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APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

estabeleçam uma integração, para que a


CONHECIMENTOS pessoa seja tomada como um todo, para
que ela possa ter um atendimento
ESPECÍFICOS humanizado, contemplando assim, outras
necessidades dos usuários. A contribuição
da psicologia hospitalar não se limita ao
1 RELAÇÕES HUMANAS usuário ou à instituição, mas a
especificidades que auxiliam todo o
A psicologia hospitalar tem trabalho da equipe médica.
construído sua história, passo a passo, A experiência da
considerando que há menos de duas multidisciplinariedade proporcionou a
décadas, a atuação do psicólogo em continuidade da construção da identidade
instituições hospitalares não estava do psicólogo, enquanto um profissional do
regulamentada como uma ampla e campo da saúde.
necessária práxis psicológica.
Os profissionais aventuraram-se por O início das atividades da psicologia
este caminho, mas muitos já o trilhavam, hospitalar
delineando os rumos desta área como a Na década de 1980, a instabilidade
conhecemos hoje. Assim, as atividades econômica do país gerou um mercado de
desempenhadas pelos psicólogos trabalho saturado de profissionais liberais e
organizacionais e clínicos necessitam se uma baixa nas ofertas de emprego.
moldar às demandas institucionais. Essa situação econômica se fez
Nos hospitais gerais, faz-se, então, presente no início da trajetória profissional
necessário a escuta terapêutica com de psicólogas que iniciaram sua atividade
usuários, e, consequentemente, a escuta profissional no hospital: “Eu ia me formar e
de seus familiares. Médicos e enfermeiros obviamente não tinha emprego e ela
observam que diversos usuários acabam perguntou se eu queria trabalhar lá (no
voltando ao hospital novamente “doentes”, hospital) e eu adorei.” No entanto, pouco
solicitando atendimento e cuidados. se sabia sobre o psicólogo hospitalar, suas
As equipes médicas (e também funções não haviam sido preestabelecidas,
outros funcionários do hospital) relatam e ainda não existiam muitos estudos
que, em alguns casos, somente a ajuda teóricos sobre o tema.
médica não basta para o tratamento ser A motivação para o
bem sucedido: o ser humano é muito mais desenvolvimento de um trabalho
que um corpo físico, e assim, o comprometido com a demanda também
atendimento integral à saúde é indiscutível. decorre do âmbito do conhecimento e da
Portanto, a integração da equipe de formação específica do profissional, o que
saúde é imprescindível para que o sugere um despreparo por parte dos
atendimento e o cuidado alcance a profissionais recém-formados, sendo
amplitude do ser humano, considerando as necessária a ampliação dos
diversas necessidades do paciente e conhecimentos adquiridos na graduação.
assim, transcendendo a noção de conceito As psicólogas inseriram-se nesse
de saúde, de que a ausência de contexto considerando as necessidades da
enfermidade significa ser saudável. instituição relacionadas à psicologia. As
Dessa forma, o trabalho em equipe primeiras atividades estavam relacionadas
mostra-se fundamental para o atendimento com o funcionamento da instituição,
hospitalar, na medida em que médicos, buscando criar novos serviços e qualificá-
enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, la, investigando as necessidades e
assistentes sociais e os demais estabelecendo objetivos: "Então nós
profissionais envolvidos nesse atendimento fizemos um levantamento das
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necessidades e toda uma pesquisa para o A psicologia hospitalar e a equipe


levantamento das necessidades, multidisciplinar
estabelecendo prioridades, daí fizemos um A Psicologia Hospitalar não
projeto de trabalho daquelas necessidades pertence unicamente à área clinica, pois
[...] apresentamos para a direção. A ela também abrange áreas como a
direção aceitou a nossa proposta e nós organizacional, social e educacional,
estamos desde 1979...”. utilizando-se de recursos técnicos,
No entanto, a demanda hospitalar metodológicos e teóricos de diversos
não era unicamente clínica, mesmo saberes psicológicos.
considerando que esta prática tenha sido o A Psicologia Hospitalar busca
marco da afirmação profissional do comprometer-se com questões ligadas à
psicólogo. Portanto, questões relativas ao qualidade de vida dos usuários bem como
funcionamento institucional mereceram a dos profissionais da saúde, portanto, não
atenção do profissional da psicologia, se restringindo ao atendimento clínico,
proporcionando uma escuta que mesmo este sendo uma prática universal
transcende a clínica, ressaltando a dos psicólogos hospitalares.
necessidade de se dedicar "a instituição O pressuposto que permeia as
como um todo, no seu funcionamento para atividades do psicólogo no hospital geral
que ela desempenhe da melhor forma mostra outra visão de indivíduo, não
possível a tarefa saúde, no cuidado com a fragmentada, mas como um todo, como
saúde", que pode também ser um ser biopsicossocioespiritual com o
contemplada nas seguintes direito inalienável à dignidade e respeito.
atividades: "Então eu fazia seleção do A equipe hospitalar é composta por
pessoal, treinamento de funcionários, fazia diversos profissionais, incluindo aqueles
avaliação do trabalho junto com as que não assistem as pessoas
chefias...". hospitalizadas diretamente, tais como
A implementação de uma área nova equipe de higienização, radiologista,
dentro da psicologia suscitou a utilização anestesista, dentre outros.
de recursos técnicos e metodológicos de No entanto, consideraremos aqui a
diversas áreas do saber psicológico, não equipe multidisciplinar formada pelos
se restringindo apenas a clínica, mas profissionais que assistem diretamente os
também a organizacional, social e indivíduos: médicos, enfermeiros,
educacional. psicólogos, nutricionista, assistente social,
Assim, foram criando um fisioterapeuta.
conhecimento mais específico sobre a Cabe salientar que a equipe
área, possibilitando uma maior união entre multidisciplinar tem sua formação centrada
o psíquico e o biológico, dentro do contexto nas necessidades da pessoa, portanto, ela
hospitalar. Nesse sentido, faz-se não é pré-organizada. A demanda do
necessário comentar a importância de enfermo é que fará com que os
estar instrumentalizado para realizar um profissionais da saúde se integrem, com o
bom trabalho. "Então foi aí que eu propósito de satisfazer as necessidades
comecei, fui buscar supervisão, fui globais da pessoa, proporcionando seu
trabalhar e aí a coisa começou.". Estas bem-estar.
falas ilustram a necessidade de se No entanto, serão os médicos os
desenvolver materiais que expliquem e protagonistas do manejo hospitalar, pois
contextualizem o trabalho do psicólogo são eles que decidem sobre técnicas,
nesta área e a dinâmica da instituição medicações, cura, internações e altas.
hospitalar Portanto, os demais profissionais se
adequam, primeiramente, a demanda
orgânica do indivíduo e às definições do
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médico, para posteriormente, integrar sua multidisciplinar, pois nestas ocasiões, o


prática ao atendimento hospitalar. psicólogo evidenciará a importância da
Porém, o aparecimento de inúmeras valorização do conjunto dos aspectos
especialidades da área da saúde emocionais do indivíduo.
impossibilita que um único profissional A equipe médica de saúde, então,
englobe todos os conhecimentos busca humanizar as condições do
produzidos em sua área de atuação. As indivíduo no seu período de hospitalização.
múltiplas situações difíceis e inesperadas O vínculo entre o indivíduo e a equipe
que fazem parte da realidade dos usuários multidisciplinar tem de ser considerado no
dos hospitais gerais refletem no trabalho manejo psicológico. É indispensável que o
da equipe multidisciplinar, o que mostra psicólogo saiba detalhadamente das
que uma única especificidade profissional atividades desenvolvidas pelos demais
não consegue dar conta dessa gama de profissionais, bem como os limites de cada
fatores intrínsecos a doença e a um, possibilitando uma atuação integrada,
hospitalização. com manejo único.
Em relação aos valores pessoais A multidisciplinariedade corre o risco
permeiam as relações profissionais, assim, de fragmentação entre os setores, e
acredita-se que a neutralidade médico consequentemente, a fragmentação do
exemplificada pelo relacionamento padrão paciente. O relacionamento precário entre
estereotipado, estabelecido com os demais a pessoa e a equipe de saúde pode
profissionais da saúde, bem como com os acarretar mais sofrimento do que o
beneficiários dos serviços de saúde, esperado para determinados quadros.
implicam alguns questionamentos, Entretanto, é a trajetória hospitalar do
principalmente por parte da equipe, tendo indivíduo que definirá o enfoque de seu
em vista que o saber médico é pouco atendimento psicológico, que poderá ser
compartilhado. pré ou pós-operatório, ambulatorial, ou de
A neutralidade médica pode ser enfermaria. É através desta consideração
explicada, mas não justificada, pela que o trabalho do psicólogo será delineado
necessidade de esvaziamento dos e implementado, considerando as
conteúdos e representações de vida e necessidades individuais da pessoa.
morte, já que a relação entre os médicos e De acordo com Santos e Sebastiani
a pessoa em sofrimento é repleta de (1996), a discussão sobre as equipes
ansiedades e fantasias. A postura médica multidisciplinares é de suma importância,
é consequência da formação profissional, pois mesmo a proposta do atendimento
que pouco enfoca as relações humanas e integral ao usuário sendo óbvia, na prática,
que tem uma visão de ser humano como tal obviedade não é efetivamente posta em
objeto de estudo, não considerando as ação. Ainda percebe-se dificuldades de
emoções subjacentes ao manejo médico. interação entre os profissionais, disputas
Os membros da equipe, de poder (tanto objetivas quanto
especialmente os médicos, que tiverem subliminares), falta de conhecimento sobre
sua auto-estima atrelada ao seu a ajuda que outras especialidades podem
desempenho profissional, podem perder a dar à equipe e ao indivíduo.
noção realista das condições de
recuperação de determinados casos, Relações de poder e os profissionais de
sendo a recuperação completa a única saúde
alternativa possível. É impossível pensar em qualquer
A inserção dos serviços de relação humana sem pensar nas relações
psicologia é privilegiada em instituições de poder que permeiam, induzem, formam
onde há espaço para reuniões entre os saberes e produzem discursos.
diversos profissionais da equipe
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É o que Foucalt nos ensina O poder pode ser produzido nas


em microfísica do poder (1979/1984). Cabe instâncias imediatas e cotidianas, como,
ressaltar que poder não é um objeto e sim por exemplo, na relação com a equipe de
uma relação, e que também não é sempre saúde. Entretanto, a inserção do psicólogo
negativo, ele é mais que uma instância nos hospitais gerais pode, assim, também
repressiva, ou seja, o poder pode ser contradizer a ordem estabelecida de
também positivado pelos sujeitos. Um normatividade da medicina que vê a cura
aspecto importante do poder é sua somente pelo aspecto orgânico, físico ou
tendência a ocultar-se, inclusive biológico.
negativizar-se, apresentando-se como uma Às vezes, os profissionais da saúde,
exigência natural ou razão social, de conforme Guedes (2003) posicionam-se
acordo com Martins (2003). frente ao usuário de maneira indisponível.
Para que haja a manutenção de um A escuta médica, às vezes, por exemplo,
discurso dominante em uma instituição, pode estar unicamente interessada nos
são necessárias práticas que o legitimem e dados específicos da doença, portanto, a
operem no sentido de reprimir atitude de rejeição do médico perante a
manifestações contrárias. Desta forma, os pessoa faz com que ela se remeta a outras
profissionais da área da saúde tornam-se relações insatisfatórias que foram
(re)produtores de uma postura médica que estabelecidas em sua vida.
não é imposta, mas sim “indicada” como O restabelecimento do enfermo
um padrão a ser seguido, sem crítica pode, desta forma, ser prejudicado pela
alguma. hostilidade, muitas vezes inconscientes,
É neste momento que fica claro o que perpassam as relações médico-
exemplo das relações de poder nas paciente. As atitudes da equipe de saúde
relações estabelecidas nas equipes podem ser terapêuticas ou não, podendo
multidisciplinares. Tal poder se estabelece produzir configurações maléficas ou
no cotidiano através do exercício da benéficas no curso do adoecer.
medicina, ou de outra disciplina da área da No dia-a-dia do hospital os
saúde, ele controla o saber e o fazer psicólogos muitas vezes ocupam o lugar
médico, normatizando os profissionais. de tradutores entre os médicos e os
Um exemplo disso pode ser o fato usuários, podendo tomar-se o
de o médico versar sobre o seu trabalho entendimento de que as questões
com uma linguagem específica e técnica, subjetivas são exclusivas do psicólogo e as
pouco acessível aos leigos (inclusive ao orgânicas do médico. Entretanto, o ser
psicólogo), demonstrando uma relação de humano não é só somático ou psíquico, ou
poder, já que principalmente os usuários seja, a fragmentação do atendimento à
ficam inibidos frente à autoridade de um saúde pode não contemplar a
saber médico. complexidade do ser humano, devido aos
Na prática do psicólogo, as relações diferentes campos de saberes e poderes
de poder são estabelecidas através de seu envolvidos no atendimento ao usuário.
campo de saber ou conhecimento. O Contudo, a linguagem técnica da
psicólogo no hospital escuta o usuário, a equipe de saúde pode não ser o único
família do usuário, os outros membros da empecilho no atendimento. Qualquer
equipe e a opinião médica, portanto, é orientação dos profissionais do campo da
viável que ocorra através da apropriação saúde pode, muitas vezes, ser
de um modelo da psicologia, enquanto incompreensível ou inadequada às
uma área de saber científico, o exercício condições de vida da pessoa. Por
das relações de poder, que de acordo com exemplo, uma pessoa que necessita de
Martins (2003) é vivenciado no âmbito diversos medicamentos, em diversos
mais amplo de trabalho nos hospitais. horários e que não é alfabetizada
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necessitará de uma orientação diferente de verbal, vai causar muita confusão e


uma pessoa alfabetizada. dúvida".
A própria cura precisa ser O discurso por parte das
contextualizada, pois no momento em que profissionais da saúde de psicologia sobre
o médico diz que a pessoa pode levar uma o prontuário é de que este é o processo
vida “normal”, ele precisa conhecer o dia-a- comunicacional mais importante entre os
dia dela. Um pedreiro, por exemplo, nem profissionais das diferentes áreas
sempre poderá carregar peso disciplinares da saúde. Em alguns casos,
imediatamente após sua alta. posterior a esta forma de relação, através
Assim, a equipe de saúde, pode, deste mecanismo de comunicação, podem
nem sempre se mostrar aberta, pelo ocorrer discussões sobre o manejo e o
menos, em um primeiro momento, ao entendimento da demanda dos usuários
trabalho do psicólogo: "As equipes aceitam sobre o tratamento e questões
muito bem o trabalho, solicitam bastante, relacionadas a sua internação.
agora a gente já tem um espaço aqui Entretanto, é possível pensar que a
dentro, não precisa mais pedir “há tem discussão dos casos dos usuários, que
uma criança”?”. envolvem uma área disciplinar do
Devido a isso, pode-se pensar que, profissional no desenvolvimento do
em algumas situações, o atendimento trabalho, nem sempre está livre da
psicológico pode ser visto como algo necessidade de proteger o saber de sua
desnecessário àqueles usuários que não área como superior. Isto mostra-se
apresentam comportamentos considerados contrário a preocupação de alguns
não prioritários para o atendimento à profissionais das equipes de saúde que se
saúde, ou ser considerado secundário por propõem em manter uma unidade de
se tratar de uma demanda subjetiva. informações aos usuários, procurando
Porém, a inserção do trabalho do psicólogo transmitir uma imagem homogênea do
no contexto hospitalar pode mudar a entendimento que a equipe multidisciplinar
dinâmica de atividades de toda equipe de possui sobre o seu estado de saúde.
saúde, uma vez que a dinâmica das Do ponto de vista da psicologia, o
relações de poder entre os diferentes trabalho das equipes multidisciplinares só
saberes do que é saúde passam a ser se tornarão válidos e enriquecedores para
estabelecidas de outras formas, alterando os usuários, se cada profissional se
o entendimento sobre atenção à saúde, responsabilizar por sua área de cuidados
tanto por parte da equipe médica, como em relação à saúde: "...o dentista, o
por parte dos usuários. Isto, leva a uma psicólogo, médico, nutricionista, [...], tem
maior preocupação por parte da equipe que haver esta troca. E a gente sempre
multidisciplinar, na clareza e eficácia da tentou e eu acho que deu certo, é não
comunicação entre os profissionais da ocupar o lugar do outro, respeitar o espaço
saúde e os usuários, buscando evitar do outro para que ele também respeite o
discórdias e desentendimentos entre teu. Se isso é trabalho do médico, então
esses. não explica, chama o médico que ele vai
Um exemplo do processo de explicar [...] Então eu acho que este é o
comunicação entre os profissionais da melhor sistema de trabalhar, é integrar,
equipe de saúde é o prontuário: "...cada respeitando o outro e também sendo
um tem que falar o que observou para respeitado”. No entanto, responsabilizar-se
tentar fazer um manejo único com o por sua área de saber, segundo as
paciente, evitando uma dupla mensagem. profissionais da psicologia, não significa
Eu constatei uma coisa, o médico outra. evitar a troca entre os diversos
Isso mesmo em uma linguagem não profissionais integrantes da equipe, mas
sim manter a clareza nas informações
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sobre os usuários: "A troca é necessária dúvida do paciente, no cumprimento de


para que haja uma melhora nos horários e na competência profissional
atendimentos, para que a saúde do ser demonstrada.
humano possa ser contemplada no seu Quando a melhora da saúde não
todo, ou em pelo menos, algumas partes aparece, ainda assim, o profissional pode
dela". minimizar o sofrimento da pessoa, ouvindo
suas queixas, administrando a medicação
Humanização mostrando esperança e cuidado. Em todos
Se na antiga Grécia e Roma, os os casos, pela carência e fragilidade da
valores de beleza, força, harmonia e pessoa doente, a humanização tende a
heroísmo eram realçados, no mundo reduzir o tempo de hospitalização da
cristão, o ser humano passou a ter pessoa.
destaque como pessoa, aberto à plenitude Até aqui se falou na humanização
do que poderia ser. Nessa perspectiva, a do atendimento ao doente. Entretanto, a
instituição de saúde tem passado por uma humanização tem também o lado do
reavaliação e normatização das atitudes e profissional. Ele também precisa ser
condutas em prol da ética, organização, tratado com respeito, precisa estar
qualidade e sensibilização. saudável física, emocional, profissional e
Sua abordagem interdisciplinar financeiramente. Seu ambiente de trabalho
interage com as ciências humanas e deve ser acolhedor, higienizado, alegre e
biológicas, contextualizando e focalizando calmo. As informações e o material têm
a integralidade, dignidade e cidadania dos que estar a seu alcance no momento certo.
indivíduos (CHIATTONE, 1998). Ou seja, a humanização é importante em
Com as características adquiridas todos os setores.
no processo de evolução, humanizar no Sendo uma rede de construção
hospital significa muito mais que tornar permanente de laços de cidadania, a
humano. Passa a ser uma ação solidária humanização torna-se ainda uma
que promove o cuidar, colocando o serviço estratégia de construção orgânica do
em função de gente com a intenção de sistema clínico de saúde. Ela deve operar
garantir um atendimento de qualidade nas relações entre profissionais e doentes
superior. internados, entre profissionais e
Consequentemente, o “cuidar profissionais e entre os vários serviços de
humanizado” amplia a concepção de saúde.
qualidade porque o cuidador se apresenta Humanizar passa a ser sinônimo de
como alguém dinâmico, disposto a acolher resgate do respeito à vida humana nos
e a prestar assistência com sensibilidade, diversos contextos (BRASIL, 2000)
com solidariedade, com ética e exigindo todo esforço individual e coletivo
competência profissional. para que a saúde seja um elemento de paz
Junto com a tecnologia, a humanização se dentro e fora do hospital.
torna uma aliada para melhorar a
recuperação e a satisfação do paciente, Humanização como direito
quando toda a equipe prioriza “estar com” A Constituição brasileira de 1988,
o indivíduo nos momentos de infortúnio. A termina oficialmente com a ditadura militar
assistência humanizada é aquela que que havia tirado dos brasileiros muitos dos
transmite alegria e segurança por parte de seus direitos e consolida a obrigatoriedade
quem presta o atendimento. Não uma do estado em oferecer saúde para todos.
alegria superficial, mas um sentimento de O art. 196 (BRASIL, 1988) afirma
esperança a cada pequeno sinal de que a saúde é direito de todos e dever do
progresso. Quanto à segurança, ela se Estado, garantindo políticas sociais e
apresenta nas respostas firmes em cada econômicas que visem à redução do risco
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de doença e de outros agravos e ou Os trabalhadores tendem a ser


acesso universal igualitário às ações e saudáveis fisicamente, mas necessitam sê-
serviços para sua promoção, proteção e lo também interiormente.
recuperação. A partir de então, a política Quem não está bem consigo mesmo
de humanização hospitalar começou a se terá dificuldade de estar bem com os
estabelecer com mais intensidade tendo outros. Ou conforme Mezzomo (2003),
como base os preceitos constitucionais. aquele que traz dentro de si uma luz
Segundo Mezzomo (2003), o Código ilumina a quem o cerca e pode fazer a
Internacional de Ética Moderna, oração de São Francisco de Assis: “É
estabelecido em Londres recomenda que o amando que se é amado e Fazei que eu
médico há de ter sempre presente o procure mais compreender e ser
cuidado de conservar a vida humana; que compreendido”
ele deve a seu paciente completa lealdade Para a tarefa de humanizar e cuidar
e empregar em seu favor todos os é prioritário um treinamento a todo o
recursos da ciência; que quando um pessoal, desde o funcionário que recebe o
exame ou tratamento estiver além de sua paciente até aquele que lhe dá alta. Além
capacidade deverá ele convidar outro disso, é preciso que os funcionários em
médico que tenha a necessária habilidade suas relações interpessoais com seu
para realizá-lo; que o médico deverá colega de trabalho, também ajam de forma
manter segredo absoluto sobre tudo que humanizada. Uma das maneiras de se
sabe de um paciente, dada a confiança colocar em prática esta necessidade é
que nele depositou e, que o médico deve oferecendo formação continuada em forma
prestar cuidados de emergência como um de reuniões periódicas, encontros,
dever humanitário, a menos que esteja simpósios, palestras e tantos outros que
certo de que haja pessoas capacitadas a sirvam para o intercâmbio de experiências
prestarem tais cuidados. relativas à vida profissional e ao trato com
o paciente. Fundamental se torna que ele,
Humanização e aperfeiçoamento como pessoa seja acolhido na empresa,
Quando um paciente sabe que no seja reconhecido como o ativo mais
hospital estão profissionais competentes, importante da instituição, seja considerado
ele se sente mais confiante. Entretanto, os como ser humano.
pacientes, em sua maioria, não sabem Não se pode esquecer que o avanço
avaliar, se os procedimentos estão sendo tecnológico e cientifico exige para qualquer
aplicadas de forma correta. Todavia, empresa a aquisição de máquinas e
qualquer pessoa pode perceber a maneira produtos avançados. Porém, o
humana ou não com que está sendo aproveitamento desse material depende de
cuidada. pessoas que se envolvam no processo,
A humanização não pode prescindir que estejam aptas para acompanhar o
da competência, bem como da cortesia e desenvolvimento e que o utilizem para
do carinho. Afetividade e competência melhorar o atendimento às pessoas de
precisam estar em estreita relação quando forma humanizada e, que sejam tratadas
se busca qualidade. Para cuidar do outro, de forma humanizada
é necessário também que o profissional
cuide de si, do seu aprimoramento cultural Concluindo...
e humano e de sua saúde. Receber A psicologia tem como desafio para
cuidados e cuidar-se é direito e dever. articular a questão da saúde em suas
Para cuidar de si mesmo, o profissional práticas junto às equipes multidisciplinares
deve atentar para seu modo de ser, suas de forma incisiva, perguntar-se,
emoções, seu físico e sua mente. principalmente, que concepção de sujeito e
de sociedade está como pano de fundo
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para as práticas psicológicas nos hospitais explicativos acerca das relações


gerais. intergrupais para tentar dar conta do
O trabalho da psicologia nas fenômeno. Algumas conclusões do
equipes multidisciplinares deve ser tomado pesquisador merecem ser destacadas:
como algo mais complexo, merecendo 1) membros dos grupos mais
uma discussão também complexa que, no excluídos reforçam suas próprias estimas
mínimo, consiga ser problematizadora de tornando os membros intragrupais
questões contemporâneas que envolvem significativos;
essas práticas psicológicas sobre doença e 2) grupos minoritários relatam a
saúde. Não há exercício profissional que existência de estereótipos extragrupais por
dispense uma perspectiva de sujeito e de parte dos médicos (grupo majoritário);
realidade. Em toda prática psicológica 3) grupos minoritários abordaram a
existe a necessidade dessa discussão, e questão do poder do grupo majoritário
ações que constituam o trabalho da (principalmente médicos brancos), o qual
psicologia. Assim, para o profissional da dita as normas e políticas da instituição;
psicologia, não estão restritas somente as 4) os grupos majoritários participam
atividades concernentes à saúde mental; de atividades das quais os membros dos
todo o trabalho que seja exercido no grupos menos favorecidos são excluídos.
campo de trato da coletividade com a Alguns estudos foram realizados
finalidade da promoção do bem-estar e da para se tentar compreender as variáveis
saúde e que seja possível o trabalho da envolvidas nas diversas relações
psicologia serão de interesse, ou seja, o profissionais da área de saúde. As
profissional da saúde também deve estar pesquisas realizadas acerca da relação
presente na formulação, organização e médico-psicólogo procuraram identificar
desenvolvimento das políticas públicas e tanto a imagem que os médicos fazem
sociais de saúde. desses profissionais, quanto às barreiras e
Estudiosos e profissionais da área os facilitadores dessa relação.
de saúde têm demonstrado grande
interesse em estudar as relações O Trabalho do Psicólogo Hospitalar
interprofissionais, uma vez que a palavra O objetivo principal do psicólogo
de ordem dos serviços de saúde é a
hospitalar é auxiliar o paciente em seu
interdisciplinaridade. O foco de grande
parte desses estudos é compreender como processo de adoecimento, visando à
acontece o trabalho de equipe, suas minimização do sofrimento provocado pela
barreiras e seus facilitadores. Um alto hospitalização. Esse profissional deve
número desses estudos não envolve prestar assistência ao paciente, bem como
necessariamente o profissional da seus familiares e a equipe de serviço, sendo
psicologia, mas procura estudar o trabalho que este deve levar em consideração um
multiprofissional e desenvolver melhores
leque amplo de atuações, tendo em vista a
formas de relacionamentos
interprofissionais. pluralidade das demandas.
La Tendresse (2000) utilizou o De acordo com a definição do órgão
ambiente hospitalar para investigar como que rege o exercício profissional do
os diversos grupos ocupacionais desse psicólogo no Brasil, o CFP (2003a), o
tipo de instituição definem-se em termos psicólogo especialista em Psicologia
de identidades sociais, procurando Hospitalar tem sua função centrada nos
também aprofundar especificamente as âmbitos secundário e terciário de atenção à
relações intergrupais entre o staff da saúde, atuando em instituições de saúde e
psiquiatria e o pessoal de apoio. O realizando atividades como: atendimento
pesquisador articula variados modelos psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos;
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grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em Como o fato da psicologia hospitalar


ambulatório e unidade de terapia intensiva; ser uma área que lida diretamente com a
pronto atendimento; enfermarias em geral; subjetividade e sofrimento do outro, é
psicomotricidade no contexto hospitalar; essencial que o psicólogo entenda os
avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; limites de sua atuação para não se tornar
consultoria e interconsultoria. um dos elementos invasivos provenientes
Chiattone (2000) ressalta, contudo, da hospitalização.
que, muitas vezes, o próprio psicólogo não Embora o paciente esteja
tem consciência de quais sejam suas necessitando de atendimento é necessário
tarefas e papel dentro da instituição, ao balizar a vontade ou não paciente de
mesmo tempo em que o hospital também receber assistência, a vontade do sujeito
tem dúvidas quanto ao que esperar desse deve ser respeitada. Assim, pode-se pensar
profissional. Se o psicólogo simplesmente em uma atuação que respeita a condição
transpõe o modelo clínico tradicional para o humana e caminhe dentro dos princípios
hospital e verifica que este não funciona morais e éticos.
como o esperado (situação bastante De outra parte, é também muito
frequente), isso pode gerar dúvidas quanto importante observar-se o fato de que, ao
à cientificidade e efetividade de seu papel. atuar em uma instituição, o psicólogo, ao
Desse modo, segundo a autora, o contrário da prática isolada de consultório,
distanciamento da realidade institucional e a tem que ter bastante claros os limites
inadequação da assistência mascarada por institucionais de sua atuação. Na instituição
um falso saber pode gerar experiências o atendimento deverá ser norteado a partir
malsucedidas em Psicologia Hospitalar. dos princípios institucionais (ANGERAMI,
O psicólogo deve estar cônscio de 1984).
seu papel na instituição hospitalar, visto que A psicologia hospitalar não deve se
sua atuação não abrange somente a colocar no contexto hospitalar como uma
hospitalização em si, no que tange a força solitária. Deve, acima de tudo,
patologia, mas, sobretudo, as sequelas e colaborar com seus objetivos para promover
consequências emocionais decorrentes do a humanização e a transformação social no
adoecimento. Nessa perspectiva o ambiente hospitalar, sem ficar preso
psicólogo deve atuar de modo preventivo, somente as teorizações que isolam os
evitando o agravamento do problema. conflitos mais amplos.

A Psicologia Hospitalar - objetivos e limites Desafios e Possibilidades


Para Alamy (1991) podemos O estado precário da saúde da
conceituar Psicologia hospitalar como o população é um entrave dentro do saber
ramo da Psicologia destinado ao psicológico, pois exige do profissional uma
atendimento de pacientes portadores de revisão de seus valores pessoais,
alguma alteração orgânico-física, que seja acadêmicos e emocionais. Nesta
responsável pelo desequilíbrio em uma das perspectiva, o contexto hospitalar difere do
instâncias bio-psico-social, bem como uma contexto de aprendizagem e orientação
Psicologia dirigida a pacientes internados acadêmica, uma vez que ali se percebe
em hospitais gerais sem deixar de se uma realidade desumana nas condições de
estender aos ambulatórios e consultórios, saúde da população que é alvo constante
com sua atenção voltada para as questões de injustiças sociais e aspira por um
emergenciais advindas da doença e/ou tratamento hospitalar digno. Os doentes são
hospitalização, do processo do adoecer e não raros obrigados a aceitar como
do sofrimento causado por estas, visando o normais, todas as formas de agressão com
minimizar da dor emocional do paciente e as quais se deparam em busca da saúde
de sua família. (ANGERAMI-CAMON,1995).
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É um desafio para o profissional envolvem dificuldades geradas pela


adentrar em um contexto onde quem indefinição de papéis e de fronteiras
predomina é a área médica, onde há limites profissionais e subsequente poder de
institucionais regidos por regras, condutas e decisão, competitividade interprofissional,
normas. Além do que o serviço muitas hierarquização das profissões e entraves no
vezes é muito deficiente e deve-se entrosamento interprofissional.
considerar que o atendimento psicológico
afasta-se do modelo clínico tradicional, e A comunicação entre a equipe
muitas vezes, leva o profissional a fazer os
atendimentos em macas, nos corredores, A organização de qualquer grupo de
exigindo a construção de uma nova postura trabalho pressupõe o estabelecimento de
profissional. canais de comunicação entre seus
A inserção do psicólogo no contexto membros – os quais dizem respeito à
hospitalar tem a possibilidade de atuar no maneira como as pessoas se comunicam
contexto de trabalho nas equipes inter e dentro da equipe, ou seja, o modo como
multidisciplinares, promovendo a manifestam suas opiniões e são ouvidas
humanização, qualidade de vida e pelos colegas. Essa forma de comunicação
assistência psicológica ao sujeito pode ocorrer de modo formal ou informal.
hospitalizado, a família e a equipe de A comunicação formal expressa-se,
saúde. por exemplo, mediante ofícios e
Angerami-Camon (1988) reflete memorandos, isto é, os mecanismos
sobre o trabalho do psicólogo junto ao formais de comunicação.
paciente, à família, à equipe de saúde Devemos lembrar-nos, ainda, que a
diante de situações específicas dentro do comunicação não se limita a palavras,
hospital. Ele defende a importância da faladas ou escritas. Gestos, posturas,
trajetória hospitalar do paciente (diagnóstico olhares, expressões faciais também
e prognóstico), pois isto revela o tipo de expressam sentimentos e pensamentos e
trabalho a ser desenvolvido pelo psicólogo. são outras maneiras de as pessoas se
Assim, as intervenções precisam observar comunicarem.
que a estruturação do atendimento A estrutura do grupo, refletida em seu
considera questões específicas da tipo de líder, também determina o modo de
sintomatologia abordada em sua totalidade. organização de sua rede de comunicação
Outra atuação seria a prestação de interna.
esclarecimentos aos profissionais sobre as Uma equipe de trabalho com um líder
questões emocionais do indivíduo do tipo autoritário, por exemplo, terá uma
internado. Além disso, junto à família, o rede de comunicação centralizada. Isto é,
psicólogo hospitalar precisa perceber que a toda informação passará primeiramente
mesma vive um momento de ansiedade, o pelo líder para só então ser compartilhada
qual envolve o restabelecimento físico do com o restante do grupo. E todos os
paciente. membros da equipe devem reportar-se
diretamente a ele, antes de se comunicarem
2 TRABALHO EM EQUIPE com outro colega. Nesse tipo de grupo, há
uma maior formalização das comunicações,
INTERPROFISSIONAL:
resultante do maior controle sobre as
RELACIONAMENTO E mesmas.
COMPETÊNCIAS Contudo, o que verificamos na
Com a inserção do psicólogo e de grande maioria das equipes e instituições
outros profissionais não-médicos no de saúde é uma rede de comunicação
hospital, sobrevêm as questões que formada pelos dois tipos de canais de troca
permeiam o trabalho multiprofissional e elas de informação: os formais e os informais -
10
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ambos igualmente importantes. Em todas necessidades de inclusão, controle e


as formas de comunicação, formal ou afeição, respectivamente.
informal, pode haver o que os especialistas Ao discorrer acerca da humanização
chamam de ruído, ou seja, fatores no ambiente de trabalho, Costa (2002)
estranhos à mensagem transmitida que a aponta as relações interpessoais como um
modificam, podem torná-la incompreensível dos elementos que contribuem para a
ou, mesmo, mudar totalmente seu sentido, formação do relacionamento real na
podendo provocar mal-entendidos, instituição: É mister observar a operação
prejudicar o resultado do trabalho e ou real da organização, aqui incluídas as
causar mal-estar entre os membros do relações interpessoais, que constituem a
grupo. sua seiva vital. Os elementos formais
Todos os integrantes da equipe (estrutura administrativa) e informais
devem ter assegurado o direito de participar (relacionamento humano, que emerge das
dos processos de produção e divulgação da experiências do dia-a-dia) integram-se para
informação. Em um hospital, por exemplo, produzir o padrão real de relacionamento
cada profissional deve ser incentivado a humano na organização: como o trabalho é
registrar no prontuário do paciente as ações verdadeiramente executado e quais as
executadas e a ler as anotações anteriores, regras comportamentais implícitas que
de modo a acompanhar a evolução dos governam os contatos entre as pessoas –
fatos ocorridos. esta é a estrutura de contatos e
Um grupo de profissionais comunicações humanas a partir da qual os
efetivamente integrado, no qual todos se problemas de política de pessoal e de
sintam igualmente importantes, produzindo tomada de decisões podem ser
e recebendo informação, fazendo parte da compreendidos e tratados pelos
rede de comunicação, traz maior satisfação administradores.
individual e, consequentemente, melhor Os autores são unânimes em
participação no cotidiano do trabalho. reconhecer a grande importância do tema
“relações interpessoais” tanto para os
Relacionamento interpessoal indivíduos quanto para as organizações,
As relações interpessoais tiveram relativamente à produtividade, qualidade de
como um de seus primeiros pesquisadores vida no trabalho e efeito sistêmico.
o psicólogo Kurt Lewin. Mailhiot (1976), ao
se referir a uma das pesquisas realizadas Trabalho em equipe uma vantagem
por esse psicólogo, afirma que ele chegou à competitiva
constatação de que “A produtividade de um A ideia de se trabalhar em equipe
grupo e sua eficiência estão estreitamente surgiu no momento que o homem percebeu
relacionadas não somente com a que a soma dos conhecimentos e
competência de seus membros, mas habilidades individuais facilitariam o atingir
sobretudo com a solidariedade de suas dos objetivos.
relações interpessoais”. A mudança constante das
Schutz, um outro psicólogo, trata de informações e a necessidade de um maior
uma teoria das necessidades interpessoais: conhecimento motivaram cada vez mais
necessidade de ser aceito pelo grupo, essa forma de trabalho, ou seja, fazer com
necessidade de responsabilizar-se pela que um grupo, formado por pessoas
existência e manutenção do grupo, diferentes, tenha objetivos comuns.
necessidade de ser valorizado pelo grupo. A verdade é que nem todas as
Tais necessidades formam a tríade de que instituições conseguem isso: transformar
fala Mailhiot (1976), quando este faz grupos de trabalho em equipes vencedoras,
referência aos estudos de Schutz: pois, quando falamos em equipes de
trabalho, estamos nos referindo ao
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APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

