Você está na página 1de 344

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM

AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 1 25/09/2012 15:21:32


JOSÉ ANTÓNIO SOUTO CABO

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM


AS CANTIGAS

APROXIMAÇÃO ÀS ORIGENS
SOCIOCULTURAIS DA LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA

Niterói/RJ 2012

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 3 25/09/2012 15:21:32


SUMÁRIO

PRÓLOGO........................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

CAPÍTULO I
JOÃO VÉLAZ (OCCITANO-)CATALÃES NO REINO GALAICO-
LEONÊS ............................................................................................................ 15
1. A peça chave: João Vélaz ..........................................................................17
2. Pôncio de Cabrera, maiordomus imperatoris ............................................21
3. Os Cabreras e o trovadorismo ...................................................................25
4. Sancha Ponce e Vela Guterres ...................................................................31
5. Johannes Velaz...........................................................................................35
6. Outros descendentes de Pôncio II Geraldo ................................................41
7. Minervas e Urgéis ......................................................................................46

CAPÍTULO II
JOÃO SOARES DE PAIVA............................................................................... 55
1. João Soares, o Trobador ............................................................................57
2. A poesia na história ....................................................................................71

CAPÍTULO III
OSÓRIO EANES – LIMAS & TRAVAS .......................................................... 79
1. O trovador Osório Eanes e a personagem histórica...................................81
2. Genealógica ...............................................................................................87
3. João Airas de Nóvoa e Urraca Fernandes de Trava .................................103
4. Dom Gonçal’ Eanes, o Boo ..................................................................... 112
5. Ego Osorius Johannis, miles ................................................................... 116
6. Os seus versos de amor............................................................................120
7. Airas Oares ..............................................................................................121

CAPÍTULO IV
TROVADORES GALAICO-MINHOTOS ...................................................... 125
1. Pedro Pais Bazaco ..................................................................................127
2. Fernando Pais de Tamalhancos................................................................133
3. Airas Moniz de Asma e Diogo Moniz .....................................................135
4. João Soares Somesso ...............................................................................140
4.1. Ego domnus Johannes Suerii, dictus Submessu..........................140
4.2. Ogan’ en Muimenta .....................................................................161

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 5 25/09/2012 15:21:32


CAPÍTULO V
EN CASTELL’ E VAS PORTEGAU ............................................................... 165
1. Ego don Rodrigo Diaz de los Camberos .................................................167
2. Garcias Menendi, felicis recordationis....................................................175
3. Don Pedro Rodriguiz da Palmeira ..........................................................183

CAPÍTULO VI
D. JUIÃO ......................................................................................................... 187
1. O nome e a identificação do poeta ...........................................................189
2. D. Cotalaia e o seu grupo familiar ...........................................................191
3. Domnus Giao ...........................................................................................195

CAPÍTULO VII
NA CORTE DE D. RODRIGO GOMES DE TRAVA (E URGELL) .............. 199

CAPÍTULO VIII ....................................................................................................


RAIMBAUT DE VAQUEIRAS E A LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA..... 207

CAPÍTULO IX
PERO BE VOLH QUE·L REIS FERANS AVIA MO VERS E·L REIS
N’ AMFOS! ...................................................................................................... 217

ANEXO I
ESQUEMAS GENEALÓGICOS .................................................................... 237

ANEXO II
DOCUMENTAÇÃO ........................................................................................ 255

FONTES DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 321


1. Siglas .......................................................................................................323
2. Bibliografia ..............................................................................................326

6 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 6 25/09/2012 15:21:32


PRÓLOGO

Entre as pessoas interessadas pela lírica galego-portuguesa, so-


mos muitos os que estávamos convencidos de que o ponto de partida dessa
tradição tinha que estar na Galiza e no mesmo século XII (ainda que fosse
nas últimas décadas). No entanto, não o conseguíamos demonstrar, porque
– no máximo – chegávamos a identificar peças soltas de um mosaico para
o qual não tínhamos um modelo que nos ajudasse a decidir onde e como
dispor cada uma dessas tesselas. Também pensávamos que as cortes de
Fernando II e, nomeadamente, a de Afonso IX – reis da Galiza e de Leão,
que preferiram ser sepultados na catedral de Santiago a sê-lo no panteão
real de S. Isidoro de Leão – tiveram uma importância essencial, da mesma
forma que as famílias nobres mais poderosas desse período.
Era patente também que os Travas tinham algo a ver, porque uma
das razós mais significativas dos nossos cancioneiros menciona explicita-
mente a “cas dona Maior”, como salientava Yara Frateschi Vieira no seu
belo e rigoroso livro sobre o tema. Mas surgiam no meio outros nomes de
famílias igualmente destacadas, e nem sempre era evidente o seu relacio-
namento com a Galiza.
Com este livro de José António Souto, as peças começam a
encaixar, e o mosaico adquire forma. Alguns dados já os tinha adiantado
em trabalhos prévios, mas é agora que podemos observar com relativa
facilidade como um dos fios condutores são as mulheres da família Trava,
uma família poderosa que pôs em prática uma política matrimonial que a
fez aparentar-se com todas as linhagens relevantes da época (uma época,
por outra parte, bastante ampla). Desse modo, são bastantes os trovadores
que ou bem pertencem – por via materna – a esse núcleo fundamental, ou
com ele se relacionam de algum modo.
O autor realizou uma pesquisa atenta e aprofundada em docu-
mentos ainda inéditos, dos quais ele mesmo oferece uma edição, e foi

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 7 25/09/2012 15:21:32


relacionando dados com todo o cuidado, para que não lhe escapasse das
mãos qualquer elemento que permitisse identificar os trovadores de que
trata (e, em não poucos casos, outros membros relevantes das suas fa-
mílias). Graças a este trabalho minucioso, pôde mesmo identificar laços
com a tradição provençal e desvendar uma atividade cultural importante
na Galiza do século XII, coerente com a produção de obras latinas como
o Liber Sancti Jacobi ou a Historia Compostellana e com o “obradoiro”
artístico da catedral. Convém não esquecer que alguns desses nomes cuja
pista segue têm a ver com o cabido catedralício.
Temos muito que agradecer a José António Souto. A sua infinita
paciência e a sua paixão por estas questões deram como resultado um fruto
saboroso do qual todos poderemos tirar proveito a partir de agora. Este livro
constitui um marco fundamental no conhecimento das primeiras gerações
de trovadores galego-portugueses e referência obrigatória para todos os que
se ocupem – aguardamos que num futuro imediato – do tema.

Mercedes Brea

8 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 8 25/09/2012 15:21:32


INTRODUÇÃO

A análise das fontes diplomáticas galegas, por causas que ini-


cialmente não estavam vinculadas ao estudo da poesia galego-portuguesa,
permitiu-nos rever a biografia de alguns poetas como Nuno Eanes Cêrceo,
Airas Fernandes Carpancho ou Pedro Garcia de Ambroa. A pesquisa desen-
volvida forneceu alguns indícios, cronológicos e socioculturais, que sugeriam
a necessidade de abordar, com uma perspetiva nova e abrangente, o proble-
ma da emergência efetiva dessa manifestação cultural no noroeste ibérico.

B, fól. 137v

Esta folha adeante se começam as cantigas d’ amigo que fezeron


os cavaleiros, e o primeiro é Fernan Rodriguit de Calheiros. A rubrica com
que se abre a secção das cantigas de amigo em B (fól. 137v) e V (fól. 33r)
constitui um testemunho explícito sobre a preexistência de uma coletânea
poética – anterior à compilação geral – baseada num critério sociológico:
a pertença dos seus membros ao estamento aristocrático. Por sua vez, essa
recolha revela uma organização interna de natureza cronológica, pela qual
a maior ou menor antiguidade tende a refletir-se em posições mais ou me-

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 9 25/09/2012 15:21:32


nos altas. É consensual reconhecer nessa primeira sequência de nomes o
grupo humano que nos aproxima das origens do nosso trovadorismo. Só
o conhecimento pormenorizado da esfera social em que se integrou esse
conjunto de poetas é que nos permitirá definir, com alguma segurança, o
contexto histórico em que se instituiu o movimento cultural em questão,
propósito central deste trabalho.
O interesse por esse mesmo objetivo correu paralelo ao desenvol-
vimento das investigações sobre a poesia galego-portuguesa. Antonio López
Ferreiro e Carolina Michaëlis de Vasconcelos, com propostas diversas, po-
dem ser considerados os pioneiros nessa investigação. Em tempos recentes,
também se debruçaram sobre o assunto: Giuseppe Tavani, António Resende
de Oliveira, Mercedes Brea, José C. Miranda, Yara Frateschi Vieira, Xosé R.
Pena ou Henrique Monteagudo. Não existiu, até à atualidade, uma opinião
unânime a esse respeito, já que encontramos duas teses diferentes. Por um
lado, aqueles que situam os primeiros passos da canção cortês em galego-
-português fora do espaço em que esse idioma é a modalidade linguística
funcional (Oliveira, Miranda). Por outro, a postura que assume as origens
autóctones do fenômeno (Tavani, Brea), entendimento compartilhado pela
obra que agora apresentamos.
Para além do importante contributo dos autores referenciados
no parágrafo anterior, a nossa pesquisa viu-se favorecida por progressos
assinaláveis no âmbito historiográfico, quer no que diz respeito à publicação
de fontes documentais, quer no campo dos estudos sobre a aristocracia dos
reinos centro-ocidentais da Península. Nesta última área, são de citar, entre
outros, os nomes de Simon Barton, Inés Calderón Medina, J. M.ª Canal,
Ernesto Fernández-Xesta Vázquez, José Paulo Ferreira, José Luis López
Sangil, José Mattoso, M.ª C. Pallares, Augusto Pizarro, Ermelindo Porte-
la, Jaime Salazar Acha, Margarita Torres Sevilla ou Leontina Ventura. A
informação bibliográfica foi complementada pela pesquisa em diferentes
arquivos, sobretudo no Arquivo da Catedral de Ourense, no Arquivo da
Catedral de Santiago (ACS), no Arquivo Histórico Nacional (AHN) ou no
IAN/Torre do Tombo de Lisboa.
Do ponto de vista cronológico, este estudo abarca, em essência, o
espaço temporal que vai desde o momento em que, possivelmente, surgiram
as primeiras manifestações do trovadorismo no noroeste da Península (c.

10 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 10 25/09/2012 15:21:33


1170) até ao ano de 1230, quando os reinos da Galiza e de Leão, à morte
de Afonso IX, passam a ser governados pelo rei de Castela, Fernando III.
Portanto, a nossa atenção centrou-se naqueles compositores cuja atividade
poética se pode situar, no todo ou em parte, antes dessa última data. Esse
grupo integra um número elevado de personalidades de biografia incerta
ou imprecisa, inclusivamente por motivos onomásticos. Foi, assim, neces-
sário esclarecer ou repensar a identidade de poetas como: Airas Moniz de
Asma, Airas Oares (até agora conhecido como Airas Soares), Diogo Moniz,
Fernando Pais de Tamalhancos, Fernando Rodrigues de Calheiros, Garcia
Mendes de Eixo, João Soares Somesso, João Vélaz, D. Juião (até agora
conhecido como D. Juano), Osório Eanes ou Rui Gomes o Freire.
Porém, o resultado de maior relevo da investigação prosopográfica
consiste no reconhecimento das estruturas sociais e de parentesco como
vias preferenciais para a difusão da canção trovadoresca. Aliás, numa
época caraterizada por um intenso grau de homonímia, essa constatação
constitui um apoio metodológico muito eficaz para definir a personalidade
histórica dos poetas estudados. A necessidade de explorar aquelas vias fez
com que alargássemos o horizonte da nossa pesquisa, de modo a incluir,
no possível, aqueles espaços socioculturais imediatos dos trovadores em
foco. Do anterior deriva um conjunto notável de dados que se retrotraem,
em muitos casos, à primeira metade do séc. XII ou mesmo a períodos an-
teriores. Conquanto o volume de informação possa parecer ocasionalmente
excessivo, preferimos deixar registrado tudo aquilo que seja suscetível de
aproveitamento presente ou futuro.
A apresentação (seletiva) e a articulação da informação dispo-
nível são aspetos que suscitaram múltiplas dúvidas e dificuldades. Na
origem desse obstáculo está a enorme assimetria (em magnitude, natureza
e pertinência) entre os diversos dados disponíveis. Com efeito, em face
à hipertrofia de uma parte da informação histórica, deparamo-nos com
notáveis lacunas no que se refere à cultura e, sobretudo, ao domínio (para)
literário. Lembremos, por exemplo, que a produção poética dos trovadores
estudados se encontra dizimada, por causa dos acidentes sofridos pela, já
seletiva, tradição manuscrita do nosso lirismo. O extravio dos três bifólios
interiores do segundo caderno de B, somado à acefalia de A e V, derivou no
desaparecimento de (pelo menos) vinte e quatro cantigas correspondentes a

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 11

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 11 25/09/2012 15:21:33


sete trovadores, dos quais só João Soares de Paiva reaparece noutra secção.
Felizmente conhecemos a existência deles graças à Tavola Colocciana
(provável índice de B), onde além do Paiva achamos: Pedro Pais Bazaco,
João Vélaz, D. Juião, Pedro Rodrigues da Palmeira, Rodrigo Dias dos
Cameros e Airas Oares. Trata-se de alguns nomes incontornáveis para nos
aproximarmos do momento inaugural do nosso trovadorismo.
O desenho dos capítulos compósitos que conformam a obra res-
ponde, portanto, a pautas diversas, motivo pelo qual é flutuante o grau de
congruência interna. O capítulo nono, junto com a sua natureza conclusiva,
pretende servir como moldura unitária ao conjunto de informações referidas,
nomeadamente, ao reino da Galiza, berço da manifestação literária em apreço.
O corpo central do trabalho é seguido por dois apêndices: ge-
nealógico e documental. No primeiro apresentamos uma reconstituição
daquelas famílias mais diretamente implicadas no nosso estudo. Trata-se
de esquemas genealógicos parciais, centrados sobretudo nas personagens
relevantes para este trabalho, em que a linha genealógica pode, ocasional-
mente, ser estabelecida por via cognatícia.
O último apêndice inclui um conjunto de 40 escrituras notariais –
identificadas pelo número de ordem entre parênteses retos – e a reprodução
(parcial) do poema Cabra juglar de que foi autor Geraldo de Cabrera (tio
ou sobrinho-segundo de João Vélaz).

A informação pode aparecer sintetizada pelo uso dos símbolos


seguintes:
• {...}: apelido(s) linhagístico(s)
 : filiação
• = / & : união por casamento
• (numeral-numeral): registros temporais (conhecidos) sobre a atividade
de um indivíduo
• (F+letra / numeral): filiação da prole entre vários consortes (só nos
esquemas genealógicos)

Todos os topônimos e antropônimos galegos e portugueses são


regularizados de acordo com as práticas ortográficas portuguesas atuais
ou históricas.

12 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 12 25/09/2012 15:21:33


A elaboração deste estudo foi possível graças ao apoio que,
generosamente, nos ofereceram: Marta Afonso, José Miguel Andrade
Cernadas, Simon Barton, Mercedes Brea, Xosé Luís Couceiro, José Ma-
ría Díaz Fernández, Manuela Domínguez, Francisco Fernández Campo,
Ernesto Fernández-Xesta Vázquez, Joel R. Ferraz Falcão, João Paulo M.
Ferreira, Miguel Ángel González, Aida Sampaio Lemos, José Carlos de
Lera Maíllo, Eduardo Marchena, Benjamim Moreira, António Resende de
Oliveira, Pablo Otero Piñeiro Maseda, Ermelindo Portela Silva, Ricardo
Pichel Gotérrez, José Luís Rodríguez, Miguel Romaní Martínez, Xabier
Ron, Jaime Salazar Acha, Xosé Sánchez Sánchez, José Manuel Uruburu,
Xavier Varela e Yara F. Vieira.
Também agradecemos a colaboração das seguintes instituições:
Archivo Catedralicio de Calahorra, Archivo de la Catedral de Zamora, Ar-
chivo General de Navarra, Archivo Histórico Diocesano de León, Archivo
Histórico Nacional (Madrid), Arquivo da Catedral de Ourense, Arquivo
da Catedral de Santiago, Arquivo da Catedral de Tui, Arquivo Distrital de
Braga, Biblioteca Nacional (Madrid), Arquivo do Reino de Galiza, Cabido
da Catedral de Santiago, Colegiata de S. Isidoro de León, Instituto dos
Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (Lisboa).
Este estudo integra-se nos projetos de investiga-
ção: PGIDIT06CSC20401PR, PGIDIT09SECO23204PR e
PGIDITINCITE09204068PR.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 13

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 13 25/09/2012 15:21:33


CAPÍTULO I

JOÃO VÉLAZ
(OCCITANO-)CATALÃES
NO REINO GALAICO-LEONÊS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 15 25/09/2012 15:21:33


Selo dos irmãos Vélaz (ACZ, maço 17, nº 30 [1193])

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 16 25/09/2012 15:21:33


1. A peça chave: João Vélaz1
A biografia de João Vélaz, trovador conhecido apenas pela Tavola
Colocciana, tem-se revelado como uma chave indispensável para desvendar
as incógnitas que pairam sobre as origens da lírica galego-portuguesa. Com
efeito, a sua identificação com um indivíduo da importante estirpe galega
dos Vélaz, documentado desde 1158 e falecido em 1181, abre uma via para
dissipar, de modo objetivo, as numerosas dúvidas atinentes ao processo de
implantação daquele movimento lírico no noroeste peninsular.

Távola Colocciana, fól. 300r

António R. de Oliveira (1994: 374), a quem se devem as primeiras


hipóteses acerca da integração familiar deste poeta, apontou (inicialmente)
duas possibilidades: a linhagem galega dos Vélaz ou a vasco-burgalesa dos
Vélez de Guevara:
Os livros de linhagens conservam apenas a menção ao conde galego Ponço Velas
de Cabreira, filho de Vela Ponço e de Elvira Peres de Trava [...]. Uma dama da
mesma família, Sancha Ponce de Cabreira, terá casado com Vela Guterres, filho
de Guterre Bermudes, conde de Montenegro, e de Toda Peres de Trava, tendo
um filho e um neto com o nome do trovador [...]. Desconhecemos se o neto,
cuja cronologia se situará na primeira metade do séc. XIII, se poderá identificar

1
Alguns resultados da pesquisa que deu origem a este trabalho já foram apresentados
parcialmente ou de modo sintético (Souto Cabo 2011a, [no prelo/1], [no prelo/2]).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 17

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 17 25/09/2012 15:21:33


com um terceiro João Vele, cavaleiro, que testemunha uma penhora de D. Fer-
nando Gonçalves em 1231 (AHN, Tumbo de S. Salvador de Lorenzana, 90v). A
colocação do autor no início de B, numa zona onde predominam os trovadores
galegos, parece apontar para uma naturalidade galega, embora seja difícil, sem
novos elementos, a sua associação a qualquer dos indivíduos citados. Refira-se
apenas a ligação de dois deles, pelo menos, a uma família – os Travas ou
Trastâmaras – com boas tradições no meio trovadoresco peninsular, através
da figura de D. Rodrigo Gomes.
Fora do ambiente galego, mais propriamente em Castela, um outro “Johannes
Velaz” testemunha uma doação de Afonso VIII ao mosteiro de S. Salvador de
Oña em 1171 [...]. É outra indicação a ter em conta para uma futura identificação
deste autor (a própria grafia do apelido é a que aparece no cancioneiro) tanto
mais quanto se sabe que as primeiras referências a autores peninsulares e as
primeiras composições parecem ter surgido no norte peninsular2.

As alusões posteriores vieram a situá-lo na fase que esse estudioso


denomina “A implantação no Ocidente peninsular” (Oliveira 2001: 158,
176-178), à qual atribui o quadro cronológico de 1220-1240. Essa colocação
supõe identificá-lo com um (incerto) indivíduo referido numa escritura de
1227 copiada no Tombo de Lourençá3, preterindo aquela hipótese que, a
julgar pelo próprio raciocínio, parecia mais plausível: o filho de Vela Gu-
terres e neto da condessa Toda Peres de Trava4.
Lembremos que para A. R. de Oliveira e J. C. Miranda – que já
opta claramente pelos Vélaz-Guevara5 – só cabe falar em implementação

2
Esta personagem foi tenente de Belorado (PSJuan, nº 93 [1165]) e Álava (Ubieto Ar-
teta 1973: 242 [1175]). O seu nome ocorre, no grupo castelhano, entre as testemunhas do
tratado de paz entre Fernando II e Afonso VIII em 1181 (Tombo B, nº 38) como “Iohannes
Velez de Alava, testis”.
3
No excerto acima reproduzido, Oliveira fala do ano 1231, mas o documento é de
1227 (TLourençá, nº 131). Trata-se provavelmente do indivíduo, “iudex et miles”, citado
na documentação de Caveiro entre 1244-1245 (TCaveiro, nº 243, 246, 256) e que será tam-
bém um dos confirmantes de um testamento redigido em Santiago c. 1228-1230 (Tombo
C, fól. 25v).
4
O trabalho monográfico sobre os Travas publicado por López Sangil (2002) constitui a
base para múltiplas informações aqui oferecidas. Contudo, como noutros casos, a revisão
crítica desses dados resultou em algumas divergências interpretativas.
5
“Joan Velaz, com essa mesma grafia na documentação local, é o filho de Vela Ladrón,
homem feito conde nos tempos de Afonso VII. Dele(s) virá a descender a estirpe dos
Guevara, implantada na região de Oña [Burgos], com solar na localidade de Oñate [Gui-

18 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 18 25/09/2012 15:21:33


do fenómeno trovadoresco no noroeste da Península a partir do segundo
quartel de séc. XIII, o que é inconciliável com a cronologia daquele (pri-
meiro) João Vélaz (cf. infra)6. De acordo com essa conjetura, as raízes da
lírica galego-portuguesa são anteriores àquele período cronológico, mas
estariam situadas no nordeste peninsular ou mesmo além-Pireneus7. Tal
proposta é, a nosso ver (Souto Cabo 2011a), um construto elaborado a partir
de suposições pouco verossímeis, que não serve de base para identificar
historicamente a figura de João Vélaz8. Pelo contrário, a possibilidade de
nele reconhecer o filho de Vela Guterres vem avalizada, de modo muito
objetivo, pela profunda solidariedade interna do grupo de poetas analisa-
dos neste trabalho e, como foi frisado, pelo fato de vir a dar uma resposta
coerente à questão das origens do nosso trovadorismo.
Na documentação do último quartel do séc. XII e primeiro terço
do século seguinte, encontramos indivíduos em cujo nome, por via de regra

púscoa]. Embora não se situem ao nível das linhagens mais poderosas, João Velaz nem por
isso está ausente da documentação castelhana, figurando em lugar de relevo nos dois tra-
tados de Afonso VIII de Castela e Sancho VI de Navarra, respectivamente de 1176 e 1179,
e sempre numa posição de fidelidade e compromisso perante ambos os reis, situação que,
como vimos atrás, foi também frequentemente a dos Cameros, afinal consequência quer
da generalização de vínculos de relacionamento feudo-vassálicos, quer do posicionamento
de fronteira característico de ambas as linhagens. Para o reconhecimento desta linhagem
como a do mencionado trovador é também importante ter em conta a indicação fornecida
por Salvador de Moxó segundo a qual, embora o neto de Joan Velaz, Vele Ladron II, tenha
mantido uma posição discreta na sublevação da nobreza contra Afonso X, ocorrida em
1272, nem por isso deixou de manter relações estreitas com Simon Díaz de los Cameros,
filho de Rui Diaz, personagem que verá terminados os seus dias pela acção da justiça do
rei. Ora, como em tão graves circunstâncias não se forjam alianças ou relações ocasionais,
é de crer que a ligação entre os membros destas duas linhagens viesse de trás, tornando
credível pensar que «Joan Velaz trovador» era provavelmente Joan Velaz de Guevara e terá
integrado o núcleo de trovadores que se reuniram em torno de Rui Díaz de los Cameros”
(Miranda 2004: 49).
6
Sancha Ponce e Vela Guterres não tiveram um neto denominado “João Vélaz”, como
supõe Oliveira. Esse neto – filho de Fernando Vélaz e sobrinho de João Vélaz – foi João
Fernandes (cf. infra).
7
“[N]a pesquisa a empreender sobre essas origens, o investigador terá de orientar a sua
atenção não para as regiões do Noroeste peninsular, onde pensaria ser mais natural encon-
trá-las, mas para os reinos castelhano e aragonês e, se necessário, mesmo para o Sul de
França” (Oliveira 2001: 70-71).
8
Quanto às teorias relativas às origens da lírica trovadoresca, sobretudo no respeitante
ao papel da cidade de Santiago, veja-se a lúcida síntese de Vieira ([no prelo]).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 19

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 19 25/09/2012 15:21:33


latino (“Johannes Velaz/Vele/Velez”), descobrimos a denominação “Joan
Velaz” (cf. infra). O antropônimo “Vela” e o patronímico correspondente
encontram-se com alguma frequência no conjunto dos reinos centro-
-ocidentais. Na Galiza, mesmo não sendo tão abundante como no reino
de Leão, a designação em foco, transformada em nome de linhagem, veio
caraterizar uma das grandes famílias do país: os “Vélaz” ou “Velas” (plural
de “Vela”). Como noutros casos, assistimos à recorrência genealógica de
um nome, utilizado pela historiografia moderna, por motivos práticos, para
identificar uma estirpe medieval.
As notícias mais recuadas sobre os Vélaz9 situam o seu berço no
território da Álava atual, de onde terão passado no primeiro quartel do séc.
X para o reino de Leão. O conde Bermudo Vélaz (976-1027) representa
o início da presença dessa linhagem na Galiza, onde o seu neto Rodrigo
Oveques (1063-1089)10 já ostentava o cargo de “comes Gallaetia” em
1075. O conde de Montenegro, Guterre Bermudes (1086-1130), sobrinho
desse último e filho de Bermudo Oveques (1053-1092), está na origem do
ramo que mais interessa ao objetivo deste trabalho. Vela Oveques, irmão
do anterior, é o princípio da geração que atingiu maior notoriedade política
(cf. infra).
Guterre Bermudes, seguindo uma estratégia política que se re-
pete nos Vélaz, irá entroncar com os Travas pelo seu casamento com Toda
Peres (1114-1155) (←Pedro Froiaz de Trava & Maior Rodrigues), enlace
de que resultou Vela Guterres11, pai de João Vélaz. Apesar da vinculação
à Galiza12, Vela Guterres veio a associar-se às terras leonesas próximas da

9
Sobre os Bermudes e Vélaz, veja-se Salazar Acha (1985), Calleja Puerta (2001: 520-
530) e, nas secções correspondentes, Fernández-Xesta (1991), Barton (1997), Torres Sevi-
lha (1999) ou Pardo de Guevara (2000).
10
Rodrigo Oveques esteve casado com uma Toda cujo apelido “Gonçalves” descobrimos
numa carta do Mosteiro de Doçom (DDozón, nº 3).
11
Torres Sevilla (1998: 179) julga – com algumas dúvidas – que um Fernando Guterres
foi irmão de Vela Guterres, porém, Salazar Acha (1985: 51) considera que este último foi
filho único. Sabemos que Toda Peres casou com Fernando Fernandes com quem teve outro
filho, Vasco Fernandes, citado numa escritura de 1181 [D.16].
12
Sobre ele, Torres Sevilla (1998: 188) escreve: “Si Pedro Alfonso representó [...] los
intereses asturianos del linaje, Vela Gutiérrez heredará la vinculación a Galicia de su pro-
genitor, Gutierre Vermúdez”.

20 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 20 25/09/2012 15:21:33


Via da Prata (NW Zamora – SW Leão) dominadas pelo conde catalão D.
Pôncio II Geraldo, visconde de Girona e Àger13, senhor de Cabrera (Gi-
rona). D. Vela irá aparentar-se com este último pelo matrimônio (c. 1145)
com Sancha Ponce, filha de D. Pôncio, com quem teve sete filhos: Rodrigo,
Garcia, Fernando, Pôncio, Pedro, João e Maria Vélaz.
Antes de abordarmos a história deste último grupo familiar,
orientaremos a nossa atenção para a linha central dos Cabreras e para as
conexões desta linhagem com a lírica trovadoresca, aspeto que se afigura
de grande interesse para contextualizar a participação de João Vélaz na
versão galego-portuguesa desse movimento.

2. Pôncio de Cabrera, maiordomus imperatoris


O casamento, em 1128, de Afonso VII com Berengária, filha de
Raimundo Berengário VI, conde de Barcelona, e de Dulce de Provença, foi
o ensejo que propiciou a chegada ao reino galaico-leonês de dois nobres
de origem catalano-provençal, Pôncio de Cabrera e Pôncio de Minerva14.
O percurso político destes magnates pode ser sintetizado com palavras de
Barton (1992: 233): “Aided by the protective cloak of royal patronage, in
the years that followed both magnates became prominent figures at the
Leonese-Castilian court; they received lavish gifts of land from the crown;
and they were granted authority over large areas of the kingdom”. A possível
significação da presença no ocidente ibérico destas duas famílias, oriundas do
espaço em que se gerou o trovadorismo, parece ter passado despercebida para
os estudiosos. O “desinteresse” é ainda mais surpreendente se tivermos em
conta que vários membros dessas linhagens participaram na lírica occitânica
e que o seu papel terá sido decisivo no processo de adaptação dessa corrente
literária no noroeste peninsular. Os Vélaz estabeleceram vínculos com essas

13
É com o nome desta localidade de Lleida, situada a norte de Balaguer, que passou a ser
conhecido o condado do Baixo-Urgell desde a primeira metade do séc. XII.
14
Como veremos, a presença de grandes magnates originários daquela área completa-se
com os condes de Urgell, já estabelecidos nos reinos centro-ocidentais da Península desde
finais do séc. XI. A participação na política galaico-leonesa e castelhana por parte desses
nobres foi analisada, entre outros, por Barton (1992, 1996), Calderón Medina (2007), Ca-
nal (1989a), Martín Rodríguez (1964) etc.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 21

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 21 25/09/2012 15:21:33


duas estirpes catalano-provençais, já que, para além do casamento de Vela
Guterres com Sancha Ponce de Cabrera, o conde Rodrigo Álvares {Vélaz-
-Trava}15 casou com Maria Ponce, filha de Pôncio de Minerva (cf. infra).
Pôncio II Geraldo de Cabrera (1105-1162) era filho de Geraldo
II (visconde de Girona e Àger e senhor de Cabrera) e de Elvira (Peres?
Fernandes?16). Conde desde 1142, mordomo de Afonso VII (1145-1157) e
de Fernando II (1157, 1159-1161), ele exerceu também como tenente no
castelo (berciano) de Ulver (1128), Zamora (1129, 1140, 1142-1150, 1155-
1156), Sanábria (1132, 1154, 1156, 1158-1161), Cabrera17 e Morales (1138,
1146, 1148, 1156), Castrotoraf (1140), Salamanca (1155-1161), Toro (1155-
1156), Leão (1156), Benavente (1159) etc18. A localização dessas tenências
coincide grosso modo com os espaços em que assentava o seu patrimônio
e/ou senhorio: (i) fronteira do Sul (Estremadura leonesa e atual Castilla-La
Mancha), (ii) província de Zamora (Villalpando, Benavente, Sanábria),
(iii) Galiza (Sárria), (iv) Leão-Palência (Castro Calvón, Val de Salce etc.)
(Fernández-Xesta 1991: 95-113). Situam-se, de modo preferencial, nessas
áreas os centros de natureza religiosa a que a família de D. Pôncio esteve
associada: a Sé de Zamora e os mosteiros de Castanheda, Moreruela, No-
gales19, Meira, Samos, Tojos Outos e Sar.

15
Rodrigo Álvares era filho do conde Álvaro Rodrigues de Sárria {Vélaz} e da condessa
Sancha Fernandes (← Teresa de Portugal & Fernando Peres de Trava) (cf. infra).
16
Existem dúvidas sobre o patronímico desta senhora. Se for aceite que um dos seus netos
foi o bispo de Astorga Pedro Cristão, teremos de lhe atribuir o de “Fernandes”, já que esse
último alude à avó como “Elvira Fernandes” (CCarracedo, nº 24). As propriedades desse
grupo familiar situavam-se nas regiões leonesas do Bierzo-Sanábria e nas áreas galegas
limítrofes, nomedamente em Valdeorras (Quintana Prieto 1985: 304). Outros historiadores
consideram que se trata de Elvira Peres, filha do conde Pedro Ansures (Fernández-Xesta
1991: 29-33, Barton 1997: 284, Alonso Álvarez 2007: 676).
17
A terra da Cabrera, limítrofe com a Sanábria, constitui o espaço mais meridional do
Bierzo. O título com que se nomeia a família não deriva dessa região, mas da catalã homô-
nima em Girona.
18
Uma desavença com Fernando II terá motivado a presença de D. Pôncio na corte do rei
Sancho III de Castela por um breve período –outubro de 1157 a maio de 1158-, acompa-
nhado pelo genro Vela Guterres.
19
Afonso VII entregou a vila de Moreruela de Frades, em 1143, a D. Pôncio e por este
aos frades Pedro e Sancho para que nela fosse reimplantada a vida monástica (Moreruela,
nº 4). O mosteiro teve São Tiago como orago (“Sancti Iacobi apostoli de Moreirola”, Mo-
reruela, nº 1 [1042]) até 1162, altura em que aparece como instituição bernarda dedicada a

22 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 22 25/09/2012 15:21:33


D. Pôncio Geraldo casou duas vezes, a primeira com uma
Sancha (Nunes?)20, presumivelmente filha do conde Nuno Mendes de
Celanova21 e de Sancha Viegas de Sousa (← Egas Gomes de Sousa). Sancha
terá sido irmã (ou prima?), entre outros, de Gomes Nunes (1094-1147)22
e de Fernando Nunes23. D. Gomes, conde de Toronho, desposou Elvira
Peres de Trava (← Pedro Froiaz)24 e manteve ligações com o Mosteiro de
Celanova, com Cluny e com a Ordem do Templo25. Ele também exerceu

Santa Maria (“Sancte Marie de Morerola”, Moreruela, nº 13). Alguns autores associaram
essa mudança de titular à aceitação dos princípios de Claraval (Alonso Álvarez 2007: 559).
Sobre a ligação da família a Moreruela e Nogales, veja-se Calderón Medina (2008).
20
Um regesto do Tombo de Meira (TMeira, nº 296) cita uma Sancha Nunes, com proprie-
dades em Azúmara e Francos (c. Castro de Rei, Lugo), como avó de Fernando, João e Ma-
ria Vélaz. Porém, é possível que o conteúdo dessa síntese esteja deturpado – ou adulterado
– até na própria data (cf. infra). Sobre os problemas que levanta a identificação histórica
desta personagem, veja-se Fernández-Xesta (1991: 60-61). A presença de um “Martim
Kabra consobrinus D. Pontii” na Chronica Gothorum (Portugaliae Monumenta Historica.
Scriptores, vol. I, p. 13), logo a seguir aos filhos de Fernando Eanes de Toronho e de Ur-
raca Gomes (filha de Gomes Nunes), pode ser um elemento para postular a integração de
Sancha nesse grupo familiar. Alguns historiadores consideram que D.ª Sancha pertencia à
família dos Flaínes (Calderón Medina 2011a: 166).
21
Nuno Mendes (Mides?) chefiou, em 1071, a rebelião contra o rei Garcia I de Galiza-
-Portugal, na sequência da qual foi derrotado e morto (Barton 1997: 256, Mattoso 1982:
13-15). Os seus descendentes aparecem nomeados como Celanova, Pombeiro, Toronho ou
Barbosa. O segundo (antrotopônimo) responde ao seu relacionamento com o Mosteiro de
Pombeiro (conc. Felgueiras, Porto), fundado por Gomes Echigues, avô de Sancha Viegas
de Sousa (cf. infra).
22
Sobre Gomes Nunes, veja-se Bishko (1965: 327-331), Barton (1997: 256), Salazar
Acha (2000: 358), Fernández Rodríguez (2004: 71-91) e González Montañés (2011: 80-
81, 85-109, 141-167).
23
D. Fernando foi bisavô de Rodrigo Dias dos Cameros (cf. infra).
24
Desse matrimônio resultou Urraca Gomes, bisavó do trovador Fernando Pais de Tama-
lhancos (Souto Cabo [no prelo/1]).
25
Observamos algumas discrepâncias nas informações sobre os antecedentes de Gomes
Nunes e, portanto, de Sancha Nunes. Alguns estudiosos denominam “Nuno Vasques” o pai
de Gomes Nunes e consideram que este último foi irmão de Afonso Nunes. Barton (1997:
256) discrimina dois ramos, supondo que Nuno Mides/Mendes (?) ( Gomes Nunes) e
Nuno Vasques ( Afonso Nunes) foram primos. Por outro lado, a mulher de Nuno Mendes
é tida por filha de Gomes Echigues/Égicaz (Mattoso 1982: 47-48, Fernández Rodríguez
2004: 72, Ventura 1992 [Genealogia dos Barbosas]), o que nos situaria numa geração an-
terior dos Sousas; isto é, seria irmã de Egas Gomes, aqui postulado como pai dela. Veja-se
também Pizarro (1997/I: 511-512) e González Montañés (2011: 86-87).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 23

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 23 25/09/2012 15:21:33


uma importante atividade política a sul do Minho, tendo ocupado o cargo
de mordomo do conde D. Henrique (1112) e governador da Torre de S.
Cristóvão (1111-1112) (conc. Cerveira)26.
Após a anulação do primeiro casamento (c. 1141), Pôncio II Ge-
raldo encetou matrimônio com Maria Fernandes, filha de Fernando Peres
{Trava}27 (cf. infra). Esta mudança conjugal ocorre em função de uma
estratégia política que, com efeito, marcou o início do seu apogeu junto do
poder real. Fruto destes dois enlaces foram cinco filhos: Beatriz (?), Geraldo
III, Sancha, Fernando Ponce “o Maior” e Fernando Ponce “o Menor”. Só
este último é considerado filho de Maria Fernandes28, o que terá justificado
a utilização do antropônimo já atribuído a um irmão29.
Geraldo III (1145-1160) assumiu os títulos e propriedades do pai
na Catalunha, sendo conhecido como Geraldo III Ponce, visconde de Giro-
na e do Baixo-Urgell. A biografia deste tio de João Vélaz desenvolveu-se
sobretudo em terras catalãs, mas também manteve vínculos intensos com o
reino galaico-leonês. Sabemos que morreu prestando algum tipo de serviço
a Fernando II, segundo declarou esse rei em diploma de 1161.05.05 pelo
qual ampliava o couto do Mosteiro de Samos, onde esse mesmo D. Geraldo
fora enterrado: “Hanc vocis et caracteris donationem et stabilem et firmam
cauti dationem et concessionem facio et in perpetuum dono et concedo Deo
et samonensi monasterio, quia ibidem domnus Gueraldus dilectus uassalus
meus qui in seruitio meo decessit tumulatus est” (TSamos, nº 60)30. O facto

26
Veja-se Mattoso (1985: 34), Barton (1997: 256), Fernández Rodríguez (2004: 72-91).
27
A primeira notícia sobre este enlace surge numa escritura de 1142.03.26 pela qual D.
Pôncio e D.ª Maria oferecem ao Mosteiro de Tojos Outos uma herdade em Val de Salce:
“ego Poncius Geraldi cabrerensis cum uxore mea Maria Fernandez” (Toxos Outos, nº 27).
28
O testamento de Maria Fernandes, lavrado em 1169, é reproduzido neste trabalho [D.7].
29
Alguns autores consideram que todos foram filhos de Maria Fernandes, hipótese que
não é sustentada pela documentação.
30
A sua última presença ativa (1160.03.12) encontra-se numa doação de Fernando II à
Igreja de Santo Isidoro de Leão confirmada por Geraldo III, que subscreve após o conde de
Barcelona. Nessa escritura também encontramos o pai e um dos irmãos, Fernando Ponce
“o Maior” (Fernandez-Xesta 1991: 67). Sabemos que o túmulo de D. Geraldo sobreviveu
até 1607-1610, altura em que, segundo refere Castro (1912: 116), foi desmanchado por frei
Baltasar Guerrero: “con ocasión de hacer unas reparaciones en la iglesia, deshizo dos de
los tres grandes sepulcros de piedra que de antiguo había en esta casa. El uno, que tenía por
armas muchas conchas y veneras, era de D. Giraldo Poncio de Cabrera, hijo del Conde D.

24 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 24 25/09/2012 15:21:33


de Geraldo III ter sido sepultado nesse cenóbio galego é uma das causas
que moveram o pai a dar um conjunto avultado de propriedades na zona de
Sárria aos frades do mesmo: “pro anima carissimi filii mei Geraldi Poncii,
qui in ipso monasterio samonensi tumulatus requiescit” [D.5]31
Só conhecemos um filho de Geraldo III Ponce e de Berengária
de Queralt: Pôncio III Geraldo, visconde de Girona e Àger (1165-1198). O
anterior desposou D.ª Marquesa, filha de Armengol VII de Urgell (cf. infra),
com quem teve Geraldo IV Ponce (1194-1228)32, visconde de Cabrera, de
Àger e conde de Urgell.

3. Os Cabreras e o trovadorismo
Como é sabido, as mais antigas notícias sobre a conexão entre
trovadores provençais e os reinos do ocidente peninsular têm como prota-
gonista Marcabru33. Este trovador aparece ligado à corte de Afonso VII, na
qual elaborou, no verão de 1137, a famosa canção de cruzada Emperaire,
per mi mezeis (Gaunt 2000, nº 2). Nesse contexto, é ainda possível que se
encontrasse em Santiago aquando da morte, nessa mesma urbe, de Gui-
lherme X da Aquitânia (1137.04.09). Aliás, Marcabru terá composto Al
prim comenz de l’ invernailh na capital galega, tal como sugerem Gaunt et
al. (2000: 69): “This obviously suggests that Marcabru was in Castile (or
possibly still in Santiago where William X died) when he composed IVb”.
Vários passos da obra de Marcabru indicam que pôde entrar em contacto

Poncio de Cabrera mayordomo de D. Fernando y D. Alfonso de León [...]. Los huesos que
contenían los puso debajo del altar que cae contra la portería de este convento, que debe de
ser el sitio en que ahora está el altar de Santa Gertrudis que está al norte de la iglesia en un
remate de la punta del crucero”.
31
A localização dessas posses parece um dado importante para atribuir naturalidade gale-
ga à mãe de Pôncio II Geraldo. Aliás, essa ligação às terras de Sárria favoreceu o casamen-
to de Sancha Ponce com Vela Guterres, membro da linhagem que dominava esse condado
lucense, pelo menos, desde a primeira metade do séc. XII. Numa escritura de 1196 (ACZ,
17/30), Maria e Pedro Vélaz, netos de D. Pôncio, entregavam ao bispo e ao cabido de
Zamora a vila de Avradelo (Real, conc. Samos), situada a 7 km do Mosteiro de Samos.
Porém, neste caso, a origem da propriedade poderia estar nos Vélaz.
32
Sobre esta personagem, veja-se Miret y Sans (1910: 315-331).
33
Vejam-se, entre outros, Alvar (1977: 27-43) e Menéndez Pidal (1991: 152-154).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 25

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 25 25/09/2012 15:21:34


com os Cabreras no ambiente curial de Afonso VII e que esse vínculo se
terá reforçado posteriormente com Geraldo III (cf. infra):
We are, however, disinclined to understand the tornadas of poem XII [Bel m’
es can s’ esclarzis l’onda] as a tribute to William X; rather, it seems more likely
that the rising fortunes of the lord predicted there are those of the lord of Gero-
na. We suggest that it was at the court of Castile that Marcabru first came into
contact with the house of Cabrera (see XII) and this would explain that he later
sent a song to Guerau III at Urgel (see XXXIV [Hueymais dey eser alegrans])
(Gaunt et al. 2000: 4-5).

Os estudiosos britânicos aludem a duas referências contidas,


respetivamente, em Bel m’ es can s’ esclarzis l’ onda (vv. 46-49) e em
Hueymais dey eser alegrans (vv. 43-49):

A
Se.l segnoriu de Gironda
poia, encar poiara plus,
ab qe pense com confonda
paians, so.ilh manda Jhezus.

B
Messatgier cortes, ben parlans,
vai t’en Urgelh, ses falhir,
e sias del vers despleyans
a.n Cabreira, que lo remir,
e potz li dir senes guabar
qu’en tal loc ai tornat ma sort
on elh poiria pro muzar34.

É plausível que, no primeiro caso, o senhor de Girona seja o próprio conde


Pôncio II. De fato, ele foi famoso literariamente por ter protagonizado di-
versos episódios bélicos contra os árabes que lhe valeram a frase “mauris
est pestis” no Poema de Almeria (Gil 1974), composição que contém um
longo panegírico de D. Pôncio (vv. 176-198):

34
“Cortês, eloquente mensageiro, vai a Urgell sem falta e mostra o meu poema ao senhor
de Cabrera, para que o possa contemplar, e podes-lhe dizer isto, sem ostentação, que eu
coloquei o meu destino nas mãos de alguém novo perante quem ele pode esperar em vão
durante muito tempo”.

26 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 26 25/09/2012 15:21:34


Pontius ista comes regit agmina nobilis hasta,
uirtus Sansonis erat hic, glaudius Gedeonis,
compar erat Ionate, preclarus uti Iesu Naue,
gentis erat rector sicut fortissimus Hector,
dapsilis et uerax uelut insuperabilis Aiax
Non cuidam cedit, nunquam bellando recedit [...]35

Quanto ao senhor de Cabrera (a.n Cabreira), ele poderá ser iden-


tificado com Geraldo III, que morou de preferência nos estados paternos
de Aragão e Catalunha desde os inícios da década de 40, assumindo, como
herdeiro primogênito, os cargos do pai.
A relação dessa estirpe com o trovadorismo occitânico foi além
do simples mecenato. Um dos monumentos literários mais singulares dessa
corrente poética é a composição conhecida como Ensenhamen [D.41]: “L’
ensenhamen-sirventes [...] constitue un témoignage littéraire d’une impor-
tance capitale, nous permettant d’atteindre par l’inventaire un ensemble
d’oeuvres narratives, chansons de geste, romans antiques et romans bretons”
(Lafont 2000: 337). O poema figura sob a autoria de um Guiraut de Ca-
breira que foi reconhecido, por alguns investigadores, como sendo Geraldo
III36. Essa identificação baseia-se na alegada cronologia do Ensenhamen
(c. 1150), fixada a partir de algumas referências histórico-literárias nele
contidas. Concretamente, interessam as alusões a Marcabru (1130-1150),
Ebles de Ventadorn (1090-1147) e Rudel (documentado a partir de 1147):

Ja vers novel
bon d’ En Rudell
non cug que·t pas sotz lo guingnon,
de Markabrun
ni de negun
ni de N’ Anfos ni de N’ Eblon.

35
A respeito da relação de D. Pôncio com essa obra, Salvador Martínez (1975: 151) opina
que “El gran elogio del conde Poncio puede ser un indicio de que el autor quiso inmorta-
lizar su memoria en el Poema. Poncio [...] por cuyas manos debió pasar la obra de nuestro
poeta, de ahí su clara intención de complacerle con tanto epíteto bíblico y clásico”. Contu-
do, a personagem a que se dedica maior atenção é Álvaro Rodrigues de Sárria {Vélaz} (vv.
217-255). Veja-se Salazar Acha (1985: 53) e Barton (1997: 230).
36
Veja-se Riquer (1984: 56-66), Pirot (1972) ou Lafont (2000).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 27

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 27 25/09/2012 15:21:34


No concernente a Marcabru existem, como vimos, elementos para
suspeitarmos um relacionamento pessoal com Geraldo III Ponce – talvez
com o conjunto da família Cabrera – como sublinhava Riquer (1984: 63)
nas conclusões sobre a autoria e cronologia de texto:
No és aventurar, doncs, d’establir una relació personal entre el nostre Guerau
de Cabrera i Marcabrú, la producció del qual, repeteixo, es tanca l’ any 1150.
El 1147 es tanquen também les d’ Ebles de Ventadorn i de Jaufré Rudel, com
ja hem vist, i tenim la dada preciosa que el vers d’ aquest darrer trobador és
qualificat, a l’ensenyament, de novel o sigui nou, recent. Tot això ens duu a
suposar que Guerau de Cabrera escriví la seva llarga composició a mitjan segle
XII, quan encara no eren famosos trobadors com Bernart de Ventadorn, Giraut
de Bornelh, Arnaut de Maruelh, Guillem de Berguedà, Raimbaut d’ Aurenga,
que ho horen tant a partir del 1170, almenys.

No entanto, Cingolani (1993: 192) desconfia da identificação


pessoal e da proposta temporal por causa do ingente volume de informação
literária (“comparable, or even superior, to that of a modern philologist”),
que não estaria ao alcance de um trovador catalão em meados do séc. XII,
sobretudo no referente à narrativa. Esse estudioso menospreza a alusão
àqueles três trovadores, vindo a privilegiar o valor probatório dos textos
narrativos citados no Ensenhamen. Resulta, assim, uma localização cro-
nológica c. 1196-1198, logo a atribuição da autoria a Geraldo IV Ponce,
neto de Geraldo III37:
To sum up: until the 1170s we have few and fragmentary demonstrations that
langue d’oil narrative was known in Provence, and the few troubadours who

37
Na verdade, a proposta já fora defendida por Miret y Sans (1910: 331) em face à de
Milá (De los trovadores en España), que o identificava com Pôncio III Geraldo. Ape-
sar de tudo, no seu muito documentado estudo, Miret y Sans reconhece as dificuldades
de se chegar a uma conclusão definitiva: “Les noves y scriptures justificatives inèdites
que havem aportat aixamplen y rectifiquen en molts punts lo que Monfar, Zurita y altres
historiaires havien recomptat dels pare y fill Pons y Guerau [...]. Per desgracia no donen
llum per resoldre si’l trovador nomenat Guerau de Cabrera, l’ autor de la poesia al joglar
Cabra, fòu Pons, marit de Marquesa d’ Urgell o’l fill d’aquest el vescomte Guerau, frare
templer [...]. Els que tinguin competencia per semblant treball son els que ens hauràn de
demostrar si, malgrat de citarse com a noves en la composició al joglar Cabra les poesies
de Rudel, Marcabrú y Ebles de Ventadorn y sobre tot d’un Alfons, que es segurament el
rey de Catalunya-Aragó, pot situarse a son autor, el vescomte Guirau de Cabrera, tan a la
primeria com a la fi del regnat del esmentat princep”.

28 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 28 25/09/2012 15:21:34


are familiar with some poems were all travellers or closely connected with
northern milieux [...]. The spread of the northern literature of chivalry into the
southern lands was slow and gradual. It became better know during the 1180s
[...], at first through the chansons de geste and then, towards the end of the
twelfth century, through the Arthurian romances [...]. This also explains the
rather minor role played by the romances in the cultural make-up of Guerau. If
all these arguments are correct and convincing, they lead to certain conclusions
[...]. First: the troubadour Guerau de Cabrera can be no other than Guerau IV,
and not his grandfather Guerau III. Second: the date of the composition of
Cabra joglar has to be fixed after the beginning of his stay in Provence (1194),
which is borne out both by documents and the relation of Gervase of Tibury. [...]
Third: the sirventes cannot be used as proof of the spread of French literature
in Catalonia in the twelfth century, and not even in the thirteenth, since it was
composed in Provence from materials available there, and not in the Principality
(Cingolani 1993: 199).

Pelo contrário, Lafont (2000), conquanto não impugne explici-


tamente a proposta de Cingolani, aceita a cronologia tradicional e utiliza o
texto para equacionar “l´antériorité ou non d’une création d’oc par rapport à
une création d’oil”38. O Ensenhamen seria mais um argumento para apoiar a
prioridade occitânica na elaboração de diversos géneros literários, sugerida
em vários trabalhos deste autor.
Está fora das nossas pretensões aprofundar no debate; contudo,
cabe notar dois dados, de natureza muito diversa, que favorecem a hipótese
de Riquer (e Pirot). Devemos lembrar, em primeiro lugar, que a estrutura
formal do Ensenhamen está tomada da composição Seignher n’ Audric de
Marcabru, trovador cuja produção não ultrapassa o ano 115039. Por outro

38
Finaliza o seu trabalho com uma conclusão interrogativa: “Pourquoi n’a-t-on pas pen-
sé que le domaine, plus exactement les ateliers qui inventaient, entre univers monacal et
mondanité, l’ art lyrique, pouvaient en même temps inventer l’ art épique, le roman anti-
que, la chanson d’ histoire et jouer un rôle moteur dans la diffusion des modes bretonnes.
Il n’y a pas là préjugé méridional répondant au préjugé nordiste, mais simple logique
d’histoire littéraire” (p. 363).
39
Cingolani (1993: 195) alude a esse dado mas não lhe atribui qualquer significação:
“The contacts between Marcabru and the Cabreras, and specifically with Guerau III, which
Pirot sets out for us are indisputable, and Marcabru’s tenson with Aldric del Vilar is also
important, as it is the source of the metrics Cabra juglar [...]. From Pirot’s argument it
clearly emerges that the friendship between Marcabru and Guerau III is good enough rea-
son for the attribution of the sirventes. But in view of the troubadour Guerau’s liking
for narrative, might not his mention of the two troubadours, together with Eble, rightly

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 29

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 29 25/09/2012 15:21:34


lado, mesmo reconhecendo que as conclusões de Cingolani parecem con-
vincentes, a nossa perspetiva poderá mudar, em parte, se situarmos Geraldo
III na atmosfera cultural da corte de Afonso VII e do Caminho (francês)
de Santiago, aspetos não abordados por esse estudioso40. Lembremos que
esse itinerário de peregrinação, ao qual os Cabreras estiveram vinculados,
aparece desde os inícios do séc. XII como uma via de difusão das histórias
de ambiente bretão, amplamente representadas no Ensenhamen41.
Os dados de que dispomos acerca de Geraldo IV, neto de Geraldo
III e sobrinho-segundo de João Vélaz, apontam para uma participação ativa
no trovadorismo, tal como se depreende da curiosa descrição que nos deixou
o britânico Gervásio de Tilbury em Otia Imperialia (Banks – Binns 2002:
17-2142) sobre as suas habilidades sociais e musicais:

Erat temporibus nostris in Cathalonia miles nobilissimis ortus natalibus, milicia


strenuus, elegantia gratiosus, cui nomen Giraldus de Cabreriis [...]. Erat miles
in iuuentute sua, iocundus, hylaris, musicis instrumentis plurimum instructus,
a dominabus inuidiose desideratus. In palatio nostro (quod ex uestri munere
uestraque gratia ad nos reddit per sententiam curie imperialis, princeps exce-
lentissime, propter ius patrimoniale uxoris nostre), in presentia pie memorie
Ildefonsi, illustris regis quondam Aragonensis, et socrus nostre, qui singulari
laude precellebat inter dominas sui confinii, necnon in conspectu multorum
procerum, miles sepe dictus uiolam trahebat, domine chorum ducebant, et ad
tactum cordarum equus incomparabilibus circumflexionibus saltabat.

identified as Ebles de Ventadorn, be interpreted, at least as preliminary hypothesis as what


remained of a family tradition?”. No Ensenhamen alude-se a um “N’ Arumalec” (herói
romanesco não identificado) que foi relacionado com um “N’ Aturmalec” citado nesse
mesmo poema de Marcabru (Gaunt et al. 2000: 537-539).
40
Lembremos que a preferência pela matéria épica, a que alude Cingolani, poderia ser
associada ao Poema de Almeria, texto provavelmente relacionado com os Cabreras e os
Vélaz (cf. supra).
41
Veja-se o capítulo “A materia de Bretaña no occidente Peninsular” em Lorenzo Gradín
– Souto Cabo (2001: 17-21).
42
Estes estudiosos (p. 738, n. 1) identificam-no erradamente com Geraldo III: “probably
the famous Guiraut ou Guerau III Ponç de Cabrera, one of the first Catalan troubadours
known to us by name”. Eles supõem, seguindo Riquer (1984), que Geraldo III morrera em
1170 e situam os acontecimentos narrados em 1167, quando Afonso II estava em Arlés.

30 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 30 25/09/2012 15:21:34


Com independência de quem tenha sido o autor de Cabra juglar43,
a informação analisada revela que a estirpe dos Cabreras esteve envolvida,
de vários pontos de vista, no movimento lírico occitânico e, muito provavel-
mente, na sua irrupção em terras do ocidente ibérico44. Não nos surpreende,
antes pelo contrário, que João Vélaz, membro dessa casa, apareça como
o mais antigo representante do nosso trovadorismo. Por outro lado, é tam-
bém possível que os Cabreras tenham propiciado o conhecimento da lírica
galego-portuguesa na área occitano-catalã (cf. infra).

4. Sancha Ponce e Vela Guterres


Sancha Ponce (1149-1176), filha de D. Pôncio II Geraldo de Ca-
brera, casou com o galego Vela Guterres (1130-115845) {Vélaz – Trava},
primeiro mordomo (1154, 1156-115746) do infante Fernando e tenente de
Morales (por delegação de Pôncio Geraldo) (1147), Cabrera (1149-1150,
1154), Malgrado (1150), Lemos e Sárria (1155). O casal47, seguindo uma

43
Note-se que Miret y Sans também considerou a possibilidade de o identificar com Pôn-
cio III Geraldo (cf. supra).
44
Marquesa d’ Urgell, mulher de Pôncio III Geraldo, é uma personagem aludida na obra
de trovadores como Guilhem de Berguedà e, sobretudo, Ponç de la Guàrdia. Miracle de
Urgell, irmã dela, foi a mãe de Rodrigo Gomes de Trava (cf. infra).
45
Diversos historiadores situam a sua morte em 4 de novembro de 1160 (Salazar Acha
1985: 51, Fernández-Xesta 1991: 68) de acordo com o obituário de Nogales; porém, uma
escritura de 1158.09.15 ([D.2]) induz a pensar que, nessa altura, já falecera (Calderón
Medina 2011a: 83, n. 132). Alguns estudiosos atribuíram, erradamente, a Vela Guterres
a dignidade condal. Existiu um conde Vela na área leonesa, documentado ainda em 1185
(SMarcos, nº 93).
46
Torres Sevilla (1998: 188) assinala como data mais recuada o ano 1136 com base num
documento de Villanueva de Oscos conservado em cópia da segunda metade do séc. XII.
Porém, Floriano Llorente (1981: 133, nº 1), editor dessa escritura, considera que “Las
menciones personales que figuran en el documento son totalmente anacrónicas. La mayor
parte pertenece a una época posterior, sospechándose que el copista anotó en la fórmula
cronológica el año de la primitiva donación, pudiéndose situar la confirmación entre los
años 1156-1157”. Portanto, o mais antigo aparecimento dele nesse cargo palatino pode ser
situado em 1154.06.24: “Uela Guterriz, maiordomus regis Fernandus, conf.” (SMarcos,
nº 12).
47
Desconhecemos a data do casamento mas em abril de 1150 já contavam, pelo menos,
com dois filhos (Rodrigo e Garcia) (cf. infra). Aliás, o fato de D. Vela em 1147 estar exer-
cendo o cargo de tenente de Morales por delegação de D. Pôncio leva a pensar que este

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 31

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 31 25/09/2012 15:21:34


prática frequente naquela altura, promoveu a fundação de um Mosteiro
em Nogales (Leão) (Nogales, nº 2 [1150]) numa terra que Afonso VII
entregara a Vela Guterres: “Ego Adefonsus, imperator Hispanie, una cum
filiis meis, Sancio et Fernando, uobis domno Uela Guterrez, milite meo,
et generis comitis Pontii propter amore seruicii quod fecistis in multotiens
et facities cotidie, dono iure hereditario, spontanea uoluntate, Nogares
que iacet in ualle de Aria” (Nogales, nº 1 [1149]). Ora, é interessante sa-
lientarmos que os progenitores de João Vélaz encomendaram à bisavó de
Osório Eanes (cf. infra), Aldara Peres, a instauração da vida monástica
em Nogales48. O dado evidencia uma aproximação e colaboração entre
os Bóvedas –antecedentes de Osório Eanes (cf. infra) – e os Vélaz que
contam com outros exemplos significativos ainda na primeira metade do
séc. XII49. Aquela primeira iniciativa fracassou, vindo a ser retomada em
1164 com a cooperação dos frades do Mosteiro de Moreruela (Nogales,
nº 550), fundação de Pôncio II Geraldo (cf. infra). Para além dessas duas

último, nessa altura, já era sogro daquele. Pensamos que o matrimônio pôde ser induzido
por Maria Fernandes, segunda mulher de Pôncio de Cabrera e tia de Vela Guterres.
48
“Qua propter ego Vela Gutierrez una cum coniuge mea, Sancia Pontia, donamus, bono
animo et spontaneamente Domino Deo, et tibi Aldara Pedrez et succesores tuos, pro re-
medio animarum nostrarum uel parentum nostrorum atque omnium fidelium defunctorum,
ipsam hereditatem quem imperator nobis dedit, per cartam, in Valderia, scilicet villam quae
vocatur Nogales et Quintanella et Bobeda eam pertinet vel pertinere debent [...]. Ita damus
tibi et tuis sociabus vel quae post te futurae erunt ad serviendam Deo sub regula sancti Be-
nedicti” (Nogales, nº 2).
49
“Vela Gutiérrez estaba casado con Sancha Ponce, perteneciente al linaje de los Ponce
de Cabrera. Ambos fundaron un monasterio en su villa de Nogales: en 1150 encargaron su
constitución a las benedictinas gallegas de San Miguel de Bóveda, a cuya cabeza estaba
doña Aldara” (Cavero Dominguez 2001: 9). A consideração de Aldara Peres como abades-
sa de Bóveda está em Manrique (1642: 175), que atribui tal hipótese à tradição: “Donato
termino, com multis possessionibus, abbatissae Aldoarae, sociabusque, quas ex Gallecia,
et monasterio Bovedae, altero ab urbe Auriensi lapide, adductas, traditio magis probat,
quam instrumenta”. Aldara Peres e o marido, Oeiro Ordonhes, foram patronos do Mosteiro
de Bóveda. Notemos, contudo, que também conhecemos uma Aldara Peres, filha de Pedro
Froiaz e irmã de Fernando Peres de Trava.
50
Na edição citada, o documento é atribuído ao ano 1163 partindo de uma interpretação
errada da data: “Facta carta sub era MCCII, XII kalendas januarii”. Os elementos da data-
ção sincrônica confirmam que se trata de 1164, já que Gomes Gonçalves – mordomo citado
no texto – aparece pela primeira vez em 1164.10.21. Esse cargo fora ocupado anteriormen-
te por Fernando Rodrigues, entre 1162.08.15 e 1164.09.06.

32 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 32 25/09/2012 15:21:34


instituições monásticas, os Vélaz-Cabreras aparecem vinculados às sés
de Astorga e Santiago e aos mosteiros de Castanheda, Caveiro51, Meira,
Osseira, Sobrado52 e Vega de Valhadolid53.
Segundo foi exposto, o matrimônio de Sancha Ponce com Vela
Guterres deu origem a sete filhos: Rodrigo, Garcia, João, Fernando, Pedro,
Maria e Pôncio Vélaz. A biografia dos três primeiros permanece numa certa
penumbra. O único testemunho histórico relativo a Rodrigo Vélaz surge
na escritura em que se impulsiona a criação do Mosteiro de Nogales em
1150.04.06 (Nogales, nº 254). É possível que tenha falecido entre essa data
e 1158.09.15 [D.2], altura em que a mãe e os irmãos fizeram uma doação
à Igreja de Astorga na qual ele não participa. Garcia Vélaz (1150-1161)
aparece nas datas anteriores e ainda, pela última vez, em 1161.05.1255.
Fernando Vélaz (1158-1192) foi tenente em Astúrias, Benavente,
Bierzo – ou Bércio –, Leão, e Tineo. Ele desposou Sancha Álvares (←
Álvaro Rodrigues {Vélaz} & Sancha Fernandes56), com quem teve João
Fernandes de Cabrera e Fernando Fernandes (cf. infra). Existe uma notável
dificuldade homonímica para discriminar esse João Fernandes de Cabrera
de João Fernandes de Lima (ou Batissela) (cf. infra). Torres Sevilla (1999:
190) refere-se ao primeiro como: “tenente de Limia, Lemos, Zamora, alferez
y mayordomo real de Alfonso IX”, mas Salazar y Acha (2000: 366-368)
– que não cita o de Cabrera – atribui esses (e outros) cargos a João Fernan-

51
Em 1142, Vela Guterres deu ao Mosteiro de Caveiro metade de Igreja de Larage (conc.
Cabanas) (TCaveiro, nº 17).
52
Em 1149 e 1154, Vela Guterres juntamente com o tio, Rodrigo Peres, oferecia ao Mos-
teiro de Sobrado propriedades na terra de Nendos e em Aranga (López Sangil 2002: 115).
Notemos, aliás, que Vela Guterres é uma das personalidades que confirmam a refundação
deste mosteiro e a entrega à ordem de Cister [D.1].
53
Em 31 de dezembro de 1156, o conde Ramiro Froilaz e Sancha Ponce, junto com os
esposos (Elo e Vela Guterres) e filhos respetivos, ofereciam a esse cenóbio um solar no
bairro de S. Paio em Leão (Vega, nº 54).
54
“Rodericus filius Vela Gutierres atque Santia Pontia conf.– Garcia frater eius conf.”.
55
Ele aparece consignado no obituário de S. Zoilo de Carrión no dia 22 de julho: “Garsias
Velet. XI Kalendas Augusti. Pro officium fiat. Et cellararius maior refectionem plenariam
faciat senioribus. Et hoc de omnibus infurcionibus Sancii Mametis, quam hereditatem de-
dit nobis domna Sancia comitissa, mater eius, ad hoc aniversarium in perpetuum facien-
dum in hac die” (Reglero de la Fuente 2008: 650-651).
56
Filha de Fernando Peres de Trava e da rainha Teresa de Portugal.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 33

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 33 25/09/2012 15:21:34


des de Lima57. Pôncio Vélaz (1158-1202) foi alferes régio (1185-1186) e
tenente em Aguilar, Astúrias e Tineo, Babia, Bierzo, Estremadura, castelo
de Luna, Mansilla, Mayorga, Miranda de Astúrias, Salamanca, Sanábria e
Zamora58. Pedro Vélaz (1158-120259) escolheu a carreira religiosa como
arcediago da Sé de Compostela60. Ele juntou essa função à de chanceler
(1184-1202) nas cortes de Fernando II e Afonso IX, ao qual ainda somou
a mordomia com o último monarca (1188)61. Maria Vélaz (1158-1204)
foi, segundo Calderón Medina (2008: 368), domina (‘administradora’) do
mosteiro de Moreruela62.
Soeiro Mendes, registrado entre os irmãos a partir de 1177 (TMei-
ra, nº 79), foi fruto de um segundo casamento de Sancha Ponce (cf. infra).

57
Fernández Rodríguez (2004: 148-149) alude a “Juan Fernandez de Limia, llamado el
Bueno o Juan Fernández Baticela”, a quem atribui a totalidade dos cargos resenhados.
58
D. Pôncio desposou Teresa Rodrigues com quem teve: Fernando, João e Pedro Ponce.
Este último, casado com Aldonça Afonso (← Afonso IX), irá atingir uma grande notorie-
dade pública nos reinados de Fernando III e Afonso X. Ele foi a origem dos Ponce de León
(Torres Sevilla 1998: 191). Calderón Medina (2011a: 168, 501), certamente por lapso,
atribui os cargos citados a Fernando Ponce “o Menor”.
59
González (1944: 171) aponta que foi abade de Osseira c. 1211; mas, entre 1205 e 1223,
esse cenóbio era regido por Lourenço I (Romaní 1989: 73). Notemos que Maria Vélaz ofe-
receu a vila de Gema ao bispo de Zamora em 1204.01.18 (CZamora, nº 61) como sufrágio
pela alma de Pedro Vélaz e doutros parentes: “Ego domna Maria Vele ob remedium anime
mee et avi mei comitis domni Poncii et patris mei domni Vele Guterri et matris mee co-
mitisse domne Sancie Poncii et fratrum meorum Fernandi Vele, Petri Vele, Iohannis Vele,
Poncii Vele, dono et imperpetuum concedo domno Martino zemorensi episco et ecclesie
sancti Salvatoris villam que vocatur Xema”. Entendemos que os indivíduos citados já ti-
nham morrido naquela altura. Lucas Álvarez (1993: 514), com base nos Calendários da
catedral de Mondonhedo, situa a sua morte em 1212.07.8, mas pode tratar-se de um erro
(MCCL por MCCXL).
60
Apontemos ainda a significativa presença dele nos Livros de Aniversários da sé de
Santiago no dia 2 de março (Leirós Fernández 1970: 32): “Pro archidiacono D. Petro Velle.
Dantur 80 lbr. Processio ad claustrum novum”.
61
Pedro Vélaz estabeleceu várias permutas com os irmãos Fernando e Pôncio, pelas quais
recebeu a posse (ou usufruto) das propriedades deles na Galiza (TLourençá, nº 63, TMeira,
nº 145, 174).
62
Segundo Salazar Acha (1985: 48), esteve casada dom Álvaro Rodrigues de Castro,
dado que não é referido por outros autores. Uma escritura de 1193 (ACZ, 17/30), de que
são titulares Maria e Pedro Vélaz, conserva o único selo dos irmãos Vélaz que conhece-
mos. Esse elemento é reproduzido fotográficamente no início deste capítulo.

34 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 34 25/09/2012 15:21:34


5. Johannes Velaz
Ao invés do que acontece com a maior parte dos irmãos, a do-
cumentação só proporciona notícias lacônicas sobre a biografia de João
Vélaz63. Mesmo assim, as indicações diplomáticas permitem circunscrever
com notável precisão a sua cronologia. Eis a descrição das escrituras que,
com alguma segurança, lhe dizem respeito:

01. 1158.09.15 ([D.2]): Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio,


Pedro, João e Maria Vélaz, oferecem à Sé de Astorga metade da vila
de Verdenosa (Zamora).
02. 1161.05.12 ([D.3]): Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio,
Pedro, João e Maria Vélaz doam as herdades de Partóvia e Mouriz
(conc. Carvalhinho), junto com as propriedades eclesiásticas que lhes
correspondem nessa mesma zona, ao abade do mosteiro premonstra-
tense de S. Leonardo de Alba de Tormes.
03. 1164.12.21 (Nogales, nº 5): A condessa Sancha Ponce, viúva de Vela
Guterres, e os filhos, Fernando, Pôncio, Pedro e João e Maria Vélaz
entregam o Mosteiro de Nogales aos frades de Moreruela (Zamora)
(cf. supra).
04. 1172.06.17 (ASIL, nº 312): Pedro, astorgano, oferece a João, abade de
Nogales, uma herdade em Llamas de la Ribera (Leão). Confirmam os
irmãos Pedro, João, Fernando e Pôncio Vélaz.

63
A biografia (possível) de João Vélaz assemelha-se, em alguns aspetos, à caraterização
do “trovador” desenhada por Oliveira (2001:15-22).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 35

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 35 25/09/2012 15:21:34


Subscrições dos irmãos Vélaz em 1172.06.17

05. 1174.09.03 (TMeira, nº 62): Maria Vélaz e os irmãos Pedro, Pôncio


e João Vélaz dão ao Mosteiro de Meira o que possuem em S. Tirso e
em Vilarmide (conc. Ponte Nova), com reserva do usufruto para Maria
Vélaz.
06. 1174 (?) (TMeira, nº 29664): Os irmãos João, Fernando e Maria Vélaz
cedem ao Mosteiro de Meira o que possuem em Azúmara e em Francos
(conc. Castro de Rei) por herança da avó Sancha Nunes (?).
07. 1177 (TMeira, nº 79): Os irmãos Fernando Vélaz, Pôncio Vélaz, João
Vélaz e Soeiro Mendes entregam à irmã Maria Vélaz as herdades que
possuem em Honceniego, Castro Calbón (Leão), Vilalva, Vila Verde,
Vilarmide (conc. Ponte Nova) e Santo Tirso.
08. 1181.06.05 ([D.13]): Os irmãos Fernando Vélaz, João Vélaz, Pedro
Vélaz e Soeiro Mendes oferecem à irmã Maria Vélaz a herdade de
Gema (Zamora) que receberam de Fernando II (em troca de S. Cebrião
de Mazote). Após a morte da irmã, aquela herdade deverá passar ao
Mosteiro de Fontevraud (França).
09. 1181.12.07 ([D.15]): Os irmãos Fernando Vélaz, Pedro Vélaz, Pôncio
Vélaz e Soeiro Mendes, cumprindo as últimas vontades de João Vélaz,

64
Conservamos apenas um resumo deste documento no TMeira, de 1616, onde lhe é atri-
buída a data de 1221, altura em que os irmãos citados já tinham falecido (Fernández-Xesta
1991: 60-61). A pensarmos numa transcrição parcialmente errada, o diploma poderá re-
montar à era de 1211, isto é, ano 1173. No entanto, não descartamos que o conteúdo desse
resumo esteja deturpado por contaminação – ou seja fruto de uma falsificação. Outros dois
regestos copiados no mesmo fólio (254r-v) (também com a data de 1221) aludem (num
tempo passado) a uma Sancha Nunes, avó de Toda e de Diogo Eanes (filho de João Cape-
lo), com propriedades em Azúmara (cf. supra).

36 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 36 25/09/2012 15:21:34


sepultado no Mosteiro de Moreruela, dão a esse cenóbio aquilo que
possuem em Ceque e em Galende (Zamora).
10. 1181.12.07 ([D.16]): Os irmãos Fernando, Pôncio e Pedro Vélaz, cum-
prindo as últimas vontades de João Vélaz, sepultado no Mosteiro de
Moreruela, oferecem a esse cenóbio aquilo que possuem em Vionho
(conc. Corunha) e em Faro (conc. Corunha) – herdado da avó, a con-
dessa Toda Peres de Trava – e confirmam a entrega ao cabido da Sé de
Santiago da parte que lhes pertence na Igreja de Oza.
11. 1204.01.18 (CZamora, nº 61): Maria Vélaz cede a vila de Gema (Za-
mora) a Martim, bispo de Zamora, e à Sé S. Salvador em sufrágio pela
alma do avô, D. Ponce; do pai, Vela Guterres; da mãe, a condessa Sancha
Ponce, e dos irmãos, Fernando, Pedro, João e Pôncio Vélaz65.

Ignoramos a data concreta do nascimento de João Vélaz, contudo,


a julgarmos pelas escrituras referidas e por aquilo que sabemos sobre o seu
grupo familiar mais próximo, torna-se possível situá-lo c. 1145-1155. Pelo
contrário, tendo em atenção as cartas nº 8, 9 e 10, conseguimos fixar com
bastante exatidão o momento da sua morte na segunda metade do ano 1181,
entre 5 de julho e 7 de dezembro66. De acordo com as informações de frei

65
A cronologia e/ou a ausência de contexto familiar faz com que seja menos segura a
identificação do trovador com um ou vários homónimos citados em escrituras produzi-
das na área leonesa. Assim, encontramos um João Vélaz que, com a mulher e os filhos
(“Ego Iohanne Uelaz et uxor mea Marina Aluariz cum filiis et filiabus nostris”), vende uma
herdade em Vega de Magaz (Leão) em 1156 (DAstorga, nº 12). Esse também é o nome
(“Iohannis Vélaz”) do pai de um Domingos Eanes que, em 1163 (CSalamanca, nº 25),
vendia várias casas em Salamanca. Notemos ainda, entre outros, a presença de “Iohannes
Uelez” em 1194 (Nogales, nº 20) e 1217 (SMarcos, nº 235) e de “Iohannes Uelaz” em
1200 (Sahagún, nº 1537), portanto, fora do quadro cronológico em que se integrou o filho
de Vela Guterres (cf. infra). O mesmo acontece no caso da Galiza, onde registramos esse
antropônimo no segundo quartel do séc. XIII (cf. supra). Também encontramos indiví-
duos com esse nome na área de onde procede o antropônimo: “Johannes Uelez de Alaua”,
testemunha do rei de Castela no tratado de paz entre Fernando II e Afonso VIII de Leão
em 1181 (Tombo B, nº 38), e “Iohan Velaz”, pai de um Petro Iohanes, que confirma um
diploma de Santo Domingo de la Calzada em 1201 (SDomingo, nº 101).
66
Calderón Medina (2011a: 151) opina que “Rodrigo, Garcia y Juan [Vélaz] no llegaron
a la edad adulta”. Tal suposição, referida a João Vélaz, deve ser corrigida, entre outros mo-
tivos, pelo facto de ele ter atingido a maioridade (14 anos), pelo menos, em 1172, quando
confirma, junto com os irmãos, o diploma nº 4 (cf. supra). Como foi dito, desconhecemos
os pormenores da biografia de João Vélaz. Notemos, contudo, a sua inopinada ausência
num ato documental pelo qual a condessa Sancha Ponce e os filhos (Fernando, Pôncio, Pe-

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 37

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 37 25/09/2012 15:21:34


Bernardo de Villalpando transmitidas, entre outros, por Yepes (1615: 211v),
ele foi enterrado no claustro do Mosteiro de Moreruela:
En diuersos arcos que ay embeuidos en las paredes de los claustros estan sepul-
tadas muchas personas principales, bienhechoras del Monasterio, de las quales
por injuria de los tiempos, no se saben sus nombres, mas de los que consta por
escrituras ciertas son estos. En el claustro de capitulo junto à la puerta de la Iglesia
en vn arco, que està al lado del altar de san Iuan, està sepultado don Iuan Vela,
hijo del Conde (sic) don Vela Gutierrez, y de la Condesa doña Sancha Ponce de
Cabrera, fundadores magnificos del Monasterio de Nogales, como parece por
dos escrituras de donación, que hazen à Moreruela Fernan Vela, Ponce Vela,
y Pedro Vela, donde confessando, que està sepultado en este Monasterio Iuan
Vela su hermano, dan â la casa diferentes haziendas. Estan esculpidas en el
sepulcro de este cauallero vnas cabras en campo verde, que son las armas de su
madre la Condesa doña Sancha Ponce de Cabrera, y de su abuelo el Conde don
Poncio de Cabrera, mayordomo que fue del Emperador don Alonso Ramon67.

dro, Maria Vélaz e Soeiro Mendes) deram a terça parte dos dízimos da Igreja de S. Fresme
de Alija (Leão) ao bispo de Astorga em 1170 (DAstorga, nº 20).
67
Segundo Yepes, no arco, que se conserva (muito danificado), também teria sido enterra-
do D. Fernando Ponce, sobrinho de João Vélaz: “Dentro del arco donde està el de Don Iuan
Vela, yaze sepultado el Conde don Fernando Ponce de Cabrera, hijo mayor de don Ponce
de Vela, y de doña Teresa Rodriguez su muger, y hermano de don Pedro Ponce de Cabrera,
que casò con doña Aldonça Alonso hija natural del Rey don Alonso de Leon... Tiene en
su sepulcro esculpidas cabras en campo verde, como su tio don Iuan Vela” (Yepes 1615:
211v-212r).

38 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 38 25/09/2012 15:21:34


Arcossólio no claustro de Moreruela em que foi sepultado João Vélaz

João Vélaz integra-se, portanto, num tronco em que confluíram


os Vélaz, Travas, Cabreras e Celanovas, quatro das principais linhagens do
reino nos tempos de Afonso VII (1126-1157) e Fernando II (1157-1188) (cf.
infra). A julgar pela documentação, a sua biografia aparece, em primeiro
lugar, ligada às terras do sudoeste leonês dominadas pelos Cabreras: uma
extensa faixa fronteiriça que vai do Bierzo e Sanábria até Ciudad Rodrigo.
Por outro lado, a ascendência paterna de João Vélaz, fruto da união dos
Vélaz com os Travas, leva-nos à Galiza68. A localização das propriedades
que lhe pertenceram reflete, em boa medida, essas conexões familiares.
Podemos vincular, de modo genérico, aos Travas as posses situadas no norte
e noroeste da atual província da Corunha e aos Vélaz aquelas localizadas na
área lucense de Meira69. Quanto às herdades na terra de Orzelhão, cedidas

68
Lembre-se que o segundo casamento de D. Pôncio com Maria Fernandes de Trava veio
ainda reforçar a ligação dos Cabreras à família dos Travas e que esta última foi a “avó” de
fato de João Vélaz, embora não o fosse de sangue (cf. supra).
69
Veja-se TMeira (nº 63, 76, 97, 120, 143, 174, 178, 211, 216).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 39

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 39 25/09/2012 15:21:34


a Osseira na escritura nº 2, é possível que sejam o resultado da integração
de Sancha Ponce na estirpe dos Celanovas.
Não devemos concluir este percurso pela biografia de João Vélaz
sem aludir ao último ato documental protagonizado por ele e pelos irmãos
em junho de 1181 [D.13]. O conjunto de descendentes de Sancha Ponce
oferecia de modo vitalício à irmã, Maria Vélaz, a vila de Gema (Zamora),
estipulando que, após a morte dela, devia passar à abadia de Fontevraud
(Anjou, França). A entrega de Gema a esse mosteiro fica sujeita a uma série
de condições que, entre outros aspetos, favorecem a presença de mulheres da
família dos doadores no mesmo, inclusivamente dando-lhes preferência para
ocupar o cargo de priora. Os termos em que o diploma foi redigido deixam
transparecer a existência de contatos diretos e muito sólidos dos Vélaz com
o mosteiro angevino e com os patronos do mesmo. A relação desse grupo
com Fontevraud remonta a 1156, quando Sancha Ponce e Vela Guterres
ofereceram ao mosteiro valhisoletano de Vega – uma das raras fundações
fontevristas – o seu quinhão de um solar em Leão (Vega, nº 54). A abadia
de Fontevraud constituiu o referente religioso da dinastia Plantageneta, à
qual pertenceu Leonor da Aquitânia (1122-1204) pelo seu casamento, em
1152, com o conde de Anjou, futuro Henrique II da Inglaterra70. O papel da
neta de Guilherme IX na criação e difusão literárias do amor cortês torna
muito sugestiva a afinidade entre o ambiente cultural daquela senhora e o
grupo familiar do primeiro trovador galego-português conhecido71.
A perda da produção poética de João Vélaz impede-nos de esta-
belecer possíveis conexões poéticas entre ele e outros autores. No entanto,
fica dentro das nossas possibilidades notar os elos familiares e sociais com
os primeiros poetas em galego-português. Segundo se patenteia de modo
reiterado ao longo deste trabalho72, esse tipo de nexos é a chave que expli-

70
Conhecemos o interesse de Leonor por Fontevraud, abadia na qual chegou a ser freira
e onde mandou ser sepultada.
71
Essa ligação dos padroeiros de Moreruela ao ambiente setentrional da Gália talvez
ajude a explicar algumas pegadas artísticas (estruturais e decorativas) da igreja abacial
de Moreruela, originárias de “empresas del norte de Francia – Île de France y territorios
próximos –, derivadas o inspiradas por el prototipo concebido en Saint-Dénis” (Valle Pérez
1992: 12).
72
Veja-se, a esse respeito, o esquema genealógico dos Travas.

40 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 40 25/09/2012 15:21:35


ca a propagação do trovadorismo nas terras do ocidente peninsular e, ao
mesmo tempo, vem garantir algumas das propostas identificativas, como é
o caso da do próprio João Vélaz. Nessa linha, é possível associarmos por
parentesco biológico, mais ou menos direto, João Vélaz com Osório Ea-
nes, Rodrigo Dias dos Cameros, Pedro Rodrigues da Palmeira, Garcia
Mendes de Eixo, João Soares Somesso, Fernando Pais de Tamalhancos
ou Airas Oares. Vínculos de natureza social ou sociopolítica permitem,
por sua vez, aproximá-lo de D. Juião e de João Soares de Paiva. Como
veremos adiante, o ofício poético deste último terá sido consequência do
seu relacionamento com os Vélaz-Cabreras através dos Braganções, estirpe
a que ele pertenceu por via materna (cf. infra).

6. Outros descendentes de Pôncio II Geraldo


Entre a prole de Pôncio II Geraldo, houve dois filhos de nome
“Fernando”: Fernando Ponce “o Maior” (1160-1180)73 e Fernando Ponce
“o Menor” (1163-120074). A opinião maioritária (Fernández-Xesta 1991:
57-59, Barton 1997: 284), corroborada pela documentação, é que o primeiro
foi filho de Sancha Nunes de Celanova e o mais novo da condessa Maria
Fernandes de Trava. Isto permitiu a utilização do mesmo antropônimo e vem
explicar o motivo pelo qual (só) “o Menor” ostentou a dignidade condal
(herdada do avô Fernando Peres de Trava)75. A coincidência onomástica
entre eles derivou na troca de informações sobre as biografias respetivas.

73
Ele foi um dos alumni da infanta Sancha (Calderón Medina 2011a: 131, n. 263), irmã
de Afonso VII.
74
O foral de Junqueira de Valariça (conc. Torre de Moncorvo, Bragança), outorgado por
Sancho I de Portugal em 1201, é atestado por “el conde Fernando de Cabreira” (Sancho I,
nº 137). Não podemos confirmar a identificação desse conde com a personagem em ques-
tão ou com um sobrinho segundo dele, filho de Pôncio Vélaz, a quem também se atribui a
dignidade condal.
75
Um diploma do Mosteiro de Villaverde de Sandoval (Sandoval, nº 9 [1171]) assegura
que só Fernando Ponce “o Menor” foi filho de Maria Fernandes. Nesse texto, apesar de
estarem presentes os dois irmãos (“roborant ambos irmanos, Fernan Ponz el Maior et el
Minor”), só se aponta um deles como “Fernando Ponz, filio de la condesa dona Maria”.
O editor identifica erradamente “o Maior” como sendo filho de D.ª Maria. No testamento,
D.ª Maria refere um único filho: “filio meo, Fernando Poncii” [D.7].

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 41

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 41 25/09/2012 15:21:35


Fernan Ponz el Maior
Como se infere de um documento do núcleo de Armenteira outor-
gado por D.ª Fruílhe Fernandes em 1162, Guiomar Rodrigues (filha desta
última e mãe de Rodrigo Dias dos Cameros) esteve casada em primeiras
núpcias com (um) “Fernando Ponce”. Com efeito, essa escritura aparece
confirmada, entre outros, por esse casal (junto com Sancha Ponce, mãe
de João Vélaz): “Ego domna Guiumar hanc kartulam roboro et confirmo.
Uir meus domnus Fernandus Poncii confirmat. Domna Sancia Poncii
confirmat”76. Esse matrimônio veio a ser revogado antes de 1173, altura
em que Guiomar já fora desposada por Diogo Ximenes dos Cameros (cf.
infra). A anulação, consequência habitual do parentesco existente entre os
cônjuges, levou a pensar que o primeiro marido de Guiomar Rodrigues
{Trava} fosse filho de Maria Fernandes {Trava}77. Porém, devemos lem-
brar que Fernando Ponce “o Maior”, considerado prole de Sancha Nunes,
e Guiomar também foram familiares próximos enquanto descendentes de
Nuno Mendes de Celanova78.
Observamos também dificuldades para destrinçar as atividades
públicas dos irmãos homônimos no período cronológico que partilharam.
Salazar Acha (2000: 418-419) refere-se apenas à figura do “conde” atri-
buindo-lhe todos os cargos que figuram sob o nome de “Fernando Ponce”79.
Pelo contrário, Fernández-Xesta (1991: 71-74) deslinda a atuação pública
de ambos e crê que Fernando Ponce “o Maior” foi alferes (1161-1163) e
tenente na Terra de Campos, Benavente, Sanábria, Alhariz, Ledesma, Lemos

76
AHN, Mosteiro de Armenteira, maço 1750, nº 13.
77
Torres Sevilla (1999: 295, n. 1493) supõe que “Guiomar Rodríguez, hija del conde
Rodrigo Pérez el Velloso, desposó en dos ocasiones: la primera con Fernando Ponce, hijo
del conde Ponce de Cabrera, matrimonio anulado en función del parentesco, pues ambos
cónyuges eran descendientes del conde Pedro Froílaz de Traba”. Salazar Acha (1984: 77)
cita “Fernando Ponce el Mayor” como primeiro marido de Guiomar. Num trabalho poste-
rior (2000: 418), de acordo com os cargos e biografia que lhe atribui, parece aludir impli-
citamente ao “Menor”: “Casó dos veces: la primera con doña Guiomar Rodríguez [...]. La
segunda con doña Estefanía López, hija de conde Lope Diaz de Haro” (cf. infra).
78
A presença de Sancha Ponce no diploma de Armenteira, acima citado, depõe clara-
mente a favor da identificação com “o Maior”.
79
Fernandez Rodríguez (2004: 124) também não discrimina entre eles e só fala de um
“Don Fernando Ponce [...] hijo de don Ponce de Cabrera”.

42 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 42 25/09/2012 15:21:35


e Zamora. Barton (1997: 243) também lhe adjudica o cargo de alferes e
supõe que desapareceu do cenário político a partir de 117180.
A união de Fernando Ponce “o Maior” com Guiomar Rodrigues
resultou num filho, Fernando Fernandes de Cabrera (meio-irmão de Rodrigo
Dias dos Cameros e primo de João Vélaz), documentado pela primeira
em 1198 numa doação ao Mosteiro de Nogales lavrada em Bragança:
“ego Fernandus Fernandi, filius Fernandi Pontii maioris et nepos comitis
Pontii de Cabrera [...] uobis domno Nicholao abbati monasterii de Sanctae
Mariae de Nogales dono partem tota uilla de Granoncello” (Nogales, nº
25). Seguindo o exemplo familiar, esse cenóbio e o de Castanheda – em
menor medida o de Moreruela – foram os mais favorecidos por Fernando
Fernandes81. Apesar de alguns estudiosos lhe terem atribuído diversos
cargos institucionais (tenente, alferes, mordomo), a análise atenta da do-
cumentação induz a pensar que, na verdade, essas funções pertenceram ao
seu homónimo Fernando Fernandes de Bragança82, sobrinho-neto segundo
de João Soares de Paiva (cf. infra).

Fernandus comes de Cabreria


Quanto ao conde Fernando Ponce “o Menor” {Cabrera-Trava},
Fernández-Xesta (1991:73) assinala que foi tenente em Lima, Lemos e Es-
tremadura. Mas, se aceitarmos a proposta de Barton (1997: 243), teremos de

80
O último registro apresenta-o como tenente de Sanábria: “Fernandus Poncii, Maior,
tenens Senabriam cf.” (OSantiago, nº 49 [1171]).
81
Assim, já em 1199 oferece a Castanheda uma herdade em Galende: “ego Fernandus
Fernandi do et concedo Deo et Sancto Martino de Castanaria et uobis abbas Petrus omnis
conuentus presentibus et futuris hereditatem meam quam habeo in uilla que dicitur Galen-
di [...] pro remedium anime mee et patris mei et auio meo comiti donno Pontio qui eam
adquisiuit” (TCastañeda, nº 175). Outras doações a essas abadias situam-se em 1204 (Mo-
reruela, nº 46), 1209 (Nogales, nº 33), 1212 (TCastañeda, nº 109), 1230 (Nogales, nº 52) e
1231 (Nogales, nº 56). Exceto no caso da escritura relativa a Moreruela, existem elementos
para considerar que o donatário foi, com efeito, o filho de Fernando Ponce “o Maior”.
82
Estamos, na verdade, perante um caso extremo de concatenamento homonímico, já que
a mulher de Fernando Fernandes de Cabrera e a primeira esposa de Fernando Fernandes de
Bragança utilizaram o nome de “Maria Peres”. Somado ao grande paralelismo vital entre
ambos, isso explica as confusões da crítica historiográfica e as dúvidas que subsistem sobre
alguns aspetos concretos das suas biografias.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 43

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 43 25/09/2012 15:21:35


lhe atribuir a mordomia (1188-1189) e as tenências de Melgar (1172, 1190),
Lima (1173-1174, 1176, 1178-1179, 1182-1184, 1187, 1195-1196), Alhariz
(1174), Zamora (1176, 1188-1192, 1195), Lemos (1177-1180, 1187, 1192,
1197), Toronho (1178, 1194-1195), Cabrera (1178, 1182-1183), Benavente
(1181-1186, 1188), Sanábria (1182, 118983), Mayorga (1186-1187), T. de
Campos (1186-1193), Estremadura (1188, 1190, 1192-1195), Salamanca
(1188-1190), Transerra (1188), Valladolid (1190), Valdemora (1198), Roble-
do (1198)84 etc. Sabemos que casou com Estefânia Lopes de Haro85 (← Lopo
Dias de Haro & Aldonça [Gonçalves] {Trava & Vélaz}86), cuja integração
familiar aparece bem definida numa escritura lavrada em 1200.11.20: “Ego
Stephania comitissa, filia felicis recordationis Lupi nobilissimi comitis de
Nagara”87. Ela foi, portanto, tia de Aldonça Dias (← Diogo Lopes de Haro
& Toda Peres de Azagra), a mulher de Rodrigo Dias dos Cameros.

83
Salazar Acha (2000: 418-419) também o registra nessa tenência entre 1164-1169, o que
nos leva a pensar que pode tratar-se do irmão.
84
A atribuição destas tenências a Fernando Ponce “o Menor” é ocasionalmente asse-
gurada pela referência à dignidade condal – com que não contava o irmão homônimo –:
“Fernandus Poncii comes in Toronio” (Fernando II, nº 139 [1178]), “Fernandus Poncii
comes in Limia” (Oseira, nº 58 [1178]), “Fernandus Poncii, comes in Limia” (SMarcos,
nº 65 [1179]), “Fernandus Poncii comes in Lemos” (Tombo B, n º 207 [1180]), “comes
Fernandus tenente Limia” (Oseira, nº 66 [1183]), “comes Fernandus in Limia” (SMarcos,
nº 84 [1184]), “Comes Fernandus in Benavente” (Oseira, nº 72 [1186]), “Comite Fer-
nando Poncii, tenente Benevento” (SMarcos, nº 118 [1188]), “Comes Fernandus Pontii
tenens Campos” (Oseira, nº 82 [1193]) “comite Fernando tenente Limia” (SMarcos, nº
139 [1195]), etc. Uma escritura de 1172 apresenta-o como “Fernando Ponzo, presidente
in Uidriales et in Riba de Teira et in Carualleda et in Sena[bria]” (ASIL, nº 312). Notemos
que a partir de década de noventa, quando falta o patronímico, existem dificuldades para o
distinguir de Fernando Nunes de Lara (Fernández Rodríguez 2004: 125-126).
85
O casamento foi anterior a janeiro de 1183, altura em que ambos fizeram uma cessão ao
Mosteiro de Sar (cf. infra).
86
Sobre a biografia de Aldonça Gonçalves, veja-se Canal (1995b: 12-16). Este estudioso
considera que foi filha de Gonçalo Fernandes de Trava e de Elvira Rodrigues {Vélaz} (←
Rodrigo Vélaz & Urraca Álvares ← Álvar Fañez & Maior Peres de Carrión {Ansures})
(cf. infra).
87
ACZ, Pergaminhos, maço 14, nº 32. Esse documento confirma a doação da vila de
Manganeses à Sé de Zamora realizada em finais do mês anterior (1200.10.29) por Fer-
nando Ponce e a sua ex-mulher Estefânia: “Ego Fernandus comes de Cabreria cum Ste-
phania comitissa, quondam uxore mea, dono totam vilam de Manganeses ecclesie sancti
Salvatoris de Zemora” (CZamora, nº 56). A dissolução do matrimônio pode ser atribuída à
consanguinidade existente entre eles, já que os dois eram Travas por via materna.

44 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 44 25/09/2012 15:21:35


Entre a documentação respeitante a Fernando Ponce “o Menor”,
dois diplomas do núcleo arquivístico de Santa Maria de Sar, de 1175
[D.9] e 1183, encerram um notável interesse por nos elucidarem sobre
as relações institucionais e humanas do titular88. Pelo conteúdo explícito
desses escritos, vimos a descobrir os laços que ligavam Fernando Ponce
a esse mosteiro compostelano, seguindo o exemplo dos pais. O mais an-
tigo informa da compensação que Fernando Ponce fez àquela instituição
pelas perdas que lhe causara89. O aspeto que atrai a nossa atenção tem a
ver com o primeiro elenco de confirmantes, que reúne uma parte da elite
nobiliárquica vinculada a Fernando Ponce “o Menor”. Podemos identificar
entre eles um número relativamente importante de indivíduos aparentados
com personagens que, em momentos e modos diversos, participaram no
trovadorismo, a começar pelo próprio “Fernandus Pontii”, tio de João
Vélaz e primo de Osório Eanes. Entre as conexões seguras, registramos
a presença de “Johannes Arie de Castela”, pai de Osório Eanes; “Arias
Fernandi de Taveriolis” e “Petrus Fernandi de Taveriolis”, familiares de
Paio Soares e Pedro Velho de Taveirôs; “comes Gomitius de Tratamar”,
pai de Rodrigo Gomes de Trastâmara; “Cotalaia”, (provável) pai de D.
Juião (cf. infra); “Fernandus Arie”, (provável) avô de João Soares So-
messo; “Johannes Froile, dictus Marinus”, antecessor de Pedro Eanes
Marinho e Martim Eanes Marinho. É ainda plausível que “Fernandus
Patronus” mantenha algum tipo de ligação familiar (pai?) com o trovador
homônimo (Fernando Padrão)90.

88
Fernando Ponce e a mulher também aparecem relacionados com a Ordem de Calatrava
(Índice de Calatrava, “Particulares”, nº 23) e, nomeadamente, com o Mosteiro de More-
ruela. O conde deu a esse cenóbio aquilo que possuía na vila de Ceque e no vilar de Juncel-
lo, ocupado indevidamente por ele, e pediu para ser enterrado nesse cenóbio (Moreruela,
nº 38 [1196]). Em 1215, a condessa Estefânia doou a essa instituição, pela sua alma e a do
ex-marido – já falecido –, diversas propriedades (Moreruela, nº 68).
89
É por esse motivo que vendeu ao prior uma herdade no arciprestado galego da Seaia.
A escritura de 1183 transmite a cessão a Sar de uma “curia” em Castro Calvón (Leão)
(AHDS, Priorado de Sar, maço 37, nº 43).
90
Ele é o “Fernandus Pelagii dictus Padrum” titular de uma escritura de 1178 (Toxos Ou-
tos, nº 324), segundo se confirma por um diploma de Fernando II de 1164 em que Fernando
Padrão, tenente das Torres de Oeste, aparece considerado irmão de Paio Pais: “Ferdinan-
dus Patroni tenens Castellum Oneste confirmat.– Pelagius Pelagii frater eius confirmat”

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 45

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 45 25/09/2012 15:21:35


Símbolo heráldico de Fernando Ponce “o Menor” (ACZ, 14/31A [1200])

7. Minervas e Urgéis
Como se sabe, a presença de linhagens de origem catalano-
-provençal no ocidente ibérico não se limitou aos Cabreras. Os condes
de Urgell já se tinham instalado no aparelho administrativo dos reinos de
Afonso VII desde finais do séc. XI, constituindo, assim, o precedente para
a chegada dos Cabreras e dos Minervas no séquito de Berengária de Bar-
celona e Provença. Apesar de não contarem no seu seio com nenhum poeta
em galego-português, como no caso dos Cabreras, é possível que os Urgéis
e os Minervas tenham favorecido o surto do trovadorismo no noroeste da
Península. A interação social dessas duas estirpes, naqueles aspetos que
interessam aos propósitos deste trabalho, é objeto de análise nesta secção.

(Colección de Privilegios, nº 17). “Nuno Pelaez de Trasancos” é o pai de Paio Nunes de


Trasancos, titular de um documento de 1230 [D.31] em que aparece, como confirmante,
um João Somesso.

