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(Estante Medieval 8) José António Souto Cabo - Os Cavaleiros Que Fizeram As Cantigas - Aproximação Às Origens Socioculturais Da Lírica Galego-portuguesa-Editora Da UFF (2012)
(Estante Medieval 8) José António Souto Cabo - Os Cavaleiros Que Fizeram As Cantigas - Aproximação Às Origens Socioculturais Da Lírica Galego-portuguesa-Editora Da UFF (2012)
AS CANTIGAS
APROXIMAÇÃO ÀS ORIGENS
SOCIOCULTURAIS DA LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA
Niterói/RJ 2012
PRÓLOGO........................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
JOÃO VÉLAZ (OCCITANO-)CATALÃES NO REINO GALAICO-
LEONÊS ............................................................................................................ 15
1. A peça chave: João Vélaz ..........................................................................17
2. Pôncio de Cabrera, maiordomus imperatoris ............................................21
3. Os Cabreras e o trovadorismo ...................................................................25
4. Sancha Ponce e Vela Guterres ...................................................................31
5. Johannes Velaz...........................................................................................35
6. Outros descendentes de Pôncio II Geraldo ................................................41
7. Minervas e Urgéis ......................................................................................46
CAPÍTULO II
JOÃO SOARES DE PAIVA............................................................................... 55
1. João Soares, o Trobador ............................................................................57
2. A poesia na história ....................................................................................71
CAPÍTULO III
OSÓRIO EANES – LIMAS & TRAVAS .......................................................... 79
1. O trovador Osório Eanes e a personagem histórica...................................81
2. Genealógica ...............................................................................................87
3. João Airas de Nóvoa e Urraca Fernandes de Trava .................................103
4. Dom Gonçal’ Eanes, o Boo ..................................................................... 112
5. Ego Osorius Johannis, miles ................................................................... 116
6. Os seus versos de amor............................................................................120
7. Airas Oares ..............................................................................................121
CAPÍTULO IV
TROVADORES GALAICO-MINHOTOS ...................................................... 125
1. Pedro Pais Bazaco ..................................................................................127
2. Fernando Pais de Tamalhancos................................................................133
3. Airas Moniz de Asma e Diogo Moniz .....................................................135
4. João Soares Somesso ...............................................................................140
4.1. Ego domnus Johannes Suerii, dictus Submessu..........................140
4.2. Ogan’ en Muimenta .....................................................................161
CAPÍTULO VI
D. JUIÃO ......................................................................................................... 187
1. O nome e a identificação do poeta ...........................................................189
2. D. Cotalaia e o seu grupo familiar ...........................................................191
3. Domnus Giao ...........................................................................................195
CAPÍTULO VII
NA CORTE DE D. RODRIGO GOMES DE TRAVA (E URGELL) .............. 199
CAPÍTULO IX
PERO BE VOLH QUE·L REIS FERANS AVIA MO VERS E·L REIS
N’ AMFOS! ...................................................................................................... 217
ANEXO I
ESQUEMAS GENEALÓGICOS .................................................................... 237
ANEXO II
DOCUMENTAÇÃO ........................................................................................ 255
Mercedes Brea
B, fól. 137v
JOÃO VÉLAZ
(OCCITANO-)CATALÃES
NO REINO GALAICO-LEONÊS
1
Alguns resultados da pesquisa que deu origem a este trabalho já foram apresentados
parcialmente ou de modo sintético (Souto Cabo 2011a, [no prelo/1], [no prelo/2]).
2
Esta personagem foi tenente de Belorado (PSJuan, nº 93 [1165]) e Álava (Ubieto Ar-
teta 1973: 242 [1175]). O seu nome ocorre, no grupo castelhano, entre as testemunhas do
tratado de paz entre Fernando II e Afonso VIII em 1181 (Tombo B, nº 38) como “Iohannes
Velez de Alava, testis”.
3
No excerto acima reproduzido, Oliveira fala do ano 1231, mas o documento é de
1227 (TLourençá, nº 131). Trata-se provavelmente do indivíduo, “iudex et miles”, citado
na documentação de Caveiro entre 1244-1245 (TCaveiro, nº 243, 246, 256) e que será tam-
bém um dos confirmantes de um testamento redigido em Santiago c. 1228-1230 (Tombo
C, fól. 25v).
4
O trabalho monográfico sobre os Travas publicado por López Sangil (2002) constitui a
base para múltiplas informações aqui oferecidas. Contudo, como noutros casos, a revisão
crítica desses dados resultou em algumas divergências interpretativas.
5
“Joan Velaz, com essa mesma grafia na documentação local, é o filho de Vela Ladrón,
homem feito conde nos tempos de Afonso VII. Dele(s) virá a descender a estirpe dos
Guevara, implantada na região de Oña [Burgos], com solar na localidade de Oñate [Gui-
púscoa]. Embora não se situem ao nível das linhagens mais poderosas, João Velaz nem por
isso está ausente da documentação castelhana, figurando em lugar de relevo nos dois tra-
tados de Afonso VIII de Castela e Sancho VI de Navarra, respectivamente de 1176 e 1179,
e sempre numa posição de fidelidade e compromisso perante ambos os reis, situação que,
como vimos atrás, foi também frequentemente a dos Cameros, afinal consequência quer
da generalização de vínculos de relacionamento feudo-vassálicos, quer do posicionamento
de fronteira característico de ambas as linhagens. Para o reconhecimento desta linhagem
como a do mencionado trovador é também importante ter em conta a indicação fornecida
por Salvador de Moxó segundo a qual, embora o neto de Joan Velaz, Vele Ladron II, tenha
mantido uma posição discreta na sublevação da nobreza contra Afonso X, ocorrida em
1272, nem por isso deixou de manter relações estreitas com Simon Díaz de los Cameros,
filho de Rui Diaz, personagem que verá terminados os seus dias pela acção da justiça do
rei. Ora, como em tão graves circunstâncias não se forjam alianças ou relações ocasionais,
é de crer que a ligação entre os membros destas duas linhagens viesse de trás, tornando
credível pensar que «Joan Velaz trovador» era provavelmente Joan Velaz de Guevara e terá
integrado o núcleo de trovadores que se reuniram em torno de Rui Díaz de los Cameros”
(Miranda 2004: 49).
6
Sancha Ponce e Vela Guterres não tiveram um neto denominado “João Vélaz”, como
supõe Oliveira. Esse neto – filho de Fernando Vélaz e sobrinho de João Vélaz – foi João
Fernandes (cf. infra).
7
“[N]a pesquisa a empreender sobre essas origens, o investigador terá de orientar a sua
atenção não para as regiões do Noroeste peninsular, onde pensaria ser mais natural encon-
trá-las, mas para os reinos castelhano e aragonês e, se necessário, mesmo para o Sul de
França” (Oliveira 2001: 70-71).
8
Quanto às teorias relativas às origens da lírica trovadoresca, sobretudo no respeitante
ao papel da cidade de Santiago, veja-se a lúcida síntese de Vieira ([no prelo]).
9
Sobre os Bermudes e Vélaz, veja-se Salazar Acha (1985), Calleja Puerta (2001: 520-
530) e, nas secções correspondentes, Fernández-Xesta (1991), Barton (1997), Torres Sevi-
lha (1999) ou Pardo de Guevara (2000).
10
Rodrigo Oveques esteve casado com uma Toda cujo apelido “Gonçalves” descobrimos
numa carta do Mosteiro de Doçom (DDozón, nº 3).
11
Torres Sevilla (1998: 179) julga – com algumas dúvidas – que um Fernando Guterres
foi irmão de Vela Guterres, porém, Salazar Acha (1985: 51) considera que este último foi
filho único. Sabemos que Toda Peres casou com Fernando Fernandes com quem teve outro
filho, Vasco Fernandes, citado numa escritura de 1181 [D.16].
12
Sobre ele, Torres Sevilla (1998: 188) escreve: “Si Pedro Alfonso representó [...] los
intereses asturianos del linaje, Vela Gutiérrez heredará la vinculación a Galicia de su pro-
genitor, Gutierre Vermúdez”.
13
É com o nome desta localidade de Lleida, situada a norte de Balaguer, que passou a ser
conhecido o condado do Baixo-Urgell desde a primeira metade do séc. XII.
14
Como veremos, a presença de grandes magnates originários daquela área completa-se
com os condes de Urgell, já estabelecidos nos reinos centro-ocidentais da Península desde
finais do séc. XI. A participação na política galaico-leonesa e castelhana por parte desses
nobres foi analisada, entre outros, por Barton (1992, 1996), Calderón Medina (2007), Ca-
nal (1989a), Martín Rodríguez (1964) etc.
15
Rodrigo Álvares era filho do conde Álvaro Rodrigues de Sárria {Vélaz} e da condessa
Sancha Fernandes (← Teresa de Portugal & Fernando Peres de Trava) (cf. infra).
16
Existem dúvidas sobre o patronímico desta senhora. Se for aceite que um dos seus netos
foi o bispo de Astorga Pedro Cristão, teremos de lhe atribuir o de “Fernandes”, já que esse
último alude à avó como “Elvira Fernandes” (CCarracedo, nº 24). As propriedades desse
grupo familiar situavam-se nas regiões leonesas do Bierzo-Sanábria e nas áreas galegas
limítrofes, nomedamente em Valdeorras (Quintana Prieto 1985: 304). Outros historiadores
consideram que se trata de Elvira Peres, filha do conde Pedro Ansures (Fernández-Xesta
1991: 29-33, Barton 1997: 284, Alonso Álvarez 2007: 676).
17
A terra da Cabrera, limítrofe com a Sanábria, constitui o espaço mais meridional do
Bierzo. O título com que se nomeia a família não deriva dessa região, mas da catalã homô-
nima em Girona.
18
Uma desavença com Fernando II terá motivado a presença de D. Pôncio na corte do rei
Sancho III de Castela por um breve período –outubro de 1157 a maio de 1158-, acompa-
nhado pelo genro Vela Guterres.
19
Afonso VII entregou a vila de Moreruela de Frades, em 1143, a D. Pôncio e por este
aos frades Pedro e Sancho para que nela fosse reimplantada a vida monástica (Moreruela,
nº 4). O mosteiro teve São Tiago como orago (“Sancti Iacobi apostoli de Moreirola”, Mo-
reruela, nº 1 [1042]) até 1162, altura em que aparece como instituição bernarda dedicada a
Santa Maria (“Sancte Marie de Morerola”, Moreruela, nº 13). Alguns autores associaram
essa mudança de titular à aceitação dos princípios de Claraval (Alonso Álvarez 2007: 559).
Sobre a ligação da família a Moreruela e Nogales, veja-se Calderón Medina (2008).
20
Um regesto do Tombo de Meira (TMeira, nº 296) cita uma Sancha Nunes, com proprie-
dades em Azúmara e Francos (c. Castro de Rei, Lugo), como avó de Fernando, João e Ma-
ria Vélaz. Porém, é possível que o conteúdo dessa síntese esteja deturpado – ou adulterado
– até na própria data (cf. infra). Sobre os problemas que levanta a identificação histórica
desta personagem, veja-se Fernández-Xesta (1991: 60-61). A presença de um “Martim
Kabra consobrinus D. Pontii” na Chronica Gothorum (Portugaliae Monumenta Historica.
Scriptores, vol. I, p. 13), logo a seguir aos filhos de Fernando Eanes de Toronho e de Ur-
raca Gomes (filha de Gomes Nunes), pode ser um elemento para postular a integração de
Sancha nesse grupo familiar. Alguns historiadores consideram que D.ª Sancha pertencia à
família dos Flaínes (Calderón Medina 2011a: 166).
21
Nuno Mendes (Mides?) chefiou, em 1071, a rebelião contra o rei Garcia I de Galiza-
-Portugal, na sequência da qual foi derrotado e morto (Barton 1997: 256, Mattoso 1982:
13-15). Os seus descendentes aparecem nomeados como Celanova, Pombeiro, Toronho ou
Barbosa. O segundo (antrotopônimo) responde ao seu relacionamento com o Mosteiro de
Pombeiro (conc. Felgueiras, Porto), fundado por Gomes Echigues, avô de Sancha Viegas
de Sousa (cf. infra).
22
Sobre Gomes Nunes, veja-se Bishko (1965: 327-331), Barton (1997: 256), Salazar
Acha (2000: 358), Fernández Rodríguez (2004: 71-91) e González Montañés (2011: 80-
81, 85-109, 141-167).
23
D. Fernando foi bisavô de Rodrigo Dias dos Cameros (cf. infra).
24
Desse matrimônio resultou Urraca Gomes, bisavó do trovador Fernando Pais de Tama-
lhancos (Souto Cabo [no prelo/1]).
25
Observamos algumas discrepâncias nas informações sobre os antecedentes de Gomes
Nunes e, portanto, de Sancha Nunes. Alguns estudiosos denominam “Nuno Vasques” o pai
de Gomes Nunes e consideram que este último foi irmão de Afonso Nunes. Barton (1997:
256) discrimina dois ramos, supondo que Nuno Mides/Mendes (?) ( Gomes Nunes) e
Nuno Vasques ( Afonso Nunes) foram primos. Por outro lado, a mulher de Nuno Mendes
é tida por filha de Gomes Echigues/Égicaz (Mattoso 1982: 47-48, Fernández Rodríguez
2004: 72, Ventura 1992 [Genealogia dos Barbosas]), o que nos situaria numa geração an-
terior dos Sousas; isto é, seria irmã de Egas Gomes, aqui postulado como pai dela. Veja-se
também Pizarro (1997/I: 511-512) e González Montañés (2011: 86-87).
26
Veja-se Mattoso (1985: 34), Barton (1997: 256), Fernández Rodríguez (2004: 72-91).
27
A primeira notícia sobre este enlace surge numa escritura de 1142.03.26 pela qual D.
Pôncio e D.ª Maria oferecem ao Mosteiro de Tojos Outos uma herdade em Val de Salce:
“ego Poncius Geraldi cabrerensis cum uxore mea Maria Fernandez” (Toxos Outos, nº 27).
28
O testamento de Maria Fernandes, lavrado em 1169, é reproduzido neste trabalho [D.7].
29
Alguns autores consideram que todos foram filhos de Maria Fernandes, hipótese que
não é sustentada pela documentação.
30
A sua última presença ativa (1160.03.12) encontra-se numa doação de Fernando II à
Igreja de Santo Isidoro de Leão confirmada por Geraldo III, que subscreve após o conde de
Barcelona. Nessa escritura também encontramos o pai e um dos irmãos, Fernando Ponce
“o Maior” (Fernandez-Xesta 1991: 67). Sabemos que o túmulo de D. Geraldo sobreviveu
até 1607-1610, altura em que, segundo refere Castro (1912: 116), foi desmanchado por frei
Baltasar Guerrero: “con ocasión de hacer unas reparaciones en la iglesia, deshizo dos de
los tres grandes sepulcros de piedra que de antiguo había en esta casa. El uno, que tenía por
armas muchas conchas y veneras, era de D. Giraldo Poncio de Cabrera, hijo del Conde D.
3. Os Cabreras e o trovadorismo
Como é sabido, as mais antigas notícias sobre a conexão entre
trovadores provençais e os reinos do ocidente peninsular têm como prota-
gonista Marcabru33. Este trovador aparece ligado à corte de Afonso VII, na
qual elaborou, no verão de 1137, a famosa canção de cruzada Emperaire,
per mi mezeis (Gaunt 2000, nº 2). Nesse contexto, é ainda possível que se
encontrasse em Santiago aquando da morte, nessa mesma urbe, de Gui-
lherme X da Aquitânia (1137.04.09). Aliás, Marcabru terá composto Al
prim comenz de l’ invernailh na capital galega, tal como sugerem Gaunt et
al. (2000: 69): “This obviously suggests that Marcabru was in Castile (or
possibly still in Santiago where William X died) when he composed IVb”.
Vários passos da obra de Marcabru indicam que pôde entrar em contacto
Poncio de Cabrera mayordomo de D. Fernando y D. Alfonso de León [...]. Los huesos que
contenían los puso debajo del altar que cae contra la portería de este convento, que debe de
ser el sitio en que ahora está el altar de Santa Gertrudis que está al norte de la iglesia en un
remate de la punta del crucero”.
31
A localização dessas posses parece um dado importante para atribuir naturalidade gale-
ga à mãe de Pôncio II Geraldo. Aliás, essa ligação às terras de Sárria favoreceu o casamen-
to de Sancha Ponce com Vela Guterres, membro da linhagem que dominava esse condado
lucense, pelo menos, desde a primeira metade do séc. XII. Numa escritura de 1196 (ACZ,
17/30), Maria e Pedro Vélaz, netos de D. Pôncio, entregavam ao bispo e ao cabido de
Zamora a vila de Avradelo (Real, conc. Samos), situada a 7 km do Mosteiro de Samos.
Porém, neste caso, a origem da propriedade poderia estar nos Vélaz.
32
Sobre esta personagem, veja-se Miret y Sans (1910: 315-331).
33
Vejam-se, entre outros, Alvar (1977: 27-43) e Menéndez Pidal (1991: 152-154).
A
Se.l segnoriu de Gironda
poia, encar poiara plus,
ab qe pense com confonda
paians, so.ilh manda Jhezus.
B
Messatgier cortes, ben parlans,
vai t’en Urgelh, ses falhir,
e sias del vers despleyans
a.n Cabreira, que lo remir,
e potz li dir senes guabar
qu’en tal loc ai tornat ma sort
on elh poiria pro muzar34.
34
“Cortês, eloquente mensageiro, vai a Urgell sem falta e mostra o meu poema ao senhor
de Cabrera, para que o possa contemplar, e podes-lhe dizer isto, sem ostentação, que eu
coloquei o meu destino nas mãos de alguém novo perante quem ele pode esperar em vão
durante muito tempo”.
Ja vers novel
bon d’ En Rudell
non cug que·t pas sotz lo guingnon,
de Markabrun
ni de negun
ni de N’ Anfos ni de N’ Eblon.
35
A respeito da relação de D. Pôncio com essa obra, Salvador Martínez (1975: 151) opina
que “El gran elogio del conde Poncio puede ser un indicio de que el autor quiso inmorta-
lizar su memoria en el Poema. Poncio [...] por cuyas manos debió pasar la obra de nuestro
poeta, de ahí su clara intención de complacerle con tanto epíteto bíblico y clásico”. Contu-
do, a personagem a que se dedica maior atenção é Álvaro Rodrigues de Sárria {Vélaz} (vv.
217-255). Veja-se Salazar Acha (1985: 53) e Barton (1997: 230).
36
Veja-se Riquer (1984: 56-66), Pirot (1972) ou Lafont (2000).
37
Na verdade, a proposta já fora defendida por Miret y Sans (1910: 331) em face à de
Milá (De los trovadores en España), que o identificava com Pôncio III Geraldo. Ape-
sar de tudo, no seu muito documentado estudo, Miret y Sans reconhece as dificuldades
de se chegar a uma conclusão definitiva: “Les noves y scriptures justificatives inèdites
que havem aportat aixamplen y rectifiquen en molts punts lo que Monfar, Zurita y altres
historiaires havien recomptat dels pare y fill Pons y Guerau [...]. Per desgracia no donen
llum per resoldre si’l trovador nomenat Guerau de Cabrera, l’ autor de la poesia al joglar
Cabra, fòu Pons, marit de Marquesa d’ Urgell o’l fill d’aquest el vescomte Guerau, frare
templer [...]. Els que tinguin competencia per semblant treball son els que ens hauràn de
demostrar si, malgrat de citarse com a noves en la composició al joglar Cabra les poesies
de Rudel, Marcabrú y Ebles de Ventadorn y sobre tot d’un Alfons, que es segurament el
rey de Catalunya-Aragó, pot situarse a son autor, el vescomte Guirau de Cabrera, tan a la
primeria com a la fi del regnat del esmentat princep”.
38
Finaliza o seu trabalho com uma conclusão interrogativa: “Pourquoi n’a-t-on pas pen-
sé que le domaine, plus exactement les ateliers qui inventaient, entre univers monacal et
mondanité, l’ art lyrique, pouvaient en même temps inventer l’ art épique, le roman anti-
que, la chanson d’ histoire et jouer un rôle moteur dans la diffusion des modes bretonnes.
Il n’y a pas là préjugé méridional répondant au préjugé nordiste, mais simple logique
d’histoire littéraire” (p. 363).
39
Cingolani (1993: 195) alude a esse dado mas não lhe atribui qualquer significação:
“The contacts between Marcabru and the Cabreras, and specifically with Guerau III, which
Pirot sets out for us are indisputable, and Marcabru’s tenson with Aldric del Vilar is also
important, as it is the source of the metrics Cabra juglar [...]. From Pirot’s argument it
clearly emerges that the friendship between Marcabru and Guerau III is good enough rea-
son for the attribution of the sirventes. But in view of the troubadour Guerau’s liking
for narrative, might not his mention of the two troubadours, together with Eble, rightly
43
Note-se que Miret y Sans também considerou a possibilidade de o identificar com Pôn-
cio III Geraldo (cf. supra).
44
Marquesa d’ Urgell, mulher de Pôncio III Geraldo, é uma personagem aludida na obra
de trovadores como Guilhem de Berguedà e, sobretudo, Ponç de la Guàrdia. Miracle de
Urgell, irmã dela, foi a mãe de Rodrigo Gomes de Trava (cf. infra).
45
Diversos historiadores situam a sua morte em 4 de novembro de 1160 (Salazar Acha
1985: 51, Fernández-Xesta 1991: 68) de acordo com o obituário de Nogales; porém, uma
escritura de 1158.09.15 ([D.2]) induz a pensar que, nessa altura, já falecera (Calderón
Medina 2011a: 83, n. 132). Alguns estudiosos atribuíram, erradamente, a Vela Guterres
a dignidade condal. Existiu um conde Vela na área leonesa, documentado ainda em 1185
(SMarcos, nº 93).
46
Torres Sevilla (1998: 188) assinala como data mais recuada o ano 1136 com base num
documento de Villanueva de Oscos conservado em cópia da segunda metade do séc. XII.
Porém, Floriano Llorente (1981: 133, nº 1), editor dessa escritura, considera que “Las
menciones personales que figuran en el documento son totalmente anacrónicas. La mayor
parte pertenece a una época posterior, sospechándose que el copista anotó en la fórmula
cronológica el año de la primitiva donación, pudiéndose situar la confirmación entre los
años 1156-1157”. Portanto, o mais antigo aparecimento dele nesse cargo palatino pode ser
situado em 1154.06.24: “Uela Guterriz, maiordomus regis Fernandus, conf.” (SMarcos,
nº 12).
47
Desconhecemos a data do casamento mas em abril de 1150 já contavam, pelo menos,
com dois filhos (Rodrigo e Garcia) (cf. infra). Aliás, o fato de D. Vela em 1147 estar exer-
cendo o cargo de tenente de Morales por delegação de D. Pôncio leva a pensar que este
último, nessa altura, já era sogro daquele. Pensamos que o matrimônio pôde ser induzido
por Maria Fernandes, segunda mulher de Pôncio de Cabrera e tia de Vela Guterres.
48
“Qua propter ego Vela Gutierrez una cum coniuge mea, Sancia Pontia, donamus, bono
animo et spontaneamente Domino Deo, et tibi Aldara Pedrez et succesores tuos, pro re-
medio animarum nostrarum uel parentum nostrorum atque omnium fidelium defunctorum,
ipsam hereditatem quem imperator nobis dedit, per cartam, in Valderia, scilicet villam quae
vocatur Nogales et Quintanella et Bobeda eam pertinet vel pertinere debent [...]. Ita damus
tibi et tuis sociabus vel quae post te futurae erunt ad serviendam Deo sub regula sancti Be-
nedicti” (Nogales, nº 2).
49
“Vela Gutiérrez estaba casado con Sancha Ponce, perteneciente al linaje de los Ponce
de Cabrera. Ambos fundaron un monasterio en su villa de Nogales: en 1150 encargaron su
constitución a las benedictinas gallegas de San Miguel de Bóveda, a cuya cabeza estaba
doña Aldara” (Cavero Dominguez 2001: 9). A consideração de Aldara Peres como abades-
sa de Bóveda está em Manrique (1642: 175), que atribui tal hipótese à tradição: “Donato
termino, com multis possessionibus, abbatissae Aldoarae, sociabusque, quas ex Gallecia,
et monasterio Bovedae, altero ab urbe Auriensi lapide, adductas, traditio magis probat,
quam instrumenta”. Aldara Peres e o marido, Oeiro Ordonhes, foram patronos do Mosteiro
de Bóveda. Notemos, contudo, que também conhecemos uma Aldara Peres, filha de Pedro
Froiaz e irmã de Fernando Peres de Trava.
50
Na edição citada, o documento é atribuído ao ano 1163 partindo de uma interpretação
errada da data: “Facta carta sub era MCCII, XII kalendas januarii”. Os elementos da data-
ção sincrônica confirmam que se trata de 1164, já que Gomes Gonçalves – mordomo citado
no texto – aparece pela primeira vez em 1164.10.21. Esse cargo fora ocupado anteriormen-
te por Fernando Rodrigues, entre 1162.08.15 e 1164.09.06.
51
Em 1142, Vela Guterres deu ao Mosteiro de Caveiro metade de Igreja de Larage (conc.
Cabanas) (TCaveiro, nº 17).
52
Em 1149 e 1154, Vela Guterres juntamente com o tio, Rodrigo Peres, oferecia ao Mos-
teiro de Sobrado propriedades na terra de Nendos e em Aranga (López Sangil 2002: 115).
Notemos, aliás, que Vela Guterres é uma das personalidades que confirmam a refundação
deste mosteiro e a entrega à ordem de Cister [D.1].
53
Em 31 de dezembro de 1156, o conde Ramiro Froilaz e Sancha Ponce, junto com os
esposos (Elo e Vela Guterres) e filhos respetivos, ofereciam a esse cenóbio um solar no
bairro de S. Paio em Leão (Vega, nº 54).
54
“Rodericus filius Vela Gutierres atque Santia Pontia conf.– Garcia frater eius conf.”.
55
Ele aparece consignado no obituário de S. Zoilo de Carrión no dia 22 de julho: “Garsias
Velet. XI Kalendas Augusti. Pro officium fiat. Et cellararius maior refectionem plenariam
faciat senioribus. Et hoc de omnibus infurcionibus Sancii Mametis, quam hereditatem de-
dit nobis domna Sancia comitissa, mater eius, ad hoc aniversarium in perpetuum facien-
dum in hac die” (Reglero de la Fuente 2008: 650-651).
56
Filha de Fernando Peres de Trava e da rainha Teresa de Portugal.
57
Fernández Rodríguez (2004: 148-149) alude a “Juan Fernandez de Limia, llamado el
Bueno o Juan Fernández Baticela”, a quem atribui a totalidade dos cargos resenhados.
58
D. Pôncio desposou Teresa Rodrigues com quem teve: Fernando, João e Pedro Ponce.
Este último, casado com Aldonça Afonso (← Afonso IX), irá atingir uma grande notorie-
dade pública nos reinados de Fernando III e Afonso X. Ele foi a origem dos Ponce de León
(Torres Sevilla 1998: 191). Calderón Medina (2011a: 168, 501), certamente por lapso,
atribui os cargos citados a Fernando Ponce “o Menor”.
59
González (1944: 171) aponta que foi abade de Osseira c. 1211; mas, entre 1205 e 1223,
esse cenóbio era regido por Lourenço I (Romaní 1989: 73). Notemos que Maria Vélaz ofe-
receu a vila de Gema ao bispo de Zamora em 1204.01.18 (CZamora, nº 61) como sufrágio
pela alma de Pedro Vélaz e doutros parentes: “Ego domna Maria Vele ob remedium anime
mee et avi mei comitis domni Poncii et patris mei domni Vele Guterri et matris mee co-
mitisse domne Sancie Poncii et fratrum meorum Fernandi Vele, Petri Vele, Iohannis Vele,
Poncii Vele, dono et imperpetuum concedo domno Martino zemorensi episco et ecclesie
sancti Salvatoris villam que vocatur Xema”. Entendemos que os indivíduos citados já ti-
nham morrido naquela altura. Lucas Álvarez (1993: 514), com base nos Calendários da
catedral de Mondonhedo, situa a sua morte em 1212.07.8, mas pode tratar-se de um erro
(MCCL por MCCXL).
60
Apontemos ainda a significativa presença dele nos Livros de Aniversários da sé de
Santiago no dia 2 de março (Leirós Fernández 1970: 32): “Pro archidiacono D. Petro Velle.
Dantur 80 lbr. Processio ad claustrum novum”.
61
Pedro Vélaz estabeleceu várias permutas com os irmãos Fernando e Pôncio, pelas quais
recebeu a posse (ou usufruto) das propriedades deles na Galiza (TLourençá, nº 63, TMeira,
nº 145, 174).
62
Segundo Salazar Acha (1985: 48), esteve casada dom Álvaro Rodrigues de Castro,
dado que não é referido por outros autores. Uma escritura de 1193 (ACZ, 17/30), de que
são titulares Maria e Pedro Vélaz, conserva o único selo dos irmãos Vélaz que conhece-
mos. Esse elemento é reproduzido fotográficamente no início deste capítulo.
63
A biografia (possível) de João Vélaz assemelha-se, em alguns aspetos, à caraterização
do “trovador” desenhada por Oliveira (2001:15-22).
64
Conservamos apenas um resumo deste documento no TMeira, de 1616, onde lhe é atri-
buída a data de 1221, altura em que os irmãos citados já tinham falecido (Fernández-Xesta
1991: 60-61). A pensarmos numa transcrição parcialmente errada, o diploma poderá re-
montar à era de 1211, isto é, ano 1173. No entanto, não descartamos que o conteúdo desse
resumo esteja deturpado por contaminação – ou seja fruto de uma falsificação. Outros dois
regestos copiados no mesmo fólio (254r-v) (também com a data de 1221) aludem (num
tempo passado) a uma Sancha Nunes, avó de Toda e de Diogo Eanes (filho de João Cape-
lo), com propriedades em Azúmara (cf. supra).
65
A cronologia e/ou a ausência de contexto familiar faz com que seja menos segura a
identificação do trovador com um ou vários homónimos citados em escrituras produzi-
das na área leonesa. Assim, encontramos um João Vélaz que, com a mulher e os filhos
(“Ego Iohanne Uelaz et uxor mea Marina Aluariz cum filiis et filiabus nostris”), vende uma
herdade em Vega de Magaz (Leão) em 1156 (DAstorga, nº 12). Esse também é o nome
(“Iohannis Vélaz”) do pai de um Domingos Eanes que, em 1163 (CSalamanca, nº 25),
vendia várias casas em Salamanca. Notemos ainda, entre outros, a presença de “Iohannes
Uelez” em 1194 (Nogales, nº 20) e 1217 (SMarcos, nº 235) e de “Iohannes Uelaz” em
1200 (Sahagún, nº 1537), portanto, fora do quadro cronológico em que se integrou o filho
de Vela Guterres (cf. infra). O mesmo acontece no caso da Galiza, onde registramos esse
antropônimo no segundo quartel do séc. XIII (cf. supra). Também encontramos indiví-
duos com esse nome na área de onde procede o antropônimo: “Johannes Uelez de Alaua”,
testemunha do rei de Castela no tratado de paz entre Fernando II e Afonso VIII de Leão
em 1181 (Tombo B, nº 38), e “Iohan Velaz”, pai de um Petro Iohanes, que confirma um
diploma de Santo Domingo de la Calzada em 1201 (SDomingo, nº 101).
66
Calderón Medina (2011a: 151) opina que “Rodrigo, Garcia y Juan [Vélaz] no llegaron
a la edad adulta”. Tal suposição, referida a João Vélaz, deve ser corrigida, entre outros mo-
tivos, pelo facto de ele ter atingido a maioridade (14 anos), pelo menos, em 1172, quando
confirma, junto com os irmãos, o diploma nº 4 (cf. supra). Como foi dito, desconhecemos
os pormenores da biografia de João Vélaz. Notemos, contudo, a sua inopinada ausência
num ato documental pelo qual a condessa Sancha Ponce e os filhos (Fernando, Pôncio, Pe-
dro, Maria Vélaz e Soeiro Mendes) deram a terça parte dos dízimos da Igreja de S. Fresme
de Alija (Leão) ao bispo de Astorga em 1170 (DAstorga, nº 20).
67
Segundo Yepes, no arco, que se conserva (muito danificado), também teria sido enterra-
do D. Fernando Ponce, sobrinho de João Vélaz: “Dentro del arco donde està el de Don Iuan
Vela, yaze sepultado el Conde don Fernando Ponce de Cabrera, hijo mayor de don Ponce
de Vela, y de doña Teresa Rodriguez su muger, y hermano de don Pedro Ponce de Cabrera,
que casò con doña Aldonça Alonso hija natural del Rey don Alonso de Leon... Tiene en
su sepulcro esculpidas cabras en campo verde, como su tio don Iuan Vela” (Yepes 1615:
211v-212r).
68
Lembre-se que o segundo casamento de D. Pôncio com Maria Fernandes de Trava veio
ainda reforçar a ligação dos Cabreras à família dos Travas e que esta última foi a “avó” de
fato de João Vélaz, embora não o fosse de sangue (cf. supra).
69
Veja-se TMeira (nº 63, 76, 97, 120, 143, 174, 178, 211, 216).
70
Conhecemos o interesse de Leonor por Fontevraud, abadia na qual chegou a ser freira
e onde mandou ser sepultada.
71
Essa ligação dos padroeiros de Moreruela ao ambiente setentrional da Gália talvez
ajude a explicar algumas pegadas artísticas (estruturais e decorativas) da igreja abacial
de Moreruela, originárias de “empresas del norte de Francia – Île de France y territorios
próximos –, derivadas o inspiradas por el prototipo concebido en Saint-Dénis” (Valle Pérez
1992: 12).
72
Veja-se, a esse respeito, o esquema genealógico dos Travas.
73
Ele foi um dos alumni da infanta Sancha (Calderón Medina 2011a: 131, n. 263), irmã
de Afonso VII.
74
O foral de Junqueira de Valariça (conc. Torre de Moncorvo, Bragança), outorgado por
Sancho I de Portugal em 1201, é atestado por “el conde Fernando de Cabreira” (Sancho I,
nº 137). Não podemos confirmar a identificação desse conde com a personagem em ques-
tão ou com um sobrinho segundo dele, filho de Pôncio Vélaz, a quem também se atribui a
dignidade condal.
75
Um diploma do Mosteiro de Villaverde de Sandoval (Sandoval, nº 9 [1171]) assegura
que só Fernando Ponce “o Menor” foi filho de Maria Fernandes. Nesse texto, apesar de
estarem presentes os dois irmãos (“roborant ambos irmanos, Fernan Ponz el Maior et el
Minor”), só se aponta um deles como “Fernando Ponz, filio de la condesa dona Maria”.
O editor identifica erradamente “o Maior” como sendo filho de D.ª Maria. No testamento,
D.ª Maria refere um único filho: “filio meo, Fernando Poncii” [D.7].
76
AHN, Mosteiro de Armenteira, maço 1750, nº 13.
77
Torres Sevilla (1999: 295, n. 1493) supõe que “Guiomar Rodríguez, hija del conde
Rodrigo Pérez el Velloso, desposó en dos ocasiones: la primera con Fernando Ponce, hijo
del conde Ponce de Cabrera, matrimonio anulado en función del parentesco, pues ambos
cónyuges eran descendientes del conde Pedro Froílaz de Traba”. Salazar Acha (1984: 77)
cita “Fernando Ponce el Mayor” como primeiro marido de Guiomar. Num trabalho poste-
rior (2000: 418), de acordo com os cargos e biografia que lhe atribui, parece aludir impli-
citamente ao “Menor”: “Casó dos veces: la primera con doña Guiomar Rodríguez [...]. La
segunda con doña Estefanía López, hija de conde Lope Diaz de Haro” (cf. infra).
78
A presença de Sancha Ponce no diploma de Armenteira, acima citado, depõe clara-
mente a favor da identificação com “o Maior”.
79
Fernandez Rodríguez (2004: 124) também não discrimina entre eles e só fala de um
“Don Fernando Ponce [...] hijo de don Ponce de Cabrera”.
80
O último registro apresenta-o como tenente de Sanábria: “Fernandus Poncii, Maior,
tenens Senabriam cf.” (OSantiago, nº 49 [1171]).
81
Assim, já em 1199 oferece a Castanheda uma herdade em Galende: “ego Fernandus
Fernandi do et concedo Deo et Sancto Martino de Castanaria et uobis abbas Petrus omnis
conuentus presentibus et futuris hereditatem meam quam habeo in uilla que dicitur Galen-
di [...] pro remedium anime mee et patris mei et auio meo comiti donno Pontio qui eam
adquisiuit” (TCastañeda, nº 175). Outras doações a essas abadias situam-se em 1204 (Mo-
reruela, nº 46), 1209 (Nogales, nº 33), 1212 (TCastañeda, nº 109), 1230 (Nogales, nº 52) e
1231 (Nogales, nº 56). Exceto no caso da escritura relativa a Moreruela, existem elementos
para considerar que o donatário foi, com efeito, o filho de Fernando Ponce “o Maior”.
82
Estamos, na verdade, perante um caso extremo de concatenamento homonímico, já que
a mulher de Fernando Fernandes de Cabrera e a primeira esposa de Fernando Fernandes de
Bragança utilizaram o nome de “Maria Peres”. Somado ao grande paralelismo vital entre
ambos, isso explica as confusões da crítica historiográfica e as dúvidas que subsistem sobre
alguns aspetos concretos das suas biografias.
83
Salazar Acha (2000: 418-419) também o registra nessa tenência entre 1164-1169, o que
nos leva a pensar que pode tratar-se do irmão.
84
A atribuição destas tenências a Fernando Ponce “o Menor” é ocasionalmente asse-
gurada pela referência à dignidade condal – com que não contava o irmão homônimo –:
“Fernandus Poncii comes in Toronio” (Fernando II, nº 139 [1178]), “Fernandus Poncii
comes in Limia” (Oseira, nº 58 [1178]), “Fernandus Poncii, comes in Limia” (SMarcos,
nº 65 [1179]), “Fernandus Poncii comes in Lemos” (Tombo B, n º 207 [1180]), “comes
Fernandus tenente Limia” (Oseira, nº 66 [1183]), “comes Fernandus in Limia” (SMarcos,
nº 84 [1184]), “Comes Fernandus in Benavente” (Oseira, nº 72 [1186]), “Comite Fer-
nando Poncii, tenente Benevento” (SMarcos, nº 118 [1188]), “Comes Fernandus Pontii
tenens Campos” (Oseira, nº 82 [1193]) “comite Fernando tenente Limia” (SMarcos, nº
139 [1195]), etc. Uma escritura de 1172 apresenta-o como “Fernando Ponzo, presidente
in Uidriales et in Riba de Teira et in Carualleda et in Sena[bria]” (ASIL, nº 312). Notemos
que a partir de década de noventa, quando falta o patronímico, existem dificuldades para o
distinguir de Fernando Nunes de Lara (Fernández Rodríguez 2004: 125-126).
85
O casamento foi anterior a janeiro de 1183, altura em que ambos fizeram uma cessão ao
Mosteiro de Sar (cf. infra).
86
Sobre a biografia de Aldonça Gonçalves, veja-se Canal (1995b: 12-16). Este estudioso
considera que foi filha de Gonçalo Fernandes de Trava e de Elvira Rodrigues {Vélaz} (←
Rodrigo Vélaz & Urraca Álvares ← Álvar Fañez & Maior Peres de Carrión {Ansures})
(cf. infra).
