Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Casos Clinicos em Psiquiatria 3
Casos Clinicos em Psiquiatria 3
em
Psiquiatria Sumário
UMA PUBLICAÇÃO DO Departamento de
Psiquiatria e Neurologia da Faculdade de
Medicina - UFMG e da Residência de Psiquiatria Editorial ..................................................................................................1
do Hospital das Clínicas - UFMG
Diretor Executivo
Geraldo Brasileiro Filho
Artigos Originais
Comissão Editorial Síndrome de Kleine-Levin: consideraciones diagnósticas y
Alfred Kraus • Antônio Márcio Ribeiro Teixeira • Betty terapéuticas................................................................................................10
Liseta de Castro Pires • Carlos Roberto Hojaij • Carol Pilar Sierra San Miguel, Lorenzo Livianos Aldana, Luis Rojo Moreno
Sonenreich • Cassio Machado de Campos Bottino • Cleto
Discinesia tardia com predomínio de distonia ........................................13
Brasileiro Pontes • Erikson Felipe Furtado • Irismar Reis
Guilherme Assumpção Dias
de Oliveira • Delcir Antônio da Costa • Eduardo Antônio
de Queiroz • Eduardo Iacoponi • Fábio Lopes Rocha • Ataxia prolongada associada à intoxicação por lítio ...............................18
Flávio Kapczinski • Francisco Baptista Assumpção Jr. • Yara Azevedo, Cíntia de Azevedo Marques, Eduardo Iacoponi
Francisco Lotufo Neto • Hélio Durães de Alkmin • Helio
Elkis • Henrique Schützer Del Nero • Jarbas Moacir Cortical atrophy during treatment with lithium in therapeutic levels,
Portela • Jerson Laks • John Christian Gillin • Jorge perphenazine, and paroxetine: case report and literature review...........21
Paprocki • José Alberto Del Porto • José Raimundo da Luiz Renato Gazzola
Silva Lippi • Luis Guilherme Streb • Michael Schmidt-
Degenhard • Marco Antônio Marcolin • Maria Elizabeth
Uchôa Demichelli • Mário Rodrigues Louzã Neto • Caso Literário
Miguel Chalub • Miguel Roberto Jorge • Osvaldo Pereira Sales ...........................................................................................................29
de Almeida • Othon Coelho Bastos Filho • Paulo Machado de Assis
Dalgalarrondo • Paulo Mattos • Pedro Antônio Schmidt
do Prado Lima • Pedro Gabriel Delgado • Ricardo
Alberto Moreno • Roberto Piedade • Ronaldo Simões Patografia
Coelho • Sérgio Paulo Rigonatti • Saulo Castel • Sylvio Patografia de Vincent van Gogh ..............................................................32
de Magalhães Velloso • Talvane Martins de Moraes • Andrés Heerlein
Tatiana Tcherbakowsky Nunes de Mourão
E-mail: ccp@medicina.ufmg.br
Capa:
Montagem de auto-retrato de Vincent van Gogh com
retrato de seu psiquatra Dr. Gachet.
Publicar uma revista de Casos Clínicos em Psiquiatria é uma Publishing a magazine for Clinical Cases in Pschiatry is an
iniciativa inspirada. Achamos que devemos nos empenhar para seu inspired enterprise. We think that we should strive for its success. The
êxito. O estudo do caso constituiu sempre a base, o ponto de partida e case study is the basis, starting point and the development field of med-
o campo de desenvolvimento da atividade médica: conhecimento dos ical work: knowledge of facts, formulation of nosology, theory elabora-
fatos, formulação da nosologia, elaboração das teorias, etiologias, desen- tion, etiology, treatment development and technical teaching. In his
volvimento dos tratamentos, ensino profissional. Na Introdução à Introdução à Psiquiatria Clínica (1990) Kraepelin tells us his
Psiquiatria Clínica (1990) Kraepelin explica sua intenção: oferece intention: offer the presentation of clinical cases carried on with his
sob forma de aulas escritas as apresentações de casos clínicos realizados students as written lessons. The cases are observed, described and the
com seus alunos. O caso observado, descrito, sendo selecionados os main aspects are selected to form a clinical nosological picture, a diag-
aspectos significativos para conceber um quadro clínico, um diagnósti- nosis. While Kraepelin analyzes the cases, he formulates and classifies
co. É na medida em que analisa os casos que Kraepelin formula e clas- the diseases. The reading of those lessons has allowed us to follow the
sifica as doenças. Podemos seguir, com a leitura destas aulas, o nasci- birth of psychiatric entities as Kraepelin.
mento das entidades psiquiátricas, conforme Kraepelin. It’s a classical procedure the understanding trials and explana-
Para identificar as alterações, lançar hipóteses etiológicas, tentati- tions of clinical cases, to identify their alterations and to start etiolog-
vas de entender, explicar, a apresentação do caso clínico é procedimen- ical hypothesis. Due to its importance, publishing books and maga-
to clássico e, devido a sua importância, publicar em livros e revistas os zines with cases was also a classical procedure. Questions, laboratori-
casos também era procedimento clássico. Indagações, pesquisas de labo- al researches, hypothesis were suggested and argued based upon clini-
ratório, hipóteses foram sugeridas e debatidas em torno do caso clínico. cal cases, besides its uses to exemplify, classify and argument in favor
Sem falar do seu uso para exemplificar, classificar, argumentar a favor of theory and of therapeutical proposals. The names of some cases
de teorias, de propostas terapêuticas. Nomes de certos casos tornaram- become emblematic: Ellen West, Susan Urban. The Elliot’s case (as
se emblemáticos: Ellen West, Suzan Urban. O caso Elliot (retomado described by Damasio in 1994 to enrich his thesis) appears in many
por Damasio em 1994, para ilustrar suas teses) aparece em vários estu- neurological and neurosurgery studies. The internal medicine took
dos neurológicos, neurocirúrgicos. O ensino da medicina interna usou advantage of published cases in magazines and even in tome books
muitas vezes a publicação de casos em revistas e mesmo em tratados de many times.
muitos tomos. As an exemplification, as an argument the clinical case is still a
Como exemplo, argumento, o caso clínico continua instrumento precious instrument. Many magazines have special section dedicated
precioso. Muitas revistas lhe dedicam seções especiais. Na psiquiatria o to them. In psychiatry the space dedicated to them is evidently small.
espaço que lhe é dedicado é evidentemente pequeno. Não se trata aqui This is not a "research" but if we observe few recent editions of psy-
de uma "pesquisa", mas examinando alguns números de revistas psi- chiatric magazines, we will find that in the year 2000 the first five edi-
quiátricas recentes, é óbvio: nos cinco primeiros números do ano 2000,
tions of British Journal of Psychiatry have no clinical case. It hap-
o British Journal of Psychiatry não inclui nenhum artigo dedicado
pens even in the April 2000 edition of Archives of General
a "caso clínico". Nem o número de abril de 2000 dos Archives of
Psychiatry. The 7th and 8th editions of the American Journal of
General Psychiatry. O American Journal of Psychiatry, em cada
Psychiatry of this year include one clinical case conference related
um dos números 7 e 8 deste ano, inclui um artigo de "clinical case
with cognitive behavioral therapy and another showing the characte-
conference", um relacionado com terapia cognitivo-comportamental,
ristics of twin sisters.
outro observando características de duas irmãs gêmeas.
The very important magazine Arquivos de Neuropsiquiatria
A valiosa revista Arquivos de Neuropsiquiatria (SP) dedica às
(SP) dedicates an unusual large section to the presentation of cases: in
apresentações de caso uma seção de proporções pouco comuns: no núme-
ro de junho de 2000, 60 do total de 200 páginas, e no número de setem- the June edition, 60 out of a total of 200 pages, and in the September
bro 70 entre o total de 200 páginas. Trata-se de casos neurológicos. edition, 70 out of a total of 200 pages. They are neurological cases.
Nas revistas psiquiátricas predominam (ou são exclusivos) artigos In psychiatric magazines, articles about epidemiology and basic
dedicados à epidemiologia e pesquisas básicas, com amplo uso de esta- research predominate (or are exclusive), creating a wide use of statisti-
tísticas, quantificação. Não podemos afirmar que isto represente o inte- cal and quantifications methods. We cannot affirm that this represents
resse dos estudiosos, mas é claro que as revistas exigem tal orientação, the interest of the scholars but it is clear that magazines have such ori-
e para os autores publicar se tornou quase uma questão de sobrevivên- entation, and for the authors, publishing is almost a survival problem
cia na carreira. in their career.
A quantificação, considerada critério de cientificidade, parece The quantification as a scientific standard is not applicable in the
pouco aplicável no "caso particular", embora o "caso único" seja reco- "particular case” although the "single case" is recommended as alter-
mendado como abordagem alternativa (Hersen M, p. 73-105) entre os native approach among methods from research in Psychiatry (LKG
métodos de Pesquisa em Psiquiatria (LKG Hsu, Research in Hsu, Research in Psychiatry, New York, Plenum Medical Book
Psychiatry, New York: Plenum Medical Book Company, 1992). Company, 1992)
Os módulos, o isolamento de elementos mínimos, (moléculas, neu- The modules, the isolation of minimum elements (molecules, neu-
rotransmissores, receptores) são parte importante das pesquisas atuais. rotransmitters, receptors) are important part of nowadays research. It
Claro que a apresentação do caso leva a um nível complexo de estudo, is known that the explanation of the case leads to a complex level of
pouco compatível com a abstratização estatística que os elementos ou as study that is not compatible with the abstractive statistical data
funções isoladas constituem. O relacionamento com os outros, as con- formed by elements or the single functions. The relationship, the
dutas da pessoa, objetos da psiquiatria, não podem ser limitadas a regis- behavior of people, subject of psychiatry cannot be limited as quantita-
tros quantitativos. Para pesquisá-los precisamos de conceitos e métodos tive records. To research them, we need to have concepts and methods
que não são os praticados na maioria dos estudos publicados. that are not used in the majority of the published studies.
Não consideramos que uma revista de casos clínicos pretenda cor- We do not assume that a magazine for clinical cases will fulfill all
rigir as omissões de outras publicações. Mas com certeza, ela nos evoca the omissions of other publications. But certainly we can call the idea
a "complementaridade", da qual as ciências humanas e as da natureza of "complementary", which is now widely spread by social and natu-
tanto falam. ral sciences.
Luiz Ferri Barros Delirei que o próprio governador do Estado estava me per-
seguindo por minhas idéias políticas e que eu seria metralhado,
minha família também seria morta a tiros e minha casa seria des-
Na verdade não sou um bom contador de delírios. Isto por- truída por bombas.
que segue-se às minhas crises maníacas uma amnésia a respeito Então, alucinado, telefonei para o amigo com quem eu havia
das crises que vivi.
comprado maconha em sociedade e disse para ele:
Apenas com muita concentração e muito esforço de memó- _ “O governador está atrás de mim. Eu vou embora daqui para
ria, fui capaz de reunir aqui lampejos de lembranças para relatar
alguns momentos esparsos das grandes fantasias delirantes e alu- ele não matar minha família.”
cinatórias que já vivi. Meu amigo falou-me para eu ficar em casa porque ele ia me
Antes de relatá-los, no entanto, acho importante dizer como levar um médico. Eu disse que não, de jeito nenhum, porque
o delírio se estabelece. Ele não chega sem avisos. todos seríamos mortos. Desliguei o telefone, corri até a cômoda
As crises são precedidas por uma grande inquietação. Ocorre onde guardava a maconha, peguei o pacote, joguei na privada e
intensa agitação motora e insônia durante dois ou três dias. Não dei descarga.
sei onde ficar, nenhuma posição me acomoda. Depois saí correndo, descendo a escada na embalada, fugin-
Depois, vem aos poucos de início e em seguida velozmente,
do de casa. Mônica tentou me segurar, eu não deixei. Eu acha-
tomando conta de tudo, uma incontrolável euforia. A euforia é
uma sensação de bem estar, de poder, de plenitude. De força va que se saísse sozinho eu seria metralhado na rua e desta forma
perante o mundo. A euforia faz com que no meio de toda a des- pouparia Mônica e as crianças.
graça e sofrimento que é a loucura, ainda assim o mundo se apre- Mônica tentou segurar-me de todo o jeito e quando saí cor-
sente com inigualável grandiosidade e beleza. rendo pelo quintal e fui para a rua, ela saiu atrás de mim. Eu gri-
Com a euforia, o pensamento dispara e fica fora de controle. tava:
É quando se perde o nexo e idéias disparatadas começam a nos _ “Vai pra dentro. Fique em casa.”
ocorrer. Mantém-se concentração absoluta num assunto ou dis- E ela:
persão total de pensamentos com a mente correndo solta entre os _ “O que foi? O que está acontecendo?”
mais variados contextos. Ocorre o que Schreber muito bem defi- _ “Fique em casa. Vai para dentro.”
niu como “coação a pensar”. “A essência da coação a pensar con-
siste no fato de que o homem é forçado a pensar ininterruptamen- Para mim era uma questão de vida ou morte. Se ela viesse
te” e em grande velocidade. atrás de mim, seria metralhada também. Isto não podia acontecer.
Daí o pensamento começa cada vez mais a afastar-se da rea- Ela não podia morrer. O problema era apenas meu. Então eu gri-
lidade, criando uma nova realidade delirante em que se acredita tei de novo pra ela, na frente dos vizinhos que já tinham saído à
firmemente. Às vezes, esta realidade delirante não nos atinge por rua, para saber o que estava acontecendo:
completo, justapondo-se à realidade de fato. Então, algumas coi- _ “Não venha atrás de mim. Eu não gosto de você. Deixe-me
sas são interpretadas pela parte sadia de nosso cérebro, outras em paz. Eu tenho outra mulher. Eu tenho outra mulher, você
pela parte que está em delírio. Às vezes o delírio nos domina por não entende?”
completo. É quando perdemos a noção de nossos atos.
Ela chocou-se e se paralisou. Imediatamente uma vizinha
Quando se entra em delírio, encasquetando-se que uma
determinada coisa irreal está acontecendo, não é possível com- abraçou-a e ela acabou ficando parada, estupefata.
preender que os outros não percebam a mesma realidade. O Eu corri dez, quinze quarteirões, ou mais. Quando minha
mesmo ocorre quando se alucina, ouvindo vozes ou enxergando- força acabou, fiquei andando ao léu, sem saber mais onde estava.
se coisas inexistentes. Daí Mônica chegou de carro com meu cunhado, desesperada, e
eles me puseram dentro do carro. Eu gritava alucinado:
_ “Deixem-me descer. Eu vou me matar. Eu quero morrer sozi-
-1-
nho. Eles vão me pegar. Você não pode morrer comigo
De repente, uma manhã, achei que iria ser preso imediata- Mônica, você precisa cuidar das crianças.”
mente. Mas eu não achava que era só a polícia que estava atrás de Mônica tinha chamado meu pai e ao chegarmos em casa ele
mim e nem que eu seria apenas preso. já estava me esperando para levar-me ao médico da família -
naquele tempo eu não tinha psiquiatra. Levei dez dias para sair Bebi mais de um litro de leite enquanto meu irmão dizia: “Isto,
do delírio. Luiz: leite, leite, leite.” (Ele havia encontrado uma forma de me
Naquele tempo eu e Mônica nos amávamos muito e ela, logo alimentar).
depois do choque, percebeu rápido que eu apenas dissera “Eu
tenho outra mulher” para impedir que ela me seguisse. Então,
desvencilhando-se da vizinha, tomou providências para me acu- -4-
dir. Com o passar do tempo o nosso amor sucumbiu às asperezas
da vida, até mesmo por causa das constantes situações de xeque- Em meu trabalho eu usava uma calculadora HP 38C, consi-
mate em que eu a colocava nos meus delírios e depressões. Um derada na época a melhor calculadora financeira existente e às
dia, muitos anos depois, ela chegou-se a mim e perguntou: vezes eu costumava carregá-la na cintura.
_ “Luiz, daquela vez que você saiu correndo de casa, lembra-se, Um dia cismei que minha calculadora era capaz de fazer
era mesmo verdade que você tinha outra mulher?” tudo. Não ela sozinha, naturalmente. Julguei que ela estivesse
Não era verdade e ela sempre soube disto, mas ao relatar o acoplada por radiotransmissão a uma central de computação
caso à sua mãe, esta a manteve em eterna dúvida. mundial, de espionagem estatal. Ela era um elo do Grande Irmão
de Orwell em 1984.
Primeiro falei com minha chefe, no alto escalão de uma
-2- Secretaria de Estado:
_ “Sabe, eu tenho participado de reuniões sigilosas e se alguma
Na praia, tive um delírio místico, religioso, em que eu me jul- informação importante vazar, a culpa não é minha, é de
gava um profeta. Eu estava em estado de beatitude e julgava que minha calculadora.”
todas as coisas aconteciam porque eu as fazia acontecer. Ela era psicóloga, por coincidência, e logo percebeu que eu
Se uma folha de árvore caísse ao vento era porque eu estava estava delirando. Telefonou para minha mulher e ela veio me bus-
olhando para ela e ordenando-lhe que caísse. Se uma pessoa car no escritório, tendo já marcado hora no meu psiquiatra. Eu
andasse era porque eu queria que andasse e assim por diante... fui com ela ao médico e chegando lá, mostrei-lhe a calculadora.
Logo depois entrei a estrebuchar. Pensei ter tido uma convul-
Que ele cuidasse dela porque ela é que era perigosa, estava desa-
são. Muitos anos depois, meu irmão médico, que estava comigo
justada; não eu.
na ocasião, disse que na verdade tive uma crise histérica. Eu bal-
Depois saímos do médico e enquanto Mônica dirigia, na
buciava sons ininteligíveis e para mim, dentro de mim, eu estava
Avenida Paulista, eu encaixei a calculadora no lugar do cinzeiro
falando com Deus em uma linguagem arcaica. Durante muito
do carro e lhe disse:
tempo eu julguei ter tido um contato com Deus, até que o tempo _ “Pode largar do volante, de tudo isto de controle mecânico do
passou e essa impressão se dissipou.
carro que é obsoleto e desnecessário. Já programei a calcu-
Acredito, no entanto, que muitas das experiências místicas,
ladora e em conexão com as centrais eletrônicas ela vai levar
sobrenaturais, possam ser fruto de delírios e alucinações doentias.
nosso carro até em casa.”
Assim como acredito que as religiões todas nada mais são do que
uma resposta que o homem criou para sua maior dor psicológica:
a solidão perante o destino e o universo. -5-
Daí ela teve de pegar os livros que tínhamos em casa sobre Neste delírio, após ser medicado em São Paulo, fui para a
AIDS e me fazer reler, explicando-me como se pegava a doença, praia com Mônica e as crianças e também com meu irmão médi-
como se eu nunca tivesse sabido. Depois me disse: co e sua família.
_ “Se você está tão preocupado, vá fazer um exame de sangue. Desta vez tive a maior impregnação de haldol de todas as
Mas eu lhe proponho outro teste. Você sabe que eu não estou minhas crises. Aliás, mesmo em minhas internações, nunca vi nin-
com AIDS. E que sou uma pessoa consciente, lúcida, que não guém tão impregnado quanto eu fiquei. O akineton não foi sufi-
quero pegar AIDS. Pois você também não tem, e para você ciente para deter a impregnação.
ter certeza disso eu lhe ofereço o meu corpo. Venha deitar Primeiro meu corpo ficou todo rígido e eu só me movimen-
comigo.” tava muito lentamente, com o andar estranho dos robôs.
Depois, uma tarde, fui acometido por um repuxamento mus-
-8- cular na nuca e no pescoço e eu ficava com o rosto de lado, com
a musculatura toda estirada. Meu maxilar se travou e o trismo não
permitia que eu abrisse a boca.
De uma das vezes em que estive internado, lembro-me de
Minha cunhada deitou-me numa esteira de taboa e me fez
estar amarrado na cama num dos quartos do Bezerra de Menezes
massagens. Assim fiquei sabendo que massagens não adiantam
e pensar que estava enterrado vivo numa espécie de catacumba
nada para isto.
que eu imaginava ser vizinha do cemitério do Araçá.
Meu irmão me pegou pelo braço, pôs-me no carro e levou-
Neste dia eu fiquei, talvez, amarrado das dez horas da manhã
me até a farmácia em Boissucanga. No caminho, havia enormes
até quatro da tarde. O delírio evoluiu. Após algum tempo eu não
máquinas de terraplanagem que abriam naquele tempo o novo
estava mais enterrado vivo. Eu era um morto sem condições de
leito da Rio-Santos.
ser enterrado.
