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Part e 2 Dissert ação - Rede Amazônica de Rádio e Televisão e seu processo de regionalizaçã…
Eula Cabral
Resumo
A globalização da comunicação possibilitou, além da quebra de barreiras, o apego das
pessoas às suas raízes. Para entender como se dá a regionalização da mídia televisiva
brasileira, analisa-se como o local vem ganhando evidência no Brasil e o processo de
regionalização da mídia no país. A partir de pesquisas bibliográfica e documental, realizadas
desde 1997, verificou-se que: a regionalização da mídia brasileira é necessidade dos meios
de comunicação, principalmente da televisão, que vêm se organizando para conquistar a
fidelidade do público que busca preservação da cultura e informações de qualidade ligadas
à sua realidade; a programação televisiva das capitais dá enfoque aos trabalhos e
necessidades das comunidades; os conglomerados midiáticos nacionais, desde os anos 90,
investem nas afiliadas, aumentando o espaço para a programação local.
1
Eula Dantas Taveira Cabral é Doutora e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP), professora e pesquisadora universitária, jornalista e editora do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
(www.comunicacao.pro.br/setepontos). Participa dos seguintes Grupos de Pesquisa registrados no CNPq: Centro de
Pesquisas e Produção em Comunicação e Emergência – EMERGE (UFF) e Núcleo de Pesquisa sobre Mídia Regional e
Global (UMESP). Email: euladtc@comunicacao.pro.br.
REGIOCOM 2006 - GT 2: Mídia Sonora e Audiovisual
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retransmitem as grandes redes nacionais e valorizam o jornalismo local como uma forma de
fortalecimento dos pólos de poder” (1991, p.186).
Regionalização da mídia
O processo de regionalização, de acordo com Regina Festa e Luiz Santoro (1991, p.180), foi
percebido no início dos anos 80, do século passado, com as transformações ocorridas nos
meios de comunicação. Época em que cresce o número de emissoras de televisão, são
lançados satélites domésticos, aparecem emissoras em UHF e parabólicas, corporações
internacionais passam a investir mais em radiodifusão e telecomunicações e são formadas
redes regionais de televisão.
Gisela Ortriwano (1985, p.28) já analisava o rádio, nos anos 80, sob o ângulo regional. Para
a pesquisadora, a programação nacional de uma emissora “deixou de ter razão de existir,
voltando-se mais para os aspectos regionais, ligado à comunidade em que atua”. E, mesmo
tendo características nacionais, “hoje em dia, a interligação se faz através de emissoras
regionais”.
Renato Ortiz (1988, p.54) vai além. Em seus estudos verificou que em São Paulo, nas
décadas de 30, 40 e 50, o rádio já tinha características locais, se pautando segundo um
padrão regional. Período em que os anunciantes acompanhavam as apresentações das
radionovelas na cidade e no Rio. “A exploração comercial dos mercados se fazia, portanto,
regionalmente”.
Para Anamaria Fadul (1976, p.50), desde a década de 70, o rádio tem caráter regional. Pois,
mesmo com o surgimento da televisão e a difusão do transistor nas regiões afastadas, ele “é
o veículo de comunicação mais difundido no Brasil, como também ele passa a ser
considerado como uma das principais formas de comunicação regional”. Além disso, “o
rádio, na medida em que tem um alcance mais curto, está de certa forma ligado ao contexto
social, político e econômico de uma região”.
Paulo Scarduelli (1996, p.19), ao analisar o maior grupo regional do país, a Rede Brasil Sul,
percebeu que “a regionalização da TV não é um tema de interesse apenas verde-amarelo. A
partir da década de 70, o assunto passou a atrair a atenção de pesquisadores, empresários
e políticos de países da América Latina e Europa”. Porém, observa que somente “nos anos
80 que os projetos se realizaram”. No México, por exemplo, em 1972 é inaugurado o centro
regional de produção de Oaxaca integrado à Rede de Televisão Cultural do país. Na
Alemanha, as redes regionais de TV e rádio começam a funcionar após a 2ª Guerra
Mundial.
