “M as nao
comece a correr para chegar á frente de si m esm a, Im m a-
culée... Coisas boas vém p ara aqueles que esperam .”
M eu pai nunca gostava de ser apressado po r ninguém ,
especialm ente quan d o contava urna historia. Para ele, as-
sim com o para m uitos ruandeses, historias eram urna das
grandes ferram entas disponíveis p ara um educador, um
líder tribal ou um pai poderem expressar m ensagens e
ensinam entos m oráis aos jovens. A cultura e a historia de
R uanda foi sem pre passada adiante através da tradi^ao
oral da c o n ta d o de historias e em nosso lar essa tradi^áo
estava bem viva.
Q u an d o dava inicio as suas historias de p e re g r in a je s ,
papai invaríavelm ente com e^ava descreyendo a p rópria
jo rnada, co n tando tu d o o que tinha acontecido d u ra n ­
te os longos quilóm etros da exaustiva cam inhada. Para
m im , aquelas historias, m uitas vezes repletas de relatos
sobre dificuldades angustiantes, eram algum as das me-
lhores já contadas.
Papai nos contava com o o seu grupo de entre 200 e
300 peregrinos da aldeia ficou sem com ida no m eio do
percurso, foi perseguido p o r anim ais selvagens durante a
noite ou perdeu o r ie n ta d o e ficou perdido em urna indó­
cil floresta ruandesa. “ Lem bre-se de que m uitas daquelas
pessoas nunca tinham viajado p a ra além de um a ou duas
m ontanhas a fim de visitar p aren tes” , dizia ele. “Viajar

57
1

O MENINO QUE CONHECEU JESUS

num a grande excursáo p o r térra a lugares desconhecidos,


era algo que eles nunca teriam planejado fazer... E alguns
deles já estáo ficando velhos. M uitos deles saíram de suas
cabanas sem nenhum tipo de suprim ento, a m aioria nao
tinha sapatos ou nem m esm o um cobertor p ara dormir.
Eles estavam totalm ente despreparados p ara as dificul-
dades do cam inho... M as os seus c o r a j e s e alm as esta­
vam determ inados a ouvir a m ensagens do Céu e nada
os m anteria em casa, sabendo que Jesús e M aria estavam
esperando po r eles em K ibeho.”
Em seguida, papai nos contava que nao im portava o
qu an to desesperadora a s itu a d o ficasse para eles, o am or
e a devogáo do grupo pela Virgem M aria triunfava so­
bre todas as tribuía j e s que eles poderiam en co n trar ao
longo do trajeto. Ele descrevia a form a com o o Padre
Rw agem a conduzia os peregrinos na o r a d o á noite, na
h o ra em que eles erguiam o acam pam ento n o tu rn o . Eles
se ajoelhavam juntos em frente a urna fogueira e rezavam
p ara que a Santíssim a Virgem os ajudasse e guiasse. E as
o r a j e s deles sem pre eram infalivelm ente atendidas.
Em urna ocasiáo, após vários dias de cam inhadas exte­
nuantes, o grupo descobriu que nao tinha m ais nenhum a
com ida e centenas de bocas p ara alim entar. N aquela noite
eles rezaram ao Céu para que os provesse com alim ento
- e de m anhá alegrem ente descobriram que algum a boa
alm a, sem se identificar, tinha entrado no acam pam ento
durante a noite e deixado enorm es sacos de arroz e feijáo.
Em o u tra ocasiáo, os peregrinos ficaram desesperada­
m ente perdidos em urna m ata densa e nao sabiam qual
cam inho tom ar. Eles decidiram acam par em determ inado
lugar e rezaram a M aria p ara que ela os conduzisse de
algum a form a. M ais tarde, naquela noite, urna desconhe-
cida c o n s te la d o de estrelas apareceu sobre eles na form a
de urna cruz. Eles entenderam isso com o um sinal do Céu
e na m anhá seguinte sim plesm ente cam inharam na dire­
d o p ara a qual a brilhante cruz tinha ap o n tad o . Antes
que pudessem perceber, estavam fora da m ata e de volta
á estrada para Kibeho.
58
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

“N inguém se queixava m uito sobre cortes e contusòes,


nem m esm o resm unga va por estar com fom e” , disse m eu
pai. “Afinal, nós estàvam os indo ouvir M aria e Jesus, e
com o nossos pequeños sofrim entos poderiam ser com pa­
rados aos deles?” Papai nos contou que, q u an to m ais os
peregrinos sofriam , m ais eles valorizavam o qu an to Jesus
e a Virgem M ae tinham sofrido p o r to d o s nós... E m ais
determ inados eles ficavam em chegar a Kibeho com sor-
risos em seus rostos e alegría em seus c o r a j e s .
G eralm ente a esta altura eu jà estava tào ansiosa para
ouvir algum a coisa sobre Segatashya que cortava o relato
de papai. “E o m enino que conheceu Jesus, papai? Fale-nos
sobre Segatashya. C om o ele se parece? Eie é tào jovem
quanto dizem que é? Eie realm ente falou com Jesus? O
que aconteceu quan d o eie estava no palco? Eie disse a Je­
sus que as pessoas queriam ver outro milagre? C onte-nos,
papai! Segatashya fez o u tro m ilagre acontecer?”
Papai me olhava pacientem ente e dizia: “ O m ilagre de
Kibeho com eta no m om ento em que alguém sai em pe­
r e g r i n a l o com o cora^ào repleto de am or e fé. N ào sào
os visionários que fazem os m ilagres acontecer... M ilagres
acontecem qu an d o c o r a j e s céticos se convertem em co­
r a j e s cheios do am or de Deus. E é a crenga em Deus que
traz o am or a nossos c o r a j e s ! Fé e am or - fé no am or
de M aria e Jesus, e a cren^a de que as m ensagens que eles
tèm para nós sào enviadas po r Deus para nos salvar - isso
é o que faz com m ilagres aconte^am aqui na Terra. N unca
se esque^am disso, crianzas” .
Um daqueles m ilagres, acrescentou papai, era o fato de
que todas as lesòes sofridas pelos m em bros de sua peregri­
n a l o - de bolhas terrivelm ente infectadas a ligam entos
torcidos e distendidos, passando p o r i n s o l a j o - foram
curadas logo depois que eles chegaram em Kibeho. M ui-
tas vezes as curas ocorriam após um breve banho de sol
que surgia ao firn de urna apari j o , q u an d o um visionàrio
anunciava que M aria estava prestes a m an d a r algo p ara
aliviar as dores e afli j e s daqueles que tinham viajado
po r longas distancias para ve-la.
59
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Em seguida caía do céu azul e claro urna breve e rep a­


rad o ra chuva, sanando os ferim entos de m ilhares. Papai
se deliciava em nos co n tar sobre com o era ouvir 10 mil
suspiros de alivio ecoando através das m ontanhas de Ki-
beho enquanto centenas de cortes paravam de sangrar,
o inchago de tornozelos dim inuía ou desaparecía e in-
contáveis espíritos abatidos e fatigados repentinam ente
se erguiam renovados. Q uaisquer cuidados ou desgostos
restantes que ainda pesassem sobre os peregrinos evapo-
ravam no calor da luz do sol, que agora brilhava. Um
m ilháo de pequeños arco-iris se refletiam nos m ilhóes de
gotas de chuva que repousavam sobre as folhas da reiva
que crescia ñas m ontanhas de Kibeho. Era urna visáo que
inspirava toda alm a que pudesse testem unhá-la.
C om o a chuva tinha parad o e o sol secado suas roupas,
os peregrinos se levantaram juntos e deram -se as m áos.
Eles olharam em diregáo ao céu e ergueram suas vozes
p ara can tar o M agníficat, hiño favorito de N ossa Senho-
ra, o qual eles entoaram com o urna can^áo de louvor e
agradecim ento aos cuidados e á bondade que a M ae Ce­
leste tinha m ostrado p ara com eles, seus filhos gratos e
devotados... :
A minha alma engrandece ao Senhor
E se alegrou o meu espirito em Deus, meu Salvador;
Pois ele viu a pequenez de sua serva,
Desde agora as geragoes hao de chamar-me de bendita.
O Poderoso fez por mim maravilhas
E Santo é o seu nome!
Seu amor, de gera^áo em geragáo,
Chega a todos que o respeitam;
D em onstrou o poder de seu brago,
Dispersou os orgulhosos;
D errubou os poderosos de seus tronos
E os humildes exaltou;
Saciou de bens os famintos,
E despediu, sem nada, os ricos.
Acolheu Israel, seu servidor,

60
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

Fiel ao seu amor,


Com o havia prom etido aos nossos pais,
Em favor de A braào e de seus filhos, para sem pre.14

As descri^òes que papai fazia de suas chegadas em Ki­


beho, com vários grupos de peregrinos de M atab a, sem ­
pre pintavam um q u ad ro de fé e devo^ào nacional. “ Là
estavam m ilhares e m ilhares de pessoas reunidas em torn o
da ald eia” , dizia ele. “Todas estavam là para testem unhar
as aparigòes que a Virgem M aria e Jesus tinham m arcado
p ara os dias seguintes. As encostas que rodeavam Kibeho
estavam cobertas p o r acam pam entos de peregrinos, g ru ­
pos de am igos e enorm es fam ilias inteiras que fizeram a
jorn ad a p a ra ouvir as m ensagens. Eles vinham de toda
R uanda e alguns de lugares ainda m ais distantes, com o
Q uènia, T anzània, Burundi e Z aire... Todos estavam là
p a ra ouvir as palavras dos visionários, p ara ouvir o que a
R ainha do Céu e Jesus querem que saibam os... para rece-
ber as m ensagens que o Céu quer que levemos em nossos
coragòes p ara que possam os viver nossas vidas do jeito
que Deus planejou.”
“ Por favor, papai, conte-nos sobre Segatashya!” , eu
im plorava. M inha m ente fervia com ta n ta curiosidade a
respeito do m eu visionàrio favorito que eu nào conseguía
me conter.
M inhas continuas interrup^òes do Igitaram o tiravam
m eu pai do ritm o de sua c o n ta c io de historias apenas
m om entaneam ente. N aquela época de sua vida, eie tinha
p arad o de lecionar e tinha aceitado urna sèrie de prom o-
qòes que o levaram a construir urna carreira académ ica:
de professor a diretor e, finalm ente, a diretor regional das
escolas católicas. Todos aqueles anos no sistem a escolar
deram a ele experiéncia de sobra p ara lidar com jovens
im pacientes e indisciplinados com o eu.
Depois de m uitas vezes eu interrom pé-lo e tentar apres-
sá-lo em sua narrativa, papai sim plesm ente se calava por
14Lc 1, 46-56 - retirado do volume da Liturgia das H oras da cnbb.

61
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

com pleto. Ele olhava em silencio para mim com o seu olhar
“ oficial” de diretor de escola até que eu prom etesse ficar
quieta e aguardar pacientem ente enquanto ele nos falava
sobre Kibeho do seu pròprio jeito e no seu pròprio ritm o.
A prim eira coisa que papai queria voltar a co n ta r a
respeito de estar em Kibeho era a paixáo, devo^ào e o
estado de espirito da enorm e c o n g re g a d o de peregrinos
que ele tinha juntado lá. Ao final de cada apari^áo, ta n ­
to a Virgem M aria q u an to Jesus diziam ao visionàrio a
quem estavam aparecendo quando exatam ente as pesso-
as poderiam vè-los novam ente. De fato, a Santissim a Vir­
gem (ou Jesus, se o visionàrio em questáo era Segatashya)
contava a cada visionàrio a d ata exata e a hora de sua
próxim a apari^ào e depois essas datas e horários eram
divulgadas pelo ràdio. Essas in f o r m a le s possibilitavam
aos peregrinos que queriam ir a Kibeho se planejarem
p ara fazer a jornada em diregao ao local sagrado.
C om o papai nos contou, m ilhares de peregrinos che-
gavam em Kibeho com a esperanza de serem curados de
doen^as ou carregando objetos que eles queriam que fos­
se aben^oados po r M aria e Jesús, am olando o visionários
p ara conseguir. M uitos peregrinos saíam de suas aldeias
com os bolsos cheios de rosários, os quais eles erguiam
sobre suas caberas na hora em que os visionários subiam
ao palco. O utros traziam vasilhas com águas dos rios, es­
p erando que aquele líquido fosse m ilagrosam ente tra n s­
form ado em água benta durante as a p a r i j e s .
“Estes eram pequeños presentes dos visionários aos
fiéis - presentes que ajudavam a criar urna atm osfera de
am or entre toda a assem bléia” , disse meu pai. Ele estava
realm ente espantado com o fato de que tantas pessoas, que
tinham feito a m esm a jornada longa e dolorosa que ele
(algumas de lugares aínda mais distantes!), estivessem em
estados de espirito repletos de am or após suas chegadas.
“ Q uantas vezes na vida voce pode encontrar um lugar no
qual m ilhares e m ilhares de pessoas estejam apertadas jun­
tas em urna pequeña área durante dias, com pouca com ida
62
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

e água, sem que haja qualquer tipo de briga ou confusào?


Em Kibeho eu m al ouvi urna única palavra sendo p ro ­
nunciada com raiva... N à o há nenhum lugar com o aque-
le, nem em R uanda, nem em qualquer outro país!” , bra-
dou papai. “A p resen ta am orosa da Virgem M aria e a paz
do seu filho inegavelm ente tran sfo rm aram Kibeho em um
lugar diferente de todos os lugares que já vi em m inhas
viagens. A am ável p resen ta de Deus era sentida em to d o
o lugar!”
M eu pai com e^ou a co n tar com o dezenas de garotas
do Colégio de Kibeho juntaram -se com outras garotas
para form ar um vibrante grupo de dan^a. E nquanto os
percussionistas e outros m úsicos faziam o acom panha-
m ento m usical, o grupo executava d a n ta s tradicionais
em frente ao palco por horas. E nquanto isso, a m ultidáo
esperava pela chegada dos visionários.
“As garotas com e^aram a can tar c a n j e s em louvor à
Virgem M a ria ” , contou papai. “E logo cada urna das pes-
soas que estavam sentadas ñas colinas ao redor do palco
com egaram a c an tar tam bém ... 10 mil vozes crescendo
em uníssono, todas declarando seu am or pela Bem-Aven-
tu ra d a M ae, todos rezando para N ossa Senhora e Jesús
p ara que dessem suas bèngàos.”
“N o prim eiro dia de nossa últim a viagem , a prim ei-
ra visionària a subir ao palco foi a jovem A lphonsine” ,
continuou meu pai, descreyendo sua surpresa qu an to à
aparència infantil dela e a p o n ta n d o o q u an to eie ficou
to cad o pela tim ida inocencia e o jeito doce daquela es-
tudante. A m ultidáo bradou repleta de afeto quando eia
cam inhou para o centro do palco, ergueu o seu rosàrio e
com e^ou a conduzir a assem bléia em urna oragào para
N ossa Senhora.
Papai nos contou a respeito do silencio que baixou so­
bre as colinas quando a Virgem finalmente apareceu pe-
rante a jovem no meio de urna recitagào da Ave-M aria. Eie
viu a face de Alphonsine ganhar vida com urna expressào
de pura devogào, com o se o Céu tivesse dado um choque
63
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

de am or de um m ilháo de volts em seu coraçâo. O rosto


da m enina se revestiu de urna beleza celestial.
Eu já sabia po r interm èdio do Padre Rw agem a, que fa-
lou com m em bros do clero em Kibeho que estavam inves­
tigando as apariçôes, que, quan d o os visionários estavam
tendo urna visáo, eles ficavam absortos de tudo exceto da
presença celeste que estava na frente deles. C om o papai
nos contava agora, quando a Bem -Aventurada M ae apa-
recia perante A lphonsine ou p ara os outros visionários,
tu d o o que eles podiam ver era a Virgem M aria pairando
no ar alguns m etros acim a deles. A m assa de espectadores
em frente ao palco se transform ava, do p o n to de vista
dos visionários, em infindáveis cam pos de flores. Algumas
flores erguiam -se pujantes, dem onstrando força, vibraçâo
e beleza, enquanto outras pareciam curvadas e m urchas.
A Virgem M aria explicou aos visionários que as flores
representavam as pessoas que tinham ido a Kibeho para
ouvir as m ensagens dela e de seu filho, Jesus. Eia disse que
as flores m ais saudáveis eram pessoas cuja fé em Deus era
forte e crescente, enquanto as que pareciam doentes eram
individuos cuja fé no Senhor precisava ser reforçada. M as
M aria sempre dizia aos visionários que eia am ava todas
as flores igualm ente e que suas mensagens de am or eram
destinadas a ajudar todos aqueles que tinham ido a Ki­
beho para receber suas bênçâos.
“ C om o sem pre, A lphonsine conversava com a Virgem
da m esm a form a com o você conversa com sua m âe, Ima-
culée” , disse m eu pai. “ Eia cham ava a Virgem de m am âe
e depois discutiam sobre com o estavam progredindo suas
tarefas escolares e sobre com o eia e todas as outras garo-
tas do Colégio de K ibeho estavam se dando bem.”
Papai nos contou que, em urna determ inada noite, Al­
phonsine disse que a Bem-Aventurada M âe tinha ensinado
a eia urna cançâo que eia queria que o m undo todo apren­
desse. A cançâo era táo simples e bonita que, quando Al­
phonsine com eçou a cantá-la, todas as vozes em Kibeho
cantaram junto. A Santissima Virgem cham ou a cançâo de

64
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

“ Os Filhos de K ibeho” :

Eu confio a vocé o meu futuro, M aria,


Porque vocé transm ite a voz de Deus, M aria.
Eu juntei tudo que possuía, M aria,
E vim para os seus braços, M aria.
Veja com o eu irei mudar, M aria,
Por causa da voz de Deus, M aria.
Ensine a nós, seus filhos de Kibeho,
A am ar uns aos outros, M aria.
Que todos possam te amar, M aria,
Que todos possam confiar em ti, M aria.
Por favor, veja com o irei viver
Deste dia em diante, M aria,
Porque você trouxe a voz de Deus para mim, M aria.

Em seguida papai nos contou com o Alphonsine, ao fim


da apariçâo, caiu feito urna rocha no chao do palco, físi­
cam ente exausta e em ocionalm ente esgotada. “Era sempre
a mesma coisa com todas aquelas crianças” , explicou ele.
“Assim que os encontros deles com M aria term inavam ,
eles caíam de costas ou de cara no chao. Era de se adm i­
rar que nâo quebrassem o pescoço ou rachassem o cránio.
M as, ao que parece, M aría estava cuidando deles com o a
M ae protetora que ela é. O Padre Rw agem a me contou
que os médicos da Com issâo de Inquérito, que estavam
vendo tudo de perto durante as apariçôes, exam inaram os
visionários antes, durante e depois de suas visôes - e eles
nunca conseguirán! encontrar qualquer coisa seriamente
errada nas crianças, nâo im portava o quanto o corpo de-
las tivesse ficado contorcido durante o transe ou quanto a
queda délas após a apariçâo tivesse sido intensa.
Além dos vários m édicos que estavam sem pre presen­
tes durante as apariçôes, papai disse que um grupo de
freirás locáis tam bém estava p o r p erto p a ra ajudar os vi­
sionários. D uas ou très dessas freirás poderiam correr ao
palco ao fim de cada apariçâo p ara co n fo rtar a estudante
caída - e, depois que ela recobrasse a consciéncia, elas a

65
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

erguiam e a ajudavam a cam inhar até um lugar tranqüilo


para que pudessem descansar e se recuperar.
“ Eu me lem bro de com o m eu coraçâo ficou sensibili­
zado com a jovem A lphonsine... Eia estava táo com pleta­
m ente cansada depois da visita de M aria que très grandes
hom ens tiveram que levantar o seu corpo m ole em seus
om bros e carregá-la p a ra fora do palco.”
O lhei esperançosa para papai enquanto ele term inava
de descrever as incríveis apariçôes vistas po r Alphonsine,
cruzando m inhas m áos em um gesto de súplica. Silenciosa­
m ente, soprei urna única palavra de apelo: “ Segatashya?”
Papai ergueu seu braço e virou a palm a de sua m âo em
m inha direçâo com o se fosse um policial paran d o um car­
ro em alta velocidade. “Vai com calm a, Imaculée, nós va­
mos chegar lá logo!” A seguir, ele falou rapidam ente sobre
as apariçôes vistas no palco pelas outras duas visionárias
- A nathalie e M arie-C laire - que foram testem unhadas
por ele. Eu ouvi trechos daquelas apariçôes pelo ràdio en­
quanto papai estava fora, m as ele tinha m em orizado duas
cançôes curtas que foram cantadas pelas visionárias; urna
délas foi ensinada pela Virgem M aria e eu nunca a tinha
ouvido antes.
C om o eu disse anteriorm ente, historias sáo urna ferra­
m enta de ensino m uito im portante na sociedade ruande-
sa, mas cançôes sáo ainda m ais im portantes, pois a m elo­
dia ajuda as palavras e a penetrar m ais fundo em nossos
coraçôes e m entes. Por isso, náo tinha a m enor chance de
papai p ular po r cim a de qualquer cançâo que um visio­
nàrio tivesse com partilhado com os peregrinos enquanto
ele estava em Kibeho.
A prim eira cançâo era urna historia agridoce sobre o
sofrim ento de urna m âe, a quai foi ensinada a M arie-Claire
pela Virgem M aria durante urna apariçâo à tarde:
M âe misericordiosa, lembre-nos sempre
Das tristezas do seu Filho, Jesús.
Quem entre nós nao choraría vendo as lágrimas
Que a M âe de Jesús derram ou por seu único Filho?

66
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

Pois os espinhos que colocaram em sua cabega


Eia sentiu com o se fosse em sua pròpria cabera;
Q uando eia ouviu a cruz sendo cravada na cova recém-aberta,
Seu coragào tremeu e se partiu em dois.
M ae misericordiosa, lembre-nos sempre
Das tristezas de seu Filho, Jesus!

A próxim a can^ào que papai com partilhou conosco


era um hino de fervorosa a d o r a l o que A nathalie cantou
para a Virgem M aria. Papai nos disse que a visionària
esteve jejuando por um bom tem po com o um ato de peni­
tencia antes desta apari^ào em particular. Em vista disso,
naquele m om ento eia estava tào fraca e cansada que sua
voz m al se levantou além de um sussurro. Eu fiquei tào
tocada pela historia que m em orizei a cangào e po r anos
a cantei com urna voz cansada e exausta para h o n rar e
im itar A nathalie:
Nós viemos agradecè-la, M ae,
Querida M ae fiel.
Ninguém foi tao aben^oada como voce.
Deixe que todos ergam suas vozes para louvà-la.
Q uerida M ae, a mais estimada pelo Criador.
Todos nós nascemos em pecado, exceto voce,
Q uerida M ae, que nasceu imaculada.
Todos os anjos no Reino de Deus cantam o seu nome.
Querida M ae, que seca nossas lágrimas, nós a amamos!

Após recitar a cangào de A nathalie, papai se levantou


e ergueu suas m àos e bracos em diregào ao teto. Depois
arqueou suas costas, alongando o corpo to d o , e soltou um
imenso bocejo que ecoou pela casa. Eu sabia o que viria a
seguir; eu jà tinha visto isso antes. M uitas vezes, quando
eie retornava de urna de suas p e r e g r in a je s , ele nos fazia
esperar o m aior tem po possivel - nossa ro tin a de tarefas
dom ésticas, deveres escolares e jan ta r em fam ilia tinha
que vir sem pre em prim eiro - antes de nos convocar para
mais urna sessào de Igitaramo. M as, com o parecia estar
se preparando p a ra fazer agora, eie poderia interrom per

67
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

urna de suas historias bem no m eio e anunciar que estava


táo cansado que precisava ir para a cam a im ediatam ente.
“N a o se preocupem , crianzas” , disse ele. “Apenas preci­
so de urna boa noite de sono. Eu contarei o resto da pere­
g r in a d o durante a sem ana... O u talvez na sem ana que
vem, se as coisas ficarem m uito corridas.”
M as antes que papai tivesse term inado o seu hocejo,
eu pulei e me posicionei entre ele e o q u a rto dos meus
pais. Tenho certeza de que o meu olhar e a m inha ex-
pressáo determ inada estavam assustadores. “N em pense
em dorm ir antes de me dar todos os detalhes restantes a
respeito de tu d o que Segatashya disse e fez!”
M eu pai riu de m inha d e te rm in a d o . Acho que ele nunca
tinha me visto agir de form a táo audaciosa antes e estou
certa de que m inha paixáo pelas mensagens de Jesús entre­
gues a Segatashya o agradava m uito.
“Está quente dentro de casa esta noite. Acho que nós
podem os deixar entrar um pouco de ar a q u i” , disse ele,
passando por mim em d ir e d o ao pequeño hall perto da
p o rta de entrada. Ele olhou para seu relógio e abriu a porta.
Lá, p arad o sob a soleira, com o se tivesse surgido grabas a
um truque de m eu pai, estava o Padre Rw agem a.
“ O brigado por vir, Padre” , disse m eu pai, conduzin-
do-o para a sala. O bondoso sacerdote sorriu e acenou
para meus irm àos e eu, e fez urna m esura para m inha máe,
que im ediatam ente se dirigiu á cozinha para buscar algo
para nosso convidado com er e beber. Apesar de ter chega-
do de Kibeho com m eu pai naquele m esm o dia, o Padre
Rwagem a parecia estar novo em folha e cheio de energia.
Seus olhos se m exiam com vigor e sua face estava radiante
com os milagres que ele tinha testem unhado recentem ente.
“Eu convidei o Padre R w agem a p ara se ju n ta r a nós
nesta noite porque tenho certeza que ele sabe m ais sobre
Segatashya do que qualquer o u tra pessoa no p a ís” , dis­
se papai. “E, é claro, eu sabia que Im m aculée teria mais
perguntas a respeito do seu visionàrio favorito do que eu
conseguiría responder sozinho.”
68
OS VISIONARIOS de KIBEHO

Urna vez que o Padre R w agem a já estava ajeitado em


sua cadeira e a m inha m áe já tinha lhe dado algo para
com er e beber, papai continuou sua historia.
“Padre, eu estava falando p a ra eles sobre as visioná-
rias que vimos e tinha acabado de recitar a can^áo de
A nathalie” , disse papai. “A gora, Im m aculée, eu sei que
vocé está esperando que Segatashya entre em cena depois
de A nathalie, m as nós esperam os por m ais um dia inteiro
antes que ele chegasse a Kibeho. N aquela altura, a mul-
tidáo de 10 mil peregrinos que nos acolheu quando che-
gam os na aldeia tinha quase triplicado de tam anho. Isso
dá um a idéia do q u an to Segatashya tin h a ficado popular
em um período táo cu rto de tem po. H avia pelo m enos 30
mil pessoas com prim idas em frente ao palco na tarde que
estava m arcada p ara ele receber sua apari^áo e a onda de
‘vivas’ que surgiu no m eio da m ultidáo quan d o ele final­
m ente chegou era ensurdecedora.”
Papai balan^ava sua cab era, incrédulo, en q uanto re-
latava o m om ento em que ele colocou seus olhos em Se­
gatashya pela prim eira vez. “ C om to d o aquele suspense e
toda aquela fam a, eu pensei que ia ver alguém que tinha
perto de sete m etros de altura e que se vestía com o um
príncipe, m as a crianza que tinha subido ao palco parecía
que tinha acabado de sair de um curral de vacas!”
“ Segatashya é um adolescente, mas, p ara m im , ele p a­
recía náo ter m ais que oito ou nove anos. Parecía até que
ele era m enor que as estudantes que tinham estado no
palco antes dele - e, para lhe falar a verdade, eu acho que
ele náo era m uito m aior que vocé, Imm aculée! D ava para
ver que a fam ilia dele náo tinha dinheiro algum , que eles
náo tinham quase nada e que eram táo m iseráveis quanto
as pessoas m ais m iseráveis de nossa aldeia. O m enino era
táo m agro e descarnado que vocé podia im aginar que ele
nunca tinha com ido m ais que um a refei^áo de arroz e
feijáo por dia em toda sua vida, isso se náo for m uito.”
“ Eu acho que ele tinha ido para K ibeho naquele dia m e ­
diatam ente após ter cuidado de suas cabras p e rto de sua
casa, que, segundo me dísseram , ficava a m ais ou m enos

69
I

O MENINO QUE CONHECEU JESUS

48 quilóm etros de distancia. Ele estava descaigo e seus


pés e tornozelos estavam cheios de lam a seca e dura. Ele
estava vestindo um c a lla o verm elho velho e esfarrap ad o ,
que tam bém estava salpicado de lam a. Esse c a lla o estava
preso em volta de sua cin tu ra p o r um grosso pedazo de
corda. Ele vestía urna cam iseta desbotada que estava ras­
gada e am assada em m uitos p o ntos e parecía tá o tím ido
que eu pensei que ele nu n ca conseguiría o lh ar p a ra os
olhos de alguém .”
O Padre Rw agem a tinha term inado o prato de arroz
que m inha m ae havia lhe oferecido e estava ocupado re-
m exendo em urna sacóla que ele tinha trazido consigo.
Eu nao tinha certeza do que ele estava p ro cu ran d o , m as
esperava que fosse o seu to cad o r de fitas e algum a grava-
gao da aparigáo.
“Vocé deve se lem b rar” , com egou o Padre Rw agem a,
“ que Segatashya é um g aro to do sitio sem escolaridade
e sem absolutam ente nenhum conhecim ento de religiáo.
Ele é um pagáo, com o seus pais, e eu realm ente acho que
ele nunca esteve m ais que um día de cam inhada de dis­
tancia fora de casa antes que Jesús aparecesse p ara ele e
desse-lhe m ensagens para entregar em K ibeho.”
O Padre Rw agem a olhou p ara m eus irm áos e para
m im . “ C rianzas, ponham -se no lugar de Segatashya e ten-
tem im aginar o que é ter passado a vida toda sem nunca
ter convivido com um grupo de pessoas m aior que a sua
fam ilia e, de repente, num belo dia, se en co n trar p a ra ­
do diante de 30 mil desconhecidos, todos esperando que
vocé lhes transm ita as palavras de Deus. Voces conse-
guem im aginar isso?” , p erguntou ele. “Esse m enino deve
ter a coragem de um leáo! Talvez essa seja um a das razóes
po r que Jesús o escolheu p ara ser um em baixador do Céu
aqui na Terra.”
Papai se virou para meu irm áo, Damascene, que tinha
quase a mesma idade de Segatashya, e disse-lhe: “Q uando eu
vi Segatashya lá em cima no palco parecendo táo pequeño
no meio de padres e médicos que vieram para examiná-lo...
70
OS VISIONARIOS d e k ib e h o

E parecendo táo m inúsculo na frente de dezenas de m ilha-


res de pessoas que viajaram de táo longe para ouvi-lo...
Eu náo pude deixar de pensar em meus próprios filhos.
Eu sabia que me m agoaria terrivelm ente com o pai se
qualquer urna das m inhas crianzas tivesse que estar onde
estava aquele g aro to naquele m om ento, encarando urna
enorm e tensáo e sobrecarregado pela pressáo de táo g ran ­
des expectativas” .
“ M as depois nós testem unham os a m ais extraordiná-
ria das tr a n s f o r m a r e s no m om ento em que Segatashya
sentiu a p resen ta do Senhor Jesús próxim a dele” , obser-
vou o Padre Rw agem a. “Im agine com o deve ser voce lite­
ralmente ver Deus. E claro que todos nós podem os sentir
a presenta do Senhor quan d o rezam os... M as nenhum de
nós aqui esta noite jam ais irá saber o que é estar diante
Dele enquanto ainda estam os em nossos corpos hu m a­
nos. E que experiencia foi aquela para nós! N ós fomos
im ensam ente abengoados por poder testem unhar o m o­
m ento em que Segatashya contem plava Jesús!”
“ Eu fui para Kibeho m ais de urna dezena de vezes
e posso atestar que o choque da s e p a r a d o deste m u n ­
do terreno e a en trad a no Reino dos Céus produzia um
p rofundo im pacto em cada um dos visionários. M as o
traum a físico experim entado por Segatashya sem pre me
im pressionou m ais, pois parecia ser o m ais extrem o.”
O padre nos contou com o se separou dos peregrinos
que ele tinha conduzido até Kibeho e se aventurou em di-
regáo ao palco para gravar Segatashya conversando com
Jesús. “Eu estava lá com os dois médicos e vários sacerdotes
da Com issáo de Inquérito” , disse ele. “H avia tam bém um
técnico de transm issáo segurando um m icrofone que trans­
mitía tudo que Segatashya dizia através de um poderoso
sistema de som amplificado - todo m undo, naquela vasta
m ultidáo, podia ouvir cada sílaba que Segatashya profería.”
“ O técnico tinha acabado de colocar o m icrofone em-
baixo do queixo de Segatashya quando o garoto repentina­
m ente caiu de joelhos. Seus olhos se abriram enorm em ente
71
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

e sua face se ilum inou com o se houvesse 100 mil raios de


luz sendo apontados para ele de algum lugar no alto.”
“N o m om ento em que Segatashya caiu, ele bateu no
m icrofone do técnico e o objeto acabou ficando pressiona-
do entre o peito do m enino e o chao. N aquele m om ento,
a m ultidao ficou em siléncio. Tudo que se podia ouvir em
um raí o de quilóm etros era a batida do coraçâo de Se­
gatashya, que era captada pelo m icrofone e amplificada
através do enorm e conjunto de alto-falantes que ladea va
o palco.”
“A principio, sua pulsaçâo estava norm al - seu co ra­
çâo parecia igual ao de qualquer outro garoto saudável
de sua idade, batendo 60 ou 70 vezes p o r m inuto. M as no
m om ento em que o Senhor se m aterializou na frente dele,
o coraçâo de Segatashya com eçou a acelerar. O constante
ta-dum -ta-dum da batida do seu coraçâo crescia táo rá ­
pidam ente que aquilo parecia hum anam ente impossível.
Parecia que algum percussionista louco tinha entrado em
seu peito.”
“A pulsaçâo de Segatashya pulou p ara 100 batidas
po r m inuto; em seguida, instantáneam ente, pulou p ara
200; e depois aum entou novam ente para 300 batidas por
m inuto, ou talvez até m ais. O s médicos no palco estavam
táo chocados qu an to qualquer o utra pessoa e com eçaram
a p ro cu rar por um estetoscopio em suas m aletas. Algu-
m as pessoas na m ultidao cobriram seus ouvidos porque
o som tinha se to rn ad o aterrorizante. Eu pensei que o co­
raçâo do pobre garoto ia explodir para fora de sua caixa
torácica.”
Vendo que todos nós estávam os com o fólego preso, o
Padre Rw agem a nos deu um sorriso reconfortante. “Um
pouco depois, Segatashya sorriu de orelha a orelha. E,
falando com força e bem alto, ele disse: ‘K aram e!’” (Em
kinyarw anda, urna língua nativa de R uanda, Karam e é
um jeito polido de dizer “ O lá ” - literalm ente, se traduz
com o “Vida longa a vocé” .)
“Assim que Segatashya cum prim entou Jesús” , conti-
nuou o padre, “sua pulsaçâo instantáneam ente voltou ao
72
OS VISIONARIOS de KIBEHO

norm al. Alguns segundos depois, o m enino com egou a


rezar o Pai N osso e to d as as 30 mil pessoas que estavam
na frente dele se ajoelharam e rezaram ju n to :”
Pai nosso que estáis no Céus,
Santificado seja o vosso Nome,
Venha a nós o vosso Reino,
Seja feita a vossa Vontade
Assim na Terra como no Céu.
O pao nosso de cada dia nos dai hoje,
Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim com o nós perdoam os
A quem nos tem ofendido.
E nao nos deixeis cair em tentagáo,
M as livrai-nos do mal.
Amém.

N esta hora, o Padre R w agem a tinha encontrado o que


estava p ro cu ran d o em sua bolsa, e, com o eu esperava,
era o seu to cad o r de fitas. “Eu sei que está ficando tarde,
m as eu im agino que to d o m undo, especialm ente Im m a-
culée, gostaria de ouvir um pouco de sua m ais recente
a p ari^ áo ” , uisse ele, com um sorriso. “ Esta prim eira parte
m ostra Segatashya questionando Jesus sobre com o ele de-
veria lidar com todas as dúvidas, parecidas com as fam o­
sas dúvidas de Tomé, que ele com egou a encontrar logo
depois que as aparigòes do Filho de Deus com egaram .”
O Padre R w agem a apertou o botáo Play do seu to ca­
d o r de fitas e, de repente, Segatashya estava na sala co­
nosco, falando com Jesus coni voz suave e determ inada:
Senhor Jesús, tem algo que eu acho que voce deve ficar
sabendo. Ainda há, em Ruanda, m uitas pessoas que nao
entendem o que está acontecendo aqui em Kibeho; e pior,
há pessoas que simplesmente nao acreditam que voce e sua
màe realmente estào aparecendo para nós. H á pessoas que
estào se queixando e dizendo que o que está acontecendo em
Kibeho nao é verdadeiro, que os visionários estào contando
grandes e malignas mentiras. Por que voce me dá mensagens
de urna form a que nao é fácil para as pessoas acreditarem?
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Eu gostaria de sugerir que vocé m ostré a elas a sua luz, ou


mostre-se a elas como vocé está se m ostrando a mim; desta
form a, eles veráo que é verdade. Por que vocé nao brilha sua
luz sobre elas, Jesús? Dé a eles a sua luz para que eles possam
ver a verdade. Pelo menos, eu devo saber que respostas dar a
essas pessoas que estáo vindo até mim cheias de perguntas...
Se vocé nao faz brilhar a sua luz do entendim ento sobre elas,
entáo vocé deve me dar todas as respostas antes, para que eu
possa esclarecé-las corretam ente.

M eu pai deu urna grande gargalhada, o que ele ra ra ­


m ente fazia na frente dos filhos. Papai era um hom em
m uito am ável, m as era extrem am ente form al em casa
porque ele tinha que interp retar o papel de disciplinador.
M as ele ficou tocado e deliciado pelo jeito com que Sega-
tashya se dirigia a Jesús. “ O uga esse g a ro to !” , disse ele.
“Ele nao som ente está questionando o Senhor a respeito
do seu m étodo de co m p artilh ar m ensagens com o m undo,
m as tam bém está aconselhando Jesús Cristo, de táo in o ­
cente, aberto e honesto que é o seu coragáo!”
“ O jeito simples do m enino deve ser o u tra razáo pela
qual Jesús o escolheu com o m ensageiro” , acrescentou o
Padre Rw agem a.
“M as, falando sério” , disse m eu pai, com sua risada
já com egando a dim inuir de volum e, “m esm o quando
Segatashya estava questionando ou ten ta n d o aconselhar
Jesús, vocé náo podia deixar de perceber o p ro fu n d o res­
peito do garoto reverberando pelas colinas.”
“ M as, p a p a i” , falei, “com o nós sabem os quais foram
as respostas do Senhor para Segatashya? C om o podem os
saber o que Jesús disse quan d o Segatashya lhe perguntou
o que deveria dizer as pessoas que náo acreditavam no
que estava ocorrendo em K ibeho?”
“Ah... N ós sabem os porque, depois que a aparicáo para
o g aro to term inou, eu fui visitá-lo atrás do palco. Eu
fiz-lhe as m esm as perguntas que vocé acabou de fazer,
Im m aculée. E era isto o que Segatashya tinha a dizer” , disse
o Padre R w agem a, ap ertan d o o b o táo Play novam ente. E,
de novo, lá estava a voz de Segatashya, desta vez repetindo

74
os v i s i o n a r io s d e k ib e h o

as perguntas que tin h a feito a Jésus e depois co n tando ao


Padre R w agem a quais foram as respostas do Senhor:
Q uando perguntei a Jésus o que dizer àquelas pessoas que
estavam duvidando, ele me disse:
M eu filho, diga a todas as pessoas que nâo acreditam nas
mensagens que estâo sendo entregues em Kibebo que elas de-
vem se preocupar apenas em acreditar e seguir o que está na
Biblia... Elas devem acreditar e seguir o que está na Biblia
com toda a força dos seus coraçôes.is
M as o que eu falo ás pessoas que dizem que, porque Jesús
aparece com mais frequência para visionários católicos, elas
se verâo forçadas a 1er a Biblia católica? E Jesús me disse:
Eu vou encontrar os coraçôes de todos aqueles que acre­
ditam em m im e seguem os meus m andam entos - nâo impor­
ta qual Biblia eles leiam ou a quai religiâo eles pertençam.
Q uando eu voltar para procurar por meus filhos, nâo pro-
curarei por bons cristâos que fazem boas açôes e praticam
atos de am or e devoçâo apenas na Igreja Católica. Eu pro-
curarei pelo m undo inteiro todos aqueles que honram meus
m andam entos e m e am am com coraçâo aberto e sincero... E
o am or deles, e nâo suas religiôes, que os fazem verdadeiros
filhos de Deus. Diga essa única verdade a todos aqueles com
quem você falar em m eu nome: creiam em m im e tudo o mais
que vo¿és fizerem na vida façam-no com fé e am or.16
Aqueles que sabem de Deus, que foram ensinados nos ca-
m inhos de Deus, serâo elevados a um nivel mais alto... M uito
será esperado daqueles a quem m uito foi dado. N inguém é for-
çado a crer em Deus, mas, ainda assim, Deus vive no coraçâo

15“Deus ‘quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento


da verdade’ (lT m 2,4), isto é, de Jesús Cristo. Por isso é necessàrio que Cristo
soja anunciado a todos os hom ens, segundo o seu m andam ento: ‘Ide e ensinai
lodos os povos’ (M t 28, 19). E o que se realiza com a T r a d i t o Apostólica. A
T r a d i t o Apostólica é a transm issao da m ensagem de C risto, realizada desde
as origens do cristianism o, m ediante a p re g a d o , o testem unho, as institui^óes,
o culto, os escritos inspirados. Os A póstolos transm itiram aos seus sucessores,
os bispos, e, através deles, a todas as gerafóes até ao fim dos tem pos, tudo
o que receberam de C risto e aprenderam do Espirito S anto” (Com pendio do
<:ic, nn. 11-12).

I6“A Igreja Católica reconhece que tudo o que de bom e de verdadeiro


existe ñas outras religiòes vem de Deus, é reflexo da sua verdade, pode preparar
para acolher o Evangelho e m over em diregáo à unidade da hum anidade na
I)1,reja de Cristo.” (Com pendio do CIC, n. 170).

75
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

de todas as pessoas... Basta seguir seu coragao para encontrar


o am or de Deus. Aqueles que vivem no am or ouviráo a voz de
Deus, porque a voz de Deus é urna voz de a m o r}7

O Padre Rw agem a aperto u o botáo Stop e disse:


“M esm o que eu viva ta n to tem po qu an to viveu M atusa-
lém, eu nunca serei capaz de pregar um serm ao com tal
sim plicidade e ab undante gra^a com o o que acabam os de
ouvir neste que Jesús pregou p ara Segatashya: acreditem
no Senhor e perm itam que tudo o que voces fizerem na
vida seja m otivado pela fé e pelo a m o r” .
Essa é urna m ensagem que eu tenho carregado com igo
desde aquele dia (há quase 30 anos) até este m om ento... E
é urna m ensagem que eu constantem ente me esforzó para
ad o ta r e praticar.
A beleza de todas as m ensagens que ouvi em m eu ale­
gre lar naquela noite me deixou ainda m ais desesperada
p ara viajar a K ibeho com m eu pai e poder testem unhar
eu m esm a as apari^oes que Segatashya estava recebendo.
M eus pais p rom eteram que eu poderia ir qu an d o esti-
vesse maior, m as as apari^óes públicas de Segatashya em
K ibeho du raram apenas um ano. Por isso, me obriguei a
conhecé-lo p o r outros, e m ais criativos, meios.

,7“ [A] salva^áo vem de C risto-C abera por meio da Igreja, que é o seu corpo.
P ortanto, nao poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja corno fundada
por C risto e necessária á salva^áo, nela nao entrassem e nela nao perseverassem.
Ao mesmo tem po, grabas a Cristo e á sua Igreja, podem conseguir a salva^áo
eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua
Igreja, mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da gra^a, se esforgam
por cum prir a sua vontade, conhecida através do que a consciencia lhes d ita ”
(Compendio do CIC, n. 171).

