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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

CLÍNICA DE ANIMAIS SILVESTRES E DE ZOOLÓGICO

Prof. Rogério Ribas Lange, MV, MSc

2004
INTRODUÇÃO À MEDICINA DE ANIMAIS SILVESTRES

O Médico Veterinário de animais silvestres:

Perfil: pesquisa, constantes novidades e desafios, inter-relacionamento com outras


especialidades, forte associação com a zoologia e a biologia, visão
conservacionista, capacidade de extrapolação e adaptação. Atuação e envolvimento
em campos diversos como zootecnia, nutrição, manejo, contenção, anestesiologia,
clínica, cirurgia, patologia, parasitologia, odontologia, planejamento, educação.

Estreito envolvimento com as três grandes áreas de atuação do Médico


Veterinário:

• SAÚDE PÚBLICA
• SAÚDE ANIMAL
• PRODUÇÃO ANIMAL

Áreas de atuação do Médico Veterinário de animais silvestres ou selvagens:

Cativeiro: Vida livre:


# Exposição (zoológicos); # Unidades de conservação;
# Produção (criadouros científicos; # Pesquisa;
comerciais e conservacionistas); # Reabilitação.
# Animais de estimação (clínica);
# Circos.

Capacitação:
• Disciplinas de graduação;
• Cursos de aperfeiçoamento;
• Estágio;
• Residência;
• Autodidatismo.

Conceitos:
Nomenclatura científica Espécie sinantrópica
Conservação Espécie especialista
Preservação Espécie generalista
Distribuição geográfica Espécie cosmopolita
Expansão de distribuição Espécie endêmica
Nativo, indígena, natural Procedência
Exótico, alienígena, estrangeiro Origem
Introduzido Plano de manejo
Relocação, repatriação, translocação CITES
Espécie rara (naturalmente rara) IATA
Espécie ameaçada de extinção

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ANIMAIS DOMESTICOS

Há mais de 10 mil anos os habitantes do sudeste asiático iniciaram a


domesticação de animais e o plantio de vegetais. Isto proporcionou uma maior
disponibilidade de alimento e o conseqüente crescimento da civilização humana.
Os primeiros animais domesticados foram os cães e depois os bois, as
ovelhas e as cabras. Mais tarde o asno, o cavalo e os camelídeos. A seleção
zootécnica promoveu a redução da ferocidade e o aumento da produtividade.
A atual relação de espécies domésticas está intimamente ligada à história da
civilização humana e a sua cronologia. O homem, quando ocupava novos territórios,
sempre levava consigo os animais domesticados, isto tornou as espécies
domésticas cosmopolitas, muitas vezes perdendo-se no tempo a sua origem precisa.
Com certeza, muitas espécies silvestres têm grande potencial zootécnico.
Porém, o aprimoramento genético já alcançado nas espécies domésticas, e os
avanços zootécnicos continuados tornam bastante difícil a competição entre
espécies silvestres e as domésticas. A inclusão de novas espécies na relação de
domésticas representa um grande desafio. Isto se justifica em função da existência
de uma grande defasagem de tempo investido em pesquisa, decorrente
principalmente da cronologia histórica e da ocupação dos continentes pela
civilização humana.

Conceitos
A domesticação é diferente do amansamento, porém aí tem seu início. A
domesticação se refere à espécie e o amansamento ao indivíduo.
REQUERIMENTOS E MECANISMOS PARA A CONVERSÃO DE UMA ESPÉCIE SELVAGEM EM
DOMÉSTICA:
1. Alteração do ambiente natural para artificial.
2. Seleção zootécnica de características econômicas (produtivas), estéticas
ou esportivas em função do interesse humano.

Estimular: Sociabilidade
Adaptabilidade
Conversão alimentar
Produtividade
Fertilidade
Precocidade
Resistência a doenças

Reduzir: Territorialidade
Dominância
Mecanismos reprodutivos intrincados

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RELAÇÃO DAS ESPÉCIES ANIMAIS CONSIDERADAS DOMÉSTICAS

AVES (14)
Nome comum Nome científico Origem Ordem Família
Marreco Anas platyrhyncos Eurásia e África Anseriformes Anatidae
Ganso Anser anser Ásia Anseriformes Anatidae
Ganso-do-canadá Branta canadensis Canadá Anseriformes Anatidae
Pato Cairina moschata América do Sul Anseriformes Anatidae
Cisne-branco Cygnus olor Eurásia Anseriformes Anatidae
Pombo Columba livia Eurásia Columbiformes Columbidae
Codorna Coturnix coturnix Ásia Galliformes Phasianidae
Galinha Gallus gallus Ásia Galliformes Phasianidae
Peru Meleagris gallopavo América do Galliformes Phasianidae
Norte
Galinha-de-angola Numida meleagris África Galliformes Phasianidae
Pavão Pavo cristatus Índia Galliformes Phasianidae
Faisão-de-coleira Phasianus colchicus Eurásia Galliformes Phasianidae
Canário-belga Serinus canarius Ilhas Canárias Passeriformes Fringelidae
Periquito- Melopsittacus Oceania Psittaciformes Psittacidae
australiano undulatus

MAMÍFEROS (28)
Nome comum Nome científico Origem Ordem Família
Gayal Bos gaurus Ásia Artiodactyla Bovidae
Yak Bos grunniensis Ásia Artiodactyla Bovidae
Banteng Bos javanicus Ásia Artiodactyla Bovidae
Kouprey Bos sauveli Ásia Artiodactyla Bovidae
Boi Bos taurus Eurásia e África Artiodactyla Bovidae
Búfalo Bubalus bubalis Ásia Artiodactyla Bovidae
Cabra Capra hircus Ásia Artiodactyla Bovidae
Ovelha Ovis aries Ásia Artiodactyla Bovidae
Dromedário Camelus Ásia Artiodactyla Camelidae
dromedarius
Camelo Camelus bactrianus Arábia Artiodactyla Camelidae
Alpaca Lama pacos América do Sul Artiodactyla Camelidae
Lhama Lhama glama América do Sul Artiodactyla Camelidae
Rena Rengifer tarantus Eurásia Artiodactyla Cervidae
Porco Sus scrofa Eurásia Artiodactyla Suidae
Raposa Vulpes fulva América do Carnívora Canidae
Norte
Cão Canis familiaris Eurásia Carnívora Canidae
Gato Felis catus África (Egito) Carnívora Felidae
Ferret Mustela putorinus Europa Carnívora Mustelidae
Mink Mustela vison América do Carnívora Mustelidae
Norte

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Elefante asiático Elephas maximus Síria, Índia e Probocideat Elephantidae
China
Coelho Oryctolagus Europa Lagomorpha Leporidae
cuniculus
Asno Equus asinus África Perissodactyla Equidae
Cavalo Equus caballus Eurásia Perissodactyla Equidae
Porquinho-da- Cavia porcellus América do Sul Rodentia Caviidae
índia
Chinchila Chinchila laniger América do Sul Rodentia Chinchilidae
Hamster Mesocricetus Ásia Rodentia Muridae
auratus
Camundongo Mus musculus Eurásia Rodentia Muridae
Ratazana Rattus norvegicus Ásia (China) Rodentia Muridae

INSETOS (2)

Nome comum Nome científico Origem Ordem Família


Abelha Apis mellifera Europa Hymenoptera Apidae
Bicho-da-seda Bombix mori China Lepidoptera Bombicidae

PEIXES (1)

Nome comum Nome científico Origem Ordem Família


Carpa Cyprinus carpio Eurásia e África Cypriniforme Cyprinidae

Ungulados: nome genérico de qualquer mamífero cujas extremidades terminem em


cascos. Incluem o cavalo, o rinoceronte, a anta (com número ímpar de dedos), o
porco, o camelo, o cervo, o gado bovino, a ovelha (com número par de dedos), o
elefante e o daimão (hiracoide). Na maioria, são herbívoros e se espalharam por
todos os continentes, exceto a Austrália.
Classificação científica: os ungulados com dedos ímpares são os Perissodáctilos e
os que têm dedos pares, são os Artiodáctilos.
Artiodáctilo: qualquer membro da Ordem de mamíferos com cascos e um número
par de dedos em cada pé. Neste grupo se incluem o gado bovino, os porcos, as
cabras, as girafas, os camelos, os cervos, os antílopes e os hipopótamos. Compõe-
se de 09 famílias:
Suidae (porcos, javalis, potomoqueros, babirousa)
Tayassuidae (cateto, queixada e catagonus)
Hippopotamidae (hipopótamo e hipopótamo-anão)
Camelidae (camelo, dromedário, alpaca, lhama, guanaco e vicunha)
Tragulidae (chevrotan e veado-rato)
Cervidae (cervos, veados, alces e renas)

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Antilocapridae (pronghorn)
Bovidae (antílopes, bois, cabras, ovelhas, búfalos e bisões)
Classificação científica: Ordem Artiodactyla.
Perissodáctilo: termo que se aplica a qualquer membro dessas três famílias dos
mamíferos:
Equidae (cavalos, zebras, asnos)
Tapiridae (antas)
Rinocerontidae (rinocerontes).
Têm um número ímpar de dedos: um em cada pata nos cavalos e três nos
rinocerontes. Os membros da família da anta têm quatro dedos nas patas dianteiras
e três dedos nas traseiras.
Classificação científica: Ordem Perissodactyla
DIVERSIDADE

São aproximadamente 47.668 as espécies de animais vertebrados atuais que


habitam o Planeta Terra.

Nome comum Grupo taxonômico Número de espécies


PEIXES Myxinoidea + Petromyzontoidea 80
(24.587) (lampreia e peixe-bruxa)
Chondricthyes 800
(tubarões, raias e quimeras)
Actinopterygii 2.3700
(peixes de nadadeiras raiadas)
Acnistia + Dipnoi 7
(peixes de nadadeiras carnosas – celacanto)
ANFÍBIOS Caudata 400
(4.310) (salamandras)
Anura 3.750
(sapos, rãs e pererecas)
Gymnophiona 160
(cicília)
RÉPTEIS Testudinomorpha 250
(5.971) (tartarugas)
Lepidosaura 5.700
(cobras, lagartos e tuatara)
Crocodilia 21
(jacarés, crocodilos, gaviais e aligátor)
AVES Aves 8.750
(8.750)
MAMÍFEROS Mammalia 4.050
(4.050)

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LEGISLAÇÃO REFERENTE À FAUNA SILVESTRE

• DECRETO N. 24.645 DE 10 DE JULHO DE 1934 - Estabelece medidas de proteção


aos animais.

• LEI 5.197 DE 03 DE JANEIRO DE 1967 - Dispõe sobre a Proteção à Fauna e dá


outras Providências.

• LEI N.° 6638 DE 8 DE MAIO DE 1979 - Estabelece normas para a pratica didático
cientifica da vivissecção de animais.

• RESOLUÇÃO DO CONAMA N.° 017 DE 07 DE DEZEMBRO DE 1997 - Define a


destinação de animais silvestres apreendidos pelo IBAMA.

• LEI N.° 9.605 DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 - Lei de Crimes Ambientais -


Capitulo IX – Fauna.

• PORTARIA N.º 1.522 DE 19 DE DEZEMBRO DE 1989 – Estabelece Lista Oficial de


Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

• PORTARIA N.º 45-N, DE 27 DE ABRIL DE 1992 - Complementa a Lista Oficial de


Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

• PORTARIA N.º 062 DE 17 DE JUNHO DE 1997 - Complementa a Lista Oficial de


Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

• PORTARIA N.º 332 DE 13 DE MARÇO DE 1990 – Dispõe sobre a coleta de


material zoológico, destinado a fins científicos ou didáticos.

• INSTRUÇÃO NORMATIVA N°109/97, DE 12 DE SETEMBRO DE 1997 – Dispõe sobre


a coleta de material zoológico, destinado a fins científicos ou didáticos em
Unidades de Conservação Federal.

• PORTARIA NORMATIVA N°113/97 DE 35 DE SETEMBRO DE 1997 – Dispõe sobre o


registro do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras e usuárias de Recursos Ambientais.

• PORTARIA N.º 016 DE 04 DE MARÇO DE 1994 – Dispões sobre a manutenção e


ou criação em cativeiro da fauna silvestre brasileira com finalidade de
subsidiar pesquisas científicas em Universidades, Centros de Pesquisa e
Instituições Oficiais ou Oficializadas pelo Poder Público.

• PORTARIA Nº 108/94 DE 06 DE OUTUBRO DE 1994 - Normatiza o funcionamento


de mantenedores de felídeos do gênero Panthera; família Ursidae; primatas
das famílias Pongidae e Cercopithecidae; família Hippopotamidae e ordem
Proboscidae.

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• PORTARIA N.º 118-N DE 15 DE OUTUBRO DE 1997 - Normatiza o funcionamento
de criadouros de animais da fauna silvestre brasileira com fins econômicos e
industriais.

• PORTARIA Nº 102/98 DE 15 DE JULHO DE 1998 - Normatiza o funcionamento de


criadouros de animais da fauna silvestre exótica com fins econômicos e
industriais.

• PORTARIA N.º 142/92 DE 30 DE DEZEMBRO DE 1992 - Normatiza a criação em


cativeiro da tartaruga-da-amazônia Podocnemis expansa, e do tracajá
Podocnemis unifilis, em criadouros com finalidade comercial, nas áreas de
sua distribuição geográfica.

• PORTARIA N.º 2314 DE 26 DE NOVEMBRO DE 1990 - Institui os criadouros


destinados à reprodução de insetos da Ordem Lepidóptera da fauna silvestre
com finalidade econômica.

• PORTARIA 324/87-P DE 22 DE JULHO DE 1987 - Proíbe a implantação de


criadouros de jacaré-do-pantanal (Caiman crocodillus yacare) fora de sua
área de ocorrência (Bacia do Rio Paraguai).

• PORTARIA N.º 126 DE 13 DE FEVEREIRO DE 1990 – Dispõe sobre o registro de


criadouro com finalidade comercial, destinado a recria em cativeiro de
Caiman crocodylus yacare na Bacia do Rio Paraguai.

• PORTARIA Nº 139-N DE 29 DE DEZEMBRO DE 1993 – Dispõe sobre a implantação


de Criadouros Conservacionistas.

• PORTARIA Nº 138 DE 14 DE NOVEMBRO DE 1997 – Estabelece que Criadouros


Conservacionistas poderão receber visitas de caráter técnico, didático ou
programas de educação ambiental da rede pública ou privada de ensino
quando supervisionadas por monitores.

• PORTARIA N.º 117 DE 15 DE OUTUBRO DE 1997 - Normatiza a comercialização


de animais vivos, abatidos, partes e produtos da fauna silvestre brasileira
provenientes de criadouros com finalidade econômica e jardins zoológicos.

• PORTARIA N.º 119-N, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1992 - Normatiza a


comercialização de peles de crocodilianos brasileiros, das espécies Caiman
crocodilus yacare e Caiman crocodilus crocodilus, produzidas pelos
criadouros comercias.

• PORTARIA N.º 70 DE 23 DE AGOSTO DE 1996 - Normatiza a comercialização de


produtos e subprodutos das espécies de quelônios Podocnemis expansa,
tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, tracajá, provenientes de
criadouros comerciais.

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• LEI N° 7173 DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983 - Institui jardins zoológicos e
estabelece categorias.

• PORTARIA N° 283/P DE 18 DE MAIO DE 1989 - Normatiza jardins zoológicos e


define a documentação necessária.

• INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 04 DE 04 DE MARÇO DE 2002 – Estabelece


recomendações técnicas para recintos de jardins zoológicos (substitui a IN nº
1 de 1989).

• PORTARIA N.° 019 DE 17 DE JANEIRO DE 1990 – Proíbe a permuta de animais


entre Zoológicos, criadouros científicos e comerciais que não estejam
regularizados junto ao IBAMA.

• PORTARIA N.° 2114 DE 24 DE OUTUBRO DE 1990 - Proíbe a compra, doação ou


qualquer tipo de transação de animais nativos e exóticos entre circos e
Zoológicos de nacionalidade brasileira e estrangeira.

• PORTARIA 005/91-N DE 25 DE ABRIL DE 1991 - Obriga o acasalamento de


animais solteiros, pertencentes à lista Oficial de Espécies Ameaçadas de
Extinção da fauna nativa, mantidos em cativeiro.

• PORTARIA Nº 057 DE 11 DE JULHO DE 1996 – Estabelece as atividades dos


“Clubes Ornitófilos de PASSERIFORMES DA FAUNA SILVESTRE
BRASILEIRA”.

• PORTARIA N.º 99 DE 28 DE AGOSTO DE 1997 – Determina que os passeriformes


da fauna brasileira, com anilhas abertas, somente poderão participar de
torneios, exposições, bem como transitar fora do domicílio do mantenedor, até
31 de Dezembro de 1997. Ficam desta maneira, a partir do ano de 1998, os
torneios e exposições restritos a passeriformes portadores de anilhas
fechadas e invioláveis.

• PORTARIA Nº 93 DE 1998 - Normatiza a importação e exportação de Animais


da Fauna Silvestre.

• PORTARIA Nº 163 DE 08 DE DEZEMBRO DE 1998 - Autoriza a importação de


espécimes de furão - Mustela putorius furo, para importação com finalidade
comercial para a manutenção em cativeiro como animal de estimação.

• INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 01 DE 15 DE ABRIL DE 1999 - Estabelece critérios


para o Licenciamento Ambiental de empreendimentos e atividades que
envolvam manejo de fauna silvestre exótica e nativa em cativeiro

LEGISLAÇÃO REFERENTE À CAÇA AMADORISTA

• PORTARIA N.° 108-P DE 02 DE ABRIL DE 1982 - Dispõe sobre a permissão de

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caça amadorista.

• PORTARIA N.° 310-P DE 26 DE MAIO DE 1989 - Dispõe sobre a concessão de


clubes e sociedades amadoristas de caça e tiro ao vôo.

• PORTARIA N.° 047 DE 22 DE MAIO DE 1997 - Dispõe sobre a autorização de


caça amadorista no Rio Grande do Sul.

• PORTARIA N.° 70 DE 4 DE JULHO DE 1997 - Autoriza o controle Populacional da


caturrita (Myopsitta monachus) por abate direto ou captura.

• PORTARIA N.° 142-N DE 21 DE OUTUBRO DE 1998 - Autoriza o controle


Populacional de garibaldi (Agelaius ruficapillus) por abate direto ou captura.

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LISTA OFICIAL DE FAUNA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
Através da Portaria nº 1.522, de 19 de dezembro de 1.989 e da Portaria nº 45-N, de
27 de abril de 1.992, o IBAMA tornou pública a lista oficial de espécies da fauna
brasileira ameaçada de extinção. Espécies marcadas com asterisco (*) estão
provavelmente extintas

1.0. MAMMALIA - MAMÍFEROS


1.1. Primates - Macacos
• Alouatta belzebul belzebul (Linnaeus, 1766). Família Cebidae. Nome popular:
guariba.
• Alouatta fusca (E. Geoffroy, 1812). Família Cebidae. Nome popular: barbado,
guariba.
• Ateles belzebuth (E. Geoffroy, 1806). Família Cebidae. Nome popular:
macaco-aranha.
• Ateles paniscus (Linnaeus, 1758). Família Cebidae. Nome popular: macaco-
aranha.
• Brachyteles arachnoides (E. Geoffroy, 1806). Família Cebidae. Nome popular:
muriqui, mono-carvoeiro.
• Cacajao calvus (I. Geoffroy, 1847). Família Cebidae. Nome popular: uacari.
• Cacajao melanocephalus (Humbolt, 1812). Família Cebidae. Nome popular:
uacari-preto.
• Callicebus parsonatus (E. Geoffroy, 1812). Família Cebidae. Nome popular:
guigó, sauá.
• Callimico goeldii (Thomas, 1904). Família Callimiconidae. Nome popular:
calimico.
• Callithrix argentata leucippe (Thomas, 1922). Família Callitrichidae. Nome
popular: sagui.
• Callithrix aurita (Humbolt, 1812). Família Callitrichidae. Nome popular: sagui-
da-serra-escuro.
• Callithrix flaviceps (Thomas, 1903). Família Callitrichidae. Nome popular:
sagui-da-serra.
• Callithrix humeralifer (E. Geoffroy, 1812). Família Callitrichidae. Nome
popular: sagui.
• Cebus apella xanthosternos (Wied, 1820). Família Cebidae. Nome popular:
macaco-prego-do-peito-amarelo.
• Chiropotes albinasus (I. Geoffroy & Deville, 1848). Família Cebidae. Nome
popular: cuxiu-de-nariz-branco.
• Chiropotes satanas utahicki (Hershkovitz, 1.985). Família Cebidae. Nome
popular: cuxiu.
• Chiropotes satanas satanas (Hoffmansegg, 1807). Família Cebidae. Nome
popular: cuxiu.
• Lagothrix lagotricha (Humbolt, 1812). Família Cebidae. Nome popular:
barrigudo.
• Leontopithecus chrysomelas (Kuhl, 1820). Familia Callitrichidae. Nome
popular: mico-leão-de-cara-dourada.
• Leontopithecus chrysopygus (Mikan, 1923). Família Callitrichidae. Nome
popular: mico-leão-preto.

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• Leontopithecus rosalia (Linnaeus, 1766). Família Callitrichidae. Nome popular:
mico-leão-dourado.
• Leontopithecus caissara (Persson, 1990) Família Callitrichidae. Nome
popular: mico-leão-da-cara- preta.
• Pithecia albicans (Gray, 1860). Família Cebidae. Nome popular: parauacu-
branco
• Saguinus bicolor (Spix, 1823). Família Calliitrichidae. Nome popular: soim-de-
coleira.
• Saguinus imperator (Goeldi, 1907). Família Callitrichidae. Nome popular:
sagui-bigodeiro.
• Saimiri vanzolinii (Ayres, 1985). Família Cebidae. Nome popular: mico-de-
cheiro

1.2. Carnivora - Carnívoros


• Atelocynus microtis (Scalter, 1883). Família Canidae. Nome popular: cachorro-do-
mato-de-orelha-curta.
• Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815). Família Canidae. Nome popular: lobo-guará.
guará, lobo-vermelho,
• Felis colocolo (Molina, 1810). Família Felidae. Nome popular: gato-palheiro
• Felis concolor (Linaeus, 1771). Família Felidae. Nome popular: sussuarana, onça-
parda.
• Felis geoffroyi (d'Orbigny & Gervais, 1844). Família Felidae. Nome popular: gato-do-
mato.
• Felis pardalis (Linaeus, 1758). Família Felidae. Nome popular: jaguatirica.
• Felis tigrina (Scheber, 1775). Família Felidae. Nome popular: gato-do-mato.
• Felis wiedii (Schinz, 1821). Família Felidae. Nome popular: gato-do-mato, maracajá.
• Grammogale africana (Desmarest, 1818). Família Mustelidae. Nome popular:
doninha amazônica.
• Lutra longicaudis (Olfers, 1818). Família Mustelidae. Nome popular: lontra.
• Panthera onca (Linnaeus, 1758). Família Felidae. Nome popular: onça-pintada,
canguçu, onça-canguçu, jaguar-canguçu
• Pteronura brasiliensis (Gmelin, 1788). Família Mustelidae. Nome popular: ariranha.
• Speothos vinaticus (Lund, 1842). Família Canidae. Nome popular: cachorro-do-mato-
vinagre.

1.3. Xenarthra - Desdentados


• Bradypus torquatus (Desmarest, 1816). Família Bradypodidae. Nome popular:
preguiça-de-coleira.
• Mymercophaga tridactyla (Linnaeus, 1758). Família Mymercophagidae. Nome
popular: tamanduá-bandeira.
• Priodontes maximus (Kerr, 1792). Família Dasypodidae. Nome popular: tatu-
canastra, tatuaçu.
• Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758). Família Dasypodidae. Nome popular: tatu-
bola, tatuapara.

1.4. Sirenia - Peixes-boi

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• Trichechus inunguis (Natterer, 1883). Família Trichechidae. Nome popular: peixe-boi,
guarabá.
• Trichechus manatus (Linnaeus, 1758). Família Trichechidae. Nome popular: peixe-
boi-marinho, manati.

1.5 Cetacea - Baleias e Golfinhos


• Eubalena australis (Desmoulins, 1822). Família Baleanidae. Nome popular: baleia-
franca,
• baleia-franca-austral.
• Megaptera novaeangliae (Borowsky, 1781). Família Balaenopteridae. Nome popular:
jubarte.
• Pontoporia blainvillei (Gervais & d'Orbigny). Família Pontoporiidae. Nome popular:
toninha, boto-cachimbo.

1.6 Rodentia - Roedores


• Abrawayaomys ruschii (Cunha & Cruz, 1979). Família Cricetidae.
• Chaetomis subspinosus (Olfers, 1818). Família Erethizontidae. Nome popular: ouriço-
preto.
• *Juscelinomys candango (Moojen, 1965). Família Cricetidae.
• Kunsia tomentosus (Lichtenstein, 1830). Família Cricetidae.
• Phaenomys ferrugineus (Thomas, 1894). Família Cricetidae. Nome popular: rato-do-
mato-ferrugíneo.
• Rhagomys rufescens (Thomas, 1886). Família Cricetidae. Nome popular: rato-do-
mato-laranja.
• Wilfredomys oenax (Thomas, 1928). Família Cricetidae. Nome popular: rato-do-mato.

1.7 Artiodactyla - Veados


• Blastocerus dichotomus (Illiger, 1815). Família Cervidae. Nome popular: cervo-do-
pantanal.
• Odocoileus viginianus (Zimmermann, 1780). Família Cervidae. Nome popular:
cariacu.
• Ozotocerus bezoarticus (Linnaeus, 1758). Família Cervidae. Nome popular: veado-
campeiro.

2.0. AVES
2.1. Tinamiformes - Codornas
• Crypturellus noctivagus (Wied, 1820). Família Tinamidae. Nome popular: jaó-do-sul,
zabelê, juó.
• Nothura minor (Spix, 1825). Família Tinamidae. Nome popular: codorna-mineira,
codorna-buraqueira, buraqueira.
• Taoniscus nanus (Temmink, 1815). Família Tinamidae. Nome popular: codorna-
buraqueiira, perdigão, inhambu-carapé.
• Tinamus solitarius (Vieillot, 1819). Família Tinamidae. Nome popular: macuco,
macuca.

2.2. Ciconiiformes
• Eudocimus ruber (Linnaeus, 1758). Família Threskiornithidae. Nome popular: guará.

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• Tigrisoma fasciatum fasciatum (Such, 1825). Família Ardeidae. Nome popular: socó-
boi.

2.3 Phoenicopteriformes
• Phoenicopterus ruber (Linnaeus, 1758). Família Phoenicopteridae. Nome popular:
flamingo, ganso-do-norte, ganso-cor-de-rosa, maranhão.

2.4 Anseriformes
• Mergus octosetaceus (Vieillot, 1817). Família Anatidae. Nome popular: mergulhão,
patão, pato-mergulhão.

2.5 Falconiformes - Falcões e Águias


• Accipiter poliogaster (Temminck, 1824). Família Accipitridae. Nome popular: tauató-
pintado,gavião-pombo-grande.
• Falco deiroleucus (Temminck, 1825). Família Falconidae. Nome popular: falcão-de-
peito-vermenho.
• Harpia harpyja (Linnaeus, 1758). Família Accipitridae. Nome popular: gavião-real,
gavião-de-penacho, uiraçu-verdadeiro, cutucurim, harpia.
• Harpyhaliaetus coronatus (Vieillot, 1817). Família Accipitridae. Nome popular: águia-
cinzenta.
• Leucopternis lacernulata (Temminck, 1827). Família Accipitridae. Nome popular:
gavião-pomba.
• Leucopternis polionota (Kaup, 1847). Família Accipitridae. Nome popular: gavião-
pomba
• Morphnus guianensis (Daudin, 1800). Família Accipitridae. Nome popular: gavião-de-
penacho, uiraçu-falso.
• Spizastus melanoleucus (Vieillot, 1816). Família Accipitridae. Nome popular: gavião-
preto, gavião-pato.

2.6. Galliformes - Mutuns


• Crax blumembachii (Spix, 1825). Família Cracidae. Nome popular; mutum-do-
sudeste.
• Crax fasciolata pinima (Pelzeln, 1870). Família Cracidae. Nome popular: mutum-de-
penacho, mutum-pinima.
• Mitu mitu mitu (Linnaeus, 1766). Família Cracidae. Nome popular: mutum-cavalo,
mutum-etê, mutum-da-várzea, mutum-piry, mutum-do-nordeste.
• Penelope jacucaca (Spix, 1825). Família Cracidae. Nome popular: jacucaca.
• Penelope obscura bronzina (Hellmayr, 1914). Família Cracidae. Nome popular:
jacuguaçu, jacuaçu.
• Penelope ochrogaster (Pelzeln, 1870). Família Cracidae. Nome popular: jacu-de-
barriga-castanha.
• Pipile jacutinga (Spix, 1825). Família Cracidae. Nome popular: jacutinga.

2.7. Charadriiformes - Maçaricos


• Numenius borealis (Forster, 1772). Família Scolopacidae. Nome popular: maçarico-
esquimó.

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2.8 Columbiformes - Pombos
• Claravis godefrida (Temminck, 1811). Família Columbidae. Nome popular: pararu,
pomba-de-espelho.
• Columbina cyanopis (Pelzeln, 1870). Família Columbidae. Nome popular: rolinha-do-
planalto, rolinha-do-Brasil-central.