somatório de forças que vem do reconhecimento, incentiva, com firmeza, a


conhecimento e experiência, contudo, ao satisfação de todos, zela pela paz e,
falarmos na formação dessa equipe, finalmente, aposta no respeito e na
começamos a mencionar pessoas. transparência.
Essa então é a grande sacada, Equipes vencedoras são formadas
porque pessoas são dotadas de por pessoas que não pensam somente em
sentimentos individuais, expectativas sua vitória pessoal, mas sim, no todo.
únicas, sem falar nas crenças, valores e Vibram pelas conquistas dos colegas e
identidade que cada um vai formando no entendem que o sucesso deles é também
decorrer da vida. seu. São pessoas capazes de perceber que
É fato que toda equipe necessita de aquilo que se obtém, não vem por acaso,
um líder que seja capaz de orientar, mostrar mas sim pelo resultado do trabalho de
caminhos e gerar grandes resultados. Ele todos.
deverá ser dotado de características, não Assim, se desencadeia o
somente técnicas, mas também autodesenvolvimento de uma organização.
comportamentais, como, por exemplo, ter Procuram sempre evoluir, em busca das
carisma, humildade, sinceridade, ser novidades e da participação com ideias
preocupado e compreensivo. criativas para serem implantadas, esforçam-
É dele a missão de inspirar, em seus se ao máximo para que toda a equipe
colaboradores, a motivação para a cresça. Sabem que cada tarefa realizada é
conquista. O líder, portanto, é um modelo. para o crescimento do todo, por isso,
Dessa forma, consegue envolver e comprometem-se em todos os aspectos do
comprometer as pessoas, transmitindo-lhes trabalho.
sinergia, amizade, companheirismo e Têm consciência de que necessitam
satisfação. É, dessa forma, que nasce um de constante atualização, para ampliar o
time de vencedores, mantido, certamente, seu conhecimento com cursos,
pela parceria de todos. treinamentos, independentes da empresa, e
Cabe ressaltar também que as que o resultado disso será a melhoria
pessoas envolvidas necessitam resgatar individual e, principalmente, do time.
valores como união, respeito, cooperação, Sentem-se gratificados por compartilhar o
participação, envolvimento e conhecimento adquirido com os demais.
comprometimento. Esse resgate é São dedicados, informados, sugerem
fundamental, pois a sociedade como um abordagens que possam gerar lucros,
todo está num processo quase cruel de visando à sustentação da equipe que passa
individualismo. a ter um crescimento constante.
JUNTOS SOMOS FORTES, nada Portanto, alimentar o trabalho em
mais verdadeiro do que esta frase. A equipe, acima de tudo é uma questão de
sobrevivência de uma instituição está sobrevivência e exige dedicação e
relacionada com o conceito que ela tem de persistência. O resultado geral conquistado
união e como ela vai passar isso aos seus no conjunto de atitudes acentua o progresso
colaboradores. Com o trabalho em conjunto, de cada um. Prover o crescimento contínuo
as pessoas desenvolvem seu espírito de é sem dúvida prazeroso e altamente
cooperação e é dele que nasce o mais motivador, por isso é bom fazermos parte
nobre dos sentimentos, o afeto. A troca é de algo maior. Algo maior que nosso
matéria-prima em uma equipe e, nesse vaidoso ego.
processo, todos, inconscientemente, se Assim, em um grande time de
alimentam. vencedores encontramos o alimento para as
A verdadeira equipe equilibra egos, nossas vitórias individuais.
ensaia com afinco a humildade de cada
colaborador, treina intensivamente o Relação médico-paciente-psicólogo
12
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A relação médico-paciente é delicada colaboradores, e no consequente despertar


e desigual. Por mais interesse e informação cotidiano de seus talentos. Fomentar
que tenha acerca do mal que o aflige, o qualidade de vida, além de experiências
doente se encontra em condição de surpreendentes na realização pessoal e
fragilidade e se vê diante de situações em profissional, formaria a possibilidade de
que precisa decidir se confia na capacidade todas as equipes alcançarem ao máximo a
e no empenho do especialista. Este, por sua ideia de “servir com alegria” aos que
vez, tem por profissão a lida diária com partilham deste espaço diferenciado de vida
males e aflições e muitas vezes a dura e saúde.
tarefa de comunicar o paciente sobre a É primordial que a equipe de saúde
gravidade do que tem. A forma como vai se concentre esforços no sentido de humanizar
dar esta intersecção, ou seja, o momento as condições do paciente durante o
em que o paciente vai ouvir do médico o processo de hospitalização. O
que ele realmente tem, pode ser relacionamento do paciente com a equipe
determinante para o sucesso ou fracasso do de saúde precisa ser desenvolvido dentro
tratamento. de uma compreensão de que os
No dia-a-dia do hospital os profissionais que atuam no setor estão
psicólogos muitas vezes ocupam o lugar de comprometidos entre si com um objetivo
tradutores entre os médicos e os usuários, comum: o seu próprio restabelecimento. De
podendo tomar-se o entendimento de que forma contrária, o desconhecimento dos
as questões subjetivas são exclusivas do limites de atuação de cada profissional pode
psicólogo e as orgânicas do médico. gerar no paciente uma incerteza muito
Entretanto, o ser humano não é só somático grande sobre este processo de
ou psíquico, ou seja, a fragmentação do restabelecimento. Um relacionamento
atendimento à saúde pode não contemplar precário entre o paciente e a equipe de
a complexidade do ser humano, devido aos saúde pode determinar inclusive sofrimento
diferentes campos de saberes e poderes ao paciente que transcende à própria
envolvidos no atendimento ao usuário. enfermidade. É papel do psicólogo é cuidar
Contudo, a linguagem técnica da equipe de para que esse relacionamento ocorra de
saúde pode não ser o único empecilho no maneira satisfatória, intervindo de modo a
atendimento. Qualquer orientação dos levar esses profissionais a uma constante
profissionais do campo da saúde pode, reflexão sobre as atitudes a serem adotadas
muitas vezes, ser incompreensível ou para que o setor funcione de forma
inadequada às condições de vida da harmoniosa.
pessoa.
É importante que entre médico e Psicólogo no hospital – maternidade
paciente seja criado um clima que deixe o No hospital, o psicólogo aprende a
doente à vontade para fazer as perguntas escutar angústias, sofrimentos, ansiedades
que quiser. O diagnóstico de uma doença e medos presentes em cada manifestação
grave é um momento de ruptura. A pessoa orgânica do paciente, além de acompanhar
tem de interromper projetos para se dedicar a família, que sofre com ele e a equipe de
a uma coisa que não conhece, que é estar saúde que o acompanha, sendo a escuta
internado e passar por cirurgia. A seu instrumento de trabalho mais
internação, na maioria dos casos, gera uma importante.
crise. O profissional de psicologia trabalha
Junto a todos os profissionais no atendimento ao paciente internado,
envolvidos no cotidiano do paciente, e para buscando criar vínculo com este, além de
o paciente, o psicólogo pode auxiliar no acompanhar os procedimentos a que está
recrutamento, seleção, desenvolvimento e sendo submetido pela equipe de
motivação de todos e de cada um dos atendimento e acompanhamento de mães
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durante o pré, per e pós-parto. estar psíquico da paciente e tendo como


Considerando que a gravidez é uma fase de pressuposto uma visão holística de saúde.
transição com importantes mudanças na
aparência externa e interna da mulher, de Orientação Psicológica na Gravidez
alterações emocionais e sentimentos Tão importante quanto o
ambivalentes, o papel do psicólogo junto à acompanhamento médico pré-natal é a
mesma e a equipe de saúde, adquire valor assistência e orientação psicológica à
inestimável, uma vez que essas alterações gestante. Cada um contribuindo para a
podem se transformar em crises saúde física e mental tanto da mulher
emocionais, pois esse período é envolvido quanto do futuro bebê.
por expectativas e ansiedades.
Ter um bebê anormal é um medo Depressão Materna e o Impacto no Bebê
universal da mulher e pode ser captado pelo Desde o nascimento, o bebê precisa
psicólogo na ambivalência de sentimentos da ajuda da mamãe para conseguir sentir-
mãe em relação a seu conceito. Dessa se seguro, confiante e poder se desenvolver
forma a mulher grávida, reprime os motor e cognitivamente. Uma mãe
sentimentos negativos relativos à criança, depressiva nessa época torna-se ausente e
temendo que esta, ao nascer apresente empobrecida de estímulos para seu filho.
deficiências ou malformações.
Em casos de problemas pós-parto, Depressão Pós-Parto
tanto a mãe, como a família se sentem Com o parto, ocorrem reações
profundamente afetados, trazendo não raro conscientes e inconscientes na puérpera e
a tona, manifestações de personalidade, em todo o ambiente familiar e social
que acabam levando a uma vulnerabilidade imediato, que reativam profundas
emocional da estrutura familiar. ansiedades.
O impacto dos primeiros movimentos Uma das mais importantes é a
fetais é o fenômeno central do segundo revivência inconsciente da angústia do
trimestre de gravidez, enquanto no terceiro trauma do próprio nascimento: a passagem
é o aumento de ansiedade devido a pelo canal do parto, que inviabiliza para
aproximação do parto e perspectiva de sempre o retorno ao útero e empurra para
mudança de vida após a chegada do bebe. um mundo totalmente novo e, portanto,
As emoções do pós-parto são padrões, temido.
nesse período a mãe manifesta medo em
assumir a responsabilidade pela criança, Fobias do Parto
em se colocar como mãe, cuidar desse ser É que neste momento a angústia tem
que a partir de então é dependente de si. raízes mais profundas e inconscientes.
A maternidade, portanto, é o setor Todos os temores vivenciados desde o
que trabalha diretamente com a renovação início da gravidez se reatualizam, porque
da vida, embora nem todos os fetos e com o parto, a mulher terá a constatação se
recém-nascidos consigam sobrevida intra os momentos de dúvidas, questionamentos
ou extrauterina, cabendo ao psicólogo e incertezas não prejudicaram o feto e se
trabalhar também o conteúdo luto, realmente é merecedora de ter um filho
reelaborando o ego materno e essa mulher saudável e perfeito, ou seja, aquele que ela
para uma próxima concepção. Conclui-se vai ter que mostrar ao pai, à família e aos
assim que a ação integrada e dinâmica do amigos em geral.
psicólogo junto a toda a equipe de saúde no
contexto hospitalar e principalmente na Abordagem do psicólogo em pacientes
maternidade deve ser fundamentada no vítima de acidentes de trânsito
saber biopsicossocial, numa atuação Os Acidentes de Trânsito (AT)
interdisciplinar, buscando sempre o bem encontram-se na primeira categoria e
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representam as principais causas de reabilitação que vão depender muito do


internação no Sistema Único de Saúde estado mental do indivíduo hospitalizado,
(SUS) utilizando-se de aproximadamente dando relevância à atuação psicológica. As
30% da verba destinada pelo Ministério da circunstâncias de imprevisibilidade em que
Saúde às vítimas de causas externas. ocorrem os acidentes de trânsito provocam
Em aspectos psicossociais do uma crise e fazem com que o sujeito entre
atendimento de emergência, no caso de em contato com possíveis situações de
acidentes de trânsito, um bom sistema de perda: perda do corpo saudável (doença) e
atendimento de emergência é fundamental, da condição de “inteiro” (fraturas,
porque desde o socorro extra-hospitalar, o mutilações, procedimentos cirúrgicos).
transporte de ambulância, a equipe e o Nesse momento, o paciente teme tudo
hospital, tudo são novidades ameaçadoras. aquilo que a dor possa representar,
É muito difícil para o paciente passar, em inclusive a morte e o sofrimento.
nível psicológico, de maneira abrupta, de Esse medo baseia-se em dados de
um estado de saúde plena a um risco de realidade, tais como a sensação de dor e de
vida iminente. Por isso, devemos dedicar outros sintomas físicos, a dependência da
um tratamento médico e psicológico todo equipe de saúde e o sentimento de
especial ao politraumatizado e também a impotência.
seus familiares. Esses são momentos de O impacto desta vivência tem como
muita ansiedade, em que perdas e principal característica a intensidade e
ressentimentos se misturam imprevisibilidade dessa situação, que gera
profundamente. mudanças repentinas e abruptas na vida de
É fundamental que a equipe um indivíduo. Para essa ruptura imediata,
compreenda que: o paciente internado não existe preparo ou escolha anterior; o
numa unidade de pronto atendimento, não é afasta de suas atividades e o coloca de
um doente. É uma pessoa que gozava de encontro com o desconhecido, trazendo
saúde perfeita e, em função de um sentimentos de isolamento, abandono e
acidente, vê-se repentinamente rompimento de sua vida até então, o
hospitalizado. É preciso considerar que a colocando em um contexto invasivo,
assistência pode se modificar a partir da ameaçador, sem respaldo afetivo ou
estrutura e funcionamento do setor, da referenciais conhecidos.
dinâmica institucional e do perfil do Quando chega ao Pronto Socorro, o
paciente. paciente se vê imerso numa situação de
Assim, para planejar sua intervenção desamparo e, de certa forma, perde sua
o psicólogo precisa considerar todos esses dignidade quando deixa sua posição de
fatores. Os acidentes de trânsito são sujeito passando a objeto de intervenção
determinados na categoria: causas (Moura, 1996).
externas. É submetido a procedimentos
As sequelas que podem advir do médicos que, embora visem sua melhora,
acidente gerando mudanças significativas podem adquirir um caráter ameaçador e
na vida do indivíduo e de seus familiares invasivo. Assim, ele vive um momento de
como: uma possível incapacidade de perda de referencial, que é acompanhado
retornar à profissão, a falta de subsídios por vivências de isolamento, abandono e
financeiros por parte da instituição para a rompimento de laços afetivos, profissionais
qual prestava serviços, a falta de recursos e sociais (Coppe & Miranda, 2002). Mas
financeiros para a família que dependia esse sofrimento que permeia a passagem
deste trabalho. do paciente pelo Pronto Socorro pode ser
Estes fatores tornam-se centrais minimizado pela intervenção psicológica.
durante a hospitalização, e podem interferir Mohta, Sethi, Tyagi e Mohta (2003)
e atrapalhar no processo de cura e
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ressaltam a importância do atendimento - Quando uma pessoa sofre um


psicológico a pacientes traumatizados. acidente de trânsito com sequelas
O tratamento de traumas requer uma importantes, como por exemplo, lesões na
abordagem multidisciplinar, que considere coluna ou perda de um membro, nem
as manifestações clínicas e os aspectos sempre fica inconsciente no momento
psicológicos relacionados a elas, que posterior ao trauma. Muitos pacientes
afetam os pacientes e seus familiares. referem não sentirem dores intensas na
Esses aspectos, muitas vezes, são hora do acidente e não têm a dimensão da
ignorados, levando a uma alta incidência de extensão ou gravidade de seu estado.
distúrbios psiquiátricos. Os problemas Isto pode ocorrer devido a um bloqueio
psicológicos estariam relacionados à emocional que anestesia física e
natureza súbita ou inesperada dos eventos, emocionalmente o indivíduo em decorrência
à dor e ao ambiente do hospital, que é da intensidade daquela vivência.
desconhecido para os pacientes. Estes Mecanismos de defesa são ativados
apresentam sentimentos de desamparo, para que naquele momento a pessoa possa
humilhação, alteração da imagem corporal, minimamente lidar com aquela situação
regressão, negação, raiva, ansiedade e sem desestruturar. Dizemos que ela se
depressão. encontra em estado de choque, com suas
Diante de todas essas dificuldades, o reações paralisadas.
trabalho do psicólogo é bastante oportuno. A estrutura emocional do próprio
No Pronto Socorro o psicólogo, assim como indivíduo, o apoio e respaldo de seus
toda a equipe de saúde, não pode prever familiares, irão nortear e definir a forma de
seu dia de trabalho. A imprevisibilidade reação que ele terá frente a uma
atravessa o contexto, pois nunca se sabe experiência como esta. Morte de pessoas
quantos pacientes procurarão o Pronto próximas ou não envolvidas no acidente e o
Socorro e que tipo de atendimento eles vão nível de participação do paciente no
precisar. No caso do psicólogo, o que se mesmo, tem grande relevância neste caso.
tenta é resguardar o paciente na medida do Quando o acidente deixa sequela ou
possível. limitações irreparáveis, vive-se um período
Os atendimentos são breves, focais e de luto por estas perdas, com redefinições
buscam minimizar o sofrimento de ao longo do tempo de sua estrutura de vida,
pacientes e familiares. O psicólogo procura de seus objetivos, e principalmente seus
"resgatar" o sujeito, a partir do oferecimento valores e pré-conceitos anteriores.
de uma escuta, que permite a explicitação Durante o período de hospitalização,
do sofrimento. A partir dessa escuta é o trabalho do psicólogo é fundamental por
possível discriminar entre a urgência oferecer uma escuta e um acolhimento a
médica e a subjetiva (Moura, 1996). esta vivência traumática, para que os
A intervenção do psicólogo pode sentimentos suscitados possam ser
auxiliar o tratamento médico na medida em externalizados e elaborados pelo paciente.
que sensibiliza a equipe para aspectos O vínculo com o psicólogo pode
psicossociais que dificultam a comunicação propiciar neste meio desconhecido,
com o paciente, facilita a implicação do temeroso e hostil, um ponto de referencia
paciente em seu tratamento e reabilitação e que lhe ajude a administrar possíveis
oferece um acolhimento para a família fantasias de abandono e morte,
(Romano, 1999). minimizando o sofrimento psíquico, a dor e
Melhorando a qualidade de trabalho a angústia deste momento.
da equipe e intervindo junto ao paciente e
familiares, o psicólogo contribui para a O acidente sempre será um marco na vida
melhora da rotina assistencial no Pronto do indivíduo, de supressão ou
Socorro. ressignificação de sua própria existência. O
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acompanhamento psicológico pode ajudar o fechamento das considerações a respeito


paciente a redefinir sua vida através de de um examinando, seja em processo
profundos questionamentos surgidos a seletivo (exame psicológico ou
partir desta experiência. psicotécnico), avaliação psicológica e
psicodiagnóstico.
3 LAUDOS, PARECERES E
RELATÓRIOS PSICOLÓGICOS, Conceito, finalidade, estrutura e guarda de
documentos psicológicos
ESTUDO DE CASO, INFORMAÇÃO
O laudo ou relatório psicológico é
E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA um instrumento de natureza e valor
A Psicologia contemporânea parece científico que descreve situações,
confundir-se com a aplicação dos testes e, condições psicológicas e suas
em alguns casos, julga-se que, sem esse multideterminações investigadas no
tipo de instrumento, o psicólogo não seria decorrer do processo de avaliação
capaz de fazer qualquer afirmação psicológica.
científica do comportamento humano. Sua finalidade é relatar o
Talvez seja pelo fato das ciências serem encaminhamento, as intervenções, o
conhecidas por suas técnicas que lhes diagnóstico, estabelecer prognóstico e a
permitem aplicações e resultados visíveis. evolução do caso, além de orientar, sugerir
Assim, como o público tende a ver e/ou solicitar uma proposta terapêutica
os antibióticos como capazes de curar (CFP, 2003).
todas as infecções, por analogia, também No caso da perícia no trânsito, o
à considerar os testes como recursos laudo psicológico é um documento legal
infalíveis para conhecer as pessoas e suas em que é realizada a síntese do processo
aptidões. avaliativo e que comunica aos órgãos
No entanto, assim como o médico é competentes de trânsito e ao candidato, na
obrigado a conhecer a potencialidade dos entrevista devolutiva, se este apresenta ou
remédios e a levar em conta suas contra- não desempenho condizente para dirigir,
indicações, da mesma forma o psicólogo isto é, se está apto, inapto temporário ou
deve saber, não apenas as vantagens dos inapto.
testes, mas, também os limites de sua A estrutura do laudo é mais
utilidade e validade. Do contrário, correrá o complexa do que a das demais
risco de apresentar diagnósticos falsos ou modalidades (declaração, atestado
deformados, pois estariam baseados em psicológico e parecer psicológico), possui
resultados falhos e incompletos. cinco itens relacionados à identificação, à
Os testes psicológicos não descrição da demanda, ao procedimento, à
consistem numa exemplar neutralidade e análise e à conclusão (CFP, 2003). O
eficácia em 100% nos seus resultados, Conselho Federal de Psicologia (2003,
mas isto não implica que os mesmos 2009) orienta que se deve guardar os
devam ser dispensados. Desde que documentos de avaliação psicológica em
atendidas as pré-condições de sua arquivos seguros e de acesso controlado,
aplicação, e que o psicólogo examinador sendo esse um dos princípios éticos
tenha conhecimento, domínio da aplicação básicos do processo avaliativo.
e da avaliação, os testes se instalam como O arquivamento dos testes e do
referencial que elimina boa parte da laudo (protocolo) deve ser feito por um
“contaminação” subjetiva das suas período que pode variar de acordo com os
percepção e julgamento. casos previstos em lei, por determinação
É importante ressaltar a condição judicial ou quando necessário; contudo, o
dos testes como mais um recurso que CFP estabelece um período mínimo de
auxilia o profissional na compreensão e cinco anos para a guarda de todos os
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documentos escritos e do material usado encaminhamentos, necessariamente


em suas fundamentações. relacionados à demanda.

Laudos Psicológicos ou Periciais Pareceres Psicológicos


A palavra laudo é originária do Conceito e finalidade do Parecer
idioma latino, do genitivo laudis e significa
originalmente mérito, valor, glória. É um O Parecer é uma manifestação
documento conciso, minucioso e técnica fundamentada e resumida sobre
abrangente, que busca relatar, analisar e uma questão focal do campo psicológico
integrar os dados colhidos no processo de cujo resultado pode ser indicativo ou
avaliação psicológica tendo como objetivo conclusivo.
apresentar diagnóstico e/ou prognóstico, O Parecer tem como finalidade
para subsidiar ações, decisões ou apresentar resposta esclarecedora, no
encaminhamentos. campo do conhecimento psicológico,
Portanto, diferencia-se do Relatório através de uma avaliação técnica
Psicológico por ter como objetivo subsidiar especializada, de uma “questão-problema”,
uma tomada de decisão, por realizar uma visando a dirimir dúvidas que estão
extensa pesquisa cujas observações e interferindo na decisão, sendo, portanto,
dados colhidos deverão ser relacionados uma resposta a uma consulta, que exige
às questões e situações levantadas pela de quem responde competência no
decisão a ser tomada. assunto.

Estrutura Estrutura
Na sua estrutura básica, o laudo O psicólogo nomeado perito deve
psicológico contém os seguintes itens: fazer a análise do problema apresentado,
1. Identificação destacar os aspectos relevantes e opinar a
2. Descrição da demanda respeito, considerando os quesitos
3. Métodos e técnicas utilizadas apontados e com fundamento em
4. Conclusão referencial teórico científico.
Deve-se rubricar todas as folhas dos
Identificação documentos. Havendo quesitos, o
Refere-se à descrição dos dados psicólogo deve respondê-los de forma
básicos do avaliado, como nome, data de sintética e convincente, não deixando
nascimento, idade, escolaridade, filiação, nenhum quesito sem resposta. Quando
profissão etc. não houver dados para a resposta ou
quando o psicólogo não puder ser
Descrição da demanda categórico, deve-se utilizar a expressão
Nesse item, o psicólogo apresenta “sem elementos de convicção”. Se o
as informações referentes a motivos, quesito estiver mal formulado, pode-se
queixas ou problemáticas apresentadas, afirmar “prejudicado”, “sem elementos” ou
esclarecendo quais ações, decisões ou “aguarda evolução”.
encaminhamentos o Laudo deverá O Parecer é composto de 4
subsidiar. (quatro) partes:

Métodos e técnicas utilizadas 1. Cabeçalho


Refere-se à descrição dos recursos 2. Exposição de motivos
utilizados e dos resultados obtidos. 3. Discussão
Concluindo, destina-se a apresentar 4. Conclusão
uma síntese do diagnóstico e/ou Cabeçalho
prognóstico da avaliação realizada e/ou
18
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É a parte que consiste em identificar A finalidade do Relatório


o nome do perito e sua titulação, o nome Psicológico será sempre a de apresentar
do autor da solicitação e sua titulação. resultados e conclusões da avaliação
psicológica. Entretanto, em função da
Exposição de Motivos petição ou da solicitação do interessado, o
Essa parte destina-se à transcrição Relatório Psicológico poderá destinar-se a
do objetivo da consulta e os quesitos ou à finalidades diversas, como:
apresentação das dúvidas levantadas pelo encaminhamento, intervenção, diagnóstico,
solicitante. prognóstico, parecer, orientação,
Deve-se apresentar a “questão- solicitação de acompanhamento
problema”, não sendo necessária, psicológico, prorrogação de prazo para
portanto, a descrição detalhada dos acompanhamento psicológico etc.
procedimentos, como os dados colhidos ou Enfim, a solicitação do requerente é
o nome dos envolvidos. que irá apontar o objetivo último do
Relatório Psicológico.
Discussão
A discussão do PARECER constitui- Estrutura
se na análise minuciosa da “questão- Independentemente das finalidades
problema”, explanada e argumentada com a que se destina, o Relatório Psicológico é
base nos fundamentos necessários uma peça de natureza e valor científicos,
existentes, seja na ética, na técnica ou no devendo conter narrativa detalhada e
corpo conceitual da ciência psicológica. didática, com clareza, precisão e harmonia,
tornando-se acessível e compreensível ao
Conclusão destinatário.
É a parte final do Parecer, em que o Os termos técnicos devem,
psicólogo irá apresentar seu portanto, estar acompanhados das
posicionamento, respondendo à questão explicações e/ou conceituação retiradas
levantada. Ao final do posicionamento ou dos fundamentos teórico-filosóficos que os
do Parecer propriamente dito, informa o sustentam.
local e data em que foi elaborado e assina Independentemente também, da
o documento. finalidade a que se destina, o Relatório
Psicológico deve conter, no mínimo, 3
Relatório Psicológico (três) etapas: introdução, descrição e
Conceito e finalidade do Relatório conclusão, além do cabeçalho.
Psicológico 1. – Cabeçalho
O Relatório Psicológico é uma 2. – Introdução ou Histórico
apresentação descritiva e/ou interpretativa 3. – Descrição ou Desenvolvimento
acerca de situações ou estados 4. – Conclusão
psicológicos e suas determinações
históricas, sociais, políticas e culturais, Cabeçalho
pesquisadas no processo de Avaliação É a parte superior da primeira parte
Psicológica. do Relatório Psicológico com a finalidade
Como todo DOCUMENTO, deve ser de identificar:
subsidiado em dados colhidos e analisados O autor/relator – quem elabora o
à luz de um instrumental técnico Relatório Psicológico;
(entrevistas, dinâmicas, testes O interessado – quem solicita o
psicológicos, observação, escuta, Relatório Psicológico;
intervenção verbal etc.), consubstanciado O assunto/finalidade – qual a
em referencial técnico-filosófico e razão/finalidade do Relatório Psicológico.
científico, adotado pelo psicólogo.
19
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No identificador AUTOR/RELATOR, instrumental técnico utilizado, bem como


deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s) princípios éticos, como as questões
psicólogo(s) que realizará(ão) a avaliação, relativas ao sigilo das informações.
com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Somente deve ser relatado o que for
Conselho Regional. necessário para o esclarecimento do
No identificador INTERESSADO, o encaminhamento, como disposto no
psicólogo indicará o nome do autor do parágrafo 2o. do Artigo 23 do Código de
pedido (se a solicitação foi da Justiça, se Ética Profissional.
foi de empresas, entidades ou do cliente). O psicólogo, ainda nessa parte,
No identificador ASSUNTO, o poderá se valer de citações ou
psicólogo indicará a razão, o motivo do transcrições, visando a reforçar as
pedido (se para acompanhamento conclusões de sua análise. Não deve fazer
psicológico, prorrogação de prazo para afirmações sem sustentação em fatos e/ou
acompanhamento ou outras razões teorias, devendo ter linguagem precisa,
pertinentes a uma avaliação psicológica). especialmente quando se referir a dados
de natureza subjetiva, expressando-se de
Introdução ou Histórico maneira clara e exata.
Alguns psicólogos, em seus
Relatórios, intitulam essa primeira parte Conclusão
como HISTÓRICO. Ela é destinada à É a parte final, conclusiva, do
narração histórica e sucinta dos fatos que Relatório Psicológico. Nela, o psicólogo vai
produziram o pedido do Relatório espelhar e dar ênfase às evidências
Psicológico. encontradas na análise dos dados a partir
Inicia-se com as razões do pedido, das referências adotadas, que subsidiaram
seguida da descrição do processo ou o resultado a que o psicólogo chegou,
procedimentos utilizados para coletar as sustentando assim a finalidade a que se
informações, contextualizando fatos e propôs. Escrita logo após a descrição, o
pessoas neles envolvidos e a metodologia psicólogo deve expor o resultado e/ou
empregada, possibilitando assim, para considerações. Após a narração
quem lê, a compreensão do ocorrido, o conclusiva, o Relatório Psicológico é
que se está analisando, solicitando e/ou encerrado, com indicação do local, data de
questionando. emissão e assinatura do psicólogo.
Portanto, a introdução tratará da
narração: Princípios norteadores na elaboração de
a) dos fatos motivadores do documentos
pedido; O psicólogo, na elaboração de seus
b) dos procedimentos e documentos, deverá adotar como
instrumentos utilizados na coleta de dados princípios norteadores as técnicas da
(número de encontros, pessoas ouvidas, linguagem escrita e os princípios éticos,
instrumentos utilizados), à luz do técnicos e científicos da profissão.
referencial teórico-filosófico que os 1 – Princípios Técnicos da Linguagem
embasa. Escrita
O documento deve, na expressão
Descrição ou Desenvolvimento escrita, apresentar uma redação bem
É a parte do Relatório na qual o estruturada e definida, ou seja, expressar o
psicólogo faz uma exposição descritiva de pensamento, o que se quer comunicar.
forma metódica, objetiva e fiel dos dados Deve ter uma ordenação que possibilite a
colhidos e das situações vividas. compreensão por quem o lê, o que é
Nessa exposição, deve respeitar a fornecido pela estrutura, composição de
fundamentação teórica que sustenta o
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parágrafos ou frases, além da correção DOCUMENTO, portanto, deve considerar a


gramatical. natureza dinâmica, não definitiva e não
O emprego de expressões ou cristalizada do seu objeto de estudo.
termos deve ser compatível com as Os psicólogos, ao produzirem
expressões próprias da linguagem documentos escritos, devem se basear
profissional, garantindo a precisão da exclusivamente nos instrumentais técnicos
comunicação e evitando a diversidade de (entrevistas, testes, observações,
significações da linguagem popular. dinâmicas de grupo, escuta, intervenções
A comunicação deve ainda verbais etc.) que se configuram como
apresentar como qualidades a clareza, a métodos e técnicas psicológicas para a
concisão e a harmonia. A clareza se coleta de dados, estudos e interpretações
traduz, na estrutura frasal, pela sequência de informações a respeito da pessoa ou
ou ordenamento adequado dos conteúdos, grupo atendidos, bem como sobre outros
pela explicitação da natureza e função de materiais e documentos produzidos
cada parte na construção do todo. anteriormente e pertinentes à matéria em
A concisão se verifica no emprego questão.
da linguagem adequada, da palavra exata A linguagem nos documentos deve
e necessária. Essa “economia verbal” ser rigorosa, precisa, clara e inteligível.
requer do psicólogo a atenção para o
equilíbrio que evite uma redação lacônica Validade dos Documentos
ou o exagero de uma redação prolixa. O prazo de validade dos
Finalmente, a harmonia se traduz na documentos escritos decorrentes das
correlação adequada das frases, no avaliações psicológicas deverá considerar
aspecto sonoro e na ausência de a legislação vigente nos casos já definidos.
cacofonias. Não havendo definição legal, o
psicólogo, onde for possível, indicará o
2 – Princípios Éticos e Técnicos prazo de validade em função das
Princípios Éticos características avaliadas, das informações
Na elaboração de DOCUMENTO, o obtidas e dos objetivos da avaliação.
psicólogo baseará suas informações na Quando não for possível a indicação
observância dos princípios e dispositivos do prazo, informará o caráter situacional e
do Código de Ética Profissional do temporal dos dados de uma avaliação
Psicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados psicológica.
em relação: aos deveres do psicólogo nas Ao definir o prazo, o psicólogo
suas relações com a pessoa atendida, ao deve dispor dos fundamentos para a
sigilo profissional, às relações com a indicação, devendo apresentá-los sempre
justiça e ao alcance das informações - que solicitado.
identificando riscos e compromissos em
relação à utilização das informações Guarda dos documentos e condições de
presentes nos documentos em sua guarda
dimensão de relações de poder. Os documentos escritos decorrentes
de avaliação psicológica, bem como todo o
Princípios Técnicos material que os fundamentou, deverão ser
O processo de avaliação psicológica guardados pelo prazo mínimo de 5 anos,
deve considerar que os objetos deste observando-se a responsabilidade por eles
procedimento (as questões de ordem tanto do psicólogo quanto da instituição em
psicológica) têm determinações históricas, que ocorreu a avaliação psicológica.
sociais, econômicas e políticas, sendo os Esse prazo poderá ser ampliado
mesmos elementos constitutivos no nos casos previstos em lei, por solicitação
processo de subjetivação. O judicial, ou ainda em casos específicos em
21
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que seja necessária a manutenção da 5. Recomendar a melhor medida.


guarda por maior tempo. Vamos examinar cada um desses
Em caso de extinção de serviço passos.
psicológico, o material privativo e os 1. Identificar os fatos mais
documentos escritos devem permanecer importantes relacionados ao caso.
em posse do psicólogo responsável, que Leia o caso várias vezes para se
os manterá sob sua guarda pelo prazo familiarizar com as informações nele
previsto neste manual. contidas. Preste atenção às informações
Atingido esse prazo, o psicólogo ou constantes de todos os números, tabelas
instituição responsável pela guarda deverá ou apresentações que o acompanham.
destruir o material de forma a não permitir Muito cenários de casos, assim como os da
a quebra do sigilo das informações nele vida real, apresentam uma grande
contidas. quantidade de informações detalhadas.
O psicólogo responsável pelo Alguns desses fatos são mais relevantes do
documento escrito decorrente da avaliação que outros para a identificação do
psicológica deverá estar atento ao artigo problema.
24 do Código de Ética Profissional do Podemos considerar os fatos e os
Psicólogo, garantido, assim, o sigilo números do caso como verdadeiros, mas
profissional. as afirmações, os julgamentos ou as
decisões feitas por pessoas devem ser
Estudo de Caso – informação e avaliação questionados. Sublinhe e depois enumere
psicológica os fatos e os números mais importantes,
Escrever um estudo de caso de que poderão ajudá-lo a definir o problema
psicologia requer um exame profundo de ou questão principal.
um paciente, seus sintomas, aplicação do Se números ou fatos importantes
quadro teórico, as conversas e os não estiverem disponíveis, você pode
resultados da sessão de terapia. Estudos formular hipóteses, mas essas hipóteses
de caso dão visão sobre os tipos de precisam ser razoáveis, de acordo com a
problemas que um paciente está passando situação. A ‘exatidão’ de suas conclusões
e os exercícios ou terapia utilizada para pode depender das hipóteses que você
tratar o paciente ao longo de um período formula.
de tempo. Um estudo de caso conclui com 2. Identificar a questão ou questões-
um resultado baseado em evidências e chave.
detalha se o paciente respondeu ao Use os fatos fornecidos pelo caso
beneficio da terapia. para identificar a questão ou questões-
Informação chave que se está enfrentando. Muitos
Uma análise de estudo de caso casos apresentam múltiplas questões ou
não deve meramente resumir o caso. Ela problemas. Identifique as mais importantes
precisa identificar questões e problemas- e separe-as de questões triviais. Defina o
chave, propor e avaliar medidas principal problema ou desafio que se
alternativas e extrair conclusões enfrenta. Você deve ser capaz de
apropriadas. A análise de estudo de caso descrever esse problema ou desafio em
pode ser fragmentada nos seguintes uma ou duas frases. Você precisará
passos: explicar por que o problema ocorreu.
1. Identificar os fatos mais 3. Especificar medidas alternativas.
importantes relacionados ao caso. Enumere as medidas que se pode tomar
2. Identificar a questão ou questões- para solucionar seu problema ou enfrentar
chave. o desafio com o qual depara.
3. Especificar medidas alternativas. 4. Avaliar cada medida.
4. Avaliar cada medida. Avalie cada alternativa usando os fatos e
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as questões que você identificou avaliado. Uma das críticas feitas a


anteriormente, dadas as condições e avaliação diz respeito a esta questão, que
informações disponíveis. Defina os riscos, a avaliação muitas vezes pode ser
assim como as recompensas associadas a facilitadora dos processos de exclusão.
cada medida. Sua recomendação é factível A ideia que surge neste contexto
sob o ponto de vista técnico, operacional e refere-se a importância que este
financeiro? diagnóstico pode adquirir na vida do
5. Recomendar a melhor medida. sujeito, falando-se tanto em uma relação
Defina sua escolha quanto à melhor pessoal (“o teste diz que eu não sou apto
medida e explique em detalhes por que para o emprego X”) como para uma
você tomou essa decisão. Você também relação mais social, onde a avaliação
pode explicar por que outras alternativas psicológica pode ser motivo de exclusão
foram rejeitadas. Sua recomendação final dos sujeitos nos mais diversos ambientes,
deve fluir logicamente do resto da análise e desde o familiar até em suas relações
especificar claramente em quais hipóteses sociais dentro da comunidade.
a conclusão se fundamenta. Em geral não O posicionamento do psicólogo em
existe uma única resposta ‘correta’, e cada relação à realidade do paciente é outro
opção tende a apresentar riscos e ponto que deve ser levado em
recompensas. consideração ao realizar a avaliação,
sendo que o curso de uma entrevista, por
Avaliação psicológica exemplo, é bastante influenciado por
A avaliação psicológica é um variáveis pessoais como sexo, raça,
procedimento que visa avaliar, através de situação sociocultural entre outras.
instrumentos previamente validados para a A atenção do psicólogo nestas
determinada função, os diversos processos situações em relação a estas variáveis é
psicológicos que compõe o indivíduo, de extrema importância, apropriando-se
sendo o psicólogo o único profissional das influências que estas causam ao
habilitado por lei para exercer esta função. avaliado sem, no entanto abandonar a
A avaliação e descrição da realidade imparcialidade que a avaliação psicológica
psicológica de alguém fornece ao existe para comprovar sua validade.
psicólogo um conjunto de informações, as Cabe ao psicólogo então, manter
quais este deve saber interpretar, em mente estas noções ao realizar o
selecionar e, sobretudo transmitir e processo, buscando uma relativização dos
devolver. Esta responsabilidade traz efeitos desta avaliação que, embora
consigo uma série de considerações éticas sustentada em bases teóricas, possui uma
que visam não somente a imparcialidade grande carga de elementos pessoais do
do processo em si, mas principalmente a mesmo. Passando para uma perspectiva
humanização deste, tendo como foco, em histórica, os testes psicológicos surgiram
última instância a preservação da no início do século XIX, sendo seu uso
integridade do sujeito avaliado. fortalecido no período das guerras,
Partindo deste principio muitas principalmente nos EUA.
questões vem a tona, como a influência do No Brasil começaram a ser usados
diagnóstico no contexto social do avaliado; principalmente para seleção e orientação
o posicionamento do psicólogo em relação profissional. Entre os anos 60 aos 80 não
à avaliação; além do sigilo profissional na havia muito investimento em avaliação
confecção de laudos, além de várias outras psicológica e elaboração de testes ou
que cercam a responsabilidade ética na adaptação dos testes já existentes à
avaliação psicológica. O psicólogo deve ter população brasileira. Nos anos 90 inicia-se
consciência da influência que um uma mudança deste quadro, com o
diagnostico pode trazer para a realidade do surgimento de laboratórios em
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universidades focando esta área até então A avaliação psicológica auxilia na


pouco explorada no país. identificação da missão de vida, na escolha
A regulamentação dos testes em da profissão, de acordo com as habilidades
2003 (Resolução n° 2/2003) foi uma e tipo de personalidade.
resposta do Conselho Federal de
Psicologia a uma demanda da categoria Na área da saúde mental
profissional e da própria sociedade, que A avaliação psicológica identifica
muitas vezes acabava prejudicada pelo problemas relacionados com as
uso indevido. psicopatologias ou transtornos mentais.
Atualmente, existe o Sistema de Auxilia no diagnóstico de retardo mental,
Avaliação de Testes Psicológicos demências, déficit de aprendizagem e
(SATEPSI), onde encontra-se documentos atenção, hiperatividade, dificuldades de
sobre a avaliação de testes psicológicos leitura ou na fala e problemas afetivo-
feitas pelo CFP, lista de testes com emocionais.
parecer favorável e desfavorável, além de
uma série de outros informativos Nas cirurgias
relacionados ao assunto. A avaliação psicológica é realizada
Atualmente, o papel da avaliação como suporte para a cirurgia bariátrica,
psicológica já assume um papel de maior plástica ou reparadora, vasectomia e
destaque dentre as funções exercidas pelo outros tipos de cirurgia.
psicólogo, com a abertura de novos
campos para a prática, destacando-se Na área jurídica e pericial
entre estes a psicologia no Âmbito Penal e A avaliação psicológica contribui na
a psicologia do trânsito. solução de processos jurídicos.

