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MECÂNICA QUÂNTICA II
Capa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i
1 Spin 1
1.1 O que é um Spin? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Natureza Quântica do Spin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.1.1 Sistema de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Momentum angular intrínseco: spin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Evidências experimentais do spin do elétron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Descrição quântica: os postulados de Pauli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4.1 Postulados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.5 Partículas de spin s = 1/2: propriedades especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.5.1 Matrizes de Pauli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5.2 Propriedades do operador de spin S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.6 Partícula de spin 1/2: Descrição não-relativística . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.6.1 Observáveis e vetores de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.6.2 Representação {|r, εi} . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.6.3 Operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6.3.1 Operadores de spin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6.3.2 Operadores Orbitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.6.3.3 Operadores mistos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.7 Cálculo de probabilidades de uma medição física . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.7.1 Medindo a componente Sx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 Spin - Rotação 17
2.1 Operadores de rotação para uma partícula de spin 1/2 . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.1 Momentum angular total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.2 Produto tensorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.3 Rotação do estado de spin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.4 Operador associado com uma rotação de 2π . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.5 Natureza vetorial versus rotação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1.6 Rotação de um spinor com duas componentes . . . . . . . . . . . . . . . 21
i
Sumário
4 Teorema de Wigner-Eckart 65
4.1 Operadores escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2 Operadores vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.2.1 Definição dos operadores vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3 O teorema de Wigner-Eckart para operadores vetores . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.3.1 Elementos de matriz não-nulos de V na base padrão . . . . . . . . . . . 67
4.3.2 Proporcionalidade entre os elementos de matriz J e V dentro de um
subespaço E(k, j) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.3.2.1 Elementos de matriz de V+ e V− . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.3.2.2 Elementos de matriz de Vz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.3.2.3 Generalização para uma componente arbitrária de V . . . . . . 70
4.3.2.4 Cálculo da constante de proporcionalidade: O teorema da projeção 70
4.3.2.5 Comentários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.4 Aplicação: Cálculo do fator de Landé gj de um nível atômico . . . . . . . . . . . 72
4.4.1 Degenerescência rotacional: Multípletos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4.2 Remoção da degenerescência por um campo magnético . . . . . . . . . . 73
11 Espalhamento 267
11.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
11.2 O problema do espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
11.2.1 Potencial espalhador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268
11.2.2 Seção de choque de espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268
11.2.3 Grandezas físicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
11.3 Espalhamento por estados estacionários: Cálculo da seção de choque . . . . . . . 269
11.4 Forma assintótica dos estados estacionários espalhados. Amplitude de espalhamento270
11.4.1 Comportamento assintótico da onda espalhada . . . . . . . . . . . . . . . 270
11.4.2 Cálculo das seções de choque usando as correntes de probabilidade . . . . 271
11.4.3 Corrente espalhada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
11.4.4 Expressão para a seção de choque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
11.4.5 Interferência entre onda incidente e a espalhada . . . . . . . . . . . . . . 272
11.4.6 A equação integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272
11.4.7 Integral da função de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 274
11.4.8 Laplaciano de G± . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
11.5 Aproximação de Born . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 279
11.5.1 Interpretação dos termos da expansão de Born . . . . . . . . . . . . . . . 280
11.6 Espalhamento por muitos centros idênticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
Spin
Apesar do spin possuir as mesmas dimensões de momentum angular, ele deve ser considerado
como uma propriedade intrínseca do elétron sem análogo clássico, ou seja, um “momentum
angular intrínseco”. Note que toda e qualquer tentativa de fazer uma analogia clássica traz mais
problemas do que benefícios para a compreensão deste conceito.
Example 1.1. Mostre que no modelo clássico que trata o elétron como uma pequena bolinha
que gira em torno de um eixo próprio, a velocidade superficial do elétron tem de ser mais de
60 vezes a velocidade da luz, para produzir um momentum angular de (1/2)~. Por isso, esse
modelo não é adequado.
1
L = Iω = me vs re = ~,
2
1
1.1. O que é um Spin?
+ =
Figure 1.1: Modelo clássico para o elétron, o qual o trata-o por uma pequena bolinha que gira com
uma velocidade angular ω em torno do seu eixo.
na qual usou-se o fato de que o raio de Bohr cujo valor é a0 = 0.52917724924 × 10−10 m também
é expresso por:
~2 4π0 ~2
a0 = (CGS) e a0 = (M KSA) (1.1)
me e2 me e 2
e que em termos da contante de estrutura fina α = 1/137, 035989561 ele também pode ser
expresso por
~ ~
a0 = (CGS) e a0 = (M KSA) (1.2)
αme c αme c
e2 1
α= = (M KSA)
4πε0 ~c 137, 035989561
Então temos que
~ 1 ~ c 1 c 1
vs = = 2
= αa0 2 = c ≈ 68, 52 · c
2me re 2 m e c α a0 2 α a0 2α
Portanto, a velocidade superficial é da ordem de 68 vezes a velocidade da luz.
S N
e−
e−
N S
m = + 21 m = − 12
Figure 1.2: A analogia do momentum angular intrínseco de uma bolinha girando em torno do seu
eixo com o spin é insatisfatória.
A existência do spin está na inclusa mecânica quântica relativística, elaborada por Dirac
[43, 44]. Na equação de Schrödinger, o spin foi incorporado de forma a parte ao formalismo da
mecânica quântica de Schrödinger por Wolfgang Pauli.
De acordo com Landau [22], a lei de conservação do momentum angular, tanto na mecânica
clássica quanto na mecânica quântica, é uma consequência direta da isotropia espacial em
um sistema fechado, e isso, é uma evidência direta da relação entre o momentum angular e
as propriedades de simetria com relação as rotações. Na mecânica quântica, essas relações
de simetria com relação as rotações constituem a essência do conceito de momentum angular
de uma partícula, já que a sua definição clássica, como o produto vetorial r × p, perde seu
significado direto pois não se pode medir simultaneamente a posição e o momentum.
Foi mostrado que as relações de comutação do momentum angular orbital de uma partícula
podem ser vistas como uma consequência da estrutura não-comutativa do grupo de rotações
geométricas. Estabeleceu-se também que os números quânticos l e mL determinam a dependência
angular da função de onda de uma partícula, e portanto, todas as suas propriedades de simetria
com relação às rotações. A conservação do momentum angular, de forma geral, estabelece
a lei de transformação dos autoestados do momentum angular nas rotações do sistema de
coordenadas.
Para um sistema de partículas, os autoestados do momentum angular |l, mL i, com os valores
específicos do momentum angular l e de sua projeção m, não serão alterados apenas no caso de
rotações do sistema de coordenadas em torno do eixo Oz. Qualquer rotação que mude a direção
do eixo z terá como consequência que a projeção do momentum angular sobre o eixo Oz não
será mais um valor bem determinado. Pois no novo sistema de coordenadas, os autoestados
|l, m0L i em geral se transformam em uma superposição dos 2l + 1 autoestados |l, mL i da seguinte
forma,
i
X
|l, m0L i = CL,τ e− ~ L·û |l, τ i (1.3)
τ
em combinações lineares uns nos outros. A lei que governa essas transformações, isto é, os
coeficientes Cl,τ da superposição dos autoestados (como funções do ângulo de rotação do sistema
de coordenadas), é determinada completamente ao especificarmos o valor de l. Desse modo,
o momentum angular adquire o significado de um número quântico, o qual classifica o estado
do sistema de acordo com suas propriedades de transformação sobre uma rotação do eixo de
coordenadas do sistema.
Note que esse aspecto do conceito de momentum angular na mecânica quântica é particu-
larmente importante porque ele não está diretamente relacionado com a dependência angular
explicita dos autoestados do sistema, (as funções de onda): a lei de transformação mútua desses
autoestados pode ser expressa de modo independente, sem se fazer referência a essa dependência
angular.
Consideremos uma partícula composta, como por exemplo um núcleo atômico, o qual está
em repouso como um todo (ou seja seu CM está em repouso) e encontra-se em um estado interno
bem definido. Além disso, ela tem uma energia interna e um momentum angular de magnitude
l, devido ao movimento das partículas que compõem o núcleo. Esse momentum angular pode
ter 2l + 1 diferentes orientações no espaço.
Nota
Portanto, ao considerarmos o movimento de uma partícula complexa
como um todo devemos, além de suas coordenadas, atribuir a ela uma
variável discreta: a projeção do seu momentum angular interno sobre
uma direção qualquer do espaço.
Nota
O momentum angular intrínseco de uma partícula é chamado de spin da
partícula, em distinção ao momentum angular da partícula associado
ao movimento da partícula no espaço, denominado de, momentum
angular orbital.
Quanto a partícula em si, tanto faz se a partícula concebida é elementar ou composta, o que
importa é que ela se comporta como uma partícula elementar no fenômeno em questão (por
exemplo, o núcleo atômico).
Quanto ao spin da partícula temos:
• O efeito Zeeman.
estabelece que nenhuma partícula (por exemplo, os elétrons) pode existir no mesmo estado
quântico.
Em 1925 George Eugene Uhlenbeck e Samuel Abraham Goudsmit [37, 40], para explicarem
os resultado experimentais do experimento realizado por Stern-Gerlach em 1922, propuseram a
seguinte hipótese: o elétron possui um momentum angular intrínseco chamado spin, identificaram
o grau de liberdade extra do elétron proposto por Pauli como sendo o spin. Além disso, para
interpretar corretamente os resultados experimentais propuseram que o momentum magnético
MS associado a este momentum angular intrínseco S fosse dado por
µB µB
M S = gs S e ML = gl L (1.4)
~ ~
Note que o coeficiente de proporcionalidade entre o momentum angular de spin S e o seu
momento magnético é duas vezes aquele para o momentum angular orbital L, ou seja,
α
gs = 2(1 + + · · · ) = 2, 0 × 1, 001159657(4) = 2.0023193043617(15) e gl = 1, 0 (1.5)
2π
Nesse caso diz-se que:
Nota
A razão giromagnética do spin é duas vezes a razão giromagnética
orbital.
Em 1927, Wolfgang Pauli [5, 37] enunciou mais precisamente essa declaração e forneceu
uma descrição quântica para o spin, a qual era válida no limite não-relativístico. Seu trabalho
influenciou Paul A.M. Dirac na descoberta da equação de Dirac para o elétron relativístico.
1.4.1 Postulados
Para uma partícula como o elétron, associamos respectivamente a sua posição r e ao seu
momentum linear p, os observáveis R e P que atuam no espaço de estados Er , o qual é isomórfico
ao espaço das funções de onda F.
Todas quantidades físicas são funções das variáveis fundamentais r e p, e a regra de
quantização nos permite associarmos a elas observáveis que atuam no espaço de estados Er .
Agora iremos chamá-lo de o espaço de estados orbital Er .
A essas variáveis orbitais adicionaremos as variáveis de spin, as quais satisfazem os seguintes
postulados:
iv) O elétron é uma partícula de spin 1/2, (s = 1/2) e o seu momento magnético intrínseco
é dado por:
µB
MS = 2 S. (1.10)
~
Portanto, para o elétron o espaço Es é bidimensional.
h+ | −i = 0; h+ | +i = h− | −i = 1, (1.12)
Como S é por definição um momentum angular, ele possui todas as propriedades gerais de
um operador momentum angular. Portanto, a ação do operador
S± = Sx ± iSy (1.16)
Qualquer operador atuando em Es pode ser representado, na base {|+i , |−i} por uma matriz
2 × 2.
σx σy + σy σx = 0, σy σz + σz σy = 0, σz σx + σx σz = 0, (1.22)
Essas relações anteriores podem ser escritas em uma forma mais compacta, como
Nota
Qualquer matriz 2 × 2 pode ser escrita como uma combinação linear,
com coeficientes complexos, das três matrizes de Pauli e da matriz
identidade.
(σ · A)(σ · B) = A · B + iσ · (A × B) (1.28)
em que A e B são dois vetores arbitrários, ou dois vetores operadores cujas três componentes
comutam com aquelas do spin S, ou seja,
[Ai , Sj ] = 0 i, j = x, y, z. (1.29a)
[Bi , Sj ] = 0 i, j = x, y, z. (1.29b)
[Ai , Bj ] = 0 i, j = x, y, z. (1.29c)
~2
Sx2 = Sy2 = Sz2 = , (1.30)
4
Sx Sy + Sy Sx = 0, Sy Sz + Sz Sy = 0, Sz Sx + Sx Sz = 0, (1.31)
{X, Y, Z, S2 , Sz }
{Px , Py , Pz , S2 , Sz }
{H, L2 , Lz , S2 , Sz }
Note que como todos os kets de E são autovetores de S2 com o mesmo autovalor, então pode-se
omitir S2 desse conjunto de observáveis.
Usando o primeiro conjunto, e usaremos como base de E uma na qual o ket |ri = |x, y, zi ∈ Er
e a outra |εi ∈ Es , logo podemos escrever
e a relação de completeza
Xˆ ˆ ˆ
d r |r, εi hr, ε| = d r |r, +i hr, +| + d3 r |r, −i hr, −| = 1
3 3
(1.38)
ε
O vetor de estado |ψi pode ser representado por uma função de onda
Essas duas funções, geralmente são escritas na forma de um spinor de duas componentes
!
ψ+ (r)
[ψ](r) = (1.42)
ψ− (r)
∗ ∗
Portanto, o bra hψ| é representado pelas duas funções ψ+ (r) e ψ− (r), as quais podem ser
reescritas na forma de um spinor
[ψ † ](r) = (ψ+
∗ ∗
(r) ψ− (r)). (1.45)
Com essa notação, produto escalar de dois vetores de estado |ψi e |ϕi pode ser escrito como:
Xˆ
hψ | ϕi = d3 r hψ | r, εi hr, ε | ϕi
ˆε
∗ ∗
= d3 r [ψ+ (r)ϕ+ (r) + ψ− (r)ϕ− (r)] (1.46)
em que ˆ
|ϕi = d3 r ϕ(r) |ri ∈ Er (1.50)
1.6.3 Operadores
Seja A um operador tal que
Agora vamos obter cada elemento do spinor. Primeiro vamos projetar o ket |ψ 0 i em |r, +i, assim
Xˆ
0 0
ψ+ (r) = hr, + | ψ i = d3 r hr, + | A | r, εi hr, ε | ψi (1.57)
ε
Portanto, de acordo com os resultados anteriores |ψi e |ψ 0 i podem ser representados por um
spinor de duas componentes [ψ](r) e [ψ 0 ](r).
Agora mostraremos que podemos associar com o operador A uma matriz 〚A〛 2 × 2, tal que
Esses foram definidos inicialmente em Es , portanto, eles atuam somente sobre o índice ε dos
vetores da base |r, εi. Considere por exemplo o caso da ação do operador S+ sobre um vetor
|ψi, resultando em |ψ 0 i: ˆ
0
|ψ i = ~ d3 r ψ− (r) |r, +i . (1.60)
Note que o operador S+ aniquila todos os kets |r, +i e transforma os kets |r, −i em ~ |r, +i.
As componentes de |ψ 0 i na base {|r, εi} são:
hr, + | ψ 0 i = ψ+
0
(r) = ~ψ− (r) (1.61)
hr, − | ψ 0 i = ψ−
0
(r) = 0. (1.62)
pois,
Note que, ! ! !
x 0 ψ+ (r) ψ+ (r)
[ψ 0 ](r) = 〚X〛[ψ](r) = =x (1.68)
0 x ψ− (r) ψ− (r)
e que
∂ ! !
~ 0 ψ+ (r) ~ ∂ ψ+ (r)
[ψ 00 ](r) = 〚Px 〛[ψ](r) = ∂x = (1.69)
i ∂ ψ (r) i ∂x ψ− (r)
0 −
∂x
Notas
• Obviamente que há também a representação {|p, εi} cujos vetores da base são autovetores
comuns do C.S.C.O {Px , Py , Pz , S2 , Sz }. A definição do produto escalar em E produz:
1
hr, ε | p, ε0 i = hr | pi hε | ε0 i = eip·r/~ δε,ε0 (1.72)
(2π~)3/2
Spin - Rotação
J=L+S (2.1)
17
2.1. Operadores de rotação para uma partícula de spin 1/2
(σ · A)(σ · B) = A · B + iσ · (A × B) (2.9)
(−1)p α 2p
(S) 1 α 2
Rû (α) = 1 − + ... + + ...
2! 2 (2p)! 2
(−1)p α 2p+1
α 1 α 3
− iσ · û − + ... + + ...
2 3! 2 (2p + 1)! 2
ou seja,
α α
(S)
Rû (α) = cos − iσ · û sen (2.12)
2 2
(S)
Posto dessa forma, agora é fácil calcular a ação do operador Rû (α) sobre um estado de spin
qualquer.
(1/2)
Usando essa expressão, podemos escrever a matriz de rotação Rû (α) explicitamente na
base {|+i , |−i}, como
!
(1/2) cos α2 − iuz sen α2 (−iux − uy ) sen α2
Rû (α) = (2.13)
(−iux + uy ) sen α2 cos α2 + iuz sen α2
(S) (S)
Rû (0) = 1 e com Rû (2π) = −1 (2.14)
Portanto, o operador associado com uma rotação de 2π não é o operador identidade, mas o
negativo desse operador. Logo, as leis de transformação de grupo, são conservadas somente
somente uma rotação de 4π é igual a unidade. Isso seria equivalente a estar sobre a superfície
de uma Fita de Möebius.
Figura 2.1: Analogia da invariância por rotação de 4π do spin, (S) R (4π) = 1, com a fita de Möebius.
û
O fato de que o estado de spin muda o sinal durante uma rotação através de um ângulo de
2π não é perturbador, já que os dois vetores de estado diferem somente por um fator de fase
global, tendo as mesmas propriedades físicas. É mais importante estudarmos e compreendermos
como um observável se transforma durante uma rotação como essa.
Considere os autovetor |χn i é submetido a uma rotação tal que
(S)
Rû† (α)A0(S) Rû (α) |χn i = an (S) Rû† (α)(S) Rû (α) |χn i = an |χn i (2.18)
ou ainda que
A =(S) Rû† (α)A0(S) Rû (α) (2.20)
ou ainda
A0 =(S) Rû (α)A(S) Rû† (α). (2.21)
Esse resultado é totalmente satisfatório, já que uma rotação através de 2π não pode modificar
o dispositivo de medida de A. Portanto, o espectro de A0 deve permanecer o mesmo de A.
Note que já mostramos anteriormente que
(r)
Rû (2π) = 1 (2.23)
θ θ v = êz
|χi = e−iϕ/2 cos |+i + eiϕ/2 sen |−i (2.25)
2 2
v0
o que significa que |χi é um autovetor associado com o u
autovalor +~/2 da componente S · v do spin S ao longo
θ
do vetor unitário v definido pelos ângulos polares θ e ϕ.
Chamaremos de v0 o resultado da transformação de
v pela rotação em questão. Desde que S é um observá-
vel vetorial, o estado |χ0 i após a rotação deve ser um
ϕ
autovetor com um autovalor de +~/2, da componente y
0 0
S · v do spin S ao longo do vetor unitário v :
Aqui iremos simplesmente fazer uma verificação desse resultado, para um caso bem específico.
Portanto, considere o caso em que o vetor v é um vetor unitário ao longo do do eixo Oz , ou
seja, ele é dado por v = êz e que por sua vez o vetor v0 é um vetor unitário arbitrário, com
ângulos polares θ e ϕ.
O vetor v0 é obtido a partir do vetor v = êz por uma rotação através de um ângulo θ em
torno do vetor unitário û, o qual é fixado pelos ângulos polares:
π π
θû = e ϕû = ϕ + (2.28)
2 2
Portanto, devemos mostrar que:
(S)
Rû (θ) |+i ∝ |+iv0 (2.29)
(S)
então o operador Rû (θ) pode ser escrito, usando a eq. (2.12) como
(S) θ θ
Rû (θ) = cos − iσ · û sen (2.31)
2 2
θ θ
= cos − i (−σx sen ϕ + σy cos ϕ) sen (2.32)
2 2
θ 1 θ
σ+ e−iϕ − σ− eiϕ sen
= cos − (2.33)
2 2 2
com
σ± = σx ± iσy (2.34)
Entretanto como
σ+ |+i = 0 e que σ− |+i = 2 |−i (2.35)
(S)
então, o resultado da transformação do |+i pelo operador Rû (θ) é:
(S) θ θ
Rû (θ) |+i = cos |+i + eiϕ sen |−i (2.36)
2 2
O qual, a menos de um fator de fase, é o ket |+iv0 :
(S)
Rû (θ) |+i = eiϕ/2 |+iv0 (2.37)
Se realizarmos uma rotação geométrica arbitrária R sobre esta partícula, seu estado torna-se:
|ψ 0 i = R |ψi (2.39)
com
R =(r) R ⊗ (S)
R (2.40)
Agora, desde que os vetores da base {|r, εi} são dados por um produto tensorial, então os
elementos de matriz do operador R nessa base pode ser decomposto na seguinte forma:
e introduzindo a notação
(1/2)
hε|(S) R |ε0 i = Rε,ε0 (2.45)
temos que
(1/2)
ψε0 (r) = Rε,ε0 ψε0 (R−1 r)
P
(2.46)
ε0
r4 r5
ri
r1 r
r2 3
y
x
Figura 3.1: Aqui temos um sistema composto por n partículas, e cada uma com o vetor posição ri e
velocidade vi dados em relação a origem do sistema de coordenadas.
n
X n
X
L= ri ×pi = mi ri ×vi (3.1)
i=1 i=1
23
3.1. Adição de Momenta Angulares: Caso clássico
n
1 X m1 r1 + m2 r2 + · · · + mn rn
R= mi ri = (3.2)
M i=1 m1 + m2 + · · · + mn
Se r0i e vi0 são os vetores posição e velocidade da partícula i em relação ao CM, temos então que
n
X
ri = r0i + R =⇒ mi r0i = 0, (3.3)
i=1
n
X n
X
vi = vi0 + V =⇒ mi vi0 = p0i = 0, (3.4)
i=1 i=1
n
X dR
P=V mi = M V = M , (3.5)
i=1
dt
na qual V é a velocidade do CM. A eq. (3.4) significa que o momentum linear do movimento
interno, ou seja, o momentum resultante em relação ao CM, se anula. Já a eq. (3.5) nos diz que
o CM move-se como se o momentum total P do sistema estivesse concentrado todo nele.
Para ver o que ocorre com o momentum angular total L, basta substituir (3.3) e (3.4) em
(3.1):
n
X
L = mi (r0i + R) × (vi0 + V)
i=1
n n
!
X X
= mi r0i × vi0 + R× mi vi0 +
i=1 i=1
n
! n
X X
mi r0i ×V+ mi R × V
i=1 i=1
em que,
n
X n
X
0
L = mi r0i × vi0 = r0i × p0i (3.7)
i=1 i=1
dL
τ = r×F = , em que L = r×p, (3.9)
dt
logo
n n
dL X dvi X
= mi ri × = mi ri × ai . (3.10)
dt i=1
dt i=1
n
X
mi ai = FExt.
i + Fij (i = 1, 2, . . . , N ) (3.11)
j=1
j6=i
mi Fij
rij = ri − rj
ri
Fji
O rj mj
Figura 3.2: Força de interação entre duas partículas de massas mi e mj , cuja a linha de ação está
dirigida segundo a linha que une as duas partículas.
Considerando que as forças internas de interação entre partículas são tais que sua linha de
ação está dirigida segundo a linha que une as duas partículas, ou seja, Fij é paralela ao vetor
(ri − rj ) o que implica (ri − rj )×Fij = 0, então
n X
n n n
X 1X X
ri ×Fij = (ri − rj )×Fij = 0 (3.15)
i=1 j=1
2 i=1 j=1
j6=i j6=i
Logo, o resultante interno dos torques internos do sistema é nulo. Este resultado permanece
válido em condições mais gerais, sem que seja preciso fazer a hipótese acima sobre a linha de
ação das forças de interação.
Substituindo (3.15) em (3.12), obtemos
n n
dL X X
= ri ×FExt.
i = τiExt. = τ Ext. (3.16)
dt i=1 i=1
que é a lei fundamental da dinâmica das rotações para um sistema de partículas: a taxa de
variação com o tempo do momento angular total do sistema em relação a um ponto O (num
referencial inercial) é igual à resultante de todos os torques externos em relação a O que atuam
sobre o sistema.
A restrição a um referencial inercial decorre de termos usado a 2a¯ lei de Newton em (3.11).
O referencial do CM não é necessariamente inercial: se a resultante das forças externas não se
anula, o CM tem uma aceleração A dada por
dP
= M A = FExt. (3.17)
dt
Apesar disto, vamos mostrar que (3.16) permanece válida quando referida ao CM, mesmo que
ele esteja acelerado. Para isto voltemos à (3.10), que vale em qualquer referencial, e apliquemo-la
ao referencial do CM: n n
dL0 X 0 dvi0 X
= mi ri × = mi r0i × a0i . (3.18)
dt i=1
dt i=1
Se ai é a aceleração da partícula i num referencial inercial, dada por (3.11), temos, por (3.4),
ai = a0i + A, (3.19)
Note que o último termo de (3.20) se anula pelo mesmo argumento empregado para obter a eq.
(3.16). Portanto, por (3.3), r0i − r0j = ri − rj , de modo que a demonstração permanece válida.
Obtemos então n n
dL0 X 0 X Ext.
= ri ×FExt.
i = τi0 Ext. = τ 0 (3.21)
dt i=1 i=1
em que τ 0Ext. é a resultante dos torques externos em relação ao CM. Vemos portanto que a eq.
(3.16) permanece válida com relação ao CM, mesmo que este esteja acelerado.
ou seja, se a resultante dos torques externos em relação a um dado ponto se anula, então o
momentum angular do sistema em relação a esse ponto se conserva.
Os principais resultados vistos foram:
• A eq. (3.22) é uma lei de conservação vetorial. Isto significa que a conservação de L
implica na:
Sabe-se da mecânica clássica que as lei de conservação do momentum angular está a uma
simetria espacial, ou seja, com a isotropia espacial. Portanto, em um sistema físico cujo o espaço
é isotrópico o momentum angular do sistema é conservado.
portanto, cada uma das três componentes Li do operador momentum angular L são constantes
do movimento.
Agora considere o caso clássico em que as duas partículas interagem e que a correspondente
energia potencial da interação U (r1 , r2 ) depende somente da distância entre elas, ou seja,
no qual
p
|r1 − r2 | = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 + (z1 − z2 )2 . (3.30)
o qual em geral é diferente de zero. Note que para a componente Liz , em coordenadas cartesianas
temos:
~ ∂U ∂U
[Liz , H] = [Liz , U (|R1 − R2 |)] = xi − yi . (3.33)
i ∂yi ∂xi
Em geral temos que
L = L1 + L2 (3.35)
∂U ∂U ∂r ∂U x1 − x2
= =
∂x1 ∂r ∂x1 ∂r r
∂U ∂U ∂r ∂U x1 − x2
= =− .
∂x2 ∂r ∂x2 ∂r r
Portanto,
~ ∂U y1 − y2 x1 − x2 y1 − y2 x1 − x2
[Lz , H] = x1 − y1 − x2 + y2
i ∂r r r r r
~ 1 ∂U
= [(x1 − x2 )(y1 − y2 ) − (y1 − y2 )(x1 − x2 )]
i r ∂r
= 0. (3.36)
Portanto, pode-se concluir que as componentes do momentum angular total são constantes do
movimento.
3.2.1 Considerações
Note que:
2. Se considerarmos uma partícula com spin s num campo de força central U (R), cujo
Hamiltoniano é H e o seu momentum angular orbital é L, temos que
Nessa expressão ξ(R) é uma função conhecida e de uma única variável, o operador R.
Ao introduzirmos essa correção, devido ao acoplamento spin-órbita, na Hamiltoniana H do
sistema, vemos que os operadores L e S não comutam mais com o Hamiltoniano H.
Por exemplo, observe que,
J = L + S, (3.41)
vemos que
[Jz , H] = [Lz + Sz , H] = 0. (3.42)
Logo como as componentes do operador J comutam com o Hamiltoniano, então ele é uma
constante do movimento.
Portanto, escolher os operadores J1z , J21 , J2z e J22 como C.S.C.O não é uma boa escolha apesar
de formarem uma base de autovetores comuns. Note que nem J1 e nem J2 são constantes do
movimento, porém o operador
J = J1 + J2 , (3.45)
Portanto, usando a base formada pelos autovetores comuns dos operadores J1z , J21 , J2z e J22 ,
tentaremos construir uma nova base formado pelos autovetores comuns dos operadores de Jz e
J2 , ou seja,
• Como [Jz , H] = [J2 , H] = 0, a matriz H pode ser ser dividida em blocos associados aos
auto-subespaços dos vários conjuntos de autovalores de Jz e J2 .
• A estrutura da matriz H é mais simples nessa base do que na base dos autovetores comuns
de J1z , J21 , J2z e J22 , já que em geral nem J1z e nem J2z comutam com H.
e
Siz |si , mi i = ~mi |si , mi i com (i = 1, 2). (3.48)
O espaço de estado desse sistema, será constituído pelo produto tensorial do espaço de estado
de cada partícula, assim
|s1 , m1 ; s2 , m2 i ≡ |s1 , m1 i ⊗ |s2 , m2 i (3.49)
Note que o spin da cada partícula pode ser si = 1/2, logo o spin total será s = 0, 1. Nessa
notação os possíveis valores para ε1 e ε2 são:
ε1 = ±1 e ε2 = ±1 (3.53)
S = S1 + S2 (3.57)
Sabendo que tanto S1 quanto S2 são momenta angulares regulares, mostrar que S também o é,
é simples. Basta mostrar que suas componentes satisfazem as mesmas relações de comutação
que S1 e S2 .
Devemos lembrar que:
k = 1, 2
[S1 , S2 ] = 0 e [Skα , Skβ ] = i~α,β,γ Skγ com
α, β, γ = x, y, z.
já que [S1 , S2 ] = 0. O produto escalar S1 · S2 pode ser expresso em termos das componentes dos
respectivos operadores,
S1 · S2 = S1x S2x + S1y S2y + S1z S2z (3.59)
mas como
S
kx = 21 (Sk+ + Sk− )
Sk± = Skx ± iSky (3.60)
1
S
ky = 2i
(Sk+ − Sk− )
então podemos escrever
1
S1 · S2 = [(S1+ + S1− )(S2+ + S2− ) − (S1+ − S1− )(S2+ − S2− )] +
4
S1z S2z
1
= [S1+ S2+ + S1+ S2− + S1− S2+ + S1− S2− −
4
S1+ S2+ + S1+ S2− + S1− S2+ − S1− S2− ] + S1z S2z
1
= (S1+ S2− + S1− S2+ ) + S1z S2z
2
Portanto, podemos escrever
S2 = (S1 + S2 )2 = S21 + S22 + 2S1z S2z + S1+ S2− + S1− S2+ (3.61)
Além disso, S2 não comuta com S1z e nem com S2z , assim
Note que S2 não comuta nem com S1z e nem com S2z , porém ele comuta com Sz = S1z + S2z ,
que é a soma dos dois.
3
S21 |S, M i = S22 |S, M i = ~2 |S, M i
4
2 2
S |S, M i = S(S + 1)~ |S, M i (3.71)
Sz |S, M i = M ~ |S, M i
3.3.6 Diagonalização de S2
Tudo que resta a ser feito é diagonalizar a matriz que representa S2 na base |ε1 , ε2 i. Já
sabemos que ela não é diagonal.
Logo,
2 3 2 3 2 1
S |+, +i = ~ + ~ |+, +i + ~2 |+, +i = 2~2 |+, +i
4 4 2
2 3 2 3 2 1
S |+, −i = ~ + ~ |+, −i − ~2 |+, −i + ~2 |−, +i = ~2 (|+, −i + |−, +i) .
4 4 2
(3.80)
2 3 2 3 2 1
S |−, +i = ~ + ~ |−, +i − ~2 |−+i + ~2 |+, −i = ~2 (|−, +i + |+, −i) .
4 4 2
2 3 2 3 2 1
S |−, −i = ~ + ~ |−, −i + ~2 |−, −i = 2~2 |−, −i
4 4 2
3.3.6.2 Matriz S2
h+, +|S2 |+, +i h+, +|S2 |+, −i h+, +|S2 |−, +i h+, +|S2 |−, −i
2 2 2 2
h+, −|S |+, +i h+, −|S |+, −i h+, −|S |−, +i h+, −|S |−, −i
(S2 ) = ~
h−, +|S2 |+, +i h−, +|S2 |+, −i h−, +|S2 |−, +i h−, +|S2 |−, −i
(3.81)
2 2 2 2
h−, −|S |+, +i h−, −|S |+, −i h−, −|S |−, +i h−, −|S |−, −i
2 0 0 0
2 2
0 1 1 0
(S ) = ~
0 1 1 0
(3.82)
0 0 0 2
Comentários:
• Os zeros já eram esperados, pois os autovetores |+, +i e |−, −i não possuem autovalores
degenerados para Sz .
• Como S2 comuta com Sz , ela portanto, terá elementos de matriz não-nulos somente entre
os autovetores de Sz associados com o mesmo autovalor, ou seja, os degenerados.
A matriz (S2 ) pode ser dividida em três submatrizes, como mostradas, sendo duas delas
unidimensionais, pois os vetores |+, +i e |−, −i são autovetores de S2 , e ambos possuem o
mesmo autovalor 2~2 .
Para encontrarmos os outros dois autovetores de (S2 ), devemos diagonalizar a submatriz
2 × 2: !
1 1
(S2 )0 = ~2 (3.83)
1 1
a qual representa S2 no subespaço bidimensional expandido pelos vetores |+, −i e |−, +i, isto é,
o subespaço de Sz correspondendo aos autovalores com M = 0. Os autovalores da submatriz
(3.83) são obtidos resolvendo a equação (S2 )0 |ψiλ = ~2 λ |ψiλ , ou na forma matricial
! ! !
1 − λ 1 a 1 − λ 1
~2 = 0 =⇒ det =0 (3.84)
1 1−λ b 1 1−λ
Portanto, os autovalores de S2 são 0 e 2~2 . Bom agora devemos encontrar seus respectivos
autovetores. Para isso Considere inicialmente o caso em que λ = 0, para o qual
a+b=0 =⇒ a = −b (3.88)
Nesse caso, precisamos de uma condição extra, que é o fato de hψ | ψi = 1, ou seja, a normalização
de |ψi. Essa condição leva a
|a|2 + |b|2 = 1 (3.89)
1
Sz |ψiλ=0 = √ (Sz |+, −i − Sz |−, +i)
2
1 1 1 1 1
= √ + ~ |+, −i − ~ |+, −i + ~ |−, +i − ~ |−, +i
2 2 2 2 2
=0. (3.92)
1 1
a= √ e b= √ (3.96)
2 2
Portanto,
1
|ψiλ=2 = √ (|+, −i + |−, +i) Autovalor 2~2 (3.97)
2
Note que, este também é um autovetor Sz = S1z + S2z e que o seu autovalor é dado por
1
Sz |ψiλ=2 = √ (Sz |+, −i + Sz |−, +i)
2
1 1 1 1 1
=√ ~ |+, −i − ~ |+, −i − ~ |−, +i + ~ |−, +i
2 2 2 2 2
= 0. (3.98)
• O autovalor 0 de S2 é não-degenerado.
|1, 1i = |+, +i
1
|1, 0i = √ (|+, −i + |−, +i) (3.101)
2
|1, −1i = |−, −i
• que S2 e Sz constituem um C.S.C.O. no qual poderia ser incluído os operadores S21 e S22 ,
embora não seja necessário.
Quando adicionamos dois spins 1/2 (s1 = s2 = 1/2) o número quântico S que caracteriza os
autovalores S(S + 1)~2 dos autovetores |S, M i do observável S2 , pode ter dois valores: 0 ou 1.
Com cada um desses valores de S está associado uma família de (2S + 1) vetores de estado
ortogonais (três para S = 1 e um S = 0) correspondendo aos (2S + 1) valores de M , os quais
são compatíveis com S.
3.3.8 Comentários
1. A família dos três vetores |S = 1, M i, com M = −1, 0, 1, constitui os estados tripletos,
enquanto o vetor |S = 0, M = 0i é chamado de um estado singleto.
2. Os estados tripletos são simétricos com relação a troca de dois spin, enquanto o estado
singleto é anti-simétrico. Isso significa que se cada vetor |ε1 , ε2 i for trocado pelo vetor
|ε2 , ε1 i, os estados tripletos na base {|SM i} permanecerão invariantes enquanto, o estado
singleto irá trocar de sinal.
Seja E(k, j) o espaço de estado vetorial expandido pelo conjunto de vetores da base padrão
a qual corresponde aos valores de k e j fixos. Existem (2j + 1) desses vetores, e de acordo com
(3.102) e com (3.103) eles podem ser transformados uns nos outros pela ação dos operadores
J2 , Jz , J+ e J− . Esse espaço de estado pode ser considerado como sendo uma soma direta dos
subespaços ortogonais E(k, j) os quais possuem as seguintes propriedades:
4. Dentro de um subespaço E(k, j), os elementos de matriz de uma função qualquer F (J) de
J são independentes de k.
E = E1 ⊗ E2 (3.105)
Os espaços de estado E1 e E2 podem ser considerados como sendo a soma direta dos subespaços
E1 (k1 , j1 ) e E2 (k2 , j2 ), os quais possuem as propriedades relatadas anteriormente. Assim
X X
E1 = E1 (k1 , j1 ) e E2 = E2 (k2 , j2 ), (3.107)
⊕ ⊕
e consequentemente
X
E= E(k1 , k2 ; j1 , j2 ), com E(k1 , k2 ; j1 , j2 ) = E1 (k1 , j1 ) ⊗ E2 (k2 , j2 ).
⊕
J = J 1 + J2 (3.109)
Como os operadores J1 e J2 são momenta angulares regulares, pois satisfazem todas as relações
de comutação que caracterizam um momentum angular. Agora mostraremos que J também é
um momentum angular, pois suas componentes satisfazem as mesmas relações de comutação
que J1 e J2 .
Como J1 e J2 comutam com J21 e J22 , então J também irá comutar com eles,
k = 1, 2
[J1 , J2 ] = 0 e [Jkα , Jkβ ] = i~α,β,γ Jkγ com
α, β, γ = x, y, z.
mas não com J2 , já que esse operador pode ser escrito em termos de J1 e J2 na forma:
Como [J1 , J2 ] = 0. O produto escalar J1 · J2 pode ser expresso em termos das componentes
dos respectivos operadores,
mas como
J
kx = 21 (Jk+ + Jk− )
Jk± = Jkx ± iJky (3.117)
1
J
ky = 2i
(Jk+ − Jk− )
então podemos escrever
1
J1 · J2 = [(J1+ + J1− )(J2+ + J2− ) − (J1+ − J1− )(J2+ − J2− )] + J1z J2z
4
1
= [J1+ J2+ + J1+ J2− + J1− J2+ + J1− J2− −
4
J1+ J2+ + J1+ J2− + J1− J2+ − J1− J2− ] + J1z J2z
1
= (J1+ J2− + J1− J2+ ) + J1z J2z
2
Portanto, podemos escrever
J2 = (J1 + J2 )2 = J21 + J22 + 2J1z J2z + J1+ J2− + J1− J2+ (3.118)
Como,
Além disso, J2 não comuta com J1z e nem com J2z , assim
Note que J2 não comuta nem com J1z e nem com J2z , porém ele comuta com Jz = J1z + J2z ,
que é a soma dos dois.
Mostrou-se que essa base é muito boa para estudarmos os momenta angulares individuais J1
e J2 de dois subsistemas.
Foi mostrado que os quatro observáveis,
• Por isso, diz-se que adiciona-se os momenta angulares j1 e j2 , sem especificarmos os outros
números quânticos.
3.7 Autovalores de J 2 e Jz
• O espaço de estados E = E(1/2, 1/2) deve ser uma soma direta dos subespaços E(k, S) de
(2S + 1)-dimensão.
j1 ≥ j2 .
M = m1 + m2 . (3.132)
• Todos esses pontos estão situados dentro, ou sobre os lados de um retângulo cujo os cantos
são: (j1 , j2 ), (j1 , −j2 ), (−j1 , −j2 ) e (−j1 , j2 ).
• Todos os pontos situados sobre a mesma linha pontilha vermelha correspondem aos mesmos
valores de M = m1 + m2 .
• O número de tais pontos é portanto, igual a degenerescência gj1 ,j2 (M ) deste valor de M .
3.7.3 Degenerescência de Jz
Quanto a degenerescência de Jz , note que:
gj1 ,j2 (j1 + j2 ) = 1 na figura gj1 ,j2 (3) = gj1 ,j2 (−3) = 1 (3.133)
enquanto para
gj1 ,j2 (j1 + j2 − 1) = 2 na figura gj1 ,j2 (2) = gj1 ,j2 (−2) = 2
gj1 ,j2 (j1 + j2 − 2) = 3 na figura gj1 ,j2 (1) = gj1 ,j2 (−1) = 3
gj1 ,j2 (j1 + j2 − 3) = 3 na figura gj1 ,j2 (0) = 3
m2
M
M
M
=
=
=
=
−
2
m1
0
1
1
(-2,0) (-1,0) (0,0) (1,0) (2,0)
M
=
−
2
Figura 3.4: Par de possíveis valores (m1 , m2 ) para os kets |j1 , j2 ; m1 , m2 i. Aqui j1 = 2 e j2 = 1.
Os pontos associados com um dado valor de M = m1 + m2 estão situados sobre uma linha reta de
inclinação −1 (linha pontilhada vermelha).
g2,1 (M )
M
0
−3 −2 −1 0 1 2 3
Figura 3.5: Valores do grau de degenerescência gj1 ,j2 (M ) como uma função de M . Aqui j1 = 2 e
j2 = 1. Os graus de degenerescência gj1 ,j2 (M ) são obtidos simplesmente pela contagem do número de
pontos sobre as correspondentes linhas pontilhadas vermelhas da figura 3.4.
• O valor máximo alcançado por M foi j1 + j2 , e nenhum dos valores de J, maiores do que
j1 + j2 são encontrados em E(j1 , j2 ) e portanto não aparecem na soma direta,
X
E(j1 , j2 ) = E(k, j). (3.134)
⊕
JX
max
Note que a soma dos termos de uma progressão aritmética é dada por
nf
X (nf − ni + 1) · (anf + ani )
ai = , (3.137)
i=ni
2
J2
J2
J2
J1 +
2
J1 + J
J2
−J2 J1 J1
J1
2
J1 + J
J2
J1 −
Alinhamento qualquer Alinhamento com Alinhamento com
soma máxima soma mínima
Figura 3.6: Classicamente os valores mínimo e máximo de soma de dois vetores, satisfazem a
desigualdade do triângulo: |J1 − J2 | ≤ |J1 + J2 | ≤ J1 + J2 .
(j1 − j2 )2 = Jmin
2
isto é, o número de diferentes valores de k para esse valor de J, mantendo-se fixo os valores de
j1 e j2 . Note que há uma relação muito próxima entre os pj1 ,j2 (J) e os gj1 ,j2 (M ). Considere o
particular de M . Para ele corresponder a um e somente um vetor em cada sub-espaço E(k, J)
tal que J ≥ |M |. O seu grau de degenerescência gj1 ,j2 (M ) em E(j1 , j2 ), pode portanto ser escrito
como:
Invertendo ela, obtemos pj1 ,j2 (J) em função de gj1 ,j2 (M ), assim
Temos que,
pj1 ,j2 (J) = 0 para J > j1 + j2 (3.142)
já que gj1 ,j2 (M ) é zero para |M | > j1 + j2 . Além disso, para J = j1 + j2 e M = J = j1 + j2 ,
temos
Aqui S = 1 e M = 1, 0, −1.
O ket |+, +i é, no espaço de estado E(1/2, 1/2), o único autovetor de Sz associado com o
valor M = 1. Como [S2 , Sz ] = 0 e o valor M = 1 é não-degenerado, então o ket |+, +i deve
ser um autovetor de S2 . Assim |S = 1, M = 1i = |1, 1i, e portanto podemos escolher a fase do
vetor |1, 1i de modo que
|1, 1i = |+, +i . (3.151)
Agora é fácil encontrarmos os outros estados do tripleto, pois da teoria do momentum angular
sabemos que:
p
S± |S, M i = S(S + 1) − M (M ± 1)~ |S, M ± 1i , (3.152)
logo
p
S− |1, 1i = 1(1 + 1) − 1(1 − 1)~ |1, 1 − 1i
√
= ~ 2 |1, 0i
Consequentemente,
1
|1, 0i = √ S− |1, 1i (3.153)
~ 2
Para calcular |1, 0i explicitamente na base {|ε1 , ε2 i} é suficiente lembrar que S− = S1− + S2− ,
logo temos que
1
|1, 0i = √ (S1− + S2− ) |+, +i
~ 2
1
= √ [~ |−, +i + ~ |+, −i]
~ 2
1
= √ [|−, +i + |+, −i]
2
3.8.3 O estado |S = 0, M = 0i
De fato, esse último resultado poderia ter sido obtido diretamente usando um argumento
análogo ao aplicado para |+, +i.
O único vetor do subespaço E(S = 0), o vetor |S = 0, M = 0i, é determinado a menos de
um fator constante, pela condição de que ele deve ser ortogonal aos três vetores |S = 1, M i, os
quais acabamos de construir.
Desde que ele é ortogonal a |1, 1i = |+, +i e |1, −1i = |−, −i, portanto |0, 0i deve ser uma
combinação linear dos kets |+, −i e |−, +i, assim
Agora veremos como determinar os vetores |J, M i que expandem esses subespaços.
• Desde que J2 comuta com Jz e o valor M = j1 +j2 é não degenerado, então |j1 , j2 ; m1 = j1 , m2 = j2 i
também deve ser um autovetor de J2 .
|J = j1 + j2 ; M = j1 + j2 i = |j1 , j2 ; m1 = j1 , m2 = j2 i
= |j1 + j2 ; j1 + j2 i
= |j1 , j2 ; j1 , j2 i .
Aplicações repetidas do operador J− sobre este vetor de estado, fornece toda a família de
vetores |J, M i, para os quais J = j1 + j2 . Portanto, de (3.103) temos, que
p
J± |k, j, mi = ~ j(j + 1) − m(m ± 1) |k, j, m ± 1i . (3.160)
logo
p
J− |j1 + j2 ; j1 + j2 i = ~ 2(j1 + j2 ) |j1 + j2 ; j1 + j2 − 1i (3.161)
então
1
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 1i = p J− |j1 + j2 ; j1 + j2 i . (3.162)
~ 2(j1 + j2 )
Agora aplicando J− = J1− + J2− ao vetor |j1 + j2 ; j1 + j2 i, obtemos que
1
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 1i = p J− |j1 + j2 ; j1 + j2 i
~ 2(j1 + j2 )
1
= p (J1− + J2− ) |j1 , j2 ; j1 , j2 i
~ 2(j1 + j2 )
1 hp p i
= p ~ 2j1 |j1 , j2 ; j1 − 1, j2 i + 2j2 |j1 , j2 ; j1 , j2 − 1i
~ 2(j1 + j2 )
isto é
s s
j1 j2
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 1i = |j1 , j2 ; j1 − 1, j2 i + |j1 , j2 ; j1 , j2 − 1i (3.163)
j1 + j2 j1 + j2
De fato, obtivemos uma combinação linear dos dois vetores bases os quais corresponde a
M = j1 + j2 − 1, e essa combinação está normalizada diretamente. Pois
j1
hj1 + j2 ; j1 + j2 − 1 | j1 + j2 ; j1 + j2 − 1i = hj1 , j2 ; j1 − 1, j2 | j1 , j2 ; j1 − 1, j2 i + (3.164)
j1 + j2
j2
hj1 , j2 ; j1 , j2 − 1 | j1 , j2 ; j1 , j2 − 1i (3.165)
j1 + j2
j1 j2
= + = 1. (3.166)
j1 + j2 j1 + j2
isto é
s
j1 (2j1 − 1)
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 2i = |j1 , j2 ; j1 − 2, j2 i +
(j1 + j2 )[2(j1 + j2 ) − 1]
s
j2 (2j2 − 1)
|j1 , j2 ; j1 , j2 − 2i . (3.167)
(j1 + j2 )[2(j1 + j2 ) − 1]
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 3i
|j1 + j2 ; j1 + j2 − 4i
..
.
|j1 + j2 ; −(j1 + j2 )i
com,
J = j1 + j2 − 1 e M = j1 + j2 − 1 (3.169)
Portanto, podemos usar um raciocínio análogo ao anterior.
Uma forma de ver o procedimento como um todo é lembrar que:
|j1 − j2 | ≤ J ≤ j1 + j2
J M
Além disso, esse vetor deve ser ortogonal ao vetor |j1 + j2 , j1 + j2 − 1i o qual pertence a E(j1 +j2 ),
e é dado por (3.163). Portanto,
hj1 + j2 , j1 + j2 − 1 | j1 + j2 − 1, j1 + j2 − 1i = 0 (3.172)
s s
j1 j2
α +β =0 (3.173)
j1 + j2 j1 + j2
logo s
j2
α=− β (3.174)
j1
Substituindo, na expressão da normalização obtemos que:
2 j1
|α| 1 + =1 (3.175)
j2
A menos de um fator de fase, podemos determinar α e β, escolhendo α com sendo real e positivo,
obtemos que s s
j1 j2
α= =⇒ β=− (3.176)
j1 + j2 j1 + j2
Com isso temos
s s
j1 j2
|j1 + j2 − 1; j1 + j2 − 1i = |j1 , j2 ; j1 , j2 − 1i − |j1 , j2 ; j1 − 1, j2 i (3.177)
j1 + j2 j1 + j2
Aqui basta aplicar J− = J1− +J2− , sobre esse estado para obtermos os outros 2(j1 +j2 −1)+1
vetores |J, M i correspondentes a
J = j1 + j2 − 1 e M = j1 + j2 − 1, j1 + j2 − 2, . . . , −(j1 + j2 − 1)
|J = j1 + j2 − 2; M = j1 + j2 − 2i . (3.179)
Para calcularmos ele na base {|j1 , j2 ; m1 , m2 i} é suficiente notarmos que ele deve ser dado pela
seguinte combinação linear:
hj1 + j2 ; j1 + j2 − 2 | j1 + j2 − 2; j1 + j2 − 2i = 0 (3.183)
hj1 + j2 − 1; j1 + j2 − 2 | j1 + j2 − 2; j1 + j2 − 2i = 0, (3.184)
M = m1 + m2
|j1 − j2 | ≤ J ≤ j1 + j2 . (3.186)
|j1 − j2 | ≤J ≤ j1 + j2 (3.187)
|J − j1 | ≤j2 ≤ J + j1 (3.188)
|J − j2 | ≤j1 ≤ J + j2 . (3.189)
Além disso, as propriedades gerais dos momenta angulares impõe que o ket |J, M i, e portanto,
os coeficientes hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i existam somente se M tiver um dos seguintes valores:
Desiguladade do triângulo
J
J2 |J1 − J2 | ≤ J ≤ J1 + J2
|J − J1 | ≤ J2 ≤ J + J1
|J − J2 | ≤ J1 ≤ J + J2
J1
Figura 3.7: Regra de seleção do triângulo: o coeficiente hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i pode ser diferente de
zero somente se for possível forma um triângulo com os três segmentos de reta de comprimentos j1 , j2 e
J.
Se esse não for o caso, os coeficientes de Clebsch-Gordan não são definidos. Entretanto, no que
segue, será conveniente considerar que eles existem para todos os valores de m1 , m2 e M , mas
que os coeficientes serão nulos se um deles não satisfazer as condições (3.191) anteriores.