46 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 46 25/09/2012 15:21:35


Vélaz, Minerva e Flaínes-Froilaz
No início deste trabalho aludíamos a Vela Oveques, irmão de
Bermudo Oveques (bisavô de João Vélaz), como origem do ramo familiar
dos Vélaz que atingiu maior relevo político através da linha sucessória:
Vela Oveques (conde)  Rodrigo Vélaz (conde) (1092-1144)91  Álvaro
Rodrigues (conde) (1129-1167)  Rodrigo Álvares (conde) (1161-1187)92.
Este último, uma das personalidades mais interessantes do reino galaico-
-leonês durante a segunda metade do séc. XII93, era filho da condessa Sancha
Fernandes (← Fernando Peres de Trava & Teresa de Portugal). D. Rodrigo
chegou a ser cavaleiro da Ordem de Santiago (1171)94 e, posteriormente, ele
próprio fundador da de Monte Gáudio ou Montfragüe (1174)95. Casou-se
com Maria Ponce96, uma filha de Pôncio de Minerva e de Estefânia Ramires

91
Ele casou-se com a condessa Urraca Álvares, filha de Álvaro Fanhes e de Maior Peres
Ansures.
92
O seu irmão Bermudo Álvares foi mordomo régio (1186-1188).
93
Contamos com um estudo monográfico sobre Rodrigo Álvares de que é autor J. Mª.
Canal (1983). Veja-se também Pardo de Guevara (2000: 67-75).
94
Ele foi comendador da Ordem de Santiago em Portugal. Salazar Acha (1985: 55) con-
sidera que tomou o hábito do Templo. Também exerceu como tenente em Alhariz, Lemos,
Monterroso e Sárria,
95
Veja-se Blázquez Jiménez (1917), Forey (1971), González (1960: 584-591), Canal
(1983) e Pardo de Guevara (2000: 69, n. 78). D. Rodrigo peregrinou a Jerusalém e colocou
nessa cidade (c. 1180) a casa mãe da nova ordem (cf. infra). Entre os patrocinadores desta
milícia encontra-se a família de Lopo Dias de Haro, marido de Aldonça Gonçalves {Vélaz
& Trava} (prima de Rodrigo Álvares) e avô de Aldonça Dias (mulher de Rodrigo Dias dos
Cameros) (Forey 1971: 255). Antes de ser absorvida pelo Templo (c. 1197), Monte Gáudio
tinha sido amalgamada, em 1188, com a ordem do Hospital do Santo Redentor, recente-
mente fundada em Aragão (Forey 1971: 258). Fernando III fez com que fosse incorporada
na de Calatrava em 1221.
96
A mais antiga referência ao casamento de Rodrigo Álvares com Maria Ponce encontra-
-se numa escritura de 1172.06.03 (SMarcos, nº 33) pela qual a condessa oferece ao Mostei-
ro de S. Marcos de Leão aquilo que, por dote de D. Rodrigo, possuía na Igreja de S. Paio de
Villamuriel: “Tali, uidilicet conditione ut mihi et uiro meo comiti, scilicet, domno Roderi-
co qui eam mihi sub domine dotis contulit semper in orationibus uestris et ceteris beneficiis
teneamini obnoxii”. O enlace de Rodrigo Álvares com Maria Ponce resulta dos interesses
econômicos que os irmãos Álvares tinham na área leonesa, provavelmente vinculados ao
segundo matrimônio da mãe, Sancha Fernandes, com o conde Pedro Afonso {Vélaz}, ca-
sado em primeiras núpcias com Maria Froilaz (←Froila Dias {Flaínes-Froilaz}) (Canal
1983: 390).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 47

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 47 25/09/2012 15:21:35


{Flaínes – Froilaz}, o que permitiu aos Vélaz conectar com duas das mais
importantes linhagens da segunda metade do séc. XII.
Os percursos dos Flaínes-Froilaz e dos Minervas encontraram-se
nas terras ocidentais do reino de Leão sujeitas ao senhorio dos Flaínes ao
longo do séc. XII97. O conde Ramiro Froilaz {Flaínes} (1120-1169), pai de
Estefânia Ramires, foi alferes real (1132-1133) e tenente em Astorga, Villa-
franca del Bierzo, Cabrera, Valdeorras, castelo de Ulver, etc. O conde Froila
Ramires (1150-1202), filho dele, para além de alferes real (1182-1184),
ocupou, entre outras, as tenências do Bierzo, Astorga, Villafranca, Faro,
Lemos, Sárria e Montenegro98. A vinculação à Galiza explica-se pelos seus
casamentos com Urraca Gonçalves (1171-1190) (← Gonçalo Fernandes de
Trava) e, em segundas núpcias, com Sancha Fernandes99, filha de Fernando
Airas (Batissela) {Lima} e de Teresa Bermudes de Trava (cf. supra)100.
A linhagem de Minerva (Barton 1992: 249), estabelecida no
reino de Leão na primeira metade do séc. XII, tem uma trajetória paralela
à dos Cabreras e Urgéis. A sua procedência geográfica situa-se na região
occitana de Minervois (Hérault, Languedoc-Roussillon), sujeita à soberania
dos Condes de Barcelona desde os inícios do séc. XII101. Como no caso de
Pôncio de Cabrera, Pôncio de Minerva (1140-1175) chegou com a rainha
Berengária de Barcelona e de Provença. Afonso VII estabeleceu-o patri-
monialmente na área de Carrizo de la Ribera, após o seu casamento com

97
Sobre esta linhagem, veja-se a síntese de Calderón Medina ([no prelo]).
98
O primogênito foi, contudo, Afonso Ramires (1170-1182), tenente em Astorga (1170) e
no Bierzo (1180-1183).
99
Veja-se López Sangil (2002: 65-70, 149-151) e Salazar Acha (2000: 421). Fruto desse
casamento foram, entre outros, Diogo e Ramiro Froilaz. A filiação materna destes últimos
é assegurada com a ajuda de dois documentos (Carbajo 1904: 365r-365v, nº 163 e 164)
em que eles aparecem expressamente considerados filhos de D.ª Sancha: “domna Sancia
Fernandi, filia domne Tharasie Ueremudiz [...]. Qui presentes fuerunt Ramirus Froile et
Didacus Froile, filii supradicta comitissa domna Sanctia, hanc cartam roboramus et confir-
mamus” (1214, Santiago de Compostela), “Ego domnus Ramirus, filius comitissa domna
Santia, hanc cartam quam ipsa fieri iussit roboro te confirmo et etiam in eadem sigillum
meum apono” (1214, Carracedo).
100
Sancha Fernandes era, portanto, prima do trovador Osório Eanes e tia de Teresa Lopes
de Ulhoa, a segunda mulher de Fernando Pais de Tamalhancos. Veja-se Souto Cabo ([no
prelo/1]).
A família Minerva contou no seu seio com o poeta Aimeric de Montréal, senhor de
101

Minerva, assassinado aquando da cruzada contra os cátaros.

48 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 48 25/09/2012 15:21:35


Estefânia Ramires, segundo ficou registrado num inquérito ordenado por
Afonso IX em 1207 (DCarrizo, nº 79)102:
Quod quando domino imperatore adduxit suam coniugem imperatricem,
adduxit cum ea comite Poncio de Menerua et desposauit eum cum comitissa
domna Stephania, filia comite Ramiro, et dedit medietatem de Karrizo que erat
rengalengo ut dedisset sponsam suam pro arras. Et dedit illi aliam hereditatem
que iacet inter Quintanella et Carrizo et dicitur Quiro. Et aliam medietatem de
Karrizo erat de comite Ramiro et dedit ad illum cum filia sua in casamento.

Graças a uma série de doações régias, o conde Pôncio de Minerva


tornou-se um dos magnates com maior domínio territorial a norte do Douro,
sobretudo nos vales do Porma, Órbigo, Esla e Bernesga (Barton 1992: 252).
Evidentemente, esse poder sucede como recompensa pelo envolvimento
na governação do reino. Ele chegou a ser alferes (1140-1144) e mordomo
(1167103) do rei galaico-leonês (também do de Castela [1172-1173]), conde
desde 1164 e tenente em Leão, Coyanza, Saldaña, Mayorga etc. O seu filho,
Ramiro Ponce, também foi alferes (1163-1165, 1166-1168) de Fernando
II, que lhe terá outorgado a dignidade condal em 1180104.

Ermengaudus Urgellensis
Apesar de terem como centro geográfico da sua soberania o con-
dado catalão correspondente105, os Urgéis vieram a inserir-se na estrutura

102
Pôncio de Minerva contava apenas 12 anos quando chegou a Leão e, por este motivo, o
seu cuidado foi confiado à infanta D.ª Sancha (Barton 1992: 249, García Calles 1972: 32).
103
Calderón Medina (2011a: 281) atribui-lhe, por lapso, a mordomia em 1176 com base
num documento desse ano que, na verdade, é apenas a reprodução doutro de 1167 (Fer-
nando II, nº 83, 148).
104
Os Minervas aparecem como fundadores e padroeiros dos mosteiros cistercienses de
Sandoval (1167) e de Carrizo (1176). Alonso Álvarez (2007: 678-679) associa essas funda-
ções ao casamento de Maria Ponce com Rodrigo Álvares. Após a separação do marido, ela
foi a primeira abadessa de Carrizo (até 1193). Sobre o Mosteiro de Carrizo e a sua relação
com os Minervas-Flaínez, veja-se Casado Lobato (1983), Quintana Prieto (1984), Barton
(1992, 1997), Torres Sevilla (1999), Salazar Acha (2000). O grupo familiar de Fernando
Pais de Tamalhancos aparece também relacionado com esse cenóbio (Souto Cabo [no pre-
lo/1]).
105
Lembremos que, na Catalunha, “conde” corresponde ao conceito de ‘rei soberano’. O
visconde é o ‘conde’ dos reinos centro-ocidentais da Península e tem caráter hereditário. O

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 49

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 49 25/09/2012 15:21:35


de poder dos reinos centro-ocidentais da Península106. Eles constituem, em
termos cronológicos e de relevância social, a primeira e mais distinguida das
linhagens catalãs implantadas no império de Afonso VII. Na sequência dessa
expansão geográfica, estabeleceram vínculos com boa parte das principais
famílias do espaço que vai de Provença até Portugal: Castro, Lara, Haro,
Cabrera, Foix, Barcelona, Trava e Portugal. Lembremos, antes de mais,
que os Cabreras foram feudatários dos Urgéis, na qualidade de viscondes
de Àger (Baixo-Urgell). Por outro lado, a ligação biológica entre ambas as
estirpes irá provocar a mudança de titularidade do condado – a favor dos
Cabreras – na primeira metade do séc. XIII. O próprio conde Armengol VII
era sobrinho de Ponce II Geraldo de Cabrera (avô de João Vélaz). Outra
conexão genealógica, escassamente lembrada, é a que liga os Urgéis aos
Travas, em concreto a quem foi provavelmente um dos principais promo-
tores do trovadorismo na Galiza, Rodrigo Gomes de Trastâmara, filho do
conde Gomes Gonçalves e de Miracle de Urgell (← Armengol VII de Urgell
& Dulce de Barcelona) (cf. infra).
Armengol IV (1066-1092), conde soberano de Urgell, determi-
nou no testamento que o seu sucessor fosse educado na corte de Afonso
VI, desejo que foi cumprido. Armengol V (1075-1102) casou com Maria
Peres, filha do conde Pedro Ansures. D. Pedro, sediado na área da Terra
de Campos e Valhadolid107, era um dos vultos mais importantes da política
em Castela. Além do sucessor, Armengol V teve uma filha de nome Este-

Condado de Urgell (no vale do rio Segre, entre a atual Andorra e a cidade de Lleida) forma
parte do grupo primitivo de condados catalães desde o período da Marca Hispânica.
106
Sobre os condes de Urgell, vejam-se, além da bibliografia geral, os trabalhos de Mon-
far y Sors (1853), Corredera Gutiérrez (1963), Martín Rodríguez (1964), Lomax (1982),
Trenchs – Conde (1985), Canal (1989a), Barton (1996), Fernandez-Xesta (2001).
107
Os Ansures e, com eles, os Armengol aparecem relacionados com a presença dos frades
premonstratenses em Castela. Sancho Ansures (neto de Pedro Ansures), introdutor dessa
ordem na Península, foi o primeiro abade de Retuerta, mosteiro fundado pela condessa
Maior Peres (filha de Pedro Ansures e tia de Sancho) em Fuentes Claras e transferido
para Retuerta em 1146. Entre as personalidades que favoreceram esta abadia encontra-se
Rodrigo Peres de Trava, avô de Rodrigo Dias dos Cameros (Oseira, nº 31 [1156]). Veja-
-se Barton (1997: 197-198) e Alonso Álvarez (2007: 675). Sancha Gonçalves, mulher de
Fernando Peres de Trava e avó do trovador Osório Eanes, era sobrinha de Pedro Ansures
(cf. infra).

50 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 50 25/09/2012 15:21:35


fânia que, tendo desposado Fernando Garcia de Hita108, foi mãe de Pedro
Fernandes de Castro (1139-1184), fundador e (primeiro) mestre da Ordem
de Santiago (Canal 1984).
A morte precoce do conde de Urgell fez com que Pedro Ansures,
com a ajuda de Geraldo II Ponce de Cabrera (aio do futuro conde de Urgell),
tivesse exercido a regência e defendesse os direitos do neto na Catalunha109.
Armengol VI (1096/1119-1154), mordomo de Afonso VII (1146), uniu-se,
em primeiras núpcias, a Arsenda de Àger (← Geraldo II Ponce), enlace que
deu origem ao herdeiro, Armengol VII (cf. infra).
A segunda mulher de Armengol VI foi Elvira Rodrigues de Lara
(← Rodrigo Gonçalves de Lara110). Desse matrimónio nasceu Maria de
Almenar, por sua vez, esposa de Lopo Lopes de Haro (← Lopo Dias de
Haro111). Um descendente deste último casal, também de nome Armengol,
surge associado a um “D. Gomez trobador” que supomos membro do seu
séquito [D.23]112. É a primeira alusão nominal à figura desse ator poético nos
reinos centro-ocidentais da Península e foi utilizada, com maior ou menor
convencimento, para postular a existência de um movimento lírico castelhano
(Menéndez Pidal 1990: 33, Oliveira 2001: 69, n. 2). Porém, se tivermos em
conta o contexto familiar do filho de Maria de Almenar, não podemos excluir
a hipótese de se tratar de um trovador galego-português de obra perdida (ou,
evidentemente, de um poeta em provençal). Com efeito, é de notar que Lopo

108
As origens familiares deste indivíduo são incertas. Há uma teoria que o faz filho do
rei Garcia da Galiza (Canal 1984) a que se opõe outra que o considera, talvez com mais
fundamento, filho de Garcia Ordonhes de Nájera e da infanta Urraca de Navarra (Salazar
Acha 1991). Veja-se Portela (2001: 40-44).
109
Pedro Ansures chegou a (re)conquistar a cidade de Balaguer (Lleida), ponto estratégico
na defesa do condado.
110
A casa de Lara foi uma das mais poderosas estirpes do reino castelhano durante o séc.
XII e inícios do XIII. Rodrigo Gonçalves de Lara e a infanta Sancha Afonso, filha de
Afonso VI, foram os pais de Elvira Rodrigues. Porém, Rodrigo Gonçalves irá desposar
(em segundas núpcias) Estefânia Armengol, irmã de Armengol VI, portanto tia da filha.
Notemos que Maria Gonçalves, irmã de Rodrigo Gonçalves, casou com Ximeno Ínhigues,
senhor dos Cameros, bisavô paterno de Rodrigo Dias dos Cameros (cf. infra).
111
Sobre os Haros, veja-se Canal (1989b, 1995b) e Alonso Álvarez (2004: 26-36).
112
Lopo Lopes aparece como confirmante ao lado do jogral Palha numa escritura de 1151
redigida em Toledo: “Lupus Lupiz de Carrione; Palea, joculator, socer Michael Petriz,
confirmat” (PSJoão, nº 62).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 51

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 51 25/09/2012 15:21:35


Dias de Haro (pai de Lopo Lopes) esteve casado com Aldonça Gonçalves
(1162-1207), filha de Gonçalo Fernandes de Trava (1140-1164) e de Elvira
Rodrigues {Vélaz}113. Apesar de existirem algumas dúvidas sobre a filiação
materna de Lopo Lopes114, D.ª Aldonça terá exercido de fato –talvez também
de direito – como avó desse Armengol Lopes. A possível origem galega
do “trobador” pode ainda vir apoiada por aquilo que conhecemos sobre
Armengol VII (cf. infra). Aliás, a relação do anterior com Armengol Lopes
parece ter sido muito estreita, ao ponto de, no seu testamento, ter nomeado
este último como potencial herdeiro (Canal 1984: 128).
Armengol VII (1132-1184), principal representante da linhagem
na segunda metade do séc. XII, foi mordomo de Fernando II (1167-1173,
1175, 1176, 1177, 1179-1184) e tenente em Villalpando (1167-1168), To-
ronho (1170-1173), Lima (1171, 1173, 1180), Monterroso (1172), Leão
(1178, 1181-1183), Benavente (1180), Salamanca (1181) e Villafranca
(1182) etc. O conde de Urgell chegou a ser tutor do príncipe D. Afonso
em 1172, numa altura em que ocupava o cargo de mordomo (cf. supra):
“comes Urgelensis maiordomus regis et filiis eius tutor” (Fernando II, nº
127)115. Ele esteve casado com Dulce de Foix (filha de Roger III de Foix e

113
Canal (1995b: 11-15) propõe essa integração familiar para Aldonça (cujo patronímico
nunca é referido) com base num documento riojano em que ela é apresentada como prima
do conde D. Rodrigo Álvares {Vélaz & Trava}: “yo, la condesa Endulcia, con mi con-
sobrino (= ‘primo’) el conde Rodrigo y mi hijo Diego y demas hijos y hijas” (MLaturce,
nº 49 [1182]). Anteriormente fora considerada tia desse mesmo Rodrigo Álvares (Salazar
Acha 1985: 57-60) ou ainda irmã dele (Canal 1989b: 62-66). Na identificação em foco, é
importante o testemunho de um diploma de 1201 (TLourençá, nº 22) pelo qual sabemos
que o avô do conde Gomes Gonçalves {Trava}, considerado irmão de Aldonça Gonçalves,
foi Rodrigo Vélaz. Isto quer dizer que Elvira Rodrigues, mãe do conde D. Gomes, perten-
ceu à linhagem dos Vélaz e que foi filha de Rodrigo Vélaz e de Urraca Álvares {Ansures}.
As suas origens apareciam até a esse momento como incertas (Barton 1997: 257). Lem-
bremos, contudo, que o termo “consoprinus” era também utilizado para ‘sobrinho’, o que
nos levaria a pensar que D.ª Aldonça fora irmã de Álvaro Rodrigues {Vélaz}, pai desse
Rodrigo Álvares.
114
Canal (1995b), de acordo com uma hipótese sugerida por Balparda (1934: 372), supõe
que Lopo Lopes foi fruto de um matrimónio anterior de D. Lopo Dias, mas não aduz pro-
vas documentais. É por esse motivo que, no esquema genealógico correspondente, não o
incluímos entre os filhos de Aldonça Gonçalves.
115
O segundo precetor foi João Airas, pai do trovador Osório Eanes (cf. infra).

52 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 52 25/09/2012 15:21:35


de Ximena de Barcelona, irmã de Raimundo Berengário IV), com quem,
além do sucessor, teve duas filhas: Miracle e Marquesa116.
Sobre os vínculos de Armengol VII com a Galiza, devemos notar
que ele aparece como um dos protetores do Mosteiro de Armenteira, ao
qual cedeu, em 1173 (altura em que era tenente de Toronho), o seu quinhão
de uma vila: “Ego, Ermengaudus Urgelensis, [...] dono et concedo Deo et
beate Maria de Armentaria et tibi domno Ero abbati eiusdem monasterii
[...] partem que pertinet michi de illa villa vocitata Suecus que est heredita
mea” (AHN, Armenteira 1750, nº 3)117. O dado que mais diretamente liga
a família deste conde de Urgell à Galiza (e à lírica galego-portuguesa) tem
a ver com Miracle. Ela foi mulher do conde Gomes Gonçalves (principal
representante dos Travas e figura essencial na corte galaico-leonesa) e mãe
de Rodrigo Gomes de Trava (cf. infra). Marquesa, a outra filha de Armengol
VII, reforçou os laços dos Urgéis com os Cabreras pelo seu casamento com
Pôncio III Geraldo de Cabrera (visconde de Girona e de Àger).
Armengol VIII (1158-1209) não chegou a ocupar cargos impor-
tantes no reino galaico-leonês, talvez por se ter fixado, após o casamento,
nas posses catalãs. Ele esteve casado com Elvira Nunes118, filha de Nuno
Peres de Lara e de Teresa Fernandes (← Fernando Peres de Trava & Teresa
Afonso de Portugal), motivo pelo qual os Urgéis se aparentaram de novo
com a estirpe dos Trava. Armengol VIII foi sucedido pela filha, Aurembaix,
que foi desposada por Álvaro Peres de Castro e, em segundas núpcias, por
D. Pedro de Portugal (1187-1252) (← Sancho I)119.

116
Como sublinha, Calderón Medina (2011a: 177) o conde aparece acompanhado por di-
versos milites catalães que provavelmente formavam parte da sua hoste.
117
As famílias de Osório Eanes e a de Rodrigo Dias dos Cameros também mantiveram
vínculos estreitos com esta instituição conventual (cf. infra).
118
Canal (1981) supõe que foi Elvira Peres, filha do conde asturiano Pedro Afonso. No
entanto, a documentação apoia a hipótese aqui perfilhada (Calderón Medina 2011a: 178).
119
D. Pedro foi mordomo (1223-1230) de Afonso IX e tenente. O cargo de mordomo foi
exercido ocasionalmente, em nome dele, por Rui Gomes de Briteiros (cf. infra).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 53

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 53 25/09/2012 15:21:36


CAPÍTULO II

JOÃO SOARES DE PAIVA

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 55 25/09/2012 15:21:36


Conjunto absidial do Mosteiro de Moreruela (c. 1175)

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 56 25/09/2012 15:21:36


1. João Soares, o Trobador
Avia otras [cantigas] de Johan Suares de Pavía, el qual se dize aver muerto
en Galizia por amores de una infanta de Portugal (Marquês de Santillana,
Prohemio e Carta, c. 1448)

A cronologia que alguns estudiosos atribuíram à cantiga Ora faz’


ost’ o senhor de Navarra (c. 1196-12161), único cantar conservado de João
Soares de Paiva (1170-1182), faz com que tenha sido amiúde apresentada
como o exemplo mais antigo da poesia trovadoresca galego-portuguesa:
“Estamos [...] perante a primeira ou uma das primeiras composições dos
cancioneiros medievais peninsulares” (Oliveira 1994: 372). Ora bem,
devemos lembrar que não se trata de um valor temporal absoluto, uma
vez que é referido apenas ao conjunto diminuto de textos, em princípio,
datáveis do primeiro grupo de poetas. Contudo, ela poderá representar um
recurso de grande pertinência para equacionar a questão das origens da
lírica galego-portuguesa.
Essa hipotética primazia cronológica, somada a uma vinculação
conjetural de João Soares ao ambiente de Rui Dias dos Cameros – aquando
da composição do sirventês –, constitui o alicerce da teoria que situa o berço
do nosso lirismo nas terras do nordeste peninsular (ou ainda além-Pireneus)
(cf. supra). Entre os defensores dessa tese encontra-se José C. Miranda
(2004: 38) que para responder à pergunta de “Onde está, então, João Soares
de Paiva quando escreve o seu texto?” conclui o seguinte:
João Soares comparece, curiosamente, apenas em sétimo lugar da lista, mas
perto dele está o nome de Rui Diaz dos Cameros, autor de três composições
igualmente não conservadas [...]. Trata-se do senhor dos Cameros, território
Riojano que faz fronteira com Navarra, à vista da praça aragonesa de Tarazona.
Com os dados actualmente disponíveis não nos parece existir qualquer alter-
nativa minimamente credível à possibilidade de João Soares ter escrito o seu
texto junto daquele poderoso magnate e trovador, sendo a relação entre estas

1
Vejam-se, entre outros, os trabalhos de Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1904: 567-
568, 2004: 299-313), López Aydillo (2008: 38-39), Alvar (1987) ou Miranda (2004: 38-
42).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 57

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 57 25/09/2012 15:21:36


duas personagens o ponto de partida para a compreensão das circunstâncias que
levaram ao surgimento do primeiro núcleo trovadoresco em galego-português2.

Existem outras possibilidades, de natureza menos conjetural, para


explicar a participação de João Soares de Paiva no trovadorismo. De acordo
com a opinião sempre criteriosa de Carolina Michaëlis3, o mais lógico seria,
em princípio, pensarmos que o poema foi elaborado em terras do antigo
reino de Aragão, visto que, como o próprio Miranda notava, “o trovador
assume o partido do rei de Aragão contra o rei de Navarra”4. A hipótese da
investigadora alemã coaduna-se, em alguns aspetos da sua conclusão, com
a tese defendida neste trabalho, segundo a qual a existência do sirventês
advém da associação do Paiva aos Cabreras-Vélaz através da linhagem dos
Braganças a que pertenceu por via materna.

Entre Paiva e o Bércio


Os investigadores que se ocuparam desse trovador identificaram-
-no com um João Soares [de Paiva, o Freire, o Trovador], filho de Soeiro Pais
(← Paio Pires & Goda Soares da Maia), referido com alguma frequência
nos Livros de Linhagens5:

2
Na verdade, o antigo senhorio dos Cameros não é fronteiriço com Navarra, antes pelo
contrário, encontra-se num território riojano(-castelhano) oposto a esse antigo reino; por-
tanto, afastado de Tarazona em cerca de 100 km.
3
Miranda (2004: 16), retomando um assunto que já abordara com algum pormenor (Mi-
randa 1997: 8-9), explica que Michaëlis reforçava a sua hipótese “pela existência de uma
Pauia perto de Lérida, em pleno reino aragonês, terra que, na sua opinião, teria sido arra-
sada pelo rei navarro, motivando o feroz canto do trovador”. Porém, Carolina Michaëlis
(2004: 307) na “Glosa IX” – publicada em 1902 – já preferia identificar esse topônimo com
o português correspondente (cf. infra).
4
López Aydillo (1923: 42) vê na referência ao “bon rey” (vv. 9 e 13) uma alusão a
“Alfonso IX de Castilla” (= Afonso VIII de Castela). Assim, ele interpreta “que el hecho
histórico referido en la cantiga de Soarez de Payva, es anterior a la campaña de Alfonso
IX de Castilla y Pedro II de Aragón contra Sancho IV de Navarra y debe ser datado, por
consiguiente, en el año 1196”.
5
A identificação parece, logicamente, correta. Notemos, contudo, a existência de indi-
víduos caraterizados pelo uso do antrotopônimo “Pavia” na área do Minho ourensano no
primeiro quartel do séc. XIII: “Rodericus Petri et Iohannes Petri, filios domni Petri Gundi-
salvi de Paiva et domna Maiores Menendi” (Oseira, nº 210 [1220]).

58 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 58 25/09/2012 15:21:36


E este dom Sueiro Mouro foi casado com dona Urraca Mendes de Bragança,
e fora já casada com Diogo Gonçalves, que mataram na lide de Ourique, e fez
em ela João Soares, o Freire, e Estevainha Soares e Paio Soares, dito Romeu.
(LD 6G5) [...]. E João Soares Freire casou com dona Maria Annes, filha de
João Fernandes de Riba de Vizela e de dona Maria Soares, filha de dom Soeiro
Mendes, o gordo, de barregã, e fez em ela Pero Annes, e Rodrigo Annes, e Soeiro
Annes, e Joanne Annes e Tareja Annes, que foi monja de Lorvam. (LD 6M6)

Este Soeiro Anes foi casado com dona Marinha Anes, [filha de dom Joham
Fernandez de Riba d’ Avizela], e fez em ela Joham Soarez, e Pais Soarez e
Vaasco Soarez, que foi frade de Sam Francisco, e dona Costança Soarez, que
foi abadessa de Lorvão [...] (LC 26F4). Este Joham Soares de Pavha foi ca-
sado em Lisbõa com dona Margarida, que foi cidadãa, e fez em ela dona Crara
Anes, casada com Joham Rodriguiz Cenoira, que foi natural d’ Evora, e foi
bõo cavaleiro, e sobrinho do arçobispo dom Martim, e fez em esta dona Crara
Anes ũu filho que houve nome Rodrigu’ Eanes Cenoira, como o avoo, e por
sobrenome Buçalfom. (LC 26G5)

Este dom Soeiro [Paaez] Mouro foi casado com esta dona Orraca Meendez de
Bragança, irmãa de dom Fernam Meendez de Bragança, Velho, Braganção,
como se mostra no titulo XXXVIII, dos Bragançãos, parrafo 1º, e fez em ela
Joham Soarez, o Trobador, e Paai Soarez Romeu, o prestomeiro [...]. Este
Joham Soarez, o Trobador, foi casado com dona Maria Annes, filha de dom
Joham Fernandes de Riba d ‘Avizela e houverom semel, como se mostra no
titulo XXVI. (LC 42W5-6)

E dona Marinha Martîiz, irmãa da dita dona Sancha e filha dos sobreditos, foi
casada com Sueir’ Eanes de Pavha, e fez em ela Joham Soarez de Pavha, e
Gomez Soarez, e dona Costança Soarez, que foi abadessa de Lorvão, e outro que
houve nome Paai Soarez de Pavha e frei Vaasco Soarez, que foi frade preega-
dor. Este Joham Soarez de Pavha, suso dito, foi casado em Lixboa com dona
Margarida cidadãa de Lisboa, e houverom semel como ja dissemos. (LC 62G7)

Como se verifica pelos excertos reproduzidos, os nobiliários re-


gistram diferentes versões biográficas para essa personagem, sendo uma das
discrepâncias mais notórias aquela que se prende com o casamento de João
Soares: com Maria Eanes de Riba de Vizela ou com a lisboeta Margarida6.

6
Por esse casamento com Maria Eanes de Riba de Vizela, João Soares teria estabelecido
um nexo com a linhagem de Paio Curvo (vinculado familiarmente a Fernando Pais de Ta-
malhancos e a Garcia Mendes de Eixo), já que Paio Viegas Alvarenga, neto de D. Paio por
via feminina, esteve casado com uma irmã dessa Maria Eanes. Veja-se Pérez Varela (1995:
497).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 59

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 59 25/09/2012 15:21:36


Poderíamos pensar em dois matrimônios ou na existência de dois indivíduos
homônimos, mas de gerações diferentes, cujos dados históricos teriam sido
fundidos pela literatura linhagística7. Esta última conjetura vem insinuada
por uma certa incompatibilidade cronológica entre a data de nascimento
que tradicionalmente se atribui ao poeta (c. 1139) e as atividades de alguns
dos seus (alegados) parentes – mulher e filhos – nos últimos anos do séc.
XII ou ainda além da primeira metade do séc. XIII (Miranda 2004: 18-198).
A escassa presença documental de João Soares de Paiva não permitiu
resolver, com alguma segurança, essas dúvidas biográficas.
Carolina Michaëlis (2004: 306) supunha que: “o poeta terá nas-
cido imediatamente depois do ano 1139, como filho de D. Soeiro Pais, por
alcunha O Mouro e de D.ª Urraca Mendes de Bragança”. Essa cronologia
resulta de aceitar a informação dos Livros de Linhagens segundo a qual “o
Mouro” cortejava D.ª Urraca mesmo antes da morte do primeiro marido,
Diogo Gonçalves de Cete, na batalha de Ourique (1139). A narrativa (ro-
manesca) levou D.ª Carolina a supor um matrimônio imediato dos alegados
amantes: “apressou-se, logo que chegou a notícia da sua morte na batalha
de Ourique, a casar-se com o amante [...]. O casamento legitimou o filho
João Soares, nascido pouco depois”.
A dedução da investigadora alemã parece entrar em contradição
com o ato documental relativo à entrega das arras por parte de Soeiro Pais
a Urraca Mendes em 11469. De acordo com a prática habitual (Calderón
Medina 2011a: 101), este contrato nupcial foi provavelmente estabelecido

7
Pizarro (1999, vol. 3, “esquema genealógico dos Paiva”) considera que o marido de
Margarida de Lisboa foi João Soares II, filho de Soeiro Anes (← João Soares de Paiva &
Maria Eanes de Riba de Vizela).
8
Miranda (2004: 18) refere-se concretamente a Maria Eanes (mulher de João Soares),
a irmã mais nova de Martim Eanes, alferes-mor de D. Afonso II desde 1217 até à década
de quarenta. Por outro lado, alguns dos filhos que os Livros de Linhagens atribuem a João
Soares ainda continuavam vivos em finais da década de cinquenta (Miranda 2004: 18).
9
“Era Mª Cª LXXXª IIIIª. Ego Suario Pelaiz vobis uxor mea Orraca Menendiz do vobis
arras que debeo dare [...] in terra de Pavia una corte que debeo dare [...]. Et istas arras do
vobis per tali pacto, ut si ego migratus fuero ante vos et vos alio viro apprehenderitis; ut
relinquatis ipsas hereditates ad meos filios et vestros que de nobis fuerint sine alios. Et
vobis similiter dico ut si ego ante vos migrata fuero; ut non habeant ipsas hereditates nisi
meos filios nisi vestros et si semen nostram extincta fuerit, ut remaneant ipsas hereditates
ad illo monasterio” (Martins 1999, nº 1).

60 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 60 25/09/2012 15:21:36


no dia do casamento ou nos dias posteriores, portanto, o enlace deve ser
situado em 1146. Por outro lado, a colocação cronológica coaduna-se com
o caráter prospetivo da alusão aos descendentes: “filios [...] que de nobis
fuerint”, ou seja: ‘os filhos que tivermos’. Não há dados para pensar que
nessa altura já contassem com alguma prole10. Assim, o nascimento de João
Soares terá como termo post quem o ano de 1146, situação que pode resol-
ver, em parte, os problemas que põe a necessidade de combinar a biografia
do Paiva com as datações atribuídas a Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra11.
O registo histórico mais recuado de João Soares remonta ao ano
1170 quando ele próprio doava ao Mosteiro de Paço de Sousa uma herdade
em Pedorido (conc. Castelo de Paiva)12:
Ego Johanne Suariz facio testamentum de mea hereditate propria que habeo
de parte auiorum meorum siue de ganantia pro remedio anime mee ut partem
merear adipisci in celestibus regnis a domino seculis infinitas cum angelis sanc-
tis. Offero huic sancto et uenerabili altaris sancti Saluatoris de Palacioli cum
aliis reliquiis que ibidem sunt recondite. Et est ipsa hereditate prenominata in
Pedourido I kasal ubi mora Paai Aluitiz, et est a decima de tota a uilla. Do atque
concedo ipsa hereditate ad monasterio de Palaciolo per suis terminis nouissimis,
et antiquis cum quantum in se obtinet et as prestitum hominis est [...]. Facta
karta series testamenti, era MCCVIII. Ego Iohanne Suariz in hoc testamento
quod iussi fierei manus meas roboro (PSousa, nº 148).

O mosteiro cisterciense de Paço de Sousa, panteão de Egas Moniz, aparece


ligado à família do trovador. O cenóbio também beneficiou de doações

10
Miranda (2004: 17) prefere considerar que o documento “não desmente esta datação,
apenas leva a pensar que, nessa data, o casal considerava a sua prole não terminada”.
11
Mesmo na hipótese de datação mais precoce, o poeta estaría perto dos sessenta anos.
12
Alguns investigadores situam essa primeira atestação em 1169: “encontramos João
Soares, filho de Soeiro Pais “Mouro” [...] em 1169, participando numa venda de bens
efectuada pelo seu pai” (Miranda 2004: 19), “Aparece mencionado en docs. de 1169 (no
que dá consentimento a unha doazón efectuada polo seu pai)” (LP: 549). Porém, nessa
escritura não consta o nome do João Soares, já que a ratificação dos filhos é apresentada
de modo coletivo: “Ego Suarius Pelaiz cognomento Mauro una cum filiis et filiabus meis
facio tibi Petro Arteiro (?) cartam uenditionis de duobis casalibus [...]. Ego Suarius Pelaiz
una cum filiis et filiabus meis qui hanc cartam uendicionis facere iussimus in illa manus
nostras roboramus” (Arouca, nº 134). O “engano” poderá ter a sua origem numa interpre-
tação errada da referência de Oliveira (1994: 371) a esse mesmo escrito: “Em 1169 anuía,
provavelmente, a uma venda efectuada pelo pai”. Outras notícias sobre alguns dos seus
bens na terra de Paiva foram registradas pelas Inquirições de 1258 (Oliveira 1994: 372).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 61

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 61 25/09/2012 15:21:36


do pai em 1171 (PSousa, nº 1913) e do irmão Pai Soares Romeu em 1177
(PSousa, nº 13414).
A segunda e, por enquanto, última presença documental do Paiva
situa-se numa escritura de 1182.01.30 (TSobrado II, nº 322) lavrada em
Villafranca, na região leonesa do Bierzo15:
Notum sit omnibus tam futuris quam presentibus quod ego Martinus Faber et
sotius meus Petro Pelagii tibi Martino Espartido et uxori tue Exemene Petri,
uendimus uobis uineam una que iacet in Ueiga de Uite [...]. Factum scriptum
apud Uillafrancam mense Ianuarii IIIº kalendas februarii, era Mª CCª XXª.
Regnante inclito rege domno Fernando et eius filio Alfonso in Legione, Gallecia,
Extrematura et Asturiis. Episcopo domno Fernando in Astorica. Comite Urge-
lensi tenente Uillamfrancam et de manu eius Petro de Fonte [...]. Presentibus
confirmantibus: [...] Johanne de Pauia cf.

Essa informação evidencia um possível afastamento do Paiva a respeito das


terras de onde era natural, sugerido pela própria cantiga. Michaëlis (2004:
307) – que desconhecia a “estadia” leonesa – sugeria ligar essa deslocação
ao casamento da filha de D. Raimundo Berengário com Sancho I16. Por seu
turno, Miranda (2004: 20) avalia a existência de causas de ordem política:

13
“Ego Suario Pelaiz cognominato Mauro facio series testamenti pro remedio anime mee
[...]. Offero huic sancto et uenerabili altari Sancti Saluatoris de Palaciolo cum aliis reliquiis
que ibidem sunt recondite. Sunt ipsas hereditates pernominatas in terra de Pauia in Crasto
V casales, in Kasal Perro I casal, in terra de Penafiel in Figueira II kasales, in Rriu Malo I
kasal”.
14
“Ego famulus Dei, Pelagio Suariz cognomento, Romeu, prolix Orraca filius [...]. Do
atque concedo in loco supra dicto, ut pro anima mea remedio hereditate mea propria que
habeo de parte genitore meo, Suario Pelaiz, cognomento Mauro et pernominata in uilla de
Ceidoneses medietate de ipsa quintana cum sua senara et cum suo casal, et cum omnem
suam rectitudinem; et alio kasal ante porta de Sancto Uicentio, et alio in Uilela. Alio casal
in Octeiro [...]”.
15
Miranda (2004: 19) situa essa vila em território galego (“Villafranca na Galiza”), o que
não corresponde à realidade, no passado nem no presente. Aliás, também não se justifica
a afirmação de que “Villafranca, onde se encontra em 1182 [João Soares de Paiva], como
vimos atrás, se situa na zona de origem da mãe de Rui Diaz de los Cameros” (p. 39).
16
“Não posso comprovar por que motivo ele se ausentou da pátria, nem se o fez como
cavaleiro ou como trovador. Tão pouco sei quando. Só posso conjecturar que teria aconte-
cido enquanto D. Dulce, irmã de D. Afonso II e filha de D. Raimundo Berenger, partilhava
o trono português com D. Sancho I, porque nesse período (1174-1198) se desenvolveu,
naturalmente, um intenso contacto entre as duas dinastias, causando visitas, contratos e
embaixadas”.

62 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 62 25/09/2012 15:21:36


É certo que o momento em que Soeiro Pais “Mouro” e o filho João Soares aban-
donam Portugal coincide com aquele em que outras personalidades relevantes,
com as quais tinham relações de parentesco, igualmente o fazem – como o chefe
da casa da Maia, Pero Pais, o Alferes ou até o meio-irmão do futuro D. Sancho I,
D. Fernando Afonso, que depois virá a ser Grão Mestre da Ordem do Hospital –,
o que nos leva a pensar que razões políticas e solidariedades de grupo poderão ter
estado na base dessa expatriação. Mas também não é impossível que João Soares
e o pai tenham tomado tal iniciativa com vista a efectuar uma peregrinação, caso
em que os legados a Paço de Sousa fariam do mesmo modo todo o sentido17.

Tenham concorrido ou não motivos políticos concretos para a alegada


expatriação, existem elementos para pensar que a localização de João
Soares de Paiva em terras do ocidente leonês se prende aos interesses
geopolíticos dos Braganções, estirpe a que ele pertenceu por via materna,
enquanto filho de Urraca Mendes de Bragança (cf. infra). Esse fato terá
sido, em última instância, responsável pela adoção do ofício poético por
parte do Paiva, pois existem dados que relacionam, de vários modos, aquela
estirpe trasmontana com o grupo familiar dos Cabreras-Vélaz. É por isso
que, nas páginas que se seguem, acompanhamos a trajetória dos Braganças
(ou Braganções), desde os inícios do séc. XII até ao primeiro quartel do
séc. XIII18, nomeadamente no que diz respeito ao seu envolvimento nos
assuntos do reino galaico-leonês.

Em Santa Maria de Moreirola


A evidência mais expressiva acerca dos nexos entre os Bragan-
ções e a linhagem dos Cabreras-Vélaz pode ser retirada de um passo dos
Livros de Linhagens em que se refere o conflito gerado entre dois tios
maternos de João Soares de Paiva. De acordo com essa narrativa, Rui
Mendes foi punido com a cegueira por ter quebrantado um juramento fei-
to no Mosteiro de Moreruela pelo qual se obrigara a não agredir o irmão
Fernando Mendes:

17
Ferreira (2009: 139) descarta a possibilidade de um exílio político por iniciativa do pai,
já que não existem provas para a alegada ausência do reino de Soeiro Pais Mouro.
18
Sobre este grupo familiar, veja-se Mattoso (1982: 65-68), Machado (2004), Pizarro
(2007).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 63

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 63 25/09/2012 15:21:36


E este dom Mem Fernandes foi casado com dona Sancha Viegas, filha de dom
Egas Gonsendes de Riba de Douro, e fege em ela dom Fernão Mendes o Bravo,
e Rui Mendes, que cegou entrante à lide que houve com seu irmão dom Fernão
Mendes, porque lhi jurara em Santa Maria de Moreirola que nom fosse contra
ele, e porque passou o juramento que fezera em Santa Maria de Moreirola,
cegou entrante à lide, e morreo em ela. (LD 12A3)

Com independência dos possíveis ingredientes lendários, o epi-


sódio em foco permite concluir que os Braganças estiveram ligados a esse
cenóbio zamorano (Machado 2004: 91, n. 221), fundação patrimonial e
panteão dos Cabreras-Vélaz (cf. supra)19. O Mosteiro de Moreruela, uma das
principais casas de Cister na Península, exerceu o seu domínio (espiritual
e material) nos dois lados da fronteira, com uma importante presença em
Trás-os-Montes, notadamente em terras brigantinas20. Essa situação reflete a
manutenção de um continuum entre ambos os reinos que a recente fronteira
política não conseguira fraturar21. No contexto de porosidade entre as terras
do nordeste português e as regiões (galaico-)leonesas contíguas, o exemplo
mais notável é constituído precisamente pelas atividades dos Braganças
no reino vizinho. Estamos perante uma “tradição que, desde o século XI,
consistia numa política dos Braganções de aproximação alternada às cortes
dos reis de Portugal e de Leão” (Machado 2004: 172) 22.

19
O Mosteiro de Castanheda, na comarca zamorana de Sanábria, constitui outro impor-
tante “ponto de encontro” entre os Braganças e os Cabreras-Vélaz (cf. infra).
20
Veja-se Alfonso Antón (1983/I: 123, 142, 159, 178, 221).
21
“Resulta evidente que la permeabilidad de efectivos humanos y estruturas de dominio
por encima de las fronteras es caraterística de todos los reinos medievales y aun más de
los del occidente peninsular. Ahora bien, en los territorios de Tras-os-Montes y la actual
provincia de Zamora, durante el periodo que se va a analizar aquí, este fenómeno cobra una
intensidad especial, quizás sólo superado por los contactos a ambos lados del Miño [...].
Lo distintivo de este territorio y periodo concreto es la prolongación de los dominios del
Císter gallego-leonés y de las órdenes militares al otro lado de la frontera y el entrecruza-
miento de señoríos laicos leoneses y portugueses en las comarcas de Sanabria, Carballeda,
Braganza y Miranda” (Beceiro Pita 1998: 1085-1086). Sobre a presença de portugueses na
corte galaico-leonesa entre 1157 e 1230, veja-se Ferreira (2009), Pizarro (2010) e Calderón
Medina (2010).
22
Ventura (1992: 339) também sublinha a dupla sujeição política desta família: “Numa
fronteira política flutuante, os de Bragança oscilavam entre obedecer ao rei de Portugal, ou
ao rei de Leão, obtendo favores ou suscitando vinganças”.

64 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 64 25/09/2012 15:21:36


De Bregancia
O domínio dos Braganças sobre o espaço geográfico que abrange o
nordeste de Trás-os-Montes (Vila Real-Bragança) e a área leonesa de Zamora
já está documentado com D. Fernando Mendes (I) “o Velho” (1112/1117?),
senhor de Bragança-Chaves e “mandante” em diversos espaços da atual
província de Zamora23. A independência de Portugal não quebrou essa li-
gação; diversos membros desta estirpe irão participar de modo muito ativo
na governação do reino galaico-leonês até ao primeiro quartel do séc. XIII.
O único filho de Fernando Mendes (I)24 foi Mendo Fernandes de
Bragança (II), avô materno de João Soares de Paiva. D. Mendo casou com
Sancha Viegas de Baião com quem teve cinco filhos: Fernando (II), Mendo25,
Rui, Urraca (mãe de João Soares de Paiva) (1146-1171) e Nuno Mendes
(de Caria). Fernando Mendes (II) “o Bravo” (1124-1160), um dos homens
mais poderosos do seu tempo26, desposou em primeiras núpcias Teresa
Soares, filha de Soeiro Mendes da Maia, cavaleiro próximo de Afonso VI
e de Raimundo de Borgonha (conde da Galiza). Num segundo casamento
uniu-se a Sancha Henriques, irmã do futuro rei. Fernando Mendes (II)
ostentou a tenência de Bragança e, apesar de não ter exercido cargos na
corte, manteve uma presença constante junto de Afonso Henriques, primo
e cunhado dele. Fruto do seu primeiro matrimônio foi Pedro Fernandes de
Bragança (1152-1194). Este rico-homem, governador da terra de Bragança
e mordomo-mor (1166-1175), desenvolveu um papel importante no tratado
entre Sancho I de Portugal e o rei Afonso IX de Galiza-Leão, celebrado
em 1194, para solucionar os problemas que se seguiram à anulação do
casamento da infanta lusa com o rei Afonso IX (Machado 2004: 136-142).

23
Machado (2004: 61), de acordo com a documentação, refere-se às povoações de Zamo-
ra, Toro e Villalobos.
24
Casado, segundo algumas propostas, com uma filha natural de Afonso VI.
25
As hipóteses tradicionais não incluíam este indivíduo entre os filhos de Mendo Fernan-
des, antes o identificavam com um irmão ou com um neto, atribuindo-lhe o patronímico
“Fernandes”, que não consta na documentação. Machado (2004: 82-85), com argumentos
convincentes, propõe considerá-lo, como dissemos, o filho de Mendo Fernandes I que
atingiu maior notoriedade (cf. infra).
26
Esta é a opinião de Machado (2004: 107) e doutros investigadores.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 65

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 65 25/09/2012 15:21:36


D. Pedro é mencionado, ocasionalmente, entre os representantes
do poder como “senhor de Bragança” em documentos do Mosteiro de
Castanheda (conc. Galende)27, o que é um indício das intensas relações da
região e da própria instituição conventual com os Braganções (cf. infra).
O cenóbio situa-se na Sanábria (ou Seavra), região limítrofe com a Galiza
dominada pelos Cabreras-Vélaz28, os quais mantiveram fortes vínculos com
esse mosteiro. O primo de João Soares surge no escatocolo de uma escritura
de doação da vila de Calabor (conc. Pedralba) a esse convento ao lado de
Fernando Ponce “o Maior” (tio de João Vélaz): “Regnante rege Fernando in
Legione et Gallecia. Petrus Fernandi dominus Bregantie. Fernandus Pontii
dominabatur Senabria” (Castañeda, nº 61 [1168]). Também o descobrimos
num diploma de teor similar, mas agora acompanhado do seu primogênito
Fernando Peres (1178): “Dominus Bregancie Petrus Fernandiz cum filio
Fernando Petriz” (TCastañeda, nº 69).
Esse último, fruto do casamento de Pedro Fernandes com Fruílhe
Sanches de Celanova29, não chegou a ser Senhor de Bragança por ter fale-
cido antes que o pai, passando diretamente a chefia da linhagem, em 1194,
a seu filho Fernando Fernandes (1186-1230)30. Como sublinha Beceiro Pita

27
Referimo-nos à sequência de próceres que se insere, com frequência, no protocolo final
dos documentos e serve para estabelecer a datação sincrônica dos mesmos.
28
A tenência de Sanábria aparece ocupada, ao longo do séc. XII e primeira metade do
séc. XIII, por diversos membros dessa linhagem: Pôncio II Geraldo (1132-1158), Fernan-
do Ponce (1164-1169), Pôncio Vélaz (1200), Fernando Fernández (1219-1220). Veja-se
Rodríguez González (1973: 282-283) e Fernández-Xesta (1991: 84-85): “Es, además, la
Sanabria, otra de las permanentes tenencias de don Ponce de Cabrera y, quizás, junto con la
de Zamora y la de Cabrera (todas ellas comarcas y territorios continuados en el espacio), de
las más queridas por él. No estaba limitada, creemos, esta tenencia a la mera Puebla, sino
que, a través de los documentos, da la impresión de que don Ponce gobernaba la comarca
en su conjunto”.
29
Filha de Sancho Nunes (← Nuno Vasques & Fruílhe Sanches) e de uma irmã (Sancha
ou Urraca) de Afonso Henriques (Barton 1997: 302, Machado 2004: 124). Ela era irmã
do conde Vasco Sanches (1153-1181), mordomo de Afonso Henriques entre 1169-1172.
Posteriormente, D. Vasco exilou-se na corte de Afonso VIII de Castela e, a partir de 1174,
na de Fernando II, tendo assumido as tenências do Bierzo, Estremadura, Lemos, Lima,
Toronho, Valdeorras etc.
30
Entre a prole de D. Pedro e D.ª Fruílhe também se encontra Garcia Peres de Bragança
Ledrão (1186-1205). Um descendente desse último, Pedro Garcia (1218-1235), desposou
uma Sancha Osores em quem poderíamos reconhecer uma filha, não documentada, do
trovador Osório Eanes.

66 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 66 25/09/2012 15:21:36


(1998: 1086), Fernando Fernandes de Bragança, junto com o tio Mendo
[Mendes] (cf. infra), é quem melhor representa a dupla vinculação, lusitana
e leonesa, desta estirpe:
Los vínculos de los Braganções com la monarquía leonesa, además de con la
de su país, quedan de manifiesto con Mendo Fernandes, confirmante de docu-
mentos de Sancho I de Portugal en torno a 1155 y alférez mayor de Fernando
II de León entre 1157 y 1159. Pero es precisamente la actuación de nuestro
personaje, Fernando Fernandes, la que mejor muestra la combinación de po-
sesiones, influencia política y cargos en ambos reinos, aun cuando no siempre
compaginara estos últimos.

Fernando Fernandes de Bragança foi tenente (1204-1222) em


diversas áreas galegas (Lima) e leonesas (Bierzo), alferes (1211) e mordo-
mo (1219-1222) de Afonso IX31. O monarca recompensou os serviços de
Fernando Fernandes na guerra contra os árabes com a entrega da herdade
de Vila Nova nas Frieiras: “ego Alfonsus, Dei gratia rex Legionensis et
Gallecie [...] concedo uobis domno Fernando Fernandi de Bregancia [...]
hereditatem de Villanova in Friarias [...] pro bono et grato seruicio quod
mihi fecistis in terra sarracenorum” (Afonso IX, nº 300 [1214])32.

31
A identifição concreta das funções políticas desempenhadas por Fernando Fernandes
(de Bragança) tem enfrentado algumas dificuldades devido à existência de uma outra per-
sonagem homônima, o filho de Fernando Ponce de Cabrera “o Maior” e de Guiomar Ro-
drigues de Trava (cf. supra), ao qual alguns estudiosos imputaram, total ou parcialmente,
os cargos que figuram associados ao nome de “Fernando Fernandes” (cf. Fernández-Xesta
1991: 72-73, Salazar Acha 2000: 370, 426, Beceiro Pita 1998, Machado 2004: 163-179).
Eis algumas das referências a Fernando Fernandes em que consta o apelido de “Bragança”:
“Fernando Fernandi de Bregancia tenente Cemoram et Uillam Fafilam” (1204, Afonso IX,
nº 193), “Domno Fernando Fernandi de Bragancia tenente Extrematuram” (1211, Afonso
IX, nº 271), “Fernando Fernandi de Bregancia tenente Limiam” (1215, Afonso IX, nº 316),
“Fernando Fernandi de Bregancia tenente Astorica” (1220, SMarcos, nº 254), “Fernando
Fernandi de Bregancia maiordomo maiore existente” (1221, Gradefes, nº 391). Ele apa-
rece como confirmante ou testemunha doutros documentos do rei galaico-leonês. Numa
escritura de 1217, o braganção surge como “tenente Bragantia et Miranda et Montinegro”
(TCastañeda, nº 121), tendo sido a última tenência identificada com a galega do mesmo
nome (Beceiro Pita 1998: 1089). Lembremos que se trata do antigo distrito lusitano de
Montenegro, situado na área do atual concelho de Valpaços, onde ainda hoje se encontra a
povoação de Carrazedo de Montenegro.
32
No reino português, ele foi: “rico-homem das cortes de D. Sancho I, de D. Afonso II
e de D. Sancho II, como tenente de Bragança (1192-1204 e 1218-1232), de Baião (1197),
de Penaguião (1197-1202), e de Panóias (1197-1202, 1218 e 1226-1229), tendo chegado

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 67

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 67 25/09/2012 15:21:36


Essa herdade de Vila Nova será, posteriormente, concedida por
Fernando Fernandes ao Mosteiro de Castanheda (TCastañeda, nº 183
[1221]), ao qual já entregara o que possuía em S. Martinho de Angueira
(TCastañeda, nº 118 [1214])33. Porém, o fato que de modo mais explícito
evidencia os laços dos Braganças com aquele mosteiro sanabrense é a
filiação do mosteiro brigantino de S. Salvador de Castro de Avelãs34 – de
que foram padroeiros os Braganças – no de S. Martim de Castanheda, es-
tabelecida por carta de D. Fernando e os seus parentes em 119935.
Por outro lado, de acordo com uma informação compilada nas
Inquirições de Afonso III, sabemos que Fernando Fernandes ofereceu a vila
de Vimioso a Pedro Ponce, filho de Pôncio Vélaz e, portanto, sobrinho de
João Vélaz (cf. supra): “Domnus Fernandus Fernandi populauit villam
de Viminoso in tempore Regis Domni Sancii fratris istius et ipse Domnus
Fernandus Fernandi dedit eam Donno Petro Ponci, de Leon”36. Trata-se de

a ocupar o importante cargo de alferes-mor de D. Sancho II, entre 1225 e 1226” (Pizarro
2007: 862).
33
Este último cenóbio recebeu de D. Fernando as vilas de Ifanes, Barciosa, “Figuerola”
e outros bens. Veja-se Alfonso Antón (1982: 224), Moreruela (nº 46, 65) e Pizarro (2007:
863, sobretudo nota nº 73). Quintana Prieto (1981: 75-79) analisa as relações do Mosteiro
de Castanheda com a área de Bragança.
34
A igreja medieval do antigo Mosteiro de Castro de Avelãs constitui um exemplar único
em território português do românico-mudéjar desenvolvido nas terras leonesas vizinhas.
35
Eis o conteúdo central do documento de acordo com Alves (1982: 267, nº 121): “Ea
propter nos filii, et filiabus, et nepotibus Domno Petro Fernandi hi sumus: Fernão F. qui
sub manu Regis Domini Sancii dominium Bregantie teneo, Garcia Petres, Nuno Petres,
Velasco Petres, Petro Fernandi, Sancia Petres, Tharasia Petres cum filiis et filiabus meis
[...] et omnibus heredibus qui Ecclesie Sancti Salvatoris sumus debitores [...] damus et
concedimus Ecclesiam ipsum vidilicet Sancti Salvatoris de Castro in filiam Sancti Martini
Monasterium cognomento Castanaria, et tibi Petro Abbati cognomento Nunio, et fratribus
tuis tam presentibus quam in posterum succedentibus, ut provideatis quae bona sunt huic
Ecclesiae in eligendo scilicet Abbatem cum conventu Sancti Salvatoris secundum ordinem
Sancti Benedicti liberam habeatis potestatem”. Segundo esse autor o escrito encontrava-
-se “transcripto na Descripção topographica de Bragança, Códice nº. 248 da “Collecção
Pombalina” da Biblioteca Nacional de Lisboa, noticia 9ª, artigo «Mosteiros e Hospicios»”.
36
PMH-Inquisitiones, p. 1282. Sancho I entregou, entre outros, a D. Pedro Ponce a vila
de Malhadas sob condição de lhe prestar ajuda se Bragança viesse a ser cercada: “Domnus
Sancius senex dedit uillam de Maladis […] domno Petro Poncij […] per tale pactum quod
si ueniret cercum ad uillam de Bragantia quod ipsi intrarent ibi et quod defenderent eam”
(PMH-Inquisitiones, p. 1282). No mesmo segmento dessa fonte achamos outras informa-
ções que evidenciam a presença de Pedro Ponce na zona de Bragança.

68 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 68 25/09/2012 15:21:36


um indício muito significativo sobre a proximidade entre as linhagens dos
Vélaz-Cabreras e os Braganças.
A associação de Fernando Fernandes de Bragança ao aparelho
administrativo do reino galaico-leonês contou com um notável antecedente
familiar na pessoa de Mendo [Mendes] “o Braganção” (1146-1169)37. D.
Mendo constitui um representante muito destacado dessa dupla orienta-
ção política, lusitana e galaico-leonesa, que caraterizou os interesses da
família38. Para além de alferes (1146-1147) e mordomo (1146) na cúria de
Afonso Henriques, D. Mendo foi o mais antigo alferes-mor (1156-115939)
de Fernando II de Leão, na corte do qual terá permanecido até c. 116940.
Portanto, D. Mendo – (provável) tio de João Soares de Paiva – e
Vela Guterres (pai de João Vélaz) foram, respetivamente, o primeiro alferes
e o primeiro mordomo de Fernando II. Quer num caso, quer no outro, ao
exercício dessas funções não serão alheios os vínculos que D. Mendo e D.
Vela mantiveram com Pôncio II Geraldo de Cabrera (avô de João Vélaz),
último mordomo de Afonso VII e primeiro de Fernando II como rei (após
Vela Guterres)41. O paralelismo entre a presença simultânea dessas persona-

37
Como foi dito, existem algumas divergências sobre a filiação desta personagem, que
nunca aparece com o patronímico. Machado (2004: 82-89) considera-o filho de Mendo
Fernandes (I), portanto, tio de João Soares de Paiva. Pizarro (2007: 858. 2010: 910) e Fer-
reira (2009: 103-111) supõem que se trata de um (Mendo Fernandes II) filho de Fernando
Mendes (II), ou seja, seria primo do poeta.
38
Ventura (1992: 339, n. 2) – e, a partir dela, Pizarro (1997: 230, n. 25) e Machado (2004:
201) – cita, entre os membros da família Bragança “desnaturalizados na Corte de Leão”,
o nome de “Garcia Peres Ladrão, de Bragança, mordomo do rei de Leão em 1196”. Trata-
-se de um erro por Fernando Garcia [de Vilamayor], mordomo de Afonso IX entre 1194 e
1203. Veja-se Alfonso Antón (1983: 11, 134-141) e Salazar Acha (2000: 367-368).
39
Veja-se Calderón Medina (2011a: 205). A sua associação ao futuro Fernando II já se
descobre em 1153 (Moreruela, nº 7). Com efeito, nesse ano confirma, no grupo encabe-
çado por “rex Fernandus filius imperatoris”, uma doação de Afonso VII ao mosteiro de
Moreruela.
40
D. Mendo aparece como senhor de Sanábria em 1157 e 1158 (TCastañeda, nº 34, 40),
substituindo Pôncio Geraldo de Cabrera, exilado durante esse breve período: “Menendus
Bregantia dominus Senabrie et sub manu eius Petrus Feso”. Veja-se Ferreira (2009: 109-
110).
41
Esses três próceres já concorrem no poder palatino em 1156: “Rex Fernandus confir-
mat […]. Comes Poncius, maiordomus imperatoris, confirmat. Vella Goteriz, maiordomus

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 69

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 69 25/09/2012 15:21:36


gens no topo do poder palatino e a coincidência no ofício poético por parte
de João Vélaz e João Soares de Paiva não é atribuível a um simples acaso.
A localização de João Soares de Paiva no Bierzo poderá, en-
tão, ser entendida se for contemplada sob a perspetiva da sua pertença à
linhagem dos Braganças. É de lembrar, mais uma vez, que se trata de uma
região fortemente vinculada, desde o primeiro terço do séc. XII, à família
galaico-catalã dos Vélaz-Cabreras. O primeiro encargo político atribuído
por Afonso VII a Pôncio Geraldo de Cabrera, em 1128, foi a tenência do
castelo berciano de Ulver – hoje Cornatel – (conc. Priaranza del Bierzo).
Se bem que, como vimos, os Cabreras-Vélaz tivessem passado a dominar,
de preferência, outra área contígua ao sul, a ligação patrimonial e ainda
administrativa às terras do Bierzo mantinha-se em finais do séc. XII42. Aliás,
na altura em que João (Soares) de Paiva estava em Villafranca, o tenente
dessa vila era o conde D. Armengol VII de Urgell, sobrinho de Pôncio II
Geraldo e marido de Dulce de Foix e Barcelona, o que pode constituir uma
nova pista para percebermos o conteúdo do sirventês.
Com base nesses pressupostos, a profissão poética do Paiva en-
contrará uma primeira explicação se for inserida no contexto sociocultural
em que João Vélaz desenvolveu a sua atividade literária. Numa perspetiva
mais concreta, Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra, cujo palco é constituído
pelos homens e as terras do nordeste da Península, começa a fazer todo o
sentido pelos possíveis nexos do seu autor com as linhagens catalãs aqui
analisadas.

regis Fernandi, confirmat. Men Braganza, alferiz illius” (AHN, Mosteiro de Oña, maço
275, nº 10 [1156.01.22]), “Vela Guterri maiordomus F. regis [...] Menendo Bragancia
alferiz regis Fernandus” (Afonso VII, nº 176 [1156.11.09]). “Uela Goteriz maiordomus
regis, confirmat. Menendus Bregacia alferiz ipsius regis, confirmat” (Afonso VII, nº 177
[1156.12.01]).
42
Num documento de 1193.06.29, redigido em Villafranca, Pôncio Vélaz (irmão de João
Vélaz) e os irmãos, Pedro e Maria, oferecem ao abade de Carracedo propriedades nas ter-
ras bercianas de Corullón (CCarracedo, nº 122). Fernando e Pôncio Vélaz foram tenentes
na área do Bierzo no último quartel do séc. XII (1176-1177, 1186, 1195, 1197-1199). Veja-
-se Fernández-Xesta Vázquez (1991: 69), Salazar Acha (2000: 422), Torres Sevilla (1999:
470-477), Calderón Medina (2011a: 341).

70 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 70 25/09/2012 15:21:37


2. A poesia na história
As dúvidas que, em alguns pontos concretos, surgem na hora de
fixar a leitura daquela cantiga não chegam a comprometer a definição do
seu significado geral. Aliás, com exceção do verso nº 6, definitivamente
deturpado43, as divergências entre as várias edições só afetam uma parte
mínima do texto:

Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra


pois en Proenç’ est el rei de Aragon.
Non lh’ an medo de pico nen de marra
Tarraçona, pero vezinhos son,
nen an medo de lhis põer bozon
e <riir-s’ an muit’ Endurra e Darra>;
mais se Deus traj’ o senhor de Monçon,
ben mi cuid’ eu que a cunca lhis varra.

Se lh’ o bon rei varrê-la escudela


que de Pampolona oistes nomear,
mal ficara aquest’ outr’ en Todela
que al non á [a] que olhos alçar:
ca verra i o bon rei sejornar
e destruir ata burgo d’ Estela
e veredes navarros lazerar
e o senhor que os todos caudela.

Quand’ el rei sal de Todela estrẽa


ele sa ost’ e todo seu poder;
ben sofren i de trabalh’ e de pẽa,
ca van a furt’ e tornan-s’ en correr,
guarda s’el-rei come de bon saber
que o non filhe luz en terra alhẽa
e onde sal, i s’ ar torn’ a jazer
ou jantar ou se non aa cẽa.

43
O conteúdo desse verso tem sido utilizado inclusivamente para estabelecer a cronologia
do texto. Assim, Alvar (1986) propõe – com alguma prudência – a data de 1200-1201,
ao identificar o hipotético Endurra com a localidade Navarra de Inzurra, que pertenceu a
Castela entre 1198 e 1201. A leitura não é segura e o pretenso topônimo poderia ser iden-
tificado com outros de estrutura similar.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 71

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 71 25/09/2012 15:21:37


João Soares de Paiva pretende denegrir a atitude do rei de Navarra que,
aproveitando a deslocação do monarca aragonês à Provença, invadia o
reino vizinho. Todavia, a imprecisão com que se alude ao evento e aos seus
protagonistas tem impedido a identificação consensual das circunstâncias
históricas em que se baseia. A rubrica explicativa que acompanha o texto
também não contribui de modo significativo para delimitar esse contex-
to: “Esta cantiga é de mal dizer e feze-a Joan Soarez de Pavia al-rei Don
Sancho de Navarra porque lhi roubar’ en sa terra e non lhi deu el-rei ende
dereito”44. Segundo essa narrativa, o patrimônio com que contava João
Soares de Paiva fora submetido a saque na sequência das ações bélicas do
rei navarro, que se terá negado a recompensá-lo pelas perdas produzidas. A
única menção de conteúdo cronológico, referida a um rei Sancho de Navarra
– identificado com Sancho “o Forte” –, abrange um âmbito cronológico de
quarenta anos (1194-1234). De acordo com a rubrica, o trovador chegou a
possuir algum tipo de bens fundiários no antigo reino de Aragão que, como
se sabe, integrava Catalunha45. Conclui-se daqui que João Soares de Paiva
se encontrava, provavelmente, em Aragão, aquando da ocorrência dos fatos
históricos por ele narrados. A cantiga também poderá ter sido elaborada e
encenada naquela região, uma vez que a sua codificação supõe, de modo
implícito, a recepção por um público daquela proveniência ou pelo menos
“familiarizado” com esse antigo reino.

44
Seguimos Lagares (2000: 144), mas preferimos a leitura “roubar’ en sa terra” (ou
“roubar[a] en sa terra”) a “roubaron en sa terra”, proposta por esse estudioso. A indubitá-
vel presênça do “b” sugere que o (provável) “troubar” do manuscrito deve ser interpretado
como uma forma estropiada do verbo “roubar” e não como uma variante “troube” – por
“trouve” (‘trouxe’) – do pretérito do antigo verbo trager (analógica do pretérito de “ha-
ver”) como supunha (Michaëlis 2004: 300-301).
45
A existência da localidade de Pavía (conc. Talavera, Lleida), no nordeste deste último
território, induziu a pensar que ele fosse aragonês – catalão – ou que o antrotopônimo
tivera essa origem. Essa hipótese fora perfilhada pela própria Carolina Michaëlis que a
abandonou posteriormente: “A terra de Pávia, de onde provinha o seu apelido e da qual
era, presumivelmente, dono e senhor, é, pelos vistos, a Paiva portuguesa, e não a Pavía
em Aragão, uma vez que territórios junto ao rio Paiva, afluente do rio Douro, estiveram,
já muito antes de Ourique, na posse dos seus antepassados, isto é, dos senhores de Riba
Douro” (Michaëlis 2004: 307).

72 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 72 25/09/2012 15:21:37


Como dissemos, existe outra tese interpretativa sobre o nó argu-
mental da cantiga que situa a sua origem no contexto riojano de Rodrigo
Dias dos Cameros. Miranda (2004: 41), que defende esse posicionamento,
analisa a cantiga em dois planos diferentes. No primeiro, com base na rubrica
explicativa, faz uma prospeção das intenções subjacentes ao texto, sendo
apenas nesse nível que se estabelece a relação com os Cameros:

Na realidade, se o Paiva estava junto dos Cameros, seria certamente na qualidade


de seu vassalo e, no caso de Calahorra, de subvassalo de Sancho VI, o Sábio,
situação que vai plenamente ao encontro do que nos é descrito no fragmento
em prosa que acompanha o cantar, onde se diz que o rei de Navarra devassara
(?) ou se tinha apoderado (?) de uma sua tença (?) ou terra (?), não o tendo
seguidamente indemnizado. Ora, se o Paiva estava associado aos Cameros na
empresa de manutenção militar de Calahorra, é provável que possuísse, como
forma de retribuição do seu serviço, o rendimento de uma terra ou mesmo um
pagamento directo, que pode bem ser aquilo a que o fragmento em prosa alu-
de [...]. Terá Sancho VII aproveitado as dificuldades dos castelhanos com os
muçulmanos, que ditaram a derrota de Alarcos, para, em finais de 1195, atacar
algumas praças na Rioja, afrontando directamente os interesses dos Cameros?
Terá sido neste contexto que o Paiva se indispôs com Sancho VII de Navarra,
aguardando a primeira oportunidade para lhe desferir um violento golpe literário?
(Miranda 2004: 40-41).

Estamos perante uma argumentação de natureza conjetural, que não se


vê referendada pelo texto nem pela própria rubrica, tão pouco por aquilo
que sabemos sobre a história política do período. Com efeito, contamos
com um diploma pelo qual Rodrigo Dias dos Cameros e a mulher
Aldonça Dias vendem ao rei Sancho VII de Navarra propriedades contíguas
ao rio Ebro [D.34]. Esse ato documental não deixa transparecer qualquer
cenário conflituoso, implícito na proposta do professor portuense; antes
pelo contrário, evidencia um ambiente de colaboração entre essas duas
instâncias46.
Na dimensão exclusivamente textual, Miranda situa os acon-
tecimentos históricos em 1196, supondo que nesse ano concorriam as
condições que permitiram ao rei de Navarra o início das suas hostilidades:

46
É óbvio que, na altura, as alianças políticas podiam mudar em função dos interesses de
cada uma das partes, mas essa hipótese não invalida o valor objetivo do dado histórico.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 73

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 73 25/09/2012 15:21:37


“ao longo de Abril de 1196, Afonso II, o Batalhador, rei de Aragão – só
ele pode ser o «bom rei» de que fala o Paiva – enceta uma viagem até ao
Sul da França, vindo a falecer em Perpinyà a 25 de Abril desse ano. Para
o trovador português era verdade que «en Proenç’ est el rei d’ Aragon»,
mesmo que não tivesse atingido o seu destino” (Miranda 2004: 42). Pese
embora o interessante esforço de pesquisa levado a cabo, não existe ne-
nhum dado que permita validar a essa colocação cronológica. Aliás, como
se admite, teríamos que supor a existência de um erro na informação que
João Soares de Paiva fornece sobre o local onde se achava o rei, falecido
em Perpinyà (capital da região, outrora, catalã do Rossilhão) antes de che-
gar à Provença. Lembremos que o interesse de Aragão pelos territórios do
Languedoc caraterizou os reinados de Afonso II (1162-1196) e de Pedro II
(1196-1213)47. O primeiro foi marquês de Provença, desde 1166, facto que
favoreceu as estadias nessa região, onde o encontramos, por exemplo, nos
três anos anteriores à sua morte. Essa orientação continuou com o sucessor
até que em 1213, com a derrota e morte de Pedro II em Muret (Provença), a
coroa catalano-aragonesa veio a ser expulsa dos seus domínios occitânicos
pela política expansionista da França capeta aliada aos interesses terreais
do papado48.
Não é intuito deste trabalho, nas páginas que se seguem, avançar
uma nova colocação histórica para a cantiga, já que não contamos com
elementos para a situar, com alguma segurança, num momento cronológico
concreto. Pretendemos apenas tecer algumas considerações sobre aspetos
que não foram suficientemente ponderados de modo a definir o substrato
referencial que deu origem ao texto. Trata-se de sugestões interpretativas
que não pretendem convergir numa conclusão única. O ponto de partida
será a alusão ao “senhor de Monçon” (v. 7), cuja intervenção providencial
suporia a derrota do rei de Navarra. Vários estudiosos viram nessa referência

47
O marquesado de Provença foi regido, entre 1196 e 1209, por Afonso II de Provença,
filho segundo de Afonso II de Aragão.
48
Por outro lado, os pactos de Aragão com Leão ou com Castela contra o rei de Navarra,
em 1162 (Alfonso II, nº 4) e 1179 (Alfonso II, nº 280) ou, pelo contrário, entre Aragão e
Navarra contra Castela, em 1190 (Alfonso II, nº 520) e 1191 (Alfonso II, nº 537), são difi-
cilmente interpretáveis como indício para decifrar a datação do texto.

74 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 74 25/09/2012 15:21:37


uma menção (indireta) a Pedro II (Michaëlis) ou a Jaime o Conquistador
(Lollis e Lang), porém, López Aydillo (1923: 40) pergunta-se: “si el señor de
Monzón era don Jaime, allí encerrado con su primo el Conde de Provenza,
Ramon Berenguer, ¿quien era el rey de Aragón que estaba en Provenza?”49.
Da nossa perspetiva, não há motivos para pensar que o “senhor de Mon-
çon” não deva ser identificado com quem ostentava o senhorio dessa praça
aragonesa (cf. infra).
Ora, admitindo, como parece, que essa alusão específica e de
conteúdo encomiástico conte com alguma pertinência para estabelecer o
sentido do texto, podemo-nos perguntar se existiu algum tipo de nexo entre
o senhor de Monzón e o próprio João Soares de Paiva, à luz da possível
relação entre este último e os Cabreras. Sabemos que Monzón está preci-
samente no extremo de uma área geográfica dominada, naquele período,
pelos Cabreras. Estes tinham numerosas fortalezas próprias na zona que vai
do rio Cinca até ao Noguera; isto é, uma espécie de “península catalã” no
reino aragonês, resultado das conquistas do seu antepassado Arnau Mir de
Tost, senhor de Àger, bem como dos seus descendentes Cabreras. Muitas
conquistas foram próprias, outras como feudatários dos condes de Barcelona
ou ainda na qualidade de súditos dos condes de Urgell50. Também foram
feudatários de Aragão, chegando a ser tenentes e subtenentes da cidade de
Huesca. Alguns dos seus castelos nessa zona foram: Pilzán, Purroy, Esto-
piñán, Baélls, Falces etc. Trata-se de um espaço limitado, no norte, pela linha
de Benabarre na direção de Catalunha e do Cinca; no sul, pela comarca da
Litera (Monzón, S. Esteban, Tamarite); no leste, pelas suas próprias posses
urgelitanas (Balaguer, Os de Balaguer, Àger, Castillonrroy, Castelló de
Farfanya, etc.); e, no oeste, por Peralta de la Sal, Calasanz, Azanúy, Esta-
da, Estadilla, etc (Vázquez-Xesta 2001: 13). Será que as propriedades de
João Soares devastadas pelas incursões do rei navarro se situavam nesse

49
De acordo com o estabelecido por Pedro II de Aragão, o seu sobrinho Raimundo Beren-
guer, órfão e herdeiro do condado de Provença, fora transferido para o castelo de Monzón
(em mãos templárias desde a primeira metade do séc. XII). Esse mesmo castelo acolheu,
durante a minoridade, D. Jaime I (Montpellier, 1208 – Valência, 1276), que só contava
cinco anos quando morreu o pai, Pedro II, em 1213.
50
Os Cabreras eram viscondes de Girona (cujo conde era o próprio de Barcelona) e, ao
mesmo tempo, viscondes do Baixo-Urgell (Àger).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 75

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 75 25/09/2012 15:21:37


território aragonês imediato de Monzón? Era o próprio Paiva feudatário
ou súdito do senhor de Monzón cuja intervenção se anseia51?
O rei aragonês Raimundo Berengário IV, em novembro do ano
1143, dera o castelo de Monzón com todos os bens e direitos à Ordem do
Templo, prolongando-se a presença dessa milícia na cidade aragonesa até à
sua extinção em inícios do séc. XIV52. Portanto, o senhor de Monzón, citado
de modo encomiástico na cantiga, poderia ser identificado com o mestre
do Templo que governava Monzón na altura. Ora, num passo dos Livros
de Linhagens (cf. supra), João Soares aparece qualificado como “freire”,
quer dizer, membro de uma das milícias entre as quais se encontram os
Templários. Miranda (1997: 11), sem estabelecer qualquer relação com
o conteúdo da cantiga, chegou a dar por válida a informação dessa fonte:
“João Soares foi membro de uma das ordens militares existentes na altura
em Portugal, ou seja Templários e Hospitalários”. O professor portuense
abandonou, posteriormente, essa hipótese: “é provável que o aposto «frei-
re», que o Livro do Deão coloca à frente do nome de João Soares, se refira
à personagem que virá a casar com Maria Anes de Riba de Vizela e não ao
trovador” (Miranda 2004: 21, n. 22). No entanto, há motivos para pensar
que João Soares de Paiva pôde ter formado parte das fileiras templárias (ou
de outra ordem similar), porventura numa fase etária adiantada53.

51
Na conhecida composição de Peire d’ Alvernha (1149-1168) Cantarai d’ aqestz
trobadors, aparece citado um Peire de Monzó, trovador de que não conservamos outras re-
ferências e cuja obra nos é desconhecida. A alusão toponímica leva-nos ao Monzón arago-
nês de que falamos. Menéndez Pidal (1991: 164) sugeriu a identificação do topônimo com
Monzón de Campos (Palência): “Peire era muy probablemente castellano, de Monzón de
Campos, ya que parece ir en la comitiva de la que va a ser reina de Castilla, pero también
pudiera ser del Monzón aragonés de Huesca”. Porém, o relacionamento dessa personagem
com o conde de Tolosa, referido no texto poético (“Ab Peire de Monzo so set, / pos lo coms
de Tolosa·l det, / chantan, un sonet avinen [...]”), leva a pensar que se trata de um trobador
de origem aragonesa, mas de língua provençal, como supõe Riquer (1950: 10-11). Este
mesmo investigador (Riquer 1983: 332-333) pondera a possibilidade de essa composição
ter sido produzida em Puigverd d’ Agramunt, portanto na área do Baixo-Urgell.
52
Sobre a presença do Templo nessa cidade, veja-se Oliveros de Castro (1964: 157-181).
53
Nesse aspeto, a sua biografia poderia ter coincidido com a de Geraldo IV Ponce de Ca-
brera (1194-1228), visconde de Cabrera e Àger e conde de Urgell (cf. supra). Esta perso-
nagem, chefe da linhagem dos Cabreras entre os últimos anos do séc. XII e primeiro terço
do seguinte, decidiu retirar-se em 1226-1228, já numa idade provecta, como templário

76 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 76 25/09/2012 15:21:37


A Ordem do Templo exerceu um grande influxo em Aragão du-
rante os reinados de Afonso I e Afonso II que lhe outorgaram um enorme
patrimônio e poder senhorial54. Por outro lado, talvez convenha lembrar que
essa milícia, a partir de 1196, irá incorporar a de Monte Gáudio (cf. infra).
Esta última, fundada em 1172 pelo conde galego Rodrigo Álvares {Vélaz
& Trava} – parente de João Vélaz – (cf. infra), estabeleceu-se em Aragão
da mão do seu fundador a partir de 1174 e foi favorecida por Afonso II55. Se
João Soares chegou a ser “freire”, não podemos descartar a sua pertença
ou passagem prévia por esta última instituição que esteve, provavelmente,
filiada ao Mosteiro de Moreruela.
Essa possível integração em alguma das ordens militares impli-
cadas na reconquista da Terra Santa56 teria um reflexo no plano literário.
Segundo notou C. Alvar (1986: 11-1257), a estrutura métrica de Ora faz’ ost’

ao castelo de Gardeny (conc. Lleida) “repartiendo sus títulos y honores entre sus hijos”
(Férnandez-Xesta 1991: 67).
54
O próprio Afonso I de Aragão cedeu o seu reino às ordens miltares do Templo, do Hos-
pital e do Santo Sepulcro (Oliveros de Castro 1964: 158, Ledesma Rubio 31-32, Barquero
Goñi 2003: 14).
55
Rodrigo Álvares foi sepultado no convento dessa ordem em Alfambra (Teruel). A mais
antiga doação de Afonso II ao conde Rodrigo Álvares produziu-se na localidade navarra de
Milagro, em julho de 1174, no dia em que o rei de Aragão tomou essa vila: “Ego Ildefonsus
[...] Domino Deo et vobis comiti Rodrico [...] dono vobis Alhambra [Alfambra] [...]. Facta
carta in Navarra apud ipsum Miracle, in illa die quando iam dictus dominus Ildefonsus, rex
Aragonensis, ipsum castrum et villam de Miracle, cepit et destrucit” (Alfonso II, nº 173).
56
Note-se a informação oferecida por Blázquez Jiménez (1917: 147) sobre a Ordem de
Monte Gáudio a partir da Historia de las Órdenes de Caballeria españolas de Íñigo (Ma-
drid: 1863): “Después que Godofredo de Bullón conquistó la Tierra Santa, se formó una
Orden militar cuyo principal propósito fué la defensa de los Santos Lugares y la protección
de los peregrinos. Llamóse primeramente de Monjoya ó Monte Joya, cuyo nombre tomó
del lugar de Palestina, donde primero tuvieron asiento”. Ao que parece, a presença da Or-
dem na Terra Santa foi efêmera (Carmona Ruiz 2001).
57
“Conon de Béthune fue uno de los primeros imitadores franceses de las técnicas y de
los temas trovadorescos, pero no se limitó a la aclimatación de los mismos en el norte de
Francia, sino que les dio nueva vida, al elevarse muy por encima de la inspiración de los
trouvères. Dos de las diez composiciones que le atribuyen los manuscritos son canciones
de cruzada, escritas hacia 1189, con motivo de la Tercera Cruzada, en la que tomó parte; la
más famosa de ambas es, sin lugar a dudas, Ahi! Amors, com dure departie [...]. Creo que
es un hecho realmente importante el que la estructura métrica de Ahi! Amors, com dure
departie sea exacta a la de la sátira política de Johan Soárez de Pavha. No tendría nada de

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 77

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 77 25/09/2012 15:21:37


o senhor de Navarra é idêntica à de Ahi! Amors, com dure departie, “canção
de cruzada” composta por Conon de Béthune c. 1189 (antes de 1191) com
motivo da Terceira Cruzada. Essa empresa militar, em alguma das suas
fases, pode ter constituído a ocasião em que João Soares tomou contacto
com o texto deste trouvère (cf. infra). Não deixa de ser significativo que,
como veremos, um contexto similar esteja por trás da origem de Eras can
vei verdejar (composição que tem como um dos seus veículos linguísticos
o galego-português) de Raimbaut de Vaqueiras, trovador cujos elos de
ligação com Conon de Béthune são bem conhecidos (cf. infra)58.
O conteúdo da cantiga e os dados previamente coligidos, sobre
as perspetivas possíveis da biografia do autor, não deixam – parafraseando
J. C. Miranda – outra alternativa credível à hipótese de relacionar João
Soares de Paiva com os Cabreras-Vélaz. Aliás, só num meio como esse,
vinculado ao trovadorismo occitânico e luso-galaico mas ainda inserido
no contexto político catalano-aragonês, é que a cantiga em foco vem a
fazer todo o sentido. Ao mesmo tempo, de uma perspetiva mais concreta,
as conexões com esse ambiente familiar poderiam estar na origem da ale-
gada participação do Paiva em alguma das ordens militares que vigoraram
durante a segunda metade do séc. XII.

extraño que el primer poeta gallego-portugués de nombre conocido se inspirara e imitara la


melodia de la canción de cruzada, compuesta antes de 1191. La relación entre las poesías
de ambos autores puede abrir nuevos horizontes para comprender los vínculos que unen las
distintas manifestaciones de la lírica cortés en el occidente europeo”.
58
Na proximidade entre João Soares e Bertrand de Born, pela comum “afeição pelo am-
biente bélico” (Miranda 2004: 33), poderia também estar envolvido Conon de Béthune,
amigo de Bertrand e a quem este último dava o senhal de Mon Isembart. Veja-se Riquer
(1983: 685), que toma como base um estudo monográfico de Hoepffner (1946) intitulado
Un ami de Bertran de Born: Mon Isembart.

78 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 78 25/09/2012 15:21:37


CAPÍTULO III

OSÓRIO EANES
LIMAS & TRAVAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 79 25/09/2012 15:21:37


Osório Eanes doa propriedades ao Cabido da Sé de Santiago [D.29]

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 80 25/09/2012 15:21:37


1. O trovador Osório Eanes e a personagem histórica
Foi opinião comum reconhecer o trovador galego-português
Osório Eanes na figura histórica do cônego compostelano Osório Eanes
Marinho, apesar de os cancioneiros não registrarem o apelido linhagístico
nem a condição clerical. A conjetura partiu de Antonio López Ferreiro
(1905: 372-373) – também cônego e arquivista da Sé de Santiago – que
notava a existência de três poetas entre os filhos de João Froiaz Marinho:

Otros caballeros tomaron también parte activa en este movimiento poético y tro-
vadoresco. La cantiga 523 del Cancioneiro de la Vaticana, está atribuída á Pero
Ans Marinho, hijo de Joham Frojaz de Valadares. Don Juan Fróilaz Mariño, señor
de Valladares y otras tierras cerca de Noya, era muy conocido en Santiago. Hizo
testamento en el año 1220 y mandó sepultarse en el cementerio de San Pelayo de
Antealtares. Esta familia, rica en leyendas, fué también rica en trovadores. Además
de Pedro Eans, que fué primogénito de D. Juan, otro su hijo, Martin Eans Mariño,
figura como autor de las trovas 1154 y 1155 del Cancioneiro de la Vaticana. En
el Cancioneiro de Brancuti suena un Osoyranes (Osorio Ans ó Eans), que
indudablemente es el hijo de D. Juan Fróilaz, que llevaba ese nombre. Fue
canónigo de Santiago, y como resulta de su testamento, otorgado en 1236, estuvo
en Paris con un Domingo Fernández, a quien por esta razón deja una manda.

A autoridade de López Ferreiro será o (único) argumento utilizado algum


tempo mais tarde por Cotarelo Valledor1 para contestar uma opinião diver-
gente de Carolina Michaëlis. Com efeito, a investigadora alemã indigitara
um membro dos “Condes de Cabreira”2 como tendo sido o poeta homônimo:
Conheço um unico, tronco dos Condes de Cabreira, cuja filha, D. Sancha Osoires,
casou com um descendente de Egas Moniz, chamado Pero Garcia, o Braganção.

1
“Osorius Ioannis de los documentos, Osoyranes del Cancioneiro CB. Quiere doña Ca-
rolina identificarlo con cierto Osorio Eannes, tronco de los condes de Cabreira, guiándose
solamente por el nombre. «Si realmente se tratase de este hidalgo –dice– debiamos colocar
su actividad cerca de 1200, en el reinado de Sancho el Viejo». Pero, como ya advirtió Ló-
pez Ferreiro, es el hijo de Juan Fróilaz que llevaba ese nombre. Don Osorio Eans Mariño,
acaso el más joven de los varones, fué destinado a la iglesia y siguió sus estudios en París,
en compañía de un tal Domingo Fernández, ayo o criado suyo. En Francia debía de hallarse
en 1220, pues es el único de los ocho hermanos cuya firma no aparece en el testamento de
su padre … Regresando a España, fué canónigo de Compostela y murió en Santiago, al
parecer prematuramente, en 1236” (Cotarelo Valledor 1933: 17).
2
Não se trata, obviamente, da linhagem catalã aqui estudada.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 81

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 81 25/09/2012 15:21:37


Se realmente se tratasse d’ este fidalgo, deviamos collocar a sua actividade perto
de 1200, no reinado de Sancho, o Velho, visto que a sua bisneta Aldonça Annes,
favorita de Affonso III, casou com o filho do poeta Vasco Gil: Gil Vasques de
Soverosa, o Moço, o qual morreu no combate de Gouveia no anno de 1277
(Michaëlis 1904: 526).

Porém, D.ª Carolina abdicou daquela opinião, vindo a perfilhar


– talvez com algum ceticismo – o ponto de vista do arquivista composte-
lano: “Osoir’ Eannes [...] pertence apparentemente á familia dos Marinhos
[...]. Irmão de Pedr’ Eannes e de Martim Eannes, é mencionado em 1220
no testamento do pae, Johan Frojaz. Senhor de Valladares e outras terras
perto de Noya” (Michaëlis 1904: 582)3. A partir deste momento, a proposta
parece ter sido consensual nos estudos dedicados a Osório Eanes, que só
esporadicamente mencionaram a primeira das hipóteses de C. Michaëlis. O
fato de esse indivíduo ter sido considerado irmão de outros dois agentes do
movimento trovadoresco e a sua estadia em Paris, referida no testamento
do cônego, foram elementos que contribuíram para a unanimidade crítica a
esse respeito. A própria Carolina Michaëlis (1904: 584) chegou a ponderar
as consequências literárias da viagem à capital da França: “Osoir’ Eannes
estudára em Paris [...]. Ja não me admira da illustração e do bom gosto que
distingue os seus versos de amor”4.
Alguns estudiosos notaram a existência de um indivíduo que as-
sumiu a tenência de Búval entre finais do séc. XII e primeiros anos do XIII.
No entanto, essa identificação foi posta de parte perante a impossibilidade
de reconhecer o cônego compostelano na figura do tenente: “Não deverá
ser o mesmo Osoiro Anes que aparece como tenente do castelo de Búbal
entre 1193 e 1204” (Oliveira 1994: 398). Yara F. Vieira (1999: 146), muito
embora tenha apostado na suposição tradicional, chegou a gizar de modo
sintético algumas caraterísticas desse outro Osório Eanes:
Um documento informa-nos da existência de outro indivíduo do mesmo nome,
dessa feita um cavaleiro e, o que tem o seu interesse, um parente de D. Rodri-
go Gomes: trata-se de um filho de João Airas, que criou o futuro Afonso IX,

3
Em nota de rodapé apensa ao advérbio “aparentemente” – por ela utilizado – aponta:
“Indubitavelmente, segundo Lopez Ferreiro”.
4
Veja-se Souto Cabo – Vieira (2003).

82 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 82 25/09/2012 15:21:37


e Urraca Fernandes de Trava, a filha de Fernando Peres; ou seja, um primo do
pai de Rodrigo. A data do documento é de 1217. Uma informação importante
também é a menção de uma casa que este Osoir’ Eanes possuía na Praça do
Campo (a atual Praça de Cervantes de Santiago de Compostela), a qual tinha
sido do conde Dom Froila, ou seja, do pai de Pedro Froilaz de Trava5.

Pelo contrário, em tempos recentes, Monteagudo (2008) veio


postular a identificação do trovador em foco com esse filho de João Airas
de Nóvoa e de Urraca Fernandes de Trava (cf. infra)6, opção compartilhada
pelo autor deste trabalho (Souto Cabo 2011a).
Antes de abordarmos especificamente a figura histórica do poeta,
cumpre equacionar alguns dos motivos que nos levam a optar pela candida-
tura do cavaleiro e não pelo cônego. Desde logo, o assunto principal tem a
ver, logicamente, com a questão da compatibilidade biográfica, sobretudo
do ponto de vista cronológico, entre o trovador e a figura de Osório Eanes
Marinho. Cotarelo Valledor, no artigo acima citado, editou o testamento do
cônego compostelano. Uma gralha no numeral da data fez com que tenham
sobrevivido até à atualidade algumas dúvidas concernentes ao ano em que
foi lavrado esse escrito: 1236 ou 1246. Ora, conquanto a última data tenha
sido reproduzida em alguns trabalhos7, não existem incertezas em torno
desse aspeto. No original dessa escritura lemos: “Sub Era Mª. CCLXXIIIIª”
– ano 1236 – (Tombo C, fól. 346r)8. Cotarelo Valledor, por lapso, cometeu

5
A identificação da escritura deve-se a Barreiro Somoza (1987: 412): “Este es el caso,
por ejemplo, del resto de los hijos de Juan Arias y Teresa (sic) Fernández. Uno de éstos,
Osorio Eanes, nos especifica su filiación en la donación que efectúa a la mesa capitular de
la mitad de la casa que poseía en la Plaza del Campo (Compostela) y que había sido del
conde don Froila […]”.
6
Monteagudo não se refere à hipótese alternativa de Vieira, o que o impediu de conhecer
essa escritura de 1217, a única de que Osório Eanes de Nóvoa é titular [D.29].
7
Veja-se Oliveira (1994: 398) e Monteagudo (2008: 363). O professor compostelano faz
constar o seguinte: “López Ferreiro e tras el Cotarelo datan o testamento en 1236. Porén,
no texto que nos oferece Cotarelo lese «Era Mª CCLXXXIIIj», que dá o ano de 1246. Esta
última compadécese mellor cos rexistros de Osorio Eanes [Marinho] no tombo de Toxo-
soutos que a seguir citaremos, e coa información que dá García Oro (1981:373), segundo o
cal en 1239 era tenente de Lama Mala (Oia) un tal Petro Peirin, de manu Osorio Johannis
canonico Sancti Jacobi”.
8
A datação condiz com a atividade do autor material desse texto, Martim Eanes, notário
que documentamos entre 1215 e 1238. Veja-se Pérez Rodríguez (2004: 867).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 83

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 83 25/09/2012 15:21:37


um erro na transcrição do numeral romano, mas não na datação que atribuiu
ao texto no cabeçalho do mesmo, onde aparece a correta de 1236.
Relativamente ao significado desse diploma na definição do
percurso de vida do cônego, vários estudiosos perceberam a redação do
mesmo como sinal de uma morte imediata9. O próprio Monteagudo (2008:
388), partindo da data (inexata) para esse texto, aponta: “sabemos de certo
que finou c. 1246”. Uma hipótese similar provocou as seguintes palavras
de Vieira (1999: 145): “A data de 1236 [...] cria-nos um problema, quando
a confrontamos com a de outro documento do Mosteiro de Oia, em que
o mesmo indivíduo [...] é mencionado como tenente de Lama Mala, em
1239”10. Contudo, visto que essa escritura não abre com qualquer declara-
ção relativa a um falecimento próximo, suspeitamos que essa circunstância
não esteve na base da sua elaboração11. Seja como for, um diploma de 23
de março de 1243, sobre o escambo de bens entre Osório Eanes Marinho
e o Mosteiro de Tojos Outos, confirma que ele continuava vivo na década
de quarenta e com um horizonte de vida ainda prolongado (Toxos Outos,
nº 689). Do que ficou dito, pressentimos que o percurso biográfico do reli-
gioso terá atingido – e ocupado em parte – o terceiro quartel do séc. XIII12.

9
Cotarelo Valledor supunha, inclusivamente, tratar-se de uma morte prematura (cf.
supra).
10
Oliveira também (1994: 398) liga a composição do testamento à proximidade da morte:
“Deve ter morrido em 1246, data do seu testamento”.
11
Um desacerto na transcrição de um topônimo presente nessa manda testamentária che-
gou a induzir conclusões inexatas sobre as relações literárias do cônego (considerado o
poeta homônimo). Assim, Miranda (2004: 123) com base, entre outros dados, na forma
“Dormãa” estampada por Cotarelo em lugar do correto “Torinaa” (atualmente Tourinhám,
conc. Muxia), chegava a refutar a proposta cronológica de Martínez Pereiro (1992) acer-
ca de Fernão Pais de Talamancos: “Infelizmente, o editor equivoca-se inexplicavelmente
sobre a cronologia do trovador, colocando-o no final do séc. XIII. Pelas referências que na
sua obra se fazem a Dormãa (B 1337/ V 944) – terra mencionada no testamento de Osoir’
Anes Marinho – e uma Marinha (B 78), que tanto pode ser nome de mulher como topóni-
mo – mas lembremos que uma irmã de Osoir’ Anes se chamava Marinha Anes...-, a ligação
de Talamancos ao nosso trovador parece inevitável”. Veja-se Souto Cabo ([no prelo/1]).
12
É isso que também cabe deduzir do casamento de um dos irmãos, Gonçalo Eanes Ma-
rinho, em 1243 (Tombo C, fól. 138). Veja-se López Ferreiro (1902: 372) e Oliveira (1994:
398). Esse irmão também é citado numa escritura de 1245 (ACS, Tombo C, fól. 199). Pelo
contrário, consideramos duvidosa a identificação do irmão com um indivíduo homônimo
documentado em Lugo no ano 1207 (Risco 1798: 351, 353), provavelmente “o vice-chan-

84 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 84 25/09/2012 15:21:37


Essa colocação temporal não se coaduna facilmente com a inte-
gração do poeta homônimo no primeiro grupo da secção dos cancioneiros
a que se atribui a cronologia mais recuada13. A presença de Osório Eanes
(Marinho) nessa camada concreta da tradição estaria a representar uma
inconformidade com o seu contexto autoral, não só quanto ao período em
que se situa a atividade dos poetas que o acompanham, mas ainda a respeito
doutros autores situados em posições menos altas14. Também não parece
condizer com algumas das caraterísticas da sua produção poética: “cremos
que a sua obra tem fortes probabilidades de remontar ao ambiente leonês
da década de 1210 a 1220, o que explicaria não apenas a sua colocação
nos cancioneiros mas também o conhecimento íntimo que revela quer dos
primeiros trovadores em galego-português, quer de alguns textos proven-
çais” (Miranda 2003: 118).
Ainda no concernente à falta de correspondência entre o poeta e
a figura histórica do cônego, não podemos deixar de notar a ausência do
apelido linhagístico “Marinho”. Essa situação contrasta com a abundante
aplicação desse (famoso) sobrenome aos membros da estirpe na documenta-
ção notarial15. De fato, esse uso é já sistemático no caso do pai do capitular,
para o qual identificamos duas fórmulas “Johannes Marinus” ou “Johanes
Froyle dicto Marino”16. Tal prática reflete-se na denominação dos (outros
dois) representantes poéticos dessa família: Martim Eanes Marinho e
Pedro Eanes Marinho.

celer e vice-mordomo régio sub manu D. Álvaro Nunes de Lara” em 1217-1218 (Miranda
2004: 99).
13
Por outro lado, talvez fosse necessário explicar o motivo pelo qual não foi integrado na
“compilação de clérigos”, agrupamento formado – quase exclusivamente – por membros
do Cabido de Santiago da segunda metade do séc. XIII.
14
Esse pode ser o caso, entre outros, de Pedro Garcia de Ambroa (1203-1235), Fernando
Pais de Tamalhancos (1196-1242) ou mesmo de Airas Fernandes “Carpancho” (1230).
Veja-se Oliveira (1994), Souto Cabo – Vieira (2003), Souto Cabo (2006, [no prelo/1]),
Monteagudo (2008).
15
“E estes Marinhos partirom-se per muitas partes, por casamentos de filhos que casarom
em Galiza, com outras, de que decenderom muitos que chamarom Marinhos” (LC 73A5).
16
Toxos Outos nº 17, 18, 24, 47, 48, 49, 358, 508, 596, 645, 650 [1173-1222].

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 85

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 85 25/09/2012 15:21:37


À luz da alegada pertença do poeta a essa família, Miranda (2003)
sugeriu um novo sentido para a cantiga Cuidei eu de meu coraçon, na linha
do relato lendário que descreve a origem dos Marinhos em LC (73A1-2).
Como é sabido, essa origem é atribuída ao casamento de D. Froião com uma
mulher marinha, ou seja, uma sereia, posteriormente denominada “Dona Ma-
rinha”. O professor portuense julga que a imagem do “irresistível e mortífero
canto da sereia” seria a chave interpretativa para a cena descrita nesse texto:

E pois me assi desemparar


ũa senhor foi des enton,
e cuid’ eu ben per ren que non
podesse mais outra cobrar,
mais forçaron-mi os olhos meus
e o bon parecer dos seus
e o seu preç’ e un cantar,
que lh’oí, u a vi estar,
en cabelos dizend’ un son.
Mal dia non morri enton
ante que tal coita levar
qual levo, que nunca vi maior,
qual levo ond’estou a pavor
de mort[e] ou de lho mostrar.
(vv. 8-21)

Apesar de atraente, nada assevera essa proposta, até porque falta o elemento
marítimo, imprescindível ao aparecimento da sereia. Por outro lado, parece
anacrônico supor que a lenda – divulgada a partir de meados do séc. XIV –
se pudesse encontrar definida (e difundida) na primeira metade do séc. XIII,
quando a existência “real” de alguns dos seus protagonistas mantinha uma
notável atualidade. Não esqueçamos que o episódio lendário não se situa
em tempos remotos: D. Froião e D.ª Marinha, a sereia da história, foram
avós de Osório Eanes Marinho. Aliás, o próprio Miranda (2004: 113) tem
de reconhecer que se trataria de um exemplo “muito precoce de ocorrência
da fada em âmbito galego-português, e até ibérico”.
Na linha do que aqui foi dito, é claro que, além da homonímia
(parcial) entre o poeta e o cônego, não existem razões objetivas para propug-
narmos a identificação entre eles. Pelo contrário, o cavaleiro Osório Eanes

86 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 86 25/09/2012 15:21:38


de Nóvoa reúne as melhores “habilitações” para vermos nele o trovador em
causa. Com efeito, pelos vínculos familiares e sociais, essa figura histórica
constitui o vértice em que converge a totalidade dos poetas de cronologia
mais recuada. Nesse conjunto, cumpre notar um predomínio de trovadores
radicados na região compreendida, grosso modo, entre os rios Ávia, Minho
e Asma, confluência que não terá sido alheia à localização dos Nóvoas (cf.
infra). Esse ramo dos Limas, para além doutras conexões, aparece associado
àquele espaço geográfico, repartido entre os antigos distritos de S. Martinho,
Nóvoa, Castela e Búval, terras situadas na margem setentrional do Minho.