87
ACZ, Pergaminhos, maço 14, nº 32. Esse documento confirma a doação da vila de
Manganeses à Sé de Zamora realizada em finais do mês anterior (1200.10.29) por Fer-
nando Ponce e a sua ex-mulher Estefânia: “Ego Fernandus comes de Cabreria cum Ste-
phania comitissa, quondam uxore mea, dono totam vilam de Manganeses ecclesie sancti
Salvatoris de Zemora” (CZamora, nº 56). A dissolução do matrimônio pode ser atribuída à
consanguinidade existente entre eles, já que os dois eram Travas por via materna.
88
Fernando Ponce e a mulher também aparecem relacionados com a Ordem de Calatrava
(Índice de Calatrava, “Particulares”, nº 23) e, nomeadamente, com o Mosteiro de More-
ruela. O conde deu a esse cenóbio aquilo que possuía na vila de Ceque e no vilar de Juncel-
lo, ocupado indevidamente por ele, e pediu para ser enterrado nesse cenóbio (Moreruela,
nº 38 [1196]). Em 1215, a condessa Estefânia doou a essa instituição, pela sua alma e a do
ex-marido – já falecido –, diversas propriedades (Moreruela, nº 68).
89
É por esse motivo que vendeu ao prior uma herdade no arciprestado galego da Seaia.
A escritura de 1183 transmite a cessão a Sar de uma “curia” em Castro Calvón (Leão)
(AHDS, Priorado de Sar, maço 37, nº 43).
90
Ele é o “Fernandus Pelagii dictus Padrum” titular de uma escritura de 1178 (Toxos Ou-
tos, nº 324), segundo se confirma por um diploma de Fernando II de 1164 em que Fernando
Padrão, tenente das Torres de Oeste, aparece considerado irmão de Paio Pais: “Ferdinan-
dus Patroni tenens Castellum Oneste confirmat.– Pelagius Pelagii frater eius confirmat”
7. Minervas e Urgéis
Como se sabe, a presença de linhagens de origem catalano-
-provençal no ocidente ibérico não se limitou aos Cabreras. Os condes
de Urgell já se tinham instalado no aparelho administrativo dos reinos de
Afonso VII desde finais do séc. XI, constituindo, assim, o precedente para
a chegada dos Cabreras e dos Minervas no séquito de Berengária de Bar-
celona e Provença. Apesar de não contarem no seu seio com nenhum poeta
em galego-português, como no caso dos Cabreras, é possível que os Urgéis
e os Minervas tenham favorecido o surto do trovadorismo no noroeste da
Península. A interação social dessas duas estirpes, naqueles aspetos que
interessam aos propósitos deste trabalho, é objeto de análise nesta secção.
91
Ele casou-se com a condessa Urraca Álvares, filha de Álvaro Fanhes e de Maior Peres
Ansures.
92
O seu irmão Bermudo Álvares foi mordomo régio (1186-1188).
93
Contamos com um estudo monográfico sobre Rodrigo Álvares de que é autor J. Mª.
Canal (1983). Veja-se também Pardo de Guevara (2000: 67-75).
94
Ele foi comendador da Ordem de Santiago em Portugal. Salazar Acha (1985: 55) con-
sidera que tomou o hábito do Templo. Também exerceu como tenente em Alhariz, Lemos,
Monterroso e Sárria,
95
Veja-se Blázquez Jiménez (1917), Forey (1971), González (1960: 584-591), Canal
(1983) e Pardo de Guevara (2000: 69, n. 78). D. Rodrigo peregrinou a Jerusalém e colocou
nessa cidade (c. 1180) a casa mãe da nova ordem (cf. infra). Entre os patrocinadores desta
milícia encontra-se a família de Lopo Dias de Haro, marido de Aldonça Gonçalves {Vélaz
& Trava} (prima de Rodrigo Álvares) e avô de Aldonça Dias (mulher de Rodrigo Dias dos
Cameros) (Forey 1971: 255). Antes de ser absorvida pelo Templo (c. 1197), Monte Gáudio
tinha sido amalgamada, em 1188, com a ordem do Hospital do Santo Redentor, recente-
mente fundada em Aragão (Forey 1971: 258). Fernando III fez com que fosse incorporada
na de Calatrava em 1221.
96
A mais antiga referência ao casamento de Rodrigo Álvares com Maria Ponce encontra-
-se numa escritura de 1172.06.03 (SMarcos, nº 33) pela qual a condessa oferece ao Mostei-
ro de S. Marcos de Leão aquilo que, por dote de D. Rodrigo, possuía na Igreja de S. Paio de
Villamuriel: “Tali, uidilicet conditione ut mihi et uiro meo comiti, scilicet, domno Roderi-
co qui eam mihi sub domine dotis contulit semper in orationibus uestris et ceteris beneficiis
teneamini obnoxii”. O enlace de Rodrigo Álvares com Maria Ponce resulta dos interesses
econômicos que os irmãos Álvares tinham na área leonesa, provavelmente vinculados ao
segundo matrimônio da mãe, Sancha Fernandes, com o conde Pedro Afonso {Vélaz}, ca-
sado em primeiras núpcias com Maria Froilaz (←Froila Dias {Flaínes-Froilaz}) (Canal
1983: 390).
97
Sobre esta linhagem, veja-se a síntese de Calderón Medina ([no prelo]).
98
O primogênito foi, contudo, Afonso Ramires (1170-1182), tenente em Astorga (1170) e
no Bierzo (1180-1183).
99
Veja-se López Sangil (2002: 65-70, 149-151) e Salazar Acha (2000: 421). Fruto desse
casamento foram, entre outros, Diogo e Ramiro Froilaz. A filiação materna destes últimos
é assegurada com a ajuda de dois documentos (Carbajo 1904: 365r-365v, nº 163 e 164)
em que eles aparecem expressamente considerados filhos de D.ª Sancha: “domna Sancia
Fernandi, filia domne Tharasie Ueremudiz [...]. Qui presentes fuerunt Ramirus Froile et
Didacus Froile, filii supradicta comitissa domna Sanctia, hanc cartam roboramus et confir-
mamus” (1214, Santiago de Compostela), “Ego domnus Ramirus, filius comitissa domna
Santia, hanc cartam quam ipsa fieri iussit roboro te confirmo et etiam in eadem sigillum
meum apono” (1214, Carracedo).
100
Sancha Fernandes era, portanto, prima do trovador Osório Eanes e tia de Teresa Lopes
de Ulhoa, a segunda mulher de Fernando Pais de Tamalhancos. Veja-se Souto Cabo ([no
prelo/1]).
A família Minerva contou no seu seio com o poeta Aimeric de Montréal, senhor de
101
Ermengaudus Urgellensis
Apesar de terem como centro geográfico da sua soberania o con-
dado catalão correspondente105, os Urgéis vieram a inserir-se na estrutura
102
Pôncio de Minerva contava apenas 12 anos quando chegou a Leão e, por este motivo, o
seu cuidado foi confiado à infanta D.ª Sancha (Barton 1992: 249, García Calles 1972: 32).
103
Calderón Medina (2011a: 281) atribui-lhe, por lapso, a mordomia em 1176 com base
num documento desse ano que, na verdade, é apenas a reprodução doutro de 1167 (Fer-
nando II, nº 83, 148).
104
Os Minervas aparecem como fundadores e padroeiros dos mosteiros cistercienses de
Sandoval (1167) e de Carrizo (1176). Alonso Álvarez (2007: 678-679) associa essas funda-
ções ao casamento de Maria Ponce com Rodrigo Álvares. Após a separação do marido, ela
foi a primeira abadessa de Carrizo (até 1193). Sobre o Mosteiro de Carrizo e a sua relação
com os Minervas-Flaínez, veja-se Casado Lobato (1983), Quintana Prieto (1984), Barton
(1992, 1997), Torres Sevilla (1999), Salazar Acha (2000). O grupo familiar de Fernando
Pais de Tamalhancos aparece também relacionado com esse cenóbio (Souto Cabo [no pre-
lo/1]).
105
Lembremos que, na Catalunha, “conde” corresponde ao conceito de ‘rei soberano’. O
visconde é o ‘conde’ dos reinos centro-ocidentais da Península e tem caráter hereditário. O
Condado de Urgell (no vale do rio Segre, entre a atual Andorra e a cidade de Lleida) forma
parte do grupo primitivo de condados catalães desde o período da Marca Hispânica.
106
Sobre os condes de Urgell, vejam-se, além da bibliografia geral, os trabalhos de Mon-
far y Sors (1853), Corredera Gutiérrez (1963), Martín Rodríguez (1964), Lomax (1982),
Trenchs – Conde (1985), Canal (1989a), Barton (1996), Fernandez-Xesta (2001).
107
Os Ansures e, com eles, os Armengol aparecem relacionados com a presença dos frades
premonstratenses em Castela. Sancho Ansures (neto de Pedro Ansures), introdutor dessa
ordem na Península, foi o primeiro abade de Retuerta, mosteiro fundado pela condessa
Maior Peres (filha de Pedro Ansures e tia de Sancho) em Fuentes Claras e transferido
para Retuerta em 1146. Entre as personalidades que favoreceram esta abadia encontra-se
Rodrigo Peres de Trava, avô de Rodrigo Dias dos Cameros (Oseira, nº 31 [1156]). Veja-
-se Barton (1997: 197-198) e Alonso Álvarez (2007: 675). Sancha Gonçalves, mulher de
Fernando Peres de Trava e avó do trovador Osório Eanes, era sobrinha de Pedro Ansures
(cf. infra).
108
As origens familiares deste indivíduo são incertas. Há uma teoria que o faz filho do
rei Garcia da Galiza (Canal 1984) a que se opõe outra que o considera, talvez com mais
fundamento, filho de Garcia Ordonhes de Nájera e da infanta Urraca de Navarra (Salazar
Acha 1991). Veja-se Portela (2001: 40-44).
109
Pedro Ansures chegou a (re)conquistar a cidade de Balaguer (Lleida), ponto estratégico
na defesa do condado.
110
A casa de Lara foi uma das mais poderosas estirpes do reino castelhano durante o séc.
XII e inícios do XIII. Rodrigo Gonçalves de Lara e a infanta Sancha Afonso, filha de
Afonso VI, foram os pais de Elvira Rodrigues. Porém, Rodrigo Gonçalves irá desposar
(em segundas núpcias) Estefânia Armengol, irmã de Armengol VI, portanto tia da filha.
Notemos que Maria Gonçalves, irmã de Rodrigo Gonçalves, casou com Ximeno Ínhigues,
senhor dos Cameros, bisavô paterno de Rodrigo Dias dos Cameros (cf. infra).
111
Sobre os Haros, veja-se Canal (1989b, 1995b) e Alonso Álvarez (2004: 26-36).
112
Lopo Lopes aparece como confirmante ao lado do jogral Palha numa escritura de 1151
redigida em Toledo: “Lupus Lupiz de Carrione; Palea, joculator, socer Michael Petriz,
confirmat” (PSJoão, nº 62).
113
Canal (1995b: 11-15) propõe essa integração familiar para Aldonça (cujo patronímico
nunca é referido) com base num documento riojano em que ela é apresentada como prima
do conde D. Rodrigo Álvares {Vélaz & Trava}: “yo, la condesa Endulcia, con mi con-
sobrino (= ‘primo’) el conde Rodrigo y mi hijo Diego y demas hijos y hijas” (MLaturce,
nº 49 [1182]). Anteriormente fora considerada tia desse mesmo Rodrigo Álvares (Salazar
Acha 1985: 57-60) ou ainda irmã dele (Canal 1989b: 62-66). Na identificação em foco, é
importante o testemunho de um diploma de 1201 (TLourençá, nº 22) pelo qual sabemos
que o avô do conde Gomes Gonçalves {Trava}, considerado irmão de Aldonça Gonçalves,
foi Rodrigo Vélaz. Isto quer dizer que Elvira Rodrigues, mãe do conde D. Gomes, perten-
ceu à linhagem dos Vélaz e que foi filha de Rodrigo Vélaz e de Urraca Álvares {Ansures}.
As suas origens apareciam até a esse momento como incertas (Barton 1997: 257). Lem-
bremos, contudo, que o termo “consoprinus” era também utilizado para ‘sobrinho’, o que
nos levaria a pensar que D.ª Aldonça fora irmã de Álvaro Rodrigues {Vélaz}, pai desse
Rodrigo Álvares.
114
Canal (1995b), de acordo com uma hipótese sugerida por Balparda (1934: 372), supõe
que Lopo Lopes foi fruto de um matrimónio anterior de D. Lopo Dias, mas não aduz pro-
vas documentais. É por esse motivo que, no esquema genealógico correspondente, não o
incluímos entre os filhos de Aldonça Gonçalves.
115
O segundo precetor foi João Airas, pai do trovador Osório Eanes (cf. infra).
116
Como sublinha, Calderón Medina (2011a: 177) o conde aparece acompanhado por di-
versos milites catalães que provavelmente formavam parte da sua hoste.
117
As famílias de Osório Eanes e a de Rodrigo Dias dos Cameros também mantiveram
vínculos estreitos com esta instituição conventual (cf. infra).
118
Canal (1981) supõe que foi Elvira Peres, filha do conde asturiano Pedro Afonso. No
entanto, a documentação apoia a hipótese aqui perfilhada (Calderón Medina 2011a: 178).
119
D. Pedro foi mordomo (1223-1230) de Afonso IX e tenente. O cargo de mordomo foi
exercido ocasionalmente, em nome dele, por Rui Gomes de Briteiros (cf. infra).
1
Vejam-se, entre outros, os trabalhos de Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1904: 567-
568, 2004: 299-313), López Aydillo (2008: 38-39), Alvar (1987) ou Miranda (2004: 38-
42).
2
Na verdade, o antigo senhorio dos Cameros não é fronteiriço com Navarra, antes pelo
contrário, encontra-se num território riojano(-castelhano) oposto a esse antigo reino; por-
tanto, afastado de Tarazona em cerca de 100 km.
3
Miranda (2004: 16), retomando um assunto que já abordara com algum pormenor (Mi-
randa 1997: 8-9), explica que Michaëlis reforçava a sua hipótese “pela existência de uma
Pauia perto de Lérida, em pleno reino aragonês, terra que, na sua opinião, teria sido arra-
sada pelo rei navarro, motivando o feroz canto do trovador”. Porém, Carolina Michaëlis
(2004: 307) na “Glosa IX” – publicada em 1902 – já preferia identificar esse topônimo com
o português correspondente (cf. infra).
4
López Aydillo (1923: 42) vê na referência ao “bon rey” (vv. 9 e 13) uma alusão a
“Alfonso IX de Castilla” (= Afonso VIII de Castela). Assim, ele interpreta “que el hecho
histórico referido en la cantiga de Soarez de Payva, es anterior a la campaña de Alfonso
IX de Castilla y Pedro II de Aragón contra Sancho IV de Navarra y debe ser datado, por
consiguiente, en el año 1196”.
5
A identificação parece, logicamente, correta. Notemos, contudo, a existência de indi-
víduos caraterizados pelo uso do antrotopônimo “Pavia” na área do Minho ourensano no
primeiro quartel do séc. XIII: “Rodericus Petri et Iohannes Petri, filios domni Petri Gundi-
salvi de Paiva et domna Maiores Menendi” (Oseira, nº 210 [1220]).
Este Soeiro Anes foi casado com dona Marinha Anes, [filha de dom Joham
Fernandez de Riba d’ Avizela], e fez em ela Joham Soarez, e Pais Soarez e
Vaasco Soarez, que foi frade de Sam Francisco, e dona Costança Soarez, que
foi abadessa de Lorvão [...] (LC 26F4). Este Joham Soares de Pavha foi ca-
sado em Lisbõa com dona Margarida, que foi cidadãa, e fez em ela dona Crara
Anes, casada com Joham Rodriguiz Cenoira, que foi natural d’ Evora, e foi
bõo cavaleiro, e sobrinho do arçobispo dom Martim, e fez em esta dona Crara
Anes ũu filho que houve nome Rodrigu’ Eanes Cenoira, como o avoo, e por
sobrenome Buçalfom. (LC 26G5)
Este dom Soeiro [Paaez] Mouro foi casado com esta dona Orraca Meendez de
Bragança, irmãa de dom Fernam Meendez de Bragança, Velho, Braganção,
como se mostra no titulo XXXVIII, dos Bragançãos, parrafo 1º, e fez em ela
Joham Soarez, o Trobador, e Paai Soarez Romeu, o prestomeiro [...]. Este
Joham Soarez, o Trobador, foi casado com dona Maria Annes, filha de dom
Joham Fernandes de Riba d ‘Avizela e houverom semel, como se mostra no
titulo XXVI. (LC 42W5-6)
E dona Marinha Martîiz, irmãa da dita dona Sancha e filha dos sobreditos, foi
casada com Sueir’ Eanes de Pavha, e fez em ela Joham Soarez de Pavha, e
Gomez Soarez, e dona Costança Soarez, que foi abadessa de Lorvão, e outro que
houve nome Paai Soarez de Pavha e frei Vaasco Soarez, que foi frade preega-
dor. Este Joham Soarez de Pavha, suso dito, foi casado em Lixboa com dona
Margarida cidadãa de Lisboa, e houverom semel como ja dissemos. (LC 62G7)
6
Por esse casamento com Maria Eanes de Riba de Vizela, João Soares teria estabelecido
um nexo com a linhagem de Paio Curvo (vinculado familiarmente a Fernando Pais de Ta-
malhancos e a Garcia Mendes de Eixo), já que Paio Viegas Alvarenga, neto de D. Paio por
via feminina, esteve casado com uma irmã dessa Maria Eanes. Veja-se Pérez Varela (1995:
497).
7
Pizarro (1999, vol. 3, “esquema genealógico dos Paiva”) considera que o marido de
Margarida de Lisboa foi João Soares II, filho de Soeiro Anes (← João Soares de Paiva &
Maria Eanes de Riba de Vizela).
8
Miranda (2004: 18) refere-se concretamente a Maria Eanes (mulher de João Soares),
a irmã mais nova de Martim Eanes, alferes-mor de D. Afonso II desde 1217 até à década
de quarenta. Por outro lado, alguns dos filhos que os Livros de Linhagens atribuem a João
Soares ainda continuavam vivos em finais da década de cinquenta (Miranda 2004: 18).
9
“Era Mª Cª LXXXª IIIIª. Ego Suario Pelaiz vobis uxor mea Orraca Menendiz do vobis
arras que debeo dare [...] in terra de Pavia una corte que debeo dare [...]. Et istas arras do
vobis per tali pacto, ut si ego migratus fuero ante vos et vos alio viro apprehenderitis; ut
relinquatis ipsas hereditates ad meos filios et vestros que de nobis fuerint sine alios. Et
vobis similiter dico ut si ego ante vos migrata fuero; ut non habeant ipsas hereditates nisi
meos filios nisi vestros et si semen nostram extincta fuerit, ut remaneant ipsas hereditates
ad illo monasterio” (Martins 1999, nº 1).
10
Miranda (2004: 17) prefere considerar que o documento “não desmente esta datação,
apenas leva a pensar que, nessa data, o casal considerava a sua prole não terminada”.
11
Mesmo na hipótese de datação mais precoce, o poeta estaría perto dos sessenta anos.
12
Alguns investigadores situam essa primeira atestação em 1169: “encontramos João
Soares, filho de Soeiro Pais “Mouro” [...] em 1169, participando numa venda de bens
efectuada pelo seu pai” (Miranda 2004: 19), “Aparece mencionado en docs. de 1169 (no
que dá consentimento a unha doazón efectuada polo seu pai)” (LP: 549). Porém, nessa
escritura não consta o nome do João Soares, já que a ratificação dos filhos é apresentada
de modo coletivo: “Ego Suarius Pelaiz cognomento Mauro una cum filiis et filiabus meis
facio tibi Petro Arteiro (?) cartam uenditionis de duobis casalibus [...]. Ego Suarius Pelaiz
una cum filiis et filiabus meis qui hanc cartam uendicionis facere iussimus in illa manus
nostras roboramus” (Arouca, nº 134). O “engano” poderá ter a sua origem numa interpre-
tação errada da referência de Oliveira (1994: 371) a esse mesmo escrito: “Em 1169 anuía,
provavelmente, a uma venda efectuada pelo pai”. Outras notícias sobre alguns dos seus
bens na terra de Paiva foram registradas pelas Inquirições de 1258 (Oliveira 1994: 372).
13
“Ego Suario Pelaiz cognominato Mauro facio series testamenti pro remedio anime mee
[...]. Offero huic sancto et uenerabili altari Sancti Saluatoris de Palaciolo cum aliis reliquiis
que ibidem sunt recondite. Sunt ipsas hereditates pernominatas in terra de Pauia in Crasto
V casales, in Kasal Perro I casal, in terra de Penafiel in Figueira II kasales, in Rriu Malo I
kasal”.
14
“Ego famulus Dei, Pelagio Suariz cognomento, Romeu, prolix Orraca filius [...]. Do
atque concedo in loco supra dicto, ut pro anima mea remedio hereditate mea propria que
habeo de parte genitore meo, Suario Pelaiz, cognomento Mauro et pernominata in uilla de
Ceidoneses medietate de ipsa quintana cum sua senara et cum suo casal, et cum omnem
suam rectitudinem; et alio kasal ante porta de Sancto Uicentio, et alio in Uilela. Alio casal
in Octeiro [...]”.
15
Miranda (2004: 19) situa essa vila em território galego (“Villafranca na Galiza”), o que
não corresponde à realidade, no passado nem no presente. Aliás, também não se justifica
a afirmação de que “Villafranca, onde se encontra em 1182 [João Soares de Paiva], como
vimos atrás, se situa na zona de origem da mãe de Rui Diaz de los Cameros” (p. 39).
16
“Não posso comprovar por que motivo ele se ausentou da pátria, nem se o fez como
cavaleiro ou como trovador. Tão pouco sei quando. Só posso conjecturar que teria aconte-
cido enquanto D. Dulce, irmã de D. Afonso II e filha de D. Raimundo Berenger, partilhava
o trono português com D. Sancho I, porque nesse período (1174-1198) se desenvolveu,
naturalmente, um intenso contacto entre as duas dinastias, causando visitas, contratos e
embaixadas”.
17
Ferreira (2009: 139) descarta a possibilidade de um exílio político por iniciativa do pai,
já que não existem provas para a alegada ausência do reino de Soeiro Pais Mouro.
18
Sobre este grupo familiar, veja-se Mattoso (1982: 65-68), Machado (2004), Pizarro
(2007).
19
O Mosteiro de Castanheda, na comarca zamorana de Sanábria, constitui outro impor-
tante “ponto de encontro” entre os Braganças e os Cabreras-Vélaz (cf. infra).
20
Veja-se Alfonso Antón (1983/I: 123, 142, 159, 178, 221).
21
“Resulta evidente que la permeabilidad de efectivos humanos y estruturas de dominio
por encima de las fronteras es caraterística de todos los reinos medievales y aun más de
los del occidente peninsular. Ahora bien, en los territorios de Tras-os-Montes y la actual
provincia de Zamora, durante el periodo que se va a analizar aquí, este fenómeno cobra una
intensidad especial, quizás sólo superado por los contactos a ambos lados del Miño [...].
Lo distintivo de este territorio y periodo concreto es la prolongación de los dominios del
Císter gallego-leonés y de las órdenes militares al otro lado de la frontera y el entrecruza-
miento de señoríos laicos leoneses y portugueses en las comarcas de Sanabria, Carballeda,
Braganza y Miranda” (Beceiro Pita 1998: 1085-1086). Sobre a presença de portugueses na
corte galaico-leonesa entre 1157 e 1230, veja-se Ferreira (2009), Pizarro (2010) e Calderón
Medina (2010).
22
Ventura (1992: 339) também sublinha a dupla sujeição política desta família: “Numa
fronteira política flutuante, os de Bragança oscilavam entre obedecer ao rei de Portugal, ou
ao rei de Leão, obtendo favores ou suscitando vinganças”.
23
Machado (2004: 61), de acordo com a documentação, refere-se às povoações de Zamo-
ra, Toro e Villalobos.
24
Casado, segundo algumas propostas, com uma filha natural de Afonso VI.
25
As hipóteses tradicionais não incluíam este indivíduo entre os filhos de Mendo Fernan-
des, antes o identificavam com um irmão ou com um neto, atribuindo-lhe o patronímico
“Fernandes”, que não consta na documentação. Machado (2004: 82-85), com argumentos
convincentes, propõe considerá-lo, como dissemos, o filho de Mendo Fernandes I que
atingiu maior notoriedade (cf. infra).
26
Esta é a opinião de Machado (2004: 107) e doutros investigadores.
27
Referimo-nos à sequência de próceres que se insere, com frequência, no protocolo final
dos documentos e serve para estabelecer a datação sincrônica dos mesmos.
28
A tenência de Sanábria aparece ocupada, ao longo do séc. XII e primeira metade do
séc. XIII, por diversos membros dessa linhagem: Pôncio II Geraldo (1132-1158), Fernan-
do Ponce (1164-1169), Pôncio Vélaz (1200), Fernando Fernández (1219-1220). Veja-se
Rodríguez González (1973: 282-283) e Fernández-Xesta (1991: 84-85): “Es, además, la
Sanabria, otra de las permanentes tenencias de don Ponce de Cabrera y, quizás, junto con la
de Zamora y la de Cabrera (todas ellas comarcas y territorios continuados en el espacio), de
las más queridas por él. No estaba limitada, creemos, esta tenencia a la mera Puebla, sino
que, a través de los documentos, da la impresión de que don Ponce gobernaba la comarca
en su conjunto”.
29
Filha de Sancho Nunes (← Nuno Vasques & Fruílhe Sanches) e de uma irmã (Sancha
ou Urraca) de Afonso Henriques (Barton 1997: 302, Machado 2004: 124). Ela era irmã
do conde Vasco Sanches (1153-1181), mordomo de Afonso Henriques entre 1169-1172.
Posteriormente, D. Vasco exilou-se na corte de Afonso VIII de Castela e, a partir de 1174,
na de Fernando II, tendo assumido as tenências do Bierzo, Estremadura, Lemos, Lima,
Toronho, Valdeorras etc.
30
Entre a prole de D. Pedro e D.ª Fruílhe também se encontra Garcia Peres de Bragança
Ledrão (1186-1205). Um descendente desse último, Pedro Garcia (1218-1235), desposou
uma Sancha Osores em quem poderíamos reconhecer uma filha, não documentada, do
trovador Osório Eanes.
31
A identifição concreta das funções políticas desempenhadas por Fernando Fernandes
(de Bragança) tem enfrentado algumas dificuldades devido à existência de uma outra per-
sonagem homônima, o filho de Fernando Ponce de Cabrera “o Maior” e de Guiomar Ro-
drigues de Trava (cf. supra), ao qual alguns estudiosos imputaram, total ou parcialmente,
os cargos que figuram associados ao nome de “Fernando Fernandes” (cf. Fernández-Xesta
1991: 72-73, Salazar Acha 2000: 370, 426, Beceiro Pita 1998, Machado 2004: 163-179).
Eis algumas das referências a Fernando Fernandes em que consta o apelido de “Bragança”:
“Fernando Fernandi de Bregancia tenente Cemoram et Uillam Fafilam” (1204, Afonso IX,
nº 193), “Domno Fernando Fernandi de Bragancia tenente Extrematuram” (1211, Afonso
IX, nº 271), “Fernando Fernandi de Bregancia tenente Limiam” (1215, Afonso IX, nº 316),
“Fernando Fernandi de Bregancia tenente Astorica” (1220, SMarcos, nº 254), “Fernando
Fernandi de Bregancia maiordomo maiore existente” (1221, Gradefes, nº 391). Ele apa-
rece como confirmante ou testemunha doutros documentos do rei galaico-leonês. Numa
escritura de 1217, o braganção surge como “tenente Bragantia et Miranda et Montinegro”
(TCastañeda, nº 121), tendo sido a última tenência identificada com a galega do mesmo
nome (Beceiro Pita 1998: 1089). Lembremos que se trata do antigo distrito lusitano de
Montenegro, situado na área do atual concelho de Valpaços, onde ainda hoje se encontra a
povoação de Carrazedo de Montenegro.
32
No reino português, ele foi: “rico-homem das cortes de D. Sancho I, de D. Afonso II
e de D. Sancho II, como tenente de Bragança (1192-1204 e 1218-1232), de Baião (1197),
de Penaguião (1197-1202), e de Panóias (1197-1202, 1218 e 1226-1229), tendo chegado
a ocupar o importante cargo de alferes-mor de D. Sancho II, entre 1225 e 1226” (Pizarro
2007: 862).
33
Este último cenóbio recebeu de D. Fernando as vilas de Ifanes, Barciosa, “Figuerola”
e outros bens. Veja-se Alfonso Antón (1982: 224), Moreruela (nº 46, 65) e Pizarro (2007:
863, sobretudo nota nº 73). Quintana Prieto (1981: 75-79) analisa as relações do Mosteiro
de Castanheda com a área de Bragança.
34
A igreja medieval do antigo Mosteiro de Castro de Avelãs constitui um exemplar único
em território português do românico-mudéjar desenvolvido nas terras leonesas vizinhas.
35
Eis o conteúdo central do documento de acordo com Alves (1982: 267, nº 121): “Ea
propter nos filii, et filiabus, et nepotibus Domno Petro Fernandi hi sumus: Fernão F. qui
sub manu Regis Domini Sancii dominium Bregantie teneo, Garcia Petres, Nuno Petres,
Velasco Petres, Petro Fernandi, Sancia Petres, Tharasia Petres cum filiis et filiabus meis
[...] et omnibus heredibus qui Ecclesie Sancti Salvatoris sumus debitores [...] damus et
concedimus Ecclesiam ipsum vidilicet Sancti Salvatoris de Castro in filiam Sancti Martini
Monasterium cognomento Castanaria, et tibi Petro Abbati cognomento Nunio, et fratribus
tuis tam presentibus quam in posterum succedentibus, ut provideatis quae bona sunt huic
Ecclesiae in eligendo scilicet Abbatem cum conventu Sancti Salvatoris secundum ordinem
Sancti Benedicti liberam habeatis potestatem”. Segundo esse autor o escrito encontrava-
-se “transcripto na Descripção topographica de Bragança, Códice nº. 248 da “Collecção
Pombalina” da Biblioteca Nacional de Lisboa, noticia 9ª, artigo «Mosteiros e Hospicios»”.
36
PMH-Inquisitiones, p. 1282. Sancho I entregou, entre outros, a D. Pedro Ponce a vila
de Malhadas sob condição de lhe prestar ajuda se Bragança viesse a ser cercada: “Domnus
Sancius senex dedit uillam de Maladis […] domno Petro Poncij […] per tale pactum quod
si ueniret cercum ad uillam de Bragantia quod ipsi intrarent ibi et quod defenderent eam”
(PMH-Inquisitiones, p. 1282). No mesmo segmento dessa fonte achamos outras informa-
ções que evidenciam a presença de Pedro Ponce na zona de Bragança.
37
Como foi dito, existem algumas divergências sobre a filiação desta personagem, que
nunca aparece com o patronímico. Machado (2004: 82-89) considera-o filho de Mendo
Fernandes (I), portanto, tio de João Soares de Paiva. Pizarro (2007: 858. 2010: 910) e Fer-
reira (2009: 103-111) supõem que se trata de um (Mendo Fernandes II) filho de Fernando
Mendes (II), ou seja, seria primo do poeta.
38
Ventura (1992: 339, n. 2) – e, a partir dela, Pizarro (1997: 230, n. 25) e Machado (2004:
201) – cita, entre os membros da família Bragança “desnaturalizados na Corte de Leão”,
o nome de “Garcia Peres Ladrão, de Bragança, mordomo do rei de Leão em 1196”. Trata-
-se de um erro por Fernando Garcia [de Vilamayor], mordomo de Afonso IX entre 1194 e
1203. Veja-se Alfonso Antón (1983: 11, 134-141) e Salazar Acha (2000: 367-368).
39
Veja-se Calderón Medina (2011a: 205). A sua associação ao futuro Fernando II já se
descobre em 1153 (Moreruela, nº 7). Com efeito, nesse ano confirma, no grupo encabe-
çado por “rex Fernandus filius imperatoris”, uma doação de Afonso VII ao mosteiro de
Moreruela.
40
D. Mendo aparece como senhor de Sanábria em 1157 e 1158 (TCastañeda, nº 34, 40),
substituindo Pôncio Geraldo de Cabrera, exilado durante esse breve período: “Menendus
Bregantia dominus Senabrie et sub manu eius Petrus Feso”. Veja-se Ferreira (2009: 109-
110).
41
Esses três próceres já concorrem no poder palatino em 1156: “Rex Fernandus confir-
mat […]. Comes Poncius, maiordomus imperatoris, confirmat. Vella Goteriz, maiordomus
regis Fernandi, confirmat. Men Braganza, alferiz illius” (AHN, Mosteiro de Oña, maço
275, nº 10 [1156.01.22]), “Vela Guterri maiordomus F. regis [...] Menendo Bragancia
alferiz regis Fernandus” (Afonso VII, nº 176 [1156.11.09]). “Uela Goteriz maiordomus
regis, confirmat. Menendus Bregacia alferiz ipsius regis, confirmat” (Afonso VII, nº 177
[1156.12.01]).
42
Num documento de 1193.06.29, redigido em Villafranca, Pôncio Vélaz (irmão de João
Vélaz) e os irmãos, Pedro e Maria, oferecem ao abade de Carracedo propriedades nas ter-
ras bercianas de Corullón (CCarracedo, nº 122). Fernando e Pôncio Vélaz foram tenentes
na área do Bierzo no último quartel do séc. XII (1176-1177, 1186, 1195, 1197-1199). Veja-
-se Fernández-Xesta Vázquez (1991: 69), Salazar Acha (2000: 422), Torres Sevilla (1999:
470-477), Calderón Medina (2011a: 341).
43
O conteúdo desse verso tem sido utilizado inclusivamente para estabelecer a cronologia
do texto. Assim, Alvar (1986) propõe – com alguma prudência – a data de 1200-1201,
ao identificar o hipotético Endurra com a localidade Navarra de Inzurra, que pertenceu a
Castela entre 1198 e 1201. A leitura não é segura e o pretenso topônimo poderia ser iden-
tificado com outros de estrutura similar.
44
Seguimos Lagares (2000: 144), mas preferimos a leitura “roubar’ en sa terra” (ou
“roubar[a] en sa terra”) a “roubaron en sa terra”, proposta por esse estudioso. A indubitá-
vel presênça do “b” sugere que o (provável) “troubar” do manuscrito deve ser interpretado
como uma forma estropiada do verbo “roubar” e não como uma variante “troube” – por
“trouve” (‘trouxe’) – do pretérito do antigo verbo trager (analógica do pretérito de “ha-
ver”) como supunha (Michaëlis 2004: 300-301).
45
A existência da localidade de Pavía (conc. Talavera, Lleida), no nordeste deste último
território, induziu a pensar que ele fosse aragonês – catalão – ou que o antrotopônimo
tivera essa origem. Essa hipótese fora perfilhada pela própria Carolina Michaëlis que a
abandonou posteriormente: “A terra de Pávia, de onde provinha o seu apelido e da qual
era, presumivelmente, dono e senhor, é, pelos vistos, a Paiva portuguesa, e não a Pavía
em Aragão, uma vez que territórios junto ao rio Paiva, afluente do rio Douro, estiveram,
já muito antes de Ourique, na posse dos seus antepassados, isto é, dos senhores de Riba
Douro” (Michaëlis 2004: 307).
46
É óbvio que, na altura, as alianças políticas podiam mudar em função dos interesses de
cada uma das partes, mas essa hipótese não invalida o valor objetivo do dado histórico.
47
O marquesado de Provença foi regido, entre 1196 e 1209, por Afonso II de Provença,
filho segundo de Afonso II de Aragão.
48
Por outro lado, os pactos de Aragão com Leão ou com Castela contra o rei de Navarra,
em 1162 (Alfonso II, nº 4) e 1179 (Alfonso II, nº 280) ou, pelo contrário, entre Aragão e
Navarra contra Castela, em 1190 (Alfonso II, nº 520) e 1191 (Alfonso II, nº 537), são difi-
cilmente interpretáveis como indício para decifrar a datação do texto.
49
De acordo com o estabelecido por Pedro II de Aragão, o seu sobrinho Raimundo Beren-
guer, órfão e herdeiro do condado de Provença, fora transferido para o castelo de Monzón
(em mãos templárias desde a primeira metade do séc. XII). Esse mesmo castelo acolheu,
durante a minoridade, D. Jaime I (Montpellier, 1208 – Valência, 1276), que só contava
cinco anos quando morreu o pai, Pedro II, em 1213.
50
Os Cabreras eram viscondes de Girona (cujo conde era o próprio de Barcelona) e, ao
mesmo tempo, viscondes do Baixo-Urgell (Àger).
51
Na conhecida composição de Peire d’ Alvernha (1149-1168) Cantarai d’ aqestz
trobadors, aparece citado um Peire de Monzó, trovador de que não conservamos outras re-
ferências e cuja obra nos é desconhecida. A alusão toponímica leva-nos ao Monzón arago-
nês de que falamos. Menéndez Pidal (1991: 164) sugeriu a identificação do topônimo com
Monzón de Campos (Palência): “Peire era muy probablemente castellano, de Monzón de
Campos, ya que parece ir en la comitiva de la que va a ser reina de Castilla, pero también
pudiera ser del Monzón aragonés de Huesca”. Porém, o relacionamento dessa personagem
com o conde de Tolosa, referido no texto poético (“Ab Peire de Monzo so set, / pos lo coms
de Tolosa·l det, / chantan, un sonet avinen [...]”), leva a pensar que se trata de um trobador
de origem aragonesa, mas de língua provençal, como supõe Riquer (1950: 10-11). Este
mesmo investigador (Riquer 1983: 332-333) pondera a possibilidade de essa composição
ter sido produzida em Puigverd d’ Agramunt, portanto na área do Baixo-Urgell.
52
Sobre a presença do Templo nessa cidade, veja-se Oliveros de Castro (1964: 157-181).
53
Nesse aspeto, a sua biografia poderia ter coincidido com a de Geraldo IV Ponce de Ca-
brera (1194-1228), visconde de Cabrera e Àger e conde de Urgell (cf. supra). Esta perso-
nagem, chefe da linhagem dos Cabreras entre os últimos anos do séc. XII e primeiro terço
do seguinte, decidiu retirar-se em 1226-1228, já numa idade provecta, como templário
ao castelo de Gardeny (conc. Lleida) “repartiendo sus títulos y honores entre sus hijos”
(Férnandez-Xesta 1991: 67).
54
O próprio Afonso I de Aragão cedeu o seu reino às ordens miltares do Templo, do Hos-
pital e do Santo Sepulcro (Oliveros de Castro 1964: 158, Ledesma Rubio 31-32, Barquero
Goñi 2003: 14).
55
Rodrigo Álvares foi sepultado no convento dessa ordem em Alfambra (Teruel). A mais
antiga doação de Afonso II ao conde Rodrigo Álvares produziu-se na localidade navarra de
Milagro, em julho de 1174, no dia em que o rei de Aragão tomou essa vila: “Ego Ildefonsus
[...] Domino Deo et vobis comiti Rodrico [...] dono vobis Alhambra [Alfambra] [...]. Facta
carta in Navarra apud ipsum Miracle, in illa die quando iam dictus dominus Ildefonsus, rex
Aragonensis, ipsum castrum et villam de Miracle, cepit et destrucit” (Alfonso II, nº 173).