Desde que os vetores |J, M i também formam uma base ortonormal do espaço E(j1 , j2 ),
podemos expressar um vetor |j1 , j2 ; m1 , m2 i em termos dos vetores |J, M i como
j1 +j2 J
X X
|j1 , j2 ; m1 , m2 i = |J, M i hJ, M | j1 , j2 ; m1 , m2 i . (3.192)
J=|j1 −j2 | M =−J
Desde que escolhemos todos os fatores de fase para os coeficientes de Clebsch-Gordan de modo
que eles fossem reais, então segue que:
nos obtemos
j1 j2
X X
hJ, M | j1 , j2 ; m1 , m2 i hj1 , j2 ; m1 , m2 | J 0 , M 0 i = δJ,J 0 δM,M 0
m1 =−j1 m2 =−j2
na relação de ortogonalidade
obtemos
j1 +j2 J
X X
hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i hJ, M | j1 , j2 ; m01 , m02 i = δm1 ,m01 δm2 ,m02 ,
J=|j1 −j2 | M =−J
Portanto, podemos aplicar o operador J− a expressão (3.185). Desde que J− = J1− + J2− ,
obtemos (se M > −J):
p
J(J + 1) − M (M − 1) |J, M − 1i =
j1 j2
X X
hj1 , j2 ; m01 , m02 | J, M i ×
1 m0 =−j1 m0 =−j2
2
hp
j1 (j1 + 1) − m01 (m01 − 1) |j1 , j2 ; m01 − 1, m02 i +
p i
j2 (j2 + 1) − m02 (m02 − 1) |j1 , j2 ; m01 , m02 − 1i (3.199)
Multiplicando a esquerda essa expressão pelo bra hj1 , j2 ; m1 , m2 |, e usando o fato de que:
e
hj1 , j2 ; m1 , m2 | j1 , j2 ; m01 , m02 − 1i = δm1 ,m01 δm2 ,m02 −1 (3.201)
com isso obtemos que:
p
J(J + 1) − M (M − 1) hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M − 1i =
p
j1 (j1 + 1) − m1 (m1 + 1) hj1 , j2 ; m1 + 1, m2 | J, M i +
p
j2 (j2 + 1) − m2 (m2 + 1) hj1 , j2 ; m1 , m2 + 1| J, M i (3.202)
Se o valor de M for igual a −J, então temos que J− |J, −Ji = 0, e a relação (3.202) permanece
válida, e devemos notar que:
0 se |M | > J,
hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i = (3.203)
Diferente de zero se |M | ≤ J.
Analogamente, podemos aplicar o operador J+ a expressão (3.185). Desde que J+ = J1+ +J2+ ,
obtemos (se M < J):
p
J(J + 1) − M (M + 1) |J, M + 1i =
j1 j2
X X
hj1 , j2 ; m01 , m02 | J, M i ×
m0 =−j1 m0 =−j2
1 2
hp
j1 (j1 + 1) − m01 (m01 + 1) |j1 , j2 ; m01 + 1, m02 i +
p i
j2 (j2 + 1) − m02 (m02 + 1) |j1 , j2 ; m01 , m02 + 1i (3.205)
Multiplicando a esquerda essa expressão pelo bra hj1 , j2 ; m1 , m2 |, e usando o fato de que:
e
hj1 , j2 ; m1 , m2 | j1 , j2 ; m01 , m02 + 1i = δm1 ,m01 δm2 ,m02 +1 (3.207)
com isso obtemos que:
p
J(J + 1) − M (M + 1) hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M + 1i =
p
j1 (j1 + 1) − m1 (m1 − 1) hj1 , j2 ; m1 − 1, m2 | J, M i +
p
j2 (j2 + 1) − m2 (m2 − 1) hj1 , j2 ; m1 , m2 − 1| J, M i (3.208)
Se o valor de M for igual a J, então temos que J+ |J, Ji = 0, e a relação (3.208) permanece
válida, e devemos notar que:
0 se |M | > J,
hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i = (3.209)
Diferente de zero se |M | ≤ J.
o radical do lado direito nunca será zero, e nem infinito. Portanto, se o coeficiente hj1 , j2 ; m1 , J − m1 | J, Ji
for zero, então todos os outros coeficientes que o sucede também serão nulos. Mas isso não é
possível, pois o ket |J, Ji é normalizado e diferente de zero. Portanto, todos os coeficientes são
diferentes de zero.
Em particular se o coeficiente hj1 , j2 ; j1 , J − j1 | J, Ji, para o qual m1 tem o seu valor máximo,
for não nulo, então para fixarmos a fase do ket |J, Ji requeremos que esse coeficiente satisfaça a
seguinte condição:
a qual não é necessariamente equivalente, a priori, a (3.212) [(3.212) e (3.213) podem definir
diferentes fases para o ket |J, Ji].
hj1 , j2 ; j1 , j2 | j1 + j2 , j1 + j2 i
seja real e positivo, e além disso, que ele seja igual a 1. Fazendo M = J = j1 + j2 em (3.202),
vemos então que os coeficientes hj1 , j2 ; m1 , m2 | j1 + j2 , j1 + j2 − 1i são positivos. Por recorrência
então é fácil provar que
hj1 , j2 ; m1 , m2 | j1 + j2 , M i ≥ 0. (3.216)
Os coeficientes nos quais m1 tem seu valor máximo: Considere o coeficiente hj1 , j2 ; m1 , m2 | J, M i.
Em princípio o valor máximo de m1 = j1 . Entretanto, temos que m2 = M − j1 , o que de acordo
com (3.191b) é possível somente se M − j1 ≥ −j2 , isto é
M ≥ j1 − j2 (3.217)
Com a convenção escolhida a fase do ket |J, Ji depende da ordem na qual os dois momenta
angulares j1 e j2 estão arranjados nos coeficientes de Clebsch-Gordan. Se eles estão na ordem
j1 , j2 a componente do ket |J, Ji ao longo do ket |j1 , j2 ; j1 , J − j1 i é positiva, o que significa que
o sinal da componente ao longo do ket |j1 , j2 ; J − j2 , j2 i é (−1)j1 +j2 −J como indicado por (3.220).
Por outro lado, se escolhermos a ordem j2 , j1 a relação (3.213) mostra que a última componente
é positiva. Portanto, se invertermos j1 e j2 o ket |J, Ji será multiplicado por (−1)j1 +j2 −J . O
mesmo é verdade para os kets |J, M i, os quais são construídos a partir do ket |J, Ji pela ação
de J− de tal modo que a ordem de j1 e j2 não tem efeito algum. Finalmente a troca da ordem
de j1 e j2 conduz a relação:
Teorema de Wigner-Eckart
Se fixarmos os valores de k e j, teremos (2j+1) kets |k, j, mi com m = −j, −j+1, . . . , j−1, j,
portanto temos uma matriz (2j + 1) × (2j + 1), a qual é diagonal com todos os elementos iguais,
ou seja,
hk, j, m|A|k, j, m0 i = a(k, j)δm,m0 (4.2)
P (k, j)BP (k, j) = λ(k, j)P (k, j)AP (k, j), (4.3)
A seguir iremos estudar os operadores vetores que possuem propriedades análogas aos
operadores escalares.
65
4.2. Operadores vetores
e W ao subespaço E(k, j), então os seus elementos de matrizes serão proporcionais, ou seja,
P (k, j)WP (k, j) = µ(k, j)P (k, j)VP (k, j). (4.5)
R × S; (L · S) P; etc. (4.9)
Exemplo 4.4. Considere um sistema W formado pela união de dois sistemas W1 e W2 , no qual
W1 está no espaço de estados E1 e W2 está no espaço de estados E2 . Se V1 é um operador que
atua somente em E1 , e se este operador é vetor, então a extensão de V1 em E1 ⊗ E2 também é
um vetor. Por exemplo, para um sistema de dois elétrons, os operadores L1 , R1 , S2 , etc, são
vetores.
V± = Vx ± iVy (4.10a)
J± = Jx ± iJy (4.10b)
então
e segue que
Agora vamos calcular o elemento de matriz hk, j, m|V± |k 0 , j 0 , m0 i, e para isso usaremos o fato
de que:
[Jz , V± ] = ±~V± =⇒ Jz V± = V± Jz ± ~V± , (4.14)
logo
Jz (V± |k 0 , j 0 , m0 i) = V± Jz |k 0 , j 0 , m0 i ± ~V± |k 0 , j 0 , m0 i
Jz (V± |k 0 , j 0 , m0 i) = (m0 ± 1)~ (V± |k 0 , j 0 , m0 i) (4.15)
Essa relação indica que V± |k 0 , j 0 , m0 i é um autovetor de Jz com autovalor (m0 ± 1)~, logo
XX
V± |k 0 , j 0 , m0 i = Ck,j |k, j, m0 ± 1i . (4.16)
k j
Vz =⇒ ∆m = m − m0 = 0 (4.17a)
V+ =⇒ ∆m = m − m0 = +1 (4.17b)
V− =⇒ ∆m = m − m0 = −1. (4.17c)
temos
X
hk, j, m + 2|J+ |k 0 , j 0 , m0 i hk 0 , j 0 , m0 |V+ |k, j, mi =
k0 ,l0 ,m0
X
hk, j, m + 2|V+ |k 0 , j 0 , m0 i hk 0 , j 0 , m0 |J+ |k, j, mi . (4.20)
k0 ,l0 ,m0
hk, j, m|V+ |k, j, m0 i = α+ (k, j) hk, j, m|J+ |k, j, m0 i δm0 ,m−1 , (4.24)
hk, j, m|V− |k, j, m0 i = α− (k, j) hk, j, m|J− |k, j, m0 i δm0 ,m+1 , (4.25)
obtemos que
hk, j, m|Vz |k, j, mi = m~α− (k, j) (4.33)
Da igualdade das relações (4.30) e (4.33), temos que
Como qualquer uma das componentes do vetor V, pode ser escrita como uma combinação
linear de Vz , V+ e V− , ou seja
1 1
Vx = (V+ + V− ) e Vy = (V+ − V− ) . (4.36)
2 2i
Portanto, podemos escrever de forma geral que
portanto, dentro do espaço de estados E(k, j), todos os elementos de matriz de V são proporcio-
nais aqueles de J. Esse resultado expressa o teorema de Wigner-Eckart, para um caso especial.
Introduzindo as “restrições” de V e J em E(k, j), podemos escrever:
Note que,
X
P (k, j) = |k, j, mi hk, j, m| (4.39)
m
logo
= P (k, j).
Assim
P (k, j)J · VP (k, j) = j(j + 1)~2 α(k, j)P (k, j) (4.43)
A restrição ao espaço E(k, j) do operador J · V é portanto igual ao operador identidade
multiplicado por j(j + 1)~2 α(k, j). Portanto, se |ψik,j denota um estado normalizado e arbitrário
pertencente ao subespaço E(k, j), o valor médio hJ · Vik,j de J · V é independente do ket |ψk,j i
escolhido, desde que:
j
Logo substituindo estes resultados em (4.38),
obtemos:
hJ · Vik,j
P (k, j)VP (k, j) = P (k, j)JP (k, j)
j(j + 1)~2
hJ · Vik,j
= P (k, j)JP (k, j)
hJ2 ik,j
(4.46)
Vk ou ainda
V V=
hJ · Vik,j
J =
hJ · Vik,j
J. (4.47)
hJ2 ik,j j(j + 1)~2
Figura 4.1: Aqui mostramos a projeção de V
sobre j. Este resultado é chamado de “teorema da pro-
jeção”. Deste modo, todo o sistema físico, no qual
tratamos com estados pertencentes ao mesmo su-
bespaço E(k, j), podemos considerar que todos os operadores vetores são proporcionais a J.
4.3.2.5 Comentários
1. Não pode ser deduzido de (4.47) que, no espaço de estados total (a soma direta de
todos os subespaços E(k, j)), V e J são proporcionais. Deve-se notar que a constante de
proporcionalidade α(k, j) ou hJ · Vik,j depende do subespaço E(k, j)) escolhido. Além
disso, qualquer operador vetor V pode possuir elementos de matriz não-nulos entre os
kets pertencentes a diferentes subespaços E(k, j)), enquanto os correspondentes elementos
de J são sempre zero.
2. Considere um segundo operador vetor W. Assim como V a sua restrição em E(k, j) é que
ele é proporcional a J. Portanto, dentro de um subespaço E(k, j), todos os operadores
vetores são proporcionais.
hJ · Vik,j
V= W (4.50)
hJ · Wik,j
J = L + S. (4.53)
Esta hipótese é válida para um certo número de átomos leves para os quais o acoplamento
do momentum angular é do tipo L · S. Entretanto, para os átomos que possuem um outro
tipo de acoplamento este não é mais o caso. Cálculos baseados no teorema de Wigner-Eckart,
similares aos que faremos aqui, podem ser feitos, e a ideia física central permanecerá a mesma.
Por questão de simplicidade consideraremos que L e S são bons números quânticos, para os
sistemas atômicos que iremos estudar.
p
J± |E0 , L, S, J, M i = ~ J(J + 1) − M (M ± 1) |E0 , L, S, J, M ± 1i (4.60)
A degenerescência essencial
Este é um multípleto.
H = H0 + H1 , (4.62)
com
H1 = ωL (Lz + 2Sz ) (4.63)
−qB µB q~
ωL = = − B, com µB = . (4.64)
2m ~ 2m
Prof. Salviano A. Leão 73
4.4. Aplicação: Cálculo do fator de Landé gj de um nível atômico
hJ · Li hJ · Si
L= J e S= J (4.65)
J(J + 1)~2 J(J + 1)~2
~2
hL · Ji = L(L + 1)~2 + (J(J + 1) − L(L + 1) − S(S + 1)) (4.67a)
2
~2
hS · Ji = S(S + 1)~2 + (J(J + 1) − L(L + 1) − S(S + 1)) (4.67b)
2
Substituindo as equações (4.67) em (4.65), e o resultado em (4.63), obtemos que
H1 = gj ωL Jz (4.68)
3 S(S + 1) − L(L + 1)
gj = + . (4.69)
2 2J(J + 1)
E1 (M ) = gj M ~ωL . (4.70)
M
E
+ 52
+ 32
+ 12
5
E0
J= 2 − 12
− 32
− 52
Figura 4.2: Diagrama de energia mostrando a remoção das (2J + 1) degenerescências de um multipleto
(aqui J = 5/2) por um campo magnético B. A distância entre dois níveis de energias adjacentes são
proporcionais ao campo B e ao fator de Landé gJ .
5.1 Introdução
A mecânica quântica de sistemas físicos conservativos, isto é, de sistemas cujos hamiltonianos
não dependem explicitamente do tempo, está baseada na equação autovalores do operador
hamiltoniano, ou seja, na equação de Schrödinger. Para ambos, o oscilador harmônico e o
átomo de hidrogênio, suas respectivas equações de autovalores possuem uma solução analítica
exata, e devido essa sua simplicidade eles são dois importantes modelos de sistemas físicos,
com diversas aplicações. Note que na mecânica quântica, obter a solução exata de um sistema
físico é um fato raro e há somente um pequeno número de sistemas físicos em que isso ocorre.
Em geral, a equação de autovalores é complicada o suficiente para que sejamos capazes de
encontrar suas soluções analíticas. Por exemplo, não é conhecida uma forma de tratar átomos
de muitos elétrons, exatamente, mesmo o mais simples deles o átomo de hélio. Além disso, o
modelo teórico do átomo de hidrogênio o qual possui uma solução analítica leva em conta apenas
a interação eletrostática entre o próton e o elétron; quando correções relativistas (tal como
forças magnéticas) são adicionados a esta interação principal, a equação obtida para o átomo de
hidrogênio não pode ser resolvida analiticamente. Em tais casos, frequentemente recorre-se a
uma solução numérica para o problema, a qual dependendo do tamanho do sistema, poderá ou
não ser resolvida numericamente devido ao esforço computacional. No entanto, existem métodos
de aproximação que em certos casos, nos permitem obter soluções analiticamente aproximados
da equação de autovalores básica. O estudo a seguir será voltado para um destes métodos mais
conhecidos como “teoria de perturbação estacionária”. Posteriormente, avançaremos mais um
pouco e iremos estudar a “teoria de perturbação dependente do tempo”, a qual será usada para
tratar sistemas cujos hamiltonianos contém termos dependentes explicitamente do tempo.
A teoria de perturbação estacionária é muito usada na mecânica quântica, uma vez que
ela corresponde muito bem à abordagem usual dada aos problemas físicos. Ao estudar um
fenômeno ou um sistema físico, começa-se por isolar os efeitos principais que são responsáveis
pelas principais características deste fenômeno ou este sistema. Quando forem compreendidas,
77
5.2. Método de Rayleigh-Schrödinger: Formulação do Problema
tenta-se explicar os detalhes “finos”, levando em conta os efeitos menos importantes que foram
negligenciadas na primeira aproximação. É no tratamento destes efeitos secundários que
geralmente usa-se uma teoria de perturbação. Posteriormente, será visto a relevância da teoria
de perturbação na física atômica: ela nos permitirá calcular, no caso do átomo de hidrogênio, as
correções relativistas. Da mesma forma, o tratamento que será dado ao átomo de hélio, indica
como teoria de perturbação permite que átomos de muitos elétrons sejam tratados. Inúmeras
outras aplicações da teoria de perturbação são dadas.
H = H0 + W.
Dessa forma, o problema é resolvido essencialmente como uma série de potências na força deste
termo de interação.
Portanto, a teoria de perturbação independente do tempo é aplicável quando o problema de
autovalores tem a seguinte forma
na qual H0 e W são operadores lineares hermitianos e W pode ser considerado como uma
perturbação de H0 . Considere por exemplo o caso em que W = λV , no qual λ é um pequeno
parâmetro, λ 1, e nesse caso, W H0 , ou seja,
W = λV Para λ 1. λ ∈ R (5.2)
Além disso, será considerado que os autovalores e autovetores de H0 são conhecidos. O operador
H0 , o qual é independente do tempo é chamado de hamiltoniano não-perturbado, enquanto o
operador W é conhecido como perturbação. Se W for independente do tempo, diz-se que a
perturbação é estacionária. O problema agora é encontrar as modificações nos níveis de energia
de H0 introduzidas pela perturbação W .
A solução conhecida do problema não-perturbado é
H0 ϕ(i)
n = E (0) (i)
n ϕn , (5.3)
E(λ)
E40
E30
E20
E10 λ
λ1
Figura 5.1: Variação dos autovalores de E(λ) do hamiltoniano H(λ) = H0 + λV com relação a
λ. Cada curva corresponde a um autoestado de H(λ). Para λ = 0, obtém-se o espectro de H0 .
Aqui os autovalores de H0 , E30 e E40 são duplamente degenerados. A perturbação W = λV remove a
degenerescência de E30 mas não de E40 . Além disso, para λ = λ1 surge uma degenerescência adicional.
E
(0) (i)
a qual possui um espectro de energia En
discreto. Note que o conjunto de vetores ϕn
formam uma base ortonormal no espaço de estados, ou seja,
gn
(i) (j) XX (i)
(i)
ϕm ϕn = δm,n δi,j com ϕn ϕn = 1. (5.4)
n i=1
E
(i) (0)
Aqui, os índice i dos vetores de estado ϕn permite, no caso de autovalores degenerados En ,
que haja uma distinção entre os vários vetores de estado da base ortonormal.
Quanto ao problema perturbado, é razoável considerar que seus autovetores e seus autovalores
diferem apenas ligeiramente dos valores não-perturbados. Além disso, pode-se representar por
|ψn i e En o par característico (um par característico é a função característica
do E autovetor |ψn i
(i) (0)
com o seu correspondente autovalor En ) de H = H0 + W , que se reduz a ϕn e En , quando
λ → 0, pois W é proporcional a um pequeno parâmetro λ (ou seja, W = λV ) e nesse caso
então
H(λ) |ψn (λ)i = (H0 + λV ) |ψn (λ)i = En (λ) |ψn (λ)i (5.6)
lim H(λ) = H0 ; lim E(λ) = En(0) ; lim |ψn (λ)i = ϕ(i)
n (5.7)
λ→0 λ→0 λ→0
Nota
Usar uma teoria de perturbação só faz sentido se o problema em questão
for suficientemente semelhante ao problema original cujas soluções são
conhecidas exatamente.
O método de perturbação depende de obtenção das soluções como uma série de potências
em λ. A hipótese central é que essas séries de potências sejam convergentes e que as soluções
sejam funções suaves e contínuas do parâmetro λ, para que se possa obter a solução necessária
no caso em que λ = 1.
No que segue, será considerado
que E os níveis não perturbados são não degenerados o que
(0) (0)
significa que uma única função ψn está associada ao autovalor En e que portanto, En e
|ψn (λ)i podem ser expandidos em uma série de potências infinita em λ (uma “série perturbativa”),
da seguinte forma
∞
X
En = En(0) +λ 1
En(1) +λ2
En(2) + ... = λi En(i) (5.8)
i=0
∞
X
|ψn i = ψn(0) + λ ψn(1) + λ2 ψn(2) + . . . = λi ψn(i)
(5.9)
i=0
(5.11)
Agora impõe-se que essa equação seja satisfeita para um λ qualquer pequeno e arbitrário. Ao
movermos todos os termos do lado direito para o lado esquerdo, a série acima toma a seguinte
forma
A + λB + λ2 C + · · · = 0. (5.12)
A = B = C = · · · = 0.
Com isso, separa-se em ambos os lados da igualdade em (5.11) os termos que tem a mesma
ordem de grandeza em λ, o que resulta em
• Ordem zero em λ:
H0 − En(0) ψn(0) = 0;
(5.13)
• Primeira ordem em λ:
H0 − En(0) ψn(1) + V − En(1) ψn(0) = 0;
(5.14)
• Segunda ordem em λ:
H0 − En(0) ψn(2) + V − En(1) ψn(1) − En(2) ψn(0) = 0
(5.15)
• j-ésima ordem em λ:
H0 − En(0) ψn(j) + V − En(1) ψn(j−1) − En(2) ψn(j−2) − · · · − En(j) ψn(0) = 0
(5.16)
E
(i)
Essas equações podem ser escritas em termos dos autovetores conhecidos ϕn e do autovalores
(0)
conhecidos En , entretanto,paraE isso, deve-se calcular o produto escalar destas equações com
(i)
os vetores não-perturbados ϕn e usar os resultados da aproximação de ordem (k − 1) para
calcular os de ordem k, como veremos a seguir.
5.2.1 Autovetores
Antes de prosseguirmos, devemos lembrar que a equação de autovalores (5.6) define |ψn (λ)i
a menos de um fator constante, o qual é definido ao escolhermos sua norma
D e fase:
impõe-se
E que
(0)
|ψn (λ)i seja normalizado e que sua fase seja tal que o produto escalar ψn ψ(λ) seja real.
E
(0)
Para a ordem zero, isso implica que o vetor de estado ψn deve ser normalizado,
ψn(0) ψn(0) = 1.
(5.17)
Entretanto, sua fase ainda permanece arbitrária. Na aproximação de primeira ordem, temos que
ψn(0) + λ ψn(1) ψn(0) + λ ψn(1) + O(λ2 )
hψn (λ)| ψn (λ)i =
= ψn(0) ψn(0) + λ ψn(1) ψn(0) + ψn(0) ψn(1) + O(λ2 )
(5.18)
na qual o símbolo O(λn ) significa termos da ordem de λn ou mais alta. Usando o fato de que
|ψn (λ)i deve ser normalizado e (5.17), encontra-se que
ψn(1) ψn(0) + ψn(0) ψn(1) = 0,
λ
D E
(0) (1)
mas como o produto escalar ψn ψn pode ser um número complexo, e na expressão acima
soma-se um número com seu complexo conjugado, logo isso implica que
< ψn(1) ψn(0) = < ψn(0) ψn(1) = 0,
(5.19)
D E
(1) (0)
logo pode-se dizer que ψn ψn = ic, com c ∈ R, esse elemento de matriz é um número
imaginário puro.
Usando o fato de que |ψn (λ)i deve ser normalizado e as equações (5.17) e (5.19), encontra-se
que
λ2 ψn(2) ψn(0) + ψn(1) ψn(1) + ψn(0) ψn(2) = 0,
D E
(0) (2)
mas com um raciocínio análogo ao caso anterior, pode-se concluir que produto escalar ψn ψn 6=
0 e possui uma parte real não nula, a qual é dada por
1
ψn(2) ψn(0) = < ψn(0) ψn(2) = − ψn(1) ψn(1) .
< (5.21)
2
Com argumentos análogos aos anteriores, para a aproximação de ordem k chega-se ao seguinte
resultado,
ψn(k) ψn(0) = < ψn(0) ψn(k)
<
1
(k−1) (1)
(k−2) (2)
= − ψn ψn + ψn ψn + · · ·
2
+ ψn(2) ψn(k−2) + ψn(1) ψn(k−1) .
(5.22)
E
(0)
Note, que a equação (5.13) expressa o fato de ψn é um autovetor de H0 com autovalor
(0) (0)
En , portanto o autovalor En pertence ao espectro de H0 . Esse resultado já era esperado, já
que cada autovalor de H(λ), quando λ → 0, deve se aproximar do valor de uma das energias
(0)
não-perturbadas En .
Portanto, quando λ → 0, obtém-se o estado não perturbado |ϕn i com a mesma fase.
|ψn i ∼ En ∼
= |ϕn i + λ ψn(1) = En(0) + λEn(1) .
e (5.24)
E
(0)
Projetando essa equação sobre o vetor |ϕn i = ψn , obtém-se
(0)
ψn H0 − En(0) ψn(1) + ψn(0) V − En(1) ψn(0) = 0
(5.25)
Note que devido a condição (5.19), o primeiro termo da equação acima é nulo, pois como H0
é um operador hermitiano, então
D
ψn H0 ψn(1) = H0† ψn(0) ψn(1) = En(0) ψn(0) ψn(1) ,
(0)
(5.26)
logo,
ψn(0) H0 − En(0) ψn(1) = En(0) − En(0) ψn(0) ψn(1) = 0,
portanto, chega-se em
En(1) = ψn(0) V ψn(0) = hϕn | V | ϕn i .
(5.27)
Nota
A correção em primeira ordem, para uma energia não degenerada
(0)
En , é simplesmente igual a sua soma com o valor médio Wnn do
termo perturbativo W no estado não perturbado |ϕn i, ou seja, En =
(0)
En + Wnn .
A seguir serão calculadas as correções de primeira ordem dos autovetores não perturbados.
Note que a projeção (5.25) não exauri toda a informação contida em (5.14) e que além disso, a
hipótese que está sendo usada é a de que somente o autoestado |ϕn i de H0 é não degenerado,
porém nada sabemos sobre os seus outros autoestados, portanto, será considerado E que eles podem
(i)
ser degenerados, assim, um autovetor qualquer de H0 será referido como ϕ` , com ` 6= n, onde
o índice i = 1, . . . , g` , representa a degenerescência deste nível de energia. Será considerado que
o conjunto dos autovetores não-perturbados de H0 constitui uma base ortonormal completa
conforme
E(5.4), o que significa que ele pode ser usado como base para nosso espaço de estados e
(1)
que ψn pode ser escrito como uma superposição linear dos autovetores não-perturbados,
gm
(1) X X
(j) (j)
ψn = Bnm ϕm , (5.30)
m j=1
D gm
E XX D gm
E XX
(i) (1) (j) (i) (j) (j) (i)
ϕ` ψn = Bnm ϕ` ϕm = Bnm δ`m δi,j = Bn` com n 6= `
m j=1 m j=1
E E
(0) (i)
Lembrando-se que |ϕn i = ψn , ao projetar o ket ϕ` em (5.14), obtém-se que
D E D E
(i) (0) (1) (i) (1)
ϕ` H0 − En ψn + ϕ` V − En ϕn = 0,
gm D E D E gm D D E
XX (i) (i)
XX (i)
(i)
(j) (j) (0) (j)
ϕ` ϕ(j) (1)
Bnm ϕ` H0 ϕm + ϕ` V ϕn = En Bnm +E ϕ ` ϕn .
m n
m j=1 m j=1
E (5.31)
(i)
Como os autovalores são não-degenerados, os autovetores ϕm são ortogonais entre si, de
maneira que
D E D E
(i) (i)
ϕ` ϕ(j)
m = δ`m δi,j ϕ` ϕn = 0 (pois n 6= ` ), (5.32)
D E
(0) (i) (i) (i)
E` Bn` + ϕ` V ϕn = En(0) Bn` (` 6= n).
D E
(i)
A quantidade V`n = ϕ` V ϕn é chamada de elemento matriz do operador V entre os
(i)
vetores (estados) indexados por ` e por n. Isolando Bn` tem-se
(i) V`n
Bn` = (0) (0)
(` 6= n). (5.33)
En − E`
E
(1)
Portanto, pode-se escrever o autovetor ψn como
D E
g (i)
ϕ` V ϕn E
(1) X X̀ (i)
ψn = ϕ` (5.34)
(0) (0)
`6=n i=1 En − E`
hψm |ψn i ∼
(0) (0)
(0) (1)
(1) (0)
(1) (1) 2
= ψm ψn + λ ψm ψn + λ ψm ψn + ψm ψn λ
hψm |ψn i ∼
(0) (0)
(0) (1)
(1) (0)
= ψm ψn + ψm ψn + ψm ψn
D E
(0) (0)
conservando somente os termos de primeira ordem. Se m = 6 n, então ψm n = 0 e os dois
ψ
(i) (i) (i)
termos restantes se reduzirão a Bnm + Bmn , que se anulam devido à fórmula para Bnm e devido
ao fato de que V é um operador hermitiano, então
(0)
† (0) (0)
(0) (0)
(0) (0) ∗ ∗
Vnm = ψn(0) V ψm
= V ψn ψm = V ψn ψm = ψm V ψn = Vmn . (5.36)
hψn | ψn i ∼
= ψn(0) ψn(0) + ψn(0) ψn(1) + ψn(1) ψn(0)
gm gm
1∼
XX
(0) (0) X X
(0) (0)
(i) (i)
=1+ Bnm ψn ψm +
Bnm ψm ψn
m i=1 m i=1
∗
Bnn + Bnn = 0. (5.37)
Para os espaços de estados os quais sejam espaços reais, esta condição exigirá imediatamente
que Bnn = 0. Por outro lado, se o espaço for complexo, pode-se afirmar somente que <(Bnn ) = 0,
enquanto que Im(Bnn ) permanece indeterminado. Neste ponto, deve-se ressaltar que: um
autovetor complexo, mesmo de módulo unitário, não é de nenhuma maneira único, pois pode
ainda ser multiplicado por um fator de fase eiα com fase real α arbitrária. Se escolhermos
arbitrariamente, como Bnn , um certo número imaginário puro Bnn = iδ, onde δ é real e de
primeira ordem, então o autovetor perturbado será
gm
∼
(0) (0) X X
(i) (0)
|ψn i = ψn + iδ ψn +
Bnm ψm . (5.38)
m6=n i=1
E
(0)
No entanto, isto pode ser simplesmente interpretado como se o vetor não-perturbado ψn
(iδ)2
tenha sido pré multiplicado por eiδ , pois eiδ = 1 + iδ + 2!
+ . . ..
Com isso, pode-se escrever, em primeira ordem que
eiδ ψn(0) ∼
(0)
= ψn + iδ ψn(0) .
E E
(0) (0)
É evidente que eiδ ψn é sempre aceitável, em vez de simplesmente ψn , como sendo o
(i)
vetor original não-perturbado, e isso equivale à escolha de Bnm = 0, na teoria de perturbação de
primeira ordem.
Sobre o fator de fase eiδ , pode-se salientar que sempre que forem usados espaços de estados
complexos na mecânica quântica, as quantidades fisicamente mensuráveis serão do tipo hψ| O |ψi,
onde O é um operador. Essas quantidades não são afetadas pelo fator de fase.
Então, o autovetor e o seu respectivo autovalor são dados por
X Wmn (0)
|ψn i = ψn(0) + (0) (0)
· ψm (5.39)
m6=n En − Em
Vmn
En(1) = Vnn (i)
Bnm = (0) (0)
(m 6= n).
En − Em
No entanto, devemos rever as afirmativas feitas sobre os coeficientes Bnn , pois estes eram limi-
tados a aproximações de primeira ordem. Se desejarmos utilizar uma condição de normalização
de segunda ordem, deveremos primeiro investigar as correções de segunda ordem.
(0)
(0) (0)
ψn H0 ψn(2) = En(0) ψn(0) ψn(2)
e ψn ψn = 1
então
(0)
ψn H0 ψn(2) + ψn(0) V ψn(1) = En(0) ψn(0) ψn(2) +En(1) ψn(0) ψn(1) +En(2) ψn(0) ψn(0) , (5.41)
En(0) ψn(0) ψn(2) + ψn(0) V ψn(1) = En(0) ψn(0) ψn(2) + En(1) ψn(0) ψn(1) + En(2)
(0) (1)
ψn V ψn = En(1) ψn(0) ψn(1) + En(2)
(5.42)
gm
XX
(i)
Vnm Bnm = En(1) Bnn + En(2) (5.43)
m i=1
gm
X X
En(2) = (i)
Bnm Vnm
m6=n i=1
D ED E D E2
gm (i) (i) gm ϕ(i) W ϕ
ϕn W ϕm ϕm W ϕn
X Vnm Vmn X X X X m n
En(2) = (0) (0)
= (0) (0)
= (0) (0)
,
m6=n En − Em m6=n i=1 En − Em m6=n i=1 En − Em
(5.44)
(2)
A correção de segunda
E daEenergia En , é obtida através da realização de um somatório
ordem E
(0) (j) (0)
por todos os estados ψm = ϕm com m 6= n, como indicado em (5.44). Os estados ψm
sobre a qual o somatório é realizado muitas vezes são chamados de estados “intermediários”. A
partir do somatório de (5.44), é comum interpretar cada termo desta soma como uma sucessão
de duas transições de primeira
Eordem, ponderada pela diferença em energia do denominador
(0) (0) (0)
En − Em , entre o estado ψn que o sistema sai e propaga-se, ou seja, “visita todos os estado
E E
(0) (0)
intermediárioψm possíveis e, em seguida, retorna” para o estado inicial ψn . Também
pode-se observar a partir de (5.44) que, se o nível n que estamos estudando corresponde ao
(0) (0)
estado fundamental do sistema, então a diferença de energia do denominador En − Em < 0
(2)
para m 6= n, portanto, nesse caso, a correção de segunda ordem na energia En é sempre
negativo, para qualquer perturbação W .
Portanto a energia total corrigida em até segunda ordem é
D E2
gm ϕ(i) W ϕ
X X m n
En (λ) = En(0) + hϕn | W | ϕn i + (0) (0)
. (5.45)
m6=n i=1 En − Em
D E D E D E D E D E
(i) (i) (i) (i) (i)
ϕ` H0 ψn(2) + ϕ` V ψn(1) = En(0) ϕ` ψn(2) + En(1) ϕ` ψn(1) + En(2) ϕ` ψn(0)
E (5.46)
(2)
Expandido o termo de segunda ordemψn em função dos autovalores não-perturbados,
obtém-se
gm
(2) X X
(j) (j)
ψn = Cnm ϕm . (5.47)
m j=1
E
(0)
Substituindo as expansões (5.47) e (5.30) em (5.46), e usando o fato de que ψn = |ϕn i é um
autovetor não degenerado, isso resulta em
gm D E gm D E gm D E
XX (i) (j) X X (j) (i)
XX (i) (j)
(j) (j) (0) (j)
Cnm ϕ` H0 ϕm + Bnm ϕ` V ϕm = En Cnm ϕ` ϕm +
m j=1 m j=1 m j=1
gm D E D E
XX (i) (j) (i)
En(1) (j)
Bnm (2)
ϕ` ϕm + En ϕ` ϕn
m j=1
D E
(i)
Note que como ` 6= n, então devido a ortogonalidade ϕ` ϕn = 0. Assim
gm
(0) (i)
XX (i) (i)
(j)
E` Cn` + Bnm V`m = En(0) Cn` + En(1) Bn` .
m j=1
(i)
Como Cnm ainda está indeterminado, separamos este termo na soma sobre m; usamos as
fórmulas de primeira ordem para obter
(0) (i)
X (i)
(En(0) − E` )Cn` = V`n Bnn + V`m Bnm − En(1) Bn` ,
m6=n
(1) (i)
mas de (5.27) temos que En = Vnn , e usando o valor encontrado para os coeficientes Bn` de
primeira ordem (5.33), logo pode-se reescrever a expressão anterior como
(0) (i)
X V`m Vmn V`n Vnn
(En(0) − E` )Cn` = V`n Bnn + (0) (0)
− (0) (0)
,
m6=n En − Em En − E`
logo
(i)
Vemos que os coeficientes Cn` não ficam completamente determinados antes de acharmos
(i)
Bnn . O coeficiente Cnn também permanece indeterminado. Essa é a informação máxima que
pode ser obtida, até segunda ordem, da equação original de autovalores. Voltando agora a
atenção para os problemas de ortogonalidade e de normalização. Se tomarmos, em geral, o
produto interno de |ψm i e de |ψn i, como representado pela série
obteremos termos de diferentes ordens na expressão de hψm |ψn i = δmn , conforme os resultados
obtidos de (5.17) à (5.22), do que ao exigirmos que hψm | ψn i = δmn segue então para cada
ordem que
ordem zero:
(0) (0)
ψm ψn = δmn
primeira ordem:
(0) (1)
(1) (0)
ψm ψn + ψm ψn = 0
segunda ordem:
(0) (2)
(1) (1)
(2) (0)
ψm ψn + ψm ψn + ψm ψn = 0,
Segue-se então, que os termos de qualquer ordem dada devem anular-se identicamente, e
não faz diferença se m 6= n ou m = n. Usando a expansão
(1) X (0)
ψn = Bnm ψm ,
m
∗
Bnm + Bnm =0 (m e n quaisquer)
X
(0) (0) E X X ∗ D
(0) (0)
E X
∗
D
(0)
Cmi ψi ψn(0) = 0,
Cni ψm ψi + Bmi Bnj ψi ψj +
i i j i
X
∗ ∗
Cnm + Cmn + Bm` Bn` = 0. (5.49)
`
Se usarmos as expressões obtidas para Bnm e Cnm , é possível mostrar que esta relação é
satisfeita para m 6= n, não interessa qual seja Bnn . Para o caso m = n, obtemos, no entanto, a
condição
1X
|Bn` |2
(2)
Re Cnn =− (5.50)
2 `
E E
im (0) (0)
Como na teoria de primeira ordem, pode-se considerar o vetor e ψn , em vez de ψn ,
como autovetor não-perturbado temos
δ2
eim ψn(0) = ψn(0) + iδ ψn(0) − ψn(0) + . . .
2!
É evidente que, se fizermos δ = Im {Bnn } + Im {Cnn }, podemos incorporar as partes imaginárias
de Bnn e Cnn no fator de fase arbitrário eiδ . Isso é equivalente a escolher Im {Bnn } = Im {Cnn } = 0
nos cálculos das perturbações.
Por conseguinte, pode-se reunir os resultados da teoria de segunda ordem no seguinte conjunto
de fórmulas:
Vmn
En(1) = Vnn Bnn = 0 (i)
Bnm = (0) (0)
(m 6= n)
(En − Em )
X Vnm Vmn 1 X (i) 2
En(2) = , Cnn = − B ,
m6=n
(0)
En − Em
(0) 2 m,i nm
(i)
X Vm` V`n Vmn Vnn
Cnm = − 2 (m 6= n).
(0) (0) (0) (0) (0) (0)
`6=n En − Em En − E` En − Em
Mas como
(2) X X Vm` V`n Vmn Vnn (0) 1 X |Vmn |2 (0)
ψn = − 2 ψm − 2 ψm
2
(0) (0) (0) (0)
(0) (0) (0) (0)
m6=n `6=n En − Em En − E` En − Em m En − Em
(0) (0)
Seja agora ωnm = (En − Em )/~.
" #
(2) X X Vm` V`n V V
mn nn (0) 1 X |Vmn |2 (0)
ψn =
2ω
− 2ω2
ψ m − 2ω2
ψm (5.51)
~ nm ωn` ~ nm 2 m
~ nm
m6=n `6=n
X Vnm Vmn
En(2) = (5.52)
m6=n
~ωnm
Este tipo de análise pode ser levado a ordens mais altas. Na prática, no entanto, a maior parte
dos cálculos se limita à primeira e segunda ordens. Além das complexidades computacionais,
o ponto é que, se os resultados de segunda ordem não forem suficientemente exatas, então a
validade geral (convergência) da série perturbada ficará geralmente duvidosa.
(2)
5.3.4 Limite superior de En
Ao limitar a expansão da energia em primeira ordem em λ poderá se obter uma ideia
aproximada do erro envolvido ao avaliar o termo de segunda ordem.
(2)
Considere expressão (5.52) para En . Ela contém uma soma (a qual geralmente é infinita)
cujos termos do numerador são positivo ou zero. Denota-se por ∆E o valor absoluto da diferença
(0)
entre a energia En , do nível a ser estudado e aquela do nível mais próximo. Para todo n,
tem-se obviamente que:
|En(0) − Em
(0)
| ≥ ∆E
(2)
Essa expressão fornece um limite superior para o valor absoluto de En :
En ≤ 1
(2) X X
2
ϕ(i)
m V ϕn
∆E i m6=n
En ≤ 1
(2) X X
(i)
ϕn V ϕ(i)
m ϕm V ϕn
∆E i m6=n
* " # +
1 X X
ϕ(i)
(i)
≤ ϕn V ϕ V ϕn (5.54)
m m
∆E
i m6=n
O operador que aparece dentro dos colchetes é diferente do operador identidade somente
devido ao projetor sobre o estado |ϕn i, uma vez que a base de estados não perturbados satisfaz
a relação de completeza:
m = 1.
X X
|ϕn ihϕn | + ϕ(i)
m ϕ(i)
i m6=n
Multiplicando ambos os lados de (5.55) por λ2 , obtém-se um limite superior para o termo de
segunda ordem na expansão de En (λ), na seguinte forma:
λ En ≤ 1 (4W )2
2 (2)
∆E
na qual 4W é o desvio quadrático médio da perturbação W não estado não perturbado |ϕn i.
Esta indica a ordem de magnitude do erro cometido ao levar em conta somente a correção em
primeira ordem.
5.4 Aplicações
Nessa seção apresentaremos alguns exemplos de aplicação da teoria de perturbação não
degenerado ao problema do oscilador harmônico unidimensional
P2 1
H0 = + mω 2 X 2 , (5.56)
2m 2
com
1
H0 |ni = En(0) |ni , com En(0) = (n + )~ω (5.57)
2
e esse será o hamiltoniano do sistema não perturbado. A seguir serão analisadas alguns potenciais
perturbadores a esse problema.
P2 1
H = H0 + W = + mω 2 X 2 + λ~ω X̃. (5.59)
2m 2
Em particular esse sistema possui uma solução exata. A seguir resolveremos exatamente o
problema e em seguida aplicaremos o método perturbativo para determinar novas as energias
do sistema.
P2 1
H = H0 − qEX = + mω 2 X 2 − qEX. (5.60)
2m 2
Note que os hamiltonianos (5.59) e(5.60) possuem a mesma forma, e sua equivalência é
obtida fazendo-se
√
r
mω
−qEX = λ~ω X =⇒ qE = −λω m~ω
~
√
r
P2 1 2 2 mω P2 1
H= + mω X + λ~ω X= + mω 2 X 2 + λω m~ωX
2m 2 ~ 2m 2
r !
P2 1 ~
= + mω 2 X 2 + 2λ X
2m 2 mω
r r !2 r !2
2
P 1 ~ ~ 1 ~
= + mω 2 X 2 + 2λ X+ λ − mω 2 λ
2m 2 mω mω 2 mω
" r #2
P2 1 ~ 1
= + mω 2 X + λ − λ2 ~ω. (5.61)
2m 2 mω 2
Definindo r
~ 1
X0 = λ ; e U0 = λ2 ~ω, (5.62)
mω 2
então, fazendo uma mudança de variável
Z = X + X0 e E 0 = E − U0 (5.63)
então teremos
Pz2 1
H= + mω 2 Z 2 − U0 = H0z − U0 . (5.64)
2m 2
Logo, como
1
H0z |ϕn,z i = En,z |ϕn,z i = ~ω n + |ϕn,z i (5.65)
2
e [H, H0z ] = 0, então os autovetores de H0z também são autovetores de H e com autovalores
1
H |ϕn,z i = En |ϕn,z i = ~ω n + − U0 |ϕn,z i . (5.66)
2
Note que se os autovetores de H0z são dados pelos kets |ϕn,z i = |ϕn i então os autovetores de
H serão dados pelos kets |ψn i, os quais estão relacionados por
ou seja, os dois são equivalente, porém suas origens estão deslocadas, ou seja, ψn (x) = ϕn (x−x0 ),
assim como vimos os dois autoestados estão relacionados um com outro por meio do operador
translação espacial, dado por
− √λ (a† −a)
|ψn i = U (λ) |ϕn i , com U (λ) = e 2 .
ω 02 = (1 + ρ)ω 2 , (5.77)
logo a solução exata do problema é imediata e seus autovalores são dados por
1 0 1 p
En = n + ~ω = n + 1 + ρ~ω. (5.78)
2 2
Expandindo essa solução em série, para ρ 1, obtém-se
1 1 1 2
En = n + ~ω 1 + ρ − ρ + · · · (5.79)
2 2 8
Como
1 1
X̃ = √ (a† + a) =⇒ W (X) = ρ~ω(a† + a)(a† + a) (5.80)
2 4
o qual ainda pode ser escrito como
1
W (X) = ρ~ω(a† + a)(a† + a)
4
1
= ρ~ω a†2 + a2 + a† a + aa†
4
1
= ρ~ω a†2 + a2 + 2N + 1 ,
(5.81)
4
na qual N é o operador número dado por N = a† a = aa† − 1. Portanto os únicos elementos de
matriz não nulos para esse termo são
= 12 ρ n + 12 ~ω
hϕn | W | ϕn i
p
hϕn+2 | W | ϕn i = 14 ρ (n + 1) (n + 2)~ω (5.82)
p
hϕ 1
n−2 | W | ϕn i = 4 ρ n (n − 1)~ω.
En0 − En±3
0
= ∓3~ω e En0 − En±1
0
= ∓~ω.
Portanto, a correção na energia em segunda ordem de perturbação pode ser escrita como
σ 2 n (n − 1) (n − 2) σ 2 (n + 3)(n + 2) (n + 1)
1
En = n + ~ω + · ~ω − · ~ω+
2 3 8 3 8
n3 (n + 1)3
3σ 2 ~ω − 9σ 2 ~ω + · · ·
8 8
a qual ainda pode ser reescrita na forma compacta
2
1 15 2 1 7
En = n + ~ω − σ n + ~ω − σ 2 ~ω + · · · (5.88)
2 4 2 4
Essa diferença de energia não é mais independente de n, como no caso do oscilador harmônico.
Nesse caso as energias do estados não são mais equidistantes, a medida em que n cresce a a
diferença em energia diminui, conforme mostrado ilustrativamente na figura 5.2.
n+2
n+1
n−1
n−2
Figura 5.2: Níveis de energia de H0 , linhas pontilhadas, e de H, linhas sólidas. Sobre o efeito da
perturbação W , cada nível de H0 é baixado, e os n maiores possuem um deslocamento maior.
X Wmn (0)
|ψn i = ψn(0) + (0) (0)
· ψm
m6=n En − Em
3/2
n+1 n 3/2
= |ϕn i − 3σ |ϕn+1 i + 3σ |ϕn−1 i
2 2
r r
σ (n + 3)(n + 2) (n + 1) σ n (n − 1) (n − 2)
− |ϕn+3 i + |ϕn−3 i + · · ·
3 8 3 8
Portanto, sobre o efeito da perturbação W , o estado |ϕn i é misturado com os estados |ϕn+1 i,
|ϕn−1 i, |ϕn+3 i e |ϕn−3 i.
por métodos perturbativos, faça surgir uma dificuldade fundamental. Quando o problema de
autovalores não-perturbado
H0 ψn(0) = En(0) ψn(0)
exibe degenerescência; ou seja, alguns (ou todos) dos autovalores estão associados a mais de um
autovetor. A dificuldade provém de que não conhecemos o autovetor não-perturbado a que se
reduz o perturbado, se a perturbação for reduzida a zero. Como uma tal informação é vital em
qualquer teoria perturbativa, nossa primeira missão será investigar este problema.
(0)
Concentremos nossa atenção em um certo autovalor En que supomos ter degenerescência
de ordem gn , isto é, possui gn autovetores linearmente independentes. Qualquer combinação
linear destes é também um autovetor, de maneira que estamos tratando de todo um subespaço
g-dimensional de autovetores. Neste subespaço, podemos sempre selecionar uma base ortonormal,
composta dos vetores
|ϕi = ϕ(0) + λ ϕ(1) + λ2 ϕ(2) + . . .
(5.92)
É importante perceber que ϕ(0) não necessita ser um dos vetores |ψkn i, mas tem de ser
uma combinação linear deles:
gn
(0) X
ϕ = λkn Ckn |ψkn i , (5.93)
kn =1
∞
X ∞ ∞
(i) X i (i)
X (j)
(H0 + λV ) ϕ = λ En ϕ (5.94)
i=0 i=0 j=0
H0 ϕ(0) (0) (0)
n = E n ϕ ;
primeira ordem:
H0 ϕ(1) + V ϕ(0) = En(0) ϕ(1) + En(1) ϕ(0) ;
segunda ordem:
H0 ϕ(2) + V ϕ(1) = En(0) ϕ(2) + En(1) ϕ(1) + En(2) ϕ(0) .
Enquanto que a equação de ordem zero é automaticamente satisfeita, podemos obter alguma
informação da equação de primeira ordem, formando os produtos internos com vetores |ψkn i.
Não importa o que seja ϕ(1) , temos
(1)
V11 − En V12 ··· V1g C1
(1)
V21 V22 − En ··· V2g C2
.. .. .. · .. =0 (5.97)
..
. . . .
.
(1)
Vg1 Vg2 · · · Vgg − En Cg
Este sistema de equações lineares homogêneas com respeito as quantidades C` tem soluções
diferentes de zero se o determinante dos coeficientes das incógnitas anula-se. Obtemos assim a
equação
V11 − En(1)
V12 ··· V1g
(1)
V21 V22 − En ··· V2g
.. .. .. =0 (5.98)
..
. . . .
(1)
Vg1 Vg2 · · · Vgg − En
det Vk` − En(1) δk` = 0. (5.99)
pode ter um espectro contínuo, mas o interesse está direcionado aos estados discretos. Os efeitos
de perturbações nos estados do espectro contínuo, ou nos estados discretos dentro do contínuo,
requerem diferentes técnicas, tais como a teoria de perturbação dependente do tempo.
A versão da teoria de perturbação de estado limite que você provavelmente está familiarizado
com é chamado de teoria de perturbação de Rayleigh-Schrödinger. Nessa seção, iniciaremos
com uma variação da teoria de perturbação de Rayleigh-Schrödinger, chamada de teoria de
perturbação de Brillouin-Wigner. A teoria Brillouin-Wigner é mais simples e menos confusa
para derivar do que a teoria de Rayleigh-Schrödinger, e também dá respostas mais precisas em
muitas circunstâncias. A sua desvantagem é que os níveis de energia desconhecidos são dados
apenas implicitamente, em termos das soluções de equações não lineares. Mas se as fórmulas
explícitas para os níveis de energia são desejadas, é fácil de expandir as soluções em potências
do parâmetro de perturbação, após o que os resultados da teoria de Rayleigh-Schrödinger são
recuperados.
Aqui o problema colocado é o mesmo da teoria de perturbação de Rayleigh-Schrödinger, ou
seja, dado o seguinte problema de autovalores
o qual deve ser resolvido. Porém, agora ele será reescrito na seguinte forma
com
n ihϕn | = 1.