A catacumba onde eu estava era uma espécie de purgatório Durante todo o percurso, eu achava que seríamos esmagados
com objetivos de purificação. Era um lugar intermediário entre o por aquelas máquinas imensas. Estava certo que elas estavam ali
Hospital das Clínicas e o Cemitério do Araçá para onde eram apenas para nos perseguir, triturando-nos entre suas pás e estei-
mandados os mortos de graves doenças infecciosas. Havia um ras. Os barreiros que havia no caminho tinham sido feitos de pro-
pessoal burocrata que decidia quem podia ser enterrado, e quem pósito pelas máquinas para nos fazer atolar. Depois elas viriam e
podia subia pelo elevador até o cemitério. Quem não podia, con- nos esmagariam enquanto estivéssemos atolados.
tinuava amarrado. (Não havia elevador no local). Em Boissucanga, na farmácia, na calçada do lado de fora,
Meu corpo estava numa estranha transmutação e de repente lembro-me de uma mulher índia com um facão na mão que olha-
eu não era mais eu. Perdi todas as esperanças de ser solto pois eu va para mim desconfiada. Eu tinha medo que ela me atacasse com
era, afinal, o vírus da AIDS que tinha sido isolado naquele estra- o facão.
nho lugar para ser estudado pelos médicos. Eu era um vírus e De fato, como eu estava, com a cabeça estirada de lado, o
tinha sido capturado. Meu corpo todo tinha sido envolto por uma maxilar teso, repuxando músculos faciais e andando feito robô -
película plástica para que não contaminasse ninguém. Após um acho que ela estava me estranhando. Lembro-me até hoje de seu
tempo, perdi as esperanças de ser solto e parei de gritar. Foi olhar fixo e seu facão enorme seguro pelo braço direito, em posi-
quando, um tempo depois, fui solto da cama. ção de alerta.
Andei até a sala de televisão sem ver ninguém e fiquei senta- Na realidade, ela estava mesmo preparada para me atacar,
do num dos bancos de madeira que havia no local. Os bancos tanto que meu irmão me puxou para dentro da farmácia, dizen-
estavam postos em L, como devem estar até hoje, e assim pare- do-me:
_ “Cuidado com a índia. Você não vê o facão dela e que ela está
ciam delimitar um espaço máximo de ação de cerca de dez metros
quadrados. Daí eu vi ao meu lado, sentado, assistindo televisão, pronta para atacar? Ela está com medo de você. Fique comi-
um companheiro paciente. Era um preto gordo, já um senhor, go. Não vá mais lá.”
bonacheirão, com um gorro enfiado na cabeça. Eu não sabia que Daí meu irmão me fez beber meio vidrinho de Fenergan e
ele estava vendo televisão. Nem sabia que ali havia televisão - eu poucos minutos depois, como por milagre, toda minha muscu-
não a via, pendurada alta na parede. Para mim, eu continuava latura se relaxou e eu me livrei da impregnação. O delírio com
preso para toda a eternidade naquele quadrado delimitado pelos as máquinas de terraplanagem, no entanto, continuou e eu vivi
bancos e o preto era o meu vigia. na volta até Barra do Una o mesmo terror de que elas iriam nos
triturar.
-9-
- 10 -
O haldol, assim como outros neurolépticos, causa efeitos
colaterais, comumente chamados de “impregnação” e que consis- Uma noite, na praia, fiquei de meia noite até sete horas da
tem basicamente numa crescente robotização dos movimentos manhã condicionando um bagre num balde de água.
por uma rigidez muscular que se espalha pelo corpo todo. Para Eu estava certo de estar progredindo em meu intento que era
deter a impregnação usam-se outros remédios junto com os neu- o seguinte: cada vez que eu batesse no balde três vezes “toc, toc,
rolépticos. toc,” o bagre viria até a superfície falar comigo. Então eu batia
sem me pegar teriam de pegar todo mundo. Em que pese o ligei- explosão. Eu me sentia uma bomba ambulante. O único cigarro
ro alívio em termos de segurança que eu sentia, passei a ficar que fumei tranqüilo, neste dia, foi no consultório de meu médico,
muito preocupado com todos da família e a sentir-me culpado que me garantiu que eu podia fumar e peidar o quanto quisesse
pela insegurança em que agora todos viviam. Apenas ao final de que não explodiria. Lembro-me até hoje da esdrúxula conversa
meu delírio, quando comecei a duvidar de minhas certezas, é que que tivemos, ele divertido e sério a me explicar que eu não corria
meus pais e irmãos fizeram força para me convencer de que nin- o risco de explodir.
guém me perseguia. A experiência com a risperidona não deu certo para mim;
Há sabedoria no ditado que diz que não se deve contrariar os pelo contrário, foi aterradora por deflagrar minha fase de delírios
loucos. Dá conforto ter gente a seu lado que “acredite” nas per- cenestésicos. Tive notícias, no entanto, de que o uso do remédio
cepções desvairadas. Negar, fazer força contra na hora errada, foi aprovado e de que alguns doentes têm-se dado bem com ele.
além de nos tornar mais isolados, às vezes faz com que pensemos Mesmo sem questionar a competência e a ética dos médicos que
que quem está contrariando a evidência do delírio está do outro conduziram este experimento, duvido, entretanto, que o protoco-
lado, faz parte dos “inimigos.” lo final deste teste discorra sobre a possível interferência desta
droga na instalação de delírios cenestésicos. Possivelmente, por-
que sou uma irrelevância estatística.
- 13 -
bo líquido, na barriga da perna direita, costumo ter, agora, de vez A única forma de saber o que é um delírio ou uma alucina-
em vez, uma cãibra feroz. ção é passando pela própria experiência. Não desejo isso a nin-
Quando ouço falar de remédio psiquiátrico sem efeito cola- guém, e que ninguém pense que esta é uma experiência que vale
teral, hoje em dia, tenho um medo que me pélo. Penso que sejam a pena. Não vale. O surrealismo vivido é a pior das realidades
efeitos desconhecidos ou não relatados na literatura médica. existentes.
Conheço pessoas, no entanto, que admiram minha vivência.
Creio que imaginam que me enriqueci espiritual ou existencial-
- 15 -
mente com ela. É ao contrário. Esse “enriquecimento” a que se
referem, algum tipo de crescimento, só se dá ao nível da expan-
Ocorre-me que talvez mais útil seja eu encerrar este texto não são da consciência, não com o contato patológico com o incons-
com o relato de mais um delírio qualquer, mas com a reafirmação ciente. Se algum crescimento a doença me trouxe, este é referen-
de que sou amnésico a respeito de meus delírios depois que eles te a ela mesma e se constitui no desenvolvimento da consciência
se desfazem. de minha fragilidade e no reforço de meu lado sadio para dar
Imagino que alguém possa achar estranha essa afirmação conta de suportar e conviver com as crises, tentando não destruir
após ter lido várias páginas de relatos variados de delírios recen- minha vida a cada novo episódio delirante.
tes e até bem antigos, alguns com diversos detalhes. Mas o fato é O contato com o sublime e com o tenebroso que existe no
que o relatado corresponde à minha memória mais significativa inconsciente é, de fato, uma fonte de crescimento e energia, e
em cada caso e os detalhes são mínimos comparados à multiplici- tanto mais quando nos apropriamos conscientemente de seus
dade dos episódios que se desenvolvem em cada momento do conteúdos. Mas com limites. Qualquer um pode fazer isso inten-
delírio e à complexidade das sensações e emoções que vivo numa sa e proficuamente se souber curtir seus sonhos. O lado tenebro-
crise. Principalmente no que se refere à intensidade das vivências. so do inconsciente à solta na vida, dominando em delírio todas as
Relatar um delírio dando destaque ao lado humorístico das ações e sensações, é literalmente uma loucura. É patológico e em
situações, como fiz em alguns casos, é importante para realçar o qualquer instante, sem mais aviso, pode levar à morte num ato
surrealismo das experiências e para tentar tornar a leitura mais qualquer desvairado durante uma crise. Por isso nenhum delírio
agradável, mas pode levar à falsa impressão de que tudo não é engraçado, a despeito das situações hilariantes que possa criar.
passa de uma grande curtição. Nada mais enganoso. A tônica oni- Quem quiser se aproximar da compreensão do que vem a ser
presente em cada uma dessas situações é a de um medo tenebro- um delírio, tome contato profundo com os seus próprios sonhos.
so. Um pavor e uma angústia inenarráveis. Nada é vivido pelo Principalmente com os pesadelos. Experimente imaginar o que
lado engraçado, exceto nas pequenas tréguas de conversações viria a ser o seu pior pesadelo e imagine o que seria de você viven-
com pessoas que me conhecem muito bem e sabem me acompa- do este pesadelo ininterruptamente durante duas ou três sema-
nhar no desvario. nas, acordado, enquanto tenta continuar dando conta da sua
A fase de bem estar nas crises corresponde, para mim, ao iní- vida, trabalhando, cuidando dos filhos, se relacionando com as
cio do descontrole eufórico. Seria, como se diz, a fase pré-manía- pessoas e com os fatos do mundo real. Misture as vicissitudes de
ca. Quando o delírio se estabelece em plenitude, a vivência é ater- seu cotidiano com o lado mais tenebroso de seu inconsciente e
rorizante. O sofrimento é superlativo. depois me diga que minha experiência ou a de qualquer outro
Cada delírio destes, de que relatei passagens, durou muitos psicótico é enriquecedora.
dias, às vezes até duas ou três semanas, e cada minuto desses dias Verdade é que, em momentos meus de desalento e desespe-
foi um momento de pânico, de urgência, de situação emergencial, rança perante o mundo e as pessoas, eu às vezes já fantasiei que
onde alguma ameaça fatal me assolava de forma acachapante. O seria muito instrutivo para alguns experimentar uma crisezinha
medo de vir a morrer numa explosão causada por um peido de psiquiátrica para largar mão de tanta onipotência ou de tanto
gases inflamáveis não é menor do que o de vir a ser esmagado por chorar de barriga cheia. Mas isso não passa de meus rancores. Na
uma motoniveladora no canteiro de obras de uma estrada em verdade, volto a dizer que não desejo a experiência a ninguém,
construção. Nem a angústia é menor. nem mesmo a meus desafetos.
Diante das situações intensa e ininterruptamente vividas ao Quanto a meu próprio destino, acalanta-me a esperança de
longo de vários dias e noites, aquilo que minha memória retém que Deus seja sábio. Talvez ele dê o frio conforme o cobertor.
não passa de fragmentos. De dezenas ou mesmo centenas de delí-
rios não guardo a menor recordação. E de muitas das crises cujos
fragmentos eu relatei, minha ex-mulher ou meus pais e irmãos tal- Comentários deste e de outro auto-relato de delírios por Othon
vez tenham melhor memória do que eu. Bastos no próximo número de CPP.
Por isso não sou um bom contador de delírios. O que deles
me lembro e o que consigo transmitir numa narrativa nem de
longe se assemelham à reconstituição das situações que vivi.
Pilar Sierra San Miguel* polifagia e hiperfagia. Orlosky9 en una revisión de 33 casos,
Lorenzo Livianos Aldana** encontró como alteración más frecuente la confusión (73%), irri-
Luis Rojo Moreno** tabilidad (58%), amnesia (39%), ilusiones (30%), letargia (24%),
depresión (21%) y desinhibición sexual (18%).10
La diversidad etiológica es notable. Por una parte, se ha pos-
tulado un trastorno funcional del sistema mesencéfalo-hipotála-
Resumen mo-límbico, al encontrar diferentes altera-ciones hormonales
hipotálamo-hipofisarias y de neurotransmisores. Ademas, con
El síndrome de Kleine-Levin es un síndrome caracterizado por la frecuencia existen antecedentes de infecciones víricas o gripales
triada clásica de hipersomnia periódica, trastornos de la alimentación los días previos al primer episodio, encontrando infiltrados de
en forma de megafagia y diversos síntomas neuropsiquiátricos. Se
linfocitos que evocarían una encefalitis viral localizada.11 Incluso
trata de un trastorno de difícil diagnóstico, que puede iniciarse con
se han descrito casos en los que los síntomas aparecieron des-
sintomatología muy inespecífica. Hasta el momento, se han descrito
pues de experiencias psicológicas estresantes o traumatismos
unos 100 casos. El presente artículo expone el caso de un hombre
craneoencefálicos.12 Por otra parte, anomalías neuroendocrino-
de 22 años inicialmente diagnosticado de trastorno de somatización
lógicas comunes podrían explicar la coexistencia entre el síndro-
y que finalmente lo fue de síndrome de Kleine-Levin, tras perfilarse
me de Kleine-Levin y la enfermedad de Parkinson en algunos
la sintomalogía clásica de somnolencia excesiva, hiperfagia e hiperse-
pacientes.13
xualidad. En este trabajo, los autores exponen el cuadro clínico insis-
tiendo en los tratamientos utilizados y resultados obtenidos.
Caso clínico
Palabras-claves: Síndrome de Kleine-Levin; Hipersomno-lencia;
Hiperfagia; Sexualidad Paciente varón de 22 años que acude al Centro de Salud
Mental, derivado por su médico de familia refiriendo somnolen-
Satterley describió por primera vez en 1815 un caso con un cia excesiva y estado de ánimo depresivo.
perfil similar a lo que actualmente denominamos síndrome de Embarazo, parto y desarrollo psico-motor normal. Sin
Kleine-Levin. Posteriormente, Dana (1884), Anfimot (1898), antecedentes médicos, ni psiquiátricos propios o familiares. En
Kleine (1925)1 y Levin2 (1929) aportaron casos con una sintoma- cuanto a su biografía, segundo de tres hermanos, soltero, convive
tología coincidente. El término de “síndrome de Kleine-Levin”, se con sus padres. Obtuvo el Graduado Escolar y actualmente tra-
debe a Critchley y Hoffmann3,4 quienes lo propusieron en 1942. baja como taxista. Personalidad dependiente con tendencia a la
Aparece de forma más frecuente en varones, en la última introversión y retraimiento social.
etapa de la adolescencia y a partir de la segunda década de la vida, En el momento de la primera consulta, se mostraba empáti-
posteriormente se observa una disminución gradual tanto en la co y con conciencia de enfermedad. Según relataba, la enfer-
frecuencia como en la duración de los episodios.5 También exis- medad actual se había iniciado hacía dos años. En un principio,
ten casos descritos con una clínica muy similar en mujeres, en definía unos síntomas vagos consistentes en “sensación de
relación con el periodo menstrual pudiendo ejercer un impor- mareo”, inestabilidad y parestesias en zona frontal y temporal
tante papel etiopatogénico la progesterona.6 derecha, de presentación matutina. La inespecificidad de estos
En cuanto a la hipersomnia, puede instaurarse de forma síntomas, motivó un diagnóstico inicial de trastorno de somati-
brusca o gradualmente, tiene un carácter recurrente y una zación. Progresivamente el cuadro se fue agravando, llegando a
duración variable, desde un día hasta seis semanas como caso interferir notablemente en su vida diaria, especialmente en el
extremo.7 plano laboral, dada la imposibilidad de acudir a su trabajo como
Billiar,8 uno de los autores que más ha publicado en torno a taxista en los turnos matutinos. El paciente refería episodios de
este tema, escogió el término “sobrealimentación”, a la hora de hipersomnia matutina, despertándose solo mediante estímulos
describir los trastornos alimentarios, ya que incluyen megafagia, intensos, con amnesia posterior y sensación de extrañeza. La
evolución seguía un curso cíclico, pero sin relación con el perio- vasculares, traumatismos craneoencefálicos, tumores de afecta-
do estacional. ción supraselar,16 síndromes de apnea-sueño, fármacos sedantes o
Al mismo tiempo, presentaba aumento del apetito con acce- anticomiciales, pueden estar presentes. Es decir, la etiología mul-
sos compulsivos de hiperfagia, aumento de la líbido e hipersexu- tifactorial puede retrasar un diagnóstico certero.
alidad (traducidos en episodios de masturbación muy frecuentes) Por lo que respecta al tratamiento, Hart17,18 en 1985 desta-
Según sus familiares, las fases en las que se reagudizaba la có el papel del carbonato de litio debido a su acción sobre el
clínica se acompañaban de sintomatología afectiva, consistente en metabolismo de la serotonina, que se encuentra aumentada en el
ánimo triste, pobre control emocional y apatía. En ningún líquido cefalorraquídeo de estos pacientes, con una renovación
momento se evidenciaron alteraciones psicopatológicas de otra aumentada, al igual que la dopamina. Desde entonces, numero-
índole.
sos autores hecho notar su efecto beneficioso,19 de modo que en
Exploraciones complementarias:
la actualidad, el litio se considera la mejor opción terapeútica
• hemograma y bioquímica sin hallazgos patológicos;
pudiendo resultar efectivo en la fase aguda y especialmente
• función tiroidea dentro de valores normales;
en la prevención de recaídas. Las dosis recomendadas son de
• electroencefalograma anodino;
• registro poligráfico del sueño: Ha sido imposible su real- 800 mg/d, hasta llegar a litemias estables de 0,4 mEq/l. Tras
ización por la dificultad del paciente en acudir al hospital en un periodo asintomático no concreto y con la normalización en
los horarios previstos. el estudio polisomnográfico, la medicación puede ser retirada
para evitar efectos secundarios, aunque con frecuencia se ha de
reinstaurar.
Tratamiento Se ha defencido el uso de eutimizantes del tipo de la carba-
macepina20 o el ácido valpróico. Otra posibilidad terapeútica la
Ante la inespecificidad inicial del cuadro, instauramos trata- constituyen los psicoestimulantes del tipo de la efedrina, anfeta-
miento con antidepresivos inhibidores de la recaptación de sero- minas o metilfenidato, que actúan sobre la hipersomnolencia,
tonina, junto con sulpiride. Posteriormente, añadimos un antide- pero no sobre el resto de la sintomatología y que en ocasiones
presivo dopaminérgico con marcado efecto estimulante como el
pueden servir para prevenir la recurrencia.
amineptino. En ambos casos, no obtuvimos respuesta positiva.
Pese a que el acento se ha marcado, como hemos visto, en la
Una vez perfilado el diagnóstico, utilizamos carbonato de
participación de la serotonina y dopamina, los fármacos activos
litio hasta llegar a niveles terapeúticos. Sin embargo, pese a con-
siderarse el tratamiento de primera elección en la actualidad, en en estos sistemas no lograron efecto alguno en nuestro paciente.
nuestro caso seguimos sin obtener el efecto previsto. La respuesta ha aparecido única y exclusivamente con psicofár-
Posteriormente, añadimos un psicoestimulante como el metil- macos activos en la vía noradrenérgica. Así pues, conviene consi-
fenidato, los resultados fueron esperanzadores en un principio, derar esta vía como una alternativa terapeútica.
mejorando el conjunto de la sintomatología de forma global y más
específicamente la somnolencia matutina y la hiperfagia. No Summary
obstante, tras un periodo de cuatro meses, la clínica se reinstauró
con las mismas características del principio. Por último, se añadió
Kleine-Levin’s syndrome is characterised by the classic triad of peri-
reboxetina a dosis de 4 mg al día, logrando una sustancial mejoría
odic hypersomnia, hyperphagia and hypersexuality along with other
del cuadro clínico con una notable disminución del número de
episodios hipersomnes, si bien no se ha logrado el blanqueo abso- neuropsychiatric symptoms. The diagnosis is often difficult as it can
luto. Por medio de los registros diarios que lleva a cabo el begin with very vague simptomatology. About a hundred cases have
paciente, observamos que la frecuencia de los episodios se ha been described worldwide.The present work exposes the case of a
reducido a un 10% de la original, no así la intensidad que per- 22 year-old man initially diagnosed of somatization dysfunction and,
manece inalterable. Esta mejoría se mantiene desde hace unos after the classic triad of excessive drowsiness, hyperphagia and
seis meses, lo que permite abrigar unas ciertas esperanzas. hypersexuality has been profiled, finally received the diagnose of
Kleine-Levin syndrome. In this work, the authors expose the clinical
picture stressing the treatments used and the results obtained.
Discursión
El diagnóstico del síndrome de Kleine-Levin puede verse Key-words: Kleine-Levin Syndrome; Hypersomnia; Hyperphagia;
oscurecido debido a la presencia de cambios comportamentales y Sex Behavior
psicológicos.14 Con gran frecuencia, dada la gran variedad de
alteraciones neuropsiquiátricas posibles, los pacientes consultan
por sintomatología afectiva, letargia, amnesia e incluso por tras- Bibliografía
tornos psicóticos. Consecuentemente, los diagnósticos iniciales
pueden ser trastorno de somatización, depresión, histeria, esqui- 1. Kleine W. Periodisch Schlafsucht. Monatsschur Psychiatry
zofrenia15… lo que nos puede conducir a un tratamiento inade- Neurol 1925; 57:285-320.
cuado. Ademas no debemos olvidar, que antecedentes de infec- 2. Levin M. Periodic somnolence and morbid hunger: a new
ciones respiratorias de vías altas, encefalitis, accidentes cerebro- syndrome. Brain 1936; 59:494-504.
resumo 13.
with onset of symptoms precipitated by head trauma. B J
Psychiatry 1988; 152:410-412.
Muller T, Kuhn W, Bornke C, Bullner T, Przuntek H. Kleine-
Levin syndrome and Parkinsonian symtoms. A case report. J
Neurol Sci 1998; 157:214-216.
bula 14.
15.
Mukaddes NM, Alyanak B, Kora ME, Polvan O. The psy-
chiatric symptomatology in Kleine-Levin syndrome. Child
Psychiatry Human Development 1999; 29:253-258.
Bonnet F. Kleine-Levin syndrome misdiagnosed as schizo-
phrenia. European Psychiatry 1996; 11:104-105.
Efexor 16.
17.
Jungheim K, Badenhoop K, Ottmann OG, Usadel KH.
Kleine-Levin and Munchausen in a patient with recurrent
acromegaly 1999; 40:140-142.