56
Note-se a informação oferecida por Blázquez Jiménez (1917: 147) sobre a Ordem de
Monte Gáudio a partir da Historia de las Órdenes de Caballeria españolas de Íñigo (Ma-
drid: 1863): “Después que Godofredo de Bullón conquistó la Tierra Santa, se formó una
Orden militar cuyo principal propósito fué la defensa de los Santos Lugares y la protección
de los peregrinos. Llamóse primeramente de Monjoya ó Monte Joya, cuyo nombre tomó
del lugar de Palestina, donde primero tuvieron asiento”. Ao que parece, a presença da Or-
dem na Terra Santa foi efêmera (Carmona Ruiz 2001).
57
“Conon de Béthune fue uno de los primeros imitadores franceses de las técnicas y de
los temas trovadorescos, pero no se limitó a la aclimatación de los mismos en el norte de
Francia, sino que les dio nueva vida, al elevarse muy por encima de la inspiración de los
trouvères. Dos de las diez composiciones que le atribuyen los manuscritos son canciones
de cruzada, escritas hacia 1189, con motivo de la Tercera Cruzada, en la que tomó parte; la
más famosa de ambas es, sin lugar a dudas, Ahi! Amors, com dure departie [...]. Creo que
es un hecho realmente importante el que la estructura métrica de Ahi! Amors, com dure
departie sea exacta a la de la sátira política de Johan Soárez de Pavha. No tendría nada de
OSÓRIO EANES
LIMAS & TRAVAS
Otros caballeros tomaron también parte activa en este movimiento poético y tro-
vadoresco. La cantiga 523 del Cancioneiro de la Vaticana, está atribuída á Pero
Ans Marinho, hijo de Joham Frojaz de Valadares. Don Juan Fróilaz Mariño, señor
de Valladares y otras tierras cerca de Noya, era muy conocido en Santiago. Hizo
testamento en el año 1220 y mandó sepultarse en el cementerio de San Pelayo de
Antealtares. Esta familia, rica en leyendas, fué también rica en trovadores. Además
de Pedro Eans, que fué primogénito de D. Juan, otro su hijo, Martin Eans Mariño,
figura como autor de las trovas 1154 y 1155 del Cancioneiro de la Vaticana. En
el Cancioneiro de Brancuti suena un Osoyranes (Osorio Ans ó Eans), que
indudablemente es el hijo de D. Juan Fróilaz, que llevaba ese nombre. Fue
canónigo de Santiago, y como resulta de su testamento, otorgado en 1236, estuvo
en Paris con un Domingo Fernández, a quien por esta razón deja una manda.
1
“Osorius Ioannis de los documentos, Osoyranes del Cancioneiro CB. Quiere doña Ca-
rolina identificarlo con cierto Osorio Eannes, tronco de los condes de Cabreira, guiándose
solamente por el nombre. «Si realmente se tratase de este hidalgo –dice– debiamos colocar
su actividad cerca de 1200, en el reinado de Sancho el Viejo». Pero, como ya advirtió Ló-
pez Ferreiro, es el hijo de Juan Fróilaz que llevaba ese nombre. Don Osorio Eans Mariño,
acaso el más joven de los varones, fué destinado a la iglesia y siguió sus estudios en París,
en compañía de un tal Domingo Fernández, ayo o criado suyo. En Francia debía de hallarse
en 1220, pues es el único de los ocho hermanos cuya firma no aparece en el testamento de
su padre … Regresando a España, fué canónigo de Compostela y murió en Santiago, al
parecer prematuramente, en 1236” (Cotarelo Valledor 1933: 17).
2
Não se trata, obviamente, da linhagem catalã aqui estudada.
3
Em nota de rodapé apensa ao advérbio “aparentemente” – por ela utilizado – aponta:
“Indubitavelmente, segundo Lopez Ferreiro”.
4
Veja-se Souto Cabo – Vieira (2003).
5
A identificação da escritura deve-se a Barreiro Somoza (1987: 412): “Este es el caso,
por ejemplo, del resto de los hijos de Juan Arias y Teresa (sic) Fernández. Uno de éstos,
Osorio Eanes, nos especifica su filiación en la donación que efectúa a la mesa capitular de
la mitad de la casa que poseía en la Plaza del Campo (Compostela) y que había sido del
conde don Froila […]”.
6
Monteagudo não se refere à hipótese alternativa de Vieira, o que o impediu de conhecer
essa escritura de 1217, a única de que Osório Eanes de Nóvoa é titular [D.29].
7
Veja-se Oliveira (1994: 398) e Monteagudo (2008: 363). O professor compostelano faz
constar o seguinte: “López Ferreiro e tras el Cotarelo datan o testamento en 1236. Porén,
no texto que nos oferece Cotarelo lese «Era Mª CCLXXXIIIj», que dá o ano de 1246. Esta
última compadécese mellor cos rexistros de Osorio Eanes [Marinho] no tombo de Toxo-
soutos que a seguir citaremos, e coa información que dá García Oro (1981:373), segundo o
cal en 1239 era tenente de Lama Mala (Oia) un tal Petro Peirin, de manu Osorio Johannis
canonico Sancti Jacobi”.
8
A datação condiz com a atividade do autor material desse texto, Martim Eanes, notário
que documentamos entre 1215 e 1238. Veja-se Pérez Rodríguez (2004: 867).
9
Cotarelo Valledor supunha, inclusivamente, tratar-se de uma morte prematura (cf.
supra).
10
Oliveira também (1994: 398) liga a composição do testamento à proximidade da morte:
“Deve ter morrido em 1246, data do seu testamento”.
11
Um desacerto na transcrição de um topônimo presente nessa manda testamentária che-
gou a induzir conclusões inexatas sobre as relações literárias do cônego (considerado o
poeta homônimo). Assim, Miranda (2004: 123) com base, entre outros dados, na forma
“Dormãa” estampada por Cotarelo em lugar do correto “Torinaa” (atualmente Tourinhám,
conc. Muxia), chegava a refutar a proposta cronológica de Martínez Pereiro (1992) acer-
ca de Fernão Pais de Talamancos: “Infelizmente, o editor equivoca-se inexplicavelmente
sobre a cronologia do trovador, colocando-o no final do séc. XIII. Pelas referências que na
sua obra se fazem a Dormãa (B 1337/ V 944) – terra mencionada no testamento de Osoir’
Anes Marinho – e uma Marinha (B 78), que tanto pode ser nome de mulher como topóni-
mo – mas lembremos que uma irmã de Osoir’ Anes se chamava Marinha Anes...-, a ligação
de Talamancos ao nosso trovador parece inevitável”. Veja-se Souto Cabo ([no prelo/1]).
12
É isso que também cabe deduzir do casamento de um dos irmãos, Gonçalo Eanes Ma-
rinho, em 1243 (Tombo C, fól. 138). Veja-se López Ferreiro (1902: 372) e Oliveira (1994:
398). Esse irmão também é citado numa escritura de 1245 (ACS, Tombo C, fól. 199). Pelo
contrário, consideramos duvidosa a identificação do irmão com um indivíduo homônimo
documentado em Lugo no ano 1207 (Risco 1798: 351, 353), provavelmente “o vice-chan-
celer e vice-mordomo régio sub manu D. Álvaro Nunes de Lara” em 1217-1218 (Miranda
2004: 99).
13
Por outro lado, talvez fosse necessário explicar o motivo pelo qual não foi integrado na
“compilação de clérigos”, agrupamento formado – quase exclusivamente – por membros
do Cabido de Santiago da segunda metade do séc. XIII.
14
Esse pode ser o caso, entre outros, de Pedro Garcia de Ambroa (1203-1235), Fernando
Pais de Tamalhancos (1196-1242) ou mesmo de Airas Fernandes “Carpancho” (1230).
Veja-se Oliveira (1994), Souto Cabo – Vieira (2003), Souto Cabo (2006, [no prelo/1]),
Monteagudo (2008).
15
“E estes Marinhos partirom-se per muitas partes, por casamentos de filhos que casarom
em Galiza, com outras, de que decenderom muitos que chamarom Marinhos” (LC 73A5).
16
Toxos Outos nº 17, 18, 24, 47, 48, 49, 358, 508, 596, 645, 650 [1173-1222].
Apesar de atraente, nada assevera essa proposta, até porque falta o elemento
marítimo, imprescindível ao aparecimento da sereia. Por outro lado, parece
anacrônico supor que a lenda – divulgada a partir de meados do séc. XIV –
se pudesse encontrar definida (e difundida) na primeira metade do séc. XIII,
quando a existência “real” de alguns dos seus protagonistas mantinha uma
notável atualidade. Não esqueçamos que o episódio lendário não se situa
em tempos remotos: D. Froião e D.ª Marinha, a sereia da história, foram
avós de Osório Eanes Marinho. Aliás, o próprio Miranda (2004: 113) tem
de reconhecer que se trataria de um exemplo “muito precoce de ocorrência
da fada em âmbito galego-português, e até ibérico”.
Na linha do que aqui foi dito, é claro que, além da homonímia
(parcial) entre o poeta e o cônego, não existem razões objetivas para propug-
narmos a identificação entre eles. Pelo contrário, o cavaleiro Osório Eanes
2. Genealógica
Os Oares de Bóveda
Nos primeiros anos do séc. XIII, o Mosteiro de Bóveda (conc.
Amoeiro) era regido por Urraca Eanes, uma irmã de Osório Eanes [D.27].
Esse cenóbio, consoante o que se determina explicitamente no diploma da
sua refundação, escolhia a abadessa, de preferência, entre os membros da
linhagem instituidora17, seguindo a prática habitual na Idade Média. D.ª
Urraca, através da avó paterna (cf. infra), pertenceu à linhagem que fundara
esse mosteiro. É pela análise desse grupo familiar, aqui nomeado – por
motivos práticos – como “Bóveda” (ou “Oares de Bóveda”), que abrimos
a aproximação à biografia de Osório Eanes.
Apesar de existirem algumas dúvidas sobre a natureza da escri-
tura de reinstituição de Bóveda, o contexto diplomático parece assegurar
a veracidade geral dos seus dados, mesmo que se admita a existência de
interpolações ou adulterações interesseiras na cópia do séc. XVII que no-la
transmitiu (Bóveda, nº 2)18. A carta reflete a renovação e dotação do cenóbio
17
“abatissa uero, si inuenta fuerit idonea, cum consilio episcopi de genere nostro eligatur,
sin autem, undecumque fuerit inuenta idonea, ipsa statuatur” (Bóveda, nº 2).
18
O documento em foco exibe a data de 968, mas García Álvarez (1975: 111-114) situa-o
em 1168. Duro Peña (1977: 121) mantém algumas reservas sobre a cronologia e o conteú-
do: “sospecho que es interpolado el documento fundacional, al que no me atrevo a seña-
lar fecha”. Os dois escritos mais antigos do núcleo documental de Bóveda, conservados
apenas em cópias do séc. XVI, poderão ter sido adulterados pelos Boáns, o que supõe um
grave empecilho para validar a informação contida neles.
19
“Ego servus servorum et ancillarum Dei Arias Fernandi et uxor mea Gudina Oduariz
et filii et filie nostre, vidilicet, Oduarius Arie, Fernandus Arie, Iohannes Arie, Marina Arie,
Vestrava Arie et Azenda Arie”.
20
“Ego Urracha [...] una cum filio meo rege Alfonso [...] facimus ambos cartam kariterii
et cautionis vobis Oduario Ordonii uxorique vestra Haldera Petri vocique vestre, super
illud monasterium de Bobeda, in honore sancti Michaelis archangeli constructum et super
illam vestram hereditatem Tonderey vocitatam [...] quam incautionem predictis hereditati-
bus vestris incommutabiliter imponimus propter servitium vestrum et fidelitatem que nobis
exhibuistis abundanter”. Neste caso, Duro Peña (1977: 121) aponta: “acepto con el [García
Álvarez] la factura irreprochable del privilegio de doña Urraca de 1121, pero tengo mis
reparos, más que nada por la forma de transmisión”.
21
Nesse núcleo diplomático, aparece entre 1098 (Urraca, nº 5) e 1123 (Urraca, nº 57).
Posteriormente, só reaparece em 1150 numa escritura do Mosteiro de Meira (AHN, 1126,
nº 4) (cf. infra).
22
Airas Peres é uma personagem recorrente na História Compostelana. Ele esteve casado
com Aldara Peres, filha de Pedro Froiaz de Trava (HC III, 2).
23
No conjunto de confirmantes, comparece um Diogo Ordonhes, que identificamos com
um dos irmãos de D. Oeiro (Oseira, nº 15).
24
Filho do conde Rodrigo Vélaz e de Urraca Álvares (Salazar Acha 1985: 54-55, Barton
1997: 230).
25
Veja-se García Álvarez (1975: 116-117). Pelo contrário, Vázquez-Monxardin Fernán-
dez (1995: 79) considera que “posiblemente fose da familia dos Traba, tal vez filla de
Pedro Froilaz”. Ao que parece, D.ª Aldara ingressou no Mosteiro de Bóveda mesmo antes
da morte do marido, já que Vela Guterres – pai de João Vélaz – lhe encomendou a fundação
do mosteiro beneditino de Nogales (Leão) em 1150 (cf. supra).
26
Geraldo Oares surge no diploma de 1137 acima referido (Oseira, nº 14). Airas Oares
também confirma uma carta de Fernando II em 1127 (Tombo B, nº 223).
27
Não sabemos se os dois últimos nomes correspondem, na verdade, a uma mesma per-
sonagem. A forma “Goina” também poderia ser interpretada como “Goma”.
Fernandus Oduariz
A trajetória de Fernando Oares de Bóveda (1135-1169), o filho
mais bem conhecido de Oeiro Ordonhes, pode ser seguida desde 1135
(Afonso VII, nº 61) até ao dia da sua morte em 25 de julho de 1169 (Fernán-
dez Fernández 2005: 28, 124). O seu testamento [D.8]29 e outras aparições
diplomáticas testemunham a ligação de D. Fernando ao cenóbio citado e
às terras de Búval. Ele próprio foi tenente desse distrito medieval (Oseira,
nº 35 [1158]) e, previamente, do de Aguiar (Rochas, nº 5 [1153]30).
Várias cartas régias demonstram que a proximidade de Fernando
Oares relativamente ao poder régio ultrapassou o exercício dessas funções
político-administrativas31. Assim, sabemos que Afonso VII lhe deu, em
28
Num documento (não datado) do Tombo C (fól. 159v), uma Aldara Fernandes, irmã do
cônego compostelano Nuno Fernandes, confirma a venda feita pela mãe Lupa Oares. Esta
última foi, muito provavelmente, filha de Oeiro Ordonhes e de Aldara Peres. Por outro
lado, os irmãos Aldara, Lupa, Maria, Martim, Pedro e Oeiro Ordonhes, documentados
entre finais do séc. XII e primeira metade do XIII, terão sido netos ou bisnetos dele.
29
Entre os diversos beneficiados por esse cavaleiro templário encontramos: a irmã Goina
Oares de Orrea, a Sé de Ourense (onde pede ser enterrado) e os mosteiros de Ante-Alta-
res, Aziveiro, Bóveda, Carvoeiro, Celanova, Chouzám, Hospital, Eiré, Samos e Sobrado.
Quanto à localização das suas posses, situam-se na área em que confluem as atuais provín-
cias de Ourense (conc. Amoeiro, Cea, Coles, Ourense, Peroxa, Pinhor, Vilamarim), Ponte-
vedra (conc. Doçom, Rodeiro, Lalim) e Lugo (conc. Monforte). Fernando Oares declara-se
devedor de D. Cotalaia, personagem que identificamos como pai do trovador D. Juião (cf.
infra)
30
O distrito de Aguiar (de Pedraio) localiza-se a nordeste da cidade de Ourense.
31
Ele aparece, só ou com os sobrinhos (Fernando, João e Pedro Airas), como confirmante
de diversos diplomas reais entre 1135 e 1169 (Fernando II, nº 9, 54, 35, 64, 78; CAstorga,
nº 809). Notemos a sua presença no diploma de fundação de Osseira em 1137 (Oseira,
nº 15), outorgado por Afonso VII ao lado de algumas das personalidades mais importantes
da área e ainda do conjunto dos reinos da Galiza, Leão e Castela. Entre elas, identificamos
diversos indivíduos relacionados familiarmente com poetas contemplados neste trabalho:
Fernando Peres de Trava (avô de Osório Eanes), Rodrigo Peres “o Veloso” (avô de Rodri-
go Dias dos Cameros e de Garcia Mendes de Eixo), Pôncio II Geraldo de Cabrera (avô de
João Vélaz), Paio Curvo (bisavô de Gonçalo Garcia e Fernando Garcia de Esgaravunha),
Fernando Oares (tio-avô de Osório Eanes), Airas Calvo (avô de Osório Eanes) e Pedro
Bazaco (avô de Pedro Pais Bazaco).
32
“Ego Adefunsus, Hispanie Imperator, una cum filiis meis Sancio et Fernando vobis Fer-
nando Oduariz et filiis vestris et omni generationei vestre facio cartam donationis de illa
ecclesia que vocatur Sancta Maria de Barra cum omni illo regalengo quod pertinet eidem
ecclesie et ad suam feligresia; et dono vobis ipsam ecclesiam cum omni sua felegresia ut
ab hac die abeatis eam cautam tam istam hereditatem quam vobis do quam omnem aliam
quam ibi habeatis; et hoc facio pro bono et fidei servicio quod michi fecistis in partibus
sarracenorum atque christianorum. Et est ipsa ecclesia in terra de Buval, suptus monte
Durinu, circa flumen de Barra”.
33
Veja-se Martín (1974: 18, n. 39; 118, n. 226) e López Agurleta (1731: 69-71). Essa ces-
são constitui o núcleo originário da entidade administrativa santiaguista conhecida como
Encomenda de Barra.
34
A HC (I, 66) descreve a participação de Múnio Pais junto dos Travas, nas cerimônias
de coroamento de Afonso VII. Múnio Pais era filho de Paio Gomes da linhagem dos Beni
Gomes de Carrión, mas muito vinculado à Galiza (Torres Sevilla 1999: 351). A essa estirpe
também pertenceu Sancha Gonçalves, mulher de Fernando Peres de Trava (cf. infra). Por
via materna, Múnio Pais, enquanto filho de Elvira Moniz, foi neto de Múnio Rodrigues,
antepassado de Guiomar Rodrigues, a mãe de Rodrigo Dias dos Cameros.
35
Este último filho consta na Genealogia dos fundadores do mosteiro de Santa Maria de
Ferreira de Palhares [D.39] (Salazar Acha 1984: 85-86; Fernández Fernández 2005: 116).
36
Salazar Acha (2000: 364) considera que morreu “poco después de 1188”. Monteagudo
(2008: 334) oferece como data do seu último aparecimento o ano de 1193, com base num
diploma de Afonso IX em que lemos “Munio Fernandi tenens Temees” (Oseira, nº 82).
Esse ato documental só consta por uma cópia posterior em que Múnio Fernandes figura na
coluna reservada a bispos e arcebispos, o que constitui uma notável irregularidade e projeta
alguma incerteza.
37
Veja-se Salazar Acha (2000: 364). Monteagudo (2008: 334) também lhe atribui esse
cargo em 1182: “en 1182 e 1188 como mordomo de Alfonso IX”. A informação não parece
exata, já que em 1182 o rei ainda era Fernando II e o conde Armengol VII de Urgell foi
mordomo real desde 1179 até 1184.
38
Seguimos a linha de sucessão genealógica desenhada na, acima citada, escritura do
Mosteiro de Ferreira de Palhares [D.39]. Pardo de Guevara (2006: 268) apresenta uma
proposta diferente, supondo que “la línea principal de la familia no fue la derivada de don
Fernando Muniz de Rodeyro [...] sino la de su hermano Pay Muniz – o Pelagio Muniz
de Rodeiro – al cual se documenta por el año 1203 como tenente honori Sancti Iacobi. Y
ciertamente, de este último, consta también su matrimonio con doña Teresa Munionis, en
la que dejó a doña María Pelagii, mujer de Fernando Beltrani, de los cuales quedó ya la
primera gran generación de la estirpe: doña Urraca Fernández de Rodeiro, Fernando Pela-
gii de Rodeiro, que gobernó la tenencia de Camba, Rui Fernández de Rodeiro y finalmente
Munio Fernandez de Rodeiro”. Veja-se também Monteagudo (2008: 351-355).
39
Apesar de não contarmos com dados documentais probatórios, aventamos a possibilida-
de de os trovadores Airas Moniz e Diogo Moniz terem sido filhos de D. Múnio (cf. infra).
40
Veja-se Resende (1994: 402) e Vallín (1995).
41
Conservamos vários atos diplomáticos relativos a esta senhora e ao esposo nos núcleos
de Ferreira de Palhares (FPallares, nº 102 [1246]) e Osseira (Oseira, nº 578 [1246], 818
[1259]; DGP, nº 79 [1259]). Na sua manda testamentária, de 1259, beneficia os mosteiros
de Osseira, onde pede para ser enterrada, Sobrado, S. Francisco de Santiago, Bonaval, Fer-
reira de Palhares, Vilar de Donas, Melom e Oia. A relação de cenóbios favorecidos define
muito bem a integração familiar da outorgante. Ela também é citada na Genealogia dos
fundadores do mosteiro de Ferreira de Palhares [D.39].
42
A documentação medieval galega evidencia a substituição progressiva do resultado
(latino/arcaizante) “Límia” por “Lima” (DGP, nº 4, 117, 192, 223). O uso atual da primeira
forma na Galiza responde certamente ao influxo do castelhano.
43
Fernandes (1992: 146, n. 182) supõe que a estirpe portuguesa dos Valadares foi um
“ramo imediato dos «de Límia»”. Concordamos com Pizarro (1997: 783, n. 1) em que:
“exceptuando o argumento de proximidade geográfica, não nos parece que a manipulação
que ali é feita dos dados linhagísticos levem a uma conclusão consistente”.
44
García Álvarez (1966: 27) desconhecia naquela altura a relação entre os Bóvedas e os
Nóvoas, segundo se depreende da seguinte informação: “Ignoramos con quien éste [Airas
Calvo] casó y, por tanto, el nombre de la madre de nuestros personajes [João Airas e Fer-
nando Airas]”. Num trabalho publicado dez anos depois (García Álvarez 1975: 114, n. 11),
nhado pelos familiares e pela “Lima toda” na expedição de Afonso VII contra a cidade
andaluza em 1147: “Iungitur his cunctis Fredinandus et ipse Iohannis, militia clarus, bello
nunquam superatus … Hunc bello mota sequebatur Limia tota” (Gil 1974: 57).
51
“Fernandus Iohannis de Galecia conf.– Arias Caluus conf.– Pelagius Curuus conf.–
Munio Tacon conf.” (COurense, nº 22 [1145]), “Arias Caluus confirmat. Munio Tacon
confirmat. Fernandus Iohannis confirmat. Pelagius Curuus confirmat” (Afonso VII, nº 117
[1147]) “Fernandus Iohannis de Gallecia conf.– Arias Caluus, tenens Limiam, conf.– Pela-
gius Curuus conf.” (COurense, nº 23 [1147]).
52
“E este conde don Goiçoi foi o que matou Frade Balderique, visavoo de dom Fernam
Anes de Montor <e trasavoo de dom Paai Calvo de Toronho, filho deste dom Fernam Anes
de Montor,> ca deste Balderique saio Ramiro Frade, e de Ramiro Frade saio dom Joham
Ramirez, padre de dom Fernam Anes de Montor” (LC 22A4).
53
Fernando Eanes esteve casado com Urraca Gomes, filha de Gomes Nunes de Celanova
e de Elvira Peres (← Pedro Froiaz de Trava).
54
Lembremos a figura do turbulento Airas Peres, filho de Pedro Airas de Deza. Esse Airas
Peres foi marido de Aldara Peres de Trava (cf. supra).
55
“Una de las notas que cayeron más simpáticas a Boán – o una de las marcas de Boán
– en el documento fundacional, aparte del apellido Fernández, fue la referencia a San Fa-
cundo” (Duro Peña 1977b: 121). Lembremos que os Boáns também pretenderam incluir
entre os seus ancestrais os santos Facundo e Primitivo (Souto Cabo 2007: 129-131). Por
Pedro Airas
Pedro Airas (115357-1168) não é mencionado entre os filhos de
Airas Calvo e Godinha Oares no Privilégio de refundação do Mosteiro de
Bóveda (1168.09.24), circunstância atribuível ao seu decesso em data ante-
rior. Tal hipótese parece ser confirmada pela sua ausência na documentação a
partir de 1168.05.10 (CAstorga, nº 80958). Ele foi mordomo real (1166-1167)
e tenente de Aguiar (1165) e Castela (1167) (Salazar Acha 2000: 361). Do
enlace com uma prima, Aldara Fernandes ( Fernando Oares de Bóveda),
outro lado, os Boáns poderão ter feito desaparecer a documentação de Bóveda anterior a c.
1270 com o intuito de salvaguardar as suas intervenções fraudulentas.
56
García Álvarez (1966: 26) refere apenas os nomes de João e Fernando, notando a falta
de dados documentais explícitos para demonstrar a relação familiar entre eles: “No hay
prueba expresa de que Juan y Fernando fueran hermanos, e incluso el muy docto Julio
González llega a escribir, por evidente descuido, que «era don Juan Arias hijo de Fernando
Arias»”. Porém, com independência do (problemático) privilégio da refundação de Bóve-
da – conhecido posteriormente por esse investigador –, esse vínculo consta numa escritura
de c. 1170 pela qual Fernando II oferecia ao Mosteiro de Sar a ermida de Santa Maria da
Grova (Sanim, c. Ribadávia): “per illas divisiones et por illos cautos quos Iohannes Arie et
frater eius Fernandus Arie [...] diviserunt” (AHDS, Priorado de Sar, maço 38, nº 13).
57
O testemunho mais antigo corresponde a um diploma (TSobrado, II, nº 79 [1153]) que
registra o acordo entre a sua prima Loba Fernandes – junto com o marido Fernando Afon-
so – e o Mosteiro de Sobrado sobre a posse da vila de Penela. Também aparecem Múnio
Fernandes (irmão de Loba Fernandes) e Fernando Airas (irmão de Pedro Airas).
58
É uma das testemunhas ao lado do tio, Fernando Oares, e dos irmãos, João e Fernando,
de um ato documental pelo qual o conde Ramiro Froilaz dotava a quarta mulher, Elvira
Osores, com a vila de Molina Seca. Segundo Torres Sevilla (1999: 152), Elvira Osores,
irmã de Constança Osores (mulher de Pedro Airas), estivera casada em primeiras núpcias
com Múnio Fernandes (filho de Fernando Oares e, portanto, primo de Pedro, João e Fer-
nando Airas).
Oeiro Airas
D. Oeiro é aquele irmão que conta com menor representação
documental, talvez por não ter exercido qualquer tipo de função pública,
em consequência de uma morte precoce. Por enquanto, só o conseguimos
situar no (incerto) privilégio de fundação do Mosteiro de Bóveda (cf. supra).
É provável que tenha contado entre os seus filhos com um Airas Oares
(1187), pelo seu lado, pai do Oeiro Airas citado em escrituras de finais
do séc. XII e princípios do séc. XIII60. Como veremos, esse Airas Oares,
provável primo de Osório Eanes, poderá ser identificado com o trovador
do mesmo nome lembrado apenas pela TC (cf. infra).
Fernando Airas
Fernando Airas Batissela (1147-1196), apelidado “de Castela”,
“do Burgo” (= Ribadávia) ou “de Anho”, foi para alguns o irmão mais
novo. O primeiro registro documental data de 1147 quando confirma um
59
Rodrigo e a mãe doavam, em 1183, ao Mosteiro de Osseira a quarta parte da vila de
Marín “in termino de Benavent, discurrente fluvium Orvego” (Oseira, nº 66).
60
É possível que Airas Oares tenha desposado Elvira Peres Bazaco, tia do trovador Pedro
Pais Bazaco (cf. infra).
61
RAG, Pergaminhos, maço 2, nº 11. Muito provavelmente, ele também é o Fernando Ai-
ras que junto com o irmão, João Airas, confirmava, em 1152, um contrato econômico entre
o cabido de Santiago e uma Urraca Eanes (Tombo C, fól. 99r). A julgarmos pela localização
das propriedades de que esta última dispunha, terá sido, muito provavelmente, parente dos
anteriores.
62
García Álvarez (1948: 253-272) precisou a localização deste topônimo na margem di-
reita do Minho, em frente de Santa Maria de Castrelo, perto de S. Paio.
63
A relação de filiação de Teresa a Urraca Henriques pode estabelecer-se, indiretamente,
por um documento de 1161 em que aparece Urraca Bermudes – irmã de Teresa – ao lado
dos pais: “Ego Ueremundus Petrici hoc scriptum quod fieri iussi propria manu et proprio
roboro confirmo. Infantissa domna Urracha manu propria confirmo et roboro, fila eius
Urracha Uermuiz conf.” (Barton 1997: 320-322; AHN, Tojos Outos, maço 556, nº 4).
64
Várias escrituras referem a existência de propriedades em Sanim (conc. Ribadávia):
“Ego Tereisa Uermuit uobis monachis de Mellonis facio manda ipsa uilla de Sanim do ego
ipso kasalem quod dictis da Figueira et medietatem de ipsas uineas nouas pro remedium
anime mee et de domno Fernandus Arie [...] tenente terra ipsa domna Tereysa” (ACO,
Most.º de Melom, nº 38 [1203] = Melón, nº 85), “Ego domna Tarasia Ueremudi asigno
66
Fernández Rodríguez (2004: 129) considera que foi tenente de Toronho (1180-1182),
alferes (1184-1185) e chanceler (1189), mas não é fácil confirmar que se trate dessa mesma
personagem. Veja-se também Salazar Acha (1984: 83-84).
67
Esta Maria Rodrigues casou com Martim Martins Marinho e foram pais de Pero Mar-
tins Marinho, segundo marido de Teresa Lopes de Ulhoa (cf. infra).
68
Pizarro (2011: 62) valoriza o parentesco (primo) que unia D. João com Afonso IX e
com os monarcas lusitanos Sancho I e Afonso II.
69
Neste e noutros casos similares, indicamos apenas as datas extremas, sem que isso
suponha uma continuidade no cargo durante o período delimitado.
70
Veja-se Salazar Acha (2000: 366-368) e Fernández Rodríguez (2004: 147-149). Com-
pletamos com informação de diversas coleções documentais, nomeadamente a de Osseira.
71
Existem algumas divergências sobre a sua possível presença na cúria lusitana antes
de 1210. Mattoso (1982: 129) identifica-o com um João Fernandes que foi dapífero (ou
mordomo) com Sancho I de Portugal entre 1186 e 1204 [1206]. Porém, Ventura (1992:
989, n. 6) considera que se trata de João Fernandes de Riba de Vizela, já que na altura o
de Lima ocupava, como dissemos, diversos cargos na corte de Afonso IX. Pizarro (2011:
62) identifica o Batissela com um “Johannes Fernandiz Gallicus” citado num documento
da chancelaria de Sancho I (Sancho I, nº 105) e, sem elucidar o motivo, com o dapífero
referido em diplomas do ano 1206, mas não com o homônimo que aparece, sem solução de
continuidade, antes desse ano. Veja-se Ventura (1992: 1001, 1004).
72
Berengária Afonso foi irmã de Lopo Afonso de Baião, pai do trovador Afonso Lopes de
Baião (1246-1280).
Livros de Linhagens como pai de um Fernando Gil que casou com Sancha
Fernandes, filha do trovador Fernando Pais de Tamalhancos: “E dom Gil
Fernandes Batissela foi casado com uma dona Elvira Paes [...] e fege nela
73
Os Ribeiras são considerados um ramo dos Cabreiras e, portanto, aparentados com os
Travas (Pizarro 1997: 817).
74
O trovador Gil Sanches (1207-1236) resultou do relacionamento de Maria Pais com o
monarca português. D. Gil esteve ligado ou casado a/com Maria Garcia, filha de Garcia
Mendes de Eixo (cf. infra). Michaëlis (1904: 307-321) reconheceu nela a Maria Pais citada
numa cantiga de Paio Soares de Taveirôs, mas essa identificação tem sido posta em dúvida
(Oliveira 1994: 402, Vallín 1995).
75
Veja-se Fernández Rodríguez (2004:167-172), Monteagudo (2008: 137-138), Pizarro
(2011: 63-64).
76
Um filho deles, Fernando Fernandes Pancenteio (Pancenteo, c. Rosal), casou com San-
cha Vasques, filha de Vasco Gil de Soverosa (1238-1258) (← Gil Vasques & Sancha Gon-
çalves de Orvaneja) (cf. infra). João Fernandes, prole destes últimos, foi cônjuge de Maria
Eanes, uma filha de João Peres de Aboim (1249-1284).
77
Elvira Eanes, a mulher de Rui Gomes de Briteiros, foi irmã de Teresa Eanes da Maia.
Antes de casar, Rui Gomes raptou a mulher, sucesso escarnecido na cantiga Pois boas
donas son desemparadas do trovador Martim Soares.
78
Conhecemo-lo por uma escritura (1223) em que, juntamente com a irmã Urraca Fer-
nandes, legava diversos bens ao Mosteiro de Sobrado antes de acompanhar o rei Afonso IX
na tentativa, fracassada, de tomar a cidade de Cáceres (Vaamonde Lores 1909: 54-55). A
sua filiação relativamente ao casal em questão não conta com prova documental explícita.
79
Monteagudo (2008: 324) inclui um Pedro Fernandes, tenente de Pena Corneira (1188)
e Villafranca (1200), entre os filhos de Fernando Airas.
80
A documentação evidencia que o nome da mulher de Gil Fernandes foi Maria – não
Elvira – Pais (CSobrado, fól. 364).
81
Froila Ramires esteve casado em primeiras núpcias com Urraca Gonçalves, filha do
conde Gonçalo Fernandes de Trava, falecida em 1190. Veja-se Souto Cabo (2011b).
82
O dado discrepa com a informação dos Livros de Linhagens (LC 13D3), que o faziam
filho de Teresa Fernandes de Lima/Trava, mas é confirmado por uma escritura de 1236
em que Maria Fernandes e os filhos, Fernando e João Lopes, realizam uma permuta com
o Mosteiro de Sobrado: “Ego domna Maria Fernandi concedente filio meo D. Fernando
Lupo et concedente alio filio meo D. Johannes Lupi [...]” (Vaamonde Lores 1909: 58,
nº 9). Pelo contrário, é possível que esteja certa a atribuição da condição de “freire” feita
pelos Livros de Linhagens, o que nos leva a reconhecê-lo no “Iohannes Lupi conmendator
de Faro” que, junto com outro freire dessa mesma bailia, testemunha em 1238.02.13 uma
compra-venda outorgada por Urraca Garcia de Ambroa (filha de Garcia Peres de Ambroa,
parente de Pedro Garcia de Ambroa) a favor de Rodrigo Gomes de Trava (Tombo C, fól.
153v). A vinculação familiar ao mosteiro santiaguista de Vilar de Donas induz a identificá-
-lo com a personagem homônima que alguns anos antes, em 1230, confirmava uma es-
critura desse cenóbio, em que também aparece João Somesso (cf. infra). Não podemos
descartar que esse caráter de mílite tenha motivado a sua transferência para a Estremadura
portuguesa, pelo menos desde 1265, onde casou com Sancha Lourenço de Taveira. Sobre
as relações poéticas do João Lopes em terras lusitanas, veja-se Souto Cabo (2012a).
83
O segundo enlace valeu-lhe uma cantiga satírica de Afonso Soares Sarraça. Este último
trovador foi tio de Maria Peres Sarraça, mulher de João Fernandes Varela (← Fernando
Pais de Tamalhancos & Teresa Lopes de Ulhoa).
84
Os filhos dela são referidos genericamente no diploma de que é titular o irmão Henrique
Fernandes (cf. supra).
85
É possível que se trate dos filhos mais novos do casal, motivo pelo qual não se encon-
tram na documentação familiar anterior.
86
“Ego Alvarus Fernandi, filius domne Tarasie Ueremundi, pro me, et pro sororibus meis
Eluira Fernandi et pro matertera mea domna Aldoncia Veremundi et pro omni uoce mea
[...] uendo, dono et firmiter concedo vobis Fernando Pelaez, pectauino, comparanti pro uo-
bis et pro uxore uostra Maiore Viuiani omnique uoci uestre, quartam illius domus de Placia
que est sita inter domum canonicorum que fuit domni Cotalaie, ex una parte, et domum
Archiepiscopi in quam modo domnus Iohannes decanus moratur, ex alia. Quam IIIIª ego
habeo ex parte predicte matris mee domne Tarasie Veremundi ” (Tombo C, fól. 80r). Al-
donça Bermudes não é incluída entre a prole de Bermudo Peres, mas poderia ser a Ilduara
de que falam algumas fontes. Sobrevivem múltiplas incertezas sobre os casamentos e os
filhos de D. Bermudo (Lopez Sangil 2005: 62-63). Apesar das dúvidas que levantam as
“novidades” contidas nessa escritura, não parece que existam argumentos suficientes para
vincular os indivíduos citados a outro grupo familar.
87
D. Cotalaia, citado na escritura anterior, possuía uma casa contígua a outra de Fernando
Peres de Trava, situada em frente do portal principal da Sé de Santiago (cf. infra). D. Co-
talaia, importante figura da urbe compostelana, é aqui postulado como pai de D. Juião (cf.
infra).
88
A Terra de Nóvoa, que integra a vila de Ribadávia, formava parte do distrito medieval
de Toronho (Fernández Rodríguez 2004: 55). A origem do topônimo está em Santo Estê-
vão de Nóvoa (conc. Carvalheda de Ávia).
89
“E a sobredita dona Maria (sic) Fernandes de Trastamar casou com dom João Aires de
Moeiro, e fege nela don Gonçal’ Eanes, o bom, rico homem” (LD 1904). Como vemos, os
Livros de Linhagens erram no nome da mulher; Maria Fernandes de Trava, irmã de Urraca,
esteve casada com o conde Pôncio II Geraldo de Cabrera (cf. infra).
90
“tenente Sancti Iohannis de Novoa domno Iohannes Arie” (Melón, nº 31).
91
Em 1176 e 1180 encontramo-lo como “Iohannes Arie in Gallecia” (cf. supra) (Fernan-
do II, nº 176, 177; RFernando II, p. 467).
92
Fernando II (nº 116). Em 1178.12.28 está documentado como vicário real: “in tempus
de rege Fernandus, suo vicario Iohanne Arias” (Oseira, nº 59).
93
O casamento ocorre antes de 1165.04.30, altura em que o casal entregou ao Mosteiro de
Armenteira a herdade chamada Paraíso [D.6].
94
Veja-se Pallares – Portela (1983: 837). Notemos, por outro lado, que Fernando II e
Afonso IX aparecem ocasionalmente como atores e confirmantes de documentos de que
João Airas é titular [D.6, 10].
95
É possível que continuasse vivo ainda em 1181.02.23, data que supomos para um do-
cumento mal datado [D.12].
96
João Airas foi identificado por García Álvarez (1966: 28), Salazar Acha (2000: 420-
421) e Calderón Medina (2011a: 129) com um João Galego, documentado até 1187, que
chegou a ser tenente das Torres de Leão (Fernando II, nº 156). Porém, tal identificação não
é possível já que os dois aparecem ocasionalmente nos mesmos diplomas (Fernando II,
nº 156: “Iohannes Arie confirmat […] Iohannes Gallecus in Legione”). Também induziu
a engano o regesto que ofereceu González (1943: 513) sobre um documento de 1187 ao
incluir entre os confirmantes um “I. Arie de Buual” em lugar do correto “filiis Iohannis
Arie de Buual” (Fernando II, nº 235). O anterior induziu Calderón Medina (2011a: 129) a
pensar que João Airas “continuó sirviendo al rey hasta 1187”.