2.9 Psittaciformes - Papagaios, periquitos e araras


• Amazona brasiliensis (Linnaeus, 1758). Família Psittacidae. Nome popular:
papagaio-da-cara-roxa, chauá.
• Amazona petrei (Temminck, 1830). Família Psittacidae. Nome popular: chorão,
charão, papagaio-da-serra, serrano.
• Amazona rhodocorytha (Salvadori, 1890). Família Psittacidae. Nome popular: Chauá-
verdadeiro, jauá, acumatanga, camutanga.
• Amazona vinacea (Huhl, 1820). Família Psittacidae. Nome popular: papagaio-de-
peito-roxo, papagaio-caboclo, papagaio-curraleiro, jurueba.
• *Anodorhynchus glaucus (Vieillot, 1816). Família Psittacidae. Nome popular: arara-
azul-pequena.
• Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1720). Família Psittacidae. Nome popular:
arara-azul-grande, ararauna
• Anodorhynchus leari (Bonaparte, 1857). Família Psittacidae. Nome popular: arara-
azul-de-Lear.
• Aratinga guarouba (Gmlin, 1788). Família Psittacidae. Nome popular: guaruba,
ararajuba.
• Cyanopsitta spixii (Wagler, 1832). Família Psittacidae. Nome popular: ararinha-azul.
• Pyrrhura cruentata (Wied, 1820). Família Psittacidae. Nome popular: tiriba, fura-mato,
cara-suja.
• Pyrrhura leucotis (Kuhl, 1820). Família Psittacidae. Nome popular: fura-mato, tiriba-
de-orelha-branca
• Touit melanonota (Wied, 1820). Família Psittacidae. Nome popular: apuim-de-cauda-
vermelha.
• Touit surda (Kuhl, 1820). Família Psittacidae. Nome popular: apuim-de-cauda-
amarela.
• Triclaria malachitacea (Spix, 1824). Família Psittacidae. Nome popular: sabiá-cica,
araçu-aiava.

2.10 Cuculiformes - Jacus


• Neomorphus geoffroyi dulcis (Snethlage, 1927). Família Cuculidae. Nome popular:
aracuão, jacu-molambo, jacu-porco, jacu-verde, jacu-taquara.
• Neomorphus geoffroyi geoffroyi (Temminck, 1820). Família Cuculidae. Nome popular:
jacu-estalo.

2.11 Caprimulgiformes - Bacuraus


• Caprimulgus candicans (Pelzeln, 1867). Família Caprimulgidae. Nome popular:
bacurau, rabo-branco.
• Eleothreptus anomalus (Gould, 1837). Família Caprimulgidae. Nome popular:
curiango-do-banhado.

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• Macropsalis creagra (Bonaparte, 1850). Família Caprimulgidae. Nome popular:
bacurau, tesoura-gigante.
• Nyctibius leucopterus (Wied, 1821). Família Nyctibiidae. Nome popular: mãe-da-lua.

2.12. Apodiformes - Beija-flores


• Phaethornis superciliosus margarettae (Ruschi, 1972). Família Trochilidae. Nome
popular: besourão-de-rabo-branco.
• Ramphodon dohrnii (Boucier & Mulsant, 1852). Família Trochilidae. Nome popular:
balança-rabo-canela.

2.13. Piciformes - Pica-paus e martins-pescadores


• Campephilus robustus (Lichtenstein, 1819). Família Picidae. Nome popular: pica-
pau-rei.
• Celeus torquatus tinnunculus (Wagler, 1829). Família Picidae. Nome popular: pica-
pau-de-coleira.
• Dryocopus galeatus (Temminck, 1822). Família Picidae. Nome popular: pica-pau-de-
cara-amarela.
• Jacamaralcyon tridactyla (Vieillot, 1817). Família Galbulidae. Nome popular: cuitelão,
bicudo, violeiro.

2.14. Passeriformes - Passarinhos


• Amaurospiza moesta (Hartlaub, 1853). Família Emberizidae. Nome popular:
negrinho-do-mato.
• Alectrurus risoria (Vieillot, 1824). Família Tyrannidae. Nome popular: galito, tesoura-
do-campo, bandeira-do-campo.
• Anthus nattereri (Sclater, 1878). Família Motacillidae. Nome popular: caminheiro-
grande.
• *Calyptura cristata (Vieillot, 1818). Família Cotingidae. Nome popular: tietê-de-coroa.
• Carduelis yarrellii (Audubon, 1839). Família Emberizidae. Nome popular: coroinha,
pintassilgo-do-nordeste.
• Carpornis malanocephalus (Wied, 1820). Família Cotingidae. Nome popular: sabiá-
pimenta.
• Cercomacra carbonaria (Sclater & Salvin, 1873). Família Formicariidae.
• Clibanornis dendrocolaptoides (Pelzeln, 1859). Família Furnariidae.
• Conothraupis mesoleuca (Berlioz, 1939). Família Emberizidae.
• Cotinga maculata (Müller, 1776). Família Cotingidae. Nome popular: crejoá, quiruá,
catingá.
• Culicivora caudacuta (Vieillot, 1818). Família Tyrannidae. Nome popular: papa-
moscas-do-campo.
• Curaeus forbesi (Sclater, 1886). Família Icteridae Nome popular: anumará.
• Dacnis nigripes (Pelzeln, 1856). Família Emberizidae. Nome popular: saí-de-pernas-
pretas.
• Formicivora erythronotos (Hartlaub, 1852). Família Formicariidae.
• Formicivora iheringi (Hellmayr, 1909). Família Formicariidae. Nome popular: papa-
formiga.
• Gubernatrix cristata ( Vieillot, 1817). Família Emberizidae. Nome popular: cardeal-
amarelo.

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• Hemitriccus aenigma (Zimmer, 1940). Família Tyrannidae. Hemitriccus furcatus
(Lafresnaye, 1846). Família Tyrannidae. Nome popular: papa-moscas-estrela.
• Hemitriccus kaempferi (Zimmer, 1953). Família Tyrannidae.
• Herpsilochmus pectoralis (Sclater, 1857). Família Formicariidae.
• Iodopleura pipra (Lesson, 1831). Família Cotingidae. Nome popular: anambezinho.
• Lipaugus lanioides (Lesson, 1844). Família Cotingidae. Nome popular: sabiá-da-
mata-virgem, sabiá-do-mato-grosso, sabiá-da-serra, virussu, tropeiro-da-serra.
• Megaxenops parnaguae (Reiser, 1905). Família Furnariidae. Nome popular: bico-
virão-da-caatinga.
• Merulaxis stresemanni (Sick, 1960). Família Rhinocryptidae.
• Myadestes leucogenys leucogenys (Cabanis, 1851). Família Turdidae. Nome
popular: sabiá-castanho.
• Myrmeciza ruficauda (Wied, 1831). Família Formicariidae.
• Mymerciza stictothorax (Todd, 1927). Família Formicariidae.
• Myrmotherula minor (Salvadori, 1867). Família Formicariidae. Nome popular:
choquinha.
• Nemosia roourei (Cabanis, 1870). Família Emberezidae. Nome popular: saíra-
apunhalada.
• Oryzoborus maximiliani (Cabanis, 1851). Família Emberezidae. Nome popular:
bicudo, bicudo-verdadeiro, bicudo-preto.
• Phibalura flavirostris (Vieillot, 1816). Família Cotingidae. Nome popular: tesourinha.
• Phylloscartes ceciliae (Teixeira, 1987). Família Tyrannidae.
• Phylloscartes roquettei (Snethlage, 1928). Família Tyrannidae.
• Philydor novaesi (Teixeira & Gonzaga, 1983). Família Furnariidae.
• Pipitres pileatus (Temminck, 1822). Família Cotingidae. Nome popular: cameleirinho-
de-chapéu-preto.
• Platyrinchus leucoryphus (Wied, 1831). Família Tyrannidae. Nome popular: patinho-
gigante.
• Poecilurus kollari (Pelzeln, 1856). Família Furnariidae.
• Poospiza cinerea (Bonaparte, 1850). Família Emberizidae. Nome popular: andorinha-
do-oco-do-pau.
• Procnias averano averano (Hermann, 1783). Família Cotingidae. Nome popular:
araponga-do-nordeste, guiraponga.
• Pyriglena atra (Swainson, 1825). Família Formicariidae. Nome popular: papa-
formigas.
• Pyroderus scutatus scutatus (Shaw, 1792). Família Cotingidae. Nome popular:
pavoa, pavão, pavó, pavão-do-mato.
• Rhopornis ardesiaca (Wied, 1831). Família Formicariidae. Nome popular: papa-
formigas-de-gravatá
• Scytalopus novacapitalis (Sick, 1958). Família Rhinocryptidae.
• Sporophila falcirostris (Temminck, 1820). Família Emberizidae. Nome popular: papa-
capim, cigarra-verdadeira.
• Sporophila frontalis (Verreaus, 1869). Família Emberizidae. Nome popular: pichochó,
papa-arroz.
• Sporophila palustris (Barrows, 1883). Família Emberizidae. Nome popular:
caboclinho-de-papo-branco.

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• Sturnella defilippii (Bonaparte, 1851). Família Icteridae. Nome popular: peito-
vermelho-grande.
• Synallaxis infuscata (Pinto, 1950). Família Furnariidae.
• Tangara fastuosa (Lesson, 1831). Família Emberizidae. Nome popular: pintor-
verdadeiro.
• Terenura sicki (Teixeira & Gonzaga, 1983). Família Formicariidae.
• Thamnomanes plumbeus (Wied, 1831). Família Formicariidae.
• Thripophafa macroura (Wied, 1821). Família Furnariidae. Nome popular: rabo-
amarelo.
• Xanthopsar flavus (Gmelin, 1788). Família Icteridae. Nome popular: pássaro-preto-
de-veste-amarela
• Xiphocolaptes falcirostris (Spix, 1824). Família Dedrocolaptidae. Nome popular:
arapaçu-do-nordeste.
• Xiphocolaptes franciscanus (Snethlage, 1927). Família Dendrocolaptidae. Nome
popular: arapaçu.
• Xipholena atropurpurea (Wied, 1820). Família Cotingidae. Nome popular: amambé-
de-asa-branca, cotinga, ferrugem.

3.0. REPTILIA - RÉPTEIS


3.1. Chelonia - Tartarugas
• Caretta caretta (Linnaeus, 1758). Família Chelonidae. Nome popular: cabeçuda,
tartaruga-meio-pente.
• Chelonia mydas (Linnaeus, 1758). Família Chelonidae. Nome popular: tartaruga-
verde.
• Dermochelys coriacea (Linnaeus, 1758). Família Chelonidae. Nome popular:
tartaruga-de-couro, tartaruga-gigante, tartaruga-de-pele.
• Eretmochelis imbricata (Linnaeus, 1766). Família Chelonidae. Nome popular:
tartaruga-de-pente.
• Lepidochelys olivacea (Escholtz, 1829). Família Chelonidae.
• Phrynops hogei (Mertens, 1967). Família Chelidae.

3.2 Squamata - Serpentes


• Lachesis muta rhombeata (Wied, 1825). Família Viperidae. Nome popular: surucucu-
pico-de-jaca, surucucu.

3.3 Crocodilia - Jacarés


• Caiman latirostris (Daudin, 1802). Família Crocodilidae. Nome popular: jacaré-de-
papo-amarelo.
• Melanosuchus niger (Spix, 1825). Familia Crocodilidae. Nome popular: jacaréaçu.

4.0 AMPHIBIA - rãs


• Paratelmatobius gaigeae (Cochran, 1938). Família Leptodactylidae.

5.0 INSECTA - insetos


5.1 Lepidoptera - borboletas
• *Dasyophthalma vertebralis (Butler, 1869). Família Nymphalidae.
• Eresia erysice (Geyer, 1832). Família Nymphalidae.

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• *Eurytides iphitas (Hübner, 1821). Família Papilionidae.
• Eurytides lysithous harrisinus (Swainson, 1822). Família Papilionidae.
• Eutresis hypareia imeriensis (Brown, 1977). Família Nymphalidae.
• Heliconius nattereri (Felder & Felder, 1865). Família Nymphalidae.
• *Hyalyris fiammetta (Hewitson, 1852). Família Nymphalidae.
• *Hyalyris leptalina leptalina (Felder & Felder, 1865). Família Nymphalidae.
• Hypoleria fallens (Haensch, 1905). Família Nymphalidae.
• Hypoleria mulviana (D'Almeida, 1945). Família Nymphalidae.
• Joiceya praeclara (Talbot, 1928). Família Lyceanidae.
• Mechanitis bipuncta (Forbes, 1948). Família Nymphalidae.
• Melinaea mnaisas (Hewitson, 1855). Família Nymphalidae.
• Moschoneura methymna (Godart, 1819). Família Pieridae.
• Napeogenis cyrianassa xanthone (Bates, 1862). Família Nymphalidae.
• Orobrassolis ornamentalis (Stichel, 1906). Família Nymphalidae.
• Papilio himeros himeros (Höpffer, 1866). Famíla Papilionidae.
• Papilio himeros baia (Hothschild & Jordan, 1906). Família Papilionidae.
• Papilio zagreus zagreus (Doubleday, 1847). Família Papilionidae.
• Papilio zagreus neyi (Niepelt, 1909). Família Papilionidae.
• Papilio zagreus bedoci (Le Cerf, 1925). Família Papilionidae.
• Parides ascanius (Cramer, 1775). Família Papilionidae.
• Parides lysander mattogrossensis (Talbot, 1928). Família Papilionidae.
• Perrhybris flava (Oberthür, 1895). Família Pieridae.
• Scada karschina delicata (Talbot, 1932). Família Nymphalidae.

5.2 Odonata - Libélulas


• Leptagrion dardanoi (Santos, 1968). Família Coenagrionidae.
• Leptagrion siqueirai (Santos, 1968). Família Coenagrionidae.
• Mecistogaster asticta (Selys, 1860). Família Psedostigmatidae.
• *Mecistogaster pronoti (Sjoestedt, 1918). Família Pseudostigmatidae.

6.0 Onychophora
• Peripatus acacioli (Marcus & Marcus, 1955). Família Peripatidae.

7.0 Cnidaria - Corais


• Millepora nitidae (Verreill, 1868). Família Milleporidae. Nome popular: coral-de-fogo.

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RELAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE ANIMAIS DE INTERESSE PARA O
MÉDICO VETERINÁRIO DE SILVESTRES (ÊNFASE NA FAUNA NATIVA
BRASILEIRA)

AVES Cathartes aura urubu-de-cabeça-vermelha


Família Accipitridae (Gaviões) Cathartes burrovianus urubu-de-cabeça-
Buteo magnirostris gavião-carijó amarela
Elanus leucurus gavião-peneira Coragyps atratus urubu
Geranoaetus melanoleucus águia-chilena Sarcoramphus papa urubu-rei
Harpia harpyja gavião-real Vultur gryphus condor
Heterospizias meridionalis casaca-de-couro
Spizaetus tyranus gavião-pega-macaco Família Charadriiae
Vanellus chilensis quero-quero
Família Anatidae (Patos, marrecos, cisnes.)
Amazonetta brasiliensis marreca-ananaí Família Ciconiidae
Anas platyrhynchos marreco-mallard Cyconia maguari maguari
(exótico) Jabiru mycteria jaburu, tuiuiú
Cairina moschata pato-do-mato Mycteria americana cabeça-seca
Coscoroba coscoroba capororoca
Cygnus atratus cisne-negro (exótico) Família Columbidae
Cygnus cygnus cisne-cantor (exótico) Columba livia pombo-doméstico
Cygnus melanocorryphus cisne-de-pescoço- Columbina talpacoti pomba-paruru
preto Columba picazuro pomba-asa-branca
Cygnus olor cisne-branco (exótico) Leptotila rufaxila juriti
Dendrocygna autumnalis marreca-cabocla Geotrygon montana pomba-caminheira
Dendrocygna bicolor marreca-caneleira Scardafella squamata pomba-cascavel
Dendrocygna viduata marreca-irerê
Família Cracidae
Família Anhimidae Crax fasciolata mutum-de-penacho
Anhima cornuta anhuma Penelope obscura jacu-guaçu
Chauna torquata tachã Pipile jacutinga jacutinga

Família Ardeidae (Garças e socós) Família Falconidae (Falcões)


Ardea cocoi garça-moura Falco femoralis falcão-de-coleira
Bubulcus ibis garça-vaqueira (exótico- Falco peregrinus falcão-peregrino
introduzido) Falco sparverius quiri-quiri
Casmerodius albus garça-branca-grande Polyborus plancus Carancho
Egretta thula garça-branca-pequena
Nycticorax nycticorax socó-dorminhoco Família Fringillidae
Syrigma sibilatrix garça-maria-faceira Paroaria coronata cardeal
Tigrisoma lineatum socó-boi Saltator similis trica-ferro
Sicalis flaveola canário-da-terra
Família Cariamidae Serinus canarius canário-belga
Cariama cristata seriema Spinus magellanicus pintassilgo
Sporophila caerulescens coleirinha
Família Cathartidae (Urubus) Zonotrichia capensis tico-tico

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Oryzoborus angolensisI curió Psittacus erithacus papagaio-africano
(exótico)
Família Jacanidae Pyrrhura frontalis tiriva
Jacana jacana jaçanã
Família Rallidae (Saracuras e frangos d’água)
Família Laridae Aramides saracura saracura-do-mato
Larus dominicanus gaivota Gallinula chloropus frango-d’água
Sterna hirundinacea gaivota-trinta-reis Rallus nigricans saracura-preta
Rallus sanguinolentus saracura
Família Loridae
Trichoglossus haematodus loris-arco-iris Família Rhanphastidae
Rhamphastos toco tucano-toco
Família Phasianidae Rhamphastos dicolorus tucano-de-bico-verde
Odontophorus capueira uru
Pavo cristatus pavão Família Rheidae (Emas e avestruzes)
Phasianus colchicus faisão-coleira Rhea americana ema
Struthio camelus avestruz (exótico)
Família Phoenicopteridae
Phoenicopterus ruber flamingo Família Scolopacidae (Maçaricos e narcejas)
Gallinago gallinago narceja
Família Picidae Tringa flavipes maçarico-perna-amarela
Colaptes campestris pica-pau-do-campo
Família Spheniscidae
Spheniscus magellanicus pingüim-de-
magalhães

Família Strigidae
Otus choliba coruja-do-mato
Família Psittacidae Rhinoptynx clamatur mocho-orelhudo
Agapornis personata agapornis (exótico) Speotyto cunicularia coruja-buraqueira
Amazona aestiva papagaio-verdadeiro
Amazona amazonicaI papagaio-do-mangue Família Tinamidae (Perdizes e codornas)
Amazona farinosa papagaio-moleiro Crypturellus obsoletus nambu-guaçu
Amazona vinacea papagaio-de-peito-roxo Crypturellus parvirostris nambu-xororó
Anodorynchus hyacinthinus arara-azul Crypturellus tataupa nambu-xintã
Ara ararauna arara-canindé Nothura maculosa codorna
Ara chloroptera arara-vermelha Rhynchotus rufescens perdiz
Ara macao arara-canga Tinamus solitarius macuco
Aratinga aurea periquito-áurea
Brotogeris tirica periquito-verde
Melopsittachus undulatus periquito-
australiano (exótico)
Myopsitta monachus caturrita Família Tyranidae
Nymphicus hollandicus calopsita (exótico) Pitangus sulphuratus bem-te-vi
Pionopsitta pileata cuiú-cuiú
Pionus maximiliani baitaca

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Família Tytonidae Dolichotes patagonum mara ou lebre-da-
Tyto alba coruja-das-torres, suindara patagônia

Família Trochilidae Família Chinchilidae


Colibri serrirostris beija-flor-do-campo Chinchila laniger chinchila
Leucochloris albicollis beija-flor
Thalurania glaucopis beija-flor-de-fronte- Família Leporidae
violeta Oryctolagus cuniculus coelho-doméstico
Sylvilagus brasiliensis tapiti
Família Turdiadae
Turdus rufiventris sabiá-vermelha
Turdus albicollis sabiá-coleira Família Cricetidae
Mesocricetus auratus hamster-dourado
MAMÍFEROS (exótico)
Família Bovidae Cricetulus griseus hamster-chines (exótico)
Amnotragus lervia aoudade Cricetulus cricetus hamster-europeu (exótico)
Antilope cevicapra cervicapra Meriones unguiculatus gerbil ou merione
Bison bison bisão-americano (exótico)
Bison bonasus bisão-europeu
Connochaetes taurinus gnu Família Muridae
Taurotragus oryx elande Rattus norvegicus rato ou ratazana (exótico-
introduzido)

Famila Bradypodidae Rattus rattus rato-das-casas (exótico-introduzido)


Bradypus variegatus preguiça Mus musculus camundongo (exótico-introduzido)

Família Camelidae Família Cebidae


Camellus bactrianus camelo Alouatta caraya bugiu-preto
Camelus dromedarius dromedário Alouatta fusca bugio-ruivo
Lama glama lhama Ateles paniscus macaco-aranha
Lama guanicoe guanaco Cebus apella macaco-prego
Lama pacos alpaca Lagothrix lagothricha macaco-barrigudo
Lama vicugna vicunha Saimiri sciureus mico-de-cheiro

Família Canidae Família Cervidae


Canis lupus lobo-europeu Blastocerus dichotomus cervo-do-pantanal
Chrysocyon brachyurus lobo-guará Cervus elaphus cervo-nobre
Dusicyon gimnocercus cachorro-do-campo Cervus elaphus cervo-nobre (exótico)
Dusiyion thous cachorro-do-mato Dama dama cervo-dama (exótico)
Speothus venaticus cachorro-vinagre Mazama americana veado-mateiro
Mazama gouazoubira veado-pardo
Família Capromydae Mazama rufina veado-cambuta
Myocastor coypus ratão-do-banhado Ozotocerus bezoarticus veado-campeiro

Família Caviidae Família Dasypodidae


Cavia aperea preá Dasypus novencinctus tatu-galinha
Cavia porcellus porquinho-da-índia Euphactus sexcintus tatu-peludo

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Priodontes maximus tatu-canastra Lepus capensis lebre
Sylvilagus brasiliensis tapiti
Família Dasyproctidae
Dasyprocta azarae cutia Família Mustelidae
Dasyprocta leporina cutia Conepatus chinga zorilho, cangambá
Dasyprocta punctata cutia Eira barbara irara
Agouti paca paca Galictis cuja furão
Lutra longicaudis lontra
Família Didelphidae Pteronura brasiliensis ariranha
Caluromys lanatus cuíca-lanosa Mustela putorinus ferret
Didelphis albiventris gambá-de-orelha-branca
Didelphis marsupialis gambá-de-orelha-preta Família Myrmecophagidae
Philander opossum cuíca-de-quatro-olhos Myrmecophaga tridactyla tamanduá-bandeira
Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim
Família Elephantidae
Elephas maximus elefante-indiano (exótico) Família Calitrichydae
Loxodonta africana elefante-africano Callithrix jacchus sagui
(exótico) Callithrix penicillata sagui
Leontopithecus rosalia mico-leão-dourado
Família Equidae Leontopithecus caiçara mico-leão-dourado
Equus grevyi zebra (exótico)
Família Pongidae
Família Erethizontidae Pan troglodites chimpanzé
Coendu villosus ouriço Pongo pygmaeus orangotango

Família Procyonidae
Família Felidae Nasua nasua quati
Felis concolor puma Procyon cancrivorus mão-pelada
Felis geoffroy gato-do-mato-grande Potos flavus jupará
Felis pardalis jaguaratirica
Felis tigrina gato-do-mato-pequeno Família Scuridae
Felis wiedii gato-maracajá Sciurus ingrami serelepe
Felis yagouaroundi gato-mourisco
Panthera leo leão
Panthera onca onça
Panthera pardus leopardo
Famillia Giraffidae
Girafa camelopardalis girafa

Família Hyaenidae Família Tapiridae


Hyaena hyaena hiena-listrada Tapirus terrestris anta

Família Hydrochaeridae Família Tayassuidae


Hydrochaeris hydrochaeris capivara Tayassu tajacu cateto
Tayassu pecari queixada
Família Leporidae

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RÉPTEIS Trachemys dorbignyi tigre-d´água (nativo)
Família Alligatoridae (Jacarés) Trachemys elegans tigre-d´água (exótico)
Caiman crocodilus jacaré-tinga
Caiman latirostris jacaré-de-papo-amarelo
Crocodilus niloticus crocodilo (exótico)
Melanosuchus niger jacaré-açu
Família Iguanidae
Família Amphisbaenidae Iguana iguana iguana ou sininbú
Anphisbaena alba cobra-cega Tropidurus torquatus lagarto

Família Anguidae Família Chelydridae


Ophiodes striatus cobra-de-vidro Chelydra serpentina tartaruga-mordedora

Família Boidae Família Trionychidae


Boa constrictor jibóia Trionyx sp. tartaruga tartaruga-de-casco-
Corallus caninus cobra-papagaio mole
Enectes murinus sucurí
Epicrates cenchria salamanta Família Kinosternidae
Phyton regius píton-bola (exótico) Kinosternom scorpioides muçuã
Phyton reticulatus píton- (exótico)
Família Pelomedusidae
Família Chelidae Podocnemis expansa tartaruga-da-amazônia
Acanthochelys spixii cágado-preto Podocnemis unifilis tracajá
Chelus fimbriatus matamatá
Hydromedusa tectifera cágado-pescoço-de- Família Scincidae
cobra Mabuya mabuya lagartixa
Phrynops williansi cágado-de-barbicha
Família Hemidactylidae
Família Chelonidade Hemidatylus mabuya lagartixa-de-parede
Caretta caretta tartaruga-marinha (exótico-introduzido)
Chelonia mydas tartaruga-do-mar
Família Teidae
Família Colubridae Ameiva ameiva bico-doce
Chironius carinatus cobra-cipó Tupinambis merianae teiú
Clelia clelia mussurana
Hydrodinastes gigas boipevaçu Família Testudinidae
Liophis miliaris cobra-d’água Geochelone denticulata jabuti-tinga
Oxyrhopus trigeminus falsa-coral Geochelone carbonaria jabuti-piranga
Spilotes pullatus caninana
Waglerophis merremii boipeva Família Viperidae
Bothrops alternatus urutu
Família Elapidae Bothrops cotiara cotiara
Micrurus frontalis coral-verdadeira Bothrops jaracussu jararacuçu
Micrurus corallinus coral-verdadeira Bothrops jararaca jararaca
Crotalus durissus cascavel
Família Emydidae Lachesis muta surucucu

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CONTENÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES

Introdução
Os preceitos e procedimentos básicos da clínica são universais (semiologia,
propedêutica, terapêutica), e são comuns a animais selvagens e domésticos.
Entretanto, o acesso aos animais silvestres, na maioria das vezes, é muito mais
limitado se comparado com os domésticos. O conhecimento das técnicas de contenção
física e química é portanto de grande importância para o Médico Veterinário de animais
silvestres. Um sólido conceito de stress e o entendimento de sua fisiologia e patologia,
são indispensáveis para a utilização das técnicas de contenção.

STRESS OU ESTRESSE
Todo o ser vivo relaciona-se com o meio ambiente em que vive e luta
permanentemente contra forças potencialmente fatais. A relação do ser vivo com o
meio é mediada por receptores (estruturas ou órgãos dos sentidos ou sensitivos). Toda
alteração ambiental é portanto um estímulo e atua sobre um organismo através de
seus receptores. Os receptores estimulados encaminham mensagens que
desencadeiam reações. Todas as respostas ou reações são primariamente orientadas
para enfrentar a alteração ambiental, supera-la e retornar o ser vivo ao equilíbrio
orgânico (homeostase).

Organismos primitivos podem reagir ao calor, ao frio, à dissecação, à umidade


ou à falta de nutrientes entre outros estímulos. Os seres mais complexos
desenvolveram sistemas de informação sobre as mais diversas variações ambientais
que estimulam receptores e desencadeiam reações promovendo a adaptação orgânica
ás novas condições.

Conceitos:
STRESS ou ESTRESSE é o conjunto de reações de um organismo frente a
agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras capazes de perturbar a
homeostase. O stress é um fenômeno adaptativo, uma resposta cumulativa
resultante da interação do animal com o ambiente, mediado por receptores.
Por princípio, todo o estímulo recebido por um ser vivo (através dos seus
receptores) é um agente estressante.
Define-se homeostase como a normalidade orgânica, ou seja o estado de
equilíbrio fisiológico. Denomina-se adaptação fisiológica à capacidade que um
organismo tem de atingir a homeostase através de processos fisiológicos coordenados.
Define-se exaustão como a falência destes processos e a incapacidade de atingir a
homeostase.
Os agentes estressantes podem ser classificados em somáticos, psicológicos,
comportamentais ou diversos. O animal é estimulado por esses agentes ambientais
através de receptores. O sistema nervoso analisa e processa os impulsos vindos dos
receptores e envia mensagens aos órgãos efetores, produzindo reações específicas
ou inespecíficas.
Agentes somáticos podem ser sons, imagens, odores, toques, mudanças de
posição, calor, frio, pressão atmosférica, estiramento anormal de músculos ou tendões
e também o efeito de drogas e agentes químicos.