Hart EJ. Kleine-Levin syndrome: normal CSF monoamines
and response to lithium therapy. Neurology 1985; 35:1395-
1396.
18. Marcos A, Espinar J. Síndrome de Kleine-Levin. Presentación
de tres casos y revisión de los aspectos etiopatogénicos, clíni-
cos y terapéuticos. Arch Neurol 1993; 56:333-339.
19. Billiard M. Lithium carbonate: effects on sleep patterns of
normal and depressed subjects and its use in sleep wake
pathology. Pharmacopsychiatry 1987; 20:195-196.
20. Mukaddes NM. Carbamazepine for Kleine-Levin syndrome.
J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 1999; 38:791-792.
Guilherme Assumpção Dias pode chegar a 50%.3 Em geral, a DT instala-se lentamente, seu
curso é bastante variado e freqüentemente estabiliza-se ao longo
dos anos. Pode, em alguns casos, melhorar gradualmente, mesmo
com o uso continuado de antipsicóticos.5 Quando o antipsicótico
Resumo é descontinuado, estima-se que 5% a 40% dos casos em geral, e
50% a 90% dos casos leves, regridam, 30% deles em três meses
A discinesia tardia é uma complicação do uso de antipsicóticos que
e mais de 50% em 12 a 18 meses.3
ainda desafia os especialistas. É apresentado, após breve introdução
Devido à presença de sintomas semelhantes em populações
ao tema, o caso de um paciente de 42 anos, sexo masculino, que
esquizofrênicas não tratadas,6 e muitas vezes com taxa de inci-
depois de oito anos de uso de antipsicóticos desenvolveu forma
dência semelhante à dos pacientes que receberam antipsicóticos,
grave de discinesia tardia com predomínio de sintomatologia distô-
nica. Analisa-se a conduta terapêutica adotada e as diretrizes atuais alguns autores sugerem que a DT possa ser mais um sintoma tar-
para o tratamento da discinesia tardia, bem como as principais dio da esquizofrenia ao invés de um efeito de drogas.7 Essas dis-
hipóteses fisiopatológicas. cinesias espontâneas, na verdade, assim como outros distúrbios
de movimento, constituem importante diagnóstico diferencial da
DT. Discinesias orais leves, por exemplo, podem ser observadas
Palavras-chaves: Discinesia Tardia; Distonia Tardia; Patologia, em idosos com próteses dentárias mal fixadas, que nunca recebe-
Terapêutica; Agentes Antipsicóticos ram antipsicóticos.5 O DSM-IV cita como principais diagnósticos
diferenciais as seguintes condições: doença de Huntington, doen-
A discinesia tardia (DT) é um efeito colateral decorrente do ça de Wilson, coréia de Sydenham, lupus eritematoso sistêmico,
uso prolongado de drogas bloqueadoras de receptores dopami- tireotoxicose, envenenamento por metais pesados, próteses den-
nérgicos centrais, como os antipsicóticos e a metoclopramida. A
tárias mal fixadas, discinesias devidas a outros medicamentos, tais
síndrome caracteriza-se por movimentos repetitivos, involuntá-
como L-dopa, bromocriptina ou amantadina, discinesias espontâ-
rios, hipercinéticos, mais comumente afetando a região orofacial,
neas e outros transtornos de movimento induzidos por neurolép-
manifestos como protusão da língua, movimento de beijar, masti-
ticos (p.ex. distonia aguda e acatisia aguda).3
gar, franzir. Esses movimentos são usualmente denominados de
São fatores de risco para DT: a idade,8 o sexo feminino quan-
coreiformes na psiquiatria1 e de estereotipias na neurologia.2
do acima de 65 anos,9 fatores genéticos possivelmente ligados ao
Além de movimentos propriamente coréicos e de estereotipias,
metabolismo de drogas,1 o uso de álcool, de drogas ilícitas e de
são descritos distonia, acatisia, mioclonias, tremores e tics.
Embora freqüentemente coexistam, vários autores separam a DT fumo,10 o diabetes mellitus,11 os transtornos de humor,12 os trans-
em subformas correspondentes a esses movimentos, avaliando tornos mentais orgânicos, a presença de alterações neurológicas
para cada uma delas os fatores de risco, a epidemiologia e a res- ou estruturais13 e, dentre os quadros esquizofrênicos, aqueles
posta a tratamentos. O termo geral discinesia tardia pode ser com predomínio de sintomas negativos.14 O risco aumenta com a
substituído pelos termos estereotipia tardia, distonia tardia, duração e gravidade da doença1 e com a dose acumulada de
coréia tardia, etc. Conforme os critérios diagnósticos do DSM-IV, antipsicóticos,15 embora faltem mais dados empíricos elucidati-
é necessário que os sinais e os sintomas se desenvolvam dentro de vos.9 A presença de sintomas extrapiramidais agudos é forte fator
quatro semanas após a abstinência de um neuroléptico oral (oito preditor de risco.9 O tratamento intermitente parece aumentar o
semanas no caso de medicações de depósito) e que haja um perío- risco de DT.9 O emprego de eletroconvulsoterapia não predispõe
do de exposição ao medicamento de pelo menos três meses (um à DT, ao contrário do que alguns estudos da década de 60 indi-
mês se o indivíduo tem 60 anos ou mais).3 cam.1 Embora alguns autores tenham sugerido um papel para os
Na população psiquiátrica que usa antipsicóticos típicos, a anticolinérgicos como fator de risco para DT, a maioria dos estu-
prevalência média gira em torno de 15% a 25% para a DT clás- dos encontrou ausência de relação causal.1 Ghandirian et al
sica; 1,5% a 13,4% para a distonia tardia. A acatisia tardia4 pos- (1996) mostraram que o uso de lítio com antipsicóticos aumenta
sui a maior prevalência, de até 48%.1 Em idosos, a prevalência o risco de DT.13
te (15/06/99), sendo adotadas, em comum acordo, as seguintes • 02/06/00: seu irmão tem observado melhora lenta mas pro-
estratégias: gressiva desde o início do tratamento.
• suspensão da olanzapina;
• introdução de clozapina (dose inicial de 12,5 mg, duas vezes
ao dia); Discussão
• introdução de reserpina (dose inicial de 0,25 mg/d);
• aumento do biperideno para 6 mg/d; O paciente apresenta quadro grave de DT, manifesto por
• redução lenta e progressiva do flurazepam; movimentos distônicos e coreiformes, mas com predomínio dos
primeiros, podendo, assim, ser denominado distonia tardia. Esta
• manutenção do clonazepam 2 mg/d e vitamina E
caracterização traz implicações terapêuticas e prognósticas, con-
400 mg duas vezes/dia.
forme se evidenciará adiante.
Escala Fahn-Marsden de Avaliação de Distonia (Burke et al,
Do ponto de vista terminológico, notamos a tendência em
1985)16 – 15/06/99:
psiquiatria de designar-se movimentos neurológicos estereotipa-
• I - escala de movimento (pontuação total de 0 a 120): olhos
dos de “coreiformes”. Estereotipia:
(0), boca (6), fala/deglutição (3), pescoço (6), MSD (12), MSE
“is an involuntary, patterned, repetitive, continuous, coordi-
(8), tronco (8), MID (0), MIE (0), total (43);
nated, purposeless, or ritualistic movement, posture, or utte-
• II – escala de incapacidade (pontuação total de 0 a 28): fala
rance. Stereotypy may be simple, as exemplified by a repeti-
(2), escrita (2), alimentação (1), engolir (0), higiene (1), vestir-
tive tongue protusion or body-rocking movements, or com-
se (1), andar (1), total (8).
plex, such as self-caressing, crossing and uncrossing of legs,
marching in place, and pacing... Chorea consists of conti-
Retornos nuous, abrupt, brief, irregular movement that flow ran-
domly from one body part to another”.2
• 24/06/99: hemograma de base sem alterações.
• 02/07/99: iniciada clozapina. A estereotipia tardia seria o tipo mais comum – 78% – de
discinesia tardia na clínica de movimentos anormais do HC-
• 12/07/99: fazendo uso diário de 50 mg clozapina, 1 mg de
UFMG, seguida de distonia, acatisia, tremor, coréia – apenas 3%
reserpina, 6 mg de biperideno, 2 mg de clonazepam, 15 mg de
com base na definição acima – e mioclonos tardios.2 Parece que
flurazepam, 800 mg de vitamina E. Relata certa redução dos
no caso da discinesia tardia os psiquiatras preferem o termo
movimentos anormais (de 20% em sua avaliação subjetiva).
“coreiforme” em vez de estereotipia devido a sua conotação niti-
Queixa desânimo e “corpo ruim” desde o início do uso da
damente neurológica, enquanto que estereotipia nos remete a
reserpina. Ao exame observa-se certa diminuição dos movi-
quadros endógenos ou funcionais e a descrições clássicas como
mentos coreiformes, mantendo-se postura distônica.
estereotipias posturais, estereotipias do movimento ou maneiris-
Conduta: suspensão gradual da reserpina, aumento gradual
mo, além da estereotipia da fala (verbigeração), peculiares à cata-
da clozapina. Restante mantido. Leucograma semanal.
tonia. No caso do nosso paciente, predomina a distonia:
• 05/08/99: em uso de 75 mg/d de clozapina.
“sustained and patterned contractions of muscles producing
• 19/08/99: em uso de 150 mg/d de clozapina. Relata desâni-
abnormal postures or repetitive twisting (eg, torticollis) or
mo, apatia.
squeezing (eg, blepharospasm) movements”.2
• 24/08/99: escala de Fahn-Marsden sem qualquer alteração
com relação à primeira consulta.
Durante um período de oito anos, P. fez uso de vários tipos
• 06/09/99: clozapina aumentada para 200 mg/d, divididos em de antipsicóticos típicos, antes de desenvolver DT – haloperidol,
duas tomadas diárias. tioridazina, propericiazina, clorpromazina, trifluoperazina, pimo-
• 04/11/99: não houve melhora substancial após o aumento zida, flufenazina – além da risperidona. Apresentou, segundo
para 200 mg/d. Sem sintomas psicóticos positivos. Boa intera- seus relatos, parkinsonismo farmacológico com o uso de halope-
ção com familiares. Angustiado com a movimentação. ridol, trifluoperazina e risperidona. Até onde se pôde observar
Hipobúlico, hipoativo. Sono preservado. Ao exame: postura pelas receitas trazidas, este efeito ocorreu com apenas 3 mg/d de
distônica, poucos movimentos coreiformes. Conduta: dose risperidona, o que indicaria uma maior susceptibilidade indivi-
mantida. Suspenso flurazepam. dual a sintomas extrapiramidais e, portanto, maior risco para
• 04/01/00: escala de Fahn-Marsden, subescala de movimento DT.9 Desenvolveu acatisia com pimozida. Também fez uso asso-
41. Aumentado clonazepam para 4 mg/d. ciado de carbonato de lítio durante alguns meses, o que é consi-
• 03/02/00 e 02/03/00: quadro mantido. derado fator de risco para DT.13
• 03/04/00: relata melhora da movimentação não superior a P. foi diagnosticado como portador de esquizofrenia paranói-
20% a 30%, com relação ao início do uso da clozapina. Passa de. Alguns dados, no entanto, podem sugerir um componente de
grande parte do dia deitado, corpo cansado. Prescrito aumen- fundo afetivo, como a presença freqüente de sintomas depressi-
to de dose para 250 mg/d e, após uma semana, 300 mg/d (100 vos associados a retraimento social; o uso freqüente de antide-
mg às 8:00 + 200 mg às 20:00). pressivos variados e de lítio; a certa ciclicidade de períodos de
• 11/04/00: escala de Fahn-Marsden 37/8. exacerbação e remissão de seus sintomas psicóticos; a grande pre-
• 02/05/00: houve redução da movimentação em decúbito. servação da personalidade e da afetividade; e a ausência atual de
demorar até três anos1 e não atinge todos os pacientes. Além 10. Duke PJ, Pantelis C, Barnes TRE. South Westminster schi-
disto, os casos de distonia parecem ter menor taxa de remissão, zophrenia survey: alcohol use and its relationship to
com ou sem a retirada do antipsicótico.26 Deveremos divulgar a symptoms, tardive dyskinesia and illness onset. B J Psychiatry
evolução do quadro clínico nas próximas edições dessa revista. 1994; 164:630-636.
A falta de tratamento comprovadamente efetivo para a DT e 11. Woerner MG, Saltz BL, Kane JM, Lieberman JA, Alvir JMJ.
a sua origem essencialmente iatrogênica reforçam a importância Diabetes and development of tardive dyskinesia. Am J
da sua prevenção, através do uso criterioso de antipsicóticos e do Psychiatry 1993; 150:966-968.
emprego das menores doses necessárias. Os antipsicóticos de 12. Kane JM. Tardive dyskinesia in affective disorder. J Clin
nova geração despontam como grande promessa para se diminuir Psychiatry 1999; 60(5):43-47.
a incidência desta complicação.12,27 13. Ghadirian AM, Annable L, Bélanger MC, Chouinard G. A
cross-sectional study of parkinsonism and tardive dyskinesia
Summary in lithium-treated affective disordered patients. J Clin
Psychiatry 1996; 57:22-28.
Tardive dyskinesia is a complication due to the use of antipsychotics 14. Liddle PF, Barnes TR, Speller J, Kibel D. Negative symptoms
and still represents a challenge to specialists. After a brief introduc- as a risck factor for tardive dyskinesia in schizophrenia. B J
tion to the theme, the author relates a case of a 42 year old male Psychiatry 1993; 163:776-780.
patient presenting a severe form of tardive dyskinesia with predomi- 15. Sweet RA, Mulsant BN, Gupta B et al. Duration of neurolep-
nant dystonic symptomatology acquired eight years after the use of tic treatment and prevalence of tardive dyskinesia in late life.
antipsychotics. A discussion about the treatment of this patient and Arch Gen Psychiatry 1995; 52:478-486.
the current guidance for treatment of tardive dyskinesia is devel- 16. Burke RE, Fahn S, Marsden CD, Bressman SB, Moskowitz
oped, as well as about itts physiopathologic bases. C, Friedman J. Validity and reliability of a rating scale for the
primary torsion dystonias. Neurology 1985; 35(1):73-7.
17. Stahl SM. Essencial psychopharmacology-neuroscientific
Key-words: Tardive, Dyskinesia; Tardive Dystonia; Pathology;
basis and clinical applications. Cambridge: Cambridge
Therapeutics; Antipsychotics Agents
University Press, 1996.
18. Jeste DV, Wyatt RJ. Therapeutic strategies against tardive
Agradecimentos diskinesia. Arch Gen Psychiatry 1999; 39:803-816.
19. Soares KV, McGrath JJ. A systematic review and meta-analy-
O autor e CCP agradecem ao Prof. Dr. Francisco Cardoso, sis. Schizophr Res 1999; 39(1):1-16.
Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da FM- 20. Jeste DV, Lohr JB, Clark K, Wyatt RJ. Pharmacological treat-
UFMG, pela contribuição na revisão do artigo. ments of tardive dyskinesia in the 1980s. J Clin
Psychopharmacol 1988; 8(suppl):38S-48S.
21. Gattaz WF, Emrich A, Behrens S. Vitamin E attenuates the
Referências Bibliográficas development of haloperidol induced dopaminergic hyper-
sensitivity in rats: possible implications for tardive dyskine-
1. Bassit DP, Louzã Neto MR. eds. Discinesia tardia. São Paulo:
sia. J Neural Trams 1993; 92:197-201.
Casa do Psicólogo, 1999.
22. McCreadie R, MacDonald E, Wiles D, Campbell G,
2. Stacy M, Cardoso F, Jankovic J. Tardive stereotypy and other
Paterson JR. The nithsdale schizophrenia surveys: plasma
movement disorders in tardive dyskinesias. Neurology 1993;
lipid peroxide and serum vitamin E levels in patients with
43:937-941.
and without tardive diskinesia, and normal subjects. B J
3. American Psychiatric Association. eds. Diagnostic and statis-
Psychiatry 1995; 167:610-617.
tical manual of mental disorders. 4th ed. Washington DC:
American Psychiatric Association, 1994. 23. Gupta S, Mosnik D, Black DW, Berry S, Masand PS. Tardive
4. Dech H, Daker MV. Acatisia: enfoque clínico-descritivo e dyskinesia: review of treatments past, present and future.
aprofundamento diagnóstico. J Bras Psiquiatria 1996; Ann Clin Psychiatry 1999; 11(4):257-266.
45(12):685-688. 24. Thaker GK, Nguyen JA, Strauss ME, Jacobson R, Kaup BA,
5. Kaplan HI, Sadock BJ. eds. Comprehensive textbook of Tamminga CA. Clonazepam treatment of tardive dyskinesia:
psychiatry. 6th ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1995. a practical GABAmimetic strategy. Am J Psychiatry 1990;
6. Krapelin E. A dementia praecox. Tradução de Daker MV. 147:445-451.
Demência precoce. Casos Clin Psiquiatria 1999; 1:59-67. 25. Cates M, Lusk K, Wells BG. Are calcium channel blockers
7. Bazire S. Psychotropic drug directory - the professio- effective in the treatment of tardive dyskinesia? Ann
nals’pocket handbook and aide memorie. Quay Books, 1999. Pharmacother 1993; 27(2):191-196.
8. Jeste DV, Lacro JP, Palmer B, Rockwell E, Harris MJ, 26. Shaplesky J, McKay AP, McKena PJ. Successful treatment of
Caligiuri MP. Incidence of tardive dyskinesia in early stages tardive dystonia with clozapine and clonazepan. Br J
of low-dose treatment with typical neuroleptics in older Psychiatry 1996; 168:516-518.
patients. Am J Psychiatry 1999; 156(2):309-311. 27. Jeste DV, Rockwell E, Harris MJ, Lohr JB, Lacro J.
9. Egan MF, Apud J, Wyatt RJ. Treatment of tardive dyskinesia. Conventional vs newer antipsychotics in elderly patients. Am
Schizoph Bull 1997; 23(4):583-609. J Geriatr 1999; 7(1):70-76.
4,1 mEq/l, o que fez com que recebesse uma hipótese diagnósti- mEq/l e restante sem alterações. Por isso, o estabilizador do
ca de delirium (intoxicação grave por lítio). M.J.A.P. recebeu alta humor foi trocado para valproato de sódio, na dose de 1.000
melhorada após duas semanas em uso de lítio 600 mg/dia e tam- mg/dia. Desde então está eutímica e não teve mais quadros de
bém com os demais medicamentos já citados, embora mantendo delirium. Sua ataxia persiste há 11 meses.
dificuldade de deambulação por fracasso da coordenação muscu-
lar dos membros inferiores (marcha atáxica).