76
CAPÍTULO 4
CR IA N ZA , FILH O , IR M Á O E
V ISIO N A R IO PR IN CIPA N TE

A fam a dos visionários de Kibeho cresceu rápidam en­


te com o aparecim ento de Segatashya. M ilhares e m ilha-
res de peregrinos afluíram p ara a aldeia que um dia foi
com pletam ente desconhecida, todos na esperanza de que
seus corpos ou alm as, ou apenas os sofrim entos de suas
vidas cotidianas, pudessem ser curados p o r estarem perto
de Segatashya quan d o Jesús aparecesse para ele.
A pesar das estradas p ara K ibeho estarem virtualm ente
intransitáveis, grandes carros e veículos m ilitares atulha-
dos de peregrinos com egaram a chegar perto do palco a n ­
tes de todas as aparigóes que estavam agendadas. E o céu
ficava to m ad o pelo zum bido dos helicópteros m ilitares
que ficavam sobrevoando a área nos dias de apari^óes.
O s helicópteros, que difícilmente qualquer pessoa da R u­
anda rural já tinha visto antes, aterrissavam nos cam pos
próxim os. Eles traziam pessoas im portantes e políticos
que vinham de seus lares luxuosos e agradáveis na ca­
pital, Kigali, para este fim de m undo lam acento que era
táo pequeño que nunca foi colocado no m apa. Kibeho
repentinam ente se to rn o u o lugar m ais fam oso do país e
todos queriam ser vistos ao lado de visionários cada vez
m ais populares.
Até m esm o o presidente de R uanda, Juvenal H abyari-
m ana, entrou em cena quan d o seu helicóptero particular
aterrissou no pátio do Colégio de K ibeho. Ele depois foi
flagrado tendo um encontro privado com Segatashya! O
país estava alvorogado com aquele encontro - todo m u n ­
do estava falando sobre com o o hom em m ais poderoso
da nagáo estava ouvindo o que tinha a dizer um iletrado
garoto pagáo que conversou com Jesús.
O M ENINO QUE CONHECEU JESUS

Tudo isso deu urna atm osfera de circo aos encontros


com os visionários em K ibeho... E isso deixou m uitas pes-
soas desconfortáveis, especialm ente meus pais. Eles ado-
ravam a pureza das aparigoes que os visionários estavam
recebendo, m as detestavam a idéia de que um verdadeiro
m ilagre estava sendo usado p ara propósitos políticos.
A m ultidáo cresceu de form a ingovernável, o que era
urna m á noticia p a ra m im e m eu ardente desejo de ir a
Kibeho ouvir os visionários e conhecer pessoalm ente Se­
gatashya. À m edida que os agrupam entos de pessoas se
tornavam cada vez m aiores, os apelos aos meus pais para
que me deixassem ir em urna p e re g rin a d o se tornavam
cada vez m ais ineficazes.
“Isso está fora de questáo, especialm ente agora que o
presidente esteve lá. Q uem sabe o que pode acontecer?!” ,
disse papai, recusando m ais um de meus infindáveis pe­
didos para me ju n ta r a ele em sua próxim a p e re g rin a d o .
“Voce pode ser pisoteada até a m orte por aquela m ul­
tid á o ” , acrescentou m inha m áe, que, em se tra ta n d o da
seguranza de seus filhos, era a p re o c u p a d o em pessoa.
“M as eu vou fazer 13 anos em janeiro!” , protestei.
“Eu sou quase da m esm a idade do pròprio Segatashya!”
“M as voce náo é o Segatashya, Im m aculée” , declarou
firmemente m eu pai. “Acho que vou esperar até que vocé
faga 16 anos antes de deixá-la ir a Kibeho para ver Sega­
tashya.”
“N á o !”, interveio m inha m áe, enfaticam ente. “Eia náo
pode ir enquanto náo tiver, pelo m enos, 18 anos.”
“ O k, voce pode ir a Kibeho no seu aniversário de 18
an o s” , papai decretou.
“N áo, espere eia fazer 21 anos, Leonard.”
“Ah, deixem isso pra lá ” , resm unguei. Eu sabia que
náo estava fazendo nenhum bem á m inha causa arg u ­
m entando com esses dois, que eram m otivados pela ra-
záo, pelo am or e pelo im perativo paternal de protegerem
seus filhos do mal.
CRIANZA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

Eu percebi que teria de esperar m uito tem po para en­


contrar Segatashya pessoalm ente e conhecer Kibeho em
prim eira m io , mas isso nào significava que eu teria de es­
perar tanto para saber mais a respeito dele e me to rn ar
parte da coisa toda. Eu estava com prom etida e determ ina­
da a aprender tudo que pudesse sobre Segatashya e as apa-
rigòes. Essa d e te rm in a d o se enraizou profundam ente em
meu coragáo, acabando por se to rn ar urna obsessáo (mas
das saudáveis!) que eu, obviam ente, alim ento até hoje.
Eu ouvi centenas de horas de gravagóes das aparigóes
que o Padre R w agem a trazia p ara M a ta b a após suas via-
gens para Kibeho. Tam bém redobrei meus esforgos em
a rran car de m eu pai detalhes sobre os aparecim entos de
Segatashya no palco, logo após ele reto rn ar de urna visi­
ta a Kibeho. Esses esforgos eventualm ente se expandiam
tam bém para meus dois irm áos m ais velhos, que eram
sortudos o suficiente p ara poderem acom panhar papai
em várias peregrinagóes (porque eles eram garotos e m ais
velhos do que eu). Pobres Aim able e D am ascene - eu dei-
xei os dois m alucos de tan to interrogá-los por horas a
respeito de to d a palavra, expressáo facial e tom de voz
que Segatashya havia usado du ran te urna aparigáo.
C om o vou co n ta r em um próxim o capítulo, eu final­
m ente tive a abengoada o p o rtunidade de me encontrar
face a face com Segatashya en q u an to era estudante uni-
versitária na faculdade de Butare. Isso foi em 1992 - ape­
nas dois anos antes do visionàrio e m uitas outras pessoas
que eu am ava e estim ava serem assassinadas no genoci­
dio. N os anos que se seguiram , eu continuei a procurar
tantas inform agóes sobre Segatashya q u an to me fosse
possível, um esforgo que tem sido, e sem pre será, um tra ­
ballio de amor.
A través do m eu encontro pessoal com Segatashya e
das entrevistas que fiz com aqueles que o conheceram - o
que restava de sua fam ilia e as pessoas que passaram dé­
cadas investigando as aparigóes vistas p o r ele - eu recons­
tituí a biografia dos prim eiros anos deste incrível jovem ,

79
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

um dos poucos visionários dos tem pos m odernos, um ga-


roto que o Senhor tirou da obscuridade com o objetivo de
pregar a palavra de Deus para o m undo.
Segatashya nasceu na cabana de seus pais, afastada
por m uitos quilóm etros de urna clínica ou um hospital
m ais próxim o. N ao há registro oficial de seu nascim ento,
tam pouco urna certidáo de nascim ento foi em itida para
ele. N em m esm o seus pais tinham certeza do dia em que
ele veio ao m undo.
O que se consegue afirm ar com algum a certeza é que
Segatashya nasceu em algum dia de julho de 1967, em um
lugar cham ado M u h o ra, localizado na provincia ruande-
sa de G ikongoro, na parte sul do país, nâo m uito longe
da divisa com o país vizinho, Burundi. M u h o ra era mais
um pequeño agrupam ento de cabanas de barro e curráis
de cabras do que urna verdadeira com unidade de pessoas
- e, um a vez que M u h o ra nâo estava ligado ao resto de
R uanda po r estrada, se você vivia lá e queria ir a algum
lugar, teria que ir a pé. A m aior aldeia m ais p róxim a era
Kibeho, que ficava a m ais de um a hora de cam inhada
através de florestas, riachos e cam pos.
O pai de Segatashya, M a ta b a ro , e sua m áe, M ukan-
dekezi, eram paupérrim os e rústicos pastores, que vi-
nham de um a longa linhagem de paupérrim os e rústicos
pastores. O casam ento deles foi a rran jad o de acordo com
o costum e, em um a cerim ónia tribal tradicional. Eles nâo
se casaram em um a igreja porque eram pagáos, nunca
tinham visto um a igreja e nâo saberiam o que fazer se
estivessem em frente a um altar.
A inda que fossem estranhos um ao o u tro quando
se casaram e nâo tivessem dinheiro algum , um p ro fu n ­
do am or e respeito surgiu e cresceu entre M a ta b a ro e
M ukandekezi, e logo a cabana de palha deles, de apenas
um cóm odo, estava repleta de crianças - très m eninos e
duas m eninas - , das quais Segatashya era o m ais velho.
Segatashya com eçou a trab alh ar na horta de vegetáis
da familia quando m al tinha com eçado a andar, e, quando
80
CRIANZA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

tinha m ais ou m enos q u atro anos de idade, ele estava cui­


dando das cabras e ordenhando a única vaca da familia.
N a verdade, a p artir do m inuto em que já podiam andar
sem supervisao de um adulto, todas as crianzas eram co­
locadas p a ra tra b a lh a r ñas miseráveis p l a n t a j e s de feijáo
ou para cuidar de seus poucos anim ais.
N em sequer passou pela cabera de M a ta b a ro e M ukan-
dekezi m an d ar seus filhos p ara a escola nos prim eiros
anos de cñaqao deles. N enhum dos dois tinha visto uma
escola quando eram crianzas, m uito m enos tinham colo­
cado os pés em um a... N em seus pais, nem seus avós, nem
ninguém com que eles cresceram tinha ido para a escola.
Eles estavam todos m uito ocupados em prover suas fam i­
lias com com ida o suficiente p ara sobreviverem por mais
um dia e nao podiam se preocupar com coisas estranhas
e desconhecidas com o educagáo form al. N inguém em sua
extensa fam ilia sabia 1er ou escrever, e, m esm o que sou-
besse, eles nao tinham à d is p o s i lo livros, revistas ou até
m esm o velhos jornais.
Ao co ntràrio do que acontecía com os chefes de quase
todos os outros lares de R uanda, M a ta b a ro e M ukan-
dekezi eram tao pobres que nao podiam com prar nem
um pequeño ràdio para ficarem a p ar do que estava acon-
tecendo fora de sua aldeia. O m undo deles consistía nos
feijóes que plantavam e colhiam e no leite que tiravam de
sua vaca e de suas cabras. Am bos cresceram aprendendo
a viver da terra e sua e d u c a l o reduzia-se a um a simples
li^ao: trab alh e todos os dias p ara alim entar aqueles que
voce am a ou eles m o rrerao de fome.
A fam ilia tam bém tinha pouco tem po p ara a religiáo.
Q u an d o eles praticavam algum a form a de devo^ao, era
para p restar hom enagem aos espíritos de seus ancestrais.
C om o eu disse, os pais de Segatashya cresceram com o
pagaos que honravam os espíritos de parentes m ortos e
reconheciam a existéncia do grande deus-espírito ruandés
Ryangom be. Entre os pagaos ruandeses havia a cren^a
de que tu d o correria bem para suas fam ilias desde que
venerassem os espíritos ancestrais: as vacas produziriam
81
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

leite, as cabras nao ficariam doentes, as safras seriam pro-


dutivas e as crianzas nào nasceriam m ortas. A inda que os
pais de Segatashya fossem pagaos tradicionais, eles nao se
preocupavam m uito com os rituais que o u m u p fu m u (co­
nm ínente conhecido com o feiticeiro ou curandeiro) local
os incitava a praticar.
Segatashya estava ciente de que Ryangom be era o p rin ­
cipal deus no m undo espiritual; e, p ara o visionàrio, Jesus
C risto era um tipo de divindade cujo nom e era invocado
por trab alh ad o res do cam po quando se m achucavam ou
para am aldi^oar uns aos outros quan d o se envolviam em
urna briga. Até onde isso lhe dizia respeito, R yangom be e
Jesus eram um só e o m esm o - um espirito que vivia ñas
nuvens e fazia coisas boas aconteceram às pessoas q u a n ­
do estava contente e coisas ruins quando estava zangado.
Tenho certeza que, se Segatashya tivesse encontrado um
sacerdote católico naquela época, ele teria im aginado que
o padre era algum tipo de novo feiticeiro, e a Biblia, um
livro de férricos.
A ignorancia de Segatashya com relagào à e d u c a d o
e à espiritualidade perm aneceu com pleta, m esm o depois
de sua m àe decidir que o seu filho m ais velho precisa­
va ter ao m enos um pouco de escolaridade. O s m otivos
de M ukandekezi p ara isso eram puram ente práticos; eia
percebeu que, se eles fossem algum dia escapar da deses-
p e rad o ra pobreza em que viviam , alguém na fam ilia tinha
que com e^ar a 1er.
E ntáo, quando Segatashya estava com 11 anos de ida-
de, M ukandekezi decidiu que era h o ra de ter urna conver­
sa com M a ta b a ro . “N ós estam os fam in to s” , disse eia. “ Se
nosso g aroto conseguir 1er, nós poderem os aprender coi­
sas que nao sabem os agora... A prenderem os quais p lan ­
tíos crescem m elhor em nosso solo e depois saberem os
quais tipos de graos devem os colocar na terra na h o ra de
plantar... E a hora de Segatashya ir p ara a escola!”
M a ta b a ro concordou com sua esposa e, obediente­
m ente, cam inhou com o jovem Segatashya pelas m atas em

82
CRIAN(JA, FILHO, IRMÁO E VISIONARIO PRINCIPIANTE

diregáo a urna aldeia vizinha situada a vários quilóm etros


de distancia, onde urna pequeña escola havia sido cons­
tru id a nos m esm os m oldes das cabanas de barro.
“N ós nos encontrarem os aqui no fim do d ia ” , disse
M a ta b a ro ao garoto, deixando-o em frente á única p o rta
da escola. E foi na frente dessa m esm a p o rta que M a ta ­
b aro encontrou Segatashya esperando quan d o reto rn o u
aquela noite. Visto que ele nunca tinha ido á escola e
nao tinha certeza do que acontecia em um a sala de aula,
M a ta b a ro nao soube o que perg u n tar ao seu filho sobre
com o tinha sido o seu dia. Por isso, eles cam inharam em
silencio durante to d o o trajeto de volta p a ra casa.
D u ran te as duas sem anas seguintes, Segatashya ia p ara
a escola de m anhá p o r conta p rópria e retornava nova-
m ente no co m eto da noite. N a terceira sem ana de aula,
seu pai foi ju nto com ele p orque queria visitar um párente
que m orava ñas redondezas. Q u an d o chegaram em frente
á p o rta da escola aconteceu de to p arem com o professor.
“ Q uem é esse g a ro to ? ” , p erguntou o professor. R áp i­
dam ente descobriu-se que Segatashya nunca tinha pas-
sado m ais que cinco m inutos dentro da escola. O garoto
n ao gostaVa do fato de que todos os outros estudantes
fossem m uito m ais jovens do que ele, e, além disso, ele
nao via nenhum a razáo p ara ficar sentado dentro de um a
cabana o dia to d o , qu an d o poderia estar aproveitando as
belezas do m undo lá fora. E ntáo, ele co n to u a seu pai que
tinha passado os dias explorando as m atas e rios p ró x i­
m os, p ro cu ran d o um lugar p a ra iniciar um novo plantio
de graos.
M a ta b a ro fez o rapaz m arch ar de volta p ara casa.
Q uan d o chegaram lá, seu pai deu-lhe um a surra para
discipliná-lo, dizendo-lhe que, gostasse ou náo, ele teria
que ir p a ra a escola e aprender a 1er. M as Segatashya ti­
nha um a personalidade m uito forte e estava determ inado
de que náo precisava ser educado. N á o im portava quan-
tas vezes seu pai pessoalm ente o deixasse na escola (ou
q uantas vezes ele apanhasse p o r m ata r aulas), Segatashya

83
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

se recusava a passar um único dia em urna sala de aula.


Finalm ente, seus pais desistiram e colocaram -no p ara tra-
balhar no cam po e com o p asto r de cabras po r tem po in­
tegral, ocupa^óes que se adequavam a Segatashya m uito
bem e ñas quais ele trabalhava alegrem ente do nascer ao
por do sol.
“Ele era um dos garotos m ais felizes que vocé pode-
ria ter sorte de conhecer” , disse-me sua irm á, C hristine,
quando eu a encontrei em urna viagem p ara R uanda há
nao m uito tem po.
Christine é um dos únicos dois m em bros da fam ilia de
Segatashya que ainda estáo vivos. Ela está com seus 40
anos agora e tem urna filha jovem . Elas vivem próxim as
a Kibeho e, apesar de eu ter batido em sua porta na con-
di^áo de pessoa estranha, fui convidada a e n tra r em sua
casa com o se fosse um párente que há m uito tem po náo
a visitava.
Christine tem m uitas e m uitas lem brangas m aravilho-
sas de Segatashya e estava extrem am ente feliz de poder
ab rir seu coragáo e com partilhá-las com igo. “ Ele era o
m eu grande irm áo; era apenas alguns anos m ais velho
que eu e estava sem pre cuidando de m im ” , disse ela. “ Mi-
nha lem branga m ais vivida dele na infancia é do seu rosto
doce - ele estava sem pre sorrindo quando era m enino.
Ele era m uito feliz; se vocé passasse apenas cinco m inutos
com ele, vocé poderia dizer que ele am ava estar vivo.”
“N ossa fam ilia era terrivelm ente pobre. N ós vivíam os
em um a m inúscula cabana de palha - m eus pais e seus
cinco filhos, ás vezes m eus avós, e até m esm o nossa vaca,
viviam todos juntos naquela cabana. A c o n s tr u y o tinha
apenas um cóm odo e todos nós ficávam os ab arro tad o s
lá dentro - era naquele cóm odo que nós dorm íam os, co­
m íam os e levávam os nossa vida. Vocé náo acreditaría no
quáo escuro e lotado aquilo podia ficar... M as sem pre que
Segatashya entrava, tu d o se ilum inava. Ficar p erto dele
era com o era com o ficar perto de um pedacinho do sol.
Tudo que ele fazia, ele fazia com grande alegría em seu

84
CRIANZA, FILHO, IRMÁO E VISIONARIO PRINCIPIANTE

cora^ao. Ele poderia estar can tan d o sozinho enquanto


trabalhava ñas p l a n t a j e s ou assoviando algum a m elodía
en q uanto cuidava das cabras.”
“E ele era m uito divertido. Lem bro-m e de um dia,
quando eu tinha apenas q u atro ou cinco anos, em que
eu estava reclam ando que a cabana estava m uito quente
e cheia para dorm ir... Eu disse que me sentia com o se es-
tivesse pegando fogo. Após eu finalm ente ter conseguido
dorm ir, acordei com um susto quan d o senti o frió repen­
tino de um balde de água gelada sendo d erram ado em
m eu rosto - Segatashya tinha ido até o córrego e enchido
um balde de água para me refrescar. Q u an d o eu pulei da
cam a, ele disse: ‘Vocé pode relaxar agora, Christine, pois
acho que já apaguei o seu fogo!’ D epois disso nós ficamos
rindo até a barriga doer.”
Após rir discretam ente um pouquinho, lem brando-se
do episodio, Christine continuou a rem em orar. “ Sega­
tashya tam bém era um g aroto m uito sério e consciencio-
so. Ele era o filho mais velho e sentia grande responsabi-
lidade p ara com o resto de nós. A pesar de nao conseguir
ficar trancafiado em urna sala de aula, ele fez com que
nós, as crianzas mais novas, tivéssem os algum a educa­
d o . . . Ele nos levava para a escola e se certificava de que
perm aneceríam os dentro da sala até a aula comegar. G ra­
bas a ele, fui até a sétim a série e aprendi a 1er e escrever.”
“Segatashya tam bém trabalhava m ais pesado do que
qualquer o u tra pessoa da fam ilia. Ele sentia que era seu
dever cuidar de nós e g arantir que to d o m undo em casa
tivesse o que comer. H ouve um ano, acho que foi quando
ele tinha 12 anos m ais ou m enos, em que perdem os nos-
sa safra de gráos. Pois bem, m eu irm áo am ava estar com
a fam ilia m ais do que qualquer o u tra coisa, m as ele náo
podia su p o rtar a idéia de que qualquer um de nós pudesse
passar fome. Assim, táo logo percebeu que nós náo conse­
guiríam os colher a nossa safra, ele correu p ro cu rar traba-
lho e conseguiu em prego com o p asto r com um próspero
fazendeiro que m orava a vários quilóm etros de distáncia.

85
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

M as ele nao tinha dito a nossos pais que iria para táo Ion-
ge, provavelm ente porque ele sabia que nao o deixariam
ir. E, por ele ter evaporado sem deixar qualquer vestigio,
eles, após descobrirem que ele estava sum ido, ficaram fora
de si de táo preocupados.”
“ E ntáo, um belo dia, após várias sem anas, alguém
que trabalhava para aquele próspero fazendeiro deixou
alguns sacos de arroz e feijáo em nossa casa e disse-nos
que aquela com ida era o pagam ento pelo trab alh o de Se-
gatashya. Papai foi direto p ara a fazenda e trouxe o garo-
to de volta. O fazendeiro disse a m eu pai que odiava ter
que ver Segatashya ir em bora, pois ele nunca tinha visto
um tra b a lh a d o r táo em penhando qu an to m eu irm áo. Ele
acrescentou que Segatashya tinha rápidam ente conquis­
tado boa reputa^áo po r ser um em pregado honesto, zelo-
so e de bom caráter.”
“ Segatashya levou um a surra de m eu pai por ter saído
po r ai sem perm issáo, m as ele sorria durante to d o o tem ­
po em que papai gritava com ele, pois estava m uito feliz
de ter voltado para a sua fam ilia. E no jantar daquela noi-
te todos nós está vam os felizes - gragas ao arroz e feijáo
proporcionados p o r Segatashya, todo m undo ficou com o
estóm ago cheio pela prim eira vez em m uito tem po.”
“ M ais tarde, naquela noite, Segatashya confessou para
m im que foi dorm ir chorando todas as noites enquanto
esteve fora. ‘Eu ficava com ta n ta saudade de casa quando
ia d e ita r’, disse-me ele, ‘que pensava comigo: Ryangom be,
deus de Ruanda, se m inha fam ilia nao estivesse passando
fom e, eu voltaria para nossa cabana neste exato segundo
e nunca deixaria m eu lar outra vezV Este é apenas um
exem plo do qu an to ele era am ável e gentil; ele nasceu
com um belo cora^áo.”
C hristine passou a me co n tar que, apesar de Sega­
tashya ter sofrido m uito com a solidáo qu an d o saiu de
casa pela prim eira vez, ele náo hesitou em sair de novo no
ano seguinte, quando a colheita da fam ilia se perdeu pela
segunda vez e eles estavam passando fome.

86
CRIANZA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

“Em urna certa m anhá, ele se levantou e viu que a tigela


do café da m an h á das crianzas estava vazia. Ele pegou seu
cajado e disse: ‘Estou indo a rra n ja r algum dinheiro para
a com ida.’ E ntáo saiu pela porta e se foi por m ais dois
meses. M as, dentro de poucos dias, após a sua partida,
ele já estava m andando dinheiro para casa, o que fez com
que m eus pais pudessem com prar com ida para alim entar
o resto de nós. N o decorrer do tem po, descobrim os que
Segatashya tinha organizado um grupo de garotos que
trabalhavam em fazendas, e que, com o ele, tam bém es-
tavam enfrentando tem pos de dificuldades económ icas, e
os conduziu p ara as m argens de um dos rios m ais rápidos
e intensos do sul de R uanda. Ele tinha ouvido falar que
a única passarela que atravessava o rio tinha sido levada
pela correnteza. Após pensar um m om ento, decidiu que
iria g an h ar algum dinheiro ajudando viajantes que náo
conseguiam atravessar as m argens.”
“ Segatashya e seus parceiros prenderam os bracos e
form aram urna corrente hum ana ao longo da correnteza.
As pessoas poderiam se segurar neles, com o se fosse urna
corda de salvam ento, en q uanto atravessavam o rio car-
regando seus bens e pertences. M eu irm áo era pequeño
para a sua idade, m as ele era m uito forte física e espiri­
tualm ente. Lidar com aquele rio traigoeiro era difícil e
perigoso, m as ele estava disposto a assum ir riscos para
alim entar os outros. As poucas m oedas que ele tinha co n ­
seguido no rio term inaram na mesa de jan ta r da fam ilia, e
tudo o que tinha sobrado foi usado p ara com prar semen-
tes p ara a safra de feijáo.”
“ Q u an d o era m enino, Segatashya foi literalm ente um
salva-vidas... Talvez essa seja urna das razóes pelas quais
Jesús o escolheu p ara sair em urna m issáo destinada a
salvar alm as” , disse C hristine, sorrindo.
Eu tenho ouvido pedamos sobre a historia da prim eira
vez em que Jesús apareceu para Segatashya desde que era
m enina e até escrevi sobre esse episodio que transform ou
a vida dele em O u r Lady o f K ibeho. M as, quando me

87
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

encontrei com C hristine, percebi que estava tendo a opor-


tunidade de ouvir urna versao da historia inteiram ente
nova e m aravilhosam ente detalhada. Eu perguntei se ela
poderia com partilhar sua versao com igo e ela nao pode-
ria ter ficado mais alegre po r fazé-lo. C hristine, entáo,
me contou que viu seu irm áo há apenas algum as horas
depois dele ter se encontrado com Jesús. Seu relato do
m ilagroso encontro me deixou atónita.
“ O que eu m ais me lem bro daquela m a n h á ” , recorda-
va ela, “é que ela tinha com egado com o qualquer outra.
Segatashya já tinha se levantado e ido para fora de casa
po r volta do nascer do sol, p ara alim entar a vaca e cuidar
das cabras. Tam bém me lem bro do tom de voz ansioso
de nossa m áe quan d o ela pediu a m eu pai que lem brasse
Segatashya de checar se os feijóes que tínham os plantado
já estavam pro n to s p ara serem colhidos. M am áe estava
preocupada porque tivem os algum as safras ruins, urna
seguida da outra. Era im portante p ara nós ter um a boa
colheita naquele ano. Fora isso, parecía um co m eto co-
m um de um dia com um .”
“M as aquela m anhá de veráo m udou a vida de n o s­
sa fam ilia para sem pre - e, com o vocé sabe, m udou os
rum os da vida de Segatashya de form as inim agináveis.
Q u an d o voltou p ara casa na tarde daquele dia, ele me
contou tudo o que tinha acontecido. E, obviam ente, eu
m esm a estava lá quan d o ele chegou e pude vivenciar em
prim eira m áo m uito do que transcorreu na seqüéncia.”
“ O dia era 2 de julho de 1982, um a m anhá quente
e ensolarada que prom etía se tran sfo rm ar em um dia
absolutam ente adorável. Segatashya tinha term inado de
alim entar as cabras e andava pelas colinas em dire^áo
á nossa planta^áo de feijáo. Ele estava ajoelhado sobre
a térra verm elha, exam inando os brotos, quando notou
algo bastante estranho. Os feijóes n ao só pareciam m ad u ­
ros, com o tam bém pareciam ser, em suas palavras, ‘mais
bonitos do que quaisquer outros feijóes’ que ele já tinha
visto. N orm alm ente, o solo de nosso cam po era ruim
e produzia apenas feijóes anémicos, fracos - e nós nos
88
CRIANQA, FILHO, IRMÀO E VISIONARIO PRINCIPIANTE

considerávam os afortunados quando conseguíamos colher


até m esm o esses! Por isso, Segatashya estava surpreso com
o que ele tinha em m áos. Por um bom tem po ele ficou re­
virando o pequeño vegetal na palm a de sua m áo, com ple­
tam ente m aravilhado com a sua form a rechonchuda, seu
aspecto extrem am ente saudável e seu brilho dourado, que
resplandecía.”
“ M eu irm áo pensou que os feijóes estavam m uito,
m uito bons p a ra ser verdade e nao acreditou no que seus
olhos viam . Ele arra n c o u alguns do chao e foi até um
cam po p ró x im o , p ara pedir a op in iáo de um fazendeiro
vizinho. A pós ter c u m p rim en tad o o hom ern, Segatashya
estendeu-lhe os graos p ara que ele os exam inasse. ‘Acho
que o brilho do sol hoje está in co m o d an d o m eus o lh o s’,
disse Segatashya, inocentem ente. ‘D iga-m e, vocé está
n o ta n d o algum a coisa de estran h o ou diferente nesses
feijóes?” ’
“N osso vizinho sacudiu a cabera e respondeu: ‘N áo,
eles parecem prontos para a colheita, mas eu náo diria
que há algo de especial neles.’”
“ Segatashya agradeceu e saiu. Ele cam inhou em diregáo
ao rio para beber um pouco de água fresca e relaxar, a d ia n ­
do que tinha tom ado m uito sol naquela m anhá. Q uando
estava voltando para as nossas p l a n t a je s , ele se sentiu
extrem am ente cansado e sentou-se sob urna árvore para
descansar. E, entáo, foi quando ele ouviu seu nom e sendo
cham ado pela mais voz bonita que ele já tinha ouvido.”
Eu sorvia de um gole só cada urna das palavras de
Christine. Afinal, até aquele m om ento eu nunca tinha o u ­
vido um relato sobre o que aconteceu com Segatashya da
perspectiva de um párente, alguém que era m uito p ró ­
xim o a ele e o conhecia m uito bem. Eu percebi a form a
com o ela, m uitas vezes, fazia algum as pausas ao relem-
brar as m em orias que tinha de seu irm áo, parecendo p o n ­
derar sobre a alegría que ele tro u x e p a ra sua vida e sobre
a tristeza que ela sofreu após perdé-lo. Ela enxugava lá­
grim as de alegría e tristeza, alternadam ente.
89
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Á m edida que sua historia progredia, ela deu seu seio á


sua filha m ais nova, ainda bebé, p ara que m am asse. “N in-
guém percebe, m as essa doce criancinha tem os mesmos
olhos de Segatashya. N a o é, d o cinho?” , m urm urou ela
para a crianza, que já estava m am ando.
V oltando á sua historia, ela continuou: “ Segatashya
disse que a voz que ele ouviu cham ando-o, enquanto es­
tava sentado sob a árvore, era de um hom em , m as que
era urna voz m uito m ais am ável e gentil do que a voz de
qualquer o u tro hom em que ele já tinha conhecido” . Em
seguida, C hristine contou-m e o que Segatashya disse na
época, usando as palavras dele:
A principio, pensei que o calor do dia estava me dando
a lu c in a re s ... Eu estava vendo feijoes incrivelmente belos e
depois, repentinam ente, estava ouvindo urna voz também
incrivelmente bela... Eu olhei em volta para ver quem po-
deria estar me cham ando táo docentemente, mas nao havia
ninguém por perto. Eu imaginei que era apenas o vento so-
prando por entre os ram os da árvore e fechei meus olhos
para tirar urna soneca. M as, entáo, ouvi a voz outra vez, e ela
disse: Vocé ai, m eu flh o ... Rápidam ente olhei em torno mais
um a vez, mas ainda nao conseguia ver ninguém.
M inha impressáo era de que a voz estava vindo do céu
bem acima de mim. Acho que era de se esperar que eu ficas-
se com medo, mas aquela voz era com o música tocando em
meu cora§áo. Eu fui dom inado por um a sensa^ao de grande
paz e me sentia táo feliz que tive vontade de cantar! E depois
a voz se dirigiu a mim pela terceira vez, dizendo: Vocé ai,
m eu filho... Se vocé receber uma mensagem para transmitir
ao m undo, vocé irá transmiti-la?
Eu me sentia com o se nao pudesse recusar, mas isso real­
mente nao im portava porque eu quería fazer qualquer coisa
que essa doce e misteriosa voz me pedisse. Sem hesitar nem
sequer por um m om ento, eu concordei em transm itir qual­
quer mensagem que ela me desse. Entáo eu disse: “Sim, eu
farei o que vocé me pede, mas quem é vocé? Se as pessoas me
perguntarem quem me enviou, o que eu direi a elas?”
Vocé sabe com o os bom ens sao - se eu disser o m eu nome,
talvez ninguém Ihe dará ouvidos. O u q o os bom ens dizerem
que, se alguém vier em nom e de jesús Cristo, nao se deve
confiar nele. Veja, eles podem nao entender e nao acreditar, se
vocé revelar minha identidade.

90
CRIANgA, FILHO, 1RMÁO E VISIONARIO PRINCIPIANTE

Q uando ouvi isso, eu disse áquela voz: “Se vocé é ver­


d aderam ente Jesús Cristo, eles iráo acreditar, contanto que
vocé esteja disposto a ajudá-los a crer. De m inha parte, eu fa-
rei o meu melhor, sob a condifáo de que vocé me dé o dom da
sabedoria quando eu estiver pronunciando suas mensagens” .
Eu sou Jesús Cristo. Para vocé m e provar que realmente
será capaz de transmitir minha mensagem para as pessoas
futuramente, eu quero que vocé vá agora m esm o e entregue
esta mensagem para aqueles que estáo trabalhando na casa
do Sr. Hubert. Diga a eles isto, usando estas palavras: “Jesús
Cristo m andou-m e aqui boje para dizer a voces, e a todos os
homens, que renovem seus coragoes. O dia em que as coisas
ftcarño realmente dificeis para a hum anidade está chegando.
Sendo assim, vocé nao pode m e dizer que eu nao o alertei’’.

C hristine term inou de am am entar seu bebé e disse:


“ Segatashya fez o que Jesús pediu p ara ele fazer. Ele foi
p ara a casa de nosso vizinho, Ngenzi H ubert, para tra n s­
m itir a m ensagem palavra po r palavra. Q u an d o chegou
na fazenda de H u b ert, Segatashya encontrou um grupo
de hom ens tra b a lh a n d o no celeiro. Eles estavam usan­
do bastóes para bater ñas cascas de urna grande pilha
de feijóes secos. M eu irm áo se a p ro x im o u das pessoas
que estavam lá e, falando em voz alta, entregou-lhes a
m ensagem do Senhor. O s hom ens caíram na gargalhada
p orque, sem saber, Segatashya tinha perdido suas roupas
de algum a form a e estava perante eles com pletam ente nu.
“Alguns hom ens gritaram : ‘Q uem vocé disse que o
m andou, seu bunda-de-fora tolo?!’ O u tro s foram m ais
receptivos e perguntaram : ‘Foi Jesús C risto que o enviou?
O nde vocé o encontrou, m oleque?’”
“ Segatashya explicou com o ele se encontrou com Jesús
sob um a árvore, ou, pelo m enos, com o ele se encontrou
com a voz do Senhor. Depois disse áquelas pessoas: ‘Tudo
o que eu posso lhes dizer é que ouvi sua voz e que a m en­
sagem que ele me confiou é boa e im portante. O uvi-lo
me deu um a sensa^áo de paz. N ao foi n ad a difícil, na
verdade - ele apenas pediu para eu transm itir as suas
palavras a voces, e, sendo assim , eu corri até aqui para
transm iti-las.”

91
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

“ M eu irm áo ficou v e rd a d e ram e n te chocado quando


os hom ens avisaram que ele estava nu. Ele pensou que
estava totalm ente vestido e qu an d o percebeu que suas
roupas tinham sum ido ficou sem resposta. Ele gritou para
o céu: ‘Jesús, p o r que vocé me deixou nu? Esses hom ens
agora riem de m im - quem sou p ara me dirigir a eles
assim ?’ Entáo, ele ouviu a voz do Senhor m ais urna vez:
O Filho do H om em veio ao m undo há m uito tem po, an­
tes m esm o de vocé existir, e eles tiraram sua roupa e o deixa-
ram nu. Vocé acha que Ele nao subiu ao Céu? Saiba que fot
Ele que acabou de realizar esse milagre aqui hoje.

“Alguns daqueles hom ens, aos quais Segatashya tinha


ido entregar a m ensagem , p araram de rir neste p o n to e
acusaram m eu irm áo de blasfem ia. Eles o rodearam e o
am ea^aram com seus bastóes. Felizmente, alguns dos tra ­
b a ja d o r e s que estavam no pátio o reconheceram e um
jovem correu buscar m eu pai e m eus tios, para que so-
corressem Segatashya, en q uanto urna m ulher idosa, que
conhecia m inha m áe, pegou um cobertor e o cobriu.”
“ E nquanto a m ulher envolvia Segatashya com o paño,
ela sussurrou p a ra ele: ‘Filho, onde vocé disse que encon-
tro u Jesús?’ Segatashya disse novam ente que náo tinha
encontrado Jesús em pessoa, m as que tinha apenas ouvi-
do a sua voz, a qual lhe tinha dito que fosse á fazenda de
H u b e rt e dissesse ás pessoas que estavam lá que purificas-
sem seus coragóes porque o reto rn o de C risto está m uito
próxim o.”
“A m ulher am arro u o paño em volta da cintura de Se­
gatashya e deu-lhe alguns conselhos carinhosos, próprios
de urna m áe. ‘Vocé náo pode esperar que essas pessoas
acreditem que vocé tem urna m ensagem de Jesús quando
vocé está an dando po r ai pelado! M as vocé é um garoto
táo inocente e honesto que alguns de nós aqui acreditam
que vocé realm ente veio com urna m ensagem de Deus.
N ós querem os ouvir suas palavras, m as, p a ra m uitos des-
ses hom ens, vé-lo pelado os deixa irritados e surdos a
tudo que vocé diz.’”

92
CRIANQA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

“ Segatashya me co n to u depois que foi naquele m o­


m ento que Jesús apareceu para ele e que foi quando ele
viu o Senhor em form a de corpo hum ano pela prim eira
vez.” M ais um a vez, Christine voltou a n a rra r a historia
na voz de seu irm áo:
Eu tinha acabado de entregar a mensagem do Senhor
para as pessoas na fazenda de H ubert quando sua voz doce-
mente me disse que ele estava contente com a form a como eu
a tinha entregue. Ela disse: Obrigado por boje. Vocé fez bem
entregando essa mensagem, meu filho. Agora, olhe para cima
e contem ple aquele que tem falado com vocé.
Olhei para o alto e repentinam ente o céu azul bem acima
de mim se partiu ao meio, com o se fosse um pedazo de paño
sendo rasgado em dois. Uma luz deslum brante preencheu
todo o centro do céu. Era uma luz táo ofuscante que tudo o
mais em volta de mim desapareceu num piscar de olhos - as
pessoas, a fazenda, as colinas e árvores, tudo desapareceu.
O mais estranho é que eu ainda conseguía ver, mas o que
eu estava vendo era desconhecido e estranho aos meus olhos.
Eu estava em um m undo totalm ente novo e diferente. Eu es­
tava inteiramente sozinho em um vasto m ar de reiva, de uma
cor verde vibrante e um cheiro maravilhoso. A luz acima de
mim ficou ainda mais brilhante e o céu se encheu com um
m ilháo de flores brancas reluzentes, que eram muito mais
bonitas do que vocé pode imaginar.
Un. pouco depois, Jesús apareceu nos céus, em pé no meio
das flores. Ele estava banhado por um a luz vivíssima que o
rodeava e brilhava a partir do interior do seu corpo. Ele esta­
va pairando sobre mim, am parado pela beleza da magnífica
luz branca e das gloriosas flores que agora cintilavam como
estrelas. Ele era o homem mais bonito que eu já tinha visto.
Parecia que ele estava nos seus 30 anos e tinha um tom de
pele escuro, mas nao táo escuro quanto a pele de um ruandés.
Ele estava vestido com uma tradicional túnica ruandesa m as­
culina, o tecido brilhando com o se fosse costurado com prata
e ouro. Eu me sentia como se tivesse sido envolvido por bra­
cos am orosos por todo o tem po em que estive contem plando
o alto. M inha alma estava em paz e meu coragáo mais alegre
do que nunca.
Depois, Jesús sorriu para mim e perguntou: Destes uma
boa e longa olhada naquele que o enviou? Eu o chamei por
“Senhor” e disse-lhe que, sim, eu tinha dado um a boa olhada.
Ele disse: Vocé se saiu m uito bem boje, m eu filho, e fez um

93
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

bom trabalho entregando m inha mensagem a esses bomens.


Agora, vá e ponha em pràtica voce tam bém aquilo que eu Ihe
pedi para falar. Se vocé continuar se saindo bem, eu irei vé-lo
novamente m uito em breve.

Após urna pausa p ara que eu pudesse assim ilar tudo


isso, Christine continuou, voltando a usar suas próprias
palavras novam ente. “ Q u an d o a m ente de Segatashya foi
trazida de volta p ara este m undo, eie estava bem no meio
do pàtio do Sr. H ubert. E nquanto eie estava em seu tra n ­
se, muitos dos hom ens da fazenda o rodearam . Alguns
ficaram enorm em ente irritados e balan^avam seus bas-
tòes para ele, como que am ea^ando espancá-lo violenta­
mente.”
“Felizmente, foi quando m eu pai e meus tios chegaram
e protegeram Segatashya daqueles hom ens. M eu pai deu
ordem para que nào encostassem nem uni dedo em seu
filho, e, em seguida, exigiu saber o que tinha acontecido.
Segatashya contou a m eu pai que Jesus o tinha instruido
a irà fazenda de H u b ert p ara dizer aos trabalhadores que
preparassem suas alm as porque o firn do m undo estava
chegando.”
“Aquilo irritou novam ente aqueles hom ens. Eles dis­
senni: ‘Està vendo, està vendo? Seu filho é louco... Eie
està bèbado, bèbado de cerveja de b a n a n a.18 Eie é um
mentiroso... Ele está fingindo ser com o urna daquelas es-
tudantes visionarias de K ibeho, m as é apenas um bèbado
mentiroso!’”
“Papai foi em defesa de Segatashya im ediatam ente. ‘O
quehá de errado com vocès, hom ens? M eu filho é apenas
umi crianza! Ele nunca ficou bèbado em toda sua vida e
certamente nào é louco, nem m entiroso! Eie é um bom
garoto... Ele apenas esteve debaixo do sol po r m uito tem ­
po ou caiu e bateu a cabega. Em vez de ficar aqui em volta
deleinsultando-o, vocès deviam tè-lo ajudado! Vocès de-
viam se envergonhar de si m esm os!” ’

"A. ceneja de banana é um dos produtos típicos da África, mais específica­


mente de Uganda, e fonte de renda principal de algumas cidades africanas - NT.

94
CRIANZA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

“ D ito isso, papai pegou Segatashya em seus bragos e


foi em diregào às p l a n t a j e s , carregando-o de volta para
casa. Por to d o o tem po em que papai o esteve carregan-
do, m eu irm áo estava pensando ñas últim as palavras que
C risto lhe dissera naquela prim eira aparigáo: Agora vá
e ponha em pràtica voce tam bém aquilo que eu lhe pedi
para falar. Se voce continuar se saindo bem , eu irei vè-lo
novam ente m uito em breve. ”
“ Segatashya me contou que o sentim ento que ele ex-
perim entou quando estava com Jesus era de um conten­
tam ento indescritível, que naqueles m om entos ele nào se
preocupava com m ais nada, nem com suas p l a n t a j e s ,
nem com seu lar, nem m esm o com sua fam ilia. Tudo que
ele queria era estar com Jesus e nunca m ais voltar. Jesus
tinha prom etido voltar se Segatashya continuasse entre­
gando sua m ensagem de form a satisfatória. Por isso, m eu
irm ào jurou p raticar e espalhar a m ensagem p ara que
Cristo fosse visitá-lo o u tra vez.”
“Antes m esm o de m eu pai e meus tios terem trazido
Segatashya de volta p ara casa, ele já estava repetindo a
m ensagem Jo Senhor. Ele disse ao nosso pai e tios que
eles deviam purificar seus c o r a j e s porque Jesús ia retor­
n ar em breve e todo m undo devia estar prep arad o .”
“ M eu irm ào estava repetindo a m ensagem m uitas e
m uitas vezes qu an d o papai o carregou p ara dentro de
nossa cabana e o colocou em sua esteira de dormir. M a-
m àe se apressou em diregào a Segatashya e colocou suas
m àos ñas bochechas dele - eia viu que ele estava deliran­
do, m as ficou confusa porque ele náo estava com febre e
nào tinha nenhum sinal de m achucado na cabera. Eia nos
m andou a nós, os m enores, buscarm os baldes de água
gelada no córrego e passou o resto daquele dia e a noite
inteira ao lado de Segatashya, m olhando-o com esponjas
e colocando com pressas de água em sua testa. Saíam lá ­
grim as de seus olhos enquanto a s i t u a j o dele náo m elho-
rava. M am áe tem ia que algum a pessoa vingativa tivesse
envenenado seu filho m ais velho, ou, pior, que Segatashya
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

tivesse, de algum m odo, ofendido algum a bruxa local, a


qual poderia ter usado m agia negra p a ra lanzar um fei-
tigo nele.”
“E nquanto isso, pessoas da fazenda de H u b e rt come-
garam a fofocar sobre o garoto pelado que afirm ava ser
m ensageiro de Deus. Por volta do nascer do sol no dia
seguirne, urnas duas dezenas de pessoas tinham se ju n ta ­
do em volta de nossa cabana e pediam p ara ver o garoto
que tinha conhecido Jesús. Alguns estavam praguejando
contra ele e to d a nossa fam ilia, cham ando-nos de pagaos
idólatras, dizendo que estávam os insultando Jesús... M as
outros queriam ouvir o que o Senhor tinha dito a Sega­
tashya. M eus outros irm áos e eu estávam os com pleta­
m ente confusos - nós náo sabíam os quem era Jesus e o
p orqué das pessoas estarem táo bravas com Segatashya,
que era o g aroto mais agradável do m undo.”
“Eu me lem bro de meu pai, que ficou m uito enterneci­
do e preocupado com a saúde de Segatashya, saindo enfu­
recido de nossa cabana e gritando com as pessoas que es­
tavam fora para que elas se retirassem dali. ‘M eu filho está
doente, po r que vocès ficam nos incom odando? Saiam de
perto de nossa casa - todo esse barulho está deixando mi-
nhas cabras nervosas, saiam daqui antes que vocès fagam
elas fugir. N ós som os trabalhadores pobres, náo podem os
com prar anim as novos! D eixem -nos em paz!’”
“D epois, papai voltou p ara dentro da cabana e come-
gou a gritar com Segatashya. ‘O que há de errado com
vocé? Por que vocé está falando todas essas coisas sem
sentido? Vocé náo está doente, vocé náo bateu a cabe­
ra ... Vocé está perfeitam ente sáo e saudável! E ntáo por
que vocé fica ai sentado balbuciando coisas sobre alguém
cham ado Jesus, quan d o deveria estar colhendo feijóes
antes que eles com ecem a apodrecer no cháo? N ós nem
sequer sabem os quem é este tal de Jesús!’”
“ M ais pessoas se juntavam do lado de fora, dezenas
e dezenas de pessoas, e Segatashya se levantou de sua es-
teira e saiu para o nosso jardim em frente de casa p a ra ir
CRIANÇA, FILHO, IRMÂO E VISIONÁRIO PRINCIPIANTE

ao encontro délas. Im ediatam ente, ele caiu de joelhos no


châo lam acento e entrou em o u tro estado de transe. Eu
acho que era o inicio da segunda apariçâo de Cristo para
ele, m as eu nâo pude ver m uita coisa. Papai me levou p ara
dentro de casa e fechou a p o rta com força, dizendo: ‘Esse
garoto está fazendo gracinhas. Ele pode ficar fora de casa
p a ra sem pre, no que depender de m im . Veja bem aqueles
lunáticos chegando p ara ver ele! M etade do povoado está
lá fora agora... Eu nâo quero nenhum de voces prestando
atençâo nele quando ele estiver assim !’”
“M inha m âe estava desvairada. Ela ten to u sair para
ter certeza de que seu filho estava bem , m as papai nâo
deixou. Eu nâo sei por q u an to tem po ficamos sentados
no escuro naquele dia de veráo esperando que Segatashya
term inasse seja lá o que ele estivesse fazendo lá fora. M as,
quando ele finalm ente abriu a p o rta e entrou, ele estava
sorridente e m uito sereno. Papai com eçou a interrogá-lo
na m esm a hora. ‘Q uem é ele? Q uem é esse Jesús que to-
m ou conta do seu cérebro? Ele é algum tipo de novo deus
espiritual que eu nunca ouvi falar ou é algum tipo de
c u ra n d e ro ? Q uem é ele?! R esponda já, g aro to !’”
“ E, entáo, pela prim eira vez, Segatashya ten to u expli­
car p a ra nossa fam ilia quem era Jesús exatam ente:”
Tudo que eu posso lhes dizer agora é que Jesús veio me
ver e que ele vive em um Paraíso além deste mundo. Ele é um
ser m uito m elhor do qualquer outro ser hum ano que eu já
conheci ou vou conhecer. Seu poder é magnífico e trem endo,
mas assim é o poder do amor. Ele am a todas as pessoas do
m undo com urna força m aior do que o calor do sol. Seu am or
é mais potente do que a força de mil cachoeiras. Ele criou esse
m undo e tudo o que está nele, incluindo todas as pessoas de
todos os lugares.
Ele me contou que o m undo irá acabar em fogo e que ele
retornará ao m undo para levar consigo todos os que vivem
com o coraçâo puro e o am am, para que subam ao Paraíso
e vivam com ele para sempre. M as nossos coraçôes devem
estar puros quando ele retornar; nós devemos viver como ele
viveu quando esteve na Terra, há m uito tempo. Ele é o mais
honrável dos homens e o espirito mais puro do universo. N ós
devemos respeitá-lo, reverenciá-lo e am á-lo com todo o nosso

97
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

coraçâo e alma. N ós devemos fazer o que ele nos pede sem


questionar, e agora eu devo com partilhar a mensagem que ele
me deu com aqueles que vieram até nossa cabana procurando
por suas palavras.