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Agentes psicológicos exercem um importante papel na adaptação das espécies
selvagens ao cativeiro e aos métodos usados na contenção. Um animal apreensivo
pode ser considerado sob o efeito de um agente estressante suave, mas que se
intensificado pode evoluir para a ansiedade, o medo ou, na sua forma mais severa, o
terror e a fúria. Outro importante agente psicológico estressante é a frustração. Quando
em ambiente natural e frente a uma situação estranha, o animal foge ou luta. A
frustração é determinada pela impossibilidade ou impedimento do exercício destes
comportamentos.
Intimamente ligado aos agentes psicológicos impostos pelo cativeiro estão os
agentes estressantes comportamentais: São: a vizinhança não familiar, a
superpopulação, as disputas territoriais e/ou hierárquicas, as alterações dos ritmos
biológicos ou circadianos, a falta de contato social (ou ao contrário, a falta de
privacidade), a falta de alimentos habituais à espécie ou cuja necessidade foi induzida
pelo homem “imprinted”.
Os agentes diversos incluem má nutrição, toxinas, parasitoses, agentes
infecciosos, queimaduras, cirurgias, imobilizações físicas ou químicas e confinamento.
Quando estes fatores atuam durante um longo período podem contribuir para a fase de
exaustão na síndrome geral de adaptação.

O stress ou seja, a resposta orgânica, decorrente da estimulação de receptores pode


seguir as seguintes VIAS DE REAÇÃO:

• Via Motora Voluntária – (neuromuscular) Reação imediata. Trata-se de resposta


característica da espécie, são as chamadas defesas: morder, escoicear, unhar,
bicar, vocalizar...

• Via Sistema Nervoso Simpático – (endócrina: medular da adrenal) - Reação de


alarme. Trata-se de preparação para a fuga ou luta. A liberação de catecolaminas,
como a adrenalina e a noradrenalina, induz a uma série de alterações fisiológicas
como: vasodilatação na musculatura esquelética e cardíaca, vasoconstrição na pele
e nos intestinos, hipertensão arterial, hiperglicemia, broncodilatação, aumento da
taxa metabólica, midríase, piloereção e fasciculação muscular.

• Via Hipotálamo - Adenohipófise – (endócrina: cortical da adrenal) - Reação


crônica. Hiperfunção adrenocortical (cortisol). Efeitos somáticos: fraqueza muscular,
tremores, alopecia simétrica bilateral, aumento do volume abdominal, perda de peso,
aumento da susceptibilidade a infecções, queda de resposta imunitária (falha
vacinal), hipertensão arterial, má cicatrização, neutrofilia e redução da atividade de
linfócitos e eosinófilos. Efeitos psicológicos/comportamentais: tendência anti-social,
aumento da agressividade, anorexia/bulimia, adipsia/polidipsia, hipo/hiper
sexualidade.

CONTENÇÃO E ÓBITO POR STRESS


A contenção é possivelmente o momento de maior stress na vida de um animal
silvestre e pode levar o organismo a reações potencialmente fatais. O óbito decorrente
da contenção, pode ser superagudo (durante a realização da contenção), agudo ou
mediato (até 60 minutos após a contenção) e tardio (horas a dias após a contenção).

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SUPERAGUDO AGUDO TARDIO

• Fibrilação • Insuficiência • Miopatia de captura


ventricular Adrenal • Pneumonia
• Bradicardia • Timpanismo “aspirativa”
colinérgica • Acidose • Choque
• Anóxia • Hipo/hipertermia
• Hipoglicemia • Hipocalcemia
• Trauma • Fratura cervical

ACIDOSE
A excessivo esforço muscular decorrente da resistência aos procedimentos de
contenção leva a um grande consumo de glicose e produção de ácido lático. A acidose
determina polipnéia, confusão mental, tremores, convulsão, coma e morte. O
tratamento indicado é a manutenção das vias aéreas livres de obstruções (hiper-
ventilação compensatória), respiração assistida e aplicação endovenosa de
bicarbonato de sódio (4 a 6 mEq/kg).

FIBRILAÇÃO VENTRICULAR
A causa primária é a liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina)
durante a reação de alarme levando a taquicardia que somada a acidose e hipóxia
resulta em fibrilação. O animal debate-se e agoniza o que pode ser confundido com
resistência à contenção. A fibrilação impossibilita o bombeamento sanguíneo
determinando insuficiência circulatória, a inconsciência e morte.

BRADICARDIA COLINÉRGICA (SÍNCOPE FATAL OU BRADICARDIA VAGAL)


Os centros hipotalâmicos quando estimulados desencadeiam reações
principalmente do sistema nervoso simpático e, em menor grau, do sistema nervoso
parassimpático. Desta forma resulta uma reação adrenérgica, a típica reação de
alarme, com taquicardia e hipertensão arterial. Porém, se durante a contenção, houver
excessiva pressão sobre os globos oculares, os seios carotídeos (região cervical) ou o
abdômen ocorrerá estimulação hipotalâmica tão intensa que prevalecerá o “domínio”
do sistema nervoso parassimpático. Desta forma, a ação colinérgica supera a
adrenérgica, observa-se redução do pulso e da freqüência cardíaca, queda da pressão
arterial, perda da consciência e óbito devido ao choque hipovolêmico. Como protocolo
preventivo, indica-se a aplicação de sulfato de atropina (0,05 mg/Kg) que age
bloqueando o impulso colinérgico (vagal). A ação do cloridrato de atropina é
parassimpaticolítica ou simpaticomimética.

MIOPATIA DE CAPTURA
Também conhecida como miopatia por stress ou esforço, é uma doença
muscular degenerativa de prognóstico extremamente reservado. Pode apresentar-se
sob a forma aguda (1 a 12 horas), subaguda (7 a 14 dias) ou crônica (semanas). É
observada principalmente nos bovídeos (antílopes, bisões), cervídeos (cervos e
veados) e eqüídeos (zebra, cavalo, asno e anta). A anóxia localizada, devido à
contratura de massas musculares é o fator determinante. A patogenia da miopatia de

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captura envolve a alteração do pH, hipóxia e morte de fibras musculares com liberação
de potássio, mioglobina (necrose tubular aguda devido à toxicidade) e lactato. Os sinais
clínicos incluem dificuldade na marcha, rigidez e dor à palpação dos membros
(especialmente nas porções mais altas da região pélvica), paresia e decúbito.
Observam-se ainda dispnéia e taquicardia. As principais alterações laboratoriais são
acidose, elevação da creatinina fosfoquinase e de desidrogenase láctica, sendo menos
freqüente a hiperpotassemia.

PRINCÍPIOS DE CONTENÇÃO (MANEJO) DE ANIMAIS SILVESTRES


A primeira dificuldade com que se depara um profissional de zoológico é o
acesso ao animal. É a grande limitação identificada quando traçamos um paralelo entre
o manejo de animais domésticos e o de silvestres. As práticas de contenção, ao longo
dos tempos, levaram à domesticação diversos animais silvestres. É fácil justificar e
todos concordam que há necessidade de se conter animais domésticos para os mais
diversos fins (transporte, medicação, cirurgia. etc.) porém quando animais silvestres
são mantidos em cativeiro estas mesmas necessidades são também observadas.
Ao longo da história da ocupação humana, os ecossistemas tem sido
modificados para garantir o máximo de produção a partir de poucas espécies animais
ou vegetais, ou seja, ecossistemas em estágios imaturos, forçosamente instáveis e
mantidos unicamente pela constante interferência humana. A redução da primitividade
e da diversidade comprometem especialmente as espécies naturalmente vulneráveis
(endêmicas, raras, especialistas, variedades regionais ou subespécies e aquelas
associadas a ambientes extensos e primitivos). Na medida em que áreas naturais
primitivas residuais configuram-se como ilhas ou bolsões, circundados pela alteração
antrópica, o manejo ambiental surge como a ciência que procura adaptar as
características das interações dos hábitats, das populações animais e do homem, com
finalidades específicas. A fauna silvestre nestes ambientes restritos passa a comportar-
se de forma semelhante à de animais em cativeiro, carecendo portanto de manejo. No
manejo de animais silvestres, o conceito de contenção é utilizado com uma variada
gama de intensidades, pode significar desde confinamento até a total imobilização
através de recursos químicos ou mecânicos. O manejo compreende na acepção mais
restrita do conceito, a contenção animal..

CONTENÇÃO (“First you need to catch your tiger”)


Conforme recomenda o Prof. Fowler: devemos refletir antes de praticar uma contenção
e algumas questões básicas devem ser respondidas:

• Por quê – qual a justificativa ou o motivo para o animal ser contido ?


• Quando – em que horário (estação) será mais conveniente praticar a contenção
?
• Como – que procedimento (técnica) apresenta o melhor custo benefício ?
• Quem – qual pessoa está mais qualificada/habilidata para praticar a contenção,
no menor tempo e com o menor stress ?
• Onde – qual o melhor local para o procedimento de contenção planejado ?

Quanto à técnica quatro questões devem ser respondidas para a seleção do


procedimento de contenção:

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• É segura para o operador ?
• É segura para o animal ?
• Será possível realizar o procedimento planejado utilizando o método de
contenção escolhido ?
• Após a contenção será possível o acompanhamento até a recuperação plena ?

Inúmeros equipamentos ou recursos podem ser empregados na contenção, seja ela


química ou física. A diversidade dos animais silvestres em função do grupo ao qual
pertençam (mamíferos, aves, répteis, peixes ou anfíbios – dentre os mais
freqüentemente mantidos em cativeiro) ou quanto ao porte e grau de periculosidade
determina uma grande variedade de métodos e técnicas.
A correta e adequada contenção de um animal silvestre depende de vários fatores
tais como o conhecimento do seu comportamento e hábitos, o seu grau de
vulnerabilidade ao estresse, a capacidade de previsão das suas reações, o pleno
domínio do uso das técnicas e equipamentos a serem empregados e um planejamento
criterioso de todo o procedimento.
Inicialmente devem ser identificadas as chamadas “defesas” dos animais, para
reduzirem-se os riscos. Por exemplo, aves de rapina defendem-se e oferecem mais
perigo com as garras, felinos primariamente com os membros anteriores
secundariamente com a boca, os canídeos defendem-se com mordidas, as emas e, as
avestruzes podem causar graves acidentes com seus fortes chutes armados pelas
unhas que se assemelham a cascos, os primatas cebídeos mordem e tendo
oportunidade puxam as mãos do operador com qualquer um dos seus quatro membros
e também com a cauda. Os cervídeos, especialmente durante a época reprodutiva
podem atacar com chifradas, animais sociais podem defender elementos do grupo (um
macaco-prego que grite ao ser contido promove o ataque de outros indivíduos do
grupo). Aves do grupo dos tinamídeos (macucos, codornas e perdizes) quando
submetidas à contenção podem morrer por estresse em poucos minutos além de
perderem penas com muita facilidade.

CONTENÇÃO MECÂNICA
Diversos equipamentos são utilizados na contenção, desde redes, puçás,
ganchos, laços, cordas, peias, cambões, caixas e jaulas de pressão (com parede móvel
para apertar o animal contra uma lateral de tela), tubos plásticos (aves, répteis e alguns
mamíferos como os ouriços), tubos transparentes para répteis, luvas de couro, vendas,
sacos de pano, escudos, eletro-choque, extintor de incêndio, abre bocas, fitas adesivas
e muitos outros em conformidade com o animal e o objetivo da contenção.

CONTENÇÃO QUÍMICA
Para a contenção química, diferentes drogas e equipamentos de aplicação são
utilizados, porém, alguns quesitos são especialmente importantes para animais
silvestres. Uma boa droga deve permitir o uso intramuscular, deve ter uma grande
margem de segurança (DL 50), deve ter o menor período de indução e apresentar um
pequeno volume. Isto para permitir o uso de métodos de aplicação à distância (dardos),
através de rifles, pistolas (pólvora ou ar comprimido) e zarabatanas, quando o peso real
do paciente é desconhecido.

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Armas de arremesso de dardos:
Atualmente existem diversos equipamentos disponíveis no mercado, com grande
precisão e eficiência. Todos têm no entanto uma grande desvantagem, são importados
e o processo de importação é difícil e custoso. Além da arma, os acessórios como
dardos, agulhas, tufos, borrachas e especialmente as diferentes espoletas (de
arremesso do dardo e de impulsão do êmbolo) são também importadas e necessitam
de constante reposição.
As armas permitem tiros a longa distância (mais de 100 m) e volumes
relativamente grandes de drogas a serem aplicadas (cerca de 20 ml). O operador do
equipamento deve ser um atirador experimentado. Para diferentes distâncias são
utilizados diferentes espoletas de arremesso dos dardos e para diferentes tamanhos de
dardos são utilizados diferentes espoletas de impulsão do êmbolo. O erro na utilização
das espoletas pode promover acidentes graves e até fatais. Outro inconveniente é o de
fazerem muito barulho.

Zarabatana
De confecção artesanal, as zarabatanas e os dardos (feitos a partir de seringas
descartáveis), são práticas, baratas e de fácil reposição. O impacto do dardo da
zarabatana sobre o animal é sensivelmente menor que o promovido pelo dardo da
espingarda e os riscos de acidentes são reduzidos. O tiro da zarabatana é silencioso.
Suas grandes limitações são o volume disponível do dardo (cerca de 5 ml) e a distância
de alcance (cerca de 15 metros no máximo). O operador deve ser experiente e manter-
se continuamente em treinamento pois as variáveis de tiro são diversas (diferentes
pesos dos dardos em conformidade com o volume da droga, interferência dos ventos,
tamanho do animal-alvo, distâncias).

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SÍNDROME DA MIOPATIA DE CAPTURA

Introdução
Também conhecida como miopatia do stress ou do esforço, é uma doença
muscular degenerativa de prognóstico extremamente reservado, associada ao stress
de captura, contenção física e/ou química e transporte de animais selvagens. Além dos
herbívoros silvestres, a miopatia de captura já foi descrita em diversas espécies de
mamíferos e aves, incluindo primatas, pinípedes, marsupiais, bovinos, eqüinos,
canídeos, ovinos e flamingos. Pode apresentar-se em forma aguda (1 a 12 horas),
subaguda (7 a 14 dias) e crônica (semanas).
O termo stress é descrito como: a reação adaptativa de um animal
desencadeada por um estímulo interno (fisiológico ou psicogênico) ou ambiental que
altera o estado de homeostasia.

O stress pode ser classificado em três subtipos:


• Eustress - estímulo benéfico para o animal
• Stress neutro - envolve respostas que não afetam o bem estar, conforto ou
reprodução
• Distress - prejudica, causa respostas que interferem no bem estar e/ou na
reprodução

O distress prolongado pode causar diferentes graus de perturbações,


consideram-se como fatores predisponentes o medo, a ansiedade, a hipertermia, o
esforço muscular intenso e a tensão muscular constante (reação de alarme
prolongada), manipulações repetidas e transporte prolongado. A anóxia localizada,
devido à contratura de determinadas massas musculares em posições anormais, pela
manutenção de animais em redes ou jaulas de contenção, é também é fator
determinante da ocorrência dessa enfermidade.

Sinais característicos:
Acidose grave
Choque e óbito
Necrose de músculos esqueléticos
Necrose cardíaca (devido à acidose)

A patogenia da miopatia de captura envolve duas teorias inter relacionados: a


alteração do pH e a hipóxia tecidual; levando fibras musculares à morte e liberando
potássio, mioglobina e lactato, substâncias que desempenham importante papel na
gênese da enfermidade. O potássio age na musculatura cardíaca produzindo fibrilação,
e a hiperpotassemia explicaria a morte por insuficiência cardíaca. A
hipermioglobinemia, devido à extrema toxicidade da mioglobina, leva a necrose tubular
aguda que por sua vez induz a insuficiência renal aguda. A acidose devida a altos
níveis de lactato reduz o pH ocasionando choque e falência geral.
As principais alterações laboratoriais são acidose, elevação da creatinina
fosfoquinase e de desidrogenase láctica, sendo menos freqüente a hiperpotassemia.

Sinais clínicos:

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Insuficiência cardíaca e morte
Enrijecimento do dorso, ancas e membros posteriores.
Paresia Æ paralisia Æ ataxia Æ prostração
Trauma de membros
Dipnéia e taquicardia
Mioglobinúria

Os sinais clínicos normalmente observados incluem dificuldade na manutenção


da estação (postura em pé), rigidez e dor à palpação dos membros (especialmente nas
porções mais altas da região pélvica), paresia e evolução para paralisia, prostração e
decúbito. Observam-se ainda dispnéia e taquicardia.

O prognóstico da Miopatia de Captura tende a ser desfavorável, de maneira que


o veterinário deve atuar com presteza na sua prevenção, tendo em mente que tal
enfermidade pode ocorrer com freqüência após procedimentos de contenção. Para
tanto se deve minimizar o concurso de diversos fatores etiológicos, trabalhando de
forma a evitar o stress, habituando o animal ao seu ambiente de cativeiro. A instituição
de jejum previamente aos procedimentos de contenção permite a obtenção de menores
taxas de glicogênio na musculatura, o que atua de maneira protetora contra a
excessiva liberação de lactato no músculo. Na medida do possível devemos evitar
trabalhar com indivíduos predispostos em ambientes ou recintos muito quentes, bem
como evitar o uso de drogas que causam hipertermia como o cloridrato de xilazina. É
muito importante o controle da temperatura retal e o resfriamento do paciente com
banhos frios em caso de hipertermia.

Alguns cuidados que devem ser tomados:

• Quando do planejamento de uma captura/imobilização, constitua uma equipe


composta por um grupo reduzido de pessoas bem treinadas e entrosadas. Evite
ruído e movimentos bruscos.

• Evite procedimentos de captura/imobilização durante os períodos mais quentes


e úmidos do ano e/ou dia. Caso isso não seja possível, mantenha a cabeça, as
patas e as orelhas do animal constantemente úmidas e providencie para que
uma vez capturado, o animal seja prontamente transportado para um lugar
arejado e sombreado.

• Durante a contenção monitore continuamente a temperatura corpórea do animal


e tenha equipe e equipamentos necessários para o pronto tratamento da
hipertermia.

• Escolha o método de captura, dando preferência a contenção em cambiamentos


em vez das técnicas que requeiram perseguição. Caso esta seja necessária,
limite-a ao menor tempo possível.

• Se a captura do animal limita-se a translocação, providencie para que o meio de


transporte tenha as condições necessárias, principalmente no que se refere à
ventilação e espaço. Logo após a captura a maioria dos animais está
desidratada, por isso um suprimento farto de água fresca deve ser fornecido.

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• Uma vez liberado no recinto, alguns cuidados especiais devem ser tomados.
Certifique-se que o animal não seja fustigado por animais residentes e evite
nova contenção nos próximos 14 dias.
O tratamento de processos agudos deve incluir a oxigenação adequada do paciente e
a administração, por via intravenosa, de Bicarbonato de sódio, em doses de 4 a 6
mEq/Kg (1g de bicarbonato = 12 mEq; 500ml de solução a 6% contêm 30g de
bicarbonato; na solução de bicarbonato a 8,4% Æ 1ml = 1 mEq).

A miopatia de captura pode ser classificada em subtipos:


1. Síndrome do choque de captura
2. Síndrome da ataxia mioglobinúrica
3. Síndrome da ruptura muscular
4. Síndrome da morte súbita

1. Síndrome do choque de captura


Pode ser observada em animais capturados recentemente ou pode ocorrer
durante a contenção. A morte advém de 1 a 6 horas após a captura. Os sinais clínicos
incluem: depressão, taquicardia, hipertermia, hipotensão (pulso filiforme) e morte. Na
necropsia observam-se congestão e edema dos pulmões e severa congestão do
intestino delgado e do fígado.

2. Síndrome da ataxia mioglobinúrica


É mais freqüente, pode ocorrer horas ou dias após a captura. Os sinais clínicos
incluem: ataxia, torcicolo e mioglobinúria podendo ser severa ou mediana. Os casos
medianos podem sobreviver. Na necropsia são observadas lesões renais e da
musculatura esquelética. Bexiga urinária vazia ou com pequena quantidade de urina
escura. Músculos lombares e cervicais e flexores e extensores dos membros com
áreas multifocais pálidas, moles, linhas claras. As lesões são bilaterais mas não
simétricas, são tênues em animais que sobrevivem 1 a 2 dias e pronunciadas em
animais com leões mais antigas.

3. Síndrome da ruptura muscular


Após a captura aparentam estar normais apresentando sintomas após 1 a 2
dias. Os sinais geralmente são uma marcada linha nos quartos posteriores e hiper
flexão dos cascos. Ocorre geralmente a ruptura uni ou bilateral do músculo
gastrocnêmico. Podem sobreviver diversas semanas mas a maioria morre. Na
necropsia observam-se extensos hematomas subcutâneos, e multifocais lesões pálidas
e moles em porções dos membros, diafragma, músculos lombares e cervicais

4. Síndrome da morte súbita


Geralmente ocorre em animais que foram submetidos à captura nas últimas 24
horas. Estes animais parecem normais enquanto não são perturbados. Se perturbados,
contidos ou repentinamente estressados eles tentam correr, escapar, porém param
abruptamente e permanecem em postura ou deitam quietos alguns momentos, os
olhos ficam dilatados e morrem após alguns minutos. Esta forma é rara. Morrem com
fibrilação ventricular e na necropsia não são observadas lesões características.

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CONCLUSÃO
A miopatia de captura é uma síndrome para a qual mesmo a mais agressiva
terapêutica costuma ser infrutífera. A compreensão apenas parcial da sua fisiopatologia
aponta para a necessidade de estudos detalhados desse processo. Com as
informações disponíveis até o momento, fica claro que o melhor tratamento é o
profilático. A escolha certa dos métodos de captura, contenção e transporte, associada
ao manejo executado por uma equipe treinada e entrosada pode reduzir
significativamente a incidência da miopatia.

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Material cedido pelo Prof. Ricardo Guilherme D’O. Vilani MV, MSc - PUC

ANESTESIOLOGIA EM ANIMAIS SILVESTRES

ANESTESIOLOGIA EM AVES SILVESTRES

1. RESTRIÇÃO ALIMENTAR
Devido à alta taxa metabólica e pequena estocagem de glicogênio hepático, não
é recomendado grande tempo de restrição alimentar para aves antes da anestesia. Por
outro lado, é comum observar regurgitação em alguns animais após a indução
anestésica.
Recomendam-se, os seguintes tempos de restrição alimentar para diferentes
espécies:
Aves menores de 100g: sem restrição alimentar
Grandes aves carnívoras: 12 horas
Ratitas: 12 a 24 horas
Grandes psitacídeos: 1 a 2 horas
Aves em geral 2 a 3 horas
Quando for necessário grande tempo de anestesia, o paciente não apresentar
boas condições pré-operatórias ou não se alimentar adequadamente é recomendada a
administração por via oral de 4 ml/kg de glicose 5% antes da indução anestésica.

2. MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
Não é indicada a utilização de sulfato de atropina na presença de secreções
respiratórias, pois elas tornam os fluidos mais viscosos, o que pode provocar obstrução
das vias aéreas.
Medicamentos pré-anestésicos são raramente indicados para aves, devido a
fácil contenção física e rápida indução anestésica. Aves grandes podem requerer um
pré-anestésico antes da contenção física, podendo ser utilizado diazepam, midazolam,
alfa-2 agonistas, ou pequenas doses de tiletamina e zolazepam.

3. ANESTÉSICOS INJETÁVEIS
Os anestésicos injetáveis são muito utilizados em aves devido ao seu baixo
custo, facilidade de uso, rapidez da indução e por não ser necessária a aquisição de
aparelhos caros.
Por outro lado, a variação das doses anestésicas entre indivíduos de uma
mesma espécie e de diferentes espécies, a dificuldade em aferir um volume anestésico
seguro para pequenas aves, a facilidade de overdose, a dificuldade de manutenção da
anestesia cirúrgica sem depressão cardiopulmonar e a recuperação prolongada e
traumática são desvantagens desses anestésicos.
A anestesia injetável em aves é mais indicada para procedimentos curtos ou
para indução anestésica e posterior manutenção inalatória.
A via preferencial de administração dos anestésicos é a intravenosa. Podem ser
canuladas as veias ulnar, metatársica dorsal ou jugular. Quando o paciente é muito
pequeno ou não há a possibilidade da administração intravenosa, opta-se pela
administração intramuscular, utilizando-se o músculo peitoral. A anestesia por via
intramuscular traduz em um tempo de recuperação anestésica maior.

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Cetamina
A cetamina é uma droga anestésica dissociativa que provoca uma amnésia
profunda, analgesia superficial e catalepsia. É o anestésico injetável mais utilizado em
aves devido sua segurança e facilidade de uso. Outra característica é a manutenção
dos reflexos oculares e de deglutição. Provoca um aumento da pressão intracranial e
ocular. Há um aumento da freqüência cardíaca e estimulo da salivação e secreções do
aparelho respiratório.
O relaxamento muscular proporcionado pela cetamina é pobre e normalmente é
induzido um estado de catalepsia, onde há uma contração muscular excessiva,
podendo proporcionar ainda convulsões. Por isso, a cetamina nunca deve ser utilizada
sozinha, devendo ser associada com outra droga que produza bom relaxamento
muscular.
Em aves a cetamina produz uma boa analgesia somática e pobre analgesia
visceral. A recuperação anestésica é demorada e turbulenta. Pode ser associada com
um benzodiazepínico para proporcionar bom relaxamento muscular mantendo a
segurança, ou com a xilazina resultando em uma maior analgesia, porém com a
possibilidade de bradicardia e bloqueio atrioventricular.

Diazepam
É um benzodiazepínico que produz pequena depressão do sistema nervoso
central, excelente relaxamento muscular e mínimos efeitos cardiopulmonares.
O diazepam não apresenta boa analgesia e é utilizado dentro da anestesia
cirúrgica associado com a cetamina. Também pode ser utilizado como tranqüilizante
antes da indução anestésica com um agente inalatório através de máscara facial.
Devido ao seu efeito ansiolítico proporciona uma indução anestésica mais calma,
diminuindo os efeitos do estresse. Apresenta uma duração e recuperação
relativamente curta.

Midazolam
Como o diazepam, também é um benzodiazepínico, porém com duração menor.
Outra diferença em relação ao diazepam é ser solúvel em água (enquanto o solvente
do diazepam é o propilenoglicol, que além dos efeitos hipotensores provoca dor
muscular), sendo indicado então quando há necessidade de administrações por via
intramuscular. Sua meia-vida, porém, pode ser menor que a da cetamina, por isso,
dificilmente é usada esta associação.

Tiletamina+zolazepam
A tiletamina, assim como a cetamina, é uma ciclohexamina, e produz anestesia
dissociativa. Sua potência analgésica é maior que o da cetamina. Sempre está
associado ao zolazepam, que é um benzodiazepínico.
Esta associação apresenta rápida indução anestésica, grande margem de
segurança, boa analgesia somática e regular analgesia visceral. Seus efeitos são muito
semelhantes aos efeitos da associação de cetamina e diazepam.

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Xilazina
É um alfa-2 agonista adrenérgico que apresenta boa atividade sedativa e
potente efeito analgésico, principalmente analgesia visceral. Pode ser utilizada para
contenção química em procedimentos diagnósticos e para pequenas cirurgias.
Provoca bradicardia, arritmias, sensibilização à ação arrítmica da adrenalina e
bloqueio atrioventricular. Também pode propiciar depressão respiratória, hipoxemia,
hipercapnia, excitação e convulsão em algumas espécies.
A associação anestésica da xilazina com a cetamina é a mais utilizada dentro da
anestesiologia de aves, devido a sua excelente a imobilização e profundo grau de
analgesia. Suas desvantagens são os efeitos deletérios já relatados para a xilazina e o
grande tempo necessário para a recuperação anestésica.
Uma vantagem da xilazina é a existência de antagonistas alfa-2 adrenérgicos
como a yoimbina e mais especificamente o atipamezole.

Opioides
Os opioides tem uma utilização pouco comprovada em aves. Em outros animais
é caracterizado pelo grande potencial analgésico que provoca. O déficit motor
provocado pelos opioides nas aves, pode ser confundido com analgesia e mascarar um
efeito de dor. Existem estudos que demonstram que a morfina provoca analgesia e
outros relatam hiperalgesia. Acredita-se que os opioides kappa-agonistas, como o
butorfanol pode ter melhores efeitos analgésicos que os demais.

Outros anestésicos
O propofol é um anestésico com poder de rápida indução e recuperação
anestésica. Seu uso é estritamente intravenoso, mais em aves é relatada sua utilização
por via intra-óssea com o mesmo poder de ação. Produz uma duração anestésica
extremamente curta nestes animais, porém suficiente para uma entubação traqueal e
manutenção com anestesia inalatória. Como sua administração é relativamente difícil,
seu uso é extremamente limitado. Produz uma leve depressão respiratória e pode
provocar uma apnéia.
Barbitúricos de longa ação, como o fenobarbital, podem ser utilizados para
produzir anestesia de longa duração. O pico anestésico do fenobarbital ocorre em 15 a
30 minutos, e seu efeito pode durar até 24 horas. Existe, porém, uma pequena margem
de segurança entre a anestesia cirúrgica e uma severa depressão cardíaca e morte.

Anestésicos Locais
Sua utilização em pequenos pássaros é restrita devido ao risco de intoxicação,
mesmo com pequenos volumes. A droga deve ser muito diluída para uma aplicação
segura. Outro problema de sua utilização é por não atenuar o estresse proporcionado
pela contenção física se não for realizada uma restrição química.