No seu passado a paciente teve dois episódios depressivos
Discussão
maiores, um há 20 anos e outro há quatro anos, tendo sido trata-
da em ambas ocasiões com imipramina. Não tem antecedentes As complicações neurológicas na intoxicação pelo lítio são
familiares de episódios depressivos ou maníacos, de suicídio, nem comuns e conhecidas na prática clínica. Entretanto, as seqüelas
mesmo de dependência de álcool. neurológicas permanentes são raras e desconhecidas pela maioria
Na primeira consulta a paciente apresentava-se com humor dos psiquiatras e, embora existam relatos de casos há mais de 25
irritável, pensamento acelerado e idéias deliróides de conteúdo anos, não há descrições nos livros texto mais usados em nosso
grandioso e religioso. Ao exame físico apresentava instabilidade meio1,4,11 ou no Physician's Desk References.
da marcha com incoordenação dos movimentos dos membros Alguns fatores de risco são aventados para desenvolvimento
inferiores. Foram feitas hipóteses diagnósticas de transtorno da seqüela neurológica. Schou6 revisou mais de 40 relatos de
bipolar I, atual episódio de mania psicótica e ataxia cerebelar a casos de seqüelas neurológicas após quadros de intoxicação por
esclarecer. Havendo possibilidade de ser cuidada pelos familia- lítio que foram publicados desde 1972, e encontrou doença clíni-
res, a paciente não foi internada e foi orientada a suspender a car- ca com febre (em 11 casos), uso concomitante de dieta hipossó-
bamazepina, aumentar o lítio para 900 mg/dia e aumentar a tiori- dica e diuréticos (em um caso), cirurgia (em um caso), baixa
dazina para 400 mg/dia. ingestão alimentar (em dois casos), início recente de lítio em dose
Após alguns dias em casa apresentou quadro de início súbi- alta (em quatro casos), superdosagem por suicídio (em quatro
to de confusão mental, discurso mais acelerado, humor irritável e casos) ou acidental (em seis casos) e uso concomitante de dose
alucinações auditivas. Ao exame neurológico apresentava dimi- alta de haloperidol e febre (quatro casos). Além desses, outros
nuição do nível de consciência, com força muscular normal nos fatores de risco descritos são: idade avançada, sexo feminino,
quatro membros, mas com acentuação da marcha atáxica. Seus transtorno mental orgânico, uso crônico do lítio, litemia acima da
reflexos estavam vivos globalmente e não apresentava alterações faixa terapêutica, disfunção renal, febre e desidratação.9,12-14
na sensibilidade. Apresentava nistagmo vertical, fundo de olho Dos psicotrópicos, os neurolépticos, a carbamazepina, os
sem edema de papila e não apresentava sinais meningeorradicu- bloqueadores do canal de cálcio, os diuréticos e a metildopa são,
lares. Feita hipótese diagnóstica de delirium (intoxicação por especialmente, relacionados à neurotoxicidade do lítio.15
lítio?), a paciente fora internada, e todas medicações suspensas. A paciente descrita era do sexo feminino e usava, na ocasião
Em seus exames evidenciou-se litemia de 0,7 mE/l, anemia nor- do início da ataxia, dose baixa de carbamazepina e neuroléptico.
mocítica e normocrômica, TGO e TGP discretamente aumenta- A combinação do lítio com a carbamazepina é geralmente bem
dos, função renal normal, T3 e T4 normais com TSH discreta- tolerada e o mecanismo do aumento da neurotoxicidade de
mente diminuído (0,2 mg/ml), anticorpos antitireóide negativos e ambas as drogas quando associadas é desconhecido.16
tomografia computadorizada do encéfalo normal. Este quadro O lítio parece ter afinidade especial pelo cerebelo e a ataxia
remitiu após duas semanas e a paciente recebeu alta hospitalar é uma das seqüelas neurológicas mais freqüentemente relatada na
melhorada, eutímica, tomando clonazepam, 4 mg/dia, mas man- literatura. Nagajara et al12 relataram seis casos de seqüelas neuro-
tendo a mesma ataxia. lógicas entre 965 pacientes com diagnóstico de transtorno afetivo
Em março de 1999 voltou a ficar insone, com humor irritá- bipolar acompanhados por 10 anos, tomando lítio em doses tera-
vel, afeto lábil, choro fácil e idéias deliróides místicas. Feita hipó- pêuticas. A ataxia teve início súbito em quatro casos e estava
tese de novo episódio de mania psicótica e optou-se por manter acompanhada de quadro confusional e tremores. Em dois pacien-
apenas o clonazepam e este quadro remitiu após uma semana. tes, o início da ataxia foi insidioso. Todos mantiveram a ataxia
Para elucidação da causa da ataxia foi encaminhada para pós-interrupção do uso de lítio. A observação desses casos suge-
uma avaliação neurológica. Feitos estudo doppler-color do siste- re uma freqüência de 1,2% casos de ataxia em pacientes toman-
ma carotídeo vertebral, ultra-som de carótida e nova tomografia do lítio, entretanto este dado necessita de confirmação por outros
de crânio normais. A ressonância magnética foi inconclusiva, pois estudos.
paciente permaneceu agitada durante o exame. Assim, a causa da Nos exames de diagnóstico por imagem pode-se evidenciar
cerebelopatia não foi esclarecida, sendo aventados acidente vas- atrofia cortical e cerebelar em alguns casos e em outros a tomo-
cular cerebral, degeneração subaguda da medula por déficit de grafia de crânio é normal. É difícil precisar se a alteração radioló-
B12 e doença aterosclerótica. Diagnosticou-se também hiperten- gica é devido à lesão ou pela idade dos pacientes estudados,12
são arterial sistêmica. porém há relatos de pacientes jovens tomando lítio que após into-
Em abril de 1999 a paciente estava eutímica e o carbonato de xicação apresentaram atrofia cerebelar grave.14
lítio foi reintroduzido como estabilizador do humor na dose de O mecanismo exato de lesão neurológica é desconhecido,
900 mg/dia. Após um mês, teve outro quadro semelhante de deli- porém em biópsia post mortem mais comumente descreve-se
rium com duração de dois dias, acompanhado de piora evidente lesões das células de Purkinje cerebelares, gliose no núcleo den-
da ataxia. Seus exames laboratoriais evidenciaram litemia de 0,8 tado e desmielinização de axônios.17
Luiz Renato Gazzola patient had no family history of psychiatric illness, except for a
great uncle with an unknown mental illness. She had a history of
parental emotional neglect during her childhood. She was a quiet
and shy adolescent, did not date during her teens, and had very
Summary few romantic relationships as an adult. She was described as the
model of strength and stability for her family. A boyfriend of
We present, in clinical case conference format, a case in which deli- three years died in an accident, one year before the onset of the
rium developed and rapidly progressed to mild dementia in a pre- patient's psychiatric illness. Past medical history was unremark-
viously healthy (from the neurological standpoint) 40 years old able except for mild head injury, without loss of consciousness,
woman being treated with lithium, paroxetine, and perphenazine for sustained in a car accident when she was seven years old. The
bipolar disorder I with psychotic features.The unusual aspect of the patient did not drink alcohol or abused substances but did smoke
case is the fact that it was associated with de novo cortical and cere- 1.5 packs a day.
bellar atrophy, as evidenced by two MRIs performed six months At age 39, she developed without apparent precipitant the
apart. We present our possible explanation for the findings as medi- erotomaniac delusion that her cousin loved her and wished to
cation-induced toxic dementia, as well as the differential diagnosis marry and have a child with her. She believed that he was com-
(including a detailed discussion of the possible causes of dementia in municating these thoughts through “subliminal messages.” She
this age group).We discuss some unusual drug interactions, and offer saw the bedcovers turned down in his home and interpreted this
a review of the pertinent literature. as a sign of his decision to become intimate with her. The severi-
ty of her delusional thinking became apparent that same night,
Key-words: Cortex, Cerebral; Cerebellar Cortex; Atrophy; when she entered her cousin's bedroom by breaking through a
Dementia; Delirium; Drug Interactions, Drug Toxicity; window, convinced that he had sent her messages to join him for
a romantic encounter. Her cousin, amazed at her bizarre behav-
Lithium; Perphenazine; Paroxetine
ior and frightened, ordered her to leave at gunpoint. Ms. A went
to a nearby bar from which she called her aunt to tell her that she
We will present a clinical case and its differential diagnosis,
was receiving a message from the radio explaining that her cousin
followed by discussion and literature review. The format adopted
wanted to meet her at the bar. Her aunt became appropriately
for this article will be similar to a clinical case conference. It is
alarmed and persuaded Ms. A to come to her house. Ms. A fell
important to clarify that we directly cared for Ms. A during her
asleep at her aunt's house, but she awoke at 4 AM feeling ener-
third hospitalization only, when she was admitted to a university-
getic and refreshed, and she left. Later that day Ms. A showed up
affiliated hospital. The information included here concerning the
at a yard sale and took off all of her clothing, explaining that she
first two hospitalizations and the outpatient follow-up was
wanted to sell it as part of the yard sale. Her aunt took her to an
obtained through medical records and through the reports of her
prior and subsequent physicians, who were not linked to the emergency room, but Ms. A eloped before she could be evaluat-
same university-affiliated practice. The patient whom we called ed. She was subsequently found showering at the maternity ward,
Ms. A gave written consent to this publication. Some minor where she explained that her cousin had instructed her to do so
details were changed to protect confidentiality. in preparation for her giving birth to their baby. The patient
seemed calm and objective and said that she was convinced that
she was behaving rationally in an attempt to cope with what she
Case Presentation called the upcoming changes in her life.
Ms. A was then involuntarily admitted to a psychiatric hos-
Ms. A was a 40 years old, single, white female, living alone, pital. She was alert and oriented, but in addition to her erotoma-
with no prior psychiatric history. She was said to be a bright nia, had grandiose delusions that she was a superior person with
woman holding a post-graduate degree and was functioning at a many ideas ahead of her time, and that her picture had appeared
high level in a professional career until she was 39 years old. The on the front cover of several major magazines. She additionally
two days the patient began to partially recover her cognitive func- increased energy) but these, on the other hand, are not exclusive
tions. Her behavior became less intrusive, with improved sociabi- to manic patients. Criterion D-2 of the DSM-IV in both schi-
lity and better eye contact. Her mood was brighter and her affect zophrenia and schizophreniform disorder is consistent with
more appropriate. Her thought process was clearer and less mood episodes during the course of these illnesses, as long as they
disorganized. She became oriented to person, place and time and have occurred during active phases and their total duration has
showed better attention span. While her psychotic and affective been brief relative to the duration of the active and residual
symptoms did not reoccur, some of Ms. A's cognitive deficits (e. periods. Some descriptions of the patient's behavior, e.g., her
g., impaired short-term memory) persisted. She was discharged to calm and objective report of her delusional reasons for going to
her sister's care on no medication. the maternity ward, do not strike us as particularly consistent
A repeat EEG shortly after discharge (about two weeks after with mania. She was described at one point as having racing
lithium was discontinued) was found to be normal. Ms. A's blood thoughts, although these were also said to be focused on one
and her water supply were tested for lead with negative results. theme only (her finances), and to have occurred at the same time
Heavy metal screens in blood and hair were also negative. One as she was considered to be anxious and dysphoric. Diagnoses
year later, although Ms. A was oriented to person, place, and like brief psychotic disorder without marked stressors, or schi-
time, she continued to complain of memory problems and of “not zophreniform disorder, cannot be ruled out for Ms. A's first epi-
being able to think efficiently.” Her sister similarly reported that sode. That was the rationale to discharge her from our service on
Ms. A's thinking was not as clear as it had been prior to her ill- no psychiatric medication with recommendation for a close out-
ness, and that she exhibited difficulties with memory and sustai- patient follow-up. We had no proof of the recurrent nature of her
ned concentration. At a two-year follow-up, despite the absence illness. We were faced to a case that could be explained by a brief
of psychotic and affective symptoms, she was still unable to resu- psychosis followed by an organic syndrome. However, the latest
me her previous professional career due to subtle but persistent information that we have now about Ms. A's course including a
cognitive deficits, consistent with mild dementia. She was able to major depressive episode during the third year and the absence of
obtain employment in a less demanding position. During the fol- psychotic relapse in spite of a long period without neuroleptics
lowing year Ms. A experienced a two-month episode of major rescues the possibility of a diagnosis of bipolar I disorder. Longer
depression without psychotic features, which responded to out- observation of her future course is needed to tell exactly what the
patient treatment with fluvoxamine and valproate. She has been long-term diagnosis is. In any case, however, it appears fairly clear
_ and this is important to our line of thought _ that in spite of the
kept on these drugs to date (little more than three years after the
third hospitalization) and remains stable both psychiatrically and relatively late onset, Ms. A's first episode did not have any neuro-
neurologically, although with a persistent but stable cognitive logical features and she had intact memory, orientation, and gene-
deficit. For various external reasons, a third MRI and serial neu- ral cognition at that time.
ropsychological tests were not obtained. If we take a detailed look into the second and third admis-
sions, including the period between these two hospitalizations,
we cannot really be certain that she subsequently presented clear
Discussion symptoms of a so-called functional psychosis or even of a mood
disorder. Granted that she appeared depressed on occasion, and
We will now address our proposed diagnosis for this patient, had symptoms suggestive of psychosis such as the distorted faces
as well as its limitations and possible alternatives. on television and the impression of having her own voice in a
This patient came to us with a previous diagnosis of bipolar constant debate in her mind, right at the beginning of the second
disorder with psychotic features. We do not entirely accept this hospitalization. However, what started to show very shortly the-
diagnosis. The onset of the illness in Ms. A was not typical: 75% reafter, into the first few days of the second hospital stay, was a
of women with bipolar I have a depressive episode first, and most confusional state. One cannot rule out that her dysphoric,
of them have already had clear episodes by age 30. Late onset anxious mood, her experiences of being “just barely able to hang
always suggests organic pathology or other causes, but still, Ms. on”, her fear of losing control, her inability to decide where to
A's onset is not unheard of: a good 20% of patients have their place a chair in a room, her easy distractibility and even some
first episode in their late 30’s or early 40’s. There is also the pos- hints of derealization, could fit perfectly the prodromic phases of
sibility of mild to moderate undiagnosed earlier depressive episo- a very insidious delirium. What was read at the time as a thought
des, which are often less spectacular to exterior observers than a process disorder with blocking could be the result of incipient
full-blown mania. Ms. A's onset is also somewhat atypical for cognitive impairment, and even the symptoms that motivated
bipolar disorder in terms of the nature and intensity of her paroxetine to be started could have been due to mild confusion
psychotic features, e.g., the marked erotomania, the command and not to depression. The “sundowning” and inability to find
auditory hallucinations, the ideas of influence and the delusional her way to her room in the ward without being escorted are
interpretations that are all more commonly seen in other psycho- highly indicative of delirium. From this point on, while she conti-
ses, but again, these symptoms do not exclude the diagnosis of nued to be seen as showing symptoms of a mood disorder, the
bipolar I with psychotic features. It is hard to judge the nature of patient persistently complained of having periods of confusion
the first episode by discharge summary only, especially in regard and disorientation and of not being able to think clearly, to the
to the actual degree of mania. She did have grandiose delusions, point of abandoning her career. She was in our view rather func-
hypersexuality and manic behavior (e.g., taking off her clothing, tionally impaired (and significantly so) than depressed.
known to be associated with neurotoxicity at levels above It is known that lithium has a diuretic effect, presumably by
1.5 mEq/L. Levels above 3.0 are often associated with severe neu- interfering with vasopressin-stimulated adenyl- cyclase, leading to
rotoxicity with permanent neurological sequelae including cogni- lithium-induced polyuria and at times the development of neph-
tive dysfunction secondary to brain damage,3-5 if not promptly rogenic diabetes insipidus.27 Perhaps one mechanism underlying
treated as a medical emergency. Marked toxicity with delirium lithium delirium and dementia may result from changes in either
and ataxia ordinarily starts at least above 2.0 mEq/L, and the secretion or absorption of CSF, leading to cortical atrophy. Barkai
interval between 1.5 and 2.0 is usually filled with other signs of and Nelson28 reported that the formation of CSF in rats signifi-
milder toxicity such as gross tremors and diarrhea. It is less cantly decreased by 19% after chronic treatment with lithium.
widely recognized that lithium can lead to neurotoxicity, deli- On the other hand, Ehle and Uebelhack29 reported the occurren-
rium, and dementia even at levels below 1.5 mEq/L, and even in ce of hydrocephalus in a case of lithium-haloperidol combined
the absence of other signs of lithium toxicity. The highest docu- therapy, speculating on the role of the influence of lithium on
mented level that we have for Ms. A was 1.4, which can be quite Na+-K+ stimulated ATPase, on active transport and on adenyl
excessive for some patients, but is not particularly striking. All of cyclase as the basic mechanism for the findings. It is interesting to
her other levels in several measurements throughout her treat- ask whether the drop in cortical volume on MRI in our patient is
ment in different hospitals and clinics were always between 0.9 a consequence of hydrocephalus. On occasion it may be difficult
and 1.1 mEq/L. to distinguish hydrocephalus due to abnormal CSF dynamics
Numerous cases of lithium-induced delirium have been from hydrocephalus ex-vacuo secondary to atrophy, but usually
reported.6,7 Furthermore, there is an extensive literature on the even in normal pressure communicating hydrocephalus the ven-
question of the toxicity of lithium and neuroleptics in combina- tricles rather than the subaracnoid spaces are enlarged, unlike
tion, starting with early reports in the mid and early 70's invol- our patient's case. Unfortunately we do not dispose of a third
ving haloperidol and thioridazine, followed by numerous papers MRI to help clarify this point. Another mechanism that has been
in the 80's and early 90's expressing either skepticism (such as proposed for lithium-neuroleptic toxicity is increased lipid pero-
comments on the difficulty to distinguish a combined toxicity xidation in the cerebral cortex as seen in rats put on both drugs,
syndrome from the toxicity to either agent alone) or confirmation which was higher than the peroxidation induced by haloperidol
(studies pointing to either higher frequency of NMS and EPS or alone and lithium alone.30
to delirium and brain damage _ our patient in her third admis- One very interesting finding is the fact that phenothiazines
sion did have a degree of EPS that she had not experienced befo- seem to induce intracellular elevations of lithium and higher tis-
re). We refer the interested reader to a collection of these stu- sular distribution of Li+ both in vitro and in vivo. Pandey, Goel
dies.8-23 Several neuroleptics have been implicated, including, and Davis suggested that this might explain neurotoxic side
most recently, risperidone.24 An extensive review by Goldman25 effects of lithium in these combinations.31 This could account for
in 1996 identified 237 reported cases of toxicity, both with the fact that even in the presence of therapeutic levels, more toxi-
lithium/haloperidol and lithium/non-haloperidol neuroleptics. city may occur (our patient was on a phenothiazine). Piperazine
This number seems impressive, but when paired to the likely phenothiazines produced the most marked elevations of intracel-
hundreds of thousands of patients on this kind of combination lular lithium, doubling the red cell:plasma lithium ratio (LR) in
around the world, one can understand why some studies failed to vitro. The aminoalkyl phenothiazines and thioxanthenes were
demonstrate a toxic interaction:26 this occurrence appears to be somewhat less active in this regard, while the non-phenothiazine
at least infrequent if not rare, although it may be dramatic when antipsychotics, such as loxapine, haloperidol and molindone,
it does happen. produced only minor increases in the LR. Tricyclic antidepres-
Lithium neurotoxicity is poorly understood. In regard to risk sants produced a 20% to 30% increase, while other antidepres-
factors, West and Meltzer5 reported five cases of lithium toxicity sants and benzodiazepines did not show any activity on the LR.32
with levels between 0.75 and 1.7 mEq/L, and made a point that Anecdotal reports have linked numerous other medications
patients who developed neurotoxicity had markedly higher with the development of neurotoxicity without an apparent effect
ratings on psychosis and on anxiety in the pre-toxic period com- on the pharmacokinetic disposition of lithium. Anticonvulsants
pared to patients who never developed neurotoxicity. However, and calcium antagonists have all been implicated in a sufficient
rather than increased vulnerability to the development of severe number of case reports to warrant concern.33 As these medica-
neurotoxicity, this may be associated with the fact that such tions have all been commonly coadministered with lithium, the
patients are more likely to have neuroleptics added to their relative risk of serious interactions appears to be quite low, but
lithium regimen. Brown and Rosen7 note that possible risk factors caution is advised.
for the development of lithium-induced delirium include conco- Our patient was on other drugs as well, including lorazepam,
mitant administration of neuroleptics, advanced age, and relapse paroxetine and levothyroxine. It is unclear if these drugs played
of an acute psychotic or depressive illness. For our patient, who a role in the development of neurotoxicity. The literature in this
developed TSH elevation after being on lithium for a relatively regard is scattered. Reports on paroxetine-lithium toxicity were
short period of time, one can speculate that this too, may indica- not found in our literature search, however interactions with
te that she was particularly prone to adverse effects of lithium. other SSRIs have been addressed in some papers. Initial studies
Her history of head trauma, which in certain cases increases sen- indicated that the combination of lithium and fluoxetine34 fails to
sitivity to psychoactive drugs, does not appear to have been signi- demonstrate any detrimental interaction, but some subsequent
ficant enough. case reports contradict this. Austin, Arana and Melvin reported
nowledged as such. This case, to a certain extent, also argues for 7. Brown AS, Rosen J. Lithium-induced delirium with thera-
more attention to the possibility of interactions between paroxe- peutic serum lithium levels: A case report. J Geriatr
tine (and other SSRIs) and lithium as risk factors for enhanced Psychiatry Neurol 1992; 5:53-55.
neurotoxicity, and for further research involving neuroimaging 8. Harvey NS, Merriman S. Review of clinically important drug
studies in patients with documented lithium neurotoxicity. interactions with lithium. Drug Safety 1994; 10(6):455-463.
9. Habib M, Khalil R, le Pensec-Bertrand D, Ali-Cherif A,
Bongrand MC, Crevat A. Persistent neurological syndrome
Resumo after treatment with lithium salts. Toxicity of the lithium-
neuroleptic combination? Revue Neurolo-gique 1986;
Apresenta-se caso de delirium que progrediu rapidamente para 142(1):61-64.
demência leve, em uma mulher de 40 anos previamente saudável 10. Baptista T. Lithium-neuroleptics combination and irre-
do ponto de vista neurológico, em tratamento com lítio, paroxetina versible brain damage. Act Psychiatrica Scand 1986;
e perfenazina para transtorno bipolar tipo I, com manifestações psi- 73(1):111.
cóticas. A originalidade do caso é o fato de estar associado com o 11. Miller F, Menninger J. Correlation of neuroleptic dose and
surgimento de atrofia cortical e cerebelar, conforme evidenciado neurotoxicity in patients given lithium and a neuroleptic.
por dois exames de ressonância magnética realizados com seis Hosp Community Psychiatry 1987; 38(11):1219-1221.
meses de intervalo. Apresenta-se explicações possíveis para os 12. Bailine SH, Doft M. Neurotoxicity induced by combined
achados como sendo devidos a demência tóxica induzida por medi- lithium-thioridazine treatment. Biol Psychiatry 1986; 21(8-
camentos, bem como diagnóstico diferencial, incluindo uma discus- 9):834-837.
são detalhada sobre as possíveis causas de demência nessa faixa 13. Yassa R. A case of lithium-chlorpromazine interaction. J Clin
etária. Discute-se algumas interações medicamentosas não habituais Psychiatry 1986; 47(2):90-91.
com a revisão da literatura pertinente. 14. Jeffries J, Remington G, Wilkins J. The question of lithi-
um/neuroleptic toxicity. Can J Psychiatry 1984; 29:601-604.