(i) (j) X
ϕn ϕm = δm,n δi,j e |ϕ(i) (i)
(5.101)
i,n
Viu-se anteriormente que era possível expandir o ket |ψi da seguinte forma
X
|ψi = ψ (0) + λ ψ (1) + λ2 ψ (2) + · · · = λi ψ (i) .
i
Considerando λ = 1 e que ψ (0) ψ (0) = 1, viu-se que
(0)
(i)
ψ ψ = ϕn ψ = 1.
porém como
(i) (i)
P |ψi = ϕ(i)
n ϕn ψ = ϕn , (5.105)
portanto, tem-se que
|ψi = ϕ(i)
n + Q |ψi (5.106)
Note que
[H0 , Q] = 0, (5.107)
então de (5.100) e(5.107) pode-se escrever
• Primeira iteração:
+ RW ϕn(i) + (RW )2 |ψi
|ψi = ϕ(i)
n
• Segunda iteração:
• k-ésima iteração
n
W ψ =⇒ n
W ψ (5.113)
então o resultado da substituição de (5.115) em (5.114) é uma forma mais familiar para a
expansão da energia em uma série perturbativa, ou seja, obtém-se que
D ED E
(i) (j) (j) (i)
(i) X ϕn W ϕk ϕk W ϕn
E = En(0) + ϕ(i)
n
W ϕn + +
(0)
j,k6=n E − Ek
D ED ED E
(i) (j) (j) (`) (`) (i)
X X ϕ n W ϕk ϕk W ϕm ϕ m W ϕn
+ · · · (5.116)
(0) (0)
j,k6=n `,m6=n E − E k E − E m
Note que a energia desconhecida E, aparece no denominador do lado direito; portanto, essa
não é uma expressão explicita para a energia E. Para calcular a energia com precisão em até
(0)
terceira ordem, nesse caso basta trocar E por seu valor de ordem zero, ou seja, E = En no
denominador do termo de Dterceira
ordem
E de (5.116); mas deve-se usar o valor da correção de
(i) (i)
primeira ordem E = E0 + ϕn W ϕn , no denominador do termo de segunda ordem.
Um modo mais prático de calcular a energia E a partir da expressão (5.116) é inicialmente
fazer uma estimativa para E, a qual deve ser substituída em todos os denominadores e a série
deve ser somada numericamente, e o novo valor obtido para a energia E deve ser reintroduzido
na série , até se obter um valor convergido para a energia E com
a precisão
−1 desejada.
(0)
Se realizarmos uma expansão formal de todos os fatores de E − En do lado direito de
(5.116) em uma série de potência da força da perturbação, recupera-se a série perturbativa de
Rayleigh-Schrödinger. Em todas as ordens além da segunda, ela irá conter muito mais termos
do que (5.116), então ela é menos conveniente de se lidar do que a série (5.116), do formalismo
perturbativo de Wigner-Brillouin.
solução, parametrizado de alguma forma. Os parâmetros são variadas até que seja encontrado
um extremo. Esta abordagem será ilustrada com exemplos.
Considere o seguinte problema de autovalores
hψ | H | ψi
hHiψ = ≥ E0 . (5.118)
hψ | ψi
Note que, o vetor de estado |ψi, pode ser expandido na base do autovetores de H, assim
X
|ψi = Cn |ϕn i , (5.119)
n
hψ | H | ψi
hHiψ = , (5.123)
hψ | ψi
nesse caso, o hHiψ é um funcional do vetor de estado |ψi. Portanto, pode-se calcular o incremento
δ hHiψ , quando |ψi → |ψi + δ |ψi, com δ |ψi = |δψi sendo infinitesimalmente pequena.
Reescrevendo a expressão (5.123) na seguinte forma
hHiψ hψ | ψi = hψ | H | ψi , (5.124)
ao fazer uma variação infinitesimal δ |ψi no vetor de estado |ψi, essa expressão toma a forma
Após uma cuidadosa análise dessa expressão, pode-se concluir que hHiψ será estacionário se
δ hHiψ = 0,
logo
hϕ | δψi + hδψ | ϕi = 0.
Essa relação deve ser satisfeita para qualquer valor infinitesimal do ket |ψi , em particular para
|δψi = δλ |ϕi ,
logo
H |ψi = hHiψ |ψi .
Portanto, o valor médio de hHiψ será estacionário se e somente se o vetor de estado |ψi
correspondente a ele, for um autovetor de H, e os valores estacionários de hHiψ forem autovalores
de H.
A seguir será usado o método variacional para determinar a energia do estado fundamental
de um oscilador harmônico unidimensional, cujo o hamiltoniano é
~2 d2 1
H=− 2
+ mω 2 x2 ,
2m dx 2
usando a seguinte função tentativa
2
ψα (x) = e−αx com α > 0.
Tem-se que ˆ +∞
2
hψα | ψα i = dx e−2αx
−∞
e que
ˆ +∞
~ 2 d2
−αx2 1 2
hψα | H | ψα i = dx e − 2
+ mω x e−αx
2 2
−∞ 2m dx 2
ˆ +∞
~2 d
−αx2 −αx2
= dx e − (−2αx) e +
−∞ 2m dx
ˆ +∞
1 2
dx mω 2 x2 e−2αx
−∞ 2
Chamando a primeira integral do lado direito de I1 , tem-se
ˆ +∞
~2 d
−αx2 −αx2
I1 = dx e − (−2αx) e ,
−∞ 2m dx
usando a integração por partes, na qual
ˆ ˆ
udv = uv − vdu,
com
2 2
u = e−αx du = −2αxe−αx dx
~2 ~2
2 2
dv = d
αxe−αx dx v= αxe−αx
dx m m
logo +∞ ˆ
~2 −2αx2 ~2 2 +∞ 2
dx x2 e−2αx
I1 = αxe +2 α
m
−∞ m −∞
| {z }
=0
assim ˆ +∞
~2 α2 2
I1 = 2 dx x2 e−2αx .
m −∞
Dessa forma, tem-se que
ˆ +∞
~2 α2 1
2
Hαα = hψα | H | ψα i = 2 + mω 2 dx x2 e−2αx .
m 2 −∞
Note que para n ímpar o integrando, da integral (5.125), é uma função ímpar, portanto, nesse
caso a integral é nula, esse resultado pode ser expresso da seguinte forma
ˆ +∞
2
I2n+1 (α) = dx x2n+1 e−2αx = 0 para n = 0, 1, 2, 3, . . .
−∞
A energia do primeiro estado excitado também pode ser estimada, e para isso, basta escolher
uma função de onda que seja ortogonal a ψα0 (x) = hx | |ψα0 ii. Com esse intuito escolhe-se a
seguinte função de onda tentativa
2
ψα (x) = xe−αx com α > 0.
Assim,
ˆ +∞
2 1
hψα | ψα i = dx x2 e−2αx = I2 (α) = I0 (α)
−∞ 4α
e ˆ +∞
~2 d2
−αx2 1 2
hψα | H | ψα i = dx xe − 2
+ mω x xe−αx .
2 2
−∞ 2m dx 2
Chamando de I1 , a primeira integral do lado direito
ˆ +∞
~2 d
−αx2 2
−αx2
I1 = dx xe − 1 − 2αx e ,
−∞ 2m dx
logo
ˆ +∞
~2 −2αx2 +∞ ~2
2 2
I1 = − 2
x 1 − 2αx e + dx 1 − 2αx2 e−2αx
2m
−∞ 2m −∞
| {z }
=0
assim
ˆ +∞
~2 2 2
I1 = dx 1 − 2αx2 e−2αx
2m −∞
ˆ +∞
~2 2
dx 1 − 4αx2 + 4α2 x4 e−2αx
=
2m −∞
~2
I0 (α) − 4αI2 (α) + 4α2 I4 (α)
=
2m
2~2 α2 1
hψα | H | ψα i = I4 (α) + mω 2 I4 (α),
m2 2 2
2~ α 1
= + mω 2 I4 (α)
m 2
2
1 m2 ω 2
2~ 2
= α + I4 (α)
m 4 ~2
2~2 2 mω 2
= α + I4 (α)
m 2~
mas de (5.129), tem-se que I4 (α) = (3/4α)I2 (α), segue então que
3~2
mω 2 1
hψα | H | ψα i = α+ I2 (α).
2m 2~ α
3~2 mω 2 1 3~2 α 3
1
hHiψα (α) = α+ = + mω 2 .
2m 2~ α 2m 8 α
3~2 3
d 1
hHiψα (α) =
− mω 2 2 = 0,
dα α0 2m 8 α0
logo
1 mω
α0 = .
2 ~
Portanto, para α = α0 tem-se que
3~2 mω 2 1 3~2
3
hHiψα (α0 ) = α0 + = α0 = ~ω.
2m 2~ α0 m 2
1
ψα (x) = , com a > 0.
x2 + a
√ √
x= a tg(θ) =⇒ dx = a sec2 (θ)dθ,
logo
√ ˆ +π/2 ˆ +π/2
a sec2 θ 1
I= dθ = 3/2 cos2 θdθ
a2 −π/2 sec4 θ a −π/2
ˆ +π/2
1 1
= 3/2
[1 + cos 2θ] dθ
a −π/2 2
+π/2
1 1
= θ + sen 2θ
2a3/2 2 −π/2
π
=
2a3/2
~2 d2 1
H=− 2
+ mω 2 x2 ,
2m dx 2
e
~2 d x2
2x 1
Hψα = − − + mω 2 2 ,
2m dx (x + a)2
2 2 x +a
logo
ˆ +∞
~2 d x2
1 2x 1 2
hψα | H | ψα i = dx 2 − − + mω 2 .
−∞ x +a 2m dx (x2 + a)2 2 x +a
A primeira integral do lado direito, pode ser feita por partes, assim
ˆ +∞
+∞ 2 ˆ +∞
~2 ~2
1 d x x ~ 2x
I1 = dx 2 = · + · dx ,
m −∞ x + a dx (x + a)2
2 3
m (x + a) −∞ m −∞
2 (x + a)4
2
logo
ˆ +∞ ˆ +∞
2~2 2x 1 x2
hψα | H | ψα i = · dx 4 + mω 2 dx .
m −∞ (x2 + a) 2 −∞ (x2 + a)2
√ √
x= a tg(θ) =⇒ dx = a sec2 (θ)dθ,
assim
√ ˆ √ ˆ +π/2 2
2~2 a a +π/2 tg2 θ · sec2 θ 1 2 a a tg θ · sec2 θ
hψα | H | ψα i = · 4 dθ + mω · dθ
m a −π/2 sec8 θ 2 a2 −π/2 sec4 θ
ˆ +π/2 ˆ +π/2
2~2 sen2 θ 1 2 1
= dθ + mω · 1/2 sen2 θ dθ
ma5/2 −π/2 sec4 θ 2 a −π/2
2 ˆ +π/2 2 ˆ +π/2
2~ (2 sen θ · cos θ) 2 1 2 1
= cos θ dθ + mω · 1/2 (1 − cos(2θ)) dθ
ma5/2 −π/2 4 4 a −π/2
ˆ +π/2
~2 1 1
= 5/2
sen2 (2θ) (1 + cos(2θ)) dθ + mω 2 · 1/2 [π − 0]
4ma −π/2 4 a
" ˆ ˆ #
~2 1 +π/2 1 +π/2 1 π
= 5/2
(1 − cos(4θ))dθ + sen (2θ)d(sen(2θ)) + mω 2 · 1/2
2
4ma 2 −π/2 2 −π/2 4 a
~2 π 1 π
= · 3/2 + mω 2 · 1/2
8ma 2a 4 a
1 ~ 1 π
= · + mω 2 a · 3/2 .
4 ma 2 2a
Portanto,
hψα | H | ψα i 1 ~2 1
hHiψα = = hHiψα (a) = · + mω 2 a.
hψα | ψα i 4 ma 2
O mínimo da função hHiψα (a) é obtido, derivando-se ela em relação a variável a e igualando-se
o resultado a zero, assim
1 ~2
d 1 2
hHiψα (a)
= − · + mω = 0,
da a=a0 4 ma2 2 a=a0
logo √
2 ~
a0 = · .
2 mω
Consequentemente
√
2
hHiψα (a0 ) = · ~ω
2
Esse valor se desvia do resultado exato por
√
hHiψα (a0 ) − 21 · ~ω 2−1
≈ ≈ 0.2 =⇒ 20%
~ω 2
aqui introduziu-se o número atômico efetivo Z̃ que é o parâmetro o qual irá minimizar a
energia. Aqui o movimento do núcleo está sendo negligenciado, me é a massa do elétron e a
seguinte convenção foi adotada
q2
e2 = ; R1 = |R1 |; R2 = |R2 |; e R12 = |R1 − R2 |.
4π0
Para obtermos uma boa “função de onda tentativa”, note que, se o termo de interação e2 /R12
não estiver presente, a função de onda do estado fundamental por será dada simplesmente
pelo produto de duas funções de onda do estado fundamental do átomo de hidrogênio, com as
respectivas funções R1 e R2 :
ˆ ˆ
P2 Z̃ 3 −Z̃r1 /a0 P21 −Z̃r1 /a0 Z̃ 3
hψ0 | 1 |ψ0 i = 3
d (r1 ) 3 e e × d3 (r2 ) 3 e−2Z̃r2 /a0
2me (∞) πa0 2me (∞) πa0
ˆ +∞
Z̃ 3 ~2 1 ∂ 2 −Z̃r1 /a0
2 −Z̃r1 /a0
= −4π · 3 · r1 e r1 e dr1 × 1
πa0 2me 0 r1 ∂r12
ˆ +∞ " ! #
4Z̃ 3 ~2 1 ∂ Z̃
=− · · r12 e−Z̃r1 /a0 1 − r1 e−Z̃r1 /a0
a0 2me a20 0 r1 ∂r1 a0
ˆ +∞ " ! #
4Z̃ 3 Z̃ Z̃ Z̃ −Z̃r1 /a0
=− · Ry · r1 e−Z̃r1 /a0 − − 1 − r1 e
a0 0 a0 a0 a0
ˆ +∞ !
4Z̃ 4 Z̃
= 2 · Ry · r1 2 − r1 e−2Z̃r1 /a0
a0 0 a0
logo
" #
P21 4Z̃ 4 Z̃
hψ0 | |ψ0 i = 2 · Ry · 2I(1, 2Z̃) − I(2, 2Z̃)
2me a0 a0
" 3 #
2
4Z̃ 4 a0 Z̃ a0
= 2 · Ry · 2 − 2
a0 2Z̃ a0 2Z̃
2
4Z̃ 4
a0
= 2 · Ry · [2 − 1]
a0 2Z̃
= Z̃ 2 · Ry
e2 ~2 me e4 1 1 ~c
Ry = = 2
= 2
= α 2 m e c2 = α .
2a0 2me a0 2~ 2 2 a0
e2 q2 1 ∼ 1
α= = · =
~c 4π0 ~c 137, 036
Em termos da constante de estrutura fina, o raio de Bohr pode ser reescrito como
~ ~ ~ 1 ~
a0 = · 2 = = · ·
me e αme c α me c
Portanto,
P21 P2
hψ0 | + 2 |ψ0 i = 2Z̃ 2 Ry = Z̃ 2 α2 me c2 . (5.131)
2me 2me
Similarmente tem-se que,
ˆ ˆ
Z̃e2 Z̃ 3 Z̃e2 −Z̃r1 /a0 Z̃ 3 −2Z̃r2 /a0
hψ0 | − |ψ0 i = − d (r1 ) 3 e−Z̃r1 /a0
3
e × d3 (r2 ) e
|R1 | (∞) πa0 |R1 | (∞) πa30
ˆ ∞
Z̃ 4 e2
= −8 2 · · r1 e−2Z̃r1 /a0 dr1
a0 2a0 0
2
Z̃ 4 a0
= −8 2 · Ry ·
a0 2Z̃
= −2Z̃ 2 Ry
ˆ ˆ
(Z̃ − Z)e2 Z̃ 3 (Z̃ − Z)e2 −Z̃r1 /a0 Z̃ 3 −2Z̃r2 /a0
hψ0 | |ψ0 i = d (r1 ) 3 e−Z̃r1 /a0
3
e × d3 (r2 ) e
|R1 | (∞) πa0 |R1 | (∞) πa30
ˆ ∞
Z̃ 3 (Z̃ − Z) e2
=8 · · r1 e−2Z̃r1 /a0 dr1
a20 2a0 0
2
Z̃ 3 (Z̃ − Z) a0
=8 2
· Ry ·
a0 2Z̃
= 2Z̃(Z̃ − Z) · Ry
" #
P21 Z̃e2 P22 Z̃e2
hψ0 | − + − |ψ0 i = 2Z̃ 2 Ry − 4Z̃ 2 Ry = −2Z̃ 2 Ry (5.132)
2me |R1 | 2me |R2 |
" #
(Z̃ − Z)e2 (Z̃ − Z)e2
hψ0 | + |ψ0 i = 4Z̃(Z̃ − Z) · Ry (5.133)
|R1 | |R2 |
Portanto, falta calcular a “energia de interação” entre os dois elétrons, para a função de onda
tentativa:
ˆ ˆ !2
− 2aZ̃ (r1 +r2 )
e2 Z̃ 3 e 0
hψ0 | |ψ0 i = e2 3 3
d (r1 )d (r2 ) . (5.134)
R12 (∞) (∞) πa30 |r1 − r2 |
A seguir será feita uma integral, a qual será muito útil .
Teorema 5.2. Seja u, v, e w três números reais positivos (os quais também podem ser zero).
Então
ˆ
0 exp(−u|y − x| − v|y − x0 |)
I(u, v; x, x ) ≡ d3 (y)
(∞) |y − x||y − x0 |
4π e−v∆ − e−u∆
= , (5.135)
∆(u2 − v 2 )
na qual ∆ ≡ |x − x0 |.
ˆ ˆ
3 exp(−u|x| − v|y| − w|x − y|)
J(u, v, w) ≡ d (x) d3 (y)
(∞) (∞) |x||y||x − y|
2
(4π)
= . (5.136)
(u + v)(v + w)(w + u)
Para simplificar a integração sobre os ângulos, considere, sem perdas de generalidade, que um
dos eixos do sistema está direcionado ao longo do vetor x − x0 :
√
|y − x0 | = |z + x − x0 | = r2 + ∆2 + 2r∆ cos θ. (5.138)
Portanto,
ˆ ∞ ˆ 1
√
exp(−v r2 + ∆2 + 2r∆ cos θ)
I(u, v; x, x0 ) = 2π re−ur dr d cos θ √ . (5.139)
0 −1 r2 + ∆2 + 2r∆ cos θ
Portanto,
5 2
hψ| H |ψi = −2Z̃ + 4Z̃(Z̃ − Z) + Z̃ · Ry.
4
5
= 2Z̃ 2 − 4Z̃Z + Z̃ · Ry
4
5 27
Z̃ = 2 − = .
16 16
Prof. Salviano A. Leão 114
5.7. O método variacional
O valor obtido pelo método variacional com a função tentativa do átomo de hidrogênio está
2.5% acima do resultado experimental. Cálculos variacionais mais cuidadosos, com melhores
funções tentativa, fornecem valores mais próximos do resultado experimental. Note que o melhor
valor obtido para o número atômico efetivo foi Z̃ = 27/16 em vez de Z̃ = Z = 2. Isso sugere
5
que o núcleo blinda um elétron em relação ao outro, o que reduz a carga efetiva para 16
e.
6.1 Introdução
1
Os metais alcalinos apresentam configuração eletrônica terminada em ns1 . O único elétron existente na
camada de valência está relativamente afastado do núcleo, e protegido pela camada interna preenchida. Por isso
esse elétron pode ser removido com facilidade. Em contraste, os elétrons internos estão próximos ao núcleo, mais
firmemente ligados, sendo muito difícil removê-los. Por isso, esse modelo funciona bem.
117
6.2. O Hamiltoniano não perturbado
H = H0 + W, (6.3)
em que o termo H0 é dado por (6.1) e W representa todos os termos negligenciados. Desde que
W é muito menor que H0 é possível calcularmos seus efeitos sobre a energia total do átomo
de hidrogênio, usando a teoria de perturbação independente do tempo. Mostraremos que as
correções perturbativas devido ao termo W , podem ser separadas em duas categorias, devido ao
valor da correção na energia, as quais são:
As correções devido aos efeitos relativísticos do átomo de hidrogênio são pequenas, pois de
acordo com o modelo de Bohr, temos
q2 1 mv 2 1 2 1 q2 1
Fe = Fc =⇒ = =⇒ mv = · (6.4)
4π0 r r 2 2 4π0 r
porém da conservação da energia temos
1 q2 1 q2 1
E = T + U = mv 2 − =⇒ E=− . (6.5)
2 4π0 r 8π0 r
Definindo
q2
e2 = (6.6)
4π0
temos que
e2
E=−
, (6.7)
2r
usando a regra de quantização do momentum angular de Bohr temos
nh n~
L = mvr = = n~, n = 1, 2, 3, . . . =⇒ mv = (6.8)
2π r
portanto, desta segue que
n2 ~22
mv = (6.9)
mr2
Comparando (6.4) com (6.9), obtemos que
1 2 n2 ~2 e2
mv = = (6.10)
2 2mr2 2r
logo,
n2 ~2
r= =⇒ rn = n2 a0 (6.11)
me2
na qual o raio de Bohr efetivo a0 é dado por
~2
a0 = = 0, 5 Å (6.12)
me2
então
e2 1 Ry
En = − · , =⇒ En = − (6.13)
2a0 n2 n2
na qual Ry é o Rydberg efetivo, que é dado por
e2 ~2 me4
Ry = = = (6.14)
2a0 2ma20 2~2
A constante de estrutura fina α é dada por
e2 ∼ 1
α= = (6.15)
~c 137, 036
Em termos da constante de estrutura fina, o raio de Bohr pode ser reescrito como
~ ~ ~ 1 ~
a0 = · 2 = = · · (6.16)
m e αmc α mc
enquanto o Rydberg efetivo pode se escrito como
1 e4 1 1 ~c
Ry = m 2 = α2 mc2 = α . (6.17)
2 ~ 2 2 a0
A velocidade da n-ésima órbita do átomo de hidrogênio é dada por
1 ~ 1
L = mvn rn = n~ =⇒ mvn n2 a0 = n~ =⇒ vn = · = · αc
n ma0 n
logo pode-se escrever
v α
n
=. (6.18)
c n
Portanto, desta vê-se que a velocidade do elétron, na primeira órbita do átomo de hidrogênio
é bem menor do que a velocidade da luz c, logo fica evidente que as correções relativísticas para
a energia do estado fundamental do átomo de hidrogênio são pequenas.
A equação de Dirac é o modo mais rigoroso de se obter uma expressão para as correções
relativísticas. Considere a equação de Dirac de um elétron interagindo com um próton via um
potencial coulombiano V (R). No limite em que o sistema é fracamente relativístico, como é o
caso do átomo de hidrogênio, ao expandirmos a equação de Dirac em uma série de potências em
(v/c), obtém-se que
P2 P4 1 1 dV (R) ~2
H = me c2 + + V (R) − + · L · S + ∇2 V (R) + · · · (6.19)
2me 8m3e c² 2m2e c² R dR 8m2e c²
Deve-se ressaltar que é possível resolver a equação de Dirac para um elétron, num potencial
coulombiano. Entretanto a abordagem via teoria de perturbação nos permiti identificar e
compreender o significado físico das várias interações existentes dentro do átomo.
p2 1 p4
E = me c2 + − + ··· (6.22)
2me 8 m3e c2
Ordem de magnitude
HSO = −Ms · B0 ,
11, pág 77]). No caso do átomo de hidrogênio, esse campo magnético pode ser compreendido
como sendo devido a carga positiva do núcleo, a qual no referencial do elétron ela orbitá o
elétron, gerando uma corrente. No caso dos átomos alcalinos, o elétrons do caroço também
estão orbitando o elétron de valência, vistos no referencial do elétron de valência, e também
contribuem para o campo magnético naquele referencial.
Em um outro ponto de vista, o campo magnético B0 pode ser visto como o campo magnético
que surge quando faz-se uma transformação de Lorentz do campo eletrostático no referencial do
núcleo (referencial do laboratório) para o referencial do elétron. Será considerado que não há um
campo magnético no referencial do laboratório. Entretanto, se o núcleo possui um spin diferente
de zero, então ele produz campo de dipolo magnético, o qual é o responsável pela interação
hiperfina. Mas quando presente, esse campo de dipolo é muito menor do que o campo magnético
B0 responsável pelos efeitos da interação spin-órbita, assim aqui ele é ignorado. Portanto, usando
as expressões sem linha E e B para os campos no referencial do laboratório temos que
V 1 dV (r)
E = −∇ =− êr e B=0
q q dr
na qual
e2 r
V (r) = − e êr = .
r |r|
Agora, como o elétron move-se com uma velocidade v = p/me no campo eletrostático E
criado pelo próton. De acordo com a relatividade especial, no referencial do elétron, o elétron
percebe um campo magnético B0 , o qual é dado por [31, ver seção 8.1, pág. 163]
1
B0 = − v × E. (6.24)
c2
Como o elétron possui um momento magnético intrínseco,
q
Ms = S, (6.25)
me
ele interage com o campo magnético B0 , e sua correspondente energia de interação é dada por
W 0 = −Ms · B0 . (6.26)
e2
V 1 dV (r) r
E = −∇ =− , com V (r) = −
q q dr |r| r
1 1 dV (r) p
B0 = × r,
qc2 r dr me
L = R × P = −P × R,
1 1 dV (R) e2 1
W0 = L · S = L·S (6.28)
qme c2 R dR m2e c² R3
Ordem de magnitude
e2 ~2 e2 ~2 2 e2 ~2 2
Wso ' 2 3
' 2 3
= · · 2
= · Ry · Ry, (6.29)
2me c² R 2me c² a0 me c² 2a0 2me a0 me c²
Wso 2 1
' · α2 me c2 = α2 ' 7, 30 × 10−6 . (6.30)
H0 me c² 2
~2
WD (r) = 2 2
∇2r V (r).
8me c
O termo Darwin pode ser obtido a partir de uma aproximação de baixa energia da equação
de Dirac do elétron em um campo central. Uma maneira elegante de executar esta tarefa é
por meio da transformação Foldy-Wouthuysen [29] ou usando a aproximação de Pauli para a
equação de Dirac [32–34, 36]. A mesma aproximação leva também aos outros termos detectados
na estrutura fina átomo de hidrogênio, incluindo o termo spin-órbita.
Origem física
Diferentemente dos outros dois termos da estrutura fina, o Wmv e o Wso , este termo não é
fácil de se interpretar, pois de modo grosseiro pode-se dizer que ele descreve uma certa não
localidade na interação do elétron com o campo eletrostático descrito pelo potencial coulombiano
Figura 6.1: Ilustração do movimento tremido do elétron, conhecido como “Zitterbewegung”, cujo
origem vem do alemão “zittern” que significa tremer e “Bewegung” que significa movimento. Este é um
movimento oscilatório extremamente rápido realizado pelo elétron.
V (R). Esta última contribuição para a estrutura fina é conhecida com termo de Darwin s surge
do movimento “tremido” do elétron, conhecido como “Zitterbewegung”, no qual é equivalente a
um pequena “perturbação” no potencial sentido pelo elétron.
No caso convencional, há uma dedução alternativa simples, a qual é baseada no fato de que um
pacote de ondas formado pela soluções da equação de Dirac realizam um movimento oscilatório
muito rápido com uma amplitude da ordem de δr ≈ λc := ~/(mc), na qual λc é o comprimento
de onda de Compton. Esse é o chamado ’Zitterbewegung’ (movimento tremido) resulta da
interferência das componentes de energia positiva e negativa dos pacotes de onda [19, 32, 33, 36].
Na média, a partícula sente portanto um potencial um pouco alargado sobre uma região da
ordem de δr, em vez de seu valor em r. A mudança média resultante na energia é facilmente
estimada como sendo [19, 32, 33]
~ ~
L = λc = = (6.31)
∆p me c
na qual foi introduzida a constante λc , conhecida como comprimento de onda de Compton.
Esta constante, define uma escala de tamanhos em que os efeitos relativísticos e quânticos
tornam-se importantes para distâncias menores do que esta escala de tamanho. Esta escala de
comprimento pode ser definida para qualquer partícula, entretanto, para o elétron ela é
λc = αa0 = 3, 0 × 10−13 m
e− → e− + e− + e+ , (6.32)
Para modelar esse efeito, considere a função de distribuição f (r) a qual representa esse
borrão, ou incerteza, na posição atômica do elétron. Essa função é normalizada de modo que
ˆ
d3 r f (r) = 1. (6.33)
Então a energia efetiva da interação do elétron com com um potencial eletrostático V (r) na
posição r0 não é V (r0 ), mas em vez disso
ˆ
hV (r)i = d3 r f (r − r0 )V (r)
Considerando que V (r) varie lentamente na escala de variação de f (r − r0 ), então nesse caso,
pode-se expandir V (r) em um série de Taylor em torno do ponto r0 , obtendo que
ˆ
∂ 2 V (r0 )
3 1
hV (r + r0 )i = d r f (r) V (r0 ) + (r − r0 ) · ∇V (r0 ) + (ri − r0i )(rj − r0j ) + ···
2 ∂ri ∂rj
(6.34)
Devido a normalização dada por (6.33), o primeiro termo da expressão anterior, V (r0 ), a
expressão usual para a energia potencial de um elétron na posição r0 . Considerando que a
distribuição f (r) é invariante por rotação, ou seja, f (r) = f (r), em que r = |r|, então o termo
devido a primeira correção é nulo. Para estimar o segundo termo, será considerado que a função
de distribuição f (r) do alargamento é gaussiana, ou seja, que
1 2 /λ2
f (r) = e−r c ,
π 3/2 λ3c
para a qual o comprimento do alargamento é o comprimento de onda de Compton. Fazendo a
integral para o segundo termo, encontra-se que
ˆ ˆ
1 2 /λ2 1
d3 r (ri − r0i )(rj − r0j )f (r − r0 ) = d3 r ri rj e−r c = λ2c δi,j .
π 3/2 λ3c 2
Usando esse resultado, obtém-se que a correção na energia é dada por
1
∆E = hV (r + r0 ) − V (r0 )i = λ2c ∇2 V (r).
6
A expressão acima é idêntica ao termo de Darwin, a menos do fator 1/6 cujo fator valor
correto é 1/8, assim
1 1 ~2
WD = λ2c ∇V (r) = ∇2 V (r). (6.35)
8 8 m2e c2
Ordem de Magnitude
O termo de Darwin é dado pela equação (6.35), porém como no casos dos átomos tipo
hidrogenoides, a energia potencial eletrostático é dada por
q2 e2
V (R) = − =− ,
4π0 R R
e para esse caso tem-se que
2 1 2 2
∇ V (R) = −e ∇ = 4πe2 δ(R),
R
π~2 e2
hWD i = |ψ(0)|2 ,
2m2e c2
note ainda que,
~2 e2 ~2 1 e2 1
2 2
= 2
· 2
· · 2a30 = α2 Ry · 2a30
2me c 2me a0 me c 2a0 2
logo
hWD i = πα2 Ry · a30 |ψ(0)|2
e como para estados do tipo s tem-se que |ψs (0)|2 ' a30 , que é o valor da função de onda na
origem. Logo esse termo irá fornecer uma contribuição não nula somente para o estados atômicos
do tipo s, pois somente para esses estados temos |ψs (0)|2 6= 0. Portanto, para os estados do tipo
s, tem-se que
hWD is ' πα2 Ry
ou seja,
hWD is
' πα2
Ry
pois todos os seus termos fornecem uma correção para a energia da mesma ordem.
da estrutura fina. Na prática, os efeitos hiperfinos mais importantes são aqueles devidos aos
campos de dipolo magnético e quadrupolo elétrico do núcleo. Momentos multipolares mais
elevados do núcleo são importantes na física nuclear, mas não costumam ser na física atômica.
Aqui trataremos os efeitos hiperfinos em átomos, concentrando-nos principalmente no campo
de dipolo magnético no caso do átomo de hidrogênio. Como veremos, efeitos hiperfinos ligam a
dinâmica do elétron atômico à do núcleo, ampliando assim o espaço de Hilbert, introduzindo
novos números quânticos e deslocando e abrindo a degenerescência dos níveis de energia.
Apesar das pequenas escalas de energia envolvidas, os efeitos hiperfinos são muito importantes
em aplicações que vão da física atômica à astrofísica. Por exemplo, a transição radiativa entre
os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de hidrogênio produz a linha de 21
centímetros que desempenha um papel importante na radioastronomia.
Por outro exemplo, os relógios atômicos utilizam frequentemente como oscilador básico uma
transição hiperfina no estado fundamental dos átomos alcalinos pesados, rubídio ou césio. A
reprodutibilidade da frequência dessas transições é tão grande que a segunda é agora definida em
133
termos da transição hiperfina no átomo Cs, ou seja, a segunda é definida como 9.192.631.770
períodos do fóton emitido neste transição, exatamente. Relógios atômicos atuais baseados em
transições hiperfinas de césio têm atualmente uma precisão da ordem de uma parte em 1015 .
Mais recentemente, foram inventados “relógios ópticos” que usam transições na faixa ótica de
frequências. Algumas delas têm precisão aproximando-se de uma parte em 1018 .
O GPS (sistema de posicionamento global) se baseia em sinais temporais de rádio emitidos
por satélites, contendo relógios atômicos, em elevadas órbita terrestre. A fim de alcançar a
precisão desejada das medições de posição na Terra, é necessário levar em conta os efeitos da
relatividade geral e especial na análise dos sinais de tempo. A relatividade especial entra por
causa da dilatação do tempo dos relógios movendo-se em suas órbitas e da relatividade geral
devido à diferença no potencial gravitacional entre o relógio em órbita e o receptor na superfície
da Terra (este é o desvio gravitacional para o vermelho).
A seguir será determinada uma expressão para essa interação.
I
MI = gp µn , (6.38)
~
na qual, µn é o magnéton nuclear de Bohr, dado por
qp ~
µn = , (6.39)
2mp
MS
E(r)
MI qe
Zqp
gp = 5, 585. (6.40)
Zq 2
U0 (r) = qV0 (r) = − . (6.45)
4π0 r
2. O termo de quadrupolo elétrico do núcleo [7, ver complemento EX , pág. 1058] (de
segunda ordem) adiciona um termo ao potencial V0 (r), o qual produz um dos termos
do hamiltoniano hiperfino, o qual é chamado de termo de quadrupolo elétrico. No caso
do átomo de hidrogênio, ele é zero, já que o próton, cujo spin I é |I| = 1/2, não possui
momento de quadrupolo elétrico.
Portanto para o átomo de hidrogênio o potencial V0 (r), é realmente o potencial percebido pelo
elétron.
Agora serão considerados os termos que surge do potencial vetor AI (R). Pelas mesmas
razões anteriores não se pode ter multipolos magnéticos de ordem superior a primeira. Assim o
potencial vetor, para o momento de dipolo magnético MI do próton é dado por [31, seção 8.6,
pág. 177]
µ0 M I × R
AI (R) = · (6.46)
4π R3
Portanto, ao substituir (6.46) em (6.42) e mantendo somente os termos lineares em AI (R),
obtém-se que o hamiltoniano do átomo de hidrogênio com as correções hiperfinas
H = H0 + Whf , (6.47)
Rl 0
[Pl , F (R)] = −i~ F (R),
R
e com isso temos
Note ainda que o resultado anterior ainda pode ser escrito como
1
[L, F (rR)] = −i~ F 0 (R)R × R = 0.
R
Disso segue imediatamente que
[L, R−n ] = 0,
L
v
MI
qe
Zqp
BL
Figura 6.4: Momentum angular orbital e o campo magnético no núcleo devido a rotação do elétron
em torno do núcleo.
e portanto,
1 1 1 MI · L
(MI × R) · P = MI · L = P · (MI × R) =
R³ R³ R³ R³
Portanto, o termo da correção hiperfina, devido a interação com o momentum angular orbital
do elétron é
L µ0 q MI · L µ0 MI · (L/~)
Whf =− 2 = − 2µB (6.51)
4π 2me R³ 4π R³
Esse termo corresponde ao acoplamento entre o momentum magnético nuclear MI e o campo
magnéticoBL criado pela corrente associada ao movimento de rotação do elétron em torno do
núcleo é dado por
µ0 qL
BL (r) = , (6.52)
4π me r3
e portanto, a correção hiperfina pode ser reescrita como
L
Whf = −MI · BL (R). (6.53)
0 0
rl+l +2−3 = rl+l −1 .
Além disso, presença do operador hermitiano L significa que o elemento de matriz é zero quando
l ou l0 for zero. Temos então que esse termo permanecerá finito na origem quando
0
l + l0 ≥ 2 e rl+l −1 6= ∞ .
Entretanto, de forma geral para esse elemento de matriz, como o operador o L pode ser
escrito como
1 1
L = (L+ + L− )êx + (L+ − L− )êy + Lz êz ,
2 2i
tem-se então que
hϕk,l,m | Lx | ϕk0 ,l0 ,m0 i ∝ δk,k0 δl,l0 (δm,m0 +1 + δm,m0 −1 )
Bi = Bi êz ,
z
MI Bi
x
Figura 6.5: Estrutura interna de um próton
detalhes sobre o campo de um dipolo magnético consulte por exemplo o livro do Greiner [11, págs.
209-211], o do Griffiths [15, Exemplo 5.13] ou o do Jackson [20, Seção 5.6]) para r ρ0 por
µ0 xz
Bxdip = 3MI 5
4π r
µ0 yz
Bydip = 3MI 5 (6.54)
4π r
µ0 3z 2 − r2
Bzdip = MI
4π r5
Essa expressão é válida mesmo para valores de r somente um pouco maiores do que ρ0 . Como
o próton possui spin 1/2, ele não possui momentos de multipolos elétricos de ordens maiores
do que 1. Portanto, o campo magnético fora é o de um dipolo magnético. Dentro do próton o
campo magnético é uniforme e é paralelo ao momento magnético MI .
Tem-se que
˛ ˆ ˆ
B · dS = B · dS + lim B · dS = 0,
xy R→∞ ∩
e como
ˆ
1
lim B · dS = 0, pois lim B(R) → .
R→∞ ∩ R→∞ R3
ˆ ˆ ˆ
B · dS = Bint · dS + Bext · dS = 0.
xy • }
Entretanto, como
Φxy xy
int (ρ0 ) + Φext (ρ0 ) = 0,
tem-se
µ0 2π µ0 2
πρ20 · Bint − MI · =0 =⇒ Bint = MI · 3 .
4π ρ0 4π ρ0
Portanto, tem-se agora o campo magnético
z gerado pelo próton em todos os pontos do
espaço, o qual pode ser escrito como
R
ou ainda,
Bint (r) = µ0 MI · 23 êz para r ≤ ρ0
y BI (r) =
I 4π ρ0
Bext (r) = Bdip (r) para r > ρ0
I ext
x (6.55)
dip
Figura 6.6: Próton de raio ρ0 no interior de um no qual, o termo Bext (r), é dado pela expressão
hemisfério esférico de raio R, com R ρ0 . (6.54).
Agora pode-se escrever o termo do hamil-
toniano hiperfino que estava faltando, como
L S
Whf = Whf − 2µB · BI (R), (6.56)
~
o qual, devido ao campo magnético interno do próton pode ser reescrito como
L dip c
Whf = Whf + Whf + Whf , (6.57)
Quando ρ0 → 0, o volume de integração é 4πρ30 /3, o qual também se aproxima de zero, logo
ϕk0 ,l0 ,m0 ,0 = − µ0 · 2µB MI · h | Sz | 0 i 8π · ϕ∗k,l,m (r = 0)ϕk0 ,l0 ,m0 (r = 0). (6.62)
c
ϕk,l,m, Whf
4π ~ 3
Prof. Salviano A. Leão 136
6.6. O hamiltoniano completo da estrutura hiperfina
Portanto, o termo de contato pode ser escrito em uma forma mais compacta como,
c µ0 2µB 8π
Whf =− · · · MI · Ms δ(R) (6.63)
4π ~ 3
Note que embora o volume contendo o campo magnético interno vai a zero quando ρ0 → 0, o
c
valor de Whf permanece finito, j que o campo interno se aproxima do infinito com 1/ρ30 .
Deve-se ressaltar que em (6.63) que o operador δ(R) é simplesmente o projetor
Observe ainda, que o elemento de matriz dado por (6.62), só será diferente de zero se l = l0 = 0.
Esta é a condição necessária para que ϕ∗k,l,m (r = 0) e ϕk0 ,l0 ,m0 (r = 0) sejam diferentes de zero na
origem. Portanto, o termo de contato de Fermi só dará contribuições não nulas para os estados
do tipo s.
L dip c
Whf = Whf + Whf + Whf . (6.64)
Usando o fato de que o momento magnético do próton é dado por (6.61), então podemos escrever
a equação (6.64) como
µ0 2µB µn gp I · L (S · R) (I · R) I · S 8π
Whf =− · +3 − 3 + · I · Sδ(R) , (6.65)
4π ~2 R³ R5 R 3
na qual
q~ q~ I S R
µB = ; µn = − ; MI = gp µn ; MS = 2µB ; n̂ = r̂ = . (6.66)
2me 2Mp ~ ~ R
Considerando que gp /4 ≈ 1, pode-se mostrar que a ordem de magnitude dos dois primeiros
termos é dada por
q 2 ~2 1 µ0 1 q 2 µ0 0 ~2
· · = · · · ,
me Mp R3 4π Mp 4π0 me a30
q 2 ~2 1 µ0 1 e2 2 ~2
· 3· = · · · ·2
me Mp R 4π 1836 2a0 me c2 2me a20
1 2
= · Ry · · Ry · 2
1836 me c2
2 · Ry 2Ry
= · ,
1836 me c2
mas como
e2 ~2 1 2Ry
Ry = = 2
= m e c2 α 2 =⇒ α2 = ,
2a0 2me a0 2 m e c2
portanto, tem-se que
Whf 2α2
≈ .
Ry 1836
Mas como
e2 ~2 Whf 1
Wso ≈ · =⇒ ≈ .
m2e c2 R3 Wso 1836
Portanto, vê-se que os termos de Whf são da ordem de 2000 vezes menores do que os termos de
Wso .
Ao considerar o spin do próton, a degenerescência dos estados mudam e tabela anterior toma
a forma,
e portanto, uma possível base ortonormal para tratar problemas referentes ao nível n = 2 é:
1. Subcamada 2s:
n = 2; l = 0; ml = 0; ms = ± 1 ; mI = ± 1
=⇒ Dimensão: 4
2 2
2. Subcamada 2p :
n = 2; l = 1; ml = −1, 0, 1; ms = ± 1 ; mI = ± 1
=⇒ Dimensão: 12
2 2
Wf = Wmv + Wso + WD ,
L dip c
Whf = Whf + Whf + Whf ,
assim
W = Wf + Whf .
Porém como os termos que compõem Wf são da ordem de 2000 vezes maiores do que aqueles
que compõem Whf , então inicialmente serão descritos os efeitos das interações finas dadas por
Wf .
[L2 , S] = [L2 , I] = 0,
[L2 , P2 ] = 0.
[L2 , P2 ] = [L2i , P2 ] =
= Li [Li , P2 ] + [Li , P2 ]Li
portanto, para tal, basta mostrar que [Li , P2 ] = 0. Assim, como L = R × P, então
Lα = Rβ Pγ εαβγ = Rβ Pγ − Rγ Pβ , logo
Wf = Wmv + Wso + WD
e
P4 1 1 dV (R) ~2
Wmv = − ; c= · L · S; WD (R) = ∇2 V (R),
8m3e c² 2
2me c² R dR 8m2e c2 r
então pode-se concluir que
hWso i2s = 0.
Portanto,
5 5
hWf i2s = hWmv i2s + hWD i2s + hWso i2s = − me c2 α4 = − α2 Ry
128 64
Para obter esse, deve-se calcular diversos elementos de matriz da seguinte forma
D E
0 0
n = 2; l = 1; s = 1/2; ml ; ms ξ(R)L · S n = 2; l = 1; s = 1/2; ml ; ms ,
com
e2 1
ξ(R) = 2 2
· 3
2me c R
Na representação {|ri} pode-se separar a parte radial do elemento de matriz, da parte angular
e de spin, o que resulta em
D E
0 0
ξ2p n = 2; l = 1; s = 1/2; ml ; ms L · S n = 2; l = 1; s = 1/2; ml ; ms ,
Como a função radial R21 (r) é conhecida, então após o cálculo da integral obtemos
1 1 2 4 1 1 2
ξ2p = 2 me c α = 2 α Ry .
~ 48 ~ 24
Com isso, eliminou-se a dependência das variáveis radiais, sobrando uma dependência das
variáveis angulares e de spin. Portanto, o problema reduz-se a diagonalizar o operador L · S.
Para representar o operador ξ2p L · S por uma matriz, várias bases diferentes podem ser
escolhidas:
i) Primeira escolha, base: {|l = 1; s = 1/2; ml ; ms i}, construída a partir dos autoestados comuns
dos operadores L2 , S2 , Lz e Sz .
ii) Segunda escolha, base: {|l = 1; s = 1/2; J; mJ i}, construída a partir dos autoestados comuns
dos operadores L2 , S2 , J2 e Jz na qual
J=L+S
é o momentum angular total do sistema. Como l = 1 e s = 1/2, então Jmax = 1+1/2 = 3/2
e Jmin = 1 − 1/2 = 1/2.
Note que a segunda base é melhor adaptada ao problema do que a primeira, o que nos interessa,
já que o termo ξ2p L · S é diagonal na segunda base. Para evidenciar isso, observe que
1 2
J2 = (L + S)2 = L2 + S2 + 2L · S J − L2 − S2 ,
=⇒ L·S=
2
assim
1
ξ2p L · S = ξ2p J2 − L2 − S2 .
2
Prof. Salviano A. Leão 143
6.9. Resultados: A estrutura fina do nível n = 2.
Comentários
l 0 1 2 3 4
Símbolo s p d f g
Comentários
ii) O átomo de hidrogênio agora pode ir do estado 2p para o 1s emitindo um fóton Lyman
∝ (λ = 1216 Å).
4 1
∆E2p3/2 −2s1/2 = E2p3/2 − E2s1/2 = me c2 α4 = α2 Ry
128 16
n=2
∆E0
2p3/2
5∆E0 5∆E0
1 2
∆E0 = 64 α Ry
2s1/2 2p1/2
Nota: o Lamb-shift remove a degenerescência dos níveis 2s1/2 e 2p1/2
iii) Viu-se que os dois níveis com o mesmo J possuem a mesma energia. Esse resultado não
é meramente verdade somente para as correções de primeira ordem do termo Wf : ele
permanece válido em todas as ordens de correção. A solução exata da equação de Dirac,
fornece para um nível de energia caracterizado pelos números quânticos n, l, s, e J o
seguinte valor
r !−2 −1/2
1 1
En,j = me c2 1 + α2 n−J + + (J + )2 − α2
2 2
1 1
ms = ± e mI = ± .
2 2
Portanto, a degenerescência do nível 1s é 4, e nesse caso, uma possível base é dada vetor de
estado
1
n = 1; l = 0; ml = 0; ms = ± ; mI = ± 1
.
2 2
Mostrou-se que Wf não remove a degenerescência do nível 1s. Pois, os termos Wmv e WD
não atuam nos números quânticos mS e mI e são representados no subespaço 1s por múltiplos
da matriz identidade, dadas por
5
hWmv i1s = − α2 Ry e hWD i1s = α2 Ry.
4
Finalmente o cálculo do elemento de matriz do termo Wso envolve elementos de matriz
angulares do tipo
hl = 0; ml = 0 | Lx,y,z | l = 0; ml = 0i ,
hWso i1s = 0.
Os elementos de matriz do último termo de Whf , isto é, o termo de contato de Fermi, são da
forma
0 0 2µ 0
n = 1; l = 0; ml = 0; /2; ms ; mI − · MI · Ms δ(R) n = 1; l = 0; ml = 0; ms ; mI .
3
Passando para a representação das coordenadas {|ri}, pode-se separar a parte orbital e de
spin desse elemento de matriz e reescrevê-lo na seguinte forma
D 0 0 E
A ms ; mI I · S ms ; mI ,
q2 gp
A= · hn = 1; l = 0; ml = 0 | δ(R) | n = 1; l = 0; ml = 0i
30 c2 me Mp
q2 gp 1
= · · |R10 (0)|2 ,
30 c2 me Mp 4π
mas como
2 ~ λ
R10 (r) = q · e−r/a0 ; com a∗0 = = ,
3 αµc α
(a∗0 )
~ me Mp me a∗ e2 q2 1
a0 = ; µ= ; γ =1+ = 0; α= = ·
αme c me + Mp Mp a0 ~c 4π0 ~c
e2 ~2 1
Ry = = 2
= me c2 α2
2a0 2me a0 2
então, como a∗0 = γa0 , segue que
q2 gp 1 4
A= 2
· · · ∗ 3
30 c me Mp 4π (a0 )
4 q2 1 gp 1
= · · 2
· · 3 3
3 4π0 me c Mp γ a0
4 e2 1 2 gp 1
= · · 3· · ·
3 2a0 γ me c Mp a20 2
4 2 gp 1 1
= ·α · · ·
3 Mp a20 γ 3
4 2 gp m2e c2 α2 1
= ·α · · · 3
3 Mp ~2 γ
−3
4 me 2 4 1 me
= · gp · · me c α · 2 · 1 +
3 Mp ~ Mp
2
−3
4 me α me
= · gp · · 2Ry · 2 · 1 +
3 Mp ~ Mp
Whf c = AI · S,
F = J + I = L + S + I = 0 + S + I = S + I,
e usar a base
{|s = 1/2; I = 1/2; F ; mF i} ,
Comentários
Similarmente a correção Whf abre a degenerescência de cada umas das estruturas finas dos
níveis 2s1/2 , 2p1/2 e 2p3/2 em uma série de níveis hiperfinos, correspondendo a todos os valores
de F separados por uma unidade incluída entre Fmax = J + I e Fmin = |J − I|. Para os níveis
2s1/2 e 2p1/2 tem-se que J = 1/2, portanto F terá os somente dois valores, F = 1 e F = 0.
Entretanto para o nível 2p3/2 , J = 3/2 e consequentemente F = 2 e F = 1.
1s
E1
− 18 mec2α4 F =1
+ 14 A~2
1s1/2
A~2 − 3 A~2
4
F =0
Figura 6.7: Representação levantamento da degenerescência do nível 1s pelas correções finas e
hiperfinas. A figura não está em escala.
F =2
∆E = 23, 7 MHz
2p3/2 F =1
F =1
2s1/2 ∆E = 177, 56 MHz
F =0
∆E = 1057, 8 MHz
F =1
2p1/2 ∆E = 59, 19 MHz
F =0
Figura 6.8: Representação levantamento da degenerescência do nível 2s pelas correções finas e
hiperfinas. A figura não está em escala.
Comentários
hn = 1; l = 0; ml = 0 | n = 1; l = 0; ml = 0i = 1,
o qual atua somente sobre o grau de liberdade do spin. Para diagonalizar esse operador, pode-se
usar tanto a base {|ms ; mI i} quanto a base {|F ; mF i}.
Como Iz e Sz são da mesma ordem e ω0 ωn , então em uma primeira aproximação o termo
ωn Iz pode ser desprezado com relação ao termo 2ω0 Sz . Assim a perturbação sentida pelo nível
1s é
Whf −p = AI · S + 2ω0 Sz . (6.71)
1. Um nível com uma degenerescência tripla: {|F = 1; mF = −1, 0, 1i}. Nesse caso, tem-se
que
1
AI · S |F = 1; mF = −1, 0, 1i = A~2 |F = 1; mF = −1, 0, 1i
4
2. Um nível não degenerado: {|F = 0; mF = 0i}. Nesse caso, tem-se que
3
AI · S |F = 0; mF = 0i = − A~2 |F = 0; mF = 0i .
4
Como o termo 2ω0 Sz será tratado como uma perturbação em relação ao termo AI · S, deve-se
diagonalizar separadamente as duas matrizes representando o termo 2ω0 Sz nos dois níveis, a
saber F = 1 e F = 0, correspondentes aos dois autovalores distintos do termo AI · S.