4. ANESTÉSICOS INALATÓRIOS
Os anestésicos inalatórios são mais indicados para a anestesia de aves em
relação aos injetáveis devido à rápida indução e recuperação anestésica, facilidade de
controle de planos profundos, uso concomitante de oxigênio, proporcionando um maior
suporte respiratório e também por que não depende de vias metabólicas e excretórias
para recuperação anestésica. A utilização de gases com menor solubilidade sangüínea,

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como o isoflurano e o halotano, tornam a indução e a recuperação anestésica mais


rápidas.
A desvantagem da anestesia inalatória é principalmente a necessidade de
equipamentos anestésicos como vaporizadores, cilindros de oxigênio, válvulas,
circuitos respiratórios.

Equipamentos anestésicos
Os sistemas: fechado e semi-fechado normalmente utilizados para anestesia em
mamíferos não são indicados no caso da maioria das aves (menores de 8 kg). Devido a
existência de um circuito que permite a reinalação do gás expirado, há um aumento na
resistência respiratória, o que pode ultrapassar o limite em aves.
Os chamados “nonrebreathing circuits”, ou seja, circuitos abertos ou semi-
abertos de anestesia inalatória, como o circuito de Bain, são os indicados, devido a
mínima resistência à respiração do paciente.

Métodos de Indução
“O número e a variedade de técnicas para indução da anestesia inalatória em
aves é limitado apenas pela imaginação do anestesista”.
Podem ser utilizadas as máscaras anestésicas convencionais, fabricadas para
pequenos animais, ou máscaras produzidas de forma artesanal feitas com frascos
plásticos, seringas ou mangueiras dos circuitos respiratórios. A utilização das máscaras
é bem sucedida em uma grande variedade de aves.
Outra forma bastante utilizada é com o uso de câmaras ou sacos plásticos, onde
será introduzida a cabeça da ave. O gás anestésico e oxigênio são administrados
diretamente no saco plástico.
Outro método é a câmara anestésica, que consiste de uma cuba transparente
onde será colocada a ave e serão vaporizados o gás anestésico e oxigênio. A
desvantagem desse método é não poder reconhecer a profundidade anestésica
durante a indução devido à falta de contato físico.

Entubação endotraqueal
Algumas espécies podem apresentar dificuldade para entubação devido a
diferenças anatômicas do aparelho respiratório, como a presença de um septo traqueal
médio nos tucanos e flamingos. Na maioria das aves, porém, é fácil a visualização da
glote e a entubação da traquéia. Aves com mais de 100 gramas podem ser entubados.
Podem ser utilizados pequenos tubos traqueais infantis, com 2 mm de diâmetro,
para aves médias e grandes. Os tubos preferencialmente devem ser sem balonete,
porque aves apresentam anéis traqueais completos que não podem se expandir se
grandes quantidades de ar são utilizadas. Também podem ser adaptados tubos
traqueais a partir de sondas uretrais ou cateteres endovenosos.
Vários são os agentes anestésicos já utilizados para aves. Devido as suas
maiores recomendações e melhores resultados serão descritos apenas o halotano e o
isoflurano. Existem outros agentes anestésicos inalatórios mais sofisticados, porém
suas utilizações em aves ainda não são bem descritas.

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Halotano
O halotano é um anestésico inalatório de fácil utilização, não explosivo, com um
custo baixo e de odor agradável que proporciona um razoável relaxamento muscular e
poucas mudanças no nível da anestesia, rápida recuperação da consciência e da
temperatura corporal.
Suas desvantagens, principalmente nas aves, são a possibilidade de produção
de arritmias cardíacas, toxicidade renal e hepática, ressaca prolongada, apresentar
metabolização hepática (15%), monitorização extensiva, depressão respiratória,
aumento de secreções mucosas, recomendação para entubação e curto espaço de
tempo entre apnéia e parada cardíaca.
Para indução anestésica é necessária uma concentração de 3 a 5%, com um
volume de oxigênio de 2 a 3 litros por minuto, e para a manutenção recomenda-se uma
concentração anestésica de 1,5 a 2% em aproximadamente 0,5 a 1 litro de oxigênio por
minuto.

Isoflurano
É o anestésico mais recomendado para aves. É seguro para pacientes críticos,
há um grande espaço entre apnéia e parada cardíaca, apenas 0,3% é metabolizado
pelo corpo, não apresenta ressaca nem toxicidade, requer menor monitorização,
excelente relaxamento muscular, pequena produção de secreções, rápida recuperação
da temperatura corporal e da alimentação, baixa solubilidade e rápida recuperação
anestésica. Além disso não é explosivo e não é afetado pela luz ultravioleta.
Suas desvantagens são o alto custo, odor desagradável, depressão respiratória,
diminuição da pressão arterial devido ao relaxamento muscular e possibilidade de
provocar vômito em alguns animais.
Para indução anestésica é necessária uma concentração maior que 5%, com um
volume de oxigênio de 2 a 3 litros por minuto, e para a manutenção recomenda-se uma
concentração anestésica de 2 a 3% em aproximadamente 0,5 a 1 litro de oxigênio por
minuto.

ANESTESIOLOGIA EM RÉPTEIS

Os procedimentos anestésicos realizados em répteis nem sempre se referem a


uma cirurgia concomitante. Por vezes, é necessária a realização de uma contenção
química para um exame físico ou exames complementares como radiografia,
endoscopia e colheita de sangue.

1. FISIOLOGIA E ANATOMIA
Os répteis são ectotérmicos, isto é, eles poderão apresentar variações de
temperatura conforme a temperatura ambiente e, portanto apresentaram variações de
sua taxa metabólica. Por isso, as respostas às drogas anestésicas, como o tempo de
indução e recuperação, poderão apresentar grandes variações. É interessante manter
o paciente durante o período anestésico e mesmo nos períodos pré e pós-anestésicos
numa condição de temperatura ideal.
Em relação à anatomia, deve ser dada uma especial atenção ao aparelho
respiratório, por não apresentarem diafragma e por terem uma área de troca gasosa
menor que nos mamíferos. A ausência do diafragma é compensada pelos movimentos

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da musculatura torácica e, no caso dos quelônios, pelos membros dianteiros e


traseiros.
Existe em alguns répteis o sistema porta-renal e devido a este fato os
anestésicos devem ser aplicados sempre no terço anterior do corpo do paciente.

2. REQUERIMENTOS ANESTÉSICOS

Contenção
Em alguns casos, como aquelas anestesias para auxiliarem um exame físico,
será necessário um leve grau de contenção e em casos cirúrgicos será desejado um
maior grau de contenção

Relaxamento muscular
Para certas cirurgias, principalmente as tóraco-abdominais, será necessário um
excelente grau de miorrelaxamento. Outros procedimentos como em exames físicos e
cirurgias de pele não será necessário.

Analgesia
É extremamente difícil observar um estado de completa analgesia em répteis.
Eles nunca podem ser considerados incapazes de sentir dor.

Recuperação tranqüila
Normalmente os répteis apresentam uma recuperação prolongada, podendo
chegar a vários dias. Por isso, deve ser dada preferência àquelas drogas que
proporcionam recuperação rápida e tranqüila.

3. MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
Atropina pode ser administrada para provocar diminuição da atividade secretória
e prevenção de bradicardia. Esta droga, porém, não é indicada na rotina da anestesia
de répteis, pois excessos de líquidos salivares são raros. O glicopirrolato, que
apresenta ação anti-secretória mais seletiva pode ser uma boa opção nesses casos.
Medicação sedativa pode ser interessante para auxiliar a indução anestésica e
diminuir a dose necessária.

4. ANESTÉSICOS INJETÁVEIS
É a anestesia mais freqüentemente realizada em répteis devido ao seu baixo
custo e facilidade de uso. Apresenta, porém, diversas desvantagens como a dificuldade
de obtenção de um plano anestésico adequado, risco de overdose e recuperação
anestésica prolongada, podendo chegar, em casos de cirurgias demoradas, a 3 ou 4
dias.

Pentobarbital
Apresenta um longo tempo de indução anestésica, variando de 40 a 60 minutos,
recuperação muito prolongada, podendo ser superior a 3 dias com uma única dose,
depressão respiratória severa e dificuldade de atingir um plano anestésico. Deve ser
administrado por via intravenosa ou intraperitoneal.

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Tiopental
Deve ser administrado intravenosamente, pois a injeção intraperitoneal pode
causar peritonite. A indução ocorre em 30 a 45 minutos e é relatada alta mortalidade
por depressão respiratória severa. A recuperação anestésica é superior a 6 horas.

Metomidato
Muito utilizada para sedação, possibilitando exame físico e inclusive contenção
suficiente para realizar debridação, limpeza e tratamento de estomatite. Depois de
injeção intramuscular, o animal apresenta-se sedado em 15 a 20 minutos, porém não
apresenta propriedades analgésicas. Também pode ser utilizado antes de indução
intravenosa ou inalatória.

Etorfina
A indução ocorre em 10 a 30 minutos e produz excelente analgesia com duração
de 45 a 100 minutos. Deve ter extremo cuidado para os efeitos da droga em uma
administração acidental em humanos. Recomenda-se trabalhar com antídotos da
droga, que podem se a nalorfina ou a diprenorfina.

MS222
Produz uma analgesia de 30 a 60 minutos depois de 12 a 14 minutos de sua
aplicação intrapleurperitoneal, provocando imobilização satisfatória. O tempo de
recuperação pode chegar a 10 horas.

Succinilcolina
É um bloqueador neuromuscular muito utilizado para contenção químicas e pré-
medicação antes da indução com anestesia inalatória. Deve-se ter a disposição um
equipamento para ventilação controlada caso ocorra apnéia. Recuperação anestésica
ocorre em aproximadamente 9 horas. Apesar desta droga proporcionar uma excelente
imobilização, esta ocorre por paralisia muscular, isto é, não proporciona nenhuma
analgesia, então não deve ser utilizada como único anestésico para cirurgias.

Cetamina
É o agente anestésico mais utilizado, tanto isolado, como em associação a
outras drogas devido apresentar extrema segurança. Pode ser administrada por via
subcutânea, intramuscular ou intravenosa. Em doses baixas vai proporcionar
tranqüilização ou sedação e em doses altas uma anestesia satisfatória para
procedimentos cirúrgicos. Possui metabolização hepática e eliminação renal, então é
contra-indicada para pacientes com problemas nesses órgãos. Produz um tempo de
recuperação extremamente prolongado quando são utilizadas várias sobre-doses,
podendo chegar a 3 dias.

Tiletamina
Assim como a cetamina, é uma ciclohexamina, porém 2 a 3 vezes mais potente
que aquela. Sua ação é similar a da cetamina, mas apresenta uma maior capacidade
de provocar convulsões, por isso está sempre associada a um benzodiazepínico.

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Xilazina
Promove imobilização e analgesia regular após 45 minutos a 12 horas. É
utilizada associada à cetamina para melhorar os efeitos daquela.

Alfaxalone/alfadolone
Produz boa e rápida anestesia depois de sua aplicação intravenosa, com uma
duração de 15 a 35 minutos. Depois de sua aplicação intramuscular apresenta seus
efeitos em 25 a 40 minutos. Recuperação completa ocorre em aproximadamente 2,5
horas.

Propofol
É um anestésico de indução rápida e acúmulo mínimo depois de várias doses.
Pode ser considerado o anestésico injetável de escolha para répteis, apresentando
aproximadamente 20 minutos de anestesia e recuperação rápida. Sua desvantagem é
a necessidade de ser administrado por via intravenosa, apesar de existir relatos de sua
utilização por via intra-óssea. Uma pré-medicação com metomidato poderá auxiliar na
canulação de uma veia para sua indução.

5. ANESTÉSICOS INALATÓRIOS
Os anestésicos inalatórios apresentarão como vantagens sobre os injetáveis o
poder de melhor controle da profundidade anestésica, além de uma indução e
recuperação anestésicas mais rápidas.
Em animais menores de 10 kg, os circuitos aberto e semi-aberto são os mais
indicados, porém, para animais grandes podem ser utilizados circuitos fechados de
anestesia inalatória. Ventilação controlada é freqüentemente necessária em répteis.
A indução anestésica pode ser realizada por máscaras faciais fabricadas para
mamíferos ou artesanais. Câmaras anestésicas também podem ser bem utilizadas,
principalmente para cobras.
A entubação é facilmente realizada, normalmente sem a necessidade do uso de
um laringoscópio. Devem ser utilizados tubos endotraqueais sem balonete,
principalmente em quelônios e crocodilianos, que possuem anéis traqueais completos.
Quelônios apresentam a traquéia mais curta, por isso deve-se ter cuidado para não
atingir os brônquios.

Óxido Nitroso
É incapaz de produzir anestesia completa quando utilizado isolado, mas em
associação com outro anestésico inalatório produz excelente analgesia e relaxamento
muscular.

Halotano
Pode ser considerado um anestésico seguro para répteis, porém a indução em
uma concentração de 3 a 5% pode levar de 20 a 30 minutos. A manutenção anestésica
é fácil e pode ser realizada com uma concentração de 1,5 a 2,5%. Por apresentar
metabolização corporal (15 a 20%), não devem ser administrados para hepatopatas e
nefropatas. Provoca depressão respiratória e moderado relaxamento muscular, além
da apnéia ser muito próxima à parada cardíaca. É recomendada uma oxigenação por
algum tempo após o término da administração do anestésico.

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Isoflurano
É considerado o anestésico inalatório de escolha para répteis. Apenas 0,3% do
produto é metabolizado no organismo e apresenta baixa solubilidade sangüínea, isto é,
promove uma indução e recuperação anestésica mais rápida. Também promove uma
excelente analgesia e relaxamento muscular, apesar de provocar alguma depressão
respiratória. A parada cardíaca em doses muita elevadas ocorrerá muito tempo depois
da apnéia.

6. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS ESPECÍFICOS


Como relatado anteriormente, os anestésicos inalatórios, especialmente o
isoflurano, apresentam um efeito mais adequado para répteis. A seguir serão relatados
protocolos anestésicos para quelônios, crocodilianos, lagartos e serpentes.

Quelônios
O anestésico injetável mais utilizado é a cetamina provocando sedação em
doses de 22 a 44 mg/kg ou planos cirúrgicos com doses de 55 a 88 mg/kg. É
recomendada a associação com 0,2 a 1 mg/kg de diazepam ou 2 mg/kg de midazolam.
Sua associação com 0,5 a 1,5 mg/kg de butorfanol aumentará a analgesia para
procedimentos cirúrgicos. No geral, a cetamina deve ser utilizada para procedimentos
curtos ou indução anestésica, por causa de seu grande tempo de recuperação depois
de várias doses.
A tiletamina associada com o diazepam na dose de 5 a 10 mg/kg, normalmente
provoca planos superficiais de anestesia e prolongada recuperação. Etorfina, na dose
de 0,22 mg/kg, proporciona analgesia e sedação adequada para pequenos
procedimentos cirúrgicos.
Alfaxalone/alfadolone é recomendado como pré-medicação para anestesia
inalatória. Depois de uma dose de 15 mg/kg provoca indução em 2 a 4 minutos.
Injeções intramusculares devem ser realizadas em vários pontos, devido ao grande
volume requerido.
Quando existe a possibilidade de canulação de um vaso, propofol, na dose de 5
a 10 mg/kg, é o anestésico de eleição para répteis, podendo depois realizar a
entubação e manutenção inalatória. Porém, na dose de 1 mg/kg/min, o propofol é bem
utilizado na manutenção anestésica de procedimentos relativamente curtos.

Crocodilianos
Bloqueadores neuromusculares, principalmente a succinilcolina (3 a 5 mg/kg)
tem sido dado para induzir imobilização, sem nenhuma analgesia, em grandes
crocodilos. Deve-se ter o cuidado de ter a disposição um equipamento para
manutenção da ventilação se ocorrer uma paralisia prolongada dos músculos
respiratórios. 12 a 15 mg/kg de cetamina ou 2 a 10 mg/kg de tiletamina e zolazepam
podem ser dados posteriormente a succinilcolina para induzir anestesia e possibilitar
entubação traqueal. Pequenos crocodilos podem ser induzidos à anestesia apenas
com a Tiletamina e zolazepam ou com a cetamina isolada ou associada com diazepam.
Etorfina poderá induzir sedação e analgesia na dose de 0,5 a 1,5 mg/kg. Esta
droga pode ser utilizada para realizar a captura e contenção de grandes crocodilos.

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Sáurios
Os pequenos lagartos, como a iguana verde podem ser facilmente induzidos à
anestesia através da inalação de gases anestésicos por meio de máscara ou câmaras
anestésicas. Pode ser administrado 5 a 10 mg/kg de cetamina para a indução
anestésica, ou então, 1 a 1,5 mg/kg de butorfanol 30 minutos antes da indução com
isoflurano para aumentar a analgesia e diminuir o tempo de indução.

Serpentes
Cetamina, na dose de 22 a 44 mg/kg para sedação, e na dose de 55 a 88 mg/kg
para indução anestésica, isolada ou associada a 0,2 a 1 mg/kg de diazepam ou 1,5
mg/kg de butorfanol pode ser utilizada para serpentes. Não é recomendada a
manutenção com essas drogas por muito tempo por causa de sua prolongada
recuperação. Indução por agentes inalatórios pode ser realizada através de câmara
anestésica.
Metomidato pode ser utilizado por via intramuscular provocando sedação
suficientes para realização de métodos diagnósticos não invasivos, sem provocar
analgesia, e tendo uma duração de 10 a 20 minutos.

ANESTESIOLOGIA EM MAMÍFEROS SILVESTRES

Este capítulo tem como intenção principal discutir a anestesiologia em


mamíferos selvagens e não apenas métodos de captura e contenção química de
animais selvagens.

1. ANIMAIS DE LABORATÓRIO OU PETS

Roedores
A restrição alimentar para os pequenos roedores não deve ultrapassar 2 horas
devido a possibilidade de ser provocada uma hipoglicemia. Deve-se controlar a
temperatura ambiente ou manter o paciente sobre uma fonte térmica para evitar uma
hipotermia pós-operatória.
Pode ser realizada a administração de 0,05 a 0,1 mg/kg de sulfato de atropina
para evitar bradicardia e excesso de fluidos respiratórios.
No geral, a anestesia inalatória é a mais indicada para esses animais,
principalmente com a utilização de halotano, isoflurano e óxido nitroso. Suas vantagens
principais são o maior controle da profundidade anestésica e a possibilidade de maior
duração da anestesia com rápida recuperação. A indução anestésica pode ser
realizada através de máscara facial, câmara anestésica ou uma câmara que cubra
apenas a cabeça. Para manutenção anestésica pode ser utilizada a máscara facial, a
câmara para cabeça ou então realizada a entubação traqueal por meio de cateteres
endovenosos n.º 20 ou tubos pediátricos de 2 mm. Como substituição de laringoscópio,
pode ser usado um otoscópio.
A anestesia injetável apresenta como desvantagens respostas variáveis a partir
de uma mesma dose, por vezes não atingindo o plano anestésico desejado e a
manutenção de uma longa anestesia, por conseqüência terá grande período para
recuperação.

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O protocolo mais indicado para essas espécies é a associação de 40 mg/kg de


cetamina, 2 mg/kg de diazepam e 0,5 a 2 mg/kg de butorfanol. Essa associação produz
a partir de uma única dose intramuscular um plano cirúrgico em 5 a 10 minutos, com
duração média de 45 minutos e recuperação anestésica relativamente rápida,
caracterizada por excelente relaxamento muscular e analgesia.
Pentobarbital, na dose de 28 mg/kg, administrado por via intraperitoneal,
provocará uma anestesia em 15 minutos, com duração de 1 a 2 horas. A recuperação
anestésica ocorrerá em aproximadamente 12 horas. A dose letal do pentobarbital é
muito próxima da dose para atingir um plano cirúrgico, portanto não pode ser
considerado um anestésico seguro.
Anestesia através de dióxido de carbono, liberado por meio de um cilindro e
diluído em oxigênio, ou por meio de gelo seco, provoca anestesia em cerca de 10 a 15
segundos, com duração de 45 segundos e a recuperação ocorrerá em cerca de 1 a 2
minutos. Este método mostra grande segurança e pequenas modificações
hematológicas.
Neuroleptoanalgesia através da associação de fentanil e droperidol (Innovar) na
dose de 0,88 ml/kg produz anestesia de excelente qualidade, porém a sua
administração intramuscular provoca analgesia e insensibilidade no local de aplicação,
o que poderá redundar em automutilação.
Administração de 40 a 150 mg/kg de cetamina associado a 5 a 10 mg/kg de
xilazina, ou 0,5 mg/kg de detomidina provocarão resultados variados, não
proporcionando, por vezes, imobilização e analgesia suficientes para determinadas
cirurgias. A vantagem é a existência de drogas, como o atipamezole, que
antagonizarão os alfa-2 agonistas adrenérgicos.

Lagomorfos
Nos coelhos deve ter atenção especial para a contenção física antes da indução
anestésica. Ao se debater, os lagomorfos poderão utilizar os chutes para sua defesa, o
que poderá provocar fratura ou luxação dos membros e coluna vertebral, podendo ser
traduzida em paralisia.
Coelhos possuem uma atropinase, que inativará rapidamente a atropina
administrada. São recomendadas altas (1 a 2 mg/kg) e repetidas (a cada 15 minutos)
doses. 0,01 a 0,02 mg/kg de glicopirrolato é uma alternativa como anticolinérgico.
Mais uma vez a anestesia inalatória é recomendada para poder atingir planos
anestésicos profundos e com recuperação rápida. A entubação, porém é mais difícil
que nas espécies domésticas, devido ao grande comprimento da orofaringe e largura
da epiglote. O diâmetro da laringe é menor que o da traquéia e tubos pequenos serão
mais facilmente inseridos.
Cetamina (44 mg/kg) isolada não produz analgesia e relaxamento muscular
adequado nos coelhos, por isso deve ser associada com xilazina (5 mg/kg),
medetomidina (0,5 mg/kg) ou acepromazina.
Pentobarbital na dose de 30 a 45 mg/kg pode ser administrado por via
intravenosa produzindo boa anestesia. Muitas vezes doses complementares serão
necessárias para que seja atingido um plano cirúrgico.
Propofol produzirá um leve plano anestésico na dose de 10 mg/kg, porém o
incremento desta dose poderá resultar em depressão respiratória intensa antes de
provocar um plano mais profundo.

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Anestésicos injetáveis são normalmente administrados como pré-medicação ou


agentes de indução anestésica, para um posterior complemento da indução e
manutenção com agentes inalatórios como halotano e isoflurano.

2. ROEDORES SELVAGENS
Anestésicos injetáveis poderão ser bem utilizados para provocarem uma
contenção química eficiente para a realização de procedimentos não invasivos como
exame físico, colheita de sangue e ultra-sonografia. A contenção física para a
administração de anestésicos poderá provocar, nestes animais, estresse e reação de
alarme. Excitação excessiva normalmente provoca a liberação de catecolaminas
endógenas atrapalhando a ação dos anestésicos.
A associação numa mesma seringa de 30 mg/kg de cetamina, 2 mg/kg de
xilazina e 0,1 mg/kg de sulfato de atropina provocará uma anestesia em cerca de 5
minutos, caracterizada por pequena analgesia e relaxamento muscular moderado, com
duração de aproximadamente 40 minutos e recuperação anestésica em torno de 2 a 4
horas, proporcionando extrema segurança.
A associação de cetamina e acepromazina também é bem utilizada, porém com
uma menor analgesia e relaxamento muscular. A associação de fentanil (0,4 mg/ml) e
droperidol (20 mg/ml - Innovar), num volume de 0,3 a 0,4 ml/kg promoverá uma leve
anestesia com duração de 30 a 60 minutos.
Também a indução com anestésicos inalatórios poderá ser efetuada por meio de
uma câmara anestésica nos roedores menores. A entubação não é muito difícil e pode
ser realizada com um tubo traqueal de 5 mm para roedores de 3 a 5 kg. Anestésicos
inalatórios redundaram em melhores planos anestésicos e recuperação mais rápida.

3. MUSTELÍDEOS
Sulfato de atropina deve ser administrado, na dose de 0,05 mg/kg, por via
subcutânea ou intramuscular antes de qualquer procedimento anestésico. Anestesia
injetável pode ser bem sucedida com a utilização de 26 mg/kg de cetamina associado a
0,22 mg/kg de acepromazina, produzindo um leve plano cirúrgico. Cetamina (25 mg/kg)
e xilazina (2 mg/kg) também produzem bons planos anestésicos com duração de 30 a
40 minutos e analgesia suficiente para cirurgias abdominais. A associação de cetamina
(5 mg/kg) e medetomidina (0,1 mg/kg) é bem utilizada para contenção química desses
animais.
Também é utilizada uma mistura de Telazol (250 mg de tiletamina e 250 mg de
zolazepam) solubilizado em 4 ml de cetamina (400 mg) e 1 ml de xilazina (100 mg)
pode ser utilizado em ferretes num volume de 0,03 a 0,04 ml/kg. Essa associação
produz imobilização e analgesia adequadas para a maioria dos procedimentos
cirúrgicos. Neuroleptoanalgesia com 0,05 mg/kg de fentanil e 0,2 mg/kg de azaperone
também é relatada.
Ferretes podem ser induzidos por meio de máscara ou câmara anestésica. O
plano induzido pelo halotano e isoflurano é o mais interessante para a realização de
cirurgias, com uma recuperação é rápida e tranqüila. A entubação é relativamente difícil
e deve ser feita com tubos traqueais finos, porém, os tubos mais finos normalmente
são muito curtos para os mustelídeos. Halotano pode ser utilizado com uma
concentração de 5% para indução e 2% para a manutenção anestésica.

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4. PROCIONÍDEOS
Recomenda-se a utilização de 0,05 mg/kg de sulfato de atropina antes de
qualquer procedimento anestésico.
Cetamina isolada (20 a 30 mg/kg) promoverá uma indução em 3 a 7 minutos e
duração de 45 a 90 minutos, caracterizando um pobre relaxamento muscular e riscos
de convulsões. Quando utilizada uma dose de 10 mg/kg associada a 2 mg/kg de
xilazina ou 0,1 mg/kg de medetomidina promoverá uma eficiente contenção química e
analgesia por aproximadamente 20 minutos. Benzodiazepínicos, como o diazepam (1
mg/kg), poderão ser utilizados para incrementar o relaxamento muscular.
Tiletamina/zolazepam na dose de 10 mg/kg também promove boa contenção química.
Manutenção anestésica poderá ser realizada por meio de máscara facial ou tubo
traqueal depois da indução com agentes injetáveis, com excelentes resultados.

5. CANÍDEOS SELVAGENS
Contenção química de cães selvagens tem sido bem descrita na literatura
moderna com utilização de ciclohexamínicos (cetamina e tiletamina), alfa-2 agonistas
(xilazina e medetomidina), benzodiazepínicos (diazepam, midazolam e zolazepam).
Cetamina pode ser utilizada numa dose de 11 mg/kg, para provocar anestesia
dissociativa. Esta droga promove efeitos catalépticos e por isso deve ser sempre
associada com 2 mg/kg de xilazina ou 0,1 mg/kg de medetomidina, administrados por
via intramuscular, normalmente por meio de um dardo. Diazepam (1 mg/kg) pode ser
introduzido nesta associação.
Devido ao grande volume necessário da droga para animais de grande porte,
normalmente é utilizada a associação de tiletamina e zolazepam, com o nome
comercial de Telazol (500 mg) ou Zoletil (250 mg) que vem em formulação liofilizada. É
recomendada a diluição do pó anestésico em 5 ml de água estéril, porém pode ser
diluída em menores volumes, inclusive com outras soluções anestésicas, reduzindo
assim o volume necessário, podendo então, ser administrado com um único dardo.
Utiliza-se uma diluição de 250 mg de tiletamina e zolazepam em 5 mg de
medetomidina ou 100 mg de xilazina, podendo então, administrar toda essa solução
anestésica em cães com peso de 50 kg.
Indica-se sempre a utilização de 0,05 mg/kg de sulfato de atropina em qualquer
protocolo anestésico.
Para procedimentos cirúrgicos é recomendada, após a contenção química
através das técnicas descritas acima, a entubação do animal e manutenção por meio
de anestesia inalatória com halotano ou isoflurano, utilizando as mesmas técnicas e
concentrações daquelas indicadas para cães domésticos.

6. FELÍDEOS SELVAGENS
Como em todos os mamíferos selvagens, é recomendada a utilização de 0,05
mg/kg de sulfato de atropina em qualquer procedimento anestésico para felídeos.
A contenção química por meio de cetamina isolada normalmente promove uma
anestesia de má qualidade, sendo observada freqüentemente salivação excessiva,
rigidez muscular e convulsões. Associação de 10 a 20 mg/kg de cetamina e 2 mg/kg de
xilazina induz períodos curtos de analgesia, sendo necessário normalmente sobre-
doses anestésicas para a realização de procedimentos. Medetomidina (0,03 mg/kg)

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também tem sido bem utilizada, associada a cetamina, para a imobilização de felídeos
selvagens. Tiletamina e zolazepam (1,5 a 5 mg/kg) providenciam uma rápida indução
anestésica com duração de 15 a 30 minutos, caracterizada por boa imobilização e
analgesia. Esta última associação, porém, não deve ser utilizada para tigres e
leopardos por manifestarem processos convulsivos com longa duração.
A mistura de Telazol (250 mg de tiletamina e 250 mg de zolazepam) solubilizado
em 4 ml de cetamina (400 mg) e 1 ml de xilazina (100 mg) é relatada por produzir boa
contenção química e analgesia, com recuperação anestésica mais suave.
Etorfina (M-99), na dose de 0,5 mg/kg, foi utilizada com sucesso para
imobilização de grandes leões. Tremores musculares provocados pela etorfina são
plenamente controlados com doses de 0,25 mg/kg de acepromazina. Succinilcolina, um
bloqueador muscular, por muito tempo foi utilizado para provocar paralisia na dose de
60 a 120 mg/kg, com duração de até 60 minutos. Sua utilização, porém, necessita de
equipamento para manter uma ventilação controlada, além de não induzir nenhuma
analgesia.
Para procedimentos cirúrgicos longos é recomendada a utilização de halotano
ou isoflurano proporcionando um maior controle anestésico e sem a recuperação
demorada característica dos anestésicos injetáveis. Entubação é preferida em relação
à máscara facial principalmente para longas cirurgias. A inserção do tubo traqueal é
relativamente fácil e por vezes dispensa o uso de um laringoscópio.