15. Prakash R. Lithium-haloperidol combination and brain dam-
Palavras-chaves: Córtex Cerebral; Córtex Cerebelar; Atrofia;
age. Lancet 1982; 1:1468-1469.
Demência; Delírio; Interações de Drogas; Toxicidade de Drogas;
16. Serup J, Brun C. Interaction of lithium and neuroleptics.
Lítio, Perfenazina; Paroxetina Ugeskrift for Laeger 1980; 142:2643-2644.
17. Boudouresques G, Poncet M, Ali Cherif A, Tafani B,
Agradecimentos Boudouresques J. Acute encephalopathy during combined
phenothiazine and lithium treatment. A new case with low
The author thanks Lewis A. Opler, M.D., Ph.D., for his contri- blood lithium. Nouvelle Presse Medicale 1980; 9:2580.
bution to the section regarding the mechanisms of lithium toxicity; 18. Puhringer W, Kocher R, Gastpar M. Incompatibility of lithi-
Jack Gorman, M.D., and Peter Bookstein, M.D., for reviewing the um therapy with neuroleptics. a case report. Nervenarzt
manuscript; and Sarah Lisanby, M.D., for calculating the cortical 1979; 50:124-127.
volumes through MRI films. 19. Loudon JB, Waring H. Toxic reactions to lithium and
haloperidol. Lancet 1976; 2:1088.
20. Miller F, Menninger J, Whitcup SM. Lithium-neuroleptic
References neurotoxicity in the elderly bipolar patient. J Clin
Psychopharmacol 1986; 6:176-178.
1. Brown, MM, Hachinski, VC. Dementia. In: Isselbacher KJ, 21. Spring GK. Neurotoxicity with combined use of lithium and
Braunwald E, Wilson JD, Martin JB, Fauci AS, Kasper DL. thioridazine. J Clin Psychiatry 1979; 40(3):135-138.
eds. Harrison's Principles of Internal Medicine. McGraw- 22. Spring GK. Delirium associated with lithium and thiori-
Hill, New York, 1994:142-145. dazine. Am J Psychiatry 1983; 140(9):1257-1258.
2. Finelli PF. Drug-induced Creutzfeldt-Jakob like syndrome. J 23. Fuller MA, Sajatovic M. Neurotoxicity resulting from a com-
Psychiatry Neurosci 1992; 17(3):103-105. bination of lithium and loxapine. J Clin Psychiatry 1989;
3. Shopsin D, Johnson G, Gershon S. Neurotoxicity with lithi- 50:187.
um: differential drug responsiveness. Int Pharmacopsychia- 24. Chen B, Cardasis W. Delirium induced by lithium and
try 1970; 5:170-182. risperidone combination. Am J Psychiatry 1996; 153:1233-
4. Cohen WJ, Cohen NH. Lithium carbonate, haloperidol and 1234.
irreversible brain damage. JAMA 1974; 230:1283-1287. 25. Goldman SA. Lithium and neuroleptics in combination: the
5. West AP, Meltzer HY. Paradoxical lithium neurotoxicity: A spectrum of neurotoxicity. Psychopharmacol Bull 1996;
report of five cases and a hypothesis about risk for neuro- 32(3):299-309.
toxicity. Am J Psychiatry 1979; 136:963-966. 26. Goldney RD, Spence ND. Safety of the combination of lithi-
6. Ghadirian AM, Lehmann HE. Neurological side effects of um and neuroleptic drugs. Am J Psychiatry, 1986;
lithium: Organic brain syndrome, seizures, extrapyramidal 143(7):882-884.
side effects, and EEG changes. Compr Psychiatry 1980; 27. Pandey GN, Davis JM. Cyclic-amp and adenylate cyclase in
21:327-336. psychiatric. In: Palmer GC. Neuropharma-cology of Cyclic
Machado de Assis* do rapaz que a filha, não hesitou em casá-los; ligá-lo à família era
assegurar a persistência de Sales na execução do plano.
O casamento fez-se em agosto, indo os noivos passar a lua-
Ao certo, não se pode saber em que data teve Sales a sua pri- de-mel no Recife. No fim de dous meses, não voltando eles ao
meira idéia. Sabe-se que, aos dezenove anos, em 1854, planeou engenho, e acumulando-se ali uma infinidade de respostas ao
transferir a capital do Brasil para o interior, e formulou alguma questionário que Sales organizara, e muitos outros papéis e opús-
cousa a tal respeito; mas não se pode afirmar, com segurança, que culos, Melchior escreveu ao genro que viesse; Sales respondeu
tal fosse a primeira nem a segunda idéia do nosso homem. que sim, mas que antes disso precisava dar uma chegadinha ao
Atribuíram-lhe meia dúzia antes dessa, algumas evidentemente Rio de Janeiro, cousa de poucas semanas, dous meses, no máxi-
apócrifas, por desmentirem dos anos em flor, mas outras possíveis mo. Melchior correu ao Recife para impedir a viagem; em último
e engenhosas. Geralmente eram concepções vastas, brilhantes, caso, prometeu que, se esperassem até maio, ele viria também.
inopináveis ou só complicadas. Cortava largo, sem poupar pano Tudo foi inútil; Sales não podia esperar; tinha isto, tinha aquilo,
nem tesoura; e, quaisquer que fossem as objeções práticas, a ima- era indispensável.
_ “Se houver necessidade de apressar a volta, escreva-me; mas
ginação estendia-lhe sempre um véu magnífico sobre o áspero e o
aspérrimo. Ousaria tudo: pegaria de uma enxada ou de um cetro, descanse, a boa semente frutificará. Caiu em boa terra, con-
se preciso fosse, para pôr qualquer idéia a caminho. Não digo cluiu enfaticamente.”
cumpri-la, que é outra cousa. Ênfase não exclui sinceridade. Sales era sincero, mas uma
Casou aos vinte e cinco anos, em 1859, com a filha de um cousa é sê-lo de espírito, outra de vontade. A vontade estava
agora na jovem consorte. Entrando no mar, esqueceu-lhe a terra;
senhor de engenho de Pernambuco, chamado Melchior. O pai da
descendo à terra, olvidou as águas. A ocupação única do seu ser
moça ficara entusiasmado, ouvindo ao futuro genro certo plano
era amar esta moça, que ele nem sabia que existisse, quando foi
de produção de açúcar, por meio de uma união de engenhos e de
para o engenho do sogro cuidar do açúcar. Meteram-se na Tijuca,
um mecanismo simplíssimo. Foi no Teatro de Santa Isabel, no
em casa que era juntamente ninho e fortaleza; - ninho para eles,
Recife, que Melchior lhe ouviu expor os lineamentos principais
fortaleza para os estranhos, aliás inimigos. Vinham abaixo algu-
da idéia.
_ “Havemos de falar nisso outra vez, disse Melchior; por que mas vezes, _ ou a passeio, ou ao teatro; visitas raras e de cartão.
Durou essa reclusão oito meses. Melchior escrevia ao genro que
não vai ao nosso engenho?”
voltasse, que era tempo; ele respondia que sim, e ia ficando;
Sales foi ao engenho, conversou, escreveu, calculou, fascinou começou a responder tarde, e acabou falando de outras cousas.
o homem. Uma vez acordados na idéia, saiu o moço a propagá-la Um dia, o sogro mandou-lhe dizer que todos os apalavrados
por toda a comarca; achou tímidos, achou recalcitrantes, mas foi tinham desistido da empresa. Sales leu a carta ao pé de
animando a uns e persuadindo a outros. Estudou a produção da Legazinha, e ficou longo tempo a olhar para ela.
zona, comparou a real à provável, e mostrou a diferença. Vivia no _ “Que mais? perguntou Legazinha.”
meio de mapas, cotações de preços, estatísticas, livros, cartas, Sales afirmou a vista; acabava de descobrir-lhe um cabelinho
muitas cartas. Ao cabo de quatro meses, adoeceu; o médico branco. Cãs aos vinte anos! Inclinou-se, e deu no cabelo um beijo
achou que a moléstia era filha do excesso de trabalho cerebral, e de boas-vindas. Não cuidou de outra cousa em todo o dia.
prescreveu-lhe grandes cautelas. Chamava-lhe “minha velha.” Falava em comprar uma medalhi-
Foi por esse tempo que a filha do senhor do engenho e uma nha de prata para guardar o cabelo, com a data, e só a abririam
irmã deste regressaram da Europa, aonde tinham ido nos meados quando fizessem vinte e cinco anos de casados. Era uma idéia
de 1858. Es liegen einige gute Ideen in diesen Rock, dizia uma vez nova esse cabelo. Bem dizia ele que a moça tinha em si algumas
o alfaiate de Heine, mirando-lhe a sobrecasaca. Sales não desce- idéias boas, como a sobrecasaca de Heine; não só as tinha boas,
ria a achar semelhantes cousas numa sobrecasaca; mas, numa mas inesperadas.
linda moça, por que não? Há nesta pequena algumas idéias boas, Um dia, reparou Legazinha que os olhos do marido andavam
pensou ele olhando para Olegária, _ ou Legazinha, como se dizia dispersos no ar, ou recolhidos em si. Nos dias seguintes observou
no engenho. A moça era baixota, delgada, rosto alegre e bom. A a mesma cousa. Note-se que não eram olhos de qualquer. Tinham
influição foi recíproca e súbita. Melchior, não menos namorado a cor indefinível, entre castanho e ouro; _ grandes, luminosos e
* Contos/Outros Contos
Obra Completa Vol. II pp. 1072-7
[GN. 30 mai. 1887.]
_ “Não foi; mas há que tempos anda você pensando em outra e o dote da mulher desapareceu. Legazinha suportou com alma as
cousa!” necessidades; fazia balas e compotas para manter a casa. Entre
_ “Pois sim, e digo-te...”
duas idéias, Sales comovia-se, pedia perdão à consorte, e tentava
_ “Não digas nada, não quero saber nada”, atalhou ela.
ajudá-la na indústria doméstica. Chegou a arranjar um emprego
Sales, rindo, disse-lhe que ainda havia de arrepender-se, mas ínfimo, no comércio; mas a imaginação vinha muita vez arrancá-
que ele lhe daria um perdão “de rendas,” nova espécie de perdão, lo ao solo triste e nu para as regiões magníficas, ao som dos gui-
mais eficaz que nenhum outro. Desfez-se do escritório e dos zos de algarismos e do tambor da celebridade.
empregados, sem tristeza; chegou a esquecer-se de pedir luvas ao Assim correram os primeiros seis anos de casamento.
novo inquilino da casa. Pensava em cousa diferente. Cálculos pas-
Começando o sétimo, foi nosso amigo acometido de uma lesão
sados, esperanças ainda recentes, eram cousas em que parecia não
cardíaca e de uma idéia. Cuidou logo desta, que era uma máqui-
haver cuidado nunca. Debruçava-se-lhe do olho luminoso uma
na de guerra para destruir Humaitá; mas a doença, máquina eter-
idéia nova. Uma noite, estando em passeio com a mulher, con-
na, destruiu-o primeiro a ele. Sales caiu de cama, a morte veio
fiou-lhe que era indispensável ir à Europa, viagem de seis meses
apenas. Iriam ambos, com economia... Legazinha ficou fulmina- vindo; a mulher, desenganada, tratou de o persuadir a que se
da. Em casa respondeu-lhe, que nem ela iria, nem consentiria que sacramentasse.
_ “Faço o que quiseres”, respondeu ele ofegante.
ele fosse. Para quê? Algum novo sonho. Sales afirmou-lhe que era
uma simples viagem de estudo, França, Inglaterra, Bélgica, a Confessou-se, recebeu o viático e foi ungido. Para o fim, o
indústria das rendas. Uma grande fábrica de rendas; o Brasil aparelho eclesiástico, as cerimônias, as pessoas ajoelhadas, ainda
dando malinas e bruxelas. lhe deram rebate à imaginação. A idéia de fundar uma igreja,
Não houve força que o detivesse, nem súplicas, nem lágri- quando sarasse, encheu-lhe o semblante de uma luz extraordiná-
mas, nem ameaças de separação. As ameaças eram de boca. ria. Os olhos reviveram. Vagamente, inventou um culto, sacerdo-
Melchior estava, desde muito, brigado com ambos; ela não aban- te, milhares de fiéis. Teve reminiscências de Robespierre; faria um
donaria o marido. Sales embarcou, e não sem custo, porque culto deísta, com cerimônias e festas originais, risonhas como o
amava deveras a mulher; mas era preciso, e embarcou. Em vez de nosso céu... Murmurava palavras pias.
seis meses, demorou-se sete; mas, em compensação, quando che- _ “Que é?” Dizia Legazinha, ao pé da cama, com uma das
gou, trazia o olhar seguro e radiante. A saudade, grande miseri- mãos presa entre as suas, exausta de trabalho.
cordiosa, fez com que a mulher esquecesse tantas desconsolações, Sales não via nem ouvia a mulher. Via um campo vastíssimo,
e lhe perdoasse _ tudo. um grande altar ao longe, de mármore, coberto de folhagens e
Poucos dias depois alcançou ele uma audiência do Ministro flores. O sol batia em cheio na congregação religiosa. Ao pé do
do Império. Levou-lhe um plano soberbo, nada menos que arra-
altar via-se a si mesmo, magno sacerdote, com uma túnica de
sar os prédios do Campo da Aclamação e substituí-los por edifí-
linho e cabeção de púrpura. Diante dele, ajoelhadas, milhares e
cios públicos, de mármore. Onde está o quartel, ficaria o palácio
milhares de criaturas humanas, com os braços erguidos ao ar,
da Assembléia Geral; na face oposta, em toda a extensão, o palá-
cio do imperador. David cum Sibyla. Nas outras duas faces late- esperando o pão da verdade e da justiça... que ele ia... distribuir...
rais ficariam os palácios dos sete ministérios, um para a Câmara
Municipal e outro para o Diocesano. Agradecimento e breve consideração diagnóstica
_ “Repare V. Exa. que é toda a Constituição reunida, dizia ele
rindo, para fazer rir o ministro; falta só o Ato Adicional. As
CCP agradece a Ramon M. Cosenza, professor sênior e dou-
províncias que façam o mesmo.”
tor do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências
Mas o ministro não se ria. Olhava para os planos desenrola-
Biológicas da UFMG e atual membro da Residência de
dos na mesa, feitos por um engenheiro belga, pedia explicações
para dizer alguma cousa, e mais nada. Afinal disse-lhe que o Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG, pelo envio desse
governo não tinha recursos para obras tão gigantescas. conto a um tempo humano e trágico. Do ponto de vista psicopa-
_ “Nem eu lhos peço,” acudiu Sales. “Não preciso mais que de tológico, dada a disfunção ocupacional e social de Sales e seu
algumas concessões importantes. E o que não concederá o quadro clínico, pode-se pensar em transtorno do espectro bipo-
governo para ver executar este primor?” lar com traços narcísicos de personalidade. Indicação bibliográfi-
Durou seis meses esta idéia. Veio outra, que durou oito; foi ca digna de nota é o livro de J. Leme Lopes “A Psiquiatria de
um colégio, em que pôs à prova certo plano de estudos. Depois Machado de Assis”; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte:
vieram outras, mais outras... Em todas elas gastava alguma cousa, Agir, 1974.
Andrés Heerlein dio, tanto por la importancia del connotado paciente como por
sus eventuales consecuencias para la mejor comprensión de los
límites y fronteras de las posibilidades creativas de nuestros enfer-
mos. Porque si bien van Gogh era un genio, a la vez se trataba de
Resumen un paciente con un padecimiento muy similar al de múltiples per-
sonas que enfrentamos en nuestro diario vivir como psiquiatras.
Mediante un análisis histórico-biográfico y psicopatológico de la vida Y es por ello que la psiquiatría no puede quedar ajena al
y obra de Vincent van Gogh, el presente estudio intenta una aproxi- análisis y la comprensión de las complejas interacciones que
mación longitudinal a los principales diagnósticos médicos y psiquiá- puedan existir entre la anormalidad psíquica y el fenómeno de la
tricos rotulados en este caso. Basado en múltiples estudios biográfi- genialidad.
cos y psiquiátricos, se describen las principales etapas de la vida del El presente estudio se basa en las revisiones histórico-biográ-
pintor y su personalidad premórbida. Se analiza su producción pic- ficas de Tralbaut,1 de Walther y Metzger2 y de Nágera,3 como así
tórica y su correspondencia con Theo van Gogh, poniendo especial también en los estudios psicopatológicos de Karl Jaspers4 y de
atención a las interrogantes diagnósticas asociadas. Se describe el Lemcke,5 apoyados ambos en la correspondencia de Vincent a
pródromo de su trastorno psicótico, la psicopatología y el trágico Theo van Gogh y a sus otros familiares. Se intenta además con-
desenlace. Finalmente se discuten los aspectos diferenciales de los siderar los aspectos hereditarios, clínicos y diagnósticos postula-
principales diagnósticos planteados, cuales son neurolúes, epilepsia o dos hasta ahora, efectuando un breve diagnóstico diferencial.
psicósis endógena, intentando poner especial énfasis en los aspectos Finalmente se discuten los principales argumentos sobre los que
longitudinales de su desarrollo biográfico y psicopatológico. se debieran apoyar las teorías diagnósticas acerca del mal que
afectara a Vincent van Gogh.
Palabras-claves: Desorden Mentales; Psicopatología; Historia;
Neurosífilis; Epilepsia; Desorden Afectiva, Psicósis Biografía
El estudio de la compleja vida de Vincent van Gogh y de su La extensión del tema no nos permite adentrarnos en cada
dramático desenlace constituyen uno de los desafíos mas intere- uno de los eventos conocidos de la vida de Vincent van Gogh, por
santes y difíciles que un especialista proveniente de la medicina lo que tendremos que concentrarnos en los aspectos mas rele-
pueda emprender. Desde luego contamos con importantes vantes o bien, los eventualmente asociados a su nosología. La
patografías legadas por connotados psicopatólogos de la talla de Tabla 1 ordena en el tiempo las principales etapas de su vida.
Karl Jaspers, que casi hacen innecesaria una revisión del tema. Podemos observar diferencias significativas en los distintos
Luego está la enorme cantidad de interpretaciones que se le han períodos de la vida de van Gogh. En honor al espacio, nos limi-
otorgado a cada una de las fases mórbidas de su existencia, así taremos a destacar los períodos mas relevantes del artista en rela-
como un sinnúmero de teorías explicativas acerca de su enfer- ción a su desarrollo psicopatológico. Su infancia estuvo marcada
medad. Finalmente queda el problema mas complejo, cual es, el por el duelo del primogénito y mortinato Vincent, fallecido un
intentar analizar la patografía de un genio que modificara signi- año antes del nacimiento del pintor. La muerte del primogénito
ficativamente el destino del arte y la pintura occidental. Porque al Vincent afectó fuertemente a la pareja van Gogh-Carbentus, los
hablar de un genio nos referimos a una persona que, en diferentes que dejaron un recuerdo lapidario enfrente de la iglesia. Vincent,
dimensiones, escapa a los patrones de normalidad y adecuación el pintor, tuvo en sus primeros años de vida frecuente contacto
que acostumbramos a usar en medicina y psicología. ¿Es acaso con esta lápida y la tumba de su hermano mayor, enfrentándose
posible efectuar una exploración psicopatológica y aventurar u así precozmente al tema de la muerte.
diagnóstico cuando se trata de un genio? La adolescencia y juventud transcurren en una aparente nor-
Como podemos ver, el compenetrarse con este tema consti- malidad y tranquilidad, destacando la extremada seriedad con que
tuye un verdadero desafío, que no sólo exige la mayor concen- se describe al joven van Gogh desde sus inicios. Su buena adapta-
tración e ilustración posible sino que nos sitúa frente a preguntas ción inicial al rol profesional en al comercio artístico, particular-
insolubles. No obstante, creo que es importante asumir este estu- mente en el período de La Haya, no permiten sospechar el dolo-
roso camino que le deparaba el destino a Vincent. La estabilidad Entre 1876 y 1880 Vincent intenta estructurar sin resultado
y adaptación laboral dura casi cinco años, desmoronándose en un destino religioso, primero como estudiante de teología y luego
Inglaterra en relación a un amor no correspondido. Luego de su como pastor improvisado en la región del Borinage, regresando al
desilusión amorosa en Londres surge un cambio muy notorio en hogar paterno en condiciones deplorables.
la vida del pintor, caracterizado por el inicio de los problemas A partir de 1880 van Gogh se distancia de la religión, regre-
laborales, la desorientación vocacional, el despido de parte de la sando a sus inquietudes pictóricas. Intenta estructurar una carre-
Galería Goupil, el creciente interés religioso, la desadaptación ra artística, lo que va ocurriendo sin un orden establecido. En el
social y la necesidad de desarrollar una actividad predicadora. interin, surgen nuevas desilusiones amorosas e importantes dife-
rencias familiares. El estrecho vínculo e irrestricto apoyo de su
Tabla 1 - Hitos biográficos en la vida de Vincent van Gogh hermano Theo comienza a ser cada vez mas central en su biogra-
fía. Aunque mejor adaptado, en esta etapa van Gogh continúa
1852 Nacimiento (mortinato) del hermano mayor del pintor Vincent van caracterizandose por una tendencia al aislamiento, por los rasgos
Gogh, bautizado con el nombre de Vincent. introvertidos, por sus evidentes dificultades en el relacionamien-
1853 Nacimiento de Vincent Willelm van Gogh, en Groot Zundert,
Holanda.
to social y cotidiano, por su desadaptación y por una probable
1857 Nacimiento de Theo van Gogh. inestabilidad emocional.
1864 Primeros dibujos, apoyado por su madre. Los estudios de Lemcke nos revelan la totalidad de las cartas
1865 Estudios en el colegio-internado de Jan Provily en Zevenbergen. de Vincent a Theo van Gogh, destacandose las cartas que presen-
1867 Estudios en Tilburg por 18 meses. tan alteraciones psicopatológicas.5 Podemos observar que en este
1869 Dependiente en la galería de arte Goupil, La Haya y Bruselas.
1873 Traslado a Londres por Goupil; desilusión amorosa con Ursula período (1882-1884) surge un número considerable de cartas que
(Eugénie) Loyer; cambio psicopatológico y preocupaciones religiosas. presentan alteraciones psicopatológicas, si bien leves.