97
Numa escritura de 1182 (Tombo C, fól. 123) cita-se um imóvel na Boca do Campo em
Santiago que pertencera a João Airas. O trovador Osório Eanes, filho dele, contava com
uma casa nessa localização (cf. infra).
98
Conhecemos duas cartas [D.10, 11] pelas quais D. João e D.ª Urraca venderam e ofere-
ceram, respetivamente, a esse cenóbio propriedades próximas do rio Minho.
99
No apêndice documental incluímos um diploma inédito pelo qual esta senhora estabe-
lecia a celebração de aniversário póstumo por ela e pelo marido na sé de Santiago [D.4].
100
O Mosteiro de Sobrado tinha pertencido aos antepassados de Urraca Froiaz, a primeira
mulher de Pedro Froiaz, mas fora-lhes arrebatado violentamente por Fernando I. A rainha
Urraca e o filho, Afonso Raimundes (= Afonso VII), restituíram a propriedade do cenóbio
abandonado a Fernando e a Bermudo Peres, filhos dos anteriores, segundo consta em di-
ploma de 1118 (AHN, Sobrado, pasta 526, nº 3, 4; Sobrado II, nº 8).
101
Existem dúvidas sobre a natureza da relação que existiu entre Fernando Peres e Te-
resa Afonso. Na carta de fundação do Mosteiro de Monte de Ramo (1124), esta última
considera-se “coniux” de D. Fernando “uiro meo”. Porém, a informação da História Com-
postelana e doutras fontes leva a pensar que não se tratava de um matrimônio legalizado
institucionalmente.
102
Gonçalo Fernandes desposou Elvira Rodrigues e Berengária Rodrigues, ambas filhas
do conde Rodrigo Vélaz.
103
Sancha casou-se (em três ocasiões) com Álvaro Rodrigues de Sarria {Vélaz}, Pedro
Afonso e Gonçalo Rodrigues.
104
D.ª Teresa uniu-se em primeiras núpcias a Nuno Peres de Lara com quem teve: Álvaro,
Elvira, Fernando, Gonçalo, Leonor, Sancha e Teresa Nunes. Gonçalo Nunes, muito vincu-
lado ao reino galaico-leonês, aparece relacionado com o trovador Pedro Garcia de Ambroa
(Souto Cabo 2006: 230). Pelo seu casamento com Fernando II, D.ª Teresa foi rainha da Ga-
liza e de Leão: “Et rex Fernandus […] duxit uxorem Tharasiam filiam comitis Fredenandi,
que fuerat uxor comitis Nunii de Castella” (HRH, 23.45-47). O matrimónio celebrou-se
em setembro de 1178 e Teresa Fernandes morreu em 1180.02.07. No entanto, a união ma-
rital com Fernando II é anterior àquela data, já que fruto da mesma foi o infante Fernando,
nascido – antes do casamento – em 1178 e falecido em 1187. Por esse casamento, Osório
Eanes foi sobrinho de Fernando II. O soberano alude a D.ª Teresa como “dilectissime mee
comitisse domna Tarasie” (Fernando II, nº 139 [1178.07]) (Calderón Medina 2011: 4, n. 11).
105
López Sangil (2002: 77), Monteagudo (2008: 492).
106
Barton (1997: 241), Torres Sevilla (1999: 112, 336), Calderón Medina (2011a: 143).
107
Notemos a ausência de D.ª Urraca, por provável minoridade, entre os confirmantes de
uma carta de 1153 em que aparecem os irmãos: Gonçalo, Maria, (infanta) Sancha e (con-
dessa) Teresa Fernandes (TSobrado II, nº 14).
108
López Sangil (2002: 144) cita um diploma de 1203 em que se alude a uma Sancha
Fernandes que fora irmã de Teresa Fernandes. Tal exemplar, utilizado – por lapso – para
provar a existência de uma segunda Sancha Fernandes, vem certificar que a única irmã
“completa” de Sancha foi Teresa.
109
Existem várias propostas sobre as origens familiares de Sancha Gonçalves. Uma escri-
tura do Tombo de Lourençá, de que D.ª Sancha é titular, assegura que foi neta de Bermudo
Oveques {Vélaz}: “Me, comitissa Sancia Gundisaluiz [...] auo meo, Ueremudo Ouequiz”
(TLourençá, nº 154 [1142]). Por outro lado, sabemos que Urraca Bermudes, filha do ante-
rior, esteve casada com Gonçalo Ansures {Beni Gomes – Ansures} [1075-1120], conde de
Liébana, segundo consta explicitamente num documento do mosteiro asturiano de Cornel-
lana: “Ego Gunzaluus Ansurez una cum uxore mea Urracha Veremudiz”, “Ego Gunzaluus
Ansuriz, simul cum coniuge mea Urracha Ueremudiz” (Floriano Cumbreño 1949: 22, nº
3), o que nos permite considerá-lo, com segurança, pai de Sancha Gonçalves. Relativa-
mente a esta linhagem, veja-se Torres Sevilla (1999: 236-274, 341-357). Notemos, porém,
que esta última autora considerava, talvez por exclusão, Sancha Gonçalves filha do conde
asturiano Gonçalo Pais (Torres Sevilla 1999: 111-112).
110
Não nos esqueçamos que Gomes Gonçales de Trava, primo desse mesmo Osório Eanes,
casou com Miracle de Urgell (←Armengol VII & Dulce de Barcelona). Eles foram pais de
Rodrigo Gomes de Trava.
Doña Urraca Fernandez, hija también de Fernando Pérez de Traba, hace gala en
su testamento de su condición de opulenta señora, aunque por lo que respecta
a la Iglesia de Santiago, al menos una buena parte de la masa de bienes que
lega no constituye una donación absolutamente graciosa, sino la ratificación de
donaciones, cuyo usufructo tenía reservado de por vida, y que le habían permi-
tido detraer importantes rentas del señorío jacobeo, en concepto de muestras
de gratitud […]. Un tercer testimonio, en este mismo sentido, lo constituye el
acuerdo, efectuado en el año 1196, con el cabildo catedralicio, por el que éste
se compromete a entregarle una renta anual de seiscientos sueldos turoneses [...]
de los que trescientos correspondían a la deuda que esta institución tenía con
ella sobre los beneficios de sus partes en el negocio de las conchas o insignias
jacobeas y a los que en el futuro le correspondiesen, mientras que los otros tres-
cientos sueldos corresponden a la asignación de una rentas sobre la heredad de
Quinzana en Ribadavia, que previamente les había donado y que, por estar toda
ella dedicada a viñedo, proporcionaba rentas muy importantes a los canónigos111.
111
Veja-se o apêndice documental [D.22]. Sabemos que foi a fundadora do mosteiro de
S. Martinho de Cornoces (conc. Amoeiro), segundo consta na inscrição lavrada no muro
exterior da igreja: “Urace Fernandi que eam funditus edificauit”.
112
Entre as atividades da mãe de Osório Eanes, podemos lembrar uma peregrinação à
capital das Astúrias em 1187: “In era Iª CCª XXVª, kalendas Augusti, quedam domna
predives et nobilis, nomine Urraka Fernandiz, filia comitis, causa peregrinationis a Gal-
lecia veniens Ovetum, plurima pauperibus et monasteriis distribuit” (SVicente, nº 312).
Conservamos ainda memória dessa deslocação num diploma de 1192.09.27 (SPelayo,
nº 31): “Equum et rationale est, ut ea que fiunt, ne obliuioni tradantur litteris confirmen-
tur. Ea propter notum sit omnibus hominibus, tam presentibus quan futuris, quod quedam
dompna de Gallecia, nomine Urraca Fernandi, filia famosissimi comitis Fernandi et uxor
cuiusdam militis curialissimi, nomine Iohannes Arias, venit Ouetum causa orationis et
deuotionis; que cum multas et largas elemosinas ibi faceret, monasterium Sancti Pelagii
intrans, elemosinam largam et honestam ipsi monasterio fecit [...] tali pacto [...] que he-
reditas semper staret in manu cuiusdam dompne eiusdem conuentus, et fructus predicte
hereditatis, quos colligerent, in die anniversarii predicte dompne, et patris et mariti, supra
predicte sanctimoniales expenderent”.
113
O falecimento de Urraca Fernandes era celebrado na Catedral de Santiago no dia 28 de
maio, segundo consta nos Livros de Aniversários dessa instituição: “Pro Domna Urraqua
Fernandi de Duvra, filia D. Fernandi comitis de Dubra, quae donavit Ecclesie Compostel-
lane casale de Quinciana. Dantur de dicta tenencia 150 lbr. Processio ad comitum sepultura
in platea palaciorum” (Leirós Fernández 1970: 222). O pagamento pelo aniversário do
conde Fernando Peres, no dia 22 de março, é também ligado a essa mesma propriedade
(Leirós Fernández 1970: 212).
114
Monteagudo (2008: 325) atribui-lhe quatro: Pedro, Osório, Airas e Gonçalo e, ao mes-
mo tempo, considera que López Sangil “non acerta nos nomes dos seus irmáns [de Osório
Eanes]”. Esse último investigador cita: Urraca, Osório, Lourenço e Gonçalo (López Sangil
2002: 148).
115
O Livro do Deão também refere um Soeiro Eanes: “E dom Soeiro Anes, filho de dom
João Aires de [A]m[o]eiro, foi casado com dona Sancha Rodrigues, e fege nela dom João
Soares, a condessa dona Elvira Sanches e Gonçalo Soares d’ Orselhom” (LD 19U5).
116
“Ego Laurentius Iohannes tibi Petro Petrici [...] facio kartam venditionis de hereditate
mea propria quam habui de abiorum et parentum meorum [...] in territorio Castelle in loco
predicto qui vocitant Quintaela subtus monte Pena Excelsa, iuxtam aulam sancte Eulalie
de Vanga, discurrente flumine Arinteiro” (Oseira, nº 71).
117
E a sobredita dona Maria Fernandes de Trastamar casou com dom João Airas de [A]
moeiro, e fege nela dom Gonçal’ Eanes, o bom, rico homem [...] e dom Suer Anes e dom
Fernão Anes de Duvra foram irmãos deste dom Gonçal’Eanes [...]. E dom Pedro Anes de
Nóvoa, o Velho, foi filho de dom João Aires d’ Am[o]eiro e de dona Maria Fernandes, filha
do conde dom Fernando de Trastamar [...]. E dom Fernão Anes de Du[v]r[a], irmão de Pero
Eanes de Nóvoa, o Velho, foi casado com uma dona e fege nela Gonçalo Fernandes e dona
Maria Fernandes [...]. E dona Maria Fernandes de Du[v]ra foi casada com dom Paio Gomes
da Silva (LD 19L0-19T6).
118
O casamento de Maria Fernandes de Duvra com Paio Gomes da Silva estabelece uma
ligação entre o grupo familiar de Osório Eanes e o trovador Rui Gomes de Briteiros (1220-
1248). Com efeito, Urraca Gomes (irmã de Paio Gomes da Silva) casou com Gomes Men-
des de Briteiros e foi mãe do trovador Rui Gomes de Briteiros; portanto, Maria Fernandes
de Duvra foi tia (por afinidade) deste último e, ao mesmo tempo, prima de Osório Eanes
(cf. supra).
119
“Não conhecemos outro indivíduo assaz ilustre para ocupar tantos anos aquele cargo
[mordomo-mor] durante os reinados dos nossos terceiro e quarto reis senão Pedro Anes da
Nóvoa, irmão de Gonçalo Anes, o mestre de Calatrava, e de Fernando Anes de Urró […].
Eram filhos, os três Anes, de João Aires de Ameiro, ou do Moeiro […]”.
120
A sua ligação às terras de Duvra encontra explicação numa carta de 1181 [D.14].
121
AHDS, Colegiada de Sar, maço 38, nº 10/B. João Fernandes Ladrão aparece bem repre-
sentado na documentação da Sé de Santiago, estabelecimento em que ocupou o cargo de
cônego tenencieiro: “Johanne Fernandi de Dubria canonicum tenenciarum Capituli com-
postellani” (Tombo C, fóls. 93v, 82v-93r, 37v; Tombo de Concórdias, fól. 34v [1250]). O
registro dele nos Livros de Aniversários compostelanos (“Pro D. Johan Latrone canon.
compost. dantur lbr. 80, scilicet de tenencia ipsius D. Johannis 40 et de tenencia de Villa-
verde lbr. 40. Processio ad domum comitum”, Leirós Fernández 1970: 27 [27 de janeiro])
reflete a pegada que deixou na instituição e que se traduziu na atribuição retroativa do
apelido “de Duvra” à avó e mesmo ao bisavô materno (“Dantur 150 lbr. pro D. Fernan-
do comite de Dubria patre domine Urraca Fernandi. Solvuntur de tenencia de Quinciana.
Processio ad comites”, Leirós Fernández 1970: 212 [22 de março]). Outro representante
dessa estirpe na Sé compostelana foi o cônego Pedro Eanes de Nóvoa, documentado em
1252 (Tombo C, fól. 260v “Domnus Petrus Iohannis dictus de Nouoa, canonicus compos-
telanus”).
122
Salvo no último caso, o cargo foi compartilhado com os irmãos e com o tio Fernando
Airas Batissela: “Petrus Iohannis et eius frater Gondisaluus Iohannis tenentes Castellam”
(Oseira, nº 63 [1182]), “Petrus Iohannis et Gundisaluus Iohannis in Bubula” (Fernando
II, nº 224 [1185]), “princeps Castellae Petrus Iohannis et Goncialvus Iohannes et Oso-
rio Iohannis” (Oseira, nº 73 [1187]), “tenente Burgo Fernandus Arie et Petrus Iohannis
et Gundisaluus Iohannis” (Melón, nº 66 [1188]), “princeps Castelle Petrus Iohannes et
suos germanos” (Oseira, nº 76 [1189]), “tenente Novoam Petrus Johannis” (Melón, nº 86
[1203]).
123
Monteagudo (2008: 325-326) considera que também foi tenente em Villafranca (1200,
1206-1207) em nome da ex-rainha Teresa.
124
Urraca Peres, filha de Pedro Eanes casou com Nuno Vasques de Bragança (←Vasco
Pires de Bragança & Sancha Pires de Baião). Gonçalo Nunes, filho dos anteriores e último
representante dos Braganções, irá desenvolver a sua carreira política exilado na corte cas-
telhana.
125
Um “Gonçalo Eanes” foi comendador da Ordem de Santiago em Oreja c. 1206-1210
(Rades 1572: fól. 24r).
126
Esse dado chegou aos Livros de Linhagens: “dom Gonçal’ Eanes, o Boo, ricomen; e
foi depois meestre de Calatrava, mui boo” (LC, 13C3). Existem algumas dúvidas sobre o
período em que foi mestre de Calatrava. Rades (1572: 34v-39r) situa-o entre 1218 e 1238
mas O’Callaghan (1983: 433-439) descobre um mestre desconhecido, Fernando Peres,
entre 1234/1235 e 1238.
127
O’Callaghan (1983: 434), tomando como ponto de referência um documento do papa
Gregório IX, datado em 1234.03.21 (Ruano 1964: 559), considera a possibilidade de Gon-
çalo Eanes ter efetuado uma viagem à Terra Santa com o intuito de estabelecer uma casa
da Ordem.
128
De fato, essas milícias representavam amiúde uma versão militante de Cister; com
efeito, a Ordem do Templo foi regulamentada pelo próprio S. Bernardo de Claraval. A
ligação é ainda mais clara no caso da Ordem de Calatrava, integrada na própria estrutura
dos mosteiros cistercienses desde 1187 (Ayala Martínez 2003: 67-80, Cunha 2009: 12).
129
O castelo fora entregue a Fernando Peres pela rainha Teresa. D. Fernando peregrinou
duas vezes à Terra Santa e, após estas viagens, durante as quais terá reforçado o seu contato
com a Ordem do Templo, parece ter favorecido a presença dos templários no Burgo de
Faro (Corunha), que passou a ser o centro mais importante do Templo na Galiza (Pereira
Martínez 2006b: 185). Notemos que a fase inicial do Templo na Galiza aparece associada
à área do noroeste ourensano, espaço preferencial dos Bóvedas-Nóvoas-Travas. João Dias
– acima citado pela sua relação com Oeiro Ordonhes – é o titular da mais antiga doação à
Ordem do Santo Sepulcro, milícia que em origem aparece identificada com a do Templo
“como si fueran una y la misma congregación” (Ferreiro Alemparte 1998: 342). A escritura
de 1128.10.13, conservada em cópia posterior, transmite a entrega àquela milícia de uma
herdade em Cusanca. Entre os confirmantes, encontramos os nomes de Airas Peres e de
Oeiro – deturpado como Ruario – Ordonhes. Também aparece o conde Rodrigo Vélaz,
personagem que confirma a doação do castelo de Soure. Rodrigo Álvares, neto de Rodrigo
Vélaz, foi cavaleiro de Santiago (comendador em Portugal) e fundador da Ordem de Mon-
te Gáudio (cf. supra). D. Rodrigo era primo segundo de Vela Guterres, pai de João Vélaz.
130
O documento é confirmado por freires do Templo, de Calatrava e da Espada. Sobre esse
documento veja-se Pereira Martínez (2006b: 284).
131
As vieiras no brasão dos Calheiros sugerem uma relação com a Ordem de Santiago. Na
escritura encontramos Airas Peres e Pedro Osores que poderiam ser sobrinhos de Gonçalo
Eanes e, respetivamente, filhos de Pedro Eanes e Osório Eanes. Também aparece Bernardo
Gonçalves, filho do próprio Gonçalo Eanes. Observamos ainda, entre as testemunhas, um
Martim Fernandes “cantador”, cujo ofício talvez tenha estado ligado com o mundo trova-
doresco.
132
A sua biografia foi descrita por Oliveira (1994: 244), que situa as origens familiares na
área minhota de Ponte de Lima, onde os irmãos Pedro Rodrigues (1252) e Paio Rodrigues
(1221-1252) tinham propriedades.
133
Segundo os Livros de Linhagens, os Calheiros têm como origem as relações extrama-
trimoniais de Elvira Nunes, mulher de Soeiro Airas de Valadares: “E esta Elvira Nunes,
sendo casada com dom Suer Arias, [jouve?] com Men de Lude e foi-se com ele […]. E
deste Mem de Laude e d’ Elvira Nunes vem os Carpinteiros […] e os de Calheiros” (LD
13A2).
134
Um Rui Gomes de Troncoso, freire da Ordem de Santiago, está documentado nos pri-
meiros anos do séc. XIII em tempos do mestre (galego) Rui Vasques (Rades 1572: fól.
22v). Conhecemos um Troncoso que pertence ao concelho de Castrelo de Minho, adjacen-
te a Ribadávia. A família conhecida por esse topônimo aparece, em tempos posteriores,
vinculada às ordens de Santiago e Calatrava.
135
Javierre Mur (1952) analisa pormenorizadamente a presença da ordem de Calatrava em
Portugal e, em particular, as suas ligações com a milícia de Avis. A Ordem de Avis, além
de colaborar na ocupação portuguesa do Algarve, participou no processo de reconquista
da Andaluzia por parte dos monarcas castelhanos (Javierre Mur 1952: 371-374). Veja-se
também Cunha (1989).
136
Sobre as origens de Calatrava, veja-se Ayala Martínez (2003: 76-70). Este autor consi-
dera que a Ordem nasce guiada pela monarquia castelhana como substituição pactada da
Ordem do Templo para “servir intereses no necesariamente hipotecados por responsabili-
dades extrapeninsulares” (p. 70).
137
Lembremos a provável presença de Gonçalo Eanes no convento de Avis em 1222 e
1226 por ocasião da eleição do mestre nesses anos (Ayala Martínez 2003: 90). Uma visita
às propriedades de Avis em Cambra, perto de Arouca, levou-o a confirmar em 1223 uma
escritura pela qual D. Garcia Sanches, freire de Calatrava e mestre de Alcântara, doou à
ama de D.ª Mafalda o patrimônio que pertencera a um freire irmão dela: “Fratres qui pre-
sentes fuerunt sunt hii: [...] Gundisalvus Iohannis maioris magistri [...]” (IAN/TT, Mostº de
Arouca, gaveta 3, maço 1, nº 48). Veja-se Marques – Soalheiro (2009: 342-342).
138
A área do pergaminho em que se encontra(va)m os nomes dos filhos aparece muito
danificada ou mesmo amputada em diversos pontos; no entanto, o espaço livre e três frag-
mentos do pergaminho permitem reconstituir alguns nomes, entre eles o de Osório Eanes.
A escritura é confirmada pelo rei Fernando II e o filho Afonso [D.10].
139
Afonso IX dota a mulher, D.ª Berengária, com trinta castelos: “Ego Adefonsus, Dei
gratia rex Legionensis, do in dotem uxori mee, regine domne Berengarie, filie domni Al-
defonsi regis Castelle
140
Entre as testemunhas de um prazo de 1232.01.13 (Oseira, nº 349) outorgado pelo mes-
tre do Templo a João Eanes sobre uma propriedade em Amoeiro, encontramos o nome de
um Osório Eanes (também de um Gonçalo Eanes), que supomos mílite templário. Não
temos elementos que nos permitam identificá-lo com o trovador.
141
O castelo de Alva de Búval estava situado na margem esquerda do rio Formigueiro,
perto da aldeia deste mesmo nome (conc. Amoeiro).
142
Airas Fernandes Carpancho deteve uma prebenda similar nessa mesma igreja (Souto
Cabo – Vieira 2003: 258-259).
143
Marina Osores é a mulher de um Airas Fernandes que deu ao cabido de Santiago di-
versos bens, entre eles um casal em Santa Maria de Amarante (c. Maside) (Tombo C,
fóls. 196r, 197v, 285v). Gonçalo Osores foi tenente de Búval em 1219 (SCNaves, nº 12).
Rodrigo e Gonçalo Osores – o primeiro como donatário e o segundo como testemunha
– aparecem numa doação ao mosteiro buvalense de Santa Comba de Naves (SCNaves,
nº 14). Também localizamos um Pedro Osores em 1195 na escritura em que surgem Gon-
çalo Eanes de Nóvoa e Fernando Rodrigues de Calheiros [D.20]. Como foi dito, Sancha
Osores, mulher de Pedro Garcia de Bragança, poderia ter sido filha do trovador.
144
Seguimos os trabalhos de Marcenaro ([no prelo]) e de Monteagudo (2008: 368-392).
145
A vida e a obra deste poeta foram abordadas num trabalho monográfico (Souto Cabo
[no prelo/1]). A proximidade biográfica e literária com Osório Eanes é notável, quer do
ponto de vista familiar, quer do ponto de vista da localização espacial, já que ambos com-
partilham o mesmo setor geográfico. A nível poético também foram identificadas notáveis
correspondências entre Tamalhancos e João Soares Somesso ou Rui Gomes o Freire.
146
Noutros textos destes três autores, o motivo registra algumas variantes que o afastam
do padrão retórico.
7. Airas Oares
Na posição nº 9 dos nomes arrolados na TC (fól. 300v), imedia-
tamente antes de Osório Eanes, ocorre uma sequência gráfica descontínua
de três elementos: “Ayra s oarez”, que foi percebida como equivalente a
“Airas Soares”152. Em consonância com essa interpretação, o trovador em
147
Sobre a presença do topos na cantiga Punhei eu muit’ en me quitar de Fernando Garcia
de Esgaravunha, veja-se Ramos (2009).
148
Marcenaro ([no prelo]) faz algumas observações à análise das concordâncias linguísticas
entre Osório Eanes e outros trovadores levada a cabo por Monteagudo (2008: 369). Assim,
parece que o “ouir” registrado na cantiga E porque me desamades? é apenas um erro por
“outr’”: (“E, certas, sabiades: / outr’ amor non desejei, vv. 7-11). Lapa (1970, nº 301) tam-
bém estampou aquela forma no último verso de uma tenção entre Martim Soares e Paio
Soares de Taveirós (“ren per que se pague d’el quen n’ ouir”), emendando errada ou desne-
cessariamente a forma “uir” (“ui[i]r”?) de B (nº 144): “ren per que se pague d’el quen-o ui[i]
r”. Do anterior segue-se que aquele infinitivo (“ouir”) não está presente na lírica profana.
149
Notemos, neste caso, a proximidade no incipit das cantigas Min pres forçadamente
amor de Osório Eanes e Min fez meter meu coraçon de Fernando Rodrigues de Calheiros.
O texto de Osório Eanes tem sido associado, do ponto de vista formal, à cantiga Per pauc
de chantar no me lais de Peire Vidal (c. 1193-1194), que apresenta estrutura métrica (8
ababccdd) “poco diffusa nella lirica trobadorica” (Canettieri & Pulsoni 2003: 139). Airas
Moniz de Asma utiliza esse mesmo esquema em Pois mi non val d’ eu muit’ amar (cf.
infra).
150
Rui Gomes “o Freire”, em Oimais non sei eu, mia senhor, utiliza um esquema métrico
pouco frequente (8 abbaccdd, Tavani 1967, nº 168.6-7) que observamos em Sazon é ja de
me partir de Osório Eanes. O antecedente para este último parece estar em Nuls hom no pot
d’ amor gandir (c. 1188-1189) de Peire Vidal com o qual também compartilha as rimas en
-ir e -or e as palavras-rima amor, guarir e senhor; bem como o argumento do sofrimento
pela perda do favor da mulher amada. Veja-se Canettieri – Pulsoni (2003: 141-142) e Mar-
cenaro ([no prelo]).
151
Entre outros aspetos, o motivo da prisão de amor, raro na cantiga de amor, vincula
Cuidei eu de meu coraçon de Osório Eanes a Per bõa fe, meu coraçon de Sandim.
152
Gonçalves (1976: 408) junta o esse à vogal inicial do patronímico e integra outro hipo-
teticamente faltoso: “Ayra[s] Soarez”.
153
Cudeiro (ou Codeiro), no antigo distrito de Búval, situa-se numa área próxima do Mos-
teiro de Bóveda (conc. Amoeiro).
154
A situação da TC não favorece esta segunda hipótese.
155
Lembremos que a TC é, muito provavelmente, índice de B.
156
Oeiro [OD(U)ARIO> O(d)airo> Oairo> Oeiro] e Oarez [OD(U)ARICI> O(d)aridz(e)>
Oariz> Oarez] estão amplamente documentados e refletem a evolução fonética esperada.
157
Na mesma zona, encontramos essa fórmula antroponímica no primeiro quartel do séc.
XIII atribuída a um frade de Osseira (Oseira, nº 191 [1219]) e ao indivíduo que vendia
uma herdade em Longos (conc. Cea) a Airas Fernandes, talvez o marido da filha de Osório
Eanes (Oseira, nº 259 [1224]).
158
Numa escritura compostelana de 1230 aparece, como confirmante, um escudeiro com
o nome de Airas Oares: “Arias Oduariz, armiger” (Tombo C, fóls. 232r-232v).
TROVADORES GALAICO-MINHOTOS
1
A esse grupo, provavelmente, devamos somar o nome de Nuno Eanes Cêrceo, ligado
patrimonialmente a Belesar (Melias, conc. Coles), na antiga terra de Aguiar de Pedraio
(Souto Cabo 1996). A dos Ribelas é outra estirpe vinculada ao mundo do trovadorismo
cujas origens se situam na terra de Búval, concretamente na freguesia do mesmo nome do
atual concelho de Coles. Paio Soares de Ribela, pai do trovador Rui Pais de Ribela, confir-
ma a escritura de 1204 acima citada (GH, nº 87). Também localizamos um Pedro Airas de
Ribela como testemunha numa escritura de 1227 (SCNaves, nº 14) de que é titular Rodrigo
Osores, provável filho do Osório Eanes.
2
“Este investigador [Duro Peña] teve a amabilidade de nos enviar uma cópia deste do-
cumento onde, entre vários familiares de Paio Bazoco, é mencionado seu filho Pero Pais,
certamente o trovador em causa” (Oliveira 1987: 20).
3
Numa escritura de 1155 encontramos um Pedro Baltsac (Oseira, nº 31) que Monteagudo
(2008: 348) identifica com Pedro Bazaco, vindo a deduzir que: “A variante Baltsac suxire
unha orixe occitana (existe un lugar denominado Balsac no corazón de Occitania ...); Ba-
zaco constituiría unha adaptación vernacularizada daquela”. No nosso entender, esse Pedro
Baltsac antes deve ser identificado com um indivíduo de naturalidade gala que acompanha-
va Vital (“scriptor” do próprio diploma), abade do mosteiro premonstratense de S. Leonardo
de Retuerta (Valhadolid), a quem Rodrigo Peres “o Veloso” e a mulher, Fruílhe Fernandes
(avós de Rui Dias dos Cameros), davam diversas propriedades. A ordem dos premonstra-
tenses foi fundada por S. Norberto em Prémontré (Aisne) na França, em 1120.
4
“Ego Petrus Bazaccus qui prefatum locum iussu domini imperatoris cautaui et confir-
mo” (Oseira, nº 15 [1137]) (cf. supra).
5
João Fernandes Bazaco, muito provavelmente filho do anterior, é testemunha numa
escritura de interesse para o cabido compostelano lavrada, em 1230, na cidade de Santiago
(Tombo C, fóls. 246v-247r). Em 1234 registramos um Rodrigo Peres, “connomento Baza-
co”, que oferece ao Mosteiro de Caveiro a parte que lhe pertence na Igreja de Bemantes
(conc. Minho) (TCaveiro, nº 216). Não sabemos qual é o relacionamento que pôde manter
com a linhagem em questão. Um Bermudo Bazaco surge, em 1213, numa escritura de
Sobrado (TSobrado, I, nº 453).
6
A cessão patrimonial efetuada por Maria Peres a favor de Toda Peres em 1169 (DDo-
zón, nº 18) é muito elucidativa sobre as áreas em que se localizavam as propriedades da
família: “Ego Maria Petriz [...] Placuit michi per bona pacis et per bona uoluntatem ut
faceremos ad uobis kartulam de donationis de hereditatem meam propriam quem habeo de
meo patre et de mea matre [Urraca Lopes] in loco predicto in Deca, in Taveirolas, in Buval,
in Asma, in Camba, in Montes, in Riba Ulia, in Durra, in Lemos, in Sarria”. Trata-se de um
vasto espaço no interior da Galiza cujo perímetro pode ser definido pelas localidades de
Ourense, Monforte, Sárria, Vila de Cruzes, Estrada e Carvalhinho.
7
Monteagudo (2008: 359) considera que João Peres foi o prior de Osseira documentado
em 1192 (Oseira, nº 80).
8
Ele aparece ainda como um dos garantes do pacto econômico entre Afonso IX e a ra-
inha Berengária em 1207 (Afonso IX, nº 219).
9
“comite domno Gomecio tenente Monte Rosum et Trastamarem, domno Gomecio Petri
tenente Asma de sua manu” (Oseira, nº 79). Também pode ser relacionado com Teresa
Bermudes de Trava e Fernando Airas Batissela aos quais vendeu uma herdade em Lalom
(conc. Leiro) (Camanzo, nº 8).
10
Monteagudo (2008: 352) discrimina, como pessoas diferentes, Paio Moniz de Rodeiro
e Paio Moniz de Refronteira, nomes que, em nosso entender, têm como referente um único
indivíduo.
11
Oeiro (“Odoarius Arie de Lamas”), Diogo, Pedro e Mendo Airas testemunham, em
1204, a venda do monte Cudeiro ao Mosteiro de Sar (GH, nº 87 [1204]) outorgada por um
Pedro Airas cuja relação com os anteriores levanta algumas dúvidas. Este (outro?) Pedro
Airas declara-se “sobrinho materno” de D.ª Teresa e de D. Paio (“Therasie matertere mee
et domni Pelagii auunculi mei”), identificados com o casal formado por Teresa Moniz e
Paio Moniz de Refronteira (o filho de Maior Peres Bazaco), os quais autorizam a transação.
O território adquirido pelo mosteiro compostelano parece encontrar-se numa área próxima
ou contígua daquele que fora cedido por Elvira Peres. Por outro lado, Pedro Airas ratifica
em 1206 a venda (e permuta) de uma herdade no monte dos Cóscaros (conc. Pinhor de
Cea) a favor do Mosteiro de Osseira (Oseira, nº 115): “ego Petrus Arie vendidi L. abbati
Ursarie et monasterio totam hereditatem quam domnus Arias pater meus habuit in monte
illo qui dicitur Coscaros”. Oeiro Airas de Lamas é testemunha e fiador desse negócio:
“Oerius Airas de Lamas miles testis et fideussor de supradictam conuentionem”, o que
assegura que se trata dos filhos de Elvira Peres.
12
Monteagudo (2008: 355) supõe “sen total seguranza” que é ele o indivíduo citado nou-
tras cartas de 1161 e 1199.
13
O monte a que se alude nesse escrito – hoje conhecido como Sagrade – encontra-se
precisamente em Santa Marinha de Orvám, uma das atuais freguesias do concelho de Vila
Marim.
14
A alusão a um “Iohanne, prior Ursarie” identificável com João Peres, prior de Osseira
(Oseira, nº 80 [1192]) e a Toda Peres como abadessa de Doçom (1188, 1191) leva-nos a
propor aquela localização cronológica. Seja como for, essa manda testamentária deve ser
anterior a 1205.02.10, altura em que registramos um novo prior de nome Fernando (Osei-
ra, nº 111).
15
Entre outras terras, alude-se a Cudeiro: “quanto habeo in Codeiro”.
16
Nesta terra situam-se um casal na Grova e dois em Ventosela, que deixa ao Mosteiro
de S. Martinho Pinário de Santiago. A Grova (Sanim) e Ventosela são locais próximos no
atual concelho de Ribadávia.
17
Descobrimos dados sobre os ascendentes da mãe e os filhos do trovador em várias
escrituras do Mosteiro de Sobrado (TSobrado II, nº 276, 429).
18
“et omnem hereditatem meam que restat mando ei et diuidat fratre suo qui nasciturus ex
Maria Petri, et dum ipse puer fuerit Petrus teneat hereditatem et det inde adiutorium scilicet
uictum et uestitum, et cum puer uenerit ad uirilem etatem medietatem hereditatis recipiat”.
19
Monteagudo (2008: 356) supõe que Pedro Pais Bazaco poderia ser quem vende – na
verdade oferece – à Sé de Ourense um casal em Vila Marim: “Ese casal de Vilamarín
puidera ser o que en 1204 vendeu á catedral de Ourense un Pero Paez de Vilamarin, quen
neste caso poderiamos identificar co noso trovador”. Porém, o nome do titular da escritura
é Pedro Peres; “Petrus Pelagii de Uillamarim” é apenas uma testemunha.
20
“Ego Petrus Bacacus do vobis totam hereditatem que fuit de Iohanne Benedictiz in
Aguata et in Arvogoria et in Blandian” (Oseira, nº 238).
21
Notemos que, também neste caso, só consta como “Petrus Pelagii”. Um “Petrus Baza-
cho Poderoso” surge numa escritura de 1231 lavrada, provavelmente, no distrito de Camba
(Oseira, nº 344), mas a omissão do patronímico impede-nos de confirmar a sua identifica-
ção com o trovador.
22
O vendedor, Gomes Peres, foi provavelmene um filho daquele Pedro Fernandes, súdito
de Armengol VII, a quem, em 1181, o conde catalão cedera essa vila em feudo, reservando
para ele o senhorio da vila. Barruecopardo estava em posse de Armengol VII desde 1177,
quando lhe foi dada pelo concelho de Ledesma (Barton 1997: 233-234).
23
“Ego Maria Petri cum filiis meis, Petrus Petri et Dominicus Petri et Marina Petri, et
omnis uox nostra, uendimus uobis fratri Michaeli, magistro de Guisone, et uobis fratribus
de Supperado, totas hereditates meas quas mihi dedit maritus meus Petrus Bazacu, in dote
corporis mei ex parte matris sue Marie Pelagii, filie Pelagii de Dorra et de Eldonza Rode-
rici, filia de Roderico Almadran” (TSobrado II, nº 276).
24
“Rodericus Almadran habuit Vº filios, Eldontia Roderici, Petrus Penas, Petrum Rode-
rici de Dornana, Fernandum Roderici de Friol, Sancia Roderici [...] Eldontia Petri habuit
IIIIor filios, Petrus Pelaz de Dorra, Maria Pelaz, Marina Pelaiz, Pelagio Pelagii. Petrus Pe-
laz de Dorra habuit Vº filios, Orraca Petri et Maria Petri et Fernan Petri et Maria de Sancto
Mamete et Dominica Petri, filie Marina Munit” (TSobrado I, nº 406 e 278, 376, 381).
25
A existência de um trabalho monográfico sobre este autor (Souto Cabo [no prelo/1])
– ao qual remetemos –, leva-nos a reproduzir apenas uma síntese do mesmo há pouco
publicada (Souto Cabo 2011a: 379-380).
26
Filho de João Ramires, representante de Raimundo de Borgonha quando este exercia
como governador de Toronho. A implantação territorial deste ramo familiar leva-nos à área
do Morrazo, contígua a Toronho no noroeste.
27
Existem dados para considerar Airas Fernandes Carpancho como descendente de Pedro
Gelmires, um irmão do arcebispo Diogo Gelmires. Veja-se Souto Cabo – Vieira (2003).
28
Sancho I, nº 111, 112, 113, 114, 115 (“domnus Pelagius Moniz signifer domini regis”
[1199]), 116, 118, 121, 122, 124, 125, 126, 128, 132, 134, 138, 140, 144. Ventura (1992:
993) supõe que se trata de Paio Moniz de Cabreira e Ribeira. É possível que nessa identifi-
cação tenha influído o fato de nos Livros de Linhagens ser referido um único “Paio Moniz”
filho de Múnio Soares de Ribeira e pai de Maria Pais Ribeira (LV 1AO9, LC 13A4, etc.).
29
Também sabemos que contava com propriedades nas terras do Morrazo (Pontevedra),
de Asma (Lugo) e na área asturicense do reino de Leão, de onde procedia, provavelmente,
um ramo dos seus antepassados.
30
Além do tema da troca da senhor, acarinhado por ambos, o incipit da cantiga Con vos-
sa graça, mia senhor de Fernando Pais logo nos lembra os de João Soares Somesso Con
vossa coita, mia senhor e Con vosso medo, mia senhor. Segundo se expõe neste trabalho,
é possível que o Somesso tenha pertencido por via materna aos Limas.
31
A conexão com Lopo Lias, além de envolver alguns aspetos literários, tem implicações
mais complexas. Veja-se Souto Cabo (2012b).
32
A presença (duvidosa) da forma “Asme” em B, preterida como resultado deturpado por
“Asma” (Oliveira 1994: 316-317), permitiu que fosse considerado português: “Provavel-
mente de origem portuguesa. Asme, ou S. Lourenço d’ Asme fica ao pé de Ermesinde, na
Maia” (Michaëlis 1904: 525). Lembremos que, como notou Oliveira, a forma medieval
dessa povoação lusitana foi “Asmes”. Vejam-se os esclarecimentos de Montero Santalha
(2000: 43-44): “Deve considerar-se errada a leitura Asme, que se vem dando tradicional-
mente ao sobrenome deste trovador, que se deve ler Asma. Por duas razões: 1) Porque no
manuscrito trovadoresco aparece Asma e não Asme; e 2) Porque o suposto topónimo Asme
não existe nem nunca existiu, enquanto Asma é topónimo antigo e ainda hoje bem vivo”.