“Após dizer isso, Segatashya levantou-se de sua esteira


e foi para fora ao en co n tre das duas ou très pessoas que
ainda estavam na frente de nossa cabana. Ele disse a elas:
‘Elaverá m uito sofrim ento no m undo nos dias que viráo.
M uitas lágrim as iráo ro lar se as pessoas de to d o o m undo
nâo levarem vidas p uras e nâo transform arem seus cora-
çôes e com eçarem a am ar v erd a d e ram e n te a Jesús e uns
aos outros. Todos vocés devem renovar seus coraçôes e se
p repararem p ara en co n trar Jesús qu an d o ele re to rn a r’.”
“M eu pai estava furioso. Ele correu p a ra fora e gru-
dou ñas orelhas de Segatashya e o a rra sto u de volta para
d entro de nossa cabana. Ele o surrou com m uita força e
durante um bom tem po, m as m eu irm âo nâo reclam ava.
Em vez disso, ele apenas perguntava a papai se ele o dei-
x aria sair p ara transm itir a m ensagem do Senhor p ara as
pessoas do m undo. Isso só fazia crescer a fúria de m eu
pai ainda m ais. ‘Você nâo vai a lugar nenhum e nâo vai
falar com ninguém !’, gritou papai. Ele pegou um a corda
e am arro u as m âos e pés de Segatashya. ‘Eu vou te soltar
quando você concordar em p a ra r de falar abo b rin h a e
voltar ao trab alh o nas plantaçôes. Até là, você vai ficar
bem ai onde está!’”
“M as, na m anhâ seguinte, quando acordam os, vimos
que as am arras de Segatashya estavam desfeitas e que ele
estava là fora, em nosso jardim , novam ente. Estava de joe-
lhos e olhando para o Céu. Ele estava m uito feliz e satis-
feito, com um enorm e sorriso no rosto e acenando com
a cabeça, com o se estivesse concordando com o que al-
guém estava lhe dizendo. Dezenas de pessoas pararam
p ara olhá-lo com um silêncio m aravilhado e m uitas ou­
tras chegavam a cada m inuto. Eu nâo sabia disso naquela
hora, m as naquele exato m om ento Jesús estava conver­
sando com Segatashya. Era 4 de julho de 1982 e m eu ir­
m âo estava vendo o utra apariçâo. Felizmente, papai tinha
CRIANfJA, FILHO, IRMÀO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

saido p ara colher nosso feijào, senào eie teria dado urna
surra em Segatashya naquela h o ra e là m esm o, nào im ­
portasse com quem eie estivesse conversando!”
“Pareceu que se passaram m uitas horas... Segatashya
estava dizendo coisas que eu nào conseguía com preen-
der naqueles días, m as depois aprendi que eram o r a j e s
e coisas da Biblia que Jesus estava lhe ensinando. Em al-
gum m om ento naquela tarde, eie finalm ente se levantou
e com e^ou a pregar para a m ultidào que tinha se reuni­
do. Eram , pelo m enos, 400 ou 500 pessoas, todas com os
olhos colados em m eu irm ào. O que eie falou para elas
foi o seguinte:”
Jesus està dizendo isto a vocès: Q ue cada um de vocès
procure a m inba verdade e siga o caminho que tracei na Bi­
blia para toda a bumanidade. Q ue cada bom em e m ulher seja
fiel a cada palavra que eu falei. Q ue todos os que sabem que
eu caminbei um dia sobre esta Terra estejam cientes de que
retornarei a este m undo, e que todos teráo de prestar contas
a m im , para que eu os julgue a firn de saber se viveram suas
vidas de acordo com m inbas palavras, pois minhas palavras
sao tesouro celestial. Todos os que buscam por prazeres m u n ­
danos em vez da verdade de m inhas palavras estáo pondo em
risco suas almas eternas. Vejam m inhas palavras em M ateus
24,35 - Passarào o céu e a terra. M inbas palavras, porém, nào
passarào.19 E leiam m inhas palavras que foram registradas na
Biblia, para vocès terem certeza de que tudo o que eu digo lá
é verdadeiro e que certamente acontecerá.10

Christine sorriu ao se lem brar. “ M inha irm á, m eus ir-


m àos e m inha m áe estavam chocados de ouvir o nosso
tím ido Segatashya falar táo confiantem ente e com tan ta

’’Retirada da “Biblia de Jerusalém - N ova edi^áo, revista e am pliada” , 4a


impressáo, 2006, Ed. Paulus.

ffl“A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a mo^áo


do Espirito Santo” . “ Q uanto á Sagrada Tradifüo, ela ‘transm ite integralmente
ios sucessores dos A póstelos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e
pelo Espirito Santo aos Apóstolos para que, sob a luz do Espirito de verdade,
i le*., por sua p re g a d o , fielmente a conservem, exponham e difundam . Daí re-
m i I i . i que a Igreja, á qual estáo confiadas a transm issao e a in te rp re ta d o da
Kcvelaijáo, “nao deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado
uimcntc da Sagrada Escritura. Por isso, am bas devem ser aceitas e veneradas
i imii igual sentim ento de piedade e reverencia” (CIC, $ 81-82).

99
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

autoridade para tantas pessoas - incluindo m uitas pesso-


as m uito estudadas, padres e m inistros. N ós prestam os
aten^áo em cada palavra que ele disse, m as falham os
com pletam ente em ten tar entender de onde ele tinha tira ­
do tantas in f o r m a le s . Segatashya nao sabia 1er ab so lu ta­
m ente nada, nunca tinha en trad o em urna igreja e nunca
tinha visto urna Biblia. N aquele m om ento de sua vida ele
nem sequer sabia o que era urna Biblia. E, contudo, lá es-
tava ele fazendo cita j e s da Biblia... E m ais tarde fom os
inform ados de que as palavras que ele tinha citado eram
exatam ente as palavras do N ovo T estam ento, ou eram ,
ao m enos, paráfrases bastante aproxim adas.”
“D epois que falou com as pessoas, ele entrou em nos-
sa cabana e nos deu adeus. Ele explicou: ‘Jesús disse-me
que devo ir a K ibeho, onde as estudantes visionárias estao
falando com sua m áe. Ele disse que eu devo ir até lá para
receber mais m ensagens dele. Estou indo em bora agora e
vou voltar quando Jesús me falar para voltar.” ’
“ Segatashya partiu p ara Kibeho e náo m uito tem po
depois ele com e^ou a falar com Jesús no palco onde as
trés visionárias estavam vendo a Virgem M aria. T áo logo
isso aconteceu, ele se to rn o u fam oso p o r todo o país. M i-
lhares de pessoas vieram até nossa casa para ouvi-lo falar
com o Senhor e p ara p erguntar com o era Jesús ou o que
as m ensagens significavam .”
“Vocé náo acreditaria no pandem onio que se criou
depois que meu irm áo se to rn o u conhecido em Kibeho.
N ossas p l a n t a j e s foram pisoteadas pelas m ultidóes e
algum as pessoas derru b aram nossas cercas enquanto
tentavam chegar m ais perto dele. Eles quase destruíram
nossa cabana p rocurando por algum a re c o r d a d o que
pudessem levar consigo. Eu me lem bro de um hom em en-
chendo seus bolsos com pedras de nosso quintal, um ga-
roto que pegou urna das velhas cam isetas de Segatashya
em nosso varal e urna m ulher que arrancou urna b atata
de nossa horta com o se isso fosse algum tipo de reliquia
santa. E nquanto a m aior parte de nossos ‘visitantes’ era

100
CRIANÇA, FILHO, IRMÂO E VISIONÀRIO PRINCIPIANTE

piedosa e realm ente interessada em ouvir a m ensagem de


C risto, alguns eram agressivos e continuavam a insultar
Segatashya e o resto de nossa fam ilia sem pre que entráva-
m os ou safam os de nossa cabana.”
“A quela situaçâo era m uito difícil p ara meu pai, que
nào sabia lidar com todas aquelas pessoas e sentia que
nâo conseguía m ais proteger sua fam ilia. Tam bém foi
m uito difícil para ele perder o seu filho, que sem pre ti~
nha sido um bom trabalhador. Segatashya ainda realizava
suas tarefas, mas, quando Jésus falava para ele ir a Kibeho
para co m p artilh ar um a m ensagem , ele partia no m esm o
instante. A contecía tam bém de ele estar tra b a lh a n d o na
plan taçâo e algum a pessoa ir lhe perguntar algo a res-
peito das m ensagens. Ele largava tudo e conversava com
a pessoa por horas para ter certeza de que ela entendeu
com pletam ente as palavras do Senhor.”
“ Segatashya prom eteu que ajudaria ta n to q u an to pu-
desse nas plantaçôes e com as cabras, m as Jésus tinha
dito a ele que a obra de sua vida era espalhar a palavra
de Deus. O Senhor disse a Segatashya que ele dévia con­
servar sua força e devotar to d o o seu ser a espalhar as
m ensagens que estavam sendo entregues, pois essas m en­
sagens deviam ser levadas ao m undo to d o . ‘Levar as m en­
sagens de Jesús p ara o m undo inteiro é o principal obje­
tivo de m inha vida agora. Tudo o mais ficará em segundo
plano. O Senhor deve vir sem pre em prim eiro lugar’, nos
disse ele.”
“Jesús enviou Segatashya em missôes para ou tras re-
gióes, com o objetivo pregar as m ensagens do Céu. Por
causa disso, havia longos períodos de tem po em que fi-
cávam os sem vé-lo, nem po r um pequeño m om ento que
fosse. H o rd a s de pessoas continuavam a aparecer em
nossa casa todos os dias esperando cap tar ao m enos um
vislum bre dele. Eles batiam em nossa p o rta a qualquer
hora exigindo falar com Segatashya e havia sem pre duas
ou très centenas acam padas em volta de nossa cabana. O
to rm en to ficou insuportável p ara nós e m eu pai decidiu

101
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

se m udar com toda a fam ilia para o mais longe de Kibeho


que nos fosse possível. M as meu irm ao se recusou a se m u­
dar conosco - ele queria estar sempre perto de Kibeho e
da p la n ta d o onde Jesús falou pela prim eira vez com ele.”
“Á m edida que o tem po passava, nós entendem os o
qu an to a m issáo de Segatashya era séria. íam os a Kibeho
p ara ouvi-lo quan d o ele tinha algum a visáo. E, quando
estava em casa conosco, ele pedia para que nos juntásse-
m os a ele em ora^áo pela m anhá, ao m eio-dia e á noite.
Ele falava constantem ente sobre as m ensagens de Jesús,
m esm o quando estava dorm indo. As m ensagens se tor-
n aram parte de quem ele era. Se ele nao estava rezando
ou espalhando as m ensagens, ele entoava cangóes que o
Senhor tinha ensinado a ele.”
“Eu me lem bro de urna em especial que ele cantava
m uito e que eu ainda canto para m inha filha hoje em d ia ” :
Eu lhe dou urna nova lei, para que améis
Uns aos outros como vos tenho am ado.
Deus querido, eu escolhi segui-lo
E irei louvá-lo por toda m inha vida.
Abengoado é aquele que nao faz
C om panhia aos pecadores,
Abengoado é aquele que nao faz
Com panhia aos escarnecedores.
Eu lhe dou um a nova lei, para que améis
Uns aos outros como vos tenho am ado.
Deus querido, eu escolhi segui-lo
E irei louvá-lo por toda m inha vida.

“ Q uando Segatashya estava em casa, ele constante­


m ente nos lem brava que devíam os p a ra r de trab alh ar ta n ­
tas vezes ao dia e c o m é tan n o s a pensar em nossas almas
e em nossa vida eterna. Ele nos disse que nada era mais
im portante e que devíam os achar algum tem po para cui­
dar disso. Se reclam ávam os que nao tínham os tem po para
rezar porque tínham os que trab alh ar p ara ter dinheiro e
com ida, ele nos censurava, dizendo: ‘N ao sejam tentados

102
CRIANZA, FILHO, IRMÀO E VISIONARIO PRINCIPIANTI;

pelos tesouros deste m undo. Tudo isso irá acabar e tudo


o que está na Terra irá perecer... Sejam felizes com o que
voces já possuem e sejam gratos ao tem po que tèm para
rezar e se tornarem pessoas m elhores’.”
“ C om o passar do tem po, nós passam os a acreditar no
que Segatashya tin h a nos falado e vimos os bons frutos
de todas as o r a j e s e a sabedoria contida ñas m ensagens.
Ele foi batizado m enos de um ano depois de ter visto a
prim eira apari^ào de Jesus e to d o m undo na fam ilia o
seguiu. Todos nós fom os batizados na fé católica.”
“ Eu sem pre me lem bro de ficar pensando, quando era
garo ta, que m eu irm áo converteu os c o r a j e s de nossa
fam ilia a Jesus e depois saiu p a ra converter os c o r a j e s
do m undo in teiro ” , disse Christine, com os olhos repletos
de amor.

103
CAPÍTULO 5
PR O C U R A N D O SEGATASHYA

Após a publicaçâo de L e ft to Tell, eu fui abençoada com


centenas de convites de grupos ao redor do m undo que
pediam para que eu os visitasse e com partilhasse com eles
a m inha historia - a historia de encontrar Deus em m eio a
um genocidio e aprender através do seu am or a perdoar as
pessoas que assassinaram m inha fam ilia em 1994.
M inha alm a cantou com alegria ao saber que m eu li­
vra tinha tocado os coraçôes das pessoas e que m uitos
estavam ansiosos em p raticar e receber perdâo. E, é claro,
eu estava (e sem pre estarei) m uito feliz em ir a qualquer
lugar p ara falar sobre a graça regeneradora do am or e do
perdâo de Deus.
M inhas conferências me levaram a todos os lugares do
m undo. Eu descobri que, aonde quer que eu fosse, os costu­
mes e as lin^uagens podiam ser diferentes, m as as pessoas
que vinham ouvir m inha historia tinham sempre ao m enos
um a coisa em com um : coraçôes abertos a receber m inha
m ensagem de que a m aior e mais excelente força redentora
no universo é o poder do am or e do perdâo de Deus.
E quai expressâo do am or de Deus poderia ser m elhor
do que as m ensagens que M aria e Jésus levaram a Ki-
beho? Q ue expressâo do poder redentor do am or de Cris­
to poderia ser m elhor do que as m ensagens entregues po r
Segatashya, que nos asseguram a vida eterna no Paraíso
se nossos coraçôes realm ente aceitarem o am or de Deus?
E m bora houvesse apenas pequeñas m ençôes a Kibeho
em meus dois prim eiros livros, freqüentem ente as pesso­
as me pediam , durante m eus pronunciam entos públicos,
para que falasse sobre as très estudantes visionárias que
já foram aprovadas pelo Vaticano. C laro, eu am o con­
versar sobre Kibeho e sem pre que possível abordava o
visionàrio “nâo-oficial” , o g aroto pagâo que conheceu Je­
sus - m eu favorito, Segatashya. E eu poderia falar m uito
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

carinhosam ente sobre ele e sua extrao rd in ária relagáo


com o Senhor.
Q uan d o as pessoas me abordavam após urna de mi-
nhas palestras, m uitas vezes a prim eira coisa sobre a
qual me perguntavam era a respeito de Segatashya. Isso
aconteceu centenas de vezes, do Jap áo á Islándia. M eu
coragáo sem pre acelerava quando alguém me perguntava
sobre Kibeho e o m eu querido Segatashya - e eu estava
sendo questionada a respeito deles com ta n ta freqüéncia
que eu tinha certeza de que m eu coragáo ia acabar pulan-
do p ara fora.
As pessoas tinham ta n to interesse em K ibeho que eu
decidi escrever um livro p ara apresentar os visionários
ao m undo, e, p o r isso, comecei a tra b a lh a r em O u r Lady
o f K ibeho. M as, antes de com e^ar a escrevé-lo, eu queria
fazer o u tra p e re g rin a d o e reunir o m áxim o de inform a-
j e s sobre as visionárias e suas m ensagens q u an to fosse
hum anam ente possível.
Q uando sentei para planejar m inha viagem, eu com e­
cei a pensar em todas as pessoas que tinha encontrado
e que estavam táo curiosas a respeito de Segatashya. Eu
queria poder levar todas elas a R uanda comigo e deixá-las
experim entarem por conta própria com o era estar em Ki­
beho e ir aos lugares onde os visionários estavam quando
a Virgem M aria e Jesús apareceram para eles. E depois
eu pensei: Por que nao posso levar todos eles a Ruanda
com igo? E claro que eu náo poderia levar a todos... Eu
precisaría do m eu próprio aviáo Jum bo para fazer isso.
M as náo havia razáo p ara que eu náo pudesse levar ao
m enos alguns deles comigo.
¡m ediatam ente cham ei urna am iga que era m uito boa
em trab alh ar com to d a a logística de planejam ento de
grandes viagens e perguntei-lhe o que era possível fazer.
Ela sugeriu náo mais que um a dúzia de pessoas para o
que ela previu ser a prim eira de m uitas p e re g rin a je s no
sentido Am érica-K ibeho que eu iría liderar. N ós enviam os
alguns convites e a resposta foi im ediata e im pressionante.

106
PROCURANDO SEGATASHYA

R ápidam ente reunim os 12 peregrinos am ericanos curio­


sos a respeito de Kibeho, com prom etidos com a jornada e
com vóos já reservados p ara Kigali.
Eu tive que rir da ironia da situagáo, lem brando-m e
de com o m eus pais me proibiam de me ju n ta r as peregri­
n a j e s do Padre Rw agem a a Kibeho. E agora eu estava
liderando um grupo de peregrinos com destino ao m esm o
lugar! N ovam ente o u tro dos m isteriosos cam inhos pelos
quais se m ove o Senhor... M eus pais devem estar sorrindo
lá no Céu.
A e x c ita d o estam pada nos rostos cansados daqueles
prim eiros peregrinos am ericanos en q uanto desem barcá-
vam os no A eroporto Internacional de Kigali está gravada
em m inha m em oria. A exaustáo que cada um deles sentia
era superada pela alegría de com pletar a prim eira fase de
nossa p e re g rin a d o .
Eu ria quando um dos peregrinos me perguntava se
Segatashya já tinha voado p ara além daquele aeroporto.
A pesar do aero p o rto de Kigali ser m inúsculo, era diver­
tido im aginar aquele g aroto pagáo, de pés descalzos, su-
bindo a b ordo de um aviáo com ercial. M as, quando eu
parei p ara responder á questáo, eu percebi que simples-
m ente náo sabia se Segatashya já tinha entrado em um
aviáo ou náo. N a verdade, ocorreu-m e que, apesar de eu
conhecer a sua voz táo bem q u an to a de meus irm áos e
ter m em orizado m uitas das suas m ensagens, eu náo sabia
quase n ad a a respeito dele.
N aquela altu ra, tu d o o que eu sabia sobre Segatashya
era um a coisa ou o u tra a respeito do seu contexto fa­
miliar, o fato de que suas apari j e s públicas com e^aram
em 2 de julho de 1982 e term inaram exatam ente um ano
depois, alguns detalhes sobre suas viagens locáis e que ele
tinha tra b a lh a d o p o r algum tem po na U niversidade N a ­
cional (onde eu o encontrei brevem ente) antes do genoci­
dio. Eu estava m uito pouco inform ada p a ra alguém que
estava planejando escrever um livro que iría apresentá-lo
de form a táo proem inente.

107
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Eu já cheguei a possuir pilhas de fitas com Segatashya


falando e um m o n táo de cadernos nos quais eu tinha
transcrito m uitas de suas conversas com C risto, bem
com o as r e c o r d a r e s do Padre Rw agem a, que tinha en­
trevistado o jovem visionàrio inúm eras vezes. M as todo
esse m aterial foi perdido durante o genocidio, quan d o os
assassinos que m ataram m inha fam ilia queim aram nossa
casa inteira, junto com tudo que era m eu. E, p a ra piorar,
eu era capaz de pensar em apenas algum as poucas pesso-
as que tinham sobrevivido ao m assacre e que conheceram
o jovem visionàrio pessoalm ente.
E nquanto pegávam os nossa bagagem , eu fiz urna pe-
quena o r a d o à Virgem M aria, pedindo à m inha abengo-
ada e am ada M ae que me guiasse até alguém que tivesse
conhecido Segatashya bem, p ara que, assim , eu pudesse
com partilhar aquelas preciosas in f o r m a le s com o m u n ­
do. D entro de um a h o ra após deixarm os o aero p o rto , a
Santissim a Virgem respondeu m inha o r a d o .
Com a assisténcia da m inha am iga que me ajudou a
planejar a p e re g rin a d o , um m icroónibus foi co n tratad o
p a ra pegar nosso grupo no aeroporto e nos tra n sp o rta r
até nossos alojam entos tem porários nos arredores de Ki­
gali. Eu decidi que o grupo de peregrinos poderia ter uns
dois dias de descanso e o r a d o p ara se recuperar do vóo
dos Estados U nidos e se acostum ar com a Africa, que eles
estavam conhecendo pela prim eira vez. Tam bém suspeitei
que os viajantes apreciariam um a pausa em nossa viagem
q u an d o percebessem que o giro até K ibeho, que duraria
entre seis e oito horas de viagem , seria na m aior parte do
tem po por estradas m ontanhosas constituidas de conti­
nuas curvas fechadas, que seria, entáo, seguido po r um a
corrida de quase 50 quilóm etros ao longo de um a velha e
vertiginosa estrada de chao de 200 anos repleta de b u ra­
cos com proporgóes bíblicas do principio ao fim.
“Apenas relaxem e curtam a paisagem aqui antes de
irm os a K ibeho” , anunciei pelo sistem a de som do óni-
bus, no m om ento em que entrávam os no pàtio da Foyer

108
PROCURANDO SEGATASHYA

de C harité, um bonito retiro católico p ara o quai fomos


convidados a ficar enquanto perm anecêssem os em Kigali.
F undada na França durante a década de 1930, a Foyer de
C harité é um a ordem religiosa que rápidam ente se ram i-
ficou e criou raízes ao red o r do m undo. Floje eles ofere-
cem casas de repouso em m uitos países p a ra m ilhares de
viajantes e peregrinos que estào em busca de um calm o e
pacífico refugio p a ra reflexâo espiritual e recarregam ento
das energías.
O centro contem plativo da Foyer C harité nos arre d o ­
res de Kigali oferece um a visáo totalm ente livre e de tirar
o fólego das m ilhares de colinas que po n tu am a paisagem
ruandesa. Eu assistia com orgulho enquanto os peregri­
nos pulavam p ara fora do ónibus e se inebriavam com
a beleza da m inha terra natal. “ Posso ver por que Jesús
e M aria quiseram vir p ara R u a n d a ” , disse um dos meus
am igos am ericanos, to d o efusivo. “ Realm ente se parece
com o Paraíso - com o o Céu na terra.”
Após nos ajeitarm os em nossos quartos, fom os cum-
prim entados pelo diretor da Foyer C harité, que era nao
só o nosso anfitriáo, m as tam bém um hom em com o qual
eu estava m uito bem fam iliarizada e que sem pre tinha es­
perado conhecer. Seu nom e era M on sen h o r Félicien M u-
biligi, em bora ele se referisse a si pró p rio hum ildem ente
com o um simples pároco e pedisse aos peregrinos que o
cham assem apenas de Padre Félicien. Eu nào tinha a m e­
n o r idéia de que o Padre Félicien, um hom em verdadeira-
m ente gentil e sacerdote realm ente repleto de com paixáo,
estava conduzindo aquele retiro... M as nada poderia ter
me deixado m ais feliz.
O Padre Félicien desem penhou um papel im portante
no reconhecim ento oficial, po r p arte do V aticano, das très
estudantes visionárias de K ibeho - A lphonsine, A nathalie
e M arie-C laire. E eu acho que o seu trab alh o (o Padre Fé­
licien já faleceu) um dia será m uito influente p ara a Igreja
no sentido de dar reconhecim ento oficial ás m ensagens
e apariçôes recebidas por Segatashya. Veja só, o Padre

109
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Félicien estudou e analisou cuidadosam ente o conteúdo


religioso de cada urna de todas as aparigóes vistas po r
Segatashya.
O envolvim ento do Padre Félicien com Kibeho come-
gou em 1982, quan d o o Bispo de Butare, Jean-Baptiste
G aham anyi, ficou pessoalm ente convencido de que as
aparigóes que A lphonsine, A nathalie e M arie-C laire esta-
vam vendo eram auténticos m ilagres. Sem fazer um pro-
nunciam ento oficial a respeito da validade dessas visóes,
o Bispo G aham anyi preparou-se p ara provar a verdade
(ou a falsidade) das aparigóes organizando urna equipe
form ada por m em bros proem inentes das com unidades
m édicas e teológicas de R uanda, para que estudassem os
visionários e o conteúdo de suas visóes.
O Bispo G aham anyi escolheu a dedo os experts que
ele queria que form assem o tim e de “ Detetives de M ila­
gres” que foi despachado rum o a Kibeho para exam inar
as aparigóes. Ele estava ciente de que as aparigóes po-
deriam co n tin u ar p o r anos e que os investigadores po-
deriam enfrentar sérios perigos (lembre-se de que, onde
quer que o bom tra b a lh o do Senhor esteja sendo feito,
Satanás lá estará tam bém , ten tan d o cobrir com trevas a
luz de Deus!). Sendo assim , ele precisava de pessoas fortes
e dedicadas que estivessem dispostas a p o r em teste sua fé
e a se com prom eter po r anos de tra b a lh o extrem am ente
penoso e estudo rigoroso.
Q uando o Bispo sentiu que finalm ente tinha ao seu
lado as m ais bem treinadas m entes do país, os m em bros
foram divididos em duas unidades investigativas distintas:
o time teológico e o tim e m édico-psiquiátrico. Por fim, os
dois times se to rn aram conhecidos com o a entidade única
que m encionei anteriorm ente: a Com issáo de Inquérito.
Depois que a Com issáo comegou a estudar os visionários,
o Bispo G aham anyi aprovou Kibeho com o lugar de de-
vogáo pública em R uanda. Ele aprovou tam bém recursos
p ara a construgáo de um am pio palco no qual os visioná­
rios poderiam ficar enquanto se com unicavam com o Céu,

110
PROCURANDO SEGATASHYA

bem com o para a instalagáo de um m oderno sistema de


som, a fim de que as m ensagens dos visionários pudessem
ser transm itidas pelas colinas de Kibeho e pelo rádio, en­
tran d o virtualm ente em todos os lares do país.
M as o Bispo foi m ais além e deu o m áxim o de si para
apoiar pessoal e publicam ente os visionários em todos
os sentidos. Ele se to rn o u am igo de Segatashya e m uitas
vezes convidou o jovem pastor p ara fazer refeigóes com
ele e tam bém p a ra ficar no q u a rto de hospedes de sua
casa em Butare quando Segatashya saía da aldeia de seus
pais para ir até K ibeho com o objetivo de transm itir as
m ensagens de Jesús C risto.
Talvez tenha sido a urgencia das m ensagens de Sega­
tashya a respeito do fim do m undo e da necessidade de
todos nós im ediatam ente p re p a ra m o s nossas alm as p ara
o D ía do Julgam em o que fez com que o Bispo G aham anyi
quebrasse o protocolo da Igreja. Antes que o Vaticano
tivesse feito qualquer afirm agáo oficial sobre K ibeho, o
Bispo concedeu urna entrevista p ara com panhias interna-
cionais de noticias e disse: “Eu tenho absoluta certeza de
que algo sobrenatural ocorreu em K ibeho. A m ensagem é
verdadeira; as pessoas devem se p reo c u p a r” .21
A ousadia do Bispo chocou m uitos representantes da
Igreja C atólica, m as ele conquistou os coragóes de m ui­
tos peregrinos cuja fé nasceu ou se fortaleceu gragas ás
m ensagens que estavam sendo entregues em Kibeho. Sua
coragem tam bém conquistou a eterna lealdade de m uitos
m em bros da Com issáo de Inquérito, tais com o o Padre
Félicien.
O Padre Félicien era m uito entendido no que se refe­
ria a K ibeho e, p o r isso, eu nao tinha que me preocupar
em entreter meus peregrinos am ericanos durante aquela
prim eira noite em Kigali - todos eles queriam conversar

21As apariijöes de N ossa Senhora em Kibeho foram aprovadas pelo Decreto


de 29 de junho de 2001, da diocese do Gikongoro, em itido após C onsulta da
Santa Sé e da Conferencia Episcopal dos Bispos de R uanda; na ocasiäo, vale
ressaltar, aprovaram -se apenas as apariföes da Santissima Virgem.

111
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

com o sacerdote sobre as visionárias de K ibeho e saber


tudo sobre as conversas de Segatashya com Jesús. N ós
nos juntam os a ele na sala de jan tar da Foyer C harité
para a refeiçâo n o tu rn a , onde conversam os sobre Sega­
tashya durante todo o jan tar e até as prim eiras horas da
m anhá. M esm o depois de alguns peregrinos já terem se
recolhido aos seus quartos p a ra dorm ir, eu continuei a
conversar com o Padre Félicien - um a conversa que se es-
tendeu, com parad as e recom eços, ao longo dos très dias
seguintes. D urante to d o o tem po eu m an tin h a com igo um
caderno de anotaçôes e um gravador. Eu estava certa de
que a Virgem M aria tinha me levado ao Padre Félicien e
me esforcei p a ra nao esquecer nenhum a palavra que ele
dissesse.
“ Eu nào posso declarar oficialmente que Segatashya
era um visionàrio genuino” , com eçou o Padre Félicien,
após ter dado graças p o r nossa com ida e com eçarm os
a comer. “N â o estou em posiçâo de afirm ar algo assim
e isso é algo sobre o qual o Bispo e o V aticano é que
devem se p ro n u n ciar oficialmente. M as eu quero te falar
isto antes de dizer qualquer o u tra coisa: de todos os visio-
nários que eu entrevistei e estudei en q uanto era m em bro
da Com issâo de Inquérito, foi Segatashya quem verdadei-
ram ente me fez acreditar nas apariçôes de Jesus e M aria
em Kibeho. E que aquela é a verdade de D eus!”
“Esse pequeño adolescente que nunca tin h a sequer
ouvido falar em Jesús antes de se to rn a r visionàrio me
fez acreditar de verdade que M aria e Jesús estavam real­
m ente visitando R uanda - e, após todos esses anos, mi-
nha crença nunca vacilou. E claro, sei que a Igreja nâo
reconheceu as apariçôes vistas p o r ele - pelo m enos nâo
ainda - , m as eu posso honestam ente dizer isto: após es-
tu d ar suas m ensagens e conversar com ele em entrevistas
ao longo de vários anos, eu nunca duvidei da veracidade
de qualquer coisa que ele tivesse dito. E eu posso te dizer
que, com relaçâo a Segatashya, as m ais altas autoridades
da Igreja pensam exatam ente com o eu.”

112
.s e g n t n s h y n e w

-f r e t A -t e n o C o le g io

d e K Íb e h o ia ,o v e r ñ o

d e 15 2 S , lo g o c ip o s

15
c o w -p le t n r - niA ,os.
Jesús Cristo k u -n iA -d o u .

.s e g n t n s h y n p o r a

h íib e h o p n r n q u e e le

o o m .p n r t ilh n s s e c,ont
t o d o s n s i'w .e iA .s n g e v A .s

d o s e iA -h o r s o b r e

n r r e p e i ^ -d i n ^ .e k v t o ,

r e d e iA -f ñ o e s n lx /n f ñ o .

s e g n tn s h y n rezan do
ia,a cnpeln de Klbeho, em.
i j g s . . Ble sekvrpre rez ¡vn
cuates de s u b ir no "Palc-o
dos visioiA,ários" -para
re&eber u.m,n npnrifño
públic-n d e je sú s.

s e g n t n s h y n n jo e lh n d o 1^0 p n la o en *. 1-d .b e h o

d u .r n iA .t e u i^ u -n v i s i t o d e J e s ú s . < a u n iA ,d o o

s e iA -h o r n p n r e c e u p n r n e le , o jo x /e m . v i s i o n a r i o

e iA -t r o u e^w . u m . p r o f u n d o t r f lt A .s e e f ic o u

a b s o r t o d e t u .d c , e ^ c e to d n p r e s e r a d e Jesús e
das p n ln v r n s q u e Ble f n ln v n n o g n r o t o .
A s pergui/vtas que
■Segataskya fa z ia aJesús
eraiM. tra n sm itid a s por
a Lto-falantes -para que os
s ilb a r e s de peregrinos
que a correrán*. a hábeho
pudessent ouvir cada unta
das palavras.

s e g a ta s h y a conversando contjesús durante unta apari$ao


no conteg.o do cha,o de S u a s palavras estao sendo
g ra va d a s por ^ o m a \ista s, sacerdotes e m-en-t-bros da Contissao
de iiA-quérlto. o va dre A fo llin a ire izw agenta, o sacerdote de
ntin ha térra n a ta l, M ataba, está no canto direito. o Padre
r w agem a wte dewcou ouvir to d a s as su a s g r a v a r e s dos
vision arios de hcibeho - e aquetas fitas ntu daran t ntínha vida'.

.segfltflshyí) cont u n t rosário i/to


•pescofo ent 1 5 2 3 . ele awtava rezar
o rosario, aLgo que a virgen*. Maria
•pedíu-lhe para fa z e r todos os
d ía s de su a vida. Tztzar o rosário
■proporciona a todos 1'tós n tu ita s
b e f a o s do C-éu.
s e g n td s h y c i
beben-do de um.ct
bacXci de â g u a
bekvta c-oioc-ada ao
iado dopaLc-o Logo
I ci-pos u.kvtci apariçâo,
: evu-tJSZ.

um. sorridev^te segataskya em,


wteados dos avtos s o du rante
w,iM.a rara evttrevista gravada
e\M. video tA,a qu.nL ele di.s6w.ti.ci
as \M.evtsaqevts que estera
i niM.partilhaiA,do en*. suas mXssôes
i'm*. B.u.ru.iA.dL, Z/fllre (fltualmen-te
i-'r|iû.bLi.c.n üen*.ocri$ti.c.a do Cou-go)

d m i ( piao g rn p o de peregrivtos agloncera-se vto Colégio de KÎ-beho evu, ± f)8 z


ktt» h o u v ir Segcttcishyct e os ou±ros vislo\A,ârios trai^snu-itirem . wtevtsagevts
1|li' r h i . o tflkvccii/Uio d a Ldâo n tu L ta s v e ze s crescXct para 3 o im.î I ia-os
(h iv. r.vw.. que s e g n tc is h y a rec-ebia as apariç-oes d e je su s.
ChnsUn-e, seus país e outros
¡■rmaos - que eran*. todos
pagaos - flcaran*. tño tocados
pelas M*en-sngeiA,s deJesús
entregues por Segatashua
que se coMerteravu. ao
Cristi avi’ísi'uo.

Bu segurando
a sobríi^Ma de
s e g a tflshyn, TVierese
Agateret&we, que
estova covu. apegas sete
kvceses de vida.

M.m. típico gciroto rufliA.dés


pastor que eu eM o^treí en*. un*.í
vlagen*. recente a KÍbeho. Ble
mora práám.o da térra \*.atal de
s e g a ta sh y a e está cow í- t avto¿
a kM.esm.ci idade que seg n tash y c
tLiAMa quniA-doJe s ú s apareceupe
primeí-ra vez para ele.
PROCURANDO SEGATASHYA

“M as sem pre há os que duvidam - e por urna boa


razâo. N o com eço da década de 1980, após as prim eiras
apariçôes terem ocorrido em K ibeho, parecía que tinha
visionários dando em árvores. M ais de 100 pessoas alega-
ram estar tendo visôes, e a Com issâo de Inquérito inves-
tigou m uitas délas. Felizmente, era bastante fácil e rápido
rejeitar dezenas de falsas alegaçôes. Era obvio que m uitas
pessoas entraram na ‘onda K ibeho’ com a esperança de
obter lucro pessoal - ou porque elas queriam atençâo,
eram m entalm ente degenerados ou porque estavam in­
fluenciadas por forças dem oníacas. N ós elim inam os esses
tipos e rápidam ente resolvem os de form a cabal o proble­
ma das falsidades obvias.”
“M as, quando chegou a vez de investigar o grupo cen­
tral de m ais ou m enos doze visionários, a Com issáo de
Inquérito era extrem am ente m etódica e m eticulosa. N ós
investigam os as apariçôes pela ordem em que ocorreram .
Q uer dizer, as prim eiras apariçôes que ocorreram foram
as prim eiras a ser estudadas. Com o vocé sabe, as prim ei­
ras très apariçôes foram da Virgem M aria p a ra Alphonsi-
ne, A nathalie e M arie-C laire. P o rta n te , essas estudantes e
as apariçôes da Virgem M aria se to rn aram nossa prim ei-
ra prioridade.”
“A pesar de Segatashya ter recebido algum as visitas de
M aria, ele recebeu, principalm ente, m ensagens de Jesús.
A investigaçâo das apariçôes de Jesús era, num certo sen­
tido, feita de form a separada - e, infelizm ente, consistía
em deixá-la de lado até que tivéssem os term inado a inves­
tigaçâo de todas as apariçôes da Virgem M aria.”22
“D epois que a investigaçâo sobre as apariçôes de M a ­
ria foi praticam ente concluida e nós despacham os nosso
relatório inicial alguns anos m ais tarde, estávam os p ro n ­
tos p ara exam inar mais atentam ente as visôes que Sega­
tashya teve de Jesús. Bem, pelo m enos eu estava p ro n to

22É preciso reafirm ar que para Diocese de G ikongoro, o Decreto de 29 de


junho de 2001 é definitivo, nao estando em questao iniciar outros procedimen-
tos esperando obter urna eventual aprova^ao de outros videntes.

113
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

p ara me com prom eter integralm ente com essa tarefa...


M as havia um m ontáo de problem as em curso no país.
Foi quando a guerra civil com egou, o que acabou a tra ­
sando tudo. E em 1994 ocorreu o genocidio, o qual,
essencialm ente, acabou com o m undo com o o conhecí-
am os, incluindo to d o o trab alh o da C om issáo. M uitos
dos m em bros foram assassinados e a m aior parte da do­
cu m en tad lo e das gravagóes foi perdida para sempre. A
aprovagáo de Segatashya com o visionàrio foi o u tra víti-
m a daquele horror, pelo m enos até agora.”
“ M as eu nao som ente acredito que um dia ele será
celebrado com o um dos m aiores visionários de todos
os tem pos, com o tam bém creio que, em um futuro náo
m uito distante, Kibeho se to rn a rá a m ais fam osa e mais
visitada cidade da África, em grande parte grabas ao pe­
queño g aroto pagáo que conheceu Jesús.”
Um dos m eus peregrinos perguntou ao Padre Félicien
o que foi que Segatashya disse ou fez que lhe dava tan ta
certeza a respeito dele ser um verdadeiro visionàrio.
“ Esse g aroto tinha um conhecim ento que ele náo po-
deria ter adquirido p o r conta p rò p ria ” , respondeu o sa­
cerdote. “ Desde o c o m eto ele estava co n tando historias
detalhadas da Biblia com o se as tivesse lido no dia an te­
rior, m as eu posso lhe assegurar que Segatashya náo sabia
ler e nunca tinha ouvido qualquer pessoa lendo a Biblia.
Eu sei que isso é um fato porque entrevistei cada um dos
m em bros de sua fam ilia, todos os seus vizinhos, todos os
seus am igos, os fazendeiros que o tinham em pregado e os
colegas com quem ele tinha trab alh ad o ñas p l a n t a j e s de
feijáo. Eu conversei com absolutam ente todas as pessoas
que já tinham se encontrado com ele, do seu nascim ento,
em julho de 1967, até a sua prim eira visáo de Jesús, em 2
de julho de 1982. E todas as pessoas com quem conversei
a respeito de Segatashya disseram que, até Jesus ter a p a ­
recido para ele, aquele g aroto jam ais tinha m encionado
algum a vez a Biblia, Jesus, Deus ou a Virgem M aria.”
“Apesar disso, desde a prim eira vez que o entrevistei
oficialm ente p ara a Com issáo de Inquérito, ele era capaz
114
PROCURANDO SEGATASHYA

de discutir os dogm as da Igreja com igo, fazer interpre­


t a r e s das Sagradas Escrituras e recitar de cabera m ais
ora^óes que m uitos sem inaristas iniciantes.”
“ Por exem plo, em urna entrevista que fiz com ele em
m eados de julho de 1982, ele disse que Jesús o havia ensi-
nado o Pai N osso, que ele recitou p ara m im , e a form a de
fazer o sinal da cruz. Eu lhe perguntei se Jesús tinha lhe
ensinado outras ora^oes e ele disse: ‘N a o , ainda nao. M as
ele disse que ensinaria a m an h á’.”
“Alguém da Com issáo ficou de olho nele durante a
noite toda e ninguém conversou com ele. N o dia seguinte,
eu lhe perguntei se Jesús tinha ensinado algum a nova ora-
^áo para ele. Sem me responder diretam ente, ele se ajo-
elhou e orou: ‘Senhor m eu, Jesús C risto, Deus e hom em
verdadeiro, C riad o r e R edentor m eu, p o r sedes Vós quem
sois, sum am ente bom e digno de ser am ado sobre todas
as coisas, e porque Vos am o e estim o, pesa-m e, Senhor, de
todo o m eu coragáo de Vos ter ofendido; e proponho-m e
firmem ente, ajudado com os auxilios de vossa divina
graga, em endar-m e e nunca m ais to rn a r a Vos ofender,
e espero alcanzar o perdáo de m inhas culpas po r vossa
infinita m isericordia. A m ém ’.”
“ Para aqueles de voces que nao sao católicos, saibam
que esse é o A to de C ontrigáo, urna das oragóes que nós
fazemos pedindo a Deus p ara que perdoe nossos pecados.
O ra, Segatashya nao sabia essa oragáo no dia anterior e
ele a recitou perfeitam ente, palavra por palavra! N ao te-
nho a m enor dúvida de que naquele m esm o dia Jesús veio
.1 Ierra e ensinou a Segatashya o A to de C ontrigáo. Pelo

t|ue me parece, esse fato em si já era um m ilagre. N os dias


seguintes Jesús ensinou Segatashya a rezar o R osário, o
( ¡redo A postólico e m uitos hinos, ora^óes e provérbios.”
“ M as Segatashya nao se lim itou a apenas m em orizar
.is ora^óes ou passagens das Escrituras que Jesús lhe ha-
vía ensinado. Ele tinha um entendim ento teológico délas,
dado por Deus. Q u an d o perguntei quais pecados ele ti-
nIi.i com etido que precisavam do perdáo de Deus, Sega-
i.ishya disse:
115
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Quem de nós nao tem um pecado para ser perdoado?