Comentário
pois
F · S = (I + S) · S = S2 + I · S,
mas
1 2
F2 = S2 + I2 + 2I · S F − S2 − I2
=⇒ I·S=
2
logo
1 1 1 1 2
F · S = F2 + S2 − I2 = F + S2 − I2
2 2 2 2
e como
F2 |F ; mF i = F (F + 1)~2 |F ; mF i .
0 0 −1
Autoestado Autovalor
1
|F = 1; mF = 1i ←→ 4
A~2 + ~ω0
1
|F = 1; mF = 0i ←→ 4
A~2 +0 (6.74)
1
|F = 1; mF = −1i ←→ 4
A~2 − ~ω0
|F = 0; mF = 0i ←→ − 34 A~2 + 0
Na figura 6.9, no eixo x temos ~ω0 e no eixo y as energias dos quatro subníveis Zeeman
(Zeeman diagrama). Em um campo de zero, temos os dois níveis hiperfinos, F =1 e F = 0.
Quando o campo B0 é ligado, o subnível |F = 0; mF = 0i, o qual não é degenerado, inicia na
horizontal; como para o nível de F = 1, a sua degenerescência tripla é completamente remo-
vida: três subníveis são obtidos equidistantes, variando linearmente com ~ω0 , com inclinações
respectivamente de 1, 0, -1.
O tratamento dado anteriormente é válido enquanto a diferença ~ω0 entre dois subníveis
Zeeman adjacentes do nível F = 1 permanecer menor que a diferença em campo zero, entre os
níveis F = 1 e F = 0, a estrutura hiperfina.
E
mF = 1
F =1 mF = 0
mF = −1
A~2
F =0 mF = 0
~ω0
Figura 6.9: Diagrama Zeeman para campos magnéticos fracos do nível 1s do átomo de hidrogênio.
O nível hiperfino F = 1, se desdobra em 3 níveis equidistantes, cada um dos quais com um número
quântico mF bem definido. O nível F = 0, não se altera.
Comentários
Hz = ω0 (Lz + 2Sz )
é representado por uma matriz proporcional a Fz . Portanto, podemos escrever, denotando por
PF o projetor para o nível F :
na qual gF é o chamado fator de Landé do estado F . No caso tratado anteriormente, temos que
gF =1 = 1.
analogamente
Iz = Iz(Est.) + Iz(Din) (t)
z
Vamos comparar esses resultados semiclássicos
B
com os da teoria quântica apresentadas anterior-
mente nesta seção. Para fazer isso, temos que
considerar a evolução no tempo dos valores médios
hFz i e hSz i. O valor médio hGi (t) de uma grandeza
Ω física G contém uma série de componentes que os-
cilam nas várias frequências de Bohr (E − E 0 )/h do
I sistema. Além disso, uma determinada frequência
de Bohr aparece em hGi (t) apenas se o elemento
Sz (t) de matriz de G entre os estados correspondentes
ω
para as duas energias for diferente de zero. Note
F que,
d 1 ∂
Sz hGi (t) = h[G, H]i + hGi (t)
S dt i~ ∂t
e
XX
Figura 6.10: Modelo vetorial do movimento |ψ(t)i = Cn,τ (t0 ) e−iEn (t−t0 )/~ |ϕn,τ i ,
dos vetores F, I e S. Os vetores I e S pre- n τ
No problema que nos interessa aqui, os autoestados do hamiltoniano de campo fraco são os
estados |F ; mF i. Agora, considere duas matrizes (6.72) e (6.73) que representam Sz e Fz nesta
base. Desde Fz tem apenas elementos de matriz diagonais, nenhuma frequência Bohr diferente
de zero pode aparecer em hFz i (t): hFz i é, por conseguinte, estático, pois
Por outro lado, Sz tem, não só os elementos de matriz diagonal (com o qual está associada
uma componente estático de hSz i), mas também um elemento não-diagonal entre os estados
~ ~ ∗
|B1,1 |2 − |B1,−1 |2 + B0,0 B1,0 e−iA~(t−t0 ) + B1,0
∗
B0,0 e+iA~(t−t0 ) .
hSz i (t) =
2 2
(Est.) (Din)
= Sz + Sz (t).
Este resultado recorda o obtido utilizando o modelo vetorial do átomo. Um paralelo poderia
ser estabelecido entre a evolução de hFx i, hSx i, hFy i e hSy i e aquele das projeções dos vetores
F e S da figura 6.10 em Ox e Oy. Entretanto, o movimento de hFi e hSi não coincide
perfeitamente com aquele do momentum angular clássico. Em particular, o módulo de hSi não
6 hSi2 .
é necessariamente constante, pois na mecânica quântica tem-se que hS2 i =
Comentários
Uma relação pode ser estabelecida entre a teoria de perturbação e o modelo vetorial do átomo.
A influência de um campo fraco B0 nos níveis F = 1 e F = 0 pode ser obtido através da retenção
no hamiltoniano Zeeman Hz = 2ω0 Sz apenas dos elementos de matriz dos níveis F = 1 e F = 0
, “esquecendo” o elemento matriz de Sz entre |F = 1; mF = 0i e |F = 0; mF = 0i. Procedendo
deste modo, também “esquecemos” a componente modulada de hSz i, que é proporcional a este
elemento da matriz. Nós, portanto, manter apenas a componente de hSi paralela ao hFi.
Agora, isso é precisamente o que fazemos no modelo vetorial do átomo quando queremos
avaliar a energia de interação com o campo B0 . Em um campo fraco, F precessiona muito mais
lentamente em torno deB do que S o faz em torno de F. A interação de B com a componente
de S perpendicular a F, portanto, em média, não tem nenhum efeito; somente a projeção de S
para F é que conta. É assim, por exemplo, que é calculado o fator de Landé.
hWhf i = hmS ; mI | AI · S | mS ; mI i ,
I · S = Ix Sx + Iy Sy + Iz Sz .
Entretanto a a relação anterior pode ser reescrita em uma forma mais simples, e para tal
lembre-se que
1 1
Sx = (S+ + S− ) e Sy = (S+ − S− ) ,
2 2i
logo
1 1
Ix Sx + Iy Sy = (S+ + S− ) (I+ + I− ) − (S+ − S− ) (I+ − I− )
4 4
1
= (I+ S− + I− S+ ) ,
2
assim,
1
I·S=
(I+ S− + I− S+ ) + Iz Sz . (6.75)
2
Portanto o hamiltoniano da interação hiperfina toma a seguinte forma,
1
Whf = AI · S = A Iz Sz + (I+ S− + I− S+ ) . (6.76)
2
Desta relação, é imediato ver que os únicos elementos de matriz não nulos são os diagonais, ou
seja,
hmS ; mI | AI · S | mS ; mI i = A hmS ; mI | Iz Sz | mS ; mI i
= A~2 mS mI .
E
|εS , εI i |+, +i
|+, −i
F =1
A~2
|−, −i
F =0
|−, +i
~ω0
Figura 6.11: Diagrama Zeeman para o regime de campo forte, do estado fundamental, o nível 1s, do
átomo de hidrogênio. Para cada orientação do spin eletrônico (εS = + ou εS = − ), obtém duas linha
retas paralelas, separadas por uma energia A~2 /2, cada uma correspondendo as diferentes orientações
do spin do próton(εI = + ou εI = − ).
Na figura 6.11, as curvas de linha sólida no lado direito (para ~ω0 A~2 ) representam os
níveis de energia em regime de campo forte: obtemos duas linhas retas paralelas de inclinação
+1, separados por uma energia A~2 /2, e duas linhas retas paralelas de inclinação −1, também
separadas por A~2 /2. O tratamento de perturbativo apresentadas nesta seção e, por conseguinte,
na anterior fornecem os comportamentos assintóticos para o campo forte e fraco, a tangente na
origem dos níveis de energia.
O forte campo desdobra os dois estados |+, +i e |+, −i ou |−, +i e |−, −i em A~2 /2, pode
ser interpretado do seguinte modo. Vimos que apenas o termo Iz Sz da expressão (6.76) para
I · S está envolvido em um regime de campo forte, quando o acoplamento hiperfino é tratado
como uma perturbação do termo Zeeman. O hamiltoniano de campo forte total (6.71), portanto,
pode ser escrito:
1
Whf = 2ω0 Sz + AIz Sz = 2 ω0 + AIz Sz
2
É como se o spin eletrônico “visse” além do campo externo B = B0 êz um pequeno campo
interno menor, resultante do acoplamento hiperfino entre I e S e que tem dois valores possíveis,
dependendo se o spin nuclear está para cima ou baixa. Este campo adiciona ou subtrai de
B = B0 êz e é responsável pela diferença de energia entre os estados |+, +i e |+, −i ou entre
|−, +i e |−, −i.
e nesse caso
1
Whf = A F2 − S2 − I2 .
2
Temos que para F = 0, mF = 0 e para F = 1, mF = −1, 0, 1, logo a base {|F, mF i} =
{|0, 0i , |1, −1i , |1, 0i , |1, 1i}. Nessa base, como
1 ~2
A F2 − S2 − I2 |F, mF i = A [F (F + 1) − s(s + 1) − I(I + 1)] ,
2 2
então o elemento diagonal do termo Whf para F = 0 é −3A~2 /4 e para F = 1 é A~2 /4
Mostrou-se que nessa base a matriz que representa o operador Sz é dada por (6.72), portanto
nessa base, a matriz hamiltoniana do sistema é dada por
mF
E1
E
+1 E3
0
1
4
A~2 ~ω0
(F = 1)
−1
− 34 A~2
(F = 0)
E2
0
E4
Figura 6.13: Diagrama Zeeman para um campo arbitrário do nível 1s do átomo de hidrogênio. Nesse
caso, o número quântico mF é um bom número quântico para qualquer valor do campo aplicado. As
duas linhas retas (cheias) de inclinação, correspondem aos valores de mF = ±1, assim como as outras
duas curvas correspondem a mF = 0. As linhas tracejada correspondem ao comportamento assintótico,
para campos altos, das duas curvas correspondente aos níveis de energia E3 e E4 .
Esse é o termo que descreve a interação de dipolo elétrico qR do átomo com o campo elétrico
E = E êz . Considerando que H0 WS , então será possível dar um tratamento perturbativo ao
termo WS . Nesse caso como nem o hamiltoniano H0 e nem WS atuam nas variáveis de spin,
então os números quânticos mS e mI serão ignorados.
(2)
X X X |h1, 0, 0 | Z | n, l, mL i|2 Ry
2 2
E1s =q E , com En = − .
n6=1 l mL
E1 − En n2
Como E1 − En < 0 sempre, e como haverá casos em que Z |n, l, mL i será uma função par, então
(2)
pode-se concluir que E1s < 0.
XXX 1
hWs iψ0 = hψ0 | qR | ψ0 i = −q 2 E ×
n6=1 l mL
E1 − En
hψ0 | qX | ψ0 i = hψ0 | qY | ψ0 i = 0.
X X X |hn, l, mL | Z | 1, 0, 0i|2
hψ0 | qZ | ψ0 i = −2q 2 E .
n6=1 l mL
E1 − En
O campo elétrico induz um momento de dipolo elétrico p = qE, para o qual tem-se
dp
P= = χ0 E.
dv
O coeficiente de proporcionalidade χ entre o momento de dipolo elétrico induzido p e o campo
elétrico E, é chamado de susceptibilidade elétrica linear. Portanto, com essas definições, pode-se
escrever
X X X |hn, l, mL | Z | 1, 0, 0i|2
2
χ1s = hψ0 | χ | ψ0 i = −2q .
n6=1 l mL
E1 − En
Note ainda que, desde que Y10 (Ω), R2,0 (r) e R1,0 (r) são funções reais, então pode-se concluir
que o elemento de matriz
h2, 1, m = 0 | WS | 2, 0, 0i ∈ <,
Autoestado Correção
|2, 1, 1i ←→ 0
|2, 1, −1i ←→ 0 (6.80)
√1 (|2, 1, 10i + |2, 0, 0i) ←→ γE
2
√1 (|2, 1, 10i − |2, 0, 0i) ←→ −γE
2
Até o momento foram consideradas somente situações estáticas (exceto na discussão dos
postulados da mecânica quântica, na qual surge surge o colapso do vetor de estado para um
dos estados do sistema ao realizarmos uma medição). Chegou o momento de discutirmos a
dependência temporal do vetor de estado, o que requer um novo princípio. A equação de
Schrödinger dependente do tempo resultante é resolvida exatamente para os casos simples, como
o do spin, e usando uma teoria de perturbação. A noção de probabilidade de transição produz
um significado físico para os elementos de matriz não-diagonal do potencial perturbados, como
vimos estudarmos os sistemas de dois níveis, o que nos permite apresentar a relação de incerteza
energia-tempo junto com o conceito de tempo de vida.
Devemos ressaltar o fato de que na mecânica quântica o tempo é tomado como sendo um
parâmetro, e não um observável. Embora haja um operador evolução temporal, não há um
operador tempo ou algo do tipo.
167
7.1. Formulação do problema
d |ψ(t)i
i~ = [H0 + λV (t)] |ψ(t)i , (7.3)
dt
O problema posto acima consiste em encontrar a solução de (7.3) que corresponde à condição
inicial (7.4). No entanto, em geral tal problema não é rigorosamente solúvel. É por isso que
recorre-se aos métodos aproximados para obtermos informações a respeito do sistema. Será
mostrado que se o parâmetro λ for pequeno o suficiente, a solução|ψ(t)i pode ser encontrada
na forma de uma expansão de série de potência limitada em λ. Assim, calcula-se o |ψ(t)i
explicitamente em primeira ordem em λ, assim como a probabilidade correspondente. As
expressões gerais obtidas serão aplicadas ao estudo do caso especial, aquele em que a perturbação
é uma função sinusoidal do tempo ou uma constante, como é o caso da interação de um átomo
com uma onda eletromagnética. Este é um exemplo do fenômeno de ressonância. Duas situações
serão consideradas: aquela em que o espectro de H0 é discreto, e então aquele em que o estado
inicial |ϕi i é acoplado a um contínuo de estados finais. Neste último caso, obteremos uma
importante expressão conhecida como “regra de ouro de Fermi ”.
Os resultados obtidos ao discutirmos um sistema de dois níveis, cujos estados são|ϕ1 i e
|ϕ2 i, inicialmente no estado|ϕ1 i, era submetido no instante de tempo t = 0 a uma perturbação
constante W , podem ser considerados uma caso particular do que será investigado no que se
segue. A probabilidade P12 (t) poderá então ser calculada exatamente, o que leva à fórmula de
Rabi.
O problema que será tratado aqui é muito mais geral. Será considerado um sistema com um
número arbitrário de níveis de energia e uma perturbação W (t) que é uma função arbitrária do
tempo. Isso explica por que, em geral obtém-se apenas uma solução aproximada.
Escolhendo então a representação {|ϕn i}, o ket |ψ(t)i ao ser expandido na base {|ϕn i} toma
a seguinte forma:
X
|ψ(t)i = Cn (t) |ϕn i , (7.6)
n
com
Cn (t) = hϕn | ψ(t)i . (7.7)
como o elemento de matriz do observável V (t). Note que nessa base o hamiltoniano H0 é
representado pela matriz diagonal
d X
i~ Cn (t) = En Cn (t) + λVnk (t)Ck (t). (7.11)
dt k
Note que o resultado anterior é constituído por um conjunto de equações diferenciais de primeira
ordem acopladas. A princípio ao resolver o sistema (7.11), a solução desejada |ψ(t)i seria
encontrada, pois todos os coeficientes Cn (t) seriam conhecidos. O que acopla o conjunto de
equações (7.11) é somente a perturbação W (t) = λV (t), a qual relaciona a evolução temporal
de um coeficiente Cn (t) qualquer com todos os outros coeficientes Ck (t) por meio dos elementos
de matriz Vnk (t) dados por (7.8).
na qual os coeficientes bn (t) devem variar muito pouco com o tempo. Com isso, separa-se os
termos que variam letamente daqueles que variam rapidamente.
Substituindo (7.13) em (7.11), obtemos
d X
i~e−iEn t/~ bn (t) + En bn (t)e−iEn t/~ = En bn (t)e−iEn t/~ λVnk (t)bk (t)e−iEk t/~ (7.14)
dt k
Multiplicando ambos os lados da equação acima por e+iEn t/~ , e introduzindo a frequência angular
de Bohr
En − Ek
ωnk = (7.15)
~
relacionada ao par de estados com energias En e Ek . Com isso, obtém-se que
d X
i~ bn (t) = λ eiωnk t Vnk (t)bk (t) (7.16)
dt k
d (0)
i~ b (t) = 0
dt n
d X (0)
i~ b(1)
n (t) = eiωnk t Vnk (t)bk (t)
dt k
d X (1)
i~ b(2)
n (t) = eiωnk t Vnk (t)bk (t)
dt k
.. ..
. = .
d (r) X (r−1)
i~ bn (t) = eiωnk t Vnk (t)bk (t)
dt k
A solução deste sistema de equações é obtida considerando que para t ≤ 0 o sistema encontrava-se
no estado |ϕi i. Nesse casso todos os coeficientes bn (t) são nulos exceto bi (t) = bi = cte. Portanto
temos que:
b(0)
n (t = 0) = δni e b(r)
n (t = 0) = 0 se r > 1 (7.19)
Portanto da correção de ordem zero temos que
b(0)
n (t) = δni (7.20)
Ao substituir o resultado da correção de ordem zero na correspondente equação para a
correção de primeira ordem obtém-se que
d X
i~ b(1) (t) = eiωnk t Vnk (t)δki = eiωni t Vni (t), (7.21)
dt n k
cuja solução é
ˆt
1 0
b(1)
n (t) = eiωni t Vni (t0 )dt0 (7.22)
i~
0
Substituindo o resultado da correção em primeira ordem na expressão para a correção em
segunda ordem, resulta na seguinte equação
ˆt
d X 1 0
i~ b(2)
n (t) = eiωnk t Vnk (t) eiωki t Vki (t0 )dt0 (7.23)
dt k
i~
0
Xˆ ˆt0
t
1 0 00
b(2)
n (t) = dt0 eiωnk t Vnk (t0 ) dt00 eiωki t Vki (t00 ) (7.24)
(i~)2 k 0 0
(q)
Analogamente para o coeficiente bn (t) tem-se que
Xˆ ˆt0 ˆ
t tq−1
1
b(q)
n (t) = dt0 eiωnk t0 Vnk (t0 ) dt1 eiωki t1 Vki (t1 ) . . . dtq eiωki tq Vki (tq ).
(i~)q k
0 0 0
Portanto, com essa abordagem, em princípio conseguimos resolver o problema, pois obtivemos
(q)
expressões fechadas para os coeficientes bn (t) .
Considerando somente as correções até primeira ordem, podemos escrever
ˆt
1 0
bn (t) = δni + eiωni t Vni (t0 )dt0 ,
i~
0
da qual nota-se que os cálculos em primeira ordem são confiáveis se |bn (t)| 1 com n 6= i. Se
essa condição for violada, os resultados obtidos se tornam inconsistentes.
X e−iEn t/~ ˆ
t
0
|ψ(t)i = e−iEi t/~ |ϕi i + eiωni t Wni (t0 )dt0 |ϕn i +
n
i~
0
ˆt
δn,i + 1 0
X
−iEn t/~
|ψ(t)i = e eiωni t Wni (t0 )dt0 +
n
i~
0
ˆt ˆt0
X 1 0 00
dt0 eiωnk t Wnk (t0 ) dt00 eiωki t Wki (t00 ) + · · · |ϕn i (7.27)
k
(i~)2
0 0
a qual tem uma forma similar a série de Dyson. Formalmente, a série Dyson é a solução para
a equação de Schrödinger para os elementos da matriz do operador de evolução temporal na
representação de interação, como veremos.
na qual
(0) (1) (2)
bf (t) = bf (t) + λbf (t) + λ2 bf (t) + · · · (7.29)
Agora então será considerado que os estados iniciais |ϕi i e finais |ϕf i são diferentes e que eles são
autoestados de H0 . Dessa forma está-se tratando somente com a transição, entre dois estados
estacionários distintos de H0 , induzida pela perturbação W (t) = λV (t). Considerando ainda
somente as correções em primeira ordem, pode-se escrever
(1)
Pif (t) = λ2 |bf (t)|2 , (7.30)
Considere uma função W̃if (t0 ), a qual é zero para t0 < 0 e para t0 > t, e igual a Wif (t0 )
no intervalo 0 ≤ t0 ≤ t, conforme ilustrado na figura 7.1, ou seja, estamos usando a chamada
aproximação súbita. A função W̃if (t0 ) é o elemento de matriz da perturbação “vista/sentida”
pelo sistema entre os instantes t = 0 e o instante t em que é realizada a medição, quando tenta-se
inferir o estado em que o sistema se encontra. O resultado (7.31) mostra que a probabilidade
de transição Pif (t) é proporcional ao módulo ao quadrado da transformada de Fourier da
W̃if (t0 )
t0
0 t
Figura 7.1: Representação da variação da função W̃if (t0 ) com relação a t0 . Note que W̃if (t0 ) coincide
com Wif (t0 ) no intervalo 0 ≤ t0 ≤ t, e vai a zero fora desse intervalo. É a transformada de Fourier de
W̃if (t0 ) que entra na probabilidade de transição Pif (t) de mais baixa ordem.
perturbação realmente “vista/sentida” pelo sistema W̃if (t0 ). Essa transformada de Fourier é
calculada na frequência angular de Bohr associada com a transição em consideração.
A seguir, será considerado o caso de um oscilador harmônico unidimensional que encontra-se
no estado fundamental |0i do hamiltoniano não perturbado H0 no instante t = −∞. Considere
que a perturbação
2 /τ 2
V (t) = −eEXe−t , (7.32)
ˆ+∞
1 2 2
bn (t = ∞) = (−eE)einωt hn|X|0i e−t /τ dt,
i~
−∞
e desde que
1/2
~
X= (a + a† ).
2mω
Dá relação acima, é óbvio que somente o termo b1 (t = ∞) 6= 0, pois a† |0i = |1i. Portanto,
pode-se escrever
1/2 ˆ+∞ 1/2 √
ieE ~ −t2 /τ 2 iωt ieE ~ 2 2
b1 (t = ∞) = e e dt = πτ 2 e−ω τ /4 .
~ 2mω ~ 2mω
−∞
e2 E 2 πτ 2 −ω2 τ 2 /4
P0→1 = |b1 (t = ∞)|2 = e . (7.33)
2m~ω
Prof. Salviano A. Leão 174
7.5. Perturbação súbita
Desde que o integrando do lado direito é finito, a integral é da ordem de ε. No limite em que
ε → 0, obtém-se que |ψ(ε/2)i = |ψ(−ε/2)i, ou seja,
Uma mudança instantânea em H não produz mudanças instantâneas no vetor de estado |ψi.
Agora o limite ε → 0 não é físico. A utilidade do resultado acima reside no fato de que é uma
excelente aproximação se H mudar durante um curto intervalo de tempo que é muito pequeno
em comparação com a escala de tempo natural do sistema. Este último pode ser estimado
semiclassicamente. Para o presente, vamos considerar o caso de um oscilador ao qual é aplicada
a perturbação Eq. (7.32). É claro que qualquer que seja a escala de tempo deste sistema,
a mudança no vetor de estado |ψi deve desaparecer quando τ , a largura do pulso gaussiano,
desaparecer. Isto significa, em particular, que o sistema inicialmente no estado fundamental
deve permanecer lá após o pulso, ou seja, a probabilidade de transição 0 → 1 deve desaparecer.
Sendo este um resultado exato, esperamos que se a probabilidade de transição for calculada de
forma perturbativa, ela deve desaparecer para qualquer ordem dada. (Isto é o mesmo que dizer
que, se uma função analítica se desvanece de forma idêntica, o mesmo acontece com todo termo
em sua expansão de Taylor.) Voltando à probabilidade de primeira ordem para 0 → 1 na Eq.
(7.32), vemos que, de fato, ela desaparece à medida que tende a zero.
Um problema mais realista, em que ε é fixo, envolve um elétron 1s ligado a um núcleo de
carga Z que sofre um decaimento β emitindo um elétron relativístico e mudando sua carga para
(Z + 1). O tempo que o elétron emitido leva para sair da camada n = 1 é
1 mL2
T ' ' (7.46)
ωmin ~
a qual coincide com a eq. (7.40). Esse resultado é até certo modo esperado, pois também
podemos reescrever o T da eq. (7.40) da seguinte forma
mL2 1 1
T ' ' (0) ∼ (7.47)
~ Ei /~ ωi
(0)
Portanto, T na eq. (7.40) também é dado por ∼ ~/Ei , enquanto T na eq. (7.46) é ∼
(0) (0)
~/|Ej − Ei |min . Desde que os níveis de energia de um sistema quântico são todos da mesma
ordem de magnitude (pode-se dizer que são da ordem do Rydberg ou ~ω), as energias e as
diferenças de energia são da mesma ordem de magnitude e as duas estimativas para T são
equivalentes, a não ser que os níveis de energia estejam muito proximamente degenerados. Nesse
caso, ele é da ordem de T ∼ 1/ωmin o que é verdadeiro, para expor a instabilidade de sistemas
degenerados ou proximamente degenerados. A seguir, para ilustrar apresentamos um exemplo
dessa situação.
Considere mais um exemplo do teorema adiabático, um oscilador submetido a perturbação
2 /τ 2
V (t) = −eEXe−t (7.48)
entre os instantes −∞ ≤ t ≤ ∞. Espera-se que se τ , o qual mede o tempo que V (t) leva para ir
de 0 até seu valor máximo, tender a infinito, a mudança no sistema será adiabática. portanto,
se um sistema inicia no estado fundamental de H(−∞) = H0 em t = −∞, ele irá terminar
no estado fundamental de H(∞) = H(−∞) = H0 . A expressão em primeira ordem (7.46),
para P0→1 conforme seu valor esperado e desaparece exponencialmente quando ωτ → ∞. A
expressão obtida nos diz que para valores de τ grandes isso significa que:
ωτ 1, τ 1/ω (7.49)
Isso é o que se espera de uma estimativa semiclássica ou estimando que T ∼ 1/ωmin e a condição
τ T.
O teorema adiabático sugere um modo de recuperarmos os resultados da teoria de perturbação
independente do tempo a partir da teoria dependente do tempo. Considere um hamiltoniano
H(t) o qual muda continuamente de H0 em t = −∞ para H0 + W em t = 0:
Quando τ , aumenta o tempo na exponencial, vai para infinito, o teorema adiabático assegura
que um autoestado n(0) de H0 em t = −∞ ira evoluir para os autoestados |ni de H no instante
t = 0. Se calcularmos o estado em t = 0 para uma dada ordem a teoria perturbação dependente
do tempo e tomar τ → ∞, iremos obter uma expressão independente do tempo para o estado
|ni daquela ordem. Para a primeira ordem, temos que a projeção do estado em t = 0 ao longo
do m(0) com m 6= n é
ˆ0
1
bm (t) = hm(0) |W |n(0) i et/τ eiωmn t dt
i~
−∞
1 hm(0) |W |n(0) i
= (7.51)
i~ 1/τ + iωmn
(0) (0)
(7.52)
En − Em
De fato, o τ → ∞ é trocado por um valor grande de τ . A equação (7.51) nos diz que um valor
grande de τ significa que: ele é definido por
|1/τ | |ωmin |
ou
τ 1/ωmin . (7.53)
Portanto viu-se que T ' 1/ωmin é de fato uma medição confiável da escala de tempo natural do
sistema. Em particular, se o sistema for degenerado (ou próximo disso), T → ∞ e ele torna-se
impossível, na prática, para mudar o estado do sistema adiabaticamente.
na qual
US (t, t0 ) = e−iH(t−t0 )/~ (7.55)
é o operador evolução temporal na representação de Schrödinger, quando o Hamiltoniano H
do sistema é independente do tempo. Mas quando ele depende do tempo o operador evolução
temporal satisfaz a seguinte equação
∂
i~ U (t, t0 ) = H(t)U (t, t0 ). (7.56)
∂t
Na representação de Schrödinger o valor esperado do operador OS , hOS i = hψS (t)|OS |ψS (t)i é
dado por
d 1 ∂OS
hOS i = h[OS , H(t)]i + h i (7.57)
dt i~ ∂t
no caso em que OS não depende explicitamente do tempo temos
d 1
hOS i = h[OS , H(t)]i (7.58)
dt i~
|ψH i = US† (t, t0 ) |ψS (t)i = US† (t, t0 )US (t, t0 ) |ψS (t0 )i = |ψS (t0 )i (7.59)
Note que US† (t, t0 )US (t, t0 ) = US (t, t0 )US† (t, t0 ) = 1, pois ele é unitário. Naturalmente temos que
hψS (t)|OS (t)|ψS (t)i = hψS (t0 )|US† (t, t0 )OS (t)US (t, t0 )|ψS (t0 )i (7.61)
= hψH |US† (t, t0 )OS (t)US (t, t0 )|ψH i (7.62)
tiramos que
OH (t) = US† (t, t0 )OS (t)US (t, t0 ) (7.64)
Portanto, vê-se que OH (t) irá depender do tempo, mesmo que o operador OS (t) = OS não
dependa do tempo.
Note então que
d d † † d
OH (t) = U (t, t0 ) OS (t)US (t, t0 ) + US (t, t0 ) OS (t) US (t, t0 )+
dt dt S dt
† d
US (t, t0 )OS (t) US (t, t0 )
dt
1 † † d
= − US (t, t0 )HS (t)OS (t)US (t, t0 ) + US (t, t0 ) OS (t) US (t, t0 )+
i~ dt
1
US† (t, t0 )OS (t) HS (t)US (t, t0 )
i~
1 † † † d
= − US (t, t0 )HS (t)US (t, t0 )US (t, t0 )OS (t)US (t, t0 ) + US (t, t0 ) OS (t) US (t, t0 )+
i~ dt
1 †
US (t, t0 )OS (t)US (t, t0 )US† (t, t0 )H(t)US (t, t0 )
i~
d 1 1 d
OH (t) = − HH (t)OH (t) + OH (t)HH (t) + US† (t, t0 ) OS (t) US (t, t0 )
dt i~ i~ dt
1 d
= [OH (t), HH (t)] + OS (t)
i~ dt H
Uma série interativa pode ser obtida, substituindo em |ψI (t0 )i o resultado acima, assim
ˆt ˆt0
1 1
|ψI (t)i = |ψI (t0 )i + dt WI (t0 ) |ψI (t0 )i + dt00 WI (t00 ) |ψI (t00 )i (7.73)
i~ i~
t0 t0
ˆt ˆt ˆt0
1 1
|ψI (t)i = 1 + dt0 WI (t0 ) + dt0 WI (t0 ) dt00 WI (t00 ) + · · · |ψI (t0 )i (7.74)
i~ (i~)2
t0 t0 t0
Vf i iωt
Vf i (t) = Vf i cos(ωt) = (e + e−iωt ) (7.76)
2
logo
ˆt
Vf i 0 0
b(1)
n (t) = dt0 (ei(ωni +ω)t + ei(ωni −ω)t )
2i~
0
Vf i 1 − ei(ωni +ω)t 1 − ei(ωni −ω)t
=− + (7.77)
2~ ωni + ω ωni − ω
Note que V (t) = V cos(ωt), torna-se uma constante independente do tempo no caso em que
ω = 0. Nesse caso, a probabilidade de transição Pif (t) induzida por uma perturbação constante
é dada por
|Wf i |2
Pif (t) = |1 − eiωf i t |2
~2 ωf2i
|Wf i |2
= 2 2
|(1 − cos(ωf i t)) − i sen(ωf i t)|2
~ ωf i
|Wf i |2
= 2 2 (1 − cos(ωf i t))2 + sen2 (ωf i t)
~ ωf i
|Wf i |2 |Wf i |2
= [1 − 2 cos(ω fi t) + 1] = 2 [1 − cos(ωf i t)]
~2 ωf2i ~2 ωf2i
2
|Wf i |2 4sen2 (ωf i t/2) |Wf i |2 sen(ωf i t/2)
= =
~2 ωf2i ~2 ωf i /2
|Wf i |2
Pif (t) = F (t, ωf i ), (7.80)
~2
em que
2
sen(ωf i t/2)
F (t, ωf i ) = (7.81)
ωf i /2
Para V (t) = V sen(ωt), o elemento de matriz Vf i (t) é dado por
Vf i iωt
Vf i (t) = Vf i sen(ωt) = (e − e−iωt ) (7.82)
2i
Prof. Salviano A. Leão 182
7.11. Perturbação senoidal acoplando dois estados discretos: o fenômeno da ressonância
logo
ˆt
Vf i 0 0
b(1)
n (t) =− dt0 (ei(ωni +ω)t − ei(ωni −ω)t )
2~
0
Vf i 1 − ei(ωni +ω)t 1 − ei(ωni −ω)t
= − (7.83)
2i~ ωni + ω ωni − ω
Para compreendermos o conteúdo físico das equações (7.80) e (7.84), analisaremos dois casos:
1. Probabilidade: os estados |ϕi i e |ϕf i são dois níveis discretos. Neste caso Pif (t; ω) ou
Pif (t) representa realmente uma probabilidade de transição a qual pode ser medida.
Vimos que a probabilidade de transição para uma perturbação senoidal pode ser escrita
como
|Wf i |2
Pif (t; ω) = |A+ (t, ω) + A− (t, ω)|2 (7.86)
4~2
na qual
1 − ei(ωf i ±ω)t
A± (t, ω) = (7.87)
ωf i ± ω
Note que
1 − ei(ωf i ±ω)t
A± (t, ω) =
ωf i ± ω
i(ωf i ±ω)t/2 sen[(ωf i ± ω)t/2]
= −ie
(ωf i ± ω)/2
Agora vamos analisar como é o comportamento desta função.
Ef Ei
|ϕf i |ϕi i
ω ≈ ωf i > 0
ω ≈ −ωf i < 0
Ei Ef
|ϕi i |ϕf i
Pif (t,ω)
A+ (t, ω) A− (t, ω)
0.8
∆ω ∆ω
0.6
0.4
0.2
−ωf i 0 ωf i
ω
Figura 7.3: Variação, com relação a ω da probabilidade de transição de primeira ordem Pif (t; ω),
associada com uma perturbação senoidal de frequência angular ω; com t fixo. Quando ω ' ωf i , surge
uma ressonância cuja intensidade é proporcional a t2 e cuja largura é inversamente proporcional a t.
4π
∆ω = (7.98)
t
|Wf i |2 t2
Pif (t; (ω − ωf i )t = 3π = (7.100)
9π 2 ~2
1 1
t ' (7.104)
|ωf i | ω
Portanto, a probabilidade de transição Pif (t; ω) dada por (7.93), só será válida se a perturbação
senoidal atuar durante um intervalo de tempo t, o qual é grande comparado com 1/ω. O
significado físico de tal condição é:
Nota
Durante o intervalo de tempo [0, t], a perturbação deve realizar nu-
merosas oscilações para se mostrar ao sistema como uma perturbação
senoidal. Porém, se t for pequeno comparado com 1/ω, a perturbação
não teria tempo para oscilar e seria equivalente a uma perturbação que
varia linearmente no tempo.
Para uma perturbação constante, a condição (7.104) nunca será satisfeita, já que ω = 0.
|Wf i |2 t2
Pif (t; ω) = (7.105)
4~2
então em intervalos de tempos o suficientemente longos, ou seja, t → ∞, esta função vai para
infinito, o que é um absurdo, já que uma probabilidade nunca pode ser maior do que um.
Portanto, para a aproximação de primeira ordem ser válida na ressonância, a probabilidade em
(7.105) deve ser menor do que um, isto é,
~
t (7.106)
|Wf i |
~
t
|Wf i |
Então para tempos maiores temos uma possibilidade seria: Determinar uma solução em
mais altas ordens perturbativas, ou seja,
(1) (2)
Pif (t; ω) = |λbf (t) + λ2 bf (t) + · · · |2 .
|ψ2 i E2
|ϕ2 i E2
~ω
∆
W (t)
|ϕ1 i E1
|ψ1 i E1
H = E1 |ϕ1 ihϕ1 | + E2 |ϕ2 ihϕ2 | + |ϕ1 i W12 hϕ2 | + |ϕ2 i W21 hϕ1 |
H = E1 + ∆ · K
na qual 1 é a matriz identidade e a matriz K é dada por
!
1 e−iφ tg(2θ)
K=
eiφ tg(2θ) −1
W
tg(2θ) =
∆E
com
0 ≤ θ ≤ π/2.
logo as raízes são λ± = ± sec(2θ) e com isso as energias são dadas por
E1 = E − ∆ sec(2θ) e E2 = E + ∆ sec(2θ)
H |ψi i = Ei |ψi i
Note que desde que os vetores de estados |ϕi i são ortonormais, ou seja
hϕi | ϕj i = δi,j
hψi | ψj i = δi,j
Acoplamento Forte: |W |/|∆ 1, nesse caso temos θ → π/4 e os estados da base {|ψ1 i , |ψ2 i}
tornam-se indistinguíveis.
Agora o autoestados do sistema são combinações simétricas e anti-simétricas dos estados
da base {|ϕ1 i , |ϕ2 i} ou seja:
1
|ψ1 i = √ (|ϕ1 i − |ϕ2 i)
2
1
|ψ2 i = √ (|ϕ1 i + |ϕ2 i)
2
O sinal do parâmetro ∆ indica quem é simétrico e quem é anti-simétrico. Pois para ∆ < 0,
temos que θ → −π/4, enquanto que para ∆ > 0, temos que θ → +π/4.
E −E
E1
E1
2|W | ∆
E2
E2
mas como
H(t) = |ψ1 i E1 hψ1 | + |ψ2 i E2 hψ2 |
na qual
Ei
ωi = .
~
Desde que no instante t = 0, temos que
|ψ(0)i = |ϕ1 i
Mas como
e como
hϕ2 |U (t, t0 )|ϕ1 i = −eiφ cos(θ) sen(θ)e−iω1 (t−t0 ) + eiφ cos(θ) sen(θ)e−iω2 (t−t0 )
= eiφ cos(θ) sen(θ) e−iω2 (t−t0 ) − e−iω1 (t−t0 )
Mas como,
hϕ2 |U (t, t0 )|ϕ1 i = ieiφ sen(2θ) sen (ΩR (t − t0 )) e−i(ω1 +ω2 )(t−t0 )/2 (7.110)
P21 (t; ω)
t
T 2T 3T 4T 5T 6T
Note que os termos proporcionais a e±i(ω−ω21 )t , oscilam lentamente quando ω ≈ ω21 enquanto os
termos proporcionais a e±iωt e e±i(ω+ω21 )t oscilam muito rapidamente.
Usando a aproximação secular, a qual consiste em negligenciar os termos que oscilam
rapidamente em detrimento daqueles que oscilam lentamente, em virtude disso os termos que
permanecem são chamados de termos “seculares”.
Note ainda que b1 (t) e b2 (t) variam muito pouco com o tempo. Portanto, nessa aproximação
a evolução temporal dos coeficientes b1 (t) e b2 (t) é dada por:
d 1
b1 (t) = − ei(ω−ω12 )t |W12 |b2 (t)
dt 2~
d 1 −i(ω−ω12 )t
b2 (t) = e |W21 |b1 (t)
dt 2~
b1 (0) = 1 e b2 (0) = 0,
são respectivamente
b1 (t) = cos(ΩR t)
b2 (t) = B sen(ΩR t),
Estados:
Energias:
|ϕi i
• Estado inicial, discreto: Ei
pf
δΩf
Feixe incidente
W (r) θ
z
0
Alvo
Considere o espalhamento de uma partícula sem spin por um potencial W (r) cujos estados
|ψ(t)i da partícula num instante t, podem ser expandidos sobre os estados |pi de momenta p
bem definidos e energias
p2
E=
2m
e cujas funções de onda ψ(r) são dados por
3
1
ψ(r) = hr | pi = eip·r/~ .
2π~
p2f
Ef =
2m
Como o detector possuí uma abertura angular δΩf finita, ele seleciona um pequeno espectro
de energia no intervalo Ef ± δEf . Considerando que Df representa o domínio dos estados no
espaço-p definido por estas condições, então a probabilidade de obtermos um sinal do detector é
ˆ
δP(pf , t) = d3 p | hp | ψ(t)i |2
pf ∈Df
Temos que
dp
d3 p = p2 dpdΩ = ρ(E)dEdΩ =⇒ ρ(E) = p2
dE
√
mas temos ainda que, p = 2mE e que
p2 p
E= =⇒ dE = dp
2m m
Logo
dp m √
ρ(E) = p2 = p2 = mp = m 2mE
dE p
e desta forma, a probabilidade de obtermos um sinal do detector pode ser escrita como
ˆ
δP(pf , t) = ρ(E)dEdΩ | hp | ψ(t)i |2
Ω∈δΩf
E∈δδEf
Mudança de Variáveis
• pelo conjunto de parâmetros β, os quais são necessários quando H0 , por si só, não constituí
um conjunto completo de observáveis que comutam entre si.
dα = ρ(β, E) dβ dE,
na qual δβf e δEf são respectivamente os intervalos de valores de β e E definidos pelo domínio
Df .
Aqui,
hψ(t) | ψ(t)i = 1.
d3 p = p2 dpdΩ = ρ(E)dEdΩ
F (t,ωf i )
• A função ρ(β, E)| hβ, E|W |ϕi i |2 geralmente varia muito lentamente com E.
• Consideraremos que t seja o suficientemente grande, para que a variação desta função no
intervalo de largura 4π~/t, centrado em E = Ei seja negligenciável.
Portanto, troncando F (t; ωf,i ) pela 2π~tδ(E − Ei ) na equação (7.112) a integração na energia
torna-se imediata.
δ℘(ϕi , αf , t) = 0 (7.115)
Note que:
• Uma perturbação constante só pode induzir uma transição entre estados de mesma energia.
• O sistema deve ter a mesma energia no intervalo 2π~/t para o estado inicial e final.
• Por isso que se o domínio δEf excluir a energia Ei , a probabilidade de transição é nula.
d
δW (ϕi , αf ) = δ℘(ϕi , αf , t) (7.116)
dt
é independente do tempo.
A densidade de probabilidade de transição por unidade de tempo e por intervalo unitário da
variável βf é:
δW (ϕi , αf )
w(ϕi , αf ) = (7.117)
δβf
Portanto temos que:
2π
w(ϕi , αf ) = | hβf , Ef = Ei |W |ϕi i |2 ρ(βf , Ef = Ei ) (7.118)
~
Ef ≈ Ei + ~ω.
2π
w(ϕi , αf ) = | hβf , Ef = Ei + ~ω|W |ϕi i |2 ρ(βf , Ef = Ei + ~ω) (7.119)
~
7.22 Exemplo
Considere o espalhamento de uma partícula sem spin por um potencial W cujos elementos
de matriz na representação |ri são:
2π
w(pi , pf ) =| hpf |W |pi i |2 ρ(Ef = Ei )
~
√
Para uma partícula livre vimos que ρ(Ef = Ei ) = m 2mEi , logo
6 ˆ 2
2π p 1 3 i(p −p )·r/~
w(pi , pf ) = m 2mEi d re i f W (r)
~ 2π~
• O estado inicial escolhido |pi i não é normalizável e não pode representar o estado físico
de uma partícula.
• Apesar da norma de |pi i ser infinita, o lado direito de w(pi , pf ) tem um valor finito.
obtemos ˆ 2
w(pi , pf ) m2 3 i(pi −pf )·r/~
= 2 4 d re W (r)
Ji 4π ~
que é a expressão para a seção de choque de espalhamento na aproximação de Born.
8.1 Introdução
Vimos que o acoplamento induzido por uma perturbação constante entre um estado inicial
discreto de energia Ei e um contínuo de estados finais (alguns dos quais têm uma energia igual
a Ei ) faz com que o sistema vá do estado inicial para esse continuo de estados finais. Mais
precisamente, a probabilidade de encontrar o sistema em um grupo bem definido de estados
do continuo no instante de tempo t aumenta linearmente com o tempo. Consequentemente, a
probabilidade Pii (t) de encontrar o sistema no estado inicial |ϕi i, no instante t deve diminuir
linearmente com o tempo a partir do valor Pii (0) = 1. É claro que este resultado é válido somente
intervalos de tempo curtos, uma vez que a extrapolação da diminuição linear de Pii (t) para
tempos longos levaria a valores negativos de Pii (t), o que é um absurdo para uma probabilidade.
Isto traz a tona o problema de determinar o comportamento do sistema após um longo tempo.
Encontramos um problema análogo quando estudamos as transições ressonantes induzida
por uma perturbação senoidal entre dois estados discretos |ϕi i e |ϕf i. A teoria de perturbação,
em primeira ordem, prevê uma diminuição de Pii (t) proporcional à t2 , a partir do valor inicial
de Pii (0) = 1. O método apresentado no complemento CXIII , mostra que o sistema realmente
oscila entre os estados |ϕi i e |ϕf i. A diminuição, com t2 encontrada pela teoria de perturbação
em primeira ordem, representa apenas o “início” da correspondente perturbação senoidal.
Poderíamos esperar encontrar um resultado análogo para o problema que iremos investigar
aqui, ou seja, as oscilações do sistema entre um estado discreto e o contínuo. Vamos mostrar
que este não é o caso: o sistema físico deixa o estado |ϕi i irreversivelmente. Encontraremos uma
diminuição exponencial e−Γt por Pii (t) (para os quais o tratamento de perturbativo dá apenas o
comportamento para tempos curto que é 1 − Γt). Portanto, a natureza contínua do conjunto
de estados finais faz com que a reversibilidade encontrada em complemento CXIII desapareça;
ela é responsável por uma deterioração do estado inicial, que adquire assim um tempo de vida
201
8.2. Descrição do modelo
Aqui E pode tomar uma infinidade de valores continuamente, distribuídos sobre uma porção do
eixo real incluindo Ei . Iremos considerar que E varia no intervalo
0 ≤ E ≤ ∞, ou seja, E ≥ 0. (8.3)
Cada estado |αi é caracterizado por sua energia E e um conjunto de outros parâmetros
os quais denotaremos por β. Portanto, o estado |αi pode ser escrito na seguinte forma |β, Ei.
Temos então que
dα = ρ(β, E) dβ dE (8.4)
se esses elementos diagonais não fossem zero, podíamos adicioná-los aos termos de H0 , o que
simplesmente mudaria o valor das energias não perturbadas). Similarmente iremos considerar
que W não pode acoplar dois estados discretos e nem dois estados do contínuo
Os únicos elementos não nulos de W são aqueles os quais conectam o estado discreto |ϕi i com os
estados do contínuo. Estes são os elementos hα|W |ϕi i, os quais são responsáveis pelo decaimento
do estado |ϕi i.
Antes de apresentarmos um novo método de resolver a equação de Schrödinger, apresentare-
mos os resultados da teoria de perturbação de primeira ordem.
Para declararmos a segunda condição em uma forma mais precisa, e para vermos, em particular,
se ela é compatível com (8.11), retornamos a expressão (7.112), na qual E e β não estão
vinculados a variar somente dentro do intervalo δβf e δEf . Procedendo conforme na seção 7.17,
integramos a densidade de probabilidade que aparece em (8.11), primeiro sobre β e depois sobre
E. Ao fazermos isso, surge a seguinte integral:
ˆ∞
1 E − Ei
dE F t, K(E) (8.12)
~2 ~
0
e com 2
E − Ei sen(ωt/2)
F t, = F (t, ω) = (8.14)
~ ω/2
a qual é a função de difração, com ω = (E − Ei )/~, centrada em E = Ei e de largura 4π~/t.
Seja ~∆ a largura de K(E): ~∆ representa então a ordem de magnitude da variação de E
necessária para K(E) mudar significantemente, conforme a figura ??. Logo para tempos t o
suficientemente grande tal que:
1
t (8.15)
∆
a função F (t, (E − Ei )/~) comporta-se como um função delta, com relação a função K(E).
Usando a relação (7.113) podemos escrever (8.12) na seguinte forma:
ˆ∞
2π 2πt
t dE δ (E − Ei ) K(E) = K(E = Ei ) = Γt, (8.16)
~ ~
0
desde que comparando (8.9) com (8.13), podemos ver facilmente que:
2π
K(E = Ei ) = Γ (8.17)
~
Novamente encontramos que o decréscimo linear que surge em (8.10) é válido somente se t
for grande o suficiente para satisfazer (8.15).
As condições (8.11) e (8.15), obviamente, são compatíveis somente se
∆ Γ. (8.18)
Pif (t,ω)
4π
∆ω = t
~∆
K(E)
F (t, E−E
~
i
)
Ei E
Figura 8.1: Na figura mostramos a variação da função K(E) e F (t, (E − Ei )/~) com relação a E. As
respectivas larguras das duas curvas são mostradas, sendo da ordem de ~∆ e 4π~/t. Para tempos t o
suficientemente longos, a função F (t, (E − Ei )/~) se comporta como um função delta, com relação a
função K(E).
considerando que esses coeficientes não variam muito com o tempo, podemos escrever
Projetando essa equação no estado |ϕi i e levando em conta como a perturbação W , acopla os
estados encontramos que
ˆ
d
i~ bi (t) = dα b(α, t)e−i(E−Ei )t/~ hϕi |W |αi . (8.22)
dt
d
i~ b(α, t) = bi (t)ei(E−Ei )t/~ hα|W |ϕi i . (8.23)
dt
O problema em questão, consiste em usar rigorosamente as equações (8.22) e (8.23) para
predizer como será o comportamento do sistema após um longo intervalo de tempo t, levando
em conta as seguintes condições iniciais
As hipóteses simplificadoras para o acoplamento W , implicam que o termo dbi (t)/dt depende
somente de b(α, t) e por sua vez o termo db(α, t)/dt depende somente de bi (t). Portanto, podemos
integrar a equação (8.22) levando em conta as condições iniciais (8.24), obtendo assim que
ˆ t ˆ
1 0 0
bi (t) = 1 + dt dα b(α, t0 )e−i(E−Ei )t /~ hϕi |W |αi , (8.25)
i~ 0
e ao integrar a equação (8.23) levando em conta as condições iniciais (8.24) têm-se que
ˆ t
1 0
b(α, t) = dt0 bi (t0 )ei(E−Ei )t /~ hα|W |ϕi i . (8.26)
i~ 0
Note que a equação (8.30) envolve somente os coeficientes bi (t), entretanto, ela não é mais
uma equação diferencial, mas sim uma equação integro-diferencial. Nesse caso, temos que o
termo dbi (t)/dt depende inteiramente da “história do sistema”, entre os instantes 0 e t.
A equação (8.30) é rigorosamente equivalente a equação de Schrödinger, entretanto, não
sabemos resolvê-la exatamente. A seguir serão apresentadas duas soluções aproximadas para
essa equação, sendo a primeira equivalente a teoria de perturbação em primeira ordem. Já a
segunda solução, permitirá que se investigue de forma satisfatória o comportamento do sistema
para intervalos de tempos longos.
cuja integração temporal não apresenta dificuldades. Introduzindo o fator Γ definido por
ˆ
2π 2π
Γ= dβ | hβ, E = Ei |W |ϕi i |2 ρ(β, E = Ei ) = K(E = Ei ) (8.32)
~ ~
e usando a relação
ˆ +∞ ˆ ∞
ikx ik(x+i) i 1
dk θ(k)e = lim+ dk e = lim+ = iP + πδ(x) (8.33)
−∞ →0 0 →0 x + i x
pode-se escrever
ˆ t
0 −i(E−Ei )τ /~ 1
lim dt e dτ = ~πδ (Ei − E) + iP . (8.34)
t→∞ 0 Ei − E
De acordo com (8.32) o primeiro termo de (8.35) é dado por −Γ/2. Fazendo
ˆ ∞
K(E)
δE = P dE (8.36)
0 Ei − E
então pode-se reescrever a equação (8.35) na seguinte forma
d 1 δE
bi (t) = − Γ − i . (8.37)
dt 2 ~
Ao integrarmos essa equação, usando a condição de que bi (0) = 1, encontra-se que
1 δE
bi (t) = 1 − Γ+i t. (8.38)
2 ~
Obviamente, que esse resultado só é válido se |bi (t)| diferir muito pouco de 1, isto é, se:
1 ~
t e t (8.39)
Γ δE
Essa é uma outra condição de validade, para a teoria de perturbação em primeira ordem.
