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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

DIREITO DE FAMÍLIA

FAMÍLIA NA CF/88

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento.  
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (não depende de
qualquer prazo).
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.

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TÍTULO I
DO DIREITO PESSOAL
SUBTÍTULO I
DO CASAMENTO
CAPÍTULO I
DIPOSIÇÕES GERAIS

1- INTRODUÇÃO

Casamento é a união legal entre homem e mulher com o objetivo de constituírem a


família legítima. Tem como efeito, estabelecer comunhão plena de vida com base na
igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges.
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

A igualdade significa que não mais existe a figura do chefe de família. Competindo
a ambos os cônjuges ditar os rumos familiares.

O casamento é protegido pela norma constante do art. 1513, segundo a qual é defeso
a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida
instituída pelo casamento. É também com base nessa regra (e também com base na
disposição do art. 226, §7º da CF) que é impossível que o estado faça controle de
natalidade. O planejamento familiar é decisão da família.

O casamento é um ato solene. Se for realizado sem as solenidades previstas na lei, o


casamento será INEXISTENTE, bem como o é aquele em que os cônjuges não manifestam
seu consentimento.

IMPORTANTÍSSIMO!!! O STF declarou constitucional a união civil (casamento) de


pessoas do mesmo sexo.

O art. 1511 proclama que o casamento gera comunhão plena de vida. Ao dizer isso,
ele se refere a comunhão nos planos material e espiritual (de afeto, compreensão etc.).

O casamento cria a família legítima. A união estável, reconhecida pela CF e pelo


CC como entidade familiar, pode ser chamada de família natural. Quando formada
somente por um dos pais e seus filhos, denomina-se família monoparental (art. 226 § 4º
CF).

#Qual é a natureza jurídica do casamento?


É polêmica a questão da natureza jurídica do casamento, existindo três correntes:

1ª) Teoria contratualista: é a corrente clássica que afirma que o casamento nada mais é do
que a celebração de um contrato, com solenidades especiais, resultante de um acordo de
vontades entre os nubentes, que, como tal, gera direitos e obrigações recíprocos.

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2ª) Teoria institucionalista: fala que o casamento é uma grande instituição, a ela aderindo
os que casam.

3ª) Teoria eclética (contrato especial):*** considera que o casamento é um contrato


especial de direito de família, mediante o qual os nubentes aderem a uma instituição pré-
organizada, alcançando o estado matrimonial. É a corrente que prevalece!

São inovações trazidas pelo novo CC em relação ao casamento:

a) Gratuidade da celebração do casamento.


b) Regulamentação e facilitação do registro civil do casamento religioso.
c) Redução da capacidade do homem para casar para 16 anos.
d) Casamento por procuração mediante instrumento público, com validade restrita a 90
dias.
e) Consolidação da igualdade entre os cônjuges, aos quais compete a direção da sociedade
conjugal, com o desaparecimento da figura do chefe de família.
f) Oficialização do termo sobrenome e possibilidade de adoção do utilizado pelo outro por
qualquer dos nubentes.

2- DA CAPACIDADE PARA O CASAMENTO E DO PROCESSO DE


HABILITAÇÃO

O estado cerca o casamento de uma série de solenidades.

O processo de habilitação serve para: (a) constatar a capacidade para o casamento,


(b) constatar a inexistência de impedimentos e (c) para dar publicidade à intenção de casar.

2.1 PROCEDIMENTO

a) Os noivos devem requerer a instauração do processo de habilitação no cartório de registro


civil do seu domicílio.

Obs. Se morarem em lugares distintos, o processo de habilitação corre no cartório do registro


civil de qualquer deles. Nesse caso, porém, o edital será publicado em ambos.
Art. 1.526.  A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do
Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. 
Parágrafo único.  Caso haja impugnação do oficial, do Ministério
Público ou de terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. 

b) Os proclamas serão fixados em local ostensivo do cartório e publicados na imprensa

c) Ouve-se o MP (pode requerer diligências. Art. 1526).

d) O juiz homologa

IMPORTANTE!!! A habilitação tem VALIDADE DE 90 DIAS. Após esse prazo, os


nubentes deverão se habilitar novamente. Ex. Em 03/03 sai a habilitação. Tenho até 03/06

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(90 dias depois) para me casar.

Dispõe o Art. 1.512, que o casamento é civil e GRATUITA a sua celebração. E seu
parágrafo único diz que a habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão
isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as
penas da lei.

2.2 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

É o art. 1525 que lista os documentos necessários para o requerimento de habilitação.


São eles:

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será


firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, A SEU PEDIDO,
POR PROCURADOR, e deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente;
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal
estiverem, ou ato judicial que a supra;
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que
atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de
casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos
contraentes e de seus pais, se forem conhecidos;
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do
registro da sentença de divórcio.

Merece destaque a certidão de nascimento ou documento equivalente (inciso I).


Serve para provar que os nubentes atingiram a idade núbil, que é de 16 anos.

IMPORTANTE!!! Os que ainda não completaram 16 anos poderão se casar em ocasiões


especiais, mediante suprimento judicial (1520):

 Para evitar a imposição ou cumprimento de pena.


 Em caso de gravidez.

IMPORTANTE!!! Quanto à gravidez, atente para que não se anulará por motivo de idade
(casamento anulável porque não atingiu a idade núbil ou, mesmo com a idade núbil, se este
se deu sem autorização), se do casamento resultou gravidez.
Art. 1.551. Não se anulará, POR MOTIVO DE IDADE, o casamento de
que resultou gravidez.

Ex. Menina de 15 anos se casou. Esse casamento é anulável. Se ela ficar grávida e casar,
esse casamento NÃO será mais anulável (por esse motivo).
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;

IMPORTANTE!!! Impor-se-á o regime de separação obrigatória sempre que houver a

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necessidade de suprimento judicial (Ex. Suprimento de idade) - art. 1641, III.


Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;
II - da pessoa maior de sessenta anos;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº
12.344, de 2010)
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Se pela certidão de nascimento for verificado que algum dos nubentes tem mais de
70 anos (alterado em 2010, ficar muito atento, antes era 60 anos), também se imporá o
regime de separação de bens. Alguns entendem que esse dispositivo é inconstitucional, já
que feriria a igualdade.

IMPORTANTE!!! Merece destaque, ainda, a autorização das pessoas sob cuja


dependência legal estiverem (inciso II, art. 1525 CC), ou ato judicial que supra. Como
visto, a idade núbil é 16 anos. Porém, é exigido dos menores de 18 anos a autorização de
seus pais (necessário o consentimento de ambos os pais) ou tutores, para que possam se
casar, ou prova do ato de suprimento judicial ou da emancipação. A anuência dos pais,
tutores e curadores pode ser revogada até a celebração (Art. 1518 CC).

Em caso de divergência dos pais, se assegura a qualquer dos genitores o direito


para recorrer ao juiz para a solução do desacordo verificado no exercício do poder familiar.

Se o pai, tutor ou curador se negar a dar a autorização, a pessoa pode pedir o


suprimento judicial da vontade.

Interessante... Nesse caso, o incapaz poderá outorgar procuração ao advogado, sem ser
assistido, já que há evidente colidência de interesses.

IMPORTANTE!!! O pródigo não é impedido de casar. Entretanto, deve ser assistido por
curador quando da celebração do pacto antenupcial, que é ato de disposição do patrimônio.

Em relação ao inciso V, o viúvo deve provar o seu estado com a certidão de óbito do
cônjuge falecido. E se um dos cônjuges for divorciado, não bastará a certidão do trânsito em
julgado da sentença que decretou o divórcio, é preciso juntar a certidão de registro dessa
sentença no cartório de registro civil.

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CAPÍTULO II
DOS IMPEDIMENTOS

1- INTRODUÇÃO

Os requisitos essenciais do casamento são: diferença de sexo (Ficar atento!!! Tal


requisito encontra-se SUPERADO!!!) consentimento e celebração na forma da lei.
Faltando qualquer deles, o casamento será INEXISTENTE. Porém, outros requisitos devem
ser observados para a validade e regularidade do casamento (impedimentos).

IMPORTANTÍSSIMO!!! Recentemente o STF declarou constitucional o casamento


entre pessoas do mesmo sexo.

As causas impeditivas têm o objetivo de evitar reuniões que possam, de algum


modo, ameaçar a ordem pública. Sua inobservância como visto, gera a nulidade do ato.
Art. 1.521. NÃO PODEM casar (impedimentos):
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas; (não se aplica a união estável se a pessoa estiver
separada de fato ou judicialmente)
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado (exige-se trânsito em
julgado) por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

As causas impeditivas tratam das pessoas que não podem se casar.

As causas impeditivas visam proteger certos valores, como: a eugenia (pureza da


raça), a moral familiar, a monogamia e evitar uniões que tenham raízes no crime.

Assim, os impedimentos podem ser divididos em: impedimento resultante de


parentesco; impedimento resultante de casamento anterior e impedimento resultante
de crime.

IMPORTANTE!!! Como os impedimentos visam resguardar a ordem pública,


qualquer pessoa capaz tem legitimidade para alegá-los.
Art. 1.522. Os IMPEDIMENTOS podem ser opostos, até o momento da
celebração do casamento, por QUALQUER PESSOA CAPAZ.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da
existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo (de ofício).

Vamos estudá-los separadamente:

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 Impedimentos resultantes do parentesco

Art. 1521, inciso I ao V.

a) Parentesco por consanguinidade:

Não podem casar os ascendentes com descentes (Ex. Pai com filha; neto com avó).

Não podem casar os irmãos (havidos ou não de casamento, sejam unilaterais ou


bilaterais).

Não podem casar os colaterais até terceiro grau (exceção: casamento avuncular –
casamento de tios e sobrinhos. Conforma a doutrina, trata-se de uma aplicação do princípio
da especialidade, prevalecendo o Decreto Lei 3200/41 – lei especial – sobre o CC de 2002 –
lei geral posterior).

Obs. Primos são parentes colaterais de 4º grau. Portanto, podem casar.

O casamento entre consanguíneos pode gerar a impureza da raça e prejudicar a


variabilidade genética. Esse é o motivo do impedimento.

Ocorre que, existe hipótese em que o casamento poderá ser dar entre parentes
colaterais. É o denominado “casamento avuncular”, que é o casamento entre tios e
sobrinhos, permitido expressamente pelo Decreto Lei 3200/41:

Art. 1º O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau,


é permitido nos termos do presente decreto-lei.
Art. 2º Os colaterais do terceiro grau, que pretendam casar-se, ou seus
representantes legais, se forem menores, requererão ao juiz competente
para a habilitação que nomeie dois médicos de reconhecida
capacidade, isentos de suspensão, para examiná-los e atestar-lhes a
sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da
sanidade, afirmando não haver inconveniente, sob o ponto de vista da
saúde de qualquer deles e da prole, na realização do matrimônio.

Portanto, para a realização do casamento avuncular é necessário a autorização


judicial e que uma junta médica comprove a ausência de problemas genéticos quanto a
futura prole.

José Fernando Simão, refletindo sobre o tema, traz interessante questionamento: na


hipótese de casamento avuncular entre pessoas do mesmo sexo, as exigências do Decreto-
lei 3200 de 1941 tem aplicação?

Para o ilustre doutrinador, a resposta é negativa. Isso porque casais de pessoas do


mesmo sexo terão filhos por adoção (hipótese em que o filho não terá material genético de
nenhum de seus pais ou suas mães) ou utilizando-se as técnicas de reprodução humana
assistida. Nesta hipótese, o material genético será de apenas um deles (um dos cônjuges doa
esperma ou óvulo e recebem o outro gameta de um terceiro) ou de nenhum dos dois

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(recebem em doação óvulo e esperma).


 
Sendo impossível que o casamento gere problemas à prole, o casamento avuncular
homoafetivo pode ser admitido sem a necessidade de qualquer autorização judicial ou
exame médico.

b) Parentesco por afinidade:

Não podem casar os afins em linha reta (Ex. Genro com sogra. Padrasto com a
enteada). A proibição refere-se apenas à linha reta. Na linha colateral de afinidade pode
casar à-vontade (Ex. Cônjuge viúvo pode casar com cunhada). A afinidade resulta do
casamento ou da união estável.

Esse impedimento visa preservar a moral familiar. Com efeito, a dissolução do


casamento não extingue o parentesco por afinidade em linha reta (1595, §2º).
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.

c) Parentesco por adoção:

Não pode casar o adotante com quem foi cônjuge do adotado, o adotado com quem
foi cônjuge do adotante e o adotado com o filho do adotante (são irmãos!).

A adoção imita a família, sem qualquer distinção. Por isso, esse impedimento tem
fins de preservar a moral da família. Na realidade, essas disposições são inúteis, bastando as
do parentesco comum, por inexistir diferença entre o vínculo da adoção e o sanguíneo.

 Impedimento resultante de casamento anterior

Art. 1521, VI.

Não podem casar as pessoas já casadas. O Brasil não admite a poligamia. Assim,
só é possível um vínculo matrimonial por vez. O impedimento só desaparece após a
dissolução do anterior vinculo matrimonial pela morte, anulação, divórcio ou morte
presumida do ausente (abertura da sucessão definitiva).
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:
I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial; (OBS abaixo)
IV - pelo divórcio.
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto
ao ausente.

OBS: Boa parte da doutrina apontava para o fim da separação judicial com a EC
66/2010. Porém, o Novo CPC, em seu art. 693, prevê expressamente a possibilidade da

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ação de separação contenciosa, o que pesa contra essa corrente. Desse modo, retornou a
polêmica sobre o fim ou não desse instituto.

IMPORTANTE!!! O casamento, exclusivamente no religioso anterior, não é


impedimento (mesmo porque esse casamento é inexistente, vez que não observou as
formalidades necessárias).

 Impedimento resultante de crime (doloso)

Não pode casar o cônjuge sobrevivente com a pessoa que foi CONDENADA por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o consorte. O impedimento só existe se o crime
for praticado a título de dolo. O inciso exige que tenha havido condenação criminal.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Todos esses IMPEDIMENTOS também impedem a


existência de união estável! (art. 1723, §1º). Já as CAUSAS SUSPENSIVAS não
impedirão a união estável.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a UNIÃO ESTÁVEL


entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável NÃO SE CONSTITUIRÁ se ocorrerem os
IMPEDIMENTOS do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso
VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente.
§ 2o As CAUSAS SUSPENSIVAS do art. 1.523 NÃO impedirão a
caracterização da união estável.

EXCEÇÃO!!! As pessoas casadas podem contrair união estável se separadas de fato ou


judicialmente.

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CAPÍTULO III
DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

Art. 1.523. NÃO DEVEM casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não
cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.

As causas suspensivas demonstram que é prudente aguardar certo tempo para que
o casamento se realize regularmente. São determinadas circunstâncias capazes de suspender
a realização do casamento. Se infringida uma CAUSA SUSPENSIVA o casamento não é
nulo nem anulável. Ele é apenas IRREGULAR.

O único efeito da violação de causa suspensiva é que o REGIME,


OBRIGATORIAMENTE, SERÁ O DA SEPARAÇÃO DE BENS.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento;

As causas suspensivas visam proteger interesses de terceiros, em geral da prole do


leito anterior, do ex-cônjuge e da pessoa influenciada pelo abuso de confiança ou autoridade
exercida pelo outro.

IMPORTANTE!!! Como visam apenas proteger interesse de terceiro, as causas suspensivas


podem deixar de ser respeitadas (e o casamento se realiza normalmente) se ficar provado que
inexiste prejuízo para essas pessoas.

Art. 1.523.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do
inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

Atenção!!! Nas CAUSAS SUSPENSIVAS as pessoas NÃO DEVEM CASAR. Mas elas
PODEM.

IMPORTANTE!!! As causas suspensivas dizem respeito somente à família. Assim, a lei


restringe a legitimação para alegar as causas suspensivas aos parentes em linha reta e aos
colaterais em segundo grau de um dos nubentes. Diferente das causas impeditivas que
podem ser alegadas por qualquer interessado.

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Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser


arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam
consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam
também consanguíneos ou afins.

Vamos estudar as causas suspensivas separadamente, de acordo com o que elas


pretendem preservar.

1- CONFUSÃO PATRIMONIAL

Não devem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não tiver o inventário e partilha.

Esse dispositivo visa evitar confusão na hora de dividir a herança do morto.

IMPORTANTE!!! Inventário negativo. É uma construção doutrinária e jurisprudencial.


Serve para provar que não existe patrimônio a ser partilhado. Demonstrando assim, a
inexistência de prejuízo aos herdeiros, afastando a causa suspensiva.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Não DEVE casar o divorciado enquanto não houver ocorrido a


partilha dos bens do casal (LEMBRAR QUE É POSSÍVEL O DIVÓRCIO E A
SEPARAÇÃO SEM PRÉVIA PARTILHA).

Lembrar!!! O divorciado pode casar sem prévia partilha, só que o regime de bens será,
obrigatoriamente, o de separação de bens.

Este dispositivo visa impedir a confusão na hora de dividir os bens do casal.

2- CONFUSÃO DE SANGUE (TURBATIO SANGUINIS)

Não deve casar a viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou
anulável nos 10 meses posteriores.

Tem o objetivo de evitar dúvida sobre a paternidade da criança que venha a nascer
nesse interregno.

IMPORTANTE!!! Se a mulher provar o nascimento da criança, inexistência de gravidez,


aborto ou se a gravidez for notória quando da dissolução da antiga sociedade conjugal, essa
causa suspensiva é superada.

Quer dizer, se não há possibilidade de dúvida sobre a paternidade da criança, não


subsiste a causa suspensiva.

3- TUTELA E CURATELA

Não devem casar o tutor ou curador (ou parentes próximos desses) com a pessoa
tutelada ou curatelada enquanto não cessar a tutela/curatela e estiverem saldadas as dívidas.

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Visa evitar a possibilidade de influência na pessoa tutelada ou curatelada.

IMPORTANTE!!! Como as demais causas suspensivas, essa também pode ser afastada
provando-se a inexistência de prejuízo.

4- OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

Dispõe o art. 1.529 que tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão
opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a
indicação do lugar onde possam ser obtidas.

O CC tratou de modo diferente os impedimentos e as causas suspensivas do


casamento. Os IMPEDIMENTOS podem ser opostos no processo de habilitação e ATÉ O
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO do casamento por QUALQUER PESSOA CAPAZ.
Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento,
será obrigado a declará-lo (art. 1522 CC). Se apesar do impedimento o casamento se
realizar, este poderá ter declarado sua nulidade, a qualquer tempo, e por iniciativa de
qualquer interessado ou do ministério publico.

As CAUSAS SUSPENSIVAS dizem respeito somente à família. Assim, a lei


restringe a legitimação para alegar as causas suspensivas aos PARENTES EM LINHA
RETA E AOS COLATERAIS EM SEGUNDO GRAU de um dos nubentes. Nem
mesmo o MP pode alegá-las. Podem ser opostas somente no curso do processo de
habilitação, até o decurso do prazo de 15 dias da publicação do proclamas.