7. SUÍNOS SELVAGENS
Contenção química pode ser realizada com anestésicos dissociativos (tiletamina,
cetamina) associados a benzodiazepínicos (zolazepam, diazepam) e/ou alfa-2
agonistas (xilazina, medetomidina). O padrão de imobilização e analgesia dificilmente
atinge níveis adequados para cirurgias. Se for possível contenção física 10 mg/kg, por
via intravenosa, de tiopental sódico produz rápida anestesia com curta duração, porém
grande tempo de recuperação.
Cetamina, na dose de 15 a 20 mg/kg, isolada produz sedação e contenção
química, com rápida diminuição da temperatura. Tiletamina e zolazepam (2,18 mg/kg)
produzem boa e segura imobilização, com indução e recuperação suave e bom
relaxamento muscular, porém com pobre analgesia. Se associado com xilazina,
promoverá eficiente analgesia para a realização de procedimentos cirúrgicos curtos.
Depois de induzido, os suínos devem ser entubados e mantidos com halotano e
isoflurano para procedimentos cirúrgicos. Manutenção anestésica com agentes
injetáveis normalmente são ineficazes e traduzem num grande tempo de recuperação.
As técnicas utilizadas para porcos domésticos podem ser adaptadas aos selvagens.

8. RUMINANTES SELVAGENS
Bovídeos
Antigamente era extensamente utilizado 6 a 10 mg/45 kg de succinilcolina,
provocando paralisia muscular associada com apnéia. Hoje, neuroleptoanalgesia é
extensamente utilizada com bons resultados.
Carfentanil, um potente opioide, pode ser usado em doses de 11 a 13 µg/kg
associado a 0,75 mg/kg de azaperone para a imobilização de antílopes, provocando
excelente imobilização e analgesia. Etorfina (22 µg/kg), combinada com acepromazina
(15 mg) para evitar tremores musculares e aumentar o tempo de contenção, é utilizada

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para pequenos bovídeos para contenção química. Associação de fentanil e xilazina


também apresentam bons resultados em vários estudos relatados.
Associação de cetamina (12 mg/kg) e xilazina (0,25 mg/kg) pode ser usada para
promover contenção química. Salivação excessiva depois da cetamina é comumente
observada, além de bradicardia após a xilazina. Sulfato de atropina (0,05 mg/kg) pode
ser indicado, porém deve-se ter especial cuidado com timpanismos conseqüentes.
Nestes casos, uma sonda oro-gástrica será necessária.
Em anestesias para longas cirurgias pode ser utilizado o halotano e o isoflurano
através de entubação traqueal. Máscara facial não é indicada por causa do refluxo de
conteúdo ruminal normalmente envolvido, já que dificilmente é possível a restrição
alimentar de 48 horas recomendada.

Cervídeos
Xilazina pode ser usada isoladamente com doses variando de 0,3 a 3 mg/kg
para sedação em alguns animais. Em doses altas, promove boa sedação e analgesia,
porém em doses consideradas seguras, a contenção e o relaxamento muscular são
insuficientes. Depois da sedação, analgesia local pode ser realizada para
procedimentos cirúrgicos.
Cetamina ou tiletamina/zolazepam associada com xilazina é extensamente
usada para a contenção de cervídeos, apresentando excelentes resultados de
imobilização e analgesia. Sulfato de atropina pode ser administrado para evitar
salivação em excesso, raramente traduzindo em timpanismo. Medetomidina também é
uma opção para relaxamento muscular e analgesia nessas associações. Alfa-2
antagonistas, como o atipamezole, devem ser presença obrigatória na anestesia de
animais selvagens e pode ser usada para diminuir o tempo de recuperação anestésica.
Neuroleptoanalgesia com etorfina (0,02 mg/kg) e xilazina (0,3 mg/kg) ou fentanil
(0,3 a 0,66 mg/kg) e xilazina (0,5 a 1,3 mg/kg) também é muito utilizada em cervídeos.
Tranqüilização pode ser produzida através da mistura de benzodiazepínicos na
alimentação, facilitando assim a contenção física. 125 a 250 g de diazepam misturado
em 10 kg de comida. Os efeitos aparecem em 4 a 8 horas e podem persistir por vários
dias, dependendo da quantidade de alimento ingerido.

Camelídeos
Xilazina é facilmente utilizada provocando boa sedação para facilitar a
manipulação de grandes camelídeos em doses variando de 0,4 a 0,9 mg/kg.
Regurgitação é rara e a recuperação é livre de excitação. Cirurgias podem ser
realizadas depois de analgesia local ou regional, como paralombar ou epidural.
Tiopental (4,4 mg/kg) também foi administrado por via intravenosa para indução
de anestesia geral e posterior manutenção com gases anestésicos, depois de inserido
um tubo traqueal.

Girafas
Neuroleptoanalgesia associando etorfina, na dose total de 1,5 a 2,5 mg,
associado a 0,3 a 0,4 mg/kg de xilazina promovem contenção química de alta
qualidade e pode ser revertido posteriormente com um antagonista opioide (nalorfine,
diprenorfine) e um antagonista alfa-2 adrenérgico (yoimbina, atipamezole). Decúbito
pode ser provocado com a associação de etorfina, xilazina e acepromazina (30 mg) e

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anestesia cirúrgica é completada com doses adicionais de etorfina. Carfentanil também


já foi utilizado associado a xilazina.

9. EQUÍDEOS SELVAGENS
Etorfina (0,017 mg/kg) isolada ou associada com 0,04 mg/kg de acepromazina é
utilizada para contenção química. Carfentanil também pode ser utilizado na dose de
0,015 a 0,033 mg/kg provocando imobilização em cerca de 10 minutos. Xilazina (0,6
mg/kg) pode ser associada ao carfentanil para aumentar a sedação e diminuir a rigidez
muscular. Como nos equídeos domésticos, opioides podem provocar excitação,
aumento da taxa metabólica, rigidez muscular taquicardia e hipertermia.
Cetamina (1,5 a 2 mg/kg) e medetomidina (0,06 a 0,08 mg/kg) promovem boa
imobilização e relaxamento muscular, podendo ser revertido rapidamente com
atipamezole. Anestesia inalatória é a de escolha para procedimentos cirúrgicos.
Técnicas e drogas empregadas para eqüinos domésticos podem ser utilizadqas nos
animais selvagens depois de sedados.

10. RINOCERONTES
Imobilização pode ser conseguida após 30 a 40 minutos da aplicação
intramuscular de 1,5 g de morfina, 175 mg de escopolamina e 725 mg de
clorpromazina. Associações de etorfina (2,0 mg), acepromazina (20 a 25 mg) e
azaperone (200 a 250 mg) produzem imobilização, prontamente revertida com o uso de
nalorfina. Carfentanil isolado na dose de 1,0 a 1,5 mg para jovens e 2,5 a 3,0 mg para
adultos também promove excelente sedação, imediatamente reversível com a
diprenorfina.

11. TAPIRÍDEOS
Contenção química pode ser realizada com a utilização de 10 µg/kg de etorfina
ou 20 µg/kg de carfentanil. Associação de 0,15 mg/kg de butorfanol e 0,3 mg/kg de
xilazina ou 0,05 mg/kg de detomidina para sedação, seguida de administração
intravenosa de 0,5 mg/kg de cetamina proporciona boa imobilização e relaxamento
muscular prontamente revertidos com antagonistas opioides e alfa-2 adrenérgicos.
Xilazina (3,6 a 4,5 mg/kg) promove sedação suficiente para a administração
intravenosa da mesma dose de cetamina, promovendo então plano suficiente para a
realização de cirurgias. Pode ser associado a esse protocolo 0,5 mg/kg de midazolam
para promover maior relaxamento muscular.
Detomidina (0.05 mg/Kg) e tiletamina/zolazepam (4 a 6 mg/Kg) proporcionam
boa imobilização e grande relaxamento muscular.
Manutenção anestésica é melhor sucedida depois de entubação e utilização de
anestésicos inalatórios. Depois da contenção química, pequenas doses de propofol,
por via intravenosa promovem planos suficientes para a entubação.

12. ELEFANTES
Várias drogas já foram estudadas para promoverem contenção química e
anestesia em elefantes, porém a droga mais utilizada nos dias atuais é a etorfina, numa
dose de 0,0017 a 0,0022 mg/kg. Também pode ser utilizada sua associação com a
acepromazina, provocando sedação, decúbito e imobilização. Transporte pode ser

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realizado com a administração de 100 a 175 mg de xilazina a cada 3 horas. Azaperone


também pode ser utilizado para sedação de elefantes.
Foi relatada a indução anestésica por meio de etorfina intramuscular e
posteriormente intravenosa e então a entubação com um tubo traqueal de 40 mm de
diâmetro com balonete através de um tubo gástrico introduzido por meio de palpação
digital. Foram utilizados 2 vaporizadores para proporcionar inicialmente uma
concentração de 5% de isoflurano em 15 l/min de oxigênio e depois variações de 2 a
3% de isoflurano em 5 l/min de oxigênio e redução gradativa do isoflurano.

13. HIPOPÓTAMOS
Etorfina, na dose total de 4 a 8 mg, é a droga mais utilizada para imobilização e
anestesia desses animais. Pode ser associada com 0,1 mg/kg de xilazina. Deve-se
tomar cuidado para impedir a entrada desses animais na água após realizada a
administração das drogas.

14. URSÍDEOS
A associação de cetamina e xilazina é a mais relatada para ursos. Cetamina na
dose de 4,5 a 9 mg/kg e xilazina na dose de 2 a 4,5 mg/kg induzem anestesia tranqüila
e com boa qualidade de analgesia e contenção. Esse protocolo pode ser usado para
procedimentos cirúrgicos, porém com conseqüente grande tempo para recuperação.
Medetomidina, na dose de 0,03 a 0,06 mg/kg, tem sido utilizada em substituição da
xilazina com excelentes resultados, diminuindo inclusive a dose necessária de
cetamina para 2,5 a 4 mg/kg. Sulfato de atropina é sempre recomendado para evitar
excesso de salivação e bradicardia.
Etorfina (10 a 60 µg/kg) é muito utilizada por necessitar de menor volume,
podendo ser administrada toda dose em um dardo. Carfentanil é mais potente que a
etorfina e pode ser dado em dose de 12 a 28 µg/kg.
Pequenos ursos podem ser induzidos à anestesia com a utilização de drogas
por via intravenosa, como barbitúricos e propofol, e posterior manutenção inalatória.

15.PRIMATAS
A associação de cetamina e xilazina é a mais utilizada para a contenção química
de primatas. Doses de 5 a 15 mg/kg de cetamina isolada promove uma contenção
química de 10 a 15 minutos e ampla margem de segurança será promovida. A
associação com 0,5 mg/kg de xilazina proporciona maior relaxamento muscular e
analgesia. Se aumentarmos a dose de cetamina para 20 a 40 mg/kg e associarmos
com 0,5 mg/kg de midazolam e/ou 0,5 mg/kg de xilazina um plano anestésico suficiente
para a realização de curtos procedimentos cirúrgicos será obtida. Sulfato de atropina
(0,01 a 0,05 mg/kg) reduz a salivação e o risco de vômito.
Tiletamina/zolazepam (1,5 a 10 mg/kg) produz contenção de alta qualidade e se
associado com opioides, como a oximorfina (0,15 mg/kg), promove uma analgesia
adequada para procedimentos cirúrgicos.
Neuroleptoanalgesia com fentanil (0,02 a 0,04 mg/kg) e droperidol (1 mg/kg) por
via intramuscular ou por via oral (diluído no leite ou suco de frutas) produz excelente
imobilização e analgesia suficientes para a realização de cirurgias por 30 a 60 minutos.
Anestesia intravenosa pode ser realizada em animais onde a contenção física é
mais fácil, com o uso de barbitúricos ou propofol (2 a 4 mg/kg). Nestes animais,

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principalmente filhotes e recém-nascidos, a indução pode também ser realizada por


meio de máscara facial com halotano ou isoflurano. Devido ao seu odor agradável o
halotano promove uma indução mais tranqüila. Por outro lado o isoflurano apresenta
uma maior segurança e menores tempos de indução e recuperação anestésicas.
Cirurgias prolongadas requerem manutenção por meio de anestesia inalatória.
Pode ser inserido um tubo traqueal, usada a máscara facial e também já foi relatada
em chimpanzé a utilização de máscara laríngea com excelente resultado.
Técnicas de anestesia local e regional, utilizadas para humanos, como o
bloqueio subclavicular e a anestesia epidural, podem ser copiadas com sucesso
semelhante.

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SISTEMA PORTA-RENAL (SPR)

O SPR está presente na maior parte dos peixes, em todos os anfíbios,


répteis e aves (é encontrado em embriões de mamíferos).
Nos mamíferos a circulação esplâncnica ou sistema porta hepático determina
que um certo volume de sangue procedente do estomago, intestino, pâncreas e baço
seja transportado para o fígado onde as veias ramificam-se de maneira análoga ao
que acontece com as arteríolas, deste modo, o sangue deste sistema passa por uma
segunda série de capilares antes de ser transportado ao coração através da veia
cava posterior.
Nas aves, répteis, anfíbios e peixes a circulação, através do SPR, determina
que o sangue venoso proveniente da cauda, pernas e região pélvica possa sofrer
dois trajetos:
1) Passar através dos rins (túbulos) e ir para a circulação sistêmica.
2) Desviar dos rins indo diretamente para a circulação sistêmica.

O SPR apresenta válvulas localizadas na junção das veias ilíacas externas e


veias renais que, quando abertas (adrenalina), permite que o sangue flua diretamente
para a veia cava caudal e ao coração ou quando fechadas (acetilcolina) determina que
o sangue sofra percolação nos túbulos renais desaguando em seguida na veia cava
caudal, indo ao coração.

A função do SPR: peixes, anfíbios e répteis não podem produzir urina


hipertônica porque não apresentam “Alça de Henle”. Durante períodos de desidratação,
para diminuir a perda d’água, a taxa de filtração glomerular precisa ser reduzida. Isto
ocorre através da ação da vasopressina argenina que causa constrição das arteríolas
aferentes aos glomérulos. O SPR continua com o suprimento de sangue para perfusão
nas células dos túbulos renais, prevenindo-as da necrose isquêmica. Dependendo da
necessidade momentânea (balanço hídrico do organismo) o sangue pode ser
conduzido para os rins (túbulos) ou dele ser desviado.

Quase a totalidade dos autores de textos de medicina de animais silvestres vem


historicamente recomendando que as aplicações de medicamentos injetáveis em aves
e répteis sejam evitadas na região drenada pelo SPR (cauda, pernas e região pélvica),
deduzindo que a droga hidrossolúvel aplicada irá sofrer ação da filtragem renal antes
de cair na circulação sistêmica. Recentes experimentos farmacocinéticos descritos no
Capítulo 32: “The Reptilian Renal-Portal System: Influence on Therapy” de Peter H.
Holz, no livro Zoo & WIld Animal - Medicine Currente Therapy 4 - Fowler & Miller
(1999), concluem que não foram observadas diferenças significativas entre aplicações
efetuadas na região anterior e posterior de répteis (Tigre-d’água - Trachemys scripta) e
aves (avestruz - Struthio camelus), não sendo necessário obedecer esta antiga regra,
desta maneira facilitando-se o manejo. Cita ainda que a gentamicina (aminoglicosídeo)
é filtrada no glomérulo renal e não no túbulo, logo uma aplicação efetuada na região
posterior irá passar pela circulação sistêmica antes de sofrer a filtração glomerular.
Experimentos farmacocinéticos não têm demonstrado diferenças significativas com

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relação à nefro-toxicidade quando aplicadas na região anterior ou posterior de aves e
répteis.

Entretanto, especialmente quando se utilizam drogas potencialmente


nefrotóxicas como os antibióticos do grupo dos aminoglicosídos, entre eles a
gentamicina que pela sua eficiência em germes Gran-negativos é amplamente utilizada
em répteis, reitera-se a recomendação de fluidoterapia concomitante.

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TÉCNICAS DE COLHEITA DE SANGUE EM ANIMAIS SILVESTRES

Introdução
A hematologia é um recurso de auxílio diagnóstico universalmente importante na
clínica médica, e torna-se ainda mais relevante na medicina de animais silvestres onde
a anamnese e a semiologia podem apresentar restrições e limitações (sinais clínicos
nem sempre perceptíveis).
A colheita de sangue pode ser praticada essencialmente sob duas condições,
com o animal sob contenção física (mecânica) ou farmacológica (química). O domínio
das técnicas de sedação/anestesia e contenção, portanto é imprescindível. A
contenção química pode ser indispensável para ser preservada a integridade física do
paciente e/ou do operador.
O aquecimento ambiental (répteis), a irrigação da área a ser puncionada com
água quente, ou a aplicação tópica de xilol podem facilitar o sucesso na colheita de
sangue.
O estabelecimento de valores de referência para hematologia e bioquímica
clínica é de grande importância na medicina de animais silvestres, pois ainda são
poucas as espécies da fauna silvestre sul-americana que foram submetidas a trabalhos
de pesquisa com definição do padrão hematológico.

Volume de sangue a ser colhido


Um cálculo aproximado pode ser utilizado para a definição do volume máximo de
sangue a ser colhido de um animal. Consideremos que o volume total de sangue de um
vertebrado é da ordem de 10% do seu peso corporal (em répteis pode ser menor: 5% a
8%) e que do total de sangue existente em um organismo, podemos retirar uma
amostra de até 10% sem prejuízos importantes. Portanto podemos colher
seguramente, sem prejuízo do paciente (saudável) uma amostra de até 1% do peso
corporal.

Alguns animais e seus volumes de sangue passíveis de serem colhidos:


Beija-flor – 8g Æ 1% Æ 0,08ml de sangue.
Curió – 15g Æ 1% Æ 0,15ml de sangue.
Periquito-australiano – 30g Æ 1% 0,3ml de sangue.
Papagaio – 400g Æ 1% Æ 4ml de sangue.
Arara – 1500g Æ 1% Æ 15ml de sangue.
Cisne-negro 5000g Æ 1% Æ 50ml de sangue.
Mico-leão 700g Æ 1% Æ 7ml de sangue.
Onça 90000g Æ 1% Æ 900ml de sangue.

Diversidade de pacientes
Decorrente da grande variedade de vertebrados (ver quadro abaixo) fica claro
que as diferenças com relação ao tamanho, peso, anatomia, fisiologia, comportamento
(stress), periculosidade e especificidades irão determinar o procedimento de colheita de
sangue. As técnicas de colheita podem ser muito diversas e as dificuldades podem ser
muito grandes.

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Diversidade de vertebrados vivos (± 47.668 espécies)
Peixes Æ24.587 spp
Aves Æ 8.750 spp
Répteis Æ 5.971 spp
Anfíbios Æ 4.310 spp
Mamíferos Æ 4.050 spp

Locais de eleição para a colheita de sangue (punção venosa)

Répteis
Geralmente podem ser submetidos à colheita de sangue apenas com contenção
mecânica, mas em algumas espécies a sedação/anestesia é indispensável.

Serpentes Æ jugulares, caudais, periorbitais, pterigo-palatinas


Quelônios Æ jugulares, seios (sinusoides) pós-occipitais (supravertebrais),
punção cardíaca.
Lagartos Æ caudais
Crocodilianos Æ seios (sinusoides) pós-occipitais (supravertebrais)

Aves
Geralmente as aves podem ser submetidas à colheita de sangue através de
contenção física, pois não apresentam tamanho muito avantajado. Também os vasos
sanguíneos costumam ser facilmente acessíveis.
Locais para a colheita:
Jugular direita
Veias ulnares (asas) – braquiais
Tarso-mediais
Mamíferos
Ë grande a variabilidade, a sedação/anestesia pode ser necessária,
independentemente do porte do animal, em alguns casos é impossível a colheita sem
anestesia profunda.

Ordem Marsupialia:
Gambás e cuícas Æ veias femorais ou ventrais da cauda.
Cangurus Æ veias cefálicas e dorsolaterais da cauda.

Ordem Edentata:
Tamanduá-bandeira Æ Veias femorais, jugulares, ventrais da cauda.

Ordem Primates:
Veias jugulares, radiais e femorais.

Ordem Carnivora

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Veias braquiais, safenas, femorais, jugulares, radiais, dorsolaterais da cauda
(grandes felinos), sublinguais (ursos).

Ordem Rodentia e Lagomorpha (coelhos)


Veias safenas laterais, femorais, jugulares, caudais, marginais das orelhas.

Ordem Artiodactyla
Hipopótamos Æ veias femorais e braquiais.
Suídeos e taiassuídeos Æ veias jugulares e femorais, marginais das orelhas,
cava.
Cervídeos, bovídeos e girafídeos Æ veias jugulares, safenas e femorais.
Tapirídeos Æ veias femorais e braquiais.
Rinocerontídeos Æ veias dorsolaterais da cauda e articulares.

Peixes e anfíbios não serão abordados devido a falta de experiência do autor nesta
prática.

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TERMORREGULAÇÃO

1) INTRODUÇÃO
Apenas poucos, dentre todos os seres vivos que habitam a Terra, são capazes
de controlar sua temperatura interna, a grande maioria está sujeita às limitações
impostas pelas condições térmicas ambientais.
Somente as aves e os mamíferos são capazes de produzir calor metabólico
suficiente para controlar a temperatura corporal. Exceções são registradas entre alguns
répteis, peixes, insetos e plantas que apresentam capacidade de produzir algum calor
metabólico.
A temperatura corporal dos animais em atividade pode variar de -2ºC a +50ºC,
contudo, alguns podem sobreviver a temperaturas mais baixas ou mais altas, em
estado de inatividade (dormência).
A velocidade das reações químicas (celulares ou não), depende da temperatura,
logo as reações mediadas por enzimas são também dependentes da temperatura.
Entretanto, no caso das reações enzimáticas, deve ser considerado um outro fator
relacionado à temperatura, a inativação térmica. As enzimas são muito susceptíveis à
inativação térmica, quanto mais alta a temperatura, mais rapidamente uma enzima é
deteriorada e perde suas propriedades catalíticas. A temperatura ótima de uma reação
intermediada por enzimas é aquela na qual um máximo de alteração química é
catalisado. Um aumento na temperatura embora aumente a velocidade de reação,
também encurta a vida da enzima, de modo que a temperatura ótima deve ser
expressa em relação ao tempo disponível para a reação.
Em geral, as enzimas envolvidas nos processos metabólicos dos mamíferos e
das aves apresentam temperaturas ótimas na faixa dos 30º a 40ºC, na qual são
relativamente estáveis, no entanto muitas enzimas de répteis, anfíbios e invertebrados
apresentam temperaturas ótimas mais baixas, apropriadas às condições térmicas
destes animais.
É provável que a adaptação das propriedades enzimáticas, para torná-las
compatíveis com o ambiente térmico interno de um animal, seja resultante de
processos evolutivos de longa duração (evolução). No entanto, algumas alterações
metabólicas notáveis podem ocorrer em períodos curtos, durante o processo de
adaptação chamado de aclimação ou aclimatação (experimentos com gaivotas
mostraram que as aves que saem de um meio quente e são colocadas subitamente ao
ar livre em temperaturas muito baixas, sofrem congelamento das extremidades, ao
passo que as aves condicionadas ao frio nada sofrem).
Vertebrados conseguem viver em diferentes ambientes. Anfíbios podem viver
em desertos (os sapos Scaphiopus couchi do deserto do Colorado, aonde a
temperatura chega a 50ºC e a pluviosidade média anual é de 5 a 7 centímetros,
permanecem enterrados durante as secas na areia úmida das poças potenciais, a
desidratação é reduzida por elevadas concentrações osmóticas sanguíneas).
Alguns lagartos vivem em montanhas com altitudes superiores a 4000 metros e
se movem, no início da manhã, em temperaturas ambientais abaixo do ponto de
congelamento, eles elevam a temperatura corporal rapidamente orientando-se
adequadamente em relação ao sol, deste modo absorvendo a radiação direta e
também a refletida pelo substrato.

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Aves e mamíferos podem viver próximo aos pólos onde são registradas as
temperaturas mais baixas da Terra.
Interessante é o fato de que são pequenas adaptações que permitem aos
animais conviver com temperaturas ambientais que podem variar de -70ºC a +70ºC. A
adaptabilidade dos vertebrados é suportada pela combinação de um grande número de
modificações de ordem ecológica, comportamental, morfológica e fisiológica.

2) CONCEITOS
Os termos: “sangue quente” e “sangue frio”, “homeotérmico” ou “homeotermia”
(homotermo: do grego, homos = igual) e “poiquilotérmico” ou “poiquilotermia”
(poiquilotermo, do grego: poikilos = variado), são termos que foram utilizados na
primeira metade do século XX, porém, os novos conhecimentos obtidos sobre
termorregulação levaram ao uso novos vocábulos, surgindo os conceitos: endotermia
e ectotermia.
Os animais são considerados endotérmicos quando há uma produção
metabólica de calor relativamente alta, juntamente com uma baixa condutividade
térmica, indicando que sua temperatura corporal depende amplamente de sua própria
atividade oxidativa.
Os ectotérmicos apresentam baixa produção de calor e condutividade térmica
relativamente alta. Assim, o calor metabólico é de menor importância do que o calor
ambiental na determinação da temperatura interna.
Mecanismos de termorregulação ecto e endotérmica não são mutuamente
excludentes, muitos animais usam-nos combinadamente.

3) OS ANIMAIS E SEUS AMBIENTES TÉRMICOS

ECTOTÉRMICOS
Os animais ectotérmicos são subordinados a seus ambientes, já que sua
atividade e mesmo sua sobrevivência estão permanentemente sujeitas à temperatura
ambiental prevalente. Existem, no entanto, várias maneiras pelas quais eles podem
valer-se das propriedades térmicas de seus ambientes para promover modificações
favoráveis em sua temperatura corporal. São principalmente atitudes comportamentais,
ações fisiológicas e seleção de micro-ambientes.

ECTOTÉRMICOS AQUÁTICOS
De várias maneiras o ambiente aquático simplifica o modo de vida ectotérmico (a
água tem alta condutividade térmica). As grandes massas de água proporcionam um
ambiente térmico particularmente estável. As variações térmicas entre o dia e a noite
são reduzidas e as alterações sazonais da temperatura desenvolvem-se lentamente.

ECTOTÉRMICOS TERRESTRES
O ambiente terrestre representa um difícil desafio para os ectotérmicos. O ar tem
um calor específico baixo, e deixa passar sem dificuldade a energia radiante. Esta pode
ser rapidamente absorvida do sol pelo animal e, por outro lado, perdida para o espaço
com igual rapidez, desta forma aumentando muito o risco térmico.

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Embora a temperatura corporal dos ectotérmicos terrestres geralmente esteja
relacionada intimamente com a do ambiente, esses animais, ao contrário das formas
aquáticas, podem mais facilmente manter uma temperatura corporal ligeiramente
diferente da ambiental. Dois fatores contribuem para isso: primeiro, a condutividade do
ar (o ar tem baixa condutividade térmica) e, em segundo lugar, o efeito do resfriamento
pela perda da água por evaporação.

ANFÍBIOS: Os anfíbios talvez sejam o caso extremo da importância da


evaporação para a temperatura corporal. Na terra, ao ar livre não saturado, um anfíbio
perde água de sua pele úmida por evaporação e a temperatura corporal cai abaixo da
ambiental. O valor potencial da evaporação numa emergência durante stress por calor
é ilustrado claramente em um experimento no qual uma rã manteve a temperatura de
35º C por mais de 3 horas, em ar seco, a 50ºC. Os anfíbios não têm a capacidade de
regular a evaporação através da pele por meios fisiológicos, o controle é realizado por
mecanismos comportamentais, selecionando micro-climas favoráveis, com taxas de
evaporação aceitáveis. A evaporação controlada nos anfíbios não é absolutamente
comparável ao controle precisamente regulado dos mamíferos.

RÉPTEIS: Com exceção dos crocodilianos e alguns quelônios, os répteis


desenvolveram uma vida completamente terrestre. Representam um estágio de
transição em relação à evolução da termorregulação. São os primeiros grupos a
apresentar os mecanismos fisiológicos encontrados nas aves e mamíferos. Os lagartos
têm sido o grupo de répteis mais estudados neste aspecto. Em ambiente natural, em
atividade, são capazes de manter suas temperaturas dentro de uma faixa notadamente
estreita, modificando seu comportamento de forma a aproveitar as propriedades
térmicas do ambiente. Espécies diferentes que vivem em um mesmo ambiente podem
apresentar temperaturas ideais que diferem em vários graus. Para tal exercem um
controle considerável sobre sua temperatura corporal. Esse resultado é obtido através
de modificações comportamentais e alterações nos processos fisiológicos.

