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Introdução
Uma das concepções mais conhecidas de Platão é a chamada teoria das ideias ou
das formas. Através dessa teoria, o filósofo tentou oferecer uma explicação para
uma série de questões metafísicas, cosmológicas, políticas e epistemológicas.
Questões como: o que é a realidade? Como podemos conhecer a realidade? Como
o mundo que observamos surgiu? Quem deveria governar a sociedade?
A teoria das ideias está no centro das respostas de Platão para essas questões. A
alegoria ou mito da caverna, que vamos conhecer em seguida, é uma maneira que
o filósofo encontrou de explicar, através de uma metáfora, essa teoria.
A alegoria da caverna
No livro A República, Platão conta uma alegoria para ilustrar vários aspectos de seu
pensamento. Ele convida seu leitor a imaginar uma caverna na qual se encontram
várias pessoas amarradas desde sua infância de tal forma que são incapazes de ver
outra coisa senão o fundo dessa caverna. Elas são incapazes de se virar e olhar em
direção à saída e ver a luz do dia e as coisas que existem no exterior.
A única coisa que viram desde seu nascimento são sombras de animais, pessoas e
objetos projetadas por uma fogueira na entrada da caverna. Comparando a
situação com um cinema moderno, podemos dizer que é como se os prisioneiros
de Platão vivessem acorrentados a um cinema que projeta constantemente sons e
imagens ao longo de toda suas vidas.
Nesse ponto, Platão pergunta, para esses prisioneiros, o que é a realidade? Como
jamais viram outra coisa, assumem que a realidade são aquelas sobras projetadas
no fundo da caverna e conversam sobre essas sombras como se elas fossem seres
reais. Não tendo outra fonte de informação, não tem como saber que essas
sombras são apenas cópias imperfeitas da realidade.
Qual o significado dessa história de Platão? Qual a relação com a sua filosofia?
Toda concepção metafísica que defende duas realidades irredutíveis para explicar
algo, seja o ser humano, seja o mundo, é chamada de dualista.
Platão era dualista em dois aspectos: acreditava que o ser humano é constituído de
corpo e alma e que o mundo é constituído de duas realidades, os objetos
particulares e as ideias. Vamos chamar essas realidades distintas de mundo das
ideias e mundo sensível. O primeiro, naturalmente, porque é composto de ideias
e o segundo porque conhecemos os objetos particulares através da sensação. Ou
seja, conhecemos esses objetos através da visão, paladar, olfato, audição ou tato.
Esses objetos de sensação são materiais, mutáveis e imperfeitos. Tudo aquilo que
observamos é composto de matéria, faz parte do mundo físico. Por essa razão, está
sujeito à mudança. Tome, por exemplo, um cachorro particular. Com o tempo o
cachorro vai envelhecendo e deixará de existir. A matéria que antes o constituía
passará a fazer parte do corpo de outra coisa.
Concebemos uma ideia como algo mental. A ideia de cachorro, por exemplo,
pensamos estar na nossa mente, e não latindo por aí. Cachorros particulares, o meu
cachorro, o cachorro do vizinho existe na realidade, não apenas em nossas mentes.
Mas a ideia geral de cachorro, essa está presente apenas em nossa mente. Platão
pensava de maneira diferente, como veremos em seguida, mas vamos continuar
falando por enquanto de ideias como algo mental.
Sendo assim, não é difícil de aceitar que uma ideia seja imaterial. Como imaginar
que a ideia que tenho de cachorro seja feita de matéria? Ela faz parte da nossa
mente, que não pode ser feita de matéria. Que combinação de átomos, por
exemplo, formaria a ideia de cachorro?
Da mesma forma, ideias são perfeitas. Tomemos, como exemplo, a ideia de círculo.
Ele não tem nenhuma imperfeição, ao contrário do círculo que desenhamos por aí,
que nunca sai perfeito.
Por fim, ideias são imutáveis. Por exemplo, nossa ideia de círculo é a mesma da de
Euclides. Dois mais dois somam quatro hoje, o mesmo que pensavam os gregos.
Alguém pode dizer que tem a ideia de um círculo quadrado. Nesse caso, Platão
diria que a pessoa em questão não tem uma ideia verdadeira do que é um círculo,
já que o que um círculo realmente é não muda, é igual para todos, em qualquer
época e lugar.
Platão acreditava que o mundo era constituído por duas realidades distintas, o
mundo das ideias e o mundo dos objetos particulares. Cada um com características
opostas.
Para Platão, as ideias não são ideias mentais, não são coisas que estão na cabeça
das pessoas. Além disso, também não são formadas a partir da observação de
objetos particulares e, o que é talvez o ponto mais polêmico, existem antes dos
objetos particulares. Isso mesmo, Platão está dizendo que a ideia de cachorro existe
antes do próprio cachorro. Como assim?
Portanto, para Platão o mundo de objetos que vemos a nossa volta é uma cópia de
ideias que já existiam e sempre existiram. Lembremos que as ideias são imutáveis.
Disso decorre que elas não têm nascimento nem fim, mas sempre existiram.
Podemos imaginar todo esse processo da seguinte forma. Imagine que é páscoa e
está passando em frente a uma loja de chocolates. Você observa então vários
coelhos feitos de chocolate, todos iguais. É verdade, com um olhar mais atento, é
possível ver algumas imperfeições, mas ainda assim é possível dizer que todos são
iguais. Vendo isso, você conclui que todos foram produzidos a partir de uma
mesma forma.
Para Platão, a relação que existe entre os objetos particulares e as ideias ou formas
era a mesma que existe entre o coelho da vitrine e a forma usada para produzi-lo.
Ou seja, primeiro vem a forma, depois o coelho. Primeiro vem a ideia de círculo,
depois o círculo. Primeiro vem a ideia de casa, depois a casa. Primeiro vem a ideia
de cavalo, depois o cavalo.
A razão e os sentidos
O mundo de objetos particulares que nos cercam é conhecido através dos sentidos
(órgãos sensoriais). Quer dizer, você sabe que a cor da letra que está lendo agora é
preta porque está olhando para ela e é isso que seus olhos mostram. Sabemos a
cor e a textura do pelo de nosso cachorro de estimação porque podemos ver e
tocar.
Cidadão ateniense: Sim, claro que sim. Eles estão sempre brigando.
Conhecimento e opinião
Qual a natureza do conhecimento que adquirimos ao observar um cachorro, por
exemplo? E qual a natureza do conhecimento que temos quanto, através do uso de
nossa razão, somos capazes de compreender a ideia de cachorro?
A alegoria criada por Platão tem vários pares de opostos, e cada um desses pares
está associado a certos aspectos de sua teoria.
Por outro lado, alguns indivíduos querem conhecer o que é real, querem ir além
das sombras que é o mundo sensível. Esses indivíduos são, tal como o prisioneiro
que é libertado, capazes de contemplar a verdadeira realidade, ou seja, o mundo
das ideias. Segundo Platão, essas pessoas são os filósofos, que usam a razão, a
dialética para conhecer a realidade tal como ela é.