M as a mensagem de contrigáo que Jesús me ensinou nao é
apenas para mim e os meus pecados - é para que cada ho-
mem e m ulher rezem quando verdadeiram ente quiserem se
arrepender dos seus pecados. O Fim dos Dias está próxim o
e todos nós devemos pedir perdáo pelos pecados de nossas
vidas... E devemos nos arrepender antes que Jesús volte para
a Terra. Todos nós devemos purificar nossos coracñes do odio
e do pecado rezando sinceramente o Ato de Contricao. Con-
fessar nossos pecados para alguém é um bom cam inho para
comegar a lim par nossas almas e nos prepararm os para o
encontro com Cristo. Essa é urna das principáis mensagens
que Jesús me pediu para levar ao mundo.

“E claro, Segatashya nao era nenhum a n jo ” , conti-


n uou o Padre Félicien. “ C om isso quero dizer que ele era
um g aroto m uito hum ano. Ele nem sem pre se lem brava
perfeitam ente das coisas e certam ente nao com preendia
im ediatam ente, e de form a integral, o significado de to ­
das as m ensagens que Jesús tinha dado a ele. E o garoto
nem sem pre era o m ais fácil dos estudantes p a ra um tu to r
instruir... M esm o se acontecesse de esse tu to r ser o m aior
professor da historia h u m an a!”
“Por exem plo, durante m uitas das aparigoes de Jesús
vistas por Segatashya ele questionava C risto sobre tudo
o que o Senhor estava lhe contando. Eu sei que isso é
verdade porque m uitas vezes eu fiquei bem ao lado de
Segatashya no palco quan d o Jesús aparecia diante dele.
O g aroto entrava em um estado extático e caía de joe-
lhos táo logo sentia a presenta do Senhor. D entro de um
ou dois m inutos, ele comegava a fazer perguntas a Jesús.
Freqüentem ente, comegava reclam ando que as pessoas
náo estavam reagindo bem o suficiente ás m ensagens e
sugerindo que Jesús poderia fazer um trab alh o m elhor
no que se refere a se com unicar com a hum anidade. F u ­
nestam ente, algum as vezes eu tinha que virar meu rosto
para rir das coisas que o g aroto dizia... Era realm ente
urna gra^a ver essa doce crianza questionar cada urna das
palavras de D eus.”
“E claro, Segatashya era sem pre reverente e respeitoso
- m as, ainda assim , ele poderia ser bastante atrevido! Se
116
PROCURANDO SEGATASHYA

ele nao fosse tào inocente, eu acho que Jesus o teria ‘feri
do’ com um pequeño relám pago po r ter sido tào descara
do ás vezes. Eu queria estar com m inhas fitas aqui, para
poder tocá-las para voce, m as, infelizm ente, náo as tenho
mais. Elas foram todas destruidas durante o genocidio,
juntam ente com os meus cadernos. M as eu posso dar al-
guns exem plos do que eu me lem bro.”
“ Eu costum ava ficar no palco, ao lado de Segatashya,
e gravar a sua parte da conversa com Jesus. A pós a apa-
rigào, eu o entrevistava novam ente p ara registrar a parte
do Senhor daquela m esm a conversa. Ao colocar juntas as
duas partes, eu poderia recriar o diálogo entre o visionà­
rio e o Filho de Deus, o qual eu transcrevia e arquivava
em m eu relatório p ara a C om issáo de Inquérito.”
“Eu nunca vou me esquecer de um debate teológico
em particular que Segatashya teve com Jesus a respeito do
pecado, arrependim ento e perdáo. Com e^ou com o garoto
sugerindo que Deus dizia urna coisa, mas fazia ou tra.”
O Padre Félicien com egou a recitar a conversa entre o
Senhor e o jovem visionàrio:
Jesus, voce nos diz para am arm os nossos inimigos... Mes-
mo quando nossos inimigos nos prejudicam e parecem maus
e pecadores. M as Deus nao travou urna luta contra Satanás e
o jogou no inferno? Voce nos diz que Satanás é o nosso m aior
inimigo e que devemos lutar contra ele e suas tentagóes. Voce
poderia explicar com o, por um lado, voce nos diz para am ar­
mos nossos inimigos, e, por outro, parece tào obvio que voce
odeia Satanás?
M eu filbo, eu nao odeio Satanás - ao contràrio, é Satanás
que m e odeia. Se Satanás se arrependesse e sinceramente pe-
disse perdào a Deus pelos seus pecados, entao ele seria per-
doado e poderia voltar ao Céu. Mas, para que isso acóntela,
Satanás deve se arrepender sinceramente, do fundo do seu
coragao. Agora responda a essa questáo, meu filho: vocé sabe
quantos tipos de confissoes existem?23

23“A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta ‘queda’ consiste na


op^áo livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelnu iiu-
a Deus e seu Reino. Temos um reflexo desta rebeliáo ñas palavras do Tentadoi
ditas a nossos prim eiros pais: ‘E vós sereis com o deuses’ (Gn 3,5). O Dial») i
‘pecador desde o principio’ ( l jo 3,8), ‘pai da m entira’ (Jo 8,44). (\ o caralci

1 17
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Sim, Senhor. Com o vocé me ensinou, há duas formas de


nos confessarmos. A prim eira é confessando nossos pecados
francamente e se entristecendo profundam ente por te-lo ofen­
dido. N ós devemos nos arrepender de nossas transgressóes
do fundo do coragáo, pedindo sinceramente o seu perdáo e
nos com prom etendo em nunca mais cometer aqueles pecados
novam ente. A segunda é confessando nossos pecados sem nos
entristecermos e sem nos arrependerm os por term os pecado
e lhe ofendido. Q uando confessamos dessa form a, sabemos
que o nosso arrependim ento nao passa de exibicáo para fazer
com que paregamos melhores aos olhos dos outros... E, den­
tro de nossos coragoes, sabemos que vamos pecar novamente
na primeira oportunidade.
M uito bem dito, m eu ftlho. Estou feliz por vocé se lem-
brar de nossa aula sobre o que é confessar verdadeiramente
com o coragáo. Agora vocé consegue entender o que eu que­
ro dizer quando digo que Satanás será perdoado pelos seus
pecados apenas quando confessá-los do fundo do corafáot
Sim, Senhor, eu entendí. M as por Sata ser o Pai da M enti­
ra, difícilmente ele confessará com o coragáo... M as eu tenho
muito mais a perguntar sobre isso, Senhor. Desculpe-me por
fazer tantas perguntas, mas eu preciso de respostas e vocé
nem sempre é claro. Entao, por favor, nao esconda nada e
fale com clareza. Q uando vocé me envia para transm itir suas
mensagens as pessoas, elas tam bém tém suas dúvidas. Por
isso, eu devo estar preparado para respondé-las.
Aqui está m inha pergunta: vocé está sempre me dizendo
para repassar a mensagem que diz as pessoas que elas devem
se arrepender porque o estado do m undo vai muito mal...
Isso porque a hum anidade se tornou táo pecadora que o
m undo agora está á beira da ruina. M as depois vocé tam bém
me disse que Satanás era um anjo am ado por Deus que se
tornou invejoso e O desrespeitou, e que foi assim que a guer­
ra no Céu comegou. Depois, Satanás foi jogado para fora do
Céu e tem conduzido a hum anidade á perdigao desde entáo.
Sendo assim, Senhor, me parece que todo o problem a no
qual vive o homem agora comegou há m uito tempo, lá no
Céu. Com o Deus pode culpar o homem por arruinar o m un­
do por causa de seus pecados quando foi realmente culpa
do Céu ter deixado Satanás vir a este m undo e vaguear pela
Terra como se fosse dono déla?

irrevogável de sua opgáo, e nao urna deficiencia da infinita m isericordia divina,


que faz com que o pecado dos anjos nao possa ser perdoado. ‘N ao existe
arrependim ento para eles depois da queda, com o nao existe para os hom ens
após a m orte’” (CIC, § 392-393).
PROCURANDO SEGATASHYA

M eu filho, os problemas da bum anidade nao comegaram


no Céu, e nao bá nem urna polegada da Terra da qual Satanás
possa se considerar dono. Tudo na Terra pertence ao Céu,
nada pertence a Satanás. O s problemas causados por Satanás
comegaram dentro do seu pròprio coragáo. Ele se recusou a
ouvir a Deus e escolheu se separar de Sua familia celestial
para viver à parte. Com o eu Ibe disse, Satanás seria perdoado
se pedisse perdào a Deus em seu coragáo. Mas até boje Sata­
nás nao encontrou coragem ou sinceridade para se desculpar
e pedir o perdào de Deus. Satanás nao irá se desculpar.
Pense ñas familias que voce conbeceu enquanto crescia.
Em algumas freqüentem ente bá urna crianga que se recusa a
se tornar urna boa pessoa, nao im porta o quao intensamente
seus pais im plorem para que isso acontega. Elas se recusam
e se excluem por conta pròpria do am or que seus pais Ibes
oferecem. A m esm a coisa acontece com Satanás - ele deu as
costas ao am or oferecido de form a gratuita por Deus, como
urna crianga petulante que foge de um lar amoroso. Deus
permanece junto aos seus filbos amados e obedientes no Céu,
e todos que o am am e o obedecem sao bem-vindos lá.
Tudo isso que acontecen no Céu entre Satanás e Deus
aconteceu antes de Deus criar o m undo e o bomem. Quando
Deus criou o bomem, Satanás, em sua inveja e solidáo, deter-
minou-se a destruir a relagáo do bom em com Deus. Desde a
criagao da bumanidade, Satanás vem tentando enganar os bo-
mens com mentiras e tentagóes, na esperanga de que o bom em
irá amar mais o pecado do diabo do que a bondade de Deus.
Satanás odeia sofrer em seu isolamento e, em vez de ficar
sozinbo, tenta afastar o m áxim o de pessoas que ele puder
da luz do am or de Deus e levá-las para a impiedade e o mal.
Satanás quer que o bom em sofra com ele e seja amaldigoado
como ele - pois nao bá sofrim ento maior do que viver sem
o am or de Deus. Satanás sabe o quanto Deus ama a huma-
nidade e isso Ihe dà ainda mais prazer quando consegue cor­
rom per a alma de um bom em . Ele quer que Deus sofra tanto
quanto ele.
Lembre-se disto, m eu filho, a luz e o am or de D eus sao c,
única garantía e protegao contra o m al e a eterna escuridáo..
Diga a todos que o escutaráo que preparem os seus coragoe:
para o Dia do Julgamento, pois o Fim dos Dias já está prò
xim o. Satanás é o autor de todas as mentiras e nao é nadi
confiável. Ele tem tentado separar a bum anidade do am or d
Deus desde A dào e Eva.
Isso me lembra urna coisa, Senhor. Eu sei que um estuila 11
te as vezes pode ser um tu to r tao bom quanto seu proli sso

119
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

e, no mesmo sentido, um pecador iniciante pode se to rn ar um


pecador muito m aior do que aqueles que com eteram o peca­
do original. M as eu tenho urna pergunta sobre os pecadores
origináis.
Adào e Eva comegaram toda essa confusào... Por que
voce os criou por primeiro? Se eles nunca tivessem comido
do fruto proibido, o resto de nós ainda poderia estar vivendo
no Paraíso.
H á muito mais pecadores no m undo hoje do que naque-
la época, mas todos nós viemos de Adào e Eva. Entào, toda
a hum anidade deve ter aprendido a pecar com Adào e Eva,
certo? Como voce é o Todo-Poderoso, voce já devia saber
quando os criou que eles eram fracos e que pecariam cedo ou
tarde - voce nào pode negar isso, Jesus! Entào por que voce
fez isso? Por que criar dois pecadores que acabariam trazen-
do sofrim ento e misèria a todos os homens que nascessem
depois deles? H onestam ente, eu acho que isso foi um erro.
Voce nào devia té-los criado!
Q uando voce tem um fìlbo, voce o faz com amor. Voce
nào sabe se aquela crianga se tornará boa ou mà, mas voce
a ama com todo o corafào e espera pelo melhor. Voce espera
que o filho que é trazido à vida por Deus nào irà esquecè-Lo,
pois um filho que é feito à imagem do am or irà amar.
E com o exatam ente voce quer que nos lembremos de
Deus? Voce disse que devo pensar em Deus com o meu Pai,
que Deus Pai ama a mim mais do que os meus pais, que Deus
me conhecia no ventre e já me am ava antes de eu ter nascido.
M as eu acabei de conhecer voce, Jesus. Fui apresentado a
Deus há apenas algumas semanas. Porém, eu conhego meus
pais desde o dia em que nasci. Desde que era crianza eu vi
meus pais lutando para fazer o seu melhor por mim e traba-
lhando para me alim entar e proteger. Sendo assim, voce real­
mente espera que eu vá am ar o Deus Pai, que me pede para
fazer um m onte de coisas dificeis, mais do que o meu pai e
minha màe, que sempre me deram tudo de que eu precisava?
Entào voce quer distinguir o am or dos seus pais do am or
do seu Deus ?
Sim, Senhor. Eu acho que tenho urna boa razào para que­
rer distinguir entre o am or de meus pais e o am or de Deus.
Eu sempre vi meus pais m ostrarem o seu am or por mim - eles
sempre me protegeram e cuidaram de mim. M as eu nunca
vi Deus me am ar quando era crianga. Eu nunca O vi trab a­
lla n d o em nossas plantagòes de feijáo para sustentar nossa
familia, colocando com ida em nossa mesa ou fazendo roupas
para nos m anter aquecidos.

120
PROCURANDO SEGATASHYA

M eu filho, m esm o que vocé nunca tenha m e visto, eu sem-


pre estive por perto cuidando de vocé. Vocé já ouviu a canfáo
‘M eu Protetor que M e A m a ’?
M eu protetor que m e ama, m eu protetor
Q ue Deus m e deu para cuidar de mim,
M eu protetor que está comigo em tempos difíceis
Para fazer guarda e im pedir o demonio
D e roubar o m eu corafüo.
M eu protetor que m e ama, m eu protetor
Q ue é o meu presente de Deus.
Sim, entendo isso agora. O brigado por responder as mi-
nhas perguntas e obrigado por sempre ter estado ao meu
lado, Jesús. O brigado por ter-me dado meus pais para me
am arem e me manterem protegido. Eles sao o melhor presen­
te que já ganhei, melhor ainda agora que sei que o am or deles
era um presente seu!
Mas eu tenho mais urna pergunta, Senhor. Eu vejo as pes-
soas se referirem a Deus por muitos nomes. Algumas pessoas
cham am Deus de “Jeová”, outras o cham am de “A lá” ... Em
R uanda, elas O cham am de “Im ana”, mas no Zaire eles O
cham am de “M ungu” . Agora estou conversando com vocé,
Jesús, mas tam bém tenho ouvido coisas sobre sua mae, a Vir-
gem M aria... E tam bém há Judas e Satanás. Está ficando mui-
to confuso para mim. Q uem eu devo am ar e respeitar mais?
Seja qual for, meu filbo, nao ame ou respeite Judas e Satanás.
E, com relagao a todos aqueles outros nomes, a quem eu
devo amar?
Se vocé ama cada um deles sinceramente com todo o seu
coragüo, entáo vocé conseguiu cum prir o que pedem minbas
mensagens a respeito da purificagáo do coragao para o m eu
retorno. Chamando um, entre os que vocé mencionou, ele irá
levá-lo a outro e todos eles o levaráo á verdade e ao amor. E,
em qualquer m om ento que vocé precisar, vocé pode invocar
qualquer um daqueles nomes e eles Ihe daráo o que vocé pre­
cisa. M inha Bem-Aventurada M ae irá levá-lo a m im e ao Pai e
ao Espirito Santo, pois nós som os um e nao m uitos.24

24“Acreditamos que esta única religiao verdadeira se encontra na Igreja Ca­


tólica e Apostólica, á qual o Senhor Jesús confiou o encargo de a levar a todos os
homens, dizendo aos Apóstolos: ‘Ide, pois, fazer discípulos de todas as na^óes,
batizando os em nom e do Pai, do Filho e do Espirito Santo, ensinando-os a cum ­
prir tudo quanto vos prescrevi’ (M t 28, 19-20). Por sua parte, todos os homens
tém o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e á sua

121
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Entendo, mas, se eu realmente estiver em apuros e preci­


sar de ajuda rapidam ente, quem de voces, lá em cima no Céu,
tem o m aior poder e pode me ajudar mais depressa?
O h, m eu filho! Q ue perguntas voce ousa m e fazer!
Eu nào quero ser rude, Senhor. M as isso é algo que eu
realmente preciso saber. Voce me m anda dar às pessoas todas
essas mensagens sobre arrependim ento e o firn do m undo e
depois todo m undo acha que estou louco e quer me bater.
Eles batem na porta dos meus pais e ameagam toda minha
familia. Eles tem insultado a m inha pobre e indefesa màe.
Ai, até m inha màe e meu pai comegam a me cham ar de im­
bécil por ter levado à vida deles todos esses problem as, prin­
cipalmente quando nao consigo dar conta de responder às
perguntas deles com respostas simples. Eles me cham am de
mentiroso e ficam bravos comigo.
Jesus, eu gostaria que voce me dissesse quem é a pessoa
mais elevada no Céu que possa me ajudar com rapidez, ou,
entào, mande-me alguns guarda-costas me protegerem o tem­
po todo. Eu acho que poderia cuidar de mim se voce me desse
os mesmos poderes que voce tinha quando estava na Terra re­
alizando milagres. Eu tam bém preciso estar de posse de toda
a verdade para poder responder as perguntas eu mesmo, sem
qualquer ajuda sua. Entào, por que voce nào me dà todo o
seu poder e conhecimento para que eu consiga me defender
corretamente?
Filho, voce realmente acha que, se eu Ihe der toda minha
verdade e poder, voce irá usà-los corretamente?
Bem, provavelmente nào. M as eu só pego porque, se eu
continuar fazendo o que voce me pede e sair por ai pregando
o firn do mundo, alguém poderá me m atar apenas para ca­
lar a m inha boca. E, entào, todas essas mensagens que voce
me deu se tornariam inúteis porque eu acabaría m orto, como
voce.
Voce està disposto a morrer pela humanidade?
N ào vou dizer que seria fácil... Q uer dizer, ninguém quer
m orrer por nada.
Q uem m o n e por nada? M eu filho, vejo que voce está sor­
ridente e feliz. Mas voce está dizendo que morri por nada?
N ào, Senhor, perdoe-me...Às vezes eu me empolgo quando

Igreja e, urna vez conhecida, de a abragar e guardar.” (Dignitatis Hum atue, n. 1.


Sobre o assunto, ver também o documento: Respostas a questòes relativas a
alguns aspectos da Doutrina sobre a Igreja, Congregalo para a Doutrina da
Fé, de 29 de junho de 2007).
122
PROCURANDO SEGATASHYA

estou corti voce! Eu sei que voce m orreu por nossos pecados
para nos salvar porque voce nos ama. O brigado por seu am or
e por todas as respostas que me deu, Senhor. Eu cantarei seus
louvores e espalharei suas mensagens por todo o m undo coiti
alegría em meu cora^áo!

D epois de ter conversado com o Padre Félicien a res-


peito de Segatashya p o r m ais de dois dias, ele me disse
que ficaria sem ter mais o que falar sobre o visionàrio, o
que acabou sendo bom , porque eu ficaria sem tem po para
ouvir - pelo m enos até depois de m inha p e re g rin a d o a
Kibeho!
Os peregrinos e eu estávam os com a agenda cheia e
tínham os viagem reservada para K ibeho naquela tarde,
com eventos planejados lá para todos os dias durante os
cinco dias seguintes. D epois tivem os que voltar a Kigali
em urna certa m anhá quando m etade do grupo estava
indo para o n orte de R uanda p ara ver os m undialm ente
fam osos gorilas das m ontanhas, enquanto o resto tinha
que pegar vòos de volta para os Estados Unidos.
E nquanto os peregrinos se despediam do Padre Féli­
cien e subiam a bordo do m icroónibus que nos levaria a
K ibeho, eu lhe perguntei se ele tinha dado algum a de suas
fitas com gravagoes de Segatashya ou docum entos da Co-
m issáo de Inquérito para alguém em quem ele confiava
antes do genocidio, para que esta pessoa pudesse g uardar
o m aterial. Ele balan^ou tristem ente a cabera.
“ N ao, sinto m uito, m inha cara. Suspeito que a m aior
p arte de m inhas grava^oes foi perdida no caos de 1994.
M inha casa e meus escritorios foram saqueados, pilhados
e incendiados, e tudo o que havia neles foi consum ido
pelo fogo ou roubado. De qualquer form a, tudo está per­
dido p ara m im .”
“M as, Im aculée, eu lhe contei tu d o que me lem bro so­
bre Segatashya. E, pelo que vocé me contou sobre sua
infància e sobre o encontro que teve com ele na universi-
dade, eu acho que vocé já sabe m ais sobre o visionàrio do
que a m aioria das pessoas.”

123
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

“ Preciso saber m ais, Padre Félicien... Preciso descobrir


tudo que puder sobre ele. Eu nao sei o que aconteceu com
Segatashya quan d o os m édicos o exam inaram , nada sei
sobre as aparigoes que ele viu após K ibeho, com o tam -
bém nao sei o que aconteceu quando ele foi p a ra Burundi
e C ongo [antigam ente Zaire] em suas m issdes planejadas
por Jesús. E, além disso, eu preciso encontrar alguém que
tenha registrado po r escrito suas m ensagens p ara que eu
possa passar algum as délas adiante.”
“ Bem, o atual bispo da diocese de K ibeho talvez te ­
nha tido acesso a alguns docum entos, m as eu posso lhe
g arantir que, se ele teve, ele nao deixará vocé os ver. Ele
considera tais docum entos apenas de uso da Igreja” , res-
pondeu o Padre Félicien.
“Além do bispo, há urna única pessoa na qual consi­
go pensar que ainda está viva e que talvez tenha salvado
algum as gravagóes da Com issáo durante a loucura de
1994. Seu nom e é Dr. M urem yangango B onaventure. Ele
foi o principal investigador do tim e m édico da Com issáo
de Inquérito. N aquela época, ele era o único psiquiatra
de R uanda e nós o deixam os bastante ocupado quando
todos os visionários com egaram a aparecer.”
“Faz m uito tem po que nao o vejo e náo sei se ele irá
sequer conversar com vocé sobre Kibeho. Ele é um dos
hom ens mais inteligentes que já conheci - e, se ele quiser,
ele poderá lhe co n tar tudo que há p ara saber a respeito de
Segatashya. M as eu tenho que alertá-la, Im m aculée, pois
ele é um a pessoa m uito reservada. Q uan d o estávam os in­
vestigando os visionários, ele nunca discutia sobre o que
estava acontecendo em Kibeho com qualquer pessoa que
náo fizesse parte da Com issáo de Inquérito. M as talvez
ele se abra p ara vocé.”
O Padre Félicien me deu o enderezo da casa do Dr. Bo­
naventure, a qual ficava a m enos de 30 m inutos de viagem
de carro do retiro da Foyer de C harité. Os peregrinos e eu
tínham os um a m argem de m an o b ra de apenas um a hora
em nossa ap ertad a agenda de viagem - se a ultrapassás-
semos, teríam os que nos preocupar em cancelar quartos,
124
PROCURANDO SEGATASHYA

deixar de ir a eventos e perder conexóes de viagem m as


todo m undo concordou que deveríam os fazer unía rápida
visita ao Dr. B onaventure e ver o que o bom d o u to r tinha
a falar sobre Segatashya.

125
CAPÍTULO 6
O BO M D O U T O R E O FIM DOS DIAS

Vinte m inutos após term os deixado o Padre Félicien e


o reitor da Foyer de C harité, chegam os em frente á h u ­
m ilde casa do Dr. B onaventure em Kigali. Todos os pere­
grinos saíram do m iniónibus e cam inharam juntos para
a porta do doutor. Eu bati no batente de m etal e, alguns
m om entos depois, um cavalheiro de idade, com um olhar
m uito assustado e desconfiado, estava encarando urna ru-
andesa curiosa e urna dúzia de branquelos queim ados de
sol saídos sabe-se lá de onde. A credite-m e, esse nao era o
tipo de cena que um m édico recluso de Kigali esperava
ver em sua p o rta.
Eu, entáo, expliquei apressadam ente ao confuso m é­
dico quem eu era e o m otivo de eu estar liderando um a
invasáo de peregrinos am ericanos em sua propriedade. O
Dr. B onaventure sorriu sim páticam ente e, com o qualquer
bom anfitriáo ruandés, convidou todo o grupo a entrar em
sua casa p ara beber alguns refrescos. Eu protestei, dizendo
que tínham os pouco tem po e que nao podíam os ficar, e
que eu quería apenas fazer algum as perguntas sobre Se­
gatashya. M as o Dr. Bonaventure deu as costas para mim
e come^ou a cam inhar de volta para dentro de sua casa.
R ápidam ente esclareci aos meus am igos am ericanos
que em R uanda era praticam ente ilegal recusar hospita-
lidade. Eu decidí, entáo, levar to d o m undo p ara dentro
da sala de estar do d o u to r - a qual nós ficamos felizes
em constatar que era a d o rn ad a com m uitas pinturas e
imagens da Virgem M aria e Jesús. O Dr. B onaventure,
que se m ovia m ais devagar do qualquer o u tra pessoa que
eu conhecia, passou a hora seguinte acom odando todos
nós, apresentando-se a cada um dos peregrinos individu­
alm ente e certificando-se de que tinham sido oferecidos
refrescos a to d o m undo. D epois ele se sentou em sua pol­
trona e perguntou: “M u ito bem, peregrinos, o que vocés
gostariam de saber sobre Segatashya?”
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

“ C om o eu sei que o senhor era m em bro da Com issáo


de Inquérito, doutor, eu estava apenas me perguntando
se voce nào teria quaisquer grava^óes ou docum entos en-
volvendo Segatashya que eu pudesse em p restar” , pergun-
tei pacientem ente, sentindo o crescente cansado dos pere­
grinos, que queriam chegar a Kibeho antes do anoitecer.
“Voce está um pouco apressada” , respondeu o Dr.
B onaventure, com um tom de voz gentil, m as a u to rità ­
rio. “N ós já vam os chegar à sua pergunta, m as prim eiro
deixe-me co n tar sobre o dia em que me encontrei com
Segatashya. Foi em urna entrevista da Com issáo de In­
quérito, p a ra a qual ele estava convocado a aparecer al-
gum as sem anas após as apari^óes terem com e^ado. Eu
já tinha feito um exam e físico e um a análise psicológica
prelim inar nele e o encontrei em ótim a form a, tan to no
corpo qu an to na m ente.”
“ Sim, ele era um garoto esperto e saudável... Em bo-
ra um pouco pequeño p a ra a sua id ad e ” , continuou o
doutor, pegando um velho caderno espiral em um criado-
m udo ao lado de sua po ltro n a. Ele com egou a folhear as
páginas am areladas e cheias de orelhas de burro do ca­
derno en q u an to m urm urava, sob sua pesada resp ira rlo :
“Vamos ver, vam os ver... Segatashya, Segatashya, Sega­
tashya... Ah, aqui está! Entrevista com Segatashya, 20 de
julho, 1 9 8 2 ” . Ele com e^ou a 1er a p a rtir dali:
PERGUNTA: Segatashya, as aparicoes da Virgem
Maria que as garotas da escola de Kibeho estao vendo
sao um fenómeno novo. Mas agora nos foi relatado que
voce também está vendo aparicoes... Isso é verdade?
SEGATASHYA: Sim, é verdade que estou vendo
aparicoes, mas nao da Virgem Maria. Estou vendo apa-
ri^óes de Jesús Cristo, e minhas visóes de Jesús comega-
ram em 2 de julho, umas duas semanas atrás.
PERGUNTA: Segatashya, vocé é apenas um garoti-
nho que nunca foi para a escola e nem mesmo a uma
igreja. Por que voce diz que tem visto e conversado com
Jesus? Nào é mais provável que voce tenha ouvido his­
torias sobre as visionárias de Kibeho que viram a Vir­
gem Maria e depois tenha imaginado ter visto Jesús?
128
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

SEGATASHYA: Nâo, senhor, eu nâo imaginei ter


visto Jesús, Eu o vi e ele conversou comigo. Eu o vi
como estou vendo o senhor agora; seria difícil dizer a
qualquer um que eu nâo estou vendo vocé. Contudo, na
primeira vez em que me encontrei com ele, eu apenas o
ouvi. Eu esta va sentado à sombra de urna árvore e ou vi
sua voz. A principio, eu nâo sabia de onde exatamente
vinha essa voz, mas percebi que ela estava chegando do
alto, do céu - do lugar chamado Paraíso. Ele me per-
guntou se eu poderia transmitir urna mensagem dele e
meu coraçâo respondeu por mim - meu coraçâo disse
sim! E foi assim que aconteceu. Eu perguntei quem ele
era e ele me contou que era Jésus.
Ele me disse: Se você disser aos outros que vem em
nom e de Jésus, eles nâo acreditarâo em você. Mas eu
pude sentir o quanto ele era poderoso, e entendí que
tudo o que ele tinha falado era verdade. Entâo, eu lhe
disse: “ Se você é verdaderamente Jésus Cristo, eles irâo
acreditar no que eu disser... Desde que você me dê força
para comunicar suas palavras e lhes dê a graça e a fé
para ouvir a verdade” .
Eu sei que você falou com o Sr. Hubert, a quem Jé­
sus me mandou, e, sendo assim, sei também que você
ouviu a mensagem que eu entreguei na fazenda dele...
A mensagem que diz para todos nós purificarmos os
nossos coraçôes e nos prepararmos para o retorno do
Senhor à Terra.
PERGUNTA: Sim, nós ouvimos a mensagem, obri-
gado. Mas, por favor, responda a esta pergunta: você
perguntou a Jésus por que ele escolheu você - um garo-
to pagâo, que nunca tinha ido a uma igreja, que nunca
tinha lido a Biblia, que nunca tinha feito uma oraçào e
que nâo foi batizado - para ser seu mensageiro?
SEGATASHYA: Eu perguntei sobre isso, senhor. Ele
disse que me escolheu para mostrar às pessoas que nâo
acreditam nele - como pagaos e outros descrentes -
que ele nâo está se esquecendo délas. Ele as vê, cuida
délas, ama-as e espera que elas o convidem para morar
em seus coraçôes. Ao escolher um menino pagâo para
ser seu mensageiro, ele faz o mundo saber que o seu
amor e sua salvaçâo estâo disponíveis para todos.

129
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

E eu sei que os ruandeses mais velhos nem sempre


respeitam o que urna crianza tem a dizer, mas Jesús me
contou o que ele diz na Biblia: Da boca dos pequeninos
e das criancinhas de peito preparaste um louvor... Jesús
me mandou em urna missáo para dizer a nós todos que
o amemos e o louvemos, e para fazer com que nos-
sos coragoes se tornem puros como o de uma crianza
recém-nascida, a fim de que possamos entrar no Reino
de Deus.

“Isso foi apenas os prim eiros dez m inutos da prim eira


entrevista de Segatashya á C om issáo” , explicou o Dr. Bo-
naventure. D epois, a p o n ta n d o para algum as fotografías
fam iliares de sua esposa e filhos, ele acrescentou: “Passei
incontáveis horas conversando com o garoto; realm ente,
ele se to rnou parte de m inha fam ilia para m im , com o ou-
tro filho” .
O Dr. B onaventure se levantou e se ofereceu p ara fazer
um chá para os peregrinos, que ainda estavam ansiosos
p ara pegar a estrada em dire^áo a K ibeho, m as, com o eu,
estavam sendo agora totalm ente puxados p a ra dentro do
conteúdo dos cadernos do doutor.
Um dos peregrinos perguntou ao Dr. B onaventure
quais m udanzas físicas os visionários sofriam quando
estavam conversando com Jesús ou M aria. “ D urante as
aparigoes, todos os visionários entravam em um estado
parecido com o do com a e seus cérebros sim plesm ente
nao recebiam qualquer in fo rm a d o do m undo físico” ,
respondeu ele. “Porém , eles estavam tao acordados quan-
to eu e vocé. C ada um deles experim entava um com pleto
desligam ento da realidade com o nós a percebem os... E eu
acho que esse desligam ento perceptivo era m ais p ro n u n ­
ciado em Segatashya.”
“Eu fiz todos os testes que podia para despertá-lo do
seu estado extático logo que ele entrava em transe. Exam i-
nei seus ñervos cranianos jogando a luz brilhante de um a
lanterna m édica bem dentro de seus olhos - nenhum a res-
posta. Exam inei sua fun^áo sensorial tocando todos os
seus pontos de reflexo com um m artelo de borracha - de
130
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

novo, nenhum a resposta. Belisquei to d o o seu corpo, torci


seus dedos quase a p o n to de arrancá-los, espetei agulhas
em seus bracos e os torci de um m odo que quase defor
m ou seu corpo... Todo teste tinha o m esm o resultado - ne­
nhum a resposta. Finalm ente, coloquei eletrodos po r todo
o seu corpo, conectei os cabos a urna grande batería e dei
um a descarga de eletricidade nele - nem m esm o isso o
p erturbou, nao teve nenhum a rea^áo física!”
“Pode parecer que eu estava agindo de form a cruel,
m as eu precisava ter certeza de que ele nao estava fin-
gindo!” , explicou o doutor. “ Se ele náo estava fingindo,
entáo nada do que eu fizesse iria afetá-lo negativam ente;
po r o u tro lado, se ele estivesse fingindo, qualquer um da-
queles testes teria o feito correr do palco gritando de dor.
Isso nunca aconteceu. N a o im porta o que eu fizesse com
ele, ele sem sequer se m exia.”
“ Devo adm itir que algum as vezes eu posso ter ido Ion-
ge dem ais. Em um a ocasiáo, em purrei o pobrezinho pelas
costas e em seguida sentei-m e em cim a dele com todo
o m eu peso. Depois coloquei m inhas m àos em volta do
seu pescoso e o estrangulei m om entaneam ente, ten tando
interrom per o fluxo de oxigénio p ara o seu cérebro com
o objetivo de induzi-lo a ficar inconsciente... Veja, ele nao
podía fingir indiferen^a q u an to a isso. Se ele sentisse que
estava sendo sufocado até a m orte, seu sistem a nervoso
sim pático teria disparado sua rea^ào de ‘luta ou fuga’,
c- ele teria ten tad o lutar com igo. M as ele apenas ficava
lá no chao do palco, sorrindo e conversando com Jesús
durante to d a essa to rtu ra . Por fim, um dos sacerdotes que
cstavam no palco correu e me d errubou no chao. ‘Vocé
licou m aluco, B onaventure?’, gritou ele. ‘O que vocé está
icntando fazer? M a ta r o g aro to ?’”
“ I )epois disso, eu fiquei com pletam ente convencido de
«Iut- Segatashya era um visionàrio verdadeiro, que esta-
v.i vendo aparigóes auténticas. Eu o continuei estudando
n|i|ciivam ente com o m édico e psiquiatra, m as a m inha
m inada de notas ganhou um a fungao adicional: eu queria
picservar um registro histórico do que estava acontecen-
do ( in k ib eh o .”
131
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Se pudesse, eu teria ouvido as historias do d o u to r por


horas e horas, mas tinha chegado o m om ento de partir
para Kibeho. E ntáo os peregrinos e eu agradecem os o d o u ­
to r por seu tem po, hospitalidade e grande conhecim ento
a respeito de Segatashya. E nquanto salam os de sua casa
em meio a um a enxurrada de abramos e apertos de m áo,
pudem os ver o sol se pondo entre as colinas de Kigali.
“ E stará escuro antes que consigam os sair da cidade” ,
reclam ou o m otorista do nosso m icroónibus. “N ao se
preocupe p o r dirigir no escuro” , riu o Dr. B onaventure.
“Se vocé observou com atengao a estrada de térra que
leva até a auto-estrada para K ibeho, provavelm ente vocé
vai querer sair do carro e an d ar pelos pouco m ais de 30
quilóm etros restantes.”
Visto que os peregrinos já estavam a b ordo do óni-
bus, eu me virei p ara o Dr. B onaventure p a ra perguntar
m ais um a vez se ele tinha alguns docum entos que estaria
disposto a me em prestar p ara o livro que eu estava escre-
vendo sobre Kibeho. M as, antes que eu tivesse a chance
de ab rir m inha boca, ele me pegou pelo bra^o e me levou
de volta p ara dentro da casa, onde ele me disse um a coi­
sa que me fez ter certeza de que a Virgem M aria verda-
deiram ente tinha me conduzido até a casa deste hom em
m aravilhoso.
“Eu estive esperando po r vocé - recebi um a m ensa-
gem a respeito de algum as pessoas que viriam de longe
para me ver” , disse ele, enquanto está vam os no pátio de
en trad a de sua casa. “Alguns meses antes do genocidio,
uma das visionárias de Kibeho - nao estou autorizado
a dizer qual - veio até m inha casa e me disse que a San-
tíssim a Virgem tinha dado a ela um a m ensagem para ser
entregue a mim. A m ensagem era a seguinte: ‘D iga ao Dr.
M urem yangango B onaventure que ele nao pode m orrer
antes de dar os docum entos sobre os visionários a alguém
que esteja determ inado a com partilhá-los com o m undo,
p orque as m ensagens de Kibeho sao destinadas a todo o
m u n d o ’.”

132
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

D ito isso, o Dr. Bonaventure abriu a p o rta de um ar­


m àrio que continha urna dúzia de caixas e m aletas reche-
adas com cadernos e papéis avulsos. “Aqui está to d a mi-
nha pesquisa, m inhas descobertas e conclusóes sobre os
acontecim entos de K ibeho” , disse-me ele. “Eu voei p ara o
Z aire com to d o esse m aterial quando o genocidio come-
gou porque eu sabia que ele devia ser protegido p ara as
geragóes futuras. A gora ele é to d o seu porque eu sei que
vocé irá com partilhá-lo com o m undo. Vocé pode voltar
p ara me ver qu an d o reto rn ar de sua p e re g rin a d o ou me
visitar a qualquer m om ento quando estiver em R uanda.
Faga copias de tudo isso e faga o que quiser com esse
m aterial - é seu para vocé com partilhar. Aqueles jovens
visionários repetiram m uitas vezes p a ra m im que o m un­
do precisa ouvir aquelas m ensagens.”
E ntregando-m e um pesado fichário azul com o nom e
de Segatashya escrito com forte cor negra na lom bada,
ele disse: “ Com ece com este, é apenas um de m u ito s” .
Sorrindo grandem ente, ele brincou: “E urna leitura leve
para a viagem até K ibeho, m inha filha” .
M eus olhos ficaram m areados de lágrim as, pois m i­
nhas oragòes nào poderiam ter sido atendidas de form a
mais satisfatória. Eu ainda visitaria o Dr. Bonaventure
pelo m enos urnas dez vezes pelos dois anos seguintes -
sem pre que nos encontrávam os ele me cham ava de “fi­
lha” e eu o cham ava de “p a p a i” . Ele até se ju n to u a um
grupo de peregrinos que eu conduzi certa vez em outra
peregrinagào p a ra K ibeho... A últim a vez em que o vi foi
pouco antes de sua m orte, no comego da prim avera de
2011. As anotagòes que ele me deu me possibilitaram es-
crever O u r L ady o f Kibeho e constituem a espinha dorsal
deste livro sobre Segatashya tam bém .
Fu sei que o Dr. B onaventure faleceu com a consci­
encia tranq üila, pois ele sabia que tin h a atendido a um
pedido pessoal da Virgem M aria. Estou certa de que a
l>em-Aventurada M ae o recebeu no Céu com o seu glo­
rioso sorriso.

133
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

O sol desapareceu p o r trás das colinas de Kigali en-


qu an to nosso m icroònibus se afastava da casa do Dr. Bo-
naventure e nós com e^ávam os a últim a etapa da jornada
para Kibeho. Eu abri o fichário azul que o m eu m ais novo
am igo tinha me dado táo cautelosam ente que era com o
se estivesse m exendo em um dos M anuscritos do M ar
M o rto.
As prim eiras palavras que eu li foram as do título de
um capítulo: “ Segatashya e o Fim dos D ias” . A baixo do
título havia a tra n s c rib o de duas grava^òes. A prim eira
era de Segatashya conversando com Jesús sobre a Segun­
da Vinda de C risto durante urna aparigào. A segunda era
de Segatashya após a aparigao, co n tan d o à Com issào de
Inquérito o que Jesús tinha lhe dito a respeito da Segunda
V inda. As tra n s c rib e s foram editadas juntas a fim de for­
m ar um diálogo entre Segatashya e o Senhor.
Eu rapidam ente folheei o livro, explorando avidam en­
te as páginas e ficando cada vez mais anim ada. Erguendo
os olhos p ara contem plar um pouco dos últim os raios
do sol poente, percebi que estávam os passando pelo M e­
m orial do G enocidio de Kigali, o qual m uitos peregrinos
quiseram visitar em nosso retorno de Kibeho. O M em o­
rial está construido no topo de um a colina que é o túm ulo
coletivo onde estao enterrados os ossos de m ais de 250
mil vítim as da destruigáo.
Eu pensei nos tres meses em que fiquei escondida, jun­
to com outras sete m ulheres, em um m inúsculo banheiro
escondido, duran te o a to rm en tad o r banho de sangue. E
pensei em meus pais e m eus irm àos, D am ascene e Vian-
ney, que foram todos m assacrados po r nossos antigos
am igos e vizinhos. Pensei sobre o um m ilháo de pessoas
que foram dilaceradas até a m orte com facòes e os incon-
táveis corpos que nao foram enterrados e apodreciam à
luz do dia quando o dem onio an d o u livrem ente por R u ­
anda. E pensei tam bém no fato de que, 12 anos antes do
genocidio, a Virgem M aria tinha aparecido para as visio-
nárias de Kibeho e avisado que um m assacre sangrento

134
iria devastar o país se as pessoas nao enchessem seus co-
ragoes com o am or de C risto.
D urante o genocidio, eu tinha certeza de que o Arm a-
gedom tinha chegado e o epicentro do A pocalipse era R u­
anda. Aquele h o rro r nao foi o Fim dos Dias, m as talvez
tenha sido um sinal de que o fim está próxim o.
Voltei-me p ara o livro do Dr. B onaventure, que ainda
rstava aberto sobre meu colo, e fiquei chocada com a pas-
sagem de urna entrevista sobre a qual m eus olhos tinham
parado:

PERGUNTA: Segatashya, vocé nos disse que as coi­


sas no mundo estao indo mal, e que Jesús quer que as
pessoas se arrependam, amem umas as outras sincera­
mente e se voltem imediatamente para a vida que Deus
quer que elas vivam. O que nós queremos saber agora é
se há alguma coisa específica que Jesús tenha falado ou
mostrado para vocé com o objetivo de indicar o quanto
realmente mal as coisas ficarao no futuro?
SEGATASHYA: Duas semanas atrás [durante uma
visáo em 1 de setembro de 1982], Jesús me mostrou
pessoas ardendo em fogo e animais selvagens se dila­
cerando e se devorando uns aos outros. Depois ele me
mostrou pessoas com facoes ñas máos cortando umas
as outras em pedamos. Jesús nao me deu nenhuma ex-
plicagáo específica sobre o que essas imagens terríveis
significavam ou quando essas coisas poderiam acon­
tecer. Mas todos voces podem compreender o que ele
queria me mostrar: é sobre como as pessoas estao se
sentindo em relagáo umas as outras, que mais e mais
elas se odeiam e querem fazer o mal umas ás outras.
Jesús quer que tudo isso pare, que tudo isso mude. E a
única forma que o mundo tem de mudar isso é através
da aceitagáo do seu amor e do seu perdáo.

