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Resumo –

Aquele que escreve o livro não sabe se é o rapaz que pregava pregos numa
tábua e não sabe se era o outro, ou ainda outro qualquer, mas sabe que há
balas e guerras que fazem zumbido nos ouvidos e chagas na memória.
Repentinamente, a poesia bateu com força na cabeça do miúdo. Mais tarde,
as sílabas dos versos haveriam de se misturar com os zumbidos das balas nos
ouvidos do miúdo que crescera.
O miúdo crescia e tinha um sonho: continuar Os Lusíadas. O sonho de
qualquer poeta. O sonho, talvez, de qualquer de nós, que queremos
continuar a memória. E vai contando as sílabas pelos dedos e vai descobrindo
que nem sempre há métrica, às vezes há liberdade, há os versos livres… sons
de palavras que se misturam com silvos de balas de Angola, música de
pássaros de Águeda e com o murmurar das águas do Tejo. São “os ritmos e
as sílabas com que se mede o mundo”.
Tudo – o futebol, a natação, a água do rio, os pássaros, a namorada – faz
parte do rapaz que pregava pregos. Mas no meio de tudo isso está sempre a
escrita: as palavras que procura e tantas vezes não encontra, os versos cujas
sílabas nem sempre consegue contar pelos dedos. Os mesmos dedos com
que tocava música nos dentes. A mão com que Miguel Torga segurou a
caneta até ao fim…

Opinião –
Trata-se de um livro muito pessoal pois retrata episódios de uma infância (e
outros já mais à frente na idade) que, na essência, é a de Alegre (não
podemos menosprezar o papel da imaginação), onde ele toma contacto pela
primeira vez com o processo criativo, uma “história” entre muitas outras,
todas, nota-se, relatadas com sentimento, com orgulho, com nostalgia. Há
referências familiares (os pais, os avós a irmã), geográficas (Porto, Espinho,
Paris), de gostos (a caça), que ajudam a “explicar” a personalidade de Alegre,
que se dá a conhecer pela perspectiva de um miúdo ansioso por conhecer o
mundo que o rodeia.
É, portanto, um livro em que dá conhecer uma parte bastante importante da
sua vida, aquela que o levou a ser aquilo que é hoje. É, também, um livro de
reconhecimento, agradecimento, homenagem às pessoas que o
influenciaram e “orientaram”, nomeadamente Sophia de Mello Breyner
Andresen e Miguel Torga, entre outras referências mais “familiares”.
Mas, acima de tudo, porque é isso que na verdade interessa ao leitor, é um
livro muito interessante e agradável de ler, independentemente de abordar a
infância de Alegre, sobre um miúdo que pregava pregos numa tábua.

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