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TEORIAS ADMINSTRATIVAS: um estudo de caso em uma empresa do setor têxtil de

Maringá

Weberton Domingos Risso - FANP/UNIESP


Ricardo Dantas Lopes - FANP/UNIESP

RESUMO

Pautado no objetivo de identificar os aspectos relevantes de algumas teorias administrativas


na realidade organizacional, o presente trabalho constitui-se em estudo de caso em uma
empresa do setor têxtil de Maringá, Paraná e sua estrutura administrativa. Para tanto,
selecionou-se as teorias clássica, comportamental, de sistemas e contingencial sendo que estas
serviram de base para a pesquisa de campo por meio do referencial teórico. Após a aplicação
do roteiro de entrevista, foram observados os pontos de convergência entre as teorias e a
prática organizacional. Como resultado notou-se alguns aspectos das teorias administrativas
na organização, no entanto não houve indicativos de predominância de uma escola em si, o
que se percebeu são aspectos complementares dessas teorias na realidade percebida.

Palavras-chave: Teorias Administrativas. Teoria Clássica. Teoria Comportamental. Teoria


dos Sistemas. Teoria Contingencial: Setor Têxtil.
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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho reúne algumas das muitas teorias da administração, apresentadas


de forma resumida e com intuito de dar base ao estudo de caso realizado. Procurou-se utilizar
os conceitos mais importantes e seguir os eixos norteadores de cada uma das teorias. Além da
revisão bibliográfica sobre as teorias da administração, também será apresentado um estudo
de caso, em que procuramos identificar em uma determinada empresa, características que
mostrem na realidade os conceitos apresentados anteriormente.
A organização estudada é uma micro empresa, que atua na área de confecção de
uniformes e que tem como principal característica os anseios de seu gerente proprietário de
crescer no mercado de uniformes em Maringá.
O objetivo deste trabalho foi verificar na empresa estudada marcas das teorias
administrativas, identificando os pontos em que as ações da organização vão de encontro às
idéias defendidas pelas teorias, bem como os pontos que ela converge ou diverge do que é
apresentado.
O trabalho apresenta primeiramente a revisão da literatura, contendo as informações
sobre a Teoria Clássica, a Teoria Comportamental, a Teoria dos Sistemas e a Teoria
Contingencial. A seguir mostra como foi desenvolvida a pesquisa caracterizando a empresa,
apresentando seu histórico e descrevendo como as políticas gerais estão estruturadas de
acordo ou não com as teorias já vistas. E por último, concluem-se, a partir da análise dos
dados apresentados, quais os aspectos das teorias administrativas encontram-se na prática do
administrador, fornecendo, desta forma, possíveis recomendações à empresa estudada.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 TEORIA CLÁSSICA

Segundo Lacombe (2009), a Teoria Clássica da Administração teve seu surgimento na


França, em 1961, caracterizando a ênfase na estrutura da organização e nas funções do
administrador para que a mesma possa ser eficiente.

Fayol um engenheiro francês, fundador da Teoria Clássica da Administração, partiu


de uma abordagem sintética, global e universal da empresa, inaugurando uma
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abordagem anatômica e estrutural que rapidamente suplantou a abordagem analítica


e concreta de Taylor (CHIAVENATO, 2003. p.80).

Segundo Motta e Vasconcelos (2006), a Escola Clássica considerava a administração