33
A terra de Asma (no extremo sudoeste da atual província de Lugo) limita-se ao sul com
os distritos de Castela, Búval e Aguiar.
34
Monteagudo (2008: 359-360) prefere “manter en suspenso a suposición sobre o seu
parentesco” e identifica Diogo Moniz com um indivíduo, citado no testamento de Maior
Peres Bazaco, que julga filho de Múnio Dias “laycus de Codario” (GH, nº 87 [1204]).
35
Beltrán (1985: 52) observa, contudo, que essa combinação de rimas “está entre las más
frecuentes y banales de la tradición provenzal”. Pelo contrário, na lírica galego-portuguesa
só se registra em Airas Moniz e em Osório Eanes (cf. infra). O mesmo esquema de rimas,
mas em versos decassílabos, foi usado por Martim Soares e por Pedro Garcia Burgalês.
36
Trata-se da possibilidade de Bonifácio Calvo ter cantado a uma dama da família real,
notícia transmitida por Jean de Nostredame.
37
Em Meus amigos, direi-vos que mi aven, Pedro Garcia Burgalês explora o motivo de
modo muito similar: “Moiro [...] / por unha dona. Mais non vos direi / seu nome; mais
tanto vos direi én: est a mais fremosa que no mundo á”. Vieira (2009) trata esses casos
vinculando-os à cultura escolástica.
38
A possibilidade foi sugerida por Beltrán (1989). Porém, esse estudioso reconhece que
“tampoco se puede demostrar que este Arias Muñiz sea el trovador; es más, las relaciones
de repobladores abundan en Airas o Airas, y no son raros los Muñiz o Moniz” (p. 13).
39
Oliveira (1994: 317) aduz como justificação que: “a forma nominal Airas «Moniz»
parece ter sido preterida, cá, pela forma Airas «Nunes»”.
40
Lembremos que Fernando Pais foi tenente do distrito de Búval no mesmo período
(1216, 1222, 1229, 1231, 1233, 1239-1242). A aparente intermitência no exercício do car-
go é amiúde resultado da falta de dados e não da transferência do mesmo a outros indiví-
duos. De fato, para além de Fernando Pais e de Airas Moniz, só o encontramos atribuído a
Pedro de Pedibus (1220) e a Fernando Guterres de Castro (1224).
41
O diploma não contém cláusulas cronológicas mas terá sido redigido no primeiro terço
do séc. XIII. Nesse texto aparece citado, como já falecido, um João Gostiz que foi, com a
mulher, nutritor do próprio Airas Moniz. É possível que se trate do irmão mais velho de um
Fernando Gostiz, documentado como frade de Osseira entre 1215 e 1227.
42
Veja-se Souto Cabo ([no prelo/1]).
43
No fragmento reproduzido por Argote de Molina lemos “Sancta Cruz”, mas trata-se
muito provavelmente de uma expansão imperfeita da abreviatura correspondente a “Santa
Cristina”, local na freguesia de (Santa Cristina de) Asma. Os restantes topônimos também
ocorrem – nessa fonte – com formas desfiguradas, embora facilmente identificáveis.
44
Cartelos e Esmoriz são freguesias adjacentes.
45
Encontramo-nos num espaço já muito próximo do distrito de Camba, de que o próprio
Fernando Pais foi tenente, em 1238, junto com Múnio Fernandes de Rodeiro (Oseira,
nº 432 [1232]: “tenente Cambam domnus Fernandus Pelaiz et domnus Munio Fernandi”).
46
O patronímico “Moniz” permitiria relacioná-los com Paio Moniz (← Múnio Fernandes
de Rodeiro & Maior Peres Bazaco) ou com a mulher dele, Teresa Moniz.
47
Em face à proposta de Michaëlis (1904: 307), que considerava “Somesso” como uma
alcunha, Ron Fernández (2005: 132-133) supõe que se trata de um topônimo – situado
perto de Celanova – citado no Tombo de Celanova: “pensamos que o apelido non é un al-
cume... senón que pode referirse a un topónimo. De se poder identificar con este Somesso,
o trobador poderia ser natural desta localidade”. Do nosso ponto de vista, o modo como é
mencionado em B e na documentação (sem a preposição ‘de’) impede-nos de aceitar essa
última hipótese e leva-nos a pensar que se tratava de um apodo com valor desambiguador
(cf. infra).
48
Essa terra menor de Toronho, assim conhecida por nela assentar o castelo de S. Marti-
nho de Ladrons (Fernández Rodríguez 2004: 59-62), ocupava o sudeste dessa jurisdição
administrativa, o que corresponde, aproximadamente, aos atuais concelhos da Canhiza,
Neves, Arvo e Crecente. Estamos, portanto, na região limítrofe com a antiga terra de Vala-
dares portuguesa da qual é separada pelo rio Minho.
49
Esse topônimo (com diversas grafias) designava uma área nas freguesias de Crecente
e do Freixo (conc. Crecente), segundo se depreende de alguns dos locais (Nane, Cruzes
e Costa) que nele se integravam (cf. infra). A documentação demonstra que o mosteiro
assumiu a posse dessa propriedade: “hereditate nostra quam habemus in Chaianos, sicut
diuidit per aquam de Fonte Bona et deuide ad castero de Monte et ad Cruces quantum
ibi habemus” (Fiães, nº 231 [1227], nº 232 [1223]). De acordo com uma carta de 1254
(Melón, nº 571), a villa também se espraiava pelas margens do Minho. É possível que o
topônimo tenha sobrevivido até à época moderna como “Chagueáns” (Vázquez Martínez
1948b: 252) ou “Chagiáns”.
50
O documento fora citado por Galindo Romeo (1923: 78, 150).
51
Ron Fernández (2005: 137) nota a existência de um João Rodrigues Somesso em Mon-
fero no ano de 1224: “Máis dubidosa – aínda que non imposible – é a súa identificación co
I. Submesso presente en Vilar de Donas. Podería tratarse aquí do Johannes Roderici apo-
dado Submesso, que xunto coa súa irmá Maria Roderici, fillos de Roderici Pelaiz, venden
a Pedro Calvo, monxe de Santa María de Monfero, a herdade de Freamelle”.
52
Os Livros de Linhagens chegam a atribuir quatro matrimônios a Soeiro Airas, mas só
neste passo é que se alude a João Soares [Somesso] (cf. infra).
53
Como acima foi dito, Fernandes (1992: 146, n. 182) supõe que os Valadares foram um
ramo secundário dos Limas, mas aduz argumentos pouco concludentes. A proposta baseia-
-se na identificação de Airas Nunes com Airas Calvo, hipótese que encerra numerosas difi-
culdades. Os Valadares, junto com os Celanovas ou Soverosas, são um exemplo da fixação
de nobres galegos em Portugal no século XII (Pizarro 2010: 901, Ferreira 2009).
54
Afonso Henriques doou-lhe o couto de S. Vicente (Alvaredo, conc. Melgaço) que, mais
tarde, trocou com o bispo de Tui (Ventura 1992: 337).
55
Registramo-lo como tenente de Valadares, de modo descontínuo, entre 1209 e 1230
(Ferro Couselo 1995: 351).
56
Um Lourenço Soares registrado na corte de Afonso IX (mordomo [1205, 1219], alferes
[1195-1196, 1204] e tenente [1204-1219, 1224]) foi identificado com um filho de Soeiro
Airas (Ferreira 2009: 161-167). É possível que, à luz das conclusões deste parágrafo, essa
hipótese deva ser repensada.
57
Pizarro (1997: 786-787) considera Maria Afonso de Leão (filha – ilegítima – de Afonso
IX e de Teresa Gil de Soverosa) como segunda mulher de Soeiro Airas, o que é cronologi-
camente impossível.
58
De fato, Maria Afonso está registrada, pelo menos, até 1275 (Melón, nº 761). A última
referência documental de Teresa Gil, mãe dela, é de 1269 (Melón, nº 704).
59
Lembremos que o Livro do Deão não lhe atribui a apostila “Somesso” com que é iden-
tificado na tradição manuscrita da lírica galego-portuguesa.
60
Paio Soares e a mulher, Elvira Vasques de Soverosa, contavam, em 1192, com filhos e
filhas (Fiães, nº 4): “cum filiis et filiabus meis”. Lembremos que, de acordo com Calleja
Puerta (2001: 169), a idade média para o casamento dos homens nobres era de trinta anos,
vinte e um para as mulheres. Aliás, alguns estudiosos consideram que pode existir uma
lacuna nos Livros de Linhagens em torno dos Valadares entre finais do séc. XII e primeiras
décadas do seguinte. De facto, esse cenário levou a dissociar em dois indivíduos diferentes
Lourenço e Rui Soares (Pizarro 1997: 786-787, Ferreira 2009: 162-167).
61
Na edição, o documento é atribuído ao ano de 1179 de acordo com o numeral latino
(“M.ª CC.ª XVII”). Porém, a citação do bispo D. Soeiro em Tui (1205-1216) e do rei D.
Afonso IX (1188-1230) garantem que se trata de 1209. O erro deriva, certamente, da presen-
ça de um xis aspado (=XL) no original, não reconhecido como tal pelo copista do tombo.
Sancha Nunes foi casada com dom Paio Vasques de Bravães, e fez em ela Pero
Paes, o Prove. E este Pero Paes, o Prove, foi casado com dona Examea Nunes,
madre de dom Sueiro Aires de Valadares, e fez em ela dona Mor Peres, a Prove.
E esta dona Mor Peres, a Prove, foi casada com Aires Nunes de Fornelos, e
fege nela dom Sueiro Aires de Fornelos e don Pedro Aires e dona Maria Aires.
E esta Maria foi barregam d’ el rei dom Sancho I de Portugal, e fege nela don
Martim Sanches [...] (LD 14F6-9)62
62
Pizarro (1997: 288), com base na lição de LD 22A2, considera que a mulher de Paio Vas-
ques de Bravães foi, na verdade, Sancha Soares (1112), filha de Soeiro Nunes Velho (I). Paio
Vasques (1125), alferes da rainha Teresa e tenente de Riba Lima, foi protegido pelos Travas
(Mattoso 1988: 141, 143). A linhagem Bravães toma o nome da freguesia homônima no con-
celho limiano de Ponte da Barca (Alto Minho). Relativamente aos Velhos, eles fixaram-se
“na faixa litoral entre Cávado e Lima, aproximando-se, mesmo, do Minho” (Pizarro 1997:
323). Foram patronos dos mosteiros de Santo Antonino de Barbudo (conc. Vila Verde) e de
Carvoeiro (conc. Viana do Castelo) e da igreja da Vinha (conc. Viana do Castelo).
63
Outro ponto de encontro genealógico está em Nuno Soares Velho II, pai de Elvira Nu-
nes, mulher de Soeiro Airas de Valadares (LC 42A5-6), e bisavô de Maior Peres Velho, mãe
de Soeiro Aires de Fornelos (LD 14C3-F6-8). Vejam-se, contudo, as observações de Pizarro
(1997: 287-288).
64
Pizarro (1997: 786, n. 10) identifica uma possível de transferência de dados entre as
duas linhagens: “Cremos, contudo, que os livros de linhagens veicularam uma informação
errada: assim, em LD 14F7-8 afirma-se que Mor Pires de Bravães c.c. Aires Nunes de
Fornelos e foi mãe de Soeiro Aires de Fornelos, versão que terá sido deturpada, em nosso
entender, na transmissão para LL25J2, o único texto que refere Soeiro Aires de Valadares
c.c. Mor Pires de Fornelos”. Os Livros de Linhagens não aludem – no passo acima repro-
duzido – a Mor Peres de Bravães, mas a Mor Peres Pobre (cf. supra). Mesmo assim, o
exemplo não perde o valor probatório.
65
Notemos que à luz da “hipótese tradicional” a presença de João Soares Somesso na
camada mais antiga da tradição trovadoresca não encontrava fácil explicação, uma vez que
não se constatam laços firmes com aqueles âmbitos sociofamiliares donde se difunde esse
molde poético.
66
Marques – Soalheiro (2009: 298) consideram que o nome da filha de Pedro Pais Pobre
poderá ter sido Goncina “pois é frequente o nome Mor ter o valor de cognome”. Essa se-
nhora recebeu uma doação de Afonso Henriques em 1183 na villa de Golães (conc. Fafe).
67
A sua consideração como “vassalo” deve-se ao fato de ser um nobre lusitano acolhido
na corte de Fernando II. Calderón Medina (2011: 256-257) explica o uso de vassalus regis
com esse valor.
68
Não é fácil decidir se se trata de “Muniz” ou “Nuniz” – patronímicos amiúde confundi-
dos –, já que o testemunho do cartulário de Melom procede da cópia de um tombo elabora-
do entre 1799-1802 e, pelo contrário, os Livros de Linhagens manifestam uma preferência
pelos “Nunes”.
69
O topônimo aparece, na fonte manuscrita, abreviado por suspensão como “Forn.” Cam-
bón oferece, sem justificação paleográfica, a leitura Fornos (Melón, nº 202). Registramos
o nome “Pedro Airas” com alguma frequência durante o período nessa área, mas é difícil
apurar se, em algum caso, pode corresponder a Pedro Airas de Fornelos.
70
Um Paio Airas foi mordomo de Castrelo (conc. Ribadávia) em 1211 (Melón, nº 113).
71
Também conhecemos Maior e Urraca Airas que, em 1208, vendiam uma propriedade
em Pena Corneira, área vinculada aos Fornelos (Melón, nº 46) (cf. infra).
72
D. Martim foi meio-irmão do trovador Gil Sanches, filho do monarca português e de Ma-
ria Pais Ribeira. Como dissemos, a anterior casou (c. 1212) com João Fernandes Batissela.
73
Vasco Fernandes, pai de D. Gil, teve um importante papel na corte galaico-leonesa,
entre 1186 e 1188. Ele ocupou, entre outras, a importante tenência do Bierzo. Sobre os So-
verosas, linhagem de origem galega, veja-se Mattoso (1985: 176-177), Ventura (1992: 162-
163), Pizarro (1997: 803), Calderón Medina (2011a: 212-217, 2011b: 15-16). O fundador
dos Soverosas terá sido Fernando Peres Cativo (1129-1155), filho bastardo de Pedro Froiaz
de Trava (Mattoso 207: 100-104) que chegou a ser mordomo de Afonso VII. A localização
dos bens que pertenceram aos descendentes de Gil Vasques confirmam a relação com os
Travas. Assim, Dordia Gil – freira de Arouca, filha de D. Gil e de Aldonça Gonçalves Girão
– contava com posses em Trastâmara, nos coutos de S. Fiz e no da Corunha, em Ilhovre
(conc. Vedra), em Bandoxa (conc. Oza dos Rios) e na terra de Nendos. Essas propriedades
foram objeto de permuta com Martim Afonso, sobrinho de D.ª Dordia (DGP, nº 322, 338).
74
A ligação dos Fornelos às terras do Ávia sugere a identificação de Maria Airas com a
personagem homônima que, em 1228, aforava o que lhe pertencia num casal na vila de
Corneira (Lamas, conc. Leiro) (Melón, nº 208). A alusão ao tenente de S. João [de Pena
Corneira] assegura que se trata de uma vila nessa subárea do distrito de Nóvoa.
75
O seu relacionamento com o monarca, do qual resultaram cinco filhos, prolongou-se
desde 1218 até 1230 (Calderón Medina 2011a: 121, 2011b: 14-26).
76
O trovador Vasco Gil (1238-1258) foi fruto de um segundo casamento de Gil Vasques de
Soverosa com Sancha Gonçalves de Orvaneja (LV O9, LC 25B2) (Pizarro 1997: 808-809).
77
Aludimos apenas aos cargos relacionados com a área em questão. Sobre a trajetória
política dessa personagem, veja-se Fernández Rodríguez (2004: 161-166) e Ferreira (2009:
250-257).
78
Veja-se Ferro Couselo (1995: 348-351), Pizarro, (1997: 804-816), Fernández Rodrí-
guez (2004: 173-175), Calderón Medina (2011a: 230-239, 2011b). Note-se que exercia,
nos primeiros anos do período, pela mão do sogro: “domno Martino Egidii de manu domni
Fernando Goterri” (Oseira, nº 384 [1235]; Melón, nº 281 [1235]) (cf. infra).
79
Por essa escritura D.ª Teresa aforava a um João Peres: “quartam partem de illo casali
nostro de Chachanos excepta inde senara de Penso et bauza de Barallia”.
80
Teresa Gil tinha patrimônio em Figueiredo e Pomarinho (Sendelhe, c. Crecente) (Me-
lón, nº 475[1252]; 704 [1269]). A localização dessas posses na área poderá explicar o
motivo por que D. Afonso IX concedeu à concubina uma herdade, vizinha das anteriores,
em Lougarés (Sendelhe, conc. Crecente): “ego Adefonsus […] do et iure hereditario in
perpetuum concedo uobis donne Therasie Gil, et filiis uestris ex me suscpistis et deinceps
ex me suscipiendis, omnem hereditatem quam habeo uel habere debeo in Lougares” (Me-
lón, nº 219 [1229]). Outras escrituras evidenciam o interesse por concentrar as possessões
nessa zona. Teresa Gil e o filho, Martim Afonso, adquiriram um casal em Mandelos (Vilar,
conc. Crecente) que foi, em parte, pago com propriedades no Morrazo – provavelmente
doadas por Afonso IX – (Melón, nº 347 [1243] = AHN, Poio, maço 1858, nº 9).
81
Entre os indivíduos caraterizados por esse nome, conhecemos um Diogo Eanes (1150-
1159) que surge associado a Airas Calvo, Fernando Eanes de Montoro, Paio Curvo ou
Mendo Faião (Afonso VII, nº 131, 135, 167; Oseira, nº 32; Fernando II, nº 5, 15).
82
É isso que, entre outros motivos, podemos deduzir da presença conjunta de Afonso
Soares de Fornelos e de Pedro Garcia de Fornelos como confirmantes numa escritura de
1231: “Domnus Alfonsus Sueri de Fornelos, Domnus Petrus Garsie de Fornelos” (Melón,
nº 233). Afonso Soares e Pedro Garcia terão sido, respetivamente, filhos de Soeiro Dias
e de Garcia Dias. Entre as testemunhas desse diploma também ocorre um Pedro Nariz de
Fornelos que, pela posição relativa, poderia ter sido irmão de D. Pedro. É possível que D.
Afonso tenha falecido na juventude, talvez antes de casar, já que não aparece ao lado dos
irmãos em 1251 (cf. infra). Note-se que, segundo essa interpretação, os filhos utilizavam
o sobrenome toponímico que, em princípio, caraterizava a linhagem do padrasto de seus
pais. Podemos pensar que o progenitor deles também pertencera à linhagem dos Fornelos
(irmão de Airas Nunes/Moniz?), situação não rara na época, ou que eles foram adotados
como filhos próprios pelo padrasto. De fato, a localização das propriedades dos filhos de
Soeiro Dias sugere alguma dessas possibilidades.
83
Múnio Fernandes de Rodeiro, pai de Fernando Moniz, foi o meirinho entre 1239 e
1253. No espaço temporal intermédio, o cargo foi ocupado por Rodrigo Soares primo
desse Rodrigo Garcia (cf. infra).
84
O reguengo citado é, habitualmente, identificado com a freguesia homônima de Ponte
Areas, porém, muito próximo do Guilhade de Filgueira (conc. Crecente) encontramos “Re-
guengo”.
85
D. Soeiro detinha, por empréstimo de Melom, outras propriedades nessa mesma fre-
guesia (Santa Eulália [de Ponte Deva] e Senande) (Melón, nº 297 [1238], 325 [1241]). Essa
situação repete-se no caso do seu irmão Afonso Soares.
86
Isso mesmo podemos concluir doutras referências documentais aos bens de D. Rodri-
go: “tertias duorum nostrorum casalium de Sobradelo” (Melón, nº 420) (cfr. infra).
87
“[...] ego Petrus abbas Melonis, cum consilio et mandato domini Roderici Suerii et dom-
ni Fernandi Suerii et domne Taresie Suerii propter eorum commoditate et propter eorum
consensum […] do et concedo quandam hereditatem supradictorum dominorum in termino
Lovesendi” (Melón, nº 464). A documentação de Melom confirma essa identidade para Te-
resa Soares (Melón, nº 326, 436, 496, 556, 565). Como dissemos, é possível que tenha sido
irmão dos anteriores Afonso Soares, talvez falecido antes de casar e gerar descendência.
88
O trovador Estêvão Faião poderia ter sido irmão ou primo de D.ª Estefânia.
89
D. Mendo surge com alguma frequência entre 1133 (Afonso VII, nº 49) e 1164 (Fer-
nando II, nº 54). D. Pedro foi um dos dez vassalos do rei galaico-leonês que assinaram o
tratado de Paz do Boronal: “Petrus Menendi Faiam” (Afonso IX, nº 373 [1219]).
90
A propriedade de Vila Maior foi oferecida ao mosteiro de Melom em 1249 (Melón,
nº 440): “ego domna Stephania Petri, presente et concedente viro meo domno Ruderico
Suerii, do et concedo Sancte Marie de Melon ob remissionem delictorum domini regis
Alfonsi et eius filii domni Fernandi Alfonso et ob remissionem anime mee et uiri mei Ru-
derico Suerii illam meam villam que vocatur Villamaior de Ultramontem quam dominus
bone memorie rex Alfonsus michi dedit”. Veja-se Calderón Medina (2011b: 8-10).
91
O testamento desta senhora permite identificar três áreas em que se concentrava maio-
ritariamente a sua fazenda: (i) Bacia galega do Lima (conc. Entrimo, Lóbios, Moinhos,
Qualedro, Trasmiras etc.); (ii) Tras-os-Montes (conc. Terras de Bouro e Montalegre); (iii)
Sanábria (conc. Requeixo). Para além doutras muitas instituições religiosas, D.ª Estefânia
beneficiou os mosteiros de Celanova, Melom, Santo Isidoro de Leão e, sobretudo, Fiães,
onde pediu para ser enterrada: “mando corpus meum monasterio Sancte Marie de Fenali-
bus” (Fiães, nº 341 [1250]).
92
D.ª Estefânia Rodrigues mandou, no seu testamento, ser enterrada no mosteiro de Me-
lom ao lado do pai: “iuxta patrem meum mihi eligo sepulturam” (AHN, Mosteiro de Oia,
maço 1801, nº 13 [1255]). Apesar de ter sido lavrado “in articulo mortis”, ela não faleceu
nessa altura. O seu marido foi João Nunes.
93
Salvo no caso de S. Martinho, trata-se de tenências situadas na bacia do Lima: Aveleda
(conc. Porqueira), Araújo (conc. Lóbios), Mugueimes (conc. Moinhos).
94
A localização das posses deste indivíduo autoriza o estabelecimento da conexão fa-
miliar com Rodrigo Soares (cf. infra). O anterior parece ter “herdado”, para o cargo de
mordomo, a figura de Pedro Vilamide, que já o fora com João Soares: “tenente castel-
lum Sancti Martini domno Johanne Suerii, maiordomo Petro Villamidi” (Melón, nº 294
[1238]), “Tenente castello de Sancto Martino domno Roderico Suerii, maiordomo Petro
Villamidi” (AHN, Mosteiro de Oia, maço 1800, nº 5 [1243]; Melón, nº 431 [1247]). Trata-
-se de uma personagem vinculada a D. Rodrigo e D.ª Estefânia: com eles aparece numa
escritura redigida provavalmente em Mugueimes (conc. Moinhos), onde o casal tinha
residência (Melón, nº 417 [1246]). Lembremos que Martim Gil tinha propriedades em
Vilamide (Parada das Achas, conc. Canhiza) herdadas dos avós. A essa freguesia também
aparecem associados Rodrigo Soares e João Soares (II) (cf. infra).
95
“Tenente castellum Sancti Martini domno Martino Sancii. Sub manu eius, Johane Sua-
riz, senior de Crecenti” (Fiães, nº 196).
96
“Tenente castellum Sancti Martini domno Iohanne Suarii” (Melón, nº 294 [1238]), “Te-
nentes castellum Sancti Martini domno Iohane Suerii et domno Roderico Petri” (Fiães,
nº 259 [1239]), “tenente castello Sancti Martini Roderico Suerii et Johanne Suerii” (Melón,
nº 421 [1246]). Em abril de 1245 aparece, junto a D. Rodrigo Soares e após Gonçalo Eanes
(Batissela), tenente de Nóvoa: “Tenente Novoa domno Gunzalvo Joanis. Cantarios [cauta-
rios] domino Joane Suerii et domino Roderico Suerii” (Melón, nº 392).
97
O fato de não reaparecer um (outro) “João Soares” como tenente de S. Martinho após
a morte dele em 1247 parece assegurar esta identificação (cf. infra). O mais antigo registro
documental pode situar-se numa escritura de 1212.06.20 pela qual Fernando Soares e o
irmão, João Soares, venderam a quarta parte dos casais de Outeiro ao mosteiro de Fiães
(Fiães, nº 251).
98
Reproduzimos, num mesmo item do apêndice, as duas versões do seu testamento, la-
vradas em 1238 e 1247 [D.32/A-B]. Outros documentos do Mosteiro de Melom registam
notícias sobre João Soares (I) (Melón, nº 209 [1228] e nº 432 [s. d. (1242)]).
99
Existe outro local com esse nome na freguesia de Cequelinhos (conc. Arvo).
100
O dado consta, pela primeira vez, numa escritura datável (entre fevereiro e julho) de
1242 (Melón, nº 432) e na segunda redação do seu testamento de 1247 [D.32/B].
Maria e Martim Fernandes surgem, para além de no testamento de D. João Soares,
101
numa escritura de 1260 (DGP, nº 128). Estefânia Fernandes poderá ser a freira do mosteiro
de Alveos (“Touquinigra d’ elueos”) citada nesse mesmo diploma como irmã dos anterio-
res
102
Nessa campanha militar, teve grande protagonismo a Ordem de Santiago chefiada pelo
grão-mestre, Paio Peres Correia (Lomax 1965: 13-14; De las Heras 2010: 197; Ballesteros
Beretta 1949), o que seria um argumento para o identificar com o João Somesso registrado
em Vilar de Donas (cf. infra).
103
Por essa escritura, redigida em 1249, D. Pedro abdicou de uma demanda contra as
disposições testamentárias do tio. O conteúdo do diploma parece situar a morte de D. João
próxima do momento em que João Soares ordenou a sua manda: “ego Petrus Roderici,
miles de Chapela, quito et abrenuncio demandas et bona que ego faciebam contra mandam
Iohannis Suerii de Chapela, tam in hereditatibus quam in omnibus rebus uel debitis ipsius,
scilicet in Domayo, in Sendely, in Chayanis uel in omnibus aliis hereditatibus preter Seeta-
dos uobis domno Petro abbati Melonis […] et ego frater Petrus abbas Melonis pariter cum
illis quibus ipse domnus Iohannes Suerii legauit bona sua in hora mortis […]” (Melón, nº
444 [1249]).
104
Neste último caso, só se refere o nome da santa padroeira, mas não existe outra fregue-
sia com esse orago na área.
105
O modo como se alude a esse casal, sem qualquer rótulo particularizante, supõe que se
tratava do único de que João Soares Somesso era proprietário, entre outros pertencentes ao
seus familiares.
106
É interessante notar que, na versão mais antiga do testamento (1238), João Soares (I)
oferece ao sobrinho João Fernandes “in uita sua” o seu quinhão na Igreja de Santa Cristi-
na de Baleixe, especificando que após a morte do anterior deveria ficar em posse da sua
linhagem: “Post mortem eius remaneat meo linagem”. Tal indicação parece assegurar que
nos benefícios dessa igreja participavam exclusivamente, naquela altura, membros da sua
estirpe. Essa apostila desaparece em 1247: “mando Johanni Fernandi […] meum quinionem
Ecclesie Sancte Christine”.
107
Os argumentos por omissão têm, contudo, menos valor probatório.
108
A utilização do mesmo nome para dois filhos não é, como se sabe, um facto excecional
na altura.
109
É difícil precisar a localização dos topônimos “Felgeyra”, “Paradela” e “Paredes” já
que, entre outros locais, surgem em várias freguesias da área de S. Martinho e de Nóvoa.
Filgueira: Rubiós (conc. Neves), Filgueira (conc. Crecente); Paradela: Alveos (conc. Cre-
cente), Angudes (conc. Crecente), Baleixe (conc. Canhiza), Barral (conc. Castrelo de Mi-
nho), S. C. Ribarteme (conc. Neves); Paredes: Ameixeira (conc. Crecente), Neves (conc.
Neves), Oroso (conc. Canhiza), Ribeira (conc. Crecente), Serantes (conc. Leiro). Optamos
pelos locais das Neves visto que na metade meridional desse concelho aparecem os três
e que nessa área o filho contava com propriedades (cf. infra). Muito perto desse Filgueira
encontramos o topônimo Crasto, provavelmente o “Castro” citado por João Soares (II).
110
A antiga terra de Manhó ocupava o atual concelho de Redondela e parte dos limítrofes
(Vigo, Paços de Borvém e Souto Maior). Uma das freguesias desse município é Tras-
-Manhó, contígua de Chapela.
111
O sobrenome geográfico costumava designar a área em que se concentrava o patrimô-
nio de um indíviduo.
112
Um “João Soares” é referido no testamento de Chapela [D.32/B]: “Et quito Johanni
Suerii, militi, portionem patris sui de hereditate de Athenis”. É muito provável que se trate
de João Soares (II). Notemos, contudo, que na manda faltam referências a outros membros
da sua rede familiar mais próxima, como se deduz da existência dos sobrinhos Pedro Mar-
tins e Pedro Rodrigues.
113
Para João Soares (I) temos os topônimos de Domaio e Gagám (conc. Moanha [Morra-
zo]) e para João Soares II o de Levosende (conc. Leiro [Nóvoa]). Por interpretação errada
do fenômeno fonético conhecido como gheada, Gagám pode aparecer representado como
“Xaxán” na cartografia atual.
114
Conservamos uma cópia desse diploma validada pelo notário de Ribadávia: “Sepan
quantos esta carta viren como yo don Ramir Rodriguez fijo de don Rodrigo Fernandez de
Valdeira vendo a vós Fernan Eanes fijo de don Johan Suarez de Fornellos todos quantos
erdamientos yo é en Tortorenos aldea que es en el alfoz de Salva Terra. Los quales erda-
mientos fuerun de don Pedro Martinez mio suegro e heredelos yo de dona Berengella mi
mugier [...]. Fecha la carta a veint e cinquo dias de febrero, en era de mill e trezentos e seis
anos. E desto som firmas rogadas de ambas las partes: Dom Pedro Rodriguiz <-->veiro e
Alvar Perez de Cepeda, e Estevan Andreu scudero del rey e Johan Romeu <--> Galiza e
Pedro Rodriguez de Sarra, e Vaasquo Perez de Valex e Esidro Garcia fijo de Garcia Meen-
dez [...]. Yo Garcia Fuertes notario puplico del conceyo de Xerez fiz escriver esta carta [...].
Eu Pedro Aras de mandado de Johan Perez, notario del rei en Ribadavia, scrivi este trallado
[...]. Eu Johan Perez, notario del rei en Ribadavia, fiz escrever este traslado e puge hi meu
signo por testemuyo que est atal”. Note-se a presença, entre as testemunhas, de um Vasco
Peres de Baleixe.
115
Notemos que, segundo consta no testamento do pai, Fernando Eanes já tinha recebido
em vida diversas propriedades dos progenitores.
116
Também, pelo menos, uma parte das possessões em Tortoreos serão doadas à Sé de Tui,
fato que explica a presença do diploma em foco nos fundos dessa instituição.
117
Vasco Martins, cunhado de Vasco Praga, casou com Elvira Vasques de Soverosa (após
a morte de Paio Soares de Valadares, o seu primeiro marido). Oliveira (1994: 439) supõe
que D. Vasco veio para Portugal no séquito de Gil Vasques de Soverosa. Monteagudo
(2008: 388-389) notou a existência de algumas afinidades linguísticas entre Vasco Praga,
Osório Eanes, Fernando Rodrigues de Calheiros e João Soares Somesso. Veja-se a síntese
oferecida por Ron Fernández (2005: 129-130).
O anterior, junto com os filhos, também participou na reconquista andaluza (Souto
118
Cabo 1994).
119
É possível que D. Soeiro tenha falecido pouco depois do último testemunho documen-
tal em 13 de janeiro de 1211. Pelo contrário, a mulher poderá ter atingido a década de 40.
A referência à mãe por parte de João Soares de Chapela em 1242 (e 1247) pode ser inter-
pretada como sinal de óbito não muito afastado temporalmente.
120
A primeira foi Urraca Gonçalves, filha de Gonçalo Fernandes de Trava, falecida em
1190. A notícia mais recuada sobre o casamento de D. Froila com D.ª Sancha remonta a
1198 (Barton 1998: 247).
Martim Airas, a mulher Maria Moniz e outros particulares venderam ao mosteiro de
121
Melom propriedades em Petám (conc. Canhiza) no ano de 1245 (Melón, nº 547). Nessa
125
“captum de Domaio, cum omnibus suis pertinenciis et directuris, tam in mare quam in
terra” [D.32/B].
126
O topônimo foi reproduzido erradamente como “Fabaceda” (Afonso IX, nº 217). A có-
pia de 1304 que transmitiu esse ato diplomático é afetada por uma grande mancha de
umidade que nos impede de conhecer outros dados sobre os limites dessa propriedade. O
erro fora já observado por García Álvarez (1966: 39) e López Sangil (2005: 67, n. 215). D.
Varela, avô de Fernando Pais de Tamalhancos, recebeu de Fernando II, em 1160, a herdade
de Cangas do Morrazo, concelho limítrofe com o de Moanha (Souto Cabo [no prelo/1]).
127
Outro dado patrimonial pode, de modo indireto, apoiar, por um lado, a identificação de
Urraca Fernandes com a filha de Fernando Airas Batissela e, por outro, a relação familiar
com João Soares (I) e com Martim Airas. O compromisso assumido entre D. Martim Airas
e o mosteiro de Fiães, em 1246 (cf. supra), além do casal de Facuco, envolvia outras pro-
priedades circunvizinhas, entre elas um casal que tinha pertencido a Maria Pais Ribeira:
“super casale quo fuit Marie Pelagii Ribiere”. Esta foi, como se sabe, mulher de João
Fernandes Batissela (1183-1226), portanto cunhada de Urraca Fernandes Batissela. Esses
bens fundiários foram, certamente, herdados do marido, o que vem relacionar diretamente
os Batissela com João Soares de Chapela e Martim Airas.
Ogan’, en Muimenta,
disse don Martin Gil:
– Viv’ en mui gran tormenta
128
Entre os confirmantes do segundo testamento de João Soares de Chapela aparece um
“Domnus Gundisalus” [D.32/B] que poderia ser Gonçalo Rodrigues Girão, comendador
da Ordem de Santiago na Galiza e Leão com Paio Peres Corrêa e, posteriormente, mestre
da mesma (Rades y Andrada 1572: 34v).
129
Fernando Pais de Tamalhancos também aparece ligado, por origens familiares, à linha-
gem dos Travas como descendente de Elvira Peres de Trava.
130
A cantiga faz escárnio dos problemas que tinha Abril Peres para desposar a filha com
João Martins “Chora” (com quem acabou por casar). Martim Gil terá causado a morte de
Abril Peres na lide de Gaia em 1245.
131
Michaëlis (1904: 303) identificou-o, sem razões de peso, com Moimenta da Beira: “O
logar de Mõimenta, onde se passaram os acontecimentos que deram assumpto á chufa do
trovador, é muito provavelmente o da Beira (perto de Lamego), visto essa localidade ter
feito parte dos vastos territorios, governados militarmente por D. Abril Peres de 1228 a
1231. Bem podia ser que a poesia fosse composta naquelle período”. Notemos que a forma
do topónimo em B (nº 104), o único testemunho que transmitiu o texto, é “muymenta”.
132
Encontramos uma referência a esse local numa escritura de 1218: “ipso casari de For-
nelis quod jacet in villa de Avelaneda concurrente ad ecclesiam Sancti Andree” (Melón,
nº 135). Tal propriedade pertencia, na altura, a Fernando Afonso que a vendia à irmã Al-
dara.
133
Vázquez Martínez (1948a) e Garrido Rodriguez (1987: 119).
134
Notemos que o lugar onde se encontram aqueles restos da antiga praça-forte, hoje recu-
perados, leva o nome de “Torre” e não o de “Fornelos”. Essa também é a denominação de
uma freguesia no concelho de Salvaterra de Minho.
135
Quando este trabalho já fora concluído, Henrique Monteagudo ([prep.]) teve a ama-
bilidade de nos enviar dois artigos, em fase de preparação, sobre o poeta em questão. O
professor compostelano aceita a teoria tradicional, sobre o pai de João Soares Somesso, e
considera o poeta filho de Fruílhe Fernandes de Celanova (c. 1125-1187), o que em termos
biográficos e biológicos parece difícil de justificar. Ele identifica João Soares de Chapela
com João Soares Somesso. O trabalho oferece uma análise minuciosa da documentação,
mas fica muito sujeito à letra dos Livros de Linhagens.
1
Lembremos, contudo, que Rodrigo Dias e García Mendes de Eixo foram primos.
2
Esse território passou a constituir um senhorio com um seu antepassado, Fortum Ochoa
(1040-1050), indivíduo pertencente a uma família aparentada, provavelmente, com a di-
nastia real de Navarra (García Turza 1995: 17-19, Canal 1995a). A história desse domínio
é objeto de estudo monográfico por Lafuente Urién et al. (1999).
3
Oliveira (1994: 430) e Monteagudo nomeiam a mãe como Guiomar Fernandes. Mon-
teagudo (2008: 333-334) considera que a filiação desta a respeito de D.ª Fruílhe “é, cando
menos, dubidosa”. No entanto, o casamento de Rodrigo Peres com D.ª Fruílhe e a filiação
de D.ª Guiomar, relativamente a esta última, contam com registro documental (Salazar
Acha 1984: 77-78, Canal 1995a: 153, Barton 1997: 297). A fórmula antroponímica de Ro-
drigo Dias lembra, como costuma acontecer, o nome do avô (Rodrigo) e, no patronímico,
o do pai (Diogo) (cf. infra).
4
Maior Rodrigues foi filha de Rodrigo Moniz (← Múnio Rodrigues), um irmão de Elvira
Moniz, a trisavó de Múnio Fernandes de Rodeiro.
5
Sobre esta personagem, vejam-se Barton (1989, 1997: 297-298) e Pizarro (1997: 817).
6
Esta última, também relacionada com o Mosteiro de Melom, foi a (re)fundadora do
cenóbio de Ferreira de Pantom, em 1175 (FPantón, nº 7), instituição em que Guiomar
Rodrigues irá ingressar algum tempo após a morte do marido (c. 1187-1188) (Canal 1995a:
156). D.ª Guiomar confirmou as disposições da mãe (entrega à Ordem de Cister) em 1196
(FPantón, nº 10). Alguns autores confundem o Mosteiro de Ferreira de Pantom com o de
Ferreira de Palhares, mas devemos notar que o único feminino foi o de Pantom. Na origem
deste equívoco está o fato de D.ª Fruílhe ter sido também protetora de Ferreira de Palhares,
segundo se observa em duas escrituras de 1187.02.10 (FPallares, nº 19, 20).