C om o Ele gosta de nós, en q u an to seres hum anos, eu


pensei, p ara nos dar um aviso exato sobre o desastre que
nossas agóes trariam até nós. M as ignoram os o alerta
por com pleto e sim plesm ente continuam os em frente 1 1 0
mesmo estilo de vida perigoso. E ntáo, me lembrei de que

135
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

m uitos dos visionários, especialm ente Segatashya, costu-


m avam dizer o quáo triste a Santissim a Virgem parecia
estar du ran te as aparigóes, d erram ando lágrim as de tris­
teza porque eia podia antever a catástrofe na qual seus
filhos estavam sendo precipitados p o r causa de suas vidas
cheias de pecado e sem nenhum arrependim ento.
As luzes de Kigali cintilavam p o r toda parte da cidade
quan d o nosso m icroònibus enfim alcangou a estrada que
ia p ara o sul, em diregáo a K ibeho. U m dos peregrinos su-
geriu que recitássem os o R osàrio e, na escuridào crescen­
te, eu pude escutar aquele som , sem pre táo reconfortante,
das contas do R osàrio chacoalhando um pouco antes da
prim eira Ave M aria ser pronunciada.
O ritm o em que ia o ònibus, a profunda escuridào
dentro da qual viajávam os e a suave repetidlo da ora-
gao dos M istérios da Alegría durante o R osàrio me acal­
m aran! a p o n to de me pro p o rcio n ar um sono pacífico.
Q uan d o m inha cabera com egou a perder a firmeza, eu
coloquei o fichário azul no assento vazio ao m eu lado
para descansar. M ais urna vez, en q uanto fechava o livro,
eu li “ Segatashya e o Fim dos D ias” . M as, desta vez, no
m om ento em que m inhas pálpebras estavam m uito pe­
sadas para co n tin u ar abertas, tam bém li a prim eira sen-
tenga: N o últim o dia, os anjos do Senhor aparecerao nos
quatro cantos do céu. E depois adorm eci.
T áo logo meus olhos se fecharam , m ergulhei em um
sonho que já tive m uitas vezes quan d o era crianga. Nes-
se sonho, eu estava na sala de meus pais lendo historias
de urna Biblia ilustrada que ganhei no m eu aniversário
de sete ou oito anos. Era basicam ente um livro sobre os
m ilagres de Jesús no N ovo T estam ento repleto de ilustra-
gòes e a imagem que m ais me fascinava era a que repre­
sentava o m ilagre da Transfiguragáo.
N essa ilustragáo, Jesús está flutuando no a r bem em
cim a do M o nte de Transfiguragáo. Enorm es e form idá-
veis raios de luz do u rad a, um tan to averm elhada, ema-
nam dele e brilham em sua volta, en q uanto ele conversa

136
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

com dois profetas do Antigo T estam ento - M oisés e Elias


- que estáo flutuando ao seu lado. Vários dos A póstolos
de Cristo estáo no chao bem abaixo, olhando, incrédulos,
para o alto, e protegendo seus olhos da luz brilhante que
em ana do Senhor.
A idéia de ver Jesús flutuando entre o Céu e a Terra,
visível ta n to para os profetas do A ntigo com o do N ovo
Testam ento, encheu toda m inha im a g in a d o . M as o que
realm ente m exia com igo naquela imagem era a form a
com o a luz brilhava a p artir de Jesús, juntam ente com
as eletrizantes cores verm elhas e pú rp u ras que coloriam
a nuvens que pairavam acim a daquela legiáo celestial. E
no m eu sonho (tais coisas parece que só acontecem em
sonhos), en q u an to estava deitada na cam a adm irando as
cores da im agem , eu percebi pela janela que o céu repen­
tinam ente tinha escurecido.
Eu, entáo, coloquei m inha cabera p ara fora da janela,
um pouco com a esperanza de ver M oisés e Elias flutuan­
do po r ali para se encontrar com Jesús no topo de urna
m o n tan h a - no to p o da m inha m ontanha! Essa idéia me
atingiu com o urna visáo de que Jesús deveria estar espe­
ran d o pelos profetas no to p o da m inha m o n tan h a favori­
ta, situada sobre o lago Kivu, bem no interior do C ongo
(antigo Zaire) - aquela m esm a m o n tan h a que eu ficava
contem plando p o r tantas horas en q uanto esperava meu
pai reto rn ar de urna de suas p e r e g r in a je s a Kibeho.
Eu olhei p a ra o céu e vi que as suas cores estavam
se tra n sfo rm an d o com urna velocidade vertiginosa,
m u d an d o in stan tán eam en te de um sinistro to m verde,
com o se antecipasse urna tem pestade, p a ra um ro sa ar-
dente, depois p a ra um tom ro x o , com o que m anchado
de vinho, e depois, finalm ente, p ara urna caótica m istura
de tu d o isso. O horizonte estava vivificado p o r cores e
m atizes que eu nunca tin h a visto antes, os céus estavam
pulsando com som bras escuras e a luz soprava vida e
vitalidade d e n tro daquela deso rd en ad a dan^a de cores
selvagens que ro d o p iav am sobre m inha cab era. Era urna

137
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

visáo p e rtu rb ad o ra e devia ter me deixado m o rta de


m edo, m as eu estava estranham ente encantada por vé-la,
e, por algum a razáo, inexplicavelm ente feliz tam bém .
R epentinam ente, a penetrante rajada de urna trom be-
ta irrom peu do alto, chacoalhando os fundam entos da
nossa casa. Aquela buzina estridente ecoou po r to d o o
m eu corpo, com egando pela m inha cabega e descendo
pela m inha coluna, sacudindo m eus ossos, e atingiu-m e
em cheio, fazendo-m e voar de volta para m inha cam a.
Em seguida veio urna segunda rajada, e ainda mais
forte, que vibrou p o r todo o m eu esqueleto e me deixou
trincando os dentes. Aquele pavoroso b arulho me deixou
ainda m ais feliz. Q uan d o a terceira rajada de trom beta
explodiu bem perto da m inha janela, eu pensei que ia
arreb en tar em gargalhadas de júbilo - apesar de aquele
barulho extrem am ente poderoso ter arrem essado nossos
prato s ao chao e desencadeado urna onda de sons desa-
gradáveis e incongruentes de nossas aterrorizadas vacas
e cabras.
Eu sai correndo do meu q u a rto para fora de nossa casa
e fui até a porta dos fundos, g ritando para que m inha fa­
m ilia se juntasse a mim. “M ae, pai, Aim able, Dam ascene,
Vianney, venham rápido - voces nao váo acreditar no que
está acontecendo aqui fo ra !”
A cor do céu estava m udando m ais urna vez, flutuan-
do violentam ente de um verm elhao parecido com sangue
p ara um suave tom carm esim que me lem brava das p é ta ­
las das rosas prediletas de m inha m áe. N uvens tem pestu­
osas aglom eraram -se no centro do céu e estavam girando
em círculo no sentido horário, com o um m onum ental re-
dem oinho. A través da agitagáo e do barulho provocado
pelos anim ais, que zurravam , eu ouvi as vozes fam iliares
dos meus vizinhos no o u tro lado da estrada.
“Louvado seja Jesús! O brigado, Senhor! N ós nos ren ­
demos! E o Fim dos D ias!” , clam ou Pasteur N sengim ana,
com sua voz vindo de algum lugar acim a de mim. Pas­
teur era um carpinteiro que estava construindo um novo

138
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

telhado em urna casa próxim a. Ele olhou para baixo c


sorriu p a ra m im , depois se levantou do papel de alcatrao
sobre o qual estava ajoelhado, lim pou a sujeira de suas
m áos e tiro u da boca os pregos que estava segurando com
os lábios.
“Parece que Jesús está voltando hoje... E m elhor eu ii
buscar a esposa e as crianzas. Veremos-nos no Céu, Im-
m aculée!” , gritou alegrem ente m eu vizinho, en q uanto elt
descia por sua escada de m adeira e corría em dire^áo 3
sua casa.
Pasteur, bem com o to d o m undo na extensa fam ílk
N sengim ana, era um “cristáo renascido” - urna seite
radical e relativam ente desconhecida (a qual eu admire
m uito) que ainda estava com egando a se firm ar em R úan
da quan d o eu era crianga. Ser um “ renascido” nao era un
term o genérico em R u an d a, com o é em alguns lugares. C
que eu pude n o ta r a respeito do grupo, e o que eu amav;
na porgáo do m ovim ento que vivia em m inha aldeia, er;
o fato de que os seus m em bros realm ente pareciam renas
cidos, em todos os sentidos. M esm o os m ais obstinado
dos pecadores entre eles m udavam p a ra sem pre suas vi
das após terem aceitado C risto em seus c o r a j e s .
H avia em to rn o de 100 renascidos em M a ta b a - e
en q u an to algum as pessoas os consideravam lunáticos de
lirantes, eu achava que estar p erto deles era urna alegri
e urna inspiragáo. C ada um deles trabalhava pesado e
nao im portava o quáo inferior ou difícil fosse o traba
lho, eles sem pre estavam sorrindo e felizes en q uanto i
desem penhavam . Eles continuam ente cantavam hinos
louvores ao Senhor, quer estivessem cam inhando pela eí
tra d a , quer estivessem a ran d o um cam po. Eles tinham
sua p ró p ria igreja, e eu lem bro-m e de ficar sentada so
as janelas da capela durante os louvores, porque as sua
vozes e as c a n j e s que eles entoavam eram m uito bonita:
Eles renunciavam aos m ais m undanos objetivos e posse:
bem com o a todas as form as de em o j e s e a j e s negat
vas, com o co n tar urna m entira... Vocé poderia pergunta

139
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

qualquer coisa a um renascido, pois eles eram m oralm en­


te e espiritualm ente obrigados a co n tar a verdade.
Todo m undo sabia que podia confiar nessas pessoas
e é por isso que eu acho que eles sem pre tin h am em pre-
gos e iam bem nos negocios. E as emogóes ás quais eles
renunciavam eram do tipo que distraem a consciencia de
urna pessoa e perm item ao dem onio p ular dentro de um
coragáo desprotegido - emogóes com o o odio, a inveja e
a raiva.
Eu me lem bro de assistir urna vez, com desgosto, a um
grupo de adolescentes arruaceiros de urna aldeia vizinha
que passava pela igreja bem na hora em que o culto esta-
va term inando. O s garotos ab o rd aram Jean-Philippe, um
cristáo renascido, cunhado de Pasteur, que estava parado
nos degraus da frente da igreja conversando com os m i­
nistros e outros congregados na com panhia de sua esposa
e suas cinco filhas.
“Vamos ver se esses m alucos fazem o que eles dizem
que fazem, vam os ver se dáo a o utra face... Vamos desco-
brir se eles realm ente nao ficam com raiv a!” , gritou um
dos garotos, en q u an to eles rodeavam Jean-Philippe e sua
fam ilia qual um enxam e de vespas aborrecidas. O líder da
gangue com egou a g ritar na cara do hom em , xingando-o
com os m ais horríveis nom es que eu já tinha ouvido e
acusando-o de to d o tipo de perversáo, m uitas das quais
eu era m uito inocente p ara entender, m as cujo sentido
tinha ficado claro pelo tom de voz do garoto.
Jean-Philippe em nenhum m om ento tirou os olhos do
garoto boca-suja, e, após urna série de rápidos m ovim en-
tos, ele colocou a Biblia que estava em sua m áo em um
dos bolsos da jaqueta, levantou am bas as m áos para o ar
e depois gentilm ente tap o u os ouvidos de sua filha m ais
nova para protegé-la daquele ataque de obscenidades.
“ Sinto m uito pelo seu sofrim ento” , disse baixinho Jean-
Philippe, sorrindo para o garoto de um jeito realm ente
am igável. “Eu posso ver que vocé está sofrendo, m enino. E
vocé deveria saber que Jesús o am a e poderá livrá-lo dessa

140
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

raiva se vocé convidá-lo a e n tra r em seu coragáo. N ós


podem os conversar sobre isso durante o alm ogo se voce e
seus am igos quiserem ir a nossa casa hoje á tard e.”
O líder dos arruaceiros ficou enfurecido. Seus olhos
se arregalaram e sua língua p ulou p ara fora de sua boca
com o se ele fosse um cao extrem am ente raivoso. Em se­
guida, ele resm ungou algum a coisa e deu um forte tapa
no rosto de Jean-Philippe e depois levou as m áos em di-
regáo á sua garganta. O clima de tensáo foi súbitam ente
quebrado pela voz de um pai irritad o gritando com um a
de suas filhas. E a filha em questáo era eu.
“Im m aculée llibagiza! Vá p ara casa agora m esm o!”
D o lugar onde eu estava, sentada sobre um toco de árvore
situado sob a janela da capela, que eu pensava ser o meu
assento privado, vi m eu pai p arad o na rúa com um longo
e grosso galho de árvore na m áo.
Eu já tin h a visto aquela vara antes - m eu pai a cha-
m ava de “ aula de corregáo” e a usava para castigar meus
irm áos em seus traseiros ñas raras vezes em que eles eram
rudes com m inha m áe e ñas nem táo raras vezes em que
eles sim plesm ente se com portavam m al. Papai nao era
apenas o disciplinador de nossa fam ilia. Ele tam bém era
cham ado po r outros aldeóes para disciplinar os filhos de­
les, lidar com bébados ou, com o neste caso, estabelecer a
paz qu an d o ninguém mais conseguía.
Pelo o lhar de m eu pai e pela form a com o ele agarrava
o chicote de m adeira, eu sabia que era m elhor fazer o que
ele m andava. Eu corri para casa táo rápido qu an to m eus
pés pudessem correr. N ao sei o que ele fez com aqueles
garotos, m as eu sei que eles nao tiveram a ousadia de
m o strar suas caras em nossa aldeia pelos anos seguintes.
E ntretanto, eu vi Jean-Philippe e outros m em bros da
com unidade dos renascidos m uitas vezes depois daquele
episodio. Eles eram exem plos vivos da form a com o M a­
ría e Jesús queriam que vivéssemos, conform e disseran
aos visionários de Kibeho: devotados a Deus, com alma;
puras e c o r a j e s am orosos sem pre dispostos a perdón r.

141
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

N ao era de se adm irar que um dos assuntos favori­


tos da com unidade dos renascidos fosse o Fim dos Dias -
todo renascido que eu encontrei em R uanda vivia cada dia
com o se fosse o seu últim o dia na Terra. Eles estavam sem-
pre prontos para se encontrar com o seu C riador quando
Jesús retornasse nos últim os dias do m undo p ara realizar
o grande julgam ento de todas as alm as, no qual Ele decidi­
rá quem poderá ir para o Céu e quem nao poderá.
Q u an d o Segatashya com egou a ver suas prim eiras
aparigóes em público em Kibeho e a falar sobre a pre­
p a r a d o p ara o Fim dos Dias e o Dia do Julgam ento - e,
com o voce já deve ter n o tad o , foi sobre isso que ele mais
falou eu me lem bro de ter pensado que ele fácilm ente
poderia ter dito: “ Se voces querem um bom exem plo do
que Jesús quer que voces fagam , váo a M a ta b a e visitem
os cristaos renascidos!”
P o rtan to , nao era nenhum a surpresa que Pasteur
N sengim ana pudesse aparecer no m eu recorrente sonho
de infancia sobre o Fim dos Dias parecendo estar tá o ale­
gre e satisfeito. Ele sabia que estava indo para o Paraíso.
E nquanto m eu sonho prosseguia e eu via Pasteur de-
saparecendo da m inha vista para ir encontrar sua fam ilia,
eu me perguntava p o r que eu nao conseguia encontrar a
m inha p ró p ria fam ilia. E ntáo, vi Jean-Philippe com sua
esposa e suas cinco garotas correndo para o cam inho que
segue até as m argens do Lago Kivu.
A esposa de Jean-Philippe, Bernadette, que estava lim-
pando suas m áos cheias de farinha de p ao com o aven-
tai, com o se tivesse acabado de colocar um pao no forno
quan d o o Apocalipse com egou, insistiu para que eu me
juntasse a eles. “Venha conosco, Imm aculée. Todo m undo
está lá em baixo no lago, esperando por Jesús. Apresse-se,
ele está chegando!”
Eu olhei p ara o céu e o violento turbilháo de nuvens
am eagadoras havia se transform ado em urna tranqúila tela
verm elha sobre a qual o mais incrível po r do sol tinha sido
pintado. Tudo que havia no m undo agora estava brilhando

142
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

sob a beleza dourada e averm elhada que irradiava do sol


que se punha. O Lago Kivu cintilava com um esplendor
alaranjado, as colinas distantes do Zaire ardiam com o pe-
dras quentes de ámbar. Tudo parecía táo acolhedor.
Em seguida, eu tinha deslizado, sem fazer qualquer es-
forço, sobre a perigosa colina que ficava atrás de m inha
casa e caía de form a táo íngrem e sobre as águas do Kivu.
O s cam inhos traiçoeiros daquela m o n tan h a sem pre me
aterro rizaram , m as agora a descida era em ocionante e di­
vertida. Um m om ento depois, eu estava em pé na beira da
água com m eus pais e irm âos. Papai ap o n to u em direçâo
ao céu e sussurrou: “ N ós estam os indo para casa, Im m a­
culée!”
Ao olhar para o alto, vi q u atro anjos aparecerem nos
q u a tro cantos do céu. Eles pairavam nos confins do firm a­
m ento com o se estivessem aguardando um a ordem e de-
pois desceram lentam ente para a Terra, com o belissimos
guerreiros alados que traziam diante de si espadas flame-
jantes. D epois, em m eio aos anjos, apareceu Jésus - ele
tinha 10 mil m etros de altura e estava envolvido pela luz
de 10 mil sois. Seu tam anho e beleza dim inuiam as colinas
ao seu redor e, quando seus braços se abriram para nós
em um gesto de boas vindas, eles pareciam estender-se de
um a extrem idade do Lago Kivu a outra.
O Senhor disse apenas um a palavra: B em -vindos...
O m otorista tirou nosso m icroônibus da estrada para
um a rápida p a ra d a e eu acordei en q uanto o veiculo se
sacudia to d o e ia paran d o . Estive dorm indo p o r quase
très horas e nós ainda estávam os na m etade do cam inho.
C om o nào há m uitos postos de gasolina entre Kigali e
K ibeho, os peregrinos deram um a saída rápida para usar
as instalaçôes.
Eu fiquei sozinha no ônibus po r um tem po, m ais um a
vez folheando m eu precioso fichário azul que continha
m uitas das m ensagens de Segatashya sobre o Fim dos
Dias. Eu pensei sobre o q u an to aquele sonho tào fam iliar
a m im , que eu tinha acabado de ter, me deixava tào alegre

143
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

p o r saber que Jesús tin h a voltado e me levado p ara o Céu


junto com aqueles que eu m ais am ava com a seguran-
ça dos seus braços bondosos. M as eu tam bém pensei em
com o era triste que tan tas pessoas que eu tinha conhecido
em m inha vida tivessem tan to m edo do A pocalipse ou
daquilo que eu considerava ser a m ais agradável e recon­
fo rtante das frases: o Fim dos Dias.
Eu acho que é com preensível que as pessoas tenham
tan to m edo da violência, do sofrim ento e do fim a que
cada um a dessas coisas pode levar. Afinal, o Fim dos Dias
- os dias fináis que precedem o reto rn o de C risto para
o julgam ento de todas as alm as, depois do quai a Terra
será consum ida pelo fogo - é retratad o na Biblia com o
um tem po de grande tribulaçâo. O A pocalipse é descrito
com o um a era na qual o D em onio irá dom inar o m undo
pela m entira e pelo engano até o dia em que Deus revelar
grandes verdades que foram escondidas do hom em e re-
ceber todos p ara o D ia do Julgam ento e dar inicio ao fim
do m undo. E o A rm agedom é retrata d o na Biblia com o a
b atalha entre as forças do bem e do m al que irá assinalar
os últim os dias de nosso planeta.
Vamos adm itir que tu d o isso, tom ado em conjunto,
pode parecer um pouco assustador se vocé acha que nao
irá passar to d a a eternidade no Paraíso. Pela form a com o
eu vejo, se alguém falasse p a ra mim: “L am ento, a vida é
dura e tudo o que vocé irá encontrar pela frente durante
os próxim os anos, a p a rtir do m om ento em que o m al co-
m eçar a reinar neste m undo, será apenas to rm en to e to r­
tu r a ” , eu tam bém ficaria com m edo. M as, se alguém me
dissesse (com o Jesús disse na Biblia) que, se eu passasse
80 anos na Terra e suportasse to d o o sofrim ento e dificul-
dade sem perder m inha fé e o am or a D eus, eu teria pela
frente a possibilidade de passar to d a a eternidade junto
com as pessoas que eu am o, com o eu nâo ficaria contente
com isso? Desde que m eu coraçâo esteja p u ro e repleto
de amor, e eu viva da form a com o Deus quer, eu sei que
vou passar toda a eternidade com aqueles que eu am o e
deleitando-m e na beleza e no am or do Senhor.

144
O BOM DOUTOR E O FIM DOS DIAS

É po r essa razáo que as m ensagens de Segatashya es-


tavam táo focadas em nos p rep a ra r para o Fim dos Dias,
lem brando-nos que todos nós vam os m orrer um dia e que
devem os estar sem pre cientes desse fato im utável. Jesús
disse-lhe que, se os hom ens e m ulheres estiverem p rep a ra ­
dos p ara o D ia do Julgam ento, o Paraíso será deles. M as,
se as pessoas nao estiverem prep arad as, se elas tiverem
ab an d o n ad o a fé, virado as costas p ara Deus e buscado
o pecado, entáo tu d o estará perdido p a ra elas... Elas nao
poderáo ver o Céu e estaráo condenadas a passar a eter-
nidade no inferno.
Esse é o m otivo pelo qual eu quero desesperadam ente
com partilhar com todo o m undo as m ensagens de Sega­
tashya sobre o Fim dos Días. E, en q uanto eu olhava aque-
le fichário azul durante a viagem p ara K ibeho, prom etí a
m im m esm a que iría colocar no papel suas m ensagens so­
bre esse assunto exatam ente da form a com o eu as recebi,
para que as pessoas pudessem decidir p o r conta p ró p ria
com o interpretá-las.
O p róxim o capítulo é um a com pilagáo de m ensagens
sobre o Fim dos Dias que Segatashya recebeu de Jesús.
Leia-o com atengao.

145
CAPÍTULO 7
O FIM D O M U N D O C O M O FOI D ITO PO R JESUS

Segatashya teve m uitas conversas com Jesus a respei-


to do Fim dos Dias. M uitas délas ocorreram durante as
aparigòes de N osso Senhor para o jovem visionàrio entre
2 de julho de 1982 e 2 de julho de 1983. M ais tarde,
ele relatou essas conversas em entrevistas gravadas pelos
m em bros da Com issáo de Inquérito. O que vai a seguir é
um excerto daquelas horas de entrevistas:
Nos últimos dias, o sol ficará m uito quente, e inúmeras pes­
soas morremo de fom e e de outras calamidades que se segui­
rlo a essa escassez■Haverá muitas tenta^oes do demonio nessa
época, pois a Terra passará pelo maior sofrimento que eia já
viu, maior do que qualquer coisa que tenha ocorrido antes.
Q uando voce vir guerras irrompendo entre as diferentes
religióes do m undo, vocé saberá que o m eu retorno está pró­
xim o. Q uando vocé testemunhar guerras religiosas, vocé sa­
berá que estou a caminho. Urna vez que as guerras religiosas
comecem, nada irá pará-las.
Perto do fim haverá guerras e nagào irá se voltar contra
nafào e religiào irá se voltar contra religiáo. Mas as familias
tam bém lutarño entre si - os pais se voltarao contra seus fi-
Ibos, e filhos e filbas irào lutar uns contra os outros. Muitas
misérias sucederao porque o m undo continuará se recusando
a se arrepender.
Senhor, po r que as religióes entraráo em guerra, se todas
elas trabalham para voce ?25
Porque em todas as religióes bá m uitos que dizem acredi­
tar no am or de Deus, mas que nao acreditam verdadeiramen-
te. A guerra cbegará porque m uitos dizem que amam, mas
eles nao tém nenbum am or por Deus ou pelo bom em em seus
corafdes.

25Faz-se necessàrio reafirmar: “ (...) toda a salva^áo vem de Cristo-Cabera


por meio da Igreja, que é o seu corpo. Portanto nao poderiam ser salvos os que,
conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessària à s a lv a d o , nela nao
entrassem e nela nao perseverassem. Ao mesmo tem po, grabas a Cristo e à sua
Igreja, podem conseguir a salvagáo eterna todos os que, sem culpa pròpria,
ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus
e, sob o influxo da gra^a, se esfor^am por cum prir a sua vontade, conhedcla
através do que a consciencia lhes d ita ” (Com pendio do CIC, n. 171).
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Como será possível que país e filhos declararao guerra


uns aos outros quando há táo fortes lagos de am or unindo
um pai e um filho?
As familias comegaráo a lutar entre si quando os seres
hum anos ficarem exaustos de viver em um m undo com tan­
to sofrim ento. As pessoas estarao cansadas do m undo e o
m undo estará cansado das pessoas. O pecado do hom em se
tornará táo grande que da misèria nascerà mais miseria. As
máes preferiráo ser estéreis em vez trazer urna crianza a este
m undo com tanta dor. H om ens maduros estarao táo cansa­
dos de viver que chorarào e implorarào para morrer, para dar
firn à sua perturbagào.
Haverá m uitos terremotos em todos os cantos do globo.
Em alguns lugares o calor do sol será táo implacável que a
tena secará e as colheitas m orrem o ano após ano. O s ven­
tos tomarào conta da ten a e chuvas intermináveis causaráo
grandes inundagoes. A fom e se espalhará por m uitas na^óes.
M uitos lutaráo uns contras os outros por comida e m ultiddes
morrem o famintas.
Sabendo que o m undo estará táo cheio de pecado e que
todas essas coisas terríveis iráo acontecer, Senhor, por que
voce criou o homem com tanta fraqueza e propensáo ao pe­
cado? Voce é onisciente e, portanto, sabia muito bem que,
quando criou A dào e Eva, todas as geragoes da hum anidade
que viriam depois nao seriam fortes o bastante para resistir
as tentagoes.
O hom em fo i criado com a fraqueza, mas ele nao tem que
permanecer fraco. Eu vim para a Tena e nasci da carne e do
sangue para ser um exem plo vivo do que era possível para a
humanidade. Eu m ostrei aos hom ens o caminho a ser seguido
na vida e o caminho para o Céu. Eu vim ao m undo como
hom em , e mostrei a todos os hom ens com o sofrer as dores
do m undo e como amar a Deus. Eu vim para salvar o hom em
porque vi as dificuldades que ele estava tendo ao tentar levar
urna vida pura e devota.
Eu desci do Céu para curar os pecados do m undo e a
hum anidade viu o que eu suportei por causa de tais pecados:
deixaram-me nu, espancaram-me e crucificaram-me; e todos
tiveram que suportar o peso de testemunhar isso. Eu m o n i
para a salvafáo do homem; entáo, para que ele tenha essa
salvafáo, ele deve m e convidar parar morar em seu coragáo
antes do últim o dia. E o últim o día chegará nao porque as
pessoas sejam más, mas porque Deus criou o m undo sabendo
ele acabaría um dia.
O m undo irá acabar, com ou sem a humanidade, mas to ­
dos os transtom os, misérias e sofrim entos que acom panham
O FIM DO MUNDO COM O FOI DITO POR JESUS

o últim o dia recairáo sobre o m undo por causa dos pecados


da humanidade.
Q ualquer um que aceitar o m eu am or e se arrepender
de todos os seus pecados será perdoado por tudo, e eu irei
amá-lo. Mas aqueles que se recusam a se arrepender dos seus
pecados guardaráo tais pecados com o urna marca em suas
almas, e eu Ihes mostrarei a m inha ira.
E por isso que, quando eu voltar para o Dia do Julga-
m ento, eu julgarei primeiro aqueles que se recusaram a se
arrepender. E eles ficaráo enorm em ente aflitos e entristecidos,
mas as suas tristezas viráo tarde demais - e eu despejarei tri-
bulaçôes e mais tribulaçôes sobre eles. M inha ira para com
eles será feroz e meus sete arcanjos irao espalhá-la pelos qua-
tro cantos do planeta. M eus arcanjos castigarâo com a minha
ira todos aqueles que se recusaram a se arrepender dos seus
pecados. Haverá m uito sofrim ento e tribulaçâo.
Mas, por causa de tais tribulaçôes que recairáo sobre os
pecadores, haverá m uita raiva contra os meus filhos por eles
terem acreditado em mim. O s pecadores perseguiráo aqueles
que sao fiéis a Deus e os arrastarâo para fora dos seus tem ­
plos e os espancaráo nas ruas. Mas eu peço para que os meus
filhos nao m e neguem, nao im porta o quanto tenham que
sofrer por isso... Eu sempre estarei com eles nos m om entos
de afliçâo.
E as coisas ficaráo ainda piores no m undo por causa da-
queles que dáo as costas ao arrependimento. O s coraçôes dos
hom ens estaráo táo cegos para a verdade de Deus que um
exército de dem onios irá ficar de prontidáo sobre toda a Ter­
ra. E m uitos afirmaráo ser eu, o Senhor Jesús. Eles promete-
rao acabar com toda a miséria e dissipar todo o sofrimento.
Cuidado com esses demonios, pois o único desejo deles é se-
duzir o hom em e levá-lo para o mal.
Com o poderemos reconhecer esses demonios e como po-
deremos sobreviver a tais lutas no Fim dos Dias?
Q uando vocé ouvir alguém que alega ser eu ou agindo em
m eu nome, mas que usa palavras que contradizem o que eu
disse na Biblia, vocé saberá que eles sao dem onios tentando
afastá-lo da Luz de Deus. Para derrotar essas forças, as pes­
soas devem orar, se confessar e se arrepender.
Diga a todas as pessoas do m undo que, a partir de hoje,
elas devem praticar penitencia, pois nao falta m uito tempo
para que o D em onio venha à Terra para tentar a humanidade
a fazer com que ela se desvie do caminho da retidáo.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Fale para todas as pessoas lerem a Biblia e encontrar nela


as minhas palavras, fale para elas acreditarem em cada urna
das palavras que eu pronunciei e viverem de acordo com elas.
O últim o dia tem duplo sentido. O primeiro sentido se aplica
a alma individual - para cada urna das pessoas, o últim o dia
será o dia de sua morte. O últim o dia para toda a humani-
dade será o dia da m inba Segunda Vinda. A o fim de cada
dia, toda pessoa está um dia mais próxim a do encontro com
Deus.
Se eu temo pelo que acontecerá nos últimos dias, nao vai
todo m undo ficar com medo tam bém ?26
N ao tenha m edo, mas tenba fé! Pois aqueles que amam
a Deus e fazem o bem iráo comigo para o Céu e nunca mais
serao tentados. Mas apresse-se, pois falta pouco tempo!
Diga as pessoas que, se elas tiverem a m im dentro dos
seus corafóes, elas nao precisam ter m edo do sofrim ento dos
últimos dias. Mas elas precisam ser fiéis a Deus e cautelosas
em relatado aos truques e enganos que o D em onio irá empre-
gar com o objetivo de levá-las ao pecado e a escuridáo. N os
dias fináis, Satanás virá e alardeará que ele é o grande líder
dos bomens, que ele pode dar um fim as secas e as inunda­
r e s , que ele pode curar os milhoes de pessoas que estaráo
doentes. Ele poderá realizar milagres, ele irá se gabar dos seus
grandes feitos, e pessoas do m undo inteiro acorreráo a ele
cbamando-o de Cristo... Mas ele nao é o Cristo, ele é Sata­
nás disfar^ado. Ele alegará estar fazendo o que Cristo fez no
passado - curando os doentes e alim entando os fam intos
mas será mentira. Ele poderá deslumbrar e confundir m uitas
pessoas com falsos milagres, ele poderá curar alguns doentes
e alimentar alguns fam intos - mas seus milagres sao armadi-
Ibas para enredar os coragóes e almas hum anas.17

26“0 Juízo Final acontecerá por ocasiao da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai
conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu
Filho, Jesús Cristo, Ele pronunciará entáo sua palavra definitiva sobre a historia.
Conheceremos entáo o sentido últim o de toda a obra da cria^áo e de toda a eco­
nomía da salvagáo, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua
providencia terá conduzido tudo para seu fim último. O Juízo Final revelará que
a justi^a de Deus triunfa de todas as injusti^as cometidas por suas criaturas e que
seu am or é mais forte que a m orte (Ct 8,6)” (CIC, § 1040. Grifo nosso).

27Acerca dos fenómenos realizados por anjos, bons ou m aus, diz-nos o


Cardeal Lépicier: [...] os fenómenos originados pelo poder angélico, quer
direta quer indiretam ente, revestem notáveis características, nao só quanto
á sua extensáo com o quanto á sua diversidade. Com o, por um lado, estes
espírítos puros possuem um conhecim ento das leis físicas e químicas que
excede grandem ente o nosso, e, por outro lado, o seu poder é de m uito m aior

150
O FIM DO MUNDO COMO FOI DITO POR JESUS

Durante o Fim dos Días, Satanás irá fazer o possível para


distrair as pessoas da minba verdade e afastar a humanidade
do caminho que conduz ao Céu. Alguns homens trabalharáo
para o D em onio naqueles dias e tentaráo confundir outros
dizendo que todas as diferenças entre Satanás e Deus nao sao
importantes, que Deus e o D em onio säo irmäos e que os pro­
blemas que eles tiveram no Céu säo apenas brigas de familia
que näo dizem respeito ao hom em . N äo acredite nisso! Deus
é o Todo-Poderoso e näo tem nenhum irmäo... Acredite ape­
nas ñas palavras de Deus conforme vocé pode encontrá-las
na Biblia.
N äo confie em qualquer um que cbegue chamando a si
m esm o de Jesus ou dizendo que é Jesus em sua Segunda Viu­
da. Q uem quer que diga isso é um mentiroso. M uitos espa-
Ibaräo rumores de que Cristo já veio e apontaräo para alguém
que eles alegam ser eu... N äo o adore. Permaneça fiel a m im
e m e chame em oraçâo. Eu irei encontrá-lo onde quer que
vocé esteja.
Se eu andar entre os homens, eu näo o farei com grande
estardalbaço e ostentaçâo. Eu silenciosamente curarei os do-
entes, devolverei a visäo aos cegos e abrirei os ouvidos dos
surdos. Eu alimentarei naçôes sem buscar louvor; eu passarei
pelo m undo sem ser notado e prestarei atençâo naqueles que
permaneceram fiéis a m im . Ore a m im e confie em m im , e eu
irei encontrá-lo onde quer que vocé esteja - se vocé estiver no
topo de urna m ontanha, eu irei encontrá-lo; se vocé estiver
em baixo de urna ponte, eu irei encontrá-lo. lnvoque-m e em
busca de força e coragem nos dias negros que virâo e eu Ihe
darei força.
N o Fim dos Dias haverá m uitos milagres falsos; näo acre­
dite neles, pois näo viräo de Deus. Quaisquer milagres que
se originärem de m im seräo milagres do coraçâo. Q uando eu
vier, colocarei am or nos coraçôes dos hom ens e mulheres que
säo fiéis a m im . Em todos os lugares do m undo as pessoas
começarâo a ter sonhos comigo e ficaräo repletas do Espirito

alcance, podem os assegurar que difícilmente se encontraráo neste mundo


alguns fenómenos que nao possam ser provocados pelos anjos, dum a ou
doutra m aneira. E esses fenómenos sao, por vezes, táo surpreendentes que
nos chegam a parecer verdadeiros milagres. M as, nesse caso, nao se trata de
milagres, porque, em bora tais fatos ultrapassem o poder do m undo visível, até
onde tal poder é por nós conhecido, nao excedem o poder dos anjos. O milagre,
que excede todos os poderes do m undo visível e do m undo invisível, só pode
ser atribuido a Deus (...)” (Cardeal Alexis M arie Lépicier, The Unseen World,
Parte III, V, p. 66, Benzínger Brothers, N ova Iorque, 1906. Grifos nossos).

151
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Santo. Mas os pecadores nao ficaráo cheios do Espirito San­


to e sairáo em busca dos dem onios que alegam representar
Deus.
Satanás virá as nagoes assoladas pela fom e com grande
quantidade de comida, mas, em troca disso, ele esperará ser
louvado. A comida que as pessoas pegaráo de suas máos para
alimentar seus corpos fam intos nao irá nutri-las e envenena­
rá suas almas - nao coma tal tipo de comida. Essa comida
cegará o corafáo das pessoas para o am or e a verdade de
Deus, fortalecerá a ganancia do hom em e semeará o odio nos
coragóes das pessoas - ela vai colocar nafáo encontra naqao
e vizinho contra vizinbo.
E m elhor passar fom e do que adorar um falso deus. Se o
seu estómago dói, nao procure alim ento com aquele que pede
para ser adorado - ore para m im e eu irei ampará-lo.
Senhor, vocé diz que haverá m uitas misérias no Fim dos
Dias e que m uitos demonios tentaráo enganar a hum anidade
e levá-la ao caminho do pecado e da dana^áo. Com o vocé
irá proteger aqueles que o am aram e obraram em seu nome
fielmente durante toda a vida, mas que caíram na arm adilha
do dem onio nos dias fináis? E o que acontecerá com aqueles
que sempre foram bons, mas que foram cegados por Satanás
bem no último momento? N ao parece justo que a eternidade
no Paraíso seja negada a alguém que sempre tenha sido um
servo fiel de Deus, mas que errou bem no Fim dos Dias.
Eu sou Todo-Poderoso e tenbo o poder de ver o corafáo
dos bomens. N o Dia do Julgamento, eu olharei o coragáo
de todas as pessoas para ver se eram verdadeiros crentes os
que foram abatidos na batalha entre Deus e Satanás no Fim
dos Dias... Se eles foram verdadeiros crentes até o fim, eu os
sa lva reis
E o que acontecerá com aquelas pessoas que agiram er­
rado e nao deixaram vocé, Senhor, entrar em seus coragóes
durante toda a vida, mas que tam bém nao participaram na
luta do dem onio contra Deus durante o Fim dos Dias?
Essas pessoas trabalharam durante toda a vida a favor do
dem onio e nao de Deus, e nao teráo lugar no Céu. Será muito
tarde para essas pessoas; o simples fato de alguém nao ter

28“ Os filhos da Santa Igreja, nossa M ae, esperam justam ente a graga da
p e rs e v e ra la final e a recom pensa de Deus, seu Pai, pelas boas obras realizadas
com sua gra?a, em com unháo com Jesús. O bservando a mesma regra de vida,
os fiéis cristáos partilham ‘a feliz esperanza’ daqueles que a misericordia divina
reúne na ‘Cidade santa, um a Jerusalém nova que desee do céu de junto de Deus,
preparada como um a esposa’ (Ap 21, 2 )” (CIC, j 2016. Grifo nosso).

152
O FIM DO MUNDO COM O FOl DITO POR JIÍSUS

agido em favor do dem onio no Fim dos Dias nao quer dizer
que o seu cora$áo estava convertido a D eus.19
O que acontecerá no último no dia?
N o últim o dia, o planeta irá tremer e a alegría dos justos
será imensa. Um grande arco-iris, de incontáveis cores, atra-
vessará o céu e urna nuvem branca irá se formar. Nesse m o ­
m ento, voce m e verá emergir da nuvem carregando a minha
cruz. Eu vou enviar todos os meus anjos ao redor da Terra
para juntar todas as pessoas do m undo. M inha cruz farà os
bons e os maus estremecerem. E, entáo, julgarei todas as al­
mas diante de m im , decidindo quem agiu fielmente em favor
do Senhor e quem nào, e atribuirei a cada pessoa o lugar que
eia merece na eternidade.
Todo o sofrim ento do Fim dos Dias estará acabado e to ­
das as lutas da vida sobre a Terra tem o indo embora para
sempre. N inguém mais precisará se arrepender - pois, para os
justos, que se arrependeram durante toda a vida, será a hora
de se regozijar no Paraíso. E, para os maus, será tarde demais
para se arrepender.
A alma nunca morre e toda alma pertence a Deus. N o
últim o dia, as almas que conquistaram um lugar no Reino
de Deus sairno da Terra sem levar nada com elas. Aqueles
que rejeitaram a Deus e foram julgados pecadores obstina­
dos desceráo aos infernos, onde padecerào a m orte eterna.
Aqueles que amaram e serviram a Deus subirào ao Céu, onde
passarào a vida eterna no Paraíso.
A pós todas as almas escolhidas por D eus terem ido ao
Céu, um grande fogo irromperà das profundezas da Terra e o
m undo será consumido em chamas. E todos aqueles que re­
jeitaram o Senhor e se recusaram a crer queimarào no fogo.30

“ “Cham ado á felicidade, mas ferido pelo pecado, o hom em tem necessidade
da salvagáo de Deus. O socorro divino lhe é dado, em Cristo, pela lei que o
dirige e na graga que o sustenta: ‘Trabalhai para vossa salva^áo com tem or e
trem or, pois é Deus quem , segundo a sua vontade, realiza em vós o querer e o
fazer’ (F1 2,12-13)” (CIC, j 1949).

30“A ressurrei^ao de todos os m ortos, ‘dos justos e dos injustos’ (At 24,15),
antecederá o Juízo Final. Este será ‘a hora em que todos os que repousam
nos sepulcros ouviráo sua voz e sairáo: os que tiverem feito o bem, para urna
ressurreigao de vida; os que tiverem praticado o mal, para um a ressurrei^áo de
julgam ento’ (Jo 5,28-29). Entáo Cristo ‘virá em sua gloria, e todos os anjos com
Ele. [...] E seráo reunidas em sua presenta todas as na^óes, e Ele há de separar os
homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as
ovelhas á sua direita e os cabritos á sua esquerda. [...] E iráo estes para o castigo
eterno, e os justos iráo para a Vida Eterna’ (M t 25,31-33.46)” (CIC, $ 1038).

153
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Algumas almas passarào pelo purgatorio em seu caminho


para o Céu no Fim dos Dias?
N o m om ento em que o m undo acabar, o purgatorio dei-
xará de existir. O purgatorio é para aqueles que foram bons
em vida, mas que morreram com alguns pecados em suas al­
mas e precisam ser purificados antes de entrar no Céu. Mas
todo o sofrim ento que essas boas pessoas suportarào no Fim
dos Dias será o bastante para purificar suas almas; após isso,
elas entramo no Paraíso imediatamente. Por isso, o purgatorio
nao será mais necessàrio. A pós o Dia do Julgamento, todas
as almas estamo no Céu ou no inferno por toda a eternidade.
Por que voce simplesmente nao diz ás pessoas quando
será o Dia do Julgam ento para que elas possam se converter
agora e terem certeza de que vao entrar no Céu?
Em primeiro lugar, eu nào sei em que dia será. Apenas
Deus Pai sabe o dia exato em que o m undo acabará. Mas,
se eu soubesse quando seria o últim o dia, nào contaría às
pessoas. Se elas estivessem a par do dia em que o m undo
fosse acabar, elas se converteriam por m edo e nào por am or a
Deus. E o Céu é apenas para aqueles que estào com o coragáo
repleto do am or de Deus.
M as é vital nào se preocupar com o últim o dia coletivo.
A coisa mais im portante para as pessoas e com a qual elas
mais devem se preocupar é com os seus últim os dias individu­
áis, pois eles podem acontecer a qualquer m om ento e deve-se
sempre ter certeza de que a alma está pronta para o encontro
com o Senhor. Pois a pessoa que morrer cheia de pecados
ressuscitará cheia de pecados... E a pessoa que morrer sem
pecados ressuscitará sem pecados.

154
CAPÍTULO 8
JO RN A D A S M ÍSTICAS E OS
A M O R O SO S BRACOS DE M ARIA

D uas sem anas após ter deixado a casa do Dr. Bona-


venture, m unida de um fichário cheio de m ensagens de
Segatashya, eu estava voando a 10 mil pés de altura sobre
R uanda. Eu olhava, através das nuvens fofas e brancas,
p a ra K ibeho, lá em baixo, e me perguntava com o Jesus e
M aria tinham se sentido quan d o desceram do Céu para
conversar com o jovem visionàrio. Do alto, o m undo p a ­
recía táo pequeño e as pessoas táo m inúsculas que me vi
obrigada a me p erguntar p o r que Jesus e M arta se preo-
cupavam conosco.
Q uan d o term inei m inha viagem a Kibeho com o
m eu grupo de peregrinos am ericanos (urna p e r e g r in a lo
m aravilhosa, que irei co n tar com m ais detalhes em um
próxim o livro), retornei à casa do Dr. B onaventure para
fazer-lhe urna breve visita e pegar m ais fichários e cader-
nos a b arro tad o s com transcrigòes de entrevistas com Se­
gatashya.
E nquanto dava inicio à m inha longa viagem de volta
p ara os Estados U nidos, comecei a folhear as páginas do
prim eiro caderno que estava em m inha pilha. Era um ca-
derno que continha relatos detalhados do pròprio Sega­
tashya a respeito das viagens que eie fez sob o com ando
do Senhor com o objetivo de transm itir suas m ensagens
em Burundi e Z aire (atualm ente C ongo), países vizinhos
de R uanda. Inclinei-m e sobre a janela do aviào e pude ver
a vastidào do C ongo se estendendo debaixo de m im . Era
um lugar selvagem, instável e m uitas vezes inacreditavel-
m ente perigoso.
Eu pensei no q u an to era fácil, p a ra m im , navegar a
m ilhares de pés de altura acim a dos riscos e desafios que
encaravam as pessoas que tin h am que passar pelo C ongo
ou Burundi p o r terra. N à o conseguía im aginar com o o
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

pobre e ignorante Segatashya, m esm o co n tan d o com a


D ivina Providencia, conseguiu realizar urna fa^anha táo
desafiadora. Eu nao podia esperar p ara descobrir e me
preparei p a ra 1er tu d o sobre isso durante m inha viagem
de 13 horas p a ra N ova York.
Porém , en q u an to “passeava” pelas folhas, pro cu ran d o
a historia da e x p e d id o de Segatashya ao Burundi, topei
com um tipo de jorn ad a com pletam ente diferente da que
ele tinha feito. Era um a jornada em diregáo as profunde-
zas do im enso sofrim ento de Jesús, na qual ele foi guiado
pela Santíssim a Virgem.
M aria apareceu pela prim eira vez p ara Segatashya em
1 de setem bro de 1982, quase dois meses após a prim eira
apari^áo de Jesús p ara ele. Q uan d o a Com issáo de In-
quérito pediu a Segatashya que fizesse um a descriijáo de
M aria, ele ficou sem palavras. C ontudo, ele respondeu de
form a diligente a todas as perguntas sobre M aria feitas
pela Com issáo ao longo dos anos seguintes.
Aqui está um trecho:
PERGUNTA: O brigado por ter voltado aqui para dar
prosseguimento ás perguntas, Segatashya. H oje é 8 de se­
tem bro e, na últim a vez em que nos reunim os com vocé, em
agosto, vocé relatou que viu mais de um a dúzia de aparigóes
de Jesús, mas que naquele tempo a Virgem M aria nao tinha
aparecido para vocé em Kibeho.
SEGATASHYA: Está certo. As primeiras aparigñes que vi
foram todas na casa dos meus pais ou próxim as a ela. Depois,
Jesús me disse para ir a Kibeho, para que ele pudesse me en-
sinar mais mensagens. Nessa altura, ele comegou a aparecer
para mim enquanto eu estava no palco onde as estudantes
viram as aparigóes da Virgem M aria. N a semana passada,
quando Jesús apareceu para mim, ele me m ostrou algo muito
especial. Ele veio com M aria, sua máe, e disse: Esta é minha
Mae. Ela é aquela que dá as grabas sobre as quais vocé já
ouviu falar. Eu quero que vocé a respeite da mesma form a
com o m e respeita, e quero que vocé a am e da m esm a form a
com o ama a si mesmo.
PERGUNTA: Vocé consegue descrever em detalhes como
era a Virgem M aria quando ela apareceu para vocé?