Usando a expressão (8.38) pode-se calcular facilmente a probabilidade Pii (t) = |bi (t)|2 de
que o sistema ainda esteja no estado |ϕi i no instante t. Se neglicenciarmos os termos da ordem
de Γ2 e (δE)2 , essa probabilidade pode ser escrita como
produto dessas funções irá sofrer uma grande número de oscilações quando E for variada, e nesse
caso, a sua integral sobre E será negligenciável. Consequentemente, o módulo de g(Ei , t − t0 ) é
grande para t − t0 ≈ 0 e torna-se negligenciável tão rápido quanto t − t0 1/∆. Essa propriedade
significa que, para todo t, os únicos valores de bi (t0 ) que contribuem significantemente no lado
direito de (8.30) são aqueles os quais correspondem a um t0 muito próximo de t (t − t0 1/∆).
De fato, uma vez que a integração sobre E tenha sido realizada, este lado direito torna-se
ˆ t
d
bi (t) = dt0 g(Ei , t − t0 )bi (t0 ), (8.43)
dt 0
e vê-se que a presença do termo g(Ei , t − t0 ) praticamente elimina a contribuição de bi (t0 ) tão
rápido quanto t − t0 1/∆.
Portanto, a derivada dbi (t)/dt no instante t tem somente uma curta memória dos valores
prévios de bi (t) entre os instante 0 e t. Realmente ela só depende dos valores de bi (t) no instante
t imediatamente antes, isso é verdade para todos os instantes t. Essa propriedade permite que
essa equação integro-diferencial seja transformada em uma equação diferencial. Se bi (t) variar
muito pouco sobre um intervalo de tempo da ordem de 1/∆, o erro cometido ao trocar bi (t0 )
por bi (t) em (8.43) será pequeno. Esse procedimento resulta em:
ˆ t
d 0 0 1 δE
bi (t) = bi (t) dt g(Ei , t − t ) = − Γ+i bi (t) (8.44)
dt 0 2 ~
δE
Γ∆ e ∆, (8.45)
~
a qual já foi considerada como sendo satisfeita.
Para obter uma melhor aproximação, para todos os tempos t, integra-se a equação (8.44), a
qual é dada por
ˆ bi (t) ˆ t
dbi 0 1 δE
= dt − Γ−i ,
1 bi 0 2 ~
com a condição inicial bi (0) = 1, o que resulta em
A expansão em série Taylor no parâmetro complexo que multiplica o tempo na equação (8.46),
fornece em primeira ordem, nesse parâmetro, o mesmo resultado fornecido por (8.38).
Note que não foi imposto nenhum limite superior ao tempo t. Porém a integral
ˆ t
0 0 1 δE
dt g(Ei , t − t ) = − Γ+i ,
0 2 ~
a qual surge em (8.44), possui esse valor somente se t 1/∆, com foi mostrado na seção
anterior. Para tempos muito curtos, a teoria apresentada nessa seção está submetida as mesmas
limitações da teoria de perturbação; porém, ela possui a grande vantagem de ser válida para
tempos longos.
Agora ao substituir a expressão (8.46) na equação (8.26), obtém-se que
ˆ
1 t 0 i(E−Ei +i~Γ/2−δE)t0 /~
b(α, t) = dt e hα|W |ϕi i
i~ 0
ˆ
hα|W |ϕi i t 0 i(E−Ei +i~Γ/2−δE)t0 /~
= dt e (8.47)
i~ 0
a qual é uma expressão muito simples para a amplitude de probabilidade b(α, t). Após a
integração de (8.47), têm-se que
Pii (t)
1
1/e
τ = 1/Γ t
Figura 8.2: Gráfico da taxa de decaimento, ou seja, da probabilidade do estado inicial não decair, ou
seja, não transicionar para um outro estado.
ou se usarmos o fato de que dα = ρ(β, E)dβdE e trocarmos o bra hβ, E| pelo bra α, pode-se
escrever ˆ ∞
| hα|W |ϕi i |2
δE = P dα. (8.54)
0 Ei − E
A contribuição para essa integral, de um estado |αi qualquer do contínuo, para o qual E 6= Ei
é:
| hα|W |ϕi i |2
(8.55)
Ei − E
A equação (8.55) apresenta uma expressão cuja forma é similar a que surge da teoria de
perturbação estacionária. A equação (8.55) representa o deslocamento em energia do estado |ϕi i
devido ao acoplamento com o estado |αi do contínuo, em segunda ordem em W . Por sua vez,
δE é simplesmente a soma dos deslocamentos dos vários estados |αi do contínuo. Pode-se pensar
que irá surgir um problema para os estados |αi do contínuo, para os quais E = Ei : Realmente
a presença em (8.54) da parte principal P implica que as contribuições dos estados |αi situados
imediatamente acima do estado |ϕi i, compensa aquela dos estados situados imediatamente
abaixo.
Sem síntese temos:
1. O acoplamento do estado |ϕi i com o estado |αi de mesma energia é o responsável pelo
tempo de vida finito do estado |ϕi i, devido a função δ(E − Ei ) que surge em (8.34).
2. acoplamento do estado |ϕi i com o estado |αi de diferentes energias é o responsável por
um deslocamento na energia do estado |ϕi i. Este deslocamento pode ser calculado por
uma teoria de perturbação estacionária.
∼ 1
|b(α, t)|2 | hα|W |ϕi i |2 · (8.56)
t 1/Γ (E − Ei − δE)2 + ~2 Γ2 /4
1
dP(βf , Ef , t) = |hβf , Ef |W |ϕi i|2 ρ(βf , Ef ) · dβf , dEf , (8.57)
(Ef − Ei − δE)2 + ~2 Γ2 /4
dP(βf , Ef , t) 1
= |hβf , Ef |W |ϕi i|2 · ρ(βf , Ef ). (8.58)
dβf , dEf (Ef − Ei − δE)2 + ~2 Γ2 /4
Desde que |hβf , Ef |W |ϕi i|2 ρ(βf , Ef ) permanece praticamente constante quando Ef varia sobre
um intervalo da ordem de ~Γ, a variação da densidade de probabilidade com relação a Ef é
essencialmente determinada pela função (a lorentziana):
1
(8.59)
(Ef − Ei − δE)2 + ~2 Γ2 /4
~
~Γ = τ
Ei + δE Ef
Figura 8.3: Forma lorentziana, da distribuição de energia dos estados finais do sistema após o seu
decaimento de um estado discreto.
A figura 8.3 mostra a forma da distribuição de energia dos estados finais obtida pelo sistema
após o seu decaimento de um estado discreto. O resultado obtido, foi uma distribuição lorentziana
centrada em Ei + δE (a energia do estado discreto corrigida pelo deslocamento de energia δE,
devido ao acoplamento com o contínuo). Então, têm-se um tempo de vida curto para o estado
discreto, e uma larga distribuição de energia (uma relação de incerteza energia-tempo).
A distribuição de energia (8.59) dos estados finais, possui um máximo em Ef = Ei + δE,
isto é, quando a energia do estado final é igual aquela do estado inicial |ϕi i, corrigida pelo
deslocamento de energia δE.
A forma da distribuição é a de uma lorentziana de largura ~Γ, chamada “largura natural”
do estado |ϕi i. Portanto, surge uma dispersão na energia dos estado finais. A largura ~Γ (isto
é, o tempo de vida curto τ = 1/Γ do estado discreto), significa uma grande dispersão. Mais
precisamente
~
∆Ef = ~Γ = . (8.60)
τ
Note novamente a analogia entre a expressão (8.60) e a relação de incerteza energia-tempo.
Na presença do acoplamento W , o estado |ϕi i pode ser observado somente durante um tempo
finito, da ordem do seu tempo de vida τ . Quando desejamos determinar sua energia, medindo
aquela do estado final do sistema, a incerteza ∆E do resultado não pode ser menor do que ~/τ .
9.1 Introdução
Aqui as equações de Maxwell serão usadas no sistema internacional de unidades SI para
descrever o campo eletromagnético.
∂D(r, t)
∇ × H(r, t) = j(r, t) + Lei de Ampère-Maxwell (9.1b)
∂t
∂B(r, t)
∇ × E(r, t) = − Lei de Faraday (9.1c)
∂t
1
D(r, t) = E(r, t) e B(r, t) = µH(r, t) e c= √
0 µ0
215
9.2. Equações de Maxwell
d2
Fα = m rα (t) = qα [E(rα (t), t) + vα (t) × B(rα (t), t)] . (9.2)
dt2
e com a segunda lei de Newton, elas fornecem a descrição completa da dinâmica clássica da
interação de partículas carregadas e dos campos eletromagnéticos. Note que a equação (9.2) só
é válida para partículas lentas, ou seja, partículas não relativísticas (vα c).
A partir de (9.1a) e de (9.1b) pode-se mostrar que
∂
ρ(r, t) + ∇ · j(r, t) = 0. (9.3)
∂t
Essa equação, conhecida como equação da continuidade, expressa a conservação global da carga
elétrica ˆ
Q= d3 r ρ(r, t). (9.4)
As expressões de ρ(r, t) e de j(r, t) como uma função das variáveis das partículas são
ρ(r, t) = P q δ [r − r (t)]
α α α
P (9.5)
α qα vα (t)δ [r − rα (t)]
j(r, t) =
É importante notar que nas equações de Maxwell (9.1), r não é uma variável dinâmica como
rα (t), mas um parâmetro contínuo que rotula as variáveis do campo no espaço.
As equações de Maxwell (9.1) só podem ser resolvidas na forma em que estão escritas em
situações simples. Muitas vezes é conveniente introduzir potenciais, obtendo um número menor
de equações de segunda ordem, satisfazendo identicamente a algumas das equações de Maxwell.
Já estamos familiarizados com este conceito na eletrostática e na magnetostática, onde usamos
o potencial escalar ϕ(r, t) e o potencial vetor A(r, t).
∂A(r, t) ∂A(r, t)
E(r, t) + = −∇φ(r, t) ou E(r, t) = −∇φ(r, t) − (9.8)
∂t ∂t
A definição de B(r, t) e de E(r, t) em termos dos potenciais A(r, t) e φ(r, t), de acordo com (9.6)
e (9.8), satisfaz identicamente ás duas equações homogêneas de Maxwell. O comportamento
dinâmico de A(r, t) e de φ(r, t) será determinado pelas duas equações não-homogêneas em (9.1).
Como D(r, t) = E(r, t) então
∂A(r, t) ∂A(r, t)
D(r, t) = −∇φ(r, t) − = − ∇φ(r, t) + , (9.9)
∂t ∂t
desta forma podemos reescrever a lei de Gauss da seguinte forma:
∂ 1
∇2 φ(r, t) + [∇ · A(r, t)] = − ρ(r, t). (9.10)
∂t
Agora iremos reescrever a lei de Ampère-Maxwell usando a eq. (9.8) e o fato de que
H(r, t) = µ1 B(r, t) = µ1 ∇ × A(r, t), desta forma,
∂ ∂A(r, t)
∇ × [∇ × A(r, t)] = µj(r, t) + µ −∇φ(r, t) − (9.11)
∂t ∂t
mas como, ∇ × (∇ × A) = ∇ (∇ · A) − ∇2 A, então
∂ 2 A(r, t)
2 ∂φ(r, t)
∇ A(r, t) − µ − ∇ ∇ · A(r, t) + µ = −µj(r, t) (9.12)
∂t2 ∂t
Agora reduzimos o conjunto das quatro equações de Maxwell a duas equações, as quais
podem ser escritas como
∂ 1
∇2 φ(r, t) + [∇ · A(r, t)] = − ρ(r, t) (9.13a)
∂t
2
∂ A(r, t) ∂φ(r, t)
∇2 A(r, t) − µ − ∇ ∇ · A(r, t) + µ = −µj(r, t) (9.13b)
∂t2 ∂t
Estas equações ainda estão correlacionadas. O desacoplamento de ambas pode ser realizado
explorando o fato da arbitrariedade que está implícita na definição dos potenciais vetor e escalar.
Uma vez que B está definido pela eq. (9.6) em termos de A(r, t), o potencial vetor é arbitrário
a menos do gradiente de uma função escalar χ(r, t), que lhe pode ser adicionado sem alterar a
forma de B(r, t). Então B(r, t) fica invariante sob a seguinte transformação de calibre (calibre)
∂χ(r, t)
φ(r, t) −→ φ0 (r, t) = φ(r, t) − . (9.15)
∂t
A liberdade envolvida em (9.14) e em (9.15) significa que podemos escolher um conjunto de
potenciais {A0 (r, t), φ0 (r, t)} de tal modo que as equações (9.10) e (9.12) se desacoplem, e para
que isto ocorra devemos ter que
∂φ0 (r, t) ∂φ(r, t)
∇ · A0 (r, t) + µ = ∇ · A(r, t) + µ = 0. (9.16)
∂t ∂t
o que nos leva a condição extra
∂ 2 χ(r, t)
∇2 χ(r, t) − µ = 0. (9.17)
∂t2
Com isto, o par de equações (9.10) e (9.12) fica desacoplado e se têm duas equações de onda
não-homogêneas, uma para φ(r, t) e outra A(r, t):
∂ 2 φ(r, t) 1
∇2 φ(r, t) − µ 2
= − ρ(r, t) (9.18)
∂t
∂ 2 A(r, t)
∇2 A(r, t) − µ = −µj(r, t) (9.19)
∂t2
As equações (9.18) e (9.19), juntamente com a eq. (9.16), formam um conjunto de equações
equivalentes, sob todos os pontos de vista, às equações de Maxwell.
∇ · A(r, t) = 0. (9.24)
1
∇2 φ(r, t) = − ρ(r, t) (9.25)
com a solução ˆ
ρ (r0 , t)
φ (r, t) = 0
d3 r0 (9.26)
4π |r − r |
O potencial escalar é exatamente o potencial coulombiano instantâneo, devido à densidade de
carga ρ (r, t). Esta é a origem da denominação calibre de Coulomb.
O potencial vetor satisfaz à equação de onda não-homogênea,
∂ 2 A(r, t) ∂φ(r, t)
∇2 A(r, t) − µ = −µj(r, t) + µ∇ (9.27)
∂t2 ∂t
O termo de corrente que envolve o potencial pode, em princípio, ser calculado a partir da
equação (9.26). Uma vez que ele envolve o operador gradiente, é um termo irrotacional, ou seja,
tem o rotacional igual a zero. Isto sugere que ele possa anular uma parcela correspondente da
densidade de corrente. A densidade de corrente (ou qualquer campo vetorial) pode ser escrita
como a soma de dois termos,
juntamente com
1
∇ 2
= −4π δ (r − r0 ) , (9.30)
|r − r0 |
pode-se mostrar que j` (r, t) e jt (r, t) podem ser construídas explicitamente a partir de j(r, t),
conforme as expressões (teorema de Helmholtz, ver George Arfken [2, ver pág. 74–78]) :
ˆ
1 ∇0 · j (r0 , t) 3 0
j` (r, t) = − ∇ dr (9.31)
4π |r − r0 |
ˆ
1 ∇0 × j (r0 , t) 3 0
jt (r) = ∇× dr (9.32)
4π |r − r0 |
Com a ajuda da equação da continuidade (9.3) e da equação (9.26), pode-se ver que
∂φ(r, t) ∂ 1
∇ = ∇φ(r, t) = j` (r, t) . (9.33)
∂t ∂t
Portanto, a fonte para a equação de onda de A(r, t) pode ser expressa inteiramente em termos
da corrente transversal (9.32):
∂ 2 A(r, t)
∇2 A(r, t) − µ = −µjt (r, t) (9.34)
∂t2
Esta é, conforme é claro, a origem da denominação calibre transversal. O nome calibre de
radiação provém do fato dos campos de radiação transversais serem dados apenas pelo potencial
vetor, enquanto que por sua vez o potencial de Coulomb instantâneo contribui somente para os
campos a distâncias pequenas. Este calibre é especialmente útil na eletrodinâmica quântica.
Uma descrição quântica dos fótons necessita somente da quantização do potencial vetor.
O Calibre de Coulomb ou transversal é frequentemente usado quando não existem fontes.
Então φ(r, t) = 0, e A(r, t) satisfaz à equação de onda homogênea. Os campos são dados por
∂A(r, t)
E(r, t) = − ∂t
(9.35)
B(r, t) = ∇ × A(r, t)
pode ser físico. Uma observação é a de que a corrente transversal (9.32) envolve uma integração
sobre todo o espaço.1
A solução explicita para a função de calibre é obtida realizando uma integração no tempo
da primeira equação de (9.37), o que resulta em
ˆ
χ(r, t) = φ(r, t)dt + const. (9.38)
Para verificar que ∇ · j(r, t) = 0, vamos tomar o divergente da equação de Maxwell (9.1b), o
que resulta em
∂
∇ · (∇ × H(r, t)) = ∇ · j(r, t) + ∇ · D(r, t),
∂t
1
Ver O. L. Brill e B. Goodman, Am. J. Phys. 35, 832 (1967) com uma discussão detalhada sobre a causalidade
no calibre de Coulomb.
∇ · j(r, t) = 0.
´ 0
Calculando separadamente a integral V µαk · µαk0 d3 r, temos
ˆ ˆ
3 ˆk,α · ˆk0 ,α0 0
µk,α · µk0 ,α0 d r = ei(k+k )·r d3 r,
V
ˆV
µk,α · µk0 ,α0 d3 r = ˆk,α · ˆk0 ,α0 δk,−k0 ,
ˆV
µk,α · µk0 ,α0 d3 r = δαα0 δk,−k0 .
V
Porém como
Ċk,α (t) = −iωk Ck,α (t), (9.49)
ˆ ˆ
1 0
3
d r(∇ × µk,α ) · (∇ × µ∗k0 ,α0 ) d3 r[ik × ˆk,α eik·r ] · [−ik0 × ˆ∗k0 ,α0 e−ik ·r ],
=
V
ˆV V ˆ
3 ∗ 0 ∗ 1 0
d r(∇ × µk,α ) · (∇ × µk0 ,α0 ) = (k × ˆk,α ) · (k × ˆk0 ,α0 ) d3 rei(k−k )·r ,
V V
ˆV
d3 r(∇ × µk,α ) · (∇ × µ∗k0 ,α0 ) = (k × ˆk,α ) · (k0 × ˆ∗k0 ,α0 )δkk0 ,
V
No entanto,
0 c2 X 2 ∗ ∗ ∗ ∗
HB = k Ck,α (t)C−k,α (t) + Ck,α (t)Ck,α (t) + Ck,α (t)Ck,α (t) + Ck,α (t)C−k,α (t) ,
2 k,α
0 X 2 ∗ ∗ ∗ ∗
HE = ωk Ck,α (t)C−k,α (t) + Ck,α (t)Ck,α (t) + Ck,α (t)Ck,α (t) + Ck,α (t)C−k,α (t) . (9.52)
2 k,α
Usando os resultados obtidos para HE , eq. 9.50, e HB , eq. 9.52, e substituindo esses
resultados em 9.45, obtemos que a energia do campo eletromagnético será dado por;
X
∗
H = 20 ωk2 Ck,α (t)Ck,α (t). (9.53)
k,α
Como Ck,α (t) = Ck,α (0)e−iωk t , então vemos que os termos dependentes do tempo devidos as
campos elétricos e magnéticos, se cancelam, como esperado, já que o Hamiltoniano de um sistema
fechado deve se independente do tempos, já que o mesmo é uma constante de movimento.
Dirac [45] ao obter está equação, a reconheceu como sendo a equação do oscilador harmônico,
conforme John S. Townsend [38, section 14.2, pag. 408].
A astúcia de Dirac, deve-se a observação de que Ck,α (t) = Ck,α (0)e−iωk t , logo
Podemos, obter uma forma mais adequada para o Hamiltoniano, definindo novas variáveis;
√ ∗
Qk,α = 0 (Ck,α (t) + Ck,α (t)) (9.55)
e
√ ∗
Pk,α = −iωk 0 (Ck,α (t) − Ck,α (t)). (9.56)
com
√ ∗ ∂H
Q̇k,α = −iωk 0 (Ck,α (t) − Ck,α (t)) = Pk,α = (9.63)
∂Pk,α
e
√ ∗ ∂H
Ṗk,α = −ωk2 0 (Ck,α (t) + Ck,α (t)) = −ωk2 Qk,α = − . (9.64)
∂Qk,α
Portanto, vemos que formalmente o campo eletromagnético pode ser considerado como sendo
um conjunto de osciladores harmônicos independentes. Este fato, é geralmente o ponto de
partida para a dedução do espectro da radiação do corpo negro de Planck. Nessa aproximação,
a densidade de energia eletromagnética é determinada como o número de modos (osciladores)
em um determinado intervalo de frequências multiplicada pela energia média de cada oscilador.
o Ingrediente fundamental na solução clássica da catástrofe do ultravioleta de Rayleigh, a qual
surge do fato de que nesse modelo cada oscilador harmônico contribui com uma energia média
KT . Notem que a quantização é imposta sobre os termos dependentes do tempo do campo.
Note ainda, que as duas variáveis canônicas introduzidas são independentes do tempo.
ωk Qk,α + iPk,α
ak,α = √ , (9.67a)
2~ωk
ωk Qk,α − iPk,α
a†k,α = √ , (9.67b)
2~ωk
onde [ak,α , a†k0 ,α0 ] = δkk0 δαα0 e [ak,α , ak0 ,α0 ] = [a†k,α , a†k0 ,α0 ] = 0.
Note que
ωk i
ak,α =√ Qk,α + Pk,α (9.68a)
2~ωk ωk
r
ωk √ 20 ωk
=√ · 2 0 Ck,α (t) = Ck,α (t) (9.68b)
2~ωk ~
Como
1
a†k,α ak,α = (ωk Qk,α − iPk,α )(ωk Qk,α + iPk,α ),
2~ωk
1
a†k,α ak,α = [(ωk Qk,α )2 + (Pk,α )2 + iωk Qk,α Pk,α − iωk Pk,α Qk,α ],
2~ωk
1
a†k,α ak,α = [(ωk Qk,α )2 + (Pk,α )2 − ωk ~],
2~ωk
então,
1 † 1
(ωk Qk,α )2 + (Pk,α )2 =
ak,α ak,α + ~ωk , (9.69)
2 2
logo o operador Hamiltoniano do campo livre é dado por,
X † 1
H= ak,α ak,α + ~ωk . (9.70)
k,α
2
Aqui Nk,α é interpretado como o autovetor que possui o seguinte autoestado |nk,α i com um
autovalor dando o número de fótons no estado cujo modo do campo é dado por ν = (k, α). O
fator 1/2 representa a energia de ponto zero de um oscilador Harmônico. Usando a notação
ν = (k, α) para o respectivo modo do campo, o operador número é agora dado por
Nν = a†ν aν (9.72)
e consequentemente
X 1
H= Nν + ~ωk . (9.73)
ν
2
Note que o índice k = |k|, está incluso na soma em ν.
Então nesse ponto, surge a seguinte questão: quais são os vetores de estados que esse operador
atua?
Denotando a energia de um único modo de oscilador ν, associada ao autovetor |nν i, com
nν = 0, 1, 2, . . . são os números quânticos usuais do oscilador, e aqui dizem quantos fótons
estão associados ao modo ν do oscilador. Esses kets podem expandir o espaço de estados Eν
associados com um único modo, o qual é o espaço no qual os operadores Qν e Pν (para um dado
valor de ν) atuam. O ket de todo espaço de estados Eem do campo eletromagnético é dado pelo
produto tensorial dos espaços de estados de cada modo, ou seja,
Y
Eem = ⊗Eν . (9.74)
ν
sendo um número para cada modo do campo, seus auto estado são agora escritos como
Este estado é tal que para todos os valores de ν = (k, α), temos
ou ainda
Y 1
†
nk,α
nk1 ,α1 , nk2 ,α2 , . . . , nk
j ,αj
, . . . = p a k,α |0i (9.84)
k,α
n k,α !
a†kj ,αj |0i = |0k1 ,α1 i ⊗ |0k2 ,α2 i ⊗ · · · ⊗ a†kj ,αj 0kj ,αj ⊗ · · ·
(9.85)
= |0k1 ,α1 i ⊗ |0k2 ,α2 i ⊗ · · · ⊗ 1kj ,αj ⊗ · · · (9.86)
o que significa que todos os osciladores exceto aquele especificado pelo índice vetorial k e pelo
estado da polarização α estão no estado fundamental.
A energia desse estado é determinada atuando o operador Hamiltoniana nele,
X † 1
H |1k,α i = ~ωk0 ak0 ,α0 ak0 ,α0 + |1k,α i (9.88)
0
k ,α 0
2
chamando
1X
E0 = ~ωk0 (9.89)
2 k0 ,α0
e observando que
a†k,α ak,α |1k,α i = |1k,α i (9.90)
enquanto
a†k0 ,α0 ak0 ,α0 |1k,α i = 0 Para k 6= k0 ; α 6= α0 (9.91)
segue então
H |1k,α i = (E0 + ~ωk ) |1k,α i (9.92)
Portanto, a energia adicionada ao modo ν = (k, α) do sistema pela ação do operador número
Nk,α = a†k,α ak,α é ~ωk .
a∗k,α . Mas usando diferentes ordenamentos pode-se obter o Hamiltoniano (9.70), ou um outro
tendo duas vezes a energia do ponto zero, ou um que não tem energia do ponto zero. Sem
usar qualquer processo de racionalização, em geral usa-se a última abordagem, de modo que o
hamiltoniano do campo eletromagnético toma a seguinte forma
X
H= Nk,α ~ωk (9.94)
k,α
ou
X
h. . . , nk,α , . . . |H| . . . , nk,α , . . .i = nk,α ~ωk .
k,α
a†k,α |nk,α i =
p
nk,α + 1 |nk,α + 1i (9.95)
e que
√
ak,α |nk,α i = nk,α |nk,α − 1i (9.96)
Portanto, é natural chamarmos o operador a†k,α de operador de criação de um fóton, já que ele
aumenta por um o número de fótons de um estado. Similarmente chamamos o operador ak,α de
operador aniquilação de um fóton, já que ele reduz em um o número de fótons de um estado.
Pode-se criar um estado com nk,α fótons, cada um com momentum ~k e polarização ˆk,α ,
atuando o operador criação a†k,α nk,α vezes sobre o estado de vácuo, ou seja,
nk,α
†
ak,α
|nk,α i = p |0i (9.97)
nk,α !
Figura 9.1: Duas placas perfeitamente condutoras eletricamente neutras e paralelas entre si são
atraídas uma pela outra, devido a flutuação do vácuo quântico. Efeito previsto teoricamente por
Hendrik B. G. Casimir em 1948 [?] e confirmada experimentalmente por Steven Lamoreaux em 1996 [?]
lentamente. É como o trabalho realizado por um gás quando o volume de seu recipiente é
aumentado. Deste modo, a energia do estado fundamental ~ω/2 pode ser acessada. Há muitas
outras maneiras de demonstrar que a energia de ponto zero de um oscilador mecânico é real.
No caso do campo eletromagnético que não podemos mudar as frequências dos modos, mas
podemos mudar a estrutura dos modos com os condutores que mudam as condições de contorno
satisfeitas pelo campo eletromagnético. Por exemplo, vamos considerar um capacitor de placas
paralelas. Para simplificar considere que as ondas eletromagnéticas do espaço serão modificadas
a partir do que seria no espaço vazio, devido à presença dos condutores [?]. Em particular, as
ondas de luz entre as placas têm uma estrutura de modo semelhante as autofunções de uma
dada energia de uma partícula dentro de uma caixa.
Se o campo electromagnético na presença das placas for quantizado, obtém-se um oscilador
harmônico para cada modo, tal como na ausência das placas, e a energia total de ponto zero
ainda é infinita. Mas verifica-se que é possível fazer a diferença entre a energia infinita do ponto
zero na presença das placas, e aquela da ausência das placas, e que ela faz sentido e o resultado
é finito [?, ?, 25], para maiores detalhes do cálculo veja por exemplo Greiner [?, 14] ou o artigo
original. Ou seja, pode-se entender a diferença entre dois infinitos. Esta diferença pode ser
interpretada como uma mudança da energia do estado fundamental do campo quando as placas
são introduzidos. Acontece que ela depende da distância entre as duas placas [?, ?, 8, 26]. Assim,
obtém-se a previsão de que, como a distância entre as placas é variável, o trabalho tem de ser
feito para compensar a variação na energia de ponto zero. Isto é, deve haver uma força entre as
placas. Este é o chamado efeito Casimir, pois sua existência foi prevista teoricamente pelo físico
holandês Hendrik Brugt Gerhard Casimir em 1948 [?] e confirmada experimentalmente pelo
físico norte americano Steven Ken Lamoreaux em 1996 [?]. O efeito Casimir é um dos vários
fenômenos que fornecem provas convincentes para a realidade do vácuo quântico - o equivalente
em mecânica quântica de que, na física clássica, poderia ser descrito como o espaço vazio.
O efeito Casimir foi testado experimentalmente, e os resultados estão de acordo com a teoria.
As experimentos atuais não usam um par de placas metálicas, já que é experimentalmente difícil
mantê-las exatamente paralela, mas a ideia básica é a descrita aqui. Tem havido um interesse
renovado no efeito Casimir, nos últimos anos, por causa de aplicações física em uma escala
nanométrica.
Embora a força de Casimir pareça ser completamente absurda, atualmente ela já é bem
compreendida. Nos velhos tempos da mecânica clássica o vácuo era o que restava quando
esvaziava-se um recipiente de todas as suas partículas e baixava-se sua temperatura até o zero
absoluto. A chegada da mecânica quântica, no entanto, mudou completamente a nossa noção
de um vácuo. Todos os campos - em particular campos electromagnéticos - possuem flutuações.
O vazio não é realmente vazio. Ele está cheio de partículas virtuais, que estão em um estado
contínuo de flutuação. Um par virtual de partícula antipartícula pode ser criado a partir de
vácuo e em seguida aniquilado voltando a vácuo. Estas partículas virtuais existem por um
tempo muito curto ditado pela relação de incerteza de Heisenberg.
∆E · ∆t = ~
Os fótons (os quanta das ondas eletromagnéticas) são as partículas virtuais dominantes nas
flutuações do vácuo, mas outras partículas também são produzidas.
Um vácuo não é simplesmente “nada”, mas é melhor descrito como uma superposição de
muitos estados diferentes do campo eletromagnético. Assim, a criação e subsequente absorção
de fótons pelo vácuo implica que há flutuações do vácuo.
No entanto, as flutuações do vácuo não são uma abstração da mente de um físico. Elas têm
consequências observáveis que pode ser observadas diretamente em experiências realizadas em
uma escala microscópica. Por exemplo, um átomo em um estado excitado não permanecerá
lá por um tempo infinitamente longo, mas vai voltar ao seu estado fundamental, emitindo um
fóton espontaneamente. Este fenômeno é uma consequência das flutuações de vácuo. A força
de Casimir é o mais famoso efeito mecânico de flutuação do vácuo. A força de Casimir surge
entre dois espelhos no vácuo, como uma consequência da pressão de radiação de flutuação do
vácuo [?].
Casimir realizou seu cálculo para uma configuração geométrica em que prepara-se duas
placas perfeitamente condutoras (espelhos), eletricamente neutras e paralelas entre si no vácuo,
conforme ilustrado pela figura 9.1.
Essencialmente o efeito Casimir deve-se:
• ao fato de que o espaço entre as duas placas é diferente do espaço externo a elas, e
consequentemente a flutuação do vácuo é diferente em ambas as regiões.
• ao fato de que a flutuação do vácuo exerce diferentes forças sobre os lados internos e
externo das placas, o que resulta em uma pressão líquida que aproxima as placas.
• além dos fótons há outras partículas que também fornecem uma pequena contribuição,
porém somente a força devida aos fótons é mensurável;
• os fótons são bósons pois obedecem a estatística de Bose-Einstein, e todos os bósons assim
como os fótons exercem uma força atrativa enquanto os férmions, partículas que obedecem
a estatística de Fermi-Dirac, exercem uma força repulsiva.
Note que a energia do ponto zero não é apenas uma energia infinita, ela é uma densidade de
energia infinita. Isso é porque está sendo usada uma caixa de normalização, então quando
divide-se o (infinito) da energia de ponto zero pelo volume V da caixa, ainda obtém-se um
resultado infinito. Foi dito anteriormente, que para a maioria dos processos físicos somente as
diferenças de energia é que são importantes, mas há um lugar no qual a quantidade absoluta de
energia é importante, e esse é o caso da gravidade. Como a energia e massa estão relacionadas
por E = mc2 , a energia corresponde a massa que produz campos gravitacionais. Uma densidade
de massa infinita, obviamente, não faz sentido na teoria gravitacional, mas pode-se argumentar
que a soma sobre modos na soma em (9.93) para a energia do ponto zero deve ser interrompida
(cortada) quando o comprimento de onda torna-se comparável ao comprimento de Planck. Isto
fornece uma densidade de energia muito grande, mas finita no espaço [?, ?]. A densidade de
energia é uma componente do tensor de esforços e energia, que é a fonte do campo gravitacional
na relatividade geral. As outras componentes do tensor de esforços e energia associado com o
ponto de zero do campo também pode ser calculado, e elas dão origem a um termo de fonte nas
equações de Einstein para o campo gravitacional que é da forma Λgµν , isto é, eles têm a mesma
forma que o termo cosmológico, onde Λ é a constante cosmológica. Observações recentes dão
um valor numérico pequeno e positivo para a constante cosmológica. Infelizmente, o valor de Λ
obtido a partir da a dinâmica do ponto de zero dos campos quânticos é muito maior do que o
valor observado (algo por um fator da ordem de 10120 ). Ninguém sabe a razão para esta grande
discrepância, mas subsiste a suspeita de que a dinâmica do ponto zero de campos quânticos
têm algo a ver com o termo cosmológica na relatividade geral, e, portanto, com a expansão do
universo.
hipótese originalmente proposta por Max Planck que foi desenvolvida por Albert Einstein, a
qual interpretava o estado quântico com o número quântico nν com como aquele contendo nν
fótons, cada com uma energia~ωk .
Foi Max Planck quem propôs que a energia transferida entre a radiação e a matéria deveria
ocorrer em unidade de ~ω. Porém foi Albert Einstein que insistiu que a energia no campo
deveria ser restrita a múltiplos inteiros de ~ω (isto é, a energia em um modo de frequência ω).
Ele também sugeriu que estes quantum de energia deveriam ser associados com partículas, isto
é, partículas de luz. Na época todo mundo achava que Einstein era louco, mas no final, ele
provou estar certo. O termo fóton foi cunhado por Gilbert N. Lewis em 1926 (Veja a origem da
palavra fóton [21]).
Atualmente o fóton é dito ser o quantum da radiação eletromagnética (o que inclui a luz),
dentro do contexto da física de partículas elementares ele é interpretado como a partícula
elementar mediadora da força eletromagnética.
A troca de fótons “virtuais” entre as partículas como os elétrons e os prótons é descrita pela
eletrodinâmica quântica, a qual é a parte mais antiga do Modelo Padrão da física de partículas.
Ele interage com os elétrons e núcleo atômico sendo responsável por muitas das propriedades da
matéria, tais como a existência e estabilidades dos átomos, moléculas, e sólidos.
Assim, temos o início da interpretação de partícula dos estados quânticos que pertencem
ao espaço de estados do campo eletromagnético livre quantizado Eem . Na discussão a seguir,
esta interpretação será gradualmente aperfeiçoada, analisando-se sucessivamente o momentum,
momentum angular e de spin e a estatística destas partículas chamada de fóton. No desen-
volvimento a seguir, sera visto que o formalismo desenvolvido para a quantização do campo
eletromagnético livre incorpora uma descrição via mecânica quântica de um sistema no qual as
partículas podem ser criadas ou destruídas, de modo que o número de partículas é variável. As
partículas em questão são fótons, que podem ser criados em números arbitrários em energias
arbitrariamente baixas, porque eles possuem massa.
A)
B) C)
Figura 9.2: Absorção de fótons por um disco negro. A)Um disco negro recua ao absorver fótons. B) e
C) A taxa de rotação aumenta ao absorver fótons circularmente polarizados, seja para a direita |Ri ou
para a esquerda |Li [?].
Note que classicamente os campos são funções dos coeficientes aν e a∗ν , os quais estão
relacionados aos coeficientes Cν (t) pela equação (9.68b). Agora iremos reescrever os campos em
termos os coeficientes aν e a∗ν , para obtermos os respectivos operadores quânticos. Substituindo
os coeficientes Cν (t) pelos aν nas expressões dos campos obtém-se que
r
~
Ck,α (t) = · ak,α (t) (9.100)
20 ωk
logo o potencial vetor e os campos serão dados por
r
~ X 1
A(r, t) = √ ˆk,α ak,α (t)eik·r + ˆ∗k,α a†k,α (t)e−ik·r , (9.101a)
20 V k,α ωk
r
~ X√
E(r, t) = − ωk iˆk,α ak,α (t)eik·r − iˆ∗k,α a†k,α (t)e−ik·r , (9.101b)
20 V k,α
r
~ X 1 h i
i (k × ˆk,α ) ak,α (t)eik·r − i k × ˆ∗k,α a†k,α (t)e−ik·r
B(r, t) = √ (9.101c)
20 V k,α ωk
Aqui, assim como na teoria clássica de campos, as coordenadas r e o tempo t não são nada
mais do que meros parâmetros dos campos, porém agora os campos são operadores, já que o seu
lado direito é expresso por uma combinação linear dos operadores ak,α (t) e a†k,α (t). Portanto,
agora A(r, t), E(r, t) e B(r, t) são operadores de campo que atuam sobre o espaço de estados do
campo eletromagnético livre quantizado Eem . Eles são os nossos primeiros exemplos de campos
quânticos.
Note que, assim como os campos clássicos são reais, estes campos quânticos são Hermitianos.
Como de costume na mecânica quântica, os operadores hermitianos correspondem a medidas que
podem ser feitas em um sistema físico, e tais medidas estão sujeitas a flutuações estatísticas e
as restrições do princípio da incerteza. Veremos que esses elementos estão presentes na medição
dos campos electromagnéticos quantizados.
Retornando ao momentum, a expressão 9.99 para P é clássica. O campos clássicos E e
B que surgem no integrando de (9.42) podem ser expandidos como combinações lineares dos
coeficientes aν e a∗ν , de acordo com as equações (9.43) e (9.44). Mas quando substituir um aν e
a∗ν por um aν e a†ν , a fim de obter a expressão quantizada para P, surge a questão da ordenação
adequada dos coeficientes clássicos aν e a∗ν . Poder-se-ia seguir simplesmente a ordem dada pelo
produto de E × B, mas isso, como se vê leva a um momentum de ponto zero infinito, bem
como a energia de ponto zero na equação (9.93). Gostaríamos de ter h0|P|0i = 0, portanto,
o momentum do vácuo desapareceria. Isso pode ser feito se na ordem de aν e a∗ν da fórmula
clássica, colocarmos todos os a∗ν à esquerda dos aν e, depois de substituir um aν e a∗ν por um aν
e a†ν . Então, quando o valor esperado do momentum P do vácuo for calculado, haverá sempre
um operador aniquilação atuando a esquerda do ket do vácuo|0i, ou um operador de criação ao
lado direito do bra do vácuo h0|, e o resultado será nulo.
Com um procedimento análogo ao do cálculo da energia, encontra-se que o operador momento
é
X
P = ~k(a†k,α ak,α + ak,α a†k,α ) (9.102)
k,α
X 1 X
P = (Nk,α + )~k = ~k Nk,α (9.103)
k,α
2 k,α
pois cada vetor k da soma será cancelado pelo vetor −k. Portanto, o valor esperado do operador
momentum no estado de vácuo é
P |0i = 0. (9.105)
Considerando o efeito de H e P sobre o estado de um único fóton;
1
E 2 = m2 c4 + |P|2 c2 m2 = 2 2 2
=⇒ E − |P| c
c4
logo
1
m2 = 2 2
(~ωk ) − (~|k|c) = 0.
c4
Poderia se ter começado com uma expansão de A(r, t) comˆk,± no lugar de ˆk,1 e ˆk,2 . Um
estado de fóton único com polarização circular definida pode ser construído aplicando-se o
operador de criação
1
a†k,± = ∓ √ a†k,1 ± ia‡k,2
2
ao estado de vácuo |0i. Por outro lado, a†k,α |0i, com α = 1, 2 e k = kêz estando na direção z,
esse estado pode ser considerado como uma mistura de 50% dos estado com m = +1 e m = −1.
Como foi dito antes, o rótulo α no estados de um fóton |nk,α i indicam o seu estado de
polarização. Por exemplo, para um fóton viajando na direção k = kêz , o estado de um fóton
|1k,1 i é um fóton com polarizaçãoêx enquanto o estado |1k,2 i indica um estado de um fóton com
polarizaçãoêy . Em particular o estado polarizado circularmente a direita é dado por
1
|Ri = a†k,+ |0i = − √ (|1k,1 i + i |1k,2 i)
2
1 †
= − √ ak,x |0i + ia†k,y |0i
2
enquanto o fóton circularmente polarizado a esquerda é dado por
1
|Li = a†k,− |0i = √ (|1k,1 i − i |1k,2 i)
2
1 † †
= √ ak,x |0i − iak,y |0i
2
Para resumir, o postulado quântico aplicado às variáveis canônicas da radiação oscilante
conduz naturalmente à ideia de que as excitações do campo de radiação da mecânica quântica
podem ser consideradas como partículas de massa zero e spin um. É uma característica geral
da teoria quântica de campos que, com todos os campos que nós associamos uma partícula de
massa definida e spin. Os argumentos que apresentamos podem ser repetidos para a quantização
de outros campos praticamente sem modificações.
Usando a teoria quântica do campo eletromagnético, pode-se verificar que esses estados
correspondem respectivamente aos autoestado de momentum angular +~ e −~, ao longo da
direção do momentum do fóton, verificando que
J·k 1 † † 1 † †
√ ak,x |0i + iak,y |0i = ~ √ ak,x |0i + iak,y |0i
|k| 2 2
e que
J·k 1 †
1 †
† †
√ ak,x |0i − iak,y |0i = −~ √ ak,x |0i − iak,y |0i .
|k| 2 2
Note que o operador momentum angular do campo eletromagnético é dado por
ˆ
J = 0 d3 r r × (E × B) . (9.108)
V
O fóton possui um spin intrínseco de valor um. Dá física clássica sabe-se que há um momento
angular no campo eletromagnético dado pela expressão (9.108). Por exemplo, o disco negro
representado na fig. 9.2 irá começar a girar em torno do seu eixo, se o campo electromagnético
incidente sobre o disco for circularmente polarizado. Mas é claro que esse fenômeno é devido
somente à mecânica quântica desde que seu momento angular é quantizado em unidades de ~.
Devido ao valor do spin do fóton, ele obedece a estatística de Bose-Einstein, qual permite que
diversas partículas compartilhem o mesmo estado, e portanto é um bóson. Isto é confirmado por
(9.97), a qual mostra que há mais do que um fóton com o mesmo momentum ~k e polarização
α no mesmo estado. Esta conexão entre o spin e a estatísticas entrou realmente na teoria na
escolha de que os operadores de criação e aniquilação dos fótons obedecem relações de comutação.
Uma forma alternativa de conectar a mecânica quântica com a teoria de campos, dá-se pelas
relações de anticomutação, a qual limita o número de partículas que podem estar no mesmo
estado de uma partícula.
comutam com A(r, t), E(r, t) e B(r, t), uma vez que os campos são uma soma de operadores de
criação e aniquilação. Portanto, esses observáveis não podem ser determinados simultaneamente
com um grau de precisão arbitrário.
Observáveis correspondentes a operadores que não comutam tem um princípio de incerteza
entre eles. Portanto, não pode-se fixar o número de fótons e conhecer os campos exatamente.
Flutuações no campo ocorrerá mesmo no estado de vácuo, onde sabemos que não há fótons.
É claro que o valor médio do vetor campo eléctrico ou magnético é zero, por simetria. Para
se ter uma ideia sobre o intensidade das flutuações do campo, devemos olhar para o valor
quadrático médio do campo, por exemplo, no estado de vácuo.
Se o número de fótons for aproximadamente fixo, como no caso do estado de vácuo, então deve
existir uma incerteza na intensidade dos campos. Para verificarmos isso considere o operador do
campo elétrico,
r
~ Xp 0 0 0
E(r, t) = − ωk iˆk0 ,α0 ak0 ,α0 (t)eik ·r − a†k0 ,α0 (t)e−ik ·r (9.110)
20 V k0 ,α0
pois
X ~ωk 0 0
hnν |E · E† |nν i = ˆν 0 · ˆν 00 hnν | (aν 0 (t)eik ·r − a†ν 0 (t)e−ik ·r )× (9.112)
ν 0 ,ν 00
20 V
00 ·r 00
(a†ν 00 (t)e−ik − aν 00 (t)eik ·r ) |nν i (9.113)
X ~ωk0
= hnν |(aν 0 a†ν 0 + a†ν 0 aν 0 )|nν i (9.114)
ν0
20 V
X ~ωk0
= hnν |(2a†ν 0 aν 0 + 1)|nν i (9.115)
ν0
20 V
X ~ωk 1
= nν + δν,ν 0 (9.116)
ν 0
0V 2
Devido ao fator 1/2 vê-se que essa soma é infinita, logo para o estado do vácuo temos que
Portanto, nos casos em que os números de ocupação estão fixados, a intensidade dos campos
ficam completamente indeterminados [33]. Esse cálculo é ilustrativo ainda que a resposta seja
infinita. Basicamente, um termo proporcional a aν a†ν primeiro cria um fóton para em seguida
absorvê-lo dando uma contribuição diferente de zero para cada modo de oscilador. Soma-se
infinitos termos, mas devido aos seus infinitos comprimentos de onda infinitamente curtos, a
soma diverge. Mais uma vez, faz sentido em renormalizar a energia máxima.
O efeito dessas flutuações de campo sobre as partículas é mitigado pela mecânica quântica.
Na realidade, qualquer partícula quântica será distribuída ao longo de um volume finito e sua
área média sobre o volume pode fazer com que a partícula experimente uma força.
Por outro lado, uma vez que ao medirmos por um corpo de teste, é a intensidade média do
campo em alguma região do espaço que estamos medindo, portanto pode-se ser mais realista
ao considerar-se o valor médio do operador de campo sobre um ponto, por exemplo, a origem,
definido por ˆ
1
Ē = E d3 r
∆V ∆V
3
no qual ∆V = (∆`) é o volume de um cubo de lado ∆`, que contém o ponto em questão.
Pode-se mostra então que
~c
h0|Ē · Ē|0i ∼ .
(∆`)4
Esse resultado caracteriza as flutuações da intensidade do campo elétrico do vácuo quando não
há fótons presentes. Em geral se o conjunto de números de ocupação for aproximadamente fixo,
então o campo elétrico e o campo magnético não terão um valor preciso, mas apresentarão uma
flutuação em torno de um determinado valor.
Uma outra característica peculiar do campo de radiação quantizado, é que as componentes
dos campos E(r, t) e B(r, t) não necessariamente comutam. Temos por exemplo que
∂
[Ex (r, t), By (r0 , t)] = i~c δ (r − r0 ) .
∂z
Prof. Salviano A. Leão 239
9.12. Flutuações e relações de incerteza
Portanto, disso segue que não se pode determinar simultaneamente os campos E(r, t) e B(r, t)
no mesmo ponto do espaço com um certo grau arbitrário de precisão. Porém, é possível mostrar
que 2
t − t0
0 0 2
[Ex (r, t), By (r , t)] = 0 para (r − r ) − 6= 0.
c
Portanto, não há qualquer interferência entre as medidas da intensidade dos campos realizadas
em dois pontos do espaço-tempo, separados por uma distância a qual não pode ser conectada
por um sinal de luz. Esse resultado está em conformidade com o princípio da causalidade da
teoria da relatividade especial.
Sabe-se da óptica clássica que um feixe de luz localizado ou convergente pode ser construído
por uma superposição de várias ondas planas com relações de fase definidas. Por este motivo,
será considerado o operador de fase φk,α associado com um dado modo do campo ν = (k, α), de
tal modo que o observável correspondente é a fase da onda plana em questão, no sentido da
óptica clássica. Isso pode ser feito através das seguinte definições
p p
na qual o operador Nk,α , satisfaz a propriedade ( Nk,α )2 = Nk,α . O Campo de radiação
p
quantizada pode ser escrito de modo tal que os únicos operadores que surgem são Nk,α e φk,α :
r
1 XX ~ h i
ˆk,α ei(k·r−ωt+φk,α ) Nk,α + Nk,α ˆk,α e−i(k·r−ωt+φk,α ) ,
p p
A(r, t) = √
V k α 20 ωk
o qual, possui um forma conveniente para ser usada na discussão que conecta com a descrição
clássica. As relações de comutação para os operadores ak,α e a†k,α (para um dado modo ν = (k, α))
podem agora ser escritas como para um modo qualquer como
eiφ N e−iφ − N = 1,
eiφ N − N eiφ = eiφ ,
na qual os índices do modo ν = (k, α) foram suprimidos. É fácil provar, expandindo-se cada
exponencial, que cada relação de comutação acima é satisfeita se N φ − φN = i. Isso, nos conduz
a uma nova relação de incerteza para os correspondentes observáveis:
∆N ∆φ & 1.
Por exemplo, se a diferença de fase de duas componentes de uma onda plana é dada
precisamente, então não se pode dizer qual é o número de ocupação associado a cada uma das
componentes da onda.
Hamiltoniano de Interação
Ao considerar uma onda plana monocromática com uma frequência wk = ωδk0 ,k e polarização
ξˆα = êz , e vetor de onda k = kêy a expansão do potencial vetor A(x, t) acima tomará a seguinte
k
forma
1
Ckα (0)eiky e−iωt + Ckα∗ (0)e−iky eiωt êz ,
A(r, t) = √
V
a qual é ilustrada na figura 10.1.
Agora, chamando
Ckα (0)
A= √ (10.1)
V
temos então que
A(r, t) = Aeiky e−iωt + A∗ e−iky eiωt êz .
241
10.1. Onda Plana Eletromagnética
Como temos uma onda, então é sempre possível considerar um calibre no qual
U (r, t) =0 (10.2a)
A(r, t) = Aei(ky−ωt) + A∗ e−i(ky−ωt) êz
(10.2b)
10.1.1 Campos E e B
Como
∂
E(r, t) = −∇U (r, t) − A(r, t) e B(r, t) = ∇ × A(r, t) (10.3)
∂t
então
Definindo,
1 1
E = iωA e B = ikA com E, B ∈ < (10.6)
2 2
em que E e B são duas quantidades reais tais que
E ω
= = c. (10.7)
B k
temos
1
E(r, t) = E ei(ky−ωt) + e−i(ky−ωt) êz
(10.8)
2
1 i(ky−ωt)
+ e−i(ky−ωt) êx
B(r, t) = B e (10.9)
2
E aqui, E e B são as amplitudes dos campos elétrico e magnético da onda plana considerada.
O Vetor de Poynting S associado a essa onda plana é:
[P − qA(R, t)]2 q
H= + V (R) + qU (R, t) − S · B (10.16)
2m m
• Os termos qA(R, t) e qU (R, t) vem da interação do elétron com o campo eletromagnético
da onda plana. Note que eles dependem da escolha de calibre, que aqui U (R, t) = 0.