Aplicações da Avaliação Psicológica Nos concursos públicos


Nas empresas A avaliação psicológica auxilia na
Seleção de pessoal: a avaliação seleção dos candidatos.
psicológica é fundamental para identificar
o perfil comportamental ideal e No ambiente doméstico
do potencial do colaborador. Avalia-se A avaliação psicológica informará
desde cargos simples até executivos e sobre o perfil comportamental de babás e
diretores de empresas. A pessoa certa no cuidadores de idosos.
lugar certo é mais feliz, mais realizada.
Colaboradores não adaptados geram No desenvolvimento pessoal /
relacionamentos ruins, demissões Coaching (Aconselhamento)
prematuras, prejuízos na produtividade e A avaliação psicológica fornece uma
financeiros. análise detalhada da autoimagem, do
Fazemos avaliações psicológicas ponto de vista particular e profissional;
também para os processos serve de suporte para aconselhamento.
de reciclagem e promoções de cargos.
Realizamos mapeamento de Na formação de equipes desportivas
competências. São testados os níveis de ou profissionais.
atenção, inteligência, estresse, as A avaliação psicológica auxilia na
habilidades sociais, os conhecimentos; são formação de times ou equipes na busca
identificados os traços de personalidade, dos melhores resultados.
são avaliadas as atitudes e os valores
pessoais. Alguns Tipos de Testes ou Avaliações
Psicológicas
Na orientação vocacional
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Ajustamento Emocional CONSIDERANDO a demanda social


(Neuroticismo) e a necessidade de construir um sistema
Socialização/Habilidades sociais contínuo de avaliação dos testes
Tipo/padrão de personalidade psicológicos, adequado à dinâmica da
Transtorno de déficit de atenção e comunidade científica e profissional, que
hiperatividade. vem disponibilizando com frequência
Atenção concentrada novos instrumentos dessa natureza aos
Cognitiva: raciocínio, habilidades psicólogos;
intelectuais, inteligência. CONSIDERANDO as deliberações
Depressão do IV Congresso Nacional de Psicologia
Extroversão acerca do tratamento a ser dispensado aos
Estresse adulto e infantil testes psicológicos;
Memória CONSIDERANDO as propostas
Desenvolvimento comportamental encaminhadas por psicólogos, delegados
Saúde Geral das diversas regiões, que participaram do I
Fórum Nacional de Avaliação Psicológica,
Avaliação de realizado em dezembro de 2000;
aprendizagem: compreensão de textos e CONSIDERANDO a necessidade de
processos de leitura; motivação escolar, agilizar e de tornar público o processo de
desempenho escolar, estratégias de avaliação desses instrumentos;
aprendizagem. CONSIDERANDO a função social
Avaliação Neuropsicológica dos Conselhos de Psicologia em buscar a
Avaliação psicomotora qualidade técnica e ética dos produtos e
Avaliação vocacional: habilidades e serviços profissionais do psicólogo;
Interesses profissionais, conhecimento de CONSIDERANDO a necessidade de
profissões. divulgação prévia aos psicólogos dos
requisitos mínimos que devem ter os testes
RESOLUÇÃO CFP N° 002/2003 psicológicos, conforme disposto no Anexo I
da presente Resolução;
Define e regulamenta o uso, a elaboração CONSIDERANDO que a divulgação
e a comercialização de testes psicológicos dos requisitos mínimos proporcionará as
e revoga a Resolução CFP n° 025/2001. condições para a adoção de providências
imediatas para a qualificação dos testes;
O CONSELHO FEDERAL DE CONSIDERANDO a deliberação da
PSICOLOGIA, no uso das atribuições Assembléia das Políticas Administrativas e
legais e regimentais que lhe são conferidas Financeiras em reunião realizada no dia 14
pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de de dezembro de 2002 e
1971, e CONSIDERANDO o disposto no § CONSIDERANDO decisão deste
1o do Art. 13 da Lei no 4.119/62, que Plenário no dia 16 de março de 2003,
restringe ao psicólogo o uso de métodos e RESOLVE:
técnicas psicológicas; Art. 1º - Os Testes Psicológicos são
CONSIDERANDO a necessidade de instrumentos de avaliação ou mensuração
aprimorar os instrumentos e procedimentos de características psicológicas,
técnicos de trabalho dos psicólogos e de constituindo-se um método ou uma técnica
revisão periódica das condições dos de uso privativo do psicólogo, em
métodos e técnicas utilizados na avaliação decorrência do que dispõe o § 1o do Art.
psicológica, com o objetivo de garantir 13 da Lei no 4.119/62.
serviços com qualidade técnica e ética à Parágrafo único. Para efeito do
população usuária desses serviços; disposto no caput deste artigo, os testes
psicológicos são procedimentos
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sistemáticos de observação e registro de constitutivo e operacional, incluindo a


amostras de comportamentos e respostas definição dos seus possíveis propósitos e
de indivíduos com o objetivo de descrever os contextos principais para os quais ele
e/ou mensurar características e processos foi desenvolvido;
psicológicos, compreendidos II - apresentação de evidências
tradicionalmente nas áreas emoção/afeto, empíricas de validade e precisão das
cognição/inteligência, motivação, interpretações propostas para os escores
personalidade, psicomotricidade, atenção, do teste, justificando os procedimentos
memória, percepção, dentre outras, nas específicos adotados na investigação;
suas mais diversas formas de expressão, III - apresentação de dados
segundo padrões definidos pela empíricos sobre as propriedades
construção dos instrumentos. psicométricas dos itens do instrumento;
Art. 2º - Os documentos a seguir IV - apresentação do sistema de
são referências para a definição dos correção e interpretação dos escores,
conceitos, princípios e procedimentos, bem explicitando a lógica que fundamenta o
como o detalhamento dos requisitos procedimento, em função do sistema de
estabelecidos nesta Resolução: interpretação adotado, que pode ser:
I - International Test Commission 1. referenciada à norma,
(2000). ITC Guidelines on Adapting Tests. devendo, nesse caso, relatar as
International Test Commission. Disponível características da amostra de
On-line em:http://www.intestcom.org. padronização de maneira clara e
II - American Educational Research exaustiva, preferencialmente comparando
Association, American Psychological com estimativas nacionais, possibilitando o
Association & National Council on julgamento do nível de representatividade
Measurement in Education (1999). do grupo de referência usado para a
Standards for Educational and transformação dos escores.
Psychological Testing. New York: 2. diferente da interpretação
American Educational Research referenciada à norma, devendo, nesse
Association. caso, explicar o embasamento teórico e
III - Canadian Psychological justificar a lógica do procedimento de
Association (1996). Guidelines for interpretação utilizado.
Educational and Psychological Testing. V - apresentação clara dos
Ontário, CA: CPA. Disponível on-line procedimentos de aplicação e correção,
em:http://www.cpa.ca/guide9.html Art. 3o - bem como as condições nas quais o teste
Os requisitos mínimos que os instrumentos deve ser aplicado, para que haja a garantia
devem possuir para serem reconhecidos da uniformidade dos procedimentos
como testes psicológicos e possam ser envolvidos na sua aplicação;
utilizados pelos profissionais da psicologia VI - compilação das informações
são os previstos nesta Resolução. indicadas acima, bem como outras que
Art. 4o - Para efeito do disposto no forem importantes, em um manual
artigo anterior, são requisitos mínimos e contendo, pelo menos, informações sobre:
obrigatórios para os instrumentos de 1. o aspecto técnico-científico,
avaliação psicológica que utilizam relatando a fundamentação e os estudos
questões de múltipla escolha e outros empíricos sobre o instrumento;
similares, tais como "acerto e erro", 2. o aspecto prático, explicando
"inventários" e "escalas": a aplicação, correção e interpretação dos
I - apresentação da fundamentação resultados do teste ;
teórica do instrumento, com especial 3. a literatura científica
ênfase na definição do construto, sendo o relacionada ao instrumento, indicando os
instrumento descrito em seu aspecto meios para a sua obtenção.
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Art. 5º - São requisitos mínimos 2. o aspecto prático, explicando


obrigatórios para os instrumentos de a aplicação, correção e interpretação dos
avaliação psicológica classificados como resultados do teste e
"testes projetivos": 3. a literatura científica
I - apresentação da fundamentação relacionada ao instrumento, indicando os
teórica do instrumento com especial ênfase meios para a sua obtenção .
na definição do construto a ser avaliado e Art. 6º - Os requisitos mínimos
dos possíveis propósitos do instrumento e obrigatórios são aqueles contidos no
os contextos principais para os quais ele Anexo I desta Resolução, Formulário de
foi desenvolvido; Avaliação da Qualidade de Testes
II - apresentação de evidências Psicológicos.
empíricas de validade e precisão das Parágrafo Único – O Anexo que
interpretações propostas para os escores trata o caput deste Artigo é parte integrante
do teste, com justificativas para os desta Resolução.
procedimentos específicos adotados na Art. 7o - Também estão sujeitos aos
investigação, com especial ênfase na requisitos estabelecidos na presente
precisão de avaliadores, quando o Resolução os testes estrangeiros de
processo de correção for complexo; qualquer natureza, traduzidos para o
III - apresentação do sistema de português, que devem ser adequados a
correção e interpretação dos escores, partir de estudos realizados com amostras
explicitando a lógica que fundamenta o brasileiras, considerando a relação de
procedimento, em função do sistema de contingência entre as evidências de
interpretação adotado, que pode ser: validade, precisão e dados normativos com
1. referenciada à norma, o ambiente cultural onde foram realizados
devendo , nesse caso , relatar as os estudos para sua elaboração.
características da amostra de Parágrafo Único - Os requerentes,
padronização de maneira clara e autores, editores, laboratórios e
exaustiva, preferencialmente comparando responsáveis técnicos de testes
com estimativas nacionais, possibilitando o psicológicos, comercializados ou não,
julgamento do nível de representatividade poderão encaminhar os mesmos ao CFP a
do grupo de referência usado para a qualquer tempo, protocolando
transformação dos escores; requerimento dirigido ao presidente do
2. diferente da interpretação CFP, acompanhado de 2 (dois)
referenciada à norma, devendo , nesse exemplares completos do instrumento.
caso , explicar o embasamento teórico e Art. 8º - O CFP manterá uma
justificar a lógica do procedimento de Comissão Consultiva em Avaliação
interpretação utilizado; Psicológica integrada por psicólogos
IV - apresentação clara dos convidados, de reconheido saber em
procedimentos de aplicação e correção e testes psicológicos, com o objetivo de
das condições nas quais o teste deve ser analisar e emitir parecer sobre os testes
aplicado para garantir a uniformidade dos psicológicos encaminhados ao CFP, com
procedimentos envolvidos na sua base nos parâmetros definidos nesta
aplicação; Resolução, bem como apresentar
V - compilação das informações sugestões para o aprimoramento dos
indicadas acima, bem como outras que procedimentos e critérios envolvidos nessa
forem importantes, em um manual tarefa, subsidiando as decisões do
contendo, pelo menos, informações sobre: Plenário a respeito da matéria.
1. o aspecto técnico-científico, § 1º - A Comissão de que trata
relatando a fundamentação e os estudos o caput deste artigo, nomeada Comissão
empíricos sobre o instrumento; Consultiva em Avaliação Psicológica, será
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composta por, no mínimo, 4 (quatro) § 5º - A análise do recurso à


membros, podendo valer-se da avaliação desfavorável, realizada pela
colaboração de pareceristas Ad hoc. Comissão Consultiva em Avaliação
§ 2º - Os pareceristas Ad hoc serão Psicológica, ocorre quando do recebimento
psicólogos convidados pelo CFP, do recurso do requerente.
escolhidos por notório saber na área. § 6º - A avaliação final desfavorável
§ 3º - O trabalho da Comissão e dos ocorre quando, mediante análise, a
pareceristas Ad hoc não será remunerado, avaliação desfavorável prevalece diante da
e não representará vínculo empregatício resposta de que trata o parágrafo anterior,
com o CFP. ou quando esta resposta não for
Art. 9º - Os testes recebidos terão apresentada no prazo estabelecido nesta
tramitação interna de acordo com as resolução, caso em que o teste será
seguintes etapas, cujo procedimento se considerado sem condições de uso.
descreve: Art. 10 - Será considerado teste
I– Recepção; psicológico em condições de uso, seja ele
II – Análise; comercializado ou disponibilizado por
III – Avaliação; outros meios, aquele que, após receber
IV – Comunicação da avaliação aos Parecer da Comissão Consultiva em
requerentes, com prazo para recurso; Avaliação Psicológica, for aprovado pelo
V – Análise de recurso; CFP.
VI – Avaliação Final . Parágrafo único – Para o disposto
§ 1º – Arecepção consiste no no caput deste artigo, o Conselho Federal
protocolo de recebimento, inclusão no de Psicologia considerará os parâmetros
banco de dados e encaminhamento para de construção e princípios reconhecidos
análise.§ 2º – A análise é feita com a pela comunidade científica, especialmente
verificação técnica do cumprimento das os desenvolvidos pela Psicometria.
condições mínimas contidas no Anexo I Art. 11 – As condições de uso dos
desta Resolução, realizada inicialmente instrumentos devem ser consideradas
pelos pareceristas Ad hoceposteriormente, apenas para os contextos e propósitos
pela Comissão Consultiva em Avaliação para os quais os estudos empíricos
Psicológica, resultando em um parecer a indicaram resultados favoráveis.
ser enviado para decisão da Plenária do Parágrafo Único – A consideração
CFP. da informação referida no caput deste
§ 3º – A avaliação poderá ser artigo é parte fundamental do processo de
favorável quando, por decisão do Plenário avaliação psicológica, especialmente na
do CFP, o teste é considerado em escolha do teste mais adequado a cada
condições de uso, ou desfavorável quando, propósito e será de responsabilidade do
por decisão do Plenário do CFP, a análise psicólogo que utilizar o instrumento.
indica que o teste não apresenta as Art. 12 – Os prazos para cada etapa
condições mínimas para uso. Nesse caso, descrita no Art. 9º desta Resolução são de
o Parecer deverá apresentar as razões, até:
bem como as orientações para que o I – 30 (trinta) dias, a partir da data
problema seja sanado. de recebimento do teste psicológico pelo
§ 4º - A comunicação de avaliação CFP, para os procedimentos de recepção
ocorre quando do recebimento desta pelo e encaminhamento à Comissão Consultiva
requerente, podendo o mesmo apresentar em Avaliação Psicológica ou
recurso no prazo de 30 dias, previsto no parecerista Ad hoc por esta indicado;
Art. 12 inciso IV desta Resolução, a contar II – 60 (sessenta) dias, a partir do
da data que consta no Aviso de recebimento do teste para análise, para
Recebimento (AR).
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emissão de parecer pelo parecerista Ad da relação de testes em condições de


hoc; comercialização e uso.
III – 30 (trinta) dias, a partir do 2o - O estudo de revisão deve
recebimento do parecer, para emissão do concluir:
parecer pela Comissão Consultiva em I- se houve alteração na validade
Avaliação Psicológica; dos instrumentos requerendo mudanças
IV – 30 (trinta) dias, a partir da substanciais no mesmo;
notificação, para apresentação de recurso II - se houve alteração nos dados
pelo responsável técnico pelo teste empíricos requerendo revisões menores
psicológico; ligadas às interpretações dos escores ou
V – 30 (trinta) dias, a partir do indicadores como, por exemplo, alterações
recebimento, para análise e parecer da de expectativas normativas, ou
Comissão Consultiva em Avaliação III - se não houve mudanças
Psicológica ao recurso do requerente. substanciais e os dados antigos continuam
§ 1º – Caso haja desacordo entre o sendo aplicáveis.
parecer do parecerista Ad hoc e o da 3o - Caso haja necessidade de
Comissão Consultiva em Avaliação mudança substancial no instrumento, a
Psicológica, o instrumento será enviado versão antiga não poderá ser utilizada
para outro parecerista Ad hoc, que terá o pelos psicólogos até que se estabeleçam
prazo de até 40 (quarenta) dias para as propriedades mínimas definidas nesta
emissão de novo parecer. Resolução.
§ 2º - Em quaisquer dos casos, o § 4o - Caso haja necessidade de
Plenário do CFP apreciará o parecer da mudanças menores, ou não haja
Comissão Consultiva em Avaliação necessidade de mudança, uma nova
Psicológica na sessão subsequente à data publicação do manual ou um anexo ao
do seu recebimento. manual original deve ser preparada pelo
§ 3º - Os prazos previstos psicólogo responsável técnico pela edição
no caput deste artigo serão calculados em do mesmo, relatando este estudo de
dias úteis, seguindo a rotina de revisão, fornecendo os novos dados, as
funcionamento do Conselho Federal de conclusões e as alterações produzidas.
Psicologia. § 5o - Os resultados da revisão
Art. 13 – Os testes com avaliação deverão ser apresentados ao Conselho
final desfavorável por não atenderem às Federal de Psicologia pelos autores,
condições mínimas poderão, após psicólogos responsáveis técnicos ou
revisados, ser reapresentados a qualquer editoras de testes psicológicos, no prazo
tempo e seguirão o trâmite normal como estabelecido no caput deste artigo.
disposto no artigo 90 desta Resolução. Art. 15 - A responsabilidade pela
Art. 14 - Os dados empíricos das revisão periódica dos testes será do autor,
propriedades de um teste psicológico do psicólogo responsável técnico pela
devem ser revisados periodicamente, não edição e da Editora, que responderão
podendo o intervalo entre um estudo e individual e solidariamente em caso de
outro ultrapassar: 10 (dez) anos, para os desrespeito à Lei e ao disposto nesta
dados referentes à padronização, e 20 Resolução, no âmbito de suas respectivas
(vinte) anos, para os dados referentes a competências e responsabilidades.
validade e precisão. § 1o - A revisão dos testes
§ 1o - Não sendo apresentada a psicológicos deverá ser realizada por
revisão no prazo estabelecido pesquisadores ou laboratórios de
no caput deste artigo, o teste psicológico pesquisa, com competência comprovada
perderá a condição de uso e será excluído na área da Psicometria, que deverão

29
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publicar os estudos nos veículos de II - estar aprovado pelo Conselho


comunicação científica disponíveis. Federal de Psicologia;
§ 2o - Autores e editores poderão III - ter sua comercialização e seu
utilizar a compilação de diversos estudos uso restrito a psicólogos regularmente
para consubstanciar um estudo de revisão inscritos em Conselho Regional de
de um determinado teste, desde que Psicologia.
incluam os aspectos fundamentais e § 1o - Os manuais de testes
críticos do instrumento, notadamente as psicológicos devem conter a informação,
evidências de validade, precisão e com destaque, que sua comercialização e
expectativas normativas. seu uso são restritos a psicólogos
§ 3o - O CFP manterá relação de regularmente inscritos em Conselho
testes em condições de uso em função da Regional de Psicologia, citando como
análise da documentação apresentada. fundamento jurídico o § 1o do Art. 13 da
Art. 16 - Será considerada falta Lei no 4.119/62 e esta Resolução.
ética, conforme disposto na alínea c do Art. § 2o - Na comercialização de testes
1º e na alínea m do Art. 2º do Código de psicológicos, as editoras, por meio de seus
Ética Profissional do Psicólogo, a utilização responsáveis técnicos, manterão
de testes psicológicos que não constam na procedimento de controle onde conste o
relação de testes aprovados pelo CFP, nome do psicólogo que os adquiriu, o seu
salvo os casos de pesquisa. número de inscrição no CRP e o(s)
Parágrafo Único - O psicólogo que número(s) de série dos testes adquiridos.
utiliza testes psicológicos como § 3o – Para efeito do disposto nos
instrumento de trabalho, além do disposto parágrafos anteriores deste artigo,
no caput deste artigo, deve observar as considera-se manual toda publicação, de
informações contidas nos respectivos qualquer natureza, que contenha as
manuais e buscar informações adicionais informações especificadas nos incisos VI
para maior qualificação no aspecto técnico do artigo 40 e V do artigo 50.
operacional do uso do instrumento, sobre a Art. 19 - Os Conselhos Regionais de
fundamentação teórica referente ao Psicologia adotarão as providências para o
construto avaliado, sobre pesquisas cumprimento desta Resolução, em suas
recentes realizadas com o teste, além de respectivas jurisdições, procedendo à
conhecimentos de Psicometria e orientação, à fiscalização e ao julgamento,
Estatística. podendo:
Art. 17 – O CFP disponibilizará, em I- notificar o autor ou o psicólogo
seus veículos de comunicação, responsável técnico a respeito de
informações atualizadas sobre as etapas irregularidade, dando prazo para
de cada teste psicológico em análise e a regularização;
relação de testes aprovados com inclusão II - apreender lote de testes
e/ou exclusão de instrumentos em função psicológicos não autorizados para o uso;
do cumprimento ou não do que dispõe esta III - representar contra profissional
Resolução, especialmente por meio de ou pessoa jurídica por falta disciplinar;
divulgação na página www.pol.org.br, na IV - dar conhecimento às
rede mundial de comunicação (internet). autoridades competentes de possíveis
Art. 18 - Todos os testes irregularidades.
psicológicos estão sujeitos ao disposto § 1o - Os Conselhos Regionais de
nesta Resolução e deverão: Psicologia manterão cadastro atualizado
I - ter um psicólogo responsável das pessoas físicas e jurídicas que, em
técnico, que cuidará do cumprimento desta sua jurisdição, disponibilizam para uso os
Resolução; testes psicológicos.

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§ 2o - O cadastro de que trata o científico ligado às ciências clínicas.


parágrafo anterior será encaminhado ao
Conselho Federal de Psicologia ao término Nesse sentido, tradicionalmente a
de cada ano ou sempre que haja alteração instituição foi definida durante a produção
que justifique o fato. inicial da Análise Institucional pelo
Art. 20 - O descumprimento ao que movimento dialético em três etapas
dispõe a presente Resolução sujeitará o integradas.
responsável às penalidades da lei e das A primeira delas refere-se à ideia de
Resoluções editadas pelo Conselho unidade positiva. Nesse contexto,
Federal de Psicologia. aproxima-se do conceito de universalidade.
Art. 21 - Esta Resolução entrará em Nas palavras de Lourau (1970, p. 10) "o
vigor na data de sua publicação. conceito é totalmente verdadeiro, ou seja,
Revogam-se as disposições em contrário, abstratamente verdade, em geral”.
em especial a Resolução CFP nº A segunda etapa refere-se à
025/2001, e altera-se o § 2o do art. 1o da positividade do conceito.
Resolução CFP no 01/2002. Trata-se do que se pode chamar de
prática recursiva através da qual a
Brasília-DF, 24 de março de 2003. negação assume movimentos não-
ODAIR FURTADO lineares, condicionando o tempo passado
Conselheiro Presidente em relações presentes, ou ainda,
contorcendo o futuro numa atividade do
4 ANÁLISE INSTITUCIONAL instante. De outro modo, “toda verdade
A Análise Institucional interessa-se geral deixa de ser totalmente incorporada
teórica e metodologicamente por modos de tal como se aplica em circunstâncias
apropriação, usos, transformações de particulares, circunstanciais..." (op. cit.
dispositivos, estruturas, negociação e p.10).
dinâmicas de poder elaboradas por Por fim, a terceira etapa consiste na
diferentes grupos de sujeitos em suas negação da negação. É um processo
relações institucionais. inspirado na dialética hegeliana, através do
Para isso recorre à articulação de qual se instaura a singularidade do grupo-
conceitos e instrumentos fundamentais de sujeito ou o momento através do qual a
análise cuja centralidade é o debate unidade negativa, que consiste de formas
político sobre o Estado e suas relações sociais, incorpora a ideia (imagem prática)
fiduciárias, segmentadas e distribuídas de instituição.
entre os grupos humanos em diferentes A Análise Institucional, porquanto,
agrupamentos, cultural e historicamente eiva-se pelos confrontos políticos do
situados. marxismo guattariniano e reencontra
Nesse sentido, trata-se da análise territórios de sentido na prática institucional
de microcondutas através das quais o psicoterápica ante a produção material da
Estado se manifesta como uma existência, as relações de poder, a
generalidade notável. Sendo o Estado segmentação, as micropolíticas. A
denominado dentro do campo teórico das expressão “análise institucional” é
ciências sociais, a instituição das empregada para descrever uma sociologia
instituições, respalda seu dinamismo de intervenção.
operante através da representação da René Lourau foi figura importante na
coletividade, da norma e das relações de psicologia, na antropologia e na pedagogia
autoridade nele existentes. pelas contribuições que empreendeu
Nesse jogo de interatuação e de através de sua produção e obra.
interesses, a Análise Institucional se A Análise Institucional
configura como importante campo teórico e Contemporânea ampliou-se como
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abordagem e como método de intervenção seu “objeto” de estudo. Falando-se sucinta


através dos trabalhos de René Barbier. e superficialmente, pode-se alegar que a
Especificamente foi através do conceito de Psicanálise quer desvendar os conteúdos
implicação que a sociologia de intervenção inconscientes que impedem o equilíbrio
tornou-se sociologia prática de psíquico; a Fenomenologia-Existencial
engajamento político nos quais o elemento pretende entender, não explicar, as
pulsional, ético-estético e multidimensional vivências e encontrar entre elas o sentido
do desejo-poder impulsiona a da existência; o Behaviorismo
experimentação intensiva da vida grupal, (Cognitivismo-Comportamental) tem por
visceral, profana e sagrada como pilar o comportamento, suas variáveis e
intensidade existencial capaz de variações de acordo com as contingências
compreender em profundidade as políticas pré-existentes. Estes seriam exemplos das
de agenciamento entre os sujeitos, três grandes linhas teóricas da Psicologia,
agentes e instituições. É justamente esse as quais dariam abertura para diversas
elemento que vai permitir a ampliação da áreas de atuação do psicólogo. Dentre
Análise Institucional como abordagem essas possibilidades, pode-se citar a
ligada à Teoria da Complexidade e à Psicologia Institucional.
Abordagem Multirreferencial como campo Ao se falar da Psicologia
epistemológico de suma importância na Institucional, não se deve encarar esse
contemporaneidade. ramo da Psicologia como sendo uma
escola e sim, um conjunto de escolas.
Análise institucional: arcabouço teórico, Assim, é mais adequado denominá-lo de
conceitos inerentes e propostas iniciais Movimento Institucionalista
A Análise Institucional nasce (Institucionalismo). O que marca todas as
exatamente da crítica à Psicossociologia vertentes desse Movimento é a presença
(ou, vulgarmente, à psicologia dos de uma mesma ideia, de um mesmo
pequenos grupos), visto que Lapassade direcionamento, objetivo: fazer com que as
fez “surgir” o que estava encoberto nesse comunidades, os coletivos entrem num
modelo de análise de grupo (Lourau, processo de autoanálise e de autogestão.
1993). Foi possível, desde então, Critica-se, pois, a desvalorização
reintroduzir o elemento que estava fora dos dos conhecimentos das comunidades, do
grupos e, por assim dizer, fora do campo seu poder de ação, como também os
da análise, a saber, a instituição - a qual processos de alienação dos saberes, a
faz, cria, molda, forma e é o grupo. Este criação de individualismos e questiona-se
método propõe analisar e intervir nos a existência de demandas (necessidades)
conjuntos sociais, com o intuito de básicas naturais.
melhorar a qualidade de vida das pessoas, É válido demarcar, para dar
contando para tal finalidade com a continuidade, alguns conceitos primordiais
participação ativa destas. do Movimento Institucionalista. Conforme
Guattari e Deleuze (1976) alegam, Lapassade (1989), alguns desses
segundo Bravo (2007), que esse construtos são: autoanálise e autogestão.
direcionamento de análise não é somente O primeiro refere-se à aquisição ou
de um indivíduo ou grupo mais também de retomada do pensamento e da ação
um conjunto de processos sociais. coletiva, permitindo-lhes ter ciência dos
Antes de dar prosseguimento ao seus desejos, interesses, necessidades
que seria esse método, deve-se esclarecer sem que esses sejam provenientes de
alguns pressupostos teóricos, pois esta qualquer exterioridade. Concomitante ao
análise está associada à Psicologia primeiro, a autogestão consiste na
Institucional. A Psicologia é um grande coordenação, na articulação dos coletivos
leque de linhas teóricas; cada qual com o para criar mecanismos que promovam a
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manutenção e melhoramento de sua vida entender-se-ia a Instituição que estaria a


com o meio. Outro conceito básico é o de nível simbólico, sinônimo de Estado e de
demanda. controle.
Tal conceito estaria relacionado com Essa última característica da
o processo de alienação dos saberes, o Instituição é relevante, pois nos faz
qual só ocorre e é “perpetuado” devido ao perceber a existência de lógicas estatais
processo de socialização, ou seja, devido que permeiam tanto as Organizações
às relações sociais de acordo com seu quanto os Grupos. Assim, a Instituição
contexto histórico. Na perspectiva do utiliza-se de mecanismo para permanecer
Institucionalismo, é relevante que os com as suas normas, leis e hábitos
coletivos possam identificar suas reais alienantes. Sendo as Organizações
necessidades, para que assim possam conjuntos de Grupos, as forças instituídas
organizar-se a fim de solucionar e requerer agem diretamente nos Grupos, por isso é
o que é preciso para seus problemas. que a análise institucional é focada
O aspecto “natural” da demanda justamente nessa realidade social.
poderia servir de exemplificação de dois Para Lapassade (1989), a análise
conceitos também recorrentes: forças institucional estaria disposta a revelar os
instituídas e forças instituintes, ou dispositivos, as manobras de exercício de
simplesmente como instituído e instituinte. poder que o Estado utiliza-se para alienar
A cristalização e naturalização de uma a sociedade. Algumas estratégias
demanda -sem relacionar com a realidade alienantes utilizadas pela Instituição seriam
social- podem ser consideradas como as ideologias e as repressões. A ideologia,
força instituída, pois tende à resistência, à tomada por um processo de
persistência do ser. Com relação à força desconhecimento social, impediria o
instituinte, essa tende a transformar as acesso à “verdade”, ao conhecimento
instituições e operar modificações em suas efetivo das demandas sociais.
características, é marcada pela ação de Ela promove, tanto na sociedade
produção constante de criação. como para seus participantes, um
“O instituinte aparece como um desconhecimento do sentido estrutural dos
processo, enquanto o instituído aparece seus atos, do que determinam as suas
como resultado” (LAPASSADE, 1989, p. escolhas, suas preferências, rejeições.
30). Pode-se deduzir que, para atingir o Essa supressão do real sentido, escondido
seu objetivo, o Institucionalismo deve na ideologia, seria uma forma de
adentrar na sociedade e revelar “esse nível repressão, visto que não se pode dizer,
oculto de sua vida e de seu nem sequer pensar o verdadeiro, logo que
funcionamento” (LAPASSADE, 1989,). esse processo inibe o acesso permanente
Entretanto, o sistema social possui três à situação e sobre o conjunto do sistema.
níveis (Grupo, Organização e Instituição) Tendo ciência dessa imensa
que devem ser demarcados e entendidos influência da Instituição dentro dos Grupos,
para proporcionar uma análise institucional os institucionalistas, por meio da análise
direcionada e “eficaz”. institucional, tentam: evidenciar o que está
O primeiro nível corresponde ao encoberto (os valores instituídos), mostrar
Grupo, que seria o nível material, concreto para o grupo esses pontos e fazer com que
das relações sociais e equivale à vida o mesmo passe a ser questionador,
cotidiana, podendo ser exemplificado pela responsável e consciente das suas ações,
família, pela sala de aula. O segundo nível em outras palavras, ocorre produção de
é a Organização o qual seria o coletivo de autonomia. Pode-se tomar, portanto, esse
grupo; é (a priori) estabelecido, marcado método como sendo portador de
pela burocracia e tem como exemplos a transversalidade e que proporciona uma
Universidade, a fábrica. Por último nível, abertura, uma desconstrução dos valores
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pré- determinados. Tal potencialidade é Passos e Barros (2000) descrevem