7
O casamento entre eles está documentado desde 1173.04.11, altura em que o rei Afonso
VIII de Castela lhes cedeu a vila de Herce: “ego Ildefonsus [...] dono et concedo uobis
Didaco Xemenez, et uxori uestre domina Giomar, et filiis et filiabus uestris et universe
succesioni uestre [...] uillam illam que uocatur Erce” (Rioja, nº 259).
8
Esta é a opinião de González (1960: 319), que considera erradamente Teresa e Guio-
mar como irmãs. Lembremos que a rainha Teresa Fernandes de Trava estivera casada com
Nuno Peres de Lara, o que explica, como nota esse estudioso, o parentesco dos Cameros
com os Laras.
9
Note-se o interesse pela reforma premostratense que, de modo habitual, se associa aos
Ansures-Armengóis (Alonso Álvarez 2007: 25-55).
10
Essas posses passaram, em 1162, a Osseira por uma permuta com o abade de S. Leo-
nardo (Oseira, nº 39). O domínio conjunto desse patrimônio parece remontar aos antece-
dentes familiares comuns de Fruílhe Fernandes e de Sancha Nunes (mãe de Sancha Pon-
ce), enquanto membros da estirpe dos Celanovas. Também pode ser atribuído aos Travas,
família a que pertenceu Rodrigo Peres “o Veloso” e os filhos de D.ª Sancha, mulher de
Vela Guterres.
11
Lembremos que D. Rodrigo, como patrono do Mosteiro de Monte Laturce, deu esse
cenóbio à Ordem de Cister em 1203 (MLaturce, nº 57). Segundo se depreende do seu tes-
tamento, pediu para ser enterrado nele (D.36).
12
Regnante Adefonso rege [...] Dominante sub eo in Lucronio, Roderico Didaci” (Rioja,
nº 409 [1202]), “dominando en Logroño y en Calahorra y en Soria y en ambos Cameros”
(MLaturce, nº 61 [1214]).
13
Bertran de Born também alude a ele em Quan vei pels vergiers desplegar.
14
A presença de Pedro Ruiz de Azagra no texto de Bertran de Born permitiu, precisamen-
te, apurar a identificação histórica de Pedro Ruiz (Asperti 2001: 52-53).
15
A família aparece como uma grande protetora da Ordem do Templo (Almagro Basch
1956). Dois dos seus membros, Fernando Rodrigues e Pedro Fernandes de Azagra, formaram
parte da Ordem de Santiago em finais do séc. XII (Rades 1572: 19v). Segundo outros autores,
tratar-se-ia de Gonçalo Ruiz de Bureba (← Rodrigo Gomes de Bureba & Elvira Ramires,
irmã do rei Garcia VI de Navarra) que esteve casado com Sancha Fernandes (← Fernando
Peres de Trava & Teresa Afonso de Portugal). Sobre o grupo familiar dos Azagras, veja-se
Canellas López (1985).
16
“Inoltre, sempre la modalità dell’ invio di Bertran fa ritenere che Gonzalo Ruiz de
Azagra non solo avesse una certa familiarità con la lírica cortese, ma che anzi la praticasse
(«aprenda»). Trova così una conferma l’ opinione dei più che hanno ritenuto che anche
i due iberici presenti nella satira di Peire d’ Alvernhe componessero in lingua d’ oc, o
quantomeno si sforzassero di farlo, finendo proprio per questo col venire dirisi; diviene,
di contro, ancora più gravoso l’ onere della prova per i sostenitori dell’ ipotesi che fa di
«Gossalbo Rois» il primo autore lirico a noi noto che componese in una lingua iberica. È
invece da sottolineare, in positivo, la conoscenza della lirica trobadorica e della sua lingua
in territori pirenaici, in specie della Navarra, collocati lungo il Cammino de Santiago e
naturalmente aperti verso i territori vicini del Béarn e della Guascogna” (Asperti 2001:
56). Lembremos, como se indica, que ele foi alferes de Fernando II numa altura em que o
galego-português já era língua da poesia trovadoresca.
17
O casamento deverá ter ocorrido c. 1150. Veja-se Canal (1995a), Barton (1997: 263),
Alonso Álvarez (2004: 26-32).
18
Estefânia Lopes, irmã de D. Diogo, esteve casada com Fernando Ponce de Cabrera “o
Menor” (cf. supra), tio do trovador João Vélaz.
19
D. Diogo foi alferes (1183-1187, 1188-1199, 1206-1209) de Afonso VIII de Castela
e tenente em Almazán, Bureba e Castela a Velha, Sória, Nájera, Rioja, Trasmiera etc. No
âmbito galaico-leonês, ocupou as tenências leonesas de Salamanca (1187), Leão (1204),
Toro (1204-1206), Estremadura (1205-1206) e a galega de Sárria (1204).
20
Miranda (2004: 43, n. 79) julga que o “En Diego” elogiado por Peire Vidal, na compo-
sição Car’ amiga dols’ e franca, deve ser identificado com Diogo Ximenes dos Cameros, o
pai de Rui Dias dos Cameros, e não com Diogo Lopes. A base para essa suposição estaria
numa alegada incompatibilidade cronológica entre o senhor de Haro e o trovador pro-
vençal apontada por Carlos Alvar. Porém, houve um lapso na interpretação, já que Alvar
(1977: 145, nº 29) – no excerto citado por Miranda – não se está referindo a Peire Vidal,
mas a Rigaut de Berbezilh: “Me resulta difícil admitir esta hipótesis, pues indicaría que
Rigaut y don Diego se conocieron antes de 1160 [...]”. De fato, as biografias de Peire Vidal
(1183-1204) e de Diogo Lopes de Haro são, em boa medida, paralelas.
21
J. C. Miranda (2004: 38), um dos promotores dessa suposição, manifesta-se em termos
muito categóricos a esse respeito: “Com os dados actualmente disponíveis, não nos parece
existir qualquer alternativa minimamente credível à possibilidade de João Soares ter es-
crito o seu texto junto daquele poderoso magnate e trovador, sendo a relação entre estas
duas personagens o ponto de partida para a compreensão das circunstâncias que levaram
ao surgimento do primeiro núcleo trovadoresco em galego-português”.
22
Garcia Mendes de Eixo, descendente desse mesmo Rodrigo Peres, aparece também
vinculado ao Mosteiro de Alcobaça, onde jaz sepultado.
Rodrigo Dias dos Cameros era, como vimos, conhecido como senhor de
Yanguas, vila situada na vertente soriana dos Cameros, conforme se deduz
do seu testamento e doutros diplomas do período25. Essa identificação parece
23
“Don Fortun Diaz Treze. Este Cauallero paresce hauer tomado el habito desta Orden
año del señor de .1184. por vna escriptura en que don Diago Ximenez su padre señor de
los Cameros, y doña Guiomar su muger dieron a esta Orden ciertos heredamientos en
Torquemada, que se anexaron al hospital de Villamartin. Y dize que los dieron por amor de
Dios, y por honra de señor Santiago, donde esta freylado Fortun Diaz su hijo. Fueron estos
señores los que fundaron el monasterio de San Prudencio de la Orden del Cistel, cerca de
Logroño: y padres de don Ruy Diaz señor de los Cameros, y de don Aluar Diaz y don Lope
Diaz, todos bien nombrados en la Chronica del rey don Fernando el sancto”. (Rades 1572:
17v). No mesmo grupo de trezes encontramos um “Don Alonso de Camberos Comendador
de Vcles”.
24
De acordo com Rades (1572: 30v), ele abandonou a direção da Ordem na sequência do
ferimento que recebeu na batalha das Navas de Tolosa.
25
Na documentação de Monte Laturce encontramos diversos exemplos da associação de
Rodrigo Dias a Yanguas: “señor de Yanguas Ruy Diaz” (MLaturce, nº 55 [1197]), “señor
de Yanguas y en Cameros don Ruy Diaz” (MLaturce, nº 68 [1226]). O próprio Rades
(1572: 41r) alude a uma escritura que evidencia a pertença da área de Yanguas aos des-
cendentes de Rodrigo Dias e, ao mesmo tempo, sublinha a existência de ligações entre a
Ordem e essa linhagem: “Era de mill y dozientos y ochenta y quatro, don Simon Ruyz
vendio al maestre do Fernando Ordoñez para su Orden la villa de y castilo de Encisso,
entre Yanguas y Prexamo, por ocho mill marauedis alfonsies. Dize la escritura que era hijo
de don Ruy Diaz señor de los Cameros y de doña Aldonça su muger, hija de Diego Lopez
de Haro, señor de Vizcaya”.
26
O mesmo acontece no referido à tomada da vila de Calatrava, onde se fala de “Don
Ruy Diaz, maestre de Calatrava, con los suyos” e de “Ruy Diaz señor de los Cameros, don
Alvar Diaz y don Lope Diaz sus hermanos” (Rades 1572: 26v-27v).
27
Sobre a biografia desta personagem, veja-se Ferreira (2009: 244-250).
Este el conde dom Mendo foi casado com Dona Maria Rodrigues,
filha do conde dom Rodrigo, o Veloso, e fez em ela dom Gonçalo
Mendes e dom Garcia Mendes (LV 5A1)
Este conde dom Meendo, o Sousão, foi casado com dona Maria
Rodriguiz, filha do conde dom Rodrigo o Velhoso, e de dona
Meniha Froiaz, e fez em ela dom Gonçalo Meendez e dom Garcia
Meendez [...] (LC 22D10)
28
Reproduzimos seguindo, em parte, Tavani (2002: 57-58). Também incorporamos algu-
mas sugestões de Lopes (1998), Arias Freixedo (2004) e Miranda (2004: 168). Contudo,
concordamos com Michaëlis (1904: 327) em que “tão viciada está que a tentativa de a
restaurar completamente, talvez seja desesperada”.
29
Veja-se Michaëlis (1904: 327), Oliveira (1994: 348-349), Miranda (2004: 165-167).
30
A primeira notícia sobre o casamento de D. Rodrigo e D.ª Fruílhe remonta a 1155.12.15
(Oseira, nº 32), só três anos antes do seu desaparecimento na documentação.
31
Se um dos irmãos de Garcia Mendes de Eixo recebia o nome em lembrança do avô, o
mesmo terá acontecido com Rodrigo Dias dos Cameros, neto desse mesmo Rodrigo Peres
de Trava e da segunda mulher, Fruílhe Fernandes de Celanova (através da mãe, D.ª Guio-
mar Rodrigues de Trava) (cf. supra).
32
“The Galician [Rodrigo Peres de Trava] maintained close links with the Portuguese
court, to which he was a regular visitor from 1128. On 28 September 1132 he was granted
the villa of Burral by King Alfonso Enríquez in recognition of his loyal service; he held the
lordship of Porto between at least 1132 and 1135; and later served as dapifer, or mayordo-
mo, to the royal household between at least Nov. 1140 and Feb. 1141. When the Portuguese
invaded Galicia en 1137, Count Rodrigo and Count Gómez Nuñez both lent their support,
but once peace had been agreed with Alfonso VII in 1141 both paid a severe political price
as a result” (Barton 1997: 297).
33
Garcia Mendes de Eixo estabelecia, assim, um nexo com a linhagem de Gomes Nunes
de Celanova, aliado do seu avô. Uma bisavó de Elvira Gonçalves, Urraca Gomes (mãe de
Paio Curvo), foi filha de D. Gomes (& Elvira Peres de Trava). Notemos que no texto se
alude, provavelmente, à Torronha (Burgueira, conc. Oia), local situado no antigo distrito
de Toronho. Também se conhecem os topônimos Toronha (conc. Salzeda de Caselas) e
Tronha (Ponte Areas) (González Montañés 2011: 75-77).
34
Airas Fernandes Carpancho também pertenceu à linhagem de Diogo Gelmires (Souto
Cabo – Vieira 2003).
35
Fernandez-Xesta (1991: 71) considera que Soeiro Mendes foi “Tenente en Villalpando,
Alférez del Rey Fernando II de León”. Ora, motivos de ordem cronológica levam-nos a
duvidar dessa identificação. Segundo esse autor também seria a personagem homônima
que em 1219 (Oseira, nº 190), ao lado dos irmãos (Rodrigo, Pedro, Urraca e Sancha Men-
des), oferece a um seu parente, Mendo Salvadores, uma herdade na vila de S. Cristóvão de
Eigom (Ribadávia). Um Soeiro Mendes obteve em foro uma casa em Trabadelo por parte
da Sé de Santiago no ano 1200 e no ano seguinte vendia ao arcebispo de Santiago duas
casas nessa mesma vila do Bierzo (Tombo C, fóls. 108r e 90v [Villafranca]).
Roy de Spanha
Esse texto é acompanhado de uma rubrica explicativa cujo conte-
údo tem recebido interpretações díspares ao longo do tempo. C. Michaëlis
(1904: 327) apontava que:
A rubrica .. parece dizer Esta cantiga foi feita a Roy de Spanha em Monfalcó
(?) seu condado dá margem a várias considerações. O hypothetico Monfalcó
será Monfalcó de Agramunt, que não fica muito longe de Pauia? Este Roy será
o trovador provençal Rodrigo? Relacionou-se D. Garcia antes de 1218 com o
velho trovador João Soares de Paiva? Conheceu o Senhor dos Cameiros? o de
Haro? e os provençaes e catalães da corte de En Peire II e do moço D. Jaime?
São problemas que não sei resolver.
36
Lembremos que Camões (ainda) alude aos portugueses como “gente fortíssima de Es-
panha”. Segundo notou Alvar (1977: 296) numa análise sobre o significado de Espanha
entre os trovadores provençais: “Más frecuentes son los textos en los que Espanha repre-
senta la suma de los reinos cristianos de la Península”.
37
“Ego Ildefonsus [...] rex Aragonum, comes Barchinone et marchio Provincie, concedo
atque concedo vobis Petro de Yspania et boni homini tribus castrum de Senters et castrum
de Bolsost [...] de Ponte Daros dorsum usque ad Daniliamum” (Alfonso II, nº 607). “Bol-
sost” e “Ponte Daros” correspondem atualmente a Bossost e Pont d’ Arrós. Lembremos
que o Val d’Arán pertence do ponto de vista idiomático à área occitânica. Existiu um
trovador provençal conhecido como Guiraut d’ Espanha, natural de Toulouse.
38
João de Espanha (“Iohannes de Yspania”) confirma uma escritura compostelana de
1321 (Tombo C, fól. 173r).
Levaron-na Codorniz
O múltiplo relacionamento familiar de D. Garcia com os Travas
poderá ser ainda corroborado por aquilo que conhecemos sobre o seu filho,
também trovador, o conde Gonçalo Garcia (1229-1284). Como se sabe,
o episódio argumental da única cantiga (satírica) deste autor, Levaron-na
Codorniz, situa-se precisamente no paço de Rodrigo Gomes de Trava41, o
39
No “Nobiliário” da História de D. Servando (c. 1635) aparece também relacionada com
Compostela: “Ten seu soar en Solovio e outro en Bonaval. E son venfeytores da eyreja do
Apostol donde ten sua capela. Tran por divisa un ramo verde d’ ubas, e unas espigas de
pan de trigo en escudo branco, e unha agia coronada en canpo d’ ouro, e un castelo e unha
estrela” (Souto Cabo 2007: 79).
40
O poeta Abril Peres foi identificado por Oliveira (1994: 304) com um jogral (“D. Abril
jogral”) que testemunha um documento redigido em Lisboa em 1221. Por essa carta, D.ª
Guiomar Mendes de Sousa confirmava uma venda feita pelo irmão, D. Gonçalo Mendes,
o que induz a situar o jogral na corte senhorial dos Sousas. Ora, a única composição que
conservamos de Abril Peres é, como se sabe, uma tenção com Bernal de Bonaval, circuns-
tância que poderia dar sentido ao hipotético relacionamento dos Sousas com a linhagem
dos Espanhas (sediada na capital galega). Contudo, achamos muito improvável a identifi-
cação daquele jogral com Abril Peres.
41
“E o sobredito dom Rui Fernandez Codorniz, irmão de dom João Fernandes Batissela,
foi casado com uma dona, e fege nela dona Maria Rodrigues Codorniz. E esta dona Maria
Codorniz rouçou-a João Bezerra de casa de dom Rodrigo Gomes” (LD 20G3).
42
Oliveira (2001: 101, n. 5) propõe conciliar o conteúdo dos Livros de Linhagens (cf.
supra) com a informação da rubrica atributiva a essa mesma cantiga (“Esta cantiga de cima
fez o conde Don Gonçalo Garcia en cas Don Rodrigo Sanchez, por ũa donzela que levaron
a furto, que avia nome Codorniz, e o porteiro avia nome Fiiz”, Lagares 2000: 115), onde se
nota que esse texto foi composto em casa de D. Rodrigo Sanches, filho de Sancho I, morto
em 1245. Esta última leitura fora considerada, pelo próprio Oliveira (1994: 355), erro por
“Rodrigo Gomes”; mas é evidente que poderia tratar-se de dois planos diferentes: o local
do acontecimento histórico e o da elaboração do poema. No entanto, se admitirmos que o
rapto se obrou em casa de D. Rodrigo Gomes, o lógico é que o texto tenha sido produzido
para o público do âmbito social em que se registrou aquele acontecimento.
43
A informação procede de dois documentos de 1202 e 1209 lavrados na vila de Ribadávia
(Tombo C, fóls. 194r-v e 71v). O mais antigo registra a venda de uma vinha por parte desse
mesmo João Nunes Bezerra: “Ego Iohannes Nunonis dictus Bezerra et uxor mea Aragunti
Pelagii […] uobis domno Petro Artario ecclesie beati Iacobi canonico […] facimus textus
scripture firmitatis de ipsa mea propria uinea quam habemus in ripa Minii, que iacet loco
certo circam ipsam focem ubi intrat fluuius Auie”. No segundo, alude-se a uma vinha que
pertencia a essa Aragunte Pais: “ipsa uinea quam habeo in ripa Auia in loco nominato Gan-
derela […] super carreiram, inter uineam Garsie Gundisalui et uineam Aragunti Pelagii,
mulieris Iohannis Bezerra”. Segundo consta nesta última, o tenente de Ribadávia era o tro-
vador Osório Eanes: “tenente Burgum Suerio Arie et Osorio Iohannis” (cf. supra). Oliveira
(1994: 356) supõe que o raptor foi um João Fernandes Bezerra que confirma uma compra
efetuada por Rodrigo Gomes em 1254.
44
Segundo o LV (1A 010), tratar-se-ia de uma relação doutro tipo: “Gil Sanches [...] foi
chus honrado clerigo que houve na Espanha, e houve por barregam dona Maria Garcia”.
Uma irmã de Gil Sanches, Teresa Sanches, casada com Afonso Teles de Meneses, foi a
mãe de Maior Afonso, a mulher de Rodrigo Gomes de Trava. Este último foi, portanto,
sobrinho por afinidade de D. Gil.
45
O infante D. Pedro Sanches desposou Aurembaix filha de Armengol VIII de Urgell,
com o qual D. Pedro veio ser primo (por afinidade) de Rodrigo Gomes de Trava (cf. supra).
Esses laços familiares e políticos relacionam Rodrigo Gomes de Briteiros com a geração
com que se abre a tradição manuscrita e apoiam a hipótese, lançada por Michaëlis (1904:
336), segundo a qual teriam pertencido ao Briteiros as cantigas anónimas A 62-63. Rui
Gomes ficaria, assim, situado no segmento que remete para uma cronologia mais recuada.
46
Num dos mais antigos registros documentais, em 1102, D. Rodrigo Froiaz aparece
como almirante: “Facta carta testamenti in era Mª Cª XLª et quotum XIº kalendas aprilis,
in tempore Adefonsi regis qui tenebat Tolleto, et Legione, et Gallecia. Comes domnus Pe-
trus in Gallecia et frater eius, Rodericus Froyle, admirante” (TCaveiro, nº 131). Esse cargo
parece estar associado à defesa das costas contra os ataques normandos.
47
Mattoso (1982: 118), com base nos Livros de Linhagens, supõe que foi filha do conde
que denomina “Afonso Vasques de Celanova”. Porém, quanto a nós, esse conde foi prova-
velmente Afonso Nunes (1101-1135), um dos filhos de Nuno Vasques (Barton 1997: 227)
(cf. supra).
48
Mendo Rodrigues [de Tougues], irmão do anterior, seguiu uma trajetória muito similar.
Segundo os Livros de Linhagens, da sua união com Châmoa Gomes (← Gomes Nunes de
Toronho) resultou Soeiro Mendes Facha, documentado na corte portuguesa entre c. 1156 e
1176. Veja-se Mattoso (1985: 178; 1988: 163-165).
49
Os Livros de Linhagens nomeiam D. Rodrigo Gonçalves como “da Palmeira” ou “de
Pereira”. Ele foi, com efeito, quem deu continuidade à linhagem com esse novo apelido
(Oliveira 1994: 424).
50
Veja-se Ventura (1992: 1023-1024; Mattoso 1982: 126-127, 1985: 178, n. 14). Note-
mos que, como é habitual na altura, a personagem que ocupa esse cargo não é carateri-
zada por qualquer apelido linhagístico: “Petrus Roderici tenens turres Troncoso conf.”
(DPRégios, nº 343 [c.1180-1182]), “Ego Petrus Roderici terreVisei presidens conf.” (DPRégios,
nº 352 [1183]). Ventura refere-se a ele como “Pedro Rodrigues da Palmeira” (cf. infra).
51
É neste ano que os quatro filhos ratificam a doação do couto da Palmeira ao Mosteiro
de Nandim/Ladim (conc. Vila Nova de Famalicão) (Figueiredo 1800/I: 344).
52
Maria Pais, descendente de Gomes Pais, era também parente do próprio Pedro Rodri-
gues.
53
O apelido linhagístico seria, na verdade, “Nomães”, atribuído nos Livros de Linhagens
a Gonçalo Rodrigues de Nomães, filho primogênito de Elvira Gonçalves e Rodrigo Nunes.
Por outro lado, só no Livro do Deão é que se alude explicitamente a esse “Pero Rodrigues,
que morreo de amor” (LD 7G4) entre os filhos de Elvira Gonçalves da Palmeira: Gonçalo,
Martim, Urraca e Guiomar Rodrigues. Pelo contrário, no Livro de Linhagens do Con-
de D. Pedro só se fala de Gonçalo Rodrigues de Nomães, Urraca e Guiomar Rodrigues
(LC 33A1-2). Nesta última obra, cita-se Pedro Rodrigues da Palmeira, mas apenas no
episódio da “morte de amor” e sem explicar as origens familiares. Mattoso, no “Índice” de
LC, identifica o da Palmeira e o de Pereira (p. 302).
54
D. Martim Rodrigues, bispo do Porto entre 1191 e 1235, foi também filho da anterior
e irmão do trovador: “e outro filho houve nome dom Martim Rodrigues, que foi bispo do
Porto” (LD 7G4).
D. JUIÃO
Uma outra figura nos parece dever ser tida em consideração ainda a partir
dos dados exclusivos da Tavola Colocciana: referimo-nos ao D. Juano que
antecede aqueles três trovadores: o Paiva, o Palmeira e o Cameros. Trata-se
apenas de um nome, o que, à partida, poucas certezas induzirá. Mas não é lícito
silenciar algumas consequências desse nome. Com efeito, Juano não é forma
galego-portuguesa. Toda a documentação da época e os mesmos cancioneiros
conhecem apenas as variantes alatinadas –Iohan, Iohannes, Johan-, ou então
a forma evoluída Joan. A área do castelhano é consistente no fechamento da
primeira sílaba, apresentando sistematicamente Juan, com o qual Juano parece
aparentar-se. Na nossa opinião, tendo em atenção que o honorífico “Dom” vai
a par com a ausência de patronímico ou de terra de origem, será certamente um
título irónico, como o que mais tarde foi atribuído a D. Bernaldo de Bonaval,
o que significa que esta personagem poderia não ser mais do que um jogral. A
forma anómala do seu nome justificar-se-ia também nesse contexto.
1
De acordo com essa tabela, estava representado apenas com uma cantiga.
2
Utilizamos os dados do Corpus diacrónico del Español (CORDE) da RAE.
3
Aliás, o sistema de nomeação simples dos indivíduos – só um nome – ainda represen-
tava 20% das ocorrências c. 1200 (Portela – Pallares 1995: 31).
4
Essa hipótese foi já sugerida, embora não desenvolvida, por Montero Santalha (2000:
160).
5
A ausência de marca diacrítica para o “i” na escrita medieval terá favorecido o “enga-
no” gráfico.
6
Não parece necessário relacionar essa forma com a prática gráfica vigente até c. 1265,
caraterizada pelo uso de –n– para representar a nasalidade vocálica (Souto Cabo 2004:
368-369). Notemos, contudo, que vários nomes refletem práticas de escrita (“Tamalãcos”
por “Tamalhancos”, “Cerzeo” por “Cerceo”) ultrapassadas no momento em que se redige
a compilação de que são cópia B e V.
7
No último quartel do séc. XII e primeiro do seguinte, localizamos algumas ocorrên-
cias de indivíduos com essa denominação abreviada: “magister Iulianus” (Tombo C, fóls.
104r-104v [Santiago, 1199]), “Iuliano” (Carrizo, nº 58 e 59 [c. 1200]), “Maiordomus de
abatissa domnus Iulianus in Molina Sica” (Sobrado II, nº 220 [1195]), “Domnus Iulianus”
(Toxos-Outos, nº 26 [1198]), “Iulianus” (DCarrizo, nº 12 [1199],“Iulianus frater de Calatra-
va” (Sahagún, nº 1595 [Villalobos: 1215]), “domnus Iulianus” (Sobrado II, nº 204 [1223:
Villanueva, Leão]), “dompno Iuliano” (Afonso IX, nº 621 [1230: Castro Verde, Lugo]) etc.
8
Toxos Outos, nº 322 [1151], Tombo C, fól. 105v-106r [1201]. O registro cronológico
mais antigo levanta, contudo, algumas dúvidas (cf. infra).
9
Toxos Outos, nº 322 [1151]; Tombo C, fóls. 61v [1169], 86r [1192], 12v [1194], 194v
[1196]; GH, nº 18 [1165], 29 [1175]; Toxos Outos, nº 367, 376 [1176].
10
Tombo C, fól. 66r.
11
Maior Juiães deve ter falecido c. 1185, ano em que ordena o seu testamento [D.18].
12
Tombo C, fóls. 95v-96r [1182], 204r [1216], 237v [1222], 254r e 262r [1225]; Toxos
Outos, nº 224 [1213]. Segundo consta explicitamente, cada um tinha uma oitava naquele
prédio. Quanto aos nomes concretos, a filiação só foi deduzida indiretamente no caso de
Gil Peres, citado como testemunha no documento pelo qual a irmã, Maria Peres, vendia a
Pedro Vélaz a sua quota-parte no imóvel antes citado (Tombo C, fóls. 105v-106r).
13
“Cotalaia” aparece utilizado em vários casos a modo de apelido linhagístico: “Veremu-
dus Petri Cotalaia” (Tombo C, fól. 96r [1182]), “Fernandus Petri Cotalaia” (Tombo C, fóls.
254r, 262r [1225]), etc.
14
A existência de filhos com o mesmo nome não é inusitada no período medieval, sobre-
tudo se só eram meios-irmãos. É possível que se trate do Pedro Martins, casado com uma
Maria Peres, que encontramos em dois documentos de 1176 confirmados por D. Cotalaia
(Toxos Outos, nº 367, 376).
15
Alude-se a propriedades situadas perto da Igreja de S. Miguel da Cisterna, ao lado da
qual D. Cotalaia também possuía um forno: “in directa ipsius forni domni Cotalaie” (Tom-
bo C, fól. 245 [1197]).
16
Como se sabe, a sua figura, transformada num humilde carvoeiro, aparece envolvida
na lenda sobre a vinda de S. Francisco a Santiago. Cotalaia teria ajudado o santo de As-
sis na fundação do mosteiro graças a uma intervenção milagrosa. Veja-se a exposição de
López Ferreiro (1902: 108-113), que sugere a possibilidade de se tratar de um servidor de
D. Cotalaia ou de um dos seus filhos. O seu túmulo encontra-se no átrio daquele mosteiro
compostelano, situado numa área da cidade vinculada aos Cotalaias.
17
Barreiro Somoza (1987: 413-414) inclui as referências a esta personagem no grupo de
“Donaciones de otros miembros de la nobleza gallega”.
18
“Et hi habuerunt secum conciues huius rei ueritatem cognoscentes. scilicet: Cotalaia.
Gaufridum Pican. Fernandum Petri. Martinum Didaci. Iohannem Iuliani. Pelagium Fa-
nion. Ariam Didaci. et Froilam dictum iudicem...” (GH, nº 19; AHDS, Priorado de Sar,
maço 54, nº 6 [1175]). Notemos que, no mais recuado testemunho documental, D. Cotalaia
foi um dos confirmantes do testamento de Diogo Moniz, sobrinho do arcebispo Gelmires
(Toxos Outos, nº 322).
19
Também o localizamos, como testemunha, numa escritura de 1214 (Tombo C, fól. 34r).
20
Sobre esta confraria, veja-se López Ferreiro (1905: 109-115), que a considera “la más
aristocrática de la ciudad”. A Confraria dos Cambiadores é ligada, segundo algumas tra-
dições, à fundação da Ordem de Santiago (Figueroa Melgar 1967: 785-786), mas parece
tratar-se de uma notícia fictícia propalada pelos autores da História de D. Servando (Souto
Cabo 2007: 145-148).
21
Este autor refere-se precisamente a esse passo do documento, mas com alguns equívo-
cos: “En la primavera de 1195 el rey leonés se dispuso a la guerra. Llamó a fosado a sus
huestes. El 12 de julio aún había guerreros que se preparaban para algo grave, y así, vemos
que esse dia Diego (sic) Cotalaya, “queriendo ir al ejército de León”, en contra de los sar-
racenos, hizo testamento”. Tal fato, afinal, não se chegou a verificar; antes pelo contrário,
foi seguido por diversos episódios bélicos entre as tropas dos reis cristãos durante os anos
1196 e 1197.
22
A intervenção das autoridades eclesiásticas é devida, por um lado, à participação desse
arcediago e, por outro, ao fato de a doação afetar alguma das possessões oferecidas por
João Vélaz à Sé de Santiago.
3. Domnus Giao
No testamento de D. Cotalaia (1195) é mencionado “Domnus Ju-
lianus” [D.21], filho a quem são atribuídos alguns encargos no cumprimento
das últimas vontades do testador. Ele surge ainda entre os confirmantes
dessa manda sob a forma “Giao”, variante galego-portuguesa medieval
bem documentada de “Juião”. Cremos que, talvez por vontade própria, ele
terá sido conhecido no contato social apenas por essa fórmula abreviada25.
23
É, contudo, difícil identificar os motivos concretos que expliquem as expetativas de D.
Cotalaia. É possível que ele fosse beneficiado com essas casas no testamento do chanceler.
24
“Ego Maria Petri, dicta de ganancia, una com uiro meo, Suerio Froile, milite, et omnis
uox nostra, uobis domno Petro Uele, Compostellane ecclesie archidiacono, omnique uoci
uestre, grato animo et spontanea uoluntate, facimus cartam vendicionis et textum scripture
firmitatis imperpetuum ualituram de tota nostra porcione quam habemus, ego iam dictam
Maria de ganancia ex parte patris mei domni Cotalaie, in illa domo que est in Compostella-
na ciuitate in fronte portalis noui ecclesie beati Iacobi, inter domum scilicet cantoris domni
Laurencii Iohannis et de alia parte domum que fuit comitis domni Fernandi” (Tombo C,
fóls. 105v-106r [1202.06.15]).
25
Lembremos, por exemplo, o caso de Airas Fernandes Carpancho, nomeado apenas
como “Airas Carpancho” (Souto Cabo – Vieira 2003).
26
Notamos a sua presença em finais dessa década (AHN, Tombo de Meira, 1126, nº 9
[1159]), junto ao pai, numa escritura de compra-venda outorgada pelo arcediago com-
postelano D. Fernando a favor do conde Álvaro Rodrigues {Vélaz} e da mulher, a infanta
Sancha Fernandes (cf. supra). Também o podemos identificar com a personagem homôni-
ma citada entre os executores do testamento da mãe em 1185 e como testemunha na venda
de uma casa efetuada, em 1202, pela irmã, Maria Peres, e o marido desta, Soeiro Froilaz
“milite”.
27
Lembremos que, de acordo com o patronímico da mãe (Maior Juiães), D. Juião recebeu
o nome do avô materno, pelo qual avô e neto poderão ter coincidido na sua denominação.
Este fato também tem consequências sobre a possibilidade de identificar os filhos de D.
Juião (cf. infra).
28
João Juiães confirma – ao lado de D. Cotalaia – uma escritura (GH, nº 18 [1165]) pela
qual Afonso Anaia determinou os termos do Hospital de S. Lázaro em Santiago. Ele reapa-
rece, em 1175, ao lado do avô na – já citada – sentença sobre o litígio patrimonial entre o
Mosteiro de Sar e Fernando Eanes. Também aparece, em 1185, como cumpridor do testa-
mento da avó, Maior Juiães, entre o pai e outro irmão, Sancho Juiães. É também possível
que seja o João Juiães que, com a mulher (Maria Calçada), vende à irmã, Ardilo Juiães,
uma casa na Boca do Campo na cidade de Santiago (Tombo C, fól. 123r [1183]), que fora
de João Airas de Nóvoa (o pai de Osório Eanes). Sancho Juiães sucede ao lado do avô, D.
Cotalaia, num documento de 1201.11.24 (Tombo C, fól. 81r).
29
Os numerosos exemplos de paternidade em indivíduos pertencentes à classe religiosa
faz com que as duas hipóteses não sejam necessariamente incompatíveis; aliás o ingresso
nesse corpo clerical pôde ser posterior à morte da cônjuge.
30
O termo foi usado para os parentes próximos (Calderón Medina 2011a: 58).
31
Sobre o assunto, veja-se Souto Cabo (2012a, [no prelo/3]).
1
Essa possibilidade foi, como vimos, posta de parte pelo professor de Coimbra. Contu-
do, o estudioso não deixou de notar – referido a uma fase mais adiantada – que o trovado-
rismo “floresce assim, inicialmente, junto dos Trastâmaras, na Galiza” (Oliveira 2001: 19).
2
Contamos com um excelente estudo monográfico de Yara F. Vieira (1999) sobre o papel
de D. Rodrigo Gomes na difusão do trovadorismo. Limitamos, portanto, a nossa aborda-
gem a sublinhar ou esclarecer alguns aspetos de especial pertinência para os objetivos
deste trabalho.
3
AHN, Ordens Militares, São João, maço 574, nº 12 (= GSJoão, nº 40). O conde Froila
Ramires e a condessa Urraca Gonçalves (tia de Rodrigo Gomes) são os titulares desse ato
documental.
4
“La importancia de esta relacion estriba en que los condes y vizcondes de Urgell pro-
tegieron ininterrumpidamente a los trovadores, y Guerau [III] Ponç de Cabrera, suegro de
Marquesa de Urgel, fue el autor del conocido Ensenhamen. Marcabrú estuvo allí entre 1135
y 1137, Raimbaut d’ Aurenga en 1170-1171 y Peire d’ Alvernha en 1185, y disponemos así
mismo de las referencias de Guiraut de Bornelh y Beltran de Born, que habla elogiosamente
de Marquesa en un sirventés de 1184; en 1182, Alfonso de Aragón la tenía sitiada en el
castillo de Montessor, lo que le valió las censuras de Guilhem de Bergadà y Peire Vidal,
así como de Guiraut de Luc. Marquesa, hermana, de nuestra Miracle, fue también la dama
cantada por Pons de la Guardia con el Senhal-on-tot-mi-platz. Notaremos por último que
Elvira de Subirats, esposa de Ermengol VIII y cuñada de Miracle, fue cantada por Aimeric
de Sarlat y por Aimeric de Peguillan, que estuvo en Cataluña con Gullem de Bergadà y gozó
de la protección de Pedro II para pasar a continuación a la corte castellana de Alfonso VIII.
Recordemos al respecto, que este es uno de los pocos trovadores cuya relación con Gui d’
Ussel podemos demonstrar”. Segundo Canal (1989a: 129), em opinião bem documentada,
a mulher de Armengol VIII foi Elvira Nunes de Lara. Sobre a identificação do autor do
Ensenhamen, veja-se o que foi dito anteriormente.
5
O documento fora publicado por Montero Díaz (SJubia, nº 115), que expandiu erra-
damente o “G.” (“Gomez”) como “G[undisalvo?]”. López Sangil (2007: 260) não tem
razão quando desconfia dessa identificação (“he consultado el documento y en él sólo
figura entre los confirmantes: Gomes G. domina Miracla comitissa..., y es una suposición
que se trate de Gomez González, sin titulación, y que ademas Miracla sea su esposa”) já
que a leitura do original é indiscutível. Aliás, a confirmação de Miracle só se justifica pela
presença prévia do marido e este, levando em atenção a escritura de 1182, só pode ser o
conde Gomes Gonçalves.
6
Veja-se a imagem fotográfica, aqui reproduzida, do Tombo de Júvia em http://pares.mcu.
es/.
7
Gomes Gonçalves esteve casado em primeiras núpcias com Elvira Peres (¬ Pedro
Afonso {Vélaz}). Por sua vez, Miracle irá desposar Raimundo, senhor de Cervera, após
ter sido anulado o matrimônio com D. Gomes, talvez na sequência dos problemas que este
último teve com Afonso IX (Miret y Sans 1910: 312, Barton 1997: 254).
8
Salazar Acha (2000: 367) supõe que foi filho de Berengária Rodrigues, segunda mulher
de Gonçalo Fernandes e irmã dessa Elvira Rodrigues. López Sangil (2002: 127) exprime
uma opinião similar mas considera, erradamente, esta última filha do conde D. Rodrigo
Álvares.
Tal texto permite concluir que Rodrigo Gomes foi promotor e protetor
do trovadorismo galego-português, talvez desde os inícios do séc. XIII13.
Não conseguimos apurar a localização cronológica dos trovadores, já que
não contamos com informação documental direta sobre eles. Contudo, os
9
Existe coincidência e paralelismo entre as relações familiares de João Vélaz e as de
Rodrigo Gomes pelos vínculos diretos com uma estirpe catalã (Cabrera e Urgell) e com as
galegas dos Travas e Vélaz.
10
“Cando Afonso IX accedeu ao trono non chegaba á ducia o número de individuos da
aristocracia leonesa que podían ser realmente considerados como magnates no sentido des-
crito anteriormente. Entre eles, se cadra o máis distinguido de todos fose o conde Gómez
González de Traba (+ 1209), cunha familia que dominara a rexión de Trastámara desde
principios do século X e exercera o poder noutras moitas zonas de Galiza desde entón. Así,
durante o curso dunha longa e prestixiosa carreira, o conde Gómez mantivo por delegación
da coroa as tenencias de Montenegro, Monterroso e Sarria, entre outras. O prestixio do
conde era tal que durante o reinado de Afonso IX o seu nome aparecía á cabeza das listas
de testemuñas que tradicionalmente se incluían nos documentos reais. O seu fillo Rodrigo
Gómez seguiría os pasos do pai cunha carreira distinguida na corte de Afonso IX e na dos
seus sucesores Fernando III e Afonso X” (Barton 2008: 73).
11
Entre os confirmantes de uma escritura de 1216 (Tombo C, fól. 80r) encontramos Rodri-
go Gomes seguido de um “Pelagius joglar”, o que nos permite pensar que o jogral estava
provavelmente ao serviço daquele (Souto Cabo [no prelo/3]).