Termorregulação comportamental: Está relacionada principalmente com a


otimização da captação da energia radiante do sol (são denominados “heliotérmicos”).
Este mecanismo pode implicar em estratégias muitas vezes requintadas, na maioria
dos casos relacionadas com a superfície e o horário de exposição solar. Muitos
lagartos podem variar a área corporal exposta ao sol ou a superfícies aquecidas pelo
sol (aquecimento solar indireto - pedras aquecidas - imersão na água), abrindo suas
costelas e alterando a forma do corpo, como também assumindo diferentes atitudes
posturais. Algumas espécies podem também mudar as cores do corpo.

Estratégias fisiológicas: mecanismos de alteração do fluxo sangüíneo da


superfície e do pulso cardíaco, permitem o aumento da absorção térmica da radiação
solar e a redução da perda por condução, convecção ou radiação.

Faixa de temperatura de atividade ou temperatura ótima (FTA) é a


temperatura em que organismos ectotérmicos realizam seu repertório completo de
atividades.

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As atividades termorreguladoras de um ectotérmico são orientadas para mantê-
los na FTA e dependem de variáveis internas e externas. Por exemplo, as serpentes
em processo de digestão aumentam a temperatura corporal de forma a otimizar a
atividade enzimática (temperaturas insuficientes, nos recintos de serpentes cativas
levam-nas ao vômito: foi observado que a defecação em Boídeos é estimulada pela
exposição solar, isto se deve provavelmente ao aumento da temperatura corporal que
facilitaria a ação das enzimas digestivas permitindo que a digestão aconteça a
contento, ao invés da putrefação que ocorre na insuficiência de temperatura corporal
após a ingestão de alimento, levanto ao vômito).

Febre comportamental: ectotérmicos com infecções induzidas


experimentalmente, apresentam febre comportamental, mantendo a temperatura
corporal acima da normal, por meios comportamentais. A febre comportamental é um
mecanismo utilizado por artrópodes, peixes, sapos, salamandras, tartarugas e lagartos.
A liberação de prostaglandina E1 que atua sobre os centros de termorregulação do
hipotálamo anterior parece ser a causa imediata tanto das febres comportamentais dos
ectotérmicos como das febres fisiológicas dos endotérmicos. A sobrevivência é
aumentada pela febre, aparentemente porque o crescimento bacteriano é limitado por
uma redução de ferro a temperaturas altas.
Diferentes ectotérmicos têm diferentes sistemas de termorregulação, e nem
todos têm um sistema tão estritamente preciso. O princípio fisiológico da ectotermia é
baseado na capacidade do organismo captar calor do meio mais rapidamente do que
perder. Aquecer rapidamente e esfriar lentamente, prolongando então o tempo que
pode ser despendido em outras atividades, é a estratégia básica, a base deste
comportamento reside em alterações da circulação periférica.

Dormência: muitos répteis, anfíbios e peixes passam os períodos em que as


condições ambientais são desfavoráveis em estado de dormência, com a taxa
metabólica reduzida e com a temperatura corporal próxima à ambiental. A dormência
difere da hibernação, pois na dormência, o despertar depende de aquecimento passivo,
não existem “mecanismos de segurança”, como os observados nos mamíferos
hibernantes, que aumentam seu metabolismo ou “acordam” quando a temperatura
corporal se aproxima-se do ponto de congelamento. Nessas condições os ectotérmicos
congelam e morrem enquanto que os endotérmicos despertam e regem.

ENDOTÉRMICOS TERRESTRES
O intercâmbio energético animal/ambiente é complexo, compreende o uso da
energia química contida nos alimentos e das trocas térmicas com o meio, determinadas
por processos físicos de condução, convecção, radiação e evaporação.

Superfície corporal
Em animais pequenos, a razão entre a área superficial e o peso é grande (taxa
metabólica específica alta). Sabe-se que 5000 camundongos pesam tanto quanto um
homem, mas apresentam uma área superficial dezessete vezes maior. A área
superficial determina a perda de calor, de forma que os animais pequenos perdem mais
calor por unidade de peso corporal do que os animais grandes e, conseqüentemente,

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devem comer proporcionalmente mais para sustentar o aumento da produção de calor
necessário para compensar a perda térmica. Deduz-se daí que, termodinamicamente,
é vantajoso que o endotérmico seja grande, principalmente em ambientes frios e
quando a comida é escassa. Há, em conseqüência, uma tendência para que os
membros de uma determinada espécie sejam maiores nas regiões mais frias de sua
área de ocorrência ou distribuição geográfica. Essa tendência é conhecida como Regra
de Bermann.

4) CONSIDERAÇÕES QUANTO A TERMORREGULAÇÃO EM DIFERENTES


ANIMAIS
Endo e ectotérmicos apresentam stress diferenciado frente às variações
ambientais Os endotérmicos podem regular suas temperaturas e as concentrações
salinas de seus fluidos corpóreos com grande precisão face às extremas flutuações
dos seus ambientes. Os ectotérmicos também são capazes de grande homeostase,
mas, a característica geral destes é a baixa taxa de consumo energético. Em muitos
casos os ectotérmicos guardam energia relaxando seus limites de homeostase,
enquanto que os endotérmicos gastam energia para manter a homeostase. A atividade
dos ectotérmicos é reduzida pôr longos períodos durante as estações desfavoráveis,
porque eles não são capazes de manter a homeostase. As necessidades energéticas
da endotermia são um fator substancial em muitos aspectos da ecologia e do
comportamento de aves e mamíferos. A inabilidade em obter energia suficiente pode
excluir os endotérmicos da atividade em certos hábitats durante algumas fases do ano:
alguns endotérmicos migram ou hibernam sob condições nas quais não podem
conseguir energia para manter a homeostase.
Aves e mamíferos desenvolveram independentemente padrões fisiológicos
similares de regulação térmica, porém cada um deles apresenta consideráveis
variações em suas temperaturas corporais nos diferentes grupos. Entre os mamíferos,
os Monotremados (ornitorrinco e equidna) são o grupo que apresenta a menor
temperatura corporal (28º a 32º C), seguidos pelos Xenartra (ou edentata: tamanduás,
preguiças e tatus) (33º C), Marsupiais (gambás, cuícas e cangurus) e Insetívoros
(toupeira) que apresentam temperaturas corporais entre 34º e 36º C. Membros de
diversos grupos de mamíferos possuem temperaturas corporais entre 36º C
(morcegos) e 38º C (primatas). Entre as aves, o grupo mais primitivo é o das ratitas
(38º a 39º C). Existe uma variação considerável da temperatura corporal nos diferentes
grupos de aves não passeriformes, que pode variar de menos de 40º C (pingüim) a 40º
a 41º C (corujas), 41º a 42º C (psitacídeos), ou 42º C (pica-paus). Os passeriformes
têm temperatura corporal ao redor de 42º C. A temperatura corporal dos endotérmicos
é determinada essencialmente pela massa específica, pelo metabolismo e pela
condutância térmica. As aves, especialmente as passeriformes, apresentam
condutância térmica menor que a do que mamíferos.
Os répteis, de maneira geral, têm capacidade de aumentar a velocidade de
reação em 3 X a cada aumento de 10ºC da temperatura corporal, o que pôr sua vez
está estreitamente relacionado com a temperatura ambiental (a velocidade das reações
químicas aumenta em 2 a 3 X a cada 10ºC). O aumento da temperatura corporal em
1ºC, aumenta em 10 a 20 vezes a taxa metabólica basal. Observações com um

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aligátor de 1,5 m mostraram que, em exposição ao sol, requer 7,5 minutos para
aumentar sua temperatura em 2ºC.
Alguns poucos répteis como os Varanus sp., produzem calor metabólico
afetando significativamente a temperatura corporal. No Varanus goldii da Austrália, o
calor metabólico é o fator mais importante na produção da temperatura corporal,
representando um elo de ligação entre os répteis típicos e os endotérmicos.

5) AQUECIMENTO PARA RÉPTEIS EM CATIVEIRO:


O sistema de aquecimento utilizado em cada cativeiro para réptil deve estar
adequado à espécie e ao terrário em questão. Será diferenciado em conformidade com
estas duas variáveis; para terrários pequenos, o aquecimento do ambiente (sala), onde
estejam instalados os terrários é o suficiente. É um bom sistema para coleções de
pequenos espécimes em diferentes tamanhos de recipientes, facilitando o manejo, a
alimentação de filhotes etc., porém para terrários grandes, o aquecimento interno é
indispensável.
É importante que o sistema de aquecimento seja dimensionado, testado e
aferido anteriormente à decoração completa e instalação do animal. Para isto deve-se
colocar no interior do terrário um termômetro de máxima e mínima que deverá ser lido
criteriosamente durante alguns dias identificando a oscilação térmica no micro-
ambiente criado para a manutenção do espécime. A fonte de calor deverá ser instalada
em uma porção extrema do terrário com o intuito de propiciar a formação de um
gradiente térmico que será freqüentado pelo réptil em conformidade com as suas
diferentes necessidades fisiológicas. O sistema de aquecimento deve ser calibrado de
forma a permitir uma oscilação térmica entre o dia e a noite. Nos grandes terrários
mantidos em ambientes internos, a desativação do sistema de aquecimento interno
durante a noite é suficiente para fornecer esta oscilação térmica necessária. Em
grandes terrários externos há que se dispor de um sistema de aquecimento regulável
para os períodos noturnos. Muitas espécies necessitam desta variabilidade térmica
diária pois foi demonstrado que a manutenção da temperatura ótima continuadamente,
leva à anorexia, perda de peso e danos na espermatogênese.
O uso de termostatos acoplados a um “timer” é indicado. A variabilidade sazonal
de temperatura ambiental (micro-ambiente) pode ter maior ou menor influencia sobre
os répteis, este é ainda um tema pouco explorado. O desenvolvimento de estudos e
pesquisas correlacionando a biologia das espécies, seus ambientes e fisiologia, com a
manutenção em cativeiro deverão ainda clarear muitas dúvidas e elucidar as
necessidades dos répteis em cativeiro, particularmente a fauna sul-americana, tão
pouco conhecida nos seus hábitos, biologia, comportamento e necessidades.
Lâmpadas incandescentes podem ser utilizadas como fontes de calor em
terrários, diferentes watts e quantidades de lâmpadas se testadas adequadamente
podem surtir bons resultados. Lâmpadas incandescentes instaladas no interior de
vasos de cerâmica perfurados são um antigo e eficiente sistema, o uso de recipientes
com água sobre estes dispositivos contrabalança a dissecação do ambiente. Lâmpadas
azuis ou vermelhas podem ser utilizadas para o aquecimento noturno pois aquecem
emitindo radiações pouco visíveis aos répteis.
Lâmpadas infravermelhas são muito utilizadas em grandes terrários; com
refletores produzem calor direcionado formando-se interessantes áreas de
assoalhamento no interior dos recintos que podem ser freqüentadas conforme as

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necessidades fisiológicas dos seus habitantes. As lâmpadas de luz branca também
podem ser utilizadas com funções similares. Cuidados especiais com estas lâmpadas
devem ser tomados pois respingos de água provocam estouros. Algumas serpentes e
iguanas costumam aproximar-se, encostar-se ou até enrodilhar-se nestas lâmpadas e
podem ter sérias queimaduras (a sensibilidade dos répteis ao contato com calor
extremo parece ser pequena), A instalação destas lâmpadas fora dos terrários é a
alternativa ideal, permite inclusive a regulagem do calor pela aproximação ou
afastamento das mesmas.
Outras fontes de calor que podem facilmente ser utilizadas em terrários são os
tradicionais aquecedores de aquários, disponíveis no comércio em diferentes watts e,
quando de boa qualidade funcionam também fora d’água; devem ser colocados dentro
de canos de proteção para evitar o contato direto do animal com o calor. Estes
aquecedores dentro de recipientes com água no interior de aquários funcionam bem
como fonte de calor úmido. O aquecimento de terrários para répteis de florestas
tropicais pode ser apenas do ar, pois os seus ambientes naturais de origem não
apresentam grandes variações térmicas por micro-ambientes ou variações dia/noite,
porém para répteis de desertos e áreas abertas é importante a disponibilidade de
substrato aquecido para contato direto permitindo maior eficiência nos mecanismos de
termorregulação.
O processo de aclimatação é também importante na adaptação dos répteis ao
cativeiro, às modificações fisiológicas promovidas pôr este processo podem permitir a
sobrevivência de indivíduos em ambientes térmicos bastante diversos dos observados
nos locais naturais da sua distribuição geográfica. Diferentes indivíduos da mesma
espécie podem portanto viver ou sobreviver em diferentes ambientes térmicos,
apresentarão no entanto variações no crescimento e no exercício do seu repertório
completo de atividades biológicas muitas vezes não executando a totalidade delas
(principalmente a reprodutiva).
Os répteis apresentam pouco isolamento externo: a gordura subcutânea é
escassa e as escamas impedem muito pouco a transferência de calor,. A perda de
calor, no entanto, pode ser diminuída tornando-se lenta a circulação do sangue dos
tecidos profundos para os superficiais, Esse mecanismo é explorado com muita
habilidade pelo iguana marinho (Anblyrhynchus sp.), que consegue manter a
temperatura corporal em torno de 37º C quando se expõe ao sol das praias rochosas
dos Galápagos ou mesmo quando realiza incursões periódicas às águas marítimas
relativamente frias em busca de sua dieta de algas. A velocidade em que a temperatura
corporal profunda do iguana se aproxima da temperatura do oceano (22 a 27º C) é
bastante diminuída pôr uma queda na freqüência cardíaca, Esse atraso no resfriamento
permite que o animal permaneça no mar pôr um período mais longo, antes que as
reações se tornem perigosamente lentas, tornando-o presa fácil para os tubarões.
Quando sai do oceano em direção à praia, um aumento na freqüência cardíaca facilita
o processo de aquecimento. Quando o superaquecimento das rochas vulcânicas
escuras coloca a iguana em risco de hipertermia, ele assume posturas de forma a
reduzir sua área corporal de exposição ao sol e afasta o corpo da pedra quente
apoiando-se sobre a ponta dos membros permitindo que o vento resfrie o seu corpo
através da evaporação, também a sombra do seu próprio corpo sobre a rocha reduz a
reflexão da radiação solar.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EXTRAPOLAÇÃO ALOMÉTRICA PARA
POSOLOGIA TERAPÊUTICA EM ANIMAIS SILVESTRES

1. Introdução
A determinação das doses de fármacos na rotina da clínica médica de
animais silvestres é um problema difícil de ser resolvido. A enorme diversidade de
tamanhos corporais e de padrões fisiológicos com que se depara o clínico de
silvestres, somada a falta de dados farmacodinâmicos e farmacocinéticos justifica
esta dificuldade.
O clínico de animais de zoológico, na sua atividade diária atende animais
tão diversos quanto os megamamíferos (elefantes, rinocerontes ou hipopótamos),
roedores de porte médio (cutias, pacas ou nutrias); répteis (jacarés, iguanas,
jibóias e jabutis); ou aves (mutuns, cisnes, araras, emas, avestruzes ou pequenos
pássaros). As diferenças fisiológicas, conportamentais e de volume corporal entre
os pacientes são enormes e não podem ser menosprezadas.
O cálculo das doses medicamentosas, extrapolado a partir do peso,
utilizando a proporcionalidade direta tem provocado acidentes graves ou até fatais.
É impróprio o uso dos mesmos padrões posológicos (de um determinado fármaco)
para um pequeno mamífero e um grande réptil, por exemplo. As características
intrínsecas de grupos e indivíduos devem ser levadas em consideração no cálculo
das doses para ser praticada uma posologia correta, adequada e eficiente.
Se os pacientes são diferentes, e devemos adequar as doses
medicamentosas ás características fisiológicas e volumétricas, a proposta de
“extrapolação alométrica” parece ser a mais eficaz e que contempla as variáveis
na medida das informações disponíveis à luz dos conhecimentos atuais.
O termo alometria é originário dos estudos de crescimento (biometria) e
opõe-se a isometria. A isometria, isomorfia, isovolumetria ou isocoria é a
transformação bionívoca que preserva distâncias, a alometria ou alomorfia é a
passagem de uma forma para outra (metamorfose).
As relações de crescimento são geralmente descritas como uma função
exponencial da massa corpórea, uma vez que a relação entre um caracter e seu
tamanho geralmente não é linear. Em estudos de biometria diz-se que o
crescimento será isométrico quando apresentar em seu expoente valores da
constante de crescimento próximos a 3 (cúbicos), com taxas iguais de incremento
em diferentes partes do corpo. No incremento alométrico esta relação não é
obedecida, apresentando outros valores, quando inferior a 3 denomina-se
alometria negativa e quando superior a 3, denomina-se alometria positiva.
O risco do uso empírico de medicamentos a partir de experimentos
anteriores com outras espécies (utilizando-se a proporcionalidade direta – mg/kg),
cresce enormemente na medida da disparidade de peso/tamanho entre os animais
utilizados como modelo e o caso clínico em questão.
Um pequeno animal, se comparado com um grande apresenta um tempo
total de circulação menor, uma maior densidade de capilares por área de tecido,

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uma maior superfície de trocas gasosas, uma taxa de filtração glomerular mais
alta, mais elementos hepáticos e um maior número de mitocôndrias e citocromos
em uma área corporal. (Sabe-se que 5000 camundongos pesam tanto quanto um
homem, mas apresentam uma área superficial dezessete vezes maior. A área
superficial determina a perda de calor, de forma que os animais pequenos perdem
mais calor por unidade de peso corporal do que os animais grandes e,
consequentemente, devem comer proporcionalmente mais para sustentar o
aumento da produção de calor necessário para compensar a perda térmica).
Conforme citou Schmidt-Nielsen, “pequenos animais tem mais ferramentas
metabólicas do que grandes animais”.
Convencionalmente, as doses de drogas são calculadas e expressas como
quantidade por unidade de peso corporal (mg/kg). O método de extrapolação
alométrica, entretanto, calcula e expressa doses utilizando a quantidade do
fármaco (mg) por energia (kcal) consumida por um determinado animal em
situação de metabolismo basal (mg/kcal). Uma vez que a absorção, a distribuição
e a eliminação de todas as drogas ocorrem em função da taxa metabólica basal
(SIDWICK & PORCAS, 1988), uma dose em mg/kg só poderá ser usada para
animais de que absorvam, metabolizem e distribuam a droga da mesma maneira.
A taxa metabólica basal (TMB) pode, portanto, ser utilizada para calcular a dose
de determinada droga para um determinado animal, com base na dose
estabelecida para outro, considerando e ajustando as diferenças metabólicas
entre os dois animais.
Os princípios de extrapolação alométrica pressupõem que a variação dos
parâmetros fisiológicos observada entre diferentes animais apresente a mesma
proporcionalidade da variação dos parâmetros farmacocinéticos. Partindo desta
premissa e utilizando dados disponíveis de uma determinada espécie em que
tenham sido efetuados estudos farmacocinéticos e farmacodinâmicos ou em que
existam doses medicamentosas estabelecidas empiricamente e compatibilizando-
se as diferenças através de formulas matemáticas, pode-se determinar doses para
“animais alvo” a partir de doses utilizadas em “animais modelos”.

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A extrapolação alométrica de doses farmacológicas utiliza como base de
cálculo a tabela de valores de constantes estabelecidas por HAINSWORTH
(1981).
Grupo animal Constante Temperatura
(K) corporal
média
Aves Passeriformes 129 42ºC
Não passeriformes 78 40ºC
Mamíferos Placentados 70 37ºC
Marsupiais* 49 35ºC
Répteis 10 37ºC
* Também para Xenarthra (edentata=tatus, tamanduás, preguiças) e Monotrêmata
(ornitorrinco/equidna).
Com base em inúmeras investigações, em diferentes espécies animais,
comparando a massa corporal com a taxa metabólica (curva “do rato ao elefante”)
, observou-se que o valor 0,75 se repetia como inclinação da equação da reta em
diferentes taxons.

TMB = taxa metabólica basal


K = constante teórica de proporcionalidade (eqüivale a quilocalorias utilizadas em
um período de 24 horas por um espécime hipotético de 1 quilo em condições de
metabolismo basal).
M = massa corporal (quilos)

Método de cálculo para a extrapolação alométrica interespecífica de doses


de drogas:
1. Calcula-se a TMB para o animal modelo e para o animal alvo (TMAmodelo e
TMBalvo).
2. Divide-se a dose total indicada para o modelo por sua TMB.
3. Multiplica-se o resultado pela TMB do animal alvo.
O resultado assim obtido é a dose total para o animal alvo.

TME = K.M0,75 ÷ M
TME = K.M-0,25

Método de cálculo da freqüência de aplicações:


1. Calcula-se a TME para o animal modelo e para o animal alvo (TMEmodelo e
TMEalvo)
2. Multiplica-se a TME do animal modelo pelo intervalo de administração da droga
no animal modelo (em horas)
3. Divide-se o resultado pela TME do animal alvo
O resultado obtido será o intervalo de administração (horas) para o animal alvo

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MEDICINA DE RÉPTEIS

Introdução
Os répteis constituem um grupo animal com o qual a maioria das pessoas não
esta habituada, isto dificulta sobremaneira a empatia. Nós, como mamíferos,
conseguimos compreender com mais facilidade os “códigos” dos mamíferos mesmo
quando estes são bastante diferentes dos nossos. Quanto às aves, apesar das
barreiras, estas fazem parte do nosso cotidiano e nos acostumamos a observa-las,
conhece-las e em parte compreende-las. Os répteis porém constituem um universo
diferente com o qual não temos “afinidades” e não estamos envolvidos e habituados a
entender e compreender. Os répteis, como muitos animais silvestres, não demonstram
na fisionomia facial, de forma evidente, seu “estado de espírito”. Este pode ser
percebido através da mímica ou ritualística corporal ou comportamental, menos
evidente e mais sutil, que reflete o estado fisiológico e o conforto biológico. Para
conseguirmos compreender estes aspectos, necessitamos conhecer a biologia os
hábitos e o comportamento do grupo como um todo e das diferentes espécies em
particular. Considerando que o diagnóstico e o tratamento de répteis enfermos é com
freqüência difícil, devido à sua capacidade de mascarar os sinais manifestos da
doença, o objetivo primário da medicina aplicada aos répteis consiste em evitar os
problemas médicos. A detecção precoce da enfermidade requer um conhecimento
mais aprofundado das atividades do réptil (individualmente) e o desenvolvimento e
refinamento das técnicas diagnósticas.
Répteis e aves originaram-se do mesmo ramo os Sauropsida. Portanto aves e
répteis apresentam uma série de características comuns. Os répteis, como os
costumamos agrupar, não são um grupo único (monofilético). Os crocodilianos e as
aves, segundo a luz dos novos conhecimentos científicos (filogenética) são grupos
irmãos.

• Características gerais
Répteis (6.061 spp.)
São ectotérmicos, apresentam respiração pulmonar, corpo coberto por escamas,
não apresentam pêlos ou penas nem glândulas mamarias e possuem poucas
glândulas. Reproduzem-se através de ovos ou nascimento de filhotes, não têm
brânquias nem formas larvais como os anfíbios. Ausência de diafragma, respiração
promovida pela musculatura intercostal (em quelônios pelos movimentos dos membros
e gular). O crescimento é rápido nos primeiros anos de vida e lento nos últimos, porém
são capazes de crescer durante toda a vida.

Ordem Testudinata/Chelonia (200 spp.): tartarugas, cágados e jabutis.

Ordem Crocodilia (20 spp.): jacarés, crocodilos e caimãs.

Ordem Squamata (5841 spp.)


Subordem Ophídia (2700 spp.): serpentes ou cobras.
Subordem Lacertilia (Sauria) (3000 spp.): lagartos e lagartixas.
Subordem Anphisbaenia (140 spp.): cobras-cegas.
Subordem Sphenodontia (1sp.): tuatara.

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• Ectotermia em répteis
Os répteis com exceção dos crocodilianos e alguns quelônios, desenvolveram
uma vida completamente terrestre. Representam um estágio de transição com relação
à evolução da termorregulação, no reino animal e neste sentido os lagartos têm sido o
grupo de répteis mais estudados. Em ambiente natural, quando ativos, são capazes de
manter suas temperaturas dentro de uma faixa notadamente estreita, modificando seu
comportamento de forma a aproveitar as propriedades térmicas do ambiente. Espécies
diferentes que vivem em um mesmo ambiente podem manter temperaturas ideais que
diferem em vários graus. Para tal exercem um controle considerável sobre sua
temperatura corporal. Esse resultado é atingido através de modificações
comportamentais e por alterações nos processos fisiológicos.

Termorregulação comportamental: está relacionada principalmente com a otimização


da captação da energia radiante do sol (são denominados “heliotérmicos”). Pode
implicar em estratégias requintadas, na maioria dos casos relacionadas com a
superfície corporal exposta e o horário de exposição solar. Muitos lagartos podem
variar o tamanho da área corporal exposta ao sol ou a superfícies aquecidas pelo sol
(aquecimento solar indireto - pedras aquecidas pelo sol - condução), abrindo suas
costelas e alterando a forma do corpo, como também assumindo diferentes atitudes
posturais. Algumas espécies podem também mudar as cores do corpo, otimizando a
captação calórica.

Respostas fisiológicas: mecanismos de alteração do fluxo sangüíneo da superfície


permitem o aumento da absorção térmica da radiação solar e/ou a redução da perda
por condução, convecção ou radiação.

Particularidades do grupo
Anatômica: os répteis (assim como as aves) apresentam um único côndilo occipital
(os mamíferos tem 2), isto implica em uma fragilidade articular, especialmente na
região cervical e requer cuidados especiais durante as práticas de contenção (boídeos
volumosos).

Fisiológica: a ausência da enzima proteolítica lisozima determina a formação de


exsudato caseoso e abscessos consistentes que dificilmente fistulam. Esta condição é
comum a aves e répteis em geral. Os abscessos desenvolvem-se lentamente
(geralmente tem origem traumática). Os abscessos freqüentemente apresentam
camadas concêntricas (semelhante à cebola) - deve-se tomar cuidado para diferencia-
los de tumores (biópsia aspirativa). A retirada de abscessos fechados é cirúrgica (deve
ser retirada toda a cápsula). Abscessos abertos devem ser curetados e tratados como
ferida aberta.
Os répteis são acometidos por agentes infecciosos Gram-negativos, não são
afetados por Clostridium sp.
A radiação ultravioleta (UV) é indispensável para tartarugas, lagartos e jacarés e
é benéfica para serpentes. A presença simultânea de UV, provitaminas-D e cálcio é
necessária para a boa formação óssea e prevenção de doenças ósseo-metabólicas.

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A MAIORIA DOS ÓBITOS DE RÉPTEIS EM CATIVEIRO (75%) OCORRE EM
DECORRÊNCIA DE MANEJO INADEQUADO LEVANDO A DOENÇAS
INFECCIOSAS.

Fatores predisponentes a doenças infecciosas em répteis:


(Deficiências de higiene e manejo)

# Temperatura ambiente (25º a 30º). A temperatura não deve ser constante,


deve haver variação espacial e temporal que permita opção.
# Fotoperíodo varia com as espécies, leva a alterações metabólicas.
# Stress - fatores comportamentais. Adequar o ambiente às necessidades da
espécie (conforto biológico). Condições sub ótimas de manutenção em cativeiro
acarretam em depressão do sistema imunológico.
# Poluição do recinto. Água, substrato, calor e umidade favorecem a proliferação
de microorganismos.
# Trauma. (tentativas de fuga, contenção, lacerações, hematomas).

PRINCIPAIS AFECÇÕES QUE ACOMETEM OS RÉPTEIS


• Quelônios
Doenças respiratórias (pneumonia - desequilíbrio natatório)
Hipovitaminose A (abscesso aural)
Doença ulcerativa do casco Benekea chitinovora
Doença cutânea ulcerativa septicêmica Citrobacter freudii

• Squamata
Ofídios (ausência de pálpebras)
Nutrição - ingestão de organismos inteiros - “alimento completo”
Estomatite
Doença vesicular cutânea
Abscessos
Disecdise - lentes oculares
Ecto e endo parasitoses

Lagartos
Abscessos
Doença ósseo-metabólica – ortopedia
Disecdise – mutilação de adornos
Parasitoses

Crocodilianos (presença da prega naso-faríngea – respiração com a boca


aberta)
Lacerações

Disecdise (anomalia na muda): Decorre principalmente da temperatura e umidade


relativa do ar inadequadas. A muda ou ecdise ocorre periodicamente, apresenta
controle endócrino (tiroxina), a capa superficial córnea dos répteis se esfolia. Nas
serpentes a troca da pele é total e cerca de uma semana antes da ecdise os olhos

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ficam opacos. Neste período a serpente dificilmente alimenta-se. A muda inicia-se na
ponta do focinho, na linha labial (uma lesão nesta área compromete a ecdise). A
serpente esfrega-se contra objetos para se desprender da pele. Antes da muda
mostram-se apáticas e permanecem freqüentemente dentro d’água (fornecer recipiente
capaz de permitir a total imersão). A muda reflete o estado de saúde. Cuidados
especiais devem ser dados aos olhos e cauda. Geralmente a ecdise é associada à
defecação sendo seguida de ingestão de alimento. A ecdise em quelônios e jacarés é
alternada, ocorrendo independentemente em escudos ou placas. A ecdise em lagartos
pode ser total ou parcial, muitas vezes estes comem a pele velha. Devem ser tomados
cuidados especiais com relação a adornos como espinhos, prega gular, dedos e ponta
da cauda. A umidade relativa do ar sendo insuficiente pode dificultar a ecdise,
ocorrendo retenção de porções de pele que levam a necroses localizadas decorrentes
de estrangulamento.

