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Capítulo 1
Introdução
Ecologia e ambiente
Os chopes são um dos grupos étnicos mais pequenos de Moçam-
bique e habitam uma pequena porção de terra banhada a sul e leste
pelo oceano Índico e cujo limite ocidental se situa à longitude de 34° E,
ficando o limite norte à latitude de 24° S. O mapa 1.1 ilustra a localiza-
ção dos chopes relativamente tanto aos povos que se encontram na sua
vizinhança como à sua situação no Sul de Moçambique. Apesar de a
porção de terra que ocupam ser relativamente pequena, a densidade
populacional é uma das mais altas de todo o país, com um valor de 20-
-40 pessoas por quilómetro quadrado (Atlas de Moçambique 1960).
Estima-se que a população total dos chopes seja de 240 396 indivíduos
(Herrick et al. 1969, 66), mas o uso destes números requer alguma
prudência, já que os censos são raros e realizados de forma deficiente.
A terra dos chopes é completamente desprovida de altitude, sendo a
região dominada pela bacia hidrográfica do rio Inharrime, um rio largo e
ligeiramente salgado, que forma uma série de lagoas que correm para sul,
paralelas à costa, separadas do próprio oceano apenas por uma barreira de
dunas de areia. O território a norte do rio é constituído sobretudo por ter-
ras baixas onduladas, com grande densidade florestal, excepto em algu-
mas bacias em que cresce apenas vegetação rasteira ou onde esta foi limpa
para fins agrícolas. Os pequenos montes e serras que formam as áreas
mais altas raramente ultrapassam os 200 metros de altitude, ao passo que
as terras baixas e sem elevações não têm, geralmente, mais de 30 metros
acima do nível do mar, mesmo a 100 quilómetros para o interior.
A sul do rio existe uma área em forma de triângulo que é predomi-
nantemente de baixa altitude e pantanosa. No centro desta área há um
lago pouco profundo (cujas dimensões se reduzem grandemente na es-
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Mapa 1.1 – Localização aproximada dos regulados na terra dos chopes
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TONGAS DE INHAMBANE
MABINGWELAS
2/2/09
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Moçambique
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TSONGAS/CHANGANES
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Limites dos regulados
Limites da terra dos chopes
Introdução
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Junod 1927), mas parece haver pouca evidência empírica que sustente
esta afirmação. Há, certamente, características sociais e culturais impor-
tantes que distinguem os chopes dos seus vizinhos (algumas das quais
trataremos brevemente), mas, quando os comparamos com os angones
e os sothos, a sul e a oeste, vemos que fazem parte, sem dúvida, da área
cultural tsonga.
H.-A. Junod, no seu clássico The Life of a South African Tribe (1927
[1912-1913]), dá-nos uma panorâmica geral da sociedade tsonga desde
a viragem do século e, em muitos aspectos, os tsongas pouco mudaram
desde então. Entre as características que mais marcadamente os dis-
tinguem de outros povos de língua banto da África austral contam-se as
actividades económicas a que se dedicam, já que dependem quase in-
teiramente do cultivo das terras. Os tsongas e os chopes praticam uma
agricultura preparada por queimadas, 1 utilizando os campos por perío-
dos de cerca de cinco anos antes de os deixarem em pousio ou de os
abandonarem por completo. Os bovinos são raros, devido à mosca tsé-
tsé, e os caprinos são a forma mais comum de gado, havendo também
muitos galináceos (uns e outros são usados ritualmente em sacrifícios).
Nisto diferem dos sothos e dos angones, que usam os bovinos como
animais sacrificiais, mas são semelhantes aos shonas e a outros povos da
África central que usam frequentemente galinhas em sacrifícios. Os
tsongas e os chopes que vivem junto à costa ou nas margens de rios tam-
bém pescam e consomem peixe frequentemente, algo que tradicional-
mente muitos grupos sothos e angones não faziam, já que o peixe era alvo
de tabu nestas sociedades. A área cultural tsonga caracteriza-se também
por sistemas políticos dirigidos por régulos autónomos, cada um dos
quais é soberano de um pequeno regulado dividido em vários grupos de
povoações e outras unidades de menores dimensões. Talvez devido à re-
lativa abundância de terras, os tsongas não têm um cargo de poder cen-
tralizado à maneira angone. Mesmo a dinastia conquistadora de Sochan-
gane e do seu neto Gungunhana durou apenas cerca de setenta anos.