Mas, é interessante observar também como se dá o processo de regionalização em cada
país. Na Inglaterra, a BBC tem uma política de incentivo à produção local, exibindo todas as
noites um noticiário de meia hora. Na Espanha, existiam, até 1996, 16 televisões locais na
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Catalunha e as redes regionais TVE 1 e 2 com produções dos centros regionais. Na Itália, a
RAI 3 exibe informações para cada região. Já no Japão, até mesmo as concessões de
emissoras comerciais são em caráter regional, sendo que as regionais têm melhores
anunciantes e programas.
Aníbal Orué Pozzo (1998, p.91) constatou que no Paraguai a estrutura dos meios de
comunicação possibilita que as informações sejam tratadas regionalmente, pois as
empresas de televisão voltam-se para esta realidade.
Esta regionalización – en tiempos de globalización – asume características propias del
medio paraguayo. Algunos modelos son impuestos a las diferentes prácticas locales.
Periodistas son entrenados en las empresas de la capital, Asunción, quienes por su vez, son
entrenados en grandes centros de producción de la información.
quase todos os 200 municípios dos Estados Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; e o Grupo
Verdes Mares, em 92% do Estado Ceará.
É interessante observar que os conglomerados midiáticos brasileiros nacionais têm relação
direta com os regionais, como é o caso da Rede Globo com afiliadas em todo o país,
retransmitindo sua programação. Além disso, tanto os pequenos quanto os grandes grupos
de comunicação têm parceiros internacionais.
A Rede Brasil Sul (RBS) é o maior conglomerado regional do Brasil. Para Dulce Cruz (1996)
a visão de negócio ligada à administração profissional e à produção e participação no
momento político foram essenciais para o crescimento da RBS. Principalmente porque
valorizou o padrão global com novas tecnologias, mas não abriu mão da programação
regional. Conforme Paulo Scarduelli (1996), a regionalização proposta pela Rede inclui os
limites geográficos, os traços culturais e o tamanho de cada mercado, pois atua nas
principais cidades dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A Rede Brasil Sul, afiliada da Globo, de acordo com Cruz (1996), iniciou suas atividades em
1953, com um escritório de representação de emissoras e jornais do interior do Rio Grande
do Sul. Hoje, de acordo com os registros do grupo, possui a RBS Rádio – com 24 emissoras
de rádio e a Rede Gaúcha Sat de rádio, com 110 emissoras afiliadas, distribuídas em nove
estados brasileiros; a RBS Televisão que possui 18 emissoras de TV afiliadas à Rede
Globo, sendo 12 somente no Rio Grande do Sul, e duas emissoras locais (TV COM ) que
transmitem para os municípios da Grande Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) através
dos sistemas UHF e TV a cabo – porém, a RBS TV/SC é a líder de audiência; e a RBS
Jornal – com seis jornais: Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário de Santa Maria, Diário
Catarinense e Jornal de Santa Catarina.
A RBS também tem: a RBS Online – com o portal de Internet clicRBS, voltado para o Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, e o portal Agrol que presta assessoria ao produtor rural,
podendo ser acessado pelo clicRBS; RBS Rural – unidade corporativa voltada para o
agronegócio com: a Rádio Rural, o Canal Rural, o site Agrol e a empresa Planejar que
trabalha com educação rural, softwares para gestão de propriedades rurais, e
rastreabilidade e certificação de origem bovina – com produtos e clientes em todos os
Estados brasileiros, no Mercosul e Chile. A preocupação com a agropecuária se deve ao
Estado ser considerado uma das referências em carne bovina no Brasil.
Tem, também, a RBS Publicações – que concebe e produz projetos editoriais para leitores
dos jornais do grupo e público em geral através da distribuição em livrarias; RBS Eventos;
Direkt – empresa de marketing de precisão; viaLOG, distribuidora dos jornais do grupo,
entrega expressa e e-commerce; a gravadora Orbeat Music que tem dois selos: Orbeat,
voltada para o pop-rock; e o Galpão Crioulo Discos, para músicas regionais. Também tem a
holding RBS Participações S.A., detendo participações na Net Serviços de Comunicação
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S.A, RMD do Brasil S.A. e RBS Interativa. De acordo com Moraes (1998), é sócia da Rede
Globo na NET Brasil, Net São Paulo, Netsat e no consórcio Sky.