2. Genealógica
Os Oares de Bóveda
Nos primeiros anos do séc. XIII, o Mosteiro de Bóveda (conc.
Amoeiro) era regido por Urraca Eanes, uma irmã de Osório Eanes [D.27].
Esse cenóbio, consoante o que se determina explicitamente no diploma da
sua refundação, escolhia a abadessa, de preferência, entre os membros da
linhagem instituidora17, seguindo a prática habitual na Idade Média. D.ª
Urraca, através da avó paterna (cf. infra), pertenceu à linhagem que fundara
esse mosteiro. É pela análise desse grupo familiar, aqui nomeado – por
motivos práticos – como “Bóveda” (ou “Oares de Bóveda”), que abrimos
a aproximação à biografia de Osório Eanes.
Apesar de existirem algumas dúvidas sobre a natureza da escri-
tura de reinstituição de Bóveda, o contexto diplomático parece assegurar
a veracidade geral dos seus dados, mesmo que se admita a existência de
interpolações ou adulterações interesseiras na cópia do séc. XVII que no-la
transmitiu (Bóveda, nº 2)18. A carta reflete a renovação e dotação do cenóbio

17
“abatissa uero, si inuenta fuerit idonea, cum consilio episcopi de genere nostro eligatur,
sin autem, undecumque fuerit inuenta idonea, ipsa statuatur” (Bóveda, nº 2).
18
O documento em foco exibe a data de 968, mas García Álvarez (1975: 111-114) situa-o
em 1168. Duro Peña (1977: 121) mantém algumas reservas sobre a cronologia e o conteú-
do: “sospecho que es interpolado el documento fundacional, al que no me atrevo a seña-
lar fecha”. Os dois escritos mais antigos do núcleo documental de Bóveda, conservados
apenas em cópias do séc. XVI, poderão ter sido adulterados pelos Boáns, o que supõe um
grave empecilho para validar a informação contida neles.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 87

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 87 25/09/2012 15:21:38


por parte de Airas Fernandes, a mulher, Godinha Oares, e os filhos: Oeiro,
Fernando, João, Marina, Vestrava e Azenda Arias19. O precedente histórico
para esse ato documental encontra-se num diploma pelo qual a rainha D.ª
Urraca delimitava a favor de Oeiro Ordonhes – pai de Godinha Oares – o
couto do mosteiro em 1121 (Bóveda, nº 2)20.
Entre os antecedentes de Osório Eanes até agora citados, a fi-
gura de cronologia mais remota é, portanto, Oeiro Ordonhes (1098-1150),
bisavô do nosso trovador. Trata-se de uma personagem documentada
durante a primeira metade do séc. XII, sobretudo, em diplomas da rainha
Urraca21. Ele foi um dos líderes da coligação senhorial constituída após a
proclamação de Afonso VII (como rei da Galiza) ao lado de Pedro Airas,
senhor de Deza, Airas Peres22 (filho do anterior), Pedro Gudesteiz, João Dias
(cf. infra), o juiz de Santiago Paio Gudesteiz e Fernando Sanches. Oeiro
Ordonhes surge junto da rainha Urraca nos conflitos desta com Gelmires
e com o próprio filho (López Ferreiro 1901: 34), podendo ser interpretado
o privilégio do couto de 1121 (Bóveda, nº 1) como uma recompensa por
tal aliança. D. Oeiro é ainda mencionado no diploma de 1137 pelo qual os
habitantes da área circundante ao local em que seria levantado o Mosteiro
de Osseira autorizavam a fundação do mesmo (cf. infra)23. A derradeira pre-
sença documental situa-se em 1150.05.25 (Barton 1997: 312-313) quando

19
“Ego servus servorum et ancillarum Dei Arias Fernandi et uxor mea Gudina Oduariz
et filii et filie nostre, vidilicet, Oduarius Arie, Fernandus Arie, Iohannes Arie, Marina Arie,
Vestrava Arie et Azenda Arie”.
20
“Ego Urracha [...] una cum filio meo rege Alfonso [...] facimus ambos cartam kariterii
et cautionis vobis Oduario Ordonii uxorique vestra Haldera Petri vocique vestre, super
illud monasterium de Bobeda, in honore sancti Michaelis archangeli constructum et super
illam vestram hereditatem Tonderey vocitatam [...] quam incautionem predictis hereditati-
bus vestris incommutabiliter imponimus propter servitium vestrum et fidelitatem que nobis
exhibuistis abundanter”. Neste caso, Duro Peña (1977: 121) aponta: “acepto con el [García
Álvarez] la factura irreprochable del privilegio de doña Urraca de 1121, pero tengo mis
reparos, más que nada por la forma de transmisión”.
21
Nesse núcleo diplomático, aparece entre 1098 (Urraca, nº 5) e 1123 (Urraca, nº 57).
Posteriormente, só reaparece em 1150 numa escritura do Mosteiro de Meira (AHN, 1126,
nº 4) (cf. infra).
22
Airas Peres é uma personagem recorrente na História Compostelana. Ele esteve casado
com Aldara Peres, filha de Pedro Froiaz de Trava (HC III, 2).
23
No conjunto de confirmantes, comparece um Diogo Ordonhes, que identificamos com
um dos irmãos de D. Oeiro (Oseira, nº 15).

88 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 88 25/09/2012 15:21:38


dava uma herdade em Carvalhedo (prov. Lugo) ao conde Álvaro Rodrigues
{Vélaz}24 e à mulher, a infanta Sancha Fernandes de Trava (tia de Osório
Eanes) (cf. supra), pelo auxílio que lhe prestaram na libertação do cunhado,
Pedro Tinha, encarcerado por homicídio. O escrito, junto com as conexões
sociais que revela, interessa pelos dados relativos à localização espacial da
figura de Oeiro Ordonhes e por fornecer informação sobre alguns elementos
do seu grupo familiar. No respeitante ao primeiro aspeto, notemos que a
propriedade oferecida assenta no atual concelho lucense de Pol, a 10 km do
Mosteiro de Meira (instituição muito vinculada aos Vélaz). Por outro lado,
vimos a conhecer o nome da mãe, D.ª Elvira Pais, e das irmãs, Gontrode,
Urraca e Azenda Ordonhes.
Segundo a informação da carta de 1121, Oeiro Ordonhes esteve
casado com uma Aldara Peres, que poderá ser uma irmã de Airas Peres e
não a filha homônima do Pedro Froiaz25. A identificação precisa dos filhos
de Aldara e Oeiro apresenta algumas dificuldades pois não contamos com
escrituras que tenham transmitido explicitamente esse tipo de informação.
Porém, o testamento de Fernando Oares – um dos filhos – e a documentação
permitem reconstruir, em parte, a estrutura desse grupo familiar. Assim,
aos nomes de Goina Oares de Orrea e Fiel Oares, referidos nessa manda
testamentária, acrescentamos os de Airas e Geraldo Oares registrados, em
1123, entre os confirmantes de um documento da rainha Urraca em que
surgem, com a mesma função, Oeiro Ordonhes e Airas Peres (Urraca, nº
57)26. Podemos enumerar neste momento seis filhos de Oeiro Ordonhes:
Fiel, Airas, Geraldo, Fernando, Goina e Godinha Oares27. A presença na

24
Filho do conde Rodrigo Vélaz e de Urraca Álvares (Salazar Acha 1985: 54-55, Barton
1997: 230).
25
Veja-se García Álvarez (1975: 116-117). Pelo contrário, Vázquez-Monxardin Fernán-
dez (1995: 79) considera que “posiblemente fose da familia dos Traba, tal vez filla de
Pedro Froilaz”. Ao que parece, D.ª Aldara ingressou no Mosteiro de Bóveda mesmo antes
da morte do marido, já que Vela Guterres – pai de João Vélaz – lhe encomendou a fundação
do mosteiro beneditino de Nogales (Leão) em 1150 (cf. supra).
26
Geraldo Oares surge no diploma de 1137 acima referido (Oseira, nº 14). Airas Oares
também confirma uma carta de Fernando II em 1127 (Tombo B, nº 223).
27
Não sabemos se os dois últimos nomes correspondem, na verdade, a uma mesma per-
sonagem. A forma “Goina” também poderia ser interpretada como “Goma”.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 89

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 89 25/09/2012 15:21:38


área ou em contextos diplomáticos coincidentes de indivíduos com esse
mesmo patronímico aponta para um número mais elevado de irmãos28.

Fernandus Oduariz
A trajetória de Fernando Oares de Bóveda (1135-1169), o filho
mais bem conhecido de Oeiro Ordonhes, pode ser seguida desde 1135
(Afonso VII, nº 61) até ao dia da sua morte em 25 de julho de 1169 (Fernán-
dez Fernández 2005: 28, 124). O seu testamento [D.8]29 e outras aparições
diplomáticas testemunham a ligação de D. Fernando ao cenóbio citado e
às terras de Búval. Ele próprio foi tenente desse distrito medieval (Oseira,
nº 35 [1158]) e, previamente, do de Aguiar (Rochas, nº 5 [1153]30).
Várias cartas régias demonstram que a proximidade de Fernando
Oares relativamente ao poder régio ultrapassou o exercício dessas funções
político-administrativas31. Assim, sabemos que Afonso VII lhe deu, em

28
Num documento (não datado) do Tombo C (fól. 159v), uma Aldara Fernandes, irmã do
cônego compostelano Nuno Fernandes, confirma a venda feita pela mãe Lupa Oares. Esta
última foi, muito provavelmente, filha de Oeiro Ordonhes e de Aldara Peres. Por outro
lado, os irmãos Aldara, Lupa, Maria, Martim, Pedro e Oeiro Ordonhes, documentados
entre finais do séc. XII e primeira metade do XIII, terão sido netos ou bisnetos dele.
29
Entre os diversos beneficiados por esse cavaleiro templário encontramos: a irmã Goina
Oares de Orrea, a Sé de Ourense (onde pede ser enterrado) e os mosteiros de Ante-Alta-
res, Aziveiro, Bóveda, Carvoeiro, Celanova, Chouzám, Hospital, Eiré, Samos e Sobrado.
Quanto à localização das suas posses, situam-se na área em que confluem as atuais provín-
cias de Ourense (conc. Amoeiro, Cea, Coles, Ourense, Peroxa, Pinhor, Vilamarim), Ponte-
vedra (conc. Doçom, Rodeiro, Lalim) e Lugo (conc. Monforte). Fernando Oares declara-se
devedor de D. Cotalaia, personagem que identificamos como pai do trovador D. Juião (cf.
infra)
30
O distrito de Aguiar (de Pedraio) localiza-se a nordeste da cidade de Ourense.
31
Ele aparece, só ou com os sobrinhos (Fernando, João e Pedro Airas), como confirmante
de diversos diplomas reais entre 1135 e 1169 (Fernando II, nº 9, 54, 35, 64, 78; CAstorga,
nº 809). Notemos a sua presença no diploma de fundação de Osseira em 1137 (Oseira,
nº 15), outorgado por Afonso VII ao lado de algumas das personalidades mais importantes
da área e ainda do conjunto dos reinos da Galiza, Leão e Castela. Entre elas, identificamos
diversos indivíduos relacionados familiarmente com poetas contemplados neste trabalho:
Fernando Peres de Trava (avô de Osório Eanes), Rodrigo Peres “o Veloso” (avô de Rodri-
go Dias dos Cameros e de Garcia Mendes de Eixo), Pôncio II Geraldo de Cabrera (avô de
João Vélaz), Paio Curvo (bisavô de Gonçalo Garcia e Fernando Garcia de Esgaravunha),
Fernando Oares (tio-avô de Osório Eanes), Airas Calvo (avô de Osório Eanes) e Pedro
Bazaco (avô de Pedro Pais Bazaco).

90 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 90 25/09/2012 15:21:38


1151, a Igreja de Santa Maria de Barra (conc. Coles) em recompensa pelos
serviços militares que lhe tinha prestado (OSantiago, nº 16)32. Quanto ao
reinado de Fernando II, dois diplomas de 1164.14.03 são bastante significati-
vos. Num deles, o monarca (Fernando II, nº 54), por conselho de Fernando
Oares, concedia à Sé de Ourense a Igreja de Santiago das Caldas (conc.
Ourense). No outro (Fernando II, nº 55), o rei oferece a Fernando Oares e
à mulher, Teresa Moniz, o Mosteiro de S. Paio de Diomondi e a Igreja de
Besteiros para os compensar pelo dinheiro que entregaram a Pedro Airas
– sobrinho dele – por ocasião do casamento deste último com a sua filha
Aldara Fernandes, posteriormente repudiada pelo marido.
Ainda a respeito das suas atividades, lembremos o caráter de con-
frade templário que se colige da referência a “equum meum et armas meas
milicie Templi” contida no seu testamento. O dado prende-se à existência
de um assentamento dessa organização na jurisdição de Amoeiro, onde
se situa o Mosteiro de Bóveda (Pereira Martínez 2006a). Fernando Oares
também formou parte do grupo de cavaleiros que promoveram a fundação
da Ordem de Santiago, à qual ofereceu a Igreja de Barra33. A vinculação
às ordens militares terá continuidade em Gonçalo Eanes, irmão de Osório
Eanes, que chegou a ser mestre da Ordem de Calatrava (cf. infra).
Como já dissemos, Fernando Oares esteve casado com Teresa
Moniz (1164-1206) (FPallares, nº 17), filha Múnio Pais de Monterroso34 e

32
“Ego Adefunsus, Hispanie Imperator, una cum filiis meis Sancio et Fernando vobis Fer-
nando Oduariz et filiis vestris et omni generationei vestre facio cartam donationis de illa
ecclesia que vocatur Sancta Maria de Barra cum omni illo regalengo quod pertinet eidem
ecclesie et ad suam feligresia; et dono vobis ipsam ecclesiam cum omni sua felegresia ut
ab hac die abeatis eam cautam tam istam hereditatem quam vobis do quam omnem aliam
quam ibi habeatis; et hoc facio pro bono et fidei servicio quod michi fecistis in partibus
sarracenorum atque christianorum. Et est ipsa ecclesia in terra de Buval, suptus monte
Durinu, circa flumen de Barra”.
33
Veja-se Martín (1974: 18, n. 39; 118, n. 226) e López Agurleta (1731: 69-71). Essa ces-
são constitui o núcleo originário da entidade administrativa santiaguista conhecida como
Encomenda de Barra.
34
A HC (I, 66) descreve a participação de Múnio Pais junto dos Travas, nas cerimônias
de coroamento de Afonso VII. Múnio Pais era filho de Paio Gomes da linhagem dos Beni
Gomes de Carrión, mas muito vinculado à Galiza (Torres Sevilla 1999: 351). A essa estirpe
também pertenceu Sancha Gonçalves, mulher de Fernando Peres de Trava (cf. infra). Por
via materna, Múnio Pais, enquanto filho de Elvira Moniz, foi neto de Múnio Rodrigues,
antepassado de Guiomar Rodrigues, a mãe de Rodrigo Dias dos Cameros.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 91

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 91 25/09/2012 15:21:38


de Lupa Peres de Trava. Deste casamento conhecemos os seguintes filhos:
Múnio, Martim, Aldara, Lupa e Oeiro Fernandes35. Interessa-nos sobretudo
o primeiro deles, Múnio Fernandes (1169-118836), primeiro mordomo de
Afonso IX (1188)37 e tenente de Camba (1169), de quem procede a linhagem
dos Rodeiros (cf. infra)38.
O casamento de D. Múnio com Maior Peres Bazaco (tia do trova-
dor Pedro Pais Bazaco) deu origem a Paio e Fernando Moniz de Rodeiro39
(cf. infra). O primeiro foi o progenitor de uma Maria Pais, identificada por
alguns estudiosos com a “filha de dom Paai Moniz”, referida numa cantiga
de Paio Soares de Taveirôs40. Por sua vez, o casal formado por Fernando
Moniz (1197-1227) e Teresa Rodrigues deu origem a Múnio Fernandes de
Rodeiro (1210-1261), uma das figuras mais representativas dessa linhagem.
Este último casou, em primeiras núpcias, com uma Constança Martins em
quem podemos reconhecer aquela “Dona Costança” citada numa cantiga

35
Este último filho consta na Genealogia dos fundadores do mosteiro de Santa Maria de
Ferreira de Palhares [D.39] (Salazar Acha 1984: 85-86; Fernández Fernández 2005: 116).
36
Salazar Acha (2000: 364) considera que morreu “poco después de 1188”. Monteagudo
(2008: 334) oferece como data do seu último aparecimento o ano de 1193, com base num
diploma de Afonso IX em que lemos “Munio Fernandi tenens Temees” (Oseira, nº 82).
Esse ato documental só consta por uma cópia posterior em que Múnio Fernandes figura na
coluna reservada a bispos e arcebispos, o que constitui uma notável irregularidade e projeta
alguma incerteza.
37
Veja-se Salazar Acha (2000: 364). Monteagudo (2008: 334) também lhe atribui esse
cargo em 1182: “en 1182 e 1188 como mordomo de Alfonso IX”. A informação não parece
exata, já que em 1182 o rei ainda era Fernando II e o conde Armengol VII de Urgell foi
mordomo real desde 1179 até 1184.
38
Seguimos a linha de sucessão genealógica desenhada na, acima citada, escritura do
Mosteiro de Ferreira de Palhares [D.39]. Pardo de Guevara (2006: 268) apresenta uma
proposta diferente, supondo que “la línea principal de la familia no fue la derivada de don
Fernando Muniz de Rodeyro [...] sino la de su hermano Pay Muniz – o Pelagio Muniz
de Rodeiro – al cual se documenta por el año 1203 como tenente honori Sancti Iacobi. Y
ciertamente, de este último, consta también su matrimonio con doña Teresa Munionis, en
la que dejó a doña María Pelagii, mujer de Fernando Beltrani, de los cuales quedó ya la
primera gran generación de la estirpe: doña Urraca Fernández de Rodeiro, Fernando Pela-
gii de Rodeiro, que gobernó la tenencia de Camba, Rui Fernández de Rodeiro y finalmente
Munio Fernandez de Rodeiro”. Veja-se também Monteagudo (2008: 351-355).
39
Apesar de não contarmos com dados documentais probatórios, aventamos a possibilida-
de de os trovadores Airas Moniz e Diogo Moniz terem sido filhos de D. Múnio (cf. infra).
40
Veja-se Resende (1994: 402) e Vallín (1995).

92 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 92 25/09/2012 15:21:38


de amor de Airas Fernandes “Carpancho” (“cativo, que non morri, o dia
/ que a vi en cas Dona Costança”) (Souto Cabo – Vieira 2003: 232). Múnio
Fernandes também aparece explicitamente relacionado com um Pedro
Garcia de Ambroa, identificável com um dos dois poetas caraterizados
pelo antrotopônimo “Ambroa” (Souto Cabo 2006). Estes elementos levam
a pensar, com algum fundamento, que os Rodeiros foram patrocinadores do
trovadorismo galego-português. Conhecemos, pelo menos, outra descendente
de Fernando Moniz: Elvira Fernandes (1246-1259)41, mulher de Rodrigo
Garcia Troco (de Fornelos) que foi meirinho da Galiza (1252, 1257-1262)
(cf. infra).

Arias Calvus de Castella


De acordo com o Privilégio de refundação do Mosteiro de Bóveda,
Godinha Oares (irmã de Fernando Oares) esteve casada com um Airas Fer-
nandes, nomeado habitualmente como Airas Calvo (avô de Osório Eanes).
Ele deu origem à geração dos Lima42 – ou Airas –, da qual derivaram, pelo
menos, outros dois ramos: os Nóvoas e os Batisselas43. A biografia de Airas
Calvo e de dois filhos, João e Fernando, foi traçada há já algum tempo por
García Álvarez (1966)44. Este estudioso ribadaviense considerava Airas

41
Conservamos vários atos diplomáticos relativos a esta senhora e ao esposo nos núcleos
de Ferreira de Palhares (FPallares, nº 102 [1246]) e Osseira (Oseira, nº 578 [1246], 818
[1259]; DGP, nº 79 [1259]). Na sua manda testamentária, de 1259, beneficia os mosteiros
de Osseira, onde pede para ser enterrada, Sobrado, S. Francisco de Santiago, Bonaval, Fer-
reira de Palhares, Vilar de Donas, Melom e Oia. A relação de cenóbios favorecidos define
muito bem a integração familiar da outorgante. Ela também é citada na Genealogia dos
fundadores do mosteiro de Ferreira de Palhares [D.39].
42
A documentação medieval galega evidencia a substituição progressiva do resultado
(latino/arcaizante) “Límia” por “Lima” (DGP, nº 4, 117, 192, 223). O uso atual da primeira
forma na Galiza responde certamente ao influxo do castelhano.
43
Fernandes (1992: 146, n. 182) supõe que a estirpe portuguesa dos Valadares foi um
“ramo imediato dos «de Límia»”. Concordamos com Pizarro (1997: 783, n. 1) em que:
“exceptuando o argumento de proximidade geográfica, não nos parece que a manipulação
que ali é feita dos dados linhagísticos levem a uma conclusão consistente”.
44
García Álvarez (1966: 27) desconhecia naquela altura a relação entre os Bóvedas e os
Nóvoas, segundo se depreende da seguinte informação: “Ignoramos con quien éste [Airas
Calvo] casó y, por tanto, el nombre de la madre de nuestros personajes [João Airas e Fer-
nando Airas]”. Num trabalho publicado dez anos depois (García Álvarez 1975: 114, n. 11),

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 93

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 93 25/09/2012 15:21:38


Calvo natural da antiga Castela ourensana45, da qual, junto com a terra de
Búval, ele próprio chegou a ser tenente em 1151, após ter ocupado esse
cargo na Lima (1147-1149)46.
A documentação oferece dados sobre Airas Calvo desde 1125 a
115147, situando-o na cúria de Afonso VII. Contudo, García Álvarez não
deixou de notar que: “Estas escasas apariciones durante más de un cuarto
de siglo y el no figurar más que una vez ostentando el cargo de una tenen-
cia, vendría a indicarnos que Arias Calvo debía ser un magnate de nobleza
más bien modesta. Podríamos decir, por lo que se verá, que, más que hijo
de familia ilustre, Arias Calvo fue padre de ilustre descendencia” (García
Álvarez 1966: 28). O paradoxo notado por García Álvarez, ao confrontar
o nebuloso passado de Airas Calvo com o relevo social alcançado pelos
seus descendentes, poderá não corresponder totalmente à realidade48. Em
primeiro lugar, porque as aparições documentais de Airas Calvo são menos
raras do que supunha o estudioso ribadaviense em 1966. Por outro lado,
se o patronímico dele foi, na verdade, “Fernandes”, não descartamos que
ele tenha sido um dos filhos de Fernando Eanes de Montoro (1112-1157)49,
senhor da Lima, bisavô de Fernando Pais de Tamalhancos (Souto Cabo
[no prelo/1]). Existem vários argumentos para apoiar essa filiação: 1) o
relacionamento com as terras da Lima, território galego defendido por
Fernando Eanes, em face às ambições portuguesas50, 2) o seu apareci-

precisamente sobre a documentação relativa à fundação do mosteiro de Bóveda, este autor


já identifica esses vínculos familiares. O grupo familiar dos Limas foi, em tempos recentes,
objeto de análise por Pizarro (2011)
45
Trata-se do espaço situado entre os rios Ávia, Minho e Barbantinho.
46
“Arias Calvus de Castella, de Bubal” (Afonso VII, nº 132 [1151]); “Arias Caluus, tenens
Limiam, conf.” (Afonso VII, nº 114 [1147]), “Arias Caluus dominus Limie confirmat”
(Afonso VII, nº 122).
47
Ocasionalmente aparece nomeado como “Arias Caluus de Gallecia” (TCastanheda,
nº 18 [1150]; Afonso VII, nº 131 [1150], 138 [1151]).
48
Veja-se Pizarro (2011: 58) que analisa criticamente essa afirmação, chegando a sugerir
algum tipo de relacionamento com os Travas.
49
O sobrenome antroponímico alude ao fato de ter ocupado, entre 1149 e 1154, a tenência
dessa vila cordovesa, reconquistada transitoriamente por Afonso VII.
50
Vários passos da Chronica Adefonsi Imperatoris são, a esse respeito, muito elucidati-
vos (Sanchez Belda 1950: 59-60, 63-64, 155). Também no Poema de Almeria observamos
uma identificação direta de D. Fernando com esse território. Ele aparece, assim, acompa-

94 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 94 25/09/2012 15:21:38


mento em diversos atos diplomáticos associado ao de Montoro e ao filho
Paio Curvo51 e 3) um passo dos Livros de Linhagens em que esse último
aparece apelidado como “Calvo”, o que pôde derivar de uma troca com
o sobrenome do possível irmão (Airas Calvo)52. Essa suposição, se vier a
ser confirmada, poderá ser de utilidade para explicar algumas conexões
históricas e literárias de grande interesse (cf. infra)53.
A conjetura em questão parece ser contrariada pela existência
de um “Arias Pedrez” alcunhado “Caluus” a confirmar uma escritura
de 1149 (Afonso VII, nº 126), o que talvez nos levasse a pensar que o
patronímico de Airas Calvo foi “Peres” e não “Fernandes”54. Esta última
forma ocorre apenas no Privilégio de refundação do Mosteiro de Bóveda,
texto transmitido por cópia do séc. XVII que poderá ter sido interpolada
pelos Boáns (Duro Peña 1977b: 119-121). Com efeito, os (Fernández de)
Boán vangloriavam-se de ser descendentes dos fundadores desse cenóbio,
utilizando como base esse diploma, pelo que não excluímos que tenham
atribuído o patronímico “Fernandi” a quem no original figurava como “Arias
Calvus” ou “Arias Petri”55.

nhado pelos familiares e pela “Lima toda” na expedição de Afonso VII contra a cidade
andaluza em 1147: “Iungitur his cunctis Fredinandus et ipse Iohannis, militia clarus, bello
nunquam superatus … Hunc bello mota sequebatur Limia tota” (Gil 1974: 57).
51
“Fernandus Iohannis de Galecia conf.– Arias Caluus conf.– Pelagius Curuus conf.–
Munio Tacon conf.” (COurense, nº 22 [1145]), “Arias Caluus confirmat. Munio Tacon
confirmat. Fernandus Iohannis confirmat. Pelagius Curuus confirmat” (Afonso VII, nº 117
[1147]) “Fernandus Iohannis de Gallecia conf.– Arias Caluus, tenens Limiam, conf.– Pela-
gius Curuus conf.” (COurense, nº 23 [1147]).
52
“E este conde don Goiçoi foi o que matou Frade Balderique, visavoo de dom Fernam
Anes de Montor <e trasavoo de dom Paai Calvo de Toronho, filho deste dom Fernam Anes
de Montor,> ca deste Balderique saio Ramiro Frade, e de Ramiro Frade saio dom Joham
Ramirez, padre de dom Fernam Anes de Montor” (LC 22A4).
53
Fernando Eanes esteve casado com Urraca Gomes, filha de Gomes Nunes de Celanova
e de Elvira Peres (← Pedro Froiaz de Trava).
54
Lembremos a figura do turbulento Airas Peres, filho de Pedro Airas de Deza. Esse Airas
Peres foi marido de Aldara Peres de Trava (cf. supra).
55
“Una de las notas que cayeron más simpáticas a Boán – o una de las marcas de Boán
– en el documento fundacional, aparte del apellido Fernández, fue la referencia a San Fa-
cundo” (Duro Peña 1977b: 121). Lembremos que os Boáns também pretenderam incluir
entre os seus ancestrais os santos Facundo e Primitivo (Souto Cabo 2007: 129-131). Por

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 95

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 95 25/09/2012 15:21:38


Conhecemos quatro filhos de Airas Calvo: Fernando, João, Pe-
dro e Oeiro Airas56. Os três primeiros relacionaram-se com as mais altas
instâncias do poder, nomeadamente durante o reinado de Fernando II. Essa
promoção social será acompanhada e favorecida por uma série de alianças
matrimoniais que situaram, por motivos diversos, Fernando e João Airas
na intersecção das famílias reais galaico-leonesa e lusitana. Por seu turno,
Pedro Airas irá vincular-se a uma das linhagens mais importantes da Terra
de Campos leonesa (cf. infra).

Pedro Airas
Pedro Airas (115357-1168) não é mencionado entre os filhos de
Airas Calvo e Godinha Oares no Privilégio de refundação do Mosteiro de
Bóveda (1168.09.24), circunstância atribuível ao seu decesso em data ante-
rior. Tal hipótese parece ser confirmada pela sua ausência na documentação a
partir de 1168.05.10 (CAstorga, nº 80958). Ele foi mordomo real (1166-1167)
e tenente de Aguiar (1165) e Castela (1167) (Salazar Acha 2000: 361). Do
enlace com uma prima, Aldara Fernandes ( Fernando Oares de Bóveda),

outro lado, os Boáns poderão ter feito desaparecer a documentação de Bóveda anterior a c.
1270 com o intuito de salvaguardar as suas intervenções fraudulentas.
56
García Álvarez (1966: 26) refere apenas os nomes de João e Fernando, notando a falta
de dados documentais explícitos para demonstrar a relação familiar entre eles: “No hay
prueba expresa de que Juan y Fernando fueran hermanos, e incluso el muy docto Julio
González llega a escribir, por evidente descuido, que «era don Juan Arias hijo de Fernando
Arias»”. Porém, com independência do (problemático) privilégio da refundação de Bóve-
da – conhecido posteriormente por esse investigador –, esse vínculo consta numa escritura
de c. 1170 pela qual Fernando II oferecia ao Mosteiro de Sar a ermida de Santa Maria da
Grova (Sanim, c. Ribadávia): “per illas divisiones et por illos cautos quos Iohannes Arie et
frater eius Fernandus Arie [...] diviserunt” (AHDS, Priorado de Sar, maço 38, nº 13).
57
O testemunho mais antigo corresponde a um diploma (TSobrado, II, nº 79 [1153]) que
registra o acordo entre a sua prima Loba Fernandes – junto com o marido Fernando Afon-
so – e o Mosteiro de Sobrado sobre a posse da vila de Penela. Também aparecem Múnio
Fernandes (irmão de Loba Fernandes) e Fernando Airas (irmão de Pedro Airas).
58
É uma das testemunhas ao lado do tio, Fernando Oares, e dos irmãos, João e Fernando,
de um ato documental pelo qual o conde Ramiro Froilaz dotava a quarta mulher, Elvira
Osores, com a vila de Molina Seca. Segundo Torres Sevilla (1999: 152), Elvira Osores,
irmã de Constança Osores (mulher de Pedro Airas), estivera casada em primeiras núpcias
com Múnio Fernandes (filho de Fernando Oares e, portanto, primo de Pedro, João e Fer-
nando Airas).

96 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 96 25/09/2012 15:21:38


resultou Airas Peres – esposo de Maior Martins –, alferes de D. Afonso IX
(1206) e pai do arcebispo compostelano João Airas.
Após a interrupção do seu enlace com Aldara, Pedro Airas casou
de novo com Constança Osores (mulher repudiada de Fernando Rodrigues
de Castro), filha do conde Osório Martins e da condessa Teresa Fernandes,
membro de uma linhagem da Terra de Campos leonesa (Martínez Sopena
1985: 371, 381-386; Torres Sevilla 1999: 150-160). Fruto deste segundo
casamento será Rodrigo Peres de Villalobos, vulto notável na política
leonesa e castelhana do momento. A família manteve os vínculos com as
terras originárias do pai59. D. Rodrigo, alferes (1208, 1210-1211) e tenen-
te de Afonso IX, desposou Teresa Froilaz, filha de Urraca Gonçalves (
Gonçalo Fernandes de Trava) e de Froila Ramirez.

Oeiro Airas
D. Oeiro é aquele irmão que conta com menor representação
documental, talvez por não ter exercido qualquer tipo de função pública,
em consequência de uma morte precoce. Por enquanto, só o conseguimos
situar no (incerto) privilégio de fundação do Mosteiro de Bóveda (cf. supra).
É provável que tenha contado entre os seus filhos com um Airas Oares
(1187), pelo seu lado, pai do Oeiro Airas citado em escrituras de finais
do séc. XII e princípios do séc. XIII60. Como veremos, esse Airas Oares,
provável primo de Osório Eanes, poderá ser identificado com o trovador
do mesmo nome lembrado apenas pela TC (cf. infra).

Fernando Airas
Fernando Airas Batissela (1147-1196), apelidado “de Castela”,
“do Burgo” (= Ribadávia) ou “de Anho”, foi para alguns o irmão mais
novo. O primeiro registro documental data de 1147 quando confirma um

59
Rodrigo e a mãe doavam, em 1183, ao Mosteiro de Osseira a quarta parte da vila de
Marín “in termino de Benavent, discurrente fluvium Orvego” (Oseira, nº 66).
60
É possível que Airas Oares tenha desposado Elvira Peres Bazaco, tia do trovador Pedro
Pais Bazaco (cf. infra).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 97

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 97 25/09/2012 15:21:38


diploma de que são titulares vários filhos de Pedro Froiaz (Fernando,
Bermudo, Lupa, e Toda Peres)61, o que certifica os seus laços com essa
linhagem, reforçados pelo seu casamento com Teresa Bermudes de Trava.
Ele apresenta-se ativo até 1196, tendo exercido como tenente (só, com o
irmão João Airas ou com os filhos deste último) nos distritos de Castrelo de
Veiga62 (1167, 1183-1185, 1187-1188, 1190), Ribadávia (1170, 1188-1189),
Aguiar (de Pedraio) (1175-1176, 1193), Castela (1177-1178, 1182-1192),
Vila de Rei (1185, 1188-1189), Alva de Búval (1187-1190), Tui e Entenza
(1188). Também é mencionado como: “Fernandus Arie in Gallaecia” em
1170 e 1180 (Fernando II, nº 180, 183). O favor régio de que Fernando Airas
usufruiu, traduzido nessa ampla presença na administração, reverteu em
diversos benefícios patrimoniais na Lima, em Bergantinhos e no Morrazo
(García Álvarez 1966: 39-40).
D. Fernando desposou Teresa Bermudes (1153-1219), filha de
Bermudo Peres de Trava (1104-1168) e de Urraca Henriques, uma irmã do
primeiro monarca lusitano63. Esse casamento terá favorecido o envolvimento
de D. Fernando e do seu grupo familiar na política portuguesa: ele chegou
a ser governador de Trancoso (1193) e tenente em Faria (Mattoso (1982:
129, 143; Ventura 1992: 1001, 1023). A documentação revela a existência
de propriedades na região do Ribeiro ourensano, concretamente nos atuais
concelhos de Leiro (Camanzo, nº 8 [1203]) e Ribadávia64. Pelo contrário,

61
RAG, Pergaminhos, maço 2, nº 11. Muito provavelmente, ele também é o Fernando Ai-
ras que junto com o irmão, João Airas, confirmava, em 1152, um contrato econômico entre
o cabido de Santiago e uma Urraca Eanes (Tombo C, fól. 99r). A julgarmos pela localização
das propriedades de que esta última dispunha, terá sido, muito provavelmente, parente dos
anteriores.
62
García Álvarez (1948: 253-272) precisou a localização deste topônimo na margem di-
reita do Minho, em frente de Santa Maria de Castrelo, perto de S. Paio.
63
A relação de filiação de Teresa a Urraca Henriques pode estabelecer-se, indiretamente,
por um documento de 1161 em que aparece Urraca Bermudes – irmã de Teresa – ao lado
dos pais: “Ego Ueremundus Petrici hoc scriptum quod fieri iussi propria manu et proprio
roboro confirmo. Infantissa domna Urracha manu propria confirmo et roboro, fila eius
Urracha Uermuiz conf.” (Barton 1997: 320-322; AHN, Tojos Outos, maço 556, nº 4).
64
Várias escrituras referem a existência de propriedades em Sanim (conc. Ribadávia):
“Ego Tereisa Uermuit uobis monachis de Mellonis facio manda ipsa uilla de Sanim do ego
ipso kasalem quod dictis da Figueira et medietatem de ipsas uineas nouas pro remedium
anime mee et de domno Fernandus Arie [...] tenente terra ipsa domna Tereysa” (ACO,
Most.º de Melom, nº 38 [1203] = Melón, nº 85), “Ego domna Tarasia Ueremudi asigno

98 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 98 25/09/2012 15:21:38


as posses no norte da Galiza (Betanços, Cedeira, Teixido) podem ser vin-
culadas aos Travas.
Entre outros aspetos da biografia deste casal, salientamos o seu
relacionamento com a Ordem de Santiago, segundo reflete uma escritura
de 1182, pela qual Fernando Airas e a mulher ofereciam a Pedro Fernan-
des, mestre dessa milícia, aquilo que possuíam no Mosteiro de Savardes
(OSantiago, nº 140). Também aparecem associados à Ordem de São João
de Jerusalém (GSJoão, nº 48, PSJuan, nº 185). Esses dados possuem algum
interesse já que vários membros da sua linhagem, como Fernando Oares (tio
de Fernando Airas) ou Gonçalo Eanes (irmão de Osório Eanes e sobrinho
dos citados), estiveram filiados a ordens militares. O Mosteiro de Melom
é a instituição religiosa a que mais diretamente aparece associado o casal
em questão, nomeadamente D.ª Teresa Bermudes (cf. supra).
Quanto à descendência, relacionamos, em primeiro lugar, os
nomes de Fernando, João e Rodrigo. Uma boa parte da biografia destes
indivíduos desenvolveu-se com notável fortuna em terras portuguesas
(Mattoso 1982: 129-130)65. Fernando Fernandes, até agora, só tinha sido
documentado na cidade de Ourense aquando da concessão ao Mosteiro de
Sobrado de um foro em Tibiás (conc. Pereiro de Aguiar) por parte do seu
grupo familiar (CSobrado, fól. 361v [1200]). Também o encontramos em
Santiago de Compostela como confirmante de uma escritura ao lado do
irmão Rodrigo Fernandes: “Rudericus Fernandi, Fernandus Fernandi, fratres

capitulo conpostellano de assensu et benplacito quos olim prefato capitulo asignaueram


Beati Iacobi in uilla que dicitur Sanim, pro remedium anime mee et uiri ei domni Fernandi
Arie qui aput ecclesiam beati Iacobi sepultus est” (Tombo C, fól. 149r e 221v [1212]),
“Ego domna Tharesia Uermudi [...] facio karta veri testamenti semper ualituram uobis
domno Uermudo abbati de Melon et omni conuentui eiusdem [...] de vinea illa de Sanim
quam dedi Iohanni Martini portario ad plantandum [...] et hoc facio remedium anime mee
et mariti mei domni Fernandi Arie [...] ipsa octra uinea que iacet inter rivulum de Saa et
vineas de Melon” (ACO, Most.º de Melom, nº 169 [1217] = Melón, nº 126), “ego domna
Tarasia Veremudi et omnis uox mea uobis domno Ueremudio abbati de Meloni conven-
tuique eiusdem loci [...] do et concedo quodam casare quod habeo in Sanin, illud sicilicet
quod dicitur de Ficulnea et iacet subtus ecclesia de Sanin” (ACO, Most.º de Melom, nº 191
[1219] = Melón, nº 138).
65
Seguem uma tradição familiar de ação política concretizada, sobretudo, nos irmãos
Bermudo, Fernando e Rodrigo Peres de Trava. Lembremos que a avó materna foi irmã de
Afonso Henriques (cf. supra).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 99

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 99 25/09/2012 15:21:38


domni Johannis Batisela” (Tombo C, fól. 92r [1219]). Rodrigo Fernandes
“Codorniz” chegou a ser alcaide de Lisboa (1192-1207) com Sancho I
(Mattoso 1985: 183)66. Uma filha dele, Maria Rodrigues “Codorniz”, foi
vítima de um rapto perpetrado por João Bezerra que satirizou D. Gonçalo
Garcia na cantiga Levaron-na Codorniz (cf. infra)67.
João Fernandes Batissela, o mais afamado dos irmãos, atingiu o
topo do poder como mordomo (1192-1194, 1204-1205) e (primeiro) alferes
(1188-1191, 1218-1220) de Afonso IX68. D. João assumiu o cargo de tenente
(1183-122069) em diversos territórios galegos e leoneses: Trastâmara, Lima,
Lemos, Milmanda, Rueda e Alhariz, Zamora, Monterroso, Salamanca e
Toronho70. A última presença na documentação galaico-leonesa situa-se em
1220.03.20 (Afonso IX, nº 394) como “Domno Iohanne Fernandi existente
signifero regis”. Na corte portuguesa, além de tenente de Neiva (1211-
1223) e Faria (1219-1223), exerceu como alferes (1224) e mordomo-mor
(1225-1226)71. Casou com Berengária Afonso de Baião72 e, em segundas

66
Fernández Rodríguez (2004: 129) considera que foi tenente de Toronho (1180-1182),
alferes (1184-1185) e chanceler (1189), mas não é fácil confirmar que se trate dessa mesma
personagem. Veja-se também Salazar Acha (1984: 83-84).
67
Esta Maria Rodrigues casou com Martim Martins Marinho e foram pais de Pero Mar-
tins Marinho, segundo marido de Teresa Lopes de Ulhoa (cf. infra).
68
Pizarro (2011: 62) valoriza o parentesco (primo) que unia D. João com Afonso IX e
com os monarcas lusitanos Sancho I e Afonso II.
69
Neste e noutros casos similares, indicamos apenas as datas extremas, sem que isso
suponha uma continuidade no cargo durante o período delimitado.
70
Veja-se Salazar Acha (2000: 366-368) e Fernández Rodríguez (2004: 147-149). Com-
pletamos com informação de diversas coleções documentais, nomeadamente a de Osseira.
71
Existem algumas divergências sobre a sua possível presença na cúria lusitana antes
de 1210. Mattoso (1982: 129) identifica-o com um João Fernandes que foi dapífero (ou
mordomo) com Sancho I de Portugal entre 1186 e 1204 [1206]. Porém, Ventura (1992:
989, n. 6) considera que se trata de João Fernandes de Riba de Vizela, já que na altura o
de Lima ocupava, como dissemos, diversos cargos na corte de Afonso IX. Pizarro (2011:
62) identifica o Batissela com um “Johannes Fernandiz Gallicus” citado num documento
da chancelaria de Sancho I (Sancho I, nº 105) e, sem elucidar o motivo, com o dapífero
referido em diplomas do ano 1206, mas não com o homônimo que aparece, sem solução de
continuidade, antes desse ano. Veja-se Ventura (1992: 1001, 1004).
72
Berengária Afonso foi irmã de Lopo Afonso de Baião, pai do trovador Afonso Lopes de
Baião (1246-1280).

100 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 100 25/09/2012 15:21:38


núpcias (c. 1212), com a que fora barregã do rei Sancho I, a célebre Maria
Pais (← Paio Moniz da Ribeira73 & Urraca Nunes de Bragança)74.
Entre os descendentes de João Fernandes Batissela, encontramos
Gonçalo, Fernando75 e Teresa Eanes. Os dois últimos tornaram-se parentes
dos senhores de Eixo. D. Fernando desposou Teresa Eanes da Maia76, filha
de João Peres da Maia e de Guiomar Mendes, uma irmã de Garcia Mendes
de Eixo77. Teresa Eanes Batissela foi a mulher de Mendo Garcia de Sousa,
filho desse mesmo Garcia Mendes e, portanto, irmão de Gonçalo Garcia e
Fernando Garcia de Esgaravunha (cf. infra).
Outros filhos varões de Fernando Airas e Teresa Bermudes foram
Henrique , Gil e Álvaro Fernandes Batissela79. Gil Fernandes é referido nos
78

Livros de Linhagens como pai de um Fernando Gil que casou com Sancha
Fernandes, filha do trovador Fernando Pais de Tamalhancos: “E dom Gil
Fernandes Batissela foi casado com uma dona Elvira Paes [...] e fege nela

73
Os Ribeiras são considerados um ramo dos Cabreiras e, portanto, aparentados com os
Travas (Pizarro 1997: 817).
74
O trovador Gil Sanches (1207-1236) resultou do relacionamento de Maria Pais com o
monarca português. D. Gil esteve ligado ou casado a/com Maria Garcia, filha de Garcia
Mendes de Eixo (cf. infra). Michaëlis (1904: 307-321) reconheceu nela a Maria Pais citada
numa cantiga de Paio Soares de Taveirôs, mas essa identificação tem sido posta em dúvida
(Oliveira 1994: 402, Vallín 1995).
75
Veja-se Fernández Rodríguez (2004:167-172), Monteagudo (2008: 137-138), Pizarro
(2011: 63-64).
76
Um filho deles, Fernando Fernandes Pancenteio (Pancenteo, c. Rosal), casou com San-
cha Vasques, filha de Vasco Gil de Soverosa (1238-1258) (← Gil Vasques & Sancha Gon-
çalves de Orvaneja) (cf. infra). João Fernandes, prole destes últimos, foi cônjuge de Maria
Eanes, uma filha de João Peres de Aboim (1249-1284).
77
Elvira Eanes, a mulher de Rui Gomes de Briteiros, foi irmã de Teresa Eanes da Maia.
Antes de casar, Rui Gomes raptou a mulher, sucesso escarnecido na cantiga Pois boas
donas son desemparadas do trovador Martim Soares.
78
Conhecemo-lo por uma escritura (1223) em que, juntamente com a irmã Urraca Fer-
nandes, legava diversos bens ao Mosteiro de Sobrado antes de acompanhar o rei Afonso IX
na tentativa, fracassada, de tomar a cidade de Cáceres (Vaamonde Lores 1909: 54-55). A
sua filiação relativamente ao casal em questão não conta com prova documental explícita.
79
Monteagudo (2008: 324) inclui um Pedro Fernandes, tenente de Pena Corneira (1188)
e Villafranca (1200), entre os filhos de Fernando Airas.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 101

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 101 25/09/2012 15:21:38


dom Fernão Gil [...] E este Fernão Gil foi casado com dona Sancha Fernan-
des, filha de dom Fernão Paes de [T]alamancos” (LD 20C3-4, LC 43N6)80.
Quanto ao grupo feminino, para além de Elvira (cf. infra), co-
nhecemos os nomes de Sancha, Maria e Urraca Fernandes (1223). Sancha
(1198-1234) atingiu o estatuto de condessa pelo seu casamento com o conde
Froila Ramires (cf. supra)81, um destacado membro da linhagem leonesa
dos Flaínes-Froilaz, que ocupou diversos cargos palatinos no reino galaico-
-leonês durante os reinados de Fernando II e Afonso IX (cf. supra). Maria
Fernandes, casada com Lopo Rodrigues de Ulhoa, foi mãe do trovador João
Lopes de Ulhoa82. Teresa Lopes de Ulhoa, irmã deste último, foi desposada
em primeiras núpcias por Fernando Pais de Tamalhancos e em segundas
por Pedro (Martins) Marinho83. Não se esgotam aí as conexões literárias, é
possível que Urraca Fernandes tenha sido mãe de João Soares Somesso,
segundo se descreve no capítulo quarto deste trabalho84.

80
A documentação evidencia que o nome da mulher de Gil Fernandes foi Maria – não
Elvira – Pais (CSobrado, fól. 364).
81
Froila Ramires esteve casado em primeiras núpcias com Urraca Gonçalves, filha do
conde Gonçalo Fernandes de Trava, falecida em 1190. Veja-se Souto Cabo (2011b).
82
O dado discrepa com a informação dos Livros de Linhagens (LC 13D3), que o faziam
filho de Teresa Fernandes de Lima/Trava, mas é confirmado por uma escritura de 1236
em que Maria Fernandes e os filhos, Fernando e João Lopes, realizam uma permuta com
o Mosteiro de Sobrado: “Ego domna Maria Fernandi concedente filio meo D. Fernando
Lupo et concedente alio filio meo D. Johannes Lupi [...]” (Vaamonde Lores 1909: 58,
nº 9). Pelo contrário, é possível que esteja certa a atribuição da condição de “freire” feita
pelos Livros de Linhagens, o que nos leva a reconhecê-lo no “Iohannes Lupi conmendator
de Faro” que, junto com outro freire dessa mesma bailia, testemunha em 1238.02.13 uma
compra-venda outorgada por Urraca Garcia de Ambroa (filha de Garcia Peres de Ambroa,
parente de Pedro Garcia de Ambroa) a favor de Rodrigo Gomes de Trava (Tombo C, fól.
153v). A vinculação familiar ao mosteiro santiaguista de Vilar de Donas induz a identificá-
-lo com a personagem homônima que alguns anos antes, em 1230, confirmava uma es-
critura desse cenóbio, em que também aparece João Somesso (cf. infra). Não podemos
descartar que esse caráter de mílite tenha motivado a sua transferência para a Estremadura
portuguesa, pelo menos desde 1265, onde casou com Sancha Lourenço de Taveira. Sobre
as relações poéticas do João Lopes em terras lusitanas, veja-se Souto Cabo (2012a).
83
O segundo enlace valeu-lhe uma cantiga satírica de Afonso Soares Sarraça. Este último
trovador foi tio de Maria Peres Sarraça, mulher de João Fernandes Varela (← Fernando
Pais de Tamalhancos & Teresa Lopes de Ulhoa).
84
Os filhos dela são referidos genericamente no diploma de que é titular o irmão Henrique
Fernandes (cf. supra).

102 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 102 25/09/2012 15:21:38


Um documento de 1228 parece ser o único testemunho para
identificar dois descendentes, até agora desconhecidos, do casal em foco:
Álvaro e Elvira Fernandes85. Por esse diploma vimos a saber que os filhos
de Teresa Bermudes possuíam parte de um imóvel na cidade de Santiago,
herdado da mãe, que partilhavam com a tia Aldonça Bermudes86. A notícia
soma-se a outras que confirmam a presença de diversos prédios pertencentes
aos Travas na cidade de Santiago87.

3. João Airas de Nóvoa e Urraca Fernandes de Trava


João Airas (1152-1180) – conhecido como João Airas de Nó-
voa , de Castela ou de Amoeiro89 – foi alferes real (1173-1174) e tenente
88

de Castela (1161, 1167, 1174-1175, 1177-1178), Nóvoa (1166)90, Castrelo

85
É possível que se trate dos filhos mais novos do casal, motivo pelo qual não se encon-
tram na documentação familiar anterior.
86
“Ego Alvarus Fernandi, filius domne Tarasie Ueremundi, pro me, et pro sororibus meis
Eluira Fernandi et pro matertera mea domna Aldoncia Veremundi et pro omni uoce mea
[...] uendo, dono et firmiter concedo vobis Fernando Pelaez, pectauino, comparanti pro uo-
bis et pro uxore uostra Maiore Viuiani omnique uoci uestre, quartam illius domus de Placia
que est sita inter domum canonicorum que fuit domni Cotalaie, ex una parte, et domum
Archiepiscopi in quam modo domnus Iohannes decanus moratur, ex alia. Quam IIIIª ego
habeo ex parte predicte matris mee domne Tarasie Veremundi ” (Tombo C, fól. 80r). Al-
donça Bermudes não é incluída entre a prole de Bermudo Peres, mas poderia ser a Ilduara
de que falam algumas fontes. Sobrevivem múltiplas incertezas sobre os casamentos e os
filhos de D. Bermudo (Lopez Sangil 2005: 62-63). Apesar das dúvidas que levantam as
“novidades” contidas nessa escritura, não parece que existam argumentos suficientes para
vincular os indivíduos citados a outro grupo familar.
87
D. Cotalaia, citado na escritura anterior, possuía uma casa contígua a outra de Fernando
Peres de Trava, situada em frente do portal principal da Sé de Santiago (cf. infra). D. Co-
talaia, importante figura da urbe compostelana, é aqui postulado como pai de D. Juião (cf.
infra).
88
A Terra de Nóvoa, que integra a vila de Ribadávia, formava parte do distrito medieval
de Toronho (Fernández Rodríguez 2004: 55). A origem do topônimo está em Santo Estê-
vão de Nóvoa (conc. Carvalheda de Ávia).
89
“E a sobredita dona Maria (sic) Fernandes de Trastamar casou com dom João Aires de
Moeiro, e fege nela don Gonçal’ Eanes, o bom, rico homem” (LD 1904). Como vemos, os
Livros de Linhagens erram no nome da mulher; Maria Fernandes de Trava, irmã de Urraca,
esteve casada com o conde Pôncio II Geraldo de Cabrera (cf. infra).
90
“tenente Sancti Iohannis de Novoa domno Iohannes Arie” (Melón, nº 31).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 103

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 103 25/09/2012 15:21:39


(1167, 1184), Ribadávia (1170, 1172), S. Paio de Toronho (1176), Castelo
de Orzelhão (1176) e Alva de Búval (1179)91. Quanto a missões políticas
concretas, por ordem de Fernando II, ele teve a incumbência de restituir, em
1170, ao bispo de Tui a posse da vila e do couto: “Nunc [...] per Iohannem
Arie karissimum nostrum restituere omnia mandamus [...]. Mandamus
itaque quod dilectus noster I. uenerabilis Tudensis episcopus et ecclesia
sua habeat predictam uillam et cautum”92.
Não podemos falar só de cercania institucional a respeito do
poder régio, mas ainda de proximidade familiar entre as casas do rei e a
dos Nóvoas. Como se sabe, Fernando II confiou ao pai de Osório Eanes
a formação do futuro Afonso IX (cf. infra), o que se liga provavelmente
às origens de João Airas e/ou ao fato de ele ter desposado Urraca Fernan-
des93. Esta última foi filha do conde Fernando Peres de Trava, magnate
principal da Galiza, em quem Afonso VII já delegara a formação do futuro
Fernando II, seguindo uma prática iniciada em tempos de Afonso VI (cf.
infra)94. Sabemos que João Airas morreu entre 1180.03.24 (Fernando II,
nº 178)95 e 1181.09.06, quando já se alude a ele como falecido: “Notum
est quod uos cum marito vestro bone memorie domno Johanne Arie”, “...
ipse uir vestrum ad obitum suum dimisit inde medietate ecclesie Beati
Iacobi” (D.14)96.

91
Em 1176 e 1180 encontramo-lo como “Iohannes Arie in Gallecia” (cf. supra) (Fernan-
do II, nº 176, 177; RFernando II, p. 467).
92
Fernando II (nº 116). Em 1178.12.28 está documentado como vicário real: “in tempus
de rege Fernandus, suo vicario Iohanne Arias” (Oseira, nº 59).
93
O casamento ocorre antes de 1165.04.30, altura em que o casal entregou ao Mosteiro de
Armenteira a herdade chamada Paraíso [D.6].
94
Veja-se Pallares – Portela (1983: 837). Notemos, por outro lado, que Fernando II e
Afonso IX aparecem ocasionalmente como atores e confirmantes de documentos de que
João Airas é titular [D.6, 10].
95
É possível que continuasse vivo ainda em 1181.02.23, data que supomos para um do-
cumento mal datado [D.12].
96
João Airas foi identificado por García Álvarez (1966: 28), Salazar Acha (2000: 420-
421) e Calderón Medina (2011a: 129) com um João Galego, documentado até 1187, que
chegou a ser tenente das Torres de Leão (Fernando II, nº 156). Porém, tal identificação não
é possível já que os dois aparecem ocasionalmente nos mesmos diplomas (Fernando II,
nº 156: “Iohannes Arie confirmat […] Iohannes Gallecus in Legione”). Também induziu
a engano o regesto que ofereceu González (1943: 513) sobre um documento de 1187 ao

104 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 104 25/09/2012 15:21:39


A naturalidade de João Airas foi situada na antiga terra de Cas-
tela, de acordo com o que postulam fatores como: o contexto familiar, os
cargos político-administrativos ocupados e a localização das suas posses.
A documentação refere propriedades nos atuais concelhos ourensanos
de Castrelo de Minho, Cenlhe, Leiro, Ribadávia e S. Amaro; isto é, na
área do Ribeiro delimitada pelos rios Barbantinho e Ávia (afluentes do
Minho). Porém, o casal João Airas-Urraca Fernandes contava com um
domínio territorial muito mais vasto, espalhado de modo preferencial
pelos distritos de Búval, Castela e Trastâmara, como se depreende dos
registos históricos e, sumariamente, de uma das cláusulas do testamento
da mulher: “Ad ecclesias de Trastamar, et de Buual et de Castella super
quas potestatem habui, et tenui et in illas peccaui et erraui et de illis ga-
naui” [D.24]. Também aparecem relacionados com a cidade de Santiago
(onde tinham residência97) e, acima de tudo, com a Sé e o Mosteiro de S.
Martinho (cf. infra)98.
Urraca Fernandes (1165-1199), a mãe de Osório Eanes, foi
filha de Fernando Peres de Trava (1110-1155) e de Sancha Gonçalves
(cf. infra)99. O conde D. Fernando surge como um dos indivíduos com maior
poder de decisão na corte de Afonso VII, ao ponto de lhe ser atribuída a
iniciativa que levou à divisão dos reinos entre os filhos do rei (cf. infra).
No plano cultural, cumpre notar o seu protagonismo na implantação de
Cister na Galiza e, por extensão, no conjunto da Península, quando re-
funda o Mosteiro de Sobrado entregando-o à Ordem bernarda em 1142100

incluir entre os confirmantes um “I. Arie de Buual” em lugar do correto “filiis Iohannis
Arie de Buual” (Fernando II, nº 235). O anterior induziu Calderón Medina (2011a: 129) a
pensar que João Airas “continuó sirviendo al rey hasta 1187”.
97
Numa escritura de 1182 (Tombo C, fól. 123) cita-se um imóvel na Boca do Campo em
Santiago que pertencera a João Airas. O trovador Osório Eanes, filho dele, contava com
uma casa nessa localização (cf. infra).
98
Conhecemos duas cartas [D.10, 11] pelas quais D. João e D.ª Urraca venderam e ofere-
ceram, respetivamente, a esse cenóbio propriedades próximas do rio Minho.
99
No apêndice documental incluímos um diploma inédito pelo qual esta senhora estabe-
lecia a celebração de aniversário póstumo por ela e pelo marido na sé de Santiago [D.4].
100
O Mosteiro de Sobrado tinha pertencido aos antepassados de Urraca Froiaz, a primeira
mulher de Pedro Froiaz, mas fora-lhes arrebatado violentamente por Fernando I. A rainha
Urraca e o filho, Afonso Raimundes (= Afonso VII), restituíram a propriedade do cenóbio

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 105

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 105 25/09/2012 15:21:39


(cf. infra). D. Fernando, graças ao seu relacionamento com Teresa Afonso101,
mãe de Afonso Henriques, desempenhou um importante papel no cenário
português, sobretudo entre 1121 e 1128. Fruto destes dois “matrimônios” fo-
ram: Gonçalo102, Maria (cf. supra), Sancha103, Teresa104 e Urraca Fernandes.
Alguns autores consideraram Urraca Fernandes filha de Fernando
Peres e de Teresa Afonso105, mas outros – com os quais concordamos – su-
põem que foi filha de Sancha Gonçalves106. Note-se que na documentação
não aparece como “infans”, em contraste com o uso que desse título fez
Sancha Fernandes – indubitável filha de Teresa Afonso –. Por outro lado,
aquilo que conhecemos sobre a sua biografia (falece c. 1200) leva a pensar
que nasceu c. 1140, portanto, em período posterior ao óbito de D.ª Teresa
(c. 1129-1130)107. Assim sendo, Fernando Peres teve Gonçalo e Maria na

abandonado a Fernando e a Bermudo Peres, filhos dos anteriores, segundo consta em di-
ploma de 1118 (AHN, Sobrado, pasta 526, nº 3, 4; Sobrado II, nº 8).
101
Existem dúvidas sobre a natureza da relação que existiu entre Fernando Peres e Te-
resa Afonso. Na carta de fundação do Mosteiro de Monte de Ramo (1124), esta última
considera-se “coniux” de D. Fernando “uiro meo”. Porém, a informação da História Com-
postelana e doutras fontes leva a pensar que não se tratava de um matrimônio legalizado
institucionalmente.
102
Gonçalo Fernandes desposou Elvira Rodrigues e Berengária Rodrigues, ambas filhas
do conde Rodrigo Vélaz.
103
Sancha casou-se (em três ocasiões) com Álvaro Rodrigues de Sarria {Vélaz}, Pedro
Afonso e Gonçalo Rodrigues.
104
D.ª Teresa uniu-se em primeiras núpcias a Nuno Peres de Lara com quem teve: Álvaro,
Elvira, Fernando, Gonçalo, Leonor, Sancha e Teresa Nunes. Gonçalo Nunes, muito vincu-
lado ao reino galaico-leonês, aparece relacionado com o trovador Pedro Garcia de Ambroa
(Souto Cabo 2006: 230). Pelo seu casamento com Fernando II, D.ª Teresa foi rainha da Ga-
liza e de Leão: “Et rex Fernandus […] duxit uxorem Tharasiam filiam comitis Fredenandi,
que fuerat uxor comitis Nunii de Castella” (HRH, 23.45-47). O matrimónio celebrou-se
em setembro de 1178 e Teresa Fernandes morreu em 1180.02.07. No entanto, a união ma-
rital com Fernando II é anterior àquela data, já que fruto da mesma foi o infante Fernando,
nascido – antes do casamento – em 1178 e falecido em 1187. Por esse casamento, Osório
Eanes foi sobrinho de Fernando II. O soberano alude a D.ª Teresa como “dilectissime mee
comitisse domna Tarasie” (Fernando II, nº 139 [1178.07]) (Calderón Medina 2011: 4, n. 11).
105
López Sangil (2002: 77), Monteagudo (2008: 492).
106
Barton (1997: 241), Torres Sevilla (1999: 112, 336), Calderón Medina (2011a: 143).
107
Notemos a ausência de D.ª Urraca, por provável minoridade, entre os confirmantes de
uma carta de 1153 em que aparecem os irmãos: Gonçalo, Maria, (infanta) Sancha e (con-
dessa) Teresa Fernandes (TSobrado II, nº 14).

106 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 106 25/09/2012 15:21:39


primeira fase do seu matrimónio com Sancha Gonçalves (antes de 1121) e
Urraca Fernandes na segunda (após 1128). Só Sancha e Teresa resultaram,
portanto, da relação de Fernando Peres com Teresa Afonso entre 1121 e
1128108.
Como dissemos, a mulher de Fernando Peres, Sancha Gonçalves,
era filha do conde Gonçalo Ansures {Beni-Gomes} e de Urraca Bermudes
{Vélaz}109. Por essas origens, a avó de Osório Eanes aparece indiretamen-
te ligada à linhagem catalã dos Urgell através da sua prima Maria Peres
(← Pedro Ansures), esposa de Armengol V e mãe de Armengol VI110.
Quanto a Urraca Bermudes, ela foi irmã de Guterre Bermudes, avô paterno
de João Vélaz (cf. infra).
O documento que melhor ajuda a avaliar o estatuto sócio-
-econômico de Urraca Fernandes é o testamento, lavrado em 1199 [D.24],
acerca do qual García Álvarez (1966: 35) afirmava que “más parece propio
de reyes que de persona particular”. Trata-se de uma manda de grandes
dimensões na qual, além do exercício da caridade, favorece a prática
totalidade dos estabelecimentos e estamentos religiosos da Galiza e
dos reinos limítrofes bem como as obras religiosas ou públicas. Ora,

108
López Sangil (2002: 144) cita um diploma de 1203 em que se alude a uma Sancha
Fernandes que fora irmã de Teresa Fernandes. Tal exemplar, utilizado – por lapso – para
provar a existência de uma segunda Sancha Fernandes, vem certificar que a única irmã
“completa” de Sancha foi Teresa.
109
Existem várias propostas sobre as origens familiares de Sancha Gonçalves. Uma escri-
tura do Tombo de Lourençá, de que D.ª Sancha é titular, assegura que foi neta de Bermudo
Oveques {Vélaz}: “Me, comitissa Sancia Gundisaluiz [...] auo meo, Ueremudo Ouequiz”
(TLourençá, nº 154 [1142]). Por outro lado, sabemos que Urraca Bermudes, filha do ante-
rior, esteve casada com Gonçalo Ansures {Beni Gomes – Ansures} [1075-1120], conde de
Liébana, segundo consta explicitamente num documento do mosteiro asturiano de Cornel-
lana: “Ego Gunzaluus Ansurez una cum uxore mea Urracha Veremudiz”, “Ego Gunzaluus
Ansuriz, simul cum coniuge mea Urracha Ueremudiz” (Floriano Cumbreño 1949: 22, nº
3), o que nos permite considerá-lo, com segurança, pai de Sancha Gonçalves. Relativa-
mente a esta linhagem, veja-se Torres Sevilla (1999: 236-274, 341-357). Notemos, porém,
que esta última autora considerava, talvez por exclusão, Sancha Gonçalves filha do conde
asturiano Gonçalo Pais (Torres Sevilla 1999: 111-112).
110
Não nos esqueçamos que Gomes Gonçales de Trava, primo desse mesmo Osório Eanes,
casou com Miracle de Urgell (←Armengol VII & Dulce de Barcelona). Eles foram pais de
Rodrigo Gomes de Trava.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 107

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 107 25/09/2012 15:21:39


dentro desse conjunto de entidades, ocupa um lugar de destaque a Sé
compostelana, instituição com a qual Urraca Fernandes manteve muito
importantes ligações de tipo econômico, segundo salientou Barreiro So-
moza (1987: 410):

Doña Urraca Fernandez, hija también de Fernando Pérez de Traba, hace gala en
su testamento de su condición de opulenta señora, aunque por lo que respecta
a la Iglesia de Santiago, al menos una buena parte de la masa de bienes que
lega no constituye una donación absolutamente graciosa, sino la ratificación de
donaciones, cuyo usufructo tenía reservado de por vida, y que le habían permi-
tido detraer importantes rentas del señorío jacobeo, en concepto de muestras
de gratitud […]. Un tercer testimonio, en este mismo sentido, lo constituye el
acuerdo, efectuado en el año 1196, con el cabildo catedralicio, por el que éste
se compromete a entregarle una renta anual de seiscientos sueldos turoneses [...]
de los que trescientos correspondían a la deuda que esta institución tenía con
ella sobre los beneficios de sus partes en el negocio de las conchas o insignias
jacobeas y a los que en el futuro le correspondiesen, mientras que los otros tres-
cientos sueldos corresponden a la asignación de una rentas sobre la heredad de
Quinzana en Ribadavia, que previamente les había donado y que, por estar toda
ella dedicada a viñedo, proporcionaba rentas muy importantes a los canónigos111.

A derradeira presença documental dessa senhora situa-se em 30


de julho de 1199, dia em que dispôs o seu testamento112. Sabemos que mor-
reu antes de 21 de novembro de 1202, data em que a filha, Urraca Eanes,

111
Veja-se o apêndice documental [D.22]. Sabemos que foi a fundadora do mosteiro de
S. Martinho de Cornoces (conc. Amoeiro), segundo consta na inscrição lavrada no muro
exterior da igreja: “Urace Fernandi que eam funditus edificauit”.
112
Entre as atividades da mãe de Osório Eanes, podemos lembrar uma peregrinação à
capital das Astúrias em 1187: “In era Iª CCª XXVª, kalendas Augusti, quedam domna
predives et nobilis, nomine Urraka Fernandiz, filia comitis, causa peregrinationis a Gal-
lecia veniens Ovetum, plurima pauperibus et monasteriis distribuit” (SVicente, nº 312).
Conservamos ainda memória dessa deslocação num diploma de 1192.09.27 (SPelayo,
nº 31): “Equum et rationale est, ut ea que fiunt, ne obliuioni tradantur litteris confirmen-
tur. Ea propter notum sit omnibus hominibus, tam presentibus quan futuris, quod quedam
dompna de Gallecia, nomine Urraca Fernandi, filia famosissimi comitis Fernandi et uxor
cuiusdam militis curialissimi, nomine Iohannes Arias, venit Ouetum causa orationis et
deuotionis; que cum multas et largas elemosinas ibi faceret, monasterium Sancti Pelagii
intrans, elemosinam largam et honestam ipsi monasterio fecit [...] tali pacto [...] que he-
reditas semper staret in manu cuiusdam dompne eiusdem conuentus, et fructus predicte
hereditatis, quos colligerent, in die anniversarii predicte dompne, et patris et mariti, supra
predicte sanctimoniales expenderent”.

108 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 108 25/09/2012 15:21:39


oferecia ao Cabido de Santiago “uno meo casali que habeo ex parte patris
meum dominum Iohannes Arie et matris mee domne Urraca Fernandiz in
villa que vocatur Zaelli [Cenlhe] in terra de Castela” [D.27]113.
A documentação prova a existência de (pelo menos) oito filhos
de João Airas e Urraca Fernandes114: Airas, Fernando, Gonçalo, Lourenço,
Osório, Pedro, Sancha e Urraca Eanes115. Sancha Eanes, provavelmente a
primogénita, só é citada na escritura de compra-venda a favor de S. Martinho
Pinário do ano 1175 [D.10]. Como dissemos, a abadessa de Bóveda, Urraca
Eanes, aparece atestada em 1202 quando cede ao Cabido de Santiago um
casal em Cenlhe. Lourenço Eanes surge pela primeira vez em 1185.05.30 por
ocasião da venda de uma herdade em Quintela (Vanga, c. Carvalhinho)116. D.
Lourenço será citado em 1217.06.10 num diploma pelo qual Osório Eanes
deu diversas propriedades aos cônegos compostelanos [D.29]. Sabemos,
por esse escrito, que aquele detivera previamente um benefício eclesiástico
em Santa Maria de Alom (conc. Santa Comba), oferecido a esse mesmo
estamento religioso. Não ficou registrado o exercício de qualquer cargo
institucional por parte de Lourenço Eanes nem no caso de Airas Eanes,
notado entre os filhos de João Airas e Urraca Fernandes em 1175 [D.10] e
como confirmante de uma carta régia de 1201.08.20 (Afonso IX, nº 158).

113
O falecimento de Urraca Fernandes era celebrado na Catedral de Santiago no dia 28 de
maio, segundo consta nos Livros de Aniversários dessa instituição: “Pro Domna Urraqua
Fernandi de Duvra, filia D. Fernandi comitis de Dubra, quae donavit Ecclesie Compostel-
lane casale de Quinciana. Dantur de dicta tenencia 150 lbr. Processio ad comitum sepultura
in platea palaciorum” (Leirós Fernández 1970: 222). O pagamento pelo aniversário do
conde Fernando Peres, no dia 22 de março, é também ligado a essa mesma propriedade
(Leirós Fernández 1970: 212).
114
Monteagudo (2008: 325) atribui-lhe quatro: Pedro, Osório, Airas e Gonçalo e, ao mes-
mo tempo, considera que López Sangil “non acerta nos nomes dos seus irmáns [de Osório
Eanes]”. Esse último investigador cita: Urraca, Osório, Lourenço e Gonçalo (López Sangil
2002: 148).
115
O Livro do Deão também refere um Soeiro Eanes: “E dom Soeiro Anes, filho de dom
João Aires de [A]m[o]eiro, foi casado com dona Sancha Rodrigues, e fege nela dom João
Soares, a condessa dona Elvira Sanches e Gonçalo Soares d’ Orselhom” (LD 19U5).
116
“Ego Laurentius Iohannes tibi Petro Petrici [...] facio kartam venditionis de hereditate
mea propria quam habui de abiorum et parentum meorum [...] in territorio Castelle in loco
predicto qui vocitant Quintaela subtus monte Pena Excelsa, iuxtam aulam sancte Eulalie
de Vanga, discurrente flumine Arinteiro” (Oseira, nº 71).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 109

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 109 25/09/2012 15:21:39


Os Livros de Linhagens incluem, entre os descendentes de João
Airas e de Urraca Fernandes, um Fernando Eanes (de Duvra)117, ignorado
por alguns dos investigadores que, em tempos recentes, se ocuparam da
prole dos anteriores. No entanto, a sua presença na literatura linhagística
portuguesa, como pai da mulher de Paio Gomes da Silva118, fez com que
o seu nome fosse lembrado pelos historiadores lusitanos como Alexandre
Herculano (1980: 604), que o denomina “Fernando Anes de Urró”119. No
único registro documental em vida que dele conhecemos, D. Fernando
aparece ao lado de Osório Eanes como tenente de Castela: “tenente terra
de Castela Ossorio Joannis et Fernando Joannis” (Melón, nº 119 [1215])120.
A realidade histórica deste filho de Urraca Fernandes, que levou o
nome do avô materno, vê-se confirmada pela documentação relativa a dois
dos seus descendentes: João Fernandes Ladrão (cônego compostelano) e
Maria Fernandes. Eles são os titulares de uma escritura, outorgada na cidade
de Santiago em 1227.11.02, pela qual “domnus Iohannes Fernandi, dictus
Ladron, canonicus compostellanus et soror mea dona Maria Fernandi filii
quondam domni Fernandi Iohannis de Dubra et domne Sancie Iohannis”
vendem a Pedro, prior do Mosteiro de Sar (Santiago), aquilo que possuí-

117
E a sobredita dona Maria Fernandes de Trastamar casou com dom João Airas de [A]
moeiro, e fege nela dom Gonçal’ Eanes, o bom, rico homem [...] e dom Suer Anes e dom
Fernão Anes de Duvra foram irmãos deste dom Gonçal’Eanes [...]. E dom Pedro Anes de
Nóvoa, o Velho, foi filho de dom João Aires d’ Am[o]eiro e de dona Maria Fernandes, filha
do conde dom Fernando de Trastamar [...]. E dom Fernão Anes de Du[v]r[a], irmão de Pero
Eanes de Nóvoa, o Velho, foi casado com uma dona e fege nela Gonçalo Fernandes e dona
Maria Fernandes [...]. E dona Maria Fernandes de Du[v]ra foi casada com dom Paio Gomes
da Silva (LD 19L0-19T6).
118
O casamento de Maria Fernandes de Duvra com Paio Gomes da Silva estabelece uma
ligação entre o grupo familiar de Osório Eanes e o trovador Rui Gomes de Briteiros (1220-
1248). Com efeito, Urraca Gomes (irmã de Paio Gomes da Silva) casou com Gomes Men-
des de Briteiros e foi mãe do trovador Rui Gomes de Briteiros; portanto, Maria Fernandes
de Duvra foi tia (por afinidade) deste último e, ao mesmo tempo, prima de Osório Eanes
(cf. supra).
119
“Não conhecemos outro indivíduo assaz ilustre para ocupar tantos anos aquele cargo
[mordomo-mor] durante os reinados dos nossos terceiro e quarto reis senão Pedro Anes da
Nóvoa, irmão de Gonçalo Anes, o mestre de Calatrava, e de Fernando Anes de Urró […].
Eram filhos, os três Anes, de João Aires de Ameiro, ou do Moeiro […]”.
120
A sua ligação às terras de Duvra encontra explicação numa carta de 1181 [D.14].

110 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 110 25/09/2012 15:21:39


am nos distritos de Castela, Búval e no conjunto do bispado de Ourense.
Também são referidas algumas propriedades de que eles detinham “tres
quartas” partes: casal de Paços, Cornoces (conc. Amoeiro), Cova de Osso
(conc. Ribadávia), Loureiro (conc. Amoeiro), Rouzôs (conc. Amoeiro) e
Vinhao (conc. Punxim)121. Quanto a Sancha Eanes, mulher de Fernando
Eanes, surge na concessão ao cabido da Sé de Ourense de uma quarta das
igrejas de Cornoces e Rouzôs para que comemorem os aniversários da sua
morte (COurense, nº 87 [1202]).
Pedro Eanes (1182-1229) ocupou várias tenências na área mais
diretamente vinculada à própria linhagem: Castela (1182, 1187, 1189), Bú-
val (1185), Ribadávia (1188) e Nóvoa (1203)122. É interessante notar que,
em 1197, ele agiu como pesquisador do rei sobre as obrigações do bispo
de Ourense a respeito do castelo de Alhariz (Afonso IX, nº 106)123. O resto
da carreira política de D. Pedro desenvolveu-se na corte portuguesa, onde
exerceu como mordomo (1213-1223, 1228-1229) e tenente da Estremadura

121
AHDS, Colegiada de Sar, maço 38, nº 10/B. João Fernandes Ladrão aparece bem repre-
sentado na documentação da Sé de Santiago, estabelecimento em que ocupou o cargo de
cônego tenencieiro: “Johanne Fernandi de Dubria canonicum tenenciarum Capituli com-
postellani” (Tombo C, fóls. 93v, 82v-93r, 37v; Tombo de Concórdias, fól. 34v [1250]). O
registro dele nos Livros de Aniversários compostelanos (“Pro D. Johan Latrone canon.
compost. dantur lbr. 80, scilicet de tenencia ipsius D. Johannis 40 et de tenencia de Villa-
verde lbr. 40. Processio ad domum comitum”, Leirós Fernández 1970: 27 [27 de janeiro])
reflete a pegada que deixou na instituição e que se traduziu na atribuição retroativa do
apelido “de Duvra” à avó e mesmo ao bisavô materno (“Dantur 150 lbr. pro D. Fernan-
do comite de Dubria patre domine Urraca Fernandi. Solvuntur de tenencia de Quinciana.
Processio ad comites”, Leirós Fernández 1970: 212 [22 de março]). Outro representante
dessa estirpe na Sé compostelana foi o cônego Pedro Eanes de Nóvoa, documentado em
1252 (Tombo C, fól. 260v “Domnus Petrus Iohannis dictus de Nouoa, canonicus compos-
telanus”).
122
Salvo no último caso, o cargo foi compartilhado com os irmãos e com o tio Fernando
Airas Batissela: “Petrus Iohannis et eius frater Gondisaluus Iohannis tenentes Castellam”
(Oseira, nº 63 [1182]), “Petrus Iohannis et Gundisaluus Iohannis in Bubula” (Fernando
II, nº 224 [1185]), “princeps Castellae Petrus Iohannis et Goncialvus Iohannes et Oso-
rio Iohannis” (Oseira, nº 73 [1187]), “tenente Burgo Fernandus Arie et Petrus Iohannis
et Gundisaluus Iohannis” (Melón, nº 66 [1188]), “princeps Castelle Petrus Iohannes et
suos germanos” (Oseira, nº 76 [1189]), “tenente Novoam Petrus Johannis” (Melón, nº 86
[1203]).
123
Monteagudo (2008: 325-326) considera que também foi tenente em Villafranca (1200,
1206-1207) em nome da ex-rainha Teresa.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 111

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 111 25/09/2012 15:21:39


(1235) (Ventura 1992: 989, 1038)124. Uma consequência da sua deslocação
para terras lusitanas foi o casamento com Urraca Peres da Maia (← Pedro
Pais da Maia & Urraca Viegas de Ribadouro).

4. Dom Gonçal’ Eanes, o Boo


Gonçalo Eanes (1182-1232), o irmão de Osório Eanes que atin-
giu maior relevância social, foi alferes real (1194) e tenente em Castela
(1182, 1187-1189, 1195, 1205), Búval (1185, 1187), castelo de S. João
de Nóvoa (1188), Ribadávia (1188), castelo de Pena Corneira (1189),
Leão (1189), Lemos (1190, 1198-1199, 1206-1210), Coyanza (1194),
Lima (1197-1203, 1206-1210), Aguiar de Pedraio (1199), Monterroso
(1200-1202), Trastâmara (1200-1203), Gordón (1200), Cabrera (1200)
e Benavente (1203). D. Gonçalo chegou a ser comendador-mor de Cala-
trava (c. 1215-1218)125 e posteriormente, entre 1218 e 1232, mestre dessa
Ordem126, assim seguindo o exemplo do tio Fernando Oares, cavaleiro
templário (cf. supra)127.
A participação nas ordens militares de diversos indivíduos
pertencentes à rede sociofamiliar dos Travas revela um claro paralelismo e
contiguidade com o seu papel na implantação de Cister128. Lembremos que

124
Urraca Peres, filha de Pedro Eanes casou com Nuno Vasques de Bragança (←Vasco
Pires de Bragança & Sancha Pires de Baião). Gonçalo Nunes, filho dos anteriores e último
representante dos Braganções, irá desenvolver a sua carreira política exilado na corte cas-
telhana.
125
Um “Gonçalo Eanes” foi comendador da Ordem de Santiago em Oreja c. 1206-1210
(Rades 1572: fól. 24r).
126
Esse dado chegou aos Livros de Linhagens: “dom Gonçal’ Eanes, o Boo, ricomen; e
foi depois meestre de Calatrava, mui boo” (LC, 13C3). Existem algumas dúvidas sobre o
período em que foi mestre de Calatrava. Rades (1572: 34v-39r) situa-o entre 1218 e 1238
mas O’Callaghan (1983: 433-439) descobre um mestre desconhecido, Fernando Peres,
entre 1234/1235 e 1238.
127
O’Callaghan (1983: 434), tomando como ponto de referência um documento do papa
Gregório IX, datado em 1234.03.21 (Ruano 1964: 559), considera a possibilidade de Gon-
çalo Eanes ter efetuado uma viagem à Terra Santa com o intuito de estabelecer uma casa
da Ordem.
128
De fato, essas milícias representavam amiúde uma versão militante de Cister; com
efeito, a Ordem do Templo foi regulamentada pelo próprio S. Bernardo de Claraval. A

112 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 112 25/09/2012 15:21:39


a presença dos templários em Portugal –provavelmente também na Galiza –
se inicia com a entrega aos mesmos do castelo de Soure por parte da rainha
Teresa e do conde Fernando Peres de Trava (DPRégios, nº 80 [1128])129.
A Crónica de Calatrava (Rades 1572, fóls. 34v-39r), como em
casos similares, giza uma síntese biográfica do mestre Gonçalo Eanes:
El noveno maestre de Calatraua fue don Gonçalo Yañez, que en otras escrip-
turas se dize don Gonçalo Joan y en Latin “Gundisaluus Ioannis”, mas todo es
un sobre nombre y assi no son diferentes maestres como algunos piensan. Fue
hijo de Joan Arias de Noboa, cavallero principal de Galizia [...]. Eligieronle por
maestre desta Orden en la era de mill y dozientos y cinquenta y seys, año del
Señor de mill y dozientos y diez y ocho [...] Este Cavallero fue uno de los que
mas se señalaron en la batalla de las Navas de Tolosa, seys años antes que fuesse
maestre [...] Era de mill y dozientos y setenta y seys, que fue año del Señor de
mill y dozientos y treynta y ocho, murio el Maestre don Gonçal’ Iañez, aviendo
governado la Orden veynte años.

A afinidade de D. Gonçalo com as ordens militares já se descobre, em


1214.12.26, quando D. Gonçalo entregava ao Mosteiro de Osseira aquilo
que os templários possuíram em S. Fagundo de Cea (Oseira, nº 161): “Ego
Gonsalvus Iohannis do et dono monasterio Sancte Marie Ursarie [...] totam
villam Sancti Facundi cum tota illa parte quam in eadem villa noscuntur

ligação é ainda mais clara no caso da Ordem de Calatrava, integrada na própria estrutura
dos mosteiros cistercienses desde 1187 (Ayala Martínez 2003: 67-80, Cunha 2009: 12).
129
O castelo fora entregue a Fernando Peres pela rainha Teresa. D. Fernando peregrinou
duas vezes à Terra Santa e, após estas viagens, durante as quais terá reforçado o seu contato
com a Ordem do Templo, parece ter favorecido a presença dos templários no Burgo de
Faro (Corunha), que passou a ser o centro mais importante do Templo na Galiza (Pereira
Martínez 2006b: 185). Notemos que a fase inicial do Templo na Galiza aparece associada
à área do noroeste ourensano, espaço preferencial dos Bóvedas-Nóvoas-Travas. João Dias
– acima citado pela sua relação com Oeiro Ordonhes – é o titular da mais antiga doação à
Ordem do Santo Sepulcro, milícia que em origem aparece identificada com a do Templo
“como si fueran una y la misma congregación” (Ferreiro Alemparte 1998: 342). A escritura
de 1128.10.13, conservada em cópia posterior, transmite a entrega àquela milícia de uma
herdade em Cusanca. Entre os confirmantes, encontramos os nomes de Airas Peres e de
Oeiro – deturpado como Ruario – Ordonhes. Também aparece o conde Rodrigo Vélaz,
personagem que confirma a doação do castelo de Soure. Rodrigo Álvares, neto de Rodrigo
Vélaz, foi cavaleiro de Santiago (comendador em Portugal) e fundador da Ordem de Mon-
te Gáudio (cf. supra). D. Rodrigo era primo segundo de Vela Guterres, pai de João Vélaz.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 113

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 113 25/09/2012 15:21:39


habuisse fratres templari”130. Um precedente documental para esse donati-
vo revela uma associação, com implicações literárias de grande interesse,
entre o (futuro) mestre de Calatrava e o trovador Fernando Rodrigues de
Calheiros. Referimo-nos a uma escritura lavrada na cidade de Burgos, em
1195, pela qual Gonçalo Eanes comprava a Manrico Rodrigues o pecúlio
patrimonial que a este correspondia na Nogueira (Castrelo, conc. Cea) e
em S. Fagundo (conc. Cea). Entre os confirmantes, encontramos Fernando
Rodrigues de Calheiros, que poderá ter sido membro do séquito de Gonçalo
Eanes e, portanto, ele também mílite (santiaguista?) [D.20]131.
Essa ligação existente entre o Calheiros e o irmão de Osório
Eanes afigura-se como uma via objetiva para esclarecer a participação
precoce de D. Fernando Rodrigues no movimento lírico. A situação
cronológica deste poeta, sugerida por alguns estudiosos132, vê-se confir-
mada por aquele documento e é coerente com uma rubrica de B que o
situa(va) no limiar do setor dedicado às cantigas de amigo, isto no interior
do cancioneiro de cavaleiros: “Esta folha adeante se começam as cantigas
d’ amigo que fezerom os cavaleiros e o primeiro he Fernam Rodriguez
de Calheiros”133.
D. Gonçalo Eanes também aparece como elo de união com Rui
Gomes o Freire, trovador situado imediatamente antes do Calheiros na

130
O documento é confirmado por freires do Templo, de Calatrava e da Espada. Sobre esse
documento veja-se Pereira Martínez (2006b: 284).
131
As vieiras no brasão dos Calheiros sugerem uma relação com a Ordem de Santiago. Na
escritura encontramos Airas Peres e Pedro Osores que poderiam ser sobrinhos de Gonçalo
Eanes e, respetivamente, filhos de Pedro Eanes e Osório Eanes. Também aparece Bernardo
Gonçalves, filho do próprio Gonçalo Eanes. Observamos ainda, entre as testemunhas, um
Martim Fernandes “cantador”, cujo ofício talvez tenha estado ligado com o mundo trova-
doresco.
132
A sua biografia foi descrita por Oliveira (1994: 244), que situa as origens familiares na
área minhota de Ponte de Lima, onde os irmãos Pedro Rodrigues (1252) e Paio Rodrigues
(1221-1252) tinham propriedades.
133
Segundo os Livros de Linhagens, os Calheiros têm como origem as relações extrama-
trimoniais de Elvira Nunes, mulher de Soeiro Airas de Valadares: “E esta Elvira Nunes,
sendo casada com dom Suer Arias, [jouve?] com Men de Lude e foi-se com ele […]. E
deste Mem de Laude e d’ Elvira Nunes vem os Carpinteiros […] e os de Calheiros” (LD
13A2).

114 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 114 25/09/2012 15:21:39


secção das cantigas de amor. Oliveira (1994: 432), utilizando como fonte
uma obra de José Anastácio de Figueiredo (1800: 231, n. 115), identificara-o
com um “Rodrigo Gomes, freire da Ordem de Avis, que atesta a doação,
pela rainha Mafalda, filha de Sancho I, dos seus bens em Seia à mesma
ordem em 1215”. Ora, o conteúdo do original desse diploma revela que
D. Gomes era, na verdade, membro da ordem de Calatrava – não de Avis
– que acompanhava Gonçalo Eanes de Nóvoa: “Qui presentes fuerunt:
Domnus Gonsalvus Iohannis frater ordinis calatravensis. Frater Hilarius et
Rodericus Gomecii fratres eiusdem ordinis. Domnus Fernandus Menendi
quondam abbas Alcobacie […]” [D.28]. Segue-se, portanto, que Rodrigo
Gomes formava parte do séquito do irmão de Osório Eanes e que a sua
naturalidade era, muito provavelmente, galega134.

IAN/TT, Ordem de Avis, maço 2, nº 74 [1215]

O fato de Gonçalo Eanes e de Rodrigo Gomes confirmarem a


concessão de Mafalda a Avis explica-se na própria história desta última
milícia. A Ordem de S. Bento de Avis, conhecida até 1211 como Milícia dos
Freires de Évora, foi fundada c. 1176 “num contexto de avanço almóada
e da impossibilidade manifestada pela Ordem do Templo em assegurar

134
Um Rui Gomes de Troncoso, freire da Ordem de Santiago, está documentado nos pri-
meiros anos do séc. XIII em tempos do mestre (galego) Rui Vasques (Rades 1572: fól.
22v). Conhecemos um Troncoso que pertence ao concelho de Castrelo de Minho, adjacen-
te a Ribadávia. A família conhecida por esse topônimo aparece, em tempos posteriores,
vinculada às ordens de Santiago e Calatrava.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 115

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 115 25/09/2012 15:21:39


eficazmente a defesa de algumas fortalezas que lhe haviam sido entregues
por D. Afonso Henriques” (Cunha 2009: 70). Logo após a sua fundação,
passou a ser filial de Calatrava135, milícia de obediência cisterciense criada
cerca de vinte anos antes por Afonso VIII de Castela136. O nexo institucional
entre ambas as ordens resultava, ocasionalmente, na presença do mestre de
Calatrava junto dos freires de Avis:
[..] a filiação implicava naturalmente as visitas do mestre de Calatrava ou de
um seu representante ao braço português da Ordem, acompanhado de um abade
cisterciense, com o objectivo de confirmar o mestre (no caso de ter ocorrido uma
eleição), verificar a forma de vida e espiritualidade dos freires portugueses e a
correcta gestão do seu património. No que respeita a Avis, a filiação permitia-lhe
não só participar nas eleições do mestre castelhano mas também nos capítulos
por ele convocados (Cunha 2009: 70)137.

5. Ego Osorius Johannis, miles


O percurso biográfico e o cursus honorum de Osório Eanes
podem ser reconstruídos a partir das notícias que nos fornecem diversos
diplomas do último quartel do séc. XII e das primeiras décadas do seguinte.
É assim factível situarmos, com notável segurança, a trajetória de vida de
Osório Eanes entre c. 1165 e c. 1220, tomando como base a sua presença
documental desde 1175 a 1217:

135
Javierre Mur (1952) analisa pormenorizadamente a presença da ordem de Calatrava em
Portugal e, em particular, as suas ligações com a milícia de Avis. A Ordem de Avis, além
de colaborar na ocupação portuguesa do Algarve, participou no processo de reconquista
da Andaluzia por parte dos monarcas castelhanos (Javierre Mur 1952: 371-374). Veja-se
também Cunha (1989).
136
Sobre as origens de Calatrava, veja-se Ayala Martínez (2003: 76-70). Este autor consi-
dera que a Ordem nasce guiada pela monarquia castelhana como substituição pactada da
Ordem do Templo para “servir intereses no necesariamente hipotecados por responsabili-
dades extrapeninsulares” (p. 70).
137
Lembremos a provável presença de Gonçalo Eanes no convento de Avis em 1222 e
1226 por ocasião da eleição do mestre nesses anos (Ayala Martínez 2003: 90). Uma visita
às propriedades de Avis em Cambra, perto de Arouca, levou-o a confirmar em 1223 uma
escritura pela qual D. Garcia Sanches, freire de Calatrava e mestre de Alcântara, doou à
ama de D.ª Mafalda o patrimônio que pertencera a um freire irmão dela: “Fratres qui pre-
sentes fuerunt sunt hii: [...] Gundisalvus Iohannis maioris magistri [...]” (IAN/TT, Mostº de
Arouca, gaveta 3, maço 1, nº 48). Veja-se Marques – Soalheiro (2009: 342-342).

116 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 116 25/09/2012 15:21:39


01. 1175.06 ([D.10]): João Airas, a mulher Urraca e os filhos, Pedro, Osório,
Airas, Sancha Eanes [...] vendem ao Mosteiro de S. Martinho Pinário
uma propriedade nas margens do rio Minho138.
02. 1187.03.18 (Fernando II, nº 234): “Fernandus Arie et filiis Iohanis
Arie Buual”.
03. 1187.10.18 (Oseira, nº 73): “princeps Castelle Petrus Iohannis et Gon-
cialvus Iohannis et Osorio Iohannis”.
04. 1189.08.06 (Oseira, nº 76): “princeps in Castelle Petrus Johannes et
suos germanos”.
05. 1193.04.17 (Tombo B, nº 26): “Osorio Iohannis [tenente] Albam de
Buval”.
06. 1193.08.03 (Oseira, nº 83): Osório Eanes testemunha a venda de uma
herdade na vila de Vide a Adão Peres de Tamalhancos por parte de
Pedro Eanes.
07. 1195 (ACO, Santa Comba de Naves, nº 87): “Osorio Iohannis tenente
Buval”.
08. 1196.01.01 (RSil, nº 7): “Domnus Osorius Iohannis ts.”
09. 1197 (ACO, Santa Comba de Naves, nº 91): “Domnus Osorius in Alva
dominante”.
10. 1199.12.08 (Afonso IX, nº 135): “Osorius Iohannis Albam de Buual139.
11. 1200 (SClodio, nº 12): “tenente terra Castelle Osorius Iohannis”.
12. 1200.10.04 ([D.26]): Pedro Eanes vende ao Cabido de Santiago um
casal Baluga (Santa Comba de Trevoedo, conc. Maside) que linda com
outra propriedade de Osório Eanes.
13. c. 1200 (Oseira, nº 1296): “Osorium Iohannis quem ego [Maior Peres]
nutriui”.
14. 1201.08.20 (Celanova, nº 4): “Gundisaluis Iohannis tenens Limiam et
Montem Rosum […]. Petrus Iohannis cf. Osorius Iohannis cf. Arias
Iohannis cf.”

138
A área do pergaminho em que se encontra(va)m os nomes dos filhos aparece muito
danificada ou mesmo amputada em diversos pontos; no entanto, o espaço livre e três frag-
mentos do pergaminho permitem reconstituir alguns nomes, entre eles o de Osório Eanes.
A escritura é confirmada pelo rei Fernando II e o filho Afonso [D.10].
139
Afonso IX dota a mulher, D.ª Berengária, com trinta castelos: “Ego Adefonsus, Dei
gratia rex Legionensis, do in dotem uxori mee, regine domne Berengarie, filie domni Al-
defonsi regis Castelle

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 117

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 117 25/09/2012 15:21:39


15. 1204 (COurense, nº 93): “Tenente Limiam Gunsaluo Iohannis. Et
Buualum Osorio Iohannis”.
16. 1204 (GH, nº 87): “Tenente Buualum domno Osorio Iohannis”.
17. 1205 (ACO, S. Clódio, nº 102): “Tenente Aluam Osorio Iohannis”.
18. 1205.10.01 (SClodio, nº 13): “Tenente Castella Osorio Iohannis”.
19. 1207.05.24 (SClodio, nº 14): “tenente Albam Osorio Iohannis”.
20. 1209.04 (Tombo C: fól. 71v): “tenente Burgum Suerio Arie et Osorio
Iohannis”.
21. 1213.10.19 (Melón, nº 119): “tenente terra de Castela Ossorio Ioannis
et Fernando Ioannis”.
22. 1215.03.14 (TSobrado II, nº 189): “Osorius Iohannis testis et presens”.
23. 1217.06.10 ([D.29]): “Osorius Iohannis, miles” oferece diversas pro-
priedades ao cabido de Santiago140.

Subscrição de Osório Eanes e dos irmãos (ACO, Privilégios, 2/8 [1201])

Sabemos que Osório Eanes foi criado em casa de Maior Peres,


tia do trovador Pedro Pais Bazaco. O dado consta de uma cláusula do
testamento dessa dona pela qual o trovador era beneficiado com um casal
em Paços (conc. Vila Marim): “Mando ad Osorium Iohannis, quem ego
nutriui, et rogo eum ut accipiat casale de Palacios et ut dimittat proinde
hereditates de Trevoedo filiis meis” (Oseira, nº 1296). Maior Peres Bazaco

140
Entre as testemunhas de um prazo de 1232.01.13 (Oseira, nº 349) outorgado pelo mes-
tre do Templo a João Eanes sobre uma propriedade em Amoeiro, encontramos o nome de
um Osório Eanes (também de um Gonçalo Eanes), que supomos mílite templário. Não
temos elementos que nos permitam identificá-lo com o trovador.

118 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 118 25/09/2012 15:21:39


foi a mulher de Múnio Fernandes de Rodeiro (I), primo-segundo – por
duas linhas familiares – do próprio Osório Eanes (cf. supra). Por outro
lado, para além das conexões que decorrem da sua adscrição aos Limas
e aos Travas, devemos lembrar que o rei Afonso IX foi instruído na casa
do próprio Osório Eanes (cf. supra). Trata-se de um fato muito notável, de
que se terão seguido importantes consequências para D. Osório, algumas
de natureza cultural (cf. infra).
Apesar de não ter atingido a projeção do progenitor, Osório Eanes
usufruiu de um considerável relevo político. Seguindo a trajetória do pai e
do avô, assumiu o cargo de tenente em diversos pontos da margem norte do
Minho centro-meridional: Búval (1187, 1195, 1204), Castela (1187, 1200,
1205, 1213), Alva de Búval (1193, 1197, 1199, 1205, 1207)141 e Ribadávia
(1209). Sabemos que Osório Eanes tinha propriedades no interior desse
mesmo espaço, concretamente em Trevoedo e em Amarante (conc. Maside).
Por outro lado, o último documento – o único de que é titular – evidencia
que contava com parte de um imóvel na compostelana praça do Campo.
Essa mesma escritura alude ao usufruto de um benefício eclesiástico em
Santa Maria de Alom (conc. Santa Comba)142. Quanto ao seu grupo familiar
específico, é possível que tenham sido filhos do trovador Gonçalo (1219,
1221), Marina (1207) e Rodrigo Osores (1221), documentados no primeiro
quartel do séc. XIII143.

141
O castelo de Alva de Búval estava situado na margem esquerda do rio Formigueiro,
perto da aldeia deste mesmo nome (conc. Amoeiro).
142
Airas Fernandes Carpancho deteve uma prebenda similar nessa mesma igreja (Souto
Cabo – Vieira 2003: 258-259).
143
Marina Osores é a mulher de um Airas Fernandes que deu ao cabido de Santiago di-
versos bens, entre eles um casal em Santa Maria de Amarante (c. Maside) (Tombo C,
fóls. 196r, 197v, 285v). Gonçalo Osores foi tenente de Búval em 1219 (SCNaves, nº 12).
Rodrigo e Gonçalo Osores – o primeiro como donatário e o segundo como testemunha
– aparecem numa doação ao mosteiro buvalense de Santa Comba de Naves (SCNaves,
nº 14). Também localizamos um Pedro Osores em 1195 na escritura em que surgem Gon-
çalo Eanes de Nóvoa e Fernando Rodrigues de Calheiros [D.20]. Como foi dito, Sancha
Osores, mulher de Pedro Garcia de Bragança, poderia ter sido filha do trovador.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 119

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 119 25/09/2012 15:21:40


6. Os seus versos de amor
Entre os trovadores que, de modo nítido, demonstram um conhe-
cimento da poesia de além-Pireneus surge logo o nome de Osório Eanes,
porventura o mais occitânico dos nossos autores. É isso que conclui Miranda
(2004: 108) após uma análise de concordâncias lexicais entre a obra de
Osório Eanes e os poetas provençais:
Embora muitos destes usos lexicais, conceptuais e temáticos estivessem disse-
minados um pouco por toda a poesia occitânica [...] – e sobretudo na obra de
alguns trovadores que sabemos mantiveram relações estreitas com meios afectos
ao Ocidente peninsular –, o facto de se poderem achar conjuntamente em Bernart
de Ventadorn transforma Osoir’ Anes num dos trovadores galego-portugueses
mais íntima e profundamente inseridos nos hábitos poéticos da poesia de amor
occitânica, o que, só por si, poderá ser revelador dos meios e das condições
em que exerceu o seu mester.

No concernente aos vínculos de natureza literária com outros


poetas galego-portugueses, foram constatadas notáveis concomitâncias, em
especial, com Fernando Pais de Tamalhancos e João Soares Somesso,
com os quais compartilha, entre outros aspetos, o motivo da “chanson de
change” (canção de troca)144. Trata-se de uma modalidade temática em que,
violando alguns dos princípios da erótica cortês, o sujeito decide rejeitar a
mulher amada e trocá-la por outra. O tópico, amiúde associado à obra de Uc
de Sant Circ, remonta a Bernart de Ventadorn, Giraut de Bornelh, Raimbaut
de Vaqueiras, Raimon Jordan ou Peire Vidal. Como dissemos, esse argu-
mento está presente na obra de Osório Eanes (Cuidei eu de meu coraçon;
Eu, que nova senhor filhei) e também em Fernando Pais de Tamalhancos
(Con vossa graça, mia senhor e Non sei dona que podesse)145 e João Soares
Somesso (Punhei eu muit’ en me guardar)146, autor, o último, que se revela

144
Seguimos os trabalhos de Marcenaro ([no prelo]) e de Monteagudo (2008: 368-392).
145
A vida e a obra deste poeta foram abordadas num trabalho monográfico (Souto Cabo
[no prelo/1]). A proximidade biográfica e literária com Osório Eanes é notável, quer do
ponto de vista familiar, quer do ponto de vista da localização espacial, já que ambos com-
partilham o mesmo setor geográfico. A nível poético também foram identificadas notáveis
correspondências entre Tamalhancos e João Soares Somesso ou Rui Gomes o Freire.
146
Noutros textos destes três autores, o motivo registra algumas variantes que o afastam
do padrão retórico.

120 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 120 25/09/2012 15:21:40


como o trovador mais afim a Osório Eanes147. Outros elementos retóricos ou
expressivos148 aproximam-no de Airas Moniz de Asma, Fernando Rodri-
gues de Calheiros149, Rui Gomes o Freire150 e Vasco Praga de Sandim151.
Como se evidencia ao longo das páginas deste trabalho, vários desses autores
mantêm laços sociais e de parentesco com Osório Eanes.

7. Airas Oares
Na posição nº 9 dos nomes arrolados na TC (fól. 300v), imedia-
tamente antes de Osório Eanes, ocorre uma sequência gráfica descontínua
de três elementos: “Ayra s oarez”, que foi percebida como equivalente a
“Airas Soares”152. Em consonância com essa interpretação, o trovador em

147
Sobre a presença do topos na cantiga Punhei eu muit’ en me quitar de Fernando Garcia
de Esgaravunha, veja-se Ramos (2009).
148
Marcenaro ([no prelo]) faz algumas observações à análise das concordâncias linguísticas
entre Osório Eanes e outros trovadores levada a cabo por Monteagudo (2008: 369). Assim,
parece que o “ouir” registrado na cantiga E porque me desamades? é apenas um erro por
“outr’”: (“E, certas, sabiades: / outr’ amor non desejei, vv. 7-11). Lapa (1970, nº 301) tam-
bém estampou aquela forma no último verso de uma tenção entre Martim Soares e Paio
Soares de Taveirós (“ren per que se pague d’el quen n’ ouir”), emendando errada ou desne-
cessariamente a forma “uir” (“ui[i]r”?) de B (nº 144): “ren per que se pague d’el quen-o ui[i]
r”. Do anterior segue-se que aquele infinitivo (“ouir”) não está presente na lírica profana.
149
Notemos, neste caso, a proximidade no incipit das cantigas Min pres forçadamente
amor de Osório Eanes e Min fez meter meu coraçon de Fernando Rodrigues de Calheiros.
O texto de Osório Eanes tem sido associado, do ponto de vista formal, à cantiga Per pauc
de chantar no me lais de Peire Vidal (c. 1193-1194), que apresenta estrutura métrica (8
ababccdd) “poco diffusa nella lirica trobadorica” (Canettieri & Pulsoni 2003: 139). Airas
Moniz de Asma utiliza esse mesmo esquema em Pois mi non val d’ eu muit’ amar (cf.
infra).
150
Rui Gomes “o Freire”, em Oimais non sei eu, mia senhor, utiliza um esquema métrico
pouco frequente (8 abbaccdd, Tavani 1967, nº 168.6-7) que observamos em Sazon é ja de
me partir de Osório Eanes. O antecedente para este último parece estar em Nuls hom no pot
d’ amor gandir (c. 1188-1189) de Peire Vidal com o qual também compartilha as rimas en
-ir e -or e as palavras-rima amor, guarir e senhor; bem como o argumento do sofrimento
pela perda do favor da mulher amada. Veja-se Canettieri – Pulsoni (2003: 141-142) e Mar-
cenaro ([no prelo]).
151
Entre outros aspetos, o motivo da prisão de amor, raro na cantiga de amor, vincula
Cuidei eu de meu coraçon de Osório Eanes a Per bõa fe, meu coraçon de Sandim.
152
Gonçalves (1976: 408) junta o esse à vogal inicial do patronímico e integra outro hipo-
teticamente faltoso: “Ayra[s] Soarez”.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 121

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 121 25/09/2012 15:21:40


foco poderia ser identificado com o “Arias Sueri, laycus” que testemunha
a venda de um monte em Cudeiro (conc. Ourense) ao Mosteiro de Sar por
Pedro Airas (GH, nº 87 [1204]). Ele seria também o “Arias laicus” que
achamos em 1193 (Oseira, nº 85) e o “Arie Suerii de Codairo” citado, em
modo pretérito, numa escritura de 1252 (COurense, nº 259)153. No entanto,
a leitura da TC remete para “Ayras Oarez” em qualquer uma das interpre-
tações possíveis. A colocação voluntária do esse no intervalo que separa
“Ayra” e “oarez”, mas afastado de ambos, deixa transparecer a incerteza
sobre a identificação (e segmentação) de elementos no antropônimo “Ayras
Oarez”, cujo segundo elemento não foi reconhecido. Do mesmo modo,
se o que estava na fonte – de que deriva a TC – era “Ayrasoarez” (com
os elementos soldados)154, a conclusão nominal voltaria a ser a mesma, já
que a tipologia de escrita utilizada discrimina entre o fonema sonoro e o
surdo (-s– vs. –ss-) em contexto intervocálico155. De fato, nesse caso, a base
para “Ayras Soarez” só poderia ter sido “Ayrassoarez”, o que não iria criar
qualquer problema de representação ao autor da TC.