156
JORNADAS MÍSTICAS E OS AMOROSOS BRAgOS DE MARIA

SEGATASHYA: Com o eu posso descrever a beleza abso­


luta? Eu vou tentar, com as m inhas pobres palavras, dar-lhe
alguma idéia de como era a aparéncia dessa m aravilhosa se-
nhora. Ela apareceu para mim envolvida por urna brilhan-
te névoa de luz branca e flutuava no ar na m inha frente. A
principio, tudo que eu conseguía ver era a luz, urna luz suave,
afetuosa e receptiva que dava a impressáo de que ela estava
me segurando em seus bracos e me ninando da mesma form a
como m inha máe costumava fazer.
Vagarosamente, M aria comeyou a tom ar forma no meio
da névoa. Eu realmente nao sei dizer qual era a idade déla...
Ela irradia va a jovialidade e a beleza de urna mulher bastante
jovem, mas voce podia sentir a sabedoria e a bondade que
existia em seus cintilantes olhos castanhos... O am or que ape­
nas urna máe pode possuir.
Sua pele nao possuía nenhum a mácula. Era de cor clara,
mas nao era branca... E muito difícil descrever o verdadeiro
tom e o aspecto da pele déla, pois, como acontecía com seu
filho, Jesús, uma m aravilhosa luz dourada irradiava do seu
interior e brilhava ao seu redor. Ela brilhava como um per-
feito por do sol em um lago tranqüilo e puro. E ela parecia
macia e suave como um a pom ba.
Ela vestia um longo e im aculado vestido branco que era
feito de uma única pega de roupa, como um a túnica. Esse ves­
tido caía a seus pés e nao possuía costuras. H avia um a faixa
azul ao redor de sua cintura, e sua cabera estava coberta por
um véu de cor pérola que ia até os ombros.
PERGUNTA: Voce pode nos dizer qual foi a mensagcm
que M aria lhe deu no seu primeiro encontro com ela?
SEGATASHYA: N a verdade, nao houvc mensagcm da
Virgem M aria para mim. Ela apenas me disse uma coisa: Meu
filho, sempre m e respeite e sempre m e conte qualquer coisa
que o esteja incom odando ou deixando-o triste. Eu sou sua
Máe do principio ao fim.
Isso foi tudo o que ela disse - ela nao me deu nenhum a
mensagem para transm itir ao m undo. Eu nao consigo nem
me lem brar se ela me falou mais alguma coisa após essas pri-
meiras palavras. M as eu sei que, durante todo o tem po que
passei com ela naquele dia, ela estava me m ostrando o quan-
to me am ava. Em bora ela estivesse flutuando acima de mim,
eu me sentia como se estivesse envolvido pelos seus bracos
am orosos o tem po todo. E nquanto ela me envolvía, eu nao
tinha afli§5es, problem as, necessidades ou p re o c u p a re s . Ela
é a máe mais am orosa do m undo, e nao há nenhum lugar no
qual eu mais queira estar do que nos bracos déla. Q uando ela
me deixou, para retornar ao Céu, eu tive vontade de chorar.

157
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Vários meses depois, a Com issáo se encontrou nova-


mente com Segatashya para lhe perguntar sobre as apari-
gòes de M aria que ele tinha visto:
PERGUNTA: Boa tarde, Segatashya. H oje é 8 de abril de
1983 e a última vez que conversamos foi durante a segunda
semana de setem bro, no ano passado. N aquela época, voce
tinha recebido apenas urna visita da Virgem M aria. Enten­
demos que, desde entáo, além das aparigóes de Jesus, a Bem-
Aventurada M ae apareceu para voce mais dez vezes. Voce
pode fazer o favor de nos dizer se, durante essas visitas, voce
recebeu qualquer mensagem especial da Virgem M aria, ou se
eia com partilhou com voce quaisquer segredos sobre os quais
voce possa falar conosco?
SEGATASHYA: N ào, a Virgem M aria nào me contou ne-
nhum segredo, e eia nào me deu nenhum a mensagem para ser
transm itida. M aria me visitava apenas para m ostrar o quanto
me am ava e para me ensinar coisas que eu deveria saber -
como rezar o Rosàrio todos os dias e me instruir sobre como
me com portar melhor. Como eu já disse, eia é uma máe m uito
boa e muito am orosa para mim.
H á um a coisa em especial que eia me ensinou que talvez
possa interessá-lo. Eia me ensinou urna cangáo que é mais ou
menos assim:
Jesus disse a todos os seus discípulos
para deixar tudo o mais para trás, e segui-lo.
Eles tinham muitas riquezas e apegos m undanos,
mas eles deixaram tudo para trás para segui-lo,
Jesús, o Salvador do Homem .
Jesús Ihes contou sobre as m aravilhas de Deus,
sobre as gragas que Deus derram a sobre o homem.
Jesus disse a seus discípulos: “Venham comigo para o Céu,
alegrem-se e nunca fiquem com o coragáo ab atid o ” .
Todos nós devemos segui-lo agora, em diregào a Deus,
o Deus que nos criou e nos deu a vida,
o Deus que vive dentro de nós e nos guia para sua luz.

PERGUNTA: O brigado por nos m ostrar essa cangáo, Se­


gatashya. Agora, gostaríam os de lhe perguntar algo que ou-
vimos dizer que aconteceu com voce e que está relacionado
à M aria, quando voce perguntou a Jesus sobre o sofrimento
que Ele passou enquanto esteve na Terra. Nossos registros
dizem que essa experiencia ocorreu em 15 de novem bro... Por
favor, conte-nos o que aconteceu naquele dia.

158
JORNADAS MÍSTICAS E OS AMOROSOS BRAÇOS DE MARIA

SEGATASHYA: N aquele día eu estava perguntando a Je


sus sobre o sofrimento que ele tinha suportado para lavar os
pecados do homem. Jesús me falou tudo sobre as torturas que
ele teve de agüentar, aquelas que estáo registradas na Biblia.
Ele me contou sobre os espancamentos, sobre Ele ter sido
obrigado a carregar a própria cruz, o açoitam ento, a coroa de
espinhos que colocaram em sua cabeça, a forma como prega-
ram suas mâos e pés na m adeira e enfiaram um a lança em seu
peito. M as Jesús disse que sofreu outras 15 torturas, sobre as
quais as pessoas nao sabem muita coisa.
Evidentemente, eu queria estar a par de cada uma das do­
res que o Senhor sofreu por nós, porque ele passou por isso
para a nossa salvaçâo. Entâo, eu pedi a ele que me contasse
quais foram essas torturas. Vendo agora, foi um grande erro
de m inha parte, mas parecia um a boa idéia naquele momento.
Jésus perguntou: Você realmente quer saber o que eu su-
portei dtirante aqueles 15 sofrimentos? M uito betn, m eu filho,
espere um m om ento e nâo saia daqui. Em seguida, ele voltou
para o Céu e m andou sua M ae aqui para baixo para ver-me.
Eu estava realmente em polgado e contente porque pensa-
va que ia conhecer certos segredos, coisas escondidas que se-
riam reveladas a m im .” Pensei que estava prestes a em barcar
em um a jornada mística de revelaçâo. Eu apenas nâo sabia
que tam bém seria uma jornada mística de dor.
Alguns momentos depois, M aria apareceu diante de mim,
saudando-m e com todo o seu amor. Em seguida, ela me per­
guntou: Você está preparado para conhecer as coisas que
você pediu para serení reveladas?
“E claro que sim, M ae!”, disse eu, alegremente. “É muito
bom aprender tantas liçôes sobre a fé e ser ensinado sobre as
coisas que eu quero...”
Antes que eu tivesse a chance de term inar a frase, caí no
châo e me senti como se alguém estivesse arrebentando meu
corpo com golpes de porrete e barras de ferro .32 Eu gritei de
dor. Tudo em volta de mim estava escuro - eu estava viajan­
do por uma paisagem de puro sofrimento. Eu tentava me le­
vantar, mas um peso enorme e esm agador continuam ente me
lançava de novo ao châo, como se grandes rochas estivessem
sendo atiradas do alto sobre mim.

Provavelmente se refira às 15 Dores Secretas de Nosso Senhor em sua Pai-


levoçâo oriunda de um a revelaçâo privada de um a religiosa Clarissa, Irma
i M adalena, de Rom a, m uito difundida em devocionários e folhetos.

Trata-se de um a descriçâo de um a “participaçâo” na Paixâo de N osso

159
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

“M ae, por qué?! Por que vocé está fazendo isso comi-
go?”, gritei, em um estado de absoluto medo e agonía. N ao
houve resposta, apenas mais e mais pancadas quebrando
meus ossos e rasgando m inha pele.
“Por favor, M ae, fale comigo! Talvez seja m elhor esque-
cermos o nosso encontro de hoje! Eu acho que nao era isso
que Jesús tinha em mente quando ele lhe pediu para me ensi-
nar urna liçâo. Eu já entendí! Já aprendí o suficiente!”
M aria perm anecía em silencio, e aquela dor esmagadora
continuava a m assacrar meu corpo. Eu me levantei e tentei
correr para me abrigar, mas, toda vez que eu fazia força para
ficar em pé, outra pancada me acertava bem no rosto. Meus
olhos ficaram tâo inchados que se fecharam. Eu me sentía
como se m inha coluna tivesse sido partida em duas e os ossos
de minhas pernas esmigalhados.
Após ter sido brutalm ente jogado ao chao por seis vezes
seguidas, finalmente decidí ficar abaixado. Eu pensei que, se
ficasse esparram ado no châo, meus torturadores invisíveis
poderiam se cansar de me bâter ou poderiam nào mais notar
m inha presença. M as nao era para eu ter paz. Tâo logo parei
de resistir e fiquei imóvel, urna força invisível levantou-me no
ar e, na hora em que eu ficava em pé, me batía novamente
contra o chao.
Parecía que o espancamento nao acabaría nunca, mas, de-
pois que meu rosto foi esmagado no châo pela décima quinta
vez, o poder que me tinha em suas mâos, qualquer que fosse
ele, decidiu me libertar.
Eu deitei-me com minhas costas doendo tanto que eu mal
conseguía respirar. Eu tinha certeza de que minha caixa to rá­
cica estava m oída e meus pulmôes rasgados. Eu nâo sei por
quanto tempo permanecí inerte na escuridáo, mas eu estava
inteiramente convencido de que nunca mais conseguiría abrir
meus olhos ou cam inhar novamente.
Após o que me pareceu ser urna eternidade, os meus arre­
dores com eçaram a brilhar e a Virgem M aria retornou com
seu familiar círculo de luz dourada. Em sua presença, a ago-
nia que consumía meu corpo e mente foi instantáneam en­
te dissipada. M eu pobre filho, disse ela, tranquilizadora. Eu
sempre estive aqui para aliviar a sua dor. Agora vocé conhece
alguns dos sofrim entos que o m eu Filho teve que suportar
para tirar os pecados do mundo.
Após ter dito isso, M aria retornou ao Céu e Jesús reapa-
receu ao meu lado.
Ele me perguntou: Com o foi o encontro com minha M ae?

160
JORNADAS MÍSTICAS E OS AMOROSOS BRAÇOS DE MARIA

Ela responden a todas as suas perguntas satisfatoriamentc?


Ela te explicou tudo que vocé quería saber?
Antes de responder ao Senhor, eu passei m inhas maos em
meus bracos, pernas e peito, e fiquei m aravilhado ao deseo-
brir que todos os meus ossos e órgáos pareciam estar intac­
tos. Em seguida, voltei-me para ele e disse rápidam ente: “Ah,
sim, nós tivemos urna ótim a conversa, Senhor. Foi tudo mui-
to, m uito bem. N ós tivemos urna conversa m uito agradável
e depois ela me ensinou urna nova can§ao. Nós nos demos
muito bem e ficamos am bos m uito contentes” .
Jesús respondeu: Serio f Foi tudo b em f Vocé nao teve ne-
nhum problema com o que ela te m ostrou? Nada do que ela
falou ou fez te causou qualquer desconforto? Vocé nao tem
nenbum a reclamagao que eu possa falar para ela mais tarde?
“N ao, Senhor, nenhum a queixa de m inha parte. Eu nao
poderia estar mais feliz!”
Eu sei que é errado m entir para Jesús, mas eu pensei que,
se reclamasse da form a como M aria me m ostrou o sofrimen-
to dele, ele pediría para ela repetir a ligáo no mesmo instante
- e, falando bem francam ente, eu achava que, se ela me sub-
metesse áquilo novam ente, eu certam ente m orreria!
PERGUNTA: Sua historia nos em ocionou, Segatashya.
N ós ouvimos dizer que voce tam bém sofreu durante um je­
jum prolongado [que foi constantem ente m onitorado por
enfermeiras] ao longo da Q uaresm a de 1983. Pode nos dizer
algo sobre isso?
SEGATASHYA: Ah, sim. Eu tive sofrimento em abundan­
cia durante a Quaresma, mas ele nao foi provocado pela Vir-
gem M aria... Era o Senhor que estava por trás de tudo. Ele
me disse que jejuou enquanto esteve na Terra e quería que eu
fizesse o mesmo.33 Depois, ele me instruiu a nao comer e beber
nada por 15 dias, comegando em 7 de margo. Ele me disse tam ­
bém que eu teria que passar 22 días sem poder ouvir ou falar.

33Esta inèdia, isto é, abstençào de alim entaçâo, foi observada em Kibeho,


e analisadas por um a com issâo mèdica em Em m anuel Segatashya, Agnes
Kam agaju e em Anathalie M ukam azim paka. Sobre o jejum de Segatashya, a
Comissâo M èdica concluiu que eie esteve em jejum total por 7 dias, de 7 a 14
de m arço de 1983. N âo encontrando para tal nenhum a explicaçâo psicològica,
retom ou posteriorm ente norm al e abundantem ente a alim entaçâo, nâo se
encontrando nenhum a explicaçâo p ara tal fenòmeno. O Prof. Bouflet questiona
o que pensar deste jejum jâ que, dos très visionârios analisados e que passaram
por tal abstinência, somente um esta entre a lista dos aprovados pelo Decreto
diocesano, Anathalie M ukam azim paka (cf. Joachin Bouflet, Encyclopédie I ><■•.
Phénom ènes Extraordinaires D ans La Vie M ystique, T. 2, Paris, Le jardin des
livres, 2004, pp. 70-72).

161
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Bem, eu percebi na hora que nao conseguiría ficar 15 dias


sem comer na casa dos meus pais... M inha máe certamente
me forgaria a com er no instante mesmo em que ela ouvisse
m eu estómago roncar. Entáo, eu me mudei para a casa do
nosso pároco, que me convidou para ficar com ele enquanto
eu jejuava.
Em 7 de margo, eu fiz a promessa de nao comer e beber;
e, passadas algumas horas, eu já nao podia mais ouvir e nem
falar. N o terceiro día do meu jejum, o padre ficou preocupado
com minha saúde e me levou para a casa do bispo. Durante
todo o tempo eu sabia apenas vagamente o que estava aconte-
cendo; eu sentía que estava desconectado do mundo e pairava
lentamente em diregáo a um lugar muito próximo do Senhor.
Em 13 de margo, no sexto dia do meu jejum - quando mi­
nha garganta estava extrem am ente seca, a ponto de eu querer
engolir m inha própria língua - , Jesús apareceu e disse-me que
eu deveria beber urna xícara de chá sem leite ou agúcar. Fi-
quei horrorizado e disse-lhe que nunca bebi chá sem leite ou
agúcar. M as o Senhor insistiu, dizendo que, quando ele estava
m orrendo na cruz e sofrendo de grande sede, foi-lhe oferecida
urna bebida am arga similar. Ele quería que eu experimentasse
um pouquinho do sofrimento que ele teve que suportar.
Eu continuava odiando a idéia de ter que tom ar um chá
táo insosso. Entáo, eu lhe disse: “ M inha familia está acos-
tum ada a tom ar chá de um jeito muito particular, e eu real­
mente preferiría que vocé me desse água pura em vez de chá
sem leite ou agúcar. Por favor, me perdoe, mas eu nao quero
o seu chá”.
Jesús disse: O que vocé pensa sobre o fato de que está
recusando o m esm o chá que m e fo i oferecido?
“Sim, eles te ofereceram o chá, mas vocé náo o tom ou,
nao é?”
Vocé só terá que tom ar esse chá porque ele fo i oferecido
a m im . Agora estou lhe dando-o para que sinta um pouco do
sofrim ento que suportei.
“Por que, Senhor, vocé quer me dar esse chá amargo?
N áo fui eu quem deu isso para vocé beber enquanto estava
na cruz. Seria injusto eu ter que pagar por algo que nao fiz.”
Entáo, m eu filho, o que vocé sugere que eu fa$a?
“Veja só”, sugeri. “Eu aceitarei mais tres dias de total je­
jum se vocé me deixar colocar apenas urna colher de agúcar
no chá.”
Tudo bem. Eu adicionarei mais tres dias e eles poderáo
colocar um pouco de adúcar no chá.

162
JORNADAS MÍSTICAS E OS AMOROSOS BRAÇOS DE MARIA

Eu estava m uito contente com o acordo que tínham os


feito, mas Jesús nao estava nada feliz. Junto com os très dias
adicionáis de jejum, ele fixou 11 dias de sofrimento. Ele disse
que eu teria que sair da m inha agradável cama e dorm ir no
cimento do chao da casa do bispo. M ais tarde, disse que eu
teria que dorm ir po r dois dias fora da casa, no chao, usando
na cabeça urna coroa de espinhos.
Eu nâo conseguia ver onde eu estava, mas Jesús levou-me
para fora de casa, ordenou-m e que rezasse o Rosário das
Sete Dores e pessoalmente colocou a coroa de espinhos em
m inha cabeça. Os espinhos tinham quase cinco centím etros
de com prim ento e penetraram no meu couro cabeludo tâo
profundam ente que eu tive impressâo de que meu cérebro
estava escorrendo para fora da m inha cabeça. Foi inacredita-
velmente doloroso.
Eu me senti tâo mal, e estava sofrendo tanto, que eu achei,
com toda a certeza, que ia morrer. Apesar de Jésus me ter fei­
to usar aquela coroa de espinhos apenas por um dia e depois
me ter deixado voltar para dentro da casa para dormir, pode­
mos dizer que foi urna xícara de chá bastante cara.
Após 18 dias de jejum, o Senhor perm itiu que eu come-
çasse a com er e beber. Très dias depois, ele me disse que o
meu sofrim ento já estava no fim e repentinam ente eu voltei
a escutar e falar.
Jesús agradeceu-me por eu ter agüentado o sofrimento
que ele me fez passar. Ele disse: Você aceitón tudo que eu te
fiz passar e nâo reclamou m uito das dificuldades. Logo voce
se recuperará do seu jejum e se sentirá tâo bem com o nunca
se sentiu, com o se nada tivesse acontecido. Estou m uito con­
tente com você, m eu filho.
As palavras dele me proporcionaram grande conforto e
me deixaram m uito feliz. Eu experimentei um novo tipo de
alegría que eu nunca tinha experim entado antes e que conti­
nua comigo até hoje.
PERGUNTA: N ós estamos felizes por você ter sobrevivi­
do a essa provaçâo, ter recuperado o peso que perdeu du­
rante o jejum e agora estar num estado de espirito tâo bom,
Segatashya. N ós sabíamos que você esteve em um estado de
semiconsciéncia por aproxim adam ente très semanas, mas nâo
sabíamos nada sobre suas experiências com Jesús. Obrigado
por compartilhá-las conosco. N ós também temos o relatório
dos doutores que m onitoraram você todos os dias durante o
jejum. Considerando as evidéncias médicas que se apresentam
a nós, devemos dizer que é um milagre que você esteja vivo.
N ós esperamos poder falar com você novam ente em breve.

163
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Q uase tres meses após ter aprendido sua li^áo sobre o


sofrim ento de Jesus, Segatashya recebeu sua últim a apa-
ri^áo pública em Kibeho.
M u ito antes disso, Jesús já tinha lhe inform ado que
suas apari^óes públicas term inariam em 2 de julho de
1983, contabilizando um ano desde o dia em que se
encontraram pela prim eira vez à som bra da árvore. O
Senhor tam bém instruiu o jovem visionàrio dizendo-lhe
que sua m issào estava apenas com e^ando, e convocou-o
a viajar p ara os países vizinhos, Burundi e Z aire, para
continuar pregando sua m ensagem de conversáo imedia-
ta dos cora^óes e a c e ita d o do am or de Deus.
A pesar de já saber antecipadam ente que ele teria de se
despedir de Kibeho, e que as visòes de M aria poderiam
acabar quando as aparigóes públicas de Jesús acabassem ,
Segatashya estava profundam ente triste p o r ter que dizer
adeus à Santissim a Virgem e se prep arar p ara a próxim a
fase de sua vida, agora com o visionàrio viajante.
Em m ar^o de 1984, a Com issào de Inquérito pediu a
Segatashya para ele dizer com o se sentia em rela^áo aos
seus últim os dias em Kibeho e em rela^áo ao cam inho
que ele teria que trilh ar pela frente:
PERGUNTA: Segatashya, agora que as apa rindes públi­
cas para voce term inaran!, voce pode nos dizer o que tem
feito e com o está se preparando para as suas viagens ao Bu­
rundi e Zaire?
SEGATASHYA: N a tarde de 2 de julho de 1983, Jesús
apareceu para mim e disse-me que era hora de eu ir para o
Burundi e o Zaire para espalhar suas mensagens, as mesmas
mensagens que eu estive com partilhando com as pessoas em
Kibeho. Depois, voltarei para Ruanda e viajarei por todo o
país fazendo a mesma coisa.
PERGUNTA: Q uanto tempo durará o seu ministério?
SEGATASHYA: A Virgem M aria disse que eu devo passar
um ano em Burundi e dois anos e meio no Zaire. M ais tarde,
passarei dois anos pregando em Ruanda. Eu achei que era
muito tem po e perguntei a M aria se eia nao poderia abater
uns meses por bom com portam ento, mas eia apenas sorriu e
disse: Nào, m eu filho.

164
JORNADAS MISTICAS E OS AMOROSOS BRAQOS DE MARIA

PERGUNTA: Viajar para o Burundi e o Zaire, principal­


mente sem dinheiro, é urna grande aventura para um jovem
como vocé. Com o vocé está se preparando?
SEGATASHYA: Jesús disse-me para nao me preocupar
com coisas materiais, que eu deveria apenas focar em pregar
sua mensagem. Ele disse-me para eu levar quaisquer questoes
que eu tivesse para os líderes da Igreja desses países que eles
me ajudariam . M aria tam bém me disse que ela estaría por
perto cuidando de mim todo o tempo. Jesús disse-me que eu
deveria partir para Burundi em algum dia de 1985, daqui a
vários meses, portanto. Entáo, estou usando esse meio-tempo
para me preparar para a missáo.
Com o vou ser batizado antes de partir, estou estudan-
do para isso da melhor form a possível - Jesús me ajudou
a aprender o que eu preciso saber. Eu lhe disse que queria
ser batizado e ele respondeu-m e que poderia me batizar ele
mesmo com urna palavra ou apenas um olhar. M as depois ele
decidiu que era m elhor que eu me dirigisse a um padre para
evitar que as pessoas pensassem que Jesús me considerava
“m elhor” que os outros. M eus pais tam bém estáo planejando
passar pelo batism o e as vezes estudam os juntos.
Eu passo m uito tem po em oragáo. Q uando nao estou
orando ou estudando para minha confirmagáo, eu procuro
ajudar meus pais ñas plantagóes e com as cabras. Eu espero
que, antes de partir, eu consiga fazer meus pais felizcs o ni.ixi
m o que eu puder. Eu os ajudo tanto quanto posso, mas |<■•11 ■.
disse-me que a m inha missáo de espalhar as stias incir..!)•,< n .
deve vir em primeiro lugar. Isso acaba dificultando um poní o
as coisas para m inha familia.
M eu pai as vezes diz que eu deveria pensar em ler unía
esposa e dar-lhe alguns netos, mas Jesús me disse que cu serci
com o ele: eu náo me casarei e praticarei o celibato por toda
a vida - dessa forma, eu poderei estar com pletam ente foca
do em fazer sua vontade e entregar suas mensagens. Jesús
também me disse que eu náo ficarei por muito tem po neste
m undo, que ele viveu apenas 33 anos na Terra e que o meu
tem po aqui será menor que isso.
PERGUNTA: Visto que Jesús e M aria pararam de apare­
cer para vocé em Kibeho, vocé sente falta deles?
SEGATASHYA: Sim, sinto m uita falta deles. A vida náo
é mais a mesma desde que eles pararam de me visitar. Antes
quando eu era perseguido por descremes ou por aqueles que
usavam palavras duras para me desacreditar, eu sabia qu(
logo veria Jesús ou M aria face a face e toda aqueta mágo;
seria esquecida. Eu estaría envolto em sua luz brilhante mar

165
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

urna vez e meu coragao cantaría alegre. Ou, entào, sempre


que eu pensava ter feito algo de errado, eu poderia apenas
contar a Jesus quando o visse e ele me perdoaria. Agora eu
tenho que conversar com Jesus pela ora^ào e ir à igreja para
confessar. N ào é a mesma coisa que olhar para o rosto afe-
tuoso de Jesus ou para os olhos am orosos de sua máe e abrir
m eu cora^áo para eles.
PERGUNTA: H á algo mais que voce queira falar sobre o
térm ino das aparigoes?
SEGATASEIYA: Bem, tem urna coisa que eu devo con­
fessar. Eu sei que isso nào é certo, mas eu acho que nao fui
com pletamente honesto com M aria no últim o dia em que a
vi. Jesus me disse que eu deveria partir em missào para o
Burundi em 1985, mas se esqueceu de dizer em qual mes eu
deveria ir. Entào, na última vez em que falei com M aria, eu
conversei com eia sobre isso e eia me disse que eu deveria
partir no com eto de agosto. N aquele m om ento meu cora^áo
come§ou a doer porque eu sabia que nào iria mais ve-la; por
isso, eu tentei enganá-la para que eia voltasse a me visitar
mais urna vez.
Eu disse a M aria que poderia esquecer o mes e o dia em
que eu teria que partir e perguntei se eia nào poderia fazer
o favor de voltar e aparecer para mim com o objetivo de
me lembrar. Eia sorriu, balangou sua cabega e disse que nào
aparecería, mas que sopraria o recado em meu ouvido. Eu
estava contente por saber que pelo menos poderia ouvir a
voz dela, mas quería desesperadamente ver sua face mais urna
vez. Foi errado tentar enganá-la daquele jeito, mas eu a amo
tanto que era difícil, para mim, imaginar que nào poderia
mais vè-la até morrer. E muito difícil saber que, até eu estar
no Céu, nào poderei mais sentir seus bracos am orosos me
envolvendo.
PERGUNTA: M aría disse-lhe algumas palavras de despe­
dida ou deu-lhe alguma mensagem?
SEGATASEIYA: Eia me deu um presente incrível antes de
ir em bora. Eia viu que eu estava muito triste com a expec­
tativa de sua partida e me disse que agora eu deveria viver
como qualquer outro ser hum ano que nào é visionàrio e ficar
contente de poder falar com eia através da oragào. M as isso
me deixou ainda mais triste, e eu perguntei se eia nào poderia
me dar algum presentinho como lembranga.
M aria, entào, me falou para eu rezar o Rosàrio com eia,
e, enquanto estávamos rezando, eia disse: Eu quero que voce
continue rezando e nào grite ou chore com o que estou pres­
tes a Ihe mostrar.

166
JORNADAS MÍSTICAS E OS AMOROSOS BRAQOS DE MARIA

E depois ela pediu para eu olhar para cima.


Bem no alto acima de mim eu pude ver os portoes do
Paraíso abertos. E no interior deles eu avistei o lugar mais bo­
nito que urna pessoa poderia imaginar. Desculpe-me por nao
poder descreve-lo para voce, pois é mesmo indescritível. Tudo
o que sei é que eu desejava com todo o meu ser estar lá e que
qualquer coisa que eu já tivesse possuído ou conhecido na
Terra tinha perdido com pletamente o sentido para mim. M a­
ría me disse que, por eu ter visto um vislumbre do Céu, nada
mais neste m undo jamais poderá me satisfazer novamente.
Ela estava certa. E nquanto eu viver, terei para sempre
aquela imagem da fachada do Paraíso em m inha mente e fi-
carei ansioso em ir para lá até o finí da m inha vida.

167
CAPÍTULO 9
SA IN DO DE CASA, O PA D R IN H O E A
ESTRADA PARA BURUNDI

A vida de um visionàrio nào é urna vida fácil. Por toda


a historia, aqueles que viram Jesus e M aria foram publi­
cam ente perseguidos, ridicularizados e considerados pes-
soas nào m uito bem -vindas. Em suas vidas privadas, eles
quase sem pre sofreram com problem as de saúde debili­
tantes e depressào e tam bém po r causa do isolam ento de
suas fam ilias e daqueles que eles am am . De Sáo Francisco
de Assis a Bernadete de Lourdes, das crianzas de Fátim a
ás estudantes de K ibeho, todos sofreram terrivelm ente
po r servir a Deus.
Segatashya nào foi um a excegáo. Ele teve que suportar
várias jornadas místicas dolorosas e um longo período de
jejum que quase o m atou. M uitas vezes ele tam bém era
agredido, ridicularizado e virava m otivo de piada para
m uitos dos seus amigos e vizinhos. M as talvez a mais seve­
ra dificuldade que ele se viu obrigado a enfrentar foi a de
ter que se separar de sua fam ilia, que se afastou dele para
escapar da p e rse g u id o e dos incóm odos que apareceram
por terem um fìlho e irm áo que conversava com Jesús.
O lar de Segatashya foi infestado po r hordas de pere­
grinos curiosos, céticos e incrédulos, que iam lá só para
ten ta r refutá-lo. As pisadas das m ultidóes acabaram com
as colheitas da fam ilia. Sem as colheitas, as suas cabras
e vacas m orreram de fom e. C a la d o re s de lem brancinhas
regularm ente assaltavam a casa.
Finalm ente, em 1984, o pai de Segatashya ficou farto
e anunciou que a fam ilia estava se m udando p ara o u tra
aldeia, situada a m ais de 150 quilóm etros de distancia,
p ara com egarem um a nova vida. O jovem visionàrio es­
tava inconsolável. Crescido em um a fam ilia táo unida,
ele náo sabia com o viver sem seus país e irm aos. O que
ele sabia era que nào poderia ir em bora junto com eles.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Kibeho foi o lugar onde Jesus apareceu pela prim eira vez
para ele e ele nunca m ais quis ficar longe de lá.
“Por favor, nao m ude p a ra longe daqui, p a p a i” , supli-
cou Segatashya. “ O Senhor nos encontrou neste lugar e
os visionários pertencem a Kibeho. Jesús realm ente am a
esse lugar!”
“ Suas visoes fizeram nossa pobreza piorar ainda mais...
C om o vocé ousa nos dizer para nao tentarm os viver nossas
vidas de um jeito m elhor?” , disse seu pai.
“M as voce nào conhece ninguém no lugar para onde
pretende ir. Voce nào tem nenhum dinheiro e nenhum pe­
dazo de terra. Voces todos váo ficar fam intos! Além disso,
o Senhor nos visitou nesta casa. Esse é um local sagrado.
Ponha sua confianza em Jesus e ele proverà.”
“Jesus nào nos proveu até agora - e se nós m orrerm os
de fome isso será culpa sua, Segatashya!”
O g aroto estava táo triste e preocupado com o futuro
de sua fam ilia e com sua p ròpria solidáo que decidiu fa-
zer um a visita ao Bispo G aham anyi.
Segatashya tinha se to rn a d o am igo do bispo e agora
expunha os problem as do seu cora^ào p ara ele. O visio­
nàrio lhe disse que tem ia po r seus irm àos e irm ás m eno­
res, e que se preocupava com o seu pròp rio futuro, pois
poderia nào ter mais um a fam ilia e um lar p ara o qual
voltar quando fosse preciso.
“N à o se preocupe com nada disso, m eu g a ro to ” , disse
o bispo, confortando-o. “ O Senhor sem pre prove.”
O bispo, entào, adquiriu dois acres de terra para a fa­
milia em um a aldeia vizinha, onde a irm à de Segatashya,
C hristine, vive até hoje. Eie tam bém disse a Segatashya
que providenciaría um carro com m otorista p a ra levar o
jovem visionàrio visitar sua fam ilia sem pre que fosse pos-
sivel. E o bispo disse ainda que Segatashya poderia ficar
em sua p ròpria residencia p articular sem pre que quisesse
e usá-la com o base en q uanto se preparava para sua mis-
sào no Burundi.

170
SAINDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

O g aroto estava repleto de gratidao e aceitou as ge­


nerosas ofertas do bispo, red o b ran d o seus esforços para
estar p ro n to p a ra ir ao Burundi quan d o a hora chegasse.
M as eie precisava de algum a ajuda p ara se p rep arar para
viajar e essa ajuda veio de um hom em cham ado Victor
M unyarugerero.
V ictor era um hom em de negocios em Kigali durante
a década de 1980 e tinha acabado de com eçar a construir
urna vida com sua esposa e sua filha pequeña. A prim eira
vez que ele ouviu falar nos visionários de Kibeho foi por
interm èdio de sua tia M arie, que po r acaso era a diretora
do Colégio de Kibeho. M arie foi a Kigali para urna visita
e contou-lhe sobre os estranhos acontecim entos que es-
tavam ocorrendo na escola. N aquela altu ra, apenas duas
das très visionárias origináis - A lphonsine e A nathalie -
tinham visto apariçôes de M aria.
V ictor nao era um cético e estava propenso a acreditar
na historia das garotas desde o principio. Para satisfazer
sua curiosidade, ele viajou para K ibeho para poder ver as
visionárias p o r si p ròprio. Isso foi nos prim eiros dias das
visôes e o palco ainda nâo havia sido construido. M as,
p o r causa de sua conexào fam iliar com a escola, eie ti­
nha perm issao para passar pelas m ultidôes e en trar no
pequeño d o rm itòrio escolar onde as prim eiras apariçôes
de M aria ocorreram . Ele testem unhou um dos m ilagrosos
encontros de A lphonsine com M aria, o que acabou por
confirm ar sua crença nas visionárias.
D urante aquela m esm a apariçâo, a Virgem M aria dis­
se a A lphonsine que seria aceitável os visionários recebe-
rem suas apariçôes fora da escola a p a rtir daquele dia, a
firn de que todos os peregrinos pudessem testem unhar as
visitaçôes em prim eira m âo.
“Eu sabia que tinha testem unhado um m ilagre” , disse­
me V ictor quando eu o encontrei enquanto pesquisava so­
bre a vida de Segatashya. “Eu estava tâo próxim o de Al­
phonsine durante a apariçâo que pude ver suas lágrim as
rolando sobre suas bochechas. Eia chorou no m om ento

171
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

em que a Santissim a M ae alertou as pessoas a respeito do


fato de que o òdio e o pecado estavam levando o m undo
à beira da ruina e que deveríam os m udar nossos c o r a j e s
se quiséssem os evitar a destruigào. Em um dado m om en­
to, eu testem unhei as lágrim as sendo enxugadas em sua
face, m as nao pelas próprias m áos de A lphonsine, pois
elas estavam posicionadas em um gesto de o rad lo . F °i a
m áo invisível da Virgem M aría que lim pou aquelas lágri­
m as - eu vi isso acontecer, eu sei que isso é um fato.”
“ E nquanto dirigía de volta para casa, eu me perguntava
sobre o quanto deve estar mal a s i t u a l o do m undo para
que a Virgem M aría tivesse que vir pessoalm ente à Terra
p ara nos avisar que devemos m udar ou irem os perecer. As
m ensagens que nos cham am ao arrependim ento, a rezar o
R osàrio e a am arm os uns aos outros ficavam me passando
pela cabera durante a longa viagem de retorno a Kigali.
Q uando parei na frente da m inha casa, eu era um hom em
m udado. Eu estava convencido de que as mensagens de
Kibeho tinham que ser com partilhadas com o m undo e
comecei a falar a todos os meus amigos e fam iliares sobre
o que estava acontecendo. As pessoas pensavam que eu
estava louco, m as eu nào me im portava.”
“K ibeho se to rn o u urna paixáo p a ra m im - e eu nao
conseguia gu ard ar o que sentia dentro do c o r a j o . Eu
com prei um a film adora, que na época era um a novidade
e custava caro, e me tornei um a das prim eiríssim as pesso­
as a registrar as apari j e s em vídeo. As vezes, eu conecta-
va alguns alto-falantes á m inha cam era e tocava o àudio
das grava j e s bem alto p ara fora de casa para que to d a a
vizinhanga pudesse ouvir.”
“D entro de alguns poucos meses, K ibeho se to rn o u
m eu segundo lar. Eu ia para là sem pre que podia, esti-
vessem ocorrendo apari j e s ou nào. Eu poderia passar
um dia todo viajando p ara lá só p ara poder rezar no lu­
gar onde M aria apareceu. Eu me sentia próxim o do Céu
quando estava naquele lugar e x trao rd in àrio .”
“ E, entào, num belo dia, lá estava eu na igreja de Ki­
beho recitando o R osàrio, quando vi um g aroto m agricelo
172
SAINDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

rezando a alguns bancos de distância. Suas roupas eram


tao velhas e rotas, e eie era tâo esguio, que eu pensei que
fosse um m endigo. M as depois ouvi alguém atrás de mim
sussurrar o nom e ‘Segatashya’ e na m esm a hora me dei
conta de quem eie era. Eu já tinha ouvido falar que o mais
novo visionàrio de Kibeho era um rapaz pagâo iletrado
que parecia ter uns oito anos de idade e que estava vendo
apariçôes de C risto. Ele era o g aroto que to d o m undo
estava cham ando de ‘o m enino que conheceu Jesús’.”
Victor sorriu quando se lem brou disso. “A contece que
Segatashya estava na igreja rezando antes de subir ao pal­
co p ara receber urna apariçâo. Sabendo disso, resolví ir
atrás dele quando ele saiu da igreja em direçâo ao palco
dos visionários. Eu fiquei com ovido por ter testem unha-
do a apariçâo de M aria a A lphonsine, m as fiquei com ple­
tam ente extasiado com a visita de Jesus a Segatashya.”
“ O m enino parecia estar trem endo de pavor quando
subiu no palco, m as, depois de rezar duas ou très vezes a
Ave M aria, ele caiu de joelhos e com eçou a bater um papo
am istoso e gracioso com o Senhor. Foi urna transform a-
çâo inacreditável. Eu estava tâo tom ado pelo equilibrio c
sabedoria desse jovem rapaz, e pela profundidade de sua;
mensagens, que eu quis saber mais a respeito dele. Eu des
cobri onde ele m orava e viajei até a aldeia de sua familia.’
“Eu nâo estava sozinho lá - havia centenas de pessoa
peram bulando em volta da cabana de sua fam ilia. Sega
tashya estava vendo apariçôes em seu jardim , e as pessoa
literalm ente em purravam e passavam po r cim a um as di
o utras p a ra chegar m ais p erto dele.”
“A im agem daquele m enino cam ponés ajoelhado r
b arro ùm ido da h o rta de sua m âe enquanto conversa'
com Jesus e passava adiante suas m ensagens ficou m arc
da a fogo em m eu coraçâo p ara sem pre. Lá, eu jurei a J
sus e M aria que ajudaria Segatashya no que fosse preci
se tivesse ocasiâo de oferecer-lhe m inha ajuda.”
“E m inha ajuda foi requerida alguns meses depois,
fui atender a urna batida na porta da m inha casa e enee
trei Segatashya parado em frente. Eie estava com o Pai
173
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Sebera, da igreja de Kibeho, a quem eu aínda nao tinha


sido apresentado, m as que eu sabia ser um grande apoia-
dor dos visionários. Por um m om ento, nós très ficamos
parados lá olhando uns para os outros. Em seguida, Se-
gatashya disse: ‘Jesús me m andou até aqui - ele quer que
voce seja m eu p ad rin h o ’.”
“Deve ter parecido que eu estava prestes a desmaiar,
pois o Padre Sebera estendeu os braços com o que para
me segurar. Logo a seguir, joguei m eus braços em to rno
de Segatashya e o abracei bem apertado. Deus estava me
cham ando p ara cum prir um a prom essa - e eu tinha to d a
intençâo de cum pri-la.”
“Em seguida, após ter convidado m eus dois visitantes
a en trar em casa e ter-lhes oferecido com ida e leite, eles
explicaram com o foram p a ra r em m inha p o rta. A paren­
tem ente, o pad rin h o original de Segatashya, que era o m é­
dico oficial do presidente de R uanda, foi recrutado para
tra b a lh a r p o r um longo período em assuntos do governo.
Segatashya precisava de um pad rin h o p ara o seu batism o
e tam bém p ara ajudá-lo a se p rep arar para sua m issâo
no Burundi. D u ran te um a apariçâo, Jesús m ostrou-lhe o
m eu rosto e, após descreverem -no p ara várias pessoas, ele
e o Padre Sebera me localizaram em K ibeho... E o resto,
para m im , é historia.”
“N ós nos tornam os am igos íntim os e eu estive lá na
igreja de Kibeho p a ra o seu batism o. Très m il pessoas
apareceram p ara ten ta r ver algum a coisa do evento. Logo
após ele ter sido batizado, eu o ajudei a se p rep arar para
pegar a estrada em direçâo ao B urundi.”
D urante um a entrevista p ara a Com issáo de Inquérito,
em 1988, Segatashya fez um relato detalhado de sua pri-
m eira viagem p ara fora de R uanda. A viagem era parte de
sua m issâo de espalhar as m ensagens de Jesús Cristo pelo
m undo. Aqui está um a transcriçâo:
PERGUNTA: Segatashya, durante um a de nossas primei-
ras entrevistas vocé relatou que tanto M aria quanto Jesús Ihe
falaram para começar sua missâo no Burundi em 1985, mas

174
SAINDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

parece que vocé a adiou por mais de um ano. Vocé pode nos
levar de volta a 1985 e nos falar sobre as dificuldades que
encontrou naquela época?
SEGATASHYA: Com o voce sabe, eu venho de urna pe-
quena aldeia e nao estou acostum ado com assuntos políticos
e governamentais. Eu nao sabia que em 1985 as coisas iam
m uito mal no Burundi. M eu padrinho, Víctor, contou-m e que
o presidente do Burundi estava perseguindo a Igreja e que
m uitos padres e m inistros foram m ortos ou jogados na prisao
por causa da perseguitjáo religiosa, que já estava m uito difun­
dida naquela época. N ao era um bom m om ento para ir ao
Burundi pregar sobre Jesús... M as eu sabia que a p erseg u id o
aos fiéis era uma das razóes pelas quais o Senhor escolheu o
Burundi para eu comegar minhas missóes.
De qualquer form a, Víctor arranjou a papelada para o
visto e nós o obtivemos logo em seguida. M as, em 31 de Ja­
neiro, que era o dia em que eu deveria viajar para o Burundi,
o em baixador burundiano m andou seu secretário particular
á casa de Victor com um a mensagem. O em baixador queria
que déssemos um a passada antes na em baixada para que ele
pudesse me desejar boa viagem.
Victor dirigiu até Kibeho para me apanhar. Logo em se­
guida, voltamos para Kigali para ver o embaixador. Q uando
chegamos ao escritorio do homem e nos sentamos, ele nao
poderia estar sendo mais amigável. Ele apertou m inha máo,
deu tapinhas ñas minhas costas e disse que eu ia am ar o Bu­
rundi - em seguida, ele pediu para ver meu visto e meu pas-
saporte, para se assegurar de que estava tudo certo. Ele saiu
da sala por nao mais que um m inuto. Q uando voltou, disse:
“Seu visto está cancelado. Tenham um bom dia e fagam uma
boa de viagem de volta para K ibeho” .
Victor e eu suplicamos ao hom em - dissemos que já tí-
nham os organizado toda a papelada, pagamos todos os ho­
norarios e que o visto já tinha sido aprovado para viajar.
“Além disso”, acrescentou Victor, “Segatashya é um visio­
nario de Kibeho a quem Jesús pessoalmente falou para viajar
ao Burundi levando mensagens urgentes sobre salva^áo pes-
soal.”
Eu, entao, expliquei ao em baixador em que consistiam as
mensagens do Senhor. Eu lhe disse que Jesús falou que o Fim
dos Dias estava próxim o e que nao podíam os perder mais
tempo.
“Eu nao tinha percebido que era voce”, disse o em baixa­
dor, ainda sorrindo de form a amigável. “Isso m uda tudo r