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CAPÍTULO IV
DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

1- FORMALIDADES

O casamento é um ato bastante formalista. É marcado por um verdadeiro ritual, com


significativa incidência de normas de ordem pública. Os nubentes, munidos da certidão de
habilitação, devem requerer ao oficial de registro que marque dia, hora e local da sua
celebração.

O local é, em geral, a sede do cartório. Porém, pode ser escolhido outro local,
público ou particular. É importante que as portas permaneçam sempre abertas.

No tocante a hora, pode ser realizado de dia ou a noite, inclusive nos domingos.

Em relação as testemunhas, a lei exige a presença de pelo menos duas (podem ser
parentes ou não dos contraentes). Se algum dos cônjuges não souber ou não puder escrever,
colhe-se a digital e o nº de testemunhas sobe para quatro. Também aumenta para 4 se o
casamento se realizar em edifício particular. A presença dos nubentes deve ser simultânea.

2- CASAMENTO POR PROCURAÇÃO

É possível que o casamento se realize mediante procuração por


INSTRUMENTO PÚBLICO, com poderes especiais para casar.
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se MEDIANTE
PROCURAÇÃO, por INSTRUMENTO PÚBLICO, com poderes
especiais.

IMPORTANTE!!! Se ambos os nubentes não puderem comparecer, devem nomear


procuradores diferentes.

A eficácia do mandato dura por 90 dias. Vale dizer, se dei a procuração hoje, o
casamento deve se realizar dentro do prazo de 90 dias, se não a procuração caduca.

Pelo paralelismo das formas o mandato pode ser revogado pela mesma forma que foi
celebrado, ou seja, por instrumento público. A revogação não precisa chegar ao
conhecimento do procurador ou do outro nubente para produzir efeitos. Entretanto, se for
celebrado o casamento sem que se tenha dado ciência da revogação, responderá por perdas
e danos.

IMPORTANTE!!! Será ANULÁVEL o casamento feito pelo mandatário sem que ele ou o
outro cônjuge soubesse da revogação do mandato desde que NÃO tenha havido
coabitação (sexo). Quem tem interesse em anular é o cônjuge que deu e depois revogou a
procuração.
Art. 1.550. É anulável o casamento:

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V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse


da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;

3- MOMENTO DA CELEBRAÇÃO

A celebração do casamento obedece a formalidades essenciais (ad solemnitatem),


que, se ausentes, tornarão o ato INEXISTENTE.

Uma das principais solenidades exigidas no casamento ocorre no momento em que o


juiz pergunta aos nubentes, um após o outro, se persistem no propósito de casar.

Deve ser inequívoca a manifestação da vontade (a manifestação pode ser por


escrito, palavras ou gestos, desde que seja inequívoca). O silêncio nesse caso não pode ser
interpretado como manifestação de vontade.

A celebração será suspensa se algum dos nubentes não afirmar livremente que
deseja se casar e não é possível a retratação no mesmo dia. Ex. De brincadeira eu vou lá e
digo que não quero casar. A celebração será suspensa e não pode ser reaberta no mesmo dia.

Obs. Se a retratação for admitida no mesmo dia o casamento será nulo.

Se ambos responderam “sim!”, o juiz os declara casados, dizendo as palavras


constantes do art. 1535.

IMPORTANTE!!! O momento específico em que o casamento é realizado é após a


declaração do juiz. Sem ela o casamento é inexistente (art. 1514, in fine).
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a
mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo
conjugal, e o juiz os declara casados.

Atenção!!! Não basta só o “sim!”. Este deve vir junto com a declaração do juiz. O
casamento só se tem por concluído com a solene declaração do celebrante. Sem essa
declaração ele será inexistente.

Logo depois de celebrado o casamento, lavrar-se-á o assento no livro de registro. A


lavratura do assento constitui formalidade ad probationem tantum, e não ad solemnitatem,
pois ocorre depois que o casamento já está concluído e aperfeiçoado.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO V
DAS PROVAS DO CASAMENTO

1- CERTIDÃO DE REGISTRO

Prescreve o art. 1.543 que o casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do
registro (sistema de prova pré-constituída). E seu parágrafo único diz que “justificada a falta
ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova”. Essa prova
supletória se faz em duas fases: primeiro se prova o fato que ocasionou a perda ou falta do
registro, depois, se admitidas as primeiras, serão admitidas testemunhas, registros em
passaporte, nascimento do filho e etc.

Aduz o art. 1.546 que “quando a prova da celebração legal do casamento resultar de
processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que
toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do
casamento”.

Prova-se o casamento celebrado fora do Brasil de acordo com a lei do país onde se
celebrou. Dispõe o art. 1.544 que “o casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro,
perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e
oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do
respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1 o Ofício da Capital do Estado em que passarem a
residir”.

2- POSSE DO ESTADO DE CASADOS

A posse do estado de casado é a situação de duas pessoas que viveram como


casadas e assim eram consideradas por todos.

Preceitua o art. 1.545 que “o casamento de pessoas que, na posse do estado de


casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em
prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que prove que já era
casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado”. Tal situação somente
poderá ser alegada pelos filhos e se mortos ambos os cônjuges. Pois se um dos cônjuges
estiver vivo, este poderá indicar o local onde se realizou o casamento, para que os filhos
obtenham a certidão.

Os elementos que caracterizam a posse do estado de casado são:

a) Nomen, indicativo de que a mulher usava o nome do marido.


b) Tractatus, de que se tratavam publicamente como marido e mulher.
c) Fama, de que gozavam da reputação de pessoas casadas.

De acordo com o art. 1.547, na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias,


julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna viverem ou tiverem
vivido na posse do estado de casados.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO VI
ESPÉCIES DE CASAMENTO

1- CASAMENTO VÁLIDO

De acordo com o CC existe o casamento válido, o nulo e o anulável. A doutrina


inclui também o inexistente.

Veremos as espécies de casamento válido.

1.1 CASAMENTO PUTATIVO

É o casamento que, embora nulo ou anulável, foi contraído de boa-fé por um ou por
ambos os cônjuges, gerando, para esse que estava de boa-fé, efeitos de casamento válido.
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por
ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos,
produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

A boa-fé consiste na ignorância (de fato ou de direito) da existência de impedimento


para o matrimônio (Ex. A casa com B sem saber que eram irmãos separados na maternidade;
Ex. Tio capial casa com sobrinha capial sem saber que existe o impedimento de casarem sem
exame pré-nupcial). O momento em que se apura a boa fé é o da celebração do casamento,
sendo irrelevante eventual conhecimento da causa de invalidade posterior a ela. De acordo
com a LINDB a ignorância da lei é inescusável. Entretanto, ela serve para provar a
boa-fé.

Na sentença em que proclama a invalidade do casamento, o juiz declara a


putatividade de ofício ou a requerimento da parte.

IMPORTANTE!!! Quando um cônjuge casa mediante coação, a rigor não se poderia


reconhecer a putatividade já que o coato não ignora a coação. Entretanto o senso ético-
jurídico recomenda que este seja equiparado, no plano dos efeitos, ao cônjuge de boa-fé.

IMPORTANTE!!! A eficácia da decisão que anula o casamento gera efeitos “ex nunc”
para o cônjuge de boa-fé, já que, para ele, o casamento gera efeitos de válido até a
declaração da invalidade. Os efeitos do casamento cessam para o futuro, sendo considerados
produzidos todos os efeitos que se tenha verificado até a data da sentença anulatória.

Obs. Se, em virtude de casamento putativo, um menor se emancipou, ele permanece


emancipado mesmo após a anulação do casamento.

Obs. Todos os efeitos quanto ao regime de bens são produzidos. Se somente um dos
cônjuges estava de boa-fé, adquirirá a meação dos bens levados ao casal pelo outro cônjuge

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

que estava de má-fé.

IMPORTANTE!!! Os efeitos da putatividade podem ocorrer no casamento NULO ou


ANULÁVEL, como consta no art. 1561. Não é possível o reconhecimento de
putatividade no casamento INEXISTENTE.

#Casamento putativo dá direito a alimentos? (IMPORTANTE!!!)


Existe divergência se o casamento putativo gera ou não o direito a alimentos após a
sentença que anula o casamento. Existem duas correntes:

1ª  STF: o cônjuge culpado não pode furtar-se ao pagamento de alimentos se o inocente


deles necessitar. A putatividade consiste em assegurar aos cônjuges de boa-fé os efeitos de
casamento válido, e entre esses se encontra o direito a alimentos, sem limitação de tempo.

2ª  STJ (mais recente): após a sentença que anula o casamento esse não gera mais efeitos,
já que as partes não são mais cônjuges. Quer dizer, a putatividade garante os efeitos de
casamento válido até a sentença que anula , após não. “a mulher que reclama alimentos a
eles tem direito, mas até a data da sentença. Anulado ou declarado nulo o casamento,
desaparece a condição de cônjuges”.

Os filhos são protegidos mesmo se nenhum dos cônjuges estiver de boa-fé. Como a
CF não permite qualquer distinção entre filho havido fora do casamento e filho havido na
constância do casamento, essa disposição perdeu totalmente a eficácia.

1.2 CASAMENTO NUNCUPATIVO E EM CASO DE MOLÉSTIA GRAVE

Como visto, o casamento é um ato por demais formal. Ocorre que, em duas
situações, por causa da urgência, essas formalidade são deixadas um pouco de lado. A
primeira é em caso de moléstia grave. A segunda é quando um dos cônjuges está em
iminente risco de vida.

O casamento em caso de MOLÉSTIA GRAVE pressupõe que tenha havido prévia


habilitação só que, por causa de grave moléstia, um dos cônjuges não pode locomover-se
até o local da cerimônia. Nesse caso, a autoridade celebrante irá até onde se encontra o
doente, mesmo durante a noite, na companhia de duas testemunhas (veja: não são 4).
Art. 1.539. No caso de MOLÉSTIA GRAVE de um dos nubentes, o
presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente,
ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever.
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o
casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial
do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo
registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

A segunda hipótese é o CASAMENTO NUNCUPATIVO, quando um dos cônjuges


está em iminente risco de vida. Nesse caso dispensa-se a habilitação devido a extrema
urgência. O moribundo (desde que esteja consciente) e o outro cônjuge devem manifestar, de
VIVA VOZ, a inequívoca intenção de casarem-se na presença de seis testemunhas, que não
sejam parentes dos nubentes em linha reta ou em linha colateral até o segundo grau (irmão).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de


vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato,
nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de
seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha
reta, ou, na colateral, até segundo grau.

Essas seis testemunhas devem comparecer, no prazo de 10 dias, a autoridade


judiciária mais próxima afim de que sejam reduzidas a termo suas declarações.

Após, o juiz deve verificar a inexistência de impedimentos e proferir sentença


declarando-os casados. Os efeitos da sentença retroagem a data da celebração.

Se o enfermo sobreviver, deverá ser ratificado o casamento. Não se trata de novo


casamento, mas de confirmação do já realizado.

1.3 CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS

No casamento religioso com efeitos civis a única diferença é que a celebração não se
fará pelo juiz de paz, mas sim pelo sacerdote.

É EXIGIDA A HABILITAÇÃO, que pode ser prévia ou posterior ao casamento


religioso.

Se a habilitação for anterior ao casamento religioso, este deverá ser registrado no


registro civil dentro de 90 dias (prazo decadencial), se não for, será necessária nova
habilitação.

Se o casamento religioso for feito ainda sem a habilitação, as partes deverão


providenciá-la a qualquer tempo e pedir o posterior registro civil do casamento religioso.

IMPORTANTE!!! Em ambos os casos OS EFEITOS RETROAGIRÃO à data da


celebração no religioso (art. 1515, in fine).

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a


validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no
registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.

IMPORTANTE!!! Vamos supor que em 15/04 eu me caso com Fulana no religioso. Ainda
não registrei no civil. Em 15/05 em me caso no civil com Flavia. Nesse caso vale o
casamento com Flavia. O com fulana será nulo (art. 1516, §3º).
Art. 1516
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele,
qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento
civil.

1.4 CASAMENTO CONSULAR

É aquele celebrado no estrangeiro, por brasileiro, mediante autoridade consular

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

brasileira.

Para ser válido, o casamento consular deverá ser registrado no Brasil em 180 dias a
contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil.

1.5 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

A CF manda que seja facilitada a conversão da união estável em casamento.

Contrariando esse mandamento constitucional, o art. 1726 do CC diz que a união


estável poderá ser convertida em casamento mediante requerimento ao juiz.

Assim, ao invés de ter que ir ao judiciário, é mais fácil que os conviventes se casem
normalmente. Sendo assim o art. 1726 do CC desatende o previsto no art. 226 paragrafo
terceiro da CF.

2- CASAMENTO INVÁLIDO

Existem três níveis de invalidade do casamento: a inexistência, a nulidade absoluta


e a nulidade relativa (anulabilidade).

2.1 CASAMENTO INEXISTENTE

Para que o casamento exista, é necessária a presença de requisitos essenciais. São


eles:

a) Diferença de sexos
b) Manifestação de vontade
c) Solenidades

IMPORTANTÍSSIMO!!! Recentemente o STF, dando interpretação conforme a


constituição, declarou constitucional o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Se faltar qualquer desses requisitos, o casamento nem sequer existirá. Tratar-se-á de


mero fato, incapaz de produzir qualquer efeito jurídico. Terá apenas a aparência de
casamento, mas, na verdade, será um nada jurídico.

Admitir-se-á o conhecimento da inexistência a qualquer tempo, não estando sujeito


a prescrição ou decadência.

Obs. Como visto, o casamento inexistente não pode ser declarado putativo, já que o que
não existe não pode gerar efeito algum.

IMPORTANTE!!! Por aplicação do princípio do in dúbio pro matrimonio e da teoria da


aparência, o art. 1554 estatui que “subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem
possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de casamento
e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no registro civil”.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

2.2 CASAMENTO E TEORIA DAS NULIDADES

Se existir, o casamento inválido poderá ser nulo ou anulável.

IMPORTANTE!!! Em geral, o ato nulo não gera qualquer efeito. Entretanto, em matéria de
casamento, o casamento nulo poderá gerar efeitos, SE FOR PUTATIVO.

A decretação de nulidade do casamento depende de ação. Isso quer dizer que não
pode ser declarada de ofício pelo juiz.

Casamento nulo  ação declaratória de nulidade (ex tunc).

Casamento anulável  ação anulatória (ex nunc/ex tunc).

IMPORTANTE!!! Existe discussão se a sentença que anular o casamento anulável gera


efeitos ex nunc ou ex tunc. Entre os adeptos da 1ª corrente estão Maria Helena Diniz e
outros. Entre os adeptos da 2ª corrente estão Pontes de Miranda, Bevilaqua e outros. Se gerar
efeitos ex nunc, por exemplo, a parte menor que foi emancipada permanece emancipada; do
contrário, se os efeitos forem ex tunc, a emancipação estará fulminada.

IMPORTANTE!!! Ambas são ações de estado e como tais:

a) é OBRIGATÓRIA a intervenção do MP como custus.


b) NÃO se operam os efeitos da revelia.
c) NÃO existe o ônus da impugnação específica.

 Casamento NULO

Somente em um caso o CC (art.1548) considera nulo. É ele:

 Com infringência de impedimento

Com o advento do Estatuto da Deficiência, deixou de ser nulo o casamento contraído


pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil, que passou a
ser plenamente VÁLIDO.

A declaração da nulidade tem efeitos retroativos e proclama que jamais existiu


casamento válido. Não subsistem qualquer de seus efeitos (a não ser que seja putativo).
Protegem-se, entretanto, a aquisição de direitos a título oneroso por terceiros de boa-fé.
Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento retroagirá à
data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de direitos, a título
oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença
transitada em julgado.

De relembrar, entretanto, que enquanto não declarado nulo o casamento produz todos
os seus efeitos (eficácia interimística).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Lembrar!!! Embora o juiz deva pronunciar de ofício a nulidade dos atos em geral, A
NULIDADE NO CASAMENTO SÓ PODE SER DECLARADA POR MEIO DE
AÇÃO ORDINÁRIA.

Atenção!!! Na verdade o casamento nulo gera ao menos um efeito: o de gerar a causa


suspensiva de que a mulher não deve se casar nos 10 meses seguintes para não gerar dúvida
quanto a paternidade da criança.

O casamento nulo aproveita os filhos, e a paternidade é certa.

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por


ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz
todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus
efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os
seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

IMPORTANTE!!! A legitimidade para a propositura da ação declaratória de nulidade é


de qualquer interessado (exige interesse econômico ou moral) e do MP.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos
previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação
direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

 Casamento ANULÁVEL

As causas de anulabilidade do casamento estão elencadas no art. 1550 do CC.

Art. 1.550. É ANULÁVEL o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar (16 anos);
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1o. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente
decretada. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)   (Vigência)
§ 2o  A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade
DIRETAMENTE ou POR MEIO DE SEU RESPONSÁVEL OU
CURADOR. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)

O casamento anulável produz todos os efeitos enquanto não anulado por sentença
transitada em julgado (eficácia interimística).

IMPORTANTE!!! Segundo Carlos Roberto Gonçalves, a sentença que anula o casamento


gera efeitos retroativos, igualzinho no casamento nulo, atacando o casamento como se este
jamais tivesse existido (a exceção também fica por conta da putatividade). Lembra o autor
que existe uma corrente que sustenta que os efeitos são ex nunc. Para mim, os efeitos da

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

anulação serão ex nunc.

IMPORTANTE!!! A legitimidade ativa é reservada somente às partes diretamente


interessadas (o MP não pode) - v. art. 1552, 1555 e 1559.

Lembrar!!! MP só tem legitimidade ativa na ação de nulidade.

Art. 1.552. A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será


requerida:
I - pelo próprio cônjuge menor;
II - por seus representantes legais;
III - por seus ascendentes.

Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado


por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em
cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus
representantes legais ou de seus herdeiros necessários.
§ 1o O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a
incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no
terceiro, da morte do incapaz.
§ 2o Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido
os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo,
manifestado sua aprovação.

Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode
demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do
vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art.
1.557.

Vejamos agora as causas que geram casamento anulável:

a) Defeito de idade

É anulável o casamento do menor de 16 anos. A anulação deve ser pleiteada em


180 dias a contar de:

 Para os representantes legais ou ascendentes do menor, do dia da


celebração.
 Para o menor, do dia em que completar 16 anos (tem legitimidade para a
ação anulatória mesmo sem ser representado ou assistido).

IMPORTANTE!!! Excepcionalmente, é possível que o menor que ainda não atingiu a


idade núbil se case, mediante suprimento judicial, nas seguintes hipóteses:

 Para evitar a imposição de pena criminal


 Em caso de gravidez

Obs. A lei 11.106/05 não trata mais o casamento com a vítima como causa de extinção de
punibilidade nos crimes contra os costumes. Entretanto, nos casos em que for de ação penal
privada, o casamento pode significar renúncia ao direito de queixa.

IMPORTANTE!!! Conforme prescreve o art. 1551, não se anulará por motivo de idade o

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

casamento que resultar gravidez.