como ciência com princípios próprios, baseando-se de um lado na experimentação científica e
no trabalho e de outro lado o método lógico-dedutivo.
Para Chiavenato (2003), visava o envolvimento de cada parte da organização no todo,
tanto as seções e departamentos como ocupadores e executores das tarefas. Enfatizava ainda
que toda empresa apresentasse seis funções: técnicas, comerciais, financeiras, de segurança,
contábeis e, a última e mais importante, englobando todas as demais, as funções
administrativas. Esta composta por prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.
A proporcionalidade das funções administrativas não é privilégio dos diretores e
gerentes, entretanto distribuída proporcionalmente entre os níveis hierárquicos, na medida em
que se decresce na escala, aumenta a proporção das outras funções da empresa e quando
cresce na escala, aumenta consequentemente a extensão e o volume das funções
administrativas.
A organização ainda pode ser entendida como entidade social na qual as pessoas
interagem para alcançar objetivos específicos e como função administrativa que está inserida
para organizar, estruturar recursos e, por fim, definir os órgãos incumbidos de sua
administração. “Tudo em administração é questão de medida, ponderação e bom senso”
(CHIAVENATO, 2003, p. 83).
Fayol ainda definiu os 14 Princípios Gerais da Administração, são eles: divisão do
trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de direção,
subordinação dos interesses individuais aos gerais, remuneração do pessoal, centralização,
cadeia escalar, ordem, equidade, estabilidade do pessoal, iniciativa e espírito de equipe
(LACOMBE, 2009).
Segundo Maximiano (2006), após Fayol muitos outros autores começaram a pesquisar
a respeito desse processo de administração e o papel dos gerentes. Urwick (1937), como
citado por Maximiano (2006), amplia a idéia de Fayol quanto ao papel do gerente, sendo as
funções deste: Planejamento, Organização, Pessoas, Direção, Coordenação, Informação e
controle, Orçamentação; sendo estas conhecidas pela sigla POSDCORB.
Para Chiavenato (2003) e Motta e Vasconcelos (2006), os autores clássicos pretendiam
criar uma teoria da administração baseada em divisão do trabalho, especialização,
coordenação, centralização e impessoalidade das decisões e atividades de linha e staff.
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2.2 TEORIA COMPORTAMENTAL

A Teoria Comportamental da administração tem seu surgimento marcado em 1947


com a obra: “O comportamento administrativo”, de Herbert A. Simon. A nova teoria faz uma
redefinição dos conceitos administrativos, não só criticando as teorias anteriores, como dando
um novo enfoque aos estudos e diversificando sua natureza. Têm-se o abandono das posições
normativas e prescritivas das teorias anteriores e a adoção de posições explicativas e
descritivas. Pode-se dizer que a Teoria Comportamental está baseada em três grandes pilares:
a motivação, o processo decisório e a liderança.
De acordo com Chiavenato (2003), a Teoria Comportamental fundamenta-se no
comportamento individual das pessoas, sendo que apenas um estudo da motivação humana
pode explicar como as pessoas se comportam. O autor Abraham H. Maslow é um dos maiores
ícones desse estudo e defende que o homem é motivado por necessidades fundamentais que
estão organizadas hierarquicamente (fisiológicas, de segurança, de amor, de estima e de
autorrealização), sendo que estas estão relacionadas entre si. Sabe-se que, segundo o autor,
cada pessoa possui sempre mais de uma motivação e que esses níveis atuam conjuntamente
no organismo.
Já o autor Frederick Herzberg formulou uma teoria que propõe dois fatores de
explicação do comportamento humano: fatores higiênicos e fatores motivacionais. Os
primeiros relacionados ao ambiente de trabalho, tais como salário, diretrizes da empresa,
políticas, relacionamento com superiores, benefícios etc. E o segundo ligado aos sentimentos,
ao crescimento individual e a autorrealização.
Dentro do estudo dos estilos de administrar, encontra-se um continum entre o líder
autocrático e o líder democrático, sendo que cada organização deve procurar o ponto certo de
sua liderança. Ainda dentro desses estudos, Chiavenato (2003) apresenta a Teoria X e a
Teoria Y desenvolvida por McGregor, que mostram duas concepções opostas. A teoria X é a
concepção tradicional de administração, baseia-se na idéia de que o ser humano é indolente,
preguiçoso, falta-lhe ambição e que é incapaz de autocontrole e autodisciplina, o que gera
uma administração dura e rígida, pedindo um líder autocrático. Já a teoria Y é uma concepção
moderna, que acredita que as pessoas não são passivas e dependentes, elas são motivadas e
que podem sentir muito prazer em trabalhar. Dessa forma o líder é aberto, dinâmico e
democrático.
Observa-se, assim, que a Teoria Comportamental marcou definitivamente a
transferência da ênfase na estrutura organizacional para a ênfase nas pessoas, mostrando que
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uma organização é formada por seres humanos que têm vida própria e que agem de acordo
com uma série de fatores, tendo não só motivações, como capacidade de liderança e poder de
decisão.