Tratamento (disecdise):
1. Corrigir as condições ambientais
2. Remoção manual da pele após manter o réptil em imersão em água morna (no
interior de um saco de pano por 12 horas) - cuidados para prevenir o afogamento.
3. Observar os escudos oculares, não se desprendendo com a pele devem ser
retirados com auxílio de uma pinça - irrigar com óleo mineral aquecido (Nujol - Parafina
líquida).

Estomatite: trata-se de afecção comum em ofídios. Ocorre inicialmente a parada


alimentar e um discreto aumento de salivação. Geralmente é antecedida de
traumatismo, corroboram todos os fatores predisponentes a infecção (Aeromona e
Pseudomona). Processo inflamatório, hemorragia - petéquias, exsudação, ulceração
esfoliação dentária e necrose. Propagação de lesões pelo esôfago e intestinos levando
a septicemia e morte. Lesões semelhantes a queimaduras, produção de crostas. Pode
ocorrer contaminação entre indivíduos do mesmo recinto ou próximos.

Traumatismos → hematomas → lesões ulcerativas → gengivas → alvéolos dentários


→ ossos adjacentes → osteomielite e esfoliação dentária → gastro enterite →
septicemia → óbito

Tratamento (estomatite):
1. Limpeza com H2O2 a 3% e iodo orgânico (PVPI).
2. Debridação e remoção de crostas
3. Antibioticoterapia tópica e sistêmica em casos graves
Prognóstico reservado (principalmente em casos avançados)

Hipovitaminose A: É freqüente em quelônios especialmente jovens (findo o estoque


de vit. A do vitelo ou gema - depósito hepático - 6 meses). Caracteriza-se por olhos
fechados, e aumentados de volume - edema ocular, blefarite, conjuntivite, atresia
ocular, crescimento córneo do bico, metaplasia escamosa das glândulas produtoras de
mucina. Freqüentemente associada à doença respiratória e abscessos aurais.

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Tratamento: Vitamina A hidrossolúvel injetável, IM na dose de até 50000 UI por quilo (5
a 50 UI/g), a cada 72 horas por 02 semanas. Tratamento da infecção ocular - limpeza
(água boricada) antibiótico tópico (cloranfenicol). Suplementação profilática: Aderogil
D3® - 2 gotas/kg/semanal - oral.

Doença ulcerativa do casco: o agente causal é a bactéria Beneckea chitinovora


(Gram-negativo), contaminação secundária por Mucor sp. Enfermidade contagiosa de
quelônios aquáticos, afecção das placas córneas da carapaça e do plastrão.
Sinais clínicos: perda de placas córneas e ulcerações.

Tratamento: debridação, higienização, aplicação diária de iodo orgânico (PVPI). Manter


em ambiente seco até a recuperação plena.

Doença cutânea ulcerativa sistêmica: Citrobacter freundii (Gram-negativo),


enfermidade característica de quelônios de água doce, altamente contagiosa, freqüente
em águas contaminadas e sujas.
Sinais clínicos: hemorragias, ulcerações, perda de unhas e dígitos, anorexia, letargia.

Tratamento: Antibioticoterapia parenteral com Cloranfenicol (40 mg/kg a cada 24


horas), tratamento tópico com iodo orgânico (PVPI), melhoria na qualidade da água.
Mortalidade de 100% dos animais não tratados.

Conjuntivite
Serpentes: As infecções oculares em cobras não são raras, podem ser uni ou
bilaterais. O espaço córneo-palpebral pode tornar-se nublado (não confundir com a
situação fisiológica que antecede a ecdise) e acumular restos celulares e pus (resíduos
de parasitos podem se acumular na comissura ocular promovendo infecções),
provocando a distensão da membrana palpebral transparente (escudo ocular). A
oclusão do ducto lacrimal com restos celulares, agrava o processo. Ferimentos na
membrana palpebral, penetração bacteriana ascendente (via ducto lacrimal) com
origem em infecção bucal (estomatite) e massas periorbitais comprimindo o ducto
lacrimal, são causas de infecção e de aumento de fluido no espaço córneo-palpebral.
As afecções oculares das cobras são inicialmente tratadas pela drenagem do
espaço córneo-palpebral. Isto é normalmente feito através da punção e abertura de
uma pequena janela no “escudo” ou “lente” ocular, que permite o extravasamento do
material acumulado e o acesso do medicamento. O ducto lacrimal pode ser canulado
pelo véu palatino e desimpedido por lavagem com solução oftálmica de gentamicina.

Doença cutânea vesicular


Ocorre principalmente em boídeos. É provocada pela umidade ambiental
excessiva e proliferação bacteriana. Formam-se vesículas contendo líquido que se
rompem abrindo portas de entrada para contaminações secundárias.

Tratamento: drenagem, desinfecção, correção ambiental.

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Salmonelose
Comum em répteis, especialmente em quelônios. A presença de salmonelas
sem manifestação clínica é freqüente (sub-clínica) tendo importância em saúde
pública.
Pode causar enterite, septicemia, e necrose focal em vísceras.
Sinais clínicos: diarréia, anorexia, letargia e morte súbita.

Tratamento: Antibióticoterapia - tetraciclinas, cloranfenicol e ampicilina

Tuberculose
Mycobacterium sp. acomete todos os répteis. Sinais clínicos: granulomas
cutâneos, tumores, dermatite, ulcerações, letargia e debilidade progressiva.
Diagnóstico: cultura.

Tratamento: não recomendado, eliminação de animais portadores.

Parasitoses
Répteis de vida livre ou em cativeiro, podem ser hospedeiros de uma grande
variedade de parasitos. Como em outros grupos animais os répteis parasitados podem
não apresentar sinais clínicos evidentes em condições normais, porém submetidos a
stress expressam alterações. Existem muitos trabalhos publicados sobre parasitos em
répteis, a maior parte deles pertinentes a taxonomia e poucos sobre terapia.

Ectoparasitos: “piolhos” (Ophionyssus sp.) e carrapatos (Amblyoma sp.). A maior parte


dos répteis terrestres de vida livre são portadores de “piolho”s. Os ““piolho”s” são
freqüentes também em répteis em cativeiro, especialmente em serpentes. Ocorre
proliferação e disseminação rapidamente (ciclo de 30 dias) a partir de um indivíduo
parasitado, contaminando todo o plantel. Os ovos do parasito são depositados no
ambiente (terrário). Cuidados profiláticos de quarentena e vistorias devem fazer parte
do protocolo sanitário. Os pequenos “piolhos” são encontrados nos espaços entre as
escamas e se acumulam na comissura ao redor dos olhos, onde podem ser
encontrados (uma lente de 10 aumentos favorece o exame). Um terrário contaminado
com “piolhos” pode ser identificado a partir da presença destes na superfície da água
no bebedouro. Os “piolhos” causam anemia, e debilitação, complicações nas mudas.
Carrapatos são encontrados geralmente em serpentes vindas da natureza.
Geralmente o ciclo reprodutivo do parasito não se completa em cativeiro. Quarentena e
medidas profiláticas evitam complicações.

Tratamento e profilaxia: Ivermectin 400 µg/kg SC, banhos por imersão em Neguvon
0.5% e pulverização de terrários. O uso de Frontline spray (Fipronil) nos animais e nos
terrários é bastante eficiente.

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Endoparasitos:
Coccidiose. Contaminação fecal do ambiente. Anorexia, apatia, enterorragia.
Tratamento: sulfas orais. Sulfametazina + sulfaquinoxalina, 40 mg/kg PO por 7 dias.

Helmintose (ascaris, ancilostomos, oxiúrus, strongilos – pentastomídeos). Debilidade,


inapetência, anorexia regurgitação, obstrução intestinal.

Terapia
Ivermectin 200 a 400 µg/kg SC
Mebendazole 20 a 25 mg/kg PO
Febendazole 50 a 100 mg/kg PO
Levamizole 5 a 10 mg/kg SC

Hemoparasitos (Hemogregarina), são intraeritrocitários, benignos, freqüentes.

DOENÇAS DO APARELHO REPRODUTOR:


• Retenção de ovos
Freqüente em quelônios
Sinais clínicos: edema e paralisia dos membros posteriores.
Confirmação do diagnóstico: radiologia

Tratamento: inicial - aquecimento, aplicação de gluconato de cálcio e ocitocina (1


a 10 UI/kg). Não havendo solução para o caso a alternativa é cirúrgica (obs.
deve-se aguardar alguns dias, mantendo acompanhamento radiográfico – e
repetindo a terapia).

• Prolapso de pênis
Freqüente em jabutis (estação reprodutiva), especialmente quando mantidos em
grupos.
Causa: traumatismo em pisos ásperos.
Edema, eritema, laceração, necrose.

Tratamento:
Conservador (quando não há lesão importante ou necrose):
Higienização (PVPI)
Lubrificação (Furacin)
Redução do prolapso (gelo, xilocaina, atadura elástica aplicada a partir da
extremidade – redução do edema)
Sutura em bolsa de tabaco

Radical (quando há necrose ou lesão extensa)


Amputação cirúrgica – sutura da pele da parede interna com a pele da
parede externa (sulco urinário).

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Sedação e anestesia
O cloridrato de cetamina – anestésico dissociativo -, é freqüentemente utilizado
como agente anestésico injetável. O seu efeito depende da dose e varia de espécie
para espécie e mesmo de indivíduo para indivíduo. A dose recomendada para a
sedação de répteis é de 22 a 44 mg/kg I.M. e para anestesia cirúrgica de 55 a 88
mg/kg. Doses superiores a 110 mg/kg freqüentemente causam paradas respiratórias
e/ou bradicardia. Tomando-se o cuidado de aquecimento prévio, a indução ocorre em
10 a 30 minutos. A recuperação requer 24 a 96 horas (manter o aquecimento). Devido
à variação na escala metabólica, os pequenos répteis necessitam das doses mais
elevadas enquanto que os de grande porte as doses menores. A cetamina pode ser
utilizada com melhor sucesso como agente de sedação ou indução para o uso
subseqüente de anestésicos voláteis

Alimentos utilizados para répteis em cativeiro

Grupo de répteis Alimentos Intervalo entre


refeições
Crocodilianos Peixe ou carne crua, 2 a 5 dias
camundongos, baratas,
tenébrios, grilos, pequenos
peixes vivos, moluscos
(caramujos), crustáceos,
minhocas
Lagartos e lagartixas Tenébrios, grilos, moscas, 1 a 3 dias
baratas, minhocas, frutas e
verduras, peixe cru, pedaços
de carne crua, ovo cru
misturado em ração felina ou
canina
Serpentes Roedores, aves, baratas, 7 a 15 ou mais dias
tenébrios, grilos, peixes
Quelônios Carne e peixe crus, 2 a 3 dias
crustáceos, moluscos,
minhocas, tenébrios, grilos,
baratas, roedores, ovo cru,
ração felina ou canina, frutas
e verduras

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MEDICINA DE AVES

Introdução

São reconhecidas mundialmente cerca de 9730 espécies de aves. Algumas das


principais ordens são:

Rheiformes (10 spp.): Ratitas - emas, avestruzes, casuares e emus.


Tinamiformes (47 spp.): perdizes, codornas, macucos e inambus.
Craciformes (69 spp.): mutuns, jacus, jacutingas e aracuãs.
Galiformes (215 spp.): pavões, perus, faisões e cracídeos.
Anseriformes (163 spp.): patos, marrecos, cisnes e gansos.
Piciformes (354 spp.): tucanos, araçaris e pica-paus.
Psitaciformes (360 spp.): araras, papagaios, periquitos, cacatuas, tirivas...
Strigiformes (299 spp.): corujas, mochos, caburés.
Columbiformes (315 spp.): pombos.
Passeriformes (5749 spp.): tiranídeos, cotingídeos, fringilídeos, formicarídeos,
corvídeos, furnarídeos...

Principais afecções das aves silvestres.

1. Doenças causadas por traumas (traumatologia)


Pele (carúncula, cera, crista, barbela, escamas), penas, unhas, esporas, bico
e ossos.
2. Doenças infecciosas
Psitacose, bouba, tuberculose, salmonelose, newcastle, butolismo, DCR.
3. Doenças nutricionais
DOM, carências vitamínicas (vit. A).
4. Doenças dermatológicas
Picacismo, sarnas (knemidocóptica), fungos.
5. Doenças parasitárias
Aspergilose, candidíase
Endoparasitos: coccidiose, nematoides, capillaria.
Ectoparasitos: ornitonissus, dermanissus, miíases.
6. Doenças do aparelho reprodutor
Retenção de ovos, prolapsos.

1. TRAUMATOLOGIA

1.1. Olhos
Especialmente em rapinantes as afecções oftálmicas são freqüentes. A
preservação funcional de ambos os olhos é indispensável para a visão binocular
(profundidade), necessária na atividade da captura de presas. Isto deve ser
considerado com atenção no caso de reabilitação.
Deve-se verificar se a ave está enxergando. Em aves a avaliação da capacidade
de visão pode ser procedida através de “ameaça” e avaliação da reação pois exames

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com oftalmoscópios não são plenamente eficientes. Observar também a simetria, a
posição e a mobilidade dos olhos.
No diagnóstico e avaliação de uma úlcera de córnea utiliza-se uma solução do
corante orgânico fluorceína a 2%. Uma gota de solução estéril é aplicada na córnea e
imediatamente se lava bem o olho com soro fisiológico. As áreas lesadas apresentarão
a cor verde brilhante.

Doenças da córnea:
• Arranhões de córnea – recentes (traumatismos, viagens)
• Ceratites – tardias (posteriores a lesões de córnea)
• Ceratoconjuntivite – crônica (ceratites sem recuperação)

A exenteração ocular em aves necessita de técnicas próprias devido ao globo


ocular ser proporcionalmente grande e cônico e a presença do anel ósseo (ossos
esclerais). Em corujas a incisão cirúrgica atinge o orifício auditivo que fica lateralmente
ao olho.

1.2. Fâneros (penas, unhas, bico, esporas)


Acidentes envolvendo o bico, as unhas, as penas ou os membros de aves
cativas são freqüentes provocando perturbações de ordem estética e/ou funcional.
Fraturas ósseas das mandíbulas ou maxilas são de difícil reconstituição resultando em
desgaste inadequado do bico promovendo deformações que podem comprometer
seriamente a atividade alimentar.
Acidentes durante a captura de aves agarradas na tela do recinto, especialmente
psitacídeos e rapinantes que possuem muita força nos pés, são comuns e determinam
freqüentemente a perda de unhas, dígitos e deformações (também agressões de aves
vizinhas através de tela divisória provocam acidentes semelhantes).
As fraturas em aves são comuns devido às características próprias da estrutura
esquelética delicada (corticóide fina) e musculatura forte.
Os ossos pneumáticos no papagaio (variam entre as aves em conformidade a
espécie) são: costelas, vértebras, úmero, coracóide, clavícula, esterno, íleo, ísquio,
púbis e crânio.
Aves com deficiência nutricional são particularmente propensas a problemas
ósseos (corujas, falcões, gaviões e outros alimentados exclusivamente com carne –
equilíbrio Ca/P).
No processo de crescimento das penas, enquanto elas emergem dos folículos
plumários, estão envolvidas por uma camada de proteção, a bainha e são repletas de
vasos sangüíneos. Nesta situação, traumatismos podem provocar lacerações de vasos
sangüíneos e determinar graves hemorragias que podem levar à morte por
exanguinação.

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1.3. Ossos
CORACÓIDE
CLAVÍCULA
MEMBRO TORÁCICO ÚMERO
ULNA
RÁDIO
CARPOS RADIAIS
CARPOS ULNARES
CARPOMETACARPO Álula
Menor
Maior

DÍGITOS Maior (2 falanges)


Menor (1 falange)
MEMBRO PÉLVICO FÊMUR
PATELA
TIBIOTARSO+FÍBULA
TARSOMETATARSO (metatarsais fusionados)
DÍGITOS (1 a 4 falanges)

Protocolo de atendimento imediato em aves com fraturas:


• Avaliação preliminar: stress X fratura.
• Prevenir novos acidentes.
• Acomodar em recinto escuro, aquecido, pequeno, com poleiros baixos.

Diagnóstico
• Avaliar postura da ave (conhecer seus hábitos e comportamento)
• Avaliar a movimentação (deslocamento e vôo)
• Palpação ⇔ simetria comparação (2 asas)
• Molhar penas com álcool Æ visualização de estruturas (gordura)

Tratamento Ortopédico – Princípios Básicos


• Avalie o estado clínico geral - hidratação quando necessário
• Preserve articulações evitando invadi-las
• Evite imobilizações prolongadas
• Em fraturas expostas a atuação deve ser a mais rápida possível
• Imobilize a articulação acima e abaixo do osso fraturado (externa)

Estado de choque:
Deve ser revertido o choque antes do tratamento ortopédico. O choque deve ser
tratado com hidratação, glicose, aquecimento e corticóides. Deve ser efetuada uma
imobilização provisória, providenciado o estancamento de hemorragia (quando houver),
através de pressão, cauterização química, térmica ou adrenalina tópica e efetuar o
atendimento ortopédico após 24 a 48 horas.
Dexametazona (Azium®) Æ 2 a 4 mg/kg. EV, IM
Soro glicosado 5% Æ10 ml/500g. EV, SC, IO, PO

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Ortopedia Æ não cirúrgica (talas, bandagens, tipóias)
Æ cirúrgica (pinos, cerclagem)

Aves de pequeno porte Æ é difícil intervenção cirúrgica.

FRATURAS MAIS FREQÜÊNTES EM AVES:

1. Asas

1.1. Ombro (coracóide, escápula e fúrcula)


A ave não levanta a asa acima do plano horizontal.
Diagnóstico radiológico.
Imobilização.
Coracóide Æ pino intramedular.

1.2. Úmero
Proximal (tendem a ser estabilizadas pela musculatura Æ imobilização).
Medial (tendem a ser expostas pela contração muscular) Æ pino intramedular e
imobilização com bandagem em 8.
Distal (tendem a ser transversas) pino intramedular e cerclagem.
Expostas Æ mau prognóstico infecção, lesão de tecidos e fragmentos
expostos.
1.3. Radio e ulna
Pode envolver apenas um osso ou ambos.
Fratura única Æ imobilização externa.
Fratura dupla Æ pino intramedular.

1.4. Carpometacarpo
Pouco tecido mole.
Imobilização.
Ferida aberta Æ prognóstico reservado (necrose).

2. Membros pélvicos
2.1. Fêmur
Pequenas aves Æ repouso
Médio e grande porte Æ pino intramedular e imobilização externa (tala de
quadril).

2.2. Tibiotarso
Freqüente
Aves pequenas Æ método de Altman.
Aves grandes Æ pino intramedular e imobilização externa.

2.3. Tarsometatarso
Método de Altman.
Tipóia de Ehmer.
Tala de quadril.

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2.4. Dígitos
Imobilização externa.

Tempo de imobilização*:
• Pequenas aves 6 a 8 dias
• Aves maiores 1 a 2 semanas
• Formação do calo ósseo - 9 dias
• União óssea 22 dias
• Remodelação - 42 dias

*Avaliar periodicamente através de palpação e radiologia.

Obs.: A ossificação tardia é decorrente de mau posicionamento dos segmentos ósseos,


infecção ou deslocamentos.

2. DOENÇAS INFECCIOSAS

2.1 Psitacose ou Ornitose – Chlamydia sp.


Trata-se de importante zoonose, em aves afeta principalmente o aparelho
digestório (fígado, baço – também aeroscaulite) e nos humanos o respiratório (≈gripe).
Tratamento prolongado (tetraciclina 25 mg/kg a cada 12 horas por 45 dias). Embora
recentemente tenha sido identificada como freqüente, faltam maiores estudos sobre a
sua importância e casuística no Brasil.

2.2 Bouba aviária, varíola aviária - Pox vírus (DNA vírus)


É doença de aves comerciais ou de produção, está distribuída por todo o mundo.
Ultimamente tem se tornado importante em aves silvestres da América do Sul e
Central, identificada especialmente em psitacídeos transportados para os EUA.
Geralmente a bouba é uma doença cutânea e auto limitante. Trata-se do maior vírus
animal, não afetando mamíferos. Afeta psitacídeos, canários, rapinantes e pombos. A
multiplicação viral ocorre no citoplasma e produz os característicos corpúsculos de
Bollinger. Existem diversas cepas virais divididas em subgrupos: peru, galinha, canário
e pombo. A variação entre as diferentes cepas pode causar uma doença grave
(espécie específica) ou benigna (espécie inespecífica). Uma ave contaminada
desenvolve forte imunidade.
Não existem aves verdadeiramente portadoras porém podem ocorrer infecções
latentes. O vírus pode ser encontrado na saliva, secreções nasais, lágrima e
eventualmente nas fezes. A transmissão ocorre por contato direto e através de insetos
hematófagos (pernilongos).
Duas formas de bouba em psitacídeos são conhecidas: a forma seca ou cutânea
e a forma úmida ou diftérica. A forma cutânea é caracterizada por lesões proliferativas
discretas que afetam as partes nuas como a cera, pele facial, margens dos olhos e pés.
As lesões começam com vesículas e após 4 a 10 dias pápulas e escaras.
A forma diftérica é caracterizada por lesões fibrinolíticas extensas na orofaringe,
olhos, trato respiratório superior e esôfago. Um diagnóstico diferencial deve ser feito
com relação a hipovitaminose A e trichomoniase. Pode ocorrer a perda ocular devido a

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perfuração da córnea e panoftalmia. Lesões da cera podem perturbar o tecido
germinativo do bico causando despigmentações ou deformações.
Aves de todas as idades são vulneráveis, porém as jovens são mais sensíveis e
severamente afetadas. Canários-belga (Serinus canarius) também são afetados pelas
duas formas da doença.

2.3 Doenças respiratórias – Aerosaculite

Sinais clínicos:
• Ave arrepiada/apática/prostrada
• Dispnéia
• Ruído respiratório (“click”)
• Cauda com movimentos pendulares
• Espirro/exsudato
• Sinusite
• Alteração na voz
• Blefarite/conjuntivite

Germes mais freqüentes: Pseudomona sp., E. coli, Pasterurela sp.

3. ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
(doenças nutricionais)

Introdução:
As doenças ósseo metabólicas em animais silvestres são freqüentes e
decorrentes principalmente dos seguintes fatores:

• Deficiência prolongada de cálcio ou vitamina D3.


• Desequilíbrio cálcio/fósforo.
• Manejo inadequado, falta de radiação UV.

O METABOLISMO DO CÁLCIO
O esqueleto funciona como um estoque de elementos minerais (principalmente
de cálcio), para o organismo tanto de aves como de mamíferos e répteis.
O metabolismo do cálcio é regulado pelos níveis de cálcio, fósforo e vitamina D
na dieta alimentar como também por diversos hormônios. O principal controle hormonal
é efetuado pela calcitonina, fabricada na paratireóide, e pela ativação metabólica da
vitamina D. Quando o nível de cálcio do sangue começa a cair, o hormônio da
paratireóide é ativado. A calcitonina aumenta a retenção de cálcio através da filtração
renal, reduzindo a excreção e promove a retirada de cálcio dos ossos, liberando-o para
o sangue. A calcitonina também estimula a liberação de vitamina D na forma
metabólica ativa. A ativação da vitamina D aumenta a retirada de cálcio dos ossos e a
absorção nos intestinos. Havendo excesso de cálcio sanguíneo a calcitonina ativa a
deposição de cálcio nos ossos.

* Para primatas sul americanos, aves e répteis, apenas a Vit D3 tem eficiência
farmacológica.

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DESORDENS DO ESQUELETO
Aves jovens são mais susceptíveis a desordens do esqueleto pois seus ossos
ainda estão em formação. Trauma, stress ou nutrição inadequada podem resultar em
deformações ósseas nas aves em crescimento. Findo o crescimento, com o
desenvolvimento total do esqueleto, não ocorrem mais deformações e sim fraturas,
deslocamentos ou luxações.

DEFORMIDADES DO DESENVOLVIMENTO

Raquitismo: O raquitismo é uma doença nutricional do crescimento, é causado pela


deficiência de cálcio, de vitamina D ou do balanço de cálcio e fósforo.
Para o adequado desenvolvimento ósseo, os níveis de cálcio e fósforo devem
obedecer à proporção de 2:1.
Cereais (sementes) são pobres em cálcio e ricos em fósforo.

Cereal Cálcio Fósforo


Milho 1 37
Painço 1 6
Alpiste 1 14
Aveia 1 8
Girassol 1 7

Para ajustar o equilíbrio entre cálcio e fósforo, devem ser fornecidos


suplementos com altos teores de cálcio e pobres em fósforo.

Osteomalacia: É doença ósseo-metabólica que afeta animais adultos. A


deficiência de cálcio, fósforo ou vit. D, ou o desequilíbrio cálcio/fósforo resulta em
excessiva reabsorção óssea na tentativa de manter os níveis sangüíneos de cálcio. Os
ossos tornam-se finos e frágeis. Podem surgir fraturas espontâneas (fraturas em vara
verde ou dobradura).

Osteomielite: É a infecção dos ossos. Usualmente é decorrente de


contaminação em fraturas expostas ou de infecções dos tecidos moles adjacentes.

Artrite: É a inflamação da articulação. Pode ser séptica ou asséptica. Causada


por bactérias, vírus ou depósitos de uratos, nos casos de gota, ou ainda pela irritação
crônica decorrente do uso de uma articulação anormal (chamada de artrite
degenerativa).
Em psitacídeos idosos, a artrite degenerativa pode ocorrer em articulações que
foram deformadas ou sofreram injúrias. Os ossos componentes da articulação,
remodelam-se e formam superfícies anormais e projeções em resposta a inflamação.
Isto é mais comum em espécies grandes e pesadas onde as articulações estão mais
sujeitas a pressões.

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Fraturas e deslocamentos: São resultantes de trauma. Deslocamentos são
pouco freqüentes, decorrentes de traumatismos severos são difíceis de corrigir.

4. DOENÇAS DERMATOLÓGICAS

Problemas com muda de penas ou ecdise Æ disecdise


Uma das principais causas de disecdise é a presença de ectoparasitos. Entre os
principais ectoparasitos destacam-se:

• Piolho vermelho (Dermanyssus sp.)


• Carrapato das penas (Syringophilus sp. e Dermogliphidae sp.)
• Sarna das patas (Knemidokoptes sp.)

Também as deformações por sujidade ou recintos pequenos e inadequados


freqüentemente perturbam o bom empenamento das aves.

Síndrome da automutilação, picacismo ou apetite depravado


Trata-se de uma das formas mais comuns de perda de penas. Pode ser
decorrente de prurido por dermatose, parasitos, muda patológica ou stress.
Principalmente as aves do grupo dos psitacídeos, quando submetidas a diferentes tipos
stress tais como: espaço reduzido, falta de atividade, alimentação monótona, pressão
social, respondem com automutilação. Em casos extremos, todas as penas do corpo
com exceção das da cabeça são eliminadas. Alterar o ambiente, eliminar os agentes
estressantes, proporcionar atividade e ocupação auxiliam na recuperação. Em casos
extremos é recomendável a aplicação de “colar isabelino” e uso de tranqüilizantes
(Aldol® - aloperidol)

Quistos/cistos de plumas: a pena forma-se no folículo porém não ocorre a erupção.


Pode haver infecção, com a presença de exsudato caseoso. Pode ser decorrente de
lesões no folículo plumário, perda de penas fora do período natural de muda (a falta de
uma remige dificulta o crescimento da nova pena) ou estar associado a problemas
genéticos. A localização dos cistos é principalmente nos folículos das penas de vôo das
asas (rêmiges), o tratamento é cirúrgico.

5. DOENÇAS PARASITÁRIAS

Um protocolo profilático de doenças parasitárias é indispensável para manter a


sanidade de populações de aves mantidas em cativeiro.

5.1. Todo indivíduo anexado ao plantel deve passar pelo seguinte procedimento:
1.1 Avaliação clínica preliminar.
1.2 Avaliação coproparasitológica.
1.3 Aplicação de vermífugos de ação interna e externa (*ver protocolo
terapêutico).
1.4 Período de quarentena de no mínimo 1 semana.

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5.2. Todo o plantel deve ser sistematicamente manejado no seguinte sentido:
A cada 60 dias, individualmente, devem ser submetidos a exame
coproparasitológico. Os resultados obtidos devem ser anotados em uma tabela
anexada à ficha clínica do indivíduo. Havendo resultados positivos, deve se proceder à
terapia.
A cada 6 meses, todo o plantel deve ser medicado com ecto e endo
parasiticidas, mesmo que os exames coproparsitológicos sejam negativos. Alguns
grupos de aves são especialmente sensíveis a parasitismo, especialmente capillaria
(tucanos e alguns psitacídeos)

5.3. Manejo ambiental:


Devem ser evitados os riscos de contágio veiculados por aves de vida livre
(pardais, pombos, urubus, garças etc) que visitem os viveiros. Este é um procedimento
importante e muito difícil de ser praticado em determinadas localidades, porém a sua
observação resulta em vantagens e maior sucesso na manutenção e reprodução em
cativeiro.
Aspectos quanto ao ciclo reprodutivo de parasitos devem ser observados. Com
relação a capilariose principalmente, a possibilidade de auto contaminação e
reinfestação estão sempre presentes pois os ovos deste parasito permanecem viáveis
por diversos anos no solo. O tratamento ambiental recomendado em áreas
contaminadas consiste na remoção e substituição de pelo menos 40 cm do solo dos
recintos. Dada a dificuldade prática disto, os cuidados profiláticos são especialmente
importantes.