Távola Colocciana, fól. 300v

153
Cudeiro (ou Codeiro), no antigo distrito de Búval, situa-se numa área próxima do Mos-
teiro de Bóveda (conc. Amoeiro).
154
A situação da TC não favorece esta segunda hipótese.
155
Lembremos que a TC é, muito provavelmente, índice de B.

122 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 122 25/09/2012 15:21:40


A hipótese sobre a forma do nome vê-se apoiada pelos dados
histórico-documentais. Notemos, antes de mais, que a origem familiar deste
Airas Oares poderá situar-se no ramo paterno da linhagem de Osório Ea-
nes. Com efeito, a estirpe dos Bóvedas teve como sinal nominativo o uso
de Oeiro (lat. Oduario) e, portanto, do patronímico Oares (lat. Odoarii),
cuja versão romance medieval era Oarez156. Como vimos, um dos filhos de
Airas Calvo foi Oeiro Airas que, por sua vez, terá sido o pai do Arias Odo-
arii (Airas Oares) que confirma um escrito de 1187.05.07 [D.19] lavrado
em Osseira, estabelecimento monástico ligado ao grupo dos Oares-Limas-
-Travas157. Ora bem, Elvira Peres, tia de Pedro Pais Bazaco, esteve casada
com um indivíduo que, a julgarmos pelo patronímico e nomes dos filhos,
utilizou essa denominação, o que nos permite identificá-lo conjeturalmente
com ele (cf. infra). Airas Oares terá sido primo direito de Osório Eanes
e tio por afinidade de Pedro Pais Bazaco, o que condiz com as respetivas
localizações cronológicas (cf. infra)158.

156
Oeiro [OD(U)ARIO> O(d)airo> Oairo> Oeiro] e Oarez [OD(U)ARICI> O(d)aridz(e)>
Oariz> Oarez] estão amplamente documentados e refletem a evolução fonética esperada.
157
Na mesma zona, encontramos essa fórmula antroponímica no primeiro quartel do séc.
XIII atribuída a um frade de Osseira (Oseira, nº 191 [1219]) e ao indivíduo que vendia
uma herdade em Longos (conc. Cea) a Airas Fernandes, talvez o marido da filha de Osório
Eanes (Oseira, nº 259 [1224]).
158
Numa escritura compostelana de 1230 aparece, como confirmante, um escudeiro com
o nome de Airas Oares: “Arias Oduariz, armiger” (Tombo C, fóls. 232r-232v).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 123

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 123 25/09/2012 15:21:40


CAPÍTULO IV

TROVADORES GALAICO-MINHOTOS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 125 25/09/2012 15:21:40


Cena jogralesca na igreja de S. Miguel do Monte (conc. Chantada).

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 126 25/09/2012 15:21:40


A presença dos grupos familiares que resultaram da fusão dos
Limas e Travas na área ourensana do Minho pode ser considerada a causa
que, em última instância, explique o fato de vários trovadores do grupo
mais antigo serem originários dessa região. Lembremos os vínculos que a
monarquia galaico-leonesa estabeleceu com aquela estirpe, visualizados no
fato de Afonso IX ter sido instruído no seio dessa linhagem e nesse espaço.
As relações com esse âmbito social e geográfico serão perpetuadas pelo
monarca ao longo da sua vida, segundo atestam, entre outros, os dados
referidos a várias das suas concubinas (Calderón Medina 2011b).
Além de Osório Eanes, ao menos, outros cinco trovadores podem
ser aproximados dessa área: Pedro Pais Bazaco, Airas Moniz de Asma,
Diogo Moniz, Fernando Pais de Tamalhancos e João Soares Somesso1.
A concorrência geográfica vai, amiúde, acompanhada de parentesco e, o
que é mais importante, de diálogo poético (cf. supra).

1. Pedro Pais Bazaco


Pedro Pais Bazaco, situado após Airas Moniz de Asma e Dio-
go Moniz e antes de João Vélaz, ocupa o terceiro lugar na sequência de
autores enumerados na TC. O trovador contava com oito cantigas de amor,
infelizmente perdidas, o que fazia dele, junto com Osório Eanes, o poeta
mais bem representado no conjunto dos treze primeiros autores daquele
inventário. A primeira aproximação à sua biografia foi efetuada por Oliveira,
que identificou o poeta com o “Petrus Pelagii, filius meus” citado numa
das cláusulas do testamento do pai Paio Peres Bazaco (COurense, nº 82)2.

1
A esse grupo, provavelmente, devamos somar o nome de Nuno Eanes Cêrceo, ligado
patrimonialmente a Belesar (Melias, conc. Coles), na antiga terra de Aguiar de Pedraio
(Souto Cabo 1996). A dos Ribelas é outra estirpe vinculada ao mundo do trovadorismo
cujas origens se situam na terra de Búval, concretamente na freguesia do mesmo nome do
atual concelho de Coles. Paio Soares de Ribela, pai do trovador Rui Pais de Ribela, confir-
ma a escritura de 1204 acima citada (GH, nº 87). Também localizamos um Pedro Airas de
Ribela como testemunha numa escritura de 1227 (SCNaves, nº 14) de que é titular Rodrigo
Osores, provável filho do Osório Eanes.
2
“Este investigador [Duro Peña] teve a amabilidade de nos enviar uma cópia deste do-
cumento onde, entre vários familiares de Paio Bazoco, é mencionado seu filho Pero Pais,
certamente o trovador em causa” (Oliveira 1987: 20).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 127

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 127 25/09/2012 15:21:40


Outros trabalhos posteriores ajudaram a estabelecer com algum pormenor
as conexões familiares e sociais em que se integrou este trovador (Monte-
agudo 2008: 346-359).
Pedro Bazaco (1135-1161)3, avô do poeta e o mais antigo repre-
sentante conhecido da estirpe, foi tenente de Búval (1148). Ele autorizou,
entre outros proprietários da área, a presença dos frades “in locum desertum
qui uocatur Ursaria” (Oseira, nº 14 [1137]) e confirmou, juntamente com
alguns dos próceres principais do reino, a fundação efetiva do cenóbio de
Osseira por parte de Afonso VII4. Monteagudo (2008: 348-349) registrou
oito filhos de Pedro Bazaco como resultado de dois casamentos (com Teresa
Airas e com Urraca Lopes): Fernando (1192)5, Gomes (1186-1207), João
(1192), Maior (1193-1206), Maria (1169-1192)6, Paio (1191-1204), Teresa
(1167-1173) e Toda Peres (1188-1206). Como já foi sublinhado, trata-se de
um grupo familiar ligado diretamente a dois dos principais estabelecimentos

3
Numa escritura de 1155 encontramos um Pedro Baltsac (Oseira, nº 31) que Monteagudo
(2008: 348) identifica com Pedro Bazaco, vindo a deduzir que: “A variante Baltsac suxire
unha orixe occitana (existe un lugar denominado Balsac no corazón de Occitania ...); Ba-
zaco constituiría unha adaptación vernacularizada daquela”. No nosso entender, esse Pedro
Baltsac antes deve ser identificado com um indivíduo de naturalidade gala que acompanha-
va Vital (“scriptor” do próprio diploma), abade do mosteiro premonstratense de S. Leonardo
de Retuerta (Valhadolid), a quem Rodrigo Peres “o Veloso” e a mulher, Fruílhe Fernandes
(avós de Rui Dias dos Cameros), davam diversas propriedades. A ordem dos premonstra-
tenses foi fundada por S. Norberto em Prémontré (Aisne) na França, em 1120.
4
“Ego Petrus Bazaccus qui prefatum locum iussu domini imperatoris cautaui et confir-
mo” (Oseira, nº 15 [1137]) (cf. supra).
5
João Fernandes Bazaco, muito provavelmente filho do anterior, é testemunha numa
escritura de interesse para o cabido compostelano lavrada, em 1230, na cidade de Santiago
(Tombo C, fóls. 246v-247r). Em 1234 registramos um Rodrigo Peres, “connomento Baza-
co”, que oferece ao Mosteiro de Caveiro a parte que lhe pertence na Igreja de Bemantes
(conc. Minho) (TCaveiro, nº 216). Não sabemos qual é o relacionamento que pôde manter
com a linhagem em questão. Um Bermudo Bazaco surge, em 1213, numa escritura de
Sobrado (TSobrado, I, nº 453).
6
A cessão patrimonial efetuada por Maria Peres a favor de Toda Peres em 1169 (DDo-
zón, nº 18) é muito elucidativa sobre as áreas em que se localizavam as propriedades da
família: “Ego Maria Petriz [...] Placuit michi per bona pacis et per bona uoluntatem ut
faceremos ad uobis kartulam de donationis de hereditatem meam propriam quem habeo de
meo patre et de mea matre [Urraca Lopes] in loco predicto in Deca, in Taveirolas, in Buval,
in Asma, in Camba, in Montes, in Riba Ulia, in Durra, in Lemos, in Sarria”. Trata-se de um
vasto espaço no interior da Galiza cujo perímetro pode ser definido pelas localidades de
Ourense, Monforte, Sárria, Vila de Cruzes, Estrada e Carvalhinho.

128 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 128 25/09/2012 15:21:40


monásticos da zona: Vila Nova de Doçom (ou Deçom) e Osseira. Teresa e
Toda foram abadessas do primeiro, assim inaugurando uma prática que se
manterá nas seguintes gerações. Osseira foi escolhido como sepultura por
Maior Peres (“ego domna Maiore mando corpus meus ad Sancta Maria de
Ursaria”, Oseira, nº 1296) e por Paio Peres Bazaco (“Pelagio Bazaco...
mando corpus meum ad Sanctam Mariam de Ursaria”, COurense, nº 82)7.
Gomes Peres Bazaco, talvez o primogênito entre os homens,
foi o filho que atingiu maior brilho político. Sabemos que Fernando II re-
compensou os seus serviços, entregando-lhe o reguengo de Santa Eulália
da Aguada (conc. Carvalhedo) no extremo setentrional da terra de Búval
(Oseira, nº 72 [1186])8. É significativa a sua ligação a alguns membros dos
Travas e Limas, concretamente ao conde Gomes Gonçalves – pai de Ro-
drigo Gomes de Trava –, em nome do qual chegou a exercer como tenente
de Asma em 11919.
Maior Peres Bazaco é bem conhecida graças ao seu testamento
(Oseira, nº 1296 [c. 1200]). De acordo com os dados dessa manda e dou-
tros escritos do período, pensamos que foi mulher de Múnio Fernandes de
Rodeiro e mãe de Fernando Moniz de Rodeiro e de Paio Moniz de Refron-
teira (cf. supra)10. Como dissemos, este vínculo com a importante estirpe
dos Rodeiros pode explicar a razão pela qual Osório Eanes, aparentado
diretamente com eles, será criado em casa dessa senhora (cf. supra).
É possível que entre as filhas de Pedro Bazaco ainda devamos
contar uma Elvira Peres que, junto com os filhos: Pedro, Oeiro, Fernando,
Soeiro, Mendo, Diogo, Maior, Teresa e Maria Airas, doava ao Mosteiro de

7
Monteagudo (2008: 359) considera que João Peres foi o prior de Osseira documentado
em 1192 (Oseira, nº 80).
8
Ele aparece ainda como um dos garantes do pacto econômico entre Afonso IX e a ra-
inha Berengária em 1207 (Afonso IX, nº 219).
9
“comite domno Gomecio tenente Monte Rosum et Trastamarem, domno Gomecio Petri
tenente Asma de sua manu” (Oseira, nº 79). Também pode ser relacionado com Teresa
Bermudes de Trava e Fernando Airas Batissela aos quais vendeu uma herdade em Lalom
(conc. Leiro) (Camanzo, nº 8).
10
Monteagudo (2008: 352) discrimina, como pessoas diferentes, Paio Moniz de Rodeiro
e Paio Moniz de Refronteira, nomes que, em nosso entender, têm como referente um único
indivíduo.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 129

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 129 25/09/2012 15:21:40


Sar o que lhe pertencia no Porto de Ourense e num casal de Bovadela (conc.
Ourense) em 1188 (AHDS, Colegiada de Sar, maço 38, nº 10)11. Notemos
que Toda Peres Bazaco foi usufrutuária de uma parte da igreja de Bovadela
(Monteagudo 2008: 349, n. 15) e que Paio Peres Bazaco, pai do trovador,
contava com um casal nesse local, segundo consta do seu testamento. Tendo
em vista as práticas antroponímicas do período, é muito provável que o
marido de Elvira Peres tivesse o nome de Airas Oares, o que sugere a sua
identificação com o trovador homônimo (cf. supra).
Paio Peres Bazaco aparece, pela primeira vez, no grupo dos ho-
mens bons que, em 1191, foram testemunhas do acordo entre Toda Peres
Bazaco e Fernando Guterres sobre a posse de metade da Igreja de Santa
Eulália de Camba e de três casais (DDozón, nº 18)12. Dois anos mais tarde,
é ele o Pelagius Bazaco que vende a herdade dita de Santa Eufêmia em
Santa Marinha de Orvám (conc. Vila Marim) a Pedro Pais e à mulher Maior
Pais (Bazaco?) (Oseira, nº 84)13. O arquivo da sé de Ourense custodia o
seu testamento (COurense, nº 82), sem cláusula cronológica, datável de
1195-120014. Por esse diploma, vimos a saber dos laços que mantinha

11
Oeiro (“Odoarius Arie de Lamas”), Diogo, Pedro e Mendo Airas testemunham, em
1204, a venda do monte Cudeiro ao Mosteiro de Sar (GH, nº 87 [1204]) outorgada por um
Pedro Airas cuja relação com os anteriores levanta algumas dúvidas. Este (outro?) Pedro
Airas declara-se “sobrinho materno” de D.ª Teresa e de D. Paio (“Therasie matertere mee
et domni Pelagii auunculi mei”), identificados com o casal formado por Teresa Moniz e
Paio Moniz de Refronteira (o filho de Maior Peres Bazaco), os quais autorizam a transação.
O território adquirido pelo mosteiro compostelano parece encontrar-se numa área próxima
ou contígua daquele que fora cedido por Elvira Peres. Por outro lado, Pedro Airas ratifica
em 1206 a venda (e permuta) de uma herdade no monte dos Cóscaros (conc. Pinhor de
Cea) a favor do Mosteiro de Osseira (Oseira, nº 115): “ego Petrus Arie vendidi L. abbati
Ursarie et monasterio totam hereditatem quam domnus Arias pater meus habuit in monte
illo qui dicitur Coscaros”. Oeiro Airas de Lamas é testemunha e fiador desse negócio:
“Oerius Airas de Lamas miles testis et fideussor de supradictam conuentionem”, o que
assegura que se trata dos filhos de Elvira Peres.
12
Monteagudo (2008: 355) supõe “sen total seguranza” que é ele o indivíduo citado nou-
tras cartas de 1161 e 1199.
13
O monte a que se alude nesse escrito – hoje conhecido como Sagrade – encontra-se
precisamente em Santa Marinha de Orvám, uma das atuais freguesias do concelho de Vila
Marim.
14
A alusão a um “Iohanne, prior Ursarie” identificável com João Peres, prior de Osseira
(Oseira, nº 80 [1192]) e a Toda Peres como abadessa de Doçom (1188, 1191) leva-nos a
propor aquela localização cronológica. Seja como for, essa manda testamentária deve ser

130 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 130 25/09/2012 15:21:40


com várias instituições religiosas por ele favorecidas: a Sé de Ourense e
os mosteiros de Osseira (onde pede para ser enterrado), de Doçom e de S.
Martinho Pinário de Santiago. Também retiramos diversos dados sobre o
seu patrimônio, localizado no interior de Pontevedra (Camba, Deça, Doçom)
e sobretudo no noroeste de Ourense (Búval15 e Castela16).
O pai do trovador encetou matrimônio com Maria Pais Dorra
(← Paio Pais Dorra & Aldonça Rodrigues17), mãe de Maior e de Pedro Pais
Bazaco, e, em segundas núpcias, com Maria Peres. Quando mandou lavrar
o seu testamento, Paio Peres esperava um filho dessa última esposa, (meio-)
irmão com o qual Pedro Pais Bazaco deveria partilhar alguns bens durante
a minoridade18. Pedro Pais ainda recebeu do pai um casal em Vila Marim:
“Aliud que est in Uilamarin quod tenet Suerius Arii det Petrus Pelagii, filius
meus”. Essas referências constituem o primeiro registro histórico seguro do
trovador. No entanto, o mais recuado poderá remontar a 1184 (Oseira, nº
70), se for possível identificá-lo com o Pedro Pais que, junto com a mulher
e os filhos, permutava com o mosteiro de Osseira o que lhe pertencia na
Igreja de Santiago das Cales (Coiras, conc. Pinhor de Cea) pelo casal de
Vila Meá em Torrezela (conc. Pinhor de Cea). Posteriormente, para além
doutras atestações imprecisas por ausência do apelativo familiar (Oseira,
nº 79 [1191]; COurense, nº 93 [1204]19; Oseira, nº 119 [1207]; Oseira, nº
152 [1213]; Oseira, nº 214 [1221]), localizamos o trovador em 1223 quando

anterior a 1205.02.10, altura em que registramos um novo prior de nome Fernando (Osei-
ra, nº 111).
15
Entre outras terras, alude-se a Cudeiro: “quanto habeo in Codeiro”.
16
Nesta terra situam-se um casal na Grova e dois em Ventosela, que deixa ao Mosteiro
de S. Martinho Pinário de Santiago. A Grova (Sanim) e Ventosela são locais próximos no
atual concelho de Ribadávia.
17
Descobrimos dados sobre os ascendentes da mãe e os filhos do trovador em várias
escrituras do Mosteiro de Sobrado (TSobrado II, nº 276, 429).
18
“et omnem hereditatem meam que restat mando ei et diuidat fratre suo qui nasciturus ex
Maria Petri, et dum ipse puer fuerit Petrus teneat hereditatem et det inde adiutorium scilicet
uictum et uestitum, et cum puer uenerit ad uirilem etatem medietatem hereditatis recipiat”.
19
Monteagudo (2008: 356) supõe que Pedro Pais Bazaco poderia ser quem vende – na
verdade oferece – à Sé de Ourense um casal em Vila Marim: “Ese casal de Vilamarín
puidera ser o que en 1204 vendeu á catedral de Ourense un Pero Paez de Vilamarin, quen
neste caso poderiamos identificar co noso trovador”. Porém, o nome do titular da escritura
é Pedro Peres; “Petrus Pelagii de Uillamarim” é apenas uma testemunha.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 131

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 131 25/09/2012 15:21:40


vende ao Mosteiro de Osseira propriedades situadas em Aguada (conc. Car-
valhedo), no extremo norte de Búval20. A última presença ativa situar-se-á
em 1224.03 no foro do monte de Casderrande (conc. Vila Marim) outorgado
pela abadessa de Doçom, Urraca Gomes, prima dele (Dozón, nº 4421).
A escassa atestação do trovador ao longo da década de 90 aponta
para um afastamento temporário das terras de origem. Essa circunstância
explicar-se-á se o identificarmos com o “Bazaco” que confirma, em 1197,
uma venda de propriedades em Barrueco Pardo, na atual província de
Salamanca (SMarcos, nº 147)22. O senhorio da vila salmantina fora cedido
por Afonso IX à Ordem de Santiago em 1195 (Afonso IX, nº 92); portanto,
é lógico supormos, com algum fundamento, que este (Pedro Pais?) Bazaco
pôde formar parte dessa última milícia.
Pedro Pais Bazaco terá falecido entre 1224.03 e 1227.06.25,
quando a mulher, Maria Peres, e os filhos (Pedro, Domingos e Marina Peres)
vendiam ao mosteiro de Sobrado propriedades que Pedro Pais herdara da
mãe, Maria Pais Dorra23. Maria Peres era prima do próprio marido, enquanto
filha de Pedro Pais Dorra, um irmão de Maria Pais Dorra24. A linhagem dos
Dorras tomou o nome de uma freguesia situada no centro-norte da Galiza

20
“Ego Petrus Bacacus do vobis totam hereditatem que fuit de Iohanne Benedictiz in
Aguata et in Arvogoria et in Blandian” (Oseira, nº 238).
21
Notemos que, também neste caso, só consta como “Petrus Pelagii”. Um “Petrus Baza-
cho Poderoso” surge numa escritura de 1231 lavrada, provavelmente, no distrito de Camba
(Oseira, nº 344), mas a omissão do patronímico impede-nos de confirmar a sua identifica-
ção com o trovador.
22
O vendedor, Gomes Peres, foi provavelmene um filho daquele Pedro Fernandes, súdito
de Armengol VII, a quem, em 1181, o conde catalão cedera essa vila em feudo, reservando
para ele o senhorio da vila. Barruecopardo estava em posse de Armengol VII desde 1177,
quando lhe foi dada pelo concelho de Ledesma (Barton 1997: 233-234).
23
“Ego Maria Petri cum filiis meis, Petrus Petri et Dominicus Petri et Marina Petri, et
omnis uox nostra, uendimus uobis fratri Michaeli, magistro de Guisone, et uobis fratribus
de Supperado, totas hereditates meas quas mihi dedit maritus meus Petrus Bazacu, in dote
corporis mei ex parte matris sue Marie Pelagii, filie Pelagii de Dorra et de Eldonza Rode-
rici, filia de Roderico Almadran” (TSobrado II, nº 276).
24
“Rodericus Almadran habuit Vº filios, Eldontia Roderici, Petrus Penas, Petrum Rode-
rici de Dornana, Fernandum Roderici de Friol, Sancia Roderici [...] Eldontia Petri habuit
IIIIor filios, Petrus Pelaz de Dorra, Maria Pelaz, Marina Pelaiz, Pelagio Pelagii. Petrus Pe-
laz de Dorra habuit Vº filios, Orraca Petri et Maria Petri et Fernan Petri et Maria de Sancto
Mamete et Dominica Petri, filie Marina Munit” (TSobrado I, nº 406 e 278, 376, 381).

132 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 132 25/09/2012 15:21:40


(conc. Antas de Ulha), numa área próxima do mosteiro de Sobrado, com o
qual mantiveram vínculos de tipo econômico.
A perda da produção de Pedro Pais Bazaco impede-nos de apurar
com algum detalhe quais foram as conexões literárias com outros poetas do
período. Todavia, as coordenadas temporais e espaciais em que se integra
permitem relacioná-lo, em primeiro lugar, pelos motivos familiares acima
colecionados, com Osório Eanes e com Airas Oares, e ainda com outros
autores vinculados a Osório Eanes, nomeadamente Fernando Pais de
Tamalhancos (1196-1242). Efetivamente, temos indícios que apontam para
uma grande proximidade biográfica entre o anterior e Pedro Pais Bazaco.
Não só foram em boa medida contemporâneos, também concentravam uma
parte do seu patrimônio na mesma região geográfica: o noroeste da cidade
de Ourense, ao redor das localidades de Cudeiro, Vila Marim e Tamalhan-
cos. Como vimos, Pedro Pais Bazaco recebeu do pai um casal em Vila
Marim, num espaço dominado pelos Tamalhancos desde a primeira metade
do século XII, altura em que Afonso VII deu a Fernando Eanes, bisavô de
Fernando Pais, Vila Marim (cf. infra).

2. Fernando Pais de Tamalhancos


A grande notoriedade pública da linhagem a que pertenceu
Fernando Pais de Tamalhancos (1196-1242) faz com que seja um dos
trovadores de biografia pessoal e familiar mais bem conhecida25. A docu-
mentação veio demonstrar que era descendente de Elvira Peres de Trava e
de Gomes Nunes de Celanova, tetravós do poeta e pais de Urraca Gomes.
Do matrimônio desta última com Fernando Eanes de Montoro26 resultou D.
Varela (Fernandes), progenitor de Paio (Moniz) Varela, o pai de Fernando
Pais. Entre os filhos de Fernando Eanes de Montoro, personagem relevante

25
A existência de um trabalho monográfico sobre este autor (Souto Cabo [no prelo/1])
– ao qual remetemos –, leva-nos a reproduzir apenas uma síntese do mesmo há pouco
publicada (Souto Cabo 2011a: 379-380).
26
Filho de João Ramires, representante de Raimundo de Borgonha quando este exercia
como governador de Toronho. A implantação territorial deste ramo familiar leva-nos à área
do Morrazo, contígua a Toronho no noroeste.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 133

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 133 25/09/2012 15:21:40


nos meios da corte de Afonso VII, também encontramos Paio Curvo de
Toronho, de cujo casamento com Toda Moniz (sobrinha do arcebispo Diogo
Gelmires27) foi fruto aquela Maria Pais que provocou a morte (literária?)
de amor do seu parente Pedro Rodrigues da Palmeira (cf. infra). A iden-
tificação dos antepassados do Tamalhancos desvenda o motivo por que
Fernando Pais, numa cantiga, denomina “coirmãa” a abadessa de Dormeá
(conc. Boimorto). Visto que esse mosteiro foi instituído por Lupa Peres de
Trava, irmã de Elvira Peres, é lógico supormos que a anônima abadessa
pertencia – como costumava acontecer – à estirpe fundadora, portanto à
do próprio poeta.
Paio Moniz Varela e o filho, Fernando Pais de Tamalhancos,
ocuparam a alferesia em 1197, cargo ao qual o pai acrescentou, nesse
mesmo ano, a função de mordomo de Afonso IX. É interessante notar que
em agosto do ano seguinte surge na corte de Sancho I de Portugal como
testemunha numa doação desse monarca: “Testes autem qui presentes
fuerunt: Pelagius Moniz Varela […]” (Sancho I, nº 111). A partir desse
momento e até 1202, ele permaneceu na cúria lusitana, chegando a ocupar
o posto de alferes entre 1199 e 120228. A sua presença junto do monarca
português constitui um prenúncio da participação dos Limas (Nóvoa e
Batissela) em funções palatinas com Afonso II e Sancho II (cf. supra).
Para além dos ancestrais comuns e da contiguidade geográfica (cf. infra),
os Tamalhancos ligaram-se aos Batisselas pelo casamento do trovador, em
segundas núpcias, com Teresa Lopes de Ulhoa, sobrinha de João Fernandes
Batissela, alferes e mordomo de Sancho II. Por sua vez, Sancha Fernandes,
filha do Tamalhancos, foi desposada por Fernando Gil Batissela, sobrinho
desse João Fernandes.
Como manifesta o próprio antrotopônimo com que é conhecido,
Fernando Pais aparece associado ao já citado território de Búval. É nele

27
Existem dados para considerar Airas Fernandes Carpancho como descendente de Pedro
Gelmires, um irmão do arcebispo Diogo Gelmires. Veja-se Souto Cabo – Vieira (2003).
28
Sancho I, nº 111, 112, 113, 114, 115 (“domnus Pelagius Moniz signifer domini regis”
[1199]), 116, 118, 121, 122, 124, 125, 126, 128, 132, 134, 138, 140, 144. Ventura (1992:
993) supõe que se trata de Paio Moniz de Cabreira e Ribeira. É possível que nessa identifi-
cação tenha influído o fato de nos Livros de Linhagens ser referido um único “Paio Moniz”
filho de Múnio Soares de Ribeira e pai de Maria Pais Ribeira (LV 1AO9, LC 13A4, etc.).

134 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 134 25/09/2012 15:21:40


que se integra a localidade de Tamalhancos (conc.Vila Marim)29, onde
exerceu como tenente durante um longo período de tempo (1216-1240).
Essa localização geográfica coincide com a que foi desenhada para os
Limas, estirpe com a qual, como acabamos de ver, D. Fernando mes-
mo estabeleceu (novos) laços familiares. Os nexos de natureza diversa
que manteve com essa linhagem ajudam a explicar a existência de coin-
cidências retóricas e linguísticas com Osório Eanes (cf. supra). Do
mesmo modo, vários paralelismos históricos e literários com João Soares
Somesso30 e com Lopo Lias levam a pensar numa experiência poética
compartilhada com os anteriores nas terras do sudoeste galego ou talvez
na área do Morrazo, espaço dominado pela estirpe de D. Fernando desde
meados do séc. XII31. Notemos finalmente os indícios, sugeridos na alínea
que se segue, acerca da relação social e/ou familiar do Tamalhancos com
Airas Moniz de Asma (e com Diogo Moniz).

3. Airas Moniz de Asma e Diogo Moniz


Airas Moniz de Asma32 e Diogo Moniz, cada um com duas
cantigas de amor, abrem na atualidade o elenco de poetas representados
em B. Essa primazia, que remonta à “compilação geral”, contrasta com as

29
Também sabemos que contava com propriedades nas terras do Morrazo (Pontevedra),
de Asma (Lugo) e na área asturicense do reino de Leão, de onde procedia, provavelmente,
um ramo dos seus antepassados.
30
Além do tema da troca da senhor, acarinhado por ambos, o incipit da cantiga Con vos-
sa graça, mia senhor de Fernando Pais logo nos lembra os de João Soares Somesso Con
vossa coita, mia senhor e Con vosso medo, mia senhor. Segundo se expõe neste trabalho,
é possível que o Somesso tenha pertencido por via materna aos Limas.
31
A conexão com Lopo Lias, além de envolver alguns aspetos literários, tem implicações
mais complexas. Veja-se Souto Cabo (2012b).
32
A presença (duvidosa) da forma “Asme” em B, preterida como resultado deturpado por
“Asma” (Oliveira 1994: 316-317), permitiu que fosse considerado português: “Provavel-
mente de origem portuguesa. Asme, ou S. Lourenço d’ Asme fica ao pé de Ermesinde, na
Maia” (Michaëlis 1904: 525). Lembremos que, como notou Oliveira, a forma medieval
dessa povoação lusitana foi “Asmes”. Vejam-se os esclarecimentos de Montero Santalha
(2000: 43-44): “Deve considerar-se errada a leitura Asme, que se vem dando tradicional-
mente ao sobrenome deste trovador, que se deve ler Asma. Por duas razões: 1) Porque no
manuscrito trovadoresco aparece Asma e não Asme; e 2) Porque o suposto topónimo Asme
não existe nem nunca existiu, enquanto Asma é topónimo antigo e ainda hoje bem vivo”.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 135

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 135 25/09/2012 15:21:41


incertezas que pairam sobre a biografia deles. Porém, a sua integração num
segmento concreto da tradição manuscrita caraterizado por uma grande afi-
nidade social, junto com a referência toponímica à terra de Asma33 – apensa
a Airas Moniz –, induzem a concluir que se trata de indivíduos pertencentes
ao núcleo poético estudado nesta secção. Consideramos que foram, muito
provavelmente, dois irmãos, seguindo a sugestão de Michaëlis (1904: 526)
perfilhada por Oliveira (1994: 327): “É [Diogo Moniz], juntamente com
Airas Moniz, o único autor deste patronímico presente nos cancioneiros.
A associação de ambos [...] poderá sugerir, como referiu C. Michaëlis, que
nos encontramos perante dois autores da mesma família, eventualmente
dois irmãos”34.
A colocação cronológica que advém da inserção de Airas Moniz
no grupo de trovadores em apreço não se concilia com a (hipotética) de-
pendência poética, alegada por Beltrán (1985, 1989), entre Pois mi non val
d’ eu muit’ amar de Airas Moniz a respeito de Tant auta domna·m fai amar
de Bonifácio Calvo. Com efeito, visto que a canso foi elaborada durante a
estadia do genovês na corte de Afonso X (c. 1250-1260), a atividade poé-
tica de Airas Moniz de Asma deveria, então, ser situada no terceiro quartel
do séc. XIII: “no cabe ya dudar de que Ayras Moniz d’Asme no pertenece
al primer tercio del siglo XIII, puesto que prolongó su actividad hasta los
albores del período alfonsí, y que independientemente de su naturaleza –
gallego o portugués – hemos de adscribir su producción a la corte castellana”
(Beltrán 1985: 53). O professor de Barcelona estabelece aquela conexão
baseando-se numa suposta complementariedade temática e, por outro lado,
no fato de compartilharem a mesma estrutura métrica (8 ababccdd35), bem

33
A terra de Asma (no extremo sudoeste da atual província de Lugo) limita-se ao sul com
os distritos de Castela, Búval e Aguiar.
34
Monteagudo (2008: 359-360) prefere “manter en suspenso a suposición sobre o seu
parentesco” e identifica Diogo Moniz com um indivíduo, citado no testamento de Maior
Peres Bazaco, que julga filho de Múnio Dias “laycus de Codario” (GH, nº 87 [1204]).
35
Beltrán (1985: 52) observa, contudo, que essa combinação de rimas “está entre las más
frecuentes y banales de la tradición provenzal”. Pelo contrário, na lírica galego-portuguesa
só se registra em Airas Moniz e em Osório Eanes (cf. infra). O mesmo esquema de rimas,
mas em versos decassílabos, foi usado por Martim Soares e por Pedro Garcia Burgalês.

136 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 136 25/09/2012 15:21:41


como na coincidência de dois vocábulos em rima (BonCalv: amar, ai =
AirMnz: amar, ei).
A respeito do motivo argumental, é duvidoso que o poema de Airas
Moniz seja uma espécie de paródia do provençal como sugere Beltrán. A
dificuldade em manter o segredo sobre a identidade da dama é um assunto
ambíguo no texto de Bonifácio Calvo que poderia estar relacionado com
a biografia real do autor36. Airas Moniz, para vingar-se da falta de corres-
pondência amorosa, mostra-se disposto a declarar a identidade da senhor.
Esta decisão anti-cortês não se chega a consubstanciar, sendo apenas um
pretexto conceptual sobre o qual irá assentar o elogio, tão hiperbólico
quanto impreciso, das qualidades da senhor: “saberan de quen tort’ ei: /
Da que á melhor semelhar / de quantas no mund’ ome vir’, e mais mansa
sabe falar / das que ome falar oir; /non vo-la ei chus a dizer / quenquer
x’ a pode entender”37. Quanto aos aspetos formais citados, o modelo para
Airas Moniz foi, muito provavelmente, a cantiga Min pres forçadamente
amor de Osório Eanes, com a qual concorda perfeitamente no esquema
métrico e no uso da palavra rimante amar. Já a presença da forma verbal ei,
em idêntica situação, fará todo o sentido se for relacionada com a rima C
(precisamente “-ei”) utilizada por esse último autor (baratei, tornei, farei,
sei). Do anterior, segue-se a impossibilidade de identificar Airas Moniz de
Asma com um Airas Muñiz “de criazón del rey don Fernando” beneficiado
no repartimento de Sevilha38.
Oliveira (1994: 317), apesar de aceitar a vinculação poética entre
Airas Moniz e Bonifácio Calvo, optou por o identificar com um “Arias Nuni
de Asma armiger” que testemunha, em 1224, o testamento de um Pedro
Fernandes “laycus de Burgo Ripe Avie” (Oseira, nº 24). Essa possibilidade

36
Trata-se da possibilidade de Bonifácio Calvo ter cantado a uma dama da família real,
notícia transmitida por Jean de Nostredame.
37
Em Meus amigos, direi-vos que mi aven, Pedro Garcia Burgalês explora o motivo de
modo muito similar: “Moiro [...] / por unha dona. Mais non vos direi / seu nome; mais
tanto vos direi én: est a mais fremosa que no mundo á”. Vieira (2009) trata esses casos
vinculando-os à cultura escolástica.
38
A possibilidade foi sugerida por Beltrán (1989). Porém, esse estudioso reconhece que
“tampoco se puede demostrar que este Arias Muñiz sea el trovador; es más, las relaciones
de repobladores abundan en Airas o Airas, y no son raros los Muñiz o Moniz” (p. 13).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 137

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 137 25/09/2012 15:21:41


enfrenta algumas dificuldades, a começar pelo patronímico do escudeiro,
cuja versão romance teria sido “Nunez” (ou “Nuniz”), mas não “Moniz”39. É
verdade que uma transmissão manuscrita/editorial tem gerado a troca entre
“Munio” e “Nuno” e entre os patronímicos respetivos, mas o erro não deve
ser elevado à categoria de norma. O estatuto do “escudeiro” Airas Nunes
também não se coaduna com a camada social em que, como estamos a ver,
aparece integrado o conjunto de poetas aqui analisados. Relativamente à
atribuição do topônimo “Asma”, não é seguro que se possa falar de uma
espécie de nome de família nem que exista qualquer nexo do trovador
com o escudeiro ou com alguma outra personagem caraterizada por essa
referência geográfica. O uso de apelidos linhagísticos é um fenômeno que
se manifesta de modo esporádico nesta altura.
Se levarmos em consideração o alto grau de solidariedade (políti-
ca, social e familiar) que observamos no grupo dos mais antigos trovadores,
parece lógico identificar o poeta com um Airas Moniz que, em 1219.04,
exercia como tenente de Alva (“tenente Alva Arias Munionis”, Oseira,
nº 185), na área meridional da terra de Búval (cf. supra). Trata-se de um
cargo que foi ocupado, antes e depois dessa data, por Osório Eanes (1193,
1197, 1199, 1205, 1207) e, sobretudo, por Fernando Pais de Tamalhancos
(1216-1218, 1227, 1232-1233, 1236, 1238, 124040). Como vemos, é par-
ticularmente significativa a vinculação de Fernando Pais àquela tenência
durante 24 anos, o que nos move a entender que era uma área de interesse
preferencial para o seu grupo familiar. Assim, não seria aventuroso pensar
que, como acontece em casos similares, o tenente de Alva de que falamos
tenha mantido algum tipo de contato social direto ou mesmo laços de pa-
rentesco com o senhor de Tamalhancos.
O exercício desse cargo institucional não será o único ponto de
encontro entre este último e “um” Airas Moniz. No núcleo documental

39
Oliveira (1994: 317) aduz como justificação que: “a forma nominal Airas «Moniz»
parece ter sido preterida, cá, pela forma Airas «Nunes»”.
40
Lembremos que Fernando Pais foi tenente do distrito de Búval no mesmo período
(1216, 1222, 1229, 1231, 1233, 1239-1242). A aparente intermitência no exercício do car-
go é amiúde resultado da falta de dados e não da transferência do mesmo a outros indiví-
duos. De fato, para além de Fernando Pais e de Airas Moniz, só o encontramos atribuído a
Pedro de Pedibus (1220) e a Fernando Guterres de Castro (1224).

138 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 138 25/09/2012 15:21:41


de Osseira achamos uma manda testamentária [D.37] outorgada por um
indivíduo desse nome que pode ser outro elemento chave para apurar a
identificação histórica do trovador41. Por ela sabemos que o testador pediu
para ser sepultado no mosteiro de Osseira e deixou a essa instituição um
cavalo e diversos casais em Esmeriz, Esmoriz e Pinheiro (Bermum, conc.
Chantada). Trata-se de locais no extremo norocidental da terra de Asma,
situados entre os cursos fluviais do Asma e do Comezo, afluente do ante-
rior. Por uma informação que Argote de Molina (1866) transmitiu sobre
Fernando Pais de Tamalhancos e os seus ancestrais42, sabemos que este
último tinha recebido de Afonso IX as vilas de Santo Estêvão de Cartelos,
Santa Cristina (Asma)43, Bucinhos e Ruviás (conc. Carvalhedo), que nos
remetem para uma área geográfica adjacente à anterior, da qual é separada
apenas pelo rio Asma44. Se tal doação régia tinha como alvo consolidar a
existência de um patrimônio familiar pré-existente45, calculamos que ou-
tros parentes também contaram com posses nessa mesma zona, o que nos
induz a pensar na existência de vínculos familiares entre Airas Moniz e
Fernando Pais de Tamalhancos. Esta hipótese viria explicar a razão por
que Airas Moniz (de Asma) exerceu como tenente de Alva, substituindo
provisoriamente o (alegado) parente, e justifica a presença de Airas e Diogo
Moniz nesse segmento da tradição manuscrita46.

41
O diploma não contém cláusulas cronológicas mas terá sido redigido no primeiro terço
do séc. XIII. Nesse texto aparece citado, como já falecido, um João Gostiz que foi, com a
mulher, nutritor do próprio Airas Moniz. É possível que se trate do irmão mais velho de um
Fernando Gostiz, documentado como frade de Osseira entre 1215 e 1227.
42
Veja-se Souto Cabo ([no prelo/1]).
43
No fragmento reproduzido por Argote de Molina lemos “Sancta Cruz”, mas trata-se
muito provavelmente de uma expansão imperfeita da abreviatura correspondente a “Santa
Cristina”, local na freguesia de (Santa Cristina de) Asma. Os restantes topônimos também
ocorrem – nessa fonte – com formas desfiguradas, embora facilmente identificáveis.
44
Cartelos e Esmoriz são freguesias adjacentes.
45
Encontramo-nos num espaço já muito próximo do distrito de Camba, de que o próprio
Fernando Pais foi tenente, em 1238, junto com Múnio Fernandes de Rodeiro (Oseira,
nº 432 [1232]: “tenente Cambam domnus Fernandus Pelaiz et domnus Munio Fernandi”).
46
O patronímico “Moniz” permitiria relacioná-los com Paio Moniz (← Múnio Fernandes
de Rodeiro & Maior Peres Bazaco) ou com a mulher dele, Teresa Moniz.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 139

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 139 25/09/2012 15:21:41


4. João Soares Somesso
4.1. Ego domnus Johannes Suerii, dictus Submessu
As vinte e cinco cantigas preservadas pela tradição manuscrita
fazem de João Soares Somesso47, junto com Vasco Praga de Sandim, o
poeta com maior representação entre aqueles que são contemplados neste
trabalho. Por outro lado, do ponto de vista cronológico, estamos provavel-
mente perante o autor mais tardio do grupo (cf. infra). É isso que sugerem
dois testemunhos documentais pelos quais constatamos, de modo seguro, a
presença histórica do trovador nos anos de 1223 e 1242 em duas áreas do
antigo distrito de Toronho, no extremo sudoeste da Galiza. O mais recuado
situa-o na terra de S. Martinho48, quando doava ao mosteiro lusitano de
Fiães (conc. Melgaço) um casal na villa de “Chaianos” (conc. Crecente)
[D.30]49. A segunda escritura, lavrada na cidade de Tui em 1242.03.25
[D.33], reflete uma permuta patrimonial entre João Soares, dicto “Su-
menso”, e D. Lucas, bispo da cidade galega50. Por ela, o trovador transferia

47
Em face à proposta de Michaëlis (1904: 307), que considerava “Somesso” como uma
alcunha, Ron Fernández (2005: 132-133) supõe que se trata de um topônimo – situado
perto de Celanova – citado no Tombo de Celanova: “pensamos que o apelido non é un al-
cume... senón que pode referirse a un topónimo. De se poder identificar con este Somesso,
o trobador poderia ser natural desta localidade”. Do nosso ponto de vista, o modo como é
mencionado em B e na documentação (sem a preposição ‘de’) impede-nos de aceitar essa
última hipótese e leva-nos a pensar que se tratava de um apodo com valor desambiguador
(cf. infra).
48
Essa terra menor de Toronho, assim conhecida por nela assentar o castelo de S. Marti-
nho de Ladrons (Fernández Rodríguez 2004: 59-62), ocupava o sudeste dessa jurisdição
administrativa, o que corresponde, aproximadamente, aos atuais concelhos da Canhiza,
Neves, Arvo e Crecente. Estamos, portanto, na região limítrofe com a antiga terra de Vala-
dares portuguesa da qual é separada pelo rio Minho.
49
Esse topônimo (com diversas grafias) designava uma área nas freguesias de Crecente
e do Freixo (conc. Crecente), segundo se depreende de alguns dos locais (Nane, Cruzes
e Costa) que nele se integravam (cf. infra). A documentação demonstra que o mosteiro
assumiu a posse dessa propriedade: “hereditate nostra quam habemus in Chaianos, sicut
diuidit per aquam de Fonte Bona et deuide ad castero de Monte et ad Cruces quantum
ibi habemus” (Fiães, nº 231 [1227], nº 232 [1223]). De acordo com uma carta de 1254
(Melón, nº 571), a villa também se espraiava pelas margens do Minho. É possível que o
topônimo tenha sobrevivido até à época moderna como “Chagueáns” (Vázquez Martínez
1948b: 252) ou “Chagiáns”.
50
O documento fora citado por Galindo Romeo (1923: 78, 150).

140 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 140 25/09/2012 15:21:41


ao prelado os direitos de patronato que tinha nas igrejas de Santa Cristina
de Baleixe (conc. Canhiza) e Santa Eugênia de Setados (conc. Neves), na
mesma terra de S. Martinho. Em contrapartida, D. João ganhava o usufruto
dos casais de Paço e Sucarreira (nessa última freguesia), doados por ele
próprio à Sé de Tui noutra altura. Contamos ainda com um João Somesso
(“Iohannes Sumesso” [D.31]) que, em 1230, confirmava uma escritura de
interesse para o mosteiro de Vilar de Donas (conc. Palas de Rei), o mais
importante estabelecimento da Ordem de Santiago na Galiza. Apesar de
não constar o estatuto dessa personagem, o mais provável é que tenha sido
freire da Ordem de Santiago (cf. infra). Porém, a omissão do patronímico
pode tornar mais incerto identificar nele o trovador em apreço51.
Carolina Michëlis (1904: 297-307) reconheceu João Soares So-
messo (1212-1247) como o filho homônimo de Soeiro Airas de Valadares
e de uma senhora de nome desconhecido, que identificou com Maior Peres
de Bravães. A proposta baseia-se no conteúdo da sua produção satírica e
num passo dos Livros de Linhagens em que se alude a um indivíduo desse
nome gabado pelas aptidões poéticas: “E o sobredito dom Soeiro Aires,
des que lhe foi Elvira Nunes com Mem de Laude, casou com uma infante
de Galiza, e fege nela João Soares, que foi bom trovador” (LD 13F2)52.
Airas Nunes e Ximena Nunes “ambos naturaes de Galiza” (LD
13A1) são considerados os mais antigos representantes dos Valadares em
Portugal53. Eles foram os pais de Soeiro Airas de Valadares (1152-1183),
personagem da corte de Afonso Henriques que exerceu como tenente na

51
Ron Fernández (2005: 137) nota a existência de um João Rodrigues Somesso em Mon-
fero no ano de 1224: “Máis dubidosa – aínda que non imposible – é a súa identificación co
I. Submesso presente en Vilar de Donas. Podería tratarse aquí do Johannes Roderici apo-
dado Submesso, que xunto coa súa irmá Maria Roderici, fillos de Roderici Pelaiz, venden
a Pedro Calvo, monxe de Santa María de Monfero, a herdade de Freamelle”.
52
Os Livros de Linhagens chegam a atribuir quatro matrimônios a Soeiro Airas, mas só
neste passo é que se alude a João Soares [Somesso] (cf. infra).
53
Como acima foi dito, Fernandes (1992: 146, n. 182) supõe que os Valadares foram um
ramo secundário dos Limas, mas aduz argumentos pouco concludentes. A proposta baseia-
-se na identificação de Airas Nunes com Airas Calvo, hipótese que encerra numerosas difi-
culdades. Os Valadares, junto com os Celanovas ou Soverosas, são um exemplo da fixação
de nobres galegos em Portugal no século XII (Pizarro 2010: 901, Ferreira 2009).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 141

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 141 25/09/2012 15:21:41


terra luso-minhota de Valadares54. Do matrimônio de Soeiro Airas com
Elvira Nunes Velho resultou Paio Soares de Valadares (1183-1203), rico-
-homem da corte de Sancho II e tenente no Riba Minho. Por sua vez, Paio
Soares casou com Elvira Vasques de Soverosa (I) (tia do trovador Vasco
Gil) de quem teve Soeiro Pais (1222-1250). D. Soeiro também foi tenen-
te do Riba Minho55 e está registrado na corte portuguesa, até 1250, com
Afonso II, Sancho II e Afonso III (Ventura 1992: 725-726). Ele ocupou o
cargo de mordomo na cúria galaico-leonesa de Afonso IX (1225) de manu
do infante Pedro Sanches (Afonso IX, nº 450)56. João Soares Somesso teria
sido meio-irmão de Paio Soares de Valadares, como fruto do casamento de
Soeiro Airas com uma senhora (galega) de identidade duvidosa57 (cf. infra).
O que até aqui foi apresentado constitui a teoria tradicional sobre
a integração familiar do poeta. Porém, pensamos que existem indícios para
duvidar da sua veracidade histórica. Já vimos que a identificação de João
Soares Somesso com João Soares de Valadares assenta na informação
transmitida por um passo do Livro do Deão que o faz filho de Soeiro Airas
de Valadares e de uma infanta da Galiza (LD F2) (cf. supra). As restantes
alusões ao pai não referem a existência desse filho, nem sequer o casamento
com a dama galega. Esta última tem sido identificada com Maria Afonso,
filha de Afonso IX, também assinalada por essas fontes como esposa desse
Soeiro Airas e mãe do trovador Afonso Soares Sarraça (1262). Porém,
neste caso, a crítica optou por considerar que “a identificação do pai do
trovador com Soeiro Aires de Valadares, feita pelo Livro do Deão, deve

54
Afonso Henriques doou-lhe o couto de S. Vicente (Alvaredo, conc. Melgaço) que, mais
tarde, trocou com o bispo de Tui (Ventura 1992: 337).
55
Registramo-lo como tenente de Valadares, de modo descontínuo, entre 1209 e 1230
(Ferro Couselo 1995: 351).
56
Um Lourenço Soares registrado na corte de Afonso IX (mordomo [1205, 1219], alferes
[1195-1196, 1204] e tenente [1204-1219, 1224]) foi identificado com um filho de Soeiro
Airas (Ferreira 2009: 161-167). É possível que, à luz das conclusões deste parágrafo, essa
hipótese deva ser repensada.
57
Pizarro (1997: 786-787) considera Maria Afonso de Leão (filha – ilegítima – de Afonso
IX e de Teresa Gil de Soverosa) como segunda mulher de Soeiro Airas, o que é cronologi-
camente impossível.

142 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 142 25/09/2012 15:21:41


ser posta de parte, porquanto este deve ter morrido por volta de 1179”
(Oliveira 1994: 312)58.
Na verdade, tudo leva a crer que literatura linhagística amalgamou
em Soeiro Airas de Valadares os dados de, pelo menos, dois indivíduos
homônimos de cronologias, em parte, dissemelhantes. Essa confusão terá
também envolvido a figura de João Soares “que foi bom trovador” iden-
tificável com João Soares Somesso59. Com efeito, mesmo considerando
a hipótese de vários casamentos, afigura-se realmente improvável que o
trovador tivesse sobrevivido ao pai em cerca de 65 anos e em mais de 40
ao irmão Paio Soares (cf. supra)60.
Se admitirmos que a literatura linhagística transmite a verdade,
pelo menos, sobre a denominação do pai, então será necessário identificar
um Soeiro Airas, atestado por volta de 1200-1220, cuja identidade possa
ter sido fundida com o (homônimo) senhor de Valadares. A documentação
registra, com efeito, um Soeiro Airas que assumiu, nesse período, a tenên-
cia de S. Martinho de Ladrons (Melón, nº 83 [1202], 92 [1204]; Fiães,
nº 250 [120961]) e ainda a de Ribadávia (Oseira, nº 113 [1205]), Orzelhão
(Oseira, nº 124 [1208]) e Francelos (Melón, nº 108 [1211]). Esses testemu-
nhos harmonizam-se, sem criar fricções, com o que conhecemos sobre a
cronologia e geografia política do poeta, bem como com as conjeturas que
podemos tecer sobre o seu hipotético progenitor. No entanto, nada assegura

58
De fato, Maria Afonso está registrada, pelo menos, até 1275 (Melón, nº 761). A última
referência documental de Teresa Gil, mãe dela, é de 1269 (Melón, nº 704).
59
Lembremos que o Livro do Deão não lhe atribui a apostila “Somesso” com que é iden-
tificado na tradição manuscrita da lírica galego-portuguesa.
60
Paio Soares e a mulher, Elvira Vasques de Soverosa, contavam, em 1192, com filhos e
filhas (Fiães, nº 4): “cum filiis et filiabus meis”. Lembremos que, de acordo com Calleja
Puerta (2001: 169), a idade média para o casamento dos homens nobres era de trinta anos,
vinte e um para as mulheres. Aliás, alguns estudiosos consideram que pode existir uma
lacuna nos Livros de Linhagens em torno dos Valadares entre finais do séc. XII e primeiras
décadas do seguinte. De facto, esse cenário levou a dissociar em dois indivíduos diferentes
Lourenço e Rui Soares (Pizarro 1997: 786-787, Ferreira 2009: 162-167).
61
Na edição, o documento é atribuído ao ano de 1179 de acordo com o numeral latino
(“M.ª CC.ª XVII”). Porém, a citação do bispo D. Soeiro em Tui (1205-1216) e do rei D.
Afonso IX (1188-1230) garantem que se trata de 1209. O erro deriva, certamente, da presen-
ça de um xis aspado (=XL) no original, não reconhecido como tal pelo copista do tombo.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 143

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 143 25/09/2012 15:21:41


que aquele Soeiro Airas tenha sido membro da linhagem de Valadares, antes
pelo contrário, trata-se muito provavelmente de um indivíduo pertencente
à estirpe galega dos Fornelos, filho de Airas Nunes de Fornelos e de Maior
Peres “Pobre” de Bravães (cf. infra), também citado no Livro do Deão:

Sancha Nunes foi casada com dom Paio Vasques de Bravães, e fez em ela Pero
Paes, o Prove. E este Pero Paes, o Prove, foi casado com dona Examea Nunes,
madre de dom Sueiro Aires de Valadares, e fez em ela dona Mor Peres, a Prove.
E esta dona Mor Peres, a Prove, foi casada com Aires Nunes de Fornelos, e
fege nela dom Sueiro Aires de Fornelos e don Pedro Aires e dona Maria Aires.
E esta Maria foi barregam d’ el rei dom Sancho I de Portugal, e fege nela don
Martim Sanches [...] (LD 14F6-9)62

Como vemos, os Livros de Linhagens desenham um muito


notável paralelismo, genealógico e onomástico, entre os antecedentes de
Soeiro Airas de Valadares e os de Soeiro Airas de Fornelos. Assim, a iden-
tidade antroponímica entre eles soma-se à dos seus pais (Airas Nunes de
Valadares e Airas Nunes de Fornelos) e ao fato de ambos terem partilhado
Ximena Nunes como antecedente familiar: mãe do de Valadares e avó do
de Fornelos63. Essas semelhanças poderão ter dado ensejo à transferência
de dados dos Fornelos “a favor” dos (seus vizinhos) Valadares64. Aliás, a

62
Pizarro (1997: 288), com base na lição de LD 22A2, considera que a mulher de Paio Vas-
ques de Bravães foi, na verdade, Sancha Soares (1112), filha de Soeiro Nunes Velho (I). Paio
Vasques (1125), alferes da rainha Teresa e tenente de Riba Lima, foi protegido pelos Travas
(Mattoso 1988: 141, 143). A linhagem Bravães toma o nome da freguesia homônima no con-
celho limiano de Ponte da Barca (Alto Minho). Relativamente aos Velhos, eles fixaram-se
“na faixa litoral entre Cávado e Lima, aproximando-se, mesmo, do Minho” (Pizarro 1997:
323). Foram patronos dos mosteiros de Santo Antonino de Barbudo (conc. Vila Verde) e de
Carvoeiro (conc. Viana do Castelo) e da igreja da Vinha (conc. Viana do Castelo).
63
Outro ponto de encontro genealógico está em Nuno Soares Velho II, pai de Elvira Nu-
nes, mulher de Soeiro Airas de Valadares (LC 42A5-6), e bisavô de Maior Peres Velho, mãe
de Soeiro Aires de Fornelos (LD 14C3-F6-8). Vejam-se, contudo, as observações de Pizarro
(1997: 287-288).
64
Pizarro (1997: 786, n. 10) identifica uma possível de transferência de dados entre as
duas linhagens: “Cremos, contudo, que os livros de linhagens veicularam uma informação
errada: assim, em LD 14F7-8 afirma-se que Mor Pires de Bravães c.c. Aires Nunes de
Fornelos e foi mãe de Soeiro Aires de Fornelos, versão que terá sido deturpada, em nosso
entender, na transmissão para LL25J2, o único texto que refere Soeiro Aires de Valadares
c.c. Mor Pires de Fornelos”. Os Livros de Linhagens não aludem – no passo acima repro-

144 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 144 25/09/2012 15:21:41


multiplicidade de matrimônios – três ou quatro – contraídos, segundo a
literatura linhagística, por D. Soeiro Airas de Valadares é um motivo para
suspeitarmos que nem todos lhe diziam respeito. Pelo contrário, Soeiro
Airas de Fornelos aparece desprovido de qualquer referência conjugal, o
que, desde logo, causa alguma estranheza. Pensamos que existem indícios
efetivos para aventar a hipótese de João Soares Somesso ter sido filho de
Soeiro Airas de Fornelos e não de Soeiro Airas de Valadares. De fato, com
os dados disponíveis, parece não existir outra alternativa65.
Quanto aos que, segundo esta hipótese, foram antecedentes fa-
miliares do trovador, devemos citar, em primeiro lugar, a figura de Pedro
Pais “Pobre” (de Bravães) bisavô materno. Encontramo-lo referido em dois
atos diplomáticos régios de 1161 (Fernando II, nº 36) e 1166 (Fernando
II, nº 77)66. No primeiro, exerce como testemunha na disputa que existia
entre os mosteiros de Melom e de Ante-Altares. O seu nome surge a seguir
aos de João e Pedro Airas – pai e tio, respetivamente, de Osório Eanes – o
que sugere algum tipo de relação com os Limas, originários dessa mesma
zona. D. Pedro Pais conta com uma participação mais ativa no segundo dos
escritos, pois é precisamente a pedido dele que o monarca deu ao mosteiro
de Melom a veiga de Francelos (conc. Ribadávia): “[...] illam ueigam de
Francelos que iacet contra Arnoiam quomodo diuidit de Castrelo husque ad
faucem Arnoie cum media Dareza […] concedo pro remedio anime mee et
parentum meorum et pro rogatum uassalli mei Petri Pelagii dicti «Pauperis»”
(Fernando II, nº 77)67. Como vimos, segundo o Livro do Deão, Pedro Pais
foi sogro de “Airas Nunes”, personagem em quem podemos reconhecer o

duzido – a Mor Peres de Bravães, mas a Mor Peres Pobre (cf. supra). Mesmo assim, o
exemplo não perde o valor probatório.
65
Notemos que à luz da “hipótese tradicional” a presença de João Soares Somesso na
camada mais antiga da tradição trovadoresca não encontrava fácil explicação, uma vez que
não se constatam laços firmes com aqueles âmbitos sociofamiliares donde se difunde esse
molde poético.
66
Marques – Soalheiro (2009: 298) consideram que o nome da filha de Pedro Pais Pobre
poderá ter sido Goncina “pois é frequente o nome Mor ter o valor de cognome”. Essa se-
nhora recebeu uma doação de Afonso Henriques em 1183 na villa de Golães (conc. Fafe).
67
A sua consideração como “vassalo” deve-se ao fato de ser um nobre lusitano acolhido
na corte de Fernando II. Calderón Medina (2011: 256-257) explica o uso de vassalus regis
com esse valor.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 145

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 145 25/09/2012 15:21:41


“Arias Muniz” que era tenente de S. Martinho em 1174 (Melón, nº 41)68.
Os dados até agora coligidos revelam uma intensa ligação, patrimonial e
político-administrativa, às terras de Nóvoa e de S. Martinho de Ladrons. De
facto, a governação desse último distrito vai ser monopolizada por membros
desta rede familiar durante a primeira metade do séc. XIII.
Entre os irmãos de D. Soeiro Airas, encontravam-se Pedro e
Maria Airas (cf. infra). D. Pedro, seguindo o exemplo do pai, dominava a
terra de S. Martinho em 1201: “Petro Arie de Fornelos tenente Sanctum
Martinum” (Afonso IX, nº 148)69. É possível que tenha sido irmão dos
anteriores Paio Airas (talvez o primogênito), tenente dessa mesma circuns-
crição em 1187 e 1190 (Fiães, nº 52, 260; 51, 252)70. A eles devemos ainda
juntar o nome de Soeiro Dias, meio-irmão referido num ato documental
pelo qual essa Maria Airas vendia o agro da Portela “in villa de Ossevi”
(Oseve, freg. Levosende, conc. Leiro) por intermediação do seu mordomo
e desse irmão: “per manum maiordomi mei Joannes Johannis et per mano
germani mei Sueri Didaci qui tenet terram in Tudam […]. Ego Suerius
Didaci qui teneo comendam de domna Maria Arias hoc placitum concedo
et confirmo” (Melón, nº 95 [1207])71. Voltaremos a tratar deste D. Soeiro
um pouco mais à frente.
Maria Airas de Fornelos é célebre pelas ligações que ela e os des-
cendentes estabeleceram com as casas reais portuguesa e galaico-leonesa.
D.ª Maria foi concubina de Sancho I de Portugal, com quem teve Martim
Sanches (1218-1228)72. Do seu casamento com Gil Vasques de Sovero-

68
Não é fácil decidir se se trata de “Muniz” ou “Nuniz” – patronímicos amiúde confundi-
dos –, já que o testemunho do cartulário de Melom procede da cópia de um tombo elabora-
do entre 1799-1802 e, pelo contrário, os Livros de Linhagens manifestam uma preferência
pelos “Nunes”.
69
O topônimo aparece, na fonte manuscrita, abreviado por suspensão como “Forn.” Cam-
bón oferece, sem justificação paleográfica, a leitura Fornos (Melón, nº 202). Registramos
o nome “Pedro Airas” com alguma frequência durante o período nessa área, mas é difícil
apurar se, em algum caso, pode corresponder a Pedro Airas de Fornelos.
70
Um Paio Airas foi mordomo de Castrelo (conc. Ribadávia) em 1211 (Melón, nº 113).
71
Também conhecemos Maior e Urraca Airas que, em 1208, vendiam uma propriedade
em Pena Corneira, área vinculada aos Fornelos (Melón, nº 46) (cf. infra).
72
D. Martim foi meio-irmão do trovador Gil Sanches, filho do monarca português e de Ma-
ria Pais Ribeira. Como dissemos, a anterior casou (c. 1212) com João Fernandes Batissela.

146 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 146 25/09/2012 15:21:41


sa73 resultaram Fernando, Martim e Teresa Gil de Soverosa74. D.ª Teresa
foi barregã de Afonso IX75 e mãe de Maria e Martim Afonso de Leão76.
Martim Sanches e Martim Gil, para além de ter exercido funções político-
-administrativas noutras áreas de Toronho – e ainda no conjunto do reino –,
assumiram tenências na área de S. Martinho e de Nóvoa, regiões às quais os
Fornelos-Bravães aparecem, como vimos, recorrentemente ligados. Martim
Sanches foi tenente de Ribadávia (1218-1225), S. Martinho (1223), Nóvoa
(1221), Pena Corneira (1218-1222)77; Martim Gil, de S. Martinho (1229) e
Ribadávia (1234-1236, 1257-1258)78. Precisamente, o sogro de Martim Gil
(& Inês Fernandes), Fernando Guterres de Castro, também ocupou, entre
outras, as tenências de Ribadávia (1205, 1228, 1231-1234, 1237-1239),
Castrelo (1225), Pena Corneira (1208, 1212, 1215) e Nóvoa (1212, 1233).
No caso da vila do Ávia, partilhou ocasionalmente esse posto com Soeiro

73
Vasco Fernandes, pai de D. Gil, teve um importante papel na corte galaico-leonesa,
entre 1186 e 1188. Ele ocupou, entre outras, a importante tenência do Bierzo. Sobre os So-
verosas, linhagem de origem galega, veja-se Mattoso (1985: 176-177), Ventura (1992: 162-
163), Pizarro (1997: 803), Calderón Medina (2011a: 212-217, 2011b: 15-16). O fundador
dos Soverosas terá sido Fernando Peres Cativo (1129-1155), filho bastardo de Pedro Froiaz
de Trava (Mattoso 207: 100-104) que chegou a ser mordomo de Afonso VII. A localização
dos bens que pertenceram aos descendentes de Gil Vasques confirmam a relação com os
Travas. Assim, Dordia Gil – freira de Arouca, filha de D. Gil e de Aldonça Gonçalves Girão
– contava com posses em Trastâmara, nos coutos de S. Fiz e no da Corunha, em Ilhovre
(conc. Vedra), em Bandoxa (conc. Oza dos Rios) e na terra de Nendos. Essas propriedades
foram objeto de permuta com Martim Afonso, sobrinho de D.ª Dordia (DGP, nº 322, 338).
74
A ligação dos Fornelos às terras do Ávia sugere a identificação de Maria Airas com a
personagem homônima que, em 1228, aforava o que lhe pertencia num casal na vila de
Corneira (Lamas, conc. Leiro) (Melón, nº 208). A alusão ao tenente de S. João [de Pena
Corneira] assegura que se trata de uma vila nessa subárea do distrito de Nóvoa.
75
O seu relacionamento com o monarca, do qual resultaram cinco filhos, prolongou-se
desde 1218 até 1230 (Calderón Medina 2011a: 121, 2011b: 14-26).
76
O trovador Vasco Gil (1238-1258) foi fruto de um segundo casamento de Gil Vasques de
Soverosa com Sancha Gonçalves de Orvaneja (LV O9, LC 25B2) (Pizarro 1997: 808-809).
77
Aludimos apenas aos cargos relacionados com a área em questão. Sobre a trajetória
política dessa personagem, veja-se Fernández Rodríguez (2004: 161-166) e Ferreira (2009:
250-257).
78
Veja-se Ferro Couselo (1995: 348-351), Pizarro, (1997: 804-816), Fernández Rodrí-
guez (2004: 173-175), Calderón Medina (2011a: 230-239, 2011b). Note-se que exercia,
nos primeiros anos do período, pela mão do sogro: “domno Martino Egidii de manu domni
Fernando Goterri” (Oseira, nº 384 [1235]; Melón, nº 281 [1235]) (cf. infra).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 147

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 147 25/09/2012 15:21:41


Airas de Fornelos: “tenente Burgo Fernandus Guterri et Suerius Arie”
(Oseira, nº 113 [1205]).
Sabemos que Teresa Gil de Soverosa era proprietária da quarta
parte de um casal em “Chachanos” (Melón, nº 387 [1245]79), topônimo que
parece designar a mesma unidade fundiária em que se encontrava o pago
cedido por João Soares Somesso ao mosteiro de Fiães. Esta coincidência,
que resulta normalmente da existência de antepassados comuns, também
favorece a hipótese de integração do poeta na linhagem dos Fornelos. Aliás,
não é um exemplo isolado, já que outros netos de Maria Airas de Fornelos
herdaram dos antecessores propriedades na terra de S. Martinho. Martim
Gil contava com bens legados dos avós em Vilamide (Parada das Achas,
conc. Canhiza): “[…] illud casale de Villamidi, quod casale aquisiuit dom-
nus Martinus Egidii de suo erdamento ex parte abiorum suorum” (Melón,
nº 451 [1250])80. Trata-se de um local situado a 4 km da igreja de Santa
Cristina de Baleixe, uma parte de cujo patronato pertencera, como vimos,
a João Soares Somesso.
Como dissemos, Soeiro Dias (1205-1241) era meio-irmão de
Maria e Soeiro Airas de Fornelos. Ele terá sido, portanto, filho de Maior
Peres Pobre de Bravães e de um “Diogo” cuja identidade não é fácil de
estabelecer em ausência de patronímico81. D. Soeiro contou, muito pro-
vavelmente, entre os seus irmãos completos com um Garcia Dias que foi

79
Por essa escritura D.ª Teresa aforava a um João Peres: “quartam partem de illo casali
nostro de Chachanos excepta inde senara de Penso et bauza de Barallia”.
80
Teresa Gil tinha patrimônio em Figueiredo e Pomarinho (Sendelhe, c. Crecente) (Me-
lón, nº 475[1252]; 704 [1269]). A localização dessas posses na área poderá explicar o
motivo por que D. Afonso IX concedeu à concubina uma herdade, vizinha das anteriores,
em Lougarés (Sendelhe, conc. Crecente): “ego Adefonsus […] do et iure hereditario in
perpetuum concedo uobis donne Therasie Gil, et filiis uestris ex me suscpistis et deinceps
ex me suscipiendis, omnem hereditatem quam habeo uel habere debeo in Lougares” (Me-
lón, nº 219 [1229]). Outras escrituras evidenciam o interesse por concentrar as possessões
nessa zona. Teresa Gil e o filho, Martim Afonso, adquiriram um casal em Mandelos (Vilar,
conc. Crecente) que foi, em parte, pago com propriedades no Morrazo – provavelmente
doadas por Afonso IX – (Melón, nº 347 [1243] = AHN, Poio, maço 1858, nº 9).
81
Entre os indivíduos caraterizados por esse nome, conhecemos um Diogo Eanes (1150-
1159) que surge associado a Airas Calvo, Fernando Eanes de Montoro, Paio Curvo ou
Mendo Faião (Afonso VII, nº 131, 135, 167; Oseira, nº 32; Fernando II, nº 5, 15).

148 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 148 25/09/2012 15:21:41


tenente de S. Martinho em 1212 e 1214 (Fiães, nº 251, 247)82. Por sua vez,
o anterior poderá ter sido pai de Rodrigo Garcia, meirinho da Galiza (1252,
1257-1262) que teve morada em Ribadávia (Melón, nº 318 [1260?]). D.
Rodrigo esteve casado com Elvira Fernandes de Rodeiro, filha de Fernando
Moniz de Rodeiro (cf. supra)83.
Por motivos não declarados, talvez de ordem militar, Afonso IX
concedeu a Soeiro Dias o reguengo de Guilhade (conc. Ponte Areas) em
1205, doação que será confirmada em 1228 (Afonso IX, nº 197, 586)84. D.
Soeiro, para além de tenente em Tui (1205) (cf. supra), foi senhor de S.
Martinho (Fiães, nº 231 [1227]; Melón, nº 209 [1228]). Não temos dados
sobre a mulher, mas sabemos que entre a progênie deste par se encontrava
um Rodrigo Soares (1224-1256). Essa filiação pode ser constatada na ven-
da ao mosteiro de Melom de um casal em Carvalhal e outro em S. Julião
(Petam, conc. Canhiza85) por parte desse filho: “vendimus ipsam nostram
hereditatem quam ego domnus Rodericus Suerii habeo ex parte patris mei
domni Suerii Didaci; vidilicet: terciam unius casalis in villa que dicitur
Carvalial e aliam terciam alterius nostri casalis de Sancto Iuliano” (Melón,

82
É isso que, entre outros motivos, podemos deduzir da presença conjunta de Afonso
Soares de Fornelos e de Pedro Garcia de Fornelos como confirmantes numa escritura de
1231: “Domnus Alfonsus Sueri de Fornelos, Domnus Petrus Garsie de Fornelos” (Melón,
nº 233). Afonso Soares e Pedro Garcia terão sido, respetivamente, filhos de Soeiro Dias
e de Garcia Dias. Entre as testemunhas desse diploma também ocorre um Pedro Nariz de
Fornelos que, pela posição relativa, poderia ter sido irmão de D. Pedro. É possível que D.
Afonso tenha falecido na juventude, talvez antes de casar, já que não aparece ao lado dos
irmãos em 1251 (cf. infra). Note-se que, segundo essa interpretação, os filhos utilizavam
o sobrenome toponímico que, em princípio, caraterizava a linhagem do padrasto de seus
pais. Podemos pensar que o progenitor deles também pertencera à linhagem dos Fornelos
(irmão de Airas Nunes/Moniz?), situação não rara na época, ou que eles foram adotados
como filhos próprios pelo padrasto. De fato, a localização das propriedades dos filhos de
Soeiro Dias sugere alguma dessas possibilidades.
83
Múnio Fernandes de Rodeiro, pai de Fernando Moniz, foi o meirinho entre 1239 e
1253. No espaço temporal intermédio, o cargo foi ocupado por Rodrigo Soares primo
desse Rodrigo Garcia (cf. infra).
84
O reguengo citado é, habitualmente, identificado com a freguesia homônima de Ponte
Areas, porém, muito próximo do Guilhade de Filgueira (conc. Crecente) encontramos “Re-
guengo”.
85
D. Soeiro detinha, por empréstimo de Melom, outras propriedades nessa mesma fre-
guesia (Santa Eulália [de Ponte Deva] e Senande) (Melón, nº 297 [1238], 325 [1241]). Essa
situação repete-se no caso do seu irmão Afonso Soares.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 149

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 149 25/09/2012 15:21:41


nº 417 [1246]). O fato de lhe corresponder um terço dos casais citados leva
a pensar que teve, pelo menos, dois irmãos86. Esses três filhos de D. Soeiro
Dias poderão ser identificados com Rodrigo, Fernando e Teresa Soares que,
em 1251, aconselhavam ao abade de Melom o aforamento de um casal, que
lhes pertencia, em Chaos (Levosende, conc. Leiro)87.
Rodrigo Soares esteve casado com Estefânia Peres Faião, filha de
Pedro Mendes e neta de Mendo Faião88. D. Mendo e o filho são personagens
bem conhecidas nas cortes de Afonso VII, Fernando II e Afonso IX89. Após
a anulação do matrimônio de Afonso IX com a rainha Berengária, em 1204,
D.ª Estefânia tornou-se concubina do monarca e dele recebeu os reguengos
de Ginzo e Vila Maior (Afonso IX, nº 269 [1211])90. Dessa relação nasceu
Fernando Afonso91.
Como vimos, o pecúlio específico de D. Rodrigo situava-se nas
terras de Nóvoa e S. Martinho. Além daquilo que foi já notado, a docu-

86
Isso mesmo podemos concluir doutras referências documentais aos bens de D. Rodri-
go: “tertias duorum nostrorum casalium de Sobradelo” (Melón, nº 420) (cfr. infra).
87
“[...] ego Petrus abbas Melonis, cum consilio et mandato domini Roderici Suerii et dom-
ni Fernandi Suerii et domne Taresie Suerii propter eorum commoditate et propter eorum
consensum […] do et concedo quandam hereditatem supradictorum dominorum in termino
Lovesendi” (Melón, nº 464). A documentação de Melom confirma essa identidade para Te-
resa Soares (Melón, nº 326, 436, 496, 556, 565). Como dissemos, é possível que tenha sido
irmão dos anteriores Afonso Soares, talvez falecido antes de casar e gerar descendência.
88
O trovador Estêvão Faião poderia ter sido irmão ou primo de D.ª Estefânia.
89
D. Mendo surge com alguma frequência entre 1133 (Afonso VII, nº 49) e 1164 (Fer-
nando II, nº 54). D. Pedro foi um dos dez vassalos do rei galaico-leonês que assinaram o
tratado de Paz do Boronal: “Petrus Menendi Faiam” (Afonso IX, nº 373 [1219]).
90
A propriedade de Vila Maior foi oferecida ao mosteiro de Melom em 1249 (Melón,
nº 440): “ego domna Stephania Petri, presente et concedente viro meo domno Ruderico
Suerii, do et concedo Sancte Marie de Melon ob remissionem delictorum domini regis
Alfonsi et eius filii domni Fernandi Alfonso et ob remissionem anime mee et uiri mei Ru-
derico Suerii illam meam villam que vocatur Villamaior de Ultramontem quam dominus
bone memorie rex Alfonsus michi dedit”. Veja-se Calderón Medina (2011b: 8-10).
91
O testamento desta senhora permite identificar três áreas em que se concentrava maio-
ritariamente a sua fazenda: (i) Bacia galega do Lima (conc. Entrimo, Lóbios, Moinhos,
Qualedro, Trasmiras etc.); (ii) Tras-os-Montes (conc. Terras de Bouro e Montalegre); (iii)
Sanábria (conc. Requeixo). Para além doutras muitas instituições religiosas, D.ª Estefânia
beneficiou os mosteiros de Celanova, Melom, Santo Isidoro de Leão e, sobretudo, Fiães,
onde pediu para ser enterrada: “mando corpus meum monasterio Sancte Marie de Fenali-
bus” (Fiães, nº 341 [1250]).

150 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 150 25/09/2012 15:21:41


mentação relativa ao casal e aos filhos (Nuno, Pedro, Estêvão e Estefânia)
menciona posses em vários locais do atual concelho da Canhiza: Sobradelo
(freg. Achas), Taim (freg. Baleixe), Folgoso (freg. Parada das Achas) (Me-
lón, nº 420, 599, 605)92. D. Rodrigo Soares atingiu uma notável projeção
política durante os reinados de Afonso IX, Fernando III e Afonso X. Com
efeito, além de assumir diversas tenências desde 1224 até 1250 (S. Mar-
tinho [1224, 1233, 1236, 1238-1240, 1243-1247, 1250], Aveleda, Araújo,
Mugueimes, Aquilaris93), chegou a ser meirinho da Galiza entre 1251 e
1256 (cf. supra).
No exercício da função de tenente em S. Martinho, durante a
primeira metade do séc. XIII, encontramos um João Soares (I) que, de
acordo com o que foi acima estabelecido, poderá ter sido filho de Soeiro
Airas de Fornelos e, portanto, (meio-)primo de Rodrigo Soares94. Este João
Soares (I) foi senhor de Crecente (1223), por delegação do seu coirmão
Martim Sanches95, e tenente do castelo de S. Martinho (1238-1239, 1246),
ocasionalmente associado a Rodrigo Soares96.

92
D.ª Estefânia Rodrigues mandou, no seu testamento, ser enterrada no mosteiro de Me-
lom ao lado do pai: “iuxta patrem meum mihi eligo sepulturam” (AHN, Mosteiro de Oia,
maço 1801, nº 13 [1255]). Apesar de ter sido lavrado “in articulo mortis”, ela não faleceu
nessa altura. O seu marido foi João Nunes.
93
Salvo no caso de S. Martinho, trata-se de tenências situadas na bacia do Lima: Aveleda
(conc. Porqueira), Araújo (conc. Lóbios), Mugueimes (conc. Moinhos).
94
A localização das posses deste indivíduo autoriza o estabelecimento da conexão fa-
miliar com Rodrigo Soares (cf. infra). O anterior parece ter “herdado”, para o cargo de
mordomo, a figura de Pedro Vilamide, que já o fora com João Soares: “tenente castel-
lum Sancti Martini domno Johanne Suerii, maiordomo Petro Villamidi” (Melón, nº 294
[1238]), “Tenente castello de Sancto Martino domno Roderico Suerii, maiordomo Petro
Villamidi” (AHN, Mosteiro de Oia, maço 1800, nº 5 [1243]; Melón, nº 431 [1247]). Trata-
-se de uma personagem vinculada a D. Rodrigo e D.ª Estefânia: com eles aparece numa
escritura redigida provavalmente em Mugueimes (conc. Moinhos), onde o casal tinha
residência (Melón, nº 417 [1246]). Lembremos que Martim Gil tinha propriedades em
Vilamide (Parada das Achas, conc. Canhiza) herdadas dos avós. A essa freguesia também
aparecem associados Rodrigo Soares e João Soares (II) (cf. infra).
95
“Tenente castellum Sancti Martini domno Martino Sancii. Sub manu eius, Johane Sua-
riz, senior de Crecenti” (Fiães, nº 196).
96
“Tenente castellum Sancti Martini domno Iohanne Suarii” (Melón, nº 294 [1238]), “Te-
nentes castellum Sancti Martini domno Iohane Suerii et domno Roderico Petri” (Fiães,
nº 259 [1239]), “tenente castello Sancti Martini Roderico Suerii et Johanne Suerii” (Melón,
nº 421 [1246]). Em abril de 1245 aparece, junto a D. Rodrigo Soares e após Gonçalo Eanes

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 151

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 151 25/09/2012 15:21:41


João Soares (I) também terá sido conhecido como “João Soares de
Chapela”, cavaleiro registrado com alguma frequência no acervo documen-
tal do mosteiro de Melom entre 1228 e 124797. Os diplomas que lhe dizem
respeito, sobretudo as mandas testamentárias [D.32/A-B], evidenciam que
contava com uma importante rede patrimonial nos distritos de S. Martinho,
Manhó e Morrazo98, correspondendo aos atuais concelhos de Arvo (Igreja
de Arvo, Merelhe [freg. Cabeiras], Facuco [freg. Sela], Sande [freg. Mou-
rentám], Sela, Várzea [freg. Mourentám]), Canhiza (Igreja de St.ª Cristina
[de Baleixe]), Crecente (Chaguiáns [freg. Freixo e Costa], Mosteiro de [S.
Pedro de] Crecente, Sendelhe, Mandelos [freg. Vilar]99), Moanha (Domaio,
Gagám [freg. Domaio]), Neves (Vide, Setados), Redondela (Chapela).
João Soares de Chapela favoreceu economicamente os mosteiros de Fiães
e Melom, a Sé de Tui e as obras das pontes de Castrelo, Ourense e S. Paio.
No que concerne à família, avulta o fato de a mãe ter ostentado a
dignidade condal: “Iohannes Suerii, miles de Chapela, filius comitisse”100,
assunto que retomaremos posteriormente. Ainda referido aos parentes
próximos, vimos a saber da existência de uma filha Maria Eanes e de (pelo
menos) um irmão Fernando, vivo em 1238, mas já falecido em 1247. Qua-
tro sobrinhos de D. João eram filhos do anterior: Estefânia, João, Maria,
Martim e Pedro Fernandes101. A estes acrescentamos Pedro Martins e Pedro
Rodrigues, cujos ascendentes não são nomeados.

(Batissela), tenente de Nóvoa: “Tenente Novoa domno Gunzalvo Joanis. Cantarios [cauta-
rios] domino Joane Suerii et domino Roderico Suerii” (Melón, nº 392).
97
O fato de não reaparecer um (outro) “João Soares” como tenente de S. Martinho após
a morte dele em 1247 parece assegurar esta identificação (cf. infra). O mais antigo registro
documental pode situar-se numa escritura de 1212.06.20 pela qual Fernando Soares e o
irmão, João Soares, venderam a quarta parte dos casais de Outeiro ao mosteiro de Fiães
(Fiães, nº 251).
98
Reproduzimos, num mesmo item do apêndice, as duas versões do seu testamento, la-
vradas em 1238 e 1247 [D.32/A-B]. Outros documentos do Mosteiro de Melom registam
notícias sobre João Soares (I) (Melón, nº 209 [1228] e nº 432 [s. d. (1242)]).
99
Existe outro local com esse nome na freguesia de Cequelinhos (conc. Arvo).
100
O dado consta, pela primeira vez, numa escritura datável (entre fevereiro e julho) de
1242 (Melón, nº 432) e na segunda redação do seu testamento de 1247 [D.32/B].
Maria e Martim Fernandes surgem, para além de no testamento de D. João Soares,
101

numa escritura de 1260 (DGP, nº 128). Estefânia Fernandes poderá ser a freira do mosteiro

152 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 152 25/09/2012 15:21:41


Aliás, a segunda redação do seu testamento atesta que foi favore-
cido com uma herdade em Múrcia (“illam meam hereditatem quam lucratus
fui in Murcia”), donde se conclui que participou ativamente, entre 1243 e
1245, na conquista desse reino pelo infante D. Afonso (futuro Afonso X)102.
Com efeito, João Soares deixou de ocupar cargos político-administrativos
entre julho de 1239 e abril de 1245. De fato, em 1243, era o sobrinho
João Fernandes quem, por delegação do tio, assumia a tenência do castelo
de S. Martinho: “Iohannes Fernandi tenente castellum Sancti Martini de
Latronibus de manu Iohannis Suarii” (ACT, maço 12, nº 11). Um escrito
de que é titular Pedro Rodrigues, um dos seus sobrinhos, permite datar o
decesso de João Soares de Chapela em finais de 1247103.
A coincidência na determinação ou localização concreta do
patrimônio “parece” sugerir que João Soares Somesso e João Soares de
Chapela foram a mesma personagem histórica. Como no caso do trovador,
a documentação prova que o de Chapela contou com propriedades na villa
de “Chagianos/Chagais”, em Setados e que lhe pertencia, por direito de
patronato, uma parte dos benefícios da Igreja de Santa Cristina de Baleixe
[D.32]104. Também ficou registro do relacionamento com o mosteiro de
Fiães, favorecido na sua manda testamentária (cf. supra). No entanto, uma
análise atenta de alguns desses dados aponta em sentido contrário. Com

de Alveos (“Touquinigra d’ elueos”) citada nesse mesmo diploma como irmã dos anterio-
res
102
Nessa campanha militar, teve grande protagonismo a Ordem de Santiago chefiada pelo
grão-mestre, Paio Peres Correia (Lomax 1965: 13-14; De las Heras 2010: 197; Ballesteros
Beretta 1949), o que seria um argumento para o identificar com o João Somesso registrado
em Vilar de Donas (cf. infra).
103
Por essa escritura, redigida em 1249, D. Pedro abdicou de uma demanda contra as
disposições testamentárias do tio. O conteúdo do diploma parece situar a morte de D. João
próxima do momento em que João Soares ordenou a sua manda: “ego Petrus Roderici,
miles de Chapela, quito et abrenuncio demandas et bona que ego faciebam contra mandam
Iohannis Suerii de Chapela, tam in hereditatibus quam in omnibus rebus uel debitis ipsius,
scilicet in Domayo, in Sendely, in Chayanis uel in omnibus aliis hereditatibus preter Seeta-
dos uobis domno Petro abbati Melonis […] et ego frater Petrus abbas Melonis pariter cum
illis quibus ipse domnus Iohannes Suerii legauit bona sua in hora mortis […]” (Melón, nº
444 [1249]).
104
Neste último caso, só se refere o nome da santa padroeira, mas não existe outra fregue-
sia com esse orago na área.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 153

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 153 25/09/2012 15:21:42


efeito, se João Soares Somesso entregara o casal que possuía nessa villa
de Chaguiáns ao mosteiro de Fiães em 1223105 e, em 1242, ao bispo de
Tui todos os direitos que lhe correspondiam nos lucros da igreja de Santa
Cristina de Baleixe, como é que podia conservar a posse desses bens à data
do seu derradeiro testamento (1247)106? Por outro lado, na primeira versão
dessa manda (1238) não se menciona o benefício da Igreja de Setados,
prebenda que, no que correspondia a João Soares Somesso, será doada
pelo anterior à Sé de Tui quatro anos mais tarde, em 1242107.
Ora bem, mesmo concluindo que estamos perante pessoas dife-
rentes, todavia, não se pode deixar de reconhecer que, certamente, foram
indivíduos da mesma estirpe. É muito provável que tenham sido irmãos,
o que oferece uma justificação para o uso do sobrenome “Somesso” com
função desambiguadora, sobretudo em contextos documentais nos quais
a identidade do titular podia ser, com a passagem do tempo, dúbia108.
Pensamos, portanto, que João Soares Somesso foi, entre os dois, o irmão
mais novo, indicação que também poderá estar presente no epíteto que o
individualizava.
O fundo documental do mosteiro de Melom preservou a memória
doutro João Soares (II), fidalgo que mandou lavrar o seu testamento em
agosto de 1257 [D.38]. Por esse diploma sabemos que a sua família estava
integrada pela mulher D.ª Maior e por quatro filhos: Fernando, Maria,
Elvira e Aldara Eanes. Uma alusão às suas armas reflete explicitamente o
caráter de cavaleiro-guerreiro (cf. infra): “Et omnia arma mea mando filio

105
O modo como se alude a esse casal, sem qualquer rótulo particularizante, supõe que se
tratava do único de que João Soares Somesso era proprietário, entre outros pertencentes ao
seus familiares.
106
É interessante notar que, na versão mais antiga do testamento (1238), João Soares (I)
oferece ao sobrinho João Fernandes “in uita sua” o seu quinhão na Igreja de Santa Cristi-
na de Baleixe, especificando que após a morte do anterior deveria ficar em posse da sua
linhagem: “Post mortem eius remaneat meo linagem”. Tal indicação parece assegurar que
nos benefícios dessa igreja participavam exclusivamente, naquela altura, membros da sua
estirpe. Essa apostila desaparece em 1247: “mando Johanni Fernandi […] meum quinionem
Ecclesie Sancte Christine”.
107
Os argumentos por omissão têm, contudo, menos valor probatório.
108
A utilização do mesmo nome para dois filhos não é, como se sabe, um facto excecional
na altura.

154 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 154 25/09/2012 15:21:42


meo”. Entre outros lugares, D. João (II) tinha propriedades em Castro – hoje
Crasto – (Rubiós, conc. Neves), Filgueira (Rubiós, conc. Neves), Levosende
(conc. Leiro), Sendelhe (conc. Crecente), Paradela (S. C. Ribarteme, conc.
Neves), Paredes (Neves, conc. Neves), Taim (Baleixe, conc. Canhiza), Tei-
xugueiras (conc. Cartelhe?)109. Relativamente às instituições religiosas por
ele favorecidas, são nomeados: Mosteiro de St.ª Maria de Melom, [Mosteiro
de] Alveos (conc. Crecente), [Mosteiro de] S. Pedro de Crecente, Igreja de
Santiago de Parada das Achas (conc. Canhiza) e Igreja de Guilhade (conc.
Ponte Areas). Também deixa um contributo para as pontes de Ourense e de
Ribadávia. Achamos estes dados suficientes para aventarmos, com alguma
garantia, a sua integração no grupo familiar em questão.
Ora bem, apesar da grande diferença no volume do patrimônio
enumerado, o paralelismo com as indicações relativas aos bens de João
Soares (I) não deixa espaço para dúvidas sobre a vinculação de parentesco
entre eles. Em primeiro lugar, é altamente significativa a coincidência na
localização genérica das propriedades em dois distritos (históricos) sem
continuidade geográfica: S. Martinho de Ladrons e Manhó110. Nesta última
encontra-se Chapela (conc. Redondela), povoação que emprestava o nome
a João Soares (I) e onde achamos uma parte importante dos seus domínios:
“illam meam pausam de Chapela et casas et uineas cum sua quintana et
cum suis cortinis et illum meum casale de Petro Fernandi”111. Embora em
menor proporção, João Soares (II) também contava com patrimônio nessa
circunscrição: “quantam hereditatem habeo in Manoa preter ecclesias”. Ou-

109
É difícil precisar a localização dos topônimos “Felgeyra”, “Paradela” e “Paredes” já
que, entre outros locais, surgem em várias freguesias da área de S. Martinho e de Nóvoa.
Filgueira: Rubiós (conc. Neves), Filgueira (conc. Crecente); Paradela: Alveos (conc. Cre-
cente), Angudes (conc. Crecente), Baleixe (conc. Canhiza), Barral (conc. Castrelo de Mi-
nho), S. C. Ribarteme (conc. Neves); Paredes: Ameixeira (conc. Crecente), Neves (conc.
Neves), Oroso (conc. Canhiza), Ribeira (conc. Crecente), Serantes (conc. Leiro). Optamos
pelos locais das Neves visto que na metade meridional desse concelho aparecem os três
e que nessa área o filho contava com propriedades (cf. infra). Muito perto desse Filgueira
encontramos o topônimo Crasto, provavelmente o “Castro” citado por João Soares (II).
110
A antiga terra de Manhó ocupava o atual concelho de Redondela e parte dos limítrofes
(Vigo, Paços de Borvém e Souto Maior). Uma das freguesias desse município é Tras-
-Manhó, contígua de Chapela.
111
O sobrenome geográfico costumava designar a área em que se concentrava o patrimô-
nio de um indíviduo.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 155

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 155 25/09/2012 15:21:42


tro ponto de convergência mais concreta está em Sendelhe (conc. Crecente),
local em que o próprio João Soares (II) refere a existência de dois casais.
Sabemos que, pelo menos, um fora de seu pai: “unum in Sendely que fuit de
pater meo”. Nessa mesma freguesia achamos uma extensa propriedade de
João Soares (I) que incluía um prédio residencial: “[…] illam meam pausam
de Sendili et unum casale ibi cum ea, excepto inde forario illo de Booca
[...] et excepta illa domo quam ego dedi Marie Johannis cum sua cortina
[...] et excepto prestimonio de Varzina [...], et excepta domo illa de Suerio
Nuni”. Retiramos, portanto, a conclusão de que se trata de dois irmãos112,
dedução que não deverá ser contrariada pelas diferenças, aliás naturais, na
distribuição geográfica dos bens. Assim, falta correspondência nas áreas
do Morrazo e de Nóvoa, associadas de modo privativo, respetivamente, a
João Soares (I) e a João Soares (II)113.
Uma escritura de 1268 de que é titular Fernando Eanes, filho – já
citado – de João Soares (II), vem confirmar a identidade do pai. Por esse
diploma, lavrado em Jerez de la Frontera (Andaluzia), Ramiro Rodrigues
vendia a Fernando Eanes, filho de João Soares de Fornelos, aquilo que
lhe correspondia em Tortoreos (conc. Neves) (ACT, maço 14, nº 36114). O

112
Um “João Soares” é referido no testamento de Chapela [D.32/B]: “Et quito Johanni
Suerii, militi, portionem patris sui de hereditate de Athenis”. É muito provável que se trate
de João Soares (II). Notemos, contudo, que na manda faltam referências a outros membros
da sua rede familiar mais próxima, como se deduz da existência dos sobrinhos Pedro Mar-
tins e Pedro Rodrigues.
113
Para João Soares (I) temos os topônimos de Domaio e Gagám (conc. Moanha [Morra-
zo]) e para João Soares II o de Levosende (conc. Leiro [Nóvoa]). Por interpretação errada
do fenômeno fonético conhecido como gheada, Gagám pode aparecer representado como
“Xaxán” na cartografia atual.
114
Conservamos uma cópia desse diploma validada pelo notário de Ribadávia: “Sepan
quantos esta carta viren como yo don Ramir Rodriguez fijo de don Rodrigo Fernandez de
Valdeira vendo a vós Fernan Eanes fijo de don Johan Suarez de Fornellos todos quantos
erdamientos yo é en Tortorenos aldea que es en el alfoz de Salva Terra. Los quales erda-
mientos fuerun de don Pedro Martinez mio suegro e heredelos yo de dona Berengella mi
mugier [...]. Fecha la carta a veint e cinquo dias de febrero, en era de mill e trezentos e seis
anos. E desto som firmas rogadas de ambas las partes: Dom Pedro Rodriguiz <-->veiro e
Alvar Perez de Cepeda, e Estevan Andreu scudero del rey e Johan Romeu <--> Galiza e
Pedro Rodriguez de Sarra, e Vaasquo Perez de Valex e Esidro Garcia fijo de Garcia Meen-
dez [...]. Yo Garcia Fuertes notario puplico del conceyo de Xerez fiz escriver esta carta [...].
Eu Pedro Aras de mandado de Johan Perez, notario del rei en Ribadavia, scrivi este trallado
[...]. Eu Johan Perez, notario del rei en Ribadavia, fiz escrever este traslado e puge hi meu

156 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 156 25/09/2012 15:21:42


progenitor de D. Fernando foi, portanto, João Soares de Fornelos – filho de
Soeiro Airas de Fornelos – não referido nos Livros de Linhagens. Por outro
lado, é importante repararmos na localização dos herdamentos adquiridos
por esse Fernando Eanes, já que constitui uma pista segura para saber qual
era a área concreta em que sediava o seu patrimônio preexistente115. Trata-
-se, como vimos, de Tortoreos, terra que dista apenas 2,5 km de Setados,
onde João Soares Somesso contara com propriedades doadas à Sé de
Tui116. Relativamente ao filho, a sua presença na cidade andaluza, re-
conquistada quatro anos antes por Afonso X, leva-nos a reconhecê-lo na
personagem homônima citada no Libro del repartimiento de Jerez: “Ferrant
Yvannes, escudero del rey” (González Jiménez – González Gómez 1980:
105). É, portanto, possível que pai e filho tenham formado parte do apa-
relho militar de Fernando III e de Afonso X nas campanhas da Andaluzia
ocidental.
Considerando o que foi dito até agora, pensamos que só João
Soares de Fornelos é que pode ser identificado com o trovador João Soa-
res Somesso. O poeta aparece, destarte, documentado entre 1223 e 1257,
cronologia que se adequa ao posto que ocupa na tradição manuscrita en-
tre Vasco Praga de Sandim117 (1258) e Nuno Eanes Cêrceo (c. 1200-c.
1260)118.

signo por testemuyo que est atal”. Note-se a presença, entre as testemunhas, de um Vasco
Peres de Baleixe.
115
Notemos que, segundo consta no testamento do pai, Fernando Eanes já tinha recebido
em vida diversas propriedades dos progenitores.
116
Também, pelo menos, uma parte das possessões em Tortoreos serão doadas à Sé de Tui,
fato que explica a presença do diploma em foco nos fundos dessa instituição.
117
Vasco Martins, cunhado de Vasco Praga, casou com Elvira Vasques de Soverosa (após
a morte de Paio Soares de Valadares, o seu primeiro marido). Oliveira (1994: 439) supõe
que D. Vasco veio para Portugal no séquito de Gil Vasques de Soverosa. Monteagudo
(2008: 388-389) notou a existência de algumas afinidades linguísticas entre Vasco Praga,
Osório Eanes, Fernando Rodrigues de Calheiros e João Soares Somesso. Veja-se a síntese
oferecida por Ron Fernández (2005: 129-130).
O anterior, junto com os filhos, também participou na reconquista andaluza (Souto
118

Cabo 1994).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 157

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 157 25/09/2012 15:21:42


Filius comitisse
João Soares de Chapela declarou, em duas escrituras, ter sido filho
de uma condessa, mas sem especificar o nome dela (cf. supra). O fato de a
mãe ter ostentado esse título não supõe que também o devamos atribuir ao
pai. As mulheres ganhavam essa dignidade pelo casamento com um conde,
mantendo-a inclusivamente após a morte do marido. Neste caso, o enlace
conjugal pôde ser anterior ou posterior ao estabelecido com Soeiro Airas
de Fornelos, indivíduo que supomos pai dos dois “João Soares”119. Levando
em consideração a área geográfica e o período temporal em que se insere a
biografia dessa condessa, poderíamos identificá-la com Sancha Fernandes
(1198-1234) (Souto Cabo 2011b), filha de Fernando Airas Batissela e de
Teresa Bermudes de Trava. O título nobiliário proveio do seu matrimônio
com o conde Froila Ramírez (1150-1202), com quem esteve casada entre
c. 1195 e 1202120. Porém, no testamento de D.ª Sancha não deparamos
com qualquer indicação ou indício sobre um filho de nome João Soares,
mas apenas sobre os três conhecidos: Diogo, Ramiro e Rodrigo Froilaz
(CCarracedo, nº 369 [369]). Cumpre, contudo, notar que entre os mos-
teiros favorecidos pela condessa, além dos leoneses e os galegos (Melom,
Osseira, S. Clódio, etc.), também se encontra o de Fiães, o que evidencia
a proximidade do seu grupo familiar relativamente a essa instituição e à
área geográfica em foco (cf. supra).
Um documento de 1243 pode ser a chave para confirmar as liga-
ções familiares aqui estabelecidas, bem como para desvendar a identidade
dessa senhora. Martim Airas, freire da Ordem de Santiago, ratifica que a
sua avó, a condessa Urraca Fernandes, entregara a D. Soeiro – bispo de
Tui entre 1206 e 1215 – metade da igreja de Setados (conc. Neves)121. No

119
É possível que D. Soeiro tenha falecido pouco depois do último testemunho documen-
tal em 13 de janeiro de 1211. Pelo contrário, a mulher poderá ter atingido a década de 40.
A referência à mãe por parte de João Soares de Chapela em 1242 (e 1247) pode ser inter-
pretada como sinal de óbito não muito afastado temporalmente.
120
A primeira foi Urraca Gonçalves, filha de Gonçalo Fernandes de Trava, falecida em
1190. A notícia mais recuada sobre o casamento de D. Froila com D.ª Sancha remonta a
1198 (Barton 1998: 247).
Martim Airas, a mulher Maria Moniz e outros particulares venderam ao mosteiro de
121

Melom propriedades em Petám (conc. Canhiza) no ano de 1245 (Melón, nº 547). Nessa

158 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 158 25/09/2012 15:21:42


mesmo ato diplomático, D. Martim oferece à Sé de Tui o que, por herança,
lhe correspondia em Paço, Quinta e Setados e o que, por ventura, lhe pode-
ria vir a pertencer na igreja citada122. Com foi acima referido, João Soares
Somesso também tinha contado com um quinhão nos benefícios da igreja
de Setados e fora detentor de um casal em Paço (freg. Setados) [D.33]123.
Diante destes dados, é necessário concluir, por um lado, que a condessa
Urraca Fernandes foi mãe do trovador e de João Soares de Chapela e, por
outro, que os anteriores foram tios de Martim Airas124.
A análise da distribuição diatópica do patrimônio tem revela-
do, sobretudo neste capítulo, uma grande funcionalidade para desvendar
identidades e estabelecer conexões familiares que, doutro modo, teriam
passado despercebidas. É possível que também nos abra a porta para
descobrir a personalidade da condessa Urraca Fernandes, mãe de João
Soares Somesso. Uma das novidades relativas ao trovador e, sobretudo,
ao seu irmão homônimo tem a ver com a localização de propriedades em

mesma freguesia tivera propriedades Soeiro Dias (cf. supra).