1875 Destinado a Goupil en Paris; conflictos laborales e inclinaciones bíblicas. En 1886 Vincent se traslada a Paris, disminuyendo significa-
1876 Regreso a Londres. Despedido en Goupil, trabaja en Inglaterra como tivamente la correspondencia con Theo. Por ende, desconocemos
maestro de escuela en Ramsgate. Camina 110 km, de Ramsgate a
gran parte de la situación interna del pintor durante esta fase. A
Londres. “Ayudante” del reverendo de Isleworth. Primera prédica.
Vuelta a la casa paterna a Etten, Holanda. partir de Febrero de 1888 hay un repunte anímico evidente en la
1877 Marcha a Amsterdam para ingresar al seminario de Teología. vida del pintor, evidenciado tanto por las cartas como por la pro-
1878 Abandono de sus estudios.Vuelta al hogar e inscripción en una escue ductividad pictórica.
evangelista en Bruselas. En Noviembre es enviado como evangelista Este período corresponde a la fase provenzal, donde Vincent
voluntario a la región minera de Borinage.
1879 Pastor provisional en Wasmes (Borinage) hasta Julio; fervor desme-
intenta organizar una comunidad de artistas en la colorida ciudad
dido, regala su ropa, cuida a los enfermos, duerme sobre tablas; lo de Arles. A mediados de 1888 aparecen los primeros signos psi-
tildan de “loco”; fracaso global en la misión; nuevo cambio psicopa- copatológicos, relatados por el propio pintor, culminando en la
tológico. primera crísis psicótica evidente a fines (Navidad) de 1888. Este
1880 Vagabundea por los caminos. Continúa como misionero, por su cuen- período coincide con la visita y posterior distanciamiento de Paul
ta. En Julio decide hacerse pintor y comienza sus estuidos de
anatomía y perspectiva. Comienza ayuda económica de Theo. Gaugin, con quién comparte casa, productividad y devenir por
1881 Nuevo drama sentimental con su prima Kee. Cambio a La Haya, casi dos meses. Desde su llegada a Arles, Vincent trabaja en fun-
donde el pintor Mauve. ción de consolidar la comunidad de artistas. La visita de Gaugin
1882 Relación sentimental con prostituta (Clasina) con quien convive por es esperada largamente y con gran exitación. Gaugin no compar-
20 meses; hospitalizado por infección gonocósica; intento serio de
te las visiones artísticas y personales de Vincent, produciendose
oficializar el vínculo y adoptar el hijo de Clasina; conflicto y rechazo
familiar. un desencuentro creciente. El 23 de Diciembre de 1888 se desen-
1883 Ruptura “forzada” con Clasina, vuelve con sus padres. cadena un primer episodio psicótico, el que coincide con el dis-
1885 Muerte de su padre; marcha a Amberes a estudiar a Rubens. Sífilis? tanciamineto de Gaugin, la desilusión y el fracaso del proyecto
1886 Ingresa a regañadientes a una academia bajo la dirección de Siebert comunitario en la Provence. A partir de este momento Vincent
y Verlat, en Amberes; en marzo, cambio a Paris con la familia de Theo,
inicio de contacto con pintores vanguardistas.
presenta múltiples crísis psicóticas intermitentes que ameritan
1887 Contacto con Toulouse-Lautrec, Pissarro, Degas, Serat, Signac y rehospitalización.
Gauguin. Inicio de etapa productiva. Los hallazgos psicopatológicos en sus cartas a Theo se hacen
1888 En Febrero, cambio a Arles (Provence); proyecto de una colonia de mas evidentes, requiriendo una estrecha vigilancia por parte de su
artistas. Intensa productividad; en Octubre llega Gauguin; el 24 de
hermano. A pesar de su reclusión voluntaria en el asilo de Saint-
Diciembre intenta agredir a Gauguin, ruptura, mutilación y ofrenda de
su hemioreja inferior; primera reclusión hospitalaria, por dos semanas. Rémy, cerca de Arles, la productividad pictórica se mantiene inal-
1889 Alucinaciones intermitentes. Rehospitalización en Marzo, por un mes. terada.
Visita de Signac. Traslado al asilo de Saint-Rémy, cerca de Arles. En Mayo de 1890 se traslada a Auvers-sur-Oise para recibir
Períodos de lucidez alternados con violentas crisis. Gran productivi- un tratamiento de parte del doctor Gachet, donde mantiene su
dad pictórica.
ritmo de gran producción pictórica.
1890 Nace el primer hijo de Theo; en Mayo traslado a Paris y luego a
Auvers con el Doctor Gachet; continúa productivo, pero en crisis. Fallece a fines de julio de 1890, sin un anuncio previo, expli-
Continúa escribiendo, pintando y leyendo literatura seria. El 27 de cación ni un signo de premeditación suicidal. Pocos días antes del
julio se dispara un tiro en el pecho, muriendo a los dos días. Ultimas trágico desenlace pinta sus últimas obras, manteniendo en líneas
palabras: “La misére ne finira jamais”. generales el estilo y las caracteristicas centrales de su obra.
1891 Internación a un asilo psiquiátrico y fallecimiento de Theo.
Durante este período, Vincent mantiene la correspondencia con
sentido realista le impiden establecer puentes sociales, quedando de pintor, ya hace mucho tiempo que debería estar reducido
siempre en una profunda soledad. Como bien señalara Jaspers, completa e irremediablemente a la condición antes mencio-
van Gogh presenta una clara inclinación a la soledad y al ensimis- nada. No obstante, no pienso que mi locura tomaría la
mamiento, aunque “está siempre suspirando por la amistad y el forma de manía de persecución, ya que en los estados de exi-
trato de las gentes que tan obstinadamente rehuye”.4 tación mis sentimientos me conducen mas bien a la contem-
En síntesis, los escritos permiten definir con cierta certeza la plación de la eternidad, y de la vida eterna. En todo caso,
personalidad premórbida de van Gogh como sigue: introvertido, debo estar muy atento con mis nervios, etc...”.1
sensible, profundo, excéntrico, solitario, con rasgos fanáticos,
amante de la naturaleza, con poca capacidad para tolerar frustra- La excitación que Vincent siente con la llegada de Gaugin
ciones y una clara desadaptación social. Su funcionamiento cog- rápidamente se compromete con una compleja convivencia de
nitivo se caracteriza por una intensa emocionalidad, generalmen- ambos artistas. Sus visiones del arte y del mundo son enteramen-
te incierta e incongruente, con tendencias holísticas, rigidez y la te disímiles, logrando sólo un encuentro superficial. Gaugin ame-
escasa tolerancia a las frustraciones, en el marco de rasgos de neu- naza con irse, mientras van Gogh entra en un estado de crecien-
roticismo e inestabilidad crecientes. te inestabilidad. De acuerdo con Gaugin, Vincent se torna irrita-
Ocasionalmente se desprenden de su conducta y de sus car- ble, agresivo, impulsivo, mutista e impredecible. Padece insom-
tas rasgos de psicoticismo, de depresividad, de tendencias auto- nio de continuación, y ocasionalmente lo habría espiado durante
destructivas y una evidente incapacidad de adecuación a la reali- el sueño. Luego de una disputa van Gogh sigue a Gaugin por las
dad social y económica. calles de Arles con una navaja de afeitar, quien lo confronta.
Dejemos que el mejor testigo del pródromo de la psicosis de
Vincent, Paul Gauguin, nos relate los hechos:
Pródromo del primer episodio psicótico “Cuando llegué a Arles, Vincent estaba intentando encon-
trar su camino, mientras que yo, que era mucho mayor, ya
En Febrero de 1888 Vincent llega a Arles con la esperanza de era un hombre maduro... Durante el último período de mi
constituir una comunidad de artistas. Desde un comienzo el pin- estancia, Vincent se convirtió en excesivamente brusco y rui-
tor comienza a alabar las virtudes de esta soleada región del sur doso, y de repente silencioso. varias noches descubrí que,
de Francia, mostrando en su productividad pictórica y en sus car- habiéndose despertado, estaba al pie de mi cama...
tas una creciente satisfacción. Con la ayuda de Theo, Vincent se Invariablemente era suficiente que yo le dijera en tono
concentra plenamente en su obra y su proyecto, logrando conso- grave: ’Vincent ¿te pasa algo?’, para que volviera a la cama
lidar un notable registro pictórico. A mediados de 1888 fallece el sin decir palabra y cayera en un sueño profundo. Tuve la
tío Vincent (Cent), quién originalmente favorecía y protegía al idea de pintar su retrato mientras estaba pintando su bode-
pintor, pero ahora lo deshereda. No obstante, desde su llegada a gón favorito, girasoles. Y una vez terminado el retrato me
Arles, van Gogh se muestra optimista, productivo, creativo y dijo: ’Si que soy yo, pero me he vuelto loco’. La misma noche
esperanzado. Es posible pensar en la presencia de una alteración fuimos al café, donde tomó un ajenjo ligero. De repente me
hipomaniacal, como veremos posteriormente. En Agosto de tiró el vaso y su contenido a la cabeza. Eludí el golpe y
1888, Vincent comienza a especular con la llegada de Gaugin, tomándolo con fuerza en mis brazos, salí del café; pocos
quién finalmente llega a regañadienetes en Octubre. Durante el minutos después Vincent se encontraba en cama, donde dur-
período de espera, van Gogh se dedica a remozar la casa amaril- mió hasta la mañana siguiente. Al despertarse me dijo:
la, pintando varios lienzos (Girasoles) con fines decorativos. ‘Querido Gauguin, me parece recordar vagamente que ano-
Segun Jaspers, ya en ésta época se visualizan los primeros signos che te ofendí’ a lo que le contesté: ‘Con ganas te perdono,
de una alteración psicopatológica.4 Las espectativas de la llegada pero el incidente de anoche podría repetirse, y si me alcanza
de Gaugin son poco realistas y surgen de la visión romantica del un golpe podría perder los estribos y estrangularte.
artista. Semanas antes de la llegada de Gaugin Vincent le escribe Permíteme pues, que le escriba a tu hermano y le anuncie
a su hermano Theo: “Si, es cierto me avergüenzo de ello, pero qui- mi regreso’. Al atardecer, y después de haber comido rápida-
siera impresionar a Gauguin con mi trabajo...; su venida va a alte- mente mi cena, sentí la necesidad de salir solo y tomar aire.
rar mi manera de pintar...”.1 Pocos dias antes de la llegada de Había cruzado ya la plaza de Victor Hugo, cuando oí detrás
Gauguin, Vincent escribe: “He intentado presionar mi propio tra- mío un paso rápido e irregular, muy familiar. Di la vuelta
bajo lo máximo posible, en mi deseo de poder mostrarle algo nove- justo en el momento en que Vincent se abalanzaba hacia mí
doso, de no ser objeto de su influencia antes de poder mostrarle mi con una navaja de afeitar abierta en la mano. Mi mirada en
propia individualidad...”. Durante este período, trabaja en forma ese momento tiene que haber sido verdaderamente muy
febril, descuidando su alimentación, sueño y necesidad de repo- poderosa, porque se paró y bajando la cabeza, se fue corrien-
so. En forma profética anuncia su devenir en su última carta antes do en dirección a nuestra casa...”8
de la ansiada llegada de Gauguin:
“No estoy enfermo, pero sin duda pronto lo estaré si no con- Al día siguiente, el 24 de Diciembre de 1888, la policía lo
sumo bastante alimento y dejo de pintar por algunos días. encuentra inconsciente en su habitación. De acuerdo al reporte
De hecho, estoy muy próximo al estado de locura de Hugo de un diario local, en la misma noche de la confrontación con
van der Goes en el cuadro de Emil Wauters. Y si no fuera Gauguin, Vincent vuelve a la casa amarilla y se mutila la hemio-
porque yo tengo una doble naturaleza, una de monje y otra reja izquierda, entregando la pieza envuelta en un paño a una
Gachet no solo hablaba la lengua materna de Vincent, sino enfermedad han proliferado en progresión geométrica. La Tabla
que era un profundo conocedor de la pintura y sus creadores, 3 nos resume los principales diagnósticos planteados hasta hoy.
como Cézanne, Courbet y Monet. Tenía conocimientos artísticos
y practicaba una medicina alternativa, incluyendo el uso de la
Tabla 3 - Vincent van Gogh: patologías neuro-psiquiátricas postuladas
homeopatía y la corriente eléctrica.
Luego de una tensa espera, Vincent pasa por Paris en cami- Síndrome de Méniere Arenberg,1 Yasuda5
no a Auvers-sur-Oise, donde reside el Dr. Gachet. Johanna, la Intoxicación digitálica Lee9
esposa de Theo, escribe estar muy impresionada por la saludable Oleo (terpentina) y luz solar Bonkowsky,10 Gachet5
y fornida apariencia de Vincent, quien esta perfectamente recupe- Epilepsia Evensen,11 Navratil,12 Doiteau1
Psicosis epiléptica Birnbaum,5 Meige,5 Minkowska5
rado de su problema nervioso. Su seguridad, su autoestima y su
Epilepsia temporal Müller,13 Gastaut1,14
confianza se habrían recuperado notablemente, y la manía de per- Estado crepuscular Riese,15 Steiner5
secución se habría desvanecido, escribe Johanna.1 Estamos ahora Psicosis maníaco-depresiva Perry16
a mediados de mayo, dos meses antes del suicidio. Luego de una Esquizofrenia Jaspers,4 Schilder,1 Westermann-Holstijn,17
breve y tranquila estadía en Paris Vincent se traslada a Auvers, Kerschbaumer,1 Rose,1 Bychowsky1
desde donde le escribe a Theo que el Dr. Gachet le impresiona Lúes Springer,6 Wilkie7
como un buen sujeto, aunque tanto o mas excentrico que el Neurastenia Fels,1 Uhde5
mismo. No obstante, en pocas semanas Vincent cambia su opi- Psicopatía Bolten1
Tumor cerebral Bader1
nion sobre Gachet, cenando juntos y hablando en varias oportu-
nidades sobre arte. En cuanto llega a Auvers, Vincent retoma su
trabajo, buscando locaciones apropiadas, aumentando sus aven-
turas expresionistas. Trabajaba con mayor intensidad que antes, Si bien es posible afirmar que la influencia de algunos fac-
duerme de 9 P.M. a 5 A.M. y parece estar recuperado. No obstan- tores tóxicos como el alcohol y el absinto,5 la terpentina o el dig-
te, en algunas cartas deja entrever gran preocupación económica, ital,5,9 sumados a la crónica desnutrición y al tabaquismo
frustración y desesperanza. Tras la visita de Theo y su familia, desmesurado, pudieran haber afectado el equilibrio psíquico del
Vincent pasa un breve período de bienestar, volviendo a eviden- artista, no cabe duda que estos factores son sólo circunstanciales
ciar signos depresivos a comienzos de Julio, viajando a Paris el 6 y no explican la totalidad del cuadro clínico. Incluso hay autores
de Julio de 1890. Theo le prepara una abultada agenda social, que que han planteado la posibilidad de una porfiria.10 Sin embargo,
incluye a su antiguo amigo Toulouse- Lautrec y a su hermana que- el estudio de sus cartas, de la personalidad premórbida y de su
rida Wilhelmien. No obstante, y antes de la llegada de su herma- biografía (Tabla 1) nos ha demostrado que las manifestaciones
na, bruscamente y sin explicaciones interrumpe su visita y regre- iniciales de su trastorno hicieron su aparición mucho antes del
sa a Auvers. En estos días, Vincent presenta una explosión agre- consumo de dichas substancias. A su vez, el estudio del pródro-
siva en casa del Dr. Gachet, sin una causa justificada ni explica- mo y de la mayoría de las manifestaciones clínicas nos revela que
ción posterior. la psicopatología del cuadro psicótico no coincide con el diag-
El domingo 27 de Julio Vincent almuerza como de costum-
nóstico de una psicosis exógena. Si bien hay períodos de con-
bre y sale luego a caminar (cazar cuervos?). Regresa mas tarde de
fusión, van Gogh mantiene sus sunciones cognitivas intactas
lo común, inestable, y afirma que se atrasó porque estaba herido,
hasta su muerte, sin signos de deterioro. A su vez, en muchos
restándole gravedad al hecho. Al visitarlo en su pieza, van Gogh
le exhibe la herida al arrendatario diciendo: “me he disparado... pasajes de sus crisis psicóticas se describe una clara conciencia de
sólo espero no haber fallado”. En presencia del Dr. Gachet, el sus actos.
moribundo se fuma una pipa y le afirma que en caso de salvarse El diagnóstico de un síndrome de Méniere5,18 tampoco
lo va a repetir una y otra vez. Al llegar Theo Vincent le dice: “no parece muy probable, considerando al desarrollo longitudinal y la
llores, lo hice por todos nosotros”. Luego le pregunta a Theo acer- mayoría de los síntomas expuestos.
ca de su condición médica, quién le responde que puede ser favo- En honor al tiempo, nos deberemos remitir aqui sólamente a
rable, a lo que Vincent responde: “De nada sirve... la miseria no los diagnósticos que parecen como los mas probables:
terminará jamás”. Estas fueron sus últimas palabras, muriendo el • parálisis general (neurolúes encefálica);
29 de Julio en la madrugada, a los 37 años. Los motivos del suici- • epilepsia parcial compleja o psicomotora;
dio nunca se aclaran del todo. Se postulan las razones económi- • psicósis endógena.
cas, la inestabilidad emocional, una creciente conciencia de la
declinación artística, el temor a otra crisis o una nueva desilusión Neurolúes: la mayoría de los expertos en la biografía de V.
amorosa, esta vez con la hija del Dr. Gachet, Marguerite.7 En el van Gogh coinciden en documentar una hospitalización de dos
lecho de muerte, Vincent no explica a nadie su conducta y se limi- semanas, en 1885, por una infección gonocósica.1,3,6,7
ta a fumar sin interrupciones su pipa. Posteriormente, de acuerdo con Wilkie, Vincent habría tenido un
Seis meses después fallece su hermano Theo, en un asilo psi- cuadro lúetico por el que habría recibido tratamiento con yoduro
quiátrico de Utrecht. de potasio.7 La infección se podría haber originado en su discuti-
da relación con Classina, en La Haya, o bien, posteriormente, en
Diagnóstico 1985. Wilkie, entre otros, sostiene que no sólo Vincent sino tam-
bien Theo habría padecido de una lúes, tal vez adquirida en
Ya desde la primera hospitalización de Vincent van Gogh en Paris.7 La irregular vida llevada por el pintor y la alta prevalencia
Arles, a fines de 1888, las teorías en torno al diagnóstico de su de dicha enfermedad en la Europa de fin de siglo hacen bastante
lepsia. Debemos recordar tambien que en 1889 no existían aún ma y adaptada, necesitando continuamente el apoyo y sustento
las categorías diagnósticas de Kraepelin y Bleuler. familiar. Hay conductas anormales, sufrimiento e ideación suici-
Es importante discutir aquí el problema de la personalidad da mucho antes de la eclosión de la primera fase psicótica pro-
premorbida. Creemos que sería un error basar el diagnóstico de ductiva. Todos estos elementos hablan claramente a favor de una
Vincent van Gogh sólo en el corte transversal de sus últimos 18 psicosis endógena, con elementos esquizomorfos.
meses de vida. Hemos visto claros signos de alteración psicopato- De acuerdo con Karl Jaspers, van Gogh sufrió de una esqui-
lógica mucho antes de la eclosión psicótica de 1888, por lo que no zofrenia, lo que es apoyado por Schilder y Westermann-
podemos evitar un análisis longitudinal de la vida y la personali- Holstijn.4,5,17 Hay numerosos argumentos que apoyan fuertemen-
dad premórbida del artista. te este diagnóstico, como son, por ejemplo, los antecedentes
La mayoría de los autores interesados en describir una tipo- familiares (Wilhelmina?, Cornelius??), la personalidad premórbi-
logía particular asociada a la epilepsia, hablan de personalidad o da, los conflictos de identidad, la incapacidad progresiva de auto-
comportamiento enequético, que se caracterizaría por un biotipo sustentarse, lo bizarro de su conducta, la inadecuación y el aisla-
displásico, cuyo psiquismo se muestra perseverante, viscoso e miento social progresivo, la sintomatología crítica e intercrítica, la
hipersocial.14 El epiléptico respondería con sincero agradeci- impulsividad irracional, la ambivalencia en sus relaciones perso-
miento a las muestras de afecto y las atenciones que pudiera reci- nales, la introversión, etc. No cabe duda que hay importantes
bir de otras personas. Segun Gastaut, el comportamiento enequé- argumentos que favorecen el diagnóstico de una esquizofrenia,
tico es una manifestación característica de la epilepsia psicomoto- pero sin embargo cabe preguntarse si finalmente logramos enten-
ra y que comprendería los siguientes rasgos: la escas actividad, la der la cabalidad del cuadro clínico con dicho diagnóstico.