É no domínio do parentesco que os grupos tsongas diferem mais
marcadamente dos bantos meridionais seus vizinhos. Enquanto os an-
gones e os sothos têm um sistema de terminologia de parentesco do
tipo iroquês, os tsongas (incluindo os chopes e os tongas de Inham-
bane) têm variações do tipo omaha. Resumidamente, as diferenças prin-
1 Vayda (1961, 346) cita Conklin (1954, 133) na sua definição de agricultura de
queimadas como «o uso sempre transitório de terrenos agrícolas obtidos a partir do
abate e da queima do coberto vegetal».
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Introdução
cipais entre os dois tipos de sistema encontram-se nos termos por que
são designados os primos cruzados. Aos primos paralelos são aplicados
os termos que designam o irmão ou a irmã em ambos os sistemas, mas
no tipo iroquês ambos os conjuntos de primos cruzados são designados
por um mesmo termo (angones: umzala; sothos: motswala). Nos sis-
temas omaha, os primos cruzados matrilaterais são designados pelos ter-
mos «mãe» e «irmão da mãe» (ou «pai da mãe»), aplicados, res-
pectivamente, a referentes femininos e masculinos, e aos primos
cruzados patrilaterais chama-se «neta/o» (em chope – MBS: koko,
MBD: mame, FZS/D: ntukulu).*
A terminologia de parentesco é especialmente relevante quando é
lida conjuntamente com as normas exogâmicas. Os tsongas proscrevem
o casamento com qualquer pessoa do clã do pai ou da mãe, o que tam-
bém acontece entre a maior parte dos angones. Isto contrasta forte-
mente com os sothos, que permitem o casamento com os parentes
tanto da mãe quanto do pai e, aliás, consideram preferencial o casa-
mento com a MBD ou mesmo a FBD (que é vista como «irmã»). Assim,
se muitos grupos sothos, como os lovedos (e os swazis angones), prati-
cam o casamento com os primos cruzados matrilaterais, o que tem
como efeito a ligação de qualquer grupo de descendência a dois outros
grupos, enquanto fornecedores e receptores de mulheres, respectiva-
mente, o sistema chope/tsonga tem como efeito o espalhar das alianças
matrimoniais por toda a sociedade, de tal modo que qualquer clã está
ligado a múltiplos outros. Este fenómeno, como espero demonstrar
neste texto, é um dos principais factores responsáveis pela origem de
uma outra característica que acredito ser própria das sociedades tsongas:
o elevado grau de individualidade, ou pelo menos de espaço para a ex-
pressão e a escolha na acção individual que se encontra entre os povos
de Moçambique.
Uma vez situados os chopes no seu contexto mais vasto, enquanto
parte da área cultural tsonga, devemos notar que existem também dife-
renças marcadas entre os chopes e os seus vizinhos tsongas. Talvez a
mais notória seja a língua, já que o chiChopi é muito diferente dos dialec-
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tos tsongas e changanes falados pelos seus vizinhos a sul e a oeste (os
tongas de Inhambane, a norte, falam uma língua que é incompreensí-
vel tanto para os chopes como para os tsongas). Existem, é claro,
grandes diferenças nos dialectos falados pelos povos tsongas/changanes
que se estendem do rio Save à Kosi Bay, mas todos eles manifestam in-
fluências angones, provavelmente devido à conquista de Sochangane e
dos seus invasores zulus.
O mapa 1.1 mostra como a terra dos chopes é limitada a leste e a sul
pelo oceano Índico e a nordeste pelo território dos tongas de Inham-
bane. Estes tongas, como referi, falam uma língua que é incompreen-
sível para os chopes, e vice-versa. No entanto, em termos de cultura e
organização política, em geral, são muito semelhantes. Houve muitos
casamentos e interpenetrações entre os dois povos, que mantêm crenças
e práticas religiosas quase idênticas. A cosmologia destes povos é povoa-
da por espíritos maléficos, espectros, feiticeiros e afins, que garantem
um grande volume de trabalho aos muitos adivinhos e médiuns que se
encontram em ambas as sociedades. Na verdade, os agentes da má sorte
e as formas de lidar com eles são outra característica de todos os grupos
tsongas, o que os liga à África central e os distingue dos angones e dos
sothos. Os tongas de Inhambane são, geralmente, mais ocidentalizados
do que os chopes, sem dúvida porque se agrupam em torno do porto
de Inhambane e mantiveram contactos com os árabes, primeiro, e de-
pois com os portugueses, durante vários séculos (o contacto com os por-
tugueses começou em 1498).
Para norte há povos changanes 2 e tsuas. Os tsuas são, aparentemente,
um grupo tsonga que foi fortemente influenciado pelos zulus, já que o
seu léxico inclui várias palavras angones. São relacionados (por outros)
com os bosquímanes (san) e há quem defenda que a sibilante (s) carac-
terística da língua tsua teve origem no contacto com os povos san.