2.3 TEORIA DE SISTEMAS

A Teoria Geral de Sistemas surgiu e foi popularizada após o fim da Segunda Guerra
Mundial (MOTTA e VASCONCELOS, 2006), e se desenvolveu a partir de trabalhos do
biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy. O autor faz crítica à visão de mundo fragmentada,
buscando um estudo dos sistemas globalmente, envolvendo todas as interdependências de
suas partes. Para Bertalanffy (1968), a teoria de sistemas pode ser compreendida como “uma
nova visão da realidade que transcende os problemas tecnológicos, exige um reorientação das
ciências, atinge uma ampla gama de ciências desde a física até as ciências sociais e é
operativa com vários graus de sucesso” (apud LODI, 1977, p. 199).
A Teoria Geral de Sistemas fundamenta-se sobre três premissas básicas: a primeira é
que os sistemas existem dentro de sistemas, ou seja, são constituídos de subsistemas e fazem
parte de um macro-sistema. A segunda é que os sistemas são abertos, caracterizados por um
processo infinito de intercâmbio com seu ambiente para trocar energia e informação. E a
terceira é que a função de um sistema depende de sua estrutura (CHIAVENATO, 2003).
Essa teoria apresenta noções importantes para a administração como totalidade,
crescimento, diferenciação, controle, entropia, sistema, equifinalidade, homeostase,
competição e feedback (LODI, 1977).
Segundo Bertalanffly (1968 apud LODI, 1977), “um sistema pode ser definido como
um complexo de elementos em interação” (p.84), onde a expressão “o todo é maior que a
soma das partes” consiste, de acordo com o autor, “que as características construtivas não são
explicáveis a partir das características das partes isoladas” (p.83).
Dentro dessa teoria, os sistemas são trabalhados como sistemas abertos, que nas
palavras de Gillin e Gillin (1942), “todos os organismos vivos reagem aos estímulos
ambientais aos quais são sensíveis, e essas reações são consideradas adaptativas se têm o
efeito de continuar a sobrevivência do indivíduo, ou da espécie ou de ambos” (apud MOTTA
e VASCONCELOS, 2006, p. 163), assim sendo as organizações também são vistas como
sistemas abertos.
Para Katz e Kahn (1970), os sistemas são ciclos que se repetem (apud
CHIAVENATO, 2003). E ainda, a organização é considerada eficaz quando ela é capaz de
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manter a negentropia, ou seja, importação sob todas as formas, de quantidades maiores de


energia do que elas devolvem no ambiente como produto, isso porque a organização gasta
energia no processo de transformação.

2.4 TEORIA CONTINGENCIAL

Segundo Chiavenato (2003) e Motta e Vasconcelos (2004), a Teoria Contingencial


surgiu a partir de pesquisas feitas por Lawrence e Lorsch, Woodward, Chandler e Burns e
Stalker para verificar quais os modelos de estruturas organizacionais eram mais eficazes em
certos tipos de indústrias. Com essa teoria, o foco da gestão muda de dentro para fora da
organização, ou seja, a ênfase está no ambiente. Para ela não existe a “melhor maneira” de se
organizar, nada é absoluto, tudo é relativo, pois tudo depende das características ambientais
que influenciam a organização. Diferentes ambientes exigem diferentes relações
organizacionais, um modelo próprio para cada situação.

(...) não há um único conjunto de princípios de ‘boa organização’, um tipo


ideal de sistema gerencial que sirva de modelo para que a prática
administrativa imite ou deva mesmo imitar. O que também decorre é a
necessidade, de parte da gerência de, em primeiro lugar, interpretar a
situação de mercado e tecnológica, em termos de sua instabilidade ou da
velocidade em que as condições externas estão mudando, e só então fazê-lo
funcionar (SCOTT e MITCHELL, 1986 apud CARAVANTES, 1998,
p.125).

