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ONDJAKI

O poeta e escritor africano Ndalu de Almeida,


popularmente conhecido como Ondjaki, nasceu na cidade de
Luanda, capital angolana, em 5 de julho de 1977. O seu
pseudónimo significa guerreiro em umbundu, segunda língua
mais falada do seu país.
Após realizar os seus primeiros estudos na sua terra natal,
obteve a licenciatura em Sociologia, em Lisboa. Em 2010,
terminou o doutoramento em Estudos Africanos.

O seu interesse pela literatura teve início muito cedo, aos


13 ou 14 anos. Costumava ler Astérix e outros livros de banda
desenhada, além de Gabriel Garcia Márquez, Graciliano
Ramos e Jean-Paul Sartre.

Prosador e poeta, com aventuras de artista plástico e de


cineasta, faz parte da primeira geração de angolanos que
cresceu num país independente, embora em guerra. A sua
literatura, no entanto, não é exatamente um eco dessa guerra.
É um diálogo entre memórias e questões sócio-políticas. Uma
história na voz de uma criança repleta de recordações. E que
fala de esperança e encantamentos, vividos numa terra sofrida.
Algumas obras de Ondjaki

• Actu Sanguíneu (poesia, 2000)

• Bom Dia Camaradas (romance, 2001)

• Momentos de Aqui (contos, 2001)

• O Assobiador (novela, 2002)

• Há Prendisajens com o Xão (poesia, 2002)

• Ynari: A Menina das Cinco Tranças (infantil, 2004)

• Quantas Madrugadas Tem A Noite (romance, 2004)


• E se Amanhã o Medo (contos, 2005)

• Os da minha rua (contos, 2007)

• AvóDezanove e o segredo do soviético (romance, 2008)


• O leão e o coelho saltitão (infantil, 2008)

• Materiais para confecção de um espanador de tristezas

(poesia, 2009)

• Os vivos, o morto e o peixe-frito (ed. brasileira / teatro,

2009)

• O voo do Golfinho (infantil, 2009)


• dentro de mim faz Sul, seguido de Acto sanguíneo

(poesia, 2010)

• A bicicleta que tinha bigodes (juvenil, 2011)

• Os Transparentes (romance, 2012)


Prémios atribuídos à sua obra

• "Actu Sanguíneu" (poesia) Menção Honrosa no prémio


António Jacinto (Angola, 2000)

• "E se amanhã o medo" (contos), Prémio Sagrada


Esperança (Angola, 2004)

• "E se amanhã o medo" (contos), Prémio António

Paulouro (Portugal, 2005)

• Finalista do prémio “Portugal TELECOM” (Brasil,

2007), com “Bom dia Camaradas”.

• Grande Prémio APE | "Os da minha rua" (contos),

(Portugal, 2007)
• Finalista do prémio “Portugal TELECOM” (Brasil,
2008), com “Os da minha rua”.

• Grinzane for Africa Prize - Young Writer


(Etiópia/Italia/2008)

• Prémio FNLIJ 2010 “literatura em Língua Portuguesa”,


com “AvóDezanove e o segredo do soviético” [Brasil]

• Prémio JABUTI, categoria ‘juvenil’, com o livro


“AvóDezanove e o segredo do soviético” (2010)

• Finalista do Prémio Literário de São Paulo 2010, com


“AvóDezanove e o segredo do soviético” [Brasil]
• Finalista do prémio “Portugal TELECOM” (Brasil,
2010), com “AvóDezanove e o segredo do soviético”.

• Prémio Caxinde do Conto Infantil, com “Ombela, a


estórias das chuvas” (Angola, 2011)

• Prémio Bissaya Barreto 2012, com “A bicicleta que tinha


bigodes” (Portugal, 2012)

• Prémio FNLIJ 2013 “literatura em Língua Portuguesa”,


com “A bicicleta que tinha bigodes” [Brasil]

• Prémio José Saramago 2013, pelo romance “Os


transparentes”

• Prix Littérature -Monde 2016, em França, pelo romance


“Os transparentes”.
Autobiografia

O que eu quero é que eles gostem de ler e escrever

“Chamo-me Ondjaki, nasci em Luanda, em novembro de 1977.

Cresci, brinquei e estudei nessa cidade até aos 15 anos, altura em


que fui estudar para Portugal. Fiz em Portugal dois anos letivos
antes da universidade, fiquei um ano sem estudar (porque o meu
“processo” não veio de Luanda...), e aproveitei esse ano para fazer
aulas de escrita criativa, de teatro e também aprendi Tai Chi Chuan
(uma ginástica e arte marcial chinesa).
Depois fiz a faculdade (ISCTE), durante seis anos, e sou licenciado
em Sociologia. Durante esses anos da faculdade, além de continuar
com o teatro e com o Tai Chi, sempre me dediquei muito à leitura e
à escrita.... Gostava (e gosto) muito de escrever contos e poesia, e
de vez em quando também escrevo romances. Em 2002 escrevi o
meu primeiro livro infantil, chamado “Ynari: a menina das cinco
tranças”, e gostei muito dessa experiência. Depois escrevi “O leão
e o coelho saltitão”, e mais recentemente um outro livro para
crianças bem pequeninas; chama-se “O voo do Golfinho”.

Há pessoas que pensam que os meus livros “bom dia camaradas” e


“os da minha rua” foram escritos para jovens e crianças... Eu acho
que não é bem assim. Escrevo livros para pessoas de todas as idades,
que gostem de ler e ouvir estórias. Alguns dos meus livros têm um
personagem narrador que é um adolescente, e por isso, talvez, as
pessoas pensem que os livros são só para jovens... Mas não, os
livros são para pessoas que gostam de viajar pelas palavras e pelos
sonhos...