P · P − q(P · A + A · P) + q 2 A · A q
H= + V (R) − S · B (10.17)
2m m
A diferença entre P · A e A · P pode ser determinada pela ação destes operadores em uma
função de onda arbitrária ψ(x),
Desde que ψ(r) é uma função de onda arbitrária, a relação acima pode ser escrita como uma
relação entre operadores:
P · A − A · P = −i~ (∇ · A) , (10.18)
P · A + A · P = 2P · A + i~ (∇ · A)
P · A + A · P = 2A · P − i~ (∇ · A)
Como é sempre possível escolher um potencial vetor A de tal modo que ∇ · A = 0, e esta
escolha de calibre é conhecida como calibre de Coulomb, e ela é feita frequentemente. Note que
para a onda plana representada pelo potencial vetor A(R, t), temos que a relação ∇ · A = 0 é
mantida. Deste modo, a forma geral do hamiltoniano na representação das coordenadas é
P2 q q2 2 q
H= + V (R) − P · A(R, t) + A (R, t) − S · B (10.19)
2m m 2m m
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10.3. Luz de Baixa Intensidade
H = H0 + W (t) (10.20)
em que
q
WI (t) = − P · A(R, t) (10.24)
m
q
WII (t) = − S · B (10.25)
m
Note ainda que, para um estado ligado do elétron, a ordem de magnitude dos
WII (t) (q/m)~kA ~k
' = (10.26)
WI (t) (q/m)pA p
Devido a relação de incerteza para o momentum de um estado ligado do elétron temos que
~
a0 p ' ~ =⇒ ' a0 . (10.27)
p
Como para um átomo temos que a0 ' 0.529 Å e o comprimento de onda λ da onda plana
incidente está relacionado com o seu número de onda por k = 2π/λ. Como λ a0 , temos então
que
WII (t) a0
' 1 (10.28)
WI (t) λ
Portanto, inicialmente considerar somente o termo WI (t), para em seguida considerar também
o termo WII (t).
qE
WDE (t) = Pz sen(ωt), (10.34)
mω
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10.6. Calibre Alternativo
d hRi 1 hPi qE
= h[R, H0 + WDE ]i = + êz sen(ωt) (10.36)
dt i~ m mω
d hPi 1
= h[P, H0 + WDE ]i = − h∇V (R)i (10.37)
dt i~
Eliminando hPi destas duas equações, obtemos
d2 hRi
m = − h∇V (R)i + qE êz cos(ωt) (10.38)
dt2
Esta expressão diz que o centro do pacote de ondas associado ao elétron move-se como uma
partícula de massa m e carga q a qual está submetida a ação da força central da ligação atômica
e de um campo elétrico uniforme.
0
WDE (t) = −D · E = −qEZ cos(ωt) (10.39)
U (r, t) =0
E
A(r, t) = êz sen(ky − ωt).
ω
Agora considere a seguinte função escalar
E
χ=z sen(ωt) (10.40)
ω
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10.6. Calibre Alternativo
na qual
W 0 (t) = qU 0 (R, t) = −zqE cos(ωt) = WDE
0
(t). (10.46)
Esta é a Hamiltoniana de interação de dipolo-elétrico usual.
Note que o sistema não é mais descrito pelo mesmo ket quando fazemos uma transfor-
0
mação de calibre. A troca de WDE (t) por WDE (t) deve portanto, ser acompanhada
por uma mudança do vetor de estado, entretanto, o conteúdo físico, realmente
permanece o mesmo.
e consequentemente
ωf i
hϕf |WDE |ϕi i = iq E sen(ωt) hϕf |Z|ϕi i . (10.54)
ω
Portanto, os elementos de matriz de WDE (t) são proporcionais a Z.
10.7 Comentários
• O elemento de matriz hϕf |Z|ϕi i, depende somente de Z, porque o campo elétrico E(r, t),
foi escolhido na direção z.
• Deve-se usar as simetrias dos estados |ϕf i e |ϕi i e não a polarização da luz, para escolher
o sistema de coordenadas. Por exemplo, se um átomo está na presença de um campo
magnético uniforme B(r, t), o eixo mais conveniente para estudar a quantização dos seus
estados estacionários é o eixo paralelo ao campo magnético B(r, t).
• Se hϕf |WDE |ϕi i = 0, devemos levar em conta os termos de mais alta ordem na expansão
de W (t), e com isso as correspondentes transições serão uma transição de dipolo magnético
ou uma transição de quadrupolo elétrico, ou etc . . . .
• Como WDE (t) é muito maior do que os termos subsequentes da expansão em série de W (t)
em a0 /λ, as transições de dipolo elétrico serão as mais intensas.
Considere que as funções de onda na representação |Ri, associadas aos estados |ϕi i e |ϕf i são:
hR | ϕ i = ϕ mi
i ni ,li ,mi (r) = Rni ,li (r)Yli (θ, ϕ)
m
. (10.55)
hR | ϕ i = ϕ
f (r) = R
nf ,lf ,mf (r)Y f (θ, ϕ)
nf ,lf lf
Como,
r
4π 0
z = r cos θ = rY (θ), (10.56)
3 1
então o elemento de matriz hϕf |Z|ϕi i é proporcional a integral
ˆ
mf ∗
dΩ Ylf (θ, ϕ) Y10 (θ, ϕ) Ylimi (θ, ϕ) = δli ±1,lf δmi ,mf (10.57)
Para maiores detalhes dos possíveis resultados destas integrais, vejam a seção 12.9 do livro
“Mathematical Methods For Physicists” by George B. Arfken and Hans J. Weber. Outras
informações podem ser obtidas na pág 1047 do livro do Cohen-Tannoudji.
Portanto, para haja uma probabilidade finita de transição é necessário que:
∆l = lf − li = ±1 (10.58)
∆m = mf − mi = −1, 0, +1 (10.59)
• Note que Z é um operador ímpar, e portanto, ele só conecta dois estados com paridades
opostas. Já que as paridades dos estados |ϕi i e |ϕf i são definidas pelos índices li e lf , logo
∆l deve ser ímpar, neste caso ∆l = ±1.
• Se escolhermos uma outra polarização, por exemplo, uma paralela ao eixo Ox ou ao eixo
Oy, nesses casos teremos mf = mi ± 1.
Usando as expansão destes vetores da base nos kets |lmi |s, ms i encontramos
∆J = 0, ±1 (10.61)
∆l = ±1 (10.62)
∆mJ = −1, 0, +1 (10.63)
Note ainda que ∆J = 0 não é uma transição proibida, a não ser no caso em que Ji = Jf = 0.
Isso, deve-se ao fato de que J não está relacionado com a paridade do estado no nível específico.
W (t) = WI (t) + WII (t) = WDE (t) + [WI (t) − WDE (t)] + WII (t), (10.64)
a qual é uma Hamiltoniana de interação que está levando em contas termos de ordem maior que
a0 /λ. Note, o primeiro termo já é conhecido e é da ordem de a0 /λ, enquanto os outros dois não.
Na expressão anterior para W (t) temos que
qE
WDE (t) = Pz sen(ωt) gauge U (R, t) = 0 (10.71)
m
WDE (t) = −ZqE cos(ωt) gauge A0 (R, t) = 0 (10.72)
q
WDM (t) = − (Lx + 2Sx )B cos(ωt) (10.73)
2m
q
WQE (t) = − [Y Pz + ZPy ]E cos(ωt) (10.74)
2mc
Aqui WDM (t) e WQE (t) são respectivamente as Hamiltonianas de dipolo magnético e de quadru-
polo elétrico, e além disso, são da mesma ordem de magnitude. Note que na expressão para
WQE (t), trocamos B por E/c.
• Como nem Lx e nem Sx mudam o número quântico l, temos então que ∆l = 0 para todo l.
• Como Lx muda o autovalor mL de Lz por ±1, então temos que ∆mL = ±1.
• Como Sx muda o autovalor mS de Sz por ±1, então temos que ∆mS = ±1.
• Note ainda que se o campo magnético da onda incidente for paralelo ao eixo Oz, temos
que ∆mL = 0 e ∆mS = 0.
∆l = 0 (10.76)
∆mL = ±1, 0 (10.77)
∆mS = ±1, 0 (10.78)
∆l = 0 (10.79)
∆J = ±1, 0 (10.80)
∆mL = ±1, 0 (10.81)
Y Pz + ZPy = Y Pz + Py Z (10.83)
m
= {Y [Z, H0 ] + [Y, H0 ]Z} (10.84)
i~
m
= (Y ZH0 − H0 Y Z) (10.85)
i~
Portanto, a Hamiltoniana de interação de quadrupolo elétrico pode ser reescrita como
q
WQE (t) = − (Y ZH0 − H0 Y Z) E cos(ωt) (10.86)
2i~c
Logo, o elemento de matriz é
q
hϕf |WQE |ϕi i = ωf i hϕf |Y Z|ϕi i E cos(ωt) (10.87)
2ic
Dessa forma, pode-se interpretar WQE (t) como a interação do momentum de quadru-
polo elétrico do átomo com o gradiente do campo elétrico da onda plana incidente.
Portanto, vemos que o produto Y Z é dado por uma combinação linear de r2 Y21 , ou seja,
Para maiores detalhes dos possíveis resultados destas integrais, vejam a seção 12.9 do livro
“Mathematical Methods For Physicists” by George B. Arfken and Hans J. Weber. Outras
informações podem ser obtidas na pág 1047 do livro do Cohen-Tannoudji.
∆l = 0, ±2 e ∆m = ±1. (10.100)
Entretanto, quando consideramos uma onda incidente com polarização arbitrária está última
relação torna-se ∆m = ±2, ±1, 0 e as regras de seleção da transição de quadrupolo elétrico
podem ser escritas como
∆l = 0, ±2
(10.101)
∆m = 0, ±1, ±2
COMENTÁRIOS
• WDM e WQE são operadores pares, logo conectam somente estados com a mesma paridade.
• Para uma dada transição WDM e WQE nunca competem com a transição WDE , e isso,
facilita a observação das transições de dipolo magnético e de quadrupolo elétrico.
10.10.5 COMENTÁRIOS
• A maioria das transições ocorrem no domínio da micro-ondas ou da rádio-frequência – em
particular as transições por ressonância magnética – são transições por dipolo magnético.
• Para uma transição na qual ∆l = 0 e ∆m = 0, ±1, os dois operadores WDM e WQE tem
simultaneamente elementos de matriz não-nulos.
• Portanto, é possível encontrar uma condição experimental sobre a qual somente transições
de dipolo magnético são induzidas. Neste caso o que precisamos é colocar o átomo, não
na trajetória da onda plana, mas dentro de uma cavidade ressonante ou numa bobina de
rádio-frequência, no ponto em que B é grande e o gradiente de E é negligenciável.
• Para uma transição na qual ∆l = 2, WDM não compete com WQE , e temos uma transição
de quadrupolo elétrico pura. Como um exemplo dessa transição pode-se mencionar a linha
verde do oxigênio atômico (λ = 5577 Å), a qual aparece no espectro da aurora boreal.
• Sobre o efeito desta excitação o átomo adquire um momento de dipolo elétrico hDi (t)
o qual oscila numa frequência angular ω (uma oscilação forçada) e é proporcional a E
quando E é pequeno, regime de resposta linear.
• Estes resultados são muito importantes no estudo das propriedades ópitcas dos materiais.
+ + + + + +
+ + + + + + + +
+ + + + + +
+ + ++
+ +
+ +
d
− −
− −
−− −−
− − − − − −
− − − − − − − −
− − −
− − −
Figura 10.4: Distribuição eletrônica de carga de um átomo, sob a ação de um campo elétrico uniforme.
P = 0 χE + χ(2) E2 + χ(3) E3 + · · · = 0 χe E
(10.102)
χe = χ + χ(2) + χ(3) + · · ·
Consideraremos que o campo elétrico devido a luz seja pequeno o suficiente, de modo que
somente o primeiro termo, ou seja, o termo linear no campo elétrico seja considerado. χe é a
susceptibilidade do material 0 é a permissividade dielétrica do vácuo (espaço livre).
Na ausência dos efeitos dos portadores livres, as equações de Maxwell mostram que uma
onda eletromagnética se propagará através do material com uma velocidade
c2 c2 c2
v2 = = =
ε /0 1 + χe
r Energia de dissociação
Harmônico
Morse
Energia
n=7 De D0
n=6
n=5
n=4
n=3
n=2
n=1
n=0
e ao tomarmos a parte real, obtemos o resultado físico. Uma solução de (10.103) é obtida
substituindo x(t) = x(ω)e−iωt na equação acima, obtendo
N e2 1
P (ω) = −N ex(ω) = 2 2
E(ω). (10.106)
m (ω − ω0 + i2ωγ)
O coeficiente complexo entre P (ω) e E(ω) é definido como sendo a susceptibilidade óptica
ξ(ω). Para um oscilador amortecido, essa susceptibilidade óptica é
N e2
1 1
χ(ω) = − . (10.107)
2m0 ω00 ω − ω0 + iγ ω + ω00 + iγ
0
Aqui q
ω00 = ω02 − γ 2 (10.108)
• Para uma discussão um pouco mais profunda, veja capítulo 1 do livro: "Quantum theory of
the Optical and Electronic Properties of Semiconductors" por Hartmut Haug and Stephan
W. Koch, Fourth Edition World Scientific, 2004.
Como
W (t) = −eZE(t) = −DE(t) (10.110)
aqui trocamos o limite inferior de integração para −∞ porque iremos considerar que estamos
ligando o campo elétrico adiabaticamente.
Para resolvermos a integral em (10.116), expressamos o campo elétrico através de sua
transformada de Fourier, ˆ
dω
√ E(ω)e−iωt eγt
E(t) = lim (10.117)
γ→0 2π
Introduzimos o fator de chaveamento adiabático eγt , para assegurar que E(t) → 0 quando
t → −∞. Veremos que o parâmetro de chaveamento γ desempenha o mesmo papel do parâmetro
de amortecimento do oscilador harmônico amortecido clássico. A existência de γ garante que a
susceptibilidade óptica resultante tenha polos somente na metade inferior do plano complexo,
isto é, a causalidade é obedecida. Por uma questão de simplicidade de notação, não iremos
carregar mais o símbolo lim , mas deve ficar entendido que este limite é implícito. Inserindo
γ→0
(10.117) em (10.116) obtemos
ˆ ˆt
Dn0 dω 0
b(1)
n (t) =− √ dt0 E(ω)e−i(ω−ωn0 +iγ)t
i~ 2π
−∞
ˆ
Dn0 dω e−i(ω+ω0n +iγ)t
=− √ E(ω) (10.118)
~ 2π ω + ω0n + iγ
Aplicando o limite γ → 0 só na exponencial, podemos escrever
ˆ
(1) Dn0 dω e−i(ω+ω0n )t
bn (t) = − √ E(ω) (10.119)
~ 2π ω + ω0n + iγ
A polarização induzida pelo campo é dada como o valor esperado do valor do operador de
dipolo, ou seja,
P(t) = N hψ(t)|D|ψ(t)i , (10.121)
em que N é a densidade de átomos mutuamente independentes (não-interagentes) no sistema.
Substituindo (10.120) na equação (10.121) e mantendo somente os termos de até primeira
ordem no campo obtemos que
X |Dn0 |2 ˆ dω
E(ω)e−iωt E ∗ (ω)eiωt
P(t) =N hϕ0 |D|ϕ0 i − N √ × + (10.122)
n
~ 2π ω + ω 0n + iγ ω + ω0n − iγ
ˆ
X |Dn0 |2 E(ω)e−iωt E ∗ (ω)eiωt
dω
=N √ × + (10.123)
n
~ 2π ω + ω0n + iγ ω + ω0n − iγ
Como o operador D, tem paridade ímpar, então o elemento de matriz hϕ0 |D|ϕ0 i, é nulo.
Da definição de E(t) temos que
ˆ+∞
dω
E(t) = √ E(ω)eiωt , (10.124)
2π
−∞
mas como o campo elétrico é uma grandeza física, ele é real, ou seja,
ˆ+∞ ˆ+∞
∗ dω dω
E(t) = E (t) =⇒ √ E(ω)eiωt = √ E ∗ (ω)e−iωt (10.125)
2π 2π
−∞ −∞
Porém, como P(ω) = χ(ω)E(ω), segue então que a susceptibilidade óptica atômica é dada por
NX 2 1 1
χ(ω) = − |Dn0 | − . (10.131)
~ n ω + ω0n + iγ ω − ω0n + iγ
N e2 X fn0
1 1
χ(ω) = − − , (10.132)
2m n ω0n ω + ω0n + iγ ω − ω0n + iγ
a qual é conhecida como regra de soma de Thomas-Reiche-Kuhn. Aqui ωn0 = (En − E0 )/~ é a
frequência de Bohr.
Para verificarmos isso, usaremos a força de oscilador (10.133), para escrever
∞ ∞
X 2m X
fn0 = 2 hϕn |Z|ϕ0 i hϕ0 |Z|ϕn i (En − E0 ) (10.136)
n=0
~ n=0
podemos escrever
hϕ0 |Z|ϕn i (En − E0 ) = hϕ0 |[Z, H0 ]|ϕn i = − hϕ0 |[H0 , Z]|ϕn i . (10.138)
|Wf i |2
Pif (t; ω) = 2
|A+ (t, ω) + A− (t, ω)|2 (10.152)
4~
na qual
1 − ei(ωf i ±ω)t
A± (t, ω) = (10.153)
ωf i ± ω
Note que
1 − ei(ωf i ±ω)t
A± (t, ω) =
ωf i ± ω
i(ωf i ±ω)t/2 sen[(ωf i ± ω)t/2]
= −ie
(ωf i ± ω)/2
Portanto, temos que,
2
2 sen[(ωf i ± ω)t/2]
|A± (t, ω)| = F (t, ω ± ωf i ) = (10.154)
(ωf i ± ω)/2
Absorção Emissão
|Wf i |2
Pif (t; ω) = 2
|A± (t, ω)|2 (10.155)
4~
Assim
q 2 ω f i 2
Pif (t; ω) = 2 |hϕf |Z|ϕi i|2 E 2 F (t, ω ± ωf i ) (10.156)
4~ ω
Comentários:
• Para compreendermos esse resultado, considere um pacote de onda muito largo, quase-
monocromático, de extensão espacial finita, em vez de uma onda plana que se estende até o
infinito. Quando t → ∞, o campo E “visto” pelo átomo tende a zero, e a transformação de
calibre associada com a função χ definida em (10.40) tende a unidade. Consequentemente
os kets |ϕ0 i e |ϕf i representam estados que em cada um dos calibres, serão iguais, ou seja,
E E
(g1) (g2)
ϕ0 = ϕ 0 = |ϕ0 i (10.157)
E E
(g1) (g2)
ϕ f = ϕf = |ϕf i . (10.158)
P2
H0 = + V (R), (10.159)
2m
representa somente os estados de um sistema atômico com energias (cinética e potencial)
bem definidas, no calibre (10.41) no qual o potencial vetor A é zero, conforme (10.42), e
P2 /2m representa a energia cinética do sistema. O mesmo estado físico deveria ser repre-
sentado no calibre (10.2) pelos estados e−iqχ(r,t)/~ |ϕ0 i e e−iqχ(r,t)/~ |ϕf i respectivamente.
Para um tempo t finito, os cálculos são simples no calibre (10.41). Desde que no resto,
deste capítulo, trocamos F (t, ω ± ωf i ) por δ(ω ± ωf i ), consideraremos o limite em que
t → ∞, no qual essas dificuldades desaparecem.
Figura 10.6: Distribuição espectral do fluxo de energia eletromagnética incidente por unidade de
superfície. ∆ é a largura da distribuição espectral.
P̄if (t), pode ser obtida portanto, pela soma das probabilidades de transições associadas com
cada uma dessas ondas monocromáticas. Portanto, devemos trocar o termo E 2 por 2F(ω)dω/0 c
na expressão (10.156) e integrar sobre ω. Isso, fornece:
ˆ
q2 2
ω 2
fi
P̄if (t) = |hϕf |Z|ϕ i i| dω F(ω)F (t, ω ± ωf i ) (10.160)
20 c~2 ω
o que resulta em
πq 2
P̄if (t) = 2
|hϕf |Z|ϕi i|2 · F(±ωf i ) · t (10.162)
0 c~
a qual pode ser reescrita na seguinte forma
na qual
4π 2
Cif = |hϕf |Z|ϕi i|2 · α (10.164)
~
e a constante de estrutura fina α, é dada por
q2 1 e2 1
α= · = ≈ . (10.165)
4π0 ~c ~c 137
Este resultado mostra que P̄if (t) aumenta linearmente com o tempo. A probabilidade de
transição por unidade de tempo Wif é portanto, igual a:
Espalhamento
11.1 Introdução
267
11.2. O problema do espalhamento
Detector
Feixe incidente
V (r) θ
Alvo Z
• Toda possibilidade de coerência entre as ondas espalhadas pelas diferentes partículas que
constituem o alvo, será desprezada.
• A interação entre as partículas e o alvo será dada por um potencial V (r), em que r = r1 −r2
é a posição relativa das partículas, e além disso usaremos:
1 1 1 m1 m2
= + =⇒ µ= (11.1)
µ m1 m2 m1 + m2
Detector
D
pf δΩf
Feixe incidente
V (r) θ
Alvo Z
na qual σ(θ, ϕ) é a seção de choque diferencial e a seção de choque total é dada por
ˆ
σ = σ(θ, ϕ)dΩ. (11.3)
∂Ψ
i~ = HΨ =⇒ Ψ(r, t) = ϕ(r)e−iEt/~ (11.5)
∂t
Prof. Salviano A. Leão 269
11.4. Forma assintótica dos estados estacionários espalhados. Amplitude de espalhamento
na qual
~2 2
Hϕ(r) = Eϕ(r) =⇒ − ∇ + V (r) ϕ(r) = Eϕ(r) (11.6)
2µ
Será considerado que V (r), vai a zero no infinito mais rápido do que 1/r, o que elimina o
potencial coulombiano.
Por conveniência serão definidas as seguintes grandezas
~2 k 2 ~2
E= e V (r) = U (r) (11.7)
2µ 2µ
Portanto, a equação de Schrödinger estacionária é
2
∇ + k 2 − U (r) ϕ(r) = 0
(11.8)
espalhada.
eikr
∇2 + k 2 eikr 6= 0, ∇2 + k 2
porém = 0. (11.9)
r
Aqui o fator 1/r assegura que o fluxo de probabilidade, que passa através da superfície de
uma esfera, não depende de r.
(dif ) eikr
vk (r) ∼ eikz + f (θ, ϕ) (11.10)
r→∞ r
1 ∗ ~
Ji (r) = < ϕi (r) ∇ϕi (r) mas como ϕi (r) = eikz (11.12)
µ i
temos então que
~k
|Ji (r)| = (11.13)
µ
(a) (b)
Figura 11.1: Antes da colisão (a), o pacote de ondas incidente está propagando na direção da zona
de influência do potencial. Após a colisão (b), observa-se um pacote de ondas plano e um pacote de
ondas esféricas dispersas pelo potencial (as linhas tracejadas na figura). As ondas planas e espalhadas
interferem na direção frontal de forma destrutiva (conservação da probabilidade total); o detector D é
colocado numa direção lateral e só pode ver as ondas dispersas.
entretanto, como dn = Fi σ(θ, ϕ)dΩ, então identifica-se o termo σ(θ, ϕ) como sendo
∇2 + k 2 G(r) = δ(r).
(11.23)
A função G(r) é chamada função de Green do operador ∇2 + k 2 . Então uma função qualquer
ϕ(r), satisfaz
ˆ
ϕ(r) = ϕ0 (r) + d3 r0 G(|r − r0 |)U (r0 )ϕ(r0 ), (11.24)
∇2 + k 2 ϕ0 (r) = 0.
(11.25)
= U (r)ϕ(r). (11.28)
A principal vantagem vem do fato de que escolhendo ϕ0 (r) e G(r) corretamente, pode-
se incorporar na solução o comportamento assintótico desejado. Duas funções de Green
particularmente útil são:
0
0 e±ik|r−r |
G± (r, r ) = . (11.29)
|r − r0 |
Note que uma função de Green da forma G(r, r0 ) = G(|r − r0 |) pode ser obtida, aplicando
uma transformada de Fourier na equação
∇2 + k 2 G(r) = δ(r).
(11.30)
1 1
g(q) = (11.33)
(2π) k − q 2
3 2
ˆ
1 eiq·r
G(r) = d3 q , com d3 q = q 2 dq sen θdθ dϕ. (11.34)
(2π)3 k2 − q2
ˆ∞ ˆ2π ˆπ
1 q 2 dq
G(r) = dϕ eiqr cos θ sen θ dθ (11.35)
(2π)3 k2 − q2
0 0 0
ˆ∞ ˆ
−iqr
q 2 dq
1 −1
= eiqr cos θ d(iqr cos θ) (11.36)
(2π)2 k2 − q2 iqr
0 iqr
ˆ∞
q 2 dq
1 −1
e−iqr − eiqr
= (11.37)
(2π)2 k2 − q2 iqr
0
ˆ∞
1 q sen(qr)
= dq (11.38)
2π 2 r k2 − q2
0
ˆ∞
1 d cos(qr)
=− 2 dq (11.39)
2π r dr k2 − q2
0
Note que como a função cos(qr)/(k 2 − q 2 ) é par, logo, podemos estender seu limite de
integração de −∞ até +∞, tomando a metade deste valor, ou seja,
ˆ∞ ˆ+∞
cos(qr) 1 cos(qr)
2 2
dq = dq (11.40)
q −k 2 q2 − k2
0 −∞
ˆ+∞
1 d cos(qr)
G(r) = 2 dq (11.41)
4π r dr q2 − k2
−∞
ˆ+∞
sen(qr)
dq = 0. (11.42)
q2 − k2
−∞
Desta forma, podemos escrever a função G(r) em uma forma mais compacta como:
ˆ+∞
1 d eiqr
G(r) = 2 dq (11.43)
4π r dr q2 − k2
−∞
=(q)
−k − i
k + i <(q)
Figura 11.2: Contorno de integração com contento o plano complexo com Im(q) > 0.
não é definida em todo o eixo real, pois ela possui dois polos sobre o mesmo. Para contornar o
problema adiciona-se uma nova variável [1, 4, 6, 35], para retirar o polo do eixo real, assim a
integral toma a seguinte forma
ˆ+∞
1 d eiqr
G(r) = 2 lim dq (11.45)
4π r dr →0 (q + k + i)(q − k − i)
−∞
Note que a função (q + k + i)(q − k − i), possui duas raízes, ou seja, q = ±(k + i). Portanto
o contorno de integração no plano complexo, para o qual Im(q) > 0, conforme ilustrado pela
figura 11.2, mostra que somente o polo q = k + i está contido pelo contorno de integração.
Note então que nesse caso o polo q = −(k + i) foi excluído da integração, assim usando o
teorema de resíduos temos, que o resíduo devido ao polo q = (k + i) é
ˆ+∞
eiqr eiqr
lim dq = lim 2π(q − k − i)
→0 (q + k + i)(q − k − i) →0 (q + k + i)(q − k − i) q=k+i
−∞
2πi πi
= lim ei(k+i)r = eikr (11.46)
→0 2(k + i) k
1 ikr
G+ (r) = − e . (11.48)
4πr
A integral (11.45) também pode ser feita se usando um outro contorno de integração, o que
contém a parte negativa do eixo imaginário conforme ilustrado pela figura (11.3), e neste o polo
que está dentro do contorno é dado por q = −(k + i).
−k − i =(q)
k + i <(q)
Portanto, a integral
ˆ+∞
1 d eiqr
G(r) = 2 lim dq
4π r dr →0 (q + k − i)(q − k + i)
−∞
pode ser feita tomando-se o contorno ilustrado na Fig. r(11.3), e para esse caso o teorema de
resíduos, devido ao polo q = −(k + i) é
ˆ+∞
eiqr eiqr
lim dq = lim 2π(q + k + i)
→0 (q + k + i)(q − k − i) →0 (q + k + i)(q − k − i) q=−k−i
−∞
2πi πi
= lim − e−i(k+i)r = − e−ikr (11.49)
→0 2(k + i) k
1 −ikr
G− (r) = − e . (11.51)
4πr
Portanto, viu-se que a integral possui dois possíveis valores. Deve-se usar as condições físicas
para definir qual é o resultado que será usado. Note que os dois diferem pelo sinal da exponencial
complexa, ou seja, por uma fase. Logo, juntando os dois resultados anteriores tem-se então que
1 ±ikr
G± (r) = − e . (11.52)
4πr
11.4.8 Laplaciano de G±
Agora que temos o valor da função de Green, podemos calcular o seu laplaciano, ou seja,
±ikr 2 1 1 2 ±ikr 1
2
· ∇ e±ikr
∇ G± (r) = e ∇ − ∇ e +2 ∇ (11.53)
4πr 4πr 4πr
Note que aqui, G+ (r) e G− (r) são respectivamente as funções de Green entrando e saindo
do alvo.
Portanto, a integral de espalhamento têm a seguinte forma
ˆ
(dif ) (dif )
vk (r) =e ikz
+ d3 r G+ (|r − r0 |)vk (r0 ) (11.58)
rL e r0 L (11.59)
Figura 11.4: Relação geométrica entre o vetor de onda incidente e o espalhado. A dependência
angular é vista na figura ao lado.
e do mesmo modo será definido um vetor Kd = kêr que é um vetor de módulo k, direcionado
ao longo da direção êr definida pelos par de ângulos (θ, ϕ). Este vetor é chamado de vetor de
onda da onda espalhada na direção definida por (θ, ϕ), assim,
Kd = kêr (11.63)
Este é o vetor de onda que define o momentum linear da onda que chega no detector.
Finalmente o vetor de onda de espalhamento ou de transferência K na direção (θ, ϕ) é dado
pela diferença entre Kd e Ki , ou seja,
K = Kd − Ki (11.64)
Note que como os módulos de |Kd | = |Ki | = k, então o triângulo mostrado na figura é
isósceles e deste segue então que o módulo do vetor de onda espalhado é dado por
Portanto, usando essas definições a função de Green espalhada (11.61) pode ser reescrita
como
1 eikr −iKd ·r0
G+ (|r − r0 |) = − e (11.66)
4π r
(dif )
Substituindo esse resultado na expressão para vk (r), obtemos
ˆ
(dif ) iKi ·r 1 eikr 0 (dif )
vk (r) ∼ e − d3 r0 e−iKd ·r U (r0 )vk (r0 ) (11.67)
r→∞ 4π r
Esta expressão tem a forma prevista para o comportamento assintótico, já que o integrando não
mais depende de r, somente dos ângulos polares (θ, ϕ). Portanto, podemos, em comparação
com a eq. (11.10), identificar a amplitude de espalhamento como:
ˆ
1 0 (dif )
fk (θ, ϕ) = − d3 r0 e−iKd ·r U (r0 )vk (r0 ) (11.68)
4π
(dif )
Note que, para determinarmos o valor de vk (r), é necessário que conheçamos ele. Portanto,
para resolver esse problemas iremos adotar um procedimento iterativo, para isso, introduzimos
(dif )
as variáveis r0 → r00 e r → r0 , na expressão anterior para vk (r), obtendo
ˆ
(dif ) iKi ·r0 (dif )
vk (r0 ) =e + d3 r00 G+ (|r0 − r00 |)U (r00 )vk (r00 ) (11.70)
(11.72)
(dif )
na qual os três primeiros termos são conhecidos; a função desconhecida vk (r) foi deslocada
para o quarto termo. Portanto, procedimento anterior fornece a seguinte série,
ˆ
(dif ) iKi ·r 0
vk (r) =e + d3 r0 G+ (|r − r0 |)U (r0 )eiKi ·r +
ˆ ˆ
3 0 00
dr d3 r00 G+ (|r − r0 |)U (r0 )G+ (|r0 − r00 |)U (r00 )eiKi ·r +
ˆ ˆ ˆ
3 0 3 00 000
dr dr d3 r000 G+ (|r − r0 |)U (r0 )G+ (|r0 − r00 |)U (r00 )G+ (|r00 − r000 |)U (r000 )eiKi ·r + · · ·
(11.73)
r
r
r0
r0 Centro espalhador r00 Centro espalhador
(a) (b)
Figura 11.5: Representação esquemática da aproximação de Born: (a) só se considera a onda incidente
e a onda espalhada por uma interação com o potencial. (b) considera-se a onda incidente e as ondas
espalhada por interagir duas vezes o potencial.
excitada não somente pelas ondas incidentes mas, mas também pelas ondas provenientes das
outras fontes secundárias. Se o meio espalhador tiver uma densidade muito baixa (U (r) muito
pequeno), podemos negligenciar a influência das fontes secundárias umas sobre as outras.
Note que a interpretação fornecida para os termos de altas ordens na expansão de Born,
não possui nenhuma relação com os processos de espalhamento múltiplos, que podem ocorrer
num alvo espesso. Aqui estamos tratando com uma partícula espalhada do feixe por uma única
partícula do alvo, enquanto os espalhamentos múltiplos levam em conta as interações sucessivas
da mesma partícula incidente com as várias diferentes partículas do alvo.
Exemplo 11.1. A seguir será calculada a seção de choque diferencial de partículas carregadas
espalhadas por átomos neutros. Considere um átomo com um número atômico Z. Seja %(r) a
densidade de carga eletrônica calculada, por exemplo, no modelo de campo central. Considere
ainda, que o núcleo é pontual, com uma densidade de carga igual a −Zqe δ(r). A energia
potencial de uma partícula de carga q no campo do átomo em um ponto r0 é dada por
ˆ
0 q 1
V (r ) = d3 r00 0 [−Zqe δ(r00 ) + %(r00 )] . (11.76)
4π0 |r − r00 |
Na aproximação de Born a amplitude de espalhamento é dada por
ˆ
1 0 2µ
fk (θ, ϕ) = − d3 r0 e−iK·r 2 V (r0 )
4π ~
ˆ ˆ
µq 3 0 −iK·r0 1
=− 2 2 dr e d3 r00 0 00
[−Zqe δ(r00 ) + %(r00 )] . (11.77)
8π 0 ~ |r − r |
Neste ponto, será mais conveniente trocar a ordem de integração, e realizar primeiro a
integral em d3 r0 . Infelizmente, surge um resultado indefinido, pois a inversão não é permitida
em (11.77). Ainda assim, pode-se superar o problema introduzindo um fator de convergência.
Considere então o fator α > 0 de modo que
ˆ ˆ 0 00
µq 3 0 −iK·r0 e−α|r −r |
fk (θ, ϕ) = − 2 2 lim dr e d3 r00 0 [−Zqe δ(r00 ) + %(r00 )] . (11.78)
8π 0 ~ α→0 |r − r00 |
0 00
A introdução do fator e−α|r −r | não altera o valor da integral quando tomamos o limite α → 0.
Isso ocorrer porque ele difere de 1 somente nas regiões que essencialmente não contribuem para
a integral. Agora a mudança de ordem da integração é permitida e com isso faremos a seguinte
mudança de variável
r0 = u + r00 (11.79)
e com isso podemos escrever
ˆ ˆ −α|r0 −r00 |
µq 3 00 00 00 3 0 −iK·r0 e
fk (θ, ϕ) = − 2 2 d r [−Zqe δ(r ) + %(r )] · lim dr e
8π 0 ~ α→0 |r0 − r00 |
ˆ ˆ −αu−iK·u
µq 3 00 00 00 −iK·r00 3 0 e
=− 2 2 d r [−Zqe δ(r ) + %(r )] e · lim dr
8π 0 ~ α→0 u
A integral acima é dada por:
ˆ −αu−iK·u ˆ 2π ˆ π ˆ ∞
3 0 e
I = lim du = lim dϕ sen θ dθ du e−αu−iK·u (11.80)
α→0 u α→0 0 0 0
como o vetor K, está em uma direção qualquer do espaço e vamos somar sobre todas elas, logo
por uma questão de simplicidade vamos escolher K = Kêz , assim teremos que
ˆ 2π ˆ π ˆ ∞
I = lim dϕ sen θ dθ udu e−αu−iKu cos θ
α→0 0
ˆ 2π ˆ0 ∞ ˆ0 π
= lim dϕ udu e−αu sen θ dθ e−iKu cos θ
α→0 0 0 0
Na última integral do lado direito fazemos a seguinte mudança de variável y = −iKu cos θ, logo
dy = iKu sen θ dθ, assim temos que
ˆ π ˆ iKu
−iKu cos θ 1 1 2
dy ey = eiKu − e−iKu =
sen θ dθ e = sen(Ku). (11.81)
0 iKu −iKu iKu Ku
Portanto, temos que,
ˆ
4π ∞
I = lim du e−αu sen(Ku)
α→0 K 0
ˆ
2π ∞
du e−αu eiKu − e−iKu
= lim
α→0 iK 0
ˆ
2π ∞
du ei(K+iα)u − e−i(Ku−iα)u
= lim
α→0 iK 0
∞
2π ei(K+iα)u e−i(K−iα)u
= lim +
α→0 iK i(K + iα) i(K − iα) 0
2π 1 1
= lim +
α→0 K K + iα K − iα
2π 2K 4π
= lim 2 2
= lim 2
α→0 K K + α α→0 K + α2
na qual, F (θ), é chamado de fator de forma atômico, e é uma quantidade adimensional e igual a
ˆ∞
1 4π
F (θ) = dr r%(r) sen(Kr). (11.85)
qe K
0
Como a notação sugere, o fator de forma atômico depende, através de K, somente do ângulo
polar θ, e não de ϕ. De fato, temos de (11.65) que
K = 2k sen(θ/2) .
A aproximação de Born, onde ela for válida, produz uma seção diferencial de choque em
termos do potencial. Mas em geral, estamos mais interessados no problema inverso. Desejamos
realmente determinar que potencial produz uma determinada seção diferencial de choque, a
qual foi medida. Para vermos, se isso é possível, veja o que ocorre, ao reescrevermos a expressão
(11.77) ˆ
1 2µ
fk (θ, ϕ) = f (K) = − d3 r e−iK·r 2 V (r) (11.88)
4π ~
Aqui a dependência da amplitude de espalhamento em K é mostrada explicitamente.Tomando
a transformada de Fourier inversa de (11.88), encontramos que
ˆ
~2
V (r) = − 2 d3 K eiK·r f (K). (11.89)
4π µ
Para obter V (r), devemos conhecer fk (θ, ϕ), para todos os valores de k, isto é, para todas as
energias E, θ e ϕ. Mas a seção diferencial de choque, a qual é quantidade experimentalmente
mensurável, é igual ao quadrado do módulo da amplitude de espalhamento. Isto significa que
fk (θ, ϕ) pode ser extraída de σ(θ) somente se fk (θ, ϕ) for uma função real. Isso ocorre se
V (−r) = V (r) e, em particular se o potencial é esfericamente simétrico. Note que se f (K)
for pouco conhecida em grandes valores de energias, isto é, para grandes valores de K, não
podemos determinar os detalhes finos de V (r). Este resultado é muito geral. Para determinar
mais detalhes do centro espalhador, deve-se usar partículas com pequenos comprimentos de
onda, isto é, altas energias.
os centros espalhadores mudam aleatoriamente suas posições e o caso em que suas posições são
fixas e periódicas.
Considere que o potencial total devido a todos os centros espalhadores, podem ser represen-
tados como
N
X
V (r) = v(r − ri ). (11.90)
i=1
Esta relação é válida, claramente, se os centros espalhadores estiverem longe o suficiente para
que a interação entre eles possa ser negligenciada. Além disso, v(r) representa então o potencial
devido a um único centro espalhador. Se, por outro lado, os centros espalhadores interagirem
entre si, sua estrutura interna pode sofrer pequenas alterações, o que significaria que os centros
não seriam mais exatamente idênticos. A relação (11.90) pode apesar disso, permanecer válida,
sem que v(r) represente o potencial devido a um centro isolado.
Será considerado que as amplitudes de espalhamento são fornecidas corretamente pela
aproximação de Born. Note entretanto que no presente caso, que usamos a aproximação (11.61)
foi usada para obtermos da fórmula de Born, e essa aproximação deve satisfazer as condições
(11.59), isto é r L e kL2 r, na qual k é o número de onda do feixe de onda que incide
(chega) sobre o alvo, L representa as dimensões lineares do ao longo de cada dimensão dos
centros espalhadores do alvo e r, por sua vez, é a distância entre a amostra e o ponto onde
encontra-se o detector. Note ainda, que ambas as desigualdades podem ser válidas se kL 1.
Finalmente, lembre-se que a intensidade do feixe incidente não será atenuada significantemente
na amostra. Portanto, conforme o exposto, a aproximação de Born continua válida e podemos
escrever
ˆ N
1 2µ X
fk (θ, ϕ) = − d 3
r e−iK·r 2 v(r − ri ) (11.91)
4π ~ i=1
Tirando a somatória para fora da integral e introduzindo a seguinte mudança de variável
ρ = r − ri , obtemos
N ˆ
1 X 2µ
fk (θ, ϕ) = − d3 ρ e−iK·(ρ+ri ) 2 v(ρ)
4π i=1 ~
ˆ X N
µ −iK·ρ
= − 3
d ρe v(ρ) · e−iK·ri (11.92)
2π~2 i=1
Enquanto o número de centros espalhadores for muito grande, o ambiente de todos os centros
que se encontram afastados dos limites (contornos) da amostra, em média, são os mesmos. Seja
então n(r) a densidade média de centros espalhadores no ponto r com relação a um dado centro.
Então, com isso, pode-se escrever
N
X ˆ
−iK·(ri −rj )
e = N d3 r n(r)e−iK·r , (11.94)
N 1
i6=j
ri = na a + nb b + nc c. (11.97)
0 ≤ na ≤ Na − 1 , 0 ≤ nb ≤ Nb − 1 , 0 ≤ nc ≤ Nc − 1 . (11.98)
b
a
Figura 11.6: Vetores de translação de uma rede triangular 2D.
Temos que:
1 − e(n+1)x
S(ex − 1) = e(n+1)x − 1 =⇒ S= (11.100)
1 − ex
Portanto, usando o resultado (11.100), podemos reescrever (11.99) como
N
1 − e−iNa K·a 1 − e−iNb K·b 1 − e−iNc K·c
X
−iK·ri
e = −iK·a
· (11.101)
i=1
1 − e 1 − e−iK·b 1 − e−iK·c
em que a função
sen2 ( 12 Nα K · α)
Fα (K · α) = , com α = a, b, c. (11.105)
sen2 ( 12 K · α)
Portanto, a seção de choque diferencial é dada por
ˆ 2
1 3 −iK·ρ 2µ
σ(θ, ϕ) =
d ρe 2
v(ρ) × Fa (K · a)Fb (K · b)Fc (K · c) (11.106)
4π ~
Dado que Nα é grande o suficiente, a função Fα (K · α) mostra um máximo agudo nos
pontos em que K · α um múltiplo inteiro de 2π, ou seja, K · α = 2πqα , com qα = 0, 1, 2, · · · . O
comportamento de Fα (K · α), em torno do seu valor máximo Nα2 , é mostrado no gráfico 11.7. O
intervalo entre dois zeros consecutivos em ambos os lados do máximo central é 4π/Nα . A área
sobre aquele máximo é da ordem de Nα . Portanto, para uma estrutura periódica, a seção de
choque diferencial é apreciável somente nos valores de K para os quais
na qual qa , qb e qc são inteiros. A informação da posição dos máximos de acordo com (11.107),
determina os vetores de translação fundamentais da rede. Por outro lado, a intensidade relativa
dos máximos da seção de choque diferencial depende do primeiro fator no lado direito de (11.106).
Observações das intensidades relativas, produzem informações sobre a forma de v(ρ).
Note que a integral da seção de choque diferencial sobre um dado máximo é proporcional a
N = Na · Nb · Nc , que é o número total de centros espalhadores.
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
0
~2 k 2
Hϕk,l,m (r) = Ek ϕk,l,m (r) = ϕk,l,m (r) (12.1)
2µ
L2 ϕk,l,m (r) = l(l + 1)~2 ϕk,l,m (r) (12.2)
Lz ϕk,l,m (r) = m~ϕk,l,m (r). (12.3)
Como o potencial V (r) influência somente a parte radial da equação de Schrödinger, então a
dependência angular de ϕk,l,m (r) será dada pelos harmônicos esféricos Ylm (θ, ϕ).
Quando r for grande o suficiente, espera-se que as ondas parciais se aproximem das au-
tofunções comuns de H0 , L2 e Lz , na qual H0 é o operador hamiltoniano de uma partícula
livre, e em particular, de uma que possuí um momentum angular bem definido. Neste caso, as
(0)
correspondentes funções de onda ϕk,l,m (r) são ondas esféricas livres: sua dependência angular,
de fato, são aquelas dos harmônicos esféricos, e será visto que a expansão assintótica da sua
função radial é a superposição de uma onda incidente e−iKi ·r e uma onda que sai eiKi ·r com uma
diferença de fase bem determinada.
P2
H0 = , (12.4)
2µ
289
12.1. Estados estacionários de uma partícula livre
não constitui por si só um C.S.C.O e seus autovalores são infinitamente degenerados. Entretanto,
os 4 observáveis
H0 , Px , Py , Pz (12.5)
formam um C.S.C.O. Seus autoestados comuns são estados estacionários com um momentum
bem definido. Uma partícula livre pode ser considerada como uma partícula num potencial
central nulo, nesse caso os três observáveis
H0 , L2 , Lz (12.6)
formam um C.S.C.O. Seus correspondentes autoestados, serão estado estacionários com momen-
tum angular L bem definido, mais precisamente com L2 e Lz bem definidos.
As bases no espaço de estados definidos pelos operadores de (12.5) e (12.6) são distintas, já
que os operadores P e L são quantidades incompatíveis.
hk | k0 i = δ(k − k0 ), (12.13)
D E 2 ˆ∞ ˆ
(0) (0) 0
ϕk,l,m ϕk0 ,l0 ,m0 = kk 0 0 2
jl (kr)jl0 (k r)r dr dΩYlm ∗ (θ, ϕ)Ylm 0
0 (θ, ϕ) = δ(k − k )δl,l0 δm,m0
π
0
(12.18)
e formam uma base no espaço de estados, logo elas também satisfazem a seguinte relação de
completeza
ˆ∞ ∞ X
X +l ED
(0) (0)
dk ϕ
k,l,m ϕk,l,m = 1. (12.19)
0 l=0 m=−l
ρl
jl (ρ) ' . (12.22)
ρ→0 (2l + 1)!!
Esse resultado implica que a probabilidade (12.19) comporta-se como ρ2l+2 próximo da origem;
portanto para l grande, o aumento será lento.
1.4
n=0
n=1
1.2 n=2
n=3
n=4
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20
A forma das funções ρ2 jl2 (ρ) é mostrada na figura 12.1. Observe que estas funções permanecem
pequenas tanto quanto
p
ρ< l(l + 1) . (12.23)
Portanto, pode-se considerar que a probabilidade (12.19) será praticamente zero para
p
r< l(l + 1)/k . (12.24)
Esse E resultado é fisicamente muito importante, pois ele implica que uma partícula no estado
(0)
ϕk,l,m praticamente não é afetada pelo que ocorre dentro de uma esfera centrada em O de raio
1p
bl (k) = l(l + 1). (12.25)
k
0 l=0 m=−l
E
(0)
como Lz |ϕi = ml ~ |ϕi e como |0, 0, ki e ϕk0 ,l,m são dois autoestados de H0 , então eles são
ortogonais se os correspondentes autovalores forem diferentes. Portanto o seu produto escalar
deve ser proporcional a δ(k 0 − k). Similarmente, eles são ambos autoestados de Lz e o seu
produto escalar é proporcional a δm,0 . Portanto a expressão anterior, toma a seguinte forma
D E
(0)
ϕk0 ,l,m 0, 0, k = Ck,l δ(k − k 0 )δl,l0 δm,0 . (12.34)
Um estado de momentum linear bem definido, é portanto formado pela superposição dos
estados correspondentes a todos os possíveis momenta angulares.
Note ainda que, como os harmônicos esféricos Yl0 (θ) são proporcionais aos polinômios de
Legendre Pl (cos θ), ou seja, como
r
0 2l + 1
Yl (θ) = Pl (cos θ) , (12.37)
4π
então também podemos escrever
∞
X
eikz = il (2l + 1)jl (kr)Pl (cos θ) . (12.38)
l=0
Como na representação |ri, temos que as ondas parciais ϕk,l,0 (r) possuem a seguinte forma
1
hr | ϕk,l,0 i = ϕk,l,0 (r) = Rk,l (r) Ylm (θ, ϕ) = uk,l (r) Ylm (θ, ϕ) (12.41)
r
na qual uk,l (r) é a solução da equação radial
~ d2 l(l + 1)~2 ~2 k 2
− + + V (r) uk,l (r) = uk,l (r) , (12.42)
2µ dr2 2µr2 2µ
Como uk,l dever satisfazer a condição (12.43), as constantes A e B não podem ser arbitrárias.
No problema unidimensional equivalente, dado pelo potencial da equação (12.44), a condição
(12.43) está relacionada ao fato de que o potencial é infinito para r < 0, e a solução (12.48)
representa a superposição de uma onda plana incidente e−ikr , vindo da direita e de uma onda
plana refletida eikr , propagando da esquerda para a direita. Desde que, não pode haver onda
transmitida, pois V (r) = ∞ para r < 0, a corrente refletida na origem deve ser igual a incidente.
Portanto, vemos que a condição (12.43) implica que, na expressão assintótica (12.48), os valores
das constantes A e B são tais que,
|A| = |B|, (12.47)
Esse mesmo resultado pode ser obtido, observando que para os estados ligados temos que
uk,l ∈ < o que significa então que podemos escrever A = B ∗ = (C/2i)e−iβl , e com isso C ∈ <,
portanto,
C i(kr−βl )
− e−i(kr−βl ) = C sen(kr − βl ).
uk,l (r) ' e (12.50)
r→∞ 2i
A fase βl introduzida, é completamente determinada impondo a continuidade entre a solução
da equação radial e com o seu comportamento assintótico. Assim, como surgiu o fator lπ/2
no comportamento assintótico da onda esférica livre, vamos introduzir o mesmo, fazendo
βl = lπ/2 − δl , na qual δl é o deslocamento de fase. Assim,
π
uk,l (r) ' C sen kr − l + δl (12.51)
r→∞ 2
A quantidade δl definida desse modo, é chamada de deslocamento de fase da onda parcial
ϕk,l,m (r); essa quantidade obviamente depende de k, isto é da energia.
sen kr − l π2 + δl m
ϕk,l,0 (r) ' C Yl (θ, ϕ)
r→∞ r
e−ikr ei(lπ/2−δl ) − eikr e−i(lπ/2−δl )
' −CYlm (θ, ϕ) (12.52)
r→∞ 2ir
Desse resultado, vê-se que tanto as ondas parciais ϕk,l,0 (r) como as ondas esféricas livres, (12.28),
resultam da superposição de uma onda chegando com uma onda saindo.
Note então que se multiplicarmos o comportamento assintótico da onda parcial acima, (12.52)
pelo fator de fase eiδl e fizermos C = 1, obtemos o mesmo comportamento assintótico da onda
Como vimos uma onda esférica livre penetra muito pouco numa esfera de raio bl (k), centrada
em O. Então os potenciais de curto alcance como na eq. (12.56) não atuam sobre uma onda
parcial fora do seu alcance, ou seja, se
bl (k) r0 , (12.57)
pois a correspondente onda incidente retorna antes de atingir a zona de influência do potencial
V (r). Portanto, para cada valor de energia há um valor máximo de momentum angular lM , o
qual de acordo com (12.25) é aproximadamente
p
lM (lM + 1) ' kr0 . (12.58)
deslocamento de fase será possível determinar a seção de choque. Para demonstrar isso, deve-se
(dif f )
expressar o estado estacionário vk (r) em termos das ondas parciais, e calcular a amplitude
de espalhamento desta maneira.
(dif ) (0)
vk (r) → eikz e ϕ̃k,l,0 (r) → ϕk,l,0 (r) . (12.61)
Vimos que
(dif )
• para V (r) 6= 0, vk (r) inclui uma onda divergente e uma onda plana;
(0)
• ϕ̃k,l,0 (r) difere de ϕk,l,0 (r) no seu comportamento assintótico somente pela presença da
onda saindo, a qual tem a mesma dependência radial da onda espalhada. Esse termo da
onda incidente possui o termo do deslocamento de fase.