12
Vieira (1999: 134) situa, conjeturalmente, a composição da cantiga entre 1228 e 1236.
13
Veja-se o que foi dito sobre a rubrica que acompanha a cantiga Levaron a Codorniz e o
excerto dos Livros de Linhagens em que se alude ao rapto nela referido (cf. infra).
14
Entre os indivíduos apelidados “de Taveirôs” encontramos Vasco Peres (1267), Lou-
renço Peres (1278) e João Vasques (1300), considerados, respetivamente, filhos e neto
de Pedro Soares (Vallín 199: 41-42). Rodrigo Soares de Taveirôs, provável irmão dos
trovadores, é citado na síntese de uma escritura a que se atribui a data de 1227 (Carboeiro,
nº 161), mas que supomos pertencente ao ano de 1257 por provável interpretação errada do
xis aspado. A alusão responde ao fato de D. Rodrigo ser ou, provavelmente, ter sido pai da
titular Sancha Rodrigues: “hija de don Rodrigo Suárez de Tabeiros”.
15
Trata-se de uma das primeiras notícias documentais sobre essa estirpe. Notemos ainda
a presença de um “Johannes Martini de Taberiolis” como testemunha no testamento do
cônego compostelano Sancho Fernandes em 1265 (Tombo C, fól. 5v).
De Mirapisce
Embora de modo mais impreciso, pela inexistência de informações
concretas, a participação de Nuno Fernandes de Mirapeixe no movimento
trovadoresco deve ser inserida num contexto similar, à vista da conexão
dos seus irmãos com D. Rodrigo e com os Ambroas (Oliveira 1994: 395,
Vieira 1999: 116-120). A ausência de Nuno Fernandes de Mirapeixe na
documentação contrasta com o registro, relativamente abundante, desses
irmãos: Rodrigo (1211-1259), Gonçalo (1211), Garcia (1237-1243) e Teresa
Fernandes (1251)16. A sua provável cronologia (c. 1185-1235) condiz com o
lugar que veio a ocupar nos cancioneiros, após Osório Eanes (1175-1217),
primo do pai de D. Rodrigo (cf. infra)17.
16
O solar dos Mirapeixes situava-se em S. João de Outeiro de Rei (conc. Outeiro de Rei),
portanto, na antiga terra de Montenegro, dominada pelos Travas e Vélaz.
17
Apesar de desconhecermos os pormenores da sua biografia, não descartamos a associa-
ção de Nuno Fernandes Torneol a D. Rodrigo Gomes. Notemos que um irmão, João Fer-
nandes Torneol, contava com propriedades em Córdova no ano 1244 (González Jiménez
1991, nº 136), donde se conclui que tinha participado junto com D. Rodrigo (Vieira 1999:
40) na tomada dessa cidade andaluza em 1236. Veja-se Souto Cabo ([no prelo/3]).
RAIMBAUT DE VAQUEIRAS
E A LÍRICA GALEGO-PORTUGUESA
1
O gosto de Vaqueiras pelo plurilinguismo não é exclusivo desta composição, também
o encontramos em Domna, tant vois ai preiada, debate em que o provençal alterna com o
genovês nas estrofes postas em boca da “domna”.
2
No respeitante à estrofe galega, vejam-se: D’ Heur (1973: 155-180), Tavani (1985,
1987), Brea (1994), Castro (1995) e Fernández Campo (1994, 2003, 2009). O texto que
oferecemos, embora não reproduza nenhuma das propostas citadas, toma em consideração
as sugestões desses editores.
3
C. Michaëlis (1904: 735-736) exprimiu uma opinião similar sobre o descordo: “O
curioso especime [...] hoje geralmente considerado como um dos mais antigos que possui-
por uma profunda pegada do vasco) naquele antigo reino está bem documentado na Idade
Média.
7
Teobaldo foi designado como chefe da IV Cruzada, mas será substituído, à sua morte,
por Bonifácio de Monferrato em 1201.
8
O texto foi situado em 1201-1202, mas certamente testemunha a aproximação entre
Vidal e Afonso IX na década prévia. Sobre a relação de Peire Vidal com os reinos peninsu-
lares, sobretudo com a lírica galego-portuguesa, veja-se Hoepffner (1946) e Vilhena (1977).
D. Diogo esteve casado com Aldonça Gonçalves {Trava & Vélaz} (irmã
desse Gomes Gonçalves) e foi sogro de Rui Dias dos Cameros (cf. supra).
Ora, Peire Vidal aparece ligado à corte de Bonifácio de Monferrato (Tavani
1987: 41), o grande protetor de Raimbaut de Vaqueiras9. Essa esfera curial
poderá ter constituído uma das ocasiões em que o Vaqueiras entrou em
contato com a poesia galego-portuguesa, certamente bem conhecida por
Peire Vidal10. Notemos ainda que a obra deste último se encontra, como
não podia deixar de ser no ambiente monferratense, imbuída pelo espírito
da IV Cruzada, conforme se reflete na composição, acima citada, Baron,
Jhesus, qu’en crotz fon mes, dedicada a Afonso IX de Leão.
9
A relação entre Vaqueiras e o marquês de Monferrato está documentada desde 1180
(Linskill 1964: 7).
10
Uma cansó deste poeta conclui com um juramento por Santiago (de Compostela): “Per
l’apostol qu’om apella / Sant Jacme de Compostella” (Avalle 1960: 316).
11
Também Conon de Béthune aparece próximo do marquês Bonifácio de Monferrato,
citado pelo trouvère em L’ autrier avint en cel autre païs: “Encoir n’ a pas un mois entir
passé / ki li Marchis m’ envoia son messaige”.
12
Notemos que, de fato, a estrofe galego-portuguesa entra no cânone argumental mais
frequentado pela cantiga de amor.
13
Châmoa Gomes esteve, portanto, aparentada diretamente com João Vélaz, Osório Ea-
nes ou Fernando Pais de Tamalhancos
14
A Ordem de São João de Jerusalém contou com o patrocínio de ilustres membros da
família Trava, entre eles: Teresa Fernandes (& Nuno Peres de Lara), Fernando Nunes de
Lara (filho da anterior), Urraca Gonçalves (& Froila Ramires), o conde Gomes Gonçalves
(pai de Rodrigo Gomes) ou Teresa Bermudes (& Fernando Airas), tia de Osório Eanes.
Veja-se Barton (1997: 239, 247), Barquero Goñi (1999: 97-99) e García Tato (2004: 14-18,
134-144). Também o conde Ponce II Geraldo de Cabrera figura entre os benfeitores dessa
instituição (Barton 1997: 284-285).
15
Eis as palavras de Tavani (2008: 6) quando explica a opinião de De Bartolomaeis, um
dos partidários de negar a autoria a Raimbaut: “Supporre che Altas undas sia davvero di
Raimbaut, significherebbe rovesciare «tutto il capitolo relativo alle origini delle cantigas
1
Em face aos modelos prévios de tipo majestático hierático, a imagem equestre deste
monarca no Tombo A do ACS (c. 1180) pressupõe a assunção dos valores cavaleirescos:
“um cambio en la imagen pública que la realeza quiere dar de sí misma: una imagen más
activa del poder, más caballeresca – valga la redundante obviedad –, si tomamos el término
en todo lo que evoca de la cultura e imaginación de la época. El monarca abandona su hie-
rático y distante continente imperial para erigirse en el primero de sus caballeros, al que se
podía incluso confundir con el héroe de un roman courtois en combate singular” (Moralejo
Álvarez 2004: 164).
2
É possível, segundo já foi sugerido, que o texto tenha sido elaborado no reino galaico-
-leonês ou na própria corte de Fernando II. O sirventês Bel m’es quan la roza floris também
pode ser relacionado com este último monarca (Michaëlis 1904: 724-725, n. 8). Alegret
alude, em termos muito laudatórios, a um “Seinhor de cui es Occidentz” (Viel 2011: 83,
91), identificado tradicionalmente, sem argumentos de peso, com Afonso VII. Porém, não
descartamos, antes pelo contrário, que se trate do próprio Fernando II.
3
Lembremos que Afonso VII já é citado por diversos trovadores, entre eles e de modo
elogioso pelo próprio Marcabrú (Alvar 1977: 27-43). Este último conheceu Pôncio II Ge-
raldo de Cabrera na corte desse soberano (cf. supra).
4
De fato, a maioria dos trovadores considerados neste trabalho pode ser vinculada, de
modo direto ou por via social/familiar, ao aparelho de governação do reino galaico-leonês.
Essa circunstância é especialmente notória no caso de João Vélaz, João Soares de Paiva,
D. Juião, Osório Eanes, Rodrigo Dias dos Cameros, Fernando Pais de Tamalhancos, Pedro
Pais Bazaco ou João Soares Somesso.
5
Alguns autores sugeriram identificar “N’ Amfos” com (o futuro) Afonso IX, o que nos
levaria a situar a composição antes de janeiro de 1188, altura em que morre Fernando II e
quando o príncipe Afonso contava com 18 anos. Tal hipótese entra em contradição com a
data da citada cansó (c. 1170-1173) proposta por vários estudiosos com base na alusão a
“Linhaure”; senhal com que parece referir-se ao trovador Raimbaut d’ Aurenga, falecido
em 1173. A denominação de “rei” aplicada aos filhos do monarca é, contudo, normal nos
reinos ocidentais da Península.
6
Veja-se Sánchez Jiménez (2004: 102): “Beside Vidal, many other Catalan and Occi-
tanian troubadours portrayed Alfonso’s court as a golden age of courtesy and patronage,
providing a wealth of information about the Castilian court during the late twelfth and
early thirteenth centuries”.
7
Calderón Medina (2011a: 217-239) analisa a presença de um grupo de magnates portu-
gueses na corte de Fernando II e Afonso IX. Como foi notado ao longo das páginas deste
trabalho, vários trovadores aparecem ligados familiarmente a membros desse “partido”
luso.
8
A comunidade cultural – sobretudo linguística – entre a Galiza e Portugal foi um fator
determinante na extensão do trovadorismo a sul do Minho. Sobre as singulares relações
entre a Galiza e Portugal, de uma perspetiva abrangente, veja-se Romero Portilla (2000).
Essa autora afirma que: “La relación entre Galicia y Portugal fue especialmente estrecha,
ya que el territorio lusitano constituía la zona natural de expansión gallega hacia el sur por
el territorio musulmán. A esto sumamos la existencia de una misma lengua que se exten-
dió con la reconquista. Es un hecho que la aparición del reino de Portugal no supuso una
ruptura de las relaciones con Galicia y la frontera continuó siendo zona de comunicación,
nunca existió una idea rigurosa de frontera que delimitase cada territorio” (p. 57). Por ou-
tro lado, é um despropósito apelidar o idioma do nosso trovadorismo como “galego” (tout
court); antes pelo contrário, da perspetiva dos padrões atuais, poder-se-á suster, com razão,
que o veículo linguístico das cantigas é o “português”. Com efeito, o essencial da língua
trovadoresca permanece, sem solução de continuidade, no modelo luso-brasileiro.
9
Fernando II e Afonso IX são normalmente intitulados como reis de Leão, mas é, con-
tudo, muito habitual a denominação que discrimina as duas entidades políticas. Em muito
menor medida, normalmente só no escatocolo, encontramos referência às Astúrias ou à
Estremadura. Porém, como nota P. Linehan (1994: 448) “aunque León tenía preceden-
cia sobre Galicia en los usos de la cancillería, Galicia precedía a León en el corazón del
rey [Afonso IX]”. Lembremos que o trovador Arnaut Daniel denomina Fernando II como
“seignor dels galecs” (Brea 1994: 50).
10
O posicionamento defendido por Oliveira e Miranda apresenta diversas concomitâncias
com o de Michaëlis, mas com algumas novidades relativas à geografia e, em parte, ao – ago-
ra mais impreciso – papel atribuído à corte leonesa: “Assim, terá sido em torno da linhagem
dos Cameros, sediada em terras estrategicamente posicionadas a nordeste de Castela e a sul
da Navarra e num período em que a um afastamento relativamente à corte castelhana poderá
ter correspondido um estreitamento das relações políticas entre esta linhagem e Sancho VI
de Navarra, que ocorreram as primeiras tentativas poéticas em galego-português. A presença
de portugueses exilados nessas paragens e as umbilicais ligações dos Cameros ao reino leo-
nês e à Galiza, fermentadas pelo contacto directo com os meios trovadorescos occitânicos
[...] terão criado as condições para que essas tentativas tivessem tido lugar […]. Já alguns es-
tudiosos […] foram chamando a atenção para que algumas das pistas sobre o trovadorismo
galego-português das fases mais recuadas convergiam na corte leonesa de Afonso IX. Tendo
em atenção que a Galiza não tem então uma existência política autónoma, sendo parte do
reino de Leão até 1230, não escapa que são leoneses, ou com este reino relacionados, muitos
dos nomes que afloram na parte inicial dos cancioneiros” (Miranda 2004: 60).
11
Sobre alguns dos aspetos examinados neste capítulo conclusivo, vejam-se as hipóteses
sugeridas por Brea (1994) relativas às origens do trovadorismo galego-português, com as
quais, em boa medida, concordamos.
12
A tutela fora-lhe confiada por encargo do pai, D. Raimundo: “consul [Pedro Froiaz],
cuius custodie puerum uiuens pater attribuit” (HC I, 47). D. Raimundo, membro da casa
condal de Borgonha, recebeu de Afonso VI, em 1093, o domínio do antigo reino da Galiza,
o que de fato supôs reconhecer uma certa autonomia para o reino mais ocidental, perdida
vinte anos antes pela anexão a Leão. Como se sabe, D. Henrique (casa ducal de Borgonha),
primo da rainha Constança, consegue (c. 1095) o governo da área meridional da Galiza: os
condados do Porto e Coimbra.
13
É importante salientar a referência a essa tutoria e aos seus efeitos por parte de Gui-
lherme IX (primeiro trovador e duque de Aquitânia), numa missiva ao arcebispo Gelmires:
“Nunc autem peruigilem uestri curam, quem multa diligo, quod re ipsa experiri poteritis,
qui omnes, quos Hiberia continet, uestri ordinis dignitate et potentia precellitis, rogo, ut
Dei primum et mei gratia et, quia iustum est, regine filium sustentetis et defendatis et, ne
exheredetur, faciatis. Relatum est enim mihi, quia rex et regina pacificati sunt, et eum per-
dan, conderedati. Nunc igitur eternam gloriam uobis in orphano illi opitulando adquirite et
de hoc ipso cum Petro Galliciensi comite et omnibus predicti pueri amicis loquimini” (HC
II, 24). Sobre a relação de Afonso VII com o seu aio, veja-se o trabalho monográfico de
López Ferreiro (1885).
14
Afonso VI determinara que o reino da Galiza passasse diretamente ao neto (Afonso
VII), enquanto herdeiro de Raimundo de Borgonha, se a filha, Urraca, viesse a contrair
segundas núpcias – como de fato aconteceu (HC I, 46).
15
A morte do infante Sancho Afonso (c. 1093-1108), potencial herdeiro de Afonso VI, fez
com que a sucessão viesse a recair na (meia-)irmã Urraca.
16
Este dado consta pela primeira vez em 1149.03.01: “imperante imperatore Adefonso
in Toleto, in Castella, in Legione, in Asturiis et in Gallecia. Filius eius maior uidilicet rex
domnus Sancius nutriebatur in Castella, in domo Anrici comitis. Minor scilicet rex domnus
Fernandus in Gallecia nutriebatur in domo comitis domni Fernandi Petri” (AHN, Mosteiro
de Sobrado, maço 526, nº 15). Também o encontramos numa escritura de 1150: “Rex dom-
nus Fernandus confirmat. Comes domnus Fernandus eius nutritor confirmat” (AHDS, Prio-
rado de Sar, maço 54, nº 10). O facto será ainda lembrado em 1170 pelo próprio Fernando II
quando dava a Urraca Gonçalves (neta de Fernando Peres de Trava) o Mosteiro de Morás:
“Sic do uobis atque concedo propter amorem uestrum et propter amore auu uestri comitis
domni Fernandi qui me creauit” (Fernando II, nº 118). Calderón Medina (2011a: 127-128)
analisa a figura do aio e conclui que: “Solo las grandes familias fieles a la monarquía eran
las elegidas para desempenhar esta importante función”.
17
Ximenes de Rada considera também o influxo do conde Manrique Peres de Lara: “Post
hec consilio quorundam comitum, Amalarici de Lara et Fernandi de Trastamarin, discidia
seminare uolencium, diuisit regnum duobus filiis Sancio et Fernando” (Valverde 1987:
229). Os Laras aparecem diretamente associados aos Travas pelo casamento (antes de
1154.03.18) de Nuno Peres de Lara (irmão de D. Manrique) com Teresa Fernandes, fi-
lha de Fernando Peres de Trava. Como dissemos, Teresa Fernandes casou em segundas
núpcias com Fernando II, pelo qual os filhos do primeiro matrimônio foram integrados
adotivamente na casa real galaico-leonesa.
18
Calderón Medina (2011a: 429), em tempos recentes, considera que: “[…] probable-
mente, la presión de la nobleza, sobre todo gallega, influyó de manera determinante en la
escisión del imperio de Alfonso VII”.
19
AHN, Mosteiro de Meira, maço 1126, nº 6 (Lucas Álvarez 1993: 401). Lembremos que
Afonso VII faleceu em 1157.08.21.
20
Segundo diversos historiadores, a divisão dos reinos, enquanto projeto, foi oficializada
no concílio de Valladolid em 1155.
21
Lucas de Tui no Chronicon Mundi sublinha o influxo (prospetivo) exercido por Fernan-
do Peres de Trava sobre a ação de governo de Fernando II: “Rex autem Fernandus, frater
Sancii regis, tunc temporis regnabat in Legione et Gallecia et regebat se consilio Fernandi
comitis de Gallecia qui eum nutrierat” (Falque 2003: 316). D. Fernando Peres morreu, mui-
to provavelmente, em 1155.12.01. López Sangil (2002: 96) refere-se a um “comes domnus
Fernandus in Traba” citado em escrituras de 1160 e 1161 que, na verdade, devemos identi-
ficar com Fernando Gonçalves de Trava (1159-1165), neto do anterior (Barton 1997: 238).
22
Veja-se Sánchez Ameijeiras (2001): “De las alrededor de ochocientas iglesias gallegas
que conservan parte de la fábrica románica, la mayoría datan entre 1157 y 1230, las fechas
que acotan los reinados de ambos monarcas”.
23
“El escenario gallego. Fue, sin duda, el más practicado por el monarca, especialmente
en los años centrales de su reinado. Recordemos que allí se encontraba cuando murió
Fernando II; en Galicia se armó caballero y en Galicia, en Compostela, acabó siendo se-
pultado. Es precisamente esta ciudad aquella en que más tiempo permaneció el monarca,
allí donde acudió a la consagración de la catedral; y allí donde celebró algunas curias: la
que tuvo lugar en la primavera de 1211 allí se reunió. Y en el castillo de Sarria falleció a
fines de septiembre de 1230. Pero también una parte de sus residencias estuvo vinculada a
la intensa repoblación de las villas gallegas. El mejor ejemplo es Ribadavia, villa regia; en
sus inmediaciones, aparece frecuentemente Cenlle” (Cavero Domínguez 2009). Lembre-
mos que os Nóvoas estavam, precisamente, relacionados com Ribadávia e Cenlhe.
24
A origem remonta a uma decisão, só parcialmente cumprida, de Afonso VII e da rainha
Berengária, em 1140. Afonso IX sepultou, após algumas turbulências, definitivamente o
corpo do pai na catedral de Santiago. Ele próprio escolheu essa igreja para ser armado
cavaleiro pela segunda vez – e talvez ser coroado de novo – em 1197.01.23. É isso que se
deduz de uma escritura pela qual doava aos cônegos de Santiago a quarta parte do produto
das vinhas que lhe pertenciam em Vilar de Rei, perto de Ribadávia (Afonso IX, nº 102).
25
De acordo com Linehan (1994: 448), as perturbações que se opunham à sepultura de
Fernando II em Santiago, notadas por Afonso IX no diploma que confirmava os privilégios
da Sé de Santiago (“quidam tamen presumptione temeraria magis quam ratione inducti per
uiolentiam corpus eius rapientes alibi condiderant”, Afonso IX, nº 5), tinham origem na
cidade de Leão: “Quiénes eran esos quidam y dónde estaba ese alibi es algo que no revela
la documentación. Pero la única posibilidad es la civitas regia”.
26
Lembremos que é no âmbito catedralício compostelano que foram geradas três obras
bibliográficas fundamentais no cenário artístico e cultural do séc. XII europeu: a História
Compostelana, o Tombo A e o Liber Sancti Jacobi (também conhecido como Códice Ca-
listino).
27
Não entramos aqui no debate sobre a relação de Compostela com as origens do nosso
trovadorismo, mas não podemos esquecer a relação intelectual direta dessa cidade com
Europa (Tavani 1990: 34-38, Vieira 1999: 91-110, Souto Cabo [no prelo/3]). Apesar do que
acima foi dito, Carolina Michaëlis e outros filólogos da época foram sensíveis à importân-
cia não só religiosa, mas também cultural e política de Santiago nos sécs. XII-XIII, embora
não contassem com as informaçoes históricas de que dispomos hoje em dia.
28
Também devemos ligar a esse projeto a construção do claustro e do cadeiral pétreo por
parte do círculo de colaboradores do mestre Mateus.
29
O estudioso citado continua: “En este sentido, cabe ver en el Pórtico el más claro eco
hispano de los portails royaux franceses y no sólo en sus formas sino también en la ideolo-
gía que en éstos subyace […] es posible que la imaginería regia del Pórtico, indudablemen-
te bíblica, se ofreciera también como referente simbólico o arquetipo ideal de la dinastía
reinante, en los términos alusivos o asociativos que se han propuesto para las series de los
reyes de Judá en portadas del dominio real francés o en las ubicuas representaciones del
Arbol de Jesé”. Pelo contrário, sabemos que Afonso IX não impulsionou a construção da
catedral de Leão: “Ainda que era a catedral da capital do reino, Afonso IX non foi xeneroso
coa súa construción, sufragada polos prelados, canónigos e outros benefactores” (Yzquier-
do Perrín 2008: 340).
30
Referindo-se, precisamente, à produção artística na Galiza durante os reinados de Fer-
nando II e Afonso IX, Sanchez Ameijeiras (2008: 325) afirma que: “a oposición entre
cultura cortesá e cultura clerical é unha dicotomia reducionista e simplificadora, que non
responde aos usos do pasado. Textos e imaxes producidos na corte ou na igrexa non só non
formaban entidades separadas – moitos clérigos traballan na corte –, e discursos profanos
e discursos sagrados se imbrican de tal xeito que resulta imposible establecer unha cesura”.
Veja-se também o trabalho desta autora sobre um dos tímpanos do Mosteiro de Pena Maior
(c. 1225) que reproduz uma cena do romance artúrico O Cavaleiro do Leão (c. 1170) de
Chrétien de Troyes (Sánchez Ameijeiras 2003). Esse contributo analisa as imagens medie-
vais hispanas provenientes do ciclo artúrico, com destaque, pela prioridade temporal, para
o extremo ocidental da Península. Como se sabe, as figuras que representam a história de
Tristão pertencentes a uma coluna da porta francígena (c. 1100) da catedral de Santiago
constituem o mais antigo exemplo conhecido: “El descubrimiento de Moralejo venía a
desbaratar la teoría de la vinculación cortesana de la temática artúrica en la Península. La
primicia hispana no se encontraba en un contexto cortesano, sino en un ámbito religioso”
(Sánchez Ameijeiras 2003: 300).
31
O governo efetivo de Afonso VIII só começou em 1169, quando atingiu a maioridade.
Porém, D. Nuno Peres de Lara continuou a tutelar o jovem monarca até 1177 (González
1960: 180-181). A minoridade do rei castelhano esteve caraterizada por uma notável anar-
quia derivada dos conflitos entre as principais casas nobres para obter a tutoria do monarca.
32
Sobre o influxo dos catalães no processo de europeização dos reinos centro-ocidentais
da Península, veja-se a síntese elaborada por Lomax (1982).
33
Essas linhagens mantiveram, contudo, uma presença ativa no reino catalano-aragonês,
onde concentravam interesses patrimonais e políticos.
34
Incluímos o nome de Vela Guterres, genro de Pôncio Geraldo e pai de João Vélaz. Lem-
bremos que, até a morte de Afonso VII, aparece como mordomo do príncipe Fernando. O
cargo foi ocupado em 1188 por Pedro Vélaz (cf. infra).
35
Antes de 1179, ele exerceu o cargo de modo descontínuo (cf. supra).
36
“Illustrissimo Dei gratia A. Ispaniarum imperatori R. comes Barchinone regnique do-
minator aragonensis ac Provincie marchi […]. Regem Fernandum filium vestrum et ne-
potem meum quem diligo ut filium vobis specialiter comendo ut de ipso congruam curam
geratis sic ut dicatur rex a re non solo nomine” (Bofarull y Mascaró 1849: 373).
37
“Ego Fernandus Dei gratia rex legionensium et Gallecie dominator juro et firmo cum
episcopis, comitibus, potestatibus et ceteris majoribus regni mei atque fideliter promit-
to vobis caro avunculo meo domino R. comite Barchinone quod vos diligenter et contra
omnes juvem et ad tuendum vobis ac defendendum honorem vestrum sempre pro posse
invigilem. Idque sic pro vobis faciam sicut pro me ipso et vos loco boni patris habeam et
pro vobis tanquam pro bono patre faciam. Et hoc totum similiter filio vestro consanguineo
meo promito quem semper loco boni fratris volo habere si ipse me loco fratris recipiat
sicut vos me loco filii recepitis. Quod ideo facio ut vos simile modo me contra omnes alios
juvetis diligatis pro me sicut pro bono filio faciatis” (Bofarull y Mascaró 1849: 336-337).
Raimundo Berengário IV foi pai de Afonso II, rei trovador, grande protetor do trovadoris-
mo (Martín de Riquer 1959).
38
O seu influxo no plano cultural terá sido paralelo ao exercido a nível político como
“dinamizadores de la nobleza leonesa” como sublinha Calderón Medina (2011a: 486).
Essa autora também nota a simbiose que se produziu com a nobreza autóctone: “una parte
importante de los nobles foráneos emparentaron com la nobleza autóctona e incluso com
la familia real, como un mecanismo para asentarse en el reino que los recibía y fortalecer
su poder”.
39
No que concerne à cultura material, conhecemos um exemplo notável de assimilação
dos Vélaz relativamente aos Cabreras. Com efeito, segundo se prova por um selo –repro-
duzido nesta obra – apenso a um diploma de 1193 outorgado por Maria e Pedro Vélaz
(ACZ, 17/30), os irmãos Vélaz(-Cabreras) adotaram o símbolo caprino dos Cabreras. Tal
exemplar sigilográfico constitui uma das amostras mais precoces na utilização de um em-
blema heráldico por particulares no reino galaico-leonês. Segundo assinala Menéndez-Pi-
dal de Navascués (1988: 38), fora de âmbitos muito restritos, só se pode falar em difusão
do uso do selo na Península desde o primeiro quartel do séc. XIII.
40
Sobre alguns aspetos da sua atividade como chanceler, veja-se Lucas Álvarez (1993:
356, 513-514).
41
Moralejo Álvarez (2004: 164) e outros autores notaram a existência de concomitâncias
entre o âmbito artístico dos Plantagenetas e a imagem de Fernando II do Tombo A do ACS.
42
Além dos donatários, entre os confirmantes da escritura fundacional encontramos: Vela
Guterres (pai de João Vélaz), Bermudo Peres, Urraca Henriques, Múnio Pais e Lupa Peres.
Lembremos que o conde Rodrigo Álvares foi um dos fundadores de Ordem de Santiago e,
pessoalmente, da de Monte Gáudio. Essa Ordem, muito associada ao reino de Aragão, teve
a casa principal perto de Jerusalém (cf. infra).
43
Fernando Peres aparece diretamente envolvido na fundação do Mosteiro de Osseira
em 1137: “Ego Fernandus comes Galletie qui precibus meis apud dominum imperatorem
ut predictum montem et hereditatem predicte ecclesie daret et cauto scriptoque muniret
obtinui, confirmo” (Oseira, nº 15). A adscrição de Osseira a Cister situa-se, contudo, c.
1150 (Alonso Álvarez 2007: 666). O Mosteiro de Sobrado foi, ao que parece, reabitado
por monges procedentes da abadia de Claraval. Esta última tinha sido instituída por S.
Bernardo, cuja participação foi muito importante na fundação e reconhecimento da ordem
do Templo. Lembremos que D. Fernando também é relacionado com a presença da ordem
do Templo em Portugal e na Galiza, provável consequência das duas viagens que realizou
a Jerusalém.
44
“Si admitimos que Sobrado fue el primer monasterio cisterciense español, deberemos
suponer también que fueron los Traba los introductores de la orden en la Península Ibérica.
Creo que se puede ir algo más lejos: cuando en otras familias, más tarde, aparece la pre-
ferencia bernarda, esta nueva devoción suele coincidir con un enlace matrimonial con un
miembro femenino del grupo gallego” (Alonso Álvarez 2007: 707).
45
O caráter feminino do mecenato é a chave para entender as referências à “cas dona
Maior” ou à “cas dona Costança”, respetivamente, na rubrica à tenção de Paio Soares e
Pero Velho de Taveirôs e na cantiga de Airas Fernandes “Carpancho” (cf. supra).
46
Lembremos aqui as palavras de Mercedes Brea (1994: 51) sobre a história da literatura
medieval como “unha historia de familia, unha historia de matrimonios, anulacións e di-
vorcios”.
47
Como dissemos, este monarca favoreceu largamente o reino da Galiza, o que lhe valeu
em Castela o apelativo de “Gallego”: “tan grato y ajustado a sus hechos como despectivo
en su intención” (Moralejo Álvarez 1988: 20). Afonso IX, zeloso com a autonomia do seu
reino, tentou evitar a futura união com Castela (após a sua morte) (González 1960: 187,
Calderón Medina 2011a: 449-482). Esse propósito, entre outras circunstâncias, fez com
que tenha sido menosprezado pela historiografia espanhola (Barton 2008: 71). A autono-
mia do reino, posta em perigo em 1196 pela aliança entre Castela e o Papado, malogrou-se
à morte de Afonso IX, em 1230, pela defecção do setor leonês; pelo contrário, o posiciona-
mento da Galiza, no seu conjunto, parece ter concordado com a perspetiva do monarca.
48
Fora do âmbito das artes plásticas, temos escassas notícias sobre a cultura no reinado
de Afonso IX. É por isso interessante recuperar algumas considerações tecidas por Anglés
(1958: 104) sobre a música – mesmo que seja sacra – na corte desse monarca: “ [...] la
existencia de un planctus con texto latino dedicado a la muerte de Fernando II de León
(1157-1188), conservado con música en el manuscrito Flo, fol. 451-451v, nos indica que
entre los cantores de la corte figuraban también compositores de alto vuelo. Es muy de notar
que la única pieza de origen español que figura en ese códice provenga de la corte leonesa.
Que la práctica de la música polifónica fuera bien conocida en aquella real capilla durante
el reinado de Alfonso IX (+ 1230) […] parece bien señalarla el obispo Lucas de Tuy, en su
Chronicon mundi, con estas palabras: «Adefonsus rex Legionensis cum esset Catholicus
habebat secum clericos, qui modulatis uocibus quotidie coram ipso diuinum officium pera-
gebant, quos ipse nimio uenerabatur affectu»”. Sobre a música na catedral de Santiago na
segunda metade do séc. XII, veja-se López Calo (1988).
49
Este trobador é autor da composição Aigua pueia contramon em que se faz um panegí-
rico do rei Afonso IX: “lo valenz reis n’ Anfos rics de cor”.
50
Entre os empreendimentos culturais de Afonso IX de inspiração europeia, devemos
aludir à criação, c. 1218-1219, do Estudo Geral em Salamanca, que foi o berço da primeira
universidade do espaço galaico-leonês. Apesar de se localizar na cidade leonesa, trata-se
de um estabelecimento cultural e jurisdicionalmente compostelano. De facto, as origens
dessa instituição encontram-se na escola capitular compostelana, como sublinhou Beltrán
de Heredia (1999: 28): “fue en cierto modo un transplante de la escuela y personal acadé-
mico de la Iglesia compostelana” (p. 28). A hegemonia do elemento galaico ou composte-
lano manteve-se até ao séc. XIV. Note-se que o Estudo foi sediado em Salamanca – mas
não em Leão –, diocese sufragânea de Santiago desde que Calisto II decretara, por bulas
de 1120 e 1124, a transferência da capital da antiga arquidiocese emeritense para Santiago.
A província eclesiástica de Santiago ficou, assim, integrada por dois setores descontínuos:
a diocese compostelana propriamente dita e os bispados do território que vai de Zamora-
-Ávila até Lisboa-Évora. Sobre a escola catedralícia compostelana, veja-se também Díaz y
Díaz (1975) e Santiago Otero (1999).
51
Concluímos, portanto, que se bem que foram todos os que estão, não estão todos os que
foram. Por outro lado, é muito provável que, para além do filtro pessoal, também se tenha
procedido a uma escolha literária a diversos níveis; o que explicaria a escassa presença da
cantiga de amigo na secção aqui considerada.
ESQUEMAS GENEALÓGICOS
A. Geraldo II Ponce
= Elvira (F1)
= Estefânia Malasignata (F2)
A1. Pôncio II Geraldo (1105-1162):
= Sancha Nunes (F1-3) [CELANOVA]
= Maria Fernandes (F4) [TRAVA]
1. Geraldo III Ponce (1145-1160) = Berengária de Queralt
1.1. Pôncio III Geraldo (1165-1198) = Marquesa Armengol [URGELL]
1.1.1. Geraldo IV Ponce (1194-1228) = Elo Peres
1.1.1.1. Pôncio I Geraldo de Urgell e IV de Cabrera (1236-1246)
2. Fernando Ponce “o Maior” (1160-1180) = Guiomar Rodrigues [TRAVA]
2.1. Fernando Fernandes
3. Sancha Ponce (1149-1176)
= Vela Guterres (F1) [VÉLAZ]
= Mendo ... (F2)
3.1. João Vélaz etc.
3.2. Soeiro Mendes
4. Fernando Ponce “o Menor” (1163-1200) = Estefânia Lopes de HARO
4.1. Pedro Fernandes
A2. Arsenda de Àger = Armengol VI [URGELL]
1. Armengol VII
Portugal
B. Teresa Afonso
= Henrique de Borgonha (1066-1112) (F1-3)
= Fernando Peres [TRAVA]
B1. Afonso Henriques de Portugal (c. 1109-1185)
= Mafalda de Saboia (F1-2)
= Châmoa Gomes de CELANOVA (F3)
1. Sancho I (1154/1185-1212)
= Dulce de Barcelona (F1-4)
= Maria Pais Ribeira (F5-6)
= Maria Airas de Fornelos (F7-8)
1.1. Teresa Sanches = Afonso IX da Galiza e de Leão
1.2. Afonso II (1185/1211-1223) = Urraca de Castela
1.2.1. Sancho II (1210/1223-1248) = Mecia Lopes de HARO
1.2.2. Afonso III (1210/1248-1279) = Beatriz de CASTELA
1.3. Pedro Sanches = Aurembaix [URGELL]
1.4. Mafalda Sanches = Henrique I de CASTELA
1.5. Gil Sanches (1207-1236) = Maria Garcia de SOUSA
1.6. Rodrigo Sanches
1.7. Martim Sanches = Eulália Peres de CASTRO
1.7.1. Rodrigo Martins
1.8. Urraca Sanches = Lourenço Soares de RIBADOURO
2. Urraca Afonso = Fernando II da Galiza e Leão
3. Fernando Afonso
B2. Sancha Henriques = Sancho Nunes [CELANOVA]
B3. Urraca Henriques = Bermudo Peres [TRAVA]
DOCUMENTAÇÃO
2
1158, setembro, 15.
E. BN, Tumbo Negro (cód. 4357), fól. 48r.
Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio, Pedro, João e Maria
Vélaz, oferecem à Sé de Astorga metade da vila de Verdenosa (Zamora).
Donación a dicha Santa Iglesia de Astorga, sus canónigos y obispo D.
Fernando hecha por Sancha Ponce y sus hijos, Garsía, Fernando, Poncio,
Pedro, Juan y María Vélaz, de la media villa de Verdenosa, la qual D. Vela
Gutierrez les havía dado por su vida y mandado que después de su muerte
viniese a la dicha Iglesia de Santa Maria de Astorga. Y en cumplimento de
esta donación, hicieron donación de la expresada media villa de Verdenosa,
que está consistente entre los términos de Morales del Rey y Comonte,
Riva Roya, Quintanilla y Brime y Granucillo, con sus cortes, casas, viñas,
huertas, árboles, molinos, prados, montes, fuentes y más pertenencias hasta
la menor piedra, por el ánima de dicho D. Vela y de los arriva dichos. Fecha
17 kalendas octubre. Era MCLXLVI, que corresponde a 15 de septiembre
del año de 1158 –según la señal puesta sobre el X-, reynando en Leon D.
Fernando 2º y siendo obispo de Astorga D. Fernando. Folio 156, nº 550.
3
1161, maio, 12 – Zamora.
E. AHN, Códice B-15, fóls. 83r-83v.
Sancha Ponce e os filhos, Garcia, Fernando, Pôncio, Pedro, João e Maria
Vélaz, dão ao mosteiro premostratense de S. Leonardo de Alba de Tormes
(Salamanca) as herdades de Partóvia e Mouriz (conc. Carvalhinho).
In nomine sanctae et indiuidue Trinitatis. Ego Sanchia filia comitis Pontii,
una cum filiis meis, scilicet: Garcia, Fernando, Pontio, Petro, Johanne et
filia nomine Maria, pro Dei amore et beatissime Uirginis Mariae necnon
et pro anima mariti mei domni Uele atque remedio animarum nostrarum
4
1161, julho, 24.
E. ACS, Tombo C, fól. 82r.
Sancha Gonçalves, mulher de Fernando Peres de Trava, oferece três marcas
de prata à Sé de Santiago em sufrágio da sua alma, da do marido e da do
filho D. Gonçalo.
5
1162, janeiro, 1 – Zamora.
E. AHUS, Tombo de Samos, fól. 31v.
Pôncio II Geraldo de Cabrera entrega ao Mosteiro de Samos diversas
propriedades em sufrágio da alma do filho Geraldo III Ponce sepultado
nesse cenóbio.
9
1175, fevereiro, 6 – Santiago de Compostela.
A. AHDS, Priorado de Sar, maço 54, nº 8.
O conde Fernando Ponce “o Menor” vende a herdade de Paços, no arci-
prestado da Seaia, ao Mosteiro de Sar como recompensa pelos danos que
causara no patrimônio do convento.
In nomine Sancte et indiuidue Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti,
amen. Ego Fernandus Poncii, comitis domni Poncii et comitisse domne
Marie, bone memorie, filius, quibus pro eorum factis inclitis Hispania sine
lacrimis non reminiscitur qui monasterio Sancte Marie Saris ceterisque
monasteriis Hispanie de beneficiis suis non minimum contulerunt incremen-
tum, puerili temeritate inductus et insolenti inconstantia iuuenum deceptus
prauorumque hominum deceptione lentus, supradictum monasterium Sancte
11
1178.
F. AHDS, S. Martinho, 13/Arquivo Abreviado, fól. 88v.
João Airas e a mulher, Urraca Fernandes, dão ao Mosteiro de S. Martinho
Pinário (Santiago de Compostela) parte da vila de Laias (conc. Cenlhe).