bastante importante, principalmente na a trajetória de ruptura da Psicologia de
atual conjuntura - a Contemporaneidade uma fundamentação positivista para uma
trouxe uma nova visão de mundo, que área de saber que pretende e está imersa
corrobora com a ideia de autoanálise e na pluralidade.
autogestão (LAPASSADE, 1989). A seguir utilizar-se-á dessa fonte
Fazendo uma metáfora, pode-se para o entendimento dessa transformação.
dizer que a análise institucional poderia ser
ilustrada pelas obras de Michel Foucault, A dimensão clínica na análise institucional
nas quais o autor demonstra com está a A Psicologia – a qual na tentativa de
disposição (no decorrer histórico) das garantir seu estatuto científico – atribuiu às
relações de poder em várias temáticas (o leis seu caráter estrutural, estabelecendo
assunto da loucura e do sistema punitivo relações funcionais entre componentes de
são exemplos). Entretanto, deve-se admitir um sistema.
que não foram dadas formas de Todavia, Lewin - com sua noção de
intervenção e sim subsídios, pesquisa-ação- passa a explicar a ação
conhecimento, direções de onde devem individual a partir da estrutura que se
ocorrer as mudanças; o mesmo se dá na constitui entre o indivíduo e seu meio
análise em questão. ambiente, num determinado momento.
A análise institucional seria uma Essa estrutura é um campo dinâmico,
nova maneira de ver, entender e atuar na campo de forças e que tende ao equilíbrio;
dinâmica dos grupos; além de atuar no logo, assim como o indivíduo e seu meio
âmbito escolar, estaria agindo em qualquer ambiente compõem um campo psicológico,
coletividade que tivesse uma “brecha” para o grupo e seu ambiente constituem um
a entrada do questionamento, “quebra” de campo social.
ideias e demandas cristalizadas. Assim, a A partir das contribuições de Lewin,
análise institucional pode ser utilizada não uma perspectiva socioterapêutica
só por psicólogos, mas por qualquer um desenvolve-se voltada para as
que possa gerar ou promover - dentro de organizações, a qual almejava examinar as
um grupo - um espaço para discussão, formas de resistência à transformação,
para o “exercício” da transversalidade e estabelecendo relações entre o formal
reflexão da sociedade. (nível estrutural) e o informal (nível
Como ficaria tal visão-ação tomando conjuntural).
como perspectiva a área clínica de atuação Em ambas as perspectivas –
do psicólogo, o qual trabalharia – como se lewiniana e socioterapêutica – o
costuma atrelar- com o individual, com a pesquisador era visto como “agente de
unidade do ser? Estaria a análise mudança” e a prerrogativa de sua ação era
institucional também inserida como método o amadurecimento dos indivíduos através
da prática psicoterápica? da evolução das relações, conduzindo a
Ratificando o parágrafo anterior, uma maior sensibilização e
basta existir lugar para discussão e para a conscientização.
problematização. Na década de sessenta, onde se
Logo, espera-se que –para a fusão cruzam clínica e política, pesquisa e ação,
análise institucional e psicoterapia- a a palavra intervenção aliasse à pesquisa,
Psicologia Clínica tenha uma óptica para brotar outra relação entre teoria e
diferenciada sobre a relação sujeito-objeto, prática, assim como entre sujeito e objeto.
especialista-paciente e agregue um novo A intervenção estará conexa à construção
valor: a ideia de implicação - contribuição e/ou utilização de “analisadores”, conceito-
do Movimento e da Análise em questão. ferramenta formulado por Guattari, na
conjuntura da Psicoterapia Institucional.
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Os analisadores seriam episódios – A Psicologia é levada a abdicar de


no sentido daquilo que produz rupturas, seus postulados na medida em que
que catalisa fluxos, que produz análise que distingue em seu objeto outra coisa
decompõe; vislumbram as múltiplas diferente da objetividade natural, sendo
relações que compõem o campo em seu “obrigada” a utilizar-se de outros processos
nível de intervenção e de análise. e métodos de investigação. A Psicologia
O nível de intervenção é ressurge, portanto, como análise deste
caracterizado pela demarcação de um objeto – o homem - caracterizado por uma
território a partir da encomenda (que está tensão inerente, já que nele reside a
atrelada ao conceito descristalizado de imprecisão da fronteira entre o normal e o
demanda) proposta a alguém, em geral a patológico, o adaptado e o desadaptado, o
um especialista - isto inclui não apenas corpo e o espírito.
como o pedido é estabelecido, mas A ciência tem uma fundação tal
também a responsabilidade social que lhe como qualquer outra forma de
é inseparável. conhecimento, não se diferenciando por
Quanto ao nível de análise, este uma pureza ou soberania que ascende ao
direciona para as virtualidades presentes a mundo sobre o qual ele lança os seus
partir da intervenção, dominantemente efeitos de verdade e de objetividade. É
submetidas à responsabilidade social, às neste sentido que se pode dizer que o
vezes delineando linhas de fuga. Este novo conhecimento é uma forma de implicação
posicionamento de análise se define, e de interferência ativa na produção tanto
portanto, por um processo de do seu objeto quanto do sujeito de um
desnaturalização constante das determinado saber ou especialismo.
instituições, incluindo a própria instituição Assim, segundo Passos e Barros (2000),
da análise (apreendida como atividade de se apresenta a clínica.
um “analisador”) e a da pesquisa; é neste O que nos interessa são modos de
sentido que a implicação do pesquisador subjetivação e, neste sentido, importa-nos
se modifica. poder traçar as circunstâncias em que eles
O conceito de implicação, usado se compuseram que forças se atravessam
pelos analistas institucionais, não se e que efeitos estão se dando. No lugar do
sintetiza a uma questão de vontade, de indivíduo, individuações. No lugar do
decisão consciente do pesquisador; ele sujeito, subjetivação. Como nos conceitos,
abarca uma análise do sistema de lugares, não se trata de modo algum de reunir,
o apontamento do lugar que este ocupa unificar, mas de construir redes por
daquele que ele almeja ocupar e do que ressonâncias, deixar nascer mil caminhos
lhe é encarregado ocupar -enquanto que nos levariam a muitos lugares (...).
especialista- com os desafios que isto Tomar, enfim, em análise, os
acarreta. A negação da neutralidade do funcionamentos e seus efeitos,
analista/pesquisador procura romper as experimentar ao invés de conjecturar,
barreiras entre sujeito que conhece e ocupar-se dos maquinismos que insistem
objeto a ser conhecido. na produção de outros modos de
Na clínica, o que se nota é a existência, esquecer-se de si e de sua
dissolução da ideia de identidade/unidade história e encontrar-se na criação, parecem
no movimento do Institucionalismo. A ser algumas faces desta clínica.
noção de campo aparece e é colocada em
análise – a questão se recoloca quando é A análise institucional contemporânea: o
discutido o que seria a identidade do saber conceito de implicação
ou o território comum ao campo do A contribuição das produções
psicológico. clássicas para a ampliação das pesquisas
em análise institucional é inegável.
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Todavia, a aproximação progressiva de culturas. Nesses termos, Lévy (2001),


René Barbier do campo da Análise destaca a necessidade de se considerar “a
Institucional e das sociologias de singularidade do sujeito visto em sua
intervenção, pesquisa-ação existencial, globalidade e em sua história, a implicação
promoveu tanto o alargamento da do terapeuta pesquisador se concretiza
abordagem psicossociológica do método, numa dada situação, a meta de pesquisa,
quanto a ampliação de elementos de estrutura e de sentido” (p.19).
conceituais relevantes para as ciências Barbier (1985) a respeito da
psicossociais de natureza clínica. implicação no conjunto de atividades da
Em O conceito de “implicação” na análise institucional discrimina a natureza
pesquisa-ação em ciências humanas psicoafetiva presente no contexto de
(1985), Barbier condensa suas principais análise tanto histórico-existencial dos
ideias a respeito da implicação nas atores sociais, quanto do conteúdo
atividades profissionais e pessoais do estrutural-profissional que eles expressam
pesquisador e/ou professor, terapeuta, em grupo. A implicação consiste em
gestor. O ponto de partida de suas explicitar todo e qualquer mecanismo
reflexões é a fecundidade relacional que o transferencial que se origina da relação
conceito permite exercitar junto aos entre pesquisador e grupo de sujeitos
diferentes atores sociais em distintos institucionalizados.
modos de produção de subjetividade nas Nesse ínterim, é possível dar origem
instituições. às inibições e aos bloqueios relacionais,
Entre 1970 e 1990, René Barbier sendo os mesmos elementos, ainda, fontes
desenvolveu uma pesquisa de larda de circulação de interesses comuns,
envergadura com a intenção de facilitando as trocas de comunicação em
sistematizar o corpo teórico e o campo torno da extinção de conflitos instaurados.
empírico da pesquisa-ação de base A implicação decorre de uma
francesa. expressão genuinamente ligada a
O fato é que a pesquisa implicada condutas sociais elaboradas no espaço
dentro do escopo da Análise Institucional tensivo da relação entre diferentes atores
introduz as categorias do sensível e da sociais e seus espaços de interatuação
imaginação; valoriza a criação e a sociocultural. Por isso mesmo exprime
expressão mitopoética na produção da uma relativa dependência com os reflexos
pesquisa. Aos poucos vai se constituindo a e migração de hábitos adquiridos,
sua teoria da abordagem transversal, em esquemas de pensamento e de percepção
torno da qual a pesquisa implicada sistemáticos, predominantes na
encontra o dispositivo da escuta sensível. coletividade dos sujeitos e na prática de
Trata-se, pois, de rearranjos interação com o pesquisador.
possíveis e plurais de distintos objetos de Esses fenômenos estão articulados
conhecimento à ordem do imaginário que à socialização e à classe social de origem
dialogue com as ciências clínicas, a individual dos atores sociais e da
filosofia, a pesquisa-ação existencial e a instituição como um grupo-sujeito. Assim
experiência mitopoética. Em todo caso, sendo, o que se pode destacar nesse
expressando-se pela busca do processo é a existência da noção de práxis
entendimento do sentido e sua produção e da noção de projeto, as quais
humana. possibilitam interligar a prática profissional
Nesses termos, associa-se ao plano e a estrutura social, num conjunto
de criação de conceitos a abordagem complexo de tensões entre projeto
transversal ligada a uma pesquisa-ação individual e projeto coletivo. Lê-se: O nível
transpessoal, fincada numa espiritualidade estrutural - profissional é essencialmente o
secularmente instaurada nos territórios das da mediação interinstitucional e do
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princípio de realidade instituída. Consiste necessidade de crescentes quantidades da


essencialmente na procura dos elementos substância para se atingir o efeito desejado
que têm sentido com referência ao trabalho ou, quando não se aumenta a dose, é
social do pesquisador e ao seu entendida também como um efeito
enraizamento socioeconômico na acentuadamente diminuído com o uso
sociedade. continuado da mesma quantidade da
A implicação como conceito substância. O grau em que a tolerância se
fundante em Análise Institucional desenvolve varia imensamente entre as
Contemporânea produz-se como elemento substâncias.
pertinente para a compreensão das Existe um padrão de uso repetido da
relações contratuais, fortuitas e substância que geralmente resulta em
espontâneas que envolve o pesquisador e tolerância, abstinência e comportamento
os demais agentes envolvidos no estudo. compulsivo de consumo da droga. Um
Nota-se que a implicação é de diagnóstico de Dependência de Substância
natureza histórico-existencial, porque se pode ser aplicado a qualquer classe de
articula à implicação psicoafetiva para substâncias. Os sintomas de dependência
localizar a construção histórica e são similares entre as várias substâncias,
existencial do pesquisador diante do seu variando na quantidade e gravidade de tais
movimento nas interações cotidianas. Na sintomas entre uma e outra droga. Os
Análise Institucional Contemporânea a sintomas psíquicos e sociais decorrentes da
caracterização relacional entre os sujeitos dependência do fumo, por exemplo, são
e os contextos de interação social faz absolutamente menores do que aqueles da
ressurgir as tensões do familiar, os dependência ao álcool.
percursos do profissional e as miríades do Chama-se "fissura" o forte impulso
afetivo, culturalmente situados, sempre. subjetivo ou compulsão incontrolável para
Por isso mesmo, o conceito de implicação usar a substância. Embora não seja
migra-se entre a formulação do próprio especificamente relacionada como um
projeto-comum dos sujeitos. Pertencimento critério, a “fissura” tende a ser
e engajamento, pois, tornam-se processos experimentada pela maioria dos indivíduos
de implicação, absorvendo cinco diferentes com Dependência de Substância (se não
instâncias: desejo, vontade, decisão, ação por todos). A dependência é definida como
e mediação. um agrupamento de três ou mais dos
sintomas relacionados adiante, ocorrendo a
5 TRATAMENTO E PREVENÇÃO qualquer momento, no mesmo período de
DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 12 meses.
A Dependência Química é um Os indivíduos com uso pesado de
conjunto de fenômenos que envolvem o opióides e estimulantes podem desenvolver
comportamento, a cognição e a fisiologia níveis gravíssimos de tolerância, por
corporal consequente ao consumo repetido exemplo, como se necessitasse dez vezes
de uma substância psicoativa, associado ao mais quantidade depois de algum tempo.
forte desejo de usar esta substância, Frequentemente essas dosagens da
juntamente com dificuldade em controlar tolerância seriam letais para uma pessoa
sua utilização persistente apesar das suas não-usuária. Muitos fumantes consomem
consequências danosas. mais de 20 cigarros por dia, uma
Na dependência geralmente há quantidade que teria produzido sintomas de
prioridade ao uso da droga em detrimento toxicidade para uma pessoa que está
de outras atividades e obrigações sócio- começando a fumar.
ocupacionais. Os indivíduos com uso pesado de
A tolerância é o primeiro critério maconha em geral não têm consciência de
relacionado à dependência. Tolerância é a que desenvolveram tolerância, embora esta
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tenha sido largamente demonstrada em se tornam dependentes, porém, quando


estudos com animais e em alguns ocorre, a dependência química é uma
indivíduos. A tolerância pode ser difícil de doença complexa, de tratamento longo e
determinar com base apenas na estória nem sempre eficaz.
oferecida pela pessoa, porém, os testes Quando se pesquisam as causas
laboratoriais acabam mostrando altos níveis para a dependência química é acaba-se
sanguíneos daquela substância, juntamente sempre concluindo ser esta
com poucas evidências de intoxicação, o multideterminada, ou seja, multifatorial.
que sugere fortemente uma provável Existem alguns fatores fortemente
tolerância. associados ao uso abusivo de drogas e
O dependente pode até expressar dependência química, como por exemplo,
um desejo persistente de reduzir ou regular os fatores genéticos, psicológicos,
o uso da substância, mas reluta sempre em familiares e sociais. Em geral parece que
decidir deixar de vez a substância. E com esses fatores não costumam agir
frequência já deve ter havido muitas isoladamente e sim em conjunto.
tentativas frustradas de diminuir ou
interromper o uso. A questão essencial, de Causas existenciais atribuídas ao uso de
fato, está no fracasso do dependente se drogas
abster de usar a substância, apesar das Aqui vamos comentar algumas
evidências do mal que ela vem causando. influências socioambientais no uso de
Em geral o dependente dedica muito drogas, ou seja, nas influências do destino
tempo obtendo a substância, usando-a ou vivencial da pessoa sobre seu
recuperando-se de seus efeitos. Em alguns comportamento, pensamento e sentimento.
casos de Dependência de Substância, Família – Dentre os inúmeros fatores
virtualmente todas as atividades da pessoa associados à dependência química, a
giram em torno da substância. família, ou, mais precisamente, as atitudes
As atividades sociais, ocupacionais da família com propósitos educativos
ou recreativas podem ser seriamente parece ser um fortíssimo fator de
prejudicadas, abandonadas ou reduzidas intervenção e influência, principalmente em
em virtude da dependência ou uso bastante relação à prevenção da dependência.
abusivo da substância, e o dependente Dessa maneira, o meio familiar pode ser um
pode afastar-se de atividades familiares a importante elemento de proteção ou, ao
fim de usar a droga em segredo ou para contrário, de facilitação dos
passar mais tempo com amigos usuários da comportamentos de risco, do abuso ou de
substância. uma possível dependência de drogas.
As primeiras experiências com Segundo Pons (1998), os principais
drogas ocorrem, frequentemente, na fatores familiares de proteção ao uso de
adolescência. Vários trabalhos, incluindo drogas se encontram nos laços afetivos
a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelecidos entre seus membros, no
têm evidenciado a precocidade da faixa monitoramento das atividades e amizades
etária do início do uso de drogas, do adolescente, na construção de escalas
geralmente dentro da adolescência, entre de valores éticos e no estímulo para
10 e 19 anos. condutas sociais adequadas.
Fisiologicamente, na adolescência as Rebolledo, Ortega e Pillon (2004,
regras costumam ser questionadas e citado por Broeker e Jou, 2007) analisaram
contestadas e, juntando-se o fato desta ser 2.829 estudantes de ambos os sexos, com
uma época de experimentações, surge um idades entre 12 e 17 anos, mediante o Test
risco maior para o uso de drogas ilícitas, Drug Use Screening Inventory. Os autores
álcool e fumo. Todavia, felizmente, nem constataram que a disfunção familiar e a
todas as pessoas que experimentam drogas existência de transtorno emocional prévio
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foram os fatores mais correlacionados ao indesejáveis a intromissão, o controle do


maior risco para o uso de drogas. comportamento através da culpa e da
Alguns outros pesquisadores - disciplina através da autoridade, a evitação
Pechansky, Szobot e Scivoletto, igualmente de participação nas decisões.
citados por Broeker e Jou, 2007 - Evidentemente qualquer pesquisador
atribuíram à ausência do pai no domicílio do de bom senso entenderá que a questão
adolescente um risco 22 vezes maior pais separados ou não, mãe trabalhando
chance de o adolescente ser dependente de fora ou não, etc., etc., não pode ter um valor
drogas, quando comparado aos absoluto no modo de agir dos filhos. Em
adolescentes que viviam com ambos os medicina a relação causal exige uma
pais. observância mais criteriosa. Se a questão
Sem nenhuma dúvida reconhece-se fosse tão simples assim, todas as crianças
universalmente que o papel dos pais e do criadas em instituições e orfanatos seriam
ambiente familiar é marcante no dependentes químicos, sociopatas,
desenvolvimento dos filhos. A falta de prostitutas, marginais e assim por diante.
suporte e estrutura familiar, bem como o Modelo Cultural – Outro fator
comportamento de risco ou o uso de drogas existencial que pode contribuir para a busca
pelos próprios pais são atitudes facilitadoras por drogas está no modelo cultural. A
ao uso, abuso e dependência dos filhos. cultura, através da mídia fortemente
Acredita-se, inclusive, haver uma penetrante no pensamento do ser humano
relação entre o aumento no consumo de contemporâneo, influi sobremaneira na
drogas e as mudanças sofridas pela elaboração de escalas de valores.
estrutura familiar na modernidade. A A imagem propalada de usuários de
entrada das mulheres para o mercado de drogas como pessoas interessantes,
trabalho e, consequentemente, a ausência glamorosas, bem sucedidas sexualmente,
proporcional de sua presença no lar sem artistas famosos, algumas vezes com
dúvida acabou por conferir um novo perfil à destaque social e/ou econômico
família. Com isso pode ter havido uma seguramente influi nos conceitos de certo-
crescente dificuldade no acompanhamento errado do jovem em formação.
intensivo e na educação dos filhos. O apelo para beber é absolutamente
Consumada essa nova estrutura inegável em nossa sociedade ocidental.
familiar, juntamente com o grande e Não se vê, socialmente, uma pessoa
crescente número de separações conjugais, convidando a outra para “ir lá em casa
automaticamente inviabilizaram-se os tomar um chazinho”, ou para comemorar
modelos educativos das gerações passadas algum sucesso em uma confeitaria.
e novos modelos deverão ser aplicados. Entre os jovens, causa muita
Como tudo o que é novo, diante do novo estranheza a pessoa recusar um copo de
modelo educacional, onde participa cada bebida alcoólica alegando simplesmente “eu
vez mais as instituições e cada vez menos não bebo”. Possivelmente sua imagem
os pais, existe uma grande apreensão e ficará algo arranhada, principalmente para o
insegurança sobre quais são, exatamente, sexo oposto.
as práticas educativas mais desejáveis. Também não se vê durante uma
Seriam consideradas práticas noitada de entretenimento, de forma
educativas desejáveis a sensibilidade para alguma, um jovem alertando o outro sobre
os sentimentos dos filhos, o envolvimento os riscos da dependência química. Muito
positivo nas atividades dos membros da pelo contrário; qualquer atitude normativa e
família, o controle positivo da disciplina de aconselhamento nesse sentido é
conscientizando o objetivo das regras e pejorativamente tida como inadequada,
divisão da tomada de decisões. Seriam retrógrada e aborrecedora.
consideradas práticas educativas
39
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Alguns ídolos do mundo artístico Dependentes Químicos %


mortos por overdose de alguma droga Não está estudando 70,8%
acabam sendo até enaltecidos. São vários Frequentavam escolas públicas 79,2%
os filmes sobre biografias de grandes Repetência de ano pelo menos 1 87,5%
drogados, alguns com fortes traços vez
sociopáticos, apresentando-os como Têm pais separados 79,2%
Não Dependentes %
pessoas interessantíssimas, fascinantes e
Estão estudando 87,5%
meritosas.
Frequentam escolas particulares 79,2%
O valor e mérito social da pessoa na Não têm repetência 29,2%
sociedade contemporânea parece estarem Têm pais casados 62,5%
atrelados quase exclusivamente à sua
condição de produção. O uso de drogas Droga usada por adolescentes Dependentes e
pode ser bastante tolerado se a pessoa for Não Dependentes
um bom aluno, um trabalhador regular, bem Droga Depend. Não
sucedido economicamente, enfim, se for depend.
alguém que convencionalmente se define Maconha 96,0% 33,3%
como “uma pessoa de sucesso”. Mas não Crack 79,2% 8,40%
devemos esquecer que sendo “uma pessoa Cocaína 50,0% 16,7%
de sucesso” seu comportamento servirá Cola 41,7% 8,40%
como modelo para outras tantas pessoas, Solventes 4,2% 12,5%
não necessariamente “de sucesso”.
A Pessoa – Agora vem uma questão Percepção da pessoa sobre sua própria
capaz de arruinar qualquer raciocínio dependência
conclusivo aplicado às anteriores; a Quanto, exatamente, o dependente
responsabilidade da pessoa em seu próprio químico reconhece sua própria
destino. Não se desmerece, de forma dependência?
alguma, a importância da família e da A autopercepção com relação à
sociedade no desenvolvimento e no drogadição é alta, pois, respondendo
desígnio da pessoa, entretanto, a parte questionários anônimos com franqueza,
mais importante desse vir-a-ser continua 87,5% dos dependentes reconhecem ser
sempre sendo ela mesma. dependentes químicos e admitem precisar
Juntamente com as pesquisas de ajuda, e 89,4% dos sem-dependência
investigativas sobre a causalidade da disse não ter problemas em relação ao uso
dependência, devem-se enfatizar as de drogas ilícitas.
pesquisas sobre a personalidade pré- Talvez o fato comum dos
mórbida do dependente, sobre seu histórico dependentes externarem um discurso de
emocional, seus antecedentes não reconhecem ostensivamente sua
psicopatológicos, sobre sua natureza própria dependência seja um mecanismo
genética, enfim, as pesquisas devem de defesa de pseudo-negação da
valorizar o dependente com o mesmo angustiante penúria existencial em que se
entusiasmo que valoriza o meio. encontram.
Entre os adolescentes brasileiros o
Dados sobre o uso de drogas entre consumo de drogas tem sido pesquisado
adolescentes no Brasil por vários autores, havendo alguma
Os adolescentes usuários e discrepância bem pouco significativa entre
dependentes de drogas têm uma situação os resultados. Em relação as drogas mais
vivencial que pode ser comparada aos não consumidas os resultados de Tavares,
dependentes da seguinte maneira: Béria e Silva Lima são os seguintes:

Adolescentes Dependentes e Não Dependentes Subst. mais Frequencia Predomínio

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consumidas Chile 19,7% 4,5%


Álcool 86,8% 24,2% Meninos Holanda 19,1% 2,6%
Maconha 19,9% 4,9% Meninos Grécia 13,1% 1,0%
Solventes 18,2% 2,5% Meninos Suécia 13,0% 1,0%
Anfetamínicos 8,4% 2,3% Meninas Brasil 6,9% 2,3%
Tabaco 41,0% 28,0% Meninas Colômbia 5,4% 1,6%
Cocaína 3,2% 2,3% Meninos Alemanha 4,2% 0,2%
Itália 3,5%
O uso frequente e intoxicações por Portugal 1,3%
álcool foram mais prevalentes entre os
meninos. Poucos países separaram o uso de
Há a associação positiva entre uso crack da cocaína. No Brasil o uso na vida
de drogas (exceto álcool e tabaco) e turno de crack foi de 0,7%, no Chile é de 1,4% e
escolar noturno, maior número de faltas à nos Estados Unidos 2,6% (CONACE,
escola e maior número de reprovações 2005; NIDA, 2005).
escolares. As regiões com maiores
porcentagens de uso de crack no Brasil
Consumo de maconha no Brasil foram a região Sul com 1,1% e a Sudeste
Estudo feito com 0,8%. A capital com maior uso na vida
pelo CEBRID abrangendo 107 cidades de crack foi João Pessoa com 2,5% dos
com mais de 200 mil habitantes sobre o estudantes.
consumo de maconha no Brasil. Exceto Nos EUA houve um aumento
tabaco e álcool, o uso na vida, no total das significativo de usuários nocivos e
drogas foi de 19,4%, sendo a maconha a dependentes de maconha entre os anos de
droga que teve maior uso experimental 1992 e 2002 (30,2% e 35,6% de usuários,
com 6,9%. respectivamente). Este aumento pode
A região Sul do Brasil foi à campeã estar relacionado, em parte, ao aumento
em porcentagens de uso na vida para a do potencial de dependência da maconha.
maconha com 8,4% de usuários. Isso talvez seja consequência do
A dependência de maconha, ao amento de 66% no teor da substância ativa
contrário do que sempre se divulgou com da maconha (chamada de THC) nesse
duvidosa intenção, existe sim e apareceu período. Com técnicas sofisticadas de
em 1,0% dos entrevistados, o que equivale apuração da planta o THC na amostra de
a uma população estimada de 451.000 maconha analisada em 1992 era de
pessoas no país. Este é provavelmente um 3,01%, contra 5,11% da maconha
número muito otimista, considerando as analisada em 2002.
dificuldades em se obter respostas Em um estudo prospectivo, iniciado
sinceras. em 1970, com acompanhamento por 12
A região Sul foi aquela onde anos, mostrou-se que 1 em cada 4
apareceram as porcentagens mais usuários de maconha desenvolveram
expressivas de dependentes de maconha síndrome de dependência no período
1,6% dos entrevistados. compreendido entre a adolescência e a
idade adulta jovem.
Prevalência (uso na vida) de
maconha e cocaína
Aumento do consumo de maconha no
Maconha Cocaína
Brasil
EUA 34,2% 11,2%
Dados do CEBRID em 10 capitais,
Reino Unido 25,0% 3,0%
onde foram realizados levantamentos
Dinamarca 24,3% 1,7%
anteriores entre estudantes, pode-se notar
Espanha 19,8% 3,2%
que a tendência par o uso na vida (pelo
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menos uma vez na vida) foi aumentar em


oito capitais, exceto em Brasília e Características Presentes em Famílias de
Salvador. O uso de maconha nos quatro Dependentes Químicos
levantamentos realizados pelo CEBRID, O impacto que a família sofre com o
entre estudantes do ensino fundamental e uso de drogas por um de seus membros é
médio, de dez capitais brasileiras (1987, correspondente as reações que vão
1989, 1993, 1997 e 2004) passou de 2,6 ocorrendo com o sujeito que a utiliza25.
em 1987 para 6,5 % em 2004. Este impacto pode ser descrito através de
quatro estágios pelos quais a família
Uso de maconha entre meninos de rua em progressivamente passa sob a influência
4 capitais das drogas e álcool:
Capitais 1987 2003 1. Na primeira etapa, é
São Paulo 43,7% 73,8% preponderantemente o mecanismo de
Rio de Janeiro 20,0% 59,3% negação. Ocorre tensão e
Brasília 21,9% 52,3% desentendimento e as pessoas deixam de
Porto Alegre 29,3% 21,3% falar sobre o que realmente pensam e
sentem.
A maconha é a substância ilícita 2. Em um segundo momento, a
mais consumida nas sociedades família demonstra muita preocupação com
ocidentais. Três questões referentes ao essa questão, tentando controlar o uso da
consumo de maconha são discutidas droga, bem como as suas consequências
atualmente: físicas, emocionais, no campo do trabalho
• O início do consumo cada vez e no convívio social. Mentiras e
mais precoce na adolescência; cumplicidades relativas ao uso abusivo de
• A potência cada vez maior das novas álcool e drogas instauram um clima de
apresentações de canabis e segredo familiar. A regra é não falar do
•O aumento progressivo da assunto, mantendo a ilusão de que as
prevalência do uso. drogas e álcool não estão causando
A Dependência Química é um dos problemas na família.
transtornos mentais mais comuns, 3. Na terceira fase, a
acometendo as mais diversas faixas desorganização da família é enorme. Seus
etárias, porém, mais comumente iniciado membros assumem papéis rígidos e
na adolescência e juventude. Consumir previsíveis, servindo de facilitadores. As
drogas é uma prática milenar e universal e famílias assumem responsabilidades de
não há sociedade que não conheça algum atos que não são seus, e assim o
tipo de droga com as mais diversas dependente químico perde a oportunidade
finalidades. de perceber as consequências do abuso
A adolescência é uma etapa do de álcool e drogas. É comum ocorrer uma
desenvolvimento que suscita grandes inversão de papéis e funções, como por
preocupações quanto ao consumo de exemplo, a esposa que passa a assumir
drogas, principalmente por conta da todas as responsabilidades de casa em
vulnerabilidade à todo tipo de influência decorrência o alcoolismo do marido, ou a
e frustrações. As causas da dependência filha mais velha que passa a cuidar dos
aparentemente são múltiplas, desde irmãos em consequência do uso de drogas
genéticas, culturais, até vivenciais, o da mãe.
tratamento é dificílimo e o prejuízo na vida 4. O quarto estágio é caracterizado
pessoal do dependente é incalculável. pela exaustão emocional, podendo surgir
graves distúrbios de comportamento e de
saúde em todos os membros. A situação
fica insustentável, levando ao afastamento
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entre os membros gerando esqueceu da droga. Qualquer sintoma de


desestruturação familiar. abstinência depois do 10° dia de
Embora tais estágios definam um abstinência total são de natureza
padrão da evolução do impacto das psicológica ou sintomas de algum distúrbio
substâncias, não se pode afirmar que em físico ou mental desenvolvido durante o
todas as famílias o processo será o uso da droga e não percebido durante a
mesmo, mas indubitavelmente existe uma ativa.
tendência dos familiares de se sentirem Na primeira semana de abstinência
culpados e envergonhados por estar nesta do álcool, que pode ser muito grave, ou
situação. Muitas vezes, devido a estes quando o dependente de qualquer droga
sentimentos, a família demora muito tempo desenvolva sintomas psiquiátricos
para admitir o problema e procurar ajuda potencialmente ameaçadores ou muito
externa e profissional, o que corrobora desconfortáveis, o médico geralmente
para agravar o desfecho do caso. entrará com medicação. Esta medicação
não é para o resto da vida, mas para um
Tratamento da dependência química período de tempo variável. Um psiquiatra
O tratamento da doença da acostumado a tratar dependentes químicos
dependência é bastante simples, na pode empregar o esquema de suporte
verdade, desde que o paciente já tenha se medicamentoso mais adequado ao caso.
conscientizado de sua doença e realmente O paciente deve entender que a
esteja disposto a entrar em recuperação, medicação é somente uma muleta química
apesar das dificuldades envolvidas. para os primeiros tempos, e não o
Simples, no entanto, não quer dizer fácil, e tratamento. Tampouco deve esperar que o
se o paciente não está disposto a enfrentar remédio lhe resolva todos os problemas.
o tratamento de frente, não conseguirá a Mesmo com o esquema mais adequado,
recuperação. ainda podem persistir sintomas. A
O tratamento é impossível, no medicação evita que um quadro grave não
entanto, quando o paciente não está ainda se desenvolva e retira os sintomas mais
realmente convicto da necessidade de grosseiros. Desde o primeiro comprimido,
tratamento. Por maior que seja a boa o dependente deve entender que não deve
vontade de familiares e amigos, no substituir a droga de abuso pela droga
entanto, ninguém pode ajudar o paciente médica, e que medicação não pode
independente do desejo real deste. resolver problemas de vida.
Uma vez que o paciente esteja Qualquer medicamento para o
desejando o tratamento, o primeiro passo é dependente deve ser NÃO-INDUTOR DE
a abstinência total de qualquer droga DEPENDÊNCIA, em qualquer fase do
potencialmente causadora de tratamento. O paciente e sua família
dependência, mesmo que o paciente não devem estar atentos a este fato. Uma
seja um usuário costumaz ou única exceção é o alcoolista, que pode
"descontrolado" da droga. O tratamento da precisar de medicação calmante NA
Dependência Química não é somente PRIMEIRA SEMANA DE ABSTINÊNCIA
parar de beber ou de usar outras drogas, SOMENTE.
mas, enquanto continuar usando qualquer Algumas vezes, o paciente
droga, com qualquer frequência, o paciente alcoolista tem risco ou desenvolve quadros
não estará em recuperação. de abstinência graves, ou está com a
.Invariavelmente, os primeiros dias saúde tão debilitada pelo álcool que se
sem a droga são difíceis, pois o corpo e a espera complicações físicas. Nestes
mente do dependente exigem a droga. Os casos, ele necessitará de uma internação
sintomas de abstinência real, física, têm para desintoxicação. Esta internação é
curta duração: em 5 a 10 dias, o corpo já idealmente realizada em hospital clínico, e
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deve ser de curta duração (5 a 7 dias, em deseja fazer seu tratamento, a


média). Muitos destes pacientes grupoterapia é fundamental.
necessitam medicação IV ("soro"). Vencida a abstinência inicial, o
Em alguns casos, apesar da paciente provavelmente já estará sem
medicação, o paciente tem dificuldade de medicação, a não ser que algum quadro
se manter longe da droga. Nestes casos, é psiquiátrico se desenvolva que necessite
sugerido ao paciente que considere uma de medicação não-indutora de
internação em hospital psiquiátrico, para dependência. Recomeçará, aos poucos, a
que consiga vencer os primeiros tempos remontar sua vida sem a droga.
de abstinência. Esta internação é mais Muitas vezes, a ajuda
longa, geralmente oscilando entre 30 a 90 psicoterapêutica individual pode auxiliar o
dias. paciente nesta remontagem de vida. No
Em outros casos ainda, o paciente, entanto, somente a psicoterapia individual,
mesmo em abstinência, apresenta algum sem o suporte grupal, dificilmente dá bons
transtorno mental mais grave, por exemplo, resultados. O paciente deve procurar um
com risco de suicídio ou confusão mental. psicoterapeuta acostumado a tratar de
Nestes casos, também se sugere a dependentes químicos.
internação em hospital psiquiátrico. Finalmente, alguns pacientes
Frequentemente, familiares e necessitam de tratamentos mais
amigos bem intencionados querem internar prolongados em uma instituição, devido à
o paciente contra sua vontade. Os grave situação psicossocial em que se
benefícios desta atitude são questionáveis. encontram, que lhes impede de manter a
Embora realmente uma minoria dos abstinência e a recuperação na grande
pacientes internados "à força" acordem sociedade. Para estes pacientes, é
para a necessidade de tratamento após um recomendado o ingresso em uma
período de afastamento forçado da droga, Comunidade Terapêutica.
geralmente estas internações involuntárias Os familiares do dependente, ou
são pouco efetivas. seja, todas aquelas pessoas que vivem em
Se o paciente apresenta grave intimidade com o paciente, também
transtorno mental, que, na opinião do necessitarão de orientação e tratamento
médico e de seus familiares, limite sua específico.
capacidade de decidir por si mesmo, a
internação involuntária pode ser realizada, Prevenção da dependência química
sempre de acordo com a lei. Nestes casos, Tipos
no entanto, não se trata de uma internação Neste espaço são apresentadas
psiquiátrica para tratamento da ações específicas de prevenção aplicada
Dependência Química, mas do transtorno ao fenômeno das drogas, voltadas para a
mental relacionado a ela ou não. transmissão de informações, servindo de
Desde o primeiro dia de tratamento, base para a criação de atitudes, valores e
o paciente deve estar consciente de que consolidação de comportamento.
precisará de tratamento não-
medicamentoso pelo resto de sua vida, se Prevenção Universal, Seletiva e Indicada
desejar a recuperação. Este tratamento Intervenção universal – são
pode ser feito em grupos de mútua ajuda programas destinados à população geral,
(como os AA - Alcóolicos Anônimos e os supostamente sem qualquer fator
NA - Narcóticos Anônimos) ou em grupos associado ao risco. Se aplica na
de apoio à abstinência em serviços de comunidade, em ambiente escolar e nos
tratamento especializado em dependência meios de comunicação.
química. Não importa como o paciente Intervenção seletiva – são ações
voltadas para populações com um ou mais
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fatores associados ao risco de uso de escolas, por ser esse o local que,
substâncias. Se aplica, por exemplo, em idealmente, todos os jovens deveriam
grupos de crianças, filhos de dependentes frequentar.
químicos. É mais fácil iniciar um trabalho de
Intervenção indicada – são prevenção nas escolas, que têm uma
intervenções voltadas para pessoas estrutura organizada, voltada para passar
identificadas como usuárias ou com informações e dar orientações aos alunos
comportamentos de risco relacionados e que mantêm contato com os pais.
direta ou indiretamente ao uso de Entretanto, não é na escola que a
substâncias, como por exemplo, alguns prevenção atingirá os jovens de maior
acidentes de trânsito. Se aplica em risco.
programas que visem diminuir o consumo Os jovens com problema de conduta,
de álcool e outras drogas, mas também a geralmente, abandonam a escola e não se
melhora de aspectos da vida do indivíduo envolvem com regularidade em atividades
como, por exemplo, desempenho nas quais também podem ser alvo de
acadêmico e reinserção social. ações preventivas.
Nesse caso, ações desenvolvidas na
Prevenção primária, secundária e terciária comunidade seriam mais indicadas. Para
mobilizar um grupo dentro da comunidade,
As intervenções podem ser feitas em muitas vezes, é preciso iniciar algum
três níveis: trabalho em uma instituição da região, que
• Prevenção primária – O objetivo é pode ser uma escola a partir da qual, com
evitar que o uso de drogas se instale ou o envolvimento dos alunos, pais,
retardar o seu início. professores e funcionários, podemos
• Prevenção secundária – Destina-se expandir as ações para a comunidade ao
às pessoas que já experimentaram drogas seu redor, envolvendo líderes
ou usam-nas moderadamente e tem como comunitários, religiosos e grupos de
objetivo evitar a evolução para usos mais jovens. É necessário que as ações sejam
frequentes e prejudiciais. Isso implica um desenvolvidas em vários âmbitos, com
diagnóstico e o reconhecimento precoce ações integradas entre as diferentes áreas
daqueles que estão em risco de evoluir sociais.
para usos mais prejudiciais.
• Prevenção terciária – Diz respeito A prevenção na família, na escola e na
às abordagens necessárias no processo comunidade
de recuperação e reinserção dos O problema do uso indevido de
indivíduos que já têm problemas com o uso drogas está disseminado em todos os
ou que apresentam dependência. Os lugares. Escolas, clubes, condomínios,
níveis de prevenção são um continuum, comunidades, todos enfrentam essa
sem limites claros, muitas vezes, entre questão. Muitas vezes, por não se saber
prevenção primária, secundária e terciária. como abordar o problema, não se toma
Na infância, as intervenções iniciativa para tentar resolvê-lo.
preventivas abordam a promoção de saúde Considerando que são muitos e variados
em uma perspectiva ampla e podem ser os fatores que causam os problemas com
feitas com orientação adequada a pais e o abuso de drogas, uma ação isolada não
professores, usando a criatividade e é suficiente.
diversas atividades para propiciar a São necessárias ações conjuntas,
aquisição de habilidades e experiências em diferentes níveis, realizadas e dirigidas
que tenham efeito protetor. para os diversos grupos que compõem a
A prevenção voltada para os comunidade. Na definição das estratégias
adolescentes ocorre principalmente nas
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de prevenção, é preciso considerar que as