Parece tratar-se de um erro de percepção: as línguas san caracterizam-se
por cliques e, de acordo com informações de um linguista, a sibilante
caracteriza os dialectos shonas (C. H. Borland, comunicação pessoal).
Todavia, os tsuas são identificados com os san e os seus vizinhos cha-
mam-lhes vatsua (o termo «tsonga» para san ou bosquímane). Aos povos
a oeste e sudoeste dos chopes também se chama changanes, mas são, na
verdade, tsongas. Os seus vizinhos a sul foram estudados por Dora
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Antecedentes históricos
A história dos chopes coloca vários problemas aos etnógrafos. A di-
ficuldade principal é a escassez dos registos escritos, de que resultou
uma tendência para seguir as tradições orais, manifestamente pouco
rigorosas. Por esse motivo, devemos ser cuidadosos no uso das recons-
tituições existentes. O trabalho de H.-P. Junod (1927) parece ser basea-
do em grande medida na tradição oral, mas não são indicadas as fontes,
pelo que é difícil avaliá-lo. Para além disso, muito do que escreve con-
tém contradições e a maior parte das minhas próprias reconstituições di-
verge das suas. Infelizmente, a maioria dos autores que escreveram sobre
os chopes desde a publicação do trabalho de Junod tendeu a aceitar
acriticamente as suas afirmações. Disto resultaram alguns erros gritantes,
entre os quais uma concepção errada da dimensão e extensão da terra
dos chopes.
Não se justifica nesta breve introdução entrar em grande detalhe, mas
tenho de contestar H.-P. Junod (1927) quanto à extensão real da terra
dos chopes. Junod afirma que o limite norte da terra dos chopes é o rio
Inharrime e Tracey (1970 [1948]) publica um mapa da terra dos chopes
(no fim do livro) que representa uma área triangular do território a sul
do rio Inharrime. Mesmo na reedição do seu livro em 1970, Tracey igno-
ra as populações a norte do rio. Confesso que o meu interesse na questão
é subjectivo: o meu trabalho de campo foi feito no regulado Nkumbi,
situado, como se pode ver no mapa 1.1, a norte do rio.
Para comprovar a minha opinião bastará talvez referir que as popu-
lações de um e outro lado do rio são idênticas em termos linguísticos e
culturais, à parte pequenas diferenças dialectais, e, o que é significativo,
as populações a norte identificam-se como chopes. Para além disso,
parece ser consensual entre todos os autores que, quando o P.e André
Fernandes escreveu em 1560 (Theall 1898, 141) do regulado Nya-
kowongo, estaria efectivamente entre os antecessores dos chopes mo-
dernos. O mapa 1.1 demonstra que esse era, e é, um dos regulados a
norte. Por fim, o próprio H.-P. Junod (1927, 60) afirma que teriam exis-
tido dois clãs originais entre os quais se dividiriam os «verdadeiros
vaChopi», a saber, Nkumbi e Vilankulu. Acreditava que teriam desa-
parecido quase por completo, mas, se tivesse pesquisado a norte do
Inharrime, teria descoberto que o maior regulado da região é o de
Nkumbi, com uma população estimada em 22 000 habitantes.
Há uma característica que se destaca quando olhamos para a história
do povo que hoje é conhecido como chope: o seu passado fragmentar.
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exercido uma influência tão marcada sobre uma área e uma população
tão vastas. Para comprovar essa influência, veja-se a imensa extensão de
território e a enorme quantidade de pessoas que hoje se dizem chan-
ganes (tomando o nome de Sochangane).
Devemos recordar que Sochangane deixou a Zululândia com cerca
de cem guerreiros. Ainda que este número fique aquém da realidade, o
grupo teria sido dizimado, não tanto por inimigos, mas sobretudo por
doenças, como a malária, a bilharzia e a disenteria. Foi este efectiva-
mente o destino dos guerreiros de Chaka que foram enviados em 1928
para destruir Sochangane. O fracasso desta campanha foi um dos fac-
tores que contribuíram para a derrota final de Chaka.
Indubitavelmente, a doença, que reduziu em grande medida os con-
tingentes, juntamente com o costume de, enquanto conquistadores,
tomarem as mulheres por concubinas, e não por esposas, explicam o
facto de a cultura e a língua angones não se terem imposto generali-
zadamente. 3 Assim, embora fosse de esperar que a cultura angone pre-
dominasse, isto não acontecia. Uma mulher que é tomada como con-
cubina irá criar os filhos à sua maneira (não terá aprendido a língua ou
a cultura do seu senhor e este irá, provavelmente, comunicar com ela
na língua dela). As crianças estão constantemente aos cuidados da mãe
e, portanto, crescem como crianças chopes (ou tsongas, se for esse o
caso). Em poucas gerações não restará senão o nome do clã angone
(supondo que o povo conquistado segue um princípio patrilinear).