indolencia, la lentificación, la perseveración y el tipo vivencial El análisis de las cartas, de la conducta y la psicopatología
coartado.14 nos sugiere que éste diagnóstico no alcanza a explicar plenamen-
Si bien no se ha podido demostrar fehacientemente que estos te la globalidad de los fenómenos mórbidos y premórbidos que
rasgos de la personalidad efectivamente sean mas prevalentes aquejaron al artista. La correspondencia de los hermanos van
entre los pacientes epilépticos, debemos tenerlos en considera- Gogh permite entrever claras fluctuaciones anímicas en el deve-
ción. El lector podrá reconocer fácilmente que ninguno de estos nir del pintor. Asi por ejemplo, hay alusiones francamente depre-
rasgos son compatibles con la personalidad de van Gogh antes sivas y hasta suicidas en las cartas de 1880 y 1881, pasando pos-
descrita. El análisis de la personalidad premórbida e intermórbi- teriormente a contenidos francamente optimistas. Van Gogh fre-
da de Vincent apoya fuertemente los postulados de Jaspers, ale- cuentemente hace mención de su ánimo melancólico y desespe-
jándonos de la posibilidad de u diagnóstico de epilepsia. ranzado. Posteriormente, a su llegada a Arles, van Gogh pasa por
En síntesis, queremos sumarnos a la opinión de la mayoría de una racha de furia de trabajo. Le escribe a Theo:... “Me encuentro
los epileptólogos actuales, en el sentido de que no se puede cada día mejor... tengo una fiebre continua de trabajo... tengo
hablar de epilepsia mientras no hayan crisis ictales o alguna clara menos necesidad de compañía que de trabajar desenfrenádamente...
evidencia clínica de actividad comicial. La hipótesis de una epi- en algunos momentos no confío mas que en mi exaltación y enton-
lepsia nos parece muy atractiva, pero creemos que es insuficiente ces me dejo arrastrar a las mayores extravagancias.” Luego habla de
para explicar y comprender realmente la cabalidad de la triste y “paisajes pintados a mayor velocidad que todo lo hecho anterior-
prolongada patografía de Vincent van Gogh. ¿Es acaso posible mente”. En todo este período, habla de “el montón de ideas que
ignorar la personalidad premórbida del artista, su precoz quiebre lo inudan”, diciendo: “ideas para mi trabajo se me ocurren de con-
emocional, sus extravagancias y graves desadaptaciones, su desin- tinuo, pintando soy una locomotora”. Luego del primer episodio
serción social, su intoversión, las asociaciones entre su biografía y psicótico, dice: “ya no podré alcanzar esas cimas hacia las que la
los episodios psicóticos, el análisis de su correpondencia y su pro- enfermedad parecía arrastrarme. ¿Que vendrá después?”
ducción pictórica y los episodios psicóticos de los últimos 18 En las descripciones que Vincent hace a Theo sobre sus cri-
meses de su vida? ¿Cabe acaso plantearse un diagnóstico trans- sis, dice: “Tengo momentos en que me crispo de entusiasmo, de
versal que no respete los claros elementos longitudinales que demencia o de espíritu profético, como un oráculo griego sobre un
afectan su biografía? trípode. En tales momentos conservo una gran presencia de espíri-
Psicosis endógena: creemos que el único grupo de enferme- tu”. En otra carta acota: “... Voluntad no tengo ninguna; lo mismo
dades que puede explicar la mayoría de los signos, síntomas y me ocurre en cuanto a los deseos y a todas las cosas de la vida cor-
conductas de van Gogh, desde su infancia hasta su misteriosa riente, como, por ejemplo, el volver a ver a mis amigos, que me tie-
muerte, lo constituye algún tipo de psicósis endógena. nen casi sin cuidado...
Recordemos que el concepto de psicósis endógena permite expli- se diría que mi melancolía no ha variado ni un ápice”. Estas fluc-
car la interacción entre la vulnerabilidad biológico-genética, la tuaciones están registradas en la correspondencia con Theo, y
personalidad y los aspectos biográficos y ambientales. presentan un cierto patrón estacional. La mayoría de las crisis de
En este caso estamos frente a una psicósis generalmente lúci- desánimo se presentan en otoño-invierno, período en que se per-
da, con una historia premórbida sugerente de una prediposición cibe un estado anímico y una productividad inhibida. Es posible
endógena, y con abundantes antecedentes hereditarios. Hay una que la nostalgia también influya sobre el desencadenamiento de
personalidad premórbida anormal y un claro quiebre biográfico sus crisis, ya que tanto en 1888 como en 1889 van Gogh debe ser
en la juventud. Posteriormente hay un desapego progresivo a las hospitalizado el 24 de Diciembre.
normas sociales, llegando a la marginalización total. A partir de Hay entonces suficiente evidencia que apoya la tesis de un
los 21 años, hay una clara incapacidad de vivir en forma autóno- elemento anímico incorporado en la psicosis de van Gogh. No
José Antônio Zago Freud escrevera à Martha, sua noiva. O traficante explica a
razão do grande interesse por essas cartas:
“Nelas, o pai da psicanálise defende o uso da cocaína, que
ele mesmo costumava ingerir. E, como você sabe, sempre fui
Resumo favorável à sua liberação. Assim, os grandes traficantes
seriam tratados como respeitáveis empresários, como ocorre
É apresentado um estudo histórico sobre Freud e seu uso de cocaí- aos fabricantes de bebidas, solventes e cigarros, e não preci-
na. O objetivo é responder às insinuações ou afirmações de que sariam se esconder como bichos nem gastar fortunas para
Freud, durante sua vida, teria usado e prescrito cocaína a seus corromper policiais e políticos.”2
pacientes e que este uso teria também influenciado sua obra.
O trabalho clínico diário em comunidade terapêutica com
dependentes de substâncias psicoativas requer dos profissionais
Palavras-chaves: Desordens, Uso de Drogas; Usuário de Cocaína;
envolvidos uma constante reflexão. Não só no sentido de avaliar
Psicoanálise; História da Medicina
e aprimorar o próprio trabalho, mas também de transformar seus
resultados em subsídios para a prevenção, cuja ação é mais do
Introdução âmbito educativo. Ou seja, o trabalho do profissional deve trans-
cender os limites de uma comunidade de tratamento, a fim de
A idéia deste texto surgiu a partir de algumas constatações que esse saber adquirido no cotidiano não se encerre dentro des-
práticas e teóricas a respeito de Freud e do uso de cocaína, quais ses limites e que seja, portanto, um saber vivo que a sociedade
sejam: possa usufruir como fonte de informação ou como estratégia de
• Na prática clínica não é incomum pacientes dependentes de melhoria da qualidade de vida.3 Desse modo, rever os dados e os
cocaína, com determinada sofisticação intelectual, afirmarem escritos de Freud, especialmente sobre sua relação com o uso de
que sabendo usar essa droga “ela não faz mal; pelo contrário.” cocaína e se esta teve ou não influência em sua produção intelec-
Citam então como exemplo Freud que a consumiu e produ- tual, torna-se imperativo como forma de esclarecimento e de
ziu uma obra praticamente universal, dando a entender que transparência, de respeito ou de compreensão para com uma difi-
parte do sucesso de Freud foi conseguido graças ao uso da culdade humana.
cocaína. Anexo o leitor encontra breve biografia de Sigmund
• Também não é raro meios de comunicação social informarem Freud.4-7
que Freud, além de usar a cocaína, a prescrevia a seus pacien-
tes, como no exemplo: “Muitas substâncias hoje consideradas Freud e a Cocaína
ilegais ou de uso restrito já foram usadas no passado em larga
escala como remédios ou fortificantes. A cocaína, por exemplo, Em sua autobiografia6 Freud escreveu que em 1884 se inte-
era empregada até o início do século como anestésico em peque- ressou profundamente em estudar o alcalóide de cocaína, muito
nas cirurgias. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, receitava pouco conhecido. Trouxe de Merck certa quantidade de cocaína,
cocaína a seus pacientes, como estimulante. Ele mesmo era um a fim de estudar seus efeitos fisiológicos. Devido a uma viagem
consumidor fiel da droga.”1 para visitar a noiva que não via há dois anos, deixou de lado a pes-
• Frei Betto, com singular sensibilidade, mostra no romance O quisa, pedindo que Köenisgtein, médico oftalmologista, investi-
Vencedor,2 como pensa um traficante; não o traficante que fica gasse sobre as propriedades anestésicas da cocaína em sua espe-
nas ruas e nas favelas, mas o traficante que manipula enormes cialidade. No seu retorno verificou que Carl Koller, com o qual
quantias de droga e dinheiro e que raramente aparece. Aquele conversara a respeito do alcalóide, empreendera decisivos expe-
que manipula às escondidas, o qual podemos chamar em lin- rimentos sobre as propriedades anestésicas, comunicadas no
guagem figurada de “lobo em pele de cordeiro.” No final do Congresso de Oftalmologia de Heidelberg. Freud considerou
romance, o vilão da história fala a um antigo conhecido que Koller o descobridor da anestesia local por meio da cocaína,
conseguiu, com persistência e dinheiro, obter as cartas que importante nas pequenas cirurgias. Considerou também que a
viagem o fez perder a oportunidade da descoberta e de se tornar propriedades: ‘Eu mesmo experimentei uma dúzia de vezes
famoso.6 o efeito da coca, que impede a fome, o sono e o cansaço e
Esse interesse sobre o alcalóide de cocaína também pode ser robustece o esforço intelectual.’ Ele escreveu a respeito de
constatado em excertos de cartas que escreveu a sua noiva seus possíveis usos para os distúrbios tanto físicos como
Martha: mentais. Por pouco tempo um defensor, tornou-se depois
a) Viena, segunda-feira, 21 de abril de 1884: Freud escreveu apreensivo em relação às suas propriedades viciantes e inter-
que havia lido sobre cocaína, de tribos que mastigam suas rompeu a pesquisa.”9
folhas para aumentar a resistência à fome e ao cansaço.
Soube também que um alemão deu esse produto a alguns sol- Freud experimentou cocaína e ficou fascinado com seus efei-
dados, o que os tornou mais fortes e resistentes. A idéia era tos sobre o humor e o trabalho. Com a morte de um paciente seu
elaborar uma experiência terapêutica com a cocaína em por cocaína e por um amigo ter tido problemas com essa droga,
casos de doenças cardíacas e, depois, esgotamento nervoso. Freud, com arrependimento, “encerrou este capítulo em seu traba-
Citou que poderia ser aplicado no caso do Dr. Fleischl: lho”.10
“sobretudo no terrível estado que se produz quando deixa de Freud (1884) introduziu a cocaína no tratamento da neuras-
tomar a morfina.”2 tenia e para a crise de abstinência em pacientes adictos de morfi-
b) Viena, quinta-feira, 19 de junho de 1884: “Só ontem à noite na. Embora os resultados em pacientes psiquiátricos tenham sido
terminei o artigo Über Coca; hoje, corrigi a primeira metade; desastrosos, abriu caminho para o uso da cocaína como anestési-
terá a extensão de uma página e meia.”2
co em oftalmologia, na prática médica e na cirurgia geral.11
c) Paris, 11 h da noite de segunda-feira, 18 de janeiro de 1886:
Na tentativa de fazer uma grande descoberta e tornar-se
Freud escreveu que Charcot o convidara, e a Ricchetti, para ir
famoso fez experiência com o alcalóide de cocaína. Publicou em
a sua casa no dia seguinte após o jantar. “Todo mundo estará
1884 um artigo em que recomendava o uso da cocaína para vômi-
lá.” “Um pouco de cocaína para desatar-me a língua.”2
tos e distúrbios digestivos. Escreveu ainda mais cinco textos
d) Paris, terça-feira, 2 de fevereiro de 1886: que seu cansaço é
sobre o tema e, conforme referido atrás, sugeriu a Leopold
parecido com uma pequena enfermidade denominada neuras-
Köenigstein e Carl Koller o uso de cocaína na oftalmologia, este
tenia, resultante de esforços, preocupações e excitação dos
últimos anos... “A pequena porção de cocaína que acabo de sendo reconhecido como o pai da anestesia local. Freud também
tomar me deixa loquaz, minha garota.” Sobre a noitada na casa consumia considerável quantidade da droga para combater suas
de Charcot, escreveu na mesma carta às 2h30 da madrugada, crises de neurastenia e a ofereceu a sua noiva Martha Bernays.5
que havia de quarenta a cinqüenta pessoas, das quais conhe- Gay12 afirma que Freud, temerariamente, recomendou e
cia três ou quatro. E que isso era tão aborrecido e só não enviou cocaína a sua noiva, embora não se saiba sobre o uso dela.
explodiu “... graças à cocaína.”2 Em seu artigo Sobre Coca, Freud mesclou relatório científico com
e) Paris, quarta-feira, 10 de fevereiro de 1886: Freud vangloriou- ardorosa defesa sobre as propriedades calmantes e estimulantes
se de Knapp, principal oftalmologista de Nova York e que da cocaína. Como dito, fazia uso da cocaína para aumentar sen-
também escreveu sobre cocaína, em visita no hospital sação de bem-estar, superar seus estados depressivos e a relaxar
Salpêtrière, ter reconhecido que ele, Freud, havia sido o pri- em eventos sociais.12
meiro a escrever sobre o alcalóide.2 Fleischl-Marxow, fisiologista e amigo de Freud, teve que
Em A Interpretação dos Sonhos,8 Freud fez a análise de dois amputar três dedos da mão devido a um acidente num experi-
sonhos seus onde aparece a questão da cocaína. mento. Como sentia fortes dores nos cotos, viciou-se em morfina.
Um deles é o sonho da monografia botânica que, entre outras Freud tentou tratá-lo substituindo a morfina pela cocaína, da
associações, ele relacionou com seus estudos sobre cocaína e com qual o paciente ficou dependente, morrendo aos 44 anos.5 Em
a figura do Dr. Köenisgstein que pesquisou o uso da cocaína nota de rodapé, Gay refere que Fleischl-Marxow se injetava
como anestésico.8 cocaína e que Freud, na época, não levantou objeções.
O outro, datado em 23-24 de julho de 1895, o sonho da inje- Posteriormente, Freud negou que tenha defendido esse procedi-
ção de Irma. Em suas associações e análise onírica Freud inter- mento.12
pretou que as escaras na região nasal de Irma sugeriam uma preo- Embora bem intencionado, Freud agiu no caso de Fleisch-
cupação com a sua própria saúde, pois na época estava usando Marxow de forma irrefletida e a morte do amigo afetou-o de “sen-
com freqüência cocaína para curar uma rinite. Também, ouvira timentos residuais de culpa,” que deram boas razões de autocríti-
dizer, poucos dias antes, que uma paciente que utilizava o mesmo ca a Freud. É um dos episódios mais perturbadores da vida de
método terapêutico apresentava uma necrose na mucosa nasal. Freud, embora tenha continuado a usar a cocaína em pequenas
Freud escreveu que em 1885 prescrevia cocaína para esses casos quantidades até meados de 1895.12
e que por isso havia atraído severas censuras. Associava também
o sonho à perda de um amigo em 1885 (Dr. Fleischl-Marxow),
que morreu intoxicado por cocaína.8 Discussão
Durante um período de sua vida Freud pesquisou, usou e
prescreveu cocaína a pacientes: Uma melhor apreciação do tema é obtida, primeiramente, ao
“De 1884 a 1887, Freud fez algumas das primeiras pesqui- considerarmos a questão da cocaína numa perspectiva histórica,
sas com cocaína. De início ficou impressionado com suas com foco na época de Freud.
dores buscavam novos caminhos e novas tentativas para a com- uma nova psicoterapia da histeria, do qual muito pouco
preensão dos fenômenos psíquicos, principalmente a histeria, se tem publicado. Um livro está no prelo: Die Traum-
sendo que o alcalóide de cocaína era uma droga praticamente deutung (A Interpretação dos Sonhos)."4
desconhecida quanto aos seus efeitos danosos à saúde.
Toda a obra sobre psicanálise foi elaborada posteriormente Nenhum dos textos anteriores ao ano de 1886 foi integra-
ao uso da cocaína por Freud, ou seja, sem a “ajuda” dessa droga. do às suas obras completas, por oposição de seus filhos e her-
Sim pela capacidade observadora, laboriosa e criativa de Freud. deiros Ernst e Anna Freud. Sua obra anterior aos textos de
É possível que as afirmações ou insinuações de que Freud
psicanálise, compreendendo o período de 1877 a 1886, é com-
durante a sua vida usou e prescreveu cocaína a seus pacientes
posta de 21 artigos sobre diversos temas: neurologia, medici-
sejam resultantes de informações incompletas ou de um conheci-
na, histologia, cocaína. Sua obra sobre psicanálise é composta
mento muito superficial da vida e do trabalho de Freud.
Contudo, afirmações ou insinuações assim não deixam de ser de 24 livros (dois dos quais com Josef Breuer, um com a cola-
modos de enaltecer a cocaína e, ao mesmo tempo, diminuir a boração de William Bullitt) e 123 artigos, além de comentá-
capacidade de Freud. Em outras palavras, afirmações ou insinua- rios, prefácios, etc. e traduzida em cerca de 30 línguas. Nesta
ções dessa natureza podem revelar não apenas falta de responsa- breve biografia destacamos algumas obras de Freud.
bilidade e de compromisso com a verdade, mas a dificuldade de Freud era o filho mais velho do terceiro casamento de
assumir seus próprios problemas. Jacob Freud, comerciante de tecidos. Jacob e Amalia Freud
teriam ainda mais sete filhos. Devido a má situação econômi-
ca, após um ano em Leipzig, a família mudou-se para Viena,
Summary
Áustria, onde o pai estabeleceu seu comércio no bairro judeu
de Leopoldstrasse.
This paper presents an historical study on Freud and his use of cocai-
ne. The aim is to give an answer to the insinuations or statements Freud começou seus estudos médicos em outubro de
about whether Freud, during his life, would have used and prescribed 1873, dedicando-se ao positivismo e à biologia darwiniana, a
cocaine to his patients and that this would also have influenced on qual serviria de modelo a todos os seus trabalhos. Em 1874,
his work. foi a Berlim freqüentar os cursos de Helmholtz. Depois de
um ano, por meio de uma bolsa de estudos, foi a Triestre,
Itália, onde estudou sobre as células nervosas das enguias
Key-words: Disorder, Drug User; Cocaine User; Psycho-analysis; machos de rio.
History of Medicine
Depois de diplomado médico, em 1882, noivou com
Martha Bernays, ocorrendo o casamento em setembro de
Anexo - Breve Biografia de Sigmund Freud 1886. Nos três anos seguintes à sua formatura trabalhou no
Hospital Geral de Viena, abandonando, por questões finan-
Em 1899 Freud escreveu esta nota autobiográfica, publi- ceiras, a carreira de pesquisador. Querendo tornar-se famoso
cada em 1901 em alemão nas Biographisches Lexicon hervorra- e se livrar da pobreza, começou a pesquisar sobre alcalóide de
gender Arzte des neunzehnten Jahrhunderts de J. L. Pagel: cocaína, acreditando nas virtudes dessa droga. Chegou a
"FREUD, SIGMUND, Viena. Nascido a 6 de maio de administrá-la em seu amigo Ernst von Fleischl-Marxow, des-
1856 em Freiberg, Moravia. Estudou em Viena. Aluno conhecendo sua ação anestesiante e a de provocar a depen-
do fisiólogo Brücke. Promoção (título médico) em 1881. dência. O efeito anestesiante da cocaína seria descoberto pelo
Aluno de Charcot em Paris de 1885-1886. Habilitado em oftalmologista Carl Koller.