Se a ação de anulação for ajuizada pelos representantes/ascendentes do menor, este


poderá ratificar o casamento, com efeitos retroativos, assim que completar a idade núbil,
desde que ainda não tenha transitado em julgado a sentença que anular.

b) Falta de autorização do representante legal

Se faltar a autorização para o maior de 16 e menor de 18 se casar, o casamento será


anulável mediante ação que poderá ser proposta em 180 dias pelo:

 Próprio menor, ao deixar de sê-lo


 Dos representantes legais que tinham o poder de autorizar, desde que não
tenham assistido ao ato ou de qualquer forma manifestado aprovação.
 Dos herdeiros necessários

c) Erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge

O art. 1557 estabelece em um rol taxativo, os casos que podem dar ensejo ao erro
essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, capaz de tornar ANULÁVEL o casamento.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao
cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne
insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de
moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua
natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.

Obs. O fato de a mulher não ser mais virgem não é mais causa de erro sobre a pessoa. A
própria isonomia entre os cônjuges estabelecida pela CF já afastava essa causa (adultério
precoce).

IMPORTANTE!!! Somente o cônjuge que incidiu em erro pode ajuizar a ação anulatória
(ação personalíssima). E o prazo para a ação foi aumentado de dois para TRÊS ANOS.

Em regra, a coabitação (sexo), mesmo sabendo do vício, valida o ato, que não mais
poderá ser anulado (1559).

EXCEÇÃO!!! Defeito físico irremediável, moléstia grave e doença mental grave (nesses
casos a coabitação não altera em nada).
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação,
pode demandar a anulação do casamento (PRAZO DE 3 ANOS); mas a
coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as
hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Vamos analisar cada inciso separadamente:

I – erro sobre a identidade do outro cônjuge ou sua boa fama

Pode ser erro sobre a identidade física, quando o sujeito casa com outra pessoa, que
não a que pretendia (Ex. O noivo tem um irmão gêmeo por quem é trocado).

Pode ser erro sobre a honra/boa fama.

Ex. Homem que casa, sem saber, com uma rodada prostituta. Mulher que só após o
casamento descobre que o marido se entrega a práticas homossexuais.

Para que seja anulável por erro sobre a pessoa, dois requisitos são exigidos:

 Que o defeito ignorado preexista ao casamento;


 Que a descoberta do defeito torne insuportável a vida em comum para o
cônjuge enganado.

A apreciação da presença desses requisitos será feita casuisticamente, tendo em


conta as características pessoais da pessoa enganada e as peculiaridades do caso.

II – ignorância de crime ULTRAJANTE (é ultrajante, diferente de não afiançável).

Caracteriza o erro sobre a pessoa quando o crime ignorado tiver sido praticado antes
do casamento e torne insuportável a vida conjugal.

IMPORTANTE!!! Não se exige prévia condenação criminal e o crime pode ser provado na
própria ação anulatória. Não se exige também que o crime seja inafiançável (é
ultrajante).

Lembrar!!! No caso de impedimento para casar é necessário que a pessoa seja condenada.
Art. 1.521. Não podem casar (impedimentos):
VII - o cônjuge sobrevivente com o CONDENADO por homicídio ou
tentativa de homicídio contra o seu consorte.

III – defeito físico irremediável e moléstia grave

Defeito físico irremediável é aquele que impede a concretização dos fins


matrimoniais. Em geral são graves defeitos nas genitálias que impedem o sexo.

IMPORTANTE!!! A impotência couendi é causa de anulação por dano físico


irremediável. Por sua vez, a impotência generandi não dá causa a anulação.

A moléstia grave capaz de dar causa a anulação do casamento é aquela anterior ao


casamento que é transmissível por contágio ou herança, capaz de por em risco o outro
cônjuge ou a prole (Ex. HIV).

IV – doença mental grave

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Também constitui erro sobre a pessoa a ignorância de doença mental grave, anterior
ao casamento que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum.

Não se exige que a doença mental seja incurável, basta que seja grave. Ex.
Esquizofrenia, paranóia etc.

d) Vício da vontade determinado pela coação

A coação aqui tratada é a coação moral (vis compulsiva). A coação física (vis
absoluta) torna o casamento inexistente em razão da ausência de livre manifestação da
vontade.

A ação pode ser promovida pelo próprio coato no prazo de quatro anos a contar da
celebração.

De acordo com o art. 1559 a prova da coabitação pode ser usada pelo coator para
impedir a anulação. Entretanto, há que se considerar que a coabitação pode ter sido feita
também com coação.

e) Incapacidade de manifestação do consentimento

A incapacidade que torna anulável o casamento é a relativa, a incapacidade


absoluta torna nulo.

O prazo para a ação é de 180 dias a contar da celebração (e não da cessação da


incapacidade, como era anteriormente).

f) Realização por mandatário estando revogado o mandato

É anulável o casamento realizado por mandatário sem que ele ou o outro cônjuge
saibam da revogação do mandato.

Nesse caso, a parte que deu e revogou a procuração deverá ajuizar a ação para anular
o casamento, dentro de 180 dias de quando tiver ciência da celebração do casamento.

Obs. Se houve coabitação, a anulação NÃO será possível.

g) Incompetência da autoridade celebrante

A incompetência que torna anulável o casamento é a ratione loci ou ratione


personarum (é juiz de casamentos, mas de outra cidade).

A incompetência ratione materiae torna o casamento inexistente (Ex. Quem casa é o


juiz de futebol).

3- CASAMENTO IRREGULAR

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

O casamento contraído com a inobservância de CAUSA SUSPENSIVA não é nulo


nem anulável. Ele é apenas irregular.

O desrespeito a causa suspensiva gera o efeito de tornar OBRIGATÓRIO O


REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com INOBSERVÂNCIA DAS CAUSAS
SUSPENSIVAS da celebração do casamento;
II - da pessoa maior de sessenta anos;
II – da pessoa MAIOR DE 70 (setenta) anos; 
III - de todos os que dependerem, para casar, de SUPRIMENTO
JUDICIAL.

Contudo, é permitido às partes provar a ausência de prejuízo, afastando o regime de


separação legal.
Art. 1523.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso
do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de
gravidez, na fluência do prazo.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO VII
EFICÁCIA JURÍDICA DO CASAMENTO
1- DISPOSIÇÕES GERAIS

O primeiro e principal efeito do casamento é a constituição de FAMÍLIA


LEGÍTIMA. A CF admite outras entidades familiares, porém, somente o casamento
constitui família legítima.

O segundo efeito previsto no art. 1565 é a mútua assunção, pelo casal, da condição
de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família (decorrência da
isonomia entre os cônjuges). Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o
sobrenome do outro.

O terceiro efeito é a imposição de deveres aos cônjuges.

O quarto é a imediata vigência, na data da celebração, do regime de bens, que em


princípio é IRREVOGÁVEL, só podendo ser alterado mediante AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO de AMBOS os cônjuges, apurada a procedência
das razões invocadas e RESSALVADAS o direito de terceiro.
Art. 1639
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO DE AMBOS
OS CÔNJUGES, apurada a procedência das razões invocadas e
RESSALVADOS OS DIREITOS DE TERCEIROS.

IMPORTANTE!!! Antes da celebração, podem os nubentes modificar o pacto antenupcial,


para alterar o regime de bens. Celebrado o casamento, ele torna-se imutável. Mesmo nos
casos de reconciliação de casais separados judicialmente o regime de bens continua o
anteriormente estabelecido. Se o casal se divorciar, poderá casar-se novamente, adotando
regime diverso do anterior.

2- DEVERES RECÍPROCOS

Como visto, um dos efeitos do casamento é fazer surgir deveres recíprocos. A


infringência desses deveres é causa de separação judicial. Estão previstos no art. 1566 CC.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.

IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66 alterou o art. 226 paragrafo sexto da CF, retirando


do texto a referência à separação judicial e aos requisitos temporais para a obtenção do
divórcio. Portanto, a doutrina concluia que a separação judicial ou por escritura pública
foi abolida do nosso direito, restando apenas o divórcio que, ao mesmo tempo, rompe a

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. Assim, alguns artigos do CC


teriam revogados pela EC 66. Desse modo, os deveres impostos a ambos os cônjuges no
citado art. 1566 CC ficam contidos em sua matriz ética, desprovidos de sanção jurídica,
exceto nos casos de “mútua assistência e sustento, guarda e educação dos filhos”, cuja
violação pode acarretar, conforme a hipótese, a perda da guarda dos filhos ou ainda a
suspensão ou destituição do poder familiar, e a condenação ao pagamento de pensão
alimentícia. Porém, o novo CPC trouxe, expressamente, no art. 733 a figura da
separação consensual (o que vem sendo duramente criticado pela doutrina civilista),
portanto, há possibilidade de mudança no entendimento supracitado:
Art. 733 do Novo CPC -  O divórcio consensual, a separação consensual
e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos
incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por
escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art.
731.

I- Fidelidade recíproca

É uma decorrência do caráter monogâmico do casamento. A infringência desse dever


configura adultério e enseja separação judicial litigiosa. Não é necessário que se mantenha
concubina, basta apenas uma transgressão ao dever de fidelidade.

Os atos anteriores ao sexo não configuram adultério, mas podem configurar injúria
grave, que também é causa de separação.

Esse dever perdura enquanto subsistir a sociedade conjugal e mesmo quando os


cônjuges estiverem separados de fato.

Obs. a separação judicial e o divórcio acabam com esse dever.

II- Vida em comum no domicílio conjugal

É o dever de coabitação, que obriga o casal a viver sobre o mesmo teto e a ter uma
comunhão de vidas.

IMPORTANTE!!! Essa obrigação não deve ser encarada como absoluta, pois a
impossibilidade física ou mesmo moral pode justificar o seu afastamento. Assim, em razão,
por exemplo, do emprego, um dos cônjuges pode ter a necessidade de viver em outra cidade,
sem que isso caracterize a quebra da vida em comum.

O que caracteriza o abandono do lar é o animus, a intenção de não mais regressar a


residência comum.

No dever de coabitação se inclui o dever de manter relações sexuais, sendo


exigível o pagamento do débito conjugal (o descumprimento dá causa a separação judicial).

De acordo com o art. 1569 CC a escolha do domicílio do casal deve ser feito por
ambos os cônjuges.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

III- Mútua assistência

Compreende a assistência em todos os níveis: material, moral, espiritual. É o


companheirismo.

É o fundamento legal do dever de prestar alimentos.

IMPORTANTE!!! O dever de mútua assistência subsiste mesmo após a separação


judicial e só acaba com o divórcio (art. 1576) (mesmo assim, é possível que a obrigação de
prestar alimentos permaneça após o divórcio).

IV- Sustento, guarda e educação dos filhos

Ambos os cônjuges são responsáveis pelo sustento, guarda e educação dos filhos. A
infração a esse dever sujeita a perda do poder familiar e enseja a ação de alimentos, além de
também configurar causa de separação judicial.

Esse dever extingue-se com a maioridade.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência tem estendido esse dever até a expedição do diploma


universitário, no caso de filhos que não possam pagar a mensalidade.

V- Respeito e consideração mútuos

Tem relação com o companheirismo etc.

3- DIREITOS E DEVERES DE CADA CÔNJUGE

Com o advento da CF/88 vige a isonomia entre os cônjuges. Assim, esses são iguais
em direitos e deveres. Desapareceu a figura do chefe de família. A ambos os cônjuges
cabe ditar os rumos familiares, competindo ao juiz decidir em caso de divergência.
Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração,
pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá
recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.

O homem deixou de ser o único provedor da família, também incumbindo à mulher o


sustento da família. E de acordo com o art. 1.570, “se qualquer dos cônjuges estiver em
lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado
judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de
acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a
administração dos bens”.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO VIII
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

1- CAUSAS TERMINATIVAS

O art. 1571 CC diz que a sociedade conjugal termina:

 Pela morte de um dos cônjuges


 Pela nulidade ou anulação do casamento
 Pela separação judicial (Não a separação de fato)
 Pelo divórcio

IMPORTANTE!!! Veja que a separação de fato não põe termo à sociedade conjugal.

A morte que extingue é a real. O CC 2002, porém, inclui entre as causas de


dissolução a morte presumida do ausente, que se configura nos casos em que a lei autoriza a
sucessão definitiva. Passou a admitir também, a declaração de morte presumida sem
decretação de ausência, para todos os efeitos.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento.

A nulidade ou anulação do casamento rompem o vínculo matrimonial, extinguindo


a sociedade conjugal e permitindo que os cônjuges se casem novamente. Nada impede a
cumulação da ação anulatória com a de separação judicial em ordem sucessiva.
Art. 326 do Novo CPC.  É lícito formular mais de um pedido em ordem
subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não
acolher o anterior.

2- SEPARAÇÃO JUDICIAL

IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66 suprimiu a parte final do parágrafo sexto do art.


226 CF. Sendo assim, a separação judicial deixou de ser contemplada na CF, onde
figurava como requisito para a conversão, desaparecendo ainda o requisito temporal
para a obtenção do divórcio, agora exclusivamente direto, por mútuo consentimento ou
litigioso. A inovação constitucional levava a conclusão de que a separação judicial ou
por escritura pública foi eliminada do nosso direito, restando o divórcio que, ao mesmo
tempo, rompe a sociedade conjugal e extingue o vínculo matrimonial. Ocorre que,

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

conforme já frisado supra, o Novo CPC traz expressa previsão da separação via
escritura pública em diversos dispositivos, o que vem sendo duramente criticado pela
doutrina civilista. É necessário aguardar o posicionamento dos Tribunais Superiores
sobre o tema.

De acordo com o art. 1576, a separação judicial põe termo a três deveres
matrimoniais. São eles:

a) coabitação (não precisa mais morar junto)


b) fidelidade recíproca (pode transar com quem quiser)
c) regime de bens (faz-se a partilha dos bens)

Os outros três deveres matrimoniais permanecem. São eles:

a) mútua assistência (deve pagar pensão alimentícia)


b) sustento, guarda e educação dos filhos
c) respeito e consideração mútuos

Trata-se de ação de caráter personalíssimo, que só os cônjuges têm legitimidade


para propô-la (art. 1576, §ú). É privativa e intransmissível assim, se um dos cônjuges
morrer no curso da ação, essa será extinta (também a ação de divórcio se extingue com a
morte de um dos cônjuges).
Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e
fidelidade recíproca e ao regime de bens.
Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente
aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão representados pelo curador,
pelo ascendente ou pelo irmão.

EXCEÇÃO: no caso de incapacidade, o cônjuge é representado pelo curador, ascendente ou


irmão.

O art. 695 do Novo CPC manda que se realize uma audiência prévia de conciliação,
onde o juiz deve tentar promover a reconciliação das partes. Se a reconciliação não for
possível, o juiz deve convencer as partes a transformar a separação litigiosa em amigável.

O não comparecimento das partes a essa audiência de conciliação não gera a revelia,
mas sim, significa que não querem acordo. Não sendo obtida a reconciliação nem a
transformação em separação amigável, da audiência começa a fluir o prazo para contestação,
ainda que a parte nela não tenha comparecido.

2.1 SEPARAÇÃO JUDICIAL POR MÚTUO CONSENTIMENTO (SEPARAÇÃO


AMIGÁVEL)

E a separação requerida por ambos os cônjuges. É jurisdição voluntária. Não há


litígio, pois as partes buscam a mesma solução: a homologação de acordo por eles
celebrado. A vantagem dessa modalidade é que os separandos não precisam declinar a
causa, o motivo da separação.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

O juiz pode se negar a homologar o acordo se verificar se prejudica interesse de


filho ou de um dos cônjuges. Essa decisão deve ser fundamentada, devendo o juiz indicar a
cláusula que traz prejuízo.

É permitido ao juiz que homologue apenas parte do acordo, deixando de lado a


parte que julga prejudicial.

O art. 731 do Novo CPC afirma que o acordo deverá obrigatoriamente conter:

I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;


II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

IMPORTANTE!!! Nada impede que a partilha seja elaborada de modo desigual (um fica
com mais que o outro), já que ambos os cônjuges são maiores e capazes e podem transigir
sobre seu patrimônio. Nesse caso, é devido o pagamento de ITCMD por conta da doação
implicitamente feita.

IMPORTANTE!!! Tem sido admitido que a mulher abra mão dos alimentos, podendo,
porém, pleiteá-los futuramente, se vier a necessitar e não tiver sido contemplada na partilha
com bens suficientes à manutenção de sua subsistência (pode pedir alimentos
futuramente). (súmula 379 do STF - no acordo de desquite não se admite renúncia a
alimentos, que podem ser pleiteados futuramente).

A petição deverá esclarecer, ainda, se o cônjuge que usa o sobrenome do outro


voltará a usar o sobrenome de solteiro. No silencio deve-se entender que optou por
conserva-lo.

Antes de homologar o acordo, o juiz deve ouvir o MP.

Enquanto não lavrado o termo pelo escrivão e assinado pelas partes, o pedido não se
tornou público e poderá haver arrependimento unilateral. Assinado o termo, o pedido torna-
se irretratável pela manifestação unilateral de um só dos cônjuges.

IMPORTANTE!!! Separação e divórcio consensual no cartório (administrativamente).


Não pode haver nascituro ou filhos menores/incapazes. Devem ser respeitados os prazos.
Exige escritura pública, que deve conter acordo relativo à partilha dos bens, pensão e guarda
dos filhos. A escritura não depende de homologação e constitui título hábil para ser
registrado no registro de imóveis e no registro civil. As partes devem, obrigatoriamente, ser
assistidas por advogados, que deve assinar o acordo.

Obs. Por analogia, a dissolução consensual da união estável também pode ser feita em
cartório.

2.2 SEPARAÇÃO LITIGIOSA

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação


judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum. (separação


sanção)
§ 1o A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar
ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua
reconstituição. (separação falência)
§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver
acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne
impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração
de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.
(separação remédio)
§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao cônjuge enfermo, que não
houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou
para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação
dos adquiridos na constância da sociedade conjugal.

Obs. Sobre doença mental grave ver também causa de anulação do casamento por erro
essencial quanto a pessoa do outro cônjuge.

O rol de causas que permitem a separação judicial (art. 1572) é taxativo,


inexistindo outras hipóteses de separação judicial em nosso ordenamento.

A hipótese do caput é chamada de separação-sanção porque se atribui culpa (na


modalidade “grave infração a deveres conjugais”) a um dos cônjuges, impondo-lhe sanções.
Estas são:

 Perda do direito a alimentos, exceto os indispensáveis à sobrevivência (art.


1694, §2º e art. 1704, §ú)

Obs. Sempre que resultar de culpa de quem os pleiteia, os alimentos só serão os


indispensáveis à sobrevivência.

Obs. O cônjuge inocente só pagará alimentos ao culpado se este não tiver condições de
trabalhar nem tiver mais ninguém para prestar alimentos (subsidiário).