Portanto, os coeficientes da expansão (12.59) são os mesmo da eq. (12.36), com isso, temos
∞
X
(dif )
p
vk (r) = il 4π(2l + 1)ϕ̃k,l,0 (r) . (12.62)
l=0
∞
X ∞
X
p p
il 4π(2l + 1)ϕ̃k,l,0 (r) ' il 4π(2l + 1)Yl0 (θ)×
r→∞
l=0 l=0
−ikr ilπ/2
− eikr e−ilπ/2 eikr 1 −ilπ/2 iδl
e e
− · ·e e sen(δl )
2ir r k
Como, vimos r
(0) 2k 2
ϕk,l,m (r) = jl (kr) Ylm (θ, ϕ)
π
∞ ∞ r
ikz
X p X p π (0)
e = il 4π(2l + 1)jl (kr)Yl0 (θ) = il 4π(2l + 1) ϕ (r)
l=0 l=0
2k 2 k,l,m
(0)
Entretanto como a expansão assintótica de ϕk,l,m (r) é dada por
r
(0) 2k 2 0 e−ikr eilπ/2 − eikr e−ilπ/2
ϕk,l,m (r) ' − Y (θ)
r→∞ π l 2ikr
então
∞ r r
X p π 2k 2 m
eikz ' − il 4π(2l + 1) Y (θ, ϕ)×
r→∞
l=0
2k 2 π l
e−ikr eilπ/2 − eikr e−ilπ/2
2ikr
Portanto, o termo eikz é identificado como,
∞
X p e−ikr eilπ/2 − eikr e−ilπ/2
eikz ' − il 4π(2l + 1)Yl0 (θ) .
r→∞
l=0
2ikr
e portanto, a seção de choque é dada pela integral sobre todo o ângulo sólido dΩ
ˆ ∞ ∞
1 XX p
σ = dΩ σ(θ) = 2 4π (2l + 1)(2l0 + 1)ei(δl −δl0 ) ×
k l=0 l0 =0
ˆ
sen(δl ) sen(δl0 ) dΩ Yl00 (θ)Yl0 (θ) (12.66)
12.4.5 Comentários
• Os termos resultantes da interferência entre as ondas com diferentes momenta angulares
desaparecem da seção de choque total.
Como r
2l + 1
Yl0 (θ = 0) = , (12.71)
4π
temos então que
4π
σ= · Im(fk (θ)) (12.72)
k
Esta relação é conhecida como teorema óptico.
(E − H0 − V ) |ψi = 0, (13.5)
303
13.1. Método das funções de Green
a qual, após substituirmos |ψi = |ψ0 i + |ψs i, ela toma a seguinte forma
A seguir, o significado dessa solução será analisado e será feita uma analogia com a expansão de
Born.
Inicia-se o processo iterativo com a aproximação de ordem zero, na qual, |ψvelha .i = |ψ0 i e usa-se
a expressão (13.14) para realizar a iteração, da seguinte forma
ˆ ˆ ˆ
d r1 d r2 d3 r3 G0 (r, r1 )V (r1 )G0 (r1 , r2 )V (r2 )×
3 3
imagem está em desacordo com a imagem clássica de um movimento suave e contínuo sobre a
“superfície de potencial”. De fato, sabe-se da física de altas energias que todas as interações são
devido à troca de (não conservando a energia) bósons “virtuais”, por exemplo, fótons ou glúons.
A noção de uma inter-partícula “potencial” é, portanto, uma aproximação que negligência o
efeito de retardo, devido à velocidade de propagação finita da partícula mediadora. Esta imagem
quântica sugerida pela série de Born é mais precisa do que a visão clássica, como podemos
pensar em cada “colisão”, como sendo a troca de uma partícula virtual, que é de fato um evento
discreto.
Note que a expansão em série (1 − zn )−1 converge somente para |z| < 1. Isso ocorre porque a
expansão da série converge apenas para pontos da expansão distantes da singularidade mais
próxima da função que está sendo expandida. Aqui o ponto de expansão é z = 0 e a singularidade
está em z = 1. Podemos realizar uma expansão em série válida de (1 − G0 V )−1 via
X X |nihn|
(1 − G0 V )−1 = θ(1 − zn )|nihn|(1 + zn + zn2 + · · · ) + θ(|zn | − 1) ,
n n
1 − zn
na qual θ(x) é a função passo. Para o caso em que |zn | > 1, pode-se expandir em série de 1/zn ,
como
1 1 1
=− ·
1 − zn zn 1 − z1n
1
= − · 1 + zn−1 + zn−2 + zn−3 + · · ·
zn
A ideia é, então, que a série renormalizada irá convergir normalmente, então você pode
tomar tantos termos quantos forem necessário para atingir a precisão desejada. É claro que esta
renormalização é difícil na prática, pois os autovalores e autovetores de G0 V normalmente não
são conhecidos, mas estabelece-se então uma prova de princípio da série de Born “renormalizada”.
Com base na interpretação na interpretação de Born, vê-se que cada termo contém pelo
menos um “evento de espalhamento”. Para cada termo, a onda espalhada, então, propaga-se
livremente para o detector a partir do último ponto de espalhamento. Esta propagação final
livre pode ser fatorada para fora da expressão fornecendo então que
Então a soma entre parênteses representa simplesmente a história de todas as possíveis maneiras
que a partícula poderia ter feito isso para chegar ao local do evento final do espalhamento. Se
colocarmos tudo isso em uma “caixa preta” contendo essa história, e chamá-la de uma matriz T,
obtém-se que
a qual define a matriz de espalhamento T . Comparando as eqs. (13.9) e (13.23) mostra-se que
T = V (1 − G0 V )−1 (13.27)
ou equivalentemente
T = (1 − G0 V )−1 V. (13.28)
Esta equivalência pode ser provada multiplicando ambas as equações a esquerda por (1 − V G0 )
e a direita por (1 − G0 V ), as quais fornecem que V − V G0 V = V − V G0 V .
Ignorando a questão da convergência por enquanto, a expansão em série
(1 − 1A)−1 = 1 + A + A2 + A3 + · · · , (13.29)
fornece que
T = V + V G0 V + V G0 V G0 V + V G0 V G0 V G0 V + · · · (13.30)
Projetando esta equação nos autoestados da posição , resulta nos elementos de matriz da
matriz de espalhamento T no espaço das posições:
ˆ
T (r, r ) = V (r)δ(r − r ) + V (r)G0 (r, r )V (r ) + d3 r00 V (r)G0 (r, r00 )V (r00 )G0 (r00 , r0 )V (r0 ) + · · ·
0 0 0 0
(13.31)
na qual
T (r, r0 ) = hr| T |r0 i e G0 (r, r0 ) = hr| G0 |r0 i . (13.32)
~2 k 2
E= , (13.37)
2m
e que
1
ψE (x) = hx|Ei = √ eikx , (13.38)
2π
logo a expressão (13.36) toma a seguinte forma
ˆ +∞ 0 0
0 1 eik (x−x )
G(x, x ) = dk 0 2 k 02
2π −∞ E − ~2m + i
ˆ +∞ 0 0
m eik (x−x )
0
=− 2 dk 02 . (13.39)
π~ −∞ k − k 2 − i
p
na qual k = 2mE/~2 . Como
√ √
k 02 − k 2 − i = k 0 + k 2 + i k 0 − k 2 + i ,
√ i
i
e note que como 1, segue então que: k 2 + i = k 1 + 2k2
+ ··· = k + 2k
' k + i. Note
que como é um número real e positivo infinitesimalmente pequeno, então para um número
positivo finito qualquer α, ele satisfaz a seguinte relação: α = .
Portanto, diante do exposto, a integral anterior toma a seguinte forma
ˆ +∞ 0 0
0 m 0 eik (x−x )
G(x, x ) = − 2 dk . (13.40)
π~ −∞ (k 0 + k + i) (k 0 − k − i)
Esta integral pode ser resolvida usando o método de integração por contorno, o que significa
que k 0 é estendido sobre o plano complexo via k → kR + ikI , o que conduz a exponencial
0 0 0
eik(x−x ) → eikR (x−x ) e−kI (x−x ) . Como desejamos uma função que vá a zero no infinito, ou seja,
quando |k| → ∞, vê-se então que para x > x0 deve-se fechar a metade superior do plano
complexo, de modo que o contorno inclua somente o polo k 0 = k + i. Para x < x0 , deve-se
então fechar a metade inferior do plano complexo, de modo que o contorno inclua somente o
polo k 0 = −k − i, conforme ilustra figura 13.2.
Usando o teorema do resíduo,
˛
f (z)
dz = ±2πif (z0 ), (13.41)
z − z0
no qual o sinal positivo +, é usado para o contorno de integração percorrido no sentido anti-
horário, e o sinal negativo −, é usado para o contorno de integração percorrido no sentido
horário, disso segue imediatamente que
0)
eik(x−x
0
− mi ·
~2 k
; x > x0
G(x, x ) = 0) (13.42)
e−ik(x−x
mi
− ·
~2 k
; x < x0
Esses resultados podem ser combinados em uma única expressão, mais compacta, assim
0
0 0mi eik|x−x |
G(x, x ) = hx| G0 |x i = − 2 · . (13.43)
~ k
Esta expressão mostra que a corrente está fluindo na direção que vai de x0 para x. Isso, mostra
que a escolha do termo −i nos conduziu a uma corrente que sai do ponto x0 em direção ao
ponto x. Se os termos −i → +i, forem trocados, então será obtida um fluxo de corrente que
chega ao ponto x0 proveniente do ponto x.
~2 k2
E= , (13.44)
2m
e a sua função de onda é
1
ψE (r) = hr|Ei = eik·r , (13.45)
(2π)3/2
logo a expressão (13.34) toma a seguinte forma
ˆ ∞
|ki hk|
G0 = G0 = d3 k 2 k2 (13.46)
0 E − ~2m + i
fazendo k 0 → −k 0 na segunda integral acima, pode-se então reescrever essa expressão como
ˆ ∞ 0 0
0 2m 02 0 eik |r−r |
G0 (r, r ) = − k dk 0 , (13.49)
(2π)2 ~2 −∞ (k + k + i) (k 0 − k − i) ik 0 |r − r0 |
desde que |r − r0 | > 0, pode-se escolher a metade superior do plano complexo como o contorno
de integração, dessa forma, o teorema do resíduo fornece que
0
0 2m 2 eik|r−r |
G0 (r, r ) = − (2πi)k .
(2π)2 ~2 2ik 2 |r − r0 |
ik|x−x0 |
0 0 mi e
T (x, x ) =αδ(x)δ(x − x ) + αδ(x) − 2 · αδ(x0 )+
~ k
ˆ ik|x−x00 | ik|x00 −x0 |
00 mi e 00 mi e
αδ(x) dx − 2 · αδ(x ) − 2 · αδ(x0 ) + · · ·
~ k ~ k
" 2 #
αmi αmi
=αδ(x) δ(x − x0 ) + − 2 δ(x0 ) + − 2 δ(x0 ) + · · ·
~k ~k
Note aqui, que o produto δ(x)δ(x − x0 ) = δ(x)δ(−x0 ) = δ(x)δ(x0 ), pois a delta é uma função
par, logo podemos escrever
" 2 #
0 0 αmi αmi
T (x, x ) = αδ(x)δ(x ) 1 + − 2 + − 2 + ···
~k ~k
αδ(x)δ(x0 )
= (13.51)
1 + i ~αm
2k
Agora tem-se condições de se calcular a a onda espalhada dada pela Eq. (13.25). Considerando
que a onda incidente é dada por
ψ0 (x) = eikx , (13.52)
segue então que a onda espalhada será dada por
ˆ ˆ
0
ψs (x) = dx dx00 G(x, x0 )T (x0 , x00 )ψ0 (x00 )
ˆ ˆ ik|x−x0 |
αδ(x0 )δ(x00 ) ikx00
0 00 mi e
= dx dx − 2 · · e
~ k 1 + i ~αm
2k
αmi eik|x|
=− 2 ·
~ k 1 + i ~αm 2k
1
=− ~2 k
eik|x| (13.53)
1 − i αm
Introduzindo o comprimento de espalhamento
~2
a= (13.54)
αm
então pode-se escrever a solução completa como sendo dada |ψi = |ψs i + |ψ0 i, logo
1
ψ(x) = eikx − eik|x| (13.55)
1 − ika
Para x < 0, essa equação toma a seguinte forma
1
ψ(x) = eikx − e−ikx , (13.56)
1 − ika
a partir da qual pode-se identifica a amplitude de reflexão como sendo
1
r=− (13.57)
1 − ika
e como a probabilidade de reflexão R = |r|2 , tem-se então que
1
R = |r|2 = . (13.58)
1 + (ka)2
O ponto de retorno do potencial requer que α → 0, o que corresponde a a → ∞, caso no qual
tem-se que R = 0 como já erá esperado. Para x > 0 encontra-se que
1 ika ikx
ψ(x) = eikx − eikx = e (13.59)
1 − ika 1 − ika
da qual identifica-se imediatamente que a amplitude de transmissão é dada por
ika
t= . (13.60)
1 − ika
E dessa segue que a probabilidade de transmissão é dada então por
(ka)2
T = |t|2 = , (13.61)
1 + (ka)2
a qual vai para 1 quando α → 0, como requerido. Note ainda que T + R = 1, o que satisfaz a
conservação da corrente de probabilidade.
Inserindo um projetor entre G0 e V , e usando o fato de que V é diagonal nessa base, então
obtém-se ˆ
ψ(x) = ψ0 (x) + dx0 G0 (x, x0 )V (x0 )ψ(x0 ), (13.63)
que é uma equação integral para ψ(x). Para os casos em que V (x) = αδ(x − x0 ), a integral
pode ser feita, o que resulta em
Agora usando o fato de que ψ0 (x) = eikx e que G0 (x, x0 ) é dada pela expressão (13.43), a equação
anterior toma a seguinte forma
0
ikx αmi eik|x−x |
ψ(x) = e − 2 ·
~ k 1 + i ~αm 2k
1
= eikx − eik|x| (13.68)
1 − ika
o que recuperou o resultado obtido anteriormente.
na qual
Pode-se, então observar que [f (Q), Q] = 0. Se f (q) for definida e limitada em Σ(Q), então
f (Q) será um operador limitado, para o qual a norma de um operador é definida conforme:
G(z0 )
G(z) = , (13.80)
1 + (z0 − z)G(z0 )
e
Q = z + 1/G(z). (13.81)
1
O resolvente é algumas vezes definido com o sinal oposto. Verá-se eventualmente que G(z) também possui
uma motivação em termos da fórmula integral de Cauchy.
Portanto, G(r, r0 ; z) é o chamado kernel da transformação integral. Pode-se ver que essa
correspondência é obtida da seguinte forma: primeiro expanda
X
ψ(r0 ) = ψ` φ` (r0 ). (13.86)
`
desde que δ(r − r0 ) é o correspondente kernel da identidade 1. Essa função delta é portanto
simbólica da relação: ˆ
(Qr − z) d3 r0 G(r, r; z)ψ(r0 ) = ψ(r), (13.91)
(∞)
para qualquer função contínua ψ(r) em L2 (R3 ) (contínua no case em que Q é um operador
diferencial).
O kernel G(r, r0 ; z) é chamado de Função de Green para o operador (diferencial) Q. Essa
função de Green é o “kernel para um resolvente” (como com o resolvente, a convenção de sinal
não é universal). Ela é a solução da equação diferencial não homogênea, (13.90) para uma fonte
impulsiva, a qual satisfaz as condições de fronteira, desde que ela pode ser expressa em uma
expansão dos vetores da base que satisfazem as condições de fronteira:
∞
0
X φk (r)φ∗ (r0 )
k
G(r, r ; z) = . (13.92)
k=1
qk − z
1
A definição apresentada para G(z) ≡ Q−z
sugere que o resolvente seja uma função analítica
(função de um operador, o qual dever ser avaliado) de z o qual está no complemento do espectro
de autovalores de Q. Para um ponto qualquer z0 ∈
/ Σ(Q), tem-se a seguinte série de potência:
∞
X
G(z) = G(z0 ) [(z − z0 )G(z0 )]n . (13.94)
n=0
Esta série converge na norma dentro de qualquer disco |z − z0 | < ρ o qual não intersepta Σ(Q).
Além disso para n-ésimo termo da série, tem-se que
n
n ρ 1
kG(z0 ) [(z − z0 )G(z0 )] kop ≤ , (13.95)
ρ0 ρ0
para o qual
1
= kG(z0 )kop = distância [z0 , Σ(Q)] . (13.96)
ρ0
Desde que o resolvente é “analítico”, pode-se usar o contorno de integração. Por exemplo, na
13.3 considerou-se que o contorno C4 encerasse um único autovalor q4 não-degenerado.
Fig.Então
ˆ ˆ X ∞
1 1 |ki hk|
G(z) dz = dz (13.97)
2πi C4 2πi C4 k=1 qk − z
ˆ
1 |φ4 i hφ4 |
= dz (13.98)
2πi C4 q4 − z
z − q4
= |φ4 i hφ4 | lim (13.99)
z→q4 q4 − z
= − |φ4 i hφ4 | . (13.100)
. . . . ... . q
4
C4
Figura 13.3: O plano complexo z, com autovalores de Q indicados sobre o eixo. Um contorno é
mostrado encerrando um dos autovalores.
Isto é, ˆ
1
|φ4 i hφ4 | = − G(z) dz. (13.101)
2πi C4
Ch
h
. . . . . . . .. .
q
1
h
Figura 13.4: Um contorno o qual encerra todo o espectro de autovalores de Q.
como pode ser provado por um processo limitante, e note que a convergência está toda correta.
Conforme a fórmula integral de Cauchy, pode-se expressar funções analíticas de Q em termos
de integrais de contorno: Seja f (z) uma função que é analítica em uma região a qual contém
C∞ . Então ˆ ˆ
1 f (z) dz 1
f (Q) = =− dzf (z)G(z), (13.103)
2πi C∞ z−Q 2πi C∞
e a condição inicial
U (r, r0 ; 0) = δ(r − r0 ). (13.109)
Portanto, se ψ(x) é uma função de onda qualquer, então ψ(r; t) é definida por:
ˆ
ψ(r; t) ≡ d3 r0 U (r, r0 ; t)ψ(r0 ) (13.110)
(∞)
e a condição inicial
ψ(r; 0) = ψ(r). (13.112)
Observa-se que o resolvente da função de Green, e U (t), existem realmente para uma classe
maior de operadores, não apenas aqueles com um espectro pontual puro. Por exemplo, existe o
resolvente para qualquer operador auto-adjunto, que é delimitado por baixo. Em particular,
temos existência para o hamiltoniano de uma partícula livre, com H = P2 /2m. No entanto, em
geral, não podemos, expressar G(z) e U (t) como somas sobre estados, e a função de Green não
pode ser expressa como uma soma sobre os produtos de autofunções. A relação da integral de
contorno: ˆ
0 1
U (r, r ; t) = − dze−itz G(r, r0 ; z) (13.113)
2πi C∞
permanece válida. Recorre-se ao caso com um espectro pontual puro, com somas sobre estados,
a fim de desenvolver o sentimento de como as coisas funcionam sem ficar atolado em problemas
matemáticos.
321
14.1. Formulação do problema
partícula move-se ao longo de uma trajetória bem definida, o que nos permite distingui-las uma
das outras e “segui-las” ao longo de toda evolução do sistema.
Para tratar esse ponto em maiores detalhes, será considerado um sistema de duas partículas
idênticas. No instante de tempo inicial t0 , o estado físico do sistema é definido especificando-se
a posição e velocidade de cada uma de suas partículas; denotamos estes dados iniciais por r0 , v0
e r00 , v00 . Para descrever este estado físico e calcular a sua evolução temporal, numera-se as
duas partículas: o conjunto r1 (t) e v1 (t) denotam a posição e a velocidade de partícula (1) no
instante de tempo t, enquanto o conjunto r2 (t) e v2 (t), denotam aquelas da partícula (2). Esta
numeração não tem fundamento físico, como seria se estivéssemos lidando com duas partículas
que têm naturezas diferentes. Disso resulta que o estado físico inicial, que acabamos de definir
pode, em teoria, ser descrito por dois “estados matemáticos” diferentes, como podemos definir
por:
ou
Agora, será considerada a evolução do sistema. Considere que a solução das equações de
movimento definido pelo primeiro conjunto de condições iniciais acima possa ser escrita como:
na qual r(t) e r0 (t) são funções de dois vetores. O fato de que as duas partículas são idênticas
implica que o sistema não é alterada se trocarem papéis. Consequentemente, a lagrangiana
L(r1 , v1 ; r2 , v2 ) e o hamiltoniano clássico H(r1 , p1 ; r2 , p2 ) são invariantes sob troca de índices 1
e 2. Segue-se que a solução das equações de movimento correspondentes ao segundo conjunto
de estado inicial acima é:
Estado Estado no
inicial instante t
Figura 14.1: Posição e velocidade de cada uma das duas partículas no instante inicial t0 e em um
instante de tempo t qualquer.
existência do outro. Tratando assim, o sistema como se as duas partículas fossem, na verdade,
de naturezas diferentes. Os números (1) e (2) com o qual elas foram classificadas arbitrariamente
em t0 , agem nesse caso como propriedades intrínsecas para se distinguir as duas partículas. Uma
vez que cada partícula pode ser seguida passo-a-passo ao longo de sua trajetória (setas na figura
14.1), pode-se determinar as localizações da partícula numerada por (1) e a numerado por (2)
em qualquer momento.
(1) (2)
cujo raio aumenta ao longo do tempo (conforme Fig. 14.2(c)). Considere que um detector,
colocado na direção que forma um ângulo θ com a velocidade inicial do pacote de ondas (1),
detecta uma partícula. Então determina-se (devido ao momentum ser conservado na colisão)
que a outra partícula está afastando-se no sentido oposto. No entanto, é impossível saber se a
partícula detectada em D é a inicialmente numerada por (1) ou a numerada por (2). Assim,
existem dois “caminhos” diferentes que poderiam ter levado o sistema, a partir do estado inicial
mostrada na figura 14.2(a), para o estado final encontrado na medição. Estes dois caminhos estão
representados esquematicamente nas figuras 14.3(a) e 14.3(b). Nada permite-nos determinar
qual foi o caminho realmente seguido pela partícula que foi detectada.
Uma dificuldade fundamental, então, surge na mecânica quântica ao utilizar os postulados
já enunciados anteriormente. A fim de calcular a probabilidade de um determinado resultado de
uma medida é necessário conhecer os vetores de estados finais associados a este resultado. Aqui,
existem dois, que correspondem, respectivamente, às figuras 14.3(a) e 14.3(b). Estes dois kets
são distintos (e, além disso, ortogonais). E além disso, eles estão associados a um único estado
físico, uma vez que é impossível imaginar uma medida mais completa que permitisse fazer uma
distinção entre esses dois estados. Sob estas condições, deve-se calcular a probabilidade usando a
trajetória apresentadas na figura 14.3(a) ou 14.3(b) ou ambas? Neste último caso, deve-se levar
em conta a soma das probabilidades associadas a cada caminho, ou a soma de suas amplitudes
de probabilidade (e, neste caso, com qual sinal)? Essas possibilidades diferentes levam, como
veremos mais tarde, na verdade, a previsões diferentes.
A resposta às questões anteriores, será dada posteriormente, após ter se enunciado o postulado
simetrização. Antes de avançar mais, será investigado um outro exemplo que nos ajudará a
valores significativos.
D D
(1) (2)
(1) (1)
(2) (2)
Pareceria natural supor que, após ser realizada uma medida completa de cada um dos
dois spins, o estado físico do sistema total seria então completamente conhecido. Aqui, vamos
considerar que uma das componentes ao longo de Oz é igual a +~/2 e que a do outra é −~/2
(isto é o equivalente para as duas rotações especificadas por r0 , v0 e r00 , v00 na seção 14.1.2).
Para descrever o sistema matematicamente, as partículas serão numeradas: S1 e S2 denotam
então as duas observáveis de spin, e |ε1 , ε2 i (onde ε1 e ε2 pode ser igual a + ou −) é a base
ortonormal do espaço de estado formado pelos auto kets comuns de S1z : (com autovalor ε1 ~/2)
e S2z : (com autovalor ε2 ~/2) .
Assim como na mecânica clássica, dois “estados matemáticos” diferentes podem ser associados
com o mesmo estado físico. Qualquer um dos dois kets ortogonais:
com
|α|2 + |β|2 = 1. (14.5)
Pelo princípio da superposição, todos os kets matemáticos da forma (14.4) podem representar o
mesmo estado físico como aqueles da eq. (14.3), no qual tem-se um spin para cima e um para
baixo. Essa é a chamada “troca degenerada”.
As trocas degeneradas criam dificuldades fundamentais, desde que a aplicação dos postulados
da mecânica quântica aos vários kets (14.4) podem conduzir a predições físicas as quais dependem
do ket escolhido. Agora, por exemplo, será determinada a probabilidade de encontrar as
componentes dos dois spins ao longo do eixo Ox, ambas iguais a +~/2. Como já foi visto, tem-se
que
1 1
√ (|ε1 = +i + |ε1 = −i) ⊗ √ (|ε2 = +i + |ε2 = −i) =
2 2
1
[|+, +i + |+, −i + |−, +i + |−, −i] (14.6)
2
Essas probabilidades dependem dos coeficientes α e β. Isso não é possível, portanto, para
descrever o estado físico em consideração deve-se usar o conjunto dos kets (14.3), ou qualquer
um deles escolhido arbitrariamente. A degenerescência por troca deve ser removida. Isto é,
deve-se indicar sem qualquer ambiguidade qual dos kets (14.3) deve ser usado.
Note que nesse exemplo, a degenerescência por troca surge somente no estado
inicial, desde que escolhe-se o mesmo valor para as componentes dos dois
spins no estado final. No caso geral, (por exemplo, se o resultado da medida
corresponde aos dois diferentes valores de Sx ), a degenerescência por troca
surge tanto no estado inicial quanto no estado final.
14.1.6 Generalização
As dificuldades relacionadas com a troca degenerada surgem no estudo de todos os sistemas
que contêm um número arbitrário de partículas idênticas (N > 1).
Considere, por exemplo, um sistema de três partículas. Com cada uma das três partículas,
tomadas separadamente, estão associadas a um espaço de estado e aos observáveis que atuam
neste espaço. Assim, somos levados a contar as partículas: E(1), E(2) e E(3) indicando os três
espaços de estado de uma partícula, e os correspondentes observáveis serão marcados pelos
mesmos índices. O espaço de estado do sistema de três partícula é dado pelo produto tensorial:
Considere um observável B(1), inicialmente definido em E(1). Considere ainda que B(1),
sozinho constitui um C.S.C.O. em E(1) (ou que B(1) realmente denote vários observáveis os
quais constituem um C.S.C.O. em E(1)). O fato de que as três partículas são idênticas implica
que os observáveis B(2) e B(3) existem e que eles constituem um C.S.C.O. em E(2) e em E(3)
respectivamente. Os observáveis B(1), B(2) e B(3) possuem o mesmo espectro de autovalores
{bn ; n = 1, 2, 3, . . .}. Usando a base a qual define esses três observáveis em E(1), E(2) e em
E(3), pode-se construir, por meio do produto tensorial, uma base ortonormal de E, a qual será
denotada por
{|1 : bi ; 2 : bj ; 3 : bk i ; i, j, k = 1, 2, 3, . . .}. (14.9)
|1 : bn ; 2 : bp ; 3 : bq i , |1 : bq ; 2 : bn ; 3 : bp i , |1 : bp ; 2 : bq ; 3 : bn i ,
|1 : bn ; 2 : bq ; 3 : bp i , |1 : bp ; 2 : bn ; 3 : bq i , |1 : bq ; 2 : bp ; 3 : bn i . (14.10)
Portanto, uma medida completa em cada uma das partículas, não permiti a determinação de
um ket único do espaço de estados do sistema.
{|1 : ui ; 2 : uj i} (14.11)
Desde que a ordem dos vetores de estado não é importante em um produto tensorial, têm-se
então que
|2 : uj ; 1 : ui i ≡ |1 : ui ; 2 : uj i (14.12)
Entretanto, note que
|1 : uj ; 2 : ui i =
6 |1 : ui ; 2 : uj i se i 6= j (14.13)
O operador permutação P21 , é definido como um operador linear cuja a ação nos vetores da
base é dada por
P21 |1 : ui ; 2 : uj i = |2 : ui ; 1 : uj i = |1 : uj ; 2 : ui i . (14.14)
Sua ação sobre um ket qualquer de E pode ser facilmente obtida pela expansão desse ket na
base (14.11)2 .
2
Pode-se mostrar que o operador P21 da forma em que foi definido, independe da base escolhida.
Exemplo 14.1. Considere uma base formada pelos autoestados comuns do observável posição
R e da componente Sz do spin. Defina a base e escreva a ação do operador P21 sobre essa base.
Solução:
Escolhendo a base formado pelos autoestados comuns ao operador posição R e a componente
Sz do operador de spin S, pode-se escrever
P21 |1 : r1 , 1 ; 2 : r2 , 2 i = |1 : r2 , 2 ; 2 : r1 , 1 i (14.15)
Como qualquer ket |ψi do espaço de estados E pode ser representado por um conjunto de
(2s + 1)2 funções de seis variáveis
Xˆ
|ψi = d3 r1 d3 r2 ψ1 ,2 (r1 , r2 ) |1 : r1 , 1 ; 2 : r2 , 2 i , (14.16)
1 ,2
com
ψ1 ,2 (r1 , r2 ) = h1 : r1 , 1 ; 2 : r2 , 2 | ψi . (14.17)
r1 −→ r2 e 1 −→ 2
Consequentemente, as funções
as quais representam o ket |ψ 0 i = P21 |ψi podem ser obtidas a partir das funções (14.17), as
quais representam o ket |ψi ao se inverter ou trocar o conjunto de índices (r1 , 1 ) por (r2 , 2 ):
e para tal, considere o elemento de matriz de P21 na base {|1 : ui ; 2 : uj i}, o qual é dado por
†
Já aqueles do operador P21 são definidos por
†
h1 : ul ; 2 : um | P21 |1 : ui ; 2 : uj i = (h1 : ui ; 2 : uj | P21 |1 : ul ; 2 : um i)∗
= (h1 : ui ; 2 : uj | 1 : um ; 2 : ul i)∗
= δi,m δj,l (14.25)
†
Portanto viu-se que cada elemento de matriz de P21 é idêntico ao de P21 , o que significa que a
relação (14.23) é mantida.
Segue de (14.22) e (14.23) que o operador P21 é unitário, ou seja,
†
P21 P21 †
= P21 P21 = 1. (14.26)
S2 = S e A2 = A (14.29)
†
e do fato de que P21 = P21 , segue então que
S† = S e A† = A. (14.30)
Como S e A são projetores dentro do subespaço ortogonal, conforme a eq. (14.22), temos que
1 2
SA = 1 − P21 + P21 − P21 =0 (14.31)
4
1 2
AS = 1 + P21 − P21 − P21 =0 (14.32)
4
logo
AS = SA = 0 e [A, S] = 0 (14.33)
S + A = 1. (14.34)
2
na qual usou-se o fato de que P21 = 1. Da própria definição dos operadores S e A, é óbvio que
Portanto, se |ψi é um ket arbitrário do espaço de estados E, segue então da relação (14.35)
que S |ψi é um ket simétrico e A |ψi é um ket antissimétrico, ou seja, que
†
P21 B(1)P21 |1 : ui ; 2 : uk i = P21 B(1) |1 : uk ; 2 : ui i
= bk P21 |1 : uk ; 2 : ui i
= bk |1 : ui ; 2 : uk i , (14.40)
†
P21 [B(1) + C(2)] P21 = B(2) + C(1) (14.43)
e similarmente que
† † †
P21 B(1)C(2)P21 = P21 B(1)P21 P21 C(2)P21 = B(2)C(1). (14.44)
Esses resultados podem ser generalizados para todos os observáveis do tipo B(1) e C(2), sendo
denotado de forma geral pelo operador O(1, 2), assim
†
P21 O(1, 2)P21 = O(2, 1). (14.45)
ou seja,
[Os (1, 2), P21 ] = 0, (14.48)
ou seja, observáveis simétricos comutam com o operador permutação.
{|1 : ui ; 2 : uj ; 3 : uk i} , (14.49)
Pnpq |1 : ui ; 2 : uj ; 3 : uk i = |n : ui ; p : uj ; q : uk i . (14.51)
P231 |1 : ui ; 2 : uj ; 3 : uk i = |2 : ui ; 3 : uj ; 1 : uk i = |1 : uk ; 2 : ui ; 3 : uj i . (14.52)
P123 = 1. (14.53)
Note que os operadores de permutação não comutam uns com os outros. Por exemplo,
observe que
P132 P312 = P213 , (14.57)
P312 = P132 P213 = P321 P132 = P213 P321 = P132 P213 (P131 )2 = · · · (14.58)
Esta decomposição não é única. No entanto, para uma determinada permutação, pode se
mostrar que a paridade do número de transposições em que ela pode ser “quebrada”, é sempre
o mesmo: e ela é chamada de paridade da permutação. Assim, os três primeiros operadores
(14.50) possuem uma paridade par, e os três últimos, uma paridade ímpar. Para qualquer N ,
sempre há o maior número de permutações até mesmo como ímpares.
na qual
+1 Se Pα for uma permutação par
α = (14.61)
−1 Se Pα for uma permutação ímpar.
O conjunto completo de kets simétricos constituem um subespaço vetorial ES do espaço de
estados E, enquanto o conjunto completo dos kets antissimétricos, constituem um subespaço
vetorial EA .
Considere os operadores de simetrização S e de antissimetrização A definidos por
1 X 1 X
S= Pα e A= α Pα (14.62)
N! α N! α
na qual as soma são realizadas sobre N ! permutações dos N primeiros inteiros, e α é definido
por (14.61). Será mostras que os operadores de simetrização S e de antissimetrização A são
projetores nos subespaços vetoriais ES e EA . Por isso, eles são chamados respectivamente de
simetrizador e antissimetrizador.
Note que os operadores S e A são hermitianos, ou seja,
S = S† e A = A† . (14.63)
Além disso, segue que um operador de permutação arbitrário Pβ , satisfaz as seguinte relações
Pβ S = SPβ = S
(14.64)
Pβ A = APβ = α P
Isso deve-se ao fato de que Pα Pβ também é um operador de permutação, pois
Pα Pβ = Pγ com γ = α β (14.65)
Se para Pβ fixo, variarmos Pα sobre todo o grupo das possíveis permutações, isso resultará que
Pγ será idêntica a uma e somente uma das permutações do grupo, percorrendo todo o grupo de
permutações em uma ordem diferente. Consequentemente, tem-se que
1 X 1 X
Pβ S = Pβ P α = Pγ = S (14.66)
N! α N! γ
1 X 1 X
Pβ A = α Pβ Pα = β γ Pγ = β A (14.67)
N! α N! γ
Um resultado similar é obtido ao multiplicarmos S e A a direita por Pβ .
De (14.64) segue que
S2 = S e A2 = A, (14.68)
além disso, tem-se ainda que
AS = SA = 0. (14.69)
Isso ocorre porque
1 X 1 X
S2 = Pα S = S=S (14.70)
N! α N! α
1 X 1 X 2
A2 = α Pα A = A=A (14.71)
N! α N! α α
Como cada soma inclui N ! termos termos, segue então que
1 X 1 X
AS = α Pα S = S α = 0, (14.72)
N! α N! α
já que a metade dos N ! termos de α é igual a +1, a outra metade é igual −1.
Portanto, os operadores S e A são dois projetores. Eles projetam respectivamente nos
subespaços vetoriais ES e EA , desde que, conforme (14.64), as suas ações sobre um ket |ψi produz
um ket completamente simétrico ou antissimétrico:
Pβ S |ψi = S |ψi
(14.73)
Pβ A |ψi = β A |ψi
Note que:
EA
E
ES
Figura 14.4: Este diagramas ilustra que o espaço de estados E não dado só por uma soma direta dos
subespaços ES e EA .
1. O ket completamente simétrico construído pela ação de S sobre Pα |ψi, onde Pα é uma
permutação arbitrária, é o mesmo que aquele obtido do ket |ψi, já que a expressão (14.64)
indica que:
SPα |ψi = S |ψi (14.74)
2. No entanto, note que para N > 2 os simetrizadores e antissimetrizadores não são projetores
dentro de subespaços suplementares. Por exemplo, para N = 3, tem-se que
1
S+A= (P123 + P231 + P312 ) 6= 1, (14.76)
3
ou seja, o espaço de estados não é dado por uma soma direta dos subespaços ES e EA .
que um, vários de seus kets matemáticos correspondem ao mesmo estado físico: existe então
uma degenerescência de troca.
O postulado da simetrização restringe consideravelmente a classe dos kets matemáticos
capazes de descreverem um estado físico: estes kets devem pertencer ao subespaço ES para
bósons e ao subespaço EA para férmions. As dificuldades relacionadas com a degenerescência
por troca são eliminadas se formos capazes de mostrar que o subespaço Eu , contém um único
ket de ES ou um único ket de EA .
Para isso, usaremos as relações S = SPα um ou A = α APα , mostradas em (14.64). Com
isso, obtém-se:
S |ui = SPα |ui
(14.78)
A |ui = α APα |ui
Essas relações expressam o fato de que as projeções no subespaço ES e no subespaço EA dos
vários kets que expandem Eu , e consequentemente de todos os kets de Eu , são colineares. O
postulado da simetrização indica inequivocamente (a menos de um fator constante) que o ket
de Eu , o qual deve estar associado com o estado físico considerado: S |ui para bósons e A |ui
para férmions. Este ket é chamado o ket físico.
Note que é possível que todos os kets de Eu , tenham uma projeção de zero em EA (ou ES ).
Neste caso, o postulado simetrização exclui o estado físico correspondente. Mais tarde serão
apresentados exemplos de tal situação ao lidar com férmions.
1. Rotula-se com o número 1, por exemplo, a partícula no estado |ϕi e com o número 2 a
partícula no estado |χi, e isso fornece
|ui = |1 : ϕ; 2 : χi (14.79)
3. Em geral, os kets (14.80) e (14.81) não são normalizados. Se os kets |ϕi e |χi são
ortonormais, é fácil de encontrar a constante de normalização dos kets (14.80) e (14.81).
Nesse caso, para normalizar os kets S |ui e A |ui tudo o que se deve fazer é trocar o fator
√
1/2 por 1/ 2. Portanto, nesse caso o ket normalizado pode ser escrito como
1
|ϕ; χi = √ [|1 : ϕ; 2 : χi + |1 : χ; 2 : ϕi] , (14.82)
2
com = +1 para bósons e = −1 para férmions.
Considere agora o caso em que os estados de partícula única |ϕi e |χi são idênticos,
e nesse caso |ui já é simétrico. Se as duas partículas forem bóson, o ket (14.84) é então o ket
físico o qual está associado com o estado de dois bósons no mesmo estado individual, o estado
|ϕi. Entretanto, se as duas partículas forem férmions, da eq. (14.82) com = −1, temos
1
|ϕ; ϕi = √ [|1 : ϕ; 2 : ϕi + (−1) · |1 : ϕ; 2 : ϕi] = 0. (14.85)
2
Consequentemente não há kets de EA capaz de descrever o estado físico no qual dois férmions
estão no mesmo estado de partícula única |ϕi. Portanto, tal estado físico é excluído do postulado
da simetrização. Portanto, estabeleceu-se para um caso especial, um resultado fundamental
conhecido como “o princípio de exclusão de Pauli:” dois férmions idênticos não podem estar no
estado de partícula única. Esse resultado tem muitas consequências físicas importantes.
|ui = |1 : ϕ; 2 : χ; 3 : ωi . (14.86)
14.5.3.1 Bósons
1
S |ϕ; ϕ; ωi = [|1 : ϕ; 2 : ϕ; 3 : ωi + |1 : ϕ; 2 : ω; 3 : ϕi + |1 : ω; 2 : ϕ; 3 : ϕi] . (14.88)
3
Finalmente se os três |ϕi, |χi e |ωi forem idênticos, então o ket
|ui = |1 : ϕ; 2 : ϕ; 3 : ϕi (14.89)
14.5.4 Férmions
A aplicação de A ao ket |ui fornece
1 X
A |ui = α Pα |1 : ϕ; 2 : χ; 3 : ωi . (14.90)
3! α
Os sinais dos vários termos da soma em (14.90) são determinados pela mesma regra de um
determinante 3 × 3. É por isso é que é conveniente escrever A |ui na forma do determinante de
Slater :
|1 : ϕi |1 : χi |1 : ωi
1
A |ui = |2 : ϕi |2 : χi |2 : ωi (14.91)
3!
|3 : ϕi |3 : χi |3 : ωi
O ket A |ui será nulo se dois estados de partícula única qualquer coincidirem, já que o
determinante é nulo de houverem duas linhas ou colunas iguais. Obteve-se então o princípio de
exclusão de Pauli: o mesmo estado quântico não pode ser ocupado simultaneamente por vários
férmions idênticos.
Finalmente note que se os três kets |ϕi, |χi e |ωi forem ortogonais, então os seis kets que
surgem do lado direito de (14.90) também são ortogonais. Para normalizar (14.90), o que
√
devemos fazer é trocar o fator 3! por 1/ 3! .
Nos casos em que o sistema considerado tiver mais de três partículas idênticas, a situação é
similar a que acaba de ser descrita. Pode-se mostrar que, para N bóson idênticos, é sempre
possível construir o estado físico S |ui a partir dos estados de partícula única |ϕi, |χi, |ωi . . ..
Por outro lado, para os férmions, o ket físico A |ui pode ser escrito na forma de um determinante
de Slater de N × N , e isso, exclui o caso no qual dois estado de partícula única coincidem, o
que significaria que o ket A |ui seria nulo.
{|1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i} (14.92)
com um produto tensorial de espaços de estados E. Entretanto, desde que o espaço de estado
do sistema físico não é E, mas em vez disso, um dos subespaços ES ou EA , o problema que surge
é de como determinar uma base no espaço de estado físico.
Pela aplicação de S e/ou A aos vários kets da base (14.92), pode-se obter um conjunto de
vetores que compõem ES e/ou EA . Considere que o ket |ϕi arbitrário deES , por exemplo (o caso
no qual |ϕi pertencem a EA pode ser tratado do mesmo modo), o qual pertence a E, pode ser
expandido na seguinte forma
X
|ϕi = ai,j,...,p |1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i . (14.93)
i,j,...,p
Desde que |ϕi, por hipótese, pertence a ES , temos que S |ϕi = |ϕi, e simplesmente aplicamos
o operador S a ambos os lados de (14.93) para mostrar que ele pode ser expresso como uma
combinação linear de vários kets S |1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i.
Entretanto, deve-se notar que os vários kets S |1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i não são independen-
tes. Para vermos isso, usamos as regras de permutação de várias partículas em um dos kets
|1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i da base inicial (antes da simetrização). Neste novo ket, a aplicação de
S ou A conduzem, conforme as eqs. (14.73), ao mesmo ket de ES ou EA (possivelmente com um
sinal trocado).
Portanto, introduziremos o conceito de número de ocupação: por definição, para o ket
|1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i, o número de ocupação nk do estado de partícula única |uk i é igual ao
número de vezes que o estado |uk i aparece na sequência {|ui i , |uj i , . . . , |up i}, isto é, o número
de partículas no estado |uk i, o que obviamente significa que
X
nk = N. (14.94)
k
Para os férmions, S deve ser trocado por A em (14.95) (c é um fator o qual permite a normali-
zação do estado obtido desse modo). Aqui apresentaremos algumas propriedades dos estados
|n1 , n2 , . . . , nk , . . . , np i:
1. O produto escalar de dois kets |n1 , n2 , . . . , nk , . . . , np i e n01 , n02 , . . . , n0k , . . . , n0p é diferente
de zero somente se todos os números de ocupação forem iguais, ou seja, nk = n0k para
todo k. Usando (14.95) e as definições (14.62) de S e A, pode-se obter uma expansão
dos dois kets em consideração na base ortonormal, {|1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i}. Então fica
fácil ver que se os números de ocupação não forem iguais , esses dois kets não podem
simultaneamente ter componentes não nulas no mesmo vetor da base.
3. Os kets |n1 , n2 , . . . , nk , . . . , np i formam uma base em ES desde que esses kets que expandem
ES , sejam todos não-zero, e sejam mutuamente ortogonais entre si.
5. A prova anterior não é aplicável a férmions por causa dos sinais de menos que surgem
nas permutações ímpares na definição (14.62) de A. Além disso, vimos que dois férmions
idênticos não podem ocupar o mesmo estado quântico individual: se qualquer um dos
números de ocupação é maior do que 1, o vetor definido por (14.95) é igual a zero. Por
outro lado, ele nunca é zero, se todos os números de ocupação são iguais a um ou zero,
uma vez que as duas partículas, então, nunca estão no mesmo estado quântico de partícula
única, de modo que os kets |1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i e Pα |1 : ui ; 2 : uj ; . . . ; N : up i são
sempre diferentes e ortogonais. A relação (14.95), por conseguinte, define um ket físico
não-zero neste caso. O resto da prova é o mesmo que para bósons.
q2
1 1 1
W = + + (14.97)
4πε0 |R1 − R2 | |R2 − R3 | |R3 − R1 |
• Spin total
S = S1 + S2 + S3 (14.98)
É claro a partir dessas expressões que os observáveis associados com as quantidades físicas
consideradas envolvem as diversas partículas de forma simétrica. Esta propriedade importante
segue diretamente do fato de que as partículas são idênticas. Em (14.96), por exemplo, R1 , R2 e
R3 tem o mesmo coeficiente, uma vez que as três partículas têm o mesma massa. É a igualdade
das cargas que está na base da forma simétrica de (14.97). Em geral, uma vez que nenhuma
propriedade física é modificada quando os papéis das N partículas idênticas são permutados,
estas N partículas devem desempenhar um papel simétrico em qualquer observável mensurável.
Matematicamente, o observável G correspondente, que vamos chamar um observável físico, deve
ser invariante sob todas as permutações das N partículas idênticas. Deve-se, portanto, comutar
com todos os operadores de permutação Pα das N partículas:
Desde que a permutação Pα é arbitrária, (14.101) expressa o fato de que G |ψi é completamente
antissimétrico e portanto pertence a EA .
1. Todos os valores próprios de G que existem no espaço total E não são necessariamente
encontrados se nos restringirmos aos subespaço Es (ou EA ). O efeito do postulado sime-
trização no espectro de um observável simétrico G pode ser, portanto, suprimir certos
autovalores. Por outro lado, ele não adiciona nenhum autovalor novo a esse espectro, uma
vez que, por causa da invariância globalEs (ou EA ) sob a ação de G, qualquer autovetor de
G em Es (ou EA ) também é um autovetor de G em E com o mesmo autovalor.
X1 + X2 + X3 , X1 X2 + X2 X3 + X3 X1 , X1 X2 X3 (14.102)
Os dois primeiros termos representam a energia cinética do sistema; eles são simétricos,
porque as duas massas são iguais. Os próximos dois termos são devido à atração do núcleo (cuja
taxa é duas vezes maior do que a do próton). Os elétrons são, obviamente, igualmente afetados
por esta atração. Finalmente, o último termo descreve a interação mútua dos elétrons. Ela
também é simétrica, uma vez que nenhum dos dois elétrons está em uma posição privilegiada.
É claro que este argumento pode ser generalizada para qualquer sistema de partículas idênticas.
Consequentemente, todos os operadores de permutação comutar com o Hamiltoniano do sistema:
[H, Pα ] = 0. (14.104)
Sobre essas condições, se o ket |ψ(t0 )i descrevendo o estado do sistema em um dado instante t0
é um ket físico, o mesmo deve ser verdade para o ket |ψ(t)i obtido de |ψ(t0 )i pela solução da
equação de Schrödinger. De acordo, com a equação de Schrödinger temos:
dt
|ψ(t + dt)i = 1 + H |ψ(t)i . (14.105)
i~
Agora aplicando Pα e usando a relação (14.104):
dt
Pα |ψ(t + dt)i = 1 + H Pα |ψ(t)i . (14.106)
i~
Se o ket |ψ(t)i é um autovetor de Pα , |ψ(t + dt)i também é um autovetor de Pα , com o mesmo
autovalor. Desde que |ψ(t0 )i, por hipótese, é um ket completamente simétrico ou completamente
antissimétrico, essa propriedade é conservada na evolução temporal.
O postulado da simetrização é portanto compatível com os postulados que fornecem a
evolução temporal de um sistema físico: a equação de Schrödinger não remove um ket de Es ou
de EA .
14.6.2 Discussão
Nesta seção final, examinaremos as consequências do postulado simetrização sobre as propri-
edades físicas de sistemas de partículas idênticas. Primeiro de tudo, vamos indicar as diferenças
fundamentais introduzidas pelo princípio de exclusão de Pauli entre os sistemas de férmions
idênticos e sistemas de bósons idênticos. Então, vamos discutir as implicações do postulado
simetrização relativa ao cálculo das probabilidades associadas aos vários processos físicos.
h(1) é uma função somente dos observáveis associados com a partícula numerada por (1); o fato
de que as partículas serem idênticas (o que implica em um hamiltoniano simétrico H(1, 2, . . . , N ))
impõe que a função h seja a mesma para cada um dos N termos da expressão (14.107). Para
determinar os autoestados e autovalores do hamiltoniano total H(1, 2, . . . , N ) , simplesmente
calculamos os hamiltonianos individuais h(j) no espaço de estados E(j) de uma das partículas:
Por uma questão de simplicidade, será considerado que o espectro de h(j) é discreto e não
degenerado.
Se considerarmos um sistema físico de bósons idênticos, os autovetores físicos do hamiltoniano
H(1, 2, . . . , N ) pode ser obtido pela simetrização dos produtos tensoriais dos N estados arbitrários
de partícula única |ϕn i:
(S) X
Φn ,n
1 2 ,...,nN
=c Pα |1 : ϕn1 ; 2 : ϕn2 ; . . . ; N : ϕnN i (14.109)
α
Pode-se mostrar que cada ket que surge no lado direito de (14.109) é um autoket de H com
autovalores dados por (14.110); isso também é verdade para a soma deles.
Em particular, se e1 é o menor autovalor de h(j), e |ϕ1 i é o auto estado associado, o estado
fundamental do sistema é obtido quando os N bósons idênticos estão todos no estado |ϕ1 i. A
energia desse estado fundamental é portanto:
E1,1,...,1 = N e1 (14.111)
Agora, considere que as N partículas idênticas consideradas são férmions. Não é mais
possível para todas essas N partículas estarem no mesmo estado de partícula única |ϕ1 i. Para
obter o estado fundamental do sistema, o princípio de exclusão de Pauli deve ser levado em
conta. Se as energias individuais en estão arranjadas em ordem crescente:
e1 < e2 < · · · < en−1 < en < en+1 < · · · < eN (14.113)
A maior energia eN dos estados de uma partícula, encontrada no estado fundamental é chamada
de energia de Fermi do sistema.
O princípio de exclusão de Pauli possui um papel muito importante em toda a física na
qual um sistema de muitos elétrons está envolvido, tais como na física atômica e molecular e a
física de estado sólido, e toda aquela em que sistemas com muitos prótons, ou muitos nêutrons
estejam envolvidos.