175
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

claro que voce pode ir ao Burundi para pregar. Voce deve


partir imediatam ente. Eu chamarei os guardas da fronteira e
pessoalmente ordenarei que o levem para là. Voce vai am ar o
Burundi... Tenha urna excelente viagem e boa sorte ao pregar
as mensagens de Cristo.”
Victor e eu saímos do escritorio sentindo como se Deus
tivesse tocado o coragáo do embaixador. Porém, quando vol-
tam os para a casa de Victor, ele conferiu o visto e apontou
para urnas marcas de tinha vermelha que estam pavam a p á­
gina inteira.
“O que é isso?”, perguntei.
“Sao letras, e essas letras dizem ‘cancelado’” , disse Victor,
entristecido. “Acho que nós fomos enganados.”
Passamos os próxim os dias conversando com todo m un­
do na em baixada. Depois entram os em contato com o Bispo e
com todas as pessoas que pensamos que poderiam nos ajudar
a me levar ao Burundi. Q uando voltamos à em baixada, eles
nos disseram que iam analisar a questáo e que iriam entrar
em contato conosco o mais rapidam ente possível. Ainda es-
tou esperando a resposta deles! Contudo, naquela ocasiáo eu
pensei que ia esperar nào mais que uma ou duas semanas.
Entào, fui para Butare e arranjei um emprego de carregador
de caixas em um a empresa de energia elétrica.
Esperei a em baixada me dar urna resposta por quase um
ano. Entáo, perto do N atal de 1985, Jesus apareceu para mim
em meu quarto. Ele me perguntou: Voce m e ama com o eu te
am o? Eu respondí: “Sim, Senhor, com todo o meu coragáo” .
Em seguida, ele perguntou: Voce morreria por mim? E eu res­
pondí: “Sim, eu m orreria por vocé a qualquer hora, Senhor” .
N o día do N atal, Jesús apareceu para mim novamente.
Ele falou para eu me aprontar para ir ao Burundi e deu-me
o itineràrio de m inha viagem - disse que dali a dois dias eu
deveria sair da minha casa às 5h da m anhá e viajar para o
sul até chegar ao rio Akanyru, ao longo do qual eu deveria
cam inhar para evitar os pontos de controle da imigracào e
os guardas da fronteira. O Senhor tam bém falou para eu me
garantir de que passaria m inha prim eira noite no Burundi na
cidade de Kayanza.
Em seguida, Jesus disse: Depois que voce entrar no Bu­
rundi, procure o Bispo M ichel Ntuyahaga na capital, Bujum-
bura. Q uando voce o encontrar, quero que Ihe repita todas as
mensagens que eu Ihe falei para espalhar no Burundi.
Eu prom etí ao Senhor que faria do jeito que ele pediu.
N aquela época, eu estava como convidado na casa do meu

176
SAINDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

amigo Camille M bonyubw abo, um pròspero em presàrio qui


conheci por intermèdio do bispo. Camille e sua esposa ama
vam a Deus e freqüentemente iam a Kibeho para rezar e tes
tem unhar as aparigóes.
Eu disse a Camille que Jesus tinha aparecido para mim i
me instruido a respeito de quando e onde eu deveria cruzar :
fronteira para o Burundi. Camille se ofereceu para me leva
até as proxim idades do locai para onde o Senhor disse que ei
deveria me dirigir. Ele tam bém me deu dinheiro o suficient
para conseguir chegar à casa do Bispo N tuyahaga.
N o dia com binado, Camille e sua esposa me levaram at
urna regiào próxim a da fronteira com o Burundi. Eu os agra
deci pela carona e pelo dinheiro. Em seguida, caminhei pela
m atas até me deparar com o rio Akanyru, que eu segui at
chegar a urna cidade cham ada Jeni, o que queria dizer qu
eu jà estava no Burundi. A prim eira coisa que fiz foi achs
urna igreja, onde rezei pelas pessoas do Burundi e de Ruand;
Também pedi ao Senhor que cuidasse de mim e me proteges;
para que eu pudesse entregar suas mensagens. Q uando sai c
igreja, peguei carona com um grupo de soldados, o que rr
deixou um pouco nervoso, pois eu nào possuia documenti
que me perm itiam permanecer no país. Além disso, eu tini
ouvido rum ores assustadores sobre soldados que espanc
vam pregadores e pessoas que falavam no am or de Deus.
Os soldados me deixaram em Kayanza, a cidade na qu
Jesus me falou para dorm ir em m inha prim eira noite no B
rundi. M as eu nào conseguía achar um quarto para alug
para aquela noite e decidi ir a outro lugar, mesmo sabern
que isso ia contra o itineràrio da viagem trabado por Deus
Antes de ir a qualquer lugar, porém , eu queria almo^
H avia um pequeño restaurante de beira de estrada nào mui
distante de onde os soldados tinham me deixado. Eu entre
sentei à urna mesa. Perto, havia um homem dos seus 20 ani
com endo sua refeigào. Ele parecia gentil e disse-me que s
nom e era Emmanuel, que significa “Deus està conosco”
que tam bém é o nom e que Jesus me falou para adotar qu;
do fui batizado. Eu tornei isso com o um sinai de que D<
estava comigo no restaurante e que talvez Emmanuel pude
me ajudar a chegar à casa do bispo.
Eu disse-lhe que estava de viagem para Bujumbura e c
procurava um lugar para passar a noite. Eie sugeriu um he
no firn da estrada, mas eu sabia que um hotel provavelme
pediria docum entos de viagem, e eu estava ilegalmente
país. Rapidam ente tentei m udar de assunto para que ele i
percebesse que eu estava nervoso e ficasse desconfiado, “i

177
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

bem, eu nao tenho dinheiro suficiente para um hotel, de qual-


quer form a”, disse. “Está fazendo um clima bom hoje, nao
acha?”
Emmanuel respondeu: “Bem, eu posso...” , mas sua frase
sumiu sem chegar a urna resposta. Eu diria que ele estava me
avahando e tentando decidir se era seguro me convidar para
ficar em sua casa.
Eu nao sou muito grande e sei que parejo um garotinho.
Por isso, náo achei que o estava intim idando. Entretanto,
como eu ainda precisava de um lugar para dorm ir naquela
noite, decidí usar um pouco do dinheiro que Camille me deu
para com prar urna ou duas garrafas de amigável persuasáo.
“Vi que voce gosta de Prim us”, disse-lhe eu, apontando
para algumas garrafas de cerveja vazias sobre a mesa. “Eu
gostaria de te pagar mais urna ou duas rodadas se vocé estiver
a fim.”
Emmanuel tinha grande sede e rápidam ente deu cabo das
cervejas que eu com prei para ele. N aquela altura, ele estava
bastante falante e acabamos nos tornando bem próxim os.
“Sabe”, disse ele, exibindo um grande sorriso. “Eu tenho
bastantes quartos em m inha casa. Talvez seja mais fácil para
vocé passar a noite lá.”
“Isso seria ótim o” , eu disse. Em seguida, paguei-lhe mais
urna cerveja.
Depois que Emmanuel term inou de beber, nós nos le­
vantam os para ir em bora. Logo que com etam os a cam inhar
para fora da porta fomos surpreendidos por um jipe cheio de
soldados que estavam indo para o restaurante, o que obri-
gou Emmanuel e eu a nos apressarmos para nossa seguranza.
Eles estavam batendo ñas pessoas sem motivo com porretes
e bastóes de metal. H avia um ponto de ónibus em frente ao
restaurante e os soldados entraram lá procurando por traba-
lhadores sem d o cu m en ta d o ou qualquer pessoa que estivesse
ilegalmente no país, com o eu! Pelo menos 20 ou 30 pessoas
foram vítimas do terrível espancam ento com etido pelos sol­
dados. M uitos homens, mulheres e até crianzas ensangüen-
tadas estavam espalhadas pela beira da estrada abatidas e
sangrando. Havia m uitas lágrimas.
“N áo entre em pánico e náo co rra”, sussurrou-m e Em­
manuel. “Eles náo estáo aqui por causa de nós... Fique tran-
qüilo e nós náo nos machucaremos.” Para a m inha sorte, eu
estava vestindo as melhores roupas que tinha - um terno que
Camille tinha me dado como presente de batismo. Pela pri-
meira vez em m inha vida, eu náo parecía um garoto campo-
nés desesperado por um emprego.

178
SAINDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

N aquela noite, eu fiquei na casa de Emmanuel e nós nos


tom am os bons amigos. N a m anha seguinte, ele me levou
para um ponto de ónibus, onde peguei um microónibus com
destino a Bujumbura. O ónibus estava lotado e, por conta
disso, tive que me espremer em um assento que ficava entre
a janela e um oficial m ilitar totalm ente uniform izado. Tenho
certeza de que eu estava suando a ponto de encharcar meu
terno, mas tentei agir de forma tranqüila e segura como Em­
manuel tinha me falado para agir durante o esbarráo que
demos com os militares na saída do restaurante.
O oficial puxou papo contigo e eu ¡mediatamente lhe disse
que era de Ruanda, percebendo que ele provavelmente notaría
isso assim que ouvisse meu sotaque. Embora Ruanda e Burun­
di sejam parecidos em termos de costumes e cultura, e tenham
urna língua bastante parecida, existem diferengas fácilmente
identificáveis tanto em nossa fala quanto em nossas maneiras.
Eu tinha certeza de que, se o oficial pensasse que eu estava
tentando enganá-lo me fazendo passar por burundiano, ele
exigiria ver meus documentos e eu nunca chegaria á casa do
bispo para entregar as mensagens do Senhor.
Embora tenha sido honesto quanto a ser ruandés, eu logo
fiquei em situagao de perigo quando ele perguntou se eu es­
tava no Burundi a negocios ou a passeio. Com o eu sabia que
nao podia dizer-lhe que tive que ir ao Burundi para entregar
urna mensagem de Deus ao bispo, entao eu disse-lhe urna
meia-verdade: que eu estava lá para visitar o Bispo N tuyaha-
ga, um amigo íntimo da m inha familia.
“ Oh, que coincidencia!”, exclamou ele. “ O bispo e eu so
mos vizinhos! Nós temos o mesmo destino - podemos ir para
lá juntos.”
O oficial, que era muito amigável, saltou do ónibus co-
migo e caminhamos juntos até a porta da frente da casa do
bispo. N aquela hora, eu estava comegando a entrar em páni­
co, pensando que seria preso bem em frente á casa do bispo.
“Ajude-me, Jesús!”, eu rezei, silenciosamente. E acho que Je­
sús me ajudou dando-me urna idéia.
Por acaso, era Dia de Ano N ovo, entao eu me virei para o
soldado e disse-lhe: “E urna tradi^So em m inha familia pagar
algumas bebidas a um novo amigo para celebrar o Ano Novo.
M as, como o bispo está me esperando, pegue esse dinheiro e
vá tom ar urna bebida por m inha conta, ok ?” Os olhos do
oficial brilharam e ele guardou no bolso de sua camisa a nota
que eu havia lhe oferecido. “O brigado, meu amigo, pode dei-
xar que eu vou tom ar alguma coisa. Tenha urna boa estadía
com o bispo!”

179
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

N o mom ento em que o oficial come^ou a se afastar, eu


me virei para a porta e posicionei meu dedo sobre o botáo da
cam painha do bispo, mas em seguida o retirei sem apertá-la.
Como eu tinha ficado m uitas vezes na casa do Bispo Gaha-
manyi em Butare, eu sabia quantos paroquianos e pessoas
que pediam favores apareciam em sua p o rta sem avisar todos
os dias. O bispo também poderia ter pessoas trabalhando em
sua casa cujo servido consistía exatam ente em m anter afasta-
dos os visitantes nao requisitados.
Entáo, decidi tentar urna tática diferente: eu fingi ser um
trabalhador da casa do bispo. Eu me certifiquei de minha ca­
misa estava bem ajeitada, arrum ei meu paleto e depois entrei
pela porta dos fundos que dava na cozinha. Lá, deparei-me
com o cozinheiro, que me perguntou o que eu queria.
“ Estou aqui para conversar com o bispo a respeito de
assuntos urgentes da Igreja. Fui enviado pelo Bispo Gaha-
manyi, de Butare, com informaijóes im portantes.”
“Lam ento, mas o bispo está tirando urna soneca no m o­
m ento e nao quer ser incomodado.”
“D orm indo ou nao, eu preciso faiar com ele ¡mediata­
mente.”
O cozinheiro olhou para mim como se eu tivesse perdido
a nogáo. “Vocé tem certeza de que quer que eu vá acordá-lo?
Ele nao gosta de ser interrom pido quando está fazendo sua
sesta.”
“Sim, tenho... Este assunto nao pode esperar!”
O cozinheiro levou-me até urna sala de espera e alguns
minutos depois retornou com o bispo, que me abra^ou de
forma afetuosa sem sequer perguntar o meu nome antes.
Agora que eu estava com ele face a face e prestes a concluir o
primeiro capítulo de minha missáo, eu náo sabia ao certo por
onde come^ar. Entáo, eu simplesmente comecei a falar.
“Bispo, eu me chamo Segatashya e vim até aqui por in­
d ic a d o do Bispo de Butare. Talvez vocé tenha ouvido falar
dos visionários de Kibeho - bem, eu sou um daqueles visio-
nários. Eu fui enviado em missáo ao Burundi por Jesús, para
com partilhar as mensagens que recebi em Kibeho. Jesús me
disse que eu deveria entregar minhas mensagens a vocé pes-
soalmente e é isso que vim fazer aqui.”
Em seguida, repeti todas as mensagens principáis que Jesús
me deu em Kibeho. O bispou ficou parado e ouvindo sem
dizer urna palavra, mas ele estava suando bastante e parecía
m uito agitado. Após isso, ele disse que nos meses recentes
m uitas pessoas tinham sido presas no Burundi por falar

180
SAÍNDO DE CASA, O PADRINHO E A ESTRADA PARA BURUNDI

abertam ente sobre a fé délas em Deus. Ele explicou que o


governo tinha fechado inúmeras igrejas e que nao poderia
perm itir que eu com partilhasse tais mensagens com as pessoas
do Burundi. Em seguida, disse que eu nao era bem-vindo em
sua casa e ordenou que eu fosse em bora imediatamente.
“M as, Bispo, eu nao tenho lugar para ficar” , protestei.
“Eu tenho que dorm ir aqui esta noite.”
“Isso nao é problem a meu. Vocé nao vai ficar nessa casa
- agora vá em bora”, disse o bispo, furiosamente, e depois me
em purrou porta afora.
E nquanto eu cam inhava para longe de sua casa, ele gritou
para mim: “Estou denunciando vocé as autoridades agora
mesmo. Pode se considerar preso.”
“Para mim seria um prazer estar na cadeia”, gritei de
volta. “Pelo menos lá eu encontraría alguém que escutasse
minhas mensagens.”
Eu me ajoelhei sobre o mato em um local nao muito dis­
tante da casa do bispo e comecei a orar.
Alguns minutos depois, um grupo de padres, enviado pelo
bispo, se aproxim ou e comegou a me questionar, perguntan-
do pelos nomes de todos os ruandeses que eu conhecia no Bu­
rundi. Eu me recusei a dizer-lhes qualquer coisa que nao fosse
as mensagens que Jesús tinha me enviado para entregar. Por
fim, eles me entrouxaram dentro de um carro e me largaram
na frente da em baixada ruandesa.
N aquela hora já era tarde e a em baixada estava fecha­
da. Eu acabei dorm indo em um carro abandonado naquela
noite e na m anha seguinte voltei a pé para a em baixada. Os
oficiáis lá me interrogaram por várias horas sobre como eu
tinha conseguido entrar no país sem os docum entos certos e
o que eu pretendía fazer no Burundi.
Eu respondí as perguntas deles da melhor forma que po­
día. Eles me disseram que eu tinha infringido a lei e que po­
deria ficar preso por bastante tempo. Eu me desculpei por ter
infringido a lei e expliquei que estava em urna missáo envia­
do por Jesús. Também prom etí que no futuro tentaría nunca
mais infringir quaisquer outras leis.
Por fim, fui colocado em um ónibus e escoltado durante
todo o trajeto de volta para R uanda por um oficial da em bai­
xada. Ele me levou para a casa do Bispo Gahamanyi e relatou
tudo que havia ocorrido. O bispo pareceu ter ficado muito
triste e preocupado sobre a form a com o eu tinha sido tratado
no Burundi. Ele disse: “M eu pobrezinho Segatashya... É me­
lhor vocé nao voltar mais ao Burundi” .

181
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

PERGUNTA: Segatashya, essa foi urna historia realm en­


te incrível. M uitos poucos ruandeses já viajaram para fora
do país, mas lá estava vocé, um jovem pastor, disposto a en­
frentar militares, oficiáis do governo e os mais altos poderes
da Igreja para levar a mensagem do Senhor ao m undo. Se o
que vocé nos diz é verdade, eu acho que vocé é um vencedor.
Diga-nos, Jesús apareceu novam ente para vocé após seu re­
torno do Burundi?
SEGATASHYA: Sim, ele apareceu para mim em 5 de ja-
neiro e disse: Nao tente voltar para o Burundi. A coisa mais
im portante é que vocé m e obedecen e fez o que eu Ihe pedi
para fazer. Eu poderia recompensá-lo agora por esse grande
feito e por ter demonstrado tanta coragem, mas a verdade é
que vocé nao tem m uito mais tem po para viver na Terra... E,
quando esse tem po passar, eu vou recompensá-lo de urna for­
ma m uito melhor. Tenha coragem e continué fazendo minba
vontade, pois seu trabalho está apenas comegando. A m anbá
vocé deve se preparar para sua nova missáo.

182
CAPÍTULO 10
MISSÁO N O C O N G O

Segatashya aínda era adolescente quando Jesús o e


viou p ara pregar a palavra de Deus no cora^áo do Co
go. E, em bora os congoleses sejam conhecidos p o r serc
amigáveis e calorosos, m uitas áreas daquilo que entáo e
o Z aire estavam sem policiam ento e sem lei - um lug
onde os vilóes podiam livrem ente praticar o terro risn
estuprar, assaltar e m atar. Para um jovem viajante se
qualquer experiencia, aquele era um dos m ais perigos
lugares da Terra.
E, ainda assim , Segatashya, o inocente g aroto camp
nés que cresceu em urna cabana de palha, se aventur
pelo Z aire apenas com as roupas do corpo, seu aln
qo em um saco de papel e alguns dólares no bolso.
Z aire era urna térra estrangeira e am eagadora na qi
Segatashya nao conhecia um a única alm a sequer. Ele n
conhecia os seus dialetos, nao sabia onde poderia d
m ir e com er ou a quem recorrer caso tivesse problem
Tudo que ele sabia era que Jesús tinha lhe falado par;
ao C ongo para com egar a espalhar suas m ensagens p
m undo, e isso era tu d o que Segatashya precisava sabe
Antes de eu term inar a faculdade, m eus pais nao
deixavam ir sozinha p ara nenhum lugar - e nao ape
porque eu era garota. A m aior parte dos ruandeses, es
cialm ente naquela época, nao viajava para m uito lo
do local onde tinha nascido. Até hoje, a vasta m aioria
ruandeses nunca saiu do país. A imagem deste p e q u
g aroto pastor, iletrado e com pletam ente inocente, per;
bulando pelo Z aire sozinho, sem pre pareceu a mim
m onum ento de coragem .
Amigos e parentes im ploraram a Segatashya para
ele nao fosse, alertando-o a respeito da possibilidade <
ser espancado, assaltado ou talvez até m orto lá. M as
gatashya nao pensou duas vezes quando Jesús disse
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

p ara com prar urna passagem de ónibus só de ida em di-


reçâo à fronteira m ais próxim a. A quela era a vontade de
Deus e Segatashya tinha dedicado sua vida a fazer sua
vontade. Jesús queria que ele fosse para o Z aire e nao
havia poder na Terra que fosse capaz de im pedi-lo de ir.
A jornada de Segatashya exigía um nivel de coragem
que apenas alguns poucos de nós poderiam igualar, e urna
p rofundidade de fé espiritual que cada um de nós precisa­
ría rezar p ara obter.
Em 1988, a Com issâo de Inquérito realizou urna reu-
niao especial para ouvir o relato de Segatashya a respeito
de sua excursào de dois anos pelo coraçâo do C ongo e
sobre o im pacto das m ensagens de C risto nos coraçôes
dos m ilhares de fiéis congoleses. O que vai a seguir é urna
com pilaçâo de très diferentes relatos daquela reuniao:
PERGUNTA: Segatashya, nós ouvimos muitas historias
incríveis sobre suas experiências na regiâo do Congo. Agora
que vocé já voltou para casa, vocé poderia nos falar sobre sua
missâo da melhor forma possível, do começo ao fim?
SEGATASHYA: Em 18 de janeiro de 1986, Jesús veio me
visitar em meu quarto, em Butare, e disse que era hora de eu
ir para o Zaire. Ele também falou até qual rota eu deveria
pegar para ir até lá. Eu estava nervoso porque o Zaire é gi­
gantesco e lá sào faladas mais de 200 línguas e dialetos. Eu
nâo sabia onde eu ficaria, a quem eu deveria pregar ou como
eu poderia me comunicar. Porém, Jesús me disse: Você é meu
mensageiro. Nâo se preocupe. Eu nâo vou sair de perto de
você e tudo ficarâ bem.
Jésus falou para eu pegar um ónibus público para o ex­
trem o sul do Lago Kivu e cruzar a fronteira para o Zaire na
cidade de Bukavu, a respeito da quai eu fui avisado de que era
um lugar muito selvagem, com muitos ladrôes e bandidos de
toda espécie. Meu amigo Camille, que me deu algum dinheiro
para a viagem, alertou-me a nâo entrar em Bukavu sozinho,
pois um garoto viajando sozinho por là poderia perder tudo
nas mâos dos assaltantes.
Por sorte, encontrei um homem na fronteira que tinha me
visto conversar com Jésus em Kibeho. Ele me escoltou até o
bispo local, que me deu sua bênçào para pregar em sua re­
giâo. Mas, quando comecei a pregar nos degraus de algumas
igrejas, o bispo retirou sua permissâo.

184
MISSÁO NO CONGO

Por alguma razáo, as autoridades católicas nao queriam


que eu com partilhasse as mensagens com os seus paroquia-
nos. Entáo, eu fui para a estrada e rezei. As noticias sobre
minha presenta na cidade se espalharam boca a boca. Sempre
havia alguém por perto que traduzia o que eu falava, e as pes-
soas realmente aceitaram e responderam bem as mensagens
do Senhor. M ultidóes comegavam a se juntar em qualquer
lugar que eu pregasse.
Logo ministros protestantes e pentecostais comeijaram a
me convidar para falar as mensagens de Jesús em suas igrejas.
Pessoas de todas as diferentes religióes foram me ver naque-
las igrejas, bem como centenas de católicos de cujas igrejas eu
tinha sido banido.
Dois meses após m inha chegada ao Zaire, o Bispo de
G om a - urna cidade no norte do país - me convidou para
um chá. Ele me deu sua bengao para eu falar em sua diocese,
desde que eu nao falasse em igrejas ou transform asse minhas
mensagens em comicios políticos. Parecía que estava havendo
m uitas guerras com os rebeldes no Zaire, e grandes ajunta-
mentos de pessoas deixavam o governo preocupado.
N ao ter ganhado permissáo para falar em igrejas tornou
minha missao muito mais difícil, mas a cada semana que pas-
sava mais e mais pessoas chegavam as escolas, sal oes e pravas
onde eu pregava as mensagens de Jesús. N o com eto eram de-
zenas, mas logo eram centenas... Eu expandía meu ministério
a cada semana - eu falei para soldados em campos de treina-
mento, para pessoas esquecidas em centros de assisténcia a in­
válidos e para os presos de urna grande penitenciaria, que esta-
vam m uito interessados ñas mensagens de salva^áo e reden^áo.
PERGUNTA: Segatashya, com o voce já mencionou, sao
faladas quase 250 línguas e dialetos no Zaire. Em qual língua
vocé entrega va as mensagens?
SEGATASHYA: N o com eto, falei na única língua que eu
sabia - Kinyarw anda. Geralmente, havia alguém que trad u ­
zia m inhas palavras para o Suaíli, que é a língua que eles fa-
lam em Goma, ou alguém das pequeñas aldeias que traduzia
as mensagens para os dialetos locáis. M as eu nem sempre
estava confiante de que minhas palavras estavam sendo tra-
duzidas exatam ente da form a como eu as tinha pronunciado,
ou seja, exatam ente com o o Senhor as tinha com unicado a
mim. Entáo, eu comecei a orar a Jesús para me que ajudasse
a garantir que suas mensagens fossem transm itidas fielmen­
te... Afinal, essas mensagens m ostravam a diferen^a entre sua
alma ir para o Céu por toda a eternidade ou queimar no fogo
do inferno. As palavras sao im portantes.

185
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Um dia, nao muito tempo depois de eu ter pedido ajuda a


Jesús a respeito do problem a da língua, eu percebi que podia
reconhecer certas palavras em Suaíli. Após mais ou menos
urna semana, eu conseguía entender quase tudo que ouvia.
Após duas semanas, eu parei um dos meus tradutores no
meio de um a frase e o corrigi em Suaíli: “N ao foi isso que eu
disse - se vocé vai pronunciar as palavras do Senhor, por fa­
vor, pronuncie-as corretam ente e de form a clara e inteligente.
Vocé está lidando com as almas eternas das pessoas” .
Acho que essas foram as primeiras palavras que eu falei
publicam ente em Suaíli. Depois disso, comecei a entregar as
mensagens em Suaíli por toda a regiáo de Goma; tam bém dei
entrevistas e respondí perguntas na língua deles. Eu sei que
isso parece inacreditável e nem mesmo eu poderia acreditar
que me tornei fluente em um a língua estrangeira táo rápida­
mente, mas foi realmente assim que aconteceu. E eu sei que
foi assim porque um dos padres que freqüentemente viaja-
vam comigo, o Padre Pierre, da O rdem dos Padres Brancos,
do C anadá, comegou a gravar minhas prega^óes logo depois
que eu cheguei a Goma.
Um dia, o Padre Pierre veio até mim carregando várias
fitas e colocou-as para tocar. “Escute, Segatashya... Isso é de
um mes atrás”, disse ele, em seguida colocando para rodar
uma gravagao na qual eu falava sobre o Fim dos Días e da
necessidade de orar a Deus com o cora^áo arrependido e pe-
dindo perdáo pelos pecados. Todas as palavras estavam em
K inyarw anda. Depois, ele apertou Play e come<;ou a tocar
outra fita. Era a mesma mensagem, mas desta vez eu estava
falando metade em K inyarw anda e metade em Suaíli. Quan-
do ele apertou Play em uma terceira fita, eu estava falando
com pletam ente em Suaíli.
Talvez eu apenas tenha alguma facilidade com o Suaíli,
pensei. Mas logo entendí que Jesús tinha enviado o Espirito
Santo para me abengoar com o “dom das línguas” - parecía
que eu aprendía uma nova língua fluentemente em poucos días
após visitar a área na qual ela era falada. Foi o que ocorreu
com uma língua chamada Lingala, falada por milhóes de pes­
soas no norte e leste do Zaire, a qual eu aprendí em menos de
uma semana visitando jovens recrutas em uma base militar.34
O utra língua que aprendí rápidam ente foi a difícil Ciluba,
que era com pletam ente diferente de qualquer outra língua

34N a tradicáo mística da Igreja cham a-se “dom de línguas” , que “ consiste
ordinariam ente em um conhecim ento infuso de idiomas estrangeiros sem ne-
nhum trabalho prévio de estudo ou exercício” (Antonio Royo M arín. Teología
de la perfección cristiana, M adrid, BAC, 2001, p. 895).

186
MISSÁO NO CONGO

que eu já tinha aprendido. Esse dialeto, que eu estava tentali


do aprender, era falado em urna área onde as pessoas erani
bastante reservadas com relagáo à lingua e desconfiadas coni
estrangeiros. N inguém quis falar comigo em Ciluba, mas lá
havia muitas pessoas que a falavam e a quem eu queria me
dirigir para poder entregar as mensagens. Fiquei m uito frus­
trado por nào ter obtido “perm issáo” para aprende-la.
Por fim, fiquei de joelhos e orei: “Jesús, há milhares de
pessoas nesta regiáo que querem ouvir suas palavras - nao
me deixe m udo quando há tantas pessoas sedentas da sua
verdade. De a essas pessoas a gra^a de se abrirem comigo e
me ensinarem o seu idioma nativo” . Logo as pessoas come^a-
ram a confiar em mim e a conversar comigo em Ciluba. Após
mais ou menos dois meses, eu conseguía entender Ciluba per-
feitamente e falar muito bem.
PERGUNTA: Segatashya, vocé aprendeu essas línguas e
nós já ouvimos voce falando-as. Diga-nos, voce conseguiu
rezar nessas línguas?
SEGATASHYA: Sim, eu conseguia rezar em todas essas
línguas e em outras tam bém . Era m aravilhoso encontrar no­
vas formas de falar com M aria e Jesus. E, quanto mais línguas
eu aprendía, mais pessoas vinham para ouvir as mensagens
que Jesús quería que eu espalhasse pelo país.
PERGUNTA: Entáo voce falou para pessoas diferentes,
de lugares diferentes e de religiSes diferentes?
SEGATASHYA: Eu falei para todos os filhos de Deus. Um
protestante disse-me: “N ossa religiáo nos diz que nós náo te­
mos M aría com o interm ediària entre Deus e os homens - eia
nos diz que M aria é urna mulher como outra qualquer. Mas
o catolicismo diz que, se voce nao rezar o Rosàrio, voce náo
vai para o Céu, porque M aría é m uito im portante para voces.
O que Jesús diz sobre isso?”
Eu lhe respondí: “Ninguém disse que urna pessoa que náo
reza o Rosàrio náo vai para o Céu. O que Jesús me falou so­
bre as diferentes religióes é que mais será exigido daqueles que
mais sabem; vocé será julgado pelo que sabe. Eu náo vou pedir
para vocé deixar sua religiáo e se tornar católico. Ao contràrio,
eu vou pedir para vocé continuar acreditando sinceramente no
que sua religiáo ensina. Se sua religiáo o ensina a am ar de acor-
do com a vontade de Deus, entáo siga os mandamentos que eia
lhe deu e nada o impedirá de ir para o Céu. Voce deve obedecer
ás promessas que fez á sua religiáo”.35

" “Fora da Igreja nao há salvacjáo. [...] ‘nao podem salvar-se aqueles que,
..ilicndo que a Igreja católica foi fundada por Deus por meio de Jesús Cristo como

187
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

PERGUNTA: N ós estamos tristes por saber do falecimen-


to de sua máe e de alguns de seus irmáos, ocorrido após o
inicio de sua missáo. A Virgem M aria tem confortado vocé
neste aspecto?
SEGATASHYA: M aria tem sido um grande conforto para
mim. Ela é nossa máe am orosa no Céu e sabe muito bem o
quanto a dor da perda pode penetrar no coragáo de um filho.
Q uando rezo o Rosário, eu ponho ñas máos da Santíssima
Virgem a dor que sinto pela tragédia de m inha familia.
Isso aconteceu mais ou menos seis meses após eu ter saído
em missáo. A m orte de m inha máe foi o desafio mais difícil
que eu já enfrentei e o im pacto da sua perda se tornou muito
m aior porque meus dois irmáos m orreram logo em seguida.
Eu estava em um lugar rem oto do Congo quando ela mor-
reu. Meu amigo Nicolás, que estava viajando comigo naquela
ocasiáo, ouviu sobre sua m orte no rádio urna noite. Foi muito
difícil para ele ter que me dar noticias táo horríveis.
Nicolás tinha algum dinheiro, o suficiente para entrarm os
em um aviáo e voarmos de volta a Ruanda. Eu tinha que
ver meu pai, pois perder dois filhos e a esposa era, para ele,
muito difícil de suportar. Q uando finalmente o vi, parecia que
ele estava com pletam ente m ergulhado em tristeza e aflújáo.
Eu tinha um mau pressentim ento de que ele poderia vir a
se matar, mas eu nao podia ficar lá com ele - eu tinha que
retornar á minha missáo e náo podia passar nem mais urna
única noite em luto com meu pai. Jesús tinha me falado para
náo deixar que nada neste mundo me impedisse de fazer sua
vontade, que todas as coisas na Terra perecem, e que apenas a
sua Palavra é eterna. M eu dever para com ele é espalhar suas
mensagens pelo m undo o máximo que eu puder antes que
meu tempo aqui acabe.
PERGUNTA: O que aconteceu quando vocé voltou ao
Zaire?
SEGATASFIYA: Eu voei de volta imediatam ente depois
de ter visto meu pai. Eu tinha urgencia em espalhar as m en­
sagens do Senhor no m áxim o de lugares do Congo que eu

in stitu id o necessària, apesar disso náo quiserem nela entrar ou nela perseverar’
(Lum en Gentium , n. 14). [...] ‘Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o
Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com cora^áo sincero e
tentam , sob o influxo da graga, cumprir por obras a sua vontade coiihecida por
meio do ditame da consciencia podem conseguir a salva^áo eterna (lb id ., n. 16).
‘Deus pode, por caminhos Dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem
culpa pròpria ignoram o Evangelho. Pois sem a fé é impossível agradar-lhe (cf.
H b 11,6). M esmo assim, cabe à Igreja o dever e tam bém o direito sagrado de
evangelizar’ (A d Gentes, n. 2) todos os hom ens” (CIC, § 846-848).

188
MISSAO NO CONGO

pudesse durante os dois anos que Jesús falou para eu ficar


M as é urna regiao m uito extensa e leva m uito tem po pan
de um lugar a outro. Eu me lembro de ter ficado esperar
po r muitos dias, em urna cidade em particular, a aprova<
oficial do bispo local para que eu pudesse comegar a pre¡
E nquanto eu estava esperando chegar m inha hora, Jesús a
receu para mim e disse: O que é bom para vocé nao é b
para m im . Apresse-se em fazer o que eu quero - nao o c
vocé quer. Continué aceitando o seu sofrim ento sem reclan
pois eu estou com vocé.
M esmo assim, as vezes era muito difícil conseguir se r
vim entar por lá. Urna vez, fiquei preso em um hotel no m
do nada por mais de urna semana esperando conseguir lu
em um trem para Lubum bashi, urna grande cidade no sul
Z aire, na fronteira com a Zám bia.
Enquanto esperava, encontrei um ruandés cham ado \
cent, que tam bém estava na mesma situa^ao. Ele era um en
nheiro de minas muito inteligente, mas tinha perdido seu £
prego e nao tinha dinheiro para com prar uma passagem.
me ajudou a descobrir por que estava dem orando tanto p
eu conseguir um bilhete. Q uando eu me dirigía até a estai
para reclamar, os vendedores eram rudes e maus comigo
me ignoravam por completo. Vicente disse-me que, mes
que eu soubesse falar cinco ou seis línguas, eu ainda nao tir
aprendido a falar a língua da corrupgáo governamental.
“Esta é um a língua universal, falada onde quer que ei
tam homens e gran a”, disse ele, em seguida pedindo-me
gum dinheiro. N ós cam inham os pela estagáo de trem e V
cent pos as notas em meu passaporte. Em seguida, entregoi
ao agente de viagem. Dois minutos depois, eu tinha mir
passagem de trem para Lubumbashi. “O dinheiro realme
fala”, explicou Vincent, com um a gargalhada. “Agora vi
está versado na fina arte do suborno.”
Para recom pensar sua gentileza, ajudei Vincent a comp
uma passagem. Depois, após ter passado tantos dias sem
zer nada em um quarto de hotel isolado, finalmente suh
bordo de um trem em diregao á cidade grande, com o <
jetivo de pregar para grandes multidoes que precisavam
salvas.
Eu nao sei exatam ente com o o vendedor de passagens
isto, mas eu paguei por duas passagens de prim eira class
recebi duas passagens de terceira classe. Por conta disso, V
cent e eu tivemos que nos sentar nos fundos do trem, onde
janelas tinham sido arrancadas e as portas das extremidai
do vagáo nao podiam ser fechadas e ficavam batendo. () 11

189
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

se movia m uito devagar e, enquanto dobrávam os uma grande


curva, um grupo de homens do lado de fora começou a correr
ao longo dos trilhos, próxim o ao nosso vagáo. Eles pareciam
furiosos. Seus olhos estavam injetados e alguns deles tinham
bandanas am arradas ao rosto.
“Sao assaltantes! Deus nos ajude!”, gritou um homem no
m om ento em que os homens lá fora se aproxim avam mais de
nós. Estava obvio que eles tinham escolhido nosso vagáo por
causa do fácil acesso que as janelas e portas quebradas pro-
porcionavam . Um dos homens se agarrou ao peitoril de uma
janela e pulou para dentro do trem. Ele caiu em cima de uma
mulher e sua filha, que estavam encolhidas em seus assentos.
A m ulher e a garotinha gritaram , e o homem bateu no
rosto das duas. Em seguida, ele foi à janela para rebocar um
dos seus amigos para dentro do vagáo. Rápidam ente, todos
os homens já estavam andando para cima e para baixo no
corredor, gritando com os passageiros e exigindo dinheiro de
todos. Q ualquer um que nao pagasse era violentamente es-
pancado. Os bandidos uivavam com o cáes no m om ento em
que arrastaram très homens para o meio do corredor e depois
os arrem essaram para fora do vagáo. Vocé podia ver seus crá-
nios batendo contra as pedras e rachando-se ao meio.
Em seguida, os assaltantes am arraram vários passageiros
homens em seus assentos usando os cintos de segurança. E,
enquanto eles estavam lá sentados, impotentes e sem qual­
quer ajuda, os bandidos estupravam suas esposas e filhas bem
na frente deles. Era horrível assistir áquilo, mas náo havia
para onde correr ou como conseguir ajuda. Vários homens,
com seus facóes em punho, m ontavam guarda ao lado dos
estupradores, enquanto estes praticavam seus atos dem onía­
cos. Eu me levantei e fui prestar ajuda a um a mulher, mas eles
apontaram seus facóes para mim.
Vincent segurou-me pelos om bros e disse-me: “Vocé co-
nhece todas as oraçôes... Chegou a hora de começar a fazé-las!
Reze, reze para Jesús nos salvar! Peça para Jesús aparecer
diante de vocé agora e fazer com que esses homens parem !”
Um dos homens viu o grande crucifixo de m adeira que
estava pendurado em meu pescoço. “Vocé é um pregador,
náo é, garotinho? Isso significa que vocé tem dinheiro... Passe
para cá o seu dinheiro, pregador”, exigiu ele, estendendo sua
m áo cheia de sangue em direçâo a mim.
“Dé-lhe o seu dinheiro”, falou Vincent.
Eu tirei as notas do meu bolso e o homem as arrancou
de m inha máo. O bandido guardou o dinheiro e depois em-
purrou Vincent e eu para a frente do vagáo. N ós nao iríamos

190
MISSÁO NO CONGO

esperar para ver o que ele pretendía fazer conosco e pulamof


rápidam ente para o próxim o vagáo. N aquela hora, algún:
homens que trabalhavam no trem finalmente apareceram
mas era tarde demais para ajudar. Os bandidos já tinham sal
tado pelas janelas, deixando para trás os corpos massacrado
e as almas traum atizadas de suas vítimas.
Os em pregados da ferrovia disseram que estupro e assas
sinato estavam ficando cada vez mais e mais freqüentes er
todos os lugares do Zaire, e que eles estavam especialmet
te preocupados com a seguranza durante as férias escolan
que se aproxim avam . “Q uem vai proteger nossos filhos?’
perguntou um dos condutores, olhando horrorizado para ;
vítimas arrasadas que estavam no outro vagáo.
“Que tipo de m undo é este em que os homens pode
fazer coisas táo horríveis assim?” , reclam ou Vincent. “Eu nr
posso mais viver em um lugar com o esse.”
Eu, por outro lado, sabia que devia estar em um lug
exatam ente como esse. A m aldade e o am or ao pecado que
nham os acabado de testem unhar era a exata razáo pela q t
Jesús e M aria haviam aparecido em Kibeho - para nos alert
a respeito do que o futuro poderá nos trazer se o homem n
aceitar o am or de Deus.
N ós saímos do trem antes de chegar ao nosso destino pi
que temíamos que os bandidos pudessem voltar. Paramos i
uma cidade cham ada Kamina e demos de cara com urna dií
de soldados armados na plataform a de desembarque. Te
mundo achou que eles estavam lá para proteger os passaj.
ros, mas, para nosso total espanto, eles comegaram a roul
as pessoas no mom ento em que elas saíram do trem! Os í
dados nos abordaram e disseram para esvaziarmos nos
bolsos. Súbitamente, lembrei-me de uma mulher que conl
enquanto pregava um a ou duas semanas antes, e que tinha
dado uma carta para usar se eu entrasse em apuros. Ela d
que minhas mensagens tocaram seu coragáo e que ela qu
garantir que eu conseguisse continuar m inha missáo.
“Um garoto doce como vocé vai entrar em situai
complicadas viajando po r este país”, disse ela. “Meu n<
é Petronilla e meu m arido é um m ajor m uito conhecidr
meio militar. Sempre que vocé estiver com sérios problei
use esta carta. Aqui diz que vocé é um grande amigo de
marido. Com o todo m undo respeita meu esposo, ning
botará a m áo em vocé.”
Os soldados tinham agarrado Vincent pelos bracos (
me^avam a vasculhar suas coisas quando eu tirei a cari
bolso e a entreguei para o m aior do grupo. “É para v(

191
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

disse eu. O soldado leu a carta e im ediatam ente disse aos ou-
tros para nos deixarem em paz. Ele devolveu a carta e Víctor
e eu saímos ilesos. Olhei para o envelope em minhas m aos e
perguntei ao meu amigo o que estava escrito na parte de tras.
“É um enderezo de urna casa nesta cidade, onde mora a
irmá Petronilla. Também diz: ‘Vocé sempre será bem-vindo
aqui’”, explicou Vincent, acrescentando em seguida: “N a p ró ­
xima vez em que o Espirito Santo te ensinar alguma nova lín-
gua, seria uma boa vocé também pedir para ele ensiná-lo a 1er” .
N ós encontram os o caminho que dava na casa da irmá
Petronilla. Ela era um a excelente senhora e nos deu jantar e
um quarto para dorm ir por um a noite. N a m anhá seguinte,
eu parti para continuar m inha missáo. Embarquei no trem
para Lubumbashi, onde eu estava escalado p ara falar sobre
o Fim dos Dias. Pedi para Vincent ir comigo, mas ele disse
que nao conseguía apagar de sua mente as imagens que ele
tinha visto em nossa últim a viagem de trem. “Deve haver al-
gum demonio vagando por este país, se coisas como aquelas
acontecem com familias viajando em trens lotados em plena
luz do dia”, disse ele. Vincent com prou um a passagem para a
Z ám bia e nunca mais voltou.
E nquanto eu continuava a falar por todo o país, as mul-
tidóes que vinham para ouvir as mensagens continuavam a
crescer. Eu dei um a entrevista para um a estagáo de rádio e
tive oportunidade de entregar as mensagens do Senhor ao
país inteiro pela primeira vez. Parecía que todos os novifos,
freirás e padres, de todas as dioceses do Zaire, ouviram aque-
la transm issáo. De repente, eu estava sendo convidado para
falar em todos os tipos de igrejas. O Bispo de Lubumbashi
estava táo tocado pelas mensagens que ele pessoalmente cha-
m ou os padres de todas as dioceses e falou para eles darem
apoio as mensagens. Os padres com eta rain a brigar entre si
para ver quem me agendaria primeiro. Fui convidado para fa­
lar em 37 paróquias. M inhas palavras tam bém estam pavam
os j ornáis, e m uitas pessoas que me viram falar e ouviram as
mensagens tam bém foram entrevistadas.
As m ultidóes cresceram ao ponto de reunir 5 mil pessoas
p o r vez - todas elas táo quietas e atentas que vocé poderia ou­
vir um a lágrima caindo. M inhas conferéncias se tornaram táo
populares e as multidóes táo grandes que o pároco de Nossa
Senhora do Congo designou-me um carro com m otorista e
quatro seguranzas para ficar comigo a todo o mom ento. Os
lugares em que eu falava tam bém foram crescendo. Comecei
a falar em salóes de universidades que tinha capacidade para
abrigar milhares de pessoas e foram feitos preparativos para
pronunciam entos em estádios.

192
MISSÀO NO CONGO

M ais ou menos naquela época, Jesus apareceu para m


e deu-me urna nova mensagem para entregar às pessoas. I
urna mensagem sobre poligamia.
Jesus disse-me que eu deveria lem brar as pessoas de qui
poligamia é contrària à vontade de Deus. Era urna mensagt
difícil de ser entregue. A poligamia - quando um homem tc
duas ou mais esposas - é largamente praticada e aceita :
Zaire. Um homem freqüentemente pode ter 10 esposas i
até mais. A cultura aceita e apóia a poligamia, e eu esta
surpreso por ter conhecido m uitos freqüentadores de igi
ja que a praticavano - pessoas que tinham bons cora^òet.
praticavam bons atos, mas que viviam em relacionam ent
poligàmicos. Jesus disse-me que essas pessoas estavam dan<
um m au e perigoso exemplo para os jovens que pertenciarr
igreja e olhavam para eles como sabios orientadores. Ele dis
que nao há excegòes quando se trata de poligamia, e que
pessoas que o adoram na igreja deveriam saber disso antes
com eter um pecado táo obvio.
Logo em seguida após o meu desembarque em Lubui
bashi, Jesús apareceu para mim novam ente e disse: Letnb
as pessoas que tem dois relacionamentos que elas estao m
tando os Dez M andam entos e que elas sao com o ladras.
para aqueles que estáo na igreja e praticam a poligamia, i
acrescentou esta mensagem: Como voce pode agir por anii
de m im se voce nao está disposto a fazer Indo que rstou li
pedindo para fazer?
Esta se tornou urna questao bastante controvertid.i d
rante meu ministério no Congo. Militas vc/rs as eiiorin
multidSes que apareciam para ouvir as mciisagrns li«, a va
incrivelmente entusiasm adas e felizes por ouvir as palavi as i
Jesus. Q uando eu falava sobre suas mensagens a respeito <.
redengào e s a lv a l o através da confissào, do arrependimen
e do am or - tudo visando a p re p a ra d o para o Finí dos Di.
- , centenas de pessoas choravam e gritavam: “Amém! Al
luia! Louvado seja o Senhor!”
Q uando eu entregava as mensagens do Senhor sobre
mal da poligamia, porém, as pessoas vaiavam e grita va
para eu voltar para Ruanda. O Senhor quería que eu tocas:
no assunto da poligamia onde quer que eu pregasse, o qi
eu sempre fazia. N o final de cada encontro, eu era atacado.
“A poligamia é praticada na Biblia”, diziam eles. “O qt
dizer dos patriarcas do Antigo Testamento? A braao teve tri
esposas, o Rei Davi teve sete e o Rei Salomào teve 700! P(
que eles podiam fazer isso e nós nào podemos? Por que na
podem os ter sequer duas esposas?”