 Perda do direito de usar o sobrenome do inocente (1578)

Obs. Para isso, é necessário o expresso requerimento do inocente e, mesmo assim, só não
poderá usar o sobrenome do outro se: (a) não acarretar evidente prejuízo para sua
identificação; (b) não acarretar manifesta distinção entre seu nome de solteira e o nome dos
filhos; (c) não acarretar qualquer outro dano grave reconhecido na decisão judicial.

IMPORTANTE!!! A separação-sanção é a única hipótese em que se discute culpa . Por


isso, também é a única hipótese em que se admite reconvenção (para provar que a culpa não
é minha, mas sua!). Se ambos forem culpados, nenhum deles fara jus a verba alimentícia,
exceto se necessária a subsistência.

A insuportabilidade da vida em comum é um requisito que deve existir para a


decretação da separação. O simples fato de ter ingressado com o processo pedindo a
separação já demonstra a insuportabilidade da vida a dois. O art. 1573 elenca algum dos
casos em que a vida em comum torna-se insuportável. Esse rol é meramente exemplificativo.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

2.2.1 Grave Infração Aos Deveres Do Casamento

Como visto, na separação-sanção, a culpa é demonstrada pela grave violação de


deveres do casamento.

a) Fidelidade recíproca

A violação ao dever de fidelidade recíproca é o adultério (conjunção carnal). Os


atos pré-sexuais constituem injúria grave, não adultério.

IMPORTANTE!!! A separação de fato não desobriga os cônjuges do dever de fidelidade


recíproca, isto é, não libera o sexo com terceiros.

IMPORTANTE!!! O chamado adultério precoce (defloramento da mulher antes do


casamento) não é mais considerado erro sobre a pessoa capaz de tornar anulável o
casamento.

Obs. A inseminação artificial não configura adultério, porque este só ocorrerá se houver
cópula completa com estranho de outro sexo. Mas a mulher poderá dar causa a separação
judicial se receber o sêmem de outro homem sem o consentimento do marido, mas sua
conduta caracterizará injuria grave, e não adultério.

b) Coabitação

O dever de coabitação é desrespeitado com o abandono voluntário do lar conjugal


(exige o animus de não mais retornar ao lar conjugal). Igualmente infringe o dever de
coabitação se um dos cônjuges se recusa ao sexo.

c) Mútua assistência

O dever de mútua assistência é violado pela tentativa de morte e pela sevícia


(porrada).

d) Guarda, educação e sustento dos filhos

Embora não se trata de agressão direta ao outro cônjuge ele é atingido reflexamente
pelo sofrimento dos filhos.

e) Respeito e consideração mútuos

Esse dever é violado pela injúria grave e pela conduta desonrosa.

2.2.2 Insuportabilidade Da Vida Em Comum

Como visto, um dos requisitos exigidos para a decretação da separação-sanção


(além da prova da culpa) é a prova da insuportabilidade da vida em comum.

Como dito, a só propositura da ação já demonstra que a vida em comum não é

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

mais viável. O art. 1573 traz um rol exemplificativo.


Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a
ocorrência de algum dos seguintes motivos:
I - adultério;
II - tentativa de morte; (não é necessário a condenação no juízo criminal)
III - sevícia ou injúria grave;
IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V - condenação por crime infamante;
VI - conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente
a impossibilidade da vida em comum.

Ao outro cônjuge cabe a prova da suportabilidade da vida conjugal.

2.2.3 Ruptura Da Vida Em Comum E Doença Mental Grave

Ter sempre em mente o seguinte.

Separação-sanção  discute-se culpa

Separação-remédio  não discute-se culpa

As hipóteses do §1º e §2º do art. 1572 são separação-remédio (a separação-falência é


espécie da separação-remédio).

a) Separação-falência

É a que tem causa devido a falência da vida em comum. Exige separação de fato a
mais de um ano (levar em conta sempre a EC 66).

Obs. Foi retirado o termo “consecutivo” da lei do divórcio, de modo que se pode interpretar
que é possível a soma de períodos para chegar a essa um ano.

Exige também prova da impossibilidade de reconciliação.

b) Separação-remédio propriamente dita

É a possibilidade de pedir a separação judicial por doença mental grave, manifestada


após o casamento, que torne insuportável o casamento, e que, após dois anos, seja
considerada de improvável cura (CC art. 1572).

Foi suprimida da lei do divórcio a possibilidade que o juiz tinha de negar a


separação se ela gerasse o agravamento do quadro de enfermidade (era a cláusula de
dureza).

Nesse caso, o cônjuge doente, que não pediu a separação, torna-se proprietário
exclusivo dos bens que trouxe para o casamento e meeiro dos bens adquiridos
posteriormente (art. 1572 paragrafo terceiro).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

2.2.4 Separação De Corpos

A separação judicial gera como efeitos, a partilha dos bens e a separação de corpos.
A separação de corpos pode ser requerida liminarmente, a título cautelar ou
antecipatório. A partir da separação de corpos, seja liminarmente, seja na sentença,
começa a fluir o prazo de um ano exigido para a conversão da separação em divórcio.

IMPORTANTE!!! A lei Maria da Penha prevê a possibilidade de o juiz decretar a


separação de corpos como medida protetiva de urgência.

2.3 PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS

Esse capítulo sofreu reforma em 2008.

Dispõe o art. 1583 que a guarda dos filhos será unilateral ou compartilhada.

a) guarda unilateral: atribuída a um só dos genitores ou alguém que o substitua (avô,


p.ex.).

A guarda unilateral será deferida ao cônjuge que revele melhores condições de


cuidar do filho e dar-lhe afeto, saúde, segurança e educação. Fica afastado assim, qualquer
interpretação no sentido de que teria melhores condições o cônjuge com mais recursos
financeiros.

Para a definição da guarda unilateral não tem importância ter sido o cônjuge culpado,
ou não. A guarda é deferida no interesse do filho.

Ex. A mulher foi flagrada pelo marido em uma orgia com 10 encanadores fortões.
Obviamente ela foi declarada culpada na separação-sanção. Mesmo assim, ela poderá ficar
com a guarda dos filhos se ficar provado que ela tem melhores condições de cuidar das
crianças.

IMPORTANTE!!! Se ficar verificado que nem o pai, nem a mãe tem condições de cuidar
dos menores, a guarda será deferida a pessoa da família que seja compatível com o encargo,
considerando, de preferência, o grau de parentesco e a relação de afinidade e afetividade
(avô, p.ex.).

A guarda admite revisão sempre no interesse do menor, não fazendo coisa julgada
(na verdade faz coisa julgada, só que, se a situação fática mudou, poderá ser revista).

O cônjuge que não ficou com a guarda dos filhos tem o direito de visitas. E mais, o
cônjuge que não tem a guarda fica obrigado a supervisionar os interesses dos filhos, e, para
possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar
informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que
direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos (1583,
§5º). 

Tal direito de visitas, entretanto, poderá ser restringido e até mesmo suspenso

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

temporariamente se ficar provado que as visitas estão sendo prejudiciais aos filhos.

Obs. A lei Mª da Penha prevê a suspensão do direito de visitas como medida protetiva de
urgência.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência vem assegurando o direito dos avós visitarem os netos.

b) guarda compartilhada: responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do


pai e da mãe quando não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao exercício do poder
familiar. Não significa que o filho dormirá uma noite com o pai e outra com a mãe. Ele terá
um lar definido, com um ou com outro, mas ambos decidirão conjuntamente os rumos da
vida do filho, sem a necessidade da intervenção do juiz regulando, por exemplo, as visitas
etc. Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela
que melhor atender aos interesses dos filhos.    

O juiz deve incentivar a guarda compartilhada, sendo obrigado a, na audiência de


conciliação, informar às partes de sua importância.

Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda
compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor. (paragrafo segundo do artigo 1584 CC).

Ficar atento à letra da lei:


Art. 1.583.  A guarda será unilateral ou compartilhada.        (Redação
dada pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 1o  Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda
compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes
ao poder familiar dos filhos comuns.        
§ 2o  Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve
ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo
em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:        (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
II - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - (revogado);         (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 3º  Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia
dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos
filhos.    (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 4o  (VETADO).        (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 5º  A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a
supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar
informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e
psicológica e a educação de seus filhos.     (Incluído pela Lei nº 13.058, de
2014)

Art. 1.584.  A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: 

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em
ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou
em medida cautelar; 
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou
em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e
com a mãe.
§ 1o  Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o
significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de
deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento
de suas cláusulas. 
§ 2o  Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder
familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do
menor.     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 3o  Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de
convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à
divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
§ 4o  A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de
cláusula de guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a
redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
5o  Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do
pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade
com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de
parentesco e as relações de afinidade e afetividade.     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014).

2.4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Alienação parental seria o fato de a mãe ou o pai de uma criança induzir esta a
romper os laços afetivos com o outro cônjuge. A lei de alienação parental estendeu seus
efeitos não apenas aos pais, mas a qualquer outra pessoa que tenha a guarda ou vigilância do
incapaz.

O judiciário deve agir para reverter a situação. Pode por exemplo o juiz afastar o
filho do convívio da mãe ou do pai, mudar a guarda e o direito de visita e até impedir a
visita. Como última opção pode ainda destituir ou suspender o exercício do poder parental.

2.5 DO USO DO NOME

Na separação consensual, o cônjuge decide livremente a respeito do uso do


sobrenome do outro. A omissão significa a vontade de continuar a usar o nome do ex-
consorte.

Na separação litigiosa, a solução encontra-se no art. 1578 do CC.


Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial
perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente
requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;

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II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da


união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a
qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.

2.6 RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL APÓS A SEPARAÇÃO


JUDICIAL

Dispõe o art. 1.577,


Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é
lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato
regular em juízo.
Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros,
adquirido antes e durante o estado de separado, seja qual for o regime de
bens.

Ou seja, se as partes estão separadas judicialmente, para voltarem a estado de


casadas basta requerer ao juiz. Esse requerimento deverá ser feito por ambos os cônjuges.

A renovação da sociedade conjugal se faz nos mesmos moldes da que foi dissolvida
pela separação, mesmo regime de bens, as partes voltam a usar os mesmos nomes etc. (fica
igualzinho ao que era antes).

Obs. O restabelecimento da sociedade conjugal não prejudica o direito de terceiros obtidos


enquanto os cônjuges estavam separados (1577, §ú).

IMPORTANTE!!! Após o divórcio a sociedade conjugal só voltará por um novo


casamento.

IMPORTANTE!!! É possível, todavia, em caso de separação judicial, a alteração do


regime de bens por ocasião da reconciliação, mediante autorização judicial, se houver
“pedido motivado de ambos os cônjuges , apurada a procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros” (art. 1639).

3- DIVÓRCIO

O divórcio foi incluído no Brasil em 1977, por meio de emenda constitucional que
suprimiu o princípio da indissolubilidade do vínculo matrimonial. A CF/88 tornou mais fácil
o divórcio, adequando-se aos tempos modernos onde casa-se e descasa-se com a mesma
facilidade que se muda de roupa.

O divórcio é uma das causas de dissolução do vínculo matrimonial e tem o condão


de dissolver o casamento válido.

IMPORTANTÍSSIMO!!! O art. 1581 diz que O DIVÓRCIO PODE SER CONCEDIDO


SEM QUE HAJA PRÉVIA PARTILHA. Quer dizer, é possível dar o divórcio antes e
partilhar os bens depois (ver causa suspensiva para novo casamento até a partilha dos

39
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

bens).
Art. 1.581. O DIVÓRCIO PODE SER CONCEDIDO SEM QUE HAJA
PRÉVIA PARTILHA DE BENS.

IMPORTANTE!!! O divórcio não comporta a discussão da culpa. Só existe divórcio-


remédio.

A ação de divórcio é personalíssima e somente competirá aos cônjuges (1582).


Entretanto, se for incapaz, poderá fazer-se representar.

O divórcio extingue todo o vínculo matrimonial e permite que os cônjuges contraiam


novas núpcias.

IMPORTANTE!!! Findo o casamento com o divórcio, extinguem-se também os deveres


e direitos alimentícios, decorrentes do dever de mútua assistência, salvo se ficarem
estabelecidos antes da dissolução do vínculo matrimonial. O novo casamento/união
estável do cônjuge-credor da pensão extingue a obrigação do cônjuge devedor, não o faz o
simples namoro (quer dizer, mesmo após a decretação do divórcio um dos cônjuges poderá
ser obrigado a pagar alimentos ao outro).

IMPORTANTÍSSIMO!!! No tocante a partilha, o CC/02 trouxe significativa alteração,


PERMITINDO QUE SEJA DECRETADO O DIVÓRCIO SEM PRÉVIA PARTILHA
DE BENS (1581). Mas se o divorciado se casar novamente, sem fazer a partilha, deverá
adotar o regime de separação obrigatória de bens (causa suspensiva).

O MP deverá ser ouvido, já que se trata de ação de estado.

IMPORTANTÍSSIMO!!!! A EC 66, no nosso entender, aboliu o divórcio conversão ou


indireto, remanescendo apenas o divorcio direto, sem o requisito temporal e que pode
ser denominado simplesmente divórcio. Tal modalidade pode se desdobrar em:

a) Divórcio judicial litigioso


b) Divórcio judicial consensual
c) Divórcio extrajudicial consensual

Em todos eles exige-se apenas a exibição da certidão de casamento. Deixando de


existir o divórcio por conversão, o pedido de divórcio deverá reproduzir todas as
condições estipuladas ou decididas na separação judicial, como se ela não tivesse
existido, se assim desejarem os cônjuges separados, ou altera-las livremente.
As questões correlatas, como a guarda e proteção dos filhos, alimentos, partilha
dos bens e sobrenome a ser utilizado podem ser objeto de discussão e contestação, para
os fins próprios, sem prejudicar a decretação do divórcio. A partilha dos bens, segundo
expressamente dispõe o art. 1581 CC, pode ser discutida em outra ocasião (depois do
divórcio). Nessas questões não se discutirá as causas ou a culpa pelo fim do casamento.
No tocante a guarda dos filhos, discutir-se-á apenas o melhor interesse destes, buscando
apurar qual dos genitores desfruta de melhores condições para exercê-la. No tocante
aos alimentos, importará saber apenas da necessidade de quem os pede e da
possibilidade do outro cônjuge.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

SUBITÍTULO II
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

1- INTRODUÇÃO

Em sentido estrito, a palavra parentesco abrange somente o consanguíneo, definido


como relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de um mesmo
tronco. Em sentido amplo, no entanto, inclui o parentesco por afinidade e o decorrente da
adoção.

Afinidade é o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou companheiro e os


parentes do outro. Parentesco civil é o resultante da adoção ou outra origem.

2- O VÍNCULO DE PARENTESCO: LINHAS E GRAUS

O vínculo de parentesco se estabelece por linhas: reta e colateral, e a contagem se


faz por graus. Parentes em linha reta são as pessoas que descendem uma das outras
(ascendente e descendente).

São parentes em linha colateral as pessoas que provém de um tronco comum, sem
descenderem uma da outra (irmãos, tios etc.).

IMPORTANTE!!! Na linha reta não há limite de parentesco; na colateral, este se


estende somente até o quarto grau.

Grau é a distancia, em gerações, que vai de um a outro parente.


Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de
gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos
parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro
parente.

IMPORTANTE!!! Não há parentesco em primeiro grau em linha colateral, porque quando


contamos uma geração ainda estamos na linha reta.

3- ESPÉCIES DE PARENTESCO

a) Natural: resulta da consanguinidade.

b) Civil: resulta de outra origem, por exemplo, a adoção ou inseminação artificial


heteróloga.
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consanguinidade ou outra origem.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

c) Por afinidade: origina-se do casamento ou da união estável.


Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e
aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO II
DA FILIAÇÃO

Filiação é a relação de parentesco em primeiro grau em linha ascendente que liga


uma pessoa àquelas que a geraram ou a receberam como se tivessem gerado (paternidade
socioafetiva).

Isso é por demais importante: para haver relação de filiação, não é necessário que
uma pessoa (pais) tenha gerado outra (filho) de seu próprio ventre. Também há relação de
filiação quando a pessoa (pais) recebe a outra pessoa (filho) como se tivesse gerado. Essa
última parte não é só para a adoção, mas também, e é isso o que é relevante nos dias atuais,
para justificar a paternidade socioafetiva, amplamente adotada em nossos tribunais.

De acordo com a CF e com o CC, não pode ser feita nenhuma distinção entre os
filhos (havidos fora ou dentro do casamento, adotivo etc. são todos filhos).

1- PRESUNÇÃO LEGAL DE PATERNIDADE

Trata-se da presunção pater is est (pater is est quem justae nuptiae demonstrant) pelo
qual o marido é presumidamente o pai do filho gerado por mulher casada. Tal
presunção destina-se a preservar a paz familiar. Essa presunção só é aplicada em relação
aos filhos gerados dentro do casamento, e torna desnecessário o reconhecimento do filho
pelo marido da mulher casada que gerou a criança.

É assim que funciona: meu pai e minha mãe são casados. Minha mãe fica grávida.
A criança que nascer é presumidamente filha do meu pai.

O art. 1597 traz os casos em que os filhos presumem-se concebidos na constância


do casamento, incidindo a presunção pater is est.

 Nascidos pelo menos 180 dias depois de estabelecida a convivência conjugal;


 Nascidos 300 dias depois da dissolução do casamento
 Fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido.
 Havidos a qualquer tempo quando se tratar de embriões excedentes de
concepção artificial homóloga
 Havido por inseminação artificial heteróloga, desde que haja prévia
autorização do marido (nesse caso a presunção é absoluta).

Em regra, a presunção de paternidade é relativa, podendo o marido ajuizar ação


negatória de paternidade para provar que não é o pai. A ação negatória de paternidade é
imprescritível.

Obs. Não basta que a mulher fale que o marido não é o pai para afastar a presunção.
Também não basta que a mulher confesse adultério (1600 e 1602).

Obs. Ilide a presunção de paternidade a prova da impotência generandi do marido (prova


de que o cara é estéril).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

2- AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A ação negatória de paternidade destina-se a excluir a presunção pater is est,


provando que o marido não é o pai da criança. Trata-se de ação imprescritível.

A ação é de legitimidade ativa privativa do marido. Só ele pode propor a ação, mas,
uma vez iniciada, se ele falecer, os herdeiros assumem por sucessão processual. A
legitimidade passiva é do filho, mas como foi registrado pela mãe, esta também deve figurar
no polo passivo.
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos
nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm
direito de prosseguir na ação.

IMPORTANTE!!! Tem sido reconhecido ao filho o direito de impugnar a paternidade


(dizer que fulano não é seu pai), provando erro ou falsidade do registro, nos termos do art.
1604. O art. 27 do ECA dispõe que o reconhecimento do estado de filiação é direito
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou
seus herdeiros, sem qualquer restrição.

Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro
de nascimento, salvo provando-se ERRO ou FALSIDADE DO
REGISTRO.

Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a


filiação por qualquer modo admissível em direito:
I - quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais,
conjunta ou separadamente;
II - quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver,


passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão
continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO III
DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS

1- FILIAÇÃO HAVIDA FORA DO CASAMENTO

Os filhos havidos fora do casamento não gozam da presunção de paternidade,


devendo ser reconhecidos.