Paul R. Lawrence e Jay W. Lorsch (1973 apud CHIAVENATO, 2003) pesquisaram


dez empresas diferentes para poderem analisar o defrontamento entre organização e ambiente.
Eles estudaram as características que as organizações devem ter para enfrentarem com
eficiência as diferentes condições externas, tecnológicas e de mercado, e chegaram à
conclusão de que o principal problema é a questão da diferenciação seguida da integração, ou
seja, ao mesmo tempo em que a empresa é diferenciada (dividida em subsistemas ou
departamentos especializados), ela deve ter suas partes integradas (deve existir uma
colaboração entre elas).
Os estudos de Woodward (1965 apud CHIAVENATO, 2003) estabeleceram uma
relação entre sistemas de produção, tecnologia e gerenciamento. Através da análise de 100
empresas, a socióloga industrial pôde classificar três grupos de tecnologia de produção:
produção unitária ou oficina; produção em massa; produção contínua.
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O autor Chandler (1962 apud CHIAVENATO, 2003) realizou uma pesquisa sobre
mudanças estruturais nas organizações e as suas relações com a estratégia de negócios
utilizada em quatro empresas americanas e chegou à conclusão de que a estrutura
organizacional, ou o desenho da organização das empresas foi sendo continuamente adaptado
para que ela pudesse sobreviver. Sendo que a organização atravessa quatro fases durante seu
ciclo de vida: (a) acumulação de recursos através de um rápido crescimento; (b) uso de
recursos com foco no planejamento, na organização e na coordenação; (c) crescimento através
da diversificação e da busca de novos mercados; (d) Uso de recursos em expansões através da
departamentalização.
Já a pesquisa de Burns e Stalker (1961 apud CHIAVENATO, 2003) foi realizada em
vinte indústrias inglesas com o objetivo de conhecer a relação entre as práticas administrativas
e o ambiente externo, e concluíram que existem dois tipos de organizações: (1) Organizações
mecanísticas, que são mais apropriadas sob condições ambientais estáveis e possuem ênfase
nos princípios da Teoria Clássica e; (2) Organizações orgânicas, que são mais apropriadas
para condições ambientais de mudança e inovação, com ênfase nos princípios da Teoria das
Relações Humanas.
(...) o modelo mecânico é mais freqüente em um contexto setorial estável
(pouca inovação tecnológica, demanda regular e previsível). O modelo
orgânico seria uma opção mais freqüente em um meio ambiente ‘turbulento’,
ou seja, com uma alta taxa de inovação e um mercado caracterizado por uma
forte concorrência (MOTTA e VASCONCELOS, 2005, p.214).

3 METODOLOGIA

A pesquisa é de caráter exploratório, pois “tem por objetivo proporcionar maior


familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”
(GIL, 2002, p.41). Tem como características uma estrutura mais frouxa e livre, é mais flexível
e generalizada (MALHOTRA, 2001; COOPER e SCHINDLER, 2000). Esta pesquisa, assim
como a maioria das pesquisas de cunho exploratório, procura criar um alicerce para futuras
investigações, mais profundas e mais consistentes.
Em um primeiro momento foi elaborado um referencial teórico que, segundo Koche
(1985), tem como objetivo conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes
sobre o assunto pesquisado, proporcionando embasamento teórico para sustentar as análises
posteriores.
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A metodologia utilizada para o levantamento de dados foi a de pesquisa qualitativa,


que é utilizada quando se busca descrever a complexidade de um determinado problema, não
envolvendo a manipulação de dados e variáveis (GRESSLER, 2003). Teve por instrumento
um roteiro de entrevista padronizada ou estruturada, que de acordo com Marconi e Lakatos
(2006, p. 93):
[...] é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente
estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são pré-determinadas.
Ela se realiza de acordo com um formulário elaborado e é efetuada de
preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano.

Vale ressaltar, que a abordagem qualitativa oferece três possibilidades diferentes de


realização de um estudo; sendo a mais apropriada para tal trabalho o estudo de caso. Este
consite em uma pesquisa cujo objeto é analisado profundamente, sendo uma forma de
desenvolvimento de pesquisa empírica que investiga fenômenos dentro de seu contexto de
vida real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidas.
Esse tipo de pesquisa permite responder a questões “como” e “porque” (GIL, 1999).

4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

A empresa analisada neste trabalho é do setor ramo de vestuário e localizada na zona


07 da cidade de Maringá, Paraná. A produção de uniformes promocionais é o carro chefe,
estando sobre responsabilidade da empresa apenas o desenvolvimento dos modelos, a
modelagem, corte das peças e, por fim, o controle de qualidade. Tanto as atividades de
costura, como bordado e estamparia, são terceirizados.
O espaço físico da empresa é constituído por 70 metros quadrados, divididos ao meio,
onde os 35 metros quadrados da frente, que têm vista pra rua, são dedicados ao comércio, e a
outra metade é destinada à atividade de produção da empresa (modelagem, corte e controle de
qualidade).