5.4. Protocolo terapêutico:

Os seguintes princípios ativos, vem dando bons resultados terapêuticos:


• Endoparasiticidas:
- Ivermectin (Ivomec® – Merck Sharp Dhome, 10 mg/ml). Injetável na dose de 200 a
400 µg/kg.
- Doramectin (Dectomax® - Pfizer, 10 mg/ml). Injetável na dose de 200 a 400 µg/kg.
- Levamisol (Ripercol-L® – Cyanamid, 75 mg/ml). Injetável na dose de 8 mg/kg.

• Ectoparasiticidas:
- Fipronil (Frontline® Spray – Rhodia-Mérieux, 2,5 mg/ml). Uso tópico e aplicação em
ninhos e recintos.

6. AFECÇÕES DO APARELHO REPRODUTOR EM AVES SILVESTRES;

Introdução
As afecções do aparelho reprodutor em aves silvestres ocorrem em machos e
fêmeas. As aves acometidas por estes problemas são especialmente aquelas que
estão em período reprodutivo.
Em machos podem ocorrer problemas decorrentes de lesões traumáticas no
pênis. o fato se deve geralmente a agressões promovidas por outros machos durante
as atividades de corte e disputa de fêmeas. O pênis exposto é agredido com o bico
pela ave oponente, as soluções de continuidade, as agressões continuadas e a

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contaminação podem levar a complicações graves, edema pronunciado, necrose,
miíases, lacerações e até amputação. Naturalmente este problema é pertinente às
aves que apresentam pênis tal como as ratitas (emas, avestruzes, emus e casuares),
os anatídeos (patos marrecos e gansos), os tinamídeos (macuco, inambu e perdiz) e os
cracídeos (mutuns, jacus, jacutingas, urumutuns e outros). E principalmente nos que
são eminentemente sociais e que apresentam um pênis volumoso que quando exposto
torna-se um alvo fácil e visado pelo oponente como os anatídeos e as ratitas.
O tratamento usual, dependendo do grau de comprometimento, vai do
isolamento da ave afetada, limpeza e aplicação de pomadas umectantes com
antibióticos, redução do edema, reposição do prolapso, sutura da abertura cloacal em
bolsa-de-tabaco, até amputação cirúrgica.
Em fêmeas os problemas mais freqüentes são de postura de ovos embora
possam ocorrer complicações de ordem infecciosa, de má formação ou quistos de
ovário e oviduto.

Retenção de ovo e prolapso de oviduto e cloaca.


Para o diagnóstico desta afecção deve-se avaliar precisamente o histórico da
ave, o proprietário ou o tratador prestam informações preciosas. O quadro dos sinais é
comum a muitas outras afecções. A ave apresenta-se arrepiada, apática, anoréxica,
com a porção posterior do abdome dilatada e tenesmo. O histórico biológico e
comportamental da ave, associado a uma cuidadosa palpação pode confirmar o
diagnóstico (tomar cuidado na palpação para diferenciar o ovo da moela – a maioria
dos ovos retidos estão na parte distal do oviduto ou da cloaca). O exame radiológico é
definitivo.
Estabelecido o diagnóstico, deve-se optar ou não pela anestesia. Na maioria dos
casos a solução pode se obtida através de compressas quentes, lubrificação do canal
de postura com vaselina/parafina líquida ou Furacin® líquido e manipulação cuidadosa.
O diagnóstico precoce é de extrema importância na solução do problema. Pode ser
utilizado o hormônio ocitocina por via venosa (3 a 5 UI/kg). Para passeriformes de
pequeno porte apenas manter a ave em ambiente aquecido e úmido pode ser o
suficiente (estufa pediátrica).
Quando o diagnóstico e o tratamento não são precoces, pode ser encontrado o
oviduto (membrana) prolapsado e necrosado, necessitando remoção cirúrgica.
Havendo prolapso sem necrose, procede-se a redução reintroduzindo-se tão
profundamente quanto possível, pode ser necessária a aplicação de sutura da borda da
cloaca, em bolsa-de-tabaco, que deverá ser retirada 24 a 48 horas após. A recidiva de
retenção de ovo após 1 ou 2 dias geralmente é fatal. Não sendo possível a extração
do ovo íntegro, este deve ser puncionado em um pólo através da cloaca, esgotado com
auxílio de uma seringa e cânula e então comprimido, sem romper a membrana, e
retirado com auxílio de fórceps, protegendo-se as paredes do oviduto e cloaca até
retira-lo inteiramente. Qualquer fragmento de casca ou gema deve ser retirado. Deve
então ser introduzida na cloaca uma pomada antibiótica (oftálmica de terramicina).
Recomenda-se o uso de antibiótico sistêmico por uma semana (gentamicina).
A laparotomia (“cesárea”) pode ser indicada nos casos em que a retirada através
das manobras descritas não tenha sido possível (ovo estacionado em partes altas) e
nos casos de prolapso pronunciado de oviduto. Nos casos de ovos muito grandes a

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laparotomia pode ser complicada, necessitando de uma incisão muito grande. O
extravasamento da gema na cavidade abdominal constitui um perigo pela ameaça de
peritonite com prognóstico reservado.

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ADAPTAÇÕES DO ESQUELETO DAS AVES

Quando comparadas aos mamíferos, as aves apresentam muitas


particularidades decorrentes principalmente das adaptações que as capacitam ao vôo.
Também entre as diferentes famílias da Classe Aves, grandes variações são
observadas. Muitas destas adaptações afetam o esqueleto.
O esqueleto nas aves serve para as mesmas funções que nos demais
vertebrados:
1) Proteger e suportar os órgãos internos
2) Fornecer áreas de fixação para os músculos permitindo a estrutura e o
movimento
3) Prover o organismo de reservas minerais

CARACTERÍSTICAS ÓSSEAS DAS AVES


# Estrutura leve e delgada
# Redução numérica quanto comparadas com os mamíferos
# Alta densidade e pequena espessura
# Quilha ou carena desenvolvida (aves voadoras)
# Cauda sem ossos
# Diâmetro da luz medular grande
# Ossos longos e elásticos
# Presença de ossos pneumáticos
# Formação do esqueleto extremamente rápida

ADAPTAÇÕES PARA O VÔO


A maior parte das aves voa. Entre as exceções está a família Rheidae ou ratitas
(do latim rate=jangada), onde o esterno é achatado por ter perdido a quilha ou carena
que dá sustentação aos músculos do peito. Os pingüins não voam, entretanto
possuem carenas desenvolvidas e grandes massas musculares no peito, pois eles
utilizam os mesmos movimentos do voar para nadar, eles na verdade “voam dentro
d’água”.
Para permitir o vôo as aves apresentam ossos leves, esqueleto compacto e
muito rígido em certos locais para sustentar as grandes pressões que sofrem durante o
deslocamento aéreo. Necessitam também de grandes e resistentes áreas para a
fixação dos músculos envolvidos nos movimentos do vôo assim como fortes suportes
para as grandes penas de vôo. É necessária a visão acurada além de rapidez de
reflexos e respostas para prevenir colisões em grandes velocidades de vôo. As aves
necessitam ainda da capacidade de andar no solo. Para tornarem-se leves, muitos dos
ossos das aves são pneumáticos. Desta forma os espaços dos ossos das aves são
completados com ar e não com retículos ou trabéculas como nos ossos dos
mamíferos. Os ossos do crânio, vértebras, costelas, tórax e pélvis além dos ossos
longos como os das asas, são pneumáticos nos psitacídeos assim como na maioria
das demais famílias. De forma geral, aves pequenas apresentam menor grau de
pneumatização óssea do que as grandes. Aves mergulhadoras tendem a apresentar
pouca, ou nenhuma pneumatização, aumentando a densidade necessária para o
mergulho.

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Ao longo da evolução as aves ganharam leveza, porém necessitaram de
conservar a força e a resistência óssea. Muitos ossos que nos mamíferos são
separados, nas aves são fusionados, entre estes a coluna vertebral, a cintura pélvica,
a cauda, as asas e as pernas. Na cintura pélvica, o sacro, as vértebras lombares e as
caudais são fusionados com os ossos da bacia formando uma estrutura rígida
denominada sinsacro. Quase todos os ossos da cauda são fusionados formando o
pigostílio (pigostilo) que suporta todas as penas da cauda.
Nas asas, os ossos do punho foram reduzidos a apenas dois e os ossos da mão
reduziram-se a apenas três, dois destes são fusionados entre si. Nas pernas, os sete
ossos do tornozelo dos mamíferos são fusionados formando o final da tíbia e os ossos
dos pés formando o chamado tibiotarso. Isto essencialmente cria um super osso que
alonga as pernas das aves, dotando-as de velocidade, agilidade e protegendo a
articulação do tornozelo de injúrias.
Provavelmente a mais evidente e notável das adaptações seja a quilha ou
carena no esterno. A quilha é o centro rígido do osso onde se inserem os grandes
músculos peitorais.
Aves mergulhadoras e rapinantes apresentam pronunciadas cristas em seus
ossos das pernas para prove-los de áreas de inserção para os grandes e fortes
músculos necessários para as poderosas pedaladas ou imobilização de prezas.
As costelas das aves apresentam projeções, chamadas de processos
uncinados, que se sobrepõem à costela lateral caudalmente. Estes protegem e dotam
de força especialmente as aves mergulhadoras, provendo-as da estruturação que
permite suportar a pressão d’água durante os mergulhos (esta estrutura óssea é uma
característica única das aves).
Os ossos do pescoço e da cabeça também apresentam características únicas,
que não auxiliam no vôo, mas que compensam, as conseqüências das adaptações
úteis para o vôo (estrutura óssea rígida). A cabeça é fixada ao pescoço através de uma
vértebra com um único côndilo articular o que permite muito mais mobilidade às aves
do que aos mamíferos que apresentam dois côndilos articulares (esta característica é
comum aos répteis que são um grupo irmão). As aves assim como os répteis
apresentam mais ossos em suas mandíbulas e maxilas do que os mamíferos, isto lhes
permite uma grande flexibilidade e mobilidade. Apresentam também maior número de
vértebras cervicais, as quais possuem projeções que permitem a fixação de músculos
e ligamentos muito fortes. Estas adaptações permitem às aves o uso da cabeça e do
bico na construção de ninhos, manipulação de alimentos, cuidados com filhotes e
outros.
Para possibilitar a locomoção no solo, o comprimento corporal das aves foi
reduzido; os grandes músculos de vôo, assim como os grandes ossos (o esterno e o
sinsacro), estão localizados próximo do centro de gravidade. Este centro de gravidade
está posicionado acima das pernas nas aves. O fêmur e o joelho sofreram rotação
para situarem os pés abaixo do centro de gravidade das aves.

CARACTERÍSTICAS DAS AVES QUE PERMITEM O VÔO


# Estrutura das asas pescoço e penas
# Músculos peitorais e das coxas próximos à coluna (equilíbrio)
# Músculos especializados, com pequeno volume, grande força e resistência

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MEDICINA DE MAMÍFEROS SILVESTRES

1. Introdução
Existem 4635 espécies de mamíferos divididos em 20 ordens, as características
mais marcantes dos mamíferos são além das glândulas mamárias, a endotermia e a
sociabilidade.

Classe Mammalia 4635 espécies


Classificação Exemplos Nº de Localidades
espécies
Prototheria Eqüidna e 03 Austrália
(Monotremata*) ornitorrinco. Nova Guiné
Theria** Metatheria*** Gambás, 272 Austrália
(Marsupialia) cuícas, Novo Mundo
cangurus,
coalas...
Eutheria**** Ver tabela das 4360 Todo mundo
(Placentata) ordens menos Austrália
*Monotremados: Animais cordados, mamíferos, prototérios, da ordem Monotremata. Dentes presentes
apenas nos jovens, tendo os adultos um bico córneo; cloaca; testículos abdominais; pênis, que conduz
apenas esperma. Fêmeas ovíparas, desprovidas de útero ou vagina, com as glândulas mamárias sem
tetas. Vivem na região australiana.
**Térios: Subclasse de mamíferos atuais ou extintos, vivíparos, placentários ou aplacentários. São os
marsupiais e mamíferos eutérios. Distinguem-se dos prototérios pelos dentes e pelas estruturas laterais
do crânio, formadas, cada uma, por um alisfenóide e um escamoso (5).
***Metatérios: Animais mamíferos, térios, da seção Metatheria, formada por aqueles cujos filhos nascem
em condição muito rudimentar, alojando-se numa bolsa marsupial para completar o desenvolvimento.
Atualmente este grupo é dividido em diversas ordens, a saber: Didelphimorphia, Paucituberculata,
Microbiotheria, Dasyuromorphia, Peramelemorphia, Notoryctemorphia e Diprotodontia.
****Eutérios: Animais mamíferos térios da seção Eutheria, que têm todos os caracteres gerais de sua
classe, especialmente a placenta, o que exclui os marsupiais e os monotremados.

EUTHERIA
Ordem Espécies Região
XENARTHRA (tamanduás, preguiças, 29 Neártica e Neotropical
tatus)
PHOLIDOTA (pangolins) 07 Etiópica e Oriental
LAGOMORPHA (coelhos, lebres, tapetis, 80 Todo o mundo menos
pikas) Antártida e Austrália
(introduzido)
RODENTIA (ratos, camundongos, pacas, 2021 Todo o mundo menos
cutias, capivara, esquilos...) Austrália (introduzido)
MACROCELIDAE (mussaranhos- 15 Etiópica
elefante)
INSECTIVORA (toupeiras, mussaranhos) 428 Todo o mundo menos
Antártida
SCANDENTIA (mussaranhos arborícolas) 19 Oriental

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PRIMATES (lêmures, macacos, homem, 233 Mundial
antropóides)
DERMOPTERA (lêmures voadores) 02 Oriental
CHIROPTERA (morcegos) 925 Todo o mundo menos
Antártida
CARNIVORA (cães, gatos, ursos, iraras, 271 Todo mundo
focas...)
TUBULIDENTATA (Aardvark) 01 Etiópica
ARTIODACTYLA (Porcos, hipopótamo, 220 Todo o mundo menos
camelídeos, cervídeos, girafas...) Austrália e Nova Zelândia
(introduzido)
CETACEA (baleias, golfinhos) 78 Todo o mundo
PERISSODACTYLA (cavalos, zebras, 18 África, Ásia, Américas
asnos, antas, rinocerontes)
HYRACOIDEA (hyrax) 06 Etiópica
PROBOSCIDEA (elefantes) 02 Etiópica e Oriental
SIRENIA (peixe-boi, manati) 05 Tropical menos o leste do
Pacífico

Clínica médica:
Devido a grande diversidade dos mamíferos e a falta de conhecimento científico
(médico) de muitas espécies, a utilização de informações pertinentes à medicina de
mamíferos domésticos é amplamente utilizada na clínica de mamíferos silvestres.
Seguem abaixo alguns exemplos da utilização de conhecimentos de diferentes
especialidades clínicas de animais domésticos para a medicina de animais silvestres.

Clínica de pequenos animais


• Canídeos e felídeos ⇒ grande semelhança com cães e gatos domésticos.
• Mustelídeos - procionídeos - marsupiais - são úteis muitos conceitos da
medicina de pequenos animais (atentar para diferenças fisiológicas
comportamentais e epidemiológicas).

Clínica de Grandes animais


• Bovídeos (antílopes) e girafídeos ⇒ grande semelhança com bovídeos
domésticos.
• Suídeos e taiassuídeos ⇒ semelhança com suínos domésticos.
• Cervídeos ⇒ são úteis muitos conceitos da medicina de animais de fazenda.
• Perissodáctila (antas) ⇒ especialmente úteis os conhecimentos de medicina
de eqüinos domésticos.

Grupos com grandes particularidades


• Primatas ⇒ são úteis muitos conceitos da medicina de pequenos animais e da
medicina humana

• Megamamíferos ⇒ muitas particularidades (grupo diversificado) - são úteis os


conhecimentos de medicina de animais de fazenda

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Hipopótamo: Ordem Artiodactyla - Subordem Suiforme - Família
Hipopotamidae São utilizáveis os conhecimentos da medicina de porcos
domésticos.
Rinoceronte: Ordem Perissodactila - Família Rinocerontidae. São
utilizáveis os conhecimentos da medicina de cavalos domésticos.
Elefante: Ordem Probocidea - Família Elefantidae.

• Xenarthra (Edentata) - (tamanduás, preguiças e tatus) ⇒ são úteis os


conhecimentos de medicina de pequenos animais.

• Roedores ⇒ são úteis os conhecimentos da clínica de pequenos animais e


animais de laboratório, porém apresentam muitas particularidades.

• Lagomorfa ⇒ assemelham-se a roedores (duplo par de dentes incisivos


superiores) .

• Camelídeos ⇒ são úteis os conhecimentos da clínica de animais de fazenda,


porém apresentam muitas particularidades.

• Chiropteros ⇒ apresentam características muito particulares.

• Mamíferos marinhos ⇒ características e particularidades muito específicas.


Dúvidas do clínico de animais silvestres:
1) Quais bichos estudar? (conhecer biologia, fisiologia, alimentação, distribuição
geográfica, características, hábitos, comportamento e doenças):
• Os animais do acervo do Zôo ou criadouro sob sua responsabilidade.
• Os bichos mais rotineiros como “pets” ou mascotes.

2) O que estudar? Traumatologia é um tema importante, pois é responsável pela


maioria dos casos clínicos de animais silvestres em cativeiro.

TERMINOLOGIA & TAXONOMIA:

UNGULADOS (animais com cascos).


Ordem ARTIODACTYLA • Subordem Ruminantia
• Subordem Suiforme 1. Família Bovidae - antílopes,
1. Família Suidae - javali, bisões, carneiros, cabras
babirussa, potomochero 2. Família Cervidae - cervos,
2. Família Tayassuidae - cateto, alces e veados
queixada e catagonus 3. Família Girafidae girafa e
3. Família Hipopotamidae - okapi
hipopótamo e hipopótamo- Ordem PERISSODACTYLA
anão 1. Família Equidae - zebra, asno,
• Suborden Tylopoda jegue, cavalo
1. Família Camelidae – camelo, 2. Família Tapiridae - antas (malaia,
dromedário, lhama, alpaca, sul amerericana)
guanaco e vicunha

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3. Família Rinocerontidae -
rinoceronte-branco, rinoceronte-
negro

Ordem Carnívora
1. Família Canidae - lobos, graxains, raposas...
2. Família Felidae - gatos, tigres, onças, leopardo, leão...
3. Família Mustelidae - lontra, ariranha, irara, furão, arminho, vison...
4. Família Procionidae - quati, mão-pelada, jupará.
5. Família Ursidae - urso-de-óculos, urso-pardo, urso-himalaio, urso-polar...
6. Família Hienidae - hiena-pintada, hiena.

Ordem Primates
Subordem Catarrinos - Velho mundo (Eurásia e África) septo nasal estreito e
narinas voltadas para baixo e 32 dentes.
Subordem Platirrinos - Novo mundo (América do Sul e Central) septo nasal
largo, 36 dentes e freqüentemente cauda preênsil.
1. Família Cebidae (unhas achatadas como as humanas)
2. Família Callitricidae (unhas em forma de garras)

CORNOS, GARRAS E CASCOS


São fâneros ou tegumentos, constituem-se em estruturas visíveis e persistentes,
formadas por uma proteína insolúvel denominada queratina ou ceratina
(escleroproteína - encontrada na epiderme, cabelo, unha e esmalte dentário). São
fâneros, as penas, escamas, unhas, garras, cornos, pêlos, esporas, etc.
Os cornos consistem em estruturas ósseas pares e simétricas formadas por
projeções dos ossos frontais (geralmente com um centro oco constituído pelos seios
frontais) e uma capa córnea.

Algumas espécies apresentam particularidades:

• Rinocerontes: cornos nasais (ímpares) formados por aglutinação de pelos


(tecido epidérmico).
• Girafas: os cornos são projeções ósseas revestidas por pele e pêlos.
• Pronghorn, Antilocapra americana (USA): único mamífero atual com cornos
bifurcados, também é o único em que ocorre substituição periódica da capa
córnea.

CHIFRES
Trata-se da única estrutura óssea de crescimento, reposição e reconstituição
periódica. Durante o crescimento é revestido por pele com grande vascularização (velo
ou veludo), que após o término do crescimento se desprende sendo então a estrutura
do chifre destituída de vascularização ou inervação. Os chifres podem atingir
proporções em peso de cerca de 5% do peso corporal. Os chifres são estruturas pares,

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simétricas, unidas a projeções dos ossos frontais, através de uma estrutura chamada
pedicelo.
São característicos dos machos, sendo apresentado também por fêmeas
apenas nas renas ou caribus sendo, no entanto maior nos machos.

Susceptibilidade das principais famílias dos carnívoros às doenças infecciosas mais


freqüentes.

Família/doença Panleucopenia Parvovirose Cinomose Hepatite


felina canina Infecciosa
canina
Canídeos -- + + +
Felídeos + -- -- --
Procionídeos + + + ±
(vírus específico)

Mustelídeos + -- + ±
Ursídeos ± + + +

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CLÍNICA MÉDICA DE ROEDORES E LAGOMORFOS SILVESTRES

Roedores

Os roedores sul-americanos são um grupo muito numeroso e diversificado (no


Brasil representam quase 50% do total de mamíferos). É característica do grupo a
presença de dois pares de dentes incisivos, de crescimento permanente, um grande
diástema e a cavidade oral dividida em dois compartimentos separados por uma prega. O
anterior associado ao comportamento de roer, onde o material triturado pode ser
descartado ou transferido para o posterior onde é macerado e deglutido.
Apresentam uma variação de peso de poucas gramas como os camundongos do
gênero Akodon até os 70 ou mais quilos da capivara (Hydrochaeris hidrochaeris), maior
roedor vivo. Apresentam também uma enorme variação de hábitos, comportamento e
hábitos alimentares.
Apesar da grande variedade de espécies, apenas algumas são freqüentes em
acervos de coleções zoológicas em cativeiro, entre elas destacam-se:

1. Capivara (Hidrochaeris hidrochaeris)


2. Paca (Agouti paca)
3. Cutia (Dasyprocta sp.)
4. Cutiara (Myoprocta sp.)
5. Ratão-do-banhado ou nútria (Myocastor coypus)
6. Ouriço (Sphygghurus sp. e Coendu sp.)
7. Preá (Cavia aperea)
8. Serelepe (Sciurus ingrami)
9. Lebre-da-patagônia (Dolichotes patagonum)
10. Chinchila (Chinchila laniger)
11. Porquinho-da-índia (Cavia porcellus)
12. Hamster-dourado (Mesocricetus auratus)
13. Camundongo (Mus musculus)
14. Gerbil (Meriones unguiculatus)
15. Ratazana (Rattus norvegicus)

Lagomorfos

Quando aos lagomorfos sul-americanos, existe apenas um gênero, provavelmente


monoespecífico (falta uma revisão taxonômica atualizada), o tapeti (Sylvilagus sp.), a
espécie que ocorre no Brasil é S. brasiliensis. Muito pouco se sabe quanto a sua
taxonomia, biologia e menos ainda quando a dados médicos. Raramente tem sido
mantido em cativeiro, não havendo registro de reprodução em cativeiro. Trata-se de
espécie incomum na região sul do Brasil, sendo freqüente no norte e nordeste e centro.
A lebre (Lepus sp.), espécie exótica, introduzida no Brasil é comum e até
abundante em ambientes urbanos e rurais (praga agrícola), não sendo, no entanto
freqüente em zoológicos.

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Contenção

Física - com exceção das capivaras adultas, as demais espécies são passíveis de
serem contidas mecanicamente sem grandes dificuldades. Isto pode ser feito com puçás
fundos feitos de pano reforçado. Cuidados especiais devem ser tomados principalmente
no caso das pacas que freqüentemente são agressivas.
Farmacológica - oferece dificuldades, porém, o cloridrato de cetamina na dose de
60 mg/kg para serelepes, 50 mg/kg para pacas e cutias e 15 mg/kg para capivaras e
nútrias é razoavelmente eficiente. Para a obtenção de miorrelaxamento e maior tempo de
anestesia pode-se associar de 02 a 05 mg/kg de cloridrato de xylazina. Ocorrem quedas
de temperatura corporal durante a anestesia (até abaixo de 30º C), porém sem maiores
complicações mesmo que não seja procedido o aquecimento. Para coelhos, a dose de 40
mg/kg de cloridrato de cetamina associada a 02 mg/kg de cloridrato de xylazina permite
intervenções cirúrgicas rápidas, para as de maior duração é recomendável a manutenção
com anestesia volátil (isoflurano).

Manejo nutricional
Cuidados criteriosos de nutrição são importantes para a manutenção,
principalmente dos pequenos roedores. Ração industrializada para ratos de laboratório é
uma boa alternativa como alimentação básica, complementada com frutas, legumes,
verduras e sementes, em conformidade com o hábito alimentar da espécie. A deficiência
dos aminoácidos metionina e lisina pode ocasionar alopecia e despigmentação da
pelagem. A ração deve ser oferecida nas primeiras horas do dia e as frutas e verduras
como complemento no período da tarde. Esta estratégia estimula o consumo da ração
que tem maior importância nutricional.
Devem ser oferecidos galhos e pedaços de madeira ou alimentos duros que
permitam o indispensável desgaste dos incisivos, sem o qual graves complicações
advêm, como a impossibilidade de oclusão dental e dificuldade de deglutição. A ração
industrializada pelletizada favorece o desgaste dos dentes.
As capivaras, grandes consumidoras de capim, não costumam apresentar sinais de
carências nutricionais. Quase todas as espécies de roedores dispõem de grandes cecos
onde ocorre fermentação. O uso de antibióticos orais por longos períodos costuma levar a
complicações devido ao desequilíbrio da flora digestiva (há um predomínio de germes
Gram-positivos
na flora normal). O uso de antibióticos sistêmicos, não sendo por períodos extremamente
dilatados, não costuma levar a complicações.

Ambiente
O ambiente a ser oferecido varia grandemente em conformidade com os hábitos da
espécie, podendo ser: aquático (nútrias e capivaras), arborícola (serelepes e ouriços), ou
de solo (cutias, preás e cutiaras). Abrigos (estresse) e proteção contra a exposição ao sol,
evitando o excesso de calor (intermacão) devem ser oferecidos.

Clinica médica
Lesões podais decorrentes de pisos duros e/ou abrasivos são freqüentes e de
difícil recuperação. Formam-se calos secos, queratinizados, na região da porção proximal
dos metacarpianos que tendem aumentar com a idade.

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Ectoparasitos
Piolhos, pulgas, carrapatos, sarna e trombiculídeos. Podem localizar-se nas
orelhas ou de forma generalizada. Especialmente em capivaras, os ectoparasitos são
freqüentes e exigem tratamento bem direcionado e planejado.
Tratamento:
Ivermectin (200 a 400 µg/kg SC)
Piretróides: aplicação diretamente no animal e tratamento ambiental-locais
onde se coçam (uso de óleo).
Fipronil (Frontline® spray): tópico

Endoparasitos
Cestódeos, nematódeos e coccídeos
Tratamento:
Levamizole 08 a 10 mg/kg
Ivermectin 200 a 400 µg/kg SC
Sulfas

Sexagem
A identificação do sexo dos roedores requer cuidados para prevenir erros. As
fêmeas têm como característica própria do grupo, um orifício urinário independente do
orifício genital. O orifício genital está aberto no período da cópula (cio) e do parto,
permanecendo lacrado fora destes. Esta característica torna o aspecto externo da
genitália feminina semelhante a dos machos sendo que a sexagem pode ser efetuada
com correção através da exposição de pênis como caráter diferencial.

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LITERATURA RECOMENDADA

Fowler. ZOO & WILD ANIMAL MEDICINE, 2ª edição, 1986 – W.B. Sauders Company

Fowler. ZOO & WILD ANIMAL MEDICINE, 3ª edição, 1993 - W.B. Sauders Company

Fowler. ZOO & WILD ANIMAL MEDICINE, 4ª edição, 1999 - W.B. Sauders Company

Fowler & Cubas Biology, MEDICINE, AND SURGERY OF SOUTH AMERICAN WILD
ANIMALS 2001 – Iowa State University Prress/Ames

Fry. REPTILE CARE (ATLAS OF DISEASES AND TREATMENTS) VOL 1 e 2, 1991


Harrison & Harrison. CLINICAL AVIAN MEDICINE AND SURGERY, 1986

Wiggs & Lobprise VETERINARY DENTISTRY PRINCIPLES AND PRACTICE, 1997 –


Lippincott-Raven Publishers Philadelphia – New York

Mader REPTILE MEDICINE AND SURGERY, 1996

Wallach & Boever DISEASES OF EXOTIC ANIMALS, 1983 – W.B. Sauders Company

Fowler, M. E. RESTRAINT AND HANDLING OF WILD AND DOMESTIC ANIMALS, 2º


Ed. 1995 – Iowa State University Prress/Ames

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