122
“In Dei nomine, amen. Notum sit omnibus tam presentibus quam futuris quod ego Mar-
tinus Arie, frater Ordinis milicie Sancti Jacobi, recognosco auiam meam, comitissam dom-
nam Orracam Fernandi, bone memorie, medietatem ecclesie de Saetados in terra Sancti
Martini de Latronibus, pie recordacionis, domno Suerio, quondam tudense episcopo et
eiusdem ecclesie contulisse ob remedium anime sue et parentum suorum cum omnibus
pertinenciis suis perpetuo possidendam. Quam donacionem ego, predictus Martinus Arie,
uobis domno Luce, tudense episcopo, et ecclesie uestre confirmo et concedo. Et si quis
michi iuris usque nunc competebat in predicta ecclesia de Saetados totum uobis et ecclesie
tudensi dono et concedo perpetuo pacifice possidendum. Dono <..>m uobis et ecclesie
uestre adque concedo siquid mihi iuris hereditarii conpetebat, in Palacio <..> Quintana uel
uilla de Saetados cum omnibus pertinenciis” (ACT, Pergaminhos, maço 12, nº 11). Paço e
Quinta são locais muito próximos na freguesia de Setados.
123
Como no caso das propriedades “laicas”, a participação de vários indivíduos nos lucros
eclesiásticos constitui um indício de grande pertinência para estabelecer relações familia-
res entre eles. É precisamente a partir desses dados que foi reconstruído o grupo familiar
de Airas Fernandes Carpancho (Souto – Vieira 2003).
124
Duas escrituras do mosteiro de Fiães corroboram esse vínculo familiar através da re-
lação que se estabelece entre um João Soares – que supomos o “de Chapela” – e Martim
Airas a respeito de uma herdade no casal de “Facuco” (Sela, conc. Arvo). Por elas sabemos
que João Soares entregara àquele cenóbio essa propriedade em 1216 (Fiães, nº 249) e que
Martim Airas, em 1246, se comprometia a cessar nas querelas que o opunham a Fiães por
causa de uma posse similar nesse mesmo casal (Fiães, nº 254). A origem do conflito estava
provavelmente nas dúvidas sobre os limites da herdade que recebera o mosteiro de João
Soares e aquilo que correspondia a Martim Airas nessa mesma aldeola.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 159

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 159 25/09/2012 15:21:42


duas margens opostas mas adjacentes da ria de Vigo. Trata-se da área mais
estreita da mesma que, por essa caraterística, permitia a passagem de um ao
outro lado por via marítima, mas com alguma facilidade. Com efeito, João
Soares de Chapela, além das posses em Manhó, era proprietário do Couto
de Domaio125 (conc. Moanha) e de um casal em Gagám (conc. Moanha). Na
aba sudoeste da elevação orográfica em que surgem esses dois topônimos,
descobrimos a terra de Savazeda (conc. Moanha). Esse local dava nome ao
couto régio que Fernando II concedeu a Fernando Airas Batissela em 1184:
“loco designato in Sauazeda <...> cum suis pertinenciis iure hereditario et
cauto regio” (AHN, Mosteiro de Armenteira, maço 1750, nº 14)126. Ora,
entre as filhas de D. Fernando e de Teresa Bermudes encontrava-se uma
Urraca Fernandes (1223), escassamente representada na documentação do
período. É, portanto, provável que tenha sido desposada por um conde de
nome desconhecido – talvez daquela região – e (anteriormente ou depois)
por Soeiro Airas de Fornelos. Lembremos que as linhagens dos Fornelos e
a dos Limas, a que pertence Fernando Airas, partilharam, em boa medida,
os mesmos interesses geopolíticos (cf. supra). Aliás, como foi exposto no
capítulo correspondente, Teresa Bermudes de Trava foi a grande protetora
do mosteiro de Melom, afeto – não isento de interesse econômico – em que
foi acompanhada pelos sucessores127.

125
“captum de Domaio, cum omnibus suis pertinenciis et directuris, tam in mare quam in
terra” [D.32/B].
126
O topônimo foi reproduzido erradamente como “Fabaceda” (Afonso IX, nº 217). A có-
pia de 1304 que transmitiu esse ato diplomático é afetada por uma grande mancha de
umidade que nos impede de conhecer outros dados sobre os limites dessa propriedade. O
erro fora já observado por García Álvarez (1966: 39) e López Sangil (2005: 67, n. 215). D.
Varela, avô de Fernando Pais de Tamalhancos, recebeu de Fernando II, em 1160, a herdade
de Cangas do Morrazo, concelho limítrofe com o de Moanha (Souto Cabo [no prelo/1]).
127
Outro dado patrimonial pode, de modo indireto, apoiar, por um lado, a identificação de
Urraca Fernandes com a filha de Fernando Airas Batissela e, por outro, a relação familiar
com João Soares (I) e com Martim Airas. O compromisso assumido entre D. Martim Airas
e o mosteiro de Fiães, em 1246 (cf. supra), além do casal de Facuco, envolvia outras pro-
priedades circunvizinhas, entre elas um casal que tinha pertencido a Maria Pais Ribeira:
“super casale quo fuit Marie Pelagii Ribiere”. Esta foi, como se sabe, mulher de João
Fernandes Batissela (1183-1226), portanto cunhada de Urraca Fernandes Batissela. Esses
bens fundiários foram, certamente, herdados do marido, o que vem relacionar diretamente
os Batissela com João Soares de Chapela e Martim Airas.

160 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 160 25/09/2012 15:21:42


A identificação da mãe do Somesso com Urraca Fernandes Batisse-
la vem, por outro lado, explicar o motivo pelo qual a progenitora é nomeada
como “infante” nos Livros de Linhagens, qualificação com que normalmente
se aludia aos filhos do rei. Lembremos que Urraca Fernandes, apesar de não
ter sido infanta em sentido estrito, foi descendente de uma infante, enquanto
neta de Urraca Henriques, filha do primeiro monarca português.
Como vimos, Martim Airas, titular da escritura de 1243, declara,
logo no início desse texto, o seu caráter de mílite santiaguista. Também
neste caso observamos continuidade com o que conhecemos sobre os Limas-
-Batisselas e os seus antecedentes familiares, entre os quais se encontra
Fernando Oares, um dos fundadores da Ordem de Santiago (cf. supra).
Fernando Airas e a mulher também foram benfeitores dessa instituição, que
recebeu deles o que lhes pertencia no mosteiro de Savardes em 1188 (cf.
supra). Nesse contexto, é muito provável que o João Somesso registrado
no mosteiro santiaguista de Vilar de Donas em 1230 seja, na verdade, João
Soares Somesso128.

4.2. Ogan’ en Muimenta


De acordo com a tese aqui perfilhada, João Soares Somesso foi
sobrinho-segundo de Osório Eanes e primo por afinidade de Fernando Pais
de Tamalhancos129, trovadores com os quais, sobretudo com o primeiro,
mantém muito notáveis correspondências expressivas e/ou retóricas (cf.
supra). Essas relações de parentesco servem também para explicar o motivo
pelo qual João Soares Somesso pôs em boca de Martim Gil de Soverosa
uma sátira contra Abril Peres de Lumiares, inimigo dos Soverosas (cf. infra):

Ogan’, en Muimenta,
disse don Martin Gil:
– Viv’ en mui gran tormenta

128
Entre os confirmantes do segundo testamento de João Soares de Chapela aparece um
“Domnus Gundisalus” [D.32/B] que poderia ser Gonçalo Rodrigues Girão, comendador
da Ordem de Santiago na Galiza e Leão com Paio Peres Corrêa e, posteriormente, mestre
da mesma (Rades y Andrada 1572: 34v).
129
Fernando Pais de Tamalhancos também aparece ligado, por origens familiares, à linha-
gem dos Travas como descendente de Elvira Peres de Trava.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 161

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 161 25/09/2012 15:21:42


Dona Orrac’ Abril,
per como a quer casar seu pai;
e, a quen lho enmenta,
cedo moira [no Sil]
e ar ela, se se con Chora vai
(B 104, vv. 1-8)130.

Martim Gil de Soverosa terá sido, segundo a proposta conside-


rada, primo de João Soares Somesso (cf. supra), o que justifica o apoio
(literário) do parente. Como foi acima notado, contamos com diversas
evidências documentais que ligam os Fornelos patrimonial e politicamente
às antigas terras de Nóvoa: Maria Airas de Fornelos contava com proprieda-
des na freguesia de Levosende (conc. Leiro) e em Corneira (Lamas, conc.
Leiro). Segundo se reflete no testamento do João Soares de Fornelos, que
identificamos com o trovador, ele também tinha possessões em Levosen-
de equivalentes a dois casais: “quantam hereditatem habeo in Leuosende
pro duobus casalibus”. Levosende e Corneira situam-se numa subárea de
Nóvoa, conhecida como terra de S. João de Pena Corneira, da qual foram
tenentes Martim Sanches e Fernando Guterres de Castro, sogro de Martim
Gil (cf. supra). Precisamente nessa mesma zona encontramos a freguesia
de Muimenta (conc. Carvalheda de Ávia), espaço que não duvidamos em
identificar com o local onde João Soares Somesso situa a alocução literária
de Martim Gil de Soverosa131. Trata-se de um indício muito sólido para
pensar que a vila de Ribadávia e os seus arredores constituíram um foco
de atividade literária trovadoresca, com tradição que podemos remontar a
Osório Eanes, também tenente da Pena Corneira em 1189.

130
A cantiga faz escárnio dos problemas que tinha Abril Peres para desposar a filha com
João Martins “Chora” (com quem acabou por casar). Martim Gil terá causado a morte de
Abril Peres na lide de Gaia em 1245.
131
Michaëlis (1904: 303) identificou-o, sem razões de peso, com Moimenta da Beira: “O
logar de Mõimenta, onde se passaram os acontecimentos que deram assumpto á chufa do
trovador, é muito provavelmente o da Beira (perto de Lamego), visto essa localidade ter
feito parte dos vastos territorios, governados militarmente por D. Abril Peres de 1228 a
1231. Bem podia ser que a poesia fosse composta naquelle período”. Notemos que a forma
do topónimo em B (nº 104), o único testemunho que transmitiu o texto, é “muymenta”.

162 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 162 25/09/2012 15:21:42


A menos de 1,5 km de Muimenta descobrimos Fornelos (Avelen-
da das Penas, conc. Carvalheda de Ávia)132 topônimo que poderá ter dado
origem ao sobrenome geográfico com que foi conhecida a linhagem de
João Soares Somesso. No entanto, essa denominação reaparece também
no coração da terra de S. Martinho, aplicado a uma torre que se ergue na
margem esquerda do rio Ribadil (Ribeira, conc. Crecente)133. Não sabemos
se a presença dessa designação nos dois espaços a que os Fornelos estiveram
mais diretamente associados é fruto do acaso ou se, no caso da fortaleza134,
foi resultado artificial da presença dessa estirpe135.

132
Encontramos uma referência a esse local numa escritura de 1218: “ipso casari de For-
nelis quod jacet in villa de Avelaneda concurrente ad ecclesiam Sancti Andree” (Melón,
nº 135). Tal propriedade pertencia, na altura, a Fernando Afonso que a vendia à irmã Al-
dara.
133
Vázquez Martínez (1948a) e Garrido Rodriguez (1987: 119).
134
Notemos que o lugar onde se encontram aqueles restos da antiga praça-forte, hoje recu-
perados, leva o nome de “Torre” e não o de “Fornelos”. Essa também é a denominação de
uma freguesia no concelho de Salvaterra de Minho.
135
Quando este trabalho já fora concluído, Henrique Monteagudo ([prep.]) teve a ama-
bilidade de nos enviar dois artigos, em fase de preparação, sobre o poeta em questão. O
professor compostelano aceita a teoria tradicional, sobre o pai de João Soares Somesso, e
considera o poeta filho de Fruílhe Fernandes de Celanova (c. 1125-1187), o que em termos
biográficos e biológicos parece difícil de justificar. Ele identifica João Soares de Chapela
com João Soares Somesso. O trabalho oferece uma análise minuciosa da documentação,
mas fica muito sujeito à letra dos Livros de Linhagens.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 163

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 163 25/09/2012 15:21:42


CAPÍTULO V

EN CASTELL’ E VAS PORTEGAU

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 165 25/09/2012 15:21:42


Nave da igreja do Mosteiro de Alcobaça

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 166 25/09/2012 15:21:42


Um verso de Marcabru dá título a uma secção em que, apenas por
motivos de ordem prática, foram reunidos três trovadores, um castelhano e
dois portugueses, cuja única característica em comum reside no fato de não
serem originários da Galiza: Rodrigo Dias dos Cameros, Garcia Mendes
de Eixo e Pedro Rodrigues da Palmeira1. No entanto, essa mudança de
cenário geopolítico é um aspeto, na verdade, secundário, uma vez que nos
encontramos com indivíduos vinculados à linhagem galega dos Travas. A
sua presença na tradição manuscrita serve, indiretamente, para provar que
até 1230 o trovadorismo era um fenômeno essencialmente galego e que a sua
difusão tinha como via privilegiada a estrutura sociofamiliar daquela estirpe.

1. Ego don Rodrigo Diaz de los Camberos


A obra poética de Rodrigo – ou Rui – Dias dos Cameros (1182-
1230), autor que ocupa o oitavo lugar no elenco geral, viu-se também
afetada, na totalidade, pela lacuna no segundo caderno de B. Sabemos pela
TC que contava com três cantigas de amor correspondentes aos números
31 a 33. Ele surge situado entre Pedro Rodrigues da Palmeira e Osório
Eanes, trovadores com os quais se encontra diretamente aparentado (cf.
infra). Rodrigo Dias incorpora na sua denominação a forma “Cameiros”
(lat. Camberri), topônimo que designa o (antigo) senhorio dos Cameros,
localizado entre o sul da Rioja e o norte da província castelhana de Sória2.
Os Livros de Linhagens transmitiram alguns dados, nem todos
verídicos, sobre os ascendentes familiares imediatos de D. Rodrigo:
E a sobredita dona Guiomar Fernandez, filha do conde dom Fernando Perez de
Trava, foi casada com dom Dia Xamenez dos Cameiros, e fez en ela dom Rui
Diaz e dom Alvar Diaz, e forom mui boos fidalgos e mui graados. E dom Rui
Diaz foi casado com a condessa dona Orraca Diaz, filha de dom Diego, o Boo
[...] e fez em ela dom Simom Rodriguez [...]. (LC 13B2)

1
Lembremos, contudo, que Rodrigo Dias e García Mendes de Eixo foram primos.
2
Esse território passou a constituir um senhorio com um seu antepassado, Fortum Ochoa
(1040-1050), indivíduo pertencente a uma família aparentada, provavelmente, com a di-
nastia real de Navarra (García Turza 1995: 17-19, Canal 1995a). A história desse domínio
é objeto de estudo monográfico por Lafuente Urién et al. (1999).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 167

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 167 25/09/2012 15:21:42


O pai foi, efetivamente, Diogo Ximenes (1162-1188), importante perso-
nagem da corte de Afonso VIII de Castela, na qual ocupou as tenências
de Arnedo, Bureba, Cameros, Cuenca, Sória etc. Relativamente à mãe,
a informação dos Livros de Linhagens não é correta: a documentação
histórica confirma que se trata de Guiomar Rodrigues de Trava3. É assim
que consta na Genealogia dos fundadores do mosteiro de Ferreira de
Palhares [D.39]: “Et desta dona Maor Rodriguez nascio a condessa dona
Froille. Et de dona Froille nascio dona Giomar. E de dona Giomar nascio
don Rodrigo Diaz dos Cameros”4. Trata-se de uma filha de Rodrigo Peres
“o Veloso”5 (1111-1159) (← Pedro Froiaz de Trava & Maior Rodrigues)
e de Fruílhe Fernandes (← Fernando Nunes de Celanova)6. A integração
de Rodrigo Dias nas linhagens dos Travas-Celanovas, para além do seu
relacionamento com os Vélaz-Cabreras, faz dele um elemento chave na
rede de vínculos sociais e familiares que estrutura a primeira geração de
trovadores analisados neste trabalho.
Sabemos que Diogo Ximenes e a mulher7 (certamente também
o filho Rodrigo) se deslocaram a Leão entre 1179 e 1180, vindo D. Diogo
a ser nomeado tenente/vílico das Torres de Leão (1180-1181), portanto,

3
Oliveira (1994: 430) e Monteagudo nomeiam a mãe como Guiomar Fernandes. Mon-
teagudo (2008: 333-334) considera que a filiação desta a respeito de D.ª Fruílhe “é, cando
menos, dubidosa”. No entanto, o casamento de Rodrigo Peres com D.ª Fruílhe e a filiação
de D.ª Guiomar, relativamente a esta última, contam com registro documental (Salazar
Acha 1984: 77-78, Canal 1995a: 153, Barton 1997: 297). A fórmula antroponímica de Ro-
drigo Dias lembra, como costuma acontecer, o nome do avô (Rodrigo) e, no patronímico,
o do pai (Diogo) (cf. infra).
4
Maior Rodrigues foi filha de Rodrigo Moniz (← Múnio Rodrigues), um irmão de Elvira
Moniz, a trisavó de Múnio Fernandes de Rodeiro.
5
Sobre esta personagem, vejam-se Barton (1989, 1997: 297-298) e Pizarro (1997: 817).
6
Esta última, também relacionada com o Mosteiro de Melom, foi a (re)fundadora do
cenóbio de Ferreira de Pantom, em 1175 (FPantón, nº 7), instituição em que Guiomar
Rodrigues irá ingressar algum tempo após a morte do marido (c. 1187-1188) (Canal 1995a:
156). D.ª Guiomar confirmou as disposições da mãe (entrega à Ordem de Cister) em 1196
(FPantón, nº 10). Alguns autores confundem o Mosteiro de Ferreira de Pantom com o de
Ferreira de Palhares, mas devemos notar que o único feminino foi o de Pantom. Na origem
deste equívoco está o fato de D.ª Fruílhe ter sido também protetora de Ferreira de Palhares,
segundo se observa em duas escrituras de 1187.02.10 (FPallares, nº 19, 20).
7
O casamento entre eles está documentado desde 1173.04.11, altura em que o rei Afonso
VIII de Castela lhes cedeu a vila de Herce: “ego Ildefonsus [...] dono et concedo uobis

168 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 168 25/09/2012 15:21:42


responsável pelo governo e defesa militar da cidade (Canal 1995a: 154).
A coincidência temporal entre a presença de Diogo Ximenes nessa urbe
e o período em que Teresa Fernandes de Trava, prima de Guiomar, foi
rainha (pelo casamento com Fernando II) leva a atribuir o cargo ocupado
ao influxo de D.ª Teresa8. Por outro lado, Diogo Ximenes, provavelmente
nesse mesmo período, conseguiu uma série de castelos no Alto-Esla (per-
mutados com Afonso VIII por vilas no nordeste peninsular), numa região
complementar àquela ocupada pelos Cabreras-Vélaz.
A contiguidade geográfica não é o único elemento que aproxima
D. Rodrigo dos Vélaz-Cabreras. Lembremos que D.ª Guiomar estivera
casada em primeiras núpcias com um tio-segundo, D. Fernando Ponce “o
Maior”, filho do conde Ponce II Geraldo de Cabrera e da primeira mulher,
Sancha Nunes de Celanova. Desse casamento, anulado por motivos de
consanguinidade, nasceu D. Fernando Fernandes, que foi meio-irmão de
Rodrigo Dias dos Cameros e, ao mesmo tempo, primo de João Vélaz. A
conexão entre os ascendentes de Guiomar Rodrigues (mãe de Rui Dias)
e os de Sancha Ponce (mãe de João Vélaz) reflete-se em duas doações
relativas à mesma entidade fundiária. Uma delas é efetuada pelo conde
D. Rodrigo e Fruílhe Fernandes (Oseira, nº 31 [1155]) e a outra por D.ª
Sancha Ponce de Cabrera e os filhos [D.3], sendo beneficiários os mos-
teiros premostratenses de Retuerta e S. Leonardo de Alba de Tormes9,
respetivamente. A demarcação das propriedades em questão, idêntica
nos dois escritos, assegura que pertenciam de modo conjunto a ambos os
grupos familiares10.

Didaco Xemenez, et uxori uestre domina Giomar, et filiis et filiabus uestris et universe
succesioni uestre [...] uillam illam que uocatur Erce” (Rioja, nº 259).
8
Esta é a opinião de González (1960: 319), que considera erradamente Teresa e Guio-
mar como irmãs. Lembremos que a rainha Teresa Fernandes de Trava estivera casada com
Nuno Peres de Lara, o que explica, como nota esse estudioso, o parentesco dos Cameros
com os Laras.
9
Note-se o interesse pela reforma premostratense que, de modo habitual, se associa aos
Ansures-Armengóis (Alonso Álvarez 2007: 25-55).
10
Essas posses passaram, em 1162, a Osseira por uma permuta com o abade de S. Leo-
nardo (Oseira, nº 39). O domínio conjunto desse patrimônio parece remontar aos antece-
dentes familiares comuns de Fruílhe Fernandes e de Sancha Nunes (mãe de Sancha Pon-

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 169

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 169 25/09/2012 15:21:42


A primeira presença histórica conhecida de Rodrigo Dias, em
1182.02.14, ocorre num ato documental [D.17] pelo qual o abade de Santa
Maria de Montes de Oca vendia a Lamberto, abade de Monte Laturce,
uma herdade que pertencera a Diogo Ximenes: “Y todo esto hacemos por
la mediacion del mismo señor don Diego Ximenes y por concession suya
y de su muger doña Guiomar, de su hijo don Rodrigo Diaz, de sus herma-
nas, hijos y parientes de todo su linage”11. O núcleo arquivístico de Monte
Laturce contém múltiplos registros relativos ao trovador (Garcia Turza
1995: 243), que o apresentam como: “señor de Yanguas” (1197), “señor de
Jubera y Cameros” (1217), “señor en Cameros y Rio Leza” (1226), “señor
de Yanguas y Cameros” (1226). Também surge, com alguma, frequência
na documentação régia castelhana desde 1186 até 1230.06.30 (González
1960: 320). Quanto a cargos institucionais, sabemos que foi tenente de
Afonso VIII em Logronho (1202, 1214), Nájera (1203), Calahorra (1214)
e Sória (1214)12. Ele poderá ter exercido essa mesma função institucional
na própria Galiza, se o identificarmos com o Rodrigo Dias que, em 1201,
aparece como tenente de Sárria e Montenegro (Jular 1990: 84), distritos
tradicionalmente associados aos Travas e Vélaz. Aliás, a presença do próprio
D. Rodrigo na Galiza está provada, em 1199, quando D.ª Guiomar se com-
prometia a cumprir as mandas testamentárias da avó do poeta respeitantes
ao mosteiro de Meira [D.25].
Pelo casamento com Aldonça Dias, filha de Diogo Lopes de Haro
e de Toda Peres de Azagra, Rodrigo Dias estabeleceu ligações familiares
com os Azagras, com os Haros e reforçou as que já tinha com os Vélaz e
os Travas. Lembremos, em primeiro lugar, que o trovador Gonçalo Ruiz,

ce), enquanto membros da estirpe dos Celanovas. Também pode ser atribuído aos Travas,
família a que pertenceu Rodrigo Peres “o Veloso” e os filhos de D.ª Sancha, mulher de
Vela Guterres.
11
Lembremos que D. Rodrigo, como patrono do Mosteiro de Monte Laturce, deu esse
cenóbio à Ordem de Cister em 1203 (MLaturce, nº 57). Segundo se depreende do seu tes-
tamento, pediu para ser enterrado nele (D.36).
12
Regnante Adefonso rege [...] Dominante sub eo in Lucronio, Roderico Didaci” (Rioja,
nº 409 [1202]), “dominando en Logroño y en Calahorra y en Soria y en ambos Cameros”
(MLaturce, nº 61 [1214]).

170 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 170 25/09/2012 15:21:42


referido por Peire d’ Alvernha em Cantarai d’aqestz trobadors, foi iden-
tificado com Gonçalo Ruiz de Azagra (Asperti 2001)13, documentado na
corte de Navarra (alferes de Sancho VI [1157-1158]), na de Castela (1169)
e na de Galiza e Leão (alferes de Fernando II [1180-1182]). Ele era irmão
de Pedro Ruiz de Azagra14 (primeiro senhor de Albarracín e pai de Toda
Peres de Azagra) e tio por afinidade de Rodrigo Dias15. Como demonstrou
Stefano Asperti, em face à hipótese defendida por Menéndez Pidal (1991:
162), é muito provável que se trate de um poeta em provençal16.
Relativamente a Diogo Lopes de Haro (1168-1214) – sogro de
Rui Dias –, antes de mais, devemos lembrar que pertenceu por via materna
aos Travas-Vélaz. D. Diogo era filho do conde Lopo Dias (1124-1170) e da
galega Aldonça [Gonçalves] (1162-1217)17 (← Gonçalo Fernandes de Trava
& Elvira Rodrigues {Vélaz})18. Diogo Lopes de Haro, senhor de Biscaia

13
Bertran de Born também alude a ele em Quan vei pels vergiers desplegar.
14
A presença de Pedro Ruiz de Azagra no texto de Bertran de Born permitiu, precisamen-
te, apurar a identificação histórica de Pedro Ruiz (Asperti 2001: 52-53).
15
A família aparece como uma grande protetora da Ordem do Templo (Almagro Basch
1956). Dois dos seus membros, Fernando Rodrigues e Pedro Fernandes de Azagra, formaram
parte da Ordem de Santiago em finais do séc. XII (Rades 1572: 19v). Segundo outros autores,
tratar-se-ia de Gonçalo Ruiz de Bureba (← Rodrigo Gomes de Bureba & Elvira Ramires,
irmã do rei Garcia VI de Navarra) que esteve casado com Sancha Fernandes (← Fernando
Peres de Trava & Teresa Afonso de Portugal). Sobre o grupo familiar dos Azagras, veja-se
Canellas López (1985).
16
“Inoltre, sempre la modalità dell’ invio di Bertran fa ritenere che Gonzalo Ruiz de
Azagra non solo avesse una certa familiarità con la lírica cortese, ma che anzi la praticasse
(«aprenda»). Trova così una conferma l’ opinione dei più che hanno ritenuto che anche
i due iberici presenti nella satira di Peire d’ Alvernhe componessero in lingua d’ oc, o
quantomeno si sforzassero di farlo, finendo proprio per questo col venire dirisi; diviene,
di contro, ancora più gravoso l’ onere della prova per i sostenitori dell’ ipotesi che fa di
«Gossalbo Rois» il primo autore lirico a noi noto che componese in una lingua iberica. È
invece da sottolineare, in positivo, la conoscenza della lirica trobadorica e della sua lingua
in territori pirenaici, in specie della Navarra, collocati lungo il Cammino de Santiago e
naturalmente aperti verso i territori vicini del Béarn e della Guascogna” (Asperti 2001:
56). Lembremos, como se indica, que ele foi alferes de Fernando II numa altura em que o
galego-português já era língua da poesia trovadoresca.
17
O casamento deverá ter ocorrido c. 1150. Veja-se Canal (1995a), Barton (1997: 263),
Alonso Álvarez (2004: 26-32).
18
Estefânia Lopes, irmã de D. Diogo, esteve casada com Fernando Ponce de Cabrera “o
Menor” (cf. supra), tio do trovador João Vélaz.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 171

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 171 25/09/2012 15:21:42


e Nájera19, ficou conhecido como o nobre hispânico que teve um contato
mais direto e intenso com os trobadors, recebidos generosamente na sua
corte para cantar as glórias do senhor de Haro. Entre eles, encontramos
os nomes de Rigaut de Berbezilh, Peire Vidal, Ramón Vidal de Besalú ou
Aimeric de Peguilhan (Alvar 1977: 143-147, 163-164)20. Os elementos
analisados levam-nos a compartilhar, pelo menos em parte, a opinião de
Asperti (2001: 57) quando considera Diogo Lopes de Haro como: “figura
probabilmente non secondaria nel processo di radicamento della tradizione
lirica autoctona in galego”.
Conhecemos vários filhos de D. Rodrigo: Simão (herdeiro do
senhorio), Álvaro e Diogo Rodrigues. No testamento (D. 36), D. Rodrigo
parece aludir a uma filha que se criava no palácio dos infantes (galaico-)
leoneses: “filie quam habeo in domo infancium de Legione”. O dado conta
com um grande interesse por evidenciar que o senhor de Cameros, apesar
da condição de súdito do rei castelhano, mantinha laços diretos com a corte
de Afonso IX. No mesmo sentido devemos interpretar o fato de D. Simão
Rodrigues ter desposado Sancha Afonso, filha natural desse monarca e de
Teresa Gil de Soverosa (meia-irmã do trovador Vasco Gil, cf. infra).

Entre trobadors e trobadores


O próprio Rodrigo Dias aparece como um dos mecenas do
fenômeno trovadoresco, tendo sido citado por Elias Cairel (1204-1222),
num sirventês composto provavelmente na corte leonesa (Alvar 1977: 153,

19
D. Diogo foi alferes (1183-1187, 1188-1199, 1206-1209) de Afonso VIII de Castela
e tenente em Almazán, Bureba e Castela a Velha, Sória, Nájera, Rioja, Trasmiera etc. No
âmbito galaico-leonês, ocupou as tenências leonesas de Salamanca (1187), Leão (1204),
Toro (1204-1206), Estremadura (1205-1206) e a galega de Sárria (1204).
20
Miranda (2004: 43, n. 79) julga que o “En Diego” elogiado por Peire Vidal, na compo-
sição Car’ amiga dols’ e franca, deve ser identificado com Diogo Ximenes dos Cameros, o
pai de Rui Dias dos Cameros, e não com Diogo Lopes. A base para essa suposição estaria
numa alegada incompatibilidade cronológica entre o senhor de Haro e o trovador pro-
vençal apontada por Carlos Alvar. Porém, houve um lapso na interpretação, já que Alvar
(1977: 145, nº 29) – no excerto citado por Miranda – não se está referindo a Peire Vidal,
mas a Rigaut de Berbezilh: “Me resulta difícil admitir esta hipótesis, pues indicaría que
Rigaut y don Diego se conocieron antes de 1160 [...]”. De fato, as biografias de Peire Vidal
(1183-1204) e de Diogo Lopes de Haro são, em boa medida, paralelas.

172 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 172 25/09/2012 15:21:43


Riquer 1983: 1144-1145), e por Aimar lo Negre (1212-1219): “Cel q’ es
francs, cars e bos, / Roiz Dies vol qu’ eu chan” (Riquer 1983: 1145, n. 4;
Miranda 2004: 43). É possível que seja ele – ou um seu parente – o “Gui-
defre des Gamberes” mencionado por Raimon Vidal de Besalú (1212-1252)
e ainda o “Roiz Perez dels Gambiros” a que se alude na Vida de Guilhem
Magret (1196-1204).
Contudo, como já foi frisado, discordamos do posicionamento
que pretende situar a origem da lírica galego-portuguesa na esfera curial
de Rodrigo Dias, supondo uma associação de João Soares de Paiva a esse
último21. Segundo essa proposta, a motivação histórica para a composição
satírica deste último teria sido uma ação bélica do rei de Navarra contra
as terras riojanas vizinhas, que pôde lesar algum tipo de patrimônio do
Paiva na zona dominada por Rodrigo Dias. Essa conjetura não se coaduna
com os dados históricos, nomeadamente com aquilo que sabemos sobre o
relacionamento entre D. Rodrigo e o rei navarro. De fato, como foi acima
notado, conhecemos um ato documental pelo qual o senhor de Cameros e
a mulher vendiam a esse monarca diversas propriedades nas imediações
do rio Ebro, sugerindo um ambiente de colaboração entre ambos que vai
de encontro à atitude anti-navarra de Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra.
Uma das cláusulas do testamento de Rodrigo Dias [D.36] (fa-
lecido c. 1230) prevê a entrega ao mosteiro cisterciense de Alcobaça de
duzentos áureos no aniversário da sua morte. A conexão com essa abadia
poderá ser o resultado dos fortes vínculos do avô, Rodrigo Peres “o Veloso”,
com a monarquia lusitana (cf. infra)22. Por outro lado, não será de esquecer
que os Cameros, certamente por influxo de Guiomar (Alonso Álvarez 2007:
667), propiciaram a implantação de Cister com a entrega do cenóbio de S.
Prudêncio de Monte Laturce a essa ordem em 1181.

21
J. C. Miranda (2004: 38), um dos promotores dessa suposição, manifesta-se em termos
muito categóricos a esse respeito: “Com os dados actualmente disponíveis, não nos parece
existir qualquer alternativa minimamente credível à possibilidade de João Soares ter es-
crito o seu texto junto daquele poderoso magnate e trovador, sendo a relação entre estas
duas personagens o ponto de partida para a compreensão das circunstâncias que levaram
ao surgimento do primeiro núcleo trovadoresco em galego-português”.
22
Garcia Mendes de Eixo, descendente desse mesmo Rodrigo Peres, aparece também
vinculado ao Mosteiro de Alcobaça, onde jaz sepultado.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 173

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 173 25/09/2012 15:21:43


Em vários pontos deste trabalho temos notado a existência de
afinidades entre os meios sociais permeáveis ao lirismo galego-português
e várias ordens militares. Esta circunstância também se verifica no grupo
familiar de Rodrigo Dias, já que um dos seus irmãos, Fortum Dias, ingres-
sou como “treze” na Ordem de Santiago em 118423. No entanto, os vínculos
de Rodrigo Dias com as ordens militares poderiam ter sido ainda mais
estreitos se fosse possível confirmar que ele próprio foi comendador-mor
(1198-1206) e mestre da Ordem de Calatrava (1206-121224). Rades (1572:
23r) menciona um mestre denominado Rui Dias originário de Yanguas no
senhorio dos Cameros:
El sexto maestre de Calatrava y segundo de los de Salvatierra fue
don Ruy Diaz natural de la villa de Anguas que deve ser la que en
este tiempo se dize Yanguas, en el antiguo señorio de los Cameros...
Fue electo en la era de mill y dozientos y quarenta y quatro años,
año del Señor de mill y dozientos y seys, aviendo governado la
Orden antes desto, con titulo de lugarteniente de Maestre.

Rodrigo Dias dos Cameros era, como vimos, conhecido como senhor de
Yanguas, vila situada na vertente soriana dos Cameros, conforme se deduz
do seu testamento e doutros diplomas do período25. Essa identificação parece

23
“Don Fortun Diaz Treze. Este Cauallero paresce hauer tomado el habito desta Orden
año del señor de .1184. por vna escriptura en que don Diago Ximenez su padre señor de
los Cameros, y doña Guiomar su muger dieron a esta Orden ciertos heredamientos en
Torquemada, que se anexaron al hospital de Villamartin. Y dize que los dieron por amor de
Dios, y por honra de señor Santiago, donde esta freylado Fortun Diaz su hijo. Fueron estos
señores los que fundaron el monasterio de San Prudencio de la Orden del Cistel, cerca de
Logroño: y padres de don Ruy Diaz señor de los Cameros, y de don Aluar Diaz y don Lope
Diaz, todos bien nombrados en la Chronica del rey don Fernando el sancto”. (Rades 1572:
17v). No mesmo grupo de trezes encontramos um “Don Alonso de Camberos Comendador
de Vcles”.
24
De acordo com Rades (1572: 30v), ele abandonou a direção da Ordem na sequência do
ferimento que recebeu na batalha das Navas de Tolosa.
25
Na documentação de Monte Laturce encontramos diversos exemplos da associação de
Rodrigo Dias a Yanguas: “señor de Yanguas Ruy Diaz” (MLaturce, nº 55 [1197]), “señor
de Yanguas y en Cameros don Ruy Diaz” (MLaturce, nº 68 [1226]). O próprio Rades
(1572: 41r) alude a uma escritura que evidencia a pertença da área de Yanguas aos des-
cendentes de Rodrigo Dias e, ao mesmo tempo, sublinha a existência de ligações entre a
Ordem e essa linhagem: “Era de mill y dozientos y ochenta y quatro, don Simon Ruyz
vendio al maestre do Fernando Ordoñez para su Orden la villa de y castilo de Encisso,

174 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 174 25/09/2012 15:21:43


ser contrariada pela própria informação de Rades (1572: 29r), que alude
ao senhor dos Cameros, como personagem diferente do anterior, pela sua
participação na batalha das Navas de Tolosa: “A vn lado yua don Ruy Diaz
señor de los Cameros, con los concejos de Soria, Logroño, Nagera, y otros
pueblos”26. Lembremos que Gonçalo Eanes da Nóvoa, mestre da Ordem
de Calatrava entre 1218 e 1232, aparece relacionado com vários trovadores
galego-portugueses (cf. supra).

2. Garcias Menendi, felicis recordationis


Em contraste com o que carateriza o conjunto de poetas con-
templados neste trabalho, a integração de Garcia Mendes de Sousa
(1186-1239) na tradição manuscrita remonta a uma “compilação de reis e
magnates” (Oliveira 1994: 193-194)27. Conservamos apenas uma composi-
ção da sua autoria redigida numa modalidade linguística qualificada como
provençal ou “lemosino (catalanesco)” por Carolina Michaëlis (1904: 327).
As vicissitudes da transmissão manuscrita deturparam de tal maneira o texto
que custa decifrar aquilo que, na verdade, foi criado pelo senhor de Eixo:

Ala u jaz la Torona


e sos parens, que son tans,
e la terra es trop bona
e ja quites son los mans,
aora.m volh <lai> tornar
a Sousa, a lo mon logar
que m’ adouça e.m saudona.

La sang que me ten me <re>sona


que torne per un Natal
en la folha assi verdona
que nulh temps on lhi fai mal,

entre Yanguas y Prexamo, por ocho mill marauedis alfonsies. Dize la escritura que era hijo
de don Ruy Diaz señor de los Cameros y de doña Aldonça su muger, hija de Diego Lopez
de Haro, señor de Vizcaya”.
26
O mesmo acontece no referido à tomada da vila de Calatrava, onde se fala de “Don
Ruy Diaz, maestre de Calatrava, con los suyos” e de “Ruy Diaz señor de los Cameros, don
Alvar Diaz y don Lope Diaz sus hermanos” (Rades 1572: 26v-27v).
27
Sobre a biografia desta personagem, veja-se Ferreira (2009: 244-250).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 175

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 175 25/09/2012 15:21:43


toda.n se dev’apagar:
que nulh’ om non lhi a <a>chatar

Acho.nten <qu>e es tro<p> bona


que mal es so d’ asembrar
las faisons de la Torona
a qui no.n pot gazalhar28.

Documentado na corte de Sancho I, sabemos que morreu em


1239.02.27 e foi enterrado no mosteiro de Alcobaça. No seu túmulo, uma
legenda reza: “Era MCCLXXVII, tertio kalendas martii, obiit domnus
Garcias Menendi felicis recordationis. Comitis domni Menendi filius
et pater comitis domni Gundisalui. Anima eius requiescit in pace”29. A
sua biografia é, em termos gerais, conhecida, mas existem alguns aspetos
escassamente lembrados que podem explicar a participação de D. Garcia
no trovadorismo, para além dos circunstancialismos em que essa atividade
poética se tenha desenvolvido. O dado de maior pertinência tem a ver com
os seus ascendentes maternos, que apontam, mais uma vez, para a família
dos Travas. Com efeito, há unanimidade nos Livros de Linhagens na con-
sideração da mãe do trovador, Maria Rodrigues Veloso (mulher do conde
Mendo Gonçalves I), como filha de D. Rodrigo “o Veloso”:

Este el conde dom Mendo foi casado com Dona Maria Rodrigues,
filha do conde dom Rodrigo, o Veloso, e fez em ela dom Gonçalo
Mendes e dom Garcia Mendes (LV 5A1)

Este conde dom Meendo, o Sousão, foi casado com dona Maria
Rodriguiz, filha do conde dom Rodrigo o Velhoso, e de dona
Meniha Froiaz, e fez em ela dom Gonçalo Meendez e dom Garcia
Meendez [...] (LC 22D10)

Noutro passo do próprio Livro Velho chega-se a precisar a integração fa-


miliar desse D. Rodrigo na linhagem dos Travas:

28
Reproduzimos seguindo, em parte, Tavani (2002: 57-58). Também incorporamos algu-
mas sugestões de Lopes (1998), Arias Freixedo (2004) e Miranda (2004: 168). Contudo,
concordamos com Michaëlis (1904: 327) em que “tão viciada está que a tentativa de a
restaurar completamente, talvez seja desesperada”.
29
Veja-se Michaëlis (1904: 327), Oliveira (1994: 348-349), Miranda (2004: 165-167).

176 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 176 25/09/2012 15:21:43


E saibamos do sobredito el conde dom Mendo, que foi casado com a condessa
dona Maria Rodrigues, que foi filha del conde dom Rodrigo, o Veloso, que
foi de Trava, e da condessa dona Alambre, que foi irmã d’ el rei de França, e
fez i coatro filhos e uma filha: o primeiro houve nome dom Gonçalo Mendes,
o outro dom Garcia Mendes... (LV 1U8).

Trata-se do, já citado, conde D. Rodrigo Peres “o Veloso”, filho de Pedro


Froiaz de Trava e (meio-)irmão do conde Fernando Peres de Trava. Ape-
sar de não contarmos com outros dados documentais para confirmar tal
informação, é perfeitamente viável supor, em termos cronológicos, que D.
Rodrigo, antes do matrimônio com Fruílhe Fernandes, já tivesse desposado
uma senhora de identidade, como vemos, duvidosa30. O fato de um dos
irmãos de Garcia Mendes ter recebido o nome de “Rodrigo” serve para
apoiar a informação dos Livros de Linhagens31. Aliás, a trajetória política
de D. Rodrigo, caraterizada em boa medida pelo suporte prestado à causa
lusitana coligado ao conde Gomes Nunes de Celanova (senhor de Tui e
Toronho), proporciona um quadro geopolítico no qual se pode inscrever o
seu relacionamento com a nobreza portuguesa32.
Por outro lado, devemos tomar em linha de conta que Garcia
Mendes de Eixo casou com Elvira Gonçalves, prole de Gonçalo Pais de
Toronho (← Paio Curvo): “E este dom Garcia Mendes de Eixo foi casado
com dona Elvira Gonçalves, filha de dom Gonçalo Paes de Toronho, e fez
em ela dom Mem Garcia e o conde Gonçalo Garcia e dom João Garcia, o
Pinto, e dom Fernam Garcia Esgaravunha ...” (LD 5A2). O dado genealó-

30
A primeira notícia sobre o casamento de D. Rodrigo e D.ª Fruílhe remonta a 1155.12.15
(Oseira, nº 32), só três anos antes do seu desaparecimento na documentação.
31
Se um dos irmãos de Garcia Mendes de Eixo recebia o nome em lembrança do avô, o
mesmo terá acontecido com Rodrigo Dias dos Cameros, neto desse mesmo Rodrigo Peres
de Trava e da segunda mulher, Fruílhe Fernandes de Celanova (através da mãe, D.ª Guio-
mar Rodrigues de Trava) (cf. supra).
32
“The Galician [Rodrigo Peres de Trava] maintained close links with the Portuguese
court, to which he was a regular visitor from 1128. On 28 September 1132 he was granted
the villa of Burral by King Alfonso Enríquez in recognition of his loyal service; he held the
lordship of Porto between at least 1132 and 1135; and later served as dapifer, or mayordo-
mo, to the royal household between at least Nov. 1140 and Feb. 1141. When the Portuguese
invaded Galicia en 1137, Count Rodrigo and Count Gómez Nuñez both lent their support,
but once peace had been agreed with Alfonso VII in 1141 both paid a severe political price
as a result” (Barton 1997: 297).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 177

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 177 25/09/2012 15:21:43


gico tem um notável interesse porque liga Garcia Mendes de Eixo e os
seus descendentes à linhagem de Paio Curvo, à qual também pertenceu o
trovador Fernando Pais de Tamalhancos, neto de D. Varela Fernandes,
um irmão desse mesmo Paio Curvo33. Lembremos, aliás, que a primeira
mulher deste último foi Toda Moniz, sobrinha do arcebispo Gelmires e
avó dos filhos de Garcia Mendes, Gonçalo Garcia e Fernando Garcia de
Esgaravunha34. Mendo Garcia de Sousa, irmão dos anteriores, desposou
Teresa Eanes Batissela (← João Fernandes Batissela & Maria Pais Ribeira),
sobrinha-segunda do trovador Osório Eanes.
Sabemos que Sancha Ponce de Cabrera, a mãe de João Vélaz,
casou de novo, entre 1161 e 1164, após a morte do marido, Vela Guterres,
mas não temos notícias que identifiquem de modo explícito esse segundo
marido (cf. supra). Ora bem, a adoção do título de condessa por D.ª Sancha,
a partir de 1164, junto com a denominação do filho deste último casamento,
Soeiro Mendes, permitem concluir que se tratava de um conde “Mendo”.
Consoante a opinião de Fernández-Xesta (1991: 68) e de Salazar Acha, a
única figura histórica que satisfazia essas duas condições era o conde D.
Mendo Gonçalves de Sousa, pai de Garcia Mendes de Eixo, que teria ca-
sado em primeiras núpcias com a viúva de Vela Guterres. Destarte, o senhor
de Eixo estaria relacionado com João Vélaz através de Soeiro Mendes,
meio-irmão de ambos35. Porém, Ferreira (2009: 159-160), embora deixe

33
Garcia Mendes de Eixo estabelecia, assim, um nexo com a linhagem de Gomes Nunes
de Celanova, aliado do seu avô. Uma bisavó de Elvira Gonçalves, Urraca Gomes (mãe de
Paio Curvo), foi filha de D. Gomes (& Elvira Peres de Trava). Notemos que no texto se
alude, provavelmente, à Torronha (Burgueira, conc. Oia), local situado no antigo distrito
de Toronho. Também se conhecem os topônimos Toronha (conc. Salzeda de Caselas) e
Tronha (Ponte Areas) (González Montañés 2011: 75-77).
34
Airas Fernandes Carpancho também pertenceu à linhagem de Diogo Gelmires (Souto
Cabo – Vieira 2003).
35
Fernandez-Xesta (1991: 71) considera que Soeiro Mendes foi “Tenente en Villalpando,
Alférez del Rey Fernando II de León”. Ora, motivos de ordem cronológica levam-nos a
duvidar dessa identificação. Segundo esse autor também seria a personagem homônima
que em 1219 (Oseira, nº 190), ao lado dos irmãos (Rodrigo, Pedro, Urraca e Sancha Men-
des), oferece a um seu parente, Mendo Salvadores, uma herdade na vila de S. Cristóvão de
Eigom (Ribadávia). Um Soeiro Mendes obteve em foro uma casa em Trabadelo por parte
da Sé de Santiago no ano 1200 e no ano seguinte vendia ao arcebispo de Santiago duas
casas nessa mesma vila do Bierzo (Tombo C, fóls. 108r e 90v [Villafranca]).

178 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 178 25/09/2012 15:21:43


um “espaço para dúvidas”, presume que essa identificação “esteja errada”,
já que D. Mendo só adotou a dignidade de conde a partir de 1188.
Seja como for, é possível que na sua estadia fora das terras lusi-
tanas (1211-1217), na sequência das dissensões políticas dos Sousas com
Afonso II, Garcia Mendes tenha entrado em contato com o círculo cortesão
dos Cabreras-Vélaz. Esse ambiente, permeado de cultura trovadoresca, terá
sido afinal responsável, de um ou outro modo, pela matriz idiomática da
cantiga que dele conservamos.

Roy de Spanha
Esse texto é acompanhado de uma rubrica explicativa cujo conte-
údo tem recebido interpretações díspares ao longo do tempo. C. Michaëlis
(1904: 327) apontava que:
A rubrica .. parece dizer Esta cantiga foi feita a Roy de Spanha em Monfalcó
(?) seu condado dá margem a várias considerações. O hypothetico Monfalcó
será Monfalcó de Agramunt, que não fica muito longe de Pauia? Este Roy será
o trovador provençal Rodrigo? Relacionou-se D. Garcia antes de 1218 com o
velho trovador João Soares de Paiva? Conheceu o Senhor dos Cameiros? o de
Haro? e os provençaes e catalães da corte de En Peire II e do moço D. Jaime?
São problemas que não sei resolver.

As propostas posteriores discriminaram a rubrica explicativa propriamente


dita: “Esta cantiga foi feita a Roy de Spanha”, do assunto da segunda linha
que estaria constituído por duas apostilas de Colocci (a nostri fa’l contrasto
/ con condado) (Fernández Campo 2008: 446). Oliveira (2001: 68) tentou
identificar aquele Rui de Espanha com Rodrigo Dias dos Cameros ou com
Rodrigo Gomes de Trava:

Como a composição, feita fora de Portugal, é anterior a 1217 – data em que se


conclui uma ausência do magnate de Sousa do território português que durou
cerca de seis anos –, somente divisamos dois possíveis destinatários para esta
dedicatória: D. Rodrigo Dias dos Cameiros ou D. Rodrigo Gomes de Trastâmara.
Este acabava de suceder ao pai, o conde D. Gomes Gonçalves, na direcção do
ramo familiar, e preparava-se para transformar a sua corte num importante centro
de difusão da cultura trovadoresca galego-portuguesa; aquele era já elogiado
por trovadores provençais como fazendo parte do mesmo meio. Neste contexto,
como a dedicatória a D. Rodrigo Dias seria talvez mais aceitável, teremos de

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 179

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 179 25/09/2012 15:21:43


admitir igualmente que D. Garcia Mendes, após a sua saída de Portugal, se terá
relacionado com o magnate de Cameros, embora não possamos precisar o local
ou locais onde esses contactos se verificaram.

Porém, não conseguimos descortinar motivos que justifiquem a denominação


“de Spanha” aplicada a qualquer um deles. A identificação de Espanha, de
modo excludente face a Portugal, com os reinos que representam o antece-
dente histórico do atual Estado Espanhol é um fenômeno posterior à Idade
Média; não faria sentido em boca de um português, ele também “espanhol”36.
Em nossa opinião, é possível que estejamos perante um apelido
linhagístico, visto a forma em foco ter sido utilizada com esta função. Assim,
em 1196, num diploma emitido pelo rei Afonso II de Aragão em Monzón
(Huesca), encontramos um Pedro de Espanha (“Petro de Yspania”), ao qual
esse monarca cede vários castelos no Vall d’ Arán (Lleida)37. É possível
que essa estirpe tenha algum tipo de relacionamento com a “ilustre familia
compostelana de los Españas, los cuales dieron su nombre á una de las
capillas de la Catedral [de Santiago] conocida también con el de Nuestra
Señora la Blanca” (López Ferreiro 1905: 78). Esta linhagem, bem conhecida
durante os sécs. XIV e XV, já em finais do séc. XIII tinha atingido uma
notável projeção social, pois é nessa altura que João de Espanha funda a
capela citada por López Ferreiro38. Aliás, um indivíduo com esse apelido
(Pero d’ Espana) confirma em 1265 uma escritura lavrada em Ribadávia
(DGP, nº 190), o que sugere algum tipo de ligação com a área ourensana
vinculada, como vimos, às origens da nossa lírica. A família em foco será
incluída por Molina (1550: 55r) no nobiliário da Descripcion del reyno

36
Lembremos que Camões (ainda) alude aos portugueses como “gente fortíssima de Es-
panha”. Segundo notou Alvar (1977: 296) numa análise sobre o significado de Espanha
entre os trovadores provençais: “Más frecuentes son los textos en los que Espanha repre-
senta la suma de los reinos cristianos de la Península”.
37
“Ego Ildefonsus [...] rex Aragonum, comes Barchinone et marchio Provincie, concedo
atque concedo vobis Petro de Yspania et boni homini tribus castrum de Senters et castrum
de Bolsost [...] de Ponte Daros dorsum usque ad Daniliamum” (Alfonso II, nº 607). “Bol-
sost” e “Ponte Daros” correspondem atualmente a Bossost e Pont d’ Arrós. Lembremos
que o Val d’Arán pertence do ponto de vista idiomático à área occitânica. Existiu um
trovador provençal conhecido como Guiraut d’ Espanha, natural de Toulouse.
38
João de Espanha (“Iohannes de Yspania”) confirma uma escritura compostelana de
1321 (Tombo C, fól. 173r).

180 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 180 25/09/2012 15:21:43


de Galizia39: “Esta casa de los Españas es natural y son de la ciudad de
Santiago de que ay buenos hidalgos y de antiguedad la qual parece es una
principal capilla que tienen en la iglesia mayor de aquella ciudad junto a la
del rey de Francia”40. Os dados anteriores vão ao encontro de uma sugestão
de Miranda (2004: 171) que, atendendo à possível conexão literária com
Aigua pueia contramon de Guilhem Magret, coloca a origem do texto no
reino galaico-leonês:
Se Garcia Mendes conheceu e se baseou no poema de Magret para celebrar
o “canto do exílio”, como pensamos que sucedeu, então confirmar-se-á
também que o local onde o Sousão se encontrava quando o redigiu era cer-
tamente o reino de Leão, em meios afectos à corte régia, e tê-lo-ia feito em
1217, pouco tempo antes de retornar a Portugal após uma ausência de cerca
de cinco anos.

Levaron-na Codorniz
O múltiplo relacionamento familiar de D. Garcia com os Travas
poderá ser ainda corroborado por aquilo que conhecemos sobre o seu filho,
também trovador, o conde Gonçalo Garcia (1229-1284). Como se sabe,
o episódio argumental da única cantiga (satírica) deste autor, Levaron-na
Codorniz, situa-se precisamente no paço de Rodrigo Gomes de Trava41, o

39
No “Nobiliário” da História de D. Servando (c. 1635) aparece também relacionada com
Compostela: “Ten seu soar en Solovio e outro en Bonaval. E son venfeytores da eyreja do
Apostol donde ten sua capela. Tran por divisa un ramo verde d’ ubas, e unas espigas de
pan de trigo en escudo branco, e unha agia coronada en canpo d’ ouro, e un castelo e unha
estrela” (Souto Cabo 2007: 79).
40
O poeta Abril Peres foi identificado por Oliveira (1994: 304) com um jogral (“D. Abril
jogral”) que testemunha um documento redigido em Lisboa em 1221. Por essa carta, D.ª
Guiomar Mendes de Sousa confirmava uma venda feita pelo irmão, D. Gonçalo Mendes,
o que induz a situar o jogral na corte senhorial dos Sousas. Ora, a única composição que
conservamos de Abril Peres é, como se sabe, uma tenção com Bernal de Bonaval, circuns-
tância que poderia dar sentido ao hipotético relacionamento dos Sousas com a linhagem
dos Espanhas (sediada na capital galega). Contudo, achamos muito improvável a identifi-
cação daquele jogral com Abril Peres.
41
“E o sobredito dom Rui Fernandez Codorniz, irmão de dom João Fernandes Batissela,
foi casado com uma dona, e fege nela dona Maria Rodrigues Codorniz. E esta dona Maria
Codorniz rouçou-a João Bezerra de casa de dom Rodrigo Gomes” (LD 20G3).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 181

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 181 25/09/2012 15:21:43


que sugere a integração do poeta nesse mesmo ambiente42. Aliás, Maria
Rodrigues, filha de Rodrigo Fernandes “Codorniz” raptada por João Be-
zerra –segundo se refere nesse texto –, pertencia à estirpe dos Limas, sendo
descendente dos Travas (cf. infra). Sabemos que João (Nunes) Bezerra,
provável raptor, tinha propriedades em Ribadávia, isto é, no mesmo espaço
a que esteve ligada a família da sequestrada43.
Se a atividade poética de Garcia Mendes de Sousa parece de-
correr da sua relação familiar com os Travas e/ou com os Cabreras-Vélaz,
é possível que, pelo seu lado, ele – ou o conjunto dos Sousas – tenha sido
o vínculo que ajude a explicar a presença entre os nossos poetas medievais
de, pelo menos, dois dos mais antigos trovadores de origem lusitana: Gil
Sanches (← Sancho I de Portugal & Maria Pais Ribeira) (1207-1236) e Rui
Gomes de Briteiros (c. 1220-1248). O primeiro casou com Maria Garcia
de Sousa, filha de D. Garcia, segundo se refere nos Livros de Linhagens:
“E dona Maria Garcia foi casada com dom Gil Sanches, filho d’ el rei dom
Sancho, de gaança, e de dona Maria Paes Ribeira” (LD 5G3)44. Quanto a

42
Oliveira (2001: 101, n. 5) propõe conciliar o conteúdo dos Livros de Linhagens (cf.
supra) com a informação da rubrica atributiva a essa mesma cantiga (“Esta cantiga de cima
fez o conde Don Gonçalo Garcia en cas Don Rodrigo Sanchez, por ũa donzela que levaron
a furto, que avia nome Codorniz, e o porteiro avia nome Fiiz”, Lagares 2000: 115), onde se
nota que esse texto foi composto em casa de D. Rodrigo Sanches, filho de Sancho I, morto
em 1245. Esta última leitura fora considerada, pelo próprio Oliveira (1994: 355), erro por
“Rodrigo Gomes”; mas é evidente que poderia tratar-se de dois planos diferentes: o local
do acontecimento histórico e o da elaboração do poema. No entanto, se admitirmos que o
rapto se obrou em casa de D. Rodrigo Gomes, o lógico é que o texto tenha sido produzido
para o público do âmbito social em que se registrou aquele acontecimento.
43
A informação procede de dois documentos de 1202 e 1209 lavrados na vila de Ribadávia
(Tombo C, fóls. 194r-v e 71v). O mais antigo registra a venda de uma vinha por parte desse
mesmo João Nunes Bezerra: “Ego Iohannes Nunonis dictus Bezerra et uxor mea Aragunti
Pelagii […] uobis domno Petro Artario ecclesie beati Iacobi canonico […] facimus textus
scripture firmitatis de ipsa mea propria uinea quam habemus in ripa Minii, que iacet loco
certo circam ipsam focem ubi intrat fluuius Auie”. No segundo, alude-se a uma vinha que
pertencia a essa Aragunte Pais: “ipsa uinea quam habeo in ripa Auia in loco nominato Gan-
derela […] super carreiram, inter uineam Garsie Gundisalui et uineam Aragunti Pelagii,
mulieris Iohannis Bezerra”. Segundo consta nesta última, o tenente de Ribadávia era o tro-
vador Osório Eanes: “tenente Burgum Suerio Arie et Osorio Iohannis” (cf. supra). Oliveira
(1994: 356) supõe que o raptor foi um João Fernandes Bezerra que confirma uma compra
efetuada por Rodrigo Gomes em 1254.
44
Segundo o LV (1A 010), tratar-se-ia de uma relação doutro tipo: “Gil Sanches [...] foi
chus honrado clerigo que houve na Espanha, e houve por barregam dona Maria Garcia”.

182 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 182 25/09/2012 15:21:43


Rui Gomes, Oliveira aponta que “pertencia certamente ao séquito militar
desta linhagem [Sousas] como deixam entender não só o facto de o seu
irmão ter sido armado cavaleiro por D. Gonçalo [Mendes de Sousa], como
também o aparente assentimento que a linhagem dos Sousas acabou por dar
ao «rapto» perpetrado pelo trovador na figura de D. Elvira Anes da Maia”
(Ventura – Oliveira 1995: 76). Não podemos deixar de lembrar a presença
de Rui Gomes de Briteiros na corte de Afonso IX, na qual chegou a exer-
cer o cargo de mordomo em representação do infante D. Pedro Sanches,
segundo ficou registrado numa escritura de 1226 confirmada, entre outros,
por Rodrigo Gomes de Trava: “Domno Roderico Gomez tenente Trastamar
et Montenegrum et Monterrosum [...]. Roderico Gomez de Briteiros tenente
maiordomatum de manu infantis” (Afonso IX, nº 473)45.

3. Don Pedro Rodriguiz da Palmeira


Pedro Rodrigues da Palmeira (1225), situado na TC entre João
Soares de Paiva (nº 6) e Rui Dias dos Cameros (nº 8), perdeu as duas com-
posições com que contava pela mutilação do setor inicial dos cancioneiros.
Ele era bisneto de Rodrigo Froiaz (1102-1117), filho de Froia Bermudes de
Trava e irmão de Pedro Froiaz46. D. Rodrigo dominava a área geográfica
que vai de Pontedeume a Ortigueira e manteve diversos vínculos com dois
mosteiros dessa região, Caveiro e Júvia, mas também com a Sé de Santiago
(López Sangil 2002: 41-43).

Uma irmã de Gil Sanches, Teresa Sanches, casada com Afonso Teles de Meneses, foi a
mãe de Maior Afonso, a mulher de Rodrigo Gomes de Trava. Este último foi, portanto,
sobrinho por afinidade de D. Gil.
45
O infante D. Pedro Sanches desposou Aurembaix filha de Armengol VIII de Urgell,
com o qual D. Pedro veio ser primo (por afinidade) de Rodrigo Gomes de Trava (cf. supra).
Esses laços familiares e políticos relacionam Rodrigo Gomes de Briteiros com a geração
com que se abre a tradição manuscrita e apoiam a hipótese, lançada por Michaëlis (1904:
336), segundo a qual teriam pertencido ao Briteiros as cantigas anónimas A 62-63. Rui
Gomes ficaria, assim, situado no segmento que remete para uma cronologia mais recuada.
46
Num dos mais antigos registros documentais, em 1102, D. Rodrigo Froiaz aparece
como almirante: “Facta carta testamenti in era Mª Cª XLª et quotum XIº kalendas aprilis,
in tempore Adefonsi regis qui tenebat Tolleto, et Legione, et Gallecia. Comes domnus Pe-
trus in Gallecia et frater eius, Rodericus Froyle, admirante” (TCaveiro, nº 131). Esse cargo
parece estar associado à defesa das costas contra os ataques normandos.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 183

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 183 25/09/2012 15:21:43


Do seu matrimônio com Gontinha Gonçalves da Maia resultaram,
pelo menos, três filhos: Mendo, Gonçalo e Froia Rodrigues: “Rodericus
Froyle habuit tres filios: Menendum Roderici et Gundisaluum Roderici et
Froylam Roderici” (TSobrado, nº 212). Gonçalo Rodrigues [da Palmeira]
(1112-1154), casado com Fruílhe Afonso de Celanova (← Afonso Nu-
nes47), estabeleceu-se em Portugal nos inícios do séc. XII. Foi mordomo
da rainha Teresa (1112) e governador de Refoios de Riba de Ave (1146),
Penafiel de Bastuço (1146) e Vermoim (1128-1146), onde se situava a terra
da Palmeira48.
Filhos varões desse último foram Gonçalo (1154-1198), Fernan-
do (1150-1177) e Rodrigo Gonçalves de Palmeira ou de Pereira (1177),
governador do castelo de Lanhoso49. De acordo com a informação dos
Livros de Linhagens, este D. Rodrigo terá sido o progenitor de Pedro Ro-
drigues de Pereira, governador de Trancoso e de Viseu (c. 1182-1183)50.
Elvira Gonçalves da Palmeira (117751), irmã dos anteriores, casada com
Rodrigo Nunes das Astúrias, foi a mãe de (um outro) Pedro Rodrigues da
Palmeira –ou de Nomães – que morreu de amores (poéticos?) por Maria
Pais (← Paio Curvo), a mulher do seu tio Gonçalo Gonçalves (LC 37E4)52.

47
Mattoso (1982: 118), com base nos Livros de Linhagens, supõe que foi filha do conde
que denomina “Afonso Vasques de Celanova”. Porém, quanto a nós, esse conde foi prova-
velmente Afonso Nunes (1101-1135), um dos filhos de Nuno Vasques (Barton 1997: 227)
(cf. supra).
48
Mendo Rodrigues [de Tougues], irmão do anterior, seguiu uma trajetória muito similar.
Segundo os Livros de Linhagens, da sua união com Châmoa Gomes (← Gomes Nunes de
Toronho) resultou Soeiro Mendes Facha, documentado na corte portuguesa entre c. 1156 e
1176. Veja-se Mattoso (1985: 178; 1988: 163-165).
49
Os Livros de Linhagens nomeiam D. Rodrigo Gonçalves como “da Palmeira” ou “de
Pereira”. Ele foi, com efeito, quem deu continuidade à linhagem com esse novo apelido
(Oliveira 1994: 424).
50
Veja-se Ventura (1992: 1023-1024; Mattoso 1982: 126-127, 1985: 178, n. 14). Note-
mos que, como é habitual na altura, a personagem que ocupa esse cargo não é carateri-
zada por qualquer apelido linhagístico: “Petrus Roderici tenens turres Troncoso conf.”
(DPRégios, nº 343 [c.1180-1182]), “Ego Petrus Roderici terreVisei presidens conf.” (DPRégios,
nº 352 [1183]). Ventura refere-se a ele como “Pedro Rodrigues da Palmeira” (cf. infra).
51
É neste ano que os quatro filhos ratificam a doação do couto da Palmeira ao Mosteiro
de Nandim/Ladim (conc. Vila Nova de Famalicão) (Figueiredo 1800/I: 344).
52
Maria Pais, descendente de Gomes Pais, era também parente do próprio Pedro Rodri-
gues.

184 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 184 25/09/2012 15:21:43


Embora existam elementos para pensar que Pedro Rodrigues de Pereira
e Pedro Rodrigues da Palmeira foram um único indivíduo53, as fórmulas
onomásticas que lhes são atribuídas só permitem, em princípio, identificar
o trovador com esse filho de Elvira Gonçalves (Oliveira 1994: 424)54. Ele
poderá ser o Pedro Rodrigues que, junto com Pedro Mendes e o sobrinho
(?), Martim Gonçalves [de Nomães?], se compromete, em 1225, na Igreja
de S. Miguel de Guimarães e perante o arcebispo de Braga, a não ter ma-
lados nas herdades do mosteiro de Landim, fundado pelo avô, Gonçalo
Rodrigues (Figueiredo 1800/I: 345, n. 140). O único registro documental
– sem indicação cronológica – em que achamos o nome do trovador men-
ciona um paço em Vila Nova (de Famalicão) que lhe tinha pertencido: “o
[...] paaço de Vila Nova, o qual foi de don Pedro Rodriguiz da Palmeira
que he no julgado de Vermue” [D.40]. Os dados relativos à mãe e a outros
parentes da sua geração levam-nos a admitir a possibilidade de ele ter sido
poeticamente ativo a partir de c. 1185.

53
O apelido linhagístico seria, na verdade, “Nomães”, atribuído nos Livros de Linhagens
a Gonçalo Rodrigues de Nomães, filho primogênito de Elvira Gonçalves e Rodrigo Nunes.
Por outro lado, só no Livro do Deão é que se alude explicitamente a esse “Pero Rodrigues,
que morreo de amor” (LD 7G4) entre os filhos de Elvira Gonçalves da Palmeira: Gonçalo,
Martim, Urraca e Guiomar Rodrigues. Pelo contrário, no Livro de Linhagens do Con-
de D. Pedro só se fala de Gonçalo Rodrigues de Nomães, Urraca e Guiomar Rodrigues
(LC 33A1-2). Nesta última obra, cita-se Pedro Rodrigues da Palmeira, mas apenas no
episódio da “morte de amor” e sem explicar as origens familiares. Mattoso, no “Índice” de
LC, identifica o da Palmeira e o de Pereira (p. 302).
54
D. Martim Rodrigues, bispo do Porto entre 1191 e 1235, foi também filho da anterior
e irmão do trovador: “e outro filho houve nome dom Martim Rodrigues, que foi bispo do
Porto” (LD 7G4).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 185

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 185 25/09/2012 15:21:43


CAPÍTULO VI

D. JUIÃO

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 187 25/09/2012 15:21:43


Cadeiral pétreo para o Cabido da Sé de Santiago (c. 1188-1211)

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 188 25/09/2012 15:21:43


1. O nome e a identificação do poeta
A personalidade que se esconde sob a denominação de “D. Juano”
(transmitida só pela TC1) permaneceu até à atualidade no âmbito do ignoto,
cumprindo-se, assim, o vaticínio de Oliveira (1994: 377): “Será, certamente,
muito difícil identificar este trovador de quem se conservou apenas o nome
próprio”. O professor de Coimbra aventou, contudo, a identificação dele
com um “Johanes Trobador”, referido em diploma de Santarém (1300), mas
assumindo a impossibilidade de confirmar essa hipótese. Posteriormente
(Oliveira 2001: 176-178), sem aduzir novos argumentos, foi incluído no
grupo de autores a que se atribui o rótulo de “A implantação no Ocidente
peninsular (1220-1240)”. Miranda (2004: 49) foi além das sugestões ante-
riores, vindo a presumir que se tratava de um jogral de origem castelhana:

Uma outra figura nos parece dever ser tida em consideração ainda a partir
dos dados exclusivos da Tavola Colocciana: referimo-nos ao D. Juano que
antecede aqueles três trovadores: o Paiva, o Palmeira e o Cameros. Trata-se
apenas de um nome, o que, à partida, poucas certezas induzirá. Mas não é lícito
silenciar algumas consequências desse nome. Com efeito, Juano não é forma
galego-portuguesa. Toda a documentação da época e os mesmos cancioneiros
conhecem apenas as variantes alatinadas –Iohan, Iohannes, Johan-, ou então
a forma evoluída Joan. A área do castelhano é consistente no fechamento da
primeira sílaba, apresentando sistematicamente Juan, com o qual Juano parece
aparentar-se. Na nossa opinião, tendo em atenção que o honorífico “Dom” vai
a par com a ausência de patronímico ou de terra de origem, será certamente um
título irónico, como o que mais tarde foi atribuído a D. Bernaldo de Bonaval,
o que significa que esta personagem poderia não ser mais do que um jogral. A
forma anómala do seu nome justificar-se-ia também nesse contexto.

A proposta de Miranda deve, no entanto, ser repensada atendendo


aos seguintes dados:
1. Conforme o que é prática usual, os nomes – topônimos e
antropônimos – aparecem de modo sistemático nos cancioneiros sob a
forma galego-portuguesa, com independência da sua origem geográfica ou
linguística: Rodrigo Diaz dos Cameyros, Johan Vaasquiz de Talaveyra etc.

1
De acordo com essa tabela, estava representado apenas com uma cantiga.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 189

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 189 25/09/2012 15:21:43


2. Na documentação castelhana correspondente ao período de
1180-12502, as formas desse antropônimo com –o– (Johan/Joan), com 52%,
ultrapassam a porcentagem daquelas com –u– (Juan/Juhan).
3. O uso do título “Dom” não era incompatível com a ausência
do patronímico, segundo demonstram as fontes escritas do período, nem
há quaisquer indícios de que possa ter sido utilizado com um valor irônico
fora da ficção literária (cf. infra).
4. A presença de um jogral castelhano nesta zona da tradição
manuscrita entraria em flagrante contradição com o que, como vimos, é
norma desse segmento, onde encontramos trovadores de origem aristocrática
e ascendência galega (ou galego-portuguesa).
5. A ausência do patronímico, conquanto não seja excepcional
naquela altura3, pode ser um indício para pensarmos que a extração social
de D. Juião não era equiparável à do resto dos trovadores considerados.

Távola Colocciana, fól. 300r

Parece-nos evidente que sob a forma (estropiada) D. Juano da


TC se encontra o antropônimo “Juião”, resultado patrimonial (<IULIANU)
correspondente aos atuais “Julião” e “Juliano”4. Para além da omissão do
“i”, facilmente explicável no contexto gráfico “ui”5, o til foi “desabreviado”
pelo autor da TC em n “Ju[i]ano”, do mesmo modo que, por exemplo, con-

2
Utilizamos os dados do Corpus diacrónico del Español (CORDE) da RAE.
3
Aliás, o sistema de nomeação simples dos indivíduos – só um nome – ainda represen-
tava 20% das ocorrências c. 1200 (Portela – Pallares 1995: 31).
4
Essa hipótese foi já sugerida, embora não desenvolvida, por Montero Santalha (2000:
160).
5
A ausência de marca diacrítica para o “i” na escrita medieval terá favorecido o “enga-
no” gráfico.

190 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 190 25/09/2012 15:21:44


verteu “Juyão/Juião” (Bolseyro)” (B 1076, 1165, 1176, 1181) em “Juyano
(Bolseyro)” (TC, fól. 307r) ou “irmão” (“Garsia Soares irmão de Martin
Soares” B 848) em “irmano” (“Garcia Soarez irmano de Martin Soarez”,
TC. fól. 303r)6.
A identificação histórica do poeta em foco dentro do, relati-
vamente, reduzido número de indivíduos com esse nome7 está sujeita à
possibilidade de localizar um que possa satisfazer as exigências (crono-
lógicas, geográficas e sociais) que, como estamos vendo, tornam muito
homogêneo o primeiro grupo de autores. Ora, há uma personagem cujo perfil
parece adequar-se de modo notável a esse protótipo. Trata-se de “domnus
Julianus”, filho de D. Cotalaia e de Maior Juiães, documentado no âmbito
da capital galega entre 1151 (?) e 12028. Levando em conta o que conhece-
mos sobre as vias de difusão da moda poética em foco, o relacionamento
de D. Cotalaia com os Bóvedas, Travas e Vélaz-Cabreras afigura-se como
um fator pertinente para apoiar a identificação, logicamente, conjetural que
se propõe (cf. infra).

2. D. Cotalaia e o seu grupo familiar


D. Cotalaia (1151-1196) surge com frequência na documentação
compostelana entre 1151.02.14 e 1196.08.109. Sabemos que morreu entre

6
Não parece necessário relacionar essa forma com a prática gráfica vigente até c. 1265,
caraterizada pelo uso de –n– para representar a nasalidade vocálica (Souto Cabo 2004:
368-369). Notemos, contudo, que vários nomes refletem práticas de escrita (“Tamalãcos”
por “Tamalhancos”, “Cerzeo” por “Cerceo”) ultrapassadas no momento em que se redige
a compilação de que são cópia B e V.
7
No último quartel do séc. XII e primeiro do seguinte, localizamos algumas ocorrên-
cias de indivíduos com essa denominação abreviada: “magister Iulianus” (Tombo C, fóls.
104r-104v [Santiago, 1199]), “Iuliano” (Carrizo, nº 58 e 59 [c. 1200]), “Maiordomus de
abatissa domnus Iulianus in Molina Sica” (Sobrado II, nº 220 [1195]), “Domnus Iulianus”
(Toxos-Outos, nº 26 [1198]), “Iulianus” (DCarrizo, nº 12 [1199],“Iulianus frater de Calatra-
va” (Sahagún, nº 1595 [Villalobos: 1215]), “domnus Iulianus” (Sobrado II, nº 204 [1223:
Villanueva, Leão]), “dompno Iuliano” (Afonso IX, nº 621 [1230: Castro Verde, Lugo]) etc.
8
Toxos Outos, nº 322 [1151], Tombo C, fól. 105v-106r [1201]. O registro cronológico
mais antigo levanta, contudo, algumas dúvidas (cf. infra).
9
Toxos Outos, nº 322 [1151]; Tombo C, fóls. 61v [1169], 86r [1192], 12v [1194], 194v
[1196]; GH, nº 18 [1165], 29 [1175]; Toxos Outos, nº 367, 376 [1176].

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 191

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 191 25/09/2012 15:21:44


essa última data e 1202.03.0610, altura em que dois dos filhos, Fernando
e Pedro Peres, vendiam parte de uma casa que fora do pai e da primeira
mulher Maior Juiães (cf. infra)11. Esta última terá sido a mãe dos oito filhos
de D. Cotalaia: Afonso, Bermudo, Fernando, Gil, Julião, Maria, Ouroana
e Pedro Peres12. Após a morte de Maior Juiães (c. 1185), D. Cotalaia casou
com Urraca Nunes. De acordo como o patronímico “Peres” atribuído à sua
prole, supomos que o seu nome foi “Pedro”13. Essa é também a designação
de um dos seus irmãos “Petrus Martini frater domni Cotalaye” mencionado,
em 1202, na escritura citada14. O importante patrimônio com que contava
a família incluía diversos imóveis na capital galega (próximos da catedral)
e uma série de propriedades fundiárias situadas, sobretudo, no sudoeste
dessa cidade15 (cf. infra).
Pese a proliferação de registros, não se torna fácil determinar o
estatuto social de D. Cotalaia16. López Ferreiro (1902: 110) adjudicava-
-lhe a qualificação de “burgués compostelano”, apontando ainda que: “ya

10
Tombo C, fól. 66r.
11
Maior Juiães deve ter falecido c. 1185, ano em que ordena o seu testamento [D.18].
12
Tombo C, fóls. 95v-96r [1182], 204r [1216], 237v [1222], 254r e 262r [1225]; Toxos
Outos, nº 224 [1213]. Segundo consta explicitamente, cada um tinha uma oitava naquele
prédio. Quanto aos nomes concretos, a filiação só foi deduzida indiretamente no caso de
Gil Peres, citado como testemunha no documento pelo qual a irmã, Maria Peres, vendia a
Pedro Vélaz a sua quota-parte no imóvel antes citado (Tombo C, fóls. 105v-106r).
13
“Cotalaia” aparece utilizado em vários casos a modo de apelido linhagístico: “Veremu-
dus Petri Cotalaia” (Tombo C, fól. 96r [1182]), “Fernandus Petri Cotalaia” (Tombo C, fóls.
254r, 262r [1225]), etc.
14
A existência de filhos com o mesmo nome não é inusitada no período medieval, sobre-
tudo se só eram meios-irmãos. É possível que se trate do Pedro Martins, casado com uma
Maria Peres, que encontramos em dois documentos de 1176 confirmados por D. Cotalaia
(Toxos Outos, nº 367, 376).
15
Alude-se a propriedades situadas perto da Igreja de S. Miguel da Cisterna, ao lado da
qual D. Cotalaia também possuía um forno: “in directa ipsius forni domni Cotalaie” (Tom-
bo C, fól. 245 [1197]).
16
Como se sabe, a sua figura, transformada num humilde carvoeiro, aparece envolvida
na lenda sobre a vinda de S. Francisco a Santiago. Cotalaia teria ajudado o santo de As-
sis na fundação do mosteiro graças a uma intervenção milagrosa. Veja-se a exposição de
López Ferreiro (1902: 108-113), que sugere a possibilidade de se tratar de um servidor de
D. Cotalaia ou de um dos seus filhos. O seu túmulo encontra-se no átrio daquele mosteiro
compostelano, situado numa área da cidade vinculada aos Cotalaias.

192 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 192 25/09/2012 15:21:44


desde el año 1160, aparece como una de las personas más significadas de
Santiago”17. Essa notoriedade pública patenteia-se, por exemplo, no fato
de ele ter encabeçado o elenco de “sapientum uirorum” cujo parecer foi
determinante para dirimir o litígio que existia entre o Priorado de Sar e
Fernando Eanes sobre a propriedade do lugar de Vilar18. Um indício sobre
as suas atividades concretas poderia encontrar-se na compra-venda de parte
da casa que pertencera a D. Cotalaia, por parte da filha Maria Peres. Entre
os confirmantes, descobrimos um “Egidius Petri cambitor” que pode ser
prole de D. Cotalaia19. Estamos perante um cambiador ou cambista, um
dos ofícios mais lucrativos e prestigiados em Compostela desde o séc. XII
graças ao fenômeno das peregrinações20. Porém, não contamos com dados
explícitos para demonstrar que D. Cotalaia ou algum outro filho tenha
exercido essa profissão.
Diversos dados referidos ao longo destas páginas evidenciam
que D. Cotalaia manteve uma relação de grande proximidade com a Sé
de Santiago (cf. infra). Esse contato resultava no usufruto de uma série de
prebendas eclesiásticas, mencionadas nos testamentos de D. Cotalaia e de
Maior Juiães, com destaque para o que derivava da igreja de S. Miguel da
Cisterna (ou dos Agros).
Entre as múltiplas informações do testamento de D. Cotalaia,
lavrado em 1195.07.12 [D.21], é importante notarmos a causa da sua
redação: “uolens ire in exercitum domni regis Anfonsi legionensis contra

17
Barreiro Somoza (1987: 413-414) inclui as referências a esta personagem no grupo de
“Donaciones de otros miembros de la nobleza gallega”.
18
“Et hi habuerunt secum conciues huius rei ueritatem cognoscentes. scilicet: Cotalaia.
Gaufridum Pican. Fernandum Petri. Martinum Didaci. Iohannem Iuliani. Pelagium Fa-
nion. Ariam Didaci. et Froilam dictum iudicem...” (GH, nº 19; AHDS, Priorado de Sar,
maço 54, nº 6 [1175]). Notemos que, no mais recuado testemunho documental, D. Cotalaia
foi um dos confirmantes do testamento de Diogo Moniz, sobrinho do arcebispo Gelmires
(Toxos Outos, nº 322).
19
Também o localizamos, como testemunha, numa escritura de 1214 (Tombo C, fól. 34r).
20
Sobre esta confraria, veja-se López Ferreiro (1905: 109-115), que a considera “la más
aristocrática de la ciudad”. A Confraria dos Cambiadores é ligada, segundo algumas tra-
dições, à fundação da Ordem de Santiago (Figueroa Melgar 1967: 785-786), mas parece
tratar-se de uma notícia fictícia propalada pelos autores da História de D. Servando (Souto
Cabo 2007: 145-148).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 193

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 193 25/09/2012 15:21:44


sarracenos”. Tratava-se dos preparativos para uma ação conjunta dos reis
de Castela e de Galiza-Leão contra os muçulmanos (González 1944: 69-
8921). Como no caso do meio eclesiástico, dessa conexão com o poder
político decorria lucro econômico. D. Cotalaia e a mulher, Urraca Nunes,
percebiam tributos pela administração de bens régios na área da Maía: “et
nos tenentes ibi uocem regis calumniabamus uobis ipsam hereditatem pro
luctuosam” (Tombo C, fóls. 232r-233v. [1197]).
Como foi dito, existem dados que podem aproximar D. Cotalaia de
vários grupos familiares relacionados com a cultura trovadoresca, circuns-
tância na qual baseamos a identificação do filho com o poeta. Referimo-nos
concretamente, mas não só, aos círculos a que pertenceram os trovadores
João Vélaz ou Osório Eanes. Assim, ele confirmava, na cidade de Santiago
em 1181.12.07, duas doações patrimoniais a favor do mosteiro de More-
ruela realizadas pelos irmãos de João Vélaz e a instâncias deste último,
falecido havia pouco: “Quam fratris nostri Iohannis Uele, cuius est apud
uos sepultura ultima uoluntas fuisse” [D.15, 16]:
Ego Bernardus archidiaconus. Petrus, presbiter ecclesie compostellane, decanus.
Qui presentes fuerunt: Ego Petrus archidiaconus. Magister Martinus capellanus.
Cotholaia cf. Arias Didaci iusticia cf. Iohannis Petri iusticia cf. Martinus Fer-
nandi pretor ciuitatis cf. Petrus Fernandi scripsit iussione archidiaconi domni
Petri Uele22.

É também muito expressivo o contato patrimonial de D. Cota-


laia com Pedro Vélaz (irmão de João Vélaz), arcediago de Compostela
e chanceler régio (cf. supra). Segundo se depreende de uma cláusula do
testamento de D. Cotalaia, ele próprio esperava receber, após a morte de D.

21
Este autor refere-se precisamente a esse passo do documento, mas com alguns equívo-
cos: “En la primavera de 1195 el rey leonés se dispuso a la guerra. Llamó a fosado a sus
huestes. El 12 de julio aún había guerreros que se preparaban para algo grave, y así, vemos
que esse dia Diego (sic) Cotalaya, “queriendo ir al ejército de León”, en contra de los sar-
racenos, hizo testamento”. Tal fato, afinal, não se chegou a verificar; antes pelo contrário,
foi seguido por diversos episódios bélicos entre as tropas dos reis cristãos durante os anos
1196 e 1197.
22
A intervenção das autoridades eclesiásticas é devida, por um lado, à participação desse
arcediago e, por outro, ao fato de a doação afetar alguma das possessões oferecidas por
João Vélaz à Sé de Santiago.

194 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 194 25/09/2012 15:21:44


Pedro, casas que estavam na posse (provisória) dos frades de S. Martinho:
“Et mando […] illas etiam domos in quibus modo ibi moratur cardinalis
Pelagius Garsie, quas mihi monachi Sancti Martini debent deliberare ad
obitum domni Petri Uelle, ut iam dicti tres presbiteri habeant domos ipsas”23.
Sabemos que os filhos de D. Cotalaia venderam a esse mesmo arcediago um
imóvel, herdado do pai, situado em frente da catedral e contíguo a um que
fora propriedade do conde Fernando Peres de Trava24. Segue-se, portanto,
que as famílias de D. Cotalaia e de D. Fernando foram vizinhas.
Notemos, finalmente, a presença de D. Cotalaia em 1169 no
testamento de Fernando Oares [D.8], tio-avô de Osório Eanes e de Airas
Oares (cf. supra). O seu nome ocorre naquela alínea em que se especifica
a existência de dívidas não satisfeitas: “Hec sunt debita que debeo ego,
Fernandus Oariz: Fernando Maxille LXª morabitinos, Fernando Tacon L
morabitinos; in Uilla Franca Iohanni de Fonte Lª et VII solidos, Petro Ma-
nulero III morabitinos, Cotalaia LXX solidos, Ysidoro III morabitinos”.

3. Domnus Giao
No testamento de D. Cotalaia (1195) é mencionado “Domnus Ju-
lianus” [D.21], filho a quem são atribuídos alguns encargos no cumprimento
das últimas vontades do testador. Ele surge ainda entre os confirmantes
dessa manda sob a forma “Giao”, variante galego-portuguesa medieval
bem documentada de “Juião”. Cremos que, talvez por vontade própria, ele
terá sido conhecido no contato social apenas por essa fórmula abreviada25.

23
É, contudo, difícil identificar os motivos concretos que expliquem as expetativas de D.
Cotalaia. É possível que ele fosse beneficiado com essas casas no testamento do chanceler.
24
“Ego Maria Petri, dicta de ganancia, una com uiro meo, Suerio Froile, milite, et omnis
uox nostra, uobis domno Petro Uele, Compostellane ecclesie archidiacono, omnique uoci
uestre, grato animo et spontanea uoluntate, facimus cartam vendicionis et textum scripture
firmitatis imperpetuum ualituram de tota nostra porcione quam habemus, ego iam dictam
Maria de ganancia ex parte patris mei domni Cotalaie, in illa domo que est in Compostella-
na ciuitate in fronte portalis noui ecclesie beati Iacobi, inter domum scilicet cantoris domni
Laurencii Iohannis et de alia parte domum que fuit comitis domni Fernandi” (Tombo C,
fóls. 105v-106r [1202.06.15]).
25
Lembremos, por exemplo, o caso de Airas Fernandes Carpancho, nomeado apenas
como “Airas Carpancho” (Souto Cabo – Vieira 2003).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 195

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 195 25/09/2012 15:21:44


O seu nome completo foi Juião Peres (“Julianus Petri”) e será sob essa
designação que o podemos reconhecer em vários diplomas26. Contudo,
ignoramos os detalhes da biografia de D. Juião, já que os dados a seu res-
peito são muito imprecisos e, por vezes, de interpretação duvidosa. Como
dissemos, o mais antigo registro documental, em 1151.02.14, poderá ter
coincidido com o do pai, confirmando o testamento de Diogo Moniz, so-
brinho do arcebispo Gelmires. A morte da mãe c. 1185 depõe a favor da
possibilidade daquela data, mas não deixa de surpreender a proximidade
do seu percurso cronológico – pelo menos naquilo que ficou documentado
– com o do progenitor e a extrema longevidade que, no caso, deveríamos
supor para D. Cotalaia27. Cumpre, portanto, considerar com alguma cau-
tela a possibilidade de identificar D. Juião com o indivíduo citado naquele
(primeiro) registro cronológico.
A presença de alguns indivíduos caraterizados pelo patronímico
“Juliani” na documentação familiar poderia sugerir que D. Juião foi pai de
vários filhos: João, Sancho e Ardilo Juiães28. Porém, algumas alusões con-
tidas no testamento do pai levam a pensar que formou parte do estamento

26
Notamos a sua presença em finais dessa década (AHN, Tombo de Meira, 1126, nº 9
[1159]), junto ao pai, numa escritura de compra-venda outorgada pelo arcediago com-
postelano D. Fernando a favor do conde Álvaro Rodrigues {Vélaz} e da mulher, a infanta
Sancha Fernandes (cf. supra). Também o podemos identificar com a personagem homôni-
ma citada entre os executores do testamento da mãe em 1185 e como testemunha na venda
de uma casa efetuada, em 1202, pela irmã, Maria Peres, e o marido desta, Soeiro Froilaz
“milite”.
27
Lembremos que, de acordo com o patronímico da mãe (Maior Juiães), D. Juião recebeu
o nome do avô materno, pelo qual avô e neto poderão ter coincidido na sua denominação.
Este fato também tem consequências sobre a possibilidade de identificar os filhos de D.
Juião (cf. infra).
28
João Juiães confirma – ao lado de D. Cotalaia – uma escritura (GH, nº 18 [1165]) pela
qual Afonso Anaia determinou os termos do Hospital de S. Lázaro em Santiago. Ele reapa-
rece, em 1175, ao lado do avô na – já citada – sentença sobre o litígio patrimonial entre o
Mosteiro de Sar e Fernando Eanes. Também aparece, em 1185, como cumpridor do testa-
mento da avó, Maior Juiães, entre o pai e outro irmão, Sancho Juiães. É também possível
que seja o João Juiães que, com a mulher (Maria Calçada), vende à irmã, Ardilo Juiães,
uma casa na Boca do Campo na cidade de Santiago (Tombo C, fól. 123r [1183]), que fora
de João Airas de Nóvoa (o pai de Osório Eanes). Sancho Juiães sucede ao lado do avô, D.
Cotalaia, num documento de 1201.11.24 (Tombo C, fól. 81r).

196 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 196 25/09/2012 15:21:44


religioso da Sé de Santiago, talvez como cônego29. Com efeito, D. Cotalaia,
em vários excertos da sua manda, parece incluir D. Juião num conjunto de
“propinqui clerici”, ou seja, clérigos próximos (ou parentes)30 do titular:
Et mando eis illum meum ortum quod ganaui meo proprio censu de archidia-
cono domno Petro Stefani et hoc seruet filius meus domnus Julianus fideliter
et custodiat, sub protectione capituli, ad uictum et uestitum predictorum trium
presbiterorum imperpetuum. Et si filius meus donus Julianus hoc bene et
fideliter non custodieret, alius meus propinqus clericus per consensum capituli
Sancti Jacobi seruet et custodiat bene […]. Mando inde post filium meum donum
Julianum que neptus meus Sancius Alfonsi teneat has predictas possessiones et
custodiat modo supradicto. Et si mei propinqui clerici defecerit mei propinqui
laici ita seruet ipsas possessiones sicut superius dictum est. Et si omnes mei
propinqui defecerint totum sit libere in arbitrio Capituli […] quas hereditates
predictas ecclesiasticas teneat filius domnus Julianus, et nepti mei et propinqui
clerici unus post obitum alterius […].

Se vier a ser confirmado esse perfil clerical, estaremos perante o


mais antigo representante da sé de Compostela envolvido na lírica galego-
-portuguesa, a somar aos vários exemplos conhecidos sobretudo nos dois
últimos terços do século XIII31.

29
Os numerosos exemplos de paternidade em indivíduos pertencentes à classe religiosa
faz com que as duas hipóteses não sejam necessariamente incompatíveis; aliás o ingresso
nesse corpo clerical pôde ser posterior à morte da cônjuge.
30
O termo foi usado para os parentes próximos (Calderón Medina 2011a: 58).
31
Sobre o assunto, veja-se Souto Cabo (2012a, [no prelo/3]).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 197

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 197 25/09/2012 15:21:44


CAPÍTULO VII

NA CORTE DE D. RODRIGO GOMES


DE TRAVA (E URGELL)

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 199 25/09/2012 15:21:44


Rubrica explicativa da cantiga B 142

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 200 25/09/2012 15:21:44


Don Rodrigo Gomez de Trastamar
Como foi lembrado no início deste trabalho, um dos argumentos
de Oliveira (1994: 374) para ponderar a identificação de João Vélaz com
o neto de Toda Peres de Trava tinha a ver com a pertença de D. Rodrigo
Gomes à linhagem dos Trava: “uma família – os Travas ou Trastâmaras
– com boas tradições no meio trovadoresco peninsular, através da figura
de D. Rodrigo Gomes”1. A crítica tem reconhecido em D. Rodrigo um
dos mecenas – possivelmente o mais destacado – do nosso trovadorismo,
sobretudo por aquilo que se pode deduzir da rubrica de uma tenção entre
Pedro Velho e Paio Soares de Taveirôs (cf. infra)2.
As origens familiares de D. Rodrigo, enquanto membro dos Urgell
por via materna, já foram esboçadas na primeira parte deste estudo. Beltrán
(1993) utilizou esse dado, embora de forma conjetural, para explicar a
conexão literária entre Gui d’ Ussel e Paio Soares de Taveirôs (cf. infra).
A cantiga Entend’ eu ben, senhor, que faz mal sem deste último parece ser
um contrafactum de Ben feira chanzos plus soven do provençal, com a
qual partilha uma fórmula de rimas única no corpus galego-português. O
estudioso concebe como palco possível para o convívio literário entre esses
trovadores uma viagem de Pai Soares ao sul da França, à qual o próprio
poeta teria aludido numa das suas composições:

Quantos aqui d’ Espanha son


todos perderon o dormir
con gran sabor que an de s’ ir;
mais eu nunca sono perdi,
des quando d’ Espanha saí;
ca mi-o perdera já enton.

1
Essa possibilidade foi, como vimos, posta de parte pelo professor de Coimbra. Contu-
do, o estudioso não deixou de notar – referido a uma fase mais adiantada – que o trovado-
rismo “floresce assim, inicialmente, junto dos Trastâmaras, na Galiza” (Oliveira 2001: 19).
2
Contamos com um excelente estudo monográfico de Yara F. Vieira (1999) sobre o papel
de D. Rodrigo Gomes na difusão do trovadorismo. Limitamos, portanto, a nossa aborda-
gem a sublinhar ou esclarecer alguns aspetos de especial pertinência para os objetivos
deste trabalho.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 201

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 201 25/09/2012 15:21:44


Beltrán sugere, tendo em mente a ligação entre Paio Soares e D. Rodrigo
Gomes, vincular a “ocasión y destino” dessa deslocação à (hipotética) fi-
liação de D. Rodrigo a Miracle de Urgell. Para isto, utilizou o testemunho
de uma escritura de 1182 em que se alude ao casamento, ocorrido nesse
mesmo ano, do conde Gomes Gonçalves com uma filha de Armengol VII
cuja identidade concreta não é declarada: “Facta serie testamenti aput Farum
X kalendas decembrium era Iª. CCª. XXª. anno ab incarnatione Domini
Iª. Cª. LXXXª [I]Iº. eodem anno quo comes domnus Gomez Gundisalviz
accepit in coniugium filiam comitis domni Ermengaudi Urgelensis”3.
Beltrán, mesmo sublinhando a importância potencial de tal enlace pelos
laços dos Urgell com o mundo trovadoresco4, duvidava do casamento
entre Miracle e o conde galego: “el matrimonio, si se consumó, no debió
ser duradero […]. Desgraciadamente no podemos confirmar el matrimo-
nio entre el conde Gomez y Miracle de Urgell” (Beltrán 1993: 63-64). No
entanto, contamos com uma escritura de 11955, confirmada por ambos os

3
AHN, Ordens Militares, São João, maço 574, nº 12 (= GSJoão, nº 40). O conde Froila
Ramires e a condessa Urraca Gonçalves (tia de Rodrigo Gomes) são os titulares desse ato
documental.
4
“La importancia de esta relacion estriba en que los condes y vizcondes de Urgell pro-
tegieron ininterrumpidamente a los trovadores, y Guerau [III] Ponç de Cabrera, suegro de
Marquesa de Urgel, fue el autor del conocido Ensenhamen. Marcabrú estuvo allí entre 1135
y 1137, Raimbaut d’ Aurenga en 1170-1171 y Peire d’ Alvernha en 1185, y disponemos así
mismo de las referencias de Guiraut de Bornelh y Beltran de Born, que habla elogiosamente
de Marquesa en un sirventés de 1184; en 1182, Alfonso de Aragón la tenía sitiada en el
castillo de Montessor, lo que le valió las censuras de Guilhem de Bergadà y Peire Vidal,
así como de Guiraut de Luc. Marquesa, hermana, de nuestra Miracle, fue también la dama
cantada por Pons de la Guardia con el Senhal-on-tot-mi-platz. Notaremos por último que
Elvira de Subirats, esposa de Ermengol VIII y cuñada de Miracle, fue cantada por Aimeric
de Sarlat y por Aimeric de Peguillan, que estuvo en Cataluña con Gullem de Bergadà y gozó
de la protección de Pedro II para pasar a continuación a la corte castellana de Alfonso VIII.
Recordemos al respecto, que este es uno de los pocos trovadores cuya relación con Gui d’
Ussel podemos demonstrar”. Segundo Canal (1989a: 129), em opinião bem documentada,
a mulher de Armengol VIII foi Elvira Nunes de Lara. Sobre a identificação do autor do
Ensenhamen, veja-se o que foi dito anteriormente.
5
O documento fora publicado por Montero Díaz (SJubia, nº 115), que expandiu erra-
damente o “G.” (“Gomez”) como “G[undisalvo?]”. López Sangil (2007: 260) não tem
razão quando desconfia dessa identificação (“he consultado el documento y en él sólo
figura entre los confirmantes: Gomes G. domina Miracla comitissa..., y es una suposición
que se trate de Gomez González, sin titulación, y que ademas Miracla sea su esposa”) já
que a leitura do original é indiscutível. Aliás, a confirmação de Miracle só se justifica pela

202 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 202 25/09/2012 15:21:44


cônjuges, que avaliza a realidade e permanência temporal da união entre
Gomes Gonçalves e Miracle:
Facta series testamenti XIIIº kalendas maii era I. CC. XXX. III. Regnante rex
domno Adefonso in Legione. Comite domno Gomez in Trastamar. Archiepis-
copo iacobitano domno Petro Suerii. Episcopo minduniensi domno Rabinato.
Archidiacono domno Martino Macie. Qui presentes fuerunt: Comes Gomez
confirmat. Domna Miracla comitissa confirmat (Tombo de Júvia, fól. 13v)6.

AHN, Tombo de Júvia, fól. 13v (detalhe)

Do anterior, segue-se que Rodrigo Gomes de Trava (1201-1261), nascido c.


1185-1190 (Vieira 1999: 36), foi prole do conde Gomes Gonçalves (1164-
1209) e de Miracle de Urgell7. D. Gomes, filho do conde Gonçalo Fernandes
(← Fernando Peres de Trava) e de Elvira Rodrigues {Vélaz} (cf. supra)8,
chegou a ser uma das personalidades mais importantes da corte de Afonso
IX, na qual assumiu o cargo de mordomo (1193) e a tenência de numerosos

presença prévia do marido e este, levando em atenção a escritura de 1182, só pode ser o
conde Gomes Gonçalves.
6
Veja-se a imagem fotográfica, aqui reproduzida, do Tombo de Júvia em http://pares.mcu.
es/.
7
Gomes Gonçalves esteve casado em primeiras núpcias com Elvira Peres (¬ Pedro
Afonso {Vélaz}). Por sua vez, Miracle irá desposar Raimundo, senhor de Cervera, após
ter sido anulado o matrimônio com D. Gomes, talvez na sequência dos problemas que este
último teve com Afonso IX (Miret y Sans 1910: 312, Barton 1997: 254).
8
Salazar Acha (2000: 367) supõe que foi filho de Berengária Rodrigues, segunda mulher
de Gonçalo Fernandes e irmã dessa Elvira Rodrigues. López Sangil (2002: 127) exprime
uma opinião similar mas considera, erradamente, esta última filha do conde D. Rodrigo
Álvares.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 203

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 203 25/09/2012 15:21:44


distritos9. D. Rodrigo Gomes prosseguiu o exemplo do pai na corte desse
rei e na dos monarcas que o sucederam no trono10.
Como se sabe, existem evidências, algumas de caráter explícito,
que relacionam Rodrigo Gomes com o trovadorismo11. Uma prova clara é
constituída pela rubrica explicativa da tenção entre os irmãos Pedro Velho
e Pai Soares de Taveirôs, que os situa no paço de Maior Afonso, a mulher
de Rodrigo Gomes de Trava:
Esta cantiga fez Pero Velho de Taveiros e Paai Soarez, seu irmão, a duas
donzelas mui fremosas e filhas-d’ algo assaz que andavan en cas dona Maior,
molher de Don Rodrigo Gomez de Trastamar. E diz que se assemelhava ũa a
outra tanto que adur poderia home estremar ũa da outra; e seendo ambas ũu dia
folgando por ũa sesta en ũu pomar, entrou Pero Velho de sospeita falando con
elas; chegou o porteiro e levantou-o end’ a grandes empuxadas e trouve-o mui
mal (Lagares 2000, nº 6)12.