palavras e as informações não bastam. Fatores familiares
É importante que todas as pessoas Devem-se considerar como fatores
envolvidas tenham oportunidade de refletir que têm influência tanto para favorecer o
sobre seus comportamentos e sobre suas uso de drogas como para servir de
opções de vida, procurando identificar os proteção o fator genético e o papel
caminhos para uma vida mais saudável. formador da família.
Alguns fatores podem contribuir na Em primeiro lugar, temos o fator
hora de prevenir a dependência química: genético, ou seja, filhos de pais
dependentes de álcool e/ou drogas
Fatores do próprio indivíduo apresentam risco quatro vezes maior de
Na passagem da experimentação também se tornarem dependentes. Uma
para o uso regular e na manutenção do série de estudos realizados com gêmeos
uso, fatores mais relacionados com estuda a hereditariedade dos transtornos
características internas do adolescente, relacionados ao uso de drogas. Tanto
tais como insegurança ou sintomas fatores ambientais como genéticos
depressivos, podem estar envolvidos. contribuem para o uso e
Analisando-se os fatores internos do abuso/dependência de drogas. Com
adolescente que podem facilitar o uso de exceção dos sedativos e opiáceos, a
álcool e drogas, podem-se citar também a hereditariedade estimada, em algumas
insatisfação e a não-realização em suas pesquisas, foi maior para o abuso e a
atividades. dependência de drogas (cocaína,
Os jovens precisam sentir que são estimulantes, maconha, álcool) do que
bons em alguma atividade, sendo que esse para o seu uso, enquanto os fatores
destaque representará sua identidade e ambientais contribuíram mais para o uso
sua função dentro do grupo. O adolescente delas (cocaína, estimulantes, maconha,
que não consegue se destacar nos álcool).
esportes, estudos e relacionamentos Outro aspecto de fundamental
sociais, dentre outras ações, pode buscar importância é o papel da família na
nas drogas a sua identificação. A formação do indivíduo. É função da família
insegurança quanto ao seu desempenho proporcionar que a criança aprenda a lidar
também exerce o mesmo papel, no sentido com limites e frustrações. Crianças que
de empurrá-lo para experimentar crescem num ambiente com regras claras,
atividades nas quais se sinta mais seguro. geralmente, são mais seguras e sabem o
Em relação aos esteróides que devem ou não fazer para agradar.
anabolizantes, Bahrke e colaboradores Quando se defrontam com um limite,
(1998) afirmam que a insatisfação com a sabem lidar com a frustração, por terem
própria imagem corporal e a deposição de desenvolvido recursos próprios para
muita importância nos atributos físicos superá-la.
podem se tornar fatores de risco para o Sem regras claras, é natural que o
uso dessas substâncias, que acabam jovem sinta-se inseguro e, na tentativa de
desempenhando um papel na manutenção descobrir as regras do mundo, também
da auto-estima desses jovens. testará os seus limites, deparando-se com
Ao mesmo tempo, a curiosidade e a frustrações. Dessa maneira, as drogas
busca de emoções, também presentes na surgem como “solução mágica”: o seu
adolescência, são fatores que contribuem consumo faz com que todos os
para o desejo de experimentar sensações sentimentos ruins desapareçam por alguns
novas e integrar-se em comemorações e instantes, sem necessidade de esforços
festas que podem incluir comportamentos maiores. Na adolescência, sem a proteção
de risco e o uso de drogas. da família, o adolescente desafiador e que
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não sabe lidar com frustrações apresenta biológica e possivelmente sua estrutura. O
maior chance de desenvolver uso indevido processo de reabilitação envolve
de substâncias. determinação, comprometimento e
Dessa forma, o conflito entre os pais persistência.
é um dos fatores de risco mais relevantes, Sabemos que a sua dependência é
pois expõe as crianças e os adolescentes uma doença que envolve diversos fatores,
à hostilidade, à crítica destrutiva e à raiva. destacando os biopsicossociais. O
Frequentemente, esses conflitos estão tratamento realizado a partir de terapias,
relacionados a alterações no atividades em grupo, esportes e atividades
comportamento, tais como agressão, físicas em geral tem um valor evidente no
sentimento de bem-estar prejudicado e processo de recuperação.
funcionamento social inadequado. Em O processo de reabilitação é
especial nas adolescentes, isso pode extremamente sério e deve ser abordado
precipitar sintomas depressivos, com muita cautela e critério, pois “Não
delinquência e problemas com álcool. existe ciência sem consciência, e não se
pode lutar contra a droga quando se tem
Fatores sociais uma visão mecanicista do problema e
A influência dos modismos é quando a gente não interroga a respeito
particularmente importante sobre os das motivações dos que se tornam
adolescentes (KANDEL e YAMAGUCHI, usuários” (OLIEVENSTEIN, 1982, p. 6).
1993). A moda reflete a tendência do Pesquisas indicam que a grande
momento e os adolescentes são maioria dos dependentes químicos começa
vulneráveis a estas influências. Eles estão o uso na adolescência, que segundo
saindo da infância e começando a ganhar estudiosos, nesta fase do
autonomia para escolherem suas próprias desenvolvimento, esses adolescentes, em
roupas, suas atividades de lazer, enfim, busca de sua identidade, estão mais
definir seu próprio estilo, e a moda sujeitos a frustrações e também mais
influenciará a escolha desse estilo. Nessa suscetíveis a influências e quando não
escolha de modelos, salienta-se a pressão solucionado nesta fase tende a continuar
da turma, os modelos dos ídolos e os quando adulto, que usam do vício para
exemplos que esses jovens tiveram dentro suprir necessidades afetivas ou fugir dos
de casa, ao longo de sua infância. problemas e das responsabilidades que
O uso indiscriminado de esta nova fase apresenta.
medicamentos, como remédios para O consumo de drogas tende a
relaxar, para melhorar o desempenho aumentar cada vez mais para satisfazer as
sexual e para dormir, dentre outros, dão ao necessidades levando o dependente
jovem a impressão de que, para qualquer químico à autodestruição, a destruição da
problema, há sempre uma alternativa família e de todos que vivem ao seu redor,
química de ação rápida que não requer passando a controlar esse dependente,
grandes esforços, enfim, resposta que deixa de cumprir sua rotina atual e
consoante com o imediatismo sem condições de manter o vício, começa
característico da juventude. a praticar furtos dentro e fora da própria
casa.
O processo de reabilitação de Sendo assim, quando o dependente
dependentes químicos químico decide procurar por ajuda, chega
As drogas são definidas como ao local de reabilitação com seu estado
substâncias químicas capazes de modificar emocional bem debilitado, tendo como
a função de organismos vivos, resultando características: a irritabilidade,
em mudanças fisiológicas ou de agressividade, mentiras, diminuição dos
comportamento, alterando sua função cuidados básicos até mesmo de higiene,
47
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

incluindo, perda de valores, depressão, Seu mecanismo de defesa é


síndrome do pânico, esquizofrenia, entre manipular as informações sobre si mesmo,
outras, precisando neste momento de toda simulando um personagem que ele não é
atenção e acolhimento. (tende falsificar as informações).
Um fator de suma importância para Também a sua memória tende a
o tratamento é em relação ao bem estar do esquecer fatos desagradáveis, ou
interno, que estando bem consigo mesmo, modificar e distorcer inconscientemente
resgata a autoconfiança e obtém êxito para situações passadas, tornando-as mais
sua recuperação. A aceitação própria de agradáveis e mais próprias à imagem do
ajuda provoca desejos de mudança e de "eu". É por isso que deve ser norma
libertação, conduzindo- o a deixar o vício. desenvolver uma entrevista só após criado
Segundo Bucher (1998, p. 78), o ambiente favorável (o entrevistador deve
“quando o drogado se decide por procurar ser cordial e sincero para obter a
uma ajuda terapêutica, pode-se presumir confiança).
que a sua motivação contenha um desejo Uma vez obtido o ambiente
de mudança e de libertação das drogas”, favorável, deve ser mantido durante todo o
pois sabemos que não é um processo fácil, decorrer da entrevista.
como nos apresentam Papalia, Olds e
Feldman (2010, p. 397) “alguns jovens têm Formulação de perguntas
dificuldade em lidar com tantas mudanças A pergunta é a principal ferramenta
de uma vez e talvez precisem de ajuda do entrevistador e requer anos de prática
para vencer os perigos ao longo do para ser perfeitamente executada (requer
caminho”. técnica, perfeição e treinamento), o
É preciso depositar nele confiança e entrevistador deve ser claramente o seu
oferecer uma gama de atividades de modo objetivo para perguntar, deve ter amplo
que ele consiga se "reabilitar", ou seja, vocabulário e saber usar as palavras em
melhorar suas capacidades mentais no precisão.
que se refere à vida, aprendizagem, Antes de perguntar é preciso saber
trabalho, socialização e adaptação de o que e até onde se deseja medir. A
forma mais normalizada possível. linguagem do entrevistador deve estar à
altura do candidato (não usar linguagem
6 TÉCNICAS DE ENTREVISTA técnica para o homem comum ou
linguagem de entrevistador deve estar à
Entrevista de seleção altura do candidato (não usar linguagem
É a primeira entrevista que se aplica técnica para o homem comum ou
ao candidato a emprego. Normalmente é linguagem simples junto ao candidato
solicitado que o candidato preencha o superior).
formulário de emprego. Devemos observar
o seguinte ao iniciar a entrevista: O controle da entrevista
Embora deva ser espontânea, deve-
Mecanismo de defesa se ter algum controle para evitar que o
O candidato está a procura de candidato fale livre e caoticamente
satisfazer as suas necessidades, logo, desperdiçando tempo.
procura formar uma cadeia de forças de A entrevista dirigida é o termo médio
auto proteção (defesa de suas fraquezas). da duas, e evita os excessos das mesmas.
Seu objetivo é vender a batalha da Segue esquema, mas permite ao
entrevista, o candidato sente seu "eu" candidato grande mobilidade e liberdade
ameaçado pelo entrevistador, que lhe de expressão.
afigura como um investigador de sua vida O tempo na entrevista é um dos
privada. fatores a controlar. Deve-se consultar o
48
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

relógio discretamente. Alguns estudos de  ajustamento social atual - 20%


tempo de entrevista mostraram. do tempo - avalie o homem em face a sua
 100 minutos è entrevista família, à sociedade e a determinados
psicológica com candidatos complexos grupos sociais, políticos e religiosos, sua
 30 minutos è entrevista casos classe social, estabilidade econômica e
simples com candidatos nível médio atividades associativas.
 5 minutos è entrevista
preliminar ou de triagem Entrevista de integração
Durante a entrevista recebemos dois O grupo de trabalho é uma pequena
tipos de informação: descritiva e valorativa. sociedade e logicamente o novo
A primeira geralmente é digressão funcionário sente-se como um "vizinho
ou estória. A segunda permite penetrar no novo", não basta apresentar o novato ao
passado do candidato (experiência de grupo.
chefia, maturidade emocional, sua prática É preciso sensibilizar os
no grupo). sentimentos do novato. Tanto supervisor
quanto colegas tem responsabilidade pela
Como preparar uma entrevista sua adaptação.
 obtenha a descrição e análise A entrevista de integração ocorre
da função para o qual vai selecionar; com a cooperação das pessoas que
 observe problemas dessa recebe o novato, e do supervisor sob cujas
função (turnover, cooperação, tipo de ordens irá trabalhar.
supervisão, disciplina, etc.);
 prepare um esquema de Preparação
desenvolvimento (tempo por assunto); Prepara-se para receber o novato.
 elabore perguntas analíticas e
descritivas (não pergunta tipo "sim e não"); Recepção e apresentação
 mantenha a entrevista sob  receba-o com cordialidade
controle: não permita divagações do (não esqueça seu nome);
candidato nem fale (você) mais de 10% do  apresente-o ao supervisor;
tempo.  o supervisor apresentá-lo-á ao
tutor e colegas;
Roteiro de entrevista  mostre-lhe seu lugar,
 histórico profissional - 40% do equipamentos e instalações.
tempo - avalie por ordem cronológica a
história profissional do candidato, Informação e motivação
observando: progresso nos  fale da seção;
conhecimentos, habilidades, gostos,  fale das normas e
aversões e fracassos. regulamentos da empresa;
 histórico educacional - 20% do  fale das tarefas e funções;
tempo - avalie por ordem cronológica a  fale dos contatos que terá fora
formação cultural e o treinamento, da seção;
observando orientação vocacional,  fale das facilidades, benefícios
matérias preferidas, tipo de vida social na e oportunidades.
escola, atividades extracurriculares.
 histórico familiar - 20% do Conclusão
tempo - avalie os antecedentes familiares, Coloque-o em serviço sob a
temperamento e caráter dos pais, status orientação do tutor.
socioeconômico, tipo de educação
recebida, como passou a infância, Entrevista de aconselhamento
adolescência e juventude.
49
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Há 2 métodos: Método diretivo e (que o devolve). O aconselhado aceita a


Método não diretivo. responsabilidade solver o problema ou
foge à situação. Se aceitar, o conselheiro
Método diretivo explica-lhe que a situação do
Neste o conselheiro assume a aconselhamento lhe dá oportunidade de
iniciativa da condução da entrevista. resolver o problema com assistência.
Ocorrem as seguintes condições:
 o aconselhamento está Entrevista de apreciação do emprego
desamparado ou em desespero, e precisa Quando existe um plano de
de apoio antes de tomar decisão; avaliação de empregado através de
 o aconselhado evidencia entrevistas, a habilidade do entrevistador é
incapacidade de iniciar a entrevista; ponto chave para o sucesso do plano. A
 o conselheiro pode e deve habilidade de entrevistar do supervisor é
assumir a maior parte da responsabilidade um requisito essencial do bom chefe. O
do procedimento a seguir; tipo de entrevista que se conduz também é
 os fatos e soluções são a base do sucesso.
claros; As entrevistas de avaliação tem os
 o aconselhado pode e deve seguintes objetivos:
aceitar os resultados da entrevista e não  lembrar ao subordinado sua
perderá as próprias possibilidades de auto- posição e função;
direção.  reconhecer seu bom trabalho;
 comunicar-lhe os pontos em
Método não diretivo que pode melhorar;
Neste método a responsabilidade  desenvolve-lo nos trabalhos
pela condução da entrevista cabe ao atuais e para funções mais elevadas;
aconselhado.  mostrar-lhe em que direções
Ocorre nas seguintes condições: pode progredir na empresa;
 o aconselhado está sob forte  posicionar o empregado
tensão; dentro do organograma;
 o aconselhado tem vários  aconselhar o empregado e
bloqueios afetivos que o impedem de lembrá-lo que deve progredir.
analisar racionalmente; Nem sempre se consegue todos
 o conselheiro é altamente esses objetivos ao mesmo tempo. Normam
capacitado no uso deste método; Mayer no seu livro "The appraisal
 a solução requer que o Interview" propõe 3 tipos de entrevista de
aconselhado assuma considerável apreciação:
responsabilidade para decisão e ação; Método de dizer e vender: O
 as prováveis causas das supervisor faz um diagnóstico da situação
dificuldades são obscuras e complicadas. e propõe um remédio. O supervisor fala o
tempo todo.
Características dos 2 métodos Método de dizer e ouvir: O
No método diretivo o conselheiro supervisor comunica ao empregado a
assume grande responsabilidade pela avaliação feita dele e provoca a sua
solução, colhe informações, analisa as resposta. Mostra-lhe os seus pontos fracos
dificuldades e formula a solução (junto com e fortes, explora os sentimentos do
o aconselhado). Registra a entrevista e funcionário e age como conselheiro e juiz.
acompanha o caso. O supervisor fala menos.
No método não diretivo o Método de resolver problemas: É o
aconselhado procura o conselheiro, tenta mais livre e não diretivo. O supervisor
passar a responsabilidade ao conselheiro deixa o papel de persuasor ou juiz para ser
50
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

apenas uma ajuda. O supervisor não Obter informações com relação à


delimita a área ou natureza dos problemas seleção, treinamento, moral e relações
discutidos, não oferece remédio nem humanas, comunicações e supervisão.
soluções, apenas procura estimular Deve ser feita tanto nos casos de
pensamentos. afastamento voluntário como nos de
demissão (alguns casos).
Entrevista de orientação Quando entrevistar:
Parece ter sido iniciada na Western No dia em que o empregado
Eletric Co Americana, que melhorou a manifestar vontade de sair (dias antes do
situação dos empregados introduzindo um desligamento). Isto possibilita recuperar
sistema de orientação, estabelecendo uma alguns bons empregados. É preciso avisar
relação de um (entre) - orientador para que o resultado da entrevista não afetará
cada 300 operários. pagamento, carta de referência ou futuras
Para instituir o sistema precisam referências.
medidas preventivas (Ex.: boas Como iniciar a entrevista:
remunerações, promoções adequadas, "Nossa entrevista tem o objetivo de
condições físicas do trabalho, etc.). melhorar o RH, por isso daremos valor a
Há 2 maneiras de ajudar o indivíduo qualquer ideia que contribua".
em dificuldade: Evitar, críticas ao funcionário e
 conhecer o meio ambiental aceitar críticas e sugestões. Não pode dar
em que vive (família, empresa, conselhos. Adiar a entrevista se o
comunidade, etc.) e recomendar a solução; empregado estiver hostil.
 desenvolver no indivíduo a Como conduzir a entrevista:
capacidade de resolver seus próprios Deixe as reclamações aparecerem
problemas (processo de orientação). (penetrar mentalmente a queixa, que nem
Dentro do processo de orientação, sempre é real). Outras vezes nem tudo é
há 2 formas de agir (tipos): dito, ficando parte subentendido.
 ouça com atenção e tente
Orientação à moda antiga: obter todos os fatos;
O orientador escolhe os objetivos e  faça perguntas do tipo: O que
intervém na vida particular do indivíduo, faz ? O que acha do trabalho? Como são
embora usando frases dissimuladas como suas relações com colegas e chefe? Que
"se eu fosse você", "eu penso que você acha do colegas ? E da empresa?
deveria", "eu gostaria de sugerir que".  faça o funcionário resumir
Estes conselhos eram completados com novamente a situação e fazer uma
ordens e proibições, obtenção de confissão apreciação final;
e arrependimento, além da admoestação  preencha um formulário ou
quando o empregado incorra em falta. relatório da entrevista (se possível frente
ao funcionário). Obtenha o consentimento
Orientação à moderna: do funcionário pelo que foi escrito e se
O objetivo não é resolver um certo possível que assine.
problema, mas fazer o indivíduo
amadurecer de modo a poder cuidar dos Perguntas e Respostas Comuns
problemas atuais e futuros. Este método se Fale-me um pouco a seu respeito.
baseia na tendência individual para o Faça um breve resumo (dois
crescimento e ajustamento. minutos ou menos) que inclua hábitos
positivos de trabalho e voluntariado. Use
Entrevista de desligamento sua declaração “Comercial de 30
Objetivo: Segundos” juntamente com “Declarações
de Poder” para responder (elas estão
51
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

descritas no www.ldsjobs.org e no Curso Evite mencionar um salário


de Auto-Suficiência Profissional). específico. Você poderá responder:
o Quanto vocês pagam
Quais são alguns de seus pontos normalmente para alguém que tenha a
fortes? Ou Por que devemos contratá-lo? minha experiência?
Conheça seus pontos fortes e utilize o Quanto seu orçamento
suas Declarações de Poder para prová-los. reserva para esse tipo de cargo?
Diga como pode agregar valor à empresa e o Sei que preciso dar-
como pode ajudar a ganhar dinheiro ou a lhes mais lucro do que lhes custa
economizá-lo. empregar-me. Permitam-me antes
explicar-lhes como posso fazer isso. [Use
Por que você quer trabalhar para uma Declaração de Poder.]
nós? ou O que sabe a respeito de nossa Ou pode pedir que não se discutam
empresa? valores, até achar que você e o
Faça uma pesquisa antes da empregador estão se entendendo bem.
entrevista, para responder corretamente. Sugira que, se vocês dois concluírem que
Discuta como suas habilidades satisfariam desejam trabalhar juntos, poderão
às necessidades daquela empresa. Utilize combinar mais tarde valor de salário.
uma Declaração de Poder.
Quais são alguns de seus pontos Tem alguma pergunta a fazer para
fracos? mim?
Explique como você tem Faça perguntas como:
transformado os pontos fracos que notou, o Qual é sua perspectiva
em pontos fortes. Por exemplo: “Algumas para esta empresa em cinco anos?
pessoas dizem que sou gentil demais. o Quais têm sido suas
Mas, cheguei à conclusão de que, sendo experiências com esta empresa?
gentil, posso atender 14 por cento a mais o Por que esta vaga está
de clientes por turno, e tenho 40 por cento em aberto?
menos reclamações do que a média de o Você tem alguma
meus companheiros de trabalho”. preocupação quanto a minhas habilidades
para preencher esta vaga? Poderia contá-
O que você acha de seu las para mim?
empregador atual (ou antigo)? o Qual é seu prazo para
Nunca critique sua última empresa tomar uma decisão?
ou seu último patrão. Use sempre termos
positivos. Tente usar uma Declaração de Perguntas Sobre o Comportamento
Poder para seu antigo empregador. Os empregadores frequentemente
fazem perguntas para ver como você
O que pretende fazer dentro de reage ou se comporta em certas situações.
cinco anos? Tente compreender por que o empregador
Indique como espera dar uma está fazendo essa pergunta. Ao responder,
contribuição positiva para a empresa. Por forneça exemplos específicos que
exemplo: “Gostaria de trabalhar aqui em demonstrem ao empregador seu
um cargo de responsabilidade”. Use uma raciocínio.
Declaração de Poder para descrever como Segue-se uma lista de perguntas
planeja beneficiar a empresa. comportamentais típicas e o que um
empregador pode avaliar:
Quanto espera receber como salário o Descreva a última
ou pagamento? situação que enfrentou sob pressão. Como
você reagiu?
52
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

Avaliação: O candidato explode? experiências, comportamentos e


Retira-se? Desiste? Reage de maneira interações. Envolve a consideração dos
madura? contextos sociais e culturais onde a saúde
o Descreva seu último e as doenças ocorrem, uma vez que as
grande erro. Por que ocorreu? O que você significações e os discursos sobre a saúde
fez com relação a ele? e as doenças são diferentes consoante o
Avaliação: O candidato entende a estatuto socioeconômico, o gênero e a
seriedade da situação? É lógico o motivo diversidade cultural.
que ele(a) apresenta para o erro? A Psicologia da Saúde veio, mais
o Fale-me de alguma vez uma vez, desafiar a cisão mente-corpo, ao
em que suas ideias foram rejeitadas por propor um papel para a mente, tanto na
seu patrão. Como você encarou a causa como no tratamento da doença. No
situação? entanto, difere da Medicina
Avaliação: O candidato se sujeitou à psicossomática, da Saúde
gerência? Ele(a) voltou e preparou-se para comportamental e da Medicina
outra tentativa? Ele(a) é persistente comportamental, uma vez que a
quando está certo(a) investigação realizada em Psicologia da
Saúde é mais própria da disciplina de
7 PSICOLOGIA DA SAÚDE: Psicologia.
FUNDAMENTOS E PRÁTICA
Podemos entender como Psicologia Objetivos
da Saúde, uma especialidade da A psicologia da saúde, que tem por
Psicologia que visa a melhor percepção a objetivo a promoção e manutenção da
respeito dos temas relativos à saúde. Ela saúde e à prevenção da doença, resulta da
atua no sustento da profilaxia, na integração das contribuições específicas
compreensão pedagógica e científica, na de diversas áreas do conhecimento
cura das enfermidades, na apuração das psicológico (psicologia clínica, psicologia
causas e na determinação específica da comunitária, psicologia
doença que acomete o paciente, agindo social, psicobiologia) que tinham por
também na proposição de políticas de objetivo a promoção de saúde e
saúde. a prevenção em todos seus níveis.
A Psicologia da Saúde é a aplicação Outro objetivo é difundir uma visão
dos conhecimentos e das técnicas biopsicossocial de cada indivíduo,
psicológicas à saúde, às doenças e aos entendendo-o como parte fundamental
cuidados de saúde. para a qualidade de vida social.
A Psicologia da Saúde agrega Segundo Bock, a prevenção de
o conhecimento educacional, científico e pr doenças mentais significa criar estratégias
ofissional da disciplinaPsicologia para para evitar o seu aparecimento. Um de
utilizá-lo na promoção e manutenção seus desafios é elaborar projetos que
da saúde, na prevenção e no tratamento visem o bem-estar social, para que as
da doença, na identificação da etiologia e psicopatologias sejam evitadas,
no diagnóstico relacionado à saúde, à amenizadas ou bem aceitas pela
doença e às disfunções, bem como no comunidade.
aperfeiçoamento do sistema de política da A intervenção de psicólogos na
Saúde. . saúde, além de contribuir para a melhoria
Esse "ramo", por assim dizer, do bem-estar psicológico e da qualidade
estuda o papel da psicologia como ciência de vida dos clientes dos serviços de saúde,
e como profissão nos domínios da saúde, pode também contribuir para a redução de
da doença e da própria prestação dos internações hospitalares, diminuição da
cuidados de saúde, focalizando nas utilização de medicamentos e utilização
53
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

mais adequada dos serviços e recursos de é a base de sua identidade profissional.


saúde. Entretanto, devido à grande demanda de
Finalmente, também é esperado que trabalho existente no âmbito sanitário,
o psicólogo contribua na relação da equipe muitas vezes profissionais mal- preparados
multidisciplinar dos profissionais de saúde seguem trabalhando no antigo modelo
e sirva de mediador entre eles e os clínico individual e atuam na área da saúde
pacientes. sem ter conhecimento das ferramentas
necessárias para uma atuação coletiva de
Multidisciplinariedade prevenção e intervenção.
A Psicologia da Saúde, quando No Brasil, a formação em Psicologia
aplicada a promoção de saúde mental, é deficitária no que se refere aos
requer um vínculo com a Psicologia conhecimentos da realidade sanitária do
Social, Comunitária, Organizacional, Hospit País, à participação em pesquisas e em
alar, etc, pois precisa de um olhar políticas de saúde, indispensáveis para a
abrangente do indivíduo em todos os seus determinação da sua prática e para o
papéis sociais, além do individual. aprimoramento da especialidade. Essa
A psicologia da saúde, que dá formação elitista distancia o aluno e o
relevância à promoção e manutenção da profissional das demandas sociais
saúde e à prevenção da doença, resulta da existentes, não os habilitando para lidar
confluência das contribuições específicas com o sofrimento físico sobreposto ao
de diversas áreas do conhecimento sofrimento psíquico, a injustiça social, a
psicológico (psicologia clínica, psicologia fome, a violência e a miséria.
comunitária, psicologia social, Em consequência, enquanto as
psicobiologia) tanto para a promoção e classes privilegiadas têm acesso ao
manutenção da saúde como para a tratamento psicológico, as classes menos
prevenção e tratamento das doenças. A favorecidas ficam desassistidas, pois o
finalidade principal da psicologia da saúde tratamento clínico gratuito em instituições
é compreender como é possível, através públicas e clínicas-escola não abarca as
de intervenções psicológicas, contribuir necessidades de grande parte da
para a melhoria do bem-estar dos população. Muitas vezes, são ensinadas
indivíduos e das comunidades. teorias incompatíveis com a demanda e a
realidade social, promovendo uma
Algumas Considerações Sobre a concepção de sujeito desvinculada do seu
Formação Profissional, a Realidade contexto sociopolítico e cultural.
Brasileira e o Mercado de Trabalho Obviamente, essas incongruências
Para que o psicólogo esteja na formação de base geram dúvidas
capacitado a trabalhar em saúde, é quanto à cientificidade da tarefa do
imprescindível refletir se sua formação lhe psicólogo em alguns casos onde a
dá as bases necessárias para essa prática. realidade é a da extrema pobreza, já que a
A aprendizagem não deve ser só teórica e graduação em Psicologia dá ênfase ao
técnica, pois o psicólogo tem que ser modelo psicodinâmico e suas implicações
comprometido socialmente, estar clínicas, voltadas para a população mais
preparado para lidar com os problemas de privilegiada.
saúde de sua região e ter condições de Em síntese, a formação em
atuar em equipe com outros profissionais. Psicologia deixa praticamente de lado
Segundo Sebastiani, Pelicioni e temáticas relacionadas às questões
Chiattone (2002), a formação do psicólogo macrossociais relativas à saúde,
na América Latina e no Brasil está contribuindo para a manutenção das
vinculada basicamente ao tratamento estruturas sociais e das relações de poder
individual baseado no modelo clínico, que
54
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

sem utilizar todo o seu potencial pesquisas e comunicar informações de


questionador e transformador. cunho psicológico a outros profissionais.
A falta de pesquisas na área Por fim, quanto à área de programação, o
também não privilegia ações de prevenção profissional deve desenvolver habilidades
de saúde e, sim, ações emergenciais. Tal para organizar e administrar programas de
situação distorce o trabalho profissional, saúde.
provoca o afastamento entre acadêmicos e Com essa formação integrada, é
profissionais e não contribui para a possível melhorar a qualidade da atenção
ampliação da prática e para a incorporação prestada, garantir que as intervenções
de psicólogos recém-formados que querem implantadas sejam as mais eficazes para
trabalhar na área. cada caso, diminuir custos e aumentar os
Com a necessidade crescente de conhecimentos sobre o comportamento
demonstração das evidências dos humano e suas relações com a saúde e a
resultados das intervenções psicológicas – doença.
o que se chama prática baseada em Neste momento em que somos
provas – o desenvolvimento da pesquisa incitados a refletir sobre nossa profissão
básica e aplicada é imprescindível. para aperfeiçoar nossos modelos de
As evidências dos bons resultados atuação profissional, como ocorre com a
das intervenções psicológicas, além de Psicologia da Saúde, é importante
propiciarem avanços no atendimento direto considerar sempre o aspecto social em
às pessoas, também abrem campo de que estamos inseridos, compreendendo a
trabalho ao psicólogo. Um exemplo seria o realidade do nosso país.
caso de alguns governos de países O Brasil é o país das contradições,
europeus que decidiram custear o ao mesmo tempo em que é a décima
tratamento psicológico através da saúde primeira economia mundial, portanto, um
pública sempre que se cumpram critérios país rico, ao passo que 1/3 de sua
de eficácia, efetividade e eficiência. população é pobre, melhor dito, miserável
Então, qual seria a formação (WHO, 2003).
indicada para os psicólogos que desejam Um terço de aproximadamente 170
trabalhar no âmbito da saúde? Besteiro e milhões de pessoas significa que 55
Barreto (2003) afirmam que a formação do milhões vivem abaixo da linha da pobreza.
psicólogo da saúde deve contemplar Para termos uma dimensão ainda mais
conhecimentos sobre: bases biológicas, clara dessa dura realidade, podemos
sociais e psicológicas da saúde e da pensar que é como se toda a população
doença; avaliação, assessoramento e dos nossos vizinhos Argentina, Chile e
intervenção em saúde, políticas e Uruguai fossem miseráveis, isto é, aqueles
organização de saúde e colaboração que não possuem as condições mínimas
interdisciplinar; temas profissionais, éticos de moradia, alimentação, educação e
e legais e conhecimentos de metodologia e saúde. O Brasil também é o país das
pesquisa em saúde. contradições em si mesmo, ou seja, são
Com relação ao psicólogo da saúde também gigantescas as diferenças
que atua especificamente em hospitais, é econômicas e educacionais da Região
indispensável um bom treinamento em três Sul/Sudeste e da Norte/Nordeste/Centro-
áreas básicas: clínica, pesquisa e Oeste.
programação. Com relação à a área Nesse sentido, Moura (2003),
clínica, o psicólogo deve ser capaz de refletindo sobre “a psicologia que temos e
realizar avaliações e intervenções a psicologia que queremos”, analisa essa
psicológicas. prática tradicionalmente empreendida
Na área de pesquisa e pelos psicólogos. Com a diminuição da
comunicação, é necessário saber conduzir procura de clientes para os seus
55
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consultórios particulares devido ao Um dos primeiros passos seria a


empobrecimento da população, os inserção do psicólogo em equipes de
psicólogos foram obrigados a trabalhar saúde interdisciplinares.
com pessoas cada vez mais carentes. Isso A interlocução entre os diversos
gerou o que a autora denominou uma saberes seria a maneira de oferecer um
“crise na Psicologia”, a partir da cuidado mais completo, eficaz e de acordo
discrepância entre as propostas com as necessidades da população. Além
terapêuticas e a realidade do Brasil. da utilização de suas práticas e técnicas
A prática profissional passou a ser usuais, o psicólogo também poderia
questionada no que tange à eficácia e participar politicamente das decisões
adequação da Psicologia frente às sanitárias. Relacionado a isso, algumas
questões de ordem social. Dimenstein mudanças já se percebem.
(2000) afirma, ainda, que muitos dos Por exemplo, nos últimos anos, o
problemas dos quais o psicólogo passou a Conselho Federal de Psicologia vem
deparar-se escapam do domínio da clínica, trabalhando para transformar essa
pois referem-se às condições de vida da situação, tentando sensibilizar a categoria
população. Tais dificuldades passaram a profissional para o desenvolvimento de
ser um entrave para as atividades de ações sociais em distintas áreas da
assistência pública à saúde tendo em vista Psicologia (Conselho Federal de
a falta de preparo nessa área. Psicologia, 1994).
Para mostrar tais discrepâncias, Assim, estudos sobre a prática
dois estudos empíricos relatam a prática profissional do psicólogo, no Brasil, têm
de psicólogos no contexto hospitalar. No apontado para dois movimentos contrários:
primeiro estudo, foram entrevistadas cinco por um lado, a supremacia de atividades
psicólogas, no segundo, participaram 25, classificadas como pertencentes ao âmbito
todos atuando em hospitais no Rio Grande da clínica; por outro, a emergência de
do Norte. Foram analisados os seguintes movimentos buscando novas formas de
aspectos: formação acadêmica, trajetória inserção profissional.
profissional, caracterização das atividades O relato de Miyazaki et al. (2002)
realizadas e avaliação do trabalho esclarece como pode ocorrer um processo
realizado nos hospitais. de mudança permitindo maior inserção
Dentre os resultados principais, profissional de acordo com a realidade do
aparece uma formação universitária País. Descrevendo o desenvolvimento e
deficitária e não condizente com a prática estágio atual do serviço de Psicologia de
profissional, condições adversas de um hospital em São José do Rio Preto, os
trabalho e práticas que, muitas vezes, não autores explicam a evolução de uma
se distinguem do fazer clínico tradicional equipe de psicologia eminentemente
em consultório privado. Observa-se que clínica individual para um trabalho dentro
todos os profissionais que trabalham dos moldes do que seria a Psicologia da
diretamente com os pacientes Saúde.
desenvolvem atividades psicoterápicas em A intervenção individual não dava
suas diversas modalidades: breve, de conta da demanda, e então foi instalado
apoio, individual ou grupal . um programa denominado Aprimoramento
Levando em conta a realidade de em Psicologia da Saúde. Este possuía
nosso país e de nossa profissão, duração de dois anos e combinava a
perguntamo-nos: onde poderia se inserir o prática à pesquisa em Psicologia da
psicólogo para abrir novas frentes de Saúde.
mercado de trabalho de acordo com as Segundo o relato, a atuação foi
necessidades da população? realizada em equipes interdisciplinares,
abrangendo os níveis primário, secundário
56
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e terciário de atendimento. As intervenções administração do sistema de saúde criam


