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O Dilema de Pluto

Ao ler sobre a 2ª Tópica de Freud, é impossível não ficar impressionado com sua
descoberta. Através da Teoria da Personalidade, ele nos revela as três instâncias que
existem na psique humana e o conflito que existe entre elas.
A primeira delas é o ID - Princípio do prazer. Sendo o primeiro que nasce com o bebê, o
ID é responsável pela satisfação do desejo. Para ele, tudo é permitido pois o que
importa é a satisfação do prazer. Para i ID tudo é possível e não existe proibições.
Conforme Freud o segundo é o Superego. Trata-se do princípio da censura que vai se
formando aos poucos a medida em que a criança vai crescendo e começa a entender
as regras que vão lhe sendo ensinadas. Extremamente rigoroso e moralista, é ele que
vai contra os desejos do ID impondo barreiras e proibições.
Como mediador entre o ID e o Superego está o Ego que é o Princípio da realidade.
O Ego fica no meio da disputa entre o que se deve ou não fazer. A função do Ego é
equilibrar os infindáveis desejos do ID com o a rigidez da censura do Superego.
Não é uma tarefa fácil para o Ego que além de ter que lidar com as disputas internas,
lida também com os fatores do mundo externo e por conta disto batalhas e mais
batalhas são travadas na mente de cada um.

Muita gente não sabe, mas esse assunto já vem sendo ilustrado nos desenhos
animados a muito tempo. Autores de quadrinhos e curtas metragem não pouparam
criatividade para mostrar de forma animada e em algumas vezes nem tão animada
assim, as lutas que são travadas na mente de cada um quanto a fazer a escolha certa.
Utilizando-se de um personagem interessante, o autor nos mostra o quão difícil é
muitas vezes tomar uma decisão diante do conflito sobre o que é certo ou errado.
Um exemplo clássico do que estamos falando, foi retratado num dos desenhos do cão
mascote de Mickey Mouse chamado Pluto. O personagem Pluto foi criado pelo célebre
Walt Disney nos anos 30 e logo de início, nos primeiros desenhos, conquistou o
coração de crianças e adultos.
Uma das características de Pluto era a sua personalidade que se comparava a de um
ser humano e o seu sucesso foi tão grande que ele apareceu em mais de 50 episódios
de desenhos e em mais de 100 filmes da Disney.
Um desses episódios de Pluto marcou a história dos desenhos animados de uma forma
especial. No contexto do desenho podemos perceber que a proposta do autor foi de
mostrar para o público com base na 2ª Tópica de Freud os conflitos que muitas vezes
surge em nossas vidas no cotidiano entre o ID e o Superego e nesse episódio Pluto
viveu um dos seus grandes dilemas entre querer e poder.
Trata-se do desenho “Lend a Paw – de 1941” – traduzido em português “Mê de uma
pata”.
O desenho inicia numa manhã de inverno com Pluto farejando sobre a neve. Pluto,
que vivia feliz junto com seu dono Mickey em uma casa de campo, está caminhando
pela neve quando vê um pequeno saco amarrado que segue pela correnteza do riacho.
O saco que se equilibrava sobre uma pequena placa de gelo, cai na água. Pluto pula no
riacho apressadamente e o resgata.
Para a surpresa do cão o saco se abre e um pequeno gatinho sai para fora. Foi um
choque para Pluto. De imediato ele tenta se livrar do felino o afugentando e saindo
rapidamente do local.
Sem que Pluto percebesse, o gatinho o seguiu até sua casa e entrou. Mickey ao ver o
gatinho entendeu que era amiguinho de Pluto e ficou muito feliz com o visitante.
Mickey alimenta o gatinho na tijela de Pluto. O cão ao ver essa cena fica com ciúmes e
com muita raiva. Foi exatamente nesse momento que “saiu da cabeça” de Pluto uma
miniatura sua em forma de diabo com capa e tridente.
O diabinho começa a dar idéias de como se livrar do pequeno gato e isso deixa o cão
empolgado. Foi nesse instante que surgiu também uma outra cópia de Pluto só que
com asas e roupas angelicais. Era uma miniatura de Pluto em forma de anjo.
O ser angelical procura lhe convencer de que as ideias do diabinho não são legais e que
se forem colocadas em prática podem trazer consequências ruins para ele.
Durante toda a trama, Pluto viveu essa batalha entre seu lado demoníaco que queria
se livrar do gatinho e seu lado angelical que o exortava a não fazer aquilo. Pluto passou
por algumas situações ruins por dar ouvidos ao seu lado demoníaco e no final quem
vence a disputa é o seu lado angelical deixando clara a proposta do desenho.
Aos telespectadores ficou a mensagem de que fazer o bem é a melhor coisa.
O sucesso desse desenho foi tão grande que recebeu um Oscar como melhor curta de
animação.
Outros desenhos famosos vieram depois como Tom & Jerry e O Pica-Pau, trazendo a
mesma proposta de mostrar para o público os conflitos entre ID e Superego que
acontecem dentro da mente de cada um e que o Ego sempre terá que lutar para
encontrar o equilíbrio entre os dois e fazer a escolha certa.
Com certeza essa tarefa não será fácil como o próprio Freud diz: “O pobre do Ego
passa por coisas ainda piores...”

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