No ano de 2006, em parceria com o Kiluanje Liberdade, filmei um


documentário sobre a cidade de Luanda; chama-se “Oxalá cresçam
pitangas”, e foi uma outra forma de contar estórias sobre Luanda.
Como cresci nessa cidade e gosto muito dela, as suas estórias, e
gentes, sempre aparecem muito na minha literatura.
Até ao momento ganhei alguns prémios literários, em Angola e em
Portugal. A cada um deles (e em outros momentos também...), sinto
como que um sinal do destino perguntando-me se sei o que ando a
escrever..., e se sei como poderei melhorar o que ando a escrever...

Cresci em Luanda, estudei em Lisboa, hoje vivo no Rio de Janeiro,


que é uma cidade muito interessante, sobretudo pelo seu potencial
humano e criativo.

Continuo a pensar que sou uma pessoa cercada de saudades... Não


sei se isso ainda me faz bem, ou se me ajuda na escrita, mas aos
poucos também se aprende que a vida é descobrir os caminhos que
nos levam a uma melhor aceitação de nós mesmos... Colaborando
com os outros. Nem sempre se consegue. Nos dias em que não
recuso ajuda a quem precisa dela, nos dias em que sinto que, com
alguma coisa, contribui um pouco mais, nesses dias sinto-me quase
uma pessoa feliz... Os outros dias são para continuar o combate
pelas pessoas, pelos livros, pela igualdade, pelos direitos, pela
natureza, e por esse lugar louco e lindo que é o nosso planeta
Terra...........

Um abraço,
Ondjaki”
Entrevista a Ondjaki

A poesia parece ocupar um lugar especial na sua escrita,


embora também escreva contos. Porquê sua preferência pela
poesia?
Na verdade, eu acho que até tenho preferência pelos contos.
São momentos internos e escritas distintas. A poesia ocupa um
lugar de dúvida, na minha escrita. Eu realmente tenho
dificuldade em entender a poesia que escrevo, ou as razões por
que o faço. Mas por alguma razão que ainda desconheço,
continuo a escrever poesia. É talvez importante, para mim, não
saber o “porquê” de certas coisas no mundo da literatura.
Quais são os autores que o influenciaram?
São muitos. Mas, sobretudo, os livros. Influencia-me quem
me faz sonhar, crescer, duvidar, tremer, cair, recear, acreditar.
Acho que nos influencia a literatura que nos toca. Há coisas
que nos falam e coisas que nos calam. E há coisas que nos
são indiferentes. E está bem que seja assim.

Li recentemente que os escritores são mais propensos à


depressão. O que você acha disso? Já teve crises de
inspiração?
Não necessariamente me parece que uma “crise de inspiração”
leve a uma depressão. Já tive depressões, mas não sei se
estavam relacionadas com a literatura. Já tive momentos em
que me senti vazio, sem nada para poder escrever. E isso era
mais aflitivo antigamente. Hoje em dia procuro pensar que se
não tenho nada para dizer ou escrever, então é hora de estar
quieto e calado. Começo a lidar melhor com isso. Não é
preciso estar sempre a falar, ou a escrever. Na realidade, acho
que passamos anos a tentar aprender a estar calados. Ainda não
sei fazê-lo. Espero que possa conseguir um dia. É um desejo
de me aproximar de uma certa sabedoria. Se eu for merecedor,
pode ser que me aconteça. Não acontece a todos.

Você que já escreveu para crianças e jovens e ganhou um


prêmio pelo livro A Bicicleta Que Tinha Bigodes. O que
acha da forma como as escolas ensinam literatura?

Não sei a que tipo de escolas se refere… Acho que visitei


escolas que ensinam muito bem a literatura. E esse ensinar
“bem” é descobrir um modo de aproximar o livro de uma
criança. Não são iguais, as crianças. Já se sabe que não as
podemos tratar como uma manada, um grupo homogêneo. É
trabalhoso descobrir que livro se adéqua a cada criança, a cada
idade. E esse trabalho passa pelo diálogo. Mas, como sabe,
hoje em dia temos pouco tempo para o diálogo. Queremos
receitas rápidas, eficientes. Mas a literatura não tem muito a
ver com imediatez e receitas prontas. Portanto, penso que há
escolas que estão a fazer um bom trabalho, sim. Mas é preciso
escutar as crianças, no seus anseios, nos seus sonhos, nas suas
vontades infantis mas sérias. As crianças sabem muito…
In http://homoliteratus.com/entrevista-com-o-escritor-angolano-ondjaki/
Esperar o Vento

…só na ilusão da asa


o ser se sonha.
seu degredo. sua afluência.
quantas vezes
sem consciência.
só no silêncio da asa
o ser se sonha.
pouco enredo. pouca ciência.
raras vezes
em abstinência.
só na solidão da asa
o ser se silencia.

és a casa dos pássaros.


és o não-chão. nem tremor nem homens nem calor. és o
aéreo que encandeia as nuvens e, num passo gémeo, as
conduz.
és sedução genuína nessa textura que usas no mar. os
pássaros te frequentam erráticos porque também és o
eco da poesia — a estranha densidade de nada pisar.,
o não silencioso.
o silencioso.
és o deserto que chove sobre o mundo

in Tração a 4 poemas e uma Corda


FONTES:
https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=1298

https://www.nonio.uminho.pt/netescrita/autores/ondjaki.html

https://www.wook.pt/autor/ondjaki/27161

http://www.infoescola.com/biografias/ondjaki/

https://www.infopedia.pt/$ondjaki

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