se davam no ambulatório, no hospital, em novos desafios e possibilidades de atuação
centro de saúde-escola e na comunidade, para o psicólogo. Entre os fatores internos
sempre combinadas com pesquisas que encontra-se a capacidade da área para
justificassem suas ações. O hospital, na responder de forma adequada a estas
atualidade (2002), possuía 40 psicólogos possibilidades. Neste sentido, é preciso
(docentes, contratados e aprimorandos). destacar o papel da universidade na
A partir dessas ideias, evidencia-se formação de profissionais que sejam
o quanto urgem revisões e atualizações, capazes de associar atividades de
tanto ao nível de formação profissional extensão, pesquisa e ensino. O PAP da
quanto de estratégias de inserção dos FAMERP tem feito essa associação, na
psicólogos. É preciso romper com a medida em que aprimorandos e
“prática do silêncio”, que compreende o supervisores desenvolvem pesquisas,
indivíduo isolado da sociedade (Moura, concomitantemente às atividades de
2003), e elaborar um modelo profissional extensão.
que considere a ação histórica dos Utilizar estratégias de avaliação e
homens. intervenção cientificamente apoiadas,
A Psicologia é uma ciência jovem, e avaliar intervenções utilizando metodologia
sua participação histórica nos programas científica, documentar custos/benefícios
de saúde tende a ser tímida. Queremos das intervenções em um sistema de saúde
destacar a importância de podermos onde existe pressão contínua para a
discutir, compreender e assumir a função e contenção de custos, são questões
o papel que nos cabe para transformar a fundamentais para o desenvolvimento e
realidade sanitária no País. O próprio fortalecimento da área.
psicólogo necessita dessas reflexões para
que, efetivamente, torne seu trabalho vetor Psicologia Hospitalar: manejo da dor com
nos programas de saúde e abra espaço pacientes hospitalizados
para a atuação de novos profissionais No contexto hospitalar na equipe
nessas equipes. multidisciplinar, a Psicologia
Em última análise, acreditamos que, Hospitalar pode auxiliar no manejo da dor
se o indivíduo não pode vir até o psicólogo, do paciente hospitalizado, uma vez que irá
o psicólogo pode ir até ele. Isso significa facilitar o processo de conhecimento
entrar em contato com a dura realidade do subjetivo que o próprio paciente faz desta
nosso país. Conhecendo a população situação.
brasileira, os psicólogos podem utilizar O manejo da dor envolve fatores
seus conhecimentos para chegar a todos, psicológicos específicos que atuam no
independentemente de seus recursos: os processo da doença, da internação e da
que têm condições e desejam um mobilização para a o tratamento e cura.
tratamento particular, e também aqueles A “dor é uma experiência sensorial e
que nem sequer sabem o quanto poderiam emocional desagradável resultante do
ser ajudados por profissionais dessa área. comprometimento tecidual real ou potencial”
(Smeltzer & Bare, 2002, p.167).
Perspectivas futuras A dor é o motivo que através do qual
O futuro da Psicologia da Saúde o indivíduo recorre a procurar cuidado de
depende de variáveis internas e externas à saúde. Ela incapacita e angustia mais as
área. pessoas do que qualquer doença isolada.
Fatores externos, como as Uma das funções dos auxiliares é ter os
mudanças nos padrões de morbidade e conhecimentos e habilidades para aliviar a
mortalidade, a evolução do conhecimento dor e seus efeitos para o paciente. Os
e da tecnologia na área médica e a mesmos estão sempre à frente da dor muito
57
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

mais do que qualquer outro profissional da A dor pode ser diminuída ou


saúde, por isso é necessário o aumentada de acordo com alguns fatores
entendimento da base fisiológica da dor, as tais como: ansiedade, depressão, idade,
consequências fisiológicas e psicológicas cultura e etnicidade e o efeito placebo
da dor aguda e crônica e os métodos (Smeltzer & Bare, 2002).
utilizados para tratá-la. O paciente que está sentindo um
Existem três categorias de dor: dor período extenso de dor se torna incapaz de
aguda, dor crônica (não-maligna) e dor desenvolver algumas atividades. Os
ligada ao câncer (Smeltzer & Bare, 2002). pacientes com inúmeras síndromes de dor
A dor aguda começa com a crônica relatam depressão, raiva e fadiga.
estimulação de um ou mais dos numerosos Ele pode ficar incapaz de continuar as
receptores especiais que existem na pele e atividades e as relações interpessoais que
nos órgãos internos. Esses receptores tinha antes da dor (Figueiredo, 2003).
recebem informação sobre calor intenso, Dor ligada ao câncer pode ser aguda
picadas, cortes ou outras ações que ou crônica, e após o medo de morrer, ela é
possam provocar dano corporal, a qual é a segunda causa mais comum de medo nos
transmitida, posteriormente, pelas fibras pacientes com câncer recentemente
nervosas até a medula espinhal. Da diagnosticado. (Lema, 1997, citado por
medula, o estímulo doloroso chega a Smeltzer & Bare, 2002).
diferentes partes do cérebro. Algumas áreas De acordo com Bonica (1985, citado
do cérebro determinam a localização e a por Smeltzer & Bare, 2002), estima-se que
causa da dor, enquanto outras integram a mais de 50% dos pacientes com um
informação sensitiva ao estado global do diagnóstico de câncer e 70% dos pacientes
organismo, produzindo a sensação com câncer avançado experimentam a dor.
emocional denominada dor. Ela também A dor no paciente que sofre de
pode ser interpretada como sinal de alerta câncer pode estar ligada diretamente à
ou início de uma doença, lesão ou doença, ao resultado do tratamento (p. ex.
comprometimento de um tipo de dor cirurgia ou radiação) ou não associada ao
(aguda) que pode durar de um segundo até câncer e sim ao trauma. Nesse caso,
seis meses e podem exigir ou não segundo Figueiredo, (2003), cabe ao
tratamento. auxiliar de enfermagem tentar aliviar a dor
O alívio da dor pode acelerar a do paciente transmitindo segurança com
recuperação e a volta do paciente as suas dedicação e atenção.
atividades diárias. Quase sempre é possível estabelecer
Dores crônicas costumam ter mais uma relação causa- efeito entre algum
envolvimento emocional que outras dores, e distúrbio e a dor resultante. Nesses casos é
as reações das pessoas são as mais lógico procurar eliminar a causa inicial,
variadas. Dor é um importante mecanismo porque a dor, que é mera consequência,
de defesa e de preservação da vida. desaparecerá automaticamente.
Dor crônica (não-maligna) é aquela Qualquer dor que tenha causa
que pode aumentar por diversos motivos. especifica ou não, tem sempre um
Esta dor merece mais atenção, pois não componente psicológico, e este
tem a função de defesa e de alerta, mas componente é sempre variável de acordo
acaba cm a qualidade de vida. É ela que com cada pessoa e é influenciado e
limita a movimentação, a agilidade, a modificado por fatores culturais, étnicos,
atividade e o bem estar das pessoas. sociais e ambientais.
Persiste por um período maior de tempo,
não tem lesão ou causa especifica e pode 8 PROGRAMAS EM SAÚDE
considera-la após 6 meses de dor aguda
MENTAL: ATUAÇÃO EM
(Smeltzer & Bare, 2002).
58
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E isso equivale a 17 milhões de pessoas.


TRATAMENTO, INTERVENÇÃO EM Pessoas essas que necessitam de um
atendimento especializado e de qualidade.
GRUPOS VIVENCIAIS E
Segundo o Ministério da Saúde
INFORMATIVOS (2010) o número de pessoas com
A Psicologia, enquanto ciência Transtorno Mental Grave aumentou para
existe há mais de 100 anos no Brasil, 12% em 2010, o que equivale a 23 milhões
porém se encontra regulamentada como de pessoas. Perante essa realidade, é
profissão há menos de 50 anos. possível deduzir o motivo do aumento de
Atualmente existem vários campos transtornos mentais na população, sendo
de atuação, dentre estes a Psicologia que a falta de recursos humanos e de
Social e a Psicologia da Saúde, que profissionais qualificados podem contribuir
recentemente vêm se dedicando de forma significativamente para esse aumento.
mais enfática aos estudos e tratamentos Faz-se necessária uma nova forma
em Saúde Mental. Para Dimenstein (1998) de pensar a saúde. “Esta dimensão revela
a entrada do psicólogo no setor de saúde a necessidade urgente de (re)construção
mental não aconteceu num vazio social, dos modos de pensar e praticar a questão
mas num contexto histórico-político- da saúde”. Para pensarmos em novas
econômico, onde foi se construindo a ideia formas de atuação e um novo jeito de fazer
de que a atividade do psicólogo era a saúde mental pública, precisamos
essencial para a sociedade. modificar algumas formas de pensar a
Em relação ao conceito de saúde própria saúde mental, assim como
mental é possível dizer que Saúde mental identificar as dificuldades encontradas para
é um estado de relativo equilíbrio e realização dessas mudanças.
integração entre os elementos conflitivos O que se observa na prestação de
constitutivos do sujeito, da cultura e dos serviços psicológicos no setor público de
grupos, com crises previsíveis e saúde é que esta geralmente esbarra em
imprevisíveis, registrado objetiva e dificuldades, tais como superar os
subjetivamente, no qual as pessoas ou os interesses corporativos e a cultura
grupos participam ativamente em suas profissional tradicionalmente incorporada,
próprias mudanças e nas do contexto que dificulta a criação de novos modelos
social. de prestação de serviços condizentes com
A saúde mental não se restringe a realidade dos usuários da instituição e da
apenas à psicopatologia ou à semiologia e região. (BRASIL, 2004, p. 185).
não pode ser reduzida ao estudo e Mesmo diante dessas dificuldades,
tratamento das doenças mentais. A Saúde as pessoas que sofrem com transtornos
Mental, no Brasil, é uma das áreas que mentais têm direitos e são protegidas por
apresenta grande prejuízo nos uma lei federal - a Lei nº 10.216, de 06 de
atendimentos, pelo fato de que as equipes abril de 2001. Essa lei nos fala da
que trabalham neste setor são insuficientes responsabilidade do Estado
em relação à demanda. especificamente com a saúde mental.
A grande maioria dos Programas de A lei garante um tratamento mais
Saúde Mental na atenção primária não digno, humanizado e de reinserção social,
conta com a presença do profissional de garante ainda melhor tratamento, gratuito,
Psicologia. com assistência médica em qualquer
De acordo com a Associação tempo, sigilo e internação (quando
Brasileira de Psiquiatria (2007) juntamente necessário) com acompanhamento,
com o IBOPE, em uma pesquisa realizada incluindo serviços médicos, de assistência
em 2007, 9% da população brasileira sofre social, psicológicos, ocupacionais, de lazer
de algum tipo de transtorno mental grave, e outros.
59
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Para entendermos melhor essa Mostra-se aqui um resgate histórico


forma de atendimento, devemos das políticas em saúde mental no Brasil,
compreender como funcionam as políticas que ao longo percurso da Reforma
públicas no Brasil. Atualmente, as políticas Psiquiátrica e as mudanças na
públicas de saúde, em nosso país são regulamentação e nas formas de
organizadas e regidas pelas leis nº 8.080 e atendimento ao portador de transtorno
8.142, do Sistema Único de Saúde, criado mental, que adotam atualmente os Centros
na Constituição Federal de 1988, e que de Atenção Psicossocial - CAPS como
têm como base os princípios de dispositivos estratégicos para a
universalização, integralidade, equidade, organização da rede de atenção em saúde
descentralização, regionalização, mental o que possibilitou a organização de
hierarquização e participação popular. uma rede substitutiva ao Hospital
O SUS legitimou o direito de todos, Psiquiátrico no país, mas que ainda
sem qualquer discriminação, às ações de enfrentam grandes dificuldades em suas
saúde gratuitas, cabendo ao governo implementações e atuações.
garantir esse direito. Isso fica claro no Art. O conceito de loucura é uma
2º da lei 8.080: “A saúde é um direito construção histórica, antes do século XIX
fundamental do ser humano, devendo o não havia o conceito de doença
Estado prover as condições indispensáveis mental nem uma divisão entre razão e
ao seu pleno exercício.”. Como dever do loucura. O trajeto histórico do
Estado, este deve garantir serviços e Renascimento até a atualidade tem o
ações que atuem na promoção, proteção e sentido da progressiva separação e
recuperação da saúde. No entanto, o Brasil exclusão da loucura do seio das
ainda aguarda melhorias nesse setor, pois experiências sociais.
sabemos que o SUS não funciona tão bem A população que sofre de
quanto se propõe. “[...] a impressão de que algum transtorno mental é reconhecida
há um desencantamento com o SUS ou, como uma das mais excluídas
talvez, um descrédito quanto à capacidade socialmente. Essas pessoas apresentam
para transformar em realidade uma política redes sociais menores do que a média das
tão generosa e racional.” (BÖING, 2009, p. outras pessoas. Para Fernandes e Moura
35). (2009) a segregação não é apenas
Apesar de existir a lei que fisicamente, permeia o corpo social numa
regulamenta a criação de Centros de espécie de barreira invisível que impede a
Atendimento Psicossocial nos municípios quebra de velhos paradigmas.
ou de setores que, mesmo nas Unidades Vários estudos demonstram que a
Básicas de Saúde, atendam as pessoa que sofre de transtorno mental
necessidades das pessoas que sofrem severo e persistente, quando inserido em
com transtornos psiquiátricos, isso ainda, redes fortes de troca e suporte apresentam
infelizmente, para muitos municípios não maior probabilidade de êxitos positivos no
passa de um sonho distante. tratamento.
Mostra-se aqui um resgate histórico
História da Assistência à Saúde Mental no das políticas em saúde mental no Brasil e
Brasil: da Reforma Psiquiátrica à mostra as mudanças na regulamentação e
Construção dos Mecanismos de Atenção nas formas de atendimento, que trazem
Psicossocial novas possibilidades de atendimento da
O conceito de loucura é uma loucura, priorizando o atendimento
construção histórica. A população que psicossocial em meio comunitário, tirando
sofre de algum transtorno mental é o privilegio dos manicômios e hospitais
reconhecida como uma das mais excluídas psiquiátricos como únicas formas de
socialmente. tratamento. São enfatizadas também as
60
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dificuldades enfrentadas na consolidação conhecido como CAPS da Rua Itapeva


dessas políticas e as novas formas de (BRASIL, 2004). Em 1987 aconteceu em
cuidado ofertados ao portador de Bauru, SP o II Congresso Nacional do
transtorno mental. MTSM que adotou o lema “Por uma
A rede de atenção à saúde mental sociedade sem manicômios”. Neste
brasileira é parte integrante do Sistema mesmo ano, é realizada a I Conferência
Único de Saúde (SUS), rede organizada de Nacional de Saúde Mental no Rio de
ações e serviços públicos de saúde, Janeiro (BRASIL, 2005).
instituído no Brasil pelas Leis Federais Em 1989 a Secretaria Municipal de
8080/1990 e 8142/90. Leis, Portarias e Saúde de Santos (SP) deu início há um
Resoluções do Ministério da Saúde processo de intervenção em um hospital
priorizam o atendimento ao portador de psiquiátrico, a Casa de Saúde Anchieta,
transtorno mental em sistema comunitário. local de maus-tratos e mortes de
Nos anos 70 dá-se início do pacientes. É esta intervenção, com
processo de Reforma Psiquiátrica no repercussão nacional, que demonstrou a
Brasil, um processo contemporâneo ao possibilidade de construção de uma rede
“movimento sanitário”, em favor da de cuidados efetivamente substitutiva ao
mudança dos modelos de atenção e hospital psiquiátrico. Neste período no
gestão nas práticas de saúde, defesa da município de Santos são implantados
saúde coletiva, equidade na oferta dos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS)
serviços, e protagonismo dos que funcionavam 24 horas; são criadas
trabalhadores e usuários dos serviços de cooperativas; residências para os egressos
saúde nos processos de gestão e do hospital e associações (BRASIL, 2005).
produção de tecnologias de cuidado
(BRASIL, 2005). A regulamentação da atenção psicossocial
O ano de 1978 marca o início efetivo em saúde mental no Brasil
do movimento social pelos direitos dos No ano de 1989, dá entrada no
pacientes psiquiátricos no Brasil. O Congresso Nacional o Projeto de Lei do
Movimento dos Trabalhadores em Saúde deputado Paulo Delgado (PT/MG), que
Mental (MTSM), formado por trabalhadores propõe a regulamentação dos direitos da
integrantes do movimento sanitário, pessoa com transtornos mentais e a
associações de familiares, sindicalistas, extinção progressiva dos manicômios no
membros de associações de profissionais país.
e pessoas com longo histórico de A partir do ano de 1992, os
internações psiquiátricas, surge neste ano. movimentos sociais, inspirados pelo
É, sobretudo este Movimento que Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem
passa a protagonizar e a construir a partir aprovar em vários estados brasileiros as
deste período a denúncia da violência dos primeiras leis que determinam a
manicômios, da mercantilização da substituição progressiva dos leitos
loucura, da hegemonia de uma rede psiquiátricos por uma rede integrada de
privada de assistência e a construir atenção à saúde mental. A partir deste
coletivamente uma crítica ao chamado período a política do Ministério da Saúde
saber psiquiátrico e ao modelo para a saúde mental começa a ganhar
hospitalocêntrico na assistência às contornos mais definidos (BRASIL, 2005).
pessoas com transtornos mentais Na década de 90 é realizada a II
(BRASIL, 2005). Conferência Nacional de Saúde Mental e
Em março de 1986 foi inaugurado o passam a entrar em vigor no país as
primeiro CAPS do Brasil, na cidade de São primeiras normas federais regulamentando
Paulo: Centro de Atenção Psicossocial a implantação de serviços de atenção
Professor Luiz da Rocha Cergueira, diária, fundadas nas experiências dos
61
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e Residenciais Terapêuticos definidos


as primeiras normas para fiscalização e como moradias ou casas inseridas,
classificação dos hospitais preferencialmente, na comunidade,
psiquiátricos (BRASIL, 2005). destinadas a cuidar dos portadores de
Os NAPS/CAPS foram criados transtornos mentais, egressos de
oficialmente a partir da Portaria GM 224/92 internações psiquiátricas de longa
que regulamentou o funcionamento de permanência, que não possuam suporte
todos os serviços de saúde mental em social e laços familiares e, que viabilizem
acordo com as diretrizes de sua inserção social.
descentralização e hierarquização das Leis A Portaria 106 propõe as
Orgânicas do Sistema Único de Saúde. Residências Terapêuticas como uma
Essa Portaria define modalidade assistencial substitutiva da
os NAPS/CAPS como unidades de saúde internação psiquiátrica prolongada, sendo
locais/regionalizadas que contam com uma que a cada transferência de paciente do
população adscrita definida pelo nível local Hospital Especializado para o Serviço de
e que oferecem atendimento de cuidados Residência Terapêutica será reduzido ou
intermediários entre o regime ambulatorial descredenciado do SUS, igual n.º de leitos
e a internação hospitalar; podem constituir- naquele hospital.
se também em porta de entrada da rede de É somente no ano de 2001 que a
serviços para as ações relativas à saúde Lei Paulo Delgado (Lei 10.216) é
mental e atendem também a pacientes sancionada no país. A aprovação, no
referenciados de outros serviços de saúde, entanto, é de um substitutivo do Projeto de
dos serviços de urgência psiquiátrica ou Lei original, que traz modificações
egressos de internação hospitalar. importantes no texto normativo.
A Portaria GM 224/92 proíbe a A Lei Federal 10.216 dispõe sobre a
existência de espaços restritivos e exige proteção e os direitos das pessoas
que seja resguardada a inviolabilidade da portadoras de transtornos mentais e
correspondência dos pacientes internados redireciona o modelo assistencial em
e feito o registro adequado dos saúde mental, privilegiando o oferecimento
procedimentos diagnósticos e terapêuticos de tratamento em serviços de base
efetuados nos pacientes. comunitária, mas não institui mecanismos
As novas normatizações do claros para a progressiva extinção dos
Ministério da Saúde de 1992, embora manicômios.
regulamentassem os novos serviços de Ao final do ano de 2001, em
atenção diária, não instituíam uma linha Brasília, é convocada logo após a
específica de financiamento para promulgação da lei 10.216 a III
os CAPS e NAPS; e as normas para Conferência Nacional de Saúde Mental,
fiscalização e classificação dos hospitais dispositivo fundamental de participação e
psiquiátricos não previam mecanismos de controle social.
sistemáticos para a redução de leitos. O A promulgação da lei 10.216 impõe
processo de redução de leitos em hospitais novo impulso e novo ritmo para o processo
psiquiátricos e de desinstitucionalização de de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no
pessoas com longo histórico de internação contexto da promulgação da lei 10.216 e
ganha impulso em 2002 com uma série de da realização da III Conferência Nacional
normatizações do Ministério da Saúde, que de Saúde Mental, que a política de saúde
instituem mecanismos para a redução de mental do governo federal, alinhada com
leitos psiquiátricos a partir dos macro- as diretrizes da Reforma Psiquiátrica,
hospitais (BRASIL, 2005). passa a consolidar-se, ganhando maior
A Portaria/GM nº 106 de 11 de sustentação e visibilidade. Linhas
fevereiro de 2000 institui os Serviços específicas de financiamento são criadas
62
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

pelo Ministério da Saúde para os serviços Volta Para Casa", sob coordenação do
abertos e substitutivos ao hospital Ministério da Saúde.
psiquiátrico e novos mecanismos são A Portaria nº 52, de 20 de janeiro de
criados para a fiscalização, gestão e 2004 institui o Programa Anual de
redução programada de leitos psiquiátricos Reestruturação da Assistência Psiquiátrica
no país (BRASIL, 2005). Hospitalar no SUS – 2004. Propõe que o
No Relatório Final da III Conferência processo de mudança do modelo
é inequívoco o consenso em torno das assistencial deve ser conduzido de modo a
propostas da Reforma Psiquiátrica, e são garantir uma transição segura, onde a
pactuados os princípios, diretrizes e redução dos leitos hospitalares possa ser
estratégias para a mudança da atenção em planificada e acompanhada da construção
saúde mental no Brasil. Desta forma, esse concomitante de alternativas de atenção
evento consolida a Reforma Psiquiátrica no modelo comunitário.
como política de governo, confere aos O Programa Nacional de Avaliação
CAPS o valor estratégico para a mudança do Sistema Hospitalar/Psiquiatria
do modelo de assistência, defende a (PNASH/Psiquiatria); o Programa Anual de
construção de uma política de saúde Reestruturação da Assistência Hospitalar
mental para os usuários de álcool e outras Psiquiátrica no SUS (PRH); a instituição do
drogas, e estabelece o controle social Programa de Volta para Casa e a
como a garantia do avanço da Reforma expansão de serviços como os Centros de
Psiquiátrica no país. Atenção Psicossocial e as Residências
A Portaria/GM 336 de 19 de Terapêuticas, permitiram a redução de
fevereiro de 2002 estabeleceu as leitos psiquiátricos no país e o fechamento
modalidades dos Centros de Atenção de vários hospitais psiquiátricos.
Psicossocial como CAPS I, CAPS II, CAPS Em 2004 foi realizado em São Paulo
III, CAPS AD E CAPSI, definindo-os por o primeiro Congresso Brasileiro de Centros
ordem crescente de porte/complexidade e de Atenção Psicossocial, reunindo dois mil
abrangência populacional. trabalhadores e usuários de CAPS
A Portaria/GM nº 251 de 31 de (BRASIL, 2005). Em fevereiro de 2005 a
janeiro de 2002 estabelece diretrizes e Portaria nº 245 destina incentivo financeiro
normas para a assistência hospitalar em para implantação de Centros de Atenção
psiquiatria, reclassifica os hospitais Psicossocial e a Portaria nº 246 destina
psiquiátricos, define e estrutura a porta de incentivo financeiro para implantação de
entrada para as internações psiquiátricas Serviços Residenciais Terapêuticos.
na rede do SUS. Estabelece ainda que os A Portaria nº 1.876 de 14 de Agosto
hospitais psiquiátricos integrantes do SUS de 2006 instituiu Diretrizes Nacionais para
deverão ser avaliados por meio do PNASH Prevenção do Suicídio, a serem
– Programa Nacional de Avaliação do implantadas em todas as unidades
Sistema Hospitalar/Psiquiatria. federadas, respeitadas as competências
A Lei Nº 10.708 de 31 de Julho de das três esferas de gestão.
2003 institui o auxílio-reabilitação E a Lei 11.343 de 23 de agosto de
psicossocial para assistência, 2006 institui o Sistema Nacional de
acompanhamento e integração social, fora Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD;
de unidade hospitalar, de pacientes prescreve medidas para prevenção do uso
acometidos de transtornos mentais, indevido, atenção e reinserção social de
internados em hospitais ou unidades usuários e dependentes de drogas;
psiquiátricas. O auxílio é parte integrante estabelece normas para repressão à
de um programa de ressocialização de produção não autorizada e ao tráfico ilícito
pacientes internados em hospitais ou de drogas; define crimes e dá outras
unidades psiquiátricas, denominado "De providências.
63
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O papel estratégico dos CAPS na atenção a aberto, acolhedor e inserido na cidade, no


saúde mental no Brasil bairro. Os projetos desses serviços, muitas
Os Centros de Atenção vezes, ultrapassam a própria estrutura
Psicossocial dentro da atual política de física, em busca da rede de suporte social,
saúde mental do Ministério da Saúde são potencializadora de suas ações,
considerados dispositivos estratégicos para preocupando-se com o sujeito e sua
a organização da rede de atenção em singularidade, sua história, sua cultura e
saúde mental. Com a criação desses sua vida quotidiana (BRASIL, 2004).
centros, possibilita-se a organização de Todo o trabalho desenvolvido
uma rede substitutiva ao Hospital no CAPS deverá ser realizado em um “meio
Psiquiátrico no país. terapêutico”, isto é, tanto as sessões
Esses dispositivos foram criados individuais ou grupais como a convivência
para organizar a rede municipal de atenção no serviço têm finalidade terapêutica. Isso é
a pessoas com transtornos mentais severos obtido através da construção permanente
e persistentes (BRASIL, 2007). de um ambiente facilitador, estruturado e
Os CAPS são serviços de saúde acolhedor, abrangendo várias modalidades
municipais, abertos, comunitários que de tratamento. Ao iniciar o
oferecem atendimento diário. Eles devem acompanhamento no CAPS se traça um
ser territorializados, devem estar projeto terapêutico com o usuário e, em
circunscritos no espaço de convívio social geral, o profissional que o acolheu no
(família, escola, trabalho, igreja, etc.) serviço passará a ser uma referência para
daqueles usuários que os frequentam. Deve ele (Terapeuta de Referência - TR)
ser um serviço que resgate as (BRASIL, 2004).
potencialidades dos recursos comunitários à Cada usuário de CAPS deve ter um
sua volta, pois todos estes recursos devem projeto terapêutico individual. Caracterizado
ser incluídos nos cuidados em saúde como um conjunto de atendimentos que
mental. A reinserção social pode se respeite a sua particularidade, que
estruturar a partir do CAPS, mas sempre personalize o atendimento de cada pessoa
em direção à comunidade. na unidade e fora dela e proponha
Seu objetivo é oferecer atendimento atividades durante a permanência diária no
à população, realizar o acompanhamento serviço, segundo suas necessidades,
clínico e a reinserção social dos usuários potencialidades e limitações.
pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício A depender do projeto terapêutico do
dos direitos civis e fortalecimento dos laços usuário do serviço, o CAPS poderá
familiares e comunitários. oferecer, conforme as determinações da
O CAPS, assumindo um papel Portaria GM 336/02: atendimento Intensivo;
estratégico na organização da rede atendimento Semi-Intensivo e atendimento
comunitária de cuidados, farão o Não-Intensivo.
direcionamento local das políticas e O processo de construção dos
programas de Saúde Mental desenvolvendo serviços de atenção psicossocial tem
projetos terapêuticos e comunitários, revelado outras realidades: as teorias e os
dispensando medicamentos e modelos prontos de atendimento vão se
acompanhando usuários que moram em tornando insuficientes frente às demandas
residências terapêuticas, assessorando e das relações diárias com o sofrimento e a
sendo retaguarda para os Agentes singularidade desse tipo de atenção. É
Comunitários de Saúde (ACS) e para preciso criar, observar, escutar, estar atento
a Estratégia Saúde da Família (ESF) no à complexidade da vida das pessoas, que é
cuidado familiar (BRASIL, 2004). maior que a doença ou o transtorno. Para
As práticas realizadas nos CAPS se tanto, é necessário que, ao definir
caracterizam por ocorrerem em ambiente atividades, como estratégias terapêuticas
64
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nos CAPS, se repensem os conceitos, as alguns psiquiatras, que se posicionam como


práticas e as relações que podem promover contrários ao movimento da Reforma
saúde entre as pessoas: técnicos, usuários, Psiquiátrica por medo de perder espaço; a
familiares e comunidade. Todos precisam dificuldade de realizar atividades
estar envolvidos nessa estratégia, extramuros.
questionando e avaliando Em todos os relatos da pesquisa a
permanentemente os rumos da clínica e do questão da desarticulação ou mesmo
serviço (BRASIL, 2004). inexistência de uma rede ampliada de
Quando uma pessoa é atendida em atenção aos usuários dos CAPS foi
um CAPS, ela tem acesso a vários recursos apontada como uma das grandes
terapêuticos: atendimento individual; dificuldades do trabalho neste contexto.
atendimento em grupo; atendimento para a Enfrenta-se a falta de integração entre os
família; atividades comunitárias; serviços existentes; dificuldades na
Assembléias ou Reuniões de Organização atribuição das competências e atribuições
do Serviço. de cada unidade de saúde; ausência de
Dessa forma, o CAPS pode articular uma rede articulada (uma estratégia
cuidado clínico e programas de reabilitação utilizada para o encaminhamento é o uso
psicossocial. Os projetos terapêuticos das relações entre os profissionais das
devem incluir a construção de trabalhos de diferentes instituições). Para o CFP (2009)
inserção social, respeitando as os relatos indicam que o CAPS é referência
possibilidades individuais e os princípios de para outros serviços, porém há muita
cidadania que minimizem o estigma e dificuldade de que estes serviços funcionem
promovam o protagonismo de cada usuário como referência para os CAPS.
frente à sua vida. Todas as ações e A ausência de uma rede de serviços
atividades realizadas no CAPS devem se de atenção a saúde mental da criança foi
estruturar de forma a promover as melhores apontada como uma das dificuldades do
oportunidades de trocas afetivas, trabalho em CAPS infantil. Problemas
simbólicas, materiais, capazes de favorecer também foram relatadas especificamente no
vínculos e interação humana (BRASIL, atendimento a usuários de álcool e drogas,
2004). como por exemplo a falta de uma rede de
O Conselho Federal de suporte para internação dos casos que
Psicologia (CFP) por meio do Centro de necessitam de internação para
Referência Técnica em Psicologia e desintoxicação em hospital geral (CFP,
Políticas Públicas (CREPOP) em relatório 2009).
sobre a atuação dos psicólogos nos Centros Em alguns CAPS falta estrutura física
de Atenção Psicossocial fala sobre as adequada, recursos materiais, recursos
principais dificuldades enfrentadas no humanos. A falta de acessibilidade nos
trabalho nos CAPS. locais onde estão alguns CAPS, dificulta a
Dentre os principais problemas locomoção de pessoas portadoras de algum
apontados pela pesquisa estão: a ausência tipo de necessidade especial. Além disso,
de políticas locais (estaduais e municipais) há locais que não são adequados para
e de investimentos nos CAPS e nos garantir a qualidade dos atendimentos
equipamentos de saúde mental; (CFP, 2009).
dificuldades na articulação com o Ministério A não adesão ao tratamento e às
da Saúde; em algumas regiões os atividades oferecidas pelo serviço aparece
municípios ainda estão com muitas como um desafio que necessita ser
dificuldades em implantar e administrar os superado. Existem ainda as dificuldades
Centros; a falta de recursos; a permanência relativas aos familiares e à sociedade. É
de um modelo de atenção centrado na preciso orientar constantemente as famílias
figura do médico; resistência por parte de para que essas possam auxiliar na
65
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continuidade do tratamento. Há ainda a A reforma deve buscar, antes de


questão do estigma associado aos tudo, uma emancipação pessoal, social e
transtornos mentais e aos preconceitos que cultural, que permita o não-
circulam na sociedade relacionados aos enclausuramento de tantas formas de
portadores de problemas de saúde. A existência banidas do convívio social e “que
cultura “hospitalocêntrica” também é muito permita um olhar mais complexo que o
forte e se torna um desafio para os generalizante olhar do igualitarismo” de
profissionais que atuam em CAPS. forma a buscar o convívio livre e tolerante
Segundo Prazeres e Miranda (2005) com a diferença.
(apud Moura e Fernandes) os profissionais Alverga e Dimenstein (2006) alertam
da saúde presentes nos serviços que os primeiros passos para uma real
substitutivos ainda carregariam consigo os reforma psiquiátrica implicam um
mesmos paradigmas das instituições imprescindível abandono do lugar de
psiquiátricas. Esse fato, segundo os especialista ocupado por vários dos atores
autores, se expressaria em parte através sociais envolvidos com a reforma. Este
das dificuldades apresentadas em percurso requer atenção especial para as
referenciar os usuários para o serviço pequenas amarras responsáveis pela
substitutivo demonstrando a possibilidade reprodução de valores, preconceitos,
de um desejo de permanência por parte do atrelados às idéias de controle, fixidez,
hospital psiquiátrico na posição de poder identidade, normatização, subjugação.
historicamente construída. O portador de transtorno mental
Os principais obstáculos verificados apresenta formas anticonvencionais de
nessa passagem incluem de acordo com fazer-estar no mundo, sendo parte de uma
Jervis (2001, p. 266 apud Moura e minoria. A declaração universal dos direitos
Fernandes, 2009) dificuldades para humanos prevê a ampla e irrestrita
superação do paternalismo, o recuperado aplicação de seus princípios, entretanto,
tem dificuldades para encontrar emprego e existe ainda a necessidade da implantação
geralmente há a volta para a mesma de leis que assegurem direitos universais
dinâmica familiar e social que o levou ao aos ditos loucos.
manicômio. As novas políticas em saúde Requer-se antes de tudo um
mental devem objetivar bem mais que o abandono do lugar de especialista ocupado
fechamento dos manicômios. Devem buscar por vários dos atores sociais envolvidos
visualizar e romper com as barreiras com a reforma. Este percurso exige atenção
impostas pela própria sociedade. especial para as pequenas amarras
O doente mental, entretanto, responsáveis pela reprodução de valores,
enquanto inserido socialmente perderia preconceitos, atrelados às idéias de
suas características incompreensíveis à controle, fixidez, identidade, normatização,
maioria da população na proporção em que subjugação. E a real mudança de postura
sua própria enfermidade fosse parte de um se faz necessária para evitar a simples
contexto onde seriam respeitadas sua transposição de atitudes profissionais
existência e suas razões (Moura e ligadas ao modelo hospitalar para o modelo
Fernandes, 2009). de atenção primária.
Para Alverga e Dimenstein (2006, p. É preciso entender o processo
4) é preciso pensar na reforma psiquiátrica histórico que invalidou a loucura como
como um movimento social mais amplo, manifestação subjetiva humana. Deve-se
processo de desinstitucionalização do social caminhar no sentido de compreender a
“onde é preciso produzir um olhar que mesma como uma forma de subjetividade
abandona o modo de ver próprio da razão, válida, onde o maior desafio da reforma é
abrir uma via de acesso à escuta qualificada sua despatologização. O processo de
da desrazão”. mudança de papéis se dá de forma lenta e
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gradual, mas os movimentos para tantos já A proposta de cuidado ao portador de