Donacion que hiço a este monasterio de San Martin Juan Arias y su muger
doña Urraca, hija del conde D. Fernando de una parte de la villa de Layas
que se demarca por la división de Veiga en la rivera del Miño y por otras
demarcaçiones en ella declarada y este le dio por otra porçion de heredad
que este monasterio les dio en su vida. Era de 1216. Maço 92, folio 3.
1
A data do documento (MCCXXX = 1192) é incorreta, entre outros motivos, porque D.
Fernando II morreu em 1188. Supomos que se trata de um erro por 1181 (= MCCXIX).
Documento nº 13
15
1181, dezembro, 7 – Santiago de Compostela.
A. AHN, Mosteiro de Moreruela, maço 3549, nº 7/8.
Os irmãos Fernando, Pedro, Pôncio Vélaz e Soeiro Mendes, cumprindo as
últimas vontades do irmão João Vélaz, oferecem no Mosteiro de Moreruela
(conc. Granja de Moreruela) aquilo que possuem em Ceque e em Galende.
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Sanctissimo atque reuerendissimo
domno Gundisaluo, Dei gratia, Murerole abbati necnon et eiusdem ceno-
bii uenerando conuentui, Fernandus Vele, et Pontius Vele, et Petrus Vele
et Suerus Menendi, salutem in omnibus et reuerentiam. Quoniam fratris
nostri Johannis Vele, cuius est apud uos sepultura, ultima uoluntas fuisse
dignoscitur ut aliqua de hereditatibus nostris in uos donationis titulo trans-
ferretur, ideo quicquid in uilla Sancti Petri de Cecan et in Galende habemus
uel habere debemus et generaliter cum omnibus pertinenciis suis quicquid
16
1181, dezembro, 7 – Santiago de Compostela.
A. AHN, Mosteiro de Moreruela, maço 3549, nº 9.
Os irmãos Fernando, Pôncio e Pedro Vélaz, cumprindo as últimas von-
tades de João Vélaz, oferecem ao Mosteiro de Moreruela (conc. Granja
de Moreruela) aquilo que possuem em Vionho (conc. Corunha) e em Faro
(Corunha) – herdado da avó, a condessa Toda Peres de Trava – e confir-
mam a concessão ao Cabido da Sé de Santiago da parte que lhes pertence
na Igreja de Oza (Corunha).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Sanctissisimo atque reuerentissimo
domno Gundisaluo, Dei gratia, Moreirole abbati necnon et eiusdem ceno-
bii uenerando conuentui, Fernandus Vele, et Poncius Vele, et Petrus Vele,
salutem in omnibus et reuerentiam. Quoniam fratris nostri Johannis Vele,
cuius est apud uos sepultura, ultima uoluntas fuisse dignoscitur ut aliqua de
hereditatibus nostris in uos donationis titulo transferretur, ideo Vionium et
quicquid in Faro habemus tam ex successionis auie nostre, comitisse domne
Tude, quam ex epartitione patris nostri, domni Vele, et generaliter quicquid
in predicta terra nostri iuris esse dignoscitur uobis perpetuo concedimus
Documento nº 16
18
1185, junho, 8 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 23v-24r.
Testamento de Maior Juiães, mulher de D. Cotalaia.
19
1187, Maio, 7 – Osseira.
E. AHN, Tombo de Sobrado, fóls. 36r-36v.
Acordo entre os mosteiros de Sobrado e de Osseira sobre o souto de Sequeira.
Hoc est pactum et conuenientia inter fratres de Ursaria et fratres Superaddi
super saltum de Siccaria ab illa devassada quam fecit domnus Sancius abbas
20
1195, janeiro – Burgos.
A. ACO, Mosteiro de Osseira, nº 86.
Manrico Rodrigues vende a Gonçalo Eanes de Nóvoa todos os seus direi-
tos sobre a igreja e os casares da Nogueira e de S. Fagundo (conc. Cea).
In Dei nomine. Ego Manricus Roderici, bona uoluntate, uendo et roboro a
uos Gonzaluo Johannis totam meam partem de Nugeira cum totam meam
partem de la ecclesia et de los casares et de Sancto Facundo, et cum quantum
suo directo de Nugeira et de Sancto Fagundo, con totos meos directos et
cum omni integritate. Et accipio de uobis in precio unum cavallum et uno
vaso de plata, et sum de isto precio pacato.
Si quis de genere meo uel de alieno genere hoc scriptum uiolare uoluerit,
non habea partem, nisi cum Juda proditore in inferno dampnatus.
Facta carta mense ianuario in Burgos, in casa de dompno Almerico cambia-
tor, in era Mª CCª XXXª IIIª. Huius rei sunt testes: don Arias Petriz. Ferrant
Forcaza. Petrus Frolaz. Roi Pedrez de Rebreda. Fernant Arias filius de Arias
Giraldez. Martinus Fernandiz cantador. Martinus Iohannis escudero. Petrus
Osoriz. Suer Giraldiz. Ferrant Rodriguet, filio de Roi Fernandiz de Cal-
leiros. Don Almeric cambiador de Burgos. Tosten suo antenado. Johannes
Richart. Bernalt, filio de don Gonçaluo. Johannes barbeador. Johannes de
Rio Lazello scripsit.
21
1195, julho, 12 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 24v-25r.
Testamento de D. Cotalaia.
In nomine domini nostri Jhesu Christi, amen. Era Mª CCª XXXIIIª et quotum
IIII idus iulii. Ego donus Cotalaya sanus Deo gratias et incolumis uolens
ire in exercitum domni regis Anfonsi legionensis contra sarracenos, ideo,
volo res meas exponere et ordinare qualiter si illuc obiero iuxta meam pro-
priam uoluntatem ordinare remaneant. Et inter alia que continentur in dicto
testamento, continentur iste clausule que secuntur, uidilicet: Primo, mando
corpus meum sepelliri in cimiterio Beati Jacobi et mando ibi mecum in ipsa
die solidos C canonicis, in superposita. Et mando eis etiam duas IIIIas uini
annuatim, unam pro meo anniuersario et aliam pro anniuersario uxoris mee
[Maioris] Julianiz, sicut in sua mandatione resonat. Et una ex istis quartis
uini detur in die Sancti Michaelis septembris et alia in die Sancti Martini
et persolvantur de Sancti Michaelis de Cisterna. Mando que tres presbiteri
22
1196, dezembro, 24 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fól. 195r.
Acordo entre Urraca Fernandes e o cabido de Santiago sobre o negócio
das conchas e as rendas de vinha da Quinza (Ventosela, conc. Ribadávia).
In nomine Domini. Era Mª CCª XXXª IIIIª et quotum VIIII kalendas ianuarii.
Ego domna Urraca Fernandiz uobis domno Martino, Ecclesie Beati Jacobi
decano omnique eiusdem ecclesie capitulo et omni uoci uestre, facio pactum
et placitum firmissimum in mille ducentos solidos turonenses roboratum, ita
quod uos detis mihi dictos solidos turonenses in uita mea annuatim, id est:
CCC solidos in festo Sancti Michaelis mensis septembris primum uenturo
et ad Pascha Domini sequens. Alios CCC solidos assignatis eos michi in
illis C morabitinis qui uobis debentur de redditibus concharum. Et si inde
aliquid defecerit, uos plene de uestro proprio conplebitis michi in pace.
Et incipietis michi illos dare uidilicet: primos CCC solidos in festo Sancti
Michaelis de setenbri proxime uenturo et alios CCC ad sequens Pascha
Domini, et sit deinde singulis annis adiam dictos terminos dum Deus uitam
michi conservauit. Et hoc facitis mihi predditibus illius hereditatis uestre de
Quinciana quam ego pridem uobis et capitulo ecclesie Beati Jacobi liberali-
ter dedi et at comunem mensam uestri refectorii asignaui pro anima mea et
uiri mei, domni Johannis Arie, ac parentum meorum. Et debebam eandem
hereditatem in uitam mea tenere de uestra manu et dato, sed meo quare
opus est uobis ut uineas meas plantetis ad communitatem mense uestre de
libero eam uobis in pace ut habeatis eam et possideatis in perpetuum sicuti
resonat in illa carta quam uobis de illa feci, adicitis etiam quod si moneta
turonensis a suo valore defecerit, solvatis mihi predictos solidos ad valorem
XL IIIIor solidorum per marcha, et si nuncius meus in oram fecerit apud
23
1197.
A. AHN, Mosteiro de Aguilar de Campo, maço 1650, nº 3.
Armengol, filho de Maria de Almenar, vende a D. André, abade do Mosteiro
de Aguilar de Campoo, os prados que possui em Ermidanos.
Sub Christi nomine et individue Trinitatis: Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Ego don Armingoth, filius dona Maria d’ Almenar, uendo tibi abbati Andree
una cum conuentu tuo aquelos prados que habeo en Ermidanos, que mihi
pertinent iure hereditario, que tenuit dona Maria, mater mea, cum omnibus
pertinentiis suis, cum ingressu et egressu, cum montibus et fontibus et
quidquid ibi tenuit mater mea in uita sua ex integro, pro XXti morauetinos
et sum paccatus de illis.
Facta carta era Mª. CCª. XXXª Vª. Regnante rege Adefonso cum uxore sue
Alienor, in Toleto et in Castella. Maiordumus curie regis Petrus Garsias de
Lerma. Alferet Didacus Lupiz de Faro. Maerinus maior regis Roi Petrez.
Martinus burgiensis episcopus. Aldericus palentinus episcopus. Si quis
hanc cartam disrumpere uoluerit sit maledictus et excomunicatus et cum
iuda traditore in inferno damnatus et pectet in coto .C. libras auri quarum
medietas sit regi et altera medietas monsterio. Et hereditatem dupllicatam
in simili loco. Dominante comite Fernando en Aquilar et in el Alfoz, Gil
Gomez en Campo et in Asturias. Et hi sunt testes huius uenditionis: Roi
Petres de Mala Villa testis. Garcia Roiz de Avia. Gomez, trobador. Garco
Petrez, maiordomo de Roi Petrez. Alfonso Bravo. Petro Petrez, maiordomo
de don Armingoth. Don Nunio de Val de Rama. Gonçaluo Gonzalvez del
Riu. Ferando Gonzaluez de Val de Govia. Alvar Gonzalvez de Villa Sendino.
Roi Campo de Burgos, Garci molinero et don Johan Suo iernos. Domingo
Malmierca de Carion. Michael Michaelez de Requexo. Gonzalvo Martinez
de Cuena, testis. Roi Cuena, testis. Fernando Afigiado, testis. Gonzavo
24
1199, julho, 30 – Sobrado.
E. ACS, Tombo C, fól. 10. Ed.: Pichel Gotérrez (2009, nº 15).
Testamento de Dona Urraca Fernandes de Trava.
Era Mª CCª XXXVII et quotum III kalendas augusti. Ego Urracha Fernandi,
in salute mea posita quomodo anima mea post obitum meum ordinata rema-
neant. In primis, mando corpus meum sepelire in cimiterio Beati Jacobi et
mando ibi mecum hereditatem meam de Quinzania ad refectorium, excepta
uinea de Pelagio Raniado et de uinea de Luz Petrario de uia ad sursum.
Mando eam ad Sanctum Petrum de Foris et totam aliam mando ad refec-
torium Beati Jacobi. Mando etiam ibi Amaranti cum suo cauto et cum tota
hereditate quam ibi habeo et ganauero usque ad obitum meum, extra casale
de Luz quod dedi ad ipsam ecclesiam Sancte Marie de Amaranti et casale de
Froila Vimarat quod est de Sancto Martino de Foris. Et mando ibi mecum
quantum habeo in Monte Auz, et mediam ecclesiam Sancti Johannis de
Laiantes. Et de omni hereditate ista mando pro anniuersario meo annuatim
in die Sancti Jacobi de octava Natalis Domini marcham Iª, in die Sancto
Pasche aliam marcham, in die Omnium Sanctorum aliam marcham, aliam
marcham in die obitus mei qualiscumque fuerit dies usque in sempiternum.
Et mando canonicis in die sepulture mee Xm morabitinos et lectum meum
cum sua liteira et zemilam si forte habuerim eam. Archiepiscopo mando
copam unam argenteam et sortilam unam et XX morabitinos et mulam meam
si habuerim. Ad decanum uero scifum I argenti de marcho Iº et VI mora-
bitinos. Ad cantorem scifum unum argenti de marcho Iº et VI morabitinos.
Ad cardinales et archidiaconos XX morabitinos. Et quito quantum censum
habeo super Dubriam. Ad claustrum Sancti Jacobi C morabitinos et mando
ut teneant eos decanus et cantor cum alia idonea persona ut expendant illos
in claustrum fideliter. De alia parte rogo et deprecor ut conuenientia quam
michi conuenistis, adtendatis et detis ad unum presbiterum portionem meam
per unum annum sicut unicuique uestrum. Ad hospitale Beati Jacobi marcam
25
1199 – Gueimonde (conc. Pastoriza).
E. AHN, Tombo do Mosteiro de Meira, fól. 232r.
D.ª Guiomar Rodrigues e o filho Rodrigo Dias dos Cameros asseguram o
cumprimento das mandas testamentárias da condessa D.ª Fruílhe Fernan-
des, mãe de D.ª Guiomar.
Quicquid mater mea comitissa domina Fronila de hereditatibus suis, ad Dei
seruitium, cum abbati domino Nicholao similiter et cum fratribus de Meira
disposuit, ego domina Guiomar, eius filia una cum filio meo Roderico Di-
daci, mandamus per scriptum firmitudinis et confirmamus, ut hereditatem
de Manai et de Sancto Tirsso habeatis in prestimonium, me vivente, ita ut
de fructu nihil computetis in pretium vestrum.
Post mortem meam, si aliquis ex genere meo uenerit ad redimendas here-
ditates istas, reddat vobis 450 marav. in pace et tota comtemptione remota,
sed si forte, quod fieri non credo, aliquis ad disrumpendum hoc scriptum ve-
nerit, sit maledictus per Patrem et Filium et Spiritum Sanctum in aeternum.
26
1200, Outubro, 14 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 91r-92v.
Pedro Eanes de Nóvoa vende ao Cabido da Sé de Santiago o casal de Ba-
luga, na freguesia de Santa Comba de Trevoedo (conc. Maside).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi. Ego Petrus Johannis miles et omnis
uox mea uobis domno Martino Ecclesie Beati Jacobi decano et uniuerso
eiusdem ecclesie capitulo omnique voci uestre, grato animo et spontanea
uoluntate, facio kartam donacionis ex textum scripture firmitatis, in per-
petuum valituram, de toto illo meo casali integro que dicitur “Baluga”, qui
est in parrochia Sancte Columbe de Treuoledo, sicut dividitur ipse casalis
de Baluga per illum alium casalem domni Osorii et per illum casalem Arie
Petri et, de alia parte, per illum alium meum casalem. Hunc, ergo, iam dic-
tum meum casalem, dictum de Baluga, dono et ofero Deo et beato Jacobo
et uobis cum omnibus suis directuris et bonis eidem casali pertinentibus,
intus et extra, id est: montibus, agris, arboribus, casis, casalibus, pratis,
pascuis, riuis, riuulis, exitibus et regressibus, pro anima mea et pro illo alio
uestro casali qui uocatur Foramontanos, quem scilicet Fernando Sancii dedit
Sancto Jacobo et uobis pro anima sua. Hos igitur prenominatos duos casales,
meum scilicet et uestrum, ego teneam de uobis in uita mea et proficiam eos
et acrescam et dem inde uobis annuatim pro recognoscencia duos capones.
Ad obitum uero meum, relinquant uobis ipsos iam dictos casales, meum
scilicet dictum de Baluga et uestrum de Foremontanos et habeatis eos liberos
et quitos de me et de omni uoce et parte mea in perpetuum possidendos.
Si quis ex parte mea aut ab extranea contra hoc meum uoluntarium factum
ad irrumpendum uenerit uel uenero, quisquis fuerit, pariat uobis ipsos
predictos IIos casales duplatos uel triplatos et in super CCC morabitinos, et
ex parte Dei et mea sit maledictus usque in septima generacionem et hoc
meum uoluntarium factum perpetuum obtineat robur.
27
1202, novembro, 20 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fól. 193v.
Urraca Eanes, abadessa do Mosteiro de Bóveda (conc. Amoeiro), concede
ao cabido da Sé de Santiago um casal em Cenlhe (Ourense).
In nomine domini nostri Jhesu Christi, amen. Ego Urraca Johannis monas-
terii de Boueda abbatissa et omnis uox mea uobis domno Fernando sancte
Compostellane Ecclesie decano et uniuerso eiusdem ecclesie canonicorum
conuentui omnique uoci uestre, grato animo et spontanea uoluntate, facio
cartam donacionis textum scripture firmitatis in perpetuum ualiturum de
uno meo casali que habeo, ex parte patris mei domni Johannis Arie et
matris mee domne Urrace Fernandiz, in uilla que uocatur Zaelli, in terra
de Castella, in concurrencia Sancte Marie de Zaelli, in quo scilicet casali
moratus fuit Michael Roderici et modo moratur ibi Oduarius. Hunc ergo
prenominatum casalem dono et offero Deo et beato Jacobo et uobis cum
omnibus suis directuris et bonis eidem casali pertinentibus, intus et extra,
pro anima mea, ita scilicet, quod omnis fructus seu prouectus qui de iam
dicto casali exierunt semper habeatis ad opus communis mense uestre in
perpetuum.
Si quis ex parte mea uel ab extranea contra hoc meum spontaneum factum
ad irrumpendum uenerit uel uenero, quisquis fuerit, pariat uobis uel pariam
ipsum predictum casalem duplatum uel triplatum et in super CC morabitinos.
Et hoc scriptum semper maneat in robore firmum.
28
1215, janeiro, 12 – Bouças.
A. IAN/TT, Ordem de Avis, maço 2, nº 74.
A rainha Mafalda, filha de Sancho I, oferece à Ordem de Avis aquilo que
lhe pertence no lugar do Casal, na terra de Seia.
In Dei nomine. Notum sit universis hanc cartam inspecturis quod ego regina
domna Maphalda, illustris regis portugalensis domni Sancii primi filia, in
mea sanitate constituta et incolumis existens, do et concedo uobis domno
Fernando Johannis, magistro Ordinis de Auis, nomine eiusdem ordinis uestri
et conuentui uestro eiusdem loci et ordini uestro in regno Portugalie, quicquid
habeo in terra de Sena, uidilicet: locum qui dicitur Casale cum omnibus
domibus, terris, uineis, casalibus, possessionibus et omnibus aliis rebus
quas ego habeo in ipsa terra de Sena, quicumque ipse res sint et quocumque
nomine apellentur. Do etiam et concedo uobis, nomine ordinis uestri et ipsi
uestro ordini in regno portugalense, omnia predicta cum omnibus iuribus
et pertinentiis suis, pro remedio anime mee et pro seruicio quod recepi de
ordine uestro, ut uos tanquam magistri ipsius ordinis et ipse ordo illa in
perpetuum habeatis et possideatis, sicut ego illa umquam melius et liberius
habui et possedi, siue habere seu possidere potui. Et de ipsis faciatis totam
uoluntatem uestram, tamquam de propriis bonis ipsius ordinis, ut etiam
plenissime donationis ius in eisdem rebus habeatis uos magistrum nomine
ipsius ordinis uestri in regno portugalense mitto in possessionem corpora-
lem omnium rerum supradictarum usumfructum tamen earum mihi in uita
29
1217, junho, 8 – Santiago de Compostela.
E. ACS, Tombo C, fóls. 61v-62r.
Osorio Eanes oferece aos cônegos compostelanos uma casa na praça do
Campo de Santiago, o seu quinhão numa herdade em Amarante, na vila
de Dacom (Amarante, conc. Maside), e o que lhe corresponde no benefício
eclesiástico da Igreja de Santa Maria de Alom (conc. Santa Comba).
30
1223.
E. ADB, Tombo de Fiães, fól. 75v.
João Soares, dito “Somesso”, dá um casal em “Chaianos” ao Mosteiro
de Fiães.
In nomine Patris ingeniti et Filii unigeniti et Spiritus Sancti ab utroque
procedentis, in quo, per quem, a quo omnia ipsi honor et gloria in secula
seculorum, amen. Sub era Mª CCª Lª XI. Sit notum cunctis hanc paginam
inspecturis quod ego domnus Johannes Suerii, dictus “Submessu”, pro
anima mea et pro animabus omnium hominum quibus malum feci et de
quibus pecuniam habeo sine directo et pro CCCtos de quibus illud extraxistis
de pignore, do in presenti atque concedo uobis domno Gundisaluo abbati et
31
1230, setembro.
A. AHDL, S. Marcos, nº 1.
Lopo Nunes de Trasancos quita-se da demanda que fazia ao mosteiro san-
tiaguista de S. Salvador de Vilar de Donas em S. Pedro de Exo.
In era Mª CCª LXVIIIª mense septembris. Notum sit omnibus hominibus,
tam presentibus quam futuris, quod ego domno Luppo Nuniz de Trasanchos
facio cartam quitacionis et arenuntiationis de quanta demanda faciebam in
Sancti Petri do Exo a Sancti Saluatori de Vilar de Donas et ad uobis priori
domno Dominico Odoarii et ad conuentum ipsius loci, pro anima mea et
patris et matris mei. Et recipio de uobis pro a[re]nuntiationem una bulsa
plena de uini.
32
1238, outubro, 20 / 1247, outubro, 7.
A. AHN, Mosteiro de Melom, maço 1442, nº 6 / maço nº 1444, nº 18
Mandas testamentárias de João Soares de Chapela
A
Notum sit presentes litteras inspecturis quod ego Johannes Suerii de Cha-
pela facio mandationem meam. In primis, mando corpus meum Sancte
Marie de Melon et eant pro me fratribus de Melon ubicumque migrauero
in Hispania. Et mando ibi duo casalia in Chagianos, scilicet: de Nani et
de Costa, cum omnibus forariis, directuris, ingressibus et egressibus tam
montibus quam fontibus et pertinentiis suis. Et mando ibi cautum meum de
Atenis cum regalengo suo et meam portionem de Ecclesia de Arauo. Mando
fratri meo Fernando Suerii meum Cautum de Domaio quod teneat in uita
sua. Ad obitum suum, remaneat sobrino meo Petro Ruderici, similiter in
uita sua. Post mortem suam, remaneat Sancte Marie de Melon, tali pacto
quod ille duo kasalia de Uite que ego teneo de Melon in uita mea, faciant
inde annuatim in die obitus mei pitanciam conuentui de Melon per manus
Petrum Ruderici, monachus eiusdem, post mortem eius remaneat in manibus
quicquid fuerit supriorem. Post mortem Fernando Suerii uel Petro Ruderici,
remaneat pitanciam semper faciendam fratribus per cautum supradictum,
et quod remanserit semper supriorem faciat ministrare coquine conuentui
de Melon per annum in piscibus. Et cautum cum quantam hereditatem ibi
33
1242, março, 25 – Tui.
A. ACT, maço 13, nº 22.
João Soares, dito “Sumenso”, recebe de D. Lucas, bispo de Tui, o usufruto
de algumas propriedades em Santa Eugênia de Setados e cede a esse pre-
lado o patronato das igrejas de Santa Cristina de Baleixe (conc. Canhiza)
e Santa Eugênia de Setados (conc. Neves).
In Dei nomine. Quum ea que in presenti fiunt more labentis aque facta ho-
minum cum ipsis saeculis dilabuntur nisi scripture testimonio roborentur,
idcirco per hoc scriptum in perpetuum ualiturum sit notum presentibus et
futuris quod ego Lucas, tudensis episcopus, uobis domno Johanni Suarii,
dicto “Sumenso”, do in prestimonium ad habendum tamen in uita uestra
casale nostrum dictum de Palacio in Saetados et casale de Subtus-Carreiram,
quod uos in ipsa uilla de Saetados olim dedistis ecclesie tudensi, ita quod
habeatis fructus horum casalium in uita uestra; tamen, post mortem uero
uestram, predicta duo casalia ad tudensem ecclesiam deuoluantur, cum ui-
nea quam uos in ipsa uilla plantastis, libere ac quiete perpetuo possidenda.
Et ego predictus Johannes Suarii, dictus Sumenso, do et concedo uobis
domno Luce, tudensi episcopo, et ecclesie eiusdem in perpetuum quicquid
iuris habebam in predicta uinea uel in predictis casalibus. Do tamen uobis,
predicto episcopo, et ecclesie tudensi totum ius patronatus quod habeo in
ecclesie Sancte Christine de Baleixi et si quid iuris habeo in ecclesia Sancte
Eugenie de Saetados, quicquid illud est.
Si quis igitur contra hoc factum uenerit sit maledictus et excomunicatus
et cum Juda proditore in inferno dampnatus et pectet episcopo et capitulo
tudensi IIIºr milia solidorum et careat uoce et hec karta semper maneat firma.
Facta karta Era Mª CCª LXXXª, VIIIº kalendas aprilis. Regnante rege
domno Ferrando in Castella, Toleto, Legione, Gallecia et Corduba. Domno
Luca in Tuda episcopo. Fernando Johannis, Toronium tenente. Martinus
Documento nº 33
35
Sem data (c. 1220).
E. ACS, Tombo C, fól. 25v.
Urraca Eanes oferece diversas propriedades ao cabido da Sé de Santiago
situadas em Barvantes (conc. Cenlhe), Gestremir, Juvim (conc. Cenlhe),
Veariz (conc. S. Amaro) e Vide (conc. Castrelo de Minho).
In nomine Domini nostri Jhesu Christi et beate Marie semper uirginis et
omnium sanctorum. Ego domna Urraca Johannis cupiens ut omnia mea
sint ordinata et permaneant post mortem meam. In primis, mando animam
meam Deo et beate Marie et corpus meum ad ecclesiam Sancti Jacobi ad
sepeliendum, et mando ibi mecum unum casalem in Baruantes et duos
in Gestremir, et unum in Uiariz ad canonicos, et meam mullam et meum
lectum. Ego domna Urraca Johannis hereditates has quas de Sancto Jacobo
tenui, uidilicet: Uidi et Jouin, in presenti sunt meliores et amplius populate
quam erant quando mihi eas dederunt, mando eas ibi cum alia mea manda.
36
Sem data (c. 1225) – Munilla (Rioja).
A. ACC, pergaminhos, nº 241.
Testamento de D. Rodrigo Dias dos Cameros.
<...> domnus Roderico Didaci de Camberis exis<..> omnibus aliis testamen-
tium que <..> mando que post mortem meam <..>tam hereditatem meam
sine <..> testamentium ut ex ea persoluant omnia debita <..> quingentorum
et .XXX. aureorum espendo uero <..> etiam persoluant similiter si qua <..>
auferri fecerim undecumque. Tercio quoque <..> Didaco Roderici minore,
Aluaro Roderici <..> Camberio Veteri que uocatur Muro <..> et sit contentus
ea potueret etiam ha<..> pro anima mea monasteri Sancti <..> aniuersario
meo Alcobacie .CC. aureos <..> Sancte Marie de Seguncia .Cm. aureos <..>
pro anima mea monasterio Sancte Marie de Veraço <..> Sancte Marie de
Castellione <..> de porta de Pericos .X. <..>dauia .X. aureos ut cantet <..>
& eodem modo alios .X. ecclesie Sancte <..> et filie quam habeo in domo
infan<cium> de Legione <..> .CCC. aureos. Quarto et ultimo loco, statuo
et mando que si sine <..> domne Aldoncie uidilicet decesso omnibus debitis
<-> siquid residuum fuerit diuidatur secumdum prouidencia episcopi <..>
domne Aldoncie <..> M. <...> Mendoça et D. Lupi nepotes meos et etiam
inter alios consanguineos uel nepotes meos masculos et monasteriumm
Sancti Prudencii secundum que episcopus et domna Aldoncia <..> proui-
dendum. Si uero de legitima uxore mea domna Aldoncia filium uel filias
habuero reseruatum eisdem uel eidem Jangues et Nalda et de residuo legata
et debita persoluantur <..> suffecerit ad solu<..> legatorum et debitorum
episcopus et domna Aldoncia percipiant <..> Jangues <..> legata et debita
Documento nº 36
38
1257, agosto – Ribadávia.
A. AHN, Mosteiro de Melom, maço 1448, nº 18.
Testamento de João Soares.
Era Mª. CCª. LXL. Vª, mense augusti. Notum sit omnibus presentibus et
futuris quod ego domnus Johannes Suerii facio testamentum meum semper
ualiturum si de hoc dolore migrauero, presente et concedent uxore mea
domna Maiore. In primis, mando corpus meum Sancte Marie Melonis et
do ibi mecum duo casalia, silicet: unum in Paradela et alium in Paredes,
quondam Arie Perna, cum suis pertinenciis et meam azemelam et meum
leytum cum suis pagnis. Mado C. solidos Eluenis. Mando C solidos Sancto
Petro de Crecenti. Mando XX solidos Sancto Jacobo de Parada. Mando
ecclesie de Gylady XX solidos. Mando LX aureos ubi abbas Melonis et
domna Maior uiderint magis conuenire pro anima mea. Mando omnia bona
39
Sem data (c. 1265).
A. AHN, Mosteiro de Ferreira de Palhares, maço 1096, nº 21.
Genealogia dos fundadores do Mosteiro de Ferreira de Palhares2.
Era de mill e <-> anos. Esta est a renembranza do moestiro de Sancta Maria
de Ferrera de Pallares, cuya herdade foi et de qual fundamento ven. Foi
herdade et casa de morada del conde don Ero et deste conde don Ero <->.
Et deste conde don Ero nascio Gosteo Hierez. Et de Gosteo Herez, dona
Odrozia Gosteez. Et veno casar cun ella el conde don Rodrigo Romaez, qui
foi filo de Roman Vermuiz et nieto de rei don Vermon el poogroso. Et deste
don Rodrigo Romaez et desta Odrozia nascio el conde don Monio Rodri-
guez. Et deste don Monio Rodriguez nacio el conde don Rodrigo Muniz et
Elvira Muniz. Et destas estadeas subredictas sempre fuoi sua herdade Ferrera
cun seu couto. Et este conde don Rodrigo Muniz et sua hirmaa dona Elvira
Muniz, cun seu marido, don Pai Gomez de Carrion, meteron orden en este
moestero de Ferrera de san Beito, et testaron allos monges o moestiro cun
suas herdades et cun seu couto et cun suas criazones.
Et del conde don Rodrigo Moniz nascio a condessa dona Maior Rodriguez.
Et esta dona Maor Rodriguez pidio a enperador que coutasse aquell couto
aos monges, que era sua herdade. Et desta dona Maor Rodriguez nascio a
condessa dona Froille. Et de dona Froille nascio dona Giomar. Et de dona
Giomar nascio don Rodrigo Diaz dos Cameros. Et de don Rodrigo Diaz,
don Simon Roiz.
Et desta dona Elvira Muniz de suso dicta, que casou con don Pai Gomez,
nascio el conde don Monio Pelaez. Et deste conde don Monio Pelaez nascio
don Pedro Muniz et dona Teresa Muniz. Et deste don Pedro Muniz nascio
2
O referente histórico deste documento é analisado por Salazar Acha (1984).
40
1311 – Coimbra.
C. IAN/TT, Chancelaria de D. Dinis, Livro IV, fól. 60v.
O rei D. Dinis faz concessão vitalícia ao judeu Albi do usufruto do paço de
Vila Nova que fora propriedade de Pedro Rodrigues da Palmeira.
Carta de foro dũu paaço que e en Vila Nova.
Don Denis, pela graça de Deus, rei de Portugal et do Algarve, a quantos
esta carta viren, faço saber que eu dou a foro a Albi, judeu, en dias de sa
vida o meu paaço de Vila Nova, o qual foi de don Pedro Rodriguiz da
Palmeira, que he no julgado de Vermue. Aquelo que ende el quiser fazer e
cobrir, que o aja e more en sa vida con sas entradas et con sas saidas. Et el
deve-mi dar por el en cada hũu ano de foro hũu moravidi vello por aquelo
que ende el fezer e cobrir. Et aa sa morte deve ficar a min o dito paaço con
todo melhoramento que ende el hi fezer. Et el non deve vender, nen dar
nen dõar, nen alhẽar, nen malparar o dicto paaço a cavaleiro, nen a dona,
nen a escudeiro, nen a clerigo, nen a ordin, nen a nen-hũa outra pessõa que
41
Geraldo de Cabrera, Cabra juglar3
I
Cabra juglar,
no puesc mudar
qu’ eu non chan, pos a mi sap bon;
e volrai dir
senes mentir,
e comtarai de ta faison.
II
Mal saps viular
e pietz chantar
del cap tro en la fenizon;
no sabz fenir,
al mieu albir,
a tempradura de breton.
III
Mal t’ ensegnet
cel que·t mostret
los detz amenar ni l’ arson;
3
Reproduzimos apenas as estrofes mais difundidas do poema.
IV
Ni sirventesc
ni balaresc
no t’ auc dir e nuilla fazon;
bons estribotz
no t’ ieis pels potz,
retroencha ni contenson.
V
Ja vers novel
bon d’ En Rudell
non cug que·t pas sotz lo guingnon,
de Markabrun
ni de negun
ni de N’ Anfos ni de N’ Eblon.
VI
Jes gran saber
no potz aver,
si fors non eis de ta reion.
Pauc as apres,
que non sabs jes
de la gran jesta de Carlon,
VII
Con eu, tras portz,
per son esfortz
intret en Espaigna a bandon;
VIII
Can foron mort
e pres a tort,
trait pel trachor Guanelon
al amirat,
per gran pechat,
et al bon rei Marselion.
IX
Del Saine cut
c’ajas perdut
et oblidat los motz e·l son:
ren no·n diçetz
no no·n sabetz,
per no i ha meillor chanson.
X
E de Rollan
sabs atretan
coma d’ aiso que anc no fon.
Conte d’ Artus
non sabes plus
ni del reproier de Marcon.
XI
Ni sabs d’Aiolz
com anec solz,
ni de Machari lo felon;
XII
Ni sabs d’ Erec
com conquistec
l’ esparvier for de sa reion.
Ni sabs d’ Amic
consi guaric
Ameli, lo sieu compaignon.
XIII
Ni de Robert
ni de Gribert
ni del bon Alvernatz Uguon.
De Vezia
non sabs co.s va,
ni de Guondalbon lo Frizon
XV
Del duc Augier,
ni d’ Olivier,
d’ Estout ni de Salomaon,
ni de Loer,
ni de Rainier,
ni de Girart de Rossillon.
XVI
Ni de Davi
ni de Rai,
Ni de Berart ni de Bovon.
XXI
Jes non saubes
-si m’ ajut fes!–
del setge que a Troia fon.
D’ Antiochia
non sabres ja ni
de Milida la faison.
XXV
Ni d’ Aguolan
ni de Captan,
ni del rei Braiman l’ esclavon;
ni del bon rei,
no·n sabs que·s fei
d’ Alixandri fil Filipon.
XXVIII
Ni sabs d’ Ytis,
ni de Biblis,
ni de Caumus nuilla faisson;
de Piramus
qui for lo murs
sofri per Tibes passion.
XXIX
Ni de Paris,
ni de Floris,
ni de Bella Aia d’ Avignon;
del normanes,
XXXI
Ni de Bramar
no·n sabs chantar
de l’auca ni de Nauruzon;
ni del vilan
ni de Tristan
c’ amava Yceut a lairon.
XXXII
Ni de Gualvaing
qui, ses compaing,
fazia tanta venaizon;
ni d’ Aldalaer,
ni de Rainier,
ni de Ramberg’ ab lo furguon.
XXXVI
Non saps upar,
mot guariar
en glieiza ni dedins maizon.
Va, Cabra boc,
quar be.t conoc
qui et evia urtar al mouton.
Manuscritos
CSobrado Cronicón de Sobrado. BUS, ms. 587 (= Carbajo 1904)
TC Tavola Colocciana. Vaticano lat. 3217 (Gonçalves 1976)
Tombo C ACS, manuscritos CF 31 (vol. II) e CF 32 (vol. I)
Tombo de Júvia AHN, códice L 1047 (Montero Díaz 1935)
Tombo de Samos AHUS, Códices (Lucas Álvarez 1986)
Tombo de Fiães ADB, Códices (Ferro Couselo 1995)
Obras impressas1
Afonso III Ventura – Oliveira (2006-2011).
Afonso VII Recuero Astray (1998)
Afonso IX González (1944)
1
No caso de obras coletivas com mais de dois autores, notamos apenas o primeiro.
ALVAR, C. “Johan Soarez de Pavha. Ora faz’ ost’ o senhor de Navarra”. In: Philo-
logica Hispaniensa in honorem Manuel Alvar. Vol. III. Madrid: Gredos, 7-12, 1986.
BREA, M. “Aissi cum dis us castellans: ¿En qué lengua?” In: Actas del VI Con-
greso Internacional de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval (Alcalá
de Henares, Septiembre de 1995). Alcalá: Universidad de Alcalá, 365-379, 1997a.
BREA, M. “Era unha vez… hai oitocentos anos”. Revista galega do ensino, 16:
79-89, 1997b.
CUNHA, Mª. C. Almeida e A Ordem Militar de Avis (das origens a 1329) (Dis-
sertação de Mestrado em História Medieval). Porto: Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. Biblioteca digital, 1989.
CUNHA, Mª. C. Almeida e Estudos sobre a Ordem de Avis (sécs. XII-XV). Porto:
Faculdade de Letras do Porto, 2009.
GALINDO ROMEO, P. Tuy en la Baja Edad Media. Siglos XII-XV. Madrid: Ins-
tituto “Enrique Flórez” – C. S. I. C., 1923.
LINEHAN, P. “León, ciudad regia, y sus obispos en los siglos X-XIII”. El reino
de León en la alta Edad Media. León: Centro de Estudios e Investigación “San
Isidoro” – Caja España – Archivo Histórico Diocesano, 1994.
PARDO DE GUEVARA Y VALDÉS, E. “De las viejas estirpes a las nuevas hi-
dalguías. El entramado nobiliario gallego al fin de la Edad Media”. Nalgures, 3:
265-280, 2006.
RIQUER, M. de. Història de la literatura catalana. Barcelona: Ariel [1ª ed. 1964],
1984.
SALAZAR ACHA, J. “Una familia de la alta Edad Media: Los Velas y su realidad
histórica”. Estudios Genealógicos y Heráldicos, 1: 19-64, 1985.
SALAZAR ACHA, J. “El linaje castellano de los Castro en el siglo XII: conside-
raciones e hipótesis sobre su origen”. Anales de la Real Academia Matritense de
Heráldica y Genealogía, 1: 33-68, 1991.
SALAZAR ACHA, J. La casa del Rey de Castilla y León en la Edad Media. Ma-
drid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000.
SOUTO CABO, J. A “In capella dominis regis in Ulixbona e outras nótulas bio-
gráficas trovadorescas”. In: Actas del XIV Congreso Internacional de la AHLM
(Murcia, 6-10 de septiembre, 2011) Murcia: Universidad de Murcia, 2012,
pp. 777-784, 2012a.
SOUTO CABO, J. A. “O eco das primeiras vozes”. In: E. Mª. Oliveira Gomes da
TORRE (coord.), VIII Colóquio Internacional da Secção Portuguesa da AHLM.
UTAD, Vila Real, 11-12 de Novembro de 2010, [no prelo/2].
TAVANI, G. “Raimbaut de Vaqueiras. Altas undas que venez suz la mar: . In:
Lecturae tropatorum 1, 2008. (Disponível online: http://www.lt.unina.it/)