Dênis de Moraes (1998) verifica ainda que a RBS conta com uma empresa de rádio
comunicação corporativa - Via 1 – em associação com a International Wireless
Comunications (IWC) dos Estados Unidos. Em relação à privatização da telefonia brasileira,
tudo começou com a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Ela foi a
primeira empresa a abrir capital para a iniciativa privada no Brasil. Integra, também, os
consórcios da Telesp e da telefonia celular em São Paulo.
Para o diretor-presidente da RBS, Nelson Sirotsky, a regionalização transforma pequenas
fatias em grandes bolos. “A regionalização da RBS é não apenas um dos pilares de seu
sucesso, mas também foi a alavanca que proporcionou o desenvolvimento do mercado
publicitário no interior do Rio Grande do Sul e Santa Catarina” (s.d, p.29). Argumenta ainda
que as emissoras da RBS TV servem como
baliza para o crescimento de redes de varejo do interior dos dois Estados em que atuam.
Várias redes optaram por criar novas unidades em cidades que se encontrem dentro da
área de cobertura de uma mesma emissora da RBS – o que maximiza a penetração junto ao
público e faz com que se obtenha uma melhor relação custo-benefício (Mercado Global nº
98, s.d, p.32).
Walter Clark (1975), ao fazer uma análise sobre a TV como veículo de integração nacional,
afirma que a televisão “é uma indústria de comunicação, sujeita, como qualquer indústria, às
leis de economia de mercado” (1975, p.37). Para Clark, um canal de ofertas de bens e
serviços do país. Assim, para ser eficaz necessita divulgar os bens e serviços oferecidos,
investigando a realidade socioeconômica cultural à qual está integrado, sendo um dado
positivo dessa realidade.
Assim, com uma característica empresarial, a Rede Globo de Televisão se tornou a maior
rede nacional de televisão se expandindo em todo o território com várias afiliadas, uma vez
que era proibida, legalmente, a posse de mais de cinco emissoras por empresa. “Com a
expansão das redes, este sistema (de afiliadas) tem se mostrado o mais viável para as
emissoras independentes” (Bolaño, 1988, p.109).
A proibição legal e as mudanças ocorridas na mídia fizeram com que os grupos regionais
ganhassem força e se expandissem em suas regiões. Na Região Norte, por exemplo, a
Globo afiliou os principais por terem qualidade técnica e de pessoal, atingindo o padrão
global, além de abrangerem, com suas transmissões, a maioria dos municípios. São eles:
Rede Amazônica de Rádio e Televisão, Organizações Rômulo Maiorana e Jaime Câmara.
Em 1998, o presidente da Associação Brasileira de Fornecedores da TV por Assinatura
(Abraforte), Walter Longo, por exemplo, verificou que a globalização alinhava os veículos de
comunicação de massa e, ao mesmo tempo, multiplicava os menores, como os
comunitários, valorizando o local.
Quem mora hoje em condomínio fechado está menos preocupado com o que acontece em
Mato Grosso ou no mundo do que no próprio condomínio, onde existe uma TV comunitária
que fala dos problemas da vizinhança e da olimpíada interna da qual seu filho participa; há
uma simultaneidade de pensar no universal e na rua.2
2
Opinião dada por Walter Longo na matéria Internacionalização da Mídia, Anuário de Mídia 98/99, p. A28.
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Hoje, a Rede Globo exibe na cidade do Rio de Janeiro um jornal local, em três horários, às
6h30, 12h e 18h, difundindo notícias da cidade e da Baixada, discutindo e buscando
soluções para problemas enfrentados pelos moradores (que telefonam ou enviam email
para a emissora propondo pautas), além dos eventos culturais. Os concorrentes diretos –
Bandeirantes, Record e Rede TV, também seguem a mesma linha, porém, além do jornal,
também abrem espaço para programas de entretenimento, em busca do cidadão
fluminense.
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