foram iniciados. transtorno mental no interior dos CAPS é
baseada em ações que visam a sua
CAPS – Acesso e vínculo terapêutico reabilitação psicossocial, pela busca de
Logo, para ser atendido no CAPS, autonomia e de cidadania, ressaltando a
pode-se procurar diretamente esse serviço integridade e as influências biopsicossociais
ou ser encaminhado pelo Programa de no tratamento a ser executado.
Saúde da Família ou por qualquer serviço Dessa forma o CAPS será um
de saúde. instrumento que viabiliza a relação entre a
A pessoa também pode ir sozinha, família e usuário e entre o usuário e a
mas na maioria dos casos é levada pela instituição, incentivando a participação dos
família, devendo ser acolhida em seu familiares, profissionais, e da comunidade
sofrimento a fim de construir um vínculo nos projetos propostos a fim de gerar uma
terapêutico e de confiança entre o parceria.
profissional e o indivíduo que procura o Apesar deste sofrimento e desta
serviço. sobrecarga, que o transtorno mental causa,
Posteriormente é traçado um projeto percebe-se que a família é o elo mais
terapêutico individual, construído de forma próximo que os usuários têm com o mundo,
estratégica para atender as atividades de por isso ela desenvolve um papel
maior interesse para eles, respeitando o importante para seu o tratamento. Dessa
contexto em que estão inseridos, e forma o CAPS será um instrumento que
atendendo também as suas necessidades. viabiliza a relação entre a família e usuário
O usuário neste momento também se e entre o usuário e a instituição,
compromete a cooperar com o tratamento, incentivando a participação dos familiares,
seguindo as prescrições médicas, profissionais, e da comunidade nos projetos
participando de oficinas culturais, grupos propostos a fim de gerar uma parceria.
terapêuticos, atividades esportivas, oficinas O indivíduo encontra no serviço um
expressivas (dança, técnicas teatrais, apoio, no qual se estabelece uma relação
pintura, argila, atividades musicais), oficinas de encontros com outros usuários e
geradora de renda (marcenaria, cerâmica, profissionais, mantendo-se diálogos
bijuterias, brechó, artesanato em geral), e relacionados às suas necessidades,
oficinas de alfabetização o que possibilita desejos, histórias e conhecimentos
exercitar a escrita e a leitura, como um específicos, trazendo uma troca de
recurso importante na (re)construção da experiências, e principalmente um laço
cidadania, oferece atividade de suporte afetivo com os seus cuidadores.
social, grupos de leitura e debate, que
estimulam a criatividade, a autonomia, e a Equipe
capacidade de estabelecer relações Equipe multiprofissional constituída
interpessoais impulsionando-os a inserção de psiquiatras, neurologistas, enfermeiros,
social. nutricionistas, farmacêuticos, fonoaudiólogo
Essas oficinas podem contar com a s, psicólogos, assistentes sociais,
participação da família e da comunidade, musicoterapeutas, terapeutas
que são muito importantes para o processo ocupacionais, fisioterapeutas, profissionais
de reabilitação e reinserção das pessoas de Educação Física, técnicos de
portadoras de transtorno mental, pois enfermagem, monitores e estagiários, entre
produzem um grande e variado conjunto de outros profissionais. Por realizar oficinas de
relações de troca, reforçando os laços arte e artesanato como técnica
sociais e afetivos e proporcionando maior de arteterapia uma nova profissão, a de
inclusão social desses membros. conduzir as oficinas e avaliar seus
resultados ou arteterapeuta.
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Funções do CAPS
Princípios  Prestar atendimento clínico em
Em outras palavras, constituem um regime de atenção diária, evitando as
serviço comunitário que tem como papel internações em hospitais psiquiátricos;
cuidar de pessoas que sofrem com  Acolher e atender as pessoas
transtornos mentais, em especial os com transtornos mentais graves e
transtornos severos e persistentes, no seu persistentes, procurando preservar e
território de abrangência. fortalecer os laços sociais do usuário em
Devem obedecer a alguns princípios seu território;
básicos, dentre os quais se responsabilizar  Promover a inserção social
pelo acolhimento de 100% da demanda dos das pessoas com transtornos mentais por
portadores de transtornos severos de seu meio de ações intersetoriais;
território, garantindo a presença de  Regular a porta de entrada da
profissional responsável durante todo o rede de assistência em saúde mental na
período de funcionamento da unidade sua área de atuação;
(plantão técnico), e criar uma  Dar suporte a atenção à saúde
ambiência terapêutica acolhedora no mental na rede básica;
serviço, que possa incluir pacientes muito  Organizar a rede de atenção
desestruturados que não consigam às pessoas com transtornos mentais nos
acompanhar as atividades estruturadas da municípios;
unidade.  Articular estrategicamente a
A atenção do CAPS deve incluir rede e a política de saúde mental num
ações dirigidas aos familiares e determinado território;
comprometer-se com a construção dos  Promover a reinserção social
projetos de inserção social. Devem ainda do indivíduo através do acesso ao trabalho,
trabalhar com a ideia de gerenciamento de lazer, exercício dos direitos civis e
casos, personalizando o projeto de cada fortalecimento dos laços familiares e
paciente na unidade e fora dela, e comunitários.
desenvolver atividades para a permanência Estes serviços devem ser
diária no serviço. substitutivos e não complementares ao
Os projetos terapêuticos dos CAPS hospital psiquiátrico. De fato, o CAPS é o
devem ser singulares, respeitando-se núcleo de uma nova clínica, produtora de
diferenças regionais, contribuições técnicas autonomia, que convida o usuário à
dos integrantes de sua equipe, iniciativas responsabilização e ao protagonismo em
locais de familiares e usuários e toda a trajetória do seu tratamento.
articulações intersetoriais que Métodos e Técnicas Utilizadas pelo
potencializem suas ações. Profissional de Psicologia.
O CAPS deve, ainda, considerar o A prática do psicólogo dentro do
cuidado intra, inter, e transubjetivo, CAPS está amparada pelo código de ética
articulando recursos de natureza clínica - profissional, onde podemos citar, por
incluindo medicamentos -, de moradia, de exemplo, dos princípios fundamentais, o II
trabalho, de lazer, de previdência e outros, princípio, que diz respeito, “o psicólogo
através do cuidado clínico oportuno e trabalhará visando promover a saúde e a
programas de reabilitação psicossocial. qualidade de vida das pessoas e das
O CAPS vem ajudando não só os coletividades e contribuirá para a
portadores de síndromes, mas também as eliminação de quaisquer formas de
famílias dos mesmos, para que saibam agir negligência, discriminação, exploração,
e reagir mediante as situações que podem violência, crueldade e opressão”.
ocorrer. Observa-se a pertinência deste
principio ao fato, que, a prática do
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psicólogo dentro de uma unidade de saúde estão percebendo, baseando-se sempre


tem esse caráter colaborativo quanto à nos conhecimentos científicos
busca pela eliminação da opressão e da acompanhados das técnicas que a própria
marginalização do ser humano, e dentro de ciência psicológica oferece ao profissional.
um Centro de Atenção Psicossocial isso é Como já foi colocado o psicólogo
observável, os indivíduos procuram o que trabalha em uma unidade de saúde,
serviço como uma forma de serem como no caso de um CAPS, o mesmo
inseridos, digamos que arbitrariamente, a passa a ser um membro pertencente de
sociedade, isto é, de certa forma, não uma equipe multiprofissional, e nela haverá
querem ter ou sentirem-se oprimidos e outros profissionais, nesse caso o
muito menos marginalizados, o profissional profissional de psicologia precisará levar
de psicologia, pode criar condições para em consideração o que é colocado no
tais questões, isto é, juntamente com a seguinte artigo do código: Art. 1º j) “Ter,
equipe multiprofissional do centro. para com o trabalho dos psicólogos e de
Ainda tratando das práticas do outros profissionais, respeito, consideração
profissional de psicologia, pode-se e solidariedade, e, quando solicitado,
facilmente observar que as mesmas são colaborar com estes, salvo impedimento
resguardadas pelo código de ética por motivo relevante”.
profissional, observa-se quanto as Quanto à prática do psicólogo no
responsabilidades do psicólogo Art. 1º Centro de Atenção Psicossocial observa-se
b)“São deveres fundamentais do psicólogo: que o profissional trabalha com todos os
assumir responsabilidades somente por tipos de documentos psicológicos, no
atividades para as quais esteja capacitado entanto, os mais solicitados são
pessoalmente e tecnicamente”. declarações, e encaminhamentos a outros
Entende-se que mesmo o psicólogo locais como Centro de Referência
pertencendo há uma equipe Especializada de Assistência Social
multiprofissional, o mesmo deve ter o CREAS; Centro de Referencia a
cuidado para exercer funções que sejam de Assistência Social CRAS; PROPAZ; dentre
sua competência, pois se espera que para outros.
tais ações o mesmo esteja mais capacitado O profissional de psicologia tem uma
para realizar, isto é, a nível de visão diferenciada dos outros profissionais,
conhecimentos técnicos. isto é, tem uma visão holística quanto à
Pode-se ver também ainda no Art. 1º problemática, visando à tomada de
c)“Prestar serviços psicológicos de consciência frente à prevenção e redução
qualidade, em condições de trabalho de danos, e tendo como ponte a avaliação
dignas e apropriadas à natureza desses e apoio psicológico dos usuários e seus
serviços, utilizando princípios, familiares.
conhecimentos e técnicas Outro ponto relevante é que o
reconhecidamente fundamentados na profissional de psicologia não somente
ciência psicológica, na ética e na legislação trabalha com a demanda atendida pelo
profissional". Centro, mas também trabalha com as
A prática do psicólogo dentro de uma problemáticas internas da equipe no papel
unidade de saúde vai ter um diferencial de facilitador.
justamente nessa questão da utilização de Quanto ao trabalho junto ao usuário
princípios e técnicas reconhecidos pela o psicólogo de maneira tanto interdisciplinar
ciência, e pela ética profissional, a técnica é quanto multidisciplinar, contribui para que o
que vai trazer uma visão, ou melhor, a indivíduo possa ter tomadas de
percepção diferenciada das dos outros consciência, que possa alcançar o objetivo
profissionais que compõe a equipe, ou seja, desejado, no que se refere a mudança de
seria perceber aquilo que os outros não comportamento e resiliência frente as
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problemáticas relacionadas ao uso de acreditam que se conseguirem “passar no


drogas, contribuindo no intuito de trabalhar teste” estarão provando que já possuem o
para que o usuário busque outras opções controle sobre a droga e que “jamais irão
na vida social a ponto de não precisar da consumir novamente”. No entanto sabe-se
presença da substância lícita ou ilícita. que mesmo passando no teste a pessoas
Espera-se, do usuário, que obtenha estará mais próxima de uma recaída.
tomadas de consciência durante o Durante o uso da droga a pessoa
processo de tratamento como questões, geralmente se afasta de quem não usa,
por exemplo, “o momento de parar é param de se exercitar, com a evolução do
agora”, isto é, muitos usuários chegam até uso até o interesse a atividade sexual se
o centro com características de reduz, e a vida torna-se escassa de
procrastinação, ou seja, esse pensamento prazeres não quimicamente induzidos. O
de que “eu vou parar amanhã”, é um sinal isolamento é produto do uso e das
de que essa pessoa certamente não tem comorbidades associadas (ex: depressão),
nenhuma intenção de interromper o uso da onde a droga è colocada como foco central
droga. Alguns têm dificuldades na tomada na vida do indivíduo.
de consciência, por não uso da medicação, Em relação aos cuidados pessoais,
alegam que a medicação causa outra como, aparência, alimentação, exercícios,
dependência, outros tem dificuldades por pode-se citar, como exemplo, a cocaína,
acreditarem que a solução ou a culpa essa droga geralmente é um inibidor do
sempre está no outro, e ainda se apetite de forma que o usurário tende a
encontram no processo de negação de seu apresentar deficiências de diversos
quadro, questões essas que são nutrientes e vitaminas. Em alguns casos é
trabalhadas principalmente no atendimento necessário colocar, junto ao tratamento, a
psicológico. atividade física pelo fato de alguns usuários
Outra questão trabalhada é quanto a negligenciarem o condicionamento físico.
onipotência de muitos usuários, ou seja, à Ao usuário, é comum o mesmo
idealização de que, podem parar de usar passar por fases durante seu processo no
aos poucos, isto é, reduzindo a quantidade tratamento, a primeira é a fase da
de uso, no entanto sabe-se que o uso desintoxicação, onde o individuo passa por
continuo da cocaína só aumenta a fissura, supervisão médica, com a utilização de
e o processo de recuperação é adiado. medicamento que possam minimizar a
O usuário acredita que esta no abstinência.
controle da droga, que, pode parar o A fase da reabilitação é fase onde o
momento que quiser, no entanto, o individuo aprende a modificar seus
organismo fica condicionado ao uso da comportamentos para manter a
droga. abstinência, nesse momento que entra a
Também é sugerido ao usuário de questão de modalidades terapêuticas como
drogas que ele evite antigos companheiros aconselhamento individual e familiar e
e lugares de risco que visitava, pois isso medicações contra a vontade de consumo
pode ser um fator incentivador para o e grupos de ajuda mútua devem sempre
retorno do uso. ser incluídos no processo de reabilitação.
Esses lugares e esses antigos Em relação à fase dos cuidados
“companheiros” podem intensificar ainda continuados o CAPS-AD dispõe dos grupos
mais o desejo de usar a substância, essa é terapêuticos que são um dos mais
uma questão de sempre evitar pessoas, conhecidos meios de manutenção dos
situações e ambientes que causem benefícios conseguidos em tratamento, e
fissuras, isto é, muitos usuários acreditam também a realização de aconselhamentos
que podem provar a substância para saber individuais.
como está indo o tratamento, ou seja,
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Outra fase peculiar aos serviços no adoecida sem a necessidade de internação


centro é quanto à prevenção de recaídas, em uma instituição fechada, lugar onde
isto é, são estratégias que podem ser antes era chamado de depósitos de loucos,
aplicadas conjuntamente ou logo após o o CAPS tem a característica de tratar a
tratamento primário. Estas estratégias têm pessoa e disponibilizar a reinserção na
o objetivo de antecipar as situações em que sociedade novamente.
os pacientes terão possibilidades de recair, Dessa maneira observou a
ajudando-os a adquirir instrumentos necessidade de tratamento de pessoas
eficazes para evitar uma recaída, também com dificuldade de enfrentamento à
modificando seu estilo de vida. Vale dependência química, a partir dessa
ressaltar que essas estratégias de questão foi necessária a implantação de
prevenção são pontos primordiais utilizados unidades que pudessem tratar esse tipo de
no atendimento psicológico. demanda, visto que, a incidência estatística
Ainda referindo-se à atuação do de pessoas dependentes de drogas licitas e
profissional de psicologia dentro do CAPS ilícitas aumenta cada vez mais, a esse
AD observaram-se as seguintes respeito, o Ministério da Saúde (2004, p.
competências, apesar do profissional de 24) coloca que:
psicologia estar inserido em uma equipe Para pacientes cujo principal
multiprofissional o mesmo possui problema é o uso prejudicial de álcool e
responsabilidades que são exclusivamente outras drogas passam a existir, a partir de
de suas atribuições, entre elas estão: 2002, os CAPS-AD. Os CAPS-AD devem
preenchimentos de documentos como oferecer atendimento diário a pacientes que
laudos; relatórios; declarações (em alguns fazem um uso prejudicial de álcool e outras
casos demandadas pela justiça); drogas, permitindo o planejamento
acolhimentos e escutas. terapêutico dentro de uma perspectiva
O profissional de psicologia também individualizada de evolução contínua.
trabalha com grupos terapêuticos, nesses Ainda seguindo o modelo do
grupos o mesmo utiliza-se de vários Ministério da Saúde (2004, p. 24), o CAPS
mecanismos que possam facilitar a tomada possibilita ainda intervenções precoces,
de consciência do usuário, onde se pode desenvolve varias atividades como
citar técnicas de conversação, utilização de atendimento individual (medicamentoso,
vídeos, utilização de músicas para psicoterápico, de orientação, entre outros)
projeção, textos de reflexão, parábolas para até atendimentos em grupo ou oficinas
trabalhar a analogia a droga, e outros, para terapêuticas e visitas domiciliares. E para
que o usuário possa refletir sobre sua usuários que necessite de repouso, como
problemática e consequentemente ter a também no caso de desintoxicação
tomada de consciência e a possível ambulatorial e de pacientes que necessitem
mudança de comportamento. É importante de cuidados e que não demandem por
ressaltar que a abordagem utilizada para os atenção clínica hospitalar.
atendimentos são baseados na teoria
cognitivo comportamental que tem como Grupos vivenciais
ponto chave a mudança de A base da aprendizagem vivencial é
comportamento. a experimentação. O Ciclo de
Fazendo uma pequena analogia a Aprendizagem Vivencial - CAV - tem sua
Gestalt-terapia, isto é, o usuário percebe, origem nas pesquisas de David Kolb
aprende e soluciona o problema, mais essa (1990), psicólogo americano. Para o autor,
questão vai depender muito da força de a noção de criação e transferência de
vontade de cada um. conhecimento é muito mais do que uma
Assim, entende-se que o CAPS foi à mera reprodução. É um processo que
forma encontrada de poder tratar a pessoa
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passa pela reflexão, modo pessoal e coletivamente por ações


crítica e internalização do que é vivido. no exercício profissional.
O ciclo de aprendizagem A Ética expressa sempre uma
experiencial ocorre quando, a partir de concepção de homem e de sociedade
determinada atividade, o grupo estabelece determinando relações entre os indivíduos,
certo grau de análise através dos com princípios e normas que vem
resultados obtidos. regularizar respeito ao sujeito humano e
Desta análise, extraem-se analogias seus direitos fundamentais. As sociedades
para o dia-a-dia organizacional para que mudam, as profissões transformam-se,
seja realizado um exigindo uma reflexão continua sobre o
balanço das práticas que o grupo adota em próprio código de ética que orienta toda
seu cotidiano, aumentando a percepção nação.
dos participantes no que podem melhorar Tendo isso em vista, deve-se
além de entender as melhores práticas que orientar a relação do psicólogo com a
devem ser preservadas. sociedade, a profissão, as entidades
Uma pessoa passa por uma profissionais e a ciência, abrindo espaço
experiência concreta, depois reflete sobre a para a discussão pelo psicólogo dos limites
situação e disso abstrai ou internaliza e interseções relativos aos direitos
algum significado. Essa "bagagem" que individuais e coletivos, com um olhar
passa a fazer parte atento na diversidade no exercício da
dos conhecimentos, valores ou crenças profissão, estimulando reflexões que
dessa pessoa, pode então ser utilizada em considerem-na como um todo, e não em
outras situações, muitas vezes bastante práticas particulares.
diferentes da primeira. O ciclo é iniciado Com isso, o psicólogo trabalha
novamente. visando o respeito e a promoção da
O CAV ocorre quando uma pessoa liberdade, dignidade e integridade do ser
se envolve numa atividade, analisa-a humano.
criticamente, extrai algum insight útil dessa A Ética e a psicologia com um olhar
análise e aplica seus resultados. Este amplo sobre ética profissional e a atividade
processo é vivenciado espontaneamente ética da Psicologia quanto a própria ética
no dia a dia, mas também pode ser criado, na sociedade atual. As questões referentes
em situações controladas, visando alcançar a ética e prática do psicólogo em sala de
focos de aprendizagem específicos. aula, além de conceitualizar e caracterizar
a sua diferenciação com os demais fazeres
éticos referentes a variadas profissões.
Toda a construção Ética nas atividades
humanas são convenções provindas das
9 ÉTICA PROFISSIONAL necessidades que o homem tem de viver
A Psicologia tem importante papel mais bem adaptado e em harmonia na
nos movimentos sociais. Sendo que toda sociedade.
profissão estabelece práticas e busca Tendo em vista a preocupação de
atender demandas sociais, com padrões, responder de maneira mais adequada as
técnicas e normas éticas que garantem a necessidades da população procurando
relação de cada profissional com a basear-se nas características particulares
sociedade em um todo. das pessoas atendidas.
Esses padrões estabelecem práticas Neste sentido, é preciso destacar o papel
na categoria profissional e pela sociedade, da universidade na formação de
procurando estimular autorreflexão exigida profissionais que sejam capazes de
de cada individuo, mas responsabiliza-o de associar atividades de extensão, pesquisas
e ensino.
72
APOSTILA ELABORADA PELA EMPRESA DIGITAÇÕES & CONCURSOS

com os princípios e técnicas reconhecidas


Código de Ética Profissional do Psicólogo pela ciência, pela prática e pela ética
profissional;
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: d) Sugerir serviços de outros
I - O Psicólogo baseará seu trabalho profissionais, sempre que se impuser a
no respeito à dignidade e integridade do necessidade de atendimento e este, por
ser humano. motivos justificáveis, não puder ser
II - O Psicólogo trabalhará visando continuado por quem assumiu inicialmente;
promover o bem-estar do indivíduo e da e) Fornecer ao seu substituto,
comunidade, bem como a descoberta de quando solicitado, as informações
métodos e práticas que possibilitem a necessárias à evolução do trabalho;
consecução desse objetivo. f) Zelar para que o exercício
III - O Psicólogo, em seu trabalho, profissional seja efetuado com máxima
procurará sempre desenvolver o sentido de dignidade, recusando e denunciando
sua responsabilidade profissional através situações em que o indivíduo esteja sendo
de um constante desenvolvimento pessoal, vilipendiado;
científico, técnico e ético. g) Participar de movimentos de
IV - A atuação profissional do interesse da categoria que visem à
Psicólogo compreenderá uma análise promoção da profissão, bem como
crítica da realidade política e social. daqueles que lhe permitam promover o
V - O Psicólogo estará a par dos bem-estar do cidadão.
estudos e pesquisas mais atuais de sua Art. 02 - Ao Psicólogo é vedado:
área, contribuirá pessoalmente para o a) Usar títulos que não possua;
progresso da ciência psicológica e será um b) Apresentar, publicamente,
estudioso das ciências afins. através dos meios de comunicação,
VI - O Psicólogo colaborará na resultados de psicodiagnóstico de
criação de condições que visem eliminar a indivíduos ou grupos, bem como interpretar
opressão e a marginalização do ser ou diagnosticar situações problemáticas,
humano. oferecendo soluções conclusivas;
VII - O Psicólogo, no exercício de c) Desviar para atendimento
sua profissão, completará a definição de particular próprio, com finalidade lucrativa,
suas responsabilidades, direitos e deveres, pessoa em atendimento ou atendida em
de acordo com os princípios estabelecidos instituição com a qual mantenha qualquer
na Declaração Universal dos Direitos tipo de vínculo;
Humanos, aprovada em 10,12,1948 pela d) Acumpliciar-se com pessoas que
Assembléia Geral das Nações Unidas. exerçam. Ilegalmente, a profissão de
psicólogo ou qualquer outra atividade
DAS RESPONSABILIDADES GERAIS profissional;
DO PSICÓLOGO e) Induzir a convicções políticas,
Art. 01 - São deveres fundamentais filosóficas, morais ou religiosas, quando do
do Psicólogo: exercício de suas funções profissionais;
a) Assumir responsabilidade f) Induzir quaisquer pessoas a
somente por atividades para as quais recorrer a seus serviços;
esteja capacitado pessoal e tecnicamente; g) Prolongar, desnecessariamente,
b) Prestar serviços profissionais, em a prestação de serviços profissionais;
situações de calamidade pública ou de h) Pleitear comissões, doações ou
emergência, sem visar a quaisquer vantagens outras de qualquer espécie,
benefícios pessoais; além dos honorários estabelecidos;
c) Prestar serviços psicológicos em
condições de trabalho eficiente, de acordo
73
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i) Atender, em caráter não eventual, Parágrafo 2 - O Psicólogo não


a menor impúbere interdito, sem estabelecerá para seus colegas, nem
conhecimento de seus responsáveis; aceitará para si salários que não sejam
j) Receber, pagar remuneração ou fixados com dignidade, a fim de que
porcentagem por encaminhamento de representem justa retribuição pelos
serviços; serviços prestados.
l) Interferir na fidedignidade de Art. 05 - (Revogado pela Resolução
resultados de instrumentos e técnicas CFP nº 006-A/90 de 07 de dezembro de
psicológicas; 1990).
m) Adulterar resultados, fazer Parágrafo 1 - (Revogado pela
declarações falsas e dar atestado sem a Resolução CFP nº 006-A/90 de 07 de
devida fundamentação técnico-científica; dezembro de 1990).
n) Estabelecer com a pessoa do Parágrafo 2 - (Revogado pela
atendido relacionamento que possa Resolução CFP nº 006-A/90 de 07 de
interferir negativamente nos objetivos do dezembro de 1990).
atendimento; Art. 06 - O Psicólogo garantirá o
Art. 03 - São deveres do psicólogo caráter confidencial da informação que vier
nas suas relações com a pessoa atendida: a receber em razão de seu trabalho, bem
a) Dar à(s) pessoa(s) ou, no caso de como do material psicológico produzido.
incapacidade desta(s), a quem de direito Parágrafo 1 - Em caso de demissão
informações concernentes ao trabalho a ou exoneração, o Psicólogo deverá
ser realizado; repassar todo material ao psicólogo que
b) Transmitir a quem de direito vier a substituí-lo.
somente informações que sirvam de Parágrafo 2 - Na impossibilidade de
subsídios às decisões que envolvam a fazê-lo, o material deverá ser lacrado na
pessoa atendida; presença de um representante do CRP,
c) Em seus atendimentos, garantir para somente vir a ser utilizado pelo
condições ambientais adequadas à Psicólogo substituído, quando, então, será
segurança da(s) atendida(s), bem como à rompido o lacre, também na presença de
privacidade que garanta o sigilo um representante do CRP.
profissional. Parágrafo 3 - Em caso de extinção
do serviço psicológico, os arquivos serão
DAS RESPONSABILIDADES E incinerados pelo profissional responsável,
RELAÇÕES COM INSTITUIÇÕES até aquela data, por este serviço, na
EMPREGADORAS E OUTRAS presença de um representante do CRP.
Art. 04 - O Psicólogo, para ingressar
ou permanecer em uma organização, DAS RELAÇÕES COM OS OUTROS
considerará a filosofia e os padrões nela PROFISSIONAIS OU PSICÓLOGOS
vigentes e interromperá o contrato de Art. 07 - O Psicólogo terá para com
trabalho sempre que normas e costumes seus colegas respeito, consideração e
da instituição contrariem sua consciência solidariedade, que fortaleçam o bom
profissional, bem como os princípios e conceito da categoria.
regras deste código. Art. 08 - O Psicólogo, quando
Parágrafo 1 - O Psicólogo atuará na solicitado por outro, deverá colaborar com
instituição de forma a promover ações para este, salvo impossibilidade decorrente de
que essa possa se tornar um lugar de motivo relevante.
crescimento dos indivíduos, mantendo uma Art. 09 - O Psicólogo, em função de
posição crítica que garanta o espírito de solidariedade, não será
desenvolvimento da instituição e da conivente com erros, faltas éticas, crimes
sociedade. ou contravenções penais praticada por
74
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outro na prestação de serviços Art. 16 - O Psicólogo poderá


profissionais. participar de greves e paralisações desde
Art. 10 - A crítica de outro será que:
sempre objetiva, construtiva, comprovável a) Não sejam interrompidos os
e de inteira responsabilidade de seu autor. atendimentos de urgência;
Art. 11 - O Psicólogo não deverá b) Haja prévia comunicação da
intervir na prestação de serviços paralisação às pessoas em atendimento.
psicológicos que estejam sendo efetuados
por outro profissional, salvo nas seguintes DAS RELAÇÕES COM A JUSTIÇA
situações: Art. 17 - O Psicólogo colocará o seu
a) A pedido desse profissional; conhecimento à disposição da Justiça, no
b) Em caso de urgência, quando sentido de promover e aprofundar uma
dará imediata ciência ao profissional; maior compreensão entre a lei e o agir
c) Quando informado por qualquer humano, entre a liberdade e as instituições
uma das partes da interrupção voluntária e judiciais.
definitiva do atendimento; Art. 18 - O Psicólogo se escusará de
d) Quando se tratar de trabalho funcionar em perícia que escape à sua
multiprofissional e a intervenção fizer parte competência profissional.
da metodologia adotada. Art. 19 - Nas perícias, o Psicólogo
Art. 12 - O Psicólogo procurará no agirá com absoluta isenção, limitando-se à
relacionamento com outros profissionais: exposição do que tiver conhecimento
a) Trabalhar dentro dos limites das através do seu trabalho e não
atividades que lhe são reservadas pela ultrapassando, nos laudos, o limite das
legislação; informações necessárias à tomada de
b) Reconhecer os casos decisão.
pertencentes aos demais campos de Art. 20 - É vedado ao Psicólogo:
especialização profissional, a) Ser perito de pessoa por ele
encaminhando-os às pessoas habilitadas e atendida ou em atendimento;
qualificadas para sua solução. b) Funcionar em perícia em que, por
Art. 13 - O Psicólogo, perante os motivo de impedimento ou suspeição, ele
outros profissionais e em seu contrarie a legislação pertinente;
relacionamento com eles, se empenhará c) Valer-se do cargo que exerce, de
me manter os conceitos e os padrões de laços de parentesco ou amizade com
sua profissão. autoridade administrativa ou judiciária para
Art. 14 - O Psicólogo, atuando em pleitear ser nomeado perito.
equipe multiprofissional, resguardará o
caráter confidencial de suas DO SIGILO PROFISSIONAL
comunicações, assinalando a Art. 21 - O sigilo protegerá o
responsabilidade de quem as receber de atendido em tudo aquilo que o Psicólogo
preservar sigilo. ouve, vê ou de que tem conhecimento
como decorrência do exercício da atividade
DAS RELAÇÕES COM A CATEGORIA profissional.
Art. 15 - O Psicólogo prestigiará as Art. 22 - Somente o examinado
associações profissionais e científicas que poderá ser informado dos resultados dos
tenham por finalidade: exames, salvo nos casos previstos neste
a) Defender a dignidade e os Código.
direitos profissionais; Art. 23 - Se o atendimento for
b) Difundir e aprimorar a Psicologia, realizado por psicólogo vinculado a
como ciência e como profissão; trabalho multiprofissional numa clínica,
c) Defender os direitos trabalhistas. empresa ou instituição ou a pedido de
75
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outrem, só poderão ser dadas informações


a quem as solicitou, a critério do DAS COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS E
profissional, dentro dos limites do DA DIVULGAÇÃO AO PÚBLICO
estritamente necessário aos fins a que se Art. 30 - Ao Psicólogo, na realização
destinou o exame. de seus estudos e pesquisas, bem como
Parágrafo 1 - Nos casos de perícia, no ensino e treinamento, é vedado:
o Psicólogo tomará todas as precauções, a a) Desrespeitar a dignidade e a
fim de que só venha a relatar o que seja liberdade de pessoas, ou grupos
devido e necessário ao esclarecimento do envolvidos em seus trabalhos;
caso. b) Promover atividades que envolvam
Parágrafo 2 - O Psicólogo quando qualquer espécie de risco ou prejuízo e
solicitado pelo examinado, está obrigado a seres humanos ou sofrimentos
fornecer a este as informações que foram desnecessários para animais;
encaminhadas as solicitante e a orientá-lo c) Subordinar investigações a sectarismos
em função dos resultados obtidos. que viciem o curso da pesquisa ou seus
Art. 24 - O Psicólogo não remeterá resultados;
informações confidenciais a pessoas ou d) Conduzir pesquisas que interfiram na
entidades que não estejam obrigadas ao vida dos sujeitos, sem que estes tenham
sigilo por Código de Ética ou que, por dado o seu livre consentimento para delas
qualquer forma, permitam a estranhos o participar e sem que tenham sido
acesso a essas informações. informados de possíveis riscos a elas
Art. 25 - A utilização dos meios inerentes.
eletrônicos de registro audiovisual Parágrafo Único - Fica resguardado
obedecerá às normas deste Código, às pessoas envolvidas o direito de ter
devendo o atendido, pessoa ou grupo, acesso aos resultados das pesquisas ou
desde o início, ser informado de sua estudos, após o seu encerramento, sempre
utilização e forma de arquivamento das que assim o desejarem.
informações obtidas. Art. 31 - Na divulgação e publicação
Art. 26 - O sigilo profissional de trabalhos, o Psicólogo deverá:
protegerá o menos impúbere ou interdito, a) Citar as fontes consultadas;
devendo ser comunicado aos responsáveis b) Ater-se aos dados obtidos e neles
o estritamente essencial para promover basear suas conclusões;
medidas em seu benefício. c) Mencionar as contribuições de
Art. 27 - A quebra do sigilo só será caráter profissional prestados por
admissível, quando se tratar de fato assistentes, colaboradores ou por outros
delituoso e a gravidade de suas autores;
consequências para o próprio atendido ou d) Obter autorização expressa do
para terceiros puder criar para o Psicólogo autor e a ele fazer referência, quando
o imperativo de consciência de denunciar o utilizar fontes particulares ainda não
fato. publicadas.
Art. 28 - Em caso de falecimento de Art. 32 - Em todas as comunicações
psicólogo, o Conselho Regional, ao tomar científicas ou divulgação para o público de
conhecimento do fato, providenciará a resultados de pesquisa, relatos ou estudos
destinação dos seus arquivos de caso, o Psicólogo omitirá e/ou alterará
confidenciais. quaisquer dados que possam conduzir à
Art. 29 - Na remessa de laudos ou identificação da pessoa ou instituição
informes a outros profissionais, o Psicólogo envolvida, salvo interesse manifesto
assinalará o caráter confidencial do destas.
documento e a responsabilidade, de quem
o receber, em preservar o sigilo.
76
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Art. 33 - A divulgação de trabalhos pelos conteúdos falsos, sensacionalistas,


realizados por psicólogos será feita sem ou que firam os sentimentos da população.
sectarismos de qualquer espécie. Parágrafo Único - O disposto no
Art. 34 - Na divulgação por qualquer presente artigo é aplicável a toda forma de
meio de comunicação social, o Psicólogo publicidade realizada por Psicólogo,
não utilizará, em proveito próprio, o nome individual ou coletivamente.
ou depoimento de pessoas ou instituições
envolvidas. DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS
Art. 35 - O Psicólogo não divulgará, Art. 39 - Os honorários serão fixados
cederá, dará, emprestará ou venderá a com dignidade e com o devido cuidado, a
leigos instrumentos e técnicas fim de que representem justa retribuição
psicológicas, que permitam ou facilitem o dos serviços prestados pelo Psicólogo, o
exercício ilegal da profissão. qual buscará adequá-los às condições do
atendido, tornando a profissão reconhecida
DA PUBLICIDADE PROFISSIONAL pela confiança e pela aprovação da
Art. 36 - O Psicólogo utilizará dos Sociedade.
meios de comunicação, no sentido de Art. 40 - Os honorários serão
tornar conhecidos do grande público os planejados de acordo com as
recursos e conhecimentos técnico- características da atividade e serão
científicos da Psicologia. comunicados à pessoa ou instituição antes
Art. 37 - O Psicólogo, ao promover do início do trabalho a ser realizado.
publicamente seus serviços, informará com
exatidão seu número de registro, suas DA OBSERVÂNCIA, APLICAÇÃO E
habilitações e qualificações, limitando-se a CUMPRIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA
estas. Art. 41 - O Conselho Federal e os
Art. 38 - É vedado ao Psicólogo: Conselhos Regionais de Psicologia
a) Utilizar o preço do serviço como manterão Comissão de Ética para
forma de propaganda; assessorá-los na aplicação deste Código e
b) Participar como Psicólogo de no zelo de sua observância.
quaisquer atividades através dos meios de Art. 42 - As infrações a este Código
comunicação, em função unicamente de de Ética Profissional acarretarão
autopromoção; penalidades várias, desde a advertência
c) Fazer previsão taxativa de até a cassação de inscrição profissional,
resultados; na forma dos dispositivos legais e/ou
d) Propor atividades e recursos regimentais.
relativos a técnicas psicológicas que não Art. 43 - Caberá aos Psicólogos
estejam reconhecidas pela prática denunciar aos seus Conselhos Regionais
profissional; qualquer pessoa que esteja exercendo a
e) Propor atividades não previstas profissão sem a respectiva inscrição, ou
na legislação profissional, como função do infringindo a legislação própria.
Psicólogo; Art. 44 - As dúvidas na observância
f) Fazer propostas de honorários deste Código e os casos omissos serão
que caracterizem concorrência desleal; resolvidos pelos Conselhos Regionais de
g) Fazer autopromoção em Psicologia, "ad referendum" do Conselho
detrimento de outros profissionais da área; Federal.
h) Propor atividades que impliquem Art. 45 - Competirá ao Conselho
em invasão ou desrespeito a outras áreas Federal de Psicologia firmar jurisprudência
profissionais; quanto aos casos omissos e fazê-la
i) Divulgar serviços de forma incorporar a este Código.
inadequada quer pelo meio utilizado, quer
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Art. 46 - Caberá aos Psicólogos A psicologia chega tateando,