4.2 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

Na organização estudada, verifica-se uma preocupação apenas com o lucro, o gerente


proprietário não esta objetivando, ao menos por enquanto, a autorrealização ou crescimento
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individual nem seu, nem de seu funcionário. A causa fundamental desse foco é a busca pela
estabilidade financeira primeiramente, como afirmado pelo proprietário.
Apresenta-se estruturada apenas com os departamentos de produção e vendas, que
ficam subordinadas ao poder de decisão da gerência. A organização pode ser caracterizada
como uma empresa centralizada, ou seja, “enfatiza reações escalares, isto é, cadeia comando”
(CHIAVENATO, 2003, p. 162). Ressalta-se que cadeia de comando (ou cadeias escalares) é
conceituada como linha de autoridade que interliga as posições da organização e especifica
quem domina a quem.

Ilustração 1 - Organograma da Organização


Administração

Vendas Produção

Modelagem Corte Controle de Qualidade

Devido ao seu pequeno porte, a diferenciação não é tão evidente, apresentando-se


somente como o setor de vendas e de produção. Devido a essa simplicidade na sua estrutura,
acredita-se que ela possui integração entre as suas partes (CHIAVENATO, 2003).
Sendo assim, o Departamento de Produção fica responsável pelo desenvolvimento das
modelagens e pelo corte da peça, trabalhando nele apenas um funcionário. Suas instalações de
produção encontram-se ao fundo da loja, e como instrumentos de trabalho possuem uma mesa
e duas máquinas para corte. O resto da produção é terceirizado, em especial pela falta de
capital para investimento em estrutura e instrumentos de trabalho, conforme colocado pelo
proprietário. O departamento de vendas possui por função apenas a comercialização dos
produtos, onde trabalha apenas uma funcionária.
Com relação ao estilo de administrar, pode-se perceber que a empresa estudada pode
se encaixar dentro da Teoria X, uma vez que segue um modelo tradicional de administração,
que visualiza as pessoas como meros recursos ou meios de produção.
Já no que diz respeito ao processo decisório, percebe-se claramente o que Cyert e
Simon afirmam em seus estudos, as decisões são as possíveis dentro do conjunto de
possibilidades que se tem. Visto que as decisões tomadas pela organização dependem não só
da vontade de seu líder, mas também das condições dadas por seus fornecedores, clientes e
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parceiros. Como se observou, a empresa se utiliza de facção terceirizada, e quando


perguntado ao gerente quais critérios ele utilizava para a escolha da facção, ele disse que
escolhe a que está livre para poder “pegar” a encomenda (MOTTA; VASCONCELOS, 2006).
A estrutura organizacional pode ser classificada pelo Modelo A, isto é, apresenta
centralização vertical do poder, onde o indivíduo está voltado unicamente para atingir as
metas de sua unidade ou departamento e ainda por privilegiar o curto prazo (MOTTA;
VASCONCELOS, 2006).
A empresa é vista ainda como uma organização utilitária, ou seja, “a remuneração é o
principal meio de controle (...). Nessas organizações, o envolvimento calculista caracteriza a
orientação da grande maioria dos participantes operacionais e mesmo dos membros da elite”
(MAXIMIANO, 2002, p. 137).
De acordo com o modelo de Peter Blau e Richard Scott ( 1970 apud MAXIMIANO,
2006), que classifica as organizações segundo o tipo de beneficiário, a empresa pode ser
enquadrada na categoria de proprietário ou dirigentes, ou seja, que não possui como propósito
prestar algum serviço, mas apenas proporcionar um meio de vida ou de acumulação de
capital.
Conforme a teoria contigencial, a empresa pode ser caracterizada como uma
organização orgânica, isto porque os papéis organizacionais não são muito bem definidos, já
que o proprietário é também o contador, o gerente atua como vendedor etc., e o funcionário
que trabalha com o corte das peças também atua como vendedor.
A produção pode ser caracterizada como sendo em massa, segundo o critério de
classificação de Woodward, por apresentar meios para esse tipo de produção e mão de obra
intensiva. A empresa encontra-se em um ambiente heterogêneo e instável, pois se depara com
vários tipos de clientes, com diferentes fornecedores e concorrentes, e também porque é um
ambiente imprevisível, incerto e dinâmico.
Baseado na tipologia de tecnologias de Thompsom, a empresa pode ser caracterizada
como possuidora de uma tecnologia de elos em seqüência, ou seja, as tarefas para a realização
do produto são interdependentes: para se confeccionar uma camiseta, por exemplo, primeiro é
necessário o corte do tecido, depois a costura e por fim a aplicação da estampa ou do bordado,
que já foram definidos pelos clientes, nessa ordem. É também caracterizada por possuir uma
tecnologia fixa e um produto concreto, já que nesse ramo ocorrem poucas mudanças
tecnológicas para a confecção das peças. (CHIAVENATO, 2003)
Por ser uma organização caracterizada como um sistema aberto pela teoria de
sistemas, observado o processo produtivo, pode-se identificar os inputs como os tecidos,
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aviamentos e desenhos (do bordado e dos modelos das peças) e o processo de transformação
como a modelagem, o corte, a costura, o bordado, a estamparia, o controle de qualidade, ou
seja, todo o processo de produção. Os outputs podem ser definidos como as peças prontas e
entregues de acordo com o pedido, ou dispostas na loja para comercialização. Por fim, têm-se
a resposta do meio, que nada mais é que um feedback, ou seja, o que o consumidores acharam
das peças, da qualidade, dos modelos, a quantidade de vendas, pode ser uma maneira, embora
apenas quantitativa, de obter algumas dessas informações, além de algumas pesquisas, mesmo
que informais, com os clientes. Com isso, a empresa tem informações para realizar algumas
modificações em seus processos de transformação dos inputs.

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Como resultado dessa análise, pode-se concluir que nenhuma teoria predomina sobre
uma organização, mas sim uma sinergia de todas as teorias. Observa-se que a empresa
absorve alguns princípios de Taylor, assim como alguns conceitos das teorias mais modernas,
como a Contingencial.
Devido a isso, a caracterização da empresa é sempre resultado de um estudo das
teorias, o que possibilita a identificação do desenvolvimento dos princípios aplicados na
organização.
Quando ao caráter gerencial, percebe-se a necessidade de se trabalhar com o marketing
da empresa. A comunicação desta se encontra muito fraca quando a questão é divulgação de
produto e também do nome da própria empresa.
Além disso, o departamento de vendas também deve ser repensado, quando se trata de
funcionários. Isso porque a vendedora deve ser treinada para passar todas as características da
peça, além de que, como é uma empresa que trabalha principalmente com pedidos, a
funcionária tem que saber realizá-los.
Observou-se também que a produção é lenta, pois são 25 dias para entrega de
moletons e 10 dias para entrega de camisetas, o que acaba afastando os consumidores. A
produção é terceirizada, porém o corte é feito na empresa, e como só tem um funcionário e
uma mesa pequena, acaba sendo demorada. Formar parcerias com as facções com as quais ele
trabalha também é interessante, até porque assim pode-se exigir melhor qualidade em troca de
fidelidade.
A criação de um departamento de finanças para controlar os gastos, prever
investimentos e realizar uma análise econômica da empresa torna-se importante também,
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porque se percebe que esse controle financeiro não existe, o que pode causar surpresas
indesejáveis ao proprietário.

REFERÊNCIAS

CARAVANTES, G. Teoria da administração: pensando & fazendo. 3. ed. Porto Alegre:


AGE, 1998.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2003.

COOPER, D. R; SCHINDLER, P. S. Business research methods. McGraw-Hill Irwuin,


2000.

GRESSLER, L. A. Introdução à pesquisa: projetos e relatórios. São Paulo: Edições Loyola.


2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Ed. Atlas. 2002.

KOCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. Porto Alegre: Ed. Da


Universidade de Caxias do Sul e Ed. Vozes Ltda. 1985.

LACOMBE, F. Teoria geral da administração. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009.

LODI, J. B. História da administração. São Paulo: Pioneia: 1977.

MALHOTA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Porto Alegre:


Bookman, 2001.

MARCONI, M. de A. LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Ed. Atlas,


2006.

MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução


digital. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MOTTA, F. C. P.; VASCONCELOS, I. F. G. Teoria geral da administração. 2. ed. São


Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.

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