193
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Eu os respondía conforme Jesús tinha me instruido: “N ós


nao vivemos mais nos dias do Antigo Testamento. N ós vive­
mos nos dias do N ovo Testamento. Jesus veio para a Terra,
nos ensinou um novo cam inho e nos m ostrou como seguir
esse caminho ñas palavras do N ovo Testam ento”.
Q uando eles perguntavam: “Por que Jesús acha que aque­
les que tém duas esposas sao assassinos e ladróes? Isso nào
é urna coisa lá m uito boa para se dizer sobre nós!”, eu sem­
pre respondía: “Jesús disse-me que a segunda esposa é urna
assassina porque eia está m atando a paz e a alegria que a
prim eira esposa sente em seu cora§áo em rela^áo a seu m a­
rido. O prim eiro casam ento é sagrado; ele é aben<¿oado pelo
sacram ento do m atrim onio no primeiro (e unicamente legí­
timo) casamento. E Jesus disse que a segunda esposa é uma
ladra porque eia está roubando o am or que o m arido deveria
ter unicam ente por sua prim eira esposa. O am or conjugal do
m arido pertence á prim eira esposa e qualquer um que roubar
esse am or déla é um lad ráo ” .
“Jesus disse que o homem em um relacionam ento poligà­
mico é um ladrào e assassino como qualquer outro ladrào e
assassino - um assassino porque ele está m atando o m anda­
m ento de Deus e um ladrào porque ele está pegando o que
nào foi dado a ele. Ele será julgado com o um ladrào se náo
se arrepender e abandonar esse pecado. Sendo assim, tanto
o homem quanto a m ulher que estáo em um relacionam ento
poligàmico sào como assassinos porque m atam a pureza do
am or que Deus concede ao homem e à m ulher quando eles
se juntam como m arido e esposa durante o santo sacramento
do casam ento.”
Essas d e c la ra re s enfureceram todo m undo na audiencia
que apoiava a poligamia. E, para a m inha surpresa, as pes-
soas que mais se m ostravam ultrajadas pela mensagem eram
as mulheres! Urnas quarenta ou cinqüenta mulheres, furiosas,
me confrontaram certa tarde após eu ter concluido meu pro­
nunciam ento no salào de uma igreja de Lubumbashi.
“Com o voce pode dizer essas coisas?!”, disparou uma. “A
m aior parte dos homens de m inha aldeia foi m orta durante
a guerra e agora há grande escassez de homens. O que voce
espera que nós, mulheres, fagamos quando chegar nossa hora
de casar e ter filhos? O que há de errado em várias mulheres
com partilharem o mesmo marido? E m elhor com partilhar
um m arido do que nào ter m arido nenhum! Ou Deus quer
que todas nós nos tornem os freirás?”
O utra disse que vivia em um relacionam ento poligàmi­
co há 12 anos e que era impossível obedecer á mensagem

194
MISSÁO NO CONGO

de Cristo a respeito da necessidade de sair desse tipo de ea


samento. “Eu sou a terceira esposa, mas estou casada coti
m eu m arido há muito tem po”, disse-me eia. “N ós temos tré;
filhos. O que voce quer que eu faga? Eu deveria largar met
marido? Para onde eu iria? Com o eu poderia alim entar mi
nhas crianzas? Devo me tornar mendiga ou prostituta par;
que meus filhos nao passem fome? H á m uitas mulheres comi
eu... E nem todas podem dar suas vidas a D eus!”
Tudo que eu conseguía dizer a elas é que nem sempre é f.i
cil obedecer a vontade de Deus, m as que devemos obedecé-l:
N ossa vida na Terra è difícil, mas é passageira. N ós seremo
recompensados no Paraíso por term os vivido aqui da forni
como Deus quer.
M uitos rapazes e garotas que estavam na audiencia d
salào da igreja de Lubum bashi tam bém estavam furiosos coi
m inha mensagem. Q uando me abordaram após o meu pn
nunciam ento, eles queriam saber o que há de errado coni
sexo fora do casamento.
“N ào é norm al para nenhum homem passar m uito temp
sem ter urna m ulher” , declarou um rapaz. “E por que urna g;
rota nào poderia estar com um homem se esse homem poc
ajudá-la a pagar seu aluguel ou suas despesas escolares? Ni
é aceitáve! que urna garota possa tirar algum beneficio do i
lacionam ento com um homem? O que há de errado cui laz
um homem feliz se o homem também faz a mulher Idi/,:'"
Eu respondí ao rapaz repetindo a mensagem sobre o se:
conjugal que Jesus e M aria entregaram em Ribello: “( K li
mens e as mulheres devem respeitar a si niesmos e consult i
seus corpos com o templos de Deus, e nào pennini que el
sejam usados como parques de diversòes da carne. I Jes col
cam suas almas em risco por alguns m om entos passageíros
prazer. Adolescentes e jovens acham que estào se divertine
mas nào pensam sobre as conseqüéncias de suas agòes
sobre suas almas im ortais. Isso é algo sobre o qual as pess<
mais velhas da sua igreja deveriam alertà-lo” .
Eu falei para os jovens rezarem a Deus pedindo para c
Eie leve homens e mulheres de fé e bom caràter às suas ig
jas. Esses sào os modelos de que eles necessitam e nào pess<
poligàmicas que vivem em constante adultèrio. A juventi
deve aprender esta verdade: o adultèrio è um pecado mui
muito sèrio - eie viola o Sétimo M andam ento. É melhor
casto até o casam ento, e fiel em um casam ento constitu
pela uniào de um unico hom em com urna ùnica mulher.
As mensagens sobre poligamia e adultèrio que entreg
quase ocasionaram m inha morte.

195
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

A prim eira vez em que entreguei urna mensagem sobre


poligamia em Lubumbashi foi às vésperas do N atal de 1986.
Eu assisti a urna missa da meia-noite com um grupo de cris-
táos carismáticos que mais tarde realizaram urna recepçâo e
urna reuniâo de oraçâo em homenagem a mim.
D urante a recepçâo, alguém me deu um copo com Coca-
Cola. Antes de levar o copo à boca, eu parei para fazer urna
oraçâo de agradecimento a Deus. D urante mais ou menos
dois minutos, que foi o tem po que levei para fazer a oraçâo,
eu senti o copo se aquecer em minha máo e urna força jamais
vista agarrando meu pulso, impedindo-me de levar a bebida
até a boca. Em seguida, eu vi o líquido escorrendo sobre mi­
nha calça. O fundo do copo tinha caído no chao. Parecía urna
lupa de aum ento jogada sobre os azulejos. Fios de fumaça
subiam do copo sem fundo que ainda estava em m inha máo.
“Veneno!”, gritou alguém. Ouvi a palavra veneno ondu­
lar através do grupo de oraçâo em urna onda de sussurros
espantados.
O padre que tinha ajudado a organizar o encontro, Padre
M utom bo, estava horrorizado. Ele fazia parte de urna equipe
designada para me proteger quando as multidôes começaram
a crescer enormemente e depois que comecei a receber amea-
ças durante as mensagens a respeito da poligamia.
Dois professores de Ciencia da universidade local estavam
na recepçâo e examinaram o copo. “Isso poderia m atá-lo”, dis­
se um deles. “É algum tipo de ácido.”
A sala ficou silenciosa e o clima muito desconfortável. Por
fim, um dos carismáticos aproxim ou-se e recolheu os dois
pedaços do copo, um pedaço em cada máo. Ele começou a
andar pela sala com as máos erguidas para o alto e dizendo:
“Aleluia, amém! Aleluia, amém! Aleluia, amém! Um milagre
salvou a vida de Segatashya!” (Mais tarde, urna m ulher con-
fessou à polícia que tinha colocado ácido em minha bebida
para ver se Jesús iría mesmo me salvar, o que, segundo ela,
provaria que Deus realmente tinha me enviado ao Zaire.)
Após o homem que carregava os pedaços do copo ter
circulado pela sala, mais refrescos foram servidos. O Padre
M utom bo correu até mim e trocou os pratos do jantar. “Só
para g arantir”, disse ele. “E, depois de hoje, náo haverá mais
recepçôes ou jantares. Após o térm ino de suas pregaçôes, irei
escoltá-lo diretam ente para o seu quarto. E melhor náo cor-
rermos riscos desnecessários.”
Eu considerei toda a situaçâo um pouco deprim ente e,
depois do ocorrido, passei a ficar nervoso sempre que levava
um copo, xícara ou garfo à boca.

196
MISSÀO NO CONGO

N o dia seguirne, Jesus apareceu para mim e disse: Onde


havia m orte, agora há vida. Seja forte e paciente, pois os co-
ragòes de m uitos sào com o pedras, e os ouvidos de m uitos es-
tào fechados. Fique atento e mantenha-se firme nas orafòes.
Continue rezando e ponha-se em guarda. Eles estào tentando
machucà-lo - eles virào da esquerda e da direita. Se voce nào
se proteger com a orafào, voce será facilmente ferido.
Jesus nào apareceu mais para mim por seis meses. Eu con-
tinuei em m inha missào, viajando pelo Zaire e pregando sua
palavra. A multidòes continuavam a crescer todas as vezes.
Urna vez, houve 15 ou 20 mil pessoas em um ùnico evento
ao ar livre.
Apesar de m uitas pessoas terem ido aos encontros, eu nào
diria que eu era popular na regiào. Eram as mensagens de
Jesus que as pessoas tanto am avam e vinham de longe para
ouvi-las. Eu estou muito feliz por tantas pessoas terem ouvi-
do suas palavras - tenho certeza de que incontáveis cora^òes
foram convertidos após ouvirem as mensagens.
Eu também continuei pregando contra a poligamia, con­
forme Jesus me instruiu. A mensagem nunca era bem rece-
bida porque a verdade, às vezes, é difícil de ser aceita. Mas
Jesus me assegurou de que m uitas pessoas a ouviram ... E que
m uitas m udaram suas vidas. Assim, onde quer que eu fosse,
eu geralmente tinha pelo menos dois guarda-costas coinigo
para me proteger.
Devo adm itir que, quando Jesus nào eslava apareccndo
regularm ente para mim, eu achava meus dias mais d ilia is,
e freqüentemente passei por sofrimentos em minila vida pes
soal. Tive que enfrentar m uitas tentagòes, as quais cu so era
capaz de evitar pela oragào constante. Eu sentia que o inimi
go estava sempre tentando me atacar, que o dem ònio odiava
o fato de que as mensagens do Senhor estavam chegando às
pessoas e que dezenas de milhares de cora^òes no Congo es­
tavam ficando repletos do am or de Deus.
O demònio veio até mim de m uitas formas. Com o eu jà
disse anteriorm ente, as mortes de m inha màe e irmàos, espe­
cialmente por terem ocorrido de urna vez só, me atingiram
m uito profundam ente. Tenho certeza de que o dem ònio tirou
alguma vantagem daquela tristeza.
Aconteceram outras coisas ruins que me puseram sob
prova. N a noite de Sexta-Feira Santa, no ano passado, eu
estava dorm indo em um quarto da casa de visitas de urna
paróquia quando um vento violento e urna tem pestade ir-
rom peram no céu de urna noite até entào calma. Alguém na
paróquia me acordou e me levou ao prèdio centrai para nos

197
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

protegerm os. A tempestade durou apenas alguns minutos e


nao danificou absolutam ente nada na casa de visitas, com ex-
ceçâo do meu quarto, que ficou com pletamente destruido. O
teto se desprendeu das paredes e caiu bem em cima da m inha
cama. Em seguida, as paredes, que tinham perdido o suporte
do teto, tam bém caíram sobre a cama. Os trabalhadores leva-
ram horas cavoucando entre os entulhos para recuperar meus
pertences. Se aquela pessoa nao tivesse batido em m inha por­
ta bem naquela hora, eu certamente teria m orrido.
O utra vez eu estava em outra casa de visitas de urna pa-
róquia diferente e acendi urna pequeña vela devocional antes
de me deitar para dormir. Eu coloquei a vela em cima de urna
cóm oda de metal, sobre a quai nâo tinha mais nada além da
vela. Antes de dormir, eu rezei, agradecendo a Jesús por me
deixar servi-lo e me proteger. Eu peguei no sono e logo sonhei
que alguém tinha entrado no quarto e tocava em meu om bro.
Essa pessoa estava dizendo: “Segatashya, Segatashya, acorde!
Apague o fogo antes que a casa inteira incendeie” .
Eu abri meus olhos para ver quem estava falando comigo.
N âo havia ninguém lá, mas o quarto inteiro estava cheio de
fumaça. A cóm oda de metal tinha sido engolida pelas cha­
mas. Eu fui ao banheiro e peguei água e algumas toalhas mo-
lhadas e conseguí apagar o fogo. M inhas máos queimaram
m uito seriamente, mas eu pedi a Deus que me livrasse da dor
e as queim aduras foram curadas em urna semana.
E houve outra ocasiâo quando algo m uito perturbador
ocorreu. Eu tinha acabado de term inar urna pregaçâo em
urna paróquia no sul do Zaire e estava esperando um ónibus
para em barcar em direçâo a outra provincia, na quai eu es­
tava agendado para falar. Enquanto eu esperava, um jovem
padre cham ado François estacionou em frente ao ponto de
ónibus. Ele tinha me ouvido falar e sabia que eu estava indo
para a mesma cidade que ele. “E urna viagem de duas h o ras”,
disse o Padre François. “Faça-me com panhia e conte-me tudo
sobre Kibeho.”
Como estava tarde e muito escuro, fiquei contente com a
carona. Já tinha se passado urna hora de viagem e nós estáva-
mos tendo urna agradável conversa sobre as parábolas de Je­
sús quando urna mulher repentinam ente correu para a nossa
frente no meio da estrada e acenou para nós. Ela estava toda
desgrenhada e aflita, e implorou que lhe déssemos urna carona
até a próxim a cidade. Ela sentou no banco de trás e começou
a chorar táo intensamente que nao conseguía nem falar. Em
um certo momento, ela começou a arrancar os próprios cábe­
los. Depois que pegamos a estrada principal, ela se acalmou
um pouco e começou a nos contar o que tinha acontecido.

198
MISSÂO NO CONGO

Eia disse que estava em sua casa com sua filha quando
soldados irrom peram pela porta e tentaram estuprar a meni­
na. “Eles a agarraram e estavam arrancando as roupas delà,
mas eia nâo deixava que tocassem nela. Ella bateu no rosto de
um deles e o homem tirou urna faca enorme e a esfaqueou no
estómago. Em seguida os outros soldados tam bém pegaram
suas facas e deram várias e varias facadas nela. Eles a mata-
ram! Aqueles demonios m ataram minha única filha! Eia era
tudo que eu tinha no m undo!”
O Padre François e eu nos olhamos pensando no que fa-
zer e com o consolar aquela pobre mulher. Nesse m om ento,
eia gritou: “Eu nâo quero mais viver!” A porta de trás do
carro se abriu repentinam ente e em seguida ouvimos um b a­
que terrível. O carro derrapou na estrada até que o Padre
François o conseguisse controlar e parar no acostam ento. A
m ulher nâo estava mais no banco de trás. N ós a encontram os
a mais ou menos 30 metros de distancia. Eia estava m orta.
O Padre François e eu estávamos trem endo. N ós nâo con­
seguíamos acreditar no que tinha acabado de acontecer. N ós
oram os sobre o seu corpo a pedimos a Deus que tivesse mise­
ricordia de sua alma.
Encontram os outro padre dirigindo pelas redondezas e
pedimos para ele cham ar a policía. Q uando os policiais che-
garam , eles prenderam o Padre François e o colocaram na
cadeia. Com o ele era o m otorista, eles pensaram que ele po-
deria ter atropelado a mulher. Era como estar no inferno - en
pensava que ia enlouquecer. Eu simplesmente estava cercado
pelo horror.
A única coisa que me impediu de enlouquecer foi a prote
çâo de Deus. Eu acho que Jesús quería me m ostrar o que ele
quería dizer quando falava que o m undo estava em péssimas
condiçôes. Eu nâo tinha percebido quanta violencia, òdio e
perversidade havia no mundo até sair de casa. M eu lar era
um lugar pacífico, onde as pessoas cuidavam umas das o u ­
tras. O Zaire abriu meus olhos para o tipo de destino que
o mundo pode ter quando nâo é tocado pelo am or de Deus.
O padre que tinha ido à polícia a nosso pedido levou-me
para sua paróquia e nós oramos por toda a noite. Eu rezei o R o­
sàrio por horas e pedi a M aria que me livrasse da dor em meu
coraçâo e da confusáo em minha mente. Eu pedi a Jesus que
cuidasse do Padre François e o protegesse dos demonios que
estavam me atacando. E eu pedi novamente a Deus que tivesse
misericòrdia da alma da mulher que saltou de nosso carro.
N a m anhà seguirne, meu coraçâo se sentia mais leve e
aliviado. Dois dias depois eu fui à delegacia de polícia para

199
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

testem unhar a favor do Padre François. Ele foi inocentado de


qualquer acusaçâo e solto.
N ao m uito tempo depois daquele incidente, Jesús apare-
ceu para mim e disse que estava vendo todas as provaçôes,
tentaçôes e tribulaçôes que eu tive que agüentar. Ele também
me agradeceu por eu ter permanecido sempre fiel e obediente
a ele. Além disso, ele disse que era hora de eu ir para casa,
que m inha missào no Zaire estava term inada e que logo eu
poderia com eçar minha missào em Ruanda. Eu agradecí a
Jésus por ter vindo até mim e consolar meu coraçâo. Depois
arrum ei minhas coisas e vim direto para casa.
PERGUNTA: Segatashya, nós nâo sabemos com o agra-
decê-lo por esse relato. Você é um rapaz de grande fé, que
verdadeiram ente ama a Deus. Nós podem os ver que você
está tocando os coraçôes de m uitas pessoas em suas missôes.
Vamos passar adiante nossas conclusôes e estamos ansiosos
para ouvir sobre sua próxim a missào aqui em Ruanda.

200
EPÍLOGO
FACE A FACE C O M SEGATASHYA

Urna das m elhores coisas de ter sido aceita pela Un


versidade N acional de R uanda era que o cam pus fica\
a apenas urna hora de viagem de Kibeho. Isso signifie;
va que finalm ente eu poderia - dez anos depois de ti
im plorado pela prim eira vez a m eu pai que me levas;
junto com ele em suas peregrinaçôes - fazer urna p e r
grinaçâo p ara o lugar com o quai eu sonhava desde qt
era criança. E dessa vez eu nâo precisava da permissa
de ninguém . Eu poderia ir sem pre que m eu espirito n
movesse - e ele me m ovia bastante.
N ós tínham os um grupo de oraçâo no cam pus qi
fretava um ônibus para levar os estudantes até Kibeh
várias vezes ao mês, e você pode ter certeza de que eu
ju nto com eles em todas as viagens. Era urna experiénc
incrível poder cam inhar sobre o chao daquele lugar s
grado e testem unhar em prim eira m ao os eventos mil,
grosos sobre os quais eu ouvia falar desde criança.
A inda havia vários visionários recebendo apariçôi
naquela época, as m ultidóes de adoradores ainda se agri
pavam defronte ao palco esperando por um m ilagre e
ar ainda vibrava repleto de energía espiritual, tu d o e
grande clima de expectativa.
N a época em que me m udei p ara o cam pus, no outi
no de 1992, as apariçôes públicas de Segatashya tinha
acabado há m ais de nove anos. E as missôes de pregaçî
para as quais Jesús o tinha enviado, em Burundi, Z aire
po r toda R uanda, term inaram sem que eu nunca pudes
ter tido a chance de conhecê-lo pessoalm ente ou vê-lo r
m eio de urna apariçâo. M ais frustrante ainda era o fa
de que, durante sua m issào em m eu país, no final da d
cada de 1980, ele visitou m inha cidade natal, M atab a,
eu nao estava lá! Q uase to d o m undo que eu conhecia
ouviu falar e apertou sua m ao, m as eu tinha acabado i
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

en trar p ara o in tern ato no norte de R uanda e nao tinha


jeito de voltar p ara casa.
Bem , eu ainda tenho m inbas gravagóes em fita das
aparigoes que Segatashya viu em K ibebo, pensei. Eu vou
ter que m e contentar em ouvi-las. Eu tinha me resignado
ao fato de que nunca encontraría Segatashya pessoalm en-
te... M as eu me resignei cedo demais.
N osso encontro foi acontecer no fim de o u tu b ro , em
m eu prim eiro ano na faculdade. Eu estava em m eu q u arto
estudando para urna prova de Q uím ica quando m inha
am iga M arie entrou toda afobada e com um enorm e sor-
riso no rosto.
“ Se eu pudesse apresentar vocé a qualquer pessoa do
m undo, nao im porta q u an to rica ou fam osa fosse tal pes­
soa, quem vocé gostaria que fosse?”
M arie tinha fam a de ser urna n o toria brincalhona, e eu
estava certa de que ela estava prestes a pregar um a pega
em m im que me faria ficar com cara de boba. “ Por que
vocé está perguntando isso? Vocé encontrou algum a es-
trela do cinem a am ericano no cam pus que vai ficar para o
almogo? Eddie M urphy ou Sylvester Stallone?” , brinquei,
a p o n tan d o os dois únicos atores fam osos de H ollyw ood
que eu conhecia.
“N ao! Estou falando sério! E isto é m elhor do que
qualquer estrela velha do cinem a... Pense! N a o há nin-
guém em todo o m undo que vocé gostaria de conhecer,
m as que vocé achava que nunca conheceria?”
Eu balancei m inha cabera. Eu nao tinha a m enor idéia
do que m inha am iga estava falando... Até eu perceber que
ela estava com um rosário em sua m áo direita. Em bora
ela gostasse de fazer brincadeiras com igo, M arie am ava
a Virgem M aria e Jesús ta n to q u an to eu. Além disso, ela
sabia o qu an to eu era fascinada p o r Kibeho e seus visio-
nários.
“Vocé está brincando, M arie?”
“N a o estou brincando, Im m aculée!”

20 2
FACE A FACE COM SAGATASHYA

“Vocé está dizendo que pode me apresentar á pessoa


que eu m ais gostaria de conhecer?”
“ É isso m esm o!”
“Vocé nao está falando de Segatashya, está?” , pergun-
tei, largando m eu caderno no chao e me levantando em
um salto.
“ Sim, estou! Ele está aqui no cam pus!” , gritou ela.
“ N ao está!” , gritei de volta.
“ Está sim !” , respondeu M arie.
“N a o !”
“ Sim!”
“Vocé precisa me co n ta r tu d o agora m esm o: onde
vocé o viu, o que ele está fazendo aqui, com o ele se p are­
ce, e se ele lhe disse algum a coisa. D iga-m e/ ”
M arie, entáo, contou-m e que sua m áe, que era táo fa­
nática po r Kibeho q u an to eu, ouviu de urna am iga de seu
g rupo de oragáo em Kigali, que po r sua vez soube por
urna freirá de Butare, que Segatashya tinha conseguido
em prego na capela da universidade para ajudar o padre
da escola com suas tarefas e fazer trabalhos m anuais ñas
imediagóes da reitoria. Ele tam bém estava trabalhandd
algum as horas por sem ana na biblioteca da escola.
“Ah, provavelm ente é só um b o a to ” , disse eu, engolin
do em seco.
“N áo , Im m aculée” , insistiu m inha am iga. “Vocé co-
nhece m inha m áe. Em se tra ta n d o de noticias relaciona
das a K ibeho, ela tem as m elhores conexoes!”
“Vam os ver” , disse eu, saindo apressada pela porta <
correndo o m ais rápido possível p a ra a capela. Eu estaví
ofegante qu an d o cheguei ao escritorio do padre e me sen
tei nos degraus para descansar um pouco e recuperar (
fólego. N á o conseguía acreditar no q u an to eu estava em
polgada... E nervosa! E n trar no escritório do padre pode
ria me deixar face a face com alguém que contem plou ;
face de Cristo.

203
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Desde as m inhas m ais rem otas m em orias da infancia


eu tenho ponderado acerca da natureza de Deus. Já em
m eus q u atro ou cinco anos eu passava horas e horas pen­
sando em com o seria a aparéncia de D eus, se Ele estava
sorrindo ou triste em um determ inado dia, se Ele nunca
dorm ia - e, se ele dorm ia, qual seria o tam an h o de sua
cama? Á m edida que eu crescia, m inhas dúvidas obvia­
m ente se to rn a ram m ais com plexas - m as pensam entos
sobre a criagáo, a eternidade, a salvagáo e a natureza do
bem e do m al sem pre tiveram grande im portancia na me-
lhor parte de m inha m ente.
Agora eu poderia estar prestes a conhecer alguém que
conversou com Jesús regularm ente e a quem , talvez mais
do que p ara qualquer o u tra pessoa, os m istérios do uni­
verso podem ter sido revelados. Talvez Segatashya me pu-
desse falar sobre os segredos que o Senhor com partilhou
com ele sobre o Paraíso e que ele jam ais contou a qual­
quer pessoa. Tudo era possível!
M as nao era apenas a possibilidade de ouvir algum a
coisa sobre o Paraíso que estava me fazendo trem er em
frente ao escritorio do padre. Segatashya foi um dos meus
m aiores heróis na infancia. Eu o am ava porque ele era
um azaráo, um estranho e diferente g aroto pagáo sem
qualquer estudo, arran cad o de urna plantagáo de feijáo
p o r Jesús, que em seguida o transform ou em um p o d ero ­
so guerreiro de Deus. Esse adolescente aprendeu a lutar
p or justiga e retidáo, e a b atalh ar contra Satanás, com o
próprio Jesús!
Segatashya dedicou sua juventude a espalhar a palavra
de Deus p ara ajudar a levar alm as p ara o Céu. Ele fez a
o bra do Senhor em países perigosos, debateu com padres
e diplom atas, e aconselhou bispos e presidentes. Tudo
isso sem jam ais ter aprendido a 1er. Ele era corajoso, h o ­
nesto, hum ilde, bonito e gentil. Ele ansiava em ser bom ,
odiava fazer o m al e am ava a Deus sobre to d as as coisas.
C om o eu nao poderia adm irá-lo na m inha infáncia? E eu
fui adm irando-o m ais e m ais a cada ano que passava...

204
FACE A FACE COM SAGATASHYA

Q u an to m ais m adura e estudada eu me to rnava, m ais eu


podia apreciar plenam ente a grandeza dos seus feitos.
M ais do que qualquer o u tra coisa no m undo, eu queria
conhecer Segatashya para que eie me contasse com o era
falar com Jesus.
Eu cam inhei p ara dentro do escritorio do padre e per-
guntei à secretària se poderia falar com Segatashya.
“ Cinco m inutos atrás voce poderia ter fala d o ” , disse
eia.
M eu cora^ào acelerava e dim inuía o pulso sim ultanea­
m ente. Eu sim plesm ente tinha perdido a chance de co­
nhecer meu herói... M as, grabas a Deus, era verdade que
Segatashya estava tra b a lh a n d o no cam pus!
“ Ele estará aqui a m a n h à ? ” , perguntei, cheia de espe­
ranza.
“ É difícil dizer” , respondeu eia. “Eie trab alh a aqui só
ocasionalm ente. Ele faz trabalhos p ara a Igreja em outras
paróquias tam bém , e às vezes dà urna m àozinha na bi­
blioteca da escola. M as voce pode deixar um recado para
eie, se quiser.”
“ Sim, ob rig ad o !” , respondi-lhe, sorrindo, enquanto
pegava a cañeta e o papel que eia tinha me d ad o e come-
gava cuidadosam ente a escrever urna carta p ara o meu vi­
sionàrio favorito. Eu levei o tem po que achei necessàrio,
querendo que o conteúdo e a caligrafía ficassem perfeitos.
“N à o escreva n ad a m uito longo, q u e rid a ” , disse a se­
cretària. “ Ele pode tra b a lh a r na biblioteca, m as nào sabe
ler. Deixe seus contatos e eu entregarei a ele na próxim a
vez em que eie estiver p o r aqui.”
“ C erto, esqueci desse d etalh e” , respondi, e rap id am en ­
te fiz urna no ta dizendo a Segatashya que, se nào fosse
causar-lhe m uito incom odo, eu ad o raría encontrá-lo para
conversar p o r alguns m inutos. Eu disse que m eu q u arto
ficava próxim o dali, que eie poderia bater em m inha por­
ta em qualquer dia depois das 17h e que eu nào tom aria
m uito do seu tem po.

205
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Por algum a razao, eu nao esperava que Segatashya


fosse aparecer, provavelm ente porque eu nao quería criar
expectativas e depois me desapontar. M as, as 17:01h do
dia seguinte, coloquei m inha cabera para fora da porta
do m eu q u arto p ara dar urna olhada - e lá estava ele!
Ele estava no firn do corredor e cam inhava em diregao
ao meu qu arto . Se eu já achava que tinha ficado nervosa
no dia anterior, agora eu estava praticam ente hiperventi-
lando!
Em prim eiro lugar, ele nao era um g arotinho de form a
algum a! Eu tinha m antido a im agem do pobre e peque-
nino g aroto pastor em m inha m ente por to d a a década
anterior, m as naquela década aquele garotinho tinha se
tran sfo rm ad o em um hom em alto e adulto! Eu acho que
nunca tinha me sentido táo intim idada p o r alguém dessa
form a antes... Eu senti com o se o pròprio Jesus estivesse
cam inhando em m inha dire^áo.
M eu cora^ao estava disparado e eu fiquei tonta. Eu gos-
taria de conhecé-lo, mas ao mesmo tem po queria me escon­
der dele. Eu me perguntava se devia fechar a porta e me
trancar no arm àrio até que ele fosse em bora, mas era tarde
demais. O fam oso visionàrio estava parado bem em frente
de mim. E ele tinha o sorriso mais doce que eu já tinha visto.
“ O lá, Im m aculée, eu sou Segatashya” , disse ele, com
um a voz m uito m ais p rofunda e ressoante do que aquela
que eu me lem brava de ouvir pelas fitas quan d o era crian­
za; m as era táo doce quanto.
“ O -o i” , disse eu, gaguejando. N ós nos abracam os e
nos cum prim entam os com o tradicional abraco ruandes
(o que nào é exatam ente um abrado, m as m ais um ro^ar
de om bros).
Depois ficamos apenas olhando um p ara o outro.
Eu tinha ta n ta coisa p ara dizer, m as nao conseguia
reunir as palavras para expressar o que queria. Ele sorriu
para m im e tentou me deixar à vontade com suas m anei-
ras gentis e seus olhos carinhosos.

206
FACE A FACE COM SAGATASHYA

“ Com licenza” , disse urna voz atrás de mim. Eu tinha


esquecido que M arie estava no q u arto com igo. Eia ace-
nou para Segatashya e eu acho que eles disseram algum a
coisa entre si, m as realm ente náo lem bro, porque estava
preocupada em encontrar o que dizer. Pela prim eira vez
na vida, eu náo conseguía form ar urna sentenza.
Após vários m inutos de silencio constrangedor, Sega­
tashya disse: “ Bem, eu quería dizer oi para voce pessoal-
mente. Foi m uito bom conhecé-la, m as é m elhor eu ir an­
dando. Passe no escritorio para dar um oi qualquer hora...” .
Eu quería que ele ficasse um pouco m ais, m as o que eu
poderia fazer? Eu estava com pletam ente incapaz de falar!
Por sorte, há um costum e na cultura ruandesa no qual o
anfitriào deve acom panhar o seu convidado até urna par­
te do percurso do seu destino quan d o ele está indo em bo-
ra. D esta form a, eu autom aticam ente comecei a cam inhar
com Segatashya em dire^áo á extrem idade do cam pus.
Eu fiz urna pequeña oragáo à Santissim a Virgem pe-
dindo que soltasse m inha lingua. Finalm ente, após cam i­
n h ar em silencio durante a m aior parte do percurso, eu
sentia que estava prestes a com egar a falar. N aquela hora
nao havia tem po para sutilezas e resolvi ir direto ao pon­
to de tu d o que eu queria saber. Logo depois que comecei
a fazer-lhe algum as perguntas, nào consegui mais parar.
“Perdoe-m e” , disse eu. “Eu sei que as pessoas provavel-
m ente ficam sempre Ihe perguntando sobre as a p a r i j e s ,
e que isso deve ser um pouco chato, m as é por isso que eu
queria vé-lo. Eu quero saber... Bem, eu quero saber tu d o !”
Em seguida, eu lhe contei sobre o significado de Ki-
beho para m im , e de com o eu acom panhei as a p a r i j e s e
ouvi as m ensagens desde o m om ento em que com e^aram .
Sem esperar po r urna resposta, eu lhe fiz todas as pergun­
tas que vinha g u ardando p o r anos, p ara o caso de um dia
conhecer um visionàrio.
Eu lhe fiz perguntas sobre os m ais bobos detalhes das
roupas de Jesus e sobre com o ele penteava seu cábelo. Eu
queria saber com o era se sentir táo próxim o do Senhor

207
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

e qual era o tim bre de sua voz. Ele algum a vez riu ou
brincou? E fiz-lhe ainda algum as perguntas m ais pesadas,
relacionadas ao pecado á salva^áo, e sobre tu d o o mais
que sim plesm ente saía de m inha cabera.
Súbitam ente, percebi que estávam os bem próxim os
dos limites do cam pus e que Segatashya já tinha parad o
de andar. Por fim, tom ei fólego e me desculpei por nao ter
p arad o de falar. Ele perm anecía em silencio... “ Desculpe,
Segatashya, acho que fui um pouco rude perguntando-lhe
tantas coisas... Eu nao quero to m ar m ais o seu tem p o ” ,
disse, cabisbaixa.
“Ah, nao, nao! Sem problem as, Im m aculée” , respon-
deu ele, com um a risada calorosa. “ Eu entendo perfeita-
m ente po r que vocé tem tan tas perguntas e eu teria tantas
qu an to vocé. Eu am o falar sobre Jesús e suas m ensagens.
Eu estava apenas pensando sobre com o com e^ar...”
“Bem, vocé poderia me em prestar os seus olhos po r al-
guns m om entos, se isso fosse possível. D esta form a, eu p o ­
deria ver tudo que vocé viu” , brinquei. Ele riu novam ente
e depois com e^ou a responder algum as das questóes que
eu fui lhe atirando desde que tinha saído do m eu quarto.
“Vamos com e^ar falando sobre com o era sua aparén-
cia” , com e^ou Segatashya. “Jesús é um hom em alto, tem
1.80m m ais ou m enos, ou talvez seja até um pouco maior.
E ele é um hom em forte, com o se tivesse passado m uito
tem po de sua vida fazendo trabalhos físicos.”
“ Ele parece estar no fim dos seus 30 anos ou no com e­
to dos 40, e geralm ente veste um a túnica branca. As vezes
veste tam bém um a sotaina litúrgica sobre seus om bros,
que as vezes era da cor verm elha, as vezes da branca. A
sotaina cai sobre seus om bros, com o no estilo tradicional
de se vestir do hom em ruandés.”
“Jesús tem barba e um longo e negro cábelo que desee
até os om bros. Ele é um hom em m uito bonito e tem um a
face m ad u ra que geralm ente carrega um a expressáo séria.
Seus olhos sao m uito suaves, m as sem pre firmes e deter­
m inados. E difícil descrever o tom de sua pele, pois nao
208
FACE A FACE COM SAGATASHYA

há na Terra urna cor que lhe seja com parável. Parece-se


com o bronze, com o a pele de um hom em ruandés, mas
nao é negra. E urna pele lisa e vibrantem ente viva. Sua
pele fulgura com o se o sol brilhasse dentro do seu corpo.”
“ Q u an d o vocé olha para os olhos do Senhor, vocé
pode ver que ele é m uito m anso, m as as vezes m uito tris­
te. Q u an d o ele olha p ara vocé, vocé sabe com absoluta
certeza que ele lhe am a e lhe protege. E, m esm o que ele
p a re ja jovem , vocé nao tem a m enor dúvida de que ele é
o Rei dos Reis.”
“Im m aculée, vocé pode sentir to d a a m ajestade de Je­
sús irrad ian d o dele... E, se nao fosse pela gra^a do Senhor
em te m anter de pé, vocé cairia em sua p resen ta, sabendo
que nao é m erecedora de ficar em pé diante dele. N a ver-
dade, urna vez ele me disse que, se aparecesse p ara mim
em sua plena gloria divina, eu nao conseguiría su p o rtar o
esplendor de seu poder e beleza.”
“ E m bora eu o tenha visto várias vezes, ainda é m uito
difícil, para m im , dizer com o era estar em sua presenta,
Tudo que me lem bro m ais claram ente é do am or, da luz
e da m ajestade do Senhor tornando-m e vulnerável, frágil
e me fazendo desabar pelo chao quando ele estava perto
Ele inspira grandeza, trem endo respeito e o desejo de fa^
zer toda e qualquer coisa po r ele. Ele é verdaderam ente
o cam inho, a verdade e a luz... Ele é am or e vida no maií
puro sentido.”
E nquanto ouvia Segatashya falar sobre seus encon
tros com Jesús, eu com e^ava a perceber que o poder di
suas palavras poderia me m anter acordada durante tod;
a noite. C ontinuei perguntando ao meu m ais novo amig<
sobre a form a com o ele sentía o am or de Deus. Era comí
o am or de um pai ou de um irm áo?
N aquele m om ento de nossa conversa, porém , pud
ver que Segatashya estava sentindo verdadeira pena d
m im , que ele desejava poder dar-m e a bén^áo de ver -
que ele viu qu an d o estava na p resen ta de Jesús. “ O qu
vocé precisa saber é isto: Jesús conhece todos nós no mai
209
O MENINO QUE CONHECEU JESUS

profundo de nossos cora^óes e alm as; ele conhece todos


os nossos sonhos e p r e o c u p a r e s , todas as nossas espe­
ranzas e m edos, toda nossa bondade e toda nossa fraque-
z a ” , explicou ele. “ Ele pode ver nossos pecados e faltas,
e quer de nós apenas que purifiquem os nossos coragóes
e alm as, p a ra que possam os am á-lo sem m edida, com o
ele nos am a. Q uan d o ele nos m anda algum sofrim ento,
ele o faz apenas para fortalecer nossos espíritos p ara que
sejam os fortes o suficiente p ara lutar contra Satanás, que
quer nos destruir. Feito isso, um dia poderem os gozar da
gloria de sua presen ta p o r toda a eternidade.”
“ Deixe-m e dizer de o u tra form a, Im m aculée: quando
eu estava com ele, eu nunca queria ir em bora. Se ele me
pedisse para ir em bora para ficar com ele, eu deixaria este
m undo na hora, sem a m enor h e sita rlo . E star perto de
Jesús é estar perto do amor. E nenhum a palavra precisa
ser dita. Em sua presenta, nossa alm a fica em paz e com ­
pletam ente feliz.”
“ Saiba que o am or dele é real e eterno, e nós podere­
m os possuí-lo se o am arm os e fizerm os sua vontade aqui
na Terra. Convide-o para e n trar em seu cora^áo e todas
as essas grabas seráo suas. Ele nao irá lhe recusar nada.
Se vocé pudesse ter urna única certeza em sua vida, vocé
pode estar certa de que seria esta: Jesús a am a.”
Eu tinha tantas perguntas a fazer para Segatashya so­
bre as apari^óes, as m ensagens e sua convivencia com o
Senhor, m as já estava tarde, o sol estava se pondo e tínha-
m os que ir em bora. C am inhei de volta para o meu quar-
to e ele se foi em diregáo ao po r do sol. D ezoito meses
depois deste dia, R uanda estava em ruinas. M ais de um
m ilháo de pessoas tinham sido assassinadas, e quase todo
m undo que eu tinha am ado em m inha vida tinha m orri-
do, inclusive Segatashya.
D urante urna aparigáo, 12 anos antes do genocidio,
Jesús tinha m ostrado a Segatashya im agens de lares ar-
dendo em cham as e pessoas sendo co rtadas em pedamos
p o r assassinos arm ados com facóes. O Senhor disse a ele

210
FACE A FACE COM SAGATASHYA

que isso era o que estava prestes a acontecer se as pesso-


as continuassem a viver em pecado e odiando urnas ás
outras. Segatashya sabia que o genocidio estava se a p ro ­
xim ando. Ele nos avisou sobre isso, e disse tam bém que
poderíam os evitá-lo am ando e servindo a Deus, m as al-
guns de nós nao lhe demos ouvidos.
Q uan d o soube que Segatashya tinha sido assassina-
do por um esquadráo da m orte, eu chorei po r ele e pelo
m undo, que acabava de perder um grande m ensageiro de
Deus. Ele era a voz da verdade em um m undo que vivia
quase sem pre envolvido em m entiras e enganos. Ele era
a luz que nos trouxe as m ensagens de Deus em plena es-
curidáo. Se nós as ouvirm os com o coragáo aberto, elas
podem nos tira r da escuridáo e nos levar p ara os bracos
repletos de am or de Deus.
As m ensagens que Segatashya dedicou toda sua vida
a com partilhar podem tran sfo rm ar nossos c o r a j e s e sal­
var nossas alm as. E, se forem ouvidas e p raticadas por
um bom núm ero de pessoas, podem tira r nosso m undo
da beira da d e s tru id o . M inha grande esperanza, ao es-
crever este livro, é que voces todos ouviráo as m ensagens
que Jesús nos m andou através dele.
Em m eu cora^áo, eu sem pre am arei e me lem brarei
de Segatashya com o “o m enino que conheceu Jesús” . E,
agora que vocé conhece um pouco sobre ele, eu espero
que vocé possa am á-lo tam bém .

211
FICHA CATALOGRÀFICA

Ilibagiza, Immaculée
O menino que conheceu Jesús: Sagatashya de Kibeho
/ Immaculée Ilibagiza e Steve Erwin; traduçâo de
Rafael Guedes - Cam piñas, SP : Ecclesiae, 2013.

T ítulo original: The Boy w ho m eet Jesús: Sagatashya


o f Kibeho

ISBN:
1. Cristianism o 2. Catolicism o 3. Experiéncias
religiosas.
I. Immaculée Ilibagiza II. Steve Erwin III. Título
C D D - 2 4 8 .2
índices para Catálogo Sistemático
1 .Experiéncias religiosas (misticismo, conversao) - 248.2
2. Catolicismo - 282

V____________________________________________

Este livro foi impresso em julho de 2013 pela


Ecclesiae Editora. Os tipos usados sao da familia
Sabon. O miolo foi feito com papel Chambrill
Avena 80g, e a capa com cartáo supremo 250g.
St e v e E r w in
é escritor e jornalista premiado r
cido em Toronto e trabalha em mi
de comunicagao impressos e eletri
cos. Desde que se mudou para os
tados Unidos, em 2000, ele traball
vários anos em Nova York como <
respóndeme da Canadian Broadc
ing Corporation (empresa public;
rádio e televisáo do Canadá) e c<
redator de noticias e articulista
revista People. Junto com Imn
ulée Ilibagiza, ele co-escreveu os
ros de memorias Left to Tell e
by Faith, sucessos de vendas do A
York Times, bem como Our Lad
Kibeho. Também é co-autor de
Gift of Fire, com Dan Caro. Ele rr
em M anhattan com sua esposa, a
nalista e escritora Natasha Stoym
Esta é a mais surpreendente historia jamais con­
tada: a de um m enino que conheceu Jesús e ousou
fazer-lhe perguntas que tém consum ido a hum ani-
dade por mais de 2 mil anos.
Seu nome era Segatashya, um pastor de cabras
nascido no seio de urna familia paga, iletrada e
paupérrim a, na mais rem ota regiáo de R uanda. Ele
nunca foi á escola, nunca viu urna Biblia e nunca
pos os pés em urna igreja. Entáo, em um belo dia
do veráo de 1982, enquanto ele descansava á som ­
bra de urna árvore, Jesús Cristo fez-lhe uma visita.
Jesús perguntou áquele adolescente assustado se ele
aceitaria a missáo de lem brar á hum anidade com o
ela poderia ir para o Céu.
Segatashya aceitou a tarefa com a condi^áo de
que Jesús respondesse a todas as suas perguntas -
sobre fé, religiáo, o propósito da vida, céu e inferno.
Jesús concordou e o garoto partiu para um a das
mais extraordinarias jornadas da historia m oderna.

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ECCLESIAE

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