docentes e supervisores esclarecer, buscando definir seu campo de atuação,
informar, orientar e exigir dos estudantes a “sua contribuição teórica efetiva e as
observância dos princípios e normas formas de incorporação do biológico e do
contidas neste Código. social ao fato psicológico, procurando
Art. 47 - É dever de todo Psicólogo abandonar os enfoques centrados em um
conhecer, cumprir e fazer cumprir este indivíduo abstrato e a-histórico tão
Código. frequentes na psicologia clínica tradicional”
Art. 48 - O presente Código poderá (SPINK, 200
ser alterado pelo Conselho Federal de 4, p.30). Ela tem aplicações práticas
Psicologia, por iniciativa própria ou da na área da saúde, ao contrário, por
categoria, ouvindo os Conselhos exemplo, da Sociologia da saúde e da
Regionais. antropologia da saúde, da economia da
Art. 49 - O presente Código deverá saúde. A emergência da psicologia da
ser um instrumento de identificação da saúde, como campo de saber, “está
categoria e representar um roteiro de intimamente relacionada com as
buscas, tendo em vista a transitoriedade transformações que vêm ocorrendo na
das normas nele contidas. inserção do psicólogo na saúde” (SPINK,
Art. 50 - Este Código entre em vigor 2004, p.30).
na data de sua publicação. Até recentemente os campos de
atuação da psicologia estavam reduzidos a
10 EDUCAÇÃO EM SAÚDE dois campos de atuação: primeiro, “as
Os aspectos relacionados à saúde e atividades exercidas em consultórios
doença no âmbito da psicologia vêm sendo particulares restritas a uma clientela
discutidos desde longa data e os derivada das classes mais abastadas”
psicólogos vêm marcando presença, (SPINK, 2004, p. 30), e segundo,
principalmente na área clínica e da saúde “compreendia as atividades exercidas em
mental há muito tempo. Vale destacar, que hospitais e ambulatórios de saúde mental”
mudanças ocorreram na inserção dos (SPINK, 2004, p. 30). Ainda se ver muito
psicólogos na saúde, abrindo-se outros as duas concepções de atuação na prática
campos de atuação, com transformações do psicólogo, atualmente. Mas, o campo
qualitativas na prática. de atuação desse profissional está em
É neste sentido, que podemos expansão, na medida em que sai dessas
afirmar a existência de um novo campo de duas concepções e vislumbra outras
saber. formas de atuação e de intervenção
Aos poucos, conquistam-se condições visando à promoção de saúde.
apropriadas para a estruturação de uma
psicologia da saúde, na medida em que os A prática nos consultórios, anteriormente,
psicólogos estão sendo inseridos na área era acessada apenas pelas classes mais
da saúde. providas de recursos financeiros, embora
Embora intimamente relacionada essa visão venha mudando, quando se
com o conceito de saúde e sua prática, tem inúmeras clínicas com preços
também, a mesma chega tardiamente à acessíveis à população ou clínicas-escola.
área da saúde. Não é à toa, que Quando se fala de saúde mental, até
recentemente a mesma era enquadrada na recentemente a mesma “estava
área das Ciências Humanas. Não é que a subordinada aos paradigmas da
Psicologia tenha deixado de ser humana, Psiquiatria, sendo desenvolvida dentro do
mas que primordialmente deve ser inserida enfoque de internação e medicação”
dentro do contexto da saúde, por este ser (SPINK, 2004, p.30).
o seu objetivo.
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A inserção era voltada para facilitar O terceiro problema foca-se na


o processo de tratamento, sem autonomia predominância do modelo médico “na
enquanto profissional. Era preparar o definição do objeto de investigação e a
paciente para a cirurgia e outras ausência de paradigmas verdadeiramente
intervenções, e fazer com que o paciente psicológicos para o estudo do processo
assumisse o papel de agente passivo. saúde/doença” (SPINK, 2004, p.34).
De acordo com Spink (2004), Nesta problemática, observa-se que
existem três problemas que interferem no ainda há a subordinação ao saber médico,
desenvolvimento de um marco teórico para mesmo por parte do profissional de
a Psicologia da Saúde. O primeiro deles psicologia. Falta discernimento do
seria a ênfase nas aplicações clínicas verdadeiro papel da psicologia no âmbito
referentes à área da saúde mental, da saúde e o quanto esta, através de suas
ausentando-se de temas relacionados à intervenções, pode ajudar o sujeito a
saúde pública. ressignificar sua forma de lidar com o
Neste caso, podemos observar que processo de saúde e doença.
por mais que a psicologia ocupe um lugar Diante do explanado, é fundamental
entre as profissões de saúde que apoiam a que percebamos a necessidade de uma
prática médica, o contexto de sua atuação visão global em relação ao processo de
e a organização dos serviços de saúde era saúde e doença, entendendo o indivíduo
e ainda é ignorado nos cursos básicos. Ou mais do que um ser individual, mas
seja, ainda existe muito o foco da também social e histórico. E levar em
psicologia da saúde como sendo consideração que o saber psicológico é
relacionada apenas à saúde mental ou à fundamental dentro do processo de
área clínica, e não a preocupação de promoção de saúde, além do saber
entender o contexto relacionado com o que médico.
seja verdadeiramente psicologia da saúde Essa é uma das dificuldades
e seu foco, sua ênfase em todos os encontradas, principalmente, no Brasil
contextos relacionados à saúde do acerca da denominação Psicologia da
indivíduo e/ou da coletividade. Saúde. Essas dificuldades trazem
A segunda problemática discussões sobre o que seria uma
corresponde “à predominância dos psicologia que leva em consideração os
enfoques em que o indivíduo é tratado problemas de saúde e doença. Isso leva a
como ser abstrato e a-histórico, inúmeras confusões, primordialmente
desvinculado de seu contexto social” quanto às terminologias, confundido com
(SPINK, 2004, p.34). Observa-se nas medicina psicossomática, psicologia
metodologias de ensino a total ausência ou hospitalar ou psicologia clínica.
falta de compreensão do que seja um É muito comum haver a confusão
indivíduo perpassado pelos fatores entre o que seja psicologia da saúde, e
biopsicossociais e ambientais. Não se muitas pessoas a confundem com
produzem discussões referentes aos psicologia hospitalar ou clínica, talvez pelo
contextos econômicos-sociais. fato de um grande número de profissionais
Muitas vezes o entendimento parte trabalharem nas áreas citadas.
das separações entre classes sociais e "Psicologia da Saúde NÃO é a psicologia
não o caráter social propriamente dito. O clínica aplicada ao ambiente da saúde.
indivíduo é visto em seu caráter individual Psicologia clínica é uma prática
sem ser visto, percebido como ser mais antiga, existente desde os primórdios
histórico-social, onde seu meio ambiente da psicologia, e pode ser entendida, numa
interfere direta e indiretamente nos seus conceituação livre, como a aplicação dos
processos individuais e vice-versa. conhecimentos do campo da psicologia à
solução de problemas pessoais ou grupais.
79
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Em geral, envolve o atendimento ou âmbitos educacionais, na pesquisa, na


tratamento psicoterápico de um indivíduo cientificidade do processo e nos
que padece de algum distúrbio profissionais que trabalham na área. Essas
comportamental e/ou emocional. Por outro contribuições e intervenções da psicologia
lado, os indivíduos atendidos em psicologia estão relacionadas à promoção e
da saúde não precisam obrigatoriamente manutenção da saúde, na medida em que
ter um distúrbio psicológico. o psicólogo, juntamente com o indivíduo
O que distingue o campo da e/ou a comunidade encontram subsídios
psicologia da saúde de outros campos da ou estratégias que promovam a saúde, a
psicologia é o fato que os indivíduos aqui reabilitação e/ou o tratamento da maneira
atendidos têm, em geral, um problema mais equilibrada para o sujeito ou
ligado à sua saúde física, de diversas comunidade.
ordens ou gravidades possíveis. É quando o psicólogo orienta,
Usualmente, trata-se de um indivíduo que antecipando-se aos possíveis malefícios
tem um problema orgânico relacionado a que possam ocorrer, para que o sujeito
aspectos comportamentais ou emocionais, vislumbre outras formas de se comportar e
podendo tanto o problema orgânico quanto construir novas formas de lidar com a
os aspectos comportamentais/emocionais doença, com sua saúde e com o mundo.
serem causa ou consequência da relação." Essas contribuições também estão
(p.119). relacionadas à prevenção de doenças,
De acordo com essa conceituação, mais indo além da orientação acerca do
Psicologia da Saúde é um campo bem que pode ocasionar as doenças físicas e
distinto do que normalmente a confundem. emocionais, mas mostrar e conscientizar
É diferente da Psicologia Clínica e da sobre o significado do cuidado do sujeito
Psicologia Hospitalar, sendo esta última com si mesmo.
um dos campos de atuação da psicologia É mostrar todos os fatores
da saúde. A psicologia clínica já é envolvidos na prevenção de doenças; não
conhecida e praticada muito antes do que é somente dizer, é conscientizar sobre
a psicologia da saúde. quais repercussões aquele cuidado terá
Outra conceituação muito em sua vida, seja social, psicológico,
importante dentro do campo da psicologia ambiental ou físico. São os significados
da saúde é a de Matarazzo, que é utilizada relacionados ao bem-estar do sujeito e as
por inúmeros pesquisadores por ter uma novas significações de mundo.
visão mais global do que seria esse campo O psicólogo da saúde, diante dessa
de atuação. conceituação de Matarazzo, precisa ter o
Portanto, para Matarazzo (apud conhecimento da etiologia, da
Guimarães, Grubits, Freire, 2007), sintomatologia das doenças e dos
"A psicologia da saúde consiste no diagnósticos, para assim poder encontrar
conjunto de contribuições educacionais, estratégias de intervenção de acordo com
científicos e profissionais específicos da a problemática do sujeito. Além disso, o
psicologia, para a promoção e manutenção psicólogo da saúde deve engajar-se no
da saúde, a prevenção e tratamento das aprimoramento das políticas de saúde,
doenças, na identificação da etiologia e inserindo-se em grupos de trabalho que
diagnósticos relacionados à saúde, à incentivam a pesquisa e a concretude das
doença e às disfunções associadas, bem ações dos psicólogos na saúde.
como no aperfeiçoamento de políticas da Como vimos, a psicologia da saúde
saúde" (p. 28). está diretamente relacionada à saúde, às
Esse conceito tem uma visão mais doenças e aos cuidados de saúde. Muitas
global das contribuições da psicologia na vezes, a psicologia da saúde está focada
área da saúde, focalizando-se tanto nos nos casos de profissionais que trabalham
80
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em hospitais, por exemplo. Mas, é dificultando o entendimento e o papel da


absolutamente possível e o é o psicólogo psicologia no âmbito da saúde.
está inserido em locais e instituições com A grande vantagem é que a
foco na promoção de saúde e na academia está se dedicando a incluir
prevenção de doenças. Ele torna-se eficazmente a psicologia da saúde
promotor de saúde, tanto quando à doença enquanto disciplina, mesmo que seja
já está instalada tanto como em casos em paulatinamente.
que se antecipa orientando para que a
doença não aconteça.
Existe uma dicotomia entre o que
seja promover saúde e prevenir doenças. 11 PLANEJAMENTO E
Mas, a questão que surge é se quando PROGRAMAÇÃO,
tentamos manter ou promover saúde não
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
seria, portanto, uma forma de prevenção
de doenças? DE PROGRAMAS EM SAÚDE
Planejamento e programação
Para Vizzotto (2007), “promover é Conceitualmente, planejar é a arte
favorecer um processo, fomentar, de elaborar um plano de processo de
impulsionar para que algo aconteça; no mudança. Compreende um conjunto de
nosso caso, a saúde psicológica. Prevenir conhecimentos práticos e teóricos
é vir antes, antecipar, evitar que algo ordenados de modo a possibilitar interagir
aconteça; no nosso caso, a doença” (p. com a realidade, programar as estratégias
26). Ainda de acordo com a autora e ações necessárias e tudo o mais que
supracitada, “parece que o conceito de seja delas decorrente, no sentido de tornar
promoção é mais amplo. Desse modo, já possível alcançar os objetivos e metas
aceitando que promoção é um processo desejadas e neles estabelecidas. No setor
enquanto prevenção é uma ação saúde, o planejamento é o instrumento que
direcionada a um grupo ou indivíduo, em permite melhorar o desempenho, otimizar
que se pressupõe risco” (VIZZOTTO, 2007, a produção e elevar a eficácia e eficiência
p. 20-21). A dicotomia promoção e dos sistemas no desenvolvimento de suas
prevenção já está superada há muito funções de proteção, promoção,
tempo, embora ainda existam recuperação e reabilitação da saúde.
conceituações que se focam nestas duas Do ponto de vista acadêmico,
terminologias. Essas dicotomias, por através de uma busca nos descritores em
serem conceituais e teórico-metodológicas, saúde, encontra-se o termo planejamento
são, segundo Vizzotto (2007), difíceis de em saúde descrito como: “o processo que
serem respondidas. Mas, o papel da consistem em desenhar, executar,
Psicologia da Saúde continua a ser acompanhar, e avaliar um conjunto de
promover saúde, independentemente das propostas de ação com vistas à
divergências entre os conceitos intervenção sobre determinado recorte de
supracitados. realidade. Trata-se também de um
É importante ressaltar, que a instrumento de racionalização das ações
Psicologia da Saúde ainda encontra-se em no setor saúde, realizada por atores
expansão por mais que existam práticas de sociais, orientada por um propósito de
saúde na psicologia já há muito tempo. A manter ou modificar uma determinada
dificuldade encontrada ainda está situação de saúde”.
diretamente relacionada à América Latina, Do ponto de vista metodológico, o
principalmente no Brasil, pois as pesquisas planejamento tem sido conhecido como o
e publicações na área ainda são escassas método, ferramenta, instrumento ou
técnica para gestão, gerência ou

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administração e como processo social em OPAS baseados nos seguintes


que participam muitos sujeitos, individuais argumentos:
e coletivos. No primeiro, dá-se uma ênfase, (a) sua desvinculação com a
aos meios (processo de trabalho), ao produção de políticas na sociedade e com
passo que no segundo o foco é as a historicidade dos atores envolvidos e
relações (sociais) que permitem (b) Caráter prescritivo e
estabelecer e realizar propósitos de normatizador. Foi daí, então que
crescimento, mudança e/ou legitimação. alternativas de planejamento para o setor
Já em terras capitalistas e aplicada saúde foram apresentadas: como o
ao setor saúde, a Inglaterra iniciou o uso “pensamento estratégico em saúde” e o
do planejamento através do Plano “Planejamento Estratégico Situacional
Beveridge em 1943 para criação do (PES)”. Não é intuito desta secção elenca
Sistema Nacional de Saúde inglês. Ao fim os diversos tipos de métodos de
da segunda guerra, mais uma vez o planejamento nem analisá-los do ponto de
planejamento governamental se fez vista de adequabilidade, contudo é
presente. Desta vez com o resistente importante constatar que a transição da
Estados Unidos, elaborando o Plano lógica de se planejar em saúde sofreu uma
Marshall para reconstrução europeia. mudança significativa naquela época. O
Tempos depois, os ventos planificadores planejamento que se constituía em uma
chegaram aos países capitalistas ferramenta normativa, disciplinadora e
periféricos e deu-se a criação da Comissão quase que coercitiva, passou a ser
Econômica para o Planejamento na estratégico, flexível e socialmente
América Latina (Cepal) vinculada às construído, ou seja, deixou de ser estático
Nações Unidas. Nesta mesma época, no para ser dinâmico Contemporaneamente, o
Brasil, desenvolveu-se o primeiro plano planejamento e as teorias que o suportam,
nacional que contemplava quatro setores: tem evoluído bastante.
a saúde, alimentação, transporte e energia Baseando-se fortemente no
– o Plano Salte 20. componente de construção social que o
O planejamento em saúde na planejamento detém é que as bases
América Latina esteve originalmente epistemológicas atuais sobre o tema se
associado ao enfoque econômico. Assim, apoiam. A principal delas são aquelas que
as constatações que as necessidades derivam da Teoria da Ação Comunicativa
eram crescentes e que os recursos não as de Jurgen Habermas.
acompanhavam no tempo e no espaço Habermas foi filósofo oriundo da
(princípio da escassez) levava à busca de escola de Frankfurt e inspirado pela idéias
um método que reduzisse tal distância – da filosofia da linguagem criticou o
entre necessidades e recursos – de um pensamento de Adorno e Horkheimer no
modo mais racional (princípio da conceito e uso da razão na sociedade
racionalidade). contemporânea. Para Habermas a razão
No Brasil, na década de 60, o deve ser dialógica, ou seja, que brota do
Método CENDES-OPAS teve o mérito de diálogo e da argumentação entre os
iniciar a discussão do setor saúde com a agentes interessados em determinada
preocupação do uso eficiente dos recursos situação. É da razão que surge a chamada
públicos, através de uma cuidadosa ação comunicativa, do uso da linguagem
análise de prioridades e do cálculo prévio como o meio de se conseguir o consenso.
dos resultados esperados com o uso de Para tanto é necessária uma ação social
cada instrumento de ação. que fortaleça as estruturas capazes de
No início dos anos 70 surgiram as promover as condições de liberdade e de
primeiras críticas ao método CENDES- não-constrangimento imprescindíveis ao
diálogo.
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O conceito de verdade também se Logo o programa estabelece de


modifica dentro desta nova perspectiva. O modo articulado objetivos, atividades, e
autor propõe o entendimento da verdade recursos de caráter mais permanente,
não mais como uma adequação do representando certo detalhamento de um
pensamento à realidade, mas como fruto plano, ou na ausência deste, definindo com
de uma ação comunicativa, não como mais precisão o que fazer, como, com
verdade subjetiva, mas sim como um quem, com que meios e a forma de
verdade intersubjetiva, que surge dentro do organização, monitoramento e avaliação.
diálogo entre os indivíduos. No entanto, contrariando Paim, é
Baseado no exposto, muitos autores possível dizer que o processo (ou etapa do
vêm teorizando novas formas de planejamento) relativa ao o que fazer,
planejamento que visam substituir ou até como, com quem, e com que meios fazem
mesmo renovar o enfoque eminentemente parte da programação. A programação de
estratégico que se vem trabalhando ações é um momento do processo de
ultimamente. Atualmente fala-se em teorias planejamento que visa à explicitação de
que planejamento colaborativo o compromissos entre equipes, gestores e
democrático-colaborativo que enfatiza população usuária, ou seja, é o ato de
consenso como forma de se produzir um elaborar ações que quando juntas,
empoderamento das partes. articuladas de acordo com uma
Chettiparamb descreve outra teoria racionalidade constituirão em um
de planejamento baseada na teoria da programa.
complexidade, partindo-se do pressuposto Como as ações, em tese, devem
que o planejamento é complexo por derivar diretamente da programação, é
essência, sendo necessária sua pertinente esclarecer a distinção teórica
abordagem através dessa corrente. entre os tipos de ações e suas
A questão do poder nas relações características. Toma-se, portanto, como
interpessoais também tem ganhado dois conceitos de ações as “ações
destaque nas novas teorias como também programáticas” e as “ações programadas”.
o reconhecimento da prioridade do A primeira é resultante dos programas a
conhecimento da situação e a Inteligência nível central que de forma normativa guiam
dos indivíduos em articular soluções às as práticas em saúde do referido
situações propostas. programa. Já o segundo caracteriza pela
E uma das mais recentes teorias adequação da realidade local àquela
proposta por Talvitie sugere que há a determinada ação programática, ou seja,
associações incompreensíveis de redes de como as necessidades a nível local devem
pensamentos oriundo do inconsciente ser programadas para o determinado
humano e propõem abordagens programa.
psicanalíticas no planejamento com As programações e os programas
indivíduos e grupos. no SUS são dotados de uma importância
estrutural dentro do sistema, pois as
Programação de Ações e Programas em mesmas atuam como estratégias para a
(de) Saúde consolidação da integralidade do cuidado
Devido a uma linha tênue que (diretriz do sistema), pois ajudam a
distingue programa e programação, alguns identificar outras ações que, em uma visão
autores frequentemente não delimitam unipessoal poderiam passar
bem seus conceitos. desapercebidas. Entende-se por
Para Paim o programa (juntamente integralidade do cuidado a capacidade de:
com o plano e o projeto) são produtos do a) integrar os trabalhos disciplinares
processo de planejamento. dos diversos profissionais da equipe de
saúde consigo mesma e a mesma com os
83
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outros níveis de atenção de forma a atividades e procedimentos ofertados a


produzir um efeito potencializador dos uma determinada população em um
mesmos; território.
b) integrar em sua prática ações de No entanto em 2006, uma nova
caráter individual e coletivo, que tenham forma de programação das ações de
um amplo espectro dentro do leque da saúde na atenção básica para os
promoção e recuperação da saúde, programas elencados acima ganhou uma
prevenção e tratamento de agravos; nova abordagem, uma ferramenta
c) ser um espaço de articulação computacional (PROGRAB – Programação
social localizando e buscando articular da Gestão por Resultados na Atenção
instituições setoriais e intersetoriais dentro Básica) que ajuda na programação das
de seu território de atuação; ações de acordo, na operacionalização dos
d) capacidade de integrar demanda programas de acordo com suas realidades
espontânea e demanda programada locais. A proposta apresentada permite
considerando a existência e o acúmulo dos avançar na flexibilidade da parametrização,
diversos programas nacionais estruturados bem como no respeito às necessidades da
por diferentes áreas técnicas e respeitar a população do território adstrito.
demanda imediata da população, A programação, como cita Paim,
componente essencial para a legitimação deve ser feita no momento explicativo do
da equipe. planejamento, logo para se programar
A hegemonia relativa da demanda ações na atenção básica deve-se:
programada é o que alguns autores tem a) definir a área de abrangência e
preconizado a respeito no intuito de um população adstrita à unidade básica que
processo de trabalho de acordo com os realizará a programação;
termos da vigilância à saúde e ainda com b) avaliar o cadastro atualizado da
vistas de reduzir um lógica de atenção unidade e dos profissionais para verificar a
espontaneísta de mercado. capacidade instalada, calculando os
O fato é que, pelo modelo de parâmetros de rendimento de profissionais
vigilância à saúde que o SUS adota como e equipamentos; o cadastro com endereço
forma de organização do sistema, é atualizado facilita o recebimento de
coerente que o mesmo faça uso das materiais do Ministério da Saúde pelas
ferramentas de programações de ações e equipes;
programas de saúde. Diversos programas c) levantar os dados populacionais
existem no âmbito do Sistema Único de da área adstrita, por faixa etária e gênero,
Saúde. No entanto na atenção básica, para fins de cálculos das coberturas
após a elaboração do Pacto pela Saúde assistenciais, estes permitirão os cálculos
2006 e reformulação da Política Nacional de cobertura das ações para cada ciclo de
da Atenção Básica, deve realizar, de forma vida e ações de importância
compulsória, no mínimo dez programas epidemiológica;
previstos na legislação: saúde da criança, d) definir os parâmetros de
saúde da mulher, saúde bucal, controle do cobertura para programação das ações e
diabetes mellitus, controle da hipertensão serviços de saúde correspondentes aos
arterial sistêmica, controle da tuberculose, diversos grupos e subgrupos de ações
controle da hanseníase, saúde do idoso, finalísticas da Atenção Básica, levando em
desnutrição infantil e promoção da saúde. conta o Pacto da Atenção Básica,
Já a programação no SUS acordado pelo município com a SES, as
originalmente derivou do método ações e áreas estratégicas definidas pelo
CENDES-OPAS, em que os conceitos de município, estado e nível nacional, e a
cobertura e concentração populacional sugestão de parâmetros elaborada.
compuseram a base de cálculo das
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Dependendo da composição etária, essa situação, os técnicos e


do perfil epidemiológico do município e da administradores encontram muita
área de atuação da equipe, poderão ser dificuldade para implementar ou alterar
priorizados atividades ou grupos qualquer projeto em andamento, dada a
populacionais; e inexistência de análises e ponderações
e) calcular os possíveis déficits de sobre as ações executadas. Têm também
cobertura existentes, comparando a dificuldade de justificar suas ações e
necessidade e o potencial de produção e muitas vezes até seu trabalho, tornando-se
os serviços disponíveis em seu território presa fácil de injunções políticas face às
para sua população. A impossibilidade do quais não têm argumentos. As diversas
município e/ou equipes de assegurar decisões que envolvem um programa ou
atenção básica à sua população ensejaria projeto são, assim, tomadas no "vazio" ou
um planejamento de investimento para à mercê de oportunismos de toda ordem.
instalação de novos serviços ou otimização No campo da saúde, ainda que a
dos existentes, visando à garantia da tradição de se avaliar venha de longa data,
atenção à saúde da população. os objetos sobre os quais incidiam os
processos avaliativos se identificavam com
Monitoramento e avaliação de programas o modelo de atenção à saúde adotado,
em saúde com ênfase no controle de aspectos
Pode-se dizer que o controle e o ligados ao fator etiológico e de
monitoramento acompanham o vigilância sanitária e resultados de
planejamento a partir de sua campanhas de vacinação e educação em
implementação, tanto na área da saúde saúde.
como em qualquer campo disciplinar que o A avaliação é fundamental,
utilize. Usualmente se emprega os termos primeiramente por uma questão de
controle e avaliação no mesmo sentido, o economia, seja de tempo, recursos,
que é um equívoco. Segundo Cohen trabalho. As organizações que atuam na
(1993, p. 77), o acompanhamento ou esfera pública precisam apresentar à
monitoramento é o exame contínuo ou sociedade os resultados/produtos de sua
periódico efetuado pela administração, em ação (CARVALHO, 1997, p.115).
todos os seus níveis hierárquicos, do modo As organizações públicas têm o
como se está executando uma atividade. dever de manter uma relação de
Com isso, se procura assegurar que transparência sobre seus resultados, a
a entrega de insumos, os calendários de eficácia de seus projetos, os custos
trabalho, os produtos esperados se realizados, seja com os usuários,
consubstanciem nas metas estabelecidas financiadoras, atores sociais e, enfim, a
e que outras ações necessárias progridam sociedade em geral. Em segundo, por que
de acordo com o plano traçado. ampliam-se as exigências, por parte das
A avaliação, por sua vez, contém agências financiadoras, de instrumentos de
um elemento valorativo. Um juízo sobre o controle sobre a qualidade das ações
planejamento, seja antes ou depois de acordadas e o impacto sobre os processos
executado, isto é, ex-ante ou ex-post. Pode sociais.
ser, também, avaliação de processos ou Do lado da instituição executora do
de impacto, ou, ainda, avaliação interna ou projeto, a avaliação é a sua segurança e o
externa: técnica ou participativa. procedimento que garante a confiabilidade
Os processos avaliativos são do público-alvo e da sociedade em que se
encarados, no mais das vezes, como inscreve. Por parte dos profissionais, é o
procedimentos burocráticos, custosos, elemento que garante a visibilidade das
ameaçadores, de caráter administrativo e ações profissionais e o impacto das ações
financeiro (prestação de contas). Face a no contexto nas quais se inscrevem.
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Segundo Carvalho (1997), a constitutivos dos programas. Qualquer


avaliação contém três características política pública pode ser formulada e
processuais: é contínua e permanente, da implementada de diversos modos. [...] A
concepção inicial aos resultados do análise de políticas públicas busca
projeto; inclui os atores envolvidos na reconstituir estas diversas características,
apreciação dos resultados e implica em de forma a apreendê-las em um todo
favorecer aos integrantes, sejam usuários coerente e compreensível. Ou, melhor
ou membros da equipe gestora, o exercício dizendo, para dar sentido e entendimento
da ação reflexiva. ao caráter errático da ação pública.
De início, algumas pontuações Os procedimentos de avaliação e
conceituais são necessárias, como a monitoramento/acompanhamento devem
distinção entre avaliação política e ser estabelecidos com o plano ou projeto,
avaliação de políticas. A avaliação política como um processo contínuo e sistemático.
diz respeito aos princípios, critérios e Interrupções podem interferir nos
diretrizes que fundamentam a decisão resultados ou mesmo inviabilizar uma
sobre a realização de determinado análise posterior. No contexto das políticas
programa, têm um cunho mais valorativo e sociais, entre elas as políticas de saúde,
abrigam uma concepção de justiça que destaca-se o fato de, além de um produto
pode ser ou não explicitada (FIGUEIREDO físico, concreto e mensurável, gerarem
& FIGUEIREDO, 1986). também um impacto que pode ser objetivo,
No campo da saúde está concreto, mensurável, ou ainda subjetivo,
relacionada aos princípios e diretrizes do no plano das atitudes, comportamento e
SUS, dos programas de saúde opiniões.
desenvolvidos em todos os níveis de Assim, tão significativa quanto a
gestão. Tem relação direta com os projetos medida do produto ou serviço atendendo a
de atenção à saúde, explicitando os demanda, é a medida que os possíveis
valores que os informam. No caso da impactos têm nas condições de vida dos
saúde, tais decisões passam pelo crivo dos segmentos populacionais aos quais se
Conselhos de Saúde, além das instâncias destina.
formais do poder legislativo, quando Atualmente começa a se difundir a
pertinentes. ideia da necessidade de avaliações
Nessa linha de avaliação, ressalta- realizadas por agências externas à
se a relevância do uso dos dispositivos de instituição executora do planejamento.
controle social na saúde, estabelecidos Acredita-se que este procedimento
legalmente. Entre eles destacam-se, além contribuirá para que agentes gestores
dos Conselhos e das Conferências de aprimorem suas gestões, favorecendo um
Saúde, a análise e apreciação do Plano controle democrático das propostas
Plurianual, da Lei de Diretrizes desenvolvidas. No Brasil, nos últimos anos,
Orçamentárias, da Lei Orçamentária pelo o Ministério da Saúde vem expandindo a
Congresso Nacional. São documentos avaliação por agências externas – e entre
públicos indicativos do proposto para o as mais atuais se destaca a Avaliação do
setor saúde. Através da NOAS Piso de Atenção Básica. Na mesma
(BRASIL/MINISTERIO DA SAÚDE, 2006) direção, a Organização Pan-americana de
foi instituído, como instrumento normativo, Saúde reitera, de forma contínua e
o Plano Diretor de Regionalização do sistemática, a importância dos processos
Estado, que deve integrar o Plano Estadual avaliativos, divulgando continuamente os
de Saúde, o que favorece a avaliação resultados obtidos pelas políticas nacionais
política. de saúde das Américas em seu relatório
A avaliação de políticas enfoca a anual e outros documentos.
forma, o desenho institucional e os traços
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Todo processo de avaliação implica instituídas e realizadas por agências


na adoção de tipos e critérios de avaliação. externas, que contratam equipes
Dentre os inúmeros critérios passíveis de especializadas para tanto.
serem adotados, alguns são considerados Atualmente, como uma das
clássicos. Entre estes se situam os exigências das agências multilaterais, têm-
critérios de eficácia, eficiência e se ampliado os procedimentos de
efetividade. Os tipos de avaliação mais avaliação da Política Nacional de Saúde,
usados podem ser classificados em função com a construção de indicadores que
do momento de sua realização e dos articulam os aspectos epidemiológicos,
objetivos que se espera da mesma. A sociais, sanitários, institucionais e
avaliação ex-ante precede a implantação, financeiros.
é a realizada ao começar o projeto, Na ação cotidiana do assistente
antecipando fatores considerados no social, os sistemas de avaliação e controle
processo decisório [...]. A segunda ocorre devem ser coerentes com os objetivos que
quando projeto já está em execução ou já se quer atingir. Três focos podem ser
está concluído e as decisões são adotadas identificados em um primeiro momento: a
tendo como base os resultados avaliação da instituição em si, abarcando
efetivamente alcançados. aspectos para os quais se pode construir
Utiliza-se também a avaliação de alguns indicadores, tais como coerência e
processos, que se refere à utilização dos pertinência social da sua missão,
instrumentos, técnicas e procedimentos, integração com o seu entorno, comunidade
determinando se são adequados aos fins a ou região, competência no desempenho de
serem atingidos e permitindo a verificação tarefas, atualidade de seus processos de
das dificuldades decorrentes das trabalho, flexibilidade para incorporação de
atividades desenvolvidas para corrigir seu novas demandas, visibilidade e
rumo. Ocupa-se do projeto em si, isto é, de reconhecimento social e sua forma de
sua forma de implementação, aferindo as inserção na esfera pública.
mudanças e correções de rumo. Os seus Tem como objetivo apreciar a
resultados são utilizados pelos próprios capacidade de resposta e influência da
profissionais. Sua função é medir a organização. O outro foco de avaliação
eficiência de operações do projeto. incide sobre os serviços prestados aos
A avaliação de impacto aponta para seus usuários, a partir da implementação
os resultados do projeto e em que medida de um sistema de planejamento.
aparecem os efeitos secundários, que Um terceiro foco é a avaliação do
ultrapassam os previstos e não previstos. próprio desempenho profissional,
Olha para além do projeto e os seus ajuizando, a partir dos resultados obtidos,
resultados são utilizados para as necessidades de aprimoramento,
argumentações políticas ou técnicas, para atualização e reciclagem. Pensar sobre o
encerrar ou continuar um projeto. trabalho desenvolvido a partir de seus
Os dois tipos de avaliação diferem- resultados e não de discursos sem relação
se, uma olha para trás (a de impacto) e a com a realidade.
outra olha para a frente (a de processo). A avaliação possibilitará ao
Na saúde ambas são relevantes, pois profissional apreciar os fatores que são
incidem sobre os resultados das ações de decorrentes de fragilidades de sua ação ou
promoção da saúde, quando o marco de fatores alheios à mesma. Esse
referencial da programação em saúde se procedimento tem duas dimensões
pauta no reconhecimento dos significativas: de um lado contribui para o
determinantes sociais da saúde. aperfeiçoamento profissional individual e
Avaliações mais complexas, que de outro para o da categoria, na medida
exigem um aparato de pesquisa, têm sido em que o relato da experiência pode ser
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partilhado e apreciado pelos demais Os indicadores devem ser definidos


profissionais. de forma a descrever acuradamente como
Nessa linha, manter um sistema o atual desempenho se relacionam
mínimo de controle e avaliação é [sic]com a missão, com os objetivos
fundamental, sendo que tal pode ser estratégicos e as metas. Todo indicador
realizado a partir da construção de tem uma medida de resultado, que é
indicadores de processo, de eficácia e de expresso em termos idênticos aos do
efetividade (impacto). Na avaliação o objetivo ou meta que deverá medir.
indicador é a unidade que permite medir o (BRASIL/MARE, 1998, p. 28).
alcance de um objetivo ou de uma meta. Um bom indicador deve apresentar
Ele traduz, de maneira objetiva, os os seguintes requisitos, para ser
resultados da ação executada e está adequado: ser compreensível, abrangente
vinculado ao objetivo e a meta. Cada um e de fácil aplicação, permitir uma única
dos objetivos deve conter alguns (poucos e interpretação, adequar-se ao processo de
significativos) indicadores. coleta de dados existentes, ser passível de
Deve-se montar um sistema de ser implementação, ser preciso e oferecer
monitoramento/acompanhamento do subsídios para futuras decisões.
projeto, indicando com clareza quais são Outro ponto importante é marcar a
os instrumentos que serão utilizados para periodicidade com que vai se realizar a
o registro das ações desenvolvidas, avaliação, estabelecendo rotinas e
gerando um sistema de informações sobre procedimentos técnico-administrativos para
as mesmas. Este sistema deve ser simples tanto. Normalmente a definição dos prazos
para que possa ser implementado e é fixada pela agência financiadora, e em
suficiente para fornecer as informações. administrações públicas tal definição é
Ressalta-se que os instrumentos flexível, ainda que devesse ser anual,
são os que a instituição utiliza para seus como um bom procedimento democrático.
registros, devendo apenas serem Quando o assistente social tem
readequados para a futura utilização. Um autonomia, deve organizar os cronogramas
sistema de avaliação de processo, com para que, pelo menos anualmente, faça- se
ênfase na eficácia, não é tão difícil de ser uma avaliação da eficácia e eficiência da
montado, articulando os itens do planejado ação. Tal procedimento não desconsidera
com a construção dos registros os processos avaliativos coletivos com a
necessários. equipe de saúde.
Esse é o momento de se definir A divulgação dos resultados obtidos
alguns indicadores "chaves". Sendo é imprescindível, pois é o que garante a
medidas indiretas confiabilidade na instituição e o apoio
para colher informações, a popular ao que vem sendo desenvolvido.
construção dos indicadores implica um Diversos instrumentos vêm sendo usados
trabalho muito delicado, pois não existem nessa divulgação, desde reuniões com
maneiras codificadas de estabelecê-los, e participação de segmentos organizados da
tanto a sua construção como qualquer sociedade civil até publicações, como
decisão a respeito têm um caráter boletins e informativos periódicos. O
arbitrário, pois é preciso utilizar debate sistemático dos resultados das
pressupostos que não podem ser avaliações favorece o controle social e
confirmados (SULBRANDT, apud contribui para a reprogramação das ações
CARVALHO, 1997, p. 129). A sugestão é e serviços de saúde.
que se estabeleçam alguns indicadores
para cada objetivo para posterior
avaliação.

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