Considere um sistema composto por duas partículas idênticas, uma das quais é conhecido por
estar no estado individual|ϕi e a outra em |χi. Será considerado que |ϕi e |χi são ortogonais,
de modo que o estado do sistema é descrito pelo ket físico normalizado
1
|ϕ; χi = √ [1 + P21 ] |1 : ϕ; 2 : χi , (14.116)
2
no qual
+1 se as partículas são bósons
= (14.117)
−1 se as partículas são férmions
Com o sistema nesse estado, considere que se deseje medir em cada uma das duas partículas
a mesma quantidade física B, com a qual os observáveis B(1) e B(2) estão associadas. Por uma
questão de simplicidade, será considerado que o espectro de B é inteiramente discreto e não
degenerado:
B |ui i = bi |ui i (14.118)
Qual é a probabilidade de encontrar certos valores nesta medida (bn para uma das partículas
e bm para a outra)? Partindo da hipótese de que bn e bm são diferentes, de modo que os
correspondentes autovetores |un i e |um i são ortogonais, ou seja, hun | um i = δn,m . Sob estas
condições, o ket físico normalizado definido pelo resultado desta medida pode ser escrito como:
1
|un ; um i = √ [1 + P21 ] |1 : un ; 2 : um i (14.119)
2
o qual fornece a amplitude de probabilidade associada com esse resultado:
1 †
hun ; um | ϕ; χi = h1 : un ; 2 : um | (1 + P21 )(1 + P21 ) |1 : ϕ; 2 : χi , (14.120)
2
†
mas como P21 = P21 e (P21 )2 = 1, segue então que
1 †
(1 + P21 )(1 + P21 ) = 1 + P21 ,
2
o que significa então que
Deixando que o operador (1 + P21 ), na expressão anterior atue sobre o bra, obtém-se que
hun ; um | ϕ; χi = h1 : un ; 2 : um | 1 : ϕ; 2 : χi + h1 : um ; 2 : un | 1 : ϕ; 2 : χi
= h1 : un | 1 : ϕi h2 : um | 2 : χi + h1 : um | 1 : ϕi h2 : un | 2 : χi
= hun | ϕi hum | χi + hum | ϕi hun | χi (14.122)
(a) (b)
Figura 14.5: Representação esquemática do termo direto e do termo de troca associado com uma
medida realizada em um sistema de duas partículas idênticas. Antes realizar a medida, sabe-se que uma
das partículas está no estado |ϕi e a outra, no estado|χi. O resultado obtido da medida corresponde
a uma situação em que uma partícula se encontra no estado |un i e a outra, no estado |um i. As
duas amplitudes de probabilidade estão associadas com uma das medidas; eles estão representados
esquematicamente pelas figuras (a) e (b). Estas amplitudes interferem com um sinal de + para bósons
e com um sinal − para férmions.
bósons e com um sinal − para férmions. Portanto, obteve-se uma reposta para a indagação
inicial: a probabilidade desejada P(bn ; bm ) é igual ao quadrado do módulo de (14.122):
O primeiro termo da eq. (14.122), que corresponde ao caminho ilustrado na figura 14.5(a)
é chamado de termo direto, enquanto o segundo termo da eq. (14.122), que corresponde ao
caminho ilustrado na figura 14.5(b) é chamado de termo de troca.
Agora será examinado o que ocorre se duas partículas , em vez de idênticas, forem de
natureza distintas. O estado inicial do sistema é escolhido de modo que
|ψi = |1 : ϕ; 2 : χi (14.124)
Agora, considere um instrumento de medida o qual, embora as duas partículas não sejam
idênticas, ele não consegue distinguir uma da outra. Se el produz os resultados bn e bm , não
se sabe se bn está associado com a partícula (1) ou (2) (por exemplo um sistema composto
por um múon µ− e um elétron e− , o dispositivo de medida pode ser sensível somente as cargas
das partículas, não fornecendo nenhuma informação sobre suas massas). Os dois autoestados
|1 : un ; 2 : um i e |1 : um ; 2 : un i (os quais nesse caso, representam diferentes estados físicos) então
correspondem ao mesmo resultado da medida. Desde que eles sejam ortogonais, deve-se adicionar
as correspondentes probabilidades, o que fornece:
A comparação da eq. (14.123) com a eq. (14.125), revela claramente as diferenças significantes
nas predições físicas da mecânica quântica dependendo se as partículas em consideração são ou
não idênticas.
Agora considere o caso em os dois estados |un i e |um i são os mesmos. Quando as duas
partículas são férmions, o correspondente estado físico é excluído pelo princípio de Pauli, e
a probabilidade P(bn ; bm ) é igual a zero. Por outro lado, se as duas partículas forem bósons,
tem-se que
|un ; un i = |1 : un ; 2 : un i (14.126)
e consequentemente:
1
hun ; un | ϕ; χi = √ h1 : un ; 2 : umn | (1 + P21 ) |1 : ϕ; 2 : χi
2
√
= 2 hun | ϕi hun | χi (14.127)
a qual fornece:
P(bn ; bn ) = 2 |hun | ϕi hun | χi|2 (14.128)
Ao comparar esse resultado, com o obtido anteriormente para duas partículas distintas,
deve-se trocar o ket |ϕ; χi pelo ket |1 : ϕ; 2 : χi e |un ; un i por |1 : un ; 2 : un i, o que fornece o
seguinte valor para amplitude de probabilidade:
e consequentemente:
P 0 (bn ; bn ) = |hun | ϕi hun | χi|2 (14.130)
Para um sistema contendo N partículas idênticas, em geral, há N ! termos de troca distintos
os quais soma (ou subtraem) na amplitude de probabilidade. Por exemplo, considere um
sistema com três partículas idênticas nos estados individuais |ϕi, |χi, e |ψi e as probabilidade
de determinar, em uma medida, os resultados bn , bm e bq . Os possíveis “caminhos” são ilustrados
na figura (14.6). Existem seis possíveis “caminhos” (todos distintos, se os três autovalores forem
bn , bm e bq diferentes). Alguns sempre contribuem para a amplitude de probabilidade com um
sinal +, enquanto outros com um sinal (+1 para bósons e −1 para férmions).
+ + +
Figura 14.6: Representação esquemática das seis amplitudes de probabilidade associados com um
sistema de três partículas idênticas. Sabe-se antes realizar a medida que uma partícula está no estado
|ϕi, uma outra, no estado |χi, e a último, no estado |ψi. O resultado obtido corresponde a uma situação
em que uma partícula se encontra no estado |un i, uma outra, no estado |um i, e o último, no estado
|uq i. As seis amplitudes interferem com um sinal que é mostrado abaixo de cada uma ( = +1 para
bósons, = −1 para férmions).
O z O z
Em particular, após a colisão, o estado do sistema no instante t1 é representado pelo ket físico:
Note que, desde que o hamiltoniano H, é simétrico, o operador evolução temporal U (t, t0 ) comuta
com o operador permutação:
[U (t, t0 ), P21 ] = 0. (14.134)
(1) n̂ (2) n̂
(1) z (1) z
(2) (2)
O termo direto correspondente, por exemplo, ao processo mostrado na figura 14.8(a), e o termo
de troca representado pela 14.8(b). Novamente as amplitudes de probabilidade associadas
com esses dois processos devem ser adicionadas ou subtraídas. Isso faz surgir um termo de
interferência quando o quadrado do módulo da expressão (14.137) é tomado. Note também
que essa expressão é multiplicada por se n̂ for trocado por −n̂, tal que a correspondente
probabilidade é invariante sobre essa troca.
Considere duas partículas idênticas, uma das quais está no estado individual |ϕi e outro,
no estado |χi. Para simplificar a notação, será ignorado o spin. Considere que o domínio das
funções de onda que representam os kets |ϕi e |χi são bem separados no espaço:
ϕ(r) = hr| ϕi = 0 se r ∈
/ Dϕ
(14.138)
χ(r) = hr| χi = 0 se r ∈
/ Dχ
Dϕ Dχ
Figura 14.9: Domínios dos estado iniciais representados pelos os kets |ϕi e |χi.
vez que as duas partículas são idênticas, o postulado simetrização deve, em teoria, ter sido
levado em conta. Na amplitude de probabilidade associada com o resultado da medida, o termo
direto é então hu| ϕi hv| χi, e o termo de troca é hu| χi hv| ϕi. Agora, a disposição espacial dos
dispositivos de medida implicam que:
v(r) = hr| vi = 0 se r ∈ Dϕ
(14.139)
u(r) = hr| ui = 0 se r ∈ Dχ
Conforme as eqs. (14.138) e (14.139), as funções de onda u(r) e χ(r) não se sobrepõem e nem
v(r) e ϕ(r), logo
hu| χi = hv| ϕi = 0. (14.140)
Dϕ u(r) Dχ v(r)
Figura 14.10: Domínios dos estado finais representados pelos os kets |ui e |vi.
O termo troca é portanto zero. Consequentemente, não é necessário, nesta situação, para
usar o postulado simetrização. Obtém-se o resultado desejado pelo raciocínio direto no qual trata
as partículas como se elas fossem de diferentes naturezas, rotulando, por exemplo, a do domínio
Dϕ com o número 1, e a situada em Dχ com o número 2. Antes da medida, o estado do sistema
é então descrito pelo ket |1 : ϕ; 2 : χi, e com o resultado previsto da medida está associada com
o |1 : u; 2 : vi. Seu produto escalar fornece a amplitude de probabilidade hu| ϕi hv| χi. Este
argumento mostra que a existência de partículas idênticas não impede o estudo separado de
sistemas de acesso restrito, composto por um pequeno número de partículas.
Observação 14.3. No estado inicial escolhida, as duas partículas situam-se em duas regiões
distintas de espaço. Além disso, nós definimos o estado do sistema, especificando dois estados
individuais. Podemos nos perguntar se, após o sistema ter evoluído, ainda é possível estudar
uma das duas partículas e ignorar a outra. Para que este seja o caso, é necessário, não só
que as duas partículas permanecem em duas regiões distintas de espaço, mas também que não
interagem. Se as partículas são idênticas ou não, uma interação sempre introduz a correlação
entre elas, e não é mais possível descrever cada um delas por um vetor de estado.
14.7.4.2 Partículas que podem ser identificadas pela direção de seus spins
Considere uma colisão elástica entre duas partículas idênticas de spin 1/2 (por exemplo
elétrons), considerando que as interações dependentes do spin podem ser desprezadas, de modo
que os estados de spin das duas partículas são conservados durante a colisão. Se estes estados de
spin são inicialmente ortogonais, eles nos permitem distinguir entre as duas partículas em todos
os momentos, como se eles não fossem idênticos; consequentemente, o postulado simetrização,
novamente não tem nenhum efeito aqui.
O z O z
Pode-se mostrar isso, conforme cálculos anteriores, e para tal considere por exemplo, que o
estado inicial é dado pelo seguinte ket físico
1
|ψi i = √ (1 − P21 ) |1 : pêz , +; 2 : −pêz , −i (14.141)
2
no qual os sinais + e − adicionados após cada momentum, indica o sinal da componente do
spin ao longo do eixo particular escolhido. O estado final, o qual está sendo considerado na
figura 14.11 será descrito por
1
|ψf i = √ (1 + P21 ) |1 : pn̂, +; 2 : −pn̂, −i (14.142)
2
Sobre essas condições, somente o primeiro termo de (14.137) é diferente de zero, desde que o
segundo pode ser escrito como
Este é o elemento da matriz de um operador independente do spin (por hipótese) entre dois
kets cujos estados de spin são ortogonais; ele é portanto zero. Para obter o mesmo resultado
se tratássemos as duas partículas diretamente como se elas fossem diferentes, ou seja, se não
antissimetrizássemos os kets iniciais e finais, e se associássemos ao índice 1 com o estado de
spin |+i e com o índice 2 com o estado de spin |−i. É claro que, isso não é mais possível, se o
operador de evolução U , isto é, o hamiltoniano H do sistema, for dependente do spin.
ser diagonalizado simultaneamente com H. Isto significa que os autoestados de H podem ser
construídas de tal modo que eles também são autofunções dos operadores simétricos. Não é
difícil encontrar operadores simétricos os quais pertencem à classe de invariância do hamiltoniano
com respeito a mudança de enumeração das partículas. Eles são operadores do tipo Pik , os quais
trocam as coordenadas ri pelas coordenadas rk do vetor de estado ,
Pik |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i = |1 : r1 ; . . . ; i : rk ; . . . ; k : ri ; . . . ; n : rn i (14.144)
Pik |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i = λ |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i
|1 : r1 ; . . . ; i : rk ; . . . ; k : ri ; . . . ; n : rn i = λ |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i
(14.146)
onde λ são os possíveis autovalores do operador Pik . Se aplicarmos uma vez mais o operador
Pik à equação (14.146), encontraremos
Pik2 |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i ≡ |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n : rn i
= λ2 |1 : r1 ; . . . ; i : ri ; . . . ; k : rk ; . . . ; n :(14.147)
rn i
isto é, os autovalores reais λ, tem de satisfazer a seguinte equação λ2 = 1. Portanto o operador Pik
pode ter somente os autovalores λ = ±1. Sobre a troca das coordenadas ri e rk , as autofunções
de Pik podem portanto ou permanecer a mesma (λ = +1, funções de onda simétricas), ou mudar
o seu sinal (λ = −1, funções de onda antissimétricas). Uma generalização do operador de dupla
troca é o operador permutação P , o qual gera uma permutação arbitrária dos índices:
|1 : r1 , σ 1 ; . . . ; i : ri , σ i ; . . . ; n : rn , σ n i = |x1 , . . . , xi , . . . , xn i
|1 : r1 , σ 1 ; . . . ; i : rn , σ n ; . . . ; n : ri , σ i i = |x1 , . . . , xn , . . . , xi i .
S X
Ψ = A P |x1 , x2 , . . . , xn i (14.149)
P
A X
Ψ = B (−1)P P |x1 , x2 , . . . , xn i . (14.150)
P
Aqui somamos sobre todas as permutações P (1), . . . , P (n) dos índices 1, 2, . . . , n. O sinal (−1)P
na equação (14.150) é definido por
(
+1 Se o número de permutações for par
(−1)P = (14.151)
−1 Se o número de permutação for ímpar
Isto assegura que o ket ΨA permanecerá antissimétrico sobre a troca de dois índices. A
notação par e ímpar se referem ao número de pares de trocas necessárias para obtermos uma
certa permutação. Os fatores A e B podem ser determinados pela normalização dos respectivos
estados.
É um fato experimental que a natureza só pode ser descrita corretamente por funções de onda
que tenham simetrias bem definidas. Além disso, como a experiência nos ensina, na natureza os
autovalores λ sempre tem o mesmo valor para cada espécie de partícula. Em outras palavras,
na natureza existem obviamente duas espécies de partículas: partículas que são descritas por
funções de onda simétricas e que são chamadas de bósons, e partículas que são descritas por
funções de onda antissimétricas e que são chamadas de férmions.
Exatamente como no caso clássico, sistemas de partículas não interagentes são simples de se
tratar na mecânica quântica, desde que o correspondente hamiltoniano possa ser separada em
uma soma de operadores de uma partícula:
n
X
S
H (x1 , x2 , . . . , xn, p1 , p2 , . . . , pn ) = h (xi, pi ) . (14.152)
i=1
for resolvido, podemos construir a função de onda total a partir das funções de onda de
uma-partícula φk (x). A função de onda mais simples do hamiltoniano (14.152) é
n
Y
ΨE
k1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) = φki (xi ) . (14.154)
i=1
Aqui denotamos o número quântico dos estados ocupados por um índice. A função de onda
tem o seguinte autovalor energia
n
X
E= εki . (14.155)
i=1
O produto das funções de onda (14.154) pode ser escrito em uma maneira mais clara usando a
notação de Dirac, usando os vetores de estados bra e o ket. O vetor de estado da função de
onda de muitas partículas pode ser caracterizado pelos números quânticos dos estados ocupados.
Ele é o produto direto dos vetores de estado de uma partícula:
O espaço de Hilbert correspondente é a soma direta dos espaços de uma partícula. A equação
(14.156) significa que a partícula no 1 está no estado quântico k1 , a partícula no 2 está no estado
quântico k2 , etc. O conjugado hermitiano deste vetor de estado é
Nas equações (14.156) e (14.157) devemos sempre ter o cuidado de ordenar os números quânticos,
pois estamos assumindo que as partículas são distinguíveis, portanto é importante sabermos
qual partícula ocupa um determinado estado. Os vetores de estado são ortonormalizados
X
|k1 , k2 , . . . , kn i hk1 , k2 , . . . , kn | = 1. (14.159)
k1 ,k2 ,...,kn
se este for o caso para os estados de uma partícula. Uma função de onda arbitrária (par para
sistemas interagentes) pode portanto ser expandida em termos de |k1 , k2 , . . . , kn i. Para números
quânticos discretos, a função-δ nas equações (14.158) devem ser interpretadas como símbolos de
Kronecker. A função de onda (14.154) segue como a representação dos vetores de estado na
representação das coordenadas
ΨE
k1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) = hx1 , x2 , . . . , xn | k1 , k2 , . . . , kn i
Esta função de onda não tem uma simetria bem definida, desde que as trocas de duas coordenadas
(ou equivalentemente, de dois números quânticos) conduz a funções de onda completamente
diferentes. Por outro lado, a Hamiltoniana (14.152) comuta com o operador permutação, e
portanto podemos construir também autofunções com um caráter de simetria bem definido:
X
ΨS,E
k1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) = N orm. P φk1 (x1 ) φk2 (x2 ) · · · φkn (xn ) , (14.161)
P
1 X
ΨA,E
k1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) = √ (−1)P P φk1 (x1 ) · · · φkn (xn ) . (14.162)
n! P
Aqui somamos sobre todas as permutações P (1), . . . , P (n) de 1, 2, . . . , n nos argumentos das
funções de onda de uma-partícula φkn (xn ). Além disso, devemos notar que é irrelevante se
estamos permutando os índices das coordenadas ou dos números quânticos. A função de onda
antissimétrica (14.214), a qual descreve os férmions, pode ser interpretada com um determinante,
φ (x ) · · · φ (x )
k1 1 k1 n
A,E 1 .
.. . .. .
..
Ψk1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) = √ . (14.163)
n!
φkn (x1 ) · · · φkn (xn )
Este determinante também é chamado de determinante de Slater. Aqui o conhecido princípio de
exclusão de Pauli para férmions torna-se imediatamente óbvio, o qual nos diz que dois férmions
iguais não pode ocupar o mesmo estado quântico de uma partícula. Se este for o caso, dois dos
números quânticos k1 , k2 , . . . , kn poderiam ser iguais, e portanto duas linhas do determinante
seriam idênticas, desta forma a função de onda ΨA,E
k1 ,...,kn (x1 , x2 , . . . , xn ) seria automaticamente
nula.
Em contraste com os férmions, muitos bósons podem ocupar arbitrariamente o mesmo
estado de uma partícula. Este fato, torna a normalização da função de onda simétrica mais
complicada. Realmente ela depende de quantos dos números quânticos k1 , k2 , . . . , kn são iguais.
Se por exemplo, o estado k1 está ocupado por n1 bósons, k2 por n2 bósons, etc., onde de fato o
P
número total de bósons do sistema é dado por N = i ni , então a norma da equação (14.212) é
1
N orm. = √ . (14.164)
N ! n1 ! n2 ! · · · nn !
Esta expressão torna-se mais clara se considerarmos que existem ao todo N ! permutações, além
disso ni permutações mútuas do mesmo número quântico conduzem ao mesmo termo na soma
que aparece na equação (14.212), portanto devemos multiplicar as N ! permutações pelas ni
permutações mútuas para obtermos o número total de permutações possíveis, obtendo desta
forma o coeficiente de normalização.
∗
Ψ (x1 , x2 ) ΨS (x1 , x2 ) = [φ∗k1 (x1 ) φ∗k2 (x2 ) + φ∗k1 (x2 ) φ∗k2 (x1 )] ×
S
Se φk1 e φk2 forem ortogonais, o segundo e o terceiro termo se anulam quando integrarmos
sobre as coordenadas, e desta forma encontraremos que ΨS ΨS = 2. Se, entretanto, ambas as
partículas ocuparem o mesmo estado φk1 , os termos mistos também contribuem, e obteremos
que ΨS ΨS = 4. Ambos os casos são descritos pela norma (14.216). No primeiro caso temos:
√ √
N = 2, n1 = 1, n2 = 1 e a norma N orm. = 1/ N ! n1 ! n2 ! = 1/ 2. No segundo caso temos:
√ √
N = 2, n1 = 2, n2 = 0 e a norma N orm. = 1/ N ! n1 ! n2 ! = 1/ 4.
As Funções de onda antissimétricas e simétricas também podem ser escritas mais claramente
na notação de Dirac,
1 X
|k1 , k2 , . . . , kn iA = √ (−1)P P |k1 , k2 , . . . , kn i
n! P
1 X
(−1)P
= √ kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n) (14.165)
n! P
1 X
|k1 , k2 , . . . , kn iS = √ P |k1 , k2 , . . . , kn i
n!S P
1 X
= √ kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n) . (14.166)
n!S P
Aqui o fator S −1/2 representa a normalização adicional, se vários dos k1 , k2 , . . . , kn são iguais.
Podemos provar facilmente, com a ajuda das equações (14.217) e (14.166), que as funções de
onda antissimetrizadas e simetrizadas tem um caráter simétrico bem definido:
A
P |k1 , k2 , . . . , kn iA = kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n) = (−1)P |k1 , k2 , . . . , kn iA
(14.167)
S
P |k1 , k2 , . . . , kn iS = kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n) = (+1) |k1 , k2 , . . . , kn iS
(14.168)
1 X X 0 A
(−1)P (−1)P A kP0 0 (1) , . . . , kP0 0 (n) kP (1) , . . . , kP (n)
= (14.169)
n! P P0
X
(−1)P hk10 , k20 , . . . , kn0 | kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n)
= (14.170)
P
X
(−1)P δ k10 − kP (1) δ k20 − kP (2) · · · δ kn0 − kP (n)
= (14.171)
P
Aqui, exploramos o fato de que a somatória dupla sobre todas as permutações é igual a n! vezes
uma única soma sobre todas as permutações, como podemos nos convencer rapidamente com o
seguinte exemplo, para n = 2. Desde que o lado direito não se anula, se qualquer permutação
de {k1 , k2 , . . . , kn } for igual a {k10 , k20 , . . . , kn0 }, dois estados os quais diferem somente pela ordem
dos números quânticos são considerados diferentes (ortonormais).
Para um vetor de estado simétrico, analogamente temos,
1 X
S
hk10 , . . . , kn0 | k1 , . . . , kn iS = √ δ k10 − kP (1) · · · δ kn0 − kP (n)
(14.172)
SS 0 P
Observemos que o fator adicional é um fator novamente necessário, se vários números
quânticos são idênticos. As funções de onda seguem novamente como representações das
coordenadas dos vetores de estado
1 A
ΨA
k1 ,...,kn (x1 , . . . , xn ) = √ hx1 , . . . , xn | k1 , . . . , kn iA
n!
1 X
= √ (−1)P P φk1 (x1 ) · · · φkn (xn ) (14.173)
n! P
1
ΨSk1 ,...,kn (x1 , . . . , xn ) = √ S hx1 , . . . , xn | k1 , . . . , kn iS
n!
1 X
= √ P φk1 (x1 ) · · · φkn (xn ) . (14.174)
N ! n1 ! · · · nn ! P
Os vetores de estado (14.217) e (14.166) formam um sistema completo em ambos os espaços par-
ciais dos estados antissimetrizados e simetrizados. Uma função de onda arbitrária (normalmente
para sistemas interagentes) podem ser expandidas em termos destas funções:
1 X
|k1 , k2 , . . . , kn iA A
hk1 , k2 , . . . , kn | = 1A (14.175)
n! k ,k ,...,k
1 2 n
1 X
|k1 , k2 , . . . , kn iS S
hk1 , k2 , . . . , kn | = 1S . (14.176)
n! k ,k ,...,k
1 2 n
1A |k1 , k2 , . . . , kn iA =
1 X A
= |k10 , k20 , . . . , kn0 i A
hk10 , k20 , . . . , kn0 | k1 , k2 , . . . , kn iA
n! 0 0 0
k1 ,k2 ,...,kn
1 X A
X
|k10 , k20 , . . . , kn0 i (−1)P δ k10 − kP (1) · · · δ kn0 − kP (n)
=
n!
k10 ,k20 ,...,kn
0 P
1 X A 1 X
(−1)P kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n) = |k1 , k2 , . . . , kn iA
=
n! P n! P
= |k1 , k2 , . . . , kn iA (14.177)
onde as relações (14.221) e (14.218) foram usadas. A prova para bósons é análoga; somente, na
segunda linha da equação (14.177) devemos ter o cuidado de
X S 1 X X
kP (1) , . . . , kP (n) S
|k10 , . . . , kn0 i √ δ k10 − kP (1) · · · δ kn0 − kP (n) =
k10 ,...,kn
0 SS 0 P P
(14.178)
Aqui o fator adicional da normalização é novamente necessário, se vários números quânticos são
idênticos.
A antissimetrização e a simetrização dos estados também tem consequências nas possíveis
quantidades observáveis do sistema. Por exemplo, agora o cálculo quântico de valores esperados
de observáveis que de algum modo marcam uma partícula específica, não é mais sensível a
especificação da partícula. Também não é mais possível especificar a densidade de probabilidade
de encontrar a partícula no 2 na posição x1 . Agora temos somente uma densidade de probabilidade
de encontrar qualquer uma das n partículas na posição x1 . Isto significa também que todos os
observáveis O de um sistema de partículas indistinguíveis tem de ser invariante com respeito a
troca da enumeração das partículas:
[O, P ] = 0 (14.179)
1 X X 0 A
(−1)P A kP0 0 (1) , . . . , kP0 0 (n) O kP (1) , . . . , kP (n)
(−1)P
= (14.180)
n! P P0
X
(−1)P hk10 , k20 , . . . , kn0 | O kP (1) , kP (2) , . . . , kP (n)
= (14.181)
P
ˆ
hk10 , . . . , kn0 | O |k1 , . . . , kn i = d3 x1 · · · d3 xn φ∗k10 (x1 ) · · · φ∗kn0 (xn ) O φk1 (x1 ) · · · φkn (xn )
(14.182)
O cálculo do traço dos operadores segue a seguinte regra (prescrição):
1 X
Tr O = S,A
hk1 , k2 , . . . , kn | O |k1 , k2 , . . . , kn iS,A (14.183)
n! k ,k ,...,k
1 2 n
desde que agora qualquer dois estados os quais difiram somente por uma permutação dos
números quânticos não devem ser contados como diferentes.
O caráter simétrico da função de onda também tem consequências importantes na termo-
dinâmica e nas propriedades estatísticas de um sistema. Portanto, falamos em estatística de
Bose-Einstein para bósons e estatística de Fermi-Dirac para Férmions. Se um sistema consiste de
várias espécies de partículas distinguíveis, a função de onda total será somente antissimetrizada
ou simetrizada, com respeito a troca de duas partículas idênticas. Então os vetores de base totais
são produtos de vetores de estados antissimetrizados ou simetrizados. Se todas as partículas
são consideradas como sendo distinguíveis, o produto de estados (14.156) pode ser usado. Este
é o caso limite da estatística clássica de Maxwell-Boltzman. Em muitos casos o produto de
estados (14.156) também pode ser usado como uma aproximação para um sistema de partículas
idênticas (indistinguíveis).
descreve o estado de n-partículas com a i-ésima partícula no estado |ψi i. Seja |ϕ1 i , |ϕ2 i , . . . |ϕn i
outros possíveis estados de uma partícula, logo o estado
descreve o estado de n-partículas com a i-ésima partícula no estado |ϕi i. Então podemos escrever
o que define o produto interno hϕ| ψi. O espaço de Hilbert descrevendo o sistema de n-partículas
é aquele expandido por todos os tensores de n-ésimo-rank com a forma da eq. (14.185).
O estado no qual a i-ésima partícula está localizada no ponto xi é |x1 i |x2 i . . . |xn i. Como
cada xi percorre todo o espaço, os estados resultantes formam um conjunto completo ortonormal
para o espaço de n-partículas (ignorando o spin e outras variáveis):
ˆ ˆ ˆ
dx1 dx2 · · · dxn (|x1 i |x2 i . . . |xn i) (hx1 | hx2 | . . . hxn |) = 1. (14.189)
1 X p
|ψ1 i |ψ2 i . . . |ψn i = √ ξ ψP (1) ψP (2) . . . ψP (n) , (14.191)
n! p
onde P percorre todas as permutações dos n objetos. Muitas vezes será mais conveniente
escrever |ψ1 , ψ2 , . . . , ψn i em vez de |ψ1 i |ψ2 i . . . |ψn i, e o lado direito da equação acima (14.191)
na forma de determinante, desta forma
|ψ1 i |ψ2 i · · · |ψn i
1 |ψ1 i |ψ2 i · · · |ψn i
|ψ1 , ψ2 . . . , ψn i = √ . .. .. .. , (14.192)
n! .. . . .
|ψ1 i |ψ2 i · · · |ψn i ξ
onde se ξ = −1, caso de Fermi temos um determinante que é conhecido como determinante de
Slater e se ξ = 1, caso de Bose-Einstein temos um permanente, isto ficará claro posteriormente.
O espaço de estado das n-partículas é aquele expandido por todos os produtos da forma da
eq. (14.191). Note que |ψ1 i |ψ2 i . . . |ψn i dado por (14.191) é totalmente simétrico no caso de
Bose-Einstein e totalmente antissimétrico no caso de Fermi-Dirac, como deve ser.
EXEMPLO: Seja |ai e |bi os dois estados de uma partícula única.
Se ξ = 1 (bósons), então:
1
|ai |bi = |a, bi = √ (|ai |bi + |bi |ai) ,
2
√
|ai |ai = |a, ai = 2 |ai |ai .
Se ξ = −1 (férmions), então:
1
|ai |bi = |a, bi = √ (|ai |bi − |bi |ai) ,
2
Portanto, temos o resultado esperado de que dois férmions não podem estar no mesmo estado,
satisfazendo o princípio de exclusão de Pauli.
Qual é o produto interno de dois estados de n-partículas? A resposta é dada pelo seguinte
teorema:
hϕ | ψ i · · · hϕ | ψ i
1 1 1 n
.
.. . .. .
..
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i = ,
(14.193)
hϕn | ψ1 i · · · hϕn | ψn i
ξ
X
|A|ξ = ξ P A1P (1) · · · AnP (n) . (14.194)
P
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i =
1 XX P Q
= ξ ξ hϕP (1) |hϕP (2) | . . . hϕP (n) | |ψQ(1) i|ψQ(2) i . . . |ψQ(n) i
n! P Q
1 XX P Q
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i = ξ ξ ϕP (1) ψQ(1) · · · ϕP (n) ψQ(n)
n! P Q
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i =
1 XX P Q
= ξ ξ ϕP P −1 (1) ψQP −1 (1) · · · ϕP P −1 (n) ψQP −1 (n)
n! P Q
1 XX P Q
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i = ξ ξ hϕ1 |ψQP −1 (1) i · · · hϕn |ψQP −1 (n) i
n! P Q
−1 −1
OBS: Como P e Q representam o número de trocas no sistema então: ξ P = ξ P e ξQξP =
QP −1 Q+P Q−P
ξ , o que é equivalente a ξ ou ξ , já que ξ = ±1.
Seja R = QP −1 , assim
1 XX R
hϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i = ξ hϕ1 |ψR(1) i · · · hϕn |ψR(n) i
n! P R
X
= ξ R hϕ1 |ψR(1) i · · · hϕn |ψR(n) i
R
hϕ | ψ i · · · hϕ | ψ i
1 1 1 n
.. . .. .
..
=
. ,
hϕn | ψ1 i · · · hϕn | ψn i
ξ
X
hα| βi = δα,β ; |αi hα| = 1. (14.195)
α
|α1 , α2 , . . . , αn i
√ ; (α1 ≤ α2 ≤ · · · ≤ αn ) Para Bósons.
n1 !n2 ! · · · nn !
onde nα é o número de vezes que α ocorre na sequência α1 , α2 , . . . , αn (para os férmions nα = 0
ou nα = 1). Na expressão acima para os Férmions, temos que (α1 < α2 < · · · < αn ), esta é
uma convenção a qual se deve ao fato de que se trocarmos duas partí culas de posição como no
seguinte caso |α1 , α3 , α2 , . . . , αn i, e desde que as partículas são idênticas este estado obviamente
representa o estado |α1 , α2 , α3 , . . . , αn i, mas pela equação (14.192) eles diferem por um sinal,
o que vem a ser uma ambiguidade. Para remover esta ambiguidade, sempre escrevemos o
estado |α1 , α2 , α3 , . . . , αn i na ordem padrão dada por α1 < α2 < · · · < αn , desta forma não
escreveremos o estado |α1 , α3 , α2 , . . . , αn i mas e sim o |α1 , α2 , α3 , . . . , αn i.
Para estes casos, a relação de completeza pode ser escrita na seguinte forma conveniente:
1 X X
··· |α1 , α2 , α3 , . . . , αn i hα1 , α2 , α3 , . . . , αn | = 1. (14.196)
n! α α
1 n
|Ψi = Ψ(0) + Ψ(1) + Ψ(2) + Ψ(3) + · · ·
(14.197)
onde Ψ(n) é um estado de n-partículas.
Definimos estados de diferentes números de partículas como sendo ortogonais uns aos outros,
então se |ϕi é um outro estado de múltiplas-partículas e é expresso do mesmo modo que a
equação (14.197), então
hϕ |Ψi ≡ ϕ(0) Ψ(0) + ϕ(1) Ψ(1) + ϕ(2) Ψ(2) + · · · .
(14.198)
∞
X 1 X X
··· |α1 , α2 , α3 , . . . , αn i hα1 , α2 , α3 , . . . , αn | = 1. (14.200)
n=0
n! α α
1 n
δ (x − y ) · · · δ (x − y )
1 1 1 n
.. . . ..
hx1 , x2 , . . . , xn |y1 , y2 , . . . , ym i = δn,m
. . . ,
(14.201)
δ (xn − y1 ) · · · δ (xn − yn )
ξ
∞ ˆ ˆ ˆ
X 1
dx1 dx2 · · · dxn |x1 , x2 , . . . , xn i hx1 , x2 , . . . , xn | = 1. (14.202)
n=0
n!
Podemos expandir um estado arbitrário de múltiplas-partículas |Ψi como segue, usando a
equação (14.202):
∞ ˆ ˆ ˆ
X 1
|Ψi = dx1 dx2 · · · dxn |x1 , x2 , . . . , ~xn i Ψ(n) (x1 , x2 , . . . , xn ) . (14.203)
n=0
n!
Aqui
é (se |Ψi estiver normalizado) a amplitude para o estado |Ψi ter n partículas, uma em cada posição
xi . Note que Ψ(n) (x1 , x2 , . . . , xn ) é simétrica ou antissimétrica de acordo com a estatística das
partículas. Note também que se |Ψi é um estado de n-partículas e é da forma |Ψ1 , Ψ2 , . . . , Ψn i,
onde cada |Ψi i é um estado de uma-partícula, então
Ψ (x ) · · · Ψ (x )
1 1 1 n
(n)
.
.. . .. .
..
Ψ (x1 , x2 , . . . , xn ) = ,
(14.205)
Ψn (x1 ) · · · Ψn (xn )
ξ
onde Ψi (xj ) = hxj | Ψi i. A equação (14.205) provém das equações (14.204) e (14.193). No caso
de Fermi o determinante é chamado de determinante de Slater.
para qualquer estado de n-partícula |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i. Para n = 0, isto deve ser entendido como
a† (ϕ) |vácuoi = |ϕi. Chamamos a† (ϕ) de operador de criação para o estado |ϕi, e seu adjunto
a (ϕ) de operador de destruição.
Um operador de criação converte claramente um estado de n-partículas em um estado de
(n+1)-partículas. É fácil ver que um operador de destruição leva um estado de n-partículas em
um estado de (n-1)-partículas e que ele aniquila o estado de vácuo. Para encontrarmos o efeito
de a (ϕ) em um estado de n-partículas |ψ1 , ψ2 . . . , ψn i multiplicamos a esquerda por um estado
arbitrário de (n-1)-partículas hχ1 , χ2 , . . . , χn−1 |. Assim
∗
hψ | ϕi ··· · · · hψ1 | χn−1 i
n
1
. ..
X
= ξ k hψk | ϕi .. (sem ψk) · · · .
k=1
hψn | ϕi ··· · · · hψn | χn−1 i
ξ
n
X
a(ϕ)|ψ1 , ψ2 , . . ., ψn i = ξ k−1 hϕ|ψk i| ψ1 , . . . , ψk−1 , ψk+1 , . . . , ψn i. (14.207)
k=1
Portanto o operador destruição remove o estado |ψi i, um por vez, deixando uma soma de estados
de (n-1)-partículas.
As equações (14.206) e (14.207) descrevem a ação dos operadores de criação e de destruição
em estados de muitas partículas. Dá (14.206) temos
portanto,
(
ξ=1 =⇒ Comutador
a† (ϕ2 ), a† (ϕ1 ) ξ = 0
(14.209)
ξ = −1 =⇒ Anticomutador
portanto,
(
ξ=1 =⇒ Comutador
[a(ϕ1 ), a(ϕ2 )]ξ = 0 (14.211)
ξ = −1 =⇒ Anticomutador
Então,
n
X
†
a (ϕ2 )a(ϕ1 )| ψ1 , . . . , ψn i = ξ k−1 hϕ1 |ψk ia† (ϕ2 )|ψ1 , . . . , ψk−1 , ψk+1 , . . . , ψn i(14.213)
k=1
n
X
= ξ k−1 hϕ1 |ψk i|ϕ2 , ψ1 , . . . , ψk−1 , ψk+1 , . . . , ψn i (14.214)
k=1
multiplicando a eq. (14.214) por ξ e subtraindo o resultado da eq. (14.212), obtemos que
h i
aα , a†β = δα,β . (14.216)
ξ
|1, . . . , 1, 2, . . . , 2, . . . , 3, . . .i
|n1 , n2 , . . .i = √ (14.217)
n1 !n2 !n3 ! · · ·
onde nα é o número de vezes que α aparece no ket da direita. Então o estado |n1 , n2 , . . .i, onde
cada nα = 0, 1, 2, . . ., forma uma base para todo o espaço de múltiplas-partículas. Das eqs.
(14.206), (14.207) e (14.217), encontra-se que:
√
a†α |n1 , n2 , . . . , nα , . . .i = nα + 1|n1 , n2 , . . . , nα + 1, . . .i (14.218)
√
aα |n1 , n2 , . . . , nα , . . .i = nα |n1 , n2 , . . . , nα − 1, . . .i (14.219)
h i h i
[aα , aβ ] = 0; a†α , a†β = 0; aα , a†β = δα,β . (14.220)
Nα = a†α aα (14.221)
n
X
aα |α1 , α2 , . . . , αn i = (−1)k−1 δα,αk | α1 , . . . , αk−1 , αk+1 , . . . , αn i (14.223)
k=1
|n1 , n2 , . . .i = |α1 , α2 , . . .i
onde α1 < α2 < . . ., e nα é o número de vezes que α ocorre (nα = 0 ou 1) nesta seqüência. Se
nα = 0, então a†α muda ele para 1, e por sua vez aα aniquila o estado. Se nα = 1, então aα muda
ele para zero e a†α por sua vez aniquila o estado (devido ao princípio de exclusão de Pauli). Há
também fatores ±1 envolvidos, dependendo dos estados que estão ocupados.
Note que a(ϕ)2 = a† (ϕ)2 = 0 para qualquer estado de uma-partícula |ϕi. Esta declaração
segue das equações (14.208) e (14.210) (com ξ = −1 e ϕ1 = ϕ2 = ϕ), e também é equivalente ao
fato de que dois férmions não podem estar no mesmo estado, isto é, |ϕ, ϕi = 0.
Também podemos deduzir as equações (14.222) e (14.223) diretamente das relações de
anticomutação
h i h i
[aα , aβ ]+ = 0; a†α , a†β = 0; aα , a†β = δα,β . (14.224)
+ +
Para o caso de Fermi, não há uma razão a prior para postularmos as relações de anticomutação
acima. Devemos lembrar que para o caso de osciladores harmônicos, que é similar a este,
as correspondentes regras de comutação seguem do procedimento de quantização canônica.
Podemos considerar as relações de anticomutação acima como provenientes dos postulados de
anti-simetrização para férmions.
Retornaremos ao caso geral onde as equações de (14.206) até (14.215) se aplicam. Uma
das vantagens de se deduzir elas em uma forma geral é que não nos restringimos a uma base
particular de estados. Suponha que usemos a base dos autoestados do momentum, |pi . Devido
ao fato de
hp|p0 i = δ (p − p0 )
a(p), a† (p0 ) −ξ = δ (p − p0 ) ,
a(x), a† (x0 ) −ξ = δ (x − x0 ) ,
Se usarmos uma base de energia dos autoestados do átomo de hidrogênio |nlmi, então
a(nlm), a† (n0 l0 m0 ) −ξ = δn,n0 δl,l0 δm,m0 , e assim por diante.
Como fazer os operadores de criação e destruição mudarem quando fazemos uma mudança
de base? Esta questão é facilmente respondida notando que se
então
ˆ ˆ
d3 p
|xi = |pi hp| xi = 3/2
|pi e−ip·x/~ ,
(2π~)
os operadores de criação estão relacionados por
ˆ
d3 x
†
a (p) = 3/2
a† (x) eip·x/~ ,
(2π~)
(14.226)
ˆ 3
dp
a† (x) = 3/2
a† (p) e−ip·x/~ .
(2π~)
Para relacionar os operadores de destruição a(p) e a(x), devemos tomar o Hermitiano adjunto
de (14.226), obtendo:
ˆ
d3 x
a(p) = 3/2
a(x) e−ip·x/~ ,
(2π~)
(14.227)
ˆ 3
dp
a(x) = a(p) eip·x/~ .
(2π~)3/2
Devemos proceder de forma similar para qualquer outra mudança de base. Por exemplo, suponha
que temos um conjunto completo de estados ortonormais |αi, e que as funções de onda destes
seja hx|αi = uα (x), então
ˆ ˆ
3
|αi = d x |xihx|αi = d3 x |xi uα (x)
X X
|xi = |αihα|xi = |αiu†α (x)
α α
logo,
ˆ
†
a (α) = d3 x a† (x)uα (x)
(14.228)
X
†
†
a (x) = a (α)u†α (x)
α
Para vermos o significado disto, suponhamos que cada |ψi i seja um autoestado de A(1) com
autovalor ai . então a equação (14.230) implica que
Desejamos encontrar uma maneira geral de determinarmos o operador A. Para isto, con-
sideremos inicialmente o caso especial em que: A(1) = |αihβ|. Neste caso a equação (14.230)
torna-se
A|ψi = hβ|ψ1 i| α, ψ1 , ψ2 , . . . , ψn i +
hβ|ψ2 i| ψ1 , α, ψ3 , . . . , ψn i + · · ·
hβ|ψn i| ψ1 , ψ2 , . . . , ψn−1 , αi. (14.232)
n
X
†
a (α)a(β)|ψi = ξ k−1 hβ|ψk i| α, ψ1 , . . . , ψk−1 , ψk+1 , . . . , ψn i (14.233)
k=1
Mas
X X (1)
A(1) = |αihα|A(1) |βihβ| = |αiAα,β hβ|, (14.236)
α,β α,β
onde
(1)
Aα,β = hα|A(1) |βi. (14.237)
X
|αihα| = 1
α
Base Completa (14.238)
hα|βi = δα,β .
X (1)
A= a† (α) Aα,β a(β) (14.239)
α,β
Para encontrarmos o operador A, basta lembrarmos que ele deve satisfazer a eq. (14.230).
X (1)
Novamente devemos considerar o caso em que A(1) = |αiAα,β hβ|, neste caso a equação
α,β
(14.232) pode ser reescrita como
Xn (1)
A|ψi = |αiAα,β hβ|ψ1 i|ψ2 , ψ3 , . . . , ψn i+ (14.240)
α,β
(1)
|ψ1 i|αiAα,β hβ|ψ2 i|ψ3 , ψ4 , . . . , ψn i + · · ·
o
(1)
|ψ1 , ψ2 , . . . , ψn−1 i|αiAα,β hβ|ψn i . (14.241)
Xn (1)
A|ψi = |αiAα,β hβ|ψ1 i|ψ2 , ψ3 , . . . , ψn i+
α,β
(1)
|ψ1 , αiAα,β hβ|ψ2 i|ψ3 , ψ4 , . . . , ψn i + · · ·
o
(1)
|ψ1 , ψ2 , . . . , ψn−1 , αiAα,β hβ|ψn i .
(1)
considerando que Aα,β |ψi i = ai |Ψi i, então a equação acima pode ser reescrita como
X (1)
A|ψi = a† (α) Aα,β a(β)|ψi (14.242)
α,β
X (1)
X (1)
A= a† (α) Aα,β a(β) quando A(1) = |αi Aα,β hβ| (14.243)
α,β α,β
Para ilustrar o uso deste procedimento, agora iremos escrever alguns operadores como
exemplos do formalismo da segunda quantização, nas seguintes bases completas:
X
|αihα| = 1
α
Base Completa (14.244)
hα|βi = δα,β .
ˆ
d3 x|xihx| = 1
Base Completa (14.245)
hx|x 0 i = δ (x − x 0 ) .
ˆ
d3 p |pihp| = 1
Base Completa (14.246)
hp|p0 i = δ (p − p0 ) .
(1)
Aα,β = hα|A(1) |βi = hα|1|βi = δα,β .
X (1)
X X
A= a† (α) Aα,β a(β) = a† (α) δα,β a(β) = a† (α) a(α) = N
α,β α,β α
(1)
Para verificarmos que o operador A(1) = 1, basta substituirmos Aα,β = δα,β , em (14.243),
assim
X (1)
X X
A(1) = |αi Aα,β hβ| = |αi δα,β hβ| = |αihα| = 1.
α,β α,β α
(1)
Ax,x0 = hx|A(1) |x0 i = hx|1|x0 i = δ (x − x0 )
ˆ ˆ
3 0 (1)
N = dx d3 x |xiAx,x0 hx0 |
ˆ ˆ
3 0
= d3 x a† (x)δ (x − x0 ) a(x0 )
dx
ˆ ˆ
†
= d xa (x) a(x) = d3 xρ (x) ,
3
(1)
Ap,p0 = hp|A(1) |p0 i = hp|1|p0 i = δ (p − p0 )
ˆ ˆ ˆ
3 0 (1) 0
N= 3
d p d p |pi Ap,p0 hp | = d3 p a† (p) a(p)
(1)
Ak,k0 = hk|A(1) |k0 i = hk|~k|k0 i = ~kδk,k0 . (14.247)
X (1)
X (1)
P = |ki Ak,k0 hk0 | = a† (k) Ak,k0 a(k0 )
k,k0 k,k0
X X
= a† (k) ~k δk,k0 a(k0 ) = ~k a† (k)a(k)
k,k0 ~k
(1)
Ax,x 0 = hx|A(1) |x0 i = hx|p|x 0 i
como,
1 1
hx|pi = 3/2
eip·x / ~ e hp|xi = e−ip·x / ~ (14.248)
(2π~) (2π~)3/2
então
ˆ
0
hx|p|x i = hx|p0 ihp0 |p|x0 id3 p0
¨
= hx|p0 ihp0 |p|p00 ihp00 |x0 id3 p0 d3 p00
b |p0 i = p0 |p0 i
p e hp|p0 i = δ (p − p0 ) ,
¨
0
hx|p|x i = hx|p0 i p00 δ (p0 − p00 ) hp00 |x0 i d3 p0 d3 p00
ˆ ˆ
0 0 0 0 3 0 eip·x / ~ 0 0 0 3 0
= hx|p i p hp |x i d p = p hp |x i d p
(2π~)3/2
ˆ ip·x / ~ ˆ
0 e 0 0 3 0 ~ eip·x / ~
= p 3/2
hp |x i d p = ∇ x 3/2
hp0 |x0 i d3 p0
(2π~) i (2π~)
ˆ ˆ
~ 0 0 0 3 0 ~
= ∇x hx|p i hp |x i d p = ∇x hx| |p ihp | d p |x0 i
0 0 3 0
i i
~ ~
= ∇x hx|x0 i = ∇x δ (x − x0 )
i i
Desta forma, temos que:
(1) ~
Ax,x0 = hx|A(1) |x0 i = hx|p|x0 i = ∇x δ (x − x0 ) ,
i
portanto,
ˆ ˆ
(1)
P = d3 x d3 x0 |xi Ax,x0 hx0 |
ˆ ˆ
~
= d3 x d3 x0 a† (x) ∇x δ (x − x0 ) a(x0 )
i
ˆ
~
= d3 x a† (x) ∇x a(x)
i
(1)
Ap,p0 = hp|A(1) |p0 i = hp|p|p0 i = p δ (p − p0 )
logo,
ˆ ˆ ˆ
3 0 (1) 0
P= 3
d p d p |pi Ap,p0 hp | = d3 p p a† (p) a(p)
(1)
Ax,x0 = hx|A(1) |x0 i = hx|v(x)|x0 i = v(x) δ (x − x0 )
ˆ ˆ
(1)
V = d3 x d3 x0 |xi Ax,x0 hx0 | (14.249)
ˆ ˆ
= d3 x d3 x0 |xi v(x) δ (x − x0 ) hx0 |
ˆ ˆ
†
= d x a (x) v(x) a(x) = d3 x v(x) ρ(x) .
3
Esta é a expressão para a energia potencial na representação das coordenadas. Agora iremos
encontrar a uma expressão na representação do momentum, e para isto:
(1)
Ak,k0 = hk|A(1) |k0 i = hk|v(x)|k0 i
ˆ ˆ
= d3 x d3 x0 hk |xi hx| v(x) |x0 i hx0 | k0 i
ˆ ˆ
= d3 x d3 x0 hk |xi v(x) δ (x − x0 ) hx0 | k0 i
ˆ
= d3 x v(x) hk |xi hx| k0 i.
Como,
1 1 0
hk |xi = √ e−ik·x , então, hx| k0 i = √ eik ·x ,
Ω Ω
assim,
ˆ
(1) 1 0
Ak,k0 = d3 x v(x) e−i(k−k )·x = Ṽ (k − k0 ).
Ω
Desta forma temos que:
X (1)
X
V = |ki Ak,k0 hk0 | = a†k Ṽ (k − k0 ) ak0
k,k0 k,k0
X
V = Ṽ (q) a†k+q ak
k,q
(1)
Ap,p0 = hp|A(1) |p0 i = hp|v(x)|p0 i
ˆ ˆ
= d3 x d3 x0 hp |xi hx| v(x) |x0 i hx0 | p0 i
ˆ ˆ
= d3 x d3 x0 hp |xi v(x) δ (x − x0 ) hx0 | p0 i
ˆ
= d3 x v(x) hp |xi hx| p0 i.
ˆ ˆ
(1)
V = d3 p d3 p0 |pi Ap,p0 hp0 |
ˆ ˆ
= d3 p d3 p0 Ṽ (p − p0 ) a† (p) a(p)
chamando q = p − p0 , então
ˆ ˆ
V = d3 p d3 q Ṽ (q) a† (p + q) a(p).
O termo Ṽ (q) a† (p + q) a(p) aniquila uma partícula de momento p e recria ele com um
momento p + q, onde Ṽ (q) é a amplitude deste processo vir a ocorrer.
Suponhamos que a Hamiltoniana para uma única partícula seja,
p2
H (1) =
+ V (x) , (14.250)
2m
portanto na representação das coordenadas temos que
ˆ
∇2
3 †
H= d x a (x) − + v(x) a(x) (14.251)
2m
e na representação do momentum temos
ˆ ˆ ˆ
p2 †
H= 3
dp a (p) a(p) + d3 p d3 q Ṽ (q) a† (p + q) a(p). (14.252)
2m
Agora, se usarmos uma base de autoestados |αi de H (1) , de tal modo que
então,
X
H= Eα a†α aα , (14.253)
α
(o qual corresponde ao operador de uma partícula |xi hx|). Portanto o operador número de
partículas pode ser escrito como
ˆ
N= d3 x ρ (x)
Esta última equação representa a integral da energia potencial mediada pela densidade.
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