1885 (designado Privatdozent). Tem trabalhado como Em 1885 foi nomeado Privatdozent e obteve uma bolsa de
médico e docente na Universidade de Viena, desde 1886. estudos para estudar em Paris onde foi conhecer o trabalho de
Proposto como Professor Extraordinário, em 1897. Martin Charcot, fascinado por suas experiências sobre a histe-
Inicialmente os trabalhos de Freud trataram sobre histo- ria. Depois, foi a Berlim onde fez os cursos do pediatra Adolf
logia e anatomia do cérebro e posteriormente sobre temas Baginsky. Retornando a Viena instalou-se como médico parti-
clínicos de neuropatologia; tem traduzido os escritos de cular, dividindo três tardes por semana como neurologista na
Charcot e de Bernheim. Über Coca, de 1884, é um traba- Clínica Steindlgasse.
lho introdutório da cocaína na Medicina. De 1891 é Zur Em 1887, conheceu Wilhelm Fliess, médico judeu berli-
Auffassung der Aphasien. De 1891 e 1893 são as mono- nense, com o qual trocou extensa correspondência íntima e
grafias sobre as paralisias infantis, que culminaram, em científica, onde iniciou sua auto-análise, o intercâmbio sobre
1897, no volume sobre o tema Handbuch, de Nothnagel. o caso Emma Eckstein e a publicação com Josef Breuer de
Studien über Hysterie, de 1895 (com o Dr. J. Breuer). Estudos sobre a histeria em 1895, onde são relatadas várias
Desde então Freud tem-se dedicado ao estudo das psico- histórias clínicas de mulheres: Bertha Pappenheim (caso Anna
neuroses e especialmente a histeria, e em uma série de O.), Fanny Moser (caso Emmy von N.), Anna von Lieben
breves ensaios tem enfatizado o significado etiológico da (caso Cäcilie M.), entre outras. Foi também durante essa ami-
vida sexual nas neuroses. Também tem desenvolvido zade que Freud substituiu a teoria da sedução (toda neurose
Max Schur, a seu pedido, com a concordância de Anna Freud, 7. Hall CS, Lindzey G. Teorias da personalidade. São Paulo:
três injeções de três centigramas de morfina. Herder, EPU, 1974: 43-92.
8. Freud S. A Interpretação dos Sonhos. In: Obras Completas.
3ª ed. Madrid: Biblioteca Nueva; 1973: 343-752.
Referências Bibliográficas 9. Fadiman J, Frager R. Teorias da personalidade. São Paulo:
Harper & Row do Brasil, 1979: 4.
1. Wassermann R. Substâncias hoje ilegais já foram usadas 10. Frances RJ, Franklin Jr. JE. Transtornos por uso de álcool e
como remédio no passado. O Estado de S. Paulo, 1999; 19 outras substâncias. In: Talbott J, Hales R, Yudofsky S, eds.
de set. (Caderno Especial - Drogas):14. Tratado de Psiquiatria; 1992:234-266, 253, 253-254.
2. Frei Betto. O Vencedor. São Paulo:Ática, 1996: 153, 51-52, 11. Mayer-Gross W, Slater E, Roth M. Psiquiatria Clínica. 2ª ed.
67, 115, 137-138, 140-141, 156. São Paulo: Mestre Jou, 1976: 448.
12. Gay P. Freud: uma vida para o nosso tempo. São Paulo:
3. Zago JA. Drogadição; o tratamento na comunidade terapêu-
Companhia das Letras, 1989: 56-57, 281, 555.
tica. Inform Psiqu 1995; 14:133-137.
13. Dunn J. O sistema de tratamento de usuários de drogas na
4. Freud S. Obras completas. 3ª ed. Madrid: Biblioteca Nueva; Inglaterra; mudanças nos últimos 200 anos. Boletim de
1973: XLIII. Psiquiatria 1995; 28:19-23.
5. Roudinesco E, Plon M. Dicionário de psicanálise. Rio de 14. Kris E. Estudio preliminar – Los Origenes del psicoanalisis.
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998: 272-279, 86-87, 438, 239, In: Obras Completas. 3ª ed. Madrid: Biblioteca Nueva; 1973:
274-275, 274. 3455.
6. Freud S. Autobiografia. In: Obras completas. 3ª ed. Madrid: 15. Vallejo Nagera J A. Introducción a la Psiquiatria. 8ª ed.
Biblioteca Nueva, 1973: 2761-2799. Barcelona: Científico-Médica; 1976:311.
anúncio
Sonata
sas descrições de doenças. Principalmente assim se fez adiantar, de ser determinadas com precisão conforme suas condições”.2
fato, a medicina somática. A medicina psíquica tem que repousar Heinroth fala em “formas de doença como plantas originadas do
nessa mesma base”.2 O estudo das formas, isto é, a nosologia do primeiro broto e seus graduais desdobramentos até a plena forma-
compêndio de Heinroth oferece uma plenitude de cuidadosas ção e amadurecimento”, até apresentarem “claramente desfecho
observações clínicas e psicopatológicas. final com variados resultados”.2
Seja, nesse contexto, pontuada a questão, se a psiquiatria A tentativa de Heinroth de ordenação dos transtornos men-
atual pode abdicar inteiramente dos elementos do esboçado e tais orienta-se na tradicional doutrina, também mantida por
para nós estranho conceito científico dos românticos, caso ela se Kant, dos poderes mentais, e distingue adoecimentos do pensa-
proponha à investigação do psiquismo em todas as suas dimen- mento (Geist), dos sentimentos (Gemüt*) e da vontade (Wille).
sões. Assim, recentemente, assinala Janzarik que também o pen- Heinroth fala, aliás, de “energias da alma”. Essas espécies são dife-
samento do psiquiatra de orientação neopositivista não pode, sem renciadas conforme os estados de exaltação ou de depressão dos
participação especulativa, estabelecer nenhuma ordem superior.3 poderes mentais, sob influência da doutrina contemporânea de
Johann Christian August Heinroth nasceu em 1773 em doenças do inglês William Cullen.4 Observe-se que Heinroth uti-
Leipzig e morreu nessa mesma cidade em 1843. Em 1818, foi liza pela primeira vez o conceito de “depressão”, originalmente
nomeado professor catedrático em Leipzig na primeira cadeira pretendido como neuropatológico, como referente ao tônus dos
alemã para “medicina psíquica”. Em 1818, publicou seu vasos cerebrais, para a designação de humor psíquico.
Compêndio dos Transtornos da Vida Psíquica, que ao lado das Essa transformação psicológica do conceito de depressão ori-
Contribuições para o Ensino das Doenças de 1810 oferece os prin- ginalmente considerado orgânico funda uma duradoura mudan-
cipais esclarecimentos sobre sua versão do conceito de melanco- ça de significado, o qual, contudo, inicialmente não concorre com
lia. Heinroth é amplamente cotado como o representante dos psí- o conceito de melancolia. “Depressão” circunscreve apenas o sin-
quicos, a seu nome é associado primeiramente, até hoje, a sua
toma ubiqüitário da tristeza, da disforia depressiva, enquanto que
doutrina sumariamente recusada da essência dos transtornos
“melancolia” designa uma determinada doença, ou seja, repre-
mentais, tida freqüentemente como teoria moralizante de peca-
senta um diagnóstico. A equiparação de ambos os conceitos e a
dos. Seja apenas indicado que essas idéias tão mal entendidas
conseqüente perda de significado da melancolia pertencem a uma
representavam uma tentativa contemporânea apoiada em
época posterior.
Schelling de se aproximar seriamente do inconcebível, do misté-
A doença melancolia aparece em Heinroth, portanto, como
rio do alienado, do psicótico. Na minuciosa introdução concei-
uma depressão dos sentimentos, como uma doença na qual os
tual do compêndio, Heinroth desenvolve uma antropologia da
pessoa como um todo, o que viria a ser pouco notado. Assim sentimentos são comovidos por uma “paixão deprimente”. Já na
como mais tarde, de forma tão clara praticamente apenas a feno- introdução, Heinroth retrata o quadro freqüentemente citado de
menologia personalística de Max Scheler (assim como a antropo- “em si espantado** sentimento melancólico”, “como que corrói a si
logia fenomenológica de V. E. von Gebsattel), coloca Heinroth a mesmo”. Essa metáfora do mal ruminante e penetrante dos depri-
experiência corpóreo-mental e histórica da existência da pessoa midos ilustra o poder de expressão fisionômica de Heinroth e
no ponto central de todas as discussões sobre o desenvolvimento lembra trabalhos analíticos existenciais de uma época posterior.
dos transtornos mentais. Estes, em muitos pontos corresponden- O outro pólo, o de exaltação dos transtornos dos sentimentos,
tes a nossas psicoses endógenas, são descritos como crises de forma o Wahnsinn***, o Ecstasis, no qual os “sentimentos em esta-
amadurecimento malsucedido na transição das idades da vida. do excitado, apaixonado, como que se subtraem de si mesmos, e
Nelas torna-se “alienado” “o plano criador divino” do desenvolvi- vivem apenas no mundo de seus sonhos”.5
mento humano. Dá a impressão de modernidade a formulação de A investigação do conceito heinrothiano de sentimento indi-
que os transtornos mentais decorreriam de um “perturbado pro- ca um aspecto central do problema histórico da questão da
cesso interno de organização para o desenvolvimento da vida com- melancolia. Servem-nos como guia trechos na verdade periféricos
pleta, isto é, livre”. Assim, o transtorno mental é um estado de do compêndio de 1818, que em parte surgem como observações.
“duradoura falta de liberdade ou perda da razão”, sendo que a Heinroth descreve o homem como “ser sensível, como um ser que
investigação da história de vida interior do doente se torna anseia a libertação das necessidades nele inatas e na emoção dessa
imprescindível. Impressionam, paralelamente a isso, seus princí- ânsia surge como sentimento ou coração”.5 Decisivo para nós é a
pios para delinear uma “ordem dos transtornos mentais fundada na identidade de significado de sentimento e coração. Logo designa
própria natureza”. Ele reconhece que “todas essas diversas formas sentimento novamente como aquilo “que nós habitualmente e de
não são imensuráveis, anárquicas, isto é, amorfas, senão que podem forma expressiva denominamos coração”.5 Em trecho posterior
* Gemüt - pode ser traduzido também como afeto, além de ânimo, coração, mente, etc. Existe, porém, a palavra Affekt em alemão, assim como outras palavras
além de Gemüt para designar ânimo, mente, emoção, humor, paixão, etc. Affekt possui conotação de acometimento emocioanal por curto tempo. Segundo o
Dicionário de Psiquiatria e Psicologia Médica de Peters, UH (Urban & Schwarzenberg, Munique - Viena - Baltimore, 1990) não há tradução de Gemüt para o
inglês, embora usualmente seja traduzido como affect. Em português, parece-nos o termo sentimento(s) o mais adequado. (Nota do tradutor)
** ou amedrontado, assustado. (Nota do tradutor)
*** Designação à época, em geral, para transtornos mentais com acometimento da capacidade intelectual, com perturbação do poder de julgamento, sem che-
gar a um estado propriamente demencial ou a um embotamento afetivo. (Nota do tradutor). Fonte: Peters UH. Wörterbuch der Psychiatrie und medizinischen
Psychologie. Urban & Schwarzenberg, München - Wien - Baltimore, 1990).
“reina no doente uma espécie de vida automática. Ele anda nica, que muito injustamente foi esquecido em meio à problemá-
sem rumo e se deixa levar por afazeres mecânicos, mas faz tica metafísica de sua doutrina de essência, merece admiração.
tudo pela metade e causa mais estragos do que realiza, deixa Finalmente, gostaria de citar sem comentários a teoria de
logo as mãos penderem e permanece ali pueril-tolo. Nesse essência da melancolia. Unicamente será referido à fala que, ao
estado desandam furtivamente os dias restantes de sua vida, penetrá-la, deixa-nos supor algo do sofrimento da vivência
cuja fonte de energia está esgotada”.5 melancólica: na melancolia “torna-se a pessoa uma vítima das pre-
mentes forças” que invadem seu coração...
Um breve parêntesis é interessante para esclarecer como a “Apoderar-se de si e tornar-se novamente autônomo não é
intuição de Heinroth também reconhece aspectos essenciais da mais uma possibilidade: o coração e seu objeto estão fundi-
psicose por nós designada de esquizofrenia. Ele descreve o assim dos. E porque nesse estado o coração não é mais da pessoa,
denominado “frenético Wahnwitz****”. Este representa uma senão que do objeto, um infindável martírio toma a pessoa,
exaltação da mente em que está perturbada principalmente a per- pois ela está numa infindável contradição, nesta: ela está
cepção do mundo externo sensorial, inclusive do próprio corpo. separada de si mesma e, no entanto, não pode separar-se de
Heinroth escreve: si mesma. Isso é verdadeiro suplício, pois a essência desse
“A vida mental está aqui inteiramente fragmentada em seus sofrimento é a visão e a sensação daquilo que em si é um
elementos, sendo que cada qual atua como tóxico destruti- como algo separado. Nessa auto-sensação do não pertencer
vo. Nenhum vínculo mental, nenhum sentimento, nenhu- a si mesmo perderam-se na melancolia os sentimentos, e
ma fantasia mantém juntos os elementos de toda atividade essa é a essência da melancolia, que se encontra na base de
mental, pensamento e vontade, e separados aniquila-se cada todos os modos de manifestação da mesma”.5
eu e seu próprio ambiente: o pensamento, ordem e coesão
das representações de um mundo real, a vontade, que ape- Mais de 120 anos depois falará V. E. von Gebsattel,6 em sua
nas sempre ligação e dissolução, deixam-se atingir através de penetração fenomenológica da vivência melancólica de alhea-
suas forças destruidoras”.5 mento, de “existência tornada inalcançável”, que só permite uma
“existência no vazio”. Heinroth e von Gebsattel aspiram o conhe-
Encontramos uma indicação para a antinomia maníaco- cimento da essência da melancolia, da qual a investigação psi-
depressiva na descrição de uma subforma “melancolia com quiátrica, na verdade, julga por vezes poder prescindir, mas que
Narrheit*****”, uma mistura de depressão do sentimento e exal- sem ela não se consegue um verdadeiro encontro terapêutico com
tação do pensamento. Nela se alivia o sentimento deprimido, no o doente mental.
fim da melancolia, “através de excitação e animação de representa-
ções agradáveis”. “Uma jocosidade febril apodera-se do doente e ele
tende a imaginária bem-aventurança, a fim de escapar da tortura da Summary
tristeza melancólica”. Esse estado duraria semanas ou meses, até
que a alma afundasse novamente em sua escuridão. Então surgi- Heinroth´s romantic cycle and his comception of melancholia are
ria mais uma vez a melancolia, que, no entanto, através de “reite- analysed in an historical perspective linking the philosophical and cul-
rada tensão”, após “reunidas forças”, é de novo substituída pela tural mening of his own time to another periods of time and to
tolice jocosa. Essa mudança repete-se constantemente, até que more recent works. Descriptive, classifiable and conceptual aspects
finalmente as “forças se esgotam”. O diagnóstico só poderia ser of the melancholie according to Heinroth are investigated. Heinroth’s
dado se fosse observada “toda a evolução da doença”, ou seja, a personal excerpts enrich the text.
mudança em ambas as formas, “o parecer não deveria ser o de um
estado monomaníaco do doente”.5
Key-words: Melancholia; Depressive Disorder; History of
Encontra-se em Heinroth, portanto, uma clara descrição da Medicine
loucura circular como uma forma de doença una, não como
mudança de duas diferentes doenças. Em 1851, o francês Falret
descreverá, sob outras condições históricas da ciência, fundamen- Referências Bibliográficas
talmente modificadas, a unidade de doença Folie circulaire e com
isso estabelece o ponto de partida para o desenvolvimento clíni- 1. Carus CG. Natur und Seele (Auswahl). Jena: Diederichs,
co da psicose maníaco-depressiva de Kraepelin. A correta obser- 1939:45.
vação já encontramos no romântico Heinroth, tão freqüentemen- 2. Heinroth JCA. Krankheitsberichte. Nasses Z Psych Ärzte
te rejeitado por suas especulações. Seu espírito de observação clí- 1818; 2:231-233.
**** Conceito etimologicamente mais antigo que Wahnsinn, com significado semelhante: incompreensível, vazio em razão, sem sentido. Era usado em sentido
leigo e amplo para todas as formas de transtornos mentais, como loucura. (Nota do tradutor)
***** Narrheit: termo genérico para loucura ou tolice. “Narr” significa tolo, doido, disparatado, insensato. Antigamente “Narr” era empregado no sentido de
brincalhão, charlatão, farsista, como em comédias no teatro ou no papel de bobo da corte, com sua vestimenta colorida peculiar. Hoje ainda existem expressões
que vinculam o termo a esse aspecto hilariante. “Narr” também significa carnavalesco. (Nota do tradutor). Fonte: DUDEN - Dicionário da Língua Alemã.
REVELAÇÕES – CCP 1999; 1(1): 3-11 tas poderiam ser bem mais úteis e benéficas a todos os inte-
ressados e necessitados.
Paulo B. Linhares (auto-relato anônimo) Eu sou o “Paulo B. Linhares” (nome fictício) do Auto-
Relato da revista “Casos Clínicos em Psiquiatria”, volume 1,
Continuo com ótima saúde, convivendo bem com todo número1. Caso o senhor queira conhecer-me mais, respon-
mundo, principalmente com minha esposa e meus cinco filhos. da-me pelo E-mail:....... Cordialmente, despeço-me...”.
Sou o responsável pela manutenção financeira da minha família e
para quem quiser estudar e entender melhor meu caso, digo: Para o Doutor Hélio Elkis eu me identifiquei, colocando-me
“A partir de agosto de 1996 consegui adquirir um bom a disposição para um diálogo. O mesmo faço aqui agora, só que
apartamento e um carro de passeio, zero km e, em fevereiro o Doutor Maurício Viotti Daker julgou melhor que continue com
de 2000, consegui a quitação de ambas as aquisições. Entrei o nome fictício e, se alguém quiser estudar mais o meu caso para
de licença médica no INSS em 25/05/1982, sendo aposenta- que possa ser considerado como exemplo, entre com contato
do por invalidez em 01/08/1985. Cancelei a minha aposen- com a redação da revista – ccp@medicina.ufmg.br - e o Doutor
tadoria por invalidez em 10/02/1986, reduzindo assim os Maurício tomará as providências que julgar melhor.
custos do INSS, e passei a ser novamente um contribuinte. Terminando, desejo para todos muita paz e realmente uma PAZ
Na atividade profissional exerço uma função de alto nível e PLENA.
responsabilidade. Quanto a minha saúde, informo que não
tomo nenhum remédio psicotrópico há mais de seis anos”.
O meu objetivo é ajudar àqueles que trabalham na área da TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR RESISTENTE E
saúde mental para que possam dar aos necessitados o auxílio REVISÃO DE SEU TRATAMENTO COM
necessário para que todos tenham uma vida digna e em abun- CLOZAPINA – CCP 1999; 1(1):27-32
dância.
Toda a base deste conhecimento, que muitos médicos e até Costa EC, Miranda GV, Costa ALC, Daker MV
psiquiatras já defendem, só será aceita cientificamente quando (contribuiu neste seguimento Malloy-Diniz L)
tornar-se um assunto de uma cadeira obrigatória em todas as uni-
versidades do mundo, deixando de ser um estudo paralelo e até Persiste estabilizado em monoterapia com 300 mg/dia de
considerado como “Ciências Ocultas”, o que causa, pelo nome, clozapina. Verificou-se queixas relacionadas a memória e funções
muito medo e apreensão. executivas. O paciente foi submetido nos meses 1, 6 e 12 de uso
Por causa deste meu objetivo enviei um e-mail para o Doutor da clozapina a avaliação neuropsicológica: Mini-Exame do
Hélio Elkis, o qual transcrevo aqui agora: Estado Mental, Teste de Sondagem Intelectual, Inventário de
“Dr. Hélio Elkis, Desejo-lhe muita paz. Inteligência Não-verbal, Token Test, Teste de Fluência Verbal,
É necessário que a ciência, principalmente no ramo da psi- Teste Digit Span/de Aritmética/Construção com Cubos – Escala
quiatria e psicologia, evolua o mais rápido possível para que Wechler de Inteligência para Adultos, Teste de Aprendizagem
todos os elementos do gênero humano possam receber os Auditivo-verbal de Rey e Teste Gestáltico Visuomotor de Bender.
frutos positivos e válidos do conhecimento para viverem dig- Inicialmente, constatou-se dificuldades relacionadas às funções
namente a VIDA. executivas (fluência verbal), memória auditivo-verbal e habilida-
Dr. Hélio Elkis, há 20 anos venho estudando tudo sobre a des visuo-construtivas. Excetuando-se as dificuldades relaciona-
mente humana como um autodidata, só que nestes meus das à visuo-construção, que podem estar associadas ao uso de
estudos e pesquisas tive que caminhar sozinho, pois nin- álcool, as demais alterações cognitivas podem ser explicadas pelo
guém teve a caridade e humildade de querer me entender. quadro de transtorno afetivo bipolar. Aos seis meses verificamos
Nesta minha constante e firme disposição passei a com- melhora dos escores dos testes de funções executivas e memória
preender como funciona o “inconsciente”. Posso agora expli- auditivo-verbal, o que é compatível com os resultados obtidos em
car esta incógnita do ser humano. Veja o que escrevi nos três pacientes esquizofrênicos submetidos ao mesmo tratamento psi-
primeiros parágrafos do meu trabalho, que já é do seu cofarmacológico. A avaliação aos 12 meses demonstrou estabili-
conhecimento. dade da melhora cognitiva alcançada aos seis meses.
Dr. Hélio Elkis, o senhor já conhece um pouco sobre mim, Para detalhes: Costa E, Malloy-Diniz L, Costa DA, Miranda
mas ainda não sabe quem eu sou. Gostaria de saber se o GV, Viotti-Daker M. Avaliação prospectiva de sintomas neurop-
senhor deseja estudar um pouco mais para compreender siquiátricos de um paciente portador de transtorno bipolar resis-
melhor o meu caso. Assim o meu estudo e minhas descober- tente tratado com clozapina. Psiquiatr Biol 2000; 8(1): 3-7.