Embora a influência cultural dos angones tenha sido reduzida, a sua
influência a nível social foi enorme. Os ataques perpetrados tinham em
grande medida o propósito de alimentar o exército, pelo que os alvos
privilegiados eram as colheitas agrícolas. Mas ao mesmo tempo as mu-
lheres eram capturadas e os homens eram recrutados para o exército.
Este grupo, agora de maiores dimensões, requeria mais alimentos, por
isso havia novos ataques, e assim sucessivamente. O ciclo era inter-
minável e as pessoas fugiam frequentemente à aproximação dos guer-
reiros. Foi assim que as tribos se fragmentaram e misturaram, e esta é
uma das razões por que os clãs chopes mantêm tradições de origens di-
versas.
Há quem defenda que as tribos do Sul de Moçambique não têm sis-
temas políticos fortemente centralizados porque os angones os des-
truíram ou substituíram por outros. Isto parece-me ser uma explicação
3 Devo à professora Monica Wilson esta observação (que ela desenvolve em 1969,
80-82).
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A impressão com que ficamos é a de uma região que tinha uma ho-
mogeneidade cultural, mas que, politicamente, era constituída por regu-
lados autónomos, ainda que contíguos. As invasões de Nxaba, Zwan-
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* Knobkerrie: espécie de bastão curto com uma esfera pesada num dos extremos que
era usado como arma por povos guerreiros da África austral e para o qual não
encontrei uma designação portuguesa. (N. da T.)
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O povo
A primeira coisa que se nota quando se visita a terra dos chopes é,
talvez, a natureza gregária deste povo. Vasco da Gama, na sua viagem de
exploração do fim do século XV, foi atacado todas as vezes que procurou
aportar para recolher água doce, até que chegou ao território dos
chopes. Ali foi bem recebido e referiu-se ao lugar como «aguada da boa
paz» e «terra da boa gente». 4 Na verdade, tive a sorte de me encontrar
entre estas gentes tão prestáveis, que, após a contenção inicial inevitável
que manda a boa educação, foram extremamente generosas na forma
como aceitaram a minha presença e a da minha mulher. Os chopes ocu-
pam muito tempo a visitar-se uns aos outros, a beber e a passar o dia
com amigos e vizinhos. Divertem-se muito quando se reúnem para
ouvir tocar uma orquestra de timbila a acompanhar um grupo que exe-
cuta sequências de danças e canções. Estes encontros ocorrem regular-
mente, muitas vezes assumindo a forma de um concurso entre
povoações vizinhas ou rivais, e esses momentos tornam-se cocktails de
pessoas que procuram velhos amigos para conversar, bisbilhotar e tro-
car informações.
É dado grande valor à amizade (v. capítulo 7), e os chopes dividem-
-na em vários tipos, que vão desde os conhecimentos pontuais a uma
forma de amizade «especial», que é uma espécie de irmandade de san-
gue, um laço quase tão forte como os do parentesco. É interessante que,
enquanto inquiria um informante sobre a terminologia do parentesco,
ele insistia em dar-me também o termo ndoni, que designa o amigo es-
pecial. Explicava-me ele que esse amigo era «como se fosse» um parente.
Um aspecto importante da vida social a que a literatura pouco se tem
dedicado (com a notável excepção de Gulliver 1971) é o da vizinhança
e da relação entre vizinhos. Os chopes, que não têm grandes grupos cor-
póreos de parentes, têm forçosamente muitos vizinhos a que não estão
directamente ligados pelo parentesco e desenvolveram uma ética forte
de boa vizinhança. A troca de pequenos produtos alimentares é fre-
quente entre vizinhos. É frequente também que, quando um homem
volta da floresta com um cesto de cogumelos, ou quando uma mulher
regressa dos campos com algumas batatas-doces, pare para partilhar os
alimentos com os residentes do domicílio vizinho.
4 Julgou-se que esta última frase se referia aos tongas de Inhambane, mas há um his-
toriador que actualmente defende que isto aconteceu mais a sul, em território chope
(Eric Axelson, comunicação pessoal).
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5 O trabalho de campo para esta monografia e a maior parte da redacção foram rea-
lizados, obviamente, antes de Portugal ter abandonado Moçambique, deixando o poder
nas mãos do governo provisório da Frelimo, até que o processo de independência fosse
concluído em Junho de 1975.
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