Tal texto permite concluir que Rodrigo Gomes foi promotor e protetor
do trovadorismo galego-português, talvez desde os inícios do séc. XIII13.
Não conseguimos apurar a localização cronológica dos trovadores, já que
não contamos com informação documental direta sobre eles. Contudo, os

9
Existe coincidência e paralelismo entre as relações familiares de João Vélaz e as de
Rodrigo Gomes pelos vínculos diretos com uma estirpe catalã (Cabrera e Urgell) e com as
galegas dos Travas e Vélaz.
10
“Cando Afonso IX accedeu ao trono non chegaba á ducia o número de individuos da
aristocracia leonesa que podían ser realmente considerados como magnates no sentido des-
crito anteriormente. Entre eles, se cadra o máis distinguido de todos fose o conde Gómez
González de Traba (+ 1209), cunha familia que dominara a rexión de Trastámara desde
principios do século X e exercera o poder noutras moitas zonas de Galiza desde entón. Así,
durante o curso dunha longa e prestixiosa carreira, o conde Gómez mantivo por delegación
da coroa as tenencias de Montenegro, Monterroso e Sarria, entre outras. O prestixio do
conde era tal que durante o reinado de Afonso IX o seu nome aparecía á cabeza das listas
de testemuñas que tradicionalmente se incluían nos documentos reais. O seu fillo Rodrigo
Gómez seguiría os pasos do pai cunha carreira distinguida na corte de Afonso IX e na dos
seus sucesores Fernando III e Afonso X” (Barton 2008: 73).
11
Entre os confirmantes de uma escritura de 1216 (Tombo C, fól. 80r) encontramos Rodri-
go Gomes seguido de um “Pelagius joglar”, o que nos permite pensar que o jogral estava
provavelmente ao serviço daquele (Souto Cabo [no prelo/3]).
12
Vieira (1999: 134) situa, conjeturalmente, a composição da cantiga entre 1228 e 1236.
13
Veja-se o que foi dito sobre a rubrica que acompanha a cantiga Levaron a Codorniz e o
excerto dos Livros de Linhagens em que se alude ao rapto nela referido (cf. infra).

204 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 204 25/09/2012 15:21:45


dados respeitantes a outros indivíduos da sua linhagem permitiram situar
o percurso biográfico deles na primeira metade do século XIII14. Relati-
vamente aos antecedentes familiares, lembremos a presença, em 1175, de
dois dos seus membros, Airas Fernandes e Pedro Moniz de Taveirôs, numa
escritura lavrada em Compostela de que é titular o conde Fernando Ponce
de Cabrera “o Menor” (cf. supra), primo do pai de D. Rodrigo15. O grupo
de confirmantes desse diploma [D.9] inclui representantes das principais
casas nobres da Galiza aparentados com membros da primeira geração de
trovadores.

Domnus Petrus Garsie, miles de Ambrona


Por outro lado, diversos elementos permitem aproximar D.
Rodrigo Gomes de Pedro Garcia de Ambroa (1203-1235), um dos trova-
dores de cronologia mais recuada (Souto Cabo 2006). Elvira Peres, filha
do trovador, foi educada em casa de D. Rodrigo, como ela mesma declarou
numa escritura de 1238, pela qual vendia ao magnate diversas propriedades:
Ego Elvira Petri, fila domni Petri Garsia de Ambrona […] placuit mihi ut
facere uobis, domno Roderico Gomez, et uxori uestre, domne Maiori Alfonsi,
cartam uenditionis de toto meo quinione de turre de Ambrona et de casis et de
omni hereditate que ibi habeo et habere debeo ex parte patris et matris mei,
iam dicti, et abiorum et parentorum meorum in tota concurrencia Sancti Tirsi
de Ambrona, et de casis, et de omni hereditate et in terreno de Prucis, circa
flumen Lambre. Totum uobis uendo et concedo […] pro precio quod de uobis
accepi […] et etiam recepistis me in uestra casa et fecistis mihi multum bonum
et facitis (Souto Cabo 2006, nº 5).

14
Entre os indivíduos apelidados “de Taveirôs” encontramos Vasco Peres (1267), Lou-
renço Peres (1278) e João Vasques (1300), considerados, respetivamente, filhos e neto
de Pedro Soares (Vallín 199: 41-42). Rodrigo Soares de Taveirôs, provável irmão dos
trovadores, é citado na síntese de uma escritura a que se atribui a data de 1227 (Carboeiro,
nº 161), mas que supomos pertencente ao ano de 1257 por provável interpretação errada do
xis aspado. A alusão responde ao fato de D. Rodrigo ser ou, provavelmente, ter sido pai da
titular Sancha Rodrigues: “hija de don Rodrigo Suárez de Tabeiros”.
15
Trata-se de uma das primeiras notícias documentais sobre essa estirpe. Notemos ainda
a presença de um “Johannes Martini de Taberiolis” como testemunha no testamento do
cônego compostelano Sancho Fernandes em 1265 (Tombo C, fól. 5v).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 205

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 205 25/09/2012 15:21:45


Essa prática, da qual constatamos outros exemplos neste trabalho, ocorria
entre grupos familiares unidos por laços de parentesco. Ora, segundo a
proposta de Vieira (1999: 114), Vasco Gomes, irmão de D. Rodrigo, esteve
casado com uma Maria Garcia que terá sido irmã do poeta. A atividade
poética de Pedro Garcia de Ambroa foi, portanto, resultado da associação
aos Travas, concretamente a D. Rodrigo Gomes.

De Mirapisce
Embora de modo mais impreciso, pela inexistência de informações
concretas, a participação de Nuno Fernandes de Mirapeixe no movimento
trovadoresco deve ser inserida num contexto similar, à vista da conexão
dos seus irmãos com D. Rodrigo e com os Ambroas (Oliveira 1994: 395,
Vieira 1999: 116-120). A ausência de Nuno Fernandes de Mirapeixe na
documentação contrasta com o registro, relativamente abundante, desses
irmãos: Rodrigo (1211-1259), Gonçalo (1211), Garcia (1237-1243) e Teresa
Fernandes (1251)16. A sua provável cronologia (c. 1185-1235) condiz com o
lugar que veio a ocupar nos cancioneiros, após Osório Eanes (1175-1217),
primo do pai de D. Rodrigo (cf. infra)17.

16
O solar dos Mirapeixes situava-se em S. João de Outeiro de Rei (conc. Outeiro de Rei),
portanto, na antiga terra de Montenegro, dominada pelos Travas e Vélaz.
17
Apesar de desconhecermos os pormenores da sua biografia, não descartamos a associa-
ção de Nuno Fernandes Torneol a D. Rodrigo Gomes. Notemos que um irmão, João Fer-
nandes Torneol, contava com propriedades em Córdova no ano 1244 (González Jiménez
1991, nº 136), donde se conclui que tinha participado junto com D. Rodrigo (Vieira 1999:
40) na tomada dessa cidade andaluza em 1236. Veja-se Souto Cabo ([no prelo/3]).

206 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 206 25/09/2012 15:21:45


CAPÍTULO VIII

RAIMBAUT DE VAQUEIRAS
E A LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 207 25/09/2012 15:21:45


Imagem de Raimbaut de Vaqueiras num cancioneiro provençal

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 208 25/09/2012 15:21:45


Tanto temo vostro preito
Duas composições atribuídas tradicionalmente a Raimbaut de
Vaqueiras (1180-1205), Eras can vei verdeiar e Altas undas que venez suz
la mar, foram utilizadas para defender que o trovadorismo galego-português
se constituíra em tradição antes de finais do séc. XII. No primeiro texto,
designado como “descordo plurilingue”, a nossa língua é utilizada para
a quinta estrofe e em dois versos da tornada, completando-se, na mesma
proporção, com o provençal, o italiano, o francês e o gascão1:

Tanto temo vostro preito,


tod’ en son escarmentado
por vós ei pen’ e maltreito
é meo corpo lazerado.
La noite, quan jaç’ en meu leito,
son moitas vezes penado,
e car nonca m’ a profeito
falid’ ei en meo cuidado.

meo coraçon m’ avetz treito


e, moit gent faulan, furtado2.

Sobre o valor desse texto como indício da preexistência da lírica


galego-portuguesa, Fernández Campo (2009: 184) afirmava:
O feito de que un poeta non galego escribise fóra de Galiza, a fins do século XII,
na lingua da lírica do occidente peninsular é algo extraordinario [...]. Este feito
admirábel corrobora a hipótese de que probabelmente a lírica galega medieval
nacera moito antes do que se pensa, tanto como para que a súa fama transpasase
as fronteiras da península, e fose coñecida e se desenvolvese na sede da grande
lírica europea do momento, a occitana3.

1
O gosto de Vaqueiras pelo plurilinguismo não é exclusivo desta composição, também
o encontramos em Domna, tant vois ai preiada, debate em que o provençal alterna com o
genovês nas estrofes postas em boca da “domna”.
2
No respeitante à estrofe galega, vejam-se: D’ Heur (1973: 155-180), Tavani (1985,
1987), Brea (1994), Castro (1995) e Fernández Campo (1994, 2003, 2009). O texto que
oferecemos, embora não reproduza nenhuma das propostas citadas, toma em consideração
as sugestões desses editores.
3
C. Michaëlis (1904: 735-736) exprimiu uma opinião similar sobre o descordo: “O
curioso especime [...] hoje geralmente considerado como um dos mais antigos que possui-

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 209

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 209 25/09/2012 15:21:45


Para além deste valor probatório, sob o ponto de vista da história
literária, é importante apurar as razões que levaram Raimbaut de Vaqueiras
a compor esse documento poético, qualificado por Tavani (1987: 34) como
um “unicum nel contesto della lirica cortese, senza precedenti”. O professor
italiano analisa esses motivos e sugere uma perspetiva plural para explicar
a origem do descort (Tavani 1987: 44):
Nella composizione del suo discordo, Raimbaut non avrà dunque voluto ma-
nifestare la propria molteplice competenzia linguistica, né solo l’ ecumenismo
della sua ideologia o la tensione unitaria suscitata dalla quarta crociata; e neppure
exclusivamente la conscienza della superiorità della cultura sua e dei suoi confra-
telli, né il gusto di rifare il verso ai colleghi trovieri: ma tutte queste cose insime.

Quanto à circunstância que deu origem ao texto, Tavani (1987:


43) sugere o torneio organizado por Teobaldo de Champagne, em 1199 no
castelo de Ecry-sur-Aisne, como preparação da IV Cruzada4. Também en-
cara a escolha de duas línguas sem tradição literária para as estrofes pares
– italiano e gascão – como uma homenagem, respetivamente, a Costanza
d’ Altavilla, rainha de Sicília (1194-1198) (viúva de Henrique VI e mãe do
futuro Frederico II)5, e a Branca de Navarra6, filha de Sancho VI e mulher

mos, é mais um testemunho de que já antes de 1194 o gallego-português havia alcançado


foros de linguagem lyrica, mesmo nas cortes hespanholas”. Pelo contrário, Oliveira (2001:
83), aludindo a Brea (1994), considera “infundado considerar Vaqueiras como um sinal da
«existência de uma lírica comparável à que se compunha em occitânico ou em francês»,
como recentemente defendeu Mercedes Brea”.
4
“Ammetendo l’ essatteza dell’ ipotesi, sarebbe forse possibile procedere – sempre ipo-
teticamente – ad una datazione più precisa del discordo, certo non inoppugnabile, ma da
tenere in conto: Raimbaut avrebbe potuto comporre il suo testo nel novembre del 1199, cioè
in occasione del torneo indetto da Tibaldo di Champagne nel suo castelo di Ecry-sur-Aisne,
quando – sull’ onda dell’ entusiasmo provocato dalla predicazione di Folco di Neuilly – tutti
i partecipanti alla festa presero la croce: un avvenimento la cui eco dovette spandersi rapi-
damente in tutta Europa. E nello stesso anno era stato celebrato il matrimonio di Tibaldo con
Bianca di Navarra. D’ altra parte, Costanza era morta da poco e a lei era suceduto, sul tronco
di Sicilia, il giovanissimo Federico, erede anche del tronco imperiale. Quale altra concomi-
tanza di eventi potrebbe motivare meglio el testo rambaldiano, se si accetta di leggerlo in
chiave non esclusivamente letteraria e linguistica?” (Tavani 1987: 43).
5
Através dela, a reverência iria também para o irmão de Henrique, Felipe de Suábia, do
qual o marquês de Monferrato era súdito.
6
O reino de Navarra integrava, na altura, a área conhecida como Baixa-Navarra, ao
norte dos Pireneus. O uso do gascão (variedade peculiar dos falares provençais caraterizada

210 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 210 25/09/2012 15:21:45


de Teobaldo de Champagne7. O estudioso não julga necessário legitimar o
uso do galego-português por considerá-lo língua já “abilitata all’ esercizio
della poesia lirica”, do mesmo modo que o provençal ou o francês.
Apesar de Raimbaut não ter visitado, ao que parece, as cortes
centro-ocidentais da Península, não é estritamente necessário justificar
com dados específicos as vias pelas quais ele teve acesso à lírica galego-
-portuguesa. A estada doutros trovadores provençais nessas esferas curiais
ou o papel transmissor das linhagens (occitano)catalãs instaladas nesse
espaço político são fatores suficientes para perceber as condições gerais que
terão possibilitado a difusão da nossa lírica junto deste e doutros trobadors.
Contudo, sem pretender abordar aspetos concretos, detenhamo-nos em dois
nomes que puderam atuar como elos de união entre Vaqueiras e a lírica
galego-portuguesa: Peire Vidal e Conon de Béthune. O primeiro é um dos
escassos trovadores cujo contato com a corte galaico-leonesa de Afonso IX
está provado desde 1193, sendo a referência encomiástica mais conhecida
aquela que se inclui (precisamente) numa cansó de crozada datável de
1201-1202 (Alvar 1977: 65-66)8:

Reis de Leon, senes mentir,


devetz honrat, pretz reculhir,
cum selh qui semen’en garag
temprat d’umor ab douz complag.

Peire Vidal aparece também vinculado a outras esferas sociais relacionadas


com o trovadorismo como foram as linhagens dos Urgéis, Cabreras ou
Haros. De acordo com o conteúdo de Quant hom honratz torna en gran
paubreria (Avalle 1960: 396), tomou partido a favor de Marquesa de Ur-
gell, a mulher de Pôncio III Geraldo de Cabrera (primo de João Vélaz), na
disputa entre ela e Afonso II de Aragão (cf. supra):

por uma profunda pegada do vasco) naquele antigo reino está bem documentado na Idade
Média.
7
Teobaldo foi designado como chefe da IV Cruzada, mas será substituído, à sua morte,
por Bonifácio de Monferrato em 1201.
8
O texto foi situado em 1201-1202, mas certamente testemunha a aproximação entre
Vidal e Afonso IX na década prévia. Sobre a relação de Peire Vidal com os reinos peninsu-
lares, sobretudo com a lírica galego-portuguesa, veja-se Hoepffner (1946) e Vilhena (1977).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 211

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 211 25/09/2012 15:21:45


Canson, vai t’en al bon rei part Cerveira,
que de bon pretz non a el mon engansa,
sol plus francs fos vas mi dona de Cabreira,
que d’autra ren non fai desmesuranza.
(vv. 43-46)

Tal como afirmamos, Miracle de Urgell (irmã de Marquesa) desposou


Gomes Gonçalves e foi mãe de Rodrigo Gomes de Trava. Por outro lado,
existem igualmente dados que evidenciam uma grande proximidade entre
Peire Vidal e Diogo Lopes de Haro, a quem o occitano alude no envio de
Car’ amiga dols’ e franca (Avalle 1960: 138-139):

Qui d’ En Diego s’arranca,


non a mestier mas que·s pona
o qu’ om tot viu lo rebona
en privada pozaranca,
a lei de chica vilana
recrezen, cor de putana,
si tot’al taulat se lansa
ni·s ponha d’emplir sa pansa.
(vv. 49-56)

D. Diogo esteve casado com Aldonça Gonçalves {Trava & Vélaz} (irmã
desse Gomes Gonçalves) e foi sogro de Rui Dias dos Cameros (cf. supra).
Ora, Peire Vidal aparece ligado à corte de Bonifácio de Monferrato (Tavani
1987: 41), o grande protetor de Raimbaut de Vaqueiras9. Essa esfera curial
poderá ter constituído uma das ocasiões em que o Vaqueiras entrou em
contato com a poesia galego-portuguesa, certamente bem conhecida por
Peire Vidal10. Notemos ainda que a obra deste último se encontra, como
não podia deixar de ser no ambiente monferratense, imbuída pelo espírito
da IV Cruzada, conforme se reflete na composição, acima citada, Baron,
Jhesus, qu’en crotz fon mes, dedicada a Afonso IX de Leão.

9
A relação entre Vaqueiras e o marquês de Monferrato está documentada desde 1180
(Linskill 1964: 7).
10
Uma cansó deste poeta conclui com um juramento por Santiago (de Compostela): “Per
l’apostol qu’om apella / Sant Jacme de Compostella” (Avalle 1960: 316).

212 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 212 25/09/2012 15:21:45


Foi por causa da Terceira Cruzada e, sobretudo, pelo indubitável
relacionamento poético observado com João Soares de Paiva que aludi-
mos anteriormente a Conon de Béthune. A produção poética de Raimbaut
de Vaqueiras e a deste trouvère galo, para além da vinculação de ambos
ao movimento das cruzadas, mantêm conexões muito visíveis. Em pri-
meiro lugar, eles foram coautores de Seigner Coine, jois e pretz et amors,
tenção provavelmente composta em Costantinopla, durante o verão de
1204 (Linskill 1964: 239), no contexto da IV Cruzada11. Por outro lado,
é altamente significativo que a estrofe francesa do descordo de Vaqueiras
principie com um verso tomado da chanson de Conon Belle douce dame
chiere, reutilizando também vários termos da primeira estrofe desse texto
que, com chiere, conformam a rima “a”:

Conon de Béthune Raimbaut de Vaqueiras

Belle douce dame chiere, Belle douce dame chiere


vostre grans beautés entiere, a vos mi doin et m’ otroi
m’ a si pris je n’ avrai mes joi’ entiere
ke, se iere em paradis, si je n’ ai vos e vos moi.
si revenroi je arriere, Mot estes male guerriere
por convent ke ma proiere si je muer per bone foi
m’eust mis mas ja per nulle maniere
la ou fuisse vostre amis no·m patrai de vostre loi.
ne vers moi ne fuissés fiere,
car aina ens nule maniere
ne forfis
par coi fuissiés ma guerriere.

Segundo sugeriu Brea (1997a: 83), se extrapolarmos esse procedimento ao


caso da estrofe galega, esta poderá ter sido a recriação de um texto prévio,
por enquanto, perdido. Para além de acrescentar o valor do artifício poético

11
Também Conon de Béthune aparece próximo do marquês Bonifácio de Monferrato,
citado pelo trouvère em L’ autrier avint en cel autre païs: “Encoir n’ a pas un mois entir
passé / ki li Marchis m’ envoia son messaige”.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 213

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 213 25/09/2012 15:21:45


investido por Raimbaut na confeção do descordo, essa hipótese tem um no-
tável interesse para a história das primeiras fases do nosso trovadorismo12.
Além da conjetura lançada por Giuseppe Tavani sobre o descort,
Castro (1992, 1995) apresentou uma tese diversa e independente da anterior,
embora se possam registrar alguns pontos de contato. O professor brasileiro
concebe a origem do poema em foco como consequência do cruzamento
de caminhos, em 1203, entre Raimbaut de Vaqueiras, considerado membro
da Ordem de São João de Jerusalém, e Afonso de Portugal, grão-mestre
dessa mesma confraria:

Retornando de Corbeil, Afonso embarcou em Marselha para tomar parte na


Quarta Cruzada. No castelo de Babon, deu a benção a seu amigo Raimbaut de
Vaqueiras, que fizera profissão de fé religiosa na Ordem do Hospital de São
João de Jerusalém. Foi provavelmente aí que o poeta, antes de ser recebido na
Ordem, compôs e apresentou, a um público em que pontificava o grão-mestre,
Afonso de Portugal, seu famoso descordo plurilingue. Nele, os cinco idiomas
românicos correspondem às cinco províncias não germânicas ou “línguas”, em
que passava a ser dividida a administração da Ordem por iniciativa de Afonso
(Castro 1992: 847).

A proposta apresenta numerosos pontos obscuros e, na realidade,


não explica de modo convincente o uso dos idiomas que acompanham
o galego-português na composição. Seja como for, devemos notar a
coincidência no relacionamento com a IV Cruzada e a identificação do
grão-mestre da Ordem de São João com Afonso de Portugal, um dos
filhos ilegítimos de Afonso Henriques e Châmoa Gomes (← Gomes Nu-
nes de Celanova & Elvira Peres de Trava13). A presença dele na Cruzada
é interessante, já o uso da nossa língua no descordo só se justifica pela
existência de um público receptivo a esse idioma e à modalidade literária
que nele se exprimia14.

12
Notemos que, de fato, a estrofe galego-portuguesa entra no cânone argumental mais
frequentado pela cantiga de amor.
13
Châmoa Gomes esteve, portanto, aparentada diretamente com João Vélaz, Osório Ea-
nes ou Fernando Pais de Tamalhancos
14
A Ordem de São João de Jerusalém contou com o patrocínio de ilustres membros da
família Trava, entre eles: Teresa Fernandes (& Nuno Peres de Lara), Fernando Nunes de
Lara (filho da anterior), Urraca Gonçalves (& Froila Ramires), o conde Gomes Gonçalves

214 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 214 25/09/2012 15:21:45


Altas undas que venez suz la mar, canção de amor posta em boca
de uma mulher, tem sido considerada como “inspirada en las cantigas de
amigo gallego-portuguesas” (Riquer 1983: 843). Com efeito, o conteúdo,
o léxico e a estrutura não deixam lugar para dúvidas sobre a sua conexão
com o género luso-galaico:

Altas undas que venez suz la mar,


que fai lo vent çai e lai demenar,
de mun amic sabetz novas contar,
que lai passet? No lo vei retornar!
Et oi Deu, d’ amor!
Ad hora·m dona joi
et ad hora dolor!

Auras dulzas qui venez devers lai


un mun amic dorm e sejorn’ e jai,
del dolz alein un beure m’ aportai!
La boca obre, per gran desir qu’ en ai.
Et oi Deu, d’ amor!
Ad hora·m dona joi
et ad hora dolor!

Mal amar fai vassal d’ estran pais,


car en plor tornan e sos jocs e sos ris:
ja nun cudei mum amic me traïs.
qu’ eu li donei ço que d’ amor me quis.
Et oy Deu, d’ amor!
Ad hora·m dona joi
et ad hora dolor!

Paradoxalmente, a relação do texto com as cantigas de amigo,


utilizada para demonstrar a antiguidade do espécime galego-português,
será um dos motivos para duvidar da autoria de Raimbaut15. O problema

(pai de Rodrigo Gomes) ou Teresa Bermudes (& Fernando Airas), tia de Osório Eanes.
Veja-se Barton (1997: 239, 247), Barquero Goñi (1999: 97-99) e García Tato (2004: 14-18,
134-144). Também o conde Ponce II Geraldo de Cabrera figura entre os benfeitores dessa
instituição (Barton 1997: 284-285).
15
Eis as palavras de Tavani (2008: 6) quando explica a opinião de De Bartolomaeis, um
dos partidários de negar a autoria a Raimbaut: “Supporre che Altas undas sia davvero di
Raimbaut, significherebbe rovesciare «tutto il capitolo relativo alle origini delle cantigas

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 215

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 215 25/09/2012 15:21:45


prende-se à cronologia tardia (e imprecisa) que se costuma atribuir às
cantigas de amigo de natureza assimilável ao texto provençal16, circuns-
tância que tornaria inviável a existência de um hipotético influxo sobre a
obra de Raimbaut, necessariamente anterior a 1205. Essas razões levaram
Tavani (2008: 30) a excluir a autoria de Raimbaut, vindo a preferir para
esse posto o nome de Cerveri de Girona: “Se per ragioni essenzialmente
cronologiche, ma non solo, escludiamo Raimbaut, chi meglio di Cerveri
de Girona avrebbe tutte le carte in regola per rivendicare la paternità di
Altas undas, un testo a tradizione unica ed esclusivamente catalana, e
consegnata in un canzoniere che potrebbe essere definito, e lo è stato, una
Cerveri-Sammlung?”. Mesmo reconhecendo muito sugestiva a candida-
tura de Cerveri de Girona17, a informação apresentada neste e noutros
trabalhos induz a tomar com alguma cautela os argumentos referidos à
alegada cronologia tardia das cantigas de amigo para desvincular Raimbaut
daquele texto. Notemos, por exemplo, que a documentação de Fernando
Rodrigues de Calheiros, como adulto, em 1195 abre uma via para situar
o cultivo dessa tipologia poética na segunda metade do séc. XII18 e, ao
mesmo tempo, permite suspeitar que a ausência (parcial) da cantiga de
amigo no segmento mais antigo da tradição manuscrita terá resultado dos
critérios de seleção que presidiram às primeiras recolhas19.

de amor in genere, e delle cantigas de amigo in particolare», assegnare al trovatore proven-


zale il ruolo di inventore di un genere sviluppatosi, nelle forme canoniche, esclusivamente
in Galizia, senza alcuno eco in area occitanica, fare del testo attribuitogli da Sg lo schema
al quale si sarebbero attenuti decine e decine di trovatori ispanici – e senza ricadute in
territorio occitanico –, assegnare di conseguenza alla penisola centro-occidentale il ruolo
esclusivo di acclimatatrice di modelli transpirenaici.”
16
Não existe unanimidade no entendimento dos nexos entre esse texto e as cantigas de
amigo, sobretudo pela presença do motivo da “aura dulza”, alheio à espécie poética gale-
go-portuguesa.
17
Cerveri foi autor de uma viadeira, género com caraterísticas formais (paralelismo e
leixaprém) típicas da cantiga de amigo, embora afastado desta última pelo conteúdo.
18
Miranda (1994: 12) considerou a possibilidade de Calheiros ter sido, de algum modo, o
fundador do género de amigo.
19
A cantiga de amigo de feição mais popular aparece usualmente associada aos jograis,
“excluídos” (?) da mais antiga recolha, o “Cancioneiro de cavaleiros”.

216 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 216 25/09/2012 15:21:45


CAPÍTULO IX

PERO BE VOLH QUE·L REIS FERANS


AVIA MO VERS E·L REIS N’ AMFOS!

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 217 25/09/2012 15:21:45


D. Fernando II da Galiza e de Leão (ACS, Tombo A)

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 218 25/09/2012 15:21:45


Seignor dels galecs
O maestre dels trobadors, Giraut de Bornelh (1165-1199), refere-
-se de modo conjunto a um rei Fernando e a um rei Afonso na tornada da
composição Ges de sobrevoler: “Pero be volh que.l rei Ferans avia mons
vers e.l reis n’ Amfos” (c. 1170). O primeiro deles foi consensualmente
identificado com Fernando II1, do que se pode deduzir a inclinação do
monarca pelo trovadorismo2, seguindo o exemplo do pai, Afonso VII3. O
testemunho do trobador condiz com os dados expostos neste trabalho que
situam o despontar da lírica galego-portuguesa no último terço do século
XII, durante os reinados de D. Fernando e do filho D. Afonso. Tendo em
vista o meio social de onde surgem os primeiros trovadores, poder-se-ia
concluir que foi através do contato com a corte desses monarcas que se
difundiu a modalidade poética em apreço4. Ora bem, da nossa apresenta-
ção, ressalta de modo objetivo o papel determinante de várias linhagens,
em especial a dos Travas (e outras a ela associadas, como os Vélaz e os
Celanovas). Ambos os aspetos não são antitéticos, sobretudo se levarmos

1
Em face aos modelos prévios de tipo majestático hierático, a imagem equestre deste
monarca no Tombo A do ACS (c. 1180) pressupõe a assunção dos valores cavaleirescos:
“um cambio en la imagen pública que la realeza quiere dar de sí misma: una imagen más
activa del poder, más caballeresca – valga la redundante obviedad –, si tomamos el término
en todo lo que evoca de la cultura e imaginación de la época. El monarca abandona su hie-
rático y distante continente imperial para erigirse en el primero de sus caballeros, al que se
podía incluso confundir con el héroe de un roman courtois en combate singular” (Moralejo
Álvarez 2004: 164).
2
É possível, segundo já foi sugerido, que o texto tenha sido elaborado no reino galaico-
-leonês ou na própria corte de Fernando II. O sirventês Bel m’es quan la roza floris também
pode ser relacionado com este último monarca (Michaëlis 1904: 724-725, n. 8). Alegret
alude, em termos muito laudatórios, a um “Seinhor de cui es Occidentz” (Viel 2011: 83,
91), identificado tradicionalmente, sem argumentos de peso, com Afonso VII. Porém, não
descartamos, antes pelo contrário, que se trate do próprio Fernando II.
3
Lembremos que Afonso VII já é citado por diversos trovadores, entre eles e de modo
elogioso pelo próprio Marcabrú (Alvar 1977: 27-43). Este último conheceu Pôncio II Ge-
raldo de Cabrera na corte desse soberano (cf. supra).
4
De fato, a maioria dos trovadores considerados neste trabalho pode ser vinculada, de
modo direto ou por via social/familiar, ao aparelho de governação do reino galaico-leonês.
Essa circunstância é especialmente notória no caso de João Vélaz, João Soares de Paiva,
D. Juião, Osório Eanes, Rodrigo Dias dos Cameros, Fernando Pais de Tamalhancos, Pedro
Pais Bazaco ou João Soares Somesso.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 219

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 219 25/09/2012 15:21:45


em consideração o continuum que existiu, a vários níveis, entre essa estirpe
galega e a casa real (cf. infra).
A lírica galego-portuguesa aparece como um produto es-
sencialmente galaico, cujas origens devem, portanto, ser atribuídas a
condicionamentos macro e microestruturais privativos do antigo reino da
Galiza. A situação que, a esse respeito, observamos nos espaços vizinhos,
a começar por Castela, pode ser aduzida como prova de contraste muito
elucidativa. A corte de Afonso VIII – o segundo monarca citado por Giraut
de Bornelh (cf. infra)5 – apresenta-se como o meio propício para a assimi-
lação da canção trovadoresca (em castelhano)6, porém, não existe qualquer
indício confiável sobre uma hipotética implantação da mesma nesse reino.
Relativamente a Portugal, a atividade literária de personagens dessa pro-
cedência resultou, como vimos, de importantes vínculos sociopolíticos e
familiares com o reino galaico-leonês7, nomeadamente com a Galiza8. É

5
Alguns autores sugeriram identificar “N’ Amfos” com (o futuro) Afonso IX, o que nos
levaria a situar a composição antes de janeiro de 1188, altura em que morre Fernando II e
quando o príncipe Afonso contava com 18 anos. Tal hipótese entra em contradição com a
data da citada cansó (c. 1170-1173) proposta por vários estudiosos com base na alusão a
“Linhaure”; senhal com que parece referir-se ao trovador Raimbaut d’ Aurenga, falecido
em 1173. A denominação de “rei” aplicada aos filhos do monarca é, contudo, normal nos
reinos ocidentais da Península.
6
Veja-se Sánchez Jiménez (2004: 102): “Beside Vidal, many other Catalan and Occi-
tanian troubadours portrayed Alfonso’s court as a golden age of courtesy and patronage,
providing a wealth of information about the Castilian court during the late twelfth and
early thirteenth centuries”.
7
Calderón Medina (2011a: 217-239) analisa a presença de um grupo de magnates portu-
gueses na corte de Fernando II e Afonso IX. Como foi notado ao longo das páginas deste
trabalho, vários trovadores aparecem ligados familiarmente a membros desse “partido”
luso.
8
A comunidade cultural – sobretudo linguística – entre a Galiza e Portugal foi um fator
determinante na extensão do trovadorismo a sul do Minho. Sobre as singulares relações
entre a Galiza e Portugal, de uma perspetiva abrangente, veja-se Romero Portilla (2000).
Essa autora afirma que: “La relación entre Galicia y Portugal fue especialmente estrecha,
ya que el territorio lusitano constituía la zona natural de expansión gallega hacia el sur por
el territorio musulmán. A esto sumamos la existencia de una misma lengua que se exten-
dió con la reconquista. Es un hecho que la aparición del reino de Portugal no supuso una
ruptura de las relaciones con Galicia y la frontera continuó siendo zona de comunicación,
nunca existió una idea rigurosa de frontera que delimitase cada territorio” (p. 57). Por ou-
tro lado, é um despropósito apelidar o idioma do nosso trovadorismo como “galego” (tout
court); antes pelo contrário, da perspetiva dos padrões atuais, poder-se-á suster, com razão,

220 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 220 25/09/2012 15:21:46


também interessante notar que, apesar da aliança entre Leão e Galiza atra-
vés da figura do monarca, não ficou registrada a participação de leoneses,
propriamente ditos, nesse movimento poético para o período aqui analisado.
A aclimatação do trovadorismo na Galiza explica-se pela inte-
ração, em diversos planos, de fatores de natureza sociopolítica, cultural e
econômica, examinados com maior ou menor acerto por diversos estudiosos
desde o séc. XIX. Precisamente, a avaliação inexata da posição e do peso
políticos do nosso país, durante os reinados de Afonso VII, Fernando II e
Afonso IX, tem sido um importante empecilho para entender os primórdios
do movimento literário em causa. Na percepção da Galiza repercute-se, em
boa medida, certa historiografia espanhola que concebia – e concebe – a
vertebração histórica do atual Estado Espanhol, no caso dos reinos centro-
-ocidentais, como sucessão de três núcleos institucionais: Astúrias → Leão
→ Castela. Sob esse ponto de vista, a Galiza representa(va) um componente
anômalo cuja existência era marginalizada e/ou neutralizada como parte
indistinta desse “reino de Leão”, com o centro de gravidade político-cultural
na cidade que lhe empresta o nome9.
A transposição mimética dessa perspetiva para o campo literário
levou, por exemplo, Carolina Michaëlis (1904: 764-765) a arredar da Galiza
as origens efetivas do trovadorismo sob o pretexto explícito de que “não
constituía um reino com monarcas seus e côrte sua”, vindo a situá-las na
cortes de Fernando II e Afonso IX, mas percebidas, em sentido restrito,
como instituições apenas leonesas. A hipótese de D.ª Carolina, tal como
foi até agora esboçada, explicaria obviamente o aparecimento de uma
produção lírica cujo veículo linguístico tivesse sido o leonês, o que não se
deu. Porém, cumpre lembrar que para a investigadora alemã esse âmbito

que o veículo linguístico das cantigas é o “português”. Com efeito, o essencial da língua
trovadoresca permanece, sem solução de continuidade, no modelo luso-brasileiro.
9
Fernando II e Afonso IX são normalmente intitulados como reis de Leão, mas é, con-
tudo, muito habitual a denominação que discrimina as duas entidades políticas. Em muito
menor medida, normalmente só no escatocolo, encontramos referência às Astúrias ou à
Estremadura. Porém, como nota P. Linehan (1994: 448) “aunque León tenía preceden-
cia sobre Galicia en los usos de la cancillería, Galicia precedía a León en el corazón del
rey [Afonso IX]”. Lembremos que o trovador Arnaut Daniel denomina Fernando II como
“seignor dels galecs” (Brea 1994: 50).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 221

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 221 25/09/2012 15:21:46


só representava o local onde alguns portugueses conheceram e adotaram,
na própria língua, o canto trovadoresco:
D’ ahí a suspeita natural, por mim formulada, ha tempos, no meu primeiro
escorço de literatura portuguesa, que a côrte de Alfonso IX e Fernando II […]
fosse o primeiro centro de arte palaciana e que portugueses, aparentados com a
dynastia e magnates leoneses, refugiados ou amicalmente hospedados em Leão,
occupando ás vezes os primeiros postos aulicos e na administração, aprendessem
ahi a arte de trovar, em contacto directo com trovadores e jograes de Provença
(Michaëlis 1904: 765)10

Em contraste com o papel subsidiário que, consoante essa perspetiva, teria


cabido à Galiza, numerosas evidências demonstram que o nosso país teve
um papel preponderante do ponto de vista político e, acima de tudo, cultural
no complexo político galaico-leonês11.
O peso da linhagem dos Travas junto da monarquia, desde o rei-
nado de Afonso VII, foi uma das forças que, entre outras e a interagir com
elas, determinaram o protagonismo crescente da Galiza. A casa de Trava e a
coroa estabeleceram uma firme aliança política, muito frutífera para ambas
as partes, que se visualiza no fato de Afonso VII, Fernando II e Afonso IX
terem sido criados e instruídos no seio dessa linhagem galega. Trata-se de
uma tradição que remonta ao reinado de Afonso VI, segundo se nota numa

10
O posicionamento defendido por Oliveira e Miranda apresenta diversas concomitâncias
com o de Michaëlis, mas com algumas novidades relativas à geografia e, em parte, ao – ago-
ra mais impreciso – papel atribuído à corte leonesa: “Assim, terá sido em torno da linhagem
dos Cameros, sediada em terras estrategicamente posicionadas a nordeste de Castela e a sul
da Navarra e num período em que a um afastamento relativamente à corte castelhana poderá
ter correspondido um estreitamento das relações políticas entre esta linhagem e Sancho VI
de Navarra, que ocorreram as primeiras tentativas poéticas em galego-português. A presença
de portugueses exilados nessas paragens e as umbilicais ligações dos Cameros ao reino leo-
nês e à Galiza, fermentadas pelo contacto directo com os meios trovadorescos occitânicos
[...] terão criado as condições para que essas tentativas tivessem tido lugar […]. Já alguns es-
tudiosos […] foram chamando a atenção para que algumas das pistas sobre o trovadorismo
galego-português das fases mais recuadas convergiam na corte leonesa de Afonso IX. Tendo
em atenção que a Galiza não tem então uma existência política autónoma, sendo parte do
reino de Leão até 1230, não escapa que são leoneses, ou com este reino relacionados, muitos
dos nomes que afloram na parte inicial dos cancioneiros” (Miranda 2004: 60).
11
Sobre alguns dos aspetos examinados neste capítulo conclusivo, vejam-se as hipóteses
sugeridas por Brea (1994) relativas às origens do trovadorismo galego-português, com as
quais, em boa medida, concordamos.

222 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 222 25/09/2012 15:21:46


doação outorgada pela rainha Urraca a favor do conde D. Pedro Froiaz de
Trava em 1112. Essa escritura lembra que D. Pedro fora educado na casa
do rei e que, por sua vez, o conde instruiu o futuro Afonso VII:
Dono et concedo ego, iam dicta regina domna Urraca, a supra escriptis comitis
domno Petro et comitisse domne Maiori illas superius notatas uillas et ecclesias
et castellum sicut iam dixi ab omni interitate, ideo quia pater meus, rex domnus
Alffonsus, uos criauit et nutriauit, et pro fidele seruicio uestro quod de vobis
cognoui usque in hunc diem, et quia criastis et nutristis filium meum, regem
domnum Alfonsum, habeatis eas pro hereditate uos et filii uestri et omnis
posteritas uestra et in uita et in morte faciatis totam uestram uoluntatem inde
(Tombo C, fól. 118v)12.

Pedro Froiaz (1086-1126) não exerceu apenas como educador de futuro


monarca, será o grande defensor dos seus direitos enquanto príncipe13
e, posteriormente, um notável apoio político e militar para o monarca. A
intervenção do conde foi decisiva para que (o galego) Afonso VII fosse,
inicialmente, proclamado rei da Galiza14, o que veio a assegurar o seu acesso
ao trono após a morte da mãe, a rainha D.ª Urraca, em 112615.

12
A tutela fora-lhe confiada por encargo do pai, D. Raimundo: “consul [Pedro Froiaz],
cuius custodie puerum uiuens pater attribuit” (HC I, 47). D. Raimundo, membro da casa
condal de Borgonha, recebeu de Afonso VI, em 1093, o domínio do antigo reino da Galiza,
o que de fato supôs reconhecer uma certa autonomia para o reino mais ocidental, perdida
vinte anos antes pela anexão a Leão. Como se sabe, D. Henrique (casa ducal de Borgonha),
primo da rainha Constança, consegue (c. 1095) o governo da área meridional da Galiza: os
condados do Porto e Coimbra.
13
É importante salientar a referência a essa tutoria e aos seus efeitos por parte de Gui-
lherme IX (primeiro trovador e duque de Aquitânia), numa missiva ao arcebispo Gelmires:
“Nunc autem peruigilem uestri curam, quem multa diligo, quod re ipsa experiri poteritis,
qui omnes, quos Hiberia continet, uestri ordinis dignitate et potentia precellitis, rogo, ut
Dei primum et mei gratia et, quia iustum est, regine filium sustentetis et defendatis et, ne
exheredetur, faciatis. Relatum est enim mihi, quia rex et regina pacificati sunt, et eum per-
dan, conderedati. Nunc igitur eternam gloriam uobis in orphano illi opitulando adquirite et
de hoc ipso cum Petro Galliciensi comite et omnibus predicti pueri amicis loquimini” (HC
II, 24). Sobre a relação de Afonso VII com o seu aio, veja-se o trabalho monográfico de
López Ferreiro (1885).
14
Afonso VI determinara que o reino da Galiza passasse diretamente ao neto (Afonso
VII), enquanto herdeiro de Raimundo de Borgonha, se a filha, Urraca, viesse a contrair
segundas núpcias – como de fato aconteceu (HC I, 46).
15
A morte do infante Sancho Afonso (c. 1093-1108), potencial herdeiro de Afonso VI, fez
com que a sucessão viesse a recair na (meia-)irmã Urraca.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 223

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 223 25/09/2012 15:21:46


A ligação entre os Travas e a casa real continuará com Fernando
Peres, filho de Pedro Froiaz e preceptor do futuro Fernando II16. O evento
histórico que reflete, com mais clareza, o ascendente de D. Fernando Peres
sobre a monarquia tem a ver com a decisão que levou Afonso VII a repartir
os seus reinos entre os dois filhos, Sancho e Fernando, atribuída de modo
consensual pelas fontes cronísticas do período a D. Fernando. Eis como se
apresenta – de uma perspetiva preconceituosa e vincadamente castelhana
– na Crónica latina dos reis de Castela:
Binarius filiorum eius laesit regnum eiusdem imperatoris et causa fuit multarum
cedium et multorum malorum, que in Yspaniis acciderunt. Diuisit siquidem
regnum suum, permittente Deo propter peccata hominum, duobus filiis suis ad
instanciam Fernandi, comitis de Gallecia. Sancio scilicet, primogenito, dedit
Castellam et Abulam et Segouiam et alias uillas circumadiacentes in Extrema-
tura et Tolletum et omnia que sunt ultra serram uersus partes illas, Terram et de
Campis usque ad Sanctum Facundum et Asturias Sancte Iuliane. Residuum uero
regni suis uersus Legionem, et Galleciam, Taurum et Zamoram et Salmanticam
cum aliis circumadiacentibus uillis dedit Fernando, minori filio suo (Charlo
Brea et al. 1997: 41)17.

Essa determinação de Afonso VII pôde responder, sobretudo, a interesses


galaicos, conforme sugeriu Julio González (1960: 663-664): “Pudo pesar en

16
Este dado consta pela primeira vez em 1149.03.01: “imperante imperatore Adefonso
in Toleto, in Castella, in Legione, in Asturiis et in Gallecia. Filius eius maior uidilicet rex
domnus Sancius nutriebatur in Castella, in domo Anrici comitis. Minor scilicet rex domnus
Fernandus in Gallecia nutriebatur in domo comitis domni Fernandi Petri” (AHN, Mosteiro
de Sobrado, maço 526, nº 15). Também o encontramos numa escritura de 1150: “Rex dom-
nus Fernandus confirmat. Comes domnus Fernandus eius nutritor confirmat” (AHDS, Prio-
rado de Sar, maço 54, nº 10). O facto será ainda lembrado em 1170 pelo próprio Fernando II
quando dava a Urraca Gonçalves (neta de Fernando Peres de Trava) o Mosteiro de Morás:
“Sic do uobis atque concedo propter amorem uestrum et propter amore auu uestri comitis
domni Fernandi qui me creauit” (Fernando II, nº 118). Calderón Medina (2011a: 127-128)
analisa a figura do aio e conclui que: “Solo las grandes familias fieles a la monarquía eran
las elegidas para desempenhar esta importante función”.
17
Ximenes de Rada considera também o influxo do conde Manrique Peres de Lara: “Post
hec consilio quorundam comitum, Amalarici de Lara et Fernandi de Trastamarin, discidia
seminare uolencium, diuisit regnum duobus filiis Sancio et Fernando” (Valverde 1987:
229). Os Laras aparecem diretamente associados aos Travas pelo casamento (antes de
1154.03.18) de Nuno Peres de Lara (irmão de D. Manrique) com Teresa Fernandes, fi-
lha de Fernando Peres de Trava. Como dissemos, Teresa Fernandes casou em segundas
núpcias com Fernando II, pelo qual os filhos do primeiro matrimônio foram integrados
adotivamente na casa real galaico-leonesa.

224 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 224 25/09/2012 15:21:46


el ánimo del emperador el deseo de colmar las aspiraciones de los leoneses o,
mejor dicho, de los gallegos, a fin de tener un rey propio más compenetrado
con su pais”18. A divisão já se encontrava predeterminada, pelo menos, desde
os inícios da década de cinquenta, altura em que D. Fernando administrava
a Galiza por delegação do pai: “Regnante imperatore domno Adefonso
[...] regnantibus uero sub eodem regibus in Castella rege domno Sancio et
in Gallecia rege domno Fernando” (1153.05.29)19. Ele assume o governo
conjunto da Galiza e de Leão em meados daquela década: “ego Fernandus
Dei gratia Legionis et Gallecie rex” (Fernando II, nº 1 [1155.07.31])20.
Dois anos mais tarde dará início ao seu reinado propriamente dito, que se
prolongará até ao seu óbito em 1188.01.2221.
Como dissemos, o sucessor, Afonso IX, também foi formado
junto dos Travas, em casa de João Airas de Nóvoa – alferes de seu pai – e
de Urraca Fernandes de Trava (pais do trovador Osório Eanes), segundo
atesta um documento de 1173: “Iohannes Arie, tenente rege domno Alfonso”
(TSobrado II, nº 27). Esse monarca, com quarenta e dois anos de reinado,
completou três quartos de século de frutuosa independência política e
cultural22 para o complexo galaico-leonês e sobretudo para a Galiza, reino
que constituiu a sua residência preferida23.

18
Calderón Medina (2011a: 429), em tempos recentes, considera que: “[…] probable-
mente, la presión de la nobleza, sobre todo gallega, influyó de manera determinante en la
escisión del imperio de Alfonso VII”.
19
AHN, Mosteiro de Meira, maço 1126, nº 6 (Lucas Álvarez 1993: 401). Lembremos que
Afonso VII faleceu em 1157.08.21.
20
Segundo diversos historiadores, a divisão dos reinos, enquanto projeto, foi oficializada
no concílio de Valladolid em 1155.
21
Lucas de Tui no Chronicon Mundi sublinha o influxo (prospetivo) exercido por Fernan-
do Peres de Trava sobre a ação de governo de Fernando II: “Rex autem Fernandus, frater
Sancii regis, tunc temporis regnabat in Legione et Gallecia et regebat se consilio Fernandi
comitis de Gallecia qui eum nutrierat” (Falque 2003: 316). D. Fernando Peres morreu, mui-
to provavelmente, em 1155.12.01. López Sangil (2002: 96) refere-se a um “comes domnus
Fernandus in Traba” citado em escrituras de 1160 e 1161 que, na verdade, devemos identi-
ficar com Fernando Gonçalves de Trava (1159-1165), neto do anterior (Barton 1997: 238).
22
Veja-se Sánchez Ameijeiras (2001): “De las alrededor de ochocientas iglesias gallegas
que conservan parte de la fábrica románica, la mayoría datan entre 1157 y 1230, las fechas
que acotan los reinados de ambos monarcas”.
23
“El escenario gallego. Fue, sin duda, el más practicado por el monarca, especialmente
en los años centrales de su reinado. Recordemos que allí se encontraba cuando murió

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 225

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 225 25/09/2012 15:21:46


Valle Pérez (2001: 113) afirmava com razão, num estudo sobre
a produção artística do período, que “Fernando II [...] y Alfonso IX [...]
hicieron de Santiago – y, por lógica extensión, de Galicia toda – la verdadera
capital del Reino de León […]”. O fato mais simbólico radica na substituição
do panteão real em Santo Isidoro de Leão pela Sé de Compostela, promul-
gada institucionalmente por Fernando II em 1180-07.25: “Ego Fernandus,
diuina gratia Hispanie rex, una cum filio meo rege Adefonso [...] confirmo
et concedo ipsi ecclesie cancellariam, capellaniam et sepulturam meam et
successorum meorum” (Fernando II, nº 182)24. Era a culminação de um
processo que fez da capital galega o epicentro, em especial, eclesiástico
(Cavero 2008: 89)25, mas também político e cultural, do reino galaico-leonês,
como descreve Sánchez Ameijeiras (2008: 308-309):
Con este horizonte xeo-político, situada a vella «capital» de León demasiado
próxima á fronteira de Terra de Campos, resultaba estratexicamente máis há-
bil converter Compostela na principal sé real – entendo o termo sempre coas
reservas debidas, tendo en conta a infatigable itinerancia da corte –, e para isto
conviña converter a súa catedral na Saint Denis e a Reims do reino de León.
Tiña que aloxar o panteón real, pero tamén aspiraría a vincular liturxicamente
a institución monárquica á sua igrexa.

Fernando II; en Galicia se armó caballero y en Galicia, en Compostela, acabó siendo se-
pultado. Es precisamente esta ciudad aquella en que más tiempo permaneció el monarca,
allí donde acudió a la consagración de la catedral; y allí donde celebró algunas curias: la
que tuvo lugar en la primavera de 1211 allí se reunió. Y en el castillo de Sarria falleció a
fines de septiembre de 1230. Pero también una parte de sus residencias estuvo vinculada a
la intensa repoblación de las villas gallegas. El mejor ejemplo es Ribadavia, villa regia; en
sus inmediaciones, aparece frecuentemente Cenlle” (Cavero Domínguez 2009). Lembre-
mos que os Nóvoas estavam, precisamente, relacionados com Ribadávia e Cenlhe.
24
A origem remonta a uma decisão, só parcialmente cumprida, de Afonso VII e da rainha
Berengária, em 1140. Afonso IX sepultou, após algumas turbulências, definitivamente o
corpo do pai na catedral de Santiago. Ele próprio escolheu essa igreja para ser armado
cavaleiro pela segunda vez – e talvez ser coroado de novo – em 1197.01.23. É isso que se
deduz de uma escritura pela qual doava aos cônegos de Santiago a quarta parte do produto
das vinhas que lhe pertenciam em Vilar de Rei, perto de Ribadávia (Afonso IX, nº 102).
25
De acordo com Linehan (1994: 448), as perturbações que se opunham à sepultura de
Fernando II em Santiago, notadas por Afonso IX no diploma que confirmava os privilégios
da Sé de Santiago (“quidam tamen presumptione temeraria magis quam ratione inducti per
uiolentiam corpus eius rapientes alibi condiderant”, Afonso IX, nº 5), tinham origem na
cidade de Leão: “Quiénes eran esos quidam y dónde estaba ese alibi es algo que no revela
la documentación. Pero la única posibilidad es la civitas regia”.

226 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 226 25/09/2012 15:21:46


No sentido do apontado pela professora compostelana, devemos
aludir às atividades desenvolvidas (e/ou dirigidas) pelo magister Mateus
na Sé de Santiago promovidas por Fernando II26. O rei, que se compromete
por uma escritura de 1168 a pagar-lhe um elevado salário para que trabalhe
em vida na basílica compostelana (Fernando II, nº 88), aparece, assim,
associado a um dos projetos artísticos mais importantes e vanguardistas da
Europa27. O patrocínio para a construção do Pórtico da Glória, integrado nos
trabalhos de conclusão da fachada ocidental da Sé28, vai além da devoção
religiosa. Como notou Moralejo (1988: 27), Fernando II e depois o filho
“no hacían sino contribuir a la conclusión de su propio panteón dinástico y
santuario «nacional». Al apostol Santiago aluden reiteradamente Fernando
II y Alfonso IX como a su patrono personal y de su reino”29.

26
Lembremos que é no âmbito catedralício compostelano que foram geradas três obras
bibliográficas fundamentais no cenário artístico e cultural do séc. XII europeu: a História
Compostelana, o Tombo A e o Liber Sancti Jacobi (também conhecido como Códice Ca-
listino).
27
Não entramos aqui no debate sobre a relação de Compostela com as origens do nosso
trovadorismo, mas não podemos esquecer a relação intelectual direta dessa cidade com
Europa (Tavani 1990: 34-38, Vieira 1999: 91-110, Souto Cabo [no prelo/3]). Apesar do que
acima foi dito, Carolina Michaëlis e outros filólogos da época foram sensíveis à importân-
cia não só religiosa, mas também cultural e política de Santiago nos sécs. XII-XIII, embora
não contassem com as informaçoes históricas de que dispomos hoje em dia.
28
Também devemos ligar a esse projeto a construção do claustro e do cadeiral pétreo por
parte do círculo de colaboradores do mestre Mateus.
29
O estudioso citado continua: “En este sentido, cabe ver en el Pórtico el más claro eco
hispano de los portails royaux franceses y no sólo en sus formas sino también en la ideolo-
gía que en éstos subyace […] es posible que la imaginería regia del Pórtico, indudablemen-
te bíblica, se ofreciera también como referente simbólico o arquetipo ideal de la dinastía
reinante, en los términos alusivos o asociativos que se han propuesto para las series de los
reyes de Judá en portadas del dominio real francés o en las ubicuas representaciones del
Arbol de Jesé”. Pelo contrário, sabemos que Afonso IX não impulsionou a construção da
catedral de Leão: “Ainda que era a catedral da capital do reino, Afonso IX non foi xeneroso
coa súa construción, sufragada polos prelados, canónigos e outros benefactores” (Yzquier-
do Perrín 2008: 340).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 227

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 227 25/09/2012 15:21:46


Pórtico da Glória (Catedral de Santiago de Compostela)

Não é possível compartilhar a visão reducionista que considerou Santiago de


Compostela, de modo excludente, como um espaço para a cultura religiosa,
oposto aos centros de cultura laica onde teria germinado a lírica trovadores-
ca galego-portuguesa. Esse mesmo movimento poético, personificado nos
seus atores, demonstra a convivência entre cultura clerical e cultura corte-
sã, segundo se exemplifica nos contextos familiares de Airas Fernandes
Carpancho ou de João Vélaz e, sobretudo, no grupo de clérigos-poetas
vinculados à capital galega30.

30
Referindo-se, precisamente, à produção artística na Galiza durante os reinados de Fer-
nando II e Afonso IX, Sanchez Ameijeiras (2008: 325) afirma que: “a oposición entre
cultura cortesá e cultura clerical é unha dicotomia reducionista e simplificadora, que non
responde aos usos do pasado. Textos e imaxes producidos na corte ou na igrexa non só non
formaban entidades separadas – moitos clérigos traballan na corte –, e discursos profanos
e discursos sagrados se imbrican de tal xeito que resulta imposible establecer unha cesura”.

228 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 228 25/09/2012 15:21:46


A autonomia política associada à identificação cultural do mo-
narca e das elites nobiliárias com a Galiza foram condições indispensáveis
para que o trovadorismo de origem provençal tivesse germinado sob uma
configuração galego-portuguesa. No entanto, resta reconhecer as circuns-
tâncias particulares que ativaram a adaptação daquela moda poética no
espaço submetido à autoridade régia de Fernando II, e não, por exemplo,
na Castela de Afonso VIII (1158/1169-121731), sobrinho do rei galaico-
-leonês. A identidade de João Vélaz, o trovador de cronologia mais recuada,
leva-nos a considerar a presença de várias linhagens catalano-provençais,
sobretudo a dos Cabreras, como causa direta e última para a implementação
do movimento poético entre a nobreza galaica32.
Os Cabreras e os Minervas, concretamente Pôncio II de Cabrera
e Pôncio de Minerva, chegaram no séquito da (futura) mulher de Afonso
VII, Berengária de Barcelona e de Provença, vindo a somar-se aos Urgéis,
já instalados nos reinos centro-ocidentais desde tempos de Afonso VI. O
relevo político atingido por essas linhagens com Afonso VII ainda se irá
engrandecer na cúria de Fernando II, já que esses grupos familiares, após
a separação dos reinos, permaneceram no espaço galaico-leonês33. Uma
análise dos indivíduos que desempenharam a mordomia, o principal cargo
palatino, pode ser bastante elucidativa. Essa função foi ocupada por mem-

Veja-se também o trabalho desta autora sobre um dos tímpanos do Mosteiro de Pena Maior
(c. 1225) que reproduz uma cena do romance artúrico O Cavaleiro do Leão (c. 1170) de
Chrétien de Troyes (Sánchez Ameijeiras 2003). Esse contributo analisa as imagens medie-
vais hispanas provenientes do ciclo artúrico, com destaque, pela prioridade temporal, para
o extremo ocidental da Península. Como se sabe, as figuras que representam a história de
Tristão pertencentes a uma coluna da porta francígena (c. 1100) da catedral de Santiago
constituem o mais antigo exemplo conhecido: “El descubrimiento de Moralejo venía a
desbaratar la teoría de la vinculación cortesana de la temática artúrica en la Península. La
primicia hispana no se encontraba en un contexto cortesano, sino en un ámbito religioso”
(Sánchez Ameijeiras 2003: 300).
31
O governo efetivo de Afonso VIII só começou em 1169, quando atingiu a maioridade.
Porém, D. Nuno Peres de Lara continuou a tutelar o jovem monarca até 1177 (González
1960: 180-181). A minoridade do rei castelhano esteve caraterizada por uma notável anar-
quia derivada dos conflitos entre as principais casas nobres para obter a tutoria do monarca.
32
Sobre o influxo dos catalães no processo de europeização dos reinos centro-ocidentais
da Península, veja-se a síntese elaborada por Lomax (1982).
33
Essas linhagens mantiveram, contudo, uma presença ativa no reino catalano-aragonês,
onde concentravam interesses patrimonais e políticos.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 229

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 229 25/09/2012 15:21:46


bros dessas estirpes em 75% do espaço temporal de quarenta anos que vai
de 1145 a 1185:

Afonso VII Fernando II

Pôncio Geraldo de Cabrera (1145) Vela Guterres (1154-1157)34


Armengol VI (1146) Pôncio Geraldo (1157)
Pôncio Geraldo (1146-1157) Pôncio Geraldo (1159-1161)
Pôncio de Minerva (1167)
Armengol VII (1167-118435)
3435

Não nos esquecemos do relacionamento que existiu entre Fer-


nando II e o tio materno, Raimundo Berengário IV (1113-1162). Sabemos
que este favoreceu o acesso do sobrinho ao trono, segundo se infere de
uma escritura em que solicitava de Afonso VII que Fernando viesse a ser
rei efetivo e não só nominal36. Por sua vez, Fernando II irá estabelecer (c.
1158) um pacto com o conde de Barcelona, comprometendo-se, em ter-
mos afetuosos do ponto de vista familiar, a defender os interesses do tio37.
Raimundo Berengário chegou a visitar o sobrinho nos primeiros meses de

34
Incluímos o nome de Vela Guterres, genro de Pôncio Geraldo e pai de João Vélaz. Lem-
bremos que, até a morte de Afonso VII, aparece como mordomo do príncipe Fernando. O
cargo foi ocupado em 1188 por Pedro Vélaz (cf. infra).
35
Antes de 1179, ele exerceu o cargo de modo descontínuo (cf. supra).
36
“Illustrissimo Dei gratia A. Ispaniarum imperatori R. comes Barchinone regnique do-
minator aragonensis ac Provincie marchi […]. Regem Fernandum filium vestrum et ne-
potem meum quem diligo ut filium vobis specialiter comendo ut de ipso congruam curam
geratis sic ut dicatur rex a re non solo nomine” (Bofarull y Mascaró 1849: 373).
37
“Ego Fernandus Dei gratia rex legionensium et Gallecie dominator juro et firmo cum
episcopis, comitibus, potestatibus et ceteris majoribus regni mei atque fideliter promit-
to vobis caro avunculo meo domino R. comite Barchinone quod vos diligenter et contra
omnes juvem et ad tuendum vobis ac defendendum honorem vestrum sempre pro posse
invigilem. Idque sic pro vobis faciam sicut pro me ipso et vos loco boni patris habeam et
pro vobis tanquam pro bono patre faciam. Et hoc totum similiter filio vestro consanguineo
meo promito quem semper loco boni fratris volo habere si ipse me loco fratris recipiat
sicut vos me loco filii recepitis. Quod ideo facio ut vos simile modo me contra omnes alios
juvetis diligatis pro me sicut pro bono filio faciatis” (Bofarull y Mascaró 1849: 336-337).
Raimundo Berengário IV foi pai de Afonso II, rei trovador, grande protetor do trovadoris-
mo (Martín de Riquer 1959).

230 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 230 25/09/2012 15:21:46


1160, como testesmunham vários diplomas de Fernando II confirmados
pelo próprio conde de Barcelona. O contexto político mostrava-se, assim,
potencialmente permeável aos elementos culturais originários do espaço
catalano-provençal, sobretudo aqueles vinculados ao mundo cortesão38.
Entre os aristocratas galegos mais ligados àquelas estirpes encon-
tra-se precisamente o grupo dos Vélaz-Travas. Para além da convergência
com os Cabreras39, o ramo familiar dos Vélaz descendente de Vela Oveques
enlaçou-se aos Minervas pelo casamento (c. 1171) do conde Rodrigo Álvares
de Sárria {Vélaz-Trava} com Maria Ponce de Minerva, filha de Pôncio de
Minerva. Os Travas, por sua vez, também se associaram aos Cabreras atra-
vés da união (c. 1141) de Maria Fernandes de Trava com o próprio Pôncio
II Geraldo de Cabrera e, mais, tarde aos Urgéis pelo matrimônio, em 1182,
de Gomes Gonçalves {Trava-Vélaz} com Miracle, filha de Armengol VII.
Nessa conjuntura social, mesmo a priori, teria sido fácil pressagiar
que a moda literária em questão pudesse vir a ser assimilada pelas camadas
aristocráticas da Galiza e precisamente pela linhagem de João Vélaz, grupo
que para isso reunia aptidões muito favoráveis. Entre os dados significativos
que os indigitam como meio social letrado, será de notar a complemen-
tariedade que existiu entre João Vélaz, primeiro trovador conhecido no
reino de Fernando II, e o cargo desempenhado pelo irmão, Pedro Vélaz,
na cúria desse mesmo monarca. Como dissemos, este último, arcediago
de Sé compostelana, exerceu como chanceler de Fernando II (e de Afonso

38
O seu influxo no plano cultural terá sido paralelo ao exercido a nível político como
“dinamizadores de la nobleza leonesa” como sublinha Calderón Medina (2011a: 486).
Essa autora também nota a simbiose que se produziu com a nobreza autóctone: “una parte
importante de los nobles foráneos emparentaron com la nobleza autóctona e incluso com
la familia real, como un mecanismo para asentarse en el reino que los recibía y fortalecer
su poder”.
39
No que concerne à cultura material, conhecemos um exemplo notável de assimilação
dos Vélaz relativamente aos Cabreras. Com efeito, segundo se prova por um selo –repro-
duzido nesta obra – apenso a um diploma de 1193 outorgado por Maria e Pedro Vélaz
(ACZ, 17/30), os irmãos Vélaz(-Cabreras) adotaram o símbolo caprino dos Cabreras. Tal
exemplar sigilográfico constitui uma das amostras mais precoces na utilização de um em-
blema heráldico por particulares no reino galaico-leonês. Segundo assinala Menéndez-Pi-
dal de Navascués (1988: 38), fora de âmbitos muito restritos, só se pode falar em difusão
do uso do selo na Península desde o primeiro quartel do séc. XIII.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 231

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 231 25/09/2012 15:21:46


IX), isto é, foi o responsável máximo pela instituição que elaborava os atos
diplomáticos emanados da coroa40. Para além dos contatos familiares com
o mundo catalano-provençal (cf. supra), há indícios que nos levam, como
vimos, a pensar na existência de importantes nexos com centros culturais
europeus, concretamente com o meio social próximo a Leonor de Aquitânia,
neta de Guilherme IX41.
Quanto aos Travas, eles demonstraram proximidade e porosidade
a respeito das novidades que se registravam no espaço intelectual de Euro-
pa. O exemplo mais assinalável está no papel que exerceram na difusão da
ordem de Cister, instituição de natureza religiosa, mas de grande influxo nos
planos cultural e econômico. Com efeito, quando Fernando Peres de Trava
junto com a mulher e a sobrinha, Urraca Bermudes, (re)fundam o Mosteiro
de Sobrado em 1142 [D.1]42, instituem a ordem bernarda, tornando-o a pri-
meira casa dessa obediência na Península (Alonso Álvarez 2007)43. A partir
desse momento, a expansão de Cister ao longo do séc. XII aparece associada
de modo recorrente aos membros, sobretudo femininos, dos Travas44.

40
Sobre alguns aspetos da sua atividade como chanceler, veja-se Lucas Álvarez (1993:
356, 513-514).
41
Moralejo Álvarez (2004: 164) e outros autores notaram a existência de concomitâncias
entre o âmbito artístico dos Plantagenetas e a imagem de Fernando II do Tombo A do ACS.
42
Além dos donatários, entre os confirmantes da escritura fundacional encontramos: Vela
Guterres (pai de João Vélaz), Bermudo Peres, Urraca Henriques, Múnio Pais e Lupa Peres.
Lembremos que o conde Rodrigo Álvares foi um dos fundadores de Ordem de Santiago e,
pessoalmente, da de Monte Gáudio. Essa Ordem, muito associada ao reino de Aragão, teve
a casa principal perto de Jerusalém (cf. infra).
43
Fernando Peres aparece diretamente envolvido na fundação do Mosteiro de Osseira
em 1137: “Ego Fernandus comes Galletie qui precibus meis apud dominum imperatorem
ut predictum montem et hereditatem predicte ecclesie daret et cauto scriptoque muniret
obtinui, confirmo” (Oseira, nº 15). A adscrição de Osseira a Cister situa-se, contudo, c.
1150 (Alonso Álvarez 2007: 666). O Mosteiro de Sobrado foi, ao que parece, reabitado
por monges procedentes da abadia de Claraval. Esta última tinha sido instituída por S.
Bernardo, cuja participação foi muito importante na fundação e reconhecimento da ordem
do Templo. Lembremos que D. Fernando também é relacionado com a presença da ordem
do Templo em Portugal e na Galiza, provável consequência das duas viagens que realizou
a Jerusalém.
44
“Si admitimos que Sobrado fue el primer monasterio cisterciense español, deberemos
suponer también que fueron los Traba los introductores de la orden en la Península Ibérica.
Creo que se puede ir algo más lejos: cuando en otras familias, más tarde, aparece la pre-

232 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 232 25/09/2012 15:21:46


Esse protagonismo feminino terá sido similar ou paralelo à impor-
tância das mulheres dessa estirpe nas trajetórias iniciais do trovadorismo45,
sendo exequível conjeturar que foi na “casa” de algumas dessas damas que
o movimento deu os primeiros passos pela mão de João Vélaz46. Duas filhas
de Fernando Peres de Trava parecem reunir, à partida, as melhores condi-
ções: Maria Fernandes de Trava (1141-1169), segunda mulher de Pôncio
Geraldo, e a sua irmã Teresa (1153-1180), (amante e) esposa de Fernando
II, portanto rainha. Entre as figuras cujo patrocínio pôde também ter sido
decisivo no despontar da poesia galego-portuguesa, cumpre citar Fernando
Ponce de Cabrera “o Menor” (1163-1200), filho de D.ª Maria Fernandes e
de D. Pôncio II Geraldo. Ele esteve casado com Estefânia Lopes de Haro,
prole de Lopo Dias de Haro e da galega Aldonça Gonçalves {Trava-Vélaz}.
D.ª Estefânia era irmã de Diogo Lopes de Haro, um dos mais conhecidos
promotores do lirismo occitânico e sogro de Rodrigo Dias dos Cameros.

Lo valenz reis n’ Anfons rics de cor


A corte de Afonso IX (1188-1230)47, foi palco privilegiado
para dar continuidade, numa segunda fase, às experiências poéti-

ferencia bernarda, esta nueva devoción suele coincidir con un enlace matrimonial con un
miembro femenino del grupo gallego” (Alonso Álvarez 2007: 707).
45
O caráter feminino do mecenato é a chave para entender as referências à “cas dona
Maior” ou à “cas dona Costança”, respetivamente, na rubrica à tenção de Paio Soares e
Pero Velho de Taveirôs e na cantiga de Airas Fernandes “Carpancho” (cf. supra).
46
Lembremos aqui as palavras de Mercedes Brea (1994: 51) sobre a história da literatura
medieval como “unha historia de familia, unha historia de matrimonios, anulacións e di-
vorcios”.
47
Como dissemos, este monarca favoreceu largamente o reino da Galiza, o que lhe valeu
em Castela o apelativo de “Gallego”: “tan grato y ajustado a sus hechos como despectivo
en su intención” (Moralejo Álvarez 1988: 20). Afonso IX, zeloso com a autonomia do seu
reino, tentou evitar a futura união com Castela (após a sua morte) (González 1960: 187,
Calderón Medina 2011a: 449-482). Esse propósito, entre outras circunstâncias, fez com
que tenha sido menosprezado pela historiografia espanhola (Barton 2008: 71). A autono-
mia do reino, posta em perigo em 1196 pela aliança entre Castela e o Papado, malogrou-se
à morte de Afonso IX, em 1230, pela defecção do setor leonês; pelo contrário, o posiciona-
mento da Galiza, no seu conjunto, parece ter concordado com a perspetiva do monarca.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 233

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 233 25/09/2012 15:21:46


cas48. A importância desse meio como ponto de encontro com a poesia
provençal vem atestada pelos depoimentos explícitos de vários trovadores
occitânicos (Guilhem Magret49, Giraut de Bornelh, Peire Vidal e Elias
Cairel) e/ou das notícias sobre a presença deles na corte galaico-leonesa,
como é o caso de Elias Cairel, Guilhem Magret, Savaric de Mauleon e Uc
de Saint Circ (Alvar 1977: 65-74, Miranda 2004: 59-77)50.
Para além da cúria régia, outros núcleos senhoriais terão favo-
recido a expansão do trovadorismo. O casamento de Teresa Bermudes
(1153-1219) e de Urraca Fernandes (1165-1199), respetivamente, sobrinha
e filha de Fernando Peres de Trava, com dois irmãos da estirpe dos Limas
fez com que essa linhagem se tivesse tornado um epicentro do movimento
poético durante o reinado de Afonso IX, rei criado e instruído em casa de

48
Fora do âmbito das artes plásticas, temos escassas notícias sobre a cultura no reinado
de Afonso IX. É por isso interessante recuperar algumas considerações tecidas por Anglés
(1958: 104) sobre a música – mesmo que seja sacra – na corte desse monarca: “ [...] la
existencia de un planctus con texto latino dedicado a la muerte de Fernando II de León
(1157-1188), conservado con música en el manuscrito Flo, fol. 451-451v, nos indica que
entre los cantores de la corte figuraban también compositores de alto vuelo. Es muy de notar
que la única pieza de origen español que figura en ese códice provenga de la corte leonesa.
Que la práctica de la música polifónica fuera bien conocida en aquella real capilla durante
el reinado de Alfonso IX (+ 1230) […] parece bien señalarla el obispo Lucas de Tuy, en su
Chronicon mundi, con estas palabras: «Adefonsus rex Legionensis cum esset Catholicus
habebat secum clericos, qui modulatis uocibus quotidie coram ipso diuinum officium pera-
gebant, quos ipse nimio uenerabatur affectu»”. Sobre a música na catedral de Santiago na
segunda metade do séc. XII, veja-se López Calo (1988).
49
Este trobador é autor da composição Aigua pueia contramon em que se faz um panegí-
rico do rei Afonso IX: “lo valenz reis n’ Anfos rics de cor”.
50
Entre os empreendimentos culturais de Afonso IX de inspiração europeia, devemos
aludir à criação, c. 1218-1219, do Estudo Geral em Salamanca, que foi o berço da primeira
universidade do espaço galaico-leonês. Apesar de se localizar na cidade leonesa, trata-se
de um estabelecimento cultural e jurisdicionalmente compostelano. De facto, as origens
dessa instituição encontram-se na escola capitular compostelana, como sublinhou Beltrán
de Heredia (1999: 28): “fue en cierto modo un transplante de la escuela y personal acadé-
mico de la Iglesia compostelana” (p. 28). A hegemonia do elemento galaico ou composte-
lano manteve-se até ao séc. XIV. Note-se que o Estudo foi sediado em Salamanca – mas
não em Leão –, diocese sufragânea de Santiago desde que Calisto II decretara, por bulas
de 1120 e 1124, a transferência da capital da antiga arquidiocese emeritense para Santiago.
A província eclesiástica de Santiago ficou, assim, integrada por dois setores descontínuos:
a diocese compostelana propriamente dita e os bispados do território que vai de Zamora-
-Ávila até Lisboa-Évora. Sobre a escola catedralícia compostelana, veja-se também Díaz y
Díaz (1975) e Santiago Otero (1999).

234 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 234 25/09/2012 15:21:46


D.ª Urraca. Como vimos, pelo menos nove trovadores podem ser associa-
dos, de vários pontos de vista, a esse núcleo: Osório Eanes, Airas Oares,
Fernando Rodrigues de Calheiros, Rui Gomes “o Freire”, Fernando
Pais de Tamalhancos, Pedro Pais Bazaco, Airas Moniz de Asma, Diogo
Moniz e João Soares Somesso.
A cerrada teia de relações sociofamiliares que une o conjunto
dos poetas considerados neste trabalho convida a pensar que, para além da
“seleção natural” decorrente dos acidentes materiais, esse elenco resultou
da sucessão de recolhas seletivas51. A análise da tradição manuscrita à luz
desses vínculos permitiu-nos identificar algumas pegadas remotas desse
processo. A mais significativa tem a ver com Gonçalo Eanes de Nóvoa,
enquanto elo de união que relaciona Fernando Rodrigues de Calheiros
e Rui Gomes “o Freire”, autores cujas produções poéticas, por sua vez,
ocorrem contíguas na tradição manuscrita. Visto que essa vizinhança ma-
terial dificilmente poderá ser atribuída ao acaso, cumpre concluir que o
círculo (social ou familiar) próximo desse irmão de Osório Eanes esteve
envolvido na configuração desse segmento, enquanto embrião da primeira
coletânea poética da lírica galego-portuguesa.

51
Concluímos, portanto, que se bem que foram todos os que estão, não estão todos os que
foram. Por outro lado, é muito provável que, para além do filtro pessoal, também se tenha
procedido a uma escolha literária a diversos níveis; o que explicaria a escassa presença da
cantiga de amigo na secção aqui considerada.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 235

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 235 25/09/2012 15:21:46


D. Afonso IX da Galiza e de Leão (ACS, Tombo A)

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 236 25/09/2012 15:21:46


ANEXO I

ESQUEMAS GENEALÓGICOS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 237 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 1
BRAGANÇA

Descendentes de Fernando Mendes (I)

A. Mendo Fernandes = Sancha Viegas de BAIÃO


A1. Fernando Mendes (II) (1124-1160)
= Teresa Soares da MAIA (F1)
= Sancha Henriques
1. Pedro Fernandes (1152-1194) = Fruílhe Sanches [CELANOVA]
1.1. Fernando Peres (1178)
1.1.1. Fernando Fernandes (1186-1230)
1.2. Vasco Peres
1.2.1. Nuno Vasques = Urraca Peres de NÓVOA [LIMA]
1.3. Nuno Peres
1.3.1. Urraca Nunes = Paio Moniz RIBEIRA
1.3.1.1. Maria Pais = João Fernandes BATISSELA [LIMA]
1.4. Garcia Peres (1186-1205) = Gontinha Soares de TOUGUES
1.4.1. Pedro Garcia = Sancha Osores
A2. Mendo [Mendes] (1146-1169) (?)
A3. Rui Mendes (1130-1135)
A4. Nuno Mendes (1139)
A5. Urraca Mendes (1146-1171) = Soeiro Pais de PAIVA
1. João Soares de PAIVA (1170-1182)

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 239

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 239 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 2
BRAVÃES-FORNELOS

Descendentes de Vasco de BRAVÃES

A. Paio Vasques de BRAVÃES = Sancha Soares VELHO (1112)


A1. Pedro Pais “Pobre” (1161-1166) = Ximena Nunes
1. Maior Peres “Pobre”
= Airas Nunes/Muniz de FORNELOS (1174) (F1-4)
= Diogo ... (F5-6)
1.1. Maria Airas de Fornelos
= Sancho I de Portugal (F1) [PORTUGAL]
= Gil Vasques de SOVEROSA (F2-3) [TRAVA]
1.1.1. Martim Sanches = Eulália Peres de CASTRO
1.1.2. Martim Gil = Inês Fernandes de CASTRO
1.1.3. Teresa Gil (1228-1269) = Afonso IX [CASTELA ...]
1.2. Pedro Airas (1201)
1.3. Paio Airas (1187-1190)
1.4. Soeiro Airas (1202-1211) = Urraca Fernandes Batissela [LIMA]
1.4.1. João Soares Somesso (1223-1257)
1.4.2. João Soares de Chapela (1212-1247)
1.4.3. Fernando Soares (1238)
1.4.4. Airas Soares
1.4.4.1. Martim Airas (1243)
1.5. Soeiro Dias (1207-1241)
1.5.1. Rodrigo Soares (1224-1256) = Estefânia Peres Faião
1.6. Garcia Dias (1212-1214)
1.6.1. Rodrigo Garcia (1252-1262) = Elvira Fernandes de Rodeiro

240 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 240 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 3
CABRERA

Descendentes de Pôncio I Geraldo

A. Geraldo II Ponce
= Elvira (F1)
= Estefânia Malasignata (F2)
A1. Pôncio II Geraldo (1105-1162):
= Sancha Nunes (F1-3) [CELANOVA]
= Maria Fernandes (F4) [TRAVA]
1. Geraldo III Ponce (1145-1160) = Berengária de Queralt
1.1. Pôncio III Geraldo (1165-1198) = Marquesa Armengol [URGELL]
1.1.1. Geraldo IV Ponce (1194-1228) = Elo Peres
1.1.1.1. Pôncio I Geraldo de Urgell e IV de Cabrera (1236-1246)
2. Fernando Ponce “o Maior” (1160-1180) = Guiomar Rodrigues [TRAVA]
2.1. Fernando Fernandes
3. Sancha Ponce (1149-1176)
= Vela Guterres (F1) [VÉLAZ]
= Mendo ... (F2)
3.1. João Vélaz etc.
3.2. Soeiro Mendes
4. Fernando Ponce “o Menor” (1163-1200) = Estefânia Lopes de HARO
4.1. Pedro Fernandes
A2. Arsenda de Àger = Armengol VI [URGELL]
1. Armengol VII

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 241

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 241 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 4
CAMEROS

Descendentes de Fortum Ochoa

A. Ximeno Fortunes de Viguera e Cameros = Andregoto


A1. Ínhigo Ximenes = Maria Gonçalves de LARA
1. Ximeno Ínhigues = Maria Beltrán
1.1. Diogo Ximenes (1162-1188) = Guiomar Rodrigues [TRAVA]
1.1.1. Rodrigo Dias (1182-1230) = Aldonça Dias de HARO
1.1.1.1. Simão Ruiz = Sancha Afonso [GALIZA-LEÃO]
1.1.1.2. Ximeno Ruiz
1.1.2. Fortum Dias
1.1.3. Álvaro Dias

242 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 242 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 5.1
CELANOVA (A)

Descendentes de Nuno Mendes

A. Gomes Nunes (1094-1147) = Elvira Peres [TRAVA]


A1. Urraca Gomes = Fernando Eanes de Montoro (1112-1157)
1. Paio Curvo de TORONHO (1126-1173) = Toda Moniz GELMIRES
1.1. Gonçalo Pais de TORONHO = Ximena Pais da MAIA
1.1.1. Elvira Gonçalves = Garcia Mendes de EIXO [TRAVA]
2. Varela Fernandes (1152-1178)
2.1. Paio Moniz Varela (1186-1223)
2.1.1. Fernando Pais de TAMALHANCOS (1196-1242)
3. Airas Calvo (?) [LIMA]
A2. Châmoa Gomes
= Afonso Henriques [PORTUGAL]
= Mendo Rodrigues de TOUGUES (F1) [TRAVA]
1. Soeiro Mendes = Elvira Gonçalves de SOUSA

B. Fernando Nunes = Maior Rodrigues


B1. Fruílhe Fernandes = Rodrigo Peres “o Veloso” [TRAVA]
1. Guiomar Rodrigues
= Fernando Ponce “o Maior” [CABRERA]
= Diogo Ximenes (F1) [CAMEROS]
1.1. Rodrigo Dias dos Cameros = Aldonça Dias de Haro

C. Sancha Nunes (?) = Pôncio II Geraldo [CABRERA]


C1. Sancha Ponce = Vela Guterres [VÉLAZ]
1. João Vélaz etc.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 243

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 243 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 5.2
CELANOVA (B)

Descendentes de Nuno Vasques

A. Afonso Nunes (1101-1135) = Fruílhe Sanches


A1. Fruílhe Afonso = Gonçalo Rodrigues da Palmeira [TRAVA]
1. Elvira Gonçalves = Rodrigo Nunes das Astúrias
1.1. Pedro Rodrigues da Palmeira (1225)

B. Sancho Nunes = Sancha Henriques [PORTUGAL]


B1. Fruílhe Sanches = Pedro Fernandes (I) [BRAGANÇA]
B2. Urraca Sanches = Gonçalo Mendes de SOUSA (I)
1. Mendo Gonçalves = Maria Rodrigues Veloso [TRAVA]
1.1. Gonçalo Mendes (II) = Teresa de RIBADOURO
1.1.1. Maior Gonçalves = Afonso Lopes de BAIÃO
1.2. Garcia Mendes de Eixo = Elvira Gonçalves de TORONHO

244 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 244 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 6.1
LIMA (A)

Descendentes de Airas Calvo = Godinha Oares de BÓVEDA

A. Oeiro Airas (1168)


A1. Airas Oares (1187) = Elvira Peres BAZACO (?)
1. Oeiro Airas de Lamas

B. Pedro Airas (1153-1168)


= Aldara Fernandes (F1)
= Constança Osores (F2)
B1. Airas Peres
1. João Airas (arcebispo de Santiago)
B2. Rodrigo Peres de VILLALOBOS = Teresa Froilaz FLAÍNES

C. João Airas de NÓVOA (1152-1180) = Urraca Fernandes [TRAVA]


C1. Pedro Eanes (1182-1229)
1. Urraca Peres = Nuno Vasques [BRAGANÇA]
C2. Airas Eanes
C3. Gonçalo Eanes (1182-1232)
C4. Osório Eanes (1175-1217)
C5. Fernando Eanes de Duvra
1. João Fernandes Ladrão
2. Maria Fernandes
C6. Lourenço Eanes
C7. Urraca Eanes
C8. Sancha Eanes

D. Fernando Airas BATISSELA LIMA (B)

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 245

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 245 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 6.2
LIMA (B)

D. Fernando Airas BATISSELA (1147-1196) = Teresa Bermudes [TRAVA]


D1. Rodrigo Fernandes “Codorniz” = Aldonça Peres (?)
1. Maria Rodrigues “Codorniz”
2. Teresa Rodrigues
3. Rodrigo Rodrigues
D2. João Fernandes Batissela
= Berengária Afonso de BAIÃO (F1-2)
= Maria Pais Ribeira (F3)
1. Gonçalo Eanes
2. Fernando Eanes = Teresa Eanes da MAIA
3. Teresa Eanes = Mendo Garcia de SOUSA
D3. Fernando Fernandes
D4. Gil Fernandes
1. Fernando Gil = Sancha Fernandes de TAMALHANCOS
D5. Álvaro Fernandes
D6. Henrique Fernandes
D7. Elvira Fernandes
D8. Sancha Fernandes (1194-1234)
D9. Maria Fernandes = Lopo Rodrigues de ULHOA
1. João Lopes de ULHOA
2. Teresa Lopes = Fernando Pais de TAMALHANCOS
D10. Urraca Fernandes = Soeiro Airas [BRAVÃES-FORNELOS]
1. João Soares Somesso (1223-1257)

246 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 246 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 7.1
TRAVA (A)

Descendentes de Froia Bermudes

A. Rodrigo Froiaz (1102-1117) = Gontinha Gonçalves da MAIA


A1. Gonçalo Rodrigues da PALMEIRA (1112-1154) = Fruílhe Afonso [CELANOVA]
1. Elvira Gonçalves (1177) = Rodrigo Nunes das Astúrias
1.1. Pedro Rodrigues da Palmeira (1225)
A2. Mendo Rodrigues de TOUGUES = Châmoa Gomes [CELANOVA]
1. Soeiro Mendes Facha = Elvira Gonçalves de SOUSA

B. Pedro Froiaz (1086-1126)


= Maior (Gontrode) Rodrigues (F1-3)
= Urraca Froiaz (F4-6)
= ... (F7)
B1. Elvira Peres = Gomes Nunes [CELANOVA]
B2. Rodrigo Peres “o Veloso” (1111-1158)
= ... (F1)
= Fruílhe Fernandes (F2) [CELANOVA]
1. Maria Rodrigues = Mendo Gonçalves de SOUSA (1173-1192)
1.1. Garcia Mendes de Eixo = Elvira Gonçalves [CELANOVA]
1.1.1. Gonçalo Garcia
1.1.2. Fernando Garcia de Esgaravunha
1.1.3. Maria Garcia = Gil Sanches (1207-1236)
2. Guiomar Rodrigues = Diogo Ximenes [CAMEROS]
2.1. Rodrigo Dias dos Cameros
B3. Toda Peres (1114-1155)
= Guterre Bermudes (F1) [VÉLAZ]
= Fernando Fernandes (F2)
1. Vela Guterres = Sancha Ponce [CABRERA]
1.1. João Vélaz etc.
2. Vasco Fernandes
B4. Fernando Peres TRAVA (B)
B5. Lupa Peres TRAVA (C)
B6. Bermudo Peres TRAVA (C)
B7. Fernando Peres Cativo TRAVA (C)

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 247

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 247 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 7.2
TRAVA (B)

B4. Fernando Peres (1110-1155):


= Sancha Gonçalves ANSURES (F1-3)
= Teresa Afonso (F4-5) [PORTUGAL]
1. Urraca Fernandes (1165-1199) = João Airas de NÓVOA [LIMA]
1.1. Osório Eanes etc.
2. Gonçalo Fernandes (1140-1164)
= Elvira Rodrigues (F1-3) [VÉLAZ]
= Berengária Fernandes [VÉLAZ]
2.1. Gomes Gonçalves (1164-1209) = Miracle Armengol [URGELL]
2.1.1. Rodrigo Gomes (1201-1261) = Maior Afonso de MENESES
2.2. Aldonça Gonçalves (1162-1207) = Lopo Dias de HARO (1124-1170)
2.2.1. Diogo Lopes (1168-1214) = Toda Peres de AZAGRA
2.2.1.1. Aldonça Dias = Rodrigo Dias dos Cameros [CAMEROS]
2.2.2. Urraca Lopes = Fernando II [GALIZA-LEÃO]
2.3. Urraca Gonçalves = Froila Ramirez FLAÍNES (1150-1202)
3. Maria Fernandes (1141-1169) = Pôncio II Geraldo [CABRERA]
4. Teresa Fernandes (1153-1180)
= Nuno Peres de LARA (1141-1177) (F1-5)
= Fernando II (F6) [GALIZA-LEÃO]
4.1. Álvaro Nunes = Urraca Dias de HARO
4.2. Fernando Nunes = Maior Garcês de AZA
4.3. Elvira Nunes = Armengol VIII [URGELL]
4.4. Gonçalo Nunes = Maria Dias de HARO
4.5. Sancha Nunes = Sancho [ARAGÃO]
4.6. Fernando (1178-1187), infante da Galiza e de Leão
5. Sancha Fernandes (1148-1207) = Álvaro Rodrigues [VÉLAZ]

248 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 248 25/09/2012 15:21:47


Esquema genealógico 7.3
TRAVA (C)

B5. Lupa Peres (1111-1164) = Múnio Pais de MONTERROSO (1105-1142)


1. Teresa Moniz = Fernando Oares de BÓVEDA (1135-1169)
1.1. Múnio Fernandes de RODEIRO (1169-1188) = Maria Peres BAZACO
1.1.1. Fernando Moniz = Teresa Rodrigues
1.1.1.1. Elvira Fernandes = Rodrigo Garcia [BRAVÃES-FORNELOS]
2. Pedro Moniz = ...
2.1. Aldonça Peres = Rodrigo Fernandes [LIMA]
2.1.1. Teresa Rodrigues etc.
B6. Bermudo Peres (1104-1160) = Urraca Henriques [PORTUGAL]
1. Teresa Bermudes (1153-1219) = Fernando Airas BATISSELA [LIMA]
2. Sancha Bermudes = Soeiro Viegas de RIBADOURO
2.1. Lourenço Soares
B7. Fernando Peres Cativo (1129-1155)
1. Vasco Fernandes Cativo = Teresa Gonçalves de SOUSA
1.1. Gil Vasques de SOVEROSA (1205-1240)
= Maria Airas de FORNELOS (F1-2) [BRAVÃES-FORNELOS]
= Sancha Gonçalves de ORVANEJA (F3)
= Maria Gonçalves GIRÃO (F4)
1.1.1. Martim Gil (1230-1259) = Inês Fernandes de CASTRO
1.1.2. Teresa Gil
= Afonso IX (F1-2) [GALIZA-LEÃO]
= Nuno Fernandes Churrichão
1.1.2.1. Sancha Afonso = Simão Ruiz [CAMEROS]
1.1.2.2. Martim Afonso = Maria Mendes de SOUSA
1.1.3. Vasco Gil (1238-1258)
1.1.4. Dordia Gil
1.2. Elvira Vasques = Paio Soares de VALADARES

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 249

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 249 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 8
URGELL

Descendentes de Armengol IV de Urgell

A. Armengol V (1075-1102) = Maria Peres ANSURES


A1. Estefânia Armengol
= Fernando Garcia de HITA (F1)
= Rodrigo Gonçalves de LARA (F2)
1. Pedro Fernandes de CASTRO
2. Pedro Rodrigues
A2. Armengol VI (1096-1154)
= Elvira Rodrigues de LARA (F1)
= Arsenda de Àger (F2) [CABRERA]
1. Maria Almenar = Lopo Lopes de HARO
1.1. Armengol Lopes
2. Armengol VII (1132-1184) = Dulce de FOIX [ARAGÃO]
2.1. Armengol VIII (1158-1209) = Elvira Nunes de LARA [TRAVA]
2.1.1. Aurembaix I (1180-1231) = Pedro Sanches [PORTUGAL]
2.2. Miracle de Urgell = Gomes Gonçalves [TRAVA]
2.2.1. Rodrigo Gomes de Trastâmara
2.3. Marquesa de Urgell = Pôncio III Geraldo [CABRERA]

250 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 250 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 9
VÉLAZ

Descendentes de Oveco Bermudes

A. Bermudo Oveques (1044-1093) = Ximena Pais


A1. Urraca Bermudes = Gonçalo ANSURES
1. Sancha Gonçalves = Fernando Peres [TRAVA]
A2. Afonso Bermudes = Urraca Raimundes
1. Pedro Afonso (1128-1173) = Maria Froilaz
1.1. Elvira Peres = Gomes Gonçalves [TRAVA]
A3. Guterre Bermudes (1086-1130) = Toda Peres [TRAVA]
1. Vela Guterres (1130-1158) = Sancha Ponce [CABRERA]
1.1. Fernando Vélaz (1164-1192) = Sancha Álvares
1.1.1. João Fernandes de CABRERA
1.1.2. Fernando Fernandes
1.2. Garcia Vélaz (1150-1161)
1.3. João Vélaz (1158-1181)
1.4. Maria Vélaz (1158-1204)
1.5. Pedro Vélaz (1158-1202)
1.6. Pôncio Vélaz (1158-1202) = Teresa Rodrigues
1.6.1. Pedro Ponce (1202-1264) = Aldonça Afonso [GALIZA-LEÃO]
1.7. Rodrigo Vélaz (1150)

B. Vela Oveques (1070-1085) = Aldonça Moniz


B1. Rodrigo Vélaz (1092-1144) = Urraca Álvares
1. Álvaro Rodrigues (1129-1167) = Sancha Fernandes [TRAVA]
1.1. Rodrigo Álvares (1161-1187) = Maria Ponce de MINERVA
1.2. Sancha Álvares = Fernando Vélaz
2. Elvira Rodrigues = Gonçalo Fernandes [TRAVA]
3. Berengária Rodrigues = Gonçalo Fernandes [TRAVA]

C. Rodrigo Oveques (1063-1089)

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 251

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 251 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 10
ARAGÃO, CATALUNHA, PROVENÇA

Descendentes de Raimundo Berengário III = Dulce de Provença

A. Raimundo Berengário IV de Barcelona (1114/1131-1162) = Petronila de ARAGÃO


A1. Afonso II de Aragão, (1157/1164-1196) = Sancha [CASTELA]
1. Pedro II de Aragão e Barcelona (1157/1196-1213)
1.1. Jaime I (1208/1213-1276) = Leonor [CASTELA]
2. Afonso II de Provença (1180/1196-1209)
A2. Dulce de Barcelona = Sancho I [PORTUGAL]
A3. Raimundo Berengário de PROVENÇA (1158/1173-1181)
A4. Sancho de PROVENÇA (1161-1223) = Sancha Nunes de LARA [TRAVA]

B. Berengário Raimundo de PROVENÇA (1115/1131-1144)


B.1. Raimundo Berengário de PROVENÇA (1140/1144-1166)

C. Berengária de Barcelona e de PROVENÇA = Afonso VII [CASTELA]

D. Ximena de Barcelona = Roger de FOIX


D1. Dulce de Foix e de Barcelona = Armengol VII [URGELL]

252 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 252 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 11.1
CASTELA, GALIZA, LEÃO, PORTUGAL (A)

Descendentes de Afonso VI = Constança de Borgonha (FA),


Ximena Moniz (FB)
Castela, Galiza, Leão

A. Urraca I = D. Raimundo de Borgonha


A1. Afonso VII (1105-1157) = Berengária de Barcelona [ARAGÃO]
1. Fernando II de GALIZA-LEÃO (1137/1157-1188)
= Urraca Afonso de PORTUGAL (F1)
= Teresa Fernandes (F2) [TRAVA]
= Urraca Lopes de HARO
1.1. Afonso IX de GALIZA-LEÃO (1171/1188-1230)
= Teresa Sanches de PORTUGAL (F1-3)
= Berengária I de CASTELA (F4)
= Aldonça Martins da SILVA (F5)
= Teresa Gil de SOVEROSA (F6) [TRAVA]
= Estefânia Peres FAIÃO
1.1.1. Fernando (1192-1214)
1.1.2. Sancha
1.1.3. Dulce
1.1.4. Fernando III de CASTELA (1201/1217.1230-1252)
1.1.5. Aldonça Afonso = Pedro Ponce [VÉLAZ]
1.1.6. Sancha Afonso = Simão Ruiz [CAMEROS]
1.2. Fernando (1178-1187), infante de GALIZA-LEÃO
2. Sancho III de Castela (1134/1157-1158) = Blanca Garcês de NAVARRA
2.1. Afonso VIII (1155/1158-1214) = Leonor PLANTAGENETA
2.1.1. Henrique I de Castela = Mafalda Sanches de PORTUGAL
2.1.2. Berengária I de Castela = Afonso IX de GALIZA-LEÃO
2.1.3. Urraca = Afonso II de PORTUGAL
2.1.4. Leonor = Jaime I [ARAGÃO]

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 253

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 253 25/09/2012 15:21:47


ESQUEMA GENEALÓGICO 11.2
CASTELA, GALIZA, LEÃO, PORTUGAL (B)

Portugal
B. Teresa Afonso
= Henrique de Borgonha (1066-1112) (F1-3)
= Fernando Peres [TRAVA]
B1. Afonso Henriques de Portugal (c. 1109-1185)
= Mafalda de Saboia (F1-2)
= Châmoa Gomes de CELANOVA (F3)
1. Sancho I (1154/1185-1212)
= Dulce de Barcelona (F1-4)
= Maria Pais Ribeira (F5-6)
= Maria Airas de Fornelos (F7-8)
1.1. Teresa Sanches = Afonso IX da Galiza e de Leão
1.2. Afonso II (1185/1211-1223) = Urraca de Castela
1.2.1. Sancho II (1210/1223-1248) = Mecia Lopes de HARO
1.2.2. Afonso III (1210/1248-1279) = Beatriz de CASTELA
1.3. Pedro Sanches = Aurembaix [URGELL]
1.4. Mafalda Sanches = Henrique I de CASTELA
1.5. Gil Sanches (1207-1236) = Maria Garcia de SOUSA
1.6. Rodrigo Sanches
1.7. Martim Sanches = Eulália Peres de CASTRO
1.7.1. Rodrigo Martins
1.8. Urraca Sanches = Lourenço Soares de RIBADOURO
2. Urraca Afonso = Fernando II da Galiza e Leão
3. Fernando Afonso
B2. Sancha Henriques = Sancho Nunes [CELANOVA]
B3. Urraca Henriques = Bermudo Peres [TRAVA]

254 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 254 25/09/2012 15:21:47


ANEXO II

DOCUMENTAÇÃO

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 255 25/09/2012 15:21:48


Subscrições no documento nº 1

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 256 25/09/2012 15:21:48


1
1142, fevereiro, 14 – Santiago de Compostela.
A. AHN, Mosteiro de Sobrado, maço 526, nº 10.
O conde Fernando Peres de Trava e a mulher, Sancha Gonçalves, junta-
mente com a sobrinha Urraca Bermudes entregam o Mosteiro de Sobrado
à Ordem de Cister.
Ut scripture subsequens pagina posteritati future melius postmodum reco-
latur, scripturarum veritate et roborum tuitione muniatur. Unde ego comes
Fernandus Petri, Dei preveniente gratia cuius omnia elementa subsistunt
arbitrio, uxorque mea Sancia Gundisalvi una cum omnibus liberis meis dono
et concedo medietatem integram de monasterio Superaddi, sicut mihi evenit
in particione fratrum meorum; itaque consobrina mea Urraka Vermundi
deovota similiter dat aliam medietatem eiusdem monasterii que ei evenit in
particione inter fratres suos ex parte patris sui Vermundi Petri, cuius consilio
et auctoritate sufulta, in presenti facimus scripturam testamenti et cartam
firmitatis Deo omnipotenti et beate Marie semper virgini omnibusque sanctis
Dei et ordini sancti Benedicti, secundum consuetudinem Cistercensium
degenti, necnon uobis abbati domno Petro et monachis uestris presentibus
et futuris, de monasterio integro Superadi cum omnibus hereditatibus suis
propriis, uidilicet: Marciam et Oiam, Uillar Planum, Gunderei. In Portu
Carral, suam directuram de Superaddo. De Uillaribus et de Santi et de Santui
et de Ladercu et de Recar, medietates. Casales et uilla de Monte, integros.
De Centumcasalibus et de Riquiam et de Saamir, medietates. Tancim et
Muradellum, integros. Omicidiarias et de Floresendi, medietates. Omnes
alias hereditates que iacent in circuitu monasterii et ab antiquo eius fue-
runt, damus eas et concedimus iam sepedicto monasterio, extra ecclesiam
de Quodesoso, et illum seruicialem uidilicet Munionem Roderici et illos
uillanos cum suis propriis hereditatibus quia nolunt eas fratres. In Roadi,
quantam hereditatem ibi inuenerint que fuit Superaddi secus Lamas Maiores.
Auelanedum, quantum ex eo fuit Superaddi. Gisonem cum suis uillaribus.
In Uilla Sursum suam directuram. Sanctam Eulaliam cum suis uillaribus,
extra illam que pertinet uillanibus. De Donbreti, medietatem. Inter eccle-
siam Sancti Laurenci et Superaddum, quantam hereditatem fuit Superaddi.
Inter Sanctum Georgium et monasterium, similiter. In Pausada, in Gitar
et in Balio, quantum inuenerint olim fuisse Superaddi. Bustum maiorem,
Turanti et Bidueirus, quomodo diuiditur de Quodesoso, integros. Super

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 257

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 257 25/09/2012 15:21:48


hec omnia augemus quantamcumque hereditatem fratres et boues uestra-
rum grangiarium laborare potuerint, infra terminos qui scripti sunt in carta
imperiali quam michi comiti domno Fernando Petri, dominus imperator
domnus Alfonsus meus fecit. Insuper et pascua et stationes propter peccora
et iumenta et animalia uestra, ubi licuerit et uolueritis libere mandamus et
concedimus, remoto tremore et pauore ullius hominis nisi solius Dei.
Hoc siquidem prefatum monasterium cum predictis hereditatibus damus et
concedimus libere ac firmiter pro remedio animarum nostrarum parentum-
que nostrorum, seu animarum parentum domini nostri imperatoris domni
Alfonsi, cuius consilio et iussione et fortitudine hec omnia facta sunt, eo
tenore ut amplius permaneat liberum et quietum iure hereditario possiden-
dum Deo et sepescripto monasterio et superdicto Cisterciensi ordini euo
perhenni et seculo. Si uero quod absit ordo ille peccatis exigentibus ita
penitus defecerit, ut ad heremum redigatur, monasterium non ab extraneis
invadatur, set a propinquis nostris et successoribus iure debito suscipiatur,
quousque diuina clementia iterum sancte ordini restituatur.
Decernimus ergo ut nulli omnino hominum liceat hanc paginam nostre
donationis infringere uel ei aliquatenus contra ire. Si qua igitur in futurum
secularis ecclesiasticaue persone hanc nostre donationis pagina sciens,
contra eam temere uenire temptauerit, IIº tercioue commonita, nisi reatum
suum congrua satisfactione correxerit, iram Dei omnipotentis cum regia
indignatione incurrat et sit maledictus usque in VIIam generationem et pro
temerario ausu parti uestre uel uoci solidos Xm milia persolvat et quod inva-
serit in quadruplum reddat, et hoc scriptum perpetuum ius firmitatis obtineat.
Facta est hec carta apud urbem beati Jacobi, XVIº kalendas marcii, era Mª
C. LXXXª. Nos supernominati, scilicet: comes domnus Fernandus Petri
uxorque mea comitissa domna Sancia cum omnibus liberis meis. Ego
Urracha Uermundi cum auctoritate et consilio patris mei Uermundi Petri
hoc scriptum cum omni uoce nostra propriis roboribus et signis manuum
nostrarum confirmamus. Qui presentes fuerunt: Petrus testis, Pelagius testis,
Johannes testis. Petrus Elie ecclesie beati Jacobi decanus et archidiaconus
confimat. Arias Munionis ecclesie archidiaconus confirmat. Petrus Cresco-
nides ecclesie archidiaconus confirmat. Comes domnus Munio cum uxore
sua comitissa donna Lupa confirmat. Abbas domnus Rodericus monasterii
Antealtarium. Hoc signum Rodericus Antealtarium abbas. Petrus Guthieri
confirmat. Alfonsus Anaiaz confirmat. Lucius Alfonsi confirmat. Vela
Guthieri confirmat. Froila Ruderici confirmat. Pelagius Nunoni confirmat.