É possível que o reconhecimento se dê judicialmente ou voluntariamente.

IMPORTANTE!!! Seja qual for o modo, o reconhecimento de filho havido fora do


casamento é sempre irrevogável (Art. 1609 CC).

Obs. O testamento tem a revogabilidade como característica. Porém, na parte que tratar de
reconhecimento de filho, será irrevogável.

IMPORTANTÍSSIMO (Prova do TJ-DF e do MP ES!!!) Não confundir a


irrevogabilidade com o reconhecimento de invalidade. Se o reconhecimento do filho
decorrer de vício de consentimento, o registro será anulado. Vale dizer: o reconhecimento de
filho é irrevogável, ou seja, o sujeito não pode dizer que o filho é seu e registrá-lo em um
dia e no outro se arrepender e revogar o registro. Porém, o reconhecimento de filho pode
ser invalidado (anulado ou declarado nulo) se, p.ex. o cara provar que foi coagido a
reconhecer a criança.

IMPORTANTE!!! STJ. Sujeito que registrou filho como sendo seu, mesmo tendo
desconfiança que não o era, não pode posteriormente requerer o DNA, já que não houve
vício de consentimento no reconhecimento da filiação.

2- RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO
Constitui espécie de ato jurídico em sentido estrito que exige capacidade do agente.

O reconhecimento voluntário de filho se dá de acordo com o art. 1609 CC.


Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é
irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho
ou ser POSTERIOR AO SEU FALECIMENTO, SE ELE DEIXAR
DESCENDENTES.

O reconhecimento voluntário de filho pode ser anterior ao nascimento do mesmo.


Pode também ser reconhecido filho depois da morte do mesmo, SE ELE DEIXOU
DESCENDENTES (essa exigência é para que o pai não reconheça o filho que não deixou

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

herdeiros só visando a herança).


Obs. O filho havido fora do casamento, que for reconhecido por um dos cônjuges só pode
morar no lar conjugal com o consentimento do outro cônjuge (1611 CC).

Art. 1.611. O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos


cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.

O reconhecimento de filho é incondicional. Vale dizer, esse ato não pode ser sujeito
à condição ou termo. (Ex. Eu te reconheço como filho se você fizer 100 embaixadinhas). São
ineficazes as condições e termos opostos ao ato de reconhecimento de filho, considerando-se
não escritas (1613).

Dispõe o art. 1614 que o filho maior não pode ser reconhecido sem o seu
consentimento (Ex. Quero reconhecer como filho um marmanjo de 32 anos,
necessariamente ele deve consentir). Por sua vez, o filho menor pode contestar o
reconhecimento nos quatro anos seguintes que ele completar a maioridade (Ex. Em
2000 eu reconheço como filho um sujeito de 16 anos. Em 2002 ele completa 18 anos. Ele
tem até 2006 para contestar o reconhecimento).
Art. 1.614. O FILHO MAIOR NÃO pode ser reconhecido sem o seu
consentimento, e o MENOR pode impugnar o reconhecimento, nos
quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.

IMPORTANTE!!! O reconhecimento de filho tem natureza declaratória e produz efeitos


retroativos ao nascimento. Ou seja, declara que o sujeito sempre foi o pai.

De acordo com o art. 1.596, “os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.

IMPORTANTE!!! Ação anulatória de reconhecimento. Todos aqueles que tiverem


interesse na desconstituição do reconhecimento poderão ingressar com ação anulatória de
reconhecimento, provando a desconformidade com o vínculo biológico. O MP tem
legitimidade em ingressar com a ação por se tratar de questão que diz respeito ao estado da
pessoa. Por essa razão, a ação é imprescritível.

Obs. Ter em mente a moderna filiação socioafetiva.

3- RECONHECIMENTO JUDICIAL
O filho não reconhecido voluntariamente poderá obter o reconhecimento pela via
judicial, mediante ação de investigação de paternidade, de natureza declaratória e
imprescritível (ação de estado).

A ação de investigação de paternidade tem natureza declaratória, produzindo


efeitos retroativos à data do nascimento (igual ao reconhecimento voluntário).

Trata-se de ação de estado, que versa sobre direito personalíssimo e


imprescritível.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

IMPORTANTE!!! Apesar de a ação de investigação de paternidade ser imprescritível, os


efeitos patrimoniais decorrentes prescrevem normalmente (Súmula 149 do STF: É
imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança - o
prazo prescricional da ação de petição de herança (10 anos) SÓ COMEÇA A CORRER
DO RECONHECIMENTO DO FILHO, antes ele não corre contra o filho ainda não
reconhecido).

Legitimidade ativa: como se trata de direito personalíssimo, a ação de investigação de


paternidade é privativa do filho (igualmente, a ação negatória de paternidade é privativa do
pai). Não é correto a mãe ajuizar a ação. Quem ajuíza é o menor, representado pela mãe.

IMPORTANTE!!! Se o filho morrer sem intentar a ação de investigação de paternidade,


os seus herdeiros ficam impedidos de intentar a ação, SALVO se ele morrer menor ou
incapaz.

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver,


passando aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão
continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

Obs. A ação pode ser ajuizada a qualquer momento e sem restrição, isto é, por filho
adulterino e incestuoso, mesmo durante o casamento dos pais.

IMPORTANTE!!! O STJ já decidiu que, mesmo se o filho morreu sem ajuizar ação de
investigação de paternidade, seus herdeiros (filhos do filho) podem ajuizar ação de
investigação de relação avoenga em face do pai do pai (avô).

Obs. Se o filho já iniciou a ação, seus herdeiros poderão prosseguir com a mesma, salvo se
ela tiver sido julgada extinta.

IMPORTANTE!!! O MP possui legitimidade ativa para ingressar com ação de


investigação de paternidade (ou seja, a legitimidade é do filho ou do MP).

Legitimidade passiva: a legitimidade passiva é do suposto pai ou dos seus herdeiros, se o


pai for morto. Se não tiver herdeiros certos, a ação será proposta em face dos eventuais
herdeiros, incertos e desconhecidos, que deverão ser citados por edital. O município deve ser
citado em razão do interesse patrimonial no pedido.

IMPORTANTE!!! Exame de DNA. Ninguém pode ser constrangido a dar amostra de seu
sangue para a realização da prova pericial. No entanto, a negativa gera presunção de
paternidade (súmula 310 do STJ: em ação investigatória, a recusa do suposto pai a
submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum (relativa) de paternidade). Ver
art. 231 e 232 do CC.

Obs. É possível o ajuizamento de ação investigatória de maternidade (será feita do mesmo


jeito que a ação de investigação de paternidade).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

IMPORTANTÍSSIMO!!!! STF 840 – FILIAÇÃO. Paternidade socioafetiva não exime de


responsabilidade o pai biológico
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os
efeitos jurídicos próprios. Ex: Lucas foi registrado e criado como filho por João; vários
anos depois, Lucas descobre que seu pai biológico é Pedro; Lucas poderá buscar o
reconhecimento da paternidade biológica de Pedro sem que tenha que perder a filiação
socioafetiva que construiu com João; ele terá dois pais; será um caso de
pluriparentalidade; o filho terá direitos decorrentes de ambos os vínculos, inclusive no
campo sucessório. STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e
22/09/2016

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO IV
ADOÇÃO

Adoção é negócio bilateral e solene, pelo qual alguém estabelece, irrevogável e


independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo
jurídico de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente
lhe é estranha.

1- ADOÇÃO À BRASILEIRA

É uma construção jurisprudencial, também chamada de adoção simulada. É


quando um casal registra filho alheio, recém-nascido, como seu, com a intenção de dar-lhe
um lar, de comum acordo com a mãe e não com a intenção de tomar-lhe o filho.

2- ATUAL DISCIPLINA DA ADOÇÃO

Atualmente, só é possível fazer adoção mediante sentença judicial (competência


exclusiva da vara da infância e juventude no caso de MENORES, se for MAIOR a
competência será da Vara de Família). No sistema da Lei 12.010 de 2009, que alterou o
ECA, a adoção compreende tanto a de criança e adolescentes como a de maiores, exigindo
procedimento judicial em ambos os casos.

Os requisitos para a adoção são:

a) idade mínima de 18 anos para o adotante.


b) diferença de idade entre o adotante e o adotado de, no mínimo 16 anos.
c) consentimento dos pais/representantes do adotado.
d) concordância do adotado, se ele tiver mais que 12 anos.
e) processo judicial.
f) efetivo benefício para o adotado.

Obs. Quando a adoção é feita pelo casal, basta que um dos cônjuges tenha 18 anos,
comprovada a estabilidade da família.

IMPORTANTE!!! Pessoas separadas judicialmente ou divorciadas podem adotar


conjuntamente, desde que acordem com relação a visitação, e que o estágio de convivência
tenha se iniciado na constância da sociedade conjugal.

Obs. O consentimento dos pais do adotado pode ser revogado até a PUBLICAÇÃO da
sentença de adoção. Não se exige esse consentimento se os pais forem desconhecidos ou
tenham sido destituídos do poder familiar.

A morte do adotante não restaura o poder familiar do pai natural, devendo o adotado
ser colocado sob tutela.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

3- EFEITOS DA ADOÇÃO

A adoção gera parentesco civil, mas em tudo equiparado ao parentesco


consanguíneo, gerando os mesmo efeitos, como se fosse filho natural.

Desaparecem todos os vínculos entre o adotado e sua família biológica, salvo os


impedimentos matrimoniais.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Os efeitos da adoção se iniciam na data do trânsito em julgado


da sentença constitutiva, SALVO se o adotante falecer no curso do processo , caso em que
os efeitos retroagirão ao óbito (para que haja direito sucessório).

A adoção será precedida de um estágio de convivência com a criança ou adolescente


pelo prazo que a autoridade judiciária fixar (qual poderá ser dispensado se o adotando já
estiver sobre a tutela ou guarda LEGAL do adotante durante tempo suficiente para que
seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo). A simples guarda de fato
não autoriza por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência.

Quanto a adoção internacional, o prazo mínimo será de 30 dias de convivência,


independentemente da idade da criança ou do adolescente, a ser cumprido no território
nacional.

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou


adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as
peculiaridades do caso.
§ 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já
estiver sob a tutela ou guarda LEGAL do adotante durante tempo suficiente
para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. 
§ 2o  A simples guarda de fato NÃO autoriza, por si só, a dispensa da
realização do estágio de convivência.
§ 3o  Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do
País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no
mínimo, 30 (trinta) dias.
§ 4o  O estágio de convivência será acompanhado pela equipe
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão
relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida. 

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

CAPÍTULO V
DO PODER FAMILIAR

1- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante a


pessoa e aos bens dos filhos menores.

Constitui um múnus publico. É irrenunciável, indelegável e imprescritível. Os


pais não podem renunciar a ele, e nem transferi-lo a outrem. Os pais dele não decaem pelo
fato de não exercitá-lo.

Atenção!!! Dispõe o art. 1.630 que os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto
menores. Este dispositivo abrange os filhos menores não emancipados.

A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram o poder


familiar, com exceção da guarda, que representa uma pequena parcela desse poder e fica
com um deles.

2- CONTEÚDO DO PODER FAMILIAR

O art. 1634 enumera os direitos e deveres que incumbem aos pais, referente a pessoa
dos filhos menores.
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto
aos filhos:     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - dirigir-lhes a criação e a educação;     (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art.
1.584;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
casarem;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao
exterior;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município;     (Redação dada pela
Lei nº 13.058, de 2014)
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o
poder familiar;     (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis)
anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;     (Redação dada
pela Lei nº 13.058, de 2014)
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;     (Incluído pela
Lei nº 13.058, de 2014)
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios
de sua idade e condição.     (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014)

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

A perda do poder familiar não desobriga os pais do dever de sustentar os filhos,


sendo-lhes devidos alimentos ainda que estejam em poder da mãe, em condição de mantê-
los.

Com o advento da lei da Palmada (Lei 13010/2014), a criança e o adolescente têm o


direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos
pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
tratá-los, educá-los ou protegê-los

Os pais, em igualdade de condição, são os administradores legais dos bens dos


filhos menores sob sua autoridade. Não podem, porém, praticar atos que ultrapassem os
limites da simples administração. Para ALIENAR ou GRAVAR DE ÔNUS REAIS os
bens imóveis dos filhos menores precisam obter autorização judicial, mediante a
demonstração de necessidade, ou evidente interesse da prole. Se a venda se efetivar sem
autorização judicial, padecerá de nulidade, porém relativa, pois só poderá ser oposta pelo
próprio filho, seus herdeiros, ou representante legal.

Aos pais pertence o usufruto, as rendas dos bens dos filhos menores, como uma
compensação dos encargos decorrentes da sua criação e educação.

3- DA EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

3.1 EXTINÇÃO

O art. 1635 menciona as causa de extinção do poder familiar.


Art. 1.635. EXTINGUE-SE o poder familiar:
I - pela morte dos pais ou do filho;
II - pela EMANCIPAÇÃO, nos termos do art. 5o, parágrafo único;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente
(causas de suspensão do poder familiar).

3.2 SUSPENSÃO E PERDA

A suspensão do poder familiar constitui sanção aplicada aos pais pelo juiz, não
tanto com intuito punitivo, mas para proteger o menor. É temporária, perdurando somente
até quando se mostre necessária. Desaparecendo a causa, pode o pai, ou a mãe, recuperar o
poder familiar. É facultativa e pode referir-se somente a determinado filho.

O art. 1637 CC prevê as hipóteses de suspensão do poder familiar.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres
a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo
algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça
reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder
familiar, quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao
pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja
pena exceda a dois anos de prisão.

IMPORTANTE!!! A falta ou carência de recurso materiais não constitui, por si só,


motivo suficiente para a suspensão ou perda do poder familiar, devendo o menor, senão
concorrer outro motivo que autorize a decretação da medida, ser incluída em programas
oficiais de auxilio.

Obs. O CP prevê a perda do poder familiar como efeito da condenação, nos crimes dolosos,
sujeitos a reclusão, cometidos contra filho.

A perda é causa de extinção do poder familiar por decisão judicial (CC art. 1635 V).
decorre de faltas graves que configuram ilícitos penais e são especificados no art. 1638 CC
citado acima.

A perda do poder familiar tem como característica o fato de ser permanente, pois
os pais só podem recuperá-lo em procedimento judicial, de caráter contencioso, desde que
comprovem a cessação das causa que determinaram. É imperativa e não facultativa.

IMPORTANTE!!! A PERDA do poder familiar abrange TODA A PROLE. Diferente


da suspensão que pode ser sobre determinado filho.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

TÍTULO II
DO DIREITO PATRIMONIAL
SUBTÍTULO I
DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES

1- PRINCÍPIOS BÁSICOS

As relações econômicas entre os cônjuges durante o casamento se submetem a três


princípios básicos, a saber:

a) Irrevogabilidade
b) Variedade de regimes
c) Livre estipulação

Vejamos cada um deles:

a) IRREVOGABILIDADE: da imutabilidade absoluta à mutabilidade relativa

Duas razões justificam a imutabilidade do regime de bens: o interesse dos cônjuges


e o interesse de terceiros. Evita que um dos cônjuges abuse da influência que exerce sobre
o outro para fazer modificações no regime de bens em seu benefício. O interesse de terceiros
também fica resguardado de mudanças inesperadas no regime de bens que lhes podiam
prejudicar.

É IMPORTANTE que se diga, porém que, com o advento do CC/02, a


imutabilidade do regime de bens NÃO É ABSOLUTA, mas sim RELATIVA, admitindo
alteração em situações excepcionais, desde que presentes os seguintes requisitos (1639,
§2º):

 Pedido MOTIVADO de AMBOS os cônjuges


 Não prejuízo aos interesses de terceiros
 AUTORIZAÇÃO JUDICIAL

Art. 1639
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

b) VARIEDADE de regimes

A lei põe a disposição dos nubentes quatro regimes de bens. As partes podem ainda
criar um regime de bens diferente para adotarem.

c) LIVRE ESTIPULAÇÃO

O caput do art. 1639 diz que é licito aos nubentes, antes do casamento, estipular o

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

que quiserem quanto aos bens.


Assim, as partes podem livremente adotar qualquer regime que quiserem ou
combinar o regime de bens entre si e criar um diferente.

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular,


quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges COMEÇA A VIGORAR DESDE
A DATA DO CASAMENTO.
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL em PEDIDO MOTIVADO DE AMBOS
OS CÔNJUGES, apurada a procedência das razões invocadas e
RESSALVADOS OS DIREITOS DE TERCEIROS.

EXCEÇÃO!!! A lei impede a livre estipulação, impondo obrigatoriamente o regime de


separação de bens às pessoas que se encontrem nas condições do art. 1641 (pessoas que
casam inobservando causa suspensiva; maiores de 70 anos; de todos os que necessitem de
suprimento judicial para casar).

IMPORTANTE!!! Se não for feita a escolha quanto ao regime de bens ou se a escolha for
nula ou ineficaz, valerá o regime de comunhão parcial de bens que é o regime supletivo
(1640).

2- ADMINISTRAÇÃO E DISPONIBILIDADE DE BENS

Com o reconhecimento da ampla autonomia entre os cônjuges, não cabe mais só ao


marido prover o sustento da família. Esse mister é da entidade conjugal.

O art. 1642 fala o que o marido e a mulher podem fazer livremente, sem a anuência
do outro:

 Atos de disposição e administração necessários ao desempenho de sua profissão,


administrar bens próprios.
 Desobrigar ou reivindicar imóveis que tenham sido alienados ou gravados sem sua
anuência.
 Invalidar contratos de doação, fiança e aval feitos pelo outro cônjuge sem sua
anuência.
 Reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, transferidos pelo outro cônjuge à
concubina, desde que provado que o bem não foi adquirido pelo esforço comum
dos amantes, estando o casal separado de fato a mais de 5 anos (Carlos Roberto
Gonçalves acha que isso é um absurdo porque o cônjuge pode ser beneficiado com a
meação de patrimônio que não ajudou a construir, obtidos durante os 5 anos de
separação de fato).

IMPORTANTE!!! A jurisprudência tem decidido que não se comunicam ao outro cônjuge


os bens adquiridos no período que estavam separados de fato ou durante a convivência com
terceira pessoa.

Também, o art. 1643 fala que podem os cônjuges, independente da autorização do


outro, comprar, ainda que a crédito, as coisas necessárias a economia doméstica e pegar

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

empréstimo para obter tais coisas.


Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do
outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas (coisas
necessárias à economia doméstica) possa exigir.

Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam


SOLIDARIAMENTE ambos os cônjuges.

O art. 1647, por sua vez, estabelece os atos que um cônjuge só pode fazer com a
autorização do outro.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode,
sem autorização do outro, EXCETO no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando
casarem ou estabelecerem economia separada.

Se tais atos forem praticados por um cônjuge sem a anuência do outro ou suprimento
judicial, será anulável.

Nesse caso, ao ser anulado o negócio jurídico praticado por um cônjuge sem a
anuência do outro, o terceiro prejudicado tem ação regressiva contra o cônjuge que o
prejudicou, ou seus herdeiros.

Obs. Se o outro cônjuge se negar, sem justo motivo, a dar a anuência na pratica dos atos
previstos no art. 1647, ou lhe seja impossível anuir (está em coma, p.ex.), cabe ao juiz
suprir-lhe a vontade (1648).

IMPORTANTE!!! A falta de consentimento do outro cônjuge e de suprimento judicial


torna o negócio jurídico ANULÁVEL. O prazo para a anulação é até 2 ANOS DEPOIS DO
TÉRMINO DA SOCIEDADE CONJUGAL.

Atenção!!! Pablo Stolze chama atenção para a supressio/surrectio que pode existir nesses
casos.

O ato é apenas anulável, não nulo, podendo ser validado pela posterior autorização,
que pode ser dada por instrumento público ou particular (1649, §ú).

Os atos que nenhum dos cônjuges podem fazer sem a autorização do outro,
EXCETO no regime de separação absoluta de bens são:

I- Alienar ou gravar de ônus reais os bens imóveis

Justifica-se pelo fato de os bens imóveis serem bens de raiz, que se destinam a
segurança da família. Por isso ambos os cônjuges devem ser ouvidos a respeito da

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

conveniência ou não de alienar esse bem.


O verbo alienar tem sentido amplo e abrange todas as formas de transferência do bem
de um patrimônio para outro: venda, doação, permuta, dação em pagamento etc.

IMPORTANTÍSSIMO!!! É INdispensável a vênia conjugal também no


COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IRRETRATÁVEL, já que é hábil a
transferir o bem por meio de adjudicação compulsória (independente de estar registrado ou
não).

Também a gravação do bem com ônus reais (Ex. Hipoteca) depende de autorização
do outro cônjuge, já que pode significar a perda do tal bem.

II- Pleitear como autor ou réu acerca desses bens ou direitos

Para demandar sobre direito real sobre bens imóveis no polo ativo, um cônjuge
depende da AUTORIZAÇÃO do outro (salvo no regime da separação absoluta). Ensina
Fredie Didier que não se trata de um litisconsórcio ativo necessário (que alias não existe),
bastando a autorização para demandar.

No polo passivo, existe a necessidade de formação de um litisconsórcio necessário,


devendo ambos os cônjuges serem citados.

Essa necessidade se justifica porque o julgamento da ação pode levar à perda do bem
imóvel.

III- Prestar fiança ou AVAL

Procura-se evitar a dilapidação dos bens do casal em virtude da graciosa garantia de


dívida de terceiro.

IMPORTANTE!!! A ação anulatória cabe ao cônjuge que não consentiu. Porém, mesmo
que esse não proponha a ação, poderá opor embargos de terceiro para excluir os bens de
sua meação de eventual penhora, pois somente as dívidas que tenha a ver com a economia
doméstica obrigam solidariamente os cônjuges.

IV- Fazer doação, NÃO sendo remuneratória, de bens comuns ou dos que possam
integrar futura meação

Tal proibição se aplica aos bens móveis, porque os imóveis já estão abrangidos pelo
inc. I. A doação remuneratória é permitida mesmo sem a anuência do outro cônjuge .
Doação remuneratória é aquela que representa o pagamento de um serviço prestado pelo
donatário.

3- PACTO ANTENUPCIAL

A escolha do regime de bens é feita no pacto antenupcial. Se este não for feito, ou
for nulo ou ineficaz, vigorará o regime da comunhão parcial de bens (regime supletivo).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Pacto antenupcial é o contrato SOLENE (é solene porque é nulo o pacto antenupcial


que não for feito por escritura pública) e CONDICIONAL (é condicional porque é
ineficaz o pacto antenupcial se não lhe seguir o casamento) por meio do qual os nubentes
disciplinam o regime de bens que vigorará durante a constância do casamento.

A capacidade para celebrar o pacto antenupcial é a mesma para o casamento,


exigindo-se para o menor, a anuência dos representantes.

Para valer contra terceiros, o pacto deve ser registrado no RGI do domicílio dos
cônjuges. Caso contrário, só valerá entre as partes, ficando com relação à terceiros, como se
não existisse pacto, valendo para eles o regime de comunhão parcial (1657).

Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito PERANTE


TERCEIROS senão DEPOIS DE REGISTRADAS, em livro especial,
pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

4- REGIME DA SEPARAÇÃO LEGAL (OU OBRIGATÓRIA)


Como é imposição legal, NÃO é necessário o pacto antenupcial.

O regime da separação legal é imposto para resguardar interesses de terceiros (no


caso de violação a causa suspensiva) ou de um dos nubentes, protegendo-o de eventuais
aventureiros que só querem se casar com eles por causa do dinheiro.

As hipóteses em que é obrigatório o regime da separação de bens são:

a) Violação de causa suspensiva: é para proteger o interesse de terceiros. A inobservância


de causa suspensiva torna o casamento irregular, impondo o presente regime.

b) Pessoas maiores que 70 anos: tem a intenção de proteger os velinhos de aventureiras(os)


que só querem casar por dinheiro. Já se decidiu, porém, que a referida restrição é
incompatível com as cláusulas constitucionais de tutela da DPH, da igualdade jurídica e da
intimidade.

Obs. Recente lei alterou a idade de 60 para 70 anos.

c) Os que dependerem de autorização judicial para casar: tem a intenção de proteger o


menor que conseguiu a autorização judicial para se casar.

IMPORTANTE!!! STF/STJ. Mesmo no regime de separação legal de bens, aqueles


adquiridos na constância do casamento, por esforço comum, se comunicam aos cônjuges. Os
tribunais reconhecem a existência de uma verdadeira sociedade de fato.

5- REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL OU LIMITADA

Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao passado (bens que cada


cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro (bens adquiridos na
constância do casamento), gerando três massas de bens: os do marido, os da mulher e os
comuns.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

É o regime que prevalece se os consortes não fizerem pacto antenupcial, ou se o


fizeram, este for nulo ou ineficaz (art. 1640 CC).

São bens particulares de cada cônjuge (1659 e 1661):

a) aqueles que cada um possuía antes do casamento e OS SUB-ROGADOS EM SEU


LUGAR
b) havidos posteriormente a título gratuito (por doação ou sucessão) e os sub-rogados em
seu lugar
c) as obrigações anteriores ao casamento
d) as obrigações provenientes de ato ilícito, salvo reversão em proveito do casal
e) os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão
f) os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge
g) as pensões, meios-soldos e montepios e outras rendas semelhantes
h) os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento

IMPORTANTE!!! No tocante ao disposto no inc. VI do art. 1659, que exclui da comunhão


os “proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge”, o que não é comunicável é só o
direito a esses proventos. Ou seja, após a separação, cada um continua com o direito de
receber a sua remuneração integralmente. Entretanto, após o recebimento do dinheiro fruto
do trabalho, este entra para os bens comuns do casal. Se se interpretar que o dinheiro
recebido pelo trabalho não se comunica, mas somente o que for adquirido com ele, um
tratamento favorecido estará sendo criado para aquele cônjuge que prefere poupar em
espécie em detrimento daquele que compra bens para a família. Essa mesma construção vale
para as pensões, soldos e montepios.

São bens comuns (art. 1660 CC):

a) os adquiridos na constância do casamento por título oneroso ou FATO EVENTUAL


(loteria...)
b) por doação, herança ou legado em favor de ambos os cônjuges.
c) as benfeitorias em bens particulares de cada um deles
d) os frutos advindos dos bens comuns ou particulares, percebidos na constância do
casamento ou pendentes quando o casamento acabar.

Obs. Os bens móveis presumem-se adquiridos durante a constância do casamento, se não se


provar que foram adquiridos de outro modo (1662).

Os bens comuns respondem pelas dívidas contraídas pelo marido ou pela mulher
para atender aos encargos da família, às despesas de administração e as decorrentes de
imposição legal (1664).

6- REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL


É o regime que estabelece a comunhão de todos os bens presentes e futuros dos
cônjuges, bem como as dívidas posteriores ao casamento, com exceção daqueles bens
excluídos da comunhão pela lei ou pela vontade das partes.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

É regime que depende de contrato pré-nupcial (escritura pública).

No regime da comunhão universal predominam os bens comuns, no entanto podem


existir bens particulares do marido e da mulher.

6.1 BENS INCOMUNICÁVEIS

Os bens excluídos da comunhão estão elencados no art. 1668. São eles:

a) Bens doados ou herdados com cláusula de incomunicabilidade, e os sub-rogados em seu


lugar.
b) Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de
realizada a condição suspensiva.
c) Dívidas anteriores ao casamento, salvo as que forem com gastos no casamento ou que
tenham se revertido em proveito comum.
d) Os bens de uso pessoal, livros e objetos de trabalho.
e) Proventos do trabalho (salário).
f) Pensões, meio-soldo e montepio.

Obs. Valem as mesmas observações para as letras “e” e “f” feitas ao tratar dos bens
incomunicáveis na comunhão parcial.

Obs. Dispõe a súmula 49 do STF: a cláusula de inalienabilidade inclui a


incomunicabilidade dos bens. Assim, se o bem vier gravado com cláusula de
inalienabilidade ele será também incomunicável e será excluído da comunhão.

IMPORTANTE!!! Os frutos advindos dos bens incomunicáveis se comunicam e passam


a integrar o patrimônio do casal (1669).

7- REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS

Trata-se de um regime misto. Durante o casamento, se aplicam as regras da


separação total, após a sua dissolução, as da comunhão parcial. Cada cônjuge possui
patrimônio próprio e lhe cabe, quando da dissolução, o direito a metade dos bens adquiridos
pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

É na verdade um regime de separação de bens, enquanto durar a sociedade conjugal,


tendo cada cônjuge a exclusiva administração de seu patrimônio pessoal, integrado pelos que
possuía e pelos que adquirir a qualquer título na constância do casamento, podendo
livremente dispor dos móveis e dependendo da autorização do outro para os imóveis
(1673).

Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía
ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do
casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge,
que os poderá livremente alienar, se forem móveis.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Ao final da sociedade conjugal serão apurados os bens de cada cônjuge, cabendo a


cada um deles a metade dos adquiridos pelo casal a título oneroso na constância do
casamento.

Exclui-se da divisão o patrimônio próprio de cada um e o que em seu lugar sub-


rogaram-se, os que vieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade e as dívidas relativas
a esses bens (1674).

Pelas dívidas anteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, somente este
que contraiu responde, a não ser que ficar provado que se reverteu em benefício comum.

IMPORTANTE!!! De acordo com o art. 1682 CC, o direito a meação não é renunciável,
cessível ou penhorável na vigência do regime matrimonial.

Depende de pacto antenupcial.

8- REGIME DA SEPARAÇÃO CONVENCIONAL (ABSOLUTA)


Neste regime, cada cônjuge conserva a propriedade plena de seus bens móveis e
imóveis, podendo aliená-los livremente, sem a necessidade de autorização do outro
cônjuge.

Envolve todos os bens, presentes e futuros, frutos e rendimentos, e confere


autonomia a cada cônjuge na administração de seu patrimônio.

Exige prévia estipulação no pacto antenupcial.

Cada cônjuge é obrigado a contribuir nas despesas do lar na proporção de seus


rendimentos e de seus bens.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência (STJ) admite a comunicação dos bens adquiridos na


constância do casamento, por esforço comum, em virtude da existência de verdadeira
sociedade de fato.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

SUBTÍTULO III
DOS ALIMENTOS

Alimentos são prestações periódicas que objetivam a satisfação das necessidades


vitais de uma determinada pessoa que não possa prover-se. Abrange o necessário ao
sustento, vestuário, habitação, assistência médica e educação.

1- CLASSIFICAÇÃO

Existem diversas maneiras de classificar os alimentos:

 Quanto à natureza

a) Naturais/necessários: restringem-se ao indispensável para a sobrevivência.

b) Civis/côngruos: destinam-se a manter o status social da pessoa, o seu padrão de vida.

 Quanto à causa jurídica

a) Legais/legítimos: são os que decorrem de uma imposição legal, por conta do parentesco,
casamento, união estável...

b) Voluntários: são os que advêm da liberalidade manifestada por ato inter vivos ou causa
mortis (legado de alimentos). Pertencem ao direito das obrigações.

c) Indenizatórios: são os que advêm de um ato ilícito. É a reparação por um ilícito


praticado. Pertence ao direito das obrigações.

IMPORTANTE!!! Somente os alimentos legais são pertencentes ao ramo do direito de


família. Assim, somente sobre eles é que a prisão por dívida poderá ser adotada (jamais se
prende por dívida em outros casos).

Obs. Observe, porém que, pela leitura do art. 5º LXVII da CF parece caber a prisão por
dívida em todos os casos de não cumprimento inescusável e voluntário de obrigação
alimentar, porém, o que prevalece é que somente os alimentos legais relacionados ao
direito de família é que podem ocasionar a prisão civil.

 Quanto à finalidade DECORAR!!!

a) Definitivos: são os estabelecidos pelo juiz em sentença definitia ou acordo devidamente


homologado (embora sejam definitivos, caso a situação fática se altere, poderão ser
revistos. Art. 13 Lei de alimentos e art. 1699 do CC).

IMPORTANTE!!! O art. 15 da Lei de alimentos afirma que a decisão judicial sobre


alimentos NÃO TRANSITA EM JULGADO, podendo a qualquer tempo ser revista em
face da modificação da situação financeira dos interessados.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

   
 Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode
a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira
dos interessados.

b) Provisórios: são os fixados em liminar da ação de alimentos de rito especial


estabelecido pela Lei nº 5478/68. Trata-se de um tipo especial de alimentos que exige uma
única prova: a prova da relação de parentesco ou da obrigação alimentar. Se a parte
trouxer essa prova, o juiz é obrigado a fixar os alimentos provisórios, salvo se a parte
expressamente disser que deles não necessita. Ou seja, pela lei, a parte não precisa requerer a
fixação de alimentos provisórios, devendo o juiz fixá-los a não ser que a parte diga que não
necessita. Entretanto, a despeito do que diz a lei, Carlos Roberto Gonçalves afirma que o juiz
não pode deferir alimentos provisórios sem requerimento da parte.

Com o advento do Novo CPC, os alimentos provisionais passaram a ser apenas


uma hipótese de cautelar inominada.

IMPORTANTE!!! Seja com base na lei especial, seja com base no CPC, os alimentos, uma
vez deferidos, retroagem a data da citação (art. 13, §2º da lei nº 5478/68).

 Quanto ao momento

a) Pretéritos: quando os alimentos retroagem a período anterior ao pedido.

b) Atuais: postulados a partir do ajuizamento

c) Futuros: são os alimentos devidos somente a partir da sentença.

IMPORTANTE!!! A doutrina e a jurisprudência tem se reportado a uma outra espécie de


alimentos, os compensatórios. De cunho mais indenizatório que alimentar, pois não se
restringem em cobrir apenas a dependência alimentar, mas também o desequilíbrio
econômico e financeiro oriundo da ruptura do liame conjugal. Não deve ter duração
ilimitada no tempo. Uma vez desfeitas as desvantagens sociais e reparado o desequilíbrio
financeiro provocado pela ruptura da união conjugal, devem cessar.

Obs. A Lei Maria da Penha prevê que o JVDFM poderá, quando necessário, sem prejuízo
de outras medidas protetivas de urgência, aplicar ao agressor a prestação de alimentos
provisionais ou provisórios.

2- OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E DIREITO A ALIMENTOS

IMPORTANTE!!! É importante ressaltar que entre pais e filhos menores existe o dever de
sustento decorrente do poder familiar, e entre cônjuges ou companheiros existe dever de
mútua assistência. Esse dois casos não são propriamente de obrigação alimentar.

A obrigação alimentar também decorre da lei, mas tem como fundamento o


parentesco. São devidos alimentos, uns aos outros, aos ascendentes, descendentes e
colaterais de 2º grau (só irmãos).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

STJ/2013. Tios não são juridicamente obrigados a pagar alimentos aos sobrinhos, se
pagarem é uma mera liberalidade:

Segundo o entendimento deste Tribunal, a obrigação alimentar decorre da lei, que


indica os parentes obrigados de forma TAXATIVA e não enunciativa, sendo devidos os
alimentos, reciprocamente, pelos pais, filhos, ascendentes, descendentes e colaterais até o
segundo grau, NÃO abrangendo, consequentemente, tios e sobrinhos (CC, art. 1.697).
(AgRg no REsp 1305614/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 17/09/2013, DJe 02/10/2013)

Obs. Os alimentos são transmissíveis (art. 1700), passando a obrigação aos herdeiros do
alimentante, na medida das forças da herança.

IMPORTANTE!!! A obrigação alimentar é também DIVISÍVEL E NÃO-SOLIDÁRIA


(lembrar: a solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes). Havendo
três filhos em condições de prestar alimentos ao pai, este não poderá exigir que a obrigação
alimentar seja cumprida exclusivamente por um dos filhos, devendo cada um deles arcar
exclusivamente com a sua quota-parte. Se, no caso, o pai demandar somente um dos
filhos, receberá somente 1/3 da pensão (segundo o STJ trata-se de litisconsórcio
facultativo impróprio). A exclusão da obrigação de prestar alimentos por parte de, no caso,
um dos três filhos só se legitima a nível de exame de mérito feito pelo juiz acerca da
impossibilidade financeira de um deles. Não pode o pai, por ele mesmo, julgar que um dos
filhos não pode prestar alimentos e ajuizar a ação somente contra os outros dois. Nesse caso,
somente receberá 2/3 dos alimentos. Porém, se tratar-se de pai IDOSO, a obrigação de
prestar alimentos será solidária, portanto, poderá exigir o valor total de apenas um
filho.

IMPORTANTE!!! Existe uma tremenda celeuma acerca da natureza jurídica da


intervenção de terceiros prevista no art. 1698, segunda parte. Fredie Didier e Carlos
Roberto Gonçalves acham que se trata de litisconsórcio facultativo e que o art. 1698
equivocou-se nessa parte já que não poderão os demais réus chamar ao processo os
litisconsortes facultativos excluídos pelo autor, já que se trata de uma opção do autor
demandar contra quem ele quiser. Maria Berenice Dias e Cássio Scarpinella pregam que se
trata de um novo tipo de intervenção de terceiros (intervenção autônoma no processo) que,
apesar de não se tratar de obrigação solidária, admite-se que os demais réus provoquem o
ingresso do excluído no processo.

Obs. É certo que, apesar de o art. 1698 falar em “chamadas a integrar a lide” chamamento ao
processo não é, já que chamamento pressupõe obrigação solidária, o que não é o caso.
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver
em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a
concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar
a lide.

No meu entender a posição adotada por Cássio Scarpinella é a única que preserva o
texto da lei, parte-se do texto legal para encontrar um conceito. A corrente do Fredie

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

simplesmente fala que o texto da lei está errado, já que não se admite chamamento em
obrigação não solidária, ignorando por completo a opção legislativa. O equívoco, a meu
ver, do Fredie e do STJ é partir do conceito para tentar amoldar a norma, e não da norma
para o conceito (William). Eu entendo que se trata de atecnia legislativa, e que realmente
não se trata de intervenção de terceiro no caso (Leopoldo).

IMPORTANTE!!! O ESTATUTO DO IDOSO prevê que em se tratando de obrigação


alimentar devida a idoso, a OBRIGAÇÃO É SOLIDÁRIA (trata-se do único caso de
obrigação alimentar solidária).

 Principais características da obrigação alimentar

a) Personalíssimo: é a característica principal. Os alimentos são fruto de uma obrigação


personalíssima entre alimentante e alimentado.

b) Incessível: dada a sua natureza jurídica e o fato de ser personalíssimo e objetivar o


próprio sustento do alimentado, a obrigação alimentar não pode ser alvo de cessão de crédito
(1707).

IMPORTANTE!!! Só não pode ser cedido o crédito a alimentos futuros. Os alimentos já


vencidos são créditos comuns que ingressaram na esfera do alimentado, que sobreviveu aos
trancos e barracos sem esses alimentos, podem, pois, ser cedidos.

c) Impenhorável: os créditos destinados à mantença do individuo são impenhoráveis.

d) Incompensável: dada a natureza de garantir o próprio sustento da pessoa do alimentado,


os alimentos não podem ser extintos por compensação (1707).
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.

O STJ NÃO admite que os valores pagos a mais sejam compensados com as
prestações vincendas:

IMPORTANTE!! STJ 543 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. LIMITES DOS EFEITOS DA
SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS.
Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos – seja em caso de redução, majoração ou
exoneração – retroagem à data da citação (art. 13, § 2º, da Lei 5.478/1968), ressalvada a irrepetibilidade
dos valores adimplidos e a impossibilidade de compensação do excesso pago com prestações vincendas.
(EREsp 1181119/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/11/2013, DJe 20/06/2014)

Perguntas que explicam o julgado:

Em julho e agosto, Rui pagou 4 mil reais em cada mês e, posteriormente, esse valor foi reduzido para 1 mil
reais mensais. Ele poderá pedir de volta esses 6 mil reais que pagou a mais para Gabriel (seu filho) (3 mil a
mais em cada mês)?
NÃO. A decisão na revisão de alimentos é RETROATIVA, no entanto, os valores adimplidos são
irrepetíveis, ou seja, as parcelas que já foram pagas não podem ser pedidas de volta. Isso porque o direito
presume, de forma absoluta (presunção jure et jure), que as quantias recebidas a título de alimentos foram
utilizadas para o sustento da pessoa, isto é, foram efetivamente consumidas, não sendo, portanto, legítimo que o

65
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

beneficiário seja obrigado a devolver por conta de uma decisão posterior.

Rui poderá utilizar esse valor pago a mais (6 mil reais) como crédito e compensá-los (abatê-los) das
prestações futuras?

NÃO. A decisão na revisão de alimentos é RETROATIVA, no entanto, mesmo que isso gere um “crédito” em
favor do alimentante, ele não poderá utilizar esse saldo positivo para abater (fazer a compensação) dos valores
que ele ainda tem que pagar. Em outras palavras, ele não pode compensar o excesso do que foi pago com
prestações vincendas.

Se existe uma decisão determinando que o pai/devedor pague pensão alimentícia para o seu filho e este pai
ajuíza uma ação de exoneração ou redução dos alimentos, o simples fato de ter sido proposta a demanda já
faz com que fique suspensa a sua obrigação?

NÃO. O ajuizamento de ação pleiteando exoneração/revisão de alimentos não exime o devedor de


continuar a prestá-los até o trânsito em julgado da decisão que modifica o valor da prestação alimentar ou
exonerá-lo do encargo alimentar (art. 13, § 3º, da Lei n. 5.478/1968).

Se o juiz profere sentença exonerando o pai/devedor de pagar alimentos ou reduzindo o valor fixado, mas o
alimentando (filho) apresenta apelação, a obrigação alimentícia é suspensa?

NÃO. Da sentença revisional/exoneratória caberá apelação com efeito suspensivo e, ainda que a referida
decisão seja confirmada em segundo grau (pelo Tribunal), não haverá liberação da prestação alimentar se
for interposto recurso especial ou recurso extraordinário. Em suma, somente com o trânsito em julgado é
que haverá a retroação da decisão que reduz ou exonera.
Durante todo o período de tramitação da ação revisional/exoneratória, salvo se concedida antecipação de
tutela suspendendo o pagamento, o devedor deverá adimplir a obrigação, sob pena de prisão (art. 733 do
CPC).
Agora, transitada em julgado a sentença revisional/exoneratória, se, por qualquer motivo, não tiverem
sido pagos os alimentos, a exoneração ou a redução terá efeito retroativo à citação (art. 13, § 2º, da Lei n.
5.478/1968), não sendo cabível a execução de verba já afirmada indevida por decisão transitada em
julgado.

e) Imprescritível: o que não prescreve é o direito de postular em juízo o pagamento de


prestação alimentícia, ainda que o alimentando venha passando dificuldade há muito tempo.
Entretanto, o direito de cobrar os alimentos vencidos prescreve em DOIS ANOS (art.
206, §2º CC).

IMPORTANTE!!! Lembrar que a PRESCRIÇÃO NÃO CORRE CONTRA OS


ABSOLUTAMENTE INCAPAZES (art. 198, I, CC). Assim, por exemplo, a prestação
alimentar devida a filho menor, mesmo vencida a mais de dois anos, não estará prescrita.

f) Intransacionável: sendo intransmissível e indisponível não pode ser transacionável.


Assim, não pode ser dirimido pelo juízo arbitral.

IMPORTANTE!!! O que é intransacionável é o direito aos alimentos. Ou seja, a parte


não pode acordar em abrir mão dos alimentos. Entretanto, o valor das parcelas (vencidas e
vincendas) pode ser, e muitas vezes é, fruto de um acordo entre as partes. O próprio art.
9º, §2º da Lei de alimentos fala em acordo.

g) Atual: só é exigível no presente e futuro, mas não no passado.

h) Irrepetível: os alimentos são destinados a serem consumidos. Assim, uma vez pagos a

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

qualquer título (provisórios, provisionais ou definitivos) não são restituíveis, justamente


porque o alimentando já os consumiu.

IMPORTANTE!!! Apesar da característica de serem irrepetíveis, o STJ já determinou a


repetição no caso de novo casamento da ex-cônjuge, alimentanda, não comunicado ao patrão
do alimentante, que continuou com os descontos em folha.

i) Irrenunciável: o direito aos alimentos é um consectário lógico do direito à vida. Trata-se


de uma forma de garantir o direito à vida. Dessa forma, é protegido com normas de Ordem
Pública, que não podem ser renunciadas. Assim, o direito aos alimentos é irrenunciável. O
art. 1707 admite que o credor não exerça o direito de pedir os alimentos, mas impossibilita a
renúncia aos mesmos.

IMPORTANTE!!! Os alimentos devidos e não prestados podem ser renunciados.

IMPORTANTE!!! A irrenunciabilidade é reforçada pela súmula 379 do STF que reza que
“no acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados
ulteriormente,verificados os pressupostos legais”. Há polêmica sobre a superação dessa
Súmula, porém, no âmbito do STJ vêm prevalecendo entendimento diverso: “São
irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art. 1.707 do
CC/2002). Não obstante considere-se válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião
de acordo de separação judicial ou de divórcio, nos termos da reiterada jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, não pode ser admitida enquanto perdurar a união estável.
(REsp 1178233/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
06/11/2014, DJe 09/12/2014)”. O professor Márcio do Dizer o Direito entende que a Súmula
379 do STF encontra-se superada.

Tal posicionamento também encontra-se consagrado no Enunciado 263 das Jornadas


de Direito Civil:  O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz
a renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da
“união estável”. A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto
subsista vínculo de Direito de Família.

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado


renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito
insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

3- PRESSUPOSTOS. PESSOAS OBRIGADAS

Os pressupostos da obrigação alimentar são:

a) Relação de parentesco
b) Necessidade de quem pleiteia
c) Possibilidade do obrigado

Só é possível reclamar alimentos, assim, o parente que não tem recursos próprios
nem possibilidade de obtê-los por seus próprios meios (por enfermidade, idade tenra ou
avançada...).

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem
bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria
mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque
do necessário ao seu sustento.

Não importa a causa que levou o alimentando a essa situação de necessidade, tendo
direito aos alimentos mesmo que for culpado por ela (nesse caso, só aos alimentos
estritamente necessários).

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a
situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

IMPORTANTE!!! Quer dizer que no pressuposto da necessidade de quem pleiteia o juiz


deve analisar também se o sujeito não tem condições de prover sua própria mantença.

O pagamento de alimentos depende também da possibilidade de quem os presta. É


inadmissível que, pelo cumprimento de obrigação alimentar, o alimentado fique privado de
seu próprio sustento. (art. 1695).

O quantum será fixado de acordo com um juízo de proporcionalidade feito pelo


juiz, que levará em conta o binômio necessidade X possibilidade.

IMPORTANTE!!! Na relação entre pais e filhos menores e entre cônjuges ou


companheiros, os alimentos são devidos em decorrência do dever familiar. Nesses casos, a
necessidade do alimentando não precisa ser demonstrada.

IMPORTANTE!!! Após o filho completar 18 anos, cessa o dever alimentar decorrente do


poder familiar, mas pode surgir o dever alimentar genérico, decorrente das relações de
parentesco, que exige a prova dos pressupostos possibilidade e necessidade (sem esquecer da
demonstração de que o alimentando não possui condições de prover-se).

IMPORTANTE!!! Reiterada jurisprudência têm, entretanto, afirmado a não-cessação da


obrigação alimentar paterna diante da simples maioridade do filho, determinando a
manutenção do encargo até o limite de 24 anos (limite extraído da legislação sobre imposto
de renda), enquanto estiver cursando escola superior, salvo se dispuser de meios próprios
para sua manutenção.

Obs. Súmula 358 STJ: o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade ESTA SUJEITO A DECISÃO JUDICIAL , mediante contraditório, ainda que
nos próprios autos. CRG entende que a maioridade cessaria automaticamente, em regra, a
pensão alimentícia (minoritário e diverge do posicionamento pacífico no âmbito dos
Tribunais Superiores – É absolutamente necessária a decisão judicial para o
cancelamento da pensão pela maioridade!!!!).

IMPORTANTE!!! Cessa de imediato a obrigação alimentar em relação a filho emancipado

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

em razão do casamento (a meu ver, em razão de economia própria também).

O dever de sustento pesa somente sobre os pais, não se estendendo aos outros
ascendentes. E não é reciproco, ao contrário da obrigação alimentar do art. 1694, que é entre
todos os ascendentes e descendentes.

 Formas de prestar alimentos

Existem duas formas de se prestar alimentos:

a) Própria: em espécie. O alimentante dá a moradia, a comida, as roupas etc.

b) Imprópria: é o pagamento em R$, por meio de prestações periódicas.

A escolha do modo de prestar alimentos é do devedor. Entretanto, essa escolha não é


absoluta, podendo o juiz se intrometer e determinar que o pagamento se faça dessa ou
daquela maneira.

 Alimentos gravídicos

Mesmo antes da lei que deu o direito de a mulher grávida pleitear alimentos ao suposto
pai, a melhor doutrina já se mostrava favorável à tese de que são devidos alimentos ao
nascituro.

Diz Carlos Roberto Gonçalves que, como o direito aos alimentos tem afinidade com o
direito à vida, direito da personalidade garantido pela CF, é devido alimentos ao nascituro
(mesmo que a personalidade civil só comece com o nascimento com vida - polêmica).

Obs. Lembrar-se da corrente que diz que os direitos personalíssimos nascem com a
concepção e os direitos patrimoniais nascem com o nascimento com vida (Teoria da
Personalidade Formal ou Condicional).

Atualmente, é a lei nº 11.804/08 que regula o direito de alimentos da mulher gestante.

Os alimentos gravídicos compreenderão os valores suficientes para cobrir as despesas


adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto,
dentre essas despesas, além de outras que o juiz considere pertinentes, estão:

a) alimentação especial,
b) assistência médica e psicológica,
c) exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico.

Não quer dizer que todas essas despesas devem ser custeadas somente pelo futuro pai.
Na realidade, elas devem ser dividas entre futuro pai e futura mãe, na proporção de seus
ganhos.

Os alimentos gravídicos perduram até o nascimento da criança, após o que são

69
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

convertidos em pensão alimentícia, até que uma das partes solicite a revisão do valor.

IMPORTANTE!!! Para a fixação de alimentos gravídicos basta a existência de indícios de


paternidade.

 Pessoas obrigadas

Os art. 1696 e 1697 estabelecem um rol taxativo e preferencial de pessoas obrigadas a


prestar alimentos.

1- Ascendentes: o primeiro a quem se deve recorrer são aos pais. Na falta dos pais, aos avós e
assim por diante.

2- Descendentes: na falta de ascendentes, o dever recai sobre os descendentes, filhos, netos...

Obs. O grau mais próximo exclui o grau mais remoto.

3- Irmãos: na falta desses, a obrigação recairá sobre irmão (é o único colateral obrigado).

IMPORTANTE!!! Esse rol é taxativo. Mais ninguém deve alimentos. O STJ já decidiu que,
no caso de, por exemplo, irmã que vive sobre a total dependência econômica do marido não
pode ser condenada a prestar alimentos sob pena de a obrigação recair no marido da irmã, que
não é obrigado.

IMPORTANTE!!! Se quem pleiteia é casado, antes de pedir alimentos aos parentes, deve
pedi-los ao cônjuge, em decorrência do dever de mútua assistência.

4- ALIMENTOS DECORRENTES DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE


CONJUGAL

IMPORTANTE!!! A disciplina é a mesma em se tratando de casamento ou de união estável


(art. 1694).

O cônjuge inocente separado judicialmente que vier a necessitar de alimentos, tem


direito a recebê-los em quantia suficiente para manter o seu padrão de vida - alimentos
côngruos/civis.

Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de


alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada
pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação
judicial.

O cônjuge culpado também tem direito a alimentos a serem prestados pelo outro
consorte, desde que presentes os seguintes requisitos:

a) que não tenha parentes em condições de prestar os alimentos;


b) que não tenha aptidão para o trabalho

Nesse caso, os alimentos serão somente os indispensáveis à sobrevivência

70
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

(alimentos naturais/necessários).
1704.
Parágrafo único. Se o CÔNJUGE DECLARADO CULPADO vier a
necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los,
nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los,
fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

Obs. Quer dizer, pela redação do CC é muito difícil que o cônjuge inocente seja condenado a
pagar alimentos ao cônjuge culpado, pois esse deve ser praticamente um inválido, sozinho no
mundo. Porém, a doutrina vem crescendo no sentido de que a discussão de culpa pelo fim do
casal não deve interferir na concessão de alimentos a um dos cônjuges.

Nos casos de alimentos devidos a ex-cônjuges, o novo casamento, união estável ou


concubinato do credor (alimentando) faz cessar a obrigação alimentícia.
Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor,
cessa o dever de prestar alimentos.

Isso é óbvio, pois o ex-marido não vai ser obrigado a sustentar o novo marido da ex-
mulher.

Obs. O simples namoro não extingue a obrigação alimentar.

Da mesma forma, se o alimentando adotar procedimento indigno em relação ao


alimentante, cessará a obrigação alimentar.
1708.
Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a
alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.

O novo casamento do alimentante não extingue a obrigação.


Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação
constante da sentença de divórcio.

QUESTÕES POLÊMICAS

1ª. O instituto da separação judicial ou extrajudicial foram abolidas do sistema


jurídico brasileiro com a EC 66/2010?

Não se discute se a emenda mudou o estado civil dos separados, pois isto não é
possível. O que se discute é só os casais, atualmente, podem se valer da separação ou só tem
a possibilidade de divórcio. Existem duas correntes sobre o tema:

1ª Corrente - IBDFAM (Rodrigo da Cunha Pereira e Maria Berenice Dias) – A


mudança constitucional reflete diretamente sobre o Código Civil. A abolição da separação
significa extirpar a culpa do direito de família, reconhecendo-se que o casamento termina
pelo fim do afeto.

71
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

A separação perde a sua utilidade lógica quando desaparece os prazos para o


divórcio, pois era um meio para se atingir um fim.

2ª Corrente – Regina Beatriz Tavares da Silva e Mário Delgado – Para abolir a


separação é necessária a alteração do Código Civil, pois o instituto não tem previsão
constitucional.

1º Argumento dessa corrente: A Resolução 35 do CNJ, que regulamentou a lei


11441/07 (separação, divórcio e inventário extrajudicial), mantém o instituo da separação.

2º Argumento: A lei 12874/13, que regulamentou funções das autoridades consulares


brasileiras no exterior, admite que estas realizem separações consensuais.

3º Argumento: Enunciado 514 das Jornadas de Direito Civil: Art. 1.571. A Emenda
Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação judicial e extrajudicial.

4º Argumento: O Novo CPC traz expressamente em seu bojo o instituto da


separação.

2ª A culpa foi abolida do Direito de Família?

Efeitos da culpa: 1º) O cônjuge culpado, em regra, perde o direito de exigir


alimentos do cônjuge inocente, contudo, se o culpado não tiver aptidão para o trabalho nem
parentes que possam prover os alimentos, o inocente pagará os alimentos mínimos para a
subsistência (não para manter igual padrão de vida); 2º) O cônjuge culpado perde o direito
de usar o sobrenome do inocente. Esta regra contém várias exceções: notoriedade
decorrente do sobrenome (Marta Suplicy).

1ª Corrente: Com o fim da separação judicial a culpa foi abolida do direito de


família, não produzindo qualquer efeito. É a corrente Majoritária do IBDFAM – Fachin e
Paulo Lobo.

2ª Corrente: Estando mantida a separação, também está mantida a culpa com todos
os seus efeitos. Posição de Regina Beatriz Tavares da Silva.

3ª Corrente: Flávio Tartuce e José Fernando Simão. A culpa foi abolida no debate
quanto ao fim do casamento, pois o divórcio é direito potestativo e irresistível. Contudo, o
debate da culpa ainda é possível na ação de alimentos e quanto aos danos morais. Para a
perda do sobrenome, a questão da culpa NÃO é relevante, pois apesar de o art. 1578
mencionar “sobrenome do outro”, o sobrenome, na realidade, é da própria pessoa, e não
pode ser perdido senão por sua própria opção.

5- MEIOS PARA ASSEGURAR O PAGAMENTO DA PENSÃO

5.1 AÇÃO DE ALIMENTOS

A ação de alimentos, de rito especial previsto pela Lei nº 5478/68, só pode ser
manejada por quem apresente prova pré-constituída do parentesco (Ex. Certidão de

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

nascimento, sentença de investigação de paternidade) ou prova pré-constituída da


obrigação alimentar (Ex. Certidão de casamento, que comprova o dever de mútua
assistência).

Obs. Quem não possuir essas provas, deverá ajuizar uma ação ordinária.

IMPORTANTE!!! Ao despachar a inicial, o juiz fixará os alimentos provisórios (liminar


de alimentos). A leitura do texto da lei dá a clara impressão de que o juiz deverá fixar os
alimentos de ofício, só não o fazendo se a parte expressamente disser que não necessita desses
alimentos provisórios. Ocorre, porém que, Carlos Roberto Gonçalves diz que apesar do texto
da norma, o juiz não deve fixar os alimentos provisórios de ofício.

IMPORTANTE!!! Na sentença da ação de alimentos, o juiz fixa os alimentos a seu juízo, de


acordo com a proporcionalidade entre a necessidade e a possibilidade. Assim, não está o juiz
adstrito ao quantum pedido na petição inicial, não constituindo, dessa forma,
julgamento ultra petita se o juiz fixa os alimentos em valor superior ao que foi pedido
(trata-se de posição pacífica no STJ).

De acordo com o art. 13 da Lei 5478/68, os alimentos, mesmo os definitivos, podem


ser revistos a qualquer tempo, se sobrevier alteração no binômio necessidade x possibilidade.
Assim, na ação de alimentos a coisa julgada recai de maneira mais branda (na verdade, a
causa de pedir não é a mesma).

A ação de revisão de alimentos admite a fixação de alimentos provisórios, mas só em


situações excepcionais, como, por exemplo, quando o valor dos alimentos estiver fixado em
patamar irrisório.

IMPORTANTE!!! A apelação da sentença que julga procedente a ação de alimentos é


recebida somente no efeito devolutivo, ou seja, o apelante continua obrigado a pagar os
alimentos. De maneira diversa, a apelação da sentença que julga improcedente a ação de
alimentos é recebida no duplo efeito, ficando o apelante obrigado a pagar os alimentos
provisórios até o transito em julgado da ação.

Conclusão!!! Em qualquer caso, os alimentos provisórios são devidos até o final da ação (seja
a sentença de primeiro grau procedente, seja improcedente).

O art. 24 da lei de alimentos prevê uma hipótese rara: é possível que o devedor de
alimentos informe ao juiz os seus rendimentos e promova a citação dos credores para que
compareçam em juízo afim de que sejam fixados os alimentos.

5.2 MEIOS DE EXECUÇÃO DA PRESTAÇÃO NÃO SATISFEITA

A execução da prestação alimentícia pode dar-se por diversas formas:

a) Execução por quantia certa: é a mais demorada das modalidades. Normalmente se opta
por esta forma de execução quando mesmo após cumprir a pena de prisão, o devedor não
paga. Uma vez penhorados os bens do devedor, incabível pleitear concomitantemente a
prisão.

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Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

b) Desconto em folha: se o devedor for funcionário público, empregado sujeito à legislação


do trabalho, em suma, quando receber contracheque, a medida executiva a ser adotada é o
desconto em folha de pagamento.

c) Reserva de aluguéis ou qualquer outros rendimentos: quando o devedor receber


aluguéis ou qualquer outro rendimento, é possível que parte desses sejam reservados para o
pagamento da pensão.

d) Prisão civil: quando todos os outros meios executórios se mostrarem inviáveis, o juiz
intimará o devedor para que pague em três dias, sob pena de prisão civil.

Obs. A única medida que vem depois da prisão é a execução por quantia certa.

A prisão civil do devedor de alimentos não tem caráter de pena, mas sim de meio
coercitivo de execução indireta. Assim, a prisão é imediatamente revogada quando o sujeito
pagar, já que a finalidade da mesma terá sido cumprida.

Se restar provado que o devedor não tem condições de pagar, não poderá ser
decretada a prisão, que só é cabível nos casos de descumprimento VOLUNTÁRIO e
INESCUSÁVEL da obrigação alimentícia.

IMPORTANTE!!! O juiz não pode, de ofício, determinar a prisão por dívida


alimentícia. Para tanto é necessário requerimento da parte (jurisprudência PACÍFICA).

IMPORTANTE!!! O MP, que eventualmente atuar na causa como custus, no interesse do


menor também NÃO pode pedir a prisão por dívida (só o autor pode). Ao contrário, quando
se tratar de MP agindo como parte (substituto processual), tendo ajuizado ação de
alimentos nos moldes do ECA, para a defesa do menor, será possível que o MP requeira a
prisão do devedor (agindo como parte apenas). Poderá também, quando se tratar de pedido
cumulado a investigação de paternidade, formulado com base na lei 8560 de 1992, que lhe
atribui legitimidade anômala.

Atenção!!! MP tem legitimidade para propor alimentos (ECA).

Conclusão!!! Só o autor pode pedir a prisão civil do devedor (MP só pode como autor,
como custus não!).

IMPORTANTE!!! A prisão civil poderá ser requerida pelo descumprimento no pagamento


de alimentos definitivos, provisórios ou provisionais. Ou seja, pode ser requerida a prisão na
falta de pagamento das três modalidades de alimentos.

#Qual é o prazo da prisão?


A lei nº 5478/68 traz o prazo máximo de 60 dias (art. 19). Por sua vez, o Novo CPC traz o
prazo de 01 a 03 meses. Tem prevalecido, a previsão do Código de Processo Civil, sendo o
prazo máximo de 03 meses.

É indispensável que o juiz, ao decretar a prisão, estabeleça o prazo, se não contiver

74
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

prazo, o decreto prisional é inexequível.

O recurso cabível da decisão que decreta a prisão é o agravo de instrumento


(dado a sua urgência). É possível manejar HC, que será decidido por uma câmara/turma cível,
e não criminal.

Uma vez cumprida a pena de prisão, o alimentante NÃO poderá ser preso pelas
mesmas parcelas.

Obs. Somente o descumprimento da obrigação alimentícia sujeita o devedor a prisão, não


assim o não pagamento de outras verbas, como custas, despesas periciais e honorários de
advogados, que não podem ser incluídas no mandado de citação a que se refere o art. 733
do CPC.

Cumprida a pena de prisão, o devedor não poderá ser novamente preso pelo não
pagamento das mesmas prestações vencidas, mas poderá sê-lo outras vezes mais, se não
pagar novas prestações que vencerem.

IMPORTANTÍSSIMO!!! A prisão somente poderá ser decretada para suprir as necessidades


atuais do alimentado. Assim, somente poderá ser decretada para pagar as TRÊS
ÚLTIMAS PRESTAÇÕES, caso contrário, a prisão estará sendo utilizada para compelir o
devedor a pagar uma dívida comum, visto que o alimentando logrou sobreviver sem essas
prestações (súmula 309 do STJ).

STJ Súmula nº 309 - O débito alimentar que autoriza a prisão civil do


alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

O entendimento exarado pela Súmula supra foi incorporado pelo Novo CPC:
Art. 528. § 7o O débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao
ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

Obs. A quitação parcial não ilidi a dívida , não tendo o condão de revogar o decreto
prisional.

75
Leopoldo Martins Moreira Neto e William Bossaneli Araujo – Dezembro de 2016

TÍTULO III
DA UNIÃO ESTÁVEL

Inicialmente, a união entre homem e mulher sem casamento constituía concubinato,


sem qualquer proteção jurídica. Com o passar do tempo, esse concubinato passou a ser, de
alguma forma protegido pelo direito (ver legislação previdenciária e possibilidade de
partilha do patrimônio fruto do esforço comum - súmula 380 do STF).

Posteriormente, a expressão concubinato passou a ser mais empregada para os casos


de união entre homem e mulher na pendência de algum impedimento matrimonial. Dividiu-
se em concubinato impuro (o adulterino) e concubinato puro (o que é hoje a união estável).

Hoje, a expressão concubinato é só utilizada para designar o concubinato impuro.

IMPORTANTE!!! Vale dizer que nem todos os impedimentos matrimoniais são


impedimentos para a constituição de união estável, já que O SEPARADO
JUDICIALMENTE E ATÉ MESMO O SEPARADO DE FATO PODEM
CONSTITUIR UNIÃO ESTÁVEL (art. 1723, §1º).
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o
homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa
casada se achar SEPARADA DE FATO OU JUDICIALMENTE.
§ 2o As CAUSAS SUSPENSIVAS do art. 1.523 NÃO impedirão a
caracterização da união estável.

IMPORTANTE!!! Causas suspensivas NÃO impedem a união estável.

 Requisitos

Os requisitos estabelecidos pelo CC/02 para a configuração de união estável são:

a) União entre homem e mulher – Agora possível também entre homossexuais


b) Convivência pública, contínua e duradoura
c) Animus de constituir família

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IMPORTANTE!!! Não existe requisito de lapso temporal específico, basta que seja
duradoura. O conceito do que é ou não duradoura deverá ser examinado pelo juiz caso a
caso.

IMPORTANTE!!! NÃO é necessária a convivência sobre o mesmo teto para a


constituição de união estável. Trata-se de entendimento jurisprudencial pacífico.

 Regime de bens

Dispõe o CC que o regime de bens adotado será o da comunhão parcial de bens.


Entretanto, os conviventes podem celebrar contrato escrito, disciplinando o regime de bens
da forma como quiserem.

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TÍTULO IV
DA TUTELA E DA CURATELA
CAPÍTULO I
DA TUTELA

1- CONCEITO

Tutela é o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa do
menor e administrar seus bens. Destina-se a suprir a falta do poder familiar. Constitui um
sucedâneo do poder familiar e é incompatível com este. Se os pais ainda se encontrarem com
o poder familiar, só se admitirá a nomeação de tutor depois que os pais forem destituídos de
tal encargo. É considerado um múnus publico e é obrigatório, salvo nos casos dos arts. 1736
e 1737 do CC.
Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:
I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.

2- ESPÉCIES

As formas ordinárias de tutela civil são: testamentária, legítima e dativa.

Obs. A tutela de fato (ou irregular) dá-se quando uma pessoa passa a zelar pelo menor e por
seus bens, sem ter sido nomeada. A tutela ad hoc, também chamada de tutela especial ou
provisória, ocorre quando uma pessoa é nomeada tutora para a prática de determinado ato,
sem destituição dos pais para o poder familiar. Também se denomina tutor ad hoc o curador
especial nomeado pelo juiz quando os interesses do incapaz colidirem com o do tutor.

a) Tutela testamentária: Atribui direito de nomear tutor somente aos pais em conjunto. Não
há prevalência de um sobre o outro. Só se admite a nomeação feita por apenas um deles se o
outro for falecido. A nomeação é feita por testamento ou outro documento autêntico, como
codicilo, escritura pública ou outro documento particular. Só podem nomear tutor os pais cujo
no momento da sua morte detinham o poder familiar.

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Obs. Mesmo feita por instrumento particular, a nomeação não deixa de ser testamentária, pois
somente irá produzir efeitos após a morte do nomeante.

b) Tutela legítima: não havendo nomeação por testamento ou outro documento autêntico,
incumbe a tutela aos parentes consanguíneos do menor, sendo chamada esta tutela de
legitima.

O art. 1731 nomeia os parentes que devem ser nomeados pelo juiz em ordem
preferencial.
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos
parentes consanguíneos do menor, por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais
remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos
casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício
do menor.

c) Tutela dativa: é quando não há tutor testamentário, nem a possibilidade de nomear-se


parente consanguíneo do menor, ou porque não existe nenhum, ou porque os que existem são
inidôneos. Tem caráter subsidiário. O juiz nomeará pessoa estranha a família residente no
domicilio do menor.

3- INCAPAZES DE EXERECER A TUTELA

Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a
exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem
constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer
direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda
contra o menor;
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes
expressamente excluídos da tutela;
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a
família ou os costumes, tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas
de abuso em tutorias anteriores;
VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa
administração da tutela.

4- PODEM SE ESCUSAR DA TUTELA


Art. 1.736. Podem ESCUSAR-SE da tutela:
I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.

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Art. 1.737. Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar
a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consangüíneo ou afim, em
condições de exercê-la.

5- GARANTIA DA TUTELA

Art. 1.744. A RESPONSABILIDADE DO JUIZ será:


I - direta e pessoal, quando NÃO TIVER NOMEADO O TUTOR , ou não
o houver feito oportunamente;
II - subsidiária, quando NÃO TIVER EXIGIDO GARANTIA LEGAL
DO TUTOR, nem o removido, tanto que se tornou suspeito.

Art. 1.745. Os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo


especificado deles e seus valores, ainda que os pais o tenham dispensado.
Parágrafo único. Se o patrimônio do menor for de valor considerável,
poderá o juiz condicionar o exercício da tutela à prestação de caução bastante,
podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida idoneidade.

6- EXERCÍCIO DA TUTELA

O exercício da tutela assemelha-se ao do poder familiar, mas não se lhe equipara, pois
sofre algumas limitações, sendo ainda sujeita e inspeção judicial.

O tutor é obrigado a prestar balanços anuais e prestar contas em juízo, sob forma
contábil, de dois em dois anos, de sua administração.

A venda de imóveis pertencentes ao menor só pode ser feita mediante autorização


judicial e quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial.

Responde o tutor pelos prejuízos que, por culpa, ou dolo, causar ao pupilo, mas tem
direito a ser pago pelo que realmente despender no exercício da tutela e, salvo no caso do art.
1734 (tutela do menor abandonado do ECA), receber uma remuneração proporcional a
importância dos bens administrados.

O CC admite ao juiz a nomeação de um protutor. Incumbe-lhe a fiscalização do tutor.

7- CESSAÇÃO DA TUTELA

Em relação ao menor:
Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:
I - com a maioridade ou a emancipação do menor;
II - ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou
adoção.

Cessam as funções do tutor, sem que cesse a tutela:


Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:
I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
II - ao sobrevir escusa legítima;
III - ao ser removido.

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Art. 1.765. O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos.


Parágrafo único. Pode o tutor continuar no exercício da tutela, além do
prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar conveniente ao menor.

Art. 1.766. Será destituído o tutor, quando negligente, prevaricador ou


incurso em incapacidade.

CAPÍTULO II
DA CURATELA

1- CONCEITO

Curatela é o encargo definido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e administrar
os bens de quem, não pode fazê-lo por si mesmo. Assemelha-se a tutela por seu caráter
assistencial, destinando-se igualmente a proteção dos incapazes.

Obs. São aplicadas as disposições legais relativas a tutela.

2- DIFERENÇAS ENTRE TUTELA E CURATELA

a) A tutela é destinada a menores de 18 anos de idade, enquanto a curatela é deferida, em


regra, a maiores (não é absoluta a regra de que a curatela destina-se somente a incapazes
maiores).

b) A tutela pode ser testamentária com nomeação de tutor pelos pais; a curatela é SEMPRE
deferida pelo juiz.

c) A tutela abrange a pessoa e os bens do menor, enquanto a curatela pode compreender


somente a administração dos bens do incapaz, como no caso dos pródigos.

d) Os poderes do curador são mais restritos do que os poderes do tutor.

3- CARACTERÍSTICAS RELEVANTES DA CURATELA

a) Seus fins são assistenciais.


b) Tem caráter eminentemente publicista (o estado deve zelar pelo interesse dos incapazes).
c) Tem caráter supletivo da capacidade
d) É temporária, perdurando somente enquanto a causa da incapacidade se mantiver.
e) A sua decretação requer certeza absoluta da incapacidade, obtida por meio do procedimento

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especial de interdição.

IMPORTANTE!!! Tem prevalecido o entendimento de que a sentença que decreta a


interdição não é constitutiva, mas sim declaratória da existência de uma situação.

IMPORTANTE!!! Como a incapacidade é preexistente, entende-se possível intentar ação


anulatória dos atos praticados anteriormente a sentença, devendo-se, no entanto, provar a
incapacidade aquela época. Já os atos praticados na constância da interdição levam consigo,
sem necessidade de prova, a eiva de nulidade pressuposta na interdição.

IMPORTANTE!!! Em princípio são nulos os atos praticados antes da interdição. Todavia, a


jurisprudência tem ressalvado os direitos do terceiro de boa fé que negociou com o incapaz
ignorando a sua incapacidade. Somente se anula o negócio se a deficiência era notória.

Obs. O nosso ordenamento não admite os chamados intervalos lúcidos. Os atos praticados
pelo incapaz serão sempre NULOS, ainda que no momento aparentasse alguma lucidez.

O art. 1767 nos mostra as hipóteses de curatela.


Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) l;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015)  
IV - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
V - os pródigos.(somente aos atos de alienação do patrimônio, os atos de
disposição praticados sem assistência serão anuláveis)

IMPORTANTE!!! Insta frisar, aqui, que em face do advento do Estatuto da Deficiência,


houve uma revolução nos institutos da curatela e da interdição. Os amentais, ou deficientes
mentais, não estão mais submetidos a curatela, sendo reconhecidos como sujeitos plenamente
capazes. A curatela dar-se-á apenas como medida EXTRAORDINÁRIA e de forma
LIMITADA, conforme o Estatuto da Deficiência:

Art. 84.  A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício


de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas.(Capacidade plena dos deficientes)
§ 1o  Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à
curatela, conforme a lei.
§ 2o  É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de
tomada de decisão apodaia.
§ 3o  A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida
protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
§ 4o  Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua
administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 85.  A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos
de natureza patrimonial e negocial.
§ 1o  A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à
sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao
trabalho e ao voto.

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§ 2o  A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da


sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os
interesses do curatelado.
§ 3o  No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear
curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de
natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.

Art. 86.  Para emissão de documentos oficiais, não será exigida a


situação de curatela da pessoa com deficiência.

Art. 87.  Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os


interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito
ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do
interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará
sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo Civil.

Conforme visto, o Estatuto da Deficiência trouxe ao Código Civil o instituto da


tomada de decisão apoiada, que assim o disciplina:

Art. 1.783-A.  A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a


pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as
quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os
elementos e informações necessários para que possa exercer sua
capacidade. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 1o  Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com
deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os
limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,
inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar. (Incluído pela Lei
nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 2o  O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa
a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o
apoio previsto no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015)  (Vigência)
§ 3o  Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão
apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do
Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que
lhe prestarão apoio. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 4o  A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre
terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio
acordado. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 5o  Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial
pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 6o  Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo
relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um
dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre
a questão. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 7o  Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou
não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou
qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao
juiz. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 8o  Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará,

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ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para


prestação de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 9o  A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de
acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada. (Incluído
pela Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 10.  O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do
processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento
condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria. (Incluído pela Lei
nº 13.146, de 2015)  (Vigência)
§ 11.  Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as
disposições referentes à prestação de contas na curatela. (Incluído pela
Lei nº 13.146, de 2015)  (Vigência)

IMPORTANTE!!! O CC prevê a possibilidade de se dar CURATELA AO NASCITURO.


Art. 1.779. Dar-se-á CURADOR AO NASCITURO, se o pai falecer
estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.
Parágrafo único. SE A MULHER ESTIVER INTERDITA, SEU
CURADOR SERÁ O DO NASCITURO.

Podem ser nomeados curador:

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de


fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. (curatela legitima)
§1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe;
na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto. (curatela
legitima)
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
(curatela legitima)
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha
do curador (curatela dativa)

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