258 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 258 25/09/2012 15:21:48


Comes Fernandus, cum uxore sua comitissa domna Sancia, confirmat.
Vermundus Petri, cum uxore mea Urracha Enriqui, propriis manibus. Ur-
raca Uermundi confirmat. Fernandus Petri Loci Sancti notarius qui uidit,
notauit et confirmat.

2
1158, setembro, 15.
E. BN, Tumbo Negro (cód. 4357), fól. 48r.
Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio, Pedro, João e Maria
Vélaz, oferecem à Sé de Astorga metade da vila de Verdenosa (Zamora).
Donación a dicha Santa Iglesia de Astorga, sus canónigos y obispo D.
Fernando hecha por Sancha Ponce y sus hijos, Garsía, Fernando, Poncio,
Pedro, Juan y María Vélaz, de la media villa de Verdenosa, la qual D. Vela
Gutierrez les havía dado por su vida y mandado que después de su muerte
viniese a la dicha Iglesia de Santa Maria de Astorga. Y en cumplimento de
esta donación, hicieron donación de la expresada media villa de Verdenosa,
que está consistente entre los términos de Morales del Rey y Comonte,
Riva Roya, Quintanilla y Brime y Granucillo, con sus cortes, casas, viñas,
huertas, árboles, molinos, prados, montes, fuentes y más pertenencias hasta
la menor piedra, por el ánima de dicho D. Vela y de los arriva dichos. Fecha
17 kalendas octubre. Era MCLXLVI, que corresponde a 15 de septiembre
del año de 1158 –según la señal puesta sobre el X-, reynando en Leon D.
Fernando 2º y siendo obispo de Astorga D. Fernando. Folio 156, nº 550.

3
1161, maio, 12 – Zamora.
E. AHN, Códice B-15, fóls. 83r-83v.
Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio, Pedro, João e Maria
Vélaz, dão ao mosteiro premostratense de S. Leonardo de Alba de Tormes
(Salamanca) as herdades de Partóvia e Mouriz (conc. Carvalhinho).
In nomine sanctae et indiuidue Trinitatis. Ego Sanchia filia comitis Pontii,
una cum filiis meis, scilicet: Garcia, Fernando, Pontio, Petro, Johanne et
filia nomine Maria, pro Dei amore et beatissime Uirginis Mariae necnon
et pro anima mariti mei domni Uele atque remedio animarum nostrarum

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 259

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 259 25/09/2012 15:21:48


et parentum nostrorum, damus hereditatem de Partobia et de Moriz, quae
est inter riuum qui descendit a Señorin vocabulo Varon et ecclesiam quae
uulgo “eclesiola” uocatur, cum eclesiis integris et mediis integris: Sancto
Jacobo de Partobia, Sancto Felix de Varon, Sancto Cipriano de Senorin cum
medietate Sancti Joanis de Arcos, medietate Sancti Mariae de Eclesiola
cum seruitialibus et casariis, tam populatis quam depopulatis, cum ingres-
sibus et regressibus, montibus et vallibus, nemoribus et planiciis, pascuis
et riuis, molendinis et molendariis, et cum omnibus tam intra quam extra
ad eam pertinentibus. Damus inquam Deo et beatissimae Uirgini Mariae
et tibi donno Uitali abbati de Sancto Leonardo atque succesoribus tuis
secundum regulam beati Augustini et premostratensis eclesiae tenorem
ibidem canonice uiuentibus.
Hanc uero tali uobis tradimus conditione ut nullus ex genere nostro uel
parentum nostrorum temere audeat uos inquietare, aut aliquo modo eam
repetere, uel aliquid mali inferri. Quicumque autem hanc scriptionem diabo-
lico instrumentu ausuque temerario uiolare praesumpserit, Datam et Abiron
penas incurrat et cum Juda proditore poenas inferni susteneat, insuper terrae
regi mille auri marchas persolvat atque tali in loco hereditatem duplicatam
restituat uobis. Fiat, fiat, amen.
Facta donationis carta apud Cemoram, quarto idus mai, sub era millesima
centesima, nonagesima nona. Anno tercio quando obiit in Portu de Muradal
famosissimus Hispaniarum imperator donnus Alfonsus et cepit regnare
inclitus eius filius rex Fernandus in Legione et Gallecia et Asturiis. Ego
Fernandus, Dei gracia, legionensium rex, hanc cartam propia manu et propio
robore confirmo. Comes Pontius maiordomus regis Fernandi. Comes Petrus.
Comes Ramirus. Comes Gunzaluus. Menendo Uergancia. Nuno Fernandi.
Suarius Menendi. Domnus Varela. Ordonio episcopo salamantinus. Petrus
auriensis. Suarius cauriensis. Petrus mendonensis. Fernandus Gunçalui
signifer regis. Joannes Arie. Petrus Captiuus. Petrus Arie.

4
1161, julho, 24.
E. ACS, Tombo C, fól. 82r.
Sancha Gonçalves, mulher de Fernando Peres de Trava, oferece três marcas
de prata à Sé de Santiago em sufrágio da sua alma, da do marido e da do
filho D. Gonçalo.

260 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 260 25/09/2012 15:21:48


In nomine sancte et indiuidue Trinitatis, amen. Scriptum est quicumque
seminauerit homo hec et metet et qui seminat in benedictionibus de bene-
dictionibus et metet uitam eternam pro temporalibus namque bene Deo
iuvante distributis eterna celestia donate recipiuntur. Inde est quod ego
comitissa domna Sancia Gundisaluiz, ob remedium anime mee et mei uiri
comitis domni Fernandi atque filii mei comitis domni Gundisalui, nec non et
parentum meorum, grato animo, sana mente, una cum omni uoce mea, que
gratis accepi gratis dono, mando et concedo ad honorem Dei et sanctissimi
Jacobi apostoli, uidelicet: III marchas argenti in anniuersario meo assigna-
tas super integram medietatem meam illius superati quod extat ad portale
ecclesie, ante fontem de Tronos. Quas uidilicet marchas ita esse paritas,
uolo et mando ut una detur semper in festiuitate Sancti Jacobi, que octauo
kalendas augusti celebratur, et altera die sequenti; post festum diuidatur in
reffectorio in anniuersario anime mee. Secundam quamque marcas detur
in die Assumptionis Sancte Marie et diuidatur similiter. Tercia quamque
marcas detur in festo Omnium Sanctorum, diuidatur sicut superius resonat.
Hanc autem testamenti seriem facio ego comitissa domna Sancia uobis
domno Fernando, Dei gratia, compostellano electo et fratrum uestrorum
canonicorum conuentui atque omnibus successoribus uestris et Ecclesie
compostellane imperpetuum.
Si quis contra hoc meum scriptum facere uel machinari aliquid inuentus
fuerit, Dei et beati Jacobi offensam incurrat et cum filiis perdicionis in in-
ferno partem suam accipiat, uobis uel uoci uestre auri libras Ve exsolvat et
hoc meum datum in uestro uel uestre ecclesie uocis iure in eternum maneat.
Facta scriptura testacionis et donacionis VIIIIº kalendas augusti, ut offerretur
cum uno frontale serico et obtimo, sub era M. C. LXL VIIII. Ego comitissa
domna Sancia cum omni uoce mea hanc testamenti pagina, quam fieri iussi,
propria manu roboro et confirmo.

5
1162, janeiro, 1 – Zamora.
E. AHUS, Tombo de Samos, fól. 31v.
Pôncio II Geraldo de Cabrera entrega ao Mosteiro de Samos diversas
propriedades em sufrágio da alma do filho Geraldo III Ponce sepultado
nesse cenóbio.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 261

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 261 25/09/2012 15:21:48


In nomine sancte et indiuidue Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti,
amen. Utilie cuilibet esse dinoscitur sancta loca et religiosas congregationes
diligere ac uenerari easque largis ditare muneribus et possessionibus am-
pliare. Ea semper ego comes Poncius facio textum et scriptum donationis
firmissimum in perpetuum valiturum Deo et samonensi monasterio Sancti
Juliani et Sancte Basilisse et uobis domno Sancio eiusdem monasterii abbati
et uniuerse eiusdem loci congregationi tam presenti quam future Deo ibidem
militanti uidilicet: de quarta de Marzan mea hereditate et de media Ecclesia
Sancti Martini, que sita est in cauto Sancti Jacobi de Barvadelo, et de tota et
integra de Maele cum tota criatione et familia eiusdem uille et cum quarta
parte de Domiz et cum quarta parte de ecclesie Sancti Andree et cum mea
directura de Castello et cum mea directura quam habeo in territorio de Belanti
et de Vivili et de Villar. Dono itaque Deo et samonensi monasterio et uobis
domno Sancio abbati eiusdem loci et uestris successoribus omnes meas
predictas et ut ab hoc die et deinceps eas habeatis cum omnibus directuris
suis, ubicumque ea inuenire potueritis, et possideatis, et quicquid de illis
uolueritis, faciatis uos cum monasterio predicto iure hereditario, uobis in
perpetuum concedo ob remedium anime mee et parentum meorum et pro
anima carissimi filii mei Giraldi Poncii, qui in ipso monasterio samonensi
tumulatus requiescit.
Si quis igitur huic mee donationis contrarius uenerit, iram omnipontentis Dei
et sancte Marie et omnium sanctorum incurrat et, nisi respuerit, cum Juda
proditore perenniter in inferno crucietur, et cum Datam et Abiron, quos terra
uiuos obsoruit, pereat. Si quis uero, quod non credimus, ex alia parte contra
hoc factu nostrum uenerit ad irrumpendum, in primis, Dei omnipotentis
iram incurrat et a corpore et sanguine domini nostri Jhesu Christi segregatus
permaneat et cum Juda domini proditore in inferno partem habeat, et pro
temporali pena possidentibus monasterium C libras persolvat, hec igitur
carta stabilis et inuiolata semper permaneat.
Facta apud Cemoram, kalendis ianuarii, era Mª CCª, regnante rege Fer-
nando in Legione, Gallecia et Asturiis. Ego comes Poncius hanc cartam
quam fieri iusi confirmo. Johannes lucensis episcupus confirmat. Stepha-
nus cemorensis episcopus confirmat. Ordonius salamantinus episcopus
confirmat. Fernandus Ruderici castellanus testis. Fernandus Poncii testis.
Garcia Menendiz testis.

262 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 262 25/09/2012 15:21:48


6
1165, abril, 30.
A. AHN, Mosteiro de Armenteira, maço 1749, nº 17.
João Airas e a mulher, Urraca Fernandes, doam ao Mosteiro de Armen-
teira a herdade chamada “Paraíso”, perto do rio Úmia, em Santa Maria
de Portas.
In Dei nomine. Ego Johannes Arie et uxor mee Orraca Fernandi in domino
Deo eterno salutem, amen. Placuit nobis per bonam uoluntatem pacis ut
faceremus textum scripture donationis firmissimum, in perpetuum ualitu-
rum, monasterio Sancte Marie de Armentaria et uobis domno Ero eiusdem
monasterii abbati et relique congregationi eiusdem loci, tam presenti quam
future, de nostra hereditate que uocatur Paradisus. Et est iuxta Sanctam
Mariam de Portis prope ripam fluuii Humie. Donamus uobis itaque predic-
tam hereditatem ab integro, iure hereditario, cum omnibus terminis suis,
nouissimis et antiquis, et cum omnibus directuris suis, et ut eam habeatis et
possideatis et de illa quicquid uolueritis faciatis, uobis in perpetuum concedo
ob remedium animarum nostrarum et parentum nostrorum.
Si quis igitur hoc nostrum uoluntarium factum infringere temptauerit iram
Dei omnipotentis cum indignatione omnibus sanctis ei incurrat et pro ausu
temerario uobis uel uoci uestre supradictam hereditatem componat in du-
plum et hec scripti pagina robur semper teneat firmum.
Facta carta donationis sub die quod erat II kalendarum magii, in tempore
coadunationis regum, scilicet: Fernandus, Dei gratia, hispanorum rex, atque
rex Adafonsus portugalensis prompti utrumque ad confirmandam ueramque
pacem amiciciam inter se et suos, super flumen Lerice in Uetula Ponte.
Placuit Deo et ita factum fuit. Sit nomen domini benedictum. Era Mª CCª
IIIª. Nos supradicti hoc scriptum, quod fieri iussimus, propriis manibus
roboramus atque confirmamus. Ego Fernandus, Dei gratia hispanorum rex
regnante in Legione, Gallecia, et Asturiis, et Secobie et in tota Extrema-
dura, hoc scriptum propria manu roboro et confirmo. Comes Gondesaluus
abblatinus regis confirmat. Petrus minduniensis episcopus, tenens uicem
archiepiscopatus beati Jacobi, confirmat. Pelagius Curuus dominante in terra
Sancte Marie de Lancada. <-> medi de Luparia. <-> terram Sancti Jacobi.
Comes Alvarus confirmat. Gonsaluus Roderici confirmat. Suarius Menendi
confirmat. Rodericus Fernandi confirmat. Pelagius Oduarii confirmat. Arias
Fumaz, Didacus Gontadus, Fernandus Fernandi, Fernandus Roderici, testes.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 263

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 263 25/09/2012 15:21:48


7
1169, janeiro, 13 – Santiago de Compostela.
A. ACS, pergaminhos, maço 13, nº 1. Ed.: Sánchez (2000, nº 1).
Testamento da condessa Maria Fernandes, filha do conde Fernando Peres
de Trava e mãe do conde Fernando Ponce de Cabrera “o Menor”.
Era M CC VII et quotum idus ianuarii. Ego comitissa domna Maria, comi-
tis domni Fernandi filia, graui et longa infirmitate detenta, mando qualiter
post obitum meum res meae permaneant dispositae et ordinatae. In primis,
mando corpus meum sepeliri in claustro beati Jacobi, iuxta patrem meum.
Et mando dominis meis canonicis pro anniuersario meo in die translationis
beati Jacobi omnem meam portionem illius superati quod est ante portalem
superiorem ecclesia Sancti Jacobi, quicquid in illo habeo ex parte patris
et matris mee et etiam morabitinos Lª, quos sobrino meo domno Gomez
Gundisalui super portionem suam eidem superati comodaui, quibus datis
canonicis deliberent ei suam portionem. Etiam in eodem anniuersario meo
do eisdem canonicis IIIes quartas totius illius superati <--> quod fuit aui
mei domni Petri, que me ueniunt ex parte patris et matris mee et ex parte
fratris mei, comitis domni Gundisalui, cuius portionem emi<-->. Similiter
mando eis hereditatem de Francelis cum sua populatione et omnis portiones
ecclesiarum uidelicet: Sancti Uincentii de Alon, Sancti Laurencii de Seira,
Sancti Petri de Crucis et Sancti Mametis d’ Ervis. Quam hereditatem et quas
portiones ecclesiarium teneo ab archidiacono domno Fernando, curiali, in
pignore per centum septuaginta quinque morabitinus <-->, et quatordecim
marchis argenti canonice et anulo uno aureo bono. Etiam mando predictis
canonicis omnem portionem meam de Leeloio cum medietate [ecclesie]
Sancte Marie de Leeloio et cum sua uoce et omnibus bonis suis intus et
extra. Similiter et quintanam Donegam cum omni sua uoce et omnibus
directis suis. Et mando <--> mulam bonam cum sua sella et freno argenteo
et pallium meum de arminio et amite orlatum de cebelenis et etiam lectum
meum bonum cum ornamentis suis. [Etiam] do et mando canonicis beati
Jacobi ut anuatim in prefato die translationis Sancti Jacobi de redditibus
quos inde habuerint prandium in canonica <--> et [diuin]um offitium pro
anima mea et parentum meorum unanimite celebrent. Preterea do et conce-
do beato Jacobo superatum meum quod fuit archiepiscopus domni Pelagii
<--> mando copam meam argenteam et [unam ci]tharam perobtimam.
Mando monasterio Antaltarium, in terra de Selagia, ecclesia Sancti Juliani

264 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 264 25/09/2012 15:21:48


de Ripa <--> cum omnibus bonis suis et duos seruiciales, unum in <-->ario
et alium in Seixas, qua ecclesiam iam eidem monasterio dederat ona do-
mina Marina per mandationis. Et si germani mei uoluerint eos inquietare
pro supradictis integrent se in aliis hereditatibus nostris. Delibero etiam
eidem monasterio Antaltarium hereditatem suam de Abrigosa, quam ego
debui tenere in uit[a mea] per mandationem de tia mea domina Urracha, et
deliberare eam iam dicto monasterio ad obitum meum. Et etiam heredita-
tes quas de ipso monasterio tenebam, delibero uidelicet <-->uaricio unam
seruicialiam ad illas cortes. Et hoc mando et delibero prefato monasterio
anima mea et aniuersario meo ut in die assumbtionis sancte Marie semper
diuinum pro me celebrent offitium. Mando ad monasterium Sancte Marie
Saris ecclesiam Sancte Marie de Ardemunda, que est in Bregantinis [cum]
omnibus bonis et directis suis quam iam eidem monasterio libere dedi, et
meas equas et meas vacas similiter cum illo meo uillare de Aldemundi in-
tegro cum sua populatione et omnibus directis suis. Et etiam do ac delibero
Sante Marie Saris illam hereditatem de Quintana, que fuit de Gundesindo,
prelato eiusdem monasterii regulari conuerso, quam hereditatem de eodem
monasterio tenebam et est ibi in Ardani. Hec mando atque delibero iam
dicto monasterio [pro] remedio anime mee et parentum meorum, ut orem
pro me semper et annuatim faciant meum anniuersarium in die natiuitatis
Sancte Marie, mensis septembris, <--> monasterio Sancti Justi de Tribulis
Altis hereditatem meam de Castro, que iacet in Valeirone, iuxta Sanctam
Mariam de Ordildi, ut annuatim in festiuitate Sancti Michaelis pro anniuer-
sario meo diuinum celebrent offitium.
Haec omnia supradicta a me ordinata et sponte concessa perhenniter firma
et rata permaneant. Si aliquis quod absit diabolica rabie succensus, mi-
chi <--> uel extraneus contra hoc meum factum ad irrumpendum uenire
temptauerit, quisquis fuerit, sit maledictus et cum Juda traditore in inferno
dampnatus <-->ri presumpserit in duplo componat in super centum auri
libras, ac dampnum inferre temptauerit coactus regia potestate persolvat.
[Hoc] scriptum maneat in roborem firmum.
Ego comitissa domna Maria presente et concedente filio meo, Fernando
Poncii, in hac ultima mea mandatione. Ego Fernandus Poncii eius filius
qui presens fui propia manu confirmo. [Petrus Albus] ecclesie beati Jacobi
subdiaconus scripsit et confirmat.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 265

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 265 25/09/2012 15:21:48


8
Sem data (1169).
A. ACO, Escrituras, maço 17, nº 1. Ed.: Pichel Gotérrez (2009, nº 9).
Testamento de Fernando Oares.
Ego Fernandus Oduariz in infirmitate positus ordino omnia mea, ut se ego
migratus fuero omnia mea ordinata remaneant. In primis, mando corpo
meum Sancti Martini Auriensis. Et mando ibi hereditatem mee hereditatis
de Tamalangus ab integro et unum kasalem de Ribela, id est kasa de Petro
Maragoto, canonicis, et alium seruicialem episcopo in Pol, et etiam medie-
tatem ecclesie de Lion, et meum lectum cum superlectilem cum sua bestia.
Monasterio Cellenoue mando omnem hereditatem quam habebat in Uilar
de Atraes; et sunt ibi III seruiciales populatos. Et dimitto quantum habebam
super eam pro anima mea. Monasterio de Ursaria mando unum seruicialem
in Vamio de illo quos tenebat Didacus Capot, et alium ad Fernando Alfonso
ut deliberet illum quem tenet de Bovada. Ad Aziueiro unum seruicialem
in Deza. Monasterio de Antealtare unum seruicialem in Tamalangos, et est
Johannes Carnarius. Ad hospitalem unum seruicialem in Camba. Monas-
terio de Boueda IIII seruiciales in Curueli et in Guerral, et extrahant unum
de pignore de meo auere de centum solidos et Lª modios de pane et uino;
et totum sit ad opus ecclesie. Equum meum et armas meas milicie Templi.
Ad sororem meam Goina Oduariz de Urria hereditatem de Vamio que fuit
de meo germano Fiel Oariz, et teneat eam pro suo auere quam habebat
super eam. Ad Orria XX modios de pane. Monasterio de Chousam XX
modios. Monasterio de Subrado Lª modios de pane et unum pallium de
tirazes. Ad Sanctum Laurentium de Carbonario unum seruicialem qui fuit
suus; duobus reclusis singulas tunicas, Menendo et Martino. Monasterio
de Samoos duos seruiciales in Guimaranes et alios duos in Sanctum Johan-
nem de Ciniza et tertiam partem monasterii, et sunt in pignora pro XXXª
V morabitinos; et vas unum argenti do, et que remanserit compleat mea
mulier. Ad Herei IIIIor seruiciales: II in Tamalangos et II in Uilar Plano.
Ad domina Sanctia et filium eius suam hereditatem. Sancto Stephano suam
hereditatem de Sancta Eulalia de Beican, et propter hoc debent tenere duos
anales. Mando domino cantori casalem unum in Tamalangos quousque
se integret de Lª morabitinos. Garcia de Ripadulia unum unum casalem
in Tamalangos quousque compleat se de Lª morabitinos. Ad Rodericum
Suariz tantum dent ei adiutorium ut possit ex trahere hereditatem suam

266 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 266 25/09/2012 15:21:48


quam pro me subpignorauit. Militibus de Palacios ex quibus hereditatem
emi uideant boni homines, si bene est comparata stet, sin autem dent eis
precium. Mando domno Johannes Lucensi episcopo unam meam tagaram et
X morabitinos. Abbati meo mando C solidos de mergulenses, et una camisa,
et unas bragas et unius mantelis. Pelagio Mosaraue mando suum equum
quem tenebat de me. Mando Petro Sinor unum mantum et unum poledrum
quod ei dederam. Fernando Luz mando unum equum cum sella et freno
et unum rocinum. Suario Petriz mando mulam unam. Ad Garciam suum
rocinum. Mando animam meam et hereditatem meam et quantum remanet
de meo auere et de meo gan‹a›do uxori mee in uita sua, et qui ei contrarium
fecerit maledicatur. Et illa accipiat medietatem mei panis et uini de nouo,
ut exolvat omnia debita mea ubi inuenerit per manum domini A., Auriensis
electi, et per manum mei abbatis, si presens fuerit, et Pelagii Mosaraui. Et
si hereditates inueneritis quas ego iniuste habueram continuo dimitate, et
si non feceritis ante iudicem Dominum Jesum Christum inde respondeatis
que negatis mihi sepulturam.
Hec sunt debita que debeo ego Fernandus Oariz: Fernando Maxille LXª
morabitinos. Fernando Tacon L morabitinos. In Uilla Franca, Johanni de
Fonte Lª et VII solidos. Petro Manulero III morabitinos. Cotalaia LXX
solidos. Isidoro III morabitinos.

9
1175, fevereiro, 6 – Santiago de Compostela.
A. AHDS, Priorado de Sar, maço 54, nº 8.
O conde Fernando Ponce “o Menor” vende a herdade de Paços, no arci-
prestado da Seaia, ao Mosteiro de Sar como recompensa pelos danos que
causara no patrimônio do convento.
In nomine Sancte et indiuidue Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti,
amen. Ego Fernandus Poncii, comitis domni Poncii et comitisse domne
Marie, bone memorie, filius, quibus pro eorum factis inclitis Hispania sine
lacrimis non reminiscitur qui monasterio Sancte Marie Saris ceterisque
monasteriis Hispanie de beneficiis suis non minimum contulerunt incremen-
tum, puerili temeritate inductus et insolenti inconstantia iuuenum deceptus
prauorumque hominum deceptione lentus, supradictum monasterium Sancte

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 267

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 267 25/09/2012 15:21:48


Marie Saris multis dampnis et huiusmodi aliis que in secula Dei stultissi-
mum est exercere inconstanter dilapidaui prefato namque monasterio <-->
diversiis ministeriis mirifice doctos: tres bonos equos, equas XIcim indomitas,
vacas LXXXtaVe et boues iios, porcos XXti Ve, oues XVIIIo, modios XIIIcim
<--> cum continentiis suis et de denariis: solidos La XVIcim et alia multa que,
ueritatis tenor numero, ueraciter nominarii non permitit. Tanta igitur <-->
Marie Saris supramodum gravati, priorem suum apud audienciam domni
regis Fernandi tam deplorabilem et lacrimabilem querelam ut exponerunt
<--> suis miserabiliter et lacrimabiliter apud Legionensem ciuitatem, coram
inclito rege domno Fernando et in presencia cardinalis domni Jacincti <-->
compostellanae ecclesiae archiepiscopo aliquiisque multis hispaniarum
episcopis uidilicet: Johanne legionensi, Stefano zamorensi, Gunsaluo oue-
tensi, Johanne lucensi <--> regni regis domni Fernandi presentibus scilicet:
comite domno Gomecius, comitis Poncio de Minerba, Fernando Ruderici
principe et fratribus eius principibus et in conspectu <--> et defluxione
lacrimarum nec inmerito conquestus est. Cuius querela tam lacrimabili,
rex domnus Fernandus conmotus iusticie tenore et pietatis <--> domni
Petri compostellani archiepiscopi ceterorumque episcoporum, comitum,
principum et obtimatum michi Fernando Poncii constanter et indubitanter
precepit ut supradictis omnibus <--> suis prout decebat satisfacere tam
turpis ergo facti et tantarum iniurarum penitens et constanti mandato domni
regis Fernandi conmonitus et aliorum principum <--> et tanto de decore
et pro his omnibus que eis iniuste prendideram et per me direpta fuerant
hereditatem meam que uocatur Palacios supradicto priori et concanonicis
suis <--> Jacobi et domni Petri compostellani archiepiscopi ceterorumque
episcoporum in pignore posui. Nunc aut suspicatus ne preuentus diem mor-
tis non redimerem et quasi quodam modo <--> fieri sumotenus affectans
prefato prior et canonicis suis melius et conuenientius me satisfactarum
proposui, unde ego Fernandus Poncii <--> Marie Saris priori omnique
conuentui regularium canonicorum eiusdem loci et uoci uestre, spontanea
uoluntate et libero arbitrio meo, facio scriptum firmitatis <--> integra dicta
Palacios que est in Seaia, cum omni suo cauto et caract(er)io et cum omni
sua criatione et hominibus et populatione, quam sicuti pater meus et mater
mea gana<--> relinquerunt cum omnibus suis adiunctionibus et bonis, intus
et extra, per suos terminos et loca antiqua. Ita integre uendo et do uobis pro

268 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 268 25/09/2012 15:21:48


his omnibus supradictis que de uobis habui que omnia mihi pro precio eius
datis et conceditis. Et ego libenter accipio in super pro robore meo datis
mihi Cm La solidos quod uobis et mihi satis ad libitum fuit, quoniam etiam
me orationum uestrarum participem fieri promititis et fratrem in Christo in
sollepni capitulo me benigne suscipitis. Ammodo igitur et deinceps eandem
hereditatem integram cum omnibus supradeterminatis, habete, possidete,
uendite, donate <--> uoluntate ex ea facite uos et uestri successores, euo
perhenni et seculo.
Quod si ego uel aliquis potens aut inpotens mihi propinquius uel extraneus
contra hoc meum factum spontaneum <--> pariat uel pariant uobis, uel uoci
uestre, ipsam hereditatem duplatam seu quantum a uobis fuerit meliorata
et insuper pro temeritatis ausu duo milia morabitinos parti uestri et uoci
persolvat, existente scripto in robore suo. Facta uenditionis scriptura apud
Sanctum Jacobum, coram omni capitulo et concilio roborata, VIIIo idus
februarii, sub era MCCXIIIª, regnante serenissimo rege domno Fernando,
presidente compostellane ecclesie domno Petro archiepiscopo IIIo.
Ego Fernandus Pontii hoc uenditionis scriptum proprio robore confirmo.
Comes Gomitius de Trastamar affuit et confirmat. Johannes Arie de Castella,
qui presens fuit, confirmat. Arias Fernandi de Taueriolis confirmat. Petrus
Muninz de Taueriolis confirmat. Nuno Pelaez de Trasancos confirmat.
Petrus Martini Brandonias confirmat. Johannes Froile, dictus Marinus,
confirmat. Fernandus Patronus confirmat. Fernandus Fernandi de Salnes
confirmat. Froila Ueremudi de Cornato confirmat. Arias Nuniz confirmat.
Helias Nuniz confirmat. Fernandus Afonsi de Deza confirmat. Gomez Mar-
tini confirmat. Gudesteus Martini confirmat. Cotalaia confirmat. Johannes
Juliani confirmat. <Petrus> Juliani confirmat. Martinus Didaci confirmat.
Petrus Gudestei confirmat. Fernandus Johannis confirmat. Nuno Johannis
confirmat. Fernandus Arie confirmat. Guilielmus Petri confirmat. Fructuosus
Petri confirmat. Johannes Didaci confirmat. Ego Petrus iudex confirmo.
Petrus Cantel magister scolarum ecclesie compostellane confirmo. Ego
Petrus Marcius ecclesie beati Jacobi cardinalis confirmo. Ego Petrus Tacitus
ecclesie beati Jacobi cardinalis confirmo. Ego Johannes eiusdem ecclesie
kardinalis confirmo. Magister Pelagius canonicus confirmo. <-->us Curial
canonicus confirmo. <--> canonicus confirmo. <--> Helias hoc scriptum
<..>. Adefonsus Petri ecclesie beati Jacobi canonicus hoc scriptum confir-

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 269

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 269 25/09/2012 15:21:48


mo. Ego Adefonsus Lucii <..> hoc scriptum confirmo. Petrus abbas Sancti
Martini confirmo. <--> abbas Sancti Petri de Foris hoc scriptum confirmo.
Ramirus Pelaez iudex confirmo. Ego Pelagius Infans canonicus confirmo.
Ego Bernardus Guillelmi canonicus confirmo. Ego Johannes Ordonii
canonicus confirmo. Parisius canonicus ecclesie confirmo. Ego Didacus
Ordonii eiusdem ecclesie canonicus confirmo. Ego Ordonius Petri cano-
nicus subdiaconus confirmo. <..> canonicus confirmat. Munio Johannis
<..>. Magister Martinus, thesaurarius et domni <..> cancellarius <..>. Ego
Benedictus decanus ecclesie beati Jacobi confirmo. Johannes Sancii ecclesie
beati Jacobi canonicus confirmo. Ego Sesi<..> eiusdem ecclesie canonicus
confirmo. Ego Michaeli Pelagici eiusdem ecclesie canonicus confirmo.
[Petrus Albus] beati Jacobi canonicus diaconus scripsi et confirmo.

Coluna de confirmantes no documento nº 9

270 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 270 25/09/2012 15:21:48


10
[1175, junho.]
A. AHDS, S. Martinho, maço 79, nº 41.
João Airas, a mulher, Urraca Fernandes, e os filhos vendem ao Mosteiro
de S. Martinho uma herdade na beira do Minho.
<--> ac per hoc, ego Johannes Arie et uxor mea Orraca, comitis Fernandi
filia, una cum filiis [et filiabus] nostris, hi sunt: <--> Osorius Johannis.
Petrus Johannis, Arias Johannis, Sancia Johannis <--> Petro monasterii
Sancti Martini abbati et omni conuentui monachorum [script]ure firmitatis
et testamentum uenditionis <--> valiturum cum consensu et per uolunta-
tem <-->imi imperatoris domni Adefonsi filius de qua <--> domnus rex
Fernandus dedit nobis et filius eius rex domnus Adefonsus <--> superius
nominati, Johannes et Orraca, cum omni u<--> iam dicto abbati et mona-
ch<--> nominatam atque diuisam, scilicet, per illam diuisionem <-->a et
inde [per arr]ogium qui discurrit in flumine Minei <--> Autarium ubi sedit
suspensus et sic ascendit <--> de ipsa <--> ad cautum <--> et diuidit inter
Carvaleda <-->. Hanc supradictam hereditatem per supradictos [terminos]
<-->cione nostre monasterii <--> sua in precio de hereditate de iermam qua
de nos de <--> precio [nichil remansit in debitum]. <--> testamentum ad
irrumpendum uenerit uel uenerimus qui <--> talia comiserit qua<--> hoc
scriptum testamenti semper sit firmus et stabile. Facta [carta] testamenti
die <--> Fernandus Dei gratia hyspaniarum rex, una cum filio meo rege
Adefonso, concedo et proprio signo <-->.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 271

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 271 25/09/2012 15:21:49


Documento nº 10

11
1178.
F. AHDS, S. Martinho, 13/Arquivo Abreviado, fól. 88v.
João Airas e a mulher, Urraca Fernandes, dão ao Mosteiro de S. Martinho
Pinário (Santiago de Compostela) parte da vila de Laias (conc. Cenlhe).
Donacion que hiço a este monasterio de San Martin Juan Arias y su muger
doña Urraca, hija del conde D. Fernando de una parte de la villa de Layas
que se demarca por la división de Veiga en la rivera del Miño y por otras
demarcaçiones en ella declarada y este le dio por otra porçion de heredad
que este monasterio les dio en su vida. Era de 1216. Maço 92, folio 3.

272 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 272 25/09/2012 15:21:49


12
1181 (?), fevereiro, 23.
E. ACS, Tombo C, fól. 72r.
Adão Mendes vende a João Airas, à mulher, Urraca Fernandes, e aos filhos
uma herdade na Quinza (Ventosela, conc. Ribadávia).
Sub Christi nomine. Ego Adan Melendiz et uoci mee uobis Johanne Arie
et uox uestra Urraca Fernandiz et filiis uestris et uoces uestras, in domino
Deo, eternam salutem, amen. Ideo placuit mihi per bone pacis et uoluntas
ut ego facio uobis cartulam uendicionis de hereditate mea quod ego habeo
in uilla uocitata “Quinzana” et fuit de pater meus Melendus Arie. Ita uendo
ego uobis tota mea porcione quanto ibi habeo, id est, quartas III de tota illa
uilla cum suis directuris per ubi eum potueritis inuenire. Et est determinata
per suo termino quomodo expartit per castello et de alia parte quomodo est
diuisada per illo termino de illo Burgo Auia et iacet su monte Mafamudi
et discurrit ad ribulo Auia cum suis locis et terminos anticos. Ita uendo
ego pro precio quod mihi bene complacuit. Et de ipso precio apud uos
nichil non remansit, id est, morabitinos Cm LXLa VIe, et pro roboracione
morabitinos uno.
Si quis homo de mea parte ad hunc factum meum inrumpere uoluerit,
quisquis fuerit, pariat uobis illa hereditate duplata uel triplata et in super
morabitinos CC.
Ego Adan Melendiz et uoci mee in hanc kartulam manus meas roboro. Facta
kartula uendicionis die VIIº kalendas marcii, era Mª CCª XXXª et quotum
VIIº kalendas marcii. Petrus testis. Pelagius testis. Garcia Petri confirmat.
Fernandus Petri confirmat. Petrus Johannis confirmat. Rege Fernandus
regnante in Legione. In ciuitate Sancti Jacobi, archiepiscopus Petrus Suariz.
In Auriense, episcopus Adefonsus. Nicholaus notarius1.

1
A data do documento (MCCXXX = 1192) é incorreta, entre outros motivos, porque D.
Fernando II morreu em 1188. Supomos que se trata de um erro por 1181 (= MCCXIX).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 273

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 273 25/09/2012 15:21:49


13
1181, junho, 5.
A. ACZ, pergaminhos, maço 17, nº 22
Os irmãos Fernando, João, Pedro Vélaz e Soeiro Mendes oferecem à irmã,
Maria Vélaz, a herdade de Gema (Zamora) que receberam de Fernando
II em troca por S. Cebrião de Mazote (Valhadolid). Após a morte da irmã,
aquela herdade deverá passar ao Mosteiro de Fontevraud (Anjou, França).
In nomine domini nostri Jhesu Christi, amen. Notum sit omnibus, tam
presentibus quam futuris quod nos fratres Fernandus Vele, Johannes Vele,
Petrus Vele, Suerius Melendi concedimus et donamus uobis sorori nostre
domne Marie Vele libere et sine omni honere possidenda in tota uita uestra
hereditatem nostram de Xema, quam domnus Fernandus rex nobis et uobis
donauit pro concambio de uilla Sancti Cipriani de Mozot, que fuit data matri
nostre pro concambio de Cauria, ut eam possideatis sicut aliam uestram
hereditatem nec aliquis nostrum habeat de cetero potestatem inquietandi uos
in ea nec faciendi ibi aliquid nisi forte uocatus fuerit a uobis, ut in aliqua
causa suum uobis inpendat auxilium. Post mortem uero uestram uolumus
ut eam perpetuo habeat monasterium Sancte Marie Fontis Ebrardi quam
etiam nunc titulo donacionis concedimus predicto monasterio Sancte Marie
et abatisse domne <--> et sanctimonialibus ibi degentibus tam presentibus
quam futuris, tali pacto et condicione ut semper in predicto loco sit conuen-
tus sanctimoniablius que sub regula et disciplina abbatisse Fontis Ebrardi
vivant et ei obedienciam et professionem faciant tanquam proprie abbatisse.
Prioressa uero que ad presidendum illi monasterio fuerit electa, cum con-
sensu tocius conuentus et nostro consilio eligatur; alioquidem electio illius
non valeat. Si qua uero in consanguinitate nostra ad predicti monasterii
regimen inuenta fuerit idonea ea pocius eligatur quam alia. Et si aliqua
similiter de consanguinitate nostra uel propter membrorum invalitudinem
uel aliam aliquam causam in egestatem inciderit, si in monasterio habitum
assummere uoluerit sicut aliis monialibus ei sufficienter ibi prouideatur. Si
uero sine habitu digne et honeste ibi uiuere uoluerit honeste pro facultatibus
monasterii provideatur. Ea uero que cum consensu tocius capituli et nostro
consilio electa semel fuerit ab abbatissa Fontis Ebrardi confirmetur, que
postquam confirmata fuerit, nunquam administracionem ammittat nisi mani-

274 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 274 25/09/2012 15:21:49


festa culpa illius deprehensa fuerit. Nobis quoque et consanguineis nostros
propinquis uidilicet, in predicto monasterio debita reuerencia inpendatur et
huius modi donacio tam uobis facta quam monasterio Sancte Marie Fontis
Ebrardi semper firma et inconcussa permaneat.
Si quis igitur tam de genere nostro quam de extraneo hanc nostram dana-
cionem infringere uoluerit, sit maledictus et excomunicatus atque uobis uel
uestram uocem tenenti mille libras auri purissimi persolvat.
Facta karta die quo fuit nonas iunii, era Mª CCª XVª IIIIª. Regnante rege
Fernando cum filio suo rege Alfonso in Legione, Gallecia, Asturiis et Ex-
tremis Dorii. Nos supradicti fratres Fernandus Vele, Johannes Vele, Petrus
Vele et Suerius Melendi hanc kartam donacionis istius uobis sorori nostre
domne Marie Vele quam facere mandauimus propriis manibus roboramus
et signum in ea fieri iussimus atque testamentum istud confirmamus.

Documento nº 13

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 275

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 275 25/09/2012 15:21:49


14
1181, setembro, 6 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fól. 89r.
Pedro, arcebispo compostelano, entrega a Urraca Fernandes, viúva de João
Airas, o usufruto de metade da terra capitular de Duvra.
Petrus Dei dignacione Sancte Compostellane Ecclesie archiepiscopus. Di-
lecte in Christo filie nobili domne Hurrace Fernandi, salutem. Notum est
quod uos cum uiro uestro, bone memorie, domno Johanne Arie, tenuistis in
pignore terram de Dubria, uidilicet: Portum Mauri, Bertumeriu, Uillarinum,
Eruiniou, Arauegium, Sanctum Uicentium, Benuiure, Concieiro et Paramios.
Et postea ipse uir uester, ad obitum suum, dimisit inde medietate ecclesie
Beati Jacobi et uos deliberatis nobis ipsam medietatem illius terre integram,
ita quod si inuentum fuerit, per inquisicionem bonorum hominum, quod uos
uel uir uester alienastis ibi per amaticum, uel seruicialiam, uel aliomodo
aliquos homines ad uocem Beati Jacobi pertinentes, uobis eos retinendo uel
alii conferendo eos qui in potestate uestra fuerint, debetis ad priorem statum
reducere et ad ius terre restituire, aut si uolueritis pro imo quoque talium
dimittere nobis alium eque bonum qui uero non fuerint in potestate nostra,
iuuetis nos quomodo ad opus nostri et uestri eos recuperemus. Et pro reme-
dio etiam anime uestre, etiam predicti mariti uestri et parentum uestrorum,
dimittitis ecclesie beati Jacobi aliam medietatem ipsius terre et eam nobis
restituitis et cirographum obligacionis, quod inde habebatis nobis redditti, ut
neque nos neque aliquis pro parte uestra requirat ibi ulterius aliquid, quam
si pro uoce illius obligacionis quam eam tam longo tempore tenuistis et nos
attendentes deuocionem, quam semper tam uos quam sepe dictus maritus
uestrum erga beatum apostolum Jacobum gessistis, con consilio et consensu
capituli nostro damus et concedimus uobis canonice medietate predicte terre
de Dubria in beneficium et prestimonium uobis in uita uestra tenenda. Ad
obitum uero uestrum, debetis eam dimittere ecclesie compostellane in eo
statu in que nobis alteram medietatem recognoscitis, uel quantum potueritis
in melior ita quod deinceps nichil inde uel per amaticum, uel per seruicialam
uel alio modo de iure ecclesie nostre per uos depereat. Et nos promittimus
uobis quod si in illa medietate, quam nobis retinemus, alicui militi dederimus
prestimonium et ille uobis super medietate uestra intulerit, unde uobis non
uelit, ad mandatum uestrum satisfacere prestimonium ei auferamus.

276 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 276 25/09/2012 15:21:49


Si quis uero ex parte nostra uel uestra contra hoc factum uel conuenientia
uenerit, marcas LXª argenti alteri parti persolvat et hec conueniencia semper
incontussa serueretur que firmata est in capitulo nostro et per commune
omnium consensum et etiam per nostram per personarum ecclesie nostre
suscriptiones.
Ego Petrus compostellanus archiepiscopus confirmo. Ego Petrus presbiter
ecclesie compostellane decanus confirmo. Ego Pelagius Gundisalui com-
postellanus cantor confirmo. Ego Martinus magisterscolarum confirmo.
Ego Pelagius archidiaconus, dictus Lauro, confirmo. Ego Johannes iudex
confirmo. Ego Petrus Cantel archidiaconus confirmo. Ego Petrus, dictus
infantinus, canonicus confirmo. Ego Bernardus presbiter archidiaconus
confirmo. Ego magister Martinus cardinalis capellanus confirmo. Ego Gus-
teus cardinalis subscribo. Ego Johannes kardinalis subscribo. Ego Petrus
Tacitus kardinalis confirmo. Presentes fuerunt: dominus Arias Fumat. Petrus
Petri de Uivario. Suerius Petri. Arias Nuniz. Johannes Candanel. Johannes
Nuniz ciuis. Froila Roderici. Didacus sacerdos de Bertumeiro. Johannes
subdiaconus de Benuiure. Datum Compostelle per manum Martini Johannis
uice cancellarii, VIIIº idus septembris, era Mª CCª XVIIIIª.

15
1181, dezembro, 7 – Santiago de Compostela.
A. AHN, Mosteiro de Moreruela, maço 3549, nº 7/8.
Os irmãos Fernando, Pedro, Pôncio Vélaz e Soeiro Mendes, cumprindo as
últimas vontades do irmão João Vélaz, oferecem no Mosteiro de Moreruela
(conc. Granja de Moreruela) aquilo que possuem em Ceque e em Galende.
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Sanctissimo atque reuerendissimo
domno Gundisaluo, Dei gratia, Murerole abbati necnon et eiusdem ceno-
bii uenerando conuentui, Fernandus Vele, et Pontius Vele, et Petrus Vele
et Suerus Menendi, salutem in omnibus et reuerentiam. Quoniam fratris
nostri Johannis Vele, cuius est apud uos sepultura, ultima uoluntas fuisse
dignoscitur ut aliqua de hereditatibus nostris in uos donationis titulo trans-
ferretur, ideo quicquid in uilla Sancti Petri de Cecan et in Galende habemus
uel habere debemus et generaliter cum omnibus pertinenciis suis quicquid

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 277

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 277 25/09/2012 15:21:49


in predictis uillis nostri iuris esse dignoscitur uobis perpetuo concedimus
ac donamus.
Si quis uero tam de nostro genere quam de alieno hanc nostram donatio-
nem inquietare uoluerit, parti uestre et uestro monasterio duo milia aureos
persolvat et quantum calumpniauerit in duplo componat. Et hoc scriptum
donationis semper plenum robur obtineat.
Facto scripto donationis die VIIº idus decembris, era Mª CCª XVIIIIª. Nos
fratres supranominati hoc scriptum confirmamus. Ego Petrus Vele archi-
diaconus hoc donationis scriptum, quod fieri iussi, propria manu roboro et
confirmo. Ego Bernardus archidiaconus confirmo. Ego Petrus archidiaco-
nus confirmo. Petrus presbiter ecclesie compostelane decanus confirmo.
Magister Martinus capellanus confirmo. Qui presentes fuerunt: Cothalaia,
Arias Didaci iusticia, Johannes Petri iusticia, Martinus Fernandi prector
ciuitatis. Petrus Fernandi scripsit iussione archidiaconi domni Petri Vele.

16
1181, dezembro, 7 – Santiago de Compostela.
A. AHN, Mosteiro de Moreruela, maço 3549, nº 9.
Os irmãos Fernando, Pôncio e Pedro Vélaz, cumprindo as últimas von-
tades de João Vélaz, oferecem ao Mosteiro de Moreruela (conc. Granja
de Moreruela) aquilo que possuem em Vionho (conc. Corunha) e em Faro
(Corunha) – herdado da avó, a condessa Toda Peres de Trava – e confir-
mam a concessão ao Cabido da Sé de Santiago da parte que lhes pertence
na Igreja de Oza (Corunha).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Sanctissisimo atque reuerentissimo
domno Gundisaluo, Dei gratia, Moreirole abbati necnon et eiusdem ceno-
bii uenerando conuentui, Fernandus Vele, et Poncius Vele, et Petrus Vele,
salutem in omnibus et reuerentiam. Quoniam fratris nostri Johannis Vele,
cuius est apud uos sepultura, ultima uoluntas fuisse dignoscitur ut aliqua de
hereditatibus nostris in uos donationis titulo transferretur, ideo Vionium et
quicquid in Faro habemus tam ex successionis auie nostre, comitisse domne
Tude, quam ex epartitione patris nostri, domni Vele, et generaliter quicquid
in predicta terra nostri iuris esse dignoscitur uobis perpetuo concedimus

278 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 278 25/09/2012 15:21:49


ac donamus; ab huiusmodi donatione excepimus et quicquid ad ius domni
Uelasci, patrui nostri, respicere et tantum de quantum sua illius terre familia
et medietate ecclesie de Ozia quantum capitulo beati Jacobi perpetuo pro
remedio anime predicti fratris nostri possidenda concessimus.
Si quis uero tam de nostro genere quam de alieno hanc nostram donationem
inquietare uoluerit, parti uestre et uestro monasterio mille aureos persolvat
et quantum calumpniauerit in duplo componat. Et hoc scriptum donationis
semper plenum robur obtineat.
Facto scripto donationis die VI idus decembris, era Mª CCª XIXª. Nos
supra nominati hoc scriptum confirmamus. Ego Petrus Uele archidianus
hac donationis scriptura, quam fieri iussi, propria manu roboro et confirmo.
Ego Bernardus archidiaconus confirmo. Ego Petrus archidiaconus confirmo.
Petrus presbiter ecclesie compostelane decanus confirmo. Magister Martin
capellanus confirmo. Cothalaia confirmo. Arias Didaci iusticia confirmo.
Johannis Petri iusticia confirmo. Martinus Fernandi pretor ciuitatis confirmo.

Documento nº 16

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 279

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 279 25/09/2012 15:21:49


17
1182, fevereiro, 14 – Montes de Oca.
E. Mosteiro de Valvanera, Historia del real monasterio de San Prudencio,
fóls. 91v-92r. Ed.: García Turza (1995, nº 47).
D. Romeu, abade de Santa Maria de Montes de Oca, vende a Lamberto,
abade de Monte Laturce, a Villamediana que pertencera a Diogo Ximenes
dos Cameros.
En el nombre del Padre y del Hijo y del Espíritu Santo, amen. Yo, Rome,
llamado abad de Santa María de Montes de Oca con consentimiento de
todo nuestro capítulo, vendo a vós, Lamberto, abad de San Prudencio y
a vuestro convento toda aquella nuestra heredad que está en Villa Media-
na; y es la que nos dio don Diego Ximenez a honor de la bienaventurada
siempre Virgen María por el perdon de sus pecados y de sus padres, cuya
donación confirmó delante del rey don Alonso y muchos testigos. La so-
bredicha heredad os vendemos por el precio de quinientos morabetinos,
que enteramente y sin faltar alguno percivimos de vós. Y os la vendemos
toda entera, esto es, con sus poblados y cassas, tierras de labor, entradas y
salidas, valles y montes, aguas y pastos y con todas sus pertenencias, según
y como se puede o pudiere probar que pertenecían del todo y en redondo
al dicho señor don Diego Ximenez. Y esto los hacemos por la mediación
del mismo señor don Diego Ximenez y por concessión suya y de su muger
doña Guiomar, de su hijo Don Rodrigo Díaz, de sus hermanas y parientes
de todo su linage [...].
Fue fecha la carta en la abadia de Santa María de Montes de Oca, a 16 de
las calendas de marzo, en la era de 1220 [...].
Yo, Romeo, abad de Santa María de Montes de Oca [...] confirmo y corro-
boro esta escritura. Marino, obispo de Burgos, confirma. Rodrigo obispo
de Calahorra confirma. Diego Ximenez confirma [...].

18
1185, junho, 8 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 23v-24r.
Testamento de Maior Juiães, mulher de D. Cotalaia.

280 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 280 25/09/2012 15:21:49


Era Iª CC. XXIIIª et quotum VI idus iunii. Ego Maior Juliani incolumis
existens, concedente uiro meo domno Cotolaie, precauens in futurum ne
preocupata hinc recedam statuo, dispono quid fiet de rebus meis post obitum
meum. Et inter alia que continentur in dicto testamento, continentur iste
clausule que secuntur, uidilicet: In primis, mando corpus meum seppeliri in
cimiterio Sancti Jacobi et mando ibi mecum Iª marcham argenti canonicis
et tres quartas uini, in superposita, pro meo et uiri mei anniuersario. Damus
ibi quantum ganauimus de ecclesia Sancti Michaelis de Cisterna, cum illas
domos, quas modo tenet Pelagius Garsie, Ecclesie Beati Jacobi canonicis,
etiam damus ibi annuatim duas uncias argenti canonice, quas duas uncias
asignamus eis de allugario quod exierit de illa nostra domo que sita est sub-
tus portale nouum et expendant eas ad matutinum. Et recipiant etiam in die
Sancti Romani Iª quartam uini pro anniuersario nostro et persolvant illam de
ecclesiasticis nostris de Sancto Romano et de Sancta Marina de Berdia et de
quinione nostro de Bitulitu et de Bogallito et de Laranio, et que ecclesistica
nostra iure renuerint in pace eis hoc nostro datum persolvat portione nos-
tram de Ecclesia de Fecha quam ibi habemus uel acquisierimus. Mando ad
Sanctum Jacobum omnes meas hereditates et supignoraciones quas ego et uir
meus ganauimus et subpignorauimus propter illas quas iam mandaui et totas
alias meas mando ad domnum Cotalaiam; et compleat meam mandatonem.
Hec omnia persolvant per manus magistri nostri decani domni Martini, et
iudicis domni Johannis, Julianus Petri, Johannis Juliani et Sancii Juliani.
Et qui hoc factum meum compleuerit sedeat benedictus, qui uero non com-
pleuerit sedeat maledictus et excomunicatus e cum Juda traditore Domini
eternis lugeat incertus et pareat mille morabitinos. Et hoc meum factum
semper obtineat robur. Ego, iam dictus, in hoc scriptum manus meas. Qui
presentes fuerunt: Petrus testis. Johannes testis. Didacus testis.

19
1187, Maio, 7 – Osseira.
E. AHN, Tombo de Sobrado, fóls. 36r-36v.
Acordo entre os mosteiros de Sobrado e de Osseira sobre o souto de Sequeira.
Hoc est pactum et conuenientia inter fratres de Ursaria et fratres Superaddi
super saltum de Siccaria ab illa devassada quam fecit domnus Sancius abbas

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 281

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 281 25/09/2012 15:21:49


usque ad illam diuisionem quam domnus Garsia abbas dedit Samonensibus.
Istum terminum debent habere communiter fratres Ursarie cum fratribus
Superaddi et pro posse defendere et custodire.
Qui presentes fuerunt: Johannes Pelagii testis confirmat. Arias Odoarii
testis et confirmat. Petrus Laurus testis confirmat. Goterrius testis confir-
mat. Johannes monachus testis confirmat. Superaddi, frater Lupus testis et
confirmat. Martinus, monachus Ursarie, testis et confirmat. Frater Pelagius
testis et confirmat. Petrus, monachus Usarie, scripsit et confirmat. Ego Gar-
sia Ursarie abbas et ego Fernandus Superaddi abbas, una cum conuentibus
nostris, hoc placitum quod fieri iussimus roboramus et confirmamus. Era
Mª CCª XXª V et quotum nonas maii.

20
1195, janeiro – Burgos.
A. ACO, Mosteiro de Osseira, nº 86.
Manrico Rodrigues vende a Gonçalo Eanes de Nóvoa todos os seus direi-
tos sobre a igreja e os casares da Nogueira e de S. Fagundo (conc. Cea).
In Dei nomine. Ego Manricus Roderici, bona uoluntate, uendo et roboro a
uos Gonzaluo Johannis totam meam partem de Nugeira cum totam meam
partem de la ecclesia et de los casares et de Sancto Facundo, et cum quantum
suo directo de Nugeira et de Sancto Fagundo, con totos meos directos et
cum omni integritate. Et accipio de uobis in precio unum cavallum et uno
vaso de plata, et sum de isto precio pacato.
Si quis de genere meo uel de alieno genere hoc scriptum uiolare uoluerit,
non habea partem, nisi cum Juda proditore in inferno dampnatus.
Facta carta mense ianuario in Burgos, in casa de dompno Almerico cambia-
tor, in era Mª CCª XXXª IIIª. Huius rei sunt testes: don Arias Petriz. Ferrant
Forcaza. Petrus Frolaz. Roi Pedrez de Rebreda. Fernant Arias filius de Arias
Giraldez. Martinus Fernandiz cantador. Martinus Iohannis escudero. Petrus
Osoriz. Suer Giraldiz. Ferrant Rodriguet, filio de Roi Fernandiz de Cal-
leiros. Don Almeric cambiador de Burgos. Tosten suo antenado. Johannes
Richart. Bernalt, filio de don Gonçaluo. Johannes barbeador. Johannes de
Rio Lazello scripsit.

282 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 282 25/09/2012 15:21:49


Documento nº 20

21
1195, julho, 12 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 24v-25r.
Testamento de D. Cotalaia.
In nomine domini nostri Jhesu Christi, amen. Era Mª CCª XXXIIIª et quotum
IIII idus iulii. Ego donus Cotalaya sanus Deo gratias et incolumis uolens
ire in exercitum domni regis Anfonsi legionensis contra sarracenos, ideo,
volo res meas exponere et ordinare qualiter si illuc obiero iuxta meam pro-
priam uoluntatem ordinare remaneant. Et inter alia que continentur in dicto
testamento, continentur iste clausule que secuntur, uidilicet: Primo, mando
corpus meum sepelliri in cimiterio Beati Jacobi et mando ibi mecum in ipsa
die solidos C canonicis, in superposita. Et mando eis etiam duas IIIIas uini
annuatim, unam pro meo anniuersario et aliam pro anniuersario uxoris mee
[Maioris] Julianiz, sicut in sua mandatione resonat. Et una ex istis quartis
uini detur in die Sancti Michaelis septembris et alia in die Sancti Martini
et persolvantur de Sancti Michaelis de Cisterna. Mando que tres presbiteri

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 283

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 283 25/09/2012 15:21:50


seruiant in Ecclesia Sancti Michalis et unus ex eis seruiat in choro Sancti
Jacobi et sic faciant per ebdomadas singulas alternatim, et teneant ipsam
ecclesiam per mandatum compostellani capituli et eius prouidencia. Et
mando eis ipsam domum que stat inter domum cardinalis Pelagii Garsie
et domum in qua moratur domnus Paris Johannis canonicus et illas etiam
domos in quibusmodo ibi moratur cardinalis Pelagius Garsie, quas mihi
monachi Sancti Martini debent deliberare ad obitum domni Petri Uelle, ut
iam dicti tres presbiteri habeant domos ipsas. Et mando eis illum furnum
meum quod stat ad ipsos agros Sancti Michaelis, in fronte de ipsis meis
pardinariis. Et mando eis quantum habeo in Biti tam hereditatem quam eius
populacionem. Et mando eis unum meum seruicialem in Linares quem michi
dedit Pelagius Amplo. Et mando eis medietatem de quadam seruicialia in
Ariis ubi moratur Pelagius Martini. Et mando eis illum meum ortum quod
ganaui meo proprio censu de archidiacono domno Petro Stefani, et hoc
seruet filius meus domnus Julianus fideliter et custodiat sub protectione
capituli ad uictum et uestitum predictorum trium presbiterorum. Et non
dimittat predictas possessiones uendere nec donare nec subpignorare alicui,
sed firmiter sint ipse predicte possessiones intacte et conservate ad opus
ipsorum predictorum trium presbiterorum imperpetuum. Et si filius meus
donus Julianus hoc bene et fideliter non custodierit, alius meus propinqus
clericus per consensum capituli Sancti Jacobi seruet et custodiat bene. Et
hoc sicut superius dictum est et semper totum sit sub defensione capituli
Sancti Jacobi. Mando inde, post filium meum donum Julianum, que nep-
tus meus Sancius Alfonsi teneat has predictas possessiones et custodiat
modo supradicto. Et si mei propinqui clerici defecerint, mei propinqui
laici ita seruet ipsas possessiones sicut superius dictum est. Et si omnes
mei propinqui defecerint totum sit libere in arbitrio capituli. Mando etiam
duas uncias argenti canonicis pro meo anniuersario et uxoris mee Maioris
Julianiz, in die Sancti Gregorii, canonicis Sancti Jacobi et asigno eas dari
illis de ipsam meam domo que estat sub portali nouo ecclesie Beati Jacobi
quam ego nouiter feci. Et mando eisdem canonicis, in die Sancti Romani,
unam quartam uini in superposita pro meo aniuersario et uxoris mee Maio-
ris Julianiz, et persolvantur de meis ecclesiasticis de Sancto Romano et de
Sancta Marina de Berdia et de mea porcione de Bitulito et de Bogallido et

284 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 284 25/09/2012 15:21:50


de Laranio. Quas hereditates predictas ecclesiasticas teneat filius domnus
Julianus et nepti mei et propinqui clerici, unus post obitum alterius, et si
propinqui mei clerici defecerint, mei propinqui laici teneant et dent illud
predictum anniuersarium et reficiant et restaurent ipsas eccleias. Et si omnes
de genere meo defecerint, tunc redeant predicte hereditates Compostelane
sedis ad possidendum imperpetuum. Dum autem eas mei propinqui tenue-
rint non recipiant inde seruicium, nisi in mensura, et non uendant eas nec
subpignorent nec donent alicui nec minuant, sed acrescant et perfficiant.
Mando que sacerdos quidam teneat VIam ipsius Ecclesie Sancti Romani
per prouidenciam et consilium illius propinqui mei qui meas ecclesisticas
hereditates tenuerint et non det de illa redditum ipse sacerdos sed habeat
me et uxore meam Maiorem Julianiz in mente in orationibus suis imperpe-
tuum. Quando ipse sacerdos obierit alius succedat ei in predicta possessione
imperpetuum qui semper sic faciat. Mando Sancto Jacobo totam meam
gananciam de ecclesia illa de Fecha. Mando que neptus meus Sancius
Alfonsi teneat meam portionem ecclesie de Sancta Christina de Marcelli
et det inde annuatim soldos V in pane et uino pauperibus hospitalis Sancti
Jacobi. Et quando defecerit Sancius Alfonsi reddeat ipsam ecclesiam illi qui
alias meas ecclesiasticas hereditates tenuerit et dentur inde semper annuatim
predicti solidi V hospitali Sancti Jacobi in die Sancte Christine. Mando
que compleatur hoc meum testamentum de debitis que mihi debentur et si,
ad presens, complere non potuerint de meis debitis, uendatur ipsa domus
mea de Rua Grandi, in qua moratur Petrus de Tudela, et compleatur inde
hoc meum testamentum, quantum inde pertinet ad animam meam. Et aliud
compleatur de illis que mihi debent et hoc etiam supleantur per manus et
presencia decani domni Martini et archidiaconi domni Petri Cantel et abbatis
de Ante Altaria et Martini Petris de Campo et Vilielmi Petri et Afonsi Petri,
generis mei et uxoris mee Vrraca Nuniz.
Quisquis contra hoc meum testamentum, quod ego coram mea presencia
scribere feci et sigillare, tam ex parte mea quam ab extranea ad irrumpen-
dum uenerit, quisquis fuerit, ex parti Dei Patris omnipontentis et mea, sit
maledictus et in inferno cum Juda Domini traditore sine fine dampnatus. Et,
in super, tres mille morabitinos persolvat et quantum in calumpniam miserit
uoci mee duplet, et hoc meum testamentum plenam in perpetuum obtineat.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 285

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 285 25/09/2012 15:21:50


Ego, iam dictus, in hoc meo testamento manus meas roboro. Qui presentes
fuerunt: Martinus Petri de Campo confirmat. Vilielmus Petri confirmat.
Domnus Giao confirmat. Ego Martinus ecclesie Compostellane decanus
confirmo. Ego Petrus Cantel archidiaconus confirmo. Lupus Arie compos-
tellane ciuitatis notarius scripsit.

22
1196, dezembro, 24 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fól. 195r.
Acordo entre Urraca Fernandes e o cabido de Santiago sobre o negócio
das conchas e as rendas de vinha da Quinza (Ventosela, conc. Ribadávia).
In nomine Domini. Era Mª CCª XXXª IIIIª et quotum VIIII kalendas ianuarii.
Ego domna Urraca Fernandiz uobis domno Martino, Ecclesie Beati Jacobi
decano omnique eiusdem ecclesie capitulo et omni uoci uestre, facio pactum
et placitum firmissimum in mille ducentos solidos turonenses roboratum, ita
quod uos detis mihi dictos solidos turonenses in uita mea annuatim, id est:
CCC solidos in festo Sancti Michaelis mensis septembris primum uenturo
et ad Pascha Domini sequens. Alios CCC solidos assignatis eos michi in
illis C morabitinis qui uobis debentur de redditibus concharum. Et si inde
aliquid defecerit, uos plene de uestro proprio conplebitis michi in pace.
Et incipietis michi illos dare uidilicet: primos CCC solidos in festo Sancti
Michaelis de setenbri proxime uenturo et alios CCC ad sequens Pascha
Domini, et sit deinde singulis annis adiam dictos terminos dum Deus uitam
michi conservauit. Et hoc facitis mihi predditibus illius hereditatis uestre de
Quinciana quam ego pridem uobis et capitulo ecclesie Beati Jacobi liberali-
ter dedi et at comunem mensam uestri refectorii asignaui pro anima mea et
uiri mei, domni Johannis Arie, ac parentum meorum. Et debebam eandem
hereditatem in uitam mea tenere de uestra manu et dato, sed meo quare
opus est uobis ut uineas meas plantetis ad communitatem mense uestre de
libero eam uobis in pace ut habeatis eam et possideatis in perpetuum sicuti
resonat in illa carta quam uobis de illa feci, adicitis etiam quod si moneta
turonensis a suo valore defecerit, solvatis mihi predictos solidos ad valorem
XL IIIIor solidorum per marcha, et si nuncius meus in oram fecerit apud

286 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 286 25/09/2012 15:21:50


uso expectando huius pecunie solutionem sit sub expensis uestris quosque
ei plene persolvatur. Quod non complendo penam huius placitum superius
dictam plenam persolvam.
Ego, iam dicta, in hoc placto manus meas roboro.

23
1197.
A. AHN, Mosteiro de Aguilar de Campo, maço 1650, nº 3.
Armengol, filho de Maria de Almenar, vende a D. André, abade do Mosteiro
de Aguilar de Campoo, os prados que possui em Ermidanos.
Sub Christi nomine et individue Trinitatis: Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Ego don Armingoth, filius dona Maria d’ Almenar, uendo tibi abbati Andree
una cum conuentu tuo aquelos prados que habeo en Ermidanos, que mihi
pertinent iure hereditario, que tenuit dona Maria, mater mea, cum omnibus
pertinentiis suis, cum ingressu et egressu, cum montibus et fontibus et
quidquid ibi tenuit mater mea in uita sua ex integro, pro XXti morauetinos
et sum paccatus de illis.
Facta carta era Mª. CCª. XXXª Vª. Regnante rege Adefonso cum uxore sue
Alienor, in Toleto et in Castella. Maiordumus curie regis Petrus Garsias de
Lerma. Alferet Didacus Lupiz de Faro. Maerinus maior regis Roi Petrez.
Martinus burgiensis episcopus. Aldericus palentinus episcopus. Si quis
hanc cartam disrumpere uoluerit sit maledictus et excomunicatus et cum
iuda traditore in inferno damnatus et pectet in coto .C. libras auri quarum
medietas sit regi et altera medietas monsterio. Et hereditatem dupllicatam
in simili loco. Dominante comite Fernando en Aquilar et in el Alfoz, Gil
Gomez en Campo et in Asturias. Et hi sunt testes huius uenditionis: Roi
Petres de Mala Villa testis. Garcia Roiz de Avia. Gomez, trobador. Garco
Petrez, maiordomo de Roi Petrez. Alfonso Bravo. Petro Petrez, maiordomo
de don Armingoth. Don Nunio de Val de Rama. Gonçaluo Gonzalvez del
Riu. Ferando Gonzaluez de Val de Govia. Alvar Gonzalvez de Villa Sendino.
Roi Campo de Burgos, Garci molinero et don Johan Suo iernos. Domingo
Malmierca de Carion. Michael Michaelez de Requexo. Gonzalvo Martinez
de Cuena, testis. Roi Cuena, testis. Fernando Afigiado, testis. Gonzavo

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 287

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 287 25/09/2012 15:21:50


Garciez, testis. Garci Petrez, testis. don Victores de Calzada, testis. Sanctius
Martini, testis. Petrus scripsit.

24
1199, julho, 30 – Sobrado.
E. ACS, Tombo C, fól. 10. Ed.: Pichel Gotérrez (2009, nº 15).
Testamento de Dona Urraca Fernandes de Trava.
Era Mª CCª XXXVII et quotum III kalendas augusti. Ego Urracha Fernandi,
in salute mea posita quomodo anima mea post obitum meum ordinata rema-
neant. In primis, mando corpus meum sepelire in cimiterio Beati Jacobi et
mando ibi mecum hereditatem meam de Quinzania ad refectorium, excepta
uinea de Pelagio Raniado et de uinea de Luz Petrario de uia ad sursum.
Mando eam ad Sanctum Petrum de Foris et totam aliam mando ad refec-
torium Beati Jacobi. Mando etiam ibi Amaranti cum suo cauto et cum tota
hereditate quam ibi habeo et ganauero usque ad obitum meum, extra casale
de Luz quod dedi ad ipsam ecclesiam Sancte Marie de Amaranti et casale de
Froila Vimarat quod est de Sancto Martino de Foris. Et mando ibi mecum
quantum habeo in Monte Auz, et mediam ecclesiam Sancti Johannis de
Laiantes. Et de omni hereditate ista mando pro anniuersario meo annuatim
in die Sancti Jacobi de octava Natalis Domini marcham Iª, in die Sancto
Pasche aliam marcham, in die Omnium Sanctorum aliam marcham, aliam
marcham in die obitus mei qualiscumque fuerit dies usque in sempiternum.
Et mando canonicis in die sepulture mee Xm morabitinos et lectum meum
cum sua liteira et zemilam si forte habuerim eam. Archiepiscopo mando
copam unam argenteam et sortilam unam et XX morabitinos et mulam meam
si habuerim. Ad decanum uero scifum I argenti de marcho Iº et VI mora-
bitinos. Ad cantorem scifum unum argenti de marcho Iº et VI morabitinos.
Ad cardinales et archidiaconos XX morabitinos. Et quito quantum censum
habeo super Dubriam. Ad claustrum Sancti Jacobi C morabitinos et mando
ut teneant eos decanus et cantor cum alia idonea persona ut expendant illos
in claustrum fideliter. De alia parte rogo et deprecor ut conuenientia quam
michi conuenistis, adtendatis et detis ad unum presbiterum portionem meam
per unum annum sicut unicuique uestrum. Ad hospitale Beati Jacobi marcam

288 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 288 25/09/2012 15:21:50


Iª. Ad confraternitatem presbiterorum V morabitinos, et pro anniuersario
meo V solidos annuatim de domo mea de Campo im perpetuum. In candelis
uero etiam clericis qui recitent psalterium L solidos. Ad confraternitatem
Anni Noui II morabitinos. Ad lumen de candelabro de Ante Altare Sancti
Jacobi V solidos annuatim de domo mea de Campo; et in casa quam teneo
de canonicis quantum in ipsa casa comparaui mando eam ad canonicos
et fuit de Pelagio Caluilino. Ad altaria ecclesie Beati Jacobi ad capellas
totius urbis IIII morabitinos. Ad pauperes et uiduas ciuitatis Sancti Jacobi
L solidos. Super monumentum in pane et uino L solidos. Ad Ante Altaria
XX morabitinos et medietatem vacarum mearum quas habeo in Negreira.
Et in die obitus mei in refectorio suo pro pitancia X solidos. Ad Sanctum
Martinum de Foris casale de Froila Vimaraz quod supra scriptum est et
alium casalem de Uiariz ubi moratus fuit Salvator et XX morabitinos; et
in die sepulture mee XXX solidos pro pitancia. Ad Sanctum Petrum de
Foris X morabitinos: Ve ad fratres et Ve ad acclesiam novam, et portionem
uinee que supra scripta est et quarta vacarum mearum de Negreira; et in
die sepulture mee XV solidos pro pitancia in refectorio. Ad Conogium C
solidos ad opus ecclesie, ad sorores ipsius monasterii L solidos et quartam
vacarum mearum de Negreira et V modios de pane; et in die sepulture mee
XXX solidos pro pitancia refectorio. Ad Saranense monasterium, mando
quantum in ecclesia de Pignario ganaui similiter et hereditate que uocitant
Tras Ecclesie, similiter quantum habeo in ipsas hereditates ubi moratus est
Didacus Monachus, et sexcentas soldadas de hereditate circa ipsius monaste-
rii. De ista hereditate dent pro pitancia refectorio pro anniuersario annuatim
XXX solidos; in die sepulture mee marcam Iª in refectorio pro pitancia.
Ad opus ecclesie CL solidos ad conuentum canonicorum, X morabitinos
et V modios de pane e medietatem vacarum mearum de Uillar Asal. Ad
Sanctum Johannem de Fouea C solidos et medietatem vacarum mearum de
Villar Asal. Ad Lampadium monasterium V morabitinos. Beati Jacobi de
Petrono X solidos. Sancte Marie de Iria et X solidos. Ad Sanctum Justum de
Tribulis Altis C solidos et V modios de pane. Ad sorores Sancte Talasie X
modios de pane et medietatem vacarum mearum de Salguerius. Ad Sanctum
Antonium de Baainas V modios de pane et medietatem vacarum mearum
de Salgueirous. Ad Sanctum Julianum de Mouriame V modios de pane et

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 289

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 289 25/09/2012 15:21:50


terciam vacarum mearum de Monte Alto. Ad Sanctum Martinum de Onzon
III modios de pane et tertiam vacarum mearum de Monte Alto. Ad opus
ecclesie Sancte Marie de Finibus Terre XXXª solidos. Ad Sanctum Petrum
de Bogallido modios I de pane. Sancti Martini de Candones X modios de
pane et terciam vacarum mearum de Monte Alto. Ad Sanctum Johanne de
Bornario duos morabitinos. Ad Sanctum Salvatorem de Nemenio II duos
morabitinos. Ad Sanctum Jacobum de Mens II morabitinos et II modios
de pane. Ad Sanctum Martinum de Cuitio X solidos et II modios de pane.
Ad Montem Acutum IIII morabitinos. Ad Siauiam V modios de pane. Ad
Suandres V modios de pane et II vacas de Uentosa. Ad Portum Odorii III
morabitinos et II vacas de Uentosa. Sancte Marie de Calambre marcham I
ad opus ecclesie. Ad Briues duos morabitinos. Ad Cines marcham unam.
Ad Burgundum marcham I: medium ad fratres et medium ad opus ecclesie.
Ad Sanctum Johannem de Calaueiro marcham I. Ad Sanctum Martinum
de Juuia marcham I. Ad Sanctum Salvatorem de Petroso medium de una
marcha. Ad Sanctam Marinam de Zebrario hereditatem de Uentosa cum
suo populatione et IIIIor modios de pane. Ad confrariam Celticorum II mo-
rabitinos et II modios de pane. Ad confrariam de Montanos III morabitinos
et II modios de pane. Ad confrariam de Dubria II morabitinos et II modios
de pane. Sancte Marie de Superaddi CC solidos et medietatem de ganato
quanto in ipsum habeo. Similiter de equabus Sante Marie de Mosontio a
quinta de ganato de mea medietatem quod habeo in Superado extra equas.
Ad opus ecclesie XXX solidos cum una equa. Ad Dormianam alia quin-
ta de ipso ganato de Superaddo cum una equa. Ad Montem Ferrum alia
quinta de ipso ganato Superaddi cum alia equa. Ad Sanctum Antoninum
de Toqua alia quinta ipsius ganati de Superaddo cum una equa. Ad Orriam
alia quinta ipsius ganati cum una equa. Sancte Marie de Meira duas partes
quas habeo in Superaddo de portione mea de equabus, extra III que iam
sursum mandaui. Et L solidos ad Ferrariam de Paliares tertiam de equabus
quas habeo in Superaddo, extra II que iam sursum mandaui. A Giam XXX
solidos. Ad episcopum Lucensem X morabitinos et Iª sortilia, ad canonicos
XV morabitinos, ad opus ipsius ecclesie XIIII morabitinos. Ad episcopum
mindoniensem VIIIº morabitinos, ad canonicos de Uilla Maiore XII mo-
rabitinos, ad opus ecclesie X morabitinos. Sancto Salvatori de Camancio

290 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 290 25/09/2012 15:21:50


L solidos et IIII modios de pane. Sancto Ueresimo de Fouea XX solidos.
Sancto Petro de Ansimir XX solidos. A Mercea X solidos. Sancto Laurentio
de Carbonario C solidos et equas quas habeo in Dubriam medietatem de eis
et L solidos. Ad opus ecclesie Sancte Marie Azivario C solidos et V modios
de uino. Ad Codeseda XXX solidos. Armelu XX solidos. Armentarie C so-
lidos et V modios de pane et medium de equabus de Dubria; de ista manda
medium ad conuentum et medium ad opus ecclesie. Sancto Johanni de Poi
L solidos. A Lerez X solidos. A Calagu XX solidos. A Arcus XX solidos.
A Oia C solidos. A Tominio LX solidos. Sancte Eolalie IIII morabitinos. A
Budino II morabitinos. A Riuulo Torto II morabitinos.
Ad Tudenem episcopum VIII morabitinos et una sortilia, ad canonicos VII
morabitinos. Sancto Bartholomeo V solidos. Archiepiscopo Bracarensi L
solidos, ad canonicos L solidos. A Fenales VI morabitinos et IIII modios de
uino. Aluenos LX solidos. A Melon uineas, solares quantum habeo ab Auia
usque illuc similiter cum cortinis et desuper uinea que fuit de Pelagio Rania-
do; ad opus ecclesie C solidos et V modios in pane et uino, ad conuentum
C solidos et V modios de pane et de uino et cruce Iª cum turibulo. Sancto
Claudio XL solidos et V modios in pane et uino. A Lobanes XX solidos et
III modios in pane et uino. Sancte Marie de Ursaria casal de Uilla Maur
quod comparaui et CC solidos et medietatem vacarum mearum de Uentosa,
extra quarta que debet habere de isto habere per medium diuidantur inter
conuentum et opus ecclesie. Ville Noue quartam de vacas de Uentosa et V
modios de pane et uino. Sancte Columbe de Naues L solidos et quartam de
vacis de Uentosa, C solidos et X modios inter panem et uinum. A Chouzan
C solidos et X modios inter pane et uino. Sancti Johanni de Fouea Ripe
Minii III morabitinos ad opus ecclesie.
Auriense episcopo XV morabitinos et unam sortiliam et capa una argentea.
Ad canonicos XXX morabitinos. Ad decanum III morabitinos. Archidia-
cono qui tenet Castellam II morabitinos. Archidiacono qui tenet Buval II
morabitinos. Et mando meum scifum argenteum ut faciant ex eo lampadam
unam et ponant eam ante Sancta Eufemia. Ipsius sedis mando ecclesiam de
Masidi et dent ex ea pro anniuersario annuatim ad canonicos XV solidos in
die Sancti Martini; ad opus ecclesie X morabitinos. Ad pontem Auriensem
mando quantam hereditatem in ipso porto emi et ganaui et laboraui. Item

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 291

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 291 25/09/2012 15:21:50


mando in Agugeeses similiter et in Lamela. Ita mando omnia debita que
mihi debent in Auriensem ciuitatem ad ipsum pontem et desuper CC solidos
et medietatem vacarum quas habeo in Juncaria. Ista manda sit semper in
manus domini episcopi et totius capituli. Ita compleant mihi sicut scriptum
est inter nos.
Ad confraternitatem de Buval III morabitinos. Ad confraternitatem de
Castella II morabitinos et Im modium de pane. Ad confraternitatem Ripe
Minei III morabitinos. Ad monasterium de Sadur II morabitinos. A Jun-
queira de Spadanedo L solidos et medietatem de vacis quas ibi habeo, et
quito CC solidos quos mihi debebant. A Monte Rami LX solidos. As Uinias
XL solidos. A Porcaria XX solidos. Sancto Martino de Grou tres morabi-
tinos. Ad Ramiranes XX solidos. A Arnuia XX solidos. Ad opus ecclesie
Sancte Marie de Castrelo XXXª solidos. Cele Noue CC solidos et uineam
quam habeo cum Martino Florido et suam hereditatem quam tenui quito
eam. Sancte Marie de Juncaria LX solidos. Sancte Marie de Aquis Santis
ad opus ecclesie X morabitinos. Sancto Petro de Roquas V morabitinos.
Sancto Stephano Ripe Silis C solidos. Sancte Christine Ripe Silis XXX
solidos. A Palumbario III morabitinos. A Eirei XXXª solidos. A Ferraria
de Lemos IIII morabitinos. Sancto Felice de Cangas II morabitinos. Sancto
Andrea de Spinaredo X morabitinos. A Samaos C solidos. A Carrazedo C
solidos. Sancte Marie de Oubona X morabitinos: medium ad opus ecclesie
et medium ad conuentum. A Corneliana X morabitinos.
Episcopo Astoricense V morabitinos, ad canonicos V morabitinos. Episcopo
Ouetense X morabitinos et una sortilia, ad canonicos XV morabitinos. Ad
monasterium Sancti Vincenti X morabitinos. Sancte Marie de Ueiga VIII
morabitinos. Ad totas malatarias de terra Ouetense L solidos. Et omnia
monasteria de terra Asturiis qui de elemosina hac non habuerint diuidantur
per eos C solidos.
Episcopo Legionense VIII morabitinos, ad canonicos XII morabitinos. Mo-
nasterio Sancto Isidoro X morabitinos. Ad omnes ecclesias Legionenses V
morabitinos. Sancte Marie Carvalial L solidos. A Morerola X morabitinos.
A Sanatiale X morabitinos. A Bovadela X morabitinos. A Peleas LX solidos.
Sancto Martino de Castinaria VI morabitinos. Sancte Marie de Rocamador
XX morabitinos. Ad hospitalem de Roçavales V morabitinos. Episcopo

292 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 292 25/09/2012 15:21:50


Caurie VI morabitinos, ad canonicos VII morabitinos. Episcopo Salaman-
tino VI morabitinos, ad canonicos VI morabitinos. Episcopo Zamorense
VI morabitinos, ad canonicos VII morabitinos. Sancte Marie Alcubacie
XV morabitinos. Sancte Marie Salçede L solidos. Sancte Marie de Borio
L solidos. Ad Nugares V morabitinos. Sancto Petro de La Spina L solidos.
Ad fraires de Hospitale XXV morabitinos; et debent habere ad obitum
domine Urrace uel ad obitum Roderici Johannis post mortem amborum
pro me et pro illo III casales in Viariz, ubi uocitant Casal de Mato, et duos
casales in Auterio, et habent cuncurrencia in ecclesia de Amoerio et III
in Dubria loco predicto Recarei. Ad fraires Templarios XX morabitinos
et quanta hereditate habeo in Arauegio cum sua populatione. Ad fraires
de Spatis XX morabitinos et medium de ecclesia de Alvan. Ad fraires de
Sepulcro XV morabitinos.
Ad Dominum Papam XXi morabitinos. Ad cardinalem Ispalensem X mo-
rabitinos. Monasterio Sancti Pauli VI morabitinos. Monasterio ubi iacet
corpus Sancti Laurencii VI morabitinos. Ad Sanctum Jerusalem ubi dominus
noster Jesu Christus fuit crucifixus mortuus et sepultus et tertia die resurexit
CCCCLXXXª morabitinos. Istum habere expendant per omnes sanctitates
prout melius uiderint.
Ad unum presbiterum quod pro me tenuerit annalem unum offerant ei
CLXXX solidos et culcitram unam et pulmacium I et almuzala I et sabanas
II. Ad cappellanum qui moratus fuerit mecum in ipsa die obitus mei mando ei
CXX solidos et mantum meum et pelliciam meam quod meliores habuerint.
Si forte duos capellanos mecum fuerint morati per medium diuidantur. Si
forte euenerit quod absit ut cappellanos non habuerim diuidantur per alios
presbiteros ut orent pro me ad dominum nostrum Jesum Christum. Ad gua-
farias de Aure et de Burgo Ripa Auie et de Sancto Jacobo X morabitinos.
Ad ecclesias de Trastamar et de Buval et de Castella super quas potestatem
habui et tenui et in illas pecaui et erraui et de illis ganaui XX morabitinos
per illas diuidantur et mittant eos in profectu ecclesiarum et altariu. Mando
etiam XXXV morabitinos et XXX modios inter panem et uinum ut si forte
euenerit aliquis homo cum querimonia de me post mortem meam det illi de
isto habere. Si forte de hoc habere remanserit ut non sint tantum calump-
niatores quod reliquum fuerit dent pauperibus.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 293

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 293 25/09/2012 15:21:50


Ego Urraca Fernandi mitto me, cum hac mea ordinatione quam ordinaui
et mandatione mandaui, in comenda domini Pape et in comenda domini
Compostellani archiepiscopi una pariter cum suo capitulo, et in comenda
Auriensi episcopi et totius capituli, ut illi teneant in rigore iusticie et faciant
pro ea sicut debent facere pro iusticia et ueritate. Et mando filiis meis et
rogo et amicis similiter ut istam meam ordinationem et mandationem et
adiuuent complere. Et illi qui hoc bene compleuerint sint benedicti de Dei
benedictione et de mea, sicut Deus benedixit amicos suos, ita benedicat
eos et semen eorum. Et si forte aliquis eorum hoc factum meum irrumpere
uoluerit sit maledictus de Dei maledictione et de mea, et demergatur in
infernum cum Datan et Abiron et cum Juda traditore habeat participium in
inferni baratro. Super hoc mitto me in comenda Dei et Beate Marie semper
Uirginis et omnium Sanctorum. Et sicut filii mei et amici mei pro me fecerint
sic faciat Deus pro eis, amen, amen, amen. Ego Petrus Ordonii, monachus
Sancte Marie Supperadii, propria manu scripsi.

25
1199 – Gueimonde (conc. Pastoriza).
E. AHN, Tombo do Mosteiro de Meira, fól. 232r.
D.ª Guiomar Rodrigues e o filho Rodrigo Dias dos Cameros asseguram o
cumprimento das mandas testamentárias da condessa D.ª Fruílhe Fernan-
des, mãe de D.ª Guiomar.
Quicquid mater mea comitissa domina Fronila de hereditatibus suis, ad Dei
seruitium, cum abbati domino Nicholao similiter et cum fratribus de Meira
disposuit, ego domina Guiomar, eius filia una cum filio meo Roderico Di-
daci, mandamus per scriptum firmitudinis et confirmamus, ut hereditatem
de Manai et de Sancto Tirsso habeatis in prestimonium, me vivente, ita ut
de fructu nihil computetis in pretium vestrum.
Post mortem meam, si aliquis ex genere meo uenerit ad redimendas here-
ditates istas, reddat vobis 450 marav. in pace et tota comtemptione remota,
sed si forte, quod fieri non credo, aliquis ad disrumpendum hoc scriptum ve-
nerit, sit maledictus per Patrem et Filium et Spiritum Sanctum in aeternum.

294 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 294 25/09/2012 15:21:50


Adiungo et familiariter mando quod monasterium de Ferrera cum omnibus
suis directuris et Castro Maiori aut maneat semper sub monasterii de Meira
potestate ad laudem Dei et ordinis cisterciensis.
Facta carta apud Goimun[de], sub era 1237.

26
1200, Outubro, 14 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 91r-92v.
Pedro Eanes de Nóvoa vende ao Cabido da Sé de Santiago o casal de Ba-
luga, na freguesia de Santa Comba de Trevoedo (conc. Maside).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Ego Petrus Johannis miles et omnis
uox mea uobis domno Martino Ecclesie Beati Jacobi decano et uniuerso
eiusdem ecclesie capitulo omnique voci uestre, grato animo et spontanea
uoluntate, facio kartam donacionis ex textum scripture firmitatis, in per-
petuum valituram, de toto illo meo casali integro que dicitur “Baluga”, qui
est in parrochia Sancte Columbe de Treuoledo, sicut dividitur ipse casalis
de Baluga per illum alium casalem domni Osorii et per illum casalem Arie
Petri et, de alia parte, per illum alium meum casalem. Hunc, ergo, iam dic-
tum meum casalem, dictum de Baluga, dono et ofero Deo et beato Jacobo
et uobis cum omnibus suis directuris et bonis eidem casali pertinentibus,
intus et extra, id est: montibus, agris, arboribus, casis, casalibus, pratis,
pascuis, riuis, riuulis, exitibus et regressibus, pro anima mea et pro illo alio
uestro casali qui uocatur Foramontanos, quem scilicet Fernando Sancii dedit
Sancto Jacobo et uobis pro anima sua. Hos igitur prenominatos duos casales,
meum scilicet et uestrum, ego teneam de uobis in uita mea et proficiam eos
et acrescam et dem inde uobis annuatim pro recognoscencia duos capones.
Ad obitum uero meum, relinquant uobis ipsos iam dictos casales, meum
scilicet dictum de Baluga et uestrum de Foremontanos et habeatis eos liberos
et quitos de me et de omni uoce et parte mea in perpetuum possidendos.
Si quis ex parte mea aut ab extranea contra hoc meum uoluntarium factum
ad irrumpendum uenerit uel uenero, quisquis fuerit, pariat uobis ipsos
predictos IIos casales duplatos uel triplatos et in super CCC morabitinos, et
ex parte Dei et mea sit maledictus usque in septima generacionem et hoc
meum uoluntarium factum perpetuum obtineat robur.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 295

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 295 25/09/2012 15:21:50


Facto scripto donacionis huius die IIo idus octobris, era Mª. CCª. XXXª.
VIIIª. Ego, iam dictus, in hoc scripto manus meas roboro. Hoc autem fuit
factum et concessum in pleno Capitulo compostellano. Regnante rege
Afonso legionense. Pesulante domno Petro compostelano archiepiscopo
IIIº. Qui presentes fuerunt: Ego Petrus Cantel archidiaconus et canonicus
confirmo. Ego Martinus Crescencio confirmo. Ego Bernaldus Vilielmi
canonicus confirmo. Ego Uilielmo cardinalis confirmo. Ego Martinus Jo-
hannis iudex confirmo. Ego Martinus Petri acolitus confirmo. Ego Johannes
Pelagii iudex confirmo. Ego Fernandus cardinalis confirmo. Ego Lupus Arie
compostelanus notarius scripsi et confirmo.

27
1202, novembro, 20 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fól. 193v.
Urraca Eanes, abadessa do Mosteiro de Bóveda (conc. Amoeiro), concede
ao cabido da Sé de Santiago um casal em Cenlhe (Ourense).
In nomine domini nostri Jhesu Christi, amen. Ego Urraca Johannis monas-
terii de Boueda abbatissa et omnis uox mea uobis domno Fernando sancte
Compostellane Ecclesie decano et uniuerso eiusdem ecclesie canonicorum
conuentui omnique uoci uestre, grato animo et spontanea uoluntate, facio
cartam donacionis textum scripture firmitatis in perpetuum ualiturum de
uno meo casali que habeo, ex parte patris mei domni Johannis Arie et
matris mee domne Urrace Fernandiz, in uilla que uocatur Zaelli, in terra
de Castella, in concurrencia Sancte Marie de Zaelli, in quo scilicet casali
moratus fuit Michael Roderici et modo moratur ibi Oduarius. Hunc ergo
prenominatum casalem dono et offero Deo et beato Jacobo et uobis cum
omnibus suis directuris et bonis eidem casali pertinentibus, intus et extra,
pro anima mea, ita scilicet, quod omnis fructus seu prouectus qui de iam
dicto casali exierunt semper habeatis ad opus communis mense uestre in
perpetuum.
Si quis ex parte mea uel ab extranea contra hoc meum spontaneum factum
ad irrumpendum uenerit uel uenero, quisquis fuerit, pariat uobis uel pariam
ipsum predictum casalem duplatum uel triplatum et in super CC morabitinos.
Et hoc scriptum semper maneat in robore firmum.

296 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 296 25/09/2012 15:21:50


Facto scripto huius donacionis die XII kalendas decembris, sub era Mª CCª
XL. Ego iam dictam Urraca Johannis in hoc scripto manus meas roboro. Qui
presentes fuerunt: Michael Didaci confirmat. Arias Martini de Rua Nova
confirmat. Martinus Bernaldiz confirmat. Johannes Petri Petroneth confir-
mat. Matheus Uilielmus confirmat. Salamon de Rua de Uilari confirmat.
Johannes Corogio cambitor confirmat. Petrus Johannes cambitor confirmat.
Petrus de Nuzeda confirmat. Ego Lupus Arie conpostellanus, notarius pu-
blicus et juratus, subscripsi. Johannes Pelagii clericus, de mandato magistri
sui Lupi Arie, compostellani notarii, scripsit et confirmat.

28
1215, janeiro, 12 – Bouças.
A. IAN/TT, Ordem de Avis, maço 2, nº 74.
A rainha Mafalda, filha de Sancho I, oferece à Ordem de Avis aquilo que
lhe pertence no lugar do Casal, na terra de Seia.
In Dei nomine. Notum sit universis hanc cartam inspecturis quod ego regina
domna Maphalda, illustris regis portugalensis domni Sancii primi filia, in
mea sanitate constituta et incolumis existens, do et concedo uobis domno
Fernando Johannis, magistro Ordinis de Auis, nomine eiusdem ordinis uestri
et conuentui uestro eiusdem loci et ordini uestro in regno Portugalie, quicquid
habeo in terra de Sena, uidilicet: locum qui dicitur Casale cum omnibus
domibus, terris, uineis, casalibus, possessionibus et omnibus aliis rebus
quas ego habeo in ipsa terra de Sena, quicumque ipse res sint et quocumque
nomine apellentur. Do etiam et concedo uobis, nomine ordinis uestri et ipsi
uestro ordini in regno portugalense, omnia predicta cum omnibus iuribus
et pertinentiis suis, pro remedio anime mee et pro seruicio quod recepi de
ordine uestro, ut uos tanquam magistri ipsius ordinis et ipse ordo illa in
perpetuum habeatis et possideatis, sicut ego illa umquam melius et liberius
habui et possedi, siue habere seu possidere potui. Et de ipsis faciatis totam
uoluntatem uestram, tamquam de propriis bonis ipsius ordinis, ut etiam
plenissime donationis ius in eisdem rebus habeatis uos magistrum nomine
ipsius ordinis uestri in regno portugalense mitto in possessionem corpora-
lem omnium rerum supradictarum usumfructum tamen earum mihi in uita

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 297

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 297 25/09/2012 15:21:50


mea retineo. Et quamuis ego de cetero ipsas res uel aliquas ex eis tenuero
uel habuero seu possidero per uos tamquam per magistrum ordinis pro ipso
ordine et nomine eiusdem ordinis uolo illas tenere habere uel possidere. Volo
insuper et concedo ut si post istud tempus in dicta terra de Sena aliquas alias
res a predictis habuero uel adquiliuero, siue per donationem aut emptionem
seu quibuscumque aliis titulis, siue modis ipse ordo uester eas habeat post
mortem meam cum omnibus iuribus et pertinentiis suis, sic ego eas melius
habuero uel habere potero.
Nullus igitur homo uel mulier siue de meis propinquis siue de extranea
audeat uel attempet uenire contra istam meam donationem, nec contra hanc
meam uoluntatem et concessionem, quod si quis ausu temerario contra ue-
nerit temptatio sua ei michi pro sit et ipse habeat maledictionem Dei patris
omnipotentis, et Filii et Spiritus Sancti, amen. Et cum Datam et Abiron,
quos terra uiuos absorbuit, in mansionem perpetuam ad inferos perducat. In
predictorum autem testimonium et perpetuam memoriam hanc cartam feci
fieri et sigillo meo sigillari, quam uobis magistro nomini dicti ordinis uestri
trado ut in perpetuam promissorum in aliqua ipsius ordinis construetur domo.
Datam Bauciis, iie idus januarii, era. Ma CCaLaIII. Qui presentes fuerunt
testes: Domnus Gonsaluus Johannis, frater ordinis calatrauensis. Frater
Hilarius et Rudericus Gomecii, fratres eiusdem ordinis. Domnus Fernandus
Menendi, quondam abbas Alcobacie. Garsia Sugerii, monacus, et frater Lu-
pus, conuersus eiusdem loci. Testes: Menendus Gonsalui. Fernandus Egidii.
Gonsaluus Garsie. Martinus Johannis de Portu Carreiro. Testes: Laurentius
Gomecii, maiordomus domne regine. Gonsaluus Peraria et Johannes Abbas
et Laurencius Garsie, homines de criatione domne regine. Johannes notuit.

29
1217, junho, 8 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 61v-62r.
Osorio Eanes oferece aos cônegos compostelanos uma casa na praça do
Campo de Santiago, o seu quinhão numa herdade em Amarante, na vila
de Dacom (Amarante, conc. Maside), e o que lhe corresponde no benefício
eclesiástico da Igreja de Santa Maria de Alom (conc. Santa Comba).

298 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 298 25/09/2012 15:21:50


In nomine Domini nostri Ihesu Christi. Notum sit omnibus tam presentibus
quam futuris quod ego Osorius Johannis, miles, do et concedo comuni mense
canonicorum Ecclesie Beati Jacobi medietatem illius domus de Campo que
fuit comitis domini Froile et hereditatem illam que est in Amarantes, in
uilla dicta Dacon, totum quicquid ibi habuit pater meus domnus Johannes
Arie et medietatem Ecclesie Sancte Marie de Alon, que est in Celticis, cum
omnibus suis pertinenciis, cuius quartam pars est uestra ex donacione fratris
mei, domni Laurencii. Hos autem predictos quiniones meos comunis mensa
canonicorum Ecclesie Beati Jacobi integre habeat et pacifice possideat cum
omnibus suis directuris et pertinenciis, ita quod omne uelle suum de eis in
perpetuum faciat.
Si quis contra hanc meam dacionem ad irrupendum uenerit, sit maledictus
et quantum calumpniauerit duplet. Carta nichilominus in suo robore per-
manente.
Facta carta VIº idus iunii, sub era Mª. CCª. LV. Ego, iam dictus, in hac
carta manus meas. Qui presentes: Ego Bernardus, compostellanus decanus,
confirmo. Ego Johannes Cresconi, archidiaconus, confirmo. Ego Petrus Nu-
nonis, cardinalis compostellanus, confirmo. Garsia Menendi de Amarantes,
armiger, confirmo. Ego Martinus Johannis, notarius concilii compostelani
ciuitatis, juratus, scripsi.

30
1223.
E. ADB, Tombo de Fiães, fól. 75v.
João Soares, dito “Somesso”, dá um casal em “Chaianos” ao Mosteiro
de Fiães.
In nomine Patris ingeniti et Filii unigeniti et Spiritus Sancti ab utroque
procedentis, in quo, per quem, a quo omnia ipsi honor et gloria in secula
seculorum, amen. Sub era Mª CCª Lª XI. Sit notum cunctis hanc paginam
inspecturis quod ego domnus Johannes Suerii, dictus “Submessu”, pro
anima mea et pro animabus omnium hominum quibus malum feci et de
quibus pecuniam habeo sine directo et pro CCCtos de quibus illud extraxistis
de pignore, do in presenti atque concedo uobis domno Gundisaluo abbati et

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 299

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 299 25/09/2012 15:21:50


conuentui monasterii Sancte Marie in Fenalibus quodnam casale in uillam
que uocant Chaianos, ob honorem beate Marie semper uirginis atque aliorum
sanctorum, quorum reliquie ibi permanent in ipso monasterio, ut ab hodierno
die a iure meo sit abraso et in uestro dominio sit tradito atque confirmato.
Habeatis et possideatis eum iure hereditario in perpetuum ualituro.
Si quis de consanguineo meis uel de alienis hoc meum uoluntarium factum
infringere temptauerit, pariat ipsum casale duplatum et CCos solidos, uoci
regie CCC aureos persoluat, carta in suo robore permaneat. Hoc supradictum
casale habeatis cum ingressibus et regressibus, cum montibus et fontibus
et cum totis suis terminis et pertinenciis per ubicumque illum mellius po-
tueritis inuenire.
Facta kartam sub era supradicta, regnante rege domno Alfonso in Legione.
Tenente castellum Sancti Martini domno Martino Sancii. In Tuda episcopo
domno Stephano. Tenente Crecente capellano domini regis Petrus Pelagii,
submanu eis Petrus Johannis. Ego domnum Johannes Submessus hanc
cartam, quam iussi fieri de ista donatione ut supranotatum est, roboro et
confirmo. Qui uiderunt, et audierunt et presentes fuerunt: Abbas domnus
Gundisaluus. Prior domnus Petrus Martini. Domnus Menendus Didaci.
Martinus Didaci, presbiter. Petrus Didaci, presbiter. Alfonsus Petris, pres-
biter, testis.

31
1230, setembro.
A. AHDL, S. Marcos, nº 1.
Lopo Nunes de Trasancos quita-se da demanda que fazia ao mosteiro san-
tiaguista de S. Salvador de Vilar de Donas em S. Pedro de Exo.
In era Mª CCª LXVIIIª mense septembris. Notum sit omnibus hominibus,
tam presentibus quam futuris, quod ego domno Luppo Nuniz de Trasanchos
facio cartam quitacionis et arenuntiationis de quanta demanda faciebam in
Sancti Petri do Exo a Sancti Saluatori de Vilar de Donas et ad uobis priori
domno Dominico Odoarii et ad conuentum ipsius loci, pro anima mea et
patris et matris mei. Et recipio de uobis pro a[re]nuntiationem una bulsa
plena de uini.

300 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 300 25/09/2012 15:21:51


Si aliquis homo de parte mea uel de estranea contra hoc scriptum infringere
temptauerit sit maledictus et excomunicatus et cum Juda proditore in inferno
dampnatus et pectet uobis CC morabitinos et domno regi D morabitinos.
Qui presentes fuerunt: Suerio Pelaez, frater hospitalis, testis. Domno Ver-
mundo Nuniz, testis. Domno Anriqui Fernandi, testis. Fernando Gomet,
testis. Johannes Lupi, testis. Petro Ruderici, testis. Fernando Arie, testis.
Johannes Sumessu, testis, et alii multi qui uiderunt et audierunt. Johannes
notuit.

32
1238, outubro, 20 / 1247, outubro, 7.
A. AHN, Mosteiro de Melom, maço 1442, nº 6 / maço nº 1444, nº 18
Mandas testamentárias de João Soares de Chapela

A
Notum sit presentes litteras inspecturis quod ego Johannes Suerii de Cha-
pela facio mandationem meam. In primis, mando corpus meum Sancte
Marie de Melon et eant pro me fratribus de Melon ubicumque migrauero
in Hispania. Et mando ibi duo casalia in Chagianos, scilicet: de Nani et
de Costa, cum omnibus forariis, directuris, ingressibus et egressibus tam
montibus quam fontibus et pertinentiis suis. Et mando ibi cautum meum de
Atenis cum regalengo suo et meam portionem de Ecclesia de Arauo. Mando
fratri meo Fernando Suerii meum Cautum de Domaio quod teneat in uita
sua. Ad obitum suum, remaneat sobrino meo Petro Ruderici, similiter in
uita sua. Post mortem suam, remaneat Sancte Marie de Melon, tali pacto
quod ille duo kasalia de Uite que ego teneo de Melon in uita mea, faciant
inde annuatim in die obitus mei pitanciam conuentui de Melon per manus
Petrum Ruderici, monachus eiusdem, post mortem eius remaneat in manibus
quicquid fuerit supriorem. Post mortem Fernando Suerii uel Petro Ruderici,
remaneat pitanciam semper faciendam fratribus per cautum supradictum,
et quod remanserit semper supriorem faciat ministrare coquine conuentui
de Melon per annum in piscibus. Et cautum cum quantam hereditatem ibi

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 301

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 301 25/09/2012 15:21:51


habeo remaneat liberum et quietum semper monasterio de Melon. Mando
Stephania Fernandi, sobrina mea, meam portionem de Francos. Mando
Laurentio Ruderici, crientulum meum, meam quintanam de Sendeli cum
quantum ibi habeo. Mando Petro Ruderici, sobrino meo, et filia mea, Marie
Johannis, meum kasale de Amareli, quod teneant per m<-->ium in uita sua
tamen. Post mortem amborum, remaneat ubi ego mandauero pro anima
mea. Similiter mando Marie Johannis meum kasale de Maadelos, quan-
tum debeo ego ibi habere, tali pacto quod si acceperit ordinem uel uirum
legitimum per consensum parentibus suis, habeat istud qui ego mando.
Quod si aliter fecerit et noluerit esse bona, remaneat casale de Maadelos
Suerio Nunis per medium cum Eluanis. Similiter, Amareli remaneat Petro
Ruderici pacto supradicto, si illam nequam fuerit. Mando illum medium
casalem de Maadelos que comparaui de Martino Pelagii filiis suis. Mando
unum casale in Seela Sancte Marie de Fenalibus. Mando Fernando Uincentii
meum forum de casale de Seetados qui tenet Petro Menendi, quod teneat in
uita sua, ad obitum suum remaneat monasterio de Melon. Mando quantam
hereditatem comparaui in Atenis, de parte Pelagio Pelagii, Johanne Garsie
de Lira. Mando Chapela sobrino meo Petro Ruderici et meum casale de
Riuo Frigido, que fuit de matre sua, tali pacto quod si obierit sine semine
de directura remaneat Chapela monasterio de Melon, si fuerint pro me;
sim autem, remaneat ubi ego fuero sepultum, et casale de Riuo Frigido
remaneat Fenalibus. Mando alium casalem de Riuo Frigido, in quo sedet
Petro Mangion, Roderico Casso et si obierit sine semine remaneat Petro
Ruderici. Post mortem eius, remaneat Fenalibus. Mando Petro Ganeiro
et fratri suo Johanne Gundisalui illum casalem que comparaui de illis in
Ruuees. Mando meam portionem de ecclesie Sancte Christine sobrino meo
Johanne Fernandi, in uita sua, et faciat semper inde seruicium filie mee
Marie Johannis. Post mortem eius, remaneat meo linagem. Item, mando
omnia mea bona tam suprascripta quam alia, quod teneat abbas et conuentus
de Melon usque debite mee sint absolute. Postquam fuerint solute, abbas
et conuentus faciant implere omnia suprascripta et interim nullus eis faciat
forciam uel aliqua contraria.
Acta sunt hec per manus Petrus Ruderici, monachus de Melon, XIIIo ka-
lendas nouembris, sub era Mª. CCª. LXXª. VIª.

302 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 302 25/09/2012 15:21:51


B
Era Mª CCª LXXXª Vª et quotum nonas octobris. Notum sit uniuersis
presentem paginam inspecturis quod ego domnus Johannes Suerii, mi-
les de Chapela, filius comitisse, facio meum testamentum in perpetuum
ualiturum. In primo, mando corpus meum sepeliendum Sancte Marie de
Melone et mando ibi mecum, pro remedio anime mee, meum Captum de
Domaio cum omnibus suis pertinentiis et directuris, tam in mare quam
in terra, per ubicumque potuerint inuenire, pro mea uoce et cum quarte
ecclesie ipsius uille, minus sexta, et cum illo meo casale de Gagano quod
in pignore tenet Orracha Alfonsi, et debet anuatim computare. Et mando
ibi portionem meam Ecclesie de Arauo et de Monasterio de Crescenti et
meam mulam grisam. Et pro tribus milia et quingentis soldis quos de ipso
monasterio accepi, do eis pro precio duo mea casalia de Chagais, scilicet
de Petra et de Nanin, cum omnibus suis forariis et pertinentiis. Item, mando
illam meam hereditatem quam lucratus fui in Murcia meis sobrinis, scilicet:
Petro Fernandi et Martino Fernandi. Et mando Laurentio Roderici illam
meam pausam de Sendili et unum casale ibi cum ea, excepto inde forario
illo de Booca, quem mando Petro Martini, subrino meo, et excepta illa
domo quam ego dedi Marie Johannis cum sua cortina. Et concedo illam
ei in uita sua et excepto prestimonio de Varzina, quod mando Petro Petri,
seruienti mei, et excepta domo illa de Suerio Nuni, quam ei do et concedo.
Et ego domnus Johannes Suerii, in remedio peccatorum meorum, quito et
renuntio Petro Arie de Chapela, qui fuit meus maiordomus et omnes alios
meos maiordomos, quito dato conto singulariter et responso de quanto de
me tenuerint et dato pane et uino et denariis et peccoribus datis et omnibus
superllectibilis meis <...> de omnibus istis respondeant abbati de Melone.
Et mando Monasterio Fenalibus medietatem de quanto habeo in Manadelis
et unum casale in Chapella, scilicet illud de Riuuo Frigido, in quo sedet
Petro Maniun. Et aliam medietatem mando de Manadelis Suerio Nuni. Et
faciat inde ei cartam abbas Melonis. Et mando filie mee Marie Johannis
illud meum casale de Riuo Frigido, in quo sedet, et quito ei illud aliud de
Ranenis. Et mando Martino Johannis, seruitori meo, illud forum de Aria
Johannis quod ipse tenebat. Et mando Petro Roderici, sobrino meo, illam
meam pausam de Chapela et casas et uineas, cum sua quintana et cum suis

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 303

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 303 25/09/2012 15:21:51


cortinis, et illud meum casale de Petro Fernandi. Et quitet totam aliam
demandam, tam de denariis quam de hereditatibus, quod si hoc noluerit
quitare et aliquid aliud uoluerit demandare, abbas Melonis ei respondeat ad
directum et ipse Petrus Roderici perdat meam mandam et ipse abbas habeat
illam pausam Chapele pro monasterio cum supradicto casale de Petro Fer-
nandi. Et mando Johanni Fernandi et Marie Fernandi, subrinis meis, illud
meum casale de Amarili per medium et meum quinionem Ecclesie Sancte
Christine. Et mando Johanni Petri, cliato meo, centum solidos. Et si ipse
obierit infra XIIcim annos, isti centum soldi remaneant Monasterio Melonis
pro una pictancia. Et quito Johanni Suerii, militi, portionem patris sui de
hereditate de Athenis. Item mando et do captum meum de Athenis filiis
et nepotibus de Pelagio Pelagii et de Orracha Fernandi. Et mando meam
hereditatem quam emi in ipsa uilla de Athenis Johanni Garcie. Et mando
Suerio Fernandi illud forum de Sandi, quod debet dare Petro Arie in uita
sua ipsius Suerii Fernandi, post mortem eius, remaneat sedi Tude, cum illo
alio casali de Sandi, quod ibi mando.
Et ego domnus Johannes Suerii confirmo et concedo atque stabilio hanc
meam mandationem cum omnibus bonis suis et supercellectilbus in manu
domini domni Petri abbatis Melonis, taliter quod ipse abbas accipiat omnia
bona mea per ubicumque eam potuerit inuenire et persoluat debita mea per
illa et per fructus hereditatem mearum. Que debita, quando fuerint persoluta,
remaneant ipse hereditates illis quibus ego illas mando.
Et si aliquis homo ex parte mea uel ex extranea, uel certe ex istis quibus ego
istam mandam facio, uoluerint predictum abbatem offendere uel forciare
antequam mea debita sint paccata, habeat Dei maledictionem et meam et
perdat meam mandam quam ei mando, et remaneant hereditates mee Mo-
nasterio Melonis, pro anima mea, et monasterium persoluat mea debita. Et
ego Petrus, abbas Melonis, recipio ista bona et promitto pro ea persoluere
hec debita supradicta si me aliquis homo non forciauerit. Mando inquam
ponti de Auria XX solidos et ponti Castrelli XX solidos et Ponti Sancti
Pelagii XX solidos.
Qui presentes fuerunt: Petrus, abbas Melonis, testis. Domnus Gundisaluus,
comendator, testis. Frater Pelagius, monachus Melonis, testis. Frater Petrus
Armentaria, conuersus, testis. Fernandus Anzeu, monachus Melonis, testis.

304 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 304 25/09/2012 15:21:51


Frater Petrus Gagus, conuersus eiusdem, testis. De secularibus: Petrus Mar-
tini milles, testis. Martinus Brauu, milles. Petrus Januaris, testis. Suerius
Nuni, testis. Nunus, monachus de Sancto Fausto, testis.

33
1242, março, 25 – Tui.
A. ACT, maço 13, nº 22.
João Soares, dito “Sumenso”, recebe de D. Lucas, bispo de Tui, o usufruto
de algumas propriedades em Santa Eugênia de Setados e cede a esse pre-
lado o patronato das igrejas de Santa Cristina de Baleixe (conc. Canhiza)
e Santa Eugênia de Setados (conc. Neves).
In Dei nomine. Quum ea que in presenti fiunt more labentis aque facta ho-
minum cum ipsis saeculis dilabuntur nisi scripture testimonio roborentur,
idcirco per hoc scriptum in perpetuum ualiturum sit notum presentibus et
futuris quod ego Lucas, tudensis episcopus, uobis domno Johanni Suarii,
dicto “Sumenso”, do in prestimonium ad habendum tamen in uita uestra
casale nostrum dictum de Palacio in Saetados et casale de Subtus-Carreiram,
quod uos in ipsa uilla de Saetados olim dedistis ecclesie tudensi, ita quod
habeatis fructus horum casalium in uita uestra; tamen, post mortem uero
uestram, predicta duo casalia ad tudensem ecclesiam deuoluantur, cum ui-
nea quam uos in ipsa uilla plantastis, libere ac quiete perpetuo possidenda.
Et ego predictus Johannes Suarii, dictus Sumenso, do et concedo uobis
domno Luce, tudensi episcopo, et ecclesie eiusdem in perpetuum quicquid
iuris habebam in predicta uinea uel in predictis casalibus. Do tamen uobis,
predicto episcopo, et ecclesie tudensi totum ius patronatus quod habeo in
ecclesie Sancte Christine de Baleixi et si quid iuris habeo in ecclesia Sancte
Eugenie de Saetados, quicquid illud est.
Si quis igitur contra hoc factum uenerit sit maledictus et excomunicatus
et cum Juda proditore in inferno dampnatus et pectet episcopo et capitulo
tudensi IIIºr milia solidorum et careat uoce et hec karta semper maneat firma.
Facta karta Era Mª CCª LXXXª, VIIIº kalendas aprilis. Regnante rege
domno Ferrando in Castella, Toleto, Legione, Gallecia et Corduba. Domno
Luca in Tuda episcopo. Fernando Johannis, Toronium tenente. Martinus

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 305

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 305 25/09/2012 15:21:51


Moyado et Johannes Petri, maiordomis ex parte episcopi et capituli tuden-
se existentibus. Nos Lucas tudensis episcopus et Johannes Suarii, dictus
Sumenso, hanc kartam quam fieri iussimus roboramus et confirmamus et
signa facimus + +. Qui presentes fuerunt: Petrus Menendi, decanus tudensis.
Suerius Petri, archidiaconus tudensis. Stephanus Fernandi, magisterscola-
rum tudensis. Alfonsus Menendi, prior et canonicus tudensis. Menendus
Gomecii, canonicus tudensis. Nunio Petri, canonicus tudensis. Martinus
Fernandi, canonicus tudensis. Johannes Petri, canonicus tudensis. Marti-
nus Menendi, canonicus tudensis. Petrus Saluatoris, canonicus tudensis.
Matheus, presbiter, canonicus Sancti Isidori legionensis. Petrus Menendi,
presbiter, scriptor episcopi. Fernandus Moogo, presbiter. Petrus Stepna-
ni. Johannes Martini, presbiter. Fernandus Alfonsi, subdiaconus. Petrus
Martini, clericus cori. Johannes Fernandi, laicus. Johannes Alfonsi, rasor.
Johannes Petri de Saetados. Alfonsus Egidii. Johannes, Petrus, Martinus,
testes. Ego Martinus Johannis, de mandato Pelagii Petri presbiteri publici
notarii, scripsi et confirmo.

Documento nº 33

306 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 306 25/09/2012 15:21:51


34
Sem data (c. 1220).
A. AGN, gaveta 1, N. 8, 3/1.
Rodrigo Dias dos Cameros e a mulher, D.ª Aldonça, vendem diversas pro-
priedades nas imediações do Ebro ao rei de Navarra.
Notum sit omnibus hominibus presentibus et futuris quod ego don Rodrigo
Diaz de los Camberos et uxor mea domna Alduença uendimus Resam, totam
ab integro, Castellum et Couas et Villam, cum introitibus et exitibus suis
et cum terminis suis heremis et populatis et cum montibus suis et erbis et
pascuis et aquis et cum omnibus illis directis et pertinenciis que pertinent
uel pertinere debent ad Resam, ad Castellum, ad Couas et ad Villam, sicut
Iberus diuidit usque Nauarram. Vendimus eçiam, in simul cum isto superius
dicto, totum illum terminum quod homines de Muriello habent ultra Iberum
usque Nauarram, pro tali racione quod homines de Murello habeant suum
terminum citra Iberum usque Castellam et homines de Resa habeant suum
terminum ultra Iberum usque Nauarram. Totum istud uendimus uobis domno
Sancio, Dei gratia illustri regi Nauarrae, scilicet pro XXXta milia solidorum
sancetis de quibus nos fuimus ben paccati statim et sumus inde de manifesto.
Testes huius uendicionis: Petrus Semenez de Olleta, et Martinus de Mos-
quera, et dompnus Petrus Chistoforus et Igidius de Nalda.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 307

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 307 25/09/2012 15:21:51


Documento nº 34

35
Sem data (c. 1220).
E. ACS, Tombo C, fól. 25v.
Urraca Eanes oferece diversas propriedades ao cabido da Sé de Santiago
situadas em Barvantes (conc. Cenlhe), Gestremir, Juvim (conc. Cenlhe),
Veariz (conc. S. Amaro) e Vide (conc. Castrelo de Minho).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi et beate Marie semper uirginis et
omnium sanctorum. Ego domna Urraca Johannis cupiens ut omnia mea
sint ordinata et permaneant post mortem meam. In primis, mando animam
meam Deo et beate Marie et corpus meum ad ecclesiam Sancti Jacobi ad
sepeliendum, et mando ibi mecum unum casalem in Baruantes et duos
in Gestremir, et unum in Uiariz ad canonicos, et meam mullam et meum
lectum. Ego domna Urraca Johannis hereditates has quas de Sancto Jacobo
tenui, uidilicet: Uidi et Jouin, in presenti sunt meliores et amplius populate
quam erant quando mihi eas dederunt, mando eas ibi cum alia mea manda.

308 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 308 25/09/2012 15:21:51


Quicquid igitur ex meo genere hanc meam mandationem compleuerit sicut
meum mandatum et in ea proposse adnuniauerit beneficio Dei omnipotentis
et in ea super eum ueniat et super eius generacione in sempiternum. Sed et
quicquid ex propinquis meis istam meam mandacionem non compleuerit,
aut in eam exturbauerit, maledictionem Dei patris et filii et Spirite Sancti et
mea super eum et super eius progenie ueniat et cum Juda Domini proditore
in inferno perheniter cruciatum.

36
Sem data (c. 1225) – Munilla (Rioja).
A. ACC, pergaminhos, nº 241.
Testamento de D. Rodrigo Dias dos Cameros.
<...> domnus Roderico Didaci de Camberis exis<..> omnibus aliis testamen-
tium que <..> mando que post mortem meam <..>tam hereditatem meam
sine <..> testamentium ut ex ea persoluant omnia debita <..> quingentorum
et .XXX. aureorum espendo uero <..> etiam persoluant similiter si qua <..>
auferri fecerim undecumque. Tercio quoque <..> Didaco Roderici minore,
Aluaro Roderici <..> Camberio Veteri que uocatur Muro <..> et sit contentus
ea potueret etiam ha<..> pro anima mea monasteri Sancti <..> aniuersario
meo Alcobacie .CC. aureos <..> Sancte Marie de Seguncia .Cm. aureos <..>
pro anima mea monasterio Sancte Marie de Veraço <..> Sancte Marie de
Castellione <..> de porta de Pericos .X. <..>dauia .X. aureos ut cantet <..>
& eodem modo alios .X. ecclesie Sancte <..> et filie quam habeo in domo
infan<cium> de Legione <..> .CCC. aureos. Quarto et ultimo loco, statuo
et mando que si sine <..> domne Aldoncie uidilicet decesso omnibus debitis
<-> siquid residuum fuerit diuidatur secumdum prouidencia episcopi <..>
domne Aldoncie <..> M. <...> Mendoça et D. Lupi nepotes meos et etiam
inter alios consanguineos uel nepotes meos masculos et monasteriumm
Sancti Prudencii secundum que episcopus et domna Aldoncia <..> proui-
dendum. Si uero de legitima uxore mea domna Aldoncia filium uel filias
habuero reseruatum eisdem uel eidem Jangues et Nalda et de residuo legata
et debita persoluantur <..> suffecerit ad solu<..> legatorum et debitorum
episcopus et domna Aldoncia percipiant <..> Jangues <..> legata et debita

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 309

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 309 25/09/2012 15:21:51


sint soluta saluo dominio et proprietate <..> habeo ex domna Aldoncia
<..> hoc testamentum robur obtineat firmitate <-..> hanc cartam fieri iussi
sigilli mei munimine roborari. Ego <...> meum firmo et sigillum meum <..>
ego domna Aldoncia uxor <..> sigillum meum pono. Acta fuit <...> apud
Muniellam VIIº idus <..> Cala <..>ndo de <..> Vª de <..> alia penes <...>.

Documento nº 36

310 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 310 25/09/2012 15:21:51


37
Sem data (c. 1225)
E. AHN, códice B-15, fól. 215r.
Airas Moniz lega ao Mosteiro de Osseira, onde pede ser enterrado, um
cavalo e vários casais em Esmoriz, Esmeriz e Pinheiro (conc. Carvalhedo,
Lugo), na antiga terra de Asma.
Haec est manda quam ego Arias Muninz facio pro remedio animae meae.
In primis, mando corpus meum ad monesterium Sanctae Marie de Ursaria
et cum eo unum cassale quod habeo in Ermuriz et alium in uilla de Pinairo
et aliud in Ermeriz, cum omnibus directuris et pertinentiis intus et foris, tam
in laicairo quam etiam in eclesiastico. Et duos casales habeo de amatico,
quos mihi dederunt nutriores mei, scilicet: Joannes Godeestediz et uxor eius
Marina Froilaz, sub tali pacto ut nutrix mea predicta Marina Froilaz eos in
uita sua teneat et monasterio seruiat pro posse suo. Fratres autem monasterii
ei prouideant et in uita sua eam contineant. Hoc totum concedit et manus
suas roborat praedicta nutriz mea. In super mando mecum ad monasterium
Ursarie unum equm. Statuo quoque ut has hereditatis monasterio habeant
et iure perpetuo possideant et eis fratibus meis iniuriam non faciant.

38
1257, agosto – Ribadávia.
A. AHN, Mosteiro de Melom, maço 1448, nº 18.
Testamento de João Soares.
Era Mª. CCª. LXL. Vª, mense augusti. Notum sit omnibus presentibus et
futuris quod ego domnus Johannes Suerii facio testamentum meum semper
ualiturum si de hoc dolore migrauero, presente et concedent uxore mea
domna Maiore. In primis, mando corpus meum Sancte Marie Melonis et
do ibi mecum duo casalia, silicet: unum in Paradela et alium in Paredes,
quondam Arie Perna, cum suis pertinenciis et meam azemelam et meum
leytum cum suis pagnis. Mado C. solidos Eluenis. Mando C solidos Sancto
Petro de Crecenti. Mando XX solidos Sancto Jacobo de Parada. Mando
ecclesie de Gylady XX solidos. Mando LX aureos ubi abbas Melonis et
domna Maior uiderint magis conuenire pro anima mea. Mando omnia bona

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 311

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 311 25/09/2012 15:21:51


mea uxori mee domne Maiori, tali condicione quod teneat ea in uita sua
et, consilio abbatis Melonis, conpleat totam meam mandam et persoluat
omnia debita mea, tam nota quam innota. Et post mortem eius preter fruc-
tus quos inde acceperit sicut steterint et remaneat filiis meis. Et do uxori
mee duodecim casalia, silicet: casale de Teym, casale de Sendeli, casale
de Teixugariis, casale de Felgeyra et quantam hereditatem habeo in Leuo-
sende pro duobus casalibus et alio VIex casalia habeat ad suam uoluntatem
ubicumque uoluerit, per omnia bona mea preter domum nostram de Castro
cum hereditatibus et cum omnibus suis perticenciis, quam iam antea prius
dedimus filio nostro Fernando Iohannis, de qua inde sibi fecimus cartam.
Hec casalia supradicta teneat ipsa domna Maior in uita sua, post mortem
eius remaneat filiis nostris. Mando filio meo Fernando Iohannis, post
mortem matris eius, ipsam domum de Castro cum omnibus suis terminis
et conpercionibus et propter istam domum mando sororibus suis Maria
Iohannis et Eluire Iohannis et Eldara Iohannis tria casalia, silicet: unum in
Sendely que fuit de pater meo, aliud in Teym, aliud quantam hereditatem
habeo in Manoa preter ecclesias quas diuidant inter se et si aliquis istorum
filiorum meorum hobierit sine semine porcio eius remaneat fratribus suis
excepto quod dederit pro anima sua. Et ego domna Maior pro amore et
pro bono quod mihi fecistis, domnus Johannes Suerii, do filiis meis quos
habeo de uobis in donacione quantum emi et aquisiui uobiscum a ciuitate
Tuda usque ad Orzelon et a Tuda usque ad Sanctum Pelagium. Et si filii
mei quos genui ab altero uiro de facto isto displicuerint et noluerint stare
ad mandatum meum tunc do eis terciam partem bonorum meorum. Debe-
mos L aureos abbati Melonis; Johanni Gibaro LXXVII solidos; Martinus
Bugario CL solidos; Petro Fernandi CLXL solidos, et tenet pro eis duos
cifos argenteos; XXIIII aureos hominibus regis et sinon uenerint pro eis
abbas Melonis et domna Maiori dent eos sicut de supradictis innotis. Mando
ad pontem auriensem X solidos, ad pontem Ripe Auye X solidos. Mando
XXX solidos ubi eos dederit abbas Melonis.
Si quis contra hanc mandam ad irrunpendum uenerit pecter uoci regis D
aureos et sit maledictus. Hoc testamento senper robore permanente.
Et omnia arma mea mando filio meo.

312 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 312 25/09/2012 15:21:52


Qui presentes fuerunt: domnus Petrus abbas Melonis, uicarius complendi
istius testamenti. Domnus Petrus, monacus Melonis. Rodericus Garsie, mi-
les. Johannes Arie, miles. Velascus Petri de Felgueira, testis. Ego Johannes
Perti, notarius Ripe Auye, scripsi.

39
Sem data (c. 1265).
A. AHN, Mosteiro de Ferreira de Palhares, maço 1096, nº 21.
Genealogia dos fundadores do Mosteiro de Ferreira de Palhares2.
Era de mill e <-> anos. Esta est a renembranza do moestiro de Sancta Maria
de Ferrera de Pallares, cuya herdade foi et de qual fundamento ven. Foi
herdade et casa de morada del conde don Ero et deste conde don Ero <->.
Et deste conde don Ero nascio Gosteo Hierez. Et de Gosteo Herez, dona
Odrozia Gosteez. Et veno casar cun ella el conde don Rodrigo Romaez, qui
foi filo de Roman Vermuiz et nieto de rei don Vermon el poogroso. Et deste
don Rodrigo Romaez et desta Odrozia nascio el conde don Monio Rodri-
guez. Et deste don Monio Rodriguez nacio el conde don Rodrigo Muniz et
Elvira Muniz. Et destas estadeas subredictas sempre fuoi sua herdade Ferrera
cun seu couto. Et este conde don Rodrigo Muniz et sua hirmaa dona Elvira
Muniz, cun seu marido, don Pai Gomez de Carrion, meteron orden en este
moestero de Ferrera de san Beito, et testaron allos monges o moestiro cun
suas herdades et cun seu couto et cun suas criazones.
Et del conde don Rodrigo Moniz nascio a condessa dona Maior Rodriguez.
Et esta dona Maor Rodriguez pidio a enperador que coutasse aquell couto
aos monges, que era sua herdade. Et desta dona Maor Rodriguez nascio a
condessa dona Froille. Et de dona Froille nascio dona Giomar. Et de dona
Giomar nascio don Rodrigo Diaz dos Cameros. Et de don Rodrigo Diaz,
don Simon Roiz.
Et desta dona Elvira Muniz de suso dicta, que casou con don Pai Gomez,
nascio el conde don Monio Pelaez. Et deste conde don Monio Pelaez nascio
don Pedro Muniz et dona Teresa Muniz. Et deste don Pedro Muniz nascio

2
O referente histórico deste documento é analisado por Salazar Acha (1984).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 313

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 313 25/09/2012 15:21:52


don Garsia Perez et dona Eldonsa Perez. Et esta dona Eldonza Perez casou
cun don Rodrigo Fernandez de Torono, et ouveron filos: don Rodrigo Ro-
driguez, et dona Teresa Rodriguez et dona Maria Rodriguez. Et a una destas
casou cun don Gonzalvo Rodriguez Giron et fizo i don Rodrigo Gonzalvez
e seos ermaos e os d’ Orvanega. Et a outra casou cun don Martin Gomez da
Silva de Portugal e fui sa filla dona Eldonza Martiiz, madre de don Rodrigo
Afonso, et de dona Eldonza Afonso, madre de Joan Ponzo.
Et dona Teresa Muniz, fila del conde don Munio, casou cun don Fernand’
Oarez de Boro. Et foron seus filos: don Monio Fernandez de Rodero, et
don Martin Fernandez Gargantero, et don Oer Fernandez, et dona Luba
Fernandez et dona Aldara Fernandez. Et de don Monio Fernandez nascio
don Pai Moniz et don Fernando Moniz de Rodeiro. Et de don Fernan Mo-
niz nascio don Monio Fernandez et don Rodrigo Fernandez et dona Maor
Fernandez et dona Elvira Fernandez. Et de dona Aldara Fernandez veeno o
arcibispo don Joan Arias et os de Burrageros. Et de dona Luba Fernandez
veen os de Deza e os de Tavoada.

40
1311 – Coimbra.
C. IAN/TT, Chancelaria de D. Dinis, Livro IV, fól. 60v.
O rei D. Dinis faz concessão vitalícia ao judeu Albi do usufruto do paço de
Vila Nova que fora propriedade de Pedro Rodrigues da Palmeira.
Carta de foro dũu paaço que e en Vila Nova.
Don Denis, pela graça de Deus, rei de Portugal et do Algarve, a quantos
esta carta viren, faço saber que eu dou a foro a Albi, judeu, en dias de sa
vida o meu paaço de Vila Nova, o qual foi de don Pedro Rodriguiz da
Palmeira, que he no julgado de Vermue. Aquelo que ende el quiser fazer e
cobrir, que o aja e more en sa vida con sas entradas et con sas saidas. Et el
deve-mi dar por el en cada hũu ano de foro hũu moravidi vello por aquelo
que ende el fezer e cobrir. Et aa sa morte deve ficar a min o dito paaço con
todo melhoramento que ende el hi fezer. Et el non deve vender, nen dar
nen dõar, nen alhẽar, nen malparar o dicto paaço a cavaleiro, nen a dona,
nen a escudeiro, nen a clerigo, nen a ordin, nen a nen-hũa outra pessõa que

314 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 314 25/09/2012 15:21:52


seja poderosa nen religiosa, senon a atal pessõa que seja de sa condiçon.
Et que faça ende a min o meu foro compridamente et que aa morte do dito
judeu o paaço deve ficar a min, como dito he. En testemũyo desto dei ao
dito judeu esta carta.
Dat. en Coimbra, XXII dias de novembro. El rei o mandou per Pedro
Stevaez et pelo Arrabi. Johan Dominguiz a fez. Era Mª CCCª XLIX anos.

41
Geraldo de Cabrera, Cabra juglar3

I
Cabra juglar,
no puesc mudar
qu’ eu non chan, pos a mi sap bon;
e volrai dir
senes mentir,
e comtarai de ta faison.

II
Mal saps viular
e pietz chantar
del cap tro en la fenizon;
no sabz fenir,
al mieu albir,
a tempradura de breton.
III
Mal t’ ensegnet
cel que·t mostret
los detz amenar ni l’ arson;

3
Reproduzimos apenas as estrofes mais difundidas do poema.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 315

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 315 25/09/2012 15:21:52


no sabs balar
ni trasgitar
a guiza de juglar guascon.

IV
Ni sirventesc
ni balaresc
no t’ auc dir e nuilla fazon;
bons estribotz
no t’ ieis pels potz,
retroencha ni contenson.

V
Ja vers novel
bon d’ En Rudell
non cug que·t pas sotz lo guingnon,
de Markabrun
ni de negun
ni de N’ Anfos ni de N’ Eblon.

VI
Jes gran saber
no potz aver,
si fors non eis de ta reion.
Pauc as apres,
que non sabs jes
de la gran jesta de Carlon,
VII
Con eu, tras portz,
per son esfortz
intret en Espaigna a bandon;

316 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 316 25/09/2012 15:21:52


de Ronsasvals
los colps mortals
que fero·l XII compaignon

VIII
Can foron mort
e pres a tort,
trait pel trachor Guanelon
al amirat,
per gran pechat,
et al bon rei Marselion.

IX
Del Saine cut
c’ajas perdut
et oblidat los motz e·l son:
ren no·n diçetz
no no·n sabetz,
per no i ha meillor chanson.

X
E de Rollan
sabs atretan
coma d’ aiso que anc no fon.
Conte d’ Artus
non sabes plus
ni del reproier de Marcon.
XI
Ni sabs d’Aiolz
com anec solz,
ni de Machari lo felon;

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 317

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 317 25/09/2012 15:21:52


ni d’ Anfelis,
ni d’ Anseis,
ni de Guillaumes lo baron.

XII
Ni sabs d’ Erec
com conquistec
l’ esparvier for de sa reion.
Ni sabs d’ Amic
consi guaric
Ameli, lo sieu compaignon.

XIII
Ni de Robert
ni de Gribert
ni del bon Alvernatz Uguon.
De Vezia
non sabs co.s va,
ni de Guondalbon lo Frizon

XV
Del duc Augier,
ni d’ Olivier,
d’ Estout ni de Salomaon,
ni de Loer,
ni de Rainier,
ni de Girart de Rossillon.
XVI
Ni de Davi
ni de Rai,
Ni de Berart ni de Bovon.

318 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 318 25/09/2012 15:21:52


De Constanti,
non sabs c’om di de Roma
ni de Prat Neiron.

XXI
Jes non saubes
-si m’ ajut fes!–
del setge que a Troia fon.
D’ Antiochia
non sabres ja ni
de Milida la faison.

XXV
Ni d’ Aguolan
ni de Captan,
ni del rei Braiman l’ esclavon;
ni del bon rei,
no·n sabs que·s fei
d’ Alixandri fil Filipon.

XXVIII
Ni sabs d’ Ytis,
ni de Biblis,
ni de Caumus nuilla faisson;
de Piramus
qui for lo murs
sofri per Tibes passion.
XXIX
Ni de Paris,
ni de Floris,
ni de Bella Aia d’ Avignon;
del normanes,

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 319

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 319 25/09/2012 15:21:52


ni del Danes,
ni d’ Antelme ni de Frizon.

XXXI
Ni de Bramar
no·n sabs chantar
de l’auca ni de Nauruzon;
ni del vilan
ni de Tristan
c’ amava Yceut a lairon.

XXXII
Ni de Gualvaing
qui, ses compaing,
fazia tanta venaizon;
ni d’ Aldalaer,
ni de Rainier,
ni de Ramberg’ ab lo furguon.

XXXVI
Non saps upar,
mot guariar
en glieiza ni dedins maizon.
Va, Cabra boc,
quar be.t conoc
qui et evia urtar al mouton.

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 320 25/09/2012 15:21:52


FONTES DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 321 25/09/2012 15:21:52


1. Siglas
Arquivos e bibliotecas
ACC Archivo de la Catedral de Calahorra
ACO Arquivo da Catedral de Ourense
ACS Arquivo da Catedral de Santiago
ACT Arquivo da Catedral de Tui
ACZ Archivo de la Catedral de Zamora
ADB Arquivo Distrital de Braga
AGN Archivo General de Navarra (Pamplona)
AHDL Archivo Histórico Diocesano de León
AHDS Arquivo Histórico Diocesano de Santiago
AHN Archivo Histórico Nacional (Madrid)
AHPO Arquivo Histórico Provincial de Ourense
AHUS Arquivo Histórico da Universidade de Santiago
ASIL Archivo de San Isidoro de León
BN Biblioteca Nacional (Madrid)
BUS Biblioteca da Universidade de Santiago
IAN/TT Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo (Lisboa)

Manuscritos
CSobrado Cronicón de Sobrado. BUS, ms. 587 (= Carbajo 1904)
TC Tavola Colocciana. Vaticano lat. 3217 (Gonçalves 1976)
Tombo C ACS, manuscritos CF 31 (vol. II) e CF 32 (vol. I)
Tombo de Júvia AHN, códice L 1047 (Montero Díaz 1935)
Tombo de Samos AHUS, Códices (Lucas Álvarez 1986)
Tombo de Fiães ADB, Códices (Ferro Couselo 1995)

Obras impressas1
Afonso III Ventura – Oliveira (2006-2011).
Afonso VII Recuero Astray (1998)
Afonso IX González (1944)

1
No caso de obras coletivas com mais de dois autores, notamos apenas o primeiro.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 323

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 323 25/09/2012 15:21:52


Alcántara Palacios Martin (2000)
Alfonso II Sánchez Casabón (1995)
Arouca Coelho (1988)
Bóveda Fernández Fernández (2005)
Camanzo Lucas Álvarez (1978)
Carboeiro Lucas Álvarez (1958)
Carrizo Casado Lobato (1983)
CAstorga Cavero Domínguez (2000)
CCarracedo Martínez Martínez (1997)
CCogolla Serrano (1930)
Celanova Vaquero Díaz (2004)
CLeón-V Fernández Catón (1990)
CLeón-VI Fernández Catón (1991)
COurense Vaquero Diaz (2010)
CSalamanca Martín Martín (1977)
CZamora Martín (1982)
DAstorga Cavero Domínguez (2001)
DCarrizo Canal Sánchez-Pagín (1978)
DDozón Romaní Martínez (2003)
DGP Souto Cabo (2008)
DPRégios Azevedo (1959)
Dozón Fernández de Viana y Vieites (2009)
Fernando II Recuero Astray (2000)
FPallares Rey Caiña (1985)
FPantón Fernández de Viana y Vieites (1994)
GH Colección Diplomática de Galicia Histórica
Gradefes Burón Castro (1998)
GSJoão García Tato (2004).
HC História Compostelana (Falque Rey 1987)
HRH Historia de Rebus Hispanie (Fernández Valverde 1987)
LC Livro de linhagens do Conde do Conde D. Pedro
LD Livros velhos de linhagens (Livro do Deão)
LP Lírica Profana Galego-Portuguesa
LV Livros velhos de linhagens (Livro Velho)
Melón Cambón Suárez (1957)

324 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 324 25/09/2012 15:21:52


MLaturce García Turza (1992)
Moreruela Alonso Antón (1983)
Nogales Cavero Domínguez (2001)
OSantiago Martín (1974)
Oseira Romaní Martínez (1989)
PMH Portugaliae Monumenta Historica
PSJuan Ayala Martínez (1995)
PSousa Monteiro (1972)
RFernando II González (1943)
Rioja Rodríguez de Lama (1979)
Rochas Duro Peña (1972)
RSil Duro Peña (1977a)
Sahagún Fernández Flórez (1994)
Sancho I Azevedo (1979)
Sandoval Herrero Jiménez (2003)
SClodio Lucas Álvarez (1996)
SCNaves Dono Pérez (2010)
SDomingo Ubieto Arteta (1978)
SIsidoro Martín López (1995)
SMarcos Casado Quintanilla (2007)
SPelayo Serrano (1927)
SVicente Serrano (1929)
TCastañeda Rodríguez González (1973)
TCaveiro Fernández de Viana y Vieites (1999)
TFiães Ferro Couselo (1995)
TJubia Montero Díaz (1935)
TLourençá Rodríguez González (1992)
TMeira Domínguez Casal (1952)
Tombo B González Balasch (2004)
Toxos-Outos Pérez Rodríguez (2004)
TSamos Lucas Álvarez (1986)
TSobrado Loscertales de G. de Valdeavellano (1976)
Urraca Ruiz Albi (2003)
Vega Domínguez Sánchez (2001)

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 325

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 325 25/09/2012 15:21:52


2. Bibliografia
ALMAGRO BASCH, M. Historia de Albarracín. Edad Media. El señorío de
Azagra. Teruel: Instituto de Estudios Turolenses, 1956.

ALONSO ÁLVAREZ, R. El monasterio cisterciense de Santa Maria de Cañas (La


Rioja). Arquitectura gótica, patrocinio aristocrático y protección real. Logroño:
Gobierno de la Rioja – Instituto de Estudios Riojanos, 2004.

ALONSO ÁLVAREZ, R. “Los promotores de la Orden del Císter en los reinos


de Castilla y León: familias aristocráticas y damas nobles”. Anuario de Estudios
Medievales, 37/2: 653-710, 2007.

ALONSO ANTÓN, M. I. La colonización cisterciense en la meseta del Duero.


El ejemplo de Moreruela. Siglos XII-XIV. 2 vols. Tese de doutoramento. Madrid:
Universidad Complutense (= Moreruela), 1983.

ALVAR, C. La poesía trovadoresca en España y Portugal. Barcelona: Planeta, 1977.

ALVAR, C. “Johan Soarez de Pavha. Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra”. In: Philo-
logica Hispaniensa in honorem Manuel Alvar. Vol. III. Madrid: Gredos, 7-12, 1986.

ALVES, F. M. Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança. Tomo


III. Bragança: Museu do Abade de Baçal [1ª ed. 1911], 1982.

ANGLÉS, H. La música de las cantigas de Santa Maria. Transcripción y estudio


crítico. Vol. III. Barcelona: Diputación Provincial, 1958.

ARBOR ALDEA, M. “O cancioneiro de Fernan Rodriguez de Calheiros: análise


da tradición manuscrita”. In: FREIXAS, M., IRISO, S., FERNÁNDEZ, L. (eds.),
Actas del VIII Congresso Internacional de la AHLM (1999), Vol, I. Santander:
Consejería de Cultura del Gobierno de Cantabria – AHLM, 185-205, 2000.

ARGOTE DE MOLINA, G. Nobleza de Andalucía. Jaén: Francisco López Vizcaino


[1º ed. 1588, Sevilh, 1866.

ARIAS FREIXEDO, B. “E ja quites son los Mans. Nota paleográfica sobre o v.


4 da cantiga B 454 de Garcia Mendiz d’ Eixo”. Revista Galega de Filoloxia, 5:
165-169, 2004.

ASPERTI, S. “Per “Gossalbo Roitz”. In: Convergences médiévales. Épopée, lyrique,


roman. Mélanges offerts à Madeleine Tyssens. Bruxelas: De Boeck Université,
49-62, 2001.

AVALLE, D’ A. S. Peire Vidal poesie. Edizione critica e commento a cura di _.


Milão – Nápoles: Riccardo Ricciardi, 1960.

326 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 326 25/09/2012 15:21:52


AYALA MARTÍNEZ, C. de Libro de privilegios de la Orden de San Juan de
Jerusalén en Castilla y León (siglos XII-XV). Madrid: Editorial Complutense (=
PSJuan), 1995.
AYALA MARTÍNEZ, C. de Las órdenes militares hispánicas en la Edad Media:
siglos XII e XIII. Madrid: Marcial Pons – Latorre Literaria, 2003.
AZEVEDO, R. Pinto de Documentos Medievais Portugueses. Documentos Régios.
Vol. I/1. Lisboa: Academia Portuguesa de História (= DPRégios), 1959.
AZEVEDO, R. Pinto de, COSTA, A. de J. da, PEREIRA, M. Rodrigues Docu-
mentos de D. Sancho I (1174-1211). Vol. I. Coimbra: Universidade de Coimbra
(= Sancho I), 1979.
BALLESTEROS BERETTA, A. La reconquista de Murcia por el infante D. Alfonso
de Castilla. Revista Murgetana, 1: 9-48, 1949.
BALPARDA Y LAS HERRERÍAS, G. Historia crítica de Vizcaya y de sus fueros.
Tomo Segundo. Libro Tercero. El primer fuero de Vizcaya, el de los Señores. Bilbau:
Mayli [1933-1934], 1934.
BANKS, S. E., BINNS, J. W. Gervasio of Tilbury. Otia Imperialia. Recreation for
an Emperor. Edited and translated by _. Oxford: Clarendon Press, 2002.
BARQUERO GOÑI, C. “La Orden de San Juan en el Camino de Santiago. La bailía
de Portomarín (1158-1351)”. Cuadernos de Historia Medieval, 2: 89-117, 1999.
BARREIRO SOMOZA, J. El señorío de la Iglesia de Santiago de Compostela
(siglos IX-XII). Corunha: Deputación Provincial, 1987.
BARTON, S. “Sobre el conde Rodrigo Perez ‘el Velloso’”. Estudios Mindonienses,
5: 653-661, 1989.
BARTON, S. “Two Catalan magnates in the courts of the kings of León-Castile:
the careers of Ponce de Cabrera and Ponce de Minerva re-examined”. Journal of
Medieval History, 18: 233-266, 1992.
BARTON, S. “The Count, the Bishop and the Abbot: Armengol VI of Urgel and
the Abbey of Valladolid”. The English Historical Review, 111: 85-103, 1996.
BARTON, S. The aristocracy in twelfth-century Leon and Castile. Cambridge:
Cambridge University Press, 1997.
BARTON, S. “Afonso IX e a nobreza do reino de León”. In: Afonso IX e a sua época.
Pro utilitate regni mei. Corunha: Concello da Coruña – Ministerio de Cultura, 2008.
BECEIRO PITA, I. “Los poderes señoriales en los territorios fronterizos al norte
del Duero (siglos XIII-inicios del XIV)”. Revista da Faculdade de Letras – História
(2ª série), 15/2: 1085-1100, 1998.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 327

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 327 25/09/2012 15:21:52


BELTRÁN, V. “Los trovadores en las cortes de Castilla y León: Bonifaci Calvo y
Ayras Moniz d’ Asme”. Cultura Neolatina, XLV: 45-57, 1985.

BELTRÁN, V. “Tipos y temas trovadorescos: Bonifaci Calvo y Ayras Moniz d’


Asme”. Revista de literatura medieval, I: 9-13, 1989.

BELTRÁN, V. (1993). “Los trovadores en las cortes de Castilla y León: Gui d’


Ussel y Paay Soarez de Taveyros”. In: Atti del Secondo Congresso Internazionale
della Association Internationale d’ Etudes Occitanes (Torino, 31 agosto – 5 sett-
embre 1987). Turim: Dipartimento di Scienze Letterarie e Filologiche – Università
di Torino, 45-64, 1993.

BELTRÁN DE HEREDIA, V. Los orígenes de la Universidad de Salamanca.


Salamanca: Ediciones Universidad, 1999.

BISHKO, C. J. “The Cluniac Priories of Galicia and Portugal: Their Acquisition


and Administration, 1075-ca. 1239”. Studia Monastica, 7: 305-358, 1965.

BLÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. “Bosquejo histórico de la Orden de Monte Gaudio”.


Boletín de la Real Academia de la Historia, 71: 138-172, 1917.

BOFARULL Y MASCARÓ, P. de Colección de documentos inéditos del Archivo


General de la Corona de Aragón. Vol. IV. Barcelona: José Eusebio Monfort, 1849.

BREA, M. “Ás voltas con Raimbaut de Vaqueiras e as orixes da lírica galego-


-portuguesa”. In: Estudios galegos en homenaxe ó profesor Giuseppe Tavani.
Santiago de Compostela: CIRP, 41-56, 1994.

BREA, M. “Aissi cum dis us castellans: ¿En qué lengua?” In: Actas del VI Con-
greso Internacional de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval (Alcalá
de Henares, Septiembre de 1995). Alcalá: Universidad de Alcalá, 365-379, 1997a.

BREA, M. “Era unha vez… hai oitocentos anos”. Revista galega do ensino, 16:
79-89, 1997b.

BURÓN CASTRO, T. Colección documental del monasterio de Gradefes. León:


Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico
Diocesano (= Gradefes), 1998.

CALDERÓN MEDINA, I. “Cuatro magnates en la corte de Alfonso VII”. Monar-


quía y sociedad en el reino de León. De Alfonso III a Alfonso VII. Vol. II. León:
Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico
Diocesano, 343-374, 2007.

CALDERÓN MEDINA, I. “El impulso nobiliario en la expansión del Císter en


el reino de León. La parentela de Ponce de Cabrera en los monasterios de Santa
María de Moreruela y San Esteban de Nogales”. Medievalismo, 18: 341-374, 2008.

328 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 328 25/09/2012 15:21:52


CALDERÓN MEDINA, I. Cum magnatibus regni mei: la nobleza y la monarquía
leonesa durante los reinados de Fernando II y Alfonso IX: (1157-1230). Madrid:
C.S.I.C., 2011a.

CALDERÓN MEDINA, I. “Las otras mujeres del rey. Concubinato regio en el


reino de León (1157-1230)”. Seminario Medieval, 2009-2011. Disponível online:
seminariomedieval.com/guarecer, 2011b.

CALDERÓN MEDINA, I. “Rodrigo Froilaz, esposo de Châmoa Gomes de Tou-


gues. Los fundadores de Santa Clara de Entre-os-Rios”. População e sociedade,
[no prelo].

CAMBÓN SUÁREZ, S. El monasterio de Santa María de Melón (siglos XII-XIII).


Tese de doutoramento (inédita). Santiago: Universidade de Santiago (= Melón),
1957.

CALLEJA PUERTA, M. El conde Suero Vermúdez, su parentela y entorno social.


La aristocracia astur-leonesa en los siglos XI y XII. Oviedo: KRK Ediciones, 2001.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “Documentos del monasterio de Carrizo de la


Ribera (León) en la Colección Salazar de la Real Academia de la Historia”. Edición
y comentario. Archivos Leoneses, 64: 381-403 (= DCarrizo), 1978.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “Elvira Pérez, condesa de Urgell: una asturiana


desconocida”. Asturiensia Medievalia, 4: 93-129, 1981.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “El conde don Rodrigo Álvarez de Sarria, fun-


dador de la orden militar de Monte Gaudio”. Compostellanum, 28: 373-397, 1983.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “Don Pedro Fernández, primer maestre de la


orden militar de Santiago. Su familia, su vida”. Anuario de Estudios Medievales,
14: 33-71, 1984.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “Casamientos de los condes de Urgel en Cas-


tilla”. Anuario de Estudios Medievales, 19: 119-135, 1989a.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “La casa de Haro en León y Castilla de 1150


a 1250”. Archivos Leoneses, 85-86: 55-97, 1989b.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “La casa de Cameros en Castilla y León durante


el siglo XII”. Archivos Leoneses, 49: 147-157, 1995a.

CANAL SÁNCHEZ-PAGÍN, J. M. “La casa de Haro en León y Castilla durante


el siglo XII. Nuevas conclusiones”. Anuario de Estudios Medievales, 25/1: 38,
1995b.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 329

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 329 25/09/2012 15:21:52


CANELLAS LÓPEZ, A. “De re diplomatica: la cancillería señorial de Albarracín
(1170-1294)”. Folia Munichensia. Zaragoza: Institución Fernando el Católico-
Cátedra “Zurita”, 131-224, 1985.

CANETTIERI, P., PULSONI, C. “Per uno studio storico-geografico e tipologico


dell’ imitazione metrica nella lirica galego portoghese”. In: BILLY, D., CANET-
TIERI, P., PULSONI, C. , ROSSELL, A., La lirica galego-portoghese. Saggi di
metrica e musica comparata. Roma: Carocci, 113-165, 2003.

CARBAJO, M. Historia del monasterio de Sobrado compilada juiciosa y critica-


mente por el monje bernardo fr. Mauricio Carbajo. Ms. 587 da Biblioteca Xeral
da Universidade de Santiago [Cópia manuscrita por Benigno Cortés y García do
original do séc. XVIII ], 1904 (= CSobrado).

CARMONA RUIZ, Mª. A. “La participación de las órdenes militares hispanas en


las cruzadas de Oriente”. Clío, 23, 2001. (Disponível online: http://clio.rediris.
es/ numero023.htm)

CASADO LOBATO, M. C. Colección Diplomática del Monasterio de Carrizo.


León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” (C. S. I. C.) – Caja de
Ahorros y Monte de Piedad – Archivo Histórico Diocesano, 1983 (= Carrizo).

CASADO QUINTANILLA, B. Colección documental del priorato de San


Marcos de León, de la Orden de Santiago. León: Centro de Estudios e Investiga-
ción “San Isidoro” – Caja España de Inversiones – Archivo Histórico Diocesano,
2007 (= SMarcos).

CASTRO, J. Ariel “Afonso de Portugal e o século XII português”. In: Associa-


ção Internacional de Lusitanistas. Actas do terceiro congresso (Universidade de
Coimbra, 18 a 22 de Junho de 1990). Coimbra: AIL, 1992.

CASTRO, J. Ariel O descordo plurilíngüe de Raimbaut de Vaqueiras (um ensaio


de filologia românica para compreensão de sua obra, sua vida e seu tempo). Rio
de Janeiro (edição do autor), 1995.

CASTRO, J. R. Catálogo del Archivo General. Sección de Comptos. Documentos.


Tomo I (842-1331). Pamplona: Diputación Foral de Navarra, 1970.

CASTRO, M. “Un monasterio gallego”. Boletín de la Comisión de monumentos


de Orense, 4: 113-120, 1912.

CAVERO DOMÍNGUEZ, G. Colección documental del monasterio de San Estebán


de Nogales (1149-1498). Leão: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro”
– Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 2001 (= Nogales).

330 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 330 25/09/2012 15:21:52


CAVERO DOMÍNGUEZ, G. Alfonso IX de León y el iter de su corte (1188-1230).
e.Spania, 8, 2009. (Disponível online: http://e-spania.revues.org/18626).

CAVERO DOMÍNGUEZ, G.,ÁLVAREZ ÁLVAREZ, C., MARTÍN FUENTES,


J. A. Colección documental del Archivo Diocesano de Astorga. León: Centro de
Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España de Inversiones – Archivo
Histórico Diocesano, 2001 (= DAstorga).

CAVERO DOMÍNGUEZ, G., MARTÍN LÓPEZ, E. Colección documental de la


catedral de Astorga. León: Leão: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro”
– Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 2000 (= CAstorga).

CHARLO BREA, L., ESTÉVEZ SOLA, J. A., CARANDE HERRERO, R. Cronica


Hispana Saeculi XIII. Turnholti: Typographi Brepols Editores Pontificii, 1997.

CINGOLANI, S. “The sirventes-ensenhamen of Guerau de Cabrera: A Proposal


for a New Interpretation”. Journal of Hispanic Research, 1-2: 191-201, 1993.

COELHO, M. H. da Cruz. O mosteiro de Arouca do século X ao século XIII.


Arouca: Câmara Municipal [1ª ed.: Coimbra: Universidade de Coimbra, 1977],
1988 (= Arouca).

COLECCIÓN DE PRIVILEGIOS, FRANQUEZAS, EXENCIONES Y FUEROS,


CONCEDIDOS A VARIOS PUEBLOS DE LA CORONA DE CASTILLA. Madrid:
Imprenta Real, 1830.

COLECCIÓN DIPLOMÁTICA DE GALICIA HISTÓRICA. Santiago: Tipografia


Galaica, 1901-1903 (= GH).

CORDE = Real Academia Española. Corpus diacrónico del español: (Disponível


online: http://rae.es).

CORREDERA GUTIÉRREZ, E. “Los condes soberanos de Urgel y los premons-


tratenses”. Analecta Sacra Tarraconensia, 36: 33-102, 209-282, 1963.

COTARELO VALLEDOR, A. “Los hermanos Eans Mariño, poetas gallegos del


siglo XIII”. Boletín de la Real Academia Española, 20: 5-32, 1933.

CUNHA, Mª. C. Almeida e A Ordem Militar de Avis (das origens a 1329) (Dis-
sertação de Mestrado em História Medieval). Porto: Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Biblioteca digital, 1989.

CUNHA, Mª. C. Almeida e Estudos sobre a Ordem de Avis (sécs. XII-XV). Porto:
Faculdade de Letras do Porto, 2009.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 331

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 331 25/09/2012 15:21:52


D’ HEUR, J. M. Troubadours d’ oc et troubadours galiciens-portugais. Recher-
ches sur quelques échanges dans la littérature de l’ Europe au Moyen Âge. Paris:
Fundação Calouste Gulbenkian – Centro Cultural Português, 1973.

DE LAS HERAS, J. La Orden de Santiago. Madrid: EDAF, 2010.

DÍAZ Y DÍAZ, J. M. “La Escuela Episcopal de Santiago en los siglos XI-XIII”.


Liceo Franciscano, 28: 183-188, 1975.

DÍAZ Y DÍAZ, M. C., LÓPEZ ALSINA, F., SÁNCHEZ AMEIJEIRAS, R. Tumbo


A. Madrid: Testimonio, 2008.

DOMÍNGUEZ CASAL, M. El monasterio de Santa María de Meira y su colec-


ción diplomática. Tese de doutoramento. Santiago: Universidade de Santiago.
(Disponível online: htpp:/corpus. cirp.es/ codolga.publicacions = TMeira), 1952.

DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, S. Colección documental de los monasterios de San


Claudio de León, Monasterio de Vega y San Pedro de las Dueñas. León: Centro
de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico
Diocesano (= Vega), 2001.

DONO LÓPEZ, P. Edición dos documentos en pergamiño do mosteiro de Santa


Comba de Naves. Introdución, edición e índices. Tese de doutoramento (inédita).
Santiago: Universidade de Santiago de Compostela (= SCNaves), 2010.

DURO PEÑA, E. El monasterio de San Pedro de Rocas y su colección documen-


tal. Ourense: Instituto de Estudios Orensanos “Padre Feijoo”, 1972 (= Rochas).

DURO PEÑA, E. El monasterio de San Esteban de Ribas de Sil. Ourense: Depu-


tación Provincial (= RSil), 1977a

DURO PEÑA, E. “El monasterio de San Miguel de Bóveda”. Archivos Leoneses,


61: 107-179, 1977b.

FALQUE REY, E. Historia Compostellana. Cura et studio Emma Falque Rey.


Turnholti: Brepols, 1987 (= HC).

FALQUE REY, E. Lucae tudensis Chronicon mundi. Turnhout: Brepols, 2003.

FERNANDES, A. de Almeida Taraucae Monumenta Historica. I/2: Indices &


Studia (Anthroponymia). Braga: Câmara Municipal de Tarouca, 1992.

FERNÁNDEZ CAMPO, F. “Breves suxestións sobre o descort plurilingüe de R.


de Vaqueiras (Estrofa V, vv, 33-36)”. In: FIDALGO, E., LORENZO GRADÍN, P.

332 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 332 25/09/2012 15:21:52


(coords.), Estudos galegos en homenaxe ao profesor Giuseppe Tavani. Santiago
de Compostela: CIRP, 57-64, 1994.

FERNÁNDEZ CAMPO, F. “Más sugerencias sobre el Descort plurilingüe de


Raimbaut de Vaqueiras (estrofa V, vv, 37-40)”. In: BAUM, R., DINIS, A. (eds.),
Lusophonie in Geschichte und Gegenwart. Festschrift für Helmut Siepmann zum
65. Geburstag. Bonn: Romanistischer Verlag, 239-251, 2003.

FERNÁNDEZ CAMPO, F. “Apostillas petrarquescas de Colocci: nuevas posibi-


lidades de lectura”.BOLOGNA, C., BERNARDI, M. Angelo Colocci e gli studi
romanzi. Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, 431-447, 2008.

FERNÁNDEZ CAMPO, F. “A tornada galega do Descort plurilingüe de Raimbaut


de Vaqueiras”. In: BREA, M. (coord.), Pola melhor de quantas fez nostro Senhor.
Homenaxe á profesora Giulia Lanciani. Santiago de Compostela: CRPIH – Xunta
de Galicia, 183-188, 2009.

FERNÁNDEZ CATÓN, J. Mª. Colección documental del archivo de la Catedral


de León (775-1230), V (1109-1187). León: Centro de Estudios e Investigación
“San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico Diocesano , 1990 (= CLeón-V).

FERNÁNDEZ CATÓN, J. Mª. Colección documental del archivo de la Catedral


de León (775-1230), VI (1188-1230). León: Centro de Estudios e Investigación
“San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 1991 (= CLeón-VI).

FERNÁNDEZ DE VIANA Y VIEITES, J. I. Colección Diplomática del mo-


nasterio de Santa María de Ferreira de Pantón. Lugo: Deputación Provincial
(= FPantón), 1994.

FERNÁNDEZ DE VIANA Y VIEITES, J. I., GONZÁLEZ BALASCH, Mª. T.


“El tumbo de san Juan de Caaveiro”. In: El monasterio de san Juan de Caaveiro
(Corunha: Deputación Provincial) (= TCaveiro), 1999.

FERNÁNDEZ DE VIANA Y VIEITES, J. I. Colección diplomática do mosteiro


de San Pedro de Vilanova de Dozón. Santiago de Compostela: Consello da Cultura
Galega, 2009 (= Dozón).

FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A. O Mosteiro feminino de San Miguel de Bóveda


na Idade Media. Estudo histórico e colección documental (séculos XII-XIV). Noia:
Toxosoutos, 2005 (= Bóveda).

FERNÁNDEZ FLÓREZ, José A. Colección diplomática del monasterio de Sa-


hagún. León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España
– Archivo Histórico Diocesano, 1994 (= Sahagún).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 333

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 333 25/09/2012 15:21:53


FERNÁNDEZ RODRIGUEZ, M. Toronium. Aproximación a la historia de una
tierra medieval. Cuaderno de Estudios Gallegos. Anexo 31. Santiago de Com-
postela, 2004.

FERNÁNDEZ VALVERDE, J. Roderici Ximeni de Rada. Historia de Rebus His-


panie sive Historia Gotica. Cura et studio _. Turnholti: Brepols (= HRH), 1987.

FERNÁNDEZ-XESTA VAZQUEZ, E. “Dos sellos del linaje de Cabrera en el siglo


XIII. El sello de Doña Sancha, vizcondesa de Cabrera de 1299. El sello de Don
Fernando Fernandez 1222”. In: Actas del primer coloquio de sigilografía. Madrid,
2 al 4 de Abril de 1987. Madrid: Dirección de los Archivos Estatales, 1990.

FERNÁNDEZ-XESTA VÁZQUEZ, E. Un magnate catalán en la corte de Alfonso


VII. Comes Poncius de Cabreira, Princeps Çemore. Madrid: Prensa y Ediciones
Iberoamericanas, 1991.

FERNÁNDEZ-XESTA VÁZQUEZ, E. Relaciones familiares entre el condado de


Urgell y Castilla y León. Madrid: Academia Matritense de Heráldica y Genealogía,
2001.

FERRARI, A. “Formazione e struttura del Canzoniere Portoghese della Biblioteca


Nazionale de Lisboa (Cod. 10991: Colocci-Brancuti)”. Arquivos do Centro Cultural
Português, XIV: 27-142, 1979.

FERREIRA, J. P. Martins Entre a consanguinidade e a naturalidade:a movimen-


tação da nobreza portuguesa entre os reinos de Portugal e Leão (1157-1230).
Dissertação de mestrado em História Medieval. Porto: Universidade do Porto, 2009.

FERREIRO ALEMPARTE, J. “Temple, Santo Sepulcro y Císter en su fase inicial


gallega”. In: II Congreso Internacional sobre el Císter en Galicia y Portugal. IX
centenario de la fundación del Císter. Vol. I. Ourense, 341-368, 1998.

FERRO COUSELO, X. Tumbo de Fiães. Boletín Auriense. Anexo 20. Ourense:


Museo Arqueolóxico Provincial, 1995 (= TFiães).

FIGUEIREDO, J. A. Nova história da militar Ordem de Malta e dos senhores


grão-priores della em Portugal. 3 vols. Lisboa: Oficina de Simão Thaddeo Fer-
reira, 1800.

FIGUEROA MELGAR, A. “La Orden de caballería de Santiago”. Hidalguía, 85:


785-808, 1967.

FLORIANO CUMBREÑO, A. C. (1949). El monasterio de Cornellana: cartulario,


índices sistemáticos y referencias documentales. Oviedo: Seminario de Investiga-
ción Diplomática de IDEA.

334 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 334 25/09/2012 15:21:53


FLORIANO LLORENTE, P. “Colección diplomática del monasterio de Villanueva
de Oscos”. Boletim de estudios asturianos, 102: 127-190, 1981.

FOREY, A. J. “The Order of Mountjoy”. Speculum, 46: 250-256, 1971.

GALINDO ROMEO, P. Tuy en la Baja Edad Media. Siglos XII-XV. Madrid: Ins-
tituto “Enrique Flórez” – C. S. I. C., 1923.

GARCÍA ÁLVAREZ, R. “Los Arias de Galicia y sus relaciones familiares con


Fernando II de León y Alfonso I de Portugal”. Brácara Augusta, 20: 1-19, 1966.

GARCIA ÁLVAREZ, R. “Castilla e Castela, Ordejón, Orcellón e o trovador Lopo


Lías”. Grial, 15: 1-7, 1967

GARCÍA ÁLVAREZ, M. R. “Sobre la fundación del monasterio orensano de


Bóveda”. Bracara Augusta, 29: 111-143, 1975.

GARCÍA TATO, I. Las encomiendas gallegas de la orden militar de San Juan


de Jerusalén. Estudio y edición documental. Tomo I. Época Medieval. Santiago:
Consejo Superior de Investigaciones Científicas – Xunta de Galicia – Instituto de
Estudios Gallegos “Padre Sarmiento”, 2004 (= GSJoão).

GARCÍA TURZA, F. J. Documentación medieval del Monasterio de San Prudencio


de Monte Laturce (siglos X-XV). Logroño: Gobierno de La Rioja – Instituto de
Estudios Riojanos, 1992 (= MLaturce).

GARRIDO RODRÍGUEZ, J. Fortalezas de la antigua provincia de Tuy. Ponteve-


dra: Diputación Provincial de Pontevedra, 1987.

GAUNT, S., HARVEY, R., PATERSON, L. Marcabru. A Critical Edition. Cam-


bridge: D. S. Brewer, 2000.

GIL, J. “Carmen de expugnatione Almariae vrbis”. Habis, 5: 49-64, 1974.

GONÇALVES, E. “La Tavola Colocciana Autori Portughesi”. Arquivos do Centro


Cultural Português, 10: 387-448, 1976.

GONZÁLEZ, J. Regesta de Fernando II. Madrid: CSIC – Instituto Jerónimo Zurita,


1943 (= RFernando II).

GONZÁLEZ, J. Alfonso IX. Madrid: CSIC – Instituto Jerónimo Zurita, 1944


(= Afonso IX).

GONZÁLEZ, J. El reino de Castilla en la época de Alfonso VIII. 3 vols. Madrid:


C. S. I. C. – Escuela de Estudios Medievales, 1960 (= Alfonso VIII).

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 335

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 335 25/09/2012 15:21:53


GONZÁLEZ BALASCH, Mª. T. Tumbo B de la Catedral de Santiago. Estudio
y Edición. Santiago: Cabildo de la S. A. M. I. Catedral – Seminario de Estudios
Galegos, 2004.

GONZÁLEZ JIMÉNEZ, M. Diplomatario Andaluz de Alfonso X. Sevilla: El


Monte, 1991.

GONZÁLEZ MONTAÑÉS, J. I. O mosteiro de San Salvador de Budiño e a terra


de Toroño. Vigo: Instituto de Estudios Vigueses, 2011.

HERCULANO, A. História de Portugal. Desde o começo da monarquia até ao


fim do reinado de Afonso III. Tomo II. Lisboa: Bertrand, 1980.

HERRERO JIMÉNEZ, M. Colección documental del monasterio de Villaverde de


Sandoval (1132-1500). León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” –
Caja España – Archivo Histórico Diocesano (= Sandoval), 2003.

HOEPFFNER, E. “L’Espagne dans le vie et dans l’oeuvre de du troubadour Peire


Vidal”. Estrasburgo. Mélanges, II (Études littéraires): 39-88, 1946a.

HOEPFFNER, E. “Un amigo de Bertran de Born: Mon Isembart”. Études romanes


dediés a Mario Roques. Paris, 1946b.

ÍNDICE DE LOS DOCUMENTOS DE LA ORDEN DE CALATRAVA EXISTENTES


EN EL ARCHIVO HISTÓRICO NACIONAL. Madrid: Fortanet, 1899.

JAVIERRE MUR, A. “La Orden de Calatrava en Portugal”. Boletín de la Real


Academia de la Historia, 130: 323-376, 1952.

JENSEN, F. “Vasco Fernandez Praga de Sandin”. In: LANCIANI, G., TAVANI, G.


(orgs.) Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa. Lisboa: Caminho,
648-649, 1993.

JULAR PÉREZ-ALFARO, C. Los adelantados y merinos mayores de Leon (siglos


XIII-XV). Leão: Universidad de León, 1990.

LAFONT, R. “Relecture de Cabra juglar”. Revue des langues romanes,


104: 337-377, 2000.

LAFUENTE URIÉN, A., GRANADO HIJELMO, I., FERNÁNDEZ DE LA PRA-


DILLA MAYORAL, M. C., GARCÍA ASER, R., GALLO LEÓN, F. El señorío de
los Cameros: Introducción histórica e inventario analítico de su archivo. Logroño:
Instituto de Estudios Riojanos – Gobierno de la Rioja, 1999.

336 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 336 25/09/2012 15:21:53


LAGARES, X. C. E por esto fez este cantar. Sobre as rubricas explicativas dos
cancioneiros profanos galego-portugueses. Corunha: Laiovento, 2000.

LAPA, M. Rodrigues Cantigas d’ escarnho e de mal dizer dos cancioneiros me-


dievais galego-portugueses. Vigo: Galaxia, 1970.

LEIRÓS FERNÁNDEZ, E. “Los tres Libros de Aniversarios de la Catedral de


Santiago”. Compostellanum, 15: 179-250, 1970.

LINEHAN, P. “León, ciudad regia, y sus obispos en los siglos X-XIII”. El reino
de León en la alta Edad Media. León: Centro de Estudios e Investigación “San
Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 1994.

LINSKILL, J. The poems of the troubadour Raimbaut de Vaqueiras. Haia: Mouton


& Comp., 1964.

LÍRICA PROFANA GALEGO-PORTUGUESA. Coordenado por M. BREA. San-


tiago de Compostela: CIRP – Xunta de Galicia, 1996 (= LP).

LIVROS VELHOS DE LINHAGENS. Ed. por J. PIEL e J. MATTOSO. Portugaliae


Monumenta Historica. Nova Série. Lisboa: Academia das Ciências, 1980a.

LIVRO DE LINHAGENS DO CONDE DO CONDE D. PEDRO. 2 vols. Ed. por


J. MATTOSO. Portugaliae Monumenta Historica. Nova Série. Lisboa: Academia
das Ciências, 1980b.

LOMAX, D. W. La Orden de Santiago (1170-1275). Madrid: C. S. I. C. – Escuela


de Estudios Medievales, 1965.

LOMAX, D, W. “Catalans in the Leonese empire”. Bulletin of Hispanic Studies,


49: 191-197, 1982.

LOPES, G. Videira A sátira nos cancioneiros medievais galego-portugueses.


Lisboa: Editorial Estampa (2ª ed.), 1998.

LÓPEZ AGURLETA, J. Vida del Venerable Fundador de la Orden de Santiago y


de las primeras casas de redempción de cautivos. Madrid, 1731.

LÓPEZ AYDILLO, E. Los cancioneros gallego-portugueses como fuentes histó-


ricas. Valladolid: Maxtor [Reimpressão da primeira edição de 1923 como extrato
da Revue Hispanique (LVII)], 2008.

LÓPEZ CALO, J. “La música en la catedral de Santiago, A. D. 1188”. In: El Pór-


tico de la Gloria: música, arte y pensamiento. Santiago de Compostela: Xunta de
Galicia, 39-54, 1988.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 337

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 337 25/09/2012 15:21:53


LÓPEZ FERREIRO, A. Don Alfonso VII, rey de Galicia y su ayo el conde de
Traba. Santiago: Imprenta del Seminario Conciliar, 1885.

LÓPEZ FERREIRO, A. Historia de la Sagrada A. M. Iglesia de Santiago de


Compostela. Vol. IV. Santiago: Seminario Conciliar Central, 1901.

LÓPEZ FERREIRO, A. Historia de la Sagrada A. M. Iglesia de Santiago de


Compostela. Vol. V. Santiago: Seminario Conciliar Central, 1902.

LÓPEZ FERREIRO, A. Historia de la Sagrada A. M. Iglesia de Santiago de


Compostela. Vol. VI. Santiago: Seminario Conciliar Central, 1905.

LÓPEZ SANGIL, J. L. La nobleza altomedieval gallega. La familia Froilaz –


Traba. Noia: Toxosoutos, 2002.

LÓPEZ SANGIL, J. L. “La nobleza altomedieval gallega. La familia Froilaz-Traba.


Sus fundaciones monacales en Galicia en los siglos XI, XII y XIII”. Nalgures, 4:
241-331, 2007.

LOSCERTALES DE G. DE VALDEAVELLANO, P. Tumbos del monasterio de


Sobrado de los Monjes. 2 vols. Madrid: Dirección General del Patrimonio Artístico
y Cultural – Archivo Histórico Nacional, 1976 (= TSobrado).

LUCAS ÁLVAREZ, M. “La colección diplomática del monasterio de San Lorenzo


de Carboeiro”. Compostellanum II, 4, 199-223, 1957; III, 4, 291-308, 547-638,
1958 (= Carboeiro).

LUCAS ÁLVAREZ, M. “El monasterio de San Salvador de Camanzo”. Archivos


Leoneses, 64: 273-379, 1978 (= Camanzo).

LUCAS ÁLVAREZ, M. El Tumbo de San Julián de Samos. Santiago: Caixa Ga-


licia, 1986 (= TSamos).

LUCAS ÁLVAREZ, M. El reino de León en la alta Edad Media. V. Las cancillerías


reales (1109-1230). León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja
España – Archivo Histórico Diocesano, 1993.

LUCAS ÁLVAREZ, M. “Los monasterios femeninos de San Cristovo de Dormeá y


San Martiño de Canduas”. In: BARRAL RIVADULLA, Ma., LÓPEZ VÁZQUEZ,
J.M., Estudios sobre patrimonio artístico. Santiago: Xunta de Galicia, 853-880,
2002.

LUCAS ÁLVAREZ, M., LUCAS DOMÍNGUEZ, P. El monasterio de San Clodio


do Ribeiro en la Edad Media. Estudio y documentos. Santiago: Publicacións do
Seminario de Estudos Galegos (= SClodio), 1996.

338 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 338 25/09/2012 15:21:53


MACHADO, J. C. L. Soares Os Bragançãos. História genealógica de uma linha-
gem medieval (séculos XI a XIII). Lisboa: Associação Portuguesa de Genealogia,
2004.

MANRIQUE, A. Annales cistercienses. Cisterciensium seu verius ecclesiastico-


rum annalium a condito cistercio. Tomus secundus. Lyon: Haered. G. Boissat et
Laurentii Anisson, 1642.

MARCENARO, S. ([no prelo]). As cantigas de Osoir’ Eanes. Edición crítica,


estudo preliminar, notas e glosario.

MARQUES, M.ª A., SOALHEIRO, J. A Corte dos primeiros reis de Portugal.


Afonso Henriques, Sancho I, Afonso II. Gijón: Trea, 2009.

MARTIN, J. L. Orígenes de la Orden militar de Santiago (1170-1195). Barcelona:


C. S. I. C., 1974 (= OSantiago).

MARTÍN, J. L. Documentos Zamoranos. I Documentos del Archivo Catedralicio


de Zamora. Primera parte (1128-1261). Salamanca: Universidad de Salamanca,
1982 (= CZamora).

MARTÍN MARTÍN, J. L., VILLAR GARCÍA, L. M., MARCOS RODRÍGUEZ,


F., SÁNCHEZ RODRÍGUEZ, M. Documentos de los archivos catedralicio y dio-
cesano de Salamanca (siglos XII-XIII). Salamanca: Universidad de Salamanca,
1977 (= CSalamanca).

MARTÍN LÓPEZ, M. E. Patrimonio cultural de San Isidoro de León. A. Serie


documental. I/1. Documentos de los siglos X-XII. Colección Diplomática. León:
Universidad de León – Cátedra de San Isidoro de la Real Colegiata de León, 1995
(= SIsidoro).

MARTÍN RODRÍGUEZ, J. L. “Un vasallo de Alfonso el Casto en el reino de


León: Armengol VII, conde de Urgel”. In: VII Congrés d’ Història de la Corona
d’ Aragó. Vol. II. Barcelona, 223-233, 1964.

MARTÍNEZ MARTÍNEZ, M. Cartulario de Santa Maria de Carracedo. Ponferr-


rada: Instituto de Estudios Bercianos, 1997 (= CCarracedo).

MARTÍNEZ PEREIRO, P. As cantigas de Fernan Paez de Tamalancos. Santiago


de Compostela: Laiovento, 1992.

MARTÍNEZ SOPENA, P. La Tierra de Campos Occidental. Poblamiento, poder


y Comunidad del siglo X al XIII. Valladolid: Institución Cultural Simancas – Di-
putación de Valladolid, 1985.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 339

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 339 25/09/2012 15:21:53


MARTINS, A. M. “Ainda “os mais antigos textos escritos em português”. Docu-
mentos de 1175 a 1252”. In: HUB FARIA, I. (org.), Lindley Cintra. Homenagem
ao homem, ao mestre e ao cidadão. Lisboa: Edições Cosmos – Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, 491-534, 1999.

MATTOSO, J. Ricos-homens, infanções e cavaleiros. A nobreza medieval portu-


guesa nos séculos XI e XII. Lisboa: Guimarães, 1982.

MATTOSO, J. Portugal medieval. Novas interpretações. Lisboa: Imprensa Na-


cional / Casa da Moeda, 1985.

MATTOSO, J. Identificação de um país. Ensaio sobre as origens de Portugal


(1096-1325). Volume I-oposição. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.

MATTOSO, J. D. Afonso Henriques. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007.

MENÉNDEZ PIDAL, R. Poesía juglaresca y juglares. Orígenes de las literaturas


románicas. Madrid: Espasa Calpe [1ª ed. 1942], 1991.

MENÉNDEZ-PIDAL DE NAVASCUÉS, F. Apuntes de sigilografía española.


Guadalajara: Institución Provincial de Cultura “Marqués de Santillana”, 1988.

MICHAËLIS DE VASCONCELOS, C. Cancioneiro da Ajuda. Halle: Max Nie-


meyer [Reimpressão acrescentada de um prefácio de Ivo Castro e do glossário das
cantigas (Revista Lusitana, XXIII). Vol. II. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
Moeda, 1990], 1904.

MICHAËLIS DE VASCONCELOS, C. Glosas marginais ao cancioneiro medieval


português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Edição de Y. Frateschi VIEIRA,
J. L. RODRÍGUEZ, I. MORÁN CABANAS, J. A. SOUTO CABO. Coimbra:
Universidade de Santiago – Universidade de Coimbra – Universidade de Cam-
pinas [Reedição em versão portuguesa das “Randglossen zum altportugiesischen
Liederbuch” publicadas em Zeitschrift für romanische Philologie, 1896-1905,
acrescentadas de “Olhos verdes ... olhos de alegria”, publ. em português na Revista
de Língua Portuguesa, 4, 1920], 2004.

MIRANDA, J. C. Calheiros, Sandim e Bonaval: uma rapsódia “de amigo”. Porto


(edição do autor), 1994.

MIRANDA, J. C. “João Soares de Paiva: Perfil Histórico do Primeiro Trovador


em Galego-Português”. In: Actas do II Congresso Histórico de Guimarães – D.
Afonso Henriques e a sua época. Vol. V..Guimarães: Câmara Municipal, 5-16, 1997.

340 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 340 25/09/2012 15:21:53


MIRANDA, J. C. “Osoir’ Anes, a mulher-que-canta e as tradições familiares dos
Marinhos”. Revista da Faculdade de Letras: Línguas e Literaturas, II série, 20:
117-129, 2003.

MIRANDA, J. C. Aurs mesclatz ab argen. Sobre a primeira geração de trovadores


galego-portugueses. Porto: Edições Guarecer, 2004.

MOLINA, B. S. de Descripción del reyno de Galizia. Mondonhedo: Agustín de


Paz, 1550.

MONFAR Y SORS, D. Historia de los condes de Urgel. In: BOFARULL Y


MASCARÓ, P. (ed.), Colección de documentos inéditos del Archivo General de
la Corona de Aragón. Barcelona, 1853.

MONTEAGUDO, H. Letras primeiras. O foral do Burgo de Caldelas, os primor-


dios da lírica trobadoresca e a emerxencia do galego escrito. Corunha: Fundación
“Pedro Barrié de la Maza”, 2008.

MONTEAGUDO, H. “A personalidade histórica do trovador Johan Soayrez


Somesso (I)”. “A personalidade histórica do trovador Johan Soayrez Somesso.
Contexto histórico, familia e conexión (II)” [Trabalhos em preparação], [prep.].

MONTEIRO, Mª T., SOUSA, J. J. Rigaud de “Livro dos Testamentos do Mosteiro


de Paço de Sousa”. Bracara Augusta, 24: 138-283, 1972 (= PSousa).

MONTERO DÍAZ, S. “La colección diplomática de San Martín de Jubia”. Boletín


de la Universidad de Santiago de Compostela. Historia, 25: 3-156, 1935 (= TJubia).

MONTERO SANTALLA, J. M. As rimas da poesia trovadoresca galego-portu-


guesa: catálogo e análise. Tese de doutoramento (inédita). Corunha: Universidade
da Coruña, 2000.

MORALEJO ÁLVAREZ, S. “Marco histórico y contexto litúrgico en la obra del


Pórtico de la Gloria”. In: El Pórtico de la Gloria. Música, arte y pensamiento.
Santiago de Compostela: Universidade de Santiago, 19-36), 1988.

MORALEJO ÁLVAREZ, S. “La iconografía regia en el Reino de León (1157-


1230)”. In: FRANCO MATA, A. (dir.), Patrimonio artístico de Galicia y otros
estudios. Homenaje al Prof. Dr. Serafín Moralejo Álvarez. Vol. II. Santiago de
Compostela: Xunta de Galicia, 161-171, 2004.

O’ CALLAGHAN, J. “Don Fernan Pérez. Un maestre desconocido de la Orden


de Calatrava (1234-1235)”. Hispania, 43: 433-439, 1983.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 341

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 341 25/09/2012 15:21:53


OLIVEIRA, A. Resende de “A cultura trovadoresca no ocidente peninsular: tro-
vadores e jograis galegos”. Biblos, LXIII: 1-22, 1987.

OLIVEIRA, A. Resende de “Do Cancioneiro da Ajuda ao “Livro das Cantigas” do


Conde D. Pedro”. Revista de História das Ideias, 10: 691-751, 1988.

OLIVEIRA, A. Resende de Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos


cancioneiros et as recolhas dos séculos XIII et XIV. Lisboa: Edições Colibri, 1994.

OLIVEIRA, A. Resende de O trovador galego-português e o seu mundo. Lisboa:


Notícias, 2001.

OLIVEROS DE CASTRO, M. T. Historia de Monzón. Zaragoza: Instituto “Fer-


nando el Católico” (C. S. I. C.), 1964.

PALACIOS MARTÍN, C. Colección diplomática medieval de la Orden de Al-


cántara (1157?-1494). De los orígenes a 1454. Madrid: Fundación San Benito de
Alcántara – Editorial Complutense, 2000 (= Alcántara).

PALLARES MÉNDEZ, M. C., PORTELA, E. “Aristocracia y sistema de parentes-


co en la Galicia de los siglos centrales de la Edad Media. El grupo de los Traba”.
Hispania, 53: 823-840, 1983.

PARDO DE GUEVERA Y VALDÉS, E. Palos, fajas y jaqueles. La fusión de las ar-


merías en Galicia durante los siglos XIII al XVI. Lugo: Deputación Provincial, 1996.

PARDO DE GUEVARA Y VALDÉS, E. Los señores de Galicia. Tenentes y condes de


Lemos en la Edad Media. Vol. I. Corunha: Fundación Pedro Barrié de la Maza, 2000.

PARDO DE GUEVARA Y VALDÉS, E. “De las viejas estirpes a las nuevas hi-
dalguías. El entramado nobiliario gallego al fin de la Edad Media”. Nalgures, 3:
265-280, 2006.

PARDO DE GUEVARA Y VALDÉS, E. “Las armas de los Limia y sus deriva-


ciones (siglos XIII-XIV)”. e-Spania, 11 (http://e-spania.revues.org/20521), 2011.

PENA, X. R. Literatura galego-portuguesa medieval. Santiago de Compostela:


Sotelo Blanco, 1990.

PEREIRA MARTÍNEZ, C. “A Bailia de Amoeiro (Ourense) da Orde do Temple”.


Nalgures, 3: 281-295, 2006a.

PEREIRA MARTÍNEZ, C. “Panorámica de la Orden del Temple en la corona


de Galicia-Castilla-León”. Criterios, res publica fulget: revista de pensamiento
político y social, 6: 173-204, 2006b.

342 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 342 25/09/2012 15:21:53


PÉREZ RODRÍGUEZ, F. J. Documentos do Tombo de Toxos Outos. Santiago:
Consello da Cultura Galega, 2004 (= Toxos Outos).

PÉREZ VARELA, C. “Dona Guiomar Afonso e Dona Elvira ‘A Toronha’”. In:


FIGUEROA, A. e LAGO, J. Estudios en homenaxe ás profesoras Françoise Jour-
dan Pons e Isolina Sánchez Regueira. Santiago: Universidade de Santiago, 1995.

PICHEL GOTÉRREZ, R. Fundación e primeiros séculos do mosteiro bieito de


Santo Estevo de Chouzán (sécs. IX-XIII). Noia: Toxosoutos, 2009.

PIZARRO, J. A. de Sotto Mayor. Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e


Estratégias (1279-1325). 3 vols. Porto: Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica
e História da Família – Universidade Moderna, 1997.

PIZARRO, J. A. de Sotto Mayor “O regime senhorial na fronteira do nordeste


português. Alto Douro e Riba Côa (s. XI-XIII)”. Hispania, 67: 849-880, 2007.

PIZARRO, J. A. de Sotto Mayor “De e para Portugal. A circulação de nobres na


Hispânia medieval (séculos XII a XV)”. Anuario de Estudios Medievales, 40:
889-924, 2010.

PIZARRO, J. A. de Sotto Mayor “Os Limas: da Galiza a Giela (séc. XII-XIV)”.


Actas do 1º Congresso Internacional Casa Nobre: un patrimonio para o futuro.
Arcos de Valdevez: Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, 53-73, 2011.

PORTELA SILVA, E. Garcia II de Galicia. El rey y el reino (1065-1090). Burgos:


La Olmeda, 2001.

PORTELA SILVA, E., PALLARES MÉNDEZ, M. C. “El sistema antroponímico


en Galicia. Tumbos del Monasterio de Sobrado. Siglos IX a XIII”. In: MARTÍNEZ
SOPENA, P. Antroponimia y Sociedad. Sistemas de identificación hispano-cris-
tianos en los siglos IX e XIII. Santiago: Universidade de Santiago – Universidad
de Valladolid, 49-71, 1995.

PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA. Vol. I: Scriptores. Vol. IV: Inquisi-


tiones. Lisboa: 1866-1977 [Reimpressão por Kraus Reprint Ltd., 1967] (= PHM).

QUINTANA PRIETO, A. “El Señorío de Molinaseca”. Temas Bercianos 3: 79-83,


1984.

QUINTANA PRIETO, A. El obispado de Astorga en el siglo XII. Astorga: Archivo


Diocesano de Astorga, 1985.

RADES Y ANDRADA, F. de Crónica de las tres órdenes de Santiago, Calatrava


y Alcántara. Toledo: Juan de Ayala [Reimpressão com estudo sobre “La obra

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 343

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 343 25/09/2012 15:21:53


histórica de Rades y Andrada” por Derek W. Lomax. Barcelona: Ediciones “El
Albir”, 1980], 1572.

RAMOS, M. A. Transmissão e apropriação linguística na poesia medieval “ne


m’en chal[t]”. Floema, 5: 103-124, 2009.

RECUERO ASTRAY, M., GONZÁLEZ VÁZQUEZ, M., ROMERO PORTILLA,


P. Documentos medievales del Reino de Galicia: Alfonso VII (1116-1157). Santiago
de Compostela: Xunta de Galicia, 1997 (= Afonso VII).

RECUERO ASTRAY, M., ROMERO PORTILLA, P., RODRÍGUEZ PRIETO,


Mª. A. Documentos Medievales del Reino de Galicia: Fernando II (1155-1188).
Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2000 (= Fernando II).

REGLERO DE LA FUENTE, C. M. Cluny en España. Los prioratos de las


provincias y sus redes sociales (1073-1270). León: León: Centro de Estudios e
Investigación “San Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 2008.

REY CAIÑA, J. A. Colección diplomática del monasterio de Ferreira de Pa-


llares. Tese de doutoramento (inédita). Granada: Universidad de Granada, 1985
(= FPallares).

RIQUER, M. de “Thomas Périz de Fozes, trovador aragonés en lengua provenzal”.


Archivo de Filología Aragonesa, 3: 7-23, 1950.

RIQUER, M. de “La littérature provençale à la cour d’ Alphonse II d’ Aragon”.


Cahiers de Civilisation Médiévale, 2: 177-201, 1959.

RIQUER, M. de. Los trovadores. Historia literaria y textos. 3 vols. Barcelona:


Ariel, 1983.

RIQUER, M. de. Història de la literatura catalana. Barcelona: Ariel [1ª ed. 1964],
1984.

RISCO, M. España sagrada. Tomo XLI. De la santa iglesia de Lugo. Continuación


de su historia desdde el siglo XII hasta fines del XVIII. Documentos desconocidos
e inéditos. Madrid: Viuda e Hijo de Marín, 1798.

RODRÍGUEZ DE LAMA, I. Colección diplomática medieval de la Rioja. Tomo


III: Documentos (1168-1225). Logroño: Diputación Provincial, 1979 (= Rioja).

RODRÍGUEZ GONZÁLEZ, A. El tumbo del monasterio de San Martin de Cas-


tañeda. León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – C. S. I. C., 1973
(= TCastanheda).

344 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 344 25/09/2012 15:21:53


RODRÍGUEZ GONZÁLEZ, A., REY CAIÑA, J. A. “El Códice de Lorenzana”.
Estudios Mindionienses, 8: 11-324, 1992 (= TLourençá).

ROMANÍ, M. El monasterio de Santa María de Oseira (Ourense). Estudio histórico


(1137-1310). Santiago: Universidade de Santiago de Compostela, 1989.

ROMANÍ MARTÍNEZ, M. A colección diplomática do mosteiro cisterciense de


Santa María de Oseira (Ourense) (1025-1310). Santiago: Tórculo, 1989 (= Oseira).

ROMANÍ MARTÍNEZ, M., OTERO PIÑEIRO MASEDA, P. S. “Documenta-


ción del fondo de Oseira (AHN) relacionada con el monasterio de San Pedro de
Vilanova de Dozón (1015-1295)”. Cuadernos de Estudios Gallegos, 50: 27-77,
2003 (= DDozón).

ROMERO PORTILLA, P. “La singular relación Portugal-Galicia y su reflejo en


la documentación medieval”. Revista de Ciências Históricas, XV: 53-69, 2000.

RON FERNÁNDEZ, X. “Carolina Michaëlis e os trobadores representados no Can-


cioneiro da Ajuda”. In: M. BREA (coord.), Carolina Michaëlis e o Cancioneiro da
Ajuda, hoxe. Santiago de Compostela: Centro Ramón Piñeiro para a investigación
en humanidades, 121-185, 2005.

RUANO, E. B. “Santiago, Calatrava y Antioquía”. Anuario de estudios medievales,


I: 549-560, 1964.

RUIZ ALBI, I. La reina doña Urraca (1109-1126). Cancilleria y colección diplo-


mática. León: Centro de Estudios e Investigación “San Isidoro” – Caja España
– Archivo Histórico Diocesano, 2003 (= Urraca).

SALAZAR ACHA, J. “Los descendientes del conde Ero Fernández”. El Museo


de Pontevedra 43: 67-89, 1984.

SALAZAR ACHA, J. “Una familia de la alta Edad Media: Los Velas y su realidad
histórica”. Estudios Genealógicos y Heráldicos, 1: 19-64, 1985.

SALAZAR ACHA, J. “El linaje castellano de los Castro en el siglo XII: conside-
raciones e hipótesis sobre su origen”. Anales de la Real Academia Matritense de
Heráldica y Genealogía, 1: 33-68, 1991.

SALAZAR ACHA, J. La casa del Rey de Castilla y León en la Edad Media. Ma-
drid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000.

SALAZAR Y CASTRO, L. Historia genealógica de la Casa de Lara. 3 vols.


Madrid: Imprenta Real, 1696-1697 [Reimpressão em Bilbau: Wilsen, 1988], 1697.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 345

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 345 25/09/2012 15:21:53


SALVADOR MARTÍNEZ, H. El “Poema de Almería” y la épica románica. Ma-
drid: Gredos, 1975.

SÁNCHEZ AMEIJEIRAS, R. “Cistercienses y leyendas artúricas: el Caballero


del León en Pena Maior (Lugo)”. In: R. SÁNCHEZ AMEIJEIRAS, J. L. SENRA
GABRIEL Y GALÁN (coords.), El tímpano románico. Imágenes, estructuras y
audiencias. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 295-321, 2003.

SÁNCHEZ AMEIJEIRAS, R. O entorno imaxinario do rei: cultura cortesá e/ou


cultura clerical en Galicia en tempos de Afonso IX. In: Afonso IX e a sua época.
Pro utilitate regni mei. Corunha: Concello da Coruña – Ministerio de Cultura,
307-325, 2008.

SÁNCHEZ CASABÓN, A. I. Alfonso II Rey de Aragón, Conde de Barcelona y


Marqués de Provenza. Documentos (1162-1196). Zaragoza: Instituto “Fernando
el Católico” (C.S.I.C.), 1995 (= Alfonso II).

SÁNCHEZ JIMÉNEZ, A. “Catalan and occitan troubadours at the court of Alfonso


VIII”. La Corónica, 32.2: 101-120, 2004.

SÁNCHEZ SÁNCHEZ, X. Estudio histórico y transcripción de la carpeta nº 13


de documentos del Archivo Catedralicio de Santiago. Tesina (inédita). Santiago:
Universidade de Santiago, 2000.

SANTIAGO OTERO, H. “La Escuela Catedralicia de Santiago de Compostela,


siglos XI-XII”. In: J. Mendes de ALMEIDA – H. Pinto REMA (eds.), Fraternidade
e abnegação. A Joaquim Veríssimo Serrão. Vol. I. Lisboa: Academia Portuguesa
da História, 557-569, 1999.

SERRANO, L. Cartulario del monasterio de Vega con documentos de San Pelayo


y Vega de Oviedo. Madrid: Junta para la Ampliación de Estudios e Investigaciones
Científicas – Centro de Estudios Históricos, 1927 (= SPelayo).

SERRANO, L. Cartulario de San Vicente de Oviedo (781-1200). Madrid: Junta


para la Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas – Centro de Estudios
Históricos, 1929 (= SVicente).

SERRANO, L. Cartulario de San Millán de la Cogolla. Madrid: Centro de Estudios


Históricos, 1930 (= CCogolla).

SOUTO CABO, J. A. “Achegas documentais sobre Nun’ Eanes Cerzeo, trovador


galego da primeira metade do século XIII”. Studi Provenzali e Galeghi 89/94.
Romanica Vulgaria Quaderni, 13-14: 147-176, 1996.

346 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 346 25/09/2012 15:21:53


SOUTO CABO, J. A. “Nas origens da expressão escrita galego-portuguesa. Do-
cumentos do século XII”. Diacrítica, 17/1: 329-385, 2003.

SOUTO CABO, J. A. “A transição scriptográfica na produção documental portugue-


sa de 1257 a 1269”. In: A. Mª. BRITO, O. FIGUEIREDO, C. BARROS. Lingüística
Histórica e História da Língua Portuguesa. Actas do Encontro de Homenagem a
Maria Helena Paiva. Porto: Secção de Lingüística do Departamento de Estudos
Portugueses e de Estudos Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, 2004.

SOUTO CABO, J. A. “Pedro Garcia de Ambroa e Pedro de Ambroa”. Revista de


Literatura Medieval, XVIII: 225-248, 2006.

SOUTO CABO, J. A. A História de D. Servando. Edizón do manuscrito e estudo.


Santiago: Cabido da S. A. M. I. Catedral de Santiago – Seminario de Estudos
Galegos, 2007.

SOUTO CABO, J. A. Documentos galego-portugueses dos séculos XII et XIII.


Revista Galega de Filoloxía. Monográfico nº 5. Corunha: Universidade da Coruña,
2008 (= DGP).

SOUTO CABO, J. A. “A emergência da lírica galego-portuguesa e os primeiros


trovadores”. A Trabe de Ouro, 87: 367-392, 2011a.

SOUTO CABO, J. A. “A cessão do mosteiro de Armeses à condessa D.ª Sancha


Fernandes (1222). Intersecções escriturais no primeiro documento romance da
Galiza”. Revista Galega de Filoloxía, 12: 217-243, 2011b.

SOUTO CABO, J. A “In capella dominis regis in Ulixbona e outras nótulas bio-
gráficas trovadorescas”. In: Actas del XIV Congreso Internacional de la AHLM
(Murcia, 6-10 de septiembre, 2011) Murcia: Universidad de Murcia, 2012,
pp. 777-784, 2012a.

SOUTO CABO, J. A. “Lopo Lias: entre Orzelhão e Compostela”. Diacrítica, 25/1:


109-134, 2012b.

SOUTO CABO, J. A. “Fernando Pais de Tamalhancos: trovador e cavaleiro”.


Revista de Literatura medieval, [no prelo/1].

SOUTO CABO, J. A. “O eco das primeiras vozes”. In: E. Mª. Oliveira Gomes da
TORRE (coord.), VIII Colóquio Internacional da Secção Portuguesa da AHLM.
UTAD, Vila Real, 11-12 de Novembro de 2010, [no prelo/2].

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 347

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 347 25/09/2012 15:21:53


SOUTO CABO, J. A. “En Santiago, seend’ albergado en mia pousada. Nótulas
trovadorescas compostelanas”. Verba, 39, [no prelo/3].

SOUTO CABO, J. A., VIEIRA, Y. Frateschi. “Para um novo enquadramento


histórico-literário de Airas Fernandes, dito ‘Carpancho’”. Revista de Literatura
Medieval, XVI/1: 221-277, 2003.

TAVANI, G. Repertorio metrico della lirica galego-portoghese. Roma: Edizioni


dell’ Ateneo, 1967.

TAVANI, G. “Per il testo del discordo plurilingue di Raimbaut de Vaqueiras (P.-C.


392,4)”. Romanica Vulgaria Quaderni, 8/9 (Studi francesi e provenzali 84/85):
117-147, 1985.

TAVANI, G. “Accordi e disaccordi sul discordo plurilingue di Raimbaut de Va-


queiras”. Romanica Vulgaria Quaderni, 10/11 (Studi provenzali e francesi 86/87):
5-44, 1987.

TAVANI, G. A poesia lírica galego-portuguesa. Lisboa: Comunicação, 1990.

TAVANI, G. Tra Galicia e Provenza. Saggi sulla poesia medievale galego-porto-


ghese. Roma: Carocci, 2002.

TAVANI, G. “Raimbaut de Vaqueiras. Altas undas que venez suz la mar: . In:
Lecturae tropatorum 1, 2008. (Disponível online: http://www.lt.unina.it/)

TORRES SEVILLA-QUIÑONES DE LEÓN, M. “Los linajes fundadores de los


monasterios de Carrizo y Nogales (León)”. In: Actas II Congreso Internacional
sobre el Císter en Galicia y Portugal. IX Centenario de la Orden Cisterciense.
Vol. II. Ourense, 937-950, 1998.

TORRES SEVILLA-QUIÑONES DE LEÓN, M. Linajes nobiliarios en León y


Castilla (siglos IX-XIII). Salamanca: Junta de Castilla y León, 1999.

TRENCHS, J., CONDE, R. “La escribanía-cancillería de los condes de Urgel (s.


IX-1414)”. In: Folia Munichensia. Zaragoza: Institución Fernando el Católico-
Cátedra “Zurita”, 7-129, 1985.

UBIETO ARTETA, A. Los “tenentes” en Aragón y Navarra en los siglos XI y XII.


Valencia: Facsímil, 1973.

UBIETO ARTETA, A. Cartularios (I, II e III) de Santo Domingo de la Calzada.


Zaragoza: Facsímil, 1978 (= SDomingo).

348 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 348 25/09/2012 15:21:53


VAAMONDE LORES, C. Ferrol y Puentedeume. Escrituras referentes á propie-
dades adquiridas por el monasterio de Sobrado en dichos partidos durante los
siglos XII, XIII y XIV. Corunha: F. García Ibarra, 1909.

VALLE PÉREZ, J. C. Cuadernos de Arte Español. Arquitectura cisterciense en


León. Madrid: Historia 16, 1992.

VALLE PÉREZ, J. C. “La expansión de la arquitectura románica en Galicia:


tipologías, fuentes y desarrollo”. In: A arte Românica em Portugal e Galiza.
Lisboa – Corunha: Fundación Pedro Barrié de la Maza – Fundação Gulbenkian,
112-131, 2001.

VALLÍN, G. Las cantigas de Pay Soarez de Taveirós. Barcelona: Facultad de


Letras, Universidad Autónoma de Barcelona, 1995.

VALVERDE, J. F. Roderici Ximeni de Rada. Historia de Rebus Hispanie sive


Historia Gothica. Cura et studio _. Turnholti: Brepols, 1987.

VAQUERO DÍAZ, Mª. B. Colección diplomática do mosteiro de San Salvador de


Celanova (ss. XIII – XV). Santiago: Tórculo, 2004 (= Celanova).

VAQUERO DÍAZ, Mª. B., PÉREZ RODRÍGUEZ, F. Colección documental del


archivo de la catedral de Ourense. León: Centro de Estudios e Investigación San
Isidoro, 2010 (= COurense).

VÁZQUEZ MARTÍNEZ, A. “El Castillo de Fornelos (Creciente)”. Boletín del


Museo Arqueológico Provincial de Orense, IV: 141-190, 1948a.

VÁZQUEZ MARTÍNEZ, A. “El monasterio de San Salvador de Albeos, su his-


toria”. Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artísticos
de Orense, 16: 209-252, 1948b.

VENTURA, L. A Nobreza de Corte de Afonso III. Dissertação de Doutoramento.


Coimbra: Faculdade de Letras, 1992.

VENTURA, L., OLIVEIRA, A. Resende de. “Os Briteiros (séculos XII-XIV).


Trajectória social e política”. Revista Portuguesa de História, 30: 71-102, 1995.

VENTURA, L., OLIVEIRA, A. Resende de Chancelaria de Afonso III. Livro I (2


vols.) [2006]. Livro II-III [2011]. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra,
2006-2011.

OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS 349

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 349 25/09/2012 15:21:53


VIDEIRA LOPES, G. (org.). Cantigas medievais galego-portuguesas. (Disponível
online: http://cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp).

VIEIRA, Y. F. En cas dona Maior. Os trovadores e a corte senhorial galega no


século XIII. Corunha: Laiovento, 1999.

VIEIRA, Y. F. “O nome da dama”. Signum, 10: 165-188, 2009.

VIEIRA, Y. F. “Santiago de Compostela: um caminho para a cultura e a poesia


europeia”. In: International Conference: Ideas of/for Europe (Chemnitz University
of Technologie, Germany, 6-8 May 2009), [no prelo].

VIEIRA, Y. F MORÁN CABANAS, M. I., SOUTO CABO, J. A. O amor que eu


levei de Santiago. Roteiro da lírica medieval galego-portuguesa. Área de Santiago
de Compostela. Noia: Toxosoutos, 2011.

VIEL, R. Troubadours mineurs gascons du XIIe siècle. Alegret, Marcoat, Ama-


nieu de la Broqueira, Peire de Valeria, Gausbert Amiel. Paris: Honoré Champion
Éditeur, 2011.

VILHENA, M. da C. Peire Vidal et les troubadours luso-galiciens. Tese de dou-


toramento. Lille: Université de Lille, 1977.

YEPES, F. A. Coronica General de la Orden de San Benito, Patriarca de Reli-


giosos. Tomo V. Centuria V. Valladolid: Francisco Fernandez de Cordoua, 1615.

YZQUIERDO PERRÍN, R. “Arquitectura no reino de León baixo Alfonso IX”.


In: Afonso IX e a sua época. Pro utilitate regni mei. Corunha: Concello da Coruña
– Ministerio de Cultura, 2008.

350 OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS

Souto - OS CAVALEIROS QUE FIZERAM AS CANTIGAS.indd 350 25/09/2012 15